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March - April 2010 153

ECOLOGY, BEHAVIOR AND BIONOMICS

Polinização Entomófila de Abobrinha, Cucurbita moschata (Cucurbitaceae)


BRUNA D V SERRA, LUCIO A DE O CAMPOS
Depto Biologia Animal, Univ Federal de Viçosa, Av. P. H. Rholfs, s/n, 36570-000, Viçosa, MG, Brasil;
bruazul@yahoo.com.br, lcampos@ufv.br

Edited by Og de Souza – UFV

Neotropical Entomology 39(2):153-159 (2010)

Entomophilic Pollination of Squash, Cucurbita moschata (Cucurbitaceae)

ABSTRACT - The objectives of this work were to determine the squash entomofauna in the region
of Viçosa, Minas Gerais state, to study their behavior on flowers and their importance for pollination,
verifying the role of each pollinator. The most common species were Trigona spinipes (Fabricius),
Trigona hyalinata (Lepeletier), Apis mellifera (L.) and Melipona quadrifasciata (Lepeletier). The
visitation behavior of A. mellifera, M. quadrifasciata, and Bombus morio (Swederus) were similar.
They visited flowers for nectar collection, positioning themselves vertically between the corolla and
the sexual structures of the flowers, with the back directed toward the floral axis, which permitted the
removal of pollen from the anthers of flowers with stamens and its deposition on the stigma of flowers
with pistils, being considered therefore effective pollinators. Trigona spinipes and T. hyalinata foraged
in groups, preventing other species from landing on the flowers which they occupied. Due to their
small body size and only infrequent contact with the sexual structures of the flowers, these species
are considered occasional pollinators. The number of fruits produced differed between freely visited
flowers, those prevented from receiving visits and those visited only a single time by M. quadrifasciata,
B. morio, A. mellifera, T. hyalinata or T. spinipes. Flowers prevented from receiving visits or visited
only once by T. spinipes did not produce fruits. The remaining pollination systems led to fruitification,
with open pollination or a single visit from either M. quadrifasciata or B. morio leading to most fruit
production.

KEY WORDS: Apidae, melittophily, effective pollinator, pollination efficiency, foraging behavior

A polinização é fundamental na condução de muitas que sua produção está mais concentrada; em 2005, foram
culturas agrícolas (Shepherd et al 2003, Mayer 2004). Entre comercializadas 34.892 toneladas na CEAGESP, no estado
os vários agentes polinizadores, os insetos apresentam, para de São Paulo (Agrianual 2007).
a maioria das plantas, maior eficiência tanto pelo seu número Os requerimentos de polinização para a produção
na natureza quanto por sua melhor adaptação às, muitas máxima de diferentes espécies de Cucurbita não são claros
vezes, complexas estruturas florais (Nogueira-Couto et al e, os produtores frequentemente questionam sobre reduções
1990). Diversas plantas de interesse econômico, cultivadas na taxa de frutos estabelecidos (Wien et al 1989). Um dos
comercialmente, apresentam total dependência dos insetos fatores restritivos para a produção dessas espécies e também
para sua polinização, sem os quais não ocorre produção de de outras plantas cultivadas é a falta de polinizadores,
frutos (Biesmeijer et al 2006). recentemente verificada em populações de abelhas nativas
A família Cucurbitaceae, com cerca de 90 gêneros e (Cane & Tepedino 2001, Steffan-Dewenter et al 2005,
750 espécies adaptadas às regiões tropicais e subtropicais Villanueva et al 2005).
