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MONITORAMENTO ELETRÔNICO E OS SEUS REFLEXOS NO MUNDO DO


DIREITO PENAL

Karina Lymberopoulos 1

Resumo: O presente estudo tem por objetivo abordar as questões relativas ao uso do sistema de monitoramento
eletrônico de presos e seus reflexos no mundo do Direito Penal, por conta da recente reforma trazida pela Lei nº
12.258/10.
Foram analisados diplomas legais aplicáveis ao tema como a Constituição Federal Brasileira, o Código Penal, o
Código de Processo Penal, a Lei 12.258/10 e a Lei de Execuções Penais, dentre outros, além de terem sido feitas
pesquisas junto a doutrina pátria, Internet e periódicos e em relação à aplicação deste sistema em países que já o
utilizam, trazendo posições de importantes setores da sociedade, como de juristas renomados, da Ordem dos
Advogados do Brasil e do Poder Judiciário.

Palavras Chave: Direito Penal. Lei Federal nº 12.258/10. Monitoramento eletrônico de


presos.

ELECTRONIC MONITORING AND ITS CONSEQUENCES IN THE WORLD OF


CRIMINAL LAW

Abstract: This study aims to address issues relating to the use of electronic monitoring system for prisoners and
their reflections in the world of criminal law, due to the recent reform brought about by Law No. 12.258/10.
We analyzed texts applicable to the subject as the Federal Constitution, the Criminal Code, the Code of Criminal
Procedure, Law 12.258/10 and the Law of Penal Execution, among others, and have been conducted with the
doctrine homeland, and Internet journals and in relation to implementing this system in countries that use it
already, bringing positions of important sectors of society such as the renowned lawyers, Order of Lawyers of
Brazil and the Judiciary.

Keywords: Criminal Law. Federal Law No. 12.258/10. Electronic monitoring of prisoners.

1
Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Direito Eletrônico e Tecnologia da Informação,
apresentado ao Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN, sob a orientação da Professora Esp.
Camilla do Vale Jimene. E-mail: karinalymber@hotmail.com.
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1. INTRODUÇÃO

É indiscutível, ante a rápida evolução da sociedade e a inserção dos meios eletrônicos


nas relações humanas, que a informática, assim como nas demais áreas, já é o presente e o
futuro da Justiça, considerando-se que, sem modernização e adequação tecnológica, o
Judiciário e o ordenamento jurídico em vigor não suportariam o avanço da demanda social.
Por outro lado, os próprios procedimentos, judicial e extrajudicial, assim como as
relações jurídicas surgidas a partir de relações sociais, como no direito penal, do trabalho etc.
também estão sofrendo os impactos da informatização e da utilização, cada vez mais
frequente, de recursos tecnológicos para a consecução de seus fins.
O monitoramento eletrônico de presos, a utilização de pulseiras ou tornozeleiras nos
casos de liberdade vigiada e o emprego da informática como meio de tornar mais humanas as
informações no sistema prisional são alguns exemplos destes impactos.
Todos os tipos de monitoramento são efetuados por sistemas informatizados de
controle que podem fazer, por exemplo, com que um condenado por lesão corporal deixe de
conviver, dentro da prisão, com um condenado por tráfico de drogas ou permitir que alguém
que foi preso por tráfico de entorpecentes possa ser colocado em uma clínica especializada até
que possa se desintoxicar, acompanhado de equipamentos que permitem este monitoramento
eletrônico. Tal forma de controle por meio do uso da eletrônica e da informática traz a tona
questões acerca da ocorrência de violação do direito da pessoa, como também pode ser vista
como uma forma de ampliar os benefícios daquele que, em outras circunstâncias, seria
obrigado a permanecer preso.
Com o advento da Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010, em vigor desde sua
publicação no Diário Oficial da União em 16 de setembro de 2010, foi estabelecido em nosso
País o sistema de monitoramento eletrônico de condenados, com vistas a atender com muito
mais eficiência o sistema de individualização da pena e os programas de reeducação dos
apenados, além de desafogar o sistema penitenciário.
Contudo, esta inclusão da informática nas relações humanas tem gerado discussões tão
acaloradas que, até mesmo em análise a decisões e a leis alienígenas de países que são
considerados mais avançados que o nosso, podemos nos deparar com soluções ainda
pendentes de aprimoramento técnico correto para a resolução justa dos problemas
relacionados ao tema.
Dada a discussão que o monitoramento eletrônico vem gerando ao longo do mundo,
especialmente na área penal, objeto deste estudo, vemos que, em verdade, no Brasil, estamos
3

vivenciando um dilema, pois muitos de nossos especialistas e legisladores estão arraigados a


velhos institutos tradicionais e amarrados a conceitos por muitas vezes retrógrados, que
colidem com as novas tecnologias e com a forma de como estas contribuem para a solução
das situações jurídicas postas a seu controle e atuação.
Em que pesem os visíveis avanços que o monitoramento eletrônico de presos traz com
sua aplicação, seja em termos de facilitação da fiscalização do cumprimento de penas por
parte do Estado ou em termos de diminuição da quantidade de detentos nos presídios, dentre
muitas outras vantagens, vemos ainda, em muitos setores da sociedade e do Estado como um
todo, uma visão parcialmente avessa à evolução tecnológica.
Nesta nova era do Direito, onde os instrumentos informatizados e eletrônicos atuam
conjuntamente com os métodos manuais de solução de questões jurídicas, com todas as
implicações que a utilização de novas ferramentas tecnológicas acarretam, inclusive sem
previsão sobre até onde estas poderiam atuar, temos que posicionar e atualizar nosso
ordenamento jurídico, que ainda se encontra parcialmente inapto à conjuntura tecnológica e
econômica atual. Isto para que os meios de monitoramento eletrônico não sejam ameaçados
com a extinção ou lesão de direitos fundamentais mas, ao contrário, atuem no sentido de
buscar o equilíbrio de situações que permitam, além de resguardar os direitos do cidadão, ao
mesmo tempo vir a garantir a eficaz atuação do Estado nas relações sociais.
Assim, por meio do presente estudo, buscamos trazer a tona questões relevantes acerca
da implantação do monitoramento eletrônico no nosso país, explicando seu funcionamento e
levantando polêmicas surgidas antes e após sua implementação em nosso ordenamento,
concluindo, ao final, se este se trataria em verdade de real avanço ou de fatal retrocesso de
nosso ordenamento jurídico em face dos direitos do preso em contraposição aos direitos da
sociedade, tudo com vistas à busca efetiva da justiça, fim almejado por todos os cidadãos.

