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Bernardo Sanchez da Motta

Notas sobre a “New Age”

Lisboa, Outubro de 2009


Notas sobre a “New Age”

Índice

ÍNDICE.......................................................................................................................................................2

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................... 3
II. O QUE É A“NEW AGE”?........................................................................................................................................... 5
III. QUEM INVENTOU O CONCEITO E COMO EVOLUIU?.......................................................................................... 7
IV. A “NEXT AGE” ...................................................................................................................................................... 11
V. OS PROBLEMAS DA “NEW AGE”........................................................................................................................... 12
VI. A MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL .................................................................................................................... 13
VII. O FENÓMENO ECKART TOLLE .......................................................................................................................... 15
VIII. O QUE É REALMENTE O YÔGA?....................................................................................................................... 17
IX. A SOCIEDADE TEOSÓFICA: “MÃE” DA “NEW AGE”....................................................................................... 19
ANEXO – A MEDIÇÃO HINDU DO TEMPO ................................................................................................................ 24

Nota
Este texto é apenas uma versão preliminar. Versões actualizadas irão aparecer ao longo do
tempo na Internet, em http://espectadores.blogspot.com, na secção “Artigos em PDF”.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 2


Notas sobre a “New Age”

I. Introdução
«As duas principais teses da “New Age “ clássica são, em primeiro lugar, que uma era
dourada de consciência elevada se está a manifestar no planeta Terra, e em segundo lugar,
que é possível cooperar com esta alegre manifestação sem a necessidade de um credo
dogmático ou de estruturas formais. A “New Age” é uma rede flexível e não uma estrutura
formal»1

• Não é um movimento organizado


• Por isso… não pode ser uma conspiração global: uma boa conspiração exige uma
boa organização!
• É um conjunto de movimentos que tipicamente…
• Rejeitam quaisquer dogmas (frequentemente fazem disso um dogma!)
• Rejeitam as religiões organizadas
• Defendem o “faça você mesmo” em matéria de espiritualidade
• Acreditam no “espírito dos tempos”, ou seja, que a humanidade está a
evoluir espiritualmente com o passar do tempo
• Oferecem cura física pela via de curas espirituais

O que pensa a “New Age” do cristianismo


• “Linha dura”: cristianismo impede ou atrofia o crescimento espiritual!
ou…
• “Linha soft”: cristianismo é compatível com a “New Age” mas não é tão eficaz!

1 CESNUR, After the New Age: Is there a Next Age?


The two main tenets of "classic" New Age were, firstly, that a golden age of higher consciousness was
manifesting itself on Planet Earth; and secondly, that it was possible to co-operate with this happy
manifestation without the need of a dogmatic creed or formal structures. New Age was a loose network
rather than a formalized structure.

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Notas sobre a “New Age”

Um alerta do Cardeal Paul Poupard…


«O Documento 2 quer encorajar os seus leitores a fazer o melhor que puderem para
entender correctamente o fenómeno da New Age. E isto exige uma atitude aberta...
Contudo, gostaria de dizer que poderiam verificar-se queixas da parte de cristãos que, ao
lerem este Documento, observassem que algumas formas actuais de espiritualidade,
em que estão comprometidos, são objecto de crítica por parte do Documento. (…) O
facto de que o termo inclui muitas coisas indica também que nem todos aqueles que
adquirem produtos da New Age ou afirmam que obtêm algum lucro de uma terapia da New
Age abraçaram efectivamente a New Age. Por conseguinte, é necessário um certo
discernimento, tanto no que se refere aos produtos com a etiqueta da New Age, como
no que diz respeito àqueles que, em maior ou menor medida, poderiam ser considerados
"clientes" da New Age. Clientes, devotos e discípulos não são a mesma coisa.
Honestidade e integridade exigem que sejamos muito prudentes e que não
generalizemos, julgando com muita facilidade.»3

2 Referência ao documento “Jesus Cristo portador de Água Viva – uma reflexão cristã sobre a «New Age»”,
elaborado pela Comissão Pontifícia para a Cultura e pela Comissão Pontifícia para o Diálogo Interreligioso;
versão em inglês:
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/interelg/documents/rc_pc_interelg_doc_20030203
_new-age_en.html
3 Cardeal Paul Poupard, na apresentação do documento “Jesus Cristo portador de Água Viva”, 3-2-2003

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Notas sobre a “New Age”

II. O que é a“New Age”?


A Nova Era (“New Age”)
• Mudança de paradigma religioso: deitar fora a religião organizada da velha era
• Bem-estar, harmonia e felicidade, em vez de moral religiosa (implícita a ideia não
provada de que a moral religiosa não pode trazer bem-estar, harmonia e felicidade)
• O “acordar” para a “realização total” da consciência humana, que estava
“adormecida” por séculos de religiões organizadas
A Nova Era é a Era do Aquário
• Ptolomeu, no Almagesto, atribui a descoberta da precessão dos equinócios4 a
Hiparco – séc. II a.C.
• Grécia antiga: uma nova era começava na passagem do ponto equinoxial vernal
para uma nova constelação do Zodíaco
• Era de Peixes (60 a.C.) => Era do Aquário (2.680 d.C.)
Segundo a “New Age”, as constelações associadas às eras têm este significado:
• Peixes: Domínio do cristianismo
• Aquário: Nova abundância espiritual inesgotável

As raízes e o “ecossistema” da “New Age”


• O paganismo de sempre, que não morreu com a cristianização do Império
Romano (culto à “mãe natureza”, panteísmo)
• O gnosticismo, a mais velha e tenaz heresia cristã: o culto à gnose (à sabedoria),
o uso de rituais secretos, a salvação pelo conhecimento
• A tradição hermética ocidental começa no Egipto (séculos II, III e IV, mescla
entre o neo-platonismo e o estoicismo gregos e o que sobrara dos cultos
egípcios) e sobrevive até ao Renascimento (Marcilio Ficino5 e Hermes
Trimegisto, Pico della Mirandola6 e a cabala hebraica, alquimia, astrologia,
magia, etc.); apesar de perseguições pontuais (o hermetismo era visto como
potencialmente desestabilizador da sociedade cristã), estas tradições
heterodoxas ainda estavam muito interligadas com a prática religiosa regular
(judaísmo e cabala, islão e sufismo, cristianismo e a “magia natural” de Ficino,
cristianismo e a alquimia, cristianismo e as lendas do “graal”, etc…)

