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O Associativismo Juvenil e a Cidadania Política

Pedro M. Ferreira (coordenador)


Pedro Alcântara da Silva

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa


Dezembro de 2005

1
Índice

Introdução 3

O associativismo e o voluntariado juvenis 7

Voto, simpatia partidária e socialização 37

Acção política e a mobilização cognitiva 59

A participação juvenil e as representações de cidadania 81

A participação juvenil e a esfera política 105

A participação juvenil e a democracia 127

Conclusão final 145

Anexo

Questionário 150

2
Introdução

O objectivo deste estudo consiste na apresentação dos resultados do


inquérito sobre a participação associativa e política dos jovens portugueses. Se
o tema representa em si mesmo uma dimensão importante do conhecimento da
juventude portuguesa, adquire um interesse acrescido se for associado às
preocupações actuais em torno da questão da cidadania. Existem muitas razões
que justificam a importância que o debate sobre a cidadania assume na agenda
política contemporânea, mas vale a pena chamar atenção para duas delas.
Em primeiro lugar, a concepção tradicional de cidadania tem vindo a ser
posta em causa em virtude de um conjunto de mudanças e de tendências em
curso nas sociedades europeias, como a progressiva integração do espaço
europeu, a introdução da legislação sobre direitos humanos, o aumento da
heterogeneidade da população e da sua mobilidade através das fronteiras, as
preocupações relacionadas com a prevalência do comportamento anti-social, ou
os receios em torno da segurança e da liberdade individuais que resultam do
fenómeno do terrorismo internacional. Todas estas questões põem em causa a
equivalência entre cidadania e nacionalidade e convidam a uma reformulação da
própria concepção de cidadania.
Em segundo lugar, a questão da cidadania relaciona-se também com a
crise de representação e de funcionamento das instituições democráticas. Os
sinais mais visíveis dessa crise reflectem-se no enfraquecimento do sentido de
comunidade e da solidariedade pública, no crescente cinismo em relação à
política e na desafectação em relação às instituições políticas, no declínio das
instituições que sustentam a sociedade civil e a democracia, como os partidos
políticos, e no aumento da abstenção eleitoral que caracteriza a maior parte das
sociedades democráticas. À luz destas tendências, a dinamização do papel dos
cidadãos nas decisões e nas políticas públicas e das contribuições cívicas é
crucial para o desempenho do sistema político e para a eficácia e a qualidade da
democracia.

3
É possível olhar para a cidadania como uma panaceia para alguns destes
problemas. A democracia e o sistema político só têm a ganhar com a existência
de «verdadeiros» cidadãos, ou seja, pessoas politicamente envolvidas, bem
informadas e sustentando valores democráticos consistentes. Acredita-se que a
participação activa é a chave para se atingirem estes objectivos na medida em
que leva ao reforço dos sentimentos de pertença na sociedade, ao aumento do
conhecimento dos assuntos públicos e das questões sociais e à sustentação e
desenvolvimento das «virtudes cívicas», como a tolerância e o respeito em
relação aos outros. Neste sentido, a qualidade do sistema democrático está
cada vez mais associada ao papel dos cidadãos na dinamização das
comunidades em que vivem ou das instituições que sustentem a sociedade civil.
Face a este enquadramento, que pensam os jovens portugueses sobre o
papel dos cidadãos, dos seus direitos e deveres? Que sentimentos e
preocupações manifestam em relação ao funcionamento das instituições
políticas e da própria democracia? Que presença registam nas associações
voluntárias em que assenta parte significativa da sociedade civil? E em que
medida se sentem chamados a participar na acção politica, inclusive no
exercício eleitoral? Estas são algumas das questões exploradas pelo inquérito
em que se sustenta o presente estudo. O objectivo primário é conhecer e
caracterizar o comportamento cívico dos jovens portugueses, recorrendo a um
conjunto de indicadores e dimensões que definem esse comportamento.
Mas nenhum estudo sociológico se satisfaz com a descrição de
tendências gerais. A diferenciação das atitudes, das práticas e das
representações constitui uma tarefa essencial na compreensão dos fenómenos
sociais. Que grupos se evidenciam, quer positiva quer negativamente, no
envolvimento associativo e político? Que atributos sociais se encontram
associados às disposições que manifestam? Que relações se podem
estabelecer entre as diferentes dimensões da participação, por exemplo, entre o
associativismo voluntário e o interesse pela política?
Nesta segunda vertente, procurar-se-á isolar e identificar algumas das
condições sociais que favorecem (ou bloqueiam) o desenvolvimento e a

4
afirmação da participação. Do conhecimento sobre a realidade juvenil, podem
decorrer algumas consequências (reflexivas, claro!) para a sociedade
portuguesa. Dois exemplos, apenas. Esse conhecimento não pode deixar de
questionar o grau de mobilização cognitiva existente na sociedade, em que a
escolaridade assume, sem dúvida, um papel fundamental, ou, por outras
palavras, a capacidade de a democracia portuguesa produzir cidadãos críticos.
Não basta ter indivíduos civicamente interessados, informados e politicamente
competentes; é necessário também que estejam atentos à acção dos
governantes e dispostos a actuar no caso de essa acção ser considerada injusta
ou ilegítima. Outro exemplo importante refere-se à confiança que os jovens
manifestam. A confiança é importante na medida em que permite aos indivíduos
ultrapassarem os limites das relações familiares e comunitárias e estabelecerem
relações cooperativas com os outros que não conhecem, contribuindo para a
melhoria do nível de bem-estar da sociedade. Não há vida cívica nem
dinamização da sociedade civil sem uma confiança interpessoal generalizada. A
participação activa constitui possivelmente uma das melhores estratégias de a
promover.
Do ponto de vista metodológico, o universo de investigação é constituído
pelo conjunto de indivíduos entre os 15 e os 29 anos, residentes em Portugal
Continental em localidades com dez ou mais fogos. A dimensão final da amostra
foi de mil entrevistas1.
O estudo está dividido em seis partes. As três primeiras descrevem e
analisam os indicadores de participação juvenil. São assim passadas em revista
as práticas associativas e voluntárias, o exercício eleitoral e os comportamentos
face ao sistema institucional de representação, e, por último, o envolvimento em
actividades e iniciativas de natureza política. As outras três partes exploram o
impacto que as atitudes face ao campo político, às representações sobre a

1
Informações mais pormenorizadas sobre o processo de amostragem e a metodologia do estudo podem ser
mais consultados no arquivo (www.apis.ics.ul.pt) em que serão depositados os dados e a documentação
deste estudo.

5
cidadania e ao funcionamento da democracia têm na participação associativa e
política dos jovens portugueses.

6
O associativismo e o voluntariado juvenis

As associações têm vindo a ser consideradas um espaço privilegiado de


afirmação da sociedade civil e de desenvolvimento da cidadania democrática.
Uma das razões reside no efeito hipotético de que a participação associativa
afecta as atitudes, as capacidades e os comportamentos dos indivíduos de uma
forma que se revela benéfica em termos democráticos. Nesta perspectiva, a vida
associativa inculcaria um conjunto de virtudes cívicas nos seus membros,
designadamente disposições favoráveis aos comportamentos cooperativos, ao
respeito pelos outros, à tolerância, ao respeito pela lei, ao envolvimento activo
na esfera pública e ao reforço dos sentimentos de autoconfiança e de eficácia
pessoal. Na medida em que os indivíduos tivessem estes valores, a cidadania
democrática não deixaria de se reforçar, tornando-se mais robusta e justa.
Uma outra versão do mesmo argumento dá mais ênfase às atitudes e
competências cívicas do que às virtudes cívicas. As associações seriam
sobretudo importantes enquanto escolas de civismo na medida em que
ensinariam aos seus membros competências, como dirigir reuniões, redigir
comunicados e falar e argumentar em público, que são necessárias a todo o tipo
de acção política. Neste sentido, as associações capazes de ensinarem
competências cívicas melhorariam a democracia através do reforço da
participação política.
Atendendo a estas relações positivas entre associações e a cidadania
democrática, um estudo sobre a participação juvenil teria de as eleger como um
campo privilegiado de análise. Do mesmo modo que as políticas públicas
desenvolvem desde há muito o associativismo e o voluntariado como eixos
centrais de uma política de juventude. A contribuição deste estudo será analisar
a forma como têm vindo a expandir-se e a reforçar-se na sociedade portuguesa.
O presente capítulo está dividido em duas partes. A primeira explora o
mundo associativo dos jovens, evidenciando as associações que mais os
atraem, a regularidade das actividades, os papéis que nelas desempenham, as

7
diferenças sociais entre jovens associados e não associados e as motivações
subjacentes à (não) participação associativa. A segunda descreve o voluntariado
juvenil, caracterizando o perfil social dos voluntários, identificando as
associações e as actividades em que se envolvem, e, finalmente, procurando
compreender as motivações e as representações subjacentes ao trabalho
voluntário juvenil.

A pertença associativa

A participação associativa dos jovens captada neste inquérito vai ao


encontro dos resultados revelados em pesquisas realizadas na União Europeia2.
A pertença associativa não se afigura particularmente elevada: apenas um em
cada quatro jovens admite ter pelo menos uma filiação associativa (26,7%). Esta
taxa de adesão encontra-se, contudo, muito pulverizada. A principal
concentração surge no sector desportivo, afectando um pouco mais de um em
cada dez jovens. Nenhum outro sector da vida associativa suscita uma vitalidade
semelhante. As actividades que mais se aproximam não chegam a mobilizar 5%
dos jovens, ou seja, menos de metade da adesão desportiva. Nesta posição
figuram as associações de estudantes (4,9%), as culturais ou artísticas (4,8%) e
as de natureza religiosa ou paroquial (4,2%). Um pouco mais distanciadas,
aparecem as associações de juventude (2,8%) e as de natureza política,
designadamente partidária (2,3%). Com valores quase residuais (abaixo de 2%),
surge por fim um leque vasto de associações cuja acção contempla diversos
campos sociais (comunitário, profissional, ambiental, sindical ou de defesa de
direitos).

2
Ver INRA (2001), Les Jeunes Européens en 2001 : Eurobaromètre 55.1, Bruxelles, Commission
Européenne, Direction Générale Éducation, Formation et Jeunesse ; INRA (1997), Les Jeunes Européens:
Eurobaromètre 47.2, Bruxelles, Commission Européenne, Direction Générale Éducation, Formation et
Jeunesse.

8
Pertença associativa
Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Sindicatos
Partidos políticos
Direitos humanos
Ambientais
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras

0,00 ,02 ,04 ,06 ,08 ,10 ,12

Diferenças sociais na participação associativa

Um dos aspectos mais interessantes no que respeita ao associativismo


consiste em saber se a participação é condicionada por determinadas
características sociais. Em primeiro lugar interessa determinar se existem ou não
diferenças sociais entre associados e não associados. Em segundo lugar,
atendendo à importância do envolvimento desportivo, interessa averiguar se este
tipo de associativismo é socialmente distinto do restante. Finalmente, em terceiro
importa determinar o perfil das modalidades associativas recenseadas em ordem
a detectar eventuais clivagens sociais entre elas.
Sem entrar em grandes descrições técnicas, as distribuições percentuais
e os testes estatísticos usados3 permitiram identificar as variáveis que
diferenciam mais significativamente entre associados e não associados. Neste
sentido, foi possível determinar que o universo associativo juvenil é
caracterizado pelo seguinte perfil de variáveis: ensino médio e superior, solteiro,
masculino, estudante, muito religioso ou religioso e nova burguesia assalariada e
burguesia (Quadro nº 1). De forma quase inversa, a caracterização social dos

3
O teste usado e que aparece em muitas das análises apresentadas ao longo do texto é o V de Cramer.
Esta medida de associação, que se baseia na estatística do qui-quadrado, varia entre 0 (associação nula) e 1
(associação perfeita) e mede a associação entre variáveis numa tabela de contingência.

9
não associados evidencia o nível mais baixo de escolaridade (até ao ensino
básico), os jovens conjugalmente coabitantes, o sexo feminino e as classes
assalariadas. Destes dois perfis de variáveis pode inferir-se que a diferença
entre associados e não associados repousa nos níveis de instrução, no género,
na situação conjugal e na classe social4. É interessante verificar, desde logo, o
efeito praticamente nulo ou reduzido de certas variáveis, como a idade, a
pertença religiosa ou até mesmo da condição perante o trabalho.
Aparentemente, o aumento da idade não faz diminuir o interesse associativo e,
por outro lado, seria previsível que a condição estudantil, vista como um tempo
mais propenso à prática associativa devido a uma maior disponibilidade,
exercesse um estímulo mais forte do que aquele que realmente exerce.
Do lado das variáveis que estimulam a participação, é necessário reter
alguns aspectos importantes. Talvez seja de referir, em primeiro lugar, em
contraponto à condição estudantil, que, do ponto de vista da disponibilidade, a
condição mais decisiva é de facto a de solteiro. Apesar de a condição estudantil
ter apenas um impacto modesto na participação, o nível de instrução revela-se
altamente diferenciador. O nível de instrução elevado aparece associado ao
universo dos jovens associados, passando o inverso em relação à população
menos instruída. A intensidade religiosa é também bastante interessante. O
impacto desta variável não tem tanto a ver com a pertença religiosa, como com a
intensidade religiosa. Por exemplo, o conformismo religioso presente nos
católicos não praticantes surge do lado da não participação, enquanto os
católicos praticantes aparecem no da participação. Esta distinção mostra que
não é a pertença religiosa que produz a diferenciação entre associados e não
associados, mas a intensidade da prática religiosa.

4
A definição de classe social do inquirido é feita com base numa adaptação da grelha
desenvolvida por Erikson/Goldthorpe. A combinação entre a classificação nacional das
profissões a dois dígitos do INE (versão de 1994) e a situação na profissão de cada indivíduo
permite a constituição de seis classes: burguesia, nova burguesia assalariada, pequena
burguesia tradicional, salariato não-manual, trabalhadores independentes e salariato manual.
Quando não foi possível calcular a classe social do inquirido, assumiu-se a classe social da
família de origem.

10
A última variável que importa referir é o género. À primeira vista, os dados
sugerem a reprodução de um padrão tradicional, traduzido numa mais forte
propensão masculina na esfera pública. A questão que talvez importe esclarecer
consiste em saber se essa propensão tende a distribuir-se por todo o tipo de
participação ou aparece mais concentrado em algumas modalidades
associativas, designadamente as de âmbito desportivo.

Quadro nº 1
Perfis sociográficos do associativismo juvenil
Não Associados Desportistas Não
associados Desportistas

Masculino 46,9 60,3 79,5 52,4


Feminino 53,1 39,7 20,5 47,6
(V=0,118; p=0,000) (V=0,252; p=0,000)

15-19 29,3 31,1 41,6 27,1


20-24 35,3 31,8 27,3 33,5
25-29 35,3 37,1 31,2 39,4
(V=0,033; p=0,587) (V=0,141; p=0,071)

Estudantes 34,9 42,6 41,6 43,1


Trabalhadores 53,6 49,1 54,5 46,8
Desempregados 8,2 7,5 3,9 9,0
Outra 3,3 ,8 1,1
(V=0,094; p=0,033) (V=0,114; p=0,330)

Ensino básico 51,2 33,2 43,4 29,3


Ensino médio 36,6 38,5 43,4 36,2
Ensino superior 12,2 28,3 13,2 34,6
(V=0,211;p=0,000) (V=0,220; p=0,002)

Burguesia 7,9 13,8 13,2 14,1


Nova burguesia assalariada 11,6 17,2 7,9 21,1
Pequena burguesia tradicional 3,0 5,0 9,2 3,2
Salariato não-manual 42,3 36,0 39,5 34,6
Trabalhadores independentes 4,4 2,3 1,3 2,7
Salariato manual 30,8 25,7 28,9 24,3
(V=0,142; p=0,002) (V=0,201; p=0,061)

1 Solteiro/a 74,5 87,2 88,3 86,3


Casado/a pela igreja 11,3 8,3 3,9 10,0
Casado/a pelo civil 3,5 ,8 1,3 ,5
Vive conjugalmente sem ser casado/a 8,9 1,5 1,3 2,1
Separado(a)/Divorciado/a 1,8 2,3 5,2 1,1
(V=0,11686, p=0,400) (V=0,163, p=0,00) (V=0,165, p=0,120)

Católico praticante 24,0 29,9 25,3 31,6


Católico não praticante 54,2 46,4 49,3 44,9
Outra religião 1,8 2,7 3,7
Não crente 20,0 21,1 25,3 19,8
(V=0,076; p=0,130) (V=0,131; p=0,212)

Muito religioso 10,8 14,7 9,0 17,0


Religioso 41,0 43,2 37,2 45,2
Pouco religioso 28,6 20,7 25,6 18,6
Nada religioso 19,7 21,4 28,2 19,1
(V=0,088; p=0,055) (V=0,158; p=0,084)

11
A caracterização do perfil sociográfico das práticas associativas
recenseadas no inquérito, ou seja, a composição social dos indivíduos que nelas
participam, suscita, desde logo, três observações de carácter geral (Quadro nº
2). Mantendo os mesmos procedimentos estatísticos já referidos, a primeira
observação incide nas associações com expressões numéricas pouco
significativas. Por exemplo, as associações de direitos humanos, de defesa de
animais ou ecológicas, de consumidores, reúnem apoios associativos inferiores
a 2%. Mas não é exclusivamente pela questão da dimensão que se fica a dever
a ausência de relações. Outras associações com expressão numérica reduzida
estabelecem, como veremos, relações fortes a certas variáveis. Na verdade,
acontece que as variáveis usadas para estabelecer os perfis sociográficos não
discriminam os indivíduos que integram essas associações.
A segunda observação refere o limitado número de variáveis que aparece
a caracterizar os diferentes tipos de associações. Não há sequer uma relação
entre o número de variáveis e a dimensão da associação. Regra geral, as
associações pequenas mas focalizadas em actividades muito específicas, como
os sindicatos ou a associações profissionais, aparecem tão discriminadas como
as associações de maior dimensão, como as desportivas, cuja oferta se
apresenta aberta ao conjunto da população jovem, sendo por isso bastante mais
diferenciada.
Uma terceira observação refere o facto de a variável característica estar
na maior parte dos casos associada à natureza da actividade associativa
desenvolvida. As associações religiosas aparecem, como seria de esperar,
coladas às modalidades religiosas, designadamente aos católicos praticantes e
à intensidade religiosa (muito regular ou regular). Como anteriormente se referiu,
verifica-se que a adesão associativa depende mais da intensidade do que da
filiação religiosa, embora, em alguns casos, também importe referi-la.
De natureza distinta, as associações profissionais e sindicais apresentam-
se muito ligadas a determinados segmentos juvenis. Em comum, partilham a
presença dos trabalhadores, dos níveis de ensino médio e superior, e dos
sectores mais velhos (25-29 anos). Deste modo, evidencia-se que a propensão

12
associativa no mundo laboral é mais forte na população mais escolarizada.
Sublinhe-se ainda duas outras características do sindicalismo: a presença
feminina e dos casados (esta situação está também relacionada com a presença
do segmento etariamente mais elevado).

Quadro nº 2
Perfis sociográficos das práticas associativas
Tipos de associações Variáveis mais características

Comunitárias/assistência Ensino médio/superior, burguesia assalariada, muito religioso


Religiosas/Igrejas/paroquiais Católico prat, feminino, religioso, ensino médio/ superior, NBA
Culturais/artísticas Ensino médio ou superior
Profissionais Trabalhadores, ensino médio/ superior, 25-29 anos
Sindicatos Trabalhadores, 25-29, ensino médio/superior, feminino, casado
Partidos políticos Ensino médio ou superior, nova burguesia assalariada
Direitos humanos -
De protecção Ensino médio ou superior, nova burguesia assalariada
Consumidores -
Juventude Ensino médio/superior, burguesia assalariada, estudantes
Estudantes Estudantes, solteiro, ensino médio ou superior
Desportivas Masculino, solteiro/separado, ensino médio/superior, PBT e B
Interesse específico -
Outras Até ao ensino básico

Do mesmo modo que as associações laborais, as associações estudantis


estabelecem também uma relação vinculativa a um meio social específico.
Consequentemente, os estudantes constituem a modalidade mais característica.
Em conexão, a modalidade solteiro surge igualmente a caracterizar as
associações estudantis.
Por último, das relações que ainda faltam referir, a que merece mais
destaque evidencia o papel das associações desportivas, atendendo ao peso
numérico que representam. Aparentemente, a participação desportiva parece
marcada pelo género masculino, pela condição de solteiro e de divorciado, e
associada à população mais escolarizada e a certos sectores das classes
médias. Note-se que é a única actividade associativa marcada pelo predomínio
masculino, indiciando que as diferenças de género nas práticas desportivas são
ainda muito significativas. É talvez esta a razão, atendendo ao peso da prática
associativa desportiva, que explica as diferenças de género observadas entre a

13
população jovem associada e a não associada, tanto mais quando nas outras
práticas associativas não se registam diferenças de género.
Duas outras relações chamam a atenção para o papel significativo que a
escolaridade e a nova burguesia assalariada desempenham muitas vezes, mas
nem sempre, em simultâneo em várias associações, como as comunitárias ou
de assistência social. Estas relações mostram que a propensão associativa é
facilitada pelo nível de instrução e tende a expandir-se mais fortemente nas
classes médias.

A frequência da prática associativa

Conhecido o número de associados, a segunda questão indaga a


regularidade da prática associativa. A intensidade é medida através de quatro
níveis: nunca, raramente, com alguma regularidade e muito regularmente. O
âmbito das respostas restringe-se, evidentemente, aos 267 jovens associados.
Ao contrário do que acontece com a adesão associativa, a intensidade da
participação pauta-se por valores bastante mais elevados. Com efeito, a maior
parte dos inquiridos assume uma prática regular (45,8%) ou muito regular
(38,2%), permitindo concluir que a participação associativa, mesmo que envolva
um número relativamente reduzido de jovens, é acompanhada por um
envolvimento intenso.

Frequência da participação
50

40

30
%

20

10

0
N

M
un

ar

eg

ui
am

to
ca

ul
ar

re
en

gu
te

en

la
te

rm
en
te

14
O nível de envolvimento associativo é, no entanto, condicionado pelo tipo
de actividade. Deste modo, observa-se, sem surpresa, que a participação é mais
intensa no campo desportivo. Numa escala de quatro posições em que o valor
mais baixo (1) equivale a uma prática nula e o mais alto (4) a uma prática muito
regular, a participação desportiva destaca-se das restantes (3,4). Esta posição é,
sem dúvida, explicada pelo facto de a maior parte dos jovens envolvidos em
associações desportivas ser praticante de uma qualquer modalidade cuja prática
exige normalmente uma frequência intensa. Exceptuando os valores mais altos
da actividade desportiva, verifica-se que a maior parte das associações
apresenta uma prática regular de participação (em torno do valor 3). No limiar
superior surgem as associações culturais/artísticas, religiosas, de juventude, de
estudantes, de interesse específico (hobby) ou não especificadas (outras
associações), e no inferior as associações comunitárias, profissionais, sindicais,
políticas e ambientais. Apenas duas associações parecem produzir uma fraca
mobilização: as de defesa dos direitos humanos e as de consumidores.
Curiosamente, estas duas associações são também as que revelam níveis de
adesão mais baixos, pelo que a frequência da participação surge de algum modo
associada à sua capacidade de atracção.

Frequência da prática associativa


Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Sindicatos
Partidos políticos
Direitos humanos
Ambiente
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0

n=267

15
A existência de contribuição financeira

Outro elemento importante para caracterizar a importância que os jovens


atribuem à participação associativa consiste em saber se essa participação é ou
não acompanhada por uma contribuição financeira. Ainda que não seja uma
condição fundamental da vida associativa, na medida em que pode haver
envolvimento intenso sem contrapartida financeira, na maior parte dos casos,
porém, não deixa de constituir uma indicador da vitalidade do empenhamento
associativo. Do universo de associados, verifica-se que um pouco mais de
metade (57%) assume um contributo financeiro.
A distribuição da participação financeira é variável segundo as
associações. As que se aproximam mais do campo económico registam valores
bastante superiores à média. Considerando o patamar superior a 0,6, ou seja,
uma percentagem superior a 60% de associados contribuintes, verifica-se a
presença de quatro associações, duas das quais todos os membros são
contribuintes. Estão, neste caso, as associações de consumidores e os
sindicatos. Estas associações estão mais vocacionadas para a população activa
e, normalmente, exigem a quotização como condição de adesão. Esta condição
afecta também as associações profissionais, ainda que a percentagem de
contribuintes financeiros seja inferior (um pouco menos de 80%). Fora do campo
económico, mas pertencendo ao patamar acima de 60%, aparecem as
associações desportivas. A razão aqui não surge ligada à actividade económica
mas ao facto de o exercício de uma modalidade desportiva ocorrer em muitos
casos em associações que cobram os serviços que prestam à comunidade.

