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CAPÍTULO I
A CRISTANDADE EUROPÉIA E A ESPANHA NA ÉPOCA DO DESCOBRIMENTO
INTRODUÇÃO
A finalidade deste capítulo é situar o estado religioso-sócio-político,
especialmente da Espanha. Faremos uma apresentação sumária, quase
esquemática do projeto político-religioso da Idade Media; o espírito que
animou os missionários na primeira parte da evangelização na América
Latina; a situação da igreja espanhola quando do encontro com os povos
que habitavam o continente americano; as expectativas, enfim, este
capítulo quer introduzir-nos na História da Igreja na América Latina.
ELEMENTOS ESTRANHOS
Dentro da concepção de cristandade, alguns elementos vão aparecer
estranhos, ou seja, não tem espaço dentro da “cidade cristã”. A
mentalidade medieval sacralizava as estruturas temporais. Assim sendo, o
exercício da atividade humana recebe sua legitimidade constitutiva por uma
cristificação e eclesialização. Como conseqüência, tudo o que não é cristão
não tem espaço dentro da cidade humana. Os infiéis não tem personalidade
jurídica (plena).
A denominação é comum: infiéis. Até a época dos descobrimentos os
únicos conhecidos são os tártaros, os judeus (deicidas), os mahometanos
(invasores sacrílegos). Portanto, o estado de guerra é constante, “guerra
santa”. O cristianismo medieval os odiava.
Na expansão até a África, o homem medieval acreditou ou fingiu
acreditar que a negritude era uma prolongação do islamismo. Como
conseqüência, os sarracenos, pagãos e outros infiéis e inimigos de Cristo,
podem ser escravizados, quaisquer que sejam e onde quer que se
encontrem.
Os hereges eram outra classe estranha à cristandade. Eram
movimentos de caráter religioso que se desdobravam em sistemas anti-
sociais ou fenômenos anárquicos que assumiam formas religiosas. Nem a
idade media nem a Espanha conheceram a idolatria, que segundo a época
seria a atitude religiosa mais aberrante. Os espanhóis a encontrarão
posteriormente na América.
Outro elemento estranho à cristandade é a intolerância. Este foi um
ideal violentamente defendido. Trata-se de um efeito político da unidade da
fé, da unidade européia (orbis christianus). A violência não partiu da igreja.
Há uma concepção “pagã”do espaço cristão: “Pontifex Maximus”. Todo
estado tem um fundo de instituições com um elemento moral. Tem direito
de tutelar essas instituições. O que ocorre quando a sociedade
homogeneamente católica e a vê ameaçada? Simplesmente não a tolera.
Para o espírito da época não se entendia que Deus não tivesse defensores.
Todos acreditavam nisso e por isso eram intolerantes.
UMA NOVA ÉPOCA
Justamente quando os espanhóis chegavam ao novo mundo, uma nova
época surgia na vida européia: o renascimento. Poderíamos dizer:
humanismo e renascimento. As características principais deste novo tempo
é a desagregação das formas medievais, teocêntricas e universalistas. O
“sinal”é a mudança gradual, exceto no campo religioso. Há ruptura do
universalismo, passagem para o subjetivismo. Os homens caminham para
um nacionalismo: este passa a ser razão de estado. Tem-se outra visão
antropológica: é o antropocentrismo – o que conta é o homem, e daí vem o
termo “humanismo”. Sufoca-se o sentido de interdependência: o egoísmo. A
teologia não a suprema referência. Socialmente as conseqüências são no
sentido de desvertebração do sentido comunitário e eclesial. Resumindo: o
renascimento foi um movimento leigo, antropocêntrico que consagrou a
ruptura das vinculações religiosas e metafísicas.
A nova época trouxe uma nova visão sócio-política. As cidades passam
a ser o motor de desenvolvimento social. Traz uma cultura poderosa, com
um crescente poder político. O sistema feudal desaparece e está aberto o
campo para a aparição de uma nova classe social: a burguesia. O
nacionalismo é outra característica acentuada. Desde o século XIII foi a mais
poderosa força anti-papal. Desdobrar-se-á, posteriormente, no imperialismo-
colonialismo. A força política é do príncipe.
A SOCIEDADE ESPANHOLA DA EPOCA DOS DESCOBRIMENTOS
O ano de 1479 foi decisivo para a história da Espanha. Houve a fusão
pessoal de Aragão e Castilha. Como nação, a Espanha tornou-se forte. O
significado deste fato é que o novo mundo terá este rei como cabeça.
A Espanha contava com 8 milhões de habitante. 500.000 judeus que
são expulsos em 1492; um milhão de mudejares. Oitenta por cento da
população vivo nos campos. Existem 75.000 eclesiásticos que corresponde
a 1% da população. Dois a três mil pertencem ao “alto clero”. Os
aristocratas são em numero de 115.000, cerca de 2% da população; 2 a 3%
possuem 97% do solo espanhol.
