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A organização política do Assistente Social: dilemas atuais e os elementos

necessários para a construção de uma agenda de lutas


*André Quintão

Nesta palestra, de forma transparente, quero abordar alguns aspectos que considero
importantes para nossa reflexão, objetivo deste Simpósio preparatório para o nosso
Congresso Brasileiro. Quero fazer este debate tendo como referência o nosso Projeto Ético-
político. Vou tentar abordá-lo em uma dimensão prática e não apenas ideal. O nosso Projeto
Ético-político é a grande referência profissional para todos nós. Neste início, vou então
repassar alguns pontos dele.

• A liberdade como valor ético central e defesa intransigente dos direitos humanos
• A ampliação e consolidação da Cidadania: direitos civis, sociais e políticos;
• Universalização de acesso a bens e serviços, eqüidade e justiça social, através de
programas e políticas sociais;
• Gestão democrática dessas políticas;
• Opção por um projeto profissional vinculado a uma nova ordem societária;
• Articulação com outras categorias e luta geral dos trabalhadores;
• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, com o
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional.

São algumas referências que devemos perseguir na nossa ação política e profissional.
Então, qual seria, no meu entendimento, a missão política e profissional da nossa categoria
neste momento atual ?

Primeiro: lutar a partir da efetiva ampliação dos direitos sociais no Brasil, através de
políticas públicas com controle social. Essa é a nossa grande tarefa política. Lutar pela
efetivação do direito social e participar da implantação de uma rede de proteção social em
nosso país. Segundo: articular-nos às lutas gerais da sociedade por um Estado mais
democrático em todos os níveis. Essa missão política pressupõe uma visão política e aqui
vou colocar a visão que eu tenho.

Em primeiro lugar, seja um caminho certo ou equivocado, e há uma literatura a respeito


disso, o povo brasileiro escolheu o caminho democrático para a construção de uma
sociedade diferente. Hoje, nós estamos vivendo um momento que busca combinar a luta
social com a ocupação de espaços institucionais, num processo de disputa por hegemonia
para promover as transformações necessárias no país. Nós temos que partir de uma
perspectiva, nós vamos transformar através de quais mecanismos? Alguns países, em
momentos anteriores, escolheram o caminho da revolução armada; outros escolheram
outros caminhos. Nós estamos na construção histórica de um caminho que busca combinar
a luta social com a ocupação de espaço institucional. Para que tenhamos um horizonte
concreto de atuação, sem abrir mão de convicções políticas e ideológicas, expressas
também em nosso código de ética profissional, é que reafirmo estas convicções. É muito
claro, para a maioria de nós, que o Capitalismo não é o modelo ideal civilizatório. O
Capitalismo coloca o lucro, o mercado, o consumo acima da dimensão humana. As análises
já feitas aqui, neste Simpósio, foram muito felizes nesse particular, ao mostrar como o
Capitalismo se reatualiza para fazer prevalecerem os seus valores e os seus ideais.