4 Movimento do ponto equinoxial vernal ao longo da eclíptica (sobre a esfera celeste).


5 Florença, 1433-1499.
6 Giovanni Pico della Mirandola, Mirandola, 1463-1494.

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Notas sobre a “New Age”

• A contestação à Igreja Católica e a consequente perda de poder desta (pontos-


chave: a Reforma, o Iluminismo e o Racionalismo, e mais tarde a separação
Igreja-Estado): dá-se a “secularização” de grande parte do esoterismo e da
tradição hermética ocidental: ganham poder e relevo social
• A euforia do esoterismo e do ocultismo nos séculos XVIII e XIX: mas a “New
Age” não deve ser confundida com estes movimentos – é um fenómeno
sobretudo do século XX, mas com raízes no século XIX
• O fascínio pelo oriente (sobretudo a partir do séc. XIX): gera atitudes exóticas:
o celibato dos monges budistas é virtude e sabedoria, o celibato dos sacerdotes,
monges e freiras cristãs é repressão da sexualidade!
• Invocando-se o conceito genérico de “progresso”, sustentado na evolução
tecnológica e científica, passa-se a defender a utopia da inevitabilidade do
progresso em todas as áreas de actividade humana, entre as quais a
espiritualidade; uma aplicação concreta desta generalização indevida consiste na
afirmação típica de que as doutrinas espirituais devem também evoluir de modo
análogo às ciências e à tecnologia, o que constitui um ataque ao conceito de
dogma doutrinal; em particular, a evolução de certas áreas da Ciência mais
directamente relacionadas com o ser humano, como o evolucionismo biológico
(Darwin), a psicologia (Freud e Jung), a história das religiões e a “religião
comparada”, têm sido palco de acesos confrontos entre conhecimento
científico (e a sua interpretação filosófica) e doutrina espiritual; frequentemente,
os movimentos “New Age” socorrem-se de fragmentos retirados destas áreas
da Ciência
• Mais concretamente, os meios académicos que se dedicam à história das
religiões, e em especial os que se dedicam à dita “religião comparada”, têm em
grande parte promovido uma leitura relativista dos temas que abordam: deixa
de ser relevante se determinada doutrina espiritual é mais ou menos conforme à
realidade (é mais ou menos verdadeira), e passa a ser relevante e predominante
a “comparação pela comparação”, cujo passo filosófico seguinte tende a ser a
equiparação das doutrinas, e finalmente, o relativismo que leva a que nenhuma
das doutrinas estudadas seja levada a sério (como potencialmente verdadeira)
• O sonho de uma religião universal como utopia de paz: este sonho implica
necessariamente a abolição das religiões existentes, sobretudo as que propõem
doutrinas que são defendidas como verdadeiras

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Notas sobre a “New Age”

III. Quem inventou o conceito e como evoluiu?


Gerald Massey (1828-1907): britânico, egiptólogo auto-didacta, neo-druida
• 1880: Refere a precessão dos equinócios
• Coloca a mudança para Aquário no fim do séc. XIX
• Visão messiânica da nova era (“The Sign of The Waterman”)

H. P. Blavatsky (1831-1891): russa, mãe da mais influente organização “New Age”


• 1893: “O nosso objectivo não é restaurar o Hinduísmo mas sim erradicar o
cristianismo da face da Terra”
• Coloca a mudança para Aquário no fim do séc. XIX
(na verdade, a mudança para Aquário será em 2.680 d.C.)
• Coloca o fim do Kali-Yuga hindu no fim do séc. XIX
(na verdade, o Kali-Yuga vai de 3.102 a.C. a 428.898 d.C., segundo o calendário Sûrya-
Siddhânta, ver o “Anexo – A medição hindu do tempo”)

Edward Carpenter (1844-1929): escritor britânico, libertino homossexual


• 1929: Coloca a entrada do Sol em Aquário em 1936
• Equipara éter/electricidade a espírito/fantasma

Paul Lecour (1871-1954): francês, esoterista cristão


• 1937: L’Ère du Verseau
• Visão messiânica (cristã) da Era do Aquário

C. G. Jung (1875-1961)
• Visão não messiânica da Era do Aquário
• 1951: Peixes: era dos opostos, Aquário: era da união dos opostos
• 1959: Associa os fenómenos OVNI à Nova Era

Alice Bailey (1880-1949)


• Teosofista (seguidora de Blavatsky), diz que recebeu revelações de “Djwal Kûl”
• 1944: Passagem do “individual” à “consciência de grupo”
• “(…) the Aquarian technique of group love and work”

“Hair” (1968) – «This is the dawning of the Age of Aquarius…»

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Notas sobre a “New Age”

• Primeiro sucesso musical “New Age”; inspirado no movimento “hippie”


• Experimentação com drogas leves: a procura da euforia através do consumo de
substâncias ilícitas
• Sexualidade sem limites nem regras

A “Transcendental Meditation” de M. M. Yogi e as “celebridades” (anos 60)


• Ver o capítulo “A Meditação Transcendental”

O Vaticano II (1962-1965) e o “espírito do Concílio”7


• Não poucos teólogos, ditos “liberais”, distorceram a letra do Concílio, lançando na
opinião pública e nos “media” a ideia de um “espírito do Concílio”, que mais não é
do que ruptura radical com o passado e a promoção da dissidência doutrinal
• Arrastaram consigo muitos católicos para longe da doutrina e da prática católica,
que, em consequência, ficaram mais receptivos à “New Age”

