Sei sulla pagina 1di 11

I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO

09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA


IMPLICAÇÕES SÓCIOTERRITORIAIS DA OCUPAÇÃO DO OESTE BAIANO

Nadija Cristina Lopes Profiro

ICADS/UFBA. nadijalopes@hotmail.com

Ossifleres Silva Damasceno

ICADS/UFBA. ossifleres@yahoo.com.br

Janes Terezinha Lavoratti

ICADS/UFBA. jlavoratti@hotmail.com

INTRODUÇÃO
Este trabalho surge com o objetivo de se fazer uma análise da ocupação e uso do
solo, o comportamento da população local com relação a estes aspectos e/ou como se
beneficia do processo do agronegócio mecanizado e de precisão, a situação que se
encontra a vegetação ou o que ainda resta dela, tentando visualizar as características da
paisagem e as transformações que nela estão ocorrendo com a chegada do capital vindo
de outras regiões do país e do exterior.
Ao falar-se sobre a categoria território, há muito que ser levado em consideração,
entre eles: territorialização (exercício do poder no espaço), desterritorialização (perda do
poder no espaço), reterritorialização (retomada do poder no espaço), território
político/jurídico, que envolve relações de poder visível e invisível e ainda território
econômico referente ao poder financeiro. (Haesbaert 2004).
Esse artigo é resultado de um trabalho de campo que ocorreu em novembro de
2008, quando foram percorridas as BR 242/135 e 020 entre Barreiras e Roda Velha de
Baixo (distrito) de São Desidério, passando por Luis Eduardo Magalhães, para observar o
crescimento desordenado e desigual da cidade, fazendo-se entrevistas com os moradores
do bairro periférico de Santa Cruz, aplicando-se questionários nos âmbitos socioeconômico
e ambiental, orientados pelos professores Janes Terezinha Lavoratti e Valdir dos Santos,
das disciplinas Território e Territorialização e Geografia do Brasil I, respectivamente,
fazendo-se uma leitura da paisagem, sua ocupação territorial e os aspectos
socioeconômicos do espaço percorrido ocupado pelo agronegócio, bem como, uma
tentativa de se entender o processo de ocupação e suas implicações econômicas, sociais e
ambientais impostas no território analisado.
Sabe-se que a primeira preocupação com o território de forma sistemática partiu de
Ratzel no século XIX atribuindo-lhe um caráter político. Essas concepções estavam
voltadas para atender aos interesses do projeto de expansão da “Alemanha”, e que numa
270
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
segunda fase do pensamento geográfico, o conceito de território passou a ser
negligenciado pela escola francesa, sendo substituído pelo conceito de região como
expressão conceitual mais importante para a Ciência Geográfica. Segundo Gomes (1999),
nas concepções atuais o território não pode ser de forma alguma negligenciado, em virtude
de seu caráter (conteúdo) político. E segundo Rogério Haesbaert (2004), apesar de ser um
conceito central para a Geografia, território e territorialidade podem ter enfoque diferencial
e centrado a depender da área estudada, assim, para o Geógrafo, o conceito de território
leva em conta sua materialidade, em suas múltiplas dimensões.