16
Contribuição financeira
Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Q3. Sindicatos
Partidos políticos
Direitos humanos
Ambientais
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras

0,0 ,2 ,4 ,6 ,8 1,0

No pólo oposto, ou seja, as que apresentam uma percentagem mais baixa


de associados contribuintes, encontram-se as associações religiosas,
ambientais, partidárias e de juventude. As organizações ou movimentos de
defesa de direitos humanos não apresentam inclusive nenhum associado
contribuinte, mas isto explica-se também pelo facto de esta categoria ser
meramente residual (apenas um elemento). Uma razão que seguramente explica
a mais baixa contribuição financeira observada nas associações acima referidas
está, sem dúvida, relacionada com a maior presença de jovens não activos e,
consequentemente, com menos disponibilidade económica. Por outro lado, deve
ter-se também em conta que as associações em causa tendem a sobrepor a
participação e a mobilização à contribuição financeira dos seus membros,
contribuindo, deste modo, para uma implicação financeira mais ténue.

Exercício de actividades de liderança

A última questão sobre a vida associativa dos jovens incide sobre a


questão da liderança ou, de um modo mais prosaico, trata-se de saber se
exercem ou não algum cargo de direcção ou de responsabilidade colectiva nas
associações de que fazem parte. Como seria de esperar, o número de jovens
nestas condições representa uma pequena parte dos jovens associados. Mesmo

17
assim, o inquérito recenseou a existência de setenta e dois jovens que dizem
assumir responsabilidades colectivas. Em termos percentuais, os líderes ou
dirigentes juvenis representam 7,2% do total dos jovens inquiridos, e quase um
terço dos jovens associados (27%). Esta relativa dispersão das funções de
liderança sugere que a acção dos jovens não é passiva nem dependente,
adivinhando-se um protagonismo dinâmico na condução das associações de
que fazem parte.
A observação da distribuição dessas funções de liderança pelos
diferentes tipos de associações faz sobressair de imediato a não existência de
dirigentes em algumas delas, designadamente nas associações ambientais, de
defesa dos direitos humanos, de consumidores e nos partidos/juventudes
partidárias. Se nas três primeiras essa ausência se relaciona com o reduzido
número de casos recenseados, nos partidos políticos as razões devem ser
imputadas aos processos de organização interna. De outro modo não se
compreenderia que associações próximas da acção política, como os sindicatos,
com um número menos elevado de participantes refiram a presença de jovens
em funções de responsabilidade colectiva.

Exercício de papéis de liderança


Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Sindicatos
Partidos políticos
Direito humanos
Ambientais
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras

0,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6

A presença de jovens em funções directivas é sobretudo privilégio das


associações de estudantes e das que se desenvolvem em torno de um interesse

18
específico ou hobby. Nestas associações, mais de quatro em dez jovens dizem
desempenhar um papel de liderança. No caso das associações de estudantes
não é surpreendente tendo em conta a composição exclusivamente juvenil das
mesmas. Quanto às segundas, sugere que os jovens assumem grande
protagonismo no associativismo que se poderia designar por interesse lúdico.
Um pouco contracorrente constata-se que o desempenho de funções de
dirigentes nas associações de juventude fica aquém do que seria de esperar,
tendo em conta não apenas as atitudes pró-activas que promovem e divulgam,
mas também o protagonismo que comparativamente outras associações
assumem, designadamente as associações de estudantes. No que respeita às
associações desportivas, a percentagem relativamente reduzida de associados
(abaixo de 20%) desempenhando funções de liderança apenas vem reforçar a
ideia de que a maior parte dos associados é apenas praticante de uma qualquer
modalidade desportiva.

Razões para a participação

Inquiridos sobre as razões da participação associativa, os jovens colocam,


em primeiro lugar, a sociabilidade ou a convivialidade. Com efeito das cinco
respostas possíveis, quase metade (43,6%) diz que a actividade associativa é
uma «forma de conviver e de conhecer novas pessoas». Ainda que em menor
grau, outras razões também são ponderadas. A segunda escolha («é uma forma
de me enriquecer pessoalmente e de adquirir novas experiências») indica que o
envolvimento associativo é igualmente perspectivado em termos de
desenvolvimento de competências pessoais (22%). Motivações de natureza
altruística («é uma formar de prestar um serviço aos outros e à comunidade») ou
visando a mudança social («é uma forma de poder contribuir para a
transformação sociedade» ou «de os jovens se fazerem ouvir») encontram-se
também presentes nos jovens associados, mas com uma expressão menos
significativa.

19
As razões apontadas para a participação merecem ser confrontadas com
a pertença associativa. Em que medida variam com o tipo de actividades
desenvolvidas? A relação factorial descrita no quadro abaixo apresentado revela
que os motivos de participação que reúnem mais expressão numérica se
encontram relacionados entre si e são comuns à maior parte das associações.
Assim, pode facilmente verificar-se que os motivos de convivialidade, de
altruísmo e de desenvolvimento pessoal, apontados como as principais razões
de participação (e cujo peso numérico está proporcionalmente representado pela
dimensão dos círculos), aparecem relativamente próximos uns dos outros. Esta
proximidade indicia que os indivíduos que pertencem às associações que
ocupam a mesma zona do gráfico escolhem preferencialmente um desses
motivos. Para a maior parte dos associados, as associações proporcionam
oportunidades de convivência e de conhecimento de pessoas, formas de ajudar
os outros e experiências novas. As outras razões de participação afectam um
número muito reduzido de associações. As motivações relacionadas com o
desejo de mudança social ou de protagonismo social mais intenso aparecem
apenas vinculadas de forma significativa aos partidos políticos. Os sindicatos e
as associações profissionais surgem associados a outra razão indicando que a
motivação para este tipo de participação é bastante específica e tem a ver, sem
dúvida, com a defesa de interesses específicos representados por essas
associações.

20
Razões da não participação

Em contraste com as razões de participação, inquiriram-se também as


motivações subjacentes à não vinculação associativa. Os jovens não associados
foram confrontados com uma lista que contemplava quatro razões de não
participação. A distribuição das respostas apresenta-se muito desequilibrada.
Seis em cada dez jovens indicam a falta de tempo («Tenho pouco tempo livre
para participar em actividades associativas»). Como a disponibilidade de tempo
é relativa, a razão indicada pode também ser indiciadora do (pouco) interesse
que a prática associativa suscita nesses jovens. De forma clara e directa, o
desinteresse transparece na segunda razão mais escolhida: 18,3% dos
inquiridos assumem objectivamente que «as actividades associativas têm pouco
ou nenhum interesse». Para eles, o mundo associativo não constitui alternativa
de ocupação de tempo livre ou espaço de participação social. Esta posição não
se encontra necessariamente presente, ainda que possa existir, nos que
admitem a falta de tempo como razão para o seu não envolvimento associativo.

21
Razões para a não participação associativa

Sem informação (4,2)

Não existem

16,8%

57,8%
S/ tempo livre
18,3%
Sem interesse

Outra (2,9%)

n=733

Outro motivo captado relaciona-se com a oferta associativa no contexto


da vida dos jovens («Não existem associações em que esteja interessado em
participar no local onde vivo»). O indicador permite perceber até que ponto a
ausência de estruturas associativas pode representar um obstáculo à
participação juvenil. Subscrita por 18,8% dos jovens, a ausência de estruturas
surge como a terceira resposta mais indicada e sugere que, em certos sectores
juvenis, a falta de equipamentos e estruturas colectivas condiciona ou mesmo
inibe o envolvimento associativo. Por último, inquiriu-se a importância da
informação. Ter ou não acesso à informação é um aspecto crítico a ter em conta
na análise do associativismo? O facto de ter sido a resposta que menos apoio
recebeu indicia que o papel da informação não parece constituir motivo de
exclusão. Apenas uma minoria de jovens (4,2%) reconhece que «mesmo que
desejasse participar numa associação não saberia onde (me) dirigir». Esta
percentagem é quase equivalente à de outra razão não especificada (2,9%).
Revendo-se o peso das várias razões fica sobretudo a impressão de que
a disponibilidade temporal e o interesse constituem as principais motivos da não
participação. Atendendo a que, em muitos casos, a falta de tempo traduz ou
sobrepõe-se também a um certo desinteresse por algo considerado pouco
prioritário, fica por explicar por que razão a oferta associativa não suscita

22
entusiasmo e interesse em cerca de metade dos jovens portugueses. Será por
causa de uma oferta desinteressante ou por uma tradição associativa que nunca
encontrou grande expansão na sociedade portuguesa?

23
O voluntariado juvenil

Ainda que muitas das actividades que se desenvolvem no âmbito


associativo possam ser integradas numa definição ampla de voluntariado, a
definição implícita usada no questionário baseou-se num critério mais restritivo
que a circunscreve à realização de um trabalho de ajuda aos outros sem receber
em troca qualquer pagamento monetário. A definição adoptada pressupõe, por
conseguinte, que um trabalho é considerado voluntário desde que reúna uma
dupla condição: por um lado, a não existência de uma remuneração como
contrapartida do trabalho realizado e, por outro, a referência à intenção ou ao
desejo de ajudar os outros. Esta restrição não impede, evidentemente, a
existência de uma sobreposição necessária entre trabalho voluntário e
determinadas actividades desenvolvidas em algumas associações, mas impede
claramente que qualquer tipo de prática associativa se inscreva
automaticamente no âmbito do voluntariado.

Trabalho voluntário
Sim, no último ano

10,3%
Sim, mais de 1 ano

3,8%

Não me envolvi

86,0%

A aceitação da definição proposta parece ter sido seguida pelos inquiridos


na medida em que, como seria de esperar, as respostas quer relativas ao
número de voluntários quer em relação às associações onde desenvolvem as

24
actividades, são significativamente em menor número do que as verificadas a
propósito das pertenças e práticas associativas. Deste modo, a percentagem de
jovens que se envolveram em trabalho voluntário nos últimos três anos é de
14,1%. Restringindo o período abrangido aos últimos doze meses, verifica-se
que apenas um em cada dez mantém um papel activo.
A relação entre trabalho voluntário e pertença associativa pode ser vista
quer através do número de voluntários que indicaram pertencer a uma
associação quer através da referência aos grupos em que desenvolveram esse
trabalho. Considerando apenas os jovens actualmente voluntários, dois em cada
três indicaram pertencer a uma associação. Aparentemente, apenas um terço
realiza um trabalho voluntário sem subscrever uma pertença associativa. Por
conseguinte, parece seguro ver no voluntariado uma actividade essencialmente
associativa. E em que associações ou grupos surge mais desenvolvido?

Associações/grupos do voluntariado

Igreja/grupo relig.

Assoc. comunitária

Grupo artístico

Trab. infância/juven

Org. política

Org. ecológica

Grupo recreativo

Grupo local

Campanha de fundos

Outro

0 10 20 30 40 50

Valores absolutos

A leitura da distribuição evidencia, num primeiro plano, as organizações


comunitárias, que prestam serviços sociais e de saúde, e as organizações
religiosas. Os números que o gráfico refere são os valores absolutos, mas, em
termos percentuais, representam, respectivamente, 4% e 3,5% do universo
inquirido. Num segundo plano, aparece um conjunto amplo de associações cuja

25
capacidade de mobilização anda em torno de 2%. A natureza das actividades
desenvolvidas é também muito diversa: artísticas, de apoio à infância e à
juventude, recreativas, acção local e campanhas de fundo. Por último surgem
referências a organizações de intervenção política e ecológica, responsáveis por
uma mobilização de expressão reduzida (abaixo de 1%).
Interrogados sobre o tempo dispendido por semana, mais de metade dos
voluntários declara ocupar em média menos de uma hora por dia. Para 22,3%
esse tempo médio pode variar entre 8 a 14 horas por semana, ou seja, entre
uma e duas horas por dia. Uma percentagem semelhante é referida pelos jovens
que ocupam mais de quinze horas semanais em actividades voluntárias.

Número de horas de trabalho voluntário

Até 7 horas

55,5%

22,3%

8 - 14 horas
22,2%

Mais de 15 h

Em termos do tempo médio dispendido, existem algumas diferenças em


função das actividades desenvolvidas. O grupo mais numeroso, envolvendo as
organizações religiosas, artísticas, políticas e recreativas, conta em média com
quatro a seis horas de trabalho por voluntário, equivalente a menos de uma hora
diária. No patamar seguinte, entre seis e oito horas, ou seja, aproximadamente
uma hora diária, aparecem as organizações que trabalham com a infância e a
juventude, os grupos locais e as campanhas de angariação de fundos em
géneros ou em dinheiro destinados a fins sociais. Por último, acima das oito

26
horas semanais, surgem apenas duas organizações: as ecológicas e as
associações comunitárias que proporcionam serviços sociais ou de saúde.

Número de horas de trabalho voluntário

Igreja/grupo relig.

Assoc. comunitária

Grupo artístico

Trab. infância/juven

Organ. política

Org. ecológica

Grupo recreativo

Grupo local

Campanha de fundos

2 4 6 8 10 12

Média

Quem são os voluntários

O perfil social dos voluntários, ou seja, os atributos que surgem a


caracterizar as pertenças e as inserções sociais dos jovens envolvidos em
actividades altruísticas, define-se pelas seguintes modalidades: estudantes,
desempregados, católico praticante, outra religião, burguesia e nova burguesia
assalariada, ensino médio e superior5. As variáveis idade e situação conjugal
mostram uma certa tendência para os voluntários estarem mais presentes nos
grupos mais novos (até 24 anos) e nas situações não conjugais (solteiros e
divorciados), mas estas diferenças numéricas não são expressivas
estatisticamente falando (Quadro nº 3).
Outra ausência de relevo diz respeito ao género. Indo ao encontro de uma
representação mais ou menos generalizada, os estudos sobre voluntariado no
conjunto da população têm revelado maior presença feminina. Aparentemente,
com os jovens não acontece o mesmo. Inclusive, em termos percentuais, a

27
propensão feminina encontrada neste inquérito é inferior à masculina, ainda que
a diferença não tenha significado estatístico (respectivamente, 14,2% e 13,8%).
Esta propensão similar não afasta a possibilidade de as diferenças de género se
manifestarem nas actividades que são exercidas. Haverá alguma tendência
diferenciada? A resposta é afirmativa, ainda que as diferenças sejam limitadas.
Se nas associações comunitárias, artísticas, educativas, locais ou nas
campanhas de recolha de fundos não se constatam grandes diferenças, existem
outras em que se verificam tendências divergentes. Duas delas apenas
merecem uma breve referência na medida em que se apoiam num número muito
limitado de respostas (inferior à dezena). São elas a intervenção ecológica e a
acção política, tendo a primeira preponderância masculina e a segunda feminina.
Se não fosse o limitado número de respostas a que se reportam, essas
diferenças (a confirmarem-se) poderiam ter implicações bastante mais
interessantes. Esse interesse é evidente em duas outras actividades em que se
observam também divergências acentuadas segundo o género, embora num
sentido mais convencional e, até certo ponto, expectável. Referimo-nos ao facto
de a presença feminina ser de longe superior à dos rapazes nas organizações e
grupos religiosos (68,6%, contra 31,4%), ocorrendo o inverso nas associações
recreativas (respectivamente, 23,5% e 76,5%). Há, por conseguinte, uma
tendência para o voluntariado religioso juvenil assumir uma conotação feminina
e o recreativo (e, de certo modo, mais lúdico) ter um peso mais masculino.
A referência às actividades religiosas femininas permite chamar a atenção
para o papel importante da religião enquanto alavanca do voluntariado.
Referimos há pouco a presença mais significativa das categorias católicos
praticantes e outra religião. Agora trata-se de sublinhar a propensão destes dois
grupos para se envolverem em actividades de ajuda aos outros. Do confronto
entre eles resulta claro que a propensão é muito mais elevada na segunda
categoria. Enquanto o peso dos jovens católicos (17,6%) não anda muito longe
da média de voluntários juvenis (14%), os jovens de filiação religiosa não
católica exibem níveis de militância bastante elevados (45%). Sem pretender

5
Apenas são consideradas as variáveis que apresentam significância estatística.

28
diminuir a propensão específica destes jovens para as actividades de
voluntariado, é necessário ter em conta que o seu número absoluto não
ultrapassa as duas dezenas, correspondendo a 2,1% da amostra, pelo que se
aconselha uma leitura prudente e relativa dos números apresentados que não
deve, evidentemente, ofuscar o resultado substantivo a que se chegou.

Quadro nº 3
Perfil sociográfico do voluntariado juvenil
Voluntariado Não Sim
Total 86,0 14,0

Masculino 85,8 14,2


Feminino 86,2 13,8
(V=0,005, p=0,873)

15-19 83,8 16,2


20-24 85,4 14,6
25-29 88,3 11,7
(V=0,052; p=0,262)

Estudantes 80,8 19,2


Trabalhadores 89,8 10,2
Desempregados 82,5 17,5
Outra 96,0 4,0
(V=0,132, p=0,001)

Ensino básico 92,1 7,9


Ensino médio 85,1 14,9
Ensino superior 70,2 29,8
(V=0,221, p=0,000)

Burguesia 71,1 28,9


Nova burguesia assalariada 78,2 21,8
Pequena burguesia tradicional 81,3 18,8
Salariato não-manual 87,8 12,2
Trabalhadores independentes 91,4 8,6
Salariato manual 91,5 8,5
(V=0,184, p=0,000)

1 Solteiro/a 84,5 15,5


Casado/a pela igreja 93,2 6,8
Casado/a pelo civil 89,3 10,7
Vive conjugalmente sem ser casado/a 91,2 8,8
Separado(a)/Divorciado/a 81,3 18,8
(V=0,090, p=0,0951)

Católico praticante 82,4 17,6


Católico não praticante 89,2 10,8
Outra religião 55,0 45,0
Não crente 85,7 14,3
(V=0,155, p=0,000)

Muito religioso 74,6 25,4


Religioso 86,8 13,3
Pouco religioso 90,3 9,7
Nada religioso 86,1 13,9
(V=0,131, p=0,001)

29
Resultado também surpreendente pelo acentuado desvio em relação ao
peso dos voluntários na população encontra-se no grupo de instrução média ou
superior. Com efeito, evidencia um peso (29,8%) muito acima da «média» do
voluntariado. Aliás, é interessante referir que o envolvimento altruísta está
bastante correlacionado com a educação. No nível de instrução mais baixo, a
percentagem de jovens é bastante inferior (7,9%) à média, igualando-a (14.9%)
no grupo imediatamente a seguir (ensino secundário ou equivalente), para se
distanciar, como vimos, no grupo mais instruído. É, portanto, claro que a
militância altruísta é um atributo da população mais instruída.
Um elemento que se pode articular, até certo ponto, à correlação entre
educação e voluntariado é a condição estudantil. De todas as condições
ocupacionais é a que apresenta um valor mais distanciado (19,2%), embora não
muito, em relação à «média», seguida da dos desempregados (17,5%), que
inclui também os que procuram o primeiro emprego. Ambas ocupações
contrapõem-se à condição de trabalhador, sugerindo que a disponibilidade
temporal, supostamente mais abundante naquelas duas condições, é um
elemento favorável ao envolvimento militante. Por outro lado, a condição
estudantil, sobretudo quando associada aos níveis de instrução mais elevados,
deve potenciar e acentuar esse envolvimento, justificando a propensão mais
elevada dos estudantes em comparação com a dos desempregados.
A disponibilidade (ou a falta dela) parece constituir um obstáculo para
outras situações. Se os investimentos profissionais, sobretudo no início da
actividade profissional, exigem uma focalização e uma concentração mais
exclusivas, a que se juntam também os empenhamentos conjugais e familiares,
as pressões sobre o tempo disponível que eles induzem podem inibir a eventual
realização de actividades de «tempos livres», nas quais se encontra a prática de
acções dirigidas aos outros. Por isso, não admira encontrar nos solteiros e nos
divorciados envolvimentos mais intensos do que nos jovens que vivem
conjugalmente. Mesmo que as diferenças não sejam particularmente
significativas, as três situações conjugais (casados pela Igreja, casados pelo civil
e situações de facto) apresentam percentagens inferiores à média da população

30
(14%), ou seja, respectivamente de 6,8%, 10,7% e 8,8%. Deste modo, a
condição conjugal e familiar, como a inserção profissional, mostra-se algo
refractária ao voluntariado, pelo menos durante o período juvenil.
Por último, uma palavra quanto à origem social dos voluntários. Três
classes apresentam valores superiores à média: burguesia (28,9%), nova
burguesia assalariada (21,8%) e pequena burguesia tradicional (18,8%). Destas
três classes provêm quase metade (44,5%) dos voluntários, número bastante
significativo se atendermos que o peso destas classes na amostra é de apenas
26%. Em termos gerais, fica assim demonstrado uma maior propensão por parte
dos jovens das classes médias para o voluntariado. Este resultado não pode
deixar de ser associado, como vimos, ao papel da educação superior, cuja
relação com as classes em causa é conhecido e evidenciado desde há muito
pela sociologia da educação.

Razões e motivações

A motivação é uma questão que não pode deixar de ser explorada na


análise das práticas de voluntariado. Das razões apresentadas as que
suscitaram mais adesão apontam para um interesse intrínseco na actividade ou
para um sentimento de responsabilidade social («Sinto-me responsável por
procurar fazer com que a sociedade se torne melhor»). Enquanto a primeira é
referida por pouco mais de metade dos voluntários (56,1%), a segunda, menos
apoiada, é, mesmo assim, escolhida por cerca de um em cada quatro jovens
voluntários. Deste modo, a motivação tem mais a ver com a determinação e a
preferência das pessoas do que com o jogo das influências sociais. Estas, no
entanto, estão também presentes e indicam que a acção das relações de
amizade se sobrepõe à influência familiar. Com efeito, o número de vezes (29)
que os jovens referem a frase «um amigo pediu-me para colaborar» é superior à
indicação de um familiar envolvido em actividades de voluntariado. Em termos
das referências familiares, a influência raramente provém dos familiares mais
próximos.

31
Razões para o trabalho voluntário
100

80

valores absolutos
60

40

20

0
U

Pe

In

M
m

ter

elh
di
fa

fa

do

es

or
m

se

ar
de
ili

ili

pe

as
ar

ar

um

ss

oc
pr

oa
am
óx

ied
l
ig
im

ad
o
o

e
Adicionalmente à questão da motivação, inquiriu-se também a forma de
entrada no voluntariado. Em consonância com a principal motivação que faz
corresponder o voluntariado a um interesse pessoal, a iniciativa de contactar
com uma associação parte na maior parte das vezes do próprio (42,5%). Na
segunda posição (34,2%), aparece a influência de terceiros. Por vezes, a
iniciativa recai na organização que chama a si o processo de recrutamento. Este
processo é indicado por um em cada cinco jovens (19,9%).

Formas de entrada no voluntariado


50

40

30
%

20

10

0
Co

To

Um


m
nt

o
at
ei

m
ac

er

el
tar

ai

ce

em
ni
am

ira
ci

br
-m

ati

pe

o
e

va

sos
a

n = 137

32
Representações e atitudes

O módulo sobre o voluntariado juvenil teria de contemplar uma descrição


por pequena que fosse dos valores e das representações que os voluntários
sustentam em contraposição aos dos outros jovens. Essa descrição baseia-se
em duas perguntas: uma procurando captar uma certa visão do mundo («Pensa
que as pessoas estão hoje mais ou menos dispostas a ajudar os outros do que
no passado?»); outra sobre a responsabilidade social perante os outros («Devo
ser responsável e participar no melhoramento da sociedade ou o melhoramento
da sociedade é da responsabilidade do governo?»). Da primeira pergunta
ressalta sobretudo a visão de uma sociedade relativamente pouco solidária.
Mais de metade dos jovens, quer sejam ou não voluntários, converge no sentido
de acharem que as pessoas estão hoje menos dispostas do que no passado a
ajudarem os outros. Esta opinião vai ao encontro das posições que apontam
para uma afirmação crescente das manifestações individualistas na sociedade
em resultado da quebra das solidariedades primárias, como sejam, as relações
de vizinhança e comunitárias, ou da dissipação do capital social, a par de um
aumento da concorrência e da competição no mundo do trabalho e, em sentido
mais geral, nas relações com os outros. O individualismo é igualmente visto
como provocando uma mudança no plano dos valores, acentuando valores mais
autocentrados e menos orientados aos outros.
Apesar de tudo, a outra metade dos jovens não está tão pessimista,
repartindo-se mais ou menos de maneira idêntica pelos que opinam
positivamente, ou seja, que consideram as pessoas mais dispostas a ajudarem
os outros, e pelos que se exprimem de forma neutra. De referir ainda que os
jovens voluntários se destacam na posição mais optimista. Deste modo, o
balanço entre representações optimistas e pessimista sobre a relação com os
outros tende a balançar mais no sentido desta última, sem que se possa dizer
que isso constitua necessariamente a manifestação de um sentido de
desencanto ou de descrença no mundo. Para uma grande parte dos jovens
traduzirá apenas as actuais condições de vida na sociedade.