Todavia, deparamo-nos com uma Espanha que tem seu tesouro fraco. O
tesouro real tinha-se esgotado desde os tempos de Colombo. A recuperação
das terras das mãos dos árabes custou caro. No início do XVI a economia
está em profunda crise. É uma nação faminta de bens. Deve satisfazer os
prazeres da aristocracia local; precisa auxiliar as demandas da expansão
colonial.
Que pensar disso? Pobre península! Em seu solo vivem em
superabundância uma legião de padres, guerreiros, nobres e mendigos. A
nação está dividida. Todos os carregamentos de metais preciosos iam para
os agiotas alemães, genoveses, flamengos e mesmo espanhóis. Assim,
tornou-se imperioso aumentar as explorações no novo mundo, tão logo
chegaram. Apenas um exemplo: em 1531 são produzidos para a Espanha,
489 kg de ouro; apenas dois anos depois (1532 é o ano do ingresso no Peru)
seria aumentada para 5.369 kg de ouro e 183 kg de prata. A frase que se
dizia então era: “A Espanha tinha a vaca, mas outros lhe mamavam o leite”.
A aristocracia
Resumiam-se em 50 famílias unidas por complicados vínculos de
sangue. Tinham força paralela à do rei. Assim sendo, poucos aristocratas
ocupavam postos palatinos. Levavam uma vida cheia de soberba, repleta de
festas. A pequena nobreza era composta de militares, fidalgos, cavaleiros.
Eram poderosos como grupo. Os militares assistiam por direito próprio as
cortes. Viviam em residências rurais e influenciavam o governo através da
parentela aristocrática. Desta pequena nobreza saiam muitos bispos.
Havia ainda a nobreza urbana, ricos por herança. Tratava-se de uma
classe mais culta que a militar. Seus filhos chegavam às universidades.
Desta nobreza saiam também muitos bispos, cônegos, abades. Eram
excelentes como secretários e administradores.
O clero
O clero é uma sociedade dentro da sociedade. Tem suas próprias
classes sociais: alto e baixo clero. Funciona com um forte espírito
corporativista, muito mais para defender seus privilégios e imunidades do
que por empenho pastoral.
A força econômica está nos dízimos. O clero aristocrata exercia, não
raro, papel de chanceleres do governo. O alto clero tem um formidável
poderio econômico. O nível moral é tolerável.
No baixo clero havia muita imoralidade, ignorância e pobreza. Isto
acontecia não somente na Espanha, mas estendia-se a toda a Europa. Para
citarmos apenas um exemplo: 400 frades da Andaluzia preferiram emigrar
para a África e fazer-se muçulmanos a deixar suas concubinas.
A classe média
Não equivale à atual. São os mercadores, notários, barbeiros; são em
pequeno número, porem são a raiz da futura burguesia industrial e
mercantil. Os artesãos são uma modesta classe urbana. Associavam-se em
agremiações. Sua técnica passava de pai para filho; não levavam uma vida
muito difícil.
A população de todas estas classes sociais compunha cerca de 20% de
todos os habitantes da Espanha. Os camponeses são 80% da população;
vivem miseravelmente, mas não provocam revoltas.
CAPITULO II
O MUNDO AMERICANO – PRIMEIROS CONTACTOS COM OS EUROPEUS
FONTES
As fontes que utilizamos para o estudo da primeira evangelização do
novo mundo são os historiadores oficiais das Índias, que contemporâneos,
quer posteriores. Também diversos escritos por parto do clero que já havia
se instalado na América; relações dos missionários, escritos leigos.
Acrescentam-se ainda historiadores como os relatos dos religiosos,
missionários com a história de suas províncias, relatos dos conquistadores.
População do novo mundo
Deparamo-nos diante de uma grande dificuldade. A impressão dos
missionários e conquistadores não nos dão segurança no que se refere ao
número de habitantes porque tudo se conta por milhões. Por exemplo,
Bartolomeu de Las Casas relata sobre milhões de batizados. Motolinía nos
fala de seis milhões de batizados no âmbito asteca. Pedro de Alvarado
afirma que combateu com “um milhão”. Seriam números reais ou pura
fantasia? Difícil sabê-lo.
Os cálculos modernos dirigem-se em duas tendências: uma
maximalista e outra minimalista. Segundo estes cálculos a população
poderia oscilar entre 100 e 8 milhões. Rosenblatt e outros historiadores
afirmam que havia entre 13 e 8 milhões; River y Sapper, entre 40 e 50
milhões; a escola da Califórnia calcula uns cem milhões. São estes, alguns
dados provenientes de estudos modernos sobre a população ameríndia.
Todavia, nos anos da independência, a população era de cerca de 16
milhões. Pode-se tirar conclusões, a partir disso, levando em consideração
as hipóteses demográficas, etc. o primeiro contacto entre as civilizações
deu-se de modo violento, muitas foram as mortes. A entrada no mundo do
índio trouxe algumas conseqüências terríveis como mortandades por causa
de doenças desconhecidas pelos índios. Por exemplo, em 1545 morreram
800.000 vítimas do vômito negro no México; dois milhões morreram por
causa da varíola, etc.