Marylin Ferguson (1980) – Norte-Americana


• Co-fundadora da Association of Humanistic Psychology, co-directora do Institute
of Noetic Sciences (promovido por Dan Brown no seu último livro “The Lost
Symbol”, de 2009)
• “The Aquarian Conspiracy – personal and social transformation in the 80’s”: best-
seller, um verdadeiro “manual” de New Age; no título, “conspiração” é entendida
literalmente como “respirar juntos”

Os problemas das previsões optimistas… “New Age” clássica


«Ao invés do milenarismo “catastrófico”, o milenarismo “progressista” da New Age é
optimista. No entanto, enquanto o milenarismo catastrófico pode alegar que pelo menos
algumas pequenas catástrofes confirmam as suas previsões, o milenarismo progressivo está
mais exposto à refutação empírica. (…) quando um grupo milenar anuncia uma era
dourada, e nada acontece, a crise é inevitável.»8

7 Ver “What Went Wrong with Vatican II? The Catholic Crisis Explained”, de Ralph McInerny, Sophia Press,
1998.
8 «Unlike "catastrophic" millennialism (or premillennialism), New Age’s "progressive" millennialism (once
called postmillennialism: see Wessinger 1997) was optimistic. However, while catastrophic millennialism can
usually claim that at least some small catastrophe has confirmed its doomsday predictions, progressive
millennialism is more exposed to empirical disconfirmation. When a prophecy about an apocalyptic event
fails, it is easier to claim that wars, epidemics and other catastrophic events have at any rate occurred

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 8


Notas sobre a “New Age”

“Chutar a bola para a frente” – Para 2010… uma surpresa!


«Em 2010, vós sereis levados a destruir as estruturas através das quais as forças globais vos
desejam dominar e manter-vos separados em diferentes classes sociais, raças ou religiões.
(…) Enquanto se desmoronam os muros das convenções, a humanidade inteira toma
consciência das grandes mudanças que caracterizam a transição de Gaia, quando esta se
prepara para abandonar a terceira dimensão para aceder à camada superior. Começareis a
construir um novo paradigma pela depuração das estruturas da dualidade extrema que vos
manteve presos a um estado de separação, pela unificação da espécie humana com as
outras espécies do vosso planeta, e pela reconstrução de um mundo que precisa de uma
maior compaixão e de uma intenção mais consciente. Podereis qualificar isto como energia
cooperativa, se quiserdes, mas nunca tivésteis antes energia sob esta forma. Leva-vos ela a
sair da dualidade? Sim, se vós identificardes esta com o atributo luz / obscuridade da velha
energia. A luz faz-vos sair da ignorância. Ela faz ver às pessoas a diferença entre a mitologia
religiosa e a consciência espiritual de si. É este o verdadeiro combate que travareis, e 2010
dar-vos-á a possibilidade.»9

Reacção post-“New Age” – a procura de hierarquias


«A New Age “clássica” não era um movimento religioso no sentido convencional do
termo. Por exemplo, não reconhecia, e até por vezes ridicularizava o [conceito de] líder

somewhere in the world. But, when a millennial group announces a golden age, and fails to deliver, crisis is
inevitable.», CESNUR, After the New Age: Is there a Next Age?
9 «En 2010, vous serez amenés à détruire les structures par lesquelles les forces globales désirent vous
dominer et vous maintenir séparés en différentes classes sociales, races ou religions. Même si plusieurs d'entre
vous ont beaucoup de craintes en cette période de changement profond, vous commencez tous à reconnaître
que la vie sur votre planète ne sera jamais plus la même. La situation confortable dans laquelle plusieurs
d'entre vous ont vécu, insensibles sous plusieurs aspects à la souffrance de tant d'êtres qui partagent la Terre
avec eux, se rétrécit. Pendant que s'écroulent les murs des conventions, l'humanité entière prend conscience
des grands changements qui caractérisent la transition de Gaia, alors que celle-ci se prépare à quitter la
troisième dimension pour accéder au palier supérieur. Vous commencez à construire un nouveau paradigme
par l'épuration des structures de l'extrême dualité qui vous ont maintenus clans un état de séparation, par
l'unification de l'espèce humaine avec les autres espèces de votre planète, et par la reconstruction d'un monde
qui a besoin d'une plus grande compassion et d'une intention plus consciente. Qualifiez cela d'énergie
coopérative ", si vous voulez, mais vous n'avez jamais eu de l'énergie sous cette ferme auparavant. Vous
amène-t-elle à sortir de la dualité ? Oui, si vous identifiez celle-ci à l'attribut lumière / obscurité de la vieille
énergie. La lumière vous sort de l'ignorance. Elle fait voir aux gens la différence entre la mythologie religieuse
et la conscience spirituelle de soi. C'est là le vrai combat que vous menez, et 2010 vous en donnera la
possibilité.» - notas do editor do livro «2010 transition - redefinir la dualite», de Martine Vallée.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 9


Notas sobre a “New Age”

autorizado, por definição, a declarar um credo. Já os movimentos pós-New Age confiam


aos seus líderes autorizados a tarefa de “salvar” a New Age da sua crise. Enquanto J. Z.
Knight10 começou a sua carreira como a quinta-essência da “médium” New Age, mais
recentemente ela fundou o que ela chamou de escola gnóstica americana, em Yelms
(Washington). Lá, ninguém questiona o seu direito de definir um credo ou uma doutrina
(ou melhor, o direito de Ramtha®, o espírito antigo do qual ela é o canal).»11

10 Judy Zebra Knight, pseudónimo de Judith Darlene Hampton (1946-), natural de Roswell (EUA).
11 «"Classic" New Age was not a new religious movement in the prevailing sense of the term. It did not, for
instance, recognize, and indeed often scorned, leaders authorized by definition to declare a creed. Post-New
Age movements entrust precisely their authoritative leaders with the task of "saving" New Age from its crisis.
While J. Z. Knight started her career as the quintessential New Age channeler, she has more recently
established what she calls an American gnostic school in Yelms (Washington). There, nobody questions her
right (or, rather, the right of Ramtha, the ancient spirit she channels) to define a creed or a doctrine. The New
Age audience of J. Z. Knight, the channeler, thus became Ramtha’s School of Ancient Wisdom, a post-New
Age new religious movement (Melton 1998).», CESNUR, After the New Age: Is there a Next Age?

