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Resumo

Vigilância Entomológica e
Controle de Vetores do Dengue O texto discorre sobre a ecologia do Aedes
aegypti, apontando questões relevantes para
a transmissão do dengue e para o seu con-
trole. Indica temas a serem investigados na
Entomological Surveillance and atual conjuntura epidemiológica da doença
no Brasil, procurando apontar algumas la-
Control of Dengue Fever Vectors cunas da compreensão da ecologia dos mos-
quitos, que poderiam contribuir para o apri-
moramento e revisão dos programas de
controle desses vetores no país.
Foi abordada a influência das condições cli-
máticas (temperatura, pluviosidade, altitu-
de) no ciclo vital dos vetores, além da adap-
tação das espécies a diferentes contextos
ecológicos e sociais, de relevância para a vi-
gilância entomológica. Também foram re-
vistas as principais investigações sobre a
domiciliação, dispersão, repasto e reprodu-
ção dos vetores do dengue, além da compe-
tência e capacidade vetorial, chaves na com-
preensão da disseminação da doença e na
organização das medidas de controle.
Foi também abordada a resistência do Aedes
aegypti, cujo tema tem sido pesquisado em
várias partes do mundo. Ressaltou-se a im-
portância do monitoramento sistemático do
tratamento químico durante as ações de
campo. Foram apresentadas de forma resu-
mida, as alternativas mais comumente utili-
zadas no controle físico, químico e biológi-
co pelos programas de controle de Aedes
aegypti no país.

Palavras-chave: Aedes aegypti. Dengue. Vi-


Maria Rita Donalísio gilância entomológica. Programa de contro-
Professora Assistente Doutora - Epidemiologia le. Ecologia de vetores.
Departamento de Medicina Preventiva e Social
Faculdade de Ciências Médicas
Universidade de Campinas
Caixa Postal 543 – Botucatu, SP, CEP 18618-970
E-mail: rita@fmb.unesp.br

Carmen Moreno Glasser


Doutora em Epidemiologia - Diretora de Combate a Vetores
Mestre em Saúde Pública
Superintendência de Controle de Endemias
Secretaria de Estado da Saúde – São Paulo, SP
E-mail: carmen@sucen.sp.gov.br

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Vol. 5, Nº 3, 2002
Abstract Após 50 anos, o dengue ressurgiu em Boa
Vista, Roraima, em 1981, envolvendo os vírus
This paper is about the ecology of Aedes sorotipos 1 e 4 que circulavam na América Sul
aegypti and addresses some relevant ques- e Central na ocasião1. Porém, foi com a exten-
tions on dengue fever transmission and con- sa epidemia de 1986 no Rio de Janeiro e a dis-
trol. It identifies issues to be investigated, seminação para regiões vizinhas que as ações
considering the current epidemiological de vigilância e controle dos vetores do dengue
context of dengue fever in Brazil. Another tornaram-se prementes no Brasil. Estas ações
aim of this text was to detect gaps in the un- foram sendo organizadas pelo Ministério da
derstanding of the ecology of Aedes aegypti, Saúde (MS), Secretarias Estaduais de Saúde e
which could be important to improve and municípios em regiões acometidas, de forma
review vector control programs in the coun- heterogênea e intermitente. A partir de 1997,
try. com o Plano Diretor de Erradicação do Aedes
This paper reviewed studies that show the aegypti no Brasil (PEAa), seguido pelo Plano
influence of climatic conditions (tempera- de Intensificação das Ações de Controle de
ture, rainfall, and altitude) in insect file cycle. Dengue, o MS aumentou o repasse de recur-
It also identified scientific investigations on sos a municípios brasileiros para descentrali-
the dispersion, domestic habits, blood feed- zar e (re)organizar ações de eliminação dos
ing, reproduction, and vector competence vetores e educação em saúde2.
of the Aedes aegypti. It discusses the rel- Entretanto, pouco se conhece sobre o real
evance of this information on the dissemi- impacto destas medidas sobre a dissemina-
nation of the disease and organization of ção da virose no país. Torna-se relevante o
control measures. incremento da investigação da epidemiologia
Vector insecticide resistance has been stud- do dengue e de seus vetores por parte de gru-
ied in many parts of the world, so this study pos de pesquisa já constituídos, além do in-
also emphasizes the importance of system- centivo à pesquisa operacional para respon-
atic monitoring of chemical utilization in the der de forma ágil questões específicas dos
field. It briefly presents some common physi- programas de controle e avaliar o impacto
cal, chemical, and biological alternative con- destas ações.
trol measures used in Brazil. Entre as principais linhas de investigação
está a ecologia dos vetores, pilar central da
Keywords: Aedes aegypti. Dengue fever. vigilância entomológica. Contudo, ainda há
Entomological surveillance. Control pro- muito a ser investigado sobre o comporta-
gram. Vector ecology. mento do Aedes aegypti e de outros vetores.
Serão apontadas neste texto algumas ques-
tões relevantes da ecologia destes mosqui-
tos que influenciam a transmissão do den-
gue e o seu controle. Outras investigações
igualmente importantes ligadas ao vírus e às
populações humanas não foram tratadas
neste texto, entre elas: imunidade de grupo,
evolução filogenética do vírus, vigilância
virológica e epidemiológica e novas aborda-
gens educativas e de incentivo à participa-
ção da comunidade no controle da doença.