As civilizações ameríndias podem ser divididas em três grupos
distintos; aquelas de civilização superior como os astecas e incas, outras de
civilização intermediaria e aquelas de civilização inferior. Com relação ao
aparecimento das populações na América, várias são as hipóteses, porém
sempre é obscura a sua origem.
Esquema das grandes civilizações
Entre as características marcantes das grandes civilizações temos:
- Poderosa unidade política. Isto vale, sobretudo para o império inca. A
extensão territorial era fantástica. Os incas submetiam ao seu domínio
outros povos, devido à poderosa unidade política.
- Sua organização e sua língua.
- O regime de governo era verticalista.
- Sua religião era cósmica e animista. Religião praticada de modo diferente
entre o povo e as castas sociais mais elevadas. Caracterizava-se por
sacrifícios humanos. O deus era bastante abstrato.
- Muito difundido era o culto dos mortos. O morto pertencia mais à vida do
que à morte; daí o costume de mumificar.
- A organização dos astecas e grau de civilização alcançado pelos incas
chegando mesmo a praticarem diversas cirurgias.
- O regime era familiar com propriedades, agremiações.
CONQUISTA E EVANGELIZAÇÃO
O anúncio da fé coincidiu com a ação colonialista. O novo mundo foi
evangelizado através de mediações sumamente concretas: os espanhóis,
determinados espanhóis, num determinado tempo da história da Espanha. A
ação evangelizadora enquadrou-se em circunstancias que por uma parte
ofereceram grandes vantagens, por outra parte, muitos inconvenientes.
Quem foram os protagonistas da evangelização? Foram: as ordens
religiosas, seus missionários, os grandes bispos, a coroa espanhola, e
mesmo bons espanhóis. Os grandes obstáculos: os conquistadores, aqueles
que se dirigiram ao novo mundo com um único intento de buscar mais, os
“encomenderos”, e mesmo maus eclesiásticos.
A conquista deu-se segundo uma mentalidade generalizada e agressiva
da Europa Medieval, nunca é demais repetir. A “conquista” segundo Las
Casas seria um vocábulo digno de mahometanos: iníquo, tirânico, infernal.
Tratava-se da lei do imperialismo moderno: os mais fracos devem ser
submetidos aos mais fortes. Alguns fatos, porém, devem ser levados em
conta: um dos princípios da conquista é a conversão à fé.
Maus tratos
O tratamento dado aos índios foi consagrado nesta expressão: maus
tratos. Isto porque ocorreu considerar-se o seguinte: os habitantes da
América não seriam homens, mas “homines ferini”, homens muito próximos
a animais.
Entretanto, o primeiro contacto entre as duas civilizações deu-se de
modo violento. Os próprios cronistas horrorizavam-se quando viam o que
realmente se passava. Gonzalo Fernandez de Oviedo, por exemplo, escreve
que é um extermínio feito por cristãos; Pedro de La Gasca, visitador e
teólogo de Salamanca diz que se as obras dos cristãos são tais, sua fé não
pode ser melhor.
Lembremos outros fatos: o assassinato de Atahualpa. O assassinato do
cacique Hartuey em Porto Rico: ele disse que preferia ir para o inferno do
que para o céu com os espanhóis. Em 1569, um jesuíta escrevendo a São
Francisco de Borja diz que os índios os consideram um gênero de
abominação. Do memorial dos dominicanos do Peru ao rei da Espanha, em
fins do século XVI temos o seguinte: “os índios não querem ir para o céu,
porque melhor os tratariam os demônios no inferno do que os espanhóis no
céu; e alguns mais atrevidos e desesperados disseram que não querem crer
num deus tão cruel como o deus dos cristãos”.
Outra característica foi, sem dúvida, a escravidão dos índios. Os
europeus não introduziram o sistema escravocrata na América, tal
instituição já existia, e em foram brutais, porem isto não desculpa a atitude
dos espanhóis.
CAPÍTULO III
OS ARTÍFICES DA EVANGELIZAÇÃO
CAPÍTULO IV
AS GRANDES ORDENS, EVANGELIZADORAS DA AMÉRICA
CAPITULO V
O PROGRAMA DOS GRANDES
INTRODUÇÃO
Muitos foram os missionários que se destacaram na história da
evangelização da America Latina e este capítulo quer ressaltar o programa
de evangelização dos grandes. Como eles conceberam sua missão, qual
método utilizaram.