2. O MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE CONDENADOS

Com o advento da Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010, em vigor desde sua


publicação no Diário Oficial da União, em 16 de setembro de 2010, estabeleceu-se o sistema
de monitoramento eletrônico de condenados no Brasil. Por conta disso, foram instituídas e
determinadas novas regras na Lei de Execuções Penais.
O monitoramento eletrônico consiste basicamente em fiscalizar o cumprimento da
reprimenda imposta pelo Estado nos casos de liberdade vigiada, mediante a utilização de
pulseiras ou tornozeleiras e de equipamentos tecnológicos, que permitem saber a exata
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localização em que o indivíduo se encontra, tornando assim mais humanas as informações no


sistema prisional.
Não só isso. O uso do mecanismo poderia, até mesmo, auxiliar o controle dos detentos
dentro de tais instituições, além de trazer economia ao Estado e melhor possibilidade de
ressocialização aos condenados.
Contudo, há ainda muitas críticas a sua implementação, tanto de ordem estrutural
quanto jurídica, de modo que sua aplicação, que deve ser deferida pelo Magistrado, acaba por
criar divergências de posicionamento os quais, futuramente, podem vir a gerar problemas de
interpretação na aplicação do sistema, causando instabilidade no mundo jurídico.
Nos itens a seguir o tema é explorado dando-se especial ênfase a sua utilização prática
e seus impactos na sociedade e no cumprimento das penas por parte dos condenados, nunca se
olvidando, contudo, dos aspectos técnicos e jurídicos que o envolvem.

3. SURGIMENTO E APLICAÇÃO PRÁTICA DO SISTEMA DE


MONITORAMENTO ELETRÔNICO DE CONDENADOS

A discussão sobre o monitoramento eletrônico de apenados no Brasil surgiu em meio


a propostas de mudanças no regime aberto, o qual poderia ser substituído pelo controle
eletrônico, dada as experiências já realizadas em diversos países e a evolução da informática
jurídica.
Também é correto afirmar que o regime semi-aberto é considerado por muitos um
modelo falido de cumprimento de pena, onde o Estado perde o controle fiscalizatório sobre o
apenado ao mesmo tempo em que o próprio apenado não sente os impactos do cumprimento
de uma pena quando exposto a este regime, dada a perda de sua característica punitiva e
limitativa, uma vez que não lhe traz maiores gravames já que o controle pelo Judiciário é
difícil de ser executado, não se sentindo o apenado sob as vistas da Justiça, o que implica em
aumento de reincidência criminosa e dificuldade de recuperação do condenado.
Assim, o sistema de monitoramento eletrônico acaba por surgir como uma boa opção
para que o Estado, detentor dos poderes punitivo e fiscalizatório do cumprimento de penas,
possa controlar a execução penal nos casos destes sentenciados, dando não só maior eficácia
aos objetivos de ressocialização trazidos pela Lei penal, como também trazendo maior
segurança à população, que convive com estes apenados diariamente soltos na sociedade.
Para melhor compreensão de como o sistema de monitoramento surgiu e evoluiu com
o passar do tempo, mister se faz traçar um breve resumo histórico a seu respeito, como
5

expomos a seguir, para que possamos, a partir daí, conhecer os métodos de controle hoje
empregados no Brasil e, ao final, concluir se estes seriam realmente eficientes e compatíveis
com nossa realidade e necessidades atuais.
O primeiro equipamento elaborado para monitorar detentos surgiu nos anos 60 com o
objetivo de proporcionar uma alternativa ao encarceramento, tornando o caráter da pena mais
humana e com menor dispêndio econômico. A criação consistia em um pesado bloco de
bateria e um transmissor capacitado pela emissão de sinal para um receptor, o qual era
carregado junto ao corpo do condenado, como se fosse uma mochila.2
Tratava-se de um sistema de vigilância rádio-telemétrico portátil e testado
inicialmente em jovens condenados reincidentes, todos voluntários, que usufruíam de
liberdade condicional, o qual permitia a localização dos detentos em um perímetro de 400
metros.
Em seguida, foram realizadas novas experiências nos Estados Unidos, em 1971 e
1979, sendo que, em 1983, em Albuquerque, Novo México/EUA, foi sentenciado o primeiro
infrator a utilizar o monitoramento eletrônico, agora por meio de uma pulseira transmissora de
um sinal localizador de posicionamento global.3
A partir daí, a medida tomou proporções tamanhas de modo que, em 1988, já se
contava com 2.300 presos monitorados pelo equipamento apenas nos Estados Unidos e, dez
anos mais tarde, o número de indivíduos que ali utilizava a tecnologia alcançou a marca de
95.000.
Também o romance “1984”4, escrito por George Orwell no ano de 1948, trouxe
algumas premissas das quais partiram muitos estudiosos que trataram sobre o impacto do
monitoramento eletrônico de pessoas e o poder que isto traria ao Estado, não só de
fiscalização, mas também de controle da população. Em que pese se tratar de uma obra de
pura ficção, o livro trata de maneira muito crítica a transformação da realidade por meio do
uso da tecnologia e do controle desta pelo Estado, o que trouxe à tona entendimentos de que a
informação seria a arma mais poderosa que o ser humano poderia ter.
Após a implementação do sistema de monitoramento eletrônico, por meio de pulseiras
como nos Estados Unidos ou tornozeleiras, muitos países passaram a se utilizar desta