Fatores que Influenciam a


Transmissão do Dengue

A disseminação do dengue acompanha

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o homem e seus empreendimentos, migra- conterem água. Isso sugere que o referido
ções, deslocamentos e aglomerações no de- pico de transmissão não esteja tão relacio-
correr da história3,4. Estudos sobre os rit- nado com a densidade do vetor, mas sim
mos da circulação viral em variados contex- com o aumento da sobrevida dos mosqui-
tos facilitam a maior compreensão dos ca- tos adultos nas condições de temperatura e
minhos da transmissão em diferentes áreas umidade da estação chuvosa, incrementando
habitadas5 . a probabilidade de fêmeas infectadas com-
Embora o dengue seja uma doença ur- pletarem o período de replicação do vírus,
bana registrada principalmente em áreas tornando-se infectantes14. No estado de São
superpovoadas, com freqüência são notifi- Paulo, verificou-se que a temperatura atuou
cados surtos em regiões rurais, com menor como fator modelador do processo de
concentração populacional4,6,7. infestação por Aedes aegypti de várias regi-
Diante da grande capacidade de adapta- ões, observando-se, no entanto pequena in-
ção do Aedes aegypti e Aedes albopictus face fluência dos índices pluviométricos15.
a conjunturas sociais e urbanas diferencia- A temperatura (isotermas de 10o C em
das, muitos pesquisadores têm se dedicado latitudes norte e sul) impõe limites à distri-
a examinar a ecologia destes mosquitos, pro- buição de dengue no mundo. O Aedes
curando desvendar seus comportamentos e aegypti raramente persiste fora dos parale-
hábitos preferenciais na natureza e no espa- los 45o N e 35o S. Projeções de elevação de 2o
ço habitado pelo homem. C da temperatura para o final do século XXI
provavelmente aumentarão a extensão da
Condições Climáticas latitude e altitude da distribuição do dengue
no planeta16. Como conseqüência, espera-
Uma forte associação foi estabelecida se a ampliação do período de transmissão
entre a incidência do dengue e as estações sazonal, a diminuição da idade média de in-
chuvosas, altas temperaturas, altitudes e fecção primária e secundária, e o aumento
ventos. Desde 1954-58, epidemias no Sudes- dos casos de reinfecção, de febre hemor-
te Asiático, assim como no México, Brasil, rágica do dengue e de síndrome do choque
Caribe, na década de 80 e 90, foram regis- do dengue em populações ainda pouco aco-
tradas em estações chuvosas8-11. Mas alguns metidas17.
autores ressaltaram que a chuva teria maior A influência da temperatura na transmis-
influência nos níveis de infestação de Aedes são do dengue foi largamente investigada,
albopictus, cuja oviposição se dá preferen- pois interfere nas atividades de repasto san-
cialmente fora do domicílio. O Aedes aegypti, guíneo das fêmeas dos mosquitos, em sua
vetor marcadamente domiciliado, utiliza di- longevidade e no período de incubação
versos tipos de criadouros cuja água inde- extrínseco do vírus. Principalmente as tem-
pende da chuva e, dessa forma, são menos peraturas mínimas registradas no dia, mais
afetados pela sazonalidade12. Mogi e cola- que as médias diárias, foram associadas à
boradores, em 1988, demonstraram aumento transmissão de dengue sazonal em Bankok18.
da prevalência do Aedes albopictus no final Em estudo epidemiológico realizado no
da estação chuvosa nas áreas rurais japone- México, Koopman e colaboradores (1991)
sas, deslocando o Aedes aegypti, o que se verificaram que a temperatura média du-
invertia na estação seca13. Em países tropi- rante a estação chuvosa correspondeu ao
cais como a Tailândia e a Indonésia, o pico mais forte preditor de infecção por dengue
da ocorrência de casos de dengue hemor- naquele país11. Modelo matemático estimou
rágico coincide com os meses de maior o período de incubação extrínseco do vírus
pluviosidade9. No entanto, o principal habitat a 22oC de 16,67 dias e a 32oC de 8,33 dias ou
larvário em ambos os países corresponde a seja, fêmeas infectadas submetidas a eleva-
depósitos de armazenamento de água, os das temperaturas (32oC) teriam 2,64 vezes
quais geralmente independem da chuva para mais chance de completar o período de in-