A segunda questão é que o Socialismo Real não resolveu e não criou o mundo da liberdade.
As experiências do Leste Europeu, do socialismo autoritário, não ofereceram uma
alternativa ao Capitalismo. O Neoliberalismo muito menos; essa atualização do velho
Liberalismo não proporcionou qualquer melhoria do ponto de vista civilizatório. Então, eu
acho que nós vivemos um momento de construção do novo. Esse é o nosso desafio. Não
apenas nosso, dos assistentes sociais, do Brasil, mas um desafio mundial. A União Européia
hoje faz esse debate, a América Latina faz esse debate, os países africanos fazem esse
debate. Qual é o modelo que se contrapõe a essa lógica feroz e perversa do Neoliberalismo,
do Capitalismo, mas que também rejeita aqueles modelos, que, em nome da justiça, em
nome de uma sociedade igualitária, também reproduziram uma estrutura autoritária e
antidemocrática?
Eu acredito que construir “esse novo” no Brasil requer uma exigência básica: elevar o nível
de acesso aos direitos básicos de cidadania e ampliar a participação política do cidadão.
Para mim, isso é pressuposto. Não temos condições de construir o novo no Brasil sem
promovermos uma efetiva inclusão social de segmentos que não têm acesso nem aos
direitos básicos que alguns países de capitalismo avançado já proporcionam aos cidadãos,
como os países da Europa. Então, essa é uma exigência real, objetiva, e nós temos que
enfrentá-la. Até porque eu não acredito, como muitos, que quanto pior melhor para a
revolução. Ao contrário, quanto melhor a situação do povo, quanto mais instrução, quanto
mais cidadania, mais condições teremos de construir a emancipação e uma sociedade com a
qual todos nós sonhamos. Nesse sentido, a tarefa política hoje do país é a maior inclusão
social possível, através da conjugação do desenvolvimento econômico com o
desenvolvimento social. É um processo onde cada conquista significa também um
confronto com a lógica capitalista, com a lógica Neoliberal. Nós operamos exatamente
nesse terreno contraditório, de estarmos no caminho institucional, de nos confrontarmos
com a hegemonia neoliberal do mundo inteiro, que repercute e rebate em nosso país. Mas
estamos ocupando espaços institucionais, que podem permitir a criação de condições para
um enfrentamento mais vigoroso contra esse próprio sistema.

Nessa linha, eu tenho uma visão otimista. Gramsci dizia que na luta política devemos
combinar o otimismo da vontade com o pessimismo da razão. Eu, particularmente, estou
num momento de mais otimismo da vontade do que de pessimismo da razão. Acredito que
vivemos hoje um momento desafiador e positivo. Digo isso sem desconhecer a gravidade
do quadro social brasileiro. Temos uma dívida social histórica. O quadro social brasileiro é
trágico e não é preciso citar exemplos e indicadores porque todos conhecemos: o genocídio
juvenil do Brasil é um dos exemplos mais claros, a falta de perspectiva para a nossa
juventude. Foram 500 anos de dominação, numa concentração de renda absoluta, que nos
indigna. Mas eu faço uma diferenciação que não é de natureza político-partidária, uma
diferenciação que considera o estágio da conquista do povo brasileiro de 1988 pra cá.

Nos últimos anos, alguns avanços institucionais foram e são importantes do ponto de vista
das políticas públicas. É inegável que o Fundeb é uma conquista. Incluir o ensino infantil
na agenda da educação brasileira, criar uma Lei de Segurança Alimentar Nutricional e
Sustentável, que coloca o direito humano à alimentação na agenda da política pública, são
avanços institucionais importantes. Na Assistência Social, a criação e consolidação de um
Sistema Único de Assistência Social é uma conquista importante. Não é favor de ninguém,
é uma conquista da nossa categoria, inclusive em sucessivas conferências nacionais. O
Programa Bolsa Família, que tantos criticam, tornando a renda mínima direito de cidadania.
Não é esmola. É direito. Os segmentos conservadores no Brasil quiseram destruir o Bolsa
Família, no ano 2004 e no ano 2005, com a lógica de que o programa gasta muito e que
esse dinheiro tinha que ser investido em infra-estrutura econômica para promover o
desenvolvimento econômico, porque o desenvolvimento econômico, sim, gera emprego.
Como se na ditadura militar o Brasil não tivesse crescido 11% ao ano. O fato é que a renda
não foi distribuída e hoje o país tem milhões de famílias que precisam sim da Bolsa Família
por uma questão básica: para não morrer de fome.

Não podemos, então, negar esses avanços. Acredito que construir um verdadeiro Estado de
bem-estar social no Brasil já confronta interesses, confronta a lógica interna do capitalismo
brasileiro e da estrutura do poder. Nós participamos, e eu era estudante naquele período, do
movimento pró-constituinte, da Constituinte de 1988, lutamos cinco anos pela nossa Lei
Orgânica da Assistência Social. Tivemos governos, depois das eleições diretas, que
trouxeram, de maneira vigorosa, o Neoliberalismo para o Brasil e não cumpriram, no plano
federal, a Lei Orgânica da Assistência Social, criando, inclusive, o Comunidade Solidária,
que afrontava o comando único da Assistência Social. Foram necessárias a nossa luta, a
nossa organização e a organização de parcela do espaço institucional para termos hoje uma
Política de Assistência Social mais digna. É preciso discernir. Hoje, há regressão de
direitos? Hoje, há um desmonte das políticas públicas do Estado brasileiro? Gostaria de
refletir isso com vocês. Considero que hoje nós temos, sim, desafios para efetivar e
consolidar direitos sociais.

