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relatório global

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

1 Metodologia

janeiro 2006
Apresentação

A pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia – participação, esferas e políticas públicas” buscou


investigar valores da juventude brasileira acerca da participação. Para tanto, foram utilizadas duas
abordagens metodológicas: a primeira compreendeu a aplicação de questionários junto a oito mil
jovens moradores(as) de sete Regiões Metropolitanas do Brasil (Porto Alegre, São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Belém) e Distrito Federal; a segunda significou a
realização de 39 Grupos de Diálogo envolvendo 913 jovens das regiões investigadas.
O relatório final da pesquisa apresenta os dados agregados de ambas fases, buscando
revelar potencialidades e interdições à participação percebidas na interação com os(as) jovens.
Dado o ineditismo da aplicação da metodologia dos Grupos de Diálogo no Brasil, bem
como a constatação de ter sido uma experiência bem sucedida, mostrou-se relevante a
sistematização em separado da aplicação de tal metodologia. O presente relatório busca, portanto,
relatar a experiência dos Grupos de Diálogo (GDs) na pesquisa “Juventude Brasileira e
Democracia”, enfatizando na análise de suas potencialidades e limites.
É preciso pontuar que todos os Grupos realizados foram conduzidos pelas equipes
regionais da pesquisa, cada uma delas vinculada a uma organização que compunha a rede de
parceiros. Cada instituição vinculada a essa rede, bem como os(as) supervisores(as), assistentes e
bolsistas possuíam diferentes perfis e históricos profissionais, o que tornou essa experiência um
verdadeiro exercício de diálogo, não só entre os(as) jovens durante os Dias de Diálogo, mas,
sobretudo, na construção de uma metodologia com a cara do Brasil, que respeitasse e valorizasse
as diversidades representadas pelas instituições e pessoas presentes na rede. Nesse processo
foram elaborados relatórios regionais, nos quais os(as) membros da rede analisaram os dados
obtidos nas duas fases da pesquisa, dando ênfases diferenciadas de acordo com o processo
vivenciado durante a pesquisa em cada localidade.
Para que o desafio de construção coletiva fosse enfrentado a contento, foram organizados
encontros presenciais de toda a rede, além de um Fórum Eletrônico, através do qual todas as
equipes e a coordenação puderam manter contato de forma mais permanente.
O texto que se segue foi redigido a partir dos relatórios regionais dos Grupos de Diálogo e
faz uma análise da realização dos Diálogos realizados pela pesquisa, levando em conta a
complexidade e riqueza das experiências regionais e encarando o processo investigativo também
como processo de aprendizado coletivo, em que o diálogo não foi apenas método, mas também se
manteve como princípio.
Introdução

A metodologia ChoiceWork Dialogue consiste na organização de Grupos de Diálogo, formados por


cerca de 40 pessoas cada. Nesses grupos, os(as) participantes são convidados(as) a debater,
durante um dia inteiro, ou seja, por cerca de oito horas, uma temática específica. Essa temática é
apresentada pelas pessoas responsáveis por conduzir o processo de diálogo – os(as)
facilitadores(as) –, com a ajuda de instrumentos metodológicos que têm como função expor o tema
através de informações detalhadas e alternativas para se lidar com ele.
O pensamento tradicional sobre a formação da opinião pública considera que informação
leva ao julgamento público, deixando de fora um processo de elaboração em que a diversidade de
valores e a dificuldade de fazer escolhas têm papel fundamental. Essa metodologia (chamada em
inglês de ChoiceWork Dialogue) foi criada por Daniel Yankelovich1 para preencher essa lacuna
presente na concepção mais usual de pesquisa envolvendo a formação de opinião pública.
Essa concepção considera que na realidade e, de um modo geral, as pessoas
desenvolvem suas opiniões e julgamentos através de um processo coletivo de troca de idéias,
e não através de uma avaliação deliberada e individual. Não se trata de um processo
simplesmente deliberativo, mas de um percurso em que são envolvidos valores profundos e
reações emocionais. As pessoas desenvolvem suas opiniões compartilhando pontos de vista
com quem se identificam, sejam amigos(as), familiares, vizinhos(as), colegas de escola e de
trabalho ou formadores(as) de opinião. Para Yankelovich, esse fato não pode ser
desconsiderado ao se pensar uma forma de perceber a opinião das pessoas e as
possibilidades de transformação das mesmas. O método é utilizado sobretudo na investigação
de questões polêmicas ou, ainda, na pesquisa de questões já familiares em que uma
conjuntura específica cria desafios que precisam ser reconhecidos e debatidos.
Além disso, a metodologia ChoiceWork Dialogue considera o processo investigativo
também como processo de aprendizado em que os(as) participantes têm oportunidade de acessar
informações, fazer conexões entre fatos e circunstâncias, perceber conflitos e se engajar em um
processo coletivo em que é possível apreender em que medida mudam as opiniões quando as
pessoas têm acesso a informações e dialogam sobre determinado assunto.
Em linhas gerais, a metodologia ChoiceWork Dialogue (chamada em português de
Diálogo) parte da identificação de uma questão socialmente relevante, com as características

1
A metodologia dos diálogos desenvolvida por Daniel Yankelovich encontra-se no livro The Magic
of Dialogue (1999). Mais informações sobre o autor e a instituição Viewpoint Learning podem ser
encontradas em http://www.viewpointlearning.com.

2
indicadas anteriormente, e a trabalha a partir de “cenários”2. Esses cenários são construídos com
base em possibilidades disponíveis na sociedade e, enquanto tais, apresentam-se como
alternativas para se tratar ou enfocar tal questão.
A expectativa é que, após obter informações sobre o tema, serem apresentados cenários
possíveis para lidar com ele e de dispor de um dia inteiro com outras pessoas com diferentes
visões e papéis sociais, seria possível “medir” a mudança da percepção sobre o assunto. A
metodologia permitiria, ainda, apreender os valores acionados por diferentes cidadãos(ãs) ao
terem que fazer escolhas que têm implicações (diretas ou indiretas) na sua realidade.
Ela é usada prioritariamente no debate sobre políticas públicas. Na verdade, a metodologia
ChoiceWork Dialogue tem se mostrado eficaz na averiguação de possibilidades de implementação
de políticas polêmicas ou sobre as quais não existe consenso na sociedade. Essa metodologia já
foi aplicada para mapear o posicionamento da sociedade em relação a questões tais como: o
contrato/pacto social no Canadá; tensões étnico-raciais nos Estados Unidos; os desafios colocados
pela imigração nos EUA; biotecnologia e alimentação; além de questões como a saúde pública e
os resíduos nucleares no Canadá. Independente do assunto a ser tratado, no entanto, parece ser
ponto comum a todos eles a vinculação direta a políticas públicas. Os “cenários”, nesse contexto,
expressam alternativas políticas, que se situam entre o conservadorismo e propostas mais
progressistas, levando em conta as possibilidades disponíveis na sociedade em que o Diálogo será
desenvolvido e da temática em questão.
A realização do Diálogo, independente de se configurar ou não como demanda
governamental, tem no poder público um de seus principais interlocutores. Segundo as
pesquisadoras das Redes Canadenses de Pesquisa em Políticas Públicas (CPRN), que deram
consultoria no método através de workshops e participação nos seminários da pesquisa, para
aqueles(as) que tomarão parte do processo de Diálogo é importante que a instituição a conduzi-lo
esteja suficientemente distante da esfera governamental para possibilitar uma escuta o mais
imparcial possível, mas perto o bastante para garantir que o que for dito será “ouvido” pelos(as)
“tomadores(as) de decisão”.
Outro aspecto destacado na experiência internacional é o valor atribuído à opinião dos(as)
cidadãos(ãs) comuns em assuntos públicos e controvertidos. Ao serem convidadas a participar do
Diálogo, as pessoas são alertadas de que o que se espera delas não é a opinião de um
especialista. Ao contrário, trata-se de perceber as possibilidades de tratamento de uma dada
questão a partir da perspectiva das “pessoas comuns” que normalmente são obrigadas a conviver
com escolhas feitas de forma verticalizada.

2
Na experiência brasileira de Diálogo chamou-se «cenário» de «caminho participativo».

3
Momentos-chave e instrumentos de diálogo

O Dia de Diálogo é pensado para possibilitar o conhecimento de valores associados a determinada


questão e dar elementos que permitam medir a mudança da opinião dos(as) participantes sobre
determinado tema, tendo em vista as informações disponibilizadas, os “cenários” ou alternativas
propostas, bem como a interação com as opiniões de outros(as) participantes, de diferentes locais
de moradia, classe, faixa etária, sexo etc. Esse Dia de Diálogo comporta ajustes e adaptações
(como será visto mais à frente), mas pressupõe alguns momentos fundamentais que estão
profundamente articulados aos princípios da metodologia vistos anteriormente. A seguir esses
momentos serão apresentados de forma sintética.
A realização de um Dia de Diálogo pressupõe preparação que vai desde a produção do
“Caderno de Trabalho” [publicação distribuída aos(às) participantes em que são disponibilizadas
informações gerais sobre o tema, sobre a metodologia, além da caracterização de cada um dos
cenários ou alternativas dadas para a questão], até a escolha e o convite às pessoas que irão
participar, passando pela organização da infra-estrutura que irá permitir a aplicação da metodologia
(definição do espaço, material para as dinâmicas, refeições para participantes e equipes,
compensação para as pessoas participarem etc.).
O Dia de Diálogo é organizado através de dinâmicas e interações em pequenos grupos (até dez
pessoas) e em sessões plenárias. Cada um desses momentos é pensado para que os(as) participantes
dialoguem sobre a questão em pauta de forma intensa, sendo convidados(as) a se posicionar frente às
alternativas propostas. Durante esses momentos são apresentadas informações e cenários elaborados, é
feito trabalho em grupo em torno das preferências pessoais e coletivas sobre as alternativas
apresentadas, bem como sobre as conseqüências que resultam de tais escolhas.
No desenvolvimento das etapas que compreendem um Dia de Diálogo, a(s) pessoa(s)
responsável(eis) pela condução, chamadas de facilitadores(as), desempenham papel fundamental.
Por isso, para cada pesquisa que lance mão dessa metodologia é necessária a criação de um
“Guia do(a) Facilitador(a)”. Nele, são descritas passo a passo, e de forma bastante detalhada
(incluindo tempo previsto para as dinâmicas, materiais a serem utilizados etc.), todas as etapas
que devem ser percorridas ao longo do Dia de Diálogo, ressaltando sua importância e chamando a
atenção para problemas que possam ocorrer. Além do papel do(a) facilitador(a), que usualmente é
desempenhado por duas pessoas, é necessária uma equipe de apoio, ou seja, auxiliares capazes
de cuidar da infra-estrutura, se responsabilizando pela parte mais formal, como preenchimento da
lista de presença ou cadastro e monitoramento das refeições. Toda a preparação do espaço onde
o Diálogo acontece é feita com antecedência, preferencialmente no dia anterior à atividade. Essa
preparação inclui a arrumação do local, preparação dos materiais a serem usados e teste dos
equipamentos, como projetor, multimídia e gravador de áudio e/ou vídeo.

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Ao longo do processo de construção da pesquisa, é preciso que se dê especial atenção
para a capacitação da equipe, sobretudo das pessoas responsáveis pela facilitação do Dia de
Diálogo. É importante garantir que a equipe diretamente envolvida esteja familiarizada com o tema
e os instrumentos de pesquisa que serão utilizados nos Grupos de Diálogo. Nesse sentido, é
fundamental a garantia da realização de ao menos um “Grupo de Diálogo piloto” para testar os
instrumentos e para se praticar a facilitação das atividades e dinâmicas a serem desenvolvidas no
Dia de Diálogo. Além disso, outros momentos de formação, como a leitura conjunta do material e a
realização de workshops e seminários de capacitação, podem contribuir para o bom
desenvolvimento do Diálogo

1º) Participantes recebem e lêem o Caderno de Trabalho à medida em que chegam no


local do Diálogo.

Logo ao chegar, antes mesmo do início de qualquer atividade, os(as) participantes do


Diálogo são recebidos pela equipe e, após fazerem o cadastro, são convidados(as) a folhear e ler o
Caderno de Trabalho. Esse momento inicial ajuda a que se familiarizem com a temática.

2º) Orientações iniciais dadas pelos(as) facilitadores(as) (incluindo o propósito do Diálogo,


o uso que será feito dos resultados, regras/compromissos para o Dia de Diálogo, informações
sobre o tema a ser tratado).
Logo no início dos trabalhos propriamente ditos, o(a) facilitador(a) responsável pela
condução do processo apresenta o contexto em que o Diálogo se situa, seus objetivos e
procedimentos. Esclarece, ainda, sobre a conexão entre o Diálogo e os resultados, a serem
entregues a instâncias do poder público, bem como sobre o perfil das entidades que o promovem.
É importante que os(as) participantes percebam o propósito e a legitimidade do que lhes está
sendo proposto, bem como a idoneidade ética do processo e dos(as) que o conduzem.
Nos instrumentos utilizados e desde o início do Diálogo, os(as) participantes são
esclarecidos sobre o conceito de Diálogo tendo como parâmetro seu “oposto” que, no caso
brasileiro, foi traduzido como disputa3. Trata-se de estratégia para tornar claro o que significa

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Foi difícil encontrar um termo capaz de traduzir essa discussão que se costuma ter informalmente e
na qual, muitas vezes, se insiste nos próprios pontos de vista, tornando-se cegos/surdos para elementos
interessantes trazidos por aqueles(as) com quem se trava a discussão. Muitos termos foram pensados antes de
se optar por “disputa”. Cogitou-se “discussão” e, até mesmo, “debate”. O que se percebeu, no entanto, foi que
qualquer um deles pode ser apreendido com conotação negativa, uma vez que o “diálogo” é que está sendo
valorizado positivamente, apesar de se reconhecer que a discussão, o debate e a disputa possuem um papel
importante em qualquer sistema democrático. Chegou-se a um impasse e se pensou, inclusive, em abrir mão
dessa estratégia metodológica. A opção pela manutenção da mesma se deu graças à facilidade com que
alguns(mas) jovens, para os(as) quais o material foi mostrado antes do início dos Grupos de Diálogo, tiveram
em apreender o sentido do Diálogo a partir de tal contraposição. A oposição entre “ diálogo” e “disputa” foi
adotada, sabendo que, em próximos Diálogos, seria interessante voltar a esta questão, buscando outras formas,
ou novos termos, para que se faça entender sem correr o risco de colocar como negativo termos que denotam
processos muito caros à democracia.

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dialogar em oposição às discussões em que se busca a defesa intransigente de idéias. Isso não
significa que não aconteçam disputas e debates ou longo do Dia de Diálogo, mas apenas que uma
das ênfases da metodologia adotada é na escuta do outro para que se possa formar sua própria
opinião. Apresentou-se, portanto, quadro semelhante ao que se segue:

Disputa Diálogo
Parte da certeza de que existe apenas uma Parte da certeza de que outras pessoas têm
resposta correta e de que você tem essa resposta! partes da resposta.
É combativo. Tenta provar que o lado está errado. É colaborativo. Tenta chegar ao entendimento.
Procura ganhar. Procura encontrar pontos em comum.
Ouve a outra pessoa para achar falhas no que ela Ouve a outra pessoa para entender o que ela
defende. defende.
Defende seu ponto de vista. Traz o seu ponto de vista para ser discutido
com o grupo.
Critica o outro ponto de vista. Avalia todos os pontos de vista.
Defende um ponto de vista contra os outros. Admite que as outras maneiras de pensar
podem enriquecer o seu ponto de vista.
Procura encontrar as fraquezas na outra posição. Procura os pontos fortes na outra posição.
Tenta encontrar o resultado que esteja de acordo Tenta descobrir novas possibilidades e formas
com a sua posição. de pensar.

A partir dessa contraposição, são apresentados também os compromissos que norteiam o


Dia de Diálogo, tanto nos subgrupos de trabalho, quanto nas sessões plenárias. Esses
compromissos, listados a seguir, valorizam, uma vez mais, um processo de escuta e respeito entre
participantes.

Compromissos
O objetivo do diálogo é entender as outras pessoas e aprender com elas. Você não pode “ganhar” um
diálogo.
Todas as pessoas falam por si, e não como representantes de interesses específicos.
Tratar todas as pessoas igualmente: esqueça rótulos ou preconceitos.
Estar disposto a ouvir outras opiniões, mesmo quando não concorda com elas, e não julgar o que foi dito.
Procurar, em você e nas outras pessoas, opiniões e atitudes que possam ser mudadas.
Procurar pontos em comum.
Expressar suas discordâncias sem brigas ou ofensas.
Manter diálogo e tomada de decisão como atividades separadas. O diálogo deve sempre vir antes de
uma decisão.
Todos os pontos de vista merecem respeito e serão registrados sem discriminação.

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É ainda nesse primeiro momento que o(a) facilitador(a), tendo como referência o Caderno
de Trabalho e material visual (cartazes, PowerPoints etc.) irá apresentar as informações gerais
sobre o tema que será objeto de diálogo. Esse é o momento para que todos(as) os(as)
envolvidos(as) recebam informações que serão a base comum para o diálogo.

3º) Introdução aos cenários.


A figura do(a) facilitador(a) é, mais uma vez, central. É através dele(a) e das informações
disponíveis no Caderno de Trabalho que os(as) participantes terão acesso às alternativas que
serão a base do diálogo. Os “cenários” são apresentados pelo(a) facilitador(a) sem juízo de valor,
ou seja, como alternativas viáveis e possíveis para a questão em foco [ainda que a pessoa que
está no papel de facilitador(a) não concorde pessoalmente com algum deles]. Todos os cenários
são criados de forma que um não seja mais atraente que o outro. Todos são formados por uma
introdução geral, contendo dados estatísticos, jornalísticos etc. sobre a proposta em questão,
suas implicações, além de apresentar os prós e contras envolvidos nessa escolha. Todos esses
itens são dosados igualmente para que não haja “concorrência desleal” entre eles. O(a)
facilitador(a) ressalta que aqueles cenários são apenas o ponto de partida e que, ao final do Dia
de Diálogo, os(as) participantes poderão escolher um deles, combiná-los ou, ainda, criar um
cenário totalmente novo.

4º) Preenchimento da ficha Pré-Diálogo para medir a opinião inicial dos(as) participantes.
Após essa apresentação geral do tema e dos “cenários” possíveis, os(as) participantes
recebem uma folha com uma breve descrição de cada um dos “cenários”, devendo pontuar seu
grau de adesão a partir de uma escala de valores que varia de um a sete. Nesse momento eles(as)
estarão dando sua opinião inicial quanto a cada um deles. As fichas distribuídas possuem um
código, que se repetirá na ficha Pós-Diálogo. Dessa forma, é possível comparar as fichas Pré e
Pós-Diálogo, sem identificar nominalmente os(as) participantes, medindo as mudanças ocorridas
após um Dia de Diálogo.

5º) Comentários iniciais de cada participante para identificar principais preocupações


quanto ao tema tratado.
Após o preenchimento da ficha Pré-Diálogo, os(as) participantes são convidados(as) a se
apresentarem, dizendo, em seguida, a(s) principal(ais) preocupações quanto ao tema em questão.
É importante esclarecer que todo o Dia de Diálogo é registrado, seja em áudio, ou em vídeo, o que
permite a análise das falas dos(as) participantes, sobretudo nos momentos aqui destacados.

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6º) Diálogo entre os(as) participantes (em grupos menores e em sessão plenária).
Na parte da manhã, os(as) participantes são divididos em pequenos grupos (que podem
ser auto-facilitados ou não) e neles trabalham a partir de uma pergunta geral que é respondida a
partir das alternativas apontadas nos cenários. Eles(as) são convidados a voltar mais uma vez ao
Caderno de Trabalho e, com seus(suas) companheiros(as) de grupo, optar por um dos “cenários”,
criar um a partir dos elementos disponíveis nos “cenários” apresentados ou outro totalmente novo.
O “cenário-síntese” de cada grupo é apresentado em plenária e o(a) facilitador(a) conduz, em
seguida, um diálogo encontrando semelhanças e diferenças entre os cenários apresentados pelos
grupos. Ao final da dinâmica, ter-se-á um cenário de todo o Grupo de Diálogo.

7º) Segundo momento de diálogo entre os(as) participantes, mais intenso (novamente em
grupos menores e em plenária), trabalhando sobre escolhas concretas e do que abririam mão para
realizar sua escolha.
Após o almoço, os(as) participantes voltam aos pequenos grupos, dessa vez para
identificar ações concretas a serem tomadas para se chegar ao “cenário” final acordado no período
da manhã. Após a apresentação do resultado dos grupos em plenária, o(a) facilitador(a)
problematiza as escolhas feitas, buscando entender do que esses(as) cidadãos(ãs) estariam
dispostos(as) a abrir mão para que o “cenário” escolhido se tornasse realidade. Isso porque um
dos pressupostos da metodologia diz respeito às conseqüências e responsabilidades envolvidas
em cada escolha.

8º) Preenchimento da ficha Pós-Diálogo para medir como as opiniões mudaram ao longo
do Dia de Diálogo (e o porquê da mudança).
Após o Dia de Diálogo, uma folha semelhante àquela distribuída pela manhã, com as
mesmas perguntas e as mesmas alternativas de adesão aos caminhos, é preenchida pelos(as)
participantes. Dessa vez, no entanto, a pessoa pode escrever sob que condição se daria sua
adesão a determinado cenário. Desse modo, no momento de analisar essas folhas Pré e Pós-
Diálogo, é possível perceber tendências de adesão ou rejeição a cada uma das alternativas
apresentadas, e em que condições esse grau de adesão ou rejeição aumentaria.

9º) Comentários finais de cada participante sobre o Dia de Diálogo e mensagem para
os(as) políticos(as) e governantes (“tomadores de decisão”).
Antes do término do Dia de Diálogo, os(as) participantes são convidados(as) a se
pronunciar individualmente, avaliando a experiência do Diálogo, e a deixar uma mensagem
àqueles(as) que resolvem/tomam decisões a respeito do tema tratado.

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Diálogos no Brasil

A criação de um Diálogo adequado à realidade brasileira, capaz de lidar com as especificidades da


pesquisa, colocou para as instituições e pesquisadores(as) envolvidos diversos desafios. O
primeiro resulta do ineditismo da metodologia a ser utilizada. Houve resistências à utilização de um
método que aliava princípios de pesquisa acadêmica e de educação popular, sem se confundir
com nenhuma delas. Foi necessário encontrar coletivamente um denominador comum a partir do
qual fosse possível construir uma proposta metodológica pautada pelos pressupostos teóricos e
práticos inerentes ao Diálogo, levando em conta as experiências internacionais, mas não se
subordinando a elas. O segundo desafio enfrentado foi vencer a resistência e se apropriar de
metodologia singular, muitas vezes confundida com os já conhecidos e experimentados Grupos
Focais, para que fosse possível construir conjuntamente uma alternativa adequada para um
Diálogo do Brasil.
Outro importante desafio com o qual se deparou foi o tema da pesquisa em questão. Se,
como visto anteriormente, as experiências internacionais estavam bastante articuladas ao debate
de políticas públicas strictu sensu, a temática da participação possui um grau de abrangência e
abstração que dificulta essa relação imediata. Ainda que a temática da participação social e política
de jovens na democracia brasileira seja um tema que muito diz respeito à formulação e execução
de políticas públicas, nossa intenção desde o princípio era perceber de que forma a juventude
brasileira, considerada em toda sua diversidade e complexidade, estaria disposta a ocupar a esfera
pública democrática, pensada também de forma ampliada e complexa. Ou seja, não se tratava
apenas de apresentar, por exemplo, opções claras de participação em instâncias como os
conselhos ou por meio do voto, mas de construir cenários, que levassem em conta dados
presentes em pesquisas sobre o tema, (inclusive a da primeira etapa da presente investigação),
que vêm revelando a maior disponibilidade de jovens para envolvimento em atividades e grupos
que não se circunscrevem à esfera política tradicional (partidos, sindicatos, conselhos, associações
etc.), mas à religiosidade, à cultura, ao lazer, ao voluntariado etc.
Num momento em que, no Brasil, a juventude deixa, lentamente, de ser considerada como
problema social para ser vista como sujeito de políticas públicas, faz-se urgente entender de que
formas os(as) “jovens comuns”, aqueles(as) que não se encontram vinculados(as) a grupos ou
institucionalidades, estariam dispostos(as) a participar da vida democrática do país. Melhor ainda
se, nesse processo investigativo, fosse possível engajar esses(as) jovens em um exercício que
fortalecesse os princípios democráticos investigados, propiciando uma aprendizagem
compartilhada e reflexiva de jovens participantes e pesquisadores(as). Nesse sentido, a

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metodologia do Diálogo constitui uma possibilidade para investigar a questão da participação a
partir de um processo também de cunho educativo.
Inicialmente, no entanto, foi necessário entender de que maneira seria possível “traduzir” o
debate sobre participação para os(as) jovens de uma maneira geral. Para isso, foi feito o exercício
de “delimitar a questão”, buscando perceber as alternativas de participação que faziam sentido
para os(as) jovens do Brasil. Foram utilizados dados da primeira etapa (quantitativa), mapeados
estudos que englobavam o tema, além de realizado um grupo focal com alguns(mas) jovens para
entender de que modo seria possível aproximar a questão da realidade daqueles(as) que se
buscava pesquisar. Depois de muitos debates entre toda a equipe da pesquisa – inclusive as
equipes regionais – e diversas versões de “cenários” de participação, optou-se por três alternativas
com diferentes ênfases e que poderiam fazer sentido para os(as) jovens brasileiros(as). Foram
apresentados, então, três “cenários” que, no processo de adaptação da metodologia dos Grupos
de Diálogo para a realidade brasileira, foram denominados “Caminhos Participativos”.
O primeiro valorizava a participação da juventude em organizações estudantis, partidos
políticos, sindicatos, ONGs, conselhos, ou seja, revelava a organização dos(as) jovens em grupos
ligados a alguma institucionalidade (essa proposta foi denominada “Eu me engajo e tenho uma
bandeira de luta”). O segundo deles apresentava o voluntariado como alternativa de participação,
valorizando a ação direta e individual dos(as) jovens como maneira de mudar a realidade a sua
volta [“Eu sou voluntário(a) e faço a diferença”]. E o terceiro caminho se apresentou como
“participação cultural”, estando ligado à formação autônoma de grupos por jovens organizados(as)
a partir da cultura, da comunicação ou da religião (“Eu e meu grupo: nós damos o recado”). Como
dito anteriormente, buscou-se trabalhar com concepções de participação em disputa na sociedade,
dando ênfase a valores específicos em cada uma delas, como a participação institucional, a ação
individual e direta e a ação coletiva e cultural.
Os “Caminhos” apresentados são, portanto, tipos ideais de engajamento que enfatizam e
exacerbam diferentes práticas sociais. Trata-se, no entanto, de recurso metodológico para colocar
o tema da participação em diálogo entre os(as) jovens. Ou seja, reconhece-se que as formas de
engajamento indicadas são, na realidade, mais complexas e híbridas. No entanto, o que se buscou
foi a formulação de possibilidades não-excludentes entre si, mas que revelassem tensões que
permitissem aos(às) jovens dialogar, problematizando escolhas e reconhecendo oportunidades e
limites existentes em cada um deles.
É preciso explicitar a forma de exposição de tais Caminhos Participativos. Cada um deles
foi apresentado a partir de elementos comuns: um título que buscava incorporar um possível
posicionamento do(a) jovem; um trecho de uma letra de música popular entre a juventude de uma
forma geral; um parágrafo inicial que foi usado também no CD-ROM para resumir as principais
idéias dos Caminhos; exemplos reais de inserção em determinado Caminho (Saiba Mais); fatos

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que poderiam acontecer caso tal Caminho fosse escolhido; argumentos a favor e contra cada um
deles; além de fotos ilustrando exemplos.
Buscou-se equilibrar argumentos, quantidade de texto escrito, bem como imagens
atraentes para cada um deles, de forma que a qualidade e a quantidade dos textos e das imagens
não pesassem na escolha por um ou de outro Caminho. Ou seja, buscou-se equilibrá-los para que
o determinante no momento das escolhas fossem os argumentos, e não a forma ou a quantidade
do conteúdo. Observou-se, no entanto, que, de maneira geral, os argumentos mais acionados na
reflexão dos(as) jovens sobre os Caminhos foram os disponíveis no parágrafo inicial de
apresentação de cada um, e os elementos A Favor e Contra, que eram também retomados
pelos(as) facilitadores(as) no momento da problematização das escolhas realizadas.
A seguir estão os parágrafos iniciais dos Caminhos, bem como os elementos apresentados
aos(às) jovens como Contra e A Favor:

(A) Caminho 1: “Eu me engajo e tenho um bandeira de luta”


Resumo:
A participação política da juventude ocorre por meios que vão além do voto. Uma das formas
de engajamento é a atuação firme e direta em instituições: partidos políticos, representações
estudantis, sindicatos, conselhos de direito, gestores ou escolares, ONGs, movimentos
sociais, que organizam a sociedade, controlam a atuação dos governos e contribuem para a
ampliação de direitos de cidadania no país. A participação política é um exercício que
prepara as gerações mais jovens, colaborando para que o Brasil diminua as desigualdades
sociais e amplie as possibilidades de acesso à educação, ao trabalho, ao lazer e à cultura.
A Favor:
- participar das instituições políticas aumenta a consciência e diminui a chance de
manipulação por parte dos(as) políticos(as) oportunistas e governos clientelistas;
- considerando o reconhecimento das instituições que, historicamente, são responsáveis
pela organização política do país, a participação engajada nesses espaços é uma forma de
conquistar educação, trabalho e cultura na nossa realidade;
- é a forma de participação que influencia mais diretamente os processos de definição
política e de garantia de recursos públicos para projetos que possam beneficiar os interesses
juvenis.
Contra:
- reforçar um sistema político viciado, que reproduz a corrupção, o “jeitinho brasileiro”, o
“você sabe com quem está falando?” – no qual só um pequeno grupo é beneficiado,
aumentando as desigualdades;
- tornar-se invisível dentro das instituições políticas, como os partidos, e ficar sem espaço
para desenvolver seus talentos individuais;
- ocupar cargos públicos em instituições controladas pelo chamado “mundo adulto”, correndo
o risco de ser manipulado(a) por pessoas com mais experiência e poder de decisão política.

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(B) Caminho 2: “Eu sou voluntário(a) e faço a diferença”

Resumo:
Jovens envolvidos(as) em trabalhos voluntários ajudam a diminuir os problemas sociais.
Eles(as) realizam diferentes atividades, tais como reflorestamento de áreas desmatadas,
manutenção de escolas, alfabetização de crianças, jovens e adultos(as), recreação com
crianças pobres ou hospitalizadas, campanhas de doação de alimentos e diversas outras
ações desse tipo. Para ser voluntário(a) não é necessário se vincular a um grupo ou
organização, o importante é estar disposto(a) a fazer a sua parte para realizar as mudanças
de que nosso país precisa.
A Favor:
- os(as) jovens voluntários(as) envolvidos(as) em ações sociais estão também se
capacitando pessoal e profissionalmente para o futuro;
- o voluntariado representa um significativo reforço no combate a graves problemas sociais
gerados pela falta de verba e de empenho das autoridades em buscar soluções;
- a participação individual e voluntária pode ajudar a combater as desigualdades sociais.
Contra:
- o voluntariado supervaloriza a ação individual, que produz resultados muito localizados e
pouco efetivos na resolução dos problemas sociais;
- há riscos de os(as) voluntários(as) assumirem responsabilidades na execução de políticas
e serviços que são atribuições dos poderes públicos (prefeituras, governos estaduais e
federal). Isso faz com que os governantes se descomprometam cada vez mais de suas
responsabilidades;
- as políticas sociais que se estruturam com base em ações voluntárias correm o risco de ser
frágeis por não contarem com indivíduos devidamente capacitados para trabalhar em
determinadas áreas, como saúde e educação.

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(C) Caminho 3: “Eu e meu grupo: nós damos o recado”

Resumo:
Neste caminho, os(as) jovens praticam e fortalecem o direito da livre organização. Eles(as)
formam grupos culturais (esportivos, artísticos, musicais etc.), religiosos, de comunicação
(jornal, página na internet, fanzine etc.). Praticando a cultura do encontro, os(as) jovens
rompem com o isolamento e compartilham idéias com outros(as) jovens. Isso, por si só, já
contribui para a construção de uma sociedade menos desigual. Além disso, a partir de um
grupo é possível desenvolver diversas atividades que podem interferir de diferentes
maneiras na realidade do país.
A Favor:
- participando de grupos, os(as) jovens conhecem outras pessoas, deixam de lado o
sentimento de solidão que muitas vezes caracteriza o período da juventude. Passam a ter
com quem conversar e compartilhar necessidades, interesses e ideais em comum;
- os(as) jovens reunidos(as) em grupos afirmam sua capacidade para a auto-organização e
expressão de suas idéias e vontades. Com isso, aprendem a viver em sociedade e a lidar
com as diferenças, tornam-se mais cooperativos(as)e passam a lidar melhor com os
conflitos;
- os(as) jovens exercitam o direito de se organizarem, criando práticas e valores que não
precisam estar subordinadas às vontades de uma instituição ou pessoa mais velha. Dessa
forma, aprendem a ser responsáveis por si mesmos(as) e por seus(suas) companheiros(as)
de grupo.
Contra:
- ao fazer parte de um grupo, o(a) jovem pode estar abrindo mão de um tempo valioso de
seu dia-a-dia em que poderia estar se ocupando com seu desenvolvimento individual (por
exemplo, estudando mais ou se preparando para sua entrada e permanência no mercado de
trabalho);
- o poder público não costuma reconhecer os(as) jovens participantes de grupos informais
como representantes em órgãos (tais como secretarias de governo, conselhos e fóruns) que
definem políticas públicas e a garantia de direitos;
- jovens que apenas participam de grupos não têm uma visão abrangente em relação às
mudanças de que a sociedade brasileira necessita. Alguns grupos se fecham tanto em si
mesmos que as pessoas que deles participam se tornam preconceituosas e
antidemocráticas, ou seja, incapazes de se relacionar com quem tem idéias, gostos e
vontades diferentes das suas e do seu grupo.

Verificou-se, no entanto, que essa abordagem não seria suficiente para sensibilizar os(as)
jovens e motivá-los(as) para o diálogo, uma vez que, se a proposta era que pensassem sobre as
formas de participação na vida democrática, não bastava traduzir os sentidos atribuídos a cada
uma dessas atitudes participantes. Era preciso, também, delinear as possibilidades de
transformação da realidade da juventude brasileira, tendo em mente que, quem participa, participa
por algum motivo. Pensou-se, então, que seria melhor pedir para que eles(as) primeiro
mapeassem questões que gostariam de ver transformadas, para que só depois pensassem em
como gostariam de participar para que essas transformações se tornassem reais. Optou-se, então,
pela divisão do Dia de Diálogo brasileiro em duas partes.

13
Na primeira, os(as) participantes eram convidados(as) a pensar o que gostariam de mudar
em áreas de políticas públicas bem próximas de seu cotidiano: educação, trabalho e cultura/lazer.
Após identificados, a partir da discussão em pequenos grupos, os aspectos que desejavam mudar
em cada um desses temas, o resultado era apresentado em sessão plenária. Então eram
destacadas e verificadas as semelhanças e as diferenças entre as conclusões apresentadas pelos
diversos subgrupos, seguindo o roteiro do Dia de Diálogo. Com a ajuda do(a) facilitador(a), o grupo
como um todo chegaria a um “cardápio” comum, resultado do diálogo a partir das diferenças e
semelhanças, ou seja, no final da manhã teriam listado o que gostariam de mudar nas questões da
educação e do trabalho e quanto à cultura e ao lazer.
Na parte da tarde, tendo como base essa lista das mudanças desejadas, os(as) jovens
dialogavam sobre como estariam dispostos(as) a participar para que tais mudanças se tornassem
realidade. Assim, foi possível conectar o debate sobre participação ao cotidiano dos(as) jovens.
Nesse momento, o Caderno de Trabalho, com a apresentação dos “cenários”, foi instrumento para
o diálogo em pequenos grupos. Cada um desses grupos, como na parte da manhã, deveria, a
partir do diálogo, apontar sua alternativa de participação e apresentá-la em plenária. Novamente,
todos(as) dialogavam em busca de semelhanças e diferenças. E, após listadas semelhanças entre
os “cenários” criados, formando um “cenário” de todo o grupo, o(a) facilitador(a) encaminhava o
diálogo sobre as conseqüências decorrentes das escolhas de determinado “cenário.” Esse
momento abria possibilidade para se repensar as escolhas e se definir de que estariam
dispostos(as) a abrir mão para que suas escolhas se realizassem.

No Brasil, considerando que esta pesquisa teve como público-alvo jovens de diversas
classes sociais e níveis de escolaridade, foi necessário a utilização dos(as) “jovens bolsistas”.
Eram pessoas, em sua maioria universitários(as), que tinham a função de ficar nos pequenos
grupos (tanto na parte da manhã, quanto na parte da tarde) apenas registrando o processo de
interação dos(as) jovens 4.

4
Toda parte das sessões plenárias do Dia de Diálogo deve ser registrada em áudio ou vídeo para
facilitar a análise dos dados gerados nesse processo. No caso dos pequenos grupos, há diálogos em que o
regis tro fica sendo apenas o resultado do trabalho desenvolvido pelos grupos. No caso desta pesquisa, optou-
se pelo registro mais detalhado dessa etapa através da presença de bolsistas com a função de registrar falas e
“não-ditos” durante o trabalho nos grupos.

14
A seguir, apresenta-se em linhas gerais o Dia de Diálogo da pesquisa “Juventude Brasileira e
Democracia”:

Dia de Diálogo da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia*

1) Chegada dos(as) participantes + acolhimento + café da manhã + distribuição do


“Caderno de Trabalho”
2) Boas vindas e comentários iniciais
3) Dinâmica de integração
4) Apresentação dos(as) jovens + “O que mais te preocupa no Brasil?”
5) Apresentação do CD-ROM
6) Ficha Pré-Diálogo (Opinião Inicial)
7) Questão da manhã: “Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o que
pode melhorar na educação, no trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”
8) Trabalho em pequenos grupos
9) Apresentação dos resultados do trabalho em grupos
10) Plenária da manhã + Semelhanças/Diferenças
11) Almoço
12) Dinâmica
13) Questão da tarde: “Pensando no que vocês listaram pela manhã que deve melhorar na
educação, no trabalho e na cultura no Brasil, como vocês estão dispostos(as) a
participar para que essas melhorias se tornem realidade?”
14) Trabalho em pequenos grupos
15) Apresentação dos resultados do trabalho em grupos
16) Plenária da tarde + Semelhanças/Diferenças
17) Ficha Pós-Diálogo (Opinião Final)
18) Comentários finais dos(as) participantes + recado para quem toma decisões
19) Lanche + entrega da ajuda de custo

* Nosso Dia de Diálogo durou, aproximadamente, nove horas.

Convocação e infra-estrutura
No caso da presente pesquisa, que teve como sujeitos os(as) jovens, foi necessário um intenso
processo de mobilização e convencimento para que eles(as) participassem do Dia de Diálogo.
Como dito anteriormente, tais jovens já haviam participado da primeira fase da pesquisa e
respondido positivamente a pergunta 46 do questionário então utilizado [“Você teria interesse e

15
disponibilidade para participar de encontro com jovens para discutir temas relativos aos(às) jovens
brasileiros(as)?”], dando em seguida dados que possibilitassem contato futuro (endereço, telefone
fixo e celular). Com base nessas informações, foi feito um cadastro, disponibilizado para as
equipes de pesquisa das Regiões Metropolitanas e Distrito Federal. Foram elas as responsáveis
pela convocação dos(as) participantes e pela condução dos Dias de Diálogo. Na convocação,
buscou-se preservar a proporção de jovens por sexo, classe de renda e idade, conforme os dados
da primeira fase da pesquisa.
Foi, então, elaborada uma carta-convite padrão, a ser enviada para o endereço do(a)
jovem. A idéia inicial era que o telefonema sucedesse o envio da carta. No entanto, o alto
percentual de endereços equivocados fez com que a maior parte das equipes regionais tivesse que
entrar em contato por telefone com os(as) jovens antes do envio da carta, de modo a confirmar o
endereço. Tal procedimento acabou sendo importante no processo de mobilização, apesar de
demandar mais tempo e trabalho do que o inicialmente previsto.
O processo de mobilização acabou sendo, na maior parte dos casos, feito através de
telefonema prévio para o(a) jovem, por meio do envio da carta, e novamente um contato telefônico
para a confirmação da sua participação.
No que se refere à infra-estrutura, as equipes regionais ficaram responsáveis por encontrar
um lugar acessível para a maior parte dos(as) jovens, inclusive aqueles(as) vindos(as) dos
municípios mais distantes. O local também deveria ser adequado à realização do Diálogo, ou seja,
uma sala ampla ou auditório com cadeiras móveis onde as sessões plenárias pudessem se
realizar, além de outras salas ou espaços menores para os pequenos grupos de trabalho. O
espaço deveria, ainda, comportar a infra-estrutura de gravação de áudio e exibição de multimídia e
ter espaço para se preparar e fazer as refeições (café da manhã, almoço e lanche da tarde).
Cada uma das equipes regionais teve total liberdade para escolher o espaço que julgasse
melhor, tendo em vista as possibilidades disponíveis em cada uma das regiões e instituições.
Sendo assim, os Diálogos foram realizados em hotéis, escolas, clubes ou nas próprias instituições
(ONGs e universidades).
Seguindo as instruções do “Guia do(a) Facilitador(a)”, a equipe foi ao local no dia
anterior ao Diálogo para antecipar a preparação e evitar surpresas desagradáveis. Nessa
preparação, os banners eram pendurados, a estrutura de multimídia preparada, os cartazes
colocados e cadeiras arrumadas.
Todos os Grupos de Diálogos da pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia” foram
realizados no final de semana, por se julgar ser mais fácil para mobilizar os(as) jovens, já que boa
parte estuda e/ou trabalha durante a semana. A proposta inicial era realizar os Diálogos no sábado,
no entanto, após a realização de um Grupo de Diálogo piloto no Rio de Janeiro, que contou com
baixíssima participação, foi sugerido que os Diálogos passassem para o domingo, uma vez que
muitos(as) jovens disseram não vir ao piloto por terem trabalho e cursos aos sábados. No entanto,

16
o domingo também se mostrou um dia difícil em algumas regiões. Nesse dia, muitos(as) jovens
têm compromissos religiosos. Soma-se a isso o fato de o sistema de transporte público, em geral,
ficar ainda mais precário, com menos linhas de ônibus em funcionamento e em horários mais
esparsos. Finalmente, a maior parte dos Grupos de Diálogos foi realizada nos sábados com
algumas poucas exceções.
A variação na freqüência dos(as) jovens em cada uma das regiões pesquisadas pode ser
explicada por vários motivos, que vão desde as dificuldades encontradas no processo de
mobilização até problemas circunstanciais como chuvas fortes, passando por questões locais como
distâncias maiores e meios de transporte menos eficientes em determinadas regiões [em dois
casos – Distrito Federal e Belém – as equipes regionais contrataram serviço de transporte para
buscar os(as) jovens, a fim de garantir o quorum mínimo para a realização do Diálogo, ou seja, 15
participantes. Nessas duas regiões, um dos diálogos não aconteceu. No Distrito Federal foi
possível realizar novamente o diálogo cancelado, mas não em Belém, que tinha o menor cadastro
de jovens para convocação].
A experiência demonstrou que, em Diálogos futuros, é preciso haver um tempo maior para
a convocação, bem como o melhor dimensionamento da demanda de trabalho e tempo com a
infra-estrutura. Os relatos das equipes regionais permitem afirmar que a sobrecarga de trabalho
com essa etapa de mobilização e preparação ocupa um tempo precioso em que a equipe poderia
experimentar e estudar mais profundamente a metodologia em si, o que ajuda a antecipar
problemas que podem ocorrer durante sua aplicação, bem como a dar maior segurança a
todos(as) aqueles(as) que estarão à frente do Diálogo.

Instrumentos utilizados no diálogo brasileiro


A seguir estão listados e descritos criticamente os instrumentos utilizados pelo Diálogo da pesquisa
“Juventude Brasileira e Democracia”.

Guia do(a) Facilitador(a)


Nele, foram descritas passo a passo, e de forma bastante detalhada (incluindo tempo previsto
para as dinâmicas, materiais a serem utilizados etc.), todas as etapas que devem ser
percorridas ao longo do Dia de Diálogo, ressaltando sua importância e chamando a atenção
para problemas que possam ocorrer. De acordo com essa experiência, o Guia mostrou-se
extremamente útil, tanto para uniformizar o trabalho e unificar as orientações dadas para
os(as) facilitadores(as), quanto para passar maior segurança nas tarefas a serem realizadas –
ainda inéditas para toda a equipe. A equipe de Brasília, por exemplo, se referiu ao Guia como
uma “referência de análise para a metodologia” que permitiu seguir no Dia de Diálogo um

17
caminho sinalizado. O Guia apresentou, no entanto, segundo algumas equipes regionais,
pouca precisão quanto a algumas dinâmicas importantes, como encontrar semelhanças e
diferenças durante as plenárias ou problematizar as escolhas feitas pelos(as) jovens. Sobre
esse aspecto, é preciso ter em mente que a metodologia era inédita para todos o que a descrição
precisa de alguns processos.
As principais interferências regionais na metodologia global foram quanto ao tempo de
cada uma das atividades, que pôde ser flexibilizado de acordo com o número de participantes
presentes, que variou entre nove e 37, sendo menor do que o inicialmente esperado (40). Um dos
pontos críticos apontados por parte das equipes regionais foi o fato de haver pouco tempo para
muitas atividades, principalmente tendo em vista o fato de a maioria dos(as) jovens envolvidos(as)
nunca terem executado atividade semelhante, o que acarretou dificuldade de entendimento das
tarefas a serem realizadas e demandou dos(as) facilitadores(as) um esforço de esclarecimento
sobre as informações a serem passadas, principalmente sobre participação.
Algumas adaptações foram feitas no Guia após a realização de um grupo piloto, conduzido
pela equipe técnica central no Rio de Janeiro, e após a realização dos dois primeiros Grupos de
Diálogos regionais (Recife e Rio de Janeiro). A primeira diz respeito ao papel dos(as) jovens
bolsistas, que inicialmente seriam apenas observadores(as) e, posteriormente, foram
orientados(as) a terem um papel mais ativo, como facilitadores(as) nos subgrupos de trabalho,
esclarecendo as tarefas a serem desenvolvidas e, sobretudo, auxiliando na leitura do Caderno de
Trabalho. A segunda significou a reexibição da parte relativa aos Caminhos Participativos do CD-
ROM no início da tarde (a princípio, ele seria passado apenas no início do Dia), a fim de retomar as
informações sobre os Caminhos Participativos, relembrando algumas passadas pela manhã e
ajudando a introduzir a questão da tarde.

Caderno de Trabalho (ou “Roteiro para diálogo da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia”)
Conforme anteriormente mencionado, trata-se de publicação distribuída aos(às) participantes
contendo informações gerais sobre o tema, sobre a metodologia, além da caracterização de cada
um dos cenários ou alternativas dadas sobre a questão. Apesar de ter sido pensado – inclusive na
sua forma e aparência – para ser mais acessível aos(às) jovens, ele se mostrou de difícil
entendimento, principalmente devido à linguagem escrita adotada. Mesmo que o Caderno
contivesse um glossário, muitas palavras não foram compreendidas pelos(as) jovens que
tiveram dificuldade de assimilar a quantidade de informação disponível. Os problemas com o
Caderno foram apontados por todas as equipes regionais, que chamaram a atenção para a
sofisticação da linguagem e o excesso de texto e informação escrita, que levou alguns(mas)
jovens de Recife a mencionarem que nunca haviam estudado tanto, ainda que o aspecto
estético tenha sido bastante valorizado.

18
É importante indicar que esse Caderno – como todos os outros instrumentos – foi redigido
e pensado coletivamente pelas equipes central e regionais. O que foi constatado, no entanto, é
que, para servir inteiramente ao que se propõe, ou seja, passar informações para os(as) jovens de
forma acessível e descontraída, seria preciso alguns grupos de testes que permitissem fazer
alterações no material. Indica-se, portanto, que o tempo de elaboração do Caderno de Trabalho
deve ser maior em futuros Diálogos para que haja possibilidade de seu aprimoramento através de
testes em grupos de diálogo pilotos e junto a jovens individualmente.

CD-ROM
Produziu-se um instrumento audiovisual para auxiliar na transmissão das informações contidas no
Caderno de Trabalho, considerando o alto grau de dificuldade de leitura entre a população
brasileira. Nele, lançou-se mão de músicas de diversos gêneros, imagens coloridas, personagens
jovens com vozes/sotaques característicos das regiões envolvidas no Diálogo, além de trechos e
palavras-chaves presentes no Caderno. A linguagem mais coloquial e o recurso audiovisual
ajudaram a chamar a atenção dos(as) participantes, principalmente no início do Dia de Diálogo.
O CD-ROM, de aproximadamente 12 minutos, foi bastante elogiado pelas equipes
regionais e cumpriu sua função de tornar a transmissão das informações contidas no Caderno
de Trabalho mais acessíveis, estabelecendo, como apontou a equipe de São Paulo, “um
patamar mínimo de informação aos(às) jovens e reforçando informações já apresentadas
pelo(a) facilitador(a)”. Foi sugerido que fossem feitas interrupções ao longo da exibição do CD-
ROM para que os(as) jovens pudessem interagir com o material, através da mediação do(a)
facilitador(a), bem como para a introdução de dados locais, o que foi feito por diversas equipes
regionais. Várias equipes chamaram a atenção para o fato de alguns(mas) jovens se referirem
ao CD-ROM e às informações veiculadas através dele ao longo do Dia de Diálogo o que, mais
uma vez, sinaliza a sua eficácia.
O principal problema de tal ferramenta está no fato de depender de equipamento
multimídia para sua exibição. No “Guia do(a) Facilitador(a)”, chamou-se a atenção para a
necessidade de testar com antecedência tal equipamento, e sugeriu-se criar uma alternativa no
caso de algum imprevisto ocorrer. Pelos relatos regionais, parece não ter havido muitos problemas
nesse sentido. O maior deles, no entanto, aconteceu na RM de Porto Alegre, que ficou sem luz em
um dos Dias de Diálogo, quando a equipe “dramatizou” o conteúdo do CD-ROM com a ajuda
dos(as) jovens.

19
Estandartes (Banners)
Os estandartes apresentaram em destaque algumas das informações presentes no Caderno de
Trabalho e no CD-ROM, servindo tanto para introduzir o(a) jovem no Diálogo (uma vez que eram
vistos logo que chegavam), quanto para ajudar a fixar as informações passadas. Estes foram
bastante valorizados pelas equipes regionais, principalmente aquele referente aos compromissos
do Diálogo, que ajudou alguns(mas) jovens a evocar as “regras” junto a seus(suas) colegas. Eles
contribuíram também para criar, no local do encontro, um ambiente propício ao Diálogo. Os
estandartes foram importantes “como recurso de identificação visual, na tentativa de fazer os(as)
jovens se sentirem familiarizados(as) com aqueles personagens – presentes em também nos
Cadernos e no CD-ROM – que, ao longo do dia, estariam passando as informações para eles”, nas
palavras da equipe do Rio de Janeiro.

20
Fichas Pré e Pós-Diálogo

As fichas Pré e Pós-Diálogo, instrumentos que permitiram medir as variações na adesão aos
“Caminhos Participativos” propostos, foram diferenciadas por cores distintas. Nelas, os(as) jovens
poderiam mostrar o grau de adesão ou rejeição a cada Caminho, marcando um valor numa escala
de 01 a 07, onde 01 representava rejeição total e 07, adesão total. Na segunda delas, em que o(a)
jovem poderia dizer em que condições aderiria a determinado Caminho, foram solicitados também
dados básicos de seu perfil (sexo, faixa etária, grau de escolaridade e se trabalhava ou não).
Apesar de algumas equipes regionais terem apontado que as informações presentes nas fichas
eram bastante claras, isso não foi consenso. Outras equipes ressaltaram ter percebido dificuldade
entre os(as) jovens quando as preenchiam, destacando a importância de explicar as orientações
ao invés de apenas lê-las. Apesar de terem chamado a atenção para o fato de não ser uma prova,
não havendo respostas certas ou erradas, muitos(as) jovens tenderam a encará-la dessa maneira.
A linguagem, que seguiu o padrão do Caderno de Trabalho (Roteiro para o Diálogo), também pode
ter representado uma dificuldade no seu entendimento e preenchimento.
Solicitou-se que os(as) jovens atribuíssem pontuação para os três diferentes Caminhos
Participativos sugeridos: o Caminho 1 (Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta), o Caminho 2
[Eu sou voluntário(a) e faço a minha parte] e o Caminho 3 (Eu e meu grupo: nós damos o recado).
Como dito anteriormente, essa avaliação dos Caminhos Participativos ocorreu em dois distintos
momentos. O primeiro momento ocorreu após a apresentação aos(às) participantes do CD-ROM e
dos Cadernos de Trabalho, que traziam imagens e textos com fundamentação, aspectos positivos
e problematizações sobre esses mesmos Caminhos. O segundo momento de pontuação ocorreu
ao final do Dia de Diálogo; nesta segunda avaliação, solicitou-se que os(as) jovens escrevessem
suas condições de apoio ao Caminho, caso elas existissem.
Como pressuposto metodológico, não se pretendeu que os(as) jovens estabelecessem
comparações valorativas entre os Caminhos, mas que avaliassem cada um deles em separado
numa escala na qual 01 representaria a mais baixa adesão ao Caminho e 07, a mais alta adesão.
Buscaram-se, então, através deste instrumento, dados que permitissem perceber a opinião inicial
dos(as) participantes sobre os Caminhos antes da interação provocada pelo Diálogo, que ocorreria
durante todo o dia, e a reação destes(as) após o evento, que pôde variar entre a manutenção da
pontuação inicial e a mudança, para mais ou menos e com diferentes intensidades, em cada um
dos Caminhos sugeridos.
As fichas Pré e Pós-Diálogos são recursos auxiliares que, em conjunto com os dados
qualitativos recolhidos durante as sessões de Diálogo, permitiram perceber a influência da
interação sobre a manutenção ou mudança de posições relacionadas a formas e conteúdos de

21
participação social, cultural e política segundo os diferentes perfis dos(as) participantes
(escolaridade, gênero, idade e condição frente ao trabalho).
A agregação das notas das fichas Pré e Pós-Diálogo que foram atribuídas por cada um(a)
dos(as) participantes permitiu perceber a preferência por determinado Caminho Participativo em
cada uma das regiões da pesquisa. A análise desses dados agregados, em conjunto com os dados
qualitativos dos grupos de diálogo, contribui para a percepção sobre os valores atribuídos pelos(as)
jovens a cada um dos sentidos de participação impressos nos Caminhos sugeridos pela pesquisa.
É possível intuir que a nota Pós-Diálogo é atribuída em momento de melhor condição de
julgamento, considerando que, ao fim do Dia de Diálogo, os sujeitos experimentaram processo no
qual puderam dialogar sobre valores, efetividade dos Caminhos para a realização de mudanças e
suas conseqüências pessoais e coletivas.

Partindo da informação que a maioria dos(as) jovens atribuiu notas altas (06 e 07),
configurando intervalo de diferenciação valorativa pouco significativo, a ordem numérica das
preferências pode ser muito mais reveladora de tendências participativas. As equipes regionais de
pesquisa identificaram muitos(as) jovens que reconheceram potencialidades e também problemas
nos três Caminhos sugeridos.
Considerando as notas das fichas Pré e Pós-Diálogo, pode-se dizer que os(as) jovens
perceberam positividades nos três Caminhos Participativos para a promoção das mudanças
desejadas por eles(as) nas áreas da educação, trabalho e cultura/lazer. Ainda que estatisticamente
se possa apontar preferências, não é demais insistir em dizer que o “clima cultural” dos grupos de
diálogos tendeu ao hibridismo na hora da escolha dos Caminhos. Dessa forma, ao se apontar o
caminho melhor pontuado individualmente pelos(as) jovens, não se deve perder de vista que, em
verdade, não houve “Caminho vitorioso” nacional ou regionalmente, mas, sim, percursos
privilegiados de escolhas ancoradas por determinados valores. Os diálogos ocorridos em torno dos
Caminhos Participativos colocaram em jogo razões, valores e intersubjetividades que levaram os
(as) jovens a valorizarem determinado Caminho no momento em que foram solicitados(as) a fazê-
lo nas fichas Pré e Pós-Diálogo.

Ao estabelecerem – escrevendo nas fichas Pós-Diálogo – condições para o apoio a cada


um dos três Caminhos Participativos sugeridos pela pesquisa, os(as) jovens evidenciaram o
predomínio de alguns valores que desejam ver impressos à participação.

Foram 911 os(as) jovens que responderam às Fichas Pré e Pós-Diálogo nas regiões onde
se realizou a pesquisa.

22
Considerações finais

O Diálogo brasileiro, tendo como tema a participação e como foco a juventude, foi uma rica
experiência em que vários aspectos contribuíram para que pudesse ser compreendida como
experiência exitosa, considerando seu ineditismo e as dificuldades encontradas ao longo do
percurso. Para concluir a presente exposição, serão destacados alguns pontos que concorreram
para sua realização, bem como algumas dificuldades encontradas ao longo do caminho.

A Rede
A opção por um trabalho descentralizado, em que a coordenação e a equipe técnica buscaram
respeitar as especificidades locais e institucionais, se mostrou muito rica, apesar dos desafios
colocados por essa forma de trabalho. A pesquisa foi pensada, desde o início, para ser realizada
por uma multiplicidade de parceiros que construíram juntos uma forma coletiva de trabalho. O
papel de coordenação foi desempenhado pelo Ibase e pelo Pólis. Os parceiros canadenses CPRN
(Redes Canadenses de Pesquisa em Políticas Públicas) e IDRC (Centro de Pesquisas para o
Desenvolvimento Internacional) foram responsáveis, respectivamente, pela assessoria técnica –
principalmente na metodologia dos Diálogos – e pelo apoio financeiro. Além deles, em cada uma
das regiões pesquisadas, uma ou duas instituições ficaram responsáveis por sua supervisão
regional e gestão local. A seguir, encontra-se listagem das instituições envolvidas em cada uma
das regiões:

Região pesquisada Instituição(ões) responsável(is)

Porto Alegre Universidade Federal do Rio Grande do Sul


São Paulo Ação Educativa
Rio de Janeiro Iser/ Assessoria e Universidade Federal
Fluminense/ Observatório Jovem do Rio de
Janeiro
Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais/
Observatório da Juventude
Distrito Federal Inesc – Instituto de Estudos Socioeconômicos
Salvador Cria – Centro de Referência Integral de
Adolescentes
Recife Equip – Escola de Formação Quilombo dos
Palmares e Redes e Juventudes
Belém Unipop – Instituto Universidade Popular

23
O entrosamento e a interação entre todos os membros da rede, bem como a obtenção de
um padrão homogêneo no trabalho realizado de forma descentralizada, foram alcançados através
de encontros presenciais e de um Fórum Eletrônico (via internet). Os encontros foram organizados
no formato de seminários, ao todo, quatro. Houve um esforço coletivo permanente na construção e
manutenção da rede, tanto por parte da coordenação do projeto, quanto das equipes regionais.
Disso resultou a pesquisa planejada centralmente (mas de forma participativa), e
executada e gerenciada de modo descentralizado (mas como uma construção conjunta e coletiva),
com um importante aprendizado para todas as partes envolvidas. As consultoras do CPRN
trabalharam a partir desse mesmo princípio, trazendo sua experiência na metodologia dos Diálogos
para um novo espaço de construção, respeitando especificidades locais, do tema e do próprio
arranjo organizacional adotado por esta pesquisa.
Foi formado um Conselho Político da Pesquisa, composto por representantes do Ibase,
Pólis, IDRC e Secretaria Nacional de Juventude, que acompanhou os principais momentos do
estudo, ajudando a pontuar questões estratégicas para o projeto.
Foi a partir desses pressupostos do trabalho em rede que foi possível valorizar e incorporar
as especificidades regionais no processo, reconhecendo que foram as experiências locais e a troca
entre elas as responsáveis pela criação de um Diálogo brasileiro. Como dito na apresentação,
buscou-se estabelecer o diálogo não apenas como método, mas, sobretudo, como princípio. E,
nesse sentido, a troca permanente entre parceiros(as) (instituições e pessoas) com perfis
profissionais tão diversos foi um desafio que valeu a pena enfrentar, pois foram essas diferentes
perspectivas que, ao longo do processo, possibilitaram uma visão mais ampla sobre a construção
da pesquisa e, ao final dele, puderam revelar a qualidade dos dados conseguidos e suas múltiplas
formas de interpretação e possibilidades a apreensão.

O Tema
Pesquisar o tema da participação junto a sujeitos que não possuíam, obrigatoriamente, experiência
participativa, mostrou-se como mais um desafio a ser enfrentado desde o início da investigação. A
metodologia dos Grupos de Diálogo mostrou-se interessante nesse aspecto, já que, em um certo
sentido, o próprio Dia de Diálogo oferecia um espaço propício à participação e adequado à escuta
daqueles(as) que não tinham o hábito da fala pública. No entanto, como apontaram algumas
equipes, o contraponto dessas vantagens esteve no fato de a participação ter sido apresentada,
todo o tempo, como valor positivo. Os materiais produzidos, as questões levantadas, a postura
dos(as) facilitadores(as) e a forma de se apresentar as perguntas da pesquisa levavam a crer,
nessa perspectiva, que, antes de tudo, participar era bom. Nesse sentido, o fato de não ser
colocada a possibilidade da não-participação como Caminho possível pode ser encarado como um
viés na investigação.

24
Por outro lado, há de se lembrar que o que se buscou investigar eram as potencialidades e
interdições à participação dos(as) jovens na esfera pública. Desse ponto de vista, a partir dos
valores contidos em cada Caminho, poderia ser possível entender quais deles mobilizavam mais
ou menos para a participação. E o fato de se ter tido um dia inteiro de trabalho fez com que muitas
equipes observassem mesmo a falta de ânimo para a discussão da participação (distante da
realidade da maioria), em contraposição às acaloradas discussões sobre trabalho, educação e
cultura/lazer, aspecto levado em conta na análise dos dados produzidos nesse processo. Havia,
ainda, as fichas Pré e Pós-Diálogo, que também abriam espaço para uma eventual recusa à
participação, já que os(as) jovens poderiam ter dado, logo no início, notas muito baixas às
alternativas apresentadas. Não tendo sido, no entanto, o que aconteceu.
A dificuldade de compreensão e entendimento do tema não pode ser desconsiderada.
Como já apontado, a linguagem sofisticada do material disponibilizado para os(as) jovens pode ter
contribuído para esse fato. No entanto, o fato de alguns grupos terem idealizado a solução para os
problemas apontados, projetando a responsabilidade do engajamento participativo para outros(as)
jovens sem levar em conta a sua própria condição, evidenciou a presença de um(a) “jovem
abstrato(a)” que deveria realizar o Caminho idealizado. Os(as) participantes do Diálogo parecem
não falar a partir deles(as) e para eles(as), mas para uma outra pessoa, como se os Caminhos
fossem algo longe de sua realidade.
Algumas equipes apontaram tal fato indicando que, ao pensar na participação juvenil, e
tendo sido feito um esforço por parte dos(as) facilitadores(as) para que os(as) jovens se
colocassem nessa posição, o exercício de pensar a participação era feito, não raro, em terceira
pessoa, sendo os Caminhos pensados como formas ideais e distantes, e não como possibilidades
reais de atuação na realidade. Ainda assim, e como os(as) próprios(as) jovens, em sua grande
maioria, demonstraram na avaliação final do Dia de Diálogo, esse exercício de pensar em questões
que não se colocam no seu cotidiano pareceu válido e mesmo importante, fazendo com que
muitos(as), além de exercitarem escolhas, também se deparassem com possibilidades
impensadas.

A Metodologia
Alguns aspectos da metodologia devem ser recuperados nessas considerações finais.
Primeiramente, quanto à dinâmica do Dia de Diálogo, os pequenos grupos trabalharam com mais
vitalidade, interesse e tranqüilidade no período da manhã, talvez pelo fato de que, nessa parte do
dia, os(as) jovens falaram, essencialmente, de suas experiências. Sentiam-se, portanto, em
condições de contribuir para o Diálogo, aproveitando, também, esse espaço para falar de assuntos
(educação, trabalho e cultura/lazer) que, de fato, lhes afetavam profundamente. Uma constatação
geral foi sobre a importância dos trabalhos em pequenos grupos, em que, mesmo em regiões onde
se constatou um maior monopólio da palavra por poucos(as) jovens, todos(as) tiveram maior

25
oportunidade de dar suas opiniões e construir propostas coletivamente. Muitas vezes, no entanto,
as apresentações dos pequenos grupos em plenária não eram condizentes com o que tinham
conversado no grupo. Houve, por vezes, uma tendência a resumir as decisões na hora de
apresentá-las, de forma que muitos dos seus significados se perdiam. Além disso, houve casos em
que o grupo mudou os itens de sua apresentação às pressas, o que pode explicar algumas
incongruências ou falta de consistência nos relatos. Essa constatação revela, uma vez mais, a
importância da incorporação de bolsistas no acompanhamento dos pequenos grupos, tendo como
responsabilidade a anotação das discussões ocorridas nos pequenos grupos, além auxiliarem na
leitura do Caderno de Trabalho e sanarem eventuais dúvidas que surgiam nesses momentos.
Sendo os(as) bolsistas em sua grande maioria jovens, houve, ainda, uma maior identificação
dos(as) jovens participantes com eles(as), o que certamente ajudou no fato de permanecerem em
um momento em que o debate seria apenas entre os(as) jovens. A opção inicial por grupos “auto-
facilitados” mostrou-se equivocada, uma vez que a falta de experiência dos(as) jovens nesse tipo
de trabalho e a dificuldade de algumas tarefas (especialmente na parte da tarde) contribuírem para
um impasse na execução de tais tarefas que nem todos(as) conseguiriam resolver sozinhos(as). A
opção pela atuação mais ativa dos(as) bolsistas, tomada após do início dos Grupos de Diálogo,
revelou-se mais acertada.
Outro importante aspecto a ser destacado na aplicação da metodologia é o fato de os(as)
jovens, de uma maneira geral, terem incorporado a idéia do diálogo como uma situação
democrática de escuta e respeito à fala alheia. Nas suas conversas, freqüentemente utilizaram as
expressões: na minha opinião, no meu ponto de vista, bem como desencadearam processos para
que todos os membros do grupo se expressassem.
Houve, em algumas regiões, certa variação na adesão dos princípios, participação nos
Grupos de Diálogo e execução das tarefas. Uma delas diz respeito à questão de gênero: algumas
regiões, entre elas Belém, Recife, Salvador, Brasília e Porto Alegre, pontuaram o papel de
destaque de muitas jovens mulheres ao longo dos Dias de Diálogo, seja nos pequenos grupos,
seja nas plenárias. Outra recorrência em várias regiões foi a maior facilidade de trabalho nos GDs
formados por jovens entre 18 e 24 anos, ou seja, os Grupos de Diálogo formados por jovens mais
velhos(as) tendiam, como explicitaram as regiões de Belém, Recife, Salvador e Belo Horizonte, a
entender e executar as tarefas com menos dificuldades. Outro aspecto importante a registrar foi a
atuação dos(as) jovens com experiência participativa. No geral, os grupos formados apenas com
esses(as) jovens não apresentaram grandes diferenças em relação aos demais. Foi apontado, no
entanto, que nos Grupos de Diálogo, em geral, alguns(mas) jovens com experiência anterior
exerciam certa liderança – fosse através do monopólio da palavra, fosse ajudando na condução
dos trabalhos, chamando outros(as) jovens para expressarem seus pontos de vista.
Um ponto a ser também resgatado é o do papel do(a) facilitador(a). Desde o princípio,
houve muitas dúvidas por parte de toda a equipe sobre os limites de conduzir uma dinâmica tão

26
complexa, buscando minimizar as influências sobre os(as) jovens, sobretudo na valorização de um
Caminho em detrimento dos demais. Em determinados momentos do Diálogo [encontrar
semelhanças e diferenças e problematizar a escolha dos(as) jovens], a tarefa de facilitação
mostrou-se especialmente delicada, fazendo com que as pessoas à frente desse processo
tivessem que encontrar, na prática, o limite tênue entre facilitar o diálogo entre os(as) jovens
(cuidando para que a tarefa não levasse muito mais tempo do que o previsto) e impor o que
achava mais relevante ou pertinente. Nota-se, no entanto, que apesar de se reconhecer que uma
situação como a aqui descrita nos Dias de Diálogo é por si só indutora (e, no limite, toda situação
de pesquisa significa uma alteração da realidade pesquisada), a preocupação constante observada
em todas das regiões, de não induzir os(as) jovens no processo de Diálogo, pareceu ter tido
sucesso. Prova disso é que, em muitas delas, houve certa resistência ao Caminho 2 (voluntariado)
por partes das equipes e, ainda assim, ele e os valores nele contidos, foram acionados
recorrentemente pelos(as) jovens, apresentando-se muitas vezes como Caminho mais escolhido.
Constata-se a importância do papel do(a) facilitador(a) na construção do Diálogo e também
de sua formação no processo de construção da pesquisa, em que é necessário se chamar a
atenção para sua responsabilidade enquanto pesquisador(a). Como experiência nova para as
equipes regionais [e, nesse sentido, tanto para os(as) professores(as) acadêmicos(as), quanto
para educadores(as) populares], a metodologia parece ter criado para o(a) “pesquisador(a)” uma
possibilidade de apropriação não somente de uma técnica de coleta de dados, mas da metodologia
como parte da construção da própria questão da pesquisa e do processo de sua compreensão,
tornando possível uma reconstrução da relação pesquisador(a)-pesquisado(a). O exercício feito a
partir dos Grupos de Diálogo foi importante também por colocar o(a) adulto(a) na prática da escuta
do(a) jovem, não apenas na dimensão da conscientização do valor da escuta do outro, mas
também na execução da metodologia, que exigiu uma vigilância constante, tarefa ainda mais
desafiadora quando se tratam de facilitadores(as) professores(as) e educadores(as) [caso da
grande maioria dos(as) profissionais envolvidos(as)].
Quanto à adaptação da metodologia dos Grupos de Diálogo à realidade brasileira,
percebemos que, para os(as) jovens, um dia intensivo de conversa e de aprendizado – quando
emitiram opiniões e colocaram-nas em diálogo com as opiniões dos(as) outros(as) – possibilitou a
produção de um deslocamento do eixo da reflexão, do âmbito privado ao público, criando
oportunidade para a expressão de uma análise crítica e para a valorização da ação coletiva,
colocando-se como sujeitos da reflexão e da ação. Outra perspectiva da metodologia que merece
destaque é seus potenciais formativo e informativo. Os encontros foram oportunidades, muitas
vezes únicas, dos(as) participantes obterem informações sobre os temas propostos, de provocar
seu posicionamento e colocar em questão princípios baseados em sensos comuns.
Assim, a pesquisa foi exitosa em ampliar a própria compreensão do que seja política entre
os(as) jovens e, a partir disso, abriu espaço para que eles(as) pudessem reconhecer suas próprias

27
trajetórias de participação. Nesse sentido, o Caderno de Trabalho e o CD-ROM, associados à
facilitação, foram instrumentos eficientes para dar visibilidade às diversas formas de participação
política existentes e, a partir disso, mapear o conhecimento e a experiência prévia dos(as) jovens
nesse âmbito.
Finalmente, um importante mérito dessa experiência com a metodologia foi ter colocado
os(as) jovens em situação de diálogo, ou seja, dar a possibilidade de acesso a um espaço de
discussão, escuta, expressão das diferentes opiniões e troca de experiências. Para grande parte
dos(as) 913 jovens participantes foi, sem dúvida, uma experiência inédita, à qual deram muito
valor. Ter conseguido identificar o desejo de muitos(as) jovens de fazer parte de espaços como os
abertos através do Diálogo foi, sem dúvida, um resultado positivo da pesquisa.

28
Bibliografia

CORTI, Ana Paula; SOUZA, Raquel; OLIVEIRA; Elizabete de. Pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Relatório Final da Região
Metropolitana de São Paulo, 2005.

COSTA, Ozanira Ferreira; FIGUEIREDO, Karina; RIBEIRO, Perla. Relatório Sintético dos Grupos
de Diálogos. Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas
públicas. Região Metropolitana de Brasília, 2005.

DAYRELL, Juarez; GOMES, Nima Lino; LEÃO, Geraldo. Pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Relatório dos Grupos de Diálogo da
Região Metropolitana de Belo Horizonte, 2005.

DE TOMMASI, Lívia; BRANDÃO, Marcílio. Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia:


participação, esferas e políticas públicas. Região Metropolitana do Recife, 2005.

IBASE & PÓLIS. Que Brasil queremos? como chegar lá? – Roteiro para o diálogo da pesquisa
Juventude Brasileira e Democracia. Rio de Janeiro: IBASE, 2005.

FISCHER, Nilton Bueno; GIL, Carmem Zeli Vargas, RAMOS; Nara Vieira; STECANELA, Nilda;
SALVA, Sueli. Relatório qualitativo – Grupos de Diálogo da Região Metropolitana de Porto
Alegre. Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas
públicas, 2005.

MACKINNON, Mary Pat; MAXWELL. Judith; ROSELL, Steven; e SAXENA, Nandini. Citizen´s
Dialogue on Canada´s Future: a 21st Century Social Contract. Canadian Policy Research
Networks, Viewpoint Learning Inc., 2003.

OLIVEIRA, Júlia Ribeiro de; SILVA, Ana Paula Carvalho; COLAÇO, Fernanda. Relatório parcial dos
Grupos de Diálogo da Região Metropolitana de Salvador. Pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

RODRIGUES, Solange; AGUIAR, Alexandre; CUNHA, Marilena. Pesquisa Juventude Brasileira e


Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Relatório Síntese da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, 2005.

SILVA, Lúcia Isabel da Conceição; VIANA, Rosely Risuenho; SILVA, Francisca Guimar Cruz.
Relatório final da Região Metropolitana de Belém. Pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

29
relatório global

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

2 Relatório final

january 2006
Sumário
1. Apresentação ..........................................................................................5

2. Participação e juventude ....................................................................7

3. Considerações metodológicas ...........................................................10


3.1 Pesquisa de opinião......................................................................... 10

3.2 Grupos de diálogo............................................................................ 13

4. Perfil dos(as) jovens: quais os sujeitos da pesquisa?...................15

5. O que preocupa os(as) jovens? ..........................................................18

6. Os eixos orientadores do diálogo:


educação, trabalho e cultura e lazer ................................................21
6.1 Educação ......................................................................................... 21

6.2 Trabalho ........................................................................................... 29

6.3 Cultura e lazer.................................................................................. 34

7. A participação e seus caminhos possíveis .....................................40


7.1. Participação em grupos ................................................................... 40
7.1.1 Participação em movimentos ............................................................... 42
7.1.2 A Escola como espaço-tempo de participação .................................... 44
7.1.2.1 Principais temas debatidos nas escolas
7.1.2.2. Participação em atividades na escola
em finais de semana
7.1.3. Percepções em torno da participação .................................................. 46

7.2. Caminhos participativos: os jovens dialogam


sobre limites e possibilidades .......................................................... 48
7.2.1. Caminho 1: Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta .................... 49
7.2.2. Caminho 2: Eu sou voluntário(a) e faço a diferença ............................ 53
7.2.3 Caminho 3: Eu e meu grupo: nós damos o recado .............................. 58
7.2.4 Escolhendo e inventando caminhos, com criatividade ......................... 62

8. Recado dos(as) jovens para os(as) “políticos(as)” .........................65

9. Espaços para o diálogo ........................................................................68

10. Considerações finais .............................................................................72


10.1. Recomendações de políticas públicas .............................................. 83

10.2. Recomendações de novos estudos e investigações ........................ 84

11. Bibliografia ..............................................................................................86

12. Anexos ......................................................................................................89


1Apresentação

O relatório a seguir é o resultado final da pesquisa “Juventude Brasileira e Demo-


cracia – participação, esferas e políticas públicas”, que buscou ouvir e debater
com diferentes jovens brasileiros(as), entre 15 e 24 anos de idade, os limites e pos-
sibilidades da sua participação em atividades políticas, sociais e comunitárias, consi-
derando a importância da inclusão desses sujeitos para a consolidação do processo
de democratização da sociedade brasileira. A investigação foi desenvolvida por uma
rede de instituições parceiras1, que compactuam com a premissa de que a primeira
tarefa a se fazer é aprender a escutar os(as) jovens, entender as condições em que
vivem, as suas semelhanças, diferenças e perspectivas frente aos imensos desafios
que as sociedades atuais impõem.
A investigação, realizada entre julho de 2004 e novembro de 2005, teve como
finalidade subsidiar novas políticas, estratégias e ações públicas voltadas para
os(as) jovens, e realizou-se mediante duas abordagens metodológicas: a primeira,
um levantamento estatístico, por meio da aplicação de questionário em amostra 1. Ibase – Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas
do universo (8.000 jovens), buscando caracterizar o perfil dos(as) jovens, suas (coord.); Pólis – Instituto de
Estudos, Formação e Assessoria
diversas formas de participação e percepções sobre o tema; a segunda, um estudo
em Políticas Sociais (coord.);
qualitativo, baseado na metodologia Choice Work Dialogue Methodology – Grupos Iser Assessoria/Rio de Janeiro,
RJ; Observatório Jovem do Rio
de Diálogo, em que 913 jovens debateram sobre o tema, em sete Regiões Metro- de Janeiro/Universidade Federal
politanas (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador Fluminense, RJ; Observatório da
Juventude da Universidade Federal
e São Paulo) e no Distrito Federal. de Minas Gerais/Belo Horizonte,
MG; Ação Educativa – Assessoria,
A partir dos dados levantados nessas duas fases, foram produzidos, além do
Pesquisa e Informação/São Paulo,
presente texto, dois relatórios em cada uma das regiões: o primeiro tratando espe- SP; UFRGS – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul/Porto
cificamente da análise dos dados quantitativos regionais (Pesquisa de Opinião) e o Alegre, RS; Inesc – Instituto
segundo articulando os resultados dos Grupos de Diálogo da região com as análises da de Estudos Socioeconômicos/
Brasília, DF; Cria – Centro
Pesquisa de Opinião. Os relatórios finais das regiões investigadas e o relatório global de Referência Integral de
da Pesquisa de Opinião constituíram, portanto, base para o texto que se segue. Adolescentes/Salvador, BA;
UNIPOP – Instituto Universidade
Trata-se, assim, de uma produção coletiva, que articula diferentes reflexões Popular/Belém, PA; Equip
– Escola de Formação Quilombo
na compreensão das formas, conteúdos e sentidos da participação dos(as) jovens,
dos Palmares/Recife, PE; IDRC
embora cada um dos relatórios finais das regiões pesquisadas possua uma linha de – International Development
Research Centre/Canadá; e CPRN
análise autônoma de acordo com as instituições e pesquisadores(as) que estiveram – Canadian Policy Research
à frente da investigação nas referidas localidades. Networks/Canadá.

5
As informações aqui mapeadas se unem às contribuições já existentes da
produção de conhecimento sobre juventude, no âmbito nacional e internacional, parti-
cularmente da América Latina, ampliando o debate, influenciando políticas públicas de
juventude (como também políticas de educação, trabalho, cultura e lazer) e estimulando
o fortalecimento de redes de sustentação e de construção de oportunidades para que
as diversas juventudes vislumbrem um outro mundo possível.
Assim sendo, os resultados da pesquisa ganham maior relevância, considerando
o recente movimento de criação de instâncias político-administrativas voltadas para
políticas públicas de juventude nos âmbitos executivos e legislativos, destacando-se
nacionalmente a criação em 2005 da Secretaria Nacional da Juventude e do Conselho
Nacional de Juventude, ambos vinculados à Presidência da República, tendo como
importante atribuição incorporar as manifestações participativas e os interesses dessa
significativa parcela da população.
Embora, de um modo geral, a sociedade tenha um olhar ambíguo de desencanto
e de fascínio para os(as) jovens, os dados e depoimentos que se seguem mostram
sujeitos com profunda crença em suas capacidades, que aspiram a abertura de canais
de participação para que possam ser ouvidos e oportunidades iguais para que vivam
a transformação hoje, e não em um futuro inalcançável.

6
2 Participação e Juventude

Articular as temáticas juventude e participação não é tarefa simples e torna-se um


importante desafio, especialmente no contexto atual do Brasil. São 34 milhões de
jovens entre 15 e 24 anos, ainda longe de serem reconhecidos(as) como sujeitos de
direitos e incluídos ativamente no processo democrático. Mas quem são esses(as)
jovens e o que pensam sobre a participação?
A definição do que venha a ser juventude em determinado momento histórico
pelo intermédio do recorte etário é, talvez, a maneira mais simples de tentar circunscre-
ver sujeitos cujas experiências se caracterizam por serem diversas e desiguais. Ainda
que para fins de pesquisa, legislação e definição de políticas públicas seja possível
estabelecer como sendo jovens aqueles(as) que se encontram em torno de determi-
nado corte de idade, deve-se ter em conta a inadequação conceitual de se articular
um só campo de representações que seja unificador dos sentidos do que venha a
ser a “juventude”. Sem dúvida, “juventude é apenas uma palavra” (Bourdieu, 1983)
caso não se busque compreendê-la como categoria em permanente construção social
e histórica, incorporando a complexidade da vida – em suas dimensões biológicas,
sociais, psíquicas, culturais, políticas, econômicas etc. – que organizam as múltiplas
maneiras de viver a condição juvenil.
Cabe refletir sobre o que haveria de comum entre jovens de 15 e 24 anos? Que
vínculos existem entre jovens que possuem garantias familiares para se escolarizarem
no tempo adequado e outros(as) de mesma idade que já se encontram diante dos
desafios do mundo do trabalho ou da constituição da família? O que têm em comum
jovens que vivem em espaços sociais economicamente valorizados da cidade e jo-
vens que moram nas favelas e periferias? Jovens homens e jovens mulheres, ainda
que de classes e idades semelhantes? Certamente, as respostas vão muito além da
agregação etária, mas apontam para a necessidade de refletir sobre as diferentes
condições objetivas e percepções sobre os sentidos de ser jovem. Somente dessa
forma é possível dirigir um olhar sobre a juventude que contemple a sua diversidade,
mais adequado à situação real, ou seja, aquela na qual a agregação arbitrária por
idade não resume as identificações possíveis num conjunto determinado de homens
e mulheres que se reúnem num universo de pesquisa, mas que permite perceber

7
experiências geracionais em comum (Novaes, 1998). Nessa perspectiva, pode-se
dizer que se está diante de uma mesma geração quando os sujeitos, em alguma
medida, vivenciam espaços-tempos comuns de sensibilidades, saberes, memórias,
experiências históricas e culturais.
Assim, passou-se a empregar com certa freqüência a expressão “juventudes”
(Novaes, 1998, Carrano, 2000, Castro & Abramovay, 2002; Abramo, 2005) como forma
de enfatizar que, ao se tratar de jovens, deve-se reconhecer que esses(as) constituem
realidade plural e multifacetada. A expressão aparece em discursos públicos, textos e
documentos variados da esfera governamental, acadêmica e da sociedade civil. Ain-
da que a simples utilização dessa expressão não garanta, por si só, a percepção da
complexidade das realidades vividas pelos(as) jovens, denota certo cuidado contra as
generalizações que simplificam ao unificar o diverso e o desigual. O plural na referência
à juventude é o reconhecimento do peso específico de jovens que se distinguem e se
identificam em suas muitas dimensões, tais como as de gênero, cor da pele, classe,
local de moradia, cotidianos e projetos de futuro.
O agravamento das condições de vida de ampla maioria da população jovem
brasileira – em especial os setores mais vulneráveis: jovens negras e homens jovens
moradores de espaços populares – incide diretamente no aumento da sensação de
insegurança no presente e das incertezas quanto à vida futura. Reguillo (2003) chama
a atenção que, em toda a América Latina, a face mais visível dos(as) jovens, princi-
palmente os(as) pertencentes aos setores populares, foi aquela que os(as) converteu
nos(as) principais operadores(as) de violências nas sociedades. Não é de se estranhar,
assim, que sobre eles(as) tenham recaído as principais ações – não necessariamente
de políticas públicas – de controle social tutelar e repressivo. Em conjunto com esse
processo estigmatizador e generalizável a todos os países da região, se aprofundou
a crise estrutural dos anos 80, que fraturou as macroeconomias dos países e pulveri-
zou a microeconomia de pessoas e famílias. Nesse processo, muitos(as) jovens vêm
pagando o preço de políticas econômicas que os(as) excluem das possibilidades de
incorporar-se de maneira produtiva e cidadã à sociedade.
Um dos grandes desafios democráticos se relaciona com as encruzilhadas
que podem ser percorridas para que a participação social se torne objetivo e meta
realizável numa sociedade em que tantos(as) jovens se encontram em processos de
exclusão econômica e marginalização social. A ampliação de conhecimentos sobre as
diferentes realidades juvenis, necessidades insatisfeitas, motivações e intersubjetivi-
dades em curso, especialmente àquelas relacionadas com os(as) jovens pobres que
mais dificuldades enfrentam para realizar escolhas alternativas e projetos autônomos,
é condição necessária de definição de políticas públicas sintonizadas com os sujeitos
e realidades que se quer transformar.
A participação dos(as) jovens nos assuntos públicos está entre as preocu-
pações do debate sobre a ampliação dos processos democráticos. Muitas vezes há
exagero quando se denuncia a “apatia juvenil” e se deixa de perceber que a “crise de
participação cidadã” é fenômeno social ampliado que atinge todas as faixas etárias da
população (sobre isso, ver Venturi, G. e Bokany, V, 2005). Não é incomum que dados
de pesquisas de opinião pública sejam distorcidos pelas mídias que pintam quadros

8
que apresentam os(as) jovens contemporâneos(as) como conservadores(as) e sem
perspectivas, ou seja, nova geração, porém, politicamente mais velha do que seus
próprios pais, que teriam contestado o “sistema” e empreendido a “boa luta” de ge-
rações contra valores adultos dominantes. Deixa-se de reconhecer que não há mais
valores pertencentes a apenas uma geração, que há desconfiança generalizada da
população na “política” e que em todos os lugares e idades há dificuldades para se
encontrar meios de ação para a resolução dos problemas coletivos.
A crítica mais acentuada sobre os(as) jovens pode estar na “função socioló-
gica” que as sociedades modernas atribuíram à juventude de ser agente de revitaliza-
ção da vida social, força oculta pronta para ser utilizada nos processos de mudança
(Mannheim, 1968). Em grande medida, as generalizações sobre a “apatia juvenil” são
agravadas pela insuficiência de pesquisas que permitam com alguma precisão apre-
ender e interpretar as situações pelas quais os(as) jovens, em diferentes contextos e
condições econômicas e sociais, expressam processos de recusa, impossibilidades ou
mesmo apontam para novas práticas de participação de solidariedade e conflito que
já praticam ou com as quais aceitariam se envolver. Muitas dessas práticas se tornam
invisíveis para os sentidos dominantes, que dizem ser mais legítimos determinados
ideais de participação ou mitos participativos do passado, tais como aqueles que se
associam ao “jovem radical” (Ianni,1969) dos anos 60.
Estudos sobre a participação dos(as) jovens na vida social indicam que, durante
as décadas de 80 e 90 e o início do novo século, a militância política institucionalizada
ocupou um papel secundário nas ações coletivas praticadas e valorizadas pelos(as)
jovens brasileiros(as) (Schmidt, 2001; Abramo e Venturi, 2000, Barquero, 2004). Em
outras regiões do mundo, a “despolitização” das populações juvenis também se tornou
fonte de preocupação, levando à indagação sobre se a crise de participação dos(as)
jovens expressaria processos cíclicos ou mesmo consolidações estruturais nos rela-
cionamentos das jovens gerações com as instituições sociais e políticas (Oesterreich,
2001; Balardini, 2000; Laguna, 2000; Müxel, 1999).
Ao mesmo tempo em que há pouca participação juvenil em espaços políticos
formais, nota-se a presença de jovens em outros tipos de ações coletivas que contri-
buem para a constituição de espaços públicos juvenilizados em torno de diferentes
experiências sociais participativas.
Os(as) jovens brasileiros têm emitido sinais, mais ou menos visíveis, da nega-
ção frente a formas tradicionais de participação, tais como as que se expressam pela
filiação a partidos, sindicatos e organizações estudantis. No entanto, ações coletivas
juvenis deixam de ser notadas ou valorizadas devido ao caráter descontínuo, tópico e
muito freqüentemente desprovido de ideologias facilmente reconhecidas – esquerda
e direita, por exemplo – do qual se revestem. Entretanto, as novas formas e temas
pelos quais os(as) jovens se mobilizam na esfera pública também indicam o quadro
de crise das formas tradicionais de participação e socialização política.
Sem dúvida, pensar os distintos significados da participação política para as
juventudes pode representar um importante aporte para captar não só como repro-
duzem, mas principalmente, como constroem novas respostas a essa questão.

9
3 Considerações metodológicas:
Pesquisa de Opinião
e Grupos de Diálogo

3.1. Pesquisa de Opinião


A primeira etapa do trabalho de pesquisa foi o levantamento de dados mediante a
aplicação de 8.000 questionários em amostra de jovens residentes em sete Regiões
Metropolitanas (RMs) e no Distrito Federal. Esse levantamento foi realizado, entre os
meses de setembro e novembro de 2004, por empresa especializada que também se
encarregou do respectivo processamento. O questionário aplicado (anexo) era formado
por 46 questões que abordavam o perfil dos(as) jovens pesquisados(as): educação,
situação familiar, trabalho, mídia e acesso à cultura, além de suas percepções e práticas
no campo da participação e cultura política. Foram realizadas apurações específicas
para cada região, bem como uma apuração agregada para o conjunto delas. As diver-
sas equipes regionais, que compõem a rede de parceiros, participaram da construção
coletiva da metodologia e dos instrumentos de pesquisa e incumbiram-se da análise
dos dados processados e da elaboração dos respectivos relatórios regionais. A equipe
técnica, sediada no Rio de Janeiro, realizou a análise da apuração agregada e elaborou
relatório global. Os relatórios regionais foram feitos com base em roteiro desenhado
com vistas a harmonizar as análises e tornar possíveis as necessárias comparações,
sempre preservando a manifestação da diversidade regional e as avaliações e con-
clusões realizadas pelas equipes responsáveis pelo trabalho.
A seguir, são apresentados os passos que configuraram os procedimentos
metodológicos da pesquisa de opinião.

Âmbito

Regiões Metropolitanas de Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro,
Salvador e São Paulo, além do Distrito Federal.

Público-alvo para cálculo da amostra

Jovens com idades entre 15 e 24 anos moradores(as) nas regiões acima relacionadas,
cuja população está descrita na tabela a seguir:

10
Tabela 1

Regiões Metropolitanas e Distrito Federal – População total


e jovens de 15 a 24 anos (2003)

Região População total


população total
Metropolitana / DF 15 a 24 anos

Belém 1.880.855 407.276

Belo Horizonte 4.625.670 903.519

Porto Alegre 3.879.464 705.462

Recife 3.392.066 703.337

Rio de Janeiro 11.251.811 1.907.448

Salvador 3.195.513 706.237

São Paulo 18.684.954 3.659.766

Distrito Federal 2.200.238 442.603

Total 49.110.571 9.435.648

Fonte: Síntese de Indicadores Sociais do IBGE (2004)

Tamanho e composição da amostra

Tabela 2

Número de jovens entrevistados(as) nas Regiões Metropolitanas


e Distrito Federal (2004)

Região Metropolitana / DF Nº de entrevistados


Belém 600
Belo Horizonte 1.000
Porto Alegre 1.000
Recife 1.000
Rio de Janeiro 1.400
Salvador 1.000
São Paulo 1.400
Distrito Federal 600
Total 8.000
Fonte: IBASE/POLIS. Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

11
Modelo de amostragem

A primeira etapa da pesquisa foi realizada sobre uma amostra independente, definida
com rigor estatístico, em cada região pesquisada. O modelo de amostragem utilizado foi
o de conglomerados, aplicado em duas etapas. A seleção dos conglomerados (setores
censitários do IBGE) na primeira etapa foi realizada com probabilidade proporcional
ao tamanho, em que a medida foi o número de jovens de 15 a 24 anos residentes
nos setores. Na segunda etapa foram selecionados, dentro de cada setor censitário
(selecionado na primeira etapa), dez jovens para serem entrevistados(as). O modelo
de amostragem deu a cada jovem das Regiões Metropolitanas e Distrito Federal igual
probabilidade de ser selecionado(a) para a amostra2.
A pesquisa de opinião, além de traçar perfil dos(as) jovens e subsidiar os Grupos
de Diálogo (GDs), possibilitou a obtenção de cadastro de jovens dispostos(as) a par-
ticipar da continuidade da pesquisa em sua segunda fase – Grupos de Diálogo – que
assumiu perfil predominantemente qualitativo com a realização de 39 GDs3, cada um
deles envolvendo entre nove e 37 jovens. Nesses Grupos, realizados entre março e
maio de 2005, 913 jovens homens e mulheres entre 15 e 24 anos dialogaram sobre
Caminhos Participativos que estariam dispostos(as) a trilhar para conquistar direitos
relacionados à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer4.

3.2. Grupos de Diálogo

A metodologia dos Grupos de Diálogo utilizada na segunda fase da pesquisa era


inédita no país e foi adaptada à realidade brasileira a partir de intensas trocas de ex-
periência entre pesquisadores(as) do Canadian Policy Research Networks (CPRN) e
pesquisadores(as) vinculados às instituições que formaram a rede de parceiros(as).
Os Grupos de Diálogo da pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia”
foram adaptados da metodologia Choice Work Dialogue, a partir da experiência
canadense que teve como base estudos de Daniel Yankolovich. O principal pres-
suposto metodológico se encontra na busca de superação da lógica que domina as
pesquisas de opinião no campo das políticas públicas, considerando que elas apenas
constatam o posicionamento dos cidadãos, sem criar oportunidade para que esses
2. Documento sobre
os cálculos da amostra e de erros exercitem coletivamente diferentes reflexões sobre o tema. O enfoque dos Grupos de
disponível para consulta no Ibase. Diálogo considera que a opinião não é formada individualmente, mas na interação.
3. Foram realizados cinco Grupos
de Diálogo em cada uma das
Seu fundamento está em situar cidadãos em relação de diálogo, provocando reflexões
regiões estudadas, com exceção pessoais e coletivas acerca de determinadas questões, bem como sobre as decisões
de Belém, onde foram realizados
quatro grupos. que devem ser tomadas para que os consensos que emergem durante o diálogo se
4. Para participar do Dia de concretizem. Trata-se de uma metodologia que favorece que as pessoas emitam suas
Diálogo, os(as) jovens receberam
uma ajuda de custo de 50 reais
opiniões, coloquem-nas em diálogo com as opiniões dos(as) outros(as) e que estas
para subsidiar o transporte e sejam novamente remetidas a si e a seus valores mais profundos.
recompensar o dia dispensado
para a atividade. Além disso, Durante o Dia de Diálogo, as pessoas recebem informações qualificadas sobre
foram servidos café da manhã, o assunto a ser abordado e são convidadas a participar de um intenso processo de
almoço e lanche para todos(as)
os(as) participantes. discussão entre indivíduos de ambos os sexos, de diferentes classes, faixas etárias,

12
locais de moradia etc. O diálogo como método pressupõe que os(as) participan-
tes sejam capazes de ouvir uns(mas) aos(às) outros(as) e de interagir sem que
a defesa de determinada opinião desconsidere as demais. O papel da pessoa
responsável por facilitar o diálogo (o chamado facilitador), bem como as regras gerais
para sua realização, são elementos imprescindíveis para que seja possível uma intera-
ção qualificada entre os(as) envolvidos(as) em busca de pontos comuns que revelem
tendências sobre determinadas questões de interesse público e, muito comumente,
de impacto em políticas públicas.
Assim, ao longo do dia, os(as) jovens foram convidados a participar de dinâmi-
cas (em pequenos grupos e reuniões em sessões plenárias) em que o ponto central
de debate era a participação dos(as) jovens brasileiros(as). Num primeiro momento,
os(as) jovens identificaram as principais preocupações acerca de três temas bem pró-
ximos de suas realidades: educação, trabalho e cultura/lazer. Após a identificação de
suas preocupações e demandas, e partindo delas, eles(as) eram então chamados(as)
a refletir sobre a melhor maneira de concretizá-las a partir de três alternativas de
participação apresentadas pelas equipes regionais da pesquisa.
Essas três alternativas – chamadas pela pesquisa de Caminhos Participativos
– apresentavam determinados “tipos ideais” de participação, em maior ou menor
medida, já praticados na sociedade brasileira. Informações sobre esses caminhos
de participação, incluindo resumos, exemplos e as possíveis conseqüências para a
sociedade caso uma dessas formas participativas viesse a se tornar dominante entre
a juventude, além de pontos contra e a favor, podiam ser encontradas no Caderno
de Trabalho, publicação voltada para os(as) jovens participantes e especialmente
produzida para os Diálogos.
Em linhas gerais, as alternativas de Caminhos Participativos apresentadas foram:
1) Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta – ênfase na participação institucional em
partidos políticos, grêmios, movimentos sociais, sindicatos, ONGs, entre outras institui-
ções reguladas por adultos(as); 2) Eu sou voluntário e faço a diferença – forte ênfase na
participação individual que produz resultados pontuais, porém, com visibilidade pública
para o trabalho do(a) jovem; e 3) Eu e meu grupo: nós damos o recado – a ênfase recai
na ação dos grupos juvenis, especialmente aquela que se realiza através da partici-
pação cultural dos(as) jovens agrupados(as)
sem que haja interferência do denominado
Arquivo Imac/Geração

“mundo adulto”. Os Caminhos foram pensados


de modo a apresentarem contrastes entre si,
embora não fossem excludentes. Para os(as)
jovens era dito muitas vezes que o que se pe-
dia não era que escolhessem um Caminho em
detrimento dos demais. Foi dada, de diversas
formas, a possibilidade de que combinassem
os Caminhos da maneira que julgassem me-
lhor e, ainda, a alternativa de criar algo total-
mente novo, que não estivesse contemplado
nos Caminhos inicialmente apresentados.

13
A partir do Caderno de Trabalho, os(as) jovens estabeleceram diálogos em gru-
pos, trocando idéias e experiências que culminavam na construção interativa de uma
escolha coletiva baseada em um consenso desejável, porém, não obrigatório. Cada
pequeno grupo de trabalho apresentava em reunião plenária o seu Caminho (sendo
ele uma das alternativas propostas, uma combinação entre elas ou algo totalmente
novo tal como dito acima). Era pedido, no entanto, que os Caminhos fossem pensados
como possibilidades de tornar reais as demandas listadas por eles(as) em relação à
educação, trabalho e cultura/lazer na primeira parte do Dia de Diálogo. Esse consenso
era submetido à apreciação da plenária maior, que também buscava identificar pon-
tos comuns nas apresentações dos vários grupos. Desta maneira, de cada Grupo de
Diálogo resultou um quadro com os pontos acordados pelos(as) jovens. Estes pontos
passaram por processo de problematização promovido pelos(as) facilitadores(as) dos
diálogos antes de serem acatados por todos(as) os(as) participantes.
Além do processo de construção coletiva de consensos, a pesquisa também
abordou os posicionamentos individuais dos(as) jovens a respeito de cada um dos
Caminhos Participativos. Isso foi feito a partir das Fichas Pré-Diálogo e Pós-Diálogo
(em anexo), a primeira preenchida pelos(as) jovens no início do Dia de Diálogo, e a
segunda, ao final do dia. O objetivo desses instrumentos foi apreender mudanças
de posicionamento dos(as) jovens ocorridas ao longo do Dia de Diálogo. Ocorreram
outros momentos de manifestação individual. Logo no início do Dia de Diálogo, os(as)
jovens eram chamados(as) a se apresentar, dizendo, em uma palavra, o que mais
os(as) preocupava no Brasil. Ao final do mesmo dia, esses(as) mesmos(as) jovens
verbalizavam um recado para os(as) governantes e, na mesma oportunidade, avalia-
vam o Dia de Diálogo. Todo o processo (exceto o trabalho nos pequenos grupos) foi
gravado e transcrito para fins de análise.
Esse processo de promoção do diálogo entre jovens com experiências de vida
tão diferenciadas fez significativa diferença na qualidade das informações produzidas
pela pesquisa. É neste sentido que a própria experimentação da metodologia pode
ser também considerada produto do processo de pesquisa5.

5. Mais informações sobre a


metodologia dos Grupos de
Diálogo podem ser encontradas
em relatório à parte com a
sistematização e análise da
experiência brasileira a partir
dos relatos das experiências
das regiões em que aconteceram
os GDs.

14
4 Perfil dos(as) jovens:
quais os sujeitos da pesquisa?

Este capítulo tem por finalidade apresentar o perfil dos(as) jovens que participaram nas
duas fases da pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia” – a Pesquisa de Opinião
e os Grupos de Diálogo. Pretende-se aqui situar os(as) jovens nos espaços e tempos
sociais em que esses(as) se inserem. Os dados a seguir permitem reconhecer diferenças,
semelhanças e efeitos decorrentes dos distintos lugares sociais que ocupam.
A amostra de 8.000 jovens entrevistados(as) é composta, em partes iguais,
por homens e mulheres. Quanto à faixa etária, 30,1% têm entre 15 e 17 anos; 30%
6. Segundo dados do IBGE, 2004,
estão entre 18 e 20 anos e 39,9% entre 21 e 24 anos6. a população jovem no conjunto
Participaram dos Grupos de Diálogo 913 jovens convidados(as) a partir da amos- das regiões metropolitanas
pesquisadas se dispõe da
tra de 8.000 jovens7; aqui a presença feminina e masculina também foi equilibrada. seguinte forma: 28,9% de jovens
entre 15 e 17 anos, 19,3% de
A partir do modelo “Critério Brasil” 8 – aqui denominado “classe” – foi realizado
jovens entre 18 e 19 anos e
o levantamento do tipo e da quantidade de bens de consumo duráveis existentes na 51,8% entre 20 e 24 anos. Note-
se que o IBGE utiliza delimitação
residência, do grau de instrução do chefe da família e do local de moradia (distrito etária ligeiramente diferente da
censitário) dos(as) jovens entrevistados(as) nas usada na pesquisa no que diz
respeito às idades que compõem
distintas Regiões Metropolitanas e Distrito Fede- as duas últimas classes etárias.
ral. Dessa forma, observou-se uma concentração Tal diferença de classificação
justifica em parte a desigualdade
na classe C (44,0%), seguida das classes D/E, entre os dados da amostra da
pesquisa e o número de jovens
com 25,9%, tendo nas classes A/B a menor re-
do conjunto da população.
presentação: 24,3%. 7. Uma das questões do
Tais dados expressam a média nacional formulário de pesquisa de
opinião perguntou se os(as)
e encobrem disparidades socioeconômicas entre entrevistados(as) teriam interesse
e disponibilidade para participar
as diferentes regiões do país. Isto porque, quando
de encontro com outros(as)
desagregados, verifica-se que enquanto na Re- jovens para discutir temas
relativos à juventude. A partir
gião Metropolitana de Porto Alegre 43,1% dos(as) dos(as) jovens que responderam
entrevistados(as) encontram-se na classe C, afirmativamente, constitui-se
um cadastro utilizado para a
28,5% na classe A/B e 19,8% na classe D/E; em convocação dos participantes
da segunda fase da pesquisa, os
Belém, os estratos mais numerosos correspon-
Grupos de Diálogo.
dem às classes C (33,0%) e D/E (34,2%). Esse 8. O Critério de Classificação
último chega a 39,7% dos(as) entrevistados(as) Econômica Brasil é utilizado para
se estimar o poder de compra das
em Salvador e a 45% deles(as) em Recife. pessoas e famílias urbanas.

15
Tabela 3

Classe dos(as) jovens entrevistados(as) por Região Metropolitana/DF (em %)

Regiões
Metropoli- Classe A/B Classe C Classe D/E Ns/No Total
tanas/DF
Belém 16,2 33,0 34,2 16.6 100
Belo
19,8 42,2 28,1 9,9 100
Horizonte
Porto Alegre 28,5 43,1 19,8 8,6 100
Recife 13,3 31,7 45,0 10 100
Rio de
25,4 46,1 21,5 7,0 100
Janeiro
Salvador 16,0 34,3 39,7 10,0 100
São Paulo 28,2 50,0 20,6 1,2 100
Distrito
27,3 36,3 33,5 2,9 100
Federal
Total das
24,3 44,0 25,9 5,8 100
RMs/ DF

Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

Nos Grupos de Diálogo, os(as) 913 jovens participantes também se situam, na sua
grande maioria, nas classes C e D/E, sendo Recife (88,9%) e Belém (87,8%) as capitais
com o maior número de participantes dessas faixas. Por outro lado, Porto Alegre, Rio
de Janeiro e São Paulo apresentam, em ordem decrescente, as maiores porcentagens
de participantes da classe A/B: 32,7%, 30,1% e 26,7%, respectivamente9.
9. Os dados de classe da
Alguns(as) jovens das classes C e D/E não puderam participar do Dia de Diá-
Pesquisa de Opinião e dos
Grupos de Diálogo não devem logo por obrigações profissionais que lhes ocupavam também os finais de semana,
ser comparados, uma vez que
na primeira há percentual de
segundo informações colhidas pelos pesquisadores que telefonaram para cada jovem
jovens que não souberam dizer convidado(a) a participar do Diálogo. No entanto, a menor presença proporcional
ou não opinaram sobre sua
situação de classe. Nos Grupos dos(as) jovens das classes A/B possivelmente se deve ao fato de que estes(as) têm
de Diálogo, entretanto, todos(as) mais oportunidade de realizar atividades de estudo e de lazer (cursos, viagens, pas-
os(as) jovens puderam ser
identificados(as) segundo o seios, saídas noturnas) que podem ter concorrido com os Dias de Diálogo, realizados
critério de definição de classe
em sábados ou domingos inteiros. Além disso, para eles(as), é possível que os R$
adotado. Isso fez com que os
percentuais de classe nos GDs 50,00 oferecidos aos participantes dos GDs não tenha sido um atrativo significativo.
fossem maiores do que aqueles
encontrados na Pesquisa de
Em relação à cor, a pesquisa de opinião demonstra a predominância de brancos
Opinião. e pardos: 42,3% e 34,4%, respectivamente; sendo que 16,1% se identificaram como
10. A classificação por cor foi
pretos10. Considerando os estigmas e discriminações sofridas pelos afrodescendentes
informada pelo(a) entrevistado(a).
Trata-se, portanto, de uma auto- ao longo da história do Brasil, é de se supor que essa população assuma a condição
representação.
de parda como forma de se afastar de identidades desvalorizadas socialmente.
11. O conjunto da população das
RM pesquisadas é formado de A soma dos percentuais de pretos e pardos representa mais de 50% dos(as) jovens
52,15% de não-brancos e 47,85%
entrevistados(as). Acrescentando ainda os(as) que se identificaram como amarelos e indí-
de brancos, segundo dados do
IBGE (2004). genas (6,9%), a maioria dos(as) jovens – 57,4% – se identificou como não-branca11.

16
Também neste aspecto deve-se observar as diferenças regionais. Em Salvador,
a soma de jovens que se declararam pretos e pardos atinge sua maior porcentagem:
77,3%. No geral das oito regiões, tem-se um quadro diversificado, segundo a cor
autodeclarada dos(as) jovens.

Tabela 4

Classe dos(as) jovens entrevistados(as) por Região Metropolitana/DF (em %)

Regiões
Metropo- Branca Parda Negra Amarela Indígena Ns/No Total
litanas/DF
Belém 26,2 50,7 12,7 7,8 1,8 0,8 100
Belo
Horizonte
35,1 36,5 19,3 5,3 3,1 0,7 100

Porto
Alegre
72,3 9,9 13,1 1,9 2,3 0,5 100

Recife 35,2 47,8 12,0 3,6 1,4 0,0 100


Rio de
Janeiro
38,1 19,2 36,5 4,3 1,9 0,0 100

Salvador 13,0 40,7 36,6 5,5 3,8 0,4 100


São Paulo 49,9 30,1 12,1 4,1 3,1 0,7 100
Distrito
Federal
40,0 45,2 8,8 3,3 2,5 0,2 100

Total das
RMs
42,3 34,4 16,1 4,3 2,6 0,3 100

Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

No tocante à religião, predominou a católica (54,9%), seguida das evangélicas


ou protestantes (21,4%) e da espírita (2,8%). Merece destaque a parcela significativa
de 14,3% de jovens que responderam acreditar em Deus, mas não ter religião, e a de
2% que disseram que não acreditam em Deus e nem têm religião. Segundo Novaes
e Mello (2002), “em nenhuma outra época houve tantos jovens se definindo como
‘sem religião’, mas, ao mesmo tempo, também, é significativo o número de jovens das
igrejas orientais, pentecostais e católicos praticantes que dizem participar ativamente
de grupos de sua igreja” (p. 80). Tal observação pode ser confirmada nesta pesquisa,
quando se constata que dos 28,1% de jovens que declararam participar de algum
grupo, quase metade faz parte de grupos religiosos.
Em relação ao estado civil, os(as) jovens se declaram, em sua maioria,
solteiros(as) (86,2%), sugerindo que ainda vivem com a família de origem. Quanto
aos demais, a freqüência significativa é a de 13,0% que se dizem casados(as)
ou vivem juntos.
Dos 8.000 entrevistados(as), 20,9% têm filhos, o que, em números absolutos,
significa cerca de 1.600 jovens. Tal número é maior do que o daqueles(as) que se
dizem casados(as) ou vivem juntos, o que pode sinalizar um elevado número de mães
ou pais solteiros(as).

17
5 O que preocupa
os(as) jovens?

No diálogo realizado com os(as) jovens, eles(as) foram convidados(as) a responder à


seguinte pergunta “O que mais preocupa você hoje no Brasil?”. Pode-se observar que as
suas preocupações foram expressas em diversas questões, porém, que se concentraram
em quatro grandes temáticas: violência, desemprego, educação e pobreza/desigualda-
de social (recorrentes em todas as regiões pesquisadas). No geral, ganham destaque
aquelas que os(as) atingem mais de perto, como assinalado na Tabela 5.

Tabela 5

O que preocupa os(as) jovens no Brasil seagundo temas e incidência por região

Temas/questões mais
recorrentes nos Grupos Classificação da incidência nas RM e no DF
e Diálogo

Belo Distrito Porto Rio de


Belém Recife São Paulo Salvador
Horizonte Federal Alegre Janeiro
Violência: Falta de Se-
gurança/ Criminalidade
2º 1º 2º 1º 1º 1º 2º 1º

Trabalho/Emprego/
Desemprego/Falta de
oportunidade/ Primeiro
3º 2º 1º 1º 3º 2º 1º 2º
emprego
Educação 4º 4º 3º 2º 2º 3º 3º 4º
Miséria/Pobreza/
Fome/Desigualdade
social/Má distribuição
1º 3º 5º 3º 4º 4º 4º 3º
da renda
Saúde - - - 4º - 4º - -
Discriminação/ Rac-
ismo/Preconceito
5º - - - - - - -

Política/Corrupção/
Descaso do Governo
com jovens/Falta de - 5º 4º - - - 5º 5º
consciência dos(as)
governantes
Drogas - - - 5º 5º - - -
Sociedade/Valores/
Brasil/Situação do povo
- - - 5º - - - -

Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

18
A tabela anterior expressa as principais preocupações ditas pelos(as) partici-
pantes dos Grupos de Diálogo. É importante dizer que as questões relacionadas na
tabela emergiram espontaneamente, ou seja, sem que fosse feita qualquer indicação
prévia das mesmas.
Questões relacionadas à violência, segurança e criminalidade são a tônica
das apreensões desses(as) jovens. Ocupam a primeira ou a segunda colocação em
todas as regiões pesquisadas, sugerindo que eles(as) possuem consciência dos
riscos a que se encontram expostos(as), o que se evidencia nas estatísticas que
atribuem às chamadas causas externas (assassinatos, acidentes de trânsito etc.) o
principal agente da mortalidade entre os(as) jovens das Regiões Metropolitanas. Por
um lado, a prevalência do tema da violência e da criminalidade nas preocupações
espontaneamente reveladas denuncia a magnitude da abrangência e intensidade
com que o fenômeno vem se manifestando na sociedade brasileira, e demonstra que
o tempo juvenil, antes de se constituir um período livre de preocupações de ordem
prática, encontra-se profundamente comprometido com questões relativas à própria
preservação da vida. Por outro lado, faz pensar até que ponto a preocupação com
a violência revelada pelos(as) jovens não poderia expressar também certo clima de
insegurança generalizada criado pela tendência de espetacularização do assunto pela
grande mídia atuante nas regiões pesquisadas. É possível que o tema da violência,
como vem sendo tratado, em alguma medida, esteja contribuindo para tirar o foco
da raiz do problema, que tem sua origem nas profundas desigualdades sociais que
caracterizam a sociedade brasileira.
Outro dado importante refere-se ao modo como este tema aparece comumente
associado a outros, principalmente: desemprego, má distribuição de renda, desigualdade
social, drogas, falta de oportunidades e educação, aparecendo numa relação direta de
causa e efeito. Assim, a pobreza e a falta de oportunidade são traduzidas, por grande
parte dos(as) jovens, como via direta para o envolvimento em situações de violência.
O lugar do trabalho entre as preocupações dos(as) participantes confirma o que
vem sendo apontado em diversos estudos, ou seja, que a incerteza e a apreensão com
a busca ou perda de postos de trabalho – processos diretamente relacionados com
a obtenção do primeiro emprego e a falta de oportunidades no mercado – são uma
constante na vida dos(as) jovens, especialmente, daqueles(as) dos setores populares
que desde muito cedo sofrem as pressões para a inserção no mundo do trabalho.
A educação, sobretudo a escolar, é vista como passaporte para um “futuro
mais estável”. É através dela que os(as) jovens ainda vislumbram possibilidades tanto
de qualificação e inserção profissional quanto de mobilidade social (Esteves, 2005).
Deste modo, considerando que tais jovens são oriundos(as) predominantemente da
escola pública, medidas voltadas para a melhoria da qualidade e do acesso a essa
instituição, sobretudo àquela do nível médio, são imprescindíveis.
Aspectos relacionados à pobreza e às desigualdades sociais também foram
citados em todos os lugares onde os Grupos de Diálogo se realizaram, numa de-
monstração do impacto desses processos na vivência do tempo de juventude para
a maioria desses(as) jovens que cresceram em tempos agravamento da situação
de injustiça social.

19
Num quadro que aponta a violência e a criminalidade como os principais agentes
de inquietação dos(as) jovens, era esperado que aspectos relativos às drogas – es-
pecialmente o seu tráfico –, presentes de forma tão ativa nas áreas metropolitanas,
também se fizessem ouvir. O bloco relativo à discriminação, ao preconceito e ao ra-
cismo, dentre os temas levantados, foi pouco expressivo, mesmo que metade dos(as)
jovens entrevistados tenha se declarado preto ou pardo (Pesquisa de Opinião). Mas
é preciso lembrar que essa atividade ocorreu no início do Dia do Diálogo, quando
os(as) jovens ainda não se sentiam à vontade para falar sobre processos difíceis de
serem nomeados, como o racismo. No entanto, no decorrer do dia, essas questões
tornaram-se relevantes, principalmente quando se referiam às dificuldades de inserção
no mercado de trabalho e à política de cotas para acesso à universidade, como será
visto mais à frente.
A pouca enunciação espontânea a demandas por garantia de direitos civis,
tais como aqueles que se relacionam com o direito à participação na vida pública, e a
forte referência a demandas sociais insatisfeitas atesta o estágio de espoliação urbana
(Kowarick, 2000) ao qual a maioria dos(as) jovens está submetida. Nesse contexto,
o que se evidencia é que a consciência de direitos para esses(as) jovens é mais
imediatamente percebida no plano da “questão social” do que na esfera dos direitos
relacionados com a vida cívica e as liberdades fundamentais. Encontra-se aqui pista
importante para pautas educativas e de mobilização que se dirijam à ampliação da
consciência dos direitos dos(as) jovens brasileiros(as).
As preocupações reveladas pelos(as) jovens pesquisados(as) colocam em
xeque o senso comum que identifica uma suposta “apatia da juventude”. Os diálogos
evidenciaram a disposição dos(as) jovens participantes em pensar sobre os problemas
que afetam a população e, mais diretamente, a juventude do país. Pode-se dizer que
estão expressos, em muitas das falas dos(as) jovens, no mínimo, fortes posiciona-
mentos críticos, e denúncias sobre processos que contribuem para o agravamento
das condições de vida de setores da juventude brasileira.
Samuel Tosta

20
6
Os eixos orientadores
do diálogo: educação,
trabalho e cultura
e lazer 12

6.1. Educação
Nos Grupos de Diálogo, os(as) jovens expressaram seus desejos e preocupações
quanto à educação brasileira. E na medida em que todos(as) eles(as), independen-
temente da idade, já vivenciaram ou vivenciam a educação escolar, os diálogos
voltaram-se, mais diretamente, para a realidade das escolas, em especial, àquelas
situadas nas redes públicas de ensino.
A primeira fase da pesquisa revela que a escola pública é a grande provedora
da educação para os(as) jovens pesquisados(as). Dos 8 mil entrevistados, 86,2% de-
claram estudar ou terem estudado em escolas públicas na maior parte de sua trajetória
escolar, enquanto apenas 13,7% eram provenientes de escolas privadas.

Tabela 6

Nível de escolaridade, local de estudo e situação atual matrícula (em %)

Escolaridade Onde estudou Está estudando?


Até Funda- Médio
Até Médio Escola Escola
mental completo Sim Não
incompleto pública privada
incompleto ou mais

24,3 42,5 33,2 86,2 13,7 47,0 52,9


12. Como explicitado no ponto
Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005. relativo à metodologia, ainda no
período da manhã, foi pedido
que, em pequenos grupos,
os(as) jovens respondessem
à seguinte questão “Pensando
na vida que você leva como
jovem brasileiro(a), o que pode
No que diz respeito ao grau de instrução, a pesquisa mostrou que a maior melhorar na educação, no trabalho
parte dos(as) jovens entrevistados(as) possui o Ensino Médio incompleto (42,5%), e nas atividades de cultura e
lazer?”. A análise que se segue
seguido dos que possuem o Ensino Médio completo ou mais escolaridade (33,2%) parte do conteúdo por eles(as)
discutido após a apresentação
e ainda um percentual elevado de jovens que nem ao menos concluíram o Ensino
dos resultados dos trabalhos em
Fundamental (24,3%). pequenos grupos, na plenária.

21
Como fica demonstrado na Tabela 7, são as Regiões Metropolitanas de Recife,
Belém e Rio de Janeiro que apresentam os piores indicadores educacionais, conside-
rando a não conclusão do Ensino Fundamental. A idade esperada de conclusão dessa
etapa de escolarização é de 14 anos, assim, todos(as) os(as) jovens entrevistados(as)
já deveriam tê-la concluído. Em relação ao Ensino Médio, os índices de conclusão
dessa etapa de ensino são mais baixos em Salvador, Belém e Recife. São Paulo,
Brasília e Belo Horizonte, ao contrário, são as regiões que apresentam, nos dois níveis
de ensino, números mais favoráveis.

Tabela 7

Jovens sem o Ensino Fundamental completo, por Região Metropolitana/DF (em %)

Regiões Metropolitanas/DF Jovens sem o Ensino Fundamental


Recife 37,2
Belém 33,5
Rio de Janeiro 30,5
Porto Alegre 28,2
Salvador 26,8
Distrito Federal 23,3
Belo Horizonte 21,8
São Paulo 16,7
Total das RMs 24,3
Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

Gráfico1

Jovens que possuem o ensino médio ou maior escolaridade segundo


a Região Metropolitana e o Distrito Federal (em %)

Total das RMs 33,20%

Salvador 20,20%

Belém 22,70%

Recife 26,90%

Rio de Janeiro 29,60%

Porto Alegre 30.60%

Belo Horizonte 32,40%

Brasília 33,80%

São Paulo 39,10%

Fonte: IBASE/POLIS, Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

22
Dentre os(as) jovens entrevistados(as) na primeira fase da pesquisa, 52,9%
declararam que não estavam estudando.
A escolaridade média dos(as) jovens que participaram dos Grupos de Diá-
logo foi alta nas 8 regiões: 67% deles(as) possuíam a escolaridade entre o Ensino
Médio e o Superior, sendo que 33% cursaram até o Ensino Fundamental. Os dados
demonstram que a escolaridade dos(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo
nas oito regiões foi, em média, superior à escolaridade do conjunto dos(as) jovens
brasileiros(as) em cada uma das faixas de escolarização. Isso pode estar indicando
que os(as) mais escolarizados(as) são também os(as) mais interessados(as) e dis-
poníveis para participar de reuniões sobre assuntos públicos ou que estes(as) são
os(as) detentores(as) de mais condições objetivas para tal.
É importante perceber as demandas apresentadas nos Grupos de Diálogo a
partir desse breve perfil da situação dos(as) jovens participantes nos dois momentos
da pesquisa. O nível de precariedade da relação dos(as) jovens com a escola não
minimiza a crença explicitada durante os diálogos de que a educação é “a base de
tudo”. Com as melhorias a serem alcançadas na educação, projeta-se também al-
cançar melhorias relacionadas ao trabalho e à cultura/lazer: “(...) acreditamos que a
educação seja o principal, seja a base de tudo, porque com a educação a gente vai
melhorar tanto o trabalho quanto a cultura e o lazer “ (Rio de Janeiro).

Quadro 1

O que os(as) jovens esperam na área da educação por ordem


de freqüência

• Expansão do Ensino Médio


• Mais professores(as) nas escolas
• Professores(as) mais qualificados(as) e melhor remunerados(as)
• Melhores currículos, metodologias, material didático e mais atividades extras
(passeios, visitas, palestras, laboratórios)
• Mais verbas/investimentos para a educação
• Melhores condições de funcionamento das escolas/Preservação das escolas
• Mais oferta de cursos profissionalizantes de qualidade

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

23
Essa educação a que a maioria dos(as) jovens se refere é, principalmente, a
escolar, em seus níveis Fundamental e Médio. Quanto a uma concepção de educação
para além do espaço escolar, os(as) jovens não chegam a formular questões mais
elaboradas, mas afirmam que ela “não é só dos professores, do Governo, mas também
de casa” (Rio de Janeiro). Lembram de alguns outros espaços de aprendizagem que
podem acontecer fora da escola, como a família e os cursos (profissionalizantes e de
pré-vestibular, principalmente), por iniciativa de “quem sabe mais e pode ensinar um
pouco pros outros” (Recife).
As questões que se apresentam mais relevantes nessa esfera são a expansão do
acesso ao Ensino Médio, a necessidade de ampliação dos quadros de professores(as)
das escolas, em especial das públicas, e também um maior investimento na qualifi-
cação docente. Nesse sentido, a formação dos professores(as) surtiria mais efeito na
medida em que propiciasse novas estratégias de ensino.
Ao se referirem à formação de professores(as), os(as) jovens demonstram um
entendimento sobre a complexidade da questão, relacionando esta demanda com outras,
tais como a valorização dos(as) docentes, o que inclui um salário melhor, e o incentivo, por
parte do Estado, para que os(as) professores(as) possam “melhorar sua didática” ou, então,
para que “estejam mais motivados” para o exercício do magistério, a fim de “despertar o
interesse do aluno”. Também sugerem que a pouca qualificação dos(as) professores(as) e
sua baixa remuneração trazem “danos para a educação”, uma vez que os(as) profissionais
demonstram pouca motivação para realizar seu trabalho, imputando aos(às) estudantes
a responsabilidade pela educação de baixa qualidade que recebem.
Ao mesmo tempo em que falam da baixa qualificação dos(as) professores(as),
os(as) jovens valorizam a presença desse(a) profissional em seu processo de ama-
durecimento e crescimento: “o professor tem uma parcela muito importante, assim,
na vida de qualquer pessoa” (Rio de Janeiro).
A falta de docentes nas escolas é percebida como causadora de profundos danos
na vida dos(as) estudantes, principalmente aqueles relacionados à sua vida futura e
à inserção no mercado de trabalho: “tem muita gente que fica às vezes meses sem
professores em matérias importantes e acaba terminando o segundo grau, assim, com
uma grave deficiência de matérias, e aí fica mais difícil querer almejar vôos maiores,
pra depois conseguir um emprego melhor” (Rio de Janeiro).
Ainda relacionadas à formação dos(as) professores(as), os(as) jovens tecem
inúmeras críticas e comentam sobre frustrações em relação à escola:

Os professores não se preocupam com os alunos, não explicam bem as matérias. (...)
Talvez eles achem porque o salário é baixo e eles acham que podem fazer isso, no caso,
não explicar direito.(...) Muitas das vezes os nossos pais trabalham e não têm como, assim,
chegar em casa: “meu filho, deixa eu ver teu caderno, deixa eu ver o que tu fez hoje”, eles
nem podem exigir nada dos nossos professores porque nós estudamos na escola
pública. O que nós queríamos que mudasse era isso, que o Governo pudesse estar mais
voltado para as escolas pra ver o que tá acontecendo nas nossas escolas (...), porque eu
acho que nós estamos lá pra aprender, nós somos pobres, não temos condição de pagar,
mas nem por isso devemos ser menos, ter menos que as outras pessoas. (Belém)

24
As críticas, no entanto, vieram recorrentemente acompanhadas de uma idéia
ou proposta de melhoria, reiterando que o sentimento é de decepção, mas não de
descrença no papel da educação como elemento capaz de produzir mudanças.
Vale ressaltar, também, que boa parte dos(as) jovens demanda um tipo de
relação humana e pedagógica diferente daquela que tem recebido dos(as) docentes.
Parece que, no interior de algumas escolas, há choque entre culturas e gerações
que se expressaria como desrespeito ao(à) aluno(a) como sujeito social e cidadão(ã)
portador(a) de direitos. Deste modo, os(as) jovens também demandam um “maior
diálogo e um maior vínculo” entre eles(as), ou falam da necessidade de os(as)
professores(as) “se adaptarem aos alunos”.
Como já pontuado, os(as) docentes são alvo de muitas críticas, sendo, muitas
vezes, classificados(as) como “preguiçosos e sem interesse” no aprendizado do(a)
aluno(a). Para alguns(mas) jovens, “a greve se resume a uma coisa: justificativa pra
ganhar salário e descumprir o plano de aula. O professor que faz greve é porque não
quer dar aula, entendeu? Se não quer dar aula o que está fazendo na escola?” (Dis-
trito Federal). Para outros(as) jovens, no entanto, os(as) professores(as) não podem
ser considerados(as) “culpados” pela má qualidade do sistema educacional, mas sim
vítimas, como outros atores, de um sistema que não valoriza a educação: a escola
é ruim, na opinião dos(as) jovens, principalmente porque os(as) professores(as) não
são suficientemente qualificados(as), o que seria papel do Estado.
Embora identifiquem o papel fundamental do Governo na melhoria do sistema
educacional, há falas igualmente recorrentes ao tratarem das responsabilidades que
cabem aos(às) próprios(as) jovens, na condição de alunos(as). Ou seja, a escola
seria ruim não apenas por culpa do Estado ou dos(as) professores(as), mas também
por falta de interesse dos(as) alunos(as). “Lá em Cachoeirinha, nós temos passeios,
temos bons professores. O que precisa é nós, os alunos, se interessar mais. Tem que
ter mais interesse do jovem. E para isso acontecer tem que ter uma aula legal, com
professores legais” (Porto Alegre).
Quanto aos currículos adotados pelas escolas, à metodologia utilizada pelos(as)
professores(as), ao material didático e às atividades extras desenvolvidas, as falas
dos(as) jovens revelam outras preocupações. Assim, afirmam que “as aulas são tra-
dicionais e os professores não usam meios interessantes; faltam recursos, livros e
aulas mais dinâmicas; faltam incentivos culturais: escola promovendo peças de teatro,
recitais de poesia, festivais de dança etc.” (Porto Alegre).
A reivindicação dos(as) jovens por mais investimentos e verbas em educação
é seguida pelo reconhecimento de um “descaso” dos governantes em relação à área.
Não se trata da iniciativa de um ou outro governo, mas há a percepção dos(as) jovens
em relação a um processo que se arrasta na história da educação e na história política
do nosso país: a educação, como um direito social e um dever do Estado, não tem
sido prioridade política.
As afirmações dos(as) jovens sobre essas reivindicações remetem diretamente à
precariedade das condições de funcionamento da escola, especialmente da escola pública.
Eles(as) partilharam suas experiências pessoais de inserção em escolas mal estruturadas,
tanto do ponto de vista físico quanto pedagógico: “Não adianta a gente ir para a escola e

25
a escola estar caindo aos pedaços, você não tem prazer de ir pra aquela escola, a escola
tá com a mesa e você põe a mão e a mesa cai, você senta no chão e é capaz de deitar
pra fazer a lição porque você não tem um ambiente pra isso” (São Paulo).
Os(as) jovens também reivindicam que as escolas os formem para inserção no
mundo do trabalho por reconhecerem que, dadas suas condições de vida, tal inserção
é condição que se impõe desde cedo. Os depoimentos sobre experiências de terem
sido recusados(as) ou preteridos(as) em postos de trabalho por falta de experiência
ou qualificação são recorrentes: “precisam ser criados cursos públicos para a qualifi-
cação dos jovens” (Belém).
É necessário também destacar as referências dos(as) jovens ao acesso à Edu-
cação Superior pública. Elas são, em geral, relacionadas à questão do número de vagas
e de sua falta de condições para competir por elas no vestibular. Estes(as) reivindicam,
antes de tudo, o acesso à universidade. “Vou falar uma coisa que eu pensei há algum
tempo: se eu tiver oportunidade de falar ao Presidente, a primeira coisa é a falta de
oportunidades para os jovens entrar na universidade” (Recife). Para os(as) participantes
dos GDs, a inacessibilidade ao curso superior parece se constituir um grande entrave ao
sonho da profissionalização ou do crescimento profissional e a todas as garantias que a
ele estão associadas, ainda que imaginariamente. Percebe-se, ainda, no depoimentos
dos(as) jovens, que a vaga no Ensino Superior a que os(as) jovens se referem nos
Grupos de Diálogo não é qualquer uma, mas sim a da universidade pública.
A comparação entre os padrões de acesso ou oportunidades diferenciadas
para jovens pobres e ricos(as) é claramente identificada. Deste modo, sendo as
necessidades e aspirações dos(as) jovens pobres e as dos(as) ricos(as) tão marca-
damente diferenciadas, estas precisam ser, portanto, obrigatoriamente consideradas
no desenho das políticas.
Como meio capaz de inverter tal quadro, os(as) jovens lançaram mão da seguinte
proposta: reserva de vagas nas universidades públicas para pessoas pobres (inde-
pendente da cor) e oferta de cursinhos preparatórios para o vestibular, manifestando
a idéia de que se faça justiça para aqueles que estudaram em escolas públicas, o que
tornaria esse o público prioritário das universidades.
Relacionada à questão da democratização do acesso ao Ensino Superior, aparece,
não sem polêmica, também a questão das cotas para afrodescendentes e alunos(as)
egressos(as) das escolas públicas. Mesmo com a garantia das cotas, os(as) jovens con-
sideram muito difícil a permanência de um(a) jovem pobre na universidade pública:

(...) não adianta apenas proporcionar cotas para alunos carentes e negros, já que não teriam
condições de arcar com os gastos que uma universidade gera, como, por exemplo: os livros
e os materiais didáticos, as “famosas xerox” que os alunos de universidades conhecem como
funcionam, a alimentação e o transporte. Precisamos ter um apoio (Rio de Janeiro).

Ao mesmo tempo, muitos(as) jovens consideraram que o sistema de reserva


de vagas nas universidades, sobretudo para negros(as) ou índios(as), reforça a dis-
criminação em vez de combatê-la. Ou seja, a política de cotas é, nessa visão, um
mecanismo que ratifica o preconceito racial existente no Brasil: “Cotas, isso é um tipo
de preconceito social tentando consertar um preconceito racial. Não seria para negros,

26
mas para pobres” (Salvador). No ponto de vista dos(as) jovens, as questões a serem
prioritariamente enfrentadas seriam, assim, a da melhoria da qualidade da escola e
a da superação das desigualdades sociais.
No entanto, ainda que difuso ou mal assimilado, é interessante verificar que o
debate em torno das cotas já demonstra ter chegado até os principais sujeitos para
quem estas foram pensadas [a saber, jovens pobres e egressos(as) do Ensino Médio
público e, em algumas modalidades, jovens pobres e negros(as) egressos(as) do
Ensino Médio público]. Trata-se de um sinal sobre a necessidade premente de um
maior aprofundamento do debate em torno do assunto, sobretudo com aqueles(as)
que se constituem os(as) maiores interessados(as).
A demanda por qualificação profissional e a referência direta aos cursos profis-
sionalizantes foi um dos temas recorrentes dos GDs, evidenciando a percepção dos(as)
jovens de que a formação é um diferencial na disputa pelos empregos escassos. A
importância desses cursos se evidenciou na Pesquisa de Opinião, que informa que
66,5% dos(as) jovens entrevistados(as) participam ou já participaram de algum tipo
de atividade de natureza extra-escolar. A maior incidência de participação entre todas
as classes sociais encontra-se em cursos de informática/computação (44,1%), profis-
sionalizantes (19,3%), esportivos (15,4%) e de língua estrangeira (11,6%), ou mesmo,
aqueles relacionados com atividades culturais (música/teatro/artes plásticas/danças/
outras) que, segundo alguns(mas) jovens, também podem servir como cursos de pro-
fissionalização na área da arte e cultura. No entanto, é menor a participação dos(as)
jovens mais pobres, negros(as) e de baixa escolaridade nesses espaços de formação
complementar. Essa situação testemunha que a desigualdade educacional é também
manifesta no acesso às oportunidades de complementação formativa e de acesso a
bens culturais que se encontram disponíveis de forma mais abrangente e qualificada
para jovens brancos(as) e oriundos(as) das classes de maior poder aquisitivo.
Reforçando esse quadro, e considerando que os cursos de informática/compu-
tação estão entre os mais procurados pelos(as) jovens e entre os percebidos como
necessários para inserção no mercado de trabalho, revelou-se também que 51,2%
dos(as) pesquisados(as) não tinham acesso a computadores. A diferença de classe
é ainda mais acentuada já que mais de 80% dos(as) jovens das classes A/B dizem
ter acesso, enquanto na classe C, esse percentual cai para 47,5%, diminuindo ainda
mais entre os(as) jovens das classes D/E (24,2%) o acesso a computadores.
O abismo que separa jovens de diferentes classes no que diz respeito à deno-
minada inclusão digital evidencia as desigualdades quando há necessidade de uma
base material para que o hábito de utilização de computadores se torne realidade.
O dado revela, ainda, a pouca eficácia de políticas públicas que deveriam colocar à
disposição dos(as) jovens das demais classes, em especial as D/E, equipamentos de
uso coletivo, seja em escolas, centros e associações comunitários etc., seja propiciando
linhas de crédito para que os(as) jovens e suas famílias adquiram tal equipamento,
dando um passo adiante na inclusão digital da maioria da população brasileira.
A escola parece ser local privilegiado de acesso, uma vez que, entre os(as) que
estão estudando, a porcentagem de acesso é de 58,3%, enquanto é de 40,7% entre os(as)
que não estudam. A diferença do tipo de escola freqüentada pelos(as) jovens se coloca

27
uma vez mais: 83,4% dos(as) jovens que estudaram em escola privada têm acesso ao
computador, contra apenas 43,5% dos(as) que estudaram em escola pública.
Há, ainda, diferenças regionais na distribuição do acesso a computador, com
maior percentual de jovens com acesso nas Regiões Metropolitanas do Sudeste e do
Sul e no Distrito Federal, como aponta a tabela a seguir:

Tabela 8

Acesso dos(as) jovens a computador, segundo Regiões Metropolitanas


e Distrito Federal (em %)
Região Metropolitana Jovens com acesso
Belém 36,0
Belo Horizonte 42,2
Porto Alegre 48,7
Recife 35,7
Rio de Janeiro 51,6
Salvador 44,7
São Paulo 53,7
Distrito Federal 49,7
Regiões agregadas e DF 48,8
Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

No que se refere ao acesso à internet, o quadro delineado anteriormente se


agrava ainda mais. No geral, 42,7% dos(as) jovens entrevistados(as) disseram acessar
a internet. No entanto, enquanto 50,6% dos(as) jovens que se declararam brancos(as)
têm acesso, entre os(as) negros(as) o percentual é de 33,6%. Em relação à freqüência
do acesso à internet, os(as) jovens que acessam sempre em maior proporção são
brancos(as), das classes A/B, com Ensino Médio completo ou mais e aqueles que
estudaram em escola privada.
Nando Neves

28
6.2. Trabalho
A questão do trabalho é uma das grandes preocupações no campo das políticas públi-
cas para a juventude, considerando os intensos processos de transformação produtiva
e de mudança social pelos quais passam as sociedades contemporâneas. Existe uma
convicção generalizada de que é necessário desenvolver ações concretas que melhorem
a situação atual, levando-se em conta o aumento da exclusão desse grupo social e da
limitada oferta de oportunidades. O desemprego entre os(as) jovens brasileiros(as) é
significativamente superior ao do restante da população. Ainda que tenha havido, ao
longo dos anos, aumento das médias de escolarização dos(as) jovens, não houve au-
mento proporcional na oferta de empregos. Postos de trabalho que eram tradicionalmente
ocupados por jovens sem experiência profissional são hoje ocupados por adultos(as)
com prévia experiência – esta uma exigência para ocupação de vagas cada vez mais
recorrente e inibidora do acesso dos(as) jovens aos postos de trabalho.
Durante os Grupos de Diálogo, o tema trabalho apareceu como uma das maio-
res preocupações dos(as) jovens, confirmando dados de pesquisas nacionais sobre a
situação de desemprego da juventude, sobretudo das camadas populares.
Na primeira etapa desta pesquisa, dos(as) 8.000 jovens entrevistados(as),
60,7% declaram não estar trabalhando13. A pesquisa considerou também as formas
de trabalho remunerado sem vínculo formal. Considerando as faixas etárias, 60,6%
dos(as) que têm entre 18 e 20 anos e 47,7% dos(as) que têm 21 e 24 anos de idade
não trabalham. Dos(as) jovens entre 15 e 17 anos, idade destinada à escolarização,
22,2% se encontrava trabalhando na ocasião da pesquisa. Os(as) jovens com filhos(as),
casados(as) ou em outras situações conjugais, em maior número, declaram estar
trabalhando em algum tipo de atividade remunerada, considerando a necessidade de
se inserir no mundo de trabalho pela condição que se impõe a esses(as) jovens que
assumem novas responsabilidades frente à constituição da própria família.
Relacionando escolaridade à situação de trabalho, dos(as) que têm o Ensino
Médio completo ou mais, 52,4% estavam trabalhando.
Dos(as) jovens que informaram não estar trabalhando, 62,9% disseram estar a
procura de trabalho. As desigualdades de classe social ficam evidentes quando observa-se
13. Cabe ressaltar que não
que 69,5% dos(as) jovens das classes D/E estavam procurando trabalho, enquanto 49,6% trabalhar pode significar que o(a)
jovem esteja apenas estudando,
das classes A/B se encontravam na mesma condição. Também é significativo o número
encontre-se desempregado(a) ou
de jovens da classe C que afirmou estar à procura de trabalho, um total de 65,6%. ainda em situação de inatividade,
fenômeno comum que pode estar
E enquanto 70,2% dos(as) jovens negros(as) que não estavam trabalhando associado ao desestímulo frente
procuravam trabalho, esse percentual caía para 58,5% entre os(as) brancos(as). ao insucesso na busca
de emprego.
As desigualdades se confirmam quando o assunto é o tipo de escola freqüentado
14. Neste mesmo quadro de
pelos(as) jovens(as): dos(as) que estudaram em escola pública, 66,7% estavam pro- ocupação, os(as) aprendizes são
6,4%;4,4% são autônomos(as)
curando trabalho, enquanto apenas 42% dos(as) que estudaram em escola privada com vínculo com o INSS, 9,6%
se encontravam na mesma situação. são bolsistas, estagiários(as),
funcionários(as) públicos(as)
Já entre os(as) que trabalham, 30,5% são empregados(as) com carteira ou empregadores(as), 4,1%
assinada e 44,6% são empregados(as) sem carteira assinada, trabalhadores(as) encontram-se em outras situações
de trabalho e 0,5% não souberam
por conta própria ou autônomos(as) sem vínculos com a Previdência Social 14. ou não opinaram.

29
Os(as) jovens empregados(as) sem carteira assinada das classes A/B são 16,1%,
contudo, entre os(as) das classes D/E, o percentual chega a 33,8%, denotando a maior
instabilidade nas relações de trabalho a que são submetidos os(as) jovens das classes
mais pobres.
O quadro desenhado pela primeira fase da pesquisa aponta para uma preca-
riedade na situação de trabalho entre os(as) jovens que atinge mais intensamente
os(as) mais pobres, os(as) negros(as), os(as) de menor faixa etária e os(as) menos
escolarizados(as).
Dentre os(as) jovens que estiveram presentes nos Grupos de Diálogo (913), a faixa
de idade entre 21 e 24 anos foi aquela em que se registrou o maior número de jovens
ocupados(as) em todas as regiões, confirmando que, nessa faixa etária, as pessoas têm
mais oportunidades de ocupação [ou são mais pressionados(as) a buscá-la] do que em
faixas mais jovens. Considerando a relação dos(as) jovens participantes dos diálogos
com o trabalho nas sete Regiões Metropolitanas investigadas e no Distrito Federal, a
taxa de ocupação foi de 34%. Os destaques se encontram em Belo Horizonte e Recife.
A região mineira registrou a maior proporção de jovens ocupados(as) (54,9%) e Recife,
a menor (27,4%). No conjunto das regiões investigadas, 19,4% dos(as) mais jovens
(até 17 anos) trabalhavam. A região de Belo Horizonte, contudo, ficou acima da média
nacional, com a maior proporção de atividade de trabalho entre os(as) mais jovens (47%).
Em Brasília, ocorreu o menor índice (12,9%) de jovens até 17 anos que informaram não
exercer atividade de trabalho no momento da realização dos diálogos15.

Gráfico 2

Situação de trabalho de jovens participantes dos Grupos de Diálogo,


por Região Metropolitana e DF*

72

61 61
58
54 55 55
Número de respostas

44 43 45
40 39
37

27

Belém Belo Brasília Porto Recife Rio de São Paulo


Horizonte Alegre Janeiro

Trabalha Não trabalha

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

15. Em Salvador, a pergunta * Em Salvador o dado não foi apurado.


sobre trabalho não foi impressa
na matriz da Ficha Pós-Diálogo e
por isso todas as cópias utilizadas
na aplicação dos questionários
foram prejudicadas.

30
A partir deste quadro, não é estranho perceber que, ao longo dos Grupos de
Diálogo, o trabalho apareceu relacionado à própria sobrevivência, como destaca uma
jovem, ao apontá-lo como eixo pelo qual os demais aspectos da vida poderiam ser
satisfeitos: “você trabalhando, você tem uma renda, não tem? Com uma renda, você
pode freqüentar um teatro, cinema, ir numa praça, comer um cachorro-quente que,
às vezes, você não tem nem R$ 2,00 para comer um cachorro-quente. Estou falando
a verdade” (Rio de Janeiro).
As questões mais recorrentes nas falas dos(as) jovens após dialogarem sobre
as preocupações em relação ao trabalho encontram-se no quadro a seguir

Quadro 2

O que preocupa os(as) jovens em relação ao trabalho

• O restrito mercado de trabalho para os(as) jovens


• Conseguir o primeiro emprego
• Enfrentar preconceitos por serem jovens e inexperientes, em sua entrada no
mercado de trabalho

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

A ampliação do mercado de trabalho para jovens e o acesso ao primeiro


emprego foram as preocupações que mais apareceram nos diálogos. Os(as) jovens
apresentaram, claramente, algumas formas de exclusão do mercado de trabalho, como
é o caso do desemprego, do subemprego e da discriminação para o ingresso: “Hoje
a oportunidade de trabalho tá bem difícil. Nós vamos nas firmas, pedimos emprego,
só que como nós temos um baixo estudo, ensino, nós não conseguimos, muitas das
vezes” (Belém).
Assim, a maioria dos grupos de jovens priorizou a ampliação do mercado de
trabalho, ou seja, um mercado que acolha o(a) jovem que busca sua primeira inserção
nesse universo.
Uma reclamação recorrente é quanto à incoerência do mercado, que cobra
a tão falada “prática profissional” daqueles(as) que estão justamente demandando
a sua primeira oportunidade de emprego, evidenciando a insuficiência das políticas
de incorporação dos(as) jovens ao mercado de trabalho, tanto por parte do Governo
quanto das empresas: “Acho que é a falta de oportunidade que o Governo e as em-
presas não dão para os jovens em termos de serviço” (Distrito Federal).
Como possíveis alternativas para ampliar o número de vagas no mercado de
trabalho, jovens de diferentes regiões apontaram o estabelecimento de convênios
com empresas e a garantia de um incentivo fiscal aos empregadores que abrissem
novas vagas para a juventude.

31
Assim, dentre as demandas em relação ao trabalho, os estágios aparecem como
uma estratégia de sobrevivência imediata, na tentativa de superar as exigências do
mercado de trabalho, enquanto o primeiro emprego não chega: “(...) se você tem que
trabalhar pra ajudar a sua família ou pra pagar um curso ou uma faculdade, e acho
que um estágio remunerado ajudaria nesse sentido. Você está ganhando experiência
e você está sendo pago” (São Paulo).
Curiosamente, grande parte dos(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo
percebe o estágio mais como uma oportunidade de emprego do que como uma forma
de qualificação profissional. Reclamam que, na maioria das vezes, as pessoas que
necessitam não têm a devida qualificação, como cursos de informática ou de línguas,
para concorrer às vagas.
No entanto, alguns(mas) jovens atrelaram essa questão muito mais à capaci-
dade de o indivíduo buscar o emprego, afirmando que a qualificação nem sempre é o
principal determinante para se conseguir um estágio. “E na questão de que não tem
opção para todo mundo. É só você correr atrás mesmo. Por isso a gente colocou ali,
a pessoa tem que procurar a tal oportunidade. (...) Eles (os contratadores) não estão
interessados se você tem ou não cursos profissionalizantes. Eles estão interessados em
botar uma pessoa que realmente está querendo trabalhar (....)” (Distrito Federal).
Um terceiro condicionante para a exclusão dos(as) jovens dos postos de tra-
balho diz respeito à discriminação que eles(as) enfrentam. E esta, além de se fazer
pela falta de capacitação apropriada e de experiência, se utiliza de outros critérios que
abrem caminhos para práticas perversas, além de ilegais, como a discriminação pela
aparência e por racismo ou por índices de pobreza revelados na aparência.

(...) Também tem um negócio, eu sou branquinha, ela é negra. Tem gente que uma
recepcionista negra, tem cliente que não gosta. Negócio de roupa, de ser nordestina. A
gente colocou no nosso que é excluir na hora de você fazer uma entrevista de emprego
(São Paulo).

Para os(as) participantes, alguns postos de trabalho estão efetivamente cen-


surados para a população negra: trata-se dos empregos que exigem boa aparência,
identificada como uma aparência branca. A discussão sobre a discriminação também
abriu espaço para o diálogo sobre a aceitação ou não de determinados estilos juvenis
que podem dificultar a conquista da vaga de trabalho. Este foi o caso do uso do pier-
cing e da tatuagem, que costumam gerar desconfianças e rejeições por parte dos(as)
empregadores(as). Os(as) jovens, então, utilizam estratégias variadas para esconder
essas marcas de identidade capazes de, simultaneamente, fortalecer a identidade nos
coletivos juvenis e fragilizar os(as) jovens candidatos(as) ao mercado de trabalho. As
discriminações de cor, de gênero e de classe, também apontadas como fatores de
desemprego desses segmentos, são reforçadas neste depoimento: “O preconceito é
contra negros, gordos, índios e pobres, a classe média baixa, pessoa que mora na
periferia, pessoa de baixa renda” (Distrito Federal).
Tem-se, assim, que essa busca quase sempre frustrada por trabalho e os obstá-
culos a serem superados pelos(as) jovens – conseqüências do chamado “desemprego
estrutural” –, por mais que sejam uma “marca geracional”, estão concentrados, tal como

32
a violência, em determinados segmentos da população: os(as) mais pobres; os(as)
negros(as); os(as) moradores(as) de favelas e periferias urbanas, entre outros.
Além de todas essas barreiras, ainda há uma outra característica que estrutura
as relações de trabalho a partir das relações de conhecimento pessoais.

(...) Se é pra falar a realidade, vamos falar a realidade completa, nua e crua, porque eu
trabalho numa empresa, assim, razoável, trabalho de office-boy, entregando os documen-
tos na rua, mas por que eu estou lá? Porque um amigo meu trabalha diretamente com
o chefão. Eu estou bem, estou trabalhando, estou ganhando o meu dinheiro. Mas quem
é que foi que me colocou lá? (...) porque não é todo mundo que tem a oportunidade que
eu tive, então eu acho que é bom a gente sempre pensar nisso (Rio de Janeiro).

Uma outra questão que também merece ser abordada aqui diz respeito à relação
trabalho e escola, que esteve presente nos diálogos. Vários(as) jovens afirmaram que
não é possível conciliar o tempo de escola com o do trabalho. As duas instituições
não dialogam entre si e, no contexto social de elevado desemprego, na maioria das
vezes, quando surge uma oportunidade de trabalho, em geral a opção feita pelo(a)
jovem é o abandono dos estudos.
Os(as) jovens mais pobres se referem ainda a dificuldades maiores quando
a freqüência às aulas precisa ser combinada com o período de trabalho. Ao mesmo
tempo, propõem a ampliação do repertório da escola, de forma a atender às neces-
sidades do mercado de trabalho ou da continuidade dos estudos, e enxergam na
flexibilização do cotidiano da escola (horários, rotinas e práticas) a possibilidade da
incorporação das experiências também diferenciadas que trazem da condição de
serem simultaneamente trabalhadores(as) e alunos(as):

(...) E empregador abrir espaço de jornada de seis horas de trabalho para os estudantes.
Nós somos jovens, temos que estudar, que isso pra gente é essencial. Só que como a
gente vai estudar, se a gente trabalha lá oito, dez horas por dia? Então vai acabar uma
coisa prejudicando a outra. Ou a gente tem que abrir mão do trabalho, ou da escola
(Belo Horizonte).
J. R. Ripper

33
6.3. Cultura e lazer
Nos Grupos de Diálogo, os(as) jovens foram estimulados(as) a falar sobre cultura
e lazer, questões que ocupam um lugar significativo na vida desses sujeitos, como
apontam também os dados da primeira fase da pesquisa.
Foi recorrente a relação direta entre cultura/lazer, educação e trabalho, os três
temas eixos dos Grupos de Diálogo, mostrando os dilemas com que se defrontam os(as)
jovens: se o(a) jovem não tem acesso a uma escola de qualidade, não consegue um
trabalho, e se não ganha dinheiro, não pode ter acesso à cultura e ao lazer: “(...) se
você não tem trabalho, não tem como fazer lazer” (Recife). A fruição do lazer implica
custos que não podem ser assumidos diretamente pelos(as) jovens.
As principais questões discutidas pelos(as) jovens, dentre as muitas aborda-
das em relação à cultura e ao lazer, foram agrupadas em temas, sendo os principais
destacados no Quadro 3, a seguir.

Quadro 3

O que preocupa os(as) jovens em relação à cultura e ao lazer

• Falta de acesso a espaços de cultura e lazer


• Concentração da oferta nas zonas de maior poder aquisitivo das cidades
• Pouca valorização da cultura brasileira/regional
• Falta de apoio/patrocínio visando baratear os custos
• Falta de segurança

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

Nas oito regiões incluídas na pesquisa, foi consenso, entre os(as) jovens
participantes, a necessidade de mais acesso à cultura e ao lazer, como resume a
fala desse jovem:

Porque é bom a gente frisar que o lazer, de certa forma, ele é a válvula de escape da pessoa.
A pessoa trabalha o dia inteiro, ela estuda, ela faz tudo, mas ela quer ter uma hora onde ela
vai descansar, que ela vai aliviar as tensões do dia-a-dia, que ela vai esquecer de tudo.(...)
E eu acho que é importante o lazer na vida dos jovens, porque todo jovem gosta de praticar
o lazer, só que falta oportunidade mesmo, falta às vezes tempo, falta infra-estrutura, que é
muito importante, e falta, acima de tudo, a segurança (Distrito Federal).

Nos depoimentos, a maior incidência das demandas dos(as) jovens recai sobre
as questões relacionadas ao acesso a espaços de cultura e lazer, à descentralização
desses espaços e à necessidade de manutenção constante.
As reclamações, neste caso, são amplamente justificadas. No geral, ações
relacionadas à prática do esporte, ao acesso à cultura e ao lazer fazem parte do re-
ferencial de expectativas dos(as) jovens que manifestam não apenas a vontade, mas

34
a percepção do direito a tal acesso, indicando que o(a) jovem não “quer só comida”,
quer “comida, diversão e arte”, tal como anuncia a letra da música de importante
banda brasileira de rock16.
Na Pesquisa de Opinião, quando perguntados(as) sobre os lugares que mais
freqüentam, grande maioria disse freqüentar shoppings (69,2%), que aparece em primeiro
lugar na preferência dos(as) jovens, independente de classe, sexo, cor, religião ou esco-
laridade. Em seguida, estão os cinemas, com 51,2%; seguido de parques e praças, com
47,8%; teatros, com 15,1%; e centros culturais, com 13,7%. 13,1% deles(as) disseram
não costumar freqüentar esses lugares e apenas 11,6% freqüentam museus. Quando
é feita a clivagem por classe, verifica-se que quanto mais elevada a classe, maior a fre-
qüência em todos os espaços sugeridos. E para os(as) jovens das classes D/E, parques
e praças aparecem em segundo lugar (47,8%), atrás apenas dos shoppings.

Tabela 9

Lugares que os(as) Jovens Costumam Freqüentar (em %)

Lugares (*) Total Classes A/B Classe C Classes D/E


Shoppings 69,2 82,4 72,3 53,8
Cinemas 51,2 75,0 52,4 29,3
Parques e
47,8 50,9 46,2 47,8
praças
Teatros 15,1 24,6 14,0 8,8
Centros
13,7 20,3 13,3 8,6
culturais
Museus 11,6 17,7 11,4 7,2
Nenhum
13,1 6,4 10,8 22,2
desses lugares
Ns/No 0,8 0,4 0,9 1,0
Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2004.

(*) Comporta Resposta Múltipla e Estimulada.

Como já se chamou a atenção, a maior parte dos(as) jovens participantes dos


diálogos eram das classes C, D e E, o que pode explicar a forte presença do aspecto
da carência, da “falta”, que aparece dessa vez relacionada aos espaços voltadas para
cultura e para o lazer:

Que nós pudéssemos ter um local pra, assim, digamos, um parque aquático, coisa as-
sim, pra gente poder se divertir um pouco, que isso fosse público, não fosse particular,
porque a gente não tem condições. É parte da nossa educação (Belém).

Nesse sentido, pode-se buscar entender a elevada freqüência dos(as) jovens


pesquisados em espaços como o shopping, que dada a forte articulação feita entre
lazer e violência, tornou-se uma opção sem custo e de alguma maneira “segura”. As
16. Referência à “Comida”,
praças de alimentação, por exemplo, tornaram-se ponto de encontro de alguns grupos música da banda paulista Titãs,
escrita por Arnaldo Antunes,
de jovens de diferentes estilos que as reconhecem como alternativa para encontrar Marcelo Frommer e Sérgio
seus pares. Apesar disso, é preciso pontuar até que ponto os shoppings configuram Brito, 1987

35
um espaço realmente público de encontro e fruição, uma vez que apenas pouco mais
da metade (53,8%) dos(as) jovens das classes D/E indicaram freqüentá-los, enquanto
entre os(as) jovens das classes A/B, esse percentual sobe para 82,4%.
Ainda em relação à cultura/lazer, foram evidenciadas duas formas distintas de
os(as) jovens encararem ou analisarem o não acesso aos bens culturais. Há opiniões
que apontam a auto-exclusão, como, por exemplo: “dá pra ir sim, não precisa gastar
dinheiro, não precisa comer nada”; “tem muita coisa acontecendo, as pessoas é que
não vão” (Belém). E outras que sinalizam a falta de divulgação de atividades ou eventos
que acontecem de graça, mas que a população mais pobre, que mora distante dos
locais mais badalados e que não tem acesso aos veículos de comunicação utilizados
para divulgar atividades desse tipo, acaba por não tomar conhecimento ou só fica
sabendo após estes terem acontecido:
Eu já fui na universidade estadual ver dança contemporânea... Eu gosto, mas eu não
tenho tanto acesso. Eu não tenho nem conhecimento. Eu acho que não chega nem à
população de algumas facilidades que às vezes surgem, não chega ao conhecimento
do pobre” (Rio de Janeiro).

Ou ainda a necessidade de:


(...) maior divulgação por televisão, rádio, panfletos, dos eventos culturais (gratuitos,
acessíveis); facilitar o acesso das pessoas mais distantes (de baixa renda) aos projetos
culturais, como peças etc.; descentralização dos centros culturais (Salvador).

Nesse ponto, é importante ter em mente que, na Pesquisa de Opinião, a grande


maioria dos(as) jovens pesquisados(as) disse se informar sobre o que acontece
no mundo (85,8%). No entanto, o meio através do qual acessam a informação são,
prioritariamente, a televisão (84,5%), seguida por jornais e revistas impressos (57,1%)
e pelo rádio (49%).

Tabela 10

Fontes e meios de informação utilizados pelos(as) jovens17

Fontes e meios de informação (*) Percentual de jovens


Televisão 84,5
Jornais/Revistas escritos 57,1
Rádio 49,0
Amigos(as)/Turma/Colegas de trabalho 28,0
Internet 27,0
Familiares 18,0
Colegas de escola 15,0
Professores(as) 14,4
17. Mas é preciso lembrar que
mais da metade dos(as) jovens Outras fontes 4,4
entrevistados(as) não estava na Ns/No 0,1
escola e, para esses(as), não é
possível ter acesso à informação Fonte: IBASE/POLIS. Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.
por meio de professores(as)
e ou colegas da escola. (*) Resposta Múltipla e Estimulada.

36
Há, portanto, uma predominância da televisão como meio através do qual os(as)
jovens, independente de classe, cor, sexo, escolaridade, ou qualquer outra clivagem,
têm acesso à informação. Uma política que esteja comprometida com a demanda
dos(as) jovens por informações sobre atividades culturais públicas ou gratuitas
precisa considerar esta capilaridade dos meios de comunicação, especialmente
a televisão, no cotidiano dos(as) jovens.
É interessante destacar que os debates em alguns Grupos de Diálogo dei-
xaram transparecer uma tensão entre duas perspectivas: de um lado, a demanda
por descentralização da oferta de oportunidades de fruição cultural. E, de outro, a
sugestão de extensão do passe-livre para que os(as) jovens, e não apenas os(as)
estudantes, possam circular pela cidade, em direção aos espaços em que esses bens
estão disponíveis. Nesse debate, está subjacente a questão do exercício do direito à
cidade, em especial para os(as) jovens das camadas populares.
Os(as) jovens também percebem o papel do poder público na promoção de
eventos culturais, ao sugerirem que:

A Prefeitura deveria investir ainda mais na cultura, trazendo eventos, Bienal do Livro,
quando acontece, trazer peças de teatro ao ar livre, que acontece muito também, mas só
que não é muito divulgado, não há muita propaganda. Então eles colocam a propaganda
na Globo: ah, vai ter um evento hoje ... uma vez. Então a pessoa não vai saber, não vai
poder ter a oportunidade de ver aquela peça (Rio de Janeiro).

E ao apresentarem como demanda o apoio do Governo e dos empresários na


construção de mais iniciativas culturais, os(as) jovens também demonstram cobrar
da iniciativa privada o retorno social dos seus lucros. Não podemos afirmar que essa
reflexão seja feita de forma elaborada pelos(as) mesmos(as), mas não há como negar
que eles(as) sinalizam que não é só o Governo o único responsável pelo atendimento
às demandas sociais da população brasileira.
A questão da descentralização dos espaços de cultura e lazer, com a criação
de outros espalhados pela Região Metropolitana, nos bairros distantes e municípios
vizinhos, e ainda, a necessidade de constante manutenção desses espaços também
se fizeram presentes nas discussões dos(as) jovens:

(...) de levar a cultura pras cidades de fora, não ficar somente na capital. Sair fora do
centro (Porto Alegre).

(...) (instalar) pólos de cultura, teatros e cinemas populares dentro desses pólos culturais...
Vários, porque precisa em cada localidade... O fato da palavra ‘populares’ já diz, já inclui
o custo. ‘Populares’ costuma ser um real, ou até grátis (Rio de Janeiro).

(...) oportunidade de levar o teatro, a cultura para os bairros mais pobres e levar os grupos
de bairros humildes aos teatros de alto porte.(...) Abrir mais espaços para que os jovens
tenham outras oportunidades de lazer e cultura, espaços em lugares públicos para que
todos possam ter acesso ao que hoje não têm. Cuidar das áreas de lazer que existem e
criar novas. Uso racional dos parques públicos com melhor manutenção (Salvador).

37
Um dos grandes entraves ao acesso a bens culturais é o custo envolvido na
freqüência às salas de cinema, teatros, casas de espetáculos musicais ou o custo de
deslocamento até o local onde está sendo realizado o espetáculo. Isso se explicita na
seguinte fala – que foi recorrente nas diferentes regiões onde a pesquisa se realizou:

Na questão do lazer, é bom lembrar que o valor das passagens de ônibus influencia muito
também: Você pode pagar um preço barato para ir a um show e a passagem pode sair
mais cara (Rio de Janeiro).

Em relação a essa questão dos custos de acesso às atividades culturais e de


lazer, os(as) jovens formularam sugestões relacionadas à gratuidade das entradas,
ao transporte gratuito oferecido pelo Governo, à meia entrada a espaços culturais
fazendo uso da carteirinha de estudantes:

Fazer o dia do preço mais acessível para a população de baixa renda ter acesso ao
cinema e ao teatro. Não adianta ir ao teatro só um dia, tem que ir mais vezes para co-
nhecer. O estudante deveria pagar meia, ter o transporte garantido, a vida ficaria mais
alegre (Porto Alegre).

Um aspecto interessante a ser destacado aqui diz respeito ao papel da escola


na promoção e incentivo das atividades de cultura e de lazer. Na Pesquisa de Opinião,
o espaço escolar aparece fortemente ligado ao acesso de bens culturais. Ou seja,
o(a) jovem que está na escola lê mais, vai mais a espaços onde tem acesso à cultura
e ao lazer, tem mais acesso ao computador e à internet, participa mais dos meios de
comunicação como produtor(a) do que aquele(a) que não está. Essa realidade aparece
como uma constante.
O papel da escola associado à cultura e ao lazer, nos Grupos de Diálogo, rea-
parece como um dos únicos equipamentos e espaços públicos que as comunidades
pobres possuem. E, nesse sentido, foram citadas as possibilidades que as escolas
eventualmente têm proporcionado aos(às) jovens das camadas populares: eles(as)
lembraram das bibliotecas, dos passeios culturais (visitas a feiras de livros, a exposi-
ções, museus e centros culturais), e da ida a espetáculos (peças de teatro, cinema),
das atividades esportivas, demandando, inclusive, a sua abertura nos finais de semana
ou a construção de centros culturais no espaço da escola:

Eu acho que cultura e lazer tinham que começar direto na escola. Sem o aprendizado
na escola, não tem como ter, porque, por exemplo, eu acho que aula de teatro tinha que
ser em todas as escolas e não tem. Sem teatro, a pessoa não consegue falar assim em
público.. Eu acho que isso melhora muito, eu acho que isso tinha que ser em todos os
colégios. Ah, tinha que ser obrigatório (Rio de Janeiro).

O diálogo sobre cultura e lazer fez emergir, mais uma vez, a questão da falta de
segurança nos espaços públicos (ruas, praças, parques, praias). A demanda por segurança
dos(as) jovens moradores(as) da periferia é semelhante àquela reivindicada pelo mundo
adulto urbano e de classe média diante da banalização da violência nas cidades.
Sabe-se que o conjunto de desigualdades social e racial e a miséria tendem
a caracterizar os(as) jovens pobres, negros(as), residentes na periferia como os(as)
mais violentos(as), a ponto de serem estes(as) as principais vítimas da violência po-

38
licial. Estes(as) jovens sofrem um terrível dilema: vivem no cruzamento da violência
social e policial. Nesse contexto, como qualquer cidadão(ã), pleiteiam a liberdade de
ir e vir com segurança e demandam da polícia o cumprimento ético do seu ofício. É
nesse contexto que a insegurança aparece como fator de impedimento à fruição da
cultura e do lazer.
Os(as) jovens apontaram, assim, a necessidade de garantia de mais segurança
nos espaços de lazer, como fica explícito nos seguintes depoimentos:

Mais uma questão de entrar o policiamento nessa área, assim o desfile do carnaval de
Ceilândia não teve acidente, não teve morte, porque teve muito policiamento lá. Todos
usufruem: não teve assalto, não teve roubo, não teve nada (Distrito Federal).

Ou ainda:

Tem um evento na escola, tem um evento, a gente vai jogar bola ou vai ter uma festa
e na escola e na quadra, ter policiais na porta ou na redondeza, sempre voltado para
aquele local onde vai estar praticando os eventos pra gente ter mais segurança e praticar
esporte e lazer com mais tranqüilidade (Belo Horizonte).

Finalmente, cabe acrescentar que, algumas vezes, o tema da cultura e do lazer


foi associado à necessidade de controle do tempo livre dos(as) jovens, para prevenir
situações de violência e de tráfico e consumo de drogas, reproduzindo uma relação
bastante presente no senso comum e que reforça uma função instrumental das ativi-
dades de cultura e de lazer para os(as) jovens. Nesse sentido, ao defender a escola
em tempo integral, os(as) jovens argumentam que ela seria importante porque, tendo
acesso à educação, esporte e lazer, o(a) aluno(a) poderia ir “embora tranqüilo e não
vai ter mais violência, nem vai ter mais esse problema de usar droga”.

E também incentivo ao esporte, assim, pra o Governo construir quadras, centros esporti-
vos, assim, pra poder até animar o jovem, pra poder incentivar ele a praticar o esporte,
porque desde o momento que o jovem está com a mente dele ocupada, seja ele com
esporte, educação ou qualquer outra coisa, ele não vai ter certo espaço pra poder ficar
pensando em coisas erradas (...) (Rio de Janeiro)
Marcus Vini

39
7 A participação
e seus caminhos
possíveis

O estudo utilizou estratégias diferenciadas para compreender os distintos significados


da participação para os(as) jovens pesquisados(as). Se na primeira fase da pesquisa
(Pesquisa de Opinião), várias questões buscavam entender como o(a) jovem participa
e quais são os espaços possíveis para sua participação, durante os Grupos de Diálogo
(segunda fase da pesquisa), foi pedido aos(às) jovens que se colocassem frente a
alternativas de participação para conquistar as demandas identificadas na primeira
parte do Dia de Diálogo. Esse exercício de escolha e criação a partir dos Caminhos
Participativos propostos pela pesquisa foi combinado à análise da opção individual
dos(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo feita através das Fichas Pré e
Pós-Diálogo. Essas fichas foram, portanto, recursos auxiliares que, em conjunto com
os dados qualitativos recolhidos durante as sessões de Diálogo, permitiram perceber
a influência da interação sobre a manutenção ou mudança de posições relacionadas
aos Caminhos Participativos sugeridos pela pesquisa18.
A análise que segue busca combinar as reflexões a partir dessas três fontes
de dados, apontando tendências e possibilidades de participação entre os(as) jovens
pesquisados(as) no Distrito Federal e nas sete Regiões Metropolitanas que fizeram
parte da presente investigação.
A Pesquisa de Opinião abordou a realidade do associativismo juvenil partindo
da unidade mais simples de envolvimento coletivo voluntário, que é a participação
em grupos. Inicialmente, procurou-se saber se o(a) jovem entrevistado(a) participa
ou não de grupos, qualquer que fosse sua natureza. Buscou-se apreender também o
engajamento dos(as) jovens em entidades e movimentos.
18. Na Ficha Pós-Diálogo,
solicitou-se, ainda, que os(as)
jovens escrevessem, em cada um
dos Caminhos, suas condições
para apoiá-lo. Dos 911 jovens que 7.1. Participação em grupos
responderam às fichas Pós (dois
participantes não responderam),
727 estabeleceram condições A participação em grupos é uma experiência vivida por 28,1% dos(as) jovens
para aceitação do Caminho 1, 618
entrevistados(as). O aumento da idade parece apontar para a diminuição do potencial ou
para o Caminho 2 e 576 para
o Caminho 3. mesmo o aumento das dificuldades objetivas para a agregação juvenil, independentemen-

40
te das motivações para a formação de grupos. Os(as) jovens de maior poder aquisitivo
(classes A/B) participam mais de grupos (33,5%), seguidos pelos(as) jovens da classe
C (28,2%) e D/E (24,0%). É possível que esta maior participação dos(as) jovens mais
ricos(as) em grupos esteja relacionada com seus níveis superiores de escolarização, maio-
res oportunidades apresentadas e a existência de maior tempo liberado do trabalho que
esses(as) possuem, em comparação com os(as) mais pobres, e que lhes permite maiores
oportunidades para estabelecer relacionamentos e práticas de participação coletiva.

Tabela 11

Participação em grupos segundo sexo, faixa etária e classe (em %)

Total Sexo Faixa Etária Classe


Masc. Fem. 15-17 18-20 21-24 A/B C D/E Ns/No
Sim 28,1 29,6 26,5 32,7 26,6 25,6 33,5 28,2 24,0 23,1
Não 71,8 70,2 73,4 67,2 73,2 74,2 66,4 71,7 75,8 76,3
Ns/No 0,1 0,2 0,1 0,1 0,2 0,2 0,1 0,1 0,2 0,6
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: IBASE/POLIS, Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

O nível de instrução se apresentou como variável significativa, ou seja, os(as)


jovens mais escolarizados(as) são os(as) que mais participam de grupos [30,5% dentre
aqueles(as) que estão no Ensino Médio ou Superior, 28,3% para os(as) que possuem
o Ensino Médio incompleto e o Ensino Fundamental completo, e 24,4% para os(as)
que não completaram o Ensino Fundamental]. Isso demonstra a importância que a
experiência da escolarização exerce sobre a vida associativa juvenil, já que a própria
escola é um espaço propício para o encontro. Aos(às) jovens que responderam afir-
mativamente sobre a participação em grupos, foi apresentada uma cartela contendo
várias opções para que indicassem quais tipos de atividades mais se identificavam com
as promovidas pelo grupo19. As principais atividades dos grupos estão relacionados
com aquelas de cunho religioso (42,5%), esportivas (32,5%) e as artísticas – música,
dança e teatro – (26,9%). Em seguida, encontram-se as atividades menos citadas:
estudantis (11,7%), de comunicação (6,3%), as relacionadas com melhorias no bairro
(5,8%), de meio ambiente (4,5%), as político-partidárias (4,3%), o trabalho voluntário
(1,3%) e outras atividades (0,8%).
A dimensão religiosa manifesta-se na participação dos(as) jovens em grupos
dessa natureza, o que sinaliza o predomínio de formas e conteúdos confessionais
influenciando a sociabilidade coletiva. Dos(as) jovens que participam em grupos,
42,5% o fazem em grupos religiosos. É importante destacar a maneira como a influ-
ência do grupo de amigos(as) na escolha religiosa tem se apresentado como fator
significativo para configuração dos novos quadros de pluralismo religioso intrafamiliar
caracterizado pela diminuição dos índices de transferência religiosa de pais para
19. Resposta múltipla
filhos(as) (Novaes, 2005). e estimulada.

41
Há também expressiva participação em grupos orientados para o esporte, a arte
e o lazer – o que confirma a importância desses campos de atividades para a vivência
da juventude. Os grupos esportivos, por sua vez, possuem a dominância masculina
(46,2% homens e 17,2% mulheres). Os dados evidenciam a tradicional divisão socio-
espacial brasileira na qual os homens possuem maior mobilidade sociocomunitária
para praticar esportes (Brenner, Carrano e Dayrell, 2004).
Os grupos relacionados com as atividades artístico-culturais, dadas as caracte-
rísticas das formas e conteúdos de suas ações, são os que possuem maior visibilidade
na esfera pública e que orientam a busca ou produção de sentidos simbólicos, estilos,
identidades coletivas e atitudes sociais compartilhadas. Este tipo de grupo não se
distingue pela maior ou menor participação entre os gêneros, embora seja uma opção
participativa mais freqüente para os(as) jovens de maior poder aquisitivo. A proporção
de participação entre os(as) mais novos(as) é maior (32,3% na faixa de 15 a 17 anos)
do que entre os(as) mais velhos(as) (21,5% na faixa de 21 a 24 anos), assim como é
mais acentuada a participação entre os(as) que têm até o Ensino Fundamental incom-
pleto (34,0%) do que os(as) que possuem Ensino Médio completo ou mais (22,1%),
o que confirma a inibição trazida pelo aumento da idade.

7.1.1. Participação em movimentos


A Pesquisa de Opinião procurou saber sobre o envolvimento dos(as) jovens com
movimentos comunitários. Frente à pergunta “Você já participou de algum movimen-
to ou reunião para melhorar a vida do seu bairro ou da sua cidade?”, 18,5% dos(as)
entrevistados(as) responderam afirmativamente e 80,6% disseram que não (Tabela 12).
Verificou-se predomínio participativo comunitário dos(as) jovens mais velhos(as) – 21
a 24 anos – (21,3%) em comparação aos(às) mais jovens – 15 a 17 anos – (14,8%), e
os(as) de menor poder aquisitivo – classes D/E – (22,0%) na comparação com os(as)
mais ricos(as) – classes A/B (16,9%).

Tabela 12

Participação em movimentos por melhores condições de vida no bairro / cidade (em %)

Total Sexo Faixa Etária Classe


Masc. Fem. 15-17 18-20 21-24 A/B C D/E
Sim 18,5 19,0 17,9 14,8 18,4 21,3 16,9 17,2 22,0
Não 80,6 80,0 81,2 84,2 80,9 77,6 81,1 82,2 77,7
Ns/No 0,9 1,0 0,9 1,0 0,7 1,1 2,0 0,6 0,3
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: IBASE/POLIS, Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2004 – na: não aplicável

42
Fernando Miceli
Para aqueles(as) jovens que afirmaram participar em algum tipo de movimento
ou reunião para a melhoria das condições do bairro ou cidade, perguntou-se sobre a
natureza dessa mobilização. Em média, os principais objetivos se direcionam à con-
quista ou melhoria de áreas de lazer/quadras esportivas (37,8%), educação/escola
(36,5%), segurança (34,1%), saneamento/meio ambiente (29,2%) e postos de saúde
(27,2%). A desagregação dos dados aponta diferenciações significativas segundo o
gênero, a idade e a classe social.
Os homens, principalmente os jovens entre 15 e 17 anos e das classes A/B, se
mobilizam prioritariamente em torno de objetivos relacionados com as áreas de lazer
e as quadras esportivas (43,7% para homens e 31,7% para as mulheres), informação
compatível com o maior envolvimento dos homens notadamente com as atividades
de lazer e esporte. A maior razão da movimentação comunitária feminina, contudo, se
dá no tema da segurança, preocupação de 36,8% das jovens mulheres e de 31,6%
de jovens homens que já se envolveram neste tipo de mobilização.
A mobilização pela segurança é maior entre os(as) jovens mais ricos(as) (38,3%)
do que entre os(as) mais pobres (31,8%) – estes últimos mais mobilizados(as) para
as questões relacionadas com educação/escola (38,7%). Em relação aos níveis de
ensino, há maior envolvimento dos(as) mais escolarizados(as) com o tema da segu-
rança, ainda que os temas do lazer e das quadras esportivas também provoquem
maior engajamento entre todos os níveis.
A pesquisa perguntou aos(às) jovens sobre seus engajamentos sociais e
políticos, se participavam ou não de grupos/entidades/movimentos mais instituciona-
lizados no momento da pesquisa e se já haviam participado e não o faziam mais.
A participação atual em instituições religiosas foi, mais uma vez, a mais apon-
tada pelos(as) entrevistados(as) (15,3%). Em seguida aparecem os envolvimentos em
clube ou associação esportiva/lazer (8,3%) e grupos artísticos (5,5%). Para além do
envolvimento presente nesses grupos, entidades e movimentos, cujos dados indicam
a baixa taxa de participação e se aproximam dos resultados encontrados em outras
pesquisas referidas ao conjunto da população brasileira, é interessante notar que, em
todos os setores de participação, o número daqueles(as) que já participaram e o não
fazem mais é superior ao dos(as) que participam atualmente.

43
Tabela 13

Participação Atual, Passada e Não Participação – Entidades, Grupos e Movimentos (em%)

Já participou,
Entidades, grupos Participa Nunca
mas não Ns/No Total
e movimentos atualmente participou
participa mais
Ass. Comunitárias,
2,0 10,4 86,7 0,9 100
de moradores
Associações
3,0 21,3 74,8 0,9 100
estudantis
Clubes ou ass.
8,3 19,6 71,1 1,0 100
esportivas/lazer
Grupos artísticos 5,5 11,8 81,8 0,9 100
Grupos
1,4 5,9 91,6 1,1 100
ambientalistas
Grupos religiosos 15,3 21,6 62,2 0,9 100
Grupos diversos
(gangues, 4,2 6,7 88,2 0,9 100
galeras etc.)
Trabalho voluntário 3,0 11,4 84,5 1,1 100
Movimentos negros,
indígenas feminista, 0,8 3,0 95,1 1,1 100
de opção sexual
Movimentos sociais
(educação, saúde, 1,3 5,9 91,8 1,0 100
moradia etc.)
ONGs 0,9 2,0 96,0 1,1 100
Partidos políticos 1,0 5,9 92,1 1,0 100
Sindicatos 0,7 2,3 96,0 1,0 100
Fonte: IBASE/POLIS, Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

7.1.2. A Escola como espaço-tempo de participação


A Pesquisa de Opinião procurou saber dos(as) jovens estudantes se, durante o ano de
2004, suas escolas realizaram determinadas atividades, direta ou indiretamente, relacio-
nadas com o estímulo e o exercício efetivo da participação, nos âmbitos político, cultural
ou social-comunitário. As atividades podem ser caracterizadas como experiências de
sociabilidade, como excursões e festas; de solidariedade, como ações comunitárias ou
trabalhos sociais; de cultura, como apresentações de teatro, dança, música ou festivais
culturais e finalmente, experiências que possibilitam o acesso a informações, como
debates, filmes, seminários e visita a museus e exposições. Da mesma forma, procurou-
se saber se os(as) jovens respondentes haviam ou não participado dessas atividades.
Buscou-se, então, estabelecer a correlação entre a oferta por parte da instituição e o
envolvimento dos(as) jovens alunos(as) nas atividades propostas.

44
Para além do cotidiano das salas de aula, as festas são as atividades mais
realizadas pelas escolas das Regiões Metropolitanas pesquisadas (58,5%), segundo
os(as) jovens entrevistados(as), seguidas pelas apresentações diversas – teatro, dan-
ça, música e festivais culturais (53,9%), filmes (53,8%), debates (45,4%), excursões
(43,3%), seminários (42,6%), visitas a museus e exposições (30,3%) e, por último,
ações comunitárias e trabalhos sociais (27,6%).
Segundo os(as) entrevistados(as), em todas as atividades há maior oferta nas
escolas privadas e para os(as) jovens com maior poder aquisitivo. As festas são as
únicas atividades realizadas em proporção similar entre as diferentes classes. A maior
oferta de excursões para os(as) jovens das classes A/B (49,8%), em relação aos(às)
jovens das classes D/E (34%), evidencia, de forma significativa, a desigualdade dos
processos de escolarização também naquilo que se refere ao uso das múltiplas pos-
sibilidades educativas dos espaços da cidade. A escola dos(as) jovens das classes
populares não caminha, ou caminha muito pouco, pela cidade se comparada com as
escolas dos(as) mais ricos(as).
Os filmes, seminários, debates e festas foram as atividades que contaram com
a maior participação de alunos de ambos os sexos e classes sociais. Dos(as) que
informaram que sua escola ou universidade promoveu algum tipo de ação comunitária
ou trabalho social (27,6%), 51,9% disseram que participaram dessas atividades. As
jovens participaram mais (55,3%) do que os jovens (48,4%). Em relação à classe, 56,5%
dos(as) jovens de classe A/B tiveram participação em atividades comunitárias, enquan-
to que, para os(as) jovens das classes D/E, este índice foi de 44,3%. A participação
nessas atividades é mais acentuada entre os(as) estudantes de escolas particulares
(61,6%) do que entre aqueles(as) que estudam nas escolas públicas (48,5%).

7.1.2.1. Principais temas debatidos nas escolas


Os debates realizados pelas escolas estão relacionados com os seguintes temas:
sexualidade/Aids/drogas e violência (72,7%), questões de política e eleições (57,5%),
projeto político-pedagógico/regras da escola/disciplina/formas de avaliação (45,7%),
direitos humanos (37,9%) e problemas do bairro/cidade (28,3%). O primeiro grupo
de temas obteve prioridade tanto em instituições públicas (81%) quanto em estabe-
lecimentos privados (84,5%), denotando que o clássico temário relacionado com os
chamados “problemas pessoais e sociais da juventude” segue sendo o objeto privile-
giado dos debates oferecidos pelas escolas. Abramo (1997) chama atenção para o fato
de que quando o tema da juventude é abordado nos produtos de mídia diretamente
dirigido ao público jovem, a tônica é cultura/comportamento (música, moda, estilo de
vida, esporte, lazer etc.). Entretanto, quando os(as) jovens são assuntos dos cader-
nos destinados aos “adultos” (noticiários, editoriais etc.), os temas mais comuns são
aqueles relacionados aos problemas sociais como violência, crime, exploração sexual,
drogadição ou as medidas para dirimir ou combater tais problemas. Pelos dados da
Pesquisa de Opinião, percebe-se que a escola, em grande medida, reproduz essa
orientação dos meios de comunicação naquilo que se refere à ênfase no tratamento
do(a) jovem como problema.

45
Ainda em relação àquilo que predominantemente se oferece como pauta de
debate em escolas públicas e privadas, percebe-se que o tema dos direitos huma-
nos é mais discutido nas escolas particulares (47,7%) do que nas públicas (34,8%).
Os problemas do bairro/cidade, contudo, obtêm preferência nas escolas públicas
(29,9%) quando comparados às particulares (23,3%). De todos os temas de debates,
a questão do bairro/cidade é o que recebe menos atenção por parte das instituições
educacionais nas quais os(as) jovens entrevistados(as) estudam, denotando que, em
linhas gerais, as escolas têm dificuldade de incorporar a problemática urbana em suas
práticas curriculares, o que também tem sido apontado em outras pesquisas (Abramo
e Branco, 2005, p. 391).

7.1.2.2. Participação em atividades na escola em finais de semana


Cerca de 20% dos(as) jovens afirmaram participar em atividades nas escolas/uni-
versidades aos finais de semana. Os principais motivos para a participação estão
relacionados com as atividades coletivas e de sociabilidade, como praticar esportes
(52%); encontrar amigos(as)/outros(as) jovens (33,4%); assistir apresentações como
teatro, música e dança (22,3%), e participar de festas (19,9%). Foram mencionadas
também as seguintes atividades: curso pré-vestibular/aulas de reforço (15,4%), cur-
sos profissionalizantes (10,2%), trabalhos voluntários e/ou atividades da comunidade
(7,9%), cursos, oficinas culturais e artísticas (2,3%) e cultos/celebrações religiosas
(2,3%). As informações sobre a participação em atividades de tempo livre nos finais
de semana revelam que as escolas subtilizam os seus prédios e equipamentos, e que
o predomínio participativo está em torno das atividades esportivas.

7.1.3. Percepções em torno da participação


Ao serem indagados(as) sobre como classificariam sua participação política, a partir
de três possíveis alternativas, 8,5% dos(as) jovens se consideraram politicamente
participantes. Outros 65,6% disseram que procuram se informar, mas sem participar
pessoalmente, e 24,7% declararam não procurar se informar sobre política nem
participar pessoalmente. Os(as) jovens acima de 18 anos (18,9%) e os(as) mais
escolarizados(as) – com Ensino Médio completo ou mais – (10,2%) são os(as) que
se consideram mais politicamente participantes. Os(as) mais jovens (15-17 anos) e
aqueles(as) que estudaram apenas até o Ensino Fundamental incompleto (38,3%)
foram os(as) que mais disseram que não procuram se informar nem participar pesso-
almente em assuntos de política.

46
Tabela 14

Percepção quanto à Informação e Participação Política (em %)

Questões (*) Total Escolaridade


Até Fundamental Até Médio Médio completo
incompleto incompleto ou mais
“Procuro me informar sobre
a política, mas sem 65,6 52,6 66,4 74,2
participar pessoalmente”.
“Não procuro me informar
sobre a política, nem 24,7 38,3 24,8 14,7
participar pessoalmente”.
“Considero-me politica-
8,5 7,0 8,0 10,2
mente participante.”
Ns/No 1,2 2,1 0,8 0,9
Total 100 100 100 100
Fonte: IBASE/POLIS, Pesquisa de Opinião Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

Os números da Pesquisa de Opinião trazem, contudo, um dado revelador sobre


esse tema: a maioria dos(as) jovens entrevistados(as) demonstra interesse pelos
assuntos da política. Ainda que não participem diretamente nos espaços reconhecidos
como do domínio da política, demonstram participar de determinada esfera pública ao
buscarem informações sobre a atividade política.
A última pergunta feita aos(às) jovens na Pesquisa de Opinião foi se teriam
interesse e disponibilidade para participar de encontro com outros(as) jovens para
dialogar sobre temas relativos à juventude brasileira. 57% dos(as) entrevistados(as)
responderam afirmativamente. Mais jovens mulheres (59,7%) do que jovens homens
(54,2%) se interessaram e mostraram disponibilidade
em participar. A faixa etária também se mostrou fator
importante: os(as) que se mostraram mais dispostos
foram jovens entre 15 e 17 anos (60,2%) e os(as) que
menos tiveram interesse ou disponibilidade foram os(as)
entre 21 e 24 anos (52,6%), o que, uma vez mais, reitera
a menor disponibilidade dos(as) jovens mais velhos(as)
para a participação de um modo geral.

47
7.2. Caminhos participativos: os jovens dialogam
sobre limites e possibilidades
Os diálogos com jovens das sete Regiões Metropolitanas e Distrito Federal permitiram
apreender limites e possibilidades da participação juvenil. Os Grupos de Diálogo
produziram narrativas carregadas de avidez por “fazer alguma coisa”, por en-
gajar-se em um algum tipo de ação que se possa perceber os resultados. Duas
constatações foram evidentes nos diálogos entre os(as) jovens. Uma delas diz respeito
à disposição dos(as) jovens em participar.
Foi também constante a expressão de uma retórica sobre o fazer, o agir, o
não ficar de braços cruzados, o ir atrás para realizar os próprios sonhos: “eu sempre
busquei e pretendo sempre buscar (...) Tem um ditado que diz: ‘camarão que dorme
na praia a água leva’. Então vamos trabalhar, vamos agir” (Recife).
Uma segunda constatação diz respeito à percepção das dificuldades e proble-
mas que atingem mais diretamente os(as) jovens (falta de educação, saúde, oportuni-
dades de trabalho etc., como visto nos capítulos anteriores), mas também dificuldades
relacionadas com a conjuntura mais geral, à qual esses problemas estão relacionados
e, ainda, da clareza da força que a ação coletiva pode ter no enfrentamento desses
problemas, como mostrado na fala seguinte:

O Governo só pára para nos escutar quando fazemos movimentos em massa, tipo
Diretas Já. Durante a ditadura militar, os estudantes foram pras ruas, juntamente com
os jovens, e fizeram movimentos e deram a cara pra bater. Muita gente saiu ferida até
mesmo morta, muita gente foi extraditada, muita gente voltou com a lei da anistia que foi
uma coisa boa que aconteceu e nós conseguimos. Levou um tempo né? Após 20 anos
nós conseguimos democracia. Só que em 1990, acho que foi esse o ano, mas muita
gente votou acreditando, ‘esse cara que vai mudar depois de 20 anos de repressão’, isso
e aquilo, ‘esse cara vai mudar’, ‘ele tem uma cara nova, ele é jovem, ele tem o poder,
ele tem o nosso apoio’, só que foi tudo por água abaixo e dois anos após nós pedimos,
o movimento dos caras pintadas, nós pedimos o impeachment do presidente Fernando
Collor de Mello. Eu era gurizinha. E também na década de 90, os jovens fizeram movi-
mento pedindo a meia passagem. E esse direito foi conquistado pra gente, até hoje nós
somos beneficiados graças aos pioneiros, aquelas pessoas que deram a cara pra bater
e que conseguiram esse direito nosso garantido por lei (Belém).

Os(as) jovens que participaram dos Grupos de Diálogo foram convidados(as)


a pensar sobre Caminhos de Participação para melhorar educação, trabalho e cultura
e lazer. Na primeira parte do Dia de Diálogo, eles(as) apontaram aquilo que consi-
deraram crítico e que precisaria melhorar nessas áreas. Num segundo momento,
responderam à questão: “Como vocês estão dispostos a participar para essas me-
lhorias se tornarem realidade?”
Os(as) facilitadores(as) apresentaram três Caminhos Participativos para
estimular os diálogos e reafirmaram a possibilidade de que os(as) jovens poderiam,
em seus grupos, combinar os Caminhos sugeridos, criar outros ou não adotar
Caminho algum.

48
Quadro 4

Apresentação dos Caminhos Participativos

Os Caminhos Participativos

Caminho 1 Caminho 2 Caminho 3


Eu me engajo e tenho uma Eu sou voluntário e faço Eu e meu grupo: nós
bandeira de luta a diferença damos o recado
A participação política da Jovens voluntários(as) ajudam Os(as) jovens praticam e
juventude ocorre por meios a diminuir os problemas fortalecem o direito à livre
que vão além do voto. Esse sociais. Realizam diferentes organização. Eles(as) formam
engajamento também se dá atividades, tais como grupos culturais (esportivos,
na atuação firme e direta em manutenção de escolas, artísticos, musicais etc.),
partidos políticos, organizações recreação com crianças religiosos, de comunicação
estudantis, conselhos, ONGs pobres e hospitalizadas, (jornal, página na internet,
e movimentos sociais, ou seja, campanhas de doação de fanzine etc.), entre outros,
em instituições que organizam alimentos e diversas outras compartilhando idéias com
a sociedade e controlam a atu- ações desse tipo. outros(as) jovens.
ação dos governos.

Fonte: IBASE/POLIS, Que Brasil queremos? Como chegar lá? - Roteiro para o Diálogo da Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2005.

7.2.1. Caminho 1: Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta


Nos Grupos de Diálogo, alguns(mas) jovens valorizaram a participação através do
Caminho 1 por considerá-lo de maior impacto na superação dos problemas sociais
do país. Segundo um jovem, “é (o Caminho 1) o que dá maior força, maior suporte a
todos os caminhos, apesar de ser o mais difícil” (Salvador).
Por um lado, ficou evidente que os(as) jovens entendem que este é, prepon-
derantemente, o caminho da política. Para a maioria deles(as), este Caminho é o que
detém o poder e a força, enquanto que os Caminhos 2 e 3 são marcados pela vontade
e o poder da ação, mas não possuem a força de decisão. Por outro lado, segundo
eles(as), o Caminho 1 é também o mais sujeito a burocracias e à corrupção. Daí o
fato de os(as) jovens se referirem a este Caminho apontando também para necessi-
dade de fiscalizar, controlar e de cobrar as ações dos políticos. Quanto às posições
contrárias a este Caminho, em consonância com aquelas apresentadas no Caderno
de Trabalho/Roteiro para o Diálogo, os(as) participantes concordaram quanto ao papel
reduzido dos(as) jovens nas esferas de decisão e ao risco de manipulação dos(as)
mais velhos(as) sobre os(as) mais jovens.
Essa percepção está em sintonia com os resultados da Pesquisa de Opinião, que
apontaram uma visão bastante negativa sobre os(as) que exercem a atividade política
por parte dos(as) jovens. A frase “A maioria dos políticos não defende os interesses
da população” obteve a concordância total de 64,7% dos(as) jovens entrevistados(as);
17% disseram concordar parcialmente; 8,5% discordam parcialmente e 9,8% discor-
dam totalmente. Entre os(as) jovens das classes D/E, a porcentagem dos(as) que
concordam totalmente com a afirmativa acima chega a 68,2%, enquanto fica em 60,4%
entre jovens das classes A/B.

49
Aqui cabe destacar que, frente à inexperiência da imensa maioria dos(as) jo-
vens participantes dos diálogos em movimentos sociais, sindicais, ONGs etc., como
observado nos dados apresentados anteriormente, e da falta de informação sobre
os mecanismos de controle social, como os conselhos de direitos, a percepção do
Caminho 1 ficou quase totalmente restrita à atuação dos(as) políticos(as), tanto os(as)
que exercem atividade no executivo, como os(as) parlamentares.
Alguns argumentos favoráveis e outros contra a escolha do Caminho 1, segundo
os(as) jovens desta pesquisa, são apresentados no Quadro 5, que segue.

Quadro 5

Caminho 1: síntese de argumentos prós e os contras segundo os jovens*

Caminho 1
Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta

Prós Contras
• O Caminho leva diretamente ao • Descrença nos(as) políticos(as), que
Governo. são incorretos(as), compram votos.
• A juventude tem mais força nesse • Descrédito nos resultados das ações.
Caminho.
• Compete com a sobrevivência; com a
• Possibilita denúncias sobre irregulari- necessidade de trabalhar e ganhar o
dades e desvios de verbas públicas. sustento
• Tem legitimidade dentro das instâncias • A compreensão acerca da política se
políticas deliberativas. restringe à atuação partidária.
• Possibilidade de abertura de canal de • Exige muito tempo do(a) jovem.
diálogo direto com o poder público.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

*Prós e Contras apontados pelos jovens a partir daqueles apresentados no Roteiro para o Diálogo

Já a partir das respostas dadas individualmente pelos(as) participantes dos


GDs através das Fichas Pré e Pós, o Caminho 1 foi o que obteve o menor percentual
de notas 7 (a pontuação máxima na escala apresentada pela pesquisa). Nas Fichas
Pós, este Caminho foi pontuado com notas 7, 6 e 5 por 59%, 20% e 12% dos(as)
participantes, respectivamente. No entanto, foi o Caminho que teve o maior índice de
elevação das notas dentre os três Caminhos (22,9%) após o Diálogo, indicando que
os GDs exerceram influência positiva junto aos(às) envolvidos(as).
Ele foi o Caminho privilegiado no Distrito Federal e nas RMs de Salvador e
Recife. No Distrito Federal, a preferência foi de 24,4% para o Caminho 1, 17,8% para
o Caminho 2 e 23,3% para o Caminho 3; na RM de Salvador, 28,8% para o Caminho
1, 18,4% para o Caminho 2 e 16,6% para o Caminho 3; na RM de Recife 22,6% para
o Caminho 1, 18,5% para o Caminho 2 e 15,9% para o Caminho 3.
Como visto anteriormente, este foi o Caminho identificado como sendo o da
política por excelência. Nas três regiões citadas, a aposta neste Caminho da política
não foi ingênua, uma vez que os(as) jovens foram capazes de denunciar vícios como
os relacionados ao “círculo vicioso da corrupção”, ao clientelismo, à burocratização
das organizações e à falta de compromisso dos(as) “políticos(as)” com a realização de

50
suas promessas. O que explicaria, então, a adesão a este Caminho no momento da
escolha individual? Os Diálogos realizados nos pequenos grupos e nas plenárias
evidenciaram o reconhecimento de que este é um Caminho no qual a participação
poderia ser mais efetiva na operação das mudanças desejadas, especialmente
aquelas que se relacionam com a luta contra o preconceito e o combate às
desigualdades sociais. A percepção é a de que a “força da juventude” e também
“da luta, do protesto e da união” são maiores quando essa energia é canalizada para
“a política”; este seria um Caminho mais direto para a conquista de direitos e nele
seriam possíveis mudanças mais profundas do que aquelas pontuais e próprias aos
Caminhos do voluntariado e da participação em grupos informais.

(...) quando o jovem participa de movimento político, ele não fica invisível, só fica se ele
quiser. Ele tem voz e ele pode atuar ativamente... Eu participo de movimentos políticos
e não sou invisível” (Salvador).

Neste Caminho, parece ocorrer fenômeno que pode ser caracterizado como o
“elogio da participação para outro”, ou seja, o(a) jovem identifica as potencialidades
político-institucionais de promoção das mudanças desejadas, porém, não se vê partici-
pando diretamente.20 Isso serve para relativizar a adesão individual ao Caminho que se
expressa na nota pós-diálogo, mas que não necessariamente implica em compromisso
pessoal de envolvimento. O depoimento a seguir é paradigmático desta situação, que
se repetiu em vários dos Grupos de Diálogo: “eu acho mesmo o primeiro Caminho o
certo, mas eu não me vejo fazendo isso” (Recife).
Para além das críticas já citadas sobre a “má imagem” pública deste Caminho
para a maioria dos(as) jovens, é possível apontar também o sentimento de despreparo
em relação à participação na esfera política, uma vez que este seria o Caminho dos(as)
que “sabem fazer” e dos(as) que “estão por dentro”, ou em outras palavras, daqueles(as)
– em geral, adultos(as) – detentores de capital político e simbólico que permitiria o bom
trânsito por este campo sem o risco de serem manipulados(as). Estariam os(as) jovens
dizendo: é algo para eles(as) – os(as) políticos(as) – e não para nós?
Ao estabelecerem – escrevendo nas Fichas Pós-Diálogo – condições para o
apoio ao Caminho 1 (Quadro 6), os(as) jovens evidenciaram o predomínio de alguns
valores que desejam ver impressos à participação. Neste Caminho, a tônica das con-
dições recai na busca pela conquista de direitos e o combate à desigualdade, além
da cobrança pela existência de espaços públicos que garantam a participação. Foram
24% aqueles(as) que formularam sentenças que condicionaram o envolvimento neste
Caminho desde que ele expressasse luta por direitos e combate à desigualdade; a
condição que pede espaços de participação para a sociedade, em geral (18,8%), e
para os(as) jovens, em especial (16,5%), pode estar sinalizando que, neste Caminho,
20. Esta tendência de reconhecer
há o risco permanente da “manipulação de políticos”, tal como ficou evidenciado nas a importância e a necessidade
de participação, mas transferi-
manifestações de jovens nos pequenos grupos e nas reuniões de síntese dos Dias de la para um sujeito indefinido,
Diálogo. É significativo também que jovens condicionem apoio a este Caminho desde foi percebida pelas equipes de
pesquisas em diferentes regiões.
que “o Governo” participe com responsabilidade (10,5%) e que não seja corrupto (5%). Em Belo Horizonte, esse sujeito foi
chamado de “o jovem abstrato”
Há reconhecimento da importância da política em conjunto com a desconfiança nas
e no Rio de Janeiro, de o “outro
instituições e em seus(suas) agentes e representantes. indefinido”.

51
Quadro 6

Condições estabelecidas pelos jovens para apoiar o Caminho 1


Agregado nacional das 7 Regiões Metropolitanas e Distrito Federal
Apoio ao Caminho 1 desde que... (727 respondentes) Apoio (valores em %)
... haja luta por direitos e combate à desigualdade. 24,0
...existam espaços de participação da sociedade. 18,8
... haja participação de jovens. 16,8
... haja participação e responsabilidade do Governo. 10,5
...não exista corrupção. 5,0
... os políticos não interfiram no trabalho de jovens /
4,7
jovens não sejam manipulados.
... haja responsabilidade e comprometimento. 3,4
... políticos(as) cumpram suas obrigações. 2,8
... não haja violência. 1,7
... seja realizado junto com os demais caminhos. 1,4
Outros 10,9
Total 100
Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

À medida em que os debates se desenvolveram nos Grupos de Diálogo nas


diferentes Regiões Metropolitanas e Distrito Federal, várias ações foram propostas
como forma de concretizar e justificar as escolhas feitas. As ações relativas ao 1º
Caminho estão agrupadas no quadro a seguir.

Quadro 7

Ações propostas pelos jovens para o Caminho 1

Caminho 1
• Formar partido político para a juventude.
• Analisar bem o seu voto antes de dá-lo a um(a) político(a).
• Pesquisa para levantamento dos problemas da comunidade.
• Organização de uma ONG para atuar de acordo com os interesses da comunidade.
• Aliar-se às ONGs para promover movimentos beneficentes.
• Realizar passeatas e manifestações.
• Engajar-se em sindicatos ou associações.
• Realizar palestras de conscientização.
• Promover manifestações de estudantes na Prefeitura.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

52
7.2.2. Caminho 2: Eu sou voluntário(a) e faço a diferença
A percepção da maioria dos(as) participantes dos Grupos de Diálogo é, principal-
mente, a de que este é o Caminho da ajuda aos pobres e da ação social. Se, por um
lado, o voluntariado representa, na concepção de alguns(mas) jovens, um risco de
isentar o poder público de suas obrigações, o que foi apresentado como argumento
contrário a ele no Caderno de Trabalho/Roteiro para o Diálogo, por outro, representa
a possibilidade de fazer algo de forma independente do Governo: não basta cobrar,
é preciso fazer. O Caminho 2 representa, assim, a possibilidade concreta de o(a)
jovem contribuir e perceber o resultado imediato de sua ação: “não adianta só deixar
na mão do Governo. Se a gente não levantar, não ir atrás do que a gente quer, não
vai adiantar. (...) Todo mundo depende de alguém, mas se a gente não fizer alguma
coisa, o Governo também não vai fazer, não (...)” (Belo Horizonte).
Alguns(mas) jovens percebem que é pelo voluntariado que eles(as) podem
agir. Especialmente em situações nas quais sentem que fazem algo como resposta
objetiva para os(as) outros(as), como, por exemplo, matar a fome de alguém, mas,
em princípio, o fazem pela sua própria consciência, por um sentido de justiça, de fazer
bem ao próximo. É como se os(as) jovens se sentissem mais aptos(as) ou com mais
condições de atuar nesse campo, estando dentro das suas possibilidades reais de
participação, reunindo as condições ou os requisitos que eles(as) reconhecem ter:

(...) a gente queria mobilizar os grupos, um grande grupo, assim muitas pessoas mesmo
pra fazer isso, visitar os hospitais, como tentando solucionar os problemas dos doentes,
não como médicos profissionais, mas levando conforto, ajuda alimentar. E aqui, as
escolas, no caso do analfabetismo, que é muito grande aqui no Brasil, analfabetismo
principalmente de pessoas adultas. Como solucionar esse problema do analfabetismo?
Solucionar indo tentar passar pra eles o que a gente já sabe (Belém).

A alternativa da participação em ações de voluntariado foi, neste sentido, aquela


que pareceu permitir maior capacidade de ação e autonomia para os(as) jovens. Ela
seria também uma forma de “não ficar de braços cruzados” e criar constrangimentos
para Governos a fim de que também tomassem parte na solução dos problemas, em
conjunto com os(as) jovens voluntários(as). Os(as) jovens demonstraram perceber
que esta alternativa de participação, por si só, não é capaz de resolver proble-
mas, principalmente os de natureza estrutural, caso não haja envolvimento
governamental.
Assim tem que haver uma interação entre as partes, um lance de cumplicidade
entre elas, sim. Mas o lance do voluntariado, tem que entender que a principal, quem
tem o poder mesmo de agir, é o lance do Governo. Eles podem amenizar o problema,
mas não podem solucionar. (Porto Alegre).
Tornou-se, portanto, evidente o olhar crítico de alguns(mas) jovens sobre o
voluntariado como uma alternativa que não isenta o papel do Estado na operacionali-
zação das soluções dos problemas que o(a) jovem enfrenta. A expressão “se cada um
fizer a sua parte” é aceita parcialmente, mas indica também que este Caminho pode
ser uma possibilidade mais próxima do(a) jovem participar. “O voluntariado é muito

53
interessante porque o voluntariado vai direto pra fazer o que tem que ser feito, só que
ele esquece de cobrar o que as autoridades têm que fazer” (Porto Alegre).
O Caminho 2 também apareceu como uma possibilidade de capacitação e
de experiência profissional daqueles(as) que exercem a ação voluntária, de ensinar
e aprender ao mesmo tempo, ampliando as chances no mercado de trabalho. Cabe
assinalar que, em diversas regiões, os(as) jovens entenderam esta possibilidade mais
como exploração, “trabalhar de graça”, do que como atividade formadora. Ou então
percebendo claramente o limite de fazer algo que exige uma capacitação que não
têm, reiterando os argumentos contra o Caminho 2 contidos no Caderno de Traba-
lho/Roteiro para o Diálogo.
Ainda em relação ao Caminho 2, é importante registrar que, em muitos grupos,
surgiu uma interpretação que se contrapõe à caracterização do voluntariado apresen-
tada no Caderno de Trabalho/Roteiro para o Diálogo, que enfatiza o caráter individual
da ação voluntária. Para estes(as) jovens, a ação voluntária pode também ser fruto
de uma ação coletiva, na medida em que esse tipo de articulação poderá facilitar as
ações a serem realizadas, a fim de alcançarem um melhor resultado final. Em grupo
é possível discutir idéias, formar uma única opinião e colocá-la em prática.

(...) o que acontece, você sendo voluntariado, você querendo sair no Caminho 2, por
exemplo, você vai acabar no 3 de todo o jeito, porque a maioria das pessoas, elas saem
e vão para um lugar e falam: “eu vou ser voluntário”, mas chegam lá, elas saem com
intuito de serem voluntárias sozinhas, mas ela chega lá e encontra um grupo, ela acaba
participando daquele grupo, vocês estão me entendendo? Aí o que acontece? Ninguém
faz nada sozinho. Nós optamos, justamente por causa disso, a junção do caminho 2
com o 3; o caminho 2 porque, na verdade, todo mundo sai sozinho na vontade de ser
voluntariado, e acaba chegando lá (Distrito Federal).

Apesar de reconhecerem uma significativa diferença entre lutar por direitos, ação
que, no geral, requer a união das pessoas, e realizar individualmente algum trabalho
voluntário, os(as) jovens, na maioria das vezes, não enxergaram contradição em se
engajar em dois tipos de ação simultaneamente.

(...) todos os grupos buscaram a união dos jovens numa perspectiva que vincula a ajuda
mútua e a satisfação pessoal: eu participaria em algum grupo que procurasse ajudar
alguém ou pessoas. Eu procuraria um grupo, como se fala, que me satisfizesse. Em
relação a mim, com os outros. .(Belo Horizonte).

Em muitas outras falas, no entanto, jovens evidenciaram discordâncias em


relação ao Caminho 2:

Aí, no caso, que entra a questão de reivindicar os direitos, porque se a gente for fazer
tudo e não deixar nada para eles (o Governo), eles vão se acomodar naquilo e deixar: “Ah,
eles estão fazendo, então deixa”. A gente tem que correr atrás, pois se a gente continuar,
aí que eles não vão fazer. A gente tem que fazer e correr atrás e não fazer tudo, querer
fazer tudo ao mesmo tempo. Tem que correr atrás também (Distrito Federal).

No Quadro 8 estão listados alguns argumentos favoráveis e contrários à escolha


do Caminho 2, segundo os(as) jovens.

54
Quadro 8

Caminho 2: os prós e os contra segundo os jovens*

Caminho 2
Eu sou voluntário e faço a diferença

Prós Contras
• É um caminho justo. • É muito lento.
• Trabalha de forma autônoma, sem • Rouba a vaga de um(a) profissional.
esperar pelo Governo.
• Descrédito nos resultados das ações; é
• É possibilidade de preparo e experiên- pouco eficiente para mudar a realidade.
cia profissional, ampliando as chances
• A experiência não é aproveitada no
de trabalho.
currículo.
• Implica em menos dedicação de tempo,
• Necessidade de muitas pessoas para
pois se pode ir quando desejar.
funcionar.
• Maior flexibilidade para adequar-se ao
• Constrangimento em tomar a frente de
tempo dos(as) jovens.
algumas ações (ex.: Campanha Contra
• Mais próximo da realidade dos(as) jovens. a Fome).
• É algo mais concreto para os(as) • Assume funções que são do Governo,
jovens. que pode se acomodar.
• Pode atuar mais perto da casa, de • É um caminho que tampa o sol com a
acordo com os recursos financeiros. peneira.
• Possibilidade de organizar grupos para • Possibilidade de o voluntariado se
desenvolverem as ações. resumir a uma ação assistencialista.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

*Prós e Contras apontados pelos jovens a partir daqueles apresentados no Roteiro para o Diálogo

Na avaliação individual feita pelos(as) participantes dos GDs através das


Fichas Pré e Pós, o Caminho 2 foi o que obteve melhor avaliação individual dos(as)
participantes na agregação das oito regiões investigadas. Recebeu inicialmente 68%
das notas 7 (totalmente a favor) e se manteve com as melhores notas no questionário
Pós-Diálogo, no qual cerca de 62% dos(as) participantes atribuíram nota 7, 19% nota
6 e 10% nota 5, que são notas de aprovação da idéia.
Este Caminho foi a escolha principal nas RMs de Belém, Porto Alegre e São
Paulo. Em Belém, a preferência foi de 17,9% para o Caminho 1, 25,5% para o Cami-
nho 2 e 25% para o Caminho 3, configurando empate entre os dois últimos; na RM
de Porto Alegre, 21,4% para o Caminho 1, 29,6% para o Caminho 2 e 22,4% para o
Caminho 3; na RM de São Paulo, 21,9% para o Caminho 1, 34,8% para o Caminho
2 e 18,6% para o Caminho 3. “Realmente, de tudo que a gente conversou até agora,
o voluntariado é a nossa cara” (São Paulo).
O Caminho 2, ainda que tenha obtido o maior número de notas altas, foi o que
teve a maior alteração negativa entre as Fichas Pré e Pós (23,9%), ou seja, após o
Dia de Diálogo houve maior número de jovens que reduziram suas expectativas frente
à efetividade do Caminho do voluntariado individual para a resolução dos problemas
tratados nos âmbitos do trabalho, da educação e da cultura/lazer. Ainda no Caminho
2, houve 57,7% de manutenção da nota atribuída na ficha Pré e 18,3% de aumento
da nota na ficha Pós em relação à Pré.

55
Um balanço geral dos dados de avaliação contidos nas Fichas Pré e Pós-Diálo-
go demonstra que metade dos(as) jovens participantes do Diálogo alterou suas notas
nos Caminhos entre o início e o final do Dia de Diálogo. Houve equilíbrio na mudança
positiva e negativa de opinião, exceto no Caminho do voluntariado, em que o percentual
de perda de nota foi mais acentuado em relação aos outros dois Caminhos. A maior
pontuação inicial para o Caminho 2 pode estar relacionada com a valoração positiva
que este Caminho tem recebido, tanto porque essas ações podem ser referidas às
estratégias de solidariedade correntes na sociedade brasileira, especialmente entre as
camadas populares, como pela divulgação e incentivo de iniciativas de ações solidárias
de caráter individual por diferentes mídias e organizações cuja missão é o fortaleci-
mento do voluntariado no Brasil. É possível também que a interação proporcionada
pelo Diálogo tenha exercido o efeito de diminuir a crença na resolução individual de
problemas de natureza social, uma vez que, como visto anteriormente, mesmo entre
aqueles(as) que optaram coletivamente pelo Caminho 2, houve os(as) que articulas-
sem o voluntariado à sua atuação em grupos. Essa tendência reflete resultados da
Pesquisa de Opinião. Cerca de 89% dos(as) jovens entrevistados(as) nessa fase da
pesquisa concordaram totalmente com a frase “É preciso que as pessoas se juntem
para defender seus interesses”; 6,8% deles(as) concordam parcialmente; 1,3%, dis-
cordam parcialmente e 2,3%, discordam totalmente. É possível afirmar que houve
um reconhecimento da importância das ações coletivas para defesa e resolução
dos interesses e problemas dos(as) jovens.
O trabalho voluntário se apresentou como forma de ação que se projeta nos
contextos vividos pelos(as) próprios(as) jovens. O voluntariado estaria ao alcance
“real” das possibilidades juvenis de ação; teria a dimensão solidária que se cumpre
quando se faz um bem ao próximo e, além de tudo, reforçaria o sentimento de que
se está alterando a realidade com as próprias mãos. Assim, o trabalho solidário
e o trabalho comunitário podem ser ditos como os outros nomes do trabalho
voluntário; o território da comunidade como palco de engajamentos, solidarie-
dade e possibilidade de reinvenção da política – em seu sentido originário de
envolvimento ativo com a cidade.
Um impasse configurado diz respeito à disponibilidade pessoal de ser
voluntário(a) e a impossibilidade real de ausência de tempo e condições de quem
precisa lutar pela própria sobrevivência ou dito de outra forma: como ajudar quando
sou eu que preciso de ajuda?
No que diz respeito às condições apresentadas para adesão ao Caminho 2, na
Ficha Pós-Diálogo, aparece, em primeiro lugar (22,8%), o desejo de que o Governo
também participe e que não abdique de suas responsabilidades, reiterando o que foi
percebido durante os GDs. Significativo também foi o número de jovens que vinculou
a ação voluntária à melhoria dos problemas da população e do Brasil (17,8%), à ne-
cessidade de reconhecimento do trabalho voluntário realizado (11,0%) e à existência
de espaços de participação da sociedade (10,8%). Um número também significativo
de jovens (10,4%) chamou a atenção para as responsabilidades compartilhadas que
devem existir entre Governo e sociedade naquilo que diz respeito ao voluntariado.
Esses(as) jovens participantes, ao mesmo tempo em que não esquecem das res-

56
ponsabilidades governamentais na resolução dos problemas públicos, demonstram
não querer que a iniciativa esteja apenas no âmbito estatal. Dessa forma, é possível
identificar também no processo dos Diálogos realizados, o jogo de forças sociais e
ideológicas que se enfrentam e disputam os sentidos contemporâneos sobre as fun-
ções e o tamanho do Estado do Brasil.