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cubação extrínseco do que aquelas subme- Trpis e Hausermann identificaram, na
tidas a baixas temperaturas19. África, de onde provavelmente o Aedes
A altitude também é indicada como um aegypti é originário, três populações diferen-
fator limitante na reprodução do vetor, po- tes quanto ao grau de domiciliação: a popu-
rém a epidemia de dengue pelo vírus DEN-1, lação doméstica, que utiliza recipientes arti-
em 1988, em Taxco, Guerrero, no México, a ficiais localizados no intradomicílio como
1.735m, foi a primeira notificada em altitudes criadouros preferenciais, local também de
maiores que 1.700m. Outra epidemia de den- repasto sanguíneo e repouso; a população
gue em altitudes pouco usuais ocorreu no peridoméstica, que utiliza recipientes artifi-
México, em Tlayacapan, Moretos (1.630m). A ciais e naturais no peridomicílio como
abundância de reservatórios de água na co- criadouros onde também realiza o repasto
munidade possibilitou a adaptação do vetor sangüíneo e o repouso; a população silves-
e a ocorrência de transmissão em ambiente tre que utiliza recipientes naturais localiza-
ecológico, onde se acreditava ser improvável dos na floresta como criadouros e realiza o
a ocorrência de surtos20. repasto e repouso, também na floresta. A
Desta forma, é estratégica a vigilância população silvestre pode se dispersar e ser
entomológica e epidemiológica em situações encontrada no habitat peridomiciliar, mas
não usuais, procurando evidenciar adapta- nunca no intradomiciliar. Demonstraram
ções das espécies de vetores em diferentes também a hereditariedade das característi-
contextos ecológicos regionais e sinalizando cas comportamentais relacionadas ao grau
períodos de ocorrência/expansão de epide- de domiciliação de diferentes populações21,22.
mias. No Estado de São Paulo, estudo realizado
com as informações referentes ao conjunto
Domiciliação, Densidade, e Dispersão dos recipientes pesquisados (2,6 milhões) para
dos Vetores avaliação de densidade larvária, durante os
anos de 1993 e 1994, mostrou que 88% dos
A densidade e o grau de domiciliação dos focos larvários de Aedes aegypti estavam no
vetores de dengue influem na capacidade peridomicílio23. Em Santos, três áreas dife-
vetorial das populações do mosquito em di- rentes mostraram resultados semelhantes:
ferentes regiões e momentos. A seguir serão 91% dos focos no peridomicílio24. No entan-
abordados aspectos da ecologia desses vetores to, em investigação realizada em cidade
relacionados com essas três variáveis. endêmica para dengue no oeste paulista, ve-
rificou-se que das 185 fêmeas adultas de Aedes
Domiciliação aegypti capturadas, apenas 12,7% encontra-
O grau de domiciliação de uma popula- vam-se no peridomicílio. Ou seja, ao contrá-
ção de vetores é medido pela intensidade da rio das formas imaturas, as fêmeas adultas
relação entre essa população e a humana. predominam no intradomicílio25.
Em uma população em particular, depende É necessário investigar o comportamen-
do número e das combinações de feições to das populações deste vetor no domicílio
comportamentais controladas geneticamen- para esclarecer se a distribuição dos focos
te, tais como habilidade de entrar nas larvários é conseqüência apenas da peque-
edificações, oviposição e desenvolvimento na oferta de recipientes com água no
das larvas em recipientes artificiais no intradomicílio ou também da preferência de
intradomicílio, utilização das casas como a Aedes aegypti realizar oviposição no
abrigo para repouso, acasalamento e repasto peridomicílio.
com sangue humano, também no intra-
domicílio21. Por outro lado, o comportamen- Criadouros preferenciais
to da população humana exerce pressão se- Para a compreensão das epidemias e
letiva sobre a população do vetor no pro- direcionamento das ações de controle, é fun-
cesso de domiciliação. damental conhecer os fatores que influem na

