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I - INTRODUÇÃO
destino que lhe havia prescrito a civilização: trabalhar dezoito horas por dia, todos os
dias do ano.
O escravismo foi estruturado em alicerces constituídos pela violência bárbara e
desumana, pela concentração do solo, exploração das riquezas e pela monocultura.
Esse sistema tinha também como projeto a desconstrução cultural dos povos
africanos, como vinha fazendo com os indígenas - sem sucesso. A lingüística, parte
da expressão e identidade fundamental de um povo, assim como outros aspectos
culturais (como a religiosidade), foram manipulados para impedir que houvesse
tentativas de resistência por parte dos africanos. A diversidade lingüística da África
fez com que os portugueses evitassem a concentração de escravos originários das
mesmas regiões étnicas em propriedades e navios negreiros. Assim buscavam
destruir qualquer laço de identidade e solidariedade que houvesse entre o mesmo
grupo.
Surpreendente é, ainda hoje, saber como os diversos povos africanos, assim
como os indígenas, sofrem com as tentativas de desconstrução de sua cultura,
sendo forçados a deixar suas crenças, sua compreensão de mundo, deixando de ser
eles próprios, numa tentativa de transfiguração que não vinga. Estes, juntamente
com os indígenas que restaram do grande etnocídio, assim como da miscigenação
com o português, impossível de deter, formaram o povo que somos hoje, o
brasileiro. Os negros e os indígenas impediram que nos tornássemos uma cópia da
Europa. Impuseram, a partir de muita luta e resistência, novos padrões culturais que
permanecem em todo o país, como o catolicismo brasileiro, as demais religiões, a
culinária, a musicalidade, a força, o conhecimento, nossa beleza com os traços mais
fortes, sem esquecer nossa subversão. Isto ainda é negado e marginalizado, o que
faz dos afro-descentes vítimas de um processo de invisibilidade de uma sociedade
de bases originárias e contemporaneamente marcada pelos preconceitos e pela
exploração.
Muitos dos orixás trazidos da áfrica pelos escravos estão muito mais presentes
na nossa cultura do que na cultura do continente negro. Os Orixás são as forças
vitais que tudo geram e conduzem. É a natureza e toda a sua expressão, como as
águas, a terra, as árvores, o mar, o ar, assim como esta força que nos faz levantar
todos os dias ou o que nos dá sopro de vida. Os negros brasileiros são sinônimo de
fé, de força e de sobrevivência. As religiões de origem africana foram fundidas nas
senzalas unindo diversos mitos, costumes. Sincretizadas para deixarem de ser algo
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elas são ressignificadas de modo que se aproveite de cada uma aquilo que é
pertinente ao novo projeto de país que se pretende desenhar. Proclama-se a
diferença biológica entre as raças como forma de manter a superioridade da
população de origem européia e como saída para a questão da mestiçagem
entende-se a evolução como algo fatal para o progresso da humanidade.
Apesar de o processo de branqueamento físico da sociedade ter fracassado,
seu ideal inculcado através de mecanismos psicológicos ficou intacto no
inconsciente coletivo brasileiro, rodando sempre nas cabeças dos negros e
mestiços. Esse ideal prejudica qualquer busca de identidade baseada na ‘negritude
e na mestiçagem’, já que todos sonham ingressar um dia na identidade branca, por
julgarem superior.
O argumento racial é elaborado de forma a escolher, dentre as teorias
científicas trabalhadas, as características destas que melhor respondem aos
impasses pelos quais se defronta a elite brasileira no momento que tem de pensar a
viabilidade da sociedade brasileira.
Era preciso elaborar um novo projeto político para o país que se pretendia
moderno, industrioso, civilizado e científico e definir critérios rígidos de cidadania.
Nestes critérios pode-se pensar a educação como questão central para esse
novo projeto político. De fato, a Educação é pensada como fundamental e isto é
atestado pela criação de inúmeras escolas primárias e secundárias como também
pela criação, no país, das primeiras faculdades.
Estas são criadas não com o intuito apenas de formar quadros para a
burocracia estatal nascente a partir da transferência da corte portuguesa e da
independência política, mas com o objetivo de pensar a construção de uma
identidade nacional homogeneizadora e livre de qualquer contradição ou conflito. A
tradução da teoria racial européia para o Brasil não foi obra do acaso, ao contrário,
foi feita de forma crítica e seletiva moldando autoritariamente uma identidade
nacional e legitimando hierarquias sociais cristalizadas.
Temos alguns casos esparsos nas províncias de criação de escolas de
primeiras letras financiadas por instituições beneficentes abolicionistas, que tinham
como principal objetivo a instrução escolar preparando para o mundo do trabalho e
também aliciando os negros para aderirem à causa abolicionista dentro dos moldes
propostos pela elite letrada, que via numa abolição pacífica do trabalho escravo a
possibilidade de manutenção do status quo.
