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RESUMO
Os resíduos sólidos são a conseqüência não desejada, das atividades, e do desenvolvimento humano, os quais
passaram a ter grande relevância na degradação ambiental e por conseqüência na perda de qualidade de vida.
Com o objetivo de diagnosticar e quantificar a geração de resíduos sólidos urbanos do Estado, estimou-se
através de dados obtidos em trabalhos científicos a produção per capita, a composição gravimétrica e a
quantidade de resíduos sólidos que são dispostos adequadamente no Estado em aterro sanitário. A estimativa
da geração per capita e da composição gravimétrica média, foi obtida através do cruzamento de dados de
população (número e distribuição), dados de geração per capita e composição gravimétrica, já pesquisados em
municípios do Estado. Com isto estimou-se a geração per capita em 652g/hab.dia e a composição média dos
resíduos em biodegradáveis 52,15%, em recicláveis 21,5% e em descartáveis 26,35%. Utilizando-se a
população urbana total, a per capita média e a composição gravimétrica foi possível estimar a geração, total de
resíduos do Estado em 5.816,9 t/dia, o potencial de geração de matéria orgânica em 3.033,5t/dia, a geração
potencial de recicláveis em 1.250,6 T/dia, e a geração potencial de descartáveis em 1.532,7 T/dia. Foi
realizado ainda o levantamento dos municípios que tem disposição final em aterros sanitários e estimada a
massa se resíduos sólidos com disposição final adequada em 2443 T/dia, e a porcentagem de população urbana
estadual atendida por esses empreendimentos em 42%. A partir da fração orgânica estimou-se uma produção
potencial de biogás de 517t/dia para os resíduos aterrados. Os resultados obtidos dão dimensão á problemática
dos resíduos do Estado e demonstram o potencial de recursos desperdiçados em termos de energia que poderia
ser gerada pela biomassa e a possibilidade de geração de créditos de carbono. Além da perda de oportunidades
ocorre também a degradação ambiental em função da má disposição dos resíduos sólidos urbanos.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Urbanos, Geração per capita, Composição Gravimétrica, Biogás,
Créditos de Carbono
INTRODUÇÃO
Desde o surgimento das primeiras civilizações os seres humanos geram resíduos no atendimento das
necessidades básicas à sua sobrevivência. Com a evolução da humanidade e da tecnologia aumentou-se a
complexidade dos resíduos sólidos assim como a quantidade gerada, e por conseqüência a degradação
ambiental pela má disposição desses resíduos no meio ambiente. Com o aumento da poluição o homem passou
a conviver, com a restrição dos usos de alguns recursos naturais ocasionada pela contaminação o que resultou
em perda de qualidade de vida. Atualmente há um consenso global de que a coleta, o tratamento e a disposição
final dos resíduos são indispensáveis à manutenção da saúde pública, além de minimizar a possibilidade de
contaminação do solo, do ar e das águas superficiais e subterrâneas. Com o aquecimento global e a
identificação do metano como um dos principais gases do efeito estufa, o Protocolo de Kioto se torna para a
questão dos resíduos sólidos, uma fonte de financiamento para os sistemas de disposição final, através dos
créditos de carbono que podem ser gerados a partir da queima e do aproveitamento energético do biogás
gerado pelos resíduos sólidos.
O presente trabalho busca analisar a geração de resíduos sólidos do estado do Rio Grande do Sul com base em
trabalhos científicos referentes à produção per capita, composição gravimétrica e quantidade de resíduos
sólidos dispostos em aterros sanitários, estimando-se a produção potencial de biogás, gerado pela
decomposição anaeróbia da matéria orgânica presente nesses resíduos e o potencial de geração de créditos de
carbono através da queima do gás metano.
METODOLOGIA
A metodologia deste trabalho partiu da análise dos resultados obtidos em estudos realizados em alguns
municípios do estado do Rio Grande do Sul quanto à caracterização física e a composição gravimétrica dos
resíduos gerados. A partir destes dados foram estimadas a geração per capita e composição gravimétrica dos
resíduos sólidos urbanos para o estado, considerando como principal fator de variação a distribuição da
população. A partir dos dados levantados junto ao órgão ambiental sobre os aterros em operação no estado, foi
possível estimar a fração da população estadual atendida pelos empreendimentos existentes. Finalmente, com o
cruzamento destas duas informações estimou-se a capacidade de geração de gás metano no estado.