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 10


Notas sobre a “New Age”

IV. A “Next Age”


«A Next Age pode ser descrita como a passagem da New Age à primeira pessoa do singular
[“eu”]. Para a New Age, o planeta Terra entrará (ou já entrou) numa era de superior
conhecimento, felicidade e bem-estar. Depois da desilusão, o Next Age admite que talvez
para o planeta Terra, ou para a sociedade no seu todo, não esteja à vista nenhuma feliz
transformação. As coisas poderiam até piorar. O indivíduo, por outro lado, pode entrar na
sua New Age pessoal e atingir um estado superior de prosperidade, saúde e satisfação
(mesmo no plano sexual, que na Next Age vem frequentemente em primeiro lugar). A
sociedade pode até arruinar-se, mas a pessoa singular que tem acesso a determinadas
técnicas entrará todavia numa sua era de ouro pessoalíssima e privada».12

“New Age”: pública, global, exterior, utopia, milenarismo progressivo


“Next Age:” privada, individual, interior, realização pessoal

Exemplo de autor “Next Age”: Deepak Chopra


«Chopra visitou a Itália em 1997, e escandalizou a imprensa ao afirmar que a New Age não
era para pessoas pobres. Estas, afirmou, eram “muito mais obcecadas por dinheiro do que
os ricos”, e por isso eram incapazes de crescimento espiritual. Apenas aqueles que estavam
livres de preocupações materiais podiam focar-se no crescimento espiritual e
eventualmente entrar numa nova era (…). A comoção que daí resultou criou um confronto
entre “next agers” e “new agers” clássicos, e mostrou de forma muito gráfica até que ponto
um mestre espiritual como Chopra se afastou da promessa de utopia feita pela New Age.»13

12 «Il Next Age può essere descritto come il passaggio del New Age dalla terza alla prima persona singolare.
Per il New Age il Pianeta Terra entrerà (o è già entrato) in un evo di superiore consapevolezza, felicità,
benessere. Dopo la delusione il Next Age ammette che forse per il Pianeta Terra, o per la società nel suo
insieme, non è in vista nessuna gioiosa trasformazione. Le cose, anzi, potrebbero perfino peggiorare. Il
singolo, invece, può entrare nel suo New Age personale e raggiungere uno stato superiore di prosperità,
salute, soddisfazione (anche sul piano sessuale, che nel Next Age viene spesso in primo piano). La società può
anche andare alla rovina: ma la singola persona che ha accesso a determinate tecniche entrerà comunque in
una sua età dell'oro personalissima e privata», M. Introvigne, P. Zoccatelli, “New Age, Next Age, una nuova
religiosità dagli anni ’60 ad oggi”, op. cit., pp. 41-42.
13 «Chopra visited Italy in 1997, and scandalized the press by claiming that New Age is not for poor people.
The latter, he claimed, are "obsessed by money much more than the rich" and, in consequence, are incapable
of spiritual growth. Only those free from material concerns are able to focus on spiritual growth and
eventually enter into a new age, according to Chopra (Benetti 1998, 31). The resulting commotion created a
confrontation between "next agers" and "classic" new agers, and showed very graphically just how far a

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 11


Notas sobre a “New Age”

V. Os problemas da “New Age”


Intrínsecos
• Inconsistência: diferentes movimentos “new age” dizem coisas diferentes e
contraditórias entre si
• Autoridade: os movimentos “new age” não têm um representante ou uma
autoridade central em matéria de doutrina (como o Papa, na Igreja Católica), nem
recorrem a critérios objectivos de validação interna (como as “peer reviews”
científicas, ou as ordens profissionais, ex: de Arquitectos, de Advogados, de
Médicos, etc.)
• Relativismo intelectual: “toda a espiritualidade é boa desde que faça bem”
• Pragmatismo: maior preocupação com a eficácia de uma técnica do que com a
consistência das doutrinas que a sustentam

Para o cristão
• Cristo é relegado para segundo plano, ou relativizado
• A reencarnação é impossível e incompatível com o cristianismo
• Despersonaliza-se Deus (passa a ser uma “energia”, uma “potência cósmica”)
• Despersonaliza-se a oração cristã (que é diálogo entre pessoas)
• Dilui-se a moral cristã (o pecado é visto como uma ideia negativa): o bem é o que
nos dá satisfação, o mal é o que nos dá desconforto

Para o diálogo inter-religioso


• Confusão entre uma doutrina autêntica e uma versão fraudulenta da mesma: os
orientais não nos respeitam, porque consumimos hinduísmo “chiclete”, budismo
“chiclete”, taoismo “chiclete”
• Confusão de ideias cristãs/ocidentais com ideias não cristãs/orientais (por
exemplo, não há conceito de Criação no Hinduísmo, não há conceito de Deus
pessoal no Budismo, não há qualquer comparação entre a Santíssima Trindade e a
“trimurti” hindu: Brahmá-Vishnu-Shiva)
• Desistência da evangelização, irrelevância da Boa Nova cristã

spiritual teacher such as Chopra has strayed from the New Age’s promise of utopia.», CESNUR, After the
New Age: Is there a Next Age?