33
As pessoas estão mais ou menos
dispostas a ajudar os outros
60

50

40

30

20
Não voluntário

10 Voluntário
Mais Menos A mesma

Um apoio à interpretação realizada advém das respostas à segunda


pergunta. Mesmo admitindo uma representação mais pessimista do que
optimista das relações com os outros, os jovens não enjeitam a responsabilidade
da mudança social. Maioritariamente consideram que o melhoramento da
sociedade passa mais por eles próprios enquanto cidadãos do que pelo governo.
É salutar registar opiniões favoráveis à iniciativa dos cidadãos na medida em
que projectam potenciais revitalizações da sociedade civil. A posição que
sustentam de não se demitirem das responsabilidades sociais e não considerá-
las como tarefas a serem desempenhadas por outros e, em última instância,
pelo Estado, revela igualmente um sentido de participação social sem a qual não
é possível a afirmação de uma cidadania activa. Aparentemente, apesar de um
pouco pessimistas, os jovens tendem a considerar que a mudança social passa
sobretudo pela vontade dos cidadãos. Esta convicção é bastante intensa nos
jovens inquiridos, mas quase unânime nos jovens voluntários (95,5%).
Esta interpretação que centra a responsabilidade da mudança social nos
cidadãos é igualmente compatível com as tendências individualistas referidas. É
conhecido o facto de um certo discurso sobre a cidadania activa e a iniciativa
dos cidadãos ter sido produzido e desenvolvido no quadro de políticas restritivas
e de ataque à omnipresença e burocratização do Estado na sociedade.
Reclamar ou reivindicar a iniciativa pessoal pode ir ao encontro de convicções

34
morais em relação ao papel que os indivíduos devem assumir perante os outros,
em particular, os grupos socialmente mais vulneráveis, mas essa posição pode
também trazer implicitamente a crítica a um intervencionismo estatal, porventura
considerado excessivo e ineficaz.

A quem compete a mudança da sociedade


100

80

60
%

40

20
Não voluntário

0 Voluntário
Às pessoas Ao governo

Conclusão

O panorama que este estudo traça do associativismo e do voluntariado


juvenil não é particularmente animador. O número de jovens associados anda à
volta de um quarto, mas temos de atender que uma parte muito significativa se
encontra vinculada à prática desportiva, que tem pouca ou nenhuma relação
com a experiência cívica. Se as associações representam uma escola de
virtudes cívicas, parece forçoso concluir que a juventude portuguesa não pode
beneficiar desse espaço de socialização e de aprendizagem da cidadania, como
muito bem reconhecem os jovens associados quando assinalam as vantagens
da experiência associativa, designadamente a importância da convivialidade, a
aquisição de novas competências e a prestação de um serviço aos outros.

35
As razões da reduzida participação associativa estão, sem dúvida,
relacionadas com a capacidade da sociedade em promover comportamentos
colectivos e de cooperação, mas, no que concerne às variáveis exploradas,
verificou-se que a escolaridade, ou a falta dela, é uma das que mais contribui
para a explicar. Não fosse essa fraca participação, o associativismo mostraria
outra vitalidade, atendendo aos indicadores positivos relativos à frequência, às
contribuições financeiras e ao desempenho dos papéis de liderança por parte
dos jovens associados. Em alguns casos, a falta de estruturas, de equipamentos
ou de apoios retraem a procura associativa, mas é sobretudo a indisponibilidade
que, na opinião dos jovens, mais desmotiva a vinculação associativa.
Em termos da dimensão quantitativa, a prática do voluntariado alinha no
mesmo sentido do associativismo, ou seja, o envolvimento aponta para um
número relativamente modesto, afectando um em cada dez jovens. O
voluntariado dispersa-se por várias actividades em que se destacam as
associações de natureza comunitária e religiosa. A referência à religião é
importante para se caracterizar o perfil do jovem voluntário, mas outras variáveis
como a escolaridade, a condição estudantil e a origem social estão igualmente
presentes. O tempo dispendido em actividades voluntárias pode representar, em
média, entre uma ou duas horas diárias, e a razão que justifica a escolha destas
actividades parece residir num sentimento de responsabilidade perante si
mesmo e os outros. Com efeito, os voluntários apontam como principal razão o
interesse intrínseco que as actividades de ajuda aos outros lhes suscitam, mas,
simultaneamente, consideram seu dever agir no sentido da mudança social.

36
Voto, Simpatia Partidária e Socialização

Recenseadas que foram algumas formas de participação política e cívica,


como o associativismo e o voluntariado, avança-se neste capítulo, para a
caracterização dos comportamentos políticos institucionais. Referimo-nos,
evidentemente, à participação eleitoral e à relação com um dos principais pilares
do sistema democrático que são os partidos políticos. As preocupações centrais
incidem, por um lado, nos comportamentos activos, em que merecem especial
referência o significado do voto e as motivações que levam os jovens às urnas e
às escolhas partidárias, e, por outro, nos comportamentos de abstenção
eleitoral, em que se exploram as razões dessa mesma abstenção e das que
estão subjacentes ao não cumprimento do dever de recenseamento. Um último
ponto que se explora relaciona-se com os efeitos da socialização familiar na
participação institucional dos jovens.

A importância de votar

O voto é uma forma de participação política e cívica entre outras, mas que
continua a assumir muita importância para a maioria dos jovens. Como se
observa, cerca de metade dos jovens inquiridos (50,7%) considera o acto de
votar muito ou extremamente importante. Juntando os que o avaliam como
importante (37,1%) conclui-se então que são poucos aqueles que lhe atribuem
pouco ou nenhum valor (12,3%).
Numa escala de um a cinco, em que o valor mais pequeno corresponde a
uma desvalorização completa do voto e o mais elevado à sua valorização
máxima, a média da importância atribuída ao voto (3,59) varia significativamente
segundo o sexo e tende a aumentar de acordo com a idade, o nível de
habilitação escolar e a hierarquização social (Quadro nº 4). Do ponto de vista do
género, os homens revelam dar menos valor a este acto cívico (3,51), assim
como os mais jovens, entre os 15 e os 19 anos (3,44), os menos escolarizados
(3,30) e os de estatuto socioeconómico mais baixo, designadamente o salariato

37
manual e o não manual (3,47 e 3,5, respectivamente). Em sentido inverso, as
mulheres (3,66), os que têm entre 25 e 29 anos (3,73), que frequentam ou
frequentaram o ensino médio ou superior (4,08) e que pertencem, em particular,
à nova burguesia assalariada (3,98) consideram, em média, que é muito
importante votar.

A importância de votar
40

30
%

20

10

0
Extramamente Importante Nada
Muito Pouco

Quadro 4
A importância de voto, segundo as variáveis sociográficas (diferença de médias)
F (1, 994) = 4,541; p = 0,033 < 0,05
Masculino 3,51
Sexo
Feminino 3,66
Total 3,59
F (2, 994) = 6,219; p = 0,002 < 0,05 (G1≠G3)6
15-19 3,44
Idade 20-24 3,56
25-29 3,73
Total 3,59
F (2, 989) = 41,278; p = 0,000 < 0,05 (G1≠ G2, 3; 2≠G3)
Até ao ensino básico 3,30
Escolaridade Ensino secundáriote 3,72
Ensino médio ou superior 4,08
Total 3,59
F (5, 962) = 5,290; p = 0,000 < 0,05 (G2≠G4, 6)
Burguesia 3,76
Nova burguesia assalariada 3,98
Pequena burguesia tradicional 3,57
Classe
Salariato não-manual 3,51
Trabalhadores independentes 3,66
Salariato manual 3,47
Total 3,59

6
Grupos que são significativamente diferentes entre si (teste de Scheffé, p < 0,05).

38
Estes resultados revelam que a importância atribuída às eleições e, por
conseguinte, ao processo democrático formal, continua a ser grande, mesmo
que outras formas de participação política menos convencionais possam ser
utilizadas na defesa de causas mais específicas. Esse apoio ao processo
eleitoral tende a ser mais evidente à medida que a idade avança e a entrada da
vida adulta se estabelece, e é mais forte nos grupos sociais de níveis
socioeconómicos e de instrução mais elevados.

O significado de votar

Um direito é, para 40,3% dos jovens inquiridos, a palavra que melhor


define o seu sentimento face ao acto de votar. Seguidamente, com 29,9%, estão
os que encaram o voto como uma responsabilidade e 22% como uma mera
opção. Apenas 7,8% se sentem na obrigação de cumprir este acto cívico.

Significado do voto

Uma obrigação

7,8%

Uma opção
Um direito
22,0%
40,3%

29,9%

Uma responsabilidade

A escolaridade e a classe social apresentam diferenças significativas


em relação às definições dadas: o voto encarado como uma mera opção é
referido em particular pelos inquiridos menos escolarizados (até ao ensino

39
básico ou equivalente) e pertencentes ao salariato manual, enquanto que os
mais escolarizados (ensino médio ou superior) e que se situam na nova
burguesia assalariada tendem a defini-lo como uma responsabilidade (Quadro nº
5). Refira-se ainda que os trabalhadores independentes são os que menos
afirmam que o voto é um direito, do mesmo modo que a definição do voto como
responsabilidade recebe pouca sustentação por parte dos jovens que integram a
classe social do salariato não-manual e dos que apresentam níveis de
escolaridade mais baixos.

Quadro nº 5
O significado do voto segundo a escolaridade e a classe social
Uma Uma Uma
Um direito Total
responsabilidade opção obrigação
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico equivalente 38,5 25,5 28,1 7,9 100,0
Ensino secundário ou equivalente 40,4 32,2 18,6 8,7 100,0
Ensino médio ou superior 44,2 37,4 12,9 5,5 100,0
Classe social (p=0,000)
Burguesia 41,9 34,4 15,1 8,6 100,0
Nova burguesia assalariada 44,9 37,8 11,8 5,5 100,0
Pequena burguesia tradicional 45,5 36,4 15,2 3,0 100,0
Salariato não-manual 41,6 26,7 22,9 8,7 100,0
Trabalhadores independentes 22,2 41,7 30,6 5,6 100,0
Salariato manual 37,7 28,5 25,6 8,2 100,0

Constata-se, assim, que, na generalidade, os jovens encaram o voto,


essencialmente, como um imperativo cívico. Quer seja entendido como um
direito, uma responsabilidade ou uma obrigação, não votar significa que se está
a negligenciar um dever de cidadania. O reduzido número de jovens que
desvalorizam a participação eleitoral, encarando-a como uma simples opção,
caracteriza-se por baixos níveis socioeconómicos e de escolaridade.
Exactamente o mesmo tipo de atributos sociais dos que atribuem pouca
importância, como anteriormente se mostrou, ao acto de votar.

40
A participação eleitoral

Dos jovens que à data das eleições legislativas de Março de 2002 já


tinham a idade legal para estarem recenseados7, pouco mais de metade (57,2%)
declarou ter exercido o seu direito de voto. A abstenção dos jovens de idade
inferior a trinta anos situa-se assim em 42,8%, revelando que a participação
eleitoral da geração mais nova tende, de facto, a ser menor quando comparada
com a generalidade da população e de acordo com a tendência geral que ocorre
nas sociedades democráticas ocidentais.8

Participação nas eleições legislativas

Não

42,8%

57,2%

Sim

n = 650

Refira-se que a medição da participação eleitoral e do abstencionismo


através de inquérito por questionário é bastante condicionada na medida em que
os jovens que não vão às urnas nem sempre declararam o seu abstencionismo,
levando a supor que o valor aqui encontrado esteja subestimado. A abstenção
elevada registada vai ao encontro de tendências bem estabelecidas que indicam

7
O primeiro Recenseamento Eleitoral deve ser feito obrigatoriamente com 18 anos de idade,
embora a Lei 13/99 de 22 de Março permita fazer o recenseamento eleitoral com 17 anos (art.º
35.º), ficando provisório até completar os 18 anos, dado que só poderá exercer o seu direito de
voto a partir dessa altura.
8
A abstenção oficial nas eleições legislativas de 2002 foi de 37,2% para o total da população
continental. (Fonte: STAPE).

41
claramente o peso explicativo da idade para a não participação politica,
revelando que são invariavelmente os mais jovens que menos comparecem aos
actos eleitorais.
Dado que o género constitui cada vez menos um indicador de integração
nas instituições da esfera pública devido à redução das desigualdades sociais
entre homens e mulheres no ensino e no mundo do trabalho, pouco surpreende
a inexistência de diferenças em termos da participação eleitoral (Quadro nº 6).
No entanto, outras diferenças podem ser observadas: verifica-se que são os
mais velhos (entre os 25 e os 29 anos), os níveis de escolaridade mais elevados
(ensino médio ou superior) e o grupos social da nova burguesia assalariada que
apresentam níveis de participação eleitoral mais elevados; em contrapartida, os
jovens de idade entre 20 e 24 anos, os níveis mais baixos de escolaridade e o
grupo do salariato manual ocupam posição inversa, ou seja, estão muito mais
representados na abstenção eleitoral .

Quadro nº 6
A participação eleitoral segundo a idade, a escolaridade e a classe social
Sim Não Total
Idade (p=0,000)
20-24 40,6 59,4 100,0
25-29 70,5 29,5 100,0
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico ou equivalente 45,9 54,1 100,0
Ensino secundário ou equivalente 59,1 40,9 100,0
Ensino médio ou superior 74,8 25,2 100,0
Classe Social (p=0,000)
Burguesia 65,0 35,0 100,0
Nova burguesia assalariada 74,8 25,2 100,0
Pequena burguesia tradicional 52,4 47,6 100,0
Salariato não-manual 56,7 43,3 100,0
Trabalhadores independentes 44,0 56,0 100,0
Salariato manual 47,1 52,9 100,0

A análise da participação eleitoral tem também de atender aos efeitos do


“ciclo de vida” na medida em que o menor envolvimento não pode deixar de ser
relacionado com a socialização, o estilo de vida e os problemas com que os

42
jovens se debatem na transição para a vida adulta, designadamente na entrada
do mercado de trabalho e na vida activa. A transição para a vida adulta, que
inclui a aquisição e a expressão do entendimento politico e dos direitos, é,
comparativamente ao que ocorria em gerações anteriores, mais lenta, complexa
e feita num contexto de risco em que a transmissão do conhecimento sobre a
politica se realiza por meios muito distinto dos que existiam no passado. Por
exemplo, a inserção na vida activa em idades mais jovens permitia um contacto
mais precoce com a política por via do trabalho e da sindicalização. O crescente
afastamento do mundo de trabalho devido à escolarização da população jovem
pode explicar, em parte, a menor participação que se verifica actualmente nos
mais novos, observando-se uma mudança de comportamento a partir da idade
de 25 anos, altura em que aumenta a inserção na vida activa, sobretudo a dos
jovens de níveis de escolaridade mais elevados e que pertencem aos estratos
socioeconómicos mais altos. No entanto, a hipótese de que os jovens se
interessariam mais pelos assuntos, instituições e processos relacionados com a
política e estariam mais motivados para se envolverem e participarem
activamente, nomeadamente através das eleições, quanto mais inseridos se
encontrassem na vida activa e mais estabilizadas estivessem as suas
trajectórias familiares e profissionais, não pode ser sustentada a partir da base
empírica aqui proporcionada.

A distribuição eleitoral

Se observarmos a distribuição do voto pelos partidos políticos verifica-se


que, nessas eleições, o Partido Socialista (PS) recolheu o maior número de
votos, com 44,5%, seguindo-se o Partido Social Democrata (PSD) que somou
29,1%. Juntos totalizaram cerca de três quartos das preferências (73,6%) dos
jovens que exerceram o seu direito de voto. O Bloco de Esquerda (BE) foi a
terceira força política mais votada (8,4%), seguida pelo Partido Comunista
Português (PCP) (7,2%). No pólo oposto do espectro político, o Partido Popular
(CDS/PP) colheu apenas 4% das preferências dos votantes juvenis. O voto nulo

43
ou em branco assume ainda alguma expressão (6,4%). Contabilizando o total
dos votos e dividindo-os pela tradicional clivagem ideológica entre a esquerda e
a direita, constata-se que a grande maioria dos jovens se coloca à esquerda:
60,1%, votaram num dos três partidos mais à esquerda do continuum político,
contra 33,1% que optaram por um dos dois à direita. Este facto torna-se
particularmente mais significativo quando é sabido que o PSD venceu as
eleições legislativas de 2002, juntando-se posteriormente ao CDS/PP para
formarem uma coligação governativa de centro/direita.9

Distribuição eleitoral

PSD

PS

PP/ CDS

PCP

Bloco de esquerda

Outro

Nulo / em branco

0 10 20 30 40 50

Não se registando diferenças significativas no sentido de voto entre


homens e mulheres (Quadro nº 7), podem observar-se, no entanto, outras
variáveis como a escolaridade e a pertença de classe. Os inquiridos que
frequentaram ou ainda frequentam o ensino secundário ou equivalente votaram
em particular no PSD (cerca do dobro em relação aos restantes níveis
habilitacionais), enquanto o PS foi o mais votado (54,1%) pelos inquiridos com o
nível mais baixo de escolaridade. A pertença à pequena burguesia tradicional
teve sobretudo correspondência com o voto no PSD (87,5%), ao contrário da

9
Resultados eleitorais oficiais para o total da população continental votante nas legislativas de
2002: PSD - 40,5%; PS - 38,8%; CDS/PP - 8,8%; PCP/PEV – 7,3%; BE – 2,9%; Outros - 1,6%;
Brancos e Nulos – 1,9% (Fonte: STAPE).

44
nova burguesia assalariada que registou a mais baixa votação neste partido
político (16,4%). O PCP colheu a preferência, comparativamente com os
restantes partidos, do salariato manual (13,3%) e dos trabalhadores
independentes (25%), enquanto o BE atingiu a expressão eleitoral mais elevada
nos jovens que pertencem à nova burguesia assalariada (16,4%).

Quadro nº 7
Distribuição eleitoral segundo a escolaridade e a classe social
Nulo /
PP/
BE PCP PS PSD Outro em Total
CDS
branco
Escolaridade (p=0,050)
Até ao ensino básico 4,7 8,2 54,1 22,4 2,4 0 8,2 100,0
Ensino secundário 8,3 4,8 38,1 42,9 3,6 ,0 2,4 100,0
Ensino médio ou superior 11,8 7,1 42,4 22,4 5,9 1,2 9,4 100,0
Classe social (p=0,003)
Burguesia 11,8 5,9 50,0 23,5 5,9 0,0 2,9 100,0
Nova burguesia assalariada 16,4 1,8 54,5 16,4 0,0 1,8 9,1 100,0
Pequena burguesia tradicional 0,0 0,0 12,5 87,5 0,0 0,0 0,0 100,0
Salariato não-manual 6,7 5,6 38,2 34,8 5,6 0,0 9,0 100,0
Trabalhadores independentes 12,5 25,0 12,5 37,5 12,5 0,0 0,0 100,0
Salariato manual 0,0 13,3 53,3 26,7 3,3 0,0 3,3 100,0

Foi também pedido aos jovens que indicassem os dois aspectos que mais
influenciam a sua decisão de votar num determinado partido.10 De acordo com
os resultados apresentados, os factores que, em primeiro lugar, mais pesam no
sentido do voto são o programa do partido ou da coligação (20%) e a
experiência e a competência dos candidatos (19,5%). Seguidamente surge a
sinceridade e a honestidade dos candidatos (16,4%) e a simpatia ou a
identificação partidária (16,3%). A abordagem dos temas na campanha eleitoral
(14,2%) é o quinto aspecto mais relevante, seguindo-se a figura do partido
(7,8%). Por fim, a acção do partido em funções governativas (5,2%) e o

10
Desta análise foram excluídos os inquiridos que responderam que não têm idade para votar ou
não estão recenseados (6,3%), que não costumam ir votar (6,3%) ou que votam em branco
(0,4%), que não souberam (8,6%) ou não quiseram responder (6,9%) a esta questão («Quando
considera a possibilidade de votar num determinado partido, qual o aspecto que mais influencia
a sua decisão? E a seguir?».
.

45
argumento de que se vota num partido por ser simplesmente de oposição ao
governo (0,7%) são motivos que pouco influenciam as escolhas.
Como segundo aspecto mais determinante na escolha eleitoral surgem
nas posições cimeiras a experiência e a competência dos candidatos (18,9%),
os temas que são abordados nas campanhas (17,3%) e ainda a sinceridade e a
honestidade dos políticos (16,6%). Secundariamente, são também apontadas
razões como o programa do partido ou da coligação (13,4%), a simpatia ou a
identificação partidária (12%) e só depois a figura do líder do partido (10,3%) e a
acção do partido no governo (8,5%). A oposição do partido ao governo soma
apenas 2,9%.

Influência na decisão de votar

A oposição do partido ao governo

A acção do partido no governo

Os temas que são abordados na campanha

A figura do líder do partido

A sinceridade e a honestidade dos candidatos

A experiência e a competência dos candidatos

O programa do partido ou da coligação

A simpatia ou a identificação partidária

0 5 10 15 20
Em 1º lugar %
Em 2º lugar

A influência de cada um destes aspectos na escolha de um partido em


período de eleições não difere significativamente entre homens e mulheres e
segundo os níveis de instrução (Quadro nº 8). Essas diferenças apenas
emergem nas variáveis idade e classe social. O programa do partido ou da
coligação tem particular importância para a pequena burguesia tradicional,

46
enquanto a experiência e a competência dos candidatos são sobretudo tidas em
consideração pelos jovens pertencentes ao salariato manual e pelos que têm
entre 25 e 29 anos. A simpatia e a identificação partidárias são factores de
influência para a burguesia (e menos para o salariato não manual), enquanto a
figura do partido é saliente para o salariato manual. Os temas que são
abordados na campanha eleitoral são relevantes sobretudo para os mais jovens
de idade inferior a 20 anos (ao contrário dos mais velhos que pouca importância
dão a este aspecto) e a acção do partido no governo assume relevância na faixa
etária seguinte (20 aos 24 anos) e no grupo dos trabalhadores independentes.

Quadro nº 8
Aspectos que influenciam o voto segundo a idade e a classe social
I II III IV V VI VII VIII Total
Idade (p=0,038)
< 19 11,9 22,0 16,4 18,9 5,7 20,8 3,8 0,6 100,0
20-24 17,0 20,8 17,0 15,4 7,7 14,7 7,3 0,0 100,0
25-29 17,9 18,2 23,1 16,2 9,1 10,4 3,9 1,3 100,0
Classe social
(p=0,000)
Burguesia 30,0 21,4 12,9 12,9 4,3 11,4 4,3 2,9 100,0
NBA 18,9 24,3 16,2 14,4 6,3 16,2 1,8 1,8 100,0
PBT 13,6 50,0 13,6 0,0 0,0 18,2 4,5 0,0 100,0
S. não-manual 11,5 16,6 24,7 18,0 7,5 16,6 4,7 0,3 100,0
Independentes 17,4 26,1 8,7 4,3 4,3 17,4 21,7 0,0 100,0
Sal. manual 18,2 16,6 17,6 19,8 11,8 10,7 5,3 0,0 100,0
I – A simpatia ou a identificação partidária V – A figura do líder do partido
II – O programa do partido ou da coligação VI – Os temas que são abordados na campanha
III – A experiência e a competência dos candidatos VII – A acção do partido no governo
IV – A sinceridade e a honestidade dos candidatos VIII – A oposição do partido ao governo

A intenção de voto

Nas próximas eleições legislativas,11 a maioria dos jovens (68,9%) afirma


que irá exercer o seu direito de voto: 38,7% quase de certeza e 30,2%
provavelmente. Dos restantes, 18,9% referem que quase de certeza não irão

11
As eleições legislativas imediatamente posteriores à aplicação do inquérito datam de 20 de
Fevereiro de 2005 que, por terem sido convocadas antecipadamente, não estavam ainda em
perspectiva quando a questão foi colocada.

47
votar e 12,2% que é pouco provável que o façam. Estes resultados indicam
novamente uma taxa de abstenção elevada dada a pré-disposição para não
votar, desde já, de um número significativo de indivíduos, juntando-se, na altura
das eleições, outros que por motivos circunstanciais optarão também pela
abstenção eleitoral.

Intenção de voto nas próximas eleições


50

40

30
%

20

10

0
Q

N
ua

ão
pr

po
se

ov

uc
áv
de

o
pr
el
c
er

ová
te

v
z
a

el

As razões da abstenção

Quanto aos jovens que não votaram, as duas principais razões


avançadas prendem-se com o distanciamento manifesto em relação à política e
ao processo eleitoral, atendendo a que 31,1% declaram não ter qualquer
interesse pela política e 27,2% afirmam não estar recenseados. Pouco menos de
um quarto (24,3%) refere que não teve oportunidade para ir votar por várias
razões (doença, ausência, etc.) e 11,4% consideram que nas últimas eleições
não estava nada de importante em jogo. De referir ainda que 6% dos jovens
avançam ainda outros motivos.

48
Razões da abstenção eleitoral

Não recenseado

S/interesse político

Sem oportunidade

Nada de importante

Outros motivos

0 10 20 30 40

Os jovens que não estão recenseados indicam essencialmente duas


razões para o facto de não terem ainda cumprido essa disposição cívica: a falta
de tempo (41,3%), e por não considerarem o recenseamento uma prioridade
(31%). Mas outras razões são ainda avançadas: 14% assumem não ter
interesse na política; 5,6% por estarem a viver longe de casa; e, 1,2% por não
saberem como fazê-lo.