REFERENCIAL TEÓRICO
O Oeste Baiano possui certo dinamismo e crescimento econômico que a princípio
deixa a ilusão de desenvolvimento, no entanto, todo esse poderio econômico fica
concentrado nas mãos de poucas famílias. O restante da população fica na sua maioria a
mercê de todo esse processo econômico evidenciado nessa região, os municípios de
Barreiras, São Desidério e Luis Eduardo Magalhães estão entre os maiores representantes
desse processo.
Segundo Castro (2006), “mais do que fonte de sobrevivência, a terra é um registro
simbólico por excelência”. Sendo a terra desde o inicio dos tempos modernos fonte de
símbolos e significados etc., desde os escritos contidos nos relatos dos viajantes há
séculos atrás, até o dos interpretes contemporâneos e o espaço globalizado, contribuiu
para construir e alimentar o imaginário social.
A visão de espaço globalizado no Oeste Baiano implica um espaço prospero com
oportunidades iguais para todos se desenvolverem. É o que atrai tantos imigrantes para
este espaço geográfico, porém esta oportunidade não ocorre de maneira igual para todos,
tornando-o um dos lugares com os piores índices de IDH1 (Índice de Desenvolvimento
Humano) do país Barreiras possui um IDH de 0,628 e São Desidério 0,489, bem abaixo do
índice brasileiro que é de 0,813 e da Bahia 0,742, no entanto o índice municipal é de 2000,
enquanto o índice do estado e da federação soa de 2008. O índice de GINI2 é um dos

1
Este índice é calculado com base em dados econômicos e sociais. O IDH vai de 0 (nenhum
desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo de 1, mais
desenvolvido é o país. Com objetivo de medir o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de
vida oferecida à população. Este índice também é usado para apurar o desenvolvimento de cidades,
estados e regiões. No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores: educação (taxas de
alfabetização e escolarização), longevidade (expectativa de vida da população) e renda (PIB per
capita). O Brasil ocupa a 75° posição no ranking mundial e Bahia a 17º no ranking nacional.
2
Mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capta.
Seu valor varia de 0 quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo
valor). há 1 quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade
e a renda de todos os outros indivíduos é nula).
271
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
indicadores que dão uma noção da desigualdade na distribuição de renda nos municípios
citados o que, aliás, não é muito diferente no restante do país. O índice de GINI de
Barreiras é de 0,50; São Desidério 0,39 e Luis Eduardo Magalhães não teve seu índice em
função desse índice decorrer do último censo demográfico ocorrido no ano 2000, onde este
ainda era distrito de Barreiras. Mesmo não tendo calculado o índice de GINI desse
município, basta uma visita a periferia da sede deste para se perceber que tal índice
também é baixo.
Tamanho dinamismo econômico desta região se restringe aos municípios de
Barreiras, São Desidério e Luís Eduardo Magalhães. Os demais municípios, ainda não
experimentaram este crescimento econômico tão acelerado em função do agronegócio de
precisão, se encontram em escala menor ou ainda inexistente..
Para Castro (2006) a complexidade da tarefa de compreender o mundo, e a
necessidade de perceber tanto os processos visíveis como aqueles decorrentes da
simbologia dos lugares, seus aspectos míticos e suas conotações subjetivas, também
preocupa os Geógrafos.
O espaço é um nicho, um abrigo no qual o portador do poder cristaliza a
energia interna da comunidade, mobiliza a força imaginária que a constitui
e assegura um bom equilíbrio entre esta e o meio em torno, tanto social
como natural (MAFFESOL, 1987, apud. CASTRO, 2006, p.175).

Tais aspectos são objeto de estudo da Geografia Cultural, corrente de pensamento


importante para se entender como viviam, suas crenças, mitos e costumes das populações
tradicionais que habitavam este território; suas reações diante desta invasão exógena
violenta, com a presença do agronegócio incentivado, também pelos Governos nas
esferas, Federal e Estadual.
O regionalismo, enquanto mobilização política de base territorial decorre justamente
dos modos através do qual o Estado Nacional tem organizado, ou administrado, as
diferenças – culturais e econômicas – em seu território para fundar a ideologia da unidade
nacional. O tema do regionalismo sob a perspectiva do imaginário político encontra-se em
aberto na Geografia Brasileira, Castro (2006) pontua:
No Brasil, o processo histórico político, que progressivamente delimitou os
limites das unidades administrativas e os valores simbólicos dos territórios
para as sociedades em cada uma, contribui para forjar escalas de
interesses reforçadas pelos discursos da entidade em aberto na geografia
brasileira (CASTRO, 2006, p.188).
E exatamente, a não igualdade econômica e cultural do Oeste Baiano, com o
restante do Estado, que fez nascer no coração da classe hegemônica desta região o
anseio de se desligarem da Bahia, criando o Estado do Rio São Francisco. Usando dos
valores e sentimento de pertencimento da população local, que possui pouca consciência