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 12


Notas sobre a “New Age”

VI. A Meditação Transcendental

Figura 1 – Maharish Mahesh Yogi (1918-2008)

Maharish Mahesh Yogi


• Não pertence à casta brâmane
• Licenciou-se em Física em Allahabad (Índia) aos 31 anos
• À falta de êxito na Índia, mudou-se para o Ocidente: «Ideias novas recebem melhor
aceitação em países tecnologicamente desenvolvidos»14

Figura 2 – Os Beatles com M. M. Yogi

• Tornou-se famoso a partir de 1967, sobretudo graças aos Beatles (e outros: Shirley
MacLaine, Mia Farrow, etc.)
• Inventou de uma nova técnica de meditação “sem esforço”: a Meditação
Transcendental (TM)
• A nova técnica não pretende ser religiosa, mas sim “científica”
• “Só usamos 5-10% do cérebro”: uma fantasia pseudo-científica
• Milionário: dono de dezenas de hotéis, a TM está em mais de 140 países

14 «New ideas get better acceptance in technologically developed countries.»

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 13


Notas sobre a “New Age”

Princípios da Meditação Transcendental:


• Não pensar em nada, não implica concentração
• São sugeridos pseudo-”mantras” sem sentido: «Posso elevar o mundo à consciência
cósmica invocando Coca-Cola»15
• A ideia é “esvaziar a mente” para só ficar o “Eu”
• Inaugurar a Era da Iluminação (“The Age of Enlightment”)

O que diz o Hinduísmo…


• A meditação exige esforço e concentração
• O “Eu” é o principal obstáculo ao encontro com o divino
Actualmente estamos no “Kali-Yuga”, a “Idade Escura” (3.102 a.C. – 428.898 d.C.,
segundo o calendário Sûrya-Siddhânta, ver o “Anexo – A medição hindu do tempo”)

15 «I can bring the world to cosmic consciousness by invoking Coca-Cola.»

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 14


Notas sobre a “New Age”

VII. O fenómeno Eckart Tolle

Figura 3 – Eckart Tolle (1948-)

“(…) o que o planeta e a humanidade mais precisam é de um salto (“shift”) de


consciencialização, um acordar espiritual (…)”

“A possibilidade dessa transformação tem sido a mensagem central dos grandes


ensinamentos de sabedoria da humanidade. Os mensageiros — Buda, Jesus, e outros, nem
todos conhecidos — foram as primeiras flores da humanidade. Foram os precursores, seres
raros e preciosos. Um florescimento vasto não foi possível naquele tempo, e a sua
mensagem foi grandemente mal interpretada e frequentemente muito distorcida.
Certamente não transformou o comportamento humano, excepto numa pequena minoria
de pessoas.” ― Eckhart Tolle

Figura 4 – O “site” de Eckart Tolle

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 15


Notas sobre a “New Age”

• As obras de Eckart Tolle são lidas por milhões de pessoas, sobretudo graças à
propaganda feita por figuras mediáticas (por exemplo: Oprah Winfrey)
• Uma das suas “fontes” é o “místico” Bô-Yin-Râ
• Bô-Yin-Râ é o alemão Joseph Anton Schneiderfranken (1876-1943)
• Hitler era leitor e admirador das obras de Bô-Yin-Râ, bem como um ávido leitor de
material “new age”

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 16


Notas sobre a “New Age”

VIII. O que é realmente o Yôga?


O Yôga16
• Há seis “darshanas” (pontos de vista) no Hinduísmo:
• Nyâya (lógica) e Vaishêshika (visão analítica do mundo natural, do
Cosmos)
• Sânkhya (visão sintética) e Yôga (visa a união com Ishwara)
• Mîmânsâ (dos Vedas extrai os rituais e as práticas espirituais) e Vêdânta
(dos Vedas extrai a “metafísica”; visa a união com Brahma)
• O Yôga visa a união do ser humano com Ishwara, o Universal Pessoal
• Brahma é o Universal Impessoal17, Ishwara o Universal Pessoal18
• Ishwara, por sua vez, desdobra-se na “trimûrti”:
• Brahmâ é Ishwara enquanto princípio produtor dos seres individuais
• Vishnu é Ishwara enquanto princípio animador e conservador dos seres
• Shiva é Ishwara enquanto princípio transformador dos seres
• O Yôga está profundamente ligado ao Hinduísmo e só faz sentido nele!
• É um abuso usar o termo “yôga" para o tipo de “ginástica” de meditação e
relaxamento que se pratica no Ocidente sob esse nome;
• Nenhum “yogi” hindu (necessariamente da casta brâmane) alguma vez aceitaria
discípulos não hindus e portanto não pertencentes à casta brâmane

“Karma” e reencarnação
• Em sânscrito, “karma” quer apenas dizer “acção”
• Como “lei” social de relação causa-efeito é uma invenção ocidental
• Nasceu nos meios socialistas alemães e franceses no séc. XIX
• Pretendia explicar as desigualdades sociais
• A pobreza era o efeito de causas imorais de vidas anteriores
• Em sânscrito, “causa” diz-se “karâna”
• A reencarnação é uma ideia ocidental e moderna:
• Nasceu de um pseudo-misticismo socialista (séc. XIX)
• Prosperou nos meios espíritas e ocultistas (finais séc. XIX, início séc. XX)

16 Cfr., René Guénon, “Introduction Générale à l’Étude des Doctrines Hindoues” (1921), Éditions
Traditionnelles, França.
17 Brahma é “nirguna” (não qualificado, sem atributos positivos), ou “nirvishesha” (sem distinção).
18 Ishwara é “saguna” (qualificado, com atributos positivos), ou “savishesha” (com distinção).

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 17


Notas sobre a “New Age”

• Ideia hoje quase incontestável nos meios “new age”


• A reencarnação é impossível:
• O ser humano tem uma existência espacial e temporal contínua (sem
“saltos”)
• Se a existência humana corpórea não dá “saltos” no espaço também não dá
“saltos” no tempo: existimos corporeamente num intervalo espaço-tempo
que é contínuo
• Quando se olha para a Índia do século XIX e XX, e se constata a generalização da
crença na reencarnação nos vários estratos sociais, é problemático afirmar que os
hindus sempre acreditaram na reencarnação numa interpretação causa-efeito do
“karma”, porque houve certamente “refluxo cultural” do Reino Unido para a Índia
(forte influência da cultura anglo-saxónica e de organizações esotéricas – Sociedade
Teosófica, Maçonaria, etc., que promoviam esse entendimento “ocidentalizado” da
reencarnação).