Quadro 9

Condições estabelecidas pelos(as) jovens para apoiar o Caminho 2


Agregado nacional das sete Regiões Metropolitanas e Distrito Federal
Apoio ao Caminho 2 desde que... (618 respondentes) Apoio (valores em %)
... haja participação e responsabilidade do Governo. 22,8
... melhore os problemas da população/faça
17,8
um Brasil melhor.
... haja reconhecimento do trabalho voluntário
11,0
dos(as) jovens.
... existam espaços de participação da sociedade. 10,8
... Governo e sociedade façam sua parte. 10,4
... não comprometa atividades como estudo e trabalho
7,2
e não estabeleça compromisso.
... as pessoas ajudem sem esperar nada em troca. 7,1
... haja responsáveis qualificados para o trabalho
2,1
voluntário.
Outros 10,8
Total 100
Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

A seguir, estão algumas ações que surgiram nos Grupos de Diálogo associadas
ao Caminho do voluntariado.

Quadro 10

Ações propostas pelos(as) jovens para o Caminho 2

Caminho 2
• Fazer manutenção escolar, ajudar a servir as refeições aos alunos, dar aulas de
reforço, incentivar a limpeza.
• Desenvolver projetos para a cidade.
• Criar cursos pré-vestibulares comunitários.
• Entrar com mão-de-obra para a construção de escolas e praças.
• Campanhas para arrecadação de alimentos.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

57
7.2.3. Caminho 3: Eu e meu grupo: nós damos o recado
O Caminho 3 foi apontado como o Caminho da conquista, do respeito e do diálogo; o
Caminho que capta distintos aspectos da juventude:

Na cultura, a gente colocou pra formarem grupos de teatros, feiras culturais, cinemas
mais baratos para todos. Tipo assim: no grupo de teatro, a gente monta um grupo e fica
indo pra varias cidades satélites, apresentando essas peças de teatro, justamente nas
cidades em que não tem cultura (Distrito Federal).

É importante ressaltar que o Caminho 3, a princípio, foi concebido como


uma forma mais genuína de organização da juventude, porque nascida dos(as)
próprios(as) jovens. Embora não tenha na origem a intenção de uma ação
transformadora ou de luta por direitos, acaba tendo impactos na sociedade.
Esta possivelmente não foi a compreensão de alguns(mas) jovens ou, talvez,
não foi o entendimento geral despertado pelo conteúdo escrito no Caderno de
Trabalho/Roteiro para o Diálogo. Este Caminho foi interpretado pelos(as) jovens,
do ponto de vista da mudança, como o menos transformador das condições de
vida, conforme ilustra este trecho:

O Caminho 3 nós discordamos porque... é um caminho muito bom, só que é, pra ser
de uma forma através de músicas, de teatro, de dança, expressão corporal. Parece ser
como mostra a parte do contra, o Governo, ele não atenta muito pra isso, né? Por quê?
Porque o que parece é que é uma forma muito subjetiva, parece que, ao mesmo tempo
que eles tão protestando, por ser de uma forma tão alegre, tão espontânea, parece que
eles estão acomodados com isso. Então eu acho que o terceiro Caminho também não
é uma boa forma de você se expressar (Belém).

Outros(as) jovens, no entanto, visualizam que, pelo Caminho 3, podem chegar


aos outros dois Caminhos através da cultura. Um dos participantes, com experiência
em grupos de jovens, diz:

Tu tá no grupo de jovem, tanto dá pra fazer uma atividade política, como solidária,
como fazer cultura. No grupo de jovens que eu faço parte, a gente faz isso, a gente
faz teatro, a Via Sacra, por exemplo, e aí, a gente foi apresentar na praça e aí a gente
faz política (Porto Alegre).

Para outros grupos, o Caminho 3 não muda nada da realidade brasileira, não
tem futuro porque está relacionado apenas ao lazer, aos debates e às conversas
e que, apesar de atender às necessidades das comunidades, não possui força
política. Além disso, esse Caminho apresenta uma fragilidade, que é a dificuldade
de apoio financeiro.
Os argumentos prós e contra às escolhas dos(as) jovens pelo Caminho 3
aparecem no Quadro 11.

58
Quadro 11

Caminho 3: os prós e os contra segundo os jovens*

Caminho 3
Eu e o grupo: nós damos o recado

Prós Contras
• Oportunidade de expressar as idéias • O Governo não dá crédito a essas
democraticamente. ações.
• Permite atuar com mais organização e • Suas ações afastam o(a) jovem da
força. escola.
• Possibilita maior impacto que o trabalho • Não possui força política.
voluntário individual.
• Dificuldade de apoio financeiro.
• A base é a reunião de vários(as) jovens.
• Descrédito nos resultados das ações.
• Compete com a sobrevivência; com a
necessidade de trabalhar e ganhar o
sustento.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

*Prós e Contras apontados pelos jovens a partir daqueles apresentados no Roteiro para o Diálogo

A partir da análise das Fichas Pré e Pós-Diálogo, que apontam o valor atribuí-
do aos Caminhos por cada participante dos GDs, o Caminho 3 foi o segundo melhor
pontuado com 62% de nota 7 na Ficha Pré e 60%, 19% e 11% de notas 7, 6 e 5,
respectivamente, na Ficha Pós-Diálogo. E considerando a manutenção, o aumento
e a diminuição das notas, o Caminho 3 foi o que se manteve, no agregado das oito
regiões, em posição intermediária entre o Caminho 1 e 2 (56,4% mantiveram, 21,2%
aumentaram e 22,4% diminuíram as notas do Caminho 3 nas Fichas Pós). Ele foi,
ainda, o Caminho privilegiado pelas notas individuais dadas pelos(as) jovens nas RMs
de Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Os(as) jovens de mais idade se enxergaram menos participantes de um tipo
de Caminho relacionado com grupos que se unem por identidades culturais. Os(as)
jovens avaliam a situação de menor disponibilidade para a atuação em grupos diante
da situação de maiores responsabilidades que, em geral, se verifica com o aumento
da idade. A idade de 18 anos é um marco objetivo e também subjetivo deste pro-
cesso. Os(as) jovens com experiência prévia de participação foram porta-vozes da
importância do envolvimento dos grupos como lugar privilegiado da ação participativa.
Houve percepção de que o grupo possui dimensão formativa e que é capaz de
potencializar as ações que cada um pode fazer, considerando-o, inclusive como
forma de conquistar respeito, de diálogo entre jovens e professores(as) – no
caso da escola – e de visibilidade juvenil.
A reunião em grupo foi vista também como canal para levar reivindicações
às autoridades. O Caminho 3 seria, então, o lugar da palavra que pode dar visi-
bilidade, mas que não tem poder de decisão. Esta interpretação dada pelos(as)

59
jovens sobre o “frágil poder” da palavra dos grupos deve ser compreendida no
jogo relacional com o “poder maior” que enxergam nas autoridades públicas, es-
pecialmente nos(as) agentes do poder executivo [prefeitos(as), governadores(as)
e presidente da República].
Entre as condições relacionadas à adesão ao Caminho 3 nas Fichas Pós-Di-
álogo, a principal é a de que a participação em grupos esteja comprometida com a
construção de um Brasil melhor (30,7%). Ou seja, não basta se juntar para afirmar
essa ou aquela identidade, é preciso que se esteja comprometido(a) com a mudança
do país. Em segundo lugar aparece a condição de que a identidade coletiva não repre-
sente fechamento e obstáculo à participação de todos(as) os(as) interessados(as) em
participar nos grupos que se constituam (20,7%). Essa condição, que também esteve
entre os pontos contra o Caminho 3 do Caderno de Trabalho/Roteiro para o Diálogo
ressaltados pelos(as) jovens, mostra o medo de que os grupos discriminem os(as)
diferentes e sejam incapazes de se articular a outros grupos. Registrou-se também de
forma significativa o chamado para que “governos” e “políticos(as)” ajudem os grupos
organizados por jovens. Esse conjunto principal de condicionantes torna-se interessante
por combinar comprometimento com mudanças positivas para o Brasil, percepção sobre
a negatividade do(a) jovem se fechar em grupos e também desejo de apoio político e
governamental para os grupos. Este último condicionante deveria ser objeto especial
de novas investigações, pois pode expressar tanto a cobrança de que o Estado se
comprometa com a garantia das condições materiais e políticas para o exercício do
direito à livre organização social coletiva, como também expectativa de alguns(mas)
para que governos e políticos subvencionem e tutelem ações de grupos.

Quadro 12

Condições estabelecidas pelos(as) jovens para apoiar o Caminho 3


Agregado nacional das sete Regiões Metropolitanas e Distrito Federal
Apoio ao Caminho 3 desde que... (575 respondentes) Apoio (valores em %)
... tenha intenção de fazer uma sociedade/um Brasil
30,7
melhor.
... não haja discriminação e os grupos estejam abertos à
20,7
participação de todos.
... haja ajuda do Governo e de políticos. 10,1
... os grupos culturais passem mensagens. 6,3
... o trabalho seja reconhecido pela sociedade. 3,1
... se organize em torno de objetivos comuns. 3,1
... não atrapalhe o estudo e a prática de outras atividades. 3,0
... haja responsabilidade e comprometimento dos(as)
2,3
jovens e/ou dos grupos.
Outros 20,7
Total 100
Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

60
Por um lado, a orientação dos discursos nos grupos se deu no sentido de que
a voz coletiva dos(as) jovens, principalmente através das manifestações culturais,
pode influenciar a esfera pública e promover as mudanças desejadas; por outro lado,
se evidenciou fortemente consciência de que este é o Caminho participativo indireto
e que, por isso, pode ser pouco efetivo para sensibilizar Governos para a realização
das mudanças desejadas. No entanto, ao longo dos Grupos de Diálogo, os(as) jovens
deram múltiplos exemplos de ações muito concretas que partem desse Caminho,
como é possível perceber no quadro a seguir.

Quadro 13

Ações propostas pelos jovens para o Caminho 3

Caminho 3
• Formar grupos religiosos para trabalhar com as necessidades da comunidade
[sopão, ação junto a jovens viciados(as) etc.].
• Reunir grupo na escola para reclamar dos(as) professores(as).
• Fazer protesto para reduzir preço dos cinemas.
• Criar organização estudantil para lutar por segurança.
• Reunir amigos(as) e vizinhos(as) para discutir problemas, conscientizar
e propor mudanças.
• Formar grupos de dança, música e artes cênicas
• Formar grupos de grafites.
• Criar jornais semanais locais.
• Visitar as rádios para reivindicar direitos da comunidade.
• Oferecer aulas de reforço aos(às) alunos(as).
• Fiscalizar Programa Primeiro Emprego.
• Formar grupos para cadastrar jovens para empregos.
• Reunir jovens em cooperativas.
• Promover festas na comunidade.
• Promover campanhas para a reconstrução de quadras, praças e centros comunitários.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

61
7.2.4. Escolhendo e inventando caminhos, com criatividade...
Pode-se dizer que os(as) jovens das Regiões Metropolitanas e do Distrito Federal
envolvidos(as) nos Grupos de Diálogo foram além da provocação da pesquisa e, em
geral, não privilegiaram um único Caminho como saída participativa para todos os
problemas que apontaram como de necessária resolução. Foi comum entre os(as)
jovens a percepção de que todos os Caminhos possuíam elementos capazes de
contribuir para a realização das mudanças propostas pelos(as) próprios(as) jovens
nos Grupos de Diálogo e houve uma predominância, nas alternativas de participação
trabalhadas nos pequenos grupos, da articulação entre os três Caminhos Participati-
vos apresentados pela pesquisa. É possível afirmar que os(as) participantes dos
Diálogos perceberam positividades nos três Caminhos Participativos para a
promoção das mudanças desejadas por eles(as) nas áreas da educação, traba-
lho e cultura/lazer.

O grupo chegou à conclusão que, entre três vias, a gente decidiu utilizar as três. Porque
a gente acha que, de certa forma, uma via complementa a outra. No fim, o objetivo
maior de todas é proporcionar uma mudança, proporcionar uma melhoria, seja pro país,
seja pra sua rua, seja pra sua vila, não importa. Uma via complementa a outra. Esse é
o ponto fundamental. E a gente coloca que assim: podemos buscar soluções, acima de
tudo exercendo a nossa cidadania (Rio de Janeiro).

O argumento mais utilizado em defesa da articulação entre os três Caminhos


foi o da insuficiência das estratégias de cada uma das alternativas isoladamente, em
especial pelo fato de a conjuntura política e econômica brasileira ser tão complexa e
problemática ou, então, porque cada problema [dos listados pelos(as) jovens] exige
uma resposta diferenciada. Isso se evidencia na construção de Caminhos Participati-
vos em mosaico como estratégia que listava os problemas relacionados à educação,
ao trabalho e à cultura/lazer para, a partir daí, se buscar a eleição de cada uma das
alternativas que caberiam “sob medida” ou “casadas” para cada situação problemática
evidenciada. Segundo uma jovem, “o trabalho necessita do Caminho 1. A cultura e lazer,
do Caminho 3. A educação necessita do Caminho 1 e Caminho 2”, afirmando que “tem
coisas que precisamos do Governo e têm outras que precisam do voluntariado” (Belo
Horizonte). Sendo assim, a percepção de que nenhuma forma de participação
isolada daria conta de transformar a realidade levou alguns grupos de jovens a
selecionar os melhores aspectos de cada Caminho.
A partir de algumas expressões e palavras que surgiram ao longo dos Grupos
de Diálogo associadas aos diferentes Caminhos, é possível entrever o que os(as)
jovens assimilaram sobre cada Caminho, bem como valores que se associaram para
influenciar a avaliação individual de cada um deles, assim como a opção ou construção
coletivas que ocorreram durante os Dias de Diálogo.
Tais expressões e palavras-chave foram reunidas no Quadro 14, apresen-
tado a seguir.

62
Quadro 14

Expressões e palavras-chave sugestivas de cada Caminho

Expressões e palavras-chave: o que sugere cada Caminho

Caminho 1 Caminho 2 Caminho 3


Luta Dedicação Formação de grupos
Protesto Força de vontade Festa
União Ajuda ao próximo Organização
Além do voto Autonomia Força
Organização Trabalho voluntário Reunião de jovens
Participação política Dificuldade de apoio Respeito
Partidos financeiro Diálogo
Governo Capacitação profissional Seriedade
Reivindicação Não basta cobrar, precisa Ativismo
fazer
Filiação a partido Coletividade
Não muda nada
Democracia União
Trabalhar sem receber
Corrupção política Cultura e lazer
Independência
Jovens no Governo Menos trabalho social
Fazer pelo Governo
Manipulação pelos Fechar-se em grupos
políticos(as) Fragilidade

Fiscalização Ajudar e aprender

Eleições Voluntariado e emprego

Poder político

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

A junção dos três Caminhos surge, assim, como a mais “lógica”, sendo
idealizada como a síntese perfeita desta “combinação participativa”. O Quadro
15 traz alguns argumentos usados pelos(as) jovens participantes desta pesquisa para
justificar as suas escolhas por esse quarto caminho, criado a partir da associação dos
Caminhos 1, 2 e 3.

Quadro 15

Um 4º Caminho: os prós e os contra segundo os(as) jovens

Um 4º Caminho

Prós Contras
• Os três Caminhos se complementam. • Nenhum, já que a fusão de dois ou três
Caminhos foi uma alternativa buscada
• Possibilidade de participação em todas
para aproveitar o melhor de cada um
as frentes.
deles.
• Respeito às diferentes escolha dos(as)
componentes do grupo.

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

63
Uma letra de rap, criada por um grupo da Região Metropolitana de Belém,
mostrada no Quadro 16, foi apresentada em plenária, para sintetizar a fusão dos três
Caminhos Participativos e as discussões do grupo em defesa dessa opção.

Quadro 16

Letra de rap de jovens de Belém em defesa da associação


dos três Caminhos Participativos

Eu voluntário, gosto de ajudar


Todos unidos para o mundo melhorar
Não dependo do governo pra poder me apresentar
Vem rádio e TV pra então nos divulgar
Jovens voluntários estamos na ativa
Somando com o povo, então se liga
Ajudar é o nosso lema
Incentivar é o que queremos
Manifestar amor do mundo
E traz pra nós o que aprendemos
Fazendo diferença na cultura e na política
Conscientizando a população da importância além dos votos
Somos jovens, unidos assim somos fortes
Fazendo a diferença e saindo a lutar
Somando com os irmãos e a lutar e ganhar
Pra tirar do poder quem quer nos derrubar

(jovens de Belém)

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

64
8 Recado dos(as)
jovens para os(as)
“políticos(as)”

Os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo foram convidados(as) a enviar um


recado aos(às) governantes do nosso país, vistos aqui, principalmente, como os(as)
governantes da esfera executiva – municipal, estadual e federal –, ou seja, presidentes,
governadores(as), prefeitos(as) – e parlamentares de um modo geral. Para tanto, foi
apresentada a eles(as) a pergunta: “Que recado você mandaria para as pessoas que
tomam decisão em nosso país?”
Ao formularem seus recados para os(as) tomadores(as) de decisão do Brasil,
os(as) jovens se posicionaram em relação a vários temas e questões aqui resumidos:

Quadro 17

O que os(as) jovens ressaltaram nos recados aos(às) “políticos(as)” do Brasi*

Caminho 1
• Governantes mais responsáveis/Mais dignidade
• Honestidade/Maior consciência/Fim da corrupção
• Atenção aos(às) jovens/Ouvir suas opiniões/Investir nos(as) jovens
• Investimento em educação
• Renovação das formas de se fazer política e dos(as) políticos(as)
• Atenção ao povo/Ouvir mais o povo/Observar situação do povo
• Emprego/Maiores oportunidades para os(as) jovens

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

* temas ordenados por freqüência nos Grupos de Diálogo

O quadro mostra que, nos recados deixados pelos(as) jovens, a questão de


maior evidência diz respeito à atuação dos(as) governantes, seguida daquelas refe-
rentes à própria situação dos(as) jovens e, depois, à educação, por fim, o emprego.
Os(as) jovens demonstraram um profundo descrédito nos(as) políticos(as), manifes-
tando um tom de indignação e de protesto em relação ao desempenho dos(as) governantes,
que deveriam “sair dos gabinetes e vivenciar os problemas da população”. Houve nítida

65
concentração no Distrito Federal dos recados voltados para a cobrança de responsabili-
dades, posturas éticas, honestidade, dignidade, consciência, respeito ao povo brasileiro e
não-corrupção dos(as) governantes, dentre outros recados semelhantes. Considerando-
se a centralidade dos poderes políticos na capital federal, é compreensível que ela tenha
concentrado as críticas relacionadas com a pouca credibilidade nos(as) políticos(as) e a
necessidade de renovação dos(as) governantes e das formas de fazer política.
Parece existir uma relação entre esses recados e a construção de um imaginário
coletivo da sociedade brasileira, forjada no bojo de uma história das instituições políticas
que passam por reincidentes casos de corrupção, práticas clientelistas e nepotismo:
“Parar de ser ladrão... Falar é fácil, mas não cumpre nada, não cumpre nada, esses
caras é tudo, tudo ladrão!” (Belo Horizonte). Também foram recorrentes as mensagens
sobre a necessidade de ampliação dos níveis de consciência, competência e cuidado
com a população por parte dos(as) tomadores(as) de decisão:
(...) que os políticos tivessem mais consciência do que estão fazendo, prestando atenção
no que o povo necessita de verdade (Recife).

(...) que eles tivessem mais conscientização, tanto do poder que eles exercem sobre o povo,
sobre os jovens, como também do trabalho que eles podem fazer (Belo Horizonte).

Alguns outros recados, transcritos a seguir, ilustram o posicionamento dos(as)


jovens a respeito dos(as) governantes: “Que eles analisem bem a situação do povo
e, a partir daí, ajam da maneira mais correta possível” (Porto Alegre). “Que esses
políticos corruptos, que eu acho que de dez, onze são corruptos, é, mas é, isso é a
verdade. E que depois que eles se reelegerem, eles esquecem que o povo brasileiro
existe, e que nós temos muitas dificuldades para nós sobrevivermos” (Belém). “Sem
justiça, não tem democracia, né?” (Rio de Janeiro).
Outro depoimento, desta vez de um jovem de São Paulo, reconhecendo a impor-
tância do diálogo, “toma emprestadas” as estratégias metodológicas da pesquisa para
recomendar a adoção dos mesmos procedimentos aos(às) tomadores(as) de decisão:

(...) eu achei, assim, que de mais importante foi o fato de, acho que todos, aprendemos
a diferença entre dialogar e disputar, quando na verdade, todos aqui queremos um único
objetivo. E assim, a mensagem que eu deixo, é que as pessoas que tomam as decisões no
país, que elas possam aprender a trabalhar em conjunto, com aquelas pessoas que estão
dispostas a melhorar o país, que assim, a gente vai conseguir com certeza (São Paulo).

É interessante ressaltar que, nesse momento dos recados, os(as) jovens


pareceram se apropriar mais de sua identidade juvenil, reivindicando mais atenção
dos(as) políticos(as) para seus problemas, mais espaços para escutá-los(as), mais
investimentos, por serem responsáveis pelo “futuro do país”.

A mensagem que eu queria deixar pra quem governa esse país é que eles fizessem mais
diálogos como esses, mas que eles tivessem presentes para ver o que a gente tá falando
e não só vocês mostrando, que é um trabalho bom. Eu queria que eles tivessem aqui
para ver e dissessem para nós por quê é que eles não fazem, por que é que tem… Eles
darem a opinião deles e disserem por quê é que não conseguem fazer, e nós ajudando
eles a construir melhor, porque não adianta só nós aqui, estar aqui. É isso (Belém).

66
Alguns(mas) participantes dos grupos de diálogo, no entanto, sentiram–se incomodados(as)
com a preocupação específica com os(as) jovens, insistindo sobre a importância de pro-
vocar melhorias para todo mundo, e não somente para eles(as): “(...) vocês foram muito,
assim, com o pensamento pequeno. Eles não devem só cuidar da gente, e sim do Brasil
todo, dando mais atenção ao jovem, é claro, é lógico, porque se eu sou jovem eu quero
alguma coisa pra mim, mas não só pra mim, mas pra o Brasil em si” (Recife).

O rap abaixo sintetiza demandas e o tom de muitos recados deixados pelos(as)


jovens aos(às) tomadores(as) de decisão, apesar de ter sido composto durante os
grupos de trabalho no início do Dia de Diálogo por um jovem do Rio de Janeiro.

Quadro 18

Letra de rap denunciando problemas do Brasil

O BRASIL QUER SER UNGIDO

Violência, eu tô cansado desse horror


Esse país tá precisando de um doutor.
Gangorra da fome e do medo,
Carrossel de vergonha e desespero.
É neguinho, não é parque de diversão
É a miséria, demagogia, corrupção
Senhor, me mostre o caminho
Da ilha deserta, do paraíso
Que Deus abençoe a todos os fiéis
O Brasil quer ser ungido da cabeça aos pés
Precisa de atenção, precisa de melhoras
Não fique aí parado, estão passando as horas
O povo tá sofrendo, e o governo enriquecendo
Tem muita gente matando e morrendo.
Então preste atenção, não sou bandido não
Eu sou trabalhador, me tira desse camburão
Eu não mostrei o Brasil que queremos
Mas mostrei como nele vivemos.
Não precisei de falar o que eu quero
Você já viu, então me tira desse inferno
Não tem mistério, é só fazer
Nosso dinheiro estão com vocês
Chega de guerra, e de massacre
Já fiz a minha ação, agora faça sua parte.

Mente Sã TG. PQD


“O caminho da felicidade é estreito
tu tem que ser ligeiro, essa é a receita”
(Thiago de Araújo Candido - vulgo TG)

67
9 Espaços
para o diálogo

A grande maioria dos(as) jovens valorizou o Dia de Diálogo, percebendo-o como uma
oportunidade para conversar sobre temas importantes e se disse satisfeita por poder
desfrutar do espaço e da atenção dispensada a eles(as). Os Grupos de Diálogo foram
considerados um “espaço bastante rico de formação”, em que foi possível confrontar
opiniões, debater idéias e ter acesso a novas informações.

Quadro 19

Avalição feita pelos jovens do diálogo*

1. Espaço de aprendizagem
2. Espaço de expressão/ Conhecer opiniões diferentes
3. Ouvir e respeitar o outro/ Dialogar/ Refletir
4. Expor os pensamentos
5. Oportunidade de conhecer novas pessoas
6. Fazer amigos/ Sociabilidade
7. Valorização da coletividade/ União/ Trabalho em grupo
8. Valorização do dia de trabalho
9. Metodologia/ Iniciativa da pesquisa

Fonte: IBASE/POLIS, Grupos de Diálogo Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

* temas ordenados por freqüência nos Grupos de Diálogo

Para os(as) jovens, o mais importante do Dia parece ter sido a oportunidade
de aprendizagem proporcionada pela pesquisa, que também se constituiu em um
espaço de expressão, possibilitando a cada um(a) conhecer opiniões diferentes, ouvir
e respeitar o(a) outro(a), dialogar, refletir e expor os seus pensamentos.
Trata-se de uma aprendizagem/formação que pode se traduzir numa nova forma
de observar certas questões (analisar os prós e contras) ou de representar mudanças
em opiniões cristalizadas (“os jovens não são alienados”).

68
Uma das coisas que eu aprendi aqui – isso fica de lição pra muita gente – é
que os jovens de hoje não são vazios. Tem muita coisa nessas cabeças jovens, tem
muita coisa, mas o que falta é a gente realmente lutar por esses objetivos. A gente
tem muitos planos. Foi isso que eu aprendi: o jovem tem muitos sonhos, muito plano,
falta ele aprender, ele executar esses planos (Recife).
A aprendizagem tão referida pelos(as) jovens também pode significar um apro-
fundamento sobre atitudes (sinceridade) ou sobre determinados temas (cidadania,
trabalho). Recorrentemente, eles(as) disseram ter aprendido muito sobre temas que
não sabiam tanto, como política e educação. Foi ainda muito enfatizada a tomada
de consciência de que também eles(as), os(as) jovens, têm algo a ensinar e que o
Diálogo foi uma troca:

Na verdade, eu fui pega de surpresa, né? Na verdade, eu nem sabia que eu tinha tanto
conhecimento sobre esse assunto, e hoje aqui eu falei bastante, e eu aprendi mais ainda
com vocês também. Eu aprendi, porque eu não sabia que eu tinha tudo isso, eu aprendi
comigo mesma. O que hoje eu fiz aqui, eu aprendi muito, que eu sabia fazer só que foi pre-
ciso um começo, foi preciso alguém me buscar, assim, alguém me incentivar (Belém).

Uma outra questão que apareceu com força é a de que o Diálogo se constituiu
em uma oportunidade de eles(as) expressarem suas próprias opiniões, respeitando a
opinião dos(as) outros(as), ou seja, de participarem de um espaço em que puderam
dialogar e conversar uns(mas) com os(as) outros(as), conhecerem/respeitarem opini-
ões divergentes, pensarem sobre questões que não costumam ser objeto de reflexão
no seu cotidiano, exporem suas idéias e, ainda, ouvir e respeitar o(a) outro(a), o que
foi muito destacado pelos(as) jovens em todas as regiões.
Houve ainda a reflexão de que essa convivência, às vezes, exige concessões,
tolerância e, dessa forma, o exercício do respeito à diversidade, à diferença também
é revelado como importante produto do pertencimento aos grupos, condição para que
os objetivos destes possam ser alcançados.
Os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo também assinalaram a im-
portância de terem experimentado outras dimensões do convívio social, conhecendo
novas pessoas e descobrindo identidades:

O que aconteceu de mais importante, pra mim, foi a questão de aprender a dialogar com
pessoas de diferentes classes, gênios. As pessoas, elas são opiniosas, e nós temos que
suportar umas as outras. Uma hora eu falei que tava havendo discussão, e não diálogo.
O que aconteceu de mais importante aqui pra mim foi ter conhecido vários jovens, saber
da opinião de cada um, que pra mim foi muito importante. Daqui eu vou falar pros meus
colegas, eu vou falar pra eles, olha, muito bom, adorei os jovens de lá, falamos sobre
política, sobre educação... Obrigado! (Belém).

De fato, sair do seu círculo mais restrito, do bairro, do município, dos espaços onde
aproveitam seu tempo livre, do trajeto cotidiano para a escola e/ou trabalho, atravessar a
Região Metropolitana e, com isso, conhecer pessoas vindas de outros lugares foi consi-
derado muito importante para um bom número de participantes. Fazer amizades é uma
possibilidade de ampliação das redes de relações fortemente apontadas como dimensão

69
fundamental das identidades juvenis. A possibilidade de fazer amigos(as) em tão pouco
tempo tem relação com a própria proposta metodológica da pesquisa, que colocou os(as)
diferentes em posições de igualdade de fala e capacidade de contribuir e influir, possibili-
tando momentos constantes de interação dos(as) jovens com seus pares.
Os depoimentos deixaram transparecer as queixas dos(as) jovens de que suas
opiniões não são consideradas e que, por isso, se surpreenderam ao perceber que havia
pessoas, instituições e organismos do Governo dispostos a ouvi-los(as) e a registrar
suas opiniões. Tal surpresa, por parte dos(as) jovens pesquisados(as), pode nos levar
a perguntar em que medida eles(as) estariam sendo ouvidos(as) nos espaços sociais
em que se desenvolve sua vida cotidiana, familiar, escolar, no ambiente de trabalho,
nos grupos e entidades dos quais participam.
Reconhecer que o(a) jovem tem algo de significativo a dizer e valorizar o seu direito
de ser escutado(a) remete para o reconhecimento de sua identidade, assinalando a im-
portância dessa metodologia, que confere visibilidade aos sujeitos dos diálogos: “de mais
importante é que hoje eu debati e foi gravado, e agora eles vão ouvir. Porque eu sempre
debato, debato, e nunca foi gravado. Agora eles vão ouvir a mim” (Rio de Janeiro).
Esse tipo de espaço, como salientaram outros(as) jovens, é fundamental para
a compreensão do seu papel como cidadãos(ãs):

Saí de casa com um pensamento que seria outra coisa. Aprendi o que é o diálogo. É
muito bom discutir as questões do Brasil. É importante você expor o que pensa, em que
pode mudar... que não seja arquivado. Se acontecer pelo menos 30%, 40% ou 50%, tá
bom (Distrito Federal).

A valorização do diálogo como espaço de interlocução entre os(as) jovens em


geral e setores do Governo que irão ouvir o que foi dito por eles(as) também apareceu
na Pesquisa de Opinião. Entre os(as) jovens escutados(as) na primeira fase da pes-
quisa, 85% concordou totalmente com a frase “É preciso abrir canais de diálogo entre
os(as) cidadãos(ãs) e o Governo”. Essa alta concordância pode expressar não só o
desconhecimento em relação aos canais já existentes (conselhos, fóruns, audiências
públicas etc.), mas também, como mostraram vários depoimentos aqui citados, uma
demanda por reconhecimento qualificado da fala do(a) jovem.
Assim, o Dia de Diálogo é também ressaltado como um espaço de valorização
da importância do papel que os(as) jovens têm a ocupar. Em síntese, a confirmação
da importância da participação para uns(umas) e o despertar de uma consciência
participativa para outros(as). Vários depoimentos afirmam ter a certeza de que a sua
participação pode não mudar o Brasil, mas melhorá-lo em alguns aspectos específicos.
Daí os(as) jovens elogiarem a iniciativa de uma pesquisa que buscou escutá-los(as)
e propiciou um diálogo que os(as) levou à descoberta de que “os jovens também têm
importância”, reforçando, de alguma forma, a consciência sobre “o ser jovem”.
Os momentos iniciais e finais do Dia de Diálogo, destinados a identificar suas
maiores preocupações em relação ao país, os recados para os(as) tomadores(as) de de-
cisão e a avaliação do encontro foram bastante reveladores, principalmente de aspectos
importantes sobre a forma como os(as) participantes encararam o desafio do convite e
dos sentimentos que este dia mobilizou nos(as) jovens. Nesse sentido, cabe salientar:

70
a. o tom de seriedade das denúncias, revelando visão crítica e “antenada” com os
problemas e questões trazidas para o diálogo. A grande maioria dos(as) jovens
apropriou-se do microfone e, com muita seriedade, se expressou, especialmente
para denunciar a precariedade das suas condições de vida;

b. as falas relacionadas à cobranças de “atenção” ao povo, aos(às) jovens, à sociedade


em geral, denotando o sentimento de percepção de descaso, de desvalorização
ou de insignificância da população e dos(as) jovens de classes pobres que cons-
tituíram maioria nos Grupos de Diálogo;

c. o forte descontentamento com os rumos do país e a forma de condução do pro-


cesso político, cuja marca tem sido a prática sistemática do clientelismo político
e da corrupção. Os(as) jovens chamam a atenção para o modelo de democracia
vivenciado no país, que não contempla os interesses da maioria. Isso explica as
repetidas asserções da necessidade de responsabilidade, dignidade e honestidade
dos(as) governantes e políticos(as), asseverando que é preciso “ouvir mais”, “dar
mais voz” à população;

d. o relevo dado às exigências de investimento na educação – tema que aparece


em quarto lugar nas mensagens aos(às) governantes – sempre complementado
pela visão de ser esse direito fundamental para exercício de participação, para a
conquista do lugar (da posição) de realmente influir nos rumos da sociedade;

e. na “mensagem para os(as) governantes”, os(as) jovens não se limitaram a fazer


cobranças ou denunciar problemas ou condições de insatisfação. Ao contrário,
diversas manifestações apontaram para a responsabilidade coletiva, constituíram
chamados aos(às) jovens e à sociedade em geral, para o exercício de um papel
e um espaço que deve ser ocupado, preenchido pela sociedade civil;

f. a novidade que significou, para os(as) jovens, a possibilidade de parar um dia para
refletir. No geral, muitos(as) deles(as) não haviam parado para pensar sobre a
própria realidade em que vivem; muitas vezes reproduziam lugares comuns [como
a reiteração de preconceitos contra os(as) próprios(as) jovens]. Ao mesmo tempo,
percebeu-se a boa vontade de grande parte deles(as) em participar dos debates,
mesmo que só nos pequenos grupos. Essa realidade demonstra a falta ou invisi-
bilidade de instâncias e canais de participação nos quais esses(as) jovens possam
exercitar a dimensão do coletivo, seja em debates seja em ações. Neste sentido,
é necessário pôr em questão a ausência ou insuficiência de espaços públicos de
participação e diálogo nas cidades.

Finalmente, é importante citar as palavras de uma jovem que, durante as sau-


dações finais, explicitou seu sentimento, após o Dia de Diálogo:

São muitas emoções. Gente, eu sei que este dia vai ficar marcado na memória de
vocês, principalmente eu. Cada um de vocês vai ficar marcado na minha memória,
mesmo que um dia eu encontre com alguém e não lembre dessa pessoa, mas eu vou
lembrar sempre do que essa pessoa me disse e do que eu aprendi realmente com
essa pessoa (Recife).

71
10 Considerações
Finais

A pesquisa “Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas


públicas” investigou as formas através das quais a juventude metropolitana participa
da vida pública, buscando descobrir possibilidades e motivações para esta partici-
pação. A metodologia dos Grupos de Diálogo mostrou-se bastante apropriada para
investigar o tema da participação junto a sujeitos que, na sua imensa maioria, não
possuíam experiência participativa. Isso porque o Dia de Diálogo oferecia um espaço
propício à participação e escuta daqueles(as) que não tinham o hábito de se expressar
publicamente. Dessa forma, ao mesmo tempo em que os(as) jovens falaram sobre
participação para efeitos de pesquisa, eles(as) puderam vivenciá-la.
A pesquisa se soma a uma série de outros estudos, que pretendem ir além
do discurso corrente de que os(as) jovens não participam, são desinteressados(as)
e alienados(as). O que se constatou foi que grande parte dos(as) jovens deseja par-
ticipar, entretanto, não encontra espaços que possibilitem tal inclusão. As formas de
participação presentes no Estado e na sociedade civil são percebidas como muito
distantes da realidade cotidiana dos(as) jovens investigados(as), que revelam ainda,
de modo contundente, a existência de espaços interditados à participação. Pode-se
observar que os lugares socialmente reconhecidos para a participação na vida pública
acabam sendo um “não-lugar” para esses(as) jovens. Na verdade, de um modo geral,
os(as) jovens tendem a não acreditar que “alguém possa se interessar seriamente
pelos seus problemas”.
Dessa forma, o Diálogo Brasileiro pode ser analisado como uma rica experiência
em que vários aspectos contribuíram para dimensionar as potencialidades da partici-
pação juvenil. Foram observadas acaloradas discussões sobre trabalho, educação,
cultura e lazer, e uma profunda valorização do exercício de se refletir sobre questões
que não se colocam no cotidiano desses(as) jovens, fazendo com que muitos(as), além
de exercitarem escolhas propostas pela pesquisa através dos Caminhos Participativos,
também construíssem possibilidades inovadoras.
Um dia intensivo de conversa e de aprendizado – quando emitiram opiniões e
colocaram-nas em diálogo com as opiniões dos(as) outros(as) – criou condições para

72
a produção de um deslocamento do eixo da reflexão dos(as) jovens, do âmbito privado
ao público, possibilitando a expressão de uma análise crítica e a valorização da ação
coletiva. Os encontros foram oportunidades, muitas vezes únicas, dos(as) participantes
obterem informações sobre os temas propostos, de provocar seu posicionamento e
colocar em questão concepções baseadas no senso comum. O exercício do Diálogo
pôde ampliar a própria compreensão do que seja política entre os(as) jovens e, a
partir disso, abrir espaço para que eles(as) pudessem reconhecer suas próprias tra-
jetórias de participação. Dessa forma, foi possível dar visibilidade às diversas formas
de participação política existentes e mapear o conhecimento e a experiência prévia
dos(as) jovens nesse âmbito.
Pode-se dizer que um primeiro resultado de pesquisa foi a constatação da neces-
sidade de abrir espaços para colocar os(as) jovens em situação de diálogo, ou seja, dar
a possibilidade de acesso a espaços de discussão, escuta, expressão das diferentes opi-
niões e troca de experiências. Para grande parte dos(as) jovens participantes, o diálogo
foi apontado como uma situação democrática de escuta e respeito à fala do(a) outro(a).
Dessa forma, ‘dinâmicas’ interativas com jovens podem se tornar condição indispensável
para a implementação de políticas públicas com alguma garantia de sucesso.
O estudo se desenvolveu em momento nacional no qual se intensifica a mo-
vimentação de diferentes atores sociais para a constituição de políticas públicas de
juventude, tanto por parte do Estado como da sociedade civil. A consulta aos(às)
jovens por meio dos Diálogos pode ser um importante instrumento para ques-
tionar práticas e valores estabelecidos nas relações entre Estado e sociedade,
que tanto limitam a democracia no Brasil, como também para fomentar novas
práticas pautadas em uma participação cidadã, em que os(as) jovens possam
atuar, com autonomia e independência, pelas mudanças que desejam.
A pesquisa sinalizou diversos desafios para o avanço do debate e das práticas
no âmbito da participação da juventude. As reflexões que daí decorreram permitem
tecer as seguintes considerações:

Educação
• Os(as) jovens das diferentes regiões investigadas dão um alto valor à educação.
Como todos(as) passaram pela escola, de um modo geral, eles(as) têm muito a
dizer sobre ela. Isso pode justificar um maior debate sobre as questões educacio-
nais nos Grupos de Diálogo.

• O tema da Educação ficou quase que totalmente restrito à escola. Os(as) jovens
de todos os Grupos de Diálogo denunciam as condições da escola pública, evi-
denciando a péssima infra-estrutura, os baixos salários de seus(as) profissionais,
aulas pouco atraentes, a violência no entorno da escola e a constante falta de
professores(as). Esses aspectos, no entanto, não reduzem a importância da ‘pre-
sença do equipamento público – escola’ dentro do espaço e do tempo de ‘formação’
dos(as) jovens. No entanto, os(as) jovens que participaram de nossa pesquisa, em
sua grande maioria, mostraram não ter tido, no espaço escolar, acesso a momentos

73
de diálogo, encontros ou debates, nos quais pudessem expressar suas opiniões,
ouvir as dos outros e trocar idéias sobre assuntos que lhe dizem respeito.

• O que os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo esperam na área da


educação:

• Expansão do Ensino Médio;


• mais professores(as) nas escolas;
• professores(as) mais qualificados e melhor remunerados;
• melhores currículos, metodologias, material didático e mais atividades extras
(passeios, visitas, palestras, laboratórios);
• mais verbas/investimentos para a educação;
• melhores condições de funcionamento das escolas/Preservação das escolas;
• mais oferta de cursos profissionalizantes de qualidade.

• Deve-se enfatizar aqui o papel da escola (a despeito dos problemas de qualidade) na


construção das condições objetivas para esses(as) jovens – ampliação de repertório,
ampliação das experiências de sociabilidade, de informações e conhecimentos –,
ou seja: o caminho do aperfeiçoamento da democracia passa, inexoravelmente,
pela escola, que precisa estar preparada para cumprir esse papel.

• Além das dificuldades de acesso e permanência na escola, os(as) jovens enfrentam


a realidade de instituições públicas que se orientam, sobretudo, para a oferta de
conteúdos curriculares formais e se apresentam pouco abertas para a criação de
espaços e situações que favoreçam experiências de sociabilidade, solidariedade,
debates públicos e atividades culturais e formativas de natureza extra-escolar.
Ainda que os(as) jovens atribuam grande importância à educação e reconheçam
a escola como espaço privilegiado de formação, o conjunto dos dados sobre a
realidade escolar demonstra a necessidade de a escola abrir mais espaços que
estimulem hábitos e valores básicos, que poderiam contribuir para a participação
juvenil em bases democráticas. Para os(as) jovens pobres, essa abertura é ainda
mais necessária, uma vez que a instituição escolar é espaço privilegiado, em alguns
casos o único, para o acesso aos bens simbólicos que podem ser produzidos pela
experiência participativa.

• Há também o reconhecimento da necessidade de formação para poder “tocar” seus


projetos de vida e construir condições ou competências para influenciar as decisões.
Os(as) jovens concebem a educação como um direito, um campo valioso e um
requisito essencial para o acesso a melhores condições de vida, trabalho, lazer e
ação política. Mesmo as expressões aparentemente vagas quanto à importância
de estudar (“pra ser alguém na vida”, “ter um diploma”, “ganhar algum dinheiro”)
revelam a clareza de que a formação educativa ainda pode prepará-los(as) para a
sua emancipação social, ainda que formulem essa crença de forma embrionária e
muitas vezes contraditória. A informação, o saber mais, está claramente colocado
nas falas dos(as) jovens como condição para uma participação mais efetiva.

74
• Alguns dados da Pesquisa de Opinião:

• 52,9% dos(as) jovens entrevistados(as) não estavam estudando;


• 86,2% dos(as) jovens entrevistados(as) estavam estudando ou haviam
estudado em escola pública;
• 27,6% dos(as) jovens entrevistados(as) informaram que suas escolas
promoveram algum tipo de ação comunitária.

Trabalho
• A ênfase dos(as) jovens está na necessidade de ampliação da oferta de trabalho,
formação profissional e estágios remunerados.

• Nos Grupos de Diálogo, os depoimentos apontam para uma adequação entre a


qualificação profissional, o primeiro emprego e a garantia da possibilidade de con-
tinuar os estudos, através de horários mais flexíveis e organogramas educacionais
mais abertos.

• Outra demanda em relação ao trabalho que merece destaque é a superação dos


preconceitos que interditam a entrada de muitos(as) jovens no mercado de trabalho,
sobretudo aqueles ligados à questão racial: “Se for uma loirinha e uma mulatinha,
com certeza, isso já aconteceu lá no meu bairro, eles dão preferência pra loira”.

• O que mais preocupa os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo em relação
ao trabalho:

• Restrito mercado de trabalho para os(as) jovens;


• conseguir o primeiro emprego;
• enfrentar preconceitos por serem jovens e inexperientes, em sua entrada no
mercado de trabalho.

• A falta de oportunidades para o trabalho apareceu com ênfase durante a pesquisa.


A exigência de experiência e as diferenças salariais, tanto geracional quanto de
sexo, que existem no Brasil, surgiram também como preocupações. Questões
essas que estão situadas no contexto das alterações no mercado de trabalho e
acentuaram a exclusão de parcela dos(as) jovens, a partir do desassalariamento
e trabalho informal, além do desemprego nas últimas décadas.

• Os baixos níveis de renda e capacidade de consumo redundam na necessidade


do trabalho como condição de sobrevivência para a maioria dos(as) jovens. Isso
demarca um modo particular de vivência do tempo de juventude, que não se
identifica com aquilo que o senso comum institui como modelo de jovem universal:

75
aquele que se libera da necessidade do trabalho para poder se dedicar aos estudos,
à participação mais organizada e aos lazeres. A trajetória de busca e inserção no
mundo do trabalho dos(as) jovens, especialmente os(as) das famílias mais pobres,
é incerta, ou seja, os(as) jovens ocupam as ofertas de trabalho que aparecem, que,
em sua maioria, permitem pouca ou nenhuma possibilidade de iniciar ou progredir
na carreira profissional.

• Alguns dados da Pesquisa de Opinião:

• 60,7% dos(as) jovens entrevistados(as) não estavam trabalhando;


• Dos 39,3% que declararam estar trabalhando, apenas 30,5% tinham carteira
assinada;
• Dos 60,7% que estavam sem trabalho, 62,9% estavam procurando trabalho.

Cultura, Lazer e Informação


• Os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo denunciam os custos altos das
atividades artítico-culturais, a violência e a falta de segurança dos espaços de lazer,
a centralização das oportunidades nas áreas nobres dos grandes centros urbanos
e anunciam a importância de resgatar as culturas regionais e das comunidades, e
de ampliar a presença do Estado com mais oferta de lazer e cultura.

• O que preocupa os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo em relação à


cultura e ao lazer:

• Falta de acesso a espaços de cultura e lazer;


• concentração da oferta nas zonas de maior poder aquisitivo das cidades;
• pouca valorização da cultura brasileira/regional;
• falta de apoio/patrocínio visando baratear os custos;
• falta de segurança.

• Os(as) jovens se informam basicamente pela televisão. A situação de quase mono-


pólio da informação não contribui para a consolidação de um sistema democrático
aberto, plural e diversificado quanto a valores básicos (éticos, ideológicos e políticos)
que informem, organizem e sustentem tal sistema.

• É pouco expressiva a participação dos(as) jovens na produção de meios de comu-


nicação. No entanto, quando participam, os jornais escolares são o principal canal
de produção de mídia pelos(as) jovens.

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• A internet aparece em terceiro lugar como principal meio de informação para os(as)
jovens das classes A/B e somente em oitavo lugar para os(as) das classes D/E.
Este dado é expressivo da exclusão digital que atinge a maioria dos(as) jovens no
Brasil e consolida condições diferenciadas de acesso à informação e oportunidades
de formação e emprego entre classes.

• As desigualdades regionais e intra-regionais que se verificam nas estruturas bási-


cas da vida material também se expressam na diferenciação do acesso à escola,
aos aparelhos de cultura e lazer e aos meios de informação, especialmente no
difícil acesso dos(as) jovens mais empobrecidos(as) a computadores e à internet.
Melhores condições de acesso à informação e aos bens culturais, somados à
maior escolaridade, colocam os(as) jovens das classes altas em posições mais
favoráveis à participação social, cultural e política.

• Alguns dados da Pesquisa de Opinião:

• 69,2% dos(as) jovens entrevistados(as) disseram freqüentar shoppings no


tempo livre;
• 15,1% deles(as) freqüentam teatro no tempo livre;
• 85.8% dos(as) jovens entrevistados(as) afirmaram se informam através da
televisão;
• 78% dos(as) jovens pesquisados(as) nunca participaram da produção de
informação em meios de comunicação como jornais de escola, fanzines, TVs
ou rádios comunitárias, produção de vídeo etc.;
• 40,1% dos(as) jovens não haviam lido nenhum livro no ano da entrevista
(2004);
• 51,2% dos(as) jovens afirmaram não ter acesso a computador.

Política e políticos
• Percebe-se nos(as) jovens pesquisados(as) um profundo descrédito nos(as)
políticos(as), mas não na Política, apontando o que é de responsabilidade do Estado
e o que os(as) jovens precisam fazer. Ou seja, eles(as) reconhecem sua parte na
construção do Brasil que desejam. A vivência nos Grupos de Diálogo e a análise
das falas evidenciaram que o movimento argumentativo dos(as) jovens sobre a
política e os políticos é pendular: denunciam, culpam, apontam, responsabilizam,
mas reconhecem sua parcela de responsabilidade na solução dos problemas.
Essa atitude rompe com representações dos(as) jovens como desinteressados(as).
Talvez seja possível dizer que eles(as) continuam acreditando na instituição Go-
verno, mas desconfiam dos gestores.

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• O que os(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo ressaltaram nos recados
aos(às) “políticos(as)” do Brasil“:

• Governantes mais responsáveis/mais dignidade;


• honestidade/maior consciência/fim da corrupção;
• atenção aos(às) jovens/ouvir suas opiniões/investir nos(as) jovens;
• investimento em educação;
• renovação das formas de se fazer política e dos (as) políticos(as);
• atenção ao povo/ouvir mais o povo/observar situação do povo

• Os Grupos de Diálogo evidenciaram que os(as) jovens identificam nas ações go-
vernamentais a maior efetividade para a resolução dos problemas que apontaram
como mais urgentes para suas vidas. Eles(as) reconhecem que as ações individuais,
as ações coletivas e a organização social são forças necessárias, desejáveis, mas
não suficientes para equacionar os enormes problemas nacionais que cobram força
de inovação, atitude e ousadia também dos(as) governantes. Situações estruturais
(salários, segurança etc.) são apontadas como responsabilidade do Governo.

• As respostas relacionadas com a percepção sobre os(as) políticos(as) talvez não


expressem necessariamente desinteresse dos(as) jovens pela política ou pela
vida pública, mas sim desconfiança e descrédito nascidos daquilo que foi cultivado
por sucessivas gerações de “homens públicos” e partidos políticos orientados por
interesses privados. O desafio é o de se restabelecer a base de confiança entre
os(as) jovens e o exercício da política.

Participação
• Os(as) jovens denunciam ausências relacionadas à sobrevivência material, mas
também pedem mais atenção, numa evidente cobrança pela escuta e pelo seu
direito de expressão. Novamente aparece a denúncia de uma sociedade marcada
pelo autoritarismo, cuja constituição deu-se de cima. A democracia tem pouca
história no Brasil e, portanto, não é possível falar em participação sem a dimensão
da escuta e do compartilhamento de decisões.

• A corrupção, a desorganização e a fragmentação dos eventos e projetos que “não


dão em nada” são argumentos contra a participação em qualquer nível. O descré-
dito é quanto às formas como as práticas têm se dado nas relações estabelecidas
entre o Estado e os(as) cidadãos(ãs).

• As experiências concretas de participação dos(as) jovens pesquisados(as) são


poucas, em compensação, muitas são as evidências do entusiasmo despertado
pela possibilidade de participar.

78
• Foram inúmeras as demonstrações da necessidade de prolongar o momento dos
Grupos de Diálogo, como se quisessem aproveitar as oportunidades despertadas e
tomar uma atitude antes que seus efeitos “esfriassem”. Todo esse interesse permite
perceber o quanto o oferecimento de possibilidades de participação em atividades
culturais, recreativas e político-formativas despertam o interesse dos(as) jovens,
desfazendo a falácia da apatia.

• A participação político-partidária é pouco atrativa, em especial, para os(as) jovens


mais pobres e menos escolarizados(as). É baixo o envolvimento de jovens em reu-
niões de melhorias ou movimentos voltados ao bairro ou à cidade: somente 18,5%
deles(as) afirmaram ter algum tipo de participação nessas áreas. A escolaridade é
determinante da cultura participativa, ou seja, quanto mais elevada for, mais o(a)
jovem buscará se informar e se perceberá politicamente ativo(a).

• Dos(as) jovens entrevistados(as), 28,1% informaram fazer parte de algum tipo de


grupo – esfera pública básica e voluntária, cuja existência evidencia certo potencial
de participação associativa. Os grupos de orientação religiosa, esportiva e artística
constituem o substrato do associativismo juvenil nas Regiões Metropolitanas do
Brasil de hoje.

• A modalidade de participação mais acessível aos(às) jovens e mais sintonizada


com suas buscas subjetivas é a da ação grupal comunitária/voluntária. Essa ação
pode ser espontânea, mas também apoiada por instituições religiosas, associa-
ções de bairro, ONGs. Sua organização supõe, geralmente, relações de apoio e
colaboração entre jovens e adultos(as). A associação religiosa, que segundo os
dados quantitativos, vêm crescendo entre os(as) jovens, é um exemplo de orga-
nização em que o trabalho em grupo, as relações intergeracionais e o trabalho
cívico/comunitário/voluntário estão reunidos.

• Alguns dados da Pesquisa de Opinião:

• 66,5% dos(as) jovens entrevistados(as) afirmaram ter participado de algum


curso extra-escolar;
• 28,1% dos(as) jovens participavam de algum tipo de grupo, sendo que 42,5%
desses(as) participavam de grupos religiosos. Enquanto 4,3%, de partidos
políticos;
• 8,5% dos jovens(as) se consideraram politicamente participantes.

79
Percepção da sociedade, da democracia e dos direitos
• De posse do direito à palavra, e colocados(as) em situação de diálogo, os(as) jovens
revelaram, a partir de suas vivências, um profundo conhecimento das marcas da
desigualdade social que estruturam a sociedade brasileira. Ainda que seja desi-
gual o acesso à educação, ao trabalho, à cultura e lazer, esta formulação esteve
presente não somente nos depoimentos dos(as) jovens mais pobres, mas foi a
tônica em todos os grupos, mostrando sua crítica a um contexto sócio-econômico-
cultural que nega aos(às) jovens hoje perspectivas de um futuro promissor.

• Este quadro, se por um lado pode inibir uma participação mais efetiva na esfera
pública, como mostrou a Pesquisa de Opinião, por outro não anula o desejo de
atuar propositivamente para resolver as questões que os(as) atingem, uma vez
que, convidados(as) a pensar “Que Brasil queriam e como chegar lá”, os(as) jovens
aceitaram jogar o jogo proposto pelos(as) pesquisadores(as) diante das três opções
de Caminhos Participativos apresentadas. Usando sua criatividade, reelaboraram os
caminhos, a partir de suas diferentes maneiras de estar no mundo, dando-lhes novos
sentidos e costurando novos arranjos às maneiras de participação propostas.

• Algumas vezes, suas propostas para chegar ao “Brasil que queremos” passavam
por práticas tradicionais da cultura política nacional, como acionar diretamente o
Executivo ou buscar a intermediação de um(a) parlamentar com base política local
para o atendimento de alguma reivindicação. Ainda assim, fizeram muitas críticas
ao modelo da democracia representativa, indicando que não basta somente votar.
Assim, algumas vezes, as alternativas apresentadas pelos(as) jovens se referiam
aos princípios da democracia participativa, muito embora desconhecessem os
mecanismos de controle social através dos quais poderiam exercê-la, como os
movimentos sociais e conselhos de direitos.

• Quando chamados a discutir sobre o Brasil, os(as) jovens pesquisados(as) res-


ponderam de imediato sobre as maiores preocupações:

• Violência: falta de segurança/criminalidade;


• Trabalho: emprego/desemprego/falta de oportunidades/primeiro emprego;
• Educação;
• Miséria: pobreza/fome/desigualdade social/má distribuição de renda;
• Política: corrupção/descaso do Governo com jovens/falta de consciência
dos(as) governantes;
• Saúde;
• Discriminação: racismo/preconceitos.

80
• Ficou explícito quer não existe um modo único
de vivência do tempo de juventude, a noção de

Fernando Miceli
“juventudes” se expressa, simultaneamente, em
diversidades e desigualdades. As diversidades que
caracterizam as muitas possibilidades culturais de
viver a juventude e as desigualdades que fazem com
que direitos e oportunidades não sejam assegurados
para todos(as) os(as) jovens no Brasil.

• A consciência de direitos para esses(as) jovens é


mais imediatamente percebida no plano da “questão
social” do que na esfera dos direitos relacionados
com a vida cívica e as liberdades fundamentais.
Encontra-se aqui pista importante para pautas
educativas e de mobilização que se dirijam à am-
pliação da consciência dos direitos dos(as) jovens
brasileiros(as).

• É possível dizer que há um desejo de participação sempre latente, independente do


“como participar”. Conforme a conjuntura, esse desejo de participação se direciona
para questões mais pontuais e de busca de sentido da ação juvenil.

• Em linhas gerais, os dados da pesquisa evidenciam que os(as) jovens experimen-


tam situações caracterizadas pela insegurança frente ao futuro – notadamente
relacionada com a baixa expectativa de inserção produtiva e qualificada – e medo
em relação ao presente, especialmente referido às situações de violência a que
podem ser submetidas as pessoas de todas as classes nas regiões investigadas.
Os(as) jovens demonstraram não encontrar espaços públicos nos quais possam
negociar a resolução de suas angústias individuais e que, em última instância,
são problemas coletivos que demandam soluções na forma de políticas públicas.
Apontam a ausência de esferas públicas que, a exemplo dos Grupos de Diálogo
realizados, pudessem servir de canais de expressão para suas opiniões e anseios
de melhoria das condições de vida.

• Foi explícita a demanda por políticas capazes de universalizar os direitos no campo


da educação, trabalho, cultura e lazer.

81
O Diálogo
• Mesmo se, para alguns(mas), não tenha sido a única experiência deste tipo, para
a grande maioria, os Grupos de Diálogo representaram uma oportunidade de
expressão não encontrada por eles(as) em outros espaços.

• Considerações dos(as) jovens participantes sobre o Dia de Diálogo:

• Espaço de aprendizagem;
• espaço de expressão/conhecer opiniões diferentes;
• ouvir e respeitar o outro/dialogar/refletir;
• expor os pensamentos;
• oportunidade de conhecer novas pessoas;
• fazer amigos(as)/sociabilidade.

Por fim, parece legítimo reconhecer que é necessário criar estratégias de par-
ticipação que façam sentido para esses(as) jovens preocupados(as) com os assuntos
da proximidade e do cotidiano. É a partir deste ponto que será possível negociar outros
princípios éticos, que transcendam o “aqui e agora” da política e o “vale tudo” que
parece imperar em determinados mercados econômicos e simbólicos que disputam,
permanentemente, os sentidos existenciais dos(as) jovens do mundo globalizado.
Como afirma Pontual (2000), “ampliar e aprofundar a democracia significa
criar mecanismos para que ela corresponda aos interesses da ampla maioria da
população e criar novas mediações institucionais que possibilitem que as decisões
sobre o futuro sejam sempre decisões compartilhadas, baseadas no princípio da co-
gestão da coisa pública”. No âmbito da participação juvenil, esta afirmação pressupõe
duas necessidades: de um lado, a criação de um novo pacto político com o Estado
progressivamente publicizando as decisões, abrindo mecanismos de expressão e de
participação da juventude e, de outro, uma juventude se organizando para assumir
tais espaços, fortalecendo as formas de expressão existentes e criando novas formas
de representatividade. Nesse processo há que se reivindicar um forte papel para a
educação, haja vista a importância que mecanismos educativos formais e não formais
têm na construção desse poder da juventude, dessa autonomia.
Há um campo receptivo à convocação de vontades, verdadeiro sentido da
palavra “mobilizar”. Os(as) jovens foram convocados(as) a esse exercício de diálogo,
de compartilhamento de decisões, e responderam positivamente, dizendo dos cami-
nhos que estão dispostos(as) a seguir e das condições para isto. Essa disposição
está bastante evidente na forma como o discurso “muda de tom” ao longo do Dia de
Diálogo. Os(as) jovens que começam o diálogo falando da falta ou responsabilizando
o Governo, cobrando investimento, terminam esse dia ainda cobrando a ação e investi-
mentos governamentais e até mais: cobrando honestidade, transparência, competência

82
no exercício do poder político. Mas também se vêem, descobrem potencialidades,
assumem a postura de reivindicar ou acionar formas de “partilhar as decisões”. É
preciso mais do que nunca que os espaços possam ser abertos, que as descobertas
ou vontades possam ser potencializadas e os caminhos concretizados. Esse esforço
é necessariamente coletivo.
Os(as) jovens ouvidos(as) na pesquisa expressaram a necessidade de o
Estado e a sociedade civil os(as) valorizarem por meio de uma escuta qualificada e
respeitosa. Deseja-se que a presente investigação possa contribuir com todos(as)
aqueles(as) que têm o compromisso com a defesa e ampliação dos direitos dos(as)
jovens brasileiros(as), mas sabe-se que esse objetivo se situa no processo amplo de
luta pela superação das profundas desigualdades sociais e econômicas que marcam
o nosso país e na possibilidade de garantir o caráter verdadeiramente público das
políticas governamentais.

10.1. Recomendações de políticas públicas


• As políticas públicas devem ser capazes de reconciliar os(as) jovens com as insti-
tuições, por meio da criação de canais de participação na gestão da coisa pública.
Um excelente ponto de partida nessa perspectiva é abrir espaços e buscar, com
intensidade e persistência, a participação dos(as) jovens na discussão da qualidade
do ensino, em todos os níveis: no diagnóstico da situação, na identificação de suas
causas e na formulação das soluções dos problemas relacionados com a descrita
escola pública, que se expandiu sem garantir qualidade.

• As políticas de juventude devem provocar também o envolvimento dos(as) jo-


vens em assuntos, temas e problemas de reflexão e deliberação pública, que se
identifiquem com a resolução de problemas humanos universais nas cidades,
no país e no mundo.

• É necessário estimular que a escola seja lugar privilegiado da cultura cívico-parti-


cipativa. Propõe-se o desenvolvimento de amplo diálogo nacional entre jovens e
profissionais das escolas do Ensino Básico e Superior para a construção demo-
crática de seus projetos político-pedagógicos.

• Garantir condições de sustentabilidade para que os(as) jovens possam se dedicar


aos estudos, garantindo a todos o direito à Educação Básica.

• Universalizar o acesso aos meios digitais. Deve-se buscar desenvolver um projeto


estratégico de democratização dos meios digitais relacionados com a produção
de informação, conhecimento e comunicação. O acesso à internet deve um dos
objetivos preponderantes na organização desse tipo de política.

• É preciso fomentar a constituição de espaços públicos, de centros e clubes cultu-


rais, artísticos e esportivos como forma de aproveitar o potencial de participação
e associativismo dos(as) jovens. É sabido que esses espaços de participação

83
podem, em grande medida, se constituir – desde que democraticamente ge-
renciados – como “governos em miniatura” na gestão de fundos públicos e de
interesses coletivos. Esses espaços de associativismo juvenil se constituem
como um meio caminho entre o “mundo privado” e o “mundo público”, ou seja,
verdadeiro exercício capaz de estimular a constituição de hábitos culturais
participativos e democráticos.

• Deve-se buscar envolver e ampliar a atuação da sociedade civil, sobretudo os


segmentos juvenis, na regulação dos grandes meios de comunicação, conside-
rando-se a realidade monopolística na qual nos encontramos e a ampla influência
desses meios no processo de formação da juventude brasileira.

• Estimular políticas culturais que privilegiem a descentralização, sobretudo de seus


equipamentos públicos.

• Identificar, em âmbito nacional, iniciativas de participação juvenil já em curso e


apoiar o seu desenvolvimento. Os Governos federal, estaduais e municipais podem
fomentar espaços e culturas de participação juvenil.

• Elaborar programas de apoio a iniciativas culturais, científicas e esportivas juvenis.

10.2. Recomendações de novos estudos e investigações


• Avaliação de projetos governamentais voltados para jovens, com ênfase nas áre-
as de educação, trabalho, cultura e lazer, comunicação e participação no âmbito
governamental (fóruns, conselhos, câmaras).

• Por meio da realização de Grupos de Diálogos com jovens, conhecer, informar,


formar e analisar questões relacionadas às políticas públicas em curso voltadas
para as juventudes.

• Proceder a um levantamento sistematizado dos principais meios de informação e


comunicação de massa que predominam na informação dos(as) jovens (televisão,
jornais, revistas e emissoras de rádio).

• Mapear grupos de jovens que lidam com mídia alternativa e investigar de que
maneira a atuação em tais grupos influencia a apreensão de informações através
dos grandes meios de informação.

• Investigar a trajetória de cotistas que entraram em universidades públicas por


meio de diferentes mecanismos de ação afirmativa e o impacto da implantação
das políticas de cotas em uma universidade pública, buscando saber como
professores(as) e alunos(as) são preparados para tal implantação e os meca-
nismos formais estabelecidos (ou não) para garantir a permanência dos(as)
alunos(as) cotistas em tal estabelecimento.

84
• Partindo da constatação de que um contingente significativo dos(as) jovens
entrevistados(as) não estava estudando no momento da Pesquisa de Opinião,
e de que a escola se mostrou como espaço de ampliação de acesso a bens
culturais, pesquisar as estratégias de acesso acionadas pelos(as) jovens que
estão fora da escola. Elas existem? Quais são? Qual é a relação desses(as) jovens
com a escola? E com outras políticas públicas?

• Proceder a um mapeamento, em nível nacional, das instituições, governamentais


ou não, que desenvolvem trabalhos com jovens, visando à construção de um banco
de referência.

• Formar gestores(as) municipais e estaduais para o desenvolvimento de trabalho


com jovens em diferentes áreas (educação, cultura, segurança etc.).

85
11 Bibliografia

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DE TOMMASI, Lívia (org.). Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e
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FISCHER, Nilton Bueno (org.). Relatório qualitativo – Grupos de Diálogo da Região Metropolitana de
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Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, 2005.

88
12
Questionário
Anexos

UF Município Distrito Subdistrito Código do Setor Tipo Seqüência

Bom dia, boa tarde, boa noite. Meu nome é ... e eu trabalho no Instituto Focus. Estamos realizando uma pesqui-
sa nacional sobre a juventude brasileira com duração aproximada de 15 minutos.Você poderia colaborar conosco
respondendo algumas perguntas?

I. PERFIL DO ENTREVISTADO

1. Sexo 1 Masculino 2 Feminino

2. Idade

3. Raça (resposta única e estimulada) (CARTELA)

01 02 03 04 05 99 Ns / No

outra raça, qual?

4. Estado civil (resposta única e espontânea)

1 Solteiro(a) 2 Casado(a) / Vive junto 3 Outra situação

5. Filhos 1 Tem filhos 2 Não tem filhos

6. Religião (resposta única e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7 8 9

89
II. EDUCAÇÃO

7. Escolaridade (resposta única e estimulada) (CARTELA)

01 (Ir para pergunta 19) 02 03 04 05 06

07 08 09 10 11 12 13 14

8. Em sua vida escolar, a maior parte do tempo você estudou em escola pública ou privada?

1 Escola pública 2 Escola privada

9. Você está estudando atualmente?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 19)

10. Neste ano, sua escola realizou atividades de: 11. Você participou das atividades que
(CARTELA) sua escola realizou? (CARTELA)

10.1 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.1 1 Sim 2 Não


10.2 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.2 1 Sim 2 Não
10.3 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.3 1 Sim 2 Não
10.4 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.4 1 Sim 2 Não
10.5 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.5 1 Sim 2 Não
10.6 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.6 1 Sim 2 Não
10.7 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.7 1 Sim 2 Não
10.8 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 11.8 1 Sim 2 Não

12. (Somente para quem disse que a escola realizou DEBA- 13. Você participou desse(s) debate(s)?
TES – Item 10.3). Neste ano, sua escola realizou debates (CARTELA)
sobre: (CARTELA)

12.1 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 13.1 1 Sim 2 Não


12.2 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 13.2 1 Sim 2 Não
12.3 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 13.3 1 Sim 2 Não
12.4 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 13.4 1 Sim 2 Não
12.5 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 13.5 1 Sim 2 Não

Vamos citar alguns espaços relativos à sua escola/universidade e você deverá dizer se conhece e também se
participa ou se já participou deles.
14. Conhece? (CARTELA) 15. Participa ou já participou? (CARTELA)

14.1 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 15.1 1 Sim 2 Não


14.2 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 15.2 1 Sim 2 Não
14.3 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 15.3 1 Sim 2 Não
14.4 1 Sim 2 Não 99 Ns / No 15.4 1 Sim 2 Não

90
16. Você freqüenta a escola/universidade nos finais de semana?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 18)

17. Para que você vai à escola/universidade nos finais de semana? (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

18. Qual(is) o(s) curso(s) que você já fez ou está fazendo além das aulas regulares, dentro ou fora da escola/universi-
dade? (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11

III. SITUAÇÃO FAMILIAR

19. Destes itens, qual a quantidade de cada um que tem na sua casa? (CARTELA)

19.1 1 2 3 4 5 ou +
19.2 1 2 3 4 5 ou +
19.3 1 2 3 4 5 ou +
19.4 1 2 3 4 5 ou +
19.5 1 2 3 4 5 ou +
19.6 1 2 3 4 5 ou +
19.7 1 2 3 4 5 ou +
19.8 1 2 3 4 5 ou +
19.9 1 2 3 4 5 ou +
19.10 1 2 3 4 5 ou +

20. Qual o grau de instrução do chefe da sua família? (CARTELA)

01 02 03 04 05

Caso o entrevistado(a) não saiba responder de acordo com os itens acima, leia os itens abaixo para que
ele(a) escolha uma opção
06 Ensino Fundamental (até a 4ª série incompleta)
07 Ensino Fundamental (da 4ª série completa até a 8ª série incompleta)
08 Ensino Fundamental completo até Ensino Médio incompleto
09 Ensino Médio completo até Superior incompleto
10 Superior completo ou mais

IV. TRABALHO

21. Você está trabalhando (qualquer trabalho remunerado, inclusive “bico”)?

1 Sim (Ir para a pergunta 23) 2 Não (Ir para a pergunta 22)

91
22. Você está procurando trabalho?

1 Sim (Ir para a pergunta 23) 2 Não (Ir para a pergunta 22)

23. Qual é a sua situação no seu trabalho atual? (CARTELA)

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10

V. MÍDIA E ACESSO À CULTURA

24. Você costuma se informar sobre as coisas que estão acontecendo no mundo?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 26)

25. Como? (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)


1 2 3 4 5 6 7 8 9

26. Você costuma freqüentar: (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7

27. Você tem acesso a computador?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 32)

28. Você acessa à internet?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 32)

29. Você acessa à internet sempre, de vez em quando ou raramente?

1 Sempre 2 De vez em quando 3 Raramente

30. De que local você acessa mais vezes? (resposta única e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7

Outro lugar, qual?

31. Com que atividade você gasta mais tempo na internet? (resposta única e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7 8

Outra atividade, qual?

32. Você colabora ou colaborou com algum desses meios de comunicação? (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7

Outro meio qual?

33. Aproximadamente quantos livros completos você leu este ano?

01 1 02 2 03 3a5 04 6 ou + 05 Nenhum

92
VI. PARTICIPAÇÃO E CULTURA POLÍTICA

34. Você faz parte de algum grupo?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 36)

35. Qual(is) o(s) tipo(s) de atividade que o(s) grupo(s) do(s) qual(is) você participa realiza(m)? (resposta múltipla e esti-
mulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5 6 7 8

Outra atividade, qual?

36. Você já participou de algum movimento ou reunião para melhorar a vida do seu bairro ou da sua cidade?

1 Sim 2 Não (Ir para a pergunta 38)

37. Quais eram os objetivos desses movimentos ou reuniões? (resposta múltipla e estimulada) (CARTELA)

1 2 3 4 5

Outro objetivo, qual?

38. Vou mostrar alguns tipos de associações, entidades e grupos e gostaria que você me dissesse, para cada um deles,
se você participa atualmente, se já participou e não participa mais ou se nunca participou. (CARTELA)

Participa Já participou Nunca


atualmente e não participa participou
mais
38.1 1 2 3

38.2 1 2 3

38.3 1 2 3

38.4 1 2 3

38.5 1 2 3

38.6 1 2 3

38.7 1 2 3

38.8 1 2 3

38.9 1 2 3

38.10 1 2 3

38.11 1 2 3

38.12 1 2 3 Qual partido?

38.13 1 2 3

38.14 1 2 3 Outra, qual?

38.15 1 2 3 Outra, qual?

93
39. De um modo geral, como você classifica sua atitude frente à participação política? (resposta única e estimulada)
(CARTELA)
1 2 3 4 99 Ns / No

40. Você saberia me dizer o que significa cada um destes itens? (CARTELA)

40.1 99 Ns / No

40.2 99 Ns / No

40.3 99 Ns / No

40.4 99 Ns / No

40.5 99 Ns / No

40.6 99 Ns / No

40.7 99 Ns / No

41. Você tem título de eleitor?

1 Sim 2 Não

42. Qual o nome do presidente do nosso país?

99 Ns / No

43. Qual o nome do governador do nosso estado?

99 Ns / No

44. Qual o nome do prefeito da nossa cidade?

99 Ns / No

45. Vou mostrar algumas frases e gostaria que você me dissesse o quanto concorda ou discorda delas respondendo
se: concorda totalmente, concorda parcialmente, discorda parcialmente ou discorda totalmente. (CARTELA)

Concorda Concorda Discorda Discorda


totalmente parcialmente parcialmente parcialmente

45.1 1 2 3 4 99 Ns / No

45.2 1 2 3 4 99 Ns / No

45.3 1 2 3 4 99 Ns / No

45.4 1 2 3 4 99 Ns / No

45.5 1 2 3 4 99 Ns / No

46. Você tem interesse e poderia participar de um encontro de jovens para discutir alguns temas relativos aos jovens brasi-
leiros?

1 Sim 2 Não

94
VII. DADOS DO ENTREVISTADO

Nome

Endereço

Bairro

DDD / Telefone

DDD / Celular

E-mail

OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO!

Código do Entrevistador

Nome do Entrevistador

Coleta Data /

Checagem Data /

Crítica Data /

Supervisão Data /

95
Cartela

3. Raça
1 – Amarela
2 – Branca
3 – Indígena
4 – Parda
5 – Preta
Outra raça, qual?

6. Religião
1 – Afro-brasileira (umbanda, candomblé, outras)
2 – Católica
3 – Espírita
4 – Evangélica/protestante
5 – Judaica
6 – Orientais (budista, seicho-no-iê, outras)
7 – Acredita em Deus, mas não tem religião
8 – Sem religião
9 – Outra religião

7. Escolaridade
01 – Não freqüentou escola
02 – Ensino Fundamental (da 1ª a 4ª série incompleta)
03 – Ensino Fundamental (da 1ª a 4ª série completa)
04 – Ensino Fundamental (da 5ª a 8ª série incompleta)
05 – Ensino Fundamental (da 5ª a 8ª série completa)
06 – Ensino Médio incompleto
07 – Ensino Médio completo
08 – Supletivo (Ensino Fundamental)
09 – Supletivo (Ensino Médio)
10 – Curso pré-vestibular
11 – Pré-vestibular comunitário
12 – Ensino Superior incompleto
13 – Ensino Superior completo
14 – Pós-graduação

10 e 11. Neste ano, sua escola/universidade realizou atividades de:


1 – Ação comunitária/trabalho social
2 – Apresentação de teatro/dança/música/festivais culturais
3 – Debates
4 – Excursão
5 – Exibição de filme
6 – Festa
7 – Seminários/concursos de redação/feira de ciências
8 – Visita a museus/exposições

96
12. Neste ano, sua escola/universidade realizou debates sobre:
1 – Aids/sexualidade/drogas/violência
2 – Direitos humanos
3 – Política/eleições
4 – Problemas do bairro/cidade
5 – Projeto político-pedagógico, regras da escola, disciplina, formas de avaliação

14 e 15. Espaços relativos à escola/universidade


1 – Conselho de classe
2 – Conselho de escola
3 – Grêmio estudantil/associação estudantil/centro acadêmico
4 – Representantes de classe

17. Para que você vai à escola/universidade nos finais de semana?


01 – Assistir a apresentações de teatro/música/dança etc.
02 – Encontrar amigos(as)/outros(as) jovens
03 – Freqüentar curso pré-vestibular/aulas de reforço
04 – Freqüentar cursos profissionalizantes
05 – Participar de cultos/celebrações religiosas
06 – Participar de cursos/oficinas culturais e artísticas
07 – Participar de festas
08 – Praticar esportes
09 – Realizar trabalhos voluntários/atividades da comunidade
10 – Outros motivos

18. Quais os cursos que você já fez ou está fazendo além das aulas
regulares, dentro ou fora da escola/universidade?
01 – Atividades culturais (música/teatro/artes plásticas/dança/outros)
02 – Cursos profissionalizantes
03 – Esportes (ginástica/futebol/capoeira/outros)
04 – Informática/computação
05 – Língua estrangeira
06 – Pré-vestibular comunitário
07 – Pré-vestibular privado
08 – Reforço escolar
09 – Religião
10 – Outros cursos
11 – Nenhum curso

19. Destes itens, quantos existem de cada um na sua casa?


01 – Televisão em cores
02 – Rádio
03 – Banheiro
04 – Automóvel de passeio
05 – Empregada mensalista
06 – Aspirador de pó
07 – Máquina de lavar ou tanquinho
08 – Videocassete ou DVD
09 – Geladeira
10 – Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

97
20. Qual o grau de instrução do chefe da sua família?
1 – Até primário incompleto
2 – Primário completo/ginasial incompleto
3 – Ginasial completo/colegial incompleto
4 – Colegial completo/superior incompleto
5 – Superior completo ou mais

22. Qual é a sua situação no seu trabalho atual?


01 – Aprendiz
02 – Bolsista de projetos sociais
03 – Conta própria/autônomo com INSS
04 – Conta própria/autônomo sem INSS
05 – Empregado(a) com carteira assinada
06 – Empregado(a) sem carteira assinada
07 – Empregador(a)
08 – Funcionário(a) público(a)
09 – Estagiário(a)
10 – Outras situações

25. Como se informa sobre as coisas que estão acontecendo no mundo?


1 – Amigos(as)/turma/colegas de trabalho
2 – Colegas de escola
3 – Familiares
4 – Internet
5 – Jornais/revistas escritos
6 – Professores
7 – Rádio
8 – Televisão
9 – Outras formas

26. Você costuma freqüentar:


1 – Centros culturais
2 – Cinema
3 – Museus
4 – Parques e praças
5 – Shopping
6 – Teatro
7 – Não freqüenta esses lugares

30. De que local acessa a internet mais vezes?


1 – Associação de moradores/centros comunitários locais
2 – Casa
3 – Casa de amigos(as)/parentes
4 – Escola
5 – Lam house/cyber café
6 – Telecentros públicos
7 – Trabalho
Outro local, qual?

98
32. Com que atividade você gasta mais tempo na internet?
1 – Bate-papo
2 – Compras
3 – Jogos
4 – Mandar ou receber e-mail
5 – Orkut/ICQ/MSN (comunidade virtual)
6 – Pesquisas para escola
7 – Pesquisas para trabalho
8 – Sites com conteúdo sexual
Outra atividade, qual?

32. Você colabora ou colaborou com algum desses meios de comunicação?


1 – Jornal comunitário
2 – Jornal da escola
3 – Jornal de grupos (fanzines)
4 – Produção de vídeos
5 – Rádio comunitária
6 – Televisão comunitária
7 – Nunca colaborou
Outro meio, qual?

35. Qual(is) o(s) tipo(s) de atividade que o(s) grupo(s) do(s) qual(is) você
participa realiza(m)?
1 – Comunicação
2 – Esporte
3 – Estudantis
4 – Meio ambiente/ecologia
5 – Melhoria das condições de vida no bairro
6 – Música/dança/teatro
7 – Político-partidárias/estudantis
8 – Religiosas
Outra atividade, qual?

37. Quais eram os objetivos desses movimentos ou reuniões?


1 – Áreas de lazer/quadras de esporte
2 – Educação/escola
3 – Postos de saúde
4 – Saneamento/meio ambiente
5 – Segurança
Outro objetivo, qual?

38. Vou mostrar alguns tipos de associações, entidades e grupos e


gostaria que você me dissesse, para cada um deles, se você participa
atualmente, se já participou e não participa mais ou se nunca participou.
01 – Associação comunitária, de moradores ou sociedade de amigos(as) do bairro
02 – Associação estudantil, grêmio, centro acadêmico ou união de estudantes
03 – Clube ou associação esportiva, recreativa ou de lazer (skate, por exemplo)
04 – Grupo artístico ou cultural (hip hop, funk, rap, grafite, bandas etc.)
05 – Grupo de defesa do meio ambiente ou ecológico
06 – Grupo religioso
07 – Grupos diversos (galeras, gangues etc.)
08 – Grupos/trabalhos voluntários
09 – Movimento negro/indígena/feminista/liberdade de opção sexual

99
10 – Movimentos sociais (saúde, educação, moradia etc.)
11 – ONGs
12 – Partido político
13 – Sindicato de trabalhadores/associação profissional

39. De um modo geral, como você classifica sua atitude frente


à participação política?
1 – Considero-me politicamente participante
2 – Penso que se deva deixar a política para pessoas que tenham mais competência do que eu
3 – Procuro me informar sobre a política, mas sem participar pessoalmente
4 – Não gosto de política

40. Você saberia me dizer o que significa cada um destes itens?


1 – Alca
2 – ECA
3 – Fórum Social Mundial
4 – Greenpeace
5 – ONG
6 – ONU
7 – Política de cotas

45. Vou mostrar algumas frases e gostaria que você me dissesse o quanto
concorda ou discorda delas, respondendo se: concorda totalmente,
concorda parcialmente, discorda parcialmente ou discorda totalmente.
1 – A maioria dos(as) políticos(as) não representam os interesses da população
2 – É preciso que as pessoas se juntem para defender seus interesses
3 – É preciso abrir canais de diálogo entre os(as) cidadãos(ãs) e o Governo
4 – Cada pessoa tem que cuidar de seus próprios interesses
5 – A maioria dos(as) políticos(as) só defendem seus interesses pessoais

100
COR 1
CÓDIGO TAL

Opinião inicial
Para chegar ao Brasil que queremos, que nota você dá a cada um dos Caminhos de
Participação abaixo?

Para cada um dos Caminhos Participativos, indique o quanto você está de acordo ou não, em
uma escala de 1 a 7 (se você for totalmente contra o Caminho, faça um círculo em volta do
número 1. Se você for totalmente a favor do Caminho, faça um círculo em volta do número 7.
Caso você não seja nem muito contra, nem muito a favor, faça um círculo em um dos números
intermediários, de acordo com o tamanho de sua identificação com cada um deles).

Não há resposta certa ou errada, o que queremos é conhecer sua opinião!

CAMINHO 1: Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta.

Jovens que fazem parte de partidos políticos, grêmios, sindicatos, conselhos, organizações
não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais estão ajudando a organizar a sociedade,
a controlar a ação dos Governos, além de ajudar a ampliar direitos. Esse tipo de participação
inclui as gerações mais jovens na luta contra as desigualdades no Brasil.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente totalmente
contra a favor

CAMINHO 2: Eu sou voluntário(a) e faço a diferença.

Jovens envolvidos(as) em trabalhos voluntários como reflorestamento, manutenção de es-


colas, alfabetização e recreação com crianças pobres, campanhas de doação de alimentos
e outras ações desse tipo ajudam a diminuir os problemas sociais do Brasil. Eles(as) estão
ajudando a realizar as melhorias que o país precisa.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente totalmente
contra a favor

CAMINHO 3: Eu e meu grupo: nós damos o recado.

Jovens que formam grupos culturais, religiosos, de comunicação, entre outros, fortalecem
o direito de se organizarem livremente. Em grupos, os(as) jovens rompem com o isola-
mento, dividem e expressam idéias. Assim, eles(as) contribuem para a construção de uma
sociedade democrática e, a partir dos grupos que formam, desenvolvem atividades que
podem mudar a realidade do Brasil.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente totalmente
contra a favor

101
COR 2
MESMO CÓDIGO

Opinião final
Para chegar ao Brasil que queremos, que nota você dá a cada um dos Caminhos de
Participação abaixo?

Agora que você teve a chance de conversar e pensar sobre as alternativas, qual é a sua
opinião? Para cada um dos três Caminhos Participativos, por favor, indique o quanto fa-
vorável ou desfavorável você se sente (se você for totalmente contra o Caminho, faça um
círculo em volta do número 1. Se você for totalmente a favor do Caminho, faça um círculo
em volta do número 7. Caso você não seja nem muito contra, nem muito a favor, faça um
círculo em um dos números intermediários, de acordo com o tamanho de sua identificação
com cada um deles).

Não há resposta certa ou errada, o que queremos é conhecer sua opinião!

A sua preferência pode estar baseada em uma condição (por ex., “Eu faço um círculo no
número X que indica que sou mais ou menos favorável a tal caminho mas apenas se ele
incluir tais coisas OU apenas se não incluir tais coisas”). Por favor, caso existam condições,
escreva-as nas linhas imediatamente abaixo ao Caminho.

CAMINHO 1: Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta.

Jovens que fazem parte de partidos políticos, grêmios, sindicatos, conselhos, organizações
não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais estão ajudando a organizar a sociedade,
a controlar a ação dos Governos, além de ajudar a ampliar direitos. Esse tipo de participação
inclui as gerações mais jovens na luta contra as desigualdades no Brasil.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente total-
contra mente
a favor
Com a condição de que:

CAMINHO 2: Eu sou voluntário(a) e faço a diferença.

Jovens envolvidos(as) em trabalhos voluntários como reflorestamento, manutenção de es-


colas, alfabetização e recreação com crianças pobres, campanhas de doação de alimentos
e outras ações desse tipo ajudam a diminuir os problemas sociais do Brasil. Eles(as) estão
ajudando a realizar as melhorias que o país precisa.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente total-
contra mente
a favor

Com a condição de que:

102
CAMINHO 3: Eu e meu grupo: nós damos o recado.

Jovens que formam grupos culturais, religiosos, de comunicação, entre outros, fortalecem
o direito de se organizarem livremente. Em grupos, os(as) jovens rompem com o isola-
mento, dividam e expressam idéias. Assim, eles(as) contribuem para a construção de uma
sociedade democrática e, a partir dos grupos que formam, desenvolvem atividades que
podem mudar a realidade do Brasil.

1 2 3 4 5 6 7
Sou Sou
totalmente totalmente
contra a favor

Com a condição de que:

Perfil
1) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

2) Idade: ______anos

3) Escolaridade (marcar apenas uma opção):

Não freqüentou escola ( )


Até a 4ª série completa ( )
Até a 8ª série completa ( )
Até Ensino Médio completo ( )
Ensino superior (incompleto ou completo) ( )

4)Você está trabalhando (qualquer trabalho remunerado, inclusive “bico”)?

( ) Sim ( ) Não

103
Anotações

104
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.1 Relatório regional


Belém
Entidade parceira
Instituto Universidade Popular/Unipop

Equipe
Elaboração do relatório
Lúcia Isabel da Conceição Silva e Rosely Risuenho Viana
Diretora geral
Aldalice Otterloo
Supervisão regional
Lúcia Isabel da Conceição Silva
Pesquisador(a)
Rosely Risuenho
Francisca Guiomar Cruz da Silva
Assistentes bolsistas
Bruno Nazareno Ribeiro da Silva
Luciene Andrade de Morais
Sarah Danielle Baía da Silva
Raimundo Jairo Barroso Cardoso
Projeção multimídia e transcrição de fitas
Jovanilde Pinto
Apoio administrativo
Flaviana Barroso
Gravação de áudio
Antônio de Oliveira Sarmento
Sumário

1 – Apresentação
2 – Dados gerais da Região Metropolitana da Belém (RMB)
3 – Caracterização geral dos(as) jovens pesquisados
3.1 Perfil geral da pesquisa
3.2 Perfil por Grupos de Diálogo
3.3 A Participação nos diferentes Grupos de Diálogo
3.3.1. Características e diferenciações de gênero, escolaridade e outras.

4 – A metodologia dos Grupos de Diálogo na RMB: concepções, percursos e análises


5 – A questão da participação: possibilidades e limites para os(as) jovens da RMB
5.1 Condições concretas de vida e possibilidades de participação
5.1.1 Sobre os comentários iniciais
5.1.2 Semelhanças e diferenças na plenária da manhã
5.2 Mecanismos e espaços sociais de participação
5.3 Motivações para a participação: Caminhos e condições
5.3.1 Semelhanças e diferenças na plenária da tarde
5.3.2 Caminhos participativos: argumentações, resistências e adesões
5.3.3 Comentários finais

6 – Conclusões
7 – Bibliografia
8 – Anexos
1. Apresentação

A pesquisa nacional Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas


teve como objetivo uma descrição abrangente sobre as formas e sentidos da participação dos(as)
jovens de 15 a 24 anos como forma de compreender e contribuir com as discussões sobre o papel
desse segmento etário no processo de consolidação da democracia brasileira.
A coordenação nacional da pesquisa foi do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas (Ibase) e do Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Públicas
(Pólis), contando conta com uma rede de entidades parceiras nas coordenações locais.
Realizada no período de setembro de 2004 a abril de 2005, a pesquisa, na Região
Metropolitana de Belém (RMB), foi coordenada pelo Instituto Universidade Popular – Unipop, uma
organização não-governamental de educação popular, fundada oficialmente em 27/10/87, por um
conjunto de entidades dos movimentos sociais e religiosos. A Unipop tem como objetivo principal a
formação de lideranças comunitárias, sindicais, religiosas, e jovens, em uma iniciativa de educação
para a cidadania, articulando nesse processo as áreas temáticas de política e democracia,
ecumenismo, arte-educação e teatro popular, políticas públicas e desenvolvimento regional, gestão
participativa e formação em metodologias de ensino nas escolas públicas.

A pesquisa realizou-se em duas etapas, sendo a primeira uma pesquisa de opinião com
uma amostra de 600 jovens na RMB e a segunda constando de quatro Grupos de Diálogos1,
envolvendo um total de 98 jovens.
Este relatório apresenta, de modo articulado, as análises e discussões dos resultados das
duas etapas da pesquisa, apresentando um perfil geral dos(as) jovens pesquisados(as), as formas
pelas quais têm participado da cena pública, as dificuldades reveladas e as principais questões e
preocupações sobre a conjuntura brasileira, bem como as formas e as potencialidades de
participação apontadas pelos(as) jovens da RMB.

1. O formato original da pesquisa previu a realização de cinco Grupos de Diálogo em cada Região
Metropolitana. Na RMB, esse formato foi alterado em função do não comparecimento do número mínimo de
jovens (15 jovens) a um dos Grupos.

2
2. Dados gerais da Região Metropolitana de Belém

A RMB é formada por cinco municípios: Belém, a capital do estado e o maior dos municípios,
sendo formado por uma área central e uma grande região de ilhas; Ananindeua, o segundo maior,
tendo sido durante muito tempo considerada uma “cidade dormitório”, mas que passou por um
intenso processo de urbanização e crescimento econômico e populacional, abrigando atualmente
grande parte do setor industrial da RMB; Benevides, Marituba e Santa Bárbara do Pará, os três
menores municípios, com características mais rurais. Apesar das peculiaridades, os cinco
municípios guardam muitas semelhanças entre si, talvez em função da proximidade
sociogeográfica.
A população da RMB é de 1.795.536 habitantes, desigualmente distribuída entre os cinco
municípios: 71,32% (1.280.614 habitantes) da população estão no município de Belém enquanto o
menor dos municípios, Santa Bárbara possui apenas 0,63% da população total da Região
Metropolitana (11.378 habitantes). Há também diferenças em termos de ocupação econômica da
população e também de acesso e disponibilização de equipamentos e serviços públicos (Ensino
Superior, por exemplo, é restrito a Belém, assim como museus, teatros e bibliotecas).
Talvez um diferencial da RMB em relação às demais Regiões do país esteja no
agravamento na população juvenil em termos de vivência dos direitos sociais básicos e da
qualidade de atenção aos(às) jovens.
Na Região Metropolitana de Belém (RMB), o processo de periferização ainda é a principal
forma de expansão do tecido urbano, ou seja, há forte segregação socioespacial das frações
populacionais de baixa renda no espaço urbano, independentemente da localização (próxima ou
distante) em relação ao núcleo central da cidade.
Um dos principais problemas da RMB está relacionado ao crônico “inchaço” das periferias,
que é agravado, sobretudo, nas áreas das baixadas (partes da área urbana correspondente ao
nível da planície, constantemente alagadas e sujeitas a inundações durante as épocas mais
chuvosas do ano), cuja ocupação representa não apenas uma solução de emergência para
moradia como também uma estratégia de sobrevivência na grande cidade. Essa realidade detona
um colapso dos já deficitários serviços e equipamentos urbanos com o prejuízo dos direitos sociais
básicos e da qualidade de atenção à população.
Essa rápida contextualização, embora acentue as pectos verdadeiramente alarmantes em
torno da pauperização da população da Região Metropolitana de Belém e do Estado do Pará, não
é, contudo, desanimadora. É possível ainda pensar que os aspectos da exclusão podem, de forma
contraditória, motivar ações coletivas de busca de alternativas e superação dos problemas. Daí é
que a necessidade de reorientação das políticas de desenvolvimento para a Amazônia vem há
muito sendo colocada na pauta dos movimentos sociais da região, no sentido de reconhecer sua

3
diversidade natural e social, garantir a qualidade de vida de suas populações e o manejo
sustentável de seus recursos. As discussões passam pela defesa de um novo modelo de
desenvolvimento que possa ser construído pelos diversos atores sociais, políticos e setores
produtivos, através de um processo de participação e controle social, processo no qual, a
juventude tem (e deve ter) papel importante.

4
3. Caracterização geral dos(as) jovens pesquisados(as)

3.1 Perfil geral da pesquisa

Resguardadas as diferenças numéricas, o perfil dos(as) jovens nas duas etapas da pesquisa é
bastante semelhante: maioria da faixa etária de 18 a 24 anos; maior participação das classes
C/D/E; escolaridade predominante de níveis Fundamental e Médio incompleto; maioria fora do
mercado de trabalho, embora o relato seja de procura de trabalho.

PESQUISA DE OPINIÃO GRUPOS DE DIÁLOGO


Amostra: 600 jovens (181 – 15 a 17 anos; 184 – 18 a Amostra: 98 jovens (37 – 15 a 17 anos; 61 – 18 a 24
20 anos; 235 – 21 a 24 anos). anos).
Gênero: 50,2 % feminino; 49,8 % masculino.
Gênero: 47% feminino; 53% masculino.
Classes: D/E – 34,2%; C – 33,0%; A/B – 16,2%.
Cor/raça: 50,75 pardos(as); 12,7% pretos(as); 26,2% Classe: C/D/E – 88%; A/B – 12%.
brancos(as); 7,8% amarelos(as); 1,8% indígenas.
Escolaridade: 7,1 – até 4ª série; 40,8% até 8ª série;
Escolaridade: 33,5% - Fundamental incompleto; 45,9% E. Médio; 5,1 % E. Superior.
43,8% – E. Médio incompleto; 22,7% E. Médio
completo e mais; 42,5% não estudam. Trabalho: 63,23% não trabalham.
Trabalho: 74,8% não trabalham; 51,2% estão
procurando trabalho.

Esses dados são relevantes na medida em que se acredita que as condições financeiras
das famílias determinam a situação social e material dos(as) jovens, rebatendo direta e
negativamente no processo de escolarização, socialização, formação para o trabalho, de
construção de identidade cultural, pertencimento de classe e participação política. Os baixos níveis
de escolaridade dos(as) jovens e a exclusão do mercado de trabalho são aspectos que evidenciam
a exclusão e que, além de apontar para a questão das singularidades regionais já referidas,
apontam também para a possibilidade das pressões silenciosas por políticas e serviços e ainda
para as possibilidades concretas ou a “motivação para” ações individuais e coletivas de
participação social, uma vez que o empobrecimento sucessivo e a vulnerabilidade financeira fazem
da sobrevivência o foco de interesse prioritário.

3.2 Perfil por Grupos de Diálogo

Na RMB, os Grupos de Diálogo foram realizados na seguinte ordem: GD1: Grupo com experiência
participativa reunindo jovens 20 jovens de 15 a 24; GD2: não realizado; GD3: 23 jovens de 15 a 17
anos; GD4: 30 jovens de 15 a 24 anos; GD5: 25 jovens de 18 a 24 anos. O perfil por idade, classe
e sexo está demonstrado na tabela:

5
Tabela 1: GDs realizados por perfil
GD Idade Sexo Classe
15 / 17 18 / 24 M F A/B C/D/E
01 06 14 10 10 02 18
02* --- --- --- --- --- ---
03 23 --- 14 09 03 20
04 08 22 15 15 05 25
05 --- 25 13 12 02 23
Total 37 (38%) 61 (62%) 52 (53%) 46 (47%) 12 (12%) 86 (88%)

*os(as) jovens do GD2 não foram contabilizados(as), uma vez que esse Grupo não se realizou e
os(as) jovens foram reconvocados(as) e compareceram no GD4.

3.3 A participação nos diferentes Grupos

Ao todo, foram convocados(as) 332 jovens para os Grupos, sendo que efetivamente
compareceram 98 jovens (adesão de aproximadamente 35%). Nesse aspecto, chama especial
atenção na RMB a baixa adesão dos(as) jovens das classes A/B ao convite para os Grupos.
Estes(as) demonstravam pouco interesse nos contatos telefônicos, faziam poucas perguntas sobre
o trabalho em si, não davam os retornos prometidos ou recusavam os convites. A atividade do
Grupo de Diálogo, em geral, competia com uma diversidade de outras atividades deles(as). Assim,
esses(as) jovens sempre justificavam a impossibilidade de comparecer ao Grupo em função de
aulas no cursinho, língua estrangeira, viagem no final de semana, prova na faculdade. Acresce a
isso o fato de grande parte dos(as) jovens de classe A/B não serem cont atados(as) em função de
endereço incorreto ou incompleto, ou números de telefones inexistentes.
Já os(as) jovens de classe C/D/E eram mais responsivos(as) com uma demonstração
maior de interesse. Houve vibrações explícitas com o convite e muitas demonstrações de empenho
em “dar um jeito” de ir: trocar horário de trabalho com o(a) colega, conseguir alguém para ficar com
o(a) filho(a) ou com a mãe doente, faltar aula na escola. Estes(as) faziam mais perguntas, em geral
havia a necessidade de que contatos e informações fossem dados a outros(as) familiares [pais,
mães, tios(as), irmãos(ãs) mais velhos(as), avós]. Afirmavam estarem interessados(as) e, na
maioria das vezes, justificavam com pesar a não possibilidade de comparecer.
A ajuda de custo não aparece ent re as justificativas para participar dos GDs. Ao contrário,
o tema da pesquisa despertou muito interesse nesses(as) jovens e seus(suas) familiares, houve
também expectativas explícitas de que a atividade pudesse contribuir com o desempenho na
escola ou com acúmulo de informações e aprendizagem. No que, segundo os(as) próprios(as)
jovens participantes, eles(as) estavam corretos(as), já que a avaliação foi de que aprenderam
muito durante o dia.

6
Essas atitudes encontram-se em concordância com os dados da pesquisa de opinião,
confirmando que, nessas classes, as oportunidades de participação são escassas, o que influencia
na valorização da oportunidade de participação na pesquisa, fazendo com que a encarassem como
forma de enriquecimento pessoal.
Uma vez nos Grupos, os(as) jovens aderiram de pronto aos apelos da metodologia.
Chamou a atenção o ar de seriedade ou mesmo de gravidade nas falas dos(as) jovens que,
desde o momento inicial, pareciam assumir com responsabilidade a tarefa para a qual foram
convocados(as). Pouquíssimos(as), aliás, tiveram uma conduta dispersiva ou de mero
cumprimento do que era solicitado, sem grandes envolvimentos durante as atividades do Dia
de Diálogo.
De maneira geral, a participação nos Grupos foi muito boa, ficando muito nítida a
sensação de que os(as) jovens tinham muito a dizer e efetivamente disseram, em todos os
Grupos. Os Diálogos em plenárias pelas manhãs foram mais participativos(as) em relação às
plenárias da tarde.
O Grupo com experiência prévia de participação, entretanto, teve um desempenho
destacado. Mostrou-se um Grupo bastante descontraído desde o inicio e, já no café da manhã,
configuraram-se subgrupos de afinidade. Demonstraram muita ansiedade para começar a falar, o
que foi enunciado por uma das jovens com a pergunta, após o preenchimento da ficha inicial:
“Quando nós vamos falar?”, referindo-se às questões apresentadas na agenda do Dia.
Esse Grupo também foi muito ágil e organizado nos trabalhos em subgrupos,
demonstrando entendimento das tarefas e as cumprindo com habilidade. Os subgrupos, em geral,
trabalharam com mais de um(a) relator(a). Apresentaram maior dificuldade de absorção da
metodologia durante a plenária da tarde, na qual, em alguns momentos, chegaram a estabelecer
uma pequena disputa de posições em relaç ão ao voluntariado e ao engajamento político.
A experiência de participação predominante no Grupo foi a religiosa, seja da Igreja
Católica ou das Igrejas Evangélicas, e em geral significava o envolvimento em atividades
voluntárias. Esse dado concorda com os dados da pesquisa de opinião, os quais revelaram
ser as atividades religiosas preponderantes (36,1%), dentre os grupos dos(as) jovens. O
Diálogo, portanto, deu-se efetivamente em torno da experiência dos(as) jovens e de alguma
forma, influenciou a opção pelos Caminhos.
Quanto ao conteúdo das falas, este não diferiu em grande medida das falas dos demais
Grupos. Uma diferença significativa foi uma certa veemência no discurso. Neste Grupo, os(as)
jovens pareciam saber mais do lugar de onde falam, com um discurso mais elaborado e com
conhecimento de causa, não apenas dos problemas em si (que foi a tônica das plenárias da
manhã), mas dos seus determinantes e do que poderia ser feito para superá-los.

7
Nas plenárias da tarde, em especial, este Grupo foi o que mais se destacou na
argumentação das escolhas dos Caminhos e na identificação das conseqüências. Por já terem a
experiência de participação, os(as) jovens neste Grupo conseguem dizer mais da importância
destas, ainda que falem mais da importância em nível pessoal e menos nos resultados efetivos na
superação dos problemas ou na consolidação da democracia, este sim um conceito bem distante
para eles(as).
Em todos os GDs, os(as) jovens das classes A/B, (significativamente a minoria) tiveram
participação pouco expressiva, falaram pouco e sem um comportamento diferenciado que
evidenciassem diferenças de classe. Não houve maior identificação entre eles(as) e os(as) demais
jovens, entretanto, também não houve hostilidade ou atitudes de rejeição. As diferenças ficaram
mais evidentes nos momentos de descontração, pois enquanto a quase totalidade do Grupo se
juntava para cantar e conversar sobre músicas e novelas, os(as) jovens das classes A/B ficavam
distantes, afirmando não gostarem daqueles tipos de música.
O GD3 (15 a 17 anos) apresentou dificuldade na condução das tarefas de subgrupos. No
geral, foram subgrupos bastante dispersos, e as apresentações em plenárias mais confusas. O
destaque foi uma jovem da Igreja Assembléia de Deus que, a todo momento se pronunciava com
um discurso bastante consistente e eloqüente. A plenária da tarde foi a mais cansativa, na qual
os(as) jovens demonstraram muita dificuldade em expressar suas idéias e argumentar sobre as
escolhas feitas. Este Grupo demandou muita atenção das facilitadoras nos subgrupos e, ainda
assim, um deles claramente não entendeu a tarefa da tarde, não conseguindo apresentar a
escolha de um Caminho, mas repetindo as discussões travadas pela manhã.
O GD5 (18 a 24 anos) demonstrou encarar a atividade de forma diferenciada dos outros,
pois os(as) jovens faziam muitas anotações do que estava sendo falado e do que era escrito nos
flipcharts. Na plenária da manhã, se detiveram muito nas questões referentes à educação. Na
plenária da tarde já não demonstraram tanto vigor nas intervenções, pois consideraram que a
questão proposta pela manhã, segundo a fala deles(as), “movimentava mais”.
Neste Grupo também a equipe já demonstrava nítidos sinais de exaustão, em
compensação também a afinação entre os membros e destes com a metodologia já era total, o que
foi evidenciado na forma de condução dos trabalhos.

3.3.1 Características e diferenças de gênero, escolaridade e outras

Os quatro GDs tiveram uma presença equilibrada do ponto de vista de gênero; contudo, no tocante
à participação, as mulheres revelaram comportamento mais falante e participativo, assumindo a
liderança nos pequenos Grupos, nas relatorias e nos momentos das plenárias.
Quanto à escolaridade, apesar da diversidade [desde jovens analfabetos(as) até
estudantes universitários(as)], este item não se mostrou relevante para o nível de participação

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dos(as) jovens. Os(as) de menor escolaridade, na maioria dos casos, se mostravam mais
dispostos(as) a expor suas opiniões, enquanto os(as) de nível superior, no geral, foram os(as)
menos “falantes”, embora sempre tenham expressado contentamento em participar da pesquisa.
Essa aparente contradição parece reveladora de uma certa “incapacidade” dos(as) jovens mais
escolarizados(as) em dialogar com os(as) demais (sempre a maioria em todos os GDs), que
dominavam a cena com um jeito mais espontâneo e simples de apresentarem suas idéias.

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4. A metodologia dos Grupos de Diálogo na RMB: concepções,
percursos e análises

Um aspecto importante das chamadas “abordagens qualitativas de pesquisa” está não em negar a
validade dos dados ou procedimentos de coleta das abordagens quantitativas e nem em contrapor-
se a eles. Na pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, uma distinção fundamental, com a
clareza de que não é possível atribuir à pesquisa qualitativa o monopólio da interpretação, é a
possibilidade de investigação não apenas de dados (sobre educação, trabalho etc.), mas também
das representações, dos valores, das crenças, em outras palavras, uma outra forma de se chegar
à compreensão das questões sobre juventude e participação. Essa distinção esteve, desde o
início, colocada no desenho da pesquisa e foi exatamente com essa perspectiva que a concepção
dos Grupos de Diálogo foi tomada como abordagem complementar (nem menos nem mais
importante) à pesquisa de opinião.
A idéia dos Grupos de Diálogo, desde os primeiros encontros com a equipe central da
pesquisa, seduziu a equipe do Instituto Universidade Popular – Unipop, uma ONG de
educação popular, da qual o diálogo e o pluralismo de idéias são princípios estratégicos.
Longe de parecer uma adesão irrefletida a uma metodologia “importada”, foi o desejo de
experimentar ou mesmo inaugurar na região esse novo formato de trabalho com jovens, que
venceu as resistências ou preocupações iniciais quanto à quantidade de atividades e o tempo
disponível, se a metodologia era de fato adequada para corresponder aos objetivos da
pesquisa e gerar os dados esperados, ou ainda quanto à experiência da equipe, que no caso,
além da docência, era predominantemente com modelos focais de pesquisa qualitativa ou com
o acompanhamento e formação de grupos de jovens no corpo a corpo institucional dos
movimentos sociais (partidos, entidades, organizações, universidade).
A partir da realização do primeiro Grupo, quando a metodologia de fato entrou em ação e
os(as) jovens efetivamente falaram, a equipe constatou a enorme possibilidade de produzir dados
em torno dos valores que orientam as escolhas dos Caminhos Participativos propostos ou da
construção de uma trilha alternativa, e principalmente da direção em que se movimentam e
prontidão para se engajar nos processos democrático-políticos. Após o encerramento do último
Grupo, “tornar fácil”, o significado literal de facilitar, havia se transformado em uma habilidade. Mas
facilitar o quê? A possibilidade de os(as) jovens reconhecerem em si um pensamento que não
sabiam ter e suscitar, no outro, possibilidades que eles(as) não sabiam que existiam.
Da mesma maneira que para os(as) jovens participantes dos Grupos, para a equipe de
facilitação o principal desafio foi o aprender a lidar com o outro, não manipulá-lo, renunciar do
ímpeto da formação e, ao mesmo tempo, organizar, esclarecer e problematizar, ampliando ao
máximo as discussões.

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Dessa forma, a concepção de Diálogo subjacente à abordagem investigativa proposta, cujo
princípio é o estabelecimento do Diálogo (com o perdão da redundância) num processo no qual
cada participante possa não apenas expressar opiniões e valores, mas refleti-los profundamente a
partir e na interação com opiniões e valores dos(as) demais, pôde ser concretizada, não apenas
para os(as) participantes dos Grupos, mas também para a equipe de facilitadoras da RMB.
Um desafio inicial foi a adaptação da idéia original da metodologia, principalmente das
experiências de Diálogos sobre estratégias de orçamento ou o pacto social no Canadá para a
realidade da conjuntura e da temática da pesquisa no Brasil. No enfrentamento desse desafio,
foram fundamentais as interlocuções com a própria experiência canadense, via consultoras, além
do acúmulo e das trocas com as equipes que constituíram a rede de parceiros.
A centralidade do fortalecimento da democracia como pressuposto tanto do desenho
da metodologia quanto do objetivo da pesquisa brasileira (aqui referida) tornou es se
enfrentamento, senão mais fácil, essencialmente mais instigante e quem sabe, mais fecundo.
O fato de que “a democracia depende de que os cidadãos façam escolhas a respeito de como
lidar com os problemas e com as oportunidades de suas comunidades” (MACKNNON e
TASCHEREAU. texto mimeo: workshop Diálogo com a juventude brasileira. Agosto 2004)
acaba por se constituir na porta de entrada para a proposição do Diálogo com a juventude
brasileira empreendido nesta pesquisa.
O que a pesquisa (a realização dos Grupos de Diálogo) possibilitou foi exatamente um
grande espaço político de “diálogo” sobre o que a juventude (parte dela) vivencia e pensa em
termos de suas próprias condições de existência, de sua inserção na vida pública e nos rumos da
democracia no país.
Os Grupos de Diálogo na RMB permitiram aos(às) jovens não simplesmente expressar
pontos de vista sobre democracia e participação, mas fundamentalmente interagir com os pontos
de vista de outros(as), numa experiência que, para muitos(as) deles(as), foi inédita. Uma interação
que permite uma “reflexão profunda”, perceber e confrontar tensões e polêmicas e procurar
neles(as) mesmos(as) “e nas outras pessoas opiniões e atitudes que possam ser mudadas”, para
fazer referência a um dos mais significativos “compromissos do Diálogo”. Para os(as) jovens,
segundo eles(as) mesmos(as), foi um momento de colocar as opiniões em diálogo e descobrir
formas de aprender com ele. Nesse aspecto se concretiza o duplo caráter de formação e
investigação da metodologia.
Outra distinç ão significativa também para os(as) jovens, mas essencialmente para o(a)
“pesquisador(a)” é a possibilidade de apropriação não somente de uma técnica de coleta de dados,
mas da metodologia como parte da construção da própria questão da pesquisa e do próprio
processo de compreensão dela.
Trata-se, portanto, de uma reconstrução da relação pesquisador(a)-pesquisado(a). Aliás,
essa é uma dimensão que se esfuma nos diversos momentos do Dia de Diálogo: não se trata de

11
pesquisador(a)-pesquisado(a), mas de co-participantes, no sentido de reconhecimento dos(as)
jovens como sujeitos que produzem conhecimentos e práticas, interferem no trabalho da pesquisa,
ajudando a reconstruí-la. Vale dizer ainda que, pensados dessa forma, os(as) jovens participantes
da pesquisa são também responsáveis pelos produtos dela obtidos.
Para isso, o passo-a-passo da metodologia efetivamente é decisivo: os(as) jovens se atêm
aos compromissos, lêem e discutem os materiais, relembram informações neles contidas, cotejam
com outras, repensam valores, argumentam e problematizam escolhas feitas.
A constatação das possibilidades reais da metodologia para fazer emergir escolhas (ou
combinações) entre Caminhos Participativos considerando, precisamente, o tempo limitado
para esse tipo de “exercício democrático”, de fato impôs o desafio de envolver os(as) jovens
em uma nova configuração de “acordos” de trabalho, ao tematizar assuntos sensíveis relativos à
sua vida cotidiana.
A clareza quanto aos propósitos da pesquisa, a, tanto quanto possível, nítida atribuição das
pessoas envolvidas, o fato de haver compromissos e pautas de convivência delimitados e
respeitados, certamente contribuiu para que os(as) jovens se sentissem menos preocupados(as)
com a afirmação de si mesmos(as) (o que geralmente ocorre no desenvolvimento das pesquisas
qualitativas), e mais ou verdadeiramente implicados(as) na transformação dos seus modos de
pensar a partir dos Diálogos ou e no próprio dever/direito de questionar a legitimidade dos saberes
e conhecimentos até então assimilados, em termos de educação, trabalho, lazer e cultura.
As palavras finais dos(as) jovens e o reiterado desejo de serem convocados(as) “de novo”
para uma próxima etapa traduzem de forma objetiva não apenas o processamento cognitivo da
experiência, mas o sentimento de serem capazes de imprimir as suas próprias assinaturas nas
tentativas de soluções para os mesmos ou novos problemas com os quais se defrontam.
O trabalho de orquestração, de fazer acontecer a metodologia, é exaustivo, marcado
por imprevistos, e exige de fato uma disposição de luta ou, nos termos de Morin (2001: 23),
uma “ardente paciência”, principalmente na Região Norte, que tem a tradição de ser muito
vista (quase sempre pelo pior lado, como referido na apresentação), mas pouco assistida e
menos ainda escutada.
Porém, os Grupos de Diálogo se constituem em oportunidade única de fazer parte de
um momento no qual os(as) jovens se colocam como sujeitos, oferecendo aos pares projetos
de mudanças para o coletivo, com traços ora utópicos, ora pragmáticos, mas principalmente
realistas, que se expressam tanto na crença em pequenas ações humanitárias quanto na
forma de engajamento político-partidário ou mesmo na falta de credibilidade na política e nas
mudanças sociais.
Dois aspectos merecem ser particularmente destacados. O primeiro se refere à própria
idéia de respeito que se faz operar na metodologia, lembrando a afirmação de Araújo (1999: 46)
para quem “o respeito, sendo um sentimento de natureza interpessoal, não pode ser considerado

12
um sentimento privado. Mesmo quando sentido individualmente, está referenciado externamente,
em valores construídos na interação com a sociedade”.
Um segundo ponto importante é a potencialidade da metodologia para fazer pensar, refletir
e principalmente “falar”, mas com a ressalva de que as idéias não explodem no interior dos(as)
jovens como se fosse a “coisa mais simples do mundo”. É preciso ressaltar que falar aqui, longe
de ser um imperativo ou confissão, requer a facilitação e a leitura dos Caminhos Participativos,
dentre outros instrumentos, que têm o papel de auxiliar os(as) jovens a formularem seus desejos e
a organizarem suas críticas e aspirações. Nesse sentido, os materiais disponibilizados foram
“creditáveis”, tornando-se referência para a descoberta dos Caminhos de Participação.
É preciso lembrar, finalmente, que não havia uma programação, mas uma agenda de
atividades, nem um manual, mas um guia do(a) facilitador(a). Esses termos, em se tratando de
uma pesquisa que articula política e juventude, traduzem o recorte ético-metodológico da pesquisa.

13
5. A questão da participação: possibilidades e potencialidades
para os(as) jovens da RMB

“Esta pesquisa pretende escutar e provocar diálogos em torno dos sentidos e práticas de
participação da juventude nas esferas sociais públicas e políticas”. Este objetivo da pesquisa
traduz uma crença e uma intencionalidade bem definidas: a crença – considerar a participação da
juventude como estratégica para a consolidação da democracia brasileira; a intenção – descobrir
os entraves, as possibilidades e as motivações da juventude para assumir essa posição.
A concepção de participação que aparece aqui compartilha com Teixeira (2001: 26) a idéia
de que “é fundamental considerar o poder político, que não se confunde com autoridade ou
Estado, mas supõe uma relação em que atores, com recursos disponíveis no espaço público,
fazem valer seus interesses, aspirações e valores, construindo suas identidades, afirmando-se
como sujeitos de direitos e obrigações”. Essa noção não se restringe, entretanto, à uma
participação política, num sentido mais restrito, mas inclui a percepção das diversas formas através
das quais a juventude tem participado ou pode participar da vida pública.
Para a participação da juventude, pensa-se na posição de contribuir para que essa relação
se altere, visto que pressupõe a emergência (existência) de sujeitos -cidadãos, críticos, que
expressam aspirações, desejos e necessidades e influenciam nas formas de concretizá-las, não
como interesses especificamente individuais, mas coletivamente, dando natureza política àqueles
que seriam problemas individuais.
O status da posição de sujeitos-cidadãos não é, entretanto, algo que se dá “naturalmente”,
nem tampouco se faz de forma imperativa: “participem!”. Ao contrário, ela pressupõe condições.
A partir do processo de interlocução com as dados da pesquisa de opinião e,
especialmente nos Diálogos com os(as) jovens nos Grupos, algumas questões passaram a se
impor com veemência. Se, por um lado, não é possível atribuir “pré-requisitos” ou condições
seqüenciais para a participação, por outro, é necessário reconhecer que essa é uma “decisão” ou
“opção” que pressupõe ou impõe, no mínimo, algumas circunstâncias que podem ser mais ou
menos favoráveis para que essa participação se concretize. Pode-se falar, portanto, de reunir
condições para, ou ter condições de fazer escolhas.
A idéia aqui considerada é que a análise articulada dos dados resultantes das duas etapas
da pesquisa ajuda a perceber algumas dessas circunstâncias, ou situações nas quais elas se
constituem em motivadores ou entraves à participação dos(as) jovens. Esse olhar permite reunir
três conjuntos de situações, aqui consideradas como determinantes ou relacionadas aos níveis de
participação dos(as) jovens. Vale dizer que estas não são excludentes, mas ao contrário,
extremamente interrelacionadas: condições concretas de vida dos(as) jovens; mecanismos ou

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espaços sociais de participação (incentivo para) e as propostas ou Caminhos percebidos pelos(as)
jovens (motivações para).

5.1 Condições concretas de vida e possibilidades de participação

Uma das asserções colocadas no início deste trabalho alude à relação entre a situação
socioeconômica dos(as) jovens e as possibilidades concretas ou a “motivação para” ações
individuais e coletivas de participação social, pensando que o empobrecimento sucessivo e a
vulnerabilidade financeira fazem da sobrevivência o foco de interesse prioritário.
Reiterando que não é o caso de atribuir pré-requisitos para a participação, ao mesmo
tempo, toma-se como inegável que a situação socioeconômica atua como possibilitadora ou
impossibilitadora de acesso (educação, trabalho, saúde, bens culturais, renda, lazer) e de
alguma forma, direciona o foco de atenção dos(as) jovens para a resolução de problemas
conc retos enfrentados.
Considerando a situação de exclusão expressa na pesquisa de opinião e reiterada
pelos(as) jovens nos Diálogos, especialmente nos comentários iniciais e nas plenárias da
manhã2, os dados deixam a preocupação de que grandes questões relacionadas à inclusão
social da juventude em termos de escolarização, formação profissional, trabalho, lazer e
acesso a informações e experiências diversificadas de sociabilidade e convivência precisam
ser enfrentados, de modo a aprimorar e fortalecer formas de usufruir do potencial participativo
desse segmento da população.
Numa sociedade em que as necessidades sociais se multiplicam e a todo momento
surgem novas exigências no campo da formação e da cidadania, isso é preocupante, uma vez que
também é alto o número de jovens fora da escola, e que, portanto, têm negadas quaisquer
oportunidades tanto de aprendizagem formal e ampliação da escolarização quanto da aquisição de
habilidades e competências básicas para a inserção social e no mundo do trabalho.

2. Etapas do Dia de Diálogo. Ver metodologia detalhada no relatório global.

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42,5% dos(as) jovens estão fora da escola; destes(as), 68,9% também não trabalham.
54,7% dos(as) jovens não fizeram nenhum curso além da escola regular; destes(as), a
maioria é de mulheres (57,5%); há grande disparidade entre as classes sociais: 28,9% nas
classes A/B; 46,5% na classe C; 70,4% nas classes D/E.

Comparando as classes, a disparidade é significativa: nas classes A/B 37,1% têm curso de
informática; 26,8% estudam uma língua estrangeira e 16,5% praticam esporte; Nas classes
D/E apenas 13,6% têm curso de informática, 9,5% cursos profissionalizantes e apenas 1,5%
cursos de língua estrangeira.

Entre os(as) jovens pesquisados(as), o aumento da escolarização significa mais que o triplo
de chances de acesso a outros cursos. Jovens que não fizeram nenhum curso são 77,1%
entre os(as) que têm até o Fundamental completo e 32,4 entre os(as) que têm o Ensino
Médio completo ou mais. Comparando esses dois níveis de escolaridade, observa-se que os
percentuais sobem em todos os cursos citados: informática: 10,4% e 36,0%; curso
profissionalizante: 3,1% e 18,4%; língua estrangeira: 3,6% e 11,0%.

74,8% dos(as) jovens não trabalham e 51,2% estão procurando trabalho.

Além disso, os dados da precarização e da deterioração das relações de trabalho também


estão estampados na variedade de formas de relação e vínculos trabalhistas presentes na
RMB. A maioria (29,8%) dos(as) jovens empregados(as) não possui carteira assinada;
dentre estes(as), os(as) pardos(as) e pretos(as) somam 62,2% e os(as) brancos(as), 28,9%.
Esse não vínculo de trabalho predomina entre os(as) jovens de 15 a 17 anos (50,0%),
majoritariamente os(as) da classe C (36,4%). Há também grande diferença em termos de
gênero: enquanto 25,3% dos homens são empregados com carteira assinada, esse
percentual é de apenas 8,9% no caso das mulheres.

Apenas 19,2% dos(as) jovens trabalham com carteira assinada. A escolarização, nesse
caso, tem relação importante: os trabalhos sem carteira assinada são principal formato de
ocupação entre os(as) que têm até o Ensino Fundamental completo (32,5%), já os empregos
com carteira assinada são ocupados majoritariamente por jovens que possuem o Ensino
Médio completo ou mais (22,2%).

As ocupações de estagiário(a) e aprendiz são praticamente inexistentes na RMB,


correspondendo a apenas 4,0% e 3,3% das ocupações dos(as) jovens.

É possível supor que a escola ainda se constitui em um espaço importante na “agenda de


oportunidades”. Ela representa um instrumento (possibilidade) de acesso, em especial para os(as)
jovens das classes mais baixas, ainda que isso aconteça de forma não intencional ou através de
atividades não previamente organizadas com esses objetivos. A escola é também um depositário
das expectativas dos(as) jovens nesse sentido.
Esses dados desvelam mais uma vez uma forma de reprodução da exclusão dos(as)
jovens de classe popular, evidenciando, por sua vez, o caráter microscópico e confuso das
políticas ou programas públicos, em especial para os(as) jovens das classes mais baixas.
Justamente o segmento que vive a realidade de uma educação de menor qualidade e da qual “são
expulsos(as)” muito cedo, tendo que ingressar no mercado de trabalho sem uma qualificação

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mínima que lhes garanta a condição de nele permanecer ou ascender. A falta de clareza e o eterno
conflito entre a formação para exercício ou construção de um perfil profissional que vise o ingresso
em postos concretos de trabalho e a ênfase na continuidade dos estudos no Ensino Superior
explicam em parte porquê as atividades complementares nas áreas da profissionalização, do
esporte e da cultura aparecem de forma ínfima nos dados relativos à classe D/E.
Os Grupos de Diálogo reiteram essas condições, além de permitir identificar as formas
pelas quais os(as) jovens as percebem e as significam.

5.1.1 Sobre os comentários iniciais

Trata-se do momento inicial de apresentação formal dos(as) participantes, realizado a partir de um


comando bem direto e específico: dizer o nome, a idade e “Em uma palavra, o que mais te
preocupa no Brasil?”. Em respostas geralmente curtas e diretas, revestidas de seriedade ou
mesmo de gravidade de quem “toma para si” a responsabilidade da tarefa para a qual foram
convocados(as), os(as) jovens expressam neste primeiro momento os principais “temas” objetos de
suas preocupações e angústias quanto ao país em que habitam, funcionando como um termômetro
ou espelho da própria situação de vida dos(as) jovens presentes e das dificuldades que vivenciam
nessa etapa.
Esse se constituiu no primeiro grande momento de grita, de denúncia, no qual os(as)
jovens efetivamente “apropriaram -se” do microfone e do espaço de expressão.
Foi interessante perceber que o grau de abertura temática da pergunta e, ao mesmo
tempo, o limite (quase sempre transgredido) de ater-se a uma palavra-resumo provocou impacto
singular sobre os diferentes Grupos. Enquanto que o de 18 a 24 anos concentrou-se em cinco
temas apenas, os Grupos de 15 a 24 e o Grupo dos(as) jovens com experiência participativa foram
os que apresentaram maior quantidade de respostas e preocupações. No caso da RMB, a livre
escolha das temáticas, longe de produzir hesitações ou silêncios, desencadeou um surto
discursivo de diversidades.
A violência figurou como o tema de maior emergência, concentrando 15,95% das
respostas, o que reitera a situação de exposição crescente ao fenômeno, marca da sociedade em
geral, mas que tem na juventude um “alvo” privilegiado 3:
É a violência, que a cada dia cresce assustadoramente. (feminino, GD1, plenária)

É o fato de ter muita violência e também não podermos ter mais privilégios assim
na sociedade. (feminino, GD1, plenária)

Entre vários problemas que existem no Brasil eu vou citar aquilo que mais me
preocupa, que é a violência. (feminino, GD1, plenária)

3. Ver Waiselfisz 2004; 2002; 2000 e 1998. Mapas da violência. UNESCO.

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Embora falas como “cresce assustadoramente” pareçam pertencer ao lugar comum dos
clichês reproduzidos nos meios de comunicação de massa, a escuta revelou não apenas a
preocupação, mas, ao mesmo tempo, o tom explosivo de protesto das falas que só podem ser
enunciadas por sujeitos que se reconhecem como vítimas potenciais não apenas da criminalidade
espetacularizada pelas mídias, mas de formas concretas de controle e opressão.
A fome, a segunda maior preocupação, mais que um tema é um lema “O que mais me
preocupa no Brasil é a fome”, citado por 13,82% dos(as) jovens. A força da palavra já denuncia a
situação de pobreza da população como correlativa à desigualdade na apropriação da riqueza. Ao
termo “fome” associam-se os temas da pobreza, da miséria, da desigualdade social, da exclusão,
entre outros, que, conectados, aludem, logo de imediato, ao esgotamento e à descrença desse
segmento diante da ineficácia das ações do poder público:
Minha maior preocupação é a pobreza em que você se encontra. (masculino, GD1,
plenária)
... a minha maior preocupação é a fome, as drogas na adolescência e a
desigualdade social em geral; é a desigualdade social com certeza. (masculino,
GD1, plenária)

As principais preocupações dos(as) jovens da RMB recaem sobre temas intimamente


relacionados entre si: a violência (15,95%), a fome (13,82%), a falta de oportunidade de
trabalho e desemprego (12,76%), educação com 11,70% e desigualdade social e exclusão
com 10,63%. De forma geral, as inquietações são relativamente semelhantes nas diferentes
categorias de Grupos, que, embora com algumas inversões na ordem, os mesmos temas
aparecem nos primeiros lugares.

No Grupo com experiência participativa, a o tema pobreza/miséria (19,04%) foi o mais


citado, seguido de perto pela violência (14,28%); no Grupo de 18-24 a fome aparece como a
principal preocupação para expressivos 31,82 dos(as) jovens presentes; o Grupo de 15-17
demonstrou uma equivalente preocupação entre os temas da violência e das drogas
(16,66%), seguido da fome (12,5%). Esses percentuais se referem, sem dúvida, às questões
que os(as) atinge mais de perto e refletem sua situação social e material.

A clareza desse “pertencimento de classe” se contrapõe de modo bastante singular às


informações da pesquisa de opinião, na qual o número significativo de 16,75% informantes
declararam “não saber” ou “não opinaram” sobre a classe social a que pertenciam. Há aí uma clara
posição de “ignorância” ou desconhecimento quanto à sua própria condição de classe ou quanto
aos critérios de segmentação utilizados nos questionários. Nesse momento inicial do GD, pelo
contrário, os(as) jovens já demonstraram clareza quanto ao modo como se auto-representam a
partir da idéia de classe social. Importante observar que ,apesar de ser uma fala rápida, de pronto,
em um tempo relativamente curto4, o conteúdo já conta com uma construção afirmativa (“também é

4. De acordo com a metodologia, os(as) jovens disponibilizaram de 30 segundos para apresentar-se e dizer da
preocupação. Naturalmente, alguns(mas) jovens não “obedeciam” ao comando e estendiam-se um pouco mais
nos comentários.

18
a fome”; “é a violência, com certeza”), que, diferentemente de algumas respostas da pesquisa
qualitativa, não foram enunciações para cumprir tabela.
Como já enunciado anteriormente, na medida em que se acredita que as condições
financeiras das famílias determinam a situação social e material dos(as) jovens, tal contexto
certamente rebate direta e negativamente no processo de escolarização, socialização, de
construção de identidade cultural, de pertencimento de classe e participação política, daí não
surpreender o fato de que as dificuldades no processo de inserção social da juventude são
reiteradas nas falas dos(as) jovens nos Grupos de Diálogo, através das manifestações de
preocupações com a educação, com a saúde pública, com a falta de oportunidades de trabalho,
com o desemprego e a formação profissional, temas que aparecem ligados à reivindicação de
iniciativas e “tomadas de posição” do poder público quanto a necessidade de “reformatação” das
políticas sociais:

... a minha maior preocupação no Brasil é o desemprego, principalmente para nós,


jovens. Como é que a gente pode ter experiência se agora que nós estamos
saindo do Ensino Médio? O tempo ocioso dos jovens, principalmente no bairro
onde eu, o Guamá, que tem muitos jovens que, por não terem o que fazer, acabam
assaltando, se prostituindo... (feminino,GD1, plenária)

Há referências ainda à política “dos(as) políticos(as)” que parecem revelar além da


preocupação com as contradições e desmandos exercidos pela prática da político-partidária
bras ileira real e atual, também se atribui a essa forma de exercício do poder a origem e a
responsabilidade pelas condições adversas de vida da população e dos(as) jovens em particular.
As falas, logicamente atravessadas por diversos discursos (midiáticos, religiosos, escolares etc.),
traduzem, sobretudo, o distanciamento entre os(as) representantes e o “povo” [de certa forma,
eles(as) próprios(as)], temática historicamente repisada a respeito da tradição e da tradução da
atuação dos(as) políticos(as) no Brasil.

Minha maior preocupação é a política, que eles só pensam em si mesmos e


esquecem do povo. (masculino, GD1, plenária)

O que mais me preocupa no Brasil, com toda sinceridade é a política. (masculino,


GD2, plenária)

Esse aspecto, aliado à diversidade de temas e questões apontadas, inspira a redesenhar o


quadro polêmico da suposta “apatia da juventude” pela demonstração de saída de que percebem,
se interessam, demonstram preocupação e, mais que isso, propõem soluções bastante pertinentes
considerando que o momento é ainda um “início de conversa”. Longe da inércia, é a condição de
invisibilidade da juventude que esse primeiro momento de expressão parece denunciar.

19
5.1.2 Semelhanças e diferenças na plenária da manhã
Nas respostas à pergunta inicial “Pensando na vida que você leva como jovem
brasileiro(a), o que você acha que precisa mudar na educação, trabalho, cultura e lazer?, as
discussões ocorridas nos pequenos Grupos e depois trazidas para a plenária revelaram uma
relativa facilidade do Grupo em consensuar semelhanças, uma vez que a falta de investimento
generalizada emergiu como o ponto de convergência entre a diversidade de problemas narrados
pelos(as) jovens (ver anexos 2 e 3).
Eu acho que todos os Grupos (...) defenderam uma mesma tese: a de que os
governantes precisam olhar mais para a sociedade. Houve uma semelhança
assim entre todos os Grupos. (masculino, GD1, plenária)

Nós chegamos à conclusão do que deveria melhorar na educação. A gente vai


falar um pouco de investimento, por quê? Porque na realidade o que tá faltando
mesmo na educação é investimento. (masculino, GD4, exposição dos
subgrupos)

Acho que o nosso governo deveria investir mais em empregos e


oportunidades, em pesquisa, (...) e, aliás, investir nas pequenas empresas e no
nosso Estado do Pará. Por que abrir muita oportunidade pros que vêm de fora?
Honda, Volkswagen e enquanto os nossos microempresários não têm
oportunidades, entendeu? (feminino, GD3, plenária)

Um efeito em cadeia ou reprodução que está estampado no extrato de discurso


apresentado a seguir, que aponta a necessidade de equipar o espaço metropolitano (bairro,
conjunto habitacional, baixada, invasões etc.) habitado pelos(as) jovens como condição para
cidadania, ratificando a idéia de “ter direito à cidade” embutida própria palavra “cidadão”:
Nós achamos que deveria haver pólos esportivos e culturais, porque (...) a
pessoa, a criança, o jovem vai procurar as ruas, vai procurar roubar, porque
não tem um apoio (...), não tem onde passar aquele tempo perdido, aí vai
começar a meter caraminhola na cabeça, fazer besteira por aí. (masculino, GD4,
plenária)
Assim é que as condições de acesso e oportunidades são as principais “reivindicações”: a
qualidade da educação [aí incluídas a qualificação de professores(as) e da escola pública da qual é
oriunda a maioria dos(as) jovens participantes], a qualificação profissional, oportunidades de
trabalho e acesso a cultura e lazer, que aparecem na maioria dos Grupos (ver anexo 2).
As críticas e frustrações com a escola são inúmeras e particularmente relacionadas à
qualidade do ensino e à formação dos(as) professores(as). Isso demonstra que ,se por um lado, o
aumento do número de vagas relacionado às políticas de universalização do Ensino Fundamental
pode ter sinais positivos, muito ainda há que ser feito em termos de equipamentos, infra-estrutura
e formação docente, o que possivelmente pode ajudar a entender os dados da baixa escolarização
ou da não vinculação à escola revelados pela pesquisa de opinião.

20
Os professores não se preocupam com os alunos, não explicam bem as
matérias (...) ficam nos enrolando a aula toda. Talvez eles achem que porque o
salário é baixo (...) o que nós queríamos que mudasse era isso, que o governo
pudesse estar mais voltado as escolas (...) porque eu acho que nós estamos lá
pra aprender, nós somos pobres, não temos condição de pagar, mas nem
por isso nós devemos ser menos, devemos ter menos que as outras
pessoas. Então esse é o nosso apelo (...) pro governo. (masculino, GD3, plenária)

Chama atenção, no texto acima, o reconhecimento, por exemplo, entre as exigências de


sobrevivência que marcam cada um dos pólos do ato pedagógico: tanto os(as) jovens quanto
os(as) professores(as) precisam ser “investidos(as)”: considerados(as), empregados(as),
assumidos(as).
As críticas vêm sempre acompanhadas de uma idéia ou proposta de como melhorar,
reiterando que o sentimento é muito mais de frustração mesmo, de decepção, mas não é de
descrença no papel da educação como possibilitadora de mudanças, sobretudo para os(as) jovens
de classes populares. A própria figura do(a) professor(a) é posta em questão, mas não exatamente
depreciada. No máximo trata-se de um(a) agente insuficiente ou ineficiente como mediador(a) de
saber (mas não de alguém que encarne conhecimento algum) ou o(a) profissional que não cumpre
as normas institucionais mínimas quanto à freqüência e acompanhamento das tarefas e funções
escolares.
A gente precisa que os governadores invistam na educação, pra gerar
oportunidades pras pessoas, é isso que nós jovens queremos, a gente não quer
tudo na mão, a gente quer que eles dêem oportunidade de estudar, de lutar
pelo que a gente quer, pra podermos ter oportunidade de daqui há um tempo, ter
nosso emprego, levar nossa vida, ter um padrão bom de vida. (feminino, GD3,
plenária)

A gente vai depender muito da nossa educação. Porque não adianta você querer
emprego bom e ter só o ensino fundamental, porque emprego bom, você não
vai ter, você vai ser uma lavadeira, vai passar a roupa (...) eu sou repetente do
convênio, por quê? Porque me des estimulou muito na escola pública, devido os
professores não irem. Quando eu fazia cursinho, aí eu já me dedique mais (...), aí
chega no final do ano, reprovei. Tudo bem eu passei pra noite agora. Mas eu não
vou desistir do meu sonho, quero fazer cursinho, fazer faculdade, mas pra
isso tenho que estudar, batalhar, entendeu? (feminino, GD4, plenária)

As referências ao Ensino Superior são bastante freqüentes e, em geral, relacionadas à


questão do número de vagas e da falta de condições ou requisitos para competir por elas no
vestibular. Isso leva a supor que, nesse nível de ensino, a questão quantitativa parece ser o ainda
o principal problema do ponto de vista dos(as) jovens. Estes(as) reivindicam, antes de tudo, o
acesso à universidade. Para os(as) jovens pesquisados(as), a inacessibilidade ao curso superior
parece se constituir no grande entrave ao sonho da profissionalização ou do crescimento
profissional e todas as garantias que a ele, ainda que imaginariamente, estão associadas.

21
Se o governo, investisse na escola, na universidade pública, aumentando o
número de vagas nas universidades, melhorando a qualidade, aumentando o
número de professores, dando uma estrutura melhor pra essas pessoas não irem
pra particular, e sim, ir pra pública, onde todo mundo tem acesso e não paga nada.
(masculino, GD4, plenária)

Investimento nas universidades públicas, porque tem muita gente que concluiu, se
desinteressa, não vai buscar porque a demanda é pequena (refere-se à oferta na
verdade), pra muita gente que já concluiu quer conseguir ser universitário, aí fica
difícil, a pessoa se desestimula, perde a vontade (...) vai fazer uma prova de
vestibular, quebra a cara, porque não aprendeu nada, porque não aprende nada.
(masculino, GD4, plenária)

Os(as) jovens demonstram, de forma acentuada, uma tradição na Região Norte, instituída
pelo regime militar como política de integração nacional para manter estudantes na própria Região,
que é a valorização da universidade pública. Isso se reflete na demanda aos vestibulares, na
priorização dos(as) profissionais com Ensino Superior em caso de contratação para emprego e nas
representações da população em geral.
Percebe-se, então, que não é a “qualquer vaga” no Ensino Superior que a maioria dos(as)
jovens pleiteia, mas ao direito que eles(as) consideram legítimo de cursar a universidade pública.
Já com relação ao Ensino Fundamental e Médio, a escola pública não goza do mesmo prestígio.
Enfatizam que somente a melhoria da qualidade do Ensino Fundamental e Médio públicos
garantirá os requisitos para universidade pública, tornando-os(as) mais aptos(as) à concorrência
em condições de igualdade com os(as) estudantes das escolas particulares.
Nesse sentido, a comparação entre os padrões de acesso ou oportunidades diferenciadas
para os(as) jovens pobres e ricos(as) é claramente identificada.
É o meu caso, eu fiz UFRA (Universidade Federal Rural), e quebrei a cara, a
demanda já era pequena, só era 80 vagas, eu escolhi engenharia de pesca,
moleque! Só deu Ideal, Impacto (cursinhos pré-vestibulares dos mais caros em
Belém), não deu Bom Pastor (escola pública estadual), não deu, cara...
(masculino, GD4, plenária)

As necessidades e aspirações dos(as) jovens pobres e ricos(as) são marcadamente


diferenciadas, e essa diferença precisa ser considerada nos desenhos de políticas sociais. É o que
mostra claramente o diálogo a seguir:
O jovem de 16 anos ele não tá preparado pra trabalhar (...) Eu, sinceramente, eu
tenho 16 anos, não gostaria ainda de trabalhar, porque penso nos meus
estudos(...) A maioria dos jovens não gosta de trabalhar, eles querem sim o lazer,
eles querem estudar, mas o que obriga ele a trabalhar é a necessidade. (feminino,
GD3, plenária)

Claro que nós todos preferimos estudar, nos divertir, mas aí, quando o caso é uma
necessidade, aí eu acho que tem que ter essa oportunidade já pra quem precisa.
(masculino, GD3, plenária)

22
Independentemente da classe, a percepção de que há sim dificuldades e falta de
oportunidades é unânime entre os(as) jovens, o que está expresso na frase consensual do Grupo
quanto às semelhanças: “Os jovens deveriam estudar e se formar, mas alguns têm necessidade de
trabalhar e para estes falta oportunidade”.
Os(as) jovens também reivindicam formação profissional, reconhecendo que, dada suas
condições de vida, a inserção no mercado (mundo) do trabalho é condição que se impõe desde
cedo. As falas sobre experiências de terem sido recusados(as) ou preteridos(as) para postos de
trabalho por falta de experiência ou qualificação são recorrentes. Note-se, entretanto, que não
fazem referência explícita a postos de trabalho de maior qualificação, ao contrário, referem-se a
exigências mínimas que garantam condições igualmente mínimas para “candidatar-se” a uma
vaga. Parece haver uma certa incorporação de que, por serem pobres, pobres também serão suas
aspirações.
Criação de cursos públicos para a qualificação dos jovens. Porque tu vais procurar
emprego, você com seus 18, 17 anos, você já até terminou o Ensino Médio, mas
você não fez um curso de computação, um curso de costura, de cabeleireiro, de
alguma coisa, porque para tudo você tem que ter uma qualificação, mesmo que
você seja bom para aquilo, mas se você não se preparou, você não vai conseguir
se empregar. (feminino, GD1, plenária)

Além da necessidade de qualificação profissional, aparecem claramente nas falas dos(as)


jovens outras formas de “ineficiência do mercado de trabalho”: o desemprego, o subemprego e a
discriminação para o ingresso.
O preparo não garante o trabalho. (feminino, GD3, plenária)
Hoje a oportunidade de trabalho tá bem difícil. Nós vamos nas firmas, pedimos
empregos, só que como nós temos um baixo estudo, ensino, nós não
conseguimos. (...) Ele conseguiu emprego, mas em compensação, o que ele
ganha é baixo,(...) pôxa, eu vou chegar na minha casa, imaginem vocês, eu vou
falar’ mulher, tá aqui o dinheiro, só deu pra comprar um ovo, mas que, que eu
posso fazer?’ (masculino, GD3 , plenária)

Aparecem ainda análises interessantes sobre as condições de subemprego (e


subremuneração) dos(as) trabalhadores(as) (jovens ou não) nas atividades econômicas, fato que
também relacionam com as condições de pobreza. “Nem todas as oportunidades valem à pena”
(feminino, GD3, plenária). Essa fala acaba por revelar as discordâncias entre os(as) jovens,
trazendo à tona uma certa ambivalência entre o subemprego (trabalho pesado; mão-de-obra
barata) ou o emprego nenhum.

Em relação a essas empresas, multinacionais vindo (...) Se a gente for parar pra
analisar, existe um lado que os lucros vão pra eles, mas por outro lado, a mão-de-
obra que eles pegam é da região. (masculino, GD4, plenária)

Lá perto de casa tá rolando uns empregos, só que fica muito cansativo, e também
eu acho que não vale a pena pra qualquer pessoa, de vendedora na rua, pra
vender produtos, cosméticos, não dá pra vender, porque o dinheiro que você tá

23
recebendo só é pra comprar roupa pra trabalhar. Agora se tivesse um emprego de
secretária, recepcionista(...) Agora, pra ficar andando na rua, no sol quente, não
compensa isso. (feminino, GD3, plenária)

Não obstante a falta de capacitação apropriada e de experiência relatadas pelos(as)


jovens, o terceiro condicionante para a exclusão dos postos de trabalho diz respeito à
discriminação que eles(as) enfrentam. Diante da grande demanda, a seletividade torna-se
“inevitável”. E ela, além de se fazer pelos critérios acima, utiliza-se de outros, abrindo caminhos
para práticas ainda mais perversas, além de ilegais, como a discriminação pela aparência e
práticas de racismo, que são relatados pelos(as) jovens como “feiúra”, índices de pobreza
revelados nos dentes, nas roupas, nos cabelos, cor da pele etc.
O jovem hoje tem que ter uma aparência, eles pedem, assim, é muito difícil pra
jovem, tem que ter idade pra trabalhar, tem que ter estudo e ainda tem que ter
aparência (...) Deveria ter mais essa igualdade, assim, entre raça, entre tamanho,
cor, idade, não importa. (feminino, GD3, plenária)

Uma amiga da minha mãe falou assim, se eu não queria trabalhar entregando
panfleto, aí ela perguntou se eu tinha uma amiga bonita, eu tinha uma amiga, só
que ela não era lá essas Coca-Cola... (risos) Aí eu falei, não, olha eu não sei, aí
ela falou:’ se ela não for bonitinha, a gente despacha, fala que já acabou, que já tá
tudo cheio já’. É uma discriminação isso. (feminino, GD3, plenária).

Na verdade, esses discursos demonstram com absoluta lucidez o quanto a violência dos
“maus tratos” endereçadas a eles(as), jovens, pode atingir o limite do insuportável.
Os(as) jovens mais pobres referem ainda dificuldades maiores quando a freqüência às
aulas precisa ser combinada com o período de trabalho. Propõem a ampliação do repertório da
escola de forma a atender às necessidades do mercado de trabalho ou da continuidade dos
estudos e ao mesmo tempo propõem a flexibilização do cotidiano da escola (horários, rotinas e
práticas) de forma a incorporar as experiências também diferenciadas do(a) aluno(a)
trabalhador(a).
Em termos gerais, as questões relacionadas a acesso ao mundo do trabalho e do domínio
de habilidades e credenciais exigidas para esse acesso (oportunidades de qualificação e aquisição
de competências profissionais) parecem se constituir num dos sérios problemas da juventude da
RMB e um entrave importante à inserção e participação social.
Em relação às questões da cultura e lazer, o aspecto da “falta” também foi evidenciado.
Ressalvando a necessidade de que, mais uma vez, não há os tons de lamúria, que comumente
marcam o discurso da falta.
Que nós pudéssemos ter um local pra, assim digamos, um parque né, aquático,
coisa assim, pra gente poder se divertir um pouco, que isso fosse público, não
fosse particular, porque a gente não tem condições. É parte da nossa educação.
(feminino, GD3, plenária)

A organização dos pontos públicos, tais como praças, teatro, parques, porque
impede as apresentações, danças e encenações, fazem com que esses grupos

24
não consigam se expandir. Porque nós ‘tamos falando dos pobres mesmos, não
tem jeito. Pobre, ele não pode apresentar o seu trabalho. (feminino, GD3, plenária)

As “queixas”, nesse caso, são bastante realistas e amplamente justificadas. No geral,


ações relacionadas à prática do esporte, ao acesso à cultura e ao lazer são parte das expectativas
dos(as) jovens, que manifestam não apenas a vontade, mas a percepção do direito a tal acesso.
O(a) jovem não “quer só comida”, mas “diversão e arte”, uma vez que a falta de dinheiro e de
incentivos “pra valer” restringem as possibilidades de apropriar-se do espaço público. Também a
escola não se disponibiliza a se constituir em lugar de encontro e socialização. É certo, no entanto,
que aspectos da cultura e lazer são destacados como um direito aos espaços que tornam
possíveis a expressão de uma identidade, dos seus modos de vida, além dos possíveis benefícios
em termos de ampliação do repertório de vivências. Mas não apenas isso. Tendem a valorizar as
atividades culturais e de lazer como uma forma de ocupação do tempo ocioso, do afastamento de
práticas ligadas ao crime, violência ou prostituição:
O tempo ocioso dos jovens né, principalmente no bairro onde eu moro o Guamá,
eu percebo que tem muitos jovens que por não terem o que fazer, acabam
assaltando, se prostituindo, então a minha preocupação no momento a maior é
essa. (feminino, GD1, plenária)

Os parques e praças (66,5%) e os shoppings (55,0%) são os espaços mais freqüentados


pelos(as) jovens.

A freqüência a teatros (11,8%), museus (19,5%) é consideravelmente menor.

38,3% deles(as) afirmam não terem lido nenhum livro completo durante o ano, sendo que os
maiores percentuais estão entre os(as) mais velhos(as) (48,9%), nas classes D/E (46,8%) e
nas escolas públicas (41,1%);

A diferença entre brancos(as), pardos(as) e pretos(as) se mostra mais acentuada na


freqüência a museus [28,7% entre os(as) brancos(as) e 14,8% e 18,4% entre pardos(as) e
pretos(as) respectivamente] e teatros (c om percentuais de 16,6%, 10,9% e 7,9%
respectivamente).

38,1% dos(as) jovens das classes A/B freqüentam museus e 27,8% freqüentam teatros,
sendo que esses percentuais caem para 24,7% e 14,7 para os(as) jovens da classe C e
10,2% e 3,4% para os(as) das classes D/E.

A co-relação entre a ausência de locais para o lazer e a produção da marginalidade foi


reiterada nos Grupos, porém prevalece nas falas, a falta de expectativas e a sensação de
“abandono”, ao denunciarem a existência de espaços culturais ou de lazer “só para turistas” ou
para “só para barões”, criando na cidade verdadeiras “zonas de interdição” ou “guetos de
exclusão” que são absolutamente reais.

25
O cara chega e fala assim, tem aquele anúncio bonito na televisão; Docas do Pará
5
não é do Pará, velho, é pros gringos, vai pedir um gelo lá... (risos) É cinco conto
(R$ 5,00), as casa das sete janela6, vai lá ver uma exploração, esse Mangal das
Garças, aí é bonito pra ver, mais fora, vai ver a pobreza que (masculino, GD4,
plenária)

O não acesso aos bens culturais é encarado ou analisado de duas formas. Há falas
que apontam para uma auto-exclusão (“Dá pra ir sim, não precisa gastar dinheiro, não
precisa comer nada”; “Tem muita coisa acontecendo, as pessoas é que não vão”) e outras que
apontam para a falta de divulgação de atividades ou eventos gratuitos, mas que a população
mais pobre, que mora distante dos locais mais “badalados” e que têm pouco acesso aos
veículos de comunicação que divulgam acontecimentos dessa natureza. De acordo com os(as)
jovens, se essas pessoas não assistem na TV os programas informativos ou não lêem jornais
impressos e não escutam rádio, acabam por não tomar conhecimento ou só ficar sabendo
quando após os eventos terem acontecido.
A freqüência aos shoppings mostra que, a princípio, estes não excluem. Embora os dados
não indiquem e provavelmente nem pretenderam indicar quantos são consumidores(as)
efetivos(as) e quantos são consumidores(as) apenas simbólicos(as). Tais espaços produzem uma
“cultura extraterritorial” (Sarlo, 2004: 20) da qual ninguém pode sentir-se excluído(a). Mesmo
aqueles(as) que não consomem, se movimentam, circulam, paqueram e mesmo inventam outros
usos do espaço, que são tolerados desde que não “depredem” ou interfiram na “civilidade” apoiada
na liberdade do trânsito e até numa certa desordem sob controle. Nada mais “adequado”, portanto,
à cultura jovem.
A freqüência nos diversos espaços sobe consideravelmente com a escolaridade, exceto
em relação aos parques e praças, que parecem ser lugares mais democráticos com freqüência
maior e mais diversa. Teatros e museus, de forma geral, não aparecem como lugares atrativos
para a juventude.
Os(as) jovens tendem a adotar uma postura de denúncia das suas condições de vida, de
crítica e responsabilização dos governos pela falta de investimento (destinação, tempo e espaço)
em políticas públicas, e essa foi a tônica dos Diálogos em plenária. Entretanto, ao mesmo tempo,
os(as) jovens também conseguem direcionar a atenção para si e para o papel que possam ter nas
mudanças que são necessárias. Nesses momentos, se percebe um desejo potente de requerer o
direito político e social, assumindo que podem contribuir para essa conquista, embora não
definam, como dito anteriormente, as formas objetivas de como fazê-lo.

5. Referência à Estação das Docas, ponto turístico de Belém, às margens da Baía de Guajará.
6. Outro ponto turístico da cidade.

26
A expressão desse “reconhecimento da responsabilidade” de cada um(a) aparece através
de formas contraditórias, mas importantes para assinalar o papel que devem assumir na luta por
esses direitos, independentemente da obrigatoriedade de investimento do poder público. Uma das
maneiras de expressão é o sentimento de que os(as) jovens “estão assim porque querem”. Essa
imagem negativa que parece internalizada por eles(as), marcada por uma certa culpabilização,
está evidenciada nos discursos a seguir:
Corre atrás mesmo. E tem outros cursos que são de graça, cursos de computação,
de informática, corre atrás gente, não senta no sofá, não espera cair do céu que
não cai, o que cai do céu é chuva. (feminino, GD1, plenária)

Eu fui me cadastrar no Sine e estavam matriculando no curso de informática, eu


me matriculei e por sorte fui chamada pro curso de manutenção. Então uma
oportunidade que hoje eu trabalho com informática, que eu tive né?, que talvez se
eu não tivesse corrido atrás, sabe lá o que estivesse fazendo uma hora dessa.
(feminino, GD1, plenária)

Falas como essas provocam um impacto e um mal-estar no Grupo, por conceberem que
os(as) jovens não sabem ou não querem aproveitar as poucas oportunidades que existem.
Predomina aqui o discurso do esforço, quer dizer, se esforçar e ir atrás daquilo que querem. São
falas que, além de trazerem à tona o discurso da competência (ou da incompetência) individual, na
verdade servem para mascarar ou esconder o caráter microscópico das políticas públicas, por não
deixar claro, em contrapartida, que não é para todos(as) “correrem atrás” mesmo, porque as vagas
não são suficientes.

O contraponto a essas falas vem com expressões dos(as) jovens que demonstram uma
avaliação crítica das políticas públicas, as quais não atendem suas necessidades e expectativas.
Ainda que o chamado “discurso da falta” tenha se constituído na tônica dos Diálogos entre os(as)
jovens, é importante pontuar que, diferentemente de outras populações marginais urbanas, a falta
aqui não se traduz na simples constatação de um estado de carência, mas como uma procura,
uma investida, uma busca, inclusive, do espaço não apenas da denúncia, mas antes e
principalmente do direito de reivindicar. As vozes não são de alguém que reclama. Expressões
como “deveria ter ou haver mais”, recorrentes nos discursos, apontam para sujeitos que percebem
seu papel não apenas de “cobrar”, mas de ajudar a decidir, ainda que não consigam identificar
claramente como viabilizar isso.

Certamente por trás da idéia do investimento se revela (desvela) a questão da exclusão


social, que, conforme os(as) jovens, vai além da desigualdade econômica, envolvendo aspectos do
acesso aos bens culturais, ao trabalho, à formação profissional e à educação. O que surpreende
não é apenas a percepção ou o reconhecimento da situação concreta (atual), mas a clareza das
conseqüências dessa exclusão a médio e longo prazos, da negação daquelas que seriam as

27
condições de desenvolvimento pleno, de satisfação de necessidades e de possibilidades de
participação, e de uma vida mais autônoma.
Evidentemente, a não participação não pode ser pensada como conseqüência direta da
pobreza, contudo, há a possibilidade de serem, ambas, partes de um mesmo processo que cria e
acirra as desigualdades e aprisiona os indivíduos na luta pela sobrevivência, ex clui das
possibilidades de acesso aos bens culturais e, com isso, das possibilidades de experiências de
sociabilidade diversificadas. A luta por comida e emprego cria dificuldades materiais e ideológicas
à participação. Não propicia a apreensão de problemas comuns, causas ou anseios convergentes,
elementos que conduzem à participação. Interessante é que essas situações são acirradas
exatamente num momento em que as exigências sociais apontam para indivíduos criativos,
versáteis, autônomos e com capacidade de decisão.
As falas dos(as) jovens deixam bem claro que o Caminho da organização em grupos ou da
participação política compete fortemente com o da sobrevivência, com a necessidade de trabalhar
e ganhar o sustento, ainda que isso não signifique as condições mínimas de alimentação,
educação, saúde, lazer etc. Nesse caso, os(as) jovens relatam impedimentos bem concretos para
a participação.
A questão de você deixar um lado e partir pra outro, eu vejo assim, porque há
dificuldade, tem pessoas que trabalham... No meu caso, eu trabalho de sábado a
sábado, de 5h30 da manhã, eu tenho um intervalo de duas horas pro almoço e
saio às 18h e vou pro colégio, chego 23h em casa, aí eu vou me dedicar a uma
ONG onze horas, meia-noite? Não tem condições... (masculino, GD4, plenária)

5.2 Mecanismos ou espaços sociais de participação

Neste segundo conjunto de condições, pensa-se que a participação pode estar condicionada às
formas ou mecanismos que os(as) jovens encontram disponíveis na sociedade. Aqui novamente
uma ressalva deve ser feita no sentido de que não é possível esperar passivamente que os
mecanismos se constituam, sejam dados para que os(as) jovens os ocupem. Efetivamente, aliás, a
prática de participação dos(as) jovens (embora quantitativamente pouco expressiva) tem mostrado
sua experiência e competência em propor, abrir ou conquistar esses espaços.
Trata-se, contudo, de perceber e reafirmar que cabe também à sociedade, a partir de
suas principais instituições e instrumentos, valorizar essa participação, abrindo, propondo ou
ampliando os espaços de participação dos(as) jovens. Pensa-se que os mecanismos ou
espaços de participação aos quais os(as) jovens têm ou possam ter acesso têm a função de
incentivar a participação. Necessário se faz uma ressalva ao sentido do termo aqui utilizado:
incentivar – dar incentivo a, estimular, mover, incitar ou excitar; mudanças no meio capazes de
provocar uma resposta.

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Pode-se pensar que uma efervescência de ações voltadas ao público jovem,
disponibilização de atividades nos diversos espaços nos quais os(as) jovens estão envolvidos(as),
convites, propostas, exemplos interessantes e atuações bem-sucedidas possam ter essa função
provocadora, excitem os(as) jovens à participação.
Neste aspecto, pode-se perguntar que ou quais mecanismos de participação são
disponibilizados aos(às) jovens nos diferentes espaços sociais? Que “incentivos” estão
disponíveis? Que elementos apontados pelas duas etapas da pesquisa contribuem para pensar
essas questões?
Nos resultados da pesquisa, duas formas potenciais de participação da juventude ganham
especial relevo: o espaço da escola, como espaço aglutinador de grande parcela da juventude,
ainda que ao mesmo tempo signifique espaço de exclusão da outra parcela, e os grupos, as
diversas formas de associaç ão da juventude, a adesão às entidades ou organizações do
movimento social ou às formas tradicionais de participação política, que nas falas dos(as) jovens
aparecem condensadas sob a forma de “participar, ir pra luta, lutar pelos direitos”, sem nenhuma
alusão a que esses espaços possam representar níveis diferenciados de participação.

5.2.1 A participação na escola

29
Na RMB, a escola conserva uma tradição maior em proporcionar atividades de
entretenimento e culturais, como festas (67,7%), apresentações de teatro, dança e música
(53,2%), e exibição de filmes (49,4%). Por outro lado, há uma prática escassa de atividades
que impliquem na “saída dos muros” da escola, nos três segmentos de classe atividades
como: excursões (A/B – 28,8%; C – 22,6%; D/E – 17,9%) e visitas a museus/exposições
(A/B – 31,5%; C – 27,8%; D/E – 25,3%).

Há diferenças por classes sociais na realização de atividades. Em todas as opções


pesquisadas, os índices são maiores nas classes A/B. O exemplo mais significativo é a
realização de seminários, concursos e participação em feiras de ciências que são
predominantemente oferecidos para as classes A/B (71,2%) e diminuem expressivamente
nas classes C (47,8%) e D/E (37,9%).

A participação dos(as) jovens nas atividades é significativa, concentrando índices acima de


50% em todas as atividades. Há grande adesão dos(as) jovens das classes D/E às
atividades de exposições e visitas a museus. Apesar de apenas 25,3% referirem a
realização dessas atividades em suas escolas, é este estrato que revela a maior participação
proporcional (79,2%).

Os debates de temas diversos aparecem como atividades pouco realizadas (43,2%); a


diferença entre as escolas públicas e privadas é expressiva (40,3% e 51,9%
respectivamente). A temática da Aids, sexualidade, drogas e violência são as mais ofertadas
(74,8%).

O interesse dos(as) jovens pelos debates que envolvem temas sociais é alto, mobilizando
índices de participação acima dos 70,0%, nas diferentes faixas de idade, classes, níveis e
modalidades de ensino. Direitos Humanos é o tema de maior preferência (89,5 %), sendo,
entretanto, um dos menos discutidos ou ofertados na escola (38,8%), sugerindo a recorrente
distância entre os interesses da cultura juvenil e as propostas que a escola é capaz de
formular.

Apenas 24,7% dos(as ) entrevistados(as) participam de atividades aos finais de semana,


sendo que estas são: prática de esporte (46,4%), cursos pré-vestibulares, aulas de reforço
(35,7%) e encontrar amigos(as) ou outros(as) jovens (11,9%).

Novamente há importante diferença entre os três estratos sociais: 37,0% nas classes A/B;
28,7% na classe C; 12,6% nas classes D/E; da mesma forma, também é grande a diferença
entre escola pública e privada (18,6% e 44,4% respectivamente).

Os resultados mostraram que a escola tem dificuldade ou resiste ao alargamento das


fronteiras de acesso a outras formas de conhecimentos e informações, incluindo a compreensão
de onde e das maneiras pelas quais estas podem ser adquiridas e construídas pelos(as) jovens. A
idéia é de uma restrição da prática escolar às “aulas” (stricto sensu). Uma concepção implícita
pode ser a de que o controle do espaço permite controlar também o tempo e os corpos,
materializando o que Peregrino e Carrano (2003: 20) caracterizam pela confirmação da escola
“como espaço de contenção física e simbólica de jovens e crianças”.
Paradoxalmente, os(as) jovens de classe A/B não são — relacionando comparativamente
“oferta e demanda” — os(as) que mais participam de debates, excursões e projeção de filmes. É
possível que a possibilidade de vivenciar atividades semelhantes, independentemente da
mediação da escola, os(as) coloque em condições de “selecionar” em quais preferem se engajar.

30
Em outras palavras, para estes(as) jovens, as ações de recreação ou de ampliação do repertório
cultural oferecidas pela escola certamente competem com muitas outras a que têm acesso fora
dela. Entretanto, quando se trata de seminários, concursos de redação ou feiras de ciências,
tarefas que provavelmente creditam notas, conceitos ou pontuação por participação, as escolas
dos(as) jovens de classe A/B são as que mais promovem e contam com maior índice de adesão.
Embora os dados mostrem que essas práticas não são comuns entre as classes mais
baixas, é nítido o seu interesse pelas atividades e uma adesão quando das oportunidades, em
função, talvez, de que, para esse segmento, a escola seja uma das principais vias (quiçá a única)
de acesso a eventos dessa natureza. Os(as) jovens reivindicam a ampliação do repertório da
escola, por reconhecerem-na como uma das vias possíveis de oportunidades dessa natureza.
Eu acho que a Seduc deveria colocar mais cursos profissionalizantes, mais teatro,
pra pessoa aprender a fazer o que ela não sabe. O português e a matemática,
tudo, vai aprender pra preparação pro Prise. E o teatro, outras coisas, tu não vai
aprender. (feminino, GD3, plenária)

Também são baixas para os(as) jovens as oportunidades de discussão ou informação


sobre os diversos temas sociais, políticos e econômicos na escola, o que contrasta com adesão
manifestada por eles(as). A vontade de discutir os Direitos Humanos (vide box) provavelmente
traduz uma demanda para discutir seus próprios direitos na instituição escolar e na própria prática
social, uma vez que a maioria desses(as) jovens vivencia uma distribuição desigual e arbitrária das
oportunidades de acesso aos bens sociais, o que não somente significa lesão aos direitos
humanos para alguns(mas), mas risco de sobrevivência para todos(as) (Braslavsky, 2002: 195).
Embora os dados indiquem que a presença de debates de “temas variados”, ou seja, fora do
conteúdo obrigatório, tenha se tornado mais freqüente, parece que a escola ainda não encontrou
(ou descobriu) os caminhos da inserção/envolvimento com as questões e problemas sociais e a
demanda crescente de incorporação da diversidade sociocultural dos(as) alunos(as).
Nota-se um aumento considerável na realização de ações comunitárias e trabalhos sociais,
debates e seminários entre os(as) que têm o Ensino Médio completo ou mais, indicando que a
conclusão do Ensino Médio significa também uma abertura de possibilidades de inserção na vida
social (da comunidade, bairro ou até cidade) com as oportunidades de estágios, atividades de
extensão, pesquisas, trabalhos voluntários, eventos etc.
Outro dado que parece refletir a dificuldade de entrelaçamento entre escola, comunidade e
participação da juventude é a baixa freqüência à instituição de ensino nos finais de semana. Pode-
se supor que a não abertura do espaço, mais uma vez, limita a participação para os(as) jovens de
estratos sociais mais baixos, justamente os(as) que têm menor disponibilidade de outros
equipamentos e atividades de lazer.
Apesar da pouca oferta, os dados mostram que há resposta dos(as) jovens em termos de
participação. A questão que se sobressai é que, uma vez proposta, a adesão acontece, os(as)
jovens estão lá, ocupam os espaços, o que reforça a premissa de que é extremamente necessária

31
a disponibilização dos espaços como incentivo ou excitação para a participação. Nesse
sentido, pode ser dito que o espaço escolar é um locus de convivência e de oportunidades
diversas para a dinamização da “vida juvenil”, principalmente em contextos de pobreza como
os identificados nesta Região.
Não há como negar que essas atividades significam potenciais valorizadores da força
associativa dos(as) jovens e, em suas expressões mais bem -sucedidas, são certamente
promotoras, além da recreação, das capacidades e habilidades criativas e interpretativas, o que é
seguramente um fator de atração para eles(as).
Neste sentido, se coloca em questão o papel da escola na possibilidade de reunir
condições e estratégias de captar as diferentes expectativas e experiências da juventude, de
contribuir para que este segmento elabore uma compreensão mais ampla de mundo, desenvolva
autonomia e criatividade, como condições básicas para a ampliação da experiência social e para a
participação.
Necessário, entretanto, enfatizar que não se trata de culpabilizar a escola pelos problemas
identificados, mas de reconhecer sua função, elegendo-a como interlocutora privilegiada nas ações
de enfrentamento político a todas as formas de resignação ou naturalização das desigualdades, de
pensá-la como um espaço importante na agenda de oportunidades da juventude.
Outro dado singular é o fato de que os(as) jovens fazem alusão à ampliação do repertório
da escola, mas não referem ampliação dos espaços de participação nas decisões ou na gestão.
Isso leva a inferir que a participação na gestão e organização da escola e na sua democratização
não se colocam como questão ou possibilidade para os(as) jovens, que também não relacionam
tais aspectos com a melhoria da qualidade que eles(as) reivindicam.

5.2.2 A participação em grupos ou entidades e organizações sociais


Tipos de participação referidas pelos(as) jovens

Participa atualmente Participou Nunca participou.

120
100
80
60
40
20
0
Gs
a
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s
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s
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al

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Div

Ne
Co

32
No geral, a cultura da não participação, principalmente através de grupos, parece ser a
regra entre os(as) jovens da Região Metropolitana de Belém. Apenas 19,8% afirmam fazer parte de
algum grupo, dentre eles(as), predominam os homens (21,1% contra 18,6% das mulheres).
A tendência se mantém nas diferentes faixas etárias e níveis de instrução, embora seja
possível perceber que a escolaridade exerça alguma influência em termos da possibilidade de
organização, cujos dados que são de 14,9% entre os(as) de menor escolaridade (E. Fundamental
incompleto) aumentam entre os(as) que têm o E. Fundamental completo e E. Médio incompleto
(19,4%), chegando a 27,1% entre os(as) que têm o E. Médio e mais. Dados que, novamente,
reiteram a escolaridade como uma dimensão relacionada com a restrição ou ampliação da
experiência social.
Além da baixa participação, uma outra característica revelada nos dados é a concentração
de tipos de atividades dos grupos com a predominância das atividades religiosas (36,1%), seguida
das relacionadas à música, teatro e dança (31,9%) e das esportivas (22,7%). A dimensão religiosa
no processo de grupalização dos(as) jovens, em especial das mulheres, é significativa. Essa
dimensão apareceu muito forte nos GDs, tanto na postura dos(as) jovens, reafirmando seu
envolvimento com a igreja (grupos de igreja) e a importância dessa participação, quanto na opção
pelos Caminhos
Nós escolhemos esse Caminho porque nós achamos que é um caminho justo, e
até mesmo porque quatro dos cinco do nosso Grupo já trabalham
voluntariamente.(GD1; apresentação dos subgrupos)

As atividades culturais (teatro, dança e música) e esportivas representam o segundo e


terceiro segmentos aglutinadores da juventude, com 31,9% e 22,7% [dos(as) jovens que participam
de algum grupo], respectivamente; essas atividades parecem ser as “mais disponíveis” para
os(as) jovens.
A participação em atividades de caráter mais político ou de intervenção social é baixa:
atividades estudantis (9,2%); ações de melhoria das condições de vida (3,4%); comunicação e
meio ambiente (2,5%); atividades político-partidárias, de arrecadação de alimentos e defesa de
direitos com ínfimos 0,8% cada uma. Há um extremo distanciamento das formas tradicionais de
participação política ou de agregar as demandas juvenis buscando influenciar nas decisões
políticas. As atividades político partidárias só aparecem entre os(as) jovens de nível superior e
entre os(as) jovens mais velhos(as) (21 a 24 anos).
Outro aspecto importante é que os percentuais de jovens que já participaram e não
participam mais de algum tipo de atividade associativa supera em todas as atividades os
percentuais dos(as) que participam atualmente, com diferenças bem marcantes que chegam a ser
de cinco, sete ou até oito vezes nas atividades comunitárias, estudantis e de meio ambiente e
ecologia, respectivamente. Essa diferença pode ser indicadora da refração ou esfriamento nos
níveis de participação, de esgotamento ou perda de relevância de formas de mobilização juvenis

33
que foram responsáveis por uma abertura de influênc ia política desse segmento em outras
conjunturas, como é o caso dos movimentos estudantis e dos movimentos de bairros, durante as
décadas de 70 e 80.
A sociedade, de maneira geral, não dispõe de mecanismos, instrumentos ou espaços que
funcionem como atrativos para formas associativas dos(as) jovens. As experiências são restritas,
como o caso do Orçamento Participativo (OP da Juventude) em Belém que, em três anos (1999 a
2001), não conseguiu se firmar como prática participativa da juventude. Essa restrição está
presente nas falas dos(as) jovens, quando referem “não saber onde” ou “não serem convidados”.
Eu participava do grupo jovem do PMDB, aí eu vim de lá (...) Eu acho que não tem
incentivo pra gente procurar, a gente nem sabe aonde ir, fica difícil participar. (feminino,
GD4, plenária)

Eu não procurei, mas também ninguém procura. (feminino, GD4, plenária)

Embora se considere a necessidade de relativização de tais falas (alguns espaços existem,


com práticas interessantes), ainda assim, não podem ser desconsideradas. Essa falta de espaços,
articulada aos óbices financeiros e de sobrevivência material, ajudam a configurar um cenário da
baixa participação da juventude na RMB.
Outro fator de incentivo (ou da falta de) são as concepções ou percepções dos(as) jovens
sobre a eficiência desse tipo de participação, e ainda o grau de confiança nos(as) “políticos(as)” e
na política, da forma como é exercida. Pensa-se como incentivo para, não apenas as ações em
si, mas também os exemplos positivos ou negativos ou a forma como estas são percebidas
pelos(as) jovens e, neste caso, o exemplo da política é essencialmente negativo.
E eu vou lhe dizer uma coisa, francamente, pra mim, a política já é totalmente
desacreditada. (feminino, GD1, plenária)
Então, a partir do momento que tu entra numa ONG, organizações, sindicatos, tu passa a
te privar um pouco da tua vida, pra ti participar de causas praticamente perdidas (...)
Ninguém vai agir pra fazer alguma coisa a respeito (...) Fica difícil a participação dos
jovens. Ainda mais no Brasil, que é o país mais corrupto do mundo. (masculino, GD4,
plenária)

Sobre a frase “a maioria dos(as) políticos não representam os interesses da população”,


61,2% afirmam concordar totalmente e apenas 8,1% discordam totalmente.

62,6%, por sua vez, concordam totalmente que “a maioria dos(as) políticos só defendem
seus interesses pessoais”.

Entretanto, 84,2% concordam totalmente com a necessidade de “abrir canais de diálogo


entre os(as) cidadãos(ãs) e o governo”.

34
Para alguns(as), as mudanças não seriam papel da juventude e sim do governo, cabendo
aos(às) jovens o papel de realizar competências individuais, como, por exemplo, a busca de
inserção no mercado de trabalho, sendo essa uma forma se garantir a sobrevivência. O Caminho
dessa construção individual e busca pela sobrevivência é incompatível com a organização coletiva,
pois consome o tempo e não dá nenhum retorno, seja financeiro, de reconhecimento público ou de
resultar em resolução dos problemas.
Por outro lado, aparece o discurso do descrédito, no qual os movimentos, as mobilizações,
as lutas “não dão em nada”. Ao final, os(as) políticos(as) detêm o poder e fazem de acordo com
suas próprias convicções e interesses. Os movimentos não têm força suficiente para controlar ou
influenciar as ações dos governos e isso é apontado, inclusive, como a causa do afastamento dos
movimentos sociais ou das organizações políticas: “Já até fiz, mas não deu em nada”.
Se a maior participação dos diferentes interesses na tomada de decisões coletivas se
constitui num dos elementos da democracia – e uma das características da cidadania moderna é a
ação coletiva de uma diversidade de sujeitos num confronto de influências sobre estas decisões –,
então é possível dizer, grosso modo, que os(as) jovens da RMB estão fora desse processo de
vivência cidadã, já que seus interesses não estão considerados no jogo do poder e suas práticas
de participação se dão de forma extremamente restrita, ficando de fora do confronto da diversidade
e da influência nas decisões.
Além disso, os resultados sobre participação parecem indicar que se tratam de formas
mais institucionalizadas de organização (igreja, por exemplo) que, embora importantes do ponto de
vista da experiência social, da convivência, da construção e fortalecimento de identidades juvenis,
não representam, em sua maioria, organizações juvenis autônomas, uma vez que pode estar por
trás do processo organizativo, um “poder adulto” institucionalizado, tratando-se, assim, mais de
atividades preparadas para os(as) jovens do que por eles(as) ou mesmo com eles(as).
Assim, o cenário da participação, política, sobretudo, acaba sendo protagonizado por um
pequeno e pouco representativo grupo de “líderes” ou “protetores(as)” [com uma crescente “safra”
de jovens, filhos(as), netos(as) ou “afilhados(as)” de políticos(as) poderosos(as)], o que abre
espaço para a corrupção e o clientelismo político, tão comum na sociedade brasileira, em especial
nas regiões mais pobres.
Há, entretanto, aqueles(as) que encontram sentido no agrupamento ou organização como
forma de influenciar decisões e melhorar suas condições de vida, uma “crença” que, ainda que
talvez não seja completa, já que contraditoriamente eles(as) percebem que cada um(a) tem mesmo
é que cuidar de seus interesses, de qualquer forma, os(as) ins tiga na proposição de Caminhos e
logicamente, na proposição de condições.
Eu acho importante nós próprios lutarmos para mudar o país. Eu acho bacana porque,
muitas das vezes, roubam nossos direitos e nós não fazemos nada. Acontece cada
injustiça e a gente não sabe com quem falar o quê fazer, não sabe onde gritar pra dizer

35
que não tá concordando, então acho que é interessante a gente não ficar esperando por
ninguém e sim correr atrás do que a gente quer pra mudar o mundo.

5.3 Motivações para a participação: caminhos e condições

Apesar da baixa participação, há que se enfatizar a existência de uma diversidade de atividades e


formas de organização e atuação dos(as) jovens na esfera pública. Ainda que essa diversidade
não encontre correspondência em termos de quantidade, é importante frisá-la como marca da
criatividade, do interesse dos(as) jovens na busca de novas propostas de participação, inclusive
com a disponibilidade de ocupar seu tempo livre com atividades voltadas para a convivência e
organização de outros(as) jovens. Isso pode significar, por parte dos(as) jovens, uma percepção
dos problemas que enfrentam e uma aposta no efeito de suas ações coletivas.
As demonstrações de adesão explicitam a abertura e receptividade dos(as) jovens às
novas aprendizagens e às novas institucionalidades públicas. A juventude começa, ainda que de
forma pouco intensa, a reivindicar e assumir um papel que permita mudar o quadro das lideranças
políticas oligárquicas que atuam muito mais como profissionais dos cargos e menos como
mandatários(as) da população regional.

5.3.1 Semelhanças e diferenças nas plenárias da tarde


A questão comum foi a percepção da necessidade de participação, a qual aparece
expressa de formas variadas em cada Grupo de Diálogo, mas que pode ser resumida na frase do
Grupo: “Sim, a semelhança é que, todos querem ajudar de alguma forma, todos querem se
envolver em algum grupo” (feminino, GD3, plenária). (ver anexos 2 e 3). A convergência que
marca a identificação de “apenas uma semelhança” nas plenárias da tarde pode, possivelmente
ser explicada, pelo fato de que, à tarde, depois de todo um processo de Diálogo em Grupo, a
opção é mais categórica, acabam por traduzir “uma vontade” dos(as) jovens, como que dissessem:
“Eu topo”. Aliás, a sensação que se tem é ex atamente essa: se naquele momento houvesse um
convite mais concreto e formal, a adesão seria grande.
Essa percepção é marcada mais pelo reconhecimento da possibilidade de participação e
de exercer influência nas decisões. Esse aspecto é certamente direcionado pela questão da tarde
“Pensando no que vocês listaram pela manhã, sobre o que deve melhorar na educação, trabalho,
cultura e lazer, como vocês estão dispostos(as) a participar para que essas melhorias se tornem
realidade?” e pela leitura mais atenta dos Cadernos. Os(as) jovens conseguiram pessoalizar suas
posições e discutir amplamente as opções que estavam dispostos(as) a fazer. A fecundidade e a
seriedade das posturas assumidas nos Grupos de Diálogo, se não tiveram como efeito a inserção
imediata em processos de grupalização, certamente funcionaram como um ímã em relação a
curiosidade participativa dos(as) jovens.

36
Diferentemente, mas sob a influência dos Diálogos da manhã, quando a tônica foi a
denúncia e os desabafos, nas plenárias da tarde aconteceram verdadeiros insigths de desejo de
ação política do tipo “caiu a ficha”, “é preciso fazer alguma coisa”, ou ainda “eu posso fazer alguma
coisa”. (masculino, GD1, plenária)
Um primeiro sentido bastante enfatizado é da importância do Grupo como espaço de
desenvolvimento e participação do(a) jovem, seja pela via dos benefícios pessoais (desinibição),
éticos ou de desenvolvimento de habilidades de tolerância e convivência social (sociabilidade,
convivência e valorização da diferença), seja para aprender mais, se informar, espaço para buscar
conhecimento e informação. Em outras palavras, a participação em grupos passa tanto pela
construção da autonomia quanto pela formação de capital cultural e principalmente político. Nesse
sentido, ainda, o grupo é importante para conjugar as distintas juventudes e suas diversidades.
Na participação de grupos, os jovens conhecem outras pessoas, deixando de lado
sentimento de solidão, preconceito, compartilham necessidades, interesses e idéias
comuns. É como a gente tá aqui, né?, reunidos. Todo mundo procurando idéias novas,
falam o que pensam, dando idéias do que a gente quer, né?, pro nosso mundo
melhor.(feminino, GD3, plenária)

A gente aprende que ser diferente é normal. (feminino, GD1, plenária)

Ainda que, a princípio, essas falas revelem uma postura mais passiva, de espera, de que o
espaço de participação seja dado, aberto por um elemento externo (que pode ser o governo ou a
escola, por exemplo), o que se percebe, a partir dos extratos de discursos é, sem dúvida, uma
necessidade imperativa de se fazer ouvir e de que suas idéias chegar até aos(às) decisores(as).
Não se trata apenas de reivindicação por espaços para por para fora angústias e insatisfações. Em
nenhum momento esses trechos parecem demandar montagens de ações isoladas ou
assistenciais. Ao contrário, falam de desempenhar um papel importante no futuro, de saber, de ter
a certeza de que seus votos não serão desperdiçados, dizer que mundo querem ajudar a construir.
Enfatizam a participação em grupos como fundamental para desenvolver potenciais
intelectuais, artísticos, éticos, reconhecer e assegurar a liberdade de expressão e ação de sua
geração (e também das futuras). Falam de aprender a ser responsável na promoção do bem
comum para, a partir daí, chegar até os(as) tomadores(as) de decisão de uma forma mais
competente e estratégica.
Tem que aprender um pouco sobre política pra poder estar ali falando também, como
hoje, a gente ainda não sabia quase nada, mas agora a gente já tem uma noção de tudo
isso que a gente aprendeu hoje aqui. (feminino, GD3, plenária)

Sendo assim, não serão mais influenciados pelos adultos ou políticos mal-intencionados,
chegando a desperdiçar seu voto. (feminino, GD3, plenária)

Há, sem dúvida, um resíduo de um modelo tutelar do Estado que tradicionalmente marca
as organizações brasileiras e, em particular, das Regiões Norte e Nordeste, que lidam com

37
segmentos sociais mais empobrecidos. Desse modo, não é de se estranhar que os(as) jovens
“esperem” que o espaço de participação seja “concedido”, entretanto, a urgência em se tornarem
atores estratégicos na definição e no acompanhamento das políticas e decisões também
demonstra uma insatisfação com as condutas viciantes e viciadas, armadilhas históricas na
relação entre Estado e sociedade no Brasil. Além disso, está implícito nas afirmações o
reconhecimento da necessidade de saber mais, de construir condições, através da informação
para participar e se fazer ouvir.
Duas necessidades parecem se constituir, de acordo com os(as) jovens, em requisitos
para a participação: o agrupar-se, significando possivelmente, além da possibilidade de perder a
timidez, aprender a falar, a conquista de um poder maior do coletivo sobre o individual e a
colocação do conhecimento e informação como grandes aliados na participação. A “competência”,
a informação, o poder do conhecimento aparecem como instrumentos de “libertação” da influência
ou do jugo dos(as) políticos(as) ou adultos(as) manipuladores(as). A idéia de participação expressa
inclui, além do voto, as possibilidades de expressão, dizer o mundo que querem ajudar a construir.
Um aspecto importante é a receptividade dos(as) jovens, à idéia que, de forma implícita,
está presente nos Grupos de Diálogo, o despertar para a participação, ainda que este não seja
objetivo da metodologia utilizada. Essa acabou sendo a percepção de alguns(mas) participantes,
como mostra a fala de um jovem no subgrupo: “pra mim, o objetivo deste encontro é conscientizar
o jovem de que ele precisa agir”. A realização dos Grupos de Diálogo acabou funcionando como
uma demonstração dessa possibilidade (das possibilidades) de participação, a qual teve a adesão
imediata dos(as) jovens, ao perceberem e tentarem convencer os(as) demais de que o Caminho da
organização pode valer a pena.
Depois desse encontro, algumas pessoas se disponibilizassem a fazer um grupo, a
gente ajudar uma comunidade. A gente ia começando aos poucos, porque ninguém
começa logo de cima. Então, assim, é como a gente também elogiou um pouco ser
voluntário, a gente consegue bastante objetivo.

Os Diálogos em plenária provocaram uma profunda interação das diferentes opiniões


sobre três Caminhos Participativos e sobre as razões que justificaram a escolha por um deles. As
discussões em torno da validade ou não das lutas por direitos, por melhores condições de vida e
das conquistas resultantes dessas mobilizações, provocaram um debate acirrado, que polarizou
entre a “pouca” validade prática ou efemeridade das conquistas, uma vez que não usufruem
integralmente do direito de “meia entrada” e, as lutas das organizações comunitárias de bairro,
segundo eles(as), sempre “acabam não dando em nada” e a defesa intransigente da efetividade
das lutas no processo de garantia dos direitos.

38
5.3.2 Caminhos participativos – as argumentações, resistências e adesões
Os Diálogos nos Grupos à tarde iniciam ainda sob desejado impacto das discussões em
torno das dificuldades relatadas na plenária da manhã, que foram decisivas para refletir sobre as
escolhas dos Caminhos Participativos. Ao iniciarem as apresentações, os(as) jovens pareciam dar
continuidade ao Diálogo da manhã: “Ele deu certinho contra tudo o que a gente discutiu de
manhã”.

Para os jovens matar a fome de alguém, por exemplo, é algo passageiro, mas está ao
alcance “real” de suas possibilidades de ação. É como se os jovens sentissem mais aptos ou
com maiores condições de atuar neste caminho uma vez que ele exige condições ou
requisitos que os jovens reconhecem “ter” para participar, além disso “fazer bem ao
próximo” trás um sentimento de bem-estar, de dever cumprido, e, mais que isso, a sensação
de promover a justiça “com as próprias mãos”.

A definição por um quarto Caminho foi a tendência nos subgrupos. A afirmação de que
todos os Caminhos “são bons” foi unânime e veio freqüentemente acompanhada da idéia de que o
“o mais importante foi descobrir que posso fazer alguma coisa”. 31,25% dos subgrupos
optaram pela construção de um quarto Caminho, combinando partes de cada um dos três
Caminhos sugeridos. O Caminho 2 (“Sou voluntário e faço a diferença”) foi a segunda opção, com
25%, seguido do Caminho 1 (“Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta”), com 18,75%. O
Caminho 3 (“Eu e meu grupo: nós damos o recado”) obteve a menor adesão, com 12,5%.
O Caminho do voluntariado é, sem dúvida, o Caminho mais bem avaliado ou o preferido.
Além de ser o Caminho que aparece como o segundo lugar nas opções dos subgrupos é também
o que aparece em todos os Caminhos “combinados” (quarto Caminho). Um dos aspectos que
parece contribuir para essa preferência é a possibilidade de contribuir concretamente para
solucionar os problemas mais imediatos da população, no qual também identificam um retorno
imediato de sua ação.
A gente queria mobilizar os grupos, um grande grupo, assim, bastante pessoas mesmo
pra fazer isso, visitar os hospitais como tentando solucionar os problemas dos doentes,
não como médicos profissionais, mas, levando conforto, ajuda alimentar. E no caso do
analfabetismo, que é muito grande aqui no Brasil, principalmente de pessoas adultas.
Como solucionar esse problema do analfabetismo? Solucionar, indo tentar passar pra
eles o que a gente já sabe. (masculino, GD1, plenária)

Nós escolhemos esse Caminho porque nós achamos que é um Caminho justo, e até
mesmo porque quatro dos cinco do nosso grupo já trabalham voluntariamente. (feminino,
GD1, plenária)

Então a gente tem que batalhar, gente, tem que fazer alguma coisa. E eu, eu já me
disponho a isso e continuo disposta a fazer o que tiver ao meu alcance pra ajudar o meu
próximo. (feminino, GD1, plenária)

Na defesa do voluntariado, os(as) jovens também usaram os argumentos das


possibilidades de obtenção de ganhos pessoais, em especial a possibilidade de preparo e

39
experiência profissional que lhes amplie as chances no mercado de trabalho, tendo em vista que a
falta de oportunidade em relação ao trabalho foi um foco de discussão importante na plenária da
manhã.
É o envolvimento em ações voluntárias, possibilitará aos jovens refletirem sua vida
profissional e social ampliando suas chances de conhecer o emprego melhor. Esse é
entra no caso do desemprego que nós colocamos e apoiamos esse caminho porque é
com os envolvimentos em coisas voluntárias os jovens têm uma experiência em
trabalhos.(feminino, GD3, plenária)

Uma idéia implícita à noção de participação para os(as) jovens não é percebê-la como via de
construção de mudanças estruturais na sociedade, mas como forma de preparar a sua
própria inserção na sociedade tal como ela está, e ainda a de que qualquer oportunidade de
melhorar as chances de inserção pode valer a pena.

Se, para alguns(mas) dos(as) jovens, foi mais fácil definir as opções como no caso dos que
têm experiência de participação, para outros(as) (talvez a maioria) as opções pelos Caminhos
foram construídas (ou confirmadas) nos Diálogos nos subgrupos, motivadas pela leitura dos
Cadernos ou os comentários dos(as) parceiros(as), como nos exemplo: “interessante, acho que
vou ser voluntária” ou “nunca tinha pensado nisso antes” (feminino, GD1, plenária).
Como era de se esperar, algumas as idéias construídas nos subgrupos que foram
decisivas para a definição (ou não) por determinado Caminho e não foram colocadas em pauta
durante as plenárias. Um exemplo é a relação entre trabalho voluntário e acúmulo de
experiência: “Se você for voluntário já pesa um pouco no currículo”. Outra idéia interessante diz
respeito às possíveis causas para o não engajamento em ações voluntárias, uma se refere à
necessidade de um número grande de pessoas para “fazer o trabalho funcionar” e, a outra, é um
certo medo ou constrangimento em tomar a frente de alguma ação que não seja bem recebida ou
entendida pelos(as) supostos(as) beneficiários(as): “Vamos fazer campanha de arrecadação de
alimento. Aí o cara diz: ‘tu tá doido?’. Eu não tô passando fome. A primeira coisa que bate é a
vergonha”. (masculino, GD4, plenária). Na verdade, essas expressões de receio traduzem a
prevenção natural contra a “angústia do insucesso” presente não apenas nos segmentos mais
jovens, mas na sociedade contemporânea de um modo geral, geradora de conformismos.
Nos subgrupos, os(as) jovens também afirmam a necessidade de maturidade para assumir
tarefas desse tipo (voluntárias), principalmente quando pensam nas conseqüências dessa escolha
ou naquilo que precisam abrir mão no seu cotidiano para de fato assumir as ações exigidas pelo
trabalho voluntário. Além disso, também ponderam ausência de recompensas financeiras: “O
jovem, pra ser voluntário, tem que ser uma pessoa que tem maturidade mesmo, porque precisa
abrir mão de muitas coisas”; “Tu só não pode ir ser voluntário esperando por retribuição, você
recebe retribuição, mas não em dinheiro” (masculino, GD4, plenária).
O Caminho do voluntariado, da mesma forma que revela maior poder de mobilização, é
também o que mobiliza a maior quantidade de discordâncias ou opiniões contrárias,

40
Em contrapartida, o Caminho 2 também é o principal alvo de críticas e resistências, que
aparecem sob a forma da diferença nas plenárias da tarde “O voluntariado ajuda ou não a
mudar a situação?”.
As principais críticas ao Caminho recaem principalmente sobre o aspecto da sua “pouca
eficácia” em mudar a situação vivenciada e no fato de que ações voluntárias acabam por assumir
funções que são do governo, fazendo com que este “cruze os braços” diante das demandas sociais
da população. Nesse sentido, a opção por Caminhos mais direcionados para a participação e para
a ação política da juventude foi afirmada como a mais eficaz em termos de pressão e controle por
reformas mais bem estruturadas para as questões apresentadas pela manhã, mas, principalmente,
como a forma mais direta de chegar às instâncias decisórias do governo.
Nós tratamos do Caminho 1. Porque o segundo Caminho, ele não retrata, pelo menos pra
nós, ele não ajuda praticamente em nada a mudar a situação em que o Brasil se
encontra. Pelo contrário, faz como os governantes se acomodem, fiquem acomodados
em fazer coisas que eles deveriam estar fazendo, e a população, que já vive em salários
de miséria, ter que dividir com seu próximo. É uma ação muito linda, mas (...) isso não vai
contribuir pra criar novos espaços. (feminino, GD1, plenária)

O Caminho 1 é mais viável, pois precisamos de soluções imediatas, ou seja, nos


engajarmos em instituições políticas, porque esta é uma forma direta de pressionarmos o
governo a favor de nossos direitos (...) É uma forma de conquistar nossos interesses,
como: educação, trabalho, cultura e lazer. (feminino, GD1, plenária)

Apesar do distanciamento dos(as) jovens das formas mais diretas de participação política,
como demonstrado na seção anterior, há claramente a crença dos(as) jovens no seu potencial
participativo e na viabilidade deste como instrumento de controle, de pressão.
O texto mostra uma relação estreita entre a participação da juventude e a luta ou a
conquista do investimento necessário, e profundamente discutido na plenária da manhã, nas
políticas de educação, trabalho e cultura e lazer. Isso demonstra que os Diálogos da manhã, além
de um momento de denúncia das situações de exclusão, significaram também um momento de
percepção e reconhecimento do papel de cada jovem na busca ou superação coletiva dos
problemas enfrentados.
Há a marca da pressa, da urgência na resolução dos problemas, o que pode ser entendido
tanto como um traço da juventude, dessa etapa de transitoriedade e de avidez por inovações e
mudanças [daí a dificuldade das instituições socializadoras, principalmente a escola, de inculcar
normas de comportamento pacífico nos(as) jovens], quanto pela urgência em mudar as próprias
condições já “insuportáveis” de vida: “O Caminho 2 é bonito, mas é muito lento”; “É o
Caminho que vai nos levar assim diretamente ao governo, mostrar com nossas palavras
com nossos gritos, se for preciso, o que nós queremos” (feminino, GD1, Plenária). Em outras
palavras, além de se pensar a juventude como uma etapa da vida propensa à busca de mudanças
e à incorporação de inovações, também a situação concreta de vida destes(as) jovens os coloca

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numa situação limite, de reconhecimento de que suas estratégias de sobrevivência já se
esgotaram, daí então “Não é mais possível continuar do jeito que está” (masculino, GD1, plenária).
Os argumentos (a favor e contra) são incorporados de forma consistente na defesa do
Caminho escolhido, assim como na contraposição desse com os outros Caminhos. “Isso faz com
que os governos até fujam de sua responsabilidade”; “O Caminho 3, nós discordamos porque... é
um Caminho muito bom, só que é através de músicas, de teatro, dança, expressão corporal. O
governo não atenta muito pra isso, parece uma forma muito subjetiva, parece que ao mesmo
tempo, que eles ‘tão protestando, de uma forma tão alegre, tão espontânea, parece que eles estão
acomodados com isso” (feminino, GD1, plenária).

A descrença nas instituições políticas é o principal argumento utilizado pelos(as) jovens


contra o Caminho do engajamento político. Os(as) jovens parecem confiar em si
mesmos(as), fazer o que puderem ao invés de confiar nas soluções governamentais. “Não é
que a gente queira resolver ou tapar o sol com a peneira, ou fazer uma coisa do governo,
que era pra ele fazer, mas ele não faz. Todo mundo sabe que a gente tem esse direito, que
tem essas verbas, que era pra gente não precisar, estar fazendo isso por essas pessoas,
mas só que o governo, ele não toma a frente disso. Quer dizer, ele vai deixando de lado, e é
justamente por isso que existem as pessoas chamadas voluntárias, porque o governo já
deixou de lado essas pessoas. E eu vou lhe dizer uma coisa, francamente, pra mim, a
política já é totalmente desacreditada.” (feminino, GD1, plenária)

Há a cobrança de uma ação mais afirmativa do governo por um lado, mas há também uma
falta de aposta nessa ação, a qual aparece de forma muito enfática no extrato de discurso acima,
no qual a jovem afirma a necessidade das ações voluntárias porque há uma parcela da população
totalmente (ou absolutamente) abandonada pelo governo, na qual as ações do poder público
sequer chegam. Além disso, a jovem denuncia a prática de corrupção na política e a tendência à
perpetuação da situação.
Os(as) jovens também evidenciaram uma expectativa de que eles(as), com sua juventude
e sua moral diferenciada, se não ingênua, pelo menos não contaminada, podem contribuir, sim,
para que uma mudança se estabeleça. Há que se ressaltar que essas falas, digamos “idealistas”,
foram bastante aplaudidas nos Grupos.
Como nós já vimos, a realidade do mundo hoje, dos políticos de hoje, nós achamos que
nós não vamos ser que nem eles, entendeu? Nós não vamos praticar a corrupção (...) As
pessoas podem pensar assim: ‘já que eles roubam, a gente também pode roubar’. (...)
Mas se a gente tá criando um partido político, se nós somos jovens, nós queremos o
nosso futuro (...) Então eu acho que, se você criar um partido político, (...) um grêmio na
escola (...), você está apto a debater contra os adultos (...) Nós temos o pensamento que
nós devemos fazer o certo, nós vamos lutar de uma forma digna, limpa, né?, sem
corrupção. (masculino, GD1, plenária)

Há, entretanto, posicionamentos nos subgrupos descrentes quanto a quaisquer formas de


envolvimento político da juventude em função dos entraves burocráticos (ou formais) de acesso à
participação, dando lugar à adesão tentadora (no sentido literal, e não irônico do termo) ao
discurso conformista do “cada um(a) por si”:

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Outro ponto de destaque é a baixa adesão ao Caminho 3, que, a princípio, parece ser a
forma mais “genuína” de organização da juventude, que embora não tenha necessariamente em
sua origem a intenção de uma ação transformadora ou de luta por direitos, acaba tendo impactos
na sociedade. Esta certamente não foi a compreensão dos(as) jovens, ou talvez não foi o
entendimento despertado pelo conteúdo tal como escrito no Roteiro de Diálogo, conforme ilustra
o trecho seguinte:

O Caminho 3 é um Caminho muito bom, só que é pra ser de uma forma através de
músicas, de teatro, e de dança, expressão corporal. O governo não atenta muito pra isso,
né? Por quê? Porque o que parece é que é uma forma muito subjetiva, parece que eles’
tão protestando, mas ao mesmo tempo, por ser de uma forma tão alegre, tão
espontânea, parece que eles estão acomodados com isso... (feminino, GD1, plenária)

De qualquer modo, os(as) jovens parecem ter visto o Caminho 3 como pouco eficiente no
sentido de dar conta dos problemas e questões apontados pela manhã. Esse Caminho foi
associado ao lazer, ao entretenimento e, apesar de importante e “bonito”, do ponto de vista
estético para a exibição pública, não representa uma forma de protesto “digna de crédito” por parte
dos(as) governantes. Não é, portanto, uma via de disputa de poder. Ressalte-se que, nos diversos
encontros, havia jovens integrantes de bandas musicais, grupos folclóricos ou de teatro, mas ainda
assim, o sentido do impacto social desse tipo de organização não foi expresso nas falas,
denotando não ser esse o objetivo principal quando aderem aos chamados “grupos culturais”
(esportivos, artísticos, musicais).

Eu me engajo, sou voluntário(a), nós damos o recado”

Os(as) jovens fundem os Caminhos argumentando a insuficiência das estratégias de cada


um dos Caminhos isoladamente. Talvez uma alusão ao fato de que o cenário político e
econômico é tão complexo ou problemático que nenhuma forma de participação isolada dará
conta de transformá-lo, ou ainda a de que cada problema exige uma resposta imediata e
diferenciada. A percepção da fusão de estratégias aparece claramente estampada nos
títulos dos novos Caminhos e nas argumentações.

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A partir da fusão, os(as) jovens ensaiam esta tentativa de definir os passos ou
procedimentos necessários para a participação, mas parecem se perder um pouco na costura dos
Caminhos. O que fica claro, contudo, é um mergulho nessa tentativa, o esforço ou a disposição ou
disponibilidade de tomada de atitude, ao pensar os passos que estão dispostos a dar para que
esses Caminhos se concretizem.
Em síntese, os(as) jovens deixam claro que cada Caminho pode ser apropriado a um tipo
de problema. Entretanto, percebe-se uma dificuldade na definição dos Caminhos necessários para
descrever como efetivamente eles se concretizariam.

As adesões aos Caminhos de Participação vêm acompanhadas do convite, da tentativa de


sensibilização dos(as) demais: “Político só fala, fala e não faz nada. Se nós todos nos
mobilizarmos num grupo, a gente iria fazer alguma coisa. Se nós aqui pudéssemos, eu pelo
menos to com vontade de ser voluntária” (feminino, GD1, subgrupo).
A confiança e disposição são ressaltadas também nas respostas às problematizações das
facilitadoras durante as plenárias. De forma geral, essas respostas demonstraram que os(as)
jovens conseguiram fazer o exercício de reflexão mais íntima, pensando no que, de fato, eles(as)
estão dispostos a fazer e, ainda, pensar nas conseqüências das suas escolhas, mesmo que, é bom
que se diga novamente, não haja a garantia de que essa “empolgação” do momento possa resistir
além das oito horas do Dia de Diálogo. Vale também ressaltar que essa resposta foi
significativamente mais produtiva ou mais aprofundada no Grupo com experiência prévia de
participação. Nesse grupo, a adesão ao Caminho do voluntariado foi expressiva [também porque já
é a ação de vários(as) participantes], mas foi também bastante confrontada com o subgrupo que
escolheu o Caminho 1 e, nesse momento, foi possível identificar a consistência da escolha dos
dois subgrupos pelo diálogo travado entre eles.
Quando questionados(as) sobre a forma pela qual o trabalho voluntário resolve os grandes
problemas apresentados pela manhã, e se eles(as) estavam mesmo dispostos a participar de
ações cuja obrigação é do governo, as reflexões e respostas foram imediatas, demonstrando
clareza do que podem fazer e porque suas ações seriam necessárias.
Porque a solidariedade, ser voluntário, ela não é só na doação de alimentos, é na
arrecadação de livros, na arrecadação de revistas, isso a gente achou que, muito isso vai
contribuir na educação da sociedade, da população. É, agora a gente deixar o trabalho
que é do governo pra gente resolver. (masculino, GD1, plenária)

As defesas deixam claro, em primeiro lugar, que a escolha foi refletida, e ainda, que
percebem os “contras” dos Caminhos, mas que percebem também que é possível fazer diferente,
por exemplo, um voluntariado combinado com participação política, com engajamento em ações
que possibilitem tanto a ajuda material imediata quanto a preparação para o exercício do voto ou
para a fiscalização e controle da ação dos governos. Ainda que as explicações, por vezes, não
apareçam de forma clara, elas sempre apontam para um jeito de fazer e sempre enfatizam
bastante que cada fala ou reflexão não se refere a um(a) jovem fictício(a), abstrato(a), mas está se

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referindo a ele(a) mesmo, é para ele(e) que ele(a) pensa o Caminho. Atitudes como essas estão
sempre bem presentes nos Diálogos nas plenárias quando da necessidade de “defesa” dos
Caminhos escolhidos.
Porque se você tentar fazer uma coisa só, não tem...você não vai poder é ganhar, não
existe resistência contra a força. Então o que eu quero dizer é que, você tendo parcerias,
é muito mais fácil você conquistar o seu objetivo. Você tem mais chances de ajudar o
próximo, você só, você não vai poder fazer por dez, o máximo que você vai fazer é por
um e já você tendo parceria, em vez de você fazer por um, você faz por dois, por três, por
quatro. (masculino, GD1, plenária)
Mas eu tenho certeza que se o Brasil inteiro fizesse realmente uma mobilização
voluntária, tivesse o apoio de empresas, eu acho que acabaria a fome muito mais rápido
do que um presidente só tentando acabar. (feminino, GD1, plenária)

Os(as) jovens também avançam nas reflexões pessoais dos trade-offs7. Além das
argumentações mais centradas nas características ou estratégias de cada Caminho proposto,
os(as) jovens também refletem posturas e valores pessoais que estarão em jogo e serão
confrontados nos diversos processos de participação. Há a clareza de que terão de abrir mão de
opiniões e atitudes, embora também admitam que as divergências poderão provocar uma certa
“indiferença” ou um empenho menor por uma ação ou causa com a qual não estariam totalmente
de acordo. Há também a disposição clara de abrir mão do tempo livre.
Não. Eu concordo que vai ter as diferenças, mas se a gente, nós temos que aprender a
conviver com as diferenças, em tudo vai ter diferenças. (feminino, GD3, plenária)

No caso eu tô estudando, eu não trabalho, mas como eu poderia ajudar sendo voluntário
nos meus tempos livres? Dessa maneira dava pra ajudar como voluntário, é, o quê que
eu poderia, perderia no caso a minha folga porque eu tenho que trabalhar, entendeu?
Então eu trabalharia como voluntário nas minhas horas vagas. (masculino, GD4, plenária)

Além das posturas sérias e reflexivas, os Diálogos possibilitaram a expressão de formas


bastante interessantes de perceber a solidariedade. São falas carregadas de sinceridade e de uma
profunda avidez por fazer alguma coisa, por engajar-se em um tipo de ação em que os resultados
possam ser percebidos, sem necessariamente preocupar-se com o que seria mais “politicamente
correto”. Nesse caso, o voluntariado pareceu a forma mais próxima de “colocar a mão na massa”,
aquela que no momento eles(as) percebem que podem contribuir, se inserir.
A gente ver aquela família passando necessidade. Ver que aquela família não tem nada
pra comer naquele dia. A gente não vai dizer ‘eu não vou fazer nada, que isso é trabalho
do governo’. Isso daí é uma coisa muito cara-de-pau. Eu, podendo fazer, eu vou ter que
fazer pra ajudar. (masculino, GD1 plenária)

Por fim, duas constatações são evidentes nos Diálogos entre os(as) jovens. Uma primeira
é o apelo veemente da disposição de participação, de que as motivações existem e que quando as

7. Intercâmbio; na metodologia refere-se às trocas, àquilo que o(a) jovem está disposto(a) a abrir mão em
função da participação.

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vontades são mobilizadas a adesão acontece, ressalte-se que estes apelos vêm dos(as)
próprios(as) jovens.
Nossa opinião aqui, cada um de nós, jovens, classe média ou baixa ou pobre, deveria
parar mais de se esconder e contribuir diretamente para um país melhor, filiando-se a
ONGs e a partidos políticos, já que somos conhecedores dos problemas das periferias e
comunidades. (masculino, GD4, plenária)

A conclusão geral que a gente chegou e que os três Grupos são importantes, entendeu?
Mas em tudo que a gente faz tem um lado bom e o ruim, então a gente tem que
aproveitar o lado bom, eu acho que tem que ser feito uma reforma moral em nós, o povo
brasileiro, que a gente olha muito pros nossos interesses e esquece o dos outros, então
se a gente abrir mão um pouco do nosso egoísmo e se concentrar no objetivo sério, a
gente consegue o que quer, com dificuldade ou não, a gente batalhando, a gente chega
lá. (masculino, GD4, plenária)

Uma segunda constatação diz respeito à nítida consciência das dificuldades e problemas
não apenas os(as) que os atingem mais diretamente (falta de educação, saúde, oportunidades de
trabalho etc.), mas da conjuntura mais geral a qual esses problemas estão relacionados e ainda, a
clareza da força que a ação coletiva pode ter no enfrentamento desses problemas, como mostrado
na fala seguinte:

O governo só pára para nos escutar quando fazemos movimentos em massa, tipo Diretas
Já durante a repressão militar, a ditadura militar, os estudantes foram pras ruas
juntamente com os jovens e fizeram movimentos e deram a cara pra bater. Muita gente
saiu ferida, até mesmo morta, muita gente foi extraditada, muita gente voltou com a lei da
anistia, que foi uma coisa boa que aconteceu, e nós conseguimos, levou um tempo, né?,
após 20 anos, nós conseguimos democracia. (feminino, GD5, plenária)

Por isso, é necessário, para os jovens, os grupos de ajuda, pois assim podem se instruir
sobre os problemas da sociedade e os problemas políticos, então, hoje em dia, o jovem
que pode se agrupar, né? (...) No grupo, eles já ‘tão ali tendo como se expressar, saber o
que falar, eles já vão saber, então no voto deles já não vai ser um voto inútil, já não vai
mais ser dado aquele voto ali sem uma instrução. (feminino, GD3, plenária)

5.3.3 Comentários Finais: e ao final do Diálogo...


Pode-se dizer que esse momento, embora tenha evidenciado um cansaço natural depois de
um Dia de Diálogo, foi revelador, principalmente, de vários aspectos importantes sobre a forma
como os(as) jovens encararam o desafio do convite e dos sentimentos que esse Dia mobilizou
nos(as) participantes. As críticas ao modelo de democracia e à ação dos governos emergiram de
formas diferenciadas, algumas num tom mais duro: “que eles parem de roubar”; outras em tom
mais brincalhão, mas todas tendo em comum a expressão do descontentamento, da falta e
também da localização dos pontos que precisam ser “atacados” para que os problemas possam
começar a ser resolvidos.

