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ATALHO

Crônicas do Dia Seguinte


Lêda Rezende
CRIAR

Criar, criar sempre.


Forma de poder fazer.
Criar o curso, o rumo.
Muitos atalhos
nunca um caminho.
Caminhos são longos,
retos.
Atalhos são curtos,
desconhecidos.
Criar para poder sentir
jamais anestesiar
para poder seguir
jamais parar
para poder descobrir
jamais conhecer
para poder estar,
jamais ser.
Criar para poder tentar
jamais descrer.
Iniciei estas crônicas há algum tempo, numa tentativa
verdadeira de encontrar um atalho por onde pudesse escapar
da rotina de decisões e soluções que sempre – desde que me
entendo ou desentendo – me senti envolvida.

No começo me pareceram fáceis de serem compostas. Era


sentar diante de uma telinha, um retangulozinho com letras,
deixar as idéias saltarem para longe do seu continenti e fazer
aquele bom barulhinho de toc-toc das unhas no alfabeto.
Simples. Nada mais simples. E lá fui. Ingênua. Como sempre
assim se vai quando ignorante no terreno que se pisa. Com
total, explícita e ingênua tranqüilidade. E assim, acumpliciada
de uma alegria quase Criadora, dei o pulinho para dentro do
que eu chamava – na época – de meu novo esconderijo. Como
se fugisse e me albergasse, desta forma, dentro daquela
última torre de algum castelinho medieval. Distante e segura
e, ao mesmo tempo, próxima e vulnerável. Uma viagem
lúdica. Só de prazer.

Depois de um refugiado período, ou de algumas batidinhas a


mais no alfabeto, descobri que não é bem assim. Ou que
quase não é. Tudo bem com o tal toc-toc, com a telinha, até
com o alfabeto. Até aí eu continuava entendendo tudo.
Aceitando com a maior presteza o tal intuito. Parecia mesmo
uma muito bem vinda febre digital.
Mas lá um dia, vai lá saber por que a tal febre deixou de ser
digital. Passou a ser espacial. Temporal. Fraternal. Mental.
Cerebral. Vai lá saber. Faltam sufixos para eu continuar esta
tentativa, agora sim, de fazer continuar fácil. Ficou, de
repente, difícil.

Falam alguns que no começo era a Luz. Eu já não sei. Acho


que no começo, pelo menos no meu começo, era a Escuridão.
Por isso segui com tanta calma. Se nem se sabe que há
obstáculos, não há o que temer. Caminhar no escuro pode
parecer que não, mas nada existe de mais confortável. O
escuro não nos dá só argumentos e motivos. Nos dá a mais
bela e pertinente - justificativa.

Foi esta a primeira descoberta. Que o escuro era confortável.


A segunda foi que ele não dura para sempre. Não sei se
felizmente. Ou infelizmente.

Lá um dia veio a tal luz. Claridade. Holofotes. E uma frase


associada. Como se pendurada numa placa. Oscilando num
espaço vazio. Dava até para escutar o barulhinho. Do vento
batendo na placa. Muito vento. A frase vinha destacada em
neon. Para justificar bem meu susto. Será que procede? Esta
era a frase. Em néon. Será que procede?

Nesta rápida leitura iluminada os dedinhos começaram a


temer. A duvidar. Os olhos oscilaram entre a frase presa e o
alfabeto solto. Acho que até a tal torre se expôs. E com ela
tudo o mais. E com isso a preocupação. Seriam de alguma
validade?

Lembrei do conto infantil. E se alguém denunciasse a nudez?


Ia me cobrir de letrinhas? Isso eu já estava fazendo. Esta foi a
terceira descoberta. Cruel. Verdadeira. Longe de qualquer
romantismo mais nebuloso.

Cheguei à quarta descoberta. Esta bem mais contundente. E


provavelmente mais amadurecida. Afinal depois de tanto
susto e toc-toc algo tinha que ser aprendido. Ou apreendido.