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 18


Notas sobre a “New Age”

IX. A Sociedade Teosófica: “mãe” da “New Age”


O fenómeno “New Age” é incompreensível sem se estudar a história da maior, mais
paradigmática e mais influente sociedade “New Age”, a Sociedade Teosófica. A influência
da Sociedade Teosófica é difícil de medir com precisão, pelo facto de que a doutrina
teosófica19 influenciou miríades de movimentos “new age” e neo-gnósticos, bem como
movimentos ideológicos e políticos como o nacional-socialismo, o racismo e o eugenismo20
que, não estando filiados na Sociedade Teosófica, dela aproveitaram conceitos e teorias.
A forma mais clara e eficaz de se criticar a Sociedade Teosófica consiste em estudar e
apresentar os factos principais da sua história e o percurso biográfico dos seus líderes.

Figura 5 – Blavatsky e Olcott, co-fundadores da Sociedade Teosófica

19 É, na verdade, desadequada a expressão “doutrina teosófica”, dada a manifesta volatilidade, incoerência,


inconsistência, auto-contradição e complexa mutação das ideias da Sociedade Teosófica ao longo da sua
história e através do legado dos seus vários dirigentes.
20 Veja-se a influência da Sociedade Teosófica nas correntes maltusianistas. Annie Besant, dirigente da
Sociedade Teosófica, declarava-se “neo-maltusianista”. Margaret Sanger, a “mãe” da ideologia contraceptiva,
era uma eugenista convicta, procurando aplicar a contracepção artificial ao melhoramento da raça. Sanger
pertenceu à Sociedade Teosófica.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 19


Notas sobre a “New Age”

«A Sociedade Teosófica tinha um tríplice objectivo:


1) Formar o núcleo de uma fraternidade humana, sem distinção de raça, credo, casta ou
cor (rejeitando o cristianismo tradicional como sectário e intolerante);
2) Encorajar o estudo comparado da religião, da filosofia e da ciência para chegar à
"tradição primordial";
3) Investigar as leis derivadas da natureza e os poderes latentes no homem.»21

Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891)22


• 1847: Com 16 anos, casa-se com o General Blavatsky
• 1848: Foge do marido – parte para a Ásia Menor
• Viaja com o mago Metamon para a Grécia e Egipto
• 1851: Em Londres, a dar aulas de piano
• Circa 1851-1854: Interessa-se pela chegada a Londres de uma comitiva do Nepal
• 1858-1863: Regressa à Rússia: faz as pazes com o seu pai
• 1866: Em Itália, junta-se à Carbonária e luta ao lado de Garibaldi
• Em Paris, dá-se com Victor Michal, espiritista
• 1870-1872: Médium no Cairo: acusada de fraude
• 1873: Muda-se para Nova Iorque (procura ligar-se ao movimento espírita norte-
americano)
• 1873: Primeiro encontro com Henry Steel Olcott (1832-1907), oficial militar norte-
americano, jornalista, espiritista, interessado pelos fenómenos espíritas; por esta
altura, Olcott investigava os fenómenos e as “séances” em casa dos irmãos Eddy,
em Chittenden, no Vermont (E.U.A.)
• 1875: Funda, com Olcott, a Sociedade Teosófica
• 1879: Viagem para Bombaim com Olcott
• 1880: Sri Lanka: ambos recebem uma “iniciação” budista
• 1882: Sede em Adyar: “secção esotérica”: produzem fenómenos mediúnicos
encenados a troco de dinheiro extorquido a crédulos e curiosos…
• A farsa das cartas dos “mahatmas” ocultos: Blavatsky diz que é deles que recebe os
seus ensinamentos secretos: “Koot Humi”, “Morya” e “Djwal Kûl”, que

21 Teresa Osório Gonçalves “Uma chave para entender a ‘Nova Era’ (New Age)”, Osservatore Romano, n.º 25,
edição em português, 20 de Junho de 1998, pp. 16-17.
22 Cfr. René Guénon, “Le Théosophisme – Histoire d’une pseudo-religion” (1925), Éditions Traditionnelles,
Paris.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 20


Notas sobre a “New Age”

pertenceriam à “Grande Loja Branca”; estes seriam imortais, com vários poderes
sobre-humanos
• 1883: O Prof. Kiddle (Nova Iorque) queixa-se de que uma das cartas de “Koot
Humi” é igual a uma palestra sua, proferida nos E.U.A.
• 1884: H.P. Blavatsky está de regresso a Londres e quer-se livrar do seu passado
mediúnico e espiritista: «A minha missão é derrubar o espiritismo, converter os
materialistas e provar a existência dos Irmãos do Tibete»
• O casal Coulomb, espíritas e cúmplices de Blavatsky nas suas encenações
mediúnicas, vinga-se dela publicando cartas privadas: « Para já, minha cara [Sra.
Coulomb], mudemos de programa; ele [Sr. Jacob Sassoon] quer doar dez mil rupias, se ele vir
apenas um pequeno fenómeno » - H.P. Blavatsky
• 1885: O relatório de Richard Hodgson acerca das fraudes de Blavatsky faz
escândalo nos meios espíritas e teosofistas
• Blavatsky regressa da Índia para a Europa (Wurtzburgo)
• Inicia a escrita da Doutrina Secreta em Ostende (Bélgica)
• 1887: Parte de novo para Londres
• 1888: É publicada, em Londres, A Doutrina Secreta, uma amálgama desconexa de
“ensinamentos” teosóficos de Blavatsky
• 1891: Morte de H.P. Blavatsky, em Londres
• Anúncios da reencarnação de Blavatsky num “adulto”: contraria a própria doutrina
da ST, que referia 1200-1500 anos entre reencarnações
• “Guerra” entre os três pretendentes à liderança da ST: Besant, Olcott e Judge
• Besant era forte no Reino Unido, Olcott na Índia e Judge nos E.U.A.
• Annie Besant (1847-1933) lidera a Sociedade Teosófica, sem contestação, apenas a
partir de 1895