Razões para não estar resenceado

Não teve tempo

Não é uma prioridade

S/ interesse no voto

Não sabe c/o fazê-lo

Vive longe de casa

Outras

0 10 20 30 40 50

Independentemente dos próprios motivos para participarem ou não no


processo eleitoral, perguntou-se aos inquiridos a razão principal que, na sua

49
opinião, leva os jovens a não votarem. Mais de um terço (34,3%), atribui ao facto
de este grupo etário pensar maioritariamente que o voto não leva a nada. A falta
de gosto pela política é a segunda explicação, avançada por 20,9%. Na terceira
posição aparecem duas razões: a falta de informação sobre os partidos e
candidatos políticos e a percepção de que não há grandes diferenças entre eles
(13,1% e 12,2%, respectivamente). O não recenseamento e a forma como as
campanhas são feitas, que levam ao desinteresse pelo voto, totalizando,
respectivamente, 7,5% e 6,1%, são os dois motivos que ocupam a quarta
posição. Por fim, na última posição, já com pouca expressão numérica, surgem
os argumentos da contestação ao poder político, em que a abstenção eleitoral é
entendida como uma forma de protesto (3,6%), e da falta de tempo, que impede
os jovens de exercerem o seu direito de voto devido a terem vidas muito
ocupadas (2,3%).

Razões da abstenção eleitoral juvenil

Não há diferenças

Pouco informados

Sem recenseamento

Vidas ocupadas

Não leva a nada

Fora da política

Forma de protesto

Campanhas s/estímulo

0 10 20 30 40

A desvalorização do voto colhe mais apoio nos inquiridos que pertencem


à nova burguesia assalariada (Quadro nº 9), enquanto a falta de gosto pela
política é sobretudo apontada pelos homens que fazem parte do salariato
manual (nas mulheres, as que menos indicam esta razão, pertencem à nova
burguesia assalariada). Já a inexistência de diferenças entre os partidos e

50
candidatos é a razão mais apontada entre os que têm 25 e 29 anos e que
frequentam ou frequentaram o ensino superior. O motivo do não recenseamento
está mais representado nos mais jovens, nos que frequentam ou frequentaram
os níveis de escolaridade mais baixos e nos grupos do salariato não-manual e
da pequena burguesia tradicional; em contraposição aos mais velhos, aos níveis
mais elevados de ensino e aos grupos mais «burgueses». A forma como as
campanhas são feitas tem o acordo, em particular das mulheres, do grupo etário
entre 25 e 29 anos e dos grupos sociais da nova burguesia assalariada e da
pequena burguesia tradicional, ao invés das mulheres pertencentes ao salariato
manual que são as que menos assinalam este motivo. Por fim, a abstenção
eleitoral como forma de protesto recolhe a concordância sobretudo das
mulheres.
Face aos resultados encontrados, pode concluir-se que o sistema político
parece não conseguir captar grande atenção dos jovens, afastando-os, assim,
do envolvimento partidário e eleitoral. Este afastamento pode estar também
relacionado com a evolução que a acção política tem conhecido no sentido da
adopção de métodos de marketing cada vez mais centralizados, orientados
sobretudo para grupos chave de eleitores e visando a maximização dos
resultados eleitorais. As estratégias dos partidos políticos têm vindo a privilegiar
as faixas etárias mais velhas e as classes médias, pelo que os votantes mais
jovens podem não se reconhecer suficientemente nos discursos e nas intenções
políticas gerais difundidos pelos partidos políticos. É possível que as suas
expectativas não estejam a receber a atenção que provavelmente se exigiria.
Além disso, na condução das estratégias eleitorais de maximização de votos
(catch-all), os partidos políticos tornaram-se crescentemente pragmáticos e são
vistos como desprovidos de ideais que os distingam dos seus adversários. Tudo
isto pode estar a contribuir para que os jovens concluam que os partidos
políticos são distantes e irrelevantes com poucas diferenças entre si, que a
política é pouco interessante e que o voto não leva a nada. Se assim for, pode
dizer-se que as estratégias partidárias não têm sido suficientemente
incentivadoras da participação e do gosto pela política.

51
Quadro nº 9
Razões da abstenção eleitoral juvenil segundo o sexo, idade,
escolaridade e classe social
I II III IV V VI VII VIII Total
Sexo (p=0,002)
Masculino 11,0 11,8 7,3 3,0 36,0 24,4 2,2 4,3 100,0
Feminino 13,6 14,5 7,5 1,5 32,5 17,4 5,0 8,0 100,0
Idade (p=0,001)
15-19 7,4 15,5 11,3 1,8 35,0 21,9 3,2 3,9 100,0
20-24 10,4 12,2 7,4 3,3 34,5 23,2 3,6 5,4 100,0
25-29 17,7 11,7 4,9 2,0 33,4 18,0 3,7 8,6 100,0
Escolaridade
(p=0,016)
Ensino básico 8,9 14,5 9,8 2,2 31,5 23,3 3,4 6,3 100,0
Ens. Secund. 13,7 12,6 6,7 2,8 35,8 20,4 3,6 4,5 100,0
Médio/superior 17,6 10,7 3,1 1,3 38,4 15,7 4,4 8,8 100,0
Classe social
(p=0,000)
Burguesia 13,2 16,5 2,2 4,4 29,7 24,2 5,5 4,4 100,0
NBA 16,3 13,0 1,6 0,8 43,1 10,6 3,3 11,4 100,0
PBTl 3,1 12,5 18,8 6,3 18,8 21,9 3,1 15,6 100,0
Não-manual 10,5 13,4 11,0 1,3 32,8 20,2 2,9 7,9 100,0
Independentes 18,9 5,4 10,8 5,4 32,4 18,9 8,1 0,0 100,0
Sal. manual 12,7 12,7 5,8 3,3 34,8 25,7 2,9 2,2 100,0
I – Não consideram haver uma grande diferença entre os IV – Têm vidas muito ocupadas
partidos e candidatos V – O voto não leva a nada
II – Não têm informação suficiente acerca dos partidos e VI – Não gostam de política
candidatos VII – Não irem votar é uma forma de protesto
III – Muitos deles ainda não se recensearam VIII – A forma como as campanhas são feitas leva ao
desinteresse pelo voto

As simpatias partidárias e ideológicas

Independentemente dos jovens terem ou não exercido o seu direito de


voto nas últimas eleições e do partido em que declararam ter votado, foi
perguntado também qual a sua simpatia partidária. Desde logo, um pouco mais
de metade, 52,6%, revela não ter simpatia por qualquer formação política. Dos
que respondem afirmativamente, 20,7% refere o PS como o partido da sua
preferência, seguindo-se o PSD com 14,3%. O BE colhe 7,5% das escolhas
enquanto que o PCP é o preferido de 3,1%. Por último surge o CDS/PP apenas
com 1,1%. A preferência por outros partidos é quase nula, somando 0,6%. Estes
resultados, que se baseiam nas intenções de voto manifestadas por menos de

52
metade dos inquiridos, mostram que os jovens tendem a posicionar-se à
esquerda do espectro político.

Simpatia partidária
60

50

% 40

30

20

10

0
PSD PP/ CDS Bloco de esquerda Nenhum
PS PCP Outro

Não se verificando diferenças significativas na simpatia partidária


segundo o género (Quadro nº 10), pode observar-se, desde logo, que os mais
jovens (dos 15 aos 19 anos), os que têm menos qualificações e os que
pertencem ao salariato manual, são os que mais revelam não ter qualquer
preferência partidária, ao contrário dos que frequentam ou frequentaram o
ensino médio ou superior ou que pertencem à nova burguesia assalariada. O
partido mais escolhido (PS) concentra-se, em particular, na faixa etária dos 25
aos 29 anos, nos mais escolarizados (ensino médio ou superior) e nos que
pertencem à nova burguesia assalariada e encontra-se menos representado
entre os mais jovens, nos que frequentam ou têm completo o ensino secundário
ou equivalente e nos que pertencem ao salariato não manual. Já o PSD colhe as
preferências sobretudo da pequena burguesia tradicional e encontra-se
subavaliado no grupo etário de 15 e 19 anos, onde está em minoria. O BE tem
mais expressão junto dos jovens que possuem um nível superior ao do ensino
básico, que fazem parte da nova burguesia assalariada e do grupo dos
trabalhadores independentes, ao contrário dos menos escolarizados e dos que
pertencem ao salariato manual que são os que se sentem menos atraídos por

53
qualquer formação política. O CDS/PP é escolhido em particular pelos jovens
pertencentes à burguesia.

Quadro nº 10
Simpatia partidária segundo a idade, escolaridade e classe social
Sem
PP/
BE PCP PS PSD Outro simpati Total
CDS
a
Idade (p=0,000)
15-19 5,4 1,6 12,8 9,3 0,4 0,8 69,8 100,0
20-24 7,6 3,6 18,2 18,2 1,7 1,0 49,8 100,0
25-29 9,1 3,8 30,7 15,0 1,0 0,0 40,4 100,0
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico ou equivalente 3,5 2,0 22,2 11,0 0,7 0,7 59,9 100,0
Ensino secundário 11,0 2,9 15,2 18,1 1,0 0,0 51,9 100,0
Ensino médio ou superior 11,9 5,2 30,6 15,7 2,2 1,5 32,8 100,0
Classe social (p=0,000)
Burguesia 12,2 2,4 20,7 14,6 3,7 1,2 45,1 100,0
Nova burguesia assalariada 17,3 2,9 32,7 11,5 0,0 0,0 35,6 100,0
Pequena burguesia tradicional 3,4 3,4 13,8 27,6 0,0 0,0 51,7 100,0
Salariato não-manual 5,8 2,6 17,5 14,6 0,9 0,6 58,0 100,0
Independentes 22,6 6,5 9,7 16,1 3,2 0,0 41,9 100,0
Salariato manual 3,4 3,8 24,5 13,5 0,8 0,4 53,6 100,0

Socialização política familiar

As disposições políticas e ideológicas dos jovens são em grande medida


influenciadas pelo espaço de discussão política que a vida familiar pode
proporcionar. A importância do papel da família na construção da identidade
politica passa por uma configuração original de modelos, comportamentos e
primeiras referências (ou ausência delas) a partir da qual os indivíduos
estabelecem os seus laços elementares com o mundo político. Juntamente com
a religião, a politica continua a integrar o núcleo duro da reprodução familiar em
termos culturais e de valores.
A influência familiar não se circunscreve à infância, podendo prolongar-se
durante a juventude e permanecer operante durante a vida adulta. Apesar da
fragmentação e da diversificação das diferentes formas familiares e da fluidez

54
dos modelos de identificação parental, sobretudo em politica, a transmissão
entre gerações continua eficaz. Mas essa eficácia não impede que o lugar da
politica na família tenha vindo a mudar, não se revestindo hoje da mesma forma
e dos mesmos conteúdos que tinha no passado, existindo actualmente uma
maior desdramatização e banalização, em parte explicável pela presença
massiva dos media e pela mudança das relações interpessoais no sentido de
uma maior tolerância e permissividade no seio familiar. A própria conjuntura
actual, não sendo particularmente favorável ao desenvolvimento da participação
e de atitudes positivas face ao sistema político, tem também conduzido ao
enfraquecimento da percepção das questões políticas quer nos jovens, quer nos
pais.
A transmissão dos valores no âmbito familiar está assim sujeita a
pressões de mudança e a influência que resulta pode ser de natureza mais
afectiva do que cognitiva. Mas, ainda assim, essa transmissão é um apoio
importante que permite estabelecer uma ancoragem e situar politicamente os
indivíduos. A família pode representar uma primeira mediação para um dos
campos do espectro político-ideológico em termos de esquerda e direita, ou
provocar um afastamento ou recusa da política. Em qualquer dos casos,
influencia decisivamente as condições do encontro com a política.
Restringindo a influência familiar aos progenitores, perguntou-se aos
jovens a preferência ideológica do pai e da mãe, utilizando a habitual clivagem
entre esquerda e direita. Desde logo, é possível observar que o conhecimento
(ou falta dele) do posicionamento político do pai e da mãe é muito idêntico: perto
de metade dos jovens inquiridos confessa não saber politicamente situar
nenhum deles (cerca de 41%).
Dos que afirmam saber, a maioria refere que os pais são tendencialmente
mais de esquerda (25,4% para o pai e 23,8% para a mãe), dividindo-se depois
quase de igual modo os que mencionam que os pais são de direita e os que não
são nem de esquerda nem de direita, com as percentagens a rondar 18%,
embora, nesta última categoria, a percentagem relativa ao pai apresente um
valor mais baixo (15,5%). Apesar de as diferenças registadas serem pequenas,

55
pode constatar-se, ainda assim, que o pai em relação à mãe tende a definir-se
mais vincadamente em torno de um dos pólos ideológicos, enquanto a mãe
tende a uma posição mais neutra.

Tendência ideológica do pai e da mãe

50,0

40,0

P ai
30,0
Mãe
%
20,0

10,0

0,0
Mais de esquerda Mais de direita Nem de esquerda Não sabe
nem de direita

O cruzamento entre a simpatia partidária dos jovens e o posicionamento


ideológico do pai e da mãe permite verificar que existe uma relação clara, quer
seja em termos da similitude ideológica quer seja na falta de interesse pela
política (Quadro nº 11). Isto é, os jovens com simpatias partidárias de esquerda
têm filiações parentais também de esquerda, acontecendo o mesmo à direita. Os
jovens que declaram não ter simpatia por nenhum partido são os mesmos que
afirmam não conhecer qual a tendência ideológica dos pais, sugerindo uma
correspondência entre a ausência de comunicação e de interesse por assuntos
políticos no âmbito familiar e o posterior desinteresse dos jovens pela política.
Estes resultados parecem confirmar a ideia de que a transmissão dos valores,
das escolhas e dos comportamentos políticos está tanto mais assegurada
quanto os interesses dos pais pela política está consolidado, assim como a
visibilidade e afirmação das suas escolhas e convicções.

56
Quadro nº 11
Tendência ideológica do pai e da mãe segundo a simpatia partidária dos jovens

Tendência ideológica do pai (p=0,000) Tendência ideológica da mãe (p=0,000)


Nem es- Nem es-
Mais de Mais de
Mais de querda Não Mais de querda Não
esquer- Total esquer- Total
direita nem sabe direita nem sabe
da da
direita direita
BE 45,9 18,0 14,8 21,3 100,0 32,8 18,0 24,6 24,6 100,0
PCP 64,0 8,0 16,0 12,0 100,0 60,0 12,0 16,0 12,0 100,0
PS 55,0 11,7 15,2 18,1 100,0 53,2 12,1 15,0 19,7 100,0
PSD 15,3 60,2 9,3 15,3 100,0 14,2 60,0 13,3 12,5 100,0
PP/CDS 12,5 75,0 0,0 12,5 100,0 37,5 50,0 0,0 12,5 100,0
Outro 40,0 40,0 0,0 20,0 100,0 33,3 50,0 16,7 0,0 100,0
S/simpatia 12,7 9,1 17,5 60,8 100,0 12,4 8,8 19,5 59,3 100,0

Conclusão

Em síntese, conclui-se que os jovens atribuem uma elevada importância


às eleições e, por conseguinte, ao processo democrático formal, sendo a
participação eleitoral encarada sobretudo como um imperativo cívico e menos
com uma mera opção. No entanto, apesar da valorização generalizada do acto
eleitoral encontrada, a não participação dos jovens tende, de facto, pelos valores
da abstenção declarados, a ser maior quando comparada com a generalidade
da população. O apoio ao processo eleitoral é mais evidente à medida que a
idade avança e a entrada da vida adulta estabiliza, sendo também mais
sustentado por quem tem níveis socioeconómicos e de instrução elevados.
A abstenção eleitoral fica a dever-se sobretudo à falta de interesse pela
política em geral, e por este acto cívico em particular, reflectida na elevada taxa
de não recenseados. Para isso contribui a percepção por parte dos jovens de
que os partidos políticos são distantes e irrelevantes com poucas diferenças
entre si, que a política é pouco atraente e que o voto não leva a nada. O sistema
político, pelas principais razões enunciadas, parece não conseguir captar de
forma muito significativa a atenção dos jovens, afastando-os, assim, do
envolvimento partidário e eleitoral.

57
Quanto ao posicionamento político-ideológico, os resultados indicam que
existe uma certa tendência por parte dos jovens para se posicionarem mais à
esquerda do espectro político, consubstanciada na declaração de voto nas
eleições legislativas de 2002, em que os três partidos mais esquerda (BE, PCP e
PS) recolheram a preferência da maioria dos eleitores de idade inferior a 30
anos. Apesar de a simpatia e a identificação partidárias condicionarem o
exercício do voto, os factores que mais pesam, em primeiro lugar, no momento
da votação são o programa do partido ou da coligação e a experiência e a
competência dos candidatos, enquanto a figura do partido, a acção do partido no
poder e o argumento de que se vota num partido por ser simplesmente da
oposição são motivos que pouco contam.
Os resultados sugerem também que as escolhas e os comportamentos
políticos podem ser em grande medida influenciados pelo espaço de discussão
política que a família proporciona, atendendo a que existe uma correspondência
significativa entre o posicionamento politico-ideológico dos jovens, ou a falta de
interesse pela política, e o dos seus progenitores.

58
A acção política e a mobilização cognitiva

É conhecida a crítica de que a participação política não pode limitar-se ao


âmbito institucional, designadamente no que respeita ao exercício eleitoral e à
adesão partidária. Muitos jovens descontentes com o funcionamento das
instituições democráticas podem alhear-se dos processos formais sem que esta
atitude signifique desinteresse pela participação e acção políticas. O facto de,
por exemplo, não se participar eleitoralmente não quer dizer que se tenha
prescindindo da iniciativa política, ainda que nem sempre seja fácil prever ou
identificar as condições em que pode manifestar-se. Seja como for, é necessário
ter uma visão alargada da acção política para não a reduzir aos aspectos mais
convencionais e institucionais. Nesta perspectiva, o inquérito procurou
seleccionar um conjunto amplo de actividades através das quais os cidadãos
procuram defender os seus interesses, manifestar as suas opiniões ou
influenciar o curso da governação. As acções e iniciativas que não se inscrevem
no âmbito convencional constituem um segundo sentido da participação política
que se procurará agora desenvolver. Deste modo, em relação a cada uma das
actividades indagadas, como fazer um donativo (por exemplo, para uma causa
social) ou emitir publicamente uma opinião, procurou-se saber se o inquirido a
realizou nos últimos doze meses ou nos anos anteriores e no caso de a resposta
ser negativa, se admitia poder vir a realizá-la. A intenção aponta, portanto, não
apenas para a medição do nível de envolvimento político actual e passado, mas
também para a avaliação do potencial de mobilização existente nos jovens.
As respostas às acções realizadas no decurso do ano revelam que a
acção mais popular consiste em contribuir com donativos ou em participar em
acções que visam obtê-los. Perto de 15% dos jovens assumem tê-lo feito no
último ano, percentagem que se eleva para 40% se considerarmos o conjunto
daqueles que alguma vez o fizeram (Quadro nº 12). A segunda actividade mais
concorrida consiste em assinar uma petição ou um abaixo-assinado, tendo
mobilizado um em cada dez jovens no último ano. Alargando-se o horizonte
temporal, o nível de participação triplica.

59
As restantes actividades revelam uma capacidade de mobilização actual
abaixo de 10%. No entanto, se agregarmos a participação actual e a passada,
algumas delas, atingem valores bastante expressivos. A que surge na primeira
posição é a prática da greve: três em cada dez jovens já recorreram a este meio
de luta, um quarto dos quais no decurso do último ano (6,7%). Visando
influenciar o curso dos acontecimentos políticos, a participação em
manifestações e em acções de protesto atraem ou atraíram um quarto do nosso
universo. Um pouco mais atrás em termos de capacidade de mobilização,
atingindo um quinto dos jovens, surge a prática de boicote à compra de produtos
de consumo por razões de natureza política, ética ou ambiental. Esta última, é a
que atinge, neste conjunto de actividades que estamos a comentar, a expressão
mais elevada no último ano (7,2%), reflectindo não só o carácter mais recente
desta forma de protesto mas também o eco que encontra junto dos sectores
juvenis. Por último, na lista das actividades que ultrapassam a fasquia de 10%,
aparece a ida a um comício político. Não chegam a 15% os jovens que declaram
já ter participado nesta acção política, e o número dos que o fizeram no último
ano é irrisório (2,3%), tanto mais quando nesse ano se verificou um processo
eleitoral. Este dado converge no sentido da argumentação de que se assiste
hoje em dia nas sociedades democráticas a um declínio da participação dos
cidadãos que se reflecte também na capacidade de mobilização dos
protagonistas políticos.
O grupo das actividades menos participadas diz respeito a acções que
exigem mais iniciativa ou um desempenho mais activo, como distribuir
propaganda partidária (8,8%), contactar um político para expressar uma opinião
(7,3%) e manifestar opiniões de forma pública, seja através da Internet ou de
grupos de discussão política (6,7%) ou ainda através da comunicação social
(5,2%). Se o número de jovens alguma vez envolvidos nestas actividades é
bastante pequeno, em termos de prática actual, ou seja, no decurso dos últimos
doze meses, desce a valores quase residuais: não vão além de três, em cada
cem, os jovens que as referem. Atendendo à natureza activa e empenhada

60
destas actividades, a reduzida expressão reflecte assim o efeito refractário que
parece afectar presentemente a esfera política da sociedade.
A tese do declínio da participação na esfera pública e política pressupõe
uma situação anterior em que os cidadãos manifestavam mais empenhamento
nos destinos e no funcionamento da democracia. Ainda que nem sempre seja
fácil fundamentar quantitativamente a evolução da participação política,
sobretudo quando se aumenta o arco temporal, pode aventar-se a hipótese de
que certas conjunturas passadas, como o período da transição democrática,
suscitaram mais interesse e empenhamento activo pelos assuntos políticos do
que o actual momento histórico. Os níveis baixos de participação que de forma
geral temos vindo a observar não constituem necessariamente uma tendência
irreversível nem estão condenados a permanecer. Por conseguinte, fazia todo o
sentido inquirir os jovens sobre a possibilidade de poderem vir a envolver-se nas
actividades descritas. Ou seja, tratava-se de descobrir o potencial de
mobilização e de disposição para a acção.
De forma algo surpreendente, verifica-se que a maioria dos que nunca
tomaram parte em iniciativas e acções políticas admite vir a fazê-lo. É certo que
certas actividades são mais atractivas do que outras, mas pelo menos metade
dos jovens reconhecem a possibilidade de desencadearem as acções descritas.
Esta elevada capacidade potencial contrasta com a participação real moderada
ou baixa, mas, em todo o caso, contraria a ideia de que a juventude vive num
estado de passividade endémica que os imobilizaria numa redoma individualista
e os afastaria definitivamente da esfera pública. Os resultados obtidos sugerem
que a participação não é apenas uma questão dependente da decisão ou da
vontade individuais, sendo a oportunidade tanto ou mais importante do que a
motivação pessoal. Possivelmente os jovens não encontram os canais
adequados de participação para poderem expressar a capacidade de acção
potencial que revelam possuir. Há também sinais claros de que caso venham a
concretizar essa capacidade haverá certamente canais e domínios preferenciais.
Por exemplo, as actividades que suscitam o maior número de recusas, sendo,
por isso, menos susceptíveis de produzirem mobilização, são as que envolvem

61
os canais mais convencionais: fazer propaganda partidária (34,7%) e ir a um
comício político (31,1%). Estes indicadores deixam antever que a mobilização
política se faz mais em torno de uma acção concreta e, possivelmente,
associada a temas ou interesses que escapam ou não são contemplados pelos
processos de representação formal.

Quadro nº 12
Acções e iniciativas políticas
Fez no Fez Admite Nunca
Acções de natureza política realizadas último antes fazer
ano
Assinar uma petição ou um abaixo-assinado 10,3 22,1 58,2 9,4
Boicotar ou comprar por razões políticas/éticas/ambientais 7,2 13,4 62,3 17,1
Participar em manifestações ou acções de protesto 5,4 19,8 60,3 14,6
Ir a um comício político 2,3 12,3 54,3 31,1
Participar em greves 6,7 21,8 57,5 14,0
Contactar ou tentar contactar um político 2,9 4,4 69,9 22,8
Dar dinheiro ou recolher fundos para uma actividade social 14,4 26,6 53,4 5,6
Contactar comunicação social para expressar opiniões 1,4 3,8 70,5 24,3
Participar num fórum político 2,1 4,6 65,7 27,6
Divulgar propaganda partidária 2,3 6,5 56,5 34,7

A ideia de que os indicadores podem apontar para sentidos distintos da


participação política é também corroborada pelos níveis de participação actual.
Se voltarmos olhar para esses números, verificaremos que as actividades menos
participadas, abaixo de 3%, incluem não apenas as duas anteriormente
referidas, como ainda mais três: participar num fórum político ou num grupo de
discussão, contactar um político e aparecer na comunicação social a manifestar
ou expressar determinadas opiniões. Neste sentido, as actividades com níveis
de mobilização real ou potencial mais baixos são as que sugerem um
envolvimento de âmbito partidário, como fazer propaganda ou ir a um comício
político, ou uma disposição mais activa e determinada que pressupõe uma
inserção mínima em grupos e redes de conhecimento, como acontece nas
outras actividades. A legitimidade desta interpretação foi confirmada através de
uma análise factorial que dividiu em dois o conjunto dos dez indicadores de
participação política, agrupando num deles precisamente os indicadores que
acabamos de referir e no outro grupo os que suscitam uma participação mais
intensa (Quadro nº 13). Convém, no entanto, ter presente que não é a

62
intensidade da participação que os diferencia mas a natureza da acção que
pressupõem. Verificou-se que as actividades menos mobilizadoras tendem a
assumir uma acção mais organizada e colectiva. Em contraponto, as actividades
que integram o outro grupo tendem a exibir acções de natureza mais
individualista, ainda que possam depender de iniciativas organizacionais. Por
exemplo, assinar uma petição, fazer donativos, boicotar ou comprar
determinados produtos ou realizar uma acção de protesto pressupõem,
evidentemente, a existência de um esforço colectivo minimamente organizado,
mas a participação nessas acções depende apenas da decisão de cada um, não
sendo necessário estar vinculado ou mesmo identificar-se com as organizações
que as promovem. A participação é, nestes casos, um acto meramente individual
dependendo da oportunidade ou do conhecimento da iniciativa.
À luz deste duplo sentido da participação política, ou seja, entre acções
de natureza individualista ou colectiva, é fácil concluir que as primeiras estão
bastante mais representadas. Sem entrar agora no aspecto quantitativo, é
possível sublinhar, desde já, que, além do tão apregoado declínio da
participação, o envolvimento político dos jovens tende a ser mais caracterizado
por acções individuais do que colectivas. O individualismo não se reflecte
apenas na retracção em relação ao espaço público e no tipo de acção que nele
é exercida, mas também no facto de a acção se manifestar tendencialmente
através de movimentos e iniciativas esporádicas, em vez do exercício regular
dos mecanismos institucionais de participação.