de ambos os hemisférios, possui diversas espécies de As ameaças às populações de polinizadores advêem da
importância econômica e alimentar (Saturnino et al 1982, Bee fragmentação de seus habitats causada pelo desmatamento,
& Barros 1999), como por exemplo, Cucurbita moschata. As o que reduz a disponibilidade de plantas utilizadas como
espécies do gênero Cucurbita são monóicas e dependentes fonte de alimento e local para construção de ninhos (Cane
de vetores bióticos para assegurar a polinização (McGregor & Tepedino 2001, Ruijter 2002, Shepherd et al 2003,
1976, Nepi & Pacini 1993, Passarelli 2002). Potts et al 2005); uso de produtos químicos na agricultura,
Os frutos de cultivares de C. moschata são utilizados para principalmente pesticidas, que repelem e matam os insetos;
consumo em diferentes estágios de maturação, incluindo introdução de plantas exóticas que não oferecem recursos
frutos imaturos (Camargo 1984). No Brasil, é explorada em necessários às populações de polinizadores e são cultivadas
todas as grandes regiões, destacando-se economicamente extensivamente, e introdução de animais exóticos que
no abastecimento nacional. Entretanto, é na Região Sudeste atuam como competidores das populações nativas (Brown
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& Mitchell 2001, Chittka & Schürkens 2001, Robinson & identificadas por especialistas. O comportamento de visita
Sutherland 2002, Tscharntke et al 2002, 2005). das espécies de abelhas mais frequentes e daquelas que, por
Uma alternativa viável para solucionar o déficit de seu comportamento, poderiam ser consideradas polinizadoras
polinização de diversas espécies vegetais cultiváveis é a eficientes, foi registrado a partir de observações visuais diretas
realização de estudos sobre a entomofauna polinizadora. e fotográficas. Foram medidas as distâncias intertégula de
Esses estudos permitem desenvolver estratégias específicas 15 indivíduos de cada uma dessas espécies para avaliar seu
envolvendo proteção e restauração do habitat dos tamanho.
polinizadores (Shuler et al 2005), ou mesmo, sua criação
em condições controladas e introdução nas áreas agrícolas, Eficiência de polinização. Verificou-se o estabelecimento
de modo a garantir a polinização da cultura em questão (Slaa de frutos após uma única visita dos principais polinizadores
et al 2006). Com o propósito de contribuir para a melhor às flores. Para isso, 100 flores pistiladas foram selecionadas
compreensão da polinização de C. moschata, o presente ao acaso, protegidas na pré-antese com sacos de poliéster, e
trabalho teve por objetivo verificar a entomofauna visitante desprotegidas após a antese para permitir uma visita de abelhas:
das flores da cultura na região de Viçosa, MG e estudar seu Apis mellifera (L.) (n = 20), Bombus morio (Swederus) (n =
comportamento nas flores, além de avaliar sua eficiência 19), Melipona quadrifasciata (Lepeletier) (n = 21), Trigona
como insetos polinizadores. hyalinata (Lepeletier) (n = 20) e Trigona spinipes (Fabricius)
(n = 20). Após as visitas, as flores eram novamente protegidas,
etiquetadas e o estabelecimento dos frutos avaliado. Vinte
Material e Métodos flores pistiladas ensacadas na pré-antese foram utilizadas
como controle para verificar a formação de frutos na ausência
Áreas de estudo. Os dados foram coletados em plantios de de visitação por insetos. As flores permaneceram ensacadas
C. moschata var. Menina Brasileira nos municípios de Viçosa por mais de 24h para evitar visitas de abelhas e outros insetos,
e Paula Cândido, MG, de setembro de 2006 a fevereiro de sendo então retirados os sacos de proteção.
2007, em três áreas: Comunidade dos Barros (S 20° 50. 316’; Verificou-se ainda, a frutificação em flores expostas
W 042° 55. 417”), no município de Paula Cândido, Paraíso à visitação (polinização aberta), marcando-se 20 flores
(S 20° 47. 535’; W 042° 52. 779”) e Córrego do Engenho (S pistiladas de 20 indivíduos que permaneceram sem proteção.
20° 49. 154’; W 042° 53. 093”) em Viçosa. A área plantada Após as visitas, as flores eram etiquetadas e o estabelecimento
na Comunidade dos Barros possuía 1000 covas; Córrego dos frutos avaliado. Os frutos provenientes dos tratamentos
do Engenho 700 covas e, Paraíso, 600 covas. A vegetação foram colhidos verdes, cinco dias após a realização das
da região está inserida nos domínios da Floresta Atlântica polinizações, nas condições de comercialização e consumo.