Charles Webster Leadbeater (1847-1934) – próximo de Besant


• 1883: Leadbeater adere à Sociedade Teosófica
• 1906: É acusado de abuso sexual de menores
• 1909: Descobre Krishnamurti, um jovem hindu, em Adyar
• Segundo Leadbeater e Besant, Krishnamurti seria o “Manu” (conceito hindu), e o
seu irmão Nityânanda seria o “Boddhisattwa” (conceito budista); aos dois jovens
são atribuídas missões “messiânicas” e espirituais

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 21


Notas sobre a “New Age”

• 1911: Conferência de Annie Besant na Sorbonne: “A mensagem de Giordano


Bruno23 para o mundo actual”, para a qual ela leva Krishnamurti (“world teacher”)
e Nityânanda, para os mostrar ao Ocidente
• 1913: Processo de Madras: o pai de Krishnamurti e de Nityânanda quer os filhos de
volta; o tribunal de Madras (Índia) dá-lhe razão; Besant pede recurso e perde
• 1914: Besant recorre a um tribunal inglês que lhe dá razão
• Entretanto, Krishnamurti está em Oxford com o irmão…«numa Universidade
inglesa a preparar-se para se tornar um instrutor espiritual» - diz Besant ao tribunal
de Madras
• 1929: Num comício teosofista, Krishnamurti demite-se perante 7.000 membros da
Sociedade Teosófica (incluindo Annie Besant)
• Krishnamurti dissolve a Ordem da Estrela no Oriente (que fora criada por Besant
para o promover como “messias” da Humanidade) e repudia a Sociedade
Teosófica: passou o resto da vida a escrever sobre espiritualidade

A herança de Blavatsky
• Os teóricos do Terceiro Reich usaram conceitos e teorias de Blavatsky para fins
raciais: o judeo-cristianismo visto como uma religião de fracos; o carácter
fortemente anticristão do teosofismo foi em parte reaproveitado no nazismo
hitleriano
• O eugenismo de Margaret Sanger, a “mãe” da ideologia contraceptiva, ela mesma
aderente ao teosofismo, foi influenciado por conceitos da Sociedade Teosófica; o
eugenismo (melhoria da raça pelo controlo artificial dos nascimentos)
compatibiliza-se bem com o maltusianismo (controlo das populações para fazer
face a um alegado – e demonstradamente falso – problema de escassez de recursos
à escala global); Annie Besant, dirigente da Sociedade Teosófica, declarava-se “neo-
maltusianista”; muitas das campanhas promovidas hoje em dia em África e noutras
partes do Terceiro Mundo por grandes organismos mundiais ainda se inspiram nos
conceitos pseudo-científicos do maltusianismo
• Ela é a mãe da “New Age”: contestação às religiões oficiais
• Inspirou parte dos modernos livros de ficção científica (muitos conceitos como o
das viagens galácticas, civilizações cósmicas, entre outros, tiveram Blavatsky como
precursora)

23 Besant considerava-se a reencarnação de Giordano Bruno.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 22


Notas sobre a “New Age”

• “Igreja” da Cientologia: mistura de esoterismo e paranormal, pseudo-ciência e


extraterrestres: tudo temas típicos do teosofismo “blavatskiano”
• Os irmãos Wachowsky e a trilogia cinematográfica “The Matrix”: gnosticismo
moderno com “condimentos blavatskianos”
• J. K. Rowling, autora dos livros Harry Potter: dá a uma das personagens o nome
suspeito de “Cassandra Vlabatsky”; Rowling refere, nos seus livros, outros nomes
“suspeitos”: Flamel, Paracelso; Hogwarts é uma escola iniciática (gnóstica):
desprezam-se os “muggles”, que são “profanos”, não conhecem a “magia”

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 23


Notas sobre a “New Age”

Anexo – A medição hindu do tempo


Este é um tema muito complexo. Por um lado, a tradição astronómica hindu é muito vasta
e recuada no tempo, e por outro lado, é sabido que o simbolismo e a numerologia jogam
um papel muito importante na tradição hindu, pelo que é sempre arriscado procurar obter
definições literais e rigorosas quando se fala da medição hindu do tempo. Por isso,
limitamo-nos a fornecer dois métodos diferentes de cálculo, que nos parecem ambos
consistentes, apesar de apresentarem valores distintos. Ambos se baseiam na tradição
védica, mas enquanto que o primeiro método parte de uma leitura literal das equivalências
védicas entre anos humanos e anos dos Devas, conforme constam do tratado astronómico
Sûrya-Siddhânta, o segundo método (sugerido por René Guénon24) não toma a equivalência
literal, e propõe um método de equivalência não literal, deduzido por via simbólica.