Vamos então falar de uma agenda no âmbito da luta social, na qual devemos estar presentes
e articulados com os demais movimentos sociais.
O primeiro ponto eu já disse e será talvez nossa maior contribuição: construir, de fato, uma
rede de proteção social no Brasil, sem perder de vista a dimensão e as contradições
inerentes ao capitalismo. É evidente que não vamos resolver um problema de natureza,
inclusive, societária no sistema capitalista apenas com uma rede de proteção social. Mas
esse é um desafio muito atual.

Um segundo aspecto de luta geral importante: a ampliação da oferta de emprego e de


geração de renda. O Brasil tem que crescer mais. Não podemos ficar refém do sistema
financeiro. A atividade produtiva gera emprego e renda. Mas já não gera tanto porque há o
desemprego decorrente da revolução tecnológica. Nós temos também que buscar as formas
alternativas, o cooperativismo, a economia solidária, além da iniciativa produtiva industrial.
É preciso garantir também condições de sustentabilidade da produção para as futuras
gerações. Entram aí a questão das águas, da biodiversidade, o saneamento ambiental, o
tratamento e a destinação final do lixo. Temos que achar o caminho comum do
desenvolvimento econômico, da distribuição de renda e da sustentabilidade. Temos que
achar a mediação do que é possível e do que é necessário.

No campo político, é fundamental: promover a reforma política mais ampla possível. Não
apenas a reforma política eleitoral, que já é muito importante, porque temos que melhorar a
qualidade da nossa representação. A representação do povo brasileiro é conservadora, é
muito definida pelo poderio econômico e não há sistema democrático com partidos
fragilizados. Nós precisamos de fidelidade partidária; nós precisamos discutir o peso
econômico dos grandes grupos nas campanhas eleitorais. Mas acho importante também
aprimorarmos os mecanismos de participação direta da população, os referendos, os
plebiscitos. É fundamental o controle externo do Judiciário, do Executivo, do Legislativo.
Nos temos que ousar revogabilidade de mandato, limitação do número de mandatos no
mesmo cargo, temos que arejar o nosso sistema de representação. São questões
importantes, inclusive para o melhor controle social e um combate vigoroso da corrupção.
A corrupção no Brasil é sistêmica; está no Judiciário, no Executivo, no Legislativo, na
sociedade civil, nos segmentos econômicos. O controle da sociedade pode ser uma das
salvaguardas para eliminarmos essa sangria dos recursos públicos.
Citei aqui alguns itens de uma agenda para o Brasil. Nós temos que estar sintonizados com
ela. Essa agenda depende muito dos movimentos sociais. Sim, porque o Brasil tem uma
estrutura muito conservadora. O próprio governo federal, uma conquista de segmentos
expressivos da luta social, é um governo de coalizão. É um governo que tem, em sua
formação, interesses contraditórios. Temos um Congresso Nacional conservador, eleito em
nosso sistema eleitoral viciado. Temos hoje os grandes grupos que compõem a mídia
brasileira vinculados ao modelo neoliberal. Não tenhamos dúvida disso e todos nós
sabemos o papel que a mídia cumpre em nosso país. A luta pela democratização dos meios
de comunicação é uma luta estratégica. Então, para que a gente possa avançar na luta
institucional é fundamental que o movimento social tenha o foco certo de suas
reivindicações e da sua estratégia, seja nas lutas segmentadas, respeitando a diversidade,
mas construindo a unidade como já foi dito aqui; seja identificando quem são os inimigos
do nosso momento político atual, para não dar tiro no alvo errado.