2
MARIATH, Carlos Roberto. Monitoramento eletrônico: liberdade vigiada. Jus Navigandi, Teresina, ano 15,
n. 2601, 15 ago. 2010. Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/17196. Acesso em: 21 jan. 2011.
3
NUNES, Leandro Gornicki. Alternativas para a Prisão Preventiva e o Monitoramento Eletrônico: Avanço
ou retrocesso em termos de garantia a liberdade? Gornick Nunes: Ciências Criminais e Democracia Urgente,
16 jun. 2010. Disponível em: http://gornickinunes.blogspot.com/2010/06/alternativas-para-prisao-preventiva-
e.html. Acesso em: 21 fev. 2011.
4
ORWELL, George. 1984. 19ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1985.
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tecnologia, a qual somente a partir da Lei 12.258/10 foi implantada no ordenamento jurídico
brasileiro.
É evidente que o monitoramento eletrônico não se prestaria a ser, em definitivo, a
solução para acabar com todos os problemas enfrentados pelo sistema carcerário nacional,
contudo, a análise a sua utilização em outros países, nos traz a certeza de que ele se apresenta
como uma boa forma de controle do Estado na execução de penas e de facilitação na
execução de do poder fiscalizatório do Estado dentro da execução penal.
O monitoramento, tal qual se aplica hoje no Brasil, consiste no uso, pelo reeducando,
de uma pulseira ou tornozeleira que conta com um sistema similar ao de um GPS (Sistema de
Posicionamento Global) ou de radiofreqüência que indica, em tempo real, a localização do
apenado e transmite dados às autoridades competentes, que poderão monitorar o
comportamento deste usuário, verificando se ele está cumprindo ou não as exigências da lei.
Dessa forma, faz-se igualmente possível saber se houve alguma tentativa de violação da
aparelhagem por parte do condenado, podendo ser então, caso esta tenha ocorrido, serem
tomadas as medidas cabíveis.
O apenado, em saída temporária do regime semi-aberto ou em cumprimento de prisão
domiciliar, deve fornecer o endereço da família a ser visitada, caso realize visitas no período
em que se encontra fora do estabelecimento prisional, e onde poderá ser encontrado enquanto
estiver com a pulseira ou tornozeleira eletrônica, sendo que, no período noturno, não poderá
sair da casa que foi visitar.
Também a ele, quando do uso do dispositivo, não é permitido freqüentar bares, casas
noturnas e estabelecimentos congêneres de modo que, caso queira participar de algum curso
ou assistir a aulas dos ensinos fundamental e médio, terá autorizada a freqüência neste horário
apenas pelo tempo de duração das atividades escolares.
Em caso de sair da área delimitada, um alarme sonoro é disparado na pulseira ou
tornozeleira e a central de monitoramento é informada em tempo real da infração, podendo o
Judiciário tomar as medidas cabíveis por conta do descumprimento da obrigação assumida
pelo apenado.
Insta frisar que a escolha quanto ao uso da tornozeleira é do próprio preso e, por si só,
já imprime a opção de uma pessoa que busca sair do mundo do crime. Contudo, cabe ao Juiz
das execuções, sempre em decisão fundamentada, analisando as hipóteses legais e do caso
concreto, decidir pela sua utilização, determinando que este ou aquele preso dela se utilize,
uma vez que é cediço que todas as medidas restritivas de direitos devem se subordinar ao
princípio da proporcionalidade.
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3.1. Experiência Internacional


O monitoramento eletrônico de apenados foi considerado um método deveras
eficiente em muitos países que dele se utilizam como o México, Estados Unidos, Canadá,
Inglaterra, Holanda, Bélgica, Argentina, Suécia e França dentre outros, tendo cada um destes
entes adotado o sistema com características peculiares.
A grande vantagem da utilização deste método de monitoramento eletrônico é
a redução de custos do Estado com o apenado uma vez que, para mantê-lo detido em um
estabelecimento prisional, os gastos se fazem muito mais elevados do que para monitorá-lo
indiretamente com o uso de tais equipamentos.
Nos Estados Unidos, o sistema vem sendo aplicado com sucesso em quarenta e
seis estados. Seu uso se baseia, dentre outras proposições, no valor economizado com o
advento da medida, que traz uma economia de 60% em face do tradicional método de controle
dos apenados. 5
No Canadá, o sistema atinge os condenados por penas em quantidade
determinada (de sete dias a seis meses de reclusão) e também os que possuem pena cujo
restante não ultrapasse o limite de quatro meses. Restam excluídos do programa os internos
que cumprem pena por crimes cometidos com violência ou de natureza sexual e os que não
procuravam uma atividade permanente que lhes reintegrasse na sociedade.
Já na Inglaterra para que haja a chance de se participar do programa de
monitoramento eletrônico, o apenado deverá ter estar cumprindo pena privativa de liberdade
variável de três meses a quatro anos, com no máximo dois meses de pena restante, desde que
não condenado por crime de natureza sexual ou violenta. Além disso, exige-se que o apenado
seja submetido a uma seleção que possui etapas onde deve ele comprovar sua residência fixa,
havendo análise ao crime cometido, ao tipo de unidade em que estava encarcerado e estudos
sobre o risco que sua colocação prematura na sociedade poderia trazer. Somente após este
rigoroso controle, é permitido ao condenado o uso do equipamento e sua retirada do sistema
carcerário tradicional.
Na Holanda, desde 1995, os condenados a crimes com pena não superior a seis
meses, desde que cumprida metade dela, podem se beneficiar do uso do sistema de
monitoramento eletrônico, servindo ele como uma nova modalidade de cumprimento do
regime aberto. Também ali se faz necessária a comprovação de certos requisitos como possuir
o condenado residência fixa, estar ele estudando em instituição oficial de ensino ou