272
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
política e baixo grau de escolaridade, os políticos estão se beneficiando, usando um
discurso de que com a criação de um novo Estado3 tudo vai melhorar nesta região.
Diante do exposto, a preocupação sobre o uso e ocupação do solo no cerrado
é uma das implicações que emergem, remetendo-nos à necessidade de analisarmos os
aspectos físicos deste domínio e verificarmos a incidência do homem sobre ele com a
exploração do agronegócio, não somente no Oeste Baiano, mas também em nível nacional.
A figura 01 mostra a localização dos municípios citados da região Oeste do Estado da
Bahia.

Localização da Área de estudo

Localização da área de estudo (Barreiras, Luis Eduardo Magalhães e são Desidério no


Oeste baiano – bioma Cerrado).

O Cerrado baiano desponta no Estado como o maior produtor de soja e algodão.


Para tanto os grandes produtores e as corporações que cultivam o solo nesta região
desmatam sem nenhum respeito, ao meio ambiente. Apesar de sua aparente uniformidade,
o bioma Cerrado guarda uma grande variedade de espécies de seres vivos, bem como
variados e importantes subsistemas, dentre os quais as veredas.

3
Estado do São Francisco ou Estado do Rio São Francisco, projeto que tem ganhado a adesão e o gosto da
população e se encontra arquivado no Senado.
273
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
As características da vegetação do Cerrado
Com relação ao Bioma Cerrado em nível global, (MARTINS, 1992 apud ALMEIDA,
2003), afirma que as savanas (Cerrado) constituem um tipo intermediário entre a
vegetação herbácea das Estepes e da Tundra, sendo formações vegetais encontradas nas
regiões intertropicais com vegetação de três metros de altura, recebendo nomes diversos
como: Savanas (Estados Unidos e África), Cerrados ou sertões (Brasil), Lhonos
(Venezuela), Parque (África Oriental), Chaparral (México), Bosques (Sudão africano),
Jungle (Índia). A palavra Cerrado é de origem espanhola e significa “fechado”.
A expansão da atividade agropecuária a partir dos anos de 1970, não se deu de
forma dinâmica e igual por todo o Cerrado. As formas de intervenções, com expansão mais
significativa, têm sido as formações de pastagens plantadas e de lavoura comercial. As
lavouras mais importantes da região são as de soja, algodão, milho, café, feijão, arroz e
mandioca. A soja foi a que ganhou maior incremento e nos últimos anos, a cana - de -
açúcar vem ganhando espaço é o “boom” salvador e ilusório dos biocombustíveis.
Tratando-se do cerrado, vale discorrer sobre seus aspectos e principais tipos
fitofisionômicos, para entender as diversas aplicações que nele se realizam na atualidade.
As formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão),
“Savânicas” ou Formações Típicas do Cerrado (Cerrado sentido restrito, Parque de
Cerrado, Palmeiral e Vereda) e Campestres (Campo Sujo, Campo Rupestre e Campo
Limpo), distribuídas sobre o domínio chamado de cerrado (ALMEIDA, et al 2003).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por uma questão metodológica optou-se nesse estudo em analisar alguns aspectos
de cada município em separado, para que se pudesse ser melhor entendido. No entanto, tal
estudo carece de um melhor aprofundamento dos aspectos aqui analisados bem como de
alguns outros para que o tema proposto por esse trabalho seja entendido de uma forma
mais ampla (holística). Pois, o tema leva a uma discussão muito maior do que apresentado
por este trabalho, ficando a deixa para estudos posteriores.