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brasileiro, uma vez que existem elementos que indicam que as camadas negras no
Brasil, apesar dos obstáculos lhes impostos, galgaram, se não na sua grande
maioria, pelo menos uma certa parcela, diversos níveis de escolarização, em grande
parte por esforços particulares ao próprio grupo.
O resgate de fontes e a reconstrução de um relato histórico da história da
educação brasileira que considere não só as experiências educativas de uma elite
branca ou da emergente classe média branca para as quais o sistema oficial de
ensino brasileiro foi construído torna-se necessário e urgente na conjuntura
brasileira atual, tendo em vista que a realidade sobre as desigualdades raciais no
Brasil já não parecem novidade a ninguém.
É notório que já se assumiu oficialmente que o Brasil é um país multiétnico com
tratamento desigual dos seus grupos. São iniciativas que indicam esse processo a:
revisão dos conteúdos escolares visando contemplar a multiplicidade dos interesses
dos vários grupos humanos existentes no país, a reformulações da história oficial
brasileira com destaque ao papel e as contribuições dos grupos raciais, as
avaliações de livros didáticos visando a abolir abordagens preconceituosas, o
desenvolvimento de estudos que revelam o tratamento diferenciado relegado à
criança negra nas escolas públicas e a introdução do estudo oficial da Pluralidade
Cultural como conteúdo transversal no ensino fundamental.
Contudo, embora toda essa movimentação se construa em torno das escolas
brasileiras, ainda dispomos de cursos de formação de educadores que ministram
uma história da educação que nos parece alheia a tudo que está ocorrendo
atualmente sobre o ensino em perspectiva multicultural. Ao mesmo tempo, os cursos
de Pós-graduação em Educação, locais de excelência para o desenvolvimento de
pesquisas (cujos conhecimentos poderão se refletir nos cursos de formação do
educador) embora disponham de área de pesquisa voltada para a história da
educação brasileira, infelizmente não dispõem de linha voltada para a história da
educação do afrodescendente. Tal fato, por outro lado, dificulta o desenvolvimento
de estudos nessa área de interesse.
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Lei, já que ao mesmo tempo em que ela é resultado de luta também chama atenção
e levanta questionamentos para um problema que deve ser levado a sério, mesmo
que ela não esteja sendo implementada plenamente. Assim, conforme Santos,
“Os movimentos sociais negros, bem como muitos intelectuais negros
engajados na luta do anti-racismo, levaram mais de meio século para conseguir a
obrigatoriedade do estudo da história do continente africano e dos africanos, da luta
dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do negro na formação da
sociedade nacional brasileira. Contudo, torná-los obrigatórios, embora seja condição
necessária, não é condição suficiente para a sua implementação de fato. Segundo o
nosso entendimento, a Lei número 10.639, de 09 de janeiro de 2003, apresenta
falhas que podem inviabilizar o seu real objetivo, qual seja a valorização dos negros
e o fim do embranquecimento cultural do sistema de ensino brasileiro. A Lei federal,
simultaneamente, indica uma certa sensibilidade às reivindicações e pressões
históricas dos movimentos negros e anti-racistas brasileiros, como também indica
uma certa falta de compromisso vigoroso com a sua execução e, principalmente,
com a sua a eficácia, de vez que não entendeu aquela obrigatoriedade aos
programas de ensino e/ou cursos de graduação, especialmente os de licenciatura,
das universidades públicas e privadas, conforme uma das reivindicações da
Convenção Nacional do Negro pela Constituinte, realizada em Brasília-DF, em
agosto de 1986″ (2005: 34).
Cabe salientar, que essa lei foi retificada pela de 2008 que mantém os
mesmo dispositivos, mas apenas acrescenta o ensino de história indígena como
obrigatório. Esse fato é igualmente importante, pois é um passo a mais na aplicação
de um ensino que contemple a diversidade do nosso país. Contudo em 20 de Julho
de 2010 instituí o ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL, Lei nº 12.288 onde garante
à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades e no artigo 11 e seus
parágrafos os direitos estabelecidos pelas leis citadas a cima.
Portanto, chamou-se atenção para a instituição da Lei 10.639 e a sua
importância para implementar práticas anti-racistas no ambiente escolar, embora
ainda haja um “bom caminho” a percorrer para que ela seja implementada de
maneira eficaz, visando combater o ensino eurocêntrico. A lei surgiu através de
lutas, de resultado de ações que visassem posturas anti-racistas. Então, fica claro
que para sua orientação ser efetiva ainda há demanda de muito esforço.
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