5
MARIATH, Carlos Roberto. Monitoramento eletrônico: liberdade vigiada. Op. Cit.
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trabalhando, sendo ainda que é exigida pelo Estado a concordância de seus familiares para a
implementação do sistema no condenado.
Em muitos destes países e também na Suécia, Bélgica e França, o sistema vem
sendo aplicado como uma forma de diminuição dos gastos públicos com o encarceramento de
apenados e também como um meio alternativo de cumprimento de pena, que se traduz numa
maneira mais humanizada de reinserção do apenado na sociedade, sem que esta seja exposto
aos malefícios trazidos pela prisão em cárcere.
Uma peculiaridade da legislação sueca é a previsão de que os detentos que
gozam do benefício do monitoramento somente o conseguem utilizar se, além de cumprir as
exigências temporais e pessoais (condenados por penas não superiores a três meses, com
comprovação de residência fixa, ocupação lícita ou freqüência em escola ou curso regulares
de ensino) virem eles a arcar com o custo da tornozeleira. Tal exigência de pagamento por
parte do apenado, contudo, se amolda as suas condições financeiras de modo que, caso este
comprovadamente não a possua, o requisito não pode dele ser exigido.
Também na Suécia, não pode ser utilizado o equipamento no caso do apenado
ter praticado delito de natureza sexual ou com uso de violência contra a pessoa, assim como
de utilização de drogas, incluindo-se aí as bebidas alcoólicas.
Na Argentina, primeiro país latino americano a adotar a tecnologia, foi criado
um programa que visa a detenção de presos provisórios em sua própria residência. Ao que foi
constatado até então, o programa trouxe relevante economia ao Estado em contraposição ao
valor gasto com o preso recluso no sistema prisional tradicional, além de refletir em um nível
muito baixo de evasão e reincidência destes detentos, o que comprova a eficácia do sistema.
O monitoramento neste país funciona da seguinte maneira: por cada dia em
que o preso passa em sua casa, sob tal sistema, é computado como um dia de detenção,
havendo abatimento em sua pena. Tal método de cumprimento de pena, contudo, é apenas
concedido a pessoas com boa conduta, geralmente réus primários.
Sergio Buffa, Chefe do Departamento de Monitoramento Eletrônico da
Direção Geral de Segurança do Serviço Penitenciário de Buenos Aires, em entrevista ao
Jornal Clarim, em 06.02.20076, explicou que a única exigência técnica para o benefício é de
que haja uma linha de telefone fixo e energia elétrica na residência em que o apenado irá se
colocar quando do uso da pulseira eletrônica.

6
GORNITZ, DÉBORAH. El arresto domiciliario: ¿una solución a la superpoblación de las cárceles?.
CLARIN.com. Notícia de 06/02/2007. Disponível em: http://www.clarin.com/diario/2007/02/06/um/m-
01358663.htm. Acesso em: 02 mar. 2011.
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No mais, quando o Juiz concede o benefício, controles técnicos e ambientais


são realizados, como entrevistas com a família e inspeção do local onde o preso irá residir.
Uma vez aprovado, o apenado é dirigido a esta residência e ali permanece, ostentando a
pulseira eletrônica. O termo “residência”, para a legislação argentina, quando se determina
que ali deve permanecer o condenado, na verdade abrange não só a residência em si, mas
também os locais onde, desde que autorizado, o apenado vier a realizar atividades
complementares no seu dia como estudar ou trabalhar.
Caso o detento viole qualquer destas regras ou desligue o relógio, a pulseira
informa o centro de controle de vigilância, o qual envia alertas à polícia e ao Judiciário.
Neste contexto, ao que podemos notar, muitos países que adotam o sistema de
monitoramento eletrônico de condenados limitam sua concessão a requisitos temporais de
pena, pessoais do apenado e ambientais, exigindo por parte dos condenados possuírem eles
residência fixa, atividade laboral ou freqüência em instituição de ensino e, ainda, fazem
restrições quanto a sua concessão a condenados por crimes de natureza sexual ou violentos.
Isto demonstra que a medida, longe de buscar beneficiar o detento com a sua
soltura e prematuro retorno ao convívio social, como os que criticam o sistema alegam, visa
proteger a sociedade como um todo, privando-a do contato precoce com pessoas
aparentemente perigosas e com aquelas as quais o Estado não acredita serem capazes de se
ressocializar.
O uso do equipamento de monitoração eletrônica é, assim, uma forma de
proteção da sociedade e de facilitação do controle fiscalizatório exercido pelo Estado na
execução penal, garantindo ao bom cidadão que, por algum infortúnio cometeu uma infração,
ressocialize-se e comprove ao Estado que corretamente o faz, sem oferecer qualquer risco ao
meio social em que estiver sendo inserido.
Daí porque, nos países que usam esse tipo de monitoramento, em que pese sua
eficácia, devem haver políticas para sua correta aplicação e fiscalização, pois, se o sistema for
implantado secamente, sem nenhuma estrutura ou acompanhamento de pessoas treinadas para
apoiar o liberado, a redução da reincidência pode ser quase invisível e há o risco de se colocar
nas ruas pessoas que não visam a ressocialização, mas sim uma volta ao mundo do crime.
Desta maneira, faz-se necessária não só uma legislação específica, mas também a
implementação de toda uma estrutura no Estado, adaptada e direcionada para que este tipo de
procedimento se apresente como uma solução humana ao cumprimento de penas e totalmente
segura ao meio social.
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4. A LEI 12.258/10 E A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE MONITORAMENTO


ELETRÔNICO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Foi o Projeto de Lei n. 175, de iniciativa do Senado Federal, sancionado com muitos
vetos, que deu origem à Lei 12.258 de 15 de junho de 2010, objeto deste estudo, a qual
possibilita a vigilância indireta de condenados criminalmente, por meio do uso de
equipamentos eletrônicos de rastreamento.
Trata a referida Lei da inserção junto ao corpo do condenado de discreto dispositivo
de monitoração eletrônica que, à distância, indique o horário e a localização do que o ostenta.
Nos termos desta Lei, foi incluído o artigo 146-B na Lei de Execuções Penais, com o fim de
determinar os casos em que o Juiz pode determinar a fiscalização eletrônica do apenado, in
verbis:
“Art. 146-B. O juiz poderá definir a fiscalização por meio da monitoração eletrônica
quando:
II - autorizar a saída temporária no regime semi-aberto;
(...)
IV - determinar a prisão domiciliar.”