Devemos conjugar a organização das camadas populares, dos movimentos sociais, com a
boa luta institucional; uma alimentando a outra, em uma estratégia combinada. Somente a
sociedade organizada na defesa de seus direitos empurra para avanços na dimensão
institucional. Nós não vamos fazer mudanças por cima. Tudo isso que eu citei aqui foi
conquistado.

Há também uma agenda de luta da nossa profissão. Vou citar alguns pontos coincidentes
com os já mencionados neste Simpósio, mas procurarei acrescentar na forma de abordá-los.
Se é verdade que estamos em um momento de constituição de sistemas federativos de
políticas públicas - a LOSAN na Segurança Alimentar, o SUAS na Assistência, o Fundeb
na Educação, a expansão dos programas de transferência de renda, entre outros -, nós
temos que ter em nossa agenda a integração das políticas públicas. A chamada
intersetorialidade está colocada como um desafio para nós. Cada segmento no Brasil
construiu a sua trajetória e foi muito importante, mas estamos no momento de construir, no
âmbito das políticas públicas, uma ação integrada. E aí a nossa categoria tem um papel
fundamental. Por que?
Primeiro, porque a nossa categoria está presente em várias políticas públicas. Em segundo
lugar, pela nossa formação. A formação do assistente social permite uma visão geral de
política pública, integrando o elemento popular, através do controle social. Construir um
sistema de informação integrado, produzir rede territorializada de prestação de serviços
com foco na família são tarefas nossas. O Sistema Único da Assistência Social, através dos
CRAS, os Centros de Referência da Assistência Social, pode ser o elemento integrador
dessas políticas com base territorializada. Eu imagino muito, e sonho até, com o CRAS
podendo dialogar com o Programa de Saúde da Família, com a escola, com a rede da
sociedade civil, as organizações não governamentais, com a chamada responsabilidade
social, com as associações comunitárias, com os movimentos organizados. O CRAS tem
um importante papel nessa articulação. É evidente, ainda, que na integração de políticas
públicas, nós temos que ter uma preocupação grande com o financiamento, temos que ter
também uma preocupação grande com a qualidade, com os indicadores, com a eficácia e
eficiência das políticas públicas.

A integração nos remete, ainda, a outro item da nossa agenda de luta, que é a defesa do
espaço profissional. Nós temos hoje, não por razões corporativas, mas por necessidade da
política pública, a obrigação de defender com vigor a presença do assistente social, por
exemplo, no Programa de Saúde da Família. Não há como pensar a saúde da família, a
saúde preventiva, sem um profissional para trabalhar as múltiplas dimensões da família, a
interação da família à comunidade, as condicionantes de uma real promoção da saúde. Em
muitos lugares, o papel do assistente social precedeu o programa governamental. Aqui em
Belo Horizonte, tivemos a experiência das Unidades Básicas de Saúde com assistentes
sociais, antes do PSF. A defesa do Serviço Social na Educação é outro exemplo. Não há
como promover uma escola inclusiva, combater a evasão escolar, organizar a jornada
ampliada, garantir as condicionalidades do Bolsa família, promover a participação
democrática da comunidade sem um profissional da Assistência Social, sem uma equipe
arejada. Temos que garantir a presença da nossa profissão nos mecanismos de controle
social, assessorando os conselhos e movimentos sociais. Não há controle social, não há
democracia participativa com conselho homologatório, dizendo amém para os prefeitos,
sem informação, sem condições de opinar.

Quando a gente defende inclusão social, rede de proteção social, política pública social com
qualidade, controle social, tudo isso, para ter resultados positivos para a população, exige,
necessariamente, condições de trabalho adequadas. Não podemos tratar condições de
trabalho de um lado, como se fosse um aspecto isolado da luta, e política pública e
transformação social de outro. Elas estão interligadas. Quando a gente promove inclusão
social, quando a gente descontrói a lógica do Estado mínimo, a gente consegue a promoção
da cidadania e ao mesmo tempo criar condições de um questionamento superior ao modelo.
E aí há uma diferença na perspectiva do Brasil hoje, que não é, felizmente, no âmbito das
políticas sociais, de redução da participação do Estado.