Barreiras
Segundo a historiadora local Inês Pitta, o município de Barreiras recebeu este nome
em decorrência das grandes barreiras existentes às margens do Rio Grande, um rio que
nasce no município vizinho São Desidério e, é o maior afluente da margem esquerda do
Rio São Francisco. Antes da década de 70, um porto que existia no local onde de formou a
primeira vila da cidade, era o principal meio de transporte das mercadorias, que vinham

274
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
das regiões vizinhas. Com o fechamento do porto e as políticas de desenvolvimento
adotadas pelo governo, esse transporte passou a ser feito por rodovias.
Entre as principais políticas de desenvolvimento que aqui foram adotadas, encontra-
se a chegada do 4º Batalhão de Engenharia de Construção, que construiu duas importantes
rodovias a BR 242, e a BR 135, como parte do processo de integração do país com a nova
capital, Brasília esta fundada em 21 de abril de 1960.
Por volta de 1975, inicia-se a utilização do cerrado para plantação de grãos, em
especial o cultivo da soja, onde as condições climáticas, e o tipo de solo, não eram muito
favoráveis, todavia, conforme pesquisas da Embrapa, o grande potencial hídrico e a
topografia do terreno, entre outros fatores, fizeram com que este cultivo fosse adaptado e se
desenvolvesse de forma satisfatória.
Esse movimento espaço-temporal sugere mudanças nas relações de
produção, no mercado de bens, terra e trabalho. O estágio final da fronteira
é marcado por intensos fluxos migratórios, uso da terra pela agricultura e
concentração fundiária. Além disso, as relações de produção capitalistas
dominam a fronteira e a divisão social do trabalho, se torna mais complexa
(FOWERAKER, 1982, p. 27-30, Apud CASTRO, p.292).

O desenvolvimento da agricultura trouxe consigo muitos problemas para a cidade,


mas, também muitos benefícios. Entre os problemas, podemos citar o grande contingente
de pessoas que para se deslocaram em busca de melhores condições de vida, e a cidade
não estava preparada para receber esse contingente populacional. Segundo dados do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre os anos de 1970 a população era de
20.864, a população passou para 131.849 no ano 2000.
Ao longo do processo de integração econômica do território brasileiro, a
fronteira agrícola seria, além de um processo, uma área onde ocorrem
grandes transformações socioespacias, a partir da introdução de novas
relações de produção e padrões técno-mercantis e financeiros, bem como a
inserção de valores culturais e simbólicos conflitantes com as identidades
territoriais preexistentes (SILVA, 2006, p.292).

O dinheiro advindo do agronegócio, não foi utilizado para promover o


desenvolvimento da cidade. Então o que se pode observar é que a estrutura urbana desta é
muito precária, onde o esgoto a céu aberto indica a falta de saneamento básico. Ao longo
das margens do Rio de Ondas, podemos observar como este espaço está constituído a
serviço do capital, pois existe uma quantidade expressiva de casas construídas às margens
do rio, sem respeitarem a legislação. O que demonstra a valorização do econômico, em
supressão das questões sociais e ambientais.
A Cobertura vegetal do município de Barreiras é variada vai desde a savana
(Cerrado), a tensão ecológica (contato entre outros tipos de vegetação) e ainda floresta
estacional decidual. Quanto ao relevo é classificado como Chapadão Ocidental do São

275
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
Francisco. No que se refere à tipologia climática, varia de úmido, passando por subúmido a
seco (SEI, 2008).
Barreira possui hoje, 129.501 habitantes, sendo 64.166 homens e 65.335 mulheres
(contagem 2007), com uma densidade demográfica de 10.81 hab./km² e altitude de 452
metros (IBGE, 2002). Importante ressaltar que a perda de população deste em relação ao
ano 2000, se deve a emancipação do distrito de Mimoso, emancipado com o nome de Luis
Eduardo Magalhães.