Nesses termos, resta claro que a Lei trouxe uma importante inovação em nosso
ordenamento jurídico, exprimindo a evolução do processo penal aliada ao uso de novas
tecnologia. Contudo, tal evolução se mostra muito acanhada, pois restrita apenas aos casos de
prisão domiciliar e saída temporária no regime semi-aberto, quando poderia também abraçar
outras hipóteses como a fiscalização das liberdades processuais (liberdade provisória e
suspensão condicional do processo, por exemplo), sobrando claro que o legislador pátrio
perdeu uma excelente oportunidade de inserir essa ferramenta, de vez e com mais
abrangência, no sistema judiciário brasileiro.
A nova Lei, originariamente, antes do veto parcial, trazia várias hipóteses de utilização
de fiscalização indireta por monitoração eletrônica como no caso de aplicação de pena
restritiva de liberdade a ser cumprida nos regimes aberto ou semi-aberto ou no caso de
concessão de progressão para tais regimes, também no caso de autorização de saída
temporária no regime semi-aberto, no caso de aplicação de pena restritiva de direitos que
estabelecesse limitação de horários ou freqüência a determinados lugares, no caso de
determinação de prisão domiciliar e no caso de concessão de livramento condicional ou
suspensão condicional da pena.
Por disto, restaram apenas as duas hipóteses em que pode ser utilizada a monitoração
eletrônica: saída temporária em regime semi-aberto e prisão domiciliar.
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Embora também tenha sido objeto de vários vetos, o artigo 146-C, por seu conteúdo
restante, foi capaz de determinar os deveres a serem cumpridos pelo condenado quando do
uso do equipamento, assim como estabelecer as penalidades a que sujeitam o apenado em
caso de descumprimento destes deveres. Assim trata o referido artigo:

“Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que deverá adotar com o
equipamento eletrônico e dos seguintes deveres:
I – receber vistas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos
seus contatos e cumprir suas orientações;
II – abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o
dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça;
III – (vetado)
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste artigo poderá
acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
III - (VETADO);
IV - (VETADO);
V - (VETADO);
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da execução decida não
aplicar alguma das medidas previstas nos incisos de I a VI deste parágrafo.”

O artigo 146-D, último da Lei, dispõe da revogação da monitoração, autorizando-a


quando se tornar desnecessária ou inadequada (inciso I) ou quando o acusado ou condenado
violar os deveres a que estiver sujeito durante a sua vigência ou cometer falta grave (inciso
II).
Trouxe ainda a chamada “Lei da Monitoração Eletrônica” a inserção do parágrafo 1º e
seus incisos, §§ 2º e 3º ao artigo 124 da Lei das Execuções Penais, da seguinte forma:

“Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo
ser renovada por mais 4 (quatro) durante o ano.
§ 1º Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao beneficiário as seguintes
condições, entre outras que entender compatíveis as circunstâncias do caso e a situação
pessoal do condenado:
I – fornecimento do endereço onde reside a família a ser visitada ou onde poderá ser
encontrado durante o gozo do benefício;
II – recolhimento à residência visitada, no período noturno;
III – proibição de freqüentar bares, casas noturnas e estabelecimentos congêneres.
§ 2º Quando se tratar de freqüência a curso profissionalizante, de instrução de ensino
médio ou superior, o tempo de saída será o necessário para o cumprimento das
atividades discentes.
§ 3º Nos demais casos, as autorizações de saída somente poderão ser concedidas com
prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco) dias de intervalo entre uma e outra”.

Em análise a os dispositivos alterados pela nova Lei, podemos verificar que seu foco
foi primordialmente fornecer aos operadores da execução penal um meio mais eficaz de
controle sobre o condenado em liberdade nos casos de saída temporária e prisão domiciliar
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(art. 146-A, incisos II e IV), porém não recaindo a preocupação do legislador com a
ressocialização do preso.
Ressalta-se, ainda, que a chamada “Lei do Monitoramento” não define o equipamento
eletrônico a ser utilizado para se dar efetividade ao novo procedimento o qual, conforme
determinações do Ministério da Justiça, acabou por ser fixado que poderá consistir em uma
pulseira ou uma tornozeleira, que será utilizada pelo condenado e que será capaz de emitir
sinais eletrônicos à determinada central informando com precisão sua exata localização. É
certo, ainda, que o equipamento é resistente a água e caso seja violado ou danificado, também
emitirá sinal instantâneo à central de monitoramento.
Assim, o sistema de monitoramento eletrônico veio sendo aplicado no Brasil desde a
publicação da Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010 no Diário Oficial da União, o que se deu
em 16 de setembro de 2010, tendo como precursores os estados da Paraíba, Minas Gerais, São
Paulo e Rio Grande do Sul.
Contudo, em que pese a evidente eficácia do sistema e sua aparente facilidade de
implementação, é certo que algumas decisões judiciais vêm barrando o uso de tornozeleiras
eletrônicas em presos de várias cidades do Estado de São Paulo, mesmo depois da aprovação
da Lei federal que liberou e regulamentou o uso aparelho, em 2010, como visto acima. A
polêmica envolve especialmente os presos do regime semi-aberto, que todos os dias deixam
as cadeias para trabalhar, voltando à noite.
Tal resistência de alguns Juízes tem por base o entendimento de que a lei só
autorizaria o equipamento em casos de prisão domiciliar e durante as cinco oportunidades por
ano em que os detentos do regime semi-aberto estariam autorizados a deixar as prisões para
visitar suas famílias (nas saídas temporárias), de modo que os Magistrados, nos casos de
presos do regime semi-aberto, estão concluindo por não deferir o benefício.
Tais decisões conflitantes sobre o uso da tornozeleira devem levar o entendimento ao
crivo dos tribunais superiores. O uso do método, aliás, divide a própria Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB), posto que a OAB Federal é contra o uso do dispositivo enquanto
que a seção paulista se posiciona a favor.7
Insta salientar que, conforme dados trazidos em reportagem publicada pelo Jornal
“Estadão”, em 14 de março de 2011 8:

7
GODOY, MARCELO. Juízes do Interior Vetam Tornozeleira Eletrônica em São Paulo. ESTADÃO.com.br.
Notícia de 14/03/2011. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110314/not_imp691549,0.php. Acesso em: 14 mar. 2011.
8
ibid
13

“A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) pretendia usar o dispositivo para


controlar 100% desses detentos. Para tanto, o Estado contratou 4,5 mil tornozeleiras,
mas só obteve na Justiça autorização para rastrear, até agora, 1.180 presidiários. O
Estado deve gastar R$ 50,1 milhões com o monitoramento eletrônico - o contrato
assinado pela SAP com o consórcio que fornece o equipamento tem validade de 30
meses.”