(Rizzini 1992) e foi classificada, por Veloso et al (1991), Diferenças nas porcentagens de frutificação foram testadas
como Floresta Estacional Semidecidual Submontana. O utilizando-se o teste do qui-quadrado, adotando-se nível de
clima é caracterizado por temperatura média anual de 19°C, significância de 5% (Zar 1999).
índices pluviométricos anuais de 1300 mm a 1400 mm, com
o período de maior precipitação entre os meses de outubro a
março, e umidade relativa do ar média de 80% a 85%. Resultados

Biologia floral. As flores estaminadas e pistiladas são Visitantes florais. Trigona spinipes, T. hyalinata, A. mellifera
pentâmeras e possuem cor amarelo intenso (Paris 2001). A flor e M. quadrifasciata foram os visitantes mais frequentes de
estaminada possui cinco estames com filetes e anteras unidos; flores de C. moschata (Tabela 1). As demais espécies de
a flor pistilada tem ovário ínfero desenvolvido, estilete espesso abelhas, apesar de serem observadas em menor proporção,
e, normalmente, três lóbulos estigmáticos (Free 1993). As flores forrageavam a procura de néctar.
de Cucurbita sp. abrem-se antes ou logo após o nascer do sol O comportamento de visita das espécies de abelhas
e duram somente um dia (Winsor et al 2000, Nepi et al 2001). maiores, A. mellifera, M. quadrifasciata e B. morio (Tabela
Nos locais de estudo as flores já estavam abertas às 5:00h da 2), foi semelhante. Pousavam nas pétalas das flores e
manhã e fechavam-se entre 11:00h e 12:00h. A flor pistilada caminhavam até o tubo da corola para acessar o néctar.
produz néctar como recurso aos polinizadores e a estaminada Nas flores estaminadas o acesso ao nectário se dava por
pólen e néctar. Na flor estaminada, o nectário está localizado introdução da glossa em um dos três orifícios localizados
internamente ao tubo de filetes e o acesso ao néctar se dá por entre os filetes. O visitante frequentemente introduzia a
três orifícios localizados entre os filetes; na flor pistilada, o glossa em mais de um orifício a cada visita, deslocando-se
nectário forma um anel circular em torno da base do estilete no interior da corola e contatando diferentes regiões do eixo
(Pesson & Louveaux 1984). floral. Na flor pistilada, o néctar acumulava-se em torno da
base do estilete e o acesso era feito utilizando a glossa. Ao
Visitantes florais. As abelhas foram coletadas ao acaso coletarem néctar, posicionavam o corpo verticalmente entre
percorrendo-se todo o plantio, utilizando-se rede entomológica a corola e as estruturas sexuais das flores. Nessa posição,
e pinça durante 10 min a cada hora, das 5:00h às 12:00h. com o dorso voltado para o eixo floral ao visitarem as flores
As coletas foram realizadas durante três dias em cada estaminadas, tocavam as anteras e o pólen aderia ao seu corpo
área de estudo, totalizando um esforço de 24h por área e, ao visitarem flores pistiladas, este pólen era depositado
amostrada. As abelhas coletadas foram depositadas na sobre o estigma. Após a coleta do néctar, abandonavam a
coleção entomológica da Universidade Federal de Viçosa e flor repetindo o mesmo comportamento em outras flores
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Tabela 1 Espécies e frequência de abelhas coletadas em flores de Cucurbita moschata var. Menina Brasileira, cultivadas
em uma área em Paula Cândido (1) e duas áreas em Viçosa (2 e 3), MG. Área 1 = Comunidade dos Barros; Área 2 = Córrego
do Engenho; Área 3 = Paraíso.