Quadro nº 13
Tipos de acção política
Análise factorial dos indicadores de acções políticas Acções Acções
individualistas Colectivas
Assinar uma petição ou um abaixo-assinado ,662 ,149
Boicotar/comprar p/ razões políticas/éticas/ambientais ,592 ,155
Participar em manifestações ou acções de protesto ,727 ,154
Ir a um comício político ,256 ,507
Participar em greves ,631 ,155
Contactar ou tentar contactar um político ,282 ,604
Dar dinheiro/recolher fundos p/ uma actividade social ,571 ,062
Contactar comunicação social p/ expressar opiniões ,061 ,657
Participar num fórum político ,046 ,694
Divulgar propaganda partidária ,126 ,654
Análise factorial de componentes principais com rotação Varimax.

63
Variações na participação política

Até agora analisou-se o nível de participação política num conjunto de


actividades através das quais os indivíduos exprimem e tomam posições na
esfera pública. Como ficou claro, as actividades políticas suscitam capacidades
de mobilização desiguais e apelam para sentidos de acção distintos. Importa
agora considerar a participação política do ponto de vista dos indivíduos,
procurando diferenciar os níveis de participação dos jovens em função do
número de actividades em que se encontram envolvidos. Será, portanto,
possível distinguir os indivíduos mais activos dos menos activos e contrapô-los
aos indivíduos passivos, isto é, os que não referiram qualquer envolvimento nas
actividades sujeitas a escrutínio.
Considerando o número de actividades alguma vez realizadas verifica-se
que afecta apenas 66% do universo. Por este número fica claro que a
participação nas actividades de natureza política não institucional está longe de
ser universal. Praticamente um terço dos jovens parece viver alheado de
qualquer iniciativa de acção política, abstendo-se de qualquer actividade. Esta
ideia surge reforçada se a participação for reduzida às actividades realizadas no
decurso dos últimos doze meses. Neste caso, a percentagem dos jovens nelas
envolvidas é naturalmente mais baixa, caindo para menos de metade, ou seja,
menos de um em cada três jovens se revela activo (27,7%). Mas este número dá
mesmo assim uma visão optimista da participação na medida em que a maior
parte deles (17,1%) reporta apenas uma actividade. Envolvidos em duas ou três
actividades encontram-se ainda menos (7,2%) e apenas quatro em cada cem
jovens realizaram mais de três actividades no decurso dos últimos doze meses.
É evidente que a perspectiva da participação melhora se considerarmos o
conjunto das actividades alguma vez realizadas. Como se pode ver no gráfico
abaixo, o envolvimento em actividades cresce de uma forma progressiva,
fazendo aumentar os níveis de participação. Por exemplo, a percentagem de
jovens bastante activos, ou seja, os que referem três ou mais acções, representa
quase um terço da população.

64
Mas, qualquer que seja o critério temporal usado, sobressaem duas
conclusões. A primeira destaca o alheamento do exercício da cidadania política
de uma parte bastante significativa dos jovens; a segunda, aponta para a
existência de vários níveis de envolvimento, que nunca atingem, mesmo no
grupo mais activo, expressões muito intensas, na medida em que o número de
acções assinalado é algo limitado, considerando o tipo de acções e os períodos
de tempo em causa.

Número de acções actuais Número de acções já realizadas


80 40

60 30
%

%
40 20

20 10

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 9 10 0 1/2 3 ou mais

Perfis sociais da participação política

Conhecidos os níveis de participação política dos jovens, podemos passar


a analisar o perfil sociográfico que diferencia, por um lado, os jovens mais
activos dos menos activos e, por outro, entre jovens activos e passivos. A
classificação do nível de participação tomou por critério o número de acções
alguma vez realizadas, correspondendo a participação nula à ausência de
actividades, a participação baixa à referência a uma ou duas acções e a
moderada ou elevada à realização de três ou mais acções. A relação entre estes
três níveis de participação e as variáveis de caracterização começa por mostrar
que duas delas — género e situação conjugal — parecem não exercer qualquer

65
efeito significativo. A observação das percentagens mostra uma participação
ligeiramente superior nas mulheres e nas categorias conjugais casados
civilmente e divorciados/separados, mas, como indica a medida de associação
usada (V de Cramer), a diferença não tem grande significado. Vejamos, então,
as variáveis que assumem um papel mais diferenciador, referindo primeiramente
o efeito dessas variáveis no grupo dos jovens passivos e ponderando depois as
diferenças entre a participação baixa e a moderada ou elevada.
De uma forma geral, pode dizer-se que a participação tende a crescer
segundo a idade, os níveis de escolaridade, o status social e a inserção
ocupacional (Quadro nº 14). O efeito da idade revela-se nos jovens passivos
pela maior representatividade do grupo mais novo (38,1%) quer em relação ao
mais velho (30,2%), quer em relação ao peso que o grupo mais novo assume
nos jovens mais activos (19,3%). Neste nível de participação, os mais velhos
atingem um peso bastante mais elevado (42%). Seja qual for a idade
considerada, verifica-se sempre um movimento linear, pelo que a participação
aumenta com a idade. Aos mais novos corresponde uma participação nula ou
muito reduzida, ao grupo de idade intermédia encontra-se associada uma
participação baixa que passa a moderada e alta na população mais velha.
Associados em parte à idade, sobretudo no que respeita aos jovens mais
novos, os níveis de escolaridade revelam um padrão similar ao comportamento
etário. Os menos instruídos mostram-se menos aptos a intervir,
independentemente do facto de muitos deles serem também mais novos. A
escolaridade é normalmente considerada um indicador fundamental na
explicação da participação social e política. O entendimento do mundo é uma
condição necessária para agir sobre ele, pelo que a relação entre escolaridade e
participação é positiva. Os dados recolhidos vão nesse sentido. Os níveis baixos
de escolaridade estão bastante associados à passividade, representando 58,7%
dos indivíduos cuja participação é nula, quando, no grupo mais activo, cai para
menos de metade desse valor (26,6%). Contrastantes são também os números
da distribuição do ensino superior, sendo, no grupo mais participativo, quase
cinco vezes superior (32,8%) ao de participação nula (7,1%). De notar que o

66
ensino médio tende a aproximar-se do valor médio, ou seja, não se desvia muito,
nem para cima nem para baixo, do peso que possui na população, pelo que
associação entre educação e participação se fica a dever ao comportamento dos
níveis educacionais extremos. Ou seja, o ensino superior potencia
consideravelmente a participação e a baixa escolaridade exerce uma acção
fortemente inibidora, pautando-se o ensino médio por um efeito mais ou menos
neutro. É precisamente a forte presença do ensino superior (e,
consequentemente, a reduzida expressão dos níveis baixos de escolaridade)
que marca a diferença entre os jovens mais activos e menos activos, tornando a
escolaridade uma variável bastante mais crítica do que a idade na explicação da
participação política dos jovens.
Do ponto de vista ocupacional, o principal aspecto que importa referir é a
oposição entre, por um lado, estudantes e trabalhadores, e, por outro,
desempregados e outras categorias ocupacionais (em que predominam as
ocupações domésticas). Por conseguinte, o tipo de inserção social parece
exercer um efeito sobre a participação que se manifesta na condição mais
passiva ou menos participativa dos jovens não inseridos nas duas grandes
esferas da actividade social: a escola e o trabalho. Com efeito, os
desempregados e os que integram a ocupação outra aparecem
proporcionalmente mais representados nos grupos de participação nula e baixa.
Neste sentido, estes dois grupos aproximam-se entre si e distanciam-se do
grupo de participação mais elevada, que, além da presença menos expressiva
dessas duas categorias ocupacionais, se caracteriza ainda por uma
representação mais elevada de estudantes. A categoria estudantil apresenta-se
ligeiramente mais favorável à participação do que a de trabalhador, mas o efeito
da ocupação fica sobretudo marcado pelo papel inibidor que as inserções menos
sujeitas a processos de socialização exercem sobre a mobilização e acção
juvenis.
Por último, a participação também surge condiciona pela classe social. A
comparação entre os dois níveis extremos de participação mostra um
protagonismo mais activo por parte dos grupos de status social mais elevado,

67
designadamente na burguesia e na nova burguesia assalariada, enquanto os
assalariados manuais se caracterizam por uma passividade bastante acentuada.
Deste modo, os territórios da participação parecem claramente delimitados por
fronteiras sociais, indiciando que a qualidade e a quantidade dos recursos que
cada grupo social é capaz de mobilizar tendem a incentivar ou a inibir a tomada
de posição ou a expressão de opiniões no domínio público. Recursos como a
natureza das capacidades cognitivas, a acessibilidade e as oportunidades de
intervenção pública e o sistema de motivações e de incentivos que acompanham
as acções e orientações dos indivíduos surgem assimetricamente distribuídos
pelo espaço social, condicionando o uso e a expressão da participação.

Quadro nº 14
Perfis sociográficos das actividades de natureza política não institucional
Participação Participação Participação
nula reduzida moderada ou Total
elevada

Total 34,1 35,4 30,5 100

Masculino 53,7 48,6 49,2 50,5


Feminino 46,3 51,4 50,8 49,5
(V=0,046, p=0,35)

15-19 38,1 30,8 19,3 29,8


20-24 31,7 33,3 38,7 34,4
25-29 30,2 35,9 42,0 35,8
(V=0,118, p=0,000)

Estudantes 37,1 33,2 41,3 37,0


Trabalhadores 50,3 53,5 53,5 52,4
Desempregados 9,1 10,1 4,3 8,0
Outra 3,5 3,1 1,0 2,6
(V=0,088, p=0,017)

Ensino básico 58,7 52,0 26,6 46,5


Ensino médio 34,2 36,9 40,7 37,1
Ensino superior 7,1 11,1 32,8 16,4
(V=0,240, p=0,000)

Burguesia 8,3 8,7 12,0 9,6


Nova burguesia assalariada 8,3 11,3 20,3 13,1
Pequena burguesia tradicional 1,5 4,6 4,7 3,6
Salariato não-manual 35,8 46,4 38,7 40,5
Trabalhadores independentes 4,9 2,0 4,7 3,8
Salariato manual 41,0 27,0 19,7 29,4
(V=0,178, p=0,000)

1 Solteiro/a 81,5 74,9 77,1 77,8


Casado/a pela igreja 9,1 11,8 10,5 10,5
Casado/a pelo civil 2,6 2,5 3,6 2,9
Vive conjugalmente sem ser casado/a 6,2 7,9 6,5 6,9
Separado(a)/Divorciado/a ,6 2,8 2,3 1,9
(V=0,066, p=0,371)

68
A mobilização cognitiva pela política

Uma das formas de se entender a participação é a partir da sensibilidade


aos assuntos políticos. As competências cognitivas que se traduzem em
conhecimento, interesse e capacidade argumentativa estão directamente em
linha com o envolvimento político. A acção no mundo só faz sentido a partir da
sua compreensão. É por isso que a procura da informação é uma variável crítica
e necessária, ainda que possa não ser suficiente para abordar o problema da
motivação. Se dificilmente se concebe a acção sem a existência de instrumentos
cognitivos, a presença destes não a desencadeia necessariamente. Jovens
interessados em assuntos políticos podem não se revelar particularmente
agentes activos. É este um dos aspectos que iremos dar atenção neste capítulo
que começará, primeiramente, por analisar os indicadores relacionados com a
mobilização cognitiva.
O indicador de longe mais usado é, sem dúvida, o interesse pela política.
A leitura imediata da distribuição indica que há mais desinteresse do que
interesse. A agregação das duas respostas que traduzem os níveis mais baixos
representa um pouco mais de dois terços da amostra. Nesta leitura, o
desinteresse dos jovens pela política é avassalador. Se, porém, adoptarmos
uma outra posição analítica pode chegar-se a uma conclusão menos polarizada.
Um aspecto claro dos dados é mostrar que o interesse intenso pela política é
uma característica apenas partilhada por uma minoria quase residual (3,4%). A
política, ao contrário de outros assuntos, como o futebol ou a música, está longe
de arregimentar cognitiva e emocionalmente os jovens. Mas daí a dizer-se que
não desperta a mínima reacção vai uma grande distância. É certo que, para um
número bastante significativo, ainda que minoritário, de jovens (28,4%), o
desinteresse é total. Para os outros, afinal a maioria, a política não está ausente
das suas vidas, despertando neles um interesse que é frequentemente mais
superficial do que atento. Nesta interpretação, os jovens não estariam
propriamente desinteressados da política, mas não lhe dedicariam, em média,

69
grande atenção, revelando uma atitude de acompanhamento distanciado e de
reduzido envolvimento.

Interesse pela política


50

40

30
%

20

10

0
Muito Algum Pouco Nenhum

Associados ao interesse pela política, os indicadores a seguir analisados


procuram captar manifestações mais activas desse mesmo interesse,
designadamente através da frequência com que discutem assuntos políticos
com amigos ou familiares ou no grau de persuasão e convicção que colocam na
defesa das suas posições e argumentos. Parte-se naturalmente do pressuposto
de que os jovens com interesse pela política tenderão a exteriorizá-lo mais
frequentemente, ainda que se desconheça a intensidade com que o fazem, as
pessoas com quem mais discutem e a força argumentativa que colocam nas
discussões.
A frequência das discussões pode ser vista conjuntamente nos dois
círculos relacionais indagados, a família e os amigos, na medida em que os
resultados são praticamente idênticos. Os jovens não discutem mais entre eles
do que na família. Dir-se-ia, na verdade, que mais importante do que saber com
quem discutem é a frequência das discussões. E as respostas apontam para
uma frequência baixa. Discutir política não é conversa que ocorra diária ou
quase diariamente. Uma boa parte dos jovens, em número superior aos que
confessam desinteresse total pelos assuntos políticos, refere que nunca a

70
discute seja com amigos (36%) ou com a família (35,1%). Para um terço dos
jovens, a política ou é «tabu» ou não é objecto da comunicação interpessoal.

Frequência de discussão política Frequência da discussão política


na família com amigos
50 40

40
30

30
%

%
20

20

10
10

0 0
Nunca Raramente Algumas Muitas Nunca Raramente Algumas Muitas

Se atendermos de imediato aos que têm uma postura oposta, ou seja, os


que não dispensam a discussão política como prática quotidiana, verificamos a
existência de um número de jovens ligeiramente superior aos que manifestaram
muito interesse pela política. Dir-se-ia que esta pequena minoria se reforçou. É
certo que de forma não significativa e com tendência a privilegiar mais a
discussão entre amigos (5,4%) do que na família (4,5%).
A frequência com que os jovens discutem acaba por se revelar mais forte
nas duas categorias intermédias de resposta. Apesar de a discussão de
assuntos políticos não constituir um objecto de conversa diária, não deixa de
surgir regularmente. Nuns casos, menos numerosos, várias vezes por semana,
noutros, em maior número, a frequência é mais baixa. Independentemente
também de a discussão ter lugar entre amigos ou na família. Com efeito, quer
nos que raramente discutem ou nos que o fazem mais regularmente, os valores
são sempre da mesma grandeza, ainda que com uma ligeira vantagem da
família (respectivamente 39,2% e 21,1%) em relação aos amigos (37,7% e
20,9%).

71
Em resumo, a mobilização que a discussão de assuntos políticos exerce
tende a acentuar ligeiramente as posições extremas, entre os que gostam muito
de discutir política e os que a rejeitam como tema de conversa, não revelando
qualquer diferença comunicacional entre a família e os amigos.
Outro indicador do interesse que os assuntos políticos suscitam encontra-
se no grau de persuasão que os inquiridos empregam no sentido de
convencerem as pessoas com quem discutem a aceitarem os argumentos e as
posições que defendem ou até a mudarem de opinião. Esta pergunta surge no
questionário para avaliar a intensidade do envolvimento e do empenho que
colocam na discussão política. Se a discussão é em si mesma um indicador de
interesse, o empenho persuasivo constitui uma medida bastante mais apurada,
permitindo inclusive avaliar até que ponto a discussão política é vivida como
«paixão», ou seja, não apenas como uma troca cognitiva mas também
emocional. As respostas analisadas anteriormente cerceiam fortemente a
possibilidade de a comunicação política ser vivida como «paixão» de forma
generalizada. Como vimos, para parte significativa dos jovens nem se pode falar
da existência de comunicação política, na medida em que pura e simplesmente
não a discutem. Para os outros, cuja capacidade comunicacional é variável,
manifestar-se-ão de forma intensa e empenhada na discussão ou manterão
apenas uma postura de fraco envolvimento emocional? E haverá alguma relação
entre a frequência do envolvimento discursivo e o empenho e persuasão que
colocam nas discussões?
Embora o gráfico não possa mostrar, é de imaginar que a frequência da
discussão induza um maior recurso à persuasão. O empenho na discussão faz
com que se procure convencer os outros das razões que a sustentam. Olhando
para a distribuição não parece que o uso da persuasão seja mais frequente do
que a própria discussão.
Começa-se, evidentemente, por ter de se excluir os jovens que
normalmente não discutem, porque, neste caso, não faz sentido perguntar se
recorrem à persuasão em discussões em que não participam. Mas, mesmo
assim, é de assinalar o facto de o número dos que dizem nunca usar a

72
persuasão (41,8%) ser superior ao dos que não participam em discussões. Esta
diferença mostra que alguns jovens, provavelmente os que discutem menos
frequentemente, não colocam grande empenho persuasivo nas discussões,
indiciando um envolvimento pouco intenso com o domínio político.

Procura persuadir os outros


50

40

30
%

20

10

0
Muitas Algumas Raramente Nunca

Nos outros casos, verifica-se também que a capacidade de persuasão se


mantém um pouco mais abaixo da frequência com que se discute. Por exemplo,
a percentagem dos que dizem procurar frequentemente persuadir não ultrapassa
4%, enquanto a participação intensa em discussões se situa acima desse limiar.
Apesar desta diferença, a distribuição dos dados sugere que o empenho
persuasivo posto nas discussões tende a acompanhar a frequência com que
estas ocorrem. Deste modo, a conclusão mais óbvia que se pode retirar da
análise da argumentação persuasiva consiste no facto de ela estar enraizada na
pequena minoria que gosta de discutir política. Nestes, é possível admitir que o
interesse ceda lugar à «paixão», mas para a grande maioria a política desperta
um interesse menos intenso e, possivelmente, mais racional. E, em termos de
conhecimento, não deverá exceder na maior parte das situações um domínio
bastante superficial, tanto mais quanto um número nada negligenciável de
jovens se revela refractário à política, não nutrindo por ela qualquer tipo de
interesse.

73
É evidente que a política, como qualquer outro assunto, não pode exercer
uma atracção universal, havendo naturalmente um escalonamento em função do
grau de interesse. No entanto, a política não é um tema como qualquer outro, a
que se adira por mera curiosidade ou motivação intelectual. O interesse pela
política não está desligado da participação pelo que importa averiguar até que
ponto o desinteresse acentua a desmotivação pela acção. Esta influência pode
ser vista de duas formas: directamente, através do impacto na participação das
variáveis que traduzem a mobilização cognitiva, ou seja, as três variáveis já
analisadas e outra que será a seguir comentada; indirectamente, pelo perfil
sociográfico dessas variáveis, comparando-o depois com as variáveis que se
encontram relacionadas com a participação. Antes, porém, de iniciar esta
análise, falta convocar a última variável que integra a bateria dos indicadores da
mobilização cognitiva e que refere a atenção dispensada à informação noticiosa.
Um pouco em direcção contrária às tendências que temos vindo a realçar
no que respeita ao interesse político, o acompanhamento da informação
noticiosa parece constituir uma atitude quase universal no universo juvenil. É
certo que desconhecemos o interesse com que seguem as notícias, o tipo de
conteúdos a que são mais sensíveis, que não inclui apenas assuntos políticos,
ou o meio de comunicação que privilegiam. Mas, em todo o caso, parece não
restarem dúvidas de que os jovens não andam desinformados sobre os
acontecimentos que ocorrem na cena mundial. Nem todos, é evidente, terão o
mesmo conhecimento. Possivelmente será menor nos que se mostram mais
alheados e tenderá a aumentar à medida que cresce a procura e o consumo da
informação noticiosa. A propensão para estar a par e seguir a informação
veiculada pela comunicação social parece não se correlacionar de maneira forte
com o interesse pela política ou com a discussão política. Não quer isto dizer
que os jovens que mais se interessam e discutem não procurem informação
noticiosa. Há todas as razões para pensar que o fazem. O comportamento
divergente vem dos jovens que, apesar de terem pouco ou nenhum interesse
pela política e, consequentemente, não terem ou raramente terem discussões
políticas, se mostram interessados em acompanhar, ainda que com uma

74
regularidade variada, as notícias que quotidianamente são difundidas. Deste
ponto de vista, a exposição aos meios de comunicação social, enquanto medida
da mobilização cognitiva, revela-se mais produtiva do que os outros indicadores,
indiciando que a relação entre, por um lado, a compreensão e o conhecimento
dos acontecimentos que ocorrem no mundo, e, por outro, o interesse pelos
assuntos políticos não é, de modo algum, linear. Se os indicadores de
mobilização cognitiva não se comportam todos do mesmo modo, a questão que
precisa de ser explorada é a do impacto diferencial que cada um desses
indicadores exerce na participação e acção dos jovens.

Atenção à informação noticiosa


60

50

40
%

30

20

10

0
Muito frequente Frequente Rara

Perfis sociais da mobilização cognitiva

No fundo, por que razão determinados jovens dão mais atenção aos
assuntos políticos do que outros? Que variáveis ajudam a explicar essa
diferença? E haverá alguma relação entre essa atenção e os comportamentos
políticos dos jovens? Estas são as questões que serão agora analisadas. O
pressuposto de que se parte admite naturalmente que algumas variáveis
desenvolvem uma disposição favorável aos assuntos políticos que se traduz no
interesse, nas discussões ou na exposição noticiosa. As variáveis em causa são
todas, excepto uma, de natureza sociográfica. A excepção diz respeito à

75
participação política e a ideia é a de verificar em que medida a atenção dada aos
assuntos políticos tem ou não reflexos em termos comportamentais. Quanto às
restantes, permitirão fazer sobressair o impacto das localizações e das
identidades sociais no desenvolvimento dessas disposições.
Das seis variáveis sociodemográficas analisadas, apenas duas revelaram
não exercer qualquer efeito: o género e a situação conjugal (Quadro nº 15).
Apesar de a política surgir em termos de esfera pública bastante associada ao
universo masculino, as inquiridas deste inquérito não mostram dar menos
atenção que os homens aos assuntos políticos. Seja em termos de interesse, de
discussão ou de exposição noticiosa, as diferenças de género são praticamente
inexistentes. As diferenças assinaláveis que aparecem na vida social no que
respeita ao protagonismo político não podem ser imputadas, pelo menos na
população juvenil, a motivações pessoais, pelo que a questão das oportunidades
de participação se torna bastante mais crítica. Em todo o caso, o facto de as
atitudes não se diferenciarem é um sinal positivo no sentido de uma maior
igualização de género na reorganização do campo político.
A situação conjugal é a segunda variável sem influência na atenção dada
aos assuntos políticos. Deste ponto de vista, a transição para a vida conjugal e
familiar parece completamente inócua. Nem mesmo afecta a exposição noticiosa
que se poderia depreender a partir do desempenho de responsabilidades mais
alargadas no campo profissional e familiar. Por conseguinte, é de admitir que os
indivíduos continuem a prestar a mesma atenção que dedicavam aos assuntos
políticos antes de terem assumido uma mudança do seu quadro de vida.
Do lado das variáveis que exercem um impacto positivo, começaremos
por destacar as duas que têm um efeito linear, ou seja, a idade e o nível de
instrução. Dada a escala ordinal das variáveis é possível observar que a
influência é progressiva. À medida que a idade aumenta sobe a importância
atribuída aos assuntos políticos: o interesse cresce, as discussões intensificam-
se, a persuasão desenvolve-se e a exposição noticiosa está mais presente. A
idade favorece a integração do indivíduo na comunidade política.

