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Freqüentemente, observa Eco, acredita-se que para controlar o poder mediático seja
necessário dominar dois elementos da cadeia comunicativa: a fonte de informação e o canal
transmissor. Mas, deste modo, adverte Eco, "... controla-se a mensagem como forma vazia
que chegada à Destinação, cada um preencherá com os significados que lhe serão sugeridos
pela própria situação antropológica, pelo modelo de cultura".(8)
Por esta razão, Eco propõe que a guerrilha semiológica seja uma batalha contra o
código do poder emitente, uma confrontação que ocorra no momento da recepção: "Nos
lugares mesmos onde parece impossível alterarem-se as modalidades da emissão ou a forma
das mensagens, continua possível modificarem-se as circunstancias à luz das quais os
destinatários escolherão os seus próprios códigos de leitura".(9)
O propósito desta guerrilha semiológica seria não apenas demonstrar que a mensagem
pode ter seu significado invertido, mas, sobretudo, mostrar os diversos modos de interpretá-
la, ainda que a forma significante permaneça inalterada.(12)
Para alcançar estes objetivos, Eco propõe que o universo da comunicação seja
atravessado por "... grupos de guerrilheiros da comunicação que reintroduziriam uma
dimensão crítica na recepção passiva", proclamando diante da "divindade anônima" da
comunicação tecnológica: "... seja feita não a Vossa, mas a nossa vontade".(13)
A guerrilha poderia provavelmente tomar a forma de um combate intermediático, de
modo que um determinado veículo emitisse uma série de juízos sobre outro veículo de
comunicação, desafiando o suposto significado unívoco das mensagens emitidas pelo veículo
criticado.(14)
Por outro lado, quando Armand Mattellart refere-se à questão da re-significação das
mensagens - "O significado de uma mensagem não está limitado ao seu estágio de
transmissão. A audiência pode também produzir seu próprio significado"(21) - , está
discutindo uma questão bem diferente, porquanto considera que a recepção crítica insere-se
num processo de confrontação sígnica e política no interior da luta de classes.
O modelo dominante "de produzir cultura e falsa consciência" assenta-se, para
Mattellart, sobre uma relação de poder que se distribui por todos os níveis da comunicação.
Na vinculação unidimensional entre emissor e receptor, Mattellart identifica uma relação entre
produtor e consumidor, através da qual a classe dominante, como proprietária dos veículos
"... se apropria do produto das forças sociais e se erige no único poder criador de sentido da
realidade cotidiana".(22)
Nesta relação vertical, as classes dominadas são usurpadas de seus atos e de suas
vozes. Como protagonistas da história, os povos estão sempre atuando em movimentos de
caráter social, mas não têm a possibilidade de dar um sentido próprio às notícias veiculadas
que descrevem estes movimentos. Os veículos de comunicação de massa reinterpretam a
realidade social, moldando-a segundo seus interesses de classe e difundindo uma versão
distorcida que favorece a perspectiva do poder estabelecido.
A divergência entre suas proposições estaria, portanto, nos objetivos de uma recepção
crítica, no sentido político da reinterpretação da mensagem.
Umberto Eco reconhece que "... uma tática de decodificação que institua circunstâncias
diferentes para decodificações diferentes..." pode ser útil para se combater "... uma
engenharia da comunicação que se esforça por redundar as mensagens a fim de assegurar-
lhes a recepção segundo os planos estabelecidos".(27) Ele mesmo, porém, adverte que este
aspecto "revolucionário" da consciência semiológica não deve nos induzir ao otimismo, pois
"... o mesmo procedimento serve tanto para a contestação quanto para o restabelecimento
de um domínio".(28)
Poderíamos aventar uma terceira via: as duas concepções não seriam excludentes,
mas complementares; a perspectiva semiológica e a política seriam ambas necessárias neste
processo de se instituir o receptor autônomo. Talvez se deva mesmo afirmar que a
consciência política requer uma consciência semiológica, uma capacidade crítica de
decodificar, por trás da ideologia dos discursos, a desigualdade das classes sociais.
Por outro lado, a guerrilha semiológica efetiva deve ser politicamente orientada,
determinando um projeto de leitura específico que resulte em objetivos estratégicos. Cada
classe social, cada etnia, cada sexo, cada minoria ou mesmo cada indivíduo têm
naturalmente interesses próprios que se refletem na decodificação. Dispõem de arsenais
particulares que utilizam neste processo de confrontação com a comunicação instrumental.
No entanto, projetos de leitura específicos podem e devem ser articulados de tal modo
que os objetivos políticos de indivíduos, minorias, grupos ou classes sociais possam ser
conjugados a processos de decodificação, interpretação e resignificação. Nesta tarefa de re-
leitura objetivada, o conhecimento teórico e prático da comunicação e da semiologia serão
certamente necessários para que diversos e novos significados possam emergir.
01 - Umberto Eco. A guerrilha semiológica. In: Viagem na Irrealidade Cotidiana. Ed. Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1984, p. 171.
02 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana. p. 171.
03 - Eco. El público perjudica la Television ?. In: Sociologia de la comunicación de masas. M. de
Moragas, ed. Vol. II, Barcelona, Ed. Gustavo Gilli, 1985, p. 177.
04 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 171.
05 - Eco. Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II, p. 180.
06 - Eco. Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II, p. 179.
07 - Eco. Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II, p. 192.
08 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 173.
09 - Eco. A Estrutura Ausente. Ed. Perspectiva, São Paulo, 1976, p. 418.
10 - Eco. A Estrutura Ausente. p. 418.
11 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 173.
12 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 174.
13 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 175.
14 - Eco. Viagem na Irrealidade Cotidiana, p. 174.
15 - Paolo Fabri. Citado por Fontecoberta e Mompart. Alternativas en comunicación, p. 52-3.
16 - Barnlund. Citado por Lucien Sfez. Traverses 44-45, p. 41.
17 - Thayer. Citado por Lucien Sfez. Traverses 44-45, p. 41.
18 - Katz e Liebes. Citados por Lucien Sfez. Traverses 44-45, p. 41.
19 - Hadley Cantril. La invasión desde Marte. In: Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II,
p. 99.
20 - Cantril. Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II, p. 106.
21 - Armand Mattellart. Introduction: for a class analysis of communication. In: Communication
and class struggle. Mattellart e Siegelaub. International General, New York, 1979, p. 27.
22 - Mattellart. La comunicación massiva no processo de liberación. Siglo Vertiuno Ed. México,
1973, p. 19.
23 - Mattellart. Communication and class struggle. p. 27.
24 - Michel de Certeau. Citado por Mattellart. In: Communication and class struggle. p. 28.
25 - Eco. Sociologia de la comunicación de masas. Vol. II, p. 189.
26 - Eco. A Estrutura Ausente, p. 419.
27 - Eco. A Estrutura Ausente, p. 419.
28 - Eco. A Estrutura Ausente, p. 419.
29 - Mattellart. Communication and class struggle. p. 28.