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1) Um primeiro aspecto é o tom de seriedade das denúncias, revelando visão crítica e
“antenada” com os problemas e questões discutidas. Nos quatro Grupos realizados, com
exceção de um jovem, que afirmou não ter nenhuma mensagem, todos os(as) outros(as),
mais uma vez, apropriaram-se do microfone e, com muita seriedade, puderam expressar,
na verdade denunciar, mais uma vez, a precariedade das suas condições de vida.
Chamam especial atenção as falas relacionadas a cobranças de “atenção” ao povo,
aos(às) jovens, à sociedade em geral, denotando o sentimento de descaso, de
desvalorização ou de insignificância da população, dos(as) jovens de classes pobres
especialmente, que se constituíram maioria nos GDs. Sob a reivindicação de atenção,
estão concentradas todas as cobranças por políticas sociais e direitos já tão amplamente
colocadas ao longo do Dia e nos dados quantitativos.
2) Há um forte descontentamento com os rumos do país e a forma de condução do processo
político cuja marca tem sido a prática sistemática do clientelismo político e da corrupção.
Há uma percepção clara de que o modelo de democracia vivenciado no país não
contempla os interesses da maioria. Isso explica as repetidas asserções da necessidade
de responsabilidade, dignidade e honestidade dos(as) governantes e políticos(as),
asseverando que é preciso “ouvir mais”, “dar mais voz” à população. Nota-se a
necessidade de ampliação da participação popular, mas que situa-se ainda numa visão de
mão única. São os(as) governantes, os(as) políticos(as) que devem ouvir mais e não a
própria sociedade organizar-se para cobrar, exigir, controlar.
3) Importante dar relevo ainda às exigências de investimento na educação, tema que aparece
em terceiro lugar nas mensagens finais, e sempre complementado pela visão de ser esse
direito fundamental para exercício de participação, para a conquista do lugar (da posição)
de realmente influir nos rumos da sociedade. É como se a “intuição política” dos(as) jovens
reconhecesse ser a escola o principal instrumento de que dispõem para apropriar-se das
condições e referenciais que permitam interagir com o governo.
4) Apesar de o comando ser “mensagem para os(as) governantes ”, os(as) jovens não se
limitaram a fazer cobranças ou denunciar problemas ou condições de insatisfação, ao
contrário, diversas manifestações apontaram para a responsabilidade coletiva, constituíram
chamados aos(às) jovens e à sociedade em geral para o exercício de um papel e um
espaço que deve ser ocupado, preenchido pela sociedade civil. As manifestações de
incentivo, de convocação para a organização reiteram a disposição para a participação
dos(as) jovens, aspecto já mencionado neste relatório.
5) Além das denúncias ou chamadas de atenção aos(às) tomadores(as) de decisão, os(as)
jovens utilizaram o momento dos comentários finais para exprimir suas avaliações sobre o
Dia e as sensações mobilizadas pelos Diálogos dos quais participaram. De forma geral, as
questões mais significativas foram:

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a) Para a maioria, o que de mais importante aconteceu foi a possibilidade de conhecer
as pessoas: “Adorei o convite, adorei mesmo é bom conhecer vocês, muito legal
hoje, passei uma tarde muito feliz, é sério, entendeu?, conhecendo vocês, e é bom a
gente conhecer os jovens né? Daqui sabe pra onde eu vou? Daqui eu vou falar pros
meus colegas, eu vou falar pra eles, ‘olha, muito bom, adorei os jovens de lá, falamos
sobre política, sobre educação’... entendeu?, adorei mesmo, sério, obrigado!”
(masculino, GD3, plenária).

b) A reflexão ou a clareza de que essa convivência às vezes vai exigir concessões,


tolerância etc. Dessa forma, o exercício do respeito à diversidade, à diferença
também é revelado como importante produto do pertencimento aos grupos, condição
para que o objetivo destes possa ser alcançado: “O que aconteceu de mais
importante pra mim, hoje, foi a questão de aprender a dialogar com pessoas de
diferentes classes, gênios, né? As pessoas, elas são opiniosas e nós temos que
suportar umas às outras. Uma hora eu falei que ‘tava havendo discussão, e não
diálogo. Então a gente tem que ter um objetivo pra que a gente possa mandar pra lá,
né?, pros homens.” (feminino, GD1, plenária).

c) Nesse exercício, o desenho metodológico foi fundamental. Os(as) jovens ressaltam


essa importância quando deixam claro que a proposta metodológica foi não apenas
compreendida, mas incorporada: “O que aconteceu de mais importante hoje, eu acho
que foi a questão de nós sentarmos nos grupos e de nós entramos num consenso do
que vai ser melhor. E também nós entramos, é, em consenso, esse grupo aqui maior,
né?, são de todas as pessoas de diferentes opiniões, independente de diferentes
classes, né? Mas nós entramos em um consenso, que foi apenas de melhorar o
Brasil de hoje. Nós podemos ajudar o Brasil de hoje, né? Então, acho que de mais
importante foi isso. Nós aprendemos a dialogar, um pouquinho, mas aprendemos.
Nós aprendemos a ouvir a proposta do outro, né? Como diz ali, nós temos que... é, o
diálogo, né?, ele não critica a opinião do outro. Ele vê no outro que a minha opinião,
ela se encaixa com a tua, ou ela complementa a minha. Eu acho que de mais
importante ficou isso.” (masculino, GD1, plenária).

d) Reconhecendo a importância do Diálogo, os(as) jovens “tomam emprestado” as


estratégias da metodologia para recomendar a adoção dos mesmos procedimentos
aos(às) tomadores(as) de decisão: “Eu achei, assim, que de mais importante é, foi o
fato de, acho que todos, né?, aprendemos a diferença entre dialogar e disputar,

48
quando na verdade, todos aqui, é, queremos um único objetivo. E, assim, a
mensagem que eu deixo, né?, é que as pessoas que tomam as decisões no país,
né?, que elas possam aprender a trabalhar em conjunto, com aquelas pessoas que
estão dispostas a melhorar o país, que, assim, a gente vai conseguir com certeza”.
(feminino, GD1, plenária).

e) Outro ponto de destaque foi o aprendizado. O Dia de Diálogo funcionou como espaço
de formação também, uma vez que recorrentemente expressaram que aprenderam
muito sobre temas que não “sabiam tanto”: “O que eu mais gostei, foi assim, de ter
aprendido mais sobre a política.” (feminino, GD3, plenária); “Eu gostei de passar esse
sábado aqui, com a galera debatendo sobre política.” (masculino, GD3, plenária); “O
que eu mais gostei foi de ter conhecido várias pessoas de várias localidades, ter
debatido assuntos que eu ainda não sabia e agora que eu já tenho conhecimento.”
(feminino, GD3, plenária).

f) A tomada de consciência de que eles(as) também têm algo a ensinar, que o Diálogo
foi uma troca, também foi muito enfatizada:
Na verdade, eu fui pega de surpresa, né? Na verdade, eu nem sabia que eu tinha
tanto conhecimento sobre esse assunto, e hoje aqui eu falei bastante, e eu aprendi
mais ainda com vocês também, eu aprendi, porque eu não sabia que eu tinha tudo
isso, eu aprendi comigo mesma, o que hoje eu fiz aqui eu aprendi muito que eu
sabia fazer, só que foi preciso um começo, foi preciso alguém me buscar, assim,
alguém me incentivar, como foi essa equipe maravilhosa aqui que deu todo esse
apoio, então hoje eu agradeço a vocês, agradeço por todos que estão aqui, que
também me ajudaram. (feminino, GD1, plenária)
O mais importante aqui foi o conhecimento que a gente recebeu de cada um,
porque cada comentário feito por um é um conhecimento pra gente, pra gente
aprimorar nossas idéias. (feminino, GD4, plenária).

g) Juntamente com o acesso às informações, aparece também um sentimento de


valorização da importância do papel que têm a ocupar. Em síntese, o despertar de
uma consciência participativa.
O que aconteceu de mais importante pra mim, aqui, hoje, é que eu aprendi a... a
forma ou as formas que eu vou utilizar para que eu possa não, talvez, não mudar o
Brasil, mas fazer o possível pra que ele melhore né? (feminino, GD1, plenária)

O que eu aprendi aqui que, sou importante (risos) pra sociedade e que se eu for
um pouco solidário, eu com as pessoas, acho que eu vou chegar em algo, em

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algum objetivo, porque na verdade todos nós somos importantes de uma certa
forma. (masculino, GD1, plenária)

O que aconteceu de mais importante hoje pra mim que, eu aprendi a lutar pelo
nosso país, né?, que é um país rico mais com pouco investimento. (masculino,
GD1, plenária)

O que aconteceu aqui de mais importante, foi a... o despertar de que eu tenho que
me preocupar com a condição do meu país e esquecer um pouquinho que eu só
tenho problema em casa. E pensar que agora, depois dessas várias discussões,
eu já sei o caminho, já sei então por onde ir, então eu tenho alguma coisa agora
pra poder fazer com que ele melhore. (feminino, GD1, plenária)

h) Expectativas quanto aos resultados da pesquisa também são manifestadas. Ainda que as
falas também denotem a clareza dos limites da pesquisa em influenciar os(as)
tomadores(as) de decisão, também ressaltam a crença na seriedade do trabalho. As
atividades do Dia foram feitas acreditando que “alguém vai ouvir o que nós dissemos”.
O que aconteceu aqui de mais importante, pra mim, foi que, é, essa nossa reunião
aqui, mesmo que seja, como é, menor como for, mas, vai mudar alguma coisa,
porque vai ser mandado pra lá. De pouquinho, pouquinho, a gente chega lá.
(masculino, GD1, plenária)

50
6. Conclusões

Um argumento tantas vezes repetido aos(às) jovens durante os Grupos de Diálogo insiste em
tomar corpo neste texto de finalização: não há decisão que não seja arriscada e que não induza à
perda. Porém, quem está imerso nos momentos sociais sabe que sempre é possível assumir
melhor e mais facilmente o contra que o a favor.
Uma questão colocada desde o início pela pesquisa é não somente a investigação das
formas através das quais a juventude participa da vida pública, mas principalmente descobrir as
possibilidades ou as motivações para essa participação, o que em outras palavras significa refletir
sobre as diferentes maneiras como os(as) jovens pensam participação.
Mostrar e mesmo surpreender os(as) jovens com três Caminhos sistematizados
conceitualmente, que lhes possibilitassem uma escolha e, mais que isso, a construção de um ou
mais formatos híbridos de participação é uma experiência que difere em significados e sentidos
das muitas miragens sedutoras disponibilizadas para este segmento social na contemporaneidade.
Para os(as) jovens da RMB, participar de grupos é, antes de tudo, uma das formas de sair
de um estado individualista, pré-corporativo, buscando a inserção numa “sociabilidade redentora”,
capaz de lhes proporcionar abertura de horizontes e caminhos de emancipação.
As experiências concretas de participação são poucas; em compensação, muitas são as
evidências do entusiasmo despertado pela possibilidade de participar: as “caídas de fichas”
relativas à descoberta do potencial participativo; as convocatórias para “nos juntarmos, formar um
grupo”, repetidas em praticamente todos os Grupos de Diálogo, as defesas contundentes dos
Caminhos de Participação escolhidos e, não por último, a curiosidade despertada pelos cursos e
oficinas oferecidos pela Unipop e o modo como, ao ler o fôlder, tentavam insistentemente “caber”
dentro das vagas, horários e datas, cujos temas, não por acaso, giram em torno da justiça social,
formação política e socioambiental, iniciação teatral, dentre outros.
Foram inúmeras demonstrações claras de uma necessidade, quase incontida, de prolongar
o momento dos Grupos de Diálogo, como se quisessem aproveitar as oportunidades despertadas e
tomar uma atitude antes que seus efeitos “esfriassem”.
Todo esse interesse permite perceber o quanto o oferecimento de possibilidades de
participação em atividades culturais, recreativas e político-formativas preenche o vazio deixado
pelos partidos políticos, entidades estudantis e outras organizações mais específicas de formação
política e desperta o interesse dos(as) jovens, desfazendo, de uma vez, a falácia da apatia.
Um mérito importante do processo empreendido nas duas etapas da pesquisa é
exatamente a possibilidade do olhar multidimensional do fenômeno da participação da juventude.
São vários aspectos que se intercambiam e que são diferencialmente “significados” pelos(as)
jovens. Há os impedimentos de ordem socioeconômica, da falta de acesso, da ausência de

51
mecanismos de expressão e participação. Mas não simplesmente “carências” ou “ausências” são
retratadas pelos dados da pesquisa. O cotejamento dos dados permite também perceber as formas
pelas quais os(as) jovens processam e dão sentido às suas condições concretas de vida, como
conseguem posicionar-se nestas ou diante destas. Essa tomada de posição, a clareza das buscas
ou das convicções, são elementos importantes para a participação política e são elas que
permitem, diante dos resultados, vislumbrar um novo cenário de participação.
A ausência de espaços concretos de participação denunciada pelos(as) jovens ou revelada
pelos números da “não participação” conflita com o desejo de engajamento em formas de fazer
política diferentes das tradicionais (igreja, escola, entre outras), uma vez que estas tendem a
dispensar um tratamento demasiado tutelar, tensionando mais ainda o processo de transição para
a fase adulta com seus requerimentos de independência e individualização, elementos integrantes
de uma participação protagonista.
Além disso, a não valorização por parte da sociedade e a falta de autonomia real ou
pressuposta, induzem, de acordo com os(as) jovens, a uma submissão involuntária ao que é
oferecido ou disponibilizado. Em síntese, os espaços tradicionais não mais se configuram em
lugares de exercício da autonomia, e muito menos de sua conquista.
A disposição de participação alude ao desejo de fazer parte do mundo diversificado, dos
novos sítios de lutas por mudanças. Assim, os registros de indignação, de críticas às instituições
demonstram que muitos(as) jovens estão “tocando suas vidas”, para usar a expressão de Castro e
Abramovay (2005: 60), sobrevivendo, construindo carreiras; jovens que, vivendo em áreas de
pobreza, realizam projetos por sua conta ou com a colaboração de instituições ou estão
envolvidos(as) em movimentos artísticos, ecológicos, político-partidários, que desempenham ações
e mudam os sinais da vulnerabilidade diante das condições insuportáveis de pauperização em
pleno crescimento a que estão submetidos na RMB.
Num contundente paradoxo, a falta de recursos pessoais ligados à situação de pobreza,
impossibilita a atuação e inviabiliza a dedicação aos movimentos. Nesse sentido, as urgências
requeridas pela sobrevivência competem com a potência desejante de participação.
Uma parte dos(as) jovens “opta” pela não participação “consciente”, uma vez que as
práticas não os(as) atraem. A principal delas é a “participação de fachada”, uma vez que não têm
real inserção nas instâncias de decisão das organizações mais formais, ou seja, são apenas
instrumentos de manobra ou objetos de tutela, se protagonizarem “de fato” as ações.
Evidentemente, essas críticas “abertas” à inutilidade da participação organizada ou n
i stitucional
devem ser consideradas com cautela, pois elas também demonstram, através de seu forte
conteúdo contestatório, a importância, às avessas, que estes instrumentos participativos ainda
conservam, apesar das aparências indicarem o contrário.
A flutuação (e não cisão) entre as exigências individuais e o engajamento em causas
coletivas não é exclusiva da geração atual, mas é certamente mais confusa diante da ausência de

52
modelos, imagens ou paradigmas nos quais possam amparar suas convicções, sentindo não
apenas respaldo (ideológico, filosófico), mas principalmente segurança, uma vez que as suas
vulnerabilidades são marcadas com todas as letras.
A corrupção, a desorganização e a fragmentação dos eventos e projetos que “não dão em
nada” são argumentos contra a participação em qualquer nível. O descrédito é quanto às formas
como as práticas têm se dado, em outras palavras, com a relação que tem se estabelecido entre o
Estado e os(as) cidadãos(ãs). A rejeição é clara. Há outras formas de fazer política ou de participar
na esfera política? Por isso, as condições vêm todas colocadas no sentido da “não corrupção, da
parceria, da não manipulação”.
Um dos compromissos do trabalho em conjunto dos Grupos de Diálogo é que há o antídoto
para o vício do desencanto “(...) o diálogo deve vir sempre antes de uma decisão”. A partilha do
poder é uma forma de “corrigir” tal relação. A luta continua... com seus limites e horizontes.
Há também o reconhecimento da necessidade de formação, de instrumentalizar-se para
poder “tocar” seus projetos de vida e construir condições ou competência de influir nas decisões.
Os(as) jovens da RMB, ainda que considerando as condições de falência da escola e do ensino,
concebem a educação como um direito, um campo valioso e um requisito essencial para o acesso
a melhores condições de vida, trabalho, lazer e ação política. Mesmo as expressões
aparentemente vagas quanto à importância de estudar (“pra ser alguém na vida”, “ter um diploma”,
“ganhar algum dinheiro”) revelam a clareza de que a formação educativa ainda pode prepará-
los(as) para a sua emancipação social, ainda que formulem essa crença de forma embrionária e
muitas vezes contraditória. Expressam, possivelmente, sem o saber, a noção de conhecimento-
emancipação a que se refere Boaventura Santos (1995). A informação, o saber mais, está
claramente colocado nas falas dos(as) jovens como condição para uma participação mais efetiva.
Como afirma Pontual (2002), “ampliar e aprofundar a democracia significa criar
mecanismos para que ela corresponda aos interesses da ampla maioria da população e criar
novas mediações institucionais que possibilitem que as decisões sobre o futuro sejam sempre
decisões compartilhadas, baseadas no princípio da co-gestão da coisa pública”. Essa afirmação
pressupõe duas necessidades: de um lado, a criação de um novo pacto político com o Estado
progressivamente publicizando as decisões, abrindo mecanismos de expressão e de participação
da juventude, e de outro, uma juventude se organizando para assumir tais espaços, fortalecendo
as formas de expressão existentes e criando novas formas de representatividade. Nesse processo,
há que se reivindicar um forte papel para a educação, haja vista a importância que mecanismos
educativos formais e não formais têm na construção desse poder da juventude, dessa autonomia.
Há um campo receptivo à convocação de vontades, verdadeiro sentido da palavra
“mobilizar”. Os(as) jovens foram convocados(as) a esse exercício de diálogo, de compartilhamento
de decisões, e responderam positivamente, dizendo dos caminhos que estão dispostos a seguir e
das condições para isso. Essa disposição está bastante evidente na forma como o discurso “muda

53
de tom” ao longo do Dia de Diálogo. Os(as) jovens que começam o Diálogo falando da falta ou
responsabilizando o governo, cobrando investimento, terminam esse Dia ainda cobrando a ação e
investimentos governamentais e até mais, cobrando honestidade, transparência, competência no
exercício do poder político. Mas também se vêem, descobrem potencialidades, assumem a postura
de reivindicar ou assumir formas de “partilhar as decisões”. Descobrem um papel, parece que
naquele momento, eles(as) assumem um compromisso com a realidade política. É preciso mais do
que nunca que os espaços possam ser abertos, que as descobertas ou vontades possam ser
potencializadas e os caminhos, concretizados. Esse esforço é necessariamente coletivo.

54
7. Bibliografia

AQUINO, J. G. Confrontos na sala de aula: uma leitura institucional da relação professor-aluno.


São Paulo: Summus, 1996.
BRA SLAVSKY, C. Os processos contemporâneos de mudanças da educação secundária na
América Latina: análises de casos na América do Sul. In: Braslavsky, C. (org.). A educação
secundária: mudanças ou imutabilidade?. UNESCO – Brasil. 2002.
CASTRO, M. G. Políticas Públicas por Identidades e de ações afirmativas: acessando gênero e
raça, na classe, focalizando juventudes.
CASTRO, M. G. & Abramovay, M. Juventudes no Brasil: vulnerabilidades negativas e positivas,
desafiando enfoques de políticas públicas. In: Azevedo, F. P. Juventude, cultura e políticas
públicas: intervenções apresentadas no seminário – político do Centro de Estudos e
Memória da Juventude. São Paulo. Anita Garibaldi, 2005.
NOVAES, R. & Vannuchi, P. (Orgs). Juventude e sociedade. Trabalho, educação, cultura e
participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.
Morin, E. (org.) A Religação dos Saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
2001.
PONTUAL, P. O Processo Educativo no Orçamento Participativo. Tese de doutoramento. PUC São
Paulo. 2000.
PEREGRINO, M. CARRANO, P. Jovens e escola: compartilhando territórios e sentidos de
presença. Em questão 1: a escola e o mundo juvenil, experiências e reflexões. Ação
Educativa. São Paulo, 2003.
SARLO, B. Cenas da vida pós-moderna: intelectuais, arte, vídeocultura. Rio de Janeiro: UFRJ.
2004.
SPÓSITO, M. Os Jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas demandas políticas. Ação
educativa. São Paulo, 2003.
UNESCO. Políticas Públicas de/para/com juventudes. Brasília: 2004.
TEIXEIRA, E. O local e o global: limites e desafios da participação cidadã. São Paulo. Cortez.
2001.
Fórum da Amazônia Oriental – FAOR. Observatório da Cidadania N.º 02. Belém – Pará. 2003.

55
8. Anexos

ANEXO 1:
1) Comentários Iniciais
1º Instrumento de Análise: Tabela 1 – Comentários Iniciais (Roteiro Quali, 2ª Parte, 1º Ponto)

Comentários Iniciais Grupo de Grupo de 1º Grupo 2º Grupo Grupo de Totais


(temas/questões) Diálogo Diálogo de Diálogo de Diálogo Diálogo por tema
15-17 18-24 15-24 15-24 experiência (%)
participativa
(16/04/05) ((30/04/05) (23/04/05)) (não
houve) (19/03/05)

Descaso com a população - - - 1 1(1,06)

Violência 4 6 5 3 18 (15,95)

Prostituição/Abuso de menores - - - 1 1 (1,06)

Gravidez na adolescência - - - 1 1 (1,06)

Saúde pública 1 - - 1 2 (2,12)

Pobreza/Miséria 1 - - 4 5 (5,3)

Fome 3 7 1 2 13
(13,820)

Pichação - - - 1 1 (1,06)

Emprego/Trabalho/Falta de 2 4 4 2 12 (12,76)
oportunidade/Desemprego

Drogas na adolescência 4 - 4 (4,25)

Educação 2 4 3 2 11 (11,70)

Tempo ocioso dos(as) jovens - - - 1 1 (1,06)

Política/Corrupção/Falta de 1 - 1 1 3 (3,19)
consciência de governantes

Desigualdade social/Exclusão 3 1 5 1 10 (10,63)

Democracia 1 - - - 1 (1,06)

Discriminação/Preconceito/Racismo 2 - 3 - 5 (5,30)

Impunidade - - 1 - 1 (1,06)

Sociedade em geral/Brasil - - 2 - 2 (2,12)

Crianças abandonadas - - 1 - 1 (1,06)

Formação profissional - - 1 - 1 (1,06)

56
ANEXO 2:
2º Instrumento de Análise: Tabela 2 – Comentários Iniciais (Roteiro Quali, 2ª parte, 1º ponto)

Comentários Iniciais Grupos de Diálogo


(temas/questões)

TEMAS/QUESTÕES Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse/a


tema/questão

Violência “Violência, que a cada dia cresce assustadoramente” (GD1)

“É o fato de ter muita violência e também não podermos ter mais


privilégios assim na sociedade” (GD3)
“Dentre os vários problemas que existem no Brasil, eu vou citar aquilo
que mais me preocupa, que é a violência”(GD4)

Prostituição/Abuso de “O tempo ocioso dos jovens, né?, principalmente no bairro onde eu


menores moro, o Guamá, eu percebo que tem muitos jovens que, por não terem
o que fazer, acabam assaltando, se prostituindo, então a minha
preocupação no momento a maior é essa”(GD1)

Pobreza/Miséria “Minha maior preocupação é a pobreza que você se encontra ”(GD1)

Fome “A minha maior preocupação é a fome, as drogas na adolescência e a


desigualdade social em gera ”(GD1)
Pichação “Pichação, que no caso é, fica mal com a vista da gente que agente
passa por aí, né?, as escolas estão pintadas aí o pessoal vai e picha e
isso é maior preocupação hoje no Brasil”(GD1)

Emprego/Trabalho/Falta “A minha maior preocupação no Brasil é o desemprego, principalmente


de oportunidade para nós, jovens, que toda vez que nós vamos procurar, eles sempre
querem uma experiência e como é que a gente pode ter experiência, se
agora que nós estamos saindo do Ensino Médio?” (GD1)

“Também é a falta de oportunidades para os jovens” (GD5)

Educação “É a educação a falta de conhecimento” (GD1)


“É a educação, sem dúvida” (GD4)

Tempo ocioso dos(as) “O tempo ocioso dos jovens, né?, principalmente no bairro onde eu
jovens moro, o Guamá, eu percebo que tem muitos jovens que, por não terem
o que fazer, acabam assaltando, se prostituindo, então a minha
preocupação no momento a maior é essa” (GD1)

Política “Minha maior preocupação é a política, que eles só pensam em si


mesmo, esquecem do povo” (todos aplaudem o Jorge). (GD1)
“O que mais me preocupa com toda sinceridade é a política” (GD4)

Desigualdade social “É a desigualdade social com certeza” (GD4)

Sociedade em “O que mais me preocupa no Brasil é ele mesmo” (GD4)


geral/Brasil
“Me preocupo muito com a sociedade no Brasil” (GD4)

“O que me preocupa é tudo: desemprego, segurança” (GD5)

57
ANEXO 3:
3º Instrumento de Análise: Tabela 3 – Semelhanças e Diferenças (Roteiro Quali, 2ª parte, 2º
ponto)
Semelhanças – manhã
1. 1ª Semelhança: professores(as) mais qualificados – 3/4

1º Grupo de Diálogo “Melhor qualificação para os professores”


experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não apareceu
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo “Investimento nas universidades e escolas públicas e
15-24 (23/04/05) qualificação de professores”

4º Grupo de Diálogo “O professor não tem que ficar preso na matéria – uma
18-24 (30/04/05) educação bancária, onde o professor só deposita”

“Melhoria da capacitação profissional dos professores


(pesquisa e extensão)”

2. 2ª Semelhança: qualidade da escola pública – 2/4


1º Grupo de Diálogo Não apareceu
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não apareceu
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Investimento nas universidades e escolas públicas e
15-24 (23/04/05) qualificação de professores;

4º Grupo de Diálogo “O professor não tem que ficar preso na matéria – uma
18-24 (30/04/05) educação bancária, onde o professor só deposita”
“A gente não concorda com a forma de ensinar, passa sete
anos e não aprende o que lá fora se aprende em dois”
“Ser professor não é fácil, as condições são precárias, não tem
salário digno e a escola pública não tem estrutura”
“A escola pública não prepara para o vestibular”

58
2. 3ª Semelhança: acesso à cursos públicos – 1/4
1º Grupo de Diálogo “Acesso a cursos (universidade) públicos: pedagogia,
experiência participativa magistério, informática”
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não apareceu
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Não apareceu
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo Não apareceu
18-24 (30/04/05)

2. 4ª Semelhança: Qualificação profissional – 2/4


1º Grupo de Diálogo Cursos profissionalizantes
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não aparece
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Não aparece
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo “Vinculação ou parceria da escola com a empresa – convênios
18-24 (30/04/05) para formação profissional”
“Investimento das empresas na formação e qualificação dos
funcionários pra ele poder crescer dentro da empresa”

“Falta de projeto para qualificar o trabalhador”

59
2. 5ª Semelhança: Oportunidade de trabalho/emprego – 4/4
1º Grupo de Diálogo: “Mais oportunidade para o jovem no mercado de trabalho”
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo: “Todo mundo quer arrumar emprego”
15-17 (16/04/05)
“Todos os jovens querem uma oportunidade de trabalhar e
estudar”
“Os jovens deveriam estudar e se formar, mas alguns têm
necessidade de trabalhar e para estes falta oportunidade”.

“O preparo não garante o trabalho”


“Nem todas as oportunidades valem à pena”
3º Grupo de Diálogo “Oportunidade do primeiro trabalho / emprego”
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo “Falta de política pública de primeiro emprego”
18-24 (30/04/05)
“Falta de oportunidade”

3. 6ª Semelhança: acesso à cultura e lazer – 4/4


1º Grupo de Diálogo “Criação de mais espaços para o lazer”
experiência participativa
“Prec isão de espaços e bibliotecas”
(19/03/05)
“Criação de espaços públicos para a sociedade”
2º Grupo de Diálogo “Todo mundo quer ter cultura e lazer”
15-17 (16/04/05)

3º Grupo de Diálogo “Criação de quadras de esporte e praças”


15-24 (23/04/05)

4º Grupo de Diálogo “O lazer é o último item da lista, não sobra dinheiro”


18-24 (30/04/05)

60
2. 7ª Semelhança: valorização da cultura regional: 2 /4
1º Grupo de Diálogo “Valorizar a cultura paraense”
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não aparece
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Não apareceu
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo “Valorizar a cultura regional, que é rica”
18-24 (30/04/05)

2. 8ª Semelhança: Compromisso dos governantes – 1/4


1º Grupo de Diálogo “Governantes precisam olhar mais para a sociedade”
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo
18-24 (30/04/05)

2. 9ª Semelhança: Preocupação com o futuro – 1/4


1º Grupo de Diálogo “Procurar um modo melhor de viver, um futuro”
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não aparece
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Não aparece
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo Não aparece
18-24 (30/04/05)

61
2. 10ª Semelhança: Falta de segurança – 1/4
1º Grupo de Diálogo Não aparece
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo “Todo mundo quer ter uma segurança”
15-17 (16/04/05)

3º Grupo de Diálogo Não aparece


15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo Não aparece
18-24 (30/04/05)

2. 11ª Semelhança: Discriminação – 1/4


1º Grupo de Diálogo “Há muita discriminação por aparência, cor, idade e religião”
experiência participativa
(19/03/05)
2º Grupo de Diálogo Não aparece
15-17 (16/04/05)
3º Grupo de Diálogo Não aparece
15-24 (23/04/05)
4º Grupo de Diálogo Não aparece
18-24 (30/04/05)

62
Semelhanças - tarde
1. 1ª Semelhança: Percepção da necessidade de participação/Descoberta do papel

1º Grupo de Diálogo “Assumir que podemos e devemos fazer alguma coisa pra
experiência participativa mudar a situação em que nos encontramos; encontrar alguma
(19/03/05) forma de se manifestar.”

2º Grupo de Diálogo “Todos querem ajudar ou se envolver em algum grupo.”


15-17 (16/04/05)
“Aprender a não usar inutilmente o voto.”

“Saber como ajudar as outras pessoas, o próximo.”


“Tomar a atitude de fazer as coisas.”

3º Grupo de Diálogo “Criar grupos e organizações para expressar idéias e mostrar


15-24 (23/04/05) para os governos a forma como a gente quer as coisas:
voluntários, grupo teatral, música, participação política.”
“O importante é que os jovens se manifestem, que não sejam
manipulados. Seja através de ONGs, partidos, ou com ações
solidárias, grupos de teatro, música etc”.
4º Grupo de Diálogo “Formação dos grupos culturais”
18-24 (30/04/05)
“Formação dos movimentos para defender interesses comuns.”

63
ANEXO 4. Comentários Finais
4º Instrumento de Análise: Tabela 4 – Comentários Finais (Roteiro Quali, 2ª parte, 5º ponto)

Comentários Finais Grupo de Grupo de 1º Grupo de 2º Grupo de G. Diálogo


Diálogo Diálogo Diálogo Diálogo experiência
(temas/questões)
(GD2) (GD4) (GD3) participativa
15-24
(GD1)
15-17 18-24 15-24
(não houve)
(19/03/05)
(16/04/05) (30/04/05) (23/04/05)
Dar atenção aos(às) 3 2 6 1
jovens/Ouvir suas
opiniões
Que os(as) governantes
tenham mais
responsabilidade,
dignidade, honestidade 3 7 6 4
Atenção aos problemas 1
dos bairros/ruas
Atenção com a 3 3 1
segurança/Violência
Luz para os(as) 1
governantes
Elogio aos(às) 2
governantes
Investimento em 5 6 5 3
educação
Atenção ao povo 4 8 9 8
Investimento em saúde 1
Questionamento sobre 1
direitos dos(as) jovens
Investimento na 1 2
democracia
Não tinha mensagem 1
Fome 1 2
Desigualdade social 1
Desemprego 2 1
Saneamento 1
Trabalho infantil 1
Incentivo à 1 2
organização/Lutar pelo
país
Que os(as) políticos 2
aprendam a trabalhar
em conjunto

64
5º Instrumento de Análise: Tabela 5 – Comentários Finais (Roteiro Quali, 2ª parte, 5º ponto)

Comentários Finais
Grupo de Diálogo 15 a 17 anos
(temas/questões)
(16/04/05)
TEMAS/QUESTÕES Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse
tema/questão

Dar atenção aos(às) jovens “Eles deveriam olhar mais pro jovem de hoje” (masculino,
GD3, plenária)
“Que os governantes olhem pros jovens, que eles se
preocupem com os jovens na educação e tudo isso, e se
preocupando com os jovens eles estão se preocupando com o
futuro também” (masculino, GD3, plenária)
“Eu queria deixar uma mensagem pro Lula: pra ele olhar pros
adolescentes, entendeu? Que muitos adolescentes não têm
chance de emprego no Brasil” (masculino, GD3, plenária)

“Aí, pro Lula, entendeu? Que ele olhe mais pros adolescentes
no trabalho, entendeu? Sobre emprego, tá difícil, até a pessoa
estudando não arranja nada, como aposentar...”(masculino,
GD3, plenária)

Que os(as) políticos(as) “E minha mensagem que os governantes tenham mais


tenham honestidade, responsabilidades, e falem menos e façam mais” (palmas)
responsabilidade, (masculino, GD3, plenária)
dignidade
Luz para os(as) “Uma mensagem é que, sei lá, Deus iluminasse a cabeça dos
governantes governantes aí e que eles dessem um jeito de modificar o
mundo né?, que tá precisando pra caramba” (feminino, GD3,
plenária)

Elogios aos(às) “Sabe, o Lula, eu acho que ele tá fazendo, não tão, mais eu
governantes acho que ele tá fazendo melhor do que outros governantes
que teve aqui...” (feminino, GD3, plenária)
“Aliás, era que, que o Lula tá fazendo um bom trabalho, olha
eu gostei mesmo do Lula, só que não depende só dele, não
depende só dele, depende muito dos governantes, depende
muito dos outros políticos também” (masculino, GD3, plenária)

Investimento em educação “O que eu falei que mais me preocupava no Brasil era a


desigualdade social, mas agora eu acho que, como resolver
isso? Eu acho que a mensagem que eu passo pra resolver
isso seria investir na educação porque é com educação a
gente talvez consiga acabar ou pelo menos diminuir essas
desigualdades sociais” (feminino, GD3, plenária)
“Eu queria deixar a mensagem pros governantes, pra eles
investirem mais em educação, que é muito importante, e
abrirem mais vagas nas universidades porque tem poucas,
pra muita gente” (masculino, GD3, plenária)

65
Comentários Finais
Grupo de Diálogo 15 a 17 anos
(temas/questões)
(16/04/05)

Atenção ao povo “O que eu queria dizer, falar pro Lula, que é pra ele investir
mais nos pobres, nos estudos, na democracia”. (masculino,
GD3, plenária)
“Queria deixar a mensagem pro Lula, pro Luís Inácio Lula da
Silva, que tem que olhar pra todos, que todos têm o mesmo
valor, vem fácil e vai fácil, essa é a lei da natureza”
(masculino, GD3, plenária)

Questionamento sobre “Quarta-feira eu fui assaltada, aí levaram o meu celular, eu fui


direitos dos(as) jovens lá na delegacia, aí o homem falou que eu não podia fazer a
ocorrência porque eu tinha só 16 anos, aí eu queria saber
assim, por que eles dão direito pra gente... Eles dão direito de
voto pra 16 anos e a gente não tem direito de fazer nenhuma
ocorrência, nada assim, aí eu queria falar só isso” (feminino,
GD3, plenária)

Comentários Finais Grupo de Diálogo c/ experiência participativa


(temas/questões) (19/03/05)
TEMAS/QUESTÕES
Exemplos de falas dos (as) jovens
que abordam esse tema/questão

Dar atenção aos(às) jovens “A mensagem eu gostaria de deixar para as pessoas que
tomam decisões no país, é que elas venham atentar pras
opiniões que nós, que serão dadas. E que, com certeza, cada
um de nós sabemos a necessidade que nós precisamos, que
nós temos. E que eles venham atentar, principalmente, para
as pessoas de baixa renda, que não têm acesso à educação,
ao lazer a cultura e ao trabalho” (feminino, GD1, plenária)

Que os(as) políticos(as) “É que os políticos trabalhem com dignidade. Porque, se eles
tenham honestidade, trabalharem com dignidade, com certeza, irá ajudar bastante o
responsabilidade, país” (feminino, GD1, plenária)
dignidade “Que esses políticos corruptos, que eu acho que de dez, onze
são corruptos, é, mais é, isso é a verdade. E que depois que
eles se reelegem, eles esquecem que o povo brasileiro existe,
e que nós temos muitas dificuldades para nós sobrevivermos.”
(masculino, GD1, plenária)

66
Comentários Finais Grupo de Diálogo c/ experiência participativa
(temas/questões) (19/03/05)

Atenção ao povo “É que eles venham atentar principalmente para as pessoas


de baixa renda que não têm acesso à educação, ao lazer e ao
trabalho” (feminino, GD1, plenária)

“Apenas que eles ouvissem um pouco a sociedade, porque a


sociedade, ela tem voz.” (masculino, GD1, plenária)

“E a mensagem que eu tenho a deixar, é que o nosso


governo, ele tem que ter, sabe, muita consciência de que o
povo não é cachorro, não é nenhum bicho, e respeitar e
cuidar do seu povo” (masculino, GD1, plenária)

“E a mensagem que eu queria deixar pro, pras pessoas que


tomam decisões nesse país, é que assim como nós
chegamos a um consenso, a uma unificação, que eles se
unissem com a sociedade, com as ONGs, que eles dessem
apoio, que eles lessem os papéis que as pessoas mandam
pra lá e não deixar como, eu já peguei um chá de cadeira.
Começassem a prestar a atenção nessas pessoas, que
talvez, quem sabe, como aqui a gente conseguiu resolver,
quem sabe lá eles não consigam resolver alguma coisa”.
(feminino, GD1, plenária)

“E a mensagem que eu mando, é que, as pessoas que tomam


conta do país, né, os políticos, que pra eles tarem lá no bem
bom, eles precisam da gente, pra tá usufruindo do bom e do
melhor. Então, eles deviam olhar um pouquinho pra gente,
porque a gente sofre aqui. Ferra com eles” (masculino, GD1,
plenária)

“A mensagem que eu deixo, assim, é que os governantes


nunca esqueçam da gente aqui, pra eles estarem lá é pelos
nossos métodos aqui, entendeu? E eles não estão lá sós”
(masculino, GD1, plenária)

“É que as pessoas que tomam as decisões no país, né, que


elas possam aprender a trabalhar em conjunto, com aquelas
pessoas que estão dispostas a melhorar o país, que assim, a
gente vai conseguir com certeza” (feminino, GD1, plenária)

Fome “Que os governantes, eles mais olhassem pela fome. Que


essa ‘Bolsa Escola’ ainda não dar pra matar a fome ainda de
todo mundo, principalmente das pessoas mais carentes”
(feminino, GD1, plenária)

“É que eles olhassem mais pelas crianças, que tão passando


dificuldades, fome” (feminino, GD1, plenária)

67
Comentários Finais Grupo de Diálogo 15 a 24 anos
(temas/questões) (23/04/05)
TEMAS/QUESTÕES Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse
tema/questão

Dar atenção aos(às) jovens “E a mensagem que eu gostaria de deixar, assim, pra essas
pessoas que tomam decisão no país é que eles levassem
mais a sério, as pessoas que ajudam a eleger e colocar eles
no lugar, que eles tomassem decisões que realmente viessem
a ajudar a cada um de nós, tanto a juventude como os
adultos, enfim a todos, ok!” (masculino, GD4, plenária)
“o que aconteceu de mais importante aqui foi a discussão e
saber ouvir a opinião dos outros e independente do governo
nós temos direitos e opiniões e isso deve ser respeitado e
levado a sério pelas pessoas que tomam decisões nesse
país” (masculino, GD4, plenária)

Que os(as) políticos tenham “É que os políticos pensem mais antes de tomar uma decisão”
honestidade, (masculino, GD4, plenária)
responsabilidade, “Que eles revejam suas decisões e tentem tomar decisões
dignidade mais corretas e mais justas” (feminino, GD4, plenária)

Emprego “Que eles dessem mais empregos para os jovens” (feminino,


GD4, plenária)
“A mensagem que eu deixo para os governantes abram mais
as portas de trabalho para os jovens”(masculino, GD4,
plenária)

Atenção ao povo “É bom eles zelarem mais pelo povo, porque é o povo que
elege eles” (masculino, GD4, plenária)
“A mensagem que eu gostaria de deixar e que os governantes
tenham um pouco mais de sensibilidade e tomem decisões
que venham a favorecer os mais necessitados” (feminino,
GD4, plenária)
“Que as pessoas que tomam decisões deixassem de ser
egoístas e pensassem nas pessoas que necessitam”
(feminino, GD4, plenária)
“Que elas sejam mais humildes com a gente, pensar um
pouco na opinião do povo e não pensar apenas no que é bom,
que vai ser a serviço deles, e sim pensar na opinião, na
democracia de cada um de nós” (feminino, GD4 plenária)
“É que os homens corruptos dêem mais importância ao
mundo e às pessoas carentes” (feminino, GD4, plenária)

68
Comentários Finais Grupo de Diálogo 15 a 24 anos
(temas/questões) (23/04/05)

Atenção com a “É que olhem, que invista mais na nossa segurança porque eu
segurança/Violência quero deixar um recado aqui que aconteceu por essa falta de
segurança que tem no nosso Brasil, eu perdi o meu pai por
causa disso, então eu quero mesmo que os governantes
olhem por isso, entendeu? Porque hoje em dia a gente vive na
nossa casa tudo trancado por causa dessa violência que tem
no nosso Brasil, eu queria muito que os nossos governantes
olhassem por isso. Obrigada!” (feminino, GD4, plenária)
“Que eles parem de se preocupar com os países dos outros e
se preocupem mais aqui dentro e que a missão de paz que
eles estão enviando pra fora, que eles comecem aqui, porque
a insegurança tá imperando aqui e lá fora eles’ tão
preocupados e aqui eles ‘tão... deixa pra lá, não vou nem
falar” (masculino, GD4, plenária)

Comentários Finais Grupo de Diálogo 18 a 24 anos


(temas/questões) (30/04/05)
TEMAS/QUESTÕES Exemplos de falas dos (as) jovens que abordam esse
tema/questão

Dar atenção aos(às) jovens “E que os donos do poder acreditem mais no jovem e que
invista mais neles, porque acho que nós somos o futuro da
nação” (feminino, GD5, plenária)

Que os(as) políticos(as) “Minha mensagem é que eles deixem de roubar os outros”
tenham honestidade, (masculino, GD5, plenária)
responsabilidade, “Que os nossos líderes tenham uma higiene política e que os
dignidade jovens se permitam mais em busca de seus ideais”
(masculino, GD5, plenária)

Investimento em educação “A mensagem é que eles invistam mais em educação porque


ela é base da cidadania, com certeza”(feminino, GD5,
plenária)
“A mensagem que eu gostaria de deixar é que o Brasil só vai
se tornar um país realmente desenvolvido se se investir em
políticas públicas direcionadas à educação” (feminino, GD5,
plenária)

“É que os governantes possam pensar no que está


acontecendo com a educação no Brasil, porque é o pilar de
tudo, é o começo de tudo” (feminino, GD5, plenária)
“Que construam mais universidades” (masculino, GD5,
plenária)

69
Comentários Finais Grupo de Diálogo 18 a 24 anos
(temas/questões) (30/04/05)

Atenção ao povo “A mensagem é que, quando eles tiverem lá, eles poderiam
olhar mais um pouco, não para os de classe alta, mas para os
pobres, miseráveis, que não têm o que comer. Eu espero que,
quando eles estiverem almoçando, fazendo alguma festa, que
eles possam lembrar o que é que o miserável lá poderia estar
fazendo uma hora dessas, um pedacinho, um pouco do muito
que eles têm, podiam dar um pouquinho pra eles. Então era
isso que eu queria deixar aqui” (masculino, GD5, plenária)

“É que eles olhem mais pros mais carentes, que não


olhassem tanto pros de classe alta, porque eles trabalham e
têm o que conseguir, mas que olhem pro assalariado”
(masculino, GD5, plenária)
“Que eles realmente deveriam parar e repensar que o mundo
ele não gira em torno deles, que além deles existe uma
sociedade, onde ela clama por ajuda, que anda passando
fome, anda passando necessidade, eles deveriam parar e
olhar tudo isso que tem acontecido no nosso país” (masculino,
GD5, plenária)

Investimento na “E a mensagem que eu gostaria de deixar é pros políticos é


democracia que eles deviam ouvir mais a população, os eleitores no caso,
deixar os eleitores participar mais, assim de plenárias e dar
uma atenção maior aos eleitores” (masculino, GD5, plenária)

“A mensagem que eu gostaria de dizer é que o go verno


poderia participar mais com a comunidade e saber realmente
do que se trata o dia a dia de cada um de nós” (masculino,
GD5, plenária)
“Lembrar que quem toma as decisões somos nós, que político
só representa, só lidera, quem governa somos nós, essa é a
mensagem que eu queria deixar” (masculino, GD5, plenária)

Incentivo à “É que todo mundo continuasse lutando pelo nosso país.


organização/Lutar pelo país “E a minha mensagem era assim, para que nós, jovens não
deixássemos ser alienados por ninguém, nem políticos, nem
pessoas, que nós mesmos possamos fazer a nossa própria
opinião, nosso modo de agir, de pensar e agir da maneira que
a gente acha que vai ser bacana pra gente e pra comunidade”
(feminino, GD5, plenária)

70
relatório global

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.2 Relatório regional


Belo Horizonte

Entidade parceira
Observatório da Juventude
da Universidade Federal
de Minas Gerais/UFMG

Equipe
Geraldo Leão
Juarez Dayrell
Nilma Lino Gomes

janeiro 2006
Sumário

1. Apresentação

2. A metodologia em ação
2.1 O Dia de Diálogo
2.2 Perfil dos participantes
2.3 Perfil dos Grupos de Diálogo
2.4 Tecendo comentários sobre a metodologia

3. Os conteúdos dos Grupos de Diálogo


3.1 As preocupações dos(as) jovens
3.2 Que Brasil queremos? As demandas dos(as) jovens
3.3 Os Caminhos Participativos
3.3.1 Os grupos e suas escolhas
3.3.2 As definições da plenária
3.4 As escolhas dos caminhos: análise das fichas pré e pós-Diálogo
3.5 Tecendo comentários sobre os caminhos participativos
3.6 O recado dos(as) jovens
3.7 Juventude e participação
3.7.1 A demanda dos(as) jovens
3.7.2 As perspectivas de participação sociopolítica

4. Bibliografia

5. Anexos

1
1 – Apresentação

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas é


uma investigação de caráter nacional, coordenada pelo Ibase e Pólis. Foi desenvolvida em
oito Regiões Metropolitanas brasileiras, com o objetivo de sondar as expectativas e o real
envolvimento dos(as) jovens nas esferas públicas e políticas, ampliando o debate sobre a
participação cidadã perante a juventude brasileira, além de influenciar as políticas públicas
de juventude nos níveis local, estadual e nacional, a partir das informações geradas.
Em Belo Horizonte, a pesquisa foi coordenada pelo Observatório da Juventude da
UFMG. O Observatório é um programa de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de
Educação, com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão e do Centro Cultural da UFMG. Desde
2002, esse programa vem realizando atividades de investigação, levantamento e disseminação
de informações sobre a situação dos(as) jovens na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
além de promover a capacitação tanto de jovens quanto de educadores(as) e alunos(as) da
graduação da UFMG interessados(as) na problemática juvenil. O programa situa-se no
contexto das políticas de ações afirmativas, orientando-se por quatro eixos centrais de
preocupação que delimitam sua ação institucional: a condição juvenil; políticas públicas e
ações sociais; práticas culturais e ações coletivas da juventude na cidade e a construção de
metodologias de trabalho com jovens.
A primeira fase da pesquisa teve caráter quantitativo, realizada por amostragem
probabilística, tendo como universo uma amostra de 1.000 jovens na faixa etária entre 15 e 24
anos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), em novembro de 2004. Foi
realizado um primeiro relatório com uma análise preliminar dos dados (DAYRELL, 2005), no
qual consta a descrição do perfil sociocultural da juventude na RMBH, seguida da descrição
dos dados referentes à participação social dos(as) jovens e da discussão de algumas hipóteses
em torno dessa realidade.
A segunda fase da pesquisa teve um caráter qualitativo, utilizando o Grupo de Diálogo
como recurso metodológico. Essa metodologia é inspirada no ChoiceWork Dialogue
Methodology, desenvolvida pelo Canadian Policy Research Networks (CPRN), sob o patrocínio
financeiro do Internacional Development Research Center (IDRC). No Brasil, essa metodologia
foi adaptada a partir das reflexões da equipe nacional envolvida na pesquisa, introduzindo
novos recursos metodológicos adequados à realidade nacional.
Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os Grupos de Diálogo (GD) foram
coordenados pelos(as) professores(as) Juarez Dayrell, Nilma Lino Gomes e Geraldo Leão,
todos(as) integrantes do Observatório da Juventude da UFMG. A equipe foi completada
pelos(as) bolsistas(as): Gustavo Barhuch e Shirley Pereira Raimundo, estudantes da
Pedagogia; Juliana Batista, estudante do curso de Ciências Sociais, e Andréia Rosalina,
graduanda em Ciências da Informação. Foram realizados cinco GDs no Centro Cultural da
UFMG. O primeiro deles foi realizado no dia 2 de abril de 2005 contemplando os(as) jovens de

2
15 a 24 anos com experiência de participação; o segundo foi realizado no dia 16 de abril,
contando com jovens de 15 a 17 anos; o terceiro, no dia 23 de abril, contemplando jovens de
18 a 24 anos; e os dois últimos realizados nos dias 30 de abril e 7 de maio, respectivamente,
contaram com a participação de jovens de 15 a 24 anos.
Este relatório tem como objetivo descrever e analisar os dados extraídos dos
Grupos de Diálogo. Na primeira parte, descrevemos detalhadamente a metodologia
utilizada, analisamos o perfil dos(as) jovens participantes e finalizamos com uma reflexão
inicial em torno da metodologia utilizada, apontando seus limites e possibilidades. Na
segunda parte, descrevemos e analisamos os conteúdos dos Grupos de Diálogo,
organizados na mesma lógica do encontro. Iniciamos com uma análise das preocupações
expressas pelos(as) jovens no inicio do encontro; em seguida, discutimos as demandas
que eles(as) expressaram em relação à educação, trabalho e cultura na parte da manhã.
Em seguida, descrevemos a discussão e escolha dos Caminhos Participativos realizadas
na parte da tarde pelos(as) jovens nos subgrupos e na plenária de cada Grupo de Diálogo,
analisando também as possíveis diferenças existentes nas fichas Pré e Pós-Diálogo,
finalizando com uma reflexão em torno das escolhas dos(as) jovens. Em seguida,
analisamos o recado final dos(as) jovens, expressos por eles(as) no final de cada Grupo de
Diálogo. Finalizando este relatório, desenvolvemos uma reflexão buscando compreender o
posicionamento dos(as) jovens nos cinco GDs, em uma análise das demandas dos(as)
jovens e das perspectivas que eles(as) apontam para uma participação sociopolítica. Nos
anexos, estão presentes todas as tabelas que utilizamos para a descrição e análise. Temos
consciência que, nesse momento, os dados são muito mais ricos do que a nossa
capacidade de análise, demandando um esforço posterior de adensamento teórico.

3
2 – A metodologia em ação

No processo de preparação dos Grupos de Diálogo (GDs), foram realizadas uma série de
reuniões da equipe, nas quais foram discutidos o projeto de pesquisa, a metodologia proposta,
o Guia do(a) Facilitador(a), as tarefas a serem executadas antes, durante e depois de cada
GD. Ao longo da realização dos GDs, a equipe se reuniu um dia antes de cada um deles para
ultimar os preparativos e sanar possíveis dúvidas e adaptações. E se reuniu também logo após
a realização de cada GD, avaliando e refletindo sobre o processo vivido, fornecendo elementos
para o relatório de cada um deles.
A convocação dos(as) jovens foi feita inicialmente por telefone, em media 15 dias
antes do encontro, quando fizemos o convite fornecendo todas as informações necessárias e
confirmando o endereço. Nesse momento, a grande maioria dos(as) jovens demonstrou
surpresa. O fato de nos apresentarmos como ligados(as) à Universidade gerou as mais
diferentes interpretações, mesmo depois de explicar todo o processo. Vários(as) jovens
duvidavam do convite, muitos deles(as) achando ser “trote” de conhecidos(as) ou mesmo
algum “truque”. Uns(mas) poucos(as) não lembravam da sua participação na pesquisa
quantitativa e se recusaram de imediato a participar do GD. Em seguida, enviamos a carta
(anexo 1) para todos(as) os(as) convidados(as) que aceitaram participar. Foi o momento
da formalização do convite, e vários(as) jovens nos relataram que passaram a acreditar
de fato, ou os pais passaram a permitir a participação quando receberam a carta. Mesmo
assim, vários pais ligaram para confirmar o evento e sanar dúvidas e receios. Próximo à
realização do GD, telefonamos novamente para todos(as) os(as) que haviam confirmado
a participação para lembrá-los(as) do convite. Em todo o processo, a maior dificuldade foi
o elevado número de telefones errados ou inexistentes, e também endereços errados,
nos obrigando a utilizar toda a lista disponível, aumentando tanto o trabalho de
convocação quanto os custos com telefone.
É interessante pontuar as expectativas geradas pelo convite. No dia do GD,
vários(as) jovens se diziam lisonjeados(as) em serem convidados(as) pela UFMG;
outros(as) acharam que haveria uma possibilidade de emprego, comparecendo inclusive
muito bem vestidos(as), e alguns(mas) deles(as) acharam que se tratava de algo ligado ao
vestibular. Praticamente todos(as) eles(as) estranharam a proposta do pagamento pelo dia,
sendo o motivo maior da desconfiança inicial. Alguns(mas) chegaram acompanhados(as)
pelos pais, que procuraram certificar do que realmente se tratava, e tranqüilizaram-se
depois da nossa explicação. Preparamos uma sala especial com vídeo e revistas, caso
algum(a) parente quisesse permanecer no local ao longo do Dia, porém nenhum deles(as)
se dispôs a permanecer no local.
Optamos em realizar os GDs no Centro Cultural da UFMG, espaço cuja direção
atual vem desenvolvendo uma política de abertura a projetos culturais oriundos de
movimentos populares, principalmente os juvenis. A escolha se mostrou acertada, mesmo

4
enfrentando algumas dificuldades, como a falta de infra-estrutura adequada1. Mas essas
dificuldades foram superadas pelos fatores positivos, principalmente a sua localização
central, facilitando a locomoção dos(as) jovens. Também pela privacidade, já que não
houve, nesses dias, outras atividades no local. Acreditamos também que o fato de ser um
espaço da própria UFMG aumentou a credibilidade inicial ao serem convidados(as).

2.1 – O Dia de Diálogo

Vamos registrar abaixo a descrição da rotina dos Dias de Diálogo, pontuando as adaptações
que fomos fazendo ao longo do processo.

8h – Registro e boas vindas


• O horário marcado com os(as) jovens foi 8h, prevendo até uma hora para o inicio
de fato. Nos cinco GDs, os(as) jovens, na sua maioria, foram pontuais. Nos
quatro GDs, iniciamos sempre a partir das 8h30, em apenas um deles, o GD4,
iniciamos às 9h devido à forte chuva que caiu no dia. A partir das 7h da manhã já
havia jovens na porta do Centro Cultural, mas o café era servido a partir das 8h.
Quando o(a) jovem chegava, um(a) integrante da equipe o(a) recebia e o(a)
encaminhava para fazer o seu registro e receber o material e o crachá. Durante o
café, parte da equipe permanecia no salão conversando com os(as) jovens e
estimulando a aproximação deles(as) entre si. A outra parte cuidava dos últimos
preparativos para o GD, arrumados na véspera.

8h45 – 9h25 – Apresentação da equipe e comentários iniciais


• Nesse momento, chamamos todos(as) para a sala e apresentamos a pesquisa,
seus objetivos, a dinâmica geral do dia, o por que a importância da gravação das
falas e da equipe. Em seguida, pedimos a todos(as) para se apresentarem,
seguindo as questões colocadas no flipchart: nome, bairro, Participa de algum
grupo?, Se sim, qual?, Em uma palavra, o que te preocupa no Brasil?.
Resolvemos incluir a questão do bairro para que eles(as) se localizassem, e a
questão da participação para termos uma idéia inicial da composição do Grupo.
Essa informação inicial foi importante, pois muitos(as) que participaram do GD1,
por exemplo, não tinham experiência de participação, enquanto outros(as) que
aparentemente não teriam essa experiência afirmaram estar inseridos(as) em
algum grupo. Além disso, serviu como fonte de exemplos na discussão dos
Caminhos Participativos. Esse momento se revelou importante para termos uma
noção do Grupo e seu grau de formulação. O momento terminou com uma
dinâmica de entrosamento que contribuiu para animar o Grupo.

1. Tivemos de alugar toda a infra-estrutura como o som, DataShow, a estrutura de cozinha etc.

5
9h25 – 10h25 – Apresentação e diálogo em torno do CD-ROM
• A partir da experiência do GD1, resolvemos ampliar o tempo de apresentação do
CD, interrompendo-o quatro vezes nos itens: Agenda, Compromissos, Jovens no
Brasil e Os Caminhos Participativos. Nesse momento, dialogamos com os(as)
jovens sobre o tema, pedindo exemplos e sanando duvidas, nos detendo mais no
item Jovens no Brasil, quando apresentamos a realidade da juventude na Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Na discussão sobre os Caminhos, optamos em
detalhar cada um deles na parte da manhã, insistindo para que dessem exemplos
concretos de cada Caminho. Essa medida favoreceu uma maior agilidade no
período da tarde, quanto então não precisamos detalhar mais os Caminhos, só
projetando a parte final do CD e retomando os exemplos levantados.

10h25 – 10h40 – Ficha Pré-Diálogo


• Distribuímos a ficha Pré-Diálogo e acompanhamos o seu preenchimento,
explicando novamente cada um dos Caminhos.

10h40 – 11h40 – Trabalho em Grupos


• Explicamos o trabalho em Grupos, enfatizando a diferença entre disputa e
diálogo, a divisão das tarefas e a questão que deveria ser discutida. Em cada
uma das salas utilizadas pelos Grupos havia um cartaz com a questão e com as
recomendações sobre o trabalho a ser desenvolvido. Cada bolsista acompanhou
um Grupo, gravando e anotando a sua dinâmica. Eles(as) interviram apenas
quando foram demandados(as), com dúvidas quase sempre ligadas à
compreensão da dinâmica ou sobre a forma da apresentação. Durante o trabalho,
os(as) professores(as) passavam periodicamente em cada Grupo, mas poucas
vezes foram demandados(as) a intervir. Não enfrentamos nenhum problema
maior nesse trabalho, com uma participação significativa da grande maioria
dos(as) jovens. Constatamos o óbvio: a discussão em pequenos Grupos sempre
se mostrou mais rica do que aquela da plenária.

11h40 – 12h40 – Plenária


• Cada Grupo teve cinco minutos para apresentar as conclusões do trabalho. A
grande maioria utilizou a forma de cartaz, sem lançar mão de outros recursos.
Mas houve aqueles que utilizaram de desenhos e um outro produziu um rap para
passar as conclusões do Grupo. Pedimos a todos(as) que ficassem atentos(as)
às semelhanças e diferenças entre as propostas apresentadas pelos Grupos,
passando, em seguida, a essa discussão. Nesse momento, enfrentamos certa
dificuldade, pois várias das propostas dos Grupos foram muito genéricas,

6
dificultando uma definição mais clara dos aspectos em comum. As semelhanças
e diferenças foram registradas no flipchart, sendo reforçado que essa síntese
seria o ponto de partida para o trabalho da tarde.

12h40 – 13h40 – Almoço


• No geral, o período do almoço foi o momento de uma integração maior entre
os(as) jovens. Deixamos à mão um aparelho de som para que colocassem
música, e a tendência foi a formação de pequenos subgrupos, formados quase
sempre a partir dos Grupos de trabalho. No GD4, aconteceu uma maior
integração, quando praticamente todos(as) se reuniram em torno do som. A
escolha do bufê mostrou-se acertada, com uma comida farta e de boa qualidade.
O problema foi o sono no pós-almoço.

13h40 – 14h10 – Preparação para os Grupos da tarde


• Na retomada dos trabalhos, fizemos uma dinâmica de aquecimento para reanimar
os(as) jovens. A dinâmica escolhida foi a “girafa e elefante” que, desde o GD1,
mostrou-se adequada. Em seguida, passamos novamente o CD-ROM, a partir
dos Caminhos, retomando os exemplos dados na parte da manhã. Como
afirmamos anteriormente, essa alteração nos pareceu acertada, agilizando mais
esse momento. Fizemos a relação entre o que o Grupo definiu como propostas
para melhorar a educação, o trabalho e a cultura e lazer e os possíveis Caminhos
de Participação para viabilizá-los. Enfatizamos que, nesse momento, a discussão
seria em torno “do como” os(as) jovens estariam dispostos(as) a participar para
que as melhorias acontecessem. Retomamos as regras do trabalho em Grupo e
as instruções de como o trabalho deveria ser desenvolvido.

14h10 – 15h40 – Trabalho em Grupos


• Os Grupos ocuparam as mesmas salas da manhã. Na parede, havia cartazes
com o resumo dos Caminhos e com a questão a ser discutida. Nesse momento,
enfrentamos problemas como a sonolência e a dificuldade em compreender os
Caminhos. Acreditamos que o problema não seja tanto de compreensão dos
Caminhos, mas da própria idéia de participação, que pareceu muito abstrata para
a grande maioria dos(as) jovens. No trabalho da tarde, fomos mais chamados(as)
a intervir na discussão dos Grupos, procurando esclarecer as dúvidas. Os(as)
bolsistas continuaram presentes, anotando e gravando a dinâmica do Grupo.

7
15h40 – 15h50 – Café
• O ritmo dos Grupos nesse momento foi muito irregular, alguns deles terminando o
trabalho mais rápido do que outros. Deixar o café servido neste momento serviu
como uma forma equilibrar o horário e relaxar os(as) participantes.

15h50 – 16h40 – Diálogo em plenária


• Cada Grupo apresentou as conclusões do seu trabalho. Também pedimos que
todos(as) ficassem atentos(as) às semelhanças e diferenças existentes. Em
seguida, pedimos que todos(as) apontassem as possíveis semelhanças e
diferenças existentes. A partir da exposição dos(as) jovens, passamos a
problematizar as semelhanças, discutindo as motivações expostas e as possíveis
conseqüências das escolhas realizadas. Esse foi o momento no qual
enfrentamos mais dificuldades. No geral, os(as) jovens participaram pouco
dessa discussão, tendendo a ser polarizada naqueles(as) mais falantes, nos
obrigando a insistir que expressassem suas opiniões. No conjunto dos GDs,
podemos afirmar que os(as) jovens apresentaram dificuldades em articular as
demandas discutidas na parte da manhã com os Caminhos Participativos para
implementá-las. Por mais que insistíssemos, os(as) jovens tiveram
dificuldades em se ver nos Caminhos, com a escolha sendo feita em nome de
um(a) “jovem” genérico(a), além de surgirem de forma abstrata. Em síntese,
como analisaremos posteriormente, nos pareceu existir uma quebra entre a
discussão da parte da manhã e a da tarde. Apesar dessas dificuldades,
consideramos que o momento da problematização das escolhas feitas foi
importante para a reflexão individual de parte dos(as) jovens. Nos comentários
finais, vários(as) afirmaram ter mudado de opinião ao longo do Dia e
acreditamos que essa mudança foi em grande parte fruto desse momento.

16h40 – 16h55 – Preenchimento da Ficha Pós-Diálogo


• Distribuímos e explicamos a ficha, acompanhando os(as) jovens no seu
preenchimento.

16h55 – 17h15 – Comentários Finais


• Nesse momento, cada jovem fez uma rápida avaliação do Dia e deixou uma
mensagem para os(as) governantes. Alguns ainda apresentaram dificuldades em
se expressar na plenária, sendo incentivados(as) pelo Grupo. No geral, os(as)
jovens enfatizaram a importância do Dia para cada um(a), principalmente pelo
fato de terem conhecido pessoas novas e pelas discussões ocorridas.

8
17h15 – 17h30 – Comentários finais da equipe
• Os(as) jovens preencheram o recibo e receberam o pró-labore. Finalizando, a
equipe agradeceu a participação de todos(as), fazendo comentários em relação à
importância da participação juvenil. Depois que os(as) jovens se retiraram, a
equipe se reunia para uma avaliação e reflexão do Dia de Diálogo.

2.2 Perfil dos(as) participantes

Para os cinco Grupos de Diálogo, conseguimos que 246 jovens confirmassem sua participação
na atividade. Desses(as), estiveram presentes de fato 122 jovens, assim divididos(as):

Jovens que Jovens que


GD Faixa etária confirmaram participaram
a participação do encontro
1 15-24 anos 52 31
2 15-17 anos 45 25
3 18-24 anos 56 35
4 15-24 anos 45 17
5 15-24 anos 48 14
TOTAL 246 122

Em relação ao sexo, buscamos convidar o mesmo número de homens e mulheres para


os GDs. As diferenças começaram a aparecer naqueles(as) que confirmaram participação,
quando então já não tínhamos controle sobre a variável sexo. No final, os(as) participantes
apresentaram o seguinte perfil:

Gd Masculino Feminino Total


1 16 15 31
2 7 18 25
3 16 19 35
4 7 10 17
5 6 8 14
TOTAL 52 70 122
% 42,6 57,4 100%

Poderíamos esperar que houvesse uma participação feminina menor, devido a uma
possível proibição familiar, o que não ocorreu, comparecendo 57,4% de mulheres, um índice

9
superior aos 42,6% de homens. Em apenas um GD, o 1, o número de homens superou o
número de mulheres. No restante, houve uma predominância feminina, chamando atenção o
GD2, de jovens de 15 a 17 anos, quando o número de mulheres foi quase três vezes maior o
de homens.
Em relação à classe social, temos o seguinte quadro:

MASCULINO FEMININO

GD/ CLASSE A/B C/D/E A/B C/D/E TOTAL


1º 6 10 1 14 31
2º 2 5 3 15 25
3º 3 13 1 18 35
4º - 7 2 8 17
5º - 6 1 7 14
TOTAL 11 41 8 62 122
% 9,1% 33,6% 6,5% 50,8% 100%

Podemos constatar que jovens convidados(as) das camadas A/B compareceram


relativamente pouco aos GDs. Aquele que teve uma representação maior foi o GD1, com sete
deles(as), e o menor foi o GD5, com apenas um(a) representante dessa camada social. O
número de homens das camadas A/B foi um pouco maior (9,1%) do que o de mulheres,
realidade que se inverteu nas camadas C/D e E, com 33,6% e 50,8%, respectivamente. Mas é
importante destacar que, no geral, a participação dos(as) jovens dessa camada não foi
destoante do conjunto, como poderíamos esperar. Na maioria das vezes, não foi possível nem
mesmo identificar tais jovens como integrantes da camada A/B, nem pela aparência, pelo local
de moradia, muito menos pela participação nos debates.

Em relação à idade, os(as) participantes apresentaram o seguinte perfil:

Acima
GD/ IDADE 15-17 anos 18-20 anos 21-24 anos TOTAL
de 25 anos
1º 7 11 10 3 31
2º 19 6 - - 25
3º 1 18 14 2 35
4º 3 7 6 1 17
5º 3 6 4 1 14
TOTAL 33 48 34 7 122
% 27,1% 39,4% 27,8% 5,7% 100%

No conjunto dos GDs, podemos notar uma dominância dos(as) jovens de 18-20 anos
(39,4%) e um equilíbrio entre jovens de 15-17 anos (27,1%) e 21-24 anos (27,8%). Mas

10
podemos afirmar que, na sua maioria, os GDs, de acordo com a especificidade da faixa etária
convidada, apresentaram um certo equilíbrio entre os(as) participantes, com ênfase no GD1,
que foi o mais eqüitativo dentre eles. Podemos notar que os(as) mais jovens (15-17 anos)
ficaram relativamente pouco representados(as) nos GDs 4 e 5, em que dominaram os(as)
jovens acima de 18 anos. É necessário registrar que no GD2, que era dirigido para jovens de
15-17 apareceram seis com 18 anos, como também os(as) quatro jovens com 25 anos, fato
explicável pelo tempo entre a aplicação do questionário e a realização do GD, de quase sete
meses. O mesmo não podemos dizer de um(a) deles(as), de 15 anos, que compareceu ao
GD3 (18-24 anos) e três deles(as) com idade acima de 26 anos, resultado de algum equivoco
na aplicação do questionário.

Em relação ao trabalho, temos o seguinte perfil:

GD Não trabalha Trabalha NR TOTAL


1 12 19 - 31
2 12 12 1 25
3 14 20 1 35
4 9 7 1 17
5 5 9 - 14
TOTAL 52 67 3 122
% 42,6 54,9% 2,5% 100%

O índice de jovens que trabalham foi de 54,9% dos(as) participantes, enquanto 42,6%
não estavam trabalhando no período dos GDs. Essa diferença se manifestou em três dos
encontros, quando o número de jovens que trabalham foi superior àquele dos(as) que não
trabalham. Já no GD4, houve uma inversão, e no GD2, dos(as) mais jovens, o número dos(as)
que trabalham foi igual àquele dos(as) que não estão inseridos(as) no mercado de trabalho.
Tais índices mostram certa inversão em relação aos dados da pesquisa quantitativa realizada,
na qual 41,7% dos(as) jovens afirmaram que estavam trabalhando no período da pesquisa, e
58,3% não trabalhavam.
Em relação à escolaridade, a maioria dos(as) jovens (63,1%) afirmou estar estudando
ou ter estudado até o Ensino Médio. Em seguida, já com um índice bem menor, encontramos
aqueles(as) que possuem até 8ª série (19,7%,), seguidos(as) por aqueles(as) que estão ou
estavam no Ensino Superior, 12,2%, um índice relativamente alto considerando a média da
Região. A escolaridade dos(as) participantes dos Grupos de Diálogo reflete, em certa medida,
a realidade constatada na pesquisa quantitativa, quando foi notado que a maioria dos(as)
jovens possui o Ensino Médio incompleto (45,8%), seguindo-se aqueles(as) que completaram o
Ensino Médio (32,4%) e, ainda, um índice muito grande daqueles(as) que só possuem o
Ensino Fundamental (21,8%).

11
Até Não
Até Até Ensino
GD Ensino estudo NR Total
4ª série 8ª série Superior
Médio u
1 - 5 25 1 - 31
2 2 6 13 2 1 1 25
3 2 4 23 6 - - 35
4 - 6 7 4 - - 17
5 - 3 9 2 - - 14
TOTAL 4 24 77 15 1 1 122
% 3,2% 19,7% 63,1% 12,2% 0,9% 0,9% 100%

É necessário pontuar a existência de 3,2% de jovens que não concluíram ou


abandonaram a escola ainda no primeiro segmento do Ensino Fundamental, que, somados(as)
aos 19,7% que concluíram ou estavam estudando até 8ª série, evidencia um índice significativo
de jovens que apresentam uma defasagem série/idade, uma vez que, aos 15 anos, o(a) jovem
deveria estar ingressando no Ensino Médio. Ao analisar a escolaridade por GD, não
encontramos diferenças significativas, não havendo nenhum deles que apresente um índice
muito maior ou muito menor de escolaridade dentre os(as) jovens participantes. Pelo
questionário aplicado, não foi possível apreender o índice daqueles(as) que estavam
freqüentando a escola e aqueles(as) que haviam abandonado e/ou completado os estudos nos
diferentes níveis de ensino no período do GD. Mas os dados da pesquisa quantitativa informam
que 54,5% dos(as) jovens pesquisados(as) não estavam estudando no momento da pesquisa,
o que nos permite afirmar que ainda estamos longe de garantir a universalização do acesso à
escola para os(as) (as) jovens. Em uma faixa etária na qual eles(as) deveriam estar
prioritariamente inseridos(as) em um processo de formação/educação, apenas 45,2% estavam
estudando no momento da realização da pesquisa, em 2004.

2.3 – Perfil dos Grupos de Diálogo (GDs)

A partir do perfil dos(as) participantes analisado anteriormente, é possível desenvolver uma


caracterização dos diferentes GDs.

GD1 – O GD1 foi constituído por jovens de 15 a 24 anos com experiência de


participação anterior. Dos 60 convocados(as), confirmaram 45 e compareceu um número
significativo de 31 jovens. Destes(as), 16 foram homens e 15 mulheres, num equilíbrio que não
se repetiu nos GDs seguintes. Esse equilíbrio refletiu-se em certa medida na faixa etária, com
sete jovens na faixa de 15-17 anos, onze deles entre 18-20 anos, dez entre 21-24 anos e três
com 25 anos. Em relação à classe social, foi o GD no qual compareceu o maior número de

12
jovens integrantes das camadas A e B (sete), a sua grande maioria de homens, e um total de
24 jovens integrantes das classes C/D e E. Nesse GD, o número de jovens que trabalhava foi
maior (61,2%) do que o daqueles(as) que não trabalhavam (38,7%). Em relação à
escolaridade, a grande maioria (80,6%) estudou ou estava estudando o Ensino Médio; 16,2%
tinha o Ensino Fundamental e apenas 3,2% estava no Ensino Superior.
Esse Grupo deveria ser constituído por jovens com experiência de participação
anterior. Mas dos(as) 31 que compareceram, apenas 17 afirmaram participar de alguma
instância coletiva. No que se refere à participação e ao conteúdo das discussões nos Grupos e
na plenária, podemos afirmar que o Grupo, juntamente com o GD3, sobressaiu-se em relação
aos demais. Mas ainda aquém do que esperávamos pela própria característica do Grupo, o
que nos leva a relativizar a tendência em considerar que a participação em si do(a) jovem
possa garantir um maior desempenho no espaço público ou mesmo um nível de reflexividade
maior. Mesmo assim, podemos dizer que a experiência participativa pode ser uma variável
significativa para avaliar a participação dos(as) jovens.

GD2 – O GD2 foi constituído por jovens na faixa etária de 15 a 17 anos. Dos(as) 60
jovens convocados(as), 45 confirmaram e 25 estiveram presentes na atividade. O grupo foi
preponderantemente feminino (72%), com a presença de apenas 28% de homens. Como era
de se esperar, compareceram 19 jovens com idades entre 15-17 anos e seis com 18 anos, fato
que já explicamos anteriormente. No Grupo, cinco jovens eram oriundos(as) da classe social
A/B e 20 das camadas C/D/ e E. Outro dado significativo foi a realidade do trabalho: 48%
deles(as) afirmaram estar trabalhando, o mesmo índice daqueles(as) que não estavam
trabalhando no período do GD, o que confirma os índices que apontam a inserção precoce
desses(as) jovens no mundo do trabalho. Finalmente, a escolaridade do Grupo aponta mesma
tendência do anterior, com 52% dos(as) jovens no Ensino Médio; 24% no Ensino Fundamental
e 8% até 4a série, índice igual ao daqueles(as) que afirmaram estar cursando o Ensino
Superior, um índice alto considerando a idade dos(as) jovens.
No GD2, a maioria dos(as) jovens apresentou dificuldades em compreender a
proposta, nos debates e na elaboração dos Caminhos. Apesar de um pequeno número de
jovens mais participativos(as), grande parte pouco se expressou nos Grupos e nas plenárias,
fazendo com que tivéssemos de estimular mais essa participação. Do Grupo, um pouco mais
da metade (13) afirmou não participar de alguma instância coletiva. Os doze restantes
afirmaram participar, na sua maioria, em grupos esportivos (futebol, vôlei etc.), seguidos de
grupos culturais, voluntariado, grupos de jovens etc. Nos conteúdos, não diferiram muito dos
outros GDs. Nos comentários iniciais, por exemplo, acentuaram as questões relacionadas à
segurança e ao emprego, os aspectos dominantes em quase todos os GDs. Na definição dos
Caminhos Participativos, a marca principal foi a ação voluntária, opção comum a outros GDs,
mas com menos elaborações. Essas constatações nos levam a sugerir que a idade pode ser
uma variável significativa para avaliar a participação dos(as) jovens nos debates.

13
GD3 – O GD3 foi constituído por jovens de 18 a 24 anos, sendo o que contou com o
maior número de jovens. Dos 60 convocados(as), 56 confirmaram o convite e 35 participaram
do Dia. Destes, 54,2% eram mulheres e 45,8% homens, com a maioria deles(as) (57,1%)
trabalhando. A maioria do grupo tinha entre 18 e 20 anos (51,4%), seguidos(as) por
aqueles(as) na faixa de 21 a 24 anos. Por algum equivoco na lista da pesquisa quantitativa,
apareceu um(a) jovem de 15 anos e havia dois(duas) deles(as) com mais de 24 anos. Em
termos de classe social, a grande dominância foi de jovens das camadas C/D e E (31) e
apenas quatro jovens das camadas A/B. Em relação à escolaridade, o Grupo segue a mesma
tendência dos GDs anteriores, com a maioria dos(as) jovens (65,7%) tendo cursado ou ainda
cursando o Ensino Médio. Foi o Grupo que apresentou o maior número de jovens no Ensino
Superior, realidade de 17% deles(as), seguido por aqueles(as) que possuem o Ensino
Fundamental (11,4%) e 5,9% ainda nas séries iniciais. Em termos de participação, a grande
maioria do Grupo (24) afirmou não participar de nenhuma instância coletiva. Dos(as) onze
jovens que estão inseridos(as) em algum grupo, destacam-se grupos ligados à igreja, ações
comunitárias, trabalho voluntário e grupos culturais.
O GD3 nos surpreendeu pela capacidade de reflexão e a postura propositiva de
vários(as) dos(as) jovens. Os debates nos Grupos foram acalorados, nas plenárias ainda
dominou certa polarização entre os(as) que têm um maior domínio da palavra, mas em maior
número do que no restante dos GDs. Nos comentários iniciais, além da segurança, emprego e
educação, as questões mais presentes no conjunto dos GDs, foi explicitado também a
preocupação em relação à desigualdade social e à corrupção de políticos(as). Na discussão
dos Caminhos Participativos, foi o GD no qual o Caminho 1 apareceu de forma mais
contundente, mesmo que misturado com aspectos dos outros Caminhos. Nos comentários
finais, vários(as) afirmaram ter despertado o desejo para participar mais ativamente e,
principalmente, percebido o poder da juventude em influenciar as decisões do país. O
comportamento desses(as) jovens nos reforçam a percepção de que a idade é uma variável
significativa para avaliar a participação juvenil.

GD4 – O GD4 foi constituído por jovens de 15 a 24 anos, contando com a participação
de 17 jovens, dos(as) 45 que haviam confirmado a presença. Esse baixo comparecimento pode
ser explicado em parte pelas fortes chuvas que caíram nesse sábado, nos levando a atrasar o
inicio dos trabalhos. Nesse Grupo, foi dominante a presença de jovens acima de 18 anos,
sendo sete na faixa de 18-20 anos e seis entre 21-24 anos. Compareceram apenas três na
faixa etária de 15-17 anos e um(a) com 27 anos. Em relação ao gênero, novamente aparece a
maioria feminina (58,8%). Chamou-nos a atenção no grupo o alto número dos(as) que
declararam ter filhos(as): cinco deles(as), sendo que apenas dois(duas) estavam casados(as)
no período do GD, expressando os altos índices de gravidez na adolescência. Uma novidade
neste GD foi a questão do trabalho, quando a maior parte do Grupo não estava trabalhando
(52,9%). Essa realidade não pode ser atribuída à classe social de origem dos(as) participantes,
pois nesse GD compareceram apenas dois(duas) jovens das camadas A/B e 15 das camadas

14
C/D e E. A escolaridade aparece mais dividida, com 41,2% no Ensino Médio, 35,3% no Ensino
Fundamental e 23,5% no Ensino Superior. Em termos da participação, apenas seis jovens
afirmaram não participar de nenhuma instância coletiva. Os(as) onze restantes afirmaram
participar, na sua maioria, em grupos religiosos e em atividades esportivas. Um fato que nos
chamou a atenção foi a pouca visibilidade dos grêmios e representações estudantis, fato
comum a todos os GDs. Uma das participantes recordou-se da sua participação em uma
passeata pelo passe-livre, mas não identificou as entidades que lideravam o movimento.
Mas esse perfil do Grupo não alterou de forma significativa a dinâmica do Dia e os
resultados das discussões. As preocupações iniciais foram recorrentes: a questão da violência,
a baixa qualidade da educação e o desemprego. O Grupo mostrou-se participativo e bem
entrosado ao longo do Dia, talvez pela facilidade que um Grupo menor proporciona para dialogar
nas plenárias e criar maiores laços entre si. Na escolha dos Caminhos, o eixo comum foi o
trabalho voluntário. Os(as) jovens justificavam tal escolha com dois argumentos: a praticidade
(absorve menos tempo) e a governabilidade (“a gente pode controlar”). Uma hipótese é que isso
pode estar revelando uma descrença nos Caminhos mais institucionalizados, particularmente no
que se refere à relação com o Poder Público. Outra questão que nos pareceu relevante e que
vem se confirmando em todos os GDs refere-se ao baixo nível de informação, em alguns casos
com a recorrência de posições preconceituosas e conservadoras. Isso nos leva a questionar a
posição da escola como espaço de informação e formação.

GD5 – Finalmente, o GD5 contou com 14 jovens na faixa etária de 15 a 24 anos.


Foram convidados(as) 48 jovens, incluídos(as) aqueles(as) cujos endereços sequer puderam
ser confirmados devido à falta de telefone, o que pode explicar em parte o pequeno número de
participantes. O Grupo apresentou um perfil de maioria feminina (oito), superando o número de
homens (seis). Também em termos da origem social, a grande maioria do Grupo (13) era
oriunda das camadas C/D e E, e apenas uma jovem provinha das camadas A/B. A faixa etária
do Grupo foi mais eqüitativa, estando três jovens na faixa entre 15-17 anos; seis na faixa 18-20
anos e quatro entre 21-24 anos. Uma das participantes afirmou ter 34 anos, apesar de não
aparentar, o que pode ter causado o equivoco com o(a) aplicador(a) do questionário. Mas essa
diferença de idade não interferiu em nada na sua participação no Dia. Em relação ao trabalho,
o Grupo confirma a tendência em ter uma maior parte inserida no mercado de trabalho (nove),
com uma escolaridade situada em sua maioria no Ensino Médio (nove), seguida pelo Ensino
Fundamental (três) e Superior (dois). No Grupo, apenas quatro dos(as) jovens afirmaram não
participar de alguma instância coletiva. Daqueles(as) que estão inseridos(as) em instâncias
coletivas, destacam-se as atividades esportivas, voluntariado e grupos ligados à igreja.
Na nossa avaliação, esse foi o GD que apresentou maiores dificuldades na
participação, tanto nas plenárias quanto nos pequenos Grupos, além de não ter ocorrido um
maior entrosamento entre os(as) participantes. É importante assinalar que essa realidade não
pode ser atribuída à idade ou à experiência de participação, duas variáveis que havíamos
destacado como significativas, já que o perfil do Grupo não apresenta maiores diferenças com

15
o restante dos GDs. Um diferencial nesse grupo foi a presença de um jovem egresso da Apae.
Foi levado pela irmã, que nos alertou sobre o “problema mental” do jovem. Porém, durante o
Dia, participou sem problemas, com algumas dificuldades em expressar-se, principalmente na
escrita, o que nos levou a deslocar um(a) monitor(a) para preencher as fichas junto com ele.
Nos comentários iniciais, as questões levantadas foram basicamente segurança e
emprego, não aparecendo a questão da educação. Em relação aos Caminhos Participativos,
preponderou a tendência em formular novos Caminhos, misturando aspectos das três
alternativas. Na plenária, nos chamou a atenção a insistência dos(as) jovens em encararem a
participação política como uma dimensão para um(a) outro(a) que não eles(as), restrita à
esfera do Estado, diante da qual se acham impotentes e com a qual desenvolvem uma
relação subordinada. Mais tarde, concluímos que, de uma forma geral, essa posição foi muito
comum nos outros GDs, mesmo sendo explicitado de forma diferente.

2.4 – Tecendo comentários sobre a metodologia

Em Belo Horizonte, a metodologia foi aplicada seguindo os passos acordados nacionalmente,


com pequenas alterações que julgamos necessárias, relacionadas à divisão do tempo ao longo
do Dia e à mudança da ordem da explicação dos conteúdos do CD-ROM. Passamos a inserir
pequenas pausas ao longo da exibição do CD, quando então retomávamos o tema exibido,
explicando novamente e pedindo exemplos dos(as) jovens. Optamos também em nos deter na
explicação dos Caminhos Participativos na parte da manhã, e não na parte da tarde, como
inicialmente previsto. Explicamos detalhadamente cada Caminho, insistindo em que dessem
exemplos concretos ligados a cada um(a) deles(as). Avaliamos positivamente essa pequena
alteração que introduzimos, na medida em que favoreceu uma maior agilidade no período da
tarde, quanto então não precisamos detalhar mais os Caminhos, só projetando a parte final do
CD e retomando os exemplos citados.
Mas essa alteração não chegou a mudar de forma substancial os resultados. No
conjunto dos GDs, percebemos que os Grupos, de formas diferenciadas, ainda tiveram
dificuldades em escolher os Caminhos Participativos, e principalmente em articular as
demandas levantadas na parte da manhã com os Caminhos a serem escolhidos. Tal
dificuldade refletiu-se na plenária das semelhanças e diferenças, uma dificuldade comum a
todos os GDs. Por mais que insistíssemos, os(as) jovens apresentaram dificuldades de se
verem nos Caminhos, com a escolha tendendo a ser algo para os(as) outros(as) ou um(a)
outro(a) genérico(a), além de surgirem de forma abstrata.
Acreditamos que existe um problema entre a parte da manhã e a parte da tarde. A
questão da manhã (“Que Brasil queremos?”), mesmo quando traduzida em questões
relativas à educação, trabalho, cultura e lazer, tende a levar a discussão para o plano do
ideal, que demanda uma ação coletiva para a sua efetivação. Já na parte da tarde, na
escolha dos Caminhos, insistimos que os(as) jovens se baseassem no real, na possibilidade
de ação de cada um(a), numa perspectiva de decisão individual. Surgem duas dificuldades.

16
Uma delas é a articulação da escolha dos Caminhos com as demandas levantadas na parte
da manhã. Como estas tenderam a ser genéricas e de difícil solução sem uma ação coletiva
organizada, ficou difícil para eles(as) imaginarem uma ação que pudesse interferir de alguma
forma na realidade proposta. Os Caminhos escolhidos se situaram no plano do ideal. E aqui
aparece a segunda dificuldade, na qual os(as) jovens tendem a formular o Caminho e as
ações para um(a) jovem genérico(a). Há uma tendência deles(as) não se colocarem como
sujeitos das ações no Caminho escolhido, talvez por não se imaginarem capazes, através da
ação real de cada um(a) deles(as), de interferir de fato na realidade.
Um outro aspecto foi a tendência em misturar os Caminhos, comum em grande parte
dos GDs. Avaliamos que é resultado do grau de generalização do próprio tema – participação
juvenil – e também da pergunta formulada. Uma outra dificuldade foi a delimitação de cada um
dos Caminhos, quando, na realidade, eles não se excluem, ao contrário, se encontram
misturados. Tanto é que não foi fácil exemplificar com clareza a ação em cada um deles.
Uma outra questão metodológica que merece uma reflexão foi a impossibilidade da
escolha pela não-participação. Na forma como estruturamos a metodologia, não está dada a
possibilidade do(a) jovem se manifestar pela não-participação, seja por acomodação, seja por
protesto. Essa não seria uma alternativa possível? Acreditamos que o clima criado pelos
conteúdos e pelas dinâmicas do Dia quase que obrigam o(a) jovem a afirmar a participação. Na
análise dos resultados, não podemos esquecer de relativizar as respostas no contexto da
imagem que os(as) jovens fizeram de nós. Éramos professores(as), ainda mais da
Universidade, desde o inicio falando positivamente da participação, é de se esperar um efeito
espelho, analisado nas pesquisas de caráter qualitativo, quando os sujeitos tendem a
responder aquilo que acreditam estar esperando deles. Uma outra relativização necessária na
análise é em relação aos comentários inicial e final, na medida em que percebemos uma
tendência dos(as) jovens em repetir a fala do(a) anterior, num efeito “cópia”.
Acreditamos, assim, que a metodologia poderia ser mais eficaz se a pergunta central
fosse mais objetiva, concreta. A questão da participação é muito abstrata, principalmente para
aqueles(as) que não têm experiência e/ou nunca se questionaram sobre a participação social.
Quanto aos instrumentos utilizados, avaliamos que o Caderno ainda ficou muito denso
de informações, considerando a maioria dos(as) jovens participantes com pouca prática de
leitura. O CD-ROM foi um bom instrumento, mais fácil de transmitir as informações,
principalmente com as devidas pausas para a discussão dos conteúdos. Mas, ainda assim, a
linguagem de ambos ficou muito “adulta”, além de um tom militante, supondo que os(as) jovens
iriam se engajar em alguma ação coletiva.
A idéia de apreender a posição inicial e final dos(as) jovens é muito boa. Mas as fichas
Pré e Pós-Diálogo precisam ser redimensionadas. A atribuição de notas tem de ser repensada,
assim como a condição ligada a cada escolha na ficha Pós-Diálogo a qual, pelos resultados, foi
de difícil compreensão por parte dos(as) jovens.
A participação dos(as) bolsistas foi muito positiva. Contribuíram efetivamente em todo o
processo. A participação no trabalho dos Grupos foi muito tranqüila, facilitada pelo fato de

17
serem jovens e criarem uma identidade com os(as) participantes. As intervenções se deram
nos esclarecimentos e no apoio aos Grupos quando enfrentavam alguma dificuldade. Ao
mesmo tempo, a experiência, segundo eles(as), significou uma ampliação na aprendizagem da
pesquisa, reforçando a dimensão de ensino.
Na nossa avaliação, o aspecto mais positivo da metodologia é a possibilidade do
diálogo, quando os(as) jovens se sentem ouvidos(as) e capazes de construir escolhas, mesmo
que estas sejam genéricas e idealizadas. O GD tornou-se um espaço de troca e de escuta.
Chama a atenção a novidade que significou para os(as) jovens parar um dia para refletir.
Sentimos que, no geral, grande parte deles(as) nunca parou para pensar sobre a própria
realidade em que vivem, mostrando-se pouco reflexivos(as), reproduzindo lugares-comuns. Ao
mesmo tempo, nos chamou à atenção a boa vontade de grande parte dos(as) jovens em
participar dos debates, mesmo que só nos pequenos Grupos. Essa realidade pode estar nos
mostrando a falta de instâncias e canais de participação pelos quais esses(as) jovens possam
exercitar a dimensão do coletivo, seja em debates, seja em ações. Nesse sentido, é necessário
colocar em questão a qualidade da escola, em especial as públicas, tanto em termos de
conhecimento quanto na possibilidade de estar proporcionando experiências coletivas. Um
outro fator que gostaríamos de destacar foi o pagamento aos(às) jovens, fato que interferiu na
motivação ao longo do Dia e causou uma enorme satisfação em todos eles(as).
A avaliação da grande maioria dos(as) jovens foi muito positiva. A ênfase foi a
importância atribuída ao fato de conhecerem novas pessoas e as relações com a equipe.
Também para nós significou uma imersão na realidade do(a) jovem comum, que não
participa de projetos, uma dimensão da realidade juvenil à qual temos pouco acesso no
cotidiano. Mas não temos como medir o impacto da pesquisa entre os(as) jovens. Nesse
sentido, a proposta da realização de encontros de formação com parte deles(as), de
acordo com o projeto em anexo, pode nos dar mais elementos para analisar o que
significou um dia de reflexão nas suas vidas.

18
3 – Os conteúdos dos Grupos de Diálogo

3.1 – As preocupações dos(as) jovens

Na primeira atividade do GD, foi solicitado aos(às) jovens que se apresentassem e se


manifestassem sobre suas preocupações atuais em relação à realidade que viviam a partir da
seguinte questão: “Em uma palavra, o que te preocupa no Brasil?”
O registro da fala dos(as) jovens compreendeu várias questões que foram agrupadas
em 20 temas (anexo – tabelas 1 e 2). A grande maioria dos(as) jovens (50%) se referiu ao
tema violência/segurança como a maior preocupação, um tema que surgiu em todos os GDs
em primeiro lugar. Esse tema esteve presente também durante as discussões na parte da
manhã, sendo possível perceber duas posições recorrentes: uma tendendo a culpar os(as)
próprios(as) jovens pela violência e outra indicando a ação da polícia como a maior fonte de
violência contra os(as) jovens. Alguns(mas) jovens fazem uma vinculação entre violência e a
desigualdade social (“a violência e a desigualdade social”), outros(as) já vêem uma relação
direta com o desemprego (“se tivesse mais emprego, com certeza os jovens hoje estariam mais
ocupados e não teria isso”). É interessante notar que, no conjunto dos GDs, apenas uma jovem
levanta a questão da violência contra a mulher, o que pode nos indicar uma determinada
compreensão da violência reduzida àquela que se pratica nos espaços públicos – ruas e
praças –, sendo praticado por policiais e pessoas envolvidas em situações de criminalidade. Ao
mesmo tempo, muitos(as) jovens se referiram a esse tema isoladamente, sem darem maiores
pistas sobre o sentido atribuído ao termo.
Essa preocupação reflete uma tendência nacional. Na pesquisa Perfil da Juventude
Brasileira2, 55% dos(as) jovens apontam a questão da segurança/violência como o problema
que mais preocupa atualmente. A predominância desse tema parece refletir, de um lado, a
experiência real de grande parte da juventude que mora nas periferias das metrópoles
brasileiras, marcada pela precarização das condições de vida e pelo esgarçamento das
relações sociais. Os(as) jovens são as maiores vitimas dessa violência, sendo aqueles(as) que
mais morrem, principalmente através de armas de fogo, como apontam as estatísticas
nacionais3. Por outro lado, essa mesma preocupação pode expressar certo clima de
insegurança, criado pela tendência de espetacularização da violência provocada pela mídia.
Em segundo lugar, como fonte de preocupação maior, aparece o tema
emprego/trabalho/falta de oportunidades (32%). Foi mais presente nos três primeiros GDs,
aparecendo apenas uma vez no GD4. Os(as) jovens tenderam a associar o desemprego com a

2. A pesquisa Perfil da Juventude Brasileira foi realizada pelo Instituto Cidadania, em 2004, ouvindo
mais de 3.000 jovens em todo o Brasil, estando publicada no livro ABRAMO, Helena e BRANCO, Pedro
Paulo (orgs.). Retratos da Juventude Brasileira: Análises de uma pesquisa nacional. Ed. Fundação
Perseu Abramo, 2005.
3. Segundo a Unesco, do total de mortos(as) por armas de fogo entre 1979 e 2003, 44,1% foram jovens
entre 15 e 24 anos. Nessa faixa etária, a mortalidade por armas de fogo passou de 7,9% em 1979 para
34,4% em 2003. Fonte: Jornal Estado de Minas, 28/06/2005, 1º Caderno, p. 11.

19
falta de oportunidade para aprender alguma profissão por meio de estágios, cursos
profissionalizantes ou à dificuldade de acesso ao primeiro emprego formal. As falas confirmam
a exigência de experiência como a principal barreira que lhes impede conquistar uma vaga no
mercado de trabalho: “Porque os empresários geralmente procuram uma pessoa que já tem
experiência na área. E não tem muito trabalho pra poder colocar um jovem no mercado de
trabalho, já que ele não tem experiência”.
Também nesse caso, a preocupação dos(as) jovens reflete a tendência nacional sendo
compartilhada por 52% da juventude brasileira4. E não é de se estranhar na medida em que
os(as) jovens, na faixa etária de 15 a 24 anos, são os(as) mais penalizados(as) pelo
desemprego. A pesquisa quantitativa5 revelou que 58,3% dos(as) jovens da Região
Metropolitana de Belo Horizonte não estavam trabalhando naquele período, enquanto que, no
Brasil, 24,5 em cada 100 se encontravam desempregados(as), num índice três vezes maior do
que nas outras faixas etárias (BRANCO, 2005). Os(as) jovens dos GDs expressam a
preocupação real com as dificuldades de uma inserção no mercado, bem como com as
limitadas perspectivas – o que só aumenta o sentido de risco e vulnerabilidade.
Ocupando a terceira posição na ordem de preocupações dos(as) jovens temos a
desigualdade social (15,6%). Esse tema é citado de forma vaga, sendo vinculado à
preocupação com a sociedade em geral, sem fazer referências diretas à experiência juvenil.
Algumas vezes, aparece associada ao tema fome/miséria, citado por 5% dos(as) jovens. Foi
uma preocupação mais presente no GD3, exatamente aquele que, como vimos, demonstrou
uma maior maturidade nos debates. Ao levantar essa preocupação, parte dos(as) jovens
demonstram uma sensibilidade para com a realidade nacional, sensibilidade essa que motiva
muitas vezes a ação do voluntariado. Podemos ver, neste item, uma diferença com os índices
nacionais quando, no Perfil da Juventude Brasileira, aparece a preocupação com a
fome/miséria, presente para apenas 16% dos(as) jovens.
A educação aparece em quarto lugar, com 14% dos depoimentos. É importante
ressaltar que, embora seja uma atividade que consome grande parte do tempo juvenil, a
educação não foi citada como preocupação em um dos GDs. Apenas no GD1 (jovens com
experiência participativa) e no GD2 (jovens de 18 a 24 anos), o tema aparece com maior
relevância. Nesse momento inicial, os(as) jovens se referem à falta de investimentos em
educação, à queda na qualidade e à precariedade da educação nas periferias. É interessante
observar que acesso à Educação Superior foi citado apenas por três jovens, apesar das
pesquisas constatarem o alto índice de exclusão dos(as) jovens do acesso a esse nível de
ensino. Aqui também podemos notar uma diferença com os índices nacionais. No Perfil da
Juventude Brasileira, a preocupação com a educação ocupa o quarto lugar, presentes para
17% dos(as) jovens, ao mesmo tempo, significa o assunto que mais interessa atualmente
aos(às) jovens, presente para 38% deles(as).

4. Perfil da Juventude Brasileira, op. cit.


5. Juventude Brasileira e Democracia: análise preliminar da pesquisa quantitativa na Região
Metropolitana de Belo Horizonte ( DAYRELL, 2005)

20
Além dessas preocupações, podemos agrupar um segundo bloco de temas que não
são citados em todos os GDs, mas que aparecem com certa freqüência, como
corrupção/maus(más) políticos(as)/governantes (7,4%), fome/miséria (5%) e saúde (5%).
Essas questões, como já afirmamos, referem-se a problemas que dizem respeito à sociedade
de uma forma geral, sem uma vinculação direta com situações vividas por eles(as).
Por fim, vários comentários se referem a problemas como desinformação das
pessoas, cultura, drogas, meio ambiente, falta de solidariedade, situação financeira do país,
preconceito, desigualdade racial, menores abandonados(as), construção de novos presídios e
a juventude/os(as) jovens.
Em geral, os GDs não apresentaram grandes discrepâncias entre si com relação aos
temas apontados. Parece não se verificar uma vinculação nítida entre os diferentes perfis dos
Grupos e as preocupações iniciais dos(as) jovens. As falas parecem indicar um conjunto de
questões que se referem à experiência juvenil nas grandes metrópoles brasileiras atualmente,
sobretudo no que se refere aos dois grandes problemas indicados pelos(as) jovens: o
desemprego e a violência.

3.2 – Que Brasil queremos? As demandas dos(as) jovens

No primeiro trabalho em Grupo, os(as) jovens foram convidados(as) a discutir a questão


“Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o que pode melhorar na
educação, trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”. Os Grupos apresentaram as suas
conclusões em plenária, seguida por uma discussão para definir as semelhanças e
diferenças existentes e assim tirar um consenso do Grupo em relação às demandas dos(as)
jovens (anexo – tabela 3). A seguir, vamos analisar as demandas dos(as) jovens que
surgiram nos cinco Grupos de Diálogo, nos campos da educação, trabalho e cultura e lazer
(tabela 3.1).
Educação – As demandas comuns aos(às) jovens em torno da educação expressam
situações vividas no dia-a-dia dos(as) jovens e na sua curta trajetória escolar. A ênfase recai
na demanda por uma melhor qualificação dos(as) professores(as) e na relação humana e
pedagógica estabelecida com os(as) alunos(as), comum em três GDs.
Essa demanda se sobrepõe ao reconhecimento da necessidade de mais verbas para
a educação, aparecendo em dois dos cinco GDs realizados. Nestes, os(as) jovens com idade
entre 15 a 17 anos são aqueles(as) que mais a apontam.
A síntese apresentada na tabela 3 não consegue traduzir bem essa demanda em torno
da relação pedagógica e humana, mas, durante as plenárias, ficamos impressionados(as) com
o sentimento de indignação, decepção e com os argumentos expressos pelos(as) jovens nos
cinco Grupos de Diálogos ao falarem sobre essa relação. Ficou claro que boa parte dos(as)
jovens demanda um tipo de relação humana e pedagógica diferente daquela que têm recebido
dos(as) docentes. Parece que há um choque cultural, geracional e um desrespeito ao(à)
aluno(a) como um sujeito social e cidadão(ã) de direitos no interior das escolas.

21
Alguns(mas) jovens chegaram a dizer que “os professores mais novos são os piores.
Eles não escutam a gente, dizem que já se formaram e que o azar é nosso”. Há que se pensar:
que tipo de professor(a) tem chegado às escolas hoje? Esses(as) profissionais são
formados(as) para lidar com os sujeitos em diferentes tempos da vida, portadores de diferentes
marcas sociais, étnico-raciais e geracionais? O que a universidade tem feito a esse respeito?
A reivindicação por mais verbas é seguida pelo reconhecimento de um “descaso”
dos(as) governantes em relação à educação. Não se trata da iniciativa de um ou outro
governo, mas há aqui a percepção dos(as) jovens em relação a um processo que se arrasta
na história da educação e na história política do nosso país: a educação, enquanto um direito
social e um dever do Estado, não tem sido prioridade política. Ela se perde facilmente diante
das questões econômicas e da opção do Estado em atender as demandas do mercado.
Dentre as semelhanças do tema “educação” está também o reconhecimento de que a
relação escola/comunidade pode ser transformada. A demanda pelo uso do espaço público da
escola aparece como uma solicitação pela abertura da escola nos finais de semana. Podemos
destacar três aspectos dessa demanda: a falta de equipamentos públicos nos bairros
periféricos – de onde se origina a maioria dos(as) jovens dos cinco GDs –, sendo a escola,
muitas vezes, o único equipamento público ao qual a comunidade tem acesso; uma sobrecarga
de demanda popular em relação à escola, como se ela fosse a única instituição ou a principal
responsável por sanar várias carências das comunidades populares e, por último, o
reconhecimento de que o tempo/espaço escolar pode ser ressignficado pela comunidade e, de
maneira conjunta, ser reapropriado por esta, sobretudo nos finais de semana, em que os
prédios escolares, na maioria das vezes, se encontram fechados. A abertura da escola pode
anunciar também uma certa disponibilidade dos(as) jovens de participarem de projetos junto às
escolas e de atuarem como voluntários(as) ou na condição de profissionais. Essa reflexão
pode ser feita ao relacionarmos essa semelhança com alguns argumentos dos(as) jovens para
a escolha dos Caminhos Participativos à tarde.
Essa demanda pela abertura da escola nos finais de semana ganha mais sentido
quando constatamos, na pesquisa quantitativa (DAYRELL, 2005), que apenas 14,2% dos(as)
jovens da Região Metropolitana de Belo Horizonte freqüentam as escolas ou universidades nos
finais de semana.6 Apesar de os índices relacionados à classe social não apresentarem
maiores diferenças, a proporção de alunos(as) que freqüentam a escola privada nos finais de
semana (18,8%) é superior ao das escolas públicas (13,5%). Nesse caso, é importante lembrar
que as atividades realizadas nos finais de semana nas escolas particulares têm caráter mais
privado, restrito aos(às) alunos(as) e suas famílias, diferentemente da escola pública, na qual a
abertura nos finais de semana é para a comunidade envolvente.

6. Há uma grande diferença em relação aos dados da pesquisa nacional do Projeto Juventude, que
constatou que 41% dos(as) jovens das Regiões Metropolitanas já participaram em atividades culturais
desenvolvidas em escolas nos finais de semana. Cf. BRENNER, 2004.

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A ênfase quanto ao que fazem na escola nesses momentos foi dada a atividades
coletivas e de sociabilidade, como praticar esportes (53,1%), encontrar amigos(as) (21,9%) e
participar de festas (18,8%). Mas afirmaram também que participavam de cursos e oficinas
culturais (23,4%) e assistiam a apresentações culturais (10,9%). Embora o número absoluto
seja muito baixo, verificam-se aí algumas tendências de como o espaço escolar poderia ser
potencializado nos finais de semana, principalmente nas periferias, onde a escola é uma das
poucas instituições públicas existentes. Por outro lado, é necessário refletir em que medida tais
atividades dialogam de alguma forma com os projetos pedagógicos escolares. Como lembra
Brenner (2004, p. 8), as experiências existentes no Brasil vivenciam duas ordens de desafios:

(...) criar políticas que estimulem outras escolas a abrir nos fins de semana e apoiar as
iniciativas já existentes. Este apoio passa pela oferta de espaços escolares e materiais
suficientes e adequados às atividades extraclasse, garantia de manutenção dos
espaços já existentes e capacitação de agentes culturais para que atuem no tempo
livre e articulem os conteúdos escolares com as diferentes propostas culturais.

Uma outra demanda que surgiu dos GDs foi a das cotas para escola pública, mas
definido como semelhança apenas no GD3, cujos(as) jovens situam-se na faixa etária de 18 a
24 anos. A universidade se coloca como uma perspectiva para jovens nessa idade, o que pode
justificar a presença dessa demanda, além da maturidade do grupo demonstrada nos debates.
É interessante ponderar que esse debate começa a chegar até os principais sujeitos para os
quais as cotas têm sido pensadas, a saber, jovens pobres e egressos(as) do Ensino Médio
público e, em algumas modalidades de cotas, jovens pobres e negros(as) egressos(as) do
Ensino Médio público. No entanto, a demanda surgida no GD3 aponta para a necessidade de
aprofundar o debate sobre as cotas, inserindo-as nas políticas de ação afirmativa, entendidas
como políticas de Estado e como garantia do direito à educação.

Trabalho – Nos Grupos de Diálogo, o trabalho apareceu como a maior preocupação


dos(as) jovens e, nesse tema, é possível perceber vários consensos entre os(as) jovens,
expressos na quantidade de vezes que algumas demandas apareceram (tabelas 3 e 3.2). É
compreensível a forte presença dessa demanda, confirmando os dados das pesquisas
nacionais sobre a situação de desemprego da juventude, sobretudo, a juventude das camadas
populares, como já comentamos anteriormente.
Merece destaque a demanda, presente nos cinco GDs, por “qualificação profissional
dos(as) jovens”, a ser reivindicada pelos(as) jovens, tanto para o governo como para as
empresas privadas, ou seja, tanto pela esfera pública quanto pela privada. Essa demanda está
associada com a realidade de desemprego presente na vida dos(as) jovens participantes, e foi
a única demanda que alcançou unanimidade em todos dos Grupos de Diálogo,
independentemente da faixa etária.
Durante a apresentação dos(as) jovens, ao perguntarmos sobre a sua situação de
emprego, constatamos que grande parte era composta por desempregados(as) e também por

23
jovens que trabalhavam sem carteira assinada, inclusive aqueles(as) que já haviam constituído
família ou tinham filhos(as). O desemprego aponta para a necessidade de construção de
políticas públicas eficazes em relação ao trabalho e, mais ainda, políticas eficazes de primeiro
emprego para a juventude, reformulando a existente.
A demanda por cursos profissionalizantes apareceu em três GDs (o 2, 4 e o 5). Ela é
seguida pela demanda por estágios presentes em dois GDs (o 2 e o 4). Essas duas
semelhanças revelam a dificuldade de inserção juvenil no mercado de trabalho e estão
associadas à demanda de maior qualificação para o trabalho. Os GDs que as apresentaram
são aqueles que possuíam uma parcela de jovens na faixa etária dos 15 a 18 anos,
correspondente à busca pelo primeiro emprego. Durante as plenárias, esse foi um dos
assuntos que ocupou uma boa parte do tempo e sempre esteve associado a uma crítica
contundente dos(as) jovens sobre a incoerência do mercado ao cobrar a tão falada “prática
profissional” sem a existência de políticas de incorporação dos(as) jovens no mercado de
trabalho e sem a construção de oportunidades para os(as) mesmos(as), pelas empresas. Os
estágios apareceram, nesse contexto, como uma possibilidade real e como um “ritual de
iniciação” ao mercado de trabalho, e foram demandados com contundência pelos(as) jovens.
O aumento de postos de trabalho para os(as) jovens e a construção de mais
oportunidades de emprego são as demandas que se seguem e aparecem em dois GDs. Elas
estão muito relacionadas com as primeiras e dizem da carência de inserção do(a) jovem no
mercado de trabalho. Há também o reconhecimento do direito do(a) jovem de ter redução real
da jornada de trabalho. Os(as) jovens com idade entre 18 e 24 anos são os(as) que apontaram
essa questão e, por serem mais velhos(as), certamente devem viver mais de perto a difícil
tarefa de conciliar trabalho e escola.
Durante os GDs, embora nem sempre a relação trabalho/escola tenha sido levantada
como uma semelhança, ela esteve presente como diferença ou no Diálogo durante a
plenária. Vários(as) jovens afirmaram que não é possível conciliar o tempo de escola com o
trabalho. As duas instituições não dialogam entre si e, no contexto social de tamanho
desemprego, na maioria das vezes, a opção feita pelo(a) jovem é o abandono dos estudos
em detrimento do emprego. Além disso, a má qualidade das escolas e dos turnos noturnos
também foram apontados como fatores que desmotivam a continuidade dos estudos.
O GD3, com jovens de idade entre 18 e 24 anos, trouxe ainda como demanda a
reformulação do Programa Primeiro Emprego. É fato que a idade, uma maior experiência de vida e
também a própria inserção de alguns(mas) nessa política, pode ter contribuído para o
conhecimento da mesma e a percepção dos seus pontos fracos. Nota-se que eles(as) não propõem
a extinção dessa política, mas a sua reformulação, certamente, mais próxima à sua realidade.

Cultura e Lazer – O tema da cultura/lazer ocupou um lugar significativo na plenária


da manhã. No entanto, à tarde, ele quase não foi retomado pelos cinco GDs na escolha dos
Caminhos Participativos. Talvez o fato de a maioria dos(as) jovens não ter uma atuação em
grupos pode ter sido um fator que influenciou esse resultado. Ou talvez a precariedade de

24
condições escolares e de emprego tenha falado mais alto do que a demanda por cultura e
lazer. Esta parece ter sido entendida pelos(as) jovens muito mais como “divertimento” do que
como direito aos espaços e bens culturais produzidos por eles(as) mesmos(as) e pela
sociedade, a serem proporcionados em igualdade de condições tanto para os(as) pobres
quanto para os(as) jovens das camadas médias.
É interessante notar que, junto com a demanda por cultura e lazer, estava o apelo por
mais segurança, o que implica em “policiamento”. Dois GDs (o 2, de jovens de 15 a 17, e o 4,
de jovens de 15 a 24 anos) apontaram como semelhança a necessidade de policiamento, mas
explicaram: queriam um policiamento qualificado nos bairros para que os(as) jovens pudessem
circular com liberdade, usufruir de espaços públicos sem ser assaltados(as) ou ameaçados(as)
pelo tráfico. A presença de um número maior de jovens com pouca idade pode ter influenciado
tal demanda, devido ao fato de se encontrarem mais dependentes da família, serem mais
novos(as) e talvez, considerados(as) tanto pela polícia quanto pelos(as) “supostos(as)
agressores(as)” como mais indefesos(as).
A polícia aparece, ao mesmo tempo, como fonte de possível segurança e também de
reclamação, de desrespeito aos direitos humanos, de uso e abuso do poder e, inclusive, de
corrupção ao deixar-se envolver com o tráfico. Se olharmos de maneira desavisada essas duas
interpretações sobre a ação policial demandada pelos(as) jovens, poderíamos ser levados(as)
a pensar que há, aqui, uma contradição, mas na realidade não é isso que os(as) jovens estão
nos mostrando.
A demanda por segurança dos(as) jovens moradores(as) da periferia, também presente
nas preocupações expressas na primeira atividade da manhã e comentadas anteriormente, é
semelhante àquela reivindicada pelo mundo adulto urbano e de classe média diante da
banalização da violência que assola os nossos dias. O sentimento de insegurança, hoje, no
Brasil, é um fato real. No entanto, sabemos que, para os setores populares, não é só um
“sentimento”: é uma realidade. Não podemos desconsiderar que os setores populares são
vistos, hoje, no imaginário social, como os mais propensos à violência. Há, então, a invenção
da violência que assombra sociedade e também a escola ao lidar com esses sujeitos sociais.
Tudo isso está intrinsecamente ligado a questões de preconceito (de todas as formas),
ausência de políticas públicas e desigualdade social.
Sabemos que a soma da desigualdade social, racial e miséria tende a caracterizar
os(as) jovens pobres, negros(as), pertencentes à periferia, como os(as) mais violentos(as), a
ponto de serem estes(as) as principais vítimas da violência policial. Estes(as) jovens sofrem um
terrível dilema: vivem no cruzamento da violência social e policial. Nesse contexto, como
qualquer cidadão(ã), pleiteiam a liberdade de ir e vir com segurança e demandam da polícia o
cumprimento ético do seu ofício.
A escola aparece novamente como uma demanda dentro do tema da cultura/lazer. Ela
reaparece como um dos únicos equipamentos e espaços públicos que as comunidades pobres
possuem. Nesse sentido, a demanda pela sua abertura nos finais de semana (GD4) ou a
construção de centros culturais no espaço da escola (GDs 3 e 4) se torna justificável.

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Os(as) jovens, ao apresentarem como demanda o apoio do governo e dos(as)
empresários(as) na construção de mais iniciativas culturais (GD1), demonstram cobrar da
iniciativa privada o retorno social dos seus lucros. Não podemos afirmar que essa reflexão seja
feita de forma elaborada pelos(as) mesmos(as), mas não há como negar que eles(as)
sinalizam que não é só o governo o único responsável pelo atendimento às demandas sociais.
Quanto aos eventos culturais, os GDs 1 e 3 apresentaram algo novo. Não somente a
ampliação dos eventos, mas, sobretudo, a divulgação dos mesmos. Durante a plenária desses
dois GDs, o argumento central para essa demanda que se tornou uma grande semelhança foi
o reconhecimento de que existem eventos culturais públicos e gratuitos na cidade, mas essa
informação não chega para todos(as) os(as) jovens. Ela fica restrita aos(às) jovens das regiões
centrais e das camadas médias da população. Em todos os cinco GDs, constatamos que a
maioria dos(as) jovens não tinham conhecimento das programações do próprio Centro Cultural
da UFMG, local onde se realizaram os encontros. Este abriga uma série de iniciativas públicas
e gratuitas, voltadas para o público jovem, assim como projetos, tele-salas etc. Sendo assim,
passamos a divulgar essa programação no final de cada GD.
A semelhança que aponta para a “maior valorização das culturas no Brasil”, proposta
pelo GD1, é muito ampla, mas eles(as) podem estar apontando para um sentimento de
hierarquização das culturas presentes no Brasil, sobretudo aquela produzida pelas massas
populares e mais ainda, as culturas populares produzidas pelos setores juvenis.

3.3 – Os caminhos participativos

Na parte da tarde, os(as) jovens fizeram um novo trabalho em Grupo, agora discutindo a
seguinte questão: “Pensando no que vocês listaram pela manhã que deve melhorar na
educação, trabalho e cultura no Brasil, como vocês estão dispostos(as) a participar para que
essas melhorias se tornem realidade?”. Em seguida, vamos descrever uma síntese do trabalho
de cada subgrupo, em cada um dos cinco Grupos de Diálogo, pontuando a escolha do
Caminho Participativo de cada um deles. Faremos uma síntese da discussão que se seguiu na
plenária, na qual os(as) jovens definiram os aspectos semelhantes dos Caminhos Participativos
escolhidos, seguido pela problematização das conseqüências das escolhas realizadas. No
final, faremos uma síntese analítica dos Caminhos Participativos escolhidos pelos(as) jovens
nos GDs.

GD1 – Jovens com experiência participativa


3.3.1 – Os Grupos e suas escolhas
Grupo Amarelo: 4º Caminho: “Eu e meu grupo nos engajamos e temos uma bandeira
de luta”
O Diálogo no subgrupo foi intenso. Matheus disse preferir o Caminho 1, pois “grupo de jovens
na política pode fazer toda a diferença”. Já a jovem Fernanda aponta o Caminho 2, indicando a
importância da participação coletiva. Lidiane já propõe um quarto Caminho, indicando a junção

26
dos três. Josimar aponta a união dos Caminhos 1 e 3, Giovanni sugere o Caminho 2, pois
aponta para uma movimentação popular. Alessandra concorda com Lidiane pela opção de um
quarto Caminho que siga a orientação de Giovanni.
A proposta do quarto Caminho foi a vencedora durante o Diálogo e a conclusão do
Grupo foi “Eu e meu grupo nos engajamos e temos uma bandeira de luta”, porém, apontando
para o voluntariado, e não para a política.
O argumento para essa escolha é de que o(a) jovem precisa ter conhecimento para
escolher e seguir qualquer um dos três Caminhos. Deverá, primeiramente, “se engajar, vestir a
bandeira”, buscando o conhecimento sobre a política para que possa entrar no segundo
Caminho sendo voluntário e fazer a diferença, lutar por um Brasil melhor. Assim, ao começar
pelo seu próprio engajamento, ele(a) poderá entrar no Caminho 3, formar um grupo com uma
base de informações e ter forças para lutar pelos seus objetivos. Caso contrário, poderá perder
os seus objetivos e criar atritos entre o que pretende e deseja, participando de todos os
Caminhos ao mesmo tempo.
O Grupo parece perceber os Caminhos Participativos como uma seqüência evolutiva,
como uma etapa linear, do menor para o maior. Essa interpretação parece estar colada em
uma leitura pouco esclarecida sobre a vida política, a participação juvenil e o voluntariado. Por
mais informações que lhes fossem dadas pelos(as) facilitadores(as) e bolsistas, essa idéia
cristalizada não pôde ser superada no GD.

Grupo Azul – 4º Caminho: Voluntariado em grupo


O Grupo argumentou que a escolha da ação voluntária junto com uma participação em grupo
se deu devido ao fato de que esse tipo de articulação poderá facilitar as ações a serem
realizadas pelos(as) integrantes, a fim de alcançarem um resultado final. Em grupo, é possível
discutir idéias, formar uma única opinião e colocá-la em prática. O Grupo explicou a sua
posição contrária à realização do voluntariado de maneira individual, pois julga que se este for
realizado somente por uma pessoa, esta ficará sobrecarregada. Além disso, o fato de atuar em
grupo permite que não haja um isolamento das pessoas. Discutiu-se ainda que em grupo é
mais fácil praticar ações comunitárias.
A rejeição ao Caminho 1 se deu devido à descrença nos(as) políticos(as) que, segundo
eles(as), apresentam atitudes incorretas. No entanto, destacaram que é importante que sejam
escolhidas lideranças que representem e levem o trabalho adiante. Nesse sentido, a rejeição
ao Caminho 1 vincula-se como mais um elemento além da descrença: o entendimento de que
a participação política se dá somente via partidos políticos ou setores do governo, ou seja, uma
visão restrita e talvez tradicional de entender a política.

Grupo Laranja – 4º Caminho: A junção dos três Caminhos


O trabalho no Grupo demorou a ganhar um ritmo. Um dos jovens, Marcos, iniciou o Diálogo
posicionando-se pelo Caminho 1 pois, segundo ele, “não tem como o jovem ter voz se não
estiver lá dentro da política. Se a gente não tiver um pouquinho de poder”. Inicialmente o Grupo

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se posicionou contra a posição de Marcos. Geisiele disse da sua experiência na escola, com
um grupo de amigas que, segundo ela, aprontaram uma “revolução” na escola, ao fazerem um
jornalzinho de notícias. O exemplo da jovem foi bastante pertinente para mostrar que era
possível participar da vida escolar e sua dinâmica por uma via alternativa, de um grupo. No
entanto, de maneira, contraditória, ela conclui que o melhor Caminho seria a junção do 2 e do
3. No decorrer do Diálogo, que se tornou bastante dinâmico, os(as) jovens refletiram
principalmente sobre o Caminho 2, do voluntariado. É possível dizer que todos(as), com
exceção de Marcos, se centraram no Caminho 2 como a melhor a alternativa. No entanto, o
jovem protestava: “Isso não vai mudar o país!”. Uma das jovens mais argumentativas, Lílian,
respondeu: “Se todo mundo não mudar, como não vai mudar o país?”.
O Diálogo se tornou intenso e os(as) jovens deram vários exemplos sobre a
importância de agir para ajudar as pessoas que passam fome e que estão tão perto da
realidade de cada um(a). Argumentaram sobre a chance que cada indivíduo tem de fazer um
pouco por melhorias sociais. Marcos, mais uma vez, se posiciona dizendo que era possível,
sim, ir pelo Caminho do voluntariado, porém, em algum momento, será preciso usar dos
artifícios da política para que mudanças se efetivem concretamente. Porém, novamente o
restante do Grupo argumenta que o Caminho da política é de difícil alcance e, portanto,
decidem pelo Caminho 2.
A escolha do Grupo, na opinião da bolsista, parece ser movida pelo impulso. Para
evitar isso, o(a) facilitador(a) é chamado para esclarecer e, após esse momento, os(as) jovens
decidem não se concentrar em um único Caminho, mas preferem “pegar as melhores coisas de
cada Caminho”.
A junção dos Caminhos parece ser a mais “lógica” e é idealizada como a síntese
perfeita, e não é posto em dúvida a pertinência ou chance de agir orientados(as) pelos
diferentes Caminhos.
A escolha pela soma dos Caminhos é feita, mas sem se levar em conta os(as)
próprios(as) jovens como sujeitos que agirão orientados na busca de suas expectativas. Há,
aqui, a presença de um(a) “jovem abstrato(a)” que deverá realizar o Caminho idealizado. Nesse
contexto, Marcos, o jovem que se posicionou pelo Caminho 1, tem sua opinião vencida no
Diálogo. Para a apresentação, o Grupo criou uma letra de rap:
“Eu, voluntário, gosto de ajudar.
Todos unidos para o mundo melhorar
Não dependo do governo pra poder me apresentar
Vêm rádio e TV pra então nos divulgar
Jovens voluntários, estamos na ativa
Somando com o povo, então se liga
Ajudar é o nosso lema
Incentivar é o que queremos
Manifestar amor do mundo
E traz pra nós o que aprendemos

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Fazendo diferença na cultura e na política
Conscientizando a população da importância além do voto
Somos jovens, unidos assim, somos fortes
Fazendo a diferença e saindo a lutar
Somando com os irmãos e a lutar e ganhar
Pra tirar do poder quem quer nos derrubar”

Grupo Vermelho – 1o Caminho


O Grupo discutiu, inicialmente, cada um dos Caminhos resumidos no Roteiro de Diálogo e nos
cartazes. A discussão sobre o Caminho 1 foi pequena. Ele foi interpretado pelo Grupo como o
da participação que vai além do voto, ou seja, diz respeito à organização. Quanto ao Caminho
2, o Grupo ouviu muito a opinião de um dos jovens, Willian, que disse que “esse Caminho é
tampar o sol com a peneira”. Nesse sentido, o Grupo concluiu que é preciso ter mais
esclarecimento sobre o voluntariado. Nesse momento, uma das jovens citou as campanhas
feitas para acabar com a fome no norte de Minas e ponderou que essas campanhas
acontecem por um período, porém, as pessoas dessa região precisam de alimento o ano todo,
e não por um período apenas. Segundo o Grupo, para ser voluntário(a) precisa ser instruído(a),
ou seja, passar o conhecimento que se sabe para outros(as) através de atividades como
oficinas de música e culinária.

O Grupo achou que o Caminho 3 era muito fechado. Um jovem disse que “esse
Caminho é como um time de vôlei e futebol, ou seja, muito fechado”. Nesse sentido, os(as)
jovens opinaram que os Caminhos 2 e 3, se escolhidos, limitariam a sua atuação. Segundo
eles(as), “o trabalho voluntário é um trabalho em vão, ou seja, limita a atuação do governo”.
Vemos aqui a influência dos pontos “contra” apresentados no Caderno de Diálogo e no CD
durante a manhã. O Grupo criticou o trabalho voluntário, pois segundo ele, “esse Caminho não
conta com o apoio do governo”. Nesse sentido, argumentaram que era importante a
participação do governo contida no Caminho 1.

Depois da leitura do conteúdo de cada Caminho no Caderno de Diálogo, os(as)


jovens já não se mostraram tão convictos(as). Apresentaram dificuldade em escolher um
Caminho e, nesse momento, a monitora fez esclarecimentos. Os(as) jovens dialogaram
novamente sobre os Caminhos e fizeram a escolha pelo Caminho 1, ponderando seus pontos
contrários. Essa escolha foi marcada por muita dificuldade. Um jovem disse que “é preciso criar
mecanismos para que as verbas não se desviem desse caminho”. Outra jovem disse que esse
Caminho “tem uma ideologia de mudança”. O Grupo percebeu que nesse Caminho é possível
participar através de mecanismos como grêmios e sindicatos. Durante a discussão,
aconteceram muitos relatos paralelos de alguns(mas) jovens.

29
3.3.2 – As definições da plenária
Após a apresentação dos subgrupos, iniciou-se a discussão em torno das possíveis
semelhanças dentre os diversos Caminhos escolhidos. A tendência majoritária foi em relação
ao trabalho voluntário, mas realizado através da participação em grupos juvenis. A síntese
definida pela plenária acerca das semelhanças dos caminhos foi resumida da seguinte forma:

• Engajar em grupos juvenis para ação social;

• contribuir individualmente;

• trabalho voluntário em grupo;

• engajar em grupos de teatro/cultura/música;

• ser voluntário(a) e engajar na política.

Segundo uma jovem, “todos os grupos buscaram a união dos jovens” numa perspectiva
que vincula a ajuda mútua e a satisfação pessoal: “Eu participaria em algum grupo que
procurasse ajudar alguém ou pessoas. Eu procuraria um grupo, como se fala, que me
satisfizesse. Em relação a mim, com os outros”.

A partir desta ênfase, uma primeira intervenção da coordenação procurou questionar


se o trabalho voluntário não representaria um abandono da participação nos canais que mais
diretamente interferem nas decisões, deixando o poder nas mãos dos(as) adultos(as). Além
disso, ponderou se as pessoas estariam dispostas a assumir o ônus do trabalho voluntário em
termos de comprometimento do tempo dedicado às suas necessidades pessoais.

Diante dessas ponderações, alguns(mas) jovens reforçaram o apelo à ação em grupo,


o que minimizaria o esforço. No entanto, uma das jovens ponderou a necessidade do apoio
governamental também: “Eu não me engajaria em grupos de voluntários, eu vejo dessa forma,
a pessoa fica sobrecarregada. Ela tem os outros compromissos. (...) Eu já participo de dança.
É mais fácil de organizar, entendeu? A pessoa tem a quem pedir ajuda. E outra coisa, do
governo... Infelizmente a gente precisa do governo pra dar uma cobertura, ajuda, política.
Porque tem hora que eles ajudam as associações, dando curso. Então, assim, a gente precisa
das autoridades acima da gente”.

Outra jovem se manifesta, ressaltando que o trabalho voluntário é “mais próximo da


nossa realidade”, pois a política seria algo distante (“é mais difícil atingir eles”). A esfera da
participação política aqui está restrita à relação com os(as) políticos(as), para os(as) quais é
difícil apresentar suas demandas. Quanto ao envolvimento em grupo, essa jovem manifesta
certa descrença na capacidade de ação: “nem sempre realmente traz uma mudança”. Assim, o
trabalho voluntário apresenta-se para ela como algo concreto, no qual pode efetivamente sentir
os resultados imediatos. Outra jovem reforça esse ponto de vista, manifestando que não se
pode esperar a ação do governo: “não adianta só deixar na mão do governo. Se a gente não
levantar, não ir atrás do que a gente quer, não vai adiantar. (...) Todo mundo depende de
alguém, mas se a gente não fizer alguma coisa, o governo também não vai fazer não...”

30
Novas ponderações foram feitas, questionando se o trabalho voluntário não
representaria reforçar a falta de interferência dos(as) jovens nas decisões sobre as políticas
públicas. Outra questão apontada aos(às) jovens dizia respeito à tendência observada no
Grupo a reduzir a participação política aos partidos políticos e à relação com os poderes
legislativo e executivo.

Diante dessas ponderações, um dos jovens retoma a idéia de que a importância do


trabalho voluntário está no maior controle em relação ao uso do tempo pessoal, pois o
engajamento individual em trabalhos voluntários permite que você se dedique de acordo com a
sua disponibilidade. Segundo esse jovem, para quem não tem grande disponibilidade de tempo
essa seria a forma mais adequada de participação.

Outros(as) jovens, porém, retomam a dimensão grupal da ação voluntária, chamando a


atenção para o seu caráter formativo e a possibilidade de contar com diferentes contribuições
que cada um(a) pode oferecer de acordo com seu “dom”: “Então você tem que fazer com muito
carinho, dedicação... E o trabalho em grupo também, você vai estar em grupo adquirindo
conhecimento. Mas você vai estar trabalhando com a participação, com o outro dom que a
pessoa tem. Não só o seu”. Essa jovem participava de uma igreja. Esse aspecto é reforçado
por outro jovem: “Eu acho legal. Voluntário. Isso vai contagiar quem está à sua volta e de
alguma forma gerado ali para poder atingir os maiorais”. Outro jovem ainda reforça esse ponto
de vista, dizendo que é “um pouco mais amplo”, não tão individualizado. Novas ponderações
são apresentadas quanto ao caráter localizado dos trabalhos voluntários e dos agrupamentos
juvenis, além da tendência a substituir o governo naquilo que seriam suas atribuições.

Diante disso, um dos jovens insiste na combinação dos Caminhos, contando com o
apoio de mais uma jovem. No entanto, esse ponto de vista não contou com novas adesões.

De uma maneira geral, os(as) jovens tenderam a manifestar sua preferência pelo
trabalho voluntário. Alguns(mas) reforçaram a ação individual. Para esses(as) jovens, a
praticidade – adequação do tempo, maior controle e satisfação individual – era o principal
aspecto positivo do voluntariado. No entanto, uma boa parcela dos(as) jovens,
principalmente aqueles(as) com atuação prévia em igrejas e grupos culturais, tendeu a
reforçar a perspectiva grupal do trabalho com base na sua dimensão formativa e na
possibilidade de potencializar as ações pela contribuição que cada um(a) pode oferecer.
Alguns(mas) jovens também defenderam a idéia de conciliação dos três Caminhos, uma
tendência mais presente durante a apresentação dos trabalhos dos subgrupos, mas que, aos
poucos, se enfraqueceu durante o debate.

A possibilidade de engajar-se diretamente em instituições para os(as) jovens era


percebida como algo distante. Em geral, esse Caminho era identificado com o governo e os(as)
políticos(as) em geral. Manifestava-se numa visão subordinada aos(às) políticos(as), vistos(as)
sempre a partir de uma relação paternalista. Assim, uma hipótese é que a preferência pelo
voluntariado esteja ligada a uma recusa por se subordinar a tal relação, distante e

31
desproporcional em termos de relação de poder. O trabalho voluntário ofereceria uma
maior possibilidade de controle pessoal, um sentimento de realização e uma maior eficácia
das ações.

GD2 – Jovens de 15 a 18 anos


Os Grupos e suas escolhas
Grupo Amarelo – 2º Caminho: “Eu sou voluntário e faço a diferença”
O Grupo apresentou muita dificuldade para escolher os caminhos participativos. A jovem
Daiane disse que não entendeu os Caminhos. A bolsista percebeu que havia muitas dúvidas
na atividade. Rosilene disse, olhando para a bolsista: “A lógica seria o Caminho 3, né?”.
Parecia que a jovem tinha a impressão de que existia um Caminho correto a ser seguido. Tal
comportamento pode estar alicerçado em uma lógica escolar, como se eles fizessem um
exercício para ser corrigido e aprovado pelos(as) professores(as). O fato de ser o GD dos(as)
jovens com a menor faixa etária pode ter sido um dos fatores de tal comportamento.
A bolsista retomou a relação entre manhã e tarde, os Cadernos foram lidos novamente
e mais esclarecimentos foram feitos ao Grupo. Foi possível perceber a grande dificuldade de
leitura de alguns(mas) jovens, o que dificultou ainda mais o entendimento dos Caminhos. A
facilitadora foi chamada para ajudar e deu um exemplo concreto de cada Caminho. Parece ter
havido um entendimento dos Caminhos Participativos através do exemplo.
O Caminho 2 foi o indicado, pois, segundo um dos(as) jovens, “O 2 é o melhor, porque
eu vou gastar menos tempo, eu vou à hora que eu quiser. Agora, se eu escolhesse o 1, exigiria
muito tempo”. Os(as) outros(as) jovens pareceram se convencer de que o Caminho do
voluntariado era mesmo o “melhor”. Uma jovem afirmou “eu acho que já sou voluntária”. Junia
e Rosilene disseram que era mais fácil explicar na plenária o Caminho 2. Houve a sugestão de
um quarto Caminho, mas não teve ressonância dentro do Grupo, que se mostrou bastante
agitado e parecia querer terminar logo “a tarefa”.
A atividade da tarde foi bastante confusa. Havia muita conversa, brincadeira e risadas
no Grupo. Os(as) jovens, que pela manhã foram mais participativos(as), estavam bem
calados(as) à tarde. Não houve um momento de reflexão mais precisa sobre as vantagens de
cada Caminho e muito pouco se buscou de identidade individual com os Caminhos.

Grupo Azul – 4º Caminho: junção do 1º e 3º


O início do trabalho foi difícil, pois o Grupo estava desanimado e com o sono, devido ao
almoço. Após leitura dos Caminhos, a jovem Michele perguntou para Grupo qual o Caminho
que mais gostaram. Todos(as) escolheram o Caminho 3. Como a bolsista percebeu que a
escolha não havia sido feita através de uma reflexão, retomou as semelhanças encontradas no
período da manhã e perguntou para o Grupo qual dos três Caminhos poderia ajudar a
concretizar as semelhanças da manhã. Depois dessa intervenção, o Grupo chegou a
conclusão que o Caminho 1 seria o melhor para concretização das semelhanças. No entanto, o
Grupo ainda estava preso ao Caminho 3.

32
Após esclarecimentos da bolsista sobre a possibilidade de criação de um quarto
Caminho, o Grupo caminhou para essa decisão e assim o fez, elegendo um novo Caminho,
com a junção do 1 e do 3, mais precisamente. A jovem Lucimar disse que “os jovens devem
cobrar mais dos governantes, ou seja, não jogar a culpa só no sistema”. Roselaine disse que
tem medo da repressão do governo. Depois de anotar os pontos discutidos no cartaz, Lucimar
perguntou ao Grupo se eles(as) concordavam com esses. O Grupo concordou.

Grupo Laranja – 4º Caminho: o Caminho da cidadania


Nesse Grupo, a intervenção do bolsista se fez necessária várias vezes, em decorrência da
estagnação a que chegavam os(as) jovens em certos momentos. O Grupo iniciou o trabalho
com muito sono, logo após o almoço. Após a explicação rápida do bolsista sobre a atividade e
sobre os Caminhos, a discussão levou o Grupo a propor um 4º Caminho, que seria uma junção
dos três.O diálogo se deu em torno desse ponto. Os(as) jovens dialogaram sobre o quê de
cada Caminho apareceria nessa opção do Grupo.
A posição final do Grupo é, resumidamente, um quarto Caminho, que se revelaria
assim: um grupo de jovens, unidos(as) por ideais em comum, em prol da comunidade, que
dialogaria com instâncias políticas, mas também faria trabalhos voluntários quando necessário
e quando possível.
Em muitos momentos, o silêncio tomava conta da sala e o(a) bolsista novamente
instigava o Grupo com perguntas. A mulheres falavam mais; os homens ficavam quietos e,
muitas vezes, demonstravam falta de interesse.

Grupo Vermelho – 4º Caminho: a junção dos três


Os(as) jovens juntaram os três Caminhos, os quais ficaram assim resumidos: você sendo
voluntário, pode participar da política e ter seu próprio grupo!
Para tal, o Grupo colocou como orientações principais: a) procurar saber o que o
governo está fazendo. Assim, poderão cobrar, ter o controle, acompanhar e ampliar os direitos
do(a) cidadão(ã); b) atuar na forma do voluntariado, pois este capacita as pessoas e ajuda o
próximo. Argumentaram que nem sempre as ações do voluntariado são focalizadas, como diz o
Roteiro de Diálogo na seção dos “contras” que acompanham esse Caminho. Eles(as) citaram
como exemplos: realizar atividades de teatro, dança e bandas, compondo letras e assim falar
da realidade do(a) jovem.
Apesar de a participação política estar presente nesse Caminho, ela se diluiu na ação
do voluntariado em grupo. A visão de “ajudar o próximo” aparece como uma ação política e não
como uma ação individual. Além disso, a inserção política é vista de forma reduzida, como se
fosse o “governo”. O Grupo discutiu que, como voluntários(as), não seria possível resolver
todos os problemas, mas já seria um começo o que já faria a diferença porque se todo mundo
fizesse um pouco, já teríamos um Brasil melhor.

33
GD2 – As definições da plenária

• O caminho-síntese do segundo GD teve como marca principal a ação voluntária,


com ênfase em dois argumentos: possibilita “ajudar a comunidade” e “sobraria
tempo para outras atividades”. Assim, a plenária da tarde sintetizou suas
semelhanças:

• Voluntário (Caminho 2)

1. Ajudar a comunidade
2. Sobraria tempo para outras atividades
Embora esses aspectos estivessem presentes nos quatro Grupos formados, eles se
apresentavam de diferentes formas. Apenas um Grupo expressou abertamente sua escolha
pelo voluntariado. Embora reconhecendo os seus limites (“como voluntário, eu não resolveria
todos os problemas”), esse Grupo manifestou ter optado por esse Caminho devido à
possibilidade de conciliar tempo para si (“estudamos e fazemos cursos”) com o tempo
dedicado aos(às) outros(as). Os outros três Grupos optaram pela combinação entre os três
Caminhos, um enfatizando a participação política e os outros dois centrando-se no serviço
voluntário através da organização em agrupamentos juvenis.

De uma maneira geral, prevaleceu a opção pela ação voluntária devida a sua maior
flexibilidade para adequar-se ao tempo dos(as) jovens. Segundo uma das jovens: “Todos os
Grupos escolheram o mesmo Caminho do voluntariado, pois esse caminho é capaz de realizar
atividades, mas sem deixar de fazer suas obrigações, como abrir mão dos seus estudos ou
separar do trabalho. A minha conclusão assim foi que todos, através do voluntariado, estão
querendo melhorar a comunidade”.

Um debate inicial da plenária ressaltou também que, embora o voluntariado apresente-


se como um eixo comum dos subgrupos, há diferentes formas de concebê-lo, seja ressaltando
a ação individual, seja o trabalho em grupos ou a sua vinculação com a participação em
instituições políticas.

Uma primeira ponderação feita à plenária quanto ao trabalho voluntário referiu-se à


substituição do Estado, diminuindo as pressões pela ampliação da política social. Outro
aspecto apontado pelo Grupo foi a possibilidade do voluntariado se resumir a uma ação
assistencialista, realizada de forma precária e amadora, sem competência técnica.

Diante de tais ponderações, uma das jovens reafirmou sua adesão ao trabalho
voluntário, indicando, no entanto, certas condições para isso. Ela diz que para ser voluntário
“você tem que conhecer seus limites”, fazendo “o que você sabe”. Outra questão apontada por
essa jovem refere-se a não assumir tarefas que são responsabilidades do governo.

34
Outros(as) jovens passaram a polarizar a atuação direta em instituições políticas com a
adesão a um grupo juvenil. Segundo um jovem, o Caminho 1 é a maneira mais eficiente e
direta de “melhorar a sociedade”, pois a partir da política “você começa a desenvolver os
projetos”. No entanto, esse mesmo jovem manifestou que prefere atuar em grupos juvenis –
“montar grupos de música, de teatro, de artes”. Esses(as) jovens podem estar dizendo que o
Caminho mais interessante é o do envolvimento em agrupamentos juvenis, mas, para atingir os
objetivos propostos na parte da manhã, a forma mais eficiente seria atuar diretamente nas
instituições políticas. Como disse uma jovem: “Ah, eu acho que eu escolheria o primeiro
Caminho, que é o da política. Que eu acho que para conseguir várias coisas é..., seria através
da política. Mais o que eu mais gostei (...), que eu acho que mais combinaria seria o três”.

Um dos jovens retoma o tema do voluntariado alegando que “envolver em política


gastaria muito tempo”, restando pouco tempo para atividades pessoais, como estudar. A
atração pelo trabalho voluntário estaria, portanto, na possibilidade de desenvolver alguma ação
social que não comprometesse muito o seu tempo.

Por outro lado, um dos jovens passa a defender o Caminho 1 como sendo aquele
naturalmente apropriado para resolver os problemas das comunidades: “Porque pra você
conseguir dinheiro pra, por exemplo, igual ela falou em fazer o muro (da escola). Não vai ser os
voluntários que vão juntar dinheiro pra construir aquele muro. Vai ser o governo que vai
precisar liberar a verba. Então... a comunidade tem que abrir um diálogo com o governo”. Esse
jovem consegue a adesão de mais alguns(mas).

Por fim, o voluntariado retorna na voz de uma nova jovem, que polemiza com os
defensores do Caminho 1: “A gente não pode ficar dependendo só dos políticos, porque eles
decidem tudo. A gente não vai tão longe assim, não. Eu consigo obter todos os meus objetivos.
Todos o que eu quero eu consigo”. Essa jovem já possui uma experiência prévia em trabalhos
voluntários, o que ela considera uma forma eficaz de ajuda mútua. A esse depoimento
contrapõe-se uma jovem que lembra que o voluntariado é uma opção que resolve problemas
localizados: “ele não beneficia todo mundo”.

A s s i m , o s ( a s ) j o v e n s f i c a v a m d i v id i d o s ( a s ) e n t r e o s t r ê s C a m i n h o s , q u e
às vezes se mesclavam. O voluntariado era, muitas vezes, compreendido
como uma ação em grupo (“as pessoas se reunindo e ajudando o próximo”). A
atuação política, por sua vez, era compreendida como o resultado natural da
organização e mobilização dos(as) voluntários(as) que se juntavam para
mobilizarem suas comunidades para resolver algum problema específico (“o
grupo precisa do voluntariado e o voluntariado precisa dos políticos”). Tal
atuação não dizia respeito a engajar-se em uma instituição política – ONGs,
partidos, sindicatos, associações de bairro –, mas em reivindicar diretamente
a vereadores(as) e prefeitos(as) uma solução para questões pontuais, através
de abaixo-assinados e reuniões. A compreensão acerca da política parecia se
restringir à atuação partidária. Por mais que os(as) mediadores(as) do

35
Diálogo se esforçassem para problematizar essa questão, os(as) jovens
tendiam a ver a atuação política como o engajamento em partidos ou como
u m a r e l a ç ã o d i r e ta e n tr e l i d e r a n ç a s c o m u n i t á r i a s e g o v e r n a n t e s .

De uma maneira geral, o Grupo parece ter manifestado diferentes visões das escolhas
feitas, mas com uma tendência em valorizar o voluntariado como Caminho mais possível. Ao
mesmo tempo, estava presente a visão da participação política restrita à esfera do Estado e
dos partidos, e uma tensão entre esse Caminho, considerado como um Caminho “natural”,
mais correto, tendo em vista que era “mais eficaz” e as outras possibilidades apresentadas. No
entanto, tal constatação não dizia respeito a uma disposição pessoal a se envolver com
organizações políticas, havendo, nos discursos, uma tendência a ver a política como algo a ser
feito pelos(as) outros(as). Por outro lado, a atuação como voluntário(a) ou em agrupamentos
juvenis estava identificada como algo que propiciava prazer aos(às) jovens. E, talvez, o mais
convincente: uma avaliação de que o Caminho do voluntariado permitia um maior controle
sobre o tempo despendido e os resultados da ação.

GD3 – Jovens de 18 a 24 anos

Os grupos e suas escolhas

Grupo Vermelho – 4º Caminho: a junção dos três

O trabalho iniciou-se com uma explanação do(a) monitor(a) sobre os Caminhos e sobre a
atividade a ser desenvolvida. Mesmo assim, os(as) jovens desse Grupo apresentaram
muita dificuldade de iniciar o Diálogo. Uma das jovens, Lourdes, apresentou a proposta de
misturar os três Caminhos, pegando o melhor de cada um, e um rapaz, Cecílio, propôs
criar uma Secretaria só de jovens.
O Grupo complementou essa idéia dizendo que deveria haver a mistura dos três
Caminhos, com a participação dos(as) jovens. Houve dificuldade de entendimento sobre a
proposta da discussão. Os(as) jovens pareciam não falar a partir deles(as) e para eles(as), mas
para uma outra pessoa, como se os Caminhos fossem algo longe de sua realidade. Chegaram
à conclusão que deveriam propor uma forma de organização, criada por eles(as) mesmos(as),
e que essa proposta misturaria os três Caminhos. Para tal, ela teria que ter uma
representatividade eleita pela comunidade, contendo a participação de líderes comunitários,
presidentes de associações, representantes de igrejas e grêmios estudantis. A divulgação seria
através dos meios de comunicação alternativos, que poderia se tornar posteriormente uma
ferramenta de mobilização comunitária. Discutiram que essa organização deveria fazer um
levantamento dos problemas da comunidade, por meio de pesquisas, feitas pelos(as) jovens
voluntários(as).
O Diálogo se intensificou e as propostas se tornaram bastante amplas, como “fazer
campanha de popularização da cultura”. Em seguida, parece ter havido certa exaustão no

36
Grupo, com os(as) participantes tendendo ao silêncio. A intervenção do(a) monitor(a) se fez
necessária várias vezes como incitação ao Diálogo.
Após dialogarem sobre as propostas dessa organização, decidiram que ela seria uma
ONG, pelo tipo de trabalho que desenvolveria. Com a intervenção do monitor, descobriram que
a ONG estava classificada no Caminho 1, e então decidiram por um quarto Caminho, o qual se
configurou da seguinte maneira: o Caminho 1 com “participação” dos Caminhos 2 e 3.

Grupo Laranja – 4º Caminho: união dos Caminhos Participativos

O sono do almoço se refletiu no ânimo desse Grupo. Os(as) jovens começaram os “contras” de
cada Caminho. A maioria se aproximou do Caminho 2 – o voluntariado –, argumentando que
não tinham tempo para se dedicar aos outros dois Caminhos. Mas, dois jovens, Fabrícia e
Adriano, retomaram os pontos positivos do Caminho 3 – “Eu e meu grupo” –, na tentativa de
convencer o Grupo de que este poderia ser o melhor Caminho. Um dos jovens, Leandro,
desenvolveu argumentos favoráveis ao Caminho 1, argumentando que deveriam dar um voto
de confiança à ação dos partidos políticos, associações e agremiações.

O Grupo então, através das idéias de Leandro e das colocações de Adriano, decidiu
criar um quarto Caminho, usando o que consideravam o melhor de cada um dos três propostos
pelo GD. A proposta foi a seguinte: atuar no Caminho 1 com objetividade, usando o movimento
de idéias criadas no Caminho 2 e tendo como forma de expansão dessas idéias o Caminho 3.
Isso, segundo eles(as), tornaria mais fácil a cobrança de atuação do Caminho 1, também.
Segundo eles(as), por meio do Caminho (participação política), será possível a conscientização
de um número maior de pessoas, compartilhando as tarefas. Com a ação voluntária, do
Caminho 2, visto aqui como possibilidade de “doação” do tempo e daquilo que é produzido
pelo(a) jovem e que pode ajudar outras pessoas, eles(as) acreditam realizar ações que podem
levar ao reconhecimento e auto-realização, atingindo outros espaços. E com o trabalho em
grupo, atuando coletivamente, presente no Caminho 3, eles(as) acreditam que o trabalho
deixará de ser localizado e individual, e abrangerá um número maior de colaboradores(as).

Grupo Azul – 4º Caminho: junção do 1 e 2


O trabalho iniciou com a leitura dos Caminhos no Caderno. O Diálogo começou com a jovem
Débora dizendo que, para melhorar a estrutura na educação, era melhor ir pelo Caminho1: “Eu
acho que para conseguir fazer isso é só com estrutura”. Porém, Wanderson argumentou que a
maioria dos(as) jovens daquele subgrupo trabalhava e, sendo assim, o Caminho 1 era um tanto
complicado para a realidade deles(as). Disse ainda que o Caminho 3 exigia tempo e concluiu
“o 2 é o melhor para quem tem pouco tempo”. A jovem Débora salientou o caráter organizativo
presente no Caminho 1 e Wanderson concordou com ela, completando que, de fato, esse era o
que tinha maior influência, mas achava perigoso a possibilidade de manipulação política.
O Diálogo ficou intenso e o Caminho 1 voltou a ser questionado, sendo visto como o
que mais se aproximava da elite e não mudava nada. Apesar disso, houve certo

37
reconhecimento de que era preciso acompanhar de perto os acontecimentos políticos. Os(as)
políticos(as) se tornaram o foco do Diálogo, desde o reconhecimento da sua má reputação até
a existência de uma passividade da população em acompanhar a ação destes(as), como, por
exemplo, a prestação de contas da Câmara Municipal.
Houve uma boa discussão sobre os Caminhos 1 e 2, discussão que envolveu
elementos como tempo, eficácia, facilidades em cada Caminho, burocracia, legitimidade. No
final, um dos jovens, André, concluiu: “o que atinge as propostas mesmo é o 1”. A maioria
concordou. A conversa do Grupo ficou bastante centrada nos Caminhos 1 e 2.
Um dos jovens, Marcelo, retomou o Diálogo, lembrando que a única forma de alcançar
as propostas da manhã seria o Caminho 1. Ele exemplificou dizendo: “Como conseguir cotas?
Só pelo Caminho 1 mesmo”. No entanto, foi alertado por outros(as) jovens de que o risco da
política era o pior: “Se o cara tá na política, ele vê ele primeiro”.
No final da discussão, eles(as) optaram por elaborar um quarto Caminho, contendo
mais aspectos dos Caminhos 1 e 2. O Grupo destacou que era importante lutar por uma causa
nobre e, ao mesmo tempo, não perder a dimensão social presente no trabalho voluntário para
“conscientizar as pessoas quanto a importância de cada um estar ciente da sua participação na
sociedade”. Acreditam que é importante participar da democracia para introduzir as idéias no
meio político. Apesar de enfatizarem a dimensão do engajamento político, esse Grupo também
demonstrou uma interpretação um pouco restrita da mesma, entendendo-a como a ação nos
partidos políticos ou nos poderes do Estado. As participações comunitárias ou o grêmio
estudantil, por exemplo, não foram incluídos como formas de participação política. Talvez esse
entendimento tenha contribuído para a rejeição do Caminho 3.

Grupo Amarelo – 4º Caminho: a junção dos três


O trabalho no Grupo iniciou com a leitura feita pela bolsista dos cartazes explicativos sobre os
Caminhos de Participação. Em seguida, foram retomadas as semelhanças levantadas na
plenária da manhã.

Uma das jovens, Poliana, propôs a criação de um novo Caminho. Ela preferiu o
Caminho 1, pois segundo ela, “envolve o governo”. Gildo e Adão concordaram com Poliana.

No entanto, Poliana percebeu que o Caminho 1 não atendia a relação entre


professores(as), alunos(as) e comunidade, uma das semelhanças levantadas pela manhã
concernentes à educação. O Grupo releu as semelhanças, relacionando-as aos Caminhos. Uma
jovem fez a seguinte interpretação: “O trabalho necessita do Caminho 1. A cultura e lazer do
Caminho 3. A educação necessita do Caminho 1 e Caminho 2”. Ela afirmou que “tem coisas que
precisamos do governo e tem outras que precisam do voluntariado”.

O Grupo discutiu em torno dessa elaboração e, ao final, acabou optando pela fusão
dos Caminhos, que recebeu o seguinte nome: “Eu e meu grupo fazemos a diferença”.
Todos(as) os(as) integrantes do Grupo concordaram. A jovem Patrícia lembrou-se dos
contras do Caminho 1. Ela pediu ao Grupo para expressar suas opiniões. Alguns(mas)

38
integrantes do Grupo falaram de suas experiências nos seus bairros. Segundo os relatos, em
alguns bairros as escolas já estão funcionando nos finais de semana. Em relação à cultura e
lazer, Fabiano e Débora acharam que o Caminho 3 poderia concretizar as semelhanças
apontadas no período da manhã. No entanto, apesar das intervenções da bolsista, a
sugestão de Poliana acabou sendo acatada pelo Grupo, ou seja, um quarto Caminho,
apontando intervenções específicas em cada área: educação, trabalho, cultura e lazer. O
Grupo elaborou a seguinte exposição:

Educação: o Grupo apontou que “Para se chegar à educação que queremos no


Brasil, precisamos criar um novo Caminho, pois em relação à educação precisamos tanto do
governo como de voluntários, com grupos dispostos a ajudar. Precisamos do governo para
investir nas escolas, mudar o conceito de aprovação dos alunos para criar cotas em escolas
(faculdades) públicas, Precisamos do voluntário para ajudar na interação de aluno, pais,
professores e diretores”.
Nota-se que, para a educação, eles(as) apresentam a fusão dos três Caminhos, porém,
com maior ênfase nos Caminhos 1 e 2. A pouca adesão ao Caminho 3 pode ser apontada pelo
perfil do Grupo, aliás, um perfil muito presente em todos os GDs: não tivemos muitos(as)
jovens com inserção em grupos culturais.
Trabalho: segundo os(as) jovens, para se alcançar as demandas relacionadas ao
trabalho, faz-se necessária a opção pelo Caminho 1, pois esse campo envolve leis e, nesse
caso, seria necessário um Caminho mais concreto, no qual se poderia ter um contato maior
com os(as) governantes.
Cultura e Lazer: para esse campo, o Grupo julgou necessária a adesão aos Caminhos
2 e 3 para conseguirem espaços para realização de eventos teatrais, cinematográficos e
esportivos. Segundo eles(as), para que possam realizar os trabalhos voluntários e ação
coletiva em grupos culturais, é preciso condições e espaços. No entanto, o Grupo alertou que
falta quem organize os eventos e, nesse caso, os grupos e os(as) voluntários(as) entrariam em
ação para a divulgação dos eventos. Há, nesse Grupo, uma leitura um pouco diferente do
voluntariado, combinando-a com o Caminho da participação cultural dos grupos juvenis.

GD3 – As definições da plenária

A síntese das semelhanças no terceiro GD ficou assim:

• 1+2+3

• Voluntário: mobilizar os(as) jovens – Grupo com projeto

reivindicar aos(às) “superiores”

• Participação política direta

• Voluntariado: ajudar o(a) próximo(a)

• Mesmo a consciência que o 1º é o mais coerente, não se dispõe

39
• Mistura dos três Caminhos

Os subgrupos formados para discutir os Caminhos Participativos tenderam a fundir das


alternativas propostas, com a predominância da participação direta em instituições políticas
(Caminho 1). Os relatos dos subgrupos manifestavam a idéia inicial de que esse Caminho era
“o mais coerente” ou “o melhor Caminho para concretizar os objetivos da sociedade”. O
trabalho voluntário também foi citado como importante no que diz respeito à sua capacidade de
mobilizar as pessoas. De uma maneira geral, os(as) jovens tenderam a manifestar a opinião de
que a participação política, embora contenha alguns vícios, pode ser aperfeiçoada se
combinada com a ação voluntária e a organização de coletivos juvenis.

Os(as) jovens em geral manifestaram uma visão idealizada dos Caminhos propostos,
principalmente quando se referiam ao Caminho 1, sem que isso implicasse na sua adesão
pessoal a ele. As ponderações iniciais feitas ao Grupo procuravam incentivar os(as) jovens a
se manifestarem sobre qual tipo de ação estariam dispostos(as) a desenvolver.

As primeiras duas jovens a se manifestarem tenderam a escolher o Caminho 1, que,


segundo elas, possibilita “uma força maior para conseguir” atingir os seus objetivos. Uma das
jovens defendeu a idéia de que, se engajando em um partido político, mesmo correndo o
risco de não ser ouvida – “as opiniões devem ser muito ignoradas” –, é possível atuar para se
fazer ouvir.

Outra jovem diz que o melhor seria aliar a participação política com o trabalho
voluntário: “Um líder do voluntariado chegasse a algum partido político e tentasse um diálogo”.
Essa posição é contraposta por outra jovem, que defende a posição de que o melhor Caminho
seria a mobilização dos(as) jovens, por meio das escolas, para acumular forças.

A essas falas se contrapôs a posição de um jovem com a proposta de os(as) jovens se


preocuparem em ter seus(suas) próprios(as) representantes – “se tornar um superior”,
mobilizando-se para eleger pessoas que os(as) representem de fato – “tipo prefeito, governador”.

Os(as) jovens foram chamados a refletir se teriam tempo e disposição para


engajarem-se no Caminho 1. Diante dessa ponderação, uma jovem manifesta que, embora
reconhecendo a importância de todos os Caminhos, a sua opção seria pelo voluntariado,
tendo em vista que é “mais fácil” para o(a) jovem se engajar nesse tipo de ação. Segundo
essa jovem, o Caminho 3 exige muito esforço de mobilização e o Caminho 1 necessita de
influência política – “apoio superior”.

Um segundo jovem também se identifica com o trabalho voluntário, pois esse


Caminho não comprometeria muito o seu tempo: “Vou lá, faço meia horinha assim,
bonitinho... Entrego uma cesta ali, outra aqui... (risos)”. Por outro lado, manifesta que o
Caminho 1 prepondera sobre os demais em termos da sua capacidade de ação e do seu
poder financeiro. Uma outra jovem defende a idéia de juntar os três Caminhos, com ênfase
na organização de voluntários(as) em grupos para “pedir ajuda a um político”. Um dos jovens

40
se contrapõe a essa posição, alegando que isso seria “querer abraçar o mundo”, preferindo
optar pelo Caminho 1: “Com um grupo, em conjunto manifestar, cobrar”.

Uma jovem alega que o voluntariado não tem força e que os(as) outros(as) jovens
estão optando por esse Caminho por julgá-lo mais fácil, pois exige pouco tempo de dedicação.
Assim, a melhor alternativa, na sua opinião, seria a reunião dos três Caminhos. Interpelada se
teria condições para atuar assim, a jovem defende a idéia de que isso só poderia se dar
através da formação de grupos de voluntários(as). A partir dessa fala, três outras jovens se
manifestam favoravelmente ao voluntariado, enfatizando duas questões: a capacidade de
atuação mais perto do seu local de moradia, dentro das suas possibilidades financeiras e de
tempo, e a possibilidade de organizar grupos para desenvolverem as ações.

Assim, embora o Grupo inicialmente tendesse a reunir os Caminhos, com forte


valorização da participação política centrada nos partidos e no governo (Caminho 1), as
manifestações individuais conduziram o debate para a valorização do voluntariado pela ação
de coletivos juvenis. A alternativa da participação política direta em instituições não parece ser
atraente aos(às) jovens, exceto para um deles, que fez referência a esse Caminho,
manifestando sua disposição em atuar “com um grupo, em conjunto, manifestar, cobrar”.
Houve uma tendência a encarar o trabalho voluntário em grupo como uma alternativa mais
próxima às possibilidades de atuação dos(as) jovens, sendo aquela que apresenta resultados
mais visíveis para eles(as). É importante destacar a atuação deste Grupo, o que apresentou
um envolvimento maior e uma discussão mais consistente dentre todos os GDs.

GD4 – Jovens de 15 a 24 anos

As escolhas dos Grupos

Grupo Azul – 4º Caminho: A ação voluntária em grupo para uma atuação política

O jovem Renato abriu o Diálogo posicionando-se favorável ao Caminho 2. A possibilidade de


conciliação do tempo era o que motivava a sua escola: "Eu não tenho tempo, mas posso ajudar
como voluntário, se precisar".

Um outro jovem, Fernando, argumentou sobre os limites do voluntariado, apontando


como preferido o Caminho 3, ou seja, trabalhar com um grupo e ajudar. Esse jovem disse fazer
parte de um grupo de pagode e falava de uma experiência concreta. Luana, que participava de
um grupo de capoeira, também concordou com esse Caminho. Outro jovem, Renato,
argumentou que para ir ao Caminho 3 era necessário começar sendo voluntário(a). Ele afirmou
ser favorável ao Caminho 1, pois “posso ser voluntário, juntar outros num grupo e ir atrás do
político que eu elegi e cobrar dele. Reunir com outros grupos em outros bairros e fazer a
mesma coisa. Exigir fiscalização”.

41
A descrença na sinceridade dos(as) políticos(as) ocupou um longo tempo do Diálogo e
levou a opção de construção de um novo Caminho, enfatizando o 1 e o 2. O Caminho 3 se
perdeu no resultado final da escolha, mesmo com a presença dos(as) dois(duas) jovens que o
defendiam inicialmente.

O Grupo preparou sua apresentação imaginando os passos que dariam para viabilizar
as demandas discutidas. Para (as),eles ser um(a) jovem voluntário(a) seria uma forma de se
reunir com outros(as) jovens dispostos(as) a levar adiante as propostas de melhorias das
áreas apontadas na discussão da manhã, a saber, educação, trabalho, cultura e lazer. Essa
ação seria desenvolvida em grupo, o qual teria um(a) representante que levaria as propostas
para a Câmara dos Vereadores da cidade. Mas que grupo seria esse? Seria um grupo para
cada região ou cidade. Esses manteriam contatos e reuniões constantes com vereadores(as)
e representantes. O resultado dessas reuniões seria a concretização das metas, exigências e
idéias traçadas pelos(as) jovens organizados(as) em forma de grupo, e elas seriam levadas
aos(às) governantes e aos(às) seus(suas) superiores pelos(as) representantes eleitos(as).
O Grupo fechou a sua apresentação com as palavras “ordem e progresso”, o que pode
nos dizer da forma tradicional como a atuação política é vista: relacionada aos poderes do
Estado, ao voto e a política partidária. A rejeição ao Caminho 3 pode ser vista como resultado
da visão dominante sobre a participação.

Grupo Vermelho – 4º Caminho: junção do 1 e 2


O trabalho iniciou-se com a leitura dos cartazes explicativos dos Caminhos de
Participação. Em seguida, a bolsista retomou as semelhanças levantadas no Diálogo no turno
da manhã. A jovem Leidiane disse: “Eu assumo o Caminho 2. Eu não tenho tempo”. Amanda
preferiu os Caminhos 2 e 3. “Eu também não tenho tempo”.

Leandro também disse preferir o Caminho 3, pois “não ocupa muito tempo”. Segundo
ele, “o grupo se reúne uma vez por semana”. Já Valteni preferiu o Caminho 2. Joyce achou que
o Caminho 1 “exige liderança” e reforçou que esse não servia para ela, pois não tem o perfil de
“cobrar” a participação das pessoas.

Durante alguns momentos, alguns(mas) jovens do Grupo começaram a conversar


sobre outros temas, fugindo da proposta de trabalho, e a bolsista precisou intervir, chamando-
os(as) para a proposta do trabalho.

O Caminho 1 foi novamente apontado como o mais difícil pelo Grupo devido à falta de
tempo, e o voluntariado foi visto com bons olhos e defendido por Joyce, “O pouco que você faz
para uma ou duas pessoas dá para ampliar”. Nesse momento, a jovem Amanda afirmou que
concordava com um pouco de cada Caminho, mas relatou que, de todos, “não tenho
disposição para assumir o Caminho 1”.

42
Novamente a conversa se dispersou e o jovem Leandro tentou organizar o Diálogo. Ele
explicitou que o grupo escolheu o Caminho 2. O jovem Valteni pergunta ao Grupo se levariam
a questão da saúde para a plenária, mas sua questão não teve ressonância.

A bolsista interveio novamente, questionando se o Grupo estava certo pela escolha do


Caminho 2, como havia sido citado por Leandro, e se achavam que esse Caminho seria capaz
de concretizar as semelhanças levantadas no período da manhã. Joyce explicitou que:
“Escolhemos o Caminho 2 devido à disponibilidade, porém o Caminho 1 é o melhor”. Leandro
lembrou que “o Caminho 2 só pode ajudar a nossa comunidade”.

Leandro insistiu em criar um quarto Caminho, envolvendo a saúde, mas Joyce não
concordou. Ela o lembrou de que não há Caminho para a saúde e sim, para os temas
propostos pela manhã.

Os(as) jovens tiveram dificuldade em escolher um Caminho, bem como de criar um


novo Caminho. No final, acabaram optando construir um quarto Caminho com a junção dos
Caminhos 1 e 2. No entanto, a todo momento, vários(as) jovens do Grupo diziam reconhecer a
importância do Caminho 1, mas o fato de não terem disponibilidade de tempo para se dedicar à
demanda que ele certamente traria induziu a escolha pela sua articulação com o Caminho 2,
ou seja, uma atuação juvenil com um conteúdo ou consciência política, porém, na perspectiva
do voluntariado.

Grupo Laranja – 1º Caminho: A construção de uma ONG.


O Grupo, estimulado pela bolsista, leu a parte “Saiba Mais” do Caderno de Diálogo, referente a
cada Caminho Participativo. A leitura foi feita em voz alta e revezada. Na medida em que
terminavam as informações sobre cada Caminho, os(as) jovens faziam breves comentários e
mostravam sua compreensão sobre o Caminho.
A proposta da atividade parece ter sido compreendida pelo Grupo, o que pode ser
expresso na fala de Ademar: “Para ter aquelas coisas da manhã, a gente tem que correr atrás
pra conseguir”. Renato disse: “Só se for pelo Caminho 1 que vai adiantar”. Ademar ainda
lembrou que “para mudar mesmo não adianta também ser só a gente”. Esse jovem
argumentou que a vida de cada um(a) tem sido muito corrida e apertada, sendo assim, para
alcançar as propostas, seria imprescindível uma mobilização de toda sociedade.
Renato fez um comentário interessante sobre a eficácia do Caminho 2 na resolução
das questões: “O voluntário dá para praticamente tudo, menos para as coisas do trabalho”. Ele
lembrou que, para que ocorram algumas mudanças que desejam, não se pode renunciar o
Caminho da política: “É o único que dá chances de mudanças nas leis, por exemplo”. Luanda
disse que, para ela, o melhor Caminho era o 3. Porém, a jovem pensou no Caminho 3 muito
mais como um Caminho de um grupo de voluntários(as) do que um grupo cultural. Para ela, a
idéia de grupo estava necessariamente vinculada ao voluntariado: “Para gente ter um grupo, a
gente tem que ser voluntário”.

43
O Caminho 2 apareceu no Diálogo puxado por uma das jovens. Mesmo assim, Ademar
argumentou a favor do Caminho 1: “Mesmo que a gente não goste, que é assunto chato, mas o
que resolve é o Caminho 1. É o governo que vai resolver isso aí. É preciso chegar lá pra
resolver isso aí. Conversar na Câmara... para ver se ajuda a gente”. O Caminho 1 foi
sintetizado como “o governo” e vários(as) jovens fizeram essa mesma interpretação. Nota-se
que esses(as) jovens não se vêem como agentes políticos(as); percebem o governo como o
único encarregado dessa empreitada, quem poderia de fato responder às demandas na
educação, trabalho, cultura e lazer.
Um dos jovens sugeriu a união entre os Caminhos. Lembrou a importância dos Grupos
se reunirem na tentativa de solucionar alguns problemas, e não só o governo. Ademar
concordou e disse que achava possível ser voluntário(a) e político(a) ao mesmo tempo. O
jovem colocou o voluntariado como um primeiro passo para se chegar à política, meio que ele
considerava mais eficaz. Ele disse: “Primeiro a gente tem que ser voluntário, conseguir atenção
das pessoas, e depois formar um grupo na comunidade”.
Renato esboçou no papel aquilo que ele chamou de “estratégias” para conseguir atingir
as semelhanças da manhã. A sua idéia era ser voluntário em um primeiro momento, reunir um
grupo na comunidade, procurar um(a) representante político(a) [vereador(a)] e levar até ele(a)
as questões da comunidade. Esse mesmo processo deveria ser feito em outras comunidades
e, a partir dos seus(suas) representantes na esfera pública, os problemas seriam “resolvidos”
pelo poder público, a partir da demanda de um grupo organizado na comunidade.
O Grupo concordou com a proposta e decidiu escrever o cartaz com o que o jovem já
havia escrito. Luanda ainda lembrou que preferia o Caminho 3, e Renato se manteve firme: “Tem
que ser política, minha filha, sem ela não tem jeito”. A jovem foi vencida pelo argumento e o
restante do Grupo escolheu o Caminho 1, com a elaboração de uma organização dos(as) jovens.

Para o Grupo, o ideal seria organizar uma ONG que se dispusesse a “participar em
busca de um interesse comum entre as sociedades”. Essa ONG foi considerada a ação ideal
para alcançar melhorias na educação, trabalho, cultura e lazer, pois sendo uma instituição
registrada, poderia transmitir uma imagem de maior confiança para os possíveis financiadores
e também para o poder público. A ONG também poderia contar com a ajuda do voluntariado,
pois estes também poderiam participar de forma significativa.
Observa-se que, apesar da ênfase recair na ONG como o Caminho 1, o Grupo
manifestou também a importância do Caminho 2, não rejeitando-o totalmente. Aliás, pela
proposta do Grupo, nota-se que a ONG se confunde com o voluntariado, e não é vista como
uma proposta de engajamento político.

GD4 – As definições da plenária

Os(as) jovens participantes desse quarto GD chegaram à seguinte síntese dos Caminhos:

• Trabalho voluntário (voluntariado);

• ausência do Caminho 3;

44
No debate, os(as) jovens, de uma maneira geral, tendiam a ver o Caminho 1 como “o
ideal”, mas também muito penoso. A opção pelo voluntariado não descartava a relação com
os(as) políticos(as), vistos(as) aqui como aqueles(as) que “ajudam” o grupo: “A gente vai se
apoiar nos políticos, que vai dar à gente uma força”.

Iniciada a problematização dos Caminhos, uma jovem se manifestou: “O (Caminho) 1 é


burocrático, é compromisso, entendeu? E não tem tempo para fazer tudo... E o 2 é mais fácil
porque a gente ajuda. Ajuda as pessoas que são próximas, entendeu?”. Essa jovem parece
dizer que o Caminho da participação política seria “o ideal” para enfrentar as demandas
colocadas, mas que ela se sente impotente para participar diretamente da política, um universo
distante e que demanda muito esforço. O Caminho do voluntariado, ao contrário, surge como
algo concreto e que pode ser vislumbrado no arco de suas ações.

Durante a discussão, os(as) jovens apontaram uma série de características das


pessoas que se dedicam ao voluntariado: não ter vergonha, conversar bastante, ter espírito de
liderança e gostar de desenvolver trabalhos comunitários. Um dos jovens retomou a questão
do tempo como uma característica importante desse Caminho, que facilita a adesão a ele. O
trabalho voluntário, como atividade individual, permite um maior controle sobre o tempo (“igual
se fosse final de semana”), o que não ocorre quando se envolve com instituições ou grupos
juvenis. Uma outra jovem apontou que o trabalho voluntário seria importante porque o governo
se omite. Parece que o voluntariado surge da solidariedade com aqueles que necessitam de
alguma forma de ajuda: “Se o governo não faz... A gente não pode ver as pessoas
necessitando da nossa ajuda e a gente não ajudar”. E completa: “Com as ONGs, a vida já tá
ruim. Sem elas, então, seria pior, porque tem gente que necessita delas”.

É importante ressaltar que o Grupo tende a confundir as ONGs com o trabalho


voluntário, embora eles pertençam a Caminhos diferentes. Alguns(mas) jovens apontaram
algumas dificuldades de se engajarem nas ONGs. Eles(as) ressaltaram que isso demanda
muito tempo para atuar e se reunir, além das dificuldades que uma ONG formada por jovens
teria de se fazer ouvir pelos(as) políticos(as).

Um dos jovens revela uma descrença em apresentar suas demandas aos(às)


políticos(as): “Eles vão iniciar o projeto junto com você, mas depois vão largar mão”. À essa
posição se contrapôs um jovem, defendendo a idéia de que deveriam se mobilizar para exigir
que os(as) políticos(as) façam o que “é dever deles e direito da gente”. Segundo ele, os(as)
jovens não podem ficar fazendo “o trabalho dos governantes”.

A partir desse momento, os(as) jovens se envolveram numa longa discussão acerca da
participação política delimitada à questão da eleição dos(as) políticos(as). Alguns(mas)
manifestaram a idéia de que os(as) jovens são culpados(as) pela eleição de maus(más)
políticos(as), pois votam sem consciência. Um jovem se contrapôs a essa posição, dizendo que
não se sente culpado, mas sim enganado: “Ele mostra lá pra gente o que eles têm pra fazer. A
gente vota nele. Só que aí ele engana a gente. Ou seja, a gente não é culpado”. Uma jovem

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concordou ao dizer que não se culpa, pois o poder corrompe as pessoas: “Por melhor que a
pessoa seja, quando ela tem poder demais, isso estraga ela”. Outra jovem defendeu que não
devíamos ter tanto rodízio entre os(as) políticos(as), pois “toda vez que trocar, ele vai querer se
levantar na vida”. E completou: “Deixa ele roubar, que na hora que ele cansar de roubar, ele vai
atender o pedido do povo”.

Os(as) jovens parecem revelar uma visão bastante distanciada quanto à participação
política, em geral vinculada ao voto, além de uma relação de dependência com os(as)
políticos(as). Um dos jovens manifestou que o único modo de chegar ao(à) prefeito(a) ou
ao(à) governador(a) é por meio do(a) vereador(a). Revela-se um sentimento de impotência
para controlar as ações dos(as) representantes eleitos(as). Parece haver uma redução da
ação política ao governo, na figura dos(as) políticos(as) [vereadores(as), prefeitos(as) e
governadores(as)].

Algumas ponderações foram feitas pelos(as) mediadores(as) no sentido de que os(as)


jovens explicitassem o que seria uma ação política, buscando ampliar a noção até então
restrita ao voto e à ação dos(as) políticos(as). Uma das jovens defendeu a proposta de que
professores(as) e alunos(as) deveriam fazer uma greve para reivindicar melhorias para as
escolas. Outra jovem relata seu conflito com o(a) professor(a) de Física de sua escola, o que
ocasionou a transferência do(a) professor(a) para outro período. Ela considerou isso uma ação
política. O debate se encerrou com a retomada do tema da eleição dos(as) políticos(as),
ressaltando que muitos(as) candidatos(as) são despreparados(as) (“sem instrução nenhuma”).

De uma maneira geral, os(as) jovens iniciaram o debate manifestando uma visão do
voluntariado como uma forma de participação com a qual mais se identificavam, pelo fato de
que nele vislumbravam reais possibilidades de ação. O universo da participação política é
identificado com os(as) políticos(as) e com a burocracia estatal, algo que demanda esforço e
tempo e que exige boas relações com o poder. Assim, embora reconhecendo que seria o
Caminho mais eficaz para o atendimento das demandas apontadas durante o período da
manhã, os(as) jovens manifestaram uma visão bastante restrita da ação política. É como se
dissessem: é algo para eles(as), não para nós.

GD5 – Jovens de 15 a 24 anos


Os grupos e suas escolhas
Grupo Vermelho – 4º Caminho: A união
O Grupo discutiu e decidiu que, para atingir as três áreas da educação, do trabalho e do lazer,
era necessário um engajamento político dos (as)jovens através da participação nos
partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais. Essa mesma participação seria efetivada
também com a realização de trabalhos voluntários e com a organização em grupos para
compartilhar idéias.
O Grupo também discutiu a estratégia de ação para alcançar tal Caminho. Essa foi
enfatizada em três aspectos: participação política e atuação na área artística e nos meios de

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comunicação (rádio, TV etc.). Apesar da junção dos três Caminhos, a proposta do Grupo se
manteve muito generalizada e não houve aprofundamento, durante a apresentação, sobre o
que significa o tipo de participação presente nos Caminhos apontados. A participação política
foi entendida por esse Grupo como a ação de se reunir para “procurar os(as) políticos(as)” e
para envolver a sociedade.

Grupo Amarelo – 4º Caminho: “Eu e meu grupo nos engajamos e temos nossa bandeira
de luta”

O Grupo se reuniu e cada Caminho Participativo foi lido novamente. No final da leitura, os(as)
jovens dialogaram e exemplificaram a respeito das características de cada um dos Caminhos.
Talita disse: “Eu faria o Caminho 2, pois ele permite a minha própria vontade, ninguém me
manda. Nós podemos ajudar as outras pessoas que precisam”. E ainda completou: “Mas
alguns abusam demais. Ficam montando em cima da gente”. Zeni se posicionou dizendo que
gostaria de participar de todas as três formas, porém não podia, pois não tinha tempo
disponível: “A gente tem muita coisa pra fazer. Eu ia pelo Caminho 1, não pelo partidos
políticos, mas mais pelos conselhos, ONGs, porque política também eu não gosto”. A política
foi identificada novamente como um jogo de interesses particulares e muito mais associada o
exercício institucionalizado da política vivido nos partidos, prefeituras, câmaras de vereadores,
do que com a vida política propriamente dita. Essa compreensão causou uma certa rejeição ou
ponderação excessiva dos(as) jovens em relação ao Caminho 1.
Eliomar contou uma ação solidária que exerceu, doando uma cesta de alimentos para
uma família necessitada. Nesse sentido, ele apontou a solidariedade como o caminho para
mudanças no contexto das desigualdades sociais. Talita disse: “Tem muita gente que tem
como dar as coisas e não dá” e Regiane completou “Mas você tá fazendo sua parte, se cada
um faz a sua parte melhora muito”. Os(as) jovens do Grupo concordaram com os argumentos
levantados e propuseram a existência de mais cooperação entre as pessoas e, principalmente,
entre os(as) jovens.
Regiane afirmou novamente que “Se todos os jovens se reunissem mesmo, mudava
algo. Mas a maioria quer drogas, são irresponsáveis, por isso ninguém quer dar emprego”. E
ela continuou dizendo da sua escolha sobre os Caminhos Participativos: “Eu posso seguir os
três. Já fui catequista, já fui coordenadora da igreja, da pastoral da juventude. O que eu
puder ajudar, eu ajudo!”.
Podemos observar, a partir da fala dessa jovem, a presença de um discurso que se apóia
numa interpretação que atribui ao(à) próprio(a) jovem a culpa pelos seus atos. É como se, apesar
de reconhecerem as dificuldades e desigualdades, ainda falassem de um(a) “jovem abstrato(a)”,
como se eles(as) não participassem dessa mesma categoria social e idade da vida.
O Caminho 3 foi percebido por uma das jovens como uma extensão do trabalho voluntário,
e a sua diferença em relação ao Caminho 2 foi interpretada como a possibilidade de ser realizado
em grupo. A jovem Talita foi categórica: “Sou contra o Caminho 1!”. Eliomar argumentou que “Tem
muita maneira de fazer política”, reclamou dos partidos políticos e das corrupções do mundo da

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política, mas a sua interpretação era mais aberta e ampliada, demonstrando a compreensão de que
a política não se restringe a sua forma institucionalizada de ser.
Eduardo afirmou que “No meu caso, eu já faço o Caminho 1, porque eu tô no
sindicato, tô pretendendo fazer o sindicato. E do Caminho 3 eu já faço parte”. Kesia inseriu
mais um posicionamento favorável pelo Caminho do voluntariado: “Eu ia pelo Caminho 2.
Você pode ajudar as pessoas de muitas maneiras, doando coisas não, porque não vai
adiantar, mas incentivando”.
Ao lembrar das propostas tiradas na plenária da manhã, Talita disse: “Mas segurança,
não tem como a gente resolver, porque é só a polícia mesmo. O Caminho 1, da política, pode ir
na segurança mais diretamente, mas os outros Caminhos não podem”. Os(as) jovens leram
novamente cada uma das propostas para educação, trabalho, cultura e lazer, fazendo uma
articulação entre as semelhanças da manhã e os Caminhos Participativos à tarde. Ao final,
concluíram que o Caminho 1 era o mais adequado para a solução dos problemas.
O Grupo realizou um diálogo maduro e concluiu que os melhores Caminhos para
alcance das propostas da manhã – apesar de nem todos se identificarem pessoalmente com
eles – seriam o 1 e o 3, a saber, a participação política e a inserção nos grupos culturais. Mas o
Caminho do voluntariado ainda foi bastante destacado, como forma mais concreta de ação
deles(as) próprios(as), dentro das suas limitações de tempo. No final, optaram pela escolha
dos Caminhos 1e 3, com ênfase na participação política.
Logo após, eles(as) retomaram os problemas que foram colocados na parte da manhã.
A questão da violência foi um tema retomado e os(as) jovens passaram a exemplificar várias
situações ocorridas na sua própria vivência, como assaltos, mortes, tráfego de drogas. Essa
realidade reforçou ainda mais a escolha pelo Caminho 1, permeada pela visão idílica de que o
Estado é o único responsável e o único que possui condições de resolver tudo isso.

GD5 – As definições da plenária


O quinto GD definiu como semelhanças os seguintes pontos:

• Integração de jovens com a política: correr atrás dos políticos;

• formação de grupos jovens para intervir na realidade e arrecadar fundos,


melhorias para a comunidade;

• fazer manifestações para melhorias na educação, saúde,


segurança etc.

É importante ressaltar que o Grupo assinalou como diferença o fato de “o jovem


participar da vida política como candidato”, manifestando já uma perspectiva quanto à sua
relação com o campo da ação política. Ainda no processo de construção das semelhanças,
uma jovem declarou que o seu Grupo defendia a idéia de mobilizar os(as) jovens, mas sem a
atuação direta em instituições políticas: “A gente não participa de partidos políticos, isso aí a
gente não concorda de forma alguma, a gente ia reunir para correr atrás da política, porque
infelizmente a gente depende deles pra muitas coisas”. Esse depoimento parece resumir uma

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posição comum entre os(as) jovens de encararem a participação política como algo para
outros(as) (“Não é da gente, é dos políticos, governos, vereadores”). Outro aspecto presente
nesse depoimento refere-se à tendência a reduzir a política ao engajamento em partidos e em
cargos públicos.

Um dos jovens se disse disposto a formar um grupo com pessoas do bairro para
atuar junto aos(às) moradores(as) de rua, o que remeteu ao trabalho voluntário em grupo.
Novos depoimentos reforçaram a opção pelo trabalho voluntário, individualmente ou a partir
da organização de agrupamentos. A preferência pelo trabalho voluntário parece estar
ancorada em um sentimento de impossibilidade de atuação política na perspectiva restrita
que manifestaram anteriormente. Assim uma das jovens disse: “O que eu poderia fazer
sozinha era, simplesmente, mobilizar as pessoas. (...) Se eu tivesse coragem, eu entraria na
política, mas eu não tenho. Lá no meu bairro eu sou muito conhecida. (...) Mas nem os
próprios jovens dão valor pra um outro”.

Outro jovem deu um exemplo de trabalho voluntário que desenvolveu conseguindo


algumas camisas para um time de futebol do seu bairro, em troca do compromisso em
conseguir votos para um(a) vereador(a). Havia, nesse caso, uma noção do voluntariado
associada a uma relação clientelista com a política.

Diante da tendência do Grupo em assumir o voluntariado, foram ponderados alguns


limites desse tipo de ação. Ressaltou-se que ela demandava dedicação. Além disso, atentou-
se para o fato de que o Estado poderia tender a transferir responsabilidades para a sociedade
civil. Mesmo diante das ponderações, alguns(mas) jovens mantiveram suas opiniões alegando
que “é uma oportunidade para ajudar as pessoas”. Outro participante, porém, defendeu a
participação dos(as) jovens na política, concorrendo a cargos eletivos: “Porque o pessoal critica
os políticos, por eles serem corruptos, eu também não gosto de político não. Exatamente por
isso que eu acho que os jovens tinham que se interessar, pra tirar aquele pessoal de lá”.

Outro jovem se manifesta defendendo a posição de que “nem todo político é


desonesto, tem muito político honesto”. Um outro participante chamou a atenção para o
fato de que as pessoas querem soluções imediatas para problemas muito complexos: “Não
é de hoje para amanhã que você vai mudar o mundo”. Uma jovem rebateu a crítica dizendo
que os(as) políticos(as) prometem, mas não cumprem. No entanto, ela concordou que
os(as) jovens devem participar, mostrando que são capazes e disputando o poder com
os(as) políticos(as) e adultos(as).

Assim, as últimas manifestações pareceram reforçar a adesão ao Caminho 1. No


entanto, podemos dizer que, de uma maneira geral, a ação política parece ser vista como algo
que diz respeito aos(às) outros(as). Ela está restrita à esfera do Estado, diante do qual se
acham impotentes e com a qual desenvolvem uma relação subordinada. Eles(as) se referem à
dimensão da participação política como “correr atrás dos políticos”, “pedir uma ajuda” etc.

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Justifica-se então a opção pelo voluntariado como aquela mais próxima de suas possibilidades
e que, em alguns casos, articula-se com essa visão acerca da política.

3.4 – As escolhas dos caminhos: análise das fichas pré e pós-Diálogo


A análise das escolhas assinaladas pelos(as) jovens nas fichas Pré e Pós-Diálogo levou em
consideração as tendências apresentadas por cada Grupo, comparando-se os Caminhos entre
si. Outra estratégia de análise foi observar a tendência geral de adesões ou resistências aos
diferentes Caminhos propostos aos(às) jovens, tomando-se em conta as variáveis sexo, idade,
escolaridade e trabalho. Para efeitos de análise, levamos em consideração uma variação de
0,5 pontos (as tabelas se encontram em anexo).

Quando analisamos os dados agregados de todos os GDs, não se observam variações


significativas que permitam detectar uma tendência geral entre os(as) jovens. Apenas entre
os(as) jovens que não trabalham há uma variação negativa de 0,5 pontos para o Caminho 3.

Caminho 1

Com relação ao primeiro Caminho, dois GDs (GD1 e GD3) não apresentaram alterações
significativas quanto às posições iniciais dos(as) jovens. Dois Grupos revelaram uma tendência
negativa: o GD4 (-0,6 para sexo, -0,5 para trabalho, -0,6 para faixa etária e entre -0,5 e -1,3
para escolaridade) e o GD5 (-0,6 para sexo, -0,7 para trabalho, -0,6 para faixa etária e de -0,5
a -2 pontos para os diferentes níveis de escolaridade).

Apenas o GD2 apresentou uma tendência clara de adesão ao Caminho 1, com uma
variação positiva em todos os quesitos. Os índices variaram de +0,8 (Caminho 1 e
escolaridade) a +1,2 pontos (Caminho 1 e sexo). Entre os homens, essa variação foi de + 1,8
ponto, enquanto para as mulheres correspondeu a + 0,6 ponto. Podemos com isso concluir que
os homens do GD2 estiveram mais propensos a validar o Caminho 1.

Quando comparamos os dados por faixa etária, percebemos uma tendência de maior
adesão ao Caminho 1 entre os(as) jovens de 15 a 17 anos (variação de +0,9 pontos), ao
contrário dos(as) jovens de 15 a 24 anos, que apresentaram uma variação negativa de 0,6
pontos. Os(as) jovens de 18 a 24 anos e com experiência prévia não apresentaram mudanças
significativas. Talvez isso explique porque o GD2 tenha se sobressaído, uma vez que esse
Grupo está na faixa de 15 a 17 anos.

É interessante observar que, na plenária da tarde do GD2, os(as) jovens elegeram


como semelhança o voluntariado. Ao analisarmos os relatórios dos subgrupos, no entanto,
parece haver uma tendência a valorizar mais o Caminho 1, com o argumento de que trata-se
da maneira mais eficiente para alcançar as demandas apontadas na parte da manhã. A
plenária da tarde pode ter fortalecido a adesão a esse Caminho, uma vez que a escolha inicial
pelo voluntariado passou a ser problematizada.

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Caminho 2

O Caminho 2 apresentou pouquíssima variação entre os diferentes GDs. Quando consideramos


a variável sexo, podemos dizer que há uma tendência geral a diminuir a adesão a esse Caminho,
mas não houve alteração significativa na pontuação que pudesse confirmar isso. Um destaque
pode ser feito para o caso dos homens do GD4, com uma variação positiva de 0,6 pontos.
Conforme relatada na síntese dos Caminhos do GD4, havia uma tendência entre os(as) jovens
de optarem pelo voluntariado, manifestando uma visão distanciada da ação direta na política.
Os(as) jovens desse GD tendiam a ver o Caminho 1 como o ideal, mas muito penoso.

Todos os Grupos, na contagem geral, não apresentaram grandes diferenças, com


exceção para o GD5 que caiu 0,7 pontos, com maior queda entre os homens (- 1,2).

O mesmo ocorreu para o quesito trabalho, com uma variação negativa de 0,7 pontos.
Para outras variáveis (faixa etária e escolaridade) não houve alterações significativas em
nenhum GD.

Apesar disso, verifica-se, pelos relatos do GD5, uma forte presença do voluntariado,
com o Grupo manifestando uma posição resistente ao engajamento político direto. Havia uma
visão de que o voluntariado era a forma mais concreta de atuação, uma vez que a política lhes
parecia algo distante, para a qual se achavam impotentes. Essa visão parece ter prevalecido.

Caminho 3

Considerando todos os GDs, não há alterações significativas entre a primeira e a segunda


pontuação dada pelos(as) jovens para o Caminho 3. Isso vale para os GDs 1 e 2. No entanto,
quando os dados dos outros GDs são analisados isoladamente, observa-se tendências
diferenciadas. No GD4, embora não apresente grandes variações, observa-se uma tendência
positiva, sobretudo entre os homens (+ 1,0). Também no item escolaridade, embora pequena,
a variação tende a ser positiva.

Por outro lado, os GDs 3 e 5 apresentaram uma tendência negativa quanto ao


Caminho 3. O GD3 apresentou tendência negativa para sexo (-0,5) e faixa etária (-0,5) e o GD5
para sexo (-0,7) e trabalho (-0,8).

No caso do GD3, uma possível explicação pode ser o fato de contar com jovens mais
velhos(as), com menor disponibilidade de tempo para participar de agrupamentos juvenis.
Reforça tal hipótese o fato de a grande maioria dos(as) participantes de GD5 (11 em 14) ter
mais de 18 anos. Por outro lado, quando analisamos a adesão ao Caminho 3 por faixa etária,
verificamos que todas as faixas tenderam a recuar na sua escolha, com uma variação maior
entre os(as) jovens de 18 a 24 anos (-0,5).

De fato, ao analisarmos os relatórios dos Grupos 3 e 5, verificamos que os(as) jovens


tendem a fazer referências aos outros Caminhos, sendo quase nula a citação do Caminho 3.
Quando a possibilidade de formar grupos juvenis é citada, como no GD5, ela aparece

51
vinculada à ação voluntária que ganha maior relevância (“formar um grupo com pessoas do
bairro para atuar junto aos moradores de rua”).

Um dado intrigante é que, apesar de haver uma pequena tendência dos jovens GD 4 a
marcarem positivamente esse caminho, um consenso na plenária da tarde desse GD foi
exatamente a sua ausência, conforme consta do flipchart elaborado com a síntese dos subgrupos.

3.5 – Tecendo comentários sobre os caminhos participativos

Inicialmente, é necessário discutir as articulações que os(as) jovens estabeleceram entre as


demandas levantadas na parte da manhã em relação à educação, trabalho e cultura/lazer, com
a escolha dos Caminhos Participativos na parte da tarde. No geral, podemos afirmar que não
houve uma relação direta. Foi necessária a retomada, pelos(as) bolsistas, em vários
momentos, das semelhanças destacadas pela manhã e o objetivo dos subgrupos, ou seja,
como alcançá-las. Essa foi uma tendência de todos os GDs, mesmo ocorrendo em níveis
variados. Podemos constatar essa mesma tendência nas plenárias da tarde. Também as
problematizações foram mais no sentido de discutir os prós e contras da participação em grupo
e individual dos(as) jovens a partir dos Caminhos escolhidos e a relação destes com a questão
da participação juvenil de um modo geral, e não tanto em relação às semelhanças da manhã.
Embora essa articulação tenha sido tentada não foi uma tarefa fácil, pois em todos os
GDs notamos certo descompasso entre a parte da manhã e da tarde, tanto no que se refere à
proposta quanto à compreensão do Grupo. A parte da manhã se apresentava mais ideal e
talvez com um nível de abstração e generalização muito intensas. Esse mesmo caráter
também se fez presente nos Caminhos apontados, dificultando assim as possíveis vinculações
com as demandas postas. Essa dificuldade pôde ser vista mesmo no GD1, composto de jovens
com histórico de participação.
As dificuldades,, tanto de compreensão quanto de materializar e aprofundar o debate
em torno da participação sociopolítica, pode ser atribuída a uma série de fatores. Um deles é
a própria educação escolar, que não fornece instrumentos básicos para a compreensão da
participação juvenil e muito menos oportuniza experiências que possibilitem a pratica e a
reflexão sobre os significados da inserção na vida política do país. Isso foi percebido em
todos os GDs.
Somado a isso, a vivência dos(as) jovens em um universo sociocultural das camadas
populares – a maioria dos 122 jovens com os(as) quais convivemos são das classes C/D e E –
também pode ter influenciado essa dificuldade de concretização das semelhanças da manhã e
escolha dos Caminhos Participativos à tarde pelos subgrupos. As sugestões dos(as) jovens
estavam coladas às suas precárias condições de existência e à ausência do Estado enquanto
formulador e mantenedor de políticas públicas que melhorem efetivamente as condições de
vida das camadas populares na cidade de Belo Horizonte e Região Metropolitana.

52
Além disso, houve, em todos os GDs, uma associação e, muitas vezes, uma visão
equivocada entre a participação política de um modo geral e a política partidária, em especifico. A
participação política, entendida como o Caminho 1, era vista da maneira mais tradicional possível,
limitada à atuação do Estado e dos governos. A tendência geral é do(a) jovem não se perceber
como sujeito de uma ação política, capaz de interferir de alguma forma nas instituições políticas,
dominadas que seriam pelo mundo adulto. Talvez por isso possamos ter constatado uma
recorrente rejeição à escolha do Caminho 1 e a sua diluição nos Caminhos 2 e 3.
Um outro aspecto recorrente foi a forma difusa em que apareceu o Caminho 3,
exatamente aquele que valorizava a cultura juvenil. Nos pareceu que a dimensão de Grupo
presente na vida dos(as) jovens foi interpretada como ação social e pratica coletiva, e não
necessariamente como uma inserção política e cultural diferenciada. Nos diferentes GDs,
houve jovens skatistas e participantes de grupos de capoeira, entre outros, mas estes(as) não
tiveram uma forte influência em relação à escolha dos Caminhos Participativos pelos
subgrupos. Pelo contrário, sua ação tendeu a ficar diluída no voluntariado.
Em relação ao voluntariado, podemos constatar que foi a escolha hegemônica. Quer
seja sozinho, quer seja mesclado com os Caminhos 1 e 3, o serviço voluntário se destacou.
Nesse ponto, podemos chamar a atenção para certa contradição em relação às semelhanças
apresentadas por todos os GDs na parte da manhã, como forma expressão do “Brasil que
queremos” e os Caminhos escolhidos para “chegar lá”. Na discussão da manhã, os(as) jovens
sugeriram que, na educação, no trabalho e na cultura/lazer, houvesse a ação conjunta dos(as)
jovens nas iniciativas em busca de alternativas de trabalho e uma forte intervenção estatal e
governamental na melhoria das escolas, na reciclagem dos(as) professores(as), na criação de
oportunidades de emprego para os(as) jovens, na articulação com as empresas para a oferta
de estágios e cursos profissionalizantes, na abertura de escolas nos finais de semana, na
construção de centros de cultura, na implementação de cotas para alunos(as) nas escolas
públicas e na garantia de policiamento com qualidade e maior segurança. Mas houve, na parte
da tarde, um sentimento geral de descrença de que tal situação se configurasse por meio da
ação governamental e estatal de fazer política, entendida pelos(as) jovens como o Caminho 1.
Nesse ponto, os(as) jovens buscavam como opção para o “como chegar lá” a ação voluntária,
de forma coletiva, acreditando que o esforço conjunto e coletivo pudesse fazer alguma
diferença. Parece haver um apelo a uma visão romântica e um tom moralista e cristão que
encontram assento no voluntariado: “ajudar ao outro incondicionalmente”, “fazer a sua parte e
juntar com a do outro”, “construir um país melhor”, “salvar os drogados e traficantes dando-lhes
oportunidade de trabalho” etc. Ao mesmo tempo, foi muito recorrente a justificativa da escolha
pelo voluntariado em função da disponibilidade do tempo, sendo o Caminho mais flexível, na
visão dos(as) jovens. Vários deles(as) expressaram também que o voluntariado possibilitava o
controle das ações, desde a escolha, o ritmo, os resultados e a sua possível continuidade,
diferente das ações institucionais, como os partidos, por exemplo, nas quais não se teria o
mínimo poder de decisão.

53
É interessante ponderar que a “crença” no voluntariado carrega um diferencial: a
articulação em grupo, um dos aspectos “pinçados” do Caminho 3 e que pode ser visto
pelos(as) jovens como uma alternativa para a juventude da periferia. Essa sugestão de uma
ação coletiva pode ser compreendida como expressão de práticas sociais e religiosas já
desenvolvidas por vários(as) deles(as), sobretudo, dentro do trabalho comunitário realizado
pelas igrejas (especialmente as evangélicas).
De alguma forma, podemos dizer que o(a) jovem “abstrato(a)” da parte da manhã,
citado nos depoimentos e retomado em vários momentos na plenária da tarde, se tornou, com
todos os limites, mais “concreto(a) e real” à tarde, na escolha dos Caminhos Participativos e na
justificativa dada para a mesma. Estas podem não ter sido as idealizadas, mas foram as
possíveis e reais, no contexto do Grupo de Diálogo.
Não se pode esquecer que a adesão e rejeição dos Caminhos Participativos pelos
diferentes subgrupos, à tarde, foi realizada dentro dos limites das condições de existência
dos(as) jovens integrantes, que são marcados(as) pela presença do desemprego, pela
gravidez na adolescência, pela constituição precoce de uma família, pela escolarização
precária, pela violência policial, pelo tráfico, pela falta de segurança, pelo limite do tempo
disponível, contraditoriamente mescladas com uma grande alegria e vontade de vencer,
expressa nos depoimentos e comportamentos dos(as) jovens. Sendo assim, os Caminhos
escolhidos à tarde foram os “possíveis” no contexto de vida e de entendimento dos(as) jovens
e da proposta metodológica do Grupo de Diálogo.

3.6 – O recado dos(as) jovens

No final de cada Grupo de Diálogo, os(as) jovens foram estimulados(as) a se manifestar sobre
o Dia e a formularem um recado para os(as) governantes (anexo – tabelas 4 e 5). Vários(as)
jovens apresentaram resistências a dar seu depoimento, sendo necessário incentivá-los(as) a
imaginar que tinham em sua frente o(a) prefeito(a) ou o(a) presidente da República.

Analisando os depoimentos, podemos constatar que a grande maioria dos(as) jovens


(36%) fez referências a alguns valores que devem guiar os(as) tomadores(as) de decisões
como responsabilidade, senso de justiça, seriedade, autenticidade e atenção aos(às) pobres.
É interessante observar que os(as) jovens não vincularam diretamente as demandas
discutidas durante o Dia com o tema de suas falas. Eles(as), em geral, manifestaram um tom
de indignação e de protesto com relação à atuação dos(as) governantes (“parar de falar o
que não podem cumprir”, “sair dos gabinetes e vivenciassem os problemas da população”,
“pára de ser ladrão”). Outras manifestações assumiam um lugar quase de submissão,
solicitando que os(as) políticos(as) dessem assistência à população mais pobre (“que eles
olhassem mais pra classe pobre”, “pra eles pensarem direitinho no que eles vão fazer,
porque se fizer coisa errada lá, não serão eles que vão sofrer, é a gente aqui do lado de cá
que sofre”, “ajudar aqueles que precisam”).

54
O segundo tema mais recorrente foi os(as) jovens como centro da preocupação
dos(as) governantes (17%). Os comentários não manifestaram, no entanto, posturas
reivindicativas, com poucos jovens exigindo a atenção dos governantes como um direito (“que
os políticos escutem mais a gente, prestem atenção nas nossas idéias, que nós também
somos gente” ou “que eles parassem de dizer que nós somos o futuro desse país, porque nós
somos o presente e a realidade desse país”). Em geral, houve uma posição subordinada (“que
a gente tá na mão deles, eles que decidem o que vai fazer com a gente” ou “olhar mais pra
gente, que ´tamos precisando”). Nesses depoimentos, podemos perceber a influência das
discussões ocorridas ao longo do Dia que, de alguma forma, foram incorporadas ao discurso
dos(as) jovens.

Outros temas estavam vinculados às questões debatidas durante o Dia – educação e


participação juvenil (4%), cultura/lazer (3,3%), emprego/trabalho e saúde (2,45%). Também
aqui podemos perceber elaborações dos(as) jovens a partir dos debates ocorridos ao longo do
Dia. Por último, temos um bloco formado por temas variados que foram indicados por
poucos(as) jovens: atenção às crianças, atenção aos(às) idosos(as), democracia,
preconceito/racismo, corrupção e renovação dos(as) políticos(as). Comparando a tabela dos
comentários iniciais com a dos comentários finais, podemos constatar que grande parte das
preocupações iniciais não foi retomada no final do Dia, nem mesmo as demandas da parte da
manhã ou aspectos dos Caminhos da parte da tarde. Ou seja, grande parte dos(as) jovens não
vinculou a mensagem aos(às) governantes com o conteúdo das discussões ao longo dos GDs.
Também podemos perceber que as diferenças dos depoimentos existentes entre os GDs
tendem a expressar a idiossincrasia dos(as) integrantes de cada um deles, não havendo, a
principio, uma relação mais estreita com algumas das variáveis como a idade, sexo ou
escolaridade, por exemplo.

Avaliação do dia
A segunda parte dos comentários finais dizia respeito a uma breve avaliação do Dia pelos(as)
participantes. Em geral, os(as) jovens valorizaram a oportunidade, dizendo-se satisfeitos(as)
por poderem desfrutar do espaço e da atenção dispensada a eles(as). Em sua maioria, as falas
se referem à oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (54%) como um espaço rico
de formação, no qual puderam confrontar opiniões, debater idéias e ter acesso a novas
informações.

Um segundo aspecto positivo para os(as) participantes foi a oportunidade de conhecer


novas pessoas (29%). Muitos(as) se referiram à oportunidade de fazer novas amizades, o clima
de confraternização e encontro proporcionado, e o fato de ter contato com pessoas da mesma
idade, discutindo temas do interesse dos(as) jovens.

55
Outras manifestações se referiam a diferentes aspectos como mudar de opinião, a
produção do Dia, conscientização do poder da juventude, despertou o desejo de participar
como voluntário e a atenção dispensada aos(às) jovens.

Apenas os(as) jovens do primeiro GD apresentaram críticas e sugestões que diziam


respeito ao pouco tempo dado para os trabalhos em Grupos e para as atividades em geral.
Eles(as) chamaram a atenção também para a possibilidade de promover novos encontros e
contemplar outras temáticas, como sexualidade e drogas.

Em geral, os depoimentos confirmam as impressões iniciais dos(as) bolsistas e


supervisores(as) de um clima muito favorável entre os(as) jovens com relação à participação no
Dia. Muitos(as) saíam agradecendo a oportunidade e reafirmando a disposição em reencontrar o
grupo. Chama a atenção a novidade que significou para os(as) jovens parar um dia para refletir.
Sentimos que, no geral, grande parte deles(as) nunca parou para pensar sobre a própria
realidade em que vive, mostrando-se pouco reflexivos(as), reproduzindo lugares-comuns. Ao
mesmo tempo, nos chamou a atenção a boa vontade de grande parte dos(as) jovens em
participar dos debates, mesmo que só nos pequenos Grupos. Essa realidade pode estar nos
mostrando a falta de instâncias e canais de participação nos quais esses(as) jovens possam
exercitar a dimensão do coletivo, seja em debates, seja em ações. Nesse sentido, é necessário
colocar em questão a qualidade da escola, em especial as publicas, tanto em termos de
conhecimento quanto na possibilidade de estar proporcionando experiências coletivas.

3. 7 – Juventude e participação

A partir da descrição e análise dos conteúdos dos cinco Grupos de Diálogo realizados, pelos
quais passaram 122 jovens das mais diferentes regiões e municípios da Região Metropolitana
de Belo Horizonte (RMBH), podemos nos perguntar: o que os(as) jovens estão nos dizendo em
relação às suas demandas e necessidades? Quais as perspectivas de participação que
eles(as) apontam? Numa síntese preliminar dos dados levantados neste relatório, buscaremos
refletir sobre dois eixos: as demandas dos(as) jovens e as perspectivas de participação.
É necessário reforçar os limites metodológicos da pesquisa, já discutido na primeira
parte deste relatório. Lembramos que não estamos analisando as concepções dos(as) jovens,
mas sim as suas concepções expressas em um contexto externo a eles(as), o Centro Cultural
da UFMG, em uma atividade proposta por nós, com compreensões diferenciadas por parte
deles(as). Além disso, são concepções que foram expressas numa situação de relação com a
equipe, seja nos pequenos Grupos ou na plenária. Enfim, queremos afirmar que não estamos
analisando as concepções dos(as) jovens, mas sim as concepções dos(as) jovens na relação
com a equipe de pesquisa.

56
3.7.1 – As demandas dos(as) jovens
Os 122 jovens participantes dos GDs espelham a realidade da juventude da RMBH. Em termos
de origem social, 84,4% deles(as) são oriundos(as) das camadas C/D e E, vivenciando uma
realidade de pobreza, comum à grande maioria da população juvenil da Região. Inseridos(as)
nessa realidade, a questão do trabalho significa não só a condição de sobrevivência como a
possibilidade da vivência juvenil (Carrochano, 2004). O trabalho e a renda que ele gera é
condição para grande parte desses(as) jovens ocuparem o tempo livre com um mínimo de
qualidade, freqüentar festas e shows ou até mesmo comprar roupas. Até mesmo para sair do
próprio bairro e terem acesso ao que a cidade pode oferecer, demanda um mínimo de
condições financeiras.
Mas esses(as) jovens se deparam com o contexto da reestruturação produtiva e com
opções da política econômica brasileira da ultima década, que tem gerado taxas de
desemprego crescentes, penalizando exatamente a faixa etária de 15 a 24 anos (Pochmann,
2000). Dos(as) participantes dos GDs, como vimos, 42,6% não trabalhavam. Não é de se
estranhar que a demanda comum a todos(as) seja pela qualificação profissional, articulada
com uma política de primeiro emprego:
Às vezes tem muitas vagas, quando a gente chega na empresa e você não tem
qualificação, você não tem oportunidade. Agora eu te pergunto: toda vez que você chega
numa empresa e ela te fecha as portas, como é que você vai conseguir experiência? Eu
acho que as empresas deviam dar mais oportunidade pra gente mostrar o trabalho. Dar um
estágio que te paga meio... eu te pago a metade do salário para você aprender e depois eu
te pago mais. Devia dar mais oportunidade pra gente aprender.

Apontam também a necessidade de uma adequação entre a qualificação profissional, o


primeiro emprego e a garantia da possibilidade de continuar os estudos, através de horários
mais flexíveis:
O governo oferecer cursos profissionalizantes, porque hoje em dia, as empresas, elas
pedem experiência, mas como que uma pessoa que nunca trabalhou vai ter experiência
pra trabalhar? O governo oferecer trabalho de aprendiz... e as empresas ter carga horária
menor para estudantes que trabalham, porque muitas pessoas pegam trabalho... serviço
cedo, aí saem do serviço e vão direto pro colégio, saem do colégio à noite e têm pouco
tempo pra poder descansar.

Uma outra demanda que merece destaque é a superação dos preconceitos,


principalmente aqueles ligados à questão racial:
É... a gente discutiu também, eu até esqueci de falar... que quando uma pessoa vai
procurar um emprego também tem muito preconceito. Se for uma loirinha e uma mulatinha,
com certeza, isso já aconteceu lá no meu bairro, eles dão preferência pra loira.

57
A essa realidade, em que predominam as formas frágeis e subalternas de inclusão no
mercado de trabalho, se alia uma escolarização precária. Como vimos anteriormente, um
índice significativo dos(as) jovens participantes (22,9%) estava estudando ou tinham concluído
no máximo o Ensino Fundamental, evidenciando uma realidade de defasagem série/idade.
Pelos dados da pesquisa quantitativa (DAYRELL, 2005), podemos constatar que apenas
45,2% estavam estudando no período da realização da pesquisa. A esses dados se acresce
aspectos da realidade escolar que dão uma referência da qualidade do ensino. Constatou-se
que apenas 41,1% das escolas ofereceram atividades de sociabilidade, como festas ou
excursões; e apenas 33,6% ofereceram atividades culturais, como teatro, dança ou música.
Significa dizer que praticamente 2/3 das escolas da RMBH não estimularam ou organizaram
ações culturais em 2004. Mesmo atividades de cunho informativo foram relativamente pouco
oferecidas pelas escolas, sejam públicas ou particulares. As atividades mais comuns foram os
filmes, presentes em 50,4% das escolas; seguidas por debates (46,9%); seminários (26,2%) e
finalmente a visita a museus e exposições (16,4%).
Temos, assim, dois desafios postos. De um lado, é alto o índice de exclusão escolar
entre os(as) jovens na RMBH, numa faixa etária em que deveriam estar prioritariamente
inseridos(as) em um processo de formação/educação. Por outro lado, além do acesso, é
necessário discutir a qualidade dos processos educativos oferecidos pela escola,
principalmente a pública. Os dados sugerem que as escolas, de maneira geral, se mostram
pouco abertas a desenvolver atividades que vão além da transmissão dos conteúdos formais.
Um número pouco expressivo de escolas cria espaços e situações que favoreçam a
experiência da solidariedade, o fortalecimento da sociabilidade, o acesso a atividades culturais
e, mesmo, o acesso ao conhecimento de forma mais participativa, como os debates e
seminários. Além disso, os(as) jovens na Região Metropolitana de Belo Horizonte praticamente
não freqüentam as escolas nos finais de semana. Dos(as) poucos(as) que o fazem (14,2%), a
maioria desenvolve atividades ligadas à sociabilidade e ao lazer, evidenciando o potencial que
a escola pode representar, com todos os limites e desafios a superar, principalmente nas
periferias, onde ela é uma das poucas instituições públicas existentes. O conjunto dos dados
sobre a realidade escolar nos mostra que a escola, principalmente a pública, não vem abrindo
espaços nem estimulando a criação de hábitos e valores básicos que poderiam contribuir para
a participação juvenil, fato que se torna mais complexo para os(as) jovens pobres, que
praticamente só possuem essa instituição para o acesso a esses bens simbólicos.
Nos diferentes Grupos de Diálogo, a precária escolarização da maioria dos(as)
jovens evidenciou-se nas dificuldades apresentadas por boa parte deles(as) em ler e
compreender os materiais utilizados, em participar dos subgrupos e plenárias, em se
expressar oralmente em público, em refletir sobre sua própria realidade para além do
senso comum. Eles(as) têm consciência e demandam uma escola de melhor qualidade.
Para eles(as), isso implica em professores(as) mais comprometidos(as) e qualificados(as),
tanto que essa foi a maior demanda:

58
... Os professores não ‘tão tendo qualificação pra ensinar os alunos. E a gente tá
saindo das escolas sem nenhuma preparação pra estar fazendo uma faculdade ou
qualquer outra coisa.

E percebem a necessidade da escola conhecer a realidade dos(as) alunos(as),


adequando-se à ela:
Rolar um trabalho pra capacitar os professores, pra saber com que tipo de aluno,
jovens, eles ‘tão lidando... assim. Pra saber porque aquele... pra saber porque que
aquele jovem tá indo pra escola ali, mas ele não tem aquele interesse em estar
prestando atenção na aula. E sabendo isso, tentar trabalhar em cima, pra poder...
ver se melhora. Em relação isso na educação, ai!

Nesse sentido, acentuam a importância das relações entre professores(as) e


alunos(as), em que estes(as) possam ser escutados(as), fazendo da escola um espaço de
reflexão sobre a vida:
E... a integração entre alunos e professores, não ficar só o professor dá aula e
aluno tem que escrever só, não! Uma recreação entre... vamos esquecer a aula
dez minutos e vamos conversar, que é que tá acontecendo na sua casa, que é que
vocês ‘tão pensando em fazer da vida...

Uma outra demanda significativa diz respeito às cotas nas universidades públicas:
A liberação das cotas pra alunos de escolas públicas nas faculdades.

Essa realidade é reforçada quando se constata que a freqüência a outros cursos, além
das aulas regulares, é uma realidade presente para um pouco mais da metade dos(as) jovens
(59%). Também aqui se percebe uma diferença significativa no acesso aos bens culturais:
quem menos participa de cursos extra-escolares são os(as) jovens das camadas sociais mais
baixas, negros(as), com baixo nível de escolaridade e que se encontram fora da escola,
exatamente aqueles(as) que deveriam ser priorizados(as).
O acesso à informação, principalmente por intermédio dos meios digitais, como o
computador e a internet, apresenta um recorte socioeconômico e racial. Têm computador
(42,2%) e acesso à internet (34,5%), majoritariamente, jovens brancos(as), oriundos(as) das
classes A e B, estudantes com maior grau de instrução e com trajetória na escola privada. Ao
mesmo tempo, verificou-se que os espaços públicos de acesso aos meios digitais, como
escolas ou telecentros, representam pouco diante da demanda existente ou são pouco
divulgados entre os(as) jovens que vivem em um contexto de total desconhecimento desses
serviços na esfera pública.
Não podemos esquecer também da dimensão da ocupação do tempo livre, da cultura e
do lazer, dimensão essa que é parte da identidade juvenil. A pesquisa Perfil da Juventude
Brasileira inquiriu os(as) jovens sobre as práticas culturais e de lazer a que tinham acesso.

59
Concluiu que os “contrastes socioeconômicos da sociedade brasileira se manifestam
eloqüentemente na desigualdade da qualidade do tempo livre juvenil e no precário acesso a
bens, serviços e espaços públicos de cultura e lazer da maioria da população juvenil” (Brenner,
2005). Essa constatação é mais séria quando levamos em conta que o tempo livre não é
espaço apenas para atividades de lazer, cultura desinteressada e entretenimento. É também
momento de construção de relações sociais com múltiplas mediações e interesses em jogo,
desde os mais orientados para a satisfação de necessidades pessoais objetivas até aquelas
voltadas para o estabelecimento de vínculos sociais, afetivos e espirituais, mais ou menos
desinteressados. Não é de se estranhar que os(as) jovens nos GDs demandaram a criação de
mais áreas de lazer, principalmente nas periferias:
Eu acho que todos os bairros têm que ter uma área de lazer, uma quadra, qualquer
coisa, nem que seja um parquinho pra você brincar e tudo, porque, olha, pra você
ver, pensa bem comigo, essas crianças mais novas de sete a sei lá, doze anos, por
exemplo, elas saem da escola e o que é que eles vão? Vão pra rua, não tem onde,
lugar pra brincar, não tem nada, o que é que elas vão fazer? Vão, né? Fazer coisas
erradas, igual a menina ali falou, então eu acho que teria que ter mais área de
lazer em relação a isso.

Diante da falta de equipamentos públicos, a escola passa a ser pensada como um


centro cultural:
Eu acho que a escola, no final de semana, deveria ser aberta à comunidade, igual
ele falou, com coisa de lazer lá dentro, atividades. Eu acho que ela devia ser
aberta à comunidade, com certeza, com segurança, né? A comunidade ia
participar mais da escola também, ia ver como é que é, ia gostar mais. E eu acho
que seria bom.

Outra demanda é por políticas públicas que garantam eventos culturais gratuitos e
também a sua divulgação:
É, em matéria de cultura é... poderia estar tendo mais incentivo, mais
investimento, mais divulgação, né? Das coisas... Por exemplo, igual aqui mesmo,
tem várias atividades culturais, mais ninguém ainda não sabia. Muita gente ainda
não sabe, poderia estar havendo mais divulgação. E também poderia estar sendo
formado na própria comunidade...