76
Efeito semelhante pode ser constatado com a educação. Aliás, não é de
admirar. Observámos já, e continuaremos a registar noutras áreas que serão
vistas mais adiante, o importante papel desempenhado por esta variável. A
educação aumenta as capacidades cognitivas, a compreensão das coisas e a
capacidade de retenção e de acesso à informação, requisitos que facilitam a
captação e o interesse pelas realidades políticas. Os jovens mais instruídos
alcançam sempre valores mais elevados em qualquer dos indicadores que
traduzem a mobilização cognitiva.
Outras duas variáveis não possibilitam a observação de efeitos lineares,
mas permitem identificar a influência das localizações sociais na importância
atribuída aos assuntos políticos. Uma dessas localizações implica a situação
ocupacional. A distribuição das médias mostra que, na maior parte dos
indicadores, a condição trabalhadora surge à frente. A segunda posição é
ocupada pelos estudantes que apenas são ultrapassados pelos desempregados
no indicador que expressa a exposição à informação noticiosa. De notar que é
neste indicador que as diferenças entre as várias categorias ocupacionais
atingem os valores mínimos, revelando que todas elas têm uma elevada
exposição à comunicação social. A categoria outra, composta essencialmente
por ocupações domésticas, aparece sempre na última posição, normalmente a
uma distância considerável das restantes. A distribuição das categorias
ocupacionais sugere que a atenção dada aos assuntos políticos está
correlacionada com a participação na vida social. Os sectores sociais afastados
do trabalho (desempregados) ou circunscritos à vida familiar e privada (caso das
domésticas) mostram não só menos interesse pela política, mas também, devido
à possível limitação dos contactos sociais, menos oportunidades para poderem
discutir assuntos políticos. Ao contrário do que acontece no meio escolar ou
laboral, em que a profusão de contactos sociais torna mais frequente a abertura
à discussão política. As diferenças que se verificam entre estudantes e
trabalhadores podem dever-se a várias causas, mas é possível que o sentido de
pertença à comunidade política se reforce no exercício profissional, tanto mais
quando o efeito cumulativo de outras variáveis, cuja relação com a atenção

77
política já foi assinalada, como a educação ou a idade, tende a manifestar-se
mais acentuadamente na condição trabalhadora.
A classe social é a última das variáveis sociográficas analisadas. Em
termos gerais, pode dizer-se que a nova burguesia assalariada e os
trabalhadores independentes são os dois grupos que dão mais atenção aos
assuntos políticos, qualquer que seja o indicador considerado. Em contrapartida,
o salariato manual ocupa sempre a última posição. Também se verifica que é
precisamente no indicador da exposição à informação noticiosa que as
diferenças entre os diferentes grupos são mínimas, em virtude da ampla
abertura, como já se referiu, de todos os grupos sociais à comunicação social. A
atenção aos assuntos políticos segundo os grupos sociais dificilmente poderá
ser isolada dos efeitos da escolaridade, da participação na vida social e da
socialização familiar. Sem o aprofundamento destas influências, que estão além
do campo de análise, não é possível ir mais longe na explicação das diferenças
que se verificam entre os diferentes grupos sociais.
Por último, falta-nos atender à relação entre a atenção dispensada aos
assuntos políticos e a propensão para o envolvimento em acções e iniciativas
políticas. Esta variável já foi largamente explorada ao longo deste capítulo pelo
que nos dispensamos de a referir novamente. O ponto que agora importa
sublinhar é o facto de se ter constatado a existência de um efeito
estatisticamente significativo, ou seja, à medida que se passa da não
participação para os níveis mais altos de envolvimento político, aumenta o
interesse pela política, a frequência das discussões, o uso da persuasão e
mesmo a exposição à informação noticiosa. É claro que, neste caso, não faz
sentido falar de uma relação de causa e efeito na medida em que, o mais
provável é a existência de um reforço mútuo. Quem mais se envolve
politicamente mais interesse tem pela política, e vice-versa. A correlação tem a
virtude de mostrar que o exercício de determinadas práticas, como a discussão
política na família ou a exposição à informação noticiosa, se adquiridas ao longo
do processo de socialização, pode potenciar as acções e as iniciativas políticas
dos cidadãos. Neste sentido, o exercício da cidadania encontra-se fortemente

78
vinculado aos processos de socialização nos diferentes espaços sociais em que
ocorrem ao longo da vida dos indivíduos.

Quadro nº 15
Perfis sociográficos dos indicadores de mobilização cognitiva
Interesse Discussão Discussão Uso da Exposição à
pela política política política persuasão informação
(família) (amigos) noticiosa

Total 2,06 1,95 1,96 1,89 2,46

Masculino 2,08 1,92 1,98 1,89 2,44


Feminino 2,05 1,98 1,93 1,88 2,47
n.s. n.s n.s n.s n.s

15-19 1,91 1,78 1,74 1,81 2,27


20-24 2,12 1,97 1,97 1,85 2,49
25-29 2,14 2,07 2,11 1,99 2,58
F=7,57; F=9,434 F=14,24; F=3,752; F=19,63;
p<0,001 p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,000

Estudantes 2,12 1,94 1,92 1,85 2,35


Trabalhadores 2,07 2,00 2,03 1,94 2,53
Desempregados 1,85 1,81 1,81 1,77 2,49
Outra 1,66 1,32 1,43 1,69 2,35
F=4,31; F=6,15; F=5,33; F=1,62; F=5,56;
p<0,000 p<0,000 p<0,001 n.s. p<0,001

Ensino básico 1,83 1,68 1,69 1,79 2,36


Ensino médio 2,14 2,06 2,07 1,97 2,48
Ensino superior 2,58 2,44 2,43 1,94 2,67
F=56,56; F=57,80; F=51,24; F=4,82; F=4,82;
p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,000

Burguesia 2,27 1,98 2,03 1,83 2,48


Nova burguesia assalariada 2,46 2,25 2,23 2,05 2,58
Pequena burguesia tradicional 2,16 1,90 2,07 1,83 2,43
Salariato não-manual 2,02 1,98 1,98 1,87 2,45
Trabalhadores independentes 2,35 2,12 2,24 2,20 2,48
Salariato manual 1,86 1,76 1,76 1,82 2,41
F=11,84; F=6,52; F=6,51; F=2,25; F=1,26;
p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,047 n.s.

Solteiro/a 2,09 1,96 1,96 1,89 2,43


Casado/a pela igreja 2,02 1,93 1,88 1,84 2,49
Casado/a pelo civil 1,97 2,03 2,03 1,96 2,62
Vive conjugalmente 1,89 1,87 1,85 1,84 2,66
Separado(a)/Divorciado/a 2,22 1,93 2,45 2,11 2,54
n.s. n.s n.s n.s n.s

Participação nula 1,75 1,62 1,61 1,69 2,33


Participação baixa 2,01 1,86 1,91 1,91 2,43
Participação moderada e alta 2,48 2,42 2,41 2,08 2,63
F=70,62; F=83,86; F=76,49; F=15,81; F=17,59;
p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,000 p<0,000

79
Conclusão

O panorama da participação juvenil em termos de acções e de iniciativas


de natureza política que resulta dos dados analisados vai no mesmo sentido das
conclusões sobre o associativismo que apontam para uma participação
relativamente baixa. Desde logo, porque evidenciam que um terço dos jovens
jamais subscreveu uma acção do tipo ir a uma comício, assinar uma petição ou
fazer um donativo. De seguida, porque mostram que, apesar de um em cada
três jovens ter estado envolvido numa dessas actividades nos últimos doze
meses, a esmagadora maioria apenas assinala uma única acção, pelo que a
participação é pouco intensa. Finalmente, os dados sugerem que a propensão à
acção política segue um rumo mais individualista do que colectivo, privilegiando-
se as acções que dependem mais da iniciativa pessoal do que do esforço
organizado.
Do ponto de vista da mobilização cognitiva, a participação revelou uma
estreita conexão com a atenção dada aos assuntos políticos. Não sendo
possível estabelecer um elo de causalidade entre as duas variáveis, assinalou-
se, no entanto, que determinados indicadores de mobilização cognitiva, como a
prática de discussão e de persuasão, quando integrados em processos de
socialização, podem potenciar a participação.
Finalmente, mostrou-se que a participação longe de constituir uma
questão de motivação ou de escolha pessoal é fortemente influenciada por um
conjunto de variáveis em que se destacam a idade, a escolaridade e a inserção
social. Sem se voltar a dizer o que já foi dito, a participação política tende a
expressar-se à medida que o sentido efectivo da cidadania se reforça.

80
A participação juvenil e as representações de cidadania

Este capítulo explora os laços de pertença que os jovens estabelecem


com a comunidade em que se inserem, O primeiro tema tratado versa sobre os
direitos e os deveres que decorrem da cidadania. Que direitos são mais
valorizados? Que ideia fazem dos deveres e das responsabilidades? Estas são
duas das questões que procuram estabelecer o elo que os jovens estabelecem à
comunidade. De seguida, procura-se averiguar em que medida os problemas
que os afectam podem ou não interferir nos sentimentos de pertença, pondo em
causa o sentido inclusivo subjacente à própria concepção de cidadania. Por
último, aborda-se um conjunto de temas que interfere nos laços e nos
sentimentos de pertença. Começa-se por procurar identificar o significado da
referência comunitária, que se prolonga na avaliação do orgulho que os jovens
manifestam em relação ao país, entendido como uma forma de exprimir a
vinculação à comunidade nacional. Analisa-se depois a confiança interpessoal
enquanto medida de predisposição para a acção cooperativa. E termina-se
abordando a forma como os jovens avaliam as noções de certo e de errado e o
peso que atribuem às ideias de liberdade e de igualdade.

Os direitos de cidadania

Não existe cidadania sem o reconhecimento de direitos. É através deles


que se processa a inclusão do indivíduo numa comunidade em que pode
participar e decidir sobre o devir colectivo. Em que medida a importância dos
direitos é reconhecida pelos jovens? Sem esse reconhecimento não é possível a
identificação com a cidadania democrática. Os direitos indagados no inquérito
são os que mais directamente se relacionam com o funcionamento da
democracia: direitos que derivam do princípio da liberdade, como o respeito
pelos direitos das minorias ou a consideração das opiniões e das posições dos
cidadãos nos processos de decisão pública; e direitos que respeitam o princípio

81
da igualdade, que se traduz na defesa de um nível de vida justo para todos e na
garantia de que os cidadãos devem receber um tratamento igual por parte das
autoridades. Sem o reconhecimento da importância destes direitos dificilmente
se poderá aceitar a existência de uma cidadania democrática.
Observando a pontuação dos diferentes direitos inquiridos é evidente
reconhecer que todos eles, à excepção de um, têm médias elevadas. Na escala
de um a sete, alcançam valores em torno de 6,5. Na primeira posição aparece o
direito a um nível de adequado (6,6), imediatamente seguido pelo
reconhecimento dos direitos das minorias, pela exigência de tratamento igual
para todos e pela necessidade de os cidadãos serem ouvidos nos processos de
decisão pública. A uma certa distância deste grupo, aparece, na quinta posição a
manifestação de mais oportunidades de participação nos processos de decisão
pública (6,2). A única questão que não recolheu pontuação acima de seis foi a
polémica aceitação da desobediência civil como forma de protesto contra
medidas governamentais (4,9). Mesmo assim, o facto de a pontuação ser
superior ao ponto médio (4) indica que há mais jovens a aplaudir e a reivindicar
esse direito do que a opor-se.

Os «direitos» dos cidadãos

Vida adequada

Direitos d/ minorias

Tratamento igual

Ouvir os cidadãos

Partic.nas decisões

Desobediência civil

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

82
Em todo o caso, com a ajuda da análise factorial, comprovou-se que o
reconhecimento da desobediência civil é bastante menos consensual e não
parece convergir na mesma direcção dos restantes direitos inquiridos. Enquanto
estes últimos se relacionam em grande parte entre si, ou seja, se um indivíduo
dá grande importância a um deles tende também a atribuir importância idêntica
aos outros, no que respeita à desobediência civil parece manifestar-se mais
divergência do que convergência. Todavia, se esta excepção for ignorada, pode
dizer-se que estamos perante a aceitação de um conjunto alargado de direitos
que contribui para fundamentar a cidadania democrática. Em termos dessa
aceitação, mesmo atendendo a que nos movemos no território das
representações, pelo que não há certezas de que os direitos sejam
salvaguardados e reproduzidos na prática quotidiana, os jovens portugueses
exprimem uma posição democrática consolidada.

Deveres e responsabilidades

A ênfase dos direitos subestima por vezes a questão das


responsabilidades ou dos deveres, que se revela hoje crucial na concepção de
uma cidadania activa. É certo que qualquer concepção de cidadania pressupõe
ou reconhece a existência de um certo número de responsabilidades
compulsivas, como o pagamento dos impostos, os deveres perante a segurança
social ou a mobilização militar. Mas outras responsabilidades, como a obrigação
de o indivíduo garantir o seu sustento económico através do trabalho ou o
comportamento cívico que decorre da pertença à comunidade, podem não
integrar a lista dos «deveres» do cidadão. Com efeito, a ideia de cidadania
passiva privilegia uma definição legal de pertença que não envolve
necessariamente a participação pública: o exercício dos direitos apenas é
condicionado pelos deveres gerais de cidadania. A participação no domínio
público é reconhecida como um direito mas não como uma condição prévia de
pertença. O acesso aos bens sociais proporcionados pelo Estado, como a
educação ou a segurança social, não implica qualquer empenhamento dinâmico

83
do cidadão. Pelo contrário, a ideia de cidadania activa é inseparável das
responsabilidades e da participação. No mínimo, os indivíduos deveriam
compreender que o exercício dos deveres faz, afinal, parte dos seus direitos de
cidadãos e que o facto de não exercê-los constitui um prejuízo para o conjunto
da comunidade. O estatuto de cidadão não resulta apenas de uma pertença à
comunidade mas implica igualmente a participação nos assuntos comunitários.
Nesta medida, a concepção activa de cidadania destaca o papel dinâmico,
responsável e solidário do indivíduo.
O propósito do inquérito consiste precisamente em avaliar as
representações de cidadania que prevalecem entre os jovens. Essa avaliação foi
realizada através de um conjunto amplo de indicadores que vão desde as
obrigações legais, como o pagamento de impostos, até às regras de convivência
democrática, como a tolerância ou o reconhecimento das diferenças, passando
ainda pelas manifestações e comportamentos cívicos. A observação das
pontuações dos indicadores mostra que a maior parte deles obtém uma
pontuação elevada. Numa escala de um a sete, em que o sentido da variação
vai de nada importante para muito importante, metade dos indicadores obtêm
uma média igual ou superior a seis. Todos os outros, à excepção de um («Estar
disposto a ser militarmente mobilizado em caso de necessidade ou guerra»),
situam-se acima do ponto médio da escala (4). Por conseguinte, mesmo
havendo alguma variação entre conjuntos de indicadores, a orientação das
respostas dos jovens vai no sentido de considerar que a cidadania envolve um
vasto leque de responsabilidades e obrigações. Respeitar a propriedade pública,
ser tolerante com os outros, obedecer às leis e aos regulamentos, votar, pagar
impostos são exemplos de comportamentos que fazem parte do cabaz das
«virtudes cívicas» que é suposto terem sido incutidas na formação e na
constituição do cidadão. A representação dos deveres está, portanto, longe de
poder ser considerada minimalista e envolve a ideia da participação, pelo que é
possível dizer que a concepção de cidadania que os jovens defendem é mais
activa do que passiva.

84
Os «deveres» do cidadão
Votar sempre
Pagar os impostos
Obedecer às leis
Vigiar o governo
Estar em associações
Aceitar opiniões
Consumo consciente
Solidário no país
Solidário outro país
Mobilização militar
Cumprir código
cidadão ecológico
Respeitar bens publ.
Ser tolerante

3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0

Claro que as todas estas «virtudes» cívicas, mais do que traduzirem


comportamentos concretos, expressam uma conformidade em relação ao que é
social e moralmente considerado correcto. Determinar as contradições ou a
distância entre o plano do deve ser e as práticas concretas dos indivíduos é,
sem dúvida, um dos pontos a investigar no estudo. Mas outro aspecto que
merece uma exploração mais atenta diz respeito à existência de dimensões
subjacentes aos deveres dos cidadãos. Além das pontuações elevadas,
verificou-se também uma tendência de agrupamento dos indicadores, revelando
a possibilidade de que certas orientações poderiam ser privilegiadas em relação
a outras, ainda que todas elas fossem na generalidade bastante apoiadas.
O recurso à análise factorial permitiu distribuir o conjunto de indicadores
por três dimensões, como o quadro a seguir apresentado indica (Quadro nº 16).
A primeira dimensão contempla deveres, como «votar sempre», «vigiar o
governo» ou «pertencer a associações», que se inscrevem no quadro da acção
e da representação políticas. A segunda dimensão convoca indicadores que
relevam de práticas e acções muito distintas: por exemplo, não danificar a
propriedade pública, contribuir activamente a favor do ambiente separando e
depositando correctamente o lixo, cumprir o código como peão ou automobilista
ou ainda ser tolerante com os outros. Todos estes indicadores traduzem,
sobretudo, a consciência e o comportamento cívicos, ou seja, o respeito pelos

85
outros e pelo bem público. Por último, restam dois indicadores com valores
elevados (igual ou acima de 0,60): «ajudar em Portugal as pessoas que vivem
pior do que eu» e «ajudar as pessoas que, no resto do mundo, vivem pior do que
eu») que, como se depreende, integram a mesma dimensão. Como ambos os
indicadores revelam um sentido de serviço aos outros, pode considerar-se a
solidariedade como uma dimensão da cidadania.

Quadro nº 16
Análise factorial dos indicadores dos deveres de cidadania
Deveres de cidadania Dimensão Dimensão Dimensão
cívica política solidária
Votar sempre nas eleições 0,14 0,65 0,09
Pagar sempre os impostos 0,45 0,59 -0,04
Obedecer sempre às leis e regulamentos 0,57 0,43 0,04
Vigiar a acção do governo 0,13 0,69 0,00
Participar activamente em associações sociais ou políticas -0,12 0,68 0,33
Procurar compreender o pensamento das pessoas com outras opiniões 0,46 0,22 0,48
Escolher produtos por razões políticas, éticas ou ambientais, mesmo que 0,18 0,50 0,28
custem um pouco mais.
Ajudar em Portugal as pessoas que vivem pior do que eu. 0,34 0,03 0,78
Ajudar as pessoas que, no resto do mundo, vivem pior do que eu. 0,28 0,06 0,81
Estar disposto a ser militarmente mobilizado em caso de necessidade ou -0,13 0,26 0,54
guerra.
Cumprir as regras de trânsito seja como peão ou como automobilista 0,79 0,08 0,12
Contribuir para um ambiente melhor separando o lixo e colocando-o nos 0,81 0,15 0,15
locais correctos
Não danificar a propriedade pública (não deitar lixo para o chão, não 0,84 0,12 0,10
escrever nas paredes, etc.)
Ser tolerante com as pessoas que são diferentes de mim 0,66 0,06 0,40
Análise factorial de componentes principais com rotação Varimax.

Como se viu, a representação que os jovens têm dos deveres do cidadão


evidencia a política, o civismo e a solidariedade como três componentes
autónomas. A questão que então se levanta é a de saber se todas elas têm a
mesma importância. Recorrendo à distribuição média, constata-se de imediato a
posição preponderante da dimensão cívica, bastante à frente da política e da
solidariedade que surgem relativamente próximas uma da outra. Aparentemente,
para os jovens o civismo constitui a dimensão que mais se destaca na
concepção de cidadania. A subavaliação que, assim, resulta da política e da
solidariedade terá muito possivelmente reflexos nas formas de participação
através das quais se exprime o exercício concreto da cidadania.

86
Importância média
das três dimensões de cidadania
6,6

6,4

6,2

6,0

5,8

5,6

5,4

5,2

5,0
Cívica Política Solidária

Há também interesse em contextualizar as três dimensões de cidadania,


ou seja, conhecer as variáveis sociodemográficas que as condicionam e as
relações que estabelecem com os indicadores de participação. Do ponto de vista
da descrição sociodemográfica, a leitura dos dados mostra que a dimensão
cívica, largamente predominante no nosso universo, e a da solidariedade são
praticamente imunes aos efeitos dessas variáveis. Apenas a dimensão política
se mostra susceptível de ser influenciada, mas, mesmo assim, só por algumas
variáveis, designadamente o grau de instrução elevado, a condição estudantil e
as classes «médias» e «burguesas» (Quadro nº 17). Como se tem vindo a
observar, as questões que envolvem a esfera política tendem a concentrar-se de
forma mais intensa nestas variáveis.
As condicionantes sociais mostram um impacto distinto no que respeita
aos indicadores de participação, na medida em que se verifica uma relação
positiva entre eles e as três dimensões em causa. Com efeito, práticas mais
intensas em termos do exercício eleitoral, do voluntariado ou da actividade
política correspondem a uma valorização dos aspectos cívico, político e solidário
da cidadania. A única excepção refere o efeito nulo da participação associativa.
Esta ausência de relação está, sem dúvida, relacionada com a forte componente
desportiva que a integra. Sem ela, o associativismo apresentaria muito
provavelmente uma influência no mesmo sentido dos restantes indicadores de

87
participação. Mas, em todo o caso, é de sublinhar a correspondência entre o
aumento da consciência cívica e os níveis de participação.
Outra forma de captar a importância dos deveres de cidadania a que o
inquérito recorreu foi através de uma pergunta de escolhas alternativas. As
diferentes alternativas de resposta permitem diferenciar actividades através das
quais se manifesta o exercício dos deveres cívicos. A primeira resposta
contempla o envolvimento em assuntos políticos ou de governação; a segunda
apela à participação em organizações nacionais cuja acção contribua para a
mudança da sociedade; a terceira privilegia a intervenção voluntária de âmbito
local; por último, permite-se que o inquirido recuse as alternativas que lhe são
propostas. A distribuição das respostas mostra um grande desequilíbrio e uma
clara preferência pelo modo de acção consubstanciado na penúltima categoria
(58,2%). Ou seja, os jovens consideram ser seu dever intervir na resolução dos
problemas que se manifestam a nível local. A intervenção a nível nacional
através de organizações que contribuam para a mudança social aparece como a
segunda opção mais privilegiada (27,8%), mas este apoio apenas consegue
mobilizar metade do número dos jovens que manifestam preferência pela acção
voluntária local. Displicente é o número dos que consideram ou privilegiam a
acção de âmbito político e governamental como deveres de cidadania (3,9%).

A participação do cidadão

Política/governação

Organiz. nacionais

Voluntariado local

Em nenhuma destas

0 10 20 30 40 50 60 70

88
Esta fraca preferência reflecte não apenas o reduzido interesse que os
jovens dedicam à política, a que nos referimos noutra parte da análise, mas
também a relevância que atribuem às acções de natureza social em comparação
com as de natureza política. Por último, regista-se o facto de um em cada dez
jovens declarar que não se identifica com nenhuma das actividades propostas.
Esta falta de identificação pode imputar-se quer à não adequação dessas
actividades com o entendimento que esses jovens têm do papel do cidadão,
quer a um eventual desinteresse pela intervenção cívica. No entanto, como a
pergunta se reporta a atitudes, e como verificámos a partir da pergunta anterior a
existência de um sentimento de dever forte em relação à cidadania, é possível
admitir que a falta de identificação se relacione mais com a desadequação das
actividades e não tanto com a recusa assumida perante o exercício dos deveres
cívicos.
As quatro perguntas sobre as formas privilegiadas de intervenção cívica
apresentam também perfis sociodemográficos e de participação distintos
(Quadro nº 17). Referindo, em primeiro lugar, a resposta que colheu mais apoio
— a intervenção voluntária a nível local —, observa-se que, em termos de
atributos sociodemográficos, é mais característica dos estudantes, do ensino
superior e dos solteiros, e, em termos de indicadores de participação, está mais
presente nos jovens que vão ou tencionam ir mais vezes votar e nos que se
encontram mais envolvidos em práticas políticas, voluntárias e associativas. Ou
seja, a acção voluntária local é defendida pelos jovens cujos níveis de
participação são mais elevados, em parte justificados ou motivados por uma
escolaridade de nível superior e por um quadro de vida em que as
responsabilidades profissionais e familiares estão ainda pouco presentes.
A segunda escolha mais referida — a participação em organizações
nacionais — surge com um perfil próximo da anterior. Também aqui os
estudantes, os solteiros, o ensino superior e alguns grupos sociais de estatuto
mais elevado se encontram mais representados. O mesmo volta a acontecer no
que respeita aos indicadores de participação. Aparecem igualmente os jovens
que mais votam e que se mostram mais activos nas actividades políticas,

89
voluntárias e associativas, ainda que se revelem, na generalidade dos
indicadores, menos activistas dos que privilegiam a acção voluntária local.
Os jovens que entendem que os deveres dos cidadãos passam sobretudo
pelo envolvimento nos assuntos políticos e na governação encontram-se mais
representados nos grupos mais velhos, nos trabalhadores, nos níveis de
instrução abaixo do ensino superior e nas situações conjugais. Este perfil indica
que a inserção profissional e o envolvimento conjugal e familiar desenvolvem
uma orientação mais difusa no sentido da responsabilidade política que produz
consequências em termos do sentido da participação. Com efeito, as práticas
deste grupo tendem a privilegiar a participação política, designadamente o
exercício eleitoral e o envolvimento político, em relação à participação cívica
quer seja através da acção voluntária ou da vinculação associativa. É, portanto,
um perfil que acentua a orientação política e menos a envolvente da participação
cívica, em parte justificado por uma disponibilidade mais limitada, em virtude das
responsabilidades profissionais e familiares.
Por último, os que acham que nenhuma das respostas anteriores constitui
uma representação adequada dos deveres de cidadania encontram-se mais
presentes nos mais novos, nos menos escolarizados, nas situações
ocupacionais menos características, como o desemprego e as actividades
domésticas, e no salariato manual. Este conjunto de variáveis define, como
noutras partes já se assinalou, um perfil muito refractário à participação. Com
efeito, os jovens que preferem não indicar uma escolha revelam-se pouco
propensos à acção no espaço público: votam menos e têm um envolvimento
muito limitado com as realidades do voluntariado e do associativismo. Tendo em
consideração este enquadramento, o facto de não terem escolhido uma resposta
pode não só revelar uma inadequação das alternativas propostas, mas também
alguma indiferença pelos papéis activos que o exercício da cidadania pressupõe.