É certo porém que, dos 4.635 detentos que usaram o dispositivo durante o primeiro
grande teste do equipamento, apenas 1,3% romperam o lacre da tornozeleira eletrônica e
fugiram durante a saída temporária do fim do ano passado. Ainda com base no referido
periódico, “o índice de fuga foi inferior ao dos presos que não foram monitorados - 7,1% dos
9
23.639 detentos não retornaram aos presídios na data marcada (5 de janeiro de 2011).”

4.1. Posicionamentos acerca da Utilização do Sistema de Monitoramento


Eletrônico de Condenados instituído no Brasil
No Brasil, atualmente, a discussão acerca do tema não é pacífica. Os que se
posicionaram favoravelmente a implantação da tecnologia argumentam, em tese, que
ocorrerão algumas benesses com o uso do monitoramento, como a redução significativa de
população carcerária, um menor dispêndio econômico para o Estado, reduções nas taxas de
reincidência, afastamento do apenado das nefastas conseqüências que o cárcere ocasiona e
maior possibilidade de ressocialização deste condenado, com maior segurança à sociedade.
Afirma-se que, até mesmo dentro da prisão, o sistema informatizado de
controle poderia trazer bons resultados, ao delimitar o convívio de presos por crimes mais
leves com presos por delitos mais graves ou então permitiria que alguém que foi preso por
tráfico de entorpecentes pudesse ser colocado em uma clínica especializada até sua
desintoxicação, acompanhado pelo monitoramento eletrônico.
Favoravelmente a implementação do sistema de monitoramento eletrônico de
condenados, assim aduz o Mestre Luiz Flávio Borges D''Urso, em recente artigo jornalístico
publicado no jornal virtual “O Estadão” 10:

“A premissa é: quanto mais se puder usar esses mecanismos melhor, pois eles
permitem ao Estado controlar, fora do cárcere, o homem que está cumprindo uma
pena. A prisão é um mal necessário. Ela não recupera ninguém. O convívio carcerário
é nocivo.
É fato que a lei do monitoramento eletrônico dos presos não contemplou o caso dos
que trabalham no regime semi-aberto. Mas, independentemente da previsão legal,
partindo do princípio de que o Estado deve fiscalizar e controlar a condição do

9
ibid
10
GODOY, MARCELO. O monitoramento eletrônico é válido?. ESTADÃO.com.br. Notícia de 14/03/2011.
Disponível em: http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/artigo.aspx?cp-documentid=27994169. Acesso em 14
mar. 2011.
14

cumprimento da pena em todas as suas fases, é permitido ao Estado que se utilize de


todos os meios que estão à disposição para cumprir sua obrigação.”

A despeito das opiniões diversas, resta claro concluir que o uso da eletrônica
no controle de presos, longe de violar o direito da pessoa, traduz-se numa forma de ampliar os
benefícios daquele que, em outra circunstância, seria obrigado a permanecer preso.
No mais, graças ao monitoramento eletrônico, ainda se consegue atender com
muito mais agilidade o sistema de individualização da pena previsto na Lei de Execuções
Penais e os programas de recuperação e reeducação dos presos, além de desafogar o sistema
penitenciário.
Urge ainda salientar que o monitoramento eletrônico atende aos fins de
prevenção da pena posto que, ao permitir o retorno do apenado ao convívio social e com seus
familiares, busca-se a sua ressocialização gradativa ao mesmo tempo em que lhe é arraigada a
noção de respeito às normas, funcionamento o sistema de monitoramento como um modelo de
orientação social, cabendo a pena o papel de demonstrar a vigência da norma penal.
Estes são os argumentos básicos dos defensores do uso do sistema e, até
mesmo, de sua ampliação a outros casos de cumprimento de pena, pois com a utilização da
pulseira ou tornozeleira eletrônica, o Estado permite a retirada dos apenados do cárcere e sua
reinserção na sociedade, sem, contudo, deixar de impor uma sanção ao ilícito cometido e de
deixar de prestar a devida segurança ao meio social, graças a certeza da vigilância constante.
Todavia, aqueles que discordam da utilização do sistema de monitoramento
eletrônico de presos, invocam o argumento de que o dispositivo infringiria a liberdade do
indivíduo e que isto acarreta em uma enorme estigmatização sobre a pessoa do condenado o
qual, utilizando-se de pulseira ou tornozeleira, encontrar-se-ia expondo sua realidade
explicitamente à sociedade, o que levaria a uma natural segregação deste reeducando em
qualquer lugar em que se encontrasse usando o equipamento, o que pioraria as chances de sua
ressocialização e a conseqüente prevenção de reincidência criminosa.
Neste sentido, contrariamente ao uso do dispositivo eletrônico, complementa o
entendimento do Presidente Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante,
na já citada publicação do jornal virtual “Estadão” 11:
“A proteção da dignidade do ser humano é um princípio fundamental de nossas leis. E
ele é violado pelo uso do monitoramento eletrônico. O trabalho externo dos presos
deve ser fiscalizado pelo Estado, mas os presos não devem ficar eternamente
marcados com o uso de pulseiras e tornozeleiras, pois o princípio que deve guiar o
cumprimento das penas é o da ressocialização. O uso desses aparelhos pode

11
ibid
15

estigmatizar os presos.
A decisão de ampliar as situações em que a tornozeleira pode ser usada não se
sustenta do ponto de vista legal. A Constituição não deixa dúvida, ao afirmar que
ninguém deve ser obrigado a fazer algo, senão em virtude de lei.”