Não há forma completa de encobrir. Não há forma perfeita de


expor. Acaba-se sempre convivendo com as metades. Este
deve ter sido o castigo depois do tal banquete com aquela tal
fruta lá naquele tal Lugar. Vai-se vivendo metades. Meia
verdade. Meio segredo. Meio relato. Meia revelação. Meia
alegria. Meia tristeza. Meio sucesso. Meio fracasso. E assim a
validade acaba se comprometendo. Com ela mesma. Com
quem a questionar. Com quem a confundir. Deixei então que
se decidisse e se solucionasse. Por si só. Já me doíam os
valores muito mais que os dedinhos. E algo está fora de foco
quando esta é a sensação.

E foi assim, de descoberta em descoberta, de movimento em


movimento, de pudor a despudor que cheguei até aqui. E aqui
meio exponho e meio oculto. Mas sem perder a intenção
inicial que sempre foi: escapar do mundo das decisões e
soluções. Pelo menos pela metade. E só para dar uma riminha
no final – convivendo com a frágil duplicidade da validade.

Tudo resolvido. Agora a realidade. Filosofia e validade se


fundam na realidade. Esta agora a quinta descoberta. E desta
vez a mais maravilhosa. Encontrei neste atalho pessoas que
me nomearam. E de forma positiva. Ser assim nomeada é
algo da ordem de um imenso prazer. Só quem já o foi pode
dimensionar. A alegria que se sente na hora. Uma alegria
mista. Que se encolhe na timidez. E se alarga num sorriso.

Não poderia deixar de dar os nomes. De devolver a gratidão


pela nomeação. De marcar a gratidão. Para que saibam que
tem validade a filosofia e a conceituação.

E aqui agora segue a minha listinha. Por certo faltarão


nomes. Também - por certo - me farão a cobrança. Tomara.
Será muito bom. A continuidade só se dá pela falta. Esta deve
ser uma forma egoísta de me supor impelida a continuar. Ou
uma forma envaidecida de me sentir solicitada. Ou ainda uma
forma disfarçada de me imaginar demandada. Pelo outro. Para
que acredite que posso prosseguir em meu refúgio. Com o
neon do “procede” positivo. Em minha lista. Com a minha
lista.

Assim me sinto como num conto antigo. O castelo sempre


habitado por personagens reais, fantasmas, visitantes
freqüentes e ocasionais compondo o cenário da realidade
histórica minha e de cada um.

Ricardo e Rodrigo, meus filhotes queridos – e põe queridos


nisso - que muito me ensinaram sobre o real significado do
amor, da coragem, da determinação, da solidariedade e da
lealdade.

Luiz, meu marido, que com entusiasmo e companheirismo me


estimulou a compor e continuar este toc-toc embalada pela
melodia de um amor verdadeiro.

Ana Lia e Cinthia, minhas norinhas, que entre risos e afeto


me fizeram sempre oscilar entre uma falsa sábia mestra e
uma sincera alegre sogra.

Berenice, minha mãe, que me dá a certeza de que a


longevidade pode vir acompanhada de toda uma lucidez
particular.

Walmir, meu pai, que me fez acreditar que a vida fica muito
sem graça sem a possibilidade de frases usadas como
arremate.

Leonor, minha avó, que me ensinou – desde muito pequena -


a aceitar e a não me assustar muito com as notícias do
mundo lá fora.
Maria do Carmo – que sempre acreditou e incentivou, desde o
tempo da “batatinha quando nasce”.

Lia, Vera, Margaret, Suzy, Carla, Edu, amigos antigos em


todas as horas - presente.

Edmundo Carôso, amigo querido, que me fez chorar ao


decifrar que aquele determinado escrito me pertencia.

Iarinha Simões, Adriano, Leni David e Mari - leitores queridos


e gentis incentivadores dos textos.

E... como dizia a minha avó: Cuidado para não esquecer e


magoar os amigos e parentes, menina, muito cuidado.

Espero ter obedecido direitinho. Ao menos desta vez.

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