Nº de visitas por área (%)
Espécies
1 2 3
Trigona spinipes (Fabricius) 1 (0,09) 1200 (90,29) 1340 (92,67)
Trigona hyalinata (Lepeletier) 1007 (87,95) 17 (1,28) 0 (0)
Apis mellifera (L.) 133 (11,61) 76 (5,72) 19 (1,31)
Melipona quadrifasciata (Lepeletier) 1 (0,09) 26 (1,96) 77 (5,32)
Bombus morio (Swederus) 1 (0,09) 5 (0,38) 2 (0,14)
Augochlora foxiana (Cockerell) 0 (0) 2 (0,15) 4 (0,28)
Augochlora esox (Vachal) 0 (0) 1 (0,07) 2 (0,14)
Schwarziana quadripunctata (Lepeletier) 0 (0) 2 (0,15) 0 (0)
Augochlora francisca (Schrottky) 0 (0) 0 (0) 1 (0,07)
Bombus atratus (Franklin) 1 (0,09) 0 (0) 0 (0)
Eulaema cingulata (Fabricius) 1 (0,09) 0 (0) 0 (0)
Eulaema nigrita (Lepeletier) 0 (0) 0 (0) 1 (0,07)
Total 1145 (100) 1329 (100) 1446 (100)

do mesmo indivíduo ou de plantas diferentes. Devido ao ocasional com as estruturas sexuais das flores, essas espécies
seu tamanho corporal, ao chegarem ao nectário, tocavam as são consideradas polinizadoras ocasionais e furtadoras de
partes reprodutivas da flor, sendo consideradas polinizadoras néctar.
efetivas. De modo geral, todas as abelhas visitavam as flores
Em algumas ocasiões, verificou-se indivíduos de A. apenas para coleta de néctar, não sendo observada coleta de
mellifera e M. quadrifasciata removendo pólen de seus pólen, embora muitas vezes seus corpos ficassem repletos
corpos durante o vôo ou pousados sobre as pétalas das de grãos após visitas às flores estaminadas.
flores.
Trigona spinipes e T. hyalinata, abelhas de menor porte, Eficiência de polinização. O número de frutos produzidos
pousavam na pétala e em seguida dirigiam-se para o tubo da diferiu entre flores visitadas livremente (polinização aberta),
corola, frequentemente, sem contatar os órgãos reprodutivos flores impedidas de receber visitas (controle) e flores visitadas
florais (Tabela 2). Nesse caso, ao coletarem néctar, atuavam uma única vez por M. quadrifasciata, B. morio, A. mellifera,
como furtadoras. Outras vezes, pousavam diretamente T. hyalinata ou T. spinipes (χ2 = 43,33; gl = 6; P < 0,05)
sobre o eixo da flor estaminada ou pistilada e após o pouso (Tabela 3). Com exceção das flores impedidas de receber
dirigiam-se para a base da corola onde coletavam néctar. visitas dos insetos e daquelas visitadas uma única vez por
Nesse caso, foi verificada presença de pólen em seus corpos
que se aderiam ao pousarem diretamente nos estames. Essas
espécies deslocavam-se pelas pétalas, estames ou estigma, Tabela 3 Produção de frutos de Cucurbita moschata var.
aparentemente de forma desordenada. Forrageavam em grupo Menina Brasileira, em flores provenientes de polinização
e monopolizavam as fontes de alimento, afugentando outras aberta, controle e flores visitadas uma única vez pelos
espécies que tentassem pousar nas flores que ocupavam. principais polinizadores na região de Viçosa, MG.
Devido ao pequeno tamanho corporal e o contato apenas
Não- Frutificação
Tratamento Frutificou Total
frutificou (%)
Tabela 2 Valores médios da distância intertégula dos Polinização aberta 18 2 20 90
principais polinizadores de Cucurbita moschata var. Menina Melipona
Brasileira na região de Viçosa, MG. 11 10 21 47,6
quadrifasciata
Espécies de abelhas Intertégula média ± DP (mm) Bombus morio 8 11 19 42,1
Bombus morio 6,19 ± 0,018 Apis mellifera 5 15 20 25
Melipona quadrifasciata 2,97 ± 0,009 Trigona hyalinata 3 17 20 15
Apis mellifera 2,67 ± 0,009 Trigona spinipes 0 20 20 0
Trigona hyalinata 1,82 ± 0,006 Controle 0 20 20 0
Trigona spinipes 1,68 ± 0,011 Total 45 75 140
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T. spinipes, os demais sistemas de polinização promoveram & Hubbell 1974, Hubbell & Johnson 1977). Operárias
formação de frutos, sendo a polinização aberta e uma visita de T. spinipes forrageiam em “bando”, várias operárias
de M. quadrifasciata ou B. morio os que propiciaram maior monopolizando as flores (Almeida & Laroca 1988, Sazima
frutificação. & Sazima 1989), apresentam vôo lento e mimetizam vespas e
abelhas agressivas que possuem acúleos desenvolvidos, como
espécies de Tetrapedia e Paratetrapedia (Kerr 1951).