Essas constatações apontam que boa parte dos(as) jovens participantes dos GDs não
tem acesso à escola nem a cursos extra-escolares. Já aqueles(as) que estudam, apresentam
uma grande demanda e expectativa em relação à escola: como espaço de lazer, de formação
profissional, de acesso cultural e de educação mais geral. Para esse grupo, a escola aparece
como o grande (ou único) espaço público de acesso aos bens simbólicos. Ao mesmo tempo,
criticam a escola que freqüentam, principalmente a relação com os(as) professores(as),

60
enfatizando a falta de preparo dos(as) mesmos(as), a desmotivação e falta de paciência para
com os(as) alunos(as). Parecem apontar que um dos problemas situa-se exatamente nas
relações no interior da escola, o que vem confirmar a tensão existente entre professores(as) e
alunos(as) como um dos principais problemas da escola pública, fenômeno confirmado em
pesquisas e nos contatos com professores(as). Os(as) alunos(as) criticam também o fato da
escola não desenvolver processos educativos que favoreçam posturas e valores que
estimulem o associativismo.
Esses(as) mesmos(as) jovens também têm pouco acesso aos meios digitais e também
à prática de leitura de livros, evidenciando uma incipiente cultura literária. Não se pode
estranhar, assim, o baixo nível de informação demonstrado pela maioria dos(as) jovens
participantes dos GDs. Podemos afirmar que a grande parte desses(as) jovens não está tendo
acesso a experiências e situações que possibilitem a ampliação do universo sociocultural de
origem, vivenciam um contexto que só agrava as inseguranças em relação ao presente e as
incertezas quanto à vida, num contexto que tende a reproduzir a desigualdade social.

3.7.2 – As perspectivas de participação sociopolítica


A grande parte dos(as) jovens participantes dos Grupos de Diálogo afirmou não possuir
experiências de participação em alguma instância coletiva, seja ela qual for. Essa realidade
reflete os índices existentes na RMBH. A pesquisa quantitativa constatou que apenas 20,7%
dos(as) jovens afirmaram participar de algum grupo. Destes(as), a maioria encontra-se em
grupos que desenvolvem atividades religiosas (43,5%), seguidos(as) por aqueles(as) que
desenvolvem atividades culturais (27,1%). Os grupos que desenvolvem atividades esportivas
aglutinam 26,6% dos(as) jovens, atividades estudantis (12,6%) e os grupos envolvidos na
melhoria das condições de vida no bairro (7,7%). A partir daí, os índices caem de forma
significativa: 4,3% desenvolvem atividades de comunicação; 3,9%, atividades político-
partidárias ou estudantis; 3,4%, de meio ambiente e ecologia; e, por último, 0,5%, trabalhos
voluntários. Chama a atenção a adesão dos(as) jovens às diferentes denominações religiosas,
o que evidencia a influência que as igrejas continuam a exercer sobre os(as) jovens, colocando
em questão uma pretensa secularização das novas gerações. Ao mesmo tempo, fica muito
evidente a presença marcante das atividades de lazer e cultura que, somadas, atingem mais
da metade dos(as) jovens, apontando para a centralidade delas na vivência juvenil, já
constatada em pesquisas anteriores.7 Como contraponto, é inexpressiva a participação juvenil
nas atividades político-partidárias e estudantis, indicando um esvaziamento das instâncias
clássicas de participação.
Ao analisar esses dados, tem-se de fazer um esforço para superar juízos de valor em
torno do quanto deveria ser essa participação, que quase sempre cai em conclusões
pessimistas em relação à juventude. Ou mesmo superar as idealizações do passado, como

7. Na pesquisa Perfil da Juventude Brasileira (Abramo, 2005), mais da metade dos(as) que dizem
participar de algum grupo está inserida em grupos culturais.

61
aquelas que transformaram a juventude de 1968 em um modelo simbólico. A questão é que
são muito poucos os dados sobre a participação juvenil nas décadas passadas, ficando muito
complexa qualquer comparação: não se pode afirmar que a juventude contemporânea participa
menos ou mais do que as anteriores.
Da mesma forma, são muito poucos os dados sobre a participação sociopolítica do
conjunto da população, ficando difícil comparar se a juventude é o único segmento que não
apresenta maiores índices de participação ou se essa realidade é do conjunto da população.
Considerando os dados de Ribeiro e Santos8, infere-se que os índices de participação da
juventude não diferem muito do conjunto da população, constatando-se, até mesmo, o baixo
nível de envolvimento com os partidos políticos e sindicatos. E mais: quanto maiores os níveis
de instrução e de rendimento, maiores as possibilidades de associação, coincidindo com o
perfil encontrado na pesquisa quantitativa do(a) jovem que mais participa.
Mas diante da realidade da grande maioria da juventude na RMBH, podemos inferir
que uma das causas que explicam os baixos índices de participação social e política dos(as)
jovens é o contexto socioeconômico vivenciado pela maioria deles(as), que não estimula a
esperança e a crença na ação coletiva como capaz de interferir de algum modo na sua
realidade, nem mesmo no lazer. Esse contexto também não oferece os meios para a criação
de hábitos e valores favoráveis à participação, nem mesmo para o seu exercício e conseqüente
aprendizagem. Por isso a democracia política é muito difícil de efetivar-se sem um mínimo de
igualdade econômica substantiva.
Uma segunda hipótese que os dados possibilitam levantar diz respeito às condições
que o(a) jovem encontra para viabilizar a sua participação. Um dos motivos possíveis da
pouca participação social da juventude pode ser creditado à falta de espaços e de situações
que os(as) jovens da Região Metropolitana de Belo Horizonte encontram para o exercício e
aprendizagem da vida coletiva e da participação social, experimentação essa que poderia
levá-los(as) a acreditar nos possíveis resultados de uma ação coletiva e na força da união,
por exemplo.
A escola, como se afirmou anteriormente, é um dos espaços privilegiados para esse
processo de aprendizagem. Mas nos GDs, chamou-nos a atenção o fato de os(as) jovens, com
pouquíssimas exceções, não referirem às organizações estudantis, nem mesmo apresentarem
demandas ou propostas relacionadas à participação estudantil. Parece que os(as) jovens,
principalmente aqueles(as) que ainda estudam, não articulam uma identidade como
estudantes. Essas evidências são reforçadas pela pesquisa quantitativa, que constatou que
mais da metade dos(as) estudantes desconhece a existência de grêmio estudantil, de
representação de classe, de conselho de classe e de conselho de escola, e menos de 1/5
participa dessas instâncias.
Significa dizer que a escola, tanto a pública quanto a privada, não tem priorizado a
questão da participação como uma dimensão importante do processo educativo vivenciado

8. Citado em IBASE, 2004.

62
pelos(as) jovens, e, o que é mais sério, nem mesmo os(as) tem informado a respeito da
existência dessas instâncias. Uma resposta fácil diante desses dados é atribuir o problema
ao(à) jovem aluno(a), considerando-o(a) desinteressado(a) ou apático(a). Mas a pesquisa
evidencia que, quando a escola oferece atividades diferenciadas, o(a) aluno(a) se envolve. Na
metade das escolas que oferecem as atividades mencionadas anteriormente, há uma
participação significativa de mais de 60% dos(as) alunos(as). Nos GDs, era perceptível o
desejo dos(as) jovens em participar dos debates e nas avaliações finais. Foi expressivo o
número dos(as) que manifestaram vontade de continuar a discussão e também de inserir-se
em algum coletivo.
Essa realidade da escola pode ser transposta para grande parte das instituições
clássicas, como os partidos e os sindicatos. No geral, podemos afirmar que não existe uma
política de estimulo à participação juvenil através da criação de mecanismos próprios que
possam tanto estimular como facilitar essa participação. As organizações juvenis partidárias
existentes, por exemplo, tendem a não criar uma linguagem, nem mesmo atividades que
aproximem do perfil do(a) jovem, reproduzindo as mesmas práticas e vícios das organizações
partidárias adultas. A mesma situação vem ocorrendo com as coordenadorias ou secretarias
de juventude criadas por inúmeras prefeituras da Região. Até então não tem sido perceptível
qualquer movimento que venha de encontro às demandas juvenis por espaços participativos.
Parece existir uma falta de sensibilidade do mundo adulto e suas instituições em perceber essa
realidade e criar espaços institucionais, além da escola, que estimulem a participação dos(as)
jovens e o desenvolvimento de valores democráticos.
É nesse contexto que devemos analisar o posicionamento dos(as) jovens diante das
três opções dadas de Caminhos Participativos, buscando entender quais as perspectivas de
participação que apontam.

Caminho 1 – Foi o Caminho que recebeu a menor adesão nos cinco GDs, mas, na
discussão nos subgrupos e nas plenárias, todos(as) reconheciam a sua importância, afirmando
a importância do governo para a implementação das suas demandas. É importante assinalar
que os(as) jovens tenderam a compreender a participação política expressa no Caminho 1
como a ação institucional do governo, e não com uma atuação dos(as) jovens em outras
articulações, como movimento estudantil, grêmios etc. Temos como hipótese que o pouco
conhecimento dos(as) jovens sobre o que vem a ser a “vida política” e a sua pouca inserção
em ações políticas juvenis possa ser um dos motivos dessa leitura restrita do Caminho 1.
Parece-nos também que os(as) jovens indicam que o Caminho da participação política
mais organizada pertence ao mundo adulto, e mais ainda, a um determinado tipo de
engajamento político mais tradicional: os partidos, a representação na Câmara dos
Vereadores, entre outros. Talvez seja a essa dimensão dessa forma “tradicional” de política
que a realidade juvenil consiga chegar: ao(à) vereador(a) eleito(a) no bairro, ao(à) vereador(a)
que paga algum dinheiro para a contribuição na campanha política. Ou seja, a uma ação
reivindicativa junto às instituições constituídas, como a Câmara Municipal e seus(suas)

63
vereadores(as), ou mesmo a prefeitura. Podemos inferir que os(as) jovens não se percebem
como atores, sujeitos de uma ação que possa interferir na realidade e nas instituições.
Nesse sentido, a rejeição ao Caminho 1 parece demonstrar uma certa descrença nas
formas de engajamento político mais tradicionais e também a falta de conhecimento sobre a
vida política mais abrangente e a pouca experiência dos(as) jovens em ações como essas.
Mas também nos alerta para uma visão muito restrita das possibilidades de intervenção na
realidade como atores, sujeitos e cidadãos(ãs).

Caminho 2 – Podemos afirmar que foi o Caminho que teve maior adesão, seja sozinho,
seja mesclado com os outros Caminhos. No item anterior fizemos algumas considerações em
torno dessa escolha dos(as) jovens. Pontuamos ali que os(as) jovens viram nas ações
voluntárias, mas realizadas de forma coletiva, o Caminho possível de atingir as demandas
propostas. Ficou claro nos debates que eles(as) têm consciência dos limites desse tipo de
envolvimento participativo, mas admitem que “já é alguma coisa”. Nas argumentações também
ficou perceptível que esse Caminho era o mais flexível em relação à disponibilidade de tempo e
do grau de envolvimento, possibilitando níveis diferenciados de adesão. Um outro aspecto é o
fato desse tipo de ação possibilitar resultados mais imediatos e visíveis, além de ser o que
parece possibilitar um maior controle das ações, muito diferente de um partido político, por
exemplo. Como entender essa posição?
Não temos a pretensão de esgotar a análise, apenas apontar algumas inferências
possíveis. A ênfase no voluntariado pode estar expressando a falta de canais de participação,
fato que não possibilita o estímulo, muito menos a experimentação de formas diferenciadas de
participação social, o que leva a um descrédito da efetividade das ações coletivas.
Podemos também ver nessa escolha dos(as) jovens um traço da cultura brasileira, que
tem como um dos seus valores a solidariedade. Mas no contexto histórico de uma sociedade
marcada pela desigualdade socioracial e pela hierarquização das relações, a prática da
solidariedade tende a assumir um padrão assistencialista, presente transversalmente em todas
as camadas sociais, e reforçada pelas práticas religiosas institucionais. Assim, as ações
voluntárias, como expressão cultural, passam a ser naturalizadas, uma conseqüência natural
das “boas intenções” dos(as) jovens.
Finalmente, essa adesão pode ser creditada à forma como a juventude contemporânea
vem lidando com as dimensões do tempo. Algumas pesquisas evidenciam que a participação
juvenil tem se caracterizado pela fluidez, pelo nomadismo e pela intermitência, além de
sinalizar para formas de agregação pontuais, com objetivos determinados e no presente. Essas
características têm relação com as transformações mais amplas introduzidas no contexto das
sociedades complexas, como a velocidade das transformações tecnológicas, que ampliam as
incertezas características desse nosso tempo. Segundo Leccardi (1991), diante dessas
incertezas, a busca de sentido é transferida para o presente, num eixo temporal curto que
tornaria possível seu controle. Assim, o presente de hoje não é mais só a ocasião e o lugar,
quando e onde se formulam as questões às quais se responde interrogando o passado e o

64
futuro, mas também é a única dimensão do tempo que é vivida se maiores incômodos e sobre
a qual é possível concentrar a atenção. Assim, o voluntariado como uma ação que tem algum
resultado imediato e visível e, até certo ponto, passível de controle, pode estar expressando o
tempo e ritmo da juventude contemporânea.
Um outro exemplo dessa realidade juvenil pode ser visto na pesquisa quantitativa
(DAYRELL, 2005), no quesito da participação comunitária. O índice de jovens que afirmam
participar de algum grupo ou associação é pequeno (7,7%), mas quanto à participação em
algum movimento ou mobilização para alguma melhoria no bairro, esse índice sobe para
19,9%, o que pode reforçar a idéia de que os(as) jovens se dispõem a participar de contextos e
situações mais concretas, que dêem retorno imediato.

Caminho 3 – No geral, podemos afirmar que o Caminho 3 foi a segunda maior adesão
dos(as) jovens. Mas apareceu de forma difusa, na maioria das vezes diluído no Caminho 2. A
ênfase dada foi ao grupo, ao coletivo, e não tanto à linguagem cultural. Pareceu-nos que a
dimensão de grupo presente na vida dos(as) jovens foi interpretada como ação social e prática
coletiva, e não necessariamente como uma inserção política e cultural diferenciada. Parece
que eles(as) não percebem a dimensão política presente na ação cultural.
Uma explicação possível pode ser creditada à pouca abrangência dos grupos
culturais na RMBH. Como analisamos anteriormente, 20,7% dos(as) jovens desenvolvem
alguma atividade coletiva; destes(as) apenas 27,1% estão envolvidos(as) em atividades
culturais das mais diversas, como música, dança ou teatro. Ao mesmo tempo, grande parte
desses(as) jovens, como vimos, não tem acesso aos bens culturais e simbólicos, além de
apresentar dificuldades em circular pela cidade, fatores que limitam o conhecimento e a
adesão a grupos culturais.
Nessa análise inicial dos Grupos de Diálogo, podemos constatar a riqueza dos dados
existentes que ainda demandam um esforço de adensamento teórico que possibilite
compreender melhor o posicionamento dos(as) jovens diante da realidade nacional e as
perspectivas que apontam para uma inserção ativa na vida social e política do país. Podemos
afirmar que ainda conhecemos pouco esse(a) jovem que participou dos GDs, o(a) cidadão(ã)
comum, integrante daquela maioria que não participa de projetos de qualquer natureza, que
praticamente não é contemplado(a) por nenhuma política pública, a não ser a escola. E
voltamos a insistir no aparentemente óbvio: a escola é uma das poucas instituições públicas
que atingem de forma mais universal a juventude brasileira. Daí a importância de uma
mobilização em torno da valorização da escola pública, de um maior investimento de políticas
públicas educacionais, da reivindicação de uma Pedagogia da Juventude , um projeto político-
pedagógico que tenha como centro o(a) jovem, suas demandas e necessidades.

65
4 – Bibliografia

ABRAMO, Helena & BRANCO, Pedro Paulo Martoni. Retratos da Juventude Brasileira: análises
de uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo. 2005

BENDIT, René. Participación social y política de los jóvenes en países de la Unión Europea. In:
BALARDINI, Sergio (Comp.). La participación social y política de los jóvenes en el
horizonte del nuevo siglo. Buenos Aires: CLACSO, 2000. p. 19-58.

BRENNER, Ana Karina; CARRANO, Paulo; DAYRELL, Juarez. Juventude brasileira: culturas
do lazer e do tempo livre dos jovens brasileiros. In: ABRAMO, Helena & BRANCO, Pedro
Paulo Martoni. Retratos da Juventude Brasileira: análises de uma pesquisa nacional.
São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo. 2005
CARRANO, Paulo. Os jovens e a cidade. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
CARROCHANO, Maria Carla. Jovens operários e operárias: experiência fabril e sentidos do
trabalho. In: Perspectiva. Revista do Centro de Ciências da Educação. Florianópolis. Vol
22, no. 2, julho-dezembro 2004
DAYRELL, Juarez. Relatório Preliminar da Pesquisa Quantitativa: Juventude Brasileira e
Democracia. 2005. mimeo.
___________. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo
Horizonte: Editora da UFMG. 2005
IBASE. Juventude brasileira e democracia: participação, esferas e políticas públicas. Marco
Zero, jul. 2004. Mimeo.
LECCARDI, Carmem. Orizzonte del tempo: esperienza del tempo e mutamento sociale. Milano:
Franco Angeli, 1991.

POCHMANN, Marcio. Emprego e desemprego juvenil no Brasil: as transformações nos anos


1990. In: FÁVERO, Osmar; CARRANO, Paulo; RUMMERT, Sonia M. (org.). Juventude,
educação e sociedade. Movimento: revista da Faculdade de Educação da Universidade
Federal Fluminense. Rio de Janeiro, no. 1, p. 52-72, .maio, 2000,

SPOSITO, Marilia. Algumas hipóteses sobre as relações entre movimentos sociais, juventude e
educação. Revista Brasileira de Educação, ANPED, no. 13, 2000.

66
5 – Anexos

Prezado (a)______________________

Esta carta é um convite para você participar de uma conversa com outros(as) jovens. Trata-se de
um dia inteiro de bate-papo em que queremos ouvir a sua opinião sobre os problemas que a juventude
enfrenta em seu dia-a-dia e as formas através das quais os(as) jovens poderiam estar participando para
ajudar a resolver esses problemas. Essa conversa faz parte de uma pesquisa nacional e está
acontecendo em outras oito regiões brasileiras. A coordenação é feita pelo Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas (Ibase) e pelo Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais
(Pólis) – com a ajuda de uma rede de instituições em oito Regiões Metropolitanas do país. Aqui na Região
de Belo Horizonte, a instituição responsável é o Observatório da Juventude da UFMG.
A primeira fase dessa pesquisa aconteceu entre os meses de outubro e de dezembro de
2004, e você deu a sua contribuição respondendo a um questionário sobre juventude e participação,
quando foi abordado próximo a sua casa, lembra? Você vai ter mais uma oportunidade de participar,
dessa vez conversando com outros(as) jovens sobre a realidade da juventude no Brasil e as coisas que
precisam acontecer para termos um Brasil melhor. Entre os(as) que responderam ao questionário da 1ª
fase da pesquisa, escolhemos ao acaso alguns(mas) jovens para participar desse diálogo.
Estamos convidando você para participar do encontro que se realizará no dia 2 de abril,
sábado, das 8 às 18 horas, no CENTRO CULTURAL DA UFMG, na Av. Santos Dumont, 174 (esquina
com a rua da Bahia, em frente à Praça da Estação). Nesse dia, estaremos oferecendo café da manhã,
almoço e um lanche à tarde, além de 50 reais para o transporte e em compensação das horas que você
estará dedicando ao encontro. Para que todos(as) possam participar igualmente, avisamos que não será
permitida a participação daqueles(as) que chegarem após às 9:00 horas
Junto com essa carta, você está recebendo uma agenda resumida do nosso Dia de
Diálogo. Além disso, se você ou seus responsáveis quiser(em) mais informações sobre as organizações
responsáveis pela iniciativa, sobre a pesquisa ou sobre o Dia de Diálogo, basta entrar em contato com
Ângela, na Faculdade de Educação da UFMG, no Campus da Pampulha, sala 1556, telefone 3499-5304,
ou com o Prof. Juarez Dayrell, no celular 9967-2954 (pode ligar a cobrar sem o menor problema)
Ficaremos muito felizes se você puder participar dessa conversa entre jovens sobre a
sua realidade e os caminhos para melhorar a vida da juventude no país.

Aguardamos você lá!


Um abraço,

------------------------------------------------
Prof. Juarez Dayrell
Supervisor Regional da Pesquisa em Belo Horizonte

67
Tabela 1 – Síntese dos Comentários Iniciais

Grupo
Comentários Grupo Grupo 1º Grupo 2º Grupo
de Diálogo
Iniciais de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Experiência
(temas questões) 15-18 18-24 15-24 15-24
Participativa
(16/04/05) (2304/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
Violência/Segurança 6 15 15 15 10
Violência
1 -- -- -- --
contra a mulher
Emprego
/Trabalho/Falta 10 11 12 1 5
de oportunidade
Desigualdade social 6 2 8 2 1
Educação 5 2 8 2 --
Acesso
2 -- 1 -- --
ao Ensino Superior
Fome/Miséria 2 -- 1 1 2
Corrupção/Maus
(más) políticos(as)/ 4 1 4 -- --
governantes
Saúde 4 -- 1 1 --
Desinformação
3 -- -- -- 1
das pessoas
Cultura 1 -- -- -- --
Drogas 2 -- -- 1 1
Meio ambiente 1 -- 1 -- --
Falta de
-- 1 -- 1 --
solidariedade
Situação financeira
-- 1 -- 1 --
do país/Juros
Preconceito -- 1 4 -- --
Desigualdade racial -- -- 1 -- --
Menores
-- -- 1 -- --
abandonados(as)
Construção
-- -- -- 1 --
de novos presídios
Juventude/jovens -- -- 1 -- 1

68
Tabela 2 – Comentários Iniciais por GD
GD1

Comentários Iniciais
Grupo de Diálogo 1 – Experiência Participativa (02/04/05)
(temas/questões)

Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens


Questões que abordam esse tema/questão
“É essa matança que tá aí, né?, no Brasil”
Violência/ Segurança
“A violência e a desigualdade social”
Violência
“A violência contra a mulher”
contra a mulher
“A falta de oportunidade que o jovem não tem. (...) As empresa
não dão oportunidade pra aprender, pra ensinar.”
“A falta de emprego”
Emprego/Trabalho/ “A falta de oportunidade que quase ninguém tem, ainda mais
Falta de oportunidade de... quem tem a classe..., quem vem da classe mais baixa.
Geralmente eles não dão assim, outras oportunidades.”
“Drogas, violência, desemprego em geral. A falta de
oportunidade.”
“O que mais me preocupo no Brasil é a desigualdade social.
Com certeza! É o fator mais... que nos preocupa a todos, eu
Desigualdade social creio que a mim e a todos que aqui estão.”
“E o que mais me preocupa no Brasil é o desemprego, a
desigualdade social e a saúde.”
“Falta de alfabetização, juvenil também. Para todos.”
Educação “O precário investimento na educação e a sua expansão em
gera.”

Acesso ao Ensino “A minha entrada na faculdade”


Superior “Aquela dificuldade de entrar na faculdade”
Fome/miséria “A fome”
“A corrupção e os maus políticos”
Corrupção/Maus(más)
políticos(as)/ “A negligência das autoridades”
governantes
“Desonestidade”
Saúde “A saúde e a educação”
“A falta de informação, educação, e eu acho que isso envolve
Desinformação das quase todos os problemas do Brasil.”
pessoas
“A desinformação social”
Cultura “A cultura e a educação”
Drogas “Esse crescimento na juventude com dependências químicas”
Meio ambiente “Algo que vai ser futuro que é a guerra atrás da nossa água.”

69
Tabela 2 – Comentários Iniciais
GD2

Comentários Iniciais
Grupo de Diálogo 2 – 15-17 anos (16/04/05)
(temas/questões)

Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens


Questões que abordam esse tema/questão
Violência/Segurança “A violência”
Emprego/Trabalho/
“O desemprego e a falta de oportunidade”
Falta de oportunidade
Desigualdade social “A desigualdade social”
“O Caminho da educação, que ela tá enfraquecendo muito na
Educação escola municipal, estadual, escola pública.”
“A educação nas escolas e principalmente periferias.”
Corrupção/maus(más)
políticos(as)/ “O que mais me preocupa no Brasil são os governantes.”
governantes
Falta de solidariedade “Falta de solidariedade nas pessoas”
Situação financeira do
“É a situação financeira do país”
país/Juros
Preconceito “O preconceito”

70
Tabela 2 – Comentários Iniciais
GD3

Comentários Iniciais
Grupo de Diálogo 3 – 18-24 anos (23/04/05)
(temas/questões)

Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens


Questões que abordam esse/a tema/ questão

“A violência”

Violência/Segurança “O que mais me preocupa é a criminalidade. O que eu acho que


gera isso é a falta de empregos. Se tivesse mais emprego, com
certeza os jovens hoje estariam mais ocupados, e não teria isso.”
“Falta de oportunidade para nós, jovens”
“A falta de oportunidade, falta de emprego”
“A falta de oportunidade que o jovem tem ao mercado de trabalho.
Emprego/Trabalho/ Porque os empresários geralmente procuram uma pessoa que já
Falta de oportunidade tem experiência área e não tem muito trabalho pra poder colocar
jovem no mercado de trabalho, já que ele não tem experiência.”
“A falta de estudo e trabalho pra todos, né? Todo mundo precisa
trabalhar pra estudar também.”
“A diferença social”
Desigualdade social
“A má distribuição de renda”
“Os estudos”
Educação “O acesso a educação”
“Educação no Brasil que está cada dia mais precária.”
Acesso ao Ensino “A dificuldade de acesso a cursos superiores, a educação
Superior superior”
“A miséria”
Fome/Miséria
“A fome”
“A corrupção”
Corrupção/maus(más)
políticos(as)/ “A política de alguns governantes”
governantes
“A falta de compromisso dos nossos líderes”
Saúde “A saúde”
Meio ambiente “A poluição”
“O preconceito”
Preconceito “Preconceito social”
“O preconceito, todo tipo assim, religioso... ah, regional mesmo.”
Desigualdade racial “Diferença racial e social”
Menores
“Os menores abandonados”
abandonados(as)
Juventude/jovens “Os jovens”

71
Tabela 2 – Comentários Iniciais
GD4

Comentários Iniciais
Grupo de Diálogo 4 – 15-24 anos (30/04/05)
(temas questões)
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens
Questões que abordam esse tema/questão
“A violência em geral”
Violência/Segurança
“Mortalidade no Brasil”
Emprego/Trabalho/ Falta
“Falta de oportunidade para arrumar um bom serviço”
de oportunidade
“A desigualdade social”
Desigualdade social
“A divisão de classe social”
Educação “A educação”
“Me preocupo, assim, com a fome, que muitas crianças,
Fome/Miséria eu fico vendo, assim, pela televisão, no vale do Jequitinhonha,
passando fome”
Saúde “A saúde”
Drogas “As drogas”
Falta de solidariedade “Falta de confraternização”
Situação financeira do “Sem dúvida, acho que é o juros, po que sem o juros a gente
país/Juros teria tudo.”
Construção de novos
“A construção de novos presídios”
presídios

72
Tabela 2 – Comentários Iniciais
GD5

Comentários Iniciais
Grupo de Diálogo 15-24 anos (07/05/05)
(temas/questões)
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens
Questões que abordam esse tema/questão
Violência/Segurança “A sociedade muito violenta”
Emprego/Trabalho/ Falta
“O desemprego”
de oportunidade
“A desigualdade social, né? O pessoal que passa muita
fome, né? Todo mundo assim, muita gente jogada na rua,
Desigualdade social
não tem nenhuma informação, nada, entre outras coisas,
né?”
Fome/miséria “Muita fome”
Desinformação das
“Nenhuma informação”
pessoas
Drogas “A violência e as drogas que tá nos jovens hoje em dia”
Juventude/jovens “A juventude”

73
TABELA 3
PLENÁRIA DA MANHÃ
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS

GD1 – Jovens com experiência prévia de participação


02/04/2005
SEMELHANÇAS – MANHÃ

Educação Trabalho Cultura/Lazer

Melhor qualificação dos(as)


Aumentar as oportunidades Ter mais centros de cultura
professores(as)/Prof.
de trabalho para os(as) nos bairros com apoio do
conhecer mais os(as)
jovens governo
alunos(as)
Os(as) jovens devem buscar Ter mais iniciativas com apoio
Mais verbas para a
formas alternativas de dos(as) jovens e dos(as)
educação
trabalho empresários(as)
As empresas devem investir Maior divulgação e
Maior compromisso dos(as)
na qualificação dos(as) informação sobre os eventos
governantes
jovens culturais
O governo deve investir na
Valorização das diferentes
formação dos(as) jovens
culturas no Brasil
para trabalho alternativo

DIFERENÇAS:

• Segurança nas escolas (a forma de garantir a segurança)

• Escola Plural

• Dar uma segunda chance para quem esteve cumprindo penas

(TRABALHO ALTERNATIVO)

• Trabalho alternativo X Carteira assinada

• Trabalho voluntário (cultura)

• Maior segurança nos espaços de cultura/lazer

74
GD2 – Jovens com idade entre 15 e 17 anos
16/04/2005
SEMELHANÇAS – MANHÃ

Educação Trabalho Cultura/Lazer


A escola deve abrir seus Criar cursos de qualificação Mais polícia, com mais
espaços nos finais de profissional para os jovens. qualidade
semana para atividades de
lazer e cultura
Mais compreensão e diálogo Estágios com oportunidade Criar mais áreas de lazer nos
entre professores(as) e de aprendizagem. bairros mais necessitados
alunos(as)
Maior qualificação dos(as)
professores(as)

DIFERENÇAS:

• Áreas de lazer com mais organização

• Não há necessidade de mais áreas de lazer, mas sim de organização da


utilização destas

• Áreas de lazer com organização não só do governo, mas também da comunidade


local

75
GD3 – Jovens com idade entre 18 e 24 anos
23/04/2005
SEMELHANÇAS – MANHÃ

Educação Trabalho Cultura/Lazer


Mais oportunidades Expansão de centros
Melhor relação entre de aprendizagem (com culturais nas escolas com
professores(as) e alunos(as) controle) no trabalho para organização e mais
jovens divulgação
Ampliação da campanha
Redução da jornada de popularização dos
Cotas para alunos(as)
de trabalho para os eventos culturais (teatro,
das escolas públicas
estudantes cinema etc) com mais
divulgação
Investimento do governo na Reformular o Programa
educação para melhorar as Primeiro Emprego para que
condições das escolas ele funcione de fato
Voltar a reprovação dos(as)
alunos(as), maior cobrança
dos(as) alunos(as), cobrar
freqüência

DIFERENÇAS:

• Reciclagem dos(as) professores(as)

• Extinção da Escola Plural

• O interesse do(a) aluno(a) (a nota não é tudo)

• Maior interação entre as associações de bairro

• Passe livre com fiscalização

76
GD4 – Jovens com idade entre 15 e 24 anos
30/04/2005
SEMELHANÇAS – MANHÃ

Educação Trabalho Cultura/Lazer


Educação de boa qualidade Dar mais oportunidades Ter projetos e atividades
de trabalho por meio de de lazer
estágios
Professores(as) bem Ter segurança para
formados(as) as atividades de lazer
Cursos profissionalizantes Abrir escolas nos finais
em escolas públicas e na de semana
comunidade, com controle
e fiscalização
Criar centros de lazer
e cultura nos bairros

DIFERENÇAS

• PRO UNI

• Ter projetos de lazer e cultura nos finais de semana X “de segunda a segunda”

• Juros e impostos

77
GD5 – Jovens com idade entre 15 e 24 anos
07/05/2005
SEMELHANÇAS – MANHÃ

Educação Trabalho Cultura/Lazer Saúde


Mais oportunidade Mais verbas
Mais segurança
de emprego, sem Mais áreas de lazer públicas para a
nas escolas
preconceito saúde
Melhor formação Cursos
dos profissionalizantes
professores(as) grátis
Acesso aos
computadores nas
escolas (grátis)

DIFERENÇAS:

• Mais vagas nas escolas públicas

• Mais livros grátis nas escolas

• Mais informação sobre sexualidade nas escolas

78
TABELA 3.1
SEMELHANÇAS – EDUCAÇÃO

Professores(as) mais qualificados – 3/5


(número de Diálogos em que aparece total de Diálogos realizados)

GD1 – Jovens com experiência “Então a capacitação de professores seria muito melhor
prévia de participação – pra educação, seria muito bom cara!”
02/04/2005
“Professores.... desqualificados, porque os professores
não tão tendo qualificação pra ensinar os alunos. E a
gente ta saindo das escolas sem nenhuma preparação
pra ta fazendo uma faculdade ou qualquer outra coisa”.

“Bem é..., pra educação nós colocamos. Professores


muito inteligentes, mas somente pra eles.”
GD2 – Jovens com idade entre “Qualificação dos professores nas escolas: pra mim e
15 e 17 anos – 16/04/2005 pelo meu grupo a gente chegou à conclusão que a cada
dia, a cada ano que passa, os professores estão
chegando na área da educação mais jovens, é... está
acontecendo do professores não terem paciência de
explicar a matéria...”
GD4 – Jovens com idade entre “Muitos professores não têm aquele estímulo de trazer
15 e 24 anos – 30/04/2005 o aluno pra dentro da sala e ficar atento ao que está
sendo passado. É... então aí entra a questão do
incentivo pros alunos, que são os professores estarem
motivando suas aulas para trazerem esses alunos pra
dentro da sala.”
“A gente chegou a um consenso, a educação de boa
qualidade, professores bem formados, essas coisas... e
curso profissionalizantes.”

Melhor relação entre professores(as) e alunos(as) – 3/5

GD1 – Jovens com “Rolar um trabalho pra capacitar os professores, pra


experiência prévia de saber com que tipo de aluno, jovens, eles’ tão
participação – 02/04/2005 lidando... assim. Pra saber porque aquele..., pra saber
porque que aquele jovem tá indo pra escola ali, mas
ele não tem aquele interesse em estar prestando
atenção na aula. E, sabendo isso, tentar trabalhar em
cima, pra poder... ver se melhora. Em relação isso na
educação, ai!”
GD2 – Jovens com idade “Eu acho que ta aí, os professores têm que ter a
entre 15 e 17 anos – paciência de estar ali explicando, de falar ‘oh, tem
16/04/2005 algum problema? Se você quiser, eu te explico de
novo, se for preciso a gente fica nas outras aulas’...”

GD3 – Jovens com idade “E... a integração entre alunos e professores, não ficar
entre 18 e 24 anos – só o professor dá aula e aluno tem que escrever só,
23/04/2005 não! Uma recreação entre... vamos esquecer a aula
dez minutos e vamos conversar, que é que tá
acontecendo na sua casa, que é que vocês’ tão
pensando em fazer da vida.”

79
Mais verbas para a educação – 2/5

GD1 – Jovens com Falta de verbas. Professores mais qualificados. Governo


experiência prévia de investir mais nas escolas.
participação – 02/04/2005

“Aí que nós pegamos e colocamos os pontos negativos


na educação. Falta de verbas...”
GD3 – Jovens com idade “É... é investimento né? É nas escolas, no espaço, nos
entre 18 e 24 anos – livros. Investir no professor também, porque a reciclagem
23/04/2005 é importante, pois a gente tem que olhar o lado do
professor também. Porque ele estuda lá, dez anos, doze
anos na faculdade, fazendo doutorado, sei lá o que, um
monte de coisa. Pra depois ir lá e trabalhar numa
escola... que tem que trabalhar dois horários pra ver se
ganha um pouquinho a mais. Então ele pode trabalhar a
vida inteira e nunca vai suprir o que ele pagou a
faculdade. Então tem que ter um... olhar também o lado
do professor, né? Investimento do governo mesmo,
professor, aluno e escola.”

Compromisso dos governantes com a educação – 1/5

GD1 – Jovens com “Criar mais opções de estudo e informatização. Falta de


experiência prévia de verbas. Professores mais qualificados. Governo investir
participação – 02/04/2005 mais nas escolas.”

Abertura do espaço da escola nos fins de semana – 1/5

GD2 – Jovens com idade “Abrir as escolas nos fins de semana com a orientação de
entre 15 e 17 anos – alguém, porque eles não abrem com medo de
16/04/2005 vandalismo, com medo de... das pessoas, é... quebrarem
a escola, roubarem, fazerem alguma coisa desse tipo.”

Cotas para alunos da escola pública – 1/5

GD3 – Jovens com idade “A liberação das cotas pra alunos de escolas públicas nas
entre 18 e 24 anos – faculdades.”
23/04/2005

80
TABELA 3.2
SEMELHANÇAS – TRABALHO

Investimento na qualificação profissional dos(as) jovens por parte do governo


e das empresas – 5/5

GD1 – Jovens com “A proposta é as empresa fornecer mais qualificação pras


experiência prévia de pessoas”
participação – 02/04/2005
GD2 – Jovens com idade “O governo oferecer cursos profissionalizantes, porque
entre 15 e 17 anos – hoje em dia, as empresas, elas pedem experiência, mas
16/04/2005 como que uma pessoa que nunca trabalhou vai ter
experiência pra trabalhar?”
GD3 – Jovens com idade “Mais oportunidade... de emprego pra... de
entre 18 e 24 anos – aprendizagem... de emprego com aprendizagem para
23/04/2005 jovens, sem colocar o nome de estágio”

GD4 – Jovens com idade “Às vezes, tem muitas vagas, quando a gente chega na
entre 15 e 24 anos – empresa e você não tem qualificação, você não tem
30/04/2005 oportunidade. Agora eu te pergunto: toda vez que você
chega numa empresa, ela te fecha as portas, como é
que você vai conseguir experiência? Eu acho que as
empresas deviam dar mais oportunidade pra gente
mostrar o trabalho. Dar um estágio que te paga meio...
eu te pago a metade do salário para você aprender e
depois eu te pago mais . Devia dar mais oportunidade
pra gente aprender.
GD 5 – Jovens com idade “Então uma coisa que nós ‘tavamos discutindo dentro
entre 15 e 24 anos – dessa área de abertura de profissionalizantes grátis é
07/05/2005 isso, para que o governo possa fazer com que em todo
lugar tenha isso, para que possa crescer mais; para que
os jovens possam começar a trabalhar que possa ter um
incentivo a partir daquilo, a partir daquele curso
profissionalizante.”

81
Cursos profissionalizantes em escolas públicas e na comunidade – 3/5

GD2 – Jovens com idade “O governo oferecer cursos profissionalizantes, porque


entre 15 e 17 anos – hoje em dia, as empresas, elas pedem experiência, mas
16/04/2005 como que uma pessoa que nunca trabalhou vai ter
experiência pra trabalhar? O governo oferecer trabalho
de aprendiz... e as empresas ter carga horária menor
para estudantes que trabalham, porque muitas pessoas
pegam trabalho... serviço cedo, aí saem do serviço e vão
direto pro colégio, saem do colégio à noite e têm pouco
tempo pra poder descansar.”
“Mais cursos profissionalizantes para que o jovem
consiga ficar na empresa”
GD4 – Jovens com idade “Porque cursos profissionalizantes, assim...
entre 15 e 24 anos – profissionalizantes... porque a computação, igual a
30/04/2005 maioria, com certeza não tem acesso por ser muito caro.
Igual eu abordei o tema, que eu já perdi dois empregos
por não ter e não fiz porque é muito caro...”
“Esses cursos profissionalizantes tinham que ser
somente para estudantes, para incentivar as pessoas que
não estão estudando que parou, a voltar a estudar. É isso
que eu acho.”
GD5 – Jovens com idade “Estamos aqui com trabalho cultura e lazer, é... a primeira
entre 15 e 24 anos – proposta que nós colocamos foi abertura de cursos
07/05/2005 profissionalizantes grátis.”

Criação de oportunidade de estágio – 2/5

GD2 – Jovens com idade “Podemos criar também a criação de mais estágios,
entre 15 e 17 anos - recursos em várias coisas, né? Pra estar melhorando a
16/04/2005 nossa educação”
“A gente tá querendo mais oportunidade pro jovem,
porque hoje em dia, pelo o que o governo tá passando
pra gente, o estágio tá custando mais barato paras as
empresas do que estar empregando umas pessoas
mesmo. E ele dando essa oportunidade pra gente, vai
estar dando pra gente estar ajudando em casa, é...
pessoas que não têm, ah... no caso... condições de estar
sustentando a família direito, a gente pode estar
ajudando”
GD4 – Jovens com idade “Agora, na parte do trabalho, nós colocamos mais
entre 15 e 24 anos – oportunidades para os jovens, por quê? Porque vagas
30/04/2005 para emprego, tem até bastante, o que eles não dão são
oportunidades para que esses jovens se instalem nessas
empresas, por quê? Falta de experiência! Como é que os
jovens terão experiência se nenhuma empresa dá essa
oportunidade pra obter essa experiência ? Então por isso
que nós colocamos essas oportunidades...”

82
Mais oportunidade de trabalho para os jovens – 2/5

GD1 – Jovens com “Trabalho (risos)... trabalho... dar mais oportunidades,


experiência prévia de porque emprego tá difícil pra todo mundo realmente. E se
participação – 02/04/2005 o governo às vezes abrir novos campos pros jovens tá
trabalhando....é...incentivando pra eles conseguirem
experiência, vai melhorar bastante”.
GD5 – Jovens com idade “Então eu acho que se a gente tivesse mais oportunidade
entre 15 e 24 anos – de emprego, a gente ia ter mais força de vontade até pra
07/05/2005 estudar, entendeu?”
“É... a gente discutiu também, eu até esqueci de falar...
que quando uma pessoa vai procurar um emprego
também tem muito preconceito. Se for uma loirinha e uma
mulatinha, com certeza, isso já aconteceu lá no meu
bairro, eles dão preferência pra loira”

Os(as) jovens devem buscar formas alternativas de trabalho – 1/5

GD1 – Jovens com “Tem também a criação de trabalhos alternativos, ou


experiência prévia de seja, você fazer uma vela de artesanato pra vender. Isso
participação – 02/04/2005 não é vergonha!”
“Concordo. Foi que nem a menina citou ali: vender picolé
na rua não é vergonha. Mas eu acho que o objetivo tinha
que ser tirar essas pessoas da rua, e trabalhar de carteira
assinada. Porque a pessoa que vende picolé na rua, fruta
na rua, não tem uma carteira assinada. Não temos
benefício que tem uma carteira assinada”

Redução da jornada de trabalho para os(as) jovens – 1/5

GD3 – Jovens com idade “E empregador abrir espaço de jornada de seis horas de
entre 18 e 24 anos – trabalho para os estudantes. Que é que acontece? Nós
23/04/2005 somos jovens, temos que estudar, que isso aí, assim...
pra gente é essencial. Só que, como a gente vai estudar,
se a gente trabalha lá oito, dez horas por dia? Então vai
acabar uma coisa prejudicando a outra. Ou a gente tem
que abrir mão do trabalho ou da escola. Se nós tivermos
aí seis horas de trabalho, a gente pode trabalhar, é...
essas seis horas, ter um horário pra estudar e ainda ter
um tempo pra estudar em casa e não ficar
sobrecarregado. Porque isso aí nunca acontece... então
se tivesse uma coisa que incentivasse os empregadores
a dar seis horas de trabalho seria muito melhor.”

83
Reformulação do Programa Primeiro Emprego – 1/5

GD3 – Jovens com idade “Hoje tem até uma parceria de Primeiro Emprego com o
entre 18 e 24 anos – governo, mais essa parceria o empresário, ele ganha um
23/04/2005 desconto nos encargos. Não sei se... eu já trabalhei como
secretária, o encargo de um empregado, se você ganha
trezentos reais do seu salário. O seu patrão tá pagando
pro governo cerca de setecentos, quatrocentos só de
imposto.”
“Que no Primeiro Emprego é oportunidade dele aprender,
não é oportunidade de trabalhar, ganhar dinheiro. É dali
que ele vai partir pra frente, abrir outras vagas... é... ter
oportunidades em outras empresas. E aprender mesmo!
Tem também o incentivo do governo aos empregadores
para com os jovens. Que é que acontece? Então o
governo tinha que incentivar, tá lá, vamos colocar jovens
de 14 a 25 anos pra trabalhar em tal empresa. Então o
governo vai incentivar quem encontrar tais tipos de
jovem, vai ter lá um desconto nos encargos, nos
impostos, pra que os jovens possam ter acesso a esse
tipo de emprego.”

TABELA 3.3
SEMELHANÇAS – CULTURA/LAZER

Mais policiamento, porém, com mais qualidade – 2/5

GD2 – Jovens com idade “Policiamento nas escolas, responsabilidade e liberação


entre 15 e 17 anos – de verbas para a merenda.”
16/04/2005
GD4 – Jovens com idade “A segurança no lazer... nós precisamos de bastante, de
entre 15 e 24 anos – pessoas de autoridade, como a polícia, às vezes a gente
30/04/2005 passa num local e vê viaturas da polícia(...) a gente passa e
eles estão na padaria fazendo um lanche , ou estão... eles
arrumam até jeito de furar o pneu pra não estar rodando. Se
acontece alguma coisa ali, aí liga pra lá: ‘ah! Em tal rua tá
tendo uma briga aqui e o pessoal está brigando com faca...’
Demora em torno de quarenta, cinqüenta minutos pra
chegar. ‘Ah” Mataram um aqui!’, demora duas, três horas
pra chegar. Entendeu? Ou seja, eles tinham que estar
voltados pra segurança do lazer, porque ninguém tem lazer
sem segurança...”
“Tem um evento na escola, tem um evento, a gente vai
jogar bola ou vai ter uma festa e na escola e na quadra,
ter policiais na porta ou na redondeza, sempre voltados
para aquele local onde vai tá praticando os eventos, pra
gente ter mais segurança e praticar esporte e lazer com
mais tranqüilidade...”

84
Ter mais centros de cultura nos bairros com apoio do governo – 2/5

GD1 – Jovens com “E sobre a cultura e lazer, criar centros de lazer para a
experiência prévia de nossa comunidade, né? Com projetos para jovens e
participação – 02/04/2005 crianças. Que a criminalidade tá crescendo, né? Sabe,
em vez de crescer o amor, a fraternidade, a prosperidade
em si, a união do povo... Amar ao próximo. Não! A
criminalidade tá crescendo! Tem os exemplos! Tanto que
onde que eu moro, no Alto Vera Cruz, Santa Luzia, eu
achei uma pouca vergonha, né? Tem clube lá que não
pode entrar negro, que é isso? Não pode entrar negro!
Entendeu?”
GD4 – Jovens com idade “Acho que devia fazer mais centros recreativos, quadras
entre 15 e 24 anos – esportivas, mas fazer essas quadras e esses centros em
30/04/2005 locais estratégicos, por exemplo, em lugares escuros
onde ocorre muita violência, tráfico de drogas... faz ali
uma quadra bem iluminada com segurança... é... montar
ali um centro recreativo e já tirar ali os maus elementos e
essas coisas assim.”

Criar mais áreas de lazer nos bairros mais necessitados – 2/5

GD2 – Jovens com idade “E... não só do skate, eu acho que todos os bairros têm
entre 15 e 17 anos – que ter uma área de lazer, uma quadra, qualquer coisa,
16/04/2005 nem que seja um parquinho pra você brincar e tudo,
porque olha, pra você ver, pensa bem comigo, essas
crianças mais novas de sete a sei lá, doze anos, por
exemplo, eles saem da escola e o que é que eles vão?
Vão pra rua, não têm onde, lugar pra brincar, não têm
nada, o que é que elas vão fazer? Vão, né? Fazer coisas
erradas, igual a menina ali falou, então eu acho que teria
que ter mais área de lazer em relação a isso.”
GD5 – Jovens com idade “Bom, a gente tá mostrando como é difícil, mesmo se fosse a
entre 15 e 24 anos – turma toda do bairro pedindo isso, ela (a vereadora) ia falar dos
07/05/2005 votos, com certeza. É muito difícil pra gente conseguir a cultura
e o lazer nos bairros, porque os vereadores só querem os
votos, eles querem ganhar o dinheiro deles lá, né?”

Expansão e criação de centros culturais nas escolas – 2/5

GD3 – Jovens com idade “Eu acho que cultura e lazer, o que bastante gente
entre 18 e 24 anos – colocou aí, foi a questão de promover centros culturais
23/04/2005 dentro das escolas, que gera, que gera mais interesse,
que interliga mais interesse do aluno com a escola, e não
só do aluno, como pais e familiares e comunidade em
geral dentro das escolas, pra estar promovendo
integração entre aluno e escola. Nos finais de semana,
oficinas nos horários vagos nas escolas, entendeu? Na
aula de educação física, no caso.”
GD4 – Jovens com idade “Eu acho que a escola no final de semana deveria ser
entre 15 e 24 anos – aberta à comunidade, igual ele falou, com coisa de lazer lá
30/04/2005 dentro, atividades. Eu acho que ela devia ser aberta à
comunidade, com certeza, com segurança, né? A
comunidade ia participar mais da escola também, ia ver
como é que é, ia gostar mais. E eu acho que seria bom.”

85
Abrir escolas nos finais de semana – 1/5

GD4 – Jovens com idade “Igual você estava falando da pista de skate, igual eu
entre 15 e 24 anos – falei pra abrir a escola pra comunidade no final de
30/04/2005 semana. Você não acha que poderia fazer a pista dentro
da escola e ela ser usada pelos alunos no final de
semana somente? Você concorda? Igual quadra de
basquete, essas coisas, abrir no final de semana pros
alunos e pra comunidade?”

Ter projetos e atividades de lazer – 1/5

GD4 – Jovens com idade “Agora, cultura e lazer, nós colocamos investir em projetos
entre 15 e 24 anos – culturais porque, igual o Leandro citou, em Neves estava aquela
30/04/2005 polêmica de criarem mais um presídio na cidade. Em vez deles
implantarem esse presídio, por que não implantar projetos
envolvidos com a cultura? Isso traria mais oportunidades para os
jovens saírem dessa criminalidade, então ai é... seria um
dinheiro mais bem investido, vamos dizer assim.”

Ter mais iniciativas culturais com apoio dos jovens e dos empresários – 1/5

GD1 – Jovens com “E... cultura e lazer: Trabalhos voluntários e ajuda de


experiência prévia de empresas!”
participação – 02/04/2005
“Falta de incentivo à cultura nas escolas. Mau uso da
verba para a cultura. Conscientização dos empresários e
dos seres humanos no trabalho voluntário. É... só falar
aqui (risos). Na cultura realmente tá tendo uma
deficiência. Ninguém tá se importando e não tá tendo
trabalho voluntário pra poder estar ajudando.”

Maior divulgação e informação sobre os eventos culturais – 1/5

GD1 – Jovens com “É... cultura e lazer. Deficiência na divulgação de oficinas


experiência prévia de de cultura.”
participação – 02/04/2005
“E na cultura e lazer, estar divulgando mais para que
todos nós possamos saber. Poder fazer participação e
também pra nós mesmos estar nos conscientizando, pra
poder ir atrás disso. Tá montando grupos pra fazer
diferença no pais, é isso aí!”
“É, em matéria de cultura é... poderia estar tendo mais
incentivo, mais investimento, mais divulgação, né? Das
coisas... Por exemplo, igual aqui mesmo, tem várias
atividades culturais, mais ninguém ainda não sabia. Muita
gente ainda não sabe, poderia estar havendo mais
divulgação. E também poderia estar sendo formado na
própria comunidade, é... tendo mais trabalho voluntário
das pessoas.”

86
Ampliação e maior divulgação da campanha
de popularização dos eventos culturais (teatro, cinema, etc) – 1/5

GD3 – Jovens com idade “Acredito que devia ser feito um trabalho de divulgação
entre 18 e 24 anos – melhor, porque como foi, o nosso grupo tocou nesse
23/04/2005 assunto, o André falou que às vezes a pessoa, nós
‘tamos tão acostumados com não ter oportunidade, de
não participar de certo tipo de coisa, que quando aparece
isso, acha que não vale nada! Então, se houvesse um
trabalho de melhor divulgação, às vezes as pessoas
confiariam mais também, as poucas que têm acesso a
essa informação, dariam mais valor.”

Valorização das diferentes culturas no Brasil – 1/5

GD1 – Jovens com “Ah, tem que ter mais cultura para a população...”
experiência prévia de
participação – 02/04/2005

87
Tabela 4 – Síntese dos Comentários Finais

Grupo de
Grupo Grupo 1º Grupo 2º Grupo
Diálogo
Comentários Finais de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Experiência
(temas/questões) 15-17 18-24 15-24 15-24
Participativa
(16/04/05) (23/04/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
Emprego/trabalho 2 1
Saúde 1 1 1
Valores que devem
guiar os(as)
tomadores(as) de
decisões
[responsabilidade;
10 1 16 12 5
senso de justiça;
seriedade,
autenticidade;
atenção aos(às) mais
pobres]
Os(as) jovens como
preocupação central 8 9 2 2
dos(as) governantes
Educação 1 2 2
Cultura/lazer 1 2 1
Atenção às crianças 2
Atenção aos(às)
1
idosos(as)
Participação juvenil 2 2
Democracia 1
Preconceitos/Racismo 1
Corrupção 1
Renovação dos(as)
1
políticos(as)
Nada a declarar 4

88
Tabela 5 – Comentários Finais por GD
GD1

Comentários Finais Grupo de Diálogo Experiência Participativa


(temas/questões) (02/04/05) GD1
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse/a
Questões tema/ questão
“Olhar com mais com seriedade (...) pra esses focos
aí, trabalho, emprego, saúde...”
Emprego/Trabalho
”Olharem pra gente, que a gente tá precisando, não só
na educação, mas também pra arranjar um emprego”
“Olhar com mais com seriedade (...) pra esses focos
Saúde
aí, trabalho, emprego, saúde...”
Valores que devem guiar os(as) “Pensar mais sobre o que vai fazer, porque eles não
políticos(as) [responsabilidade; pensam em quem vai afetar”
senso de justiça; seriedade,
autenticidade; atenção aos(às) ”Que eles sejam justos e sejam humanitários”
mais pobres] ”Que eles, ao invés de ficarem só no gabinete, com ar
condicionado, assinando os papéis, que eles dessem
uma volta pelo Brasil e vissem realmente os
problemas, vivenciassem aquilo”
”Que eles faz as coisas com mais consciência,
olhando pelos jovens”
“Que eles tivessem mais conscientização, tanto do
poder que eles exercem sobre o povo, sobre os
jovens, como também do trabalho que eles podem
fazer”
”Que os jovens já ‘tão desacreditados, né? No que
eles prometem, eu acho que eles deveriam, né?
Depois que eles prometem, ocupam aquela posição
que eles tanto, né? Queria. É... caminhassem naquilo
que eles falaram sabe? Pra ganhar crédito com a
população. E... serem sensatos também, né? Nas
decisões, é... sair do seu conforto e estar de frente
com a comunidade entendeu?”
”Que os governantes possam a governar, vamos dizer
assim, com mais compromisso e aprender mais a
ouvir o povo”
”Que eles deveriam ter mais, mais responsabilidade e
saber que a gente coloca lá pra representar a gente,
pra lutar por nós”
”Que eles exerçam o poder que nós delegamos a eles
em favor do povo, em nosso favor, né? E que eles
proporcionem, que através desse poder, nós podemos
exercer nossa cidadania, que não é só votar né? É
efetivar nosso direito que nós temos.”
”Que os governantes governem com mais
competência.”

89
Comentários Finais Grupo de Diálogo Experiência Participativa
(temas/questões) (02/04/05) GD1
Os(as) jovens como preocupação “Pensar melhor nos jovens, pra não deixarem eles de
central dos(as) governantes(as) lado”
”Que observe com mais carinho o nosso, a nossa
juventude, que sem ela o país vai de água abaixo”
“Que eles pensarem mais assim na juventude de hoje
em dia, porque acho que a maioria da parte dos
brasileiros são jovens”
“Que eles pensassem com mais amor , né? Nós, que
somos jovens, porque nós somos o futuro do país”
“Que eles possam pensar mais, assim, nos jovens, na
nova geração que tá vindo agora”
“Que o governo olhe mais pro jovem, dê mais espaço
pra nós, porque nós temos muitas idéias na cabeça,
mas às vezes não temos a oportunidade de colocar
em prática”
“Que há jovens com capacidade no Brasil, há jovens
que querem crescer, basta os governantes não
pensarem só em si.”
“Que os governantes (...) fossem mais verdadeiros
né? E que dessem mais oportunidade”
Educação “Que eles investissem mais na educação”
Cultura/Lazer “Que investissem mais em cultura”
Atenção às crianças “Que eles investissem mais nas crianças”
“Que eles investissem nas crianças, em adolescentes”
Atenção aos idosos “Que eles investissem e também nos velhos, nos
anciões”

AVALIAÇÃO DO GD1 (02/04/05)

a) Aspectos positivos:
• oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (11): “pude trocar idéias com
várias pessoas, isso foi, de alguma forma, muito produtivo para mim, que eu aprendi
muito”; “aprendi mais sobre a realidade”; “o trabalho em grupo, nós dialogando”;

• oportunidade de conhecer novas pessoas/sociabilidade (11): “conhecer novas


pessoas”; “achei muito bonito o entrosamento de cada um aqui, ninguém conhecia
ninguém”; “foi a amizade, a confraternização do pessoal aqui é muito legal”;

• mudar de opinião (5): “eu tinha a opinião de que só o voluntariado e o grupo era o
suficiente, mas depois também deu pra perceber que sem a política fica difícil”; “eu
tinha uma opinião totalmente diferente quando eu cheguei e tô saindo com outra”;

• a produção do dia (1): “esses cartazes, foram várias coisas constituídas em


pouco tempo”;

90
• despertou o desejo de participar (1): “acendeu uma chama de esperança em
nosso coração”;

• oportunidade de manifestar a opinião da juventude (1): “a partir da idéia de vários


jovens, a gente poder construir uma consciência política mais consciente. Sem
preconceitos, a gente criar uma coisa só nossa, a gente saber o que tem na
comunidade e criar uma consciência política que tenha validade maior, que não
seja preconceituosa e restrita”;

• conscientização do poder da juventude em influenciar nas decisões (2): “vocês


mostraram pra gente o poder que a gente tem, que a gente pode influenciar, que
a gente pode fazer a diferença, que nossa opinião pode um dia chegar lá em cima
e alguém de bom coração pode ouvir e dar atenção a nós e fazer o que nós
estamos precisando”; “vai gerar frutos para outros jovens”.

b) Sugestões:
• Tratar de outros temas (5): “tipo sexo, drogas, gravidez na adolescência”; “os
assuntos, tipo falar mais sobre as drogas, a prostituição e outras coisas”;

• Aumentar o tempo de trabalho (2): “o tempo é muito restrito e não deixava a


gente falar de tudo que a gente queria”;

• Promover novos encontros (2);

• Não tem que mudar nada (9).

91
Tabela 5 – Comentários Finais – GD2

Comentários Finais Grupo de Diálogo 15-17 anos


(temas/questões) (16/04/05) GD 2
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse
Questões tema/questão
Valores que devem guiar
políticos(as)
“Eu queria deixar uma mensagem pr’aquelas pessoas
[responsabilidade; senso de
que escolhem quem vai ficar no poder e tudo mais. Que
justiça; seriedade,
escolham bem.”
autenticidade; atenção
aos(às) mais pobres]
“Eu acho que a solução pros nossos problemas encontra-
se presente na arte (...)A cultura é a nossa carta de
Cultura/Lazer/Esporte alforria”
“Que esses prefeito aí fizesse umas áreas de lazer
melhor pro meu bairro e no bairro de quem precisa aí.”
“Que os jovens de hoje em dia comecem a participar
mais dos caminhos que a gente citou hoje, comecem a
Participação juvenil preocupar mais com o nosso país. Porque o futuro do
nosso país tá dependendo da gente”
“Que o jovem acorde e corra atrás de oportunidades”

AVALIAÇÃO DO GD2 (16/04/05)

a) Aspectos positivos:
• oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (4): “Eu fiquei conhecendo
novos caminhos para me ajudar o nosso Brasil, né?, a crescer cada vez mais”; “a
gente viu que cada um tem uma opinião diferente, cada um quer participar de
uma coisa diferente”;

• oportunidade de manifestar a opinião da juventude (1): “Foi muito legal porque a


gente expressou o que a gente pensa, o que a gente sente, o que a gente tem
vontade que mude. Tomara que o governo tome alguma atitude em cima do que
a gente pensa, né? Porque pelo que a gente pode perceber aqui, quase todo
mundo teve as mesmas opiniões, a mesma forma de pensar. (...) Então eu acho
que ele tem que tomar uma atitude agora, antes que seja tarde demais e não
tenha como mudar isso daqui um tempo, né?”;

• atenção dispensada aos(às) jovens durante as atividades/Sentir-se valorizado(a)


(2): “É que vocês deram muita atenção pra gente hoje. O Juarez, ontem minha
mãe ligou pra ele e eu acho que foi com ele que conversou, muito atencioso.
Então, que não é toda mão que a gente tem uma oportunidade igual essa, né? Eu
vou agradecer a vocês tudo. Que foi muito bom passar o dia aqui, foi a única
palestra que eu nunca dormi. (risos)”; “a gente aprendeu cada vez mais. A gente
escuta a palestra, a gente aprende mais, entendeu? Aí dá pra passar pras

92
pessoas que não sabem ainda! Porque o nosso mundo, hoje em dia, a gente tem
que viver e aprender pra passar pros outros. Porque tem muitas pessoas que não
sabem. (...) E já ouvi muitas palestras assim, na minha escola, muitos lugares. Aí
que fala, aí eu gostei muito da palestra, entendeu? Agradeço a todos vocês, por
ter convidado a gente”.

b) Sugestões: o grupo não deu sugestões.

93
Tabela 5 – Comentários Finais – GD3

Comentários Finais Grupo de Diálogo 18-24


(temas/questões) (23/04/05) GD3
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
“Que eles abrisse mais portas de emprego para os adolescente;
Emprego/Trabalho porque se eles não que vê os adolescente no mundo das drogas,
eles abrisse mais portas de emprego”
“Pra eles largar a mão de ser pão duro e investir na educação e na
Saúde
saúde”
Valores que devem “Respeitar a opinião, respeitar a posição, a classe social e a raça,
guiar os(as) tudo!”
políticos(as)
[responsabilidade; “Pra eles pensarem quando eles forem falar assim, porque eles
senso de justiça; não fazem não é só pra eles, não, é pra todo mundo, geral”
seriedade, “Pra eles pensarem direitinho nos que eles vão fazer, porque se
autenticidade; atenção fizer coisa errada lá, não é eles que vão sofrer, é a gente aqui do
aos(às) mais pobres] lado de cá que sofre”
“Que eles olhassem mais pra classe pobre, porque além deles
olharem só pro próprio umbigo, só olham pra aqueles que têm
dinheiro e não olham jamais, não olham de jeito algum pra aqueles
que realmente necessitam”
“A conscientização que tem gente do outro lado que necessitam da
boa vontade deles”
“Eles compreendessem as pessoas, que precisam”
“Estar pensando mais na população, não só em jovens, mas na
população em geral”
“Que eles parem de tomar decisões e escutem mais os jovens”
“Que o governo olhasse mais para o jovem, pra classe mais... de
nível, de nível mais baixo, entendeu? Que eles olhassem mais pra
gente pra dar oportunidade pra todos”
“Olhem um pouco mais pra baixo, não fique olhando só o nível de
vida deles, que eles olhem que tem gente passando fome”
“Que antes deles tomarem qualquer decisão, que eles vem olhar
pra quem tá embaixo, quem depende deles”
“Olhar pra quem precisa mais”
“Parar de falar o que eles não pode cumprir”
“Pense um pouco antes de fazer besteira e olhe um pouco pra nós”
“Que escutasse não só os jovens; toda a sociedade: É... jovem,
velho, tudo em geral, não é só a gente, né?”
“É que haja mais prática do que teoria também, né? Que é o que o
país mais precisa, de prática.”

94
Comentários Finais Grupo de Diálogo 18-24
(temas/questões) (23/04/05) GD3
Os jovens como “Ter uma força de vontade, de ouvir os jovens e poder passar o
preocupação central que os jovens têm a dizer pra eles”
dos(as) governantes
“Que eles ouvissem os jovens”
“Que os políticos escutem mais a gente, prestem atenção nas
nossas idéias, que nós também somos gente, né?”
“Que eles parassem de pensar e dizer que os jovens são o futuro
desse país, porque nós somos o presente e a realidade desse
país”
“Olhar pra gente, assim, porque esses jovens de hoje em dia têm
muita experiência e eles não olham pra gente essas horas, na hora
que a gente mais precisa deles”
“Poderia escutar mais os jovens e dar mais oportunidades”
“Olhassem pras comunidades mais pobres”
“Que olhassem pros jovens mesmo, que ouvissem a gente, porque
a gente é o presente e o futuro”
“Pro governo estar olhando mais pra classe mais pobre aí, tá
pensando nas propostas e nas idéias das pessoas; dos jovens aí,
de hoje em dia”
Educação “que o presidente, o governo em geral preocupasse mais com a
educação e com a democracia do país”/" pra eles largar a mão de
ser pão duro e investir na educação e na saúde”
Participação juvenil “Todo mundo, vamos lutar, jovens vamos lutar, que a gente vai
conseguir um futuro melhor”
“A gente tem que buscar ajuda com quem pode mesmo tá
ajudando, mas não esperar também que alguém vem ajudar a
gente, né? Cada um fazer o que pode fazer sua parte, aí que vai
pra frente”
Democracia “Que o presidente, o governo em geral preocupasse mais com a
educação e com a democracia do país”
Corrupção “Pra acabar com a corrupção”
Preconceito/racismo “Acabar com o preconceito e com o racismo, que são umas das
piores coisas que um ser humano pode ter”
Renovação dos “Que eu espero que haja uma renovação política, porque com
políticos esses que’ tão aí... Tá difícil”

AVALIAÇÃO DO GD3 (23/04/05)

a) Aspectos positivos:
• oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (23): “me deu base, me deu
oportunidade de crescer muito, as minhas idéias foram mais exercitadas, e
vendo, participando desse tipo de coisa e vendo tanta gente que tem
basicamente os mesmos interesses, é... isso incentiva também a gente”; “a gente
pode chegar trocando idéias diferentes, pra poder chegar a um ponto, a um
consenso”; “poder expor minhas idéias, porque às vezes você fica ali matutando

95
alguma coisa na sua cabeça, mas aonde que eu vou? Eu tô pensando isso aqui,
mas eu não tenho pra quem expor, como que eu vou participar? E ouvindo a
opinião de cada um a gente sabe que tem, sim, tem como você ir lá e fazer
alguma coisa sim!”; “Eu gostei muito de estar aqui hoje, porque eu aprendi a ouvir
as pessoas”; “O que eu aprendi de importante aqui foi trabalhar em grupo,
conhecer novas pessoas. Aí, valeu trabalhar em grupo. Aí, estar expondo minhas
idéias.”;

• oportunidade de conhecer novas pessoas/sociabilidade (14): “é sempre


importante conhecer novas pessoas, de outros lugares, saber novas opiniões”,
“foi muito bom conhecer todo mundo, ter um contato maior, assim, com jovens da
minha idade”;

• despertou o desejo de participar (2): “O que aconteceu de importante pra mim foi
que, tipo assim, eu avaliei mais essa questão de ser voluntária, que mesmo que
seja a vida de um vizinho, eu posso ajudar”; “A força de vontade de ajudar o
próximo no voluntariado”;

• oportunidade de manifestar a opinião da juventude(1): “Que essa pesquisa de


certa forma, acho que não aconteceu do nada por acaso, né? Teve um objetivo:
escutar a gente de alguma forma, pra tentar mudar o mundo, né?”;

• conscientização do poder da juventude em influenciar nas decisões (4): “nós,


jovens hoje, podemos fazer um Brasil bem melhor no futuro”; “Eu achei muito
importante conhecer a opinião de cada um e isso fortalece o ego de qualquer um,
principalmente nos pensamento positivos que a gente tem perante a chance que
a gente tem de mudar o nosso país, por mínima que seja, a esperança cresce”;
“eu pude perceber o quanto a população ela pode se... a força que a população
diante... se a população quiser se reunir todos”; “que todos nós aqui fazemos a
diferença, estamos aqui pra fazer a diferença, né? Todos nós aqui subimos mais
um degrau, né? A gente tá vendo que aqui a gente tá participando pra uma coisa
que... né? A gente pode ter esperança um dia, né? Uma esperança que a gente
vai ter”.

b) Sugestões: o grupo não deu sugestões.

96
Tabela 5 – Comentários Finais – GD4

Comentários Finais Grupo de Diálogo 15-24


(temas/questões) (30/04/05) GD 4
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
Saúde “Olhasse mais a saúde”
Valores que devem “Pra eles se colocarem mais no lugar do povo, a respeitarem a
guiar os(as) opinião do povo, a aprenderem a ouvir a população mas ouvir
políticos(as) mesmo, saber o que o povo tá querendo realmente e fazer, não só
[responsabilidade; falar”
senso de justiça;
seriedade, “(que) leia todos esses cartazes aí e siga esses exemplos”
autenticidade; atenção “Ouvir a opinião dos outros pra ver se o Brasil melhora”
aos(às) mais pobres]
“Que eles ouvissem mais a voz do povo e fizesse mais coisas”
“Pra eles colocarem na prática o que eles falam antes das
eleições”
“Que os governantes tenham mais consciência naquilo que... nas
decisões que eles tenham que tomar, porque nem sempre o que
eles acham que é certo vai beneficiar o povo”
“Uma mensagem que eu deixo pros governantes será que eles não
passaram o que a gente tá passando hoje?”
“Pra eles olharem a dificuldade do povo aqui fora, porque muitas
das vezes eles olham isso muito de longe e às vezes nem
passaram pelo que o povo passa aqui fora, pra eles olharem
melhor a dificuldade e tentar ajudar mais”
“Que se as propostas que eles fazem perto das eleições, que ele
fizessem, eles cumprissem, será que o país’ tava assim hoje?”
“O dia que eles tiverem um tempinho, eles ouvissem um
pouquinho, um trecho da música dos Racionais ‘Um homem na
estrada’ que aí eles vão saber interpretar mais ou menos, eles vão
ver que quem sabe não pinga letra”
“Que eles olhassem mais pras pessoas carentes e cumprissem o
que eles prometem”
”Olhassem pelos dois lados da moeda, né? Porque, tipo assim,
hoje estão no poder, amanhã talvez não estejam, estejam do lado
de cá”
Os(as) jovens como ”Olhar mais pra gente aí que ‘tamos precisando”
preocupação central
dos(as) governantes “Pra eles passarem uma semana, assim, mais ou menos, no meio
de um jovem, ou então de no meio de até uma associação pública
que ele tá fazendo, porque veja a realidade como ela tá vista hoje,
porque tá complicado”
Educação “Olhar mais pro povo, principalmente pras crianças, assim, que
tivessem uma boa educação”
“Que eles parassem de aumentar o salário deles e investissem em
educação”

97
AVALIAÇÃO DO GD4 (30/04/05)

a) Aspectos positivos:
• oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (14): “Eu aprendi a aceitar
mais a opinião dos outros, escutar a opinião dos outros que eu acho importante,
respeitar a opinião dos outros, e muito legal o trabalho em grupo, muito
interessante mesmo. Eu achei que ia ser muito chato, mas foi muito legal, muito
interessante, e a comida é da hora (risos)”; “Foi esse debate que a gente teve aí.
(...) A gente esclareceu muita coisa, aprendeu bastante, esse trabalho em grupo.
Eu acho que foi isso. O grupo todo juntando pra falar de um assunto aí que vai
ajudar todo mundo”; “Até então eu tinha participado de grupos só de trabalho de
escola, mas esse foi totalmente interessante. Eu gostei bastante. A gente
aprendeu muito com a convivência de cada um”;

• oportunidade de conhecer novas pessoas/sociabilidade (2): “Bom eu adorei conhecer


novas pessoas e discutir questões que envolve o jovens”;

• oportunidade de manifestar a opinião da juventude (3): “Eu gostei muito de estar


aqui, e assim, eu achei importante que cada um é importante, que cada um tem
uma opinião diferente e a gente aprende muito”; “Eu gostei dessa oportunidade
que a gente teve de estar colocando as nossas opiniões, discutindo sobre coisas
que eu acho que eu nunca discutiria na minha vida, eu tive a oportunidade de
discutir hoje e também parabenizar vocês pelo trabalho, gostei bastante, vocês
deixaram a gente a vontade”; “Ah... eu gostei demais , muito bacana, nossa, hora
que se recebe a cartinha então (risos) É bom pro ego do estudante, pra gente é
legal, é bacana. E eu curti vocês e tal. Nesse curso, eu achei legal porque ele
deixa a gente expressar, falar o que a gente quer, vocês deixaram a gente bem à
vontade pra poder dizer, também porque não é fácil, né?, um monte de gente
desconhecida”;

b) Sugestões: o Grupo não deu sugestões.

98
Tabela 5 – Comentários Finais – GD5

Comentários
Grupo de Diálogo 15-24
Finais
(07/05/05) GD5
(Temas/Questões)
Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens
Questões que abordam esse/a tema/ questão
Valores que devem “Parar de ser ladrão... Falar é fácil, mas não cumpre nada, não
guiar os(as) cumpre nada, esses cara são tudo, tudo ladrão, Zé”
políticos(as)
[responsabilidade; “Que eles pensassem duas vezes antes de fazer as coisas, fala as
senso de justiça; coisas pra depois não cumpre”
seriedade, “Pra parar de ser sem vergonha, pensar também duas vezes antes
autenticidade; e ver o lado do povo”
atenção aos(às) mais
pobres] “Que eles deviam de falar menos e cumprir mais, porque só falar
não adianta nada não, não modifica em nada”
“Que eles possam trabalhar mais, ter mais é... força de vontade e de
querer em ajudar aqueles que precisam”
Os(as) jovens como “Que dê mais uma chance para os jovens”
preocupação central
dos(as) governantes “Que a gente tá na mão deles, eles que decidem o que vai fazer
com a gente”
Cultura/Lazer/Esporte “Podia construir umas quadras pra nós, (...) porque a gente paga
quadra caro pra poder jogar uma bola, não tem um espaço
reservado pra nós”
Nada a dizer “Eu não tenho nada a dizer, só o tempo dirá por nós”
“ Ah, não sei”
“Pros políticos, eu não tenho nada a falar ,não”
“Eu não tenho nada, nada a dizer, não vou jogar pedra e nem
menos vou deixar de jogar, vou ficar na minha”

AVALIAÇÃO DO GD5 (07/05/05)

a) Aspectos positivos:
• oportunidade de debater suas opiniões/aprendizado (5): “aprendi coisas, assim,
que eu não sabia, você adquirindo mais... Como eu posso dizer? Mais
formação...”; “eu passei o que eu sei pros outros e o que eles sabem, ele passou
pra mim”; “pra mim, o que aconteceu de mais importante foi ter conhecido todos
vocês, professores... Eu agradeço por vocês terem nos convidado, ter me
convidado a participar dessa, dessa grande, vamos supor, uma grande é...
palestra. Porque aqui você aprende muito, aprende até fazer amizade e aprende
até a conversar também, entendeu?”;

• oportunidade de conhecer novas pessoas/sociabilidade (8): “O que aconteceu de


mais importante pra mim aqui foi que eu conheci pessoas novas”; “fazer novas
amizades”;

99
• oportunidade de manifestar a opinião da juventude (2): “ter ouvido a opinião de
outras pessoas, ter me expressado, expressado a minha opinião e... até o que a
gente decidiu aqui, a gente até se mobilizou, se uniu pra fazer até um projeto
voluntário”; “uma das coisas que aconteceu pra mim mais importante aqui hoje é
o encontro que nós temos aqui sobre o jovem, né? Que pro jovem ver, que não
só eu ver, mas cada um de nós aqui ver, que não os políticos, mas vocês, os
professores, estão preocupados com a situação do jovem, entendeu? Por isso foi
o motivo de eu estar aqui, de cada um estar aqui hoje e de eu ter feito amizade,
ter conhecido esse pessoal, o pessoal são pessoas interessantes, simpáticas,
bonitas...”.

b) Sugestões: o Grupo não deu sugestões.

100
Tabela 6 – Análise Fichas Pós-Diálogo
Caminho Participativo 1 – Sob a condição de que....

Grupo
Grupo Grupo 1º Grupo 2º Grupo
Temas/Questões de Diálogo
de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Que Aparecem Experiência
15-18 18-24 15-24 15-24
Como Condição Participativa
(16/04/05) (23/04/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
Quantas Quantas Quantas Quantas Quantas
Tema/
vezes vezes vezes vezes vezes
Questão
aparece aparece aparece aparece aparece
1 – Resulte em
uma forma de
6 -- 6 -- --
ajuda concreta a
outra pessoa
2 – Tenha
o apoio do 4 2 1 2 1
governo/sociedade
3 – Os outros
Caminhos 1 -- 2 -- --
sejam apoiados
4 – Valorize
a opinião 3 5 3 -- --
dos(as) jovens
5 – Haja controle
1 -- -- -- --
e fiscalização
6 – Mantenha-se
o compromisso 6 -- -- -- --
anterior
7 – Transforme
1 -- -- -- --
a política
8 – Possibilite o
crescimento e a 1 -- -- -- --
realização pessoal
9 – Todos(as)
tenham
-- 1 2 -- --
oportunidade de
participar
10 – Se alie ao
trabalho voluntário -- 1 3 -- --
(Caminho 2)
11 – Não caia
-- -- 1 -- --
em radicalismos
12 – Não seja
manipulado
-- 2 -- -- 1
ou usado
politicamente

101
Grupo
Grupo Grupo 1º Grupo 2º Grupo
Temas/Questões de Diálogo
de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Que Aparecem Experiência
15-18 18-24 15-24 15-24
Como Condição Participativa
(16/04/05) (23/04/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
13 – Não
comprometa
-- 1 -- -- --
o tempo para
outras atividades
14 – Não substitua
-- 1 -- -- 1
ao governo
15 – Seja uma
-- -- -- 1 --
iniciativa séria
16 – Garanta
-- -- -- -- 1
os direitos
17 – Traga
resultados
-- -- -- -- 1
concretos para
os(as) jovens
18 – Os(as)
políticos(as) -- -- -- -- 1
sejam honestos(as)
19 – Não haja
-- -- -- -- 1
racismo
20 – Os(as)
jovens tenham os -- -- -- -- 1
mesmos objetivos
N – Não se pode
categorizar
4 11 5 4 4
(opiniões e
comentários)
NR (em branco) 4 1 12 10 2
TOTAL
(total de condições/
23/27 13/24 18/23 3/7 8/12
total de fichas
preenchidas)
Total
31 25 35 17 14
de jovens

102
Caminho Participativo 2 – Sob a condição de que....

Grupo
Grupo Grupo de 1º Grupo 2º Grupo
Temas/questões de Diálogo
de Diálogo Diálogo de Diálogo de Diálogo
que aparecem Experiência
15-18 18-24 15-24 15-24
como condição Participativa
(16/04/05) (23/04/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
Tema/ Quantas Quantas Quantas Quantas Quantas
Questão vezes vezes vezes vezes vezes
aparece aparece aparece aparece aparece
1 – Não substitua
6 1 2 3 1
o governo
2 – Resulte em uma
forma concreta de 4 1 1 1 2
ajuda
3 – Não comprometa
o tempo para outras 2 2 -- -- --
atividades
4 – Apoio e
condições para
2 1 6 -- 2
desenvolver o
trabalho voluntário
5 – Os(as)
voluntários(as)
3 1 -- -- --
tenham preparação/
qualificação
6 – Tenha
reconhecimento
-- 1 -- --
e valorização pela
sociedade
7 – Continuidade
1 -- -- -- --
do trabalho
8 – Tenha
1 -- -- -- --
divulgação
9 – Seja
desenvolvido
1 -- -- -- --
com seriedade/
compromisso
10 – Seja
desenvolvido 1 2 1 -- --
em grupo
11 – Seja
voltado para -- -- 1 -- --
o meio ambiente
12 – Não seja
manipulado
-- -- 1 -- --
ou usado
politicamente

103
Grupo
Grupo Grupo de 1º Grupo 2º Grupo
Temas/questões de Diálogo
de Diálogo Diálogo de Diálogo de Diálogo
que aparecem Experiência
15-18 18-24 15-24 15-24
como condição Participativa
(16/04/05) (23/04/05) (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
13 – Envolva
a participação -- -- -- 1 --
dos(as) jovens
N – Não se pode
categorizar (opiniões 6 16 12 4 6
e comentários)
NR (em branco) 4 1 10 8 3
TOTAL (total de
condições/total de 21/31 8/24 13/25 5/9 5/11
fichas preenchidas)
Total
31 25 35 17 14
de jovens

104
Caminho Participativo 3 – Sob a condição de que....

Grupo
de Diálogo 1º Grupo 2º Grupo
Grupo de Grupo de
Temas/questões Experiênci de de
Diálogo Diálogo
que aparecem a Diálogo Diálogo
15-18 18-24
como condição Participativ 15-24 15-24
(16/04/05) (23/04/05)
a (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
Quantas Quantas Quantas Quantas Quantas
Tema/
vezes vezes vezes vezes vezes
Questão
aparece aparece aparece aparece aparece
1 – Resulte em
alguma forma de 3 5 2 3 1
ajuda concreta
2 – Não substitua
1 -- -- -- --
o governo
3 – Não
comprometa o
2 -- -- -- --
tempo para outras
atividades
4 – Apoio e
condições para
2 -- 3 -- 2
desenvolver o
trabalho voluntário
5 – O grupo não
2 5 1 -- 1
se isole
6 – Não seja
manipulado ou
1 -- -- -- --
usado
politicamente
7 – Tenha
2 -- -- -- --
continuidade
8 – Se articule
1 -- -- -- --
com o Caminho 1
9 – Ocupe o
tempo ocioso
1 -- 1 -- --
dos(as) jovens
que estão na rua
10 – Que não
dependa dos(as) -- 1 -- -- --
adultos(as)
11 – Se articule
com o caminho -- 1 -- -- --
2e1
12 – Se articule
com outros -- -- 1 -- --
Grupos

105
Grupo
de Diálogo 1º Grupo 2º Grupo
Grupo de Grupo de
Temas/questões Experiênci de de
Diálogo Diálogo
que aparecem a Diálogo Diálogo
15-18 18-24
como condição Participativ 15-24 15-24
(16/04/05) (23/04/05)
a (30/04/05) (07/05/05)
(02/04/05)
13 – Os(as) jovens
reivindiquem e -- -- 2 -- --
sejam ouvidos(as)
14 – Seja ligado
ao bairro onde -- -- 1 -- --
moram
15 – Os(as) jovens
possam escolher
aquele Grupo que -- -- 1 -- --
mais os(as)
agrada
16 – Se articule
-- -- 1 -- --
com o Caminho 2
17 – Tenha
-- -- -- 1 --
segurança
18 – Estabeleça
parceria com as -- -- -- 1 --
escolas
19 – Haja
compromisso e
-- -- -- -- 3
seriedade por
parte do Grupo
N – Não se pode
categorizar
10 10 8 2 5
(opiniões e
comentários)
NR (em branco) 6 3 14 10 2
TOTAL (total de
condições/total
15/25 12/22 13/21 5/7 7/12
de fichas
preenchidas)
Total
31 25 35 17 14
de jovens

106
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.3 Relatório regional


Distrito Federal
Entidade parceira
Instituto de Estudos Socioeconômicos/Inesc

Equipe
Supervisora regional
Ozanira Ferreira da Costa

Assistentes de pesquisa
Karina Figueiredo e Perla Ribeiro

Bolsistas
Elizângela R. Menezes, Janisse Carvalho,
Lorena Marques e Rafael Madeira

Apoio de multimídia
Giancarlo de Jesus Silva

Apoio de som
Avelino Ferreira

Colaboração
Cecria e MNMMR-DF
Sumário

1 – Introdução
2 – A metodologia em ação: os Grupos de Diálogo da Região Metropolitana de Brasília

2.1. A preparação e a mobilização dos Grupos de Diálogo

2.2 O Dia de Diálogo

2.3. Perfil dos(as) participantes

2.4. A participação dos(as) jovens nos diferentes grupos

2.5. Análise global da metodologia dos Grupos de Diálogo: a experiência brasiliense

2.6. Análise sobre a organização da pesquisa em rede

3 – Comentários iniciais
4 – Semelhanças e diferenças: que Brasil queremos e como chegar lá?

4.1. A educação

4.2. O trabalho

4.3. A cultura e o lazer

4.4. O processo dos caminhos participativos

5 – Caminhos participativos

6 – Caminho síntese

7 – Comentários finais

8 – Fichas pré e pós-Diálogo

9 – Análise sobre a participação

10 – Conclusão

11 – Recomendações

12 – Bibliografia

13 – Anexos
1 – Introdução

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação e esferas públicas e políticas é de


iniciativa do Ibase e do Instituto Pólis, em parceria com Redes Canadenses de Pesquisa em
Políticas Públicas (CPRN1), e foi realizada a partir da estratégia de trabalho em rede, em oito
Regiões Metropolitanas do Brasil2 (RMs). Na Região Metropolitana de Brasília (RMB) a parceria
foi feita com o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Este relatório apresenta uma síntese da pesquisa com ênfase para o resultado da
segunda etapa, que utilizou a metodologia de “Grupos de Diálogo” (GD), adaptada da
experiência canadense, sistematizando a experiência do Distrito Federal ou Região
Metropolitana de Brasília, conforme convencionado pela pesquisa. A primeira etapa constituiu-
se da aplicação da pesquisa de opinião (PO), aplicada pelo Instituto Focus, nas oito Regiões
Metropolitanas, no período de outubro a novembro de 2004, com o tratamento dos dados
realizado pelas equipes das respectivas Regiões. Na Região Metropolitana de Brasília, foi
considerada uma população de 2.952.276 habitantes, e foi pesquisada uma amostra de 600
jovens, na faixa etária de 15 a 24 anos, considerando a amostragem probabilística e
independente das demais Regiões Metropolitanas abrangidas pela pesquisa.

A pesquisa tem como referência o fato de que a participação dos(as) jovens nos
processos de discussão sobre decisões que afetarão o seu futuro não é comum no Brasil.
Ainda que existam exemplos isolados de mecanismos que favoreçam ao(à) jovem participar
mais de perto da vida da sua cidade ou estado, esse procedimento está longe de ser a regra. A
conjuntura atual é um marco, no tocante a processos de elaboração de políticas para a
juventude, que têm provocado organizações juvenis, instituições públicas e da sociedade civil a
se engajarem no debate.

Nessa perspectiva, a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia parte da


necessidade de que os(as) jovens sejam sujeitos ativos nesse processo ainda inicial de
definição de políticas nacionais para os segmentos juvenis, e compreende a metodologia de
Grupos de Diálogo, no âmbito de novos mecanismos que subsidiem a formulação de políticas
públicas para a juventude e estimulem a participação dos sujeitos beneficiários dessas
políticas.

A abordagem sobre a metodologia parte do entendimento de Demo (1995), que a


define como “estudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência”, orientada
pela busca de metodologias alternativas, que articulem teoria e prática, quantidade e
qualidade, levando em conta, no processo de produção de conhecimento para a formulação de
políticas públicas, de um lado, a qualidade formal e política e, de outro, a singularidade dos
sujeitos usuários das políticas sociais públicas. Demo (1995) ressalta a importância da

1. CPRN – Canadian Policy Research Networks.


2. Belém, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo.

2
qualidade formal e política, na produção de conhecimento científico. Para o autor, na qualidade
formal, é importante garantir os critérios formais da competência instrumental, no método e na
teoria enquanto, na qualidade política, surge a dimensão do cientista como ator político, aliada
à de pesquisador disciplinado.

Do ponto de vista da singularidade dos sujeitos, ao se analisar a realidade de forma


crítica, com vistas a formular políticas que a transformem, deve ser considerada a maior
proximidade possível com o universo dos(as) usuários(as) envolvidos(as). Além das demandas
advindas da materialidade, outras se assentam em aspectos relacionados à cultura, aos
valores e às necessidades que os constituem como sujeitos de direitos, de desejos e de
particularidades, advindos da condição de gênero, de cor/raça/etnias, do ciclo de vida
[crianças, adolescentes, jovens, idosos(as)], de necessidades especiais (deficiências físicas,
mentais) etc.

O relatório é apresentado em duas partes, além da introdução e da conclusão. A


primeira parte aborda a metodologia em ação e, especificamente, trata da análise dos
diferentes momentos da realização dos Grupos de Diálogo, da análise global da metodologia e
da organização da pesquisa em rede, e a segunda parte aborda uma análise do conteúdo dos
Grupos de Diálogo.

3
2 – A metodologia em ação:
os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de Brasília

Os Grupos de Diálogo da RMB seguiram o modelo nacional e se desenvolveram num processo


de preparação, mobilização, realização e tratamento dos dados. Esta primeira parte apresenta
a metodologia em ação, com base na experiência do Distrito Federal, considerando o seu
caráter inédito, identificando as possibilidades de contribuição da metodologia de Grupos de
Diálogo, numa perspectiva participativa, que possibilitasse o acúmulo de conhecimento de
forma a subsidiar a formulação de políticas públicas para a juventude.

• A Região Metropolitana de Brasília – RMB

A Região Metropolitana de Brasília, assim convencionada pela pesquisa, inclui o conjunto de


cidades ou “Regiões Administrativas”, que constitui o Distrito Federal. Ela deve ser
compreendida no seu contexto multifacetado e considerando o entrelaçamento dos aspectos
socioespacial, político e cultural.

Tais cidades se multiplicam a cada dia, numa outra configuração socioespacial. “Áreas
invadidas ganharam administrações regionais e pólos de desenvolvimento econômico se
consolidaram no espaço geográfico da capital” (Correio Brasiliense, 01/01/2005). A RMB ou o
Distrito Federal desenha um novo mapa e, progressivamente, vai assumindo o formato de uma
constelação de satélites em torno de uma grande nave espacial.

A nave suscita variadas inspirações. Assemelha-se ao formato de um avião para uns;


para outros(as), compara-se ao desenho de um crucifixo e, para terceiros(as), Brasília se
parece com uma grande borboleta cintilante.

Vistas do mais alto do céu, donde os satélites acampam para fotografar


o planeta, as grandes capitais brasileiras são manchas reluzentes. Entre
elas, uma única tem forma definida. É uma borboleta faiscante, asas e
corpo bordados de lantejoulas. De lá longe, lampejante. Cá de perto,
cintilante. A mais perfeita imperfeição. Projeto grandioso e maltratado
(...). Borboleta radiante no meio do Planalto Central brasileiro, Brasília
tem história, identidade, arte, arquitetura, criação, labuta fervorosa. Mas
poucos os que, em tendo poder, respeitam esse patrimônio precioso.
(Correio Brasiliense, Crônica da Cidade – 1º/01/05).

Não é à toa que Brasília é comumente confundida com o Distrito Federal. À parte
ao seu crescimento assustador, numa luta constante entre a preservação do projeto
original e a ganância de grileiros(as) e especuladores(as) imobiliários, a capital do país
concentra a vida ativa do DF, em suas várias dimensões. Embora a vida pulse nas
cidades e algumas, como Taguatinga, já se constituam do seu próprio desenvolvimento
econômico, cada vez mais, administrativamente, todas se vinculam a Brasília, e o centro

4
administrativo, econômico, cultural e social predomina nela, transformando as várias
Regiões Administrativas em cidades dormitórios.

Aqui é uma terra onde o mundo se encontra. Brasília, além de abrigar a representação
oficial dos vários países que mantêm relações diplomáticas com o Brasil, recebe, com as suas
grandes asas abertas, brasileiros(as) e estrangeiros(as) de todas as partes. Ela é uma síntese,
por assim dizer, da diversidade do povo brasileiro. Tem gente de todo o mundo, de toda cor, de
toda raça, de todo credo, construindo uma identidade própria e já com novas gerações de
brasilienses natos(as).

A cidade que inspirou Niemeyer e Lúcio Costa, hoje, sintetiza e expressa as faces
contrastantes da desigualdade social. Brasília, que um dia foi considerada um eldorado, como
as grandes cidades brasileiras, hoje está sufocada pelo contraste que se acirra, a cada dia,
entre a concentração de riqueza, de um lado, e a miséria, de outro, refletindo-se e desenhando
uma situação socioespacial bem particular. É a partir das múltiplas práticas da população que
se pode conhecer a lógica de segregação socioespacial, em seus processos de intervenção no
espaço e no território. Por meio da forma como os homens (e mulheres) estabelecem suas
relações sociais, econômicas e políticas para produzirem e reproduzirem as condições
existenciais é que se pode observar como eles(as) constroem o seu espaço/território.

Brasília vai se transformando num formato único, particular, que agrega riqueza e
pobreza, beleza e feiúra e o contraste social daqueles(as) que vivem o seu cotidiano entre os
Lagos Sul e Norte e em cidades como a Estrutural e a invasão do Itapoá. Aqui se tem o melhor
e o pior, afirma a socióloga Natália Mori, que observou durante um ano os contrastes do
Distrito Federal. Ela “quis registrar as diferenças tidas ainda como invisíveis, mas totalmente
presentes em nosso dia-a-dia. A Brasília pós-moderna, envidraçada, segura, rica, do Plano
Piloto do Lago Sul e Norte. E as carroças, os catadores e a pobreza da periferia”.

Na capital dos contrastes, o rendimento dos(as) bem-nascidos(as) supera em 27 vezes


o dos(as) miseráveis. O DF é a unidade da Federação com melhor Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). No melhor lugar para um(a) brasiliense viver, o Lago Sul, cada membro de uma
família recebe, em média, R$ 2.798,00 por mês. No Itapoá, o pior endereço do DF, um pai de
família ganha R$ 102,00, quando tem trabalho.

Na verdade, a formação e a organização socioespacial de Brasília é um fenômeno


comum à formação das cidades brasileiras que tiveram um crescimento rápido. A diferença é
que, em Brasília, sempre houve uma política de criação de cidades-satélite, isoladas do Plano
Piloto, para abrigar quem não cabia no projeto original da nova capital, mas que, por outro lado,
deveria ser “incluído(a)” na política habitacional populista dos governos locais.

Brasília guarda, simultaneamente, o complexo político e administrativo do país que


se transforma, continuamente, em palco mutante de atos e protestos políticos, chegando a
se constituir, historicamente, em cenário de atos pelas Diretas Já!, de mobilização da
sociedade pela aprovação de uma nova Constituição Federal, do impeachment de um

5
presidente da República e de atos que atentam à ética, à moral e à democracia, expressos
na face explícita da corrupção.

Mas a cidade de Renato Russo, aquela que acolheu Cássia Eller, inspirou e inspira
poetas, músicos(as) e bandas como Legião Urbana, Plebe Rude, Detrito Federal etc., também
inspira tragédias, como o assassinato do índio Galdino, por jovens da classe média brasiliense,
e a crescente organização dos(as) jovens, por meio de gangues, que preenchem o vazio
oferecido à criatividade juvenil.

Finalmente, aos 45 anos, Brasília já é avó. A jovem cidade embala a sua segunda
geração. É nela e nesse complexo de cidades que a margeiam, que vivem os(as) jovens que
participaram da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia. Em sua maioria, eles(as) são os
primeiros netos(as) nativos(as) de uma terra que ainda tem 52% da população formada por
migrantes nordestinos(as), mineiros(as), goianos(as), cariocas etc.

2.1. A preparação e mobilização dos Grupos de Diálogo

A metodologia dos Grupos de Diálogo constitui um mecanismo de consulta, que se


estendeu para além do seu dia de realização. Com o intuito de estabelecer uma ação para
o controle da metodologia, é importante pensar todo o caminho planejado, num processo
que vai desde a preparação minuciosa até a realização das sessões, seguindo os
instrumentais de orientação, para se manter uma unidade mínima, em termos comparativos
entre as Regiões Metropolitanas.

Partiu-se do entendimento de que é necessário cuidar de todos os detalhes com


atenção especial. Por esse motivo, a preparação e a mobilização dos Grupos de Diálogo
envolveram aspectos como a organização da equipe e dos diferentes Grupos, a convocação e
o deslocamento dos(as) jovens, os serviços de apoio e o local de realização dos eventos.
Como bem enfatiza o Almanaque de Metodologia da Educação Popular do Cenap (s/d), se
referindo ao ambiente educativo,

(...) o local deve ser agradável, com iluminação e ventilação adequadas, sem ruídos
perturbadores ou interferências que distraiam. Deve-se assegurar a privacidade
necessária para que as pessoas possam expressar seus pensamentos,
sentimentos, recordações e movimentos, sem receio de serem interrompidas ou
escutadas por outras pessoas alheias ao processo. Além disso, o ambiente deve
corresponder às necessidades do trabalho proposto. Caso contrário, devemos
modificar nosso esquema.

A experiência demonstrou casos interessantes como o de um jovem que declarou ter


começado a se preparar para o encontro três dias antes, pois não tinha o hábito de discutir
política, ou como o de duas jovens que não autorizaram o uso da imagem e da voz.
Curiosamente, uma delas tinha experiência com o uso de drogas. Também destacaram-se

6
surpresas e imprevistos considerados naturais e lembrando que, não obstante a compreensão
e apropriação dos Caminhos e dos instrumentos, “o método de captação não pode ser mais
importante do que a realidade a ser captada” (DEMO, 2001). A maior das surpresas foi a
presença de 37 jovens, na última sessão de GD, considerando que as demais chegaram no
máximo a 20 participantes.

Outros aspectos imprevistos podem ser ressaltados no processo de mobilização e


realização dos GD, tais como: a participação de dois irmãos que responderam ao questionário;
uma moça, que tinha 24 anos quando respondeu o questionário e, no GD, já havia completado
25 anos; um adolescente que, ao responder o questionário da PO, declarou ter 16 anos e, na
realidade, ainda tinha 14 anos quando participou do GD; a participação, desapercebida e em
dias distintos, de dois jovens (uma moça e um rapaz) que participaram sem estar na listagem
geral de convocação.

2.2 O Dia de Diálogo

O segundo momento da aplicação da metodologia foi a realização dos Grupos de Diálogo, que
seguiu passo a passo o modelo nacional, com base nos instrumentos previstos, os quais
permitiram inteirar os(as) jovens sobre a temática em discussão: o Guia do(a) Facilitador(a), o
Caderno de Trabalho, o CD-ROM, os banners, os painéis e os questionários Pré e Pós-
Diálogo. Além desses, vale enfatizar o processo de facilitação.

O Guia do(a) Facilitador(a) foi fundamental, pois permitiu seguir um caminho sinalizado
durante o Grupo de Diálogo e, em relação ao conjunto dos GD, garantiu uma referência de
análise para a metodologia. Não foram necessárias grandes adaptações na RMB, à exceção
da flexibilidade do horário e do processo de facilitação abordado adiante.

Observou-se que o Caderno de Trabalho, apesar do seu formato criativo, é de difícil


leitura e entendimento para muitos(as) jovens. Tal dificuldade pode ser atribuída a problemas
do próprio Caderno, mas também deve ser considerado o perfil heterogêneo do Grupo, a
diversidade de compreensão, habilidades e formas (ou ausência delas) de acesso à leitura
pelos(as) jovens da RMB.

O CD-ROM é bastante ilustrativo e possibilitou facilitar o entendimento do assunto.


A apresentação do CD foi fundamental para contextualizar os(as) jovens na temática
proposta, fixar as informações e configurar o panorama da situação da juventude no país.
A apresentação repetida dos Caminhos Participativos possibilitou uma melhor
compreensão da proposta apresentada pelo(a) facilitador(a). Tendo em vista a diversidade
de informações, foi necessário estabelecer pausas pontuais para reforçar de forma
expositiva o conteúdo, para esclarecimentos e comentários dos(as) jovens, principalmente
ao final de cada Caminho Participativo.

7
Além dos banners, que indicavam tópicos da temática do Grupo de Diálogo, a agenda
do Dia, o roteiro de apresentação dos(as) participantes e dos comentários finais, os painéis
informativos foram um ótimo suporte aos quais os(as) jovens se reportaram com freqüência.

Os questionários Pré e Pós-Diálogo, na RMB, foram simbolizados pelas cores azul e


rosa, respectivamente. Foram distribuídos conforme o código no crachá de cada jovem.
Durante a distribuição, relacionaram-se os Caminhos expressos nos questionários ao conteúdo
dos CDs, explicando-se que possuíam códigos e não deveriam ser identificados.

O processo de facilitação ocorreu em três dimensões: conduzido pela equipe técnica,


que deu as boas-vindas, conduziu os comentários e opiniões iniciais e finais dos(as)
participantes, durante as plenárias Pós-Diálogo e no encerramento; nos pequenos Grupos,
conduzido pelos(as) bolsistas; em momentos pontuais por uma bolsista, que aplicou técnicas, à
luz da dinâmica de grupo.

2.3. Perfil dos(as) participantes

Em Brasília, aconteceram cinco sessões de Grupos de Diálogo, nos meses de abril e maio. A
primeira, com jovens que já tinham alguma experiência de participação (nove jovens de 15 a 24
anos); outra, com jovens de 18 a 24 anos; uma terceira, com jovens de 15 a 17 anos; uma
quarta sessão, com jovens de 15 a 24 anos e a última sessão, com 36 jovens de 15 a 24 anos.
Do universo de 600 jovens que participaram da pesquisa de opinião na RMB, foi selecionada
uma amostra de cerca de 200 jovens, de 15 a 24 anos, para participar dos Grupos de Diálogo.
Numa análise geral desses(as) jovens, identificou-se uma quantidade distinta entre aqueles(as)
que foram convocados(as), os(as) que confirmaram e aqueles(as) que efetivamente
compareceram. Como pode ser ilustrado na tabela 1, ao todo, foram feitas 364 convocações,
salientando-se que houve situações em que jovens que não compareceram na primeira
convocatória foram convidados novamente.

Tabela 1 – Situação de realização dos GD da RMB

Característica Data de Convocações Confirmações Comparecimento


do GD realização
Com experiência 03/04 – Domingo 41 35 09
participativa
18 a 24 anos 09/04 – Domingo 40 33 03 (cancelado)
30/04 – Sábado 60 35 20 (repetindo a
sessão cancelada)
15 a 17 anos 16/04 – Sábado 50 15 12
1º - 15 a 24 anos 07/05 – Sábado 85 20 13 jovens
2º - 15 a 24 anos 14/05 – Sábado 88 41 36 jovens
Total - 364 179 90

8
Do total de convocações, 179 confirmaram mas, efetivamente, compareceram 90 jovens
de 19 das 28 cidades, ou Regiões Administrativos do Distrito Federal, com predominância
absoluta de jovens da Ceilândia (19), Santa Maria e Gama, com nove jovens, e Sobradinho e
Plano Piloto3, com oito jovens. As cidades com menor número de comparecimento foram
Paranoá, Brazlândia e Candangolândia, com um(a) participante de cada.

Tabela 2 – Cidades da Região Metropolitana de Brasília

Nome da Cidade No de Participantes


Sobradinho 08
Ceilândia 19
Plano Piloto 08
Santa Maria 09
Guará 03
Gama 09
Águas Claras 03
São Sebastião 05
Estrutural 03
Paranoá 01
Recanto das Emas 06
Riacho Fundo 02
Planaltina 02
Samambaia 07
Taguatinga 03
Brazlandia 01
Candangolândia 01

Total 90

O perfil dos(as) 90 jovens de 14 a 25 anos que aderiram aos GD revela maioria


masculina, com 53 rapazes, e uma representação feminina de 37 moças. A maioria é da classe
C, com 42 jovens, seguidos das classes D/E, com 29 jovens, e das classes A/B, com 19
jovens. Os dados sobre o grau de escolaridade atestam que todos(as) freqüentam ou
freqüentaram a escola, sendo que 21 declararam ter o Ensino Fundamental, 55, o Ensino
Médio e 14, o Ensino Superior. Dos(as) 90 jovens, 36 trabalham (conferir tabelas 3 abaixo
e 4 em anexo).

3. No Plano Piloto, estão incluídos os(as) jovens do Cruzeiro e do Lago Norte.

9
Tabela 3 - Perfil por Grupo de Diálogo

Classe Sexo
Características Total de
do GD4 participantes A/B C D/E Mulheres Homens
Experiência 09 01 06 02 03 06
Participativa
18 a 24 anos 20 05 11 04 08 12
15 a 17 anos 12 03 07 02 05 07
1º - 15 a 24 anos 13 03 05 05 06 07
2º - 15 a 24 anos 36 07 13 16 15 21
Total 90 19 42 29 37 53

Este perfil confirma aquele configurado na pesquisa de opinião, o qual evidencia


superioridade numérica dos rapazes em relação às moças, a maioria da classe C, seguida das
classes D/E. Numa tendência verificada em quatro GD5, também se reafirma a maioria de
católicos(as), dos(as) que não têm filhos(as) e dos(as) jovens que não estão estudando, sendo
eles(as) cerca de 30%.

Aqui, ao contrário da primeira etapa da pesquisa, em que a maioria de participantes


estava na faixa etária de 21 a 24 anos, os(as) jovens desta faixa etária foram os(as) que menos
se disponibilizaram a participar da segunda etapa. Como demonstra o gráfico abaixo, a maioria
dos(as) jovens que se dispuseram a participar dos Grupos de Diálogo e que compareceram
aos GD tinha entre 18 e 20 anos.

4. No GD com jovens de 18 a 24 anos e no último GD, com jovens de 15 a 24 anos, compareceram,


respectivamente, uma jovem que já completara 25 anos e um adolescente que ainda tinha 14 anos, mas
declarara, na PO, ter 15 anos.
5. Levantamento realizado a partir da técnica de apresentação.

10
Gráfico I: Idade dos(as) jovens que se dispuseram a participar dos GD

IDADE

30

25

20

15 IDADE

10

0
1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 106 113 120 127 134 141 148 155 162 169 176 183 190 197

Embora a maioria esteja freqüentando o Ensino Médio, reafirma-se a defasagem


escolar já observada na PO e confirmada pelos dados do IBGE. Os dados retratam uma clara
defasagem entre a série e a idade6, com atraso no fluxo escolar, tendo em vista que, pelo
sistema educacional brasileiro, o(a) adolescente, aos quinze anos, deveria estar ingressando
no Ensino Médio. O IBGE, embora admita a considerável defasagem no fluxo de escolaridade
dos(as) jovens brasileiros(as), argumenta que ela vem diminuindo nos últimos três anos.

Em termos de trabalho, os dados acompanham uma tendência aproximada da PO,


no sentido de que a maioria dos(as) jovens que compareceram aos GD (cerca de 60%) não
está trabalhando.

2.4. A participação dos(as) jovens nos diferentes grupos

Quanto às característica dos Grupos e diferenças entre eles, alguns fatores podem ser
destacados (cf. anexo I). Não houve diferenças consideráveis entre os Grupos, conforme
reiterado no item 7 deste relatório, nem especificamente entre o Grupo com experiência prévia
de participação e os demais. Em geral, como características comuns dos Grupos é possível
identificar: a facilidade de entrosamento dos(as) jovens, a polarização das falas entre
alguns(mas) jovens e o espírito de liderança das moças além da disputa às vezes acirrada
entre elas, que marcaram presença e se distinguiram em um dos Grupos de 15 a 24 anos
polarizando a discussão e formando blocos de opiniões distintas.

6. De acordo com o IBGE, “a análise da freqüência escolar deve ser qualificada levando-se em conta a
adequação série-idade do sistema educacional brasileiro, no qual a educação formal completa se
encontra estruturada em um mínimo de 15 anos de estudo: oito anos para o Ensino Fundamental, três
anos para o Ensino Médio e um mínimo de quatro anos para a educação superior. As idades
consideradas adequadas a esses níveis de ensino são, respectivamente, 7 a 14 anos (sendo 7 anos na
primeira série, 8 na segunda, em diante); 15 a 17 anos (15 anos na primeira série, 16 na segunda e 17 na
terceira); e 18 a 24 anos (considerando as distintas durações de casa curso)”. IBGE; 2005.

11
A temática da educação teve rebatimento em todos os perfis etários e nos vários
momentos das sessões. Em particular, as questões mais preocupantes dos comentários
iniciais como o trabalho tiveram maior destaque nos Grupos com jovens de 18 a 24 anos.
Enquanto aquelas que se sobressaíram nos comentários finais, relacionadas à credibilidade
nos(as) políticos(as), juventude, pobreza tiveram maior destaque no último Grupo com jovens
de 15 a 24 anos.

O GD com experiência participativa foi o Grupo com menor número de


comparecimento e de cidades contempladas. Sobressaíram, numericamente, os(as) jovens
da classe C. Os(as) que menos compareceram foram os da classe A. Compareceram
jovens de oito cidades, sendo a maioria do Recanto das Emas; seis eram rapazes; exceto
os(as) jovens de 17 ou 23 anos que não participaram, todas as idades foram
contempladas. Sete jovens não trabalham. Seis jovens concluíram o Ensino Médio. Há que
se considerar, nesse Grupo, o destaque para a preocupação com violência nos
comentários iniciais e a pouca credibilidade nos(as) políticos(as) nos comentários finais,
sugerindo um certo pessimismo para esses segmentos da juventude.

O Grupo de 18 a 24 anos, com 20 jovens, teve como característica diferencial o


trabalho, já que 50% deles(as) exercem alguma forma de trabalho. Esse foi o único Grupo com
igual número de jovens que trabalham e que não trabalham. Como no primeiro GD,
sobressaíram os rapazes, jovens da classe C e aqueles(as) com Ensino Médio completo. O
menor comparecimento foi das classes D e E. Aqui, obteve-se a adesão de jovens de dez
cidades, sendo a maioria de Ceilândia.

O Grupo de 15 a 17 anos, com 12 jovens, apresentou características semelhantes aos


demais: sobressaiu a classe C, predominaram os rapazes, os(as) jovens que não trabalham,
os(as) que concluíram o Ensino Médio e os(as) que moram na Ceilândia.

O 1º GD com jovens de 15 a 24 anos teve 13 jovens, apresentando como


características diferenciais a classe social e o trabalho juvenil. Nesse Grupo, mais da metade
dos(as) participantes declararam trabalhar. Os(as) jovens das classes C, D e E compareceram,
numericamente, em igualdade. Em consonância com os outros Grupos, a maioria era de
rapazes, com o Ensino Médio concluído. Participaram jovens de nove cidades. Não houve
diferença significativa em termos de número de comparecimento por cidade.

A principal característica do último GD, com 36 jovens, de 15 a 24 anos, foi quanto ao


comparecimento. Esse foi o Grupo maior e o mais difícil de trabalhar. Diferentemente dos
outros, nesse Grupo predominaram jovens das classes D e E, e participaram jovens de 15
cidades. Em semelhança aos demais, a maioria era de rapazes da Ceilândia, que não
trabalham e concluíram o Ensino Médio. Todas as idades foram contempladas.

Apesar da resistência dos(as) jovens em participar dos GDs, evidenciou-se a


importância atribuída por aqueles(as) que aderiram. Isso pôde ser confirmado seja quando
enfatizaram ter deixado de realizar alguma atividade importante para estarem nos Grupos

12
de Diálogo, seja nos comentários finais, quando manifestarem satisfação em discutir as
temáticas propostas.

2.5. Análise global da metodologia dos Grupos de Diálogo: a experiência brasiliense

Para efeito de análise, apresentam-se alguns aspectos sobre a metodologia de Grupos de


Diálogo, na pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação nas esferas políticas e
públicas, com base na experiência da RMB, considerando o seu caráter inovador e, sobretudo,
o seu aspecto inédito, para os(as) jovens participantes e para a equipe regional.

A compreensão da experiência da metodologia dos Grupos de Diálogo no Brasil e,


em particular, na RMB, situa-se no contexto das preocupações em repensar e reinventar,
no âmbito dos processos de investigação social, mecanismos que contribuam para uma
nova forma de pensar a formulação de políticas sociais, na construção de uma sociedade
democrática. Sob esse ponto de vista, a metodologia dos GD caracteriza-se como um
método alternativo de investigação, na busca persistente de caminhos novos, no contexto
de uma realidade que sempre é mutável. Ao considerar as dimensões quantitativas e
qualitativas, esse modelo metodológico, principal mecanismo desta pesquisa, parte da
compreensão de que, entre quantidade e qualidade não existe dicotomia, pois são partes
distintas do mesmo fenômeno.

Os Grupos de Diálogo atuam num estágio intermediário, do “trabalho sobre” valores e


escolhas, podendo influir nesse julgamento. Com base nesse entendimento e na experiência
brasiliense é possível tecer alguns comentários. A metodologia em questão estimula o
processo de aprendizagem, favorecendo ao(à) jovem tomar como ponto de partida a sua
própria realidade, estabelecer vínculos, enfrentar o conflito de valores e se basear num ponto
de vista individual, ampliando e compartilhando-o e, no mínimo, tomar consciência sobre o que
deseja. Não obstante a dificuldade de adesão, entre os(as) jovens que compareceram,
vários(as) explicitaram a surpresa e a satisfação de participarem.

As dificuldades identificadas no processo dos Grupos de Diálogo podem ser


dimensionadas em dois níveis: as relacionadas à operacionalização e aquelas advindas da
metodologia. Em termos das dificuldades operacionais, destacam-se o processo de
convocação, particularmente em relação aos endereços e telefones incorretos ou inexistentes,
os dias de realização das sessões, que foram em finais de semana e a dificuldade de adesão
(confirmação e comparecimento) dos(as) jovens.

Sobre as dificuldades na aplicação da metodologia, destacaram-se:

13
a) A garantia da proporcionalidade nos subgrupos. O comparecimento dos(as) jovens, abaixo
do esperado, dificultou a manutenção da proporcionalidade entre sexo, faixa etária, classe
social e cidade.

b) A garantia do tempo proposto para cada passo do Dia de Diálogo, tendo em vista o ritmo
dos Grupos. Em geral, foi necessário mais tempo do que o previsto.

c) A dispersão nos pequenos Grupos, no período da tarde: as conversas paralelas e as


‘viagens mentais’ foram mais freqüentes, em decorrência do sono e da preguiça pós-
almoço e da própria leitura do material, que era densa.

d) A dificuldade de entendimento dos Cadernos: além do sono e da preguiça, a densidade do


Caderno, a leitura de informações desconhecidas, entre outros aspectos, dificultaram o
trabalho dos Grupos da tarde. Na opinião da equipe da RMB, ele se adequaria mais a um
processo formativo mais longo.

e) A polarização da fala e a dificuldade de alguns(mas) jovens de se expressarem e de


participarem, tanto nos pequenos Grupos como nas plenárias. Isso foi mais marcante no
último Grupo, que era mais numeroso.

f) A dificuldade de autofacilitação, nos pequenos Grupos, e o desempenho das mulheres, que


sobressaíram na organização e desenvolvimento dos pequenos Grupos.

g) sobre os questionários Pré e Pós-Diálogo, embora os(as) jovens não tenham evidenciado
dificuldades em respondê-lo, o questionário Pré-Diálogo deveria anteceder o CDROM,
possibilitando abertura à real opinião do(a) jovem, livre da influencia do CD. Na percepção
dos(as) facilitadores(as), a ficha Pré-Diálogo poderia ter uma linguagem mais acessível.
Para eles(as), os três Caminhos abordados inicialmente apareceram como algo
incompreensível para o(a) jovem e do qual nunca ouviu falar.

Em contraponto às dificuldades, é possível destacar alguns pontos altos dos Grupos de


Diálogo realizados no Distrito Federal:

a) a metodologia permite aos sujeitos ficar em pé de igualdade: se, por um lado, a diferença
de gênero, classe e idade foi notória nas falas ou no comportamento, por outro,
observou-se que, no relacionamento interpessoal, esses aspectos não tiveram tanta
importância;

b) a facilidade de entrosamento entre os(as) jovens, ao mesmo tempo em que se


mostraram atentos(as) diante do desafio de lidar com algo nunca visto;

c) o processo de reflexão demonstrado por alguns(mas) jovens que, ao final, manifestaram-


se impressionados(as) com a experiência;

14
d) a importância atribuída pelos(as) jovens aos GD como espaço de participação, reflexão e
tomada de consciência, explicitando a omissão da escola em discutir tais assuntos.
Alguns(mas) jovens, naturalmente, participaram mais, e outros(as), menos;

e) o espírito de liderança das moças contribuiu para a organização e a motivação dos


Grupos

f) o respeito observado entre os(as) jovens, ao discordarem entre si;

g) a boa receptividade às dinâmicas de grupo, imprimindo criatividade e ludicidade ao


trabalho; e

h) sem desconsiderar a experiência de cada um(a), percebeu-se uma evolução no


pensamento dos(as) jovens; num processo de reflexão e de socialização, muitos(as)
deles(as) chegaram a uma opinião comum e, às vezes, diferente daquela com a qual
chegaram ao evento.

Finalmente, ficaram duas grandes indagações. Uma, em relação ao processo de


facilitação: apesar de todos os cuidados para não interferir ou emitir opinião, até que ponto
pode-se garantir que não há influência do(a) facilitador(a)? Sobretudo na problematização dos
Caminhos, percebeu-se a dificuldade em manter a postura de neutralidade. No entendimento
dos(as) bolsistas, essa situação se agravou nos pequenos Grupos, em que o desafio de lidar
com algo desconhecido ou pouco conhecido impediu, inclusive, a autofacilitação. No cuidado
de não interferir nos pequenos Grupos, muitas questões debatidas nestes não foram
retomadas nas plenárias.

Outra questão, já evidenciada na pesquisa de opinião, foi: por que, mesmo


apresentando-se as condições adequadas para a participação, 60% dos(as) jovens que se
disponibilizaram, anteriormente, a participar dos Grupos de Diálogo mudaram de opinião e
não aderiram ao convite? Esse dado é particular dos segmentos juvenis ou é comum em
outras pesquisas dessa natureza? As respostas poderão ser buscadas com o
desdobramento desta pesquisa.

2.6. Análise sobre a organização da pesquisa em rede

Compreende-se que a estratégia do trabalho em rede e das formas de comunicação


(seminários internos e fórum eletrônico) foram desafiantes e imprescindíveis para o sucesso da
pesquisa. Os primeiros fatores desafiantes foram o de trabalhar com uma metodologia
diferente e pouco (ou quase nada) conhecida, com uma equipe com trajetórias distintas e,
sobretudo, o exercício de trabalhar diferente do que se está acostumado(a), com um público de
perfil mais conhecido e, em geral, pobre. Outro desafio refere-se à composição das instituições
e equipes que fazem parte da rede, com suas diferenças e particularidades regionais.

15
Já a importância dessa estratégia, pode-se destacar a riqueza de saberes, o empenho
e a agilidade na realização das etapas nas oito Regiões Metropolitanas e o fortalecimento da
concepção de trabalho articulado. Sobre o sucesso da experiência em rede, cabe ressaltar as
qualidades e imperfeições comuns a todo processo participativo, democrático e inovador, no
qual os equívocos são instrumentos para futuros acertos. Dessa forma, sobre os atores que
tornaram possível o balanço da rede, foi imprescindível o papel da coordenação nacional e das
equipes regionais.

Sobre a coordenação nacional, cabe mencionar a postura democrática, de abertura,


leveza e de firmeza na condução do processo e, particularmente, na condução da metodologia,
considerando a sua atuação numa experiência inédita e pouco conhecida para toda a equipe
brasileira. Na animação do Fórum Eletrônico, essa coordenação poderia ter se feito mais
presente, inclusive no retorno das questões a ela dirigidas, o que, provavelmente, poderia ter
propiciado mais agilidade nas respostas às demandas das equipes regionais. Não obstante, a
dimensão das responsabilidades assumidas pela coordenação, desde o recebimento dos
relatórios quantitativos da primeira etapa da pesquisa e as demandas decorrentes desta, pode
ter contribuído para o seu limite de atuação na estratégia do Fórum Eletrônico, evidenciando a
necessidade de uma equipe maior, ou talvez um cronograma mais elástico.

Em termos das equipes regionais, embora, no Fórum Eletrônico, algumas tenham


participado mais, outras menos, sem desconsiderar aqui as expressões de habilidades de fala
e de escrita de alguns, mais que de outros(as), pode-se afirmar que as equipes regionais,
aliadas à equipe nacional, constituíram uma equipe afinada. Do que pôde ser lido por
todos(as), nos espaços coletivos do Fórum Eletrônico, embora a comunicação tenha fluido e os
prazos e as demandas da coordenação nacional tenham sido relativamente cumpridas, teria
sido mais rico se os produtos da primeira etapa, de todas as Regiões Metropolitanas, tivessem
sido socializados no Fórum Eletrônico.

Finalmente, com o sucesso da experiência, pode-se apontar como perspectiva o desejo


de desdobramentos e da continuidade de investigações que possam contribuir para uma maior
compreensão do universo juvenil, que permita a produção de conhecimentos que subsidiem a
formulação de políticas, o mais próximo possível das necessidades desses sujeitos.

O Conteúdo

A segunda parte deste analisa o conteúdo trabalhado durante as sessões de Diálogos,


na parte da manhã e da tarde, tendo como referência os passos do Dia de Diálogo
e as duas grandes questões: O que os(as) jovens desejam para o Brasil nas áreas de
educação, trabalho, cultura e lazer? e Que contribuição os(as) jovens poderiam
dar para tornar esses desejos realidade?

16
3 – Comentários iniciais

As preocupações apresentadas pelos(as) jovens, nos comentários iniciais – primeiro passo do


Dia de Diálogo – abrangem uma série de temas relacionados às políticas públicas, como
educação, saúde, cultura e lazer, trabalho, ao uso de drogas, à violência, à fome, à
prostituição, à gravidez precoce e à discriminação política.

Tabela 5 – Comentários iniciais

GD GD 1º GD 2º GD 1º GD
Comentários Iniciais
15-18 18-24 15-24 15-24 Exp. Total
(temas/ questões) anos anos Partic.
anos anos
Educação / Descaso com a educação 1 6 5 7 2 21

Saúde / Descaso com a saúde 1 1 3 05

Violência / Falta de segurança /


4 3 5 12 3 27
Criminalidade

Fome / Miséria do Brasil / Indigência - - - 3 1 04

Decisão do Governo - - - 1 - 01

Descaso político / Desinteresse do


governo com a população / Descaso do - - 1 2 - 03
governo com os(as) jovens

Política / Corrupção política - 3 - 1 - 04

Prostituição - 1 - - - 01

Gravidez precoce - 1 - - - 01

Falta de lazer / Falta de lazer para


adolescentes carentes / Falta de - 1 2 - - 03
conhecimento cultural
Drogas, drogas na adolescência 1 1 1 1 - 04

Emprego / Oportunidade para os(as)


jovens / Desemprego/ Inserção no 2 9 7 8 2 28
mercado de trabalho / Trabalho infantil

Desigualdade Social / má distribuição


1 - 2 - - 03
de renda

Discriminação / Preconceito /
Preconceito em relação ao(à) negro(a) e 1 - 1 2 1 05
índio(a) (racial)
O que todos falaram / Preocupa tudo - - - 2 - 02

Falta de participação - - - 1 - 01

Os(as) jovens de hoje - - - 1 - 01

17
Na RMB, o trabalho e a violência lideram as preocupações dos(as) jovens que participaram
das sessões de Diálogo. A questão do trabalho, uma das duas principais preocupações
dos(as) jovens, refere-se, basicamente, à falta de emprego e de oportunidade para os(as)
jovens, com dificuldades de inserção no mercado. Essa preocupação pode ser ilustrada pela
fala de um jovem, que responsabilizou o governo e os(as) empresários(as) pela falta de
oportunidade de trabalho dos(as) jovens: “Acho que é a falta de oportunidade que o governo e
as empresas não dão para os jovens em termo de serviço” (GD de 15 a 24 anos). Sobre a
violência, eles(as) destacaram a falta de segurança e o alto índice de criminalidade. Não raro,
os(as) jovens relataram experiências de assalto.

As preocupações relacionadas à educação ocupam o terceiro lugar e se referem à


falta de interesse e descaso do governo com a educação, conforme pode ser exemplificado por
um jovem, que enfatizou a preocupação como o “descuido com a educação”. Outro jovem
mencionou “...o descaso com a saúde e com a educação que estão precários e o governo que
não faz nada” (GD de 15 a 24 anos).

Outros aspectos relevantes referem-se ao descaso com a saúde, a


discriminação/preconceito social, particularmente, contra o(a) negro(a) e o(a) índio(a) e o alto
índice de uso de drogas na adolescência. O exercício da participação parece não ser uma
preocupação comum dos(as) jovens que participaram dos GD, tendo em vista que foi
mencionada em apenas uma das sessões por um dos jovens.

18
4 – Semelhanças e diferenças: que Brasil queremos
e como chegar lá?

Este item aborda o diálogo dos(as) jovens no qual refletem e opinam, manifestando
semelhanças, ou consensos, e diferenças sobre o que querem para a educação, o trabalho, a
cultura e o lazer e que Caminhos propõem, em termos de contribuir para atingir os seus
objetivos. Para essa reflexão, primeiramente foi apresentado aos(às) jovens a seguinte
questão: Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o que você acha que
precisa mudar na educação, trabalho, cultura e lazer? Com base nos Diálogos, apresenta-se
uma análise sintética sobre o pensamento dos(as) jovens referente a essa questão discutida na
parte da manhã (cf. anexo II).

De antemão, vale ressaltar que nos GD realizados em Brasília, o racismo/discriminação


e a segurança/violência perpassaram os quatro temas abordados nos pequenos Grupos.
Aquele referente ao racismo apareceu em praticamente todos os Grupos, em que os(as) jovens
afirmaram que há discriminação contra os(as) negros(as) e quanto à condição financeira.

4.1. A educação

A educação foi o tema mais debatido, tanto nos pequenos Grupos quanto na plenária. Os
Diálogos apontaram várias categorias de análise, que refletem desejos e preocupações dos(as)
jovens referentes à educação brasileira. A qualidade do sistema educacional público perpassou
todos os Grupos de Diálogo, mais especificamente no tocante à precariedade das escolas e à
situação dos(as) professores(as). Percebeu-se que a falta de qualidade na escola pública está
vinculada à precariedade do conjunto do sistema, como a falta de infra-estrutura nas escolas, o
número de professores(as) e de escolas muito abaixo do necessário, a falta de qualificação e o
desinteresse dos(as) professores(as), a superlotação nas salas de aula, a quantidade de
matérias a serem assimiladas em pouco tempo (caso do ensino supletivo e do ensino regular
também), inclusive a localização da escola.

A falta de infra-estrutura nas escolas públicas e a falta de professores(as) foram alvo


de preocupações em todos os Grupos de Diálogo. Na visão da maioria dos(as) jovens, as
escolas públicas carecem tanto de material pedagógico como de livros, de computadores, de
carteiras e de profissionais da educação. Como bem afirma um jovem do 2º GD da faixa etária
de 15 a 24 anos, “Falta tudo: falta professor, falta cadeira, falta cadeira especial, falta escola
suficiente, falta lazer, falta segurança, falta lanche adequado, falta respeito”.

Os(as) professores(as) foram alvo de muitas outras considerações dos(as) jovens. Em


praticamente todos os GD, com exceção do GD de 18 a 24 anos, foi consenso, a falta de
professores(as) nas escolas públicas. Outra preocupação recorrente nos GD é a carência de

19
escolas públicas de qualidade para atender à demanda existente de alunos(as), fazendo,
muitas vezes, com que as pessoas passem dias nas filas para conseguirem se matricular. É o
que afirma um jovem da faixa etária de 15 a 18 anos: “E também faltam vagas, por exemplo,
tem pessoas que dormem na fila pra poder conseguir vagas, e tem pessoas que conseguem a
vaga e estão atrapalhando. (...) Então eu acho que, por exemplo, a melhor escola está lotada e
a pior fica vazia, o certo seria o governo melhorar a pior escola e a escola que está lotada,
levar os alunos de lá para a que tá vazia”.

Além da dificuldade de acesso às escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio,


os(as) jovens apontaram a dificuldade de acesso à educação superior pública, principalmente
daqueles(as) estudantes oriundos(as) das escolas púbicas. Para um jovem do GD com
experiência participativa se referindo ao vestibular, “... o pessoal da escola pública é mais difícil
entrar na faculdade pública, tipo na UnB. A gente se acaba de estudar para entrar na UnB e é
muito dificuldade. Você está na escola pública, ela tem greve, falta professor e não tem uma
cobrança em cima dos alunos”.

Outro aspecto que contribui para a dificuldade de acesso é a necessidade de os(as)


jovens de baixa renda terem de trabalhar. Um jovem do 1º GD de 15 a 24 anos afirma que “no
caso da UNB, que você tem aula de manhã, de tarde, de noite e de madrugada, se a turma
concordar. Uma pessoa assim, no meu caso, eu queria muito fazer na UNB, além de ser bem
conceituada é de graça e tal, mais tenho que trabalhar”.

As reclamações dos(as) jovens sobre o funcionamento do sistema educacional do


Distrito Federal não são sem fundamentos, e cabe ressaltar alguns aspectos. A falta de infra-
estrutura e de professores(as) têm sido temas recorrentes nos principais jornais de Brasília7.
Outro aspecto é a reclamação dos(as) jovens de que o acesso a computadores e à internet
está relacionado à classe social, reforçando os dados da primeira etapa da pesquisa Juventude
Brasileira e Democracia. De acordo com esses dados, 49,7% dos(as) jovens da RMB têm
acesso a computador, e 45,5% acessam à internet.

O perfil desses(as) jovens indica que quem mais acessa o computador e a internet são
jovens das classes economicamente mais favorecidas. Aqui, reafirma-se a elitização da
informação, por meio da exclusão digital, evidenciada na desigualdade de acesso a
computadores e à internet. Dos(as) jovens dessa Região que têm acesso a computador, a
grande maioria se concentra nas classes A e B (84,8%), enquanto um pequeno percentual
(21,9%) se concentra nas classes D e E. Semelhantemente, enquanto as classes A e B
apresentam o percentual de 81,7% de jovens que acessam a internet, esse percentual baixa
para 19,9% nas classes D e E.

7. Conferir matérias do Jornal Correio Brasiliense publicadas em 19/02/05, 25/01/05 e CB, 4/03/05.

20
Um último aspecto a comentar é o acesso à educação superior pública. Na verdade, as
opiniões dos(as) jovens, em termos das dificuldades de acesso ao Ensino Superior, são
comprovadas na primeira etapa da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia e,
particularmente, no tocante à renda e dos(as) jovens, cujo Ensino Médio foi concluído em
escola pública. Conforme já mencionado anteriormente, existe uma defasagem no fluxo
escolar. De acordo com a primeira etapa da pesquisa, a maioria de jovens participantes estava
na faixa etária de 21 a 24 anos (39%) e são provenientes das classes C (36,3%), D e E
(33,5%). Apenas 33,8%, segundo lugar na pesquisa, haviam concluído o Ensino Médio ou
mais, sendo que 88% estudaram em escola pública, e mais da metade (54,2%) não estavam
estudando na época da pesquisa.

O vestibular da UnB é um dos mais concorridos no país, com mais de 30 mil


candidatos(as) para menos de duas mil vagas, por semestre. Em alguns cursos, a
concorrência ultrapassa 60 candidatos(as) por vaga. Esse nível absurdo de competição é
resultado do abandono das universidades públicas pelo governo federal, a partir do início da
década de 90. Por isso, 90% dos(as) jovens não têm acesso ao Ensino Superior. Só 3%
estudam em universidades públicas, que oferecem ensino gratuito e de reconhecida
qualidade. Não é falta de competência dos candidatos(as), é falta de vagas.

Os grupos que abordaram o racismo sob o prisma da educação8 ressaltaram a política


de cotas como uma ação governamental que reforça o preconceito racial. Esse ponto de vista
foi consenso em todos os Grupos de Diálogo, inclusive por jovens negros(as). Um jovem do GD
de 15 a 18 anos fez o seguinte depoimento: “O preconceito também das vagas, da cota da
UnB, porque eu acho que isso é um preconceito, porque acabaram chamando os negros de
burro por precisar de cotas para passar na UnB, né?” . Ao se relacionar esse depoimento com
o dado da primeira etapa da pesquisa Juventude e Democracia, de que um índice expressivo
de 95,4% jovens das oito RMs ‘Não Sabem’ ou ‘Não Opinaram’ (NS/NO) sobre o significado
das políticas de cotas, e um índice pouco expressivo de 5,5% dos(as) jovens da Região
Metropolitana de Brasília declararam saber o significado dessas políticas, verifica-se que as
referidas falas não apenas reforçam a polêmica das políticas de cotas como evidenciam a
visão distorcida e equivocada que os(as) jovens têm sobre as mesmas.

Na Universidade de Brasília, segundo Mulholland (2004), a política de cotas para


negros(as) situa-se no contexto de uma política de ações afirmativas, com vistas a contribuir
para a redução das desigualdades no Brasil. Sua política, da qual faz parte o sistema de
cotas para negros(as), permite à universidade gerar resultados concretos, em relação ao
acesso de jovens negros(as) qualificados(as), em maior quantidade, e modificar o perfil do
corpo de alunos(as), em médio prazo, para se aproximar mais da composição racial da
população. O Plano de Metas da instituição, voltado para a integração étnica, racial e social,
enfoca a inclusão de estudantes negros(as) e indígenas, além da intensificação do apoio às
escolas públicas.

8. Com exceção do Grupo com experiência de participação.

21
A violência foi outro tema naturalmente discutido pelos(as) jovens, pois se relaciona com as
experiências vividas por eles(as) dentro e fora da escola. Em praticamente todos os Grupos,
eles(as) apontaram a importância de se aumentar a segurança nas escolas como forma de
redução da violência. Relataram que, não raro, alunos(as), professores(as) e diretores(as)
sentem medo de tomar alguma atitude, receando represálias que, em muitos casos, vêm
dos(as) próprios(as) alunos(as) da escola. De acordo com um jovem do GD com experiência
participativa “o diretor fica, às vezes, só dentro da sala dele, porque tem medo de passar no
corredor, por ser ameaçado pelos alunos. Muitos ameaçam professores, diretores, por isso, eu
acho que deve ter vigilante nas escolas, por causa disso. Está tendo briga lá fora, o guardinha
não vai poder separar os meninos, porque podem reagir em cima dele, se for só um. Eu acho
que deve ter segurança, sim, mais nas escolas”.

4.2. O trabalho

O trabalho foi o segundo tema dialogado na parte da manhã. Os(as) jovens identificaram,
basicamente, duas categorias relacionadas ao trabalho: acabar com o desemprego e a
qualificação profissional. A discriminação racial, de gênero e de classe social foi apontada
como um dos fatores de desemprego desses segmentos. Verifica-se que os(as) jovens não
diferenciam o grau de discriminação, colocando no mesmo nível a discriminação racial, de
gênero e de classe social, o que pode ser verificado no seguinte depoimento: “Não só
racial como a de sexo, também, geralmente, a gente, sabe, vamos supor, se a mulher for
negra, for negra e for mulher tende a ganhar o mais baixo salário, digamos, da empresa”.
(GD 18 a 24 anos)

Em todos os Grupos, os(as) jovens apontaram a necessidade de o governo


oferecer mais vagas de trabalho. Foi perceptível um descrédito quanto ao programa
governamental Primeiro Emprego. Na maioria dos casos, afirmam ser muito difícil
conseguir uma vaga pelo programa e não conhecem pessoas que tenham conseguido.
Como bem expressa uma das falas, “Passa na televisão que o governo do Distrito Federal
dá oportunidade pra jovens que não trabalham, que não têm curso, essas coisas pro
primeiro emprego, de jovens de 14 a 17 anos, mas você vai lá, é pura mentira. Tem que
pagar, fazer isso, fazer aquilo” (GD de 15-18 anos).

Foram bastante criticadas as ações de transferência de renda do governo, como o


Fome Zero e as políticas assistencialistas do governo do DF que, no entendimento dos(as)
jovens, “acomoda” a população. Os(as) jovens reconheceram a importância de criar mais
postos de trabalho e de qualificar a população para exercer o trabalho, em vez de o governo
gastar com auxílios que, no final, não resolvem, segundo eles(as), o problema. Na verdade, a
opinião dos(as) jovens sobre os programas de transferências de renda evidencia a pouca
compreensão de tais programas, sua concepção e sua pouca efetividade.

22
A oportunidade para se conseguir um trabalho é uma preocupação constante na fala
dos(as) jovens. Eles(as) queixam-se das exigências feitas para conseguirem um emprego ou
estágio. Curiosamente, a maioria percebe o estágio como uma oportunidade de emprego e não
como uma forma de qualificação profissional. Reclamam que, na maioria das vezes, as
pessoas que necessitam não têm a devida qualificação, como cursos de informática ou de
línguas. A fala de um dos jovens do GD com experiência participativa explica que, “para você
arrumar um estágio, você tem que ter cursos. (...) Eu fui fazer inscrição, tinha os cursos que
você fez. (...) Para você fazer curso, você precisa ter dinheiro para pagar. Então tem gente que
não tem como fazer um curso e estão querendo um estágio. Então ela não tem capacitação de
preencher aquela ficha. Então ela nem vai atrás porque não tem capacidade de fazer”.

Como forma de sanar as dificuldades, os(as) jovens apontaram a necessidade de o


governo ofertar cursos de formação (informática e línguas) e de profissionalização. Assim, a
qualificação profissional se traduz na segunda categoria, apontada pelos(as) jovens no tema
relacionado ao trabalho. De acordo com um jovem do 2º GD de 15 a 24 anos, “... o governo
deveria fazer mais projetos no sentido de especialização, como informática, cursos em
eletrônica, cursos técnicos, tipo assim, sabe, mais a especialização daquilo, não só a pessoa ir
lá procurar o emprego e ver que tem. O cara precisa do estágio, tem estágio no IEEL, no CIEE,
procura, mas a pessoa tem que ter cursos de informática, especializações em informática, ter
noção de inglês, espanhol, e ter especialização (...)”.

O 2º, GD de 15 a 24 anos, também externou a preocupação de o mercado garantir


mais vagas para o Ensino Superior que para o Médio. Muitas vagas de estágio ocupadas,
tradicionalmente, por alunos(as) do Ensino Médio estão sendo preenchidas por alunos(as) do
Ensino Superior. Isso exige uma ampliação na oferta de vagas para o Ensino Superior, bem
como iniciativas que garantam a permanência do(a) aluno(a) no Ensino Superior. Nesse
sentido, o Grupo concorda com as políticas de cotas conforme a renda: “Em relação a cota
conforme a renda, não de acordo com a raça”.

A preocupação quanto ao desemprego juvenil se confirma na primeira etapa da


pesquisa Juventude e Democracia, que aponta um índice de 64,8% de jovens que estão sem
trabalho. Destes(as), 51,2% estão procurando trabalho. De acordo os dados dessa primeira
etapa, o alto índice de jovens que não estão trabalhando confirma outras pesquisas ou mesmo
dados oficiais do governo, merecendo uma análise atenta sobre os(as) jovens que estão sem
trabalho ou à procura.

Como se pode verificar, a taxa de desemprego é significativamente maior para os(as)


mais jovens. Essa tendência é reafirmada pelo IBGE9, que comprova a redução da participação
dos(as) mais jovens no mercado de trabalho e argumenta que isso acontece como reflexo do
aumento da taxa de freqüência à escola. O IBGE confirma a situação de jovens sem trabalho,
configurada pela pesquisa, especificamente na RMB. Para os indicadores sociais de 2004,

9. IBGE, 2005.

23
os(as) jovens, além das moças e dos(as) mais escolarizados(as), constituem o grupo mais
afetado pela desocupação, e essa é uma tendência que se tem verificado nos últimos anos, em
função da maior inserção desses segmentos no mercado de trabalho, para contribuição com o
rendimento familiar ou financiamento dos estudos.

Em termos de oportunidade de trabalho, apesar de os dados da primeira etapa da


pesquisa Juventude e Democracia revelarem que o acesso ao mundo do trabalho tem
privilegiado, sobretudo, os(as) jovens das classes C, A e B, podendo-se inferir, a partir dos
próprios dados, que eles(as) são os(as) que têm maiores e melhores oportunidades, como se
pode perceber, essa ainda é a maior preocupação dos(as) jovens que participaram dos GD
que, em sua maioria, eram da classe C.

Com base nos dados, é possível inferir, ainda, que as classes D e E, segundo lugar
dos(as) participantes dos GD, são as mais prejudicadas, em termos de oportunidades.
Destaque-se, ainda, de acordo com os referidos dados, que fazem parte das classes D e E a
maioria dos(as) jovens trabalhadores(as) sem carteira assinada (25,4%) e os(as)
autônomos(as), sem INSS (22,2%). Esse dado, por si só, já evidencia as desigualdades e as
relações de precariedade nas condições de trabalho das classes mais pobres.

Segundo o relatório da primeira etapa, a desigualdade é reforçada com o dado de que


a maioria significativa dos(as) estagiários(as) (11,9%) pertence às classes A e B, contra 2,5% e
3,2% das classes C, D/E, respectivamente, indicando a idéia de maior acesso a oportunidades
a esta classe social. Há ainda a dificuldade de inserção dos(as) jovens em propostas de
desenvolvimento/aprendizado profissional como as de estágio, a não ser aquelas de iniciativas
governamentais, condicionadas a limites de renda familiar, como o trabalho aprendiz (a
exemplo dos programas de “primeiro emprego”), nos quais os(as) jovens das classes D/E
sobressaem, com 6,3% em relação aos(às) das classes A/B (3,4%), e da classe C (1,2%).

Os dados evidenciam a dificuldade dos(as) jovens em conciliar a vida conjugal, os


estudos e o trabalho. As moças que trabalham estão em grande desvantagem em relação aos
rapazes. Eles são 42,9%, e elas, 27,4%, confirmando as desigualdades de gênero da inserção
no mercado de trabalho, aliadas à falta de oportunidades.

Outro aspecto a considerar é a qualificação profissional dos(as) jovens. De acordo com


os dados da primeira etapa da pesquisa Juventude e Democracia, ao serem indagados(as)
sobre a realização de cursos além das aulas regulares, dentro ou fora da escola ou
universidade, verificou-se que um índice considerável (34,3%) não fez ou faz nenhum curso, o
que se repete tanto para os rapazes como para as moças, sem distinção de cor ou raça, e nos
três níveis de instrução considerados. Há que se considerar que o índice daqueles(as) que não
fizeram nenhum curso é consideravelmente maior para os(as) jovens das classes D/E (47,5%).

Entre os(as) jovens que fizeram ou estão fazendo esse tipo de curso, a preferência é
para o curso de informática (49%). Em seguida, as escolhas são cursos profissionalizantes
(16,9%), cursos de língua estrangeira (14,5%), esportes (11,9%), cultura (5,4%) e temas

24
religiosos (4,3%). Os demais cursos juntos (reforço escolar, pré-vestibular privado e
comunitário e outros cursos) somam 13,4%.

4.3. A cultura e o lazer

Os outros temas abordados nos Diálogos da parte da manhã foram cultura e lazer. Com base
nos Diálogos, observa-se que os(as) jovens identificaram basicamente cinco desejos em
relação a essa temática: acesso à cultura, mais espaços de lazer, garantia de segurança nos
espaços, eventos de cultura e lazer, incentivo à cultura brasileira.

Em todos os Grupos de Diálogo, foi consenso a necessidade de terem mais acesso à


cultura e ao lazer. Como pode ser bem resumida na fala de um jovem do GD na faixa etária de
18 a 24 anos, “ ... é importante o lazer na vida dos jovens, porque todo jovem gosta de praticar
o lazer, só que falta oportunidade mesmo, falta às vezes tempo, falta infra-estrutura, que é
muito importante, e falta, acima de tudo, a segurança, que foi o ponto que ele frisou aqui”.

Uma reclamação bem recorrente foi quanto aos altos preços de ingressos nos eventos
e da falta de espaços de cultura e lazer nas cidades satélites de Brasília. Essa reclamação
pode ser sintetizada na fala de um jovem do GD de 15 a 18 anos, segundo o qual “...na cultura,
os shows de hoje, tudo são caros, 30, 40, 50 reais, eu acho que devia abaixar mais o preço.
Tem gente, por exemplo: povo que mora na estrutural não tem condições de pagar 100, 150
para ir para show pra ver o povo cantando”.

De acordo com o depoimento de outro jovem, do 2º GD de 15 a 24 anos, “... às vezes a


Orquestra Sinfônica de Brasília vai apresentar uma peça, ‘ Carmina Burana’ , tipo assim, aí não
tem uma divulgação muito grande, porque é uma coisa que tem uma cultura muita bonita, e
nêgo não fala que é entrada franca, não é sempre divulgado, tem que divulgar mais isso”.

Outra questão que foi unanimidade entre os GD foi a falta de programações e espaços
culturais, nas cidades satélites. Os(as) jovens reclamaram da concentração de atividades no
Plano Piloto, área nobre de Brasília, inclusive de shows gratuitos, mas que exigem gasto com
transportes até o local do evento, dos que não moram no Plano Piloto. Essa reclamação não é
restrita apenas a espaços culturais, mas também de lazer. Em todos os GD, os(as) jovens
fizeram alusão à falta de quadras e praças nas cidades satélites e que, quando existem, estão
abandonadas e sendo ocupadas pelo tráfico de drogas. De acordo com um jovem do GD de 15
a 18 anos, “No lazer, também, eu acho que devia ter mais quadras esportivas, porque faltam
quadras. As quadras que já existem no momento estão precárias, entendeu? Destruídas, ah,
eles falam que vão reformar a quadra, aí chegam lá com tinta, pintam a quadra, pronto, tá aí a
reforma. (...) E as quadras que prestam também são pontos de drogas, né?!?”

25
Os(as) jovens apontaram a necessidade de garantia de mais segurança nos espaços
de lazer, assim como em eventos culturais. Para um jovem do GD de 15 a 18 anos, essa é
mais uma “questão de entrar o policiamento nessa área. Assim, o desfile do carnaval de
Ceilândia, teve algum acidente? Não teve. Teve morte? Não teve, porque teve muito
policiamento lá, todos usufruem, não teve assalto, não teve roubo, não teve nada”.

Os(as) jovens dialogaram sobre a cultura e o lazer com bastante propriedade e


expressaram a sua compreensão quando apontaram o pouco acesso da população à cultura e
ao lazer e, como uma das conseqüências, o aumento da violência. A política cultural do Distrito
Federal tem se apresentado bastante excludente. Iniciativas culturais gratuitas, como as do
shopping Pátio Brasil e da rede de supermercados Pão de Açúcar, que promovem shows de
qualidade, com artistas renomados, ou a programação do Teatro Nacional, do Centro Cultural
do Banco do Brasil e da Caixa Econômica, restringem-se, sobretudo, ao público residente no
Plano Piloto. Os(as) jovens das cidades da RMB ficam excluídos(as) desses espaços, quer
pela distância, quer pelo custo com transporte e com os serviços oferecidos nesses espaços.

Uma questão que se apresenta é sobre o papel da escola no incentivo à cultura e ao


lazer, como parte do desenvolvimento dos(as) jovens. Até que ponto as escolas estimulam
espaços culturais e de lazer, que favoreçam a participação dos(as) jovens? A primeira etapa da
pesquisa Juventude e Democracia apontou uma tendência entre os(as) jovens da RMB. Entre
aqueles(as) que estão estudando, apenas 10,6% freqüentam a escola/universidade nos finais
de semana, que não seja para assistir aulas regulares10.

A maioria dos(as) jovens costuma freqüentar11 shoppings (58,5%) e centros culturais


(52,7%). Também é significativo o número de jovens que freqüentam parques e praças
(43,2%). Apenas 13,5% deles(as) costumam freqüentar teatros; 11,7% costumam freqüentar
centros culturais e 10% freqüentam museus. Um índice expressivo, de 20% dos(as) jovens,
não costuma freqüentar esses lugares. É importante salientar o intenso corte de classe social
nesses costumes, com preponderância dos(as) jovens das classes A/B, que freqüentam esses
espaços. O percentual de jovens que não costumam freqüentar os espaços relacionados
aumenta significativamente (32,3%) em relação aos(às) jovens das classes D/E. Esses dados
configuram uma situação, na qual parcela significativa de jovens da RMB não têm acesso a
espaços de cultura e lazer.

Os dados da pesquisa Juventude e Democracia também indicam que, entre as


atividades que a escola/universidade realizou, em 200412, a maioria realizou apresentações de
teatro, dança, música, festivais culturais (55,1%) e festas (50,4%). Em seguida, vem a exibição
de filmes e debates, com cerca de 47%. Em quarto lugar, aparecem os seminários/concursos
de redação/feira de ciências (40,9%), ações comunitárias/trabalhos sociais (28,1%), visita a
museus e exposições (23,4%) e excursões, com 22,3%. Observando o outro lado dessa

10. No conjunto de 274 respondentes, que afirmaram estar estudando, atualmente.


11. Resposta múltipla e estimulada.
12. Para o conjunto de 274 jovens, que afirmaram estar estudando atualmente.

26
moeda, pode-se afirmar que um índice considerável de escolas não realiza essas atividades,
consideradas de fundamental importância no desenvolvimento pessoal dos(as) jovens.

Embora os dados indiquem um bom nível de adesão dos(as) jovens estudantes às


atividades promovidas pelas escolas, a preferência de participação deles(as) não segue,
necessariamente, a ordem das atividades promovidas.13 Aqui, observa-se que a maior
participação é na exibição de filmes (78,5%) e nos seminários/concursos de redação/feira de
ciências (75%). Em seguida, temos a apresentação de teatro/dança/música/festivais culturais
(74,8%), as ações comunitárias/trabalhos sociais e as festas, ambas com cerca de 72%. A
menor preferência de participação estudantil é em debates (69%) e em excursões (63,9%).

4.4. O processo dos caminhos participativos

Para a reflexão dos Caminhos Participativos, em consonância com a parte da manhã, foi
apresentada aos(às) jovens uma outra questão na parte da tarde: ‘Pensando no que vocês
listaram pela manhã que deve melhorar na educação, trabalho, cultura e lazer no Brasil,
como vocês estão dispostos a participar para que essas melhorias se tornem realidade?’.
Com base nos Diálogos, apresenta-se uma análise sintética sobre o pensamento dos(as)
jovens referente a essa questão.

O segundo Diálogo teve como pano de fundo três Caminhos Participativos: ‘Eu me
engajo e tenho uma bandeira de luta’, ‘Eu sou voluntário(a) e faço a diferença’, ‘Eu e meu
grupo: nós damos o recado’. Esse momento, realizado na parte da tarde, enfocou a opinião
dos(as) jovens sobre o que estão dispostos(as) a fazer para concretizarem as propostas para o
Brasil que desejam. Na RMB, a principal característica dos resultados dos Diálogos foi que, em
todos eles, houve a combinação entre Caminhos com o consenso na junção e
complementaridade entre todos ou entre alguns deles. Não houve nenhum GD que
apresentasse como resultado apenas um ou outro Caminho como forma de participação
dos(as) jovens na concretização de propostas para o Brasil que desejam, nas áreas em estudo.

De forma semelhante, todos os Grupos de Diálogo apresentaram como questão


central, a organização de grupos para a atuação participativa. Para um jovem do 2º GD de 15 a
24 anos, “a pessoa, quando trabalha sozinha, o trabalho não tem resultado. Pode até ter
acesso, mas não avança muito. O grupo tem mais força”. Já para outro do GD com faixa etária
de 15 a 18 anos, “é melhor o grupo do que o resto. Com o grupo, você pode formar todos
aqueles objetivos; como grupo, futuramente você pode engajar na política” (GD 15-18 anos).

13. Deve ser considerado que 274 jovens estudantes responderam sobre as atividades realizadas pela sua
escola. Desse total, os números absolutos, para quem participou das atividades promovidas pela escola, é
bem diversificado, demonstrando que vários(as) jovens entrevistados(as) não identificaram se
participaram ou não.

27
Apenas no último GD houve uma diferença quanto à formação de grupos, em que
alguns(mas) afirmaram acreditar que a atuação deveria ser exclusivamente por grupos,
enquanto outros(as), embora reconhecessem que em grupo seria mais fácil trabalhar,
argumentaram que não necessariamente tudo deveria ser por meio de dele: “Eu acho que
é importante o grupo, mais eu acho que não é tão importante assim, não precisa ser
100% em grupo” (2º GD de 15 a 24 anos).

Em dois GD, o formado por jovens com experiência participativa e o último GD,
com jovens de 15 a 24 anos, houve diferenças apenas quanto à forma de atuação.
Alguns(mas) jovens acreditam que, na atuação política, não adianta dialogar ou contrapor
o governo. Outros(as) destacaram a forma de atuação do voluntariado nas reivindicações
políticas e, finalmente, aqueles(as) jovens que entendem que, não necessariamente, tudo
precisa ser em grupo.

Em três GD, os jovens optaram pelo terceiro Caminho14, ‘Eu e meu grupo: nós damos o
recado’, pelo fato de privilegiar o trabalho em grupo desde o início. Para um jovem do GD de
18 a 24 anos, “É a partir daquele grupo que a gente pode formar um partido entendeu? Que é
dali que cresce, só que todas as pessoas que vão crescer tá junto de nós, que vão ter mesma
idéia que a gente, entendeu? É o começo”. Outro jovem do GD de 15 a 18 anos argumenta que
“No partido, tem pessoas que ainda não têm experiência, tão começando a ganhar experiência
e vão apanhar muito. Eu acho melhor no grupo, porque mesmo demorando pra crescer, você
cresce com o grupo”. Já um jovem do 2º GD de 15 a 24 anos acredita que “O terceiro Caminho
é o começo de tudo enquanto grupo”.

Diante desses dados, percebe-se que os(as) jovens reconhecem a importância de


trabalhar em grupo para atingir seus objetivos. Embora o terceiro Caminho tenha sido o que
obteve maior aceitação nos Diálogos, cabe ressaltar que, na visão dos(as) jovens, ele está
associado à formação de grupos.

O trabalho do voluntariado, caracterizado pelo segundo Caminho, também foi


preferência dos(as) jovens em três sessões de Diálogos e não foi escolhido como forma de
participação, particularmente por uma das sessões, com jovens de 15 a 17 anos, mesmo
aparecendo em um dos pequenos Grupos, e por outra, com jovens que tinham experiência em
participação. Foram identificados dois aspectos importantes desse Caminho, em ambos os
Grupos mencionados: o caráter individual do voluntariado e o ato de fazer um trabalho para a
comunidade. Essa diferenciação foi fundamental para a escolha ou não do Caminho.
Percebeu-se que esses dois Grupos não optaram pelo segundo Caminho pelo fato de ele se
relacionar ao caráter individualista, que pode se apresentar como pouco compromisso e falta
de qualificação para a realização do trabalho comunitário:

14. Apenas um pequeno grupo escolheu o Caminho 3 sozinho; todos os demais, que fizeram referência a
esse Caminho, mesclaram-no com aspectos de outros Caminhos.

28
Porque o 3, inclusive o Grupo 1 colocou ‘ele é mais cultural’, mas também grupo de
igreja. Em igrejas também vocês têm grupos, vocês podem ter atuação, podem ir na
comunidade, e o Caminho 3 traz isso. (GD 15-18 anos)

... mesclando esse 1 e o 3, o trabalho fica mais formal, fica mais sério. O pessoal não
vai estar trabalhando só por ser voluntário. O lance que colocamos no trabalho
voluntário, é que a gente corre o risco dos voluntários assumirem o trabalho sem
terem qualificação. A pessoa estar sozinha não é coletivo, (...) De repente,
trabalhando coletivamente, tudo fica mais sério, o pessoal fica com mais vontade de
trabalhar. (GD com experiência participativa)

Característica semelhante foi apresentada pelo GD de 18 a 24 anos, no qual apenas


um pequeno grupo fez referência ao segundo Caminho, percebido como o início de um
processo que levaria à formação do grupo: “A junção do Caminho 2 com o 3, porque, na
verdade, todo mundo sai sozinho, na vontade de ser voluntariado e acaba chegando lá e acaba
indo pro Caminho 3, que e acaba encontrando o grupo. Eu não vou dizer que é impossível pra
pessoas comuns, digamos assim que nem a gente, não quero dizer que aqui não tem nenhum
rico eu não sei, mas é muito difícil pra gente com tantas questões financeiras, o nosso poder
aquisitivo, a gente poder ajudar os outros sozinhos”.

Quanto ao primeiro Caminho, que trata da vinculação institucional para a atuação


participativa, percebeu-se que os(as) jovens relacionavam esse Caminho imediatamente à
atuação política e ao governo, o que foi o fator responsável pelo aparecimento de diferenças,
em três Grupos de Diálogo15. O destaque quanto ao resultado desses três GD é que, apenas
no último (2º GD 15-24 anos), os(as) jovens concordaram que a atuação política em grupo é
importante. No entanto, nem sempre é necessário esperar pelo governo, para realizá-la: “Eu
acho assim, que no grupo é importante você ter discussões, você tem muito mais força quando
estar unido para poder falar com os políticos, mais você não precisa ficar sempre dependente
do governo, você pode fazer suas ações também”.

Nos outros dois GD, a não escolha pelo primeiro Caminho, por dois pequenos Grupos
(um em cada GD), decorreu do descrédito no sistema político, o que provocou “diálogos”
bastante calorosos, nos dois GDs: “Por isso, não vejo razão de ficar batendo boca com o
governo aí na rua, quando posso, eu mesmo chegar lá com minhas próprias mãos, o meu
esforço, pegar, sair de casa e falar: não, eu vou ajudar alguém, essa é a questão que estou
levantando” (GD 18 a 24 anos).

Para um jovem do 1º GD com jovens de 15 a 24 anos, “... se tudo que a gente for fazer
na vida, a gente for esperar por esse governo do nosso Brasil, a gente não vai conseguir fazer

15. Grupos de Dialogo, com jovens de 18 a 24 anos, e os dois Grupos, com jovens de 15 a 24 anos.

29
nada. É por isso que a gente fica, a gente é um voluntário para se reunir e fazer a gente
mesmo e não ficar esperando só por eles, se não, não acontece nada”.

Discordando, alguns(mas) jovens manifestaram outro ponto de vista. Um participante


do GD de 18 a24 anos entende que “... o caso não é você bater boca, é você buscar o seus
direitos, se você tem direito você tem que buscar, entendeu?” . outro, do 1º GD de 15 a 24
anos argumenta que “... no caso que entra a questão de reivindicar os direitos, porque se a
gente for fazer tudo e não deixar nada para eles, eles vão se acomodar naquilo e deixar. Ah,
eles estão fazendo, então deixa”.

Entretanto, o descrédito no sistema político não foi consenso nos GD, como
exemplificado acima. Nos GD, que apresentaram o primeiro Caminho como parte da
alternativa, os(as) jovens ressaltaram a importância da participação política como a forma mais
concreta de atingir os seus objetivos. Um deles manifestou o seguinte relato: “Acreditamos que,
futuramente, não hoje em dia mesmo, a política é a base de tudo, porque tudo que acontece
envolve a política. Se você precisa da reforma de uma quadra de esporte e melhoria na
educação, tudo envolve a política, e é esse o nosso pensamento, acreditamos que a política é
a base de tudo” (GD 15-18 anos).

Para outro jovem, do GD com experiência participativa, a “influência dos jovens nas
diversas instituições de participações políticas, pressionam os governos para que invistam no
desenvolvimento de política de acesso à cultura, esporte e lazer. Isso quer dizer, se a gente
forma um grupo, todas as pessoas querem mudar, querem revolucionar, a gente consegue que
o governo invista no desenvolvimento melhor, que é o caso”.

Curiosamente, mesmo não tendo vivenciado o período da ditadura militar, alguns(mas)


jovens, em dois GD, declararam que não desejam atuar por meio da manifestação política,
tendo em vista que esta se contrapõe ao governo, o que pode gerar repressão: “... a questão é
que eu abordo e bato em cima da tecla mesmo, é que quantas pessoas mais vão ter que
morrer, a mídia mostrando isso para isso acontecer, entendeu? Não era mais fácil o governo
ceder, entendeu? (...) A gente tenta encarar o problema de uma maneira de que não haja
confronto com ninguém, e que todos saiam bem, entendeu?” (GD 18 a 24 anos).

Nesses dois Grupos, durante a plenária, os(as) jovens dissociaram o trabalho individual
do trabalho realizado na comunidade, entendendo que o terceiro Caminho incorpora essa
parte. No entanto, os demais Grupos ressaltaram o caráter do trabalho voluntário, desenvolvido
para a comunidade, muito mais que o seu caráter individual.

Em síntese, observou-se que, embora os(as) jovens não tenham apresentado


como preferência um ou outro Caminho Participativo, aglutinando todos ou alguns deles,
o primeiro demonstrou ser o Caminho menos atrativo. Nesse sentido, o descrédito nas
instituições políticas e, particularmente, naquelas governamentais, é uma das principais
evidências para a pouca preferência dos(as) jovens pelo primeiro Caminho. Essa pouca
preferência dos(as) jovens pelo primeiro Caminho (participação política) reflete os dados

30
da primeira etapa da pesquisa Juventude e Democracia, que apresentam menor índice
de participação juvenil: nos partidos políticos (0,7%), nos movimentos sociais, como
saúde, educação, moradia (0,7%), nas ONGs (0,5%), em movimentos identitários, como
o dos(as) negros(as), dos(as) indígenas, das feministas, da liberdade de opção sexual
(0,3%), nos sindicatos ou associações profissionais (0,2%).

Com maior índice de adesão, os referidos dados indicam que, dos(as) 600 jovens
entrevistados(as), no Distrito Federal, 10,3% participam ou tiveram alguma participação em
grupos ou trabalhos voluntários. No entanto, dos(as) 25% de jovens que afirmaram participar
de algum grupo, observou-se que os espaços privilegiados de participação juvenil são os
religiosos (64,7%), as atividades relacionadas à música, dança e teatro (24,7%),
esportivas(14%) e estudantis(12%).

Finalmente, sem desconsiderar a fragilidade da participação juvenil na RMB,


evidenciada pela primeira etapa da pesquisa Juventude e Democracia, reforçada pelas
dificuldades de adesão dos(as) jovens para participar dos Grupos de Diálogo, os espaços
desencadeados nas sessões indicam a receptividade, a sensibilidade e a visão crítica dos(as)
jovens ao dialogarem sobre a realidade e o papel deles(as) na sociedade.

31
5 – Os caminhos participativos

O que se pôde observar foi que, em geral, em todas as sessões de Diálogo e, em cada
sessão, especificamente, os Grupos conseguiram relacionar, de alguma forma, os
Caminhos Participativos com as políticas, da parte da manhã. Alguns, definindo por um
Caminho específico, pela junção dos Caminhos ou pela criação de outro Caminho, mas
sempre relacionando-os aos Diálogos sobre educação, trabalho, cultura e lazer. Nesses
Diálogos, não raro, surgiram outros temas, como os apontados nas preocupações iniciais
dos(as) jovens. Embora esses temas não tenham chegado com tanta ênfase nas
plenárias, de acordo com os registros dos pequenos Grupos, em particular, o tema da
segurança foi comum durante os Diálogos.

Alguns Grupos, além de fazer a relação explícita, ampliaram a compreensão dos


Caminhos para o plano da reivindicação política ou outras dimensões das políticas
públicas, como a segurança e a religião. Da mesma forma, observou-se Grupos em que a
discussão foi direcionada para contribuições específicas, como ajudar creches, organizar
alunos(as) e professores(as) para melhorar a vida dos(as) alunos(as) e organizar grêmios
estudantis, grupos de grafites sem, no entanto, articular essa contribuição no plano mais
amplo da educação, da cultura etc.

A relação dos Caminhos Participativos com as questões da parte da manhã


predominou, de forma significativa, no tocante à educação, tema mais enfocado pelos Grupos.
Entende-se que essa dimensão da política pública está mais arraigada no cotidiano dos(as)
jovens. Tal entendimento pôde ser confirmado, quando afirmaram que “tudo passa pela
educação”, numa compreensão de que, também as dimensões do trabalho, da cultura e do
lazer estão relacionadas à educação.

Isso pôde ser ilustrado quando mencionaram, por exemplo, que os(as) alunos(as) que
tiveram formação em escola pública têm mais dificuldade de ingressar no mercado de trabalho,
ou que a organização de grupos nas escolas, nos finais de semana, dinamiza a vida dos(as)
alunos(as), com a criação de grupos de dança ou de teatro.

Alguns Grupos conseguiram evidenciar a relação direta entre os Caminhos que


escolheram e as áreas temáticas em discussão. A título de ilustração, um dos Grupos
mencionou a importância de sua organização, na perspectiva de influenciar os(as) jovens, nas
diversas instituições de participação política, pressionando os governos para que invistam no
desenvolvimento de políticas de acesso à cultura e ao esporte e lazer. No âmbito da educação,
o mesmo Grupo propôs a articulação entre alunos(as) e professores(as): “No caso, a gente
criaria ou abriria nos grêmios que já existem nas escolas um espaço para discutir as melhorias.
Que são as melhorias das escolas e a melhor capacitação dos professores e alunos” (GD com
experiência participativa).

32
Outros GD destacaram, no âmbito da educação, a formação de grupos de pesquisas, nas
escolas para identificar o que é preciso melhorar, levando esses problemas ao governo e
também apresentaram propostas para o trabalho, a cultura e o lazer, conforme as falas abaixo.

Na cultura, a gente colocou pra formarem grupos de teatros, feiras culturais, cinemas
mais baratos para todos, tipo assim, no grupo de teatro, a gente monta um grupo e
fica indo pra varias cidades-satélite, apresentando essas peças de teatro, justamente
nas cidades em que não tem cultura. (GD 18 a 24 anos)

E, no lazer, a gente colocou o seguinte: como várias pessoas falaram que as cidades
em que moram não tem as quadras, só porque são um lixo, né?, e tudo. Não são
construídas, mas totalmente destruídas, então a gente poderia tá montando grupos,
que podiam estar fazendo a preservação das quadras e das praças. (1º GD de 15 a
24 anos)

Alguns(mas) jovens relacionaram expressões culturais à inserção no mercado de


trabalho, como pode ser ilustrado na fala de dois jovens. Para um deles, “A gente tinha
discutido que precisava de mais teatros e tal, que isso iria gerar mais emprego pra jovens,
então isso ia dar uma melhora”.

Para outro jovem, “... no caso de grupo de teatro, pra tá também serem uma forma de
lazer, (...) a gente poderia estar abordando diversos temas, como: drogas, doenças
sexualmente transmissíveis e várias outras, esses cinemas mais barato, a gente devia tá
pegando todas as idéias e tá passando pra ata, né? E indo, assim, tentando arrumar um
patrocínio pra gente lutar por isso”.

Um aspecto que evidencia a articulação dos Caminhos Participativos com as temáticas


da educação, trabalho, cultura e lazer foi evidenciado nas expressões dos(as) jovens quando
defenderam determinado Caminho, vinculando-os às necessidades apresentadas na parte da
manhã, pelos Grupos. Como ilustração, um jovem relatou, em um dos Grupos, nunca ter ido ao
cinema, e outro relatou não participar da programação cultural no Plano Piloto, como as
apresentações da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional ou do Projeto Vitrine do Pátio Brasil
porque, embora esses eventos sejam gratuitos, eles(as) têm de pagar o deslocamento das
suas cidades até o Plano Piloto. Esses relatos fundamentaram a fala de alguns(mas) jovens,
na discussão dos Caminhos Participativos,

Alguns(mas) jovens, expressando a opinião do seu Grupo, abordaram uma perspectiva


mais ampliada dos Caminhos, entendendo a participação num espaço micro do cotidiano, para
conquistar uma transformação maior na sociedades: “Nossa opinião é, assim, de querer mudar
o nosso ambiente escolar, para que, no futuro, possa estar mudando a nossa sociedade. Se a
gente começa no grupo pequeno, na escola, se a gente, se der certo, daqui a pouco nós
podemos estar formando uma ONG maior, uma coisa mais expansiva” (2ºGD de 15 a 24 anos).

33
Um Grupo defendeu a junção do voluntariado com a livre organização, para atuar no
âmbito da educação, do trabalho, da cultura e do lazer. Na educação, reportando-se ao Diálogo
da manhã, propuseram auxiliar em aulas de reforço, formar grupos culturais de música, de
dança, dar dicas para quem faz supletivos (palestras), elaborar apostilas para ajudar na
qualificação de quem já concluiu o Ensino Médio. Em relação a trabalho, sugeriram eleger
grupos para visitar as escolas, cadastrar jovens para empregos, fazer serviços para a
comunidade, convidar outras pessoas para o voluntariado, reunir jovens formando cooperativas
e oferecer serviços. Em relação à cultura, promover festas na comunidade, divulgação de
bandas da comunidade, fazer campanhas, sorteios, bingos (para a reconstrução de quadras,
de praças e centros comunitários), conscientizando a comunidade acerca da dificuldade
dessas ações, promover aulas de dança, música, teatro etc., fazer acordos com casas
noturnas pra diminuir o preço de determinados eventos.

Vários(as) jovens, ao enfatizar os aspectos mencionados, chamaram a atenção para a


necessidade de envolver a comunidade. Um deles, que participou do 1º GD de 15 a 24 anos,
compreende que “... fazendo um movimento na comunidade para que outras pessoas também
se disponham a ser voluntários, reunir jovens, formando cooperativas e oferecer serviços. (...)
Na cultura, promover festas na comunidade, divulgação de bandas da comunidade, fazendo
shows, só por divulgação mesmo, seria um modo de lazer também”.

Mais uma evidência da articulação das escolhas dos Caminhos Participativos com os
Diálogos da manhã aconteceu, por exemplo, quando escolheram um Caminho para garantir o
acesso à cultura, conforme proposta consensual naqueles Diálogos. Para atender a essa
necessidade, alguns Grupos defenderam uma ação voluntária de “promover aulas de dança,
música e teatro (...), fazer acordos com casas noturnas para diminuir o preço de determinados
eventos, para quem não tem acesso, para quem não tem como pagar uma festa, então acho
que deveria diminuir o preço” (GD 18 a 24 anos). Finalmente, observou-se Grupos que
limitaram-se a defender a organização política de forma mais generalizada, sem se ater à
educação, à cultura e ao lazer.

34
6 – Caminho síntese

Talvez pelo cansaço, talvez pela quantidade de informações processadas durante o dia, mas
ficou evidente a dificuldade dos(as) jovens em problematizar suas escolhas sobre as formas de
participação para efetivarem seus desejos, resultando no pouco aprofundamento das
problematizações. Mas, em geral, ao se apresentarem as possibilidades de problematização
das escolhas que os(as) jovens apontaram para participar e contribuir com as mudanças que
desejam, falou-se bastante em abrir mão do tempo, mas a grande maioria pontuou, como um
primeiro passo, o fato de terem estado nos GD com seriedade e de estarem abrindo mão de
algo para estarem ali, o que demonstrou a disposição e o interesse deles(as).

Como exemplo de relato dos(as) jovens durante a problematização das conseqüências,


pode-se verificar o depoimento de um jovem do GD com experiência participativa segundo o
qual “Hoje, para estarmos aqui, abrimos mão de ir ao jogo do Flamengo, ir à festa do trance, ir
almoçar na casa do namorado, ir para a igreja, ir jogar futebol, ir para o grupo de teatro, ir para
a feira trabalhar, de estudar, de dormir, de ficar com minha filha, de assistir TV”.

Em todos os GD, foi possível constatar que o fato de abrir mão de alguma coisa para
mudar a realidade não impediu que a maioria dos(as) jovens estivesse disposta a participar. O
que mais foi enfatizado por eles(as) foi a seriedade do trabalho a ser feito e o respeito à opinião
dos(as) jovens. Para um dos jovens, “se for uma coisa séria, que tivesse futuro, abriria mão até
do meu trabalho”. Para outro, “Eu abriria mão do meu tempo livre de assistir TV, para formar a
Força Revolucionária de Brasília – FRB” (2º GD 15 a 24 anos).

Vários(as) jovens atentaram para a dificuldade de participação dos(as) jovens,


observando que não é fácil abrir mão do que se está habituado a fazer para participar de algo
que não necessariamente se pode dar certo e que portanto, alguns(mas) podem se interessar,
mas outros(as) não. Eles(as) apontaram como exemplo a informação apresentada no inicio da
manhã em termos do número de convocações para o Dia e o número de comparecimentos.

35
7 – Comentários finais

No processo desencadeado pelos comentários finais, de acordo com a tabela 6, o tema mais
freqüente foi a credibilidade nos(as) políticos(as) e no sistema político. Em seguida, aspectos
relacionados à juventude, pobreza e educação.

Tabela 6 – Comentários finais

Comentários Finais GD 15-18 GD 18-24 1º GD 15-24 2º GD 15-24 GD Exp.


Total
(temas/questões ) anos anos anos anos Participat.

Corrupção 03 01 01 02 01 08
Credibilidade nos(as)
05 09 08 13 05 40
políticos(as)

Trabalho / Emprego / - 01 02 03 - 06
Falta de oportunidade
Educação 01 02 01 08 - 12
Fome / Miséria /
04 03 - 06 - 13
Pobreza
Violência / Segurança 01 - - - - 01
Saúde 01 - - 02 - 03
Política / Cidadania 02 04 01 02 - 09
Juventude 01 02 04 09 03 19

Nessa parte do Diálogo, os(as) jovens demonstraram um profundo descrédito nos(as)


políticos(as), atrelando a sua figura à corrupção, falta de ética e desrespeito ao povo brasileiro,
como demonstram a fala de dois jovens. Um deles, do GD com experiência prévia de
participação, afirmou que “Gostaria que eles olhassem o mundo de forma diferente, têm muitas
pessoas humilhadas que não conseguem mostrar o seu caráter, que tenha menos corrupção
no país”. O outro, do 2º GD com jovens de 15 a 24 anos, pede “que exerçam verdadeiramente
a democracia que tanto pregam”.

Apesar do descrédito nos(as) políticos(as), alguns(mas) jovens reconheceram a


legitimidade das eleições e chamaram a atenção dos(as) políticos(as) para esse fato. Para um
jovem do 2º GD com jovens de 15 a 24 anos “O governo deveria pensar que depende do nosso
voto para estar lá”. Outro jovem desse mesmo Grupo sugere aos(às) políticos(as) “Não
esquecer que estão no poder, mas o povo que o botou, pode tirar”. Já outro jovem do GD de
faixa etária de 18 a 24 anos sugere que o(a) político(a) “... não pense no que vai ser bom para
ele. Eles vejam a necessidade do povo; se não fosse a gente, eles não estariam lá”.

36
Um jovem do 1º GD de 15 a 24 anos fez o seguinte comentário: “Lula faz jus ao seu discurso
de posse. Não quero encontrar o Roriz”. Outro jovem desse mesmo GD manifesta sua
satisfação com o governo Lula, mas repudia o governo do Distrito Federal: “Lula, o seu governo
está bem bom. Administrador da minha cidade, tomar vergonha na cara. Roriz, vou deixar em
branco, não quero nem falar”. A fala desse jovem, se referindo ao governo Lula, nos
comentários finais, foi a única que se referiu de forma positiva a algum(a) governante.

Temas como a educação, a saúde e o trabalho apareceram, na sua maioria, como


forma de chamar a atenção para a péssima qualidade da saúde e da educação, além da falta
de oportunidade de emprego. A educação foi a maior preocupação. Em nenhuma das falas,
os(as) jovens demonstraram qualquer tipo de melhoria no acesso e na oportunidade a esses
direitos. De acordo com um jovem do GD de 18 a 24 anos “eles [governantes] só prometem;
promessa, a gente faz pra santo. Não vejo emprego”.

Nos comentários finais, curiosamente, os(as) jovens deram pouca relevância à


violência e à segurança, mesmo esses temas tendo sido, por diversas vezes, abordados
durante o Dia de Diálogo, principalmente quando trataram da educação e da cultura/lazer:
"Conheci muitas coisas como juventude e violência", único depoimento, em todos os GD, que
se referiu à violência. Por outro lado, temas como a pobreza, a fome e a miséria foram alvo de
muitas preocupações dos(as) jovens, com cerca de 13 depoimentos. Como bem ilustra a fala
de um jovem do 2º GD com jovens de 15 a 24 anos. Para ele, “Não [se deve] deixar a miséria
acabar com o povo brasileiro”. Para outro jovem do 1º GD na faixa etária de 15 a 24 anos, “Não
existem só eles no mundo, mas naqueles que choram e passam fome, sem ter o que comer”.

Os(as) jovens perceberam o Dia de Diálogo como uma oportunidade para conversar a
respeito de temas importantes, que envolvem a política e a cidadania. Queixaram-se de que
não são ouvidos(as) pela sociedade e pelo governo, sendo excluídos(as) de processos
importantes para a sua formação. Salientaram, também, a importância de que esse tipo de
espaço é fundamental para a compreensão do seu papel como cidadãos(ãs).

Duas jovens fizeram a comparação do Dia de Diálogo com a escola, dizendo que a
escola é falha quanto a esse tipo de formação. Uma delas afirma: “Aprendi muito, foi melhor
que a escola pública. Aprendi sobre política e sociedade”. (GD 18 a 24). A outra entende que
essa experiência contribui “...para todos se conscientizarem, é um assunto que não é
aprofundado na nossa escola. Vou pensar mais em me voluntariar ou criar um grupo de
trabalho voluntário” (2º GD de 15 a 24). Um jovem do GD com experiência participativa fez o
seguinte depoimento: “Adquiri experiência, prazer em conhecer as pessoas, sou aberto a fazer
amizades. Quando a gente puder se encontrar. Vamos mudar o país, o meu nome é Che
Guevara também”.

37
8 – Fichas pré e pós-Diálogo

As fichas ou questionários Pré e Pós-Diálogo foram preenchidas por todos(as) os(as) 90


jovens, que participaram dos cinco Grupos de Diálogo. As mudanças de opinião se mostram
mais significativas quando observado o conjunto dos Grupos de Diálogo. A opção ou a “nota”
que a maioria dos(as) jovens atribuiu aos Caminhos Participativos ficou entre 7 e 6, como
podemos observar nos gráficos abaixo:

• Caminho 1

30,0

25,0

20,0

Caminho 1 Pré
15,0
Caminho 1 Pós

10,0

5,0

0,0
M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M
TOT De 15 a 17 anos De 18 a 24 anos De 15 a 24 anos De 15 a 24
(c/exp.participativa)

No geral, podemos apontar que houve a tendência foi de se atribuir maior “nota” ao Caminho 1
na ficha Pós-Diálogo. Isso nos remete a apontar que o Diálogo não foi determinante para
mudança de opção ou “nota” atribuída ao Caminho 1.

• Caminho 2

40,0

35,0

30,0

25,0

Caminho 2 Pré
20,0
Caminho 2 Pós

15,0

10,0

5,0

0,0
M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M
TOT De 15 a 17 anos De 18 a 24 anos De 15 a 24 anos De 15 a 24
(c/exp.participativa)

38
• Caminho 3
45,0

40,0

35,0

30,0

25,0
Caminho 3 Pré
Caminho 3 Pós
20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M 1 2 3 4 5 6 7 M
TOT De 15 a 17 anos De 18 a 24 anos De 15 a 24 anos De 15 a 24
(c/exp.participativa)

Outro dado importante é que a média atribuída a cada um dos Caminhos nas fichas
Pré e Pós-Diálogo permaneceu equilibrada. A “nota” atribuída a cada Caminho, nas fichas Pré
e Pós-Diálogo, não sofreu grandes alterações. Ou seja, os(as) jovens, na sua maioria, não
mudaram de opinião sobre os Caminhos após a realização do Grupo de Diálogo.

O que se pode apontar, a partir dos dados apresentados, é que mesmo tendo jovens
com situação socioeconômica bastante heterogênea, e evidenciando a segregação
socioespacial, que é um traço marcante no Distrito Federal, o perfil dos(as) jovens que
participaram dos Grupos de Diálogo não é um fator determinante da opção ou da “nota” que foi
atribuída aos Caminhos Participativos. Observando a média das notas atribuídas pelos(as)
jovens aos Caminhos Participativos, e considerando as variáveis idade, sexo, trabalho e
escolaridade, não se destacam mudanças significativas nas escolhas e nas “notas”. Pode-se
indicar que a o Caminho 3, vinculado a formação de grupos, foi o que obteve maior adesão e
despertou o interesse pela participação.

Na análise dos dados de todos os GD, a tendência foi de fusão de pontos do Caminho
1, entendido como o engajamento político, com o Caminho 3 que remete à formação de
grupos. O Caminho 2, que é o trabalho voluntário, obteve no geral menor adesão dos(as)
participantes.

Dos(as) 90 (noventa) jovens participantes dos GD, 77 apresentaram alguma condição


para atuar ou não, por meio de um ou mais dos Caminhos Participativos apresentados na
pesquisa. Os principais temas que surgiram em cada Caminho foram:

39
CAMINHO 1
GD GD 1º GD 2º GD GD
Temas 15-18 18-24 15-24 15-24 Exp.
anos anos anos anos Participat.
Apoio do governo / Não deixe de
1 1 - 2 2
fazer sua parte
Seja feito com respeito ao(à)
jovem, autonomia nas suas 1 3 1 4 1
opiniões, reconhecimento
De não ter desigualdade / Lutar
sem preconceito, mas com - 1 - 1 1
igualdade social
Seja em grupo, todos juntos, a
1 4 2 1 1
união faz a força
Mesmo depois de conseguir o que
- 1 - - -
se quer, continuar fiscalizando
As organizações se empenhem e
- 1 - - -
corram atrás
Haja participação de boa parte da
sociedade / O principal é lutar só - 3 - 1 -
ou em grupo
Igualdade na política - - 1 - -
Não haja corrupção nas
organizações / Haja seriedade / - - 2 1 -
Não seja para aparecer
Não me prejudique - - - 1 -
Tenha melhorias / Cumpra o que
- - - 3 -
está no papel
Se tiver pessoas capacitadas para
- - - 1 -
ajudar

O principal tema, apontado pelos(as) jovens como condição para participarem do


primeiro Caminho foi o respeito aos(às) jovens, à sua autonomia, ao seu direito de opinar
“...que os governantes abram espaço para o Brasil jovem falar”. Esse tema surgiu como
condição em todos os GD.

Outro tema relevante, apontado como condição em todos os GD, foi a participação por
meio de grupos, pois unidas, as pessoas têm mais força para cobrar e para realizar alguma
atividade. “...A união faz a força” (GD 15 a 17anos), “...que todos possam participar juntos e
saber organizar com a comunidade” (1ºGD 15 a 24 anos).

40
Vale ressaltar que a falta de credibilidade em algumas organizações, sobretudo pela
questão da corrupção, ou de lutar e reivindicar por interesses próprios, configura-se como uma
situação apontada como condição para não participar: “...que eles não façam o mesmo que os
políticos corruptos fazem”, (GD 15 a 24 anos) “Acho que existe fraude e super faturação
nessas organizações” (GD 18 a 24 anos).

CAMINHO 2
GD GD 1º GD 2º GD GD
Temas 15-18 18-24 15-24 15-24 Exp.
anos anos anos anos Particip.
Qualificação do voluntário(a) - - - 1

Seja em grupo 3 1 2
É bom ser voluntário(a), mas não
podemos fazer o que é dever do 2 3 - 2 -
governo

Flexibilidade para ajudar, faz o dia


1 1 2 4 -
que quer, não custa nada

Tivesse apoio do governo - 1 - - -

Esperar o governo é comodismo - - 1 - -

Sentimento de solidariedade,
- 1 3 4 -
ajudar o próximo

O governo não se acomode - - - 1 -

Colabore com algo que seja sério - - - 1 -

As condições apontadas para participar no segundo Caminho remetem, sobretudo, à


flexibilidade de tempo e de horário que o trabalho voluntário oferece: “... não atrapalhe em seu
trabalho ou seus compromissos” (2º GD 15 a 24 anos). Contudo, é importante salientar que em
3 GD, a importância do trabalho em grupo aparece como condição para atuar.

O fato de poder ajudar as pessoas e o sentimento da solidariedade são condições que


também surgiram nesse segundo Caminho: “...ajudando o próximo, sempre se levará para um
caminho mais confortável. Ajuda não gasta, só se levanta” (1º GD 15 a 24 anos). Entretanto,
parte dos(as) jovens ressaltou que não assumiria o papel do governo, o que é dever dele.

41
CAMINHO 3
GD GD 1º GD 2º GD GD
Temas 15-18 18-24 15-24 15-24 Ex.
anos anos anos anos Particip.
Com o grupo é que começa tudo,
1 1 1 1 1
com responsabilidade
Não se pense só no grupo, mas
no povo brasileiro, na população, 1 1 2 2 -
no bem de todos(as)

Não tenha interesses camuflados - - 1 - -


Tenha ajuda, incentivo do governo - 1 3 2 -

O governo assuma a
responsabilidade do que é - - 1 - -
obrigação dele
Tem que desenvolver mais
- - 1 - -
maneiras políticas de ajudar
Melhorando as escolas - - - 1 -

Toda a sociedade querer


participar, não só a metade dela, - - - 2 -
todos(as) ajudarem
Respeitasse as opiniões
- - - 1 -
profissionais e democráticas

O trabalho em grupo é a principal condição para se participar do terceiro Caminho.


Outro tema identificado em 4 GD foi que o trabalho não ficasse apenas no pequeno grupo mas,
sim, que fosse expandido e garantisse benefícios para a população em geral.

42
9 – Análise sobre a participação

A metodologia do Diálogo, ao se configurar como espaço de reflexão individual e coletivo,


favoreceu a aprendizagem conjunta, fazendo com que o(a) jovem decidisse e escolhesse,
aprendesse a abrir mão de algo e analisasse as conseqüências das suas escolhas. O ponto de
partida do Diálogo foi “Que Brasil queremos?”. As respostas se fundamentaram na realidade de
cada indivíduo, uma vez que refletiu sobre sua vida, compartilhou essas impressões com
outras pessoas e tomou consciência ou a ampliou, intervindo nela de forma diferenciada.

O processo participativo não aconteceu de forma linear, nem abrangeu a totalidade


dos(as) jovens. Não foram percebidas diferenças consideráveis, em termos de participação
dos(as) jovens, entre os distintos Grupos. Em particular, pode-se destacar que as mulheres se
sobressaíram e que, na última sessão, com 37 jovens, mais jovens participaram menos. O que
levou a crer que Grupos com menor número de pessoas são mais propícios à efetiva
participação do conjunto do Grupo, tendo em vista que, nas sessões com número de
comparecimento menor, houve mais oportunidade para que todos(as) se manifestassem, fosse
nos pequenos Grupos ou nas plenárias.

O que se pôde perceber foi que, durante as sessões de Diálogo, alguns(mas) se


inteiraram e participaram mais, outros(as) menos e, outros(as) nem tomaram consciência
imediata. Conforme mencionado na primeira parte deste relatório, alguns(mas) jovens
compareceram aos GDs por curiosidade, outros(as) estimulados pelo pró-labore, mas também
houve aqueles(as) que conseguiram perceber a importância em discutir as temáticas
propostas. A forma e a intensidade como se deu a participação no processo de reflexão, nos
GDs, estão relacionadas com particularidades referentes à subjetividade de cada jovem.
Observou-se que, além do pouco hábito de participação, a timidez, a dificuldade de leitura e de
compreensão dos Cadernos foram aspectos que influenciaram o processo participativo.

Tais limites, tampouco, devem camuflar a riqueza e a qualidade da participação


vivenciada. Esta deve ser analisada e compreendida sob o conjunto de aspectos intrínsecos à
própria condição dos(as) jovens, como um segmento possuidor de potencialidades, de
fragilidades nos processos participativos e inseridos num contexto histórico, socioeconômico e
cultural. Não obstante a aparente dificuldade de participação juvenil na RMB, evidenciada na
primeira etapa da pesquisa Juventude e Democracia, e reforçada pelas dificuldades de adesão
dos(as) jovens para participar dos GDs, os espaços desencadeados nas sessões
apresentaram alguns aspectos a serem considerados.

Primeiramente, observou-se que são poucos e precários os espaços que favorecem


processos participativos e que, ao se instalarem espaços propícios, é possível abrir um canal
de diálogo e participação que, de acordo com os(as) jovens, não se percebe na escola formal,
como bem ressalva um jovem do GD de 15 a 24 anos: “Para todos se conscientizarem, e um

43
assunto que não é aprofundado na nossa escola. Vou pensar mais em me voluntariar ou criar
um grupo para o trabalho voluntário”.

De acordo com Amorim e outros(as), uma pesquisa realizada pela consultoria Kanitz &
Associados, em 1999, mostrou que 70% dos(as) jovens manifestam interesse em dedicar parte
do seu tempo ao voluntariado. Um estudo do Instituto Soma Opinião & Mercado, realizado em
2000, que entrevistou 468 jovens, entre 12 e 17 anos, indicou que 67% dos(as)
entrevistados(as) preferiam trabalhar duas horas diárias como voluntários(as) a dedicar esse
tempo para atividades como curso de inglês e informática.

Um segundo aspecto indicou a sensibilidade e a visão crítica dos(as) jovens, ao


dialogarem sobre a realidade, sobre o papel deles(as) na sociedade e sobre os(as)
governantes brasileiros(as). Um jovem do GD de 15 a 24 anos sugere “... que o presidente
olhe mais para o nosso país, do que para fora. Com tanta gente passando fome, ele manda
dinheiro para o FMI”.

Os processos participativos da juventude brasiliense parecem demonstrar


características particulares e contraditórias. Se, por um lado, o(a) jovem da RMB mora num
espaço de intensa trajetória política e cenário dos grandes fatos históricos do país, por outro
lado, a proximidade com esse espaço de participação política institucionalizada fortalece o
descrédito, diante do não cumprimento de promessas e da cultura de nepotismo e corrupção
política. Para um jovem do Grupo com experiência participativa, “Os políticos, quando chegam
nas eleições, prometem, fica tudo no papel e na caneta”.

Os Grupos de Diálogo evidenciaram que a fragilidade do sistema educacional


brasileiro, no desenvolvimento dos(as) jovens e, particularmente, no processo de formação
profissional, e a fragilidade das políticas de cultura e lazer, além do pouco acesso a estes,
podem fortalecer a inserção dos(as) jovens em espaços participativos, que estimulam a
violência. As evidências identificadas na pesquisa Juventude e Democracia são corroboradas
por um estudo realizado por Amorim e outros(as), segundo os quais “pesquisas feitas por
vários órgãos englobando o universo jovem mostram que a vida do jovem é árdua. Eles
estudam mais, mas têm menos oportunidades de emprego. Vivem reféns da violência e não
têm opções de lazer” (CB 28/04/02).

Ser refém da violência inclui estar no papel de vítima ou de agressor(a). A violência,


como espaço de participação juvenil, no Distrito Federal, vem se ampliando, tendo o(a) jovem
como agressor(a), com o progressivo crescimento das gangues. Esse é um dado que sugere
maior atenção, por parte dos(as) formuladores(as) de políticas para a juventude. De acordo
com dados da primeira etapa da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, os(as) jovens
que participam ou já participaram de grupos diversos, como galeras e gangues, somam um
percentual de 6,4%. Esses grupos têm se disseminado progressivamente nas quadras
residenciais e nas escolas do Distrito Federal, sendo cada vez mais freqüentes os assassinatos
de jovens por gangues rivais.

44
Considerando todo o processo vivenciado pela aplicação da metodologia dos GDs, é possível
afirmar a ocorrência de mudanças após o Dia de Diálogo? Embora o processo participativo
não tenha sido linear, pois alguns(mas), naturalmente, participaram mais e outros(as)
menos, compreende-se que ocorreu uma evolução no pensamento da maioria dos(as)
jovens que participaram desse processo e muitos(as) jovens chegaram a mudar de opinião
no final da sessão de Diálogo. No entanto, seria prematuro afirmar que ocorreu uma
mudança mais efetiva na sua forma de pensar, tendo em vista, por exemplo, o curto
espaço de tempo, a quantidade e diversidade de informações transmitidas e trocadas, a
dificuldade de problematização das escolhas.

É possível que o(a) jovem possa ter ampliado ou tomado consciência de vários
aspectos referentes às questões abordadas. Mas a intervenção na sua realidade cotidiana de
forma diferenciada ou como isso vai interferir na sua forma de pensar efetivamente, é algo a
ser mensurado para além do Dia de Diálogo. De antemão pode-se ressaltar que o GD
favoreceu um espaço participativo, educativo e a aprendizagem conjunta.

Em síntese, os(as) jovens perceberam o Dia de Diálogo como uma oportunidade para
conversar a respeito de temas importantes, que envolvem a política e a cidadania. Queixaram-
se de que não são ouvidos(as) pela sociedade e pelo governo, sendo excluídos(as) de
processos importantes para a sua formação. Salientaram, também, a importância de que esse
tipo de espaço é fundamental para a compreensão do seu papel como cidadãos(ãs). Além
disso, ao final dos Dias de Diálogo, ficou evidente, pelas falas, a vontade de mudar a realidade
brasileira e da importância da participação da juventude, para que isso possa acontecer. A
impressão final do Diálogo foi que alguns(mas) jovens se sentiram “empoderados(as)” para
lutarem por seus objetivos.

45
10 – Conclusão

Para efeito de conclusão, destacam-se os aspectos mais significativos da pesquisa Juventude


e Democracia: participação, esferas e políticas públicas na Região Metropolitana de Brasília.
Retoma-se inicialmente as conclusões da primeira etapa da pesquisa permitindo melhor
contextualização dessa segunda etapa, quando aprofundou-se a investigação por meio da
aplicação da metodologia dos Grupos de Diálogo, que explora a opinião dos(as) jovens sobre o
Brasil que desejam e como podem se engajar para concretizar seus desejos.

A pesquisa, que foi desenvolvida com jovens de 15 a 24 anos, configura um perfil


com superioridade numérica dos rapazes em relação às moças, a maioria da classe C,
seguida das classes D/E. A maioria dos(as) jovens não está estudando nem trabalhando, é
católica, não têm filhos(as). Numa caracterização desses(as) jovens, foram identificados
aspectos de sua trajetória de vida, como a vida escolar, ao mundo do trabalho e às
maneiras como eles(as) se informam e acessam os bens culturais, permitindo maior
compreensão das condições em que vivem esses(as) jovens, facilitando a análise sobre os
possíveis espaços, as possibilidades, os limites impostos aos processos participativos
pelas desigualdades sociais predominantes no Brasil.

Em termos de educação, entre outros aspectos observa-se o atraso no fluxo


escolar de um percentual significativo dos(as) jovens, a baixa escolaridade, o pouco hábito
da leitura, evidenciando uma demanda por educação para os(as) jovens dessa Região
Metropolitana. O acesso ao mundo do trabalho tem privilegiado, sobretudo os(as) jovens
das classes mais favorecidas, que têm maiores e melhores oportunidades. A situação de
trabalho configurada também sugere a dificuldade dos(as) jovens em conciliar a vida de
casado(a), os estudos e o trabalho. As moças que trabalham ainda se encontram em
grande desvantagem em relação aos rapazes, confirmando as desigualdades de gênero
diante da inserção no mercado de trabalho.

Os dados evidenciam que os(as) jovens costumam se informar sobre o que está
acontecendo no mundo, mas o contexto socioeconômico como isso ocorre apresenta
particularidades em termos dos meios de informação, do acesso a eles e da qualidade da
informação na perspectiva de fortalecer uma consciência critica no(a) jovem que está em fase
de desenvolvimento, que certamente se reflete nas formas e na intensidade da participação.

Verifica-se que o acesso à informação está intimamente relacionado com a classe


social, desfavorecendo os(as) jovens das classes mais pobres. Está comprovado que o baixo
acesso ao computador e à internet ainda retratam a intensa exclusão digital junto aos(às)
jovens pobres. No entanto, o retrato dos(as) jovens que têm acesso a computador e à internet
por si só não expressa qualidade de informação ou de contribuição na formação de consciência
critica para o(a) jovem das classes mais favorecidas, se for considerado que a maioria

46
deles(as), apesar de gastar mais tempo na internet com pesquisas, prevalece também o bate-
papo e a simples troca de e-mails.

Embora a televisão seja o meio de informação mais comum, tornando-se poderoso


instrumento de disseminação da informação na grande maioria dos domicílios brasileiros –
perpassando todas as classes sociais –, os(as) jovens demonstram pequeno conhecimento
sobre as temáticas em destaque no cenário nacional e internacional e em geral veiculado
pela mídia televisiva.

Dessa forma, é possível concluir, com tendência aproximada, que os(as) jovens da
RMB apresentam características de pouca participação nas esferas pública e política e que tal
fato não deve ser analisado de forma isolada, mas deve ser compreendido com base na
realidade complexa que apresenta múltiplas determinações, impossíveis de serem captadas
apenas do ponto de vista de um levantamento quantitativo. De um lado, ela demonstra
influências do contexto socioeconômico e cultural. De outro, deve ser compreendida no âmbito
dos processos participativos que se manifestam historicamente na sociedade brasileira, e nos
quais os(as) jovens estão inseridos(as). As condições socioeconômicas desfavoráveis de parte
considerável dos(as) jovens em questão influenciam no processo de desenvolvimento pessoal
e profissional e, em particular, nos mecanismos que favorecem os processos participativos.

Semelhante ao período da ditadura militar, quando todos os canais de participação se


fecharam, atualmente, numa sociedade que se intitula democrática, parece continuar sendo a
religião o canal privilegiado para expressão juvenil. Informação que se confirma não apenas
nessa Região Metropolitana, mas também em outras que participam da pesquisa Juventude e
Democracia e nos dados agregados das RMs. Entretanto, se naquela época sobrepunha-se a
presença da Igreja Católica – da linha de pensamento progressista – junto aos(às) jovens,
atualmente a situação é diversa. É a igreja evangélica/protestante – de pensamento
conservador – que se manifesta preferencialmente como espaço de participação dos(as)
jovens por meio dos movimentos religiosos ou atividades religiosas praticadas pelos(as) jovens
que participam de algum grupo.

Além dos movimentos religiosos, outra tendência são os grupos esportivos, de lazer e
culturais, como os grupos de skates, de hip-hop, de rap, de grafiteiros(as), que se disseminam
nas cidades do Distrito Federal, em particular os grupos de hip-hop e de grafiteiros(as).

Não cabe aqui uma análise histórica da participação juvenil, mas deve se enfatizar que
a pouca participação dos(as) jovens demonstrada nos espaços dos sindicatos, partidos,
movimentos sociais e comunitários e ONGs assume uma particularidade a ser investigada mais
minuciosamente. É importante lembrar que esta é uma geração com passado recente de
cultura da não-participação, imposta pela ditadura militar. Se depois veio a redemocratização,
intensificando a prática participativa, no entanto, as mazelas do avanço do projeto neoliberal de
redução do Estado e do processo de globalização excludente contribuíram para o refluxo das
organizações sociais com implicações nas distintas formas de participação, demonstradas no

47
esvaziamento dos sindicatos, no descrédito dos partidos políticos, no esvaziamento de
movimentos sociais como educação, saúde e moradia etc., no agravamento das dificuldades
financeiras das ONGs.

Agregado a tais aspectos, o contexto de implementação da nova institucionalidade


inaugurada com a Constituição Federal de 1988 gerou demandas que contribuíram para a
profissionalização progressiva da “militância” nas organizações não-governamentais ou
ocupação de outros espaços pelos(as) ativistas de esquerda, seja nos espaços de direitos
conquistados, como os Conselhos de defesa de direitos, ou programas e políticas
governamentais, como as da infância e adolescência desenvolvidos pelo próprio governo ou
por organizações da sociedade civil16, ou pela absorção dessa mão-de-obra pelas
administrações municipais de esquerda.

Os(as) jovens, em particular, se inserem nesse contexto de uma geração


aparentemente marcada pela apatia, pela carência de utopias. Mas há que se considerar que,
no movimento de criação e recriação da dinâmica social, geram-se novas formas de
resistência, de organização, alternativas de participação inovadoras, afastando-se dos modelos
participativos tradicionais, aproximando de novos modelos civilizatórios não possíveis de captar
neste processo investigativo.

A segunda etapa da pesquisa aprofunda a investigação a cerca do envolvimento


dos(as) jovens nas esferas públicas e políticas, por meio do Diálogo sobre o que desejam e
como pensam em contribuir para a realização desses desejos. De antemão e com base no
contexto acima configurado, observa-se que a juventude é receptível e apresenta grande
potencial para a participação. No entanto, carece de espaços favoráveis e propícios aos
processos participativos. Não obstante a adversidade da realidade na qual se inserem, a
experiência dos GDs indica sensibilidade e visão crítica dos(as) jovens ao se situarem nesses
espaços e dialogarem sobre a realidade brasileira e as suas potencialidades nesse contexto.
Já nos comentários iniciais dos GDs, os(as) jovens apontaram várias preocupações, em que o
desemprego e a violência foram o ponto alto.

Em geral, a temática da educação ocupou naturalmente o centro dos Diálogos,


indicando claramente o desejo dos(as) jovens de melhoria das escolas e no trato com os(as)
professores(as). No tocante ao trabalho, os(as) jovens identificaram, basicamente, o desejo de
acabar com o desemprego e uma maior qualificação profissional. A discriminação racial, de
gênero e de classe social foi apontada como um dos fatores que contribui para o elevado
índice de desemprego juvenil. Sobre a cultura e o lazer, as propostas voltaram-se para o
acesso à cultura, mais espaços de lazer, a garantia de segurança nos espaços e eventos de
cultura e lazer, o incentivo à cultura brasileira.

16. Nos últimos anos, o maior incremento de programas e políticas sociais públicas desenvolvidos por
organismos da sociedade civil ocorreu com a aprovação da Lei 9.790/99 que institui e disciplina a
parceria entre Estado e sociedade civil, a conhecida lei das OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público) no governo FHC e que aprofunda a precariedade nas relações de trabalho.

48
A opinião dos(as) jovens da RMB sobre como querem participar para concretizarem as
propostas para o Brasil que desejam apresentou, como principal característica, a
combinação entre Caminhos Participativos e a junção e complementaridade entre todos ou
entre alguns deles. Os(as) jovens entendem que é imprescindível a organização de grupos
para a atuação participativa, seja em grupos mais formais, seja como voluntários, ou em
grupos informais de participação. No entanto, eles(as) não conseguiram aprofundar o
Diálogo, ao problematizar as escolhas que estavam apontando, para participarem e
contribuírem com as mudanças que desejam.

Nos comentários finais, o descrédito nos(as) políticos(as) e no sistema político foi o


ponto alto, deixando um clima de pessimismo junto aos(às) jovens, no trato com as temáticas
trabalhadas, sob o argumento de que não são ouvidos(as) ou que os(as) governantes não
cumprem as suas promessas. Temas como educação, saúde e trabalho apareceram, na sua
maioria, como forma de chamar a atenção para a sua péssima qualidade, como política
pública, além da falta de oportunidade com relação ao emprego. A educação e, em seguida, o
trabalho continuam como centro das preocupações, ainda nos comentários finais.

Finalmente, reforçando a questão que merece atenção particular, por parte dos(as)
formuladores(as) de políticas sociais públicas, a partir da realização dos GDs, fica a evidência
de que a fragilidade do sistema educacional brasileiro, no que diz respeito ao desenvolvimento
dos(as) jovens e, particularmente, no processo de formação profissional, e a fragilidade das
políticas de cultura e lazer, além do pouco acesso a estes, podem fortalecer a inserção dos(as)
jovens em espaços participativos estimuladores da violência. Ao final dos Dias de Diálogo,
ficou evidente, por meio das falas, a vontade de mudar a realidade brasileira e a importância do
engajamento da juventude para que isso possa acontecer.

49
11 – Recomendações

Com base nesse estudo, apresenta-se algumas propostas a título de sugestões aos(às)
formuladores(as) de políticas para a juventude, na perspectiva de contribuir para o
desenvolvimento dos(as) jovens com uma consciência crítica e de incentivo à participação
juvenil nas esferas públicas e políticas do Distrito Federal e combatendo a discriminação.

1. Aumentar a oferta de ensino nas escolas públicas direcionadas para os(as)


jovens com atraso no fluxo escolar.

2. Garantir a atualização dos projetos pedagógicos e das grades curriculares do


sistema educacional público em consonância com os processos de mudanças
societários, com condições adequadas para a sua implementação, garantindo
uma educação critica e inovadora.

3. Investir na capacitação continua dos(as) educadores(as) das escolas públicas.

4. Investir no aumento e atualização dos equipamentos das escolas públicas,


como quadras esportivas, bibliotecas, laboratórios, computadores etc.

5. Ampliar o uso pedagógico das tecnologias da informação e da comunicação.

6. Investir na ampliação dos programas de inclusão digital nas cidades do Distrito


Federal.

7. Investir em equipamentos de esporte e lazer nos espaços públicos e na


conservação dos existentes (praças, parques, escolas).

8. Investir na implementação de programas de incentivo ao esporte e à cultura e


garantir o acesso dos(as) jovens das classes menos favorecidas.

9. Investir no processo de desenvolvimento dos(as) jovens com atenção para a


formação para o mundo do trabalho.

50
Recomendações de novos estudos e investigações17

1. Identificar, no Distrito Federal, iniciativas de participação juvenil já em curso e apoiar o


seu desenvolvimento. O governo distrital e o federal podem fomentar espaços e culturas de
participação juvenil.

2. Proceder a um levantamento sistematizado dos principais meios de informação e


comunicação de massa que predominam na informação dos(as) jovens do Distrito Federal
(televisão, jornais, revistas e emissoras de rádio), verificando:

• a importância desses veículos, caracterizada pelos índices de audiência, pela


tiragem diária (jornais) e semanal (revistas) e pela abrangência/alcance
geográfico;

• os grupos empresariais a que pertencem (controladores de seu capital social) e


os seus principais financiadores, bem como as interrelações e
complementaridades que apresentam (cadeias de multimídia associadas);

• a natureza dos conteúdos rotineiramente apresentados e veiculados.

3. Mapear grupos de jovens que lidam com mídia alternativa no Distrito Federal e investigar
de que maneira a atuação em tais grupos influencia a apreensão de informações por meio
dos grandes meios de informação.

5. Mapear jovens participantes dos Diálogos no Distrito Federal e, por meio de amostra,
investigar a repercussão do Diálogo na vida desses(as) jovens. Passaram a participar de
algum grupo? Estão buscando outros espaços de debate ou participação?

6. Partindo da constatação de que um contingente significativo dos(as) jovens


entrevistados(as) no Distrito Federal não estava estudando no momento da pesquisa de
opinião, e de que a escola se mostrou como espaço de ampliação de acesso a bens
culturais, pesquisar as estratégias de acesso acionadas pelos(as) jovens que estão fora da
escola. Elas existem? Quais são? Qual é a relação desses(as) jovens com a escola? E
com outras políticas públicas?

7. Proceder a um mapeamento, em nível do Distrito Federal, das instituições,


governamentais ou não, que desenvolvem trabalhos com jovens, visando à construção de
um banco de referência.

17. Incorporadas a partir do relatório nacional.

51
12 – Bibliografia

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MULHOLLAND, Thimothy Martin. Ações afirmativas: as razões da UnB. 11/05/04 Disponível
em www.unb.br
RICHARDSON, Roberto J. e Colaboradores. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo:
Atlas, 1999..

52
Fontes da Internet
CPRN. http://www.cprn.org.
Viewplearning. http://www.viewplearning.com
Yankelovich, Daniel. http://www.danyankelovich.com
Ministério do Trabalho e Emprego. www.mte.gov.br
Universidade de Brasília. www.unb.br

53
13 – Anexos

Anexo I: Tabela 4 – Perfil detalhado por Grupos de Diálogo

Grupo de Classe social Cidade N• de Sexo Faixa Etária Escolari Trabalho


Diálogo A/B C D/E Partic Fem. Masc. Idade/No Jovens dade Sim Não
1 2 3*
Ceilândia - 01 15 01
Gama - 01 16 02
Experiência 1 6 2 Rec. das Emas - 02 18 01
Participativa Plano Piloto - 01 09 03 06 19 01 01 07 01 02 07
Sobradinho -01 20 01
Sta. Maria - 01 21 01
Paranoá - 01 24 01
Estrutural - 01
Ceilândia - 05 18 04 02 14 04 10 10
Samambaia - 03 19 05
S. Sebastião - 02 20 02
18 a 24 05 11 04 Gama - 02 20 08 12 21 04
anos Taguatinga - 02 22 03
Rec. das Emas - 02 23 01
Plano Piloto - 01 25 01
Sobradinho - 01
Sta. Maria - 01
Morada da Serra - 01

Ceilânida - 04 15 02
Guará - 02 12 05 07 16 06 02 09
05 07
03 07 02 Sta. Maria - 02 17 03
15 a Riacho Fundo II - 01
17 anos Lanaltina - 01 NR = 01 NR = 01
Sobradinho - 02 15 01
Ceilânida - 02 16 01
Plano Piloto - 02 17 01
1º - 03 05 05 Sta. Maria - 02 13 06 07 18 01 04 07 02 07 05
15 a Guará - 01 19 03
24 anos Gama - 01 21 01
Samambaia - 01 22 01
Àguas Claras - 01 23 03
S. Francisco - 01 24 01 NR=01
Sobradinh - 03 14 01
Ceilânida - 07 15 03
Plano Piloto - 03 16 03
2º - 07 13 16 Sta. Maria - 03 36** 15 21 17 05 08 21 07 15 21
15 a Gama - 05 18 04
24 anos Águas Claras - 02 19 08
S. Sebastião - 02 20 02
Estrutural - 02 21 03
Rec. das Emas - 02 22 02
Riacho Fundo - 01 23 03
Planaltina - 01 24 02
Samambaia - 02
Taguatinga - 01
Braslandia - 01
Candangolândia - 01
NR=01

* 1= Ensino Fundamental 2 = Ensino Médio 3 = Ensino Superior ** 1 jovem não tinha identificação além do nome e foi excluído(a).
Anexo II: Tabela 5 – Semelhanças e diferenças

1 - EDUCAÇÃO

1. 1ª Semelhança: Diferença entre a escola pública e escola particular 2/5

Grupo de Diálogo “Escola particular cobra mais do aluno que a pública, porque é
15-18 (16/04) paga.”
Grupo de Diálogo "Diferença entre escola publica e particular quanto a qualidade e
18-24 (30/04) infra estrutura”
1º Grupo de Diálogo ----
15-24 (07/05)
2º Grupo de Diálogo ----
15-24 (14/05)
GD Experiência ----
Participativa (03/04)

1. 2ª Semelhança: Burocracia 1/5

G D 15-18 “Demora de tramitação de papéis entre as escolas e as


(16/04) administrações de ensino (burocracia)"
G D 18-24 (30/04) -----
1º G D 15-24 (07/05) -----
2º G D 15-24 (14/05) ----
GD Exp Particip. (03/04) ------

1. 3ª Semelhança: Infra-estrutura da escola para garantir o acesso e permanência


(informática/material didático). Recursos humanos [falta de professores(as)] 5/5

GD 15-18 (16/04) "Computadores com acesso a internet: Devem ter nas bibliotecas e
atualizados e na, publica são poucos e desatualizados e cobram" /
“A compreençao (compreensão) do governo com todos os alunos;
colocar mais segurança no colégio; e colocar mais professores.
Uma coisa que o governo não repara.” / “Professores afastados
(férias, licença)” / “Faltam professores nas escola públicas” / "Livros
desatualizados e trocas freqüentes – no Ensino Médio (muitas
vezes cobram os livros dos alunos de escolas públicas )
GD 18-24 (30/04) "Falta de acesso aos computadores da escola publica"
1º GD 15-24 (07/05) “Aumentar o numero de professores”
2º GD 15-24 (14/05) "Falta tudo: falta professor, falta cadeira, falta cadeira especial, falta
escola suficiente, falta lazer, falta segurança, falta lanche
adequado, falta respeito" / "Passe livre estudantil nos transportes
coletivos"
GD Exp. Particip. (03/04) “Falta professores: contratar mais professores”
1. 4ª Semelhança: Discriminação/Racismo 2/5

GD 15-18 "Ocorre racismo nas escolas públicas e particulares"/ "As cotas nas
(16/04) universidades estimulam o racismo" / "Discriminação quanto a
renda entre pobres e ricos"
GD 18-24 (30/04) ------
1º GD 15-24 (07/05) -----
2º GD 15-24 (14/05) "Cota nas universidades por renda e não por cor ou raça (para
pessoas de baixa renda)"
GD Exp. Particip. (03/04) ------

1.5ª Professores(as) mais qualificados/respeito ao(à) professor(a) 3/5

GD 15-18 (16/04) -----


GD 18-24 (30/04) "Qualificação dos professores" / “Salários baixos dos professores
(vocação com sustento)”
1º GD 15-24 (07/05) "Mais atenção ao professor”
2º GD 15-24 (14/05) -----
GD Exp. Particip. “"Falta de interesse para melhorar a situação da falta de
professores" / "Melhorar a relação dos professores com alunos com
(03/04)
relação ao conteúdo. Aumentar o nível (critério) de seleção
profissional" / "Falta de capacitação dos professores"

1.6ª Visão que os(as) jovens têm dos(as) alunos(as) 2/5

GD 15-18 (16/04) ------


GD 18-24 (30/04) ------
1º GD 15-24 (07/05) "Maior interesse do aluno"
2º GD 15-24 (14/05) ----
GD Exp. Particip. (03/04) "Falta interesse dos jovens e governo de querer mudar a educação"

1.7ª Visão que os(as) jovens têm dos(as) professores(as) 2/5

GD 15-18 (16/04) "Professores e diretores fumam e usam celulares durante as aulas"


GD 18-24 (30/04) -----
1º GD 15-24 (07/05) -----
2º GD 15-24 (14/05) -----
GD Exp. Particip. (03/04) "Melhorar a relação dos professores com alunos com relação ao
conteúdo. Aumentar o nível (critério) de seleção profissional"

56
1.8ª Falta de qualidade no ensino público 5/5

GD 15-18 (16/04) "Contrato temporário dos professores afeta a qualidade do ensino"


GD 18-24 (30/04) "O governo estimula para que se termine o 2º grau, só que e sem
qualidade (o processo da dependência ) faz ate que um dia passa.
Isso e para o governo dizer que acabou o analfabetismo só que e
só o diploma" / "Diferença entre a escola pública do Plano Piloto e
as escolas das cidades satélites quanto a qualidade e infra-
estrutura".
1º GD 15-24 (07/05) "Qualidade do supletivo com maior rigor na avaliação"
2º GD 15-24 (14/05) "Falta tudo: falta professor, falta cadeira, falta cadeira especial, falta
escola suficiente, falta lazer, falta segurança, falta lanche
adequado, falta respeito" / "Escola integral e optativa
GD Exp. Particip. (03/04) "Pouco tempo para assimilar os conteúdos"

1.9ª Segurança nas escolas 4/5

GD 15-18 (16/04) "Aumentar policiamento. Só aparecem no inicio do ano ou no dia


antes do pagamento e assédio sexual"
GD 18-24 (30/04) ------
1º GD 15-24 (07/05) "Segurança nas escolas (policiamento)"
2º GD 15-24 (14/05) "Falta tudo: falta professor, falta cadeira, falta cadeira especial, falta
escola suficiente, falta lazer, falta segurança, falta lanche
adequado, falta respeito”
GD Exp. Partici.(03/04) "Mais segurança nas escolas públicas"

1.10ª Dificuldade de acesso a educação básica e ao Ensino Superior 2/5

GD 15-18 (16/04) ---


GD 18-24 (30/04) "Dificuldade do acesso `a educação" / "Dificuldade de acesso ao
Ensino Superior" / "Garantir o acesso a escola para combater o
trabalho infantil escravo"
1º GD 15-24 (07/05) "Investir na educação infantil”

2º GD 15-24 (14/05) ---


GD Exp. Particip. (03/04) ---

57
2 - TRABALHO

2. 1ª Semelhança: Acabar com o desemprego 5/5

GD 15-18 “... qualidade na educação, oportunidade de estágio,


dificuldade de acesso aos estágios, discriminação quanto a
(16/04)
vestimenta e aparência, quanto ao lugar que você mora e
quanto a raça. Não só o estágio como forma de 1º Emprego.
Convênios com empresas.”
GD 18-24 “Mais oportunidade ex: 1º emprego. Dificuldade de acesso a
trabalho pela discriminação racial e de sexo (feminino).
(30/04)
Discriminação dos que estudam nas escolas públicas”.
“Plano de carreira para quem trabalha nas instituições
privadas (as pessoas não são estimuladas a se inserir nas
empresas privadas, e cada um tem que se virar e subir
sozinho)”.
“O trabalho profissional do adolescente aprendiz. Só que as
empresas não respeitam muitas vezes o trabalho do
adolescente estagiário.”
1º GD “Mais oportunidades para os jovens, melhorar o Programa
1º Emprego e aumentar o número de vagas para jovens
15-24 (07/05)
cadastrados.”
“o governo deveria dar emprego ao invés de criar
programas de dar pão e leite”.
2º GD “O 1º Emprego não funciona, falta emprego para os jovens.
Garantir oportunidade de estágio para os jovens e que o
15-24 (14/05)
estágio conte como experiência para a carteira de trabalho.
Incentivo a experiência. Reduzir o imposto das empresas
que contratam estagiários e o estagiário não deve ganhar
menos que o salário mínimo”.
GD Exp. Particip. “ Acabar com as desigualdades e preconceitos com a
mulher, deficientes e negros”
(03/04)
“O governo tem que dar emprego ao invés de dar pão e
leite”.