Temos que lutar por profissionais qualificados, bem remunerados e com condições de
trabalho dignas. Não numa perspectiva meramente corporativa, mas na perspectiva de
reconhecimento de que o profissional da área social é estratégico para afiançar direitos
sociais. Nós temos a NOB RH-SUAS, a Norma Operacional de Recursos Humanos,
aprovada em dezembro de 2006, pelo Conselho Nacional. Nós temos que defender
concurso público. Nós temos que discutir - e a NOB prevê isso - o piso salarial
regionalizado na implantação do SUAS, através da programação pactuada integrada. Nós
precisamos incluir o assistente social nos planos de cargos e salários inclusive de outras
áreas, na Educação, na Saúde.

Outro item é a formação qualificada do assistente social, já abordada também neste


Simpósio, com muita pertinência. Eu acredito que hoje a expansão é muito privada e muitas
vezes não tem a qualidade associada. Esse é o grande problema. Porque um nível de
expansão é importante. Em Minas Gerais, eu fico feliz com a abertura da Universidade
Federal em Teófilo Otoni, com escola de Serviço Social, para o assistente social ficar no
Jequitinhonha, no Mucuri, no Rio Doce. É importante que cada região forme os seus
profissionais. O que nós temos que garantir é a qualidade na formação. Nós temos que ter
os estudantes das faculdades do interior, desses centros universitários, como aliados, e não
estigmatizá-los. Nós temos que fazer com que eles se organizem para serem assistentes
sociais de primeiríssima categoria. E o conjunto CFESS/CRESS tem que ser rigoroso,
porque a expansão desqualificada pode se voltar contra nós. O espaço profissional que a
gente conquistar, nós vamos perder ali na esquina. Nós temos que ter uma estratégia de
enfrentamento dessa questão, buscar unir, e não segmentar a categoria e os estudantes.
Outra questão é a capacitação continuada. A nossa formação generalista é boa, mas se
queremos ocupar espaços em outras áreas, nós temos que nos especializar, porque a
formação generalista se torna insuficiente. É preciso uma política vigorosa de estágio. O
estágio curricular é muito importante e deve estar associado, também, às novas perspectivas
de espaço profissional. Na PUC Contagem, por exemplo, temos o campo de estágio na área
de Educação, produzindo conhecimento, produzindo teorias, reflexões, experiências
práticas em uma área nova. Em Passos, a mesma coisa. São exemplos que tive
oportunidade de conhecer em função da Lei aprovada em Minas, de minha autoria, do
Serviço Social na Educação.

Finalmente, vamos abordar os espaços organizativos, para darmos conseqüência a essa


agenda de luta da categoria. Primeiro, fortalecer o conjunto CFESS/CRESS. A nossa
organização - e eu rendo elogios ao conjunto CFESS/CRESS, muitas vezes
incompreendido - é muito avançada. Tem a dimensão da transformação da sociedade, que
significa avanço de perspectiva na profissão. Para nós, assistentes sociais, isso é muito
importante, não ficar apenas enxugando gelo. Se não há esta conjugação, da luta social no
país com o exercício da profissão, cria-se um campo fértil para demandas particulares, sem
conexão com um projeto de transformação maior. Em Minas Gerais, eu faço elogios a atual
direção do CRESS na questão da nucleação dos assistentes sociais. A nucleação concretiza
a discussão dessa agenda de lutas no âmbito regional. Eu vou dar um exemplo: o piso
salarial regionalizado. Se você tem, em uma região, um núcleo de assistentes sociais,
articulado com as escolas da região, com os gestores, você pode ter mais eficácia na
implementação efetiva de um patamar mínimo de remuneração. Quando um prefeito abre
um concurso para pagar 400 ou 450 reais para um assistente social, se não há uma
articulação entre os assistentes sociais, muita gente se submete e não podemos nos
submeter a um salário que desqualifica a nossa profissão. O núcleo é uma experiência das
mais positivas da atual gestão, porque permite a discussão na base. Vamos discutir o
salário, a jornada de trabalho, o primeiro-damismo, as condições de transporte, de infra-
estrutura, a informatização, vinculando tudo isso à grande política para a transformação
social.