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densidade de mosquitos, tais como a estru- Infestação e produtividade vetorial
tura urbana de saneamento, os aspectos só- Já que o controle de vetores tem sido a
cio-econômicos e culturais das comunidades única opção para reduzir a incidência do
humanas, pois deles dependerão a estocagem dengue, o desenvolvimento de indicadores
de água, tipos de utensílios utilizados, forma entomológicos é essencial para o sucesso das
de descarte de materiais inservíveis, caracte- ações de campo30,31.
rísticas das edificações, deslocamentos de São muitos os métodos para estudo
mercadorias, entre outros. entomológico factíveis de utilização pelos
Na África sub-saariana existe grande va- programas de controle de vetores, entre eles,
riedade regional no uso de recipientes para pesquisa larvária direta, armadilhas de lar-
armazenamento de água, sendo que em po- vas e ovos, e captura de adultos, este último
pulações nômades do norte, o pequeno de difícil operacionalização em campo32.
armazenamento de água diminui a possibi- Há muitas controvérsias sobre o real sig-
lidade de reprodução do Aedes aegypti26. nificado e as limitações da utilização dos in-
Uma variedade de reservatórios naturais de dicadores usuais dos programas de controle
água como bambus, ocos de árvores e de de vetores, não somente no Brasil31,32. Mui-
pedras foram apontados como criadouros tos programas os utilizam em conjunto. Na
de Aedes aegypti, Aedes albopictus e Aedes maioria dos casos, os criadouros estão agre-
vittatus, em Mali26. No Suriname, as calhas gados e a positividade de larvas se concentra
das edificações são apontadas como impor- em poucos imóveis, o que favorece a utiliza-
tantes criadouros de Aedes aegypti a serem ção do Índice de Breteau. O Índice de Reci-
considerados nos programas de controle27. pientes não dá informações sobre a quanti-
No Brasil, vários pesquisadores têm iden- dade de criadouros existentes e o Índice Pre-
tificado vasos de plantas, pneus, caixas dial não dá idéia sobre o número de cria-
d’água, floreiros em cemitérios, como douros positivos existentes, por domicílio.
criadouros preferenciais das espécies de O problema mais sério desconsiderado pe-
vetores, com diferentes padrões conforme los três indicadores é a produtividade dos
a época do ano investigada28,29. Em Santos, criadouros32,33.
após extensas campanhas educativas para Outros indicadores entomológicos do
eliminação de criadouros “convencionais”, nível de infestação têm sido propostos:
vem se registrando a predominância de fo- positividade e número médio de ovos por
cos de Aedes aegypti em ralos e canaletas de armadilhas de oviposição, número de larvas
drenagem pluvial, em bairros residenciais ou de pupas por 100 casas inspecionadas,
com adequada estrutura urbana, em plena número de criadouros positivos por 1000
estação epidêmica24. pessoas, número de larvas por 1000 pessoas.
Há muito que se conhecer sobre os há- Estes últimos trazem maiores informações
bitos das populações humanas às suas ne- epidemiológicas, porém requerem um cen-
cessidades, para facilitar a motivação dos so da população humana local, de difícil
indivíduos e dessa forma obter maior parti- operacionalização 33. As armadilhas de
cipação e co-responsabilidade na prevenção oviposição têm sido utilizadas em vários pa-
de epidemias. Identificar potenciais criadou- íses e testadas no Brasil, revelando-se supe-
ros e estudar alternativas para eliminá-los é riores à pesquisa larvária, particularmente
parte das tarefas de pesquisadores, particu- em situações com índices de infestação pre-
larmente em investigações vinculadas aos dial menores de 5%, porém não fornecem
programas de controle. Por outro lado, é informações sobre a distribuição e tipos de
necessário manter permanente vigilância criadouros predominantes.
sobre a capacidade do vetor de se adaptar Focks e colaboradores, em 1997 procu-
com outros tipos de recipientes, à medida raram estabelecer correspondência entre os
que se diminui a oferta dos criadouros inici- índices usualmente utilizados e o número
almente preferenciais. de pupas por hectare, sugerindo ser este o

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indicador mais apropriado para avaliar o ris- to adulto fêmea é em média de 30 a 50
co de epidemias e direcionar operações de metros,, o que limita suas visitas a 2 ou 3
campo34. Vários autores têm se dedicado a casas durante sua vida, porém sua dispersão
estabelecer relações entre estes índices, cer- depende da disponibilidade de criadouros,
tificando-se que não traduzem a dinâmica podendo então ser mais longa38,39. Assim,
da infestação, variada em diferentes contex- fêmeas adultas com poucos locais de
tos urbanos e sociais33-35. oviposição são mais eficientes para a disper-
Nem sempre os níveis de infestação são do vírus33.
larvária apresentam correlação com a inci- Sheppard e colaboradores (1969) utiliza-
dência de dengue, sendo registrada trans- ram técnicas de liberação e recaptura de
missão na vigência de Índices de Breteau Aedes aegypti notando que a distância per-
baixos34-36. corrida é maior nas primeiras 24 horas, sem
Ressalta-se a necessidade de buscar me- influência aparente da época do ano, em
lhores indicadores que possam predizer ris- Bangkok40. Machos se movem mais que fê-
cos de transmissão viral e que sejam de fácil meas, porém vivem menos, o que pratica-
manejo pelos programas de controle. É im- mente iguala a distância percorrida. A iden-
portante propor e validar modelos preditivos tificação de clusters de casos pode fornecer
que estimem densidade de vetores, risco de parâmetros de dispersão e comportamento
epidemias, incluindo variáveis ecológicas e de vetores valiosos para as estratégias de
sociais, expondo o que há de universal nes- controle.
tes modelos e o que deve ser particularizado Estudos sobre a dispersão dos vetores
por regiões. em diferentes contextos urbanos, na vigên-
Sobre a produtividade dos focos, há gran- cia de programas de controle e do uso de
de variação entre os criadouros, podendo inseticidas podem indicar as melhores es-
ser pequenos e produtivos, grandes e pouco tratégias, prazos e procedimentos para blo-
produtivos ou variarem sua importância queio de focos de mosquitos infectados em
conforme as estações do ano. momentos epidêmicos, no início da trans-
A produtividade dos focos é determina- missão e em períodos inter epidêmicos.
da principalmente, pelo tamanho do recipi-
ente,, oferta de nutrientes para as larvas e a Repasto e Reprodução do vetor
densidade larvária no criadouro. Alguns fun- Uma vez infectada a fêmea do Aedes, esta
cionam como alimentadores de outros assim permanece por toda a sua vida, mes-
criadouros na vizinhança, contribuindo de mo depois de repetidos repastos em huma-
maneira significante para a infestação local37. nos. Realiza vários repastos antes de com-
Estes fatores modulam as chances de de- pletar seu ciclo gonotrófico, contribuindo
senvolvimento larvário, o tamanho do vetor para o maior potencial de disseminação da
e conseqüentemente seu alcance de vôo, virose. Em estudo realizado em município
número de ovos por fêmea, competência do estado de São Paulo, endêmico para den-
vetorial e a dispersão viral. Em estudo reali- gue, sobre o estado fisiológico de fêmeas de
zado na Baixada Santista, SP, região de ele- Aedes aegypti, encontrou-se 10,1% de
vada incidência de dengue, verificou-se que oníparas (fêmeas que ovipuseram pelo me-
as calhas, caixas d água e ralos apresenta- nos uma vez) e 27,0% de nulíparas. Porém,
ram pupas com peso médio maior que o 62,9% das fêmeas encontravam-se nas fases
daquelas produzidas em outros tipos de re- III, IV e V, nas quais não é possível diagnos-
cipientes. Além destes criadouros, o pneu e ticar a paridade (Cristopher, 1911, e Mer,
o tambor também foram identificados como 1936, citados por Barata e colaboradores) e,
recipientes de maior produtividade24. destas, 45,3% foram consideradas grávidas
(fases IV e V). Considerando-se a elevada
Dispersão ativa do vetor antropofilia da espécie em meio urbano25,
A dispersão espontânea de um mosqui- 87,9% das fêmeas examinadas tiveram os