A COMUNIDADE DOS DOMINICANOS
Os frades dominicanos Pedro de Córdoba, Antonio Montesinos,
Bernardo de Santo Domingo estabeleceram-se na Hispanhiola ( São
Domingos) a partir de 1510. Essa comunidade desempenhará um papel
profético de grande importância pela causa dos índios. A prática missionária
de uma no só na ilha foi suficiente para os dominicanos chegarem à
conclusão de que o maior obstáculo para a sua catequese, para a sua
pastoral, eram as injustiças contra os índios. O pecado de mundo novo não
é o herege ou o pagão, mas o colonizador.
Declarando injustas as guerras chamadas “justas”, Montesinos fala em
nome da comunidade dizendo: “Com que direito e com que justiça tendes
estes indos em tão cruel e horrível servidão? Com que autoridade fizestes
tão detestáveis guerras a essa gente que estava mansa e pacífica em suas
terras, onde exterminastes uma infinidade delas com mortes e estragos
numa ouvidos? Como os tendes tão oprimidos e cansados, sem dar-lhes de
comer nem curá-los de suas doenças, que vem Dos excessivos trabalhos
que lhes dais e que os fazer morrer, ou, para dizer melhor, os matais tirando
e acumulando ouro cada dia? Estes não são homens? Não tem almas
racionais? Não sois obrigados a amá-los como a vós mesmos?”
Lido à luz dos textos bíblicos do Antigo e Novo Testamento, o sermão
de Montesinos se manifesta em nítida continuidade com toda a tradição
bíblica dos profetas.
BARTOLOMEU DE LAS CASAS
Natural de Sevilha, nascido no ano de 1474, de pai comerciante.
Estudou profundamente o latim. Partiu para as Índias, com Nicolas de
Obando em 1502. Recebeu uma “encomienda” na ilha, onde chegou a
guerrear contra os índios. Ainda como “encomendero” foi ordenado
sacerdote em Roma, no ano de 1510; escutou o famoso sermão de
Montesinos no dia 3 de novembro de 1511: “Eu sou a voz que clama no
deserto desta ilha”. Apesar do sermão continuou ainda por dois anos
participando da conquista de Cuba comandada por Diego Velazquez e
Pânfilo de Narvaez, onde presenciou a matança de índios e recebeu novas
porções de terras como “encomendero”.
Foi somente no ano de 1514, quando de sua permanência em Cuba,
que tomou a decisão de abandonar suas posses e ir em defesa dos índios.
Ele foi cúmplice da conquista por doze anos. Percebendo a inutilidade de
defender o índio em São Domingo, partiu para Sevilha em 1515, para
denunciar pessoalmente ao rei Fernando, os abusos cometidos contra os
índios. Em 1517, depois de apresentar um memorial em defesa dos índios
ante o Conselho das Índias, conseguiu de Carlos V, que aceitasse o projeto
de fundar “aldeias de índios livres”, que seriam comunidades de lavradores
hispano-índios, num plano de colonização pacífica. O local escolhido foi a
região de Cumaná, na atual Venezuela, porém, com fracasso total por causa
da deserção dos colonos, do desastre da missão franciscana, do interesse
dos “encomenderos”e por causa de um ataque dos índios em 1521.
Sua tentativa de reformas sociais que vigorava naquele sistema
acabou fracassando completamente. De volta a São Domingos, decidiu
ingressar na ordem de São Domingos em 1523. Até o ano de 1531 dedicou-
se à meditação e estudos, de onde temos usa obra: “Sobre o único modo de
atrair a todos os povos à verdadeira religião”. É o início de sua obra
gigantesca: “História das Índias”.
Escreveu diversas cartas ao Conselho das Índias acusando pessoas e
instituições pelo pecado de opressão que se comete contra o índio, e em
especial, o sistema de “encomiendas”. Em 1537 foi à atual Guatemala, onde
com mais dois dominicanos evangelizou uma “terra de guerra”, com
métodos diferentes dos usados então (sem armas, pacificamente). Nessa
época surgiram dois importantes documentos, que para Las Casas foi de
suma importância. Um deles foi a bula “Sublimis Deus”, onde afirma que o
índio é capaz da fé, tem direito à propriedade e liberdade; outro foi a obra
de Francisco Vitória, “Relações sobre as Índias”de 1539. Animado pela sua
experiência positiva foi para a Espanha onde chegou em 1540.
Em 1541 escreveu seu tratado mais virulento:”Brevíssima relação da
destruição das Índias” e informou os membros das “Juntas” que preparavas
as Leis Novas, promulgadas em 22 de novembro de 1542, nas quais se
impedia que a “encomienda”pudesse ser hereditária. O rei, pessoalmente o
propõe, então, para o bispado de Chiapas, para onde embarcou em 1544.
Logo após sua chegada redigiu diversas leis entre as quais o famoso
“Confessionário”, que proibiu absolver os pecados dos que tinham índios
“encomendados”, o que iniciou uma série de conflitos com os
“encomenderos”. Regressou à Espanha em 1546 e renunciou ao bispado de
Chiapas em 1550.