OBS: Vale ressaltar que a maioria dos(as) adolescentes que participaram dos Grupos de Diálogos
concebem o estágio como emprego.

2. 2ª Semelhança: Qualificação Profissional 5/5

GD 15-18 (16/04) “... oportunidade, pois tem que pagar para se habilitar.”
GD 18-24 (30/04) “Estímulo a cursos profissionalizantes, maior qualificação
profissional”.
1º GD 15-24 (07/05) “Cursos de qualificação”.
2º GD 15-24 (14/05) “Incentivo e divulgação para cursos de qualificação
(informática, ect.)”.
GD Exp. Particip. (03/04) “Cursos de qualificação gratuitos”.

58
3 – CULTURA E LAZER

3. 1ª Semelhança: Mais acesso à Cultura 5/5

GD 15-18 “Falta acesso: cinema, teatro etc. O valor do ingresso é caro. As cidades-satélite
(16/04) não têm programas culturais. A mídia deprecia as cidades (queima a imagem da
cidade). Maior divulgação dos eventos.
GD 18-24 “Acesso à cultura ser gratuito ou de menor valor, mais opções culturais, criar
(30/04) espaços para atividades culturais.”
“.... regularizar a carteirinha de estudante (que funcione) e ampliar a abrangência
para além do teatro, cinema e show”.
1º GD “Mais promoção de shows, eventos, cinema e teatro. Transporte gratuito nos
15-24 ônibus para estudantes. A carteirinha de estudante deve ser gratuita.”
(07/05)
2º GD “Mais divulgação, preços mais acessíveis, criar espaços culturais nas cidades,
descentralizar eventos culturais para as cidades satélites (exemplo orquestra
15-24
sinfônica). O governo fornecer transporte gratuito.”
(14/05)
GD Exp. “ Desenvolver mais programas culturais de livre acesso nas cidades-satélite
Particip. (grátis ou preços acessíveis).”
(03/04)

3. 2ª Semelhança: Garantir segurança 3/5

GD 15-18 (16/04) “Tem quadra no Plano Piloto mas falta policiamento.”


GD 18-24 (30/04) “Tudo atrelado à segurança. Necessidade de segurança (policiamento)
nos espaços de lazer.”
1º GD 15-24 (07/05) “Garantir segurança para os eventos nas cidades.”
2º GD 15-24 (14/05) ----------
GD Exp. ----------
Particip.(03/04)

3. 3ª Semelhança: Investimento em projetos culturais e apoio a cultura brasileira 3/5

GD 15-18 (16/04)
GD 18-24 (30/04) “Dificuldade de acesso aos poucos investimentos para projetos
culturais.”
1º GD 15-24 (07/05)
2º GD 15-24 (14/05) “Valorizar os artistas e os espaços das cidades. Maior valorização da
cultura brasileira.”
GD Exp. Particip. “Valorização da cultura brasileira por meio de mais programas nas
(03/04) cidades, garantindo o acesso (teatro, música, dança).”

59
3. 4ª Semelhança: Ter mais espaços de lazer 5/5

GD 15-18 “Falta de espaços como quadras poli esportivas e clubes nas cidades.
(16/04) Baixar custos para entrar nos clubes. Dificuldade de acesso aos clubes pelo
preço e transporte. Mais praças com parques e equipamentos de
musculação.”
GD 18-24 “Mais centros de práticas esportivas. Alto preço das entradas. Regularizar a
(30/04) carteirinha de estudante (que funcione) e ampliar a abrangência para além
do teatro, cinema e show”.
1º GD 15-24 “Criação de quadras poli esportivas. Criação de praças”.
(07/05)
2º GD 15-24 “Criar e reformas as quadras”.
(14/05)
GD Exp. Particip. “Ter mais espaços de laser nas cidades satélites e maior cuidado da
(03/04) população com os equipamentos de laser”.

60
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.5 Relatório regional

Recife
Entidade parceira
Escola de Formaçao Quilombo dos Palmares

Equipe
Elaboração do relatório
Lívia De Tommasi
Socióloga, supervisora regional da pesquisa

Marcílio Brandão
Sociólogo, pesquisador

Assistente
Graça Elenice dos Santos Braga

Pesquisador(as) bolsistas
Antonio Elba
Carolina Ruoso
Elaine Bezerra
Germana de Castro
Sumário

1 – Introdução
1.1 Que são os Grupos de Diálogo?
1.2 A questão da participação

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

2 – Perfil dos(as) participantes nos Grupos de Diálogo

3 – A participação dos(as) jovens nos diferentes Grupos de Diálogo

4 – Comentários sobre a metodologia

OS RESULTADOS

5 – Comentários iniciais
5.1 Semelhanças e diferenças
5.2 Caminhos participativos

6 – Comentários finais

7 – Fichas pré e pós-Diálogo

8 – Conclusões

1
1– Introdução

Nos últimos anos, cresceu significativamente no Brasil o interesse na temática da juventude, que
começou a ser inserida na agenda das políticas públicas de governos locais, estaduais e do
governo federal, além de ser objeto de interesse da mídia e da intervenção de ONGs e fundações
empresariais. A recente criação da Secretaria Nacional e do Conselho Nacional de Juventude é
prova da vontade política de considerar a especificidade da condição juvenil no âmbito das
intervenções do Estado. A atuação desses órgãos deve ser, desde já, suportada com pesquisas
sobre a realidade dos(as) jovens brasileiros(as), que apontem suas necessidades e demandas,
assim como os espaços e as formas da intervenção.
Por outro lado, muito tem se falado de uma suposta “apatia” dos(as) jovens nas
sociedades contemporâneas, da não participação deles(as) na vida política nacional e local, do
não engajamento em lutas sociais em prol de causas maiores. Contrapondo-se a esse
pensamento, bastante hegemônico entre os meios de comunicação, alguns(mas) especialistas
têm ressaltado, nos últimos anos, a relevância de novas formas de participação dos(as) jovens e
de expressão de suas demandas na esfera pública. Autores(as) como Helena Abramo, Marilia
Sposito e Paulo Carrano no Brasil, e Rosana Reguillo, Miguel Abad, Leslie Serna na América
Latina, têm desenvolvido análises significativas sobre novas formas de organização, expressão e
mobilização juvenil.
Com o intuito de realizar um diagnóstico abrangente sobre formas, conteúdos e sentidos
da participação dos(as) jovens entre 15 e 24 anos nas esferas sociais públicas e políticas,
considerando os(as) jovens e sua participação como estratégicos para a consolidação do
processo de democratização da sociedade brasileira, o Ibase e o Pólis, em parceria com entidades
de pesquisas acadêmicas ou não-governamentais, realizaram a pesquisa “Juventude brasileira e
democracia: participação, esferas e políticas públicas” em oito Regiões Metropolitanas (Belém,
Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre).
A pesquisa foi realizada em duas etapas: na primeira, foi aplicado um questionário aos(às)
jovens das Regiões Metropolitanas investigadas, sendo 1.000 jovens na Região Metropolitana do
Recife (RMR); na segunda, cerca de 150 jovens participaram, em cada Região Metropolitana, de
cinco Grupos de Diálogo para discutir sobre o Brasil que queriam e o tipo de participação
que estariam dispostos(as) a ter para provocar as transformações desejadas 1.
Ao final do questionário, os(as) entrevistados(as) respondiam a uma pergunta sobre a
disponibilidade deles(as) em participar de um Dia de Diálogo para a realização da parte qualitativa

1. A parte quantitativa da pesquisa ficou a cargo, nacionalmente, do Instituto Focus. A análise dos dados quantitativos e
a realização da parte qualitativa ficou a cargo de equipes regionais contratadas com esse fim em cada Região
Metropolitana, organizando, desta forma, uma rede de parceiros co-responsáveis pela realização da pesquisa. O
questionário para as entrevistas foi construído coletivamente pelos(as) supervisores(as) regionais, a equipe técnica central
e o(a) assessor(a) estatístico da pesquisa. Na Região Metropolitana do Recife, foi constituída uma equipe composta por:
dois(duas) pesquisadores(as), Marcílio Brandão e Graça Elenice, quatro jovens estudantes universitários(as), Carolina
Ruoso, Elaine Bezerra, Germana de Castro e Antonio Elba Barbosa, mais um jovem encarregado do apoio logístico,
Isaque Santos. A supervisão regional ficou a cargo da socióloga Lívia De Tommasi.

2
da pesquisa; em caso de resposta afirmativa, o(a) entrevistado(a) deixava endereço e telefone
para poder ser posteriormente contatado(a). Todos(as) os(as) entrevistados(as) que responderam
afirmativamente constituíram então a base de dados para a definição da amostra para a parte
qualitativa, ou seja, para a realização dos cinco Dias de Diálogo, que deviam contar com a
participação de aproximadamente 40 jovens cada um. Um dos Grupos de Diálogo foi composto
considerando somente os(as) jovens que declararam ter tido alguma experiência de participação.
O interesse e o desafio da pesquisa foi duplo: por um lado, testar uma metodologia, a dos
Grupos de Diálogo, “importada” de uma outra realidade (a dos países americanos do hemisfério
norte) e aplicada pela primeira vez no Brasil; por outro, indagar o universo juvenil no que diz
respeito à questão da participação. Este texto tenta responder a esse duplo desafio, buscando
trazer à tona as questões mais relevantes, tanto com relação à metodologia (1a parte) como ao
conteúdo da pesquisa (2a parte).
Cabe ressaltar também o desafio de implementar a metodologia simultaneamente em oito
regiões do país e por parte de diferentes equipes, que tiveram que, ao mesmo tempo, se apropriar
da metodologia e tentar adequá-la conjuntamente à realidade brasileira. Desafio não indiferente,
considerando as diferenças de práticas, de orientações metodológicas e conceituais entre as
distintas entidades e os sujeitos envolvidos na pesquisa.

1.1 Que são os Grupos de Diálogo?


A parte qualitativa da pesquisa foi desenvolvida aplicando a metodologia ChoiceWork Dialogue,
disponibilizada pelo Canadian Policy Research Networks (CPRN), sob o patrocínio e apoio
financeiro do International Development Research Center (IDRC), duas organizações canadenses.
Pressuposto fundamental da metodologia é que, no sistema democrático, os(as) lideres
precisam tomar decisões considerando a opinião dos(as) cidadãos(ãs), seus valores e
necessidades, suas formas de argumentar a respeito dos problemas que os(as) afetam, suas
formas de lidar com problemas e oportunidades existentes em suas comunidades, considerando
as opções existentes. O diálogo procura indagar a respeito dos argumentos mais convincentes em
favor de determinadas mudanças de rumo, ou seja, do espaço político disponível à transformação.
A situação de diálogo permite que as pessoas emitam suas opiniões, dialogando com as
opiniões dos outros. O diálogo não é a soma das opiniões individuais e sim, a construção de
opiniões que respeitem às de cada um(a). Os sujeitos são constantemente solicitados a
remeterem-se a si mesmos e a seus valores, ao mesmo tempo em que escutam e dialogam com
os valores dos outros. Nesse sentido, o método tem um valor tanto investigativo como educativo,
visando, inclusive, provocar mudanças na forma de pensar e de se colocar dos(as) cidadãos(ãs)
frente à realidade social. Podemos dizer, portanto, que a metodologia dos Grupos de Diálogo se
insere na tradição da pesquisa-ação que marcou fortemente a atuação social no Brasil.
O dialogo permite aos(às) cidadãos(ãs) identificar as opções possíveis para enfrentar
determinado problema, indagando sobre o que eles(as) estão dispostos(as) a fazer ou aceitar em
decorrência de tais opções. Nesse sentido, é ao mesmo tempo informação, troca de perspectivas

3
e exploração de intercâmbios, procurando produzir juízo e valores mais informados para orientar a
tomada de decisões.
O diálogo se desenvolve durante um dia, no decorrer do qual são seguidas, de forma
sistemática, uma série de passos metodológicos: apresentação dos objetivos da pesquisa e das
entidades patrocinadoras, apresentação dos(as) participantes, aplicação de um questionário Pré e
Pós-Diálogo, divisão em subgrupos (com no máximo dez integrantes), leitura conjunta dos
Cadernos que contêm a informação relevante sobre o tema e sobre os cenários possíveis, com
argumentos prós e contra, apresentação dos trabalhos dos grupos na plenária, identificação
conjunta das semelhanças e diferenças nas distintas apresentações, exploração das
conseqüências das escolhas feitas, conclusão e avaliação do dia.
Os diálogos são orientados por facilitadores(as) profissionais, gravados e, ao mesmo
tempo, acompanhados por pesquisadores(as)-observadores(as), que anotam situações e
comportamentos relevantes. Na sala onde os diálogos acontecem, são colocados uma série de
cartazes que visualizam os acordos e algumas informações relevantes para o andamento do diálogo.
Para adaptar a metodologia à realidade brasileira, foi preparado um CD-ROM que
apresentava, numa linguagem clara, acessível e prazerosa, o conteúdo do Caderno. Na parte da
manhã, os(as) participantes deviam dialogar a respeito de “o Brasil que queremos”, respondendo à
pergunta: “Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o que pode melhorar na
educação, trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”. Os acordos realizados a respeito das
melhorias desejadas deviam servir de referência para o diálogo na parte da tarde, quando a
pergunta orientadora dizia respeito ao tema especifico da pesquisa: “Pensando no que vocês
listaram pela manhã que deve melhorar na educação, trabalho, cultura e lazer no Brasil, como
vocês estão dispostos(as) a participar para que essas melhorias se tornem realidade?”.
Considerando os resultados esperados, a pesquisa visa indagar a respeito dos valores
que orientam as escolhas dos(as) cidadãos(ãs) e a direção em que eles(as) se movimentam, no
nosso caso, em relação à participação, para servir de marco para a elaboração de políticas e, ao
mesmo tempo, fortalecer cidadãos(ãs) mais informados(as) e mais disponíveis a se engajar nos
processos democráticos e políticos.

1.2 A questão da participação


"É amplamente sabido que a capacidade evocativa e simbólica das palavras-mito é inversamente
proporcional à sua rigorosa delimitação conceptual e empírica."2 Este comentário de Maurizio Cotta é
extremamente pertinente em relação ao conceito de participação, amplamente usado (e abusado) por
parte de diferentes atores em diferentes contextos. A força evocativa da palavra parece ainda estar
longe de se atenuar. Para fim da nossa análise, vamos tentar delimitar o tema da participação
lançando mão de alguns aportes teóricos.

2. Mauricio Cotta, Il concetto di partecipazione politica : linee di un inquadramento teorico. Rivista Italiana di Scienza
Politica, Bologna, n. 9, 1979, p. 194.

4
Para Bordenave3, a participação é uma:

(...) necessidade fundamental do ser humano (...) é o caminho natural para o homem
exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a
natureza e o mundo. Além disso, sua prática envolve a satisfação de outras necessidades
não menos básicas, tais como a interação com os demais homens, a auto-expressão, o
desenvolvimento do pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar as coisas e, ainda, a
valorização de si mesmo pelos outros. (...) a participação é inerente à natureza social do homem.

O sociólogo italiano Alberto Melucci4 considera a participação social como uma orientação
para a ação, na qual:

(...) está em jogo a vontade de manifestar através da ação a própria condição de cidadãos
que têm o dever-direito de contribuir à vida coletiva, mesmo em suas dimensões
quotidianas. A ação visa criar ocasiões de participação, ou seja, expressa o sentimento de
ser parte de uma comunidade. Através da ação torna-se visível o próprio pertencimento e
a própria responsabilidade de contribuir com os fins comuns. Eventualmente, age-se
também para ampliar os canais desta participação.

A participação é considerada como central para a consolidação de um Estado


democrático. A vontade dos(as) cidadãos(ãs) de tomar parte nas decisões políticas, sociais e
econômicas que dizem respeito à vida democrática tem provocado a criação de formas de
democracia participativa. Particularmente no Brasil, a partir dos anos 50 e mais fortemente após a
redemocratização do país, foram desenvolvidas várias experiências que apontam à renovação da
democracia representativa, por meio da criação de mecanismos de democracia participativa. A
participação da sociedade civil na definição e no controle das políticas públicas se tornou efetiva com
a criação de conselhos setoriais, consultivos ou deliberativos, e nas experiências de orçamento
participativo implementadas em várias gestões municipais e estaduais do campo progressista. De
fato, o artigo 204 da Constituição brasileira estabeleceu o principio da participação da população,
por meio de organizações representativas, na formulação das políticas sociais e no controle das
ações em todos os níveis.

3. Juan E. Diaz Bordenave, O que é participação, São Paulo, 1987, p. 16.


4. Alberto Melucci, L'invenzione del presente : movimenti sociali nelle società complesse. 2ª ed. Bologna : Il
Mulino, 1991, p. 103.

5
No que diz respeito ao universo juvenil, comenta Helena Abramo5:

A questão da participação dos jovens tem sido tema de preocupação e debate nos últimos
anos nas sociedades latino-americanas, principalmente no que se relaciona com a
discussão das possibilidades e alternativas de desenvolvimento: tanto para o
desenvolvimento integral dos jovens como para o desenvolvimento democrático da
sociedade. Essa preocupação vem marcada, no entanto, por certa ambigüidade: por um
lado, existe uma percepção da importância da participação juvenil para essas duas
dimensões do desenvolvimento, que vem acompanhada de uma expectativa de seu
incremento; por outro, impera uma certa visão negativa a respeito da participação
existente e uma dificuldade de concretizar canais efetivos para a sua realização. Essa
ambigüidade é acompanhada por uma dificuldade de estabelecer relações entre os atores
e instituições sociais que dominam a cena pública (governamentais e não-
governamentais) e os atores coletivos juvenis (grupos, organizações, movimentos e
“movidas” de jovens), ainda pouco visíveis e compreendidos como interlocutores válidos
para lidar com as questões concernentes a eles.

Ou seja, o problema estaria, mais do que numa suposta apatia dos(as) jovens, na difícil
relação entre as instituições sociais e os atores coletivos juvenis, numa certa “invisibilidade” das
formas de organização e expressão juvenil, se olhadas com as lentes da política e das formas de
organização tradicionais.
Para Miguel Abad, “o exercício da cidadania mais plena por parte dos jovens, estimulando
e apoiando formas e meios próprios, é mais necessário para a sociedade que para os próprios
jovens”. Isso porque tem-se por hipótese uma maior propensão dos(as) jovens a se engajar em
processos de transformação democrática da sociedade. Ainda nas palavras de Abad, “os jovens
estão mais e melhor preparados que nenhum outro grupo populacional para participar e
impulsionar ativamente processos de mudança social, econômico e político” porque, além de ter
níveis maiores de escolaridade com relação às gerações anteriores e uma maior capacidade para
entender o novo em um mundo de mudanças aceleradas, “há uma tendência maior na população
jovem que nos outros grupos etários para vincular-se ou formar organizações, de forma que sem
dúvida existe aí uma reserva que poderia incrementar o capital social de nossas sociedades” 6.
Nos últimos anos, no Brasil, os(as) jovens, considerados(as) como agentes de
desenvolvimento ou de transformação da sociedade, têm sido objeto das ações de várias
instituições, governamentais e não-governamentais, que têm investido na implementação de
programas de estímulo ao engajamento social dos(as) jovens 7.

5. Helena Abramos, Participação e organizações juvenis, Recife : Projeto Redes e Juventudes, 2004, p. 7.
6. Miguel Abad, Possibilidades e limites da participação, Recife : Projeto Redes e Juventudes, 2004, p. 15-16.
7. Desde o Agente Jovem, programa criado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, até os programas
de fundações empresariais como a Fundação Odebrecht e o Instituto Ayrton Senna, que criaram a
“Aliança com o adolescente para o desenvolvimento sustentável no Nordeste”.

6
Por outro lado, seguindo a idéia da existência de novas formas de organização juvenil,
formas próprias dos(as) jovens de se colocar e expressar suas demandas no espaço público,
foram desenvolvidas várias pesquisas orientadas a investigar a natureza, as características e as
formas de organização dos grupos juvenis. A Prefeitura do Município de São Paulo, por exemplo,
realizou, em 2003, um mapeamento identificando 1.600 grupos juvenis existentes na cidade,
35,6% dos quais ligados à cultura. Uma porcentagem muito parecida àquela encontrada na
pesquisa realizada, no mesmo ano, pelo Fórum das Juventudes do Recife para mapear as
organizações juvenis da cidade8.
De fato, a grande maioria das pesquisas desenvolvidas nos últimos anos tem se
debruçado sobre o universo dos(as) jovens organizados(as) tanto em movimentos e entidades
mais tradicionais, como os grêmios estudantis, como em novas formas de organização juvenis,
grupos autônomos e informais que enfatizam a expressão das demandas e das vivências juvenis
por meios de linguagens artísticas, nas áreas do esporte, do lazer e da cultura em geral: bandas
musicais, grupos de teatro, dança, grupos de skatistas, grafiteiros etc., formas próprias dos(as)
jovens de se expressar e participar da construção do sentido e do imaginário coletivo9.
Outras pesquisas identificaram uma importante participação juvenil no interior das grandes
mobilizações organizadas nos últimos anos no âmbito das lutas anti-globalização, como as
manifestações contra o G-8 em Gênova10 e o Fórum Social Mundial11; no nível local, é interessante
assinalar o levantamento sobre o perfil dos(as) participantes nos espaços do Orçamento
Participativo no Recife12. Em todos esses levantamentos, é apontada uma significativa, e muitas
vezes majoritária, participação de jovens.
Mas, por outro lado, tanto os dados de uma pesquisa recente sobre a realidade da
juventude brasileira, como os resultados da parte quantitativa da nossa pesquisa, têm apontado
um relativamente baixo nível de envolvimento dos(as) jovens em atividades de tipo associativo.
Nos dados da pesquisa desenvolvida pela Criterium Assessoria, a pedido do Instituto Cidadania
(2003), 15% dos(as) jovens brasileiros(as) declararam participar de algum grupo juvenil; nos
dados levantados pela nossa pesquisa, a porcentagem, nos dados agregados das Regiões
Metropolitanas investigadas, é de 28,1%. Na RMR, essa porcentagem é de 26,2%.
Em todo caso, se existe já uma significativa literatura voltada a indagar o universo dos(as)
jovens engajados(as) e participativos(as), são quase inexistentes as pesquisas que indagam sobre
a participação a partir do ponto de vista dos(as) jovens não organizados(as), não engajados(as)
em atividades políticas e sociais. O que pensam esses(as) jovens sobre a participação? De que

8. Cfr. “Juventude é atitude, qual é a sua?”, Recife : Fórum das Juventudes, 2004.
9. Cfr. Helena Wendel Abramo, Cenas Juvenis : punk e darks no espetáculo urbano, São Paulo, ed. Scritta, 1994; Paulo
Carrano, Os jovens e a cidade : identidades e práticas culturais em Angra de tantos reis e rainhas, Rio de Janeiro,
Relume Dumará : Faperj, 2002.
10. Numa pesquisa realizada em Génova nos dias da manifestação, 51% dos(as) entrevistados(as) tinham entre 19 e 25
anos, e 7% menos de 19 anos. Cfr. Andreatta, della Porta, Mosca, Reiter, Global, No Global, New Global : la
protesta contro il G-8 a Genova, Bari, Laterza, 2002, p. 75.
11. 37,7% dos(as) participantes no II Fórum Social Mundial tinham entre 14 e 24 anos. Cfr. Fórum Social Mundial 2003:
pesquisa sobre o perfil de participantes, v. V, Rio de Janeiro : Ibase, 2003, p. 22.
12. Num levantamento realizado pela ONG Etapas, na RPA 6, 32,3% dos(as) entrevistados(as) tinham entre 16 e 25 anos
de idade. Cfr. Orçamento Participativo no Recife : o olhar da RPA 6, Recife, Etapas, 2004, p. 9.

7
forma eles(as) estariam dispostos(as) a se engajar para a construção de um país mais
democrático e igualitário?
Alguns(mas) autores(as), comentando os dados de pesquisas recentes sobre a condição
juvenil, alegam que a falta de participação seria causada pela falta de oportunidades, a falta de
conhecimento sobre formas e práticas de participação; ou pelas dificuldades sociais e econômicas
em que vive a maioria dos(as) jovens brasileiros(as), que obstaculizam o envolvimento em práticas
e espaços de participação. Assim, observa Paul Singer13 no comentário aos dados da pesquisa
do Instituto Cidadania:

A juventude deseja ajudar o mundo a mudar e pensa em fazê-lo menos mediante a


militância política do que pela ação direta. Mas a maior parte dela, antes de poder
contribuir para a mudança, tem de ser ajudada. (...) O que o “Perfil da Juventude
Brasileira” deixa entrever é que os jovens brasileiros irão à luta por um Brasil melhor
desde que obtenham as bases materiais mínimas de sobrevivência.

A pesquisa apresentada nestas páginas tem como objetivo indagar o que pensam os(as)
jovens de algumas cidades brasileiras sobre a participação. Seguindo a metodologia dos Diálogos,
construímos três cenários possíveis para a participação dos(as) jovens na sociedade, pensando
serem esses os Caminhos Participativos mais difundidos na sociedade brasileira:

1. a participação mais formal, em movimentos sociais, partidos, sindicatos, manifestações de


ruas ou entidades não-governamentais;
2. o voluntariado, como uma forma de participação social desenvolvida por indivíduos sem a
necessidade do envolvimento em grupos e ações coletivas;
3. a organização de grupos autônomos e informais de jovens, que atuam principalmente no
campo da cultura e do lazer.

Cada cenário foi apresentado aos(às) pesquisados(as) como um Caminho possível de


participação a ser percorrido, mostrando seus prós e seus contras, provocando os(as) jovens a se
posicionar, fazendo comentários a respeito de cada Caminho e alertando sobre as conseqüências
inerentes à escolha de cada Caminho.
As perguntas às quais a pesquisa pretendia responder eram: de que forma os(as) jovens
brasileiros(as) estão dispostos(as) a se engajar para a transformação da sociedade? O que
impede, dificulta e o que, ao contrário, pode facilitar a participação dos(as) jovens? Espera-se que
as conclusões da pesquisa possam servir de subsídio para os(as) tomadores(as) de decisões,
tanto no âmbito governamental como no âmbito das entidades da sociedade civil voltadas a
desenvolver programas de estimulo à participação juvenil14.

13. Paul Singer, “A juventude como corte: uma geração em tempos de crise social”, in: Helena Wendel Abramo, Pedro
Paulo Martoni Branco. Retratos da Juventude Brasileira ; análise de uma pesquisa nacional, São Paulo, Instituto
Cidadania e Fundação Perseu Abramo, 2005, p. 35.
14. Vale lembrar que, a partir do diagnóstico do baixo nível de associativismo dos(as) jovens brasileiros(as), alguns
programas governamentais dirigidos a jovens têm subordinado o pagamento de uma bolsa à realização de atividades
comunitárias, transformando, de alguma forma, o voluntariado em obrigação. Veja-se os programas Consórcio Social

8
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

2. Perfil dos(as) participantes nos grupos de diálogo

Os diálogos foram realizados nos dias de sábado, entre a metade de março e a metade de abril de
2005, num espaço alugado no centro da cidade, escolhido por ser bastante conhecido e de fácil
acesso. Um local agradável, mesmo sendo bastante simples (de propriedade de uma congregação
religiosa). No mesmo local eram realizadas as refeições (café da manhã, almoço, lanche no final
da tarde).
Os convites para os participantes aos Grupos de Diálogo foram feitos respeitando a
distribuição demográfica da população jovem da RMR, considerando as variáveis de gênero,
classe social e faixa etária.
As tabelas a seguir apresentam o número de participantes, a distribuição por sexo e
classe social (tab. 1) e faixa etária (tab. 2).

Tab. 1 – em itálico entre parêntesis, os números da amostra previamente definida

Homens Mulheres
Grupos de
Total Homens Mulheres de classe de classe
Diálogo
A/B A/B
Experiência
31 16 (20) 15 (20) 2 (3) 1 (3)
participativa
15-17 26 13 (20) 13 (20) 2 (2) 1 (3)
18-24 29 15 (20) 14 (20) 1 (3) 3 (3)
15-17 18-24 15-17 18-24
15-24 22 1 (3) 2 (3)
2 (6) 9 (14) 5 (6) 6 (14)
15-17 18-24 15-17 18-24
15-24 27 0 (3) 2 (3)
5 (6) 6 (14) 7 (6) 9 (14)
TOTAL 135 66 69 6 9

O número de mulheres foi pouco superior ao número de homens, respeitando a


distribuição demográfica: a pesquisa quantitativa constatou um número de mulheres de pouco
superior ao de homens nessa faixa etária, ou seja, 50,5% de mulheres contra 49,5% de homens.
O acaso contribuiu, portanto, para que atingíssemos uma amostra que bem representa essa
diferença demográfica: tivemos, em nossos Diálogos, a presença de 51,1% de mulheres contra
48,9% de homens.
Com relação à classe social de pertencimento, somente num grupo a participação dos(as)
jovens de classe A/B foi significativamente distinta e marcou o desenvolvimento do Diálogo: no
primeiro grupo, dos(as) jovens de 15 a 24 anos, os(as) três jovens de classe A/B monopolizaram a
discussão, colocando a visão deles(as) de forma bastante agressiva. Mas se um dos três era

da Juventude, desenvolvido no âmbito do Programa I Emprego, ou mais recentemente o ProJovem, programa


implementado pela Secretaria Nacional de Juventude, recentemente instalada.

9
claramente uma jovem de classe média/alta, enquanto freqüentava a escola mais renomada e
cara da cidade, os(as) outros(as) dois(duas) eram jovens trabalhadores(as) (um segurança e uma
funcionária pública).
Conseguimos atingir quase a totalidade dos municípios da Região Metropolitana do Recife
(ficou de fora somente o município de Ipojuca)15.
Quanto às diferenças de gênero, cabe ressaltar que, no geral, as mulheres tiveram uma
participação muito mais expressiva do que os homens: foram elas que animaram, com energia,
alegria, criatividade e espírito crítico, os Dias de Diálogo16. Foi, muitas vezes, a qualidade da
participação delas que deu o tom da conversa. Os homens ficaram, de forma geral, bem mais
retraídos, mesmo se sempre houve significativas exceções (em todo caso, numericamente
reduzidas)17.

Tab. 2

Grupos de Diálogo 15-17 anos 18-24 anos


Experiência participativa 13 18
15-17 26 -
18-24 - 29
1° grupo misto 8 14
2° grupo misto 12 15
Total 59 76

Com relação à faixa etária (tab. 2), registrou-se a presença de 44% de jovens de 15 a 17
anos e 56% de 18 a 24 anos, o que se aproxima da sugestão de amostra fornecida pela empresa
responsável pelo tratamento estatístico da primeira etapa desta pesquisa, respectivamente 40% e 60%.
Apesar de ser clara a motivação financeira para participar do Diálogo [o pró-labore de R$
50,00, soma bastante significativa para a grande maioria dos(as) jovens da RMR], no geral, foram
poucos os casos de jovens que claramente não se envolveram nas discussões e simplesmente
fizeram passar o tempo para chegar ao final do dia e receber o dinheiro. Ao mesmo tempo, a falta
da motivação financeira pode ser a causa da baixa participação dos(as) jovens de classe A/B,
sobretudo dos(as) mais ricos(as).

15. 65 vieram de Recife, 23 de Jaboatão dos Guararapes, 11 de Olinda, oito de Igarassu, sete de Camaragibe e sete de
Paulista, quatro do Cabo de S. Agostindo e quatro de Abreu e Lima, três de Itapissuma, dois de São Lourenço da
Mata e um de Moreno.
16. Vale ressaltar que os dados da pesquisa quantitativa mostraram que as mulheres participam mais do que os homens
de debates organizados nas escolas (72,7% de respostas afirmativas entre as mulheres, contra 64,7% entre os
homens). Elas também participam mais em ações comunitárias (55,4% de respostas afirmativas, contra 35,3% entre
os homens).
17. Seria muito interessante realizar uma leitura dos resultados da pesquisa que enfatize as diferenças de gênero, fazendo
uma comparação com o comportamento de homens e mulheres jovens em outros espaços de participação.
Empiricamente, observamos que, entre os(as) jovens organizados(as), o número de homens lideranças é superior ao
número de jovens mulheres. Ou seja, parece que, quando se chega em níveis superiores de organização e distribuição
de poder, os homens ocupam os lugares privilegiados, mesmo sendo as mulheres as que participam mais e animam
mais nas bases.

10
3. A participação dos(as) jovens nos diferentes Grupos de Diálogo

Uma característica comum entre os diferentes Grupos de Diálogo foi a monopolização da fala por
parte de 4-5 jovens em cada grupo. Podemos mesmo dizer que a qualidade do diálogo dependeu
muito das características individuais desses(as) jovens “detentores(as) da palavra”. Assim, se
esses(as) jovens tinham características menos dominadoras, no sentido de ser menos
agressivos(as) em suas colocações, em suas posturas frente ao restante do grupo, mais
atentos(as) e preocupados(as) com a participação da maioria, os diálogos fluíram muito mais
efetivamente como espaços para o diálogo entre as diferentes opiniões. Se os(as) jovens
detentores(as) das palavras mostravam um comportamento mais agressivo, defendendo opiniões
mais conservadoras, o diálogo teve muito mais dificuldade para fluir, a ponto de criar situações de
disputa entre as diferentes posições, com bem pouca participação por parte da maioria do grupo.
De fato, foram majoritariamente as mulheres as que dominaram as discussões e que, ao mesmo
tempo, tinham características menos agressivas e discursos menos conservadores. Os homens,
quando se colocavam na postura de “donos da fala”, eram consideravelmente mais agressivos em
suas colocações. Exemplar o caso de um jovem, supostamente de classe A/B, que ficou
chamando as participantes nos subgrupos de “doutora”.
Ficou evidente que, muitas vezes, os subgrupos não chegavam a um consenso em
decorrência do diálogo, e sim, por aceitar passivamente a posição de quem dominava a fala no
grupo. Geralmente, foram esses(as) jovens detentores(as) da fala que apresentaram as
conclusões dos subgrupos na plenária, muitas vezes apresentando seus pensamentos como se
fossem os do grupo.
Não foram raros os casos em que observamos uma discrepância entre a discussão
ocorrida no subgrupo e a apresentação das conclusões do grupo na plenária, ou seja, o que
acabava sendo apresentado era, muitas vezes, o pensamento de quem apresentava, e não o do
grupo. Isso não deve ser tanto imputável a uma “má vontade” dos(as) relatores(as) quanto à
efetiva dificuldade da tarefa: não é fácil relatar de forma fiel as discussões ocorridas em um grupo,
sobretudo se não se tem prática de fazer isso.
Não pudemos notar uma diferença muito significativa do grupo com experiência prévia de
participação com relação aos outros grupos. Apesar disso, foi uma constante, nos diferentes
grupos, a participação diferenciada dos(as) jovens com experiência prévia: foram eles(as), na
maioria dos casos, que deram o tom da conversa.
Com relação à faixa etária dos(as) jovens, também é difícil fazer observações
significativas: se, por um lado, o Diálogo em que participaram os(as) jovens de 15 a 17 anos foi
significativamente mais complicado em termos da qualidade do Diálogo, especificamente no que
diz respeito à compreensão do tema e à capacidade de se expressar, do que o Diálogo no qual
participaram os(as) jovens de 18 a 24 anos, por outro lado, nos Diálogos mistos (ou seja, nos
quais todas as faixas etárias pesquisadas estavam presentes), a participação de alguns(mas)
jovens (e, sobretudo, jovens mulheres) de 16 ou 17 anos foi tão expressiva e significativa que ficou

11
difícil chegar a qualquer conclusão com relação à participação diferenciada dos(as) mais jovens no
que diz respeito àquela dos(as) mais velhos(as). O fato que os(as) mais jovens demonstraram, no
geral, ter menos domínio sobre a compreensão da escrita e sobre a expressão oral e escrita, e
isso nos faz pensar que, de fato, a escola não está cumprindo seu papel formativo e que a
formação dos(as) jovens está se dando mais em outros espaços: na igreja, nas oportunidades de
socialização, que são oferecidas de forma muito diferenciadas aos diferentes setores sociais e que
se abrem de forma mais consistente quando os(as) jovens deixam a escola e assumem
compromissos da vida adulta, como casar, trabalhar, ter filhos.
Algumas características que distinguem os Grupos de Diálogo podem ser reveladas a
partir da análise dos comentários finais expressos pelos(as) participantes. Voltaremos a
apresentar esses dados no parágrafo 4 da segunda parte do texto.
Vamos relatar a seguir algumas características da participação dos(as) jovens em cada Grupo
de Diálogo.

1. Grupo com experiência participativa18. Nesse grupo, foi particularmente significativa a


monopolização da fala por parte de uma jovem que já foi candidata a vereadora na capital,
pelo partido Prona. A fala dela era bem articulada, demonstrando um evidente domínio da
fala e dos temas em discussão. Ela ficou defendendo, de forma muito veemente, a
importância da política. Houve também a participação muito ativa de uma jovem líder
comunitária, a mais velha do grupo (24 anos). Uma discussão marcante na parte da
manhã foi sobre a política de cotas na universidade Pela manhã, discutiu-se também
sobre a desigualdade social e o preconceito existente na sociedade contra os(as) pobres.
Pela tarde, houve um debate muito aceso entre os(as) defensores(as) do voluntariado e
os(as) defensores(as) da “política”. Ficou marcante, nos comentários finais, a avaliação
positiva do Diálogo com relação ao “fazer novas amizades”; talvez isso possa estar
relacionado com o alto número de jovens que, entre os(as) que participam de algum grupo
juvenil, participam de grupos religiosos 19.

2. Grupo de 15 a 17 anos. Como já notamos, esse foi um grupo bastante difícil. Houve
enormes dificuldades com a compreensão da leitura dos Caminhos e grande dispersão na
parte da tarde. O que mais pareceu animar o grupo era a própria participação no Diálogo,
mais além do conteúdo da discussão. Ou seja, foi significativo que quase a totalidade
dos(as) participantes nunca tinha tido ocasião de participar de um debate ou de outra
atividade desse tipo20. Desde o começo, ainda antes da divisão nos subgrupos da manhã,

18. Como já notamos, 26,2% dos(as) jovens entrevistados(as) na pesquisa quantitativa declararam fazer parte de algum grupo.
19. A pesquisa quantitativa revelou que, na RMR, 45% dos(as) jovens que participam de algum grupo, participam de
grupos que realizam atividades de cunho religioso, sendo essas as atividades majoritariamente realizadas pelos
grupos juvenis, seguidas pelas atividades artísticas (em 32,1% dos casos) e esportivas (24,8%).
20. Entretanto, cabe ressaltar que, na pesquisa quantitativa, os(as) entrevistados(as) que declararam estar estudando
responderam a uma pergunta sobre o tipo de atividades realizadas em suas escolas, e o item “debates” foi a terceira
atividade mais mencionada [ou seja, para 60,5% dos(as) entrevistados(as) que estavam estudando, após as festas e as
apresentações artísticas]. A oferta dessa atividade se dá, em todo caso, de forma bastante desigual: enquanto 73,6%

12
surgiu com força o tema da gravidez na adolescência e do controle de natalidade; nesse
sentido, foi marcante a participação de uma jovem mãe de 17 anos, que defendeu o direito
de ligar as trompas antes da maioridade. Foi bastante marcante também a participação de
uma jovem de classe A/B, que monopolizou a discussão no seu subgrupo e praticamente
impediu que o grupo dialogasse e chegasse à construção de um consenso, a partir das
opiniões e escolhas de cada um(a), levando para a plenária como única conclusão do
grupo a “livre escolha” do Caminho Participativo. Foi marcante também a participação de
uma jovem atuante no movimento estudantil. Esse grupo valorizou bastante, nas opiniões
finais, o Diálogo como ocasião de aprendizagem.

3. Grupo de 18 a 24 anos. Esse foi o grupo no qual podemos dizer que a metodologia do
Diálogo deu mais certo. Provavelmente por causa das características de alguns(mas)
jovens que, mesmo tendo um domínio evidente da fala, estiveram atentos(as) e permitiram
uma participação no diálogo mais efetiva por parte de todos(as) os(as) presentes. Foi o
grupo em que se fizeram mais referências ao Caderno durante o Diálogo na plenária e nos
subgrupos, e no qual tivemos menos dificuldades com o entendimento das tarefas e dos
objetivos do Diálogo, ou seja, com a apropriação da metodologia pelos(as) participantes.
Foi também o grupo em que foi mais fácil a tarefa de identificar semelhanças/diferenças
nas apresentações dos subgrupos na parte da tarde, provavelmente porque havia muitas
posições diferentes e cada grupo e indivíduo defendeu a sua posição de forma bem
decidida. Na parte da manhã, houve uma interessante discussão sobre o direito ao
trabalho dos(as) aposentados(as). Nas opiniões finais, esse grupo mostrou claramente
que o que mais tinha valorizado na experiência do dia era a possibilidade de se expressar,
de confrontar a própria opinião com as dos outros.

4. Primeiro Grupo de 15 a 24 anos. Esse foi, sem dúvida, o grupo mais disperso, mais
apático, no qual o Diálogo propriamente menos aconteceu. Foi também o grupo com o
menor número de participantes (22), o que nos levou a remanejar os(as) presentes 21 entre
três subgrupos (em vez de quatro). Nesse grupo, monopolizaram a fala três jovens de
classe A/B, com posições bastante conservadoras a respeito da organização social. Ficou
marcante a separação, na sala da plenária, entre meninas e meninos, cada gênero
ocupando claramente uma parte da sala. Faltaram, de fato, as meninas mais animadas,
que marcaram com sua presença os outros grupos. As jovens presentes pareciam bem
mais interessadas em fazer amizade entre elas do que em dialogar. Nesse grupo, uma
jovem expressou seu cansaço de uma forma bem clara: “Estou com dor de cabeça, nunca
passei um dia inteiro estudando na minha vida!” Na parte da manhã, discutiu-se muito

dos(as) jovens de classe A/B têm acesso a debates em suas escolas; entre os(as) jovens de classe D/E, essa
porcentagem baixa para 54,9%.
21. Em todos os Diálogos, tivemos que fazer um remanejamento dos(as) participantes em cada subgrupo, tentando
substituir os(as) participantes que não chegaram com outros(as) que tinham as mesmas características sociais, para
respeitar as necessidades da amostra.

13
sobre a escola, alegando que os(as) jovens também são os(as) causadores(as) dos
problemas da escola enquanto são acomodados(as), não têm acompanhamento familiar,
não estão interessados(as) em aprender. Um jovem, estudante de Ciências Sociais na
Universidade Federal Rural, fez umas falas dissonantes, identificando claramente a causa
dos problemas sociais na falta de políticas sociais efetivas.

5. Segundo Grupo de 15 a 24 anos. Esse foi um grupo decididamente sui generis: os(as)
jovens, muito descontraídos(as) e alegres, chegaram no final a questionar a própria
metodologia da pesquisa e a posição dos(as) facilitadores(as), engajando-se em um
metadiálogo bastante interessante. Essa discussão foi provocada por um jovem que
contou que o padrasto tinha falado para ele que tudo o que teria acontecido no dia não
serviria para nada: “Para mim, isso aí não vai adiantar nada, vai ficar por isso mesmo. (...)
Vocês vão depois fazer uma matéria, vão analisar e vão levar essa proposta pra o que
está marcado aqui na carta que eu recebi na minha casa, não sei se isso vai pra Brasília.
Aí eles vão ler e na mesma hora vão jogar no lixo. Não vai adiantar nada. Agora eu lhe
pergunto: estou certo ou errado?” Alguns(mas) jovens ficaram revoltados(as) com a
colocação dele, enquanto uma jovem defendeu abertamente o direito de expressar
opiniões, mesmo se discordavam da maioria, fazendo referência aos compromissos
assumidos para o Dia de Diálogo e colocados num banner. Ficou marcante nesse Diálogo
a participação de alguns(mas) jovens evangélicos(as), portadores(as) de uma retórica
muito forte sobre a necessidade da ação, do “não desistir nunca dos nossos sonhos”. Um
desses jovens participava também de um conselho escolar e do grêmio estudantil, e ficou
também defendendo a importância da união e da organização dos(as) jovens.

14
4. Comentários sobre a metodologia

No geral, os Grupos de Diálogo correram muito bem na parte da manhã, quando foi fácil animar a
discussão. Os(as) jovens estavam claramente à vontade para dialogar sobre temas que dizem
respeito diretamente à vida deles(as): escola e trabalho, principalmente. Os Diálogos revelaram
questões muito interessantes sobre a realidade dos(as) jovens, inclusive sobre temas que não
eram objeto da pesquisa, como a segurança, o controle de natalidade, a discriminação social.
Nas tardes, quando os(as) jovens deveriam dialogar sobre os Caminhos Participativos,
animar a discussão ficou sendo uma tarefa bem mais complicada. A tarefa de ler e comentar cada
Caminho escrito no Caderno revelou-se uma tarefa extremamente difícil de ser cumprida, devido
às grandes dificuldades com a leitura e a compreensão do texto. Num grupo, uma jovem
expressou isso de forma clara: “Queria levar isso para casa, para poder ler e sintetizar com calma”.
Vale ressaltar aqui os baixos índices de escolaridade dos(as) jovens na RMR, que a
pesquisa quantitativa revelou ser consideravelmente mais baixos do que no restante do país.
Vejamos a tabela 3:

Tabela 3: Escolaridade

Até Ensino Até Ensino Médio Ensino Médio


Fundamental incompleto completo
completo ou mais
RMR % 37,2 35,9 26,9
Dados
agregados 24,3 42,5 33,2
das RMs

Além disso, 50% dos(as) jovens da RMR declararam não ter lido nenhum livro durante o
último ano (enquanto nos dados agregados das RM pesquisadas, essa porcentagem é de 40,1%).
A tarefa de ler e comentar o texto fazia assemelhar bastante o trabalho do subgrupo com
um trabalho escolar. Por isso, houve grupos em que se decidiu ler o texto e depois fazer
comentários escritos, que na realidade, eram mais tentativas de síntese do texto lido.
Foi também difícil, para alguns(mas) jovens, a tarefa de apresentar as conclusões do
trabalho dos subgrupos na plenária: não é evidente expressar as idéias em frases sintéticas, ainda
mais para quem nunca manuseou uma folha de flipchart (isso ficou particularmente evidente no
grupo de jovens de 15 a 17 anos, no qual o próprio objeto flipchart pareceu ser, para a maioria, um
objeto desconhecido). Às vezes, os(as) jovens preferiram colocar as idéias em folhas de papel A4;
poucas vezes recorreram a outras linguagens para expressar suas idéias [mesmo sendo
convidados(as) a fazê-lo, se preferissem]: algumas vezes fizeram desenhos, enquanto um grupo
sintetizou suas idéias cantando uma música de Gabriel, o Pensador.

15
A metodologia dava bastante relevância às discussões nos subgrupos: nos momentos de
discussão em plenária, os(as) participantes deviam identificar as semelhanças, ou seja, os temas
comuns e as diferenças entre as apresentações de cada subgrupo. Nesse sentido, uma das
dificuldades encontradas foi o fato que muitos dos(as) apresentadores(as) não eram fiéis às
discussões ocorridas nos subgrupos, colocando opiniões que não faziam parte das apresentações
preparadas nesses grupos. Como sugestão, para próximos Diálogos, pensamos que seria
interessante que fosse um(a) facilitador(a) jovem, devidamente treinado(a), a apresentar o
trabalho dos subgrupos, para garantir a fidelidade com o Diálogo ocorrido, sem perder opiniões e
discussões interessantes e importantes para a finalidade da pesquisa.
Em todo caso, os(as) jovens, na plenária, geralmente ficavam falando em primeira pessoa,
e não pelo grupo. Ficou difícil, portanto, chegar a construir consensos que fossem relacionados
exclusivamente ao trabalho dos subgrupos
A distração, dispersão, sonolência, cansaço ressentidos nos subgrupos na parte da tarde
se explicitavam claramente nas freqüentes saídas para fumar, para ir ao banheiro, nas conversas
paralelas, no fugir do tema. Ficou para nós uma pergunta: o grande sono e cansaço dos(as)
jovens na parte da tarde, explicitados claramente por um jovem que num grupo disse “Parece que
botaram sonífero na comida!”, talvez fosse devido à falta de interesse, distância ou pouca
familiaridade com o tema a ser discutido.
Por maise tentávamos explicar o conteúdo e as diferenças entre os Caminhos, na plenária
do começo da tarde, recorrendo a uma nova apresentação do CD e estimulando para que os(as)
próprios(as) jovens fizessem exemplos de experiências conhecidas que pudessem se enquadrar
em cada Caminho, parecia que, quando os(as) jovens chegavam nos espaços de discussão dos
subgrupos, tudo que tinha sido explicado e discutido na plenária era esquecido, e o grupo ficava
perdido frente a uma tarefa não compreendida ou não assimilada.
O pouco interesse dos(as) jovens com o tema da participação, ou seja, o fato que mesmo
havendo interesse, isso não justificava dedicar uma tarde a debater e fazer escolhas sobre
possíveis Caminhos de Participação. Em alguns casos, ficou bastante evidente. No último Diálogo,
duas jovens (as que mais tinham se colocado no grupo) explicitaram isso claramente: mais que
discutir de participação, interessa a elas ter oportunidades de emprego, porque emprego para elas
não significa somente poder suprir as nossas necessidades, mas também se realizar na vida. Nas
palavras delas: “Tudo que queremos é emprego!”, “Emprego é também auto-realização”.
Assim, a equipe formulou duas conclusões gerais com relação à aplicação da
metodologia. A primeira é sobre a evidente dificuldade da tarefa realizada, sobretudo tomando em
conta o pouco tempo que tivemos para nos apropriar da metodologia, as mil dúvidas que surgiram
no decorrer da realização dos Diálogos; dúvidas que, na maioria das vezes, e inevitavelmente pelo
caráter inédito da aplicação da metodologia, ficaram sem resposta. De certa forma, podemos
considerar que toda esta pesquisa serviu como piloto para testar a aplicação da metodologia no
contexto brasileiro.

16
A segunda consideração diz respeito à escolha do tema: a questão da participação. Nos
pareceu evidente ser um tema extremamente complexo e difuso, ou seja, pouco preciso, para
poder ser investigado com esta metodologia. Chegamos a levantar como hipótese que a
realização dos Diálogos provavelmente daria resultados mais significativos se fossem abordados
temas mais próximos da realidade dos(as) jovens, como foram evidentemente os temas
abordados na parte da manhã. Em particular, temas como as políticas de cotas, o acesso à
universidade de forma geral, o acesso ao mundo do trabalho e os direitos dos(as) jovens
trabalhadores(as), a qualidade do ensino, seriam abordados com mais interesse e envolvimento
por parte dos(as) jovens. Em todo caso, achamos importante que o próprio objeto de pesquisa
seja definido junto com os(as) diretos(as) interessados(as), ou seja, os(as) jovens.
Finalmente, cabe ressaltar um grande e importante mérito da metodologia: ter colocado
os(as) jovens em situação de diálogo, ou seja, dar a possibilidade de ter acesso a um espaço de
discussão, escuta, expressão das diferentes opiniões e troca de experiências. Para a maioria
dos(as) jovens foi, sem dúvida, uma experiência inédita à qual deram muito valor. Iremos retomar
mais na frente esta questão, apresentando os dados sobre a avaliação expressa pelos(as)
participantes ao final dos Grupos de Diálogo. Em todo caso, nos parece um resultado
extremamente positivo da pesquisa ter identificado o desejo dos(as) jovens de participar de
espaços de discussão desse tipo. Mesmo assim, identificamos uma grande dificuldade para,
efetivamente, dialogar, expressar suas opiniões sem querer convencer o outro ou prevalecer sobre
as opiniões do outro, sobretudo por parte dos(as) jovens engajados(as) no movimento estudantil.
Algumas vezes, mas somente no último diálogo de forma mais incisiva, alguns(mas) jovens
fizeram referência, durante a discussão, aos compromissos assumidos com relação ao andamento
do Diálogo (principalmente com relação ao respeito pela opinião dos outros).
Outro mérito importante da pesquisa é o de abrir caminhos para novas investigações, ou
seja, assumir que, no campo da juventude, ainda há muito a se fazer em termos de diagnósticos e
análises mais aprofundados sobre a realidade dos(as) jovens brasileiros(as). São inúmeras as
temáticas que se abrem para futuras investigações, desde as diferentes posturas de homens e
mulheres frente ao diálogo, ou seja, a própria dinâmica dos grupos de discussão e a forma como
os diferentes sujeitos se envolvem neles, até pesquisas sobre temas como a apropriação, por
parte dos(as) jovens, do discurso elaborado pelo mundo adulto, a construção de um discurso
autônomo que expresse suas necessidades; ou o papel da igreja, e das diferentes igrejas, como
instâncias formadoras.
Em termos das dificuldades encontradas na aplicação da metodologia, o mais difícil foi
entender o papel dos(as) facilitadores(as), até onde provocar o grupo para o diálogo, até onde
questionar escolhas e afirmações, até onde aplicar o princípio da auto-organização dos grupos,
até onde intervir para explicar os passos a seguir e de que forma, até onde intervir para evitar a
evidente monopolização da fala por parte de alguns(mas) poucos(as). Isso sobretudo no trabalho
dos subgrupos. Se, na parte da manhã, a nossa intervenção foi mínima, pelo fluir mesmo da
metodologia do Diálogo, na parte da tarde os evidentes impasses, as dificuldades de
compreensão tanto da tarefa, como da pergunta, do próprio conteúdo do Caderno requeriam uma

17
intervenção muito mais significativa da nossa parte. Às vezes chegamos a nos perguntar se,
intervindo para tentar esclarecer o Caminho a seguir no desenvolvimento da tarefa do subgrupo,
tínhamos conseguido esclarecer as dúvidas ou, ao contrário, a nossa intervenção não tinha tido o
efeito oposto, ou seja, de complicar ainda mais o entendimento.
Para muitos de nós, que trabalham em projetos de intervenção com grupos de jovens, foi
a primeira vez que entramos mais diretamente em contato com os(as) jovens “não
organizados(as)”, os(as) que normalmente não circulam nos espaços das nossas intervenções. Ao
mesmo tempo, o risco de fazer prevalecer o papel de educador(a) e a finalidade educativa da
metodologia sobre o papel de pesquisador(a) e a finalidade da indagação, observação, análise, ou
o contrário, para as equipes do campo acadêmico, representou um desafio.

18
OS RESULTADOS

5. Comentários iniciais

Os comentários iniciais foram bastante curtos. A maioria dos(as) participantes seguiu a instrução
de dizer “em apenas uma palavra” o que mais os(as) preocupava no Brasil. Abaixo apresentamos
uma tabela (tab. 4) com a síntese e a recorrência dos principais temas levantados como
preocupações dos(as) jovens no início dos nossos Diálogos.

Tabela 4

1º 2º
Comentários Grupo Grupo Grupo de
Grupo Grupo Total
iniciais de de Diálogo
de de por
Diálogo Diálogo Experiência
(temas/questões) Diálogo Diálogo temas
15-18 18-24 Participativa
15-24 15-24
Violência/
Segurança/ 10 12 6 11 13 52
Criminalidade
Educação 9 4 7 4 4 28
Desemprego/
Trabalho/Falta de 3 10 1 6 5 25
Oportunidade
Drogas/Tráfico 1 2 1 3 7
Desigualdade
social/Distribuição 2 4 1 7
de renda
Saúde 2 2 2 6
Crianças e jovens
na rua/ 2 1 2 5
Pobreza/Miséria
Fome 1 1 2
Moradia/
Saneamento 1 1 2
básico
Discriminação/
2 2
Preconceito
A vida/O futuro
1 1 2
dos(as) jovens
Gravidez na
1 1
adolescência
Sistema de cotas
1 1
(na educação)
Política 1 1
Outros 1 1 1 1 3 7

19
As principais preocupações 22 são, de longe, violência, educação e trabalho, o que coincide
com os dados de outras pesquisas acerca da juventude brasileira23. De fato, esses foram os
grandes temas que absorveram boa parte das discussões na parte da manhã.
Além destas três preocupações, chama-nos atenção a preocupação dos(as) jovens com a
desigualdade social, a pobreza e os problemas que estão diretamente ligados à má distribuição de
renda: fome, doenças, envolvimento com o tráfico e criminalidade, moradia. Juntos, esses
problemas, que se relacionam às dificuldades financeiras, foram apontados por mais de 20%
dos(as) jovens que participaram. Alguns Diálogos desenvolvidos ao longo das manhãs dos
encontros aprofundaram essas preocupações.
Por outro lado, algumas importantes reflexões ocorridas durante os Diálogos não
aparecem de forma expressiva nos comentários iniciais dos(as) participantes. É o que podemos
constatar pela observação da freqüência de citações a respeito das condições de vida dos(as)
jovens [o que foi mencionado apenas por dois(duas) jovens], gravidez na adolescência, sistema de
cotas e política, que mesmo citados smente uma única vez, motivaram amplas discussões ao
longo do dia.
É importante destacar que alguns dos comentários relacionavam diferentes problemas e já
apontavam um ponto de convergência: qualidade de vida no Brasil. Por exemplo, um participante
do GD3 (18-24 anos) disse: “A minha preocupação é a falta de oportunidade, que aqui no Brasil não
existe para os jovens. É assim, ele vai procurar emprego, não tem experiência, está começando
agora, e onde é que ele vai arrumar dinheiro? Assaltando, entrando no tráfico de drogas?”
As diferenças etárias se expressaram particularmente nos dois Diálogos não mistos, no
sentido de que os(as) mais novos(as), de 15 a 17 anos, expressaram mais preocupação com
relação à educação, e os(as) mais velhos(as), de 18 a 24, com relação ao trabalho.

5. 1 Semelhanças e diferenças

A) Sobre educação, trabalho, cultura e lazer


As principais semelhanças identificadas entre as apresentações dos subgrupos sobre o tema da
educação foram:

• Qualificação dos(as) professores(as) (em três dos cinco grupos)


• Investimentos do governo em educação (em dois dos cinco grupos)
• Fiscalização nas escolas (em dois dos cinco grupos)
• Comodismo/desinteresse (em dois dos cinco grupos)
• Cursos pré-vestibular (em dois dos cinco grupos)

22. No anexo 1 colocamos alguns exemplos de comentários iniciais dos(as) jovens participantes.
23. Na pesquisa realizada pelo Projeto Juventude, o ranking das preocupações foi: segurança/violência,
emprego/profissional, drogas e educação. Mas as percentuais das últimas duas questões foram bem menores.

20
O tema da educação é aquele sobre o qual os(as) jovens demonstraram ter mais o que
falar. Independente da idade, todos(as) eles(as) vivenciaram ou vivenciam a experiência da
educação escolar, e o Diálogo sobre a educação voltou-se diretamente para a realidade das
escolas brasileiras, especialmente as escolas públicas. A escola privada, na maioria das vezes em
que foi citada, serviu para demarcar uma diferença com aquilo que consideram bom em termos de
educação, apesar de que os comentários não foram sempre unânimes em apontar o ensino
privado como de melhor qualidade em relação ao ensino público. Foram os(as) jovens estudantes
de escolas privadas que às vezes questionaram essas colocações, defendendo a idéia de que não
há diferenças qualitativas consideráveis entre os dois sistemas de ensino, o que provocou,
especialmente no ultimo Diálogo, um embate entre os(as) participantes.
Além da escola, foram pouco citados outros espaços de aprendizagem, mencionaram
apenas a casa/família e os cursos (profissionalizantes e pré-vestibulares, principalmente) que
podem acontecer também fora da escola, por iniciativa de “quem sabe mais e pode ensinar um
pouco pros outros”, ou seja, fazendo relação com o tema do voluntariado.
Chama a atenção o fato de que os(as) jovens não consideram os(as) professores(as)
como os “culpados(as)” pela má qualidade do sistema educacional, e sim como outras vítimas de
um sistema que não valoriza a educação: a escola é ruim, na opinião dos(as) jovens,
principalmente porque os(as) professores(as) não são suficientemente qualificados(as).
As três semelhanças citadas logo após, ou seja, os investimentos do governo, a
fiscalização e o comodismo e desinteresse, revelam também algumas intervenções necessárias,
na opinião dos(as) jovens, no espaço da escola. Destacamos alguns desdobramentos para as
semelhanças supracitadas:

21
- restauração e manutenção da estrutura física das escolas;
- aquisição de equipamentos (como computadores, carteiras e
equipamentos para laboratórios de Ciências);
- aquisição de material didático para os(as) estudantes, “inclusive
Investimentos do Ensino Médio”;
do governo - criação/melhoria das bibliotecas escolares, incluindo
diversificação e ampliação dos acervos;
- aumento salarial para os(as) professores(as) (“pois com o
aumento de salário, os professores terão mais gosto de ensinar”).

- “deveria haver fiscalização dentro das escolas, pra monitorar os


professores e os alunos”;
- reivindicação por um canal de participação nas decisões
Fiscalização escolares: “E na escola pública, vai recorrer a quem? Ao
governo? O diretor não aparece, não tem nada lá, vai dizer a
quem? (...) Não tem como pressionar o professor a ensinar, não
tem nada, eles batem o ponto e pronto!”.

- desinteresse dos(as) estudantes: “A gente também não pode


meter o pau no governo porque o governo investe na educação,
mas deveria investir mais também por causa da gente, porque a
gente, em escola pública, quebra cadeira, picha a parede, e
assim vai.” Ou “Não adianta o governo nos ajudar se a gente não
Comodismo/ ligar (...) Porque se eles nos ajudarem, a gente tem que receber
ajuda, nos interessar por aquela ajuda”;
Desinteresse
- desinteresse também por parte dos(as) professores(as): “Aí,
muitas vezes, eles [os professores] faltam aula, nem se
preocupam. Os aluno da escola pública também não se
interessam”.

22
As colocações sobre a necessidade de investimentos do governo remetem diretamente à
precariedade das condições de funcionamento da escola pública.
A “fiscalização nas escolas” parece indicar a reivindicação de um canal de comunicação
entre os(as) estudantes e os(as) responsáveis pela execução e monitoramento das políticas
educacionais: os(as) jovens reivindicam explicitamente a possibilidade de participar nas decisões
acerca das diretrizes que norteiam o funcionamento escolar.
Esta observação confirma os dados recolhidos na pesquisa quantitativa, que mostraram
um descompasso entre a oferta e a fruição de debates na escola sobre o tema da proposta
pedagógica: enquanto somente 41,6% dos(as) jovens declararam que esse tema era debatido em
suas escolas [considerando somente os(as) entrevistados(as) que responderam afirmativamente à
pergunta sobre a existência de debates em suas escolas], bem 89,9% dos(as) jovens declararam
ter participado dos debates sobre esse tema. Interessante notar que, nas escolas onde estudam
os(as) jovens de classe A/B, a oferta de debates sobre esse tema é maior do que nas escolas
onde estudam os(as) jovens de classe D/E.
Mas, se por um lado, os(as) jovens identificam o papel fundamental do governo na
melhoria do sistema educacional, por outro lado, igualmente recorrentes são as falas sobre as
responsabilidades que cabem aos(às) próprios(as) jovens enquanto alunos(as). Ou seja, a escola
é ruim não somente por culpa do Estado, e sim também por falta de interesse dos(as) cidadãos(ãs).
Criar mais cursos pré-vestibulares gratuitos foi citado como uma alternativa para o
ingresso da população de baixa renda no ensino superior. Em nosso primeiro Diálogo, foi
mencionado como uma alternativa à política de cotas, evitando dessa forma o risco de serem
discriminados(as) por ter ingressado na faculdade através das vagas reservadas aos(às)
negros(as) ou aos(às) egressos(as) de escolas públicas.
De fato, o tema da política de cotas foi objeto de muitas discussões. Em todos os Diálogos
houve alguém que se referiu, sempre de forma bastante crítica, a essa questão, mostrando ser um
tema que, na atualidade, absorve bastante a atenção dos(as) jovens, sobretudo daqueles(as) que
estão tentando ingressar na universidade [como era o caso, pela faixa etária majoritariamente
presente nos diálogos, dos(as) jovens participantes dos nossos encontros]. Poucos foram os(as)
jovens que defenderam essa política. No geral, o argumento usado contra foi que a reserva de
vagas nas universidades para negros(as) e índios(as) estimula, no lugar de combater, a
discriminação, e que as verdadeiras questões a serem enfrentadas seriam a melhoria da
qualidade da escola e a superação das desigualdades sociais. Mas em todos os grupos houve
também algum(a) jovem que defendeu, de alguma forma, a política de cotas, e por isso sempre
houve um debate bastante aceso sobre esse tema que nunca apareceu entre as semelhanças, e
sim, entre as diferenças.
De fato, o acesso à universidade foi um tema muito recorrente entre os(as) jovens. No D3,
uma jovem chegou a dizer: “Vou falar uma coisa que eu pensei há algum tempo: se eu tiver
oportunidade de falar ao Presidente, a primeira coisa é a falta de oportunidades para os jovens
entrarem na universidade”.

23
Sobre o tema do trabalho, as principais semelhanças encontradas nos grupos foram:

• Empregos para jovens sem experiência (em quatro dos cinco grupos)
• Oportunidades de trabalho (em três dos cinco grupos)
• Cursos de qualificação profissional (em três dos cinco grupos)

A primeira semelhança acerca do trabalho diz respeito à necessidade de acesso ao


trabalho. De fato, como demonstram os dados da pesquisa quantitativa, os(as) jovens da RMR
têm grandes dificuldades para ter acesso a um trabalho digno: do total dos(as) jovens
entrevistados(as), somente 25,2% declararam estar trabalhando, enquanto o mesmo dado nos
agregados das Regiões Metropolitanas pesquisadas é de 39,3%. A classe social, a cor e o sexo
são discriminantes importantes no acesso ao trabalho: enquanto 29,3% dos(as) jovens de classe
A/B declararam estar trabalhando, essa porcentagem baixou para 23,8% entre os(as)
entrevistados(as) de classe D/E; os(as) pardos(as) trabalham menos do que os(as) brancos(as),
as porcentagens são de 22,4% contra 28,1%; as mulheres trabalham muito menos do que os
homens (17% de respostas afirmativas das mulheres contra 33,5% dos homens). Para quem
consegue ingressar, a situação de trabalho é bastante precária: dos(as) que trabalham, 28,2% são
empregados(as) sem carteira assinada, 25,4% são autônomos(as) sem INSS e somente 23,8%
são empregados(as) com carteira assinada (essa porcentagem é significativamente menor do que
no restante do país, ou seja, nos dados agregados das Regiões Metropolitanas pesquisadas, a
porcentagem de jovens que trabalham com carteira assinada é de 30,5%). Os(as) jovens mais
novos(as) e os(as) mais pobres são os que sofrem mais com situações de trabalho precárias. 65%
dos(as) jovens entrevistados(as) declararam estar buscando trabalho.
Os(as) jovens reivindicam a ampliação dos empregos para quem ainda não tem
experiência profissional, denunciam a contradição que vivenciam diante da busca pelo emprego,
como bem destacou uma participante na plenária do nosso 3o Diálogo: “Eles falam que tem o
primeiro emprego. Que primeiro emprego é esse que a gente vai procurar e eles pedem logo:
‘cadê a experiência?’ Como é que a gente pode ter experiência se não nos dão oportunidade?”.
Das reflexões acerca da inserção juvenil no mundo do trabalho, o que emerge nos cartazes de
semelhanças são frases que representam sugestões/contribuições para a solução desse dilema;
as sugestões apontam pelo menos três direções: reserva de vagas para jovens sem experiência,
isenção fiscal para empresas que contratem jovens sem experiência e, por fim, maior oferta de
cursos de qualificação profissional (que aparece como uma semelhança à parte).
As duas últimas semelhanças (principalmente a que diz respeito à carência de
oportunidades de trabalho) refletem uma preocupação/tensão freqüente nos diálogos da RMR:
ressaltam a necessidade de olhar e preocupar-se com problemas gerais, não apenas com aqueles
que afetam mais diretamente à juventude. Além da escassez de postos de trabalho para jovens e
não-jovens, eles também trazem à tona a ausência/escassez de formação profissional, bem como
denunciam que alguns programas de qualificação profissional não refletem as demandas do
mercado de trabalho e, por isso, reivindicam não apenas a capacitação para o trabalho, mas
“capacitações ligadas às vagas disponíveis”.

24
A principal semelhança identificada sobre o tema cultura e lazer foi o resgate/estímulo da
cultura local (em três dos cinco grupos).
Esse foi o tema sobre o qual os(as) jovens menos dialogaram e, em quase todos os
Diálogos, tivemos que chamar a atenção deles(as) sobre a falta de colocações, na hora da busca
das semelhanças entre as apresentações, que se relacionassem com esse tema. As semelhanças
encontradas foram bem poucas, fundamentalmente relacionadas com a questão mais recorrente,
a valorização da cultura local, que é colocada em contraposição à veiculação massiva dos
elementos culturais estrangeiros ou de toda forma estranhos à cultura pernambucana,
especificamente com relação à musica. Os(as) participantes destacaram que o(a) principal
responsável pela valorização e difusão de músicas e espetáculos próprios da cultura
pernambucana é o(a) próprio(a) jovem, que deve procurar conhecer mais sobre maracatu, frevo e
outras manifestações culturais da região que, segundo eles(as), são muito ricas. Destacam ainda
que existem apresentações desse tipo no Recife, mas o que falta principalmente é divulgação e
também interesse por parte dos(as) próprios(as) jovens.
Num Grupo de Diálogo, chegou-se a orientar fortemente a discussão ao redor da questão
“o brega24 é ou não pernambucano”. Muitos(as) jovens, questionando o universo cultural veiculado
pelo brega que, segundo eles(as), seria responsável pela desmoralização dos costumes entre os
setores populares, e até pela gravidez na adolescência, argumentaram que o brega é uma música
vinda de fora, da cultura norte-americana ou, no mínimo, da região norte do país. Frente a essas
colocações, um jovem se lançou numa defesa das origens locais da musica brega, citando alguns
renomados cantores de brega de outra época.
Nessa temática, podemos destacar ainda quatro reflexões que – apesar de não terem sido
mencionadas nos cartazes de síntese das semelhanças – se repetiram bastante nas
apresentações dos subgrupos:
• Alto custo dos eventos culturais (em três dos cinco grupos)
• Faltam investimentos do governo (em dois dos cinco grupos)
• Falta segurança nos eventos e nos espaços de lazer (em dois dos cinco grupos)
• É preciso descentralizar os equipamentos/espaços de cultura e lazer: construir parques e
praças, promover eventos culturais em diferentes bairros (em dois dos cinco grupos)

Estas últimas reflexões apontam para a hipótese levantada por uma das jovens: “(...) se
você não tem trabalho, não tem como fazer lazer”. A fruição do lazer implica custos que não
podem ser assumidos diretamente pelos(as) jovens.
A reivindicação sobre a construção de parques e praças nos remete a alguns dados
levantados na pesquisa quantitativa, que mostraram como na RMR parece ter uma ocupação
maior dos espaços públicos abertos, em contraposição à tendência à reclusão e segregação típica
das sociedades de consumo: enquanto na RMR, os parques e praças estão em primeiro lugar

24. O brega é um estilo musical que mistura ritmos caribenhos com rock, muito difuso nas regiões Norte e Nordeste do
Brasil, especificamente entre as classes populares.

25
entre os espaços freqüentados pelos(as) jovens, nos dados agregados das Regiões
Metropolitanas pesquisadas, o primeiro lugar é ocupado pelos shoppings. È particularmente
gritante a falta de acesso a cinemas, teatros, museus.
Por outro lado, algumas vezes foram feitas referências às atividades culturais como
formas de ocupar o tempo dos(as) jovens para fazer coisas boas [ao invés de ficarem
ociosos(as)], numa evidente instrumentalização da cultura, assim como está acontecendo em
muitos programas governamentais e não-governamentais.
Num Grupo de Diálogo, foi feita uma relação direta entre os três temas, mostrando os
paradoxos em que se embatem os(as) jovens: se você não tem acesso a uma escola de
qualidade, não consegue um trabalho, e se você não ganha dinheiro, não pode ter acesso à
cultura e ao lazer.
Além dos temas educação, trabalho e cultura e lazer, sobre os quais os(as) jovens eram
explicitamente orientados(as) a dialogar a partir da pergunta orientadora do trabalho dos
subgrupos (“Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o que pode melhorar na
educação, trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”), os(as) jovens participantes dos diálogos
na RMR aproveitaram o momento do Diálogo da manhã para conversar sobre outros temas de
interesse deles(as). Listamos a seguir dois temas que mais chamaram a atenção dos grupos:

• Violência/segurança: foi um tema bastante recorrente, e os Diálogos faziam referência


principalmente à falta de segurança nos bairros e nas escolas. Os(as) jovens geralmente
pediam mais investimentos nesse sentido, chegando a discutir também sobre as
condições de trabalho dos(as) policiais, os baixos salários e a falta de qualificação.

• Aborto/controle de natalidade: foi um tema fortemente discutido, em particular em um


Grupo de Diálogo. Nunca chegou-se a formular algum consenso a respeito desse tema,
que apareceu mais entre as diferenças. “Questão do aborto: a maioria é contra, mas
alguns aceitam em caso de estupro” (D1); “necessidade de controle, ter no máximo dois
filhos, a exemplo de outros países como o Japão; tem gente que pode ter quatro, cinco
filhos, pode manter; controle dependendo da renda; depende da consciência de cada um –
é preciso informação; deve se poder fazer ligação mais cedo; a lei deve ser igual para
todos; tem gente que pensa que ter mais um filho significa mais gente pra trabalhar.” (D2)

O tema das desigualdades sociais foi o pano de fundo de muitas conversas, tanto sobre a
escola como sobre o acesso ao trabalho.
Outros temas, como o das drogas, foram discutidos nos subgrupos, mas não chegaram na
plenária. Foi o caso também da discriminação que sofrem os(as) jovens no trabalho, ou seja, as
difíceis condições de trabalho dos(as) jovens que conseguem acessar o mercado. Formularam-se
também críticas aos programas governamentais, como o Bolsa-Escola que, segundo a opinião de
alguns(mas), é usada mais para “farrear e beber”.

26
B) Sobre participação
As semelhanças identificadas nas plenárias da tarde sobre o tema da participação foram
relacionadas às questões:

• União dos(as) jovens para reivindicar direitos (em quatro dos cinco grupos)
• Voluntariado (em quatro dos cinco grupos)
• As escolhas não são excludentes (em três dos cinco grupos)
• Atuação dos grupos juvenis culturais (em dois dos cinco grupos)
• Maior participação dos(as) jovens (em dois dos cinco grupos)
• Os grupos juvenis permitem a expressão dos(as) jovens (em um dos cinco grupos)
• O papel da política (em um dos cinco grupos)
• Ter poder (em um dos cinco grupos)
• Constância na participação (em um dos cinco grupos)

As primeiras duas semelhanças 25 dizem respeito à discussão que mais foi recorrente nos
grupos: a luta por direitos e o trabalho voluntário. Cada um dos temas apareceu como semelhança
em quatro dos cinco Grupos de Diálogo. Com exceção do ultimo grupo, que foi, como assinalamos
acima, um grupo bastante sui generis, em todos os grupos se discutiu bastante sobre o papel da
política e a importância de se juntar para reivindicar direitos, chegando-se a definir consensos
sobre isso. A luta por direitos, bandeira dos movimentos sociais desde a época da
redemocratização do país, parece ter sido incorporada também no discurso dos(as) jovens, pelo
menos daqueles(as) que definimos como sendo os(as) “detentores(as) da fala”.
Com relação ao tema do voluntariado, em quase todos os grupos se chegou ao consenso
sobre a importância de realizar ações de voluntariado para enfrentar os problemas sociais, dando
ênfase no fazer, ajudar ao próximo e à comunidade em geral. Somente no diálogo com jovens de
18 a 24 anos que, como assinalamos acima, foi o grupo que menos chegou a identificar
semelhanças, o tema do voluntariado apareceu exclusivamente nas diferenças, ou seja, o grupo
não chegou a um consenso sobre a vontade, o interesse, a importância de se engajar em ações
de voluntariado. Vejamos os argumentos, como apareceram no quadro das diferenças definidas
por esse grupo (que podem ser consideradas bastante emblemáticas das discussões que houve
em todos os grupos sobre o tema):

25. No Anexo 2, colocamos a listagem completa das semelhanças identificadas nos Grupos de Diálogo.

27
Contra o voluntariado A favor do voluntariado
Não vai acordar o governo com o
O voluntário luta por soluções.
voluntariado.
Voluntariado é bom na parte social. Você vai
Ser voluntário nas horas vagas para
ter experiências, mas, para o curriculum, não
combater as desigualdades sociais.
serve.
Na parte financeira, o voluntariado não O voluntariado não vai mudar a nossa
ajuda. realidade, ajuda.
Com trabalho voluntário, a gente consegue
chamar a atenção do governo.
Cada um, com sua contribuição, pode
conseguir muito mais do que através de um
líder.

Nesse grupo foram formuladas também diferenças com relação ao Caminho 1,


expressando diferentes opiniões sobre o poder de transformação do povo organizado, a relação
com os(as) políticos(as) e a própria possibilidade da organização:

• Cada um se deslocar de sua casa e ir para a rua para defender seus direitos,
reivindicando as transformações que queremos.

• Pode se lutar contra o autoritarismo dos políticos.

• A gente pode tirar os governantes, pois somos nós que os elegemos.

• Estamos muito longe disso, muitas vezes só ligamos para os nossos interesses.

A discussão sobre política vs. voluntariado foi bastante acesa em todos os grupos, com
argumentos que diziam respeito sobretudo à maior eficácia de uma ação com respeito à outra. O
D4 explicitou claramente essa discussão nas diferenças: “Fazer um trabalho voluntário pode dar
mais resultados do que se juntar num movimento” ou, ao invés, “paralisando uma avenida se pode
ter mais repercussão”.
Mas na maioria dos casos, chegou-se a formular consensos que incluíssem as duas
modalidades de ação, com falas do tipo: “Eu acho que o voluntariado é um trabalho muito
importante. Sem os voluntários, muita coisa no Brasil estaria parada, mas a gente não pode fugir à
questão política, porque se nós não procuramos os nossos direitos, não vão ser os outros que vão
nos dar” (D1). Ou seja, apesar de reconhecer uma significativa diferença entre lutar por direitos,
ação que no geral requer a união das pessoas, e realizar individualmente algum trabalho
voluntário, os(as) jovens, na maioria das vezes, não acharam ser contraditório se engajar num tipo
de ação e no outro ao mesmo tempo.
Essa afirmação nos remete a outro tema recorrente na identificação das semelhanças: o da livre
escolha e da não contradição entre as formas de participação, tema abordado em três dos cinco grupos.
No geral, os(as) jovens não pareciam identificar algum problema num engajamento múltiplo.

28
As semelhanças relacionadas ao Caminho 3, o dos grupos juvenis, foram identificadas
somente em dois dos cinco Grupos de Diálogo (D1 e D4), e foram relacionadas exclusivamente à
expressão musical: é possível fazer política através de uma música. No último Grupo de Diálogo,
mesmo se essa semelhança não apareceu, um dos subgrupos escolheu expressar sua opinião por
meio das palavras de uma música de Gabriel, o Pensador. Evidentemente, é muito presente no
universo dos(as) jovens a força expressiva dos(as) cantores(as) [como os(as) rappers] que
expressam por meio das músicas a crítica social.
Afirmações mais elaboradas sobre o tema dos grupos juvenis apareceram nos outros três
grupos, exclusivamente como diferenças:

• “Grupos que atuam no bairro, na igreja são importantes para enriquecer a história
daqui, fazer cultura” – D2

• “Os grupos podem se juntar e fazer um grande grupo” – D2

• “Alguns grupos se fecham tanto que ficam entre si, não escutam o próximo” –D3

• “Tem grupos que conseguem muitas coisas, conseguem cursos para a comunidade,
creches” – D3

• “O Caminho 3 é a base sólida, base do 1, que é o grupo mais formal” – D3

• “O Caminho 3 é mais próximo dos jovens, facilita sua expressão e entendimento, e leva
à conscientização dos jovens” – D5

A última semelhança, que foi identificada em pelo menos dois grupos, foi ao redor de uma
genérica necessidade de uma maior participação da população e, em particular, dos(as) jovens.
O grupo com experiência participativa foi o grupo que mais identificou semelhanças,
identificando mais uma semelhança com relação ao Caminho 3, ou seja, sobre a importância dos
grupos juvenis enquanto espaços de expressão. O grupo também chegou a construir e negociar
uma afirmação de consenso entre os(as) defensores(as) do voluntariado e os(as) defensores(as)
da política: “a política é importante, mas a gente não precisa depender dela”. Por último, foi
expresso o consenso sobre a necessidade de ter poder, ou seja, “exercitar uma posição de
destaque na sociedade”.
No último grupo também foi identificada mais uma semelhança, com relação ao fato da
participação não ser esporádica, ou seja, não acontecer somente no Natal; a participação, nesse
caso, foi claramente identificada com o voluntariado.
Finalmente, podemos formular uma hipótese que relacione o andamento do Dia de
Diálogo com a maior identificação de semelhanças ou de diferenças, considerando os três Grupos
de Diálogo nos quais a discussão foi mais animada (sobretudo, como já notamos, com relação aos
argumentos contra ou a favor dos Caminhos 1 e 2), ou seja, os D1, D3 e D5: no grupo de 18 a 24
e no segundo grupo misto foram identificadas quase exclusivamente diferenças; as semelhanças
chegaram a ser identificadas somente sobre afirmações bastante genéricas, do tipo “chamar a
atenção do governo para a solução dos problemas das pessoas” (D3) e “os jovens devem

29
participar mais, independentemente de qualquer caminho” (D5). Ou seja, parece que quando
houve uma discussão mais acesa, com a expressão de posições mais firmes, foi difícil construir
consensos sobre os diferentes Caminhos. Ao invés, no grupo com experiência participativa, foram
identificadas somente semelhanças, o que nos faz pensar que no grupo fosse mais forte,
sobretudo entre os(as) “detentores(as) da fala”, a presença de jovens “políticos(as)”, acostumados(as) a
fazer negociações para construir consensos entre diferentes posições. È uma hipótese que pode ser
valorada comparando com os resultados dos Diálogos ocorridos nas outras regiões.
No D5, chegou-se a formular um consenso sobre o Caminho do voluntariado: “Muitas
pessoas não ficam de braços cruzados, vão e fazem”, expressando dessa forma uma constatação
sobre a maior propensão das pessoas a “fazer”, bastante típica do universo juvenil.
Como já assinalamos anteriormente, a identificação das semelhanças entre as
apresentações dos grupos foi uma das partes mais complicadas da aplicação da metodologia:
geralmente, depois de ter identificado algumas evidentes semelhanças, os(as) jovens, nas
plenárias, começavam a expressar a própria opinião pessoal, e alguns consensos foram
construídos muito mais a partir dessas opiniões (pessoais, e não do subgrupo) que foram
acatadas pela plenária (ou seja, quando não teve nenhuma expressão de opinião discordante26).
Muitas vezes, recorremos ao recurso de voltar a ler as apresentações dos grupos colocadas nas
folhas do flipchart, para ver se a plenária notava mais alguma semelhança ou diferença (o que, no
geral, surtiu o efeito desejado).

5. 2 Caminhos participativos
Colocamos a seguir um quadro-síntese sobre as escolhas realizadas pelos diferentes subgrupos
com relação aos Caminhos Participativos:

Subgrupos D1 D2 D3 D4 D5
3 (mas na
1 (porque
realidade é Síntese de (não houve
Amarelo 1e2 tudo é
um pouco 1e3 grupo)
movimento)
de cada)
Um pouco
de cada 1 (porque
Um pouco
Laranja (mas o 3 é 2 inclui os Caminho 4
de cada
parecido outros)
com o 2)
Um pouco Um pouco
Azul 2 1 1e2
de cada de cada
Não
Um pouco escolha, ou
3 (porque Um pouco
Verde seja, cada 1e2
de cada reúne 1 e 2) de cada
um faça o
que quer

26. Em alguns grupos, os(as) participantes defenderam decididamente opiniões discordantes; em outros, os(as)
“detentores(as) das falas” conseguiram facilmente fazer passar suas opiniões [os(as) incômodos se manifestando mais
nas expressões da cara e na postura dos(as) participantes].

30
Em termos quantitativos, foram mais os subgrupos que não chegaram a escolher um dos
três Caminhos e sim, construíram sínteses pegando elementos de cada um dos Caminhos (sete
de 19 subgrupos). Três subgrupos fizeram uma síntese entre os Caminhos 1 e 2, e um subgrupo
uma síntese do 1 e do 3. Dos que escolheram somente um Caminho: três subgrupos escolheram
o Caminho 1; dois subgrupos escolheram o Caminho 2 e mais dois o Caminho 3. Um grupo não
fez nenhuma escolha. No total, portanto, foram 11 os subgrupos que sintetizaram elementos de
vários Caminhos, ou seja, a maioria, e sete os subgrupos que escolheram um só Caminho (em um
subgrupo, como já falamos, não foi feita nenhuma escolha, deixando a resposta ao livre arbítrio
das pessoas).
Mas essas quantificações não dão conta nem da qualidade da discussão ocorrida nos
grupos, nem dos níveis de consciência sobre as escolhas feitas. Em alguns casos, as escolhas
declaradas durante a apresentação eram substancialmente diferentes das colocadas no flipchart
como conclusões do subgrupo. Por exemplo, as escolhas relacionadas aos Caminhos 1 e 3, na
realidade, poderiam ter sido expressas de forma diferente, ou seja, os argumentos apresentados
expressavam escolhas não relacionadas unicamente com aquele único Caminho (colocamos
essas observações entre parênteses no quadro). Assim, no D1 (o diálogo com jovens com
experiência de participação), o grupo amarelo fez a escolha do Caminho 3, mas, na apresentação,
a relatora falou que:

Na área política, o que nós achamos é que deveria haver a formação de um partido
político para a juventude e que tem que haver também a análise do voto, porque eu
acredito que boa parte da população não analisa quando vai votar num político. (...) No
voluntariado, seria voluntariado na manutenção escolar, ajudar a servir as refeições, da
reforço das matérias aos sábados, incentivo na limpeza e projetos da cidade (...) E no
trabalho em grupo, se tivéssemos um grupo formado e fosse uma ONG, nós lutaríamos
pela segurança, nos montaríamos oficinas, iríamos organizar protestos (...) iríamos formar
grupos religiosos, teríamos a entrega do sopão, iríamos procurar saber as necessidades
da comunidade, trabalhar com jovens viciados (...).

Somente num caso, quem apresentou o resultado do diálogo no subgrupo fez uma
distinção clara entre as conclusões do subgrupo e as posições dos(as) diferentes integrantes dele:

Como nós somos um grupo, não prevaleceu a idéia de um só. Reunimos todas as idéias e
criamos um grupo, no caso, que foi o grupo 4 – ‘os jovens tentam participar da integração
completa da sociedade e se conscientizam do dever perante a sociedade de ajudar as
pessoas mais carentes da comunidade, buscando obter e demonstrar os seus
conhecimentos’. Esse seria o Caminho 4, criado pela gente. Só que muita gente quis o
Caminho 2, se identificou com o Caminho 2 (...) ninguém se identificou com o meu
Caminho, o meu Caminho é o Caminho 1, que realmente é aquele Caminho de procurar
lutar, buscar, que é o Caminho onde se enquadra toda a política, que realmente tem que
ter a participação dos jovens (D5).

31
Nesse quadro, podemos dizer que o nível de consciência sobre as escolhas feitas nos
subgrupos foi, no geral, bastante baixo. Como já colocamos na I parte deste texto, comentando a
metodologia, nos subgrupos da tarde, o diálogo foi geralmente bastante complicado, disperso,
sonolento, sempre dominado por uns(umas) poucos(as). Foi particularmente difícil para o grupo
relacionar a escolha dos Caminhos Participativos com a discussão ocorrida na parte da manhã
sobre as mudanças desejadas nas áreas de educação, trabalho e cultura/lazer. Geralmente,
os(as) jovens não se colocavam espontaneamente no lugar de quem provoca os câmbios
desejados: reivindicar, desejar, identificar problemas não significa pensar em Caminhos para se
chegar a construir possíveis soluções. Ou seja, a tarefa de provocar as transformações desejadas
não é assumida em primeira pessoa. Assim, de forma geral, podemos notar que não houve
referência, na parte da tarde, ao que tinha se discutido pela manhã. Foram poucos(as) os(as)
jovens que tentaram direcionar a discussão nos subgrupos no sentido de responder efetivamente
à pergunta colocada [ou seja: “Pensando no que vocês listaram pela manhã que deve melhorar na
educação, trabalho e cultura no Brasil, como vocês estão dispostos(as) a participar para que
essas melhorias se tornem realidade?”]; esses(as) jovens podem ter apresentado maior
compreensão das questões por sua maior escolaridade. Exemplo disso foi o caso de um jovem no
D3, que, no subgrupo, expressou claramente a dificuldade de se chegar a provocar as mudanças
desejadas com o Caminho 2: “Eu não acho que a gente consegue muita coisa com essa forma.
Capacitação de professor, por exemplo, o que é que a gente pode fazer, uma reunião com todos
os pais na rua... mesmo assim, a gente vai depender do governo, se ele quiser capacitar melhor
os professores”. E outra jovem agregou: ‘Acho interessante por um lado, mas não resolve os
problemas que a gente quer resolver”. Mas esse tipo de falas foram bem poucas nas discussões
dos subgrupos.
Algumas vezes, nas nossas intervenções nos subgrupos, insistimos sobre a necessidade
de relacionar as escolhas dos Caminhos com as demandas de transformação identificadas na
parte da manhã. Isso levou alguns subgrupos a fazer uma lista das transformações desejadas,
colocando de lado de que forma poderia se chegar a elas, forçando um pouco a escolha do
Caminho feita para que pudesse provocar cada transformação desejada. Assim, num subgrupo do
D3, foi apresentado no cartaz:

• Nós achamos que, com o voluntariado na educação, as pessoas têm um


empenho de formar núcleos de alfabetização para todos.

• Com a participação de um trabalho voluntário na educação pode estimular o


governo a capacitar os professores.

• Através de centros jovens, os empresários podem se interessar e dar


oportunidade de empregos aos jovens.

• Com a formação de grupos culturais os voluntários podem resgatar pouco a


pouco a nossa cultura local.

32
Nas discussões nos subgrupos, foram constantes as referências a experiências de
voluntariado vividas pelos(as) próprios(as) jovens ou por conhecidos(as) deles(as). Sem dúvida,
todos(as) tinham algum conhecimento claro sobre ações de voluntariado. Muitos(as) citaram
ações desenvolvidas no âmbito da escola ou com crianças. Assim, num subgrupo do D1: “Lá na
minha comunidade tem um pessoal drogado, e fazemos reuniões com eles”; “Na minha igreja, a
gente se reúne para arrecadar alimentos, sempre uma vez por mês”; “Eu e meu colega, no meu
colégio, saímos no Natal para arrecadar alimentos”. E num subgrupo do D2: “Quem é voluntário
tem a oportunidade de trabalhar fazendo palestra para jovem, porque às vezes a gente tem
vergonha de perguntar aos pais sobre alguma coisa, então nos tiramos às dúvidas com os
voluntários. Tem também gente que vai para os hospitais, cuida dos idosos“; “Tem gente também
que faz campanha para arrecadar alimentos”; “Eu também já fiz isso na escola, eu sou voluntária
do Escola Aberta27, fazia gincana para arrecadar coisas, comida, roupas, para ajudar quem precisa”.
Foi também constante, nos subgrupos e na plenária, a expressão de uma retórica sobre o
fazer, agir, não ficar de braços cruzados, ir atrás para realizar os próprios sonhos. Muitos(as)
dos(as) jovens portadores(as) desse discurso eram jovens participantes de grupos de igreja.
Assim, no D5:

Eu penso que se você é capaz de construir uma base, embora você não tenha condições
financeiras, embora você seja pobre, pobre, pobre, mas se você tem um objetivo na sua
vida, você vai muito além e consegue muitas coisas. (...) Se cada um de nós tiver força de
vontade (...), se você tiver um objetivo na sua vida, se você for determinado, você
consegue muita coisa.

E outra jovem: “Eu sempre busquei e pretendo sempre buscar (...) Tem um ditado que diz:
‘camarão que dorme na praia, a água leva’. Então vamos trabalhar, vamos agir”.

Nesse grupo, uma jovem reagiu a esta retórica com o seguinte argumento:
Dizem que é bom a gente correr atrás do que a gente quer e se a gente tiver um objetivo
na nossa vida a gente consegue, mas é muito difícil por isso, porque a gente estuda, mas
só que a qualidade de ensino que eu tive é muito baixa se comparada à qualidade de
ensino de outras pessoas que estão concorrendo com a gente (...) A gente pára por isso,
porque a gente busca, luta, corre atrás mas muitas vezes acaba em nada, muitas vezes
isso nos desestimula, esta entendendo?

E outra jovem agregou: “Mas pra gente ir atrás do que a gente quer, a gente precisa
também de oportunidades”.

27. O Programa Escola Aberta é um programa criado pela Unesco, em parceria com vários governos estaduais e
municipais, que visa a abertura das escolas nos fins de semana para realizar atividades artísticas e de lazer, por meio
da realização de oficinas organizadas por voluntários. Apesar de existir uma grande propaganda sobre o programa, os
dados da pesquisa quantitativa revelaram que, na RMR, somente 18,3% dos(as) jovens que freqüentam a escola o
fazem no fim de semana, essa porcentagem sendo consideravelmente mais alta entre os(as) jovens de classe A/B do
que entre os(as) jovens de classe D/E.

33
O discurso dos(as) jovens de classe social mais elevada enfatizava a falta de vontade das
pessoas, dessa forma se juntando com o discurso dos(as) defensores(as) da retórica do “ir atrás”;
assim, na mesma discussão citada acima, uma jovem de classe A/B falou: “Eu acho que
oportunidade não falta, o que falta em cada um é a preguiça, como é que eu vou dizer, a falta de
vontade de correr atrás do que quer. Se você quiser mesmo uma coisa, você pode se esforçar,
você pode ir atrás”. È interessante notar que essa discussão, durante o Diálogo, foi
desencadeada, ainda na parte da manhã, por uma crítica à política de cotas para negros(as).
Fazer recair a culpa da pobreza nas costas dos(as) pobres foi um discurso que voltou
várias vezes na fala dos(as) jovens de classe A/B. Assim, no D4: “A questão é o comodismo das
pessoas (...) As pessoas não cuidam do que têm, a escola pública, depredam (...) Tem professor
na sala e ficam pensando em ir embora logo, se não tem aula, eles vibram”. E outro jovem,
também de classe A/B, introduz a questão da interiorização dos papéis sociais: “A gente não vai
estar sendo incluído num determinado grupo social, não vai ter acesso enquanto a gente não
souber nossos limites”.
Mas sempre houve também nos grupos alguém que defendesse com força o caminho da
“luta”, do “protesto”, da “união”. Essas foram palavras-chave recorrentes nas discussões dos
grupos, relacionadas, no geral, com o Caminho da política, identificado, quase que
exclusivamente, com o Caminho 1. Às vezes, esse discurso foi pronunciado pelos(as) mesmos(as)
jovens participantes de grupos religiosos. Assim, o defensor do “ir atrás” citado acima ressaltou
também, no subgrupo e na plenária: “A grande vantagem é que os jovens de hoje podem lutar,
protestar, debater, (...) lutar por seus direitos”. E outra jovem, também de grupo religioso: “Acho
que a gente tem que se unir, fazer associações de moradores, arrecadar alimentos para doar,
ajudar também os políticos dando idéias”, relacionando, dessa forma, o voluntariado com a ação coletiva.
O Caminho 1 foi identificado com o caminho da “política” e os argumentos usados a favor
e contra eram relacionados principalmente com o trabalho dos(as) políticos(as): “O primeiro
Caminho mostra mais da política e a política no país da gente é muito visada, por exemplo, se
caso tivesse um jovem (...) no poder que eu digo é num cargo político alto, seria mais fácil” (D1);
“Os políticos não prestam, todos eles querem comprar votos” (D2); “O primeiro item, no caso, que
é a parte política, o povo não tem acesso ao Senado, não tem acesso à Câmara Municipal, então
tem que ter mais participação do povo pra gente dar nossas idéias, nossas opiniões para que eles
escutem e digam se está errado ou está certo, pra poder resolver aí o problema” (D4).
Muitas vezes ficou explicitada uma certa contradição entre uma definição de princípio
sobre a importância do Caminho 1, o da “política”, e a disponibilidade concreta em se engajar
muito mais relacionada com experiências de voluntariado28. Como se entre a teoria e a prática
houvesse uma evidente contradição. Ou seja: “eu acho importante a política, mas eu
pessoalmente estou muito mais disposto a me engajar em ações de voluntariado”. Assim: “Eu
acho mesmo o primeiro Caminho o certo, mesmo eu não me vejo fazendo isso” (D3).

28. Cabe destacar que a pesquisa quantitativa revelou uma porcentagem consideravelmente maior de jovens engajados(as)
em atividades de voluntariado (3%) do que daqueles(as) engajados em partidos políticos (0,8%), sindicatos (0,2%),
movimentos sociais (1,2%), associações comunitárias (1,7%) e associações estudantis (2,2%). 14,7% declararam ser
engajados(as) em grupos de cunho religioso, que geralmente organizam também atividades de voluntariado.

34
A importância da “política” muitas vezes foi salientada quase que exclusivamente nas falas
dos(as) jovens que identificamos como os(as) “detentores(as) da fala”. Muitos(as) desses(as)
jovens tinham tido experiências de trabalho na política, especificamente nos grêmios estudantis, o
que deve ter facilitado a tarefa de colocar as próprias opiniões no espaço do Diálogo. Mas, ao
mesmo tempo, esses(as) jovens pareciam muito mais inclinados(as) a disputar a platéia para fazer
valer as próprias opiniões do que a dialogar com os(as) outros(as). Os vícios do “fazer política” de
forma clássica, particularmente explícitos nas formas de debater e fazer valer a própria opinião em
detrimento das dos(as) outros(as), eram particularmente evidentes nas falas desses(as) jovens
com experiência de engajamento nos grêmios estudantis. Tal o caso do jovem “detentor da fala”
do D5, participante do grêmio estudantil e de grupo da igreja evangélica, que ficou constantemente
rebatendo qualquer argumentação dos(as) outros(as), querendo a todo custo dar “a última
palavra” sobre qualquer argumento.
O Caminho 3 ficou sendo identificado como o caminho das “festas”, do lazer, da fruição
cultural e por isso, muitas vezes, rejeitado. Numa plenária, chegou-se a discutir bastante sobre a
capacidade dos(as) jovens de conciliar o lazer com o dever, questionando se os(as) jovens sabem
ou não fazer isso. Vejamos as falas:

O grupo 3 fala mais sobre festivais e também ao que você se refere, ao que você gosta, o
tipo de cultura que você se entusiasma.
Eu acho que esse não é o caminho porque, como a gente comentou no grupo da gente,
muitos se interessam por esse tipo de trabalho e esquecem da escola, para prestar esse
tipo de trabalho, que era no caso das culturas, maracatu, essas coisas. Então acho que a
maioria esquece da escola pra fazer esse tipo de coisas. Eu acho que isso era pra ser
incluído na atividade extra escolar.
Eu não troco meu aprendizado por festa, eu sei que tem exato momento, mas é que tem
alunos que gostam, tem gente que gosta de estar ali naquele meio, mas tem gente que
não gosta (...) No meu ponto de vista, este não é o caminho, o caminho certo é você não ir.
Eu acho assim, quando a pessoa aprende a viver, a pessoa tem que saber dividir as
coisas entre ela, tem que dividir estudo e cultura (...) Claro que tem muitos meninos que se
empolgam demais, aí vão só cultura, só cultura, aí claro que atrapalha, mas tem que saber
dividir a vida dele.

A aceitação do Caminho 3 quase sempre veio pelo lado de ser uma forma de realizar o
Caminho 2 (ou seja, realizar ações de voluntariado em grupo) ou para se chegar ao Caminho 1 (a
união de vários grupos pode fazer um movimento maior que lute no campo da política). Algumas
falas exemplificam claramente estas posições: “Se não existisse voluntariado, não existiria grupo”
(diferença – D3); ”Os grupos podem se juntar e fazer um grande grupo” (diferença – D2); “Tem
grupos que conseguem muitas coisas, conseguem cursos para a comunidade, creches etc.”
(diferença – D3). As conclusões de um subgrupo do D3, que escolheu fazer uma síntese entre os
Caminhos 1 e 3, exemplificam bem essas ‘contaminações’ entre os Caminhos:

35
Os jovens, na tentativa de resolver seus problemas, e cansados de esperar uma atitude
das autoridades, começaram a se unir em busca de solução de seus propósitos. Com
esse grupo, eles aprendem a se respeitar, a ouvir opiniões de outros jovens e expor as
suas. Criando práticas, valores e responsabilidade. Tornando-se então um grupo sólido.
Juntos, vão conquistando outros jovens com seus pensamentos de mudanças. Chegando
cada vez mais longe, com a ousadia de si, diretamente aos órgãos do governo, se impor,
expressar seus interesses, cobrar seus direitos e fazer seus deveres.

Como já observamos, em todos os Diálogos houve um debate entre os(as) defensores(as)


do voluntariado e os(as) defensores(as) da “política”. Assim, a problematização desses Caminhos
se deu de forma muito natural entre os(as) próprios(as) participantes. Por exemplo: “É uma coisa
boa o voluntariado, mas eu acho que não vai mudar a nossa realidade hoje em dia. Vai ajudar,
mas não vai mudar” (D3); “Alguns voluntários atrapalham, querem ganhar dinheiro ou se fazer
publicidade” (diferença – D2). Sempre houve alguém que falou, a propósito do voluntariado, do
risco de tomar para si responsabilidades que são do Estado, de exercer funções que deveriam ser
remuneradas, tirando o trabalho de alguém. Assim, “Fica sempre um professor ficando sem
emprego por causa de um voluntário” (D3). No D3, uma jovem se colocou claramente contra o
voluntariado, a partir da experiência dela: “A experiência de voluntário para um currículo não
adianta, não serve. Serve para você, como pessoa, mas como currículo, para um emprego, não
serve”. Em vários subgrupos, ficaram explicitas as problematizações e as diferentes posições
nesse sentido, como num subgrupo do D1:“O governo não tem dinheiro para contratar gente, aí
vem o voluntariado”; por outro lado: “Os poderes públicos muitas vezes vêem que o pessoal tá
fazendo as coisas e não assumem suas responsabilidades (...) Ah, fulaninho tá fazendo, eu vou
fazer mais o quê?!”. E outra jovem rebate: “Se a gente for esperar pelo governo... Muitas pessoas
com o voluntariado descobriram seus talentos”.
Sempre houve alguém que questionou os defensores do Caminho 1, a propósito da
corrupção do mundo da política, da pouca eficácia das ações implementadas nesse âmbito, da
maior eficácia da ação direta em respeito às ações de protesto ou à organização de movimentos
políticos. Assim: “O voluntário luta por soluções (...) começa de baixo (...) para mudar a
desigualdade social que atinge a nossa região (...) O Caminho 1 precisa do governo, o 2 mete a
cara sem precisar do governo” (D3). No D4: “A gente está reivindicando que a gente quer
melhorias para o hospital e os voluntários estão trabalhando lá dentro do hospital. Então quando
uma comissão do governador chegar para observar esse local, ele vai escutar mais, dar mais
valor, não aos manifestantes e sim, aos que estão fazendo o serviço de voluntariado, quem está
trabalhando lá (...) porque o manifesto às vezes é mal visto, as pessoas olham esse
comportamento como um mau comportamento”.
Duas frases, colocadas entre as semelhanças, exemplificam bem os dois pensamentos
principais nessa discussão: por um lado, “Todos são dispostos a ajudar, sem tomar o papel do
governo” (semelhanças – D2); por outro lado, “A política é importante, mas a gente não precisa
depender dela” (semelhança – D1). As falas a favor do Caminho 2 parecem, portanto, explicitar um
sentimento de urgência presente nos(as) jovens: precisamos de mudanças, de soluções, para hoje.

36
Foi na problematização a respeito do Caminho 3 que se deram de forma mais significativa
as nossas intervenções enquanto facilitadores(as). Quase sempre tivemos que chamar atenção do
grupo porque não surgiram, na identificação das semelhanças/diferenças, questões relativas ao
Caminho 3. Na maioria dos casos, podemos dizer que provocar a discussão, no sentido de
identificar no Caminho 3, uma possibilidade de organização e participação mais autônoma dos(as)
jovens, tanto com relação à não participação dos(as) adultos(as), como no sentido da
possibilidade de se expressar de diferentes formas, não surtiram muito efeito. Nos pareceu,
finalmente, que o Caminho 3 pode ser considerado, de certa forma, um caminho de especialistas
que lidam com as temáticas juvenis, e não uma realidade presente no universo juvenil. Mesmo
os(as) jovens que participavam de grupos de igreja não identificavam esses grupos como sendo
grupos juvenis.
Quando os grupos chegavam a construir facilmente um consenso sobre os múltiplos
engajamentos, ou seja, sobre a não necessidade da escolha, questionamos sobre a possibilidade
prática de se engajar ao mesmo tempo em diferentes tipos de atividades. Mas somente no último
diálogo, o segundo grupo misto, uma jovem defendeu, com força, que era impossível se engajar
nas atividades do grêmio estudantil e, ao mesmo tempo, em ações de voluntariado, por falta de
tempo: “Quando você se dedica tipo a um grêmio estudantil, você não tem tempo suficiente para
se dedicar a outra coisa (...) Pra você fazer uma escolha, você tem que fazer a escolha daquilo
que você realmente quer e uma coisa só, porque você não vai ter tempo pra se dedicar bem
àquilo, a não ser que você queira fazer só a mentirinha” (D5).

37
6. Comentários finais

Na tabela 5, apresentamos a síntese e a recorrência dos comentários finais expressos pelos(as)


jovens com relação à pergunta “Que mensagem gostaria de deixar para os políticos?”. Entre
parênteses, colocamos o número de jovens que expressaram sua opinião neste momento do dia,
em cada grupo.

Tabela 5

1º 2º
Grupo Grupo de
Comentários Grupo de Grupo Grupo
de Diálogo
Finais Diálogo de de
Diálogo Experiência TOTAL
15-18 Diálogo Diálogo
(temas/ 18-24 Participativa
15-24 15-24
questões) 19/3
2/4 12/3
9/4 16/4
(9) (21) (16) (19) (24) (89)
Pensar/investir
nos(as) jovens/
2 6 4 6 4 22
escutar os(as)
jovens.
Mais consciência/
pensar mais/
2 1 5 2 6 16
competência/
respeito/cuidado.
Olhar para a fome
e os problemas 1 2 2 8
do povo. 13

Cumprir o que
1 2 3
prometem.
Fazer alguma
3 3
coisa/melhorar.
Que cada um(a)
2 1 3
faça a sua parte.
Não façam/
cuidem somente
dos(as) jovens, e 2 2
sim, do Brasil
todo.

É interessante ressaltar que, nesse momento, os(as) participantes pareceram se apropriar


mais de sua identidade juvenil, reivindicando mais atenção dos(as) políticos(as) para os problemas
dos(as) jovens, mais espaços para a escuta dos(as) jovens, mais investimentos porque, muitas vezes,
repetiram “Nós somos o futuro do país”29. Mas podemos considerar que, nessa frase, mais que a
consciência da condição juvenil, fica explícita a interiorização de um sentido comum presente na
sociedade. No ultimo Diálogo, em que ocorreram seis menções a essa questão, alguns(mas) ficaram

29. No Anexo 3, colocamos exemplos de falas dos(as) jovens com respeito a cada um dos temas.

38
até incomodados(as) com essa preocupação específica em detrimento da população em geral,
insistindo sobre a importância de provocar melhorias para todo mundo, e não somente para os(as)
jovens: “Vocês foram muito, assim, com o pensamento pequeno. Eles não devem só cuidar da gente, e
sim, do Brasil todo, dando mais atenção ao jovem, é claro, é lógico, porque se eu sou jovem eu quero
alguma coisa pra mim, mas não só pra mim, mas pra o Brasil em si” (D5).
Foi também bastante recorrente a mensagem sobre a necessidade de ter mais
consciência, mais competência, mais cuidado por parte dos(as) políticos(as).
Mais especificamente, alguns(mas) jovens reivindicaram a importância de olhar para a
fome e os problemas do povo, ou seja, encarar de forma direta as necessidades dos(as) mais
pobres. Cabe ressaltar que foi o grupo de jovens com experiência participativa que fez
particularmente ênfase sobre esta questão.
Em todo caso, ficou evidente que, em cada grupo, muitos(as) jovens simplesmente
repetiam o que os(as) colegas tinham acabado de falar.
É importante notar que, nesse momento, em alguns grupos, no lugar do que deixar
recados para os(as) políticos(as), alguns(mas) jovens expressaram recados para eles(as) mesmo,
ou seja, para o grupo, com frases do tipo: “Não deixem de lutar pelos seus objetivos” (D2); “A
gente não pode desistir nunca de buscar o que a gente acha que é certo” (D3); “Se você tem uma
causa, abrace com coragem, debata mesmo, fale e outra coisa: passe essa informação para
outros jovens, que é muito importante, como eu vou fazer” (D3).
No que diz respeito à avaliação do dia, também é possível notar algumas recorrências
importantes. Vejamos a tabela 6:

Tabela 6

1º 2º
Grupo Grupo Grupo de
Grupo Grupo
Comentários de de Diálogo
de de
Finais Diálogo Diálogo Experiência TOTAL
Diálogo Diálogo
15-18 18-24 Participativa
(temas/questões) 15-24 15-24
19/3 2/4 12/3
9/4 16/4
(19) (21) (16) (19) (24) (99)
Discutir/
se expressar/
8 18 10 8 6 50
respeito pela
opinião dos outros.
Amizade/conhecer
4 1 3 4 16 28
gente.
Aprendizagem. 7 4 3 4 5 23
União dos(as)
jovens/ 5
4 1
relacionamento do
grupo.
Os(as) jovens
também têm 1 1
importância.

39
O que ficou particularmente evidente foi a avaliação positiva dos Diálogos como
oportunidade de expressar a própria opinião, respeitando a opinião dos(as) outros(as), de
participar de um espaço de discussão30. Isso foi particularmente ressaltado no grupo de jovens de
18-24 anos, que consideramos o grupo no qual a metodologia de Diálogo deu mais certo. Pelo fato
que o grupo dos(as) jovens com experiência participativa foi o que menos expressou essa
temática na avaliação final, podemos deduzir que o espaço do Diálogo foi particularmente
valorizado pelos(as) jovens que não tiveram, em suas biografias, outras oportunidades de
participar de um evento desta natureza.
A amizade, o “conhecer gente”, foi também valorizado por um bom número de
participantes, particularmente por aqueles(as) vinculados(as) a grupos religiosos, que foram
particularmente numerosos(as) no grupo com experiência participativa. Em todo caso, vale notar,
de novo, que, muitas vezes, nos comentários finais, houve recorrência de falas, ou seja, os(as)
participantes repetiam o que acabava de ser expresso por um(a) colega.
Os Diálogos foram também bastante valorizados como espaços de aprendizagem,
especificamente no sentido da troca entre os(as) participantes (mas, em três ocasiões, houve
algum comentário positivo a respeito da suposta “palestra” à qual se teria assistido durante o dia).
O Diálogo como espaço de aprendizagem foi mais valorizado para o grupo dos(as) mais jovens.
Nesse grupo, houve outro comentário recorrente: a união dos(as) jovens, ou seja, o
relacionamento dentro do grupo. Evidentemente, esses(as) jovens eram os(as) que menos tinham
tido acesso a experiências desse tipo em suas vidas.
Cabe ressaltar um comentário de um jovem, no D4, a respeito do Diálogo ter propiciado a
descoberta de que “os jovens também tem importância”. Nesse sentido, a oportunidade de dialogar
com seus pares parece ter reforçado, de alguma forma, a consciência sobre o “ser jovem”.
Finalmente, reportamos as palavras de uma jovem que, durante as saudações finais,
explicitou seu estado de ânimo após o dia: “São muitas emoções. Gente, eu sei que este dia vai
ficar marcado na memória de vocês, principalmente eu. Cada um de vocês vai ficar marcado na
minha memória, mesmo que um dia eu encontre com alguém e não lembre dessa pessoa, mas eu
vou lembrar sempre do que essa pessoa me disse e do que eu aprendi realmente com essa pessoa”.

30. No Anexo 4, colocamos alguns exemplos de comentários finais.

40
7. Fichas pré e pós-Diálogo

a) Análise das notas


As fichas de opinião inicial e de opinião final foram devidamente preenchidas por 134 dos(as)
135 jovens que compareceram aos Diálogos na RMR31. No geral, os(as) jovens atribuíram notas
elevadas (quase sempre 7, algumas vezes 6) a todos os Caminhos, e as mudanças de opinião
nas fichas Pós não foram muito relevantes.

Como podemos observar no gráfico 1, as mudanças de opinião se mostram mais significativas


quando observamos o conjunto dos cinco encontros. O número de jovens que atribuiu a maior
nota (7) cresceu em relação a todos os Caminhos:

• Caminho 1, no início do dia, contou com 87 notas 7; ao final do dia, 99.


• Caminho 2 iniciou com 92 e finalizou com 94.
• Caminho 3 iniciou com 87 e finalizou com 91.

Gráfico 1

Geral (soma de resultados dos 5 GD´s)

120
100
80 Caminho 1
60 Caminho 2
40 Caminho 3
20
0
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7

Opinião Inicial Opinião Final

O gráfico mostra um acréscimo mais consistente das notas atribuídas ao Caminho 1, com
relação aos outros dois Caminhos.
A análise da nota média (tabela 7) atribuída (em escala de 1 a 7) aos três diferentes
Caminhos confirma a hipótese de que o Caminho 1 foi melhor avaliado ao final dos Diálogos,
obtendo maior acréscimo à nota média no conjunto dos cinco Grupos de Diálogo. As diferenças
são, em todo caso, bastante pequenas: enquanto a nota média atribuída ao Caminho 2 ficou
estável (6,5) e a nota média atribuída ao Caminho 3 cresceu de 0,1, a nota média atribuída ao
Caminho 1 cresceu de 0,2 pontos.

31. Um jovem, no D1, preencheu de forma incompleta a ficha de opinião final, deixando de marcar notas para os dois
últimos caminhos. Assim, para análise, desconsideramos essa ficha.

41
Tabela 7

Caminho 1 Caminho 2 Caminho 3


Opinião Inicial 6,4 6,5 6,3
Opinião Final 6,6 6,5 6,4

Como mencionamos na análise das semelhanças e diferenças da tarde, o Caminho 1,


identificado como o “da política”, foi o Caminho escolhido com maior freqüência entre os
subgrupos que escolheram somente um Caminho. Isso nos permite inferir que os Diálogos
contribuíram principalmente para a revisão das opiniões dos(as) jovens sobre os espaços formais
de participação política: apesar das freqüentes críticas aos representantes políticos eleitos, os(as)
jovens parecem acreditar que por meio desse Caminho é possível melhorar a vida no Brasil, em
particular as condições de vida da juventude.
Com relação ao Caminho 2, observando a nota média atribuída pelos(as) jovens aos
Caminhos de Participação, e considerando as variáveis sexo, trabalho e escolaridade, destacam-
se as seguintes mudanças de opinião:

Tabela 8: Sexo, 5GDs e 3 Caminhos

GD GD Todos
Sexo M F
C1 Pré 6,3 6,4
Pós 6,6 6,7
C2 Pré 6,4 6,5
Pós 6,7 6,3
C3 Pré 6,4 6,2
Pós 6,4 6,5
M = masculino e F = feminino.

Tabela 9: Trabalho, 5GDs e 3 Caminhos

GD GD Todos
Trabalho S N
C1 Pré 6,5 6,3
Pós 6,7 6,6
C2 Pré 6,4 6,5
Pós 6,6 6,4
C3 Pré 6,4 6,3
Pós 6,4 6,4
S = sim e N = não

42
Tabela 10: Escolaridade, GDs e 3 Caminhos

GD GD Todos
Escolaridade Não até 4 até 8 E. Médio E. Sup.
C1 Pré 0,0 5,7 6,1 6,4 6,9
Pós 0,0 6,3 6,6 6,7 6,6
C2 Pré 0,0 6,7 6,4 6,5 6,8
Pós 0,0 6,5 6,8 6,4 6,3
C3 Pré 0,0 5,3 6,6 6,3 6,3
Pós 0,0 6,0 6,6 6,3 6,8

Três observações sobre essas variáveis mostram alguns indícios da contribuição dos
Diálogos para a mudança de opinião entre os(as) jovens participantes:

• As jovens mulheres, ao contrário dos homens, reduziram a nota atribuída ao Caminho 2.


• Os(as) jovens que não trabalham reduziram a nota atribuída ao Caminho 2.
• Aqueles(as) que têm mais anos de estudo são os(as) que reduziram mais
significativamente a nota relativa ao Caminho 2.

Com relação à questão de gênero, vale lembrar que, como já dissemos, foram as
mulheres que se manifestaram de forma mais entusiasta e criativa durante os Diálogos. Em quatro
dos cinco grupos de diálogo da RMR, as mulheres atribuíram nota média inicial (pré) superior ao
voluntariado em comparação com os homens. Por outro lado, ao final dos Diálogos, as mulheres
contrariam a tendência inicial e se mostram como aquelas que menos consideram o voluntariado
um caminho útil para a participação juvenil. Podemos levantar a hipótese de que as mulheres,
geralmente, se engajam mais do que os homens em ações de voluntariado32 e foram elas,
portanto, as que se sentiram mais concernidas pelas discussões ocorridas sobre o tema, reagindo
mais às problematizações sobre a importância da política vs. o trabalho voluntário.
Os(as) jovens que não trabalham e aqueles(as) que estudam foram mencionados(as) em
alguns de nossos diálogos como possíveis beneficiários(as) das ações de voluntariado. A
experiência de trabalho voluntário foi apresentada também como um caminho para a qualificação
e a abertura de espaços para a realização profissional desses(as) jovens. Essa possibilidade de
se qualificar e encontrar um lugar no mundo do trabalho através do voluntariado foi bastante
discutida durante os diálogos; a problematização sobre ela foi exemplarmente ressaltada no D3
por uma jovem que se contrapôs a esse argumento, afirmando que a experiência de trabalho
voluntário não beneficia o currículo e, conseqüentemente, não amplia as possibilidades de

32. De fato, a pesquisa quantitativa mostrou que as mulheres são mais engajadas do que os homens em atividades
religiosas e em atividades para melhorar as condições de vida no bairro. Ou seja, das mulheres engajadas em algum
tipo de grupo, 54,4% declararam que seus grupos realizavam atividades religiosas (contra 45% dos homens) e 12%
declararam realizar atividades para melhorar as condições de vida no bairro (contra 8,4% dos homens). À pergunta
“Você já participou de algum movimento ou reunião para melhorar a vida do seu bairro ou da sua cidade”, 27,5%
das mulheres deram respostas positivas, contra 26,1% dos homens.

43
inserção profissional. Os diálogos revelaram que o trabalho voluntário é importante para esses(as)
jovens principalmente porque gera benefícios na área social e na vida pessoal dos indivíduos, mas
não porque gera (ou pode dar acesso a) trabalho remunerado. A redução da nota média atribuída
pelos(as) jovens desempregados(as) e pelos(as) estudantes de ensino superior ao voluntariado
indica que esses(as) jovens, mais diretamente envolvidos(as) na busca de trabalho, concluíram
em alguma medida que o trabalho voluntário não lhes traz benefícios profissionais.

Tabela 11: Idade e 3 Caminhos

15 a 24
Idade Todas 15 a 17 18 a 24 15 a 24
Exp. Partic.
C1 Pré 6,3 6,0 6,1 6,5 6,7
Pós 6,6 6,5 6,3 6,8 6,7
C2 Pré 6,5 6,6 6,3 6,4 6,6
Pós 6,5 6,4 6,3 6,4 6,8
C3 Pré 6,3 6,1 6,5 6,2 6,4
Pós 6,4 6,3 6,6 6,3 6,6

Analisando as variáveis segundo a tipologia dos Diálogos com relação à faixa etária
dos(as) participantes, notamos que as maiores variações de opinião se deram no Diálogo com
os(as) mais jovens e em relação ao Caminho 1; ou seja, parecem ser esses(as) os(as) jovens que
menos tinham tido ocasião de refletir, até então, sobre o papel da política na sociedade, enquanto,
ao invés, foram os(as) jovens com experiência participativa os(as) que menos mudaram de opinião
com relação a esse Caminho.

b) Análise das condições33


Analisar as condições expressas nas fichas de opinião final separadamente da nota atribuída a
cada Caminho não permite mensurar se o(a) jovem coloca uma condição para aprovação ou
reprovação do Caminho. Em todo caso, a maioria dos(as) participantes colocou condições para a
aprovação: nos diálogos 1 e 3, todos(as) que expressaram condições escolheram notas a partir de
5; nos demais diálogos, a expressiva maioria também escolheu notas a partir de 5.
O Caminho que suscitou mais condições foi o Caminho 2, o do voluntariado (53 condições
contra 36 para o Caminho 1 e 39 para o Caminho 3). A maioria das condições referentes ao
Caminho 1 dizem respeito a “ter apoio/diálogo com o governo”; ou seja, fazer política vale se
realmente se tem uma interlocução com o governo. Cabe notar também a condição “Não favoreça
interesses particulares/pessoais/partidários”, expressa por cinco participantes, e a condição “Não
tenha vandalismo/conflitos/desordem”, expressa por quatro participantes.

33. No Anexo 5, colocamos a síntese das principais condições expressas pelos(as) jovens nas fichas Pós.

44
Com relação ao Caminho 2, as condições mais significativas foram:

• Não substitua ações do governo (expressa por 16 participantes).


• Tenha mais apoio/reconhecimento do governo, inclusive financeiro.
• Não tenham interesses particulares/pessoais/políticos partidários.

Essas condições refletem bastante fielmente os argumentos usados na discussão sobre o


voluntariado, que foram analisados nos pontos precedentes desse texto. Que o voluntariado seja
entendido como medida paliativa que, portanto, não resolve problemas estruturais da sociedade
brasileira e da juventude em particular, é também o que se destaca entre os comentários que não
estão citados como condições.
Sobre o Caminho 3, há três comentários que merecem destaque:

• Dois(duas) afirmam que esse Caminho pode mudar uma comunidade, mas não altera
uma cidade ou o Brasil como todo (D1 e D2). Para mudar o Brasil é necessário se dirigir
aos(às) governantes: “Os jovens busquem progredir dentro do seu grupo, para que, assim, se
tornem um grupo forte e consigam realmente dar o recado e que esse recado chegue ao
conhecimento dos nossos governantes.” (D3)

• Dois (duas) afirmam que esse Caminho é uma junção dos outros dois (D3)

• Um(a) relaciona esse Caminho com o voluntariado, dizendo “sem voluntariado não há
grupo”. (D3)

Ou seja, como já notamos na análise das escolhas, houve uma tendência a relacionar este
Caminho com ações que se enquadram mais em outros Caminhos, em particular no primeiro.
Condições apresentadas na categoria “outros”, apesar de não serem numericamente
representativas, vão também nesse sentido, como: “Porque essa é a base de um grupo é onde
aprende-se a ter respeito pela opinião dos companheiros. Passando então para o Caminho 1 onde
ele se formaliza como grupo e formaliza suas idéias. Para saírem à luta defender elas” (D3); e
“Essas pessoas se esforcem para ir mais além” (D3).
Além disso, vale ressaltar as condições que foram majoritariamente indicadas:

• Respeitem as diferenças com os outros grupos e não se fechem em si mesmos (que foi
um dos argumentos usados nos “contras” colocados no Caderno) – de longe, a
condição mais destacada.

• Solidariedade aos problemas sociais do Brasil (“Abordem questões sociais/Tenham


compromisso com o povo” e “Tentem ajudar o país/a cidade”).

Ou seja, como já colocamos anteriormente, o Caminho 3 não foi relacionado com


argumentos a favor da expressão autônoma dos(as) jovens.

45
8. Conclusões

Vamos ressaltar, como forma de conclusão, algumas das questões mais significativas que a
pesquisa levantou.
Primeiro uma constatação sobre a perda da importância da escola como espaço de
socialização democrática: os(as) jovens que participaram de nossas pesquisas, em sua grande
maioria, mostraram não ter tido acesso, no espaço escolar, a momentos de diálogos, encontros,
debates, nos quais pudessem expressar suas opiniões, ouvir as dos(as) outros(as), trocar idéias
sobre assuntos que lhe dizem respeito.
Se, por um lado, os(as) jovens têm muito a dizer sobre dois temas importantes para suas
vidas, a escola e o trabalho, por outro lado, a maioria deles(as) não tem oportunidade, e por
conseqüência, hábito de dialogar sobre esses assuntos num espaço que respeite e valorize suas
opiniões. Não tem oportunidade de participar ativamente da vida escolar, fazendo valer suas
opiniões, construindo consensos e, dessa forma, aprendendo o exercício da democracia.
A falta de experiências que se relacionassem com a vivência do diálogo fez com que a
maioria dos(as) jovens não se sentisse à vontade para expressar sua opinião, preferindo aceitar e,
de certa forma, delegar a palavra àqueles(as) poucos(as) jovens que manifestavam um domínio
maior da fala. Esses(as) últimos(as), por sua vez, mostraram ter tido suas experiências de
socialização em espaços onde predomina a prática da disputa sobre a prática do diálogo (para
retomar uns dos princípios fundamentais da metodologia utilizada na pesquisa).
De fato, parece que o lugar da escola como espaço de socialização está sendo ocupado
por outras instâncias, entre as quais destaca-se a igreja e, em particular, as igrejas não
pentecostais34. Os êxitos do crescimento da importância dessas vivências religiosas na vida
dos(as) jovens estão ainda para ser aprofundados, sobretudo no que diz respeito ao valor da
autoridade, que ocupa um lugar central nessas práticas, e à interiorização dos papéis impostos
pelo sistema dominante.
A escola está também longe de cumprir seu papel formador: as enormes dificuldades que
tiveram os(as) jovens participantes dos diálogos para ler e compreender os textos do Caderno,
mesmo sendo jovens que, na grande maioria (ou seja, 73% deles), estão cursando o segundo
grau ou a universidade, são a evidencia dessa falta.
No que diz respeito à questão da participação, duas considerações nos parecem centrais.
Primeiro, parece que o tema da participação não é um tema particularmente relevante para os(as)
jovens pesquisados(as). A maioria deles(as) não tinha uma opinião a respeito, e a oportunidade de
informação sobre o tema propiciada pelo Diálogo, os exemplos de práticas apresentados, os
argumentos a favor e contra cada Caminho Participativo não foram suficientes para a formulação
clara e consciente de uma opinião.

34. Na pesquisa quantitativa 22,5% dos(as) jovens da RMR declararam ser de religião evangélica/protestante, e 50,5%
declararam ser católicos.

46
Nesse sentido, nos parece importante recorrer às palavras de Pierre Bourdieu: “Um dos
efeitos mais perversos das pesquisas de opinião consiste em colocar as pessoas frentes à
necessidade de responder a perguntas que elas nunca se fizeram”35. Para a maioria dos(as)
jovens, era muito difícil expressar sua opinião a respeito de um tema sobre o qual, provavelmente,
nunca tinham parado para pensar. Ainda mais que a pergunta, da forma como era formulada,
implicava na necessidade de mobilizar recursos de ação (e não somente de opinião). “Como
vocês estão dispostos a participar” pressupõe a vontade de participar de alguma coisa e, ao
mesmo tempo, a capacidade de escolha. Essa pergunta, assim como foi formulada, pareceu não
fazer muito sentido para esses(as) jovens, que quase nunca tiveram a oportunidade de “participar”
de alguma coisa, que não tiveram vivências de participação democrática mais além da formalidade
do voto, nem tiveram muitas experiências de fazer escolhas em suas vidas. A própria palavra
“engajamento” claramente não faz parte do vocabulário da maioria dos(as) jovens da RMR.
Até onde vai nossa capacidade de indução, de problematização, no que diz respeito a um
tema sobre o qual os(as) jovens nunca tinham parado para pensar? Essa ficou uma pergunta
aberta, que colocou em xeque nossa capacidade de assumir o papel de “facilitador(a)” mais além
(mas ao mesmo tempo junto com) o papel de pesquisador.
A segunda consideração diz respeito aos argumentos utilizados pelos(as) jovens
participantes a respeito dos Caminhos Participativos. Nos chamaram a atenção as evidentes
incoerências dos discursos: uma posição reacionária (como, por exemplo, ser a favor do controle
de natalidade forçado) pode muito bem conviver com a defesa dos direitos dos cidadãos. Por um
lado, existe uma interiorização da situação de desigualdade social que se expressa, por exemplo,
na opinião “os(as) pobres não podem ter filhos(as)”; por outro lado, se faz apelo à solidariedade e
à união para reivindicar direitos. Caberia aprofundar mais a análise dos valores que orientam hoje
as tomadas de posição dos(as) jovens nos campos ético e político. 36
Uma outra questão diz respeito a um tema bastante recorrente entre pesquisadores(as) e
ativistas do universo juvenil: o tema da identidade juvenil. Muito raramente os(as) jovens se
referiam a eles(as) mesmos(as) como sujeitos jovens. No geral, pouco se referiram à categoria
juventude, suas observações diziam muito mais respeito ao comportamento, às necessidades da
população em geral. Quando falavam “dos(as) jovens”, o faziam sem se incluir em primeira pessoa
nessa categoria. De fato, acreditamos que a identidade juvenil enquanto identidade estruturadora
para a ação coletiva não está ainda claramente definida no universo juvenil.
Caberia aprofundar mais a discussão sobre a identidade juvenil. O sociólogo Pierre
Bourdieu defendeu, num conhecido texto de 1978, que “falar dos jovens como de uma unidade
social, de um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e de relacionar esses interesses a
uma idade definida biologicamente, constitui uma manipulação evidente.”37 Para ele, a definição

35. Pierre Bourdieu, “L’opinion publique n’existe pas”, in Questions de sociologie, Paris, Les editions de Minuit, 1980, p.
226.
36. Comentando os dados da ultima pesquisa IARD, uma pesquisa realizada periodicamente sobre os(as) jovens
italianos(as), Luca Ricolfi constrói mapas que dão conta do espaço ético e político dentro do qual se posicionam
os(as) jovens italianos(as) de hoje. (Cfr. “L’eclisse della politica”, in Buzzi, Cavalli, De Lillo, Giovani del nuovo
secolo : quinto rapporto IARD sulla condizione giovanile in Italia, Bologna, Il Mulino, 2002, p. 259-282.
37. Pierre Bourdieu, “La jeunesse’ n’est qu’un mot”, in Questions de sociologie, Paris, Ed. de minuit, 1980, p. 145.

47
de juventude é, em cada sociedade, uma definição que depende das forças em jogo, “un enjeu de
lutte”. Esta posição foi bastante questionada nos últimos anos por sociólogos(as) latino-
americanos(as) que defenderam a existência de traços característicos e comuns ao universo
juvenil. Miguel Abad38, por exemplo, defende que:

(...) se pode perceber uma mudança drástica na definição social da condição juvenil, que
em sua vertente de publicização, quer dizer, de visualização, reconhecimento e
legitimação na cena pública, demanda formas de participação ligadas ao exercício de uma
cidadania especificamente juvenil, na qual os jovens começam a se reconhecer e por sua
vez pressionam para ser reconhecidos pela sociedade, com direitos e interesses distintos
dos das crianças, dos adolescentes e dos adultos.

No documento de conclusão do Projeto Juventude39 podemos encontrar uma definição


bastante clara sobre a especificidade da condição juvenil:

A condição juvenil é dada pelo fato de os indivíduos estarem vivendo um período


especifico do ciclo de vida, num determinado momento histórico e cenário cultural. No
contexto atual, juventude é, idealmente, o tempo em que se completa a formação física,
intelectual, psíquica, social e cultural, processando-se a passagem da condição de
dependência para a de autonomia em relação à família de origem. (...) Portanto, trata-se
de uma fase marcada centralmente por processos de definição e de inserção social. (...) A
condição juvenil não pode mais ser compreendida como apenas uma fase de preparação
para a vida adulta, embora envolva processos fundamentais de formação. Ela
corresponde a uma etapa de profundas definições de identidade na esfera pessoal e
social, o que exige experimentação intensa em diferentes esferas da vida. (...) O
reconhecimento da especificidade da juventude tem que ser feito num duplo registro: o da
sua singularidade com relação a outros momentos da vida e da sua diversidade interna,
que faz com que a condição juvenil assuma diferentes contornos.

Como mencionado, na pesquisa constatamos que os(as) jovens não falam de si como de
uma categoria social da qual fazem parte: quando falam dos(as) jovens, o fazem como se os(as)
jovens fossem outros(as) e, muitas vezes, reproduzindo o discurso dominante sobre a juventude.
Ou seja, não expressam suas demandas a partir do reconhecimento de sua condição enquanto
sujeitos jovens. Houve, claro, algumas exceções, como o caso de um jovem que, num subgrupo
do D3, afirmou: “Os jovens não podem correr apenas atrás de causas políticas, mas dos interesse
deles também”.
Finalmente, ficou aberta uma pergunta: que discursos mobilizam as pessoas colocadas
em situação de diálogo? Muitas vezes, tanto com respeito aos temas do trabalho, da escola, da

38. Miguel Abad, op.cit., p. 13.


39. Instituto Cidadania, Documento de Conclusão do Projeto Juventude, São Paulo, 2004, p. 10.

48
cultura e lazer, como com respeito ao tema da participação, nos pareceu que nossos(as) jovens
faziam recurso, principalmente, a afirmações do sentido comum. Para Bourdieu40,

As estruturas cognitivas às quais os agentes sociais recorrem para conhecer praticamente


o mundo social são estruturas sociais interiorizadas. Os conhecimentos práticos do mundo
social que supõe a conduta ‘razoável’ nesse mundo abre mão de esquemas
classificatórios (...), esquemas históricos de percepção e de apreciação que são o produto
da divisão objetiva em classes (classes de idades, classes sexuais, classes sociais) e que
funcionam antes da consciência e do discurso. Sendo o produto da interiorização das
estruturas fundamentais de uma sociedade, esses princípios de divisão são comuns ao
conjunto dos agentes dessa sociedade e permitem a produção de um mundo comum e de
sentido, de um sentido comum.

Apesar disso, a presença, em todos os Grupos de Diálogos, de jovens (e particularmente


jovens mulheres, como já assinalamos acima) questionadores(as), críticos(as), instigadores(as) de
reflexões que iam mais além do sentido comum, dispostos(as) a questionar as falhas do sistema,
os papéis sociais, as imposições do discurso dominante, nos animou a ir mais além dos resultados
dessa pesquisa e aprofundar a indagação a respeito das vivências sociais e políticas futuras
desses(as) jovens. Seria interessante realizar um estudo longitudinal que desse conta de
responder às perguntas: que fazem esses(as) jovens ativos(as), críticos(as) e questionadores(as)
para enfrentar os desafios de sua condição juvenil e a entrada na vida adulta? De que forma
resistem à imposição do sistema, às dificuldades da vida, às necessidades da sobrevivência, às
tentativas de cooptação e “pacificação” realizadas pelos diferentes agentes sociais encarregados
de “manter a ordem” numa sociedade extremamente desigual e conservadora, como é a
sociedade nordestina?

40. Pierre Bourdieu, La distinction, Paris, Ed. de Minuit, 1979, p. 545-546.

49
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.6 Relatório regional


Rio de Janeiro
Entidades parceiras
Iser Assessoria
Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense/UFF

Equipe
Supervisão regional
Solange Rodrigues
Pesquisador(a)
Alexandre Aguiar
Marilena Cunha
Pesquisadoras bolsistas
Bianca Brandão
Clara Belato
Daniele Monteiro
Mariana Camacho
Priscila Bastos
Apoio administrativo
Aline Ferreira
Carla Brito
Mírian Epifânio
Gravação e projeção (Mix Mídia Produções Ltda.)
Paulo Augusto dos Santos
Rodrigo Leonardo
Transcrição de fitas
Greice Bougar
Alimentação
Oficina do Pão
J. Elias Barbosa Bar e Restaurante
Colaboração
Rozi Billo
"O BRASIL QUER SER UNGIDO"

Violência, eu tô cansado desse horror


Esse país tá precisando de um doutor
Gangorra da fome e do medo,
Carrossel de vergonha e desespero
É, neguinho, não é parque de diversão
É a miséria, demagogia, corrupção
Senhor, me mostre o caminho
Da ilha deserta, do paraíso
Que Deus abençoe a todos os fiéis
O Brasil quer ser ungido da cabeça aos pés
Precisa de atenção, precisa de melhoras
Não fique aí parado, estão passando as horas
O povo tá sofrendo, e o governo, enriquecendo
Tem muita gente matando e morrendo
Então preste atenção, não sou bandido, não
Eu sou trabalhador, me tira desse camburão
Eu não mostrei o Brasil que queremos
Mas mostrei como nele vivemos
Não precisei falar o que eu quero
Você já viu, então me tira desse inferno
Não tem mistério, é só fazer
Nosso dinheiro está com vocês
Chega de guerra, e de massacre
Já fiz a minha ação, agora faça sua parte.
Mente Sã

(Thiago de Araújo Candido – vulgo TG)


4º Grupo de Diálogo, 9 de abril de 2005

1
Sumário

1. Apresentação

2. Breve perfil dos(as) jovens da Região Metropolitana do Rio de Janeiro

3. A metodologia

3.1 A composição dos Grupos de Diálogo

3.2 O processo de convocação

3.3 Os(as) jovens participantes dos Diálogos no Rio de Janeiro

3.4 Local de realização dos Grupos, surpresas e casos interessantes

3.5 O Dia de Diálogo passo-a-passo

3.6 Análise sobre a organização da pesquisa em rede

4. O conteúdo das discussões

4.1 Comentários iniciais: o que preocupa os(as) jovens?

4.2 Educação, trabalho, cultura e lazer: o que precisa melhorar?

4.3 Caminhos participativos

4.4 Comentários finais

a) Recado aos(às) tomadores(as) de decisão

b) O que aconteceu de mais importante

4.5 As fichas pré e pós-Diálogo

5. Considerações finais

6. Bibliografia

7. Anexos

2
Apresentação

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas,


coordenada pelas organizações não-governamentais Ibase (Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas) e Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas
Sociais), investigou as formas, conteúdos e sentidos da participação dos(as) jovens entre 15 e
24 anos nas esferas públicas e políticas. O ponto de partida dessa investigação encontra-se na
idéia de que esses sujeitos e essa participação são estratégicos para a consolidação do
processo de democratização da sociedade brasileira1.
A coordenação geral da pesquisa esteve a cargo de Anna Luiza Salles Souto
(Pólis) e Itamar Silva (Ibase). Sebastião Soares assumiu a coordenação técnica. Os
pesquisadores Eliane Ribeiro Andrade, Patrícia Lânes e Paulo César Rodrigues Carrano
formaram a equipe técnica.
A pesquisa, em suas diferentes etapas, foi realizada em oito Regiões Metropolitanas
(RMs) do país: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e
São Paulo no período de agosto de 2004 a agosto de 2005. Em cada uma dessas Regiões foi
estabelecida uma parceria com outras instituições para o desenvolvimento do projeto. No Rio
de Janeiro, a organização não-governamental Iser/Assessoria e o Observatório Jovem da
Universidade Federal Fluminense foram responsáveis por sua realização, tendo o Iser
Assessoria assumido a coordenação executiva do projeto.
O projeto reuniu abordagens quantitativa e qualitativa. A primeira através de uma
pesquisa de opinião, com o objetivo de traçar o perfil dos(as) jovens das RMs, e de sua
participação social. O material foi coletado e sistematizado pelo Instituto Focus, entre outubro e
dezembro de 2004. A pesquisa foi realizada por amostragem probabilística, dando a cada
jovem das RMs igual probabilidade de ser entrevistado(a). No total, foram entrevistadas 8.000
pessoas, sendo que no Rio do Janeiro a amostra foi constituída por 1.400 jovens.
A parte qualitativa foi baseada na metodologia adotada e adaptada pelo Canadian
Policy Research Networks (CPRN), a ChoiceWork Dialogue Methodology. Seu fundamento
está na colocação dos(as) cidadãos(ãs) em diálogo, provocando reflexões pessoais e
coletivas acerca de determinadas questões, bem como sobre as decisões que devem ser
tomadas para que os consensos que emergiram do diálogo se concretizem. Trata-se de uma
metodologia que permite que as pessoas emitam suas opiniões, coloquem-nas em diálogo
com as opiniões dos(as) outros(as) e que estas sejam novamente remetidas a si e a seus
valores mais profundos. A abordagem investigativa – cujo princípio é o diálogo, e não a soma
das opiniões individuais – apresenta-se simultaneamente como método de investigação e
processo educativo ampliado2. Dois grandes desafios do projeto Juventude Brasileira e
Democracia foram adaptar esta proposta metodológica à realidade nacional e utilizá-la com

1. Cf. IBASE e PÓLIS, Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas.
Projeto de Pesquisa, maio de 2004.
2. Idem.

3
jovens. O projeto contou com o apoio financeiro do International Development Research Centre
(IDRC), organização canadense.
O elemento central dessa metodologia são os Grupos de Diálogo (GDs). Nesses
Grupos, os(as) jovens foram convidados(as) a dialogar em torno das seguintes questões: “Que
Brasil queremos? Como chegar lá?”. Buscava-se apreender que tipo de participação os(as)
jovens estavam dispostos(as) a ter para viabilizar suas escolhas para o país. A proposta
original era reunir cinco grupos com 40 jovens que participaram da pesquisa de opinião,
selecionados(as) aleatoriamente, em cada RM, atingindo um total de 1.600 jovens. No Rio de
Janeiro, os GDs foram realizados entre março e abril de 2005 e reuniram 103 jovens, numa
média de 21 jovens por GD.
A pesquisa foi realizada no contexto de um novo governo federal, empossado em
janeiro de 2003, que manifestou o propósito de ampliar os canais de participação entre o
Estado e a sociedade civil na definição, implementação e controle social público das políticas.
Desde o início, o governo procurou reunir elementos para propor uma política capaz de garantir
os direitos dos(as) jovens. A partir dessa iniciativa o Instituto da Cidadania promoveu, entre
2003 e 2004, uma ampla consulta pública (o Projeto Juventude), que encaminhou uma série de
sugestões ao governo federal, que criou, em fevereiro de 2005, a Secretaria Nacional de
Juventude, encarregada de articular a política nacional voltada para os(as) jovens. E em agosto
de 2005, foi instalado o Conselho Nacional de Juventude, formado por representantes da
sociedade civil e do governo, organismo consultivo na discussão das propostas
governamentais destinadas aos(às) jovens brasileiros(as). Pretende-se que as informações
reunidas através da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia possam contribuir nesse
esforço de formulação de políticas públicas destinadas ao universo juvenil, tendo como base a
consulta direta aos(às) próprios(as) jovens.
O presente relatório traz uma síntese da pesquisa realizada na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro (RMRJ) e tem como base o relatório final da pesquisa de opinião (maio de
2005) e o relatório preliminar da pesquisa qualitativa (julho de 2005). O texto está organizado
em quatro partes: apresentamos um breve perfil dos(as) jovens da RMRJ; algumas
informações metodológicas; as indicações sobre participação juvenil apreendidas através dos
Grupos de Diálogo; e uma série de anexos, em que estão organizados os depoimentos e os
consensos a que os(as) jovens chegaram em diferentes momentos do Dia de Diálogo.
Queremos agradecer a todas as pessoas que contribuíram para a realização deste
trabalho e, de maneira muito especial, aos(às) jovens que se dispuseram a dialogar entre si, e
conosco, acerca de suas experiências, anseios e preocupações. Esperamos ter apreendido
com fidelidade suas opiniões.

4
2 – Breve perfil dos(as) jovens
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 3

Em 2000, a população total dos 20 municípios que constituem a RMRJ era de 10.894.156
pessoas. Os(as) jovens entre 15 e 24 anos eram 1.965.059, o que equivale a,
aproximadamente, 18% da população total4. Na pesquisa de opinião, a amostra foi constituída
por 702 rapazes (50,1%) e 698 moças (49,9%).
Quanto à inserção dessa parcela da juventude na sociedade de classes, 25,4%
dos(as) jovens entrevistados(as) pertencem às classes A/B, 46,1% à classe C, e 21,5% às
classes D/E. Dentre os(as) 1.400 jovens entrevistados(as), 97(6,9%) não puderam ser
classificados(as)5.
No que diz respeito a cor/raça6, a maioria dos(as) entrevistados(as) se declarou
branca (38,1%), seguidos pelos(as) que se identificaram como pardos(as) (36,5%) e pretos(as)
(19,2%)7. Em proporção menor estão os(as) que optaram por se declarar amarelos(as) (4,3%) e
indígenas (1,9%).
O estado civil declarado pela maioria dos(as) jovens (87,2%) é o de solteiro(a),
enquanto que 12,1% estão entre os(as) casados(as) ou vivendo junto. São 21,6% os(as)
jovens que têm filhos(as). O que significa que, para um número significativo de jovens, a
maternidade ou a paternidade é vivida fora da relação conjugal.
Do ponto de vista da adesão religiosa, 41,2% dos(as) jovens da RMRJ declararam-se
católicos(as), 27,1% evangélicos(as)/protestantes, 3,7% espíritas, 0,6% pertencem às religiões
orientais, 0,6% às afro-brasileiras e 0,1% vinculados(as) à religião judaica. 2,6% afirmaram ter
uma “outra religião”, enquanto que 21,9% assinalaram a alternativa “acredita em Deus, mas
não tem religião”, e 1,6% declararam “não acredita em Deus/sem religião”. Comparando-se
com os dados obtidos no Censo de 2000 para o conjunto da população do estado do Rio de

3. Os dados aqui apresentados foram retirados de RODRIGUES e CUNHA (maio de 2005).


4. IBGE, Censo Demográfico. Os dados mais recentes referem-se à Pesquisa Nacional por Amostragem
de Domicílios (PNAD) de 2003, segundo a qual a população total do RMRJ era de 11.251.811 pessoas e
1.907.448 de jovens (15 a 24 anos), mostrando a diminuição do número de pessoas nesta faixa etária e do
peso relativo dos(as) jovens no conjunto da população (17,0%), no intervalo de três anos. É preciso
aguardar outras edições dessa pesquisa para verificar se haverá continuidade nesse processo demográfico.
5. Foi utilizado o Critério de Classificação Econômica Brasil, que estima o poder de compra das
pessoas e famílias urbanas, reunindo dados relativos à posse de bens duráveis, à escolaridade do(a) chefe
do domicílio e local de moradia (distrito censitário).
6. Seguiu-se aqui o padrão utilizado pelo IBGE: autoclassificação e escolha entre cinco alternativas –
branca, preta, parda, amarela e indígena, acrescentando a opção “Outra cor – qual?”.
7. Este percentual é bem maior do que o encontrado na PNAD de 2003 para o conjunto da população da
RMRJ (10,9%). Além disso, a soma de pardos(as) e pretos(as) na nossa amostra (55,7%) supera o
percentual de brancos(as), enquanto que nos resultados da PNAD essa soma é de 41,7%, e o total de
brancos(as) é 58,1%. Estariam os(as) jovens dessa região identificando-se mais como não-brancos(as) do
que o conjunto da população?

5
Janeiro, os(as) jovens da RMRJ se declararam menos católicos(as), mais evangélicos(as), e
mais sem-religião8.
Nesta amostra, 51,1% dos(as) jovens não estavam estudando e 48,9% continuavam
na escola. Entre os(as) estudantes há uma pequena predominância masculina (51,8%).
Quando consideramos cada faixa etária em particular, percebemos que 83% dos(as) jovens de
15 a 17 anos estavam estudando, mas esse percentual caía conforme aumentava a idade:
46,9% entre os(as) de 18 a 20 anos e apenas 24% entre os(as) jovens de 21 a 24 anos.
A maioria teve sua vida escolar concentrada na escola pública – 77,6%. Quanto ao
nível de instrução ou nível de escolaridade, entre os(as) 1.400 jovens entrevistados(as), 30,5%
não chegaram a completar o Ensino Fundamental [e, destes(as), 57 jovens estudaram até a 4ª
série]. Outros 40% terminaram este ciclo escolar (de 1ª a 8ª série), porém não terminaram o
Ensino Médio. Por fim, 29,5% têm o Ensino Médio completo ou mais.
Quanto à inserção dos(as) jovens no mercado de trabalho, à época da pesquisa a
maioria (57,4%) não estava exercendo qualquer atividade pela qual recebesse remuneração.
Quando considerados em separado, percebemos que é maior a taxa de moças (65,2% das
entrevistadas) que não estava no mercado de trabalho, nem formal, nem informal. Observando
as diferentes faixas etárias, um quarto dos(as) jovens (24,9%) de 15 a 17 anos estava inserido
no mercado de trabalho. Na faixa entre 18 e 20 anos, 41,5% dos(as) jovens estavam obtendo
algum rendimento; e, por fim, entre os(as) jovens entre 21 e 24 anos, a maioria (57,2%) está
sendo remunerada. O ingresso no mercado de trabalho também é determinado pela situação
social dos(as) jovens: nas classes A/B não estavam trabalhando 62,1% dos(as) jovens; na
classe C, 54%, e nas classes D/E, 56,1%.
No que diz respeito ao acesso aos bens culturais, ao lazer e à informação, três
quartos dos(as) jovens da RMRJ freqüentam shopping centers (74,9%) em seu tempo livre,
e pouco mais da metade (55,0%) costuma ir ao cinema. As praças e parques vêm em
terceiro lugar como espaços de sociabilidade e lazer, freqüentadas por 48,1% dos(as)
jovens. Bem abaixo vêm espaços onde os(as) jovens podem ter acesso a outros tipos de
bens culturais: 14,3% vão a teatros, 13,3% a museus e 13,1% a centros culturais, e isso
numa Região Metropolitana que dispõe de um grande número desses equipamentos, se
bem que eles estejam concentrados nas áreas nobres da metrópole. Chama a atenção o
fato de que 9,5% dos(as) jovens entrevistados(as) não freqüentavam nenhum desses
espaços. Todos esses espaços culturais são mais freqüentados pelos(as) jovens que ainda
se encontram na escola. O grau de escolaridade é outro fator determinante na fruição
desses bens culturais: quanto mais escolarizados(as), mais os(as) jovens os freqüentam.
Os únicos espaços em que não há esta relação direta são as praças e parques. A maioria

8. Segundo o Censo 2000, a população do RJ era constituída por 56,9% de católicos(as), 21,0%
evangélicos(as)/protestantes, 2,8% espíritas, 0,3% pertencente às religiões orientais, 1,3% às afro-
brasileiras e 0,3% vinculados(as) à religião judaica. 1,1% afirmou ter uma “outra religião”. Os(as) que
disseram não ter religião foram 15,5%, mas entre esses(as) não é possível distinguir os que são
ateus(atéias)/agnósticos(as) daqueles(as) que acreditam em Deus, mas não professam nenhum credo
religioso.

6
significativa declarou que costuma se informar (86,4%) e para isso usam como fonte
principal a televisão [81,7% dos(as) que buscam informação].
Esse breve perfil poderá ajudar a compreender alguns elementos dos itens que se
seguem: as condições em que essa metodologia foi aplicada e adaptada à situação dos(as)
jovens da RMRJ e os resultados dos seus diálogos sobre a participação juvenil e seu impacto
no aprofundamento da democracia em nosso país.

7
3 – A metodologia

3.1 – A composição dos Grupos de Diálogo

A convocação dos(as) jovens para os GDs foi feita a partir de uma listagem organizada pelo
Instituto Focus, responsável pela Pesquisa de Opinião. A organização desta listagem teve
como referência a resposta dos(as) jovens entrevistados(as) à pergunta “Você tem interesse e
poderia participar de um encontro de jovens para discutir alguns temas relativos aos(às) jovens
brasileiros(as)?”, na primeira fase da pesquisa. Aqueles(as) que deram resposta afirmativa
tiveram endereço e telefone anotados para contato posterior. Na RMRJ, 697 jovens (49,8%) se
dispuseram a participar. A preparação da listagem utilizou como filtros as variáveis: sexo, faixa
etária e classe social. Desse modo, para a convocação dos GDs na RMRJ partimos de um
universo de 659 jovens9, sendo 355 moças (53,9%) e 304 rapazes (46,1%).
A distribuição desses(as) jovens por classe social resultou na seguinte configuração:
171 (26,0%) na classe A/B; 329 na classe C (49,9%) e 159 na classe D/E (24,1%). Esses
resultados são bastante aproximados aos da pesquisa de opinião10. Porém, chama atenção se
relacionamos sexo com classe social, pois são mais moças na classe D/E do que rapazes: 103
moças e 46 rapazes. E, ao contrário, são mais rapazes na classe A/B do que moças (96
rapazes e 75 moças). A pobreza, além de cor/raça, teria também sexo?
Outro filtro utilizado nessa listagem que foi considerado para organização de um dos
GDs, era o da “experiência prévia de participação” dos(as) jovens. Na pesquisa de opinião,
29,5% informaram que participavam de algum tipo de grupo, como os de atividades esportivas,
grupos religiosos, culturais, políticos etc. Se por um lado, como visto acima, foram as moças
que se mostraram mais dispostas a participar dessa segunda etapa da pesquisa, por outro,
foram os rapazes que figuraram como maioria entre os(as) jovens com “experiência prévia de
participação”: 102 moças e 115 rapazes. Essa predominância masculina provavelmente se
deve à participação em grupos que desenvolvem atividades esportivas11.

9. Este número menor que o total de jovens que se propuseram a participar dos GDs possivelmente se
deve ao fato de uma parte deles(as) (6,9% da amostra) não pode ser identificada no que diz respeito à
classe social.
10. Quando se excluem da amostra os(as) que não tiveram seu pertencimento de classe identificado:
classe A/B = 27,3%; classe C = 49,6%; classe D/E = 23,1%.
11. Esses grupos tinham o mais alto índice de participação juvenil [dos(as) 413 jovens participantes de
grupos, 37,5% declararam que seu grupo realizava atividades esportivas]. Mas entre os rapazes
participantes de grupos, 53,0% afirmaram que seus grupos realizam esse tipo de atividade, e entre as
moças, apenas 20,4% fazem parte de grupos com essa característica.

8
Na RMRJ, os GDs foram realizados segundo o cronograma abaixo:

Tabela 1 – Cronograma dos GDs da RMRJ

GD DATA PARTICIPANTES

GD1 12/03/2005 Jovens com experiência prévia de participação


GD2 19/03/2005 Jovens de 15 a 17 anos
GD3 02/04/2005 Jovens de 18 a 24 anos
GD4 09/04/2005 Jovens de 15 a 24 anos
GD5 30/04/2005 Jovens de 15 a 24 anos

3.2 – O processo de convocação

A convocação dos(as) jovens se deu a partir do envio de uma carta-padrão


disponibilizada pela coordenação nacional a todas equipes regionais, seguindo a
indicação das Tabelas de Distribuição por Sexo e Classe para cada GD 12 e a
recomendação de convidar 10% a mais de jovens além dos(as) 40 que deveriam
compor cada GD, conforme previa a metodologia. No momento da convocação, foram
constatados diversos problemas referentes aos dados de endereçamento, o que exigiu,
na maioria dos casos, um contato telefônico antes do envio da carta.
Nesse primeiro contato dos(as) pesquisadores(as) com os(as) jovens, foi possível
perceber duas coisas. A primeira é que para os(as) que já haviam recebido a carta, somente a
sua leitura não se mostrava suficiente para motivar o(a) jovem a participar do encontro. Afinal,
para qualquer pessoa é surpreendente e, de certa forma, inédito, o recebimento de uma
correspondência dessa natureza. E, para aqueles(as) que não haviam recebido a carta, essa
conversa-convite inicial pareceu despertar mais curiosidade e interesse do(a) jovem.
Muitas vezes, não foi possível falar com os(as) jovens, porque estavam na escola,
trabalhando ou dormindo, obrigando, assim, uma nova ligação, às vezes, tarde da noite ou nos
finais de semana. Nesses casos, o contato se dava com alguns(mas) familiares, que antes de
ouvirem todas as explicações, perguntavam se era algum emprego, e já comentavam sobre a
necessidade do(a) jovem trabalhar. De um modo geral, o clima das conversas foi agradável,
tanto com familiares como com os(as) jovens.
Uma vez enviada a carta, a equipe aguardava cerca de cinco dias (nem sempre
suficientes para o recebimento da carta) para, então, telefonar e confirmar a participação
dos(as) jovens. E, nesse segundo contato, quando foi possível falar diretamente com o(a)
convidado(a), alguns(mas) jovens, de imediato, agradeciam o convite, mas declinavam
alegando que estudavam ou trabalhavam aos sábados ou que já tinham compromisso;
outros(as), porque não tinham dinheiro para se deslocarem; outros ainda, porque não tinham

12. Essas tabelas precediam a listagem com os nomes e endereços dos(as) jovens, preparada pelo
Instituto Focus.

9
quem os levassem; uma jovem disse que não tinha com quem deixar o filho, e alguns rapazes
porque estavam servindo o Exército. Apenas uma jovem disse que não tinha interesse em
participar. Essas podem ser explicações para o não comparecimento de 40 jovens em nenhum
dos GDs da RMRJ. Com o reduzido comparecimento no “GD piloto” (organizado pela equipe
técnica no Rio de Janeiro) e nos primeiros GDs realizados nas RMs de Recife e do Rio de
Janeiro em 12 de março, a equipe técnica definiu que os convites deveriam ser enviados a um
número maior de jovens [40% a mais que os(as) 40 esperados para cada GD].
Segue a tabela que mostra o número de convites enviados por carta e demais
indicadores para realização dos GDs, na qual se pode verificar que das 151 pessoas
confirmadas, compareceram 103. E se ainda somarmos aos(às) confirmados(as) os que
disseram que “talvez” viriam, menos de 50% dos(as) convidados(as) compareceu.

Tabela 2 – Convocação para os GDs da RMRJ

GD Convidados(as) Confirmados(as) Talvez Comparecimento13 TOTAL


14
1 44 18 07 13 14
2 58 31 12 (19) + (1) 20
3 57 38 08 (19) + (3) 22
4 63 36 17 (26) + (3) 29
5 58 28 17 (18) 18

TOTAL 280 151 61 103

3.3 – Os(as) jovens participantes dos Diálogos no Rio de Janeiro

Quem são os(as) 103 jovens que participaram desses GDs? A seguir apresentamos uma breve
caracterização deles(as), considerando sexo, faixa etária, classe social, local de moradia,
escolaridade e inserção no mercado de trabalho.

a) Sexo
Se os resultados da pesquisa de opinião em relação ao sexo dos(as) respondentes apontaram
para uma pequeníssima maioria de rapazes (apenas quatro a mais), nos GDs, essa tendência
aumenta significativamente: foram 59 rapazes e 44 moças, o que representa mais de 15% de
rapazes presentes. Eles foram maioria em todos os GDs, exceto no grupo de “participação
prévia”, em que o número de moças e rapazes coincidiu.

Tabela 3 – Jovens participantes dos GDs da RMRJ, segundo o sexo

13. O primeiro número entre parênteses indica os(as) jovens que confirmaram e compareceram; e o
segundo, os(as) que disseram que “talvez” viessem e compareceram.
14. O(a) 14o(a) jovem não havia sequer sido contatado(a) por telefone.

10
GD Feminino Masculino Total por grupo
1° (participação prévia) 07 07 14
2° (15 a 17 anos) 09 11 20
3° (18 a 24 anos) 10 12 22
4° (15 a 24 anos) 10 19 29
5° (15 a 24 anos) 08 10 18
TOTAL 44 59 103

E isso foi surpreendente, na medida em que as moças estavam em maior proporção (53,9%)
entre os(as) jovens dispostos(as) a participar dos GDs. Poder-se-ia pensar em maior cuidado, o
que implicaria, menos liberdade para as moças? Parece que sim, porque foram,
principalmente, as moças que levaram acompanhantes e, algumas vezes, foram elas que, ao
declinarem do convite, alegaram que não tinham com quem deixar o(a) filho(a), ou que
estavam grávidas, uma delas em adiantado estado de gestação. Também se pode imaginar
que a obrigação de cumprir tarefas domésticas, geralmente colocadas sob a responsabilidade
feminina, restringiu a sua participação, especialmente das estudantes e trabalhadoras que,
quando têm folga aos sábados, dia em que foram realizados os GDs, aproveitam o dia para
intensificar os afazeres domésticos.

b) Faixa etária
A maioria dos(as) jovens presentes, cerca de 60%, se encontrava na faixa etária de 18 a 24
anos. Como esse intervalo reúne jovens com sete idades diferentes, e a outra faixa (15 a 17
anos) refere-se a jovens com três idades, se tivesse sido mantida a proporcionalidade da
amostra da pesquisa de opinião, esperaríamos ter nos GDs 70% de jovens entre 18 e 24 anos.

Tabela 4 – Jovens participantes dos GDs da RMRJ, segundo sexo e faixas etárias

GD 15 a 17 anos 18 a 24 Total
Fem. Masc. Fem. masc. Fem. masc.
1° (participação prévia) 03 04 04 03 07 07
2° (15 a 17 anos) 09 11 - - 09 11
3° (18 a 24 anos) - - 10 12 10 12
4° (15 a 24 anos) 05 05 05 14 10 19
5° (15 a 24 anos) 02 02 06 08 08 10
Total por faixa etária/sexo 19 22 25 37 44 59
Total por faixa etária 41 62 103
% 39,8% 60,2% 100%

11
Mesmo considerando que os(as) mais velhos possam ter maior autonomia para
circular pela cidade, esse número indica que os(as) mais novos(as) estiveram mais presentes.
Talvez porque mais liberados(as) de atividades de trabalho remunerado e/ou domésticas e
também porque alguns(mas) tiveram acompanhantes.

c) Classe social
Em relação à classe social dos(as) jovens presentes nos encontros, da mesma forma que na
pesquisa de opinião, a maioria está localizada na classe C (54,4%).

Tabela 5 – Jovens participantes dos GDs da RMRJ, segundo classe social

A/B C D/E
Número % número % número %
1° (partic. prévia) 07 50% 07 50% - -
2° (15 a 17 anos) 07 35% 09 45% 04 20%
3° (18 a 24 anos) 05 22,7% 14 63,7% 03 13,6%
4° (15 a 24 anos) 08 27,6% 17 58,6% 04 13,8%
5° (15 a 24 anos) 04 22,2% 09 50% 05 27,8%
TOTAL 31 30,1% 56 54,4% 16 15,5%

Entretanto, tivemos uma presença mais significativa de jovens das classes A/B em
relação aos(às) das classes D/E. Na pesquisa de opinião, após o ajuste descontando os(as)
jovens que não tiveram sua classe social identificada, a diferença era de 4,2%, e nos GDs ela
foi de quase o dobro.
Quando se relaciona sexo e classe social, são os rapazes que estão mais
representados entre os(as) jovens das classes A/B. As moças, ao contrário, estão mais
presentes entre os(as) jovens mais pobres, ou seja, nas classes D/E.

Tabela 6 – Jovens participantes dos GDs da RMRJ, segundo classe social e sexo

Classe Feminino % Masculino % TOTAL %


A/B 08 25,8 23 74,2 31 100%
C 23 41,1 33 58,9 56 100%
D/E 13 81,2% 03 18,8 16 100%

d) Local de moradia
Ao definir o perfil dos(as) jovens participantes dos GDs com relação ao local de moradia,
assinalamos que, diferentemente de outras Regiões Metropolitanas, em que a pobreza é mais
nitidamente territorializada, na RMRJ, há uma estreita proximidade geográfica entre as
diferentes classes sociais. No entanto, isso não quer dizer que a matriz “cidade partida”, que se
estende por toda a RMRJ, não esteja presente nas relações que marcam o convívio entre as
classes. Moradores(as) de regiões tidas como pobres podem pertencer às classes média ou

12
alta, do mesmo modo como em bairros ditos nobres existem representantes das classes mais
empobrecidas. Um jovem que participou dos GDs vive no Morro do Vidigal, por exemplo, e
pertence às classes A/B, enquanto, outros(as) que moram no “asfalto”, são das classes D/E.
Na Baixada Fluminense, região considerada periférica em relação à cidade do Rio, também há
jovens das classes A/B.
Dos 20 municípios que compõem a RMRJ, 12 foram representados pelos(as) jovens
que vieram de cada um deles:

Tabela 7 – Local de moradia dos(as) jovens participantes dos GDs da RMRJ

Local de Moradia Total %


Municípios da Baixada Fluminense 37 35,9%
Belford Roxo 7
Duque de Caxias 6
Itaguaí 1
Magé 4
Nova Iguaçu 6
Nilópolis 4
Queimados 1
São João de Meriti 8
Demais municípios 10 9,7%
Niterói 3
São Gonçalo 5
Itaboraí 2
Município do Rio de Janeiro 56 54,4%
Zonas Norte e Sul 9
Bairros periféricos 12
Subúrbios 29
Áreas centrais e adjacências 06
Total de jovens 103 100%

Vê-se, então, que mais da metade dos(as) jovens vieram do município do Rio de
Janeiro, totalizando 54,4%; dos municípios da Baixada Fluminense vieram 38 jovens,
somando, 35,9%; do conjunto “demais municípios” – Niterói, São Gonçalo e Itaboraí – vieram
cerca de 9%.
As categorias utilizadas na tabela acima para o município do Rio de Janeiro
demonstram a variedade de situações sociogeográficas existente na cidade.
• Zona Norte – Maracanã, Tijuca, Vila Isabel;
• Zona Sul – Barra da Tijuca, Copacabana, Vidigal;
• Bairros periféricos – Bangu, Campo Grande, Paciência, Santa Cruz. Santíssimo e
Senador Camará;

13
• Subúrbios – Brás de Pina, Cachambi. Colégio, Cordovil, Engenho Novo, Galeão,
Irajá, Jacarepaguá, Lins de Vasconcelos, Madureira, Maré, Olaria, Penha, Rocha, Vigário
Geral e Vila Valqueire;
• Áreas centrais e adjacências – Caju, Manguinhos e Rio Comprido.

Se considerarmos a distância de mais de 30 quilômetros do centro da cidade do Rio


como parâmetro para definir periferia, é possível somar os 38 jovens da Baixada, os(as) 12
jovens que vieram de bairros mais distantes que Bangu e os(as) sete que vieram de São
Gonçalo e Itaboraí, totalizando 57 pessoas. Se o número total de jovens é de 103, pode-se
dizer que a maioria dos(as) jovens participantes dos GDs vieram das áreas periféricas e nem
por isso fazem parte das classes menos favorecidas. Mas a distância se constituiu em um
desafio adicional para a realização dos GDs, porque muitos(as) desses(as) jovens não
conheciam bem o centro da cidade, ou não tinham o hábito de transitar por essa região, onde
os encontros foram realizados.

e) Escolaridade
O nível de escolaridade dos(as) jovens participantes dos GDs foi verificado através do
instrumento de pesquisa “ficha Pós-Diálogo”. Sua apuração resultou em:

Tabela 8 – Escolaridade dos(as) jovens participantes dos GDs na RMRJ

Não Completou a Completou a Está cursando


Completou
freqüentou 4a série do Ensino 8a série do Ensino ou completou o
o Ensino Médio
escola Fundamental Fundamental Ensino Superior

02 02 47 39 13
1,9% 1,9% 45,7% 37,9% 12,6%

Comparando esses dados com os obtidos na pesquisa de opinião, percebemos que


o percentual de jovens que concluíram o Ensino Fundamental é semelhante entre os(as)
participantes dos GDs (45,7%) e na amostra representativa dos(as) jovens da RMRJ
(40,0%). No entanto, há diferenças significativas nos demais níveis de escolaridade.
Segundo os dados da pesquisa de opinião, 30,5% dos(as) jovens não chegaram a completar
o Ensino Fundamental, mas entre os(as) jovens participantes dos Diálogos esse percentual
não chegou a 4%. E, no outro extremo, na RMRJ, 29,5% dos(as) jovens declararam ter
concluído ao menos o Ensino Médio, enquanto que metade (50,5%) dos(as) jovens que
participaram dos GDs tinham esse grau de escolaridade. A hipótese que levantamos é que
os(as) jovens mais escolarizados(as) tiveram maior interesse e/ou disponibilidade para
aceitar o convite para os Diálogos15.

15. De fato, alguns(mas) jovens, ao serem convidados(as), disseram que participar da pesquisa poderia
lhes ajudar na preparação para os exames do vestibular. Por outro lado, assinalamos que a pergunta foi
formulada de modo diferente no questionário aplicado aos 1400 jovens e na ficha Pós-Diálogo, o que
dificulta a comparação entre os resultados.

14
Duas outras questões merecem destaque: uma diz respeito ao resultado da primeira
coluna da tabela anterior, que não corresponde à realidade. É provável que os(as) dois(duas)
jovens que marcaram essa opção entenderam a formulação da pergunta no tempo presente, e
não no tempo pretérito, conforme formulado na ficha. Observamos que todos os(as) jovens
puderam utilizar a leitura e a escrita, mesmo que em graus muito diferenciados de fluência. A
outra se relaciona ao fato de que, para eles(as), ter ingressado no Ensino Médio representa
muito mais do que simplesmente ter completado o Ensino Fundamental. Tanto é que, parte
daqueles(as) que cursava o Ensino Médio, e, como uma espécie de protesto, marcou a opção
“até o Ensino Médio”, completando ao lado com a série que estava cursando. Para que o
resultado da apuração fosse compatível com a formulação da questão, assinalamos, nesses
casos, “Ensino Fundamental”, ou seja, o último nível concluído pelos(as) jovens.
Dada a ausência de uma questão relativa à permanência do(a) jovem participante dos
GDs na escola, é provável que uma parte dos(as) jovens que completaram o Ensino
Fundamental estivesse cursando o Ensino Médio, mas não foi possível estabelecer uma
comparação com os resultados da pesquisa de opinião.

f) Situação no mercado de trabalho


A maioria dos(as) jovens participantes dos GDs (61%) não estava trabalhando à época em que os
encontros foram realizados. Trata-se de um percentual semelhante ao encontrado na pesquisa de
opinião: 57,4% dos(as) jovens da RMRJ não exerciam qualquer atividade remunerada.

Tabela 9 – Situação frente ao mercado de trabalho dos(as) jovens participantes dos GDs na RMRJ

GD Trabalham Não trabalham Total por grupo %


o o
N. % N. % No %
1° (participação prévia) 7 50% 7 50% 14 100%
2° (15 a 17 anos) 3 15% 17 85% 20 100%
3° (18 a 24 anos) 13 59% 9 41% 22 100%
4° (15 a 24 anos) 9 31% 20 69% 29 100%
5° (15 a 24 anos) 8 44% 10 56% 18 100%
TOTAL 40 39% 63 61% 103 100%

Quando consideramos em separado, percebemos que 31,8% das moças estavam


trabalhando, enquanto que entre os rapazes o índice de ocupação era de 44,0%. Isso reproduz
a tendência observada na pesquisa de opinião: apenas 34,8% das moças da RMRJ tinham
alguma atividade remunerada, ao passo que 49,6% dos rapazes estavam trabalhando.
Cerca da quinta parte dos(as) jovens de 15 a 17 anos que participaram dos GDs
estava trabalhando (21,1%). Na faixa de 18 a 24 anos, este índice se eleva a 49,2%, níveis
semelhantes aos encontrados na pesquisa de opinião, segundo a qual 24,9% dos(as)
jovens de 15 a 17 anos e 50,4% dos(as) jovens de 18 e 24 anos estavam inseridos no
mercado de trabalho.

15
3.4 – Local de realização dos Grupos, surpresas e casos interessantes

Os GDs da RMRJ se realizaram no prédio do Clube de Engenharia, localizado à Avenida Rio


Branco, 124/24º andar, no centro da cidade. O local, de fácil acesso, foi pensado devido a
grande quantidade de meios de transporte disponíveis (ônibus, trem, metrô, barcas) para todas
as áreas do Rio de Janeiro.
O local era composto por duas amplas salas, onde eram realizadas as diferentes
atividades, tais como, plenárias, subgrupos de trabalho, almoço e lanches.
Para os(as) acompanhantes dos(as) jovens, foi reservada a área do hall de entrada,
onde havia revistas e jornais. A presença desses(as) acompanhantes se deu, principalmente,
no GD2 formado por jovens da faixa etária de 15 a 17 anos.
Nos momentos de intervalos, a música se mostrou um excelente instrumento de
descontração, animação e integração.
Quanto às surpresas e casos interessantes que marcaram os GDs, chama atenção o
fato de a grande maioria dos(as) jovens ter chegado ao local de trabalho com mais de uma
hora de antecedência do horário marcado. Apenas um jovem chegou com o trabalho já
iniciado. As justificativas dadas eram ou por morarem em locais distantes ou por receio de não
encontrarem o local a tempo. Um dos rapazes, morador de Queimados, chegou às seis horas
da manhã, encontrando o prédio ainda fechado.
No último GD, um dos(as) jovens contou que havia saído do trabalho noturno (era
metalúrgico) vindo direto para o encontro por acreditar na importância deste para sua formação.

3.5 – O Dia de Diálogo passo a passo

a) O Guia do(a) Facilitador(a)


A equipe técnica preparou um Guia do(a) Facilitador(a) com o objetivo de fornecer uma
orientação unificada para os(as) pesquisadores que seriam responsáveis pela realização dos
Diálogos nas diferentes RMs. No Rio de Janeiro, o Guia foi seguido com fidelidade no que se
refere ao acompanhamento da seqüência das diferentes etapas do Dia de Diálogo. No entanto,
sofreu algumas modificações no que tange, principalmente, à distribuição do tempo destinado a
cada uma das atividades. Por exemplo, o número menor de jovens por GD possibilitou um
maior tempo dedicado a determinadas partes do Dia, como a apresentação dos relatos dos
subgrupos, ou a atividades mais complexas, como a produção de consensos em plenária.
Cabe ressaltar que os primeiros GDs, realizados no Rio de Janeiro e em Recife, funcionaram
de fato como “grupos-piloto” para as demais RMs, sugerindo adaptações na metodologia
seguidas posteriormente por todas as equipes. Isso aconteceu também na forma de utilização
de alguns dos instrumentos de pesquisa, como veremos mais adiante.
Na RMRJ, os(as) próprios(as) jovens criaram também um tipo de adaptação à
proposta metodológica, na medida em que todos os subgrupos fizeram a opção por realizar
uma apresentação coletiva, em plenária, ao contrário da orientação de escolher apenas um(a)
relator(a) por subgrupo.

16
O Guia do(a) Facilitador(a) permitiu também à equipe manter-se fiel aos princípios da
metodologia e aos propósitos da pesquisa já que, a todo momento, os(as) jovens traziam
inúmeras questões e demandas que fugiam do foco das questões a serem investigadas.

b) Equipe de trabalho
A equipe de pesquisadores(as) composta por três pessoas se revesava no papel de
facilitador(a) ao longo do Dia. A realização de dinâmicas, a explicação de conteúdos, as
respostas aos questionamentos acerca desses mesmos conteúdos, o estímulo à reflexão e a
fala dos(as) jovens, a preocupação pela compreensão exata sobre o que o(a) jovem estava
falando, entre outras atividades, foram algumas das responsabilidades da equipe. Além
disso, a equipe também foi responsável por toda a pré-produção, desde telefonemas, envio
de convite, organização do espaço, até detalhes relativos à alimentação, sonorização, e
coordenação das atividades da secretaria.
Além disso, cinco pesquisadoras bolsistas acompanhavam os trabalhos nos
subgrupos. Podemos dizer que o papel dessas profissionais foi crescendo ao longo da
realização dos GDs. Elas deixaram de exercer somente a função de observação e anotação
das dinâmicas nos subgrupos e passaram a ler o Roteiro para o Diálogo e a desempenhar o
papel de mediação, esclarecendo possíveis dúvidas sobre o significado de palavras e
expressões, e interferindo em ocasiões de monopólio da fala e/ou discussões mais
acentuadas. O fato das pesquisadoras bolsistas serem jovens e, em sua maioria, estudantes,
provocou um efeito de identificação entre elas e os(as) jovens participantes do Diálogo, que
aceitaram bem sua presença e mediação nos subgrupos.
Vale lembrar que, para elas, esse foi o maior desafio e, ao mesmo tempo, um grande
aprendizado. Qual o momento necessário para intervir? Quais os limites? Como se colocar sem
influenciar ou induzir a opinião do Grupo? Eram algumas das questões discutidas por toda a
equipe após a realização de cada GD.
Esse coletivo de pesquisadores(as) e bolsistas contou ainda com o trabalho de outros(as)
profissionais, responsáveis pelo apoio logístico e secretaria, sonorização e alimentação.

c) Instrumentos do Diálogo
Para a realização dos GDs foram preparados diversos instrumentos:
• Roteiro para o Diálogo
• Estandartes (banners)
• CD-ROM
• Fichas Pré e Pós-Diálogo

Uma das premissas dessa metodologia é que a informação qualificada deve subsidiar
o diálogo entre as pessoas e a tomada de decisões políticas. Os três primeiros instrumentos
visavam fornecer essas informações aos(às) jovens.

17
Cadernos (Roteiros para o Diálogo):
A elaboração desse instrumento de trabalho foi assumida pela equipe técnica, que contou com
a colaboração, os comentários e sugestões das equipes regionais de pesquisadores(as). O
resultado final foi um caderno caracterizado por um esmero na apresentação gráfica. O
cronograma apertado da pesquisa não possibilitou que uma primeira versão desse instrumento
fosse testada com jovens de diferentes classes sociais e níveis de escolaridade. Mesmo tendo
passado por uma revisão feita por profissionais da área de comunicação, a linguagem foi
considerada extremamente sofisticada, o que pode ter contribuído para dificultar o pleno
entendimento de seu conteúdo pelos(as) jovens. Por outro lado, os(as) jovens apreciaram
saber que o Caderno lhes pertencia e alguns(mas) disseram que queriam mostrá-lo a outras
pessoas de suas relações.

Estandartes:
Tiveram mais a função de criar uma ambientação, se apresentando ainda como recurso de
identificação visual para aproximar os(as) jovens dos personagens que os(as) acompanhariam
ao longo do Dia.

CD ROM:
Foi, sem dúvida, sua exibição que mais despertou a atenção dos(as) jovens, o que reforça uma
das marcas geracionais da juventude atual, qual seja, a predominância da linguagem
audiovisual. A utilização desta linguagem contribuiu para o envolvimento dos(as) jovens com o
conteúdo ali apresentado. Tanto é que, ao destacarem na rodada em plenária o que mais
chamou atenção na exibição do CD, os(as) jovens faziam referência a diferentes informações e
dados: os altos índices de morte entre jovens negros(as), o maior acesso a computadores por
jovens das classes A/B, pessoas vivendo com apenas R$ 2,00 por dia. E, por outro lado, quase
não foram comentadas informações sobre os Caminhos Participativos, o que pode indicar
pouca familiaridade dos(as) jovens com o que ali estava sendo proposto.
Uma das adaptações metodológicas introduzidas foi a reapresentação de uma parte
do CD no início das atividades da tarde, para melhor fixação do conteúdo relativo aos
Caminhos Participativos propostos pela pesquisa.

Fichas pré e pós-Diálogo:


Esses instrumentos, cujo objetivo era medir o nível de adesão aos Caminhos Participativos, ao
serem apresentados na forma de uma régua de gradação extensa (de 1 a 7) causaram uma
certa dificuldade no seu preenchimento. No caso da ficha Pré-Diálogo, essa dificuldade foi
ainda maior pela pouca proximidade, no início do Dia, com o conteúdo dos Caminhos
Participativos, que acabara de ser apresentado através do CD ROM e era o tema de um dos
estandartes expostos. E, na ficha Pós–Diálogo, o que dificultou foi a indicação para que os(as)
jovens determinassem seu nível de adesão a partir do comando “sob a condição de”, que se
mostrou ininteligível para uma boa parte dos(as) jovens.

18
Ainda na ficha Pós-Diálogo, que também reunia questões com o propósito de traçar o
perfil do(a) participante quanto à escolaridade e trabalho, uma relevante questão a ser
considerada pelas políticas públicas não foi incorporada, que é a de revelar se o(a) jovem
estava ou não freqüentando a escola, já que, segundo a pesquisa de opinião, menos da
metade dos(as) jovens estava estudando. A preocupação com que os(as) jovens não
gastassem muito tempo no preenchimento dessa ficha fez com que não tivéssemos acesso a
outras informações importantes sobre o perfil dos(as) jovens participantes dos Diálogos, como
a situação de conjugalidade ou a posse de filhos(as).
No momento do preenchimento das fichas, os(as) jovens revelaram um forte traço
que marca as tarefas escolares, que é o de buscar a “reposta certa” ou a confirmação de sua
resposta junto ao(à) colega ao lado.
A quantidade de informações contidas nestes instrumentos, aliada à já referida
sofisticação da linguagem utilizada, exigiu da equipe de pesquisadores(as) constantes
intervenções, na tentativa de contribuir para uma melhor compreensão dos conteúdos por parte
dos(as) jovens. Por outro lado, algumas informações aparecem repetidas em diferentes
instrumentos, o que, sem dúvida, facilitou sua assimilação. Entretanto, os(as) facilitadores(as)
ficaram com a sensação de que essas intervenções reduziram o tempo dos(as) jovens
expressarem suas opiniões e colocá-las em diálogo com as de outros(as).

3.6. Análise sobre a organização da pesquisa em rede

A organização da pesquisa, através da implantação de uma rede de parceiros localizados


nas oito Regiões Metropolitanas investigadas, proporcionou mais do que uma rica troca de
experiências, tendo sido fundamental para o aperfeiçoamento da metodologia e sua
adaptação à realidade brasileira.
A troca de informações e notícias sobre cada um dos GDs que iam se realizando
nas diferentes RMs, através da internet, suscitou um espírito de colaboração entre as
equipes do Brasil, que se expressou, ora nas mensagens de incentivo frente a obstáculos
enfrentados, ora na troca e circulação de informações em torno de questões que exigiam
das equipes alguma reflexão.
Tal espírito de colaboração, que se inicia na realização dos seminários que contaram
com a participação das equipes de pesquisadores(as) das diferentes Regiões Metropolitanas,
foi também enriquecido pelo intercâmbio com as pesquisadoras canadenses do CPRN.
Naqueles seminários, a metodologia proposta foi discutida em seus pormenores e foram
apresentadas e aperfeiçoadas as primeiras versões dos instrumentos de pesquisa
(Questionário, Roteiro para o Diálogo etc.).
A rede assim criada garantiu a realização simultânea da pesquisa em regiões
espalhadas por esse país continental, segundo padrões que possibilitaram a agregação e a
comparação dos resultados regionais.
Todos esses encontros (presenciais e virtuais) foram extremamente importantes para
uma verdadeira produção coletiva do conhecimento e da aplicação da metodologia.

19
A relação das diferentes equipes de pesquisadores(as) com a equipe técnica, sempre
pronta a esclarecer dúvidas relativas à aplicação da metodologia da pesquisa, é também um
ponto que merece destaque por ter contribuído enormemente para o fortalecimento dos laços
de parceria que caracterizaram esta pesquisa.
Para além da própria execução da pesquisa, a rede criada possibilita que os(as)
pesquisadores(as) envolvidos(as) compartilhem idéias, construam ou reforcem identidades. A
aproximação entre entidades com perfis institucionais diferenciados (grupos de pesquisa
sediados em universidades, organizações não-governamentais, observatórios de políticas
públicas) também abre perspectivas tanto para desdobramentos desse projeto, ou para a
realização de novas pesquisas, ou ainda para ações coletivas e articuladas que busquem
ampliar e efetivar os direitos dos(as) jovens brasileiros(as).

20
4– O conteúdo das discussões

4.1 – Comentários iniciais: o que preocupa os(as) jovens?

Iniciado o Dia de Diálogo, após as saudações iniciais e a apresentação dos objetivos da


pesquisa, os(as) jovens eram convidados(as) a se apresentar, dizendo nome, idade, local de
moradia e respondendo à questão: “O que mais preocupa você hoje no Brasil?”. Nessa
atividade, eles(as) eram convocados(as), pela primeira vez, a se mostrarem, a falarem de si e,
de certa forma, a perceberem a importância de sua presença e a centralidade de suas
opiniões. Percebemos que os(as) jovens não se inibiram diante do sistema de gravação, talvez
porque se trate de um mecanismo muito presente na vida cotidiana, através dos meios de
comunicação, e que se sentiam valorizados(as) ao terem sua opinião registrada.
Quanto às questões que mais preocupavam os(as) jovens, ganham destaque as que
os(as) atingem mais de perto, como a violência que foi citada por 55 jovens dos(as) 103
participantes dos GDs; o desemprego (34 referências); a educação (15); a saúde (12); a falta
de oportunidades (nove) e as desigualdades sociais (oito). No anexo 1, podem ser encontrados
exemplos de como os(as) jovens se referiram a esses temas. A tabela 10 apresenta os temas
que preocupam os(as) jovens, e a freqüência com que eles foram mencionados em cada GD.
Com relação à “violência”, que aparece como a questão que mais preocupa os(as)
jovens, pode-se dizer que esta não é uma preocupação apenas deles(as), mas de toda a
sociedade. Além disso, pode-se dizer também que, o modo como a violência é vista e sentida
pela população de um modo geral, e amplamente propagada pela mídia, tem servido para
desfocar o lugar efetivo de produção da violência, isto é, a estrutura da sociedade brasileira,
marcada por profundas desigualdades sociais, econômicas e culturais. Assim, quando falamos
de violência, pensamos apenas naquela perpetrada pelos(as) “criminosos(as)” e “marginais”.
Portanto, tratar-se-ia apenas de uma violência territorializada que, de um modo
geral, penaliza duplamente as populações mais pobres. Primeiro porque são elas as mais
vulneráveis diante de políticas de insegurança nos seus vários aspectos – alimentar,
educacional, na saúde, transporte, habitação etc.; segundo, porque são comumente vistas
como responsáveis pela violência. Mas, no caso da cidade do Rio de Janeiro, como esta
territorialização não é bem definida, a mesma sensação de insegurança é compartilhada
pelas diferentes classes sociais. Isso fica evidente no depoimento de um jovem, morador de
uma das zonas mais nobres da cidade do Rio que afirma o seguinte: “(...) tenho 19 anos,
moro na Barra, mas me preocupo com a violência” (GD2).

21
Tabela 10 – Comentários iniciais

Grupo Grupo 1º Grupo 2º Grupo Grupo


Comentários
de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
iniciais Exp. TOTAIS
15-18 18-24 15-24 15-24 Participativa
(temas/questões)
19/03/05 02/04/05 09/04/05 30/04/05 12/03/05
Violência 8/20 11/22 18/29 9/18 9/14 55/103
Segurança 1 1 0 1 1 4
Polícia 0 2 0 0 0 2
Criminalidade 1 0 0 0 0 1
Morte
0 1 0 0 0 1
dos(as) jovens
Desigualdade
1 2 2 2 1 8
social
Desemprego 5 8 11 8 2 34
Primeiro emprego 0 4 0 0 0 4
Educação 1 4 4 3 3 15
Falta de acesso
à educação 1 0 0 0 0 1
e à cultura
Falta de
1 3 5 0 0 9
oportunidades
Drogas 1 1 0 0 1 3
Saúde 1 2 8 0 1 12
Miséria 1 0 1 0 0 2
Fome 0 0 1 0 0 1
Pobreza 0 0 0 0 1 1
Abandono 0 1 0 0 0 1
Alienação
0 1 0 0 0 1
da juventude
Corrupção 0 0 1 0 0 1
Política 0 0 1 0 0 1
Discriminação 0 1 0 0 0 1
Racismo 0 2 0 0 0 2

22
E mais, em se tratando de uma cidade que tem exercido o papel de pólo irradiador de
comportamentos, atitudes e valores para o país, o Rio de Janeiro tem servido hoje para
propagar o que se poderia denominar de “cultura da violência”. Uma recente pesquisa
realizada pelo rapper MV Bill revela que os “meninos do tráfico” nas diferentes capitais do
Brasil têm como modelo de organização e comportamento o tráfico de armas e drogas dos
morros cariocas16.
É interessante notar que alguns(mas) jovens dão pistas da relação existente entre a
violência propagada e a violência estrutural. Isso pode ser percebido no modo como associam
violência a outros temas como desemprego, má distribuição de renda, desigualdade social,
falta de oportunidades e educação: “E a minha maior preocupação é a violência, que eu acho
que é a causa, pelo fato do desemprego”. (GD5).
O “desemprego” aparece como o segundo tema que mais preocupa aos(às) jovens, e
confirma o que vem se caracterizando como marcas geracionais da juventude brasileira na
atualidade, que são a “violência” e o “desemprego”17. E é esse desemprego estrutural,
produzido pelas profundas transformações por que tem passado o mundo do trabalho, que
os(as) jovens desta geração vivenciam mais intensamente e prematuramente, já que
encontram esta barreira ao buscar suas primeiras inserções profissionais. Alguns(mas)
participantes, jocosamente, apelidaram esta situação de “efeito Tostines”.
(...) o que me preocupa mais, assim, no momento em relação ao jovem é falta de
oportunidade que ele tem, a questão do primeiro emprego, porque muitas vezes as pessoas
não querem dar o emprego porque querem experiência do jovem, mas como que o jovem vai
ter experiência se não dão oportunidade de conseguir o primeiro emprego? (GD3)
A “educação” aparece em terceiro lugar e os(as) jovens podem estar fazendo coro
com um disseminado senso comum que a vê como saída para todos os problemas sociais
brasileiros, e, também, como estratégia de inserção do Brasil no “mundo globalizado”.
(...) eu acho que o que mais me preocupa é educação, porque se você consertar a
educação, o resto você conserta por tabela. Vai consertar a parte de violência, de
racismo, de tudo, porque os países desenvolvidos, eles investem muito em educação,
por isso que eles estão lá no alto. (GD3)
Pelo modo como esse tema aparece ao longo do Dia, vê-se, também, que ele está,
principalmente, restrito ao espaço escolar. E quando há alguma voz dissonante, o papel da
escola é dividido com a “família”, considerada também espaço de aprendizagem.
(...) porque não basta só a escola, há também a família, a questão do lar. Então, a criança
vai formar sua personalidade vindo também do lar, não somente da escola. (GD1)

16. Pesquisa a partir da qual foi produzido o documentário “Os Falcões”, ainda inédito, e que também
está divulgada em Soares e Athaíde (2005).
17. Esse dois aspectos (que se traduzem nos “medos de morrer e de sobrar”, segundo as palavras de
Regina Novaes), ao lado da comunicação virtual, constituiriam os elementos da experiência geracional
comum aos(às) jovens brasileiros(as) deste início de século (Cf. Novaes, 2001).

23
A “saúde” ficou em quarto lugar no ranking das preocupações, mas este tema está
praticamente concentrado no GD3, em que ele foi mencionado oito vezes, num total de 12
citações. Isso talvez tenha ocorrido porque, na ocasião, os hospitais administrados pela
prefeitura do Rio de Janeiro encontravam-se sob intervenção federal e os meios de
comunicação divulgavam amplamente o estado “precário” do sistema de saúde pública.
O mesmo grau de influência da conjuntura imediata, na opinião dos(as) jovens, pode
ser notado no item violência nos GDs 3 e 4, realizados logo após a “chacina da Baixada
Fluminense”, em que 29 pessoas foram assassinadas na noite de 31 de março, e que obteve
ampla divulgação nos meios de comunicação. O destaque dado ao fato de que esse crime
tinha sido perpetrado por policiais influenciou também o aparecimento do tema “polícia” como
uma das preocupações no mesmo GD3, realizado dois dias após a chacina: “(...) tenho 20
anos, moro em Nilópolis, e o que mais me preocupa é a incompetência da polícia hoje em dia”.
Outros dois itens que merecem destaque pela quantidade de vezes em que
aparecem são a “falta de oportunidade” e a “desigualdade social”, percebidas como
relacionadas entre si, como vemos no depoimento a seguir:
(...) a desigualdade social entre os jovens, que não têm muita oportunidade, tem
muitos jovens, assim... – como é que eu posso dizer? – assim, que não têm
oportunidade de estudar, se metem no caminho da violência, das drogas, então eu
acho que tinha que ter mais oportunidade pros jovens (...). (GD3)

4.2 – Educação, trabalho, cultura e lazer: o que precisa melhorar?

As plenárias do final da manhã, em que foram apresentados os resultados dos trabalhos dos
subgrupos em torno da questão “Pensando na vida que você leva como jovem brasileiro(a), o
que pode melhorar na educação, trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”, eram muito ricas,
pois os(as) jovens falavam a partir de suas experiências pessoais. E essa vivência, algumas
vezes, pode ter reforçado a relação de interdependência entre os três aspectos da vida.

(...) porque pra você trabalhar, você precisa ter... você tem que ter a educação. Pra
você ter... pra você ir para um teatro, você precisa conhecer um pouco dessa cultura.
Para você se divertir, você precisa trabalhar pra ter o seu dinheiro. Uma coisa leva à
outra. (GD2)

No entanto, na atividade seguinte, visando o cumprimento da orientação


metodológica – construção de consensos a partir dos relatos dos subgrupos por meio da
produção do quadro “Semelhanças e Diferenças” –, as formulações finais tornaram-se
resumidas e empobrecidas, conforme ilustra o anexo 2.
A seguir, apresentamos comentários sobre os consensos a que os(as) jovens
chegaram após a discussão dos temas da educação, do trabalho e da cultura e lazer. Ao final,
listamos outros assuntos a que eles(as) se referiram nessa atividade.

24
a) Educação

Observa-se que, nos cinco GDs, os(as) jovens tendem a apresentar a “educação” como
uma porta de entrada para o mundo, ou até como solução de todos os problemas,
tornando-a parte de uma estratégia de inclusão social, mesmo reconhecendo a situação
“crítica” em que se encontra:
(...) acreditamos que a educação seja o principal, seja a base de todos, porque com a
educação, a gente vai melhorar, tanto o trabalho quanto a cultura e o lazer. Então, a
gente colocou aqui em vermelho pra dizer que está em crise, que está no vermelho
mesmo. (GD3)
Cabe ressaltar que a educação a que se referem os(as) jovens é, de um modo geral,
a educação escolar em seus níveis Fundamental e Médio, descartando o Ensino Superior
percebido como elitizado e, portanto, fora do alcance da maioria dos(as) participantes dos GDs:
Complementando o que eles falaram, eu creio que todos nós queremos ter um Ensino
Superior, mas é muito difícil, como ela falou, é uma escada e você tem que superar o
Ensino Médio e, hoje em dia, está difícil você ter um bom Ensino Médio para entrar
em uma faculdade, porque... fora o desemprego. Se você não está trabalhando, você
não tem o dinheiro de uma passagem para freqüentar uma faculdade, fora o que ele
falou também, como as xerox, livros. Então é difícil, principalmente para o negro e o
pobre também. (GD3)

De fato, como vimos, cerca de metade dos(as) jovens participantes dos GDs havia
concluído o Ensino Médio (50,5%). No entanto, apenas 12,6% ingressaram na universidade. E,
quando consideramos os dados da pesquisa de opinião, essa exclusão é ainda maior, pois
apenas 6,3% dos(as) 1.400 jovens iniciaram estudos universitários.
E mesmo programas de inclusão dos(as) mais pobres na universidade, como por exemplo, o
sistema de cotas, é visto como insuficiente para a permanência do(a) jovem na universidade:

A gente chegou até a citar a questão das cotas, que não adiantava apenas
proporcionar cotas para alunos carentes e negros, já que os alunos carentes não
teriam condições de arcar com os gastos que uma universidade gera como, por
exemplo, os livros e os materiais didáticos, as ‘famosas xerox’ que os alunos de
universidades conhecem como funcionam, a alimentação e o transporte. (GD3)

Entretanto, o tema do acesso à universidade através das cotas raciais foi bastante
polêmico. Em um dos GDs, chegou-se ao consenso de que o melhor sistema é o que beneficia
os(as) estudantes oriundos(as) das escolas públicas porque, como argumentou um jovem, “se
for ver bem, esses estudantes são, na maioria, negros”.
Ainda que para alguns(mas) a “crise” por que passa a escola reside na “falta de
interesse dos próprios jovens em estudar”, a maioria vê na qualidade da “formação dos
professores” e nas “condições de funcionamento da escola” os principais problemas a serem

25
superados para atingir a escola almejada. Esses problemas são percebidos como sendo de
ordem estrutural o que dificultaria sua resolução.

Outra coisa é investir na qualificação dos professores; porque tem muito professor
que entra e que não consegue trabalhar muito com material didático e tem dificuldade
de passar o conhecimento para os estudantes, então, a gente acha que os
professores também têm que fazer cursos e receber incentivos do Estado pra que
possam melhorar cada vez mais o ensino e a didática. (GD3)

A forma como eles são especializados... tem que haver mais diálogo entre aluno e
professor. A forma como que eles lidam com os alunos... (GD1)

Por outro lado, reconhecem e valorizam a importância deste(a) profissional nas suas
vidas, no seu processo de amadurecimento e crescimento, comprovando assim o que já foi
apontado por outras pesquisas.

O professor tem uma parcela muito importante, assim, na vida de qualquer pessoa; a
questão da educação, e de tudo mais, né? (GD3)

Os problemas relacionados às “condições de funcionamento da escola” se dirigem à


escola pública, provavelmente por ser a escola da maioria dos(as) jovens participantes: 77,6%
dos(as) jovens da RMRJ estudaram a maior parte de suas vidas em escolas públicas. Além
disso, elas estão mais expostas que as escolas privadas às observações e críticas. Foram
listados como problemas a falta de professores(as), de material didático, de bibliotecas, enfim
de materiais e equipamentos de apoio ao processo de ensino-aprendizagem.

(...) de repente o aluno tem capacidade de aprender, mas ele não tem os
equipamentos adequados. Quem estuda em colégio público pode dizer. Eu, por
exemplo, lembro de algumas vezes ter entrado num laboratório químico, é verdade ou
não? Quem entrou se deparou com algumas teias de aranha, uns pós. E por que não
funciona? Porque o professor químico só sabe escrever na lousa, só que na teoria o
lugar dele é no laboratório. (GD4)

A escola pública de tempo integral é apontada por muitos(as) como uma alternativa,
apesar da maioria não ter vivido a chamada era dos “Brizolões”18. Mas, pelo que ouviram dizer
de seus pais, esse tipo de escola tinha outras atribuições além da formação acadêmica, como
esporte, saúde e cultura. Um dos jovens avalia de modo mais elaborado a escola de horário
integral oferecida hoje em dia, que pretende apenas “tirar o jovem da rua e ocupar seu tempo
livre”. Para ele, simplesmente estender o tempo de permanência na escola sem que esta
ofereça uma educação diversificada, torna-se ainda mais enfadonho ir à escola.

18. Cieps – Centros Integrados de Educação Pública, escolas de tempo integral criadas no primeiro
governo de Leonel Brizola no estado do Rio de Janeiro (1983-1986).

26
Eu acho até um ponto legal, mas tendo várias atividades recreativas, porque senão
fica muito cansativo para ficar de manhã até quase de noite, estudando só. (GD1)

A questão do Ensino Profissional apareceu muito mais na discussão sobre o


tema trabalho, mas também foi apontada por dois dos cinco GDs como uma demanda
na área da educação.

Na parte de educação, a gente queria mais cursos profissionalizantes em escolas de


Ensino Médio. (GD2)

Já que não têm acesso a essa oportunidade durante as aulas regulares, os(as)
jovens da RMRJ procuram outras alternativas: cerca de 70% já fizeram algum tipo de curso
como os de informática, profissionalizantes, de língua estrangeira, ou mesmo ligados a
modalidades esportivas e de atividades culturais. A grande maioria dessas iniciativas procura
responder às novas exigências de qualificação para o mercado de trabalho.

b) Trabalho
A ampliação do mercado de trabalho voltado especificamente para os(as) jovens foi o tema
priorizado no conjunto das demandas apresentadas durante o debate desse tema. Isso é
compatível com os dados da pesquisa de opinião: dos(as) 803 jovens que não estavam
trabalhando, mais da metade (56,8%) declarou que estava à procura de emprego. Os(as)
jovens deixaram explícitas suas dificuldades na busca da primeira inserção profissional:

É a oportunidade de trabalho pros jovens que é o primeiro emprego, que é o


primeiro passo; hoje em dia, todas as empresas, elas fazem questão de que as
pessoas tenham experiência, só que um jovem que está entrando no mercado
de trabalho agora, ele provavelmente não vai ter essa experiência, ele precisa
ter a primeira oportunidade. (GD3)

Tal relevância, provavelmente, informou o Programa Primeiro Emprego lançado há


cerca de dois anos pelo Governo Federal, que é do conhecimento e faz parte da experiência de
alguns(mas) jovens. Assim, o programa está sendo considerado como restrito, mas, por outro
lado, visto como em processo de aperfeiçoamento, talvez, motivado até por certo sentimento,
próprio da juventude, de expectativa de futuro.

A questão do primeiro emprego é interessante, já existe isso, mas será que é


suficiente? Será que todo mundo teve oportunidade de primeiro emprego? Eu tenho
por experiência própria que... uma vez eu fui ver serviço, tem inclusive na minha
carteira lá, assinado, a oportunidade de primeiro emprego; até hoje não me foi ligado,
não me foi comentado isso, e essa oportunidade, eu tive no início de 2003, de ir até o
negócio do governo e fazer inscrição e até hoje não me ligaram, eu já voltei lá,
inclusive, uma segunda vez. Então, a questão do primeiro emprego é de fato muito

27
importante (...), a tendência é o governo melhorar essa história de primeiro emprego,
porque não está legal. (GD3)

Ou visto também como uma resposta apenas emergencial ao problema:

(...) Quando existe, existe um só, aí, não adianta, o povo mesmo quer e não tem.
Eles fazem um para dizer que tem, mas quando a gente procura, a gente não
encontra. (GD1)

Mas enquanto o primeiro emprego não vem, os(as) jovens propõem outras
estratégias de sobrevivência imediata e, como tentativa de superar as exigências do mercado
de trabalho:

Se você tem que trabalhar pra ajudar a sua família, ou pra pagar um curso ou uma
faculdade, eu acho que um estágio remunerado ajudaria nesse sentido. Você está
ganhando experiência e você está sendo pago. (GD2)

Se bem que isso nem sempre funciona a contento porque, se, por um lado, os(as)
empregadore(as)s também têm lá suas estratégias:

O que você falou é verdade, sendo que nem todo mundo, as empresas não aceitam
estágio como experiência. Você faz... fica lá trabalhando com aquilo que você
estudou durante um ano e elas não aceitam isso como experiência, é como se fosse
uma forma de aprendizado. (GD2)

Por outro lado, alguns programas oficiais baseados em parceria com possíveis
empregadores(as) restringem, também, as oportunidades:

É que alguns estágios, algumas... tipo a Central de Estágios, por exemplo, elas
aceitam pessoas que estejam estudando. Então, ou você está no Ensino Médio ou
você está no Ensino Superior. Mas eu, por exemplo, eu não estou... eu já terminei há
três anos atrás o Ensino Médio e não estou fazendo faculdade. Então, eu não tenho
oportunidade de fazer estágio. Então, eu sou impedida. Então, tem vários critérios pra
pessoa ser excluída, então fica quase um grupinho. Aquele grupinho, aquela panela
mesmo. (GD1)

E, quando, afortunadamente, o(a) jovem consegue um estágio remunerado na sua


área de estudos, são outras as decepções:

Eu queria comentar sobre o estágio também. Bem, na escola que eu estudo é junto
com a faculdade. É o CAP Unigranrio, que é junto com a faculdade. Lá você, fazendo
estágio, eles exploram mais do que eles podem explorar. Eu faço informática, no
caso, os meus amigos vão lá fazer informática e recebem pouco e fazem coisas fora
da área deles. Eu acho que é uma coisa que tem que ser abordada. (GD1)

28
Mas ainda não é tudo. A saga continua. E, essa busca, quase sempre frustrada, por
trabalho, e os obstáculos a serem superados pelos(as) jovens – conseqüência do chamado
“desemprego estrutural” –, por mais que seja uma “marca geracional”, estão concentrados, tal
como a violência, em determinados segmentos da população: os(as) mais pobres, os(as)
negros(as) e os(as) moradores(as) de favelas e periferias urbanas:

E no trabalho, dar mais chance de emprego para qualquer profissional competente,


não por raça ou classe social... porque isso é o que mais a gente vê no Brasil, que, às
vezes, um negro não consegue um trabalho porque ele é negro, mas, aí, o branco
que não é nem competente... Às vezes, o negro é mais competente que o branco, o
branco consegue mais por ser branco... A gente vê muito isso. (GD2)

Eu queria colocar também o preconceito geográfico, porque tem muita gente que não
diz que mora em uma favela, ou essa mesma questão de morar longe, porque sabe
que as empresas dão preferência para quem mora mais próximo. E tem também esse
problema de morar em favela porque ele pode pensar que a pessoa vai querer assaltar,
ou que tem contato com traficantes, ou que usa drogas, eu acho que isso também é
outro ponto. (GD3)

O índice de desemprego, de fato, é mais elevado nos segmentos populares: se


56,8% dos(as) jovens sem remuneração entrevistados(as) na pesquisa de opinião estavam em
busca de trabalho, nas classes D/E esse percentual chegava a 71%. E entre os(as) jovens
pretos(as) e pardos(as) – 69,7% e 60,5% respectivamente –, estavam em busca de trabalho,
enquanto menos da metade dos(as) jovens brancos(as) estavam procurando trabalho.
Além de todas essas barreiras, ainda há uma outra bem característica, que estrutura
as relações de trabalho, e outras tantas, a partir de certa cultura da pessoalidade no Brasil:

(...) o diretor, o presidente da empresa está indicando um parente, um sobrinho, um


primo, entendeu? E aquele funcionário que é qualificado pro setor está ficando
excluído. Ele não está tendo aquele valor que seria necessário pra ele. (GD5)

Chama atenção o fato de que o Grupo dos(as) jovens mais novos(as) – de 15 a 17


anos – tenha priorizado, dentre os problemas mais graves do Brasil, a falta de trabalho19, o que
sinaliza a necessidade da entrada no mercado de trabalho precocemente. É como se as
conquistas sociais, que permitiram às crianças e adolescentes um maior tempo para os
estudos, estivessem se desmanchando. E, contraditoriamente, o mercado de trabalho exige
cada vez mais qualificação. E isso é percebido pelos(as) jovens que apontam para cursos de
especialização no Ensino Médio como forma de se adequar a essa realidade:

19. A educação, nesse Grupo, sequer foi mencionada como problema, talvez porque a grande maioria
tenha acesso à escola, ainda que com restrições à sua “qualidade”. Parafraseando a Eliane Ribeiro, a
escola é a única política que se tornou pública.

29
Nós escrevemos o seguinte, cursos profissionalizantes para comunidades carentes,
porque todo mundo vê que não tem. Foi o que o menino falou: a desigualdade é
muito grande, então nós colocamos esse ponto que eu acho que tem alguma coisa a
ver, entendeu? (GD1)

As possibilidades de freqüentar cursos profissionalizantes, de informática, de língua


estrangeira, para além das aulas regulares na escola, são determinadas pela condição social
do(a) jovem. A pesquisa de opinião mostrou que, quanto mais pobre, menor a probabilidade
do(a) jovem de ter este tipo de capacitação: enquanto 34,3% dos(as) jovens das classes A/B
estudam ou estudaram alguma língua estrangeira, apenas 3,7% dos(as) jovens das classes
D/E têm ou tiveram essa oportunidade. Do total de jovens entrevistados(as), 29,4% não
estiveram envolvidos(as) em nenhuma atividade de formação além das aulas regulares, mas
considerando apenas os(as) jovens mais pobres, das classes D/E, aproximadamente metade
(50,2%), não teve acesso a nenhum tipo de curso.
Mas, mesmo sendo vista como fundamental para a entrada no mercado de trabalho,
parece que a educação que está aí posta, ao não propiciar a esperada qualificação acaba
levando os(as) jovens para postos de trabalho socialmente vistos como subalternos:

Olha só, a gente queria falar que a falta de oportunidade pra trabalho, porque hoje em
dia você... com o estudo, você não consegue, sem o estudo, menos ainda. Então, a
falta de oportunidade é porque as pessoas, hoje em dia, não têm um ensino
completo, entendeu? Então, vai trabalhar... a maioria das mulheres em casa de
família. Aí, não conseguem um emprego melhor por falta de oportunidade. (GD2)

E, uma vez no mercado de trabalho, se torna difícil a continuidade dos estudos:

(...) e a carga horária compatível com os estudos, a gente pode também usar o jargão
popular do ‘McEscravo Feliz’, que trabalha horas e horas e horas.... A empresa pede
que essa pessoa esteja cursando um curso superior ou o Ensino Médio, mas ele só
vai conseguir cursar essa escolaridade se ele for Deus e tiver o dom da onipresença,
que é impossível praticamente conciliar os dois. (GD3)

Isso pode ser verificado quando relacionamos a situação escolar com a inserção no
mundo do trabalho: dentre os(as) jovens entrevistados(as) na pesquisa de opinião, 34,1%
dos(as) jovens apenas se dedicavam ao estudo; 27,9% apenas exerciam algum tipo de
atividade remunerada; e a minoria, 14,8%, associava estudo e trabalho. E uma parcela
significativa dos(as) jovens não trabalhava nem estudava (23,1%).
Outra dificuldade dos(as) jovens que trabalham é o descumprimento da
legislação trabalhista:

Foi colocado também, menos exploração nas horas de trabalho, não são todos os
empregos, mas tem alguns empregos que tem uma certa exploração, por exemplo, a
pessoa trabalha, aí trabalha fora do seu horário normal, e ela não recebe por isso, a

30
chamada hora-extra, trabalha e não recebe, e nós achamos que isso deveria acabar
que é uma certa exploração, de uma certa forma, com o trabalhador. (GD3).