Método 1: De acordo com a tradição Védica, e numa interpretação literal das equivalências
para anos humanos:
• 1 kalpa equivale a 1 dia de Brahma; cada kalpa subdivide-se em 14 manvantara25, e cada
manvantara em 71 mahayuga26;
• 1 dia de Brahma equivale a 1.000 mahayugas, sendo que um mahayuga se divide em 4 yugas
desiguais de acordo com a seguinte regra: 4 partes para o primeiro yuga, chamado Krita-
Yuga, 3 partes para o segundo yuga, chamado Trêtâ Yuga, 2 partes para o terceiro yuga,
chamado Dwâpara-Yuga, e 1 parte para o quarto e último yuga, o Kali-Yuga;
• 1 mahayuga equivale a 12.000 anos dévicos (anos dos Devas);
• 1 ano dévico equivale a 360 anos humanos (1 dia dévico equivale a 1 ano humano);
• Logo: 1 mahayuga equivale a 12.000 x 360 = 4,320 milhões de anos humanos;

24 Artigo para o “Journal of the Indian Society of Oriental Art”, Junho-Dezembro de 1937, dedicado a A. K.
Coomaraswamy por ocasião do seu sexagésimo aniversário, reeditado na "Études Traditionnelles", Outubro
de 1938, e na compilação “Formes Traditionnelles et Cycles Cosmiques”, Paris, Gallimard, 1970 (primeira
edição), 1988 (edição consultada).
25 Cada manvantara seria regido por um manu, um regente simbólico com o papel de “legislador”.
26 Na sua tradução do importante tratado de astronomia hindu do século III d.C., o Sûrya-Siddhânta, publicada
no sexto volume do “Journal of Oriental Society”, (em New Haven, 1860, disponível na Internet em
http://books.google.pt/books?id=bPUXKcHQw2EC), o Rev. Ebenezer Burgess (norte-americano, pastor
protestante, nascido em Massachusetts em 1790, missionário na Índia e falecido em 1870) apresenta esta
divisão de um manvantara em 71 mahayuga. Ver na página 10, ponto 18: “One and seventy ages are styled here
a Patriarchate (manvantara)”. O termo “Ages” é a tradução do termo “Yuga”, que o tradutor avisa dever ser
interpretado ao longo do texto dos Sûrya-Siddhânta (excepto quando precedido pelo adjectivo de um yuga) no
sentido de “Great Age”, ou seja, segundo o conceito hindu de “Mahayuga” (ver a nota no fim da pág. 9).

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 24


Notas sobre a “New Age”

• Logo: 1 kalpa = 1.000 mahayuga = 1.000 x 12.000 anos dévicos = 12.000.000 x 360 anos
humanos = 4.320.000.000 anos humanos (4.320 milhões de anos humanos)27;
• Assim, teríamos a seguinte decomposição de um mahayuga em quatro yuga desiguais, na
tradição proporção 4:3:2:1:
o Krita-Yuga28: 4.800 anos dévicos = 1.728.000 anos humanos;
o Trêtâ Yuga29: 3.600 anos dévicos = 1.296.000 anos humanos;
o Dwâpara-Yuga30: 2.400 anos dévicos = 864.000 anos humanos;
o Kali-Yuga31: 1.200 anos dévicos = 432.000 anos humanos.
• O ponto de partida do actual yuga, no calendário hindu definido no tratado Sûrya-
Siddhânta, está definido no dia 18 de Fevereiro de 3.102 a.C. no calendário juliano e no
dia 23 de Janeiro de 3.102 a.C. no calendário gregoriano; o calendário hindu mantém
dois calendários alinhados: um calendário solar (baseado no movimento aparente do
Sol ao longo do ano) e outro de tipo lunisolar (baseado no movimento da Lua); ambos
os calendários solar e lunisolar encontram a mesma data de partida na data referida;
• Conclusão: segundo este método, o Kali-Yuga duraria entre 3.102 a.C. e 428.898 d.C..

Método 2: De acordo com a tradição Védica, mas numa interpretação simbólica feita por
René Guénon32:
• Guénon procura determinar a duração de um manvantara, baseando-se, quer na tradição
hindu, quer noutras tradições; partindo do conceito do “grande ano” dos gregos e dos
persas, este “grande ano” corresponderia a metade do ciclo de precessão dos
equinócios (o período de rotação axial da Terra é de 25.920 anos), ou seja, a 12.960
anos; na procura de um paralelismo com as tradições do “grande ano”, Guénon faz
notar que o reinado de Xisuthros, equiparado ao manu da era actual, Vaiwasvata, teria a
duração de 64.800 anos, o que equivale a precisamente cinco “grandes anos”; Guénon
sugere então que se considere cada manvantara como sendo um conjunto de cinco
“grandes anos” de 12.960 anos cada, num total de 64.800 anos;

27 Cfr., Burgess, op. cit., p. 10, onde o texto traduzido apresenta exactamente o mesmo valor para a duração
de um kalpa.
28 A interpretação que a mitologia hindu atribui a esta era, permite que se faça a analogia com a era conhecida
no ocidente como “Era de Ouro”.
29 Ibidem, análoga à nossa “Era de Prata”.
30 Ibidem, análoga à nossa “Era de Bronze”.
31 Ibidem, análoga à nossa “Era de Ferro”.
32 Ver nota de rodapé anterior.

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 25


Notas sobre a “New Age”

• Ao invés de considerar que cada manvantara tem 71 mahayuga, e que cada mahayuga se
divide em quatro yuga na proporção desigual de 4:3:2:1, Guénon considera que cada
manvantara se divide logo nos quatro yuga, na mesma proporção desigual de 4:3:2:1;
• Assim, teríamos a seguinte decomposição de um manvantara (64.800 anos humanos,
segundo Guénon) em quatro yuga desiguais, na tradicional proporção 4:3:2:1:
o Krita-Yuga: 25.920 anos humanos;
o Trêtâ Yuga: 19.440 anos humanos;
o Dwâpara-Yuga: 12.960 anos humanos;
o Kali-Yuga: 6.480 anos humanos.
• Relativamente à duração do manvantara considerada no primeiro método, a duração
considerada neste método é inferior por um factor multiplicativo de 200/3; no caso do
Kali-Yuga, se multiplicarmos os 6.480 anos calculados desta forma pelo factor 200/3,
obtemos os 432.000 anos do método anterior;
• O ponto de partida do actual yuga não é definido por Guénon;
• Conclusão: segundo este método, e se usarmos a mesma data de partida do método
anterior, ou seja, o ano de 3.102 a.C. como início da era actual, o presente Kali-Yuga
duraria entre 3.102 a.C. e 3.378 d.C..

Bernardo Sanchez da Motta – Outubro de 2009 26

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