Dedicou-se a partir daí em defender os direitos dos índios junto ao rei e
ao Conselho das Índias. Escreveu : “Tratados”(1552); “Trinta proposições
jurídicas”(1553), material que foi acrescentado na “História das Índias”. Na
Espanha, Las Casas tornou-se um consultor obrigatório de muitos governos
e missionários. Somente em 1562 redigiu definitivamente o Prólogo da
História das Índias que segundo seu pedido só deveria ser publicado
passados quarentas anos, porque se Deus determinar destruir a Espanha,
veja-se, diz ele, que é pelas destruições que fizemos nas Índia e apareça a
razão de sua justiça.
Bartolomeu de Las Casas morreu no convento dominicano de Atocha,
Madri, no dia 17 de julho de 1566, com a idade de 92 anos. Por inspiração
do vice-rei do Peru, Toledo, o rei mandou recolher todos os livros impressos
e inéditos de Las Casas e sua influencia na Espanha e nas Índias caiu muito.
Seu pensamento sobre a evangelização
Se conceito de evangelização proveio da obra “De único vocationis
modo omnium gentium ad veram religionem”. Outros tratados também
falam sobre seu conceito e evangelização. De início, ele aceitava como algo
natural, certa legitimidade que os reis da Espanha tinham sobre as Índias.
Segundo Las Casas, o supremo pastor da igreja está obrigado por seu oficio
pastoral a procurar a evangelização das outras ovelhas de Cristo, que são os
infiéis, para implantar entre eles a fé cristã. Por isso, o papa licitamente
dispôs que alguns príncipes se interessassem pela pregação do evangelho.
Isto que dizer que Las Casas aceitava o regime de cristandade efetivamente
vivo então. O intrépido defensor dos índios estava convencido de que não é
possível a pregação do evangelho, nem o combate às injustiças sem o apoio
político. Entendemos daí a razão pela qual optou por defender os índios
quando regressou definitivamente para a Espanha, junto ao rei e ao
Conselho das Índias.
Memorável é, todavia, seu pensamento sobre a evangelização,
pensamento este amadurecido aos poucos. Formulou seu pensamento
baseado em alguns pontos como textos bíblicos, concílios, santos padres,
teólogos, canonistas e utilizou fontes auxiliares como os filósofos,
naturalistas, juristas e historiadores. Um resumo sobre o seu conceito de
evangelização extraído de sua obra “De único vocationis modo”.
Fala sobre a predestinação ou eleição divina e sobre o convite à fé cristã:
“Os eleitos... tem que ser reunidos e chamados de entre todas as nações,
tribos e línguas e dos lugares mais afastados do mundo todo”. De maneira
que “não há nenhum povo ou nação, em toda a redondeza da terra, que
fique inteiramente privada deste beneficio gratuito da divina liberalidade...
e, portanto o mesmo se tem de entender, crer e afirmar das nações e
gentes deste novo mundo das Índias”.
O segundo capítulo da obra diz que sobre o convite à fé e à religião cristã,
no que se refere à condição moral particular dos homens das diversas
nações, tribos e línguas.
O terceiro capítulo, seguindo o raciocínio, afirma sobre a predestinação e
convite à fé e à religião cristã, no que toca a condição intelectual dos
homens das diversas nações, tribos e línguas.
O capítulo quarto fala sobre a condição intelectual dos índios do novo
mundo: “Afirmamos não somente que é muito razoável admitir que muitas
nações indígenas tenham diversos graus de inteligência natural, como
acontece com o resto dos povos, mas também que todas elas estão dotadas
do verdadeiro engenho; e ainda mais, que nelas há indivíduos, e em maior
número que nos outros povos da terra, de entendimento mais avisado para
a economia da vida humana. E que se alguma vez chega a faltar esta
penetração ou sutileza de engenho, isso acontece, sem dúvida nenhuma,
com menor número de indivíduos, ou melhor, com um número
insignificante.
No quinto capítulo, Las Casas fala sobre a natureza e fundamentos do modo
verdadeiramente natural, geral, uniforme e único como tem de ser
chamados e convidados à fé em Cristo e à religião cristã, os eleitos e
predestinados. Tese principal: “A Providencia divina estabeleceu, para todo
o mundo e para todos os tempos um só, mesmo e único modo de lhes
ensinar aos homens a verdadeira religião, a saber: a persuasão do
entendimento por meio de razões e o convite e suave moção da vontade.
Trata-se, sem dúvida, de um modo que deve ser comum a todos os homens
do mundo, sem distinção de seitas, erros ou corrupção de costumes”. Las
Casas fala então de cinco condições para pregar o evangelho, de acordo
com a intenca e o mandato de Cristo.
A primeira “é que os ouvintes e mui especialmente os infiéis, compreendam
que os pregadores da fé não tem nenhuma intenção de adquirir domínio
sobre eles com a sua pregação”.
A segunda consiste em que “os ouvintes e sobretudo os infiéis entendam
que não os move a pregar o evangelho a ambição de riquezas”.