Antes da publicação da “Lei do Monitoramento” que altera dispositivos da Lei


das Execuções Penais, alguns estados do Brasil como São Paulo, Minas Gerais, Paraíba,
Alagoas e Rio Grande do Sul já haviam se prontificado a elaborar legislação estadual e
publicar editais de licitação para aquisição de tais equipamentos. Inclusive, no Distrito
Federal e em Pernambuco, foi determinado o uso voluntário de aparelhos de monitoramento
eletrônico em alguns condenados.
No entanto, à época havia acaloradas discussões quanto à constitucionalidade
de tais iniciativas, uma vez que se argumentava que a competência para alterar a forma de
execução de pena seria privativa da União, conforme os artigos 22, inciso I e 24, inciso I de
nossa Carta Magna. Tal questão veio a ser então solucionada com a aprovação da Lei federal
12.258/10, a qual tornou possível o uso desta tecnologia para a vigilância de condenados em
todo o território brasileiro.
Entretanto, em que pesem os benefícios apontados pela instituição do sistema
no Brasil, os posicionamentos contrários a utilização desses equipamentos destacam ainda
como argumento o fato de que o uso das pulseiras ou tornozeleiras eletrônicas traria violação
à intimidade e à privacidade do condenado, a sua integridade física e moral, atentando o seu
direito de ir e vir e gerando uma exposição do apenado usuário à situação de preconceito por
parte da sociedade, o que, em vez de auxiliar, dificultaria sua ressocialização.
Os defensores de tal posição invocam a idéia de que o uso desta a tecnologia
infringe também o disposto pelo princípio da privacidade e acarreta uma enorme
estigmatização do apenado.
Entende-se, daí, que, por conta disto, a Lei do Monitoramento agride a
dignidade do ser humano pois, com o uso do controle indireto dos condenados, o Estado
estaria transferindo a pena do condenado da prisão para a família, pois se acredita que
ninguém iria querer sair de casa com uma tornozeleira ou pulseira eletrônica, sobrando à
família o acompanhamento e controle da vida de tal apenado.
Argumentam que, pensando naqueles que realmente querem se inserir
novamente na sociedade, o uso de equipamentos de rastreamento no seu corpo seria uma
violação dos direitos humanos, uma vez que, para esconder tal equipamento embaixo das
roupas, o apenado deve se limitar a não mais andar de shorts ou com camisa de manga curta
nas ruas e nem, sequer, poderia ele ir a vontade a praia sem ser percebido como reeducando
16

do sistema penal, o que afronta sobremaneira o principio da humanidade da pena.


Tal princípio, muito em voga atualmente por conta da força que os direitos
humanos vieram tomando ao longo dos anos, influindo diretamente nas decisões dos Estados,
veda qualquer imposição de pena ou tratamento cruel, degradante ou desumano,
reconhecendo a pessoa do condenado como pessoa humana, que necessita de tratamento
digno. O princípio da humanidade da pena, portanto, limita o Estado, exercente do poder
punitivo, que não poderá imputar ao indivíduo que infringe o diploma legal pena que lesione
sua dignidade, seu estado físico e psíquico.12
Em que pese a nobre intenção do princípio aventado, mister se faz lembrar que
é através da pena que a sociedade responde às agressões que sofre com o cometimento de um
delito, não devendo o princípio da humanização das penas, portanto, obscurecer a natureza
aflitiva da sanção penal.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como amplamente discutido no presente artigo, não nos sobra dúvidas que o
monitoramento eletrônico se trata de uma medida alternativa de controle penal, por meio de
uma inovação tecnológica que pode servir para viabilizar a ressocialização de apenados.
Por permitir que o preso beneficiado pelo regime semi-aberto, quando de suas saídas
temporárias, e aquele em regime de prisão domiciliar tenham seus passos controlados pelo
Estado, garante à execução penal muito mais segurança e efetividade que o atual sistema, o
qual se encontra limitado em termos de controle.
Se a Lei que o instituiu ainda tivesse estendido a possibilidade de monitoramento
também a outras formas de cumprimento de pena, temos que sua eficácia seria ainda maior,
pois permitiria o controle de presos de regimes como o semi-aberto, desafogando os presídios
e controlando suas saídas diárias, além de também poder ser utilizado dentro do próprio
estabelecimento prisional, como forma de controle de tráfego de influências entre os detentos
de diversos níveis de periculosidade. Isso facilitaria o trabalho nas cadeias e, com certeza,
diminuiria os custos com a manutenção dos detentos no estabelecimento prisional.
A despeito das opiniões em sentido contrário, não vislumbramos que a mera utilização
de uma pulseira ou tornozeleira traria qualquer ofensa ao princípio do respeito à integridade

12
LOPES, Mauricio Antonio Ribeiro. Princípios Políticos do Direito Penal. 2ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1999, 310p.
17

física e moral do preso e nem desatendimento ao que dispõe o princípio da humanidade da


pena, especialmente porque o uso do equipamento pelo apenado viabilizará a concessão de
benefícios penais a ele.
As experiências feitas em outros países que já adotam o sistema, como vimos no corpo
do presente estudo, indicam sua eficácia tanto na redução de custos com o sistema prisional,
quanto em face da garantia de efetividade na fiscalização do condenado por parte do Estado e
na diminuição dos índices de reincidência, garantindo maior segurança a sociedade e uma
melhor forma de reinserção social ao apenado.
O Brasil não pode mais ficar a margem dos avanços tecnológicos que há décadas já
beneficiam outros países, devendo eles se inserir, em definitivo, em nosso sistema de justiça
criminal, pois são inegáveis os malefícios que os sistemas penitenciários, especialmente os
brasileiros, trazem aos apenados, por conta do desrespeito as suas mínimas condições de uma
existência digna. Aí sim vemos uma afronta ao princípio da humanidade da pena.
Assim, resta evidente que a vigilância de apenados por meio de recursos tecnológicos
no Brasil surge como um método de grande importância e seu uso, ainda que modesto e
limitado atualmente a umas poucas hipóteses de cabimento, com certeza dará azo a grandes
avanços no futuro, com a implementação de novas formas de monitoramento eletrônico e
inserção do uso de outras tecnologias em nosso ordenamento legal pátrio.
Desta maneira, em que pese a sensível inserção do uso da tecnologia no controle de
apenados que a Lei 12.258/10 trouxe, isto pode ser considerado um marco da inclusão dos
sistemas eletrônicos na execução das penas e no direito penal e processual penal nacionais.
Porém, é de se esclarecer que o Estado deve estar aparelhado e possuir estrutura
compatível com o sistema, além de recursos de fiscalização e repreensão eficientes, para que
se possa dar efetividade ao instituto do monitoramento, pois de nada adiantaria uma
tornozeleira ou pulseira controlando alguém que, de posse delas, sem a devida fiscalização de
suas ocupações, passe seus dias na rua novamente praticando ilícitos como o tráfico de
entorpecentes ou atos de violência.
Quanto ao impacto social da utilização deste tipo de tecnologia, é sabido que existe
um sentimento natural da população de que as pessoas que praticam crimes devam ser
eternamente punidas, daí porque muitos cidadãos ainda não se encontram satisfatoriamente
seguros ante a novidade trazida pela Lei 12.258/10.
Importante, contudo, não se olvidar que, em face do que trouxe a legislação em
estudo, que altera a Lei das Execuções Penais, os condenados que irão se beneficiar do uso
das tornozeleiras ou pulseiras eletrônicas no Brasil, na verdade já estão fora dos muros dos
18