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humanos como fonte de alimentação. Ou- albopictus pelos 4 sorotipos de dengue45,46.
tras investigações sobre aspectos fisiológi- O tamanho do vetor e a origem geográfica
cos de vetores são importantes para carac- de cepas do Aedes aegypti estão relaciona-
terizar as populações de várias regiões do dos com a susceptibilidade de infecção oral
país. pelo vírus do dengue, suspeitando-se de ris-
Estudos recentes têm notificado a capa- cos diferenciados de disseminação viral de-
cidade de neutralização do vírus adquirido vido à prevalência de tipos de criadouros47 .
em segundo repasto, após o primeiro ser de O Aedes aegypti é reconhecidamente
sangue contendo anticorpos neutrali- menos susceptível que o Aedes albopictus e
zantes41. outras espécies de Aedes à infecção oral pelo
Platt e colaboradores (1997) mediram o vírus do dengue45,46. A elevada domesticidade
tempo médio de repasto de fêmeas infec- e antropofilia de Aedes aegypti e sua maior
tadas comparadas com não infetadas e no- resistência ao vírus, permitem que essa es-
taram uma maior duração da refeição em pécie se infecte, principalmente, a partir de
mosquitos infectados, fato que aumenta a pessoas com vírus que produzem altas
sua capacidade vetorial, como transmissor viremias, ampliando a circulação dessas ce-
de dengue, pois induz a fêmea à procura de pas, o que implicaria na ocorrência de casos
hospedeiros seqüenciais42. mais severos41,48.
A viremia em pacientes com dengue va-
Adaptação dos Vetores à Infecção Viral, ria segundo os dias de doença (pico nos 3
Competência e Capacidade Vetorial primeiros dias), a cepa viral e fatores indivi-
duais humanos, porém pouco se sabe sobre
Possivelmente, o dengue foi uma virose a magnitude da viremia no homem, neces-
de mosquitos em ciclos silvestres antes de se sária para infectar as várias espécies de
adaptar a primatas e humanos3. A provável vetores do dengue in vivo41,48.
origem africana do Aedes aegypti tem sido Outro aspecto que poderia interferir na
reforçada pela presença de numerosas es- dinâmica de transmissão do vírus do den-
pécies do gênero Flavivirus, tanto na Etiópia gue e na sua manutenção durante períodos
como em regiões orientais africanas. O vetor interepidêmicos é a transmissão transova-
adaptou-se à ecologia peridoméstica de pe- riana. Estudos experimentais sobre esse
quenas vilas antes do tráfico de escravos3. mecanismo têm mostrado que as taxas de
Variações na estrutura genética do Aedes transmissão do vírus de fêmeas de Aedes
aegypti foram relacionadas à diferente den- aegypti infectadas para seus descendentes
sidade populacional humana e ao uso de in- são muito menores que as obtidas para
seticidas em áreas urbanizadas no Taiti e em Aedes albopictus49. Estudo de laboratório
Moorea, na Polinésia Francesa43. Também com cepas do Aedes albopictus de vários
no México, a análise genética de populações países (Índia, Cingapura, Japão, USA-
de Aedes aegypti de 7 cidades sugere que, Houston), incluindo também a cepa do
em distâncias entre 90 a 250 km, populações Aedes aegypti procedente de USA-Houston,
de vetores se mantém geneticamente uni- mostrou uma variação das taxas de trans-
formes. Em distâncias maiores que 250 km, missão do vírus DEN-1 de fêmeas infectadas
foram detectadas diferenças em freqüência para seus descendentes de 0,5 a 2,9% para as
e tipos de alelos que afetam a transmissão cepas de Aedes albopictus avaliadas e uma
do dengue, em loci amplificados pela taxa de apenas 0,1 % para a cepa USA-
Polimerase Chain Reaction (PCR)44. Houston do Aedes aegypti49. No entanto, não
A competência vetorial tem sido difícil há comprovação da importância epide-
de se estabelecer em condições de campo. miológica da transmissão vertical do vírus
Estudos em laboratório certificaram grande na natureza50.
variação na infecção oral dos vetores de di- Além da capacidade do vetor de se
ferentes cepas de Aedes aegypti e Aedes infectar pelo vírus, de propiciar sua replica-