Nessa perspectiva, o trabalho do conjunto CEFESS/CRESS se engrandece, se efetiva com


mais vigor, está associado ao que o assistente social está vivendo lá na ponta. Quem é
assistente social no interior de Minas sabe as dificuldades para se traduzir uma boa política
pública nacional na ponta. Essa é uma linha importante também do COGEMAS. É evidente
que tem gestor que não é assistente social, mas em boa medida está havendo também uma
profissionalização da gestão da Assistência Social. É importante que o poder público, cada
vez mais, se profissionalize, com técnicos preparados. Quanto menos cargos de
recrutamento amplo e mais funcionários efetivos melhor para o poder público, para a
política pública republicana, porque governos passam e as estruturas devem ser
permanentes. Os fóruns inter-conselhos também são importantes porque a gente se associa
a outras categorias na luta mais geral. Na Assembléia, por exemplo, nós vamos fazer um
fórum específico para discutir formação superior com outros conselhos, da Psicologia, da
Enfermagem, da Nutrição.

Essa é outra questão, a articulação com o Legislativo. Financiamento de política pública,


condições de trabalho, planos de carreira, tudo passa pelo Legislativo. Nós não podemos
virar as costas ao Legislativo. É fundamental, ainda, fortalecer o movimento estudantil,
discutindo as questões gerais, mas também o ensino, a pesquisa, o currículo, vinculados à
dimensão da sociedade. Porque elas são indissociáveis. Uma boa formação repercute numa
boa operação da política pública, que pode repercutir num bom processo emancipatório.

Eu queria terminar dizendo o seguinte. Eu vou fazer no dia 7 de julho vinte anos de
formado. Há aqui outras pessoas da mesma época. Sempre atuante na luta da Assistência
Social e nas lutas mais gerais. Já fui estagiário na Prefeitura de Belo Horizonte em uma era
clientelista e fui o primeiro assistente social a ser secretário de Desenvolvimento Social em
Belo Horizonte quando o atual ministro Patrus era prefeito. Vivi o momento de coleta de
assinatura na Praça Sete, na Constituinte, para as emendas populares para incluir a área da
criança, a Assistência Social como direito do cidadão e dever do Estado. Participei da
articulação pela LOAS. Depois, vimos o desmonte. O desmonte neoliberal do Governo
Fernando Henrique. Vivo agora um período de construção de políticas públicas, do SUAS,
por exemplo, que nos desafia tecnicamente. Boa parte de quem coordena as políticas
públicas sociais no Brasil hoje são aqueles que estavam, com tantos aqui, na conquista da
LOAS, no processo de redemocratização do país.

Digo tudo isso porque tenho o receio de uma cisão em nossa categoria. Uma diferenciação
faz parte da democracia. Nenhum partido pode advogar ser o representante exclusivo do
que há de melhor para o país. Seria uma prepotência. Mas, tenho receio de uma cisão nos
setores mais avançados da nossa categoria. É a cisão entre quem pensa a transformação do
ponto de vista acadêmico e quem opera a política pública, na prática. Como se quem
estivesse na gestão da política pública estivesse desconhecendo a dimensão transformadora
e estratégica, anti-neoliberal e anti-capitalista que o nosso Brasil precisa e que o mundo
precisa. Não podemos ter esta cisão. Quem produz, com competência, diga-se de passagem,
uma boa interpretação teórica dos desafios estratégicos, muitas vezes se dissocia dos
desafios da nossa construção do ponto de vista prático. Então, para terminar, vou dizer que,
com a consciência da enorme dívida social do Brasil é que enfrentamos os desafios
cotidianos pela transformação e, nessa condição, podemos nos considerar construtores
ativos da cidadania do nosso país.

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