90
Quadro nº 17
Perfis sociográficos e de participação das representações de cidadania
Dimensões da cidadania Formas de envolvimento do cidadão
Indicadores Dim. Dim. Dim. Política/ Organ. Volunta- Nenhu-
sociográficos e de Cívica Política Solida- Gover- Nacio- riado ma
participação riedade nação nais local

Masculino 6,31 5,35 5,26 64,9 53,0 47,2 54,2


Feminino 6,40 5,41 5,31 35,1 47,0 52,8 45,8
F=2,958; F=0,670; F=0,580; V=0,084; p=0,085
p<0,086 p<0,413 p<0,447
15-19 6,31 5,34 5,38 15,8 25,9 30,1 37,5
20-24 6,44 5,36 5,30 28,9 39,2 33,5 30,2
25-29 6,31 5,43 5,18 55,3 35,0 36,4 32,3
F=2,801; F=0,683; F=2,332; V=0,084; p=0,085
p<0,061 p<0,505 p<0,098
Estudantes 6,35 5,51 5,30 16,2 37,3 38,7 31,3
Trabalhadores 6,35 5,34 5,27 81,1 53,6 50,5 50,0
Desempregados 6,49 5,08 5,35 2,7 5,7 8,7 14,6
Outra 6,13 5,32 5,42 3,4 2,2 4,2
F=1,429; F=4,192; F=0,216; V=0,156; p=0,006
p<0.233 p<0,006 p<0,886
Ensino básico 6,34 5,20 5,21 52,8 45,2 43,6 63,8
Ensino médio 6,38 5,46 5,33 36,1 35,0 39,1 29,8
Ensino superior 6,31 5,70 5,36 11,1 19,8 17,4 6,4
F=0,337; F=14,749 F=1,319; V=0,138; p=0,006
p<0,686 ;p<0,000 p<0,268
Burguesia 6,35 5,69 5,35 8,3 10,5 9,3 6,6
Nova burg.assalariada 6,39 5,61 5,27 8,3 12,5 15,5 5,5
Peq. burguesia tradicional 6,35 5,30 5,01 5,1 3,5 2,2
Salariato não-manual 6,32 5,24 5,22 38,9 37,7 42,0 42,9
Trabalhad. independentes 6,21 5,45 5,13 8,3 7,0 2,8
Salariato manual 6,42 5,39 5,34 36,1 27,2 26,9 42,9
F=0,804; F=4,278; F=0,807; V=0,190; p=0,004
p<0,547 p<0,001 p<0,545
1 Solteiro/a 6,37 5,42 5,36 59,5 79,9 79,6 67,7
Casado/a pela igreja 6,30 5,42 4,92 18,9 8,0 10,5 16,7
Casado/a pelo civil 6,17 4,95 4,89 8,1 1,5 3,1 4,2
Vive conjugalmente 6,40 5,24 5,35 8,1 8,7 5,2 9,4
Separado(a)/Divorciado/a 6,18 4,80 4,61 5,4 1,9 1,6 2,1
F=0,798; F=3,100; F=5,440; V=0,157; p=0,025
p<0,527 p<0,015 p<0,000
Votou eleições legislativas 6,40 5,70 5,31 75,9 71,3 59,1 48,2
Não votou 6,31 4,95 5,04 24,1 28,8 40,9 51,8
n=589, idade >= 21 anos
F=2,063; F=89,461 F=6,559; V=0,155 p=0,003
p<0,151 ;p<0,000 p<0,011

Sim, quase de certeza 6,52 5,76 5,36 34,3 43,3 40,8 23,6
Sim, é provável 6,19 5,36 5,41 45,7 26,2 30,4 30,3
É pouco provável 6,01 4,75 4,85 17,1 16,3 8,9 19,1
Quase de certeza não vou 6,40 5,05 5,14 2,9 14,3 19,8 27,0
F=16,714 F=39,264 F=7,517; V=0,196; p=0,000
;p<0,000 ;p<0,000 p<0,000
Participação nula 6,26 5,33 5,41 32,4 29,2 31,3 54,2
Participação baixa 6,36 5,30 5,20 27,0 34,8 38,7 28,1
Particip. moderada ou alta 6,46 5,54 5,25 40,5 36,0 30,0 17,7
F=4,903; F=4,752; F=2,986; V=0,169; p=0,000
p<0,001 p<0,009 p<0,051
Não voluntário 6,33 5,34 5,24 94,3 89,6 81,9 95,7
Voluntário 6,57 5,67 5,51 5,7 10,4 18,1 4,3
F=10,631 F=11,242 F=5,996; V=0,145; p=0,000
;p<0,001 ;p<0,001 p<0,015
S/ participação associativa 6,34 5,34 5,24 67,6 74,2 70,5 83,5
Participação 1 associação 6,35 5,45 5,42 29,7 19,3 19,4 14,4
Participação em 2 ou mais 6,50 5,58 5,35 2,7 6,4 10,1 2,1
F=1,367; F=2,302; F=1,691; V=0,126p=0,020
p<0,255 p<0,101 p<0,185

91
Preocupações e problemas da sociedade

Uma das razões que pode justificar o maior ou menor interesse na


participação política reside no grau de apreensão com que os jovens captam os
problemas e os desafios da sociedade ou na confiança que depositam nos
meios que permitirão ultrapassá-los. Nesse sentido solicitou-se aos inquiridos
que seleccionassem de uma lista extensa os três temas que lhes suscitam mais
preocupação. A ordenação que resultou mostra que os jovens colocam, em
primeiro lugar, o problema do emprego. A maioria (57,4%) refere o emprego
como um dos três problemas que mais os afecta e 26% consideram-no mesmo o
mais importante (Quadro nº 18). A prioridade que lhe é atribuída é,
evidentemente, uma resposta esperada, atendendo não apenas à relevância
que a transição para o mercado de trabalho representa na vida dos jovens,
sobretudo dos que estão próximos do fim das trajectórias escolares formais, mas
também devido à transitoriedade e precariedade que atingem muitas das actuais
situações profissionais juvenis.
Resposta talvez menos expectável é a preocupação em relação à saúde
referida por quase metade dos jovens (42,6%). Contrariamente a outros temas,
como o emprego, a ecologia ou o estilos de vida, a preocupação com a saúde,
sobretudo quando referida em termos tão gerais, não faz normalmente parte dos
temas que surgem na agenda pública a representar a condição juvenil, sendo
associada principalmente às populações idosas. Ora, os dados deste inquérito
mostram uma história um pouco diferente. A saúde é também importante para os
jovens. Evidentemente não se ignora que o sentido genérico do termo pode
recobrir situações muito diversas que vão desde a possível preocupação em
relação ao sistema nacional de saúde até à própria condição individual. Mas,
independentemente dos sentidos que possam estar em causa, a preocupação
em relação à saúde marca uma convergência com o resto da população e
mostra que alguns dos temas que surgem mais conotados com a juventude
podem não ter a importância que muitas vezes se lhes atribui. Possivelmente, é
mais correcto atribuir a razão dessa conotação ao facto de os jovens em

92
comparação com a população adulta dedicarem em termos relativos mais
atenção e interesse a esses temas. Esta diferença, no entanto, não apaga a
convergência que existe entre as gerações jovens e as mais velhas nos temas
mais consensuais, como o emprego ou a saúde.
A terceira preocupação refere um tema recorrente e, este sim, desde
sempre conotado com a condição juvenil — a droga. Um em cada dez jovens
escolhe a droga como principal preocupação (9,3%) e quase um terço refere-a
nos três primeiros lugares (27,8%). Estes números traduzem um receio real em
relação a um problema que os pode directamente atingir, como no caso do
emprego ou da saúde. Mas, enquanto estes dois últimos são vistos como
bastante ligados a factores externos e imponderáveis em relação aos quais nem
sempre é possível agir, o tema da droga surge muito mais directamente
dependente da vontade e do autocontrolo do indivíduo. É possível, por isso,
interpretar a preocupação em relação à droga não tanto como um problema que
os afecte ou possa vir afectá-los individualmente, mas mais como um problema
que atinge colectivamente a condição juvenil. Partindo desta interpretação, pode
dizer-se que a droga, na opinião dos jovens, continua a ser um tema associado à
juventude, havendo também aqui uma convergência entre as representações
juvenis e as que se encontram difundidas na população em geral.
Outro tema com importância percentual acima de 20%, ou seja, referido
como uma das três preocupações principais, é o da formação profissional.
Estando, sem dúvida, relacionada com a transição para o mundo de trabalho, a
referência à formação profissional revela a inquietação que o emprego ou a falta
dele provoca. Às dificuldades da inserção profissional junta-se agora a carência
de qualificação profissional. É possível que alguns jovens a percepcionem como
uma condição necessária para o início da actividade profissional, mas, apesar
disso, não constitui uma preocupação universal na medida em que outros jovens
parecem não considerar a necessidade de qualificação profissional como uma
questão crítica para uma bem sucedida transição para o mercado de trabalho.
Os quatro temas até agora referidos — emprego, saúde, droga e
formação profissional — agregam mais de metade das respostas múltiplas (cujo

93
somatório triplica o número de inquiridos). Dos dezoito temas propostos são,
portanto, os que mais caracterizam e preocupam os jovens. Os outros temas
recolhem consensos menos alargados. E valerá a pena referi-los porque alguns
deles aparecem em termos de imagem pública bastante conotados com a
condição juvenil. Porém, devido ao número elevado de temas, iremos, por
razões de economia de exposição, dividi-lo de acordo com o limiar abaixo e
acima de 10% (e, neste último caso, inferior a 20%) e comentar globalmente
cada um dos grupos.
Dando seguimento ao critério do peso numérico, os temas que obtiveram
apoio acima de 10% são sete: sida (18,7%), ambiente (18,4%), relações
familiares (15,2%), direitos humanos (14,1%), crime e segurança pessoal
(12,6%), lazer/tempos livres (11%) e habitação (10,5%). Alguns destes temas,
como a sida ou o ambiente, estão socialmente bastante conotados com a
juventude, mas outros traduzem problemas que afectam de forma indiscriminada
o conjunto da população. A referência ao tema sida por um número elevado de
jovens permite estabelecer alguma conexão com a preocupação que manifestam
em relação à saúde. È possível que, para muito deles, a atenção que lhe
dedicam não decorra de qualquer posição em relação ao sistema de saúde nem
às condições do próprio indivíduos mas do receio que as doenças sexualmente
transmissíveis suscitam. Nesta perspectiva, o tema sida reflecte o lugar que a
sexualidade ocupa nos estilos de vida juvenis.
Outro tema igualmente conotado com a juventude é o ambiente. Os
números mostram existir um apoio significativo, mas esse apoio parece não ter o
grau de generalização que por vezes se lhe atribui. Quando posta em confronto
com outros temas, a preocupação ambiental aparece referida atrás de outras
preocupações relacionadas, por exemplo, com o trabalho (emprego e formação
profissional) ou a saúde (droga, sida). Mesmo assim, se tivermos em conta estes
dois agrupamentos temáticos, o ambiente não deixa de surgir como a terceira
área de inquietação dos jovens.
A defesa dos direitos humanos é outro tema que integra o grupo das
percentagens moderadas e que vale a pena referir. Ainda que a sua expressão

94
numérica seja limitada não deixa de constituir um indicador das orientações que
movem a juventude portuguesa. O reconhecimento dos direitos humanos é um
dos movimentos que condicionam hoje em dia a reflexão (e a definição) em
torno da cidadania. O facto de eles serem subscritos por um número não
desprezível de jovens, indicia uma sensibilidade crescente à forma como os
direitos são pensados e reconhecidos no interior da sociedade portuguesa. A
impossibilidade de se poder estabelecer uma comparação com a população
adulta impede de afirmar que as concepções mais abertas de cidadania estariam
potencialmente mais desenvolvidas e consolidadas em determinados segmentos
juvenis.
Os restantes assuntos revelam preocupações mais genéricas que são
igualmente partilhadas pela restante população. A atenção dada à família, à
segurança, aos tempos livres e à habitação são assuntos que preocupam a
generalidade das pessoas. É evidente que há algo de arbitrário na classificação
de um tema como sendo mais ou menos típico dos jovens sem se ter em conta a
distribuição do mesmo na população adulta. Por exemplo, ainda que a habitação
assuma uma relevância própria na juventude, é sentido também por largos
sectores da população. Na impossibilidade de se poderem estabelecer essas
comparações, resta assinalar as preocupações que à luz das mudanças que
afectam a sociedade se mostram mais susceptíveis de marcar a condição
juvenil.
Avançando no sentido de caracterizar as preocupações menos
difundidas, emergem, no grupo das percentagens inferiores a 10%, os seguintes
temas: custo da educação universitária (9,8%), relações pessoais (9%),
terrorismo e defesa social (7,7%), equilíbrio orçamental (7,7%), segurança social
(6,8%), racismo (4%) e suicídio juvenil (3%). É compreensível, em alguns casos,
o apoio reduzido que recolhem. Por exemplo, o custo com a educação
universitária apenas preocupa os jovens que estão ou têm expectativa de estar
no ensino superior que, como se sabe, representam uma percentagem
relativamente baixa em termos de comparação internacional. Também se
justifica a baixa inquietação que o suicídio juvenil suscita em virtude da sua

95
incidência residual. Quanto aos outros temas, excluindo apenas o das relações
humanas, cujo fraco apoio pode ser imputado a uma designação demasiada
vaga, é possível observar que integram a agenda da conjuntura política actual.
Apesar da ampla exposição que recebem nos meios de comunicação social, o
terrorismo, o défice orçamental ou o financiamento da segurança social não são,
longe disso, considerados preocupações prioritárias. Aparentemente,
poderíamos julgar que os jovens não se interessam por assuntos de âmbito
colectivo. Mas não é o caso. Como vimos, mesmo não considerando os temas
que mais directamente lhes dizem respeito, como o emprego ou a saúde, a
atenção dada ao ambiente e aos direitos humanos revela que os jovens se
preocupam com assuntos que reflectem preocupações e necessidades de
âmbito geral. Simplesmente esses assuntos não são os que têm vindo a marcar
o debate político, constituindo, assim, mais um sinal ou uma razão do seu
afastamento em relação ao campo político.

Quadro nº 18
As preocupações sociais dos jovens
1º escolha 1ª escolha Total Total
Temas que preocupam os jovens
(n)) (%) (n) (%)

Ambiente 86 8,6 184 18,4


Segurança social 23 2,3 68 6,8
Saúde 192 19,2 426 42,6
Terrorismo e defesa nacional 23 2,3 77 7,7
Emprego 260 26,0 574 57,4
Relações familiares 50 5,0 152 15,2
Habitação 15 1,5 105 10,5
Formação profissional 68 6,8 230 23,0
Racismo 13 1,3 40 4,0
Lazer/tempos livres 28 2,8 110 11,0
Sida 42 4,2 187 18,7
Economia e equilíbrio orçamental 13 1,3 77 7,7
Relações pessoais 20 2,0 90 9,0
Crime e segurança pessoal 24 2,4 126 12,6
Suicídio juvenil 8 ,8 30 3,0
Custo da educação universitária 17 1,7 98 9,8
Droga 87 8,7 278 27,8
Direitos humanos 30 3,0 141 14,1
Total 1000 100,0 2993 299,3

96
Sentimentos de identificação, confiança e orientações

A pergunta relativa aos deveres de cidadania revelou, em primeiro lugar, a


importância da dimensão cívica. A cidadania, na concepção dos jovens, mais do
que uma questão de participação política, envolve uma atitude de respeito em
relação aos outros concidadãos. Mas, em segundo lugar, fez sobressair outra
ideia: a de que a acção cívica consiste numa acção voluntária local. Obviamente,
têm-se consciência de que as opiniões dos jovens traduzem representações
ideais e não práticas concretas. Mesmo assim, vale a pena sublinhar que estas
representações da acção cívica traduzem o afastamento em relação à esfera
política e destacam a dimensão local como espaço privilegiado de intervenção.
Neste sentido, a cidadania seria preferencialmente vista como acção cívica e
voluntária e não como exercício de direitos políticos, privilegiando em termos de
âmbito de acção o nível local ao nacional. Para os jovens, a ideia de cidadania
parece concretizar-se pela posição cívica de respeito em relação aos outros e ao
bem público e, simultaneamente, por um sentimento de responsabilidade e de
intervenção no espaço circunscrito em que desenrolam as suas vidas.
Esta referência ao nível local está também presente quando se procura
perceber para que nível de integração remete a ideia de cidadania. A pertença a
uma comunidade pode pressupor a existência de diferentes níveis. Por exemplo,
o reconhecimento dos direitos humanos como um fundamento da cidadania
remete para uma identificação com a própria humanidade. Os níveis de
integração que foram considerados no inquérito variam num contínuo que
começa no bairro ou na localidade em que o inquirido vive, que passa depois
para o nível da cidade e da região, seguindo-se o país e a comunidade europeia
e terminando no plano planetário. A distribuição das respostas mostra que os
níveis mais baixos da escala são os que recolhem as preferências dos
inquiridos. Somando os que se identificam com o bairro ou o local (30,8%) e com
a cidade em que habitam (30%) perfazem seis em cada dez jovens. A ideia de
pertença é sobretudo esboçada a nível local, deixando bem atrás a identificação
com a região ou com o país, que recolhe em ambos os casos um apoio reduzido

97
(ligeiramente acima de 15%). A pertença local é, portanto, mais forte do que a
nacional ou a regional. Mesmo após longos anos de adesão, a identificação
europeia apenas convence uma minoria de jovens (2,8%), inferior mesmo à que
refere o nível planetário (5,5%).

Sentimentos de identificação

O Bairro/localidade

A cidade onde vive

A região onde vive

O país onde vive

A União Europeia

O mundo

0 10 20 30 40

Esta identificação com o plano local significa que os jovens têm fraca
consciência nacional ou que não se assumem como parte integrante da nação?
Não necessariamente. A razão da identificação local relaciona-se com as
vinculações afectivas e a fraca mobilidade geográfica por razões de estudo,
profissionais ou familiares. Uma parte significativa dos jovens, inclusive por
razões etárias, permanece nos locais onde nasceram ou vivem há longo tempo,
pelo que se torna difícil desenvolverem uma consciência cosmopolita voltada
para os grandes espaços de integração, sejam eles o nacional, o europeu ou o
planetário. Ainda assim, a forte identificação local não despreza o
reconhecimento nacional, como se pode verificar a partir do sentimento de
orgulho nacional. Quando interrogados sobre esse sentimento, a esmagadora
maioria dos jovens não se inibe de manifestar muito orgulho (48,9%) ou pelo
menos algum orgulho (43,8%). Só uma pequena minoria (6,3%) parece não
nutrir esse sentimento por Portugal. Esta manifestação de orgulho por parte dos
jovens é uma prova da identificação que estabelecem com o país, embora essa

98
manifestação não os prive de se sentirem mais próximos das pertenças locais. O
orgulho exprime, deste modo, uma vinculação à comunidade nacional que se
expressa, de forma mais notória, nos âmbitos mais localizados ou regionais que
a integram.

Sentimento de orgulho em relação ao país

Muito orgulho

Algum orgulho

Pouco orgulho

Nenhum orgulho

0 10 20 30 40 50 60

A confiança nos outros em sentido geral tem sido usada como um


indicador para se avaliar o clima cooperativo existente numa sociedade. A
confiança é entendida como um lubrificante das relações sociais, permitindo que
as transacções entre os indivíduos se façam de forma mais directa e eficiente.
Em linguagem económica, a confiança baixa os custos de transacção e cria as
condições para a existência de comportamentos cooperativos. Estes
comportamentos facilitam as relações interpessoais e estimulam as tendências
associativas, contribuindo, deste modo, para a melhoria da qualidade de vida. A
existência generalizada de sentimentos de confiança é vista como uma mais
valia, ou como uma espécie particular de capital (capital social), que incrementa
o bem-estar social e económico das sociedades.

99
A confiança interpessoal
100

80

60

%
40

20

0
Todo cuidado é pouco Pode-se confiar

Se a confiança está na base da cooperação, então uma sociedade pouco


cooperativa terá de apresentar níveis de confiança baixos. Entendendo que as
manifestações associativas e o envolvimento cívico e político dos indivíduos
traduzem uma das formas de o «espírito cooperativo» se revelar, pode
antecipar-se que os jovens portugueses não manifestam um elevado nível de
confiança. Na realidade, assim acontece. Confrontados com uma escolha
obrigatória, a maioria dos jovens (75,5%) opta pela frase «todo o cuidado é
pouco quando se lida com as pessoas» em detrimento da que expressa a atitude
de confiança («Pode-se confiar na maioria das pessoas»). A confiança não está,
deste modo, enraizada no espírito dos jovens. Evidentemente que a confiança
deve ser, neste contexto, entendida em sentido amplo, ou seja, como uma
atitude em relação a um outro generalizado, não se circunscrevendo, por
conseguinte, às relações de âmbito privado e íntimo. A confiança generalizada
mede-se em relação aos estranhos, às pessoas que não se conhecem e com as
quais se contacta diariamente. A falta de confiança retrai os comportamentos
cooperativos e as tendências associativas e leva a que os indivíduos se
enclausurem nos círculos das relações privadas e familiares. Também não
favorece as atitudes cívicas nem fomenta o «espírito de comunidade». É por isso

100
que se antevê uma correspondência acentuada entre níveis baixos de
participação cívica e política e a atitude de desconfiança.
Com efeito, o cruzamento dos indicadores de participação com as atitudes
de confiança mostra que os jovens mais activos são bastante mais positivos em
relação aos outros. Em qualquer dos indicadores em causa, os jovens que mais
participam têm mais confiança. É certo que a atitudes de desconfiança
continuam a ser dominantes, reflectindo, aliás, uma característica da sociedade
portuguesa, mas a relação positiva entre confiança e participação, comprova que
os esforços no sentido do reforço das práticas associativas e voluntárias
constituem uma estratégia adequada de disseminação da atitude de confiança
na sociedade. Em direcção contrária, é também possível observar que a
participação eleitoral dos jovens (e não só) é afectada pelo clima de confiança
existente na sociedade, pelo que a inversão da tendência de diminuição que,
actualmente, afecta a evolução das democracias ocidentais, só será conseguida
por uma mudança da atitude em relação aos outros.

Quadro nº 19
Participação e confiança interpessoal
A confiança interpessoal Todo o cuidado é pouco Pode-se confiar na
quando se lida com pessoas maioria das pessoas

Votou eleições legislativas 58,7 72,3


Não votou 41,3 27,7
(V=0,120; p=0,004) (n=589, idade >= 21 anos)

Sim, quase de certeza 37,5 47,0


Sim, é provável 30,9 27,5
É pouco provável 12,5 9,5
Quase de certeza não vou 19,1 16,0
(V=0,08334; p=0,103)

Participação nula 35,8 24,4


Participação baixa 36,3 35,0
Participação moderada ou alta 28,0 40,6
(V=0,126; p=0,000)

Não voluntário 88,5 79,4


Voluntário 11,5 20,6
(V=0,111 p=0,001)

S/ participação associativa 75,4 67,3


Participação numa só associação 18,8 17,5
Participação em 2 ou mais associações 5,8 15,2
(V=0,146 p=0,000)

101
A ideia de que a geração actual reflecte valores em mudança está
também presente na forma de conceber a moral, ou seja, enquanto sistema de
distinções claras e fronteira definidas ou como juízo contingente e circunstancial.
Interrogados sobre as orientações relativas à concepção do certo e do errado a
maior parte dos jovens parece sustentar uma posição relativista admitindo que
essa distinção «pode ser diferente de pessoa para pessoa» (70,8%). Apenas um
em cada dez jovens acredita haver «indicações claras em relação ao que é certo
ou errado».

A noção do certo e do errado


80

60
%

40

20

0
Indicações claras É relativa

Outro aspecto importante da concepção de cidadania consiste em saber


se o seu fundamento repousa mais na ideia de liberdade ou na de igualdade. A
primeira remete mais para os direitos civis e políticos enquanto a segunda
destaca mais os direitos sociais. A importância das duas ideias não passa
despercebida aos jovens que acabam por se distribuir de forma mais ou menos
equilibrada por ambas. Mesmo assim, observa-se alguma supremacia da ideia
de igualdade sobre a da liberdade (28,7%, contra 41,3%).

