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In: Anais do VII Encontro Regional Sudeste de História Oral. Rio de Janeiro: FIOCRUZ,
ABHO, 2007.
Trabalho apresentado no VII Encontro Regional Sudeste de História Oral, Rio de Janeiro,
2007.
Leon F. Kaminski
Universidade Federal de Ouro Preto
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“Houve pressões contra a prisão e um movimento no estrangeiro reuniu um amplo arco de apoio
dos mais diferentes setores: John Lennon, Yoko Ono, Bob Dylan, Mick Jagger, Jane Fonda, Allen
Ginsberg, Arthur Miller, Susan Sontag, Samuel Backet, Jean Genet, Stephan Brecht (filho de
Bertold Brecht), Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Jean-Luc Godard e Jean-Paul Satre”
(FIUZA, 2006; p. 225).
dá vida a – as conjunturas e estruturas que de outro modo parecem tão
distantes. (ALBERTI, 2003; p.1)
Jamil Assaf é de origem árabe, mas veio para o Brasil ainda criança,
com três anos de idade, indo morar em Belo Horizonte. Seu pai era um ex-militar e
sua família excessivamente conservadora. Estudou mecânica no Senai, pois seu
pai exigia que ele tivesse uma formação, isso o levou a trabalhar na Fiat.
Entretanto, Jamil (2007a) relata que desde criança se interessava por artesanato:
Jamil foi dividindo seu tempo entre os estudos e trabalho na Fiat com o
artesanato, até que teve acesso à literatura hermética.
Eu tinha um amigo de Ouro Preto. (...) Esse amigo conseguiu por meio da
família dele uns livros antigos de... Que era de um padre que pertencia à
família dele. E dentre desses livros eu encontrei um de... eu não me
recordo a data ao certo, (...) mas eram tratados herméticos. Então aquilo
me fascinou. Era escrito em espanhol, porém, deu pra entender algumas
coisinhas. Fui pesquisando, pesquisando e... E lendo, assim, na medida
que eu ia entendendo. Foi uma leitura muito demorada, porque além de
ser uma coisa incógnita, escrito em espanhol. (...) E aquilo ali me fascinou.
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Foram realizadas duas entrevistas com Jamil Assaf, ambas no mês de agosto de 2007.
Por eu ser mecânico não tinha jeito. Então, eu, ah, “se eu vou buscar a
pedra filosofal, se eu vou a busca da pedra filosofal eu tenho que tem uma
forma de viver sem depender da mecânica”. Porque a busca da pedra
filosofal, algo que exigia dez anos de total dedicação. E aquilo, assim, um
rapaz, aquilo me fascinou, sei que alguma coisa em mim tocou para eu
buscar isso. Então, eu deixei a mecânica, deixei tudo, parti para o interior,
vim para Amarantina. (idem, ibidem)
Uma das razões para Salin e boa parte dos moradores da comunidade
de Amarantina ter ido embora do distrito teria sido a criação de uma certa paranóia
causada pela repressão da época.
Quando não era taxado de vadio era taxado de subversivo. Era um dilema.
Muitos artesões eram, foram taxados como subversivos e até
desapareceram. Tanto é que chegou uma época que em Amarantina
apareceu uma paranóia geral. Que a policia federal ia aparecer lá, e que
todos os hippies iam... E ocorreu aquele êxodo. Da noite para o dia
caravanas de artesões saíram de Amarantina. (Idem, 2007a)
Era uma comunidade pequenininha. Lembro uma época que teve uma
votação para ver se a comunidade [riso] queria a gente ou não lá dentro. O
povo saiu para votar, se era bom ou não era ter o pessoal de fora.
Uma das razões para Salin ter ido embora da Comunidade de Santo
Antônio do Leite e de Ouro Preto em meados da década de 80, indo para o
Espírito Santo, foi o falecimento de seu filho, ainda bebê, por falta de assistência
médica. Ainda hoje ele trabalha com artesanato e voltou recentemente a morar a
morar no município.
Identidade
Hippie ou artesão? Isso pode causar certa confusão, até hoje muitos
artesãos são confundidos, chamados de hippies, podendo também acontecer o
contrário. Isso costuma ocorrer porque muitos hippies produziam e vendiam
artesanato, muitos deles permanecem nessa profissão. Jamil Assaf não se
considera um hippie. Ele levanta uma outra questão. Sua visão é de que não teria
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Ex-moradora da comunidade de Santo Antônio do Leite. Entrevistada em agosto de 2007.
existido movimento hippie no Brasil, somente nos EUA que estava envolvido com
a guerra do Vietnã, os hippies seriam os jovens que desertaram para não ir a essa
guerra. Infelizmente não temos espaço para aprofundarmos esse debate aqui,
porém, podemos colocar o seguinte ponto, ele não se identifica com os hippies,
algo o faz negar esse “rótulo”, internaliza uma rede de significações para isso.
Manuel Castells (1999) define significado como “identificação simbólica, por parte
do ator social, da finalidade da ação praticada pelo ator” (p.23). Portanto, ele se
identifica como artesão e não hippie. Jamil constrói essa identificação após uma
um processo de organização dos significados com bases em subsídios históricos
e sociais, entre outros. Giddens (apud CASTELLS, 1999; p.26-7) afirma que “a
auto-identificação não é um traço distintivo apresentado pelo indivíduo. Trata-se
do próprio ser conforme apreendido reflexivamente pela pessoa em relação à sua
biografia”.
Considerações
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSAF, Jamil. Depoimento de Jamil Assaf à Leon Kaminski I. Ouro Preto, 2007.
ASSAF, Jamil. Depoimento de Jamil Assaf à Leon Kaminski II. Ouro Preto, 2007.
BARROS, José Tavares de. Invernos, Ouro Preto, festivais. In: Boletim da UFMG,
n.1239. Disponível em <www.ufmg.br>. Acessado em 09/02/2007.
THOMPSON, Paul. A Voz do Passado: história oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
THOMPSON, Paul. História oral e contemporaneidade. In: História Oral, n.5. São
Paulo: ABHO, jun 2002.