De fato, a maioria dos(as) jovens tem uma situação precária no mercado de trabalho.
A pesquisa de opinião mostrou que 28,1% eram trabalhadores(as) por conta
própria/autônomos(as), sem INSS; 27,8% estavam empregados(as) sem carteira assinada e
apenas 23,3% eram empregados(as) com carteira assinada. E as moças, os(as) mais jovens
(de 15 a 17 anos), os(as) menos escolarizados e os(as) mais pobres estavam em situação de
maior vulnerabilidade.
As discussões realizadas na parte da manhã nos subgrupos e em plenária revelaram
a expectativa dos(as) jovens em relação aos postos de trabalho acessíveis. Era muito comum
observar-se nas ilustrações dos cartazes que traziam o conteúdo das discussões sobre
trabalho desenhos de profissões como varredor de rua ou trabalhador da construção civil.
Por fim, uma das jovens, ao dar sentido ao trabalho, relacionado à própria sobrevivência,
aponta-o como eixo pelo qual os demais aspectos da vida poderiam ser satisfeitos:

Você, trabalhando, você tem uma renda, não tem? Com uma renda, você pode
freqüentar um teatro, cinema, ir numa praça, comer um cachorro-quente que, às
vezes, você não tem nem R$ 2,00 para comer um cachorro-quente. É mesmo, estou
falando a verdade. (GD1)

c) Cultura e lazer
O período da juventude é associado muitas vezes à possibilidade de aproveitar o tempo livre e
ao lazer. Observando o conjunto de demandas que os(as) jovens apresentaram nesse campo,
percebemos que a maioria diz respeito à ampliação do acesso aos bens culturais e à
implantação (ou conservação) de equipamentos públicos, onde possam usufruir o tempo livre.
Os(as) jovens identificam diversos entraves ao acesso aos bens culturais.
O primeiro deles relaciona-se ao custo envolvido na freqüência às salas de cinema,
teatros, casas de espetáculos musicais. Tanto que, de acordo com a pesquisa de opinião, os
shoppings centers e as praças ou parques (onde não é necessário pagar para entrar) estão
entre os espaços mais freqüentados pelos(as) jovens em seu tempo livre. O segundo entrave é
o custo do deslocamento até o local onde está sendo realizado o espetáculo. E um terceiro
entrave é identificado nos casos em que, mesmo havendo a facilidade de acesso, não há
divulgação suficiente.

Eu já fui na Uerj ver dança contemporânea... Eu gosto, mas eu não tenho tanto
acesso. Eu não tenho nem conhecimento. Eu acho que não chega nem à
população de algumas facilidades que às vezes surgem, não chega ao
conhecimento do pobre. (GD1)

31
Todas essas demandas deixam evidente que os(as) jovens percebem a existência de
uma desigualdade no acesso aos bens culturais, derivada da situação de classe e também da
distribuição desigual pelo Poder Público dos equipamentos culturais na metrópole, que
penaliza os(as) moradores(as) dos bairros populares, subúrbios e municípios periféricos. No
Rio de Janeiro, os centros culturais, teatros, cinemas, museus etc. estão concentrados no
centro e na Zona Sul da cidade. Mesmo os espetáculos ao ar livre são realizados,
principalmente, nessas regiões.

Tem vários eventos, assim, eventos sobre o aniversário da cidade do Rio de Janeiro.
E trazendo um cantor para cá. Mas eu acho que da mesma forma que investiu o
prefeito da cidade do Rio de Janeiro, no caso, o centro, deveria ser investido (...) pra
outros pólos fazerem alguns eventos para o interior mesmo do estado do Rio de
Janeiro, pra Duque de Caxias... pra parte do pessoal mais carente. Não só pro Rio,
para o centro, porque o show, por exemplo, é na praia de Copacabana. Então quer
dizer só... elitizou meio a comemoração. (GD1)

Os debates nos GDs deixaram transparecer duas perspectivas: de um lado, a


demanda por descentralização da oferta de oportunidades de fruição cultural. Uma
sugestão apresentada foi a disseminação da experiência das lonas culturais, que
constituem um bem-sucedido programa da prefeitura municipal do Rio de Janeiro existente
há mais de uma década. As lonas, instaladas em alguns subúrbios da cidade do Rio de
Janeiro, são espaços multifuncionais fixos, semelhantes a um circo, em que podem ser
realizados diferentes tipos de espetáculos: “É importante em cada bairro uma lona cultural
para o aprendizado da cultura” (GD4).
Por outro lado, uma segunda sugestão foi a extensão do passe-livre para que os(as)
estudantes possam circular pela cidade, em direção aos espaços em que esses bens estão
disponíveis. Nesse debate, está subjacente a questão do exercício do direito à cidade, em
especial para os(as) jovens das classes populares.
Foi também lembrado o papel da escola na promoção e incentivo a atividades de
cultura e lazer20, principalmente para os(as) jovens das classes populares:

Eu acho que cultura e lazer tinham que começar direto na escola, sem o aprendizado
na escola não tem como ter, porque, por exemplo, eu acho que aula de teatro tinha
que ser em todas as escolas e não tem, sem teatro a pessoa não consegue falar
assim em público, eu acho que isso melhora muito, eu acho que isso tinha que ser
em todos os colégios, tinha que ser obrigatório. (GD4)

20. O papel da família também foi destacado entre as semelhanças no GD4: “Aí, no caso incentivo,
também tinha que ser da família, começando, por exemplo, pelos pais. Os pais têm que incentivar a
pessoa (...) Sendo que a família é a base de tudo e, às vezes, é por isso que a pessoa deixa de procurar
alguma atividade cultural, algum lazer que possa trazer algum benefício, não só divertimento, mas alguma
coisa que a pessoa possa aprender. E, às vezes, a família não coloca isso na criação da pessoa e acaba
influenciando no futuro”.

32
E de fato, na pesquisa de opinião ficou patente que, para muitos(as) jovens das
classes populares, a escola é o principal meio de acesso às atividades culturais. Metade
(50,1%) dos(as) jovens estudantes entrevistados na RMRJ informou que suas escolas
promoveram no ano de 2004 apresentações de teatro/dança/música/festivais culturais, e a
cerca de um quarto deles(as) (27,4%) foi dada a oportunidade de visitar museus e exposições,
ampliando os horizontes dos(as) jovens no campo artístico-cultural e possibilitando aos(às)
jovens o trânsito por espaços da cidade onde não costumam circular. São, portanto, atividades
que ampliam o universo de referência dessa juventude.
E nessa relação entre escola e cultura/lazer, presenciamos uma interpretação
interessante sobre a concessão de meia-entrada para estudantes nos espetáculos:

... eu acho que eles dão meio ingresso para quem é estudante, por causa que é uma
forma de incentivar... assim: ‘eu vou estudar porque, pô, traz várias vantagens,
inclusive ter meia entrada’. Eu acho que eles fazem isso na intenção de fazer a
pessoa estudar, entendeu? (GD1)

Os(as) jovens criticaram a oferta de espetáculos gratuitos apenas no “tempo da política”:

Acontece muito quando a pessoa vai se eleger. O político chega: ah, vai ter show lá
não sei onde, aí vai toda a comunidade. Toda a comunidade daquela região vai pros
shows. Aí depois que ele é eleito, ele esquece o povo e só quer saber dele. Aí o povo
fica sem uma cultura, fica sem lazer. Na época que estava se elegendo tinha tudo
isso, porque ele estava fazendo a propaganda dele, aí depois que ele se elege não
tem mais isso. (GD5)

E alguns(mas) jovens lembraram que não querem ficar restritos(as) a determinados


tipos de programas, mas desejam ampliar suas possibilidades de acesso a bens culturais:

Eu vou sempre, mas você fica limitado a um estilo de música a uma parcela. Hoje eu
quero escutar MPB, hoje eu quero dançar, eu quero ir num show de pagode, eu fico
limitada aos programas populares. De repente, se eu não gosto de funk e gosto de
rock? Mas eu não posso assistir uma banda de rock que vem lá de fora porque é R$
200,00 o ingresso. (GD1)

Vemos aí uma crítica à tendência dos(as) promotores(as) de espetáculos (públicos e


privados) de homogeneizar a oferta de oportunidades de fruição cultural, a partir de uma
classificação preconceituosa dos gostos das classes populares.
Interessante também notar também que os(as) jovens se percebem mais como
consumidores(as) de cultura do que como produtores(as). Pouco se discutiu sobre a produção
de cultura pelos(as) próprios(as) jovens. Algumas sugestões estavam associadas a uma
perspectiva instrumental da cultura, como, por exemplo, o incentivo pela escola de cursos de
artesanato, que poderiam servir como alternativa de geração de renda, e aulas de teatro, como
vimos, para ajudar os(as) jovens a falar em público. Uma moça mudou o enfoque, ressaltando

33
a importância de produções culturais realizadas pelos(as) jovens, e direcionadas a eles(as),
acionando, assim, identidades compartilhadas:

Bom, vou falar da cultura, vou falar como jovem e cidadã. Eu comentei no grupo que
eu participei de um congresso que falava sobre as drogas, quer dizer nós chegamos
lá e um cara especializado falou, falou e falou e, na conclusão, tudo que ele falou a
gente já sabia, e ficou uma coisa cansativa. E outra vez, a escola fez um projeto de ir
ao Teatro Vanucci, acho que é em Botafogo, uma coisa assim. E a peça chamava
“Esquina de Prazer”, falava de drogas e sexualidade e a turma gostou de ver... um
jovem passando para outro jovem, entendeu? (GD1)

d) Outros assuntos
Os(as) jovens não se restringiram aos temas propostos pela pesquisa (educação, trabalho e
cultura/lazer) quando falavam sobre o que deveria melhorar na vida dos(as) jovens
brasileiros(as). Assim, falaram sobre os meios de comunicação, sobre a situação dos(as)
presidiários(as), sobre gravidez na adolescência.
Os(as) jovens demonstraram perceber com precisão o papel dos meios de
comunicação como formadores(as) de opinião e como retroalimentadores(as) de
comportamentos preconceituosos.

Eu queria comentar sobre isso também porque a mídia influencia muito na atitude dos
jovens. Por mais que a gente diga que não, influencia muito na vida dos jovens não só
em todo Brasil, mas no mundo todo. Eu não estou fazendo uma crítica ao filme do
Cazuza, eu gosto muito do Cazuza e gosto muito de rock, o filme é bom, mostra a vida
dele, mas mostra como se ele fosse um herói, ele fez tudo o que quis e morreu como
um herói, ele fez tudo que quis e morreu feliz. E eu acho que deveria mostrar de outra
forma o final, mostrando como ele terminou, ele sofreu muito por ter usado drogas. Já
sabe que a mídia tem uma influência grande entre os jovens deveria passar uma
mensagem positiva, ao invés de negativa. O filme mostra um monte de coisa, ele
branco, ele fez um monte de coisas erradas, não estou falando de racismo, não tenho
racismo contra brancos, mas se ele fosse negro e pobre, ele seria preso e como ele era
branco e rico e não ficou preso e usava drogas e fazia coisas erradas... é isso que eu
queria colocar. (GD1)

Apontaram, ainda, o impacto social e político do que é veiculado:

Algum tempo atrás, quando o Roberto Marinho morreu, a manchete de uma revista
conhecida falou assim: o presidente do Brasil morreu. Porque, no caso, como dono,
ele detinha a opinião, ele influenciava e muitas vezes a mídia ajuda e incentiva a
pessoa ficar sem cultura, não estou dizendo só a Globo, ela é a maior, mas
simbolizando todas elas, e os políticos usam isso como meio. (GD1)

34
Um outro tema que provocou uma ampla discussão no GD2 foi a situação dos(as)
presidiários(as). Os(as) jovens deram muitas sugestões para que os(as) presos(as) tivessem
acesso a trabalho, tanto durante o período de cumprimento da pena quanto depois de
egressos(as) do sistema penitenciário. E também lembraram que é necessário o acesso à
educação durante o período de encarceramento. Alguns(mas) jovens pareciam conhecer de
perto essa situação, o que possivelmente se deve ao fato de uma parcela significativa da
população carcerária ter entre 18 e 30 anos de idade, sendo, portanto, da mesma geração
dos(as) participantes dos GDs.

A gente está falando não em colocar os presos para trabalhar, para só fazer
progresso pra gente, mas para eles mesmos. Porque eles trabalhando, três, quatro
dias, reduzindo um dia de pena deles, eles já vão mudar o pensamento deles. Já vão
ter força de vontade em trabalhar, sabendo que trabalhando, ele está ganhando
alguma coisa. E além de estar ganhando alguma coisa também e está ajudando
pessoas. Os ex-presidiários, quando cumprem suas penas e são soltos e querem
reconstruir suas vidas, trabalhar... E muitos que roubam para dar de comer para seus
filhos. Aí sai e não arruma emprego para sustentar a família, o que vai fazer? Vai
roubar de novo, porque é a coisa mais fácil que tem, mesmo que não dê certo, e já
que não tem oportunidade de serviço, vão fazer o errado. (GD2)

O tema da gravidez na adolescência também foi lembrado pelos(as) jovens e aparece


fortemente marcado pelos preconceitos que normalmente caracterizam o senso comum. O
primeiro deles refere-se a uma postura de antemão condenativa, principalmente quando se
trata da gravidez na vida de uma jovem pobre, pois esta é vista sempre como fruto da
desinformação e da ignorância, quando na verdade, existem estudos que mostram que, no
caso das jovens de camadas populares, a experiência de ser mãe pode estar associada a uma
das poucas experiências de valorização vividas por elas nessa fase da vida, uma vez que é
comum serem merecedoras de uma maior atenção por parte de familiares e da comunidade.
Outro preconceito forte que está presente nas posturas contrárias à “gravidez na adolescência”
é aquele que parece ignorar por completo a paternidade, responsabilizando unicamente as
moças pela gestação, considerada como precoce, e pela criação e educação dos(as) filhos(as).

Muitas amigas ou colegas que têm 18, 17 anos e têm um ou dois filhos. É tudo nova.
Tudo sem instrução, sem uma pessoa pra orientar. Tinha que ter dentro da
comunidade um psicólogo, uma pessoa pra estar conversando com a família carente.

4.3 – Caminhos participativos

Ao contrário da parte da manhã, quando os(as) jovens discutiam a partir de suas próprias
vivências, esta atividade estava centrada em três Caminhos Participativos apresentados nos
instrumentos de diálogo (Roteiro para o Diálogo, CD-ROM e estandarte). O resumo de cada um
deles é:

35
Caminho 1: “Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta”
A participação política da juventude ocorre por meios que vão além do voto. Esse engajamento
também se dá na atuação firme e direta em partidos políticos, organizações estudantis, conselhos,
ONGs e movimentos sociais, ou seja, em instituições que organizam a sociedade e controlam a
atuação dos governos.

Caminho 2: “Eu sou voluntário(a) e faço a diferença”


Jovens voluntários(as) ajudam a diminuir os problemas sociais. Realizam diferentes atividades, tais
como manutenção de escolas, recreação com crianças pobres ou hospitalizadas, campanhas de
doação de alimentos e diversas outras ações desse tipo.

Caminho 3: “Eu e meu grupo: nós damos o recado”


Nesse Caminho, os(as) jovens praticam e fortalecem o direito à livre organização. Eles(as) formam
grupos culturais (esportivos, artísticos, musicais etc.), religiosos, de comunicação (jornal, página na
Internet, fanzine etc.), entre outros, compartilhando idéias com outros(as) jovens.21

Esses Caminhos pareciam não fazer parte da experiência cotidiana da maioria


dos(as) jovens presentes. De fato, o perfil obtido através da pesquisa de opinião mostra que
são reduzidos os níveis de participação dos(as) jovens da RMRJ em organizações ou
atividades relacionadas aos três Caminhos. Cerca de 2/3 (68,4%) possuem título de eleitor(a) e
estão habilitados(as) a votar22. Na tabela 11 encontram-se os níveis de participação atual e
anterior dos(as) jovens da RMRJ em alguns tipos de entidades e movimentos:

Tabela 11 – Participação dos(as) jovens da RMRJ em entidades e movimentos

Entidade ou Movimento Participa atualmente Já participou


Associações estudantis,
2,9% 20,3%
grêmios, centros acadêmicos
Partidos políticos 0,7% 2,2%
Sindicatos e associações profissionais 1,1% 2,0%
Movimentos negro, indígena
0,4% 2,7%
e por liberdade de opção sexual
Entidades de defesa do meio ambiente 1,6% 5,8%
Associação comunitária, de moradores
1,5% 8,1%
ou de sociedade de amigos(as) de bairro
Movimentos por bens e equipamentos
1,2% 6,4%
coletivos (educação, moradia, saúde)
ONGs 0,7% 2,2%
Entidades e grupos que
2,8% 10,5%
realizam trabalhos voluntários
Grupos (que realizam atividades
29,5% -
culturais, religiosas, esportivas etc.)

21. A formulação dos Caminhos encontra-se em Ibase e Pólis (2005: 24).


22. Como o voto no Brasil é obrigatório para quem tem 18 anos ou mais, e facultativo para os(as) que
têm 16 e 17 anos, é preciso observar o grau de alistamento eleitoral em cada faixa etária: 21,8% dos(as)
jovens de 15 a 17 anos; 80,1% dos(as) jovens entre 18 e 20 anos; e 94,9% dos(as) que têm 21 a 24 anos
de idade. Isso mostra que, mesmo sendo obrigada por lei, uma parcela dos(as) jovens está alheia a este
forma de participação cidadã.

36
Como podemos perceber, em geral, o nível de participação juvenil é reduzido
(29,5%). Chama atenção o maior engajamento atual em grupos que realizam atividades
esportivas, religiosas, culturais etc. Quanto a associações estudantis e trabalhos voluntários,
apesar dos baixos graus de participação atual (2,9 e 2,8%, respectivamente), estes(as) jovens
em outros momentos já estiveram envolvidos(as) em experiências semelhantes: 20,3% em
entidades estudantis e 10,5% em algum trabalho voluntário.
E os(as) jovens têm consciência desse baixo grau de participação cidadã. Na
pesquisa de opinião, indagados(as) sobre a maneira como percebem sua própria participação
política, a grande maioria (65,2%) disse que procura se “informar sobre a política, mas sem
participar pessoalmente”. Outro grupo significativo (25,4%) afirmou que “não procura se
informar sobre política e nem participa pessoalmente”. Uma minoria, 8,1% dos(as) jovens
entrevistados(as) considera-se “politicamente participante” (113 jovens).
A discussão sobre os Caminhos Participativos era, portanto, mais abstrata, tendo
como suporte principal as informações contidas nos instrumentos de Diálogo, as notícias
obtidas pelos meios de comunicação e a observação dos(as) jovens da realidade à sua volta.
Isso por si só já constituía um desafio, que era o de aproximar a discussão da experiência
vivida pelos(as) jovens à proposta metodológica.

a) As palavras-chave
A análise das discussões feitas pelos(as) jovens nos subgrupos permite a apreensão de uma
série de palavras-chave e expressões que revelam o que os(as) jovens assimilaram sobre cada
Caminho proposto no Roteiro para o Diálogo, em confronto com suas percepção e vivência
sobre política, voluntariado ou atividades de mobilização juvenil em torno da cultura, esporte e
lazer23. O anexo 3 reúne essas palavras e expressões.
Sobre o Caminho 1, fica bastante evidente que os(as) jovens entendem que esse é,
por excelência, o Caminho da política, como se os demais Caminhos propostos fossem
totalmente isentos de qualquer ação ou força política. Para a maioria dos(as) jovens, o
Caminho 1 é o que detém o poder e a força. Por outro lado, é também o mais sujeito a
burocracias e à corrupção. Daí o fato de os(as) jovens se referirem a esse Caminho apontando
também para necessidade de fiscalizar, controlar e de cobrar as ações dos(as) políticos(as).
Quanto às posições contrárias a esse Caminho, em consonância com as apresentadas no
Roteiro para o Diálogo, os(as) jovens demonstraram concordar com as críticas que se referem
ao papel reduzido dos(as) jovens nas esferas de decisão e ao risco de manipulação dos(as)
mais velhos(as) sobre os(as) mais jovens.
Essa percepção está em sintonia com os resultados da pesquisa de opinião, em que
os(as) jovens da RMRJ expressaram uma percepção bastante negativa sobre os(as) que
exercem a atividade política. Cerca de 82% dos(as) jovens concordam que “A maioria dos

23. As palavras-chaves foram listadas a partir dos relatórios feitos pelas pesquisadoras bolsistas. Embora
as discussões nos subgrupos tenham sido gravadas, elas não foram integralmente transcritas e os
relatórios não trazem exatamente as palavras ditas pelos(as) próprios(as) jovens sendo, portanto, uma
primeira interpretação.

37
políticos não representa os interesses da população”, sendo que 65,9% estão totalmente de
acordo e 15,9% concordam parcialmente com essa avaliação. Esses índices são bastante
semelhantes aos que acreditam que “A maioria dos políticos só defende seus interesses
pessoais”: 68,5% dos(as) jovens estão totalmente de acordo e 15,3% concordam em parte
(80,8% de anuência).
Aqui cabe destacar que, frente à inexperiência dos(as) jovens em movimentos
sociais, sindicais, ONGs etc., e da falta de informação sobre os mecanismos de controle social,
como os conselhos de direitos24, sua percepção do Caminho 1 ficou restrita à atuação dos(as)
políticos(as), tanto os(as) que exercem atividade no executivo, como os(as) parlamentares.
Quanto ao Caminho 2, a percepção da maioria dos(as) jovens a seu respeito é,
principalmente, a de que esse é o Caminho da ajuda aos(às) pobres e da ação que produz
resultados imediatos. Se, por um lado eles(as) reforçam nesse Caminho do voluntariado o
risco de isentar o Poder Público de suas obrigações, por outro, sustentam a possibilidade
de fazer algo de forma independente do governo: “não basta cobrar, é preciso fazer”. Ainda
com relação a esse Caminho, alguns(mas) jovens deram uma interpretação que contradiz a
perspectiva contida no Roteiro para o Diálogo, segundo a qual a ação voluntária é
apresentada como individual. Para estes(as) jovens, a ação voluntária pode também ser
fruto de uma ação coletiva.
O Caminho 3 é apontado como o que possibilita aos(às) jovens o poder da palavra e
a conquista do respeito junto aos(às) adultos(as). Ao mesmo tempo, ele é interpretado por
alguns(mas) como um Caminho que não muda nada, que não tem futuro, porque está
relacionado apenas ao lazer ou porque, apesar de, muitas vezes, atender às necessidades das
comunidades não possui força política.
Por outro lado, muitas vezes, a proposta de reunir um grupo para levar reivindicações
às esferas institucionais foi associada a esse Caminho. O que pode estar vinculado a um dado
da pesquisa de opinião: os(as) jovens da RMRJ manifestaram um alto grau de concordância
(97,1%) com a idéia de que “É preciso que as pessoas se juntem para defender seus
interesses” (90,8% concordam totalmente e 6,3% concordam parcialmente). E essa perspectiva
está relacionada às interpretações que deram ao Caminho 3 e à ação coletiva que introduziram
no Caminho 2.
Um outro caso emblemático mostra o processo de elaboração que os(as) jovens
fizeram, confrontando as informações recebidas com suas experiências. Foi recorrente nos
GDs a ressignificação dos grêmios estudantis, identificados no Roteiro para o Diálogo com o
Caminho 1. No entendimento dos(as) jovens, muitas vezes, eles eram interpretados como
fazendo parte do Caminho 3, na medida em que reúnem grupos de jovens em torno dos seus
interesses, promovendo práticas esportivas e culturais.

24. Ainda na pesquisa de opinião, os(as) jovens declararam um alto grau de adesão à idéia de que “É
preciso abrir canais de diálogo entre os cidadãos e o governo” (94,5% concordam total ou
parcialmente). Por trás desse alto índice pode estar o desconhecimento da existência desses canais ou a
percepção de que estão bloqueados, ou, ainda, que seus resultados não são percebidos pela população.

38
b) Escolhendo e associando Caminhos, com criatividade
Diante dos três Caminhos Participativos apresentados, muitas vezes os(as) jovens deixavam
transparecer não uma escolha para si, mas para um outro(a) indefinido(a), como “eles(as)”,
“os(as) políticos(as)” etc. Em função disso, a equipe de pesquisadores(as) problematizava essa
perspectiva, lembrando a necessidade da escolha considerar a adesão pessoal aos Caminhos.
Nesse momento, os(as) jovens reformulavam suas argumentações e passavam a se incluir em
suas escolhas:

Os três Caminhos, eu acho que têm um grau de comprometimento. Então, nós,


jovens, eu estou me incluindo nisso, nós temos pouco comprometimento com esse
trabalho, esse trabalho jovem de voluntariado, dessa parte política. (...) E começar a
se comprometer mais, porque é fácil ficar sentado e esperando que os outros façam
pela gente. (GD1)

Usando criatividade, e compreendendo os Caminhos originais a partir de suas


diferentes maneiras de estar no mundo, os(as) jovens deram novos sentidos a esses
Caminhos, propuseram novos arranjos às maneiras de participação apresentadas, e não se
intimidaram frente a alguns conteúdos, por vezes, incompreensíveis para eles(as).

Para sistematizar o resultado das escolhas feitas pelos subgrupos, construímos a


tabela que se segue.

39
Tabela 11A – Participação dos(as) jovens da RMRJ em entidades e movimentos

GD Amarelo Laranja Verde Vermelho

O Grupo propõe um
quarto Caminho
Cria um organismo
contendo elementos de O Grupo toma as
(“grêmio”) e mostra
cada um dos três semelhanças da
como ele pode atuar
Caminhos e cria o manhã e aponta qual
Não teve nos três Caminhos. Diz
1 Movimento a Favor da dos três Caminhos
este Grupo neste dia. que é um Caminho
Juventude. Busca poderia solucionar
com um pouco de cada
soluções para os cada uma delas.
um dos propostos.
“contra” de cada um 1-2-3
1-2-3
deles.
1-2-3

Necessidade de todos Com base nas leituras Escolhem a junção dos


Grupo pouco
os Caminhos para dos relatórios dos três Caminhos – “um
cooperativo, mas deu
resolver os problemas. subgrupos, pudemos levava ao outro”. Mas
exemplos de como
Cada jovem escolhe observar a forte na apresentação em
esse Caminho poderia
2 onde atuar para, então influência de uma plenária, alguns(mas)
resolver alguns
haver “a mudança”. E jovem filha de integrantes do Grupo
problemas apontados
mostram soluções para assistente social para a revelaram a preferência
nas semelhanças.
as semelhanças. escolha do Caminho. pelo Caminho 2.
Caminho 3
Caminhos 1-2-3 Caminho 2 1-2-3

Um Caminho não
exclui o outro, eles se Chamam de quarto
“O trabalho voluntário complementam. Optam Caminho. Usam mais
Diz que os três
pode ajudar com pelo trabalho nas elementos do Caminho
Caminhos são
campanhas solidárias e “bases”. Dizem que é 3. Os(as) jovens
complementares. E
a participação direta na importante a estariam no 3, mas
que a mesma pessoa
3 política ajuda a reforçar participação em todas percebem a
pode estar nos três,
a luta” as frentes. Tomam os necessidade do 1 para
porque o que importa
Caminhos 1 e 2. grandes temas resolver algumas das
“é o objetivo”.
(educação, trabalho...) semelhanças. Rejeitam
1-2-3
e mostram o que pode o 2 por ser individual.
ser feito em cada um. 1e3
1-2-3

Citam o grupo
“Conscientização”: 4º
AfroReggae como
Caminho. Cada pessoa Sugerem a formação exemplo de Propõem a criação
pode ajudar da sua de um Grupo organização dos do Partido Moderado
maneira. O Grupo e cada um dos seus jovens. E outros Reacionário, a partir
mostra exemplos de membros poderia exemplos no campo da dos pontos importantes
4 como cada Caminho atuar no Caminho comunicação, internet dos três Caminhos.
pode solucionar que preferisse. que estaria divulgando Mas, em plenária,
problemas nas áreas 1-2-3 as reivindicações e eliminam o Caminho 2.
de educação, trabalho
monitorando as ações Caminhos 1 e 3
e lazer.
dos(as) políticos(as).
1-2-3
Caminho 3

Formam um grupo
Escolhem o 3, mas
(Força e Ação), com
dizem que não houve Forma um 4º Caminho,
elementos do 3. Com
consenso. E o Grupo dá exemplos de como
um trabalho mais na
mostra como esse as semelhanças
Não teve comunidade. Propõem
5 Caminho pode ajudar podem ser resolvidas
este Grupo neste dia. apoio a grupos (Arco-
nas mudanças na com pontos dos três
Íris), falam em grafite,
educação, trabalho e Caminhos.
em campanhas de
cultura/lazer. 1-2-3
doação de sangue.
Caminho 3
Caminho 3

40
Como podemos observar, a opção mais freqüente em todos os GDs foi reunir os
diferentes Caminhos. Dentre os 18 subgrupos, 13 fizeram algum tipo de associação: dez
subgrupos articularam os três Caminhos e três juntaram dois Caminhos (um deles reuniu os
Caminhos 1 e 2 e os outros dois escolheram a reunião entre os Caminhos 1 e 3).

Na compreensão dos(as) jovens, um só Caminho parecia insuficiente para dar conta da


complexidade dos problemas a serem superados e dos objetivos a serem alcançados. Além
disso, a construção de um quarto Caminho, com elementos retirados de mais de um dos
Caminhos propostos, parece indicar a compreensão de que se cada um seguir o Caminho com
o qual mais se identificar, as mudanças acontecem.

(...) Na nossa opinião, não há um Caminho que possa resolver os problemas que nós
mesmos apontamos. Não há um Caminho exato [mas] todos eles. E cada um poderia
escolher um, e juntos, poderia haver essa mudança, Aí, a gente fez isso daqui de
acordo com os problemas apresentados. Cada um vai seguir o seu Caminho, sendo
que para se ter um resultado melhor, um Caminho precisa ajudar o outro, vai ter que se
unir ao outro. Se a gente tem um objetivo, que é transformar um Brasil melhor,
respeitando as vontades de cada um, e tentando torná-las realidade, cada um fazendo
o seu, vai juntando [e] tudo vai dar uma coisa só. É isso, então a conclusão é essa: não
tem como resolver todos esses problemas que nós apontamos só com um Caminho, e
sim com os três Caminhos, cada um ingressando em um, e o conjunto final disso
resultaria na solução dos problemas. (GD2)

Assim, a tendência pela união dos três Caminhos, por um lado, pode significar o
reconhecimento de que os Caminhos se complementam, sendo formas válidas de participação;
por outro lado, demonstra também o respeito à escolha de cada um(a) dos(as) componentes
diante da dificuldade de se conseguir chegar a consensos no interior dos subgrupos.

Foram vários os processos através dos quais os(as) jovens construíram esses Caminhos
sínteses. Uma forma de construção adotada algumas vezes foi tomar cada um dos objetivos a
serem alcançados [os consensos em torno do que devia melhorar na vida dos(as) jovens, da
parte da manhã] e verificar que Caminhos seriam mais apropriados para atingir esses objetivos.
Dessa forma, apresentaram como resultado de suas reflexões uma lista na qual cada objetivo
correspondia a um ou mais Caminhos e explicavam o porquê da escolha. Por exemplo, se
os(as) jovens reivindicam “maior especialização durante o Ensino Médio”, a opção seria pelo
Caminho 1 porque “com ele, você poderia, estando em um partido político, em um movimento
estudantil, fazer com que se criasse uma lei para aumentar a carga horária, incluir certas
matérias que não existem”.

Nem sempre os Caminhos eram explicitamente nomeados, mas as argumentações


apontavam algumas características de cada um deles, o que pode demonstrar que os(as)
jovens possuíam referências sobre as diversas formas de organização da sociedade: “sobre

41
trabalhar muitas horas... Então, seria recorrer a direitos, lutar pelos seus direitos. Ir a
sindicatos, procurar saber qual o seu horário certo de trabalho, a sua função (...)”.

No GD1, um dos subgrupos encontrou outra maneira para construir um quarto


Caminho, que denominaram de Movimento a Favor da Juventude. Eles(as) utilizaram
elementos dos três Caminhos, mas suas propostas não eram dirigidas diretamente à
concretização dos objetivos da manhã, mas buscaram a superação de alguns dos pontos
contrários a cada um dos Caminhos apresentados no Roteiro para o Diálogo. Assim relataram
sua escolha:

Como acabar com a corrupção? Então, a gente entendeu que o primeiro Caminho
estava dizendo a parte da política, então, a corrupção, a gente entende que teria que
ser uma comissão ou um grupo de pessoas do nosso conhecimento que irá buscar os
nossos direitos, mas sem perder os ideais. Quando está dentro do poder, não
esquecer as suas idéias iniciais. E o povo, nós, como jovens e cidadãos, a gente tem
que cobrar, então ficar junto deles cobrando junto, entendeu? Fiscalizando...
E o segundo tópico a gente colocou o Trabalho voluntário. Como assim? Ajudar não
só na forma individual, tem que ter assim um grupo dentro da área política, do âmbito
da política, mas os jovens têm que se unir também de outras formas. Onde o governo
não está chegando, os jovens têm que fazer sua parte sim. Como pré-vestibulares
comunitários, a ajuda mesmo de mão-de-obra na construção de escolas, de praças.
Botar a mão na massa mesmo. Tanto os jovens quanto o resto da população.
Bom, e o terceiro tópico seriam os Movimentos culturais. Como? Grupos de dança,
grupos de artes cênicas e outros grupos. Até quem tem conhecimento como os
jovens que já se formaram em Administração, em Contabilidade começar a promover
cursos para divulgar, tipo a contabilidade... assistente de departamento pessoal.
Quem já é mecânico profissional, começar a dar cursos. Então é começar a se
movimentar em prol. Não só esperar também do governo” (GD1).

A partir do terceiro Grupo de Diálogo, para evitar essa tendência de justaposição de


Caminhos para solucionar cada um dos problemas levantados na parte da manhã, os(as)
facilitadores(as) passaram a desafiar os subgrupos a escolher ou inventar um único Caminho
através do qual pudessem alcançar as melhorias desejadas para a vida dos(as) jovens.
Um exemplo de síntese original foi elaborado por um dos subgrupos do GD4, que
apresentou como quarto Caminho um partido político diferente:

Esse é o PMR – Partido Moderado Reacionário. Nós lemos os três pontos e os três
Caminhos e, como eles tinham, feito nós usamos alguns pontos importantes e
fizemos um só partido. Então, pegamos o primeiro Caminho, onde a inclusão num
grupo social ou partido, mas com a ausência de um líder, em que todos têm a mesma
autonomia para debater certos assuntos.(...) A atuação junto aos partidos políticos,

42
então a gente vai servir de ligação entre a sociedade junto com os partidos políticos,
isso se não fizermos parte do próprio governo e da própria política, que ficaria melhor
ainda. Se não acontecer isso, estaríamos fiscalizando junto ao governo verbas que
estão sendo implantadas na comunidade.Nós teríamos assim o nosso lado
moderado, que é o lado mais burocrático do partido. E os reacionários estarão
fazendo [outras coisas] em lugares distintos da cidade. E como eles estarão fazendo?
Não é fazendo baderna, eles podem estar reivindicando de uma forma cultural,
fazendo teatro, se divertindo, batendo uma bola e conversando com a galera. E
ainda, reivindicando de uma maneira mais dura. Isso não quer dizer que vai sair
quebrando tudo, mas simplesmente fechar uma rua e dizer que não passa nada. O
[lado] reacionário estaria justamente em pontos estratégicos para estar trazendo à
sociedade discussões e quando houvesse alguma reivindicação quem estaria
fazendo isso seriam os reacionários. (GD4)

Nesse partido, os(as) jovens buscaram resolver o problema da concentração do


poder nas lideranças e o perigo de desvinculação das necessidades da população. Por isso,
associaram o lado “moderado”, da ação institucional, com o “reacionário”, segundo eles
responsável pela reivindicação, pela mobilização, pela reação, que pode incluir elementos do
Caminho 3 (através de expressões culturais, esportivas).
Isso pode demonstrar que, apesar de serem resistentes ao modelo de política
institucional que aí está – conforme argumentos apresentados em plenária, e que também
estão presentes em certo senso comum, que diz que o(a) jovem de hoje não se interessa por
política –, eles(as) reconhecem a importância do modelo clássico de participação representado
pelos partidos políticos, sindicatos e movimentos estudantis. O argumento de uma das jovens
chama atenção:

(...) essa parte política, nós, jovens, a gente acha meio chato, a maior parte dos
jovens... Nós, como jovens, como população, a gente tem culpa também. Não é só
ficar falando: ‘ah, os governantes...’, mas quem foi que colocou eles lá? Fomos nós.
Então, a gente tem que chegar junto e querer cobrar o que eles falaram pra gente.
Eles prometeram e têm que cumprir de alguma forma, entendeu? (GD1)

Ainda de acordo com a tabela 11, podemos perceber uma maior identificação dos(as)
jovens da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com o Caminho 3 (Eu e meu grupo: nós
damos o recado), que aparece sozinho ou associado a outros Caminhos nas escolhas de 16
dos 18 subgrupos; enquanto que o Caminho 1 está presente em todas as escolhas que
reuniram mais de um Caminho (13 subgrupos); e o Caminho 2 fez parte da opção de 12
subgrupos. E dos cinco subgrupos que escolheram um único Caminho, quatro escolheram o
Caminho 3 e um optou pelo Caminho 2.
A identificação com o Caminho 3 pode revelar a busca de reconhecimento do valor
dos(as) jovens e do potencial de sua atuação em grupos, que reúnem jovens em torno de

43
diferentes identidades e tornam-se canais de expressão, formas singulares de presença juvenil
na esfera pública. Além desse importante caráter de expressão de identidades, as sínteses
construídas indicavam outros aspectos dos grupos juvenis: a atitude de solidariedade; a
promoção de atividades artísticas e culturais, inclusive envolvendo uma mudança de enfoque,
podendo torná-las meios de profissionalização:

(...) nós formaríamos um grupo que daria assistência a diversas outras entidades,
dando assistência a entidades não-governamentais... Vamos citar o grupo Arco-Íris,
dando apoio a eles, na luta deles... Estaríamos dispostos a ajudá-los, não apenas
eles, mas também a outros grupos...; (...) que em um uma favela ou em uma escola
há muitos talentos. Por exemplo, na minha escola existem muitos jovens que gostam
de grafitar, e ao invés deles fazerem isso isoladamente ou de uma maneira errada,
eles poderiam se organizar e formar um grupo que está fazendo um quadro ou uma
arte que poderia estar rendendo dinheiro e uma profissão, porque grafite é uma arte.
Existe grafite em parede, quadro, em roupas e uma coisa que também seria diversão
se tornaria uma profissão (...) Com certeza, além da força, a gente tem que ter ação,
porque todo jovem sabe que o futuro da nação depende dele, só que não basta
apenas força, tem que agir também, não adianta ter pique ou idéia e ficar apenas no
papel, como os políticos fazem, é necessário que isso se torne realidade, por isso
chamamos nosso lema de Força e Ação. (GD5)

Para os(as) jovens, esses grupos também poderiam realizar algum tipo de ação
voluntária nas comunidades locais e ter impacto no campo da política. No entanto, apesar de
perceberem a importância da política institucional e seus mecanismos, os(as) jovens parecem
procurar manter uma certa autonomia frente a essas instâncias, delegando seu exercício a
outros(as) agentes:

Nós não fizemos o grupo ligado ao mundo da política, a gente fez o seguinte, junto
com o representante daquela comunidade, ele tendo o valor dele político, estaríamos
auxiliando ele, mas ele mesmo iria conversar com o prefeito ou com o governador da
área, reivindicando aquilo. A gente não tem nenhuma ligação política, nós temos o
nosso grupo que age independente da política ou de ONGs, a gente age por conta
própria podendo mostrar o nosso ideal. O representante da comunidade, vamos dizer,
a associação de moradores do bairro. Eles precisam colocar um show no bairro e não
estão conseguindo, então nós, do grupo, iríamos auxiliá-los para poder conseguir
isso. (GD5)

4.4 – Comentários finais

Quase chegando ao fim do Dia de Diálogo, todos(as) os(as) jovens presentes eram
convidados(as) a tomar o microfone e falar na grande plenária, respondendo a duas questões:

44
“Que recado você mandaria para as pessoas que tomam decisão em nosso país?” e “O que
aconteceu de mais importante aqui hoje?”.
a) Recados para os(as) tomadores(as) de decisões:
Nos “Recados para os(as) tomadores(as) de decisões no Brasil”, os(as) jovens orientaram suas
mensagens em dois grandes eixos: “Demandas por direitos” e “Percepções da política”. A
tabela 12 traz a freqüência com que esses temas apareceram nos recados.

Demandas por Direitos


Por um lado, no eixo das demandas, os recados consideraram duas versões de democracia – a
representativa, mais tradicional, e a participativa, mais recente no país, podendo ser localizada a
partir da promulgação da Constituição de 1988. Assim, na perspectiva da primeira versão, os(as)
jovens se dirigem aos(às) tomadores(as) de decisões, aqui vistos(as), principalmente, como
governantes da esfera executiva – municipal, estadual e federal –, apelando para “obrigação” de
seus(suas) representantes em fazer valer os direitos sociais percebidos e, na maioria das vezes,
vividos, como ausentes e/ou desigualmente distribuídos. As citações relativas a esses direitos
foram ordenadas conforme a seguinte escala: trabalho (15 citações); educação (14); assistência
aos desamparados25 (14); saúde (dez); segurança (oito).

Tabela 12 - Comentários finais: Recado para os(as) tomadores(as) de decisão

Comentários finais Grupo Grupo 1o Grupo 2º Grupo Grupo


(temas/questões) de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Recados para os(as) Exp.
15-17 18-24 15-24 15-24 Participativa
tomadores(as) (19/03) (02/04) (09/04) (30/04)
de decisão (12/03)
20 22 29 18 14
DEMANDAS
(total = 79)
Por “ajuda” e “cuidado”
6 2 4 1 1
em geral (total = 14)
Por mais emprego/
4 2 5 4 0
trabalho (total = 15)
Por mais segurança/
atenção com as
4 0 1 1 2
drogas/ criminalidade
(total = 8)
Por mais cuidado com
a saúde/ hospitais 0 2 3 2 3
(total = 10)
Por mais educação
0 2 4 3 5
(total =14)
Por reforma agrária
0 0 1 0 0
(total = 1)
Por infra-estrutura
0 0 0 1 0
urbana (total = 1)

25. Esta é a nomenclatura usada na Constituição de 1988.

45
Comentários finais Grupo Grupo 1o Grupo 2º Grupo Grupo
(temas/questões) de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo de Diálogo
Recados para os(as) Exp.
15-17 18-24 15-24 15-24 Participativa
tomadores(as) (19/03) (02/04) (09/04) (30/04)
de decisão (12/03)
20 22 29 18 14
Por mais oportunidade,
de um modo geral 0 2 0 0 0
(total = 2)
Por ouvir a população
e, principalmente,
3 4 5 5 1
os(as) jovens
(total = 18)
PERCEPÇÕES
(total = 57)
Dos(as) políticos(as):
egoísmo, falta de
5 3 6 3 5
consciência, corrupção
(total = 22)
Da política
0 3 8 4 1
(total = 16)
Auto percepção
1 4 0 2 2
(total = 9)
Consciência de
eleitor(a)/ cidadão(ã) 0 3 1 1 1
(total = 6)
Ações individuais
0 1 3 0 0
(total = 4)

O direito negado ao trabalho, para além da constatação expressa no desabafo de um


dos jovens – “é que o presidente tomasse vergonha na cara e acabasse com o desemprego”,
nessa faixa etária, se agrava frente às exigências para o ingresso no mercado de trabalho:
“dêem mais oportunidade de trabalho para quem não tem experiência”.
Ou quem já conseguiu ultrapassar essa barreira, aponta outras precariedades a
serem vencidas: “nem trabalho..., mas aumentar o salário, na moral”.
Em relação ao direito à educação, vista como fundamental, pois “sem educação não
tem solução” ou “dando educação para os jovens, formamos belos profissionais do futuro”, as
queixas se localizam mais na “qualidade” da educação do que, ao que parece, na necessidade
de mais escolas: “Melhorar a educação porque hoje em dia está horrível, está bem precária”.
A insistência do apelo ao direito à “assistência aos(às) desamparados(as)” que
mereceu o mesmo número de citações referentes ao direito à educação revela a permanência
da face mais bruta da desigualdade social no Brasil: “(...) muitos mendigos andando na rua,
têm que cuidar da miséria”.
Para entender o número de citações relativas ao direito à saúde (dez), mais até do
que o de direito à segurança (oito), deve-se levar em conta o momento da realização da
pesquisa que coincide com a intervenção oficial do Ministério da Saúde em alguns hospitais

46
públicos do Rio de Janeiro. A repercussão nos meios de comunicação das condições
“precárias” da saúde na cidade alimentou o debate nas plenárias:

Não é para o presidente, mas é para o nosso excelentíssimo prefeito, né? Que é algo
que está chamando muita atenção na mídia. Pro doutor César Maia: que pare de
pensar tanto no Pan-Americano e pense um pouco no povo que está lá no hospital ou
nos hospitais.

Nos recados dos(as) jovens, o direito à segurança se restringe ao combate à


criminalidade, às drogas e à violência, com um fim em si mesmo, ou seja, sem relação com as
causas que promovem essas tantas violências. Talvez, pela convivência cotidiana da violência
tanto imaginada como real, e alimentada pelo modo como o tema da segurança é apresentado
nos diferentes meios de comunicação: “Desse mais atenção à questão da violência, porque
senão iremos entrar em uma guerra civil, se os governantes não abrirem os olhos com a
criminalidade hoje no RJ”.
O depoimento a seguir ilustra bem o que vem sendo demonstrado em pesquisas
sobre juventude hoje, que apontam a proximidade do risco à violência entre os diferentes
segmentos sociais, apesar dos números enfocarem uma certa concentração dessa mesma
violência quando se utilizam determinados recortes, principalmente, o de cor, o de faixa etária e
o de local de moradia.

(...) que eles não se esqueçam que eles também moram no mesmo país, têm filhos
que moram no mesmo país. Se eles não tomarem conta do país da maneira certa,
eles mesmos podem se prejudicar, porque eles têm filhos que moram aqui. Em
relação à segurança..., se eles não derem crédito à segurança, aos jovens, um monte
deles vão se perder, vão traficar, vão roubar e provavelmente os filhos deles poderão
ser assaltados e poderão ser mortos.

Já na versão de democracia participativa, os(as) jovens entendem que uma escuta


qualificada das reivindicações da sociedade seja necessária antes da tomada de decisões
pelos(as) governantes. Os(as) jovens ainda não especificam uma forma institucionalizada por
meio da qual poderiam ser ouvidos(as), como, por exemplo, por meio dos conselhos de
direitos. Mas mencionam determinadas práticas que, hoje em dia, inclusive, vêm sendo
adotadas por gestores(as) públicos(as), qual seja, informar políticas públicas por meio de
pesquisas científicas. Daí a relevância dada à pesquisa em pauta: “é que o governo... pro
presidente, é que fizesse mais, assim, tipo, reuniões iguais a essa, com jovens, e intitulasse
uma pessoa jovem pra falar das condições dos jovens no país”.

47
Percepções da política
O segundo grande eixo denominado aqui de Percepções da Política, pode ser lido também
como um grande desabafo dos(as) jovens, que aproveitaram esse momento para expressar
seu descontentamento com os(as) políticos(as) e com a política. Dentre os comportamentos
mais desabonadores apontados pelos(as) jovens estão:
• o egoísmo: “eu acho que eles pensam só neles, por causa que se eles não
pensassem só neles, o mundo não estaria do jeito que está”;
• a corrupção: “se essas pessoas que tomam decisão forem as pessoas certas,
que cassem o mandato desses corruptos porque senão nunca vai acabar”;
• e, principalmente, a falta de reflexão na condução da política, o que estaria
reforçando a importância do conhecimento sistematizado para um bom termo da coisa
pública: “é que na hora de tomar as decisões, que o governo tenha mais consciência, que
eles possam realmente pensar, parar para refletir”.
Por outro lado, é possível encontrar nessas mesmas percepções determinada visão
da política como lugar do exercício da democracia, ao ser ressaltada, por exemplo, a
interdependência entre governantes e governados(as):

A mensagem que eu vou deixar não vai ser para o político eleito, e sim pra aqueles
que vão eleger os políticos. Que na hora do voto, lembrem de tudo isso que
estudamos aqui hoje, que debatemos hoje. Vamos ver as melhores propostas, as
pessoas que têm dignidade, lealdade, que têm competência, acima de tudo, pra
governar. E não trocarmos nosso voto por favores ou por acharmos o candidato
apenas bonitinho. (palmas)

Neste mesmo eixo das percepções, chamou nossa atenção a forma como os(as)
jovens se apresentam aos(às) “tomadores(as) de decisão” para, assim, se incluírem no jogo
político: “(...) porque eles podem até achar que o jovem não tem opinião própria, que o jovem
só quer bagunça. Mas, não. Os jovens têm idéias muito boas (...)”.
No conjunto dos depoimentos, diferentes tons, nuanças expressas pelos(as) jovens
ao se dirigirem aos(às) “tomadores(as) de decisão”, se tornaram perceptíveis por nós,
pesquisadores(as), por meio da experiência vivida no ato da pesquisa:
• desespero: “e que arrume mais emprego para esse país, pelo amor de Deus”;
• afronta: “pro sem-vergonha do Lula ... pra ele parar de viajar pra lá e pra cá e ver
que os jovens estão todos desempregados e a maioria dos jovens são pais de família e têm
que sustentar seus filhos, têm seu filho, sua esposa, sua família. E pra eles verem que a
gente quer um emprego, a gente quer trabalhar e quer ter experiência em alguma coisa”;
• ameaça: “é que eles tomem cuidado porque o jovem é revolucionário... e a gente
vai mudar este país”;
• desprezo: “e a mensagem... não tem nenhuma, não”;

48
• desafio: “experimenta passar o que a gente está passando, procurando
emprego”;
• revolta: “fala para essa máfia aí para devolver o dinheiro, porque é covardia o que
eles estão fazendo”.

Por fim, segue o depoimento de um jovem que, articulando os dois eixos (Demandas
por Direitos e Percepções da Política), resume bem o sentido de aperfeiçoamento da
democracia no Brasil: “Eu deixo, assim, uma coisa: sem justiça não tem democracia, né?
Então, cabe a gente também fazer a nossa parte”.

b) O que aconteceu de mais importante aqui hoje


Os(as) pesquisadores(as) aguardavam ansiosos(as) as respostas dos(as) jovens sobre o que
havia acontecido de mais importante durante o Dia, tanto porque era a oportunidade para saber
a avaliação que os(as) jovens faziam sobre aquela experiência, o que eles(as) mais
valorizaram no Dia de Diálogo, quanto pelo inesperado das respostas. E isso aguçava nossa
curiosidade e, muitas vezes, essas opiniões nos surpreenderam e mesmo emocionaram.
Reunimos as respostas em torno de alguns temas e subtemas. A freqüência com que
esses temas apareceram nos comentários dos(as) jovens encontra-se na tabela 13. O primeiro
conjunto temático que teve 51 referências, diz respeito à possibilidade de os(as) jovens
tomarem a palavra e as repercussões disso: eles(as) destacaram a oportunidade de
expressão de suas opiniões; que levou ao estabelecimento de uma interlocução; e assinalaram
a importância de terem suas idéias ouvidas e consideradas. Um segundo grupo temático está
relacionado ao campo da sociabilidade, e obteve 16 respostas: os(as) jovens ressaltaram a
oportunidade de conhecer pessoas, que possibilitou o reconhecimento de uma identidade
compartilhada. O terceiro conjunto de questões gira em torno do processo de aprendizagem
desencadeado durante o Dia, e teve 45 referências. Outro destaque foi dado ao fato de que
os(as) jovens participantes puderam pensar sobre o Brasil, sobre seus problemas, e as
formas de superá-los, o que constitui o quarto grupo temático, com oito referências. Ainda
nessa rodada de avaliação do Dia, alguns(mas) jovens aproveitaram para dizer que tinham
gostado da experiência e para agradecer por terem sido convidados(as) a participar da
pesquisa26. Vejamos, a seguir, cada um desses grupos de respostas.

26. Apenas um jovem não respondeu a essa questão, restringindo seu comentário final ao recado aos(às)
tomadores(as) de decisão.

49
Tabela 13 – Comentários finais – o que aconteceu de mais importante

Comentários Grupo
Grupo de Grupo de 1º Grupo 2º Grupo
Finais de Diálogo
Diálogo Diálogo de Diálogo de Diálogo
O que aconteceu Exp.
15-17 18-24 15-24 15-24 Participativa
TOTAL
de mais
GD2 GD3 GD4 GD5 GD1
importante
(19-03) (02-04) (09-04) (30-04) (12-03)
(temas/questões)
1. O poder
da palavra
Expressão 1 3 1 0 0 5
Interlocução 7 10 8 11 1 37
Escutar
os(as) jovens/
1 4 1 0 3 9
Registrar suas
opiniões
2. Sociabilidade
Conhecer novas
3 1 5 1 1 11
pessoas
Identidade 0 4 0 0 1 5
3. Aprendizagem
Aprendizado
1 2 9 0 7 19
(sem especificar)
Aprendizado
(sobre o quê, 0 4 1 4 2 11
para quê)
Aprendizado
através da 5 0 6 2 2 15
interlocução
4. Pensar
3 3 0 1 1 8
sobre o Brasil
5. Gostei 0 2 7 2 1 12
6. Agradecimento 0 1 9 0 0 10
7. Outras repostas 0 2 0 3 1 6
8. Não declarou 0 0 0 1 0 1
Total
de referências 6 6 16 6 11 45
à aprendizagem
Total
de referências 12 10 14 13 3 52
à interlocução

O “poder da palavra”
Para os(as) jovens, o Dia de Diálogo foi considerado importante porque lhes deu a palavra,
possibilitando a expressão tanto individual como coletiva. Era a oportunidade de falar sobre o
que pensam e desejam, sabendo que havia outras pessoas interessadas em conhecer suas
opiniões. Os depoimentos sugerem que, em geral, a opinião dos(as) jovens não é considerada.
Poderíamos nos perguntar em que medida eles(as) estariam sendo ouvidos(as) nos espaços

50
sociais como a família, a escola, no ambiente de trabalho, ou mesmo em grupos e entidades
dos quais participam. Por isso se surpreenderam que houvesse pessoas, instituições, e mesmo
organismos do governo dispostos a escutá-los(as) e, desse modo, assinalaram a importância
da pesquisa que lhes propiciou a experiência da centralidade da palavra.

O mais importante é que eu hoje eu debati e foi gravado, e agora ‘eles’ vão ouvir.
Porque eu sempre debato, debato, e nunca foi gravado. Agora eles vão ouvir a mim.
Cada debate que a gente faz, a gente conhece pessoas. Mas aí ninguém ouve a
gente, né? E agora ‘eles’ vão ouvir, vão ser obrigados a ouvir a nossa opinião. (GD1)

Os(as) jovens destacaram a experiência de conviver com opiniões diferentes, com


pessoas de situações sociais distintas e que é possível confrontar idéias, sem “brigas”,
respeitando as opiniões. Isso fica claro nos acordos realizados para a escolha do Caminho
síntese de cada subgrupo. Podemos sintetizar essas situações em torno da categoria
interlocução:

Eu acho que o que de mais importante aconteceu aqui hoje foi escutar mesmo os
pontos de vista diferentes, foi escutar os desejos de outros jovens e, principalmente,
escutar a realidade de cada um aqui, da história de vida. Eu acho que é tão diferente
da minha. E eu acho que isso pra mim, pessoalmente, foi muito importante. (GD3)

Sociabilidade
Outro destaque diz respeito à possibilidade dada ao(à) jovem de experimentar outras
dimensões do convívio social. Sair do círculo mais restrito, do bairro, do município, do trajeto
cotidiano para a escola e/ou trabalho, atravessar a Região Metropolitana e, com isso, conhecer
pessoas vindas de outros lugares e descobrir identidades compartilhadas conformando, assim,
certa sociabilidade juvenil.

Eu acho que pra mim... eu estava em casa e, sinceramente, eu não estava muito a
fim de vir não, né?, mas como eu vou prestar vestibular esse ano, eu achei muito
importante saber isso, saber mais sobre o país, política e essas coisas assim. E eu
me interessei pra caramba. Eu fiquei muito feliz em ver que tem jovens que se
interessam, igual a mim... Pelo menos agora, né? (GD3)

Bom, o que eu destaquei de mais importante foi o aprendizado que eu tive hoje,
principalmente com amigo Douglas, que a gente confabulou muito aqui e o ‘maluco’
sabe pra caramba, queria dar meus parabéns aqui pra ele. (GD4)

51
Aprendizagem
Outra parte significativa dos(as) jovens destacou a dimensão do aprendizado que pode se
traduzir numa nova forma de observar certas questões ou mudar opiniões cristalizadas.

Na primeira vez das exaustivas vezes que eu peguei nesse microfone, eu acho que fui
um dos que mais falei aqui hoje, vão todos sonhar com a minha voz..., eu falei que
achava que o jovem estava alienado (...) e o que aconteceu de bom foi que eu percebi
que eu estava enganado. Então eu me sinto muito contente por isso. Por ver que
mesmo, às vezes, escondido, adormecido, o jovem, principalmente os jovens, aqui e
hoje, têm uma consciência política, sabem o que querem, principalmente. (GD3)

Pensar sobre o Brasil


E esse aprendizado pode motivar a ação dos(as) jovens para transformar o país. Ao terem sido
convidados(as) a falar sobre suas próprias vidas, como jovens brasileiros(as), alguns(mas)
deles(as) assinalaram que no Dia de Diálogo puderam analisar a situação do nosso país,
destacando a necessidade de implementação de mudanças:

O que aconteceu de mais importante pra mim aqui hoje foi esse movimento, essa
reunião pra tentar reverter esse quadro lamentável que a sociedade está
atravessando. (GD3)

No entanto, a ênfase colocada pelos(as) jovens na aprendizagem nos surpreendeu


[42% dos(as) jovens participantes dos GDs se referiram a isso], porque a formação não era o
objetivo primeiro do encontro. Por um lado, isso pode revelar que os(as) próprios(as) jovens
foram surpreendidos(as), porque tiveram acesso a alguma forma de conhecimento, numa
situação social em que não esperavam por isso, já que haviam sido convidados(as) para algo
diferente de uma aula, curso ou palestra.
Por outro lado, queremos explicitar que essa dimensão do aprendizado ficou muito
marcada, a ponto de, várias vezes, os(as) jovens mudarem a formulação da questão que lhes
havia sido proposta e que estava escrita no cartaz. Ao invés de responder sobre “O que
aconteceu de mais importante aqui hoje?”, muitos(as) jovens começavam dizendo “O que eu
aprendi de mais importante aqui hoje foi...“ Ora, isso pode mostrar que alguns(mas) se
inspiravam nas intervenções anteriores: depois de um(a) ou dois(duas) jovens dizerem que “O
que aconteceu de mais importante é que eu aprendi muito”, o(a) terceiro(a) dizia “O que eu
aprendi de mais importante foi...”. Algumas vezes, os(as) facilitadores(as) recolocavam a
pergunta original, mas os(as) jovens continuavam falando sobre seus aprendizados.

4.5 – Fichas pré e pós-Diálogo

As fichas Pré e Pós-Diálogo constituem um instrumento importante na metodologia


utilizada nesta pesquisa, porque buscam mapear a adesão e a resistência iniciais dos(as)

52
participantes frente aos Caminhos propostos, bem como se este posicionamento sofreu
alteração após o Dia de Diálogo.
Além disso, o cruzamento dessas informações com os dados de perfil (sexo, idade,
escolaridade, situação frente ao trabalho) revela se determinados grupos foram mais favoráveis
que outros a algum dos Caminhos, ou se tendem a uma maior mudança de avaliação após o
Diálogo.
Na RMRJ, observamos que o conjunto dos(as) jovens avaliou os três Caminhos de
forma muito semelhante, sendo que o Caminho 3 foi o que recebeu a menor média inicial:

Tabela 14 – Posição inicial e final dos(as) jovens da RMRJ frente aos Caminhos Participativos

Caminho Posição inicial Posição final


1 6,1 6,1
2 6,2 6,3
3 5,9 6,2

Expressando suas opiniões numa escala de 1 a 7, essas médias – em torno de 6,0 –


mostram que a tendência foi mais à adesão que à resistência aos três Caminhos. E como não
havia uma clara resistência a nenhum deles, os(as) jovens puderam combiná-los sem
restrições, como vimos anteriormente, e tenderam a organizar suas escolhas reunindo
elementos dos três. Apenas o Caminho 3 teve um ligeiro crescimento na adesão dos(as)
jovens: de 5,9 a 6,2.
O anexo 6 é constituído por tabelas que mostram a variação das notas dadas aos
Caminhos segundo as variáveis sexo, idade, escolaridade e situação no mercado de trabalho.
A seguir, uma síntese dos deslocamentos efetuados ao longo do Diálogo.

Caminho 1:
• maior adesão das moças (6,0 para 6,2) e os rapazes não mudam sua avaliação (6,0);
• a aceitação dos(as) jovens de 18 a 24 anos foi bastante reduzida (6,6 a 6,0);
• nos Grupos com jovens entre 15 a 24 anos, houve um aumento significativo da
adesão (5,7 a 6,2);
• a adesão inicial é ligeiramente maior entre os(as) jovens que trabalham (6,2) do
que entre os(as) que não trabalham (5,9) e não há variações significativas após o Diálogo:
para os(as) que trabalham, a média passa a 6,3, e para os(as) que não trabalham, 6,0;
• a maior resistência inicial é de quem concluiu até a 4ª série do Ensino
Fundamental (5,5)27;
• os(as) jovens mais escolarizados(as) (estudantes do Ensino Superior)
aumentaram sua adesão (de 6,0 a 6,4).

27. Mas havia apenas dois(duas) jovens nessa condição, e a mudança de posição de um(a) deles(as) teve
como resultado uma grande variação na média.

53
Caminho 2:
• a maior diferença na posição inicial entre rapazes (5,9) e moças (6,5);
• há uma convergência na posição final, porque a aceitação dos rapazes cresce ao
longo do Dia de Diálogo (6,2), e a das moças é reduzida para 6,3;
• o Caminho 2 foi o que obteve maior adesão entre os(as) jovens com experiência
prévia (6,8), e essa posição não é alterada ao longo do Dia de Diálogo;
• quando consideradas escolaridade e situação no mercado de trabalho, as
variações das médias de adesão não ultrapassam + 0,2.

Caminho 3:
• cresce a adesão das moças (5,9 para 6,4) enquanto os rapazes praticamente não
mudam sua opinião (6,0 a 6,1);
• os(as) jovens de 15 a 17 anos reduzem a adesão (6,2 a 5,8);
• os(as) jovens de 18 a 24 anos têm a menor adesão, antes e após o Diálogo (5,4 a 5,5);
• nos Grupos de 15 a 24 anos, houve a maior variação positiva (6,0 a 6,7);
• o mesmo ocorre com jovens dessa faixa etária com experiência prévia de
participação (6,1 a 6,8);
• tem a menor avaliação inicial entre os(as) jovens que trabalham (5,8);
• tanto os(as) jovens trabalhadores(as) quanto os(as) que não trabalham aumentaram
sua avaliação na mesma intensidade (de 5,8 a 6,1 e de 6,0 a 6,3, respectivamente);
• a resistência é diretamente proporcional ao aumento da escolaridade, tanto na
posição inicial quanto na final;
• o Diálogo aumentou a adesão a esse Caminho para jovens em todos os níveis de
escolaridade, exceto os(as) que têm até 4ª série;
• os(as) estudantes do Ensino Superior tiveram a maior variação positiva (5,2 a 5,8),
mas sua avaliação final ainda é menor que a média da avaliação final dada a esse Caminho por
todos os(as) jovens que participaram da pesquisa (6,2).

Análise qualitativa

Na ficha Pós-Diálogo, além de assinalar o grau de sua adesão aos Caminhos, os(as) jovens
poderiam estabelecer condições para suas escolhas. Uma parcela não se pronunciou (para o
Caminho 1, 19 jovens – 18%; Caminho 2, 18 jovens – 17%; e Caminho 3, 28 jovens – 27%).
E, dentre os(as) que responderam, alguns(mas) jovens justificaram suas escolhas e
outros(as) condicionaram suas opções, algumas vezes lançando mão dos próprios argumentos
contrários a cada Caminho encontrados no Caderno de Diálogo28.
No que diz respeito ao Caminho 1, percebemos que muitos(as) jovens percebem a
importância da participação nos espaços institucionais, mas querem garantir que “os jovens

28. Alguns(mas) jovens copiaram as repostas dos(as) colegas.

54
tenham de fato espaço para opinar e defender seus interesses”, e dizem “que nossas opiniões
sejam ouvidas” e querem que “haja debate amplo sobre os rumos tomados pela organização”.
Alguns(mas) jovens deram pistas de como deveria ser essa ação: “as instituições
organizem a sociedade e possam controlar as ações dos governantes”; “eu priorizaria as
organizações estudantis para tentar solucionar os problemas”. E buscaram responder aos
argumentos contrários a esse Caminho contidos no Roteiro para o Diálogo: “o jovem
represente totalmente os jovens, sem se corromper com os políticos antigos que não fazem
nada pelo povo”; “desde que não tenha corrupção nem manipulação”.
No entanto, alguns(mas) jovens continuaram dirigindo sua atenção à ação de
outros(as), sem se incluir no Caminho: “essas pessoas coloquem em prática a vontade da
maioria, sem pensar no individual, no que você lucraria com isso”; “esses jovens sejam
capazes de lutar pelos nossos direitos”; “eu não tenha que participar de partidos políticos”. Mas
também houve quem mostrasse exatamente o contrário: “não basta apenas uma parte dos
jovens tentarem lutar para melhorar a qualidade de vida, exigindo dos políticos, cada um de
nós devemos fazer a nossa parte”. E a participação nesse Caminho tem um objetivo preciso:
que “os jovens lutem contra a desigualdade social”.
As condições apresentadas à participação através do Caminho 2 mostram que
os(as) jovens reconhecem que a ação voluntária pode contribuir para melhorar a situação de
extrema precariedade em que se encontra uma parte da população. Por isso, eles(as) impõem
como condição que se consiga “ajudar muitas famílias que passam fome e que não conseguem
emprego”, e percebem que é preciso que “haja fiscalização para que não haja desvio de
alimentos e de materiais de construção”. Por outro lado, não querem que este tipo de resposta
se perpetue: “as pessoas que estão sendo ajudadas tenham consciência que a ajuda não é
para sempre”.
Também com relação a esse Caminho, os(as) jovens procuraram responder às
críticas apresentadas no Roteiro para o Diálogo. A maior preocupação era que, com a ação
voluntária, “o governo não deixe de fazer a sua parte com relação aos problemas sociais”. Por
isso, insistem que “as pessoas que participam destes trabalhos não tomem para si as
responsabilidades que não são delas e sim dos governantes” e “não haja o esquecimento da
cobrança, ou seja, não fazer tudo, sem que possamos cobrar dos nossos governantes que
possam mudar o país”. Outro argumento contrário foi respondido com a condição de que “o
voluntário exerça a solidariedade sob supervisão de um especialista”.
Os(as) jovens também expressaram nas condições a capacidade de reinterpretar os
Caminhos propostos. Para eles(as), o voluntariado não deve se restringir a uma ação
individual, e afirmam estar dispostos(as) a praticá-lo desde que “eu nunca tenha que trabalhar
sozinha” ou, como escreveu um rapaz, que “eu não participe sozinho, mas tenha apoio de um
grupo”. Em todo caso, os(as) jovens percebem que com a magnitude dos problemas sociais
existentes em nosso país, a ação voluntária não dispensa a “participação em organismos com
atuação mais ampla na sociedade”.

55
As condições impostas à participação no Caminho 3 mostram que os(as) jovens o
compreenderam como uma poderosa forma de expressão. Isso foi explicitado por um dos
jovens que escreveu: “concordo totalmente, pois os jovens podem criticar e expor suas idéias
através desses grupos”. Por isso desejam que “os jovens se organizem livremente”, e que
“esses grupos tenham representatividade e tenham suas opiniões respeitadas e consideradas”.
Eles(as) sabem que esses grupos juvenis têm potencial e podem oferecer à
sociedade “soluções inteligentes, interessantes e dinâmicas”. Assim, uma das condições
apresentadas era que os grupos juvenis “comprometam-se com a integração social, formando
grupos abertos, e explorando ao máximo a arte como forma de reivindicação”. E desejam que
os grupos “ajudem a pressionar os órgãos competentes a solucionar os problemas”.
Outra jovem impôs como condição que as atividades promovidas pelos grupos
“venham trazer melhorias no seu município”. E, mais uma vez, os(as) jovens apresentaram
uma reinterpretação do Caminho, manifestando seu apoio à organização de grupos juvenis
desde que eles “realmente lutem por direitos, e não apenas para levarem na ‘brincadeira’ os
direitos da juventude”, e que “haja um compromisso sério, não seja tratado como brincadeira”.
Os(as) jovens estavam atentos(as) ao risco de isolamento a que os grupos podem
estar sujeitos, referidos no Roteiro para o Diálogo. Por isso, sua adesão está condicionada ao
fato de que “o grupo não se isole, acabando por discutir temas que afetam apenas a seus
componentes”. Outras respostas seguiram a mesma direção: “os grupos não se fechem, e
sejam ligados a grupos maiores para conseguirem com mais facilidade os seus objetivos” ou
“não se fechem para si mesmos e não se tornem preconceituosos ou incapazes de se
relacionar”, e percebem que ”necessita de uma orientação para não cair em questões como
xenofobia”.
Muito pertinente foi a preocupação de que o grupo não sufoque as individualidades:
“trabalhar no coletivo, mas respeitar o individual”; “cada um respeite a opinião do outro, mas
que no final estejam todos juntos, para fazer o melhor para o país”. De fato, os(as) jovens
acreditam que a ação coletiva pode ter impacto sobre a realidade social: “os grupos realmente
trabalhem para inverter a situação do país, com união e força de vontade”.
Houve opiniões divergentes acerca de um ponto: ter ou não apoio de políticos(as)
para as atividades dos grupos juvenis? Alguns(mas) jovens pretendem que “os grupos sejam
ajudados pelo governo ou por ONGs”, que “os políticos patrocinem os jovens para divulgar a
mensagem”. Outros(as), no entanto, desejam que “nós compartilhemos nossas idéias sem
ajuda dos governantes”, procurando garantir autonomia. Para além da discussão sobre a
pertinência ou não do apoio, merece destaque a dimensão política expressa na condição
imposta por um jovem: que “o governo abra mais as portas da cultura, dando oportunidades
aos líderes desses grupos a ensinar a verdadeira cultura dos guetos, vielas, favelas, mostrando
ao Brasil a verdadeira cultura dos brasileiros”.

56
5 – Considerações finais

O Projeto Juventude Brasileira e Democracia investigou as formas, conteúdos e sentidos da


participação dos(as) jovens entre 15 e 24 anos nas esferas públicas e políticas. A partir dele,
foi possível traçar o perfil dos(as) jovens da RMRJ e de suas formas de participação social.
Essas informações e, especialmente, a experiência vivida com os(as) jovens nos Grupos de
Diálogo e as reflexões que daí decorreram, permitem que a equipe de pesquisadores(as) teça
as seguintes considerações:
• esta pesquisa proporcionou aos(às) 103 jovens que participaram dos encontros nos
Dias de Diálogo um espaço de escuta qualificada e respeitosa. Mesmo se, para alguns(mas),
não tenha sido a única experiência deste tipo, para a grande maioria, esse momento,
representou uma oportunidade de expressão, talvez, não encontrada por eles(as), seja na
escola, em casa ou em instituições que atuam junto a grupos juvenis, nas quais o seu lugar é
sempre o de receptor(a) do discurso do outro e de pouca valorização da sua condição de
autor(a) da palavra;
• de posse do direito à palavra, e colocados(as) em situação de diálogo, os(as) jovens
revelaram, a partir de suas vivências, um profundo conhecimento das marcas da desigualdade
social que estruturam a sociedade brasileira. Ainda que seja desigual o acesso à educação, ao
trabalho, à cultura e lazer, o tema da desigualdade esteve presente não somente nos
depoimentos dos(as) jovens mais pobres, mas foi a tônica nos Grupos de Diálogo, mostrando
uma crítica incisiva ao contexto socioeconômico e cultural que restringe as perspectivas de
inserção social para os(as) jovens de hoje, principalmente os(as) negros(as) e pobres;
• esse quadro, se, por um lado, pode inibir uma participação mais efetiva na esfera
pública, como mostrou a pesquisa de opinião, por outro, não anula o desejo de atuar para
resolver os problemas que os(as) atingem. Os(as) jovens da RMRJ, uma vez convidados(as) a
pensar “Que Brasil desejam e como chegar lá”, aceitaram jogar o jogo proposto pelos(as)
pesquisadores(as) diante das três opções de Caminhos Participativos apresentadas. Usando
sua criatividade, reelaboraram os Caminhos, a partir de suas diferentes maneiras de estar no
mundo, dando-lhes novos sentidos e costurando novos arranjos às maneiras de participação
propostas;
• a grande maioria das ações propostas por eles(as), resultantes dos consensos obtidos
ao longo dos Diálogos, falava em cobrar dos(as) políticos(as), “fiscalizar”, mas não diziam de
que forma isso poderia ser feito. Entretanto, alguns Grupos apresentaram maneiras de chegar
às autoridades, como, por exemplo, organizando grupos juvenis, articulando um movimento em
favor da juventude, ou até criando um partido político para fazer frente ao sistema político-
partidário que aí está, visto como inoperante e sem compromisso com os interesses da
coletividade;
• algumas vezes, suas propostas para chegar ao “Brasil que queremos” passavam por
práticas tradicionais da cultura política nacional, como acionar diretamente o Executivo ou

57
buscar a intermediação de um(a) parlamentar com base política local para o atendimento de
alguma reivindicação. Mas fizeram muitas críticas ao modelo da democracia representativa,
indicando que não basta somente votar. Assim, algumas vezes, as alternativas apresentadas
pelos(as) jovens se referiam aos princípios da democracia participativa, muito embora
desconhecessem os mecanismos de controle social através dos quais poderiam exercê-la,
como os movimentos sociais e conselhos de direitos;
• é importante assinalar que a participação em grupos juvenis se configurou como a
forma de presença na esfera pública que mais recebeu adesão dos(as) jovens da RMRJ
durante o Diálogo, privilegiando a promoção de atividades artísticas e culturais; nos locais de
moradia; e em atividades solidárias ou voluntárias;
• para nós, a compreensão e o desejo de participação que os(as) jovens apresentaram é
premissa para a assunção da noção e da prática de cidadania ativa, e pode ser a base da
participação popular na formulação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas.
Reforçar essa concepção entre os(as) jovens, viabilizando-lhes o acesso a informações que
acentuem esse conteúdo e impulsionem sua prática cidadã, pode ter um impacto positivo no
aprofundamento da democracia em nosso país;
• quanto à adaptação da metodologia dos Grupos de Diálogo à realidade brasileira,
percebemos que, para os(as) jovens, um dia intensivo de conversa e de aprendizado – quando
emitiram opiniões e colocaram-nas em diálogo com as opiniões dos(as) outros(as) – produziu
um deslocamento do eixo da reflexão, do âmbito privado ao público, lhes possibilitando a
expressão de uma análise crítica e a valorização da ação coletiva, colocando-se como sujeitos
da reflexão e da ação. O Dia de Diálogo despertou para a importância de refletir e posicionar-
se frente à situação brasileira. Alguns(mas) jovens inclusive buscaram informações junto
aos(às) pesquisadores(as) sobre possibilidades de atuação nos seus municípios;
• os(as) jovens demonstraram uma ampla capacidade de diálogo e de negociação para
chegar a consensos, indicando o reconhecimento de que os Caminhos Participativos propostos
se complementam, sendo formas válidas de participação; e, por outro lado, demonstrando o
respeito à escolha de cada um(a);
• desse modo, podemos dizer que o uso da metodologia foi um empreendimento bem-
sucedido, atingindo o duplo objetivo do projeto, pois se constituiu em um método de
investigação e um processo educativo ampliado, se bem que em outras oportunidades será
necessário um maior cuidado com a convocação, buscando meios de garantir a participação de
Grupos menos representados, como as jovens mulheres, e os(as) jovens com menor
escolaridade e os(as) mais pobres, além de efetuar uma melhor adaptação dos instrumentos
de Diálogo ao perfil desse público;
• para nós, pesquisadores(as), o projeto despertou a necessidade de, cada vez mais,
abrir canais para participação juvenil. E também de estreitar a aproximação entre diferentes
entidades para fortalecer ações articuladas que busquem ampliar e efetivar os direitos dos(as)
jovens brasileiros(as). Estamos de acordo que esses sujeitos e essa participação são
estratégicos na consolidação do processo de democratização da sociedade brasileira;

58
• entendemos que as informações reunidas através da pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia podem contribuir para a formulação de políticas públicas destinadas ao universo
juvenil, tendo como base a consulta direta aos(às) próprios(as) jovens, que desejam dar suas
opiniões e participar;
• por isso, defendemos que o projeto Juventude Brasileira e Democracia proporcione
aos(às) jovens que dele participaram a oportunidade de receber e discutir coletivamente os
resultados dessa investigação. E que, em cada Região Metropolitana, as instituições
responsáveis pela realização da pesquisa retomem o contato com esses(as) jovens,
convidando-os(as) para suas atividades, e/ou promovam atividades específicas para eles(as);
• desejamos que nossa análise possa contribuir com todos aqueles(as) que têm o
compromisso com a defesa e ampliação dos direitos dos(as) jovens brasileiros(as), mas
sabemos que esse objetivo se situa no processo amplo de luta pela superação das profundas
desigualdades sociais e econômicas que marcam o nosso país e na possibilidade de garantir o
caráter verdadeiramente público das políticas governamentais.

59
6 – Bibliografia

ABRAMO, Helena Wendel & BRANCO, Pedro Paulo Martoni (orgs.). Retratos da juventude
brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Instituto da Cidadania /
Fundação Perseu Abramo, 2005.

AGUIAR, Alexandre, BRANDÃO, Bianca, CUNHA, Marilena e RODRIGUES, Solange. Relatório


Preliminar da Pesquisa Qualitativa na Região Mertropolitana do Rio de Janeiro. Projeto
Juventude Brasileira e Democracia. Rio e Janeiro: Ibase, Pólis, Iser/Assessoria e
Observatório Jovem da UFF, julho de 2005, 158p. (documento digitalizado).

ANDRADE, Eliane Ribeiro. A Educação de Jovens e Adultos e os jovens do “último turno”:


produzindo outsiders. Tese de doutoramento. Niterói: UFF, 2004.

IBASE, PÓLIS. Que Brasil queremos? Como chegar lá? Roteiro para diálogo de pesquisa
Juventude Brasileira e Democracia. Rio de Janeiro: IBase e Polis, 2005.

NOVAES, Regina. Juventude e religião: marcos geracionais e novas modalidades sincréticas.


In: Pierre Sanchis (org.). Fiéis e Cidadãos: percursos de sincretismo no Brasil. Rio de
Janeiro: EdUERJ, 2001.

NOVAES, Regina. Os jovens de hoje: contextos, diferenças e trajetórias. Rio de Janeiro, 2004
(artigo inédito).

NOVAES, Regina e MELLO, Cecília. Jovens do Rio: circuitos, crenças e acessos. Rio de
Janeiro: Instituto de Estudos da Religião, 2002 (Comunicações do Iser, 57).

NOVAES, Regina, PORTO, Marta e HENRIQUES, Ricardo (orgs.). Juventude, Cultura e


Cidadania. Rio de Janeiro: Instituto de Estudos da Religião, 2002 (Comunicações do Iser,
edição especial).

NOVAES, Regina e VANNUCHI, Paulo (orgs.). Juventude e Sociedade: trabalho, educação,


cultura e participação. São Paulo: Instituto da Cidadania / Fundação Perseu Abramo,
2004.

PROJETO JUVENTUDE. Perfil da juventude brasileira. São Paulo: Instituto da Cidadania /


Criterium Assessoria em Pesquisas / Instituto de Hospitalidade / Sebrae, junho 2004
(www.projetojuventude.org.br).

RODRIGUES, Solange e CUNHA, Marilena. Relatório da Pesquisa Quantitativa da Região


Metropolitana do Rio de Janeiro. Projeto Juventude Brasileira e Democracia. Rio de
Janeiro: Ibase, Pólis e Iser/Assessoria, maio de 2005, 63 pp. (documento digitalizado).

SOARES, Luiz Eduardo e ATHAÍDE, Celso. Cabeça de Porco. Rio de Janeiro: Record, 2005.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência III:.os jovens do Brasil. Brasília: UNESCO,
Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça / SEDH, 2002.

60
7 – Anexos

ANEXO 1 – COMENTÁRIOS INICIAIS


Tabela A1a – Comentários iniciais: exemplos

Comentários
iniciais Grupo de Diálogo 15-17 anos
(temas 19/03/05
questões)
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
JF (...) eu tenho quinze anos, moro no Caramujo, Niterói. E o que me preocupa
no país, no Brasil é a violência.
JF (...) tenho dezesseis anos, moro no Engenho Novo. E o que procuro no
Brasil é menos violência.
JM (...) tenho dezesseis anos, moro em São Gonçalo. E o que me preocupa no
Violência
Brasil é a violência.
JM (...) tenho dezesseis anos, moro em Irajá. E o que me preocupa no Brasil é
a violência.
JF (...) tenho dezessete anos, moro em Belford Roxo. E o que mais me
preocupa no Brasil é a violência.
JM (...) tenho dezesseis anos, moro em Itaboraí. E o que mais me preocupa no
Segurança
Brasil é falta de segurança e desemprego.
Eu tenho dezesseis anos, moro em Caxias. E o que me preocupa assim no Brasil
hoje em dia é a criminalidade, que está uma coisa muito séria. Não está dando pra
Criminalidade
gente sair e passear, ir para alguns lugares legais. Isso é o que me preocupa no
Brasil.
JM (...) tenho dezessete anos e o que me preocupa no Brasil é a falta de
Desigualdade
desigualdade... quer dizer, é a falta de igualdade. É isso que me preocupa...
social
moro em Madureira.
JM (...) tenho dezessete anos, moro em Caxias. E o que me preocupa no Brasil
Desemprego
é o desemprego.
JM (...) tenho dezessete anos, moro em Olaria. E o que mais me preocupa no Brasil
é a falta de emprego.
Desemprego JM (...) tenho dezesseis anos, moro no Jardim América. E o que eu procuro no
Brasil é mais oportunidade de trabalho.
(Já citado com Segurança)
JF (...) eu tenho quinze anos, moro no Jardim América e o que me preocupa
Trabalho e
no Brasil é a falta assim... de possibilidades de trabalho... de educação, de
educação
uma educação melhor ...
Falta de acesso JM (...) tenho dezessete anos, venho do Camorim, em Jacarepaguá. E o que
à educação e à mais me preocupa é a falta de acesso à educação e à cultura.
cultura
Falta de JM (...) a minha idade é dezessete anos e eu moro em Campo Grande. O que
oportunidade me preocupa no Brasil é da falta de oportunidade
JF (...) tenho quinze anos, moro em Belford Roxo. E o que mais me preocupa no
Drogas
Brasil é a questão das drogas.
JF (...) tenho dezessete anos, moro em São João de Meriti. E o que me preocupa
Saúde
no Brasil é a saúde.
JF (...) tenho dezesseis anos, moro em Campo Grande. E o que me preocupa
Miséria
no Brasil é a miséria.

61
Tabela A1b – Comentários iniciais: exemplos

Comentários
Grupo de Diálogo 18-24 anos
iniciais
02/04/05
(temas/questões)
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
JF (...) eu tenho 21 anos, moro no bairro Lins de Vasconcelos e o que me
Violência
preocupa hoje é a violência.
JM (...) tenho 20 anos, moro em São João de Meriti e pelo menos pra mim, assim,
o que mais me preocupa no sentido de problema no Brasil é principalmente a
desigualdade social no sentido geral; tipo violência, desemprego, talvez
desemprego, claro, violência conta bastante, mas talvez desemprego no sentido
da juventude é bem forte.
JF (...) moro em Bangu, o que me preocupa muito é violência também, a
desigualdade social entre os jovens, não tem muita oportunidade, tem muitos
jovens, assim... como é que eu posso dizer, assim, que não têm oportunidade de
estudar, se metem no caminho da violência, das drogas, então eu acho que tinha
Violência e... que ter mais oportunidade pros jovens, obrigada. 23 anos.
JM (...) tenho 19 anos, moro na Barra, mas me preocupo com a violência, e o
desemprego, o primeiro emprego no caso.
JM (...) tenho 21 anos, moro aqui no Estácio, o que mais me preocupa é o que
todo mundo já disse: é a violência, e a saúde também preocupa bastante porque
hoje em dia é difícil tu ter um atendimento digno nesses hospitais de hoje em dia,
e a violência também me preocupa bastante.
JF (...) tenho 20 anos, moro em Manguinhos, a minha grande preocupação é a
discriminação, a violência e o desemprego.
JM (...) tenho 23 anos, moro em Santíssimo, o que me preocupa também é a
Segurança segurança, entendeu, pra todos nós, e uma coisa que aqui está sendo bem
falada que é o emprego para os jovens hoje em dia.
JF (...) tenho 20 anos, moro em Nilópolis e o que mais me preocupa é a
incompetência da polícia hoje em dia.
Polícia
JM (...) tenho 23 anos, moro no bairro São Mateus em São João, o que mais
me preocupa também como já falaram é a polícia.
JM (...) tenho 24 anos, moro em Paciência, o que mais me preocupa no
Desemprego
Brasil é o desemprego.
JM (...) tenho 18 anos, moro em Itaboraí e o que me preocupa mais, assim,
no momento, em relação ao jovem é falta de oportunidade que ele tem, a
Primeiro questão do primeiro emprego, porque muitas vezes as pessoas não querem
Emprego dar o emprego porque querem experiência do jovem, mas como que o
jovem vai ter experiência se não dão oportunidade de conseguir o primeiro
emprego?
JM (...) tenho 22 anos, moro em Nilópolis, eu acho que o que mais me
preocupa é educação, porque se você consertar a educação o resto você
conserta por tabela. Vai consertar a parte de violência, de racismo, de tudo,
porque os países desenvolvidos, eles investem muito em educação, por
isso que eles estão lá no alto.
Educação
JF (...) tenho 19 anos, moro em São Gonçalo, e o que me preocupa no Brasil
é educação, como ele falou ali também que... você vê que colégio público
dificilmente entra pra uma faculdade, mas tem a oportunidade da particular
que tem melhor ensino, então eu acho que trabalhando na educação é
fundamental no Brasil, e mais oportunidades para os jovens no emprego.
Falta de JM (...) tenho 19 anos, moro em Madureira, o que me preocupa mais é falta
Oportunidade de oportunidade que falta pros jovens.

62
Comentários
Grupo de Diálogo 18-24 anos
iniciais
02/04/05
(temas/questões)
JM (...) moro em Queimados, o que está me preocupando mais no Brasil é o
Abandono
abandono
JF (...) moro em Nilópolis e o que mais me preocupa é a morte dos jovens e
Drogas
as drogas que estão virando moda. Tenho 18 anos.
JF (...) tenho 22 anos, moro em Belford Roxo, e o que mais me preocupa já
foi colocado aqui entre todos os colegas, que é a violência, que está terrível,
o desemprego que é o maior número e também a saúde, a questão da saúde
Saúde está muito precária e gente vê todo dia na televisão falar sobre a saúde,
então você olhar pra aquilo você vê que é triste, é uma tristeza, porque se
você vai pra porta de um hospital, você não sabe se você sai dali morto ou
vivo. É uma situação muito triste mesmo.
JM (...) tenho 22 anos, moro no Cachambi e uma grande preocupação que
Alienação da eu tenho no momento sobre a juventude são as políticas de alienização da
Juventude juventude e por meio da mídia também, uma mídia de massas, onde também
vem proporcionando essa alienização política entre outras coisas.
JF (...) a questão que eu venho falar aqui, o que mais me preocupa é
realmente o que todo mundo já falou, eu acho que é a violência, a falta de
emprego, eu acho também que é um pouco do racismo aonde todo mundo
vai a procura de um emprego e hoje em dia está um pouco difícil, e a
questão é: o negro é muito mais, é muito mais difícil pro negro arrumar um
trabalho hoje do que pra um branco, isso é o que me preocupa.
JM (...) tenho 20 anos, moro na Tijuca, e o que mais me preocupa é a
Racismo violência, o desemprego, a péssima qualidade da educação básica
principalmente, e muitas outras coisas ai que estão muito erradas; o
racismo, como foi colocado, também é um ponto importante.
Muita gente diz que não existe, isso sai no jornal com artigos de jornalistas
consagrados, que têm nome, e que insistem em negar isso, que utilizam
números para dizer que o racismo não existe e é só perguntar pra qualquer
negro que vai num shopping, por exemplo, e sabe que tem racismo, que é
difícil arrumar emprego, que quando arranja o salário deles é menor mesmo
e isso é uma realidade do país.

63
Tabela A1c – Comentários iniciais: exemplos

Comentários
1º Grupo de Diálogo 18-24 anos
iniciais
(09/04/05)
(temas/questões)
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
JM (...) eu tenho 24 anos, eu moro no Rocha, eu trabalho com
telemarketing já tem oito meses mais ou menos, e o que me preocupa no
Brasil é o desemprego, a violência que é grande, deixa eu ver outras
preocupações; futuro em casa também, que eu tenho uma irmã que está
desempregada e está procurando emprego e a oportunidade é pouca pra
quem não tem experiência. Bom, e é isso, eu agradeço a oportunidade de
Desemprego estar aqui e bom dia a todos.
JM (...) tenho 20 anos, moro em São João de Meriti e o que me preocupa é
o desemprego, a miséria.
JF (...) tenho 17 anos, moro em Campo Grande e eu acho que o que me
preocupa mais no Brasil é a desigualdade social e o desemprego pro
jovem que está muito difícil.
JM (...) tenho 21 anos, moro no Rio Comprido, minha preocupação no
Brasil é o desemprego, a falta de oportunidade para os jovens em
faculdades, diversos outros, estudo colegial.
JM (...) tenho 19 anos, moro em Campo Grande e que mais me preocupa aqui
no Brasil é o desemprego, falta de oportunidades para os jovens concretizarem
Falta o seu futuro.
de oportunidade JM (...) eu tenho 17 anos, moro em Vigário Geral, e o que mais me
preocupa é a falta de oportunidades tanto na educação quanto no trabalho,
violência, saúde, enfim, várias coisas que ia prolongar demais aqui.
JM (...) tenho 19 anos, e eu moro em Paciência, perto de Santa Cruz, não
sei se vocês sabem onde é, e o que me preocupa é a falta de oportunidade
pro jovem, pro jovem em geral no Brasil, e a violência.
JM (...) tenho 17 anos, moro na Tijuca, e o que me preocupa no Brasil é a
violência.
JM (...) tenho 19 anos, eu também me preocupo muito com a violência, eu
moro em Colégio, perto de Irajá.
Violência JM (...) tenho 16 anos, moro na Ilha do Governador, e o que mais me preocupa
é a violência.
JM (...) o que me preocupa no Brasil na realidade é tudo, mas, em primeiro
lugar, a violência, que se deixar do jeito que está, o país vai ser governado por
um bando de marginais e ai não vai dar, né? Tenho 21 anos.

64
Comentários
1º Grupo de Diálogo 18-24 anos
iniciais
(09/04/05)
(temas/questões)
JM (...) eu tenho 20 anos, eu moro no morro do Vidigal e o que me
preocupa no Brasil é a violência e a educação.
JM (...) tenho 20 anos, moro na Tijuca, e o que me preocupa no Brasil é a
desigualdade social, violência, miséria, não tem como conviver.
JM (...) eu tenho 22 anos, moro em Magé, e o que mais me preocupa aqui
nessa cidade, além dela ser maravilhosa, é o desemprego, a saúde e a
violência.
JF (...) eu tenho 15 anos, moro na Penha, na Vila Cruzeiro, e o que mais me
preocupa é o desemprego e a violência.
Violência e... JF (...) moro em Santa Cruz e o que me preocupa hoje é o desemprego e a
violência. Obrigada.
JF (...) tenho 18 anos, moro em São Gonçalo – morro do Castro, e o que mais
me preocupa é a violência, a falta emprego e, de modo geral, as coisas, que
está muito difícil aí hoje em dia.
JM (...) tenho 18 anos e o que me preocupa mais seria a violência e a
educação. Cachambi.
JM (...) tenho 19 anos, moro em Bonsucesso e o que me preocupa no Brasil é
várias coisas; desigualdade social, desemprego, violência, saúde pública,
muitas coisas e assim vai.
JM (...) tenho 22 anos, o que me preocupa muito no Brasil é... eu acho que
a base de tudo é educação, que realmente é precária, e também eu acho
que parte um pouco da gente a vontade de aprender um pouco (...), eu
acho que não tem que só deixar o professor dar aula, eu acho que você
Educação tem que ter vontade de aprender, eu acho que parte dai pra gente
conseguir outras coisas.
JF (...) eu tenho 19 anos, eu acho que tudo que depende do governo está
em situação precária, mas eu acho que a pior é a educação e a saúde.
JM (...) tenho 18 anos, moro em Piabetá, e o que mais me preocupa no
Saúde
momento é a saúde pública.
JM (...) eu tenho 16 anos, moro em Nova Iguaçu, e o que me preocupa no
Política
Brasil é a política.
JM (...) tenho 18 anos, moro no Cachambi. Bom, o que me preocupa no
Corrupção Brasil, de certa forma, é a corrupção, porque ela é uma das principais
causas de tudo que está acontecendo.
JM (...) tenho 17 anos, moro em Nova Iguaçu, e o que me preocupa é a
Fome
fome e outras paradas aí.

65
Tabela A1d – Comentários iniciais: exemplos

Comentários
2º Grupo de Diálogo 15-24 anos
iniciais
(30/04/05)
(temas/questões)

Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
JM (...) eu tenho 22 anos e a minha preocupação aqui é a falta de emprego
na cidade.
JF (...) tenho 17 anos, moro em Brás de Pina. A minha preocupação é o
Desemprego
desemprego.
JF (...) eu moro em Parada Angélica. E a minha preocupação também é o
desemprego. Tenho 16 anos.
JM (...) tenho 19 anos, moro em São Gonçalo. E a minha preocupação é a
educação no Brasil.
Educação
JM (...) tenho 20 anos, moro no bairro de São Francisco Xavier. E a minha
preocupação é a educação.
JF (...) tenho 24 anos, moro em Piabetá. E a minha preocupação no Brasil é
a violência.
JM (...) tenho 19 anos, moro em Cordovil. E a minha preocupação também
é a violência.
Violência
JM (...) tenho 24 anos, moro em Paciência, Zona Oeste. A minha preocupação
também é a violência.
JF (...) tenho 18 anos, moro em Copacabana. E a minha preocupação
também é a violência.
JF (...) tenho 21 anos, moro em Nova Iguaçu, e a minha preocupação é o
desemprego e a violência, porque eu acho que uma coisa leva à outra.
JF (...) Bom dia, tenho 21 anos, moro em Bonsucesso. Minha preocupação é
Violência e... violência, desemprego e educação, porque um gera o outro.
JM (...) tenho 16 anos, moro em Parada Angélica, Duque de Caxias. E a
minha maior preocupação é a violência, que eu acho que é a causa, pelo
fato do desemprego.
Segurança JF (...) tenho 19 anos, moro no Ambaí, minha preocupação é a segurança.

Obs: Dos(as) dezoito jovens presentes, um chegou atrasado para as apresentações.

66
Tabela A1e – Comentários iniciais: exemplos

Comentários
Grupo de Diálogo Experiência Participativa
iniciais
12/03/05
(temas/questões)
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
Educação JF (...) moro no Rio Comprido, e o que me preocupa no Brasil é a educação.
JM (...) moro no Grajaú, e o que me preocupa muito no Brasil é a
violência.
JF (...) moro em São João do Meriti, tenho 17 anos, e o que me preocupa é a
Violência
violência.
JM (...) tenho 21 um anos, moro no Caju, e o que me preocupa é o que a
companheira citou ali, a violência.
JF (...) tenho 22 anos, moro na Taquara, e o que mais me preocupa é a
educação, desemprego e a violência.
JM (...) moro em Nova Iguaçu e o que me preocupa no Brasil é as drogas, a
Violência e... violência, tudo (...)
JF (...) eu tenho 17 anos, moro em Duque de Caxias e São João, depende,
porque o endereço lá em casa vem às vezes São João ou Duque de Caxias, e
o que mais me preocupa é a má distribuição de renda e a violência.
JF (...) tenho 19 anos, moro em Duque de Caxias, e o que me preocupa é
Segurança
a questão da saúde e da falta de segurança.
JM (...) tenho 15 anos, moro em Senador Câmara, e o que mais me
Pobreza
preocupa é a pobreza.
Saúde (Já citado em Segurança)

67
ANEXO 2 – SEMELHANÇAS
Tabela A2a – Semelhanças na educação
1. Formação de professores(as) – 4/5

GD2
(15 a 17 anos) Melhorar a formação dos(as) professores(as)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Qualificação de professores(as)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/04
GD5
(15 a 24 anos) Melhorar a capacitação do(a) professor(a)
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Cursos de aperfeiçoamento de professores(as)
12/03/05

2. Condições de funcionamento das escolas – 4/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3 Falta (mais) de material didático
(18 a 24 anos)
02/04/05 Políticas públicas de incentivo à educação

GD4
(15 a 24 anos) Alimentação / Segurança / Investimento
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Orientação pedagógica
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Escola de período integral com recreação, esporte e lazer
12/03/05

68
3. Relação professor(a)/aluno(a) – 3/5

GD2
(15 a 17 anos) Melhorar a relação aluno(a)/professor(a) (mais diálogo)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Melhor vínculo entre professores(as) e alunos(as)
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Adaptação dos(as) professores(as) aos(às) alunos(as)
12/03/05

4. Democratizar o acesso à universidade – 2/5

GD2
(15 a 17 anos) Abrir a universidade para jovens de baixa renda
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Acesso ao Ensino Superior
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

5. Remuneração dos(as) professores(as) – 2/5

GD2
(15 a 17 anos) Professores(as) melhor remunerados(as)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Valorização dos(as) professores(as)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

69
6. Aumentar número de professores(as) – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Falta de professores(as)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Mais professores(as)
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

7. Oferta de ensino profissionalizante no Ensino Médio – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Ensino/qualificação profissional
30/04/05
GD1 Maior especialização dos(as) jovens durante o Ensino Médio/
(Exp. Participativa)
12/03/05 Todas as escolas devem ter cursos profissionalizantes

8. Aumentar o número de escolas – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Mais escolas onde falta
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Distância entre trabalho e escola ou entre a casa e a escola
12/03/05

70
9. Educação para além da escola – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
Educação não é só dos(as) professores(as), do governo,
(15 a 24 anos)
mas também de casa
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Mais educação
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

Tabela A2b – Semelhanças no trabalho


1. Ampliação do mercado de trabalho específico para jovens – 5/5

GD2 Mais oportunidades de trabalho para os(as) jovens


(15 a 17 anos) Resolver a questão da experiência (tempo de experiência)
19/03/05 exigida para entrar no mercado de trabalho
GD3
(18 a 24 anos) Falta de oportunidade para o primeiro emprego
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Primeiro emprego (cursos)
09/04/04
GD5
(15 a 24 anos) Primeiro emprego mesmo sem experiência
30/04/05
1oGD
(Exp. Prévia) Parceria entre mais empresas e governo para os(as) jovens.
12/03/05

2. Oferta de cursos para o trabalho – 3/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4 Qualificação para conseguir emprego
(15 a 24 anos)
09/04/05 Facilitar acesso aos cursos (distância e custos)

GD5
(15 a 24 anos) Mais pessoas qualificadas
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Qualificação profissional dos(as) jovens
12/03/05

71
3.Oferta de estágios remunerados – 3/5

GD2
(15 a 17 anos) Estágios remunerados e para servir como experiência
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Mais estágios remunerados
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa) Dar oportunidade de estágios para estudantes e não estudantes
12/03/05

4. Superação dos preconceitos gerais para a admissão no mercado de trabalho – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Preconceitos: racial, físico, social e geográfico
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Superar os preconceito
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

5. Respeito aos direitos trabalhistas – 3/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Trabalhar muitas horas
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Valorização do trabalho humano
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Emprego com carteira assinada
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

72
Tabela A2c – Semelhanças em cultura e lazer

1. Criação de espaços para cultura e lazer nos bairros populares; descentralização – 4/5

GD2 Mais espaços de cultura e lazer para os(as) jovens


(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3 Falta de espaços de cultura nos subúrbios/Baixada
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4 Ter mais praças e áreas de lazer nos bairros
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
Área adequada para esporte e lazer próxima às casas
GD1
(Exp. Participativa) Pólos culturais populares de conhecimento público
12/03/05
Levar os eventos culturais para o interior do Rio de Janeiro

2. facilitar o acesso a espetáculos culturais via barateamento do preço dos ingressos – 3/5

GD2
(15 a 17 anos) Baratear preço dos ingressos
19/03/05
GD3 Ingressos mais baratos
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Preços mais acessíveis
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
Tema discutido neste GD, mas não chegou a ser apontado como
(Exp. participativa)
semelhança
12/03/05

3. Segurança – 4/5

GD2
(15 a 17 anos) Segurança para os(as) jovens terem mais lazer
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Falta de segurança nas praças
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Segurança
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Mais segurança
30/04/05
GD1
(Exp. participativa)
12/03/05

73
4. Divulgação de eventos e espaços culturais – 2/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Necessidade de divulgação maior
30/04/05
GD1
Pólos culturais populares de conhecimento público
(Exp. participativa)
(aqui pela questão da divulgação)
12/03/05

5. Palestras explicando o que é cultura – 1/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos) Palestras incentivando a cultura
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
(Exp. participativa)
12/03/05

6. incentivo ao esporte – 1/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Incentivo ao esporte
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
(Exp. participativa)
12/03/05

74
7. incentivo das famílias à presença em atividades de cultura e de lazer – 1/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos) Incentivo da família
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos)
30/04/05
GD1
(Exp. participativa)
12/03/05

8. Papel do Poder Público na oferta de atividades culturais – 1/5

GD2
(15 a 17 anos)
19/03/05
GD3
(18 a 24 anos)
02/04/05
GD4
(15 a 24 anos)
09/04/05
GD5
(15 a 24 anos) Eventos promovidos pelos governos
30/04/05
GD1
(Exp. Participativa)
12/03/05

75
ANEXO 3 – PALAVRAS-CHAVE E CAMINHOS PARTICIPATIVOS
Tabela A3a – Relação de palavras-chaves ditas pelos(as) jovens nos subgrupos e Caminhos Participativos

GD2 – 15 a 17 anos – 19/03/05

Vermelho Amarelo Laranja Verde


Cobrar do governo (1) Grupos culturais (3) Combate União
aos problemas sociais de jovens (3)
Atender às Conquista de respeito (2)
necessidades e diálogo com Reivindicações (3)
das comunidades (3) professores(as) (3) Ação social =
Capacitação pessoal Realização
Atividades culturais (3) Participação e profissional (2) de melhorias (3)
de jovens em
Mostrar as qualidades sindicatos e partidos (1) Fragilidade
dos(as) jovens (3) das ações sociais
Lei de melhoria na voluntárias (2)
remuneração de
professores(as) (1)
Jovens propondo
leis de incentivo
à lazer e cultura (1)

Tabela A3b – Relação de palavras-chaves ditas pelos(as) jovens nos subgrupos e Caminhos Participativos

GD3 – 18 a 24 anos – 02/04/05

Vermelho Amarelo Laranja Verde


ONGs (1, 3) Manipulação Participação “Sabe com quem
dos políticos(as) (1) de jovens na política (1) está falando?” (1)
Conhecimento de leis (1)
Participação política Organização estudantil (1) ONGs
Poder político (1) dos(as) jovens (1) e movimentos sociais (1)
Classes sociais
Política (1) Política (1) e poder político (1) Ajuda sem poítica (2)
Trabalho voluntário (2) Corrupção (1) Alienação (1) Ações reduzidas (3)
Voto (1) Respeito ao(à) Ação voluntária (2) ONGs (2)
Dependem jovem (1, 2)
Ajuda aos(às) pobres (2) Grêmios estudantis (3)
de financiamento Corrupção (1)
do governo (2, 3) Ação voluntária = (Organizações
Direitos da juventude (1) Capacitação pessoal (2) Estudantis – UNE (1)
Manipulação
de políticos(as) (1) Responsabilidade Ensinar e aprender (2) Oportunidade
do Poder Público (1) do(a) jovem falar
Ação individual (2) o que pensa (2)
Força política (1) ONGs (1, 2, 3)
Trabalhar
sem receber (2)
Trabalho comunitário (2)
Mais trabalho cultural,
menos trabalho
social (3)
Meios
de comunicação
a serviço da educação (3)
Individualismo (2)
Independência
com relação aos(às)
políticos(as) (2)
Papel reduzido
da juventude (1)

76
Tabela A3c – Relação de palavras-chaves ditas pelos(as) jovens nos subgrupos e Caminhos Participativos
GD4 – 15 a 24 anos – 09/04/05

Vermelho Amarelo Laranja Verde


Fazer pelo governo (2) Profissionais Voto (1) Amigos
desqualificados (2) da Escola/Amigos
Exigir e fiscalizar Aversão à polítca (1) da Alegria (2)
do governo (1) Eleições (1)
Ajudar às pessoas (2) Segurança
Poder e influência (1) Voto (1) na cultura e lazer (3)
O trabalho isolado
Vontade e palavra, Organização faz a diferença (2) Ingressos acessíveis
diferente de poder (1) e pressão política (3) para cultura (3)
Organização juvenil (3)
Democracia (3) Capacitação Debates/
para o trabalho (2) Cobrança/
Líder (1) Reivindicação (1) Conversas (3)

Corrupção (1) Não basta cobrar,


é preciso fazer (1,2)
Conscientizar
as pessoas (1)

Tabela A3d – Relação de palavras-chaves ditas pelos(as) jovens nos subgrupos e Caminhos Participativos
GD5 – 15 a 24 anos – 30/04/05

Vermelho Amarelo Laranja Verde


O poder da mídia (1) Assumir a Não houve Grupo Decisão/
responsabilidade Laranja Neste Dia Determinação (1)
Mobilização (3) do governo (2)
O poder da palavra (1)
A impotência Cultura e lazer (3)
dos(as) jovens (1) Formador(a)
Grupos de opiniões (1)
O poder político de comunicação (3)
tem o poder da força (1) Voluntariado
Geração de trabalho e emprego (2)
Cada um(a) e renda para jovens (3)
faz a sua parte (2) Ajudar e aprender (2)
Indivíduos Não tem burocracia (2)
pouco capacitados (2)
Grafiteiros (3)
Fragilidade
do trabalho voluntário (2)
Dificuldade
de apoio financeiro (3)

77
Tabela A3e – Relação de palavras-chaves ditas pelos(as) jovens nos subgrupos e Caminhos Participativos
GD1 – Experiência prévia – 12/03/05

Vermelho Amarelo Laranja Verde


Pichações de protestos Fiscalização (2,3) Poder (1) Não houve
nas escolas – grafite (3) Grupo Verde neste Dia
Respeito às diferenças (3) Governo (1)
Grêmios estudantis
Não esperar “Panelinha” de
(1, 2, 3) do governo (2) poderosos(as) (1)
Reivindicação (1, 2,3) Corrupção (1) Grêmio estudantil (1)
Capacitação Trabalho voluntário (2) Partido político (1)
para o trabalho (1)
Movimentos culturais (3) Isenção
Representação de de responsabilidade
jovens na esfera gov. (1) ONGs (1) do Poder Público (2)
Ações individuais X Apadrinhamento Grupos culturais (3)
Ações coletivas (2) de crianças (2)
Dança (3)
Partidos (1)
Lazer (3)
Não muda nada (3)
Caminho sem futuro (3)
Fechar-se em grupos (3)
Cada um(a)
faz a sua parte (2)
Profissionais
voluntários(as) (2)

78
ANEXO 4 – COMENTÁRIOS FINAIS 1
Tabela A4a – Recados para tomadores(as) de decisão

Comentários finais
(temas/questões)
Recados Grupo de Diálogo de 15 a 17 anos
para os(as) (19/03/05)
tomadores(as)
de decisão
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
“que ajudem a quem mais necessita”
“que continuem ajudando a todos”
Demanda por “que nunca esqueçam dos mais necessitados”
“ajuda” e “cuidado”
de um modo geral “(...) e que ajudem mais a gente, só isso”
“continuem tomando conta”
“olhasse mais pela miséria”
“(...) dar emprego às pessoas”
Demanda “ter mais trabalho”
por trabalho/
emprego (mesmo “que dê oportunidade ao jovem, porque tenho certeza que vários querem
sem experiência) trabalhar
“dêem mais oportunidade de trabalho para quem não tem experiência”
“Desse mais atenção à questão da violência, porque senão iremos entrar em
uma guerra civil, se os governantes não abrirem os olhos com a
criminalidade hoje no RJ”
Demanda “mais segurança na questão das drogas, porque eu acho que, aqui no RJ, as
por mais segurança drogas conseguem prosseguir muito facilmente”
“para diminuir a violência”
“eles olhasses mais pela violência (...)”
Levar em
consideração as “é que escute as outras pessoas antes de tomar decisões”
demandas da
“(...) e escutar o que estamos aqui falando”
população em geral
e, especialmente as “é que pensem mais em nós, jovens”
dos(as) jovens
“(...) eu acho que eles pensam só neles, por causa que, se eles não
Percepções dos(as) pensassem só neles, o mundo não estaria do jeito que está”
políticos(as): “é que eles deixem de pensar um pouco em si e pensarem nas pessoas (...)”
egoísmo, falta de
consciência, falta de “é que eles cumprissem suas promessas
reflexão, corrupção,
falta de seriedade “é que na hora de tomar as decisões que o governo tenha mais consciência”
“antes dos políticos falarem que pensem primeiro”
“que o futuro da nação são os jovens. Então, se a gente quer um país
Auto-percepção desenvolvido em todos os aspectos, acho que a gente tem que começar a
trabalhar pela base, que é o jovem”

79
Tabela A4b – Recados para tomadores(as) de decisão

Comentários
finais
(temas/questões)
Grupo de Diálogo de 18 a 24 anos
Recados
(02/04/05)
para os(as)
tomadores(as)
de decisão
Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
Demanda por “(...) que melhore o país para a gente”
“ajuda”, “cuidado”
de um modo geral “pensar no próximo”

“pro sem-vergonha do Lula ... pra ele parar de viajar pra lá e pra cá e ver que
Demanda por os jovens estão todos desempregados, e a maioria dos jovens são pais de
trabalho/ família e têm que sustentar seus filhos, têm seu filho, sua esposa, sua família.
emprego/ E pra eles verem que a gente quer um emprego, a gente quer trabalhar e quer
programas/ ter experiência em alguma coisa
aumento de
salário “é que o Presidente crie novas idéias, novos programas para os jovens de
todo o país, né?”
“(...) e que eles pudessem pelo menos tirar um pouquinho de tempo para ouvir
o que os jovens têm a dizer sobre o país”

Levar em “não é só pro prefeito ou pro presidente, mas em geral. Que analise direito a
consideração as nossa proposta, o que a gente tem pra oferecer. Não só a gente, mas tem
demandas da vários outros grupos que estão anônimos, querendo aparecer. Então que
população em dêem oportunidade para os outros grupos aparecerem também”
geral e, “para ele parar, pensar, ouvir a voz do povo primeiro pra depois tomar as
especialmente as decisões”
dos jovens
“é que o governo... pro presidente, é que fizesse mais assim, tipo reuniões
iguais a essa com jovens e intitulasse uma pessoa jovem pra falar das
condições dos jovens no país”
“não é para o presidente, mas é para o nosso excelentíssimo prefeito, né?
Demanda Que é algo que está chamando muita atenção na mídia. Pro doutor César
por mais cuidado Maia: que pare de pensar tanto no Pan-Americano e pense um pouco no povo
com a saúde/ que está lá no Hospital ou nos hospitais”
hospitais “e também a saúde porque a saúde hoje em dia... eu acho que você vai
doente para um hospital, você volta pior ainda ou então até morto”

Demanda “(...) eu volto a bater na tecla, igual eu vi na figura aqui do livro: sem educação
por mais não tem solução”
educação “(...) melhorar a educação porque hoje em dia está horrível, está bem precária”
Percepções
dos(as) “é que eles botem a mão na consciência e que comecem a passar a ser
políticos(as): honestos, porque no Brasil tem muitos corruptos”
egoísmo, falta de
consciência, falta “é que eles possam realmente pensar, parar para refletir (...)”
de reflexão,
corrupção, falta de “é que os políticos tenham mais seriedade com a gente”
seriedade
(com um certo ar de desprezo) “e a mensagem... não tem nenhuma, não”
Percepção “de abrir mais oportunidade pras pessoas, para os jovens que querem ajudar,
da política mas não têm como, porque a política não dá essa força pra gente”
“eu deixo, assim, uma coisa: sem justiça não tem democracia, né?”

80
Comentários
finais
(temas/questões)
Grupo de Diálogo de 18 a 24 anos
Recados
(02/04/05)
para os(as)
tomadores(as)
de decisão
“é que eles tomem cuidado, porque o jovem revolucionário... e a gente vai
mudar este país”
“(...) porque eles podem até achar que o jovem não tem opinião própria, que o
Auto-percepção jovem só quer bagunça. Mas, não. Os jovens têm idéias muito boas (...)”
“(...) mostrar que a gente pode fazer alguma coisa”
“a gente dando a nossa opinião, a gente pode estar ajudando eles em
alguma coisa”

Oportunidade “dar uma oportunidade pra gente poder seguir em frente (...)”
de um modo geral “abrir mais oportunidades para as pessoas, para os jovens que querem ajudar”
“é que eles nos respeitassem mais, porque fomos nós que colocamos eles no
poder, tanto presidente, governador, deputado, qualquer um”

Consciência “a mensagem que eu vou deixar não vai ser para o político eleito, e sim pra
de eleitor(a)/ aqueles que vão eleger os políticos. Que na hora do voto lembrem de tudo
cidadão(ã) isso que estudamos aqui hoje, que debatemos hoje. Vamos ver as melhores
propostas, as pessoas que têm dignidade, lealdade, que têm competência
acima de tudo pra governar. E não trocarmos nosso voto por favores ou por
acharmos o candidato apenas bonitinho”. (palmas)
Ações individuais “se unindo e respeitando um ao outro, a gente pode chegar lá”

81
Tabela A4c – Recados para tomadores(as) de decisão

Comentários
finais
(temas/questões)
1º Grupo de Diálogo de 15 a 24 anos
Recados para
(09/04/05)
os(as)
tomadores(as) de
decisão

Temas/
Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão
Questões
“Pensem no povo, que sofre tanto aqui no Brasil”
Demanda por “que eles cuidem desse país, porque não é só ele que vive aqui, tem muitas
“ajuda”, “cuidado” famílias. E que eles possam ajudar as pessoas que necessitam”
de um modo geral
“melhorassem os serviços públicos”
“(...) muitos mendigos andando na rua, cuidar da miséria”
“e que arrume mais emprego para esse país, pelo amor de Deus”
Demanda por “experimenta passar o que a gente está passando, procurando emprego”
trabalho/ emprego
(mesmo sem “melhorasse o desemprego”
experiência)/ “(...) nem trabalho, mas aumentar o salário, na moral”
programas /
aumento de “aumente a taxa de emprego”
salário
Demanda por “que acabem com a violência”
mais segurança
Levar em “pensassem mais nos jovens”
consideração as
demandas da “analisassem bem a pesquisa e fizessem valer todas as opiniões”
população em “olhasse mais para os jovens (...)”
geral e,
especialmente as “abrir mais espaços para os jovens”
dos(as) jovens “(...) que façam valer o nosso proveitoso dia”
“(...) para olhar para os hospitais também”
Demanda por
mais cuidado com “se preocupassem com a saúde”
a saúde/ hospitais
“invistam nos hospitais”
“Melhorar a educação no Brasil, que eles possam melhorar os colégios
públicos para as criancinhas também”
Demanda por “a educação realmente precisa ter um cuidado especial”
mais educação
“melhorasse a educação”
“invistam na educação
“é que o presidente tome conta do nosso país melhor do que ele toma da vida
dele”
Percepções
dos(as) “(..) que pensassem realmente no povo”
políticos(as): “deixe de roubar e gaste o dinheiro como deve gastar”
egoísmo, falta de
consciência, “governe o país com mais atenção”
falta de reflexão, “que, antes de tomarem decisões, eles pensem naquilo que pode causar
corrupção, falta através da decisão”
de seriedade
“fala para essa máfia aí para devolver o dinheiro, porque é covardia o que eles
estão fazendo”

82
Comentários
finais
(temas/questões)
1º Grupo de Diálogo de 15 a 24 anos
Recados para
(09/04/05)
os(as)
tomadores(as) de
decisão

“se essas pessoas que tomam decisão forem as pessoas certas, que cassem
o mandato desses corruptos, porque senão nunca vai acabar”
“que eles fossem mais unidos na hora de tomar decisões (...)”
“se eles não combaterem a corrupção vai continuar”
“só depende deles para mudar o Brasil”
Percepção
da política “tome decisões certas para melhorar o país, e não para piorar”
“pensem para tomar decisões porque não é só a vida deles, é a vida do povo
que eles estão escolhendo”
“acabar com a corrupção”
“pensassem nestas tais decisões priorizando as necessidades do povo
brasileiro”
Consciência
de eleitor(a)/ “(...) que pensassem realmente no povo que elegeu eles para eles estarem lá”
cidadão(ã)
“são as duas necessidades hoje que o Brasil se encontra, educação e reforma
Reforma agrária
agrária”
“(...) depende de organização e força de vontade, empenho, e se a gente
quiser mudar mesmo, vai mudar, é só a gente querer”
“faça a parte deles que eu farei a minha”
Ações individuais “é que agora conhecendo o que o jovem brasileiro pensa, o que o jovem
brasileiro acha... que nós estamos aqui, consiga passar isso pros nossos
amigos, nossos parentes, nossos irmãos... o que nós aprendemos, passar isso
adiante e fazer o que nós realmente escrevemos, fazemos, dissemos o que
nós achamos do Brasil... colocar isso em prática”

83
Tabela A4d – Recados para tomadores(as) de decisão

Comentários finais 2º Grupo de Diálogo de 15 a 24 anos


(temas/ questões)
(30/04/05)
Recados para os(as)
tomadores(as) de
decisão

Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse tema/questão


Demanda
por “ajuda” e
“fazer o bem sem olhar a quem”
“cuidado” de um
modo geral

Demanda “que pense na possibilidade de ajudar o jovem no dilema do desemprego”


por trabalho/ “(incentivar) mais empregos”
emprego (mesmo
sem experiência)/ “que eles se preocupassem com o emprego (...) no caso, para todos os
programas/ brasileiros”
aumento de “é que o presidente tomasse vergonha na cara e acabasse com o
salário desemprego”
Demanda “é que eles não se esqueçam que eles também moram no mesmo país, têm
por mais filhos que moram no mesmo país. Se eles não tomarem conta do país da
segurança/ maneira certa, eles mesmos podem se prejudicar, porque eles têm filhos que
atenção com as moram aqui. Em relação à segurança... se eles não derem crédito à
drogas/ segurança, aos jovens, um monte deles vão se perder, vão traficar, vão roubar
criminalidade e provavelmente os filhos deles poderão ser assaltados e poderão ser mortos”

Levar em “pensassem mais nos jovens”


consideração as “analisassem bem a pesquisa e fizessem valer todas as opiniões”
demandas da
população em “olhasse mais para os jovens (...)”
geral e,
especialmente as “abrir mais espaços para os jovens”
dos(as) jovens “(...) que façam valer o nosso proveitoso dia”
Demandas
por mais cuidado “(...) para olhar para os hospitais também”
com a saúde/ “se preocupassem com a saúde”
hospitais
“(...) olhar para educação também”
Demanda
por mais “dando educação para eles (jovens), formamos belos profissionais do futuro”
educação
“que venham respeitar mais os jovens, venham incentivar o estudo”
Percepções “e na realidade, eles não pensam na juventude, eles pensam em encher o seu
dos(as) bolso e dar uma boa educação, uma boa saúde pros seus filhos, só pros seus
políticos(as): filhos. E os outros jovens que continuem na lama”
egoísmo, falta de
consciência, falta “porque eles prometem, prometem, prometem e na hora que eles estão lá no
de reflexão, alto, que eles conseguiram o que eles queriam, eles não fazem valer com a
corrupção, falta de palavra deles”
seriedade “que eles cumpram com a promessa deles”

84
Comentários finais 2º Grupo de Diálogo de 15 a 24 anos
(temas/ questões)
(30/04/05)
Recados para os(as)
tomadores(as) de
decisão

“uns meses atrás, os Senadores estavam preocupados em colocar amor na


bandeira nacional. Eu acho o seguinte, que antes deles se preocuparem em
colocar amor na bandeira nacional, eles deveriam se preocupar com a ordem
e o progresso do nosso país e com a ordem lá dentro mesmo, porque
realmente é uma verdadeira bagunça. A gente vê no jornal que quando há
votação, eles vão quando querem e recebem o salário que o povo, de
impostos. A pessoa se comprar uma bala está pagando imposto, se comprar
uma blusa, um quilo de açúcar, um quilo de arroz, a metade daquilo ali é
Percepção imposto que está enchendo o bolso deles(...)”
da política “pra eles melhorarem nessa parte porque rola muitas manipulações entre eles,
na Câmara ... principalmente lá, lá que é... eu acho que tinha que diminuir um
pouco, porque está muito entre eles. Eles estão tomando as decisões. Eu
acho que eles estão tendo mais a mesma força do que o presidente”
“é para o presidente. Para ele analisar bem o que está fazendo pra nós, pro
Rio de Janeiro, pro Brasil todo”
“é pros governadores saberem o que eles vão fazer durante esse tempo que
eles vão continuar no mandato pra depois não se arrependerem”
“olhe em geral para os jovens, porque o futuro da nação já não está nas
Auto-percepção pessoas mais velhas e sim nos jovens, que estão começando agora”
“(...) porque aos poucos, eles (os jovens) estão se perdendo”
Consciência
de eleitor(a)/ “que fizessem valer os votos”
cidadão(ã)
Demanda
por melhor
“é pros prefeitos também. Pra olhar pra rua, botar asfalto”
infra-estrutura
da cidade

85
Tabela A4e – Recados para tomadores(as) de decisão

Comentários finais
(temas/questões)
Grupo de Diálogo Experiência participativa
Recados para
os(as) (12/03/05)
tomadores(as) de
decisão
Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordam esse/a tema/ questão
Demanda por
“ajuda” de um “A maior parte da população, que necessita de coisas básicas”
modo geral
Demanda por mais
segurança/ “olhem mais pra segurança”
atenção com as
drogas/ “melhore a nossa segurança”
criminalidade
Levar em
consideração as
demandas da
“de eles frisarem as prioridades dos jovens que... tem um número muito
população em
grande de jovens...”
geral e,
especialmente as
dos(as) jovens
“olhem mais para a saúde”
Demanda por mais
cuidado com a “(...)a maior parte da população que necessita de saúde”
saúde/ hospitais
“eu peço sobre a saúde do país”
“olhem mais para a educação”
“a maior parte da população, que necessita de educação(...)”; eu peço sobre
a educação”
Demanda
por mais educação “investissem mais na educação”
“melhore a nossa educação”
Percepções “que não sejam muito egoístas e pensem nos outros também”
dos(as)
“pensem mais na coletividade”
políticos(as):
egoísmo, falta de “que eles façam, não só falem”
consciência, falta
“(...) não só ouçam, eles façam”
de reflexão,
corrupção, falta de “para olhar mais para o país e não pensar em si próprio”
seriedade
Percepção da “se preocuparem mais com a população e menos com a política”
política
“é que as pessoas que devem e correm atrás de nossos direitos não
desistam de correr atrás dos nossos direitos e continuam correndo, porque,
puxa... a gente precisa muito e sem essas pessoas que não correm atrás
Auto-percepção dos nossos direitos, o que será de nós?”
“a gente tem que correr atrás dos nossos direitos. Se a gente acha certo, se
é realmente de direito, o direito é dado e a gente tem que correr atrás dele”
“porque se eles não sabem, somos nós que pagamos os impostos, somos
nós que pagamos a eles”
Consciência de
eleitor(a)/
cidadão(ã)

86
ANEXO 5 – COMENTÁRIOS FINAIS 2
Tabela A5a – O que aconteceu de mais importante

GD2 – Grupo de Diálogo com jovens de 15 a 17 anos


19 de março de 2005 – RJ

Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão


1. O poder
da palavra
Expressão O que aconteceu de mais importante foi eu poder me expressar mais, porque
eu sou muito tímida.
Interlocução O que eu tirei de proveito aqui hoje, e acho que todo mundo, de que cada um
tem a sua opinião própria, cada um tem uma opinião diferente, e podemos
debater sobre isso.
Interlocução O trabalho em grupo foi bem legal, várias opiniões, também foi muito legal.
Interlocução Ter discutido, cada um expor sua opinião, e passou, eu mudei ao escutar
outras pessoas..
Interlocução O mais importante foi estar aqui e o diálogo, que foi bastante importante.
Escutar os(as) Pra mim, o que aconteceu de mais importante foi perceber esta iniciativa do
jovens / registrar governo e de outras instituições, e perceber que há pessoas que não são
suas opiniões consideradas jovens preocupadas em saber nossa opinião, não estou
chamando ninguém de velho não, tá? E que estão preocupados em elaborar
este projeto, não estou “rasgando seda”, mas o pessoal foi simpático com a
gente, todo mundo aqui não impondo opiniões, mas proporcionado a gente a
desenvolver nossas próprias idéias.
2. Sociabilidade
Conhecer pessoas Foi muito importante estar aqui hoje junto com vocês, conhecer
pessoas diferentes.
3. Aprendizagem
Aprendizado Eu aprendi muito.
(sem especificar)
Aprendizado Eu aprendi a trabalhar em grupo.
através da
interlocução
Aprendizado O que aconteceu de mais importante aqui hoje foi aprender a respeitar um ao
através da outro.
interlocução
Aprendizado Eu aprendi de mais importante (não só eu) a questão do relacionamento e do
através da diálogo, eu acho que todo mundo vai guardar isso.
interlocução
4. Pensar sobre o E parei para pensar sobre os problemas do Brasil.
Brasil
Pensar sobre o O mais importante que aconteceu aqui foi é que eu soube muitos problemas
Brasil que o Brasil tem e eu não sabia.
Pensar o Brasil O que aconteceu de mais importante foi poder debater o que o Brasil precisa e
(para mudar) ter idéias para conseguir transformar o Brasil, porque nós somos jovens e o
futuro depende de nós. Se trabalharmos agora, o futuro vai ser bom.

87
Tabela A5b – O que aconteceu de mais importante
GD3 – Grupo de Diálogo com jovens de 18 a 24 anos
02 de abril de 2005 – RJ

Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão


1. O poder
da palavra
O que aconteceu de importante foi a opinião, que nós podemos se expressar,
Expressão
podemos dar as nossas opiniões hoje.
O que aconteceu de mais importante, pra mim, foi poder expor as minhas
Expressão opiniões, os meus desejos com os outros colegas aqui, né? Poder fazer os
trabalhos. Foi bem interessante, de fato.
O que aconteceu de mais importante pra mim foi essa conversa entre os
Interlocução
jovens que eu nunca participei.
Eu acho que o que de mais importante aconteceu aqui hoje foi escutar mesmo
os pontos de vista diferentes, foi escutar os desejos de outros jovens e,
Interlocução principalmente, escutar a realidade de cada um aqui, da história de vida. Eu
acho que é tão diferente da minha. E eu acho que isso pra mim,
pessoalmente, foi muito importante.
O que aconteceu hoje de mais importante aqui foi o diálogo que a gente
Interlocução tivemos, a diferença social entre um jovem e outro, as facilidades que uma
pessoa tem pra arrumar emprego e a outra já não tem...
E fazer os trabalhos, saber que ainda tem aquele espírito de amizade, de
Interlocução
debate, sem brigas e sem discussão.
Escutar os(as) É bom a gente estar aqui e sabendo que não vai ser em vão isso que a gente
jovens / registrar está falando, ou o que a gente escreveu, entendeu? O que a gente escreveu
suas opiniões ou o que a gente falou.
O que aconteceu de mais importante hoje, pra mim, foi saber que tem alguém
Escutar os(as)
que se preocupa com a nossa opinião de nós, jovens. Saber que a gente pode
jovens / registrar
reclamar, falar o que está certo e o que está errado... dar nossa opinião, é
suas opiniões
claro.
2. Sociabilidade
Conhecer pessoas Foi muito bom participar e conhecer todos.
Eu acho que pra mim... eu estava em casa e sinceramente eu não estava
muito a fim de vir não, né?, mas como eu vou prestar vestibular esse ano eu
achei muito importante saber isso, saber mais sobre o país, política e essas
coisas assim. E eu me interessei pra caramba. Eu fiquei muito feliz em ver
Identidade
que tem jovens que se interessam, igual a mim... pelo menos agora, né? E eu
achei que ia vir muito mesmo poucas pessoas aqui. Eu fiquei surpresa pelo
número de pessoas, mas falaram que ia ser a maior quantidade, mas eu fiquei
surpresa pelas pessoas que vieram.
Tanto que tem pontos de que... interessantes, de pessoas aqui que eu nunca
vi na minha vida, que moram bem distante de mim e que sempre têm a
Identidade
mesma opinião do que eu. É importante saber isso e que quer um país
melhor. Tanto eu quanto outras pessoas que eu vi aqui hoje.
3. Aprendizagem
Aprendizado
Hoje eu aprendi várias coisas importantes.
(sem especificar)
Aprendizado
(sobre o quê, O que eu aprendi aqui hoje foi sinceridade, entendeu, das pessoas.
para quê)

88
Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão
Na primeira vez das exaustivas vezes que eu peguei nesse microfone, eu
acho que fui um dos que mais falei aqui hoje, vão todos sonhar com a minha
Aprendizado voz... eu falei que achava que o jovem estava alienado. E graças a qualquer
(sobre o quê, força superior, eu... o que aconteceu de bom foi que eu percebi que eu estava
para quê) enganado. Então eu me sinto muito contente por isso. Por ver que mesmo às
vezes escondido, adormecido, o jovem, principalmente os jovens aqui hoje,
têm uma consciência política, sabem o que querem principalmente.
Gostaria também de agradecer aos representantes do Iser Assessoria, do
Aprendizado
Instituto Pólis e do Ibase, que foi onde eu pude aprender com essas pessoas
(sobre o quê, para
muito que não deve desistir, deve buscar caminhos, vias de fato para o que
quê)
acreditamos.
Aprendizado
O que eu achei de importante foi saber que tem muitos jovens que realmente
(sobre o quê,
se preocupam com o futuro do nosso país.
para quê)
Se não fosse essa oportunidade aqui hoje, a gente não poderia ter
4. Pensar o Brasil
expressado (...) o que está acontecendo no país, a política e muito mais.
Bem, o que aconteceu de mais importante pra mim aqui, hoje, foi participar
Pensar o Brasil dessa reunião, saber que todo mundo aqui tem idéias diferentes, idéias pra
(para mudar) mudar o país, pra poder mudar a situação que nós vivemos. E isso pra mim foi
muito significativo.
O que aconteceu de mais importante pra mim aqui, hoje, foi esse movimento,
Pensar o Brasil
essa reunião pra tentar reverter esse quadro lamentável que a sociedade está
(para mudar)
atravessando.
O que aconteceu hoje foi bom demais. Eu acho que todo mundo que está aqui
5. Gostei
gostou.
6. Agradecimento Então, eu agradeço muito a oportunidade que foi dada aqui hoje.
E que acredito que a partir de hoje nós, todos aqui, esse seleto grupo, que
7. Outra resposta vamos lembrar daqui a trinta, quarenta, cinqüenta anos, vamos mudar a nossa
maneira de agir lá fora, agir em sociedade.

89
Tabela A5c – O que aconteceu de mais importante
GD4 – 1º Grupo de Diálogo com jovens de 15 a 24 anos
9 de abril de 2005 – RJ

Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão


1. O poder
da palavra
O que aconteceu de importante foi que eu pude falar de problemas que
Expressão
antes eu não falava, né?
Bom, o que eu gostei mais foi das conversas, de poder discutir, poder
Interlocução
dialogar, foi um debate.
O que aconteceu de mais importante aqui foi o agrupamento de vários
Interlocução
jovens, e com isso teve o diálogo.
Era assunto que eu queria debater, coisas que eu queria passar e
Interlocução
receber, enfim...
O que mais aconteceu de importante hoje... o que eu mais gostei foi
Interlocução
dos debates, que eu ouvi novas opiniões além daquelas que eu já tinha.
Interlocução Bem, o que me aconteceu de mais importante hoje foi o diálogo em si.
Bem, o que eu gostei aqui hoje foi a troca de experiências, né? Foi muito
Interlocução
interessante, acho que pra todos nós.
Escutar os(as)
O que eu achei mais importante foi o debate, porque nem todo mundo pára
jovens / registrar
pra ouvir os jovens hoje em dia, então eu gostei muito.
suas opiniões
2. Sociabilidade
O que eu mais gostei aqui hoje foi de comparecer aqui, conhecer novas
Conhecer pessoas
pessoas.
Conhecer pessoas O que eu mais gostei aqui hoje foi ter conhecido todos vocês...
O mais importante pra mim hoje aqui foi (...) a convivência com outras
Conhecer pessoas
pessoas.
3. Aprendizagem
Aprendizado O que aconteceu de mais importante pra mim foi que eu pude ampliar
(sem especificar) meus conhecimentos.
Aprendizado Pra mim tudo foi importante aqui, eu pude aprender muito, até coisas que eu
(sem especificar) não sabia eu pude aprender.
Aprendizado E eu consegui me atualizar mais um pouco. Procuro sempre me atualizar
(sem especificar) mais e mais, e vocês me atualizaram ainda mais.
Pra mim o que aconteceu de mais importante hoje foi que tudo aqui que foi
Aprendizado
feito acrescentou muito na minha opinião pessoal sobre algumas coisas,
(sobre o quê)
educação e tal.
Aprendizado Bom, o que eu destaquei de mais importante foi o aprendizado que eu tive
através da hoje, principalmente com amigo Douglas, que a gente confabulou muito aqui
interlocução e o “maluco” sabe pra caramba, queria dar meus parabéns aqui pra ele.
Aprendizado
O Grupo Vermelho, que me ajudou bastante a esclarecer a opinião que eu
através da
tinha, individual. Eu tive um total esclarecimento nesse dia, aprendi bastante.
interlocução
Aprendizado e No primeiro tópico eu consegui adquirir bastante conhecimento com os
interlocução pensamentos de cada um, pensamentos diferentes.
Foi um prazer estar aqui, eu fiquei muito feliz em ter vindo, né?, tudo
4. Gostei
que eu ouvi...
Gostei Gostei do almoço.

90
Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão

Gostei Gostei do livrinho, que eu nem acabei de ler,


5. Agradecimento Eu queria agradecer pelo convite e também agradecer pelo Grupo que me
colocaram,
Agradecimento Eu queria agradecer por vocês terem me atendido com muito carinho, muita
atenção.
Agradecimento Eu queria agradecer pelo dinheiro. Eu queria agradecer por estar aqui.
Agradecimento Primeiro eu quero agradecer a oportunidade de estar aqui. E se houver uma
nova oportunidade, dependendo de vocês, eu estarei aqui de novo.

91
Tabela A5d – O que aconteceu de mais importante

GD5 – 2º Grupo de Diálogo com jovens de 15 a 24 anos


30 de abril de 2005 – RJ

Temas/Questões Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão


1. O poder
da palavra
Bem, eu achei importante o dia de hoje porque foi um encontro com pessoas
Interlocução com culturas diferentes, que moram em lugares diferentes e por isso tivemos
aqui opiniões diferentes, mas que, no entanto, todas devem ser respeitadas.
Na minha opinião, o que eu achei de mais importante foi o respeito pelas
Interlocução
opiniões. Mesmo que a pessoa não concorde, respeita..
Interlocução O que eu achei de importante hoje foram os debates.
O que aconteceu de mais importante aqui pra mim foi ter conhecido vários
Interlocução
jovens, saber da opinião de cada um que, pra mim, foi muito importante.
O que aconteceu de mais importante foi poder me reunir com os meus colegas
Interlocução aqui, com os jovens, e entrar em um acordo sobre o que nós debatemos aqui
hoje.
2. Sociabilidade
O que aconteceu de mais importante aqui pra mim foi ter
Conhecer pessoas
conhecido vários jovens.
3. Aprendizagem
Aprendizado
Aqui hoje eu aprendi como ajudar as pessoas. Eu já queria ajudar, mas não
(sobre o quê, para
sabia como, agora eu aprendi como ajudar as pessoas.
quê)
O que eu aprendi de mais importante é que o gesto que eu der, eu posso
Aprendizado
ajudar muitas pessoas. Eu fico assim: ah, eu queria ajudar alguém, mas eu
(sobre o quê, para
não sei como ajudar. Agora, através dessa palestra, eu sei como ajudar, e
quê)
muito.
Aprendizado
E a linha de raciocínio dos prós e dos contras da opinião, porque você não
(sobre o quê, para
pode pensar só na sua opinião, tem que analisar os prós e os contras.
quê)
Aprendizado O que eu aprendi hoje é que, por causa de um tema, várias pessoas têm
através da opiniões diferentes, razões diferentes. Dá pra analisar tudo, a opinião e aí
Interlocução você vê que a sua opinião pode ter uma influência de uma outra opinião.
E no final, acabou chegando tudo a uma conclusão, que é a melhoria pro
4. Pensar o Brasil
nosso país. Se for reparar, cada um, pensando na melhoria de cada um,
(para mudar)
ninguém quis o pior, todo mundo quis o melhor, e chegou a um acordo.
5. Gostei Vim de longe, mas gostei muito.
Gostei ... Eu nunca tinha participado de um debate desse antes, e eu gostei muito.
O que pra mim foi mais importante hoje foi a dinâmica, que mostrou, para
6. Outra resposta todos nós, que ora nós concordamos com uma coisa, ora nós entramos em
consenso, ora discordamos, ora estamos juntos e ora estamos separados.
[Pretendo] Passar tudo isso numa palestra na minha escola pra que eu possa
organizar um grupo na minha escola pra poder a gente fazer debate que nem
Outra resposta
a gente fez aqui, porque na minha escola, o que a gente está precisando é
isso.
7. Não disse O jovem passou direto para o recado ao tomadores de decisão.

92
Tabela A5e – O que aconteceu de mais importante

GD1 – Grupo de Diálogo com jovens com experiência participativa


12 de março de 2005 – RJ

Temas/ Exemplos de falas dos(as) jovens que abordaram esse tema/questão


Questões
1. O poder da
palavra
Interlocução Eu achei importante os debates, interessante, sobre os temas.
Eu gostei de saber que tem pessoas que se preocupam com a população
Escutar os(as)
jovem, porque geralmente a gente... não é perguntado do que a gente gosta.
jovens / registrar
Geralmente as pessoas impõem o que eles acham melhor pra gente, sem
suas opiniões
saber a nossa opinião.
O de mais importante é que hoje eu debati e foi gravado, e agora eles vão
ouvir. Porque eu sempre debato, debato, e nunca foi gravado. Agora eles vão
Escutar os(as)
ouvir a mim. Eu estou cansada de conhecer gente, como eu conheço. Cada
jovens / registrar
debate, cada doação que a gente faz, a gente conhece as pessoas. Mas aí
suas opiniões
ninguém ouve a gente, né? E agora eles vão ouvir, vão ser obrigados a ouvir a
nossa opinião.
Escutar os(as)
E também que tem pessoas fazendo esta pesquisa, justamente para escutar
jovens / registrar
nós, jovens, o que a gente está gostando ou não.
suas opiniões
2. Sociabilidade
Conhecer
O que gostei aqui foi de conhecer pessoas novas.
pessoas
O que eu achei mais importante aqui é que a maioria dos jovens aqui
Identidade
presentes tem a mesma linha de raciocínio.
3. Aprendizagem
Aprendizado
Aconteceram coisas boas aqui – eu aprendi muito.
(sem especificar)
Aprendizado
Pude tomar conhecimento de algumas coisas. E aprendi bastante.
(sem especificar)
Aprendizado
O que eu adquiri foi conhecimento.
(sem especificar)
Aprendizado Eu também aprendi bastante aqui sobre a educação, sobre a cultura, sobre o
(sobre o quê) lazer, sobre o trabalho.
Aprendizado Eu pude tomar conhecimento de muitas coisas que estão acontecendo e,
(para quê) assim, parar para refletir nas melhoras que podemos fazer.
Aprendizado
Nós aprendemos um com o outro, né? A respeitar o espaço do outro, a ouvir o
através da
outro...
interlocução
Aprendizado
através da E aprendi a debater e a conviver com outras pessoas.
interlocução
4. Pensar o Brasil Eu gostei, pois aqui nós expomos os problemas do país, discutimos o que
(para mudar) fazer para melhorar, os prós e os contras.
5. Gostei Gostei muito, entendeu?
É legal saber que em gente que se preocupa com os jovens, que lutam pelos
6. Outras
nossos direitos, que estão preocupados com a gente, que estão do nosso
respostas
lado.

93
ANEXO 6 – Variação nas fichas Pré e Pós-Diálogo

Tabela A6a – Variação segundo sexo

Caminho Posição Moças Rapazes


1 Inicial 6,0 6,0
Final 6,2 6,0
2 Inicial 6,5 5,9
Final 6,3 6,2
3 Inicial 5,9 6,0
Final 6,4 6,1

Tabela A6b – Variação segundo situação frente ao mercado de trabalho

Caminho Posição Trabalham Não Trabalham


1 Inicial 6,2 5,9
Final 6,3 6,0
2 Inicial 6,3 6,1
Final 6,2 6,3
3 Inicial 5,8 6,0
Final 6,1 6,3

Tabela A6c – Variação segundo escolaridade

Ensino Ensino
Caminho Posição Até 4ª. Série Até 8ª. Série
Médio Superior
1 Inicial 5,5 5,9 6,1 6,0
Final 6,0 6,0 6,1 6,4
2 Inicial 7,0 6,1 6,1 6,3
Final 7,0 6,3 6,1 6,1
3 Inicial 7,0 6,1 5,9 5,2
Final 6,5 6,4 6,2 5,8

Tabela A6d – Variação segundo faixa etária

15 a 24 anos
Todos(as)
15 a 17 18 a 24 15 a 24 com
Caminho Posição os(as)
anos anos anos experiência
jovens
participativa
1 Inicial 5,8 6,6 5,7 6,2 6,1
Final 5,9 6,0 6,2 6,2 6,1
2 Inicial 6,2 6,0 6,1 6,8 6,2
Final 6,3 6,2 6,1 6,8 6,3
3 Inicial 6,2 5,4 6,0 6,1 5,9
Final 5,8 5,5 6,7 6,8 6,2

94
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.7 Relatório regional


Salvador
Entidade parceira
Centro de Referência Integral
de Adolescentes/Cria

Equipe
Supervisora
Júlia T. C. Ribeiro de Oliveira

Assistentes
Ana Paula Carvalho da Silva
Fernanda Colaço

Bolsistas
André Araújo
Cristiane Santos
Leila Pimenta
Nilton Lopes
Sumário

1 – Apresentação

2 – Introdução

3 – Metodologia

3.1 – Os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de Salvador

3.2 – Perfil dos(as) jovens e a participação nos diferentes tipos de Grupos

• 3.3 – O Dia de Diálogo

4 – Conteúdo dos Grupos de Diálogo

4.1 – Comentários Iniciais, 12

4.2 – Semelhanças e diferenças, 16

4.3 – Caminhos participativos

4.4 – Caminho síntese por Dia de Diálogo

4.5 – Comentários finais

4.6 – Fichas pré e pós-Diálogo

4.7 – Análise de questões relativas à participação

4.8 – Conclusão

5 – Bibliografia

6 – Anexos

1
1 – Apresentação

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia realizou um diagnóstico abrangente sobre formas,


conteúdos e sentidos da participação dos(as) jovens entre 15 e 24 anos nas esferas públicas e políticas,
em sete Regiões Metropolitanas do Brasil (Belém, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São
Paulo e Porto Alegre) e Distrito Federal.

O objetivo da pesquisa foi identificar as desigualdades e dificuldades vividas pela população jovem,
aferindo quais são os elementos cruciais da relação e participação da juventude nas diferentes
instituições democráticas.

Adotando uma amostra por conglomerados (setores censitários, considerando o universo da juventude
em cada Região Metropolitana) e aleatória, a pesquisa de opinião alcançou 8.000 jovens brasileiros(as),
sendo 1.000 jovens soteropolitanos(as). Em um segundo momento, adaptando a metodologia de Grupos
de Diálogos1, foram realizados 39 eventos reunindo cerca de 913 jovens em todas as Regiões.

Coordenada nacionalmente pelo Instituto Pólis e Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas,
Ibase, contou com a parceria do Centro de Referência Integral de Adolescentes, Cria, para o
desenvolvimento das duas etapas da metodologia utilizada [análise da pesquisa de opinião e Grupos de
Diálogos com os(as) jovens entrevistados(as)], na Região Metropolitana de Salvador.

1. Originalmente conhecida como ChoiceWork Dialogue, a metodologia foi desenvolvida por uma ONG canadense, Canadian Policy
Research Networks (CPRN), para a realização de consultas à população a fim de subsidiar a elaboração de políticas públicas.

2
2 – Introdução

O presente trabalho é a descrição e análise dos encontros realizados com jovens da Região Metropolitana de
Salvador, nos meses março e abril de 2005, denominados Grupos de Diálogos (GDs).

Um dos objetivos dos GDs foi buscar subsídios para formulação de políticas públicas para as áreas de
Educação, Trabalho, Cultura e Lazer para a juventude através da consulta aos(às) próprios(as) jovens.
Adotando uma metodologia que propicia o diálogo entre os diferentes grupos juvenis e a construção de
consensos, a interação entre os(as) jovens foi firmada a partir de alguns pressupostos que diferenciam o
estado de disputa do estabelecimento de um diálogo voltado para resultados concretos. Esses
pressupostos contam com o respeito à opinião de todos(as) e o exercício de encontrar aspectos positivos
na fala do(a) outro(a), entendendo que não existe uma verdade definida, mas todos possuem partes das
repostas para as questões colocadas.

Ainda que seja possível não alcançá-lo, o resultado esperado dessa metodologia, portanto, é o consenso
formado pelas opiniões dos(as) participantes, ponderadas com os dados e informações trazidos pela
equipe de pesquisa e pela reflexão feita a partir da interação com novas opiniões e idéias. Nessa
metodologia, o Diálogo é realizado em duas etapas para cada questão colocada, isto é, o consenso
realizado em pequenos Grupos e o consenso desses em plenária.

Tendo a participação juvenil como tema principal da pesquisa, o outro objetivo importante desta série de
encontros foi recolher opiniões dos(as) jovens e pistas sobre a confiança nas instituições políticas e
sociais, materializadas em seus espaços e atores, e, a partir daí, inferir sobre as inclinações para
participar de grupos capazes de influenciar na qualidade de vida da juventude, de sua comunidade,
cidade ou país.

Para fins metodológicos, foram idealizados três Caminhos Participativos, reunindo os diferentes Grupos
existentes no campo político, social e cultural, segundo a natureza de suas atuações e papel que
desempenham na sociedade.

Caminho 1: “Eu me engajo e tenho uma bandeira de luta”

No primeiro Caminho Participativo, discutia-se sobre a participação em espaços públicos


legitimados pela sociedade e reconhecidos pelos(as) governantes, como os partidos políticos,
grêmios estudantis, movimentos sociais, conselhos de direitos, ONGs, associações e sindicatos, que
atuam propondo políticas e controlando as ações do poder público.

Caminho 2: “Eu sou voluntário(a) e faço a diferença”

O segundo Caminho Participativo constava da atuação voluntária em organizações sociais ou


empresariais que buscam atender a demandas emergenciais e específicas, como arrecadação de
alimentos e roupas, atendimento a pessoas carentes, alfabetização de crianças e adultos(as),
manutenção de escolas etc., restritas a pequenos grupos, a comunidades ou segmentos sociais.

3
Caminho 3: “Eu e meu grupo: nós damos o recado”

Esse Caminho preconizava a organização espontânea e livre de grupos culturais (esportivos,


artísticos, musicais etc.), religiosos ou de comunicação (jornal, internet, fanzines etc.), entendendo
que a convivência com outros(as) jovens e ocupação de seu tempo livre com atividades desse tipo
contribuem para mudar a realidade do país.

Os sentimentos dos(as) jovens em apoio ou rejeição aos Caminhos foram identificados através do
trabalho proposto nos pequenos Grupos e nas plenárias, de leitura dos Caminhos, discussão dos
aspectos positivos e negativos de cada um deles e reflexão coletiva. O consenso estabelecido ao final do
Dia de Diálogo trouxe de forma mais explícita os pontos de maior sensibilidade relativos à participação da
juventude, em cada GD.

A experiência da aplicação desta metodologia, pioneira no país, traz alguns elementos importantes para
a reflexão sob vários aspectos. Ao reunir jovens entrevistados(as) aleatoriamente para buscar bases
comuns das expectativas juvenis para o diálogo com o Poder Público, introduz – por iniciativa de
organizações da sociedade civil – na experiência da democracia brasileira um instrumento de consulta à
população sobre as políticas públicas de seu interesse e necessidade, tal como ocorre em modelos
similares em países avançados, como a “concertacion” na França e Espanha ou a “enquete” também na
França, Espanha, Itália, Grã-Bretanha e Países Baixos.2

Essa iniciativa no Brasil, ainda que pontual e restrita à juventude, inaugura um novo canal de acesso da
sociedade aos(às) governantes. O fato de ter sido liderada por um conjunto de organizações não-
governamentais coloca em questão a pouca ou nenhuma utilização por parte do Poder Público dos
instrumentos previstos na Constituição Brasileira, a saber, o plebiscito, o referendo popular e as
audiências públicas3.

Outra perspectiva que merece destaque é o seu potencial formativo e informativo. Os encontros são
oportunidades, muitas vezes únicas, dos(as) participantes obterem informações sobre os temas
propostos, de provocar seu posicionamento ideológico e prático e questionar princípios baseados em
sensos comuns.

2. A enquete é um instrumento de consulta sobre os projetos de urbanização, meio ambiente, instalações nucleares etc., do governo
francês, em que a população envolvida tem o direito de opinar. A concertacion ocorre em seguida da enquete, reunindo os interessados
para uma tentativa de acordo ou negociação. PEREZ, Macus Augusto. A administração pública democrática: institutos de participação
popular na administração pública. Belo Horizonte: Fórum, 2004.

3. CF, art. 29, X; Lei de Responsabilidade Fiscal, art. 48, parágrafo único; Estatuto da Cidade, art. 44.

4
A metodologia aplicada se mostrou importante para o aprimoramento dos instrumentos de atuação das
organizações sociais, junto às diferentes juventudes4 e ao Poder Público, especialmente no que diz
respeito à sensibilização e mobilização de jovens, reconhecendo seus sinais, linguagens, dificuldades,
potencialidades. A participação na pesquisa Juventude Brasileira e Democracia ajudou o Cria a conhecer
melhor a juventude de Salvador e a perceber as possibilidades de reciprocidade e transformação mútua.

Do ponto de vista da relação com a juventude, a prática de pesquisa de abordagem qualitativa se


mostrou de grande importância, uma vez que conta com a espontaneidade e interação dos(as)
participantes, apontando para possíveis desdobramentos para além dos propósitos imediatos da
pesquisa. Pela experiência vivenciada no campo da pesquisa com organizações da sociedade civil e a
relação com o Poder Público, a reunião do público pesquisado para discussão de temas pertinentes e
provocação da prática tem sido um recurso para a revisão de valores e práticas individuais e coletivas,
trazendo resultados significativos, como a mudança em leis no âmbito municipal, conquistas de melhorias
para comunidade ou segmento social, maior abertura por parte dos(as) governantes etc.

A presente pesquisa também aponta para a revisão de valores e práticas individuais e reconhecimento
da importância da coletividade para buscar conquistas, já que na avaliação feita a cada Grupo de
Diálogo, os(as) participantes apontaram, como alguns dos aspectos que foram mais importantes naquele
Dia: o aprendizado, a iniciativa da pesquisa, a troca de experiências, a oportunidade de se expressarem,
terem “voz ativa” e de conhecerem novas pessoas.

4. UNESCO. Políticas Públicas de/para/com juventudes – Brasília: UNESCO, 2004.

5
3 – Metodologia
3.1 – Os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de Salvador

Para a realização dos cinco Grupos de Diálogos (GDs), foram reunidos(as), em Salvador, 162 dos(as)
1.000 jovens entrevistados(as) na primeira fase da pesquisa, entre setembro e outubro, e que
manifestaram o interesse em se encontrar com outros(as) jovens para discutir o tema Que Brasil
queremos e como chegar lá?

Em todos os Grupos, houve a preocupação em equilibrar a presença de homens e mulheres, bem como
garantir a presença de representantes dos municípios da Região Metropolitana e das diversas classes sociais,
em proporções equivalentes ao recorte demográfico. Com o objetivo de conhecer o comportamento e opiniões
dos diferentes grupos juvenis, os GDs foram feitos através de vários arranjos: o primeiro reuniu jovens entre
15 e 17 anos; um outro, jovens de 18 a 24 anos e os restantes com jovens entre 15 e 24 anos, sendo um
deles somente com aqueles que haviam declarado já ter participado de alguma experiência participativa
(religioso, grêmio estudantil, partido político, grupo de música, dança, artes, etc.).

A convocação dos(as) jovens foi feita em três etapas: por telefone, para apresentação da pesquisa,
convite para o GD e confirmação do endereço fornecido pelo(a) jovem na primeira etapa da pesquisa; por
carta, para que o(a) jovem pudesse receber um documento impresso com todas as informações
necessárias, inclusive os telefones de contato e um fôlder institucional da organização local
coordenadora da pesquisa (Cria) para eventuais esclarecimentos; por fim, no caso de falta de
confirmação, outro telefonema para assegurar a presença de 40 jovens para cada GD. No caso dos(as)
jovens que não possuíam contato telefônico ou cujo número estivesse errado, as cartas eram enviadas e
aguardava-se retorno para confirmação de sua presença.

Nos dois modelos, procurou-se imprimir uma linguagem jovial e informal, ressaltando a importância da
participação daquele(a) jovem convidado(a) para que a sociedade e o Poder Público conhecessem a sua
opinião e disposição para melhorar as condições de vida para juventude no Brasil. Isso parece ter
ajudado na aproximação dos(as) jovens, já que muitos(as) comentaram que uma das razões de terem
comparecido foi pelo fato de terem gostado da maneira como foram tratados ao telefone.

Como forma de retribuição e incentivo à participação, foi oferecida uma ajuda de custo no valor de R$
50,00 para cada participante, já considerando as despesas com transporte ao local do evento. A idéia era
dispor de um recurso que eqüivalesse a uma atividade cultural ou educacional para o(a) jovem.

Para cada GD estava prevista a participação de 40 jovens. No entanto, para garantir um número próximo
a esse, foi necessário contactar, em média, 90 jovens. As principais dificuldades encontradas foram: falta
de compromisso (confirmou, mas não compareceu, nem justificou ausência), falta de interesse e, em
alguns casos, o impedimento dos pais, do trabalho ou do estágio. A média de jovens presentes nos GDs
foi de 32 e o maior Grupo se reuniu no dia em que Salvador se fez notícia por conta da forte chuva que
assolou a cidade, quando compareceram 37 jovens.

6
O local escolhido foi uma escola pública modelo, de fácil acesso, por se acreditar que um ambiente
familiar ao(à) jovem contribuiria positivamente para o desenvolvimento do trabalho. Por conta de
realização de atividades imprevistas (concurso público e cumprimento de carga horária letiva
determinada pela Secretaria de Educação), em duas ocasiões foi necessário buscar um lugar alternativo.
Na segunda vez, como a mudança foi feita após o envio das cartas, os(as) jovens foram recebidos(as) no
local marcado e transportados por vans para outra escola, sem prejuízo para o início dos trabalhos.

Ao longo dos encontros, ocorreram alguns fatos que merecem registro. No GD3, um jovem não se sentiu
bem e se retirou da sala. Conversando com ele, notava-se sua tensão e o quanto ansiava por algum tipo
de atenção por parte da equipe organizadora do evento. A facilitadora que o acompanhou teve a
oportunidade de ouvi-lo por quase meia hora, período no qual ele manifestava a sua angústia em ter que
se relacionar com um Grupo, tal como era a proposta daquele Dia. Explicou que seu mal-estar havia
começado após o assassinato de um primo que lhe era muito caro, há cerca de dois anos, possivelmente
por envolvimento com drogas. Desde então, quase todos os seus(suas) amigos(as) de infância (em torno
de cinco) morreram de forma parecida, mesmo sem qualquer relação com o mundo das drogas, e ele se
tornou uma pessoa sem referências de amigos(as) próximos(as), comprometendo seriamente sua saúde
e sua juventude. De fato, na questão inicial em que os(as) jovens citavam o que mais os(as) preocupa no
país, esse rapaz falou da violência. Diante de seu grande mal-estar, todos(as) concordaram que ele
deveria retornar para casa e não participar mais do GD.

Esteve presente uma jovem grávida, que inicialmente não imaginou que poderia participar, indicando as
limitações e interrupções vividas por jovens nessas condições. É interessante relatar, por fim, o reencontro
de dois(duas) jovens (em um show e no ponto de ônibus do centro da cidade) com alguns membros da
equipe de pesquisa. Recordavam imediatamente a experiência vivida no GD e manifestaram o quanto
“transformou” a vida deles(as), para utilizar a palavra de um deles.

7
3. 2 – Perfil dos(as) jovens e a participação nos diferentes tipos de Grupos

Foram convocados para participar dos cinco Grupos de Diálogos (GDs) em Salvador, cerca de 330
jovens, comparecendo ao todo 162 jovens, assim caracterizados(as):

Tabela 1 - Grupos de Diálogo da RMS

N %

Presentes 162 -

15 a 17 anos 52 32%
18 a 24 anos 110 67%

Classes A/B 36 22%


Classes C/D/E 126 78%

Mulheres 83 51%
Homens 79 49%

Salvador 151 93%


Outras cidades da RM5 11 7%

Não freqüentou a escola 2 1%


Até a 4º série completa 1 1%
Entre a 5ª e a 8º série completas 24 15%
Ensino Médio (completo ou não) 107 66%
Ensino Superior (completo ou não) 23 14%
NR 5 3%

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Ao todo, 32% dos(as) jovens tinham entre 15 e 17 anos, enquanto 67% tinham entre 18 e 24. Atingiu-se a
proporção esperada entre as classes sociais, 22% das classes A/B contra 78% das classes C/D/E, e a
vinda de jovens de municípios da Região Metropolitana (7%). A diferença observada entre homens e
mulheres foi de apenas 2% para as mulheres.

Quanto à escolaridade, a maior ocorrência foi de jovens que completaram ou ainda estudam no Ensino
Médio (66%). Jovens que estudaram até a 8º série perfazem um percentual de 15%, e, apenas, 14% (23
jovens) cursam o Ensino Superior. A pirâmide formada tem certa correspondência com a distribuição
escolar dos(as) jovens baianos(as), segundo o IBGE, onde 20% dos(as) estudantes conseguem cursar o
Ensino Médio e apenas 3% ingressam na universidade.

5. Estiveram presentes cinco jovens de Camaçari, quatro de Lauro de Freitas, um de Simões Filho e um de Candeias. Não
compareceram os(as) jovens confirmados(as) de São Francisco do Conde e Dias d’Ávila. Em Vera Cruz não houve confirmações, talvez
por ser o município mais distante de Salvador.

8
Tabela 2 - Idade dos(as) jovens

Idade
Presentes
15 -17 % 18-24 %
GD1 (15 a 17 anos) 35 28 80% 7 20%
GD2 (Exp. Participativa) 37 10 27% 27 73%
GD3 (18 a 24 anos) 27 2 7% 25 93%
GD4 (15 a 24 anos) 27 2 7% 25 93%
GD5 (15 a 24 anos) 36 9 25% 27 75%
Total 162 52 31.5% 110 69%

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

O primeiro GD reuniu 35 jovens entre 15 a 17 anos; o segundo, de jovens com algum tipo de experiência
de participação em grupos, alcançou 37 pessoas; o terceiro, de 18 a 24 anos e o quarto, entre 15 a 24
anos, contaram com 27 participantes. O último, também reunindo jovens entre 15 a 24 anos, contou 36
pessoas. A média de participantes, portanto, foi de 32 jovens por evento.

Alguns(mas) jovens, 3%, já haviam completado 25 anos, desde o período da entrevista. Essa também é
a razão pela qual se verifica 20% de jovens com 18 anos, no primeiro GD (tabela 2). Já o
comparecimento de dois(duas) jovens mais novos(as) no Grupo de 18 a 24 anos foi decorrente de
problemas durante a convocação.

O número mais baixo registrado foi no GD4 (um dia de domingo), no qual apenas 7% dos(as) jovens
tinham menos de 18 anos, conforme se verifica na tabela 2.

9
Tabela 3 – Classe, gênero e local de moradia

Presentes Classe Gênero Localidade

A/B % C/D/E % F % M % SSA RMS %

GD1 35 8 23% 27 77% 21 60% 14 40% 32 2 6%


GD2 37 8 22% 29 78% 20 54% 17 46% 33 4 11%
GD3 27 9 33% 18 67% 11 41% 16 59% 23 3 11%
GD4 27 5 19% 22 81% 13 48% 14 52% 27 - -
GD5 36 6 17% 30 83% 18 50% 18 50% 34 2 6%
Total 162 36 22% 126 78% 83 51% 79 49% 149 11 7%

GD1 – 15 a 17 anos; GD2 – Experiência participativa; GD3 – 18 a 24 anos; GDs 4 e 5, 15 a 24 anos.

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Em todos os GDs foram esperados(as) oito jovens das classes A/B e 32 jovens das classes C/D/E, sendo
50% homens e 50% mulheres.

Analisando a distribuição alcançada entre as classes sociais, observa-se que dois Grupos (GDs 1 e 2)
mantiveram a proporção da situação real da cidade de Salvador no que tange o percentual de 77% de
famílias das classes C, D e E (entre R$ 282,85 e R$ 2.039,55)6, assim como no total, 78%. O GD3 contou
com uma baixa participação dos(as) jovens das classes C/D/E, ao mesmo tempo em que excedeu em
um(a) jovem das classes A/B. Nos demais GDs, a participação de representantes das classes A e B foi
aquém do esperado, elevando, dessa forma, o percentual de jovens das demais classes.

No que se refere à participação masculina e feminina, houve uma maioria feminina de 51%. As maiores
freqüências femininas foram nos GDs 1 (60%) e 2 (54%); as menores, nos GDs 3 (41%) e 4 (48%).

Também obedecendo a contribuição demográfica dos municípios pesquisados, contava-se com a


presença menor de jovens da Região Metropolitana. Portanto, ao todo, participaram 11 jovens, isto é,
7%. Possivelmente a dificuldade de transporte em dia de domingo foi o principal empecilho dos(as)
jovens da RM para participarem do GD4.

6. Percentual aferido pela Fundação Getúlio Vargas. A cidade de Salvador está abaixo da média nacional de 73,69%.

10
Tabela 4 – Escolaridade

Até o Ensino
Não Até a 4ª Até a 8ª
Ensino Superior
Presentes freqüentou série série % % % NR
Médio (completo
a escola completa completa
completo ou não)

GD1 35 1 7 20% 24 69% 3 9%


GD2 37 1 1 7 19% 23 62% 5 13%
GD3 27 4 15% 14 52% 7 26% 2
GD4 27 2 7% 21 78% 2 7% 2
GD5 36 4 11% 25 69% 6 17% 1
Total 162 2 1 24 15% 107 66% 23 14% 5

GD1 – 15 a 17 anos; GD2 – Experiência participativa; GD3 – 18 a 24 anos; GDs 4 e 5, 15 a 24 anos.


Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Quanto à escolaridade dos(as) jovens presentes, conforme a tabela 4, nota-se que apenas dois(duas)
não freqüentaram a escola e um(a) tinha somente até a 4ª série completa.

O maior percentual de jovens universitários(as) (26%) foi no GD3, e de jovens entre a 5ª e a 8ª série do
Ensino Fundamental, nos GDs 1 e 2, com 20% e 19%, respectivamente.

O GD4 apresentou as menores incidências de Ensino Fundamental e Superior, concentrando 78%


dos(as) jovens no Ensino Médio. Esse GD se mostrou bastante homogêneo, uma vez que havia uma
maioria masculina (52%), 78% cursavam o Ensino Médio e tinham entre 18 e 24 anos, 81% eram das
classes C/D/E e todos(as) eram da cidade de Salvador. Essa verificação é importante para explicar a
análise que leva à conclusão de que esse foi o Grupo que teve o melhor desempenho nas atividades
propostas.

3.3 – O Dia de Diálogo

Foram desenvolvidos recursos diversos para apresentar o conteúdo do Dia de Diálogo preparado pela
equipe técnica central da pesquisa juntamente com as equipes regionais (Caderno de Trabalho, banners,
CD-ROM). As informações foram organizadas sob três eixos: apresentação da pesquisa (objetivo,
metodologia e parceiros envolvidos); dados sobre a juventude no Brasil; Caminhos existentes de
Participação para construção do país que o(a) jovem deseja (espaços, instituições e instrumentos).

Em todos os materiais de trabalho houve uma especial atenção em se contemplar a diversidade da


juventude, retratando as várias etnias, classes sociais, bem como as realidades de estudante,
trabalhador(a) etc. O CD-ROM foi produzido com efeitos bastante dinâmicos, cores, sons e vozes jovens,
apresentando as informações do Grupo de Diálogo de modo descontraído e atraente. Avalia-se, no
entanto, que houve uma grande quantidade de informações novas aos(às) jovens, de maneira que se

11
fazia necessário retomar os assuntos pausadamente e buscando construir uma reflexão conjunta. O
mesmo ocorreu com o Caderno de Trabalho, que registrou integralmente o conteúdo do CD-ROM. A
carga de leitura e alguns termos utilizados fugiram do alcance da maioria dos(as) jovens, tornando a tarefa
da tarde, que dependia mais do Caderno, mais árdua e cansativa.

De modo geral, foi interessante perceber que os(as) jovens se sentiram muito valorizados(as) durante
todo o processo dos Grupos de Diálogo, da convocação, recepção à metodologia de trabalho e os
instrumentos especialmente preparados para a ocasião.

Um “Guia do(a) Facilitador(a)” foi preparado para orientar a aplicação da metodologia e garantir sua
integridade nos 40 encontros realizados nas oito Regiões Metropolitanas pesquisadas, afinando todas as
equipes nos pontos-chave da metodologia. Cada localidade fez pequenos ajustes para atender de
maneira mais específica o seu público.

Ressalta-se que, durante o GD, o papel das facilitadoras consistia em ajudar a criar condições para o
Diálogo entre os(as) participantes dentro da metodologia que estava sendo aplicada, isto é, assegurar
que todos(as) pudessem se expressar e serem ouvidos(as), fazer esclarecimentos sobre os assuntos
tratados, garantir o entendimento das atividades propostas. Não coube às facilitadoras, nem mesmo foi
pretensão desta pesquisa, propor aos(às) jovens a defesa de qualquer ponto de vista. Das três
facilitadoras, duas se revezavam na condução do Diálogo, enquanto uma registrava aspectos pertinentes
ao comportamento dos(as) jovens, temas que surgiam, bem como as reações diversas.

Nos trabalhos em Grupos, com exceções pontuais, não se constatou inibição para manifestarem suas
opiniões. Por outro lado, quase sempre havia uma ou duas pessoas que assumiam a liderança do Grupo,
controlando o tempo das falas ou pautando o Diálogo. Era comum que somente essas mesmas pessoas
se manifestassem durante a plenária. Os subgrupos dos(as) jovens com experiência prévia de
participação e de 18 a 24 anos se mostraram com maior iniciativa e organização, assim como um certo
equilíbrio na participação dos(as) jovens nos pequenos Grupos. No Grupo de 18 a 24 anos, não houve
registros sobre centralização ou domínio da fala por poucas pessoas.

Em alguns casos, os(as) jovens mais ativos(as) nos subgrupos se mostraram impacientes diante da
pouca participação (nas opiniões e na confecção dos cartazes) de determinados(as) jovens. As
cobranças, por vezes ríspidas, tornaram necessário que o(a) observador(a), a facilitadora ou alguém do
próprio Grupo relembrasse os compromissos estabelecidos para o Diálogo, como o respeito ao outro,
sem discriminações.

12
4 – Conteúdo dos Grupos de Diálogo
4.1 – Comentários iniciais

Conforme demonstra a tabela 1, a violência é o problema que mais preocupa os(as) jovens da região
de Salvador, apontado por 58 jovens durante a rodada de apresentação e comentários iniciais.
Apareceu ilustrada nas falas sobre a insegurança, homicídios de jovens e criminalidade. As drogas
foram citadas como uma das causas da violência na região, ao lado da falta de perspectivas para
o(a) jovem e do alto índice de desemprego. Em suas ponderações, os(as) participantes mencionam a
falta de educação de qualidade e de alternativas de cultura e lazer como maneiras de ocuparem o
próprio tempo de modo sadio.

Esse dado condiz com a realidade em que esses(as) jovens estão mergulhados(as), já que convivem
com o crescimento do número de grupos de extermínios em bairros da periferia. Vêem-se sem opções de
lazer e com os direitos fundamentais desrespeitados.

Tabela 5 – Comentários iniciais7

GD1 GD3 GD4 GD5


GD2 Exp.
Temas/Questões Total 15 a 17 18 a 24 15 a 24 15 a 24
Participativa
anos anos anos (1) anos (2)

Violência/ Homicídios
jovens/ Segurança/ 58 17 17 6 13 5
Assalto/ Drogas
Desemprego/ Falta de
49 12 14 8 6 9
oportunidade
Desigualdade social/
Má distribuição de
renda/ Pobreza/
48 8 17 9 4 10
Problemas
socioeconômicos/
Miséria/ Fome

7. Na leitura feita sob o ponto de vista de gênero, as mulheres apresentam um maior número de preocupações. Em termos de ocorrência,
18% referiram ao desemprego e 16% à violência. Comparativamente, os homens se mostram mais preocupados com a política (7%
contra 1%). A educação é objeto de preocupação de 24% dos(as) jovens entre 18 e 24 anos, contra 14% dos(as) jovens entre 15 e 17
anos. Esses(as) últimos(as) se destacam na questão da violência (39%), desigualdade social (27%) e racismo (14%). Ver gráfico dos
comentários iniciais por gênero e por grupos de idade, em anexo.

13
Educação 37 3 11 7 9 7
Educação 32 2 11 5 7 7
Falta de segurança nas
escolas/ Violência na 2 2
escola
Falta de
professores(as) nas
escolas/ 2 1 1
Professores(as) não
qualificados
Desigualdade racial na
1 1
educação
Política 16 2 3 4 4 3
Política/ Corrupção na
política/ Falta de
responsabilidade/ De
ética/ Corrupção 8 2 2 4 4 3
dos(as) políticos(as)/
Desvio da verba
pública/ Impunidade
Políticas neoliberais/
Destruição do público
1 1
em detrimento do
privado/ Capitalismo
Infância 13 3 5 2 2 1
Desnutrição/
Mortalidade infantil/
Crianças passando 7 2 2 2 1
fome/ Morte das
crianças indígenas
Falta de crianças nas
escolas / Criança fora
3 1 1
da sala de aula/
Crianças na rua
Prostituição infantil 2 2 1
Trabalho infantil 1 1
Saúde 12 1 3 1 7
Preconceito/
Racismo/ 15 4 2 3 1 5
Discriminação racial
Outros 32 5 10 8 3 6
Precariedade no
convívio social/
Compreensão do
outro/ Amor/ Respeito/
6 2 2 2
Falta de amor ao
próximo/ Falta de ética
(das pessoas)/
Hipocrisia

14
Falta de acesso à
cultura/ Incentivo 5 2 2 1
cultural, esporte e lazer
Conservar o meio
ambiente/ Poluição/
4 1 2 1
Desmatamento da
Amazônia
Falta de ação/ Apatia
da sociedade/
2 2
Comodidade das
pessoas
Falta de justiça 2 2
Sistema de cotas 1 1
Manipulação dos
1 1
meios de comunicação
Falta de compromisso/
De seriedade na
1 1
resolução dos
problemas
Desrespeito com
1 1
os(as) jovens
Desrespeito com
1 1
os(as) idosos(as)
Planejamento familiar 1 1
Desestruturação
1 1
familiar
Falta de informação 1 1
Futuro 1 1
Criação* 1 1
Guerra 1 1
Desrespeito à
1 1
empregada doméstica
"Nada me preocupa" 1 1
Total 248 55 82 48 42 53
Média por jovem 1,7 1,6 2,2 1,8 1,6 1,5

* Nota da equipe de pesquisa: educação familiar.

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

A falta de oportunidade e de emprego aparece em segundo lugar nas preocupações dos(as) jovens, com
49 ocorrências. Capital nacional do desemprego, a juventude é um dos segmentos da população que
mais sofre, uma vez que, dos(as) jovens investigados(as), 78,2% e 80,5% são das classes C e D/E 8,
respectivamente, e se vêem obrigados(as) a ajudar na renda familiar. A falta de incentivos, como o
Programa Primeiro Emprego, do governo Federal, e de cursos profissionalizantes gratuitos oferecidos
pelas instituições públicas e privadas são as principais reivindicações trazidas pelos(as) jovens.

8. Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

15
Lembrada por 48 jovens, a desigualdade social, mencionada juntamente com a má distribuição de renda,
também é retratada no imaginário juvenil através da questão da fome – principal agenda do governo Lula.

A educação como problema que aflige o(a) jovem baiano(a) aparece em 4º lugar, apontada por 37
jovens, não obstante a péssima colocação de 17º lugar em analfabetismo no ranking dos estados
brasileiros construído pela Unesco. A questão também aparece quando se trata da falta de
professores(as), da desigualdade racial na educação e da insegurança nas escolas.

A política e a corrupção no Brasil foram apontadas por 10% dos(as) jovens. Há um certo descrédito nos
atores políticos frente às constantes promessas feitas nos períodos eleitorais e não cumpridas durante o
mandato. A responsabilidade pelas desigualdades sociais, pelo desemprego, pelos graves problemas na
educação e saúde públicas, violência, é, portanto, atribuída, com grande peso, à falta de ética e de
compromisso com a população por parte de políticos(as) corruptos(as). A impunidade também foi
lembrada como uma das razões dos recorrentes escândalos de desvio e mau uso dos recursos públicos.
Houve uma única menção sobre as políticas neoliberais, apontada como coluna dorsal do sistema de
“destruição do público em detrimento do privado”.

A infância foi mencionada, com questões sobre desnutrição, mortalidade (em citação à calamidade
sofrida pela comunidade indígena do Mato Grosso), trabalho, prostituição, crianças na rua e fora da sala
de aula. Somadas, foram as preocupações de 13 dos(as) jovens presentes aos GDs. Saúde, de maneira
geral, incluindo uma citação sobre o saneamento básico, também foi lembrada por 12 dos(as) jovens
presentes.

O preconceito racial, tema de especial relevância para a população soteropolitana, foi objeto de
preocupação de somente 15 jovens. Salvador carrega o título de maior população negra e parda fora do
continente africano, mas é grande a desigualdade de escolaridade, ocupação em postos de trabalho
qualificados e salários entre brancos(as) e negros(as).

Na categoria “outros”, correspondendo a 32 falas, foram reunidas as menções mais difusas e


abrangentes: falta de acesso à cultura, incentivo cultural, esporte e lazer (cinco citações), falta de ação/
apatia da sociedade (duas), falta de justiça (duas), futuro (uma), falta de informação (uma), manipulação
dos meios de comunicação (uma), falta de compromisso na resolução dos problemas (uma),
planejamento familiar (uma), desestruturação familiar (uma) desrespeito à empregada doméstica (uma),
hipocrisia (uma), falta de amor ao próximo (uma), precariedade no convívio social (uma), compreensão
do outro (uma), amor/ respeito (uma), sistema de cotas (uma).

Visitando os dados quantitativos da pesquisa, os(as) jovens da RMS que participam ou participaram de
alguma reunião ou movimento em prol do seu bairro ou cidade (26,8%) estiveram mais ligados(as) às
questões de lazer (39,9%), mas também de segurança (35,4%), o que mostra que a violência tem exigido
algum tipo de mobilização também deste segmento social.

16
Tabela 6

Objetivos RMS (%) Todas as RMs (%)


Área de lazer/ Quadras de esporte 39,9 37,8
Segurança 35,4 29,2
Saneamento/ Meio ambiente 32,1 36,5

Educação/ Escola 31,7 34,1

Postos de saúde 26,9 27,2

Outros 4,6 2,8

NS/NO 1,9 1,0

Outros: Transporte, Ajuda a comunidades carentes, Política, Salvação espiritual das pessoas,
manifestação estudantil, Cooperativa de artesãos, Eleição do presidente da associação do bairro.

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

Os temas violência, desigualdade social, emprego, educação, política e infância foram mencionados em
todos os GDs.

O GD1 (entre 15 e 17 anos) se mostrou um dos mais preocupados com a questão da violência (17
citações) e menos com a educação (três citações). Esse fato aponta para a realidade de um grupo que
possui a mínima atenção do Estado no que se refere à formação escolar, mas que convive e é fortemente
atormentado pela violência (homicídios de jovens, drogas e insegurança nas escolas). De maneira crítica,
vale lembrar que muitos(as) jovens acabavam se influenciando pelas falas dos(as) demais, o que pode
justificar um alto grau de repetição das questões que os preocupam no Brasil.

Desemprego e desigualdade social incidiram mais sobre o GD de jovens com experiência prévia de
participação, que também se mostrou incomodado com a “apatia” e “inação das pessoas”, diante dos
problemas sociais existentes. Deu ênfase à violência e foi o Grupo que mais mencionou a questão da
infância (cinco vezes).

Com uma média de 2,2 comentários por jovem, esse GD superou os demais em quantidade de
preocupações, representando 50% do total dos GDs. Além da violência e desemprego, houve uma
grande ocorrência de temas relativos à desigualdade social (17) e à educação (11). Mencionou-se a falta
de justiça e a comodidade das pessoas diante dos problemas sociais; falta de respeito e ética, de
incentivos culturais e o desmatamento da Floresta Amazônica. Aqui também houve a única ocorrência
sobre “políticas neoliberais”.

17
No GD3, que reuniu jovens entre 18 e 24 anos, surgiram temas novos, como manipulação dos meios de
comunicação, oportunidade para pessoas de baixa renda, desrespeito à empregada doméstica e
planejamento familiar.

Proporcionalmente ao número de participantes, os(as) jovens do GD4 tinham bastante preocupação com
a questão da educação e com o desemprego. Esse GD reuniu pessoas entre 15 e 24 anos, porém com
grande concentração na faixa além dos 18 anos. Também foi o Grupo mais homogêneo em termos de
classe social, local de moradia e nível de escolaridade e o que mais criticou a corrupção na vida política.

Finalmente, as únicas novidades trazidas pelo GD5, também com jovens entre 15 e 24 anos, foi a
questão da saúde (maior ocorrência) e do racismo.

4.2 – Semelhanças e diferenças

Manhã

A partir da questão “O que pode melhorar na educação, trabalho e nas atividades de cultura e lazer?”, foi
feita a proposta de que todos(as) expusessem suas opiniões em pequenos Grupos e, em seguida,
buscassem encontrar pontos em comum para apresentar em plenária. Ao se reunirem, algumas funções
deveriam ser definidas entre os(as) participantes: controlar o tempo de Diálogo, anotações das opiniões
colocadas, apresentador(a) na plenária. O tempo reservado foi de 40 minutos.

Resultado do Diálogo entre os subgrupos na plenária, o levantamento feito pelos(as) jovens acerca das
melhorias necessárias em cada tema trabalhado durante o Dia de Diálogo foi registrado como
semelhanças, quando se tratava de consenso, e como diferenças, quando não era acatado pela maioria
dos(as) participantes ou por pelo menos dois subgrupos. Em alguns GDs, ao refletirem e concordarem
com as propostas trazidas por todos os subgrupos, optaram por assumir como semelhanças todos os
pontos fixados inicialmente como diferenças. Os registros a seguir, organizados segundo os temas
educação, trabalho e cultura e lazer, foram fiéis às colocações e expressões utilizadas por eles(as).

Observa-se que as melhorias apontadas como semelhanças vão ao encontro dos desafios estabelecidos
pelo Grupo Interministerial de Juventude – que precedeu a formação da Secretaria Nacional – no
documento “Subsídios para a construção de uma política de juventude, um balanço governamental”
(2004). Nesse sentido, as demandas dos(as) jovens presentes aos Grupos de Diálogos na RMS ratificam
o documento nacional, entendendo que essas são medidas necessárias e urgentes para dirimir as
desigualdades de oportunidades entre os(as) jovens e garantir o crescimento dessa população com
alternativas ao mundo da violência, da criminalidade e das drogas.

18
Surgiram questões bastante polarizadoras, como o sistema de cotas [alguns(mas) jovens negros(as) se
opunham a essa prática por considerarem discriminatória com os(as) brancos(as) e com os(as) pobres e,
principalmente, por desqualificar o(a) negro(a)], a inserção de portadores(as) de deficiência das escolas
em geral, a responsabilidade dos(as) alunos(as) na preservação das escolas e uma melhor relação com
os(as) professores(as).

No eixo trabalho, foi unanimidade a criação e o investimento em cursos profissionalizantes, oferecidos


pelo governo e por empresas, assim como a oportunidade do primeiro emprego. Curiosamente houve um
Grupo em que, para se gerar oportunidades de trabalho e renda para os(as) jovens, avaliou que seria
necessário cobrar impostos e taxas dos(as) aposentados(as).

Em comparação com os outros eixos, os(as) jovens investiram um tempo menor no diálogo sobre cultura
e lazer, entendendo que as deficiências nesse campo são decorrentes da situação precária da educação
e da falta de trabalho. Na maioria dos GDs, a discussão ficou voltada ao custo das atividades culturais,
mas também foram observadas a necessidade de investimento em grupos e em espaços de lazer, assim
como da democratização dessas iniciativas, levando para os bairros periféricos. Falou-se ainda em
promover projetos e atividades no âmbito da escola.

Tabela 7

Semelhanças Manhã: Educação


Qualificação dos(as)
5/5
professores(as)
GD 15-17 Qualificação dos(as) professores(as) e da escola
GD Exp. Part. Qualificação dos(as) professores(as)
GD 18-24 Qualificação dos(as) professores(as)
GD 15-24 Capacitação dos(as) professores(as)
GD 15-24 (2) Preparo para os(as) professores(as)
Infra-estrutura
4/5
do ensino público
GD 15-17
Aumentar o financiamento da educação (merenda escolar);
GD Exp. Part.
construção de mais universidades e escolas públicas
Escolas para todos(as) (aumento da quantidade de universidades e
escolas públicas, independente de raça, local de moradia ou classe);
GD 18-24
investimento na educação; melhora e atualização do material
didático**
Investimento por parte do governo nas escolas públicas (transporte,
GD 15-24 alimentação, livros); equipar e estruturar as escolas – ampliar as
salas de aulas
Investimento em geral – recursos educacionais (livros, cadeiras
GD 15-24 (2)
consertadas, fardamento (uniforme), merenda, material didático)

19
Interesse dos(as)
alunos(as) e 3/5
professores(as)
GD 15-17 Interesse dos(as) alunos(as) e professores(as)
GD Exp. Part.
GD 18-24
GD 15-24 Maior interesse dos(as) jovens alunos(as)
Interesse dos(as) alunos(as) e professores(as) para mudar essa
GD 15-24 (2)
situação
Aumento dos salários
3/5
dos(as) professores(as)
GD 15-17 Aumento dos salários dos professores(as)
GD Exp. Part.
GD 18-24 Aumento do salário dos(as) professores(as)*
GD 15-24 Remuneração dos(as) professores(as)
GD 15-24 (2)
Qualificar a educação 3/5
GD 15-17
GD Exp. Part. Qualificar a educação de base
GD 18-24 Maior atenção à educação de base**
GD 15-24
Aulas muito monótonas, não têm coisas diferentes. Falta tecnologia
(DataShow, retroprojetor) nas aulas. Empolgação dos(as)
professores(as), aulas mais participativas; Buscar por metodologia
pedagógica – buscar novas técnicas metodológicas, novas
GD 15-24 (2)
dinâmicas para que o(a) aluno(a) fique interessado(a);* Escola onde
tudo acontece: laboratório de ciências, horta, sala de artes, formação
de conceitos (NP: ética, cidadania, conscientização), grêmio
estudantil, campo de futebol, sala de vídeo, Conselho escolar. *
Gratuidade do transporte 2/5
Gratuidade do transporte para estudantes de escolas e
GD Exp. Part.
universidades públicas
GD 18-24 Passe-livre para estudante de baixa renda**
Cursos
profissionalizantes/ 2/5
cursos técnicos
GD Exp. Part.
Qualificação profissional dos(as) alunos(as) com cursos
GD 18-24
profissionalizantes; segundo grau com curso técnico**
GD 15-24 Cursos profissionalizantes

20
Cotas 1/5
Cotas – é um tipo de preconceito social tentando consertar um
GD 15-24 (2)
preconceito racial. Não seria para negros(as), mas para pobres.
Preservação da escola por
1/5
parte dos(as) alunos(as)
GD 15-17 Preservação da escola por parte dos(as) alunos(as)
Combater o preconceito
racial e a portadores(as) 1/5
de deficiências na escola

GD 15-17 Combater o preconceito racial e com deficientes na escola

Aumento das vagas no


1/5
ensino
Aumento das vagas tanto nas universidades, quanto no ensino
GD Exp. Part.
básico
Atividades extras 1/5
GD 15-24 Atividades extracurriculares nas escolas
Envolvimento da família 1/5
Educação familiar – os pais devem participar da vida escolar do(a)
GD 15-24 seu(sua) filho(a), construindo uma rotina e, a partir daí, ajudar
seu(sua) filho(a) nas tarefas escolares
Segurança 1/5
GD 15-24 Segurança nas escolas
Educação Infantil 1/5
Educação infantil pública e qualificada, não só creche, mas
GD 15-24
educação de qualidade
Fiscalização das políticas
1/5
sociais da educação
GD 18-24 Benefício Bolsa Escola (fiscalização)**

Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Manhã: Trabalho


Primeiro Emprego 5/5
Dar oportunidade aos(às) jovens sem experiência com o primeiro
GD 15-17 emprego para ter experiência e qualificação através dos cursos
oferecidos pelas empresas
GD Exp. Part. Oportunidade do primeiro emprego
GD 18-24 Oportunidade do primeiro emprego
GD 15-24 Primeiro emprego – a execução do projeto
GD 15-24 (2) Oportunidade para iniciantes

21
Mais cursos
5/5
profissionalizantes
Mais oportunidade e cursos seguidos de estágio obrigatórios
GD 15-17
oferecidos pelo governo, empresas privadas e ONGs
GD Exp. Part. Qualificação profissional (cursos gratuitos)
Capacitação profissional; cursos profissionalizantes; falta de
GD 18-24 oportunidades – parceria entre indústrias e cursos
profissionalizantes
GD 15-24 Capacitação de profissionais
GD 15-24 (2) Cursos profissionalizantes na área de trabalho
Vagas de emprego
3/5
(com salário digno)
GD 15-17
GD Exp. Part. Aumentar vagas de empregos com salário digno
GD 18-24 Aumentar o número de vagas
GD 15-24 Empregos justos, com bons salários
GD 15-24
Capacitação profissional
1/5
nas escolas
Investimento de empresas e do próprio Estado em cursos técnicos
GD 15-24 durante o segundo grau; convênio colégio-empresas – dar
experiência de trabalho ao(à) jovem
Combate a preconceitos 2/5
Há uma discriminação racial na hora de uma seleção para um
GD 15-17 emprego*; o fato também da discriminação e racismo, que
envolvem o acesso ao trabalho*
Há um preconceito contra negros(as), homossexuais e
portadores(as) de DST para conseguir um emprego; mais
GD 15-24 (2)
oportunidades de emprego para portadores(as) de deficiências
visuais e físicas
Jovens do serviço militar 1/5
Melhor aproveitamento dos(as) jovens que cumprem o serviço
GD 15-24 militar (oferecendo carta de referência) – reaproveitá-los(as); cotas
para jovens que saem do serviço militar nos concursos militares
Segurança 1/5
GD 18-24 Segurança no trabalho**
Pagamento de impostos 1/5
Continuidade do pagamento dos impostos após aposentadoria
GD 18-24
para que possibilite outras pessoas se aposentarem futuramente**

22
Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Manhã: Cultura e Lazer


Preços acessíveis 4/5
GD 15-17 Acesso a shows (preço)
GD Exp. Part. Alto custo dos ingressos aos eventos de cultura e lazer (acesso)
GD 18-24 Teatro com preço popular
GD 15-24 Centros culturais com atividades gratuitas e a preço de custo
GD 15-24 (2)
Investimentos em grupos
culturais e espaços de 4/5
lazer
GD 15-17
GD Exp. Part. Parceria entre governo, associação e escolas
GD 18-24 Projetos comunitários; investimento no esporte
GD 15-24 Criação de projetos culturais e esportivos nos bairros periféricos
Investimentos em grupos culturais em grupos que não foram
GD 15-24 (2)
reconhecidos ainda; divulgação dos grupos mais pobres
Democratização/ difusão
4/5
de eventos culturais
GD 15-17
GD Exp. Part. Levar a cultura e o lazer para os bairros/população
Maior divulgação por televisão, rádio, panfletos dos eventos culturais
(gratuitos, acessíveis); facilitar o acesso das pessoas mais distantes
GD 18-24
(de baixa renda) aos projetos culturais, como peças etc.;
descentralização dos centros culturais
GD 15-24 Levar trabalhos culturais gratuitos em bairros pobres
Oportunidade de levar o teatro, a cultura para os bairros mais pobres
GD 15-24 (2)
e levar os grupos de bairros humildes aos teatros de alto porte
Construção/ revitalização/
manutenção de praças e 3/5
espaços públicos
Reformas e construção de praças e monumentos históricos; além
das pracinhas, abrir mais espaços para que os(as) jovens tenham
outras oportunidades de lazer e cultura*; espaços, em lugares
GD 15-17
públicos, para que todos(as) possam ter acesso ao que hoje não
têm*; cuidar das áreas de lazer que existem e criar novas;* uso
racional dos parques públicos com melhor manutenção**
GD Exp. Part.
GD 18-24
Abrir espaços públicos de lazer e recuperação dos espaços que já
GD 15-24
existem; criação de praças
GD 15-24 (2) Construção e reforma de praças e parques

23
Projetos/ Atividades
extracurriculares/ 2/5
comunidade/ escola
Projetos de combate às drogas e até mesmo da fome, de
conscientização e acompanhamento, com psicólogos(as) que
possam ajudar as crianças nos bairros**; a comunidade ter
GD 18-24
consciência e criar cooperativas entre eles(as) e cada um pegar um
pouco que tem para fazer uma coisa cultural, uma peça de teatro,
uma área de lazer**
Atividades extracurriculares*; incentivo nas escolas e nas
comunidades – estimular os(as) alunos(as) a se interessar mais;
agendar atividades culturais – seria uma espécie de Feira de
GD 15-24
Ciências, Feira de Conhecimento*; calendários de atividades
culturais nas escolas – alguma vez por ano deveria ter um encontro
entre todas as escolas públicas*
Segurança 2/5
GD 15-17 Mais segurança nos eventos, como shows
GD 15-24 Segurança nos espaços públicos
Transporte público 1/5

GD 15-17 Melhoria dos transportes públicos (mais ônibus)

Valorização do patrimônio
1/5
histórico
GD 18-24 Eventos – visitar centros históricos
Valorização da cultura
1/5
local (bairro)
Valorizar a cultura do bairro; formação de grupos culturais nos
GD Exp. Part.
bairros
Promoção da cultura
1/5
(ONG)
ONG que dê oportunidade à cultura. As pessoas não costumam se
GD 18-24
identificar muito com cultura**

Tabela 7 (cont.)

Diferenças Manhã: Educação


Investimento na educação/
4/5
professores(as)/ escola
Ornamentação nas escolas*; o incentivo político-social da
alfabetização nos estados brasileiros mais carentes*; tem que ter
GD 15-17
livro didático*; mais vagas para não ter mães que durmam na fila
para matricular seus(suas) filhos(as)*
Internet, livros, biblioteca*; acabar com as greves escolares com
GD Exp. Part.
ajustes salariais anuais*
GD 18-24 Diminuição da carga horária dos(as) professores(as)*
GD 15-24 Melhor remuneração para os(as) professores(as)

24
GD 15-24 (2)
Atividades extras/aulas
dinâmicas/ novas 3/5
metodologias
A prática do esporte mais intensa na escola*; temos que ter
GD 15-17
computação nas escolas*
Inserção da cultura e do lazer na escola; qualificação das aulas
GD Exp. Part.
práticas*

Incentivos culturais – colégio promovendo peças de teatro, recitais


de poesia, festivais de dança etc.*; melhor didática dos(as)
GD 18-24
professores(as) – existem vários(as) professores(as) antiquados(as),
precisam entender a linguagem dos(as) jovens*

Construção de creches/
2/5
escolas/ universidades
GD 15-17 Deveria construir mais colégios ou ampliar o número de vagas*
GD Exp. Part. Construção de escolas nos bairros; creches*
GD 18-24 Aumento do número de universidades*
Transporte/ transporte
2/5
escolar

GD Exp. Part. Investir em transporte escolar público

Interesse dos(as)
2/5
alunos(as)
GD 15-17
Conscientização dos(as) jovens de suas responsabilidades
GD Exp. Part.
educacionais*
GD 15-24 Interesse dos(as) alunos(as)
Cotas 2/5
Pensamos no sistema de cotas porque os(as) brancos(as) e os(as)
GD 15-17
negros(as) sentem-se prejudicados(as)*
GD Exp. Part.

GD 18-24 Cotas para negros(as) nas universidades

Qualificação dos(as)
professores(as) e escola
para ensino dos(as) 1/5
portadores(as)
necessidades especiais
Qualificação dos(as) professores(as) e escola para ensino dos(as)
GD 15-17
portadores(as) necessidades especiais
Educação familiar 1/5
Conscientização dos pais – tem que ser um conjunto para a
GD 18-24
educação, não é só na escola*

25
Constatações/
2/5
observações
Na escola, você tanto aprende como aluno(a) e ensina como
GD 15-24
cidadão(ã)
Mostrando posições não concretas, mas se acontecer nosso país
GD 15-24 pode melhorar 80%; a educação é a chave fundamental para os
próximos assuntos

Tabela 7 (cont.)

Diferenças Manhã: Trabalho


Incentivo fiscal para
2/5
empresas
GD 18-24 Incentivo às pequenas empresas
Diferenciação ao tratamento de pequenas e grandes empresas –
GD 15-24 incentivo fiscal. Deveria haver menos burocracia para que as
empresas cresçam e, conseqüentemente, empreguem mais jovens
Políticas de inclusão social 2/5
Questão racial – tem que ter oportunidade ao emprego. Tem que ter
um pouco da atenção dos(as) empresários(as), da sociedade e
GD 18-24 dos(as) próprios(as) negros(as). As empresas não dão
oportunidades. Há alguns(mas) negros(as) que se discriminam, há
outros(as) que tentam e não conseguem*
A sociedade obrigar, junto ao poder judiciário, que sejam
respeitadas as leis vigentes e formular diretrizes e incentivos para a
GD 15-24
valorização da mulher e dos(as) afrodescendentes no mercado de
trabalho
Política de emprego 2/5
GD 15-24 Uma política maior de emprego para os(as) jovens
O governo disponibilizar a Casa do Trabalhador, com cursos e
GD 15-24 (2)
estágios
Trabalho infantil 1/5
GD 15-24 Abolir o trabalho infantil
Rompimento com as
1/5
políticas neoliberais
GD Exp. Part. Rompimento com as políticas neoliberais
Igualdade de direitos 1/5
A melhora e a gente ter responsabilidade e ter oportunidade em
todas as formas, através de cursos e concursos honestos para a
gente entrar no mercado de trabalho; confiança nos(as) jovens de
GD 15-24 (2) classe baixa – os(as) jovens que têm o ensino fraco, não têm uma
boa preparação e, na hora de se apresentar, são discriminados(as)
até por causa da raça. Dar mais oportunidade aos(às) jovens de
classe baixa

26
Responsabilidade 1/5
No trabalho, para se ter bons(boas) profissionais, tem que ter
GD 15-24 (2)
responsabilidade. Isso em todas as profissões
Iniciativa/ interesse do(a)
1/5
jovem
Falta interesse em mudar, a questão é você querer que as coisas
GD 15-24 (2)
mudem
Incentivo do governo 1/5
GD 15-24 (2) Falta auxílio do governo
Segurança 1/5
GD 18-24 Segurança no trabalho**
Legislação trabalhista/
1/5
sindicatos
GD 18-24 Legislação trabalhista e sindicatos mais atuantes
Constatações/
2/5
observações
Custo para sustentar os(as) presidiários(as) – investir mais em
GD 18-24 educação para o(a) jovem não passar por isso mais tarde, evitando
este custo para a sociedade
GD 15-24 (2) O trabalho é uma questão nacional, não só de Salvador

Tabela 7 (cont.)

Diferenças Manhã: Cultura e Lazer


Espaços públicos 3/5
Ocupar espaços inutilizados e cedidos pelo governo,
GD 15-17 desenvolvendo trabalhos culturais como dança, teatro e música,
etc.*
GD Exp. Part. Praças e anfiteatros nos bairros
Exigir a criação de praças, parques, jardins e teatro com preço
GD 15-24
popular
GD 15-24 (2)
Valorização da cultura local/
2/5
patrimônio histórico
Lembrar da nossa própria cultura, lembrar dos nossos feriados e
ver a importância que eles têm para nossa sociedade. "Porque a
GD 15-17 gente só dá valor ao que vem de fora"; o nome do aeroporto deve
voltar a ser "Dois de Julho" porque é uma data importante na
Bahia; conservar os monumentos públicos*
GD Exp. Part. Levar a cultura do próprio Estado para as escolas

27
Projetos/ atividades
culturais nas escolas/ 2/5
comunidades
Incentivo da escola à promoção de recitais e peças teatrais*; dar
GD 18-24 incentivo a leitura, construindo bibliotecas nos bairros e nas
escolas*
Atividades extracurriculares; incentivo nas escolas e nas
comunidades – estimular os(as) alunos(as) a se interessar mais;
agendar atividades culturais – seria uma espécie de Feira de
GD 15-24
Ciências, Feira de Conhecimento; calendário de atividades
culturais nas escolas- alguma vez por ano deveria ter um encontro
entre todas as escolas públicas
Promoção da cultura 2/5
ONG que dê oportunidade à cultura. As pessoas não costumam se
identificar muito com a cultura; A comunidade ter consciência e
GD 18-24 criar cooperativas entre eles(as) e cada um(a) pegar um pouco
que tem para fazer uma coisa cultural, uma peça de teatro, uma
área de lazer**
Incentivar os grupos de arte em geral, apoiando com alguma
contribuição as apresentações nos bairros onde cada morador(a)
GD 15-24
possa doar almoço, refrigerante; Solicitar ao órgão competente
recursos financeiro e técnico para divulgação da cultura
Interesse/ autonomia
2/5
dos(as) jovens
Maior interesse dos(as) jovens – não esperar por organizações
GD 15-24
que a gente vá atrás da cultura e lazer
GD 15-24 (2) Interesse dos(as) próprios(as) jovens
Meios de comunicação 1/5
Gratuidade na divulgação das atividades culturais dos bairros nos
GD Exp. Part.
meios de comunicação
Eventos públicos 1/5
Eventos abertos ao público (aulas, danças, oficinas de teatro,
GD 15-17
cinema, música)
Conscientização 1/5
Em relação à segurança e para as pessoas não quebrarem
GD 15-24 (2) bancos, as praças. Mas precisa de conscientização para as
pessoas não fazerem
Informação 1/5
GD 15-24 (2) A cultura através da informação
Estratégias de participação
do(a) jovem nos espaços/ 1/5
eventos culturais
Tem que haver uma forma melhor de chamar nossa atenção para
GD 15-24 (2)
aqueles eventos, tipo peças de teatro

28
Atividades gratuitas/ preços
1/5
acessíveis
O custo da cultura/do lazer é muito caro e por isso as pessoas não
freqüentam. Não conhecem porque não têm oportunidade de
GD 15-24 (2)
conhecer aquilo. "Até no Museu da Cidade tem que pagar para
entrar"
Condições para acesso e
fruição da cultura/ lazer
1/5
(emprego/ transporte/
segurança)
Mais empregos para acesso cultural*; mais transporte para o
GD 15-17
lazer*; a questão da segurança para o lazer é muito importante*
Atividades para crianças 1/5
O governo tem que começar a criar programas para as crianças,
fazer a criança se interessar, levando as crianças para o teatro,
GD 18-24 fazendo peças de teatro na escola. Ter mais opções de lazer
dentro da escola, algo que vá lhe dar em troca uma bagagem para
a vida inteira*
Constatações/ observações 3/5
"Há uma preocupação com os turistas e uma falta de preocupação
GD 15-17
com os nativos"
"Devemos aceitar todo mundo com sua cultura, quando passa
uma mulher vestida de baiana ou uma pessoa que curte hip hop
GD 18-24
não criticar e entender que eles têm direito de fazer parte de uma
cultura"
"Muita gente fica se lamentando que não tem lazer, não tem
GD 15-24 (2)
cultura e é verdade"

* Semelhanças observadas nos Grupos de Diálogo que não foram apontadas pelos(as) jovens.
** Diferenças que os(as) jovens acordaram como semelhança.
Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Tarde

Diferentemente da proposta de trabalho da parte da manhã, que partia das necessidades concretas no
campo da educação, trabalho e cultura e lazer, os(as) jovens se mostraram menos familiarizados(as)
com o tema abordado na parte da tarde, ou seja, a participação (social, política ou cultural) para alcançar
as conquistas das melhorias apontadas.

Houve uma forte resistência dos(as) jovens em atender à orientação de leitura do Caderno de Trabalho,
para que obtivessem mais informações sobre os Caminhos de Participação. Muitos(as) assumiam que já
havia compreensão suficiente para se posicionarem em relação ao tema; para outros(as), o exercício da
leitura era mais difícil e alguns(mas) consideraram extremamente cansativo esse processo. Os Grupos
demoraram mais para se organizar e a participação foi menos intensa, em função do cansaço e da pouca
familiaridade com o assunto.

29
A percepção dos(as) jovens sobre os espaços de participação social de controle das ações
governamentais, influenciando nas políticas públicas (movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos),
freqüentemente é aquela veiculada pela “mídia dominante”, isto é, há um certo preconceito em
detrimento a uma reflexão que busque compreender as razões das manifestações e ações coletivas
realizadas. Alguns(mas) jovens reconhecem que essas são maneiras que encontram para se fazerem
ouvir pela sociedade, pelos governos; no entanto, o outro extremo é ocupado por jovens que repudiam a
“violência de suas ações”.

O Conselho Tutelar é praticamente a única referência que possuem dos conselhos de direitos,
fiscalizadores ou gestores. A pouca ou nenhuma visibilidade é um dos principais problemas vividos por
esse espaço conquistado na Constituição de 88 e, para que houvesse alguma manifestação em sua
adesão por parte dos(as) jovens nos GDs, teria sido necessário dedicar uma parte do Dia apresentado
seu potencial democrático.

Houve o reconhecimento de instituições como o voto para a escolha de representantes, as denúncias, a


iniciativa popular de lei e a representação à Câmara, como formas legítimas e acessíveis de participação
nas decisões e controle da gestão pública, sendo necessária maior “conscientização” e capacitação da
sociedade para o uso desses instrumentos.

Outra constatação feita a partir dos Diálogos estabelecidos foi a dificuldade em pensar na participação
em primeira pessoa. Alguns(mas) jovens idealizaram a solução para os problemas apontados na
expectativa de que outros(as) jovens se engajariam.

Em muitas ocasiões, através de propostas idealistas (como a criação de um partido político de atuação
nacional), os(as) jovens reuniam os aspectos que consideravam positivos e importantes em cada
Caminho. É interessante notar que, em seus discursos, afirmaram que “não vão se deixar levar pela
corrupção” ou “não vão ser massa de manobra dos adultos”.

30
Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Tarde
Caminho 1 5/5
É importante ter grêmios na escola para reivindicar melhorias, como
palestras teatro; os(as) alunos(as) têm que reivindicar a melhoria das
aulas com os(as) professores(as), se o(a) professor(a) não
contribuir, procuramos a direção da escola, se esta também não
ajudar, temos que ira à Secretaria de Educação ou MEC; cobrar
ações do governo: tem que unir tudo, não se preocupar só com o
GD 15-17
bairro, não resolver só o problema da escola, temos que tomar uma
postura mais radical, chamar a atenção; o Caminho 1 responsabiliza
mais os(as) governantes e mostra como a gente pode estar
ajudando eles(as) a decidirem e estar pressionando eles(as)
também; quando a gente opta só pelo Caminho 2, a gente está
deixando outros(as) agirem, outros decidirem por nós

A participação do(a) jovem na política. A busca por uma sociedade


GD Exp. Part. mais igualitária; conquistar voz ativa de forma que possa melhorar a
vivência do povo brasileiro

Conscientização dos votos; criação de ONGs; oferecimento de


GD 18-24 denúncias aos órgãos competentes (pode ser uma ação individual
ou coletiva); iniciativa popular – projeto de lei; representação a
Câmara; convênio com empresas

GD 15-24 Criação de partidos políticos – legitimidade, atitude, maior poder de


influência; levar propostas a governos

Grêmios e organizações estudantis, organizações para ajudar, como


podem, na criação de uma quadra poliesportiva e recolhimento de
GD 15-24 (2) material didático*; reuniões entre jovens para chegar em uma
conclusão e às participações até o governo; começar a agir nas
escolas e nos próprios bairros onde os(as) jovens moram; usar os
meios de comunicação como apoio (divulgando os trabalhos)

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Apontado como semelhança dos subgrupos nos 5 GDs realizados, o Caminho 1 atrai os(as) jovens por
“estar mais próximo ao poder; dos espaços de decisão”; “por trazer soluções profundas para todos,
resolvendo os problemas pela raiz”; “por ser legítimo e reconhecido pela sociedade e pelo Estado”. Por
tudo isso, sentem-se impulsionados(as) até mesmo a criar novos partidos políticos (três ocorrências, no
Grupo com experiência participativa e no primeiro GD de 15 a 24 anos), movimentos sociais, como o Melt
(Movimento pela Educação, Trabalho e Lazer) e ONG (apontada por uma equipe, no GD3).

Em relação às possíveis conseqüências para trilhar de maneira participativa nesses tipos de


organizações, avaliam que o(a) jovem tem condições e desejo de autonomia para não se deixar levar
pelas idéias dos(as) adultos(as). Houve um Grupo que afirmou “não existe mundo adulto e mundo jovem,
o mundo é um só”. Consideram que a característica principal do voluntariado, tema tratado no Caminho
2, também está presente no Caminho 1, uma vez que é necessário o empenho do próprio tempo, energia

31
e recursos, desse modo, “se é para fazer algo pela comunidade/sociedade, é melhor buscar o caminho
que tem mais chances de dar certo”.

A necessidade de ter garantias de que ‘o empenho não será em vão’ fica visível quando perguntados(as)
que condições apontam para participar do Caminho 1, no questionário Pós-Diálogo (item 6 deste
relatório).

Nota-se uma certa sobreposição do papel dos grêmios estudantis. Além de lidar diretamente com a
questão que mais atinge os(as) jovens, a educação, e sendo um dos espaços mais próximos deles(as),
freqüentemente remetem a utilização desses em trabalhos pontuais e voltados também para
comunidade.

A morosidade em alcançar as soluções para os problemas, por conta da burocracia, e as oportunidades


de corrupção são os maiores fatores de resistência ao Caminho Participativo 1.

Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Tarde
Caminho 2 2/5
GD 15-17
GD Exp. Part.
Caminho do voluntariado – disponibilidade de tempo para com as
GD 18-24
outras pessoas
GD 15-24

A participação dos(as) jovens nas ações voluntárias tem como


objetivo ajudar pessoas, escolas e comunidades. Como ajudar:
criar caminhadas de arrecadações de material didático, fazer
GD 15-24 (2)
mutirões de limpeza e pintura das escolas, divulgar cartazes que
incentivem o(a) jovem a freqüentar a escola; criar grupos para
orientar estudantes como dificuldades*

* Semelhanças observadas nos Grupos de Diálogo que não foram apontadas pelos(as) jovens.

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

O Caminho 2, do voluntariado, foi facilmente compreendido pelos(as) jovens, embora apontado com
freqüência menor que o Caminho 1. Esses(as) jovens, porém, acabavam por assumir que toda
participação é voluntária mesmo nos espaços legítimos institucionais ou nos grupos jovens auto-
organizados. Para realizar a participação voluntária, idealizaram a parceria com empresas e com o
governo – para disponibilizarem recursos e os subsídios necessários para as ações pretendidas –, com
professores(as) e profissionais da educação, com a comunidade – para o apoio na arrecadação de
alimentos, roupas etc., e, finalmente, com os meios de comunicação para divulgação das ações e
mobilização de “todos(as)”.

32
Definido como semelhança nos GDs com jovens entre 18 e 24 anos e no segundo, realizado com jovens
entre 15 e 24, o voluntariado parece ser a saída para aqueles(as) que não dispõem de tempo para se
engajar em um grupo, seja por estarem se preparando para o vestibular ou trabalhando. A flexibilidade de
tempo para disponibilizar para a comunidade (ou uma escola, um grupo de estudantes) foi um fator
atraente também para aqueles(as) que não tinham o interesse em se comprometer durante o GD, mas
que se sentiam impelidos(as) a fazer uma escolha.

A característica marcante do Caminho do voluntariado foi o fato de trazer resultados imediatos. Esse
Caminho foi a alternativa escolhida para aqueles(as) que consideram a urgência em solucionar os
problemas sociais (da fome, da falta de acesso a educação de qualidade), mesmo reconhecendo a
atuação restrita e pontual que possui. A possibilidade de “dedicação”, “cooperação” e a “disposição” e
“vontade de ajudar ao próximo” foram associados a essa forma de participação, que implica em um forte
senso de altruísmo e sensibilidade.

O Caminho 2 também foi interpretado como meio auxiliar ao Caminho 1, ou seja, atuação em conjunto
para resolução de problemas imediatos de maneira pontual, ao mesmo tempo em que se batalha pelas
conquistas mais abrangentes, via espaços públicos e legítimos de participação.

Como aspectos negativos, chamou a atenção dos(as) jovens o fato de exigir pouca mobilização da
sociedade, de fazer o trabalho do governo, de ser um Caminho individualista, fechado, não contribuir
para mudanças efetivas para melhoria do país e constituir apenas uma solução paliativa para os
problemas.

Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Tarde
Caminho 3 2/5
Todos nós devemos agir juntos, não podemos deixar os outros
GD 15-17
resolverem os nossos problemas
GD Exp. Part.

Nos unir para formar grupos; promover eventos (angariar fundos


para fins beneficentes); trabalhado junto com a comunidade;
GD 18-24
leitura em praças; inserir deficientes físicos no mercado de
trabalho através do Caminho 3, ativismo

GD 15-24
Se reunir para formar grupos; promover eventos (arrecadar
fundos para fins beneficentes); trabalhar junto à comunidade;
GD 15-24 (2)
inserir o(a) deficiente físico no mercado de trabalho; leitura em
praças; convênios com empresas

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

33
Caracterizado pela reunião de jovens em torno de um objetivo comum envolvendo diversas formas
de atuação e de transmitir sua mensagem para sociedade ou outros(as) jovens, o terceiro Caminho
de Participação foi menos reconhecido pelos(as) jovens da RMS como maneira de alcançar as
melhorias apontadas, sendo visto como “grupos soltos”, “sem compromissos” ou apenas para a
“ocupação de tempo”.

Os(as) jovens que escolheram essa via argumentaram que ela permite a livre organização, assim como
são grupos autônomos e que não precisam da ajuda do governo. Através desses grupos espontâneos,
torna-se possível “discutir com pessoas que possuem o mesmo ponto de vista” e “as idéias são expressas
de maneira democrática”. Esses grupos, portanto, “trabalham com consenso”.

34
Outros adjetivos positivos atribuídos versavam sobre o “ativismo”, o “engajamento”, a “seriedade” e a
“simplicidade” que a formação de grupos requer. Por fim, para justificar a sua importância no processo de
conquistas das melhorias nas áreas discutidas, foi ponderado que é “válida qualquer iniciativa popular
consciente”.

Tendo sido consenso somente em 2 GDs, não é possível arriscar uma interpretação do ponto de vista da faixa
etária, uma vez que os GDs (de 15 a 17 anos e 18 a 24 anos), abrangem diferentes grupos.

Tabela 7 (cont.)