Luis Eduardo Magalhães (LEM)

O município de Luís Eduardo Magalhães fundado em 08 de março de 2000, o antes


Mimoso do Oeste fora desmembrado do município de Barreiras, recebeu esse nome em
homenagem ao falecido deputado federal filho de Antônio Carlos Magalhães (ACM), isso
mostra a força da política carlista que perdura até os dias atuais no Oeste baiano.
Sua atividade econômica está voltada para o agronegócio é o município que mais
cresce no Brasil, tem diversificado sua economia com o comércio e algumas indústrias.
Mesmo que sustentados e dependentes do agronegócio, recebe grande fluxo de migrantes
na sua maioria baianos do Oeste e demais regiões do Estado. O que fez a população deste
município (na ocasião ainda distrito Mimoso) saltar de 1.837 habitantes em 1991, para
18.757 habitantes em 2001 e para 44.265 habitantes em 2007 (IBGE, 2008).
Quanto às características físicas, este município apresenta uma cobertura vegetal
Savana (Cerrado), Relevo Chapadão Ocidental do São Francisco, já o clima é classificado
como sub-úmido a úmido (SEI, 2008).
Quanto à entrevista aos habitantes do Bairro Santa Cruz em Luis Eduardo
Magalhães, pode se destacar.
Na sua maioria a famílias são compostas entre três e cinco membros, sendo que
destes, um ou dois estão empregados e em algumas destas famílias, não há empregados
formais, o que representa a minoria; menos da metade possui casa própria, entre todos a
maioria diz que a casa é muito desconfortável (boa parte moram em quitinetes); a grande
maioria das famílias são baianas do Semi-Árido; afirmando terem vindo em busca de
melhores condições de vida , mas nem sempre encontram, quase metade tem mais de
uma década na cidade. Quando perguntadas se gostariam de terem terras para cultivar, a
grande maioria disse que sim; boa parte relatou que não vêm problemas no fato das
empresas serem de fora provocando um desenvolvimento exógeno, sem devolver à
comunidade, os benefícios de seus lucros.

276
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
Boa parte do desenvolvimento econômico de toda região Oeste da Bahia é
exógeno. Em tal situação, o local é explorado, ficando apenas com os problemas sociais e
ambientais, como herança de tal exploração da mão-de-obra e/ou dos recursos naturais.
São Desidério (Distrito de Roda Velha de Baixo).
O município onde se localiza o povoado de Roda Velha de Baixo (nosso último local
de visita/estudo neste trabalho) é São Desidério, este por sua vez, até 1962, pertencia a
Barreiras e foi emancipado no dia 22 de fevereiro pelo decreto nº. 1621, ficando com uma
área de 14.876,1 km, sendo o segundo maior município do estado da Bahia em extensão
territorial.
O povoado fica às margens do rio Roda Velha divide-se em dois blocos de casas,
afastados cerca de 1 km. A entrevista foi realizada no primeiro bloco de casas, onde fica a
escola, o posto de saúde, uma quadra poli-esportiva e a sede da associação dos
moradores. Nesse primeiro bloco também possui água encanada o que não existe no
segundo.
Além do potencial turístico, São Desidério, desponta como grande produtor nacional
de grãos, com destaque para o algodão, isso se deu entre outros fatores, devido a seu
grande potencial hídrico disponível e a qualidade de suas terras que abrigou produtores
rurais de outros estados brasileiros, além dos já existentes a priori no município.
Entre os fatores que levaram a ocupação das terras no Oeste Baiano, pode-se
destacar: a localização geográfica da região associada a sua disponibilidade de terras com
preços muito acessíveis, o pleno domínio da tecnologia para um manejo de solo no cerrado,
capacidade empreendedora e profissional dos produtores rurais, infra-estrutura existente
com estradas, energia elétrica e comunicação.
Neste sentido, vislumbramos a situação atual da produção e o ordenamento territorial
do povoado de Roda Velha de Baixo. Em relação à forma como as pessoas estão instaladas
no povoado, conversamos com duas pessoas residentes da localidade, a primeira matriarca
de uma família com oito membros, todos são lavradores, onde o marido é da própria
localidade e ela veio do estado de Goiás com 13 anos e foi morar no Sítio do Rio Grande,
outro povoado do município.
A família mora na localidade há quarenta anos, a casa é própria e eles têm um
pequeno pedaço de terra que ela disse ser brejo, para plantar alguns cultivos para o próprio
consumo. Em relação à saúde, ela relatou que tem Posto de Saúde na localidade e quando
surge alguma necessidade a ambulância faz o transporte das pessoas para são Desidério.
Quanto à segurança do local ela relata a necessidade de se ter um Posto Policial,
pois, existem alguns roubos e assaltos, e diz que provavelmente sejam as pessoas que
trabalham nas fazendas, com a colheita dos grãos e do algodão especificamente.

