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ÍNDICE:
1. Introdução
Segundo essa concepção, a lei seria a realidade mais significativa. Em torno a ela
gravitariam as funções do Estado. A mais relevante seria a cometida ao confeccionador da lei.
O Palarmento seria a função prevalente. As demais estariam jungidas à sua atuação: o
Executivo seria o encarregado de aplicar a lei sem controvérsia, o Judiciário o responsável por
sua aplicação diante de situações conflituosas.
Toda a cultura jurídica ocidental foi elaborada à luz desse dogmatismo. Com
agravantes para um Estado colonizado como o Brasil, sempre abeberando-se em fontes
alienígenas. A própria França, onde surgiu o modelo clássico da separação de funções, teve
uma Revolução em 1789 na qual um dos objetivos - e não o menos importante - era reduzir o
poder do juiz. E é por isso que a Constituição Francesa vigente consagra a regra de que o
Presidente da República é o garantidor da autoridade das decisões judiciais1. Não é necessário
grande perspicácia para concluir que uma autoridade que precisa da chefia de outro poder
para garantir as próprias decisões, longe está de ser considerada autêntico poder.
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2. A situação brasileira
Bastaria essa leitura singela e literal do texto fundante para a conclusão de que o
juiz brasileiro exerce função política. Também ele é destinatário de todos os comandos que o
constituinte endereçou ao Estado. Não está ele desobrigado da tarefa de construir um Estado
justo, solidário e fraterno, imune a preconceitos e com a pobreza redutível a estágios
compatíveis com a dignidade da pessoa humana3.
Todavia, existe outra vertente a ser examinada. O século XX, que está em seus
estertores, sepulta consigo algumas verdades que nele medraram e não sobreviverão ao
terceiro milênio. Uma delas é a da infalibilidade e onipotência legislativa.
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3. A morte do positivismo
O positivismo está morto. De há muito já se não pode afirmar que a lei seja
expressão da vontade geral ou relação necessária extraída da natureza das coisas. Na
sociedade massificada, de representatividade viciada, a lei passa a ser o compromisso possível
entre forças que se digladiam num Parlamento submisso à onipotência do Governo.
O juiz não pode e não deve ser escravo desse tipo de solução normativa. Ao
contrário, reclama-se-lhe extirpar do ordenamento qualquer dicção fundada em interesses
subalternos e transitórios. E o juiz brasileiro dispõe de inequívocos poderes, alicerçados em
letra expressa da Lei Maior, para deixar de aplicar todo texto normativo incompatível com a
Constituição.
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estará dessa maneira preservada, mesmo que à custa da vontade do transitório detentor do
poder.
Ora, "o compromisso ama os termos fluidos e as disposições ambíguas, que não
revelam o desacordo. A lei se torna um produto semi-finalizado que deve ser terminado
pelo juiz"5. Como sustentar-se, diante desse quadro, não deva o juiz investir-se de sua
condição de intérprete da vontade coletiva, titular da missão de conferir à lei o sentido
possível?
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Essa apoliticidade, lembra RUIZ PÉREZ, "é assumida como sinônimo e condição de
imparcialidade e independência do juiz e, portanto, como princípio fundamental de sua
deontologia profissional"7. Exacerbação dessa postura se exterioriza na tendência a se
converter o juiz num recluso, distanciado da realidade vivenciada por seus justiciáveis, sob
argumentos de que a comunidade é a arena das disputas individuais, das quais o julgador deve
estar ausente. Ou a visão estreita ainda contida nos estatutos da Magistratura, proibindo ao
magistrado qualquer atuação suscetível de ser considerada como de coloração política8. O
risco do ativismo político é considerado potencialmente nocivo à própria subsistência da
Magistratura como poder do Estado.
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falso dizer-se que o juiz não tem legitimidade porque não é eleito10, assim também falacioso
afirmar-se que a liberdade do juiz provém de sua apoliticidade. A apoliticidade do juiz não é
senão um postulado ideológico.
O fenômeno é ainda incipiente. Mas já produz resultados11. É claro que isso tem um
preço: a tentativa de introdução da súmula vinculante e a ressurreição da avocatória, sob
argumento de correção da morosidade do Judiciário, constituem explicável reação ao poder
inédito do juiz brasileiro. Outros sinais repercutem nas discussões parlamentares e nos mass
media, quanto aos privilégios dos magistrados.
