AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 959.612 - MG (2007/0133637-9)
RELATOR : MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
AGRAVANTE : NOELMA DOS SANTOS E OUTROS ADVOGADO : ANTÔNIO CARLOS DA SILVA AGRAVADO : BANCO ITAÚ S/A ADVOGADO : LEONARDO THOME MOREIRA COUTO E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA:
Trata-se de agravo regimental interposto contra decisão assim ementada:
"RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO. CONTRATOS BANCÁRIOS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. DESCONTO EM FOLHA. PRECEDENTES DO STJ. A comissão de permanência pode ser contratada para o período de inadimplência, não cumulada com juros remuneratórios, correção monetária, juros de mora e multa contratual (enunciados ns. 294 e 296 da Súmula do STJ e AgRg no REsp n. 712.801/RS, relatado pelo eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 04/05/05). A jurisprudência do STJ, no julgamento do REsp n. 728.563/RS, em 08/06/2005, pacificou entendimento no sentido de que a cláusula que prevê, em contratos de empréstimo, o desconto em folha de pagamento não configura a penhora vedada pelo artigo 649, IV, do CPC, nem encerra qualquer abusividade. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido" (fl. 532).
A parte agravante, em síntese, alega: a) impossibilidade de cobrança da comissão de
permanência; e b) limitação do desconto em folha de pagamento em 30% do vencimento.
É o relatório.
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 959.612 - MG (2007/0133637-9)
Documento: 9015509 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça EMENTA CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. LICITUDE DA COBRANÇA. SÚMULA N. 294 DO STJ. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. SUPRESSÃO UNILATERAL. IMPOSSIBILIDADE. LIMITE DE 30% DOS VENCIMENTOS. 1. É admitida a cobrança da comissão de permanência durante o período de inadimplemento contratual, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Bacen (Súmula n. 294 do STJ). 2. Cláusula contratual que autoriza desconto em folha de pagamento de prestação de empréstimo contratado não pode ser suprimida por vontade unilateral do devedor, uma vez que é circunstância facilitadora para obtenção de crédito em condições de juros e prazos mais vantajosos para o mutuário; todavia, deve ser limitada a 30% dos vencimentos. 3. Agravo regimental parcialmente provido.
VOTO
O SENHOR MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (Relator):
Passo ao exame das questões em discussão.
I - Comissão de permanência
A jurisprudência do STJ é firme em reconhecer a legalidade da estipulação da
comissão de permanência nos moldes da Súmula n. 294/STJ, vale dizer, desde que calculada pela taxa média de mercado.
A finalidade da cobrança da comissão de permanência após o vencimento da
obrigação: manter, por meio dos juros remuneratórios, a base econômica do negócio; desestimular, mediante os juros de mora, a demora no cumprimento da obrigação; e reprimir o inadimplemento com a aplicação da multa contratual.
Trata-se, portanto, de parcela admitida na fase de inadimplemento contratual, a qual
abrange três componentes, a saber: juros remuneratórios à taxa média de mercado apurada pelo Bacen; juros moratórios e multa contratual; daí ser impossível a sua cobrança cumulada com juros de mora e multa contratual, sob pena de incorrer em bis in idem. Além disso, é inadmissível a sua cumulatividade com correção monetária, a teor da Súmula n. 30/STJ.
De todo o exposto, depreende-se que a instituição financeira, diante do
Documento: 9015509 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça inadimplemento contratual, pode cobrar unicamente a comissão de permanência admitida como o somatório dos encargos moratórios (juros remuneratórios calculados à taxa média de mercado estipulada pelo Bacen, juros moratórios e multa moratória).
A esse respeito, vejam-se os seguintes julgados: Terceira Turma, AgRg no REsp n.
1.016.657/RS, relator Ministro Ari Pargendler, DJ de 5.8.2008; e Terceira Turma, AgRg no REsp n. 986.508/RS, relator Ministro Ari Pargendler, DJ de 5.8.2008.
II - Desconto em folha de pagamento
Segundo entendimento desta Corte, a cláusula contratual que autoriza desconto em
folha de pagamento de prestação de empréstimo contratado não pode ser suprimida por vontade unilateral do devedor, uma vez que é circunstância facilitadora para obtenção de crédito em condições de juros e prazos mais vantajosos para o mutuário. Precedentes: AgRg no Ag n. 1.060.692/RS, rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJ de 13.10.2008; EREsp n. 537.145/RS, rel. Ministro Fernando Gonçalves, Segunda Seção, DJ de 11.10.2007; AgRg no Ag n. 621.121/RS, rel. Ministro Massami Uyeda, Quarta Turma, DJ de 2.4.2007; e REsp n. 728.563/RS, rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJ de 22.8.2005.
Tendo em vista o caráter alimentar dos vencimentos e o princípio da razoabilidade,
limitam-se os descontos em 30% da remuneração, o que assegura tanto o adimplemento das dívidas como o sustento da família. Precedente: "DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. CONSIGNAÇÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. LIMITE DE 30%. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Tendo em vista o caráter alimentar dos vencimentos e o princípio da razoabilidade, mostram-se excessivos, na hipótese, os descontos referentes às consignações em folha de pagamento em valor equivalente a 50% da remuneração líquida do recorrente, de modo que lhe assiste razão em buscar a limitação de tais descontos em 30%, o que assegura tanto o adimplemento das dívidas como o sustento de sua família. 2. Recurso ordinário provido." (RMS n. 21.380/MT, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJ de 15/10/2007.)
Acrescentem-se: REsp n. 553.854/DF, rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma,
DJ de 12.9.2005; REsp n. 313.512/DF, rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, DJ de 3.9.2001; e REsp n. 197.907/DF, rel. Ministro Vicente Leal, Sexta Turma, DJ de 5.4.1999. Documento: 9015509 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça
III - Conclusão
Ante o exposto, dou parcial provimento ao agravo regimental para limitar os
descontos efetuados na folha de pagamento do recorrido em 30% da remuneração.
Em razão da sucumbência recíproca, determino que as custas processuais sejam
divididas igualmente entre as partes, que arcarão, ainda, cada uma, com metade dos honorários advocatícios, mantidos os fixados na decisão agravada, permitida a compensação. Ônus suspensos na hipótese de assistência judiciária gratuita, nos termos do art. 12 da Lei n. 1.060/50.
É o voto.
Documento: 9015509 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 4