Para estimar a produção per capita e a composição gravimétrica de resíduos sólidos do estado levou-se em
consideração o porte dos municípios como fator principal de variação. Para tanto foi realizado um estudo de
distribuição da população do estado, a qual foi dividida em seis classes por tamanho de população calculando-
se os fatores de distribuição. Após, aplicou-se a mesma distribuição para as amostras de produção per capita e
composição gravimétrica, calculando-se a média dos dados enquadrados em cada classe. Com estes resultados
foi feita a multiplicação das médias de cada classe pelos fatores de distribuição das classes e depois o
somatório dos resultados (procedimento semelhante a uma média ponderada).
sanitários e da composição gravimétrica dos resíduos, foi possível estimar a quantidade de matéria orgânica
aterrada no Estado.
Assim considerou-se que a fração orgânica dos resíduos fosse formada somente por restos de alimentos.
Considerando a estequiometria da decomposição anaeróbia representada pela equação1, e com a formula
química hipotética do resíduo do estado, foi possível calcular, conforme Tchobanoglous (1993), o potencial
teórico do volume de biogás, Lo (m3/t de resíduo), gerado pela massa de resíduos, assim como a composição
do biogás.
Para estas estimativas descontou-se a umidade relativa da fração orgânica dos resíduos sólidos estimada em
67,86%(kg/kg), a partir de dados encontrados nos municípios de Caxias do Sul e Bento Gonçalves entre os
anos 1995 e 2002 nos trabalhos de Pessin (1999 e 2003) e Schneider et. al (1993 e 2002).
Para determinação da quantidade e a variação da produção de biogás em aterros sanitários ao longo da vida útil
do aterro, fez-se alguns gráficos utilizado o método “School Canyon Model”,apresentado na equação 2, ou
simplesmente método do decaimento de primeira ordem, proposto pela USEPA (1995). Esta função
exponencial considera a média de resíduos dispostos por ano na área do aterro sanitário, as datas nas quais
estes resíduos foram dispostos, a vida útil do aterro e o tempo para que sejam alcançadas as condições
anaeróbicas para que haja a produção do gás metano.
Em que:
Q = total de biogás gerado no ano (m3).
R = Taxa de Disposição de Resíduos (t/ano)
Lo = potencial teórico do volume de biogás gerado pela massa de resíduos (m3/t de resíduo).
t = Início da operação do aterro (anos).
c = Tempo decorrido após fechamento da célula (anos).
k = taxa de geração de biogás (1/ano).
As curvas de produção de biogás foram produzidas a partir da hipótese de um aterro fictício com 10 anos de
disposição de resíduos sólidos domésticos, e 20 anos de monitoramento e produção de biogás em um tempo de
operação total de 30 anos. As curvas foram geradas para diversas faixas de população.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos com a metodologia para estimar a da produção per capita e a composição
gravimétrica estão dispostos nas Tabelas 1 e 2.
Tabela1– Produção per capita de resíduos sólidos urbanos do Rio Grande do Sul
Classe por População População % da P. Fator Média de Geração per Per Capita X
Enquadrada total Capta de resíduos Fator
(Hab) KG/Hab. Dia (kg)
Menor que 5.000 548.743 6,16 0,06 0,49 0,03
5.000 a 10.000 337.552 3,79 0,04 0,67 0,02
10.000 a 30.000 1.317.027 14,77 0,15 0,71 0,11
30.000 a 50.000 643.706 7,22 0,07 0,64 0,05
50.000 a 100.000 1.375.555 15,43 0,15 0,67 0,10
Maior de 100.000 4.692.202 52,63 0,53 0,65 0,34
Total 8.914.785 100 1,00 Per Capta Estadual 0,652
Fontes: Pessin et al 20021; Schneider et al, 20012; Pessin (2004)3; REIS, (2002)4 ; FEE (2005)5;Sousa de Deus (2000)
Através da metodologia adotada pôde-se estimar a geração de resíduos sólidos do estado como sendo de 652g
por habitante por dia de resíduos sólidos domésticos na área urbana. A composição gravimétrica do estado foi
estimada em: Orgânico 52,15%; Recicláveis 21,5%; Descartáveis 26,35%. Com o cruzamento dos dados de
geração per capita de resíduos sólidos domésticos, população urbana, composição gravimétrica e a fração de
aterramento no Estado foram obtidos os quantitativos apresentados na tabela 3.
Para uma tonelada de resíduos do Estado estimou-se uma produção potencial teórica de gás (Lo) de 985,3 m3
por tonelada de resíduo. Através deste valor (Lo) e da composição do biogás obtida pela metodologia,
estimou-se as produções potenciais de biogás e metano para a massa orgânica total (seca) e a massa orgânica
aterrada como é apresentado na tabela 4.
Tabela 4 – Produção potencial de biogás (Lo) e metano dos resíduos sólidos domésticos
Segmento Composto Massa (t/dia) Volume (m3/dia)
Matéria orgânica total Mistura (Biogás) 1.230,55 960.636,39
gerada (seca) CH4 1.095,70 491.419,01
Matéria orgânica Mistura (Biogás) 517,09 206.498,10
aterrada (seca) CH4 148,06 179.510,86
Fonte: Calculado conforme Tchobanoglous (1993).