Discussão A ausência de formação de frutos em flores de C. moschata
impedidas de receberem visitas de insetos já havia sido
As abelhas mais frequentes em flores de C. moschata observada por Amaral & Mitidieri (1966), que verificaram
foram espécies eusociais. Essas espécies possuem colônias ausência de formação de frutos em plantas de C. pepo mantidas
populosas, com centenas a milhares de indivíduos (Wille & no interior de gaiolas (sem contato com inseto).
Michener 1973, Michener 1974, Wille 1983, Winston 1992), A polinização natural não sofreu restrições de agentes
e a maioria possui sistemas eficientes de comunicação (Barth polinizadores nas áreas estudadas, visto que a porcentagem
et al 2008). A comunicação sobre a localização de fontes de de frutificação foi de 90% no tratamento em que as flores
alimento permite que um grande número de operárias de uma permaneceram expostas à visitação. Essa elevada taxa de
mesma colônia visite flores de uma mesma planta para, no frutificação, garantida pela presença de polinizadores nas
caso de C. moschata, coletar néctar utilizado na alimentação áreas de cultivo, pode estar associada à existência de matas
dos indivíduos da colônia. no entorno dos plantios, o que assegura boas condições de
Como as abelhas sociais mantêm reservas de alimento nidificação, materiais para construção de ninhos e recursos
estocadas no ninho e elevada taxa de produção de prole, as alimentares para a fauna de abelhas locais. Segundo Heard
operárias precisam coletar muito alimento, além de suas (1999), a vegetação natural pode influenciar a abundância de
necessidades imediatas, o que resulta em intensa visitação às abelhas da tribo Meliponini. De Marco Jr & Coelho (2004),
flores (Heard 1999, Ramalho et al 2007). Outra característica em trabalho realizado em cafezais na região de Viçosa,
importante é que essas abelhas apresentam fidelidade floral, constataram maior produção nos plantios próximos ou
tendendo a visitar apenas uma espécie de flor em uma viagem adjacentes a fragmentos de florestas. Isso mostra a importância
de coleta (Roubik 1989), o que nesse caso, asseguraria a da preservação de matas nativas próximas às áreas de cultivo,
fecundação e produção de frutos de C. moschata, além de especialmente no caso de C. moschata, que obrigatoriamente
apresentarem colônias perenes, ativas durante todo o ano necessita de vetores bióticos que assegurem sua polinização.
(Roubik 1989). A maior porcentagem de frutos obtidos em flores visitadas
O modo de vida social dos principais visitantes florais uma vez por M. quadrifasciata ou B. morio, em relação às
da abobrinha proporciona, portanto, maior confiabilidade flores visitadas por A. mellifera, T. hyalinata ou T. spinipes,
em sua polinização, tanto pela visitação intensa, fidelidade deve estar relacionada aos seus tamanhos corporais maiores.
floral quanto pela perenidade das colônias, fornecendo Essa característica resulta em melhor ocupação do espaço
polinizadores ininterruptamente. Ainda, as abelhas sociais entre a corola e as estruturas sexuais das flores, de tal modo
têm preferência por recursos florais adensados (Ginsberg que a remoção e a deposição de pólen são mais eficientes.
1983), como é o caso dos plantios de abobrinha, o que facilita A baixa frutificação em flores visitadas uma única vez por
seu forrageamento. Esta característica associada às suas A. mellifera, quando comparada à frutificação obtida após uma
estratégias de comunicação, maximiza a coleta de néctar nas visita de M. quadrifasciata ou B. morio, pode ser atribuída a
flores de C. moschata. uma carga de pólen insuficiente no corpo das operárias por
As diferenças nas frequências das diferentes espécies de terem visitado poucas flores estaminadas antes de visitarem as
abelhas nas flores de C. moschata em áreas relativamente flores pistiladas. Apis mellifera era mais frequente em flores
próximas, especialmente no que se refere às espécies sociais, C. moschata no início da manhã, provavelmente devido a
refletem a frequência de ninhos próximos às áreas de plantio. A poucas espécies com flores estarem abertas muito cedo e C.