presídios, pois são aqueles presos beneficiados pelas saídas temporárias e os presos
domiciliares. Assim, o monitoramento tal qual foi instituído pela recente Lei, auxilia na
fiscalização destes específicos presos.
Em que pese concordarmos com a aplicação dos recursos tecnológicos no
monitoramento de apenados, entendemos que a lei pecou ao não estender essa possibilidade
aos presos cautelares, o que traria efetivamente um grande avanço na nossa legislação,
permitindo que estes presos pudessem também sair do sistema carcerário, diminuindo custos
com sua manutenção nesta condição e esvaziando as cadeias e Delegacias, o que traria
benefícios ao seguimento dos processos e abriria vagas a muitos detentos que se encontram
encarcerados sob condições desumanas, em celas super lotadas e sem as menores condições
de higiene e recuperação.
Quanto ao suposto processo de estigmatização pelo qual sofreriam os presos que se
utilizaram dos equipamentos de monitoramento, não de outra sorte, tal preocupação não
merece guarida, uma vez que, tanto a tornozeleira quanto a pulseira eletrônica podem
perfeitamente se esconder sob as vestes do apenado que deles se utiliza, possuindo ambos um
discreto tamanho, similar ao de um relógio.
Ademais, o que se deve ter em mente, especialmente, é que o sistema como hoje vem
sendo adotado em nosso País, visa principalmente garantir maior presença do Estado na
fiscalização dos presos que deixam o estabelecimento prisional em dadas hipóteses, função
esta que é inerente ao próprio Estado.
No mais, é certo que o regime semi-aberto já é considerado ultrapassado e traz
evidente contrasenso, pois permite ao preso que passe o dia fora do estabelecimento prisional,
contudo, não o permite dormir em sua casa, com seus familiares. O monitoramento eletrônico
de condenados, também sob este aspecto, torna mais humana a pena, uma vez que permite tal
convívio em família, sem que haja a perda de vigilância do Estado.
Por fim, quanto ao aparente conflito entre o direito de dignidade do preso e o dever do
Estado de fiscalização, temos que isto somente se daria mesmo de forma aparente, uma vez
que não vislumbramos qualquer ofensa a direitos do preso e nem ao menos ao princípio da
humanização da pena com a instituição do monitoramento eletrônico.
Como sabido, nenhum direito é absoluto, nem mesmo o direito a vida, tanto que a
hipótese legal de legítima defesa permite a uma pessoa o direito de tirar a vida de terceiro,
caso a sua vida seja ameaçada por este e não haja outro meio de defesa. Assim, também
quando alguém comete um crime, este agente tem todos os seus direitos relativizados,
surgindo então o poder de polícia do Estado como limitador de alguns direitos individuais em
19

favor dos direitos da coletividade, como o da liberdade de ir e vir.


Desta maneira, resta evidente que todos os direitos, quaisquer que sejam eles, são
relativos, devendo o Magistrado que deferir o uso do equipamento eletrônico de
monitoramento a dado preso, sempre analisar os direitos e condições deste detento e a
determinação legal para a implementação da medida, em atenção, contudo, aos interesses
sociais, que devem prevalecer aos privados.
Devemos ter sempre em mente que quem está se utilizando da tornozeleira ou pulseira
eletrônica é um sujeito que praticou um delito, que foi julgado e condenado e está, agora,
cumprindo suas obrigações com o Estado e com a sociedade, cabendo ao Poder Público a
fiscalização desta execução, da maneira que melhor atender ao interesse coletivo, por ser este
poder fiscalizatório um de seus deveres.
No mais, é evidente que a tendência do apenado em seguir as regras quando está sendo
fiscalizado tente a aumentar. Assim, o sistema de monitoramento eletrônico acaba por
potencializar a capacidade de fiscalização do Estado, o que com certeza trará um impacto
positivo sobre a questão da reincidência.
É notório que nosso sistema carcerário, tal qual se encontra hoje, não se presta a
reeducar ninguém, não havendo nada mais ineficiente e perigoso ao detento do que a própria
prisão, a qual degrada o ser humano e interfere em seu comportamento, tornando quem ali
habita mais perigoso em sua saída do que o era quando da sua entrada. O uso das
tornozeleiras e pulseiras eletrônicas surgem, também nesta seara, como uma possibilidade do
Estado exercer seu poder punitivo sem que o apenado se sujeite a convivência em nosso falido
sistema prisional.
Portanto, temos que o uso do monitoramento eletrônico de condenados, por meio da
utilização de tornozeleiras ou pulseiras, mostrou-se uma experiência exitosa em muitos países,
o que não deve ser diferente no Brasil. Ele faz parte de um conjunto de ações implementadas
pelos Estados que buscam a fortalecer a vigilância do Poder Público e a reintegração do preso
à sociedade, garantindo maior eficácia do poder fiscalizatório do Estado e ampla segurança à
população, que já convive diariamente com os apenados beneficiários do sistema.
Acreditamos que o monitoramento eletrônico de condenados surge no Brasil,
hodiernamente, como mais um corolário do que já aludia, no século XIX, o festejado jurista
alemão Rudolf Von Ihering: “a história da pena é a história de sua constante abolição”.
20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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