A terceira é que os pregadores sejam benignos e benévolos com aqueles a
quem ensinam, por mais que “resistam à verdade ou se neguem a escutar
ou desprezem o que tem ouvido”.
A quarta, mais necessária que as anteriores, é que o pregador arda em
amor de caridade por aqueles a quem ensina, visto que são irmãs da
caridade a serenidade, a paciência e a benignidade.
A quinta, mas importante para Las Casas, apoiada na autoridade de
Crisóstomo: “uma vida exemplar e irreprochável que a ninguém ofenda e
que seja totalmente irrepreensível; porque quem ensina deve apresentar-se
a si mesmo como exemplo de suas palavras”.
O capítulo seis fala sobre o modo de pregar o evangelho contrário ao
instituído por Cristo: “É contrário ao modo instituído por Cristo submeter os
infiéis pela força, mediante a guerra, ao império dos cristãos, com meio de
tirar os impedimentos que possa encontrar a pregação da fé e de preparar
as vontade para receber a fé e a religião cristã”.
Finalmente o capítulo sete fala sobre a guerra que se faz aos infiéis que
nunca tem ouvido falar de Cristo nem de sua igreja, nem a tem ofendido de
nenhum modo: “essa guerra é temerária, injusta e tirânica”. Os
responsáveis cometem um gravíssimo pecado mortal e estão obrigados à
restituição por todos os danos e prejuízos.
Avaliação crítica
Esboçado o seu programa, resta-nos fazer algum comentário. Las
casas lutou valorosamente em favor do índio, movido por um grande ideal
de evangelização. Isto somente foi possível pela sua grande sensibilidade
para o sofrimento humano; e também pela sua percepção do evangelho, da
missão de Cristo e da igreja como anunciadora e realizadora da salvação de
cada homem e de todos os povos. Bartolomeu percebeu as exigências
éticas que provém do evangelho e daí sua denúncia dos abusos contra o
índio no processo colonizador.
Todavia, algumas ressalvas devem ser feitas. Não superou a ideologia
da cristandade, na qual a evangelização identificou-se com a cultura. O
índio não entrou como “o outro” em pé de igualdade com o europeu
cristão; ele ainda é “objeto”da evangelização, “infiel”a quem não se pode
fazer violência, mas que deve pacificamente e com caridade ser convertido.
Além disso, Las Casas é alguém que está dentro daquela sociedade e
pro isso, é incapaz de perceber a raiz do mal, ou seja, a nova etapa do
capitalismo expansionista comercial que exigia a exploração intensiva dos
habitantes do novo mundo para a exportação à velha Europa. Os seus
apelos evangelizadores caem num certo reformismo e num vazio porque
não conseguem perceber o sistema colonial como totalidade de exploração
e de morte. Por isso é que ele tentou junto à monarquia, junto ao poder
papal fazer algo pelos índios, exatamente porque não tinha consciência da
lógica colonial.
Contudo, sem dúvida podemos afirmar que foi Bartolomeu que levou
mais a sério as exigências éticas da evangelização; foi quem mais chegou
longe na denúncia dos abusos cometidos contra o “ideal evangelizador da
conquista”. Não pode fazer mais porque o ideal do sistema colonial era
muito mais forte que esse ideal evangelizador e por isso naquele regime de
cristandade, não foi percebido.
OUTROS EVANGELIZADORES
Pe. Jerônimo Oré, OFM, assinalou algumas qualidades que o
missionário deve ter quando trabalha na obra do Senhor. Segundo ele,
santidade, capacidade, suficiência em letra e línguas, prudência, são
características fundamentais do missionário. Porém, quer que antes de tudo
o missionário viva na simplicidade. Dizia que os índios são mansos como
cordeiros, porém adivinham imediatamente quem são os missionários e que
não o são. Deseja que o missionário seja como São Paulo: “fazer-se tudo
para todos”.
O agostiniano, Pe. Antonio Carancha em sua obra “Crônica
Geral”adverte: “Porque somos enviados a pregar a essas gentes que na tem
conhecimento de Deus, somos obrigados à mais perfeita maneira de viver,
não somente diante de Deus Nosso Senhor, mas também diante dos
homens”.
Merece ainda destaque o franciscano Francisco de Vitoria. Vitoria
defende que os índios ainda que sendo bárbaros, não perdem nem sua
liberdade nem o domínio sobre seus bens. Dizia:”porque não são idiotas
tem ao seu modo, uso da razão, leis, religião”. Se eles parecem “idiotas”é
porque não tiveram uma educação adequada, mas é susceptível de
aperfeiçoamento.
CAPÍTULO VI
AS REDUÇÕES JESUÍTICAS NO PARAGUAI
CAPÍTULO VII
CONQUISTA E EVANGELIZAÇÃO: VISÃO INDÍGENA
1. TESTEMUNHO ASTECA
Existe um poema composto perante a tragédia do massacre dos
sacerdotes e da nobreza no templo maior e a posterior destruição da cidade
do México.
