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2 – NATUREZA JURÍDICA
Já vimos anteriormente que há uma indecisão por parte dos juristas no tocante
as obrigações propter rem, pois própria por sua natureza, essa relação jurídica
se aproxima tanto do direito real como do direito pessoal. Faz mister observar
que a obrigação real opõe-se à obrigação pessoal. Esta é fundada na
confiança, isto é, cujo objeto consiste numa prestação de caráter pessoal ou
num crédito, sem outra qualquer garantia, que a fé que se tem no devedor,
enquanto aquela, é a que se firma, para cumprimento ou satisfação da
prestação, em qualquer garantia real na qual se substitui a prestação se não
cumprida devidamente. Todavia a maioria dos doutrinadores caracteriza tal
obrigação como sendo acessória mista, de fisionomia autônoma.Contudo,
Alfredo Buzaid em sua obra Ação declaratória no direito brasileiro, reza:
"A obrigação propter rem constitui um direito misto, por ser uma relação jurídica
na qual a obrigação de fazer está acompanhada de um direito real, fundindo-se
os dois elementos numa unidade, que a eleva a uma categoria autônoma".
Vimos que as obrigações propter rem estão situadas no limite entre os direitos
reais e as obrigações pessoais. Por ter características de ambos, tem sua
natureza jurídica de difícil definição, causando assim, inúmeras divergências
doutrinárias, de difícil solução, devido a subjetividade peculiar das
especulações científicas, em especial de uma ciência social e cultural como o
Direito. Cientes dessa divergência, iremos agora demonstrar a aplicação das
obrigações propter rem no Direito Civil Brasileiro. Diferentemente de outros
institutos que causam controvérsias sem ter uma aplicação direta, esse se
posta de maneira diferente, como veremos. Com a mudança do estilo de vida
nas últimas décadas, onde a maioria da população do país se deslocou para os
grandes centros urbanos, e a crescente aquisição e ocupação de imóveis,
vemos uma evolução na aplicação da idéia de obrigação advinda da coisa.
Perceberemos mais adiante, que na maioria dos casos essas obrigações
advém do direito de propriedade, ou de usufruto de condomínios, terras entre
outros. Portanto, ao analisarmos as obrigações, temos que nos ater ao fato da
necessidade de um bem material, uma res, para que possamos estudar todos
os efeitos jurídicos daí decorrentes. Os conflitos originados das obrigações
propter rem (lides) são na maioria das vezes, decorrentes da falta de
necessidade da expressão da vontade, para que um indivíduo se torne
devedor. Como vimos, quem assume a posição de proprietário ou usufrutário,
assume todas as obrigações que ficam presas à coisa. Muitas vezes, tais
obrigações não eram conhecidas do novo proprietário, ao fechar o negócio, por
exemplo, porém, este é responsável pela dívida, não podendo se eximir dela,
mesmo tendo o direito a uma ação regressiva, como bem coloca Sílvio de
Salvo Venosa. Vamos então passar aos casos onde é possível a aplicação da
idéia de obrigação propter rem, com um embasamento legal e jurisprudencial,
mesmo sabendo que o trabalho dos tribunais ainda é recente, à luz do novo
código civil, que ainda não fez aniversário de vigência.
3.1. Casos de Aplicação
Para o Direito Civil Brasileiro não importa qual a obrigação que o proprietário
vai assumir ao tomar posse de um bem, ou seja, não é relevante o grau de
onerosidade da obrigação. Podemos averiguar isso ao ver a situação dos bens
que se encontram hipotecados. Com a alienação de um bem hipotecado, o
adquirente se torna o pólo passivo da hipoteca, tendo a obrigação de salda-la
para liberar o imóvel, não devendo mais o antigo dono ser responsabilizado, a
priori. Quando há um acordo entres as partes, pode muito bem o adquirente
pagar a hipoteca, quando não há um acordo, ou o comprador não conhecia do
ônus, pode este propor ação de regresso contra o antigo proprietário. Sobre a
ação de regresso ensina Silvio de Salvo Venosa que "quem adquire um
apartamento, por exemplo, ficará responsável pelas despesas de condomínio
do antigo proprietário. Não resta dúvida que caberá ação regressiva do novo
adquirente contra o antigo proprietário, mas,, perante o condomínio,
responderá sempre o atual proprietário. A obrigação, nesses casos,
acompanha a coisa, vinculando o dono, seja ele quem for”. Aqui podemos ver a
importância do ônus estar no objeto. Quando o condomínio, ou quem detém a
hipoteca cobrar judicialmente a dívida ele não hesitará em executar o atual
proprietário, e não precisará questionar de quem é a verdadeira
responsabilidade. Cabe sim ao proprietário, não contente com a obrigação
propter rem que adquiriu, promover ação para que receba (se de direito), a
quantia da dívida, como podemos ver nos seguintes decisões do STJ:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DESPESAS DE CONDOMÍNIO. OBRIGAÇÃO
PROPTER REM. PRECEDENTES. LEGITIMIDADE PASSIVA. CREDOR QUE
ADJUDICOU O IMÓVEL. AÇÃO REGRESSIVA. RECURSO DESACOLHIDO.
interesse da coletividade.
O art. 1280 do Código Civil trata de mais um modelo de obrigação propter rem:
o proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a
demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe
preste caução pelo dano iminente. Vejamos o que diz Silvio Rodrigues sobre tal
assunto: "A obrigação de dar caução pelo dano infecto não provém da vontade
do devedor, mas, deriva, direta e exclusivamente, de sua condição de
proprietário do prédio confinante. Assim, também neste caso, estamos em face
de uma obrigação propter rem. A contraprova dessa asserção se encontra no
fato de que, renunciando ao direito de propriedade, o devedor deixa de ser
responsável pela obrigação, porque o vínculo obrigatório o prendia apenas por
desfrutar da qualidade de proprietário". Não podemos nos eximir de classificar
uma obrigação como sendo propter rem, pois, adjetivada de tal forma, ela se
reveste de prerrogativas que não possuem as demais obrigações justamente
pelo fato destas não estarem vinculadas a uma coisa. Apesar do tema proposto
ser as obrigações, se nos colocarmos na pessoa do terceiro interessado,
veremos que ele tem inúmeros direitos reais, que obrigam a todos os outros, a
atuar de forma passiva em relação à essa propriedade, e além do mais com as
vantagens das prestações positivas, oriundas do caráter obrigacional da
relação.
CONCLUSÃO
3 – Quanto á aplicação, a obrigação propter rem pode ser adotada para muitos
casos, de tal forma que essencialmente, o procedimento judicial (em caso de
inadimplemento), levará em consideração o credor (a quem se deve, não
importando quem este seja para fins de definir o caráter real da obrigação) e
um devedor, que sempre será o proprietário, não importando se este conhecia
ou não da onerosidade do bem ao tempo que adquiriu.
Bibliografia:
DINIZ, Maria Helena de. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 2. 18ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Vol. 2 – Parte Geral das Obrigações. 30ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2002.