Semelhanças Tarde
Todos os Caminhos possuem
2/5
elementos importantes
Temos que unir os Caminhos Participativos porque não podemos
GD 15-17 apenas resolver os problemas da nossa escola sem fazer
reivindicações para que tenha em todas as outras escolas;
o objetivo dos quatro grupos foi reunir forças e coisas diferentes.
GD 15-24 (2)
Todo mundo participar

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Tabela 7 (cont.) Diferenças da tarde9

Diferenças Tarde
Formar parcerias (com
governos, ONGs, empresas, 2/5
com grupos)

Temos que fazer que o nosso trabalho local seja mais extenso,
GD 15-17 unindo com grupos de outros lugares, a internet pode ajudar
muito nisso; em ONGs podemos desenvolver parcerias

Uma parceria com governo e as empresas (na formação de um


GD 15-24
partido político que trabalhe com os direitos dos estudantes)

GD 15-24 (2)
Realizar campanhas para
2/5
ajudas emergenciais
GD 15-17 Formando grupos para arrecadar alimentos
GD Exp. Part. Formação de grupos voluntários

9. Atenção: um subgrupo não chegou a um Caminho único – dois(duas) jovens optaram pelo voluntariado porque não querem assumir
mais responsabilidades, em função do trabalho. Um(a) deles(as) defende: "No que eu puder ajudar, tô ajudando, porque eu tenho dois
trabalhos e não posso assumir esse compromisso". Os(as) outros(as) quatro jovens uniram os Caminhos 2 e 3: "deveria surgir um
movimento de voluntários porque eles sim, sabem o que têm. O Caminho três tem uma dimensão maior do que o do voluntariado que,
tem um trabalho específico. Com o grupo podemos levar habilidades de conhecimentos específicas a outros jovens e, com isso, trocar
experiências".

35
Realizar campanhas para
conscientização, palestras, 3/5
divulgação, ações coletivas
Formar cidadãos(ãs) pensantes que vão tirar os(as) maus(más)
GD 15-17
políticos(as) do poder (conscientização)
Mobilização de pessoas para podermos levar ao governo o que
as pessoas esperam dele; matéria "cultural" nas escolas,
mostrando aos(às) jovens da importância da participação política
GD Exp. Part. na sociedade; criação de peças teatrais para motivar as pessoas
a se voluntariar, a fim de minimizar os problemas do nosso país;
mostrar a realidade do país; o Caminho efetiva as
transformações sociais (ex. sem terra), é o mais rápido
Dar acesso aos(às) jovens de baixa renda a necessidades
essenciais como trabalho, educação, cultura, lazer e,
principalmente, educação; trabalho: ministrar cursos
GD 15-24 (2) profissionalizantes com o auxílio de professores(as)
voluntários(as); cultura: disponibilizar um vasto acervo de livros;
lazer: disponibilizar quadras poliesportivas; educação: reforço
escolar, visita em escolas
Ações coletivas 2/5
Temos que reivindicar também, participar de sindicatos,
GD 15-17
manifestações cobrando do governo atitudes justas
GD Exp. Part. A busca de um novo sistema político
Ações individuais/
2/5
voluntárias
GD 15-17 Individual, fazer a sua parte perante os(as) necessitados(as)
GD Exp. Part. Através do Caminho as pessoas são voluntárias
"O Caminho 2 apareceu em dois grupos – tentar dar uma solução
GD 15-24 (2) imediata - você recebe de volta o aprendizado que as pessoas
têm"
Criação de ONGs 1/5

Formar uma ONG na qual se faria um cadastramento de


GD 15-24 (1) voluntários(as) e grupos que fariam trabalhos nas comunidades;
se inserir em uma ONG reconhecida como voluntários(as)

36
Criação/ participação em
partidos e movimentos;
3/5
participação em conselhos e
ONGs
Criar um novo partido usando os grupos que já existem
GD Exp. Part.
(associações, cooperativas...)

"Estamos dispostos a nos engajar e ter uma bandeira de luta,


criando um partido político para atuarmos dentro das Câmaras
de deputados e outras instâncias. Ressaltamos que de alguma
forma seremos invisíveis e não cederemos à manipulação do
GD 15-24 poder. A gente acha que o partido político teria mais legitimidade
e (seria) mais abrangente"; "Criação de um partido político jovem
que reivindique os direitos de estudantes do país inteiro. O
partido é necessário porque há muitos problemas para o ministro
resolver e só os estudantes sabem o que eles passam".

A forma que escolhemos de estar mais próximos dos órgãos


competentes para solucionar nossas propostas foi através dos
GD 15-24 (2)
movimentos sociais, partidos políticos, conselhos, ONG para
manter sempre o diálogo entre os(as) governantes e a população
Protagonismo juvenil 1/5
Ocupação por jovens de cargos dentro de Secretarias e
GD Exp. Part. coordenadoria de juventude; abertura de espaços políticos para
os(as) jovens
Exclusão do Caminho 1 2/5
GD Exp. Part. Passa uma idéia de individualismo ("Eu me engajo")
A união dos trabalhos realizados através da participação política
dos(as) jovens voluntários(as) e dos grupos culturais em geral e
GD 15-24 (2)
até mesmo da comunicação chamaria a atenção de todos(as),
promovendo atitudes de poderes políticos
Formação de grupos
2/5
(Caminho 3)

Reuniões de grupos estudantes para ver e resolver os problemas


das escolas; promoção de grupos culturais e esportistas;
movimento: "deveria surgir um movimento de voluntários porque
GD 15-24 eles, sim, sabem o que têm. O Caminho 3 tem uma dimensão
maior do que o do voluntariado que tem um trabalho específico.
Com o grupo, podemos levar habilidades de conhecimentos
específicos a outros jovens e, com isso, trocar experiências".

A união dos trabalhos realizados através da participação política


dos(as) jovens voluntários(as) e dos grupos culturais em geral e
GD 15-24 (2)
até mesmo da comunicação chamaria a atenção de todos(as),
promovendo atitudes de poderes políticos

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

37
4.3 – Caminhos participativos

Ao se reunirem na parte da tarde, a proposta feita aos(às) jovens foi para aprofundar a leitura de cada
Caminho Participativo, a fim de que pudessem refletir e fundamentar suas opções de participação. O
objetivo dos pequenos Grupos era de identificar formas e estratégias para se alcançar às melhorias
apontadas na plenária da manhã, isto é, de que maneira estariam dispostos(as) a contribuir para alcançá-
las. As possibilidades vislumbradas eram: optar por um dos Caminhos propostos, construir um Caminho
a partir de seus elementos ou até mesmo não chegar a nenhum consenso.

CAMINHO 1

O Caminho 1, sozinho ou combinado com os demais, foi o que mais atraiu os(as) jovens da RMS. Esteve
presente na escolha de 17 dos 20 subgrupos formados e foi opção única para cinco subgrupos.

Cada GD valorizou um tipo de argumento: 1) o da necessidade da juventude influenciar na política,


caracterizando a participação nesse campo como uma atuação altruísta, voltada para solução dos
problemas [esse ponto traz com certa força a valorização do(a) jovem]; 2) com uma interpretação
próxima, a preferência pelo Caminho 1 significa buscar a transformação das relações sociais e não
apenas uma mudança localizada e pontual; 3) destaque ao uso de instrumentos jurídicos de participação
para propor leis, e apresentar denúncias de infração de direitos coletivos ou má versação de recursos
públicos e à necessidade de conscientização de novos atores para promover as mobilizações.

Para os(as) jovens do Grupo entre 15 e 17 anos, participar do Caminho 1 é optar por uma via altruísta.
Isso fica visível quando afirmam que é “tomar a dor de todo mundo”. Ao lado disso acreditam que “a
juventude tem mais força quando atua na política” e o Caminho 1 traz a possibilidade de fazer parte de
espaços como ONGs e sindicatos, que dão força às grandes mobilizações e reivindicações. Porém, para
esses(as) jovens, as reivindicações não são suficientes para a garantia dos direitos e da melhoria da
qualidade de vida, o que leva a associar estratégias de participação ligadas ao Caminho 2, na tentativa
de suprir as necessidades mais imediatas da sociedade, em que o foco passa a ser suas comunidades.

Os(as) jovens com experiência participativa teceram um diálogo mais consistente. Isso porque em alguns
depoimentos puderam falar da experiência vivida em seus grupos de atuação, questionando um dos
aspectos contra esse Caminho, apontado no Caderno de Trabalho:

(...) quando o jovem participa de movimento político, ele não fica invisível, só fica se ele
quiser. Ele tem voz e ele pode atuar ativamente... Eu participo de movimentos políticos e
não sou invisível.

Apesar de valorizar sua experiência com o voluntariado, uma jovem manifesta a necessidade de se
buscar outros espaços e formas de participação juvenil identificados no Caminho 1, para alcançar as
melhorias apontadas na plenária da manhã:

38
Eu mesmo participo de um grupo de jovens e vou continuar participando. Agora, eu
tenho interesse em me ‘aliar’ a um partido que tenha uma ação muito mais afirmativa na
minha sociedade.

Para os(as) jovens desse GD, a evidência na participação no Caminho 1 está fortemente respaldada no
maior impacto e rapidez de resultados dos problemas sociais no país, pois, segundo eles(as), “é o que dá
maior força, maior suporte a todos os Caminhos. Apesar de ser mais difícil, é o que vai conseguir um
ganho mais rápido”.

A questão da transformação das relações sociais emerge a partir de uma reflexão sobre o “sistema
econômico atual excludente e desigual”, os limites e prioridades dos(as) candidatos(as) eleitos(as) dentro
das esferas governamentais, as especificidades dos espaços de deliberações políticas, o papel do
governo na resolução das questões sociais, a abertura e respaldo do(a) jovem dentro de um partido
político, além da defesa de interesses, políticas públicas, democratização de informações sobre leis,
direitos e deveres e o poder do(a) cidadão(ã) no voto. Este último ponto revela como eles(as) entendem a
forma de atuação desde o primeiro dia logo após a eleição, que deve se dar através de um
monitoramento das propostas oferecidas pelos(as) candidatos(as).

Não é só no voto que a gente exerce este direito, (...) não significa que a gente vai
passar as responsabilidades para os representantes e esquecer da nossa parte.

Um jovem manifestou que é necessário atuar na política, identificando os(as) verdadeiros(as)


representantes que tenham o entendimento da necessidade de se construir outros sistemas políticos.
Desse modo, essa participação está concentrada em um espaço político partidário porque tem maior
chance de incidirem nas decisões do país. Um rapaz apontou a importância de ter representantes no poder
que possuam o mesmo pensamento e entendimento da necessidade de outras formas de sistemas que não
seja o capitalismo e o neoliberalismo, “se a gente deseja efetivar uma mudança macro, a gente tem que
efetivar uma mudança na política, no sistema capitalista, onde a gente observa que não é para todos”.

Recorrentemente, portanto, o argumento que pesou para a escolha desse Caminho foi a necessidade de
uma “mudança real”, em detrimento de uma “mudança parcial”, verbalizada na plenária quando um
Grupo faz a pergunta de maneira objetiva.

Já para os(as) jovens entre 18 a 24 anos, que tiveram maior inclinação para a participação nos Caminhos
2 e 3, participar do Caminho 1 significa agir através de denúncias junto ao Ministério Público sobre
irregularidades e desvios de verbas públicas, além de ter uma representatividade legitimada dentro das
instâncias políticas deliberativas, como a Câmara Legislativa, que garanta a abertura de um canal de
diálogo direto entre esses(as) e o Poder Público, onde suas idéias e participações sejam reconhecidas no
processo de melhoria do país:

Também nós achamos que as melhorias poderiam ser implementadas pelo oferecimento de
denúncia aos órgãos competentes, Ministério Público, Conselhos Tutelares...

39
Porém, o Grupo reconhece que estar nesses lugares implica na necessidade de um trabalho de
conscientização com os(as) jovens na participação política do país, desenvolvido nas escolas,
provocando a participação dentro de grêmios. Assumindo o grêmio estudantil como espaço de
aprendizado das práticas políticas, capacitação e empoderamento, nele são criadas oportunidades para
que os(as) jovens possam estar preparados(as) para atuar no contexto político e impedem possíveis
manipulações.

Quando você desenvolve funções políticas, você fica menos vulnerável a ser
manipulado, a servir de massa de manobra de intelectuais ou de pseudointelectuais.

A defesa para a atuação através de ONGs em detrimento às organizações informais propostas pelo
Caminho 3 mostra que para os(as) jovens não existe credibilidade em organizações formadas somente
por jovens. Desse modo, a ONG daria o “status de adulto(a)” ao(à) jovem e o devido respaldo no diálogo
com o governo. Esse mesmo Grupo apenas conseguiu acatar a escolha pelo Caminho 1 a partir de
muitas considerações, todas necessárias para um acordo coletivo, no qual idéias como “legitimidade sem
corrupção” e “legitimidade com honestidade” foram frisadas de forma insistente para que o Grupo
pudesse se apropriar da nova idéia, que, desde o começo do Diálogo, esteve muito carregado de um
sentido negativo e pejorativo de poder e “politicagem”.

Dos aspectos negativos ressaltados, para os(as) mais jovens, que valorizaram a participação em
sindicatos, ONGs e movimentos sociais, o partido político apenas foi citado como um espaço que
reproduz “um ciclo vicioso”. Como o Grupo que trouxe esse discurso não conseguiu avançar no Diálogo e
nas argumentações, deduz-se que o discurso indica desconfiança na política nacional, representada nos
escândalos que cotidianamente são revelados na mídia, com casos de corrupção envolvendo a figura de
políticos(as) e partidos.

Outro argumento utilizado para a não adesão ao Caminho 1 foi o exemplo do desempenho do presidente
Lula frente às promessas feitas durante a campanha eleitoral. A distância entre o discurso e a prática causa
um descrédito na participação política, porque se reconhece a necessidade de construção de alianças com
partidos ideologicamente opostos, colocando em questão o potencial de governabilidade do presidente nos
processos de decisão no Congresso Nacional e os excessos burocráticos que se tornam empecilhos para a
melhoria do país. Os(as) jovens ainda chamam a atenção para o oportunismo dos(as) políticos(as) na
manutenção da situação econômica e social, a partir da falta de conhecimento da população brasileira da
lógica política nacional.

Porque a burocracia é muito grande. Você vê o presidente que veio de baixo disse que ia
mudar, mudar o país e tudo (...) precisa de apoio de outros partidos a fim de conseguir
votos para aprovar (...) uma lei que melhore o país.

Alguns(mas) acreditam que o maior envolvimento da juventude em partido político pode trazer muitos
aprendizados e enriquecer o processo de formação. Sinalizam a necessidade que esse segmento tem de
expor suas idéias para a sociedade de forma mais “respeitosa”. Conseguir chegar ao poder ou ganhar

40
espaço é a centralidade de suas preocupações no critério de escolha dos Caminhos Participativos;
“porque os jovens têm que estar na liderança, têm que mostrar que ele existe.”

Apostam na facilidade e respeito adquiridos através dos partidos e ONGs e argumentam os pontos
negativos trazidos pelo Caderno de Trabalho:

Se a pessoa não está satisfeita com aquele partido, com aquele grupo, forma outro
partido. Tipo o Lula, fez o PT. Não é obrigado a ser manipulado por alguém mais velho.
‘Tornar-se invisível...’ Só se quiser, se tiver boca não vai se tornar. Os jovens comandam,
eles podem ter opinião em qualquer lugar. Eu tenho minha opinião em qualquer lugar.

Outros(as) jovens se mostraram resistentes a interagir com esse cenário. No primeiro Grupo de 15 a 24
anos, a falta de familiaridade com os assuntos que estão ligados com a política no cotidiano juvenil,
revelado tanto nos dados do relatório quantitativo da RMS e o desconhecimento sobre as formas de
atuação nesse contexto sugerem a opção pelo distanciamento desse Caminho:

Não simpatizei com o 1, não... Não é que eu não me simpatizei, eu não entendi muito o
que ele quer dizer. Eu tô falando que a maioria dos jovens não prefere o Caminho 1
porque fala em política, entendeu? Por isso eu não gostei também.

Corrupção, manipulação, falta de abertura para expressão de suas idéias e excesso de interesses
pessoais são os pontos negativos trazidos pelos(as) jovens que não elegeram suas participações no
Caminho 1.

CAMINHO 2

O primeiro sentimento que vem em relevo quando se trata do voluntariado é a dedicação, a força de
vontade, a ajuda ao(à) próximo(a). Estar nesse Caminho significa trabalhar de forma autônoma sem
esperar pelo governo, “porque, se esperar o governo, vai demorar muito”.

As referências ao governo nessa discussão refletem a incapacidade de dar conta de todos os problemas
sociais e que, acima de tudo, possuem uma dinâmica de atuação muito lenta. O voluntariado surge,
então, como uma estratégia para solucionar o que é percebido no cotidiano desses(as) jovens, ou seja,
as demandas de sua comunidade e da sua escola.

Ele também é incorporado como uma estratégia auxiliar a participação política, como é o caso do Grupo
que, mesmo reconhecendo a necessidade de transformações sociais, concluiu que “não dá pra resolver
só com política porque só vai abordar esse aspecto macro, passando por cima dessa necessidade
pessoal”. Com isso, o Caminho 2, mesmo entendido como uma “ação paliativa” e que “não efetiva
mudanças”, é necessário por oferecer resultados mais imediatos para a sociedade, amenizando
problemas urgentes, como a fome e afeto.

Alguns(mas) jovens que possuíam experiência com voluntariado arriscaram depoimentos e


posicionamentos para sensibilização do Grupo na deliberação final, obtendo sucesso na adesão do

41
Caminho por parte dos(as) colegas, como ocorreu no primeiro GD de 15 a 24 anos: “Se você seguir o
Caminho do voluntariado, você segue uma política, não uma política editada por outras pessoas, mas
uma política editada por você”.

Nos Grupos que descartam o voluntariado como via de participação, motivo forte é a limitação de tempo
e espaço. Por outro lado, em comparação com os demais Caminhos propostos, essa parece ser a
alternativa mais viável para aqueles(as) que trabalham e estudam. Dois rapazes que não abriram mão de
uma participação exclusiva no Caminho 2 e, não entrando em acordo com o resto do Grupo,
argumentaram que não possuíam tempo disponível para reuniões, manifestações e ações voluntárias
devido ao horário integral de trabalho. Quando houvesse um tempo disponível a ação voluntária seria a
opção, porém sem muito compromisso e sem grandes responsabilidades:

Eu prefiro ficar com 2 porque é melhor, porque não tem horário, ou seja, trabalho
voluntariado não é um trabalho de responsabilidade, tipo assim, eu faço se eu quiser, se
eu quiser, eu também não faço, ninguém me obriga (...) Não cria aborrecimento, não cria
atrito, não tem responsabilidade.

Essa fala é significativa quando lembra que a participação juvenil hoje em dia é preconizada como uma
força para o desenvolvimento social e econômico, mas que não se pode perder de vista as suas
condições específicas e que uma das dimensões é o desenvolvimento integral do(a) próprio(a) jovem
(ABRAMO: 2004).10 Nesse contexto, a fala não pode ser entendida como uma indisposição individual de
participação na vida coletiva, mas como parte da busca pela inserção no mercado de trabalho e pela
autonomia.

Por fim, o Grupo revela novas desconfianças em relação ao governo:

Se porventura, (...) a gente não puder mais participar do voluntariado, neste caso... o que vai
acontecer? O Poder Público, não assumindo estas responsabilidades, quando a gente
terminar vai continuar do mesmo jeito que estava quando nós começamos.

CAMINHO 3

O Caminho 3, pouco citado e explorado nos Diálogos dos pequenos Grupos e na plenária, é menos
valorizado que os demais do ponto de vista das conquistas sociais e do diálogo com o Poder Público, pois
“tem menos fundamento, (...) seriam mais grupos pra ocupação do tempo” ou com um aspecto de “grupos
soltos” e “sem compromissos”. No GD de jovens com experiência de participação, somente um Grupo optou

10. ABRAMO, Helena. Participação e organizações juvenis. In Caderno Jovens e Juventude: Contribuições”. Projeto Redes e
Juventudes. 2004

42
por esse Caminho, uma vez que o sentido de cooperação, interatividade e inclusão social está respaldado na
“auto-organização de expressões e idéias das pessoas”.

A escola e a comunidade estão mais evidentes no discurso dos(as) jovens como cenários que
necessitam de mudanças, ao mesmo tempo em que são os que mais estão abertos para receber
trabalhos voluntários e grupos organizados. Para os(as) jovens que valorizaram esse Caminho, ele
chama a atenção pela “simplicidade”, “seriedade” e o “ativismo”, partindo do pressuposto que “qualquer
forma de organização popular consciente é válida”. Através dele, cada um(a) disponibiliza suas
habilidades. As atuações propostas pelo GD de 18-24 anos se dão através de palestras, criação de
sites de ajuda e socialização de informações para o(a) cidadão(ã), assim como apresentações de
peças de teatro, dança e música, voltadas para sensibilização e mobilização da comunidade a fim de
alcançar as melhorias na área de cultura e lazer. Os(as) jovens ressaltam a importância do apoio da
comunidade nos processos de conquista e reivindicação: “tá faltando a participação da comunidade, do
povo, e eu acho que a maior força é o povo”. O único subgrupo que escolheu exclusivamente esse
Caminho era desse GD.

A identificação com o Caminho 3 vem a partir da livre iniciativa e da “oportunidade de expressarem suas
idéias de maneira democrática”, motivando os(as) jovens a atuarem com mais organização e força,
possibilitando um impacto que pode ir além do trabalho voluntário individual.

4. 4 –Caminho síntese por Dia de Diálogo

Durante a plenária da tarde era previsto que as facilitadoras problematizassem as escolhas feitas
pelos(as) jovens, ponderando mais uma vez os problemas identificados em cada Caminho, bem como
apontando a importância dos demais. O objetivo, por um lado, era perceber que argumentos pesavam
mais aos(às) jovens nas suas escolhas, além de verificar a segurança de sua opção, e por outro, era
mostrar que cada escolha acarretaria em alguma conseqüência, isto é, procurava-se resgatar os prós e
os contras de cada Caminho, ponderando que a opção por um Caminho ou parte dele implicava em abrir
mão de elementos positivos dos outros, e ainda, a necessidade de superar os aspectos negativos do
Caminho escolhido.

As provocações sobre as escolhas e conseqüências se mostraram fundamentais para ajudar a compreender


o sentido das falas dos(as) jovens e a razão de suas escolhas. Isso ajudou a perceber, por exemplo, que
quando escolhiam formar ou trabalhar com ONGs ou partidos políticos, a tônica era a segurança de optar por
um Caminho legítimo, reconhecido pelo governo, Estado e sociedade.

Apenas seis subgrupos escolheram somente um dos Caminhos. Desses, cinco estiveram voltados para
participação em organismos e instituições públicas (Caminho 1). Houve apenas um único subgrupo que
optou exclusivamente pela participação em grupos livres de jovens (Caminho 3). Em Salvador, não se
registrou a opção coletiva exclusiva pelo voluntariado, esse sempre estava associado a pelo
menos um outro Caminho.

43
Os outros 14 subgrupos pinçaram o que consideravam de mais importante e positivo de duas ou dos três
cenários propostos, formando verdadeiros Caminhos “ideais”, em geral:

1) com algum tipo de respaldo das instâncias governamentais e sociais (podendo ser a formação de
uma ONG, de um movimento social ou partido político), legítimos, portanto;

2) sem a mácula da corrupção;

3) gerido por jovens;

4) soluções rápidas.

Através desse Caminho “ideal”, os(as) jovens se propunham a realizar campanhas de “conscientização”,
ações de reivindicação, controlar as ações do Poder Público e ajudar a superar as dificuldades
emergenciais em seus bairros ou comunidades.

Avaliando as conseqüências dessas escolhas, ponderava-se que, com a quantidade de ações e a


dimensão que se pretendia alcançar, incorreria em abrir mão de tempo livre para os estudos, para a
família, para estar com os amigos etc. Diante disso, era explicitado que tudo aquilo não seria feito
somente por eles(as), mas por outros(as) jovens. Alguns Grupos, mais dispostos a atuar de fato,
insistiam que precisariam mobilizar outros(as) jovens, sensibilizar organizações (como ONGs, empresas,
escolas, etc) e, principalmente, os governos.

Os Caminhos participativos

Como citado anteriormente, a maior parte dos Grupos entendeu que era necessário trabalhar com uma
parte de cada Caminho, uma vez que não se poderia resolver os problemas de maneira isolada. No
primeiro GD, ficou entendido que não deveriam se ocupar somente com as próprias escolas e bairros,
mas chamar a atenção do governo e pressioná-lo para conquistas abrangentes a toda a população
juvenil. A adesão a esse Caminho Participativo significa, para esses(as) jovens, a prática do voluntariado
e a ação conjunta (em grupos), não deixando que “outros resolvam os seus problemas”, o que significa
para eles(as) a inclusão do Caminho 3. Abaixo, algumas reações esboçadas:

Através do Caminho Participativo, temos que contribuir de algum modo:


individual você faz sempre a sua parte para o interesse da sociedade, você ajuda
a uma pessoa que está necessitada, você vê a melhor maneira de ajudar. Em
grupos, você discute com pessoas que têm o mesmo ponto de vista; (...)
podemos desenvolver um trabalho em parceria com as ONGs.

Vamos fazer tudo isso reivindicando do governo sem esperar totalmente dele, e
com vontade. Não podemos fazer isso sozinhos, temos que estar unidos, fazer
um grupo.

44
Fazer grupos comunitários mais organizados; tentar arrecadar para que só
assim, sem precisar do governo, e sem apontar o governo direto como causador
de tudo, da miséria, tentar ajudar o próximo, porque se esperar o governo vai
demorar muito. (...) Além da gente controlar as ações do governo, a gente tem
que fazer os trabalhos voluntários. Que são aqueles trabalhos de medidas
emergenciais que a gente tem no nosso bairro, que a gente convive com as
pessoas, que a gente sabe que são os problemas mais diretos, e se a gente for
esperar uma atitude maior a gente só vai fazer agravar as coisas. Então a gente
vai amenizando devagarzinho com a nossa parte, sem esquecer dos grandes
problemas. Quanto à livre organização, a gente gosta de unir os grupos de
jovens para ter essa conscientização de que a gente, unido, consegue chegar
numa idéia legal.

Os(as) jovens com experiência participativa propõem uma reflexão mais aprofundada sobre a importância
do Caminho 1. Alguns(mas) jovens se mostraram bastante seguros(as), imbuídos(as) de uma reflexão
prévia sobre as ações desenvolvidas pelos movimentos sociais, partidos e ONGs. Isso ficou muito claro
durante as problematizações feitas, a cada apresentação:

É através desse Caminho que a gente efetiva as transformações sociais,


modificando a lógica desse sistema excludente. (...) E um desses movimentos,
pode ser movimentos sociais, partidos políticos, ONGs, mesmo que eu não
acredite muito no terceiro setor, a questão é a seguinte: eu coloco como exemplo
da transformação social efetiva, o movimento dos trabalhadores rurais, os sem-
terra, porque promove a transformação social, quando coloca aquelas pessoas
que estavam excluídas na sociedade. A gente tá dando ênfase a esse Caminho
porque, ao nosso ver ele, é o Caminho mais rápido para se chegar a quem pode
realmente resolver os nossos problemas, de que forma o jovem deve resolver
isso. Procurando as ONGs, esses grupos que são realmente reconhecidos, que
acho que esse primeiro Caminho é o Caminho que é reconhecido.

45
A importância da participação da juventude também foi destacada:

A juventude pode ter voz ativa e participar diretamente das mudanças do nosso
país, dessa forma, dentro dessas ONGs, desses grupos.

Questionados(as) sobre a capacidade de influência individual do(a) jovem nas esferas públicas, o caso
dos partidos políticos serviu de exemplo, em que, em alguns casos, as decisões internas são feitas por
meio do voto resultando em definições que nem sempre refletem exatamente a opinião individual do(a)
jovem. Ponderando, a facilitadora diz que, nesse caso, a juventude pode também se tornar invisível ali
dentro, prevalecendo um ‘mundo de adultos(as)’. A resposta do jovem foi:

Não existe mundo de adulto nem mundo de juventude, o mundo é um só. Agora
a questão é o seguinte: se a gente quer efetivar transformações no nível macro
ou micro? Se for micro, a gente vai pro voluntariado, se for macro a gente efetiva
as políticas públicas. E quando o jovem participa de movimento político, ele não
fica invisível, só fica se ele quiser. Ele tem voz e ele pode atuar ativamente... Eu
participo de movimentos políticos e não sou invisível.

Em relação ao voluntariado, os(as) jovens também reconhecem seus limites, principalmente de recursos.
Muitas vezes, a ajuda que prestam é para pessoas tão pobres quanto eles(as) mesmos(as), por isso
dizem que “não adianta os jovens serem voluntários sem a ajuda do governo”. A participação através do
Caminho 2 envolve disposição e vontade, enquanto o governo ajuda com verbas. Nesse contexto, os
sindicatos são citados como espaços de manifestações e reivindicações.

Não adianta os jovens serem voluntários sem ajuda do governo, enfim, não
podemos ajudar com verbas, mas com a disposição e vontade de ajudar; a gente
tem que se manifestar também participar dos sindicatos, como teve a
manifestação estudantil contra o aumento do transporte que contribuiu bastante
para a gente.

Apesar de reconhecerem a importância do Caminho 2, esse só é interessante caso a estratégia seja a


mudança localizada no bairro, ou da escola, já que “no voluntariado, a gente não efetiva mudanças”.
Muito pouco foi argumentado sobre esse Caminho, sendo a diferença entre mudança e transformação
o critério preponderante para o posicionamento acerca desse lugar.

Sem força para esses(as) jovens como via de transformação social e política, o Caminho 3 tem um
aspecto de “grupos soltos, que é aquela coisa sem compromissos”.

O terceiro Grupo de Diálogo apresentou o maior número de propostas: ao todo foram 22 idéias de como
trilhar pelos Caminhos escolhidos. Eles(as) reconheciam que seria necessário optar por algumas delas,
já que não dariam conta de realizar tudo, mas também acreditavam que outros(as) jovens assumiriam
sua execução. De certo modo, optaram pelo Caminho que consideravam fácil, como apresentar
denúncias ao Ministério Público. Muitas vezes subestimavam o trabalho em que cada idéia incorre:

46
Organizar mutirão pra coleta de lixo é fácil, chamar cinco pessoas para ir
coletando lixo no meio urbano, isso é legal.

Eu acho também que a segunda solução que eu coloquei, oferecimento de


denúncia nos órgãos competentes, é muito simples, não precisa fazer nenhum
documento, é só chegar lá verbalmente e apresentar alguma irregularidade, que
na mesma hora vai ser baixado no termo de declarações e a partir daí, se tiver
procedência, vai ser instaurado um processo administrativo. A denúncia é fácil.

A provocação feita foi, se com os mutirões, eles(as) não estariam concorrendo com o Estado e eximindo-
o de sua obrigação. Argumentaram que não “dá certo esperar o Estado” e insistiram que essa ação
corresponde ao Caminho 3, que chamam de “ativismo”, e não voluntariado:

Seria mais o ativismo do Grupo três, a boa vontade de se reunir e fazer alguma
coisa, não necessariamente um voluntariado pra ir ajudar na limpeza da rua.

As ONGs aparecem novamente como “suporte”, garantia de que o trabalho deles(as) terá efeito na
sociedade e na relação com o Poder Público: “a parte da ONG era mais pra que a gente tivesse
representatividade, tivesse legitimidade, tivesse como cobrar, como pedir do Poder Público essa ajuda”.

O Caminho da livre organização é mais valorizado por esse Grupo, mas não possuem força para atuarem
sozinhos(as):

Esses grupos são limitados porque muitas vezes o governo não reconhece a
atuação deles, então eles trariam para as instituições que são legitimadas,
que são reconhecidas pelo governo para que elas estivessem interferindo
naquela localidade.

Estando dispersos nos diversos bairros, “esses grupos detectariam os problemas e acionariam as
instâncias legitimadas (a ONG criada) (...), buscando a solução dos problemas.”

Um outro argumento favorece o Caminho 3, mas critica o primeiro à luz da experiência do presidente Lula
e sua trajetória de vida. O voluntariado é entendido como uma ação pontual:

(...) porque a participação política não iria mudar o país, devido o próprio
presidente ter vindo de baixo, não consegue mudar a realidade do país,
corrupção, pobreza, salário. O grupo de voluntários não iria conseguir mudar
muita coisa, eles ajudam, mas por tempo determinado. E assim sendo,
escolhemos o 3 porque poderíamos melhorar aos poucos.

47
Ao ponderar que essa forma de atuar não seria suficiente para alcançar a todas as melhorias
pretendidas, como investimentos nas escolas, logo lembraram que “os microempresários também fariam
parte deste Grupo e seriam os que iriam transmitir para outras pessoas para que eles pudessem ajudar a
gente, porque o Grupo é exatamente a ajuda que tem um com o outro”.

Para responder a essa demanda, os Caminhos 2 e 3 são o que mais oferecem condições:

O Caminho 3, para mim, foi um dos melhores Caminhos da minha concepção


de ‘nós’, porque o jovem hoje não (vai) só se preocupar com a política,
porque com certeza ele vai ser manipulado mais facilmente. Ele tem que
estar no meio da juventude, procurando também o caminho dele, que é
também no caso os voluntários.

No GD4, os(as) jovens não chegaram a um consenso em um subgrupo e se mantiveram divididos(as)


durante a plenária da tarde. Pelo diálogo estabelecido com as facilitadoras, nota-se que esses(as) jovens,
em alguns momentos, acabaram não percebendo as distinções entre os Caminhos.

Dois Grupos optaram pelo voluntariado e os outros dois pela criação de partidos políticos, em função da
legitimidade junto ao governo e à sociedade que a iniciativa confere. Fizeram questão de frisar que
“independente de ter um líder, não vão aceitar manipulação do partido”.

Ao serem indagados(as) se estariam dispostos(as) a abrir mão da prática do Caminho 2, responderam


que “a gente não está dizendo que não vai ser voluntário, a gente acha que (o partido político) abrange
mais tudo. Eu acho que de começo o voluntariado pode ser até uma boa opção, no começo”. Por
outro lado, avaliam que a atuação política também é uma atuação voluntária, já que se defende as
causas da população.

Para um outro subgrupo, que falou muito da escolha do Caminho 1, questionou-se a forma de atuação
toda voltada para o voluntariado. Na resposta, surgiram, mais uma vez as ONGs como solução: “Mas aí
envolve o Caminho 1, porque vai ser um intermediário entre os problemas que nós temos e a solução, a
ONG facilitaria muito”.

Em defesa do Caminho 2 e reconhecendo sua limitação, uma jovem afirmou que “Eu, particularmente,
me identifico com o Caminho 2 porque já estou na área de voluntária, mas sei que sozinha não
conseguirei mudar o mundo, mas uma pequena parte dele tentarei”. Outros(as) jovens, porém,
defenderam que a participação voluntária seria a única alternativa que demandaria menos compromisso
e empenho pessoal.

Observou-se que o Caminho 3 havia sido escolhido, mas não estava claro como seria a atuação por essa
via. Ocorria que, para os(as) jovens, o Caminho 1 já englobava “a partir do momento que você tem um
grupo com a mesma filosofia, criar um partido político já é o 3”.

Outro subgrupo afirmou que a escolha desse Caminho se deu “por tomar uma dimensão maior do que o
voluntariado, porque o voluntariado sozinho é um trabalho, mas é muito específico”. Quanto à ausência

48
do Caminho 1 e de suas vantagens, como a legitimação e o reconhecimento, deixando as decisões do
país na mão dos(as) adultos(as), um rapaz afirmou que, através do Caminho 3, eles(as) querem
reivindicar seus direitos, mas “sem alguém por trás mandando, como se os jovens criassem a própria
política, porque pelo que eu entendi do Caminho 1, eu sempre vou me esbarrar em alguém lá no poder e
não vai ter esta coisa verdadeiramente no grupo 3, no grupo jovem”. Vale lembrar que esse subgrupo
não chegou a um consenso e com isso não foi contemplado na definição das semelhanças.

4.5 Comentários finais

As considerações finais dos(as) jovens foram de grande importância para indicar o aproveitamento
individual em relação ao Dia de Diálogo. Foi também uma oportunidade ímpar para que pudessem se
fazer ouvidos(as) pelas pessoas que tomam decisões no país e muitos(as) jovens souberam valorizar
esse momento.

Através das falas, ficou evidente a necessidade de espaços de trocas para os(as) jovens e de expressão
de suas idéias. Muitos(as) mencionaram também a satisfação pela oportunidade em participar de um
trabalho comprometido com a causa do(a) jovem e com as melhorias no país.

É relevante notar que, no fim do Dia, a interação entre os(as) jovens era maior, de modo que alguns entre
15 e 17 anos, principalmente, se abstiveram de colocar suas impressões e mensagem, talvez pela
expectativa gerada, talvez pela dificuldade em refletir sobre a experiência vivida e expressá-la de maneira
sucinta e objetiva.

Tabela 8

GD4 GD5
GD1 GD3
GD2 Exp. 15 a 24 15 a 24
RECADO Total 15 a 17 18 a 24
Participativa anos anos
anos anos
(1) (2)

Políticos(as) mais
honestos(as)/ Ética/
Consciência/ Não
façam promessas que
não possam cumprir/ 28 5 2 6 4 11
Ajam de modo
correto/ sejam
justos(as)/ Mais
consciência/ Respeito
Pensar nos(as)
jovens/ ouvir a
opinião dos(as)
jovens/ 25 3 8 5 2 7
oportunidades/ Apoio/
Investimento na
juventude

49
Respeitar as
comunidades mais
carentes/ Mais
18 1 2 3 9 3
proximidade com o
povo/ Investir nos(as)
pobres/ Periferia
Cumpram o seu
papel/ Não pensem 17 3 6 3 5
tanto, ajam!
Estejam atentos(as)
(daremos a resposta
ao descaso de vocês)/
13 2 10 1
Presença/ Força da
juventude/ Força do
povo
Ouçam as
reivindicações
11 2 3 6
colocadas na
pesquisa
Educação/ Escola
10 3 2 1 4
pública
Olhem pelo Brasil/
8 3 2 1 2
População
Crianças 5 1 3 1
União/ Provocação
3 1 1 1
para participação
Emprego 3 1 1 1
Compaixão/ Não
esquecer o povo 2 2
brasileiro
Violência/ Segurança 2 1 1
Fome 1 1
Não “tá” nada certo/
1 1
Inércia
Buscar opções
alternativas de 1 1
sistema econômico
Crescimento do país 1 1
Mais encontros/
1 1
Pesquisa
Salário 1 1
Base nos Direitos
1 1
Humanos
Saúde 1 1
Futuro melhor 1 1

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

50
A mensagem mais forte para os(as) políticos e tomadores(as) de decisão foi para que pensem mais
nos(as) jovens, levando em conta suas opiniões e garantindo mais oportunidades na vida.

Que os governantes tenham um pouco do seu tempo para agendar com os


jovens, que escutem o que os jovens têm a dizer.

O “pensar nos(as) jovens” também pode ser entendido como um apelo a ações concretas quando falam
em apoiar e investir na juventude: “invistam mais na juventude porque é o futuro do país”; “que pensem
mais no futuro dos nossos jovens”.

Isso reflete a necessidade de se sentirem valorizados(as), ouvidos(as), assim como ressalta a ausência
de canais de acesso de relação com o Poder Público, ou são pouco presentes na vida do(a) jovem. Na
realidade, assiste-se a ensaios de criação desses espaços com a Secretaria Nacional e Coordenaria
Municipal da Juventude (Codeju), mas essas ainda não estabeleceram nenhuma relação mais concreta e
permanente junto a esse segmento, por enquanto, em função do pouco tempo de criação.

Um recado mais direto e, por vezes, contundente e recheado de chavões foi a lembrança da “força da
juventude”: “Que os governantes não fizessem com que nós nos arrependamos de nossos votos e
façamos o que o povo fez com o Collor; que façamos impeachment para tirar eles”; “(...) nós estamos
aqui é para fazer a diferença e se eles não estão fazendo, nós vamos fazer por eles”; “Assim como a
gente botou eles lá em cima, a gente também pode tirar.” Outra mensagem bastante freqüente foi para
que os(as) políticos(as) “cumpram seu papel”, “suas promessas”. As falas se complementam nesse
aspecto quando os(as) jovens pedem que “sejam mais justos” e “ajam corretamente” e “com respeito”.

As chamadas a respeitar as “comunidades mais carentes”, “investirem mais nos pobres”, “na periferia” e
“se aproximarem mais do povo” apareceram como a quarta mensagem mais freqüente. Por outro lado, de
modo mais amplo, também pedem que “olhem pelo Brasil”.

Após um Dia em que tantas demandas foram colocadas, muitos(as) solicitaram que as reivindicações
apresentadas na pesquisa fossem ouvidas e, num sentido mais prático e focalizado, há aqueles(as)
que pedem que seja dada “prioridade à educação, olhando pela escola pública, pelos estudantes”;
atenção à geração de “emprego” e postos de trabalho, inclusive o “cumprimento das promessas
sobre o primeiro emprego”.

Com apenas uma menção cada, também foram citados a “saúde”, a “questão da violência nos bairros e
na cidade”, o “crescimento do país”, o “aumento de salários” e os “direitos humanos”.

Torna-se visível que alguns(mas) jovens, dadas as suas práticas e intervenções cotidianas, possuem
preocupações anteriores ao GD, e procuram a toda oportunidade pautar a agenda da discussão, como é
o caso daquelas cinco jovens que, sempre que possível, lembravam da situação da infância no Brasil:
“que olhem mais pelas crianças carentes”, “tentem melhorar a vida das nossas crianças”. É o caso
também daquele jovem que questiona o sistema político vigente, dizendo: “...números alarmantes da

51
exclusão social em todo contexto do sistema neoliberal, capitalista. E vocês devem observar e pensar se
esse sistema é o melhor sistema para o Brasil e ir buscar opções alternativas que trabalhem com
princípios éticos, honestos”.

Tabela 9 – Avaliação do Dia de Diálogo

GD5
GD1 GD2 GD3 GD4
O que ficou de mais 15 a 24
Total 15 a 17 Exp. 18 a 24 15 a 24
importante anos
anos Participativa anos anos (1)
(2)
Troca de idéias/
Exposição dos
45 3 11 12 7 12
pensamentos/ Voz
ativa/ Diálogo
Valorização da
coletividade/
Conhecer pessoas/ 43 8 8 7 10 10
União/ Trabalho em
grupo
Aprendizado/
28 6 5 3 9 5
Informação recebida
Valorização do Dia/
Metodologia/
20 4 6 2 3 5
Iniciativa da
pesquisa
Agradecimento/
Oportunidade de
participar/ 13 1 7 3 2
Oportunidade para
se expressar
Interesse/ Motivação
para a participação/
Sentimento de 11 4 3 2 2
empoderamento/
Pró-atividade
Valorização dos
8 3 1 1 3
temas abordados
Sobre as instituições
5 3 2
organizadoras (Cria)
Superação dos
limites/ Descobertas 4 1 1 2
pessoais
Presença/
3 1 2
Participação no GD
Descaso/desinteress
e dos(as) 2 2
participantes/ jovens
Olhar o(a) próximo(a) 1 1
Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

52
Durante a avaliação, os(as) jovens apresentaram aspectos bastante positivos, demonstrando que o Dia
foi bem aproveitado pela troca de idéias e oportunidade de se expressarem (45 impressões), por valorizar
a coletividade, realizando trabalhos conjuntos, conhecendo pessoas novas e a instituição organizadora
(em 43 respostas). O aprendizado aparece em 28 casos, o que sugere que Grupo de Diálogo seja
valorizado como um momento de sensibilização dos(as) participantes.

Citada por 20 jovens, a metodologia foi lembrada nas considerações finais. Os(as) jovens se
manifestaram satisfeitos(as), em alguns casos até surpreendidos(as), com a proposta de buscar
semelhanças em pequenos Grupos e, posteriormente, com todos(as) os(as) participantes do GD.
Também se sentiram provocados(as) a refletir sobre os aspectos que diferenciam “diálogo” de “disputa”.

Ao todo, 13 jovens agradeceram a oportunidade de participar e de se expressar, indicando o reconhecimento


da pesquisa como um canal para fazer chegar suas demandas aos(às) governantes. Observa-se que a maior
parte desses(as) estava presente no Grupo com experiência prévia de participação.

Apontando para a influência do GD em suas vidas, 11 jovens se sentiram “empoderados(as)” e mais


motivados(as) a participar de grupos e esferas públicas, revelando algum grau de segurança em lutar por
suas idéias e necessidades.

Outros aspectos menos citados também ficaram marcados para alguns(mas) jovens como a superação
de limites (falar em público, por exemplo), descobertas pessoais, incentivo à participação; valorização
dos temas abordados e a percepção dos Caminhos de Participação. Um jovem, por exemplo, disse que
aprendeu “a gostar de política”. E, finalmente, a abertura ao(à) outro(a) [o(a) necessitado(a), o(a)
diferente(a)], esteve presente na fala sobre “olhar o(a) próximo(a)”.

No último GD, duas moças se mostraram bastante incomodadas com o desinteresse manifestado pelo
pequeno Grupo, o que acabou por tumultuar a plenária da tarde. Essas jovens ressaltaram que o
comportamento implicava em um paradoxo entre as demandas colocadas durante o Dia, que incluía
aulas mais interessantes, com recursos modernos e dinâmicos, e a oportunidade de se aproveitar um dia
rico de informações importantes para a juventude passadas de maneira atrativa. Um jovem
complementou avaliando que, para aqueles(as) que estavam visando apenas o pró-labore oferecido, o
dinheiro acabaria em poucos dias, mas para quem aproveitou o Dia de Diálogo, o conhecimento
adquirido duraria para o resto da vida.

4. 6 – Fichas pré e pós-Diálogo

A fim de registrar a opinião de cada jovem antes e depois do Diálogo sobre os Caminhos de Participação,
foi preparado um questionário no qual o(a) jovem atribuía uma nota correspondente à sua aceitação ou
rejeição a cada Caminho proposto. O objetivo não era estabelecer uma comparação entre os diferentes
Caminhos, desse modo, a nota máxima ou mínima poderia ser dada a todos. As fichas não eram
identificadas pelo nome, mas por códigos, a fim de preservar o sigilo das opiniões e deixar os(as) jovens
mais livres para expressar suas idéias.

53
Desse modo, através das fichas Pré e Pós-Diálogo, aferiu-se, de maneira mais refinada e individualizada,
as preferências pelos Caminhos de Participação e as variações nas opiniões dos(as) jovens, segundo os
critérios de idade, escolaridade, sexo e experiência anterior de participação.

Nos questionários, constavam a descrição de cada Caminho de Participação e cada jovem deveria
indicar a nota (de 1 a 7) que correspondesse ao seu grau de aceitação sobre cada um deles.

Os resultados indicaram mudanças sutis de preferências entre o começo e o final do Dia, assim como
entre os diversos GDs. Constata-se uma grande coerência entre as opiniões individuais e as opiniões
manifestadas pelos subgrupos e, posteriormente, àquelas acatadas como semelhanças dos GDs.

Tabela 10

Nota média de todos os GDs

Pré Pós

Caminho 1 6,4 6,5


Caminho 2 6,4 6,2
Caminho 3 6,5 6,2

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Nos somatórios de cada categoria (idade, gênero, escolaridade), não houve discrepâncias. Todas as
variações consistiram em menos de um ponto, tanto na comparação feita entre os Caminhos, quanto
naquela feita entre os questionários Pré e Pós. De modo geral, como mostra a tabela acima, quando
inquiridos(as) no questionário inicial, observa-se que a preferência dos(as) jovens da RMS estava voltada
para o Caminhos 3 (grupos independentes), com uma média de 6,5, contra 6,4 nos outros Caminhos.
Segundo as notas registradas no questionário Pós-Diálogo, a preferência passa a ser pelo Caminho 1,
apresentando uma média de 6,5, contra 6,2 para os outros.

O resultado obtido no questionário inicial, indicando certa preferência pelos grupos livres, artísticos, não
institucionalizados, embora com muito pouca diferença em relação aos demais, é bastante significativo,
uma vez que corresponde às novas formas de organizações juvenis, isto é, às novas modalidade de
expressão, participação e sociabilidade, que vêm se multiplicando na RMS. As conquistas nesses
espaços estão relacionadas ao crescimento e desenvolvimento individual, subjetivo, e seus reflexos na
vida pública não foram reconhecidos ou avaliados como suficientes para as transformações proclamadas
no Dia de Diálogo. Ao contrário, durante o Dia de Diálogo, os(as) jovens foram convidados(as) a
refletirem e se posicionarem sobre questões públicas que afetam diretamente sua qualidade de vida, bem
como de sua comunidade e de toda uma juventude. Questões que exigem mais atenção por parte do
Estado, traduzida em investimentos em políticas para o desenvolvimento integral dos indivíduos em idade
jovem. As escolhas e posicionamentos assumidos responderam a essas demandas concretas, que
precisam de respostas urgentes e efetivas.

54
Através das notas individuais, é possível perceber esse movimento mais claramente. O quadro abaixo
contabiliza o número de jovens que foram a favor (conferindo nota 6) ou totalmente a favor (com nota 7) a
cada Caminho nos questionários Pré e Pós:

Tabela 11

Questionário Caminho 1 Caminho 2 Caminho 3


Pré 135 139 139
Pós 138 123 120
Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Ao todo, 19 jovens (12%) mudaram sua opinião sobre o Caminho 1, em sua maioria numa avaliação
positiva (aumentaram a nota). Já no Caminho 2, dos(as) 28 (17%), apenas dois(duas) passaram a ser
mais favoráveis, assim como os 26 jovens que mudaram de opinião no Caminho 3 (16%), fazendo um
movimento de reprovação e apresentando as pontuações mais baixas no GD5, de 15 a 24 anos [11 notas
entre 2 e 4, o que corresponde a 31% dos(as) jovens presentes ao GD].

Entre os cinco Grupos de Diálogo, a preferência maior pelo Caminho 1 foi acenada pelo Grupo com
experiência participativa (GD2), que elevou a média de 6,4 para 6,7, ao final do Dia. O GD que reuniu
jovens acima de 18 anos (GD3) mostrou maior simpatia pelo Caminho 3 (6,4).

Tabela 12

GD Todos GD1 GD2 GD3 GD4 GD5

Caminho 1 Pré 6,4 6,4 6,4 6,2 6,1 6,5

Pós 6,5 6,8 6,8 6,0 6,2 6,5


Caminho 2 Pré 6,4 6,6 6,4 6,1 6,4 6,6
Pós 6,2 6,2 6,1 6,2 6,2 6,3
Caminho 3 Pré 6,5 6,6 6,2 6,4 6,4 6,7
Pós 6,2 6,5 6,0 6,2 6,4 5,7

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Esse resultado equivale às decisões tomadas coletivamente, seja nos pequenos Grupos, seja entre
todos(as) os(as) participantes de cada Dia de Diálogo, o que implica em dizer que houve compreensão,
coerência e respeito entre os pares em relação ao diálogo estabelecido.

No caso dos dois(duas) jovens que afirmaram não freqüentar a escola e o(a) que afirmou ter estudado
até a 4º série, a nota se manteve 7 em praticamente todas as questões. Houve uma pequena variação no
Caminho do voluntariado entre aqueles(as) que cursaram a 8º série, mas, para os Caminhos 1 e 3, as
opiniões se mantiveram. Já para os(as) jovens que estão no Ensino Médio e Superior, as mudanças
foram mais visíveis, tendendo para o Caminho 1 e apresentando maior resistência aos outros. Nos Grupos
de experiência participativa e no último, de 15 a 24 anos, observou-se as menores notas (entre 1 e 3).

55
Tabela 13

Escolaridade, GDs e três Caminhos


GD GD Todos
Não Até 8º Ensino Ensino
Escolaridade Até 4º série
freqüentaram série Médio Superior
Caminho 1 Pré 7,0 7,0 6,3 6,4 6,2
Pós 7,0 7,0 6,3 6,6 6,3
Caminho 2 Pré 7,0 7,0 6,6 6,5 6,0
Pós 6,5 7,0 6,5 6,2 5,9
Caminho 3 Pré 7,0 7,0 6,2 6,6 6,3
Pós 7,0 7,0 6,2 6,3 5,4

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Sempre com pequenas variações, a análise por gênero também aponta a tendência para uma maior
aceitação feminina ao Caminho 1, não obstante o maior número de rapazes que aderiram ao longo dos
GDs. No Grupo com experiência participativa, observou-se a maior pontuação entre todos os
cruzamentos feitos: 7 para o Caminho 1, no segundo questionário, dado pelas mulheres. No GD de
jovens entre 18 e 24 anos, essa pontuação encontra seu nível mais baixo: 5,8, apesar do ligeiro aumento
de um questionários para outro.

Os rapazes, por outro lado, se mostram mais favoráveis à participação política no GD que reuniu jovens
entre 15 e 17 anos e menos, no GD4, isto é, entre 15 e 24 anos [individualmente, os(as) jovens desse
grupo aderiram mais ao Caminho do voluntariado].

A avaliação feita em relação aos Grupos livres mostra que os(as) jovens do último GD (15 e 24 anos)
foram os(as) que tiveram menor aceitação (5,8 e 5,6, respectivamente). Já as mulheres do GD1
concordaram mais com esse Caminho (6,8), mantendo a avaliação feita inicialmente.

Tabela 14

Gênero, Grupos de Discussão e três Caminhos


GD
GD GD1 GD2 GD3 GD4 GD5
Todos
Gênero M F M F M F M F M F M F
C1 Pré 6,2 6,5 6,3 6,6 5,9 6,9 6,5 5,7 5,9 6,4 6,4 6,5
Pós 6,4 6,6 6,7 6,8 6,4 7,0 6,2 5,8 6,1 6,3 6,6 6,5
C2 Pré 6,3 6,6 6,4 6,7 5,9 6,8 6,2 6,1 6,6 6,3 6,3 6,8
Pós 6,1 6,3 6,0 6,3 5,9 6,4 6,1 6,3 6,4 6,1 6,2 6,5
C3 Pré 6,4 6,6 6,4 6,8 6,0 6,4 6,7 6,1 6,2 6,7 6,6 6,8
Pós 6,0 6,2 6,2 6,8 6,1 5,9 6,2 6,2 6,2 6,5 5,6 5,8
Nota: M = masculino e F = feminino.
Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

56
Condições

O questionário Pós-Diálogo também serviu para identificar se os(as) jovens eram favoráveis aos
Caminhos mediante algum tipo de condição. Essa foi uma oportunidade para que pudessem colocar em
evidência os aspectos que mais os incomodavam em cada tipo de participação. A necessidade de
escrever a condição para apoiar os Caminhos foi um fator de dificuldade para muitos(as) jovens. A
maioria usou o espaço para fazer colocações diversas, não atendendo exatamente à questão colocada,
mas, na avaliação feita, foi uma maneira de registrar as compreensões, percepções e sentimentos
individuais sobre o assunto abordado.

Nas condições mais consideradas, presentes nos três Caminhos, há a clara necessidade de que seus
esforços “valham a pena” e esperam que as ações se traduzam em mudanças, contribuições concretas para a
comunidade, para ajudar a resolver os problemas sociais, para o Brasil (37 respostas, 23% do total).

Os(as) jovens também esperam que haja um comprometimento de seus pares e da sociedade (12% no
total), o que indica o receio de que toda a responsabilidade recaia sobre si, além de que suas ações
tenham legitimidade, sendo reconhecidas pelo governo e pela sociedade (10%).

Afora as condições de grande ocorrência acima citadas, para o Caminho 1, da participação em instâncias
políticas, 80 jovens, isto é 49% dos(as) presentes, apresentaram algum tipo de condição (agrupados em
23 tipos). A de maior ocorrência foi de que “não haja corrupção/manipulação dos(as) jovens” (11
referências). Outra prevenção diz respeito ao lugar e autonomia do(a) jovem: não querem se tornar
invisíveis (sete). A preocupação com que não haja ações coletivas violentas aparece especificamente
relacionada a esse Caminho em quatro respostas.

Tabela 15

GD1 GD2 GD3 GD4 GD5


Condições do
Total 15 a 17 Exp. 18 a 24 15 a 24 15 a 24
Caminho 1
anos Participativa anos anos (1) anos (2)

Valesse a pena/
Efetivo/ Melhorar o
Brasil/ Ajuda a
resolver os
12 5 1 3 1 2
problemas sociais/
do país/ das
comunidades/ das
organizações
Não haja
corrupção/ 11 1 1 4 4 1
manipulação
Haja participação
de todos(as)/ 7 3 1 1 2
Todos(as) façam a

57
sua parte/
Comprometimento

O(a) jovem não


fique invisível/
Respeito/ 7 1 5 1
Autonomia dos(as)
jovens
Não haja ações
coletivas violentas/
Tenha
engajamento 4 2 2
político/ Não haja
exploração/
repressão
Haja direitos iguais
4 2 2
para todos(as)
Governo assuma
suas 4 1 1 2
responsabilidades
Legitimidade/
Reconhecimento
4 1 1 2
do governo/
sociedade
Mudança social 4 2 1 1
Participar da vida
3 2 1
política/ social
Empoderamento
3 1 2
dos(as) jovens
Apoio/ Apoio do
2 1 1
governo
Abertura dos(as)
2 1 1
governantes
Não fortaleça a
parte negativa do 2 2
Caminho
Acordo/
Articulação entre 2 2
os Grupos
Tenha liderança
2 1 1
juvenil
Auxílio de pessoas
1 1
qualificadas
Atitude pró-ativa
(não depender do 1 1
governo)
Cumpram as
1 1
promessas

58
Não sirva para
autopromoção/
Não sejam
1 1
remunerados(as)/
Não recebam nada
em troca
Luta por direitos
1 1
comuns
As ações sejam
1 1
divulgadas
Crescimento para
1 1
os(as) jovens

TOTAL 80 23 15 14 13 15

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Proporcionalmente ao número de jovens presentes a cada Dia de Diálogo, o primeiro (de 15 a 17 anos) e o
terceiro (de 18 a 24) foram os que mais relacionaram a participação a algum tipo de condição. Vale lembrar
que um foi fortemente a favor do Caminho 1, enquanto esse último foi o que mais valorizou o Caminho 3.

No Caminho do voluntariado, a condição mais presente foi que o “governo assuma suas
responsabilidades” (14).

Falam da necessidade de apoio, em especial do governo, e de que não seja uma participação
obrigatória, mas, flexível. Repudiam o oportunismo quando dizem que a participação não deve servir para
autopromoção. Ao todo expuseram 16 tipos de condições.

Tabela 16

GD4 GD5
GD1 GD2 GD3
Condições do 15 a 24 15 a 24
Total 15 a 17 Exp. 18 a 24
Caminho 2 anos anos
anos Participativa anos
(1) (2)

Governo assuma suas


14 2 5 4 3
responsabilidades

Valesse a pena/
Efetivo/ Melhorar o
Brasil/ Ajuda a
resolver os problemas 9 3 3 1 2
sociais do país/ das
comunidades/ das
organizações
Haja participação de
todos(as)/ Todos(as) 8 1 3 1 2 1
façam a sua parte/

59
Comprometimento

Não seja obrigatório/


Flexibilidade/ Ter 6 1 1 3 1
tempo

Apoio/ Apoio do
5 3 1 1
governo

Legitimidade/
Reconhecimento do 3 1 1 1
governo/ sociedade

Mudança social 3 1 2

Não sirva para


autopromoção/ Não
sejam
3 3
remunerados(as)/ Não
recebam nada em
troca

Participar da vida
2 2
política/ social

Mobilizar pessoas/
Realizar diversas 2 1 1
ações
O(a) jovem não fique
invisível/ Respeito/
1 1
Autonomia dos(as)
jovens

Auxílio de pessoas
1 1
qualificadas

União/ Organização
dos(as) jovens/
1 1
Grupos expressem
opiniões
Conscientização das
pessoas/ Ouvir os(as) 1 1
jovens
Não prejudique a vida
do(a) jovem/ Prejudica 1 1
a vida do(a) jovem
Valorização/
Conscientização
1 1
dos(as)
beneficiados(as)

Total 61 16 17 12 5 11

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

60
O Grupo com experiência prévia de participação e o de 15 a 17 anos foram os mais resistentes ao
Caminho do voluntariado. Esse dado pode ser verificado na soma total das condições para esse
Caminho ponderado com o número de participantes de cada Grupo. O resultado do GD4 reflete a
aceitação do Caminho 2, conforme aconteceu nos subgrupos e na plenária.

Por fim, apresentando 28 tipos de condições, a atuação no Caminho 3 indica que nove jovens, isto é, 5%,
se preocupam com a “legitimidade” dos Grupos e o “reconhecimento” por parte da sociedade e do
governo, e com que os Grupos sejam expressão do pensamento do(a) jovem e ajudem a organizar o
segmento. Ao lado disso, esperam depositar suas energias em ações que “valem a pena” (8).

Tabela 17

GD4 GD5
GD1 GD 2 GD3
15 a 15 a
Condições do Caminho 3 Total 15 a Exp. 18 a
24 24
17 Participati 24
anos anos
anos va anos
(1) (2)

Valesse a pena/ Efetivo/


Melhorar o Brasil/ Ajuda a
resolver os problemas sociais 16 6 6 2 2
do país/ das comunidades/ das
organizações

Legitimidade/ Reconhecimento
9 2 1 2 4
do governo/ sociedade

União/ Organização dos(as)


jovens/ Grupos expressem 9 1 2 1 1 4
opiniões
Haja participação de todos(as)/
Todos(as) façam a sua parte/ 7 3 1 1 2
Comprometimento

Não seja obrigatório/


6 1 1 3 1
Flexibilidade/ Ter tempo

Respeito às diferenças/ Ao
4 2 1 1
espaço do(a) outro(a)

Apoio/ Apoio do governo 3 2 1

Mobilizar pessoas/ Realizar


3 1 1 1
diversas ações

Não haja corrupção/


2 1 1
Manipulação

O(a) jovem não fique invisível/


Respeito/ Autonomia dos(as) 2 1 1
jovens

61
Não fortaleça a parte negativa
2 2
do Caminho

Não prejudique a vida do(a)


jovem/ Prejudica a vida do(a) 2 2
jovem

Ações de alívio/ Paliativas 2 1 1

Ocupar o tempo 2 1 1

Outro 2 2

Governo assuma suas


1 1
responsabilidades

Mudança social 1 1

Participar da vida política/


1 1
social

Não haja ações coletivas


violentas/ Tenha engajamento
1 1
político/ Não haja exploração/
Repressão

Empoderamento dos(as) jovens 1 1

Haja direitos iguais para


1 1
todos(as)

Abertura dos(as) governantes 1 1

Não sirva para autopromoção/


Não sejam remunerados(as)/ 1 1
Não recebam nada em troca

Luta por direitos comuns 1 1

Liberdade de escolha/
1 1
expressão

Romper o isolamento 1 1

Sejam grupos religiosos 1 1

Tenham consciência que não


1 1
podem mudar o mundo

Total 84 18 20 16 8 22

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

62
Apesar de terem sido os mais abertos à participação através de grupos livres, os(as) integrantes do
terceiro Grupo de Diálogo, proporcionalmente ao número de participantes, foram os(as) que mais
apresentaram condições para investir no Caminho 3. O mesmo aconteceu com o último GD (15 a 24
anos), esses(as) jovens, no entanto, tenderam mais aos Caminhos 1 e 2.

4. 7 – Análise de questões relativas à participação: tendências, interdições, potencialidades

As novas organizações juvenis e as ações coletivas desenvolvidas nos dias atuais – que se utilizam
fortemente de elementos culturais e artísticos, recorrendo a iniciativas pulverizadas, de forte cunho
comunitário, sem pretensões de representatividade e institucionalidade – representam novas formas
do(a) jovem estar no mundo e de se relacionar com as demandas de desenvolvimento de uma sociedade
democrática e aberta, de maneira diferente dos movimentos organizados em períodos de regimes de
exceção, de oposição a um governo central, e que se tornaram parâmetros para medir a participação
juvenil na vida pública.

A pesquisa reforça a tese de que, nos dias de hoje, os(as) jovens buscam inserções que lhe ofereçam
algum tipo de retorno imediato, seja do ponto de vista individual – para o próprio desenvolvimento e
satisfação –, comunitário ou social, como demonstram os depoimentos durante o Dia de Diálogo e o
resultado do questionário inicial.

A leitura da sutil, porém, evidente mudança de opinião que valorizava os Caminhos 2 e 3 no início do Dia,
conferindo maior peso ao Caminho 1 ao final do Diálogo, possui pelo menos dois condicionantes. Em
primeiro lugar, condiz com a prática da maioria dos(as) jovens que participam ou participaram de algum
grupo, conforme aferido na pesquisa quantitativa e, depois, com a questão colocada para o Diálogo
dos(as) participantes que versava sobre a conquista de melhorias para Brasil.

Na pesquisa quantitativa, apenas 27,5%11 dos(as) jovens afirmaram terem feito parte de algum tipo de
grupo. Aferiu-se que, do total de jovens entrevistados(as), 17% participam atualmente do chamado
Caminho 1 (em movimentos sociais, de minorias, defesa do meio ambiente, partidos políticos, associação
comunitária, associação estudantil ou grêmios); 4,2% de trabalhos voluntários (Caminho 2) e 30,7% de
grupos jovens (religioso, cultural ou artístico, esporte e lazer, galeras etc), considerado Caminho 3 (ver
gráfico abaixo). Isso significa que a inserção mais freqüente dos(as) jovens da RMS ocorre a partir
desses grupos. Além dessa constatação, para os(as) 72,5% que disseram não participar de nenhum
grupo, se tornou muito distante reconhecer a importância do Caminho 1 ao terem que avaliar os
Caminhos Participativos no questionário Pré-Diálogo.

11. Totalizando 30,4% dos homens e 24,6% das mulheres; 32,5% oriundos(as) das classes A/B, 30,6% da classe C e 25,4% das classes
D/E.

63
Tabela 18

Tipos de Grupos ou organizações que os(as) Atualmente Já participou Total


jovens participam ou participaram (%) (%) (%)
Religioso 14,1 21,2 35,3
Estudantis/ Grêmios 3,8 22,4 26,2
Esporte e lazer* 8,3 14,3 22,6
Ass. comunitária 2,9 14,1 17
Cultural/artístico** 5,1 10,5 15,6
Trabalhos Voluntários 4,2 10,3 14,5
Galeras 5,2 6,4 11,6
Mov. sociais 2,8 4,8 7,6
Partidos políticos 2,3 2,9 5,2

* Ex. Skate
** Ex. Hip-hop, funk, rap, grafite, bandas etc.
Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

De fato, os grupos juvenis são reconhecidos pelos(as) estudiosos(as) dessa questão como espaços
privilegiados de construção de valores e identidade, de sociabilidade, de reconhecimento do(a) outro(a) e
ingresso na vida pública. A busca por esses espaços existe a partir da tentativa de encontrar condições
para o desenvolvimento de sua autonomia e de idealizar seus projetos de vida.

Depreende-se que, conforme iam avançando no Diálogo e acumulando informações sobre os aspectos
positivos e negativos, na tentativa de responder à questão da tarde, aos poucos o Caminho 1 foi se
mostrando “mais efetivo”, “mais rápido”, ao passo que o voluntariado pareceu “uma solução paliativa”,
“pontual”, “que não traz transformações” e “faz o trabalho do governo”.

O Caminho 3 – que poderia ser identificado como o mais interessante para desenvolver habilidades e
estar reunindo pessoas com idéias afins – responde menos ainda à questão, na medida em que são
entendidos como “grupos soltos”, “para passar o tempo”, “sem legitimidade”. Em suma, o prisma utilizado
para avaliar os Caminhos foi do quanto cada um era capaz de provocar as mudanças que almejavam, e
não necessariamente a identificação individual e coletiva com cada um deles.

De modo geral, quando acolhido, o Caminho 3 era associado à “coletividade” e “união de idéias”. Entre
as sugestões de atuação apontadas por eles(as) estão a busca de informações que contribuam no
acesso à cidadania, conscientização e formação de outros grupos para comunicação entre o governo e
os(as) jovens, divulgação dos direitos e das leis que não são cumpridas e, por fim, a fomentação ao
incentivo da cultura. De fato, nos dados da pesquisa quantitativa, registrou-se que 26,8%12 dos(as)

12. Sendo 29% dos homens e 24,6% das mulheres. Ao contrário da informação sobre participação em grupos, há uma inversão em
relação ao envolvimento sob o ponto de vista do poder aquisitivo: 24,4% das classes A/B, 22,7%, classe C e 31% das classes C/E.

64
entrevistados(as) participaram de movimentos ou reuniões para melhorar a vida no bairro ou na cidade,
percentual acima da média nacional de 18,5%.

Figura 1

Percentual dos jovens que já participaram de movimentos ou


reuniões para melhorar a vida do bairro ou da cidade

Já participaram
26,8%

Não participaram
73,2%

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

Esse resultado surpreende tanto se comparado aos dados da pesquisa de opinião, que aponta uma
participação maior em grupos de organizações livres e de expressões artísticas, quanto se pensar a
diversidade de manifestações e representações culturais existentes na Bahia. Infere-se, nesse sentido,
que a maioria dos(as) jovens participantes dos Diálogos não estabelecem uma relação entre as suas
atividades cotidianas e a possibilidade de influenciar na opinião pública, nos acontecimentos políticos,
culturais e sociais. Isso só ocorreria a partir de inserções em movimentos ou grupos organizados para
esse fim. Representou uma alternativa, no entanto, para os(as) jovens entre 18 e 24 anos, que
valorizaram mais os esforços de mobilizações e “conscientização” comunitária, principalmente por se
mostrarem menos confiantes nas instituições políticas e formais.

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia revela que, os(as) jovens, ao avaliar o envolvimento com
grupos políticos e tradicionais, reafirmam a sensibilidade por valores em favor da ética, da honestidade,
da justiça, solidariedade, direitos e cidadania, como fica registrado nos comentários finais e nos cuidados
que demonstram ao eleger o Caminho 1, ou partes dele, como forma de atuação.

Nessa perspectiva, constroem um tipo ideal de representante que seja um(a) catalisador(a) de suas
demandas, que não se disponibilize com a finalidade de ganhar visibilidade ou benefícios para si, que se
identifique com os projetos da juventude e seja guardião(ã) dos valores anticorrupção.

65
Do ponto de vista do gênero, as mulheres foram as que mais se destacaram no trabalho dos pequenos
Grupos – no Diálogo estabelecido e principalmente na confecção dos cartazes para a apresentação – e
nas plenárias. A exceção foi o GD4, em que os homens se mostraram mais empenhados nas atividades
e discussões, e as mulheres, ao contrário, se manifestaram pouquíssimo e adotaram postura de timidez e
desinteresse pelos assuntos tratados.

Muitos Diálogos realizados foram de grande riqueza, tanto no seu conteúdo quanto no sentimento de
comprometimento com as causas coletivas despertado em alguns(mas) dos(as) jovens, corroborando
para que esses(as) se identificassem com um projeto possível de ser implementado nos seus bairros ou
na cidade, influenciando substancialmente o desenvolvimento do Diálogo na plenária. Porém, chama a
atenção que as colocações muitas vezes foram feitas no plano ideal (como fundar um partido político
para atuar em Brasília e nos diversos Estados), ou para outros(as) jovens realizarem.

No que tange às preocupações e postura desses(as) jovens, nota-se que aqueles(as) que não possuíam
nenhuma experiência anterior de participação (em todos os GDs) se mostraram menos antenados(as)
com a realidade social, política e cultural da cidade ou até mesmo dos(as) jovens. Em geral, eram
sucintos(as) em seus comentários, colocando temas bem gerais, sem condições de desenvolver suas
idéias. Também se observou uma menor participação da maioria desses(as) durante o Diálogo nas
plenárias, sendo necessário prestar esclarecimentos quanto aos termos e expressões empregadas, como
“bandeira de luta”, “políticas de cotas”, “ações coletivas”, “ditadura”, “democracia” etc. De fato,
consultando os dados da primeira etapa da pesquisa, apenas 6,7% responderam corretamente o que
significava política de cotas, 14,1% afirmaram se considerar politicamente participantes, enquanto 66,5%
disseram que procuram se informar, mas não participam pessoalmente.

Para uma grande parte dos(as) jovens, os encontros foram uma oportunidade única para refletirem sobre
a condição juvenil, a realidade dos(as) jovens baianos(as) e como vêm participando da construção da
sociedade, no seu dia-a-dia, no seu bairro ou cidade. Nesse sentido, tanto os homens quanto as
mulheres se mostraram dispostos(as) a se empenhar em dar continuidade às reflexões feitas no Grupo
de Diálogo em seus espaços, com seus(suas) amigos(as) e até mesmo entre eles(as). Na volta para
casa, o ponto de partida é sempre a formação de Grupos para atuação na comunidade, mobilização do
grêmio escolar ou a tentativa de engajamento em ONGs e cooperativas. Foram poucas as menções de
que buscariam integrar-se a partidos ou movimentos sociais, ou que acompanhariam as atividades da
casa legislativa e dos conselhos de direitos. Todos esses ainda são distantes da realidade do(a) jovem.
De imediato, também se vêem desempenhando atividades de cunho solidário, como arrecadação de
alimentos e roupas, atenção a crianças em creches e dando aulas gratuitas para população carente.

As mensagens e pistas deixadas pelos(as) jovens sobre o locus em que privilegiam atuar demonstram
solidariedade e comprometimento com aqueles(as) que estão próximos(as), fazendo parte do seu dia-dia
e correspondem às possibilidades de tempo, conhecimento que os(as) jovens possuem. De certo modo,
já indicam essa abertura com o alto grau de adesão às atividades escolares e comunitárias, quando
essas são oferecidas.

66
Figura 2

Participação dos jovens na atividades

86,6%
Filmes

Debates 81,8%

Seminários/Conc redação/Feira de Ciência 78,6%

Festas 71,4%

Visita a museus 70,9%

Apresentações de Teatro 62,3%

Ações comunitárias/Trab Sociais 60,7%

Excursões 59,1%

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

A participação juvenil é possível a partir de um sentimento e de um ambiente gerado pela sociedade


como um todo e, em especial, transmitido pelos processos educativos e integradores. Como lembra
Abramo (1998), é, além de tudo, o caminho para o desenvolvimento integral e “direito através do qual os
jovens podem negociar suas demandas e contribuir para as mudanças na sua sociedade”. Não obstante
a necessidade de empenho de todas as instituições sociais, políticas e culturais em reconhecer o papel
do(a) jovem como ator e sujeito do desenvolvimento e da democracia, nesse sentido, não é demais
ressaltar a escola como um lugar central na sociedade de transmissão de saberes, valores e
desenvolvimento de habilidades e capacidades. Dos(as) 1.000 jovens entrevistados(as) na pesquisa de
opinião na RMS, pouco mais da metade das instituições de ensino promovem debates e filmes e, 24,4%,
ações comunitárias e trabalhos sociais.

Finalmente, não obstante esse percurso, através dos Grupos de Diálogos muitos(as) despertaram o
interesse pela política, entendendo que existe a necessidade da sociedade e seus segmentos
pressionarem os(as) governantes para pautar suas ações, bem como garantir que suas demandas sejam
realizadas. Outro aspecto que percebem é a necessidade de acompanhamento e fiscalização de seus
atos. Esse ciclo é a base do controle social sobre os(as) gestores(as) públicos(as) e somente esse
entendimento já seria suficiente para creditar à pesquisa o caráter de sensibilização de seus(suas)
participantes. Um bom exemplo é o do jovem do GD4 que afirmou, ao final do Dia, ter aprendido a gostar
mais de política.

67
4.8 – Conclusão

Como comentários finais, serão registradas algumas questões que mais chamaram a atenção ao longo
da produção deste relatório que poderão servir para uma posterior análise do comportamento das
juventudes baianas em comparação com as outras Regiões Metropolitanas.

As maiores dificuldades enfrentadas durante a realização do Diálogo estiveram relacionadas à baixa


capacidade de leitura, interpretação do que era lido ou dito, além da falta de compreensão da
organização política e social do país. Reitera-se a observação de que o tema participação se mostrou
muito distante da realidade desses(as) jovens, indicando a pouca ou nenhuma prática de tomada de
decisões nos espaços de formação.

Questiona-se, com isso o desempenho da escola, entendida como um espaço privilegiado de


socialização e formação, que pode criar possibilidades de participação dos(as) alunos(as) nos processos
de decisão ou mesmo prepara e estimula essa participação em outros espaços. Como afirmado no
relatório da pesquisa quantitativa, “uma escola fechada à participação do jovem, com uma gestão
baseada em uma estrutura hierárquica rígida, dificulta nele o desenvolvimento do sentimento de
pertencimento, não criando oportunidades para que possa participar das decisões, elaborações e
implementações de projetos para escola, para comunidade. A falta de credibilidade e de valorização da
participação afeta diretamente a auto-estima do jovem, inibindo o desenvolvimento da sua autonomia, o
exercício pleno de sua cidadania”.

Esses fatores influenciaram nos constantes equívocos de compreensão das formas de atuação nos
Caminhos e muitos(as) não conseguiram vislumbrar uma forma de participação, apesar de apontarem
suas preferências.

Com uma perspectiva imediatista, apesar de entenderem a educação como uma via de transformação do
indivíduo e da sociedade, os(as) jovens demonstraram uma maior preocupação com a oferta de Ensino
Profissionalizante, que com acesso à educação superior, reproduzindo uma prática que reserva aos(às)
filhos(as) das classes baixas o ”direito” à educação para o trabalho técnico e para a classe média, a
graduação. Obedecendo a essa lógica, poucos(as) apostaram na própria formação (formal, política e
cultural) e atuação profissional como uma forma de engajamento social.

Na tentativa de reconhecer como os(as) jovens ocupam a esfera pública, percebe-se que eles(as)
procuram antes por um espaço de formação para a participação, para então atuarem nas esferas
públicas, como a Câmara de Vereadores. Acreditam na potencialidade da Câmara-Mirim, como um
espaço de preparação para a vida política. Do ponto de vista coletivo, a inserção é vislumbrada a partir
da filiação a partidos políticos e de ONGs. Para eles(as), são os principais meios de obter legitimidade e
de impactar mais rapidamente nas políticas desejadas. Por outro lado, apostam na criação de seus
próprios espaços como ONGs, movimentos sociais, partidos e a formação de redes de jovens, virtual ou
nos bairros, que promovam pequenas ações, campanhas, que mobilizem e capacitem outros(as) jovens e
outros segmentos sociais. O que pesa na criação desses espaços é a autonomia para executar suas

68
idéias e a garantia de liberdade de expressão, mas também a falta de conhecimento e de compreensão
das reivindicações dos movimentos sociais existentes, que muitas vezes aparecem na mídia como vilões
da “ordem” e da paz.

Durante os Grupos de Diálogos, notou-se um sentimento de desconfiança nas instituições


governamentais gerada pela demora na resolução dos problemas sociais, como a fome e miséria, pela
negação dos direitos, pela corrupção, pela impunidade. Isso tudo levou uma parcela dos(as) jovens a
assumirem que o Caminho do voluntariado é uma forma através da qual podem contribuir para aliviar as
demandas urgentes da sociedade, de seu bairro ou comunidade. Observou-se, no entanto, que
alguns(mas) jovens realizavam algum tipo de trabalho voluntário, em creche, dando aulas, como Amigos da
Escola, ou trabalhos em igrejas e pastorais, mas o sentimento presente, nesses casos, foi o da
solidariedade, “de ajudar ao próximo”. Como avaliação geral, porém, o Caminho do voluntariado se mostrou
muito abstrato para os(as) jovens da RMS, não oferecendo condições para as mudanças esperadas.

Eles(as) reproduziam com freqüência um discurso dominante que projeta o(a) jovem como um ser do
futuro: “jovem como futuro”; “estamos chegando”, não se reconhecendo como sujeitos coletivos de
transformação no presente. Possivelmente por isso, as decisões tomadas muitas vezes foram respostas
às questões colocadas no GD, mas que não eram nenhum tipo de decisão para a própria vida, embora
alguns(mas) tenham acenado para a importância do Dia para si. Muitos(as) deles(as) falavam em terceira
pessoa, ou seja, não construíam uma proposta com a qual se comprometiam, demonstrando o quanto é
tênue a identidade com o próprio segmento juventude.

Alguns(mas) jovens afirmaram que só pararam para pensar sobre como participar ativamente na
construção do Brasil que querem no próprio GD. Com isso, valorizavam a iniciativa da pesquisa e
manifestavam o interesse em participar de outras atividades semelhantes, independente do pagamento de um
pró-labore. Esses comentários apontam para a disponibilidade em se envolver com as causas públicas, desde
que encontrem um campo aberto para a realização, construção, inovação, enfim que suas ações tenham
resultado. Outro elemento ressaltado e muito importante para estimular o(a) jovem para a participação na vida
pública foi a necessidade de reconhecimento por parte do Poder Público e da sociedade.

Por fim, considerando todas essas questões e entendendo que o aspecto central da metodologia está em
estabelecer condições de diálogo entre os(as) jovens, percebe-se o quanto a postura do(a) facilitador(a)
e da equipe acabam por exercer grande influência na reflexão dos(as) jovens. Apesar do propósito do
Diálogo (muitas vezes mencionado desde a convocação) ter sido conhecer a opinião deles(as),
observou-se em diversas oportunidades que a expectativa deles(as) em relação ao(à) adulto(a) está
muito espelhada na relação de ensino-aprendizagem vivenciada em seu dia-a-dia na relação com o(a)
professor(a) em sala de aula, onde o(a) jovem pouco contribui, considerando-se mero(a) receptor(a).
Essa postura se tornou mais evidente em contraste com o GD que reuniu jovens entre 18 e 24 anos.
Com o ingresso no Ensino Superior, experiência no mundo do trabalho e contato com outros universos
além dos escolares, esse Grupo apresentou mais autonomia e segurança em suas colocações,
argumentos mais bem elaborados e, sobretudo, uma disposição maior para o diálogo.

69
Após o encontro com essas juventudes, além do encaminhamento das demandas aos(às) políticos(as) e
autoridades, abre-se uma nova perspectiva de aprofundamento do diálogo no sentido de tentar identificar
se houve e quais foram os efeitos produzidos pela pesquisa e mesmo de aproximá-los de grupos,
organizações e articulações juvenis para que experimentem os diferentes cenários, suas dificuldades e
potencialidades.

70
5 – Bibliografia

ABRAMO, Helena. Participação e organizações juvenis. In: Caderno Jovens e Juventude: Contribuições. Projeto Redes e
Juventudes. 2004.

CF, art. 29, X; Lei de Responsabilidade Fiscal, art. 48, parágrafo único; Estatuto da Cidade, art. 44.

MELUCCI, Alberto. Juventude, tempo e movimentos socais. In: Revista Young. Estocolmo v. 4, n.º 2, pp 3-14.

OLIVEIRA, Júlia R. (org.). Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, 2004 - Relatório da Região Metropolitana de
Salvador.

PEREZ, Marcus Augusto. A Administração pública democrática: institutos de participação popular na administração
pública. Belo Horizonte: Fórum, 2004.

UNESCO .Políticas Públicas de/para/com juventudes – Brasília: UNESCO, 2004.

71
6 – Anexos

Quadro 1

Educação

Juventude da Bahia em relação aos outros estados brasileiros

• Analfabetismo: 17 º lugar
• Escolaridade adequada: 22º lugar
• Renda: 23 º lugar

Fonte: Unesco, 2004.

População negra de Salvador: 82% [pardos(as) + negros(as)]

Fonte: Dieese.

43% dos(as) jovens pardos(as) não estudam

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia.

A cada grupo de dez jovens com menos de 17 anos da RMS:

• 4 não estão estudando


• 3 estão trabalhando
• 1 concluiu o Ensino Médio e trabalha

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia.

Quadro 2

Trabalho: dos(as) jovens empregados(as)

Jovens das classes A/B

• 14 % não têm carteira assinada

• 22% têm carteira assinada

Jovens das classes D/E

• 26% não têm carteira assinada

• 16% têm carteira assinada

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia.

72
Quadro 3

Cultura e lazer

Os(as) jovens freqüentam:


• Shoppings – 73%
• Parques e praças – 48%
• Teatro – 17%
• Centro Culturais – 14%

Como os(as) jovens se informam:


• 87% através da TV
• 26% através dos(as) professores(as)

Fonte: Pesquisa Juventude Brasileira e Democracia.

73
Tabela 1 - O que te preocupa no Brasil?

Temas/Questões GD1
"A violência que está desordenada, que atinge a idosos, a jovens, a
todo mundo"
Violência/ Homicídios
"São os assaltos, porque hoje em dia saímos de casa com medo de
jovens/ Segurança/
sermos assaltados, roubados nas ruas. A violência hoje em dia tá
Assalto/ Drogas
muito grande"
"Drogas"
Pouca oportunidade que é dada ao jovem no Brasil ao emprego”
Desemprego/ Falta de
oportunidade "Falta de emprego para os jovens que gostariam de iniciar o primeiro
emprego no Brasil"
Desigualdade social/ Má "O que me preocupa no mundo em geral é a miséria que ocupa
distribuição de renda/ bastante espaço aqui entre nós e em muitos lugares"
Pobreza/ Problemas
socioeconômicos/ "É a fome, porque tem gente comendo bem e gente que tem dias que
nem come"
Miséria/ Fome
"Falta de investimentos na educação."
Educação “Educação tanto da parte do governo, quanto dos alunos"
"Falta de professores nas escolas"
"É a política, porque tem muitos políticos que não fazem nada pelo
nosso país. Roubam, fazem esquemas errados, desviam dinheiro daqui
Política do Brasil."
"A política, principalmente com o caos da corrupção, que é demais"
"São tantas as coisas que me preocupam no Brasil... Uma das coisas
que me assustou foi que algumas crianças indígenas estão morrendo
Infância de subnutrição"
"Falta de crianças nas escolas"
Preconceito/ Racismo/
Preconceito racial/ "Preconceito que muita gente tem"
Discriminação racial
Conservar o meio
ambiente/ Poluição/ "A falta de sensibilidade para coisas que são aparentemente pequenas
Desmatamento da como, por exemplo, conservar o meio ambiente"
Amazônia
"Nada me preocupa" "Nada me preocupa"

Tabela 1 (cont.)

Temas/Questões GD2
"A violência. Sou jovem ainda e pretendo ter filhos. E pretendo que
Violência/ Homicídios eles saiam sem medo de tomar um tiro na esquina"
jovens/ Segurança/
Assalto/ Drogas "A violência que cada vez mais evolui."; Mortalidade dos
adolescentes"

Desemprego/ Falta de "É a falta de emprego. As pessoas que têm emprego são geralmente
oportunidade as que têm alguém lá dentro muito grande"
“Oportunidade para os jovens ingressarem no mercado de trabalho"

74
"Oportunidade do primeiro emprego para todos os jovens"

Desigualdade social/ Má
distribuição de renda/ "A desigualdade social que sempre vai existir, mas o excesso dela,
Pobreza/ Problemas acho que no Brasil sempre teve, e é uma coisa que parece que nunca
socioeconômicos/ tem fim. E o que me preocupa é isso, o excesso de desigualdade
Miséria/ Fome social"
"A educação precária que gera a violência"
Educação
"Educação pública que é muito precária"
"São as políticas neoliberais, onde a gente está observando a
destruição do público em contrapartida a questão do privado. A
Política educação pública não tem, está uma precariedade a saúde pública. O
capitalismo sendo hegemônico em nossa sociedade coloca a maior
parte da população à margem"
Saúde "Falta de saúde pública para o povo"
"Prostituição infantil"
Infância
"Trabalho infantil"
"Falta de ética de cada pessoa. A ética é o principal de tudo para
Precariedade no iniciar"
Convívio Social/
"Precariedade no convívio social. O que falta é um compreender o
Compreensão do outro/
outro, coisa que não acontece aqui"
Amor/ Respeito/ Falta de
amor ao próximo/ Falta "O respeito e o amor. Nós falamos de muitas coisas aqui, mas não
de ética (das pessoas)/ falamos de algo importante: a espiritualidade no Brasil. Quando a sua
Hipocrisia alma, o seu espírito vai bem, o físico e o material vão bem. Isso que
temos que parar para pensar primeiramente"
Conservar o meio "A Floresta da Amazônia. Há muitas pessoas invadindo e desmatando
ambiente/ Poluição/ a floresta e isso provoca muitas coisas para a sociedade e pra todo
Desmatamento da mundo"
Amazônia “Poluição da natureza"
"A apatia das pessoas, da maior parte da sociedade, que vê tudo que
vocês já citaram como errado e não faz nada. Senta e assisti o Jornal
Falta de ação/ Apatia da Nacional e acha... enfim, a apatia, a inação das pessoas"
sociedade/ Comodidade
das pessoas "A comodidade de muitas pessoas em relação ao futuro que nos
aguarda. Porque têm pessoas que vêem a situação em que a gente se
encontra e não faz nada para mudar isso."
Falta de justiça "A falta de justiça que ainda tem nessa nação"

75
Tabela 1 (cont.)

Temas/Questões GD3
"A violência que está cada vez maior de noite, não dá pra sair mais de
Violência/ Homicídios noite"
jovens/ Segurança/
Assalto/ Drogas “'As mortes que estão tendo demais. Meu primo morreu, meu
companheiro morreu... estão tendo muitas mortes na minha rua"
"É a grande quantidade de desemprego. Salvador é considerada a
capital do desemprego"
"O desemprego que tá muito grande para o jovem. A gente vai procurar
Desemprego/ Falta de oportunidade e a gente sempre toma um não na cara"
oportunidade "A falta de oportunidade que tá demais"
"Falta de emprego para os jovens. Tá muito difícil. A gente tá sempre
tomando na cara porque esperam que a gente tenha o quê?
Experiência. E não temos"

Desigualdade social/ Má "A má distribuição de renda que predomina aqui no nosso país"
distribuição de renda/ "Um dos grandes problemas do Brasil hoje são os problemas
Pobreza/ Problemas socioeconômicos. Enquanto a gente não resolver isso, enquanto o
socioeconômicos/ governo não tomar providência não tem como resolver fome, miséria,
Miséria/ Fome roubo e por aí vai"
"Descompromisso com a educação”
"A preocupação maior é de saber que muitos jovens estão fora da
faculdade no Brasil. Isso me gera uma certa preocupação, a desigualdade
Educação
que está existindo principalmente ao saber que 70% da classe negra tem
dificuldade em concluir pelo menos o Ensino Médio e Fundamental"
"Professores não estão preparados"
"Descompromisso com a política"
"O que me preocupa é esse governo. Não sei quando vai acabar essa
pobreza tão miserável que existe no nosso Brasil e não sei nem
quando eles vão tomar vergonha na cara e vão tomar providência
Política
sobre isso"
"Um dos maiores problemas do Brasil é a corrupção, o desvio da verba
pública que eu acredito ser o fato gerador da pobreza, da falta de
emprego, da educação precária no Brasil."
Saúde "Descaso com a saúde"
"Criança fora da sala de aula"
Infância
"Criançada que anda exposta aí pela rua"
Preconceito/ Racismo/ "Preconceito racial porque eu acho que muitas pessoas têm
Preconceito racial/ capacidade de chegar aonde elas querem chegar, mas pelo fato da
Discriminação racial raça, elas têm um certo tabu que não podem chegar lá"
"Falta de acesso à cultura"
Falta de acesso à
cultura/ Incentivo "O que me preocupa no Brasil é o incentivo cultural, o incentivo ao
cultural, esporte e lazer esporte. Você quer hoje praticar seu esporte, mas você não tem
incentivo"
"A maneira como a comunicação chega na cabeça do jovem, chega
Manipulação dos meios assim de fato a manipular. Hoje em dia a moda é Big Brother, se a
de comunicação Globo colocar um abacaxi na cabeça, você vê muitas pessoas
utilizando isso, passando pela rua..."

76
Falta de compromisso/ "Os problemas são muitos, se a gente for ficar falando cada um aqui
de seriedade na vai perder o dia inteiro e não vai acabar, mas o que me preocupa é a
resolução dos falta de compromisso, falta de seriedade das pessoas com o que está
problemas acontecendo no Brasil"
Planejamento familiar "Falta de planejamento familiar"
Desrespeito à
empregada doméstica "Empregada doméstica ser humilhada"

Tabela 1 (cont.)

Temas/Questões GD4
"A violência que hoje em dia tá demais. Eu tenho exemplos lá na rua de
Violência/ Homicídios jovens que não chegam nem a vinte anos, ‘tão morrendo..."
jovens/ Segurança/ "Violência que tá rolando aí demais"
Assalto/ Drogas "Segurança. Hoje nós não temos segurança"
"Drogas"
"Desemprego, que é a causa de alguns fatores que foram citados aqui
Desemprego/ Falta de como a violência, as drogas"
oportunidade
"Falta de emprego para todos"
"É a educação em geral. Eu gostaria de colocar para os que são do
poder que a escola é prioridade em tudo, porque se não tiver
educação, não haverá uma melhoria mais tarde para com as pessoas
de bairros pobres e outras coisas mais"
"Falta da boa educação, porque educação nós temos, o que está
faltando é a qualidade, a falta de disposição do governo para poder
cuidar das pessoas necessitadas e a escola de hoje só visa as pessoas
de classe média e classe alta, as pessoas de classe mais baixa estão
‘desleixadas’”
Educação
"É a educação porque a miséria, a fome, o desemprego, tudo isso é
conseqüência de uma péssima educação e o país só vai conseguir
melhorar quando a educação for de boa qualidade. A educação em
alicerce para um futuro melhor"
"Falta de segurança nas escolas que as drogas cada vez mais invadem
e comercializam dentro das escolas”
"Violência é o que mais me preocupa, porque a gente vê tanta violência
nas escolas, tanta gente querendo estudar, tendo oportunidade e
outros na baderna, querendo brigas"
Corrupção na política/
Falta de "Falta de comprometimento com seriedade do poder judiciário para
responsabilidade/ de com a sociedade. Corrupção no sistema judiciário"
ética/ Corrupção "Má distribuição de renda dos cofres públicos”
dos(as) políticos(as)/ "Corrupção que vem dos grandes e passa para os menores"
Desvio da verba “É a impunidade".
pública/ Impunidade
Preconceito/ Racismo/
Preconceito racial/ "Preconceito que hoje tem muito aqui no Brasil"
Discriminação racial

77
Precariedade no
convívio social/
Compreensão do(a)
outro(a)/ Amor/
"O amor ao próximo, que hoje em dia não tá nem existindo mais..."
Respeito/ Falta de amor
ao próximo/ Falta de
ética (das pessoas)/
Hipocrisia
Falta de acesso à
cultura/ Incentivo "Falta de incentivo do poder público à cultura"
cultural, esporte e lazer
Desestruturação
"A desestruturação familiar acarretando a violência"
Familiar
"A maior preocupação é a criação, porque tudo isso que a gente fala,
Criação*
se não tiver uma boa criação nada vai à frente"
* NP: educação familiar

Tabela 1 (cont.)

Temas/Questões GD5
"É a falta de emprego com os jovens de hoje no Brasil que tá muito, tá
Desemprego/ Falta de difícil"
oportunidade
"A dificuldade de arranjar o primeiro emprego"
Desigualdade social/ Má
distribuição de renda/
Pobreza/ Problemas "Fome, pobreza e miséria"
socioeconômicos/
Miséria/ Fome
"O que me preocupa no Brasil é a falta de educação, tá um caos"
"A educação é o que mais me preocupa no Brasil, porque é a partir da
Educação
educação que todos esses problemas aí poderão ser solucionados"
"Analfabetismo no Brasil"
Corrupção na política/
Falta de
Responsabilidade/ de "O que me preocupa é a política, os políticos, que é tudo uma bagunça"
ética/ Corrupção
dos(as) políticos(as)/ "Os políticos que estão direcionando o dinheiro de forma errônea"
Desvio da verba
pública/ Impunidade
Saúde "Saneamento"

Precariedade no "Tudo me preocupa nesse país: política, educação, saúde. Agora eu


quero enfocar uma coisa nítida que eu acho que é importante pra todos
convívio social/
nós que somos jovens. O que me preocupa muito é a falta de amor do
Compreensão do(a)
próximo com o outro, falta de respeito. Aquele momento que o ser
outro(a)/ Amor/
humano tem que respeitar, ter um pouco mais de tranqüilidade com o
Respeito/ Falta de amor
seu colega, com o próximo, porque independente de ser negro, branco,
ao próximo/ Falta de
ser rico, ser pobre, todo mundo é ser humano, todo mundo veio de uma
ética (das pessoas)/ mesma origem. É essa falta de amor tá faltando entre nós que temos
Hipocrisia que consertar isso, que nosso país vai pra frente"
Uso de drogas "O que me preocupa são as drogas no meio dos adolescentes"

78
Conservar o meio
"O que me preocupa é o desmatamento e a falta de cuidado com o
ambiente/ Poluição/
nosso maior tesouro, não só do Brasil como do mundo, que é a
Desmatamento da
Amazônia"
Amazônia
"É a falta de informação, através da informação você pode revolucionar
Falta de Informação
todos os problemas no Brasil"
"O futuro, porque se esses problemas não forem resolvidos hoje, eu
Futuro
não sei como vai estar esse país amanhã"

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Tabela 2

RECADO GD1
"Os políticos de hoje deveriam ser mais honestos"
Políticos(as) mais honestos(as)/ "Deixem de ser hipócritas"
Ética/ Consciência/ Não façam "Que Lula não faça promessas que não pode cumprir"
promessas que não possam cumprir/ "Que eles analisem bem a situação do povo e, a partir
Ajam de modo correto/ Sejam daí, ajam da maneira mais correta possível"
justos(as)/ Mais consciência/ "Que os governantes tomem atitudes mais justas e que
Respeito favoreçam a todos de forma igualitária"
"Abrir mais os olhos"
"Que Lula na hora de tomar as decisões, pense mais em
nós jovens"
Pensar nos(as) jovens/ Ouvir a "Para os políticos olharem para os jovens, que eles são o
opinião dos(as) jovens/ futuro do Brasil"
Oportunidades/ Apoio/ Investimento "Que eles prestem mais atenção nos jovens"
na juventude "Nós, jovens, como voluntários, podemos fazer coisas,
mas com a ajuda dos políticos, do governo, nós
podemos crescer"
Respeitar as comunidades mais
carentes/ Mais proximidade com o "Respeitar as comunidades mais carentes que precisam
povo/ Investir nos(as) pobres/ da ajuda deles"
Periferia
"Que os governantes não fizessem com que nós nos
arrependamos de nossos votos e façamos o que o povo
fez com Collor, que façamos o impeachment para tirar
Cumpram o seu papel/ Não pensem eles. Nós sabemos que eles podem ajudar e se eles
tanto, ajam! quiserem ele vão fazer isso"
"Que eles façam o papel deles, porque somos nós que
estamos fazendo"
"Se eles não estão fazendo agora, a gente vai a lembrar
a eles todos os dias o que eles têm que fazer. A gente
Estejam atentos(as) (daremos a não está se humilhando para pedir um pouco de atenção
resposta ao descaso de vocês)/ para eles, não. É dever deles fazer, porque fomos nós
Presença/ Força da juventude/ Força que os colocamos lá"
do povo "Lula não lembra do Nordeste porque ele já conseguiu
votos, já obteve os votos necessários, só que na próxima
eleição ele vai lembrar, e aí nós vamos dá o troco"

79
"Estudem bem os nossos pedidos e pelo menos
atendam algumas de nossas reivindicações"
Ouçam as reivindicações colocadas
na pesquisa "Entenda o ponto de vista desta ONG, que ela está
dedicando o máximo dela para que todos nós possamos
ser beneficiados"
"Que eles olhem mais para o estudante da escola
Educação/ Escola pública pública"
"Olhar para as escolas municipal e estadual"
"Que Lula olhe mais pelo Brasil"
Olhem pelo Brasil/população
"Que os políticos olhem mais para o Brasil"
"Tentar melhorar a vida das nossas crianças, porque
Crianças
elas são o futuro da nossa nação"
União/ Provocação para participação “União e mais voluntariado”
Emprego “Para Lula cumprir o que ele prometeu do emprego”
Compaixão/ Não esquecer o povo "Para Lula ter mais compaixão com o povo brasileiro"
brasileiro "Não esquecer o povo brasileiro"
"Olhar para a violência nos bairros e nas cidades em
Violência/Segurança
geral"

Tabela 2 (cont.)

RECADO GD2
Políticos(as) mais honestos(as)/
Ética/ Consciência/ Não façam "Que eles tenham consciência do que estão fazendo lá"
promessas que não possam cumprir /
Ajam de modo correto/ Sejam "Para eles lembrarem que a decisão deles é importante
justos(as)/ Mais consciência/ para a sociedade, não só para eles"
Respeito
"Olhem cada vez mais para nós jovens"
"Que eles passem a cuidar da juventude, porque a
juventude é o futuro do Brasil"
"Que dê oportunidades a outros jovens que estão
chegando"
"Que os governantes possam ouvir mais nossas
Pensar nos(as) jovens/ Ouvir a opiniões e fazer algo para os jovens”
opinião dos(as) jovens/ "Que realmente escutem a voz da juventude, porque a
Oportunidades/ Apoio/ Investimento nossa voz merece respeito e credibilidade"
na juventude "Que olhem mais para os jovens, que estão
abandonados"
"Que eles trabalhem no intuito do jovem"
"Que eles prestem um pouquinho de atenção nos
adolescentes, nos jovens de hoje, que têm muito o que
dizer e ouvir"
"Para eles se colocarem um pouquinho no lugar de cada

80
um de nós aqui e tentar ver porque a gente tá pedindo,
porque a gente tá reivindicando e tentar entender a
nossa posição"

Respeitar as comunidades mais "Que eles passem a cuidar das pessoas, dos pobres, os
carentes/ Mais proximidade com o necessitados, órfãos"
povo/ Investir nos(as) pobres/
Periferia "Que ajudem a quem precisa a fazer um Brasil melhor"

"Que ajam. Eu acredito que eles sabem o que fazer para


melhorar, então ajam, ajam com ética, que vai melhorar"
"Que eles cumpram nada mais, nada menos do que a
obrigação deles, que é fazer a sua parte aqui nesse
Cumpram o seu papel/ Não pensem planeta"
tanto, ajam! "Pouca conversa e mais ação"
"Façam o que tem que ser feito"
"Que eles possam cumprir com suas responsabilidades,
assim como nós, como cidadãos, procuramos cumprir
com a nossa"
"Se eles estão lá hoje é porque a gente escolheu e, se
eles não representarem os nossos interesses, a gente
pode tirá-los de lá a qualquer momento"
"Que eles se preparem que a juventude está chegando"
Estejam atentos(as) (daremos a "Juventude para revolucionar!"
resposta ao descaso de vocês)/
Presença/ Força da juventude/ Força "Os governantes estão lá porque a gente botou. Nós
do povo podemos tirá-los, reunir, podemos fazer a democracia"
"Nós estamos aqui para fazer a diferença e se eles não
estão fazendo, nós vamos fazer por eles"
"Nós estamos chegando. Isso não vai ficar por aqui, vão
ter mais e muitos debates"
"Que venham analisar cada idéia que foi feita aqui"
"Eles devem reparar no que nós fizemos hoje, prestar
Ouçam as reivindicações colocadas bem atenção e fazer o certo"
na pesquisa "Eu espero que o que a gente fez aqui agora tenha uma
importância porque nem todo mundo tem essa
oportunidade que a gente tá tendo de falar"
"Para dar prioridade à educação"
Educação/ Escola pública "Eles prestem mais atenção na fome, na educação e no
emprego"

81
"Que eles possam ajudar a população a se desenvolver
cada vez mais e acabar com a miséria, fome..."
Olhem pelo Brasil/população "Que eles olhem com mais atenção para a população
que os colocou lá, porque, de uma forma ou de outra,
daqui uns dias a gente chega lá também"

“...e acabar com a miséria, com a fome...”


Fome "Eles prestem mais atenção na fome, na educação e no
emprego"
"Queria falar aos governantes que não tá nada certo. Tá
uma fome no Brasil... malandragem... tráfico muito
Não tá nada certo/ Inércia
grande. Não está nada consertado e a gente tá ai
parado"
"Que eles observem os números alarmantes da exclusão
social, em todo contexto do sistema neoliberal,
Buscar opções alternativas de
capitalista e pensem se esse sistema é o melhor para o
sistema econômico
Brasil. Que eles busquem opões alternativas que
trabalhem com princípios éticos, honestos"
Crescimento do país "Que o Brasil cresça mais ainda"

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Tabela 3 – O que ficou de mais importante

Grupo de Diálogo 1 – 19 de março


Comentários Finais
15 a 17 anos
"Poder expressar o que eu penso e saber o que vocês pensam"
Troca de idéias/ Exposição
"A troca de pensamentos e opiniões sobre os assuntos
dos pensamentos/ Voz ativa/
abordados"
Diálogo
"A conversa entre os grupos"
"A união e a força de vontade de todos"
"A colaboração de todos"
"Coleguismo de todos"
Valorização da coletividade/ "Conhecer todos vocês"
Conhecer pessoas/ União/ "Conhecer pessoas novas e legais e com pontos de vistas
Trabalho em grupo importantes"
"A união dos grupos"
"Conhecer pessoas diferentes, pessoas carinhosas que me
trataram bem"
Aprendizado/ Informação "Aprendi muito com todos"
recebida "Aprendi coisas que nunca passaram pela minha cabeça"
"Achei importante a junção do pensamento em um propósito só"
Valorização do Dia/
"Gostei mais do programa de pesquisa que vocês fizeram sobre
Metodologia/ Iniciativa da
os jovens"
pesquisa
"Tudo para mim foi importante"
Agradecimento/ Oportunidade
de participar/ Oportunidade "A oportunidade que nos foi dada de expressar as nossas idéias"
para se expressar

82
"Saber que existem pessoas que realmente se mobilizam com os
problemas da gente, saber que a gente também se preocupa,
que todo mundo pensa, mas ninguém faz. E estas atitudes, este
tipo de reunião são coisas que estimulam a gente para entrar de
cabeça nessas ações e ter a coragem de chegar lá fora e dizer o
Interesse/ Motivação para a que aconteceu aqui dentro, o que a gente aprendeu"
participação/ Sentimento de "Interesse de estar neste projeto, de conversar, dialogar sobre
empoderamento/ Pró- tudo em geral"
atividade
"Aprendi que a gente não deve só esperar dos governantes, mas
que existem coisas que a gente pode fazer sim"
"Com minha opinião e com a opinião do grupo eu vou ter um
pouco mais de afirmação, entendo o que eu posso fazer para
ajudar as pessoas"
"Aprendi mais sobre juventude e cultura"
Valorização dos temas
"Aprendizado sobre jovens."
abordados
"Aprender a importância do voluntário"
Sobre as instituições "Gostaria que o Cria jamais deixasse de existir”
organizadoras (Cria) "Que têm pessoas que estão lutando pela gente"
Superação dos limites/
"Eu odeio apresentar e perdi um pouco da timidez"
Descobertas pessoais
Presença/Participação no GD "Estar aqui"

Tabela 3 (cont.)

Grupo de Diálogo 2 – 02 de abril


Comentários Finais
Experiência Participativa
"Foi trocar idéias com pessoas jovens assim como eu e expor
meus pensamentos"
"o jovem teve voz ativa, ele pôde falar, expressar o que o jovem
quer falar."
"Foi que todo mundo conversou, todo mundo se abriu, todo
mundo falou"
"Foi a integração de tantos pensamentos diferentes... cada um
Troca de idéias/ Exposição dos colocando seu ponto de vista, sua forma de pensar e todo
pensamentos/ Voz ativa/ mundo dialogando de uma forma saudável e amigável. Isso foi
Diálogo muito enriquecedor pra mim"
"Foi um momento em que a gente pôde expressar nossas
opiniões, convicções políticas"
"Foi ouvir opiniões diferentes e especialmente diferentes das
que eu convivo diariamente."
"Foi o diálogo. Todo mundo deu sua palavra e ouviu."
"Troca de idéia, o respeito à opinião do próximo."
"Intercâmbio de conhecimento."
"Foi muito bom conhecer gente nova"
Valorização da coletividade/ "Formei novas amizades"
Conhecer pessoas/ União/
Trabalho em grupo "Companheirismo de todo mundo"
"Essa comunhão entre os jovens, essa união..."

83
"O diálogo que nós tivemos aqui abriu muito a minha mente e
creio que a de todos também"
"Vou sair com outros pensamentos”
Aprendizado/ Informação
recebida "O aprendizado que cada um de nós vai poder levar para a
casa"
"Desde quando entrei aqui, tudo foi importante e
superinteressante"
"Foi esse encontro aqui hoje"
"Eu acho que cada momento aqui foi importante, desde a nossa
entrada até a nossa saída."
Valorização do Dia/ "Gostei do dia de hoje. O trabalho foi em grupo, adorei. Hoje foi
Metodologia/ Iniciativa da muito importante, todo mundo contribuiu com alguma coisa"
pesquisa "Meu dia foi maravilhoso"
"O que aconteceu de mais importante para mim aqui hoje foi o
encontro que a gente teve nas salas com as equipes, foi
bastante legal, uma experiência nova"
"A oportunidade de estar aqui com todos vocês. Oportunidade
para nós jovens de estarmos dialogando, representando vários
jovens"
“Agradecer pelo dia que a gente passou aqui. Foi ótimo"
Agradecimento/ Oportunidade “Eu gostaria de agradecer por estar aqui com esses jovens,
de participar/ Oportunidade expondo um pouco daquilo que nós vivemos na sociedade e
para se expressar sabemos que todos pensam porque vivem aquilo que estão
expondo"
"Obrigada pela oportunidade, foi fantástico!"
"Eu nunca participei de um debate que deu ao jovem sua voz
ativa, ser ouvido. Eu fico grato de ter participado..."
"A mensagem que tenho que deixar para vocês é que todas as
mudanças que foram ditas aqui hoje, não devemos ver como
um sonho, mas como um desejo realizável... Nós temos
capacidade disso, só depende de nós tirarmos as idéias que
Interesse/ Motivação para a foram botadas aqui hoje, tirar do caderno, do quadro e cada
participação/ Sentimento de um, um pouquinho, fazer a sua parte. O Brasil pode ser mudado
empoderamento/ Pró-atividade através de quarenta, cinqüenta pessoas"
"Vou exercer o que aprendi"
"Cada um saiu rico em idéias novas, em possibilidade de nós
mudarmos o país em que vivemos. Isso é um fato que todos
nós podemos alcançar"
"Vários institutos se relacionaram para promover isso para a
Sobre as instituições
gente, a gente não pediu, então já estão percebendo que têm
organizadoras (Cria)
uma importância para nós"
Superação dos limites/ "Gostei de vir aqui hoje, foi muito importante. Eu sou tímida,
Descobertas pessoais mas fiquei menos tímida hoje, por incrível que pareça"

84
Tabela 3 (cont.)

Grupo de Diálogo 3 – 09 de abril


Comentários Finais
18 a 24 anos
"Cada pessoa expôs as suas idéias e isso foi bom"
“Expressar minhas idéias com todos, cada um com idéias
diferentes para compartilhar"
Troca de idéias/ Exposição "A troca de informações"
dos pensamentos/ Voz ativa/
Diálogo "Foi poder ouvir e expressar as minhas idéias"
"Eu pude estar dialogando com outras pessoas, expressando
idéias"
“Foi a troca de idéias e a liberdade de expressão"
"Foi a interação que a gente teve aqui para saber ouvir e falar
Valorização da coletividade/ também"
Conhecer pessoas/ União/
Trabalho em grupo "Foi a união de todos nós. Um não quis falar mais do que os
outros, todos falaram em conjunto"
Aprendizado/ Informação "Aprender mais um pouco para a gente encarar o que realmente
recebida está acontecendo no Brasil"
Valorização do Dia/
Metodologia/ Iniciativa da "Foi a criatividade de vocês"
pesquisa
Agradecimento/ "Eu pude expressar as minhas idéias"
Oportunidade de participar/
Oportunidade para se "Foi uma oportunidade única para coletar idéias juvenis, os
expressar quereres dos jovens diante do poder político"

Interesse/ Motivação para a "Troca de experiência entre a gente aqui, que acendeu em mim
participação/ Sentimento de uma chama de participar de alguma ONG"
empoderamento/ Pró-
atividade “Foi um momento único e o incentivo que eu tive hoje"

Valorização dos temas


"Aprender mais sobre o nosso país"
abordados
Presença/ Participação "Foi estar aqui junto"
no GD "Estar aqui hoje"

Tabela 3 (cont.)

Grupo de Diálogo 4 – 10 de abril


Comentários Finais
15 a 24 anos (1)
"Pude ouvir opiniões diferentes, construir, dei a minha (opinião) e
pude tirar o melhor daqui"
"O diálogo"
Troca de idéias/ Exposição
"Foi que aconteceu um ato democrático, todos deram opiniões e
dos pensamentos/ Voz ativa/
foram respeitadas"
Diálogo
"A troca de experiências, fortalecendo meu conhecimento"
"Expor minhas idéias para o grupo que daqui vai enviar para as
instituições"

85
"A convivência com outras pessoas que eu não conhecia"
Valorização da coletividade/ "Encontrar pessoas novas, diferentes, de outros lugares, que eu
Conhecer pessoas/ União/ posso ter uma melhor comunicação ou me envolver mais depois
Trabalho em grupo do encontro"
"Ter conhecido novas pessoas"
Aprendizado/ Informação "Nós aprendemos muito aqui hoje"
recebida "Vou levar novas idéias para a casa."
"Foi tudo, tudo que houve aqui para mim foi muito importante"
Valorização do Dia/
Metodologia/ Iniciativa da "Foi que eu aprendi a dialogar, eu passei a ter mais certeza de
pesquisa que sem diálogo não há um bom resultado ou a gente nunca
chega num consenso"
“... aprendemos muitas coisas. Que uma só pessoa juntando com
Interesse/ Motivação para a várias é possível modificar o país"
participação/ Sentimento de
empoderamento/ Pró- "Foi saber que ainda têm pessoas que pensam como eu. Que
atividade devemos nos engajar, mesmo jovens, em partidos políticos e ir à
luta dos objetivos"
Valorização dos temas
"Saber um pouco sobre política"
abordados
Superação dos limites/ "Eu descobri hoje neste diálogo que eu gosto de política"
Descobertas pessoais "... Descobri também que eu gosto um pouquinho de política"

Tabela 3 (cont.)

Grupo de Diálogo 5 – 30 de abril


Comentários Finais
15 a 24 anos (2)
"Foi ver várias opiniões e, dentre essas, absorver algumas para
mim e outras não"
"Essa troca de idéias, informações"
“Foi a opinião de cada um que é interessante para melhorar o
nosso país"
Troca de idéias/ Exposição "Foi o diálogo mesmo, a discussão. É muito bom você discutir,
dos pensamentos/ Voz ativa/ trocar idéias com as pessoas"
Diálogo "Foi ouvir a opinião de todos"
"Conhecer a idéia de todos"
"Conhecer novas pessoas e com elas discutir, dialogar vários temas"
“Foi ouvir, falar e discutir opiniões diferentes"
"Foi o conhecimento que cada um expôs aqui"
Valorização da coletividade/
Foi ter conhecido vocês, que eu gostei muito, são pessoas
Conhecer pessoas/ União/
maravilhosas”
Trabalho em grupo
"Foram as novas idéias que eu consegui assimilar com o grupo"
" ...ter aprendido o que realmente é o diálogo"
Aprendizado/ Informação "Eu aprendi a trabalhar em grupo e como se constrói uma ação
recebida social"
"Eu adquiri uma experiência de vida que eu não tinha tido antes e
isso é inédito pra mim"

86
"Foi ter participado desse projeto. Queria dizer que deveria ter no
bairro, não como hoje, dando uma ajuda de custo, mas gratuito,
que os jovens precisam muito ouvir, debater e aprender coisas
que hoje em dia estão escondidas nesse país"
Valorização do Dia/ "... ter participado do debate com vocês e entrar num
Metodologia/ Iniciativa da consenso, uma coisa útil que a gente juntou em relação ao
pesquisa nosso futuro no país."
"... os cinqüenta reais que a gente veio pegar aqui hoje, segunda-
feira vai acabar e, para quem prestou atenção, quem ouviu o que
estava sendo dito, as palestras, nós vamos levar para a vida toda"
"Tudo que ocorreu aqui foi importante"
"Agradecer pela oportunidade de a gente estar aqui hoje, porque
é muito difícil e, se a gente não tivesse aqui, a gente estava em
casa sem fazer nada mesmo. E, estando aqui, aproveitamos
nosso dia com coisas importantes que venham afetar o nosso
Agradecimento/ futuro para coisas boas"
Oportunidade de participar/
Oportunidade para se "Eu quero agradecer a participação e quero dizer que o que
expressar aconteceu aqui de mais importante foi a oportunidade, porque
falta oportunidade para os jovens, são poucos lugares que
oferecem esse tipo de coisa. Não tô visando dinheiro nem
comida, mas realmente não tem, nem com dinheiro, nem com
comida de jeito nenhum."
Valorização dos temas
"Os trabalhos e os debates sobre educação e cultura"
abordados
"... ter conhecido a organização Cria que eu não conhecia."
Sobre as instituições
organizadoras (Cria) "Ter conhecido o Cria. Parabéns pelo trabalho bonito que vem
desenvolvendo"
Olhar o(a) próximo(a) "Olhar mais o próximo, ver o que eles precisam mais"
“Foi conhecer pessoas com pensamentos diferentes, opiniões
diferentes e ver que em se tratando de um assunto tão
interessante, existem pessoas que não dão tanta atenção para
isso. Tem pessoas que brincam o tempo todo sem saber que isso
Descaso/ Desinteresse é uma coisa muito importante, que pode levar o Brasil para
dos(as) participantes/ Jovens frente"
"Foi perceber que apesar dos problemas que foram citados aqui
de desemprego, educação, de tudo, ainda há jovens que não
levam a sério isso e que ainda não atinaram pra as coisas sérias
que a nossa sociedade está passando"

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

87
Tabela 4

RECADO GD3
"Que tenham mais consciência e que pensem mais um
pouco nos outros, não somente em si mesmos"
Políticos mais honestos(as)/ Ética/ "Respeito"
Consciência/ Não façam promessas
"Pô, você já ganhou tanto, para quê roubar mais?"
que não possam cumprir/ Ajam de
modo correto/ Sejam justos(as)/ Mais "Que eles olhem bem o que estão fazendo, o que
consciência/ Respeito ganham e o que eles dão para a gente em troca"
"Que ajam com um pouco mais de ética, porque
consciência da situação real eles têm"
"Que o governo acorde pros jovens de hoje"
"Que os governantes olhem para a gente"
Pensar nos(as) jovens/ Ouvir a
"Buscar idéias dos jovens para modernizar";
opinião dos(as) jovens/
Oportunidades/ Apoio/ Investimento "Que os políticos olhem por nós jovens"
na juventude "Que os deputados, os governantes reservem um pouco
do seu tempo para agendar com os jovens, que escutem
o que os jovens têm a dizer"
Respeitar as comunidades mais "Que eles olhem para as pessoas que necessitam de
carentes/ Mais proximidade com o verdade"
povo/ Investir nos(as) pobres/ "Que as pessoas que tomam decisões no país estejam
Periferia mais próximas ao povo"
"Cumprimento de tudo que eles ditaram"
"Cuidem bem do nosso país"
Cumpram o seu papel/ Não pensem
tanto, ajam! "Que o governo ponha obrigações e cumpra também"
"Que cumpram o que disseram, as promessas, para
melhorar"
Educação/ Escola pública "Que os políticos olhem para educação"
Olhem pelo Brasil/ População/ A6 "Que olhem mais para a sociedade"
"Que eles eduquem nossas crianças e assim não será
preciso castigar os jovens"
Crianças
"Que olhem mais pelas crianças carentes"
"Que olhem para as crianças"
União/ Provocação para participação "... vamos correr atrás dos nossos objetivos"
Emprego "Emprego para nós, que precisamos muito"
"Tomem conta da segurança. Hoje em dia estamos com
Violência/ Segurança
mais medo da polícia do que dos ladrões"
"Que se repitam esses encontros que nível cultural é
Mais encontros/ Pesquisa
uma maravilha"
"Quando for dar aumento no salário, pensar com mais
Salário
carinho"

88
Tabela 4 (cont.)

RECADO GD4
"Que não deixem o sucesso subir para a cabeça e não
desperdicem a confiança que o povo depositou neles"
Políticos mais honestos(as)/ Ética/ "Consciência"
Consciência/ Não façam promessas
que não possam cumprir/ Ajam de "Antes de fazer alguma coisa, que eles primeiro
modo correto/ Sejam justos(as)/ pensem e sigam o caminho certo"
Mais consciência/ Respeito "Que deixem de olhar para o próprio umbigo, deixem a
vaidade em casa e atendam as necessidades básicas
da população"

Pensar nos(as) jovens/ Ouvir a "Que eles olhem mais para os jovens"
opinião dos(as) jovens/ "Que eles invistam mais nos jovens, porque os jovens
Oportunidades/ Apoio/ Investimento de hoje são o futuro de amanhã"
na juventude "Que os políticos dêem oportunidades a nós, jovens"
"Que eles olhem mais para as pessoas mais pobres,
porque quem mantém o país não são os empresários
Respeitar as comunidades mais nem todas as riquezas do país, e sim a classe pobre"
carentes/ Mais proximidade com o "Que olhem pelos pobres"
povo/ Investir nos(as) pobres/
"Que invistam mais nos pobres"
Periferia
"Que olhem para as pessoas do Alagados, que
precisam muito"
Estejam atentos(as) (daremos a
resposta ao descaso de vocês)/ "Assim como a gente botou eles lá em cima, a gente
Presença/ Força da juventude/ também pode tirar"
Força do povo
"Que o político olhe mais para a educação”
"A escola é o lugar onde tudo acontece, por isso
Educação/ Escola pública
valorizar como merece"
"Que invistam mais na educação"
União/ Provocação para
"Sem luta, não há vitória"
participação

Base nos direitos humanos "Se baseiem nos direitos humanos"

Futuro melhor "O voto que eu dou é para um futuro melhor"

89
Tabela 4 (cont.)

RECADO GD5
"Que eles administrem o nosso país, estados, cidades,
como administram a casa deles, os familiares, seus
filhos e esposas, com carinho e dedicação"
“Que façam bom uso do dinheiro público"
"Que eles se conscientizassem"
Políticos mais honestos(as)/ Ética/ "Que eles deviam antes de agir, pensar mais"
Consciência/ Não façam promessas
que não possam cumprir/ Ajam de "Que eles governem com mais seriedade"
modo correto/ Sejam justos(as)/ “Que eles prestem mais atenção antes de decidir,
Mais consciência/ Respeito tomar qualquer decisão, para que não venha a afetar o
nosso país"
"Tenham honestidade"
" Que tenham um pouco de respeito, de amor. Que
botem a cabeça no travesseiro e vejam os problemas
da sociedade e não pensem só neles"
"Que eles parem e pensem um pouco do nosso lado,
se coloquem do nosso lado e vejam as dificuldades"
Pensar nos(as) jovens/ Ouvir a "Que eles olhem mais para os jovens"
opinião dos(as) jovens/ "Que pensem mais no futuro dos nossos jovens"
Oportunidades/ Apoio/ Investimento "Que eles deviam tomar providências sobre os casos
na juventude dos jovens no Brasil"
"Que os governadores reparem mais nos jovens"
"Dêem oportunidades aos adolescentes"
"Que os políticos olhem mais para as pessoas que
Respeitar as comunidades mais estão precisando nesse país"
carentes/ Mais proximidade com o
"Que eles olhem mais para a população carente"
povo/ Investir nos(as) pobres/
Periferia "Que os governantes olhassem mais o pessoal da
periferia"
"Que os governantes tomem vergonha mesmo na cara
e cumpram o papel que é deles"
"Que os governadores pensassem menos e fizessem
Cumpram o seu papel/ Não pensem mais"
tanto, ajam! "Que eles analisem o problema de cada população e
cumpram os papéis, aquilo que eles falam na hora dos
discursos políticos"
"Que eles assumam a posição deles, de governantes"
"Que eles leiam esse relatório que a gente construiu"
"Que o nosso governante possa assimilar o relatório
que a gente fez e aja de acordo com o relatório"
"Que eles parem e escutem a fita, as mensagens, tudo
que a gente deixou escrito, porque o que a gente está
Ouçam as reivindicações colocadas fazendo hoje aqui é sério, não é brincadeira"
na pesquisa
"Que eles cumpram e tentem analisar cada palavra de
cada um aqui"
"Que eles observem o que a gente escreveu, o que a
gente disse e façam o melhor pra nós e não pra eles”
"Eu peço só que eles leiam isso aí e façam"

90
"Que prestem mais atenção na nossa população para
melhorar"
Olhem pelo Brasil/ População/ A6 "Que os governantes olhem para a gente. Nós
confiamos, botamos eles lá porque precisamos deles e
eles têm que nos ajudar"
Crianças "Que eles olhem mais pelas nossas crianças"
Saúde "Que os governantes olhem mais para a saúde"

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

Figura 1

Comentários iniciais por gênero (em %)

10
Desemprego 18
12
Violência 16
11
Desigualdade social 13
9
Educação 11
2
Preconceito/Racismo 7
3
Infância 6
7 Homens
Política 1
Mulheres
Outros 6
10

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

91
Figura 2

Comentários iniciais por faixa etária (em %)

32
Violência 39
27
Desemprego 27
22
Desigualdade social 27
24
Educação 14
6
Preconceito/Racismo 14
9
Infância 6
8 18-24 anos
Política 4
15-17 anos
Outros 19
14

Fonte: Registros dos Grupos de Diálogo de Salvador, Cria.

OBS: A tabela 5 foi construída para auxiliar a análise do Diálogo nos subgrupos relativa ao
comportamento, processo de construção dos Caminhos Participativos e espaços de participação
mencionados pelos(as) jovens.

Tabela 5 – Avaliação dos(as) jovens sobre os caminhos participativos

Grupos de Diálogo

Total GD1 GD2 GD3 GD4 GD5


CAMINHO 1
Representação nos espaços de deliberação
política (Assembléia, Câmara de 4 1 2 1
Vereadores, prefeitura...)
Oportunidade da juventude com voz ativa/
4 3 1 1
Não fica invisível/ Expor idéias
Reconhecido pelo governo/ Legitimidade/
Tem mais força de representação/ Tem 3 2 1
mais poder

92
Possibilidade de manifestações/ Protestos/
3 1 1 1
Mobilização organizada
Oportunidade de criar partido político 3 1 2
O voto como direito de reivindicação e
3 2 1
participação política
Estar mais próximo do governo/
Diretamente ligado a quem pode resolver os 3 1 1 1
problemas/ Contato direto com políticos(as)
Pode efetivar as mudanças reais/
2 1 1
Concretas/ Transformação social
Suporte aos outros Caminhos 1 1
Oportunidade de criar uma ONG 1 1
Oportunidade de criar um movimento social 1 1
Influência através de ONG 1 1
Impacto maior sobre a sociedade 1 1
Forma mais rápida/ Viável/ Fácil 1 1
Cobra a ação do governo 1 1
Atua de forma mais geral 1 1
Abranger mais pessoas/ Capacidade de
1 1
mobilização
Burocracia muito grande 2 1
Corrupção/ Desvio de verba pública/
2 1 1
Politicagem
Reforçar um ciclo vicioso/ Obrigados a
2 2
obedecer ao sistema
Não consegue mudar a realidade do país 1 1
Pode ser facilmente manipulado 1 1
Precisa de apoio de outros partidos 1 1
Tomar a dor de todo mundo 1 1
CAMINHO 2
Contempla as medidas emergenciais
(bairro, fome...)/ Resultados imediatos/ 5 2 1 1 1
Diminui os problemas sociais
Dedicação/ Disposição/ Vontade de ajudar/
5 1 3 1
Carinho/ Amor/ Cooperação
Ajuda aos(às) necessitados(as) 3 2 1
Possibilidade de passar o conhecimento
para outras pessoas/ Compartilhar 2 2
habilidades
Utiliza o tempo que tem disponível 2 1
Pode trabalhar sozinho(a) 1 1
Não efetiva mudanças/ Não melhora
4 1 1 1 1
o país

93
Mudanças parciais/ Específicas/ Solução
3 2 1
paliativa/ "Tapa o sol com a peneira"
Trabalho pontual/ Foca poucos lugares 3 1 1 1
Faz o trabalho do governo 2 1 1
Individualista/ Fechado 2 1 1
Não tem obrigação nenhuma (mobilizar,
manifestar...)/ Não é um trabalho de 2 1 1
responsabilidade
Atua de forma secundária (Caminho 1
1 1
como suporte para os outros)
Não tem como se expressar 1 1
Pouca mobilização 1 1
CAMINHO 3
Capacidade de livre organização/ Auto-
3 2 1
organização
Autônomo/ Não precisa da ajuda do
2 1 1
governo
Discute com pessoas com mesmo ponto de
vista/ Trabalha com consenso/ Idéias 2 1 1
expressas de maneira democrática
Alcance maior na sociedade 1 1
Engajamento/ Ativismo/ Seriedade 1 1
Simplicidade 1 1
Trabalho feito somente por jovens 1 1
Valida qualquer iniciativa popular consciente 1 1
Grupos para ocupação de tempo 2 1 1
Grupos soltos 1 1
Sem compromisso 1 1

94
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.8 Relatório regional


São Paulo
Entidade parceira
Ação Educativa Assessoria,
Pesquisa e Informação

Equipe
Supervisora regional
Ana Paula Corti

Assistentes
Raquel Souza
Elisabete de Oliveira

Observadoras
Rachel Quintiliano
Marcela Moraes
Viviane Nebó
Érica Pessanha

Apoio logístico
Matheus
Sumário

1. Introdução

2. Região Metropolitana de São Paulo

3. Os grupos de diálogo na Região Metropolitana de São Paulo


3.1. Perfil dos(as) jovens participantes

4. Sínteses temáticas: trabalho, educação e cultura


4.1. Trabalho
4.2. Educação
4.3. Cultura

5. Caminhos participativos: as escolhas dos(as) jovens

6. Resultados das fichas pré e pós-Diálogo

7. Participação: tendências, interdições e potencialidades


7.1. Caminho 1- A política e suas incongruências com o tempo de ser jovem
7.2. Caminho 2- Os múltiplos sentidos do trabalho voluntário
7.3. Caminho 3- A importância de “fazer em grupo”

8.Observações finais

9. Bibliografia
1. Introdução

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia- Participação, Esferas e Políticas Públicas tem


como objetivo investigar as tendências atuais de participação pública e política da juventude no
atual contexto brasileiro, e é coordenada em nível nacional pelo Ibase – Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas e pelo Instituto Polis. A pesquisa teve duas etapas: uma
quantitativa, realizada em oito Regiões Metropolitanas do Brasil, e uma etapa qualitativa, que
consistiu na realização de cinco Grupos de Diálogos em cada daquelas Regiões.
Na Região Metropolitana de São Paulo, a realização dos Grupos de Diálogo foi
coordenada pela Ação Educativa, uma organização não-governamental que trabalha com a
temática da juventude e da educação.
A metodologia do ChoiceWork Dialogue, utilizada pela etapa qualitativa da pesquisa,
deriva dos estudos de Daniel Yankelovich, e seu principal objetivo é superar os limites das
pesquisas de opinião no campo das políticas públicas, considerando que elas apenas
constatam os posicionamentos dos(as) cidadãos(ãs), sem criar oportunidades para que
exercitem um exercício coletivo de julgamento público. É isso que os Grupos de Diálogo
objetivam: oferecer situações em que os(as) cidadãos(ãs), em conjunto, possam explicitar seus
posicionamentos e valores, confrontado-os com os posicionamentos e valores alheios, e a
partir daí desencadearem um processo de aprendizagem capaz de orientar, em bases mais
amplas, a formulação de opiniões relativas ao Estado e às questões públicas.
Em termos gerais, a metodologia, tal como foi utilizada no Brasil, envolveu a organização
de encontros com 40 jovens, que permaneciam reunidos ao longo de oito horas, em atividades
dirigidas, que alternavam momentos de trabalho em pequenos grupos com momentos de
reunião em plenária. O tema central das conversas é a participação política. Assim, eles(as)
receberam e fizeram a leitura do Caderno de Trabalho, instrumento-chave da metodologia, que
trazia informações a respeito de três Caminhos Participativos: 1) Participação institucional em
partidos políticos, grêmios estudantis, movimentos sociais, entre outros; 2) Voluntariado 3)
Grupos juvenis. Esses Caminhos foram apresentados de forma contrastiva, embora não
excludente, ressaltando as grandes tendências de participação juvenil encontradas na
realidade social brasileira.
A partir do Caderno de Trabalho, os(as) jovens estabeleceram diálogos em grupos,
trocando idéias e experiências que deveriam culminar na construção de uma escolha
grupal, baseada na construção de um consenso. Esse consenso, por sua vez, era
submetido a apreciação da plenária maior, que também buscava identificar pontos comuns
na apresentação dos vários Grupos. Dessa forma, cada Grupo de Diálogo resultou num
quadro com os pontos consensuados pelos(as) jovens, que chamamos de quadro-síntese
dos Caminhos Participativos.

2
Além desse processo de construção grupal de consensos, a pesquisa também abordou
os posicionamentos individuais dos(as) jovens a respeito de cada um dos Caminhos
Participativos. Isso foi feito a partir das fichas Pré-Diálogo e Pós-Diálogo, a primeira preenchida
pelos(as) jovens no início do Dia, antes da realização dos Diálogos, e a segunda preenchida no
final do Dia. O objetivo é apreender se houve mudanças de posicionamento dos(as) jovens
depois da participação no Diálogo, e as direções e os sentidos dessas mudanças.
Este relatório apresenta os resultados da fase qualitativa/Grupos de Diálogo, e também
traz alguns dados quantitativos coletados na primeira etapa. O foco da análise reside na
metodologia qualitativa e nos resultados que ela gerou na Região Metropolitana de São Paulo,
por isso vamos inicialmente apresentar alguns dados a respeito dessa região.

3
2. Região Metropolitana de São Paulo

A Região Metropolitana de São Paulo é formada por 39 municípios: Arujá, Barueri, Biritiba
Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de
Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Itapecerica da
Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Juquitiba, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco,
Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel,
Santana de Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São
Lourenço da Serra, São Paulo, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.
Residem na Região Metropolitana de São Paulo quase 19 milhões de pessoas, das
quais mais de 10,5 milhões no município de São Paulo (Seade, 2004). Cerca de 32% da
população é negra, e somente a cidade de São Paulo reúne três milhões de negros(as), razão
pela qual ela é considerada, em números absolutos, a maior cidade negra do Brasil1.
Dados da Fundação Seade mostram que o perfil da população na RMSP segue três
tendências: redução dos níveis de fecundidade, concentração do número de jovens, e elevação
da participação dos(as) idosos(as). Sendo assim, os(as) jovens entre 15 e 24 anos somam
3.408.064 jovens, cerca de 18% da população, sendo 50,6% de moças e 49,4% de rapazes.
A região, cuja extensão é de 8.051 km2, possui muitos contrastes sociais, pois reúne,
ao mesmo tempo, algumas das cidades consideradas mais ricas do país, como São Caetano
do Sul e São Paulo, com rendas per capita de R$ 834,00 e R$ 610,04, respectivamente, e
cidades extremamente pobres como Francisco Morato e Itaquaquecetuba, com per capita de
R$ 175,94 e R$ 193,01, as piores da região.
As desigualdades econômicas manifestam-se também em relação à cor dos indivíduos,
já que a renda per capita dos(as) brancos(as) na RMSP é em média 126% superior à dos(as)
negros(as) (R$299,58 contra R$132,23).
Apesar de ocupar posição de destaque na economia brasileira, reunindo a maior parte
do parque industrial e das instituições financeiras do país, a RMSP convive com índices de
pobreza alarmantes. Vivem abaixo da linha da pobreza (recebendo menos de R$176,29 por
mês) 52,9% dos(as) negros(as) e 30,9% dos(as) brancos(as) da Região.
Em relação aos padrões habitacionais, a Região Metropolitana teve um acentuado
crescimento vertical, com aumento no número de apartamentos e unidades habitacionais
populares, ampliação de moradias consideradas precárias como favelas e barracos (cerca de
cinco milhões de pessoas moram nessas condições), e elevação da população que reside em
áreas ocupadas.

1. Fonte: Observatório Afrobrasileiro, a partir dos microdados da amostra de 10% do Censo 2000/IBGE. Negros(as)
= pretos(as) + pardos(as).

4
A região possui uma taxa de urbanização da ordem de 95%, o que mostra a
predominância dos padrões de vida urbanos, muito bem ilustrados pela quantidade de veículos
automotores existentes, que somam 6,5 milhões, dos quais 5,5 milhões pertencem à cidade de
São Paulo, o que gera uma média de um veículo para cada dois(as) habitantes. Mesmo com
dificuldades de infra-estrutura em muitos bairros e cidades, a cobertura da iluminação pública
chega a 92,9% dos domicílios, e o abastecimento de água perfaz 96,6%. No entanto, a rede de
esgoto chega a 81% e apenas 37,5% do material coletado recebe tratamento.

5
3. Os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de São Paulo

Os Grupos de Diálogo de São Paulo foram realizados entre 19 de março e 30 de abril de 2005.
Os Grupos foram organizados a partir de critérios etários, sexuais e de classe social. Assim,
houve dois Grupos com jovens entre 15 e 24 anos, um Grupo com jovens de 15 a 17 anos, um
Grupo com jovens entre 18 e 24 anos, e finalmente, um Grupo com jovens entre 15 e 24 anos
exclusivamente formado por aqueles(as) que indicaram, na pesquisa quantitativa, algum tipo de
experiência participativa. A ordem para realização dos Grupos de Diálogo (doravante
denominados GDs) foi a seguinte:

Tabela 1. Distribuição das datas e perfis dos GDs

Grupo de Diálogo Faixa etária/Perfil Realização


GD1 15-24 anos 19-mar-05
GD2 15-24 anos 2-abr-05
GD3 15-17 anos 9-abr-05
GD4 18-24 anos 16-abr-05
GD5 15-24 anos c/ experiência participativa 30-abr-05

O Grupo com experiência prévia de participação foi realizado no final, pois avaliamos
que, primeiramente, seria importante a equipe acumular experiência de trabalho com a
metodologia a partir de Grupos que correspondessem ao padrão geral da amostra, para depois
se dedicar ao Grupo com experiência participativa.

3.1. Perfil dos(as) jovens participantes

O contato com os(as) jovens foi realizado através de uma listagem com os dados daqueles(as)
que haviam participado da etapa quantitativa. A listagem tinha muitas fragilidades, como
endereços e telefones incompletos ou inexistentes, o que tornou o processo de localização e
de comunicação com os(as) jovens especialmente difícil. Os contatos foram feitos através de
telefone e de carta, e o número de jovens convidados(as) para cada Dia de Diálogo foi muito
superior ao número esperado, que era de 40 jovens. Mesmo assim, nos dias da pesquisa,
recebemos cerca de 20 jovens, totalizando 105 jovens ao longo dos cinco Dias de Diálogo.

6
Tabela 2. Distribuição dos(as) jovens contactados(as), confirmados(as) e participantes
dos GDs

Jovens GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total


Contatados por carta ou telefone 100 120 100 100 143 563
Confirmaram presença 48 58 21 24 101 252
Realmente compareceram 21 22 14 17 31 105

A adesão foi maior entre os(as) jovens de faixas etárias superiores. A participação
dos(as) jovens mais novos(as) ficou prejudicada principalmente pela falta de autorização dos
seus pais. Muitos(as) desses(as) adolescentes nunca tinham saído desacompanhados(as) de
seu município ou bairro de origem.

Tabela 3. Distribuição dos(as) jovens por idade

Idade dos(as) jovens GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %


14 1 1 0,9
15 3 2 1 1 7 6,7
16 3 2 5 10 9,5
17 2 4 8 2 1 17 16,2
18 1 2 2 7 12 11,4
19 2 1 4 7 6,7
20 2 1 2 2 7 6,7
21 2 3 4 9 8,6
22 1 1 4 6 5,7
23 3 3 4 10 9,5
24 4 4 2 4 14 13,3
25 1 4 5 4,8
Total 21 22 14 17 31 105 100,0

7
Gráfico 1. Distribuição dos(as) jovens por grupo de idade (em %)

40
35
30
25 14-16
20 17-19
15 20-22
10 23-25
5
0
%

Considerando a grande extensão da Região Metropolitana de São Paulo, o


deslocamento para o centro da cidade de São Paulo envolvia muitas dificuldades e obstáculos,
um deles é o valor do transporte público. Os(as) jovens receberam um pró-labore de R$50,00
pela participação na pesquisa, mas o recurso só foi disponibilizado após a chegada deles(as)
no local da pesquisa.
No que tange à distribuição sexual, a participação de moças e rapazes foi bastante
equilibrada, o que surpreendeu a equipe, que esperava uma maior presença de rapazes
supondo que eles possuem maiores facilidades de circulação na cidade, em razão de sua
condição de gênero. Mas a dimensão sexista de nossa cultura ficou evidenciada na forma
como as moças tomavam as decisões em participar ou não da pesquisa, em que era muito
freqüente pedirem autorização e serem acompanhadas por maridos e namorados.

Tabela 4. Distribuição dos(as) jovens, por sexo

Sexo GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %


Masculino 11 11 7 6 16 51 48,6

Feminino 10 11 7 11 15 54 51,4
Total 21 22 14 17 31 105 100,0

A composição dos Grupos de Diálogo obedeceu também à classificação


socioeconômica: classe A/B e classe C/D/E. Obedecendo à própria divisão amostral que inclui
maior número de jovens das classes C/D/E, estes(as) jovens foram os(as) mais presentes nos
Dias de Diálogo (73,3%).
Pelas observações feitas pela equipe, notou-se uma baixa presença de jovens
integrantes da elite econômica e apenas um dos participantes poderia ser rigorosamente
classificado como tal.

8
Tabela 5. Distribuição dos(as) jovens, por classe

Classe GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %

A/B 6 10 3 4 5 28 26,7
C/D/E 15 12 11 13 26 77 73,3
Total 21 22 14 17 31 105 100,0

Os dados mostram que 63,8% dos(as) jovens efetivamente possuem o Ensino Médio
completo. Esse dado contrasta com os 39% de jovens com Ensino Médio completo ou mais,
identificado pela pesquisa quantitativa realizada com 1.400 jovens da Região Metropolitana de
São Paulo. No entanto, cerca de 34% dos(as) jovens possuem até o Ensino Fundamental
completo e não sabemos quantos(as) deles(as) continuam seu percurso no Ensino Médio e
quantos(as) interromperam os estudos. Se o acesso ao Ensino Médio parece ter avanços, o
mesmo não ocorre com o Ensino Superior, já que apenas 17% dos(as) jovens atingiram esse
nível de ensino.

Tabela 6. Distribuição dos(as) jovens, por escolaridade

Escolaridade máxima concluída GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %


Não freqüentou escola 0
a
Até 4 série completa 2 2 1,9
Até 8a série completa 10 7 11 2 6 36 34,3
Até Ensino Médio completo 8 8 3 11 19 49 46,7
Ensino Superior (completo ou incompleto) 3 5 4 6 18 17,1
Total 21 22 14 17 31 105 100,00

Gráfico 2. Distribuição dos(as) jovens por escolaridade (em %)

50
até 8ªsérie
40 completa

30
até ensino
médio
20
completo
10 superior
completo ou
0 incompleto
%

9
O trabalho é uma dimensão fortemente presente na vida dos(as) jovens investigados(as), já
que mais de 55% deles(as) afirmaram estar trabalhando, e ao longo dos encontros, muitos(as)
se queixaram do desemprego e da difícil busca por um lugar no mercado de trabalho.

Tabela 7. Distribuição dos(as) jovens, por situação ocupacional

Trabalha? GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %


Sim 7 11 5 6 18 47 44,8
Não 14 11 9 11 13 58 55,2
Total 21 22 14 17 31 105 100,00

A maioria dos(as) jovens que compareceu aos encontros residia na cidade de São
Paulo (61,9%). O restante veio dos outros 17 municípios da Região Metropolitana, cuja
distância do centro de São Paulo é bastante considerável. Mesmo no interior da cidade de São
Paulo há locais extremamente afastados do centro, como pontos do extremo leste e extremo
sul da cidade, alguns deles mais distantes do que as cidades vizinhas.

Tabela 8. Distribuição dos(as) jovens, por município

No. Município GD1 GD2 GD3 GD4 GD5 Total %


1 Barueri 1 1 0,9
2 Carapicuíba 1 1 0,9
3 Diadema 2 1 3 6 5,7
4 Embu 1 1 2 1,9
5 Embu-guaçu 2 2 1,9
6 Ferraz de Vasconcelos 2 2 1,9
7 Franco da Rocha 1 1 2 1,9
8 Guarulhos 2 2 1,9
9 Itapevi 1 1 0,9
10 Itaquaquecetuba 3 1 1 5 4,8
11 Jandira 1 1 2 1,9
12 Mauá 1 1 2 1,9
13 Moji das Cruzes 1 1 2 1,9
14 Osasco 2 2 1,9
15 Ribeirão Pires 1 1 0,9
16 Santo André 1 1 0,9
17 São Paulo 10 16 8 11 20 65 61,9
18 Taboão da Serra 1 1 4 6 5,7
Total 21 22 14 17 31 105 100,00

10
Em todas as plenárias, havia uma preponderância de jovens negros(as) e pardos(as) –
o que possivelmente explica a forte presença do tema do preconceito racial no debate com
os(as) jovens, o que veremos adiante.
Houve uma presença bastante diversa dos(as) jovens ao longo dos Dias de Diálogo:
jovens trabalhadores(as) e não trabalhadores(as), casados(as), solteiros(as), com filhos(as),
moças grávidas, residentes das mais variadas localidades, negros(as), brancos(as) e
asiáticos(as). Contamos ainda com a presença de dois(as) jovens moradores(as) de um
orfanato público da cidade de Diadema, e um rapaz com deficiência mental leve.
Quanto às experiências e trajetórias de participação, foi possível constatar que a
própria visão do que é participar era muito variada entre os(as) jovens. Embora muitos(as) não
tivessem declarado alguma experiência prévia de participação ou organização coletiva
(lembramos que dos cinco Grupos de Diálogo, apenas um era formado por jovens com
experiências prévias de participação), ao longo do encontro fomos identificando a presença,
embora fluída e às vezes pontual, dessas experiências. Isso ocorreu com jovens que
participavam de grupos religiosos, de grêmios estudantis e até mesmo de partidos políticos.

Eu trabalhei no grêmio da minha escola, então, a gente fez amigos na escola, mas
só que a gente também ajudava as pessoas carentes, a gente fazia artesanato
com elas e tinha os presidiários do semi-aberto, que a gente ensinava eles a fazer
artesanato, pra eles mesmos vender e ter o dinheiro pra família. (moça, GD2)

Tem Conselho Tutelar em volta do bairro, então sempre convidam as pessoas,


quem tem criança na escola, para poder dar sua opinião para a melhoria do bairro,
melhoria da escola, e eu sempre estou participando. (moça, GD4)

Eu fui presidente do grêmio da escola durante cinco anos e, juntamente com a


escola, a gente participou, no município de Santo André, da conscientização da
prevenção da gravidez, de DSTs, da dengue na campanha. A gente ia nas casa,
entregávamos panfletos, verificávamos se estava tudo em ordem na época da
dengue, os vasos, essas coisas. Foi muito legal. (moça, GD4)

Bom... eu participo de um partido, né, um partido político e já venho há alguns


anos. Eu vou falar o nome do partido, mas não é querendo defender. É o Partido
Verde, porque eu acho que é um partido bacana, que abrange os jovens, dá um
grande espaço pros jovens, esse partido.... (rapaz, GD2)

No GD5, que reuniu exclusivamente jovens com experiências anteriores de participação,


notamos que muitos(as) nunca haviam discutido o tema, talvez porque suas trajetórias de
organização coletiva eram muito variadas, desde a presença em sindicatos até a participação
em times de futebol.

11
Ainda sobre o GD5, é importante considerar que houve uma participação significativa de
jovens moradores da região que compõe o ABCD, Santo André, São Bernardo, São Caetano e
Diadema, região que teve um papel importante no processo de democratização do país, sendo
palco das grandes mobilizações promovidas pelo movimento sindical na década de 70.
Havia quatro jovens do município de Diadema e um jovem de Santo André e, no
debate, foram feitas muitas referências sobre a organização política e movimentos sociais que
são fortes na região.

12
4. Sínteses temáticas: trabalho, educação e cultura

Na primeira parte do Dia de Diálogo os(as) jovens foram divididos(as) em grupos e se


debruçaram sobre a seguinte questão: “Considerando a vida que você leva como jovem
brasileiro(a), quais as propostas que você faria no campo da educação, da cultura e do lazer?”
Esse momento foi de suma importância, pois nele os(as) jovens puderam mobilizar seus
conhecimentos e experiências de vida, ao dialogarem sobre assuntos muito ligados ao seu
cotidiano. Por isso, os trabalhos nos pequenos Grupos e na plenária, no período da manhã,
foram muito dinâmicos, contando com uma grande envolvimento dos(as) jovens presentes.
Nos pequenos Grupos, os(as) jovens deveriam estabelecer um diálogo em que cada
um(a) pudesse expressar suas opiniões sem ser desrespeitado(a), e a partir dos vários
posicionamentos apresentados, deveriam construir alguns consensos. Na seqüência, os
Grupos apresentavam seus consensos para a plenária, que por sua vez estabelecia um diálogo
em torno dos pontos semelhantes e diferentes das apresentações dos vários Grupos, gerando
uma síntese única.
Dessa forma foi construído um quadro-síntese de cada Dia de Diálogo, no que tange à
discussão do tema da educação, do trabalho e da cultura.

Tabela 9. Quadro global das sínteses temáticas

Grupo de
Temática Redação do Grupo
Diálogo

- A aprovação automática é ruim


- A culpa da má educação é dos(as) alunos e do
governo
Educação
- Falta qualidade de ensino e interesse do governo
pela educação
- Há drogas nas escolas

GD1 - Cursos profissionalizantes para jovens


- Falta emprego, falta de oportunidade para os(as)
jovens sem experiência ou carteira assinada (se não
Jovens Trabalho tiver registro, não tem trabalho)
15 a 24 anos
- O emprego temporário não resolve o problema
da falta de trabalho

- CEU* não é suficiente para cultura e lazer


Cultura e lazer - Áreas de lazer (usar terrenos baldios)

Violência - Há violência nos bairros onde os(as) jovens moram

13
- Capacitação e motivação dos(as) professores(as),
para despertar o interesse do(a) aluno(a), para saber
Educação lidar com diferentes tipos de aluno(a)
- Facilidade de acesso a universidade pública

- Dificuldade em conseguir emprego, por falta de


GD2 experiência em carteira
Jovens Trabalho
- Discriminação: as diferenças entre brancos(as) e
15 a 24 anos negros(as) na hora de conseguir emprego
- Criar grupos de teatro, de música

Cultura e Lazer - Ampliar o acesso a esportes, principalmente nas


escolas
- Aumentar o nível de segurança nas áreas de lazer

- Mais respeito entre alunos(as) e professores(as)


na escola
Educação - Melhorar acesso dos(as) deficientes na escola
- Ter capacitação dos(as) professores(as)

GD3 - Mais oportunidade de trabalho para os(as) jovens


Jovens Trabalho
- Falta capacitação para o(a) jovem
15 a 18 anos
- Falta de espaços de cultura e falta de divulgação
Cultura
- Mostra mais a cultura brasileira
e Lazer
- Ter mais associações de cultura nos bairros

- Precisa melhorar a educação para os(as) jovens; ela


está muito ruim
- O ensino está fraco e ultrapassado; você só reprova
Educação se faltar
- O governo quer mais é que a gente fique sem
GD4 educação, pois assim a gente não vai ter
consciência dos nossos direitos
Jovens
18 a 24 anos - Há muito preconceito racial, de roupa, de
nordestino(a), na hora de conseguir emprego
- Muitas pessoas não têm motivação mínima pra
procurar emprego (dinheiro para a condução,
roupa). Isso deveria ser oferecido por parte do
governo e empresas
Trabalho - Deve haver mais divulgação do trabalho por parte
das empresas
- Os(as) jovens têm que correr atrás e não ficar só
esperando
- Os(as) jovens não podem ficar só esperando, têm
que correr atrás das oportunidades, procurar estar
mais motivados(as)

Cultura e Lazer - Divulgação das atividades de cultura e lazer nas


comunidades e periferias

14
- A base de tudo é a educação
- Há um grupo que defende que a escola seja mais informal;
Educação os(as) professores(as) deveriam ser educadores(as) que
ensinam mas também que aprendem com os(as)
alunos(as)

- Todo mundo pede muita experiência no trabalho, e pouca


GD5 idade (não pegam pessoas mais velhas, acima de 40
Trabalho anos)

Jovens com
experiência
prévia de - Todo mundo tem cultura. Na rua existe cultura, a escola
participação precisa se abrir também para a rua, para a vida lá fora
Cultura e Lazer
- Nem todo teatro é interessante, muita coisa pode ser arte,
depende da nossa compreensão

*CEU: Centro Educacional Unificado. Projeto da prefeitura de São Paulo na gestão Marta Suplicy (2000-2003).

4.1. Trabalho

O tema do trabalho aparece sobretudo associado à questão do desemprego. A centralidade


dessa preocupação já havia sido manifestada no início do Dia de Diálogo, quando os(as)
jovens foram indagados(as) sobre qual era o problema que mais lhes preocupava no Brasil
(ver anexo 1).
O desemprego assume um caráter dramático para os(as) jovens, pois interrompe um
percurso de conquista progressiva da autonomia e da transição para a vida adulta que, como
sabemos, tem como um dos pilares a emancipação econômica. Quando os(as) jovens se
deparam com a realidade excludente do mercado de trabalho, dão início a um processo
doloroso de desmascaramento de algumas promessas de inclusão. Percebem que a conquista
de uma escolaridade longa, uma avanço em relação à geração de seus pais, não surte os
efeitos esperados [vale lembrar que 63,8% dos(as) jovens em questão possuem Ensino Médio
completo ou mais, mostrando um nível de escolaridade bem mais alto que a média dos(as)
jovens da Região Metropolitana de SP, dentre os(as) quais apenas 39,1% alcançaram aquele
grau de ensino].
O fator levantado pelos(as) jovens como aquele que mais dificulta seu acesso ao
mercado de trabalho é a exigência de experiência profissional anterior e carteira assinada. Isso
aparece como um contra-senso aos olhos dos(as) jovens, como demonstram algumas de suas
inúmeras falas:
A falta de carteira assinada tá matando a gente (...) Foi o que aconteceu comigo
esses dias, eu cheguei numa lanchonete e ‘tava lá: ‘precisa-se de balconista’,
aquela placa ‘tava ali. Ai, eu fui, metia a cara: ‘olha, tenho experiência, tá aqui o
meu currículo’, e ele falou assim: ‘mas aqui não tá como balconista’. Eu falei assim:
‘em outros currículos tem’.” (plenária, moça, GD1)

15
Bom, a respeito do trabalho, nós jovens precisamos de mais oportunidades, porque
não tem assim, tipo, hoje em dia precisa muito da carteira assinada, entendeu?, e
muitos jovens não conseguem ter a carteira assinada. E eles também exigem
muitos cursos profissionalizantes, e muito jovem não consegue fazer cursos, não
tem tempo, entendeu, e falta isso, falta um incentivo a respeito do trabalho.
(plenária, masculino, GD3)

E a gente começou a partir do trabalho, então, assim, foi uma discussão enorme só
sobre trabalho, se deixasse a gente ia ficar só no trabalho. Então, assim, o que
seria pra melhorar o trabalho? Primeiro, mais oportunidades com menos
exigências. E por que mais oportunidades? Porque muitas pessoas aqui, eu já sou
um pouquinho mais velha, mas pessoas, assim, de dezessete, dezoito anos
chegam, vão procurar uma oportunidade e eles querem dois, dois anos e meio,
três, um ano e meio de experiência, sendo que a pessoa mal pôde terminar o
segundo grau, mal pôde ter oportunidade de estar sendo inserida no mercado de
trabalho e eles já querem exigências, que a pessoa saiba trabalhar, que saiba
fazer tudo, então fica complicado, isso também pra ela. (plenária, feminino, GD5)

Diante de exigências impossíveis de cumprir, os(as) jovens acabam exercendo trabalhos


precários, informais e temporários. Na pesquisa quantitativa, observamos que apenas 32,6%
dos(as) jovens trabalhadores(as) possuem carteira assinada, e dentre estes(as), destacam-se
os(as) jovens pertencentes às classes mais altas, jovens com mais idade e maior escolaridade.
Ou seja, se a precarização do trabalho atinge os(as) jovens como um todo, ela é
particularmente aguda entre os (as)mais pobres e mais novos(as).
Outro fato destacado pelos(as) jovens é a escassez de oportunidades de capacitação,
que ficam aquém daquilo que é exigido pelo mercado de trabalho.
Na discussão dos Grupos aparecia a contraposição entre o desemprego associado à
crise do país e à escassez de oportunidades, e o desemprego como resultado da formação
precária dos(as) jovens e de sua falta de iniciativa. De um lado, o desemprego aparece
como reflexo da situação social, e de outro, como expressão de insuficiências dos próprios
indivíduos jovens. A idéia de responsabilização dos indivíduos pelo desemprego foi, em
certa medida, manifestada em todos os GDs da pesquisa. Ou seja, a percepção de que
também cabe ao(à) jovem “correr atrás” das oportunidades de trabalho foi comum aos
Grupos e no interior dos subgrupos. No entanto, no GD4, formado por jovens de 18-24
anos, e no GD-5, que reuniu jovens com prévia experiência de participação, ocorreram
discussões acaloradas sobre esse tema.
No caso do GD4, essa discussão teve início por conta de um apontamento feito em
plenária de que faltava também da parte do(a) jovem motivação para buscar trabalho, um certo
acomodamento por parte dos indivíduos que não se mexiam para resolver o seu problema, a

16
falta de emprego. Uma jovem presente na plenária argumentou que se deveria compreender
por motivação não apenas um interesse comportamental, pró-ativo, de buscar trabalho, mas
também questões materiais que vão desde ter ou não ter roupas para participar de uma
entrevista, até dinheiro para o transporte.

É porque assim numa parte ali tá dizendo é que os jovens têm que correr atrás,
não ficar só esperando. Aí, o que eu falei é que o que entra, têm pessoas que não
têm como ir correr atrás, tem pessoas que não têm o dinheiro da condução, não
têm uma roupa legal para procurar entrevista, isso entra, às vezes não é só a
pessoa. Tem pessoas que ficam em casa esperando que caia do céu, mas tem
muitas pessoas que não têm esse tipo de motivação. (plenária, feminino, GD4)

Fica claro que a busca por trabalho exige recursos mínimos para o transporte e para
alimentação, um recurso que as pessoas desempregadas não têm e nem sempre podem
contar com uma família que lhes dê suporte nesse sentido. Fazendo uma conta rápida, numa
situação hipotética, um(a) jovem que procure emprego ao longo de um mês, três vezes por
semana, utilizando apenas uma condução para ir e outra para voltar (R$ 4,00) gastando R$
3,00 de alimentação por dia, terá que desembolsar R$ 84,00. Considerando que 52,9% dos(as)
negros(as) e 30,9% dos(as) brancos(as) da Região Metropolitana de SP vivem abaixo da linha
da pobreza (recebendo menos de R$176,29 por mês), fica evidente que as condições para a
busca do emprego muitas vezes não estão dadas para os(as) jovens.
No GD5, o início da discussão foi bastante semelhante: será que o desemprego juvenil
também não é fruto de uma acomodação dos(as) jovens em procurar trabalho?
Durante a apresentação dos subgrupos, apresentaram um consenso sobre as
dificuldades de se obter uma vaga no mercado de trabalho – dificuldades atreladas à falta de
experiência, carteira assinada e experiência profissional. Tal opinião foi contestada por uma
das jovens e tal discussão acabou ganhando proporções de conflito de classe e raça, uma vez
que a jovem que acreditava ser o desemprego problema da falta de interesse apresentar-se
como uma jovem branca, de classe média, disposta a ir para o Japão trabalhar, e seus
opositores serem jovens negros(as), de estratos mais pobres com sérios problemas para obter
trabalho e mesmo com famílias inteiras desempregadas. Reproduzimos abaixo toda a
discussão feita pelos(as) jovens.

Moça 1 – É o seguinte, ela ‘tava debatendo sobre o grupo, nem lembro que grupo
que era, sobre o emprego. Vai da vontade, vai de babá, vai de doméstica... Ah!
Depende do sonho... eu quero ir pro Japão, que nem ela falou, eu tenho parente
que mora nos Estados Unidos, mas eu não tenho, hoje, como ir pra lá, não tenho.
Eu tenho que trabalhar aqui, tenho que ralar aqui, só que o emprego aqui tá difícil,
eu sei que lá é fácil, se fosse por mim eu já ‘tava lá, já tem quase cinco anos que

17
eles estão lá, só que eu não posso ir pra lá, eu não tenho condições, não tem onde
arrumar, hoje em dia não tem.
Moça 2 – Se você guarda dinheiro pra viajar você morre de fome, quando você
consegue o dinheiro pra passagem você já morreu de fome, não adianta mais o
dinheiro... quando você tem filhos, então, piorou a situação, depois que você tem
filhos, tem família, esquece! Acabou! Esquece! Ou você trabalha pra sustentar o
seu filho ou vai morrer você e ele de fome.
Moça 1 – Você trabalha?
Moça 2 – Não.
Moça 1 – Você procura emprego?
Moça 2 – Procuro.
Moça 1 – Você compra jornal toda semana?
Moça 2 – Não, porque eu não tenho dinheiro... porque, assim, eu não tenho
emprego, mas eu procuro. Eu venho pra São Paulo, eu moro em Mauá, venho pro
Brás, vou em São Caetano, vou em Santo André, vou na Móoca, eu ando tudo que
é lugar, só que emprego tá difícil!
Moça 1 – É assim, eu não vou... aqui tá todo mundo em grupo... eu vou falar que
eu sou uma pessoa totalmente encrenqueira, mas eu não quero chegar a esse
ponto, não quero levar pro pessoal com você, então, eu vou deslocar isso aqui. Só
que custa R$ 0,75 um jornal...

No GD1 e GD2, ambos constituídos de jovens entre 15 e 24 anos, o centro das


discussões foi, junto com a falta de experiência e registro em carteira, a idéia de que falta para
o(a) jovem espaços de formação profissional e de que o governo e o setor empresarial
poderiam, juntos, ampliar possibilidades de formação para essa população. Também no GD3,
formado por jovens de 15 a 18 anos, a falta de capacitação dos(as) jovens foi mencionada
como problema para a sua colocação no mercado de trabalho.
No entanto, nos GDs 2, 3 e 4, emergiram discussões interessantes sobre o preconceito
sofrido por jovens, sobretudo negros(as), no mundo do trabalho e de como a existência do
racismo dificulta a inserção profissional desse grupo. Para os(as) participantes, alguns postos
de trabalho estão efetivamente censurados para a população negra: empregos que exigem boa
aparência, identificada como uma aparência branca, tais como os cargos de recepcionista,
vendedor(a) e atendente. Os debates nos três GDs traziam a percepção do racismo, mas
também de outras formas de discriminação, em relação aos(às) nordestinos(as) e aos(às)
deficientes físicos(as).

Também tem um negócio, eu sou branquinha, ela é negra. Tem gente que uma
recepcionista ser negra, tem cliente que não gosta. Negócio de roupa, de ser
nordestina. A gente colocou no nosso, que é excluir na hora de você fazer uma
entrevista de emprego. (plenária, feminino, GD4)

18
No caso do GD3, a discussão sobre o preconceito chegou a um consenso. Esse
acontecimento se deve em decorrência da discussão que foi produzida na plenária em que
alguns(mas) jovens afirmavam a existência do preconceito, mas outros(as) diziam que o
preconceito ou o racismo eram problemas menores ou inexistentes e que a questão
deveria se centrar no debate sobre a falta de capacitação e qualificação para se assumir
este ou aquele cargo.

A gente chegou à conclusão de que um dos maiores problemas é o preconceito,


tanto com a cor, quanto com o físico da pessoa, quanto à falta de experiência.
Então, a gente viu o seguinte, que uma solução para o trabalho seria, assim,
menos preconceito, mais oportunidade pros aprendizes. (plenária, feminino, GD3)

Todo mundo, rola muito o papo do preconceito, não sei o quê. Mas ninguém pensa
na capacitação da pessoa, ela conseguir aquilo. Se ela tem um estudo legal, se ela
não fala legal, então, tipo, se ela não fala um português correto, não tem como ela
trabalhar num banco, numa coisa assim. Então, muitas pessoas ainda não pensam
nisso, só pensam numa coisa só. (plenária, feminino, GD3)

No GD4, a discussão sobre a discriminação racial e do preconceito sobre nordestinos(as)


e deficientes físicos(as) também abriu espaço para a discussão sobre a aceitação ou não de
determinados estilos juvenis (tatuagens, piercings, roupas, cabelo) pelos(as)
empregadores(as). Nesse momento, os(as) jovens travaram um debate interessante que se
alternava entre a reivindicação de assumir seu estilo e identidade própria, onde quer que
estejam, e a necessidade de se comportar de acordo com as regras de alguns espaços sociais,
como é o caso do ambiente de trabalho.

Então, e depende, assim de muitas empresas, porque tem empresa que não aceita
porque o funcionário que está dentro da empresa é a imagem da empresa lá
dentro, entendeu? Já pensou assim você contratar um funcionário que é todo
tatuado, por mais que não seja, entendeu? Às vezes, a pessoa se sente mal, o
empresário de colocar o funcionário desse estilo dentro de sua própria empresa,
entendeu? (plenária, feminino, GD4)

Só que tipo, esse negócio de piercing, tatuagem, eu acho, assim, isso é meio
que uma coisa individual. Você quer colocar? Beleza! Vai coloca. (plenária,
masculino, GD4)

É que, por exemplo, assim, você vai trabalhar em uma loja aí o cara fala tipo assim:
‘ah! Eu não vou te pegar porque você tem um piercing aqui, piercing aqui, uma

19
tatuagem que aparece’. Então, às vezes, o próprio cliente não gosta de ser
atendido por uma pessoa, assim, então é preconceito da sociedade, entendeu?
(plenária, feminino, GD4)

Mas alguns(mas) jovens também manifestaram uma cobrança inversa, quando há


preferência dos(as) empregadores(as) por determinados padrões estéticos exóticos e
valorização de certos estereótipos juvenis:

Mas tem loja, agora, em shopping, principalmente de surfe, essas coisas, que
dão preferência para quem tem tatuagem. Então, já está quebrando o tabu de
que quem tem tatuagem é maloqueiro, é uma pessoa meio assim. (plenária,
feminino, GD4)

...uma coisa que é muito visível, principalmente em shopping, lojas de shopping, é


que, às vezes, para a pessoa trabalhar de vendedora, ela tem que usar a roupa da
loja. Então, eu tinha uma amiga que trabalhava de vendedora na M. Officer, aí ela
falou que tem que comprar roupa da loja para poder trabalhar. Entendeu? Se você
não for com roupa da loja, você não trabalha. Ai, eu falei assim: ‘Ah! Então, você
ganha 50% de desconto pelo preço, né?’ Ai ela falou assim: ‘Só que se você vai
comprar uma blusinha como cliente, eles te vendem por R$ 100,00 para eu
comprar a mesma blusinha, ele vai ser R$ 190, R$ 180, então, dá na mesma.
(plenária, feminino, GD4)

No GD2 e GD3, surgiram propostas concretas para a criação de novos postos de


trabalho, como a redução da jornada de trabalho e o fim das horas extras. No entanto, essas
propostas não foram encaminhadas como consenso, pois os(as) jovens ficaram muito
inseguros(as) sobre o tema, tendo em vista que, segundo eles(as), muito provavelmente tanto
uma proposta como a outra, implicaria na redução de ganhos dos(as) trabalhadores(as),
deixando os(as) chefes de família em situação muito difícil.

Na questão do trabalho, o Grupo decidiu, assim, que devia aumentar os


funcionários pra gerar mais emprego. Mas assim, diminuir a carga horária,
trabalhar menos cada um e trocar o turno pra ter mais funcionários. (plenária,
masculino, GD3)

4.2. Educação
Na temática educação, a questão mais crucial foi a da baixa qualidade do ensino. Ela se reflete
na violência dentro da escola, nas drogas, no que chamam de “aprovação automática” dos(as)
alunos(as), nos conflitos e tensão no relacionamento entre professores(as) e alunos(as), e
sobretudo no seu despreparo para a conquista de uma vaga no Ensino Superior público. Como

20
proposta, aparece a necessidade de capacitar os(as) professores(as) para que consigam
compreender os(as) jovens e se relacionar com eles(as). Para isso, foi levantada inclusive
a idéia dos(as) professores(as) contarem com apoio psicológico, o que mostra que a
fragilidade emocional desta categoria está extremamente exposta aos(às) jovens. Mas
muitos(as) jovens também falaram da responsabilidade dos(as) próprios(as) alunos, que
não demonstram interesse pela escola e pelo conhecimento, contribuindo para a péssima
qualidade da educação.
Junto com a formação, aparece a idéia de que os(as) professores(as) são mal
remunerados(as) e de que isso traz danos para a educação, na medida em que os(as)
profissionais demonstram pouca motivação para realizar seu trabalho, depositando nos(as)
estudantes a responsabilidade pela má educação.

Aumentar o rendimento dos professores, buscando aumentar o interesse deles pra


estar ensinando, porque os professores ganham mal e nisso eles não têm tanto
interesse de estar ensinando direito os alunos. Eles falam: ‘o meu salário, eu tô
ganhando, você quer passar, você passa, você quer estudar, você estuda’, mas
não têm a paciência de estar explicando pra pessoas que ‘tão interessadas em
estar aprendendo mesmo. (plenária, feminino, GD2)

E se na escola existir cultura, isso vai ser... tipo assim, de repente todos os alunos
não estão prestando atenção num professor de matemática e ele começa a cantar
na sala de aula, uma música muito boba envolvendo o que ele quer ensinar, você
vai prestar atenção, você vai dizer ‘Ah! Que professor idiota’, mas você vai estar
ouvindo, isso vai ficar na sua cabeça o resto da vida. (plenária, feminino, GD5)

No GD5, os(as) jovens discutiram amplamente a questão da formação dos(as)


professores(as) na plenária da manhã. Em um dos subgrupos, que contava com um ex-
anarquistas, foi realizada uma discussão sobre a diferença entre professor(a) e educador(a),
apresentando a necessidade de que a escola seja menos autoritária e mais aberta para aquilo
que acontece na rua. O Grupo deu centralidade para a educação, como a base que
desencadeia os outros problemas, trabalho e cultura e lazer, afirmando que o fato do sistema
educacional ser muito formal, cerceia a possibilidade de reflexão e criticidade das crianças e
dos(as) jovens. Nesse sentido, a proposta do Grupo é que a escola seja menos formal e mais
voltada à formação de sujeitos críticos.

Então, o que a gente citou em questão de educação é isso, que a escola seja
aberta, não exatamente aberta fisicamente como ela é hoje, não, que ela seja
aberta para a gente ter liberdade de pensamento, de reflexão, porque o que a
gente tem hoje é exatamente isso, são idéias formadas que são jogadas para a
gente, tá? (plenária, feminino, GD5)

21
Nos subgrupos e nas plenárias, os(as) jovens partilharam suas experiências pessoais
de inserção em escolas mal estruturadas, tanto do ponto de vista físico quanto pedagógico.
Foram apontadas a falta de equipamentos e de recursos que possibilitem uma educação
atualizada, e capaz de cativar os(as) jovens. Também houve referência aos limites da escola
atender às suas necessidades básicas:

E hoje em dia, alimento nas escolas, o governo manda enlatado. Vem carne
enlatada, salsicha enlatada, macarrão enlatado, tudo enlatado. Como a pessoa vai
ter uma vida saudável comendo enlatado? Tinha que colocar verdura, coisas do
tipo, uma nutricionista pra fazer uma dieta certa pros alunos estarem comendo
direito, né? E automaticamente não vai gastar depois com saúde”. (plenária,
feminino, GD2)

Não adianta a gente mesmo ir para a escola e a escola estar caindo aos pedaços,
você não tem prazer de ir pra aquela escola, a escola tá com a mesa e você põe a
mão e a mesa cai, você senta no chão e é capaz de deitar pra fazer lição no chão
porque você não tem um ambiente pra isso. Se você vai num restaurante e o
restaurante é preto, não vai dar vontade de você comer, vai ficar parecendo que
você tá num cemitério, você vai ter até medo da comida. E a mesma coisa é a
escola. (plenária, feminino, GD5)

Isso aqui (apontando para o flipchart) é falta de estrutura na escola, falta de


materiais, livros, cadernos, material esportivo em geral, né? E isso prejudica muito
o ensino dos alunos, acaba prejudicando os jovens, as crianças, isso não incentiva
em nada eles estarem tendo um crescimento dentro da escola, e é da onde deveria
partir esse ensinamento. (plenária, feminino, GD1)

Essa péssima estrutura do sistema educativo é atrelada, por parte dos(as) jovens, ao
descaso das autoridades governamentais. Essa percepção é bastante diferente se comparada
aos discursos da mídia e dos(as) próprios(as) professores(as), que costumam atrelar as
péssimas condições de funcionamento das escolas à depredação feita pelos(as) estudantes e
moradores(as) de bairros populares.
Aliás, a vontade dos(as) governantes em promover uma escolarização mais crítica,
ou de qualidade, foi bastante questionada pelos(as) jovens, tendo em vista que a má
escolarização contribuiria para a manutenção de uma relação de dominação do Estado
diante de uma população “burra”, que desconhece seus direitos. Mas vemos nesse tipo de
afirmação os ecos da contradição, na medida em que esse discurso dos(as) jovens reflete,
muito provavelmente, o discurso dos(as) professores(as) dessa mesma escola. Assim,

22
supostamente um aparelho de dominação e alienação, a escola é também o espaço que
permite desvelar ou criticar essa situação.
Os(as) jovens manifestaram uma desconfiança generalizada acerca dos(as) políticos(as),
que preocupam-se mais com o seu próprio enriquecimento do que com as melhorias que
beneficiem toda a população e a educação especialmente.

Eu vou falar da educação, né?, das condições precárias do ensino estadual


público, por falta de interesse do governo de investir no ensino porque não gera
riqueza no país, né? E o governo só se interessa, só tá se interessando pelo
ensino básico pra falar: ‘oh, o nosso povo não é analfabeto’. (plenária,
masculino, GD1)

Com relação à distribuição de verba é isso, que nem ela falou, corta a verba da
educação pra destinar a verba pra outra coisa, esse é um problema que todo
mundo sabe que existe, mas que tá longe de ser sanado porque vai da cabeça dos
parlamentares, e eu tenho certeza que eles não estão preocupados com isso. Eles
estão preocupados com o salário deles, ganham oito mil reais, por mês. E o que eu
falo é a melhor distribuição da verba. (plenária, masculino, GD2)

A escola é descrita como um espaço pouco estruturado para dar conta da grandeza de
seus objetivos, ou das expectativas que pesam sobre ela. Assim, acaba se transformando em
um espaço de vivência de discriminação, violência e experimentação de práticas que
contribuem pouco para a experimentação dos(as) jovens daquilo que é necessário para a
entrada na vida pública.
Além de questionarem as péssimas condições de ensino, os(as) jovens também
denunciam a vivência de experiências de discriminação, em especial o racismo, e o convívio
forçado com as drogas e cenas de violência no interior da escola.
O Ensino Superior foi amplamente discutido pelos(as) jovens na plenária, embora se
manifeste pouco no painel das sínteses. Os(as) jovens apontam a inversão que ocorre no
Brasil em relação ao acesso à escola pública. Nas séries iniciais da escolarização, são as
crianças pobres que estão nos bancos escolares, mas, nas universidades públicas, são os
(as)ricos, (as) os “boys”, que lotam os estacionamentos dessas universidades com seus
carros novos:

Tipo, na USP, como a amiga citou, só tem boy na USP. Se for ver, vai no
estacionamento da USP, só tem carrão. Os pobre não vai pra USP. Por quê? O
ensino tá fraco, não estudou em escola particular, quem vai pra USP? Pessoas
que têm dinheiro pra pagar uma escola particular, né? Um cursinho ou alguma
coisa. (plenária, feminino, GD2)

23
Nenhum(a) dos(as) 105 participantes estava cursando uma universidade pública, embora
18 deles(as) estivessem no Ensino Superior. A maioria eram estudantes do Ensino Médio, que
depositam boa parte das suas insatisfações com a escolarização básica na sua incapacidade
de prepará-los(as) para a entrada no Ensino Superior público e gratuito. A Universidade de São
Paulo (USP) apareceu como a grande referência e como um objeto de desejo inatingível.

O que é uma realidade hoje no Brasil, não adianta você se esforçar, chegar o
segundo grau e infelizmente o acesso à faculdade não ser para todos. Falta de
perspectiva do futuro. (plenária, feminino, GD2)

A gente também queria ressaltar o ensino universitário, né?, que tanta gente que
não tem condições de pagar uma faculdade e tem que ir pra faculdade paga
porque não teve respaldo pra ter um bom ensino, e as pessoas que estiveram a
vida inteira em escola particular estão indo pras escolas públicas, e também essa
história de que a universidade pública vai ser paga. Então, aquela pessoa que
estudou em escola pública o tempo inteiro e tentou o tempo inteiro passar por cima
disso, transcender, essa questão toda de que aluno de escola pública não
consegue passar, aqueles poucos que conseguem ainda vão ter que pagar uma
escola pública? É um absurdo, né?! E mesmo escola particular, faculdade
particular, é muito difícil pagar, tanto que agora existem paralisações, né?, pra
conversar com as reitorias, pra ver se abaixa a mensalidade das escolas, das
universidades particulares. (plenária, feminino, GD1)

Como proposta para inverter esse quadro, os(as) jovens participantes lançaram mão das
seguintes propostas: reserva de vagas nas universidades públicas para pessoas pobres e
oferta de cursinhos preparatórios para o vestibular. Eles(as) não se manifestaram a respeito da
reserva de cotas [nem para pobres, nem para negros(as)], manifestaram apenas a idéia de que
se faça justiça para aqueles(as) que estudaram em escolas públicas, fazendo com que esse
seja o público prioritário das universidades.

(Tem que ) Fazer com que as faculdades públicas destinem somente suas vagas
para aqueles que precisam. (plenária, feminino, GD2)

Durante o debate do GD2, foi lembrado que não basta o acesso, são necessárias
também condições para que os(as) jovens continuem seus estudos, facilitando sua
permanência, e permitindo que conciliem estudo e trabalho.

Em relação à faculdade, vocês falaram que seria pra dar pra pessoas de baixa
renda, você acha que resolve? Porque uma faculdade federal ou estadual você

24
tem que estudar em período integral, manhã, tarde e noite. Você acha que uma
pessoa de baixa renda teria condições de estudar e não trabalhar mais? (plenária,
masculino, GD2)

4.3. Cultura

As conversas sobre cultura não foram tão animadas e acaloradas quanto as de trabalho e
educação. Fica evidente que, diante de outras necessidades mais prementes, a cultura é vista
de forma secundária. Seu significado ficou circunscrito ao tempo livre das pessoas, e a alguns
produtos culturais como peças de teatro, cinema e espetáculos. A cultura como esfera de
construção das identidades e de expressividade juvenil apareceu muito pouco na fala dos(as)
jovens, embora sua importância seja enfatizada por diversos(as) autores(as). Muito
provavelmente essa centralidade da cultura está restrita a uma parcela determinada de jovens,
sobretudo aqueles(as) que se organizam em grupos, os(as) quais tiveram uma escassa
presença nessa pesquisa.
A cultura aparece também com uma função educativa, por exemplo, quando se associa a
freqüência ao teatro com a conquista de uma “visão melhor das coisas”.
Mas o eixo forte da discussão foi a pouca divulgação das alternativas culturais gratuitas
já existentes, e a dificuldade de acesso a elas, em função de estarem concentradas nos
centros das cidades. O alto custo do transporte público apareceu como o grande obstáculo
para esse acesso.
Nos pequenos Grupos, os(as) jovens também associaram as atividades culturais com a
necessidade de ocupação do tempo ocioso de jovens e crianças, e nessa medida, a cultura
aparece como um arremedo necessário à falta de trabalho e educação. De fato, a cultura
apareceu pouco como um direito que, como sabemos, tem forte potencial expressivo e crítico,
e que contribui substancialmente para a inserção no mundo da comunicação e da informação.
Aliás, estas duas esferas sequer foram mencionadas nos Diálogos, embora sejam
necessidades culturais de primeira ordem em nossa época.

25
5. Caminhos participativos: as escolhas dos(as) jovens

Depois de discutir os temas da educação, do trabalho e da cultura e suas demandas em


relação a eles, os(as) jovens se debruçaram, no período da tarde, sobre os Caminhos
Participativos. Essa foi etapa mais importante do Dia de Diálogo. Os(as) jovens foram
novamente organizados(as) em pequenos grupos para fazer a leitura do Caderno de Trabalho,
cujo conteúdo apresentava três diferentes Caminhos Participativos: 1) Participação institucional
em partidos políticos, grêmios estudantis, movimentos sociais entre outros; 2) Voluntariado 3)
Grupos juvenis.
Primeiramente, os(as) jovens deveriam ler cada Caminho e conversar sobre ele, para
então iniciarem uma troca de idéias, identificando o(s) Caminho(s) a ser(em) escolhido(s).
Essa escolha deveria levar em conta: os prós e contras de cada Caminho; a disposição
pessoal da cada jovem em se engajar no Caminho; o potencial dos Caminhos para
alcançar as mudanças sociais elencadas pelos(as) jovens na parte da manhã, nas áreas de
educação, trabalho e cultura.
A escolha final dos Grupos poderia seguir muitas direções: poderiam escolher apenas
um Caminho, dois Caminhos ou aspectos de todos os Caminhos; podiam ainda não escolher
nenhum Caminho ou criar um quarto Caminho.
O ritmo e conteúdo dos Diálogos entre os(as) jovens nos pequenos Grupos variou
bastante. Essa variação ocorreu entre os diferentes Grupos num mesmo Dia de Diálogo, e
entre os diferentes Dias de Diálogo.
De uma forma geral, a divisão dos Dias por faixas etárias não resultou, como se
esperava, em Diálogos muito diferentes, do ponto de vista do conteúdo e do envolvimento
dos(as) jovens. Tanto o Grupo de 15 a 17 quanto o de 18 a 24 contaram com uma participação
bastante ativa dos(as) jovens nas atividades. A diferença residiu muito mais nas relações entre
os(as) jovens nos bastidores da pesquisa, havendo uma convivência mais forte em torno da
música e das amizades no grupo de adolescentes entre 15 e 17 anos. O clima em geral parecia
mais animado e “alto astral”. Neste Grupo também notou-se um maior “exibicionismo” por parte
de alguns(mas), sobretudo meninos, o que acabou se revertendo em elemento de
descontração ao longo das atividades.
Nos Grupos com maior homogeneidade etária (18 a 24 e 15 a 17 anos), os(as) jovens
puderam se manifestar com menos censura. Já nos Grupos envolvendo jovens entre 15 e 24
anos, havia uma forte tendência de silenciamento dos(as) mais novos(as), diante da maior
experiência e capacidade discursiva dos(as) mais velhos(as).
Moças e rapazes compareceram de forma bastante equilibrada nos cinco Dias de
Diálogo, e esta tendência se manteve em relação à sua participação nas atividades. Não houve
diferenças significativas nas “falas públicas” de moças e rapazes.
Vamos, então, apresentar as escolhas ou consensos construídos pelos(as) jovens, aqui
denominados sínteses dos Caminhos Participativos:

26
Tabela 10. Quadro global das sínteses dos Caminhos Participativos

Grupo de Diálogo Síntese dos Caminhos

Falta de verba do governo para ações


voluntárias
Música é importante para a participação da
juventude
Todos os Grupos, direta ou indiretamente,
falaram do trabalho voluntário

GD1 Os Grupos falaram da importância do esporte


e lazer
15 a 24 anos
Todos abordam o assunto do Caminho 1
Música como forma de expressão do(a) jovem.
Através do hip hop, os(as) jovens expressam
suas idéias
Forma de participação direta. a burocracia é
importante pelo menos do apoio dos(as)
políticos(as)
GD2 Cada um(a) tem que fazer a sua parte
15 a 24 anos
O governo realmente não ajuda tanto
O envolvimento dos Grupos, um está
passando conhecimento para o outro,
informação
GD3
A importância do Caminho 1: correr atrás
18 a 24 anos do que a gente quer (emprego, não ter mais
preconceito), cobrar do governo
O Caminho 3 pode ser um meio de
sobrevivência para os(as) jovens, pode
render dinheiro
Todos os Grupos querem ajudar uma
instituição
Todo mundo optou pelo Caminho 2
GD4
Todo mundo falou na dificuldade do tempo,
15 a 17 anos
mas ninguém se negou a ajudar
Parceria com empresas para promover o
primeiro emprego
Para os(as) jovens, o Caminho 1 exige mais
responsabilidade e lidar com
burocracia/controle, por isto ele não foi
escolhido
GD5 Todos os Caminhos têm os objetivos, os
meios a as conseqüências
experiência participativa
O voluntariado, se não for organizado, acaba
atrapalhando ao invés de ajudar
Cobrar os(as) governantes é uma ação
importante

27
Como podemos observar, as sínteses são bastante diferentes umas das outras. Mas
é possível fazer algumas análises, considerando não só o resultado final das sínteses mas
também os processos de Diálogo que conduziram até elas.
Podemos notar um reconhecimento significativo da importância do Caminho 1 (forma
de participação mais institucional: partidos políticos, sindicatos, grêmios estudantis, conselhos
de direitos, movimentos sociais, ONGs), embora ele não apareça como uma escolha
majoritária. Nas sínteses, a tensão entre reconhecimento da importância do Caminho 1 e as
dificuldades práticas de aderir a ele fica evidentes. Ele acaba aparecendo nas sínteses
sobretudo como forma de cobrar os(as) governantes, como aquilo que os(as) jovens estariam
efetivamente dispostos(as) a fazer.
De forma geral, o espaço da política é visto como algo distante, em que as pessoas
não se reconhecem- e com a qual apenas os(as) políticos(as) profissionais têm familiaridade.
Esse aspecto está relacionado à especialização do campo político, no âmbito do qual os(as)
jovens definem suas expectativas. Assim, os(as) jovens afirmam que é preciso eleger
bons(boas) representantes e cobrar que façam seu trabalho, mantendo com eles(as) uma
relação próxima à do(a) cliente. Esse traço distintivo da política nas sociedades modernas, qual
seja, de sua autonomização crescente, acirra a distância entre os indivíduos comuns e esse
mundo que aparece de forma fechada, hermética e até mesmo ameaçadora.
Os prós e contras do Caminho 1 foram os mais citados nas plenárias, mostrando que
esse foi o Caminho mais controverso e eivado de contradições. Era a respeito dele que os(as)
jovens viviam os maiores conflitos, pois de um lado reconheciam sua importância para
concretizar os direitos de cidadania que eles(as) próprios haviam levantado, mas por outro se
deparavam com sua baixa disponibilidade para participar desse espaço. Corroborando com
diversos estudos a respeito da crise de representação política nas democracias modernas,
observamos que esse é o âmbito em que os(as) jovens se mostram mais refratários(as),
descrentes e desmobilizados(as). Ao mesmo tempo, sua centralidade como esfera capaz de
melhorar a vida das pessoas é reconhecida, o que portanto gera conflitos. Como compatibilizar
o reconhecimento da importância da política com as desconfianças e o assumido desinteresse
em relação às suas instituições?
Já o Caminho 2 (participação através do voluntariado) aparece como o maior foco de
consenso entre os(as) jovens. A adesão majoritária dos(as) jovens a este Caminho foi
contrabalançada apenas com algumas manifestações pontuais reforçando seus aspectos
negativos. O principal ponto contrário levantado era a desresponsabilização dos governos, que
ficam desobrigados de suas tarefas na medida em que a sociedade civil as assume. Esse
ponto foi reconhecido pelos(as) jovens adeptos(as) ao serviço voluntário, mas ele era
contornado pela idéia de unir ação voluntária à cobrança dos governos. Desta forma, os(as)
voluntários(as) não assumiriam o lugar do Estado. A frase que marca esse ethos político
bastante poderoso é, como diz a síntese do GD2, “cada um(a) tem que fazer a sua parte”.

28
Nessa idéia de cada qual fazer a sua parte notamos, curiosamente, que a parte
dos(as) cidadãos(ãs) não se confunde com a parte do governo. Há uma cisão clara entre o
que seria a esfera de ação civil e a esfera de ação governamental, vista como sinônimo de
esfera pública.
Os laços que unem uma coisa a outra são rompidos nesta máxima, e a ação civil
aparece como algo totalmente desconectado da ação pública. Os(as) jovens revelam que o
lugar dos vínculos cívicos, das relações solidárias, do bem comum, localiza-se cada vez mais
longe do Estado.
O Caminho 3 (participação através de grupos juvenis) foi o que menos mobilizou
a atenção dos(as) jovens, seja porque não entendiam direito o que seriam esses grupos,
seja porque não viam muita relação entre a ação desses grupos e as mudanças sociais.
Apenas no GD1 o potencial expressivo da música aparecia como veículo possível para a
participação social, mas mesmo nesse caso, com a condição de que estivesse articulada a
uma ação que gerasse algum benefício social concreto, por exemplo, a arrecadação de
alimentos. Isso apareceu na apresentação de um dos pequenos Grupos, mas perdeu-se
nas formulações finais da síntese do Dia. Nesse grupo, a expressividade cultural convertia-
se em meio de atração dos(as) jovens para que então, reunidos(as), pudessem
desenvolver uma ação propriamente social.
Num outro sentido, o Caminho 3 aparece na síntese do GD3 como uma possibilidade
de geração de renda para os(as) jovens. Essa articulação entre a participação e a lógica de
sobrevivência foi muito forte e aparece aqui denunciada de forma explícita. Assim, de Caminho
possível para atingir melhorias para a coletividade, ele torna-se um caminho para melhorar a
vida dos próprios membros do grupo.
Para compreender esta faceta da participação, é preciso reconhecer que
profissionalização da política abarca hoje não só os sistemas formais de representação, mas
também as organizações da sociedade civil. O engajamento em causas sociais transformou-se,
também, em atividade profissional e meio de vida. O mesmo ocorre em relação às práticas
culturais e sociais de diferentes grupos jovens que, em determinados momentos, passam a
buscar a profissionalização e a sobrevivência econômica através de suas atividades. Muitos
formam bandas e correm atrás do sucesso, e outros legalizam sua situação como organizações
da sociedade civil, através das quais podem obter financiamentos.
A baixa identificação dos(as) jovens com o Caminho 3 e o arrefecimento do debate
em relação a ele contrasta com os dados da etapa quantitativa desta mesma pesquisa, que
identificou 34,2% de jovens envolvidos(as) em grupos na Região Metropolitana de São Paulo.
Os grupos estão distribuídos da seguinte forma:

29
Tabela 11. Tipos de atividade realizada pelos grupos, por sexo, em % (questão 35)

Atividades Total Sexo

Masculino Feminino
Religiosas 48 37,7 59,5
Esportivas 33 49,4 14,9
Música/dança/teatro 25,3 26,8 23,7
Estudantis 11,5 10,5 12,6
Comunicação 6,8 5,9 7,9
Melhoria do bairro 6,4 4,6 8,4
Meio ambiente 5,5 5,4 5,6
Político-partidárias 4,4 4,2 4,7
Trabalho voluntário 2,4 2,5 2,3
Outras 2,3 2,1 1,4

Fonte: Juventude Brasileira e Democracia, 2004.

A tabela mostra um envolvimento significativo dos(as) jovens em torno de grupos


religiosos, sobretudo as moças. Já os rapazes são maioria nos grupos esportivos. O trabalho
voluntário reúne apenas 2,4% dos(as) jovens, embora seus princípios tenham se revelado nos
Dias de Diálogo os mais compatíveis com as buscas dos(as) jovens.
Talvez essa aparente incoerência reflita o fato de que os grupos jovens
funcionam como circuitos mais ou menos restritos aos seus membros, cuja importância e
valor não extravasam muito seus próprios limites, enquanto a atividade voluntária encontra
um reconhecimento social mais amplo. Assim, mesmo que haja mais jovens envolvidos(as)
em grupos do que envolvidos em ações voluntárias, isso não se traduz em visibilidade
social e reconhecimento. Este dado pode indicar um forte limite para os grupos juvenis
como atores públicos.
Mesmo considerando que esses grupos jovens estejam cada vez mais sendo
reconhecidos(as) pelo poder público, sobretudo local, que vem realizando mapeamentos sobre
a sua existência nas cidades (como foi o caso da cidade de São Paulo2), e articulando ações
voltadas a esse segmento, é preciso reconhecer que o real potencial dos grupos juvenis como
atores capazes de influenciar o poder público e incluir pautas na agenda política ainda
permanece desconhecido.

2. Ver PREFEITURA DE SÃO PAULO. Mapa da Juventude. Perfil e comportamento do jovem de São
Paulo. 2003.

30
Logo após a elaboração da síntese do Dia, as facilitadoras faziam algumas
problematizações em cima dos consensos alcançados. Essa problematização variava conforme
o conteúdo da síntese final e funcionava da seguinte forma: se um dos Caminhos não tivesse
sido mencionado, enfatizava-se os prós desse Caminho e chamava-se a atenção para o fato de
que ele estava sendo desconsiderado; no caso de vários Grupos terem defendido um Caminho,
seus pontos desfavoráveis eram realçados.
Na prática, as problematizações giraram em torno de dois pontos principais: o
levantamento dos contras do Caminho 2, pois foi um Caminho muito citado pelos Grupos, e o
levantamento dos prós do Caminho 3, muito pouco mencionado pelos(as) jovens. Quanto ao
Caminho 1, foram realizadas algumas problematizações, mas em geral o levantamento dos
prós e contras era feito pelos(as) próprios(as) jovens ao longo do Da.
Após as problematizações, os(as) jovens preenchiam a ficha Pós-Diálogo, dando notas de
1 a 7 a cada um dos Caminhos Participativos, e apontando as condições para o seu engajamento
em cada um deles. Essa ficha foi comparada com a ficha Pré-Diálogo, preenchida no início do
Dia, sendo possível apreender as mudanças de opinião dos(as) jovens ao longo do Dia.

31
6. Resultados das fichas pré e pós-Diálogo

As notas dadas pelos(as) jovens aos vários Caminhos foram muito próximas, havendo
pequenas variações. Os Caminhos 2 e 3 foram os melhor avaliados no início do Dia, recebendo
a nota 6,4. Mas no final do Dia, o Caminho 2 se destaca com a maior nota final (6,2), como
vemos no gráfico abaixo:

Gráfico 3. Médias das notas dos Caminhos Participativos antes e depois dos Diálogos

6,4
6,3

6,2 Antes do
6,1 diálogo
Depois do
6
diálogo
5,9
5,8
C1 C2 C3

C1= Caminho 1: participação institucional em partidos políticos, sindicatos, conselhos de direitos,


movimentos sociais e ONGs | C2= Caminho 2: voluntariado | C3= Caminho 3: grupos juvenis

Somando as notas das fichas Pré e Pós-Diálogo para cada Caminho, novamente o
Caminho 2 se destaca com uma média de 6,3, seguida por 6,2 do Caminho 3 e 6,1 do Caminho
1. Portanto, o resultado final aponta a preferência dos(as) jovens pelo Caminho 2, da ação
voluntária, o que confirma as tendências observadas nas sínteses dos Caminhos Participativos.
De forma geral, as notas atribuídas pelos(as) jovens aos Caminhos Participativos foram
um pouco superiores no início do Dia de Diálogo, e diminuíram ao final do Dia. Há apenas três
exceções: no GD4 e GD5 as notas para o Caminho 2 aumentaram depois do Diálogo, o que
ocorreu também no GD2 em relação ao Caminho 3.
Assim, as atividades do Dia de Diálogo não geraram uma maior aprovação dos
Caminhos, e sim o alargamento da visão crítica em relação a eles.

Tabela 12. Média das notas dos Caminhos

Geral Antes do Diálogo Depois do Diálogo


C1 6,1 6,2 6
C2 6,3 6,4 6,2
C3 6,2 6,4 6

32
O Caminho 1 foi aquele que recebeu as notas mais baixas. Quanto maior a idade dos(as)
jovens, menores as notas dadas a esse Caminho. Assim, os(as) adolescentes entre 15 e 17
anos foram os(as) mais otimistas em relação a ele. Essa tendência dos(as) mais novos(as)
atribuírem notas mais elevadas foi observada parcialmente em relação aos outros Caminhos,
mas se revelou mais forte em relação ao Caminho 1.
Na tabela abaixo, podemos visualizar melhor as diferenças das notas nos vários
Caminhos, conforme a faixa etária. Demos preferência aqui para uma visão comparativa entre
o GD mais novo (15 a 17 anos), GD mais velho (18 a 24 anos) e o GD formado por jovens com
experiência participativa, os(as) quais por sua vez são mais velhos(as). Os outros dois GDs
não segmentaram os(as) jovens por faixa etária, reunindo jovens entre 15 e 24 anos, razão
pela qual foram excluídos da tabela.

Tabela 13. Média das notas por faixa etária

Faixa etária Notas


15 a 17 C1 Antes do Diálogo 6,8
Depois do Diálogo 6,8
C2 Antes do Diálogo 6,6
Depois do Diálogo 5,6
C3 Antes do Diálogo 6,6
Depois do Diálogo 6,4
18 a 24 C1 Antes do Diálogo 6,6
Depois do Diálogo 6,4
C2 Antes do Diálogo 6,4
Depois do Diálogo 6,8
C3 Antes do Diálogo 6,8
Depois do Diálogo 6,3
Com experiência C1 Antes do Diálogo 5,7
participativa Depois do Diálogo 5,3
15 a 24 anos* C2 Antes do Diálogo 6,1
Depois do Diálogo 6,4
C3 Antes do Diálogo 6,6
Depois do Diálogo 5,7

*Este GD reuniu 31 jovens, dos(as) quais 29 (93%) tinham mais de 18 anos. Portanto este GD foi formado por jovens
mais velhos(as).

Encontramos uma relação significativa também no que tange à escolaridade. Os(as)


jovens que possuem até a 4ª série deram notas mais altas do que os(as) mais
escolarizados(as), a todos os Caminhos Participativos.
A mais baixa de todas as médias (5,3) foi dada pelos(as) jovens com experiência prévia
de participação ao Caminho 1. Parece significativo que o Grupo em princípio formado por
jovens mais atuantes tenha sido aquele que deu menos importância ao Caminho da
participação institucional.

33
Considerando a situação ocupacional dos(as) jovens, aqueles(as) que estão trabalhando
são mais pessimistas, atribuindo notas mais baixas para todos os Caminhos, tanto nas fichas
Pré quanto nas fichas Pós-Diálogo. No que tange ao sexo, as moças tenderam a atribuir notas
um pouco mais altas, com exceção do Caminho 1 na ficha inicial, em que a média das moças
foi igual à dos rapazes.
Na ficha Pós-Diálogo, além de atribuírem notas, os(as) jovens poderiam indicar as
condições para que eles(as) se engajassem em cada um dos Caminhos. O gráfico abaixo
mostra a distribuição das condições apontadas pelos(as) jovens nos três Caminhos
Participativos:

Gráfico 4. Número de condições indicadas pelos(as) jovens aos Caminhos Participativos

76
74
72
70
68 C1
66 C2
64 C3
62
60
58
Condições

Como vemos, corroborando com a análise feita acerca do Caminho 1 (pág. 28) ele
parece ser o Caminho mais controverso, em que residem as contradições essenciais da política
nas sociedades modernas. É o Caminho que mais denuncia aos indivíduos e, nesse caso,
aos(às) jovens, sua indisponibilidade para a vida pública, gerando um forte incômodo na
medida em que, ao mesmo tempo, os(as) jovens reconhecem que as mudanças sociais
necessárias estão concentradas na participação institucional. Isso aparece não apenas no
maior número de condições no Caminho 1, mas sobretudo na variedade de condições
levantadas pelos(as) jovens nesse Caminho, enquanto no Caminho 2 as condições foram mais
homogêneas (ver análise das condições abaixo).
No mesmo sentido, o Caminho 3 foi o que recebeu menos condições, o que revela a
opacidade deste Caminho e sua relativa desimportância frente aos outros dois.
Vamos agora nos deter no conteúdo das condições levantadas pelos(as) jovens.
Em relação ao Caminho 2, muitos(as) jovens afirmaram que sua participação estaria
condicionada à não-desresponsabilização do governo, e a um apoio dele ao próprio trabalho
voluntário (22 menções). O respeito à sua disponibilidade pessoal de tempo e às suas
habilidades foi mencionado como condições por dez jovens. O restante das condições (dez)
foram variadas, mas com predomínio de menções condicionando a participação no
voluntariado a uma necessidade de que fosse feito em grupo, coletivamente. Alguns(mas)
jovens também citaram a necessidade de serem remunerados(as) por esse tipo de trabalho.

34
Já as condições levantadas no Caminho 1 foram mais diversificadas. Uma parte (11
menções) condicionava a participação a uma diminuição da burocracia, à realização de ações
concretas e diretas, à conquista de melhorias para a vida das pessoas e ao não-favorecimento
de grupos específicos.
Houve também exigências para que o governo apoiasse a ação política no sentido de
torná-la mais eficaz (sete). Cinco jovens afirmaram participar contanto que tenham voz ativa e
que suas idéias sejam respeitadas. Dois(duas) jovens apontam como condição obterem
informações e formação suficiente sobre a organização ou movimento do qual fariam parte. E,
finalmente, dois(duas) jovens condicionaram sua participação ao pagamento de bolsa.
No Caminho 3, as condições voltam a ser mais homogêneas, havendo 13 menções a
uma participação condicionada à abertura do grupo juvenil a outras pessoas, raças, idéias e
gostos. Ou seja, que os grupos não fossem fechados em si mesmos. Algumas condições
diziam respeito a viabilidade dos grupos, como por exemplo, “ter apoio e infra-estrutura”,
“respaldo de ONGs ou governos para que não se tornem efêmeras”, “dar lucros aos jovens”.

35
7. Participação: tendências, interdições, potencialidades

“...no (Caminho) 1 você tá


falando,
no 2 você tá agindo,
e no 3 você tá
bagunçando.”
(pequeno Grupo, GD2)

A pesquisa mostrou que o tema da participação juvenil está relativamente distante da vida
concreta da maior parte dos(as) jovens. Diante disso, eles(as) demonstraram dificuldade para
compreender o universo semântico trazido pelo Caderno de Trabalho. Assim, mesmo no Grupo
com experiência prévia de participação, a maioria dos(as) jovens não sabia o significado de
Fórum Social Mundial, UNE, impeachment ou movimentos sociais. Isso confirma os dados da
etapa quantitativa, em que apenas 24,1% dos(as) jovens entrevistados(as) sabiam o significado
da sigla ONG, e apenas 2,2% souberam responder o que é Fórum Social Mundial.
Optamos por analisar as tendências de participação focalizando cada um dos Caminhos
Participativos apresentados aos(às) jovens, apreendendo os posicionamentos, as resistências
e possibilidades geradas por cada um deles.

7.1. Caminho 1 – A política e suas incongruências com o tempo de ser jovem

“Tem que ser mais intelectual,


é mais complicado, tem que
estar mais presente.”

Ao longo dos Diálogos, os(as) jovens confrontavam as diferentes modalidades de participação


à sua vida concreta, e mostravam assim as potencialidades e limites entre essas modalidades
e sua condição juvenil, e também sua condição de classe, de gênero, de moradia, de
escolaridade e de trabalho.
Em relação ao Caminho 1, os(as) jovens apontaram várias incongruências entre as
exigências deste tipo de participação e suas próprias condições de vida. O limite mais
significativo, apontado em todos os Grupos de Diálogo, mais particularmente no grupo de 15 a
17 anos, foi o despreparo dos(as) jovens em relação à participação institucional, que é o

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Caminho dos partidos políticos, sindicatos, grêmios estudantis, conselhos de direitos,
movimentos sociais e ONGs.
Ele foi descrito como um Caminho para quem “sabe fazer”, para quem “está por dentro”.
Um dos pequenos Grupos sugeriu a realização de palestras para os(as) jovens por parte dos
partidos políticos, como forma de aproximá-los(as) desse espaço. Isso revela que os(as) jovens
não sentem-se qualificados para essa tarefa. Não se trata de uma desqualificação operada
pelo mundo adulto, ou não se trata apenas disso.
A inexperiência dos(as) mais novos(as) parece incompatível com a atividade política.
Afinal, são necessários atributos que os(as) jovens não teriam na medida necessária:
informação, contatos, capacidade de falar e se comunicar, desinibição, segurança, propostas
estruturadas.
O mundo da política é visto como algo fechado, cujo acesso exige uma rede de relações
e de habilidades especializadas. Afinal, como chegar até lá? E ao chegar, como se sustentar
num meio tão hostil?

- Tem que ser mais intelectual, é mais complicado, tem que estar mais presente.
- Estar mais por dentro...
- Aí a gente teria que estar assumindo um compromisso maior, estar procurando
um partido, estar se filiando a alguma coisa. E você tem que ter uma pessoa que
possa estar levando isso pra você (...)”

Quando envolve a escola, o grêmio, a gente participa. Mas quando envolve a


política é complicado, sempre tem alguém querendo engolir a gente. Então a gente
tem que começar de baixo, com coisas simples, para depois adquirir bastante
experiência e partir para coisas maiores, o que vocês acham?

- Adquirir experiência pra saber como lidar, não ficar sem noção. (pequeno
Grupo, GD3)

Além dos requisitos para entrar no mundo da política, é preciso ajustar suas expectativas
e esperanças ao tempo político, em que as mudanças não são instantâneas, e podem mesmo
ser tarefa para diferentes gerações:

Eu acho que para um jovem é muito difícil engajar no primeiro Caminho porque é
muito difícil, é muito comprometimento, é muita responsabilidade, e às vezes fica...
se sente muito pressionado, é muita burocracia, essa lentidão, o jovem quer ser
mais ativo, mais rápido. (plenária, GD4)

(...) você vai levantar uma bandeira, você vai segurar uma situação, então você
precisa ter argumentos pra segurar essa situação. E a maioria do Grupo, das oito

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pessoas do Grupo, sete, a gente sabe, têm essa consciência de que nós não
conseguiríamos sustentar uma situação de engajamento político, tá. E quando a
gente faz uma escolha, tem que ir até o fim. (plenária, GD5)

Delineia-se, nas passagens acima, certa incompatibilidade entre o engajamento no


Caminho 1 e a condição juvenil.
Retomando a proposta das palestras nos partidos políticos, ela parece ilustrativa do tipo
de relação que os(as) jovens estão dispostos(as) a manter com estas instituições. Ao
apresentá-la na plenária, o Grupo mostrava o quanto, apesar de não se enxergar na política,
reconhecia sua importância e a necessidade de traçar alguma “ponte” com esse mundo. E a
ponte possível é essa: informar-se e compreender o funcionamento da política e de suas
instituições. Se isso parece pouco do ponto de vista da ação política, como de fato é, também
aponta o desconhecimento e o distanciamento dos(as) jovens em relação aos partidos
políticos, como algo que precisa ser rompido, paulatinamente. Essa aproximação possível se
dá no registro de numa situação educativa em que os(as) mais jovens são apresentados(as) às
instituições adultas. Vista sob esse ângulo, a proposta não parece dizer pouco, mas sim
denunciar uma certa omissão adulta em relação à transição dos(as) jovens aos espaços
públicos. E aqui somos colocados(as) diante de questões mais profundas, que dizem respeito à
crise da própria democracia representativa, afinal, se os(as) adultos(as) também estão
ausentes do espaço público, como poderão apresentá-lo aos(às) mais jovens? Não vamos nos
alongar nesta questão, para não perder o foco nos(as) jovens. Por hora, cabe aqui apenas
considerar que a participação, ou a não-participação dos(as) jovens, não pode ser totalmente
explicada per si, como fenômeno exclusivamente juvenil.
A relativa incongruência entre a fase da juventude e a participação política mais
institucional costuma estar pouco presente nas explicações sobre a baixa participação dos(as)
jovens. Pelo que pudemos perceber, ele mereceria maior atenção e análise.
Mas a pouca adesão dos(as) jovens ao Caminho 1 se recobre também de outros
significados. A descrença no mundo político, entendido como o mundo dos(as) políticos(as),
fica evidente. A política vira sinônimo de um sistema viciado, que beneficia poucos(as). As
promessas enganosas, a corrupção, os altos salários e a falta de mudanças efetivas na vida
das pessoas são os principais sinais dessa insatisfação.

Mas eu acho que tudo sem política é bom, eu acho que tudo o que tem política não
rende, porque o político sempre rouba um pouco. É o que eu acho. (pequeno
Grupo, GD3)

Não concordo com o Caminho 1. Ele está reforçando o sistema, porque você tá lá
como autoridade. Beneficia bastante, mas quem garante? Não estou disposto a
engolir isso. (GD1)

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O clientelismo deixa suas fortes marcas, mostrando que continua vivo na tradição política
brasileira e ainda constitui uma base importante através da qual os(as) jovens e a população
tomam contato com os(as) políticos(as):
- Nessa última eleição que teve, eu votei porque o vereador, eu até esqueci o
nome dele, praticamente comprou o meu voto.
- Você vendeu seu voto?
- Vendi, assim, entre aspas, porque eu ’tava precisando de um ultra-som dos rins e
lá no hospital geral ia demorar três meses pra mim conseguir. E ele é médico, eu
falei pra ele que eu dava meu voto se ele me adiantasse o exame. Aí eu consegui
fazer o exame, ele me deu uma folha e eu consegui.
- Mas ele é bobo, e se você não votasse nele?
- E eu não votei mesmo... eu votei em branco. (pequeno Grupo, GD5)

Além do despreparo e da descrença nos(as) políticos(as), há também um aspecto


importante que afasta os(as) jovens dos espaços institucionais de participação: as pesadas
exigências do mundo político.
Nossa, é uma luta, uma guerra. Quem tá dentro vai atrás de passeata, de tudo. Se
arrisca mesmo no assunto, dando sua cabeça, sua pele pra conseguir o que quer.
São pessoas bem objetivas. Eu tenho preguiça. (pequeno Grupo, GD2)

Na fala acima, vemos que essa jovem parece estar bem informada a respeito da
atuação política, e esse conhecimento, ao invés de aproximá-la da política, a afasta. Por
isso é preciso ter cuidado ao afirmar uma correlação direta entre falta de informação e
baixa participação. Certamente a posse de informações é fundamental, mas não
suficiente, para o engajamento político.
Na pesquisa quantitativa, observou-se uma forte relação entre o grau de participação
dos(as) jovens e o nível de escolaridade. De forma análoga, há uma forte influência da classe
social na participação, e como na realidade brasileira existe uma forte associação entre
escolaridade e classe social, em que os(as) mais ricos(as) são os(as) que têm acesso aos
níveis mais altos de ensino, entendemos que a escolaridade não deve ser vista isoladamente
como fator que favorece a participação.
Na verdade, não é o acesso à formação escolar entendida como um conjunto de
conteúdos e informações que deve ser vista como elemento favorável à participação, mas
assim as oportunidades sociais, que incluem as educacionais, de construir disposições práticas
necessárias à participação. Essas condições parecem existir mais fortemente entre os(as)
jovens das classes mais altas, o que se traduz em melhores níveis educacionais, mas também
em acesso aos bens culturais e aos sistemas de comunicação modernos. Os dados da
pesquisa quantitativa mostram que os(as) jovens de classes mais altas costumam se informar
mais, e para isso dispõem de maior recursos, como acesso a computador em casa, internet,

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livros, e até mesmo orientações familiares. Já para os(as) jovens mais pobres, a escola pública
emerge como locus fundamental para essa tarefa.
Quando conversavam a respeito do Caminho 1, os(as) jovens faziam uma associação
direta com os partidos políticos, embora essa associação também tenha ocorrido com as
ONGs. Do ponto de vista da compreensão do Caminho e da comparação com os outros
Caminhos, essa associação não surtiu efeitos negativos. Isso porque o partido político, de fato,
pode ser tido como um emblema do Caminho 1. Afinal, essa instituição é um pilar central da
democracia representativa brasileira.
Assim, as opiniões que os(as) jovens emitiram sobre o Caminho 1 estavam muito
ancoradas às suas visões a respeito dos partidos. Curiosamente, outras instituições
presentes no Caminho 1 chegavam a ser evocadas pelos(as) jovens como contrapontos ao
partido político:
- Participar eu não participo, mas igual ele ‘tava falando aí, você fazer as coisas
sem a política é bem melhor, porque eles só puxam pra eles.
- Promete, promete e nada! Na verdade, se não é ONG, sindicato, grêmio, o que
nós ia ser? Se fosse pra depender mesmo da política, nós não ia conseguir, não!
- Nós seria escravos deles!
- O que tá ajudando é associações, é sindicatos, isso tá ajudando bastante pra
poder subir. Porque um quer ganhar mais do que o outro.” (pequeno Grupo, GD3)

Fica patente que, aos olhos dos(as) jovens, as organizações da sociedade civil têm
uma credibilidade muito maior do que os partidos, que se confundem muito com os
próprios governos.
Apenas um jovem apontou uma perspectiva de mudança da política partidária
viciada através da renovação geracional. A alternativa seria a invenção de uma nova
política pelos(as) jovens.
Tudo é política. Na escola, em casa quando a criança pede Danone pra mãe, é
tudo persuasão, você é ludibriado pelo que vê e ouve, né, então, na TV, tá aí, tem
que tomar cuidado. Então a gente tem que ser político e entrar nesse Caminho 1
também, e inventar outros partidos, porque esses daí já estão todos dentro do
sistema, alienados, e a gente tem que renovar as coisas.” (plenária, GD4)

Mas a tendência geral não foi essa. Para a maioria, a política é a mesma
independentemente de ser feita por jovens ou por adultos(as).
Esse dos jovens ser político não concordo. Acho que vai ser a mesma coisa dos
adultos. (pequeno grupo, GD1)

Mais do que isso, muitas vezes o exercício político dos(as) jovens, mesmo que seja o
voto, aparece como algo para o qual ele(a) não possui preparo.