O juiz ganhou espaço na mídia. E isso mostra que ele está protagonizando a cena
jurídica, da qual não pode continuar a ser inerme espectador ou inexpressivo figurante.
Dele se está exigindo uma postura mais firme na defesa dos interesses das minorias,
embora convicto de que a democracia é o governo da maioria. Dele se reclama singular
exercício da tolerância, valor insubstituível numa sociedade que se proclama e se quer
pluralista. Dele se espera consciência na assunção de novas funções, não menos dignas do que
aquela de ser a boca da lei: o juiz administrador das situações conflituosas, do juiz gestor dos
interesses, do conciliador, do pacificador, do vidente do futuro, do verdadeiro guardião das
promessas não cumpridas por um Estado-providência cuja agonia todos presenciam.
1- Artigo 64 da atual Constituição Francesa, adaptada em 1958: Le président de la République est garant de l'independance de l'autorité judiciaire.
2- Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988, artigo 2º e artigo 60, § 4º, inciso III.
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3- Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988, artigo 3º, incisos de I a IV.
4- A constatação é de ANTOINE GARAPON, um dos mais lúcidos pensadores sobre a Magistratura francesa, no livro "O guardião das promessas-Justiça e
Democracia", Éditions Odile Jacob, Paris, 1996, p. 37.
5- ANTOINE GARAPON, op. Cit., idem, ibidem.
6- Sobre o tema, consultar "O juiz e sua ideologia política", de JOSÉ RENATO NALINI, in "Cadernos Liberais", volume 50, do Instituto Tancredo Neves.
7- JOAQUÍN S. RUIZ PÉREZ, "Juez y Sociedad", Editorial Temis, S/A, Bogotá, Colômbia, 1987, p. 166.
8- E não é só o impedimento à vivência político-partidária, inscrito na LOMAN, como também a vedação à participação em qualquer sociedade e
mesmo, por exemplo, em cargos científicos ou didático-pedagógicos em Faculdades de Direito.
9- Consultar LUIGI FERRAJOLI, "Magistratura democrática y el ejercício alternativo de la función judicial", Departamento de Filosofia del Derecho,
Universidad de Granada, febrero, 1977, folios 1 y 2 e LÓPEZ CALERA, "sobre el alcance teórico del uso alternativo del derecho", no volume "Sobre el uso
alternativo del derecho", Fernando Torres, Editor, Valencia, 1978, p. 18.
10- Essa a justificativa francesa para explicar seu juiz na condição de mera autoridade, que depende do Presidente de um outro poder para ver
garantidas as suas decisões. Óbvio que eleição não é o único critério legitimador de uma autoridade. O juiz brasileiro se legitima por seu recrutamento
democrático mediante concurso público e pela fundamentação explícita de suas decisões, haurindo legitimidade ainda porque previsto como poder
judicial pelo constituinte, por vontade soberana do povo.
11- LUÍS NASSIF, jornalista crítico da Justiça Brasileira, anotava como ponto positivo da possibilidade até então inusitada de se trazer o detentor de
poder político aos Tribunais, a resignação, de parte dos poderosos, perante esse fato revelador de uma consciência nova do cidadão brasileiro diante da
atuação de seus juízes. Ver Folha de S. Paulo de 2.1.1998, artigo "Um novo padrão de Justiça".
12- O Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, do Superior Tribunal de Justiça e Diretor da Escola Nacional da Magistratura, está em tratativas para
implementar uma Pós-Graduação Virtual aos Juízes Brasileiros, mediante acesso por rede de infovias, tipo Internet, com reconhecimento das
autoridades do Ministério da Educação. É a constatação da inviabilidade prática, ou, ao menos, da enorme dificuldade de todo magistrado se subordinar
à pós-graduação convencional, sobretudo aquele radicado no interior, distante dos grandes centros universitários.
13- Sobre a importância da ética na formação do Magistrado e no desempenho da Magistratura, consultar Ética Geral e Profissional, de JOSÉ RENATO
NALINI, RT, SP, 1997.
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