Contexto. Cortez desembarcou nas costas de Veracruz, México, no dia
22 de abril de 1519. A noticia que chegou até a corte de Motecuhzoma
causou temor e perplexidade. No dia 8 de novembro de 1519, Cortez é
recebido por Motecuhzoma na calçada de Ixtapalapa, na entrada de
Tenochtitlán, a capital do reino asteca. Os astecas se reúnem para celebrar
a grande festa de Toxcatl, perto da páscoa de 1520. Alvarado, que ficou no
lugar de Cortez cerca o templo maior e liquida a elite dirigente, religiosa e
econômica da capital, enquanto o rei e sua família são presos.
Cortez quando volta tem que fugir e retorna com 80.000 soldados
tlaxcaltecas e de outros povos inimigos dos astecas. É feito um cerco na
capital, que era cercada por terra e água submetendo a população à fome e
ao desespero. A cidade cai no dia 13 de agosto de 1521. Eis o poema:
“Isso tudo aconteceu conosco.
Nós vimos, estamos estupefatos
com essa triste e lamentosa sorte,
nos vimos angustiados.
Nos caminhos jazem dardos quebrados;
os cabelos estão espalhados.
Destelhadas estão as casas,
ensangüentados os seus muros.
Vermes abundam por ruas e praças,
e as paredes estão manchadas de miolos arrebentados.
Vermelhas estão as águas, como alguém as tivesse tingido,
e, se as bebíamos, eram água de salitre.
Golpeávamos os muros de adobe em nossa ansiedade
e nos restava os muros por herança uma rede de buracos.
Nos escudos esteve nosso resguardo,
mas os escudos não detém a desolação.
Temos comido pão de colorin
temos mastigado grama salitrosa, pedaços de adobe,
lagartixas, ratos,
terra e pó e mais os vermes.
Comemos a carne quando mal havia sido colocada sobre o
fogo.
Uma vez cozida a carne, dali a arrebentavam, a comiam no
fogo mesmo”.
Ao mesmo tempo em que pedem aos missionários que nada façam que
cause desgraça ou faca perecer o povo, tem consciência das conseqüências
da conquista espiritual: deixai-nos, pois morrer, pois nossos deuses já estão
mortos.
Quando os deuses morrem, os homens não têm mais porque continuar
vivendo. Um chefe indígena do Peru, referindo-se aos missionários assim se
expressou: “os espanhóis nos matam por fora; eles nos matam por
dentro”.
Se a experiência da conquista foi a experiência da destruição física, a
experiência da conquista espiritual, da maneira como foi conduzida
representou a destruição da razão de viver, a morte interior do mundo e do
homem indígena. Tanto mais que a religião estava ligada à experiência
coletiva das festas e do culto, das danças, dos lugares sagrados – e tudo
isso foi destruído.
2. TESTEMUNHO MAIA
Os maia viviam na atual área quiche da Guatemala. A presença dos
espanhóis no pais dos astecas causou entre eles muita discussão. Em 1524
perguntavam-se se deveriam ou não receber os espanhóis. Devem enfrentá-
los defendendo sua vida e liberdade, ou tentar salvar a vida, pagando um
tributo e submetendo-se? Os debates religiosos também se instalaram.
Chegaram até nós os Anais dos Cakchiqueles e poemas e escritos de Chilam
Balam. Alguns textos soa premonições proféticas, advertindo o povo dos
males que hão de sobrevir com a chegada dos “estrangeiros de barba
ruiva”. No México, Cortez é confundido com o retorno do Quetazlcoatl, e
tratado como mensageiro dos deuses; no âmbito maia já há um trabalho de
desmistificação e os espanhóis são vistos como “dzules”, ou estrangeiros.
Eis a profecia de Chumnanyel e Tizimin:
“Ai! Entristeçamo-nos porque chegaram!
Do oriente vieram, quando chegaram a esta terra os
barbudos,
os mensageiros do sinal da divindade,
os estrangeiros da terra, os homens ruivos...
... Ai! Entristeçamo-nos porque eles chegaram!
Ai de Itzá, Bruxo da água,
pois vossos deuses já não protegerão mais!
Este Deus Verdadeiro que vem do céu só de pecado
falará,
só de pecado será o seu ensinamento.
Inumanos serão seus soldados, cruéis seus cães bravos.
... Ai de vós, meus irmãos menores,
que no 7 Ahau Katun vereis excesso de dor
e excesso de miséria, pelo tributo reunido com
violência,
e antes de tudo entregue com rapidez!
Diferente tributo amanhã e finda a manhã, dareis;
Isto é que vem, filhos meus!
Preparai-vos para suportar a carga da miséria
que vem sobre vossos povos.
3. TESTEMUNHO INCA
O império inca media uns quatro mil quilômetros quadrados, Cuzco era
o centro do império, onde estava o templo do sol.