presença de um ninho de T. spinipes ou T. hyalinata próximo moschata ser o recurso disponível. Após a abertura das flores
a uma área, por exemplo, aumenta muito a frequência dessas de outras espécies, ocorreu o deslocamento de A. mellifera
abelhas nas flores visto que seus ninhos são muito populosos, para fontes de alimento adjacentes. Na área de estudo, foram
com 5.000 a 180.000 indivíduos (Kerr 1951). observados indivíduos de A. mellifera visitando flores de
A elevada frequência de espécies de Trigona, principalmente Sinapis arvensis e inflorescências de Bidens pilosa e Sonchus
T. spinipes, juntamente com A. mellifera em flores de oleraceus circundantes aos plantios logo após visitarem flores
Cucurbita, já tinha sido constatada por outros pesquisadores de C. moschata. Passarelli (2002) relatou a atração que a
(Amaral & Mitidieri 1966, Lopes & Casali 1982, Ávila 1987, flora circundante ao cultivo de C. maxima exerce sobre A.
Gomes 1991), assim como Bombus spp. e representantes da mellifera. Esse autor verificou que as plantas das famílias
família Halictidae (Ávila 1987, Kirkpatrick & Wilson 1988, Asteraceae e Fabaceae são especialmente importantes, pois
Nogueira-Couto et al 1990, Gomes 1991, Nepi & Pacini 1993). afetam negativamente a polinização de C. maxima.
Entretanto, a presença de M. quadrifasciata, Schwarziana A ausência de frutificação em flores visitadas uma única
quadripunctata (Lepeletier), Eulaema cingulata (Fabricius) vez por T. spinipes e a baixa frutificação encontrada no
e E. nigrita (Lepeletier) como visitantes florais de Cucurbita caso de T. hyalinata podem estar associadas a uma carga
ainda não havia sido relatada. de pólen insuficiente nas operárias. Outro fator relevante é
O comportamento agressivo e monopolista de espécies de que devido ao seu pequeno tamanho corporal essas abelhas
Trigona verificado neste trabalho, já era conhecido (Johnson tocam os estames e estigmas apenas ocasionalmente e,
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ao se permitir a visita de apenas um indivíduo à flor, Agradecimentos


eliminou-se o comportamento de visita em “bando”, padrão
de forrageamento característico dessas espécies. Assim, Agradecemos aos proprietários dos plantios, pelo acesso
Trigona spp. são consideradas polinizadoras ocasionais de à área experimental; aos professores Fernando A da Silveira
C. moschata, pouco contribuindo para produção de frutos na (UFMG), Eduardo A B de Almeida (UFPR) e André Nemésio
referida cultura. (UFMG) pela identificação das abelhas; à profª Milene F
A polinização após uma única visita depende do número Vieira, Drª Darci de O Cruz e Ms Viviane C Pires pela leitura
de flores estaminadas visitadas pelas abelhas antes de e sugestões ao manuscrito; ao Profº Simon L Elliot pela
visitarem uma flor pistilada. Nesse estudo além da grande tradução do resumo; a Amanda Soares Miranda, Ana F B
quantidade de recursos, 600 a 1000 covas de C. moschata, Rosa, Íris R Stanciola, Lila V Teixeira e Tatiana M Teixeira
as flores estaminadas possuem pedúnculos longos e estão pela colaboração em campo; a Flávia M Coelho pelo auxílio
aproximadamente no mesmo nível da parte superior das na análise dos dados e à CAPES pela bolsa de mestrado
folhas e as flores pistiladas possuem pedúnculos curtos concedida à primeira autora.
e ficam sob as folhas. Isso aumenta as chances de que
as abelhas visitem primeiramente as flores mais visíveis
(estaminadas), facilitando a polinização cruzada (Free Referências
1993). Assim, ao ocorrer uma única visita à flor pistilada,
a probabilidade de os polinizadores conterem grãos de Agrianual (2007) Anuário da agricultura brasileira. São Paulo,
pólen aderidos a seus corpos e promoverem frutificação é FNP – Consultoria e Agroinformativo, 516p.