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ção e de transmiti-lo a novo hospedeiro em almente o contato com doses que resultari-
condições de laboratório (competência am letais54.
vetorial), discutida acima, é importante es- A experiência na utilização de inseticidas
tudar também a capacidade vetorial51. Se- orgânicos em repetidas aplicações para con-
gundo Forattini, esta é a propriedade de trole de mosquitos vem mostrando que a
transmitir a infecção ao homem em condi- resistência a esses produtos tem surgido após
ções naturais e depende da combinação de um período de anos de uso contínuo. As ati-
parâmetros relativos à competência vetorial vidades de controle têm requerido, então, o
com outros como a densidade, antropofilia, uso de novos inseticidas ou a sua substitui-
taxa de picada, taxa de sobrevivência diária ção por métodos físicos e agentes biológi-
e tempo de incubação extrínseco do vírus cos, durante o maior período possível55.
no organismo do vetor51. Embora a compe- A OMS tem divulgado o problema e as
tência vetorial de Aedes aegypti para o vírus formas de retardar os processos de resis-
do dengue seja menor do que a de algumas tência, além de padronizar os métodos de
outras espécies do gênero Aedes, são os de- detecção e vigilância desses processos. A
mais fatores relacionados com a capacidade detecção e o monitoramento de alteração
vetorial que fazem dessa espécie o principal da suscetibilidade em uma população de
vetor de dengue no mundo. vetores podem ser realizados por ensaios
São necessários investimentos para su- biológicos, bioquímicos e moleculares. Os
perar dificuldades na realização de estudos biológicos são importantes para detectar a
em laboratório sobre a bioecologia de Aedes alteração de resposta da população avaliada
aegypti e de Aedes albopictus, bem como por meio das taxas de mortalidade obtidas
dificuldades em criar colônias dos vetores nos ensaios; já os bioquímicos e os molecu-
do dengue, infectá-los in vitro, estabelecer lares podem detectar os mecanismos de re-
transmissão, determinar duração do ciclo sistências envolvidos, o que permite deter-
extrínseco, implantar metodologia no cam- minar a resistência cruzada a vários insetici-
po entomológico e virológico sem risco, além das, facilitando a escolha dos alternativos55.
de garantir a não contaminação de cultivos Apesar de não ser possível evitar o de-
celulares. senvolvimento de resistência em populações
Progressos em genética molecular, cujo de insetos expostas a inseticidas, é possível
alvo seja a competência do vetor em trans- retardar esse processo. Medidas de manejo
mitir patógenos para populações humanas, de resistência devem ser consideradas na
tornam possíveis alternativas para o contro- construção das estratégias de controle de
le da doença52,53. vetores. Os fatores envolvidos no processo
de resistência podem ser agrupados em ge-
Resistência a Inseticidas néticos (genes que conferem resistência),
biológicos (duração do ciclo biológico e dis-
Em uma população de mosquitos sob persão) e operacionais (intensidade da ex-
pressão de inseticidas, o desenvolvimento de posição da população no tempo e espaço e
resistência é um processo inevitável, que re- nas várias fases do ciclo biológico)57,58.
sulta do efeito seletivo de exposição a dosa- A tecnologia atualmente existente res-
gens que matam os indivíduos suscetíveis, tringe-se a reduzir o impacto dos fatores
sobrevivendo os resistentes, que transferem operacionais, por meio de dois grupos de
essa capacidade a seus descendentes. Além medidas: a implementação de estratégia de
dos vários mecanismos de resistência pre- controle integrado que restrinja o máximo
sentes nos insetos, que permitem sua sobre- possível o uso de métodos químicos de con-
vivência após contato com o inseticida, há trole vetorial; e o planejamento do compo-
outra forma, chamada de comportamental, nente de controle químico da estratégia,
que define o processo de seleção de indiví- empregando metodologias que retardam o
duos com aptidão para evitar total ou parci- processo de resistência, como o uso de