Com o potencial Lo e a produção per capita modelou-se as curvas de produção de biogás através método
“School Canyon Model”, ou simplesmente método do decaimento de primeira ordem, em um aterro sanitário
fictício para diversas faixas de população apresentadas nas Figuras 1.
10.000.000
100.000hab
8.000.000
200.000 hab
6.000.000
0
500.000 hab
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo de Operação (anos)
Figura 1 –Volume de gás produzido em um aterro para faixas populações superiores habitantes. (gerado
conforme USEPA 1995).
Pelo comportamento da curva pode se notar que o pico de produção se dá no ano de fechamento do aterro, pois
a produção de biogás é diretamente proporcional à quantidade de matéria orgânica dentro da célula. Pela
simetria das curvas e com a composição volumétrica do biogás foi possível gerar retas de produção de metano
pelo tamanho da população para determinados anos de operação, conforme apresentado na figura 2.
7.000.000
5 anos
3
y = 23,989x
4.000.000 10 anos
15 anos
y = 7,9125x + 4E-10
3.000.000 20 anos
y = 4,6763x + 2E-10 25 anos
2.000.000
30 anos
y = 2,8363x
1.000.000
y = 1,7203x - 1E-10
0
0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000
População Atendida (anos)
Figura 2 – Volume de gás metano produzido em um aterro sanitário função do tamanho da população,
para determinados períodos de tempo. (modificado de USEPA 1995).
Com essas retas é possível estimar a produção de metano, fração do biogás de interesse para geração de
créditos de carbono, em determinados anos de aterramento para qualquer população. Ressalta-se que neste
caso foi feita apenas uma extrapolação sem considerar nenhum outro fator como tipo de aterro, tipo de coletor
de gás etc.
Os créditos de carbono podem ser gerados em aterros sanitários através da queima do metano presente no
biogás. Pois o metano tem um poder de absorção de energia 21vezes maior que o CO2, a cada 1t de metano
queimada são geradas aproximadamente 20 t de crédito de carbono. Apenas a queima de metano já seria
suficiente para a geração de créditos de carbono, entretanto caso seja estudado o aproveitamento energético
destes gases a quantidade de créditos gerada poderia ser maior, visto que esta fonte de energia viria a substituir
outras fontes que poderiam ser geradoras de gases de efeito estufa.
O impacto do aterramento correto dos resíduos sólidos é fator fundamental na melhoria da qualidade das águas
tanto subterrâneas quanto superficiais. A grande quantidade de resíduos sólidos gerada e a inadequada
disposição é um dos grandes problemas de saneamento em todas as regiões do Brasil. A geração de créditos de
carbono é uma alternativa para financiamento do próprio sistema de saneamento. Na sua origem os
mecanismos de desenvolvimento limpo criados pelo Protocolo de Kioto tem também esta função de
possibilitar a melhoria da qualidade ambiental nos países que não tem ainda o compromisso de redução de
emissões. Já existem alguns projetos brasileiros que obtiveram certificação para emissão de créditos de
carbono a partir de aterramento de resíduos. As metodologias já aprovadas pela Convenção Quadro das
Mudanças Climáticas consideram tanto os aterros que apenas coletam e queimam o metano como aqueles que
fazem aproveitamento energético (UNFCCC, 2004 a, b, c, d)
CONCLUSÃO
Através da técnica de extrapolação, baseada em ponderação, conseguiu-se estimar a geração e a
composição dos resíduos sólidos no Estado do Rio Grande do Sul. Esses resultados apresentaram
características semelhantes às grandes cidades do estado, pois esta classe de municípios concentra a maior
densidade demográfica (52% da população estadual).
Através da realização dessas estimativas, foi possível obter índices representativos, relacionados à
geração de resíduos sólidos do estado, tais como a quantidade aterrada e as quantidades de matéria orgânica,
de resíduos descartáveis e de materiais recicláveis.
Com base nos resultados pode-se verificar que existe um grande potencial energético dentro da massa
orgânica dos resíduos do estado. O investimento no aprimoramento de técnicas para o aproveitamento deste
potencial pode vir a trazer uma mudança na gestão dos resíduos transformando o ônus com a coleta e
disposição em um bônus com o aproveitamento energético e a geração e comercialização dos créditos de
carbono. Entretanto para tal, é necessária ainda a melhoria da tecnologia de recuperação e aproveitamento
destes gases. Já existem alguns exemplos brasileiros de geração de créditos de carbono a partir de projetos
implantados em aterros sanitários que podem servir como guia para o aproveitamento no RS.
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