maior. Ainda, a grande produção de flores durante várias
semanas, observada em C. moschata, pode ser considerada Almeida M C, Laroca S (1988) Trigona spinipes (Apidae,
uma estratégia que garante a atração de número elevado de Meliponinae): taxonomia, bionomia e relações tróficas em áreas
polinizadores, o que aumenta a probabilidade de sucesso restritas. Acta Biol Parana 17: 67-108.
reprodutivo dessa espécie de planta. Amaral E, Mitidieri J (1966) Polinização da aboboreira. Anais E S
Entre as diferentes comunidades de abelhas encontradas A Luiz Queiroz 23: 121-128.
nas áreas de estudo considera-se que a visitação associada
de M. quadrifasciata e B. morio possa promover produções Ávila C J (1987) Polinização e polinizadores na produção de
ótimas de C. moschata. Melipona quadrifasciata é uma frutos e sementes híbridas de abóbora (Cucurbita pepo L. var.
abelha abundante na região e pode ser criada racionalmente melopepo). Dissertação de mestrado, Universidade Federal de
com obtenção de colônias por meio de divisões, tornando-a Viçosa, Viçosa, 56p.
mais frequente no campo e favorecendo ainda mais os níveis Barth F G, Hrncir M, Jarau S (2008) Signals and cues in the
de produção de C. moschata. Bombus morio é ativa durante recruitment behavior of stingless bees (Meliponini). J Comp
todo o ano em regiões tropicais (Cortopassi-Laurino et al Physiol A 194: 313-327.
2003), forrageando mesmo em temperaturas e luminosidade
relativamente baixas, sofrendo menor influência da chuva Bee R A, Barros A C S de A (1999) Sementes de abóbora
e do vento que outras espécies visitantes das flores de C. armazenadas em condições de vácuo. Rev Bras Sementes 21:
moschata (Heinrich 2004) e tornando uma boa alternativa 120-126.
como polinizadora durante os meses de inverno. Desta Biesmeijer J C, Roberts S P M, Reemer M, Ohlemüller R, Edwards
forma, apenas o conjunto de espécies polinizadoras M, Peeters T, Schaffers A P, Potts S G, Kleukers R, Thomas C
proporcionaria o completo serviço de polinização para C. D, Settele J, Kunin W E (2006) Parallel declines in pollinators
moschata. and insect-pollinated plants in Britain and the Netherlands.
Para assegurar os serviços dessa associação de Science 313: 351.
polinizadores com a produção de abobrinhas seria necessário
ainda identificar práticas de manejo que minimizassem Brown B J, Mitchell R J (2001) Competition for pollination: effects
os impactos negativos sobre estes insetos, permitindo sua of pollen of an invasive plant on seed set of a native congener.
conservação e a manutenção da diversidade. Ainda seria Oecologia 129: 43-49.
necessária a conservação e restauração de áreas naturais Camargo L S (1984) As hortaliças e seu cultivo. 2ª ed. Fundação
necessárias para otimizar a atividade de polinização desses Cargill, Campinas, 448p.
insetos em ecossistemas agrícolas. A existência de condições
que propiciem o estabelecimento e a permanência de fauna Cane J H, Tepedino V J (2001). Causes and extent of declines
de abelhas diversificada beneficiará não apenas a produção among native north American invertebrate pollinators: detection,
de abobrinha, como a produção de outras culturas que evidence, and consequences. Conserv Ecol 5: 1.
dependam da atividade de polinizadores para a produção de
Chittka L, Schürkens S (2001) Successful invasion of a floral
frutos e sementes.
market. Nature 411: 653.
Nosso estudo demonstra, portanto, a importância
da fauna de abelhas nativas para a polinização de C. Cortopassi-Laurino M, Knoll F R N, Imperatriz-Fonseca V L (2003)
moschata. Os resultados levam a supor que a preservação Nicho trófico e abundância de Bombus morio e Bombus atratus em
de comunidades de abelhas nativas, em especial M. diferentes biomas brasileiros, p.285-295. In Melo G A R, Alves-
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