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sinergistas, aplicação de inseticidas em mo- o monitoramento sistematizado da resistên-
saico, uso de misturas, rotações ou suces- cia aos inseticidas em uso, pois as alternativas
sões ótimas de inseticidas55. Avaliações de para o controle do Aedes aegypti em situa-
programas e pesquisas operacionais devem ções de emergência são poucas.
ser implementadas, visando conhecer o im-
pacto dos dois grupos de medidas na veloci- Controle Vetorial
dade do desenvolvimento de resistência em
populações de Aedes aegypti. O controle do Aedes aegypti tem consti-
No Brasil, o MS ,por meio da FUNASA, tuído um importante desafio, especialmen-
desde 1999 busca organizar e sistematizar te nos países em desenvolvimento. Segundo
atividades de monitoramento da resistência Halstead, mesmo em situações em que os
do Aedes aegypti aos inseticidas emprega- recursos destinados ao controle do vetor são
dos. São poucos os municípios monitorados apropriados para a implementação do pro-
nas diversas unidades federadas e os ensaios grama, muitas vezes não se tem alcançado
têm se limitado basicamente a provas bioló- sucesso, em função principalmente de cin-
gicas para larvas expostas ao temephos. Ex- co fatores: desejo de encontrar soluções fá-
cetua-se desse contexto o monitoramento ceis, perda de habilidades técnicas e geren-
da resistência do Aedes aegypti realizado pela ciais do pessoal responsável pelo programa,
SUCEN no estado de São Paulo, que atual- agravamento da dimensão do problema,
mente abrange 13 municípios localizados em desconsideração de experiências passadas e
diferentes regiões. As atividades sistemati- expectativa de fracasso, espelhada em ou-
zadas de vigilância tiveram início em 1996, tras experiências mal sucedidas no controle
incluindo ensaios biológicos para larvas e de dengue e de outras doenças transmitidas
adultos e, nos dois últimos anos, também por vetores59.
ensaios bioquímicos56. Nas últimas décadas, vem sendo reitera-
As ações de vigilância desenvolvidas no da a recomendação do controle integrado
Brasil, já mostram um quadro bastante do Aedes aegypti com implementação des-
preocupante de resistência do Aedes aegypti centralizada, envolvendo o poder público e
ao temephos. Em 2001, foram avaliadas po- a sociedade. Esse tipo de estratégia teria
pulações de Aedes aegypti de 54 municípios, maior sustentabilidade que aquelas verticais
verificando-se resistência em 20 deles, dis- centralizadas e baseadas em um único mé-
tribuídos nas várias regiões brasileiras, com todo14,59,60.
exceção da Região Sul (FUNASA 2002 - da- No controle integrado do Aedes aegypti,
dos não publicados). No estado de São Pau- as medidas preventivas são direcionadas
lo, as provas biológicas realizadas com adul- principalmente aos criadouros, constituin-
tos mostraram ampla resistência à ciper- do-se de ações simples e eficazes, especial-
metrina, com níveis mais elevados de altera- mente aquelas que consistem em cuidados
ção de resposta em municípios das regiões a serem adotados pela população. A tecno-
da Baixada Santista, Araçatuba, Barretos, logia atualmente disponível abrange medi-
Ribeirão Preto e São José do Rio Preto das de controle físico, químico e biológico,
(SUCEN, 2002, dados não publicados). sendo os dois primeiros grupos mais inten-
Considerando a situação epidemiológica samente utilizados56,60.
do dengue no Brasil e as informações já exis-
tentes sobre resistência dos vetores a insetici- Controle físico
das, fica evidente a necessidade de avançar
rapidamente na implementação de medidas Além das medidas físicas preconizadas
dos dois grupos de manejo anteriormente ci- pelos programas de controle de vetores,
tados, para retardar os processos de resis- outras ainda pouco utilizadas poderiam so-
tência. Além disso, é fundamental tornar parte lucionar algumas problemáticas específicas,
integrante do programa de controle vetorial tais como a aplicação de produto que forma

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película monomolecular sobre a superfície tório. A utilização de machos estéreis, visan-
da água61 e a utilização de água quente. Para do reduzir a fertilidade da população local,
Aedes aegypti, temperaturas de 49o C são foi objeto de testes em campo. Outro méto-
suficientes para matar os ovos em menos de do é a produção de cepas não suscetíveis a
2 minutos e larvas e pupas em 5 minutos62. agentes de doenças, visando substituir as
Esses métodos precisam ser melhor estuda- populações locais por essas cepas refratári-
dos para a sua adequação. as. No entanto, ainda não foi possível incor-
porar nenhum desses métodos em progra-
Controle biológico mas de controle53,60,66.