102
A escolha entre a liberdade e igualdade
60

50

40

%
30

20

10

0
Liberdade Igualdade

Conclusão

A avaliação das representações sobre a cidadania mostra a existência de


concepções relativamente unânimes em relação aos direitos e aos deveres.
Pode dizer-se que o reconhecimento alargado dos direitos que fundamenta a
cidadania democrática, vai a par e passo com uma representação de deveres
que envolve a ideia da participação activa. No entanto, esta ideia de participação
encontra-se mais focalizada na esfera cívica do que nas esferas da política ou
da solidariedade. A concepção de cidadania implica mais uma atitude de
respeito em relação aos outros do que uma acção política que se traduz,
principalmente, em termos cívicos por uma acção voluntária local.
A preferência pelo local surge justificada pelo facto de representar o
terreno em que os jovens assentam as suas referências e sentimentos de
pertença. Esta identificação com o plano local não os impede de manifestarem,
igualmente, uma forte vinculação à comunidade nacional, como atestam os
níveis elevados de orgulho em relação ao país. Este sentimento de pertença
reforça o sentido inclusivo da cidadania que poderá, em alguns casos, ser
ameaçado pela apreensão dos problemas e dos desafios da sociedade,
especialmente no que diz respeito ao emprego. Também a falta de confiança e a

103
fluidez das fronteiras entre o certo errado podem ser vistas como potenciais
ameaças ao desenvolvimento das atitudes cívicas e do «espírito de
comunidade» que estão subjacentes à concepção de cidadania.

104
A participação juvenil e a esfera política

Em capítulo anterior mostrou-se que a participação política quer em


termos de comportamentos eleitorais e de filiação partidária quer em termos de
iniciativas e de actividades políticas não era particularmente expressiva, ainda
que se reconhecem variações e diferenças significativas nas acções em causa e
nos protagonistas nelas envolvidos. As razões subjacentes dependem
naturalmente de múltiplos factores, mas a reduzida participação evidencia que a
política, enquanto dimensão estruturante do mundo social, ocupa uma
centralidade limitada na vida dos jovens. O inquérito procurou analisar a relação
entre o entendimento que os jovens fazem da política e o seu sentido de
participação. Essa relação foi explorada em duas direcções. Por um lado,
procurou-se inventariar as atitudes dos jovens em relação ao campo institucional
a partir de um grupo de três questões — o significado da política, a diferença
entre a direita e a esquerda e a confiança institucional. Por outro, averiguou-se
em que medida o sentimento subjectivo de competência política, ou seja, a
convicção na eficácia da acção, predisporia os jovens a um maior envolvimento.
As representações políticas por muito positivas que sejam não levam à acção se
não forem acompanhadas por sentimentos de eficácia fortes. A participação tem,
em certo sentido, de ser precedida por um sentimento de competência
subjectiva, razão pela qual surge como primeiro aspecto analisado neste
capítulo.

O sentimento de competência subjectiva

O sentimento de competência subjectiva refere-se à confiança ou à


crença que os indivíduos têm na capacidade de poderem influenciar eventos
colectivos, como o curso da governação. No inquérito, este sentimento foi
medido através de três questões. A primeira sonda, de uma forma geral, a
própria crença na eficácia da acção, ou seja, averigua em que medida os jovens
acreditam que seriam bem sucedidos no caso de decidirem agir no sentido de

105
resolverem um problema colectivo. A segunda questão procura avaliar o
potencial de mobilização contra situações consideradas injustas, a partir de uma
situação hipotética em que se indaga a predisposição dos jovens a agir contra
uma lei ilegítima. A terceira mede a opinião dos inquiridos em relação à
sensibilidade dos governos às reivindicações e aos protestos sociais, no
pressuposto de que uma maior ou menor sensibilidade condiciona a crença na
eficácia da acção social.
No que respeita à crença na eficácia da acção, mesmo atendendo à
forma genérica da questão, observa-se que a maior parte dos jovens não é
muito optimista no que respeita aos resultados ou às consequências da acção. O
balanço entre os optimistas, ou seja, os que acreditam na eficácia da acção, e os
pessimistas nem é muito desequilibrado (43,6%, contra 56,4%). As diferenças
mais significativas aparecem sobretudo entre os extremos da escala em que as
posições dos mais cépticos suplantam as dos que têm confiança plena nos
resultados a alcançar (15,4%, contra 5,2%).

Crença na eficácia da acção


50

40

30
%

20

10

0
M

Ef

Po

N
ad
ui

ic

u
co
to

az

ae
ef

ef

fic
ic

ica

a
az

z
z

É possível que a existência de uma crença mais negativa do que positiva


em relação à eficácia da acção condicione o sentimento ou a disposição dos
jovens à participação, pelo que se depreende que os mais optimistas estarão

106
mais convencidos do que os descrentes das virtualidades que emergem dos
empenhamentos colectivos. Um ponto também relevante passa, evidentemente,
por apurar os atributos sociais que separam uns e outros. Mas antes, convém
olhar as outras questões sobre o sentimento de competência subjectiva por duas
razões. O conjunto das três questões forma uma sequência lógica pelo que é
importante ter, em primeiro lugar, uma perspectiva geral destes dados. Em
seguida, será igualmente interessante ver as conexões que estas questões
estabelecem entre si, em particular se a crença na eficácia da acção e a
disposição em protestar contra uma lei injusta se relacionam ou não com a
convicção de que os governos são sensíveis aos protestos e às reivindicações
dos cidadãos.
A distribuição das respostas relativas à questão da mobilização
potencial12 não se afigura muito diferente da eficácia da acção. A repartição
entre os que se mostram dispostos a agir e os que se revelam refractários a
acções de protesto quase que divide ao meio a população (respectivamente,
46,6% e 53,4%), mas observa-se igualmente um desequilíbrio mais acentuado
nas extremidades da escala.

Mobilização contra lei injusta


50

40

30
%

20

10

0
M

Pr

Po

Na
ui

ov

da
co
to

áv

pr
pr

pr
el

o
ov

ov


áv

áv

vel
e

e
l

12
O texto da pergunta é o seguinte: «Imagine uma lei (nacional) que considerasse injusta. Neste caso, qual
seria a probabilidade de fazer algo, quer agisse sozinho ou em conjunto com outros?».

107
Com efeito, os inquiridos que não manifestam qualquer intenção de
poderem vir a participar em qualquer tipo de acção de protesto são em número
bastante superior aos que exprimem intenção oposta (18,8%, contra 7,4%).
Comparando as duas perguntas, verifica-se que a eficácia da acção não tem
uma distribuição muito distinta da mobilização potencial. Esta semelhança será
um indício de que os jovens mais dispostos à acção são também os que revelam
mais confiança na eficácia da mesma?
Analisemos antes a última questão. Acreditam os jovens que o governo
ou os seus representantes eleitos são sensíveis às acções de protesto e às
reivindicações dos cidadãos13? A resposta é clara: a maior parte dos jovens
(76,5%) pensa que é pouco ou nada provável serem ouvidos. Se os jovens já
não estão, de uma forma geral, muito confiantes no resultado da acção, essa
confiança diminui quando o alvo em causa é o governo ou a esfera política.

Sensibilidade do governo às reivindicações


50

40

30
%

20

10

0
M

Pr

Po

Na
ui

ov

da
co
to

áv

pr
pr

pr
el

o
ov

ov


áv

áv

vel
e

e
l

Esta resposta sugere que a crença na capacidade de influenciar o


governo, ou seja, no fundo, o sentimento de competência subjectiva se encontra
muito pouco expandido. A convicção de que os governantes e os representantes
eleitos não são sensíveis às solicitações dos cidadãos pode, evidentemente,

108
constituir um motivo de inibição da participação. Na realidade, esta não depende
apenas da «motivação» dos indivíduos, mas também da existência de canais na
sociedade que permitam ou facilitem a intervenção dos cidadãos. Havendo
possibilidades efectivas de comunicação e a percepção de que a intervenção
dos cidadãos pode resultar em benefícios concretos, aumentam-se os estímulos
à participação e a crença na eficácia da acção. Mas se, pelo contrário, existir a
convicção de que a distância entre governados e governantes é considerável e,
pior do que isso, o convencimento de que os governantes não são sensíveis às
reivindicações e protestos dos cidadãos, haverá certamente menos razões para
que os jovens se sintam confiantes na capacidade de poderem vir a influenciar
os rumos da governação. Aparentemente, os dados do inquérito não abonam
muito a favor dessa confiança.
Que relações se podem então estabelecer entre as três questões em
torno da competência subjectiva? A análise das correlações revelou valores
relativamente elevados (entre 0,50 e 0,55) e a análise factorial sugeriu que as
três questões podem ser subsumidas numa única dimensão, indicando que
todas elas constituem formas adequadas de medir e de representar a
competência subjectiva. Consequentemente, construiu-se uma nova variável
escalonada em quatro posições a partir da qual foi possível estabelecer as
relações do sentimento de competência subjectiva com os atributos sociais dos
jovens e os indicadores da participação política e cívica (Quadro nº 19).
O exame do teste estatístico mostra que apenas duas variáveis
sociodemográficas desempenham uma influência relevante em termos de
competência subjectiva: a instrução e a classe social. A influência da instrução
dificilmente constituirá uma surpresa, havendo duas razões que a podem
justificar. A escolaridade proporciona e desenvolve capacidades cognitivas e
instrumentais, permitindo que os jovens mais instruídos se sintam mais
preparados para intervir. Neste sentido, pode dizer-se que a competência tem
um conteúdo cognitivo. Mas, por outro lado, na medida em que estão em causa

13
Os termos exactos da pergunta são os seguintes: «Se decidisse fazer algo, qual seria a probabilidade
dessa reivindicação ser ouvida pelo governo ou os seus representantes?»

109
sentimentos subjectivos, é provável que a escolaridade reforce também a auto-
estima e estimule a confiança na capacidade de auto-realização. Porque estão
convencidos de que são capazes de alcançarem o que pretendem, esses jovens
estão também mais inclinados a acreditar nos resultados das acções que vierem
a empreender. Se assim for, a competência subjectiva teria igualmente uma
base motivacional individual que não pode ser desligada do efeito da
escolaridade.
Ainda que tenha óbvias conexões com a escolaridade, a influência que a
classe social desempenha pode ser atribuída a outra razão distinta das que
foram assinaladas. As redes de influência e de relacionamentos, normalmente
referidas sob a designação de capital social, distribuem-se desigualmente pelo
espectro social. Os grupos socioeconómicos mais privilegiados têm
naturalmente mais «capital social», ou seja, mais capacidade de influência. Por
esta razão, os jovens que pertencem a esses grupos tendem a incorporar mais
facilmente essas disposições objectivas, traduzindo-as em níveis mais elevados
de competência subjectiva. A pertença a essas redes sociais faz, sem dúvida,
aumentar o sentimento de agilidade social e a confiança nos resultados que se
procuram alcançar. A afirmação da competência subjectiva, ou seja, a convicção
de que se é capaz de influenciar a governação através de acções «políticas»
estaria assim dependente não apenas dos instrumentos cognitivos e
motivacionais que a escolaridade proporciona, mas, igualmente, da própria
experiência social que resulta em grande medida do grupo social de pertença.

110
Quadro nº 19

A competência subjectiva segundo os perfis sociográficos e de participação

Níveis de competência Competência Competência Competência Competência Total


subjectiva nula reduzida moderada elevada

Masculino 48,9 55,4 50,0 44,8 50,3


Feminino 51,1 44,6 50,0 55,2 49,7
(V=0,80; p=0,098)

15-19 32,6 29,5 28,9 25,6 29,5


20-24 30,6 36,6 37,0 34,5 34,3
25-29 36,8 33,9 34,1 39,9 36,2
(V=0,054; p=0,453)

Estudantes 34,5 37,8 35,6 38,1 36,5


Trabalhadores 52,4 54,1 53,3 51,1 52,8
Desempregados 9,1 6,6 10,4 7,2 8,0
Outra 3,9 1,6 ,7 3,6 2,6
(V=0,056; p=0,417)

Ensino básico 57,0 48,1 35,3 35,5 46,3


Ensino médio 31,3 36,3 49,3 38,6 37,0
Ensino superior 11,7 15,6 15,4 25,9 16,7
(V=0,145; p=0,000)

Burguesia 8,5 8,4 10,0 11,0 9,2


Nova burguesia assalariada 10,2 14,8 11,5 16,1 13,2
Pequena burguesia tradicional 4,8 1,6 3,1 4,6 3,5
Salariato não-manual 40,1 41,8 46,9 37,6 41,0
Trabalhadores independentes ,7 6,8 2,3 5,0 3,9
Salariato manual 35,7 26,7% 26,2 25,7 29,2
(V=0,110; p=0,003)

Solteiro/a 72,1 78,9 77,2 84,7 77,9


Casado/a pela igreja 15,9 8,7 9,6 6,8 10,6
Casado/a pelo civil 1,9 3,4 2,2 3,2 2,7
Vive conjugal. s/ ser casado/a 7,8 7,1 8,1 5,0 7,0
Separado(a)/Divorciado/a 2,3 1,9 2,9 ,5 1,8
(V=0,086, p=0,036)

Votou eleições legislativas 53,5 58,2 76,5 67,1 61,5


Não votou 46,5 41,8 23,5 32,9 38,5
(V=0,162; p=0,001)
n=589, idade >= 21 anos

Sim, quase de certeza 30,7 34,9 51,2 49,5 39,3


Sim, é provável 25,6 35,2 30,7 27,8 30,0
É pouco provável 18,8 11,4 6,3 7,9 12,1
Quase de certeza q/ não vou 24,9 18,6 11,8 14,8 18,7
(V=0,134; p=0,000)

Participação nula 45,9 30,0 25,7 26,0 33,5


Participação baixa 33,9 38,4 35,3 34,5 35,7
Participação moderada ou alta 20,2 31,6 39,0 39,5 30,8
(V=0,146; p=0,000)

Não voluntário 93,7 83,5 86,0 77,9 85,8


Voluntário 6,3 16,5 14,0 22,1 14,2
(V=0,169 p=0,000)

Sem participação associativa 85,1 71,7 72,6 58,7 73,1


Participação 1 associação 10,7 21,4 20,0 25,6 18,8
Participação em 2 ou mais 4,2 6,8 7,4 15,7 8,1
(V=0,162; p=0,000)

111
O significado da política

A análise de vários indicadores até agora analisados revelou um


significativo afastamento, para não dizer desinteresse, pelo menos em certos
casos, dos jovens em relação à esfera política. Ainda que várias razões possam
contribuir para a fraca atracção motivacional da política, o inquérito procurou
sobretudo explorar a importância das representações sobre a política. Um
aspecto a considerar é o facto de os jovens estarem pouco envolvidos em
comportamentos activos; outro bastante distinto é o de não estarem pura e
simplesmente interessados em política. As representações acabam de forma
directa ou indirecta por interferirem nos comportamentos. Se a representação for
negativa, é natural que haja mais relutância em relação a qualquer tipo de
envolvimento. Se, pelo contrário, a representação for positiva é possível que
exerça um efeito benéfico na participação. A relação entre as representações da
política e a participação é uma das questões mais interessantes a explorar,
permitindo, por exemplo, averiguar se as representações mais consentâneas
com o papel activo do cidadão têm ou não correspondência nas práticas
participativas.
As representações ou as concepções políticas que se indagaram podem,
de certo modo, ser alinhadas de um modo hierarquizado. No nível mais baixo
encontra-se a posição que mais não vê na política do que uma competição entre
políticos que procuram fazer-se eleger. Esta posição traduz normalmente uma
visão negativa da mesma e manifesta uma hostilidade latente em relação aos
políticos. A segunda alternativa de resposta consagra a política como um espaço
de debate das leis que regulam o país. É uma posição mais neutra, mas em todo
o caso reflecte um certo distanciamento em relação ao papel dos cidadãos. A
actividade legislativa surge concebida de forma desligada da vida das pessoas e
das comunidades. A alternativa seguinte repõe a perspectiva do cidadão ao
entender a política como uma forma de resolver os problemas que dizem
respeito a uma comunidade, independentemente do seu âmbito ou densidade
populacional. A política é vista, neste contexto, como algo que afecta a ordem e

112
a vida das comunidades, ainda que não se estabeleça qualquer relação explícita
com o papel dos cidadãos. Este papel está, evidentemente, presente na última
concepção proposta que apresenta a política como forma de o cidadão se fazer
ouvir, evocando implicitamente a ideia de participação e de capacidade
deliberativa.
Descritas as concepções subjacentes às diferentes respostas14, pode
passar-se a referir a sua distribuição na amostra. Os resultados são
concludentes. A concepção que privilegia uma visão crítica e negativa da política
e dos políticos é largamente maioritária (53,2%). O desinteresse e o afastamento
dos jovens da esfera política podiam não ser necessariamente incompatíveis
com uma ideia da política enquanto espaço de representação ou de deliberação.
Mas não é isso que acontece. Na opinião da maioria, a política reduz-se ao
espírito de competição entre políticos e à procura de lugares públicos.
Do lado dos que constituem a opinião minoritária, destacam-se várias
posições. A primeira apresenta a política como lugar de regulação e debate das
leis e assuntos do país (26,6%). Se esta representação sublinha sobretudo os
seus aspectos formais e abstractos, a que surge a seguir enfatiza a natureza
representativa da vontade colectiva que se traduz nos «esforços de uma
comunidade para resolver os seus problemas» (12,5%). A política como
representação de uma comunidade, logo de um conjunto de interesses, sugere
uma maior aproximação entre os cidadãos e os seus representantes. Esta
relação tende a reforçar-se ainda mais quando se considera a última resposta
que propõe o entendimento da política como espaço de deliberação dos
cidadãos («Política é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz»).
Esta é, sem dúvida, a que mais se aproxima de um conceito alargado de
cidadania activa, em que a ideia de participação colectiva assume um lugar de
relevo. No entanto, o apoio que suscita é relativamente baixo (7,6%).

14
O texto completo da pergunta é o seguinte: «Agora vou ler-lhe o que algumas pessoas disseram sobre o
que a política significa para elas. Indique a frase que melhor expressa a sua opinião. 1. Política significa
uma competição entre políticos para se elegerem; 2. Política trata do debate de leis e assuntos relacionados
com o país; 3. Política reflecte os esforços de uma comunidade para resolver os seus problemas; 4. Política
é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz».

113
Significado da política

Competição

Debate sobre leis

Resolver problemas

Voz do cidadão

0 10 20 30 40 50 60

Os dados analisados vão parcialmente ao encontro da ideia de que os


jovens não têm uma opinião favorável da política, relevando, deste modo, o
mesmo desinteresse e afastamento que se registaram noutros indicadores de
participação. No entanto, essa opinião, ainda que dominante, está longe de ser
esmagadora. Existem no universo juvenil outras representações sobre a política
que, assumindo expressões diferenciadas, envolvem, ainda assim, valores
significativos. É, portanto, necessário perceber as relações dessas
representações com os atributos sociais que mais favorecem a participação (por
exemplo, a educação ou a condição perante o trabalho) e com a intensidade do
envolvimento dos jovens na sociedade.
O quadro apresentado (Quadro nº 20) mostra que as representações têm
mais relação com os indicadores de participação política e cívica do que com os
factores sociográficos. Destes últimos, apenas merecem ser referidos o género e
a educação. Os restantes, ou seja, a idade, a situação ocupacional e conjugal e
a classe social, não se encontram relacionados de forma significativa com a
ideia que os jovens fazem da política. Em contrapartida, a educação revela um
efeito algo inesperado: o nível educacional mais elevado correlaciona-se mais
com a concepção representativa da política (a «política reflecte os esforços de
uma comunidade para resolver os seus problemas») e proporciona pouco apoio

114
à concepção deliberativa (a «política é a forma através da qual o cidadão faz
ouvir a sua voz»), que surge mais apoiada pelos níveis educacionais médios,
contrariando a possibilidade de uma associação crescente entre as
representações mais avançadas e o aumento da instrução. Os sectores menos
instruídos destacam-se, como seria de esperar, na visão negativa da política
enquanto espaço de competição entre políticos que se procuram eleger ou na
posição mais neutra que a entende essencialmente como função legislativa.
Do ponto de vista do género, as principais diferenças que se assinalam
sublinham o forte apoio masculino à representação deliberativa, enquanto o
apoio feminino se distribui de forma mais equilibrada por todas as respostas,
ainda que se evidencie uma preferência um pouco mais vincada pela concepção
representativa da política.
Em comparação com os atributos sociográficos, os indicadores de
participação revelam-se mais associados às representações sobre a política. O
efeito mais significativo encontra-se na participação associativa. Com efeito, o
associativismo cresce à medida que se cruzam as diferentes representações da
política. Os jovens associados, sobretudo os que marcam presença em duas ou
mais associações, têm uma identificação mais forte com a concepção
deliberativa do que com a da representação, que aparece bem distanciada das
outras duas. À luz deste indicador, o associativismo parece constituir um meio
privilegiado para promover e difundir uma ideia positiva da política, encarando-a
como um espaço de representação de interesses comunitários e de deliberação.
Nos restantes indicadores de participação as relações não são tão
vincadas. Mesmo assim, os jovens que votaram, que têm intenção de votar nas
próximas eleições e os que se encontram envolvidos em trabalho voluntário
mostram-se mais inclinados a defender posições deliberativas ou
representativas do que os jovens absentistas ou que não exercem trabalho
voluntário.

115
Quadro nº 20
Representações da política, segundo os perfis sociográfico e de participação
Concepções da política Competição Elaboração de Represen- Deliberação Total
leis Tacão

Masculino 51,4 46,8 43,6 63,9 50,2


Feminino 48,6 53,2 56,4 36,1 49,8
(V=0,98; p=0,031)

15-19 28,2 30,6 24,8 33,3 28,8


20-24 34,3 37,9 34,2 31,9 35,0
25-29 37,5 31,5 41,0 34,7 36,1
(V=0,052; p=0,547)

Estudantes 34,7 39,8 40,5 39,4 37,1


Trabalhadores 56,0 48,4 51,7 43,7 52,5
Desempregados 7,7 7,7 5,2 11,3 7,6
Outra 1,6 4,1 2,6 5,6 2,7
(V=0,119; p=0,158)

Ensino básico 47,1 49,4 37,9 44,4 46,3


Ensino médio 37,9 33,2 36,2 44,4 37,0
Ensino superior 15,0 17,4 25,9 11,1 16,7
(V=0,117; p=0,049)

Burguesia 7,9 12,4 10,6 9,1 9,


Nova burguesia assalariada 13,4 14,9 13,3 7,6 13,4
Pequena burguesia tradicional 3,7 2,9 4,4 3,0 3,5
Salariato não-manual 38,4 41,3 46,9 34,8 40,0
Trabalhadores Independentes 3,3 4,5 2,7 9,1 4,0
Salariato manual 33,3 24,0 22,1 36,4 29,6
(V=0,156; p=0,105)

1 Solteiro/a 77,7 74,1 76,9 88,7 77,5


Casado/a pela igreja 9,7 13,8 11,1 8,5 10,8
Casado/a pelo civil 3,4 2,0 3,4 2,8
Vive conjugal. sem ser casado/a 7,0 8,5 6,0 2,8 7,0
Separado(a)/Divorciado/a 2,2 1,6 2,6 1,9
(V=0,11686, p=0,400)

Votou eleições legislativas 55,2 69,5 70,7 65,9 61,7


Não votou 44,8 30,5 29,3 34,1 38,3
(V=0,146; p=0,006)
n=589, idade >= 21 anos

Sim, quase de certeza 34,6 41,6 56,8 42,2 39,8


Sim, é provável 30,3 31,3 20,7 29,7 29,3
É pouco provável 12,8 13,3 8,1 14,1 12,4
Quase de certeza q/ não vou 22,2 13,7 14,4 14,1 18,4
(V=0,168; p=0,003)

Participação nula 35,8 25,4 30,2 38,9 32,6


Participação baixa 35,2 39,5 32,8 27,8 35,5
Participação moderada ou alta 29,0 35,1 37,1 33,3 31,9
(V=0,115; p=0,055)

Não voluntário 86,3 87,3 78,2 84,3 85,4


Voluntário 13,7 12,7 21,8 15,7 14,6
(V=0,079 p=0,126)

Sem participação associativa 77,9 73,0 65,0 63,4 73,8


Participação 1 associação 16,1 18,5 21,4 22,5 17,9
Participação em 2 ou mais 6,0 8,5 13,7 14,1 8,3%
(V=0,131; p=0,013)

116
Em relação ao último indicador de participação — a frequência de
iniciativas políticas — a relação é bastante menos linear. A representação
deliberativa não surge particularmente associada aos jovens politicamente mais
activos que manifestam preferência pela concepção representativa. Em todo o
caso, a conclusão que resulta dos indicadores analisados aponta no sentido de
que a participação tem um impacto positivo nas representações da política, ou
seja, a ideia negativa da política enquanto espaço de competição entre políticos
que apenas visam eleger-se não tem acolhimento junto dos jovens com mais
responsabilidades cívicas e sentido colectivo da vida social.

A tradicional clivagem entre direita e esquerda

A divisão entre a direita e a esquerda tem sido desde sempre um dos


eixos centrais das clivagens políticas. Com