O encontro entre Pizarro e o Inca Atahualpa foi através da troca de
presentes, mas bem depressa a traição, a cobiça, a prisão do Inca e sua
morte repetem a tragédia mexicana.
O testemunho inca da conquista e evangelização chegou-nos através
do escrito de Guamán Poma, quéchua de pura linhagem, convertido, porém
sempre defendendo os indos com uma consciência fantástica. Nasceu por
volta de 1526 e morreu quando tinha 88 anos de idade. Sua obra vem
acompanhada de 300 desenhos, que nos dão uma visão perturbadora da
tragédia indígena. Sua obra foi publicada pela primeira vez em 1936.
Poma narra o encontro trágico de Atahualpa e Pizarro em Cajamarca,
onde o Inca estava com sua corte e 100.000 índios. Os espanhóis já haviam
tomado suas posições nos pontos mais altos e estratégicos da praça.
“Depois desta resposta entre Frei Vicente, levando na mão direita
uma cruz e na esquerda o breviário. E diz ao dito Atahualpa Inca
que também é embaixador e mensageiro do outro senhor, mui
grande amigo de Deus e que fosse seu amigo e que adorasse a cruz
e cresse no evangelho do Deus e que não adorasse nada que tudo o
resto era coisa de motejo. Responde Atahualpa Inca e diz que não
tem que adorar a nada senão o sol que nunca morre, nem seus
guacas e deuses (que) também tem a sua lei: aquilo que guardava.
E perguntou o dito Inca a Frei Vicente quem lhe havia dito.
Responde Frei Vicente que isso lhe havia dito o evangelho, o livro.
E disse Atahualpa: dêem-me o livro e o tomou nas mãos; começou a
folhear as folhas do dito livro. E disse o dito Inca que, como não me
disse nada, nem me fala a mim o dito livro, falando com grande
majestade sentado em seu trono, e arremessou o dito livro das
mais, o dito Inca Atahualpa. Como Frei Vicente ordenou e disse:
acudam aqui, cavaleiros, estes índios gentios são contra nossa fé!
E Dom Francisco Pizarro e Dom Diego de Almagro, por sua vez,
ordenaram e disse: ataquem cavaleiros, estes infiéis são contra
nossa cristandade e nosso imperador e rei; demos neles!...”
Poma recolhe de maneira eloqüente o trágico mal entendido que se
estabelece entre os dois mundos. O Inca porta-se com altivez, dizendo que
não se via obrigado a tornar-se amigo do rei da Espanha, pois também ele é
grande rei em seus domínios.
Frei Vicente também se apresenta como mensageiro, não apenas do
rei, mas também do seu Deus, o único e verdadeiro, que devia ser adorado,
enquanto os outros deuses nada valiam, a prova do que dizia estava no livro
dos evangelhos. Ao ver que o livro nada lhe falava, Atahualpa, homem de
cultura oral, lança o livro por terra. À palavra do Frei Vicente: “Ataquem
cavaleiros, a estes infiéis... que são contra nossa cristandade e nosso
imperador e rei...” começa a carnificina dos índios sob a pata dos cavalos,
os tiros dos arcabuzes e o pânico que se apoderou da multidão.
O resultado da conquista armada e espiritual: massacre,
despojamento, redução do índio e no caso do seu rei e imperador a um
prisioneiro humilhado e depois levado injustamente, numa farsa de
processo, ao cadafalso.
Guamán conclui com uma ponta de ironia lançada aos cristãos, ao
narrar a morte de Atahualpa: “e asi se fue causa que Le matasen,
cortasen La cabeza, a Atahualpa Inca, e murió mártir,
cristianisimamente em La ciudad de Cajamarca, acabo sua vida”.
Morreu mártir e cristianissimamente o primeiro dentre os incas, mas
não os espanhóis e os frades que o acompanhavam. Sobre eles o juízo de
Guamán é implacável. Os espanhóis espalharam-se pelo país, “...
buscando cada um suas vantagens... fazendo muitos grandes males
e danos aos índios, pedindo-lhes ouro e prata, tirando-lhes suas
vestes e comida e os quais se espantaram por ver gente nunca
vista e assim se escondiam e fugiam dos cristãos”, “...como depois
de haver conquistado e de haver roubado começaram a tomar as
mulheres e donzelas e a estuprá-las e não querendo, matavam
como a cachorros e castigavam sem temor de Deus nem da justiça.
Não havia justiça”.
Na sua linguagem sofrida de índio quéchua que teve que assimilar a
língua do conquistador, que se fez cristão e por isso mesmo tem alta
consciência da radicalidade do evangelho, Guamán constrói um testemunho
impar do que foi a conquista. Ao mesmo tempo, a partir de sua fé cristã,
descobre mais cristianismo no índio esmagado, no rei condenado
injustamente do que nos funcionários, magistrados e padres espanhóis, cujo
Deus era o ouro e a prata.