277
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
Ao entrevistarmos, uma jovem de 14 anos de idade, que mora na localidade desde
que nasceu, sua família é composta por quatro membros, onde o pai tem emprego fixo,
como operador de máquinas, diz que veio do Paraná, município de Manjuba.
A família possui casa própria. Quando arguida em relação à ação da prefeitura na
localidade ela relata que quanto á saúde, existe um posto, todavia, quando necessita dos
serviços prestados pelo mesmo ele não acontece, pois o médico só aparece duas vezes por
semana.
Quanto ao transporte ela relata que quando não tem ambulância e surge uma
emergência, tem que alugar um carro particular para fazer o transporte das pessoas. Em
relação ao transporte coletivo é feito apenas pelo escolar, segundo ela, não é suficiente,
pois o mesmo sempre apresenta defeito e os alunos têm que fazer o trajeto até a escola a
pé devido à falta de uma linha de ônibus. A localidade não possui escolas de segundo grau,
tendo que ocorrer o deslocamento dos alunos para Roda Velha de Cima, às margens da BR
020.
Quanto à segurança ela relata que a viatura da polícia só aparece uma vez por
semana e que o local apesar de não parecer, é muito violento. A comunicação é feita via
celular quando pega e que orelhão “só vive sem funcionar”.
Observa-se a construção do asfalto na avenida principal do povoado, que certamente
vem atender a demanda do agronegócio por ser, o “carro chefe” da economia, que tem
quase sempre suas demandas atendidas, pois entendem os governantes que sem a
realização dessa demandas, o mesmo pode vir a enfraquecer, o que não seria bom para a
região, que com tanto potencial poderia vir a ficar sem produzir, por conta de algo tão
simples de resolver, como a realização de obras.

“... tem-se um processo de informatização do território, já que o


ordenamento territorial é antes demarcado pelas transformações na
composição técnica, em fase dos investimentos em infra-estrutura, ou por
uma composição orgânica do território, construída pelas biotecnologias,
inovações químicas, informática e eletrônica. Tais elementos são
fundamentais para a instrumentalização de território em áreas de fronteira”.
(SILVA, 2006, p.305).

Percebe-se nesta situação que é inevitável o surgimento de conflitos, uma vez que
os interesses do capital estão em primeiro plano em detrimento das necessidades dos
habitantes do local, que apesar de serem também beneficiados pela pavimentação da
avenida, vêm suas necessidades vitais ficando em último plano a mercê dos interesses da
classe dominante.
Quanto às características físicas, este município apresenta uma cobertura vegetal
Savana (Cerrado), relevo Chapadão Ocidental do São Francisco. O clima varia de úmido a