Entre as medidas de controle biológico, Controle químico


os predadores do tipo peixes larvófagos são
os mais recomendados por sua fácil obten- Medidas de controle químico com ação
ção e manutenção, especialmente para be- larvicida em formulação de liberação lenta
bedouros de grandes animais, fossos de ele- vem sendo empregada mundialmente, des-
vador de obras, espelhos d’água/fontes or- tacando-se o temephos como o larvicida de
namentais, piscinas abandonadas e depósi- mais ampla utilização (tratamento focal). A
tos de água não potável. Predadores como maioria dos programas de controle de Aedes
os copépodos também vêm sendo utiliza- aegypti empregam duas modalidades de
dos por alguns programas e culicídeos não controle químico adulticida: a borrifação de
hematófagos do gênero Toxorhinchites não inseticida de ação residual denominada de
têm mostrado fácil aplicabilidade56,61,63,64. As tratamento perifocal, indicada para uso ro-
bactérias do tipo Bacillus thuringiensis var tineiro específico em imóveis que, além con-
israelensis (Bti) e o Bacillus sphaericus são centrarem muitos recipientes em condições
específicos para o controle de larvas de que favorecem a proliferação de formas
culicídeos, sendo que o primeiro apresenta imaturas, contribuem para a dispersão pas-
melhores resultados contra o Aedes aegypti. siva do vetor2,60,64 e a aplicação espacial de
Sua ação tóxica é causada por uma toxina inseticida a ultra baixo volume (UBV), indi-
presente no corpo paraesporal do cado para situações de transmissão. Embo-
bacilo60,64,65. O Bti vem sendo utilizado no ra se tenha conhecimento de que a susten-
Brasil em substituição ao temephos em re- tabilidade do programa aumenta com a in-
giões onde foi detectada resistência do Aedes tensidade de incorporação das ações de con-
aegypti a esse organofosforado64. Hormô- trole físico e biológico, especialmente daque-
nios miméticos (reguladores de crescimen- las que possam ser implementadas com a
to “sintéticos”) têm mostrado bons resulta- participação da comunidade e de vários seg-
dos para controle de larvas de culicídeos. mentos produtivos, o controle químico ain-
Atualmente, estão disponíveis no mercado da assume papel importante na estratégia
formulações de methoprene, diflubenzuron, desenvolvida no Brasil, inclusive em perío-
pyripropixyfen e triflumuron, sendo que dos interepidêmicos 64. Visando maior
para o Aedes aegypti, o primeiro é o mais sustentabilidade do programa, desde 2000 a
utilizado60,63. A incorporação do seu uso em Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo
programas de controle desse vetor exige (SSESP) vem discutindo com os municípios,
adequação na metodologia de vigilância formas de restringir o controle químico e,
entomológica para estimar indicadores de ao mesmo tempo, aumentar o envolvimento
densidade larvária. da sociedade no controle do vetor. Normas
técnicas estaduais foram alteradas,, como a
Controle genético eliminação do tratamento focal no período
interepidêmico, restrições ao uso do trata-
Vários métodos genéticos de controle de mento perifocal e à aplicação espacial - UBV
culicídeos vêm sendo estudados em labora- com equipamento pesado56,67.

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Para dimensionar o impacto das medi- denada e a convivência com tantos outros
das de controle e orientar ajustes das ações problemas mais graves que o dengue, dei-
prescritas pelos programas para controle de xam a população alheia a mais esta mazela
vetores e epidemias, é fundamental que se- da saúde pública brasileira.
jam realizadas, periodicamente, atividades Embora muitos sejam os determinantes
de vigilância entomológica. envolvidos na ocorrência do dengue, a pre-
Muitas questões básicas ainda não são cariedade da vida nas cidades dificulta a atu-
respondidas adequadamente pelos progra- ação da área da saúde. A continuidade dos
mas de controle de vetores, tais como: recursos repassados aos municípios, ações
• Que áreas ou bairros da cidade possuem combinadas com envolvimento pluri-
maiores níveis de infestação? institucional e articuladas regionalmente
• Quais tipos de imóveis apresentam mai- podem dar maior racionalidade ao controle
or freqüência de recipientes com formas da infestação nos vários cantos do país. Nes-
imaturas do vetor? se sentido as instâncias regionais/estaduais
• Que tipos de recipientes predominam no têm um papel estratégico na condução e
conjunto daqueles positivos para o vetor? avaliação das medidas de campo, acompa-
• Qual a sazonalidade do vetor nas regi- nhando indicadores de infestação e o im-
ões? pacto das ações, facilitando a representação
A insuficiência e inconsistência das in- dos municípios e o intercâmbio de experi-
formações sobre o vetor em função dos da- ências locais, conduzindo a integração das
dos precários disponíveis e a supervalo- ações com o Sistema Único de Saúde, além
rização da cobertura obtida nas atividades de otimizarem o uso de equipamentos e os
de controle, atribuindo-se muitas vezes ape- meios de comunicação de massa necessári-
nas a esse aspecto os resultados insatisfa- os às estratégias de saúde pública5.
tórios, resulta na idéia simplista de que, para Os modelos de organização dos serviços
solucionar o problema, é suficiente intensi- de saúde pública para o controle de vetores
ficar o trabalho que está sendo realizado, e e da transmissão viral são importante cam-
assim pouco se avança no aprimoramento po de reflexão e experimentação científica,
da estratégia de controle. em plena epidemia de dengue no país. Fica
A complexidade da vida moderna, evidente a necessidade de se avaliar novas
entremeada com a miséria e a falta de infra- tecnologias e estratégias de prevenção, de
estrutura urbana mínima na maioria dos ações de rotina do campo e de medidas
municípios brasileiros, tem dificultado a or- emergenciais em épocas epidêmicas. Há
ganização das ações de controle dos vetores, modelos técnico-assistenciais novos ou re-
mesmo em ocasiões com disponibilidade de visados da área da saúde pública a serem
recursos. A disseminação de incontáveis testados e avaliados para enfrentar novas e
criadouros artificiais, a urbanização desor- velhas endemias e epidemias brasileiras.

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