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Eu acho que assim, esse negócio de voto, eu acho que com dezesseis anos não
podia votar, na parte da adolescência a gente não tem cabeça pra ficar pensando
no político que a gente quer e no político que a gente não quer. Aquele político que
chega e fala que tem festa o ano todo, quem não vai votar nele? (risos)”

Fica claro que, para os(as) jovens, a política é um desafio a ser enfrentado de forma
colaborativa entre as gerações:
Eu acho que a política puramente dos jovens é muito complicada, sem estudar
fatos políticos que já aconteceram e sem ter as política coordenada por alguém
com mais experiência política. A gente querer sentar aqui e fazer política não dá
sem ter uma base, sem pegar os exemplos que já ocorreram e sem uma liderança
que entenda mais de política. (pequeno Grupo, GD5)

Mas, apesar de todas estas questões levantadas, vemos um forte reconhecimento da


política institucional pelos(as) jovens, como um âmbito essencial na construção de um país
mais justo.
Na verdade, se você não fizer uma participação política nunca que os governantes
vão se mexer pra fazer alguma coisa, porque enquanto eles ‘tão lá e ninguém tá
reclamando, tá tudo bem, mas por exemplo, trabalho voluntário, você vai mexer só
com a comunidade, é teatro essas coisas, mas se você trabalhar com política bate
direto com o poder. (GD1)

Eu me identifico um pouco, porque mexendo diretamente com a política, com a


parte do poder, dá mais resultado. (GD1)

Sem a maldita da política no meio a gente não sai do lugar. (pequeno Grupo, GD1)

Mas, entre a afirmação da importância da política institucional e a disposição para nela


se engajar há uma enorme distância física, simbólica e geracional.
Pra resolver todos esses problemas teria que ser os três. Mas tá perguntando o
que a gente faria e eu não me engajaria no Caminho 1. Eu sei que resolveria, mas
eu não faria. (pequeno Grupo, GD4)

Quando os(as) jovens se deparavam com a importância da política e com suas


impossibilidades pessoais de se engajarem nela, surgia um conflito tenso, angustiante, mas
rico em suas possibilidades de aprendizado e auto-conhecimento. O contato com as
contradições de fato causou reações de muito incômodo, como podemos ver abaixo:

- A gente não tem saída, porque os nossos problemas só no Caminho 1, mas o


que a gente gosta de fazer é no Caminho 2. O trabalho voluntário a gente vê

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resultado e no partido tem que brigar muito e esperar. A gente consegue
universidade no Caminho 1 e pode reformar a escola no trabalho voluntário.
- Vocês ‘tão tirando onda da gente. Nossa cabeça tá fritando. Você pode
apresentar nossa conclusão, porque você escreve tudo e deve tá processando
tudo aí. O que é que a gente decidiu?” (grifos nossos, jovem se dirigindo à
observadora, GD5)

Vale dizer novamente que foi justamente no Caminho 1 que os(as) jovens identificaram
as maiores fortalezas da política, mas também os maiores vícios e desvios. A variedade de
pontos prós e contras foi mais evocada do que nos outros Caminhos, e nele as principais
contradições envolvidas no exercício da vida democrática puderam aflorar. Assim, ao mesmo
tempo em constatamos uma baixa adesão dos(as) jovens ao Caminho 1, o que é indicado
pelas sínteses do Dia e também pelas fichas Pré e Pós-Diálogo, vemos também um forte
envolvimento dos(as) jovens na discussão a seu respeito.
A reconstrução do espaço político democrático e de suas instituições, esgarçadas pelos
vícios partidários que se entrelaçam às velhas práticas clientelistas, parece urgente. E essa
reconstrução não deve prescindir das gerações mais novas, senão como protagonistas
principais, como importantes interlocutores(as) com os(as) quais é preciso ressignificar as
possibilidades da vida em comum.
O diálogo e o debate com os(as) jovens mostrou-se um caminho fértil, em que puderam
não só ampliar seu conhecimento a respeito da vida democrática, mas sobretudo entrar em
contato com suas próprias disposições e contradições.
Também é preciso contextualizar essa baixa adesão como uma tendência histórica que
atinge todos os grupos sociais, e não apenas os(as) jovens. Na sociedade moderna e global,
as instituições sociais têm sido questionadas e postas em cheque. As normas e regulações
sociais cedem espaço cada vez maior às escolhas individuais. O indivíduo aparece como
unidade de construção da justiça e da felicidade.
A individualização veio para ficar; toda elaboração sobre os meios de enfrentar seu
impacto sobre o modo como levamos nossas vidas deve partir do reconhecimento
desse fato. (BAUMAN, 2001)

Reconhecer nossa dificuldade em construir o vínculo coletivo não pode, entretanto, nos
levar à paralisia cínica. Mas não resta dúvida de que, para enfrentar essa situação, é preciso
identificar e compreender os processos sociais que lhes definem. A articulação entre
individualismo e política poderá ser mais aclarada no item seguinte, que discute a adesão ao
caminho do voluntariado.

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7.2. Caminho 2 – Os múltiplos sentidos do trabalho voluntário

“Realmente, de tudo que a gente


conversou até agora, o
voluntariado é a nossa cara.”

O voluntariado foi, sem dúvida, o Caminho Participativo mais plenamente compreendido e


projetado pelos(as) jovens como possibilidade real de participação no espaço público.
Só que na situação do momento, nós, no momento, a única coisa que a gente
pode fazer é ser voluntário, não ser preconceituoso e ajudar os pobres. (pequeno
Grupo, GD2)

Essa adesão não foi, no entanto, irrestrita, e seus significados ultrapassam, ao nosso ver,
aqueles anunciados pelo Caderno de Trabalho. Vejamos porquê.
A maioria dos(as) jovens que participaram da pesquisa moravam nas periferias da
Grande São Paulo. Em geral, se referiam ao trabalho voluntário para defender o que
conhecemos comumente como trabalho comunitário, entendido como uma atuação no seu
próprio bairro ou comunidade, visando melhorá-lo.
Mas eu acho assim, o dois é mais uma necessidade nossa, de todos, não só de
nós que somos jovens, mas é uma necessidade nossa mesmo. Que nem, fala
assim, das escolas, de hospitais, de estar ajudando os outros com campanhas de
doação de alimentos. (pequeno Grupo, GD1)

Que nem, eu vou ver lá no meu bairro o que é que tem, se tem associação de
bairro, ir na subprefeitura pra ver o que é que eu posso fazer pra poder estar
melhorando. Que nem, lá tem um clube enorme que não é muito utilizado, eu vou
ver se dá pra fazer shows, eventos, ver se dá pra fazer alguma coisa. (pequeno
Grupo, GD4, a respeito do voluntariado)

Vemos que o sentido dado ao trabalho voluntário por esse jovem se afasta da acepção
mais clássica, de cunho assistencial, em que o voluntariado parte de alguém com mais posses,
e dirige-se às pessoas mais pobres. Além disso, muitos(as) jovens levantaram a necessidade
de que o trabalho voluntário fosse remunerado com uma bolsa do governo, o que denota uma
influência da lógica de muitos programas sociais conhecidos por esses(as) jovens, os quais
oferecem bolsas para que os(as) beneficiários(as) desenvolvam projetos de ação comunitária.
Isso, somado à dramática necessidade desses(as) jovens por trabalho e renda, parece gerar
um discurso que rompe totalmente com o sentido clássico do trabalho voluntário, exigindo que
ele seja remunerado. Ou seja, de um lado, muitos(as) jovens já foram remunerados(as) para
desenvolverem ações sociais (através da bolsa governamental) e, de outro, defendem essa
medida em função da sua própria necessidade de renda econômica.

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Por isso, se o trabalho voluntário foi o Caminho mais escolhido pelos(as) jovens e aquele
que parece estar mais próximo das suas disposições subjetivas e práticas, é preciso salientar
que não se trata do voluntariado clássico, mas sim de um trabalho comunitário, que se realiza
no próprio contexto vivido pelos(as) jovens.
Esses(as) jovens estão “correndo atrás” das condições mínimas que lhes permitam a
inclusão social, a busca por trabalho e o investimento nos estudos. Tanto uma coisa quanto
outra são desafios permanentes num contexto em que o desemprego é estrutural e a escola
básica é precária. Quanto ao projeto de entrada na universidade, ele se constitui em outro
desafio, bastante dramático, na medida em que o desemprego ou o emprego pouco qualificado
dificulta o pagamento de uma instituição particular, e a baixa qualidade da escola básica
impede o acesso às universidades públicas.
Embora esses dilemas sejam agudizados por problemas extremamente relevantes para
eles(as), como a violência e o racismo, é da relação com a escola e com o trabalho que os(as)
jovens extraem seus principais recursos, e fragilidades, para enfrentar seu momento de
juventude, e o futuro que vem pela frente.
Um aspecto muito levantado como interdição para a participação em ações voluntárias
foi o tempo. Se os(as) jovens estão buscando se formar, se inserir no mercado de trabalho,
conquistar suas primeiras experiências profissionais, e para fazer isso precisam empregar todo
seu tempo disponível, o que podem ter para oferecer aos outros?
Nesse sentido, os(as) jovens pobres apontam que o voluntariado ou trabalho
comunitário, como uma modalidade de participação focada na ajuda ao outro, parece ser pouco
adequada as suas condições de vida.
- É, porque ao mesmo tempo que a gente tá adiantando o lado dos outros a gente
tá atrasando o nosso, porque a gente tem nossa vida. Eu acho que tem muito mais
retorno fazer uma coisa que eu possa tocar a minha vida. Uma coisa é assim, de
vez em quando, às vezes, fazer um trabalho voluntário, tudo bem. Agora, eu me
dispor todo dia a sair da minha casa pra ensinar uma criança que não tá
entendendo... Um que eu não tenho paciência, e dois, eu tenho o que fazer, o meu
tempo é curto, eu tenho que ir atrás do meu, tenho que ganhar o meu dinheiro. Se
eu não for atrás do meu, ninguém vai me dar. (pequeno Grupo, GD2)

Interpretar falas desse tipo como manifestações do egoísmo e do hedonismo juvenil é no


mínimo sinal de um desconhecimento profundo da realidade vivida por esses(as) jovens. Aqui
ficam evidentes as relações entre condição social e possibilidades de participação.
É preciso também reconhecer que essa falta de tempo está relacionada não só à
condição econômica, mas também à própria condição juvenil. Entre os(as) jovens de classe
média, entretanto, também há interdições. Na fala abaixo, uma jovem deixa clara sua
dificuldade em renunciar ao tempo livre, tempo que é finito e disputado por diferentes
atividades prazerosas:

44
Mas toda a pessoa que é solidária, quando começa a sair, não sei o quê, acaba
abandonando aquilo que ela dá. Você não tá recebendo nada em troca. Tá, tudo
bem, tá recebendo o amor de uma criança... Mas isso é do ser humano, não é por
maldade. Pô, eu vou viver a minha vida, no domingo tô com uma preguiça... no
sábado tem um churrasco. É do ser humano. (pequeno Grupo, GD3)

Há um sentido dado pelos(as) jovens em relação à adesão ao voluntariado/trabalho


comunitário que nos parece muito importante e significativo: ser voluntário consiste na
possibilidade de (re)fazer o vínculo entre “eu” e o “outro”, entre meus próprios problemas e os
problemas alheios. É descobrir que, por menos que se tenha, sempre há algo a oferecer.
Vemos delineado na fala dos(as) jovens um sentido iminentemente cívico para o
voluntariado. Há poucas indicações de que esse Caminho poderia trazer rupturas capazes,
quem sabe, de transformar de fato a realidade social. Mas a possibilidade de refazer vínculos
de pertencimento e de romper o isolamento não devem ser vista como aspecto menor,
sobretudo considerando seu impacto positivo na construção da subjetividade jovem e
adolescente.
Os(as) jovens mostram que existe uma equação objetiva entre o que devem, podem e
querem fazer, e que, não sem algum grau de conflito, esta última dimensão é definitiva para
construir escolhas de engajamento no mundo social. Fazer política não é uma obrigação tal
como ir pra escola e, portanto, se define em margens mais amplas de escolha voluntária, e
aspectos como estilo, desejo e preferência são definidores desta escolha.
Esse “querer” se constrói sobre a possibilidade dos microvínculos sociais, face a face,
em que sujeitos de carne e osso confrontam a si e aos seus sonhos, em que ser feliz pode ser,
por um momento, dar ou receber um brinquedo no Natal. Não é a toa que, mais do que
trabalho voluntário, os(as) jovens se referiam ao trabalho solidário.
Assim, esse querer se insere numa busca pela construção da felicidade possível, para si
e para os(as) outros(as), felicidade que está distante do mundo das instituições, sobretudo das
engrenagens estatais e partidárias, que produzem pouco vínculo significativo.
Segundo Castells, num contexto global de crise das identidades de
projeto/transformadoras geradas a partir da sociedade civil, com os partidos políticos e
sindicatos, as novas potencialidades para as transformações sociais localizam-se nas
identidades de projeto que podem emergir das várias formas de resistência comunal. Assim, a
comunidade e o comunitário atualizam-se em nossa modernidade tardia como território
altamente mobilizador (Castells, 2001).
O território da comunidade pode ser, portanto, palco de novos engajamentos e
antagonismos sociais, capazes de fornecer a energia para a tão necessária reinvenção
da política.

45
7.3. Caminho 3 – A importância de “fazer em grupo”

“Desabafo? Isso eu faço com


meus amigos. Não preciso
montar um grupo pra fazer isso.
Isso não muda o mundo.”

O Caminho 3 foi o mais “solto” do ponto de vista da compreensão dos(as) jovens. Quando
os(as) jovens discutiam os diferentes Caminhos tendo como pano de fundo a pergunta: “Que
Brasil queremos” e toda a discussão da manhã, o Caminho 3 parecia particularmente vago.
Em geral, ele era associado às práticas culturais juvenis e identificado como algo positivo
na medida em que era instrumento da expressão dos(as) jovens. Em vários momentos, a
música foi lembrada como forte elemento aglutinador. Mas daí a ser um Caminho de
transformação social, havia muita distância. Poucos(as) associaram esse Caminho a novas
formas de organização dos(as) jovens ou aos novos movimentos juvenis. O sentido
predominante desse tipo de participação era do uso do tempo livre com os(as) amigos(as).
O terceiro fala mais de formar grupos culturais, artísticos, e eu acho que isso
partiria mais pro lado do lazer. E eu acho que primeiro vem a necessidade, depois
o lazer, então a minha justificativa é isso, eu falo mais pelo Caminho segundo.
(pequeno Grupo, GD1)

Na medida em que esse Caminho era associado ao lazer, e esse tema aparecia como
algo secundário para os(as) jovens, não gerava muita mobilização.
As relações entre esse Caminho e a política apareciam de forma muito tênue. Os
impactos da associação em grupos jovens ficavam restritos a vida privada, e suas escolhas
deveriam ser realizadas também nesse âmbito.
(após a leitura do Caminho 3)
- Caminho descartado.
- Lembra que eu falei da coisa do desocupado. Então, a coisa do grupo rompe com
a solidão. Você acaba até desabafando. Você não tem coragem de falar com a
mãe, fala com os outros.
- Mas não tenho tempo pra essas coisas.
- Mas não tem adulto pra mandar...
- Acho que o problema é o preconceito
- Vocês conhecem os evangélicos?
- Eu não me encaixo nesse caminho.
- Desabafo? Isso eu faço com meus amigos. Não preciso montar um grupo pra
fazer isso. Isso não muda o mundo. (pequeno Grupo, GD5)

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O aspecto que mais ressoou positivamente nos(as) jovens foi o caráter coletivo do
Caminho 3, ou seja, a idéia de “fazer em grupo”. O Caminho 3 tinha uma conexão recorrente
com o 2, que era a idéia de que as coisas melhoram na medida em que “um ajuda o outro”.
Assim, o Caminho 3 era indicado como forma de driblar os limites individuais do Caminho
2, pois abria a possibilidade de que se trabalhasse em grupo. Por isso os dois Caminhos, aos
olhos dos(as) jovens, são muito próximos e possuem muitas interconexões.
- Aqui no Caderno tá falando: ‘Eu sou voluntário e faço a diferença’, e aqui no três:
‘Eu e meu grupo, nós damos o recado’.
- Praticamente as mesmas coisas ditas em outras palavras! É porque o objetivo é o
mesmo: ajudar.” (pequeno Grupo, GD3)

Não é só o voluntariado, é o Caminho 2 e o 3, de formar grupos, e o voluntariado


de levar aulas. Seria uma junção dos dois Caminhos.” (pequeno Grupo, GD3)

O três junto com o dois, que é mais ou menos o que a gente faz na igreja que eu
participo. A gente é um grupo de jovens, eu já fiz outros grupos, a gente fez o
jornal da igreja, faz o sopão pra dar pros outros. (pequeno Grupo, GD5)

Outro aspecto do Caminho 3 muito sintonizado com a sensibilidade dos(as) jovens foi a
idéia da multiplicação, mesmo que isso não pareça com esse termo. A idéia de passar
informações para o outro, partilhar suas habilidades e “passar tudo isso pra frente” foi
extremamente valorizada.
Alguns “contras” desse Caminho foram muitos destacados: o isolamento e a
intolerância. Esses aspectos se sobressaiam em relação aos “prós”.
O contra desses grupos realmente acontece. Tem muito jovem que passa o dia
inteiro tocando com a banda e esquece de estudar, assim como acontece de
pregar uma idéia só e não aceitar a idéia dos outros. E aí não tem como você se
integrar numa sociedade se você só defende as suas idéias. Se a gente quer
mudar alguma coisa, a gente tem que cortar os contras de todos os caminhos.
(pequeno Grupo, GD3)

As pessoas distorcem a missão desses grupos. muita gente não sabe, mas o
rastafári é uma religião, não é só fumar maconha. Mas, para mim, esse Caminho
não é bom. Não sei em que grupo estaria. Eu sou batizada na igreja católica, mas
não sigo. (pequeno Grupo, GD4)

Nos relatos dos(as) jovens sobre sua participação em grupos religiosos, ficava evidente
que o sentido desse espaço não era só espiritual, mas também estava muito ligado a algumas
práticas culturais, como aprender a tocar instrumentos musicais, fazer apresentações, elaborar
jornais, curtir música junto com outros(as) jovens etc. A importância da igreja como espaço de

47
encontro e sociabilidade aponta que nem sempre a crença religiosa é o fator crucial ou mais
importante para a adesão.
Alguns(mas) jovens também lembraram o forte trabalho voluntário desempenhado
pelas igrejas:
Uma grande parte do voluntariado no Brasil são as igrejas e quase ninguém fala
nisso, tanto as católicas, quanto as evangélicas. (pequeno Grupo, GD4)

Os dados coletados em relação ao Caminho de participação em grupos jovens


mostram a baixa visibilidade desse tipo de associação, e muitas dúvidas em relação aos
seus possíveis vínculos com as transformações sociais. Apenas uma investigação mais
profunda dos vários tipos de grupos, suas formas de funcionamento e ação, poderiam
elucidar esta última questão. A dimensão expressiva destes grupos foi reconhecida, mas
parecia estar limitada à vida privada.
Em contrapartida, o potencial coletivo e grupal desse tipo de arranjo apareceu como sua
grande fortaleza, o que é muito significativo pois mostra a aposta dos(as) jovens na ação
conjunta, e sua visão crítica em relação à ação puramente individual. O “fazer em grupo”
emerge como referência importante na projeção que os(as) jovens fazem de sua possibilidade
de inclusão na vida pública.

48
8. Observações finais

O contato com os(as) 105 jovens da RMSP foi extremamente rico e elucidativo. Através da
metodologia utilizada foi possível confirmar algumas hipóteses e refutar outras. Mas foi
possível, sobretudo, elaborar novas perguntas.
Um primeiro dado que nos chamou a atenção foi a pouca referência dos(as) jovens à sua
condição juvenil. Os laços de solidariedade geracionais são muito tênues. Há um baixo
sentimento de pertença ao conjunto da juventude e identidade com seus traços próprios. A
referência é mais forte entre o “nós pobres”, “nós negros” e “nós da periferia/comunidade”.
Ao discutirem os problemas da educação, trabalho e cultura, os(as) jovens pensavam na
sociedade como um todo e, particularmente, nas crianças. Não houve também referência a
nenhum ator coletivo, grupo ou movimento propriamente juvenil pelo qual se sentissem mais ou
menos representados(as) ou contemplados(as).
Os projetos de mudança apresentados pelos(as) jovens encontram-se, muitas vezes,
na esfera privada, seja através da conquista do emprego e, com ele, da possibilidade da
inclusão social tão sonhada, seja através dos(as) filhos(as) que esses jovens(as) já têm,
para os(as) quais é preciso criar condições de desenvolvimento, inclusão e felicidade.
Essas tarefas são altamente árduas e trabalhosas. Nada disso exclui a participação, mas
consiste num entrave evidente.
A possibilidade de transformar esses problemas pessoais [não só dos(as) jovens, mas da
sociedade como um todo] em questões públicas parece ser a chave para o adensamento da
política. Vários(as) pensadores(as), entre eles(as) Bauman, alertam para a dissolução dos
nexos que entrelaçam as escolhas individuais aos projetos e ações coletivas, na modernidade
atual. A questão do “sistema” já não está na agenda pública e há forte retração nas forças que
poderiam reintroduzí-la.
A liberdade formal, que permite aos(às) cidadãos(ãs) se reunirem para dizer o que
querem obter, é muito menos do que o necessário para uma democracia genuína. Essa
liberdade, efetivamente imposta e não-disponível, impele as pessoas a fazerem escolhas e a
tomarem decisões que elas não podem, ou não querem tomar. Mover-se a partir dos seus
próprios recursos individuais não é uma escolha, e sim uma imposição. Essa falsa liberdade
repõe na agenda pública a questão da emancipação e da conquista de uma liberdade positiva.
O lapso entre as mudanças sociais reconhecidas como necessárias pelos(as) jovens
e a (ausência de) disponibilidade para engajar-se em ações políticas compatíveis é um
ponto central.

Como diz Renato Janine Ribeiro, referindo-se à política brasileira atual:


Fica um enorme descompasso entre os meios com que conta e os fins que deve
promover. Seus meios: uma liberdade de expressão e de organização inéditas na
história. Seus fins: melhorar a vida das pessoas, e não só do ponto de vista

49
material. Se os fins não estão decorrendo dos meios, a falta de conexão entre uns
e outros tem de ser resolvida. Fazê-lo é a grande tarefa política de hoje. (RIBEIRO,
2004, p. 31)

Esta pesquisa dá algumas pistas no sentido da conciliação do domínio da vida cotidiana


com a política, o que parece ocorrer em alguma medida em certas modalidades de
participação. Mas há indícios de que isso não é projetado pelos(as) jovens em termos de uma
participação estritamente juvenil.
A modalidade de participação mais acessível aos(às) jovens, e mais sintonizada com
suas buscas subjetivas, é a da ação grupal comunitária/voluntária. Essa ação pode ser
espontânea, mas também apoiada por instituições religiosas, associações de bairro, ONGs.
Sua organização supõe, geralmente, relações de apoio e colaboração entre jovens e
adultos(as). A associação religiosa, que segundo os dados quantitativos vêm crescendo entre
os(as) jovens, é um exemplo de organização em que o trabalho em grupo, as relações
intergeracionais e o trabalho cívico/comunitário/voluntário estão reunidos. Do ponto de vista
das experiências participativas dos(as) jovens, a religiosa ganha destaque, e é seguida por
vivências de organização na escola, através dos grêmios estudantis. No entanto, a seu
respeito, é preciso fazer as seguintes perguntas:
Qual a relação, se é que existe, entre as práticas que partem de uma busca muito subjetiva e
pessoal, como as religiosas, com o espaço político e público? Quais são os sentidos do
chamado trabalho voluntário nas regiões mais empobrecidas das cidades, já que nesse
contexto as pessoas estão mergulhadas na luta pela sua própria sobrevivência? O estímulo ao
trabalho voluntário entre os(as) jovens pobres beneficia a quem, aos(às) jovens, às instituições
sociais, às suas comunidades? Quais são as novas institucionalidades emergentes? Quais são
os programas políticos desses grupos, se é que eles têm um?
Aguçar a sensibilidade para captar novas tendências de alargamento do espaço público
não deve impedir, no entanto, o reconhecimento dos limites que, desde já, podemos
vislumbrar, entre o tipo de abertura dos(as) jovens à participação e o funcionamento efetivo da
Política, com P maiúsculo, onde as decisões são tomadas. Miguel Abad mostra claramente
estes desencontros, ao analisar os limites da participação juvenil no Conselho Municipal de
Juventude, em Medellín.
Os jovens e suas organizações são fortes nos cenários de microparticipação, muito
próximos dos assuntos que afetam seu entorno imediato, mas situados na periferia
do sistema de decisões políticas e econômicas. Esta situação, bastante avaliada
por muitos especialistas de renome, idealiza a interação solidária do pequeno
grupo e certa virtude comunitarista e juventocéntrica que, simplesmente, os
desarticula do mundo adulto em que se definem, finalmente, suas reais
possibilidades de cidadania. (ABAD, 2004)

50
Todas essas questões estão ainda em aberto e, enquanto organizações preocupadas
com o alargamento do espaço público, precisamos enfrentá-las conjuntamente.
O desafio de lidar com a temática da participação é grande, sobretudo num contexto de
retraimento do Estado, e de agudização dos problemas sociais, que atingem mais
especialmente as populações jovens.
A violência, o desemprego e a escolarização precária associados têm produzido um
mundo no qual é difícil viver, e no qual é muito difícil produzir uma trajetória biográfica.
Mas será que o sofrimento e a insegurança desses(as) jovens podem fazer brotar novas
pautas públicas e ações coletivas? Isso ainda não sabemos responder. Ouvimos muitas vezes
esse sofrimento ser enunciado como uma questão pessoal, mas esta superposição de
”sofrimentos” ainda não parece ser capaz de gerar, como diz Bauman, “uma totalidade que seja
maior que a simples soma de suas partes”.
A situação é bastante desafiadora pois, como sabemos, o Estado nacional e os direitos
de cidadania no mundo ocidental foram construídos sobre uma base de acordo mínimo entre o
Estado e cada membro da comunidade, em que o controle estatal era aceito em nome dos
benefícios sociais proporcionados aos indivíduos. Como diz Bendix:
Uma certa subordinação do interesse privado ao público e da decisão privada à
pública é, portanto, a condição sine qua non de uma comunidade política. De um
modo implícito mais do que explícito, os membros de uma comunidade política
consentem com essa subordinação numa permuta por certos direitos públicos.
(BENDIX, 1996, p. 53)

A reinvenção das bases que sustentam os acordos societários entre as pessoas comuns
e o Estado, no contexto da modernidade tardia, parece tarefa urgente. As respostas não são
mais encontradas unicamente nas promessas da modernidade clássica, por isso não basta
defender o retorno da autoridade e da centralidade das instituições, nos termos em que elas
apareciam no início do século XX. Ao invés de buscar o fermento para o fortalecimento das
instituições públicas nessas velhas promessas, talvez seja preciso buscar os engajamentos
micropolíticos, grupais, comunitários, não como a solução de todos os problemas, mas como
as novas energias capazes, quem sabe, de revitalizar as bandeiras e práticas partidárias e
institucionais.

51
9. Bibliografia

ABAD, Miguel. Possibilidades e Limites da Participação Juvenil para o Impacto na Agenda


Pública. O caso do conselho municipal de juventude em Medellín. Redes e Juventudes.
Recife, 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BECK, Ulrich. “A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização”. In: BECK, U.;
GIDDENS, A.; LASH, S. Modernização reflexiva. São Paulo: Ed. da Unesp, 1997.

BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Editora Hucitec,
1994.

BENDIX, Reinhard. Construção Nacional e Cidadania. São Paulo: Edusp, 1996.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. A era da informação: economia, sociedade e


cultura. São Paulo: Ed. Paz e Terra, v. 2, 2001.

RIBEIRO, Renato Janine. “Política e juventude: o que fica da energia?”. In: NOVAES, Regina;
VANNUCHI, Paulo. Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação.
São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2004.

52
relatório global janeiro 2006

Juventude Brasileira
e Democracia:
participação, esferas
e políticas públicas

3.4 Relatório regional


Porto Alegre

Entidade parceira
Universidade Federal do Rio
Grande do Sul/UFRGS

Equipe
Supervisor
Nilton Bueno Fischer

Pesquisadoras assistentes

Carmem Zeli Vargas Gil


Nara Vieira Ramos
Nilda Stecanela
Sueli Salva
Sumário

1. Apresentação

2. Introdução
2.1 Grupos de Diálogo: a concepção de diálogo com a qual trabalhamos
2.2 A questão da participação: nosso tema central da pesquisa

3. A metodologia em ação
3.1 Os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de Porto Alegre
3.1.1 Organização das equipes
3.1.2 Os diferentes grupos
3.1.3 A convocação dos(as) jovens
3.1.4 O transporte .
3.1.5 O local de realização dos Grupos
3.1.6 Algumas surpresas
3.1.7 Alguns casos interessantes
3.2 O Dia de Diálogo passo-a-passo
3.2.1 O Guia do(a) Facilitador(a): as adaptações que foram necessárias
localmente, suas possibilidades e limites
3.2.2 A facilitação e os diferentes papéis
a) Do(a) facilitador(a)
b) Dos(as) bolsistas
c) As adaptações realizadas
3.2.3 Instrumentos de Diálogo
a) Cadernos/roteiros para o Diálogo
b) Banners
c) CD-ROM
d) Fichas Pré e Pós-Diálogo
3.2.4 Perfil dos(as) participantes
a) Tabela 1 – Número de jovens convocados(as) x número de jovens
presentes por Grupo de Diálogo e no Geral
b) Distribuição dos(as) jovens conforme: idade/sexo/classe/local de moradia
c) Perfil dos(as) jovens participantes: jovem que trabalha/que não
trabalha/jovem que estuda
3.2.5 A participação dos(as) jovens nos diferentes Grupos
a) Característica de cada Grupo e diferenças entre os Grupos, levando em
conta o recorte etário (15-17; 18-24; 15-24) e experiência prévia de
participação ..
b) Características e diferenças de gênero, escolaridade, classe e outras

3.2.6 Análise global da metodologia dos Grupos de Diálogo ..


3.2.7 Análise sobre a organização da pesquisa em rede .

4. O conteúdo
4.1 Comentários iniciais
4.1.1 Primeiro Instrumento de Análise: tabela 1 – comentários iniciais (1ª parte)
4.1.2 Segundo Instrumento de Análise: tabela 2 – Comentários iniciais (2ª parte)
4.1.3 Tendências quantitativas: tabelas 1 e 2
4.1.4 Tendências qualitativas: tabela 1 e 2
4.2 Semelhanças e diferenças
4.2.1 Terceiro instrumento de análise – Tabela 3: semelhanças e diferenças da
plenária da manhã (1ª parte)
4.2.2 Terceiro instrumento de análise – Tabela 3: semelhanças e diferenças da
plenária da tarde (2ª parte)
4.2.3 Análises das semelhanças da plenária da manhã
4.2.4 Análises das semelhanças da plenária da tarde
4.3 Caminhos participativos por GDs
4.3.1 GD1 – 19.03.05 – 15 a 24 anos – Experiência participativa
4.3.2 GD2 – 02.04.05 – 15 a 17 anos
4.3.3 GD3 – 09.04.05 – 18 a 24 anos
4.3.4 GD4 – 23.04.05 – 15 a 24 anos
4.3.5 GD5 – 15 a 24 anos
4.3.6 Análise do processo e conteúdo dos pequenos grupos .
4.4 Caminho síntese por Dia de Diálogo
4.5 Comentários finais (Tabelas 4 e 5) – Obs.4º e 5º instrumento de análise juntos

5. Fichas pré e pós-Diálogo – Tabela 6


5.1 Parte Quantitativa: cruzamento do perfil com a numeração apontada sobre as fichas
Pré e Pós.
5.2 Caminho participativo 1
5.3 Caminho participativo 2
5.4 Caminho participativo 3

6. Análise de questões relativas à participação: tendências, interdições, potencialidades


7. Conclusão
8. Bibliografia

2
1. Apresentação

Este relatório contempla dados e análises da segunda parte da pesquisa Juventude Brasileira
e Democracia: esferas e políticas públicas, coordenada pelo Ibase e Instituto Pólis,
desenvolvida na Região Metropolitana de Porto Alegre, em parceria com o Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nos meses de março
e abril de 2005, a qual caracteriza a parte qualitativa, ou seja, os Grupos de Diálogo.
A primeira parte do texto faz uma reflexão sobre a metodologia em ação, apresentando
o processo de constituição, desenvolvimento e perfil dos Grupos de Diálogo da RMPA,
descrevendo e analisando os diferentes momentos de realização dos Diálogos.
A segunda parte do texto traz elementos sobre o conteúdo dos Grupos de Diálogo,
com ênfase na palavra dos(as) jovens participantes, os comentários iniciais e finais,
semelhanças e diferenças apresentadas nas plenárias da manhã e da tarde, os Caminhos
Participativos, as problematizações das escolhas e as opiniões – inicial e final – dos(as) jovens
a respeito dos Caminhos, além do processo e conteúdo dos Diálogos estabelecidos nos
pequenos Grupos da manhã e da tarde. Nas conclusões, são apresentadas algumas
tendências, interdições e potencialidades da participação dos(as) jovens em relação aos temas
e aos Caminhos Participativos propostos para o Diálogo, tendo em vista o perfil dos(as) jovens
da RMPA.
Todo o texto está permeado por análises parciais de cada momento da
metodologia, as quais são retomadas nas conclusões. Importante dizer ainda que as
análises foram feitas a partir de um olhar vertical de cada momento da dinâmica dos
Grupos de Diálogo, combinado com um olhar horizontal para cada uma tabelas e reflexões
compostas, na tentativa de capturar possíveis regularidades entre esses diversos
momentos e nas aproximações com totalidades que possam sinalizar características
dos(as) jovens da RMPA sobre o tema “participação”.

3
2. Introdução

2.1. Grupos de Diálogo: a concepção de diálogo com a qual trabalhamos


A pesquisa teve como elemento central o diálogo, numa perspectiva de escuta que vai além de
uma simples conversa, na qual pessoas que não se conhecem se encontram para dialogar
sobre um tema que não estava, a princípio, na pauta do seu dia-a-dia. O diálogo é uma
conversa especial que agrega diferentes pontos de vista. Dialogar sem discutir, ou seja,
defender uma opinião sem querer ganhar do outro, estimulando uma cultura democrática em
que o diálogo pressupõe a escuta.
O princípio é que o “outro” tem partes da resposta e, por isso, procura pontos em comum
na conversa descobrindo novas possibilidades e formas de pensar. Portanto, esse diálogo, que
não é a soma das opiniões individuais, apresenta-se simultaneamente como método de
investigação e processo educativo ampliado. Para dialogar, é preciso escutar, silenciar,
suportar o silêncio do outro, escutar o que o(a) jovem diz quando aparentemente nada diz. É
preciso “estar aberto para”. Uma relação dialógica acontece a partir de uma abertura, de um
desnudar-se diante do outro, de aceitar-se como ser em permanente formação, em
permanente aprendizado. Na concepção de Freire (1997, p. 153-154), há uma razão ética para
essa abertura, um fundamento político e uma referência pedagógica, pois “o sujeito que se
abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma
como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na história”.
Ainda, na perspectiva freireana sobre o diálogo, a metodologia colocada em prática nesta
pesquisa estimula, em vários momentos, que os(as) jovens falem a partir de seus contextos de
vida, interagindo com os temas propostos (educação, trabalho, cultura/lazer), e os Caminhos
Participativos apresentados servem como possibilidade de ação. Portanto, a metodologia cria
estratégias para que os(as) jovens tenham o que falar. Conforme Freire (1997),

Escutar é obviamente algo que vai mais além da possibilidade auditiva de cada
um. Escutar, no sentido aqui discutida, significa a disponibilidade permanente
por parte do sujeito que escuta para a abertura à fala do outro, ao gesto do
outro, às diferenças do outro. (p. 135)

Esse “falar” do(a) jovem se institui partindo do pressuposto de que há algo ainda para ser
escutado e aprendido por nós, pertencentes ao mundo adulto. Nessa abertura ao nosso não-
saber, faz sentido o saber do outro. De acordo com Freire (1997), esse saber, esse
posicionamento que o(a) jovem expressa, pode não coincidir com o nosso ponto de vista.
Tampouco a intenção é fazer com que o(a) jovem venha a pensar da mesma forma que
pensamos, ou seja, que o(a) jovem passe por um processo de convencimento a partir de
nossas idéias. O que desejamos é aprender com as diferenças, como nos diz o autor, “é no

4
respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo,
que me encontro com eles ou com elas” (p. 152).
É dessa forma que o sentido de “encontro” se amplia, significando mais que um
simples reunir-se, tornando-se um “encontro com”, para “aprender com”. Essa postura pode
nos trazer mais segurança, pois, ainda na perspectiva de Freire, a “segurança se alicerça
no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que sou
consciente, atesta, de um lado minha ignorância, me abre, de outro, o caminho para
conhecer” (1997 p. 153). Então, a partir disso, podemos afirmar que se estamos dispostos
a conhecer optamos por dialogar.
Alberto Melucci (1994) traz essa discussão para dentro do desafio que teremos na análise
dos dados coletados a partir dessa metodologia dialógica. Além do que Freire nos apresenta
como atitude frente ao outro [nós pesquisadores(as) e os(as) jovens], Melucci nos diz que:

() se partirmos de proposições totalizantes, ao invés de uma proposição da


qual se é consciente, então nenhum diálogo ou comunicação é possível. Você
pode assumir o ponto de vista de uma outra pessoa somente se você é
consciente de sua própria posição no campo, no campo das relações sociais,
discursos e linguagens. (p. 158)

Pode-se dizer ainda que a metodologia adotada tem sustentação também em outras
pesquisas desenvolvidas com jovens. Como exemplo, podemos citar o Projeto Juventude, que
desenvolveu uma “pesquisa qualitativa através da escuta das narrativas da participação
juvenil, mapeando as informações sobre juventude no Brasil”, especificamente as análises
feitas a partir da pesquisa de opinião realizada nesse projeto.

2.2. A questão da participação, nosso tema principal da pesquisa


A participação é tema principal da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: esferas
públicas e políticas, entendendo a “necessidade que os(as) jovens sejam sujeitos ativos nesse
processo ainda inicial de definição de políticas nacionais dirigidas aos setores juvenis da
população brasileira”. Nesse sentido, a pesquisa pretende estimular a participação e a
democratização dos processos decisórios e de autonomia dos(as) jovens como atores
coletivos, possibilitando a compreensão de quais fatores ou elementos mobilizam os(as) jovens
para a participação.
Islas (2002), a partir de suas pesquisas, realizadas no México, discute uma
dimensão das políticas de juventude, relacionada à dificuldade de construir dinâmicas
que facilitem a participação juvenil. Primeiro, porque ainda é considerada nos marcos
de uma participação tradicional; segundo, porque pouco se sabe da vida dos(as) jovens
na cotidianidade. Cabe investigar a política da antipolítica juvenil, propondo a questão:
Para quê e onde participar? O trabalho, a família e as instituições tradicionais (partidos,
grêmios, sindicatos) transformam radicalmente a participação juvenil. Para Islas (2002),

5
a família tem se convertido mais numa relação do que numa instituição [posterga-se a
união e a procriação, menos uniões formais, aumento dos divórcios, estar solteiro(a)
como um estado permanente e a extensão da coabitação]. O trabalho apresenta-se,
cada vez mais, como fator de insegurança na construção de um plano de vida. E os
partidos não dizem nada aos(às) jovens.
Para muitos(as), esse contexto se traduz em apatia, desinteresse e individualismo. Talvez
devêssemos “cambiar la mirada”’ para pensar de maneira diferente, questionando onde e para
quê os(as) jovens participam/participariam. Em outros tempos, essa participação formal
construía identidade, respondia a questões “morais” postas pela sociedade e produzia um
sentir-se útil na sociedade, através da busca da transformação do mundo. Hoje, trata-se de
questionar onde os(as) jovens estão buscando esses significados. Cada vez mais, os(as)
jovens vêem-se obrigados(as) a realizar seus planos de vida sem as referências tradicionais.
No entanto, os indivíduos tomam consciência de sua individualidade a partir do olhar do outro,
num processo intersubjetivo em que eu sou para ti o tu que tu és para mim (Melucci, 1992).
Portanto, quando se fala em participação juvenil, é preciso investigar onde os(as) jovens estão
construindo os nexos emocionais, onde e como estão buscando esse reconhecimento
intersubjetivo e onde eles(as) estão tomando consciência de sua individualidade, pois nos
fazemos no encontro com o outro.
As contribuições de Melucci (2001, p. 102) sobre as linguagens juvenis a respeito dos
conflitos “pós-industriais” também são importantes para compreender as formas de
participação juvenil. Essas formas podem estar expressas nas linguagens truncadas, nos
silêncios, na expressão das emoções. Dentro do sistema clássico de participação por
delegação (representatividade) que se encontram nas organizações como sindicatos, partidos
e mesmo dentro do aparelho de Estado, essas linguagens (formas de expressão da cultura
juvenil), não têm guarida, não têm reconhecimento. Por isso, a pesquisa procura, radicalmente,
“pelo diálogo”, pelo registro dessas falas em suas mais diversas manifestações dentro dos
temas propostos – educação, trabalho, cultura/lazer – e suas relações com a sociedade
brasileira contemporânea.

6
3. A metodologia em ação

3.1. Os Grupos de Diálogo na Região Metropolitana de Porto Alegre

3.1.1. Organização das equipes


A equipe da Região Metropolitana de Porto Alegre se constituiu com um perfil acadêmico,
vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, composta por
dois(duas) doutores(as), três doutorandas, e cinco bolsistas com experiência em iniciação
científica junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. Tanto o
supervisor como as pesquisadoras assistentes possuem inserção com a temática
juventude, em outras pesquisas, em dissertações de mestrado e em teses de doutorado.
Da mesma forma, os(as) dez bolsistas que apoiaram a investigação têm inserções em
pesquisa sobre juventude e também em grupos juvenis.

3.1.2. Os diferentes grupos


Os componentes dos Grupos foram selecionados aleatoriamente a partir de estratos
geográficos, sociais, econômicos e também relativos a experiências de participação. Cada um
dos Grupos foi organizado segundo as faixas etárias de 15 a 17 anos e de 18 a 24 anos para
aplicação da ChoiceWork Dialogue Methodology, utilizada na pesquisa Citizens’ Dialogue on

Canada’s Future: a 21st Century Social Contract. À referida metodologia foram acrescidos
cenários e estratégias metodológicas adequados à realidade brasileira e à especificidade da
pesquisa com os(as) jovens.
Nesses cenários, se destacam estatísticas reveladoras de situações sociais ainda
injustas, como na área da educação, na qual, no ano 2000, 18 milhões de jovens estavam
fora da escola e dois milhões eram analfabetos(as). Em 2001, o desemprego atingia 30%
dos(as) jovens entre 15 e 19 anos e 20%, aqueles(as) entre 20 e 24 anos. Na área da
cultura, os dados revelam um precário acesso aos bens, serviços e espaços públicos de
cultura e lazer, pois mais da metade dos(as) jovens nunca foi a shows e outras atividades
culturais, entre outros dados.

a) Grupo de jovens de 15 a 17 anos – 02/04/05


Este foi um Grupo que expressou reflexões importantes sobre os temas do Diálogo. Diferente do
Grupo com experiência participativa, este Grupo não apresentou um discurso decorado e
reprodutor, nem tampouco dogmático. Foram jovens que falaram pelos(as) jovens, sem censura e
a partir de suas vivências em relação aos três temas propostos para o Diálogo: educação,
trabalho, cultura/lazer. Mesmo com pouca idade, esse Grupo demonstrou que tinha
uma propriedade em relação aos assuntos do Diálogo. Muitos(as) já tinham
experiência participativa, mas os seus discursos não expressavam idéias pré-
formatadas. Boa parte do que expressaram fazia parte de fatos de suas vivências

7
cotidianas. O trabalho foi levado bastante a sério por esse Grupo.

b) Grupo de jovens de 18 a 24 anos – 09/04/05


Nesse GD, tivemos o maior número de participantes nos pequenos Grupos, ou seja, oito
jovens, pois organizamos apenas dois subgrupos. A equipe apontou isso como um ponto
positivo, pois o Diálogo ficou mais aquecido, mas, por outro lado, os(as) bolsistas
afirmaram que tiveram dificuldades para registrar as narrativas dos(as) jovens.
Percebeu-se que os(as) jovens deste Grupo falaram a partir de seus contextos de vida,
suas experiências, encontros e desencontros.

c) Grupo de jovens de 15 a 24 anos – 23/04/05


Tivemos, nesse dia, a presença de 20 jovens, que foram distribuídos(as) em três subgrupos.
No início do encontro, os(as) jovens estavam quietos(as) e prestavam atenção nas
informações que eram passadas. Depois da dinâmica inicial, percebemos que eles(as)
demonstravam mais integração. Nesse dia, pela manhã, tivemos problema de falta de luz,
então foi necessário improvisar no momento da projeção do CD-ROM. Alguns(mas) jovens
participaram da leitura do Caderno, por vontade própria. Durante a tarde, tivemos problemas
com o cansaço, sono e desinteresse de alguns(mas) jovens, mas nada que atrapalhasse o
andamento dos trabalhos. Foi um Grupo que exigiu um pouco mais dos(as) facilitadores(as)
para a participação nos pequenos Grupos.

d) Grupo de jovens de 15 a 24 anos – 30/04/05


Nesse Grupo, especialmente, se evidenciou o pouco uso, por parte dos(as) jovens, da
quantidade de informações, dados da pesquisa regional, dados estatísticos do Brasil, dicas
sobre os Caminhos e também os compromissos e os “a favor” e “contra” de cada escolha.
Também se observou a dificuldade nos encaminhamentos entre semelhanças e diferenças,
confundidas como “concordância” ou “discordância”. Embora, com essa constatação, tenha
havido o predomínio da expressão “conscientização” de cada um(a) como pré-condição para a
ação e até para a escolha de qualquer um dos Caminhos ou de um quarto Caminho. E,
contraditoriamente, embora sendo um Grupo mais dispersivo e com atenções voltadas para a
interação lúdica ao longo do dia, os recados e cobranças foram feitos no clássico “modelo” que
é de culpabilizar o “outro”, no caso a instância governamental federal. Conscientização de um
lado e “ação” de outro?

e) Grupo de jovens de 15 a 24 anos e com experiência participativa – 19/03/05


O encaminhamento do trabalho com esse Grupo de jovens foi muito tranqüilo, com muitas
manifestações, desenvoltura nas interações, atitudes autônomas nos pequenos Grupos. Pode-se
afirmar que, para esse Grupo, a presença dos(as) facilitadores(as) nos pequenos Grupos poderia ter
sido dispensada, pois, ao chegar às salas de trabalho, os(as) jovens demonstraram compreensão
das atividades que deveriam desempenhar e já iniciavam a leitura do roteiro, bem como a discussão

8
dos temas propostos, ou seja, educação, trabalho, cultura/lazer. Percebeu-se certo monopólio na fala
dos(as) jovens com experiência de participação no movimento estudantil e nos grupos religiosos.

3.1.3. A convocação dos(as) jovens

O convite para a participação dos(as) jovens foi feito por telefone e por carta. As duas
estratégias apresentaram, em todos os Grupos, muitas dificuldades, pois vários números de
telefones informados, por ocasião da pesquisa de opinião, já não eram mais os mesmos e os
endereços estavam incompletos ou não eram localizados pelos Correios.
Nos contatos telefônicos, algumas vezes era possível perceber as redes estabelecidas
pela população, pois muitos telefones pertenciam a vizinhos, amigos e familiares.
Uma constatação importante nesse item se refere ao “modo” como eram feitas as
comunicações entre a equipe e os(as) jovens e mesmo com seus(suas) familiares. Predominou
uma forma coloquial, ou seja, um verdadeiro convite. Houve situações em que vencia a
“pressa”, então os desdobramentos não eram tão positivos. Nesse sentido, alguns telefonemas
transcenderam quase os objetivos do convite em si e da pesquisa. Algumas manifestações
como “conferir” realmente de onde teria vindo o telefonema, como o caso da mãe que desejava
falar com o supervisor, sem nenhum intermediário.

3.1.4. O transporte
As distâncias dos diversos municípios da Região Metropolitana exigiram algumas
“madrugadas” por parte dos(as) jovens. Para aqueles(as) jovens que nunca tinham vindo a
Porto Alegre, ou mesmo ao Campus Central da UFRGS, foi necessário explicitar algumas
dicas para chegarem ao local dos encontros. Entre elas, alguns “alertas” a respeito da
segurança, especialmente entre o caminho da rodoviária e o Campus Central.
Ocorreram situações também de ordem “espacial”, no sentido de ir “monitorando”
alguns(mas) jovens via telefone, tanto em ônibus como em carro particular, para escolherem
vias expressas mais próximas do Campus Central da UFRGS.
Ainda em relação ao transporte, podemos afirmar que a maioria dos(as) jovens se
deslocou via transporte coletivo. Os(as) que residem nas cidades mais distantes da Grande
Porto Alegre chegavam mais cedo, devido à pouca freqüência nos horários do transporte
coletivo desses municípios, especialmente aos sábados. Aqueles(as) cujo terminal era na
estação rodoviária tinham a possibilidade de vir caminhando até a universidade.

3.1.5. O local de realização dos Grupos


Os Grupos de Diálogo foram realizados na Faculdade de Educação da UFRGS, localizada no
Campus Central, de fácil localização No saguão desse andar, os(as) jovens eram
recebidos(as) pelo supervisor, demais bolsistas e assistentes de pesquisa. Havia uma mesa
com bebidas e lanche, além de música ambiente. Uma sala foi destinada aos(às)
acompanhantes, com TV, vídeo, duas opções de filmes e revistas.

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O banner central da pesquisa estava disposto no saguão do 6º andar e os demais,
além dos dados do RS e do Brasil sobre a situação do(a) jovem atualmente, estavam dispostos
na sala 601. O auditório da sala 601 é amplo, munido de ventiladores de teto, ar condicionado,
cadeiras confortáveis, bem iluminada e arejada adequadamente. Três flipcharts foram
dispostos com informações. Microfones, gravadores, DataShow e laptop foram disponibilizados
pela Central de Produções da UFRGS. Havia uma ampla mesa que foi usada como suporte
para os materiais a serem utilizados no decorrer do dia.
Os pequenos Grupos foram realizados nas salas imediatamente mais próximas do
auditório e foram identificadas por cartões coloridos, seguindo a distribuição dos Grupos, que
portavam crachás de identificação com as mesmas cores.

3.1.6. Algumas surpresas


Houve um caso de um jovem portador de necessidades especiais, no qual pudemos destacar a
importância do papel da mãe que, ao telefone, informou previamente a condição de seu filho, pois
visualmente e mesmo no desempenho, não seria possível perceber as dificuldades, que depois foi
observada na escrita, pois na fala, no Grupo, na interação, tudo corria com tranqüilidade.
Observamos também que os(as) jovens com experiência em diferentes espaços de
participação tinham mais liderança e, às vezes, monopolizavam a conversa. Essa forma de
centralização na fala se verificava também com escolarização mais elevada. No conjunto dos
cinco encontros, houve a predominância das meninas na fala mais articulada e “solta” nos
pequenos Grupos, e uma predominância dos meninos nas plenárias.

3.1.7. Alguns casos interessantes


Um jovem de 32 anos apareceu em nosso quarto GD e foi entrevistado na primeira fase da
pesquisa, mesmo tendo informando sua idade à entrevistadora. Segundo depoimento do
jovem, houve anuência da entrevistadora em momento final de sua “quota” do dia. A entrevista
foi realizada no banco da praça pública na cidade de Canoas.
Uma jovem informou que deu sua entrevista pela janela do local onde trabalha. Outra
jovem do segundo GD dormiu no pequeno grupo da tarde e quase não participou, pois não
agüentava ficar de olhos abertos.
Um jovem do segundo GD falou apenas uma vez e não sabia ler nem escrever. Desde o
início, no hall do 6º andar, na hora do café, ao “tentar” assinar a ficha dos direitos de imagem,
na realidade tentava usar algumas garatujas como cópia das letras do envelope da
carta/convite.
Foi surpreendente também a forma como as pessoas recebiam a informação do
pagamento de R$ 50,00. Alguns(mas), ao falarem do dinheiro, agradeciam e desligavam
imediatamente o telefone. Outros(as) ligavam novamente para confirmar se de fato iriam ser
pagos os R$ 50,00. Outros(as), mais discretos(as), ligavam perguntando se ia ocorrer de fato
tudo que dizia a carta-convite.

10
3.2. O Dia de Diálogo passo-a-passo

3.2.1. O Guia do(a) facilitador(a): as adaptações que foram necessárias localmente, suas
possibilidades e limites
O Guia constituiu-se numa ferramenta fundamental para o desenvolvimento do Diálogo. A
partir das recomendações do Guia, organizamos uma pauta de trabalho e uma nova agenda,
mais detalhada. Cumprimos os tempos estabelecidos com pequenos ajustes no terceiro grupo,
quando tivemos poucos(as) jovens presentes. A recepção cuidadosa e acolhedora (conversas,
músicas, lanches etc.) criou um clima de descontração que aproximou os(as) jovens entre si e
a equipe em todos os encontros.
O Guia contribuiu muito para que não fugíssemos dos temas propostos, e os resumos
dos Caminhos, além dos compromissos e questão da manhã e da tarde afixados nas salas,
foram imprescindíveis para a focalização do Diálogo. As fichas Pré e Pós-Diálogo foram
aplicadas segundo o Guia do(a) Facilitador(a), sem problemas.
Para a dinâmica de todas as atividades, bem como para a visão de conjunto sobre os
tempos e a distribuição das atividades e sua seqüência, o Guia foi a ferramenta decisiva,
estratégica, para o bom andamento dos trabalhos. Como os registros das falas dos(as) jovens
foram baseados nessa etapa anterior (e dessa categorização), talvez fosse mais importante
entendermos a noção de “processo” dessas atividades e estas serem subsídio para o
preenchimento das fichas no final e as mensagens aos(às) “tomadores(as) de decisão”.
Entretanto, a definição das semelhanças e diferenças foi a parte mais exigente e difícil e,
nesse ponto, o Guia foi pouco esclarecedor. Em algumas situações, as semelhanças e diferenças
eram muito detalhadas em assuntos e não em temas, parecendo que tudo poderia ser semelhança.
Também não houve muitas discordâncias/polêmicas, e os Grupos tinham uma marca muito forte do
consenso. Em alguns momentos, um Grupo questionava a posição de outro Grupo ou pedia
esclarecimento, mas sem grandes discussões. Em outros momentos, destacar semelhanças e
diferenças parecia ser definir pontos de concordância e pontos de discordância e não pontos
em comum.
O binário – a favor e contra – e a discussão entre migrar de uma categoria para outra,
do semelhante para o diferente, muitas vezes ficava assumido como sendo “estar de acordo” e
“não estar de acordo”. Sentimos ser esse um elemento “inibidor” para capturarmos melhor o
que realmente os(as) jovens desejam dizer sobre algum item, tema ou Caminho.
Por fim, acrescentamos que o Guia do(a) Facilitador(a) poderia ainda incluir, em
destaque, a necessidade de recolher os registros feitos pelo(a) jovem redator(a) de cada
pequeno Grupo de Diálogo, pois isso permite verificar os filtros que são feitos entre as
narrativas dos(as) jovens dos pequenos Grupos, os registros e o que é levado como síntese
para a plenária.

11
3.2.2. A facilitação e os diferentes papéis

a) Do(a) facilitador(a)
No RMPA, tivemos três facilitadores(as), que atuavam em forma de rodízio nas atividades
do Dia. Isso oportunizou uma ação complementar e vigilante na aplicação das orientações
do Guia. Isso dependia da situação, quando havia menos grupos e também quando
precisávamos de uma combinação entre três funções na ação do(a) facilitador(a): 1)
problematizar com os(as) jovens; 2) alguém que auxiliava o que vinha do(a) facilitador(a)
e/ou dos(as) jovens para auxiliar no registro e; 3) alguém que registrava no flipchart e
confirmava as semelhanças e diferenças com os(as) jovens, solicitando inclusive ajuda
para eles(as) na melhor redação a ser registrada.
Na dinâmica geral do encontro, todas as atividades tinham um encadeamento que
dependia da função do(a) facilitador(a) no sentido de seu gerenciamento. Isso exigiu um
tempo que foi utilizado para além da função “técnica” nas plenárias. Especialmente em
ocasiões de mudança repentina das condições materiais de infra-estrutura, essa função foi
exigida para o redimensionamento das atividades da agenda. Nos dias em que faltou luz,
duas manhãs, o uso do CD-ROM foi invertido em sua seqüência (indo para a tarde), mas
mantida a sua leitura “dramatizada” com o apoio das assistentes.
O papel do(a) facilitador(a) foi sempre esclarecedor das etapas do trabalho e do
objetivo da pesquisa: ouvir os(as) jovens em suas escolhas para ter um Brasil melhor. Em
algumas situações, o(a) facilitador(a) foi mais enfático(a), intervindo em função do silêncio
dos(as) jovens, das dúvidas ou de alguns(mas) que monopolizavam a conversa. Em outros
momentos, o(a) facilitador(a) fazia perguntas para ajudar os(as) jovens a pensar melhor sobre
suas escolhas e opiniões, mas foi um papel difícil, pois, como professores(as), estamos
sempre falando e fazendo sínteses, ou seja, colocando as palavras na boca dos(as) jovens. As
colocações do(a) facilitador(a) procuraram esclarecer os(as) jovens sobre os Caminhos, mas
nem sempre isso foi possível. Mesmo que tenhamos seguido o Guia do(a) Facilitador(a),
repassando algumas informações e atividades, é nos pequenos Grupos que isso assume mais
significado, em que os(as) jovens sentem-se mais à vontade para perguntarem o que, de fato,
é para fazer.

b) Dos(as) bolsistas
Os(as) bolsistas participaram de todos os encontros, anotando as falas, interagindo com os(as)
jovens nos intervalos e colaborando na infra-estrutura. Faziam comentários importantes nas
reuniões da equipe ao final de cada Diálogo que, em geral, eram realizadas no pátio da
UFRGS, ao ar livre.
Os registros por eles(as) realizados são subsídios importantes para a análise dos
dados, pois muito do que o(a) jovem pensa, ele(a) não consegue expressar na plenária. Assim,
dispomos de um rico material, no qual as vozes, os diálogos se mostram com maior inteireza.

12
Destacamos a presença dos(as) bolsistas com experiência em grupos de jovens e
também com iniciação científica, que tiveram um olhar crítico sobre todo o processo, avaliando,
inclusive a postura dos(as) facilitadores(as). Mesmo sem conhecer a fundo os passos da
metodologia, não se intimidaram a fazer comentários procedentes para a qualificação do Grupo
de Diálogo. Além disso, estabeleceram interações muito acolhedoras com os(as) jovens, que
chegavam timidamente.

c) As adaptações realizadas
Podemos agrupar as adaptações em duas categorias: de ordem material (infra-estrutura) e na
dinâmica das atividades desenvolvidas. Nas adaptações de ordem material, podemos citar o
não funcionamento do CD-ROM e falta de luz no prédio, o que levou, nessas ocasiões, ao uso
de cartazes, Caderno de Trabalho e comentários.
Fizemos a técnica de integração no turno da manhã em apenas três Grupos de Diálogo.
Pensávamos em economizar tempo, mas o efeito descontração foi mais relevante, nos
rendendo ao roteiro do Guia do(a) Facilitador(a).
No segundo GD, ficou mais fácil levantar as semelhanças e diferenças a partir da inversão
da seqüência pelo(a) facilitador(a), que iniciou pela problematização das escolhas dos
Caminhos para a solução dos problemas apontados na plenária da manhã. Em função disso,
as semelhanças brotavam e facilitavam o registro no flipchart.
Também é necessário salientar que, neste GD, uma outra adaptação foi feita, em que
muitos pensamentos foram expressos pelos(as) jovens comentando os compromissos e
relacionando-os com as temáticas e problemas vivenciados por eles(as). Esses relatos
surgiram porque o(a) facilitador(a) propôs que os(as) jovens lessem cada um dos
compromissos e, à medida em que iam lendo, também expressavam suas idéias, como por
exemplo, os depoimentos a seguir:

As pessoas das tuas cores eles não ‘tão, assim, ajudando os emprego nas
‘coisa’, assim, sei que tem bastante preconceito, sabe?, enquanto os branco
têm mais emprego, assim, os negros estão deixando as pessoas de lado, e
nós somo todos ‘inguais’, né?, isso daí é uma coisa que tem que ser mudada
no nosso país. (jovem participante do GD2)

O tema preconceito e discriminação sempre estiveram presentes, mas essas narrativas


expressam com bastante clareza o que sente o(a) jovem diante do que ocorre no seu dia-a-dia.
Em relação a cotas para negros(as), embora seja um assunto atual, e os posicionamentos em
relação a suas vantagens e desvantagens ainda não estejam claros, alguns(mas) jovens pensam
que ter cotas para ingressar é um demérito, conforme depoimento de uma jovem negra.

Que nem tá havendo em algumas faculdades que têm quotas pra negros. Eu
sinceramente acho isso uma besteira, porque todos nós somos seres

13
humanos, tem prima minha que passou da quota e ela não conseguiu, e ela é
uma pessoa esforçada, ela estuda muito, então por que que a gente vai ter
quota se a gente só por que a gente é negro? Eu acho isso uma discriminação,
eu acho também que é uma discriminação uma discriminação, ahnn eu nun eu
nunca vi um negro na presidência da República também, e eu também acho
uma discriminação isso

3.2.3. Instrumentos do Diálogo

a) Cadernos/Roteiros para o Diálogo


Foi um instrumento importante com informações que subsidiaram os trabalhos. Os(as) jovens
recebiam os Roteiros para o Diálogo na recepção e logo começavam a folheá-lo e lê-lo. As
informações sobre os Caminhos eram relevantes, mas a linguagem ainda estava muito na
lógica do(a) adulto(a). Muitas informações com dados foram pouco utilizadas pelos(as) jovens
nos comentários pós-leitura e nas interações no pequeno Grupo ou nas plenárias. Alguns(mas)
jovens elogiaram os desenhos do Caderno, dizendo que eram representativos das diferentes
juventudes.
Acrescentando, podemos afirmar que o Roteiro para o Diálogo, registro escrito, é um
complemento do CD, cujas imagens, embora sendo as mesmas, são mais esclarecedoras que
o texto impresso. Muitos(as) jovens chegavam no pequeno Grupo e ainda tinham na memória
dados apresentados no CD.

b) Banners
Esse recurso deu um visual bonito à sala, embora poucos(as) jovens tenham interagido com os
banners, e poucas vezes o(a) facilitador(a) fez referência mais enfática ao conteúdo dos
mesmos. Pareciam repetitivos, pois as mesmas informações estavam no Caderno e no CD. É
possível que o papel dos banners esteja em trabalhar com o processo de identificação a médio
e longo prazo, e o CD e Roteiros cumpram sua tarefa em curto prazo.
Para chamar a atenção dos(as) jovens, precisaram ser “indicados” pelos(as)
adultos(as). Ficava mais como uma espécie de adorno, bonitos, coloridos, grandes, atuando
mais como reforço mesmo das demais informações.
Não observamos nenhum(a) jovem referindo-se espontaneamente aos banners, mas isso é
difícil de avaliar, pois nem sempre conseguimos saber o que ocorre. Em relação aos dados sobre
os(as) jovens, percebemos que um(a) dos(as) jovens anotava esses dados em seu Roteiro
para o Diálogo.

c) CD-ROM
Com exceção do primeiro dia, funcionou bem e agradou aos(às) jovens, que ficavam
atentos(as) à apresentação. O CD impactou os(as) jovens, especialmente na primeira parte.
Talvez os Caminhos pudessem ser detalhados de outra forma para que, quando os(as) jovens

14
chegassem aos pequenos Grupos, algumas informações já tivessem sido absorvidas, tornando
a leitura e a reflexão sobre cada Caminho muito mais agradável e apenas complementar.
Um “clima” convidativo foi passado aos(às) jovens através do CD, pois o texto e as
imagens pareciam fugir da idéia de algo “instrucional”, embora houvesse a proposta de tarefas
e de “perguntas”. O ritmo do CD foi muito bem dosado: mensagem (conteúdo); imagem (cores,
fotos, diversidade de jovens); tarefas (indicação de ênfases em torno das três questões:
educação, cultura/lazer e trabalho); tempo [duração e cadência das vozes dos(as) jovens
locutores(as) e as dimensões totais do CD, com duração total de 16 minutos].

d) Fichas Pré e Pós-Diálogo


Foi aplicada segundo orientações do Guia, sem adaptações ou problemas.
Projetamos no Data Show uma tabela com a escala de 1 a 7 e detalhamos o significado de
cada uma das alternativas, associando os números com palavras. Isso ajudou os(as) jovens a
posicionarem-se sobre a escolha a ser feita para cada Caminho.

3.2.4. Perfil dos(as) participantes


Na demografia para os Grupos de Diálogo, utilizamos os dados que foram encaminhados
através da lista de jovens para participação nos grupos qualitativos da Região Metropolitana de
Porto Alegre do Instituto Focus.

a) Número de jovens convocados(as) X número de jovens presentes


Compareceram 98 jovens entre os(as) 296 convidados(as), perfazendo um percentual de
33%. O Grupo que melhor atendeu ao chamado foi o primeiro, jovens com experiência
participativa, com 43,6%.

b) Distribuição dos(as) jovens por GD, conforme: idade/sexo/classe/local de moradia


Cerca de 34% dos(as) jovens vieram de Porto Alegre e mais 29% vieram das três cidades mais
perto da capital (Alvorada, Canoas e Viamão). As classes C/D/E representaram 67% dos(as)
jovens. Os jovens do sexo masculino compareceram em 46% e as do sexo feminino, em 54%.
As idades ficaram quase eqüitativamente distribuídas, pois os(as) jovens de 15-17 anos
representaram 49% e os(as) de 18-24, 51%.

c) Perfil dos(as) jovens participantes: jovem que trabalha/ que não trabalha/
jovem que estuda
A maioria dos(as) jovens que participaram dos Grupos de Diálogo estuda e não trabalha, com
destaque para o percentual dos(as) que estudam com um índice de 97%, dado diferente da
primeira fase da pesquisa, que apontava que a maioria dos(as) jovens entrevistados(as) na
pesquisa de opinião está fora da escola. Cerca de 63% não trabalha.

15
3.2.5. A participação dos(as) jovens nos diferentes tipos de Grupos
(comentários sobre o cadastro e a amostra)

a) Característica de cada Grupo e diferenças entre os Grupos, levando em conta o


recorte etário (15-17; 18-24; 15-24) e experiência prévia de participação
O perfil dos(as) 98 jovens que participaram nos cinco Grupos de Diálogo, na RMPA, na
segunda fase da pesquisa, pode ser assim caracterizado:
Tomando os dois grandes grupos etários: 15-17 anos e 18-24 anos, pode-se afirmar que
houve uma distribuição proporcional, pois compareceram 48 jovens da primeira faixa etária e
50 jovens da segunda faixa etária.
Relacionando esses dados com a população dos(as) entrevistados(as) na primeira fase da
pesquisa – pesquisa de opinião –, percebe-se que o perfil apresenta-se diferente, pois na faixa
etária 1 (15-17 anos), havia 30% de jovens, e na faixa etária 2 (18-24 anos), 70%. Houve,
portanto, na segunda fase, um aumento significativo da representação dos(as) jovens da faixa
etária 1, em contrapartida de um decréscimo da representatividade da faixa etária 2.

b) Características e diferenças de gênero, escolaridade, classe e outras


Tomando a variável classe social, verificamos uma proporcionalidade dos(as) jovens presentes
nos diversos Grupos de Diálogos de 33% para as classes A/B e de 67% das classes C/D/E. Por
sua vez, na pesquisa de opinião, as proporções entre as classes dos 1.000 entrevistados(as)
apresentavam um perfil um pouco diferente, ou seja, para as classes A/B, tínhamos 28,5%, e para
as classes C/D/E, tínhamos 62,9%. Comparando os números da pesquisa de opinião, não podemos
esquecer que havia a alternativa daqueles(as) que não sabiam informar sua classe social.

No que se refere ao recorte de gênero, os percentuais nos Grupos de Diálogo


apresentaram 47% de jovens do sexo masculino e 53% de jovens do sexo feminino. Os
percentuais dos(as) jovens presentes nos GDs apresentaram um viés de maior concentração
entre as meninas presentes do que meninos, diferente da proporcionalidade da população
entrevistada na primeira etapa, cujo percentual ficou em torno de 50% para cada sexo.
Cabe ainda destacar que, nos Grupos de Diálogo, tomando como base cruzamentos com
idade, sexo e renda, se sobressai o grupo das jovens do sexo feminino das classes C/D/E, com
37% (sendo 21% das meninas da faixa etária dos 15 aos 17 anos e 16% entre 18 e 24 anos).
O próximo grupo, com maior representação, foram os meninos das classes C/D/E, com 30%
(sendo 12% da faixa etária dos 15 aos 17 anos e 18% entre os de 18 e 24 anos). O percentual
restante ficou igualmente distribuído entre os(as) jovens do sexo masculino e do sexo feminino
das classes A/B, cada um com 17%, independentemente da idade.
Tomando como “grupo de controle” o primeiro GD, realizado na RMPA no dia 19.03.05, com
jovens entre 18 e 24 anos com experiência prévia em participação, pode-se deduzir que essa
variável tenha influenciado no maior percentual de presença entre os(as) convidados(as) e os(as)
que realmente estiveram presentes, com uma média de 43% quando, nos demais GDs, não

16
passou de 33%. Os(as) jovens da menor faixa etária (15 aos 17 anos), das classes C/D/E desse
Grupo foi o percentual maior entre todos os demais, com cerca de 57%. Logo a seguir, temos as
jovens do sexo feminino, também desse grupo, com cerca de 50% de presença, também das
classes C/D/E.

Considerando os(as) jovens que compareceram a todos os GDs, a maior predisposição


para a participação nos Grupos de Diálogo, a partir da carta-convite e dos telefonemas de
confirmação, foi a dos(as) jovens das classes C/D/E, com predominância do sexo feminino e
da faixa etária dos 15 aos 17 anos, em primeiro lugar, com cerca de 21%; a seguir, os meninos
entre 18 e 24 anos, com 21%, e em terceiro lugar, as meninas entre 18 e 24 anos.

3.2.6. Análise global da metodologia dos Grupos de Diálogo


A metodologia apresentou um campo próprio para o levantamento dos interesses dos(as)
jovens sobre a participação, pois permite, em todos os seus momentos, reforçar a importância
da escuta do outro sobre problemas que lhes afetam diretamente. Ninguém melhor que o(a)
jovem para falar sobre sua situação juvenil. Permite também analisar o quanto o(a) jovem pode
ser estimulado(a) a participar e a usufruir e também a criar canais participativos. Nas falas
finais, ficou muito evidente o quanto os(as) jovens valorizaram o “espaço de participação”
criado e, com um simples encontro, já estariam mobilizados(as) a continuarem o diálogo.
Alguns(mas) até disseram que voltariam para suas comunidades e que proporiam algo na via
do que tinha sido dialogado no encontro. Além disso, muitas ações juvenis praticadas, que
estavam no anonimato, emergiram com força e foram socializadas com outros(as) que se
aproximavam das vivências relatadas.

Uma coisa muito importante foi ter formado uma opinião diferente. Vim aqui
pensando uma coisa e vou sair pensando outra, né?, pensando diferente. (jovem
participante do GD4 – 23.04.05)

Que não caia esse sábado no esquecimento. Estou ansiosa para chegar na
minha cidade e fazer alguma coisa pra tentar mudar. Não vamos esquecer
isso, foram colocadas tantas idéias aqui Que não seja só uma pesquisa, mas
um programa que perceba como os jovens estão na sociedade. (jovem
participante do GD2 – 02.04.05)

O que aconteceu de mais importante aqui hoje foi ver que os jovens ainda têm,
ainda gostam de falar de política e que existem pessoas pensantes no Rio
Grande do Sul, no Brasil, e que eu acho que isso foi importante pra todos que
não quiseram falar, escutaram que, eu acho que vai mudar alguma coisa. Um
pouquinho que seja, mas vai mudar. Eles vão pensar um pouco mais. (jovem
participante do GD5 – 30/04/05)

17
Outro movimento foi observado na transversalidade das relações estabelecidas
horizontalmente entre e com os(as) jovens. Nesse sentido, podemos sinalizar as intensas
trocas de informações sobre a condição de ser jovem na Região Metropolitana de Porto Alegre
como, por exemplo, as condições materiais – preço, segurança e espaços – para os eventos
culturais; cursos profissionalizantes; reflexões sobre a escola e as relações professor(a) e
aluno(a); projetos e oficinas oferecidos pelo poder público e/ou organizados pela própria
comunidade etc. Algumas narrativas podem ilustrar nossas afirmações:

Em Sapucaia, se tu diz assim: ‘eu vou ao teatro’. Teatro? Aonde tu vai no


teatro? Não tem. Aí se tu vai vir pra Porto Alegre, a sessão é as oito, dez da
noite. Como é que tu vai embora? Essa cultura de teatro, cinema, tu tem que te
deslocar de noite, ou de tarde, sozinho, tu não vai, até por uma questão de
segurança. (jovem – do gênero masculino – participante do GD3 – 09.04.05)

Ao mesmo tempo, se houve trocas significativas entre e com os(as) jovens e


desses(as) com a equipe, ocorreram também compreensões mais qualificadas sobre o
processo vivido por parte da equipe, especialmente no exercício da escuta sem prescrições,
com a vigilância e respeito à fala dos(as) jovens, no cuidado com as sínteses simplificadoras
que colocam na fala dos(as) jovens, expressões próprias do mundo adulto.
O ineditismo dessa metodologia tem uma totalidade intencional, através de sua estrutura,
dinâmica e seqüência, que facilita o diálogo, com reflexões concatenadas que contribuem para
a construção do posicionamento final frente aos Caminhos Participativos propostos em relação
aos três temas apresentados.
Essas condições favoreceram o estabelecimento do diálogo que, num primeiro
momento, pareceria impossível de ser realizado em apenas oito horas de trabalho. No entanto,
a estrutura da metodologia, com opinião inicial e final, permeada pelas outras reflexões do Dia,
fornece indicadores da importância da criação de espaços de escuta nos quais os(as) jovens
possam se colocar como atores sociais, apontando alternativas para a definição e
implementação de políticas públicas. Diante disso, podemos antecipar algumas conclusões,
indicando que a política pública poderia ser a própria criação das condições para a escuta, ou
seja, na perspectiva de Heidegger, “o deixar ser”. Segundo o autor, a postura de abertura
diante desse “não-saber”, que ele chama de “abertura ao mistério”, é o deixar ser às coisas
que oferecem a antevisão de um novo enraizamento. Entendemos que há um “novo” que
emerge na cena política brasileira via juventude, como sinalizador de iniciativas não
prescritivas de parte de algumas instâncias do poder público.
Aliado a esse conjunto de elementos, talvez, mais do que a abertura de espaços para a
expressão juvenil, o exercício é importante também porque coloca o(a) adulto(a) na prática da
escuta do(a) jovem, não apenas na dimensão da conscientização do valor da escuta do outro,
mas porque a execução da metodologia exige uma vigilância constante, tarefa ainda mais
desafiadora quando se tratam de facilitadores(as) professores(as).

18
Outro aspecto que merece análise diz respeito aos rituais de encontro presentes na
agenda do Dia e que transcendem o previsível, como, por exemplo, as interações em torno da
mesa do lanche, as conversas debaixo das árvores, os deslocamentos para as salas dos
pequenos Grupos e as conversas no almoço. Estes momentos permitiram conhecer em
detalhes o contexto das entrevistas realizadas na primeira fase da pesquisa.
Vale destacar que há uma diferença nas falas dos(as) jovens quando nos pequenos
Grupos ou nos momentos de interação durante o lanche ou mesmo almoço em comparação com
as plenárias. Os contrastes de idade, de participação ou mesmo sexo e classe social tendem a se
diluir, nesses momentos. Isso não elide o fato que alguns(mas) jovens, negros(as) e mais pobres,
ficassem circulando em alguns cantos, ou mais silenciosos(as) e sentados(as) separados(as)
dos(as) demais, com pouca “mescla” entre meninos e meninas.

3.2.7. Análise sobre a organização da pesquisa em rede


O Fórum Virtual permitiu uma visão das dimensões da pesquisa em nível nacional. A
interlocução realizada em nível nacional através do Fórum foi alimentadora de reflexões
teórico-metodológicas importantes e também de trocas afetivas que fortaleceram as equipes
regionais.
O estímulo e respeito à livre expressão das diferentes equipes regionais, com suas
especificidades, foi uma constante, permitindo análises e recondução do caminho durante a
trajetória, num processo de exercício da reflexividade, no qual, a partir dos avanços e
dificuldades de uma região, havia a colaboração para o processo da outra.
A pesquisa criou uma rede de parceiros formada por entidades da sociedade
civil, de cada uma das oito Regiões da pesquisa, envolvidas na temática da juventude.
Isso é de fundamental importância para o debate nacional sobre políticas públicas de
juventude. Talvez o grande ganho da pesquisa seja a promoção do debate com
organizações da sociedade civil, os(as) políticos(as) e os(as) formuladores(as) de
políticas públicas, e também a presença da academia.

19
4. O conteúdo

4.1. Comentários iniciais


Pela manhã, no início dos trabalhos, os(as) jovens foram convidados(as) a se apresentar,
dizendo seu nome e idade e, em uma palavra, sintetizar uma preocupação em relação ao
Brasil. O(a) facilitador(a) enfatizou a importância de respeito ao tempo de 30 segundos para
cada manifestação. As tabelas a seguir só apresentam os comentários organizados a partir do
critério de terem aparecido mais de uma vez na fala dos(as) jovens.

4.1.1. Primeiro Instrumento de Análise: Tabela 1 – Comentários Iniciais (1ª parte)

GD GD 1º GD 2º GD GD
Comentários Iniciais
15-18 18-24 15-24 15-24 Exp. Part. Total
(temas/ questões)
(02/04/05) (09.04.05) (23.04.05) (30.04.05) 19.03.05
Violência 5 1 3 7 6 22
Desemprego/Falta de
10 - 4 6 3 23
oportunidades
Saúde 3 2 - 1 1 7
Educação/Qualificação
4 4 6 4 3 21
dos(as) jovens
Preconceito 1 2 1 - - 4
Drogas 2 1 - 2 - 5
Miséria/
4 - 1 - 2 7
Desigualdade/Pobreza
Sociedade e valores 5 - - - - 5

20
4.1.2. Segundo instrumento de análise: Tabela 2 – Comentários Iniciais (2ª parte)

Comentários Iniciais (temas/questões) Grupo de Diálogo: GD 1 – 19/03/05

No GD 1 não houve comentários sobre o


que preocupa os jovens. Eles foram breves
Observações:
e objetivos, conforme transcrição das fitas
e registros dos facilitadores.

Comentários Iniciais (temas/questões) Grupo de Diálogo: GD 2 – 02/04/05

“o que me preocupa assim mais é a


violência, a parte também da educação, e
o desemprego.”
Violência/ Segurança
“o que me preocupa é a violência e... o
desemprego, que tá muito grande no
Brasil.”
“o que me preocupa assim mais é a
violência, a parte também da educação, e
o desemprego.”
Emprego/ Trabalho/ Falta de Oportunidade “o que me preocupa mais é o desemprego
e a violência.”
“o que me preocupa mais é a dificuldade
do jovem entrar no mercado de trabalho.”
“o que me preocupa mais é a
discriminação.”
Racismo e preconceito
“que me preocupa é a violência o
desemprego, tudo né... o racismo, tudo...”
“o que mais me preocupa é o trabalho
infantil e a educação.”
Educação “o que me preocupa assim mais é a
violência, a parte também da educação, e
o desemprego.”
“o que mais me preocupa no Brasil no
momento é a fome, e a juventude, e pra
Sociedade / valores onde ta indo a juventude brasileira.”
“e o que me preocupa mais é a
desigualdade social.”
“várias coisas me preocupam, mas o que
mais me preocupa é o desemprego, a
Saúde educação e a saúde.”
“o que me preocupa mais é o desemprego
e a saúde.”
“e o que mais me preocupa é as crianças
Desigualdade /pobreza sem abrigo.”
“Ahhh! Tudo... Saí das periferia...”
“o que me preocupa mais é as drogas na
Drogas juventude.”
“e o que me preocupa mais é as drogas.”

21
Comentários Iniciais (temas/ questões) Grupo de Diálogo: GD 3 09/04/2005
Aborto “me preocupa e muito o aborto”.
“e acho que o que me preocupa mesmo é
Violência
a violência aqui no Brasil”.
“o que me, no Brasil, é o desemprego”.“o
Desemprego/Falta de Oportunidade que eu acho que falta, é a falta de
oportunidade para os jovens”.
“acho que o principal de tudo é saúde, tá
Saúde
faltando”.
“pô, é uma palavra: educação”.“e o que me
Educação/qualificação dos jovens
preocupa é a qualificação dos jovens”.
Indiferença “eu acho que a palavra é indiferença”.
Preconceito “é o preconceito”
Drogas “ é as drogas”
Desorganização “acho que é desorganização”
“pra mim, a base de tudo é a família”

Comentários Iniciais (temas/questões) Grupo de Diálogo: GD 4 – 23/04/05

No GD 4 também não houve esse


Observações: comentário inicial, conforme as
transcrições e relatórios.

Comentários Iniciais (temas/ questões) Grupo de Diálogo: GD 5 – 30/04/05

Educação “e o que me preocupa é a educação”.

“o que me preocupa é arranjar um jeito pra


Viver – geral (condições para)
viver no Brasil”.
Saúde “e o que me preocupa é… saúde”.
“e o que me preocupa mesmo é as
Drogas
drogas”.
Desemprego “o que me preocupa é o desemprego”.
Violência “e o que me preocupa é a violência”.

4.1.3. Tendências quantitativas – Tabelas 1 e 2


A tabela 1, com os comentários iniciais dos(as) jovens, apresenta três grupos de temas que
podem ser agrupados por freqüência. O primeiro agrupamento envolve os(as) jovens que
revelaram que sua maior preocupação é o desemprego, com 23 manifestações, seguido da
violência, com 22 manifestações e, em terceiro lugar, a educação e a qualificação dos(as)
jovens, com 21 manifestações. No segundo agrupamento, estão os(as) jovens que
expressaram ser a saúde a sua maior preocupação, havendo sete ocorrências; a preocupação
com a miséria, desigualdade e pobreza teve sete manifestações; com as drogas tivemos cinco
manifestações; com a sociedade e os valores tivemos cinco manifestações; e também com o
preconceito e a indiferença tivemos quatro manifestações. No terceiro agrupamento, com

22
apenas uma ocorrência, estão as preocupações com a desorganização, com a família como
base de tudo, com o aborto, com a fome, com o Banco Central, com uma forma de viver no
Brasil, com a democracia, com a justiça política e com a criminalidade.
A partir dos dados, é possível dizer que há uma presença forte de dois dos três temas
ligados ao projeto, ou seja, educação e trabalho. Chama atenção que a questão da cultura não
aparece como preocupação inicial nas palavras iniciais dos(as) jovens e deve ser categoria de
análise para a equipe, a partir dos Diálogos, se este tema passa a tomar corpo ao longo do Dia
de Diálogo, aparecendo ou não com mais força nas palavras finais dos(as) jovens. O tema
educação aparece como preocupação dos(as) jovens e de forma equilibrada em todos os
Grupos de Diálogo realizados, assim como a violência e o desemprego.
A violência, tema que não é proposta central do projeto, aparece com uma
elevada freqüência em todos os Grupos, com exceção de um. Um tema que aparece
como preocupação acima da média, em relação aos demais Grupos, é o desemprego, na
faixa etária dos 15 aos 17 anos, ou seja, os(as) mais jovens estão mais preocupados(as)
com o desemprego. Observando dados da pesquisa de opinião, percebe-se que esta é a
faixa etária que mais aparece como excluída do mercado de trabalho, devido,
provavelmente, a exigência da experiência e idade mínima, sendo que são também
os(as) que possuem menos escolaridade:
No que se refere ao desemprego, podemos fazer pontes com a pesquisa de opinião
realizada na RMPA, a qual reforça que os índices de desemprego juvenil são elevados. Dos(as)
1.000 jovens entrevistados(as), 55,6% não está trabalhando, e entre esses(as) há predominância
das mulheres, com um índice de 67,7%, demonstrando que a realidade do trabalho é mais
presente entre os homens. Percebe-se também uma gradativa inserção no mercado de trabalho
conforme o aumento das faixas etárias, com 25% na faixa etária dos 15 aos 17 anos, saltando
para 47% na faixa etária dos 18 aos 20 anos e chegando aos 57% na faixa etária dos 21 aos 24
anos. Por outro lado, as taxas de desemprego entre os(as) que estão situados(as) entre as faixas
etárias de 18 a 20 anos são consideráreis, atingindo o índice de 53%, e dos 21 aos 24 anos num
índice de 43%.

Nos Grupos de Diálogo, evidenciou-se que o desemprego é um dos temas que aparecem
como preocupação dos(as) jovens. O tempo da juventude é feito do tempo presente, do aqui e
agora. Um tempo de possibilidades e limitações. O que se torna preocupante é perceber que,
para os(as) jovens da RMPA, seu tempo é povoado de limitações, sendo a mais grave a
dificuldade de inserção no mercado de trabalho. A inserção no mundo do trabalho pode significar
um rito de passagem para o mundo adulto. De acordo com Melucci (1997), o mundo
contemporâneo vive o “declínio dos ritos de passagem () e a juventude contemporânea tem que
encontrar novos caminhos para vivenciar a experiência fundamental dos limites” (p. 11), e o
trabalho poderia se constituir nesse rito de passagem. A medida em que o(a) jovem define e
reconhece seus limites pessoais e externos, ele(a) tem a possibilidade de mover-se de acordo

23
com as regras do tempo social e do tempo interno. A possibilidade de deslocar-se entre esses
tempos diversos permite que o(a) jovem vá construindo a sua própria experiência de vida,
marcada por diferentes tempos. Ainda de acordo com o autor, “tais passagens marcam a
evolução dinâmica, as metamorfoses da vida pessoal” (p. 11).

Percebe-se, ao longo de toda a pesquisa, a importância do trabalho para o universo


juvenil. Dessa forma, percebemos que a temática do desemprego deve pautar não só as
agendas dos(as) jovens, mas também as agendas do poder público. Essa preocupação está
de acordo com o pensamento do autor Robert Castel (2003) ao afirmar que o “trabalho
continua sendo uma referência não só economicamente, mas também psicologicamente,
culturalmente e simbolicamente dominante” (p. 238). Outras duas grandes preocupações são
pautadas pelos(as) jovens: a educação e a violência. Para os(as) jovens, uma boa educação,
seria a porta de entrada para a possibilidade de emprego. A violência atinge o cotidiano
dos(as) jovens em todas as esferas citadas por eles(as) – a escola, a rua, os shows, os
parques, as praças –, impedindo-os(as) de participar mais efetivamente das atividades
culturais por medo. Talvez por isso a cultura tenha ocupado um lugar de pouco destaque para
os(as) jovens da RMPA.
Podemos dizer que os(as) jovens da RMPA são profundamente afetados(as) pela
impossibilidade de ingressar no mercado de trabalho que exige, cada vez mais, uma formação
qualificada e experiência como condição para o ingresso. A impossibilidade de ingressar no
mercado de trabalho coloca os(as) jovens em condição de “moratória social” (Margullis e
Urresti, 2000). De acordo com os autores, existem duas formas de conceber a moratória. Uma
denominada social e outra, vital. A moratória vital se refere ao capital temporal que o(a) jovem
possui. A moratória social se refere ao tempo disponível para si, sem compromisso com
trabalho ou outras tarefas. Os(as) jovens pesquisados(as) da RMPA, que não estão
trabalhando, não vivem essa condição como uma vantagem, e sim como um tempo de procura
e tentativas de inserção no mercado de trabalho, mais uma vez apontando para o valor que a
sociedade e os(as) jovens dão à possibilidade de trabalhar. O tempo da juventude não é um
tempo de moratória, é um tempo de procura. Quando não conseguem trabalho, o que deveria
ser um tempo de liberdade torna-se um tempo de culpas, um tempo que se gesta com o desejo
de trabalhar. O trabalho voluntário pode significar uma moratória sem culpa, uma vez que
estão fazendo alguma coisa que lhes dá prazer, que podem ajudar a outras pessoas e também
estão ocupando o tempo livre com alguma coisa que é legitimada pela escola, pelo social e
permitido pelos pais, ou ainda, fazendo o que gostam de fazer, com o viés da cultura.

4.1.4. Tendências qualitativas: tabelas 1 e 2


A palavra que mais aparece como preocupação inicial é a violência, fortemente associada à
educação e ao trabalho. Essa associação ocorreu em apenas um Grupo, o GD dos(as) jovens
de menor idade, considerando que os(as) demais se limitaram a dizer a palavra sem maiores
comentários. A ausência de comentários sobre a palavra inicial, em quatro Grupos, pode estar

24
associada às preocupações com o respeito ao tempo de 30 segundos, conforme orientações
do Guia do(a) Facilitador(a), seguidas à risca pela equipe.
No quinto GD, composto por jovens de 18 a 24 anos, realizado no dia 30.04.05, a
educação aparece associada com a qualificação dos(as) professores(as), falta de
professores(as), salários baixos e também com as condições materiais das escolas, com a
motivação dos(as) professores(as) e alunos(as), e também com a certificação para o mercado
de trabalho. Esses dados apontam que a preocupação dos(as) jovens com a educação não se
limita à relação com o saber, mas também com as condições materiais das escolas e com a
função do poder público.
Outro tema que não é tema central do projeto, e que aparece de forma isolada, é a
saúde. A preocupação com a educação aparece em todos os Grupos, porém de formas diferentes.
No agrupamento feito em torno de três ênfases a partir da perspectiva quantitativa
(número de vezes que aparece nos comentários iniciais) pode-se perceber duas perspectivas
de “nomear” os problemas do Brasil. A primeira e mais presente é com “a sua condição” de
jovem (emprego, escolarização, profissionalização, violência na escola, drogas) e a outra é a
condição de “todos(as)” os demais (pobreza, miséria, valores).
Outra constatação, já sinalizada em análises anteriores, se encontra também
relacionada com “o ato de nomear” o problema, pois muitos(as) o fizeram de forma “associada”
(interligada) a mais de um tema: emprego e violência; escola e segurança; droga e cultura etc.
Embora isso não tenha aparecido em todos GDs devido a forma pela qual foi enfatizado o
pedido ao(à) jovem falar “estritamente” uma palavra que significasse ser o maior problema para
ele(a), no momento. Talvez devêssemos prestar mais atenção nessa articulação “natural” do(a)
jovem: tanto no indicar um problema, nem todos(as) foram centrados(as) nas demandas juvenis,
mas certamente partindo de sua condição de ser jovem (Melucci, 2001) e também na rapidez
de uma só palavra, este(a) se manifestava buscando uma imediata conexão com outro tema.

25
4.2. Semelhanças e diferenças – Tabela 3

4.2.1. Terceiro Instrumento de Análise – Tabela 3: Semelhanças e diferenças da plenária


da manhã – 1ª parte

1ª Semelhança: Interesse/motivação na educação – 4/5 (GD2, GD3, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 1ª semelhança: Interesse/motivação na educação


“Na escola que eu estudava tinha teatro, dança, tricô para os
4º Grupo de Diálogo mais velhos ou quem quisesse mas como era pouca procura
18-24 fechou. Tinha que ter mesmo com pouca gente”.
(23/04/05) ‘Os professores tem que fazer mais passeio, mais esportes e tirar
os jovens das drogas”.
“Professores desmotivados e uma melhor qualificação dos
2º Grupo de Diálogo professores. Há diferenças entre professor da escola e cursinhos,
15-18 que são mais criativos. A língua estrangeira está no currículo,
(02.04.05) mas o jovem sai do ensino médio sem saber falar inglês e isso
daria uma melhor qualificação”.
“Eu não entendi o seguinte…Que tipo de interesse os
professores tem que ter? Se a gente que é aluno tem que se
3º Grupo de Diálogo
interessar e ir atrás do professor, porque tem muita gente que
15-24
não pergunta pro professor, espera que o professor fale. Como é
(09.04.05)
que o professor vai saber o que tá dentro da tua cabeça que é
aluna”?
“Então, né, para… Motivação né, pra estudar, muitos jovens não
5º Grupo de Diálogo querem e acabam influenciando os outros a não… Apareceu
15-24 motivação sim”
(30.04.05) Mais motivação dos jovens para estudar e dos professores para
ensinar

26
2ª Semelhança: Infra-estrutura na educação: material e serviços – 3/5 (GD1, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 2ª Semelhança: Infra-estrutura: material e serviços


“Questão da estrutura do colégio que não tem estrutura para dar
aula direito. O governo promete livros, merenda e reforma e não
4º Grupo de Diálogo faz nada. Aqui é muito do governo que não faz nada para
18-24 melhorar, só roubam, não contratam professores”.
(23/04/05)
“Estrutura dos prédios (salas desestruturadas, falta merenda,
livros não têm)”.
“Alunos de escolas públicas sentem mais dificuldades para
5º Grupo de Diálogo cursar uma faculdade pública; falta de professores; sem estudo
15-24 ninguém consegue um emprego;
(30.04.05) “Mais verbas destinadas a escola pública para que os
professores façam boas aulas”;
“Até mesmo pra incentivá o aluno tá dentro da sala porque hoje
em dia nós sabemos que não é somente o professor tá ali e mais
um quadro, e sim ter o mínimo de recurso pra poder desenvolver
uma boa aula, o professor ter recursos pra poder proceder uma
boa aula”.
“O nosso grupo deu ali das verbas também, sabe? O que a
gente viu ali, essas verbas o que falta pro jovem na sala de aula
1º Grupo de Diálogo é uma cadeira decente, é um ventilador, é um quadro, é isso que
Experiência tá faltando as verbas ali, né, não sei a administração talvez das
Participativa escolas, os banheiros também são horríveis, é um calor, as
(19.03.05) classes, eu fui estudar nem mesa não tinha, nem cadeira, eu tive
que em outra sala pegá, é superlotação sabe...”“.
“E sabe porque, porque eu acho que muitas vezes não dão, sei
lá dinheiro por que eu acho, que eles acham mesmo que os
próprios alunos estragam. Eu acho por que também a conta, o
tempo como é que se diz, a vai desvalorizando, as coisas vão
ficando velhas e eles acham que os próprios alunos que
quebram, eu acho que por isso que eles não dão verba isso”.

27
3ª Semelhança: Salário dos professores – 4/5 (GD1, GD3, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 3ª Semelhança: Salário dos professores

“questão dos salários dos professores ganham pouco mas também não
4º Grupo de Diálogo fazem nada, são tradicionais, e depois fazem greve e os alunos é que não
18-24 aprendem”.
(23/04/05)
“muito professor se desgasta dando aula de manhã, de tarde e de noite”.

3º Grupo de Diálogo
“Isso o que ela falou no final, de que o professor ganha pouco, tem que
15-24
ser repassada a verba para que o professor tenha condição de trabalhar
(09.04.05)
“Eu vejo desse ponto de vista. O professor é ele que dá o início na vida
de um, na nossa vida, eles vão dar um lugar, nós vamos ser os cidadãos,
e eles ganham, pra mim, muito pouco, pelos que eles fazem, por estar ali
5º Grupo de Diálogo
numa sala, eles são e às vezes tem quantas salas, quantos alunos, às
15-24
vezes tem trinta e poucos, quarenta alunos dentro de uma sala, ou vinte
(30.04.05)
e poucas salas, não sei quantos, às vezes não rende mesmo. Eles
perdem tudo, às vezes sábado e Domingo planejando trabalhos e
gastando tudo isso. Eu vejo esse ponto de vista”
“Melhores salários aos professores para que eles possam vestir a
camiseta e fazerem boa aula”.
1º Grupo de Diálogo
“O que falta para o jovem na escola é uma boa cadeira, uma boa sala,
Experiência
banheiros o que? Banheiros limpos? Decentes. Banheiros limpos e
Participativa
decentes. E evitar superlotação”.
(19.03.05)
“Se não tiver recurso, não tem como garantir infra-estrutura. Mais, muitas
vezes não dão dinheiro porque os próprios alunos quebram”.

4ª Semelhança: Currículo e metodologia – 3/5 (GD2, GD3, GD5)

Grupo de Diálogo 4ª Semelhança: Currículo e metodologia


4º Grupo de Diálogo
18-24 “Tão na forma tradicional, ou seja, passam no quadro e só”.
(23.04.05)
2ºGrupo de Diálogo
“O meu sonho em educação é que o jovem consiga sair do ensino médio,
15-18
prestar um vestibular na UFRGS e passar, ou seja, estar preparada...”.
(02.04.05)
“O ensino atual está deficiente e é necessário melhorias na área porque a
3ºGrupo de Diálogo formação está incompleta”
15-24 “Porque a gente não precisa só saber ler e escrever. A gente precisa de
(09.04.05) algo mais do que isso. Só saber ler e escrever não está adiantando muito
hoje em dia. A gente precisa de algo mais…”.
5º Grupo de Diálogo “... e que a gente pensa assim que os conteúdos, as matérias têm que ser
15-24 alguma coisa que a gente utilize no nosso dia-a-dia. Porque muitas vezes
(30.04.05) a gente vai pra escola e pensa assim: ah, porque eu vou estudar...”

28
“O professor é ele que dá o início na vida de um, na nossa vida, eles vão
1º Grupo de dar um lugar, nós vamos ser os cidadãos, e eles ganham, pra mim, muito
Diálogo pouco, pelos que eles fazem, por estar ali numa sala, eles são e às vezes
Experiência têm quantas salas, quantos alunos, às vezes têm trinta e poucos, quarenta
Participativa alunos dentro de uma sala, ou vinte e poucas salas, não sei quantos, às
(19.03.05) vezes não rende mesmo. Eles perdem tudo, às vezes sábado e Domingo
planejando trabalhos e gastando tudo isso”.

5ª Semelhança: Experiência para primeiro emprego – 5/5 (GD1, GD2, GD3, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 5ª Semelhança: Experiência para primeiro emprego


“A maioria das empresas exige experiência, mas o cara é novato.
4º Grupo de Diálogo Não dão oportunidade, não sabem do potencial do cara”.
18-24
(23.04.05) “Para ter qualificação tem que ter cursos e o curso é caro. Acho
que o governo tem que dar curso”.
“Na hora de conseguir emprego, somos discriminados porque
2º Grupo de Diálogo não temos experiência”.
15-18 “O valor das passagens é muito alto. Temos dificuldades de
(02/04/05) arranjar emprego, porque não se quer pagar o valor da
passagem”.
“O problema do jovem é não ter a experiência exigida para
trabalhar”
“ Como vou ter experiência em carteira se eu nunca trabalhei?”
“O jovem tem que ter mais oportunidade para conseguir
emprego”. “O jovem de 18 a 25 anos ta abandonado e tem que
3º Grupo de Diálogo ter mais valorização”.
15-24 “Uma frase bem usada por todos os jovens, que tem de 18 a 25
(09.04.05) anos, que como eu vou ter experiência se eu nunca trabalhei?
Como eu vou ter esse um ano de experiência se eu nunca
trabalhei?... Eu gostaria de dizer que eu acho que a gente está
precisando de mais oportunidade pra mostrar o que a gente tem
para ensinar, o que a gente tem para aprender, né. E a gente não
está tendo oportunidade nenhuma, entendeu. Os jovens não
estão tendo”.
“… Eu queria aproveitar pra falar que o trabalho, que a educação
está ligada ao trabalho, porque se tu fizeres um bom segundo
5º Grupo de Diálogo grau, tu vai ter tal tipos de emprego. Se tu fizer uma faculdade, tu
18-24 vai ter um emprego bem melhor do que quem está fazendo
(30.04.05) segundo grau. Se tu fizer uma pós-graduação, tu vai ter um
emprego bem melhor. Então, acho que a educação e o trabalho
estão ligados neste aspecto”.

29
“O salário do pobre que é muito baixo e o salário do rico que bem
maior do que o salário do pobre, então eu acho que eles acabam
valorizando pela, como é que eu posso dizer pelo, não sei o, um
cargo alto, eu acho que eles valorizam pelo cargo”.
1º Grupo de Diálogo
Experiência “Não me recordo bem, mas o empregador no caso, tá exigindo
Participativa uma experiência dum camarada que tem 14 anos de idade, ele
(19.03.05) quê que o cara tenha 3 anos de experiência num ramo se agora
ele entrou no mercado de trabalho. Eu acho que isso tem que ser
revisto. E tem que se procurar esse tipo de melhoria, como é que
ele vai exigir experiência dum jovem que tem apenas 14 anos de
idade que acabou de tirar a carteira de trabalho”.

6ª Semelhança: Cursos profissionalizantes – 3/5 (GD3, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 6ª Semelhança: Cursos profissionalizantes


“No ensino médio, devia ter cursos profissionalizantes. Um turno
4º Grupo de Diálogo para o estudo e outro para os cursos”.
18-24 “Eu acho que no trabalho, o governo tinha que dar mais
(23/04/05) oportunidades, preparação através de cursos profissionalizantes.
Dar mais cursos profissionalizantes para o jovem”.
“Ai que vem o porém. Tem o SENAI, mas muitos adolescentes
não tem como pagar o curso. Aí é que entra o porém. O curso até
tem, mas o problema é que o adolescente na nossa idade ter a
capacitação de pagar, muitos não tem serviço, a família não tem
condição, maioria não pode, estuda”.

3º Grupo de Diálogo “Não, o que a gente quis dizer é, assim, quando a gente quer,
15-24 uma das idéias foi minha, a gente quis dizer que todas as
(09.04.05) empresas deveriam ter projetos. É que a gente quando termina o
segundo grau, se a gente não fez curso técnico junto, ou
trabalhando durante o segundo grau, a gente não tem chance
depois dos 17, 18 anos de entrar em uma empresa. Vamos dizer
assim, ao invés só ter o menor aprendiz, ter o adolescente
aprendiz. A empresa não é só dar o curso de capacitação, te dar
a chance”.
“Também falta de cursos profissionalizantes para a pessoa poder
ingressar no mercado não tem um curso para ele ter um serviço
5º Grupo de Diálogo bom, ganhar bem, hoje em dia tu não encontra muito fácil. Às
15-24 vezes tem que te deslocar de lugar bem longe da tua cidade pra
(30.04.05) conseguir esse curso e tem que pagar ainda um custo muito alto,
e a gente está com carência desses cursos e a oportunidade está
muito baixa”.

30
7ª Semelhança: Descentralização da cultura e acesso ao lazer –
5/5 (GD1, GD2, GD3, GD4, GD5).

7ª Semelhança: Descentralização da cultura e acesso ao


Grupo de Diálogo
lazer
4º Grupo de Diálogo “Mais cultura nas cidades porque os jovens estão aí”.
18-24
(23.04.05) “Condições para os mais humildes ir ao teatro, museus”.

2º Grupo de Diálogo
“Espaço apropriado e adequado para a prática de esportes e
15-18
para o lazer da comunidade”.
(02/04/05)
“Importância de trazer a cultura para dentro da escola, para
3º Grupo de Diálogo dentro da empresa, mas também para levar a cultura para as
15-24 pequenas cidades”.
(09.04.05)
“Cultura e lazer devem fazer parte das escolas e das empresas”.
“Acho que no lazer, o que falta, o nosso grupo enfatizou, é
quadras esportivas e outras coisas mais que podem tirar muita
5º Grupo de Diálogo
gente das drogas e outras coisas, pra… levar pra essas quadras
15-24
de futebol, volei, e de cultura junto. Lá pra minha cidade, lazer,
(30.04.05)
falta muito ainda. Eu acho que é pouca coisa que muda muita
coisa”.
“Da cultura, nós achamos de semelhança o incen..., os valores, o
1º Grupo de Diálogo incentivo a cultura que os outros grupos também frisaram que
Experiência nós devíamos ter mais incentivo a cultura, né, a shows, ao
Participativo pessoal ir ao teatro, a todos os adolescentes, os jovem hoje em
dia participar mais das atividades culturais nos seus bairros nas
(19.03.05) suas cidades. E o Lazer incentivá a criação de mais praças,
parques, hã, mais atividades esportivas pros jovens hoje”.

8ª Semelhança: Lazer e segurança – 4/5 (GD2, GD3, GD4, GD5).

Grupo de Diálogo 8ª Semelhança: Lazer e segurança


4º Grupo de Diálogo “Lazer a gente não tem mais! Mas é questão de segurança. A
18-24 pessoa fica presa em casa”.“As poucas opções que tem muitas
vezes não dá para ir por causa da segurança”.
(23.04.05)
“As praças estão abandonadas e em termos de segurança tem
horas que não dá para ficar. Não tem iluminação, os caras vão
chapados.”
2º Grupo de Diálogo “Deveria ter mais segurança nos espaços de lazer e cultura, para
15-18 podermos freqüentar shows e esses espaços”.
(02.04.05)
3º Grupo de Diálogo “Precisa de segurança nos espaços de cultura e lazer. Tem lugar
- 15-24 para lazer, mas não tem segurança”.
(09.04.05)
5º Grupo de Diálogo “Quando tem esses shows que a entrada é franca, não paga, é a
- 15-24 falta de segurança. Muitos shows dá briga, confusão”.
(30.04.05)

31
9ª Semelhança: Lazer e educação – 3/5 (GD2, GD3, GD4, GD5).

Grupo de Diálogo 9ª Semelhança: Lazer e educação


4º Grupo de Diálogo
“O ensino fundamental devia sim ter turno integral e deviam
18-24
colocar no turno contrário lazer para os jovens”.
(23.04.05)
2º Grupo de Diálogo
“Falta de espaços culturais nas cidades e de diversidade cultura
15-18
que não seja só cultura rio grandense, mas cultura nacional”.
(02.04.05)
3º Grupo de Diálogo “Para ter lazer e cultura adequada tudo parte da educação. Não
15-24 adiante revitalizar a praça se haver depredação. As pessoas não
(09.04.05) cuidam e acaba utilizando por vagabundos”.
Acho que no lazer, o que falta, o nosso grupo enfatizou, é
quadras esportivas e outras coisas mais que podem tirar muita
5º Grupo de Diálogo
gente das drogas e outras coisas, pra… levar pra essas
15-24
quadras de futebol, volei, e de cultura junto. Lá pra minha
(30.04.05)
cidade, lazer, falta muito ainda. Eu acho que é pouca coisa que
muda muita coisa.

10ª Semelhança: Acesso ao lazer – 5/5 (GD1, GD2, GD3, GD4, GD5).

Grupo de Diálogo 10ª Semelhança: Acesso ao lazer


4º Grupo de Diálogo “tudo né, falta oportunidade. Aqui em Porto alegre, no Gasômetro
18-24 tem mas não é sempre que tem oportunidade e a passagem para
(23.04.05) vim participar de ônibus é cara”.
“Oportunidade de acesso fácil a teatros, esportes e clubes. A
2º Grupo de Diálogo prefeitura deve promover eventos de interatividade entre os
15-18 jovens de diferentes classes sociais que a prefeitura precisa...
(02.04.05) que ela tem que...se envolver mais com os jovens, com a
política”.
“Fazer o dia do preço mais acessível para a população de baixa
3º Grupo de Diálogo renda para ter acesso ao cinema e ao teatro. Isso ajudaria as
15-24 pessoas a se conhecerem; os que podem pagar e os que não
(09.04.05) podem. Não adianta ir ao teatro só um dia, tem que ir mais vezes
para conhecer”.
“Tem que haver também uma diminuição dos preços dos
5º Grupo de Diálogo
ingressos do teatro… do teatro em si que é muito caro.
15-24
“De levar a cultura pras cidades de fora, não ficar somente em
(30.04.05)
Porto Alegre. Sair fora do centro do Rio Grande do Sul”.
“Da cultura, nós achamos de semelhança o incentivo..., os
valores, o incentivo a cultura que os outros grupos também
1º Grupo de Diálogo frisaram que nós devíamos ter mais incentivo a cultura, né, a
Experiência shows, ao pessoal ir ao teatro, a todos os adolescentes, os jovem
Participativa hoje em dia participar mais das atividades culturais nos seus
(19.03.05) bairros nas suas cidades. E o Lazer incentivá a criação de mais
praças, parques, hã, mais atividades esportivas pros jovens
hoje”.

32
11ª Semelhança: Segurança na cultura e no lazer – 4/5 (GD2, GD3, GD4, GD5).

Grupo de Diálogo 11ª Semelhança: Segurança na cultura e no lazer


4º Grupo de Diálogo
18-24 “Lazer a gente não tem mais, né... a violência...”
(23.04.05)
2º Grupo de Diálogo
“Deveria ter mais segurança nos espaços de lazer e cultura, para
15-18
podermos freqüentar shows e esses espaços”
(02.04.05)
3º Grupo de Diálogo
“Precisa de segurança nos espaços de cultura e lazer. Tem lugar
15-24
para lazer, mas não tem segurança”.
(09.04.05)
5º Grupo de Diálogo
“Quando tem esses shows que a entrada é franca, não paga, é a
15-24
falta de segurança. Muitos shows dá briga, confusão.”
(30.04.05)

4.2.2. Terceiro Instrumento de Análise – Tabela 3: Semelhanças e diferenças


da plenária da tarde – 2ª parte

1ª Semelhança: Escolha por um quarto caminho combinando os três caminhos –


4/5 (GD1, GD2, GD3, GD5).

1ª Semelhança: Escolha por um quarto caminho combinando os


Grupo de Diálogo
3 caminhos
4º Grupo de Diálogo “É que nós não escolhemos um só, a gente escolheu um quarto
18-24 caminho que é a união dos três em primeiro lugar e o dois em
(23.04.05) segundo lugar. É um quarto caminho a gente escolheu”.
“Começar pelo caminho 3 é começar por baixo, para espalhar na
2º Grupo de Diálogo
cidade inteira e para atingir os outros caminhos. É começar pelas
15-18
coisas que o jovem gosta de fazer pra depois fazer as coisas dos
(02.04.05)
outros dois caminhos”
“Bom, a gente meio que assim, sobre o trabalho. A gente escolheu o
caminho 1, porque não se consegue resolver os problemas
sozinhos, porque os governantes tem uma força maior e estão em
maior quantidade no poder. Colocar representantes jovens
fiscalizando de forma a encaminhar soluções para os problemas das
empresas, local visitado. Juntar tipo um grupo assim e fiscalizar
hospitais, escolas, asilos, e ver onde estão os problemas, né. E
levar para um alguém maior que tenha a palavra, que diga isso vai
3º Grupo de Diálogo ser feito e vai ser feito. Não adianta ser voluntário, ir lá no tal lugar,
15-24 eu vou resolver isso aí. Daí vai falar lá e ninguém vai dar ouvido.
(09.04.05) Educação, cultura e lazer. Educação, escolhemos o caminho 2. A
gente escolheu dois caminhos porque se adaptam melhor.
Escolhemos o caminho 2 porque o voluntário ajuda a combater, em
parte, o problema do analfabetismo e das dificuldades dos alunos na
sala de aula. Na educação. Agora, cultura e lazer. Escolhemos o
caminho 3, se adaptou melhor, porque existem muitos grupos,
exemplo: música, dança, teatro, dos quais poderíamos participar. E
assim, juntando o caminho 2 e 3 poderíamos ter o caminho ideal
para a educação cultura e lazer. É isso aí”.

33
“Um quarto caminho, ter um quarto caminho, né, que tem um
pouquinho dos três caminhos. O quarto caminho tem em volta dele
todo um trabalho que seria a concordância do governo e das
empresas com o objetivo de dar oportunidade aos jovens que
necessitam de experiência. Isso aí é entrar em um acordo, as
empresas tivessem um tipo de empregado, entendeu, com o apoio
do governo, fazer meio-a-meio, cursos profissionalizantes para
5º Grupo de Diálogo entrar naquela empresa. Por exemplo, o governo dá o curso, dá o
15-24 maquinário e a empresa entra com a vaga, com metade do
(30.04.05) pagamento, pra incentivar tanto o funcionário quanto o cara que vai
empregar. O governo não fica muito, largar na mão o empresário,
não dá bola, ou dizer pro empresário que tem que fazer. O governo
também tem sua parte. Mas o empresário também tem que ter a
sua. É isso aí”.
“Tem que ter um caminho 4 que leve à conscientização, evitando a
violência”.
“Bom todos os grupos optaram por um 4º caminho, né? E esse 4º
caminho inclui os três caminhos que foram oferecidos, né? Todos
são, tem algum benefício, todos ajudam, né, a construir assim, uma
educação e melhor e um país mais democrático, enfim, então isso
foi assim, né, nos três, nos três grupos, optaram por esse quarto
caminho”.
“Também, colocá aqui que os três grupos frisaram bem a questão
da participação dos jovens dos movimentos estudantis, porque é ali
1º Grupo de Diálogo que, é ali que se inicia a reivindicação do jovens, é ali que inicia
Experiência também a conscientização política da juventude”.
Participativa “Também queria colocá que nem a nossa colega falou aqui , que
(19.03.05) toda a ajuda é válida, mas todos os três grupos, eu acho que é uma
consciência dos três grupos que se toda a ajuda é válida , mas não
quer dizer que nós vamos ficá esperando, certo? E vamos lá cobrar
a mudança do governo, a mudança dos políticos porque a nossa
ajuda sim é válida, só que não adianta nós fazê e eles não fazê a
parte deles”.
“A organização de mais grupos criaria o respeito dos políticos
porque tu vai tá criando os grupos e vai tá fazendo a coisa séria e
vai ter mais respeito perante as autoridades”.

2ª Semelhança: a crença no voluntariado 4/5 (GD2, GD3, GD4, GD5)

Grupo de Diálogo 4ª Semelhança: a crença no voluntariado


“Eu penso assim, que é legal fazer voluntariado, mas não ajuda
4º Grupo muito mas não vai na questão, é amplo, é uma ajuda superficial”.
de Diálogo
18-24 “Esses grupos de voluntários podem organizar torneios. Muitas
(23.04.05) crianças gostam de joga e ficam jogando na rua porque não tem lugar.
Pegar essas crianças e levar para essas canchas, sair da rua”.
2º Grupo
de Diálogo
“Todo mundo tem um tempo livre para ajudar”
15-18
(02/04/05)

34
Grupo de Diálogo 4ª Semelhança: a crença no voluntariado
“Eu penso assim, que é legal fazer voluntariado, mas não ajuda
4º Grupo muito mas não vai na questão, é amplo, é uma ajuda superficial”.
de Diálogo
18-24 “Esses grupos de voluntários podem organizar torneios. Muitas
(23.04.05) crianças gostam de joga e ficam jogando na rua porque não tem lugar.
Pegar essas crianças e levar para essas canchas, sair da rua”.
“Não é só no poder que conseguimos a transformação, mas
também com os voluntários, que podem atingir aquilo que
pensamos. Se o poder até agora não conseguiu, os voluntários
podem conseguir ajudar as pessoas”.
“Porque o voluntariado é aquilo. O que falta pra mim, o que sobra
3º Grupo pra mim falta pros outros, e o que sobra pros outros, faz falta pra
de Diálogo mim. Eu acho que o voluntariado é aquela troca. O que sobra pro
15-24 senhor falta pra mim. O que sobra de mim, falta, de repente, no
(09.04.05) senhor. Entendeu? No meu ponto de vista é isso, entendeu? O
voluntariado”.
“Eu acho que a gente tem que fazer pra nós, começar pra nós, e
depois pros outros, pra pessoa que tá do meu lado, e essa ajuda
outra, e assim indo a gente junte uma grande quantidade de
pessoas que possa o governo ouvir. Essa é minha idéia”.
“Trabalho voluntário através de grupos de apoio”. Os grupos
5º Grupo apresentam uma proposta de parceira, nas empresas, colégios,
de Diálogo comunidades, para resolver os problemas de educação;
15-24 Você reunindo um bom grupo de jovens, é possível lutar por
(30.04.05) diversas coisas. /Se você ver um pessoal mobilizado, eu também
vou querer ajudar “.

4.2.3. Análises das semelhanças da plenária da manhã


Nas plenárias da manhã, as semelhanças ficaram distribuídas de acordo com os três
temas/problemas apresentados e foram formuladas conforme as próprias palavras dos(as)
jovens. Em relação às proporções observadas entre os cinco GDs, podemos destacar as
tendências que seguem abaixo.
As proporções mais altas (4/5 e 5/5) poderiam ser entendidas como jovens
preocupados(as) com a qualidade na educação [aulas boas e professores(as) motivados(as)] e
melhoria na condição salarial dos(as) professores(as), estrutura física da escola. Na mesma
intensidade, ficou a preocupação com a crítica pela exigência de experiência para obter o
primeiro emprego, e que os eventos relacionados com cultura e lazer sejam descentralizados,
facilitando assim seu acesso, e também pelas condições de segurança oferecidas. Num
segundo agrupamento (3/5), ficaram os problemas de melhoria no currículo escolar, incluindo o
Ensino Profissionalizante, e que lazer e educação estejam combinados. Finalmente, no terceiro
agrupamento (2/5), ficaram os atos de violência na escola, os salários baixos pagos aos(às)
jovens, associados com discriminações no local de trabalho (sexo, raça) e o descrédito na
condição de ser jovem.

35
4.2.4. Análises das semelhanças da plenária da tarde

Nas plenárias da tarde, não houve um único Caminho escolhido ou uma “nova” forma de ação
para os(as) jovens, pois suas escolhas sempre estiveram em conjunto com os três Caminhos
apresentados como alternativas de ação.
A predominância da clara escolha pelo voluntariado, com 4/5 das plenárias da tarde,
pode servir para se entender, quase como um pólo oposto, à descrença no Caminho 1
(descrédito na política).
Ao mesmo tempo, a combinação dos três Caminhos revela também essa indissociada
ação “complementar” entre as oportunidades para a ação juvenil. Não se espera e nem se
delega para o governo a tarefa única de fazer algo para atender aos problemas registrados nas
plenárias da manhã.
Analisando os Caminhos enfatizados nas plenárias da tarde e os problemas levantados
pela manhã, fica um contraste: não houve uma direta associação entre os desafios (problemas)
para o país e como intervir nessa realidade.
Assim, os temas como escola, experiência como requisito para primeiro emprego,
segurança nos eventos e descentralização da cultura (e acesso/preços) não têm uma direta
relação com o voluntariado. Isso pode ser afirmado observando as tabelas da
“proporcionalidade” entre os problemas detectados e os Caminhos propostos. Se forem
tomadas as falas dos(as) jovens, se percebe que esse contraditório (paradoxo) estaria mais
próximo ao que foi dito em algumas situações mais concretas: dependendo da situação, sim
caberá ao governo a responsabilidade da ação. Esta, por sua vez, terá presença colaborativa
do(a) jovem em ações pontuais/focais. Salários de professores(as) ou mesmo a sua falta terá o
aporte de iniciativas dos(as) jovens em prover aulas e fazer mutirões para equacionar tais
situações (aulas para crianças na periferia), ajudando na escola (em não depredar etc.).
Confirma-se, por sua vez, o descrédito nas ações governamentais (mais como
uma forma de “julgar” do que de agir). Vale ressaltar novamente que o Caminho 1 ficou muito
restrito ao governo do que as outras instâncias coletivas de ação como ONGs, sindicatos e
movimentos sociais (inclusive o movimento estudantil).

4.3. Caminhos Participativos

4.3.1. GD 1 – 19.03.05 – 15 a 24 anos – Experiência participativa


As temáticas da manhã do grupo deste GD, em suas três dimensões, revelaram uma tendência
em itens mais de ordem estrutural: melhoria na escola em suas condições de infra-estrutura,
salário dos(as) professores(as). Por sua vez, no item trabalho, a ênfase ficou na crítica frente
às exigências de “experiência anterior” e aos baixos salários pagos aos(às) jovens. Na cultura
e lazer, o foco ficou na necessidade de maior oferta de bens culturais e na necessidade de sua
divulgação (socialização das oportunidades/eventos culturais).

36
Nos Caminhos indicados, a escolha recaiu na combinação dos três Caminhos e na importância
da contribuição das iniciativas (culturais e de voluntariado) dos(as) jovens em se mobilizar e
influenciar o “mundo adulto” nas políticas públicas.
No primeiro GD, e também nos demais, a riqueza dos comentários realizados nos
pequenos Grupos na parte da manhã não segue a mesma intensidade no registro do pequeno
Grupo para levar à plenária da manhã. Isso produz perdas qualitativas, pois ao registrar no
papel, os(as) jovens filtram muito as discussões e o tempo limitado de cinco minutos restringe
ou amedronta-os(as) ao ponto de desconsiderarem coisas importantes vividas no processo.
As trocas realizadas sobre o tema educação e trabalho são mais férteis do que as
voltadas para a cultura/lazer. Alguns depoimentos podem ilustrar isso, conforme registros da
facilitadora do Grupo: “Eu não entendi essas atividades culturais”. Uma jovem responde:
“Não sei se entendi bem, mas é acesso ao teatro, a concerto. Tem gente que não sabe o
que é concerto. Show na rua tem bastante”. Um jovem diz que “quando tu fala em cultura tu
só pensa na cultura da elite, mas tem as culturas locais que tem que ser valorizadas, tipo o
grafite, o hip hop”.
Isso nos remete para uma análise do quanto os(as) jovens não se vêem como
produtores(as) culturais, mas muito mais como consumidores(as) da cultura, em geral,
oportunizada pelo Estado.
As semelhanças levantadas na plenária da manhã, ao mesmo tempo em que
alimentam o diálogo na parte da tarde, nos pequenos Grupos, também limitam a discussão
sobre os Caminhos. As reflexões sobre os Caminhos Participativos que ajudariam a melhorar
os aspectos apontados na plenária da manhã, em termos de educação, trabalho, cultura/lazer
ficam um pouco truncadas, havendo uma tendência na escolha de um quarto Caminho, que,
em geral, junta os três Caminhos. Nesse sentido, muito mais do que a escolha, o processo é
mais rico, pois problematiza as formas de participação juvenil. Isso, tanto no pequeno Grupo,
como na plenária, ajuda a construir a opinião final.

4.3.2. GD 2 – 02.04.05 – 15 a 17 anos


Os(as) componentes do GD anunciam temas que estão dissociados dos Caminhos
indicados. Os problemas apontados de ordem mais estrutural (salários, estrutura da escola,
falta de espaços e descentralização para eventos culturais) ficam distantes das soluções
apontadas. A dimensão da ação dos(as) jovens fica no plano do viável e mais imediata (ao
alcance), por isso a ênfase na combinação dos Caminhos 2 e 3 (formando um novo Caminho).
Cabe ressaltar que esse Caminho representa a possibilidade de “entrada” dos(as) jovens nas
discussões desses temas (para depois agirem/influenciarem no Caminho 1).
A ênfase estava em buscar algo que proporcione prazer aos(às)jovens, acreditando que com
isso seja possível interferir na solução dos outros problemas. Alguns depoimentos sinalizam essa
tendência:

37
vamos tentar um caminho que tá no nosso alcance, entendeu? O caminho 3, e
não os outros, é que ele ele vai espalhar tua atividade, ele vai espalhar.. tudo
tem um resultado talvez comece ali no teu ambiente, mas ele vai indo, tu vai
fazer um grupo de teatro, o pessoal vai gostar, daqui a pouco tu tá em Viamão,
passando pras escolas de lá assim os outros colégios vão achar, bah, legal um
grupo de teatro, vou fazer também e assim a gente vai levando entendeu?

O posicionamento desse Grupo leva a uma discussão fundamental relacionado aos(às)


jovens da contemporaneidade. Eles(as) expressam uma cultura juvenil, disposta a buscar soluções
para os problemas vividos por eles(as), entretanto, percebe-se que essas soluções encontram-se
profundamente entrelaçadas com o prazer. Como nos lembra Melucci, (2001) os(as) jovens:

() fundam-se na incompletude que lhes define para chamar a atenção da


sociedade inteira para produzir a sua própria existência ao invés de submetê-
la; fazem exigência de decidir por eles próprios, mas com isto mesmo
reivindicam para todos este direito. (p.102)

Ainda, acompanhando o pensamento dos(as) jovens, podemos perceber que eles(as)


não estão dispostos(as) a submeter-se a “racionalidade impessoal” que o autor expressa, e
sim, desejam conviver com um universo de emoções no qual experimentam os limites “de eros
e delírio”. A emoção, o afeto, a expressão da corporeidade são campos distintos da
racionalidade, contra essa separação os(as) jovens se posicionam de tal forma que parece
desejar romper essa lógica. O(a) jovem parece buscar na cultura uma maneira para que esses
dois campos possam conviver. Para Melucci, “é um apelo à recomposição da experiência
humana, uma busca de voz e de linguagem de forma diferente” (p. 102).

4.3.3. GD 3 – 09.04.05 – 18 a 24 anos


Os problemas anunciados na parte da manhã não estão diretamente associados com os Caminhos e
estratégias apontadas na parte da tarde. A combinação dos três Caminhos se fez pelo
reconhecimento da importância dos três Caminhos, mas diretamente anunciado que a “entrada” para
isso se faz primordialmente pelo Caminho 2 (voluntariado) e depois pelo Caminho 1. O Caminho 2
está apresentado como uma estratégia de “sensibilização” para esses problemas e não
necessariamente para a sua solução.

Assim tem que haver uma interação entre as partes, um lance de cumplicidade
entre elas, sim. Mas o lance do voluntariado, tem que entender que a principal,
quem tem o poder mesmo de agir, é o lance do governo. Eles podem amenizar o
problema, mas não podem solucionar. (jovem participante do GD 2)

No Grupo de Diálogo 3, percebe-se que não há muita correspondência entre os


problemas levantados e os Caminhos escolhidos. Levantam problemas de emprego,

38
experiência profissional, segurança nos espaços de lazer, melhorias na educação, entre
outros, mas as escolhas ficam muito voltadas para o trabalho voluntário. Há sim, a escolha de
outros Caminhos para determinados problemas, mas o voluntariado fica como uma
semelhança reforçada em diferentes momentos.
No tema da cultura, são levantadas muitas questões voltadas para segurança, acesso e
falta de opções de atividades, mas muito no sentido de responsabilizar o poder público por todos
esses problemas. De certa forma, isso é quase uma contradição com a defesa que fazem do
trabalho voluntário. Por outro lado, há uma defesa, por parte de alguns(mas) jovens, do Caminho 1
como forma de ir direto ao problema, ou seja, no sentido de que o governo tem o poder.
Percebe-se, neste GD, uma tendência ao entendimento da política como um grupo que
decide e faz pelo conjunto da população. O que é natural num país com pouca tradição
democrática. Ao mesmo tempo, demonstram uma crença muito forte no voluntariado como
uma possibilidade de participação. O desejo de participação é explicito, mas também é forte o
descrédito nos partidos, sindicatos e governo.
Interessante que falam de voluntariado não no sentido de “quem tem dá para quem
não tem”. Segundo os(as) jovens deste GD, voluntariado é troca, é cada um(a) fazer a sua
parte, é forma de manifestação e denúncia, é começar pelas pequenas coisas para chegar nas
grandes causas e impactar quem toma decisão.

4.3.4. GD 4 – 23.04.05 – 15 a 24 anos


Este GD combinou Caminhos associados ao tipo de problema (cada problema um Caminho).
Quando o problema era de ordem mais “estrutural” [como salário dos(as) professores],
reconheciam a necessidade do Caminho 1 (Estado).
Nas semelhanças da manhã, os(as) jovens destacaram a educação: os salários baixos
dos(as) professores(as); a violência entre os(as) alunos(as) e dos(as) alunos(as) com os(as)
professores(as); a falta de interesse dos(as) alunos(as) em estar na escola e estudar para os(as)
professores(as); que os(as) professores(as) deveriam ganhar mais; as condições precárias das
escolas.
Em termos de trabalho, foi destacado que as empresas não precisariam exigir a
experiência para o primeiro emprego; que as oportunidades para o emprego estão difíceis,
mas está difícil porque não há cursos profissionalizantes; que há preconceito no trabalho
porque para trabalhar numa loja tem que ter aparência; que tem que haver trabalho à noite,
porque quem é pai/mãe precisa trabalhar a noite.
Na cultura, foi levantado como semelhança que as pessoas se privam de sair por causa
da violência; para ter segurança nos espaços de lazer, é preciso haver espaços de lazer com
oficinas de dança e teatro; ampliar cursos nas associações de moradores(as) de bairro; organizar
mais eventos esportivos e culturais; (proporcionar oficinas que já existam nas comunidades).
Estas foram as semelhanças da manhã para construir o trabalho da tarde. Na construção dos
Caminhos, num primeiro momento, fica difícil até eles(as) entenderem o processo, pois

39
primeiramente é realizada a leitura de cada Caminho e, em seguida, a discussão de cada um,
observando a metodologia (10 min. para ler e 10 min. para dialogar), até terminar a leitura dos
três Caminhos. Após a leitura dos três Caminhos, passamos para eles(as) a folha com as
semelhanças da plenária da manhã. Eles(as) começam então a dialogar sobre as
semelhanças e os possíveis Caminhos para resolver os problemas apontados, porém esse não
é um processo fácil. No início, eles(as) têm dificuldade em entender, até que alguém percebe
como é o processo e aí eles(as) vão construindo as possíveis soluções, item por item.
Os(as) jovens conseguem enxergar o que cada Caminho poderá ajudar a resolver e
quando um Caminho só não dá conta, propõem a junção de dois ou mais Caminhos ou então,
a formação de um outro Caminho a partir da junção de dois ou mais Caminhos.

4.3.5. GD 5 – 15 a 24 anos
Os problemas levantados pela parte da manhã encontraram encaminhamentos para sua
solução através da criação de um quarto Caminho (sempre combinando cada tipo de problema
com um Caminho que poderia ser a combinação de mais de um). O voluntariado predominou
como “caminho de entrada” para futuras parcerias (especialmente com poder público). Essa
estratégia serviu como “sensibilização” para que as pessoas possam fazer alguma coisa.
Na dinâmica da tarde, entregávamos as semelhanças digitadas para que os pequenos
Grupos estudassem os Caminhos à luz do que tinha refletido pela manhã.

4.3.6. Análise do processo e conteúdo dos pequenos Grupos


A análise do processo e conteúdo dos pequenos Grupos se fez a partir da observação sobre
os temas no turno da manhã e a escolha dos Caminhos no turno da tarde.

Sobre o conteúdo dos subgrupos da manhã – temas:


Em relação à educação, foi destacada a importância do investimento na melhoria da qualidade
da educação, em termos: de melhores salários aos(às) professores(as); investimentos na
formação dos(as) professores(as), pois desejam aulas mais agradáveis e com metodologias
mais atrativas; maiores comprometimentos e envolvimento por parte dos(as) professores(as) e
também dos(as) alunos(as); melhores salários representariam o(a) professor(a) trabalhar
menos tempo e em menos escolas, e assim, se dedicar mais à preparação de suas aulas; com
aulas melhor preparadas desde o Ensino Fundamental haveria mais chances de fazer um bom
Ensino Médio e concorrer ao vestibular com mais igualdade de condições com os(as) que
estudam em escolas particulares, despertando também um maior interesse dos(as) alunos(as)
às aulas. Os(as) jovens associam com isso a falta de “criatividade por parte dos(as)
professores(as)” para melhor atrair a atenção dos(as) seus(as) alunos(as). Sobre a qualidade
das aulas, os(as) jovens dizem que:

Tem professor que fez formação na década de 1970. () O camarada que


trabalha o dia inteiro () quer aprender de uma forma que ele vai entender () daí

40
o professor escreve no quadro e diz: “Vocês têm dez minutos ou se ferrem” ()
Mas tem professores bons () Dos 30 inscritos no início do ano, 11 terminaram.

Ficou evidente o descrédito com a qualidade da escola pública, a indignação com a


superlotação das salas e, especialmente pela falta de professores(as), devido às licenças e ao
não preenchimento das vagas pelas mantenedoras. Nesse momento, foi destacada a
necessidade de maiores investimentos por parte do poder público.
Outro aspecto da educação muito destacado foi a infra-estrutura das escolas e afirmam
que “educação é a base de tudo”. Além disso, a associação da educação à cultura aparece
num dos subgrupos e um dos(as) jovens expressa uma frase dita por sua mãe: “mente vazia é
oficina pro diabo”, referindo-se a ociosidade dos(as) jovens, afirmando que “não é só instrução,
mas cultura e lazer também”. Além disso, salientam que as escolas apresentam um certo
descrédito na capacidade do(a) aluno(a) em realizar atividades de ordem cultural, como teatro,
por exemplo.
Foram feitas outras associações com a educação, dentre elas, a articulação entre
educação e trabalho, pois dizem que trabalho também é instrução. O Ensino Médio
Profissionalizante é uma demanda recorrente, em todos GDs. Afirmam que uma contribuição
importante da educação para o futuro profissional dos(as) jovens é a oferta de cursos de
informática. Segundo um dos depoimentos:

A escola deve dar acesso à informática para quando for lidar no serviço não
seja um bicho de sete cabeças. Cursos são concorridos e se eu tivesse
dinheiro para pagar, fazia. Fecham a porta na tua cara e, se depender de
colégio e governo, fica muito complexo. Na escola pública é muito baixa a
qualidade. Computador faz brilhar o olho do aluno.

Em relação à educação, os subgrupos foram enfáticos na formulação de suas


preocupações com a falta de segurança no espaço escolar e especialmente no seu “entorno”.
Demandam ações governamentais através da presença de seus(as) agentes de segurança.
As falas dos(as) jovens da RMPA denunciam o estado das escolas públicas,
nas quais muitos(as) deles(as) estão estudando. Em geral, elas são precárias em
diversas áreas, tanto no que diz respeito à infra-estrutura como na parte pedagógica e
formação de professores(as). O que os(as) jovens apontam se confirma como uma
contradição, pois, para eles(as), a escola é uma instituição de referência, mas
deficitária. De acordo com Candau (2000), o discurso oficial coloca na educação a
responsabilidade de integrar o sujeito na sociedade globalizada, uma vez que esta
exige alto grau de competência, tanto sob o aspecto “cognitivo, científico e tecnológico
como o desenvolvimento de integração grupal, iniciativa, criatividade e uma elevada
auto estima” (p.11), E mais do que isso, as esperanças de construção de um futuro
digno têm seus alicerces na educação.

41
Se esse discurso aparece na ordem do oficial, ele também se expressa na fala do(a)
jovem em forma de denúncia da precariedade dessa escola que ainda se constitui na
esperança de construir um mundo melhor. Para construir uma escola capaz de superar esse
abismo, podemos começar pelo enfrentamento dessa dificuldade enquanto ela ainda é um
lugar pleno de sentidos para os(as) jovens.
Argumentam que a falta de criatividade do(a) professor(a) não atrai a atenção do(a)
aluno(a) e, conseqüentemente, este(a) não têm prazer em aprender: “os professores são duros
e rápidos, mas tem que usar a criatividade”. A relação professor(a)/aluno(a) também interfere
na aprendizagem, e que isso necessita melhorias. “Pode ser na educação, a relação aluno/
professor. Falo sobre o aluno que desrespeita o professor”. Levantam as questões do poder
do(a) professor(a), estando em suas mãos a possibilidade de aprovar e reprovar os(as)
alunos(as), o que nem todos(as) concordam.

Tem professores que saem da faculdade com formação ruim e descarregam


seus problemas nos alunos. Rodam os alunos. Nada a ver, professor não rodar
aluno. Ele é que roda.

Nesse ponto, percebe-se que, embora tenham levantado como problema da educação o não
comprometimento dos(as) alunos(as), o que prevaleceu foi a constatação que há uma crise na
educação. Os(as) jovens conseguem perceber que a escola necessita de atenção, ou como diz Candau
(2000), precisa ser “reinventada”. De acordo com a autora, a escola que trabalha na perspectiva de que
a cidadania é “uma prática social cotidiana” que tem como norte ampliar o horizonte reflexivo do(a)
aluno(a), articulando saberes locais e globais, fazendo com que possam conceber “um projeto diferente
de sociedade e humanidade” (p. 15), cria as possibilidades de construir uma escola que, talvez, atenda
melhor as expectativas dos(as) jovens. Desse modo, a escola seria:

() Um espaço de busca, construção, diálogo e confronto, prazer, desafio,


conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades de expressão e
linguagem, aventura, organização cidadã, afirmação da dimensão ética e
política de todo o processo educativo. (p. 15)

A segurança na escola é um elemento importante, pois até mesmo a estrutura física está
sendo descaracterizada em nome da segurança. Para os(as) jovens, é necessário:

• Tem que ter segurança, mas não tanto assim, porque no colégio onde estudo
tem câmeras e grades por tudo.

• Tem muitas grades na escola.

• Tem muito vandalismo nas escolas.

O que esses(as) jovens expressam parece ser um recorte da violência que ocorre na

42
sociedade em geral: “Não adianta ter câmeras dentro da escola se, quando sair da escola, tem
gangues para pegar o cara”. Entretanto, Candau (2000) nos alerta que existem dinâmicas que
ocorrem no interior das escolas que geram violência. A autora afirma que “o que especifica a
violência é o desrespeito, a coisificação, a negação do outro, a violação dos direitos humanos” (p.
141). Assim, quando eles(as) expressam que há falta de criatividade, pouca preocupação com a
metodologia, conteúdos vazios de significados, tudo isso pode gerar sentimentos de violência
contra o que deveria ser um direito de todo(a) cidadão(ã), aprender com qualidade e dignidade.
Apesar de todas as lacunas que a escola apresenta, ela se torna a grande responsável
pela participação dos(as) jovens nas atividades culturais e de voluntariado. Na pesquisa de
opinião, percebemos que a maior participação dos(as) jovens em atividades culturais se davam
pela via escolar, bem como na segunda etapa, que alguns poucos mencionavam a igreja ou
centros comunitários. Cabe salientar que, na pesquisa com Grupos de Diálogo, apenas três não
estudavam, enquanto que, na pesquisa de opinião, um índice bem significativo de jovens (58,7%)
declarou não estar estudando; entre os(as) que não estavam na escola, a participação em grupos
culturais mostrou-se insignificante. Apenas 20,9% dos(as) jovens entrevistados(as) fazem parte
de algum grupo. Dentre esses, há predominância do sexo masculino (23,5%), pouca variação de
cor, mais presença da faixa etária dos 15 aos 17 anos, com aumento proporcional à escolaridade,
ou seja, os(as) jovens de mais escolaridade são os(as) que mais participam em grupos, com um
índice de 23,6%.
Em relação ao trabalho, os(as) jovens refletiram em torno do primeiro emprego, das
limitações de oportunidades dadas pela exigência da “experiência” como requisito
inquestionável para acessarem o mundo do trabalho. Associam essa limitação também com a
falta de ferramentas, como o domínio de uma língua estrangeira e mesmo a concorrência com
outros(as) jovens com maior titulação disputando uma vaga que não precisa essa “credencial”.
Há também manifestações de jovens que não se intimidam com essa barreira, propondo
esforço individual para superá-las.
Ao falarem sobre o que poderia melhorar no Brasil em termos de trabalho, um dos
jovens afirma que “o problema é a falta dele”. Afirmam ainda que:

Tu acaba o Ensino Médio e tu vai querer buscar um emprego ou tu quer ir pra


faculdade, ou os dois, e tá escasso.

Alertam também que a educação está intimamente ligada às oportunidades de emprego,


pois “os que só têm o Ensino Médio não conseguem, eles olham a idade, a experiência, a
aparência, o local da moradia porque não querem pagar vale-transporte adicional”.
Importante destacar que os(as) jovens ficavam atentos(as) às tarefas e, com
freqüência, alguém do Grupo, em geral as meninas, chama atenção para o que deve ser feito e
para o tempo, perguntando também: “Mas o que o governo pode fazer então?”, começando a
sinalizar para os Caminhos. Uma das jovens, com experiência em grupo de jovens e filha de

43
um cidadão com experiência partidária, afirma que “deveriam dar um salário mínimo pra cada
jovem ficar na escola”. Essa afirmação é contestada pelos(as) demais integrantes do grupo,
que dizem que “se tu tem condições de estudar para competir com os outros, tu não precisa de
salário, de bolsa pra isso, bolsa pra aquilo”.
No que se refere à cultura/lazer, num primeiro momento, os(as) jovens demonstraram
não terem compreendido muito bem do que se tratava. Aos poucos, nas interações do
pequeno Grupo, isso foi esclarecido por eles(as) mesmos, ao dizerem o seguinte:

() quando tu fala em cultura tu só pensa na cultura da elite, mas tem as culturas


locais que têm que ser valorizadas, tipo o grafite, o hip hop.

Os depoimentos anteriores fortalecem a idéia de que boa parte dos(as) jovens se


coloca no lugar de consumidor(a) cultural, e não de produtor(a) de cultura.
Falam da importância do resgate da cultura das pessoas das comunidades, porque “as
pessoas falam que ou é marginal ou é bandido, mas as pessoas têm esses recursos pra se
expressar, eles não têm a mesma forma de se expressar que a elite tem”. São destacadas
políticas públicas que levam a cultura aos bairros através dos centros de convivência
coordenados pelo poder público, como também o reconhecimento da escola como espaço
importantíssimo para estudarem cultura, programarem visitas a museus etc. Dizem que nesses
locais poderiam ser oferecidas oficinas diversas na área da cultura, cursos de balé, informática,
manicura etc. para as crianças, no turno contrário às aulas.
No conjunto das sugestões sobre o tema cultura, os(as) jovens destacam que essas
atividades todas estariam dentro de uma perspectiva de superação preconceitos com a
cultura juvenil que estaria, segundo eles(as), associados com violência, roubo, desordem e
mesmo morte.
Os(as) jovens associam a presença do Estado com a oferta de lazer, sinalizando um
possível caminho para a solução desse problema que afeta os(as) jovens atualmente. Dizem
que há falta de patrocínio do governo ao esporte e à construção de pistas poliesportivas. Um
menino negro diz que “tinha que ter pista de skate mais próxima de casa, porque o lazer está
mais voltado para a burguesia”. Afirmam ainda que o esporte afasta os(as) jovens das drogas.
Essas afirmações dos(as) jovens podem relacionar-se à oferta de alternativas de lazer com a
ocupação dos seus tempos livres.
Em síntese, o maior problema apontado pelos(as) jovens em relação à cultura refere-
se à falta de incentivo à cultura por parte do governo, mas, ao mesmo tempo, falam que “a
maioria do povo não pensa em ajudar, em dar uma mão, espera no outro o dinheiro para fazer
e viver a cultura”, combinando possíveis alternativas de solução pela associação dos
Caminhos 1 e 2.
A pouca participação nos grupos culturais também se evidenciou na pesquisa de
opinião. Apenas 20,9% dos(as) jovens entrevistados(as) faziam parte de algum grupo e a

44
forma mais efetiva se dava via escola. O mesmo fenômeno foi observado nos Grupos de
Diálogo. Alguns(mas) jovens chegaram a manifestar que não era necessário ter cultura, o que
eles(as) precisavam era de emprego.

Sobre o conteúdo dos subgrupos da tarde – Caminhos:


Sobre o Caminho 1, no turno da tarde, o Diálogo apresentou uma tendência a resumi-lo ao
papel do Estado e dos partidos políticos, demonstrando que os(as) jovens têm pouca
confiabilidade em ambos e também um certo “desconhecimento” da máquina (partidária):

É importante o jovem entrar em partido político, mas como é lá? O que se faz lá?
As mudanças dependem de cada um de nós e a gente espera os políticos
fazerem aquilo que a gente queria fazer, e, pra começar, a gente devia
escolher melhor eles.
O problema é quem tá no alto escalão do governo.

Houve ainda uma associação de partido político com a conquista de verbas e de ONGs
para a solução dos problemas da cultura. Os(as) jovens defenderam também a coletividade
como o caminho certo, considerando que “tudo é válido, mas o importante é se unir pra
reivindicar”. Mencionam a possibilidade dos grêmios estudantis serem as instâncias
“formadoras” dos(as) jovens para sua iniciação no campo da participação política.

Falta a galera se unir mais, fazer mais manifestações, se unir mais para fazer
alguma coisa.

A responsabilização do poder público para assumir seu papel se expressa na maioria


das intervenções dos(as) jovens nos pequenos Grupos, com grande destaque para sua
relação com a violência e a segurança. Associam-se a essas demandas aquelas de ordem
econômica: salários, emprego, melhorar a infra-estrutura das escolas, descentralização e
facilitação ao acesso à cultura.
Os comentários sobre o Caminho 2 dão conta de uma maior familiaridade do(a) jovem
com o voluntariado, com afirmações do tipo “Esse caminho já é mais fácil, mais interessante e
eu gostaria desse caminho”. Mesmo sem ter realizado ainda a leitura do Caminho 3, mas com
as memórias do conteúdo e imagens do CD-ROM, uma jovem antecipou suas escolhas e outra
jovem fez uma síntese de cada Caminho:

Eu acho que tô chegando à conclusão que a gente precisa de um pouquinho


de cada um dos Caminhos. Lendo o Caminho 2, eu acho que a gente tem
muita coisa pra fazer. Talvez, na visão desse, seja mais fácil o voluntariado.

45
Também ficou evidente o olhar crítico de alguns(mas) jovens sobre o papel do
voluntariado como uma alternativa que não isenta o papel do Estado na operacionalização das
alternativas para a solução dos problemas que o(a) jovem enfrenta. A expressão “se cada um
fizer a sua parte” é aceita parcialmente, mas indica também que o voluntariado pode ser uma
possibilidade mais próxima do(a) jovem participar:

O voluntariado é muito interessante porque o voluntariado vai direto pra fazer o


que tem que ser feito, só que ele esquecem de cobrar do que as autoridades têm
que fazer.
Se o voluntariado crescer, aí é que o governo não vai fazer mais nada.

Embora não tenha sido explicitado em todos os Grupos, há um registro importante a


respeito do “tempo de ser jovem” como condição para a escolha e disponibilidade para a ação
através do voluntariado, especialmente naquelas ações mais de ordem pontual, como
campanhas, situações de emergência social etc.
Por outro lado, algumas jovens mantêm uma visão ingênua sobre o voluntariado. Não
mencionam a responsabilidade do Estado e defendem os “Amigos da Escola” para os problemas
de limpeza da escola:

Ajuda, carinho é multiplicador de entusiasmo. Se um grande número de


pessoas der sua ação, vai dar resultado.
Falamos de educação, então, se eu estudo Pedagogia, por que não estender
uma lona, chamar umas crianças e dar aula? Cada um pode passar adiante o
que teve oportunidade de aprender.

A partir do Caminho 3, os(as) jovens visualizam que podem chegar aos outros dois
Caminhos através da cultura. Afirmam que “O Caminho 3 tem muitas atividades que dá pra
fazer, no Caminho 3 tem a questão da cultura”. À medida em que o Diálogo vai
esquentando, os(as) jovens vão percebendo como a cultura pode ser uma articuladora dos
outros dois Caminhos:

Dá pra mostrar, no teatro como, no dia-a-dia, o governo age. No teatro dá pra


criticar, dá pra ajudar, dá pra mostrar a realidade do que acontece, dá pra levar
o lazer, dá pra educar, e não só em teatro.

Novamente a variável tempo surge na fala dos(as) jovens, agora associando as atividades
de cultura e lazer como um importante momento de “ocupação” dos(as) jovens em ações e
iniciativas de seu interesse e que permitem mostrar suas potencialidades e, ao mesmo tempo,
servindo como uma forma de não envolvimento com drogas ou mesmo situações de risco. São
também conscientes de seus limites ao afirmarem que “não muda, mas ajuda”. Esse território da

46
criação, do estar juntos, da expressão da cultura, está presente em todos os GDs. Fica bem
evidenciada a possibilidade de ser um Caminho mais próximo da “escolha” do(a) jovem, e não de
ser um lugar do(a) adulto(a), como eles(as) dizem, “nenhum jovem gosta de ser manipulado”.
Interessante observar que nos subgrupos houve a opção, em diferentes proporções,
por um quarto Caminho para a solução dos problemas levantados na parte da manhã,
unindo os três Caminhos. Essa associação se daria tendo o Caminho 1 como ponto de
partida, provavelmente pela influência dos(as) jovens com militância no movimento
estudantil (conselho escolar e grêmio estudantil) e também pela jovem universitária, que
monopolizaram o Diálogo. Por sua vez, outro Grupo aponta a construção de um quarto
Caminho, porém tendo o Caminho 3 como ponto de partida, provavelmente pelas influências
das vivências anteriores nos grupos juvenis, relacionados com pastoral, grêmios estudantis,
grupos de dança ou mesmo pela “proximidade” desse Caminho 3. Provavelmente, a cultura
poderia ser uma forma do(a) jovem se organizar a partir do que ele(a) gosta de fazer, na
ocupação do seu tempo livre, expressando e exercitando suas sociabilidades para, com
incentivo de projetos sociais por parte do governo, também praticarem a solidariedade no
voluntariado, sem esquecer de se organizarem como grupo para lutarem por seus direitos.
Aqui parece que se abre uma possibilidade dos(as) jovens visualizarem alternativas de
participação no Caminho 1, que não apenas através dos partidos políticos e da presença do
Estado e bem como esclarecendo e aprofundando a alternativa do voluntariado.

4.4. Caminho síntese por Dia de Diálogo + problematização das conseqüências a partir
das escolhas feitas (tradeoffs)
O momento das problematizações foi essencial para que os(as) jovens confirmassem suas
escolhas e visualizassem as conseqüências de cada uma delas. O(a) facilitador(a), com as
afirmativas dos(as) próprios(as) jovens, questionou as escolhas: “Por que o voluntariado ajuda a
combater em parte o problema do analfabetismo e das dificuldades dos alunos na sala de aula.
Como? Como o voluntariado vai resolver o problema do analfabetismo?”.

Nas problematizações dos Caminhos, alguns(mas) jovens argumentaram sem muita


preocupação em defender posições. Outros(as) jovens demonstraram mais força na
argumentação.
As reações dos(as) jovens às provocações do(a) facilitador(a) ficaram, num primeiro
momento, mais voltadas às relações feitas em cada pequeno Grupo, e depois eles(as)
defendiam posições mais individuais. Prevalecia o que cada jovem pensava e em função de
suas experiências pessoais de participação.
No Grupo 5, os(as) jovens, explicitaram suas argumentações, trazendo a expressão
“conscientização” como sendo uma exigência inicial de parte de qualquer pessoa para agir e
escolher um dos três Caminhos. Procuravam exemplos e conectavam esse ato individual como
uma pré-condição para qualquer ação, seja política clássica, seja voluntariado e mesmo com
seus grupos.

47
Não houve generalizações sobre a escolha dos Caminhos, pois os(as) jovens fizeram
escolhas considerando a importância do poder público, sem isentar o papel de cada um(a)
como parte no processo de mudança ou de solução do problema apontado nas plenárias. Isso
trouxe uma escolha híbrida dos Caminhos, associando a dimensão do problema com o
Caminho Participativo escolhido. A tendência observada sobre a opção dos Caminhos pode
revelar que os(as) jovens não se isentam de uma participação mais ativa na sociedade, mas
que também mostram-se céticos(as) em relação a atuação do poder público. Ao mesmo
tempo, o voluntariado aparece como forma de resolver problemas que estão diretamente
vinculados à gestão de recursos por parte do poder público.

4.5. Comentários Finais (Tabelas 4 e 5)

Tabela 4 Quarto Instrumento de Análise


Obs. No 1º GD, os jovens não enviaram mensagens aos políticos, pois os facilitadores deram
mais ênfase às descobertas e ao impacto sobre o dia de diálogo.

Grupo Grupo de 1º Grupo 2º Grupo Grupo de


Comentários Finais de Diálogo Diálogo 1 de Diálogo de Diálogo Diálogo
Experiência
(temas/ questões) 15-18 8-24 15-24 15-24
Participativa
(02/04/05) (09.04.05) (23.04.05) (30.04.05) (19.03.05)

Mais atenção aos


- 3 - - -
jovens
Governantes visitem as
- 2 - - -
periferias
Mais atenção para a
- 1 - 2 -
violência
Políticos pensem mais
nas decisões/ mais ação - 4 - 2 -
(falem menos trabalhem +)
Valorização da fala do
4 - - 6 -
jovem escutar mais
Participação e
2 - - - -
Satisfação
Espaço de
4 - - - -
aprendizagem
Espaço de expressão 5 - - - -

Esperança 1 - - - -

Responsabilidade de
todos, governo deve
3 - - 1 -
trabalhar mais
(vergonha)
Atenção aos pobres
1 - 1 2 -
Crianças pobres

48
É bom debater com
- 4 - 7 -
grupos
É bom conhecer
- 3 - 5 -
opiniões diferentes
Fazer amigos - 6 - - -

Dizer coisas para os


- 2 - - -
governantes
Segurança - - - 4 -

Mais educação - - 1 2 -

Roubar menos 4

Que o governo mude


4
e tome uma solução

Tabela 5 Quinto Instrumento de Análise


GD1

Comentários Finais
Grupo de Diálogo Um - 19/03/2005
(temas/ questões)
M: Pessoal, eu queria dizer que a mudança ela tem que começar
em cada um de nós, entendeu? A mudança se ela começa em
cada um de nós, se a gente dá o primeiro passo pras mudanças
A mudança começa acontecerem e aí agente pode entre todos formar uma grande
em cada um mudança, e não esperá pelos outros, começar por nós a
mudança, entendeu? E procurar em nós, o que nós podemos
fazê pra essas mudanças acontecerem. E obrigado pela
oportunidade.
Eu gostaria de dizê que foi muito gratificante tá participando, eu
participo do conselho de políticas públicas da juventude, então, a
Foi gratificante ta reunião aqui hoje foi até mesmo, eu tô a seis meses no conselho
participando e nunca foi tão produtivo como foi hoje a reunião, eu dou os
parabéns ao grupo todo de trabalho, agradeço a oportunidade,
também parabéns a todos, gostei muito de conhecer o pessoal.
Eu queria agradecer a todos por comparecer todo mundo.
Obrigado por tudo. E convida, né. Quem que tivé oportunidade de
Convite para entrar participar de algum grupo de dança, de qualquer coisa até
no voluntariado mesmo ser voluntário de alguma coisa, e até mesmo convidá
pessoas a ser voluntário ou entrar nesse grupo, porque é um
início pra todos, Obrigado.
Eu só queria parabenizar vocês que estão aqui, é tipo eu, antes
eu falei da agenda, a gente podia tá em casa agora jogada no
sofá, fazendo nada brincando com o cachorro, sei lá, namorando.
E não a gente tá aqui, sabe? A gente tá tentando mudar um
A gente ta tentando
pouquinho o País, acho que é uma bela de uma atitude da gente
mudar o país
e deles também que poderiam também tá descansando, fazendo
qualquer outra coisa e eles tão aqui ajudando a gente a pensar
um pouquinho a trocar a nossa realidade.. Parabéns pra todo
mundo.

49
GD 2

Comentários Finais
Grupo de Diálogo Dois - 02/04/2005
(temas/ questões)
“Que não caia esse sábado no esquecimento. Estou ansiosa para
chegar na minha cidade e fazer alguma coisa pra tentar mudar.
Não vamos esquecer isso, foram colocadas tantas idéias aqui.
Que não seja só uma pesquisa, mas um programa que perceba
como os jovens estão na sociedade.”
Valorização
da fala do jovem “Foi muito legal. Nunca pensei que teríamos oportunidade de
falar o que pensamos e sentimos. “O governo tem que canalizar
o que falamos e colocar em prática.”“.
“Se pensar o que foi o debate, foi para melhorara o nosso Brasil e
uma possibilidade para colocar essas idéias em prática”.
“Foi legal, vou tirar uma experiência para conversar com meus
amigos. Não pensei que a sociedade tivesse tantos problemas.
Participação Apostar no jovem brasileiro”.
e Satisfação
“Quando recebi a carta, pensei que ia ser chato, mas foi bem
legal”.
“Quero falar uma coisa que aprendi: nunca pensei que pudesse
falar das coisas, juntar as idéias em grupo pudemos ver um
projeto para uma sociedade perfeita. Foi bom expressar as
minhas idéias”.
Espaço “A experiência foi maravilhosa. Foi muito bom e só teve a
de aprendizagem acrescentar”.
“Foi uma experiência maravilhosa. Foi um sábado que não perdi,
mas que ganhei”.
“Aprendi muita coisa”.
“Foi muito legal. Nunca pensei que teríamos oportunidade de
falar o que pensamos e sentimos”. “O governo tem que canalizar
o que falamos e colocar em prática.“.
Espaço
“Foi muito interessante, nunca tinha participado de uma reunião
de expressão
de jovens assim”.
“Para mim foi ótimo, sou muito encabulada, não consigo falar no
meio de tantas pessoas.”
“Eu também achei interessante, porque de repente, você
Esperança encontra vários jovens de realidades diferentes, idéias diferentes,
mas muitas coisas em comum que podem melhorar”.
“Foi uma experiência legal, não tinha participado de um diálogo.
Que eles trabalhem, que parem de viajar”.
Responsabilidade de
todos, governo deve “Gostei muito, foi importante. Se metade daqui sair e levar a
trabalhar mais sério, foi bem positivo. Se o governo fizer a parte dele, nós
fazemos também a nossa.” “Foi legal, e queria dizer para o
governo que ele acorde, pois está dormindo no ponto.”
“Dizer para o governo que eles olhem quem precisa de ajuda.
Atenção aos pobres
Ajudam mais os ricos que os pobres”.

50
GD 3

Comentários
Finais
Grupo de Diálogo Três - 09/04/2005
(temas/
questões)
Mais espaço “O que eu mais gostei ali foi, hoje, juntando com todo o pessoal, deu pra
para os gente tirar novas idéias, novos conceitos de alguma coisa. Foi bastante,
grupos pra mim foi bastante importante, que nem o senhor falou no início, a gente
de jovens tem uma idéia e muitas vezes têm essa idéia sozinha, mas discutindo em
grupo, a gente tem outra idéia do contexto em geral”.

“A gente sentou, discutiu em grupo, com o pessoal todo e pode


Mais atenção acrescentar mais idéias e concordar ou não, pra que se possa chegar a
aos jovens um denominador comum”.
“O que eu mais gostei foi conhecer as opiniões das pessoas”.
“O que eu mais gostei foi de conhecer o pessoal todo e participar deste
trabalho, que foi muito interessante para mim, e motivou bastante para
várias coisas”.
“O que eu mais gostei de ter participado hoje aqui, desse diálogo foi poder
dentro do grande grupo conhecer várias idéias de outras pessoas de
localidades diferentes, mas como mesmo propósito de procurar uma solução
Governantes pra os problemas existentes no país que são gravíssimos, em minha opinião.
visitem E o que eu diria para o presidente é que ele precisa colocar pessoas que
as periferias falem menos e ajam mais, e que vão a campo e não fiquem somente
sentadinhos nas cadeiras, e, porque é muito fácil falar e muito difícil de fazer,
e a realidade é muito diferente do que eles conhecem. Eles não vão na vila,
eles não freqüentam as casas das pessoas, eles não sabem o que as
pessoas passam na fila de um SUS e eles não vivem na pele o que as
pessoas… Eles estão lá em cima, é muito fácil falar. E quem sente, quem
precisa do SUS, quem não tem condições é que sofre”.
“Para mudar alguma coisa, não adianta só falar. A coisa tem que ser mais
rígida. Precisa colocar regras para garantir direitos para melhorar tudo”

Mais “Eu achei que o melhor que a gente pode aproveitar hoje foi… cada
organização decisão, opinião que o pessoal defenda, há uma controvérsia e nós
precisamos escutar as controvérsias e entendê-las. E as palavras que eu
deixo pras pessoas que tomam decisão é… façam alguma coisa e
organização”.
Mais atenção “O que eu mais gostei foi as amigas que eu fiz hoje e queria que os
para a governos prestassem atenção na violência que está sendo produzida por
violência causa da falta de recursos financeiros”.
“Bom, eu acho que se todo mundo colaborar, todo mundo ter boa vontade,
Políticos e se houver mais projetos como esse e se não ficar só no papel, todo
pensem mais mundo colaborar e por em prática, e tiver um bom comandante, ou com
nas cabeça pra comandar, acho que a coisa vai em frente com todo mundo”.
decisões/
mais ação “O que eu gostei hoje foi que… a gente debateu, essas pessoas são muito
legais e queria dizer pro presidente que ele falasse menos e agisse mais”.
“O que eu mais gostei aqui também foi o debate, a possibilidade de
Espaço
debater bastante com tantas pessoas, eu acho que nunca tinha debatido
de debate
com tantas pessoas”.

51
GD 4

Comentários
Finais Grupo de Diálogo nº 4 – 23/04/05
(temas/ questões)
“pra mim o Brasil é uma união e todos tem que se unir pra
Roubar menos melhorar alguma coisa nesse país, e é roubar menos, né, porque
não dá, é um absurdo o que acontece hoje”.
“Sobre o nosso país e a situação que a gente vive, né. Acho que
Que o governo mude
é isso. Ah, que eles tenham mudanças, né, mais mudanças. É
e tome uma solução
isso”.
“o principal problema está na educação e que se os jovens forem
Educação educados corretamente o Brasil tem uma condição muito grande
de crescer e se desenvolver e vai diminuir pobreza e todo resto”.
“pensar um pouco mais no pobre, porque afinal de contas quem
Pensar mais bota eles lá em cima é nós, porque ninguém consegue viver a
nos pobres situação que o pobre ta vivendo hoje em dia, porque o pobre
trabalha de dia para comer de noite”.
Dar mais valor “dar mais valor para o jovem porque nós somos o futuro, né, e é
para o jovem através de nós que vamos melhorar este país”.
Investir mais “investir mais o nosso dinheiro, o dinheiro do povo, não roubar, é
o dinheiro do povo isso”
Dignidade “pra parar de roubar um pouco e dar um pouco mais de dignidade
para os brasileiros pros brasileiros”.

52
GD 5

Comentários Finais
Grupo de diálogo cinco 30/04/05
(Temas/Questões)
“Ah, que eu acho que tem que melhorar algumas coisas”.
Melhorar a
“e a mensagem que eu gostaria de deixar é que tá uma
prática dos políticos
vergonha, só isso”.
profissionais/
indignação “E o recado que eu queria mandar pros políticos é que eles…
falem menos e façam mais”.
“eu daria pros políticos é pensar mais, lógico, em todo mundo,
Políticos ouvir mas como a gente está fazendo um debate sobre os jovens,
mais os jovens pensar em dar mais oportunidades para os jovens, porque a
gente está precisando bastante”
“Pra botar mais segurança nas ruas, o recado”.
Segurança
“e melhorar mais a segurança”
(associada também
com educação) “é melhorar a violência que tá demais, e educação, que nem eu
vou ter coragem de …”.
“A mensagem que eu queria deixar pra quem governa esse país,
é que eles fizessem mais diálogos como esses, mas que eles
tivessem presentes para ver o que a gente tá falando e não só,
vocês mostrando, que é um trabalho bom. Eu queria que eles
tivessem aqui para ver e dissessem para nós porque é que eles
não fazem, porque que tem… eles darem a opinião deles e
Ouvir mais disserem porque é que não conseguem fazer, e nós ajudando
os jovens eles a construir melhor, porque não adianta só nós aqui, estar
(como aqui) aqui, é isso”.
“é deixar o jovem se expressarem mais na política, deles ouvirem
mais as opiniões dos jovens”.
“E a mensagem que eu gostaria de mandar pros políticos é que
nós estamos crescendo, e que nós vamos mudar o país. Eles
que se cuidem com a gente”.
“é que as pessoas que toma decisão no país olhar bem mais pras
Pobreza – crianças
crianças pobres”.
Violência “pensarem mais na violência e tentar diminuir isso, assim nas
(rua e casa) ruas, até dentro de casa”.
“olharem mais para a educação que é a base de tudo, na infância
Educação –
até, eu acho, e… Acho que seria isso aí, mas a educação mesmo
(separada)
e a segurança nas escolas”.

Observando os comentários dos(as) jovens nas tabelas 4 e 5 sobre o Dia de Diálogo,


destacamos a escuta, a possibilidade de expressar idéias e dialogar com pessoas de
diferentes opiniões e fazer amigos(as) como sendo as questões mais significativas para os(as)
jovens que participaram desta atividade. Esses temas remetem para o reconhecimento, tão
necessário, aos(às) jovens, de alguém que tem o que dizer e valoriza o direito de ser escutado.
A amizade como possibilidade de ampliação das redes de relações é fortemente
apontada como uma dimensão fundamental que constitui as identidades juvenis. Ou seja, o

53
grupo como um espaço de conhecimento de si e de interação com os(as) outros(as), pois é na
relação que fazemos e nos fazemos.
Os comentários dos(as) jovens mostram a importância que deram para a participação
no Dia de Diálogo, apontando para as reflexões construídas, as trocas e os contatos feitos.
Elogiaram a iniciativa de uma pesquisa que busca escutar os(as) jovens, a partir de suas
experiências de vida, com encaminhamentos para definição de políticas públicas, ou seja, é um
ouvir que busca interferir. Um jovem diz que “no colégio tinha medo de dar opinião por estar
errado, mas aqui não teve isso”.

54
5. Fichas pré e pós-Diálogo – Tabela 6

1ºGrupo
de Diálogo Grupo
Grupo Grupo
15-24 de Diálogo
Temas/questões que de Diálogo de Diálogo
(23.04.05) Experiência
aparecem como
15-18 18-24 2º Grupo Participativa
condição
de Diálogo
(02/04/05) (09.04.05) (19.03.05)
15-24
(30.04.05)
Melhorar Partidos 3
Reconhecer
importância/poder dos
8 1 13 1+2
Jovens/ Participação
Política dos Jovens
Todos unidos/ altruísmo 1 1
Participação Consciente 6
Luta por Direitos
dos Jovens de forma 6 1
Pacífica
Responsabilidade
7
dos Governos
Não Opinou 2
Ajudar o país 1 1
Ações do Governo 3 6 13 1
Compartilhar serviços 2 4
Responsabilidade de
2 1
todos
Não utilizar como
1 1
autopromoção
Reconhecimento e
6
Incentivo
Que o Jovem se
3
comprometa
Que o país melhore 3
Essa ajuda é superficial 2 2
Ajuda aos pobres 2
Um caminho não é
2
suficiente
Indiferentes (tanto faz) 3 5
Diversos/dispersivo (!) 3 1
Usar outros caminhos

55
5.1. Parte quantitativa: cruzamento do perfil com a numeração apontada
Uma das etapas da metodologia do Grupo de Diálogo consistia no preenchimento de fichas
denominadas Pré-Diálogo e Pós-Diálogo. Estas eram distribuídas entre os(as) jovens
participantes em cada encontro sem que houvesse a identificação dos(as) seus(as)
respondentes, a não ser a numeração que era a mesma para as duas fichas. Essas fichas
continham questões sobre os três Caminhos Participativos e, abaixo das mesmas, tinha uma
escala de “um a sete” na qual os(as) jovens deveriam marcar um círculo indicando sua escolha
entre essas alternativas. No momento da entrega das fichas, era salientado para os(as) jovens
que nenhuma posição teria caráter de julgamento. Mais importante seria a possibilidade do(a)
jovem expressar a sua opinião.

Analisamos o conjunto das respostas apresentadas, sob a forma de uma tabela em


Excell, e optamos por a seguinte estratégia de leitura, para cada categoria:
1º) comparamos as médias gerais entre as fichas Pré e Pós, de todos(as) os(as)
jovens, de cada variável (sexo, trabalho, escolaridade e idade) e de todos os GDs;
2º) procuramos ver os contrastes mais significativos (*) entre cada GD e cada uma das
variáveis;
3º) buscamos, na “internalidade” de cada variável e de cada GD, a possível origem de
alguns contrastes de maior porte .
Após isso, num segundo momento procuramos as mesmas regularidades dentro de cada
Caminho como se fosse uma nova leitura dos mesmos dados mas a partir de outra entrada.

56
5.2. Caminho participativo 1 – Sob a condição de que:

1ºGrupo
de Diálogo Grupo de
Grupo de Grupo de 15-24 Diálogo
Temas/questões que Diálogo Diálogo (23.04.05) Experiência
aparecem como condição 15-18 18-24 2º Grupo Participativ
(02/04/05) (09.04.05) de Diálogo a
15-24 (19.03.05)
(30.04.05)

Melhorar partidos 3
Reconhecer
importância/poder dos(as)
8 1 13 1+2
jovens/Participação política
dos(as) jovens
Todos(as) unidos/Altruísmo 1 1
Participação consciente 6
Luta por direitos dos(as)
6 1
jovens de forma pacífica
Responsabilidade dos
7
governos
Não opinou 2
Ajudar o país 1 1

5.3. Caminho participativo 2 – Sob a condição de que:

1ºGrupo
Grupo de Diálogo Grupo
de Grupo 15-24 de Diálogo
Temas/questões Diálogo de Diálogo (23.04.05) Experiência
que aparecem como condição 15-18 18-24 2º Grupo de Participativ
(02/04/05 (09.04.05) Diálogo 15- a
) 24 (19.03.05)
(30.04.05)

Ações do governo 3 6 13 1
Compartilhar serviços 2 4
Responsabilidade
2 1
de todos(as)
Não utilizar como
1 1
autopromoção
Reconhecimento e incentivo 6
Que o(a) jovem se
3
comprometa
Que o país melhore 3
Essa ajuda é superficial 2 2
Ajuda aos(às) pobres 2
Um Caminho não é suficiente 2

57
5.4. Caminho participativo 3 – Sob a condição de que:

1ºGrupo
de Diálogo
Grupo de Grupo de 15-24 Grupo
Temas/questões Diálogo Diálogo (23.04.05) de Diálogo
que aparecem 15-18 18-24 Experiência
como condição 2º Grupo Participativa
(02/04/05) (09.04.05) de Diálogo (19.03.05)
15-24
(30.04.05)
Ações do governo 3 6 13 1
Compartilhar
2 4
serviços
Responsabilidade
2 1
de todos(as)
Não utilizar como
1 1
autopromoção
Reconhecimento
6
e incentivo
Que o(a) jovem
3
se comprometa
Que o país melhore 3
Essa ajuda
2 2
é superficial
Ajuda aos(às)
2
pobres
Um Caminho
2
não é suficiente

58
6 – Análise das questões relativas à participação: tendências,
interdições, potencialidades

Fazendo uma análise sobre as tendências, interdições e potencialidades de participação


dos(as) jovens da Região Metropolitana de Porto Alegre, podemos afirmar, em linhas gerais,
que independente do perfil do Grupo de Diálogo, o que mais mobiliza os(as) jovens para a
participação é o voluntariado; o que teria o maior grau de rejeição ou interdição são os
partidos políticos e a atitude dos(as) políticos(as); e, por sua vez, a cultura e o lazer, seriam
potencialidades que estariam latentes para serem desenvolvidas.
Essa tendência para a participação através do trabalho voluntário iniciando,
aparentemente, como uma atitude individual que vai, segundo os(as) jovens, se ampliando e
se conectando com diversas instâncias em rede, podendo, através dessas ações, impactar o
poder público.
Em relação à cultura, percebe-se um apelo para o acesso no sentido de usufruir, mais
como consumidores(as) do que produtores(as). As falas seguem mais na direção de oferta de
atividades culturais por parte do poder público, descentralização, diversificação e segurança
nos espaços de cultura e lazer.
Apresentam o Caminho 1 como importante para resolver problemas da alçada do
poder público, tais como, violência, segurança, salários, emprego, entre outros. Por outro lado,
destacam o Caminho 2 como possibilidade de fazer algo frente ao descaso do governo e o
Caminho 3 na perspectiva de consumidores(as) de cultura.
Percebe-se ainda que os(as) jovens que têm experiência prévia em participação são
mais comunicativos(as), defendem mais suas posições, monopolizam mais a palavra.
Os dados quantitativos da primeira etapa dessa pesquisa trouxeram algumas
questões de fundo que podem e devem ser analisadas e cruzadas com os dados levantados
na fase qualitativa, os quais são apresentados a seguir:
As subjetividades e a vulnerabilidade social, de caráter individual, presente nas
condições de desemprego, baixa escolaridade e cor, referidas como categorias analíticas do
relatório quantitativo da RMPA, podem ser alimentadas pela combinação dos elementos que
surgiram na fase qualitativa. Podemos citar, então, que a participação é afetada na direta
proporção da associação entre desemprego e luta/demanda por direito ao trabalho, mediante
algumas condições: obter emprego por meio da escolarização, em especial o Ensino Técnico
Profissionalizante, nível médio; facilitar obtenção do primeiro emprego pela diminuição da
exigência da prévia experiência (algo que sempre interdita a obtenção do emprego quase mais
importante que a escolarização/profissionalização); melhorar a remuneração dos(as) jovens
em seus primeiros empregos para facilitar acesso à cultura (eventos) e deslocamentos entre
casa, escola e trabalho.

59
A participação de jovens privilegiando o mais próximo, mais palpável, mais visível em
detrimento ao modelo clássico da representatividade política junto aos partidos, sindicatos e
movimentos sociais, ajuda a compreender, ao menos em parte, a dificuldade na demonstração
do conhecimento dos(as) jovens sobre as diversas siglas Greenpeace, Alca e mesmo o ECA,
distantes de seu entorno imediato (conforme análise dos dados do relatório quantitativo). Isso
remete para as tendências de identificar o Caminho 1, preferentemente, como sendo
GOVERNO e ainda mais, governo federal. O município e o estado surgem depois como
instâncias diluídas entre os dois pólos: micro/próximo e macro/distante. Os(as) jovens
reconhecem a importância e existência das ONGs indicadas pelas ações que realizam, mas
não as identificam como possibilidade de busca e “querer filiar-se”. Sem nomear a instância de
poder (federal, estadual ou municipal), os(as) jovens adotam uma postura mais de cobrança do
governo para questões de violência, insegurança, salários. Foram feitas poucas menções ao
movimento estudantil.
Os interesses agregadores dos(as) jovens em torno da cultura, lazer, esporte,
aparecem em primeiro lugar, em detrimento de outros como, movimento estudantil,
partidos políticos e, em último, as tarefas mais concretas no campo escolar e movimento
ecológico. Causa surpresa que, na fase qualitativa da pesquisa, o Caminho 3, vinculado
à cultura e ao lazer, ficou subsumido como alternativa de participação, pelo menos num
primeiro momento. As vinculações com o campo religioso ficaram associadas com o
voluntariado (Caminho 2), tanto por ações pontuais na saúde e educação como nos
próprios eventos culturais patrocinados pelas igrejas. Os eventos culturais foram
associados fortemente com o direito ao acesso, à falta de espaços (qualidade,
quantidade e distribuição regional na RMPA), à segurança. Mais cobranças das
autoridades e alguma iniciativa em querer fazer algo através da cultura. Em relação à
cultura, o interesse ficou muito próximo pelo evento em si e pela fruição, como direito mais do
que agenciamento para alguma atividade solidária, participativa.
O relatório quantitativo revela uma tendência em diminuir a participação juvenil com o
aumento da idade, casamento, filhos(as), exceção dada pela escolaridade que aumenta
conforme o nível de ensino. Por sua vez, nos dados qualitativos, os(as) jovens casados(as),
com mais ênfase do sexo feminino sobre o masculino, agiram com maior naturalidade a
respeito da participação. O aumento da idade e a participação quando associado com
experiência participativa prévia, ou seja, nosso GD1, demonstrou que os(as) mais velhos(as),
próximos aos 24 anos, têm participação mais direta com os direitos de sua condição,
especialmente de estudantes universitários(as), com demandas de conteúdos significativos
para suas aulas.
A experiência prévia de participação é um elemento que indica uma provável
superação das representações do senso comum sobre política, tendo em vista as frases
presentes nos questionários a respeito dos(as) políticos(as) e a representação política, na
primeira fase da pesquisa. Na fase qualitativa, os(as) jovens com experiência participativa,

60
demonstram, independente da idade, maior intimidade com as alternativas de participação,
tanto com o enunciado dos problemas como na associação com os Caminhos Participativos.

Em relação à escolaridade, podemos dizer que os(as) jovens universitários(as),


preponderantemente meninas, classe A/B, moradoras de Porto Alegre, expressaram suas
falas mais ligadas com temas do Ensino Superior, na proposição de mudanças nos
conteúdos oferecidos (mais “humanas” no currículo). Houve pouca menção ao projeto de
reforma universitária.
A proposta de se estabelecer um clima dialógico entre os(as) jovens que se
conheceram naquele momento, naquele espaço, naquele tempo também foi inovadora para
os(as) componentes da equipe de pesquisa. Na procura da consistência com os princípios que
sustentavam a orientação teórica e metodológica da pesquisa, a partir do Diálogo, foi um
exercício de diálogo também para os(as) adultos(as) tentarem desenvolver essa habilidade
frente aos(às) jovens. Foi necessária uma permanente vigilância com os hábitos de
professores(as), daqueles(as) que “procuram tudo explicar”, com certa ansiedade em acelerar
encaminhamentos, dúvidas e perguntas formuladas pelos(as) jovens durante as diversas
situações durante os encontros nos sábados. Especialmente isso foi importante nas plenárias
em torno das falas sobre semelhanças e diferenças e nas problematizações sobre as escolhas
feitas entre os diversos Caminhos propostos para a ação dos(as) jovens. Se diálogo pressupõe
escuta, escuta demanda tempo e não se reduz a um dia, a uma estratégia de grupo, então é
preciso cautelas a respeito dos resultados dessa abordagem metodológica e respeito aos
processos possíveis que foram desencadeados junto aos(às) jovens como um todo e a cada
um(a) deles(as), individualmente.

61
7 – Conclusão

Nossas conclusões iniciam por uma reflexão inspirada nas análises de um dos(as)
pesquisadores(as) da juventude mais reconhecidos(as) internacionalmente. José Machado Pais
propõe que a categoria juventude seja compreendida a partir de sua contextualização histórico-
cultural. Hoje, podemos dizer que os(as) jovens são filhos(as) da mudança, de uma ordem social
marcada pelos desgastes dos discursos dominantes, ou, como diz José Machado Pais (2001),
assistimos um processo de desinstitucionalização da vida social, não porque estejam em vias de
extinção, mas por serem vias de mudança. Ou seja, a crise das instituições pode ou não ser de
decadência, mas de re-institucionalização permanente.

Essa complexidade da realidade torna necessários novos rumos para os estudos sobre
juventude. Hoje, um pouco mais libertas da razão instrumental, as pesquisas nas ciências sociais
e humanas, buscam ouvir mais intensamente os(as) jovens, considerados(as) atores sociais.
Porém, é necessário ampliar e institucionalizar canais de interlocução entre os(as) jovens na
discussão e formulação de políticas públicas.

A participação dos(as) jovens tem ocupado o debate público que ganha força no Brasil,
principalmente como possibilidade de avanço da democracia social e política. Muito embora não
haja nenhum fórum público que possa constituir-se num canalizador das demandas juvenis.

Helena Abramo considera que a preocupação com a participação dos(as) jovens:

() é marcada por certa ambigüidade: por um lado, existe uma percepção da


importância da participação juvenil para o desenvolvimento democrático, que
vem acompanhada de uma expectativa de seu incremento; por outro, impera
uma certa visão negativa a respeito da participação existente e uma dificuldade
de concretizar canais efetivos para a sua realização. Essa ambigüidade é
acompanhada por uma dificuldade de estabelecimento de relações entre os
atores e instituições sociais que dominam a cena pública (governamentais e
não governamentais) e os atores coletivos juvenis (grupos, organizações,
movimentos e "movidas" de jovens), ainda pouco visíveis e compreendidos
como interlocutores válidos para lidar com as questões concernentes a eles.

A pesquisa Juventude Brasileira e Democracia no Brasil: participação, esferas e políticas


públicas busca compreender a complexidade do cenário nacional, acompanhando o debate em torno
do tema das políticas públicas de juventude no Brasil e também a noção de como a “participação” se
processa em suas diversas formas, ações e reflexões. Esse debate suscita a necessidade de que
os(as) jovens sejam sujeitos ativos nesse processo ainda inicial de definição de políticas nacionais

62
dirigidas aos setores juvenis da população brasileira. É fundamental, portanto, empreender um
esforço de compreensão das motivações e percepções dos(as) jovens sobre a participação.
Na Região Metropolitana de Porto Alegre, a pesquisa, em sua etapa qualitativa,
apontou algumas tendências participativas, que poderíamos agrupar em quatro idéias:

1) não há crédito especial a nenhum Caminho isoladamente, mas uma escolha pelos três
Caminhos a partir do tipo de problema, através de uma combinação diversa entre eles;

2) descrédito na política, mas não no governo, apontando o que é de responsabilidade


do Estado e o que os(as) jovens precisam fazer, ou seja, reconhecem sua parte na
construção do Brasil que queremos;

3) crença no voluntariado que não se resume, somente, ao entendimento do senso


comum. É possível observar que o voluntariado assume, para esses(as) jovens,
sentidos diversos como aprender com a “troca”; ter um reconhecimento/visibilidade;
ajudar de forma concreta. E por último,

4) tendência forte, centrada no acesso à cultura mais como consumidores(as) do que


produtores(as).

Refletindo sobre essas quatro idéias, é possível concluir que: a vivência de Grupos de
Diálogo e a análise das falas evidenciaram que o movimento argumentativo dos(as) jovens é
pendular. Denunciam, culpam, apontam, responsabilizam, mas reconhecem sua parcela de
responsabilidade na solução dos problemas. Essa é uma atitude interessante que rompe com
representações dos(as) jovens como alienados(as) e desinteressados(as). Os estudos sobre
juventude têm mostrado que os(as) jovens querem ser ouvidos(as) e têm o quê dizer, usando
linguagens diversas.

As críticas que fazem aos(às) políticos(as) e um certo “esquecimento” da


participação via sindicato e partido podem estar associadas às reflexões de Mische (1997),
quando comenta que os(as) jovens viveram as crises e escândalos dos governos civis,
sofreram a ansiedade da inflação e recessão econômica que sufocou muitas de suas
aspirações. Tudo isso contribuiu para um ceticismo em relação à participação política. As
redes interativas dos(as) jovens se diversificaram a partir dos anos 90, com grande
dispersão das identidades e projetos.

Hoje é preciso indagar sobre a existência de novas maneiras de articular projetos


pessoais e coletivos, talvez sem grande escala utópica das décadas passadas. A emergência
de várias formas contestadoras de expressão cultural, as manifestações pontuais dos(as)
jovens e, recentemente, a atuação dos(as) jovens em organizações não-governamentais
apontam para novas possibilidades de participação. A afirmação, por exemplo, da cultura afro-
brasileira nos coletivos juvenis traz uma importante contribuição para a educação,
reconhecendo que a democracia se constrói com a cidadania para todos.

63
É preciso, porém, romper com a idéia de que, nos anos 60 e 70, as mobilizações juvenis
eram mais políticas, e nos anos 80 e 90 eram mais culturais. A cultura como modo de ser e estar
no mundo envolve participação política. Hoje há formas de participação social mais visíveis e
outras diferentes das que eram registradas nas décadas anteriores.

Neste aspecto, a pesquisa apontou um rumo diferente entre os(as) jovens


entrevistados(as), pois o Caminho da cultura ficou “na sombra”, ou seja, uma ausência do Caminho
3 como estratégia de mobilização e participação. Porém, nas falas dos(as) jovens e nas sínteses
das semelhanças, a cultura aparece como possibilidade para viabilizar determinadas situações que
apontem as responsabilidades do governo. Na discussão sobre o “acesso” aos bens culturais,
os(as) jovens da RMPA realizaram uma dupla entrada em torno da “cultura”: de um lado como bem
(na forma de show, evento, espetáculo etc.) a ser usufruído e, de outro, a clara indicação que cabe
ao Estado ser o provedor da segurança, zelar pela não violência, pelos preços acessíveis e pela
descentralização dos eventos. Em alguns pequenos Grupos observou-se que a possibilidade de
acesso aos bens culturais se efetiva através da escola.
A escolha de um único Caminho se mostra insuficiente. Os(as) jovens escolhem
aproximações entre os Caminhos Participativos e são os temas que interferem na escolha do
Caminho e, num segundo momento, a conexão com os demais Caminhos. Há uma forte
tendência do voluntariado como Caminho Participativo, talvez na perspectiva de “ver” o que é
possível e próximo. O próximo está associado com o imediato, ou seja, não esperar só por
iniciativas governamentais. Pode se dizer que há um desejo de participação, sempre latente,
independente do “como participar”. Conforme a conjuntura, esse desejo de participação se
direciona para questões mais pontuais e de busca de sentido da ação juvenil. Um pouco do que
Melucci (2001, p. 98) aponta, que a “agregação não é possível se não existe uma certa
coincidência entre os objetivos coletivos e as necessidades afetivas, comunicativas e de
solidariedade dos membros”.

Leslie Serna (1997) traz uma reflexão sobre a participação juvenil no contexto do não
emprego, da industria cultural e da inserção dos(as) jovens no narcotráfico, apontando para um
novo paradigma da participação juvenil, pautado por quatro elementos: a novidade das causas de
mobilização, a priorização da ação imediata, a importância do indivíduo na organização do
movimento (o indivíduo é o centro das práticas e o grupo de pares não é mais um fim em si
mesmo) e a ênfase na horizontalidade dos processos de coordenação.

Nas palavras de Serna (1997, p. 49), “la participacíon juvenil se expresa hoy dia en
pequeños colectivos y grupos y, muy claramente, en acciones diversas en las que se participa
de maneira individual”. Os(as) jovens não querem perder sua individualidade na massa e
estabelecem formas de participação social pouco ou nada relacionadas com a via tradicional, o
que lhes permite uma grande flexibilidade de atuação em campanhas específicas, em redes de
informação e em ações concretas. De acordo com a pesquisa de opinião realizada na RMPA, a
participação dos(as) jovens se expressou através de “três campos distintos”: a) esportiva,

64
música e religiosa; b) estudantil, comunicação, partidos políticos e melhoria das condições no
bairro, e c) meio ambiente, trabalhos voluntários e trabalhos de escola. Isso coincidiu com a
escolha/criação de um quarto Caminho, que apresenta diferentes combinações entre os três
Caminhos Participativos.
As falas dos(as) jovens sobre voluntariado apontam para um entendimento desse tema
como troca, como forma de começar por pequenas coisas, tornar-se grande e ser ouvido(a), como
responsabilidade no sentido de cada um(a) fazer a sua parte e como forma de manifestação e
denúncia. Obviamente, as manifestações dos(as) jovens em defesa de tais idéias, em muitas
ocasiões, foram polêmicas, gerando pontos de concordância e discordância. Mas é possível dizer
que foi sempre muito forte a defesa do voluntariado, a partir desses enfoques.

Sobre a ação voluntária, Melucci anuncia que:

O emergir de formas de ação voluntária nas sociedades complexas, sobretudo


no campo da saúde e da assistência, verificou-se num clima de crise crescente
dos modelos de welfare, quando já o seu declínio era visível nas sociedades
que antes os tinham introduzido. () O fenômeno contém, no seu interior,
realidades heterogêneas dificilmente unificáveis sob uma única categoria. É
necessário, portanto, reconhecer que nos movemos no terreno da ação
coletiva, não no terreno do Estado ou do mercado, nem mesmo da
solidariedade privada, ou da troca interindividual, ainda que todas essas
dimensões entrem para definir os limites do campo empírico. (2001, p. 116)

Com Melucci (2001), podemos ampliar a reflexão considerando que os(as) jovens são
uma espécie de paradigma dos problemas mais cruciais da sociedade atual, definido na tensão
entre expansão das oportunidades e a efetiva capacidade de ação. Há um crescimento dos
estímulos e oportunidades para a ação individual, pois hoje podemos nos dirigir ao mundo
inteiro em uma interação planetária. Nesse contexto, a experiência é cada vez menos um dado
e cada vez mais uma realidade construída mediante as representações e relações. Cada
um(a) é chamado(a) a escolher, fazendo com que a incerteza faça parte da ação.
Diante da ampliação das possibilidades, o que fazer? O que escolher? O imperativo da
incerteza impõe a necessidade da escolha. Melucci chama de paradoxo da escolha: de um
lado, a ampliação do espaço de autonomia individual que expressa na escolha. Mas, de outro,
a impossibilidade de não escolher. Isso não significa dizer que “todos(as) escolhem tudo
sempre”. A ampliação de possibilidades acontece num contexto perverso, pois os(as) jovens
pobres, além de privados(as) da materialidade do trabalho defrontam-se com a desigualdade
no acesso aos recursos para sua auto-realização, desprovidos(as) do direito à juventude.

Hoje, os estudos sobre juventude buscam romper tanto com a visão de classe média
estudantil como a tendência em tratar o segmento juvenil como problema social, ou seja,

65
jovens em situação de risco. O desafio agora é pensá-los(as) como sujeitos de direito,
examinando os elementos da condição juvenil contemporânea e quais direitos dela emergem.
Acompanhando a dinâmica do Diálogo, consideramos importante trazer os elementos
que se destacaram nos momentos a seguir.
Analisando a opinião inicial e final dos Grupos de Diálogo, é possível dizer que:

• Os problemas que mais preocupam os(as) jovens são violência, desemprego, saúde,
miséria, qualificação e preconceito. Anunciam, assim, questões da materialidade da vida como
fundamentais para, num segundo momento, pensar em outras dimensões da existência humana.
Vale destacar neste item a relação entre os itens que os(as) jovens trouxeram como “problema” e
os “focos” propostos pela metodologia. Ao menos entre os(as) jovens que tiveram prévia
experiência em participação os temas como trabalho e educação foram destacados
independentemente da apropriação que os(as) jovens fariam mais tarde sob a forma de tabelas,
textos e discussões.

• Em relação ao preconceito, percebe-se que falam a partir de situações que


vivenciam. Isso fica evidente nos recortes de gênero, etnia e classe quando analisamos quem
fala o quê sobre preconceito.

• Se, inicialmente denunciam ausências relacionadas à sobrevivência material, na


mensagem final pedem mais atenção aos(às) jovens, numa evidente cobrança pela escuta e
pelo direito de expressão. Novamente aparece a denúncia de uma sociedade marcada pelo
autoritarismo, cuja constituição deu-se de cima. Ou seja, Estado é que constitui a sociedade
civil, e não o contrário. A democracia tem pouca história no Brasil e, portanto, não é possível
falar em participação sem a dimensão da escuta e do compartilhamento de decisões. Talvez
aqui, tomando o contraste entre o que os(as) jovens “denunciam” [sobre o Estado, os(as)
políticos(as), as instituições “dos(as) adultos(as)” e sua inserção/intervenção], se poderia
aprofundar o que Melucci (2001, p. 100) nos fala sobre a “condição” de ser jovem e a ação
coletiva dos(as) mesmos(as).

• Do mesmo modo, na mensagem final, cobram atitudes e ações dos(as) políticos(as),


mostrando um ceticismo em relação à política partidária. Pensando em outros momentos do Diálogo,
ao mesmo tempo em que acreditam no governo para resolver determinados problemas, são
extremamente críticos(as) em relação aos(às) políticos(as) e às pessoas que lideram o governo.
Talvez, apressadamente, é possível dizer que continuam acreditando na instituição governo, mas
desconfiam dos(as) gestores(as). A maior cobrança por políticas de emprego, embora presente na
maioria dos Grupos, se destaca entre os(as) mais novos(as), entre 15 e 17 anos. A ênfase na
exigência que o governo cumpra com seu papel em relação à violência ficou entre os(as) jovens com
alguma experiência em participação. Também foram estes(as) que melhor detalharam suas
demandas sobre a escola, na formulações sobre currículo e estrutura material da escola.

Nas fichas Pré e Pós-Diálogo, observa-se que:

66
• Em relação à variável sexo, predomina a tendência em baixar a opinião Pós-Diálogo.
Isso se verifica em todos os três Caminhos de parte dos jovens do sexo masculino, e as
meninas revelam algo semelhante, mas com uma exceção: sua opinião se altera para “mais”
na escolha do Caminho 3. Esse único contraste entre os Grupos pode revelar que as jovens
teriam no Caminho da cultura e do lazer o locus para sua ação política. É imprescindível que
atentemos para um dos possíveis “efeitos” do Grupo de Diálogo: enquanto os temas clássicos
como trabalho e educação surgem mais explicitamente no início das manifestações dos(as)
jovens, ao longo do Dia de Diálogo a cultura, como tema e Caminho, vai se tornando mais
visível e como possibilidade de Caminho de intervenção.

• A condição de estar ou não trabalhando sinaliza que todos(as) os(as) jovens que
estão trabalhando diminuem sua opinião final em relação aos três Caminhos e somente o
Caminho 3 teve alteração para mais entre os(as) jovens que não trabalham.

• O Caminho da cultura e do lazer tenderia a “acolher” a participação daqueles(as)


jovens que não trabalham mais do que os outros Caminhos e dos(as) demais jovens que
trabalham. Talvez esteja aqui um indicador do Caminho 3 representar “menos” parte do mundo
adulto e do mundo institucional (1 = Estado, sindicato, ONGs e o 2 = voluntariado). Os(as)
jovens que não trabalham tenderiam, então, a “cobrar” desse mundo instituído e dispondo seu
tempo e escolhas mais ao mundo da cultura e do lazer.

• Ao serem comparadas as opiniões finais sobre os três Caminhos, considerando as diversas


idades, se verifica uma tendência geral (pela média) em diminuir as opiniões finais em relação às
iniciais. Isso ficou mais evidente nos Caminhos 1 e 2. O voluntariado, Caminho 2, foi a exceção (para
mais) entre os(as) jovens da faixa etária mais nova (15-17 anos). Não houve mudanças entre os(as)
jovens que tiveram experiência prévia em participação, com relação ao Caminho 3. Cabe ressaltar
que houve um aumento no Caminho 3 (cultura e lazer) entre dois segmentos de jovens com menos
idade, (15-17 e 15-24 anos). Neste grupo, se verifica a importância da inserção em projetos e ações
participativas, prévias ao Dia de Diálogo, como instância balizares no processo de “formação” dos(as)
jovens e que os(as) predispõem a possuírem conhecimentos dos problemas e dos Caminhos de
participação propostos nessa metodologia.

• A associação que se pode fazer é que os Caminhos do voluntariado e da cultura e


lazer recebem opiniões mais positivas após o Dia de Diálogo entre os(as) jovens da faixa etária
dos 15 aos 17 anos.

• E com relação a variável escolaridade e os três Caminhos, se pode detectar as


seguintes aproximações feitas a partir da mudança que os(as) jovens fizeram ao final do
encontro na direção do ”mais” (mais próximo do sete na escala do tipo Lickert): Caminho 1 com
jovens de escolaridade no Ensino Superior; Caminho 2 com jovens de escolaridade no Ensino
Médio e Caminho 3 com jovens sem escolaridade e mudanças para menos (em percentuais
menores) entre os do Ensino Médio e Superior. Assim, as instituições clássicas da ação

67
política ficam mais reforçadas entre os(as) universitários(as); o voluntariado entre os(as) jovens
com Ensino Médio e as ações no campo cultural estão os(as) jovens sem escolarização,
embora o número pequeno de representantes dessa condição, ficando assim mais como
tendência do que uma característica exclusiva.

Na explicitação das “condições” para a escolha dos Caminhos, observa-se que:

A condição para a escolha do Caminho 1 está associada diretamente ao reconhecimento da


importância política dos(as) jovens para as instituições (governo, partidos etc.). Associado a
esse reconhecimento, surge a cobrança da parte dos(as) jovens para que essas mesmas
instituições, principalmente o governo, cumpram o seu papel. Os(as) jovens desejam ser
reconhecidos(as) como atores políticos, mas, ao mesmo tempo, sinalizam que essa forma de
“cobrança” está associada com as suas ações, por meio de variadas formas de organização
juvenil, contemplando a individualidade, a organização grupal, tendo, assim, a possibilidade de
contribuir na melhoria do país.
Na manifestação das condições para o Caminho 1, os(as) jovens com experiência
participativa anterior expressaram de maneira mais elaborada a relação entre “a cobrança do
governo e as formas de participação juvenil”, e esses(as) jovens foram os(as) que menos
mudaram de opinião, coincidindo com os(as) jovens de escolarização mais elevada.
A condição para a escolha do Caminho 2 também revela que os(as) jovens podem
assumir ações “voluntárias” contanto que sejam reconhecidos(as) e que o governo faça a sua
parte. A ação voluntária não é vista somente como um ato isolado. Os(as) jovens alertam que o
reconhecimento é do “trabalho voluntário”, e não como fonte de autopromoção. Vale destacar
que os(as) jovens reconhecem a importância desse Caminho tanto para quem “recebe” como
para quem “pratica”. A prática do voluntariado é entendida também como “um despertar” para a
ação, e não necessariamente a para a solução concreta do problema, enfatizando algo mais
“processual” do que “salvacionista”.
A condição para a escolha do Caminho 3 está associada a formação de grupos e que
os(as) jovens podem interferir na sociedade a partir dessa via da cultura e também tem
consciência que não podem agir sozinhos(as) (dependendo de parcerias com governo, por
exemplo). Para conseguir soluções por esse Caminho, sugerem parcerias entre diversos
grupos juvenis e governo. Os(as) jovens que acreditam no “poder do(a) jovem” são aqueles(as)
que aumentam a crença no Caminho 3, enquanto aqueles(as) que propõem parcerias mudam
de opinião para menos na escolha desse Caminho.
Nos pequenos Grupos, o diálogo fluiu com mais naturalidade quando os(as) jovens
expressaram suas idéias marcadamente a partir de suas vivências. A parte da manhã constitui-
se por diálogos mais intensos que denunciavam ausências e responsabilidades e anunciavam
necessidades e interesses.
Em relação aos temas/problemas analisados no turno da manhã, percebeu-se que
os(as) jovens dos cinco Grupos não fugiram dos temas: educação, trabalho, cultura/lazer. Mas,

68
em alguns Grupos, os(as) jovens tiveram dificuldades em entender as informações que
resumiam cada Caminho Participativo.

Na parte da tarde, observou-se que os(as) jovens desta pesquisa demonstraram mais
facilidade para falar dos problemas que enfrentam e mais dificuldade para se pensarem
participantes, propondo caminhos, engajamentos e soluções. O que é compreensível num país
em que alguns decidem em nome de todos. Não há uma cultura de participação.

As falas dos pequenos Grupos trazem diferentes situações de jovens que não
conseguem projetar o futuro, encurralados(as) por uma escola que não qualifica, um mercado de
trabalho que os(as) exclui e uma sociedade que não escuta. Ao mesmo tempo, o desejo de fazer
parte, acreditando na possibilidade da mudança, acreditando que podem fazer algo para construir
“o Brasil que queremos”.

As questões da sociabilidade são fortes. Em pouco tempo, trocam idéias,


experiências, endereços, gostos e tornam-se amigos(as). Evidencia a necessidade do estar
em grupo e pertencer a uma coletividade, cujo sentido está na relação, na corporeidade,
nas manifestações das culturas juvenis, nas roupas, cabelos, adereços, celulares etc.
Nessas diversas “linguagens” de comunicação das culturas juvenis, talvez não tenham sido
devidamente “aprofundadas”, durante os diversos GDs, especialmente naquilo que poderia
representar indicadores de solidariedade, sociabilidade, espírito gregário, senso de
“pertença” e outros elementos que poderiam indicar temas “latentes” aos apresentados
para o Dia de Diálogo.

Os(as) jovens do Grupo com experiência participativa demonstraram mais autonomia


na organização e compreensão das atividades. Ao chegarem às salas, organizaram-se e
distribuíram as funções, independente do(a) facilitador(a) responsável por cada Grupo.

O tema da educação ficou restrito à escola e os(as) jovens de todos os Grupos fazem
uma denúncia às condições da escola pública, evidenciando a péssima infra-estrutura, os baixos
salários, metodologia com aulas pouco atraentes, a violência no entorno da escola e a falta de
professores(as), que é constante. Esses aspectos não reduzem a importância da “presença do
equipamento público – escola” dentro do espaço e do tempo de “formação” dos(as) jovens. Essa
formação não se centra na exclusividade da “construção do conhecimento”, mas é certamente
um estratégico espaço de manifestação das culturas juvenis e, dentro delas, a experiência da
participação (grêmio estudantil, grupos musicais, esportivos etc.).

A droga, como problema que preocupa os(as) jovens, por um olhar de fora e pelo
senso comum, só apareceu em um dos cinco Grupos de Diálogo, entre aqueles de 15 a 24
anos, e foi esse grupo que fez uma relação muito direta entre escola e trabalho, acreditando na
possibilidade da escola ampliar as possibilidades de emprego/trabalho.

A respeito do trabalho, os(as) jovens apontam as limitadas oportunidades, a exigência

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de experiência e as diferenças salariais, tanto geracional quanto de sexo, que existem no
Brasil. Questões que estão situadas no contexto das alterações no mercado de trabalho, nas
últimas décadas, que acentuaram a exclusão de parcela dos(as) jovens, a partir do
desassalariamento e trabalho informal, além do desemprego. Os(as) jovens constituem a faixa
da população economicamente ativa (PEA) mais atingida pelo desemprego. Acompanhando
dados analisados por Spósito (2003), os índices de desemprego em 2001 chegaram a 12,1%
para todas as faixas etárias, mas, para os(as) jovens de 15 a 19, foi de 27,3%, e nas faixas
etárias de 20 a 24 anos de 18,9%.

No tema da cultura, denunciam os custos altos, a violência e falta de segurança,


centralização das oportunidades em grandes centros urbanos e anunciam a importância de
resgatar as culturas das comunidades, ampliar a presença do Estado com mais oferta de
lazer e cultura.

O Grupo de Diálogo dos(as) jovens com experiência participativa destaca a cultura


como caminho articulador para atingir outras coisas. “Começar pela cultura, pelo que os jovens
gostam”, como eles(as) dizem. Nesse Grupo, as falas apontam indícios, mesmo que nas falas
isoladas, para a idéia do(a) jovem como produtor(a) cultural, o que não é comum nos
demais Grupos.

As conclusões dos(as) jovens pesquisados, da RMPA, situam-se no contexto de um país


que tem um número expressivo de jovens sem um conjunto mínimo de direitos que lhes permitam
viver a juventude e ter acesso aos bens culturais, à educação, ao trabalho ao tempo livre. Os(as)
jovens como sujeitos de direitos no campo das políticas públicas na área da cultura indicam uma
demanda mais centrada na “garantia” do acesso a esses bens culturais (segurança, transporte,
descentralização, preços) do que na condição de produtores(as) (grupos de música, teatro,
promovendo eventos etc.). Essa ênfase acima estaria relacionada com os(as) jovens assumindo
mais a condição de alunos(as) e trabalhadores(as) do que sujeitos culturais. Tomando Dayrell
(1996, 137) como inspiração, poderemos entender a “presença” da escola como um espaço
“possível” para as ações culturais. Segundo ele, a escola como espaço sociocultural é entendida
como um espaço social próprio em dupla dimensão: institucional e cotidianamente. A primeira
dimensão envolve um conjunto de normas e regras que buscam unificar e delimitar a ação dos
sujeitos, e a segunda dimensão é composta por uma complexa trama de ralações sociais entre os
sujeitos envolvidos, com alianças e conflitos, imposição de normas e estratégias individuais ou
coletivas, de transgressão e de acordos. E é esse processo de apropriação permanente dos
espaços e das normas, das práticas e dos saberes que dão forma à vida escolar. A realidade
escolar aparece, portanto, mediada pela apropriação, elaboração, reelaboração ou repulsa
expressas pelos sujeitos sociais.

Reconhecendo a diversidade dos coletivos juvenis, torna-se necessário considerar que


desenhos institucionais poderão romper com as estruturas burocráticas e tradicionais da cultura política

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administrativa brasileira que promove a cultura. Outro aspecto relevante a considerar é, ao mesmo
tempo em que amplia os espaços de cultura e lazer, potencializa as expressões da cultura juvenil.

Em relação aos Caminhos Participativos, os(as) jovens que participaram dos cinco
Grupos de Diálogo formaram um quarto Caminho, a partir da combinação dos três,
escolheram os três numa associação com os problemas ou fizeram algumas combinações de
Caminhos. Mas a tendência maior foi não escolher um Caminho de forma exclusiva,
demonstrando, talvez, um entendimento da complexidade das situações que pedem
soluções também complexas e coletivas.

Um novo e quarto Caminho significa aos(às) jovens assumir um princípio anterior a


qualquer ação: o da escolha. Existe uma clara generosidade na fundamentação da escolha, no
sentido de que algo precisa ser feito, se o governo não faz, ou para chamar atenção do
governo. Algo que poderia ser aprofundado a partir dessa constatação é que a dinâmica
proposta na metodologia dos GDs – conectando problemas (educação, trabalho e
cultura/lazer) com Caminhos (1, 2 e 3 e “superações”) – de alguma forma revela a
“sensibilidade” também do “lado” de quem propôs essa estratégia pois, sem ser “prescritiva”,
ela se tornou “acolhedora” das diversas falas dos(as) jovens.

Considerando as semelhanças resultantes das plenárias, percebe-se que as mesmas


foram densamente listadas e defendidas nas plenárias. Além dos três temas da pesquisa, a
preocupação com as drogas ficou muito evidenciada num dos Grupos e a questão da reforma agrária
e controle da natalidade apareceu subentendida no Grupo com experiência participativa.
As manifestações são no sentido de cobrar do governo aquilo que não funciona na
educação, trabalho e cultura, mas sem muita clareza de como fazer isso. Ao mesmo tempo,
reconhecem que precisam fazer sua parte.
Observa-se que não houve muita associação entre os problemas e os Caminhos.
Os(as) jovens escolheram os Caminhos híbridos como forma de iniciar uma ação, destacando
a parte do governo e dos(as) próprios(as) jovens.
Numa perspectiva mais genérica, pode-se aferir alguma relação entre temas e
Caminhos quando os(as) jovens preferem a combinação entre todos os Caminhos, conforme
os problemas, e ainda mais quando claramente identificam situações injustas de ordem mais
estrutural, como acesso ao emprego, altos preços para eventos culturais e mesmo salários
dos(as) professores(as) e situações materiais das escolas. Assim, os(as) jovens demonstram
os limites de suas ações quando os problemas envolvem situações de ordem mais estrutural.
Situações estruturais (salários, segurança etc.) são apontadas como responsabilidade
do governo, quase sempre federal, e aparecem poucas responsabilidades dos(as) jovens em
agir sobre o governo, no sentido de mais cobrança e menos inserção. Exceção talvez ao GD1
– Grupo com experiência de participação –, quando a ação juvenil organizada constrói respeito
frente à autoridade governamental.

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Na escolha do Caminho 2, mesmo combinados com outros, o compromisso quase
sempre foi de ajudar aos(às) outros(as) (hospitais, escolas, vilas, comunidade) e não
enfrentar os seus problemas, como por exemplo, no mundo do trabalho, a experiência foi
muito enfatizada para conquistar primeiro emprego, mas, nos Caminhos, não ocorreu
nenhuma proposta de alguma cooperativa para iniciação a pratica relacionada ao mundo
do trabalho.
O Caminho 1 foi pouco associado com sindicato, movimento social e muito menos
movimento estudantil, grêmio estudantil, o que seria esperado. Os(as) jovens dizem que o
Caminho 1 levaria direto ao problema, ou seja, “tem problema, chama governo para resolver”.
Ao mesmo tempo, tem-se uma ausência de falas que indiquem alguma estratégia de ação para
criar mecanismos de pressão no governo (atos públicos, abaixo assinados ou filiações em
partidos, sindicatos, grupos políticos, ONGs etc.).
Sobre a metodologia que, ao primeiro olhar, nos limites do tempo, parecia não ser
possível estabelecer, o Diálogo observou-se um rico levantamento dados qualitativos e
quantitativos que foram, em parte, analisados neste relatório. A íntima e estreita articulação
entre os seus diferentes momentos permite a tessitura de análises que extrapolam o anunciado
e sistematizado neste texto. A metodologia é desafiadora e pede continuidades, por outras
entradas e, quem sabe, com uma nova rodada de Diálogos, com alguns(mas) jovens de cada
Grupo, ou com uma reflexão coletiva e participativa na devolução dos dados a quem eles
pertencem, ou seja, aos(às) jovens.
Nesta parte final do texto, retomemos o tema principal da pesquisa, participação,
com referência aos estudos sobre juventude que apontam que os conteúdos da
participação social estão voltados para temas como: democracia, direitos sexuais,
eqüidade de gêneros, direitos humanos, direitos indígenas, paz e meio ambiente. Este
último, um tema fundamental que tem gerado um novo ator social, pois a destruição do
meio ambiente é uma luta que incorpora diferentes setores e classes com uma capacidade
de ação em torno de assuntos concretos em âmbito local, ao mesmo tempo em que se
estabelecem redes e condenações nacionais e internacionais.
Serna (1997) vai dizer que é justamente essa uma característica da participação
juvenil hoje em dia: a diversidade e a dispersão dos conteúdos e das formas de atuar,
entendendo a participação juvenil como um processo em constante movimento, pois os
grupos, redes, movimentos, organizações nascem e morrem, renascem com novos
nomes e propostas e esse contínuo recriar parece ir construindo os(as) jovens como
atores sociais.
Para além de uma “disposição sem engajamento”, revelada pelas pesquisas
quantitativas, há muitos(as) jovens que participam efetivamente. Talvez devêssemos
construir novas perguntas e novos olhares para perceber a existência de diferentes
formas de mobilização entre os(as) jovens, que, segundo Abramo (2004):

72
() vão desde a recusa passiva - postura que, mais que uma manifestação de
apatia, contém a emissão de recados críticos à sociedade (que também pode ser
interpretada como impugnação, como repulsa a um sistema do qual se sentem
excluídos), até uma participação política que propõem mudanças (em movimentos
estruturados, partidos, sindicatos etc.), passando pela participação individual ou
grupal em organizações comunitárias, ou em torno dos mais diferentes tipos de
causas, que podem ir das mais locais às mais planetárias, como voluntários em
distintos tipos de atividades organizadas por diferentes tipos de instituições,
participação em movimentos informais dos mais distintos tipos, em grupos de
lazer, em movidas culturais, em “tribos”, assim também, como já citamos, em
formas violentas e destrutivas com relação a ordem e segurança social, como no
caso das pandillas e algumas torcidas organizadas de esporte.

Por fim, se pensarmos que a participação juvenil hoje é plural, dispersa e fragmentada,
tem uma capacidade de ação relacionada a um assunto concreto, é não institucionalizada, é
formada por redes vinculantes e flexíveis, que políticas públicas poderão situar os(as) jovens
como sujeitos de direito. Pensar políticas públicas de juventude é promover um
desenvolvimento social que assegure a justiça social e uma esfera pública democrática.
Os(as) jovens desta pesquisa apontam alguns caminhos quando anunciam que as
questões da sobrevivência são fundamentais para que possam realizar projetos de vida que
inclua a participação e a luta pela construção de um Brasil melhor.
Finalmente, nestas conclusões, devemos mencionar um aspecto de ordem
metodológica. Se o conjunto dos relatórios formar um único documento a ser socializado em
formas múltiplas (impresso, virtual) ou em eventos, congressos etc., e mais, se for
encaminhado para o governo federal, junto à Secretaria Nacional de Juventude, vale insistir
nos aspectos que podem afetar na formulação de políticas públicas para além do seu
conteúdo, público-alvo, referenciais teóricos etc. Reforçamos que “dinâmicas” interativas com
jovens podem se tornar conditio sine qua non para a implementação com alguma garantia de
sucesso.
Mais, a interação com políticas públicas inovadoras, ousadas e qualificadas precisa de
uma estratégia comunicativa que pode ter referência, mesmo em parte, do que foram os Dias
de Diálogo: um documento-fonte para desencadear a informação/discussão; dinâmicas de
apropriação dessa informação (banners, CD-ROM, cartazes); estratégias de interação por
meio dos pequenos Grupos e posterior troca nos grandes Grupos (plenárias). Até aí pode
parecer algo “de ordem geral”. Queremos destacar fortemente a decisiva instância para que os
nossos GDs (aqui do Sul) funcionassem bem: OS PEQUENOS GRUPOS!!!
Fica um alerta: criar políticas públicas, baseadas em grandes números, valores
imensos, regiões amplas, temas múltiplos etc., tudo isso para ser mais eficaz e eficiente,
como indicador de ENRAIZAMENTO, vai depender de uma garantida presença de jovens
em forma de pequenos Grupos como instância de discussão, compreensão e posterior
“afunilamento” e implementação.

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8. Bibliografia

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