278
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
subúmido. O município de São Desidério, segundo dados do IBGE (2000), possui
aproximadamente 19.006 habitantes, estando 11.887 entre a população rural e 7.129 na
população urbana desse município atualmente tem 25.158 habitantes, sendo 13.048
homens e 12.115 mulheres (contagem 2007). Área de 14.867,0 km², com uma densidade de
1,69hab./km² e com altitude média de 497 metros (IBGE, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Cerrado vem sofrendo com a degradação, provocada pelo homem em
decorrência do capitalismo. Neste processo percebe-se que a ocupação territorial,
acontece de forma desigual, onde a classe menos favorecida fica sempre a margem do
desenvolvimento econômico, ocasionando grandes conflitos, inclusive com vitimas fatais,
que em sua maioria nem são investigados, como a grilagem de terras que ainda acontece.
Apesar da grande “pujança” apresentada pelo agronegócio, percebe-se que a mais-
valia que dele advém não se transforma em efetivas ações sociais no território em estudo
parte do Oeste Baiano (Barreiras Luis Eduardo Magalhães e São Desidério). Desta forma a
ocupação territorial desse espaço geográfico, poderia ser efetuada de forma menos
agressiva, que contemplasse os interesses de todas as classes sociais. Com uma melhor
distribuição de renda e dos recursos captados, buscando um planejamento adequado
tendo em vista a realização do desenvolvimento sustentável e socialmente mais justo
“utopia”, pois, significaria o fim do capitalismo “selvagem”, que não é do interesse dos
detentores do poder político e econômico.
A degradação imposta ao meio ambiente nestes municípios vai além da verificada
na supressão do cerrado. Sabe-se que a produção em larga escala trás consequências
irreversíveis ao solo, rios e lençol freático, no entanto, não se efetivam ações contundentes
dos órgãos ambientais para a minimização destes impactos no sentido de se promover um
desenvolvimento sustentável eficaz, desta forma vislumbra-se nesta paisagem a
sobreposição dos interesses econômicos em detrimento dos sócio-ambientais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, M. G. (et al). Cerrado: As fitofisionomias e a Inter-relação com as Populações


Tradicionais. Projeto de pesquisa financiado pelo Programa Centro Oeste de Pesquisa e
Pós-Graduação – POCPG/CNPq – 2003;

BAHIA, Estado da. Desenvolvimento Regional: análises do Nordeste e da Bahia. Série


Estudos e Pesquisa. www.sei.ba.gov.br Salvador: SEI – Superintendência de Estudos
Econômicos e Sociais da Bahia, 2006, Acesso em 10 de Dezembro de 2008;

279
I Simpósio Regional de Geografia do Cerrado – SIREGEO
09 a 12 de Outubro de 2010 – Barreiras – BA
BRASIL, República Federativa D. população/PIB < www.ibge.gov.br > Rio de Janeiro;
2000, Acesso em 10 de Dezembro de 2008;

COSTA, R. H. O Mito da Desterritorialização: do ”Fim dos Territórios” à


multiterritorialidade. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2004;

GOMES, R. C. O conceito de território na trajetória do pensamento Geográfico.


Sociedade e território. V-1, v-2 (jan/jun 1999). Natal: UFRN/CCHLA/DGE, 1999;

MENDONÇA, F. A. – Geografia e meio ambiente - São Paulo: Contexto, 2007 – 8ª. ed., 1ª
reimpressão – (Caminhos da Geografia);

SAWAYER, D. (et al). População, meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável no


Cerrado, In: Migração e Meio Ambiente no Centro Oeste. Campinas: núcleo de estudos da
população. Unicamp: pronex, 2002. 322p;

SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção, 4ª edição - São


Paulo, editora da Universidade de São Paulo, 2004;

SILVA, C. A. F. Fronteira Agrícola Capitalista e Ordenamento Territorial. In: Território,


territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial/Milton Santo (et al). – Rio de Janeiro:
DP&A, 2ª ed. 2006.

Índice de GINI disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow, acesso


em 26/07/2010;

Definição do índice de GINI (disponível em : http://www.Pnud.org.br/popup/pop,


acesso em 26/07/2010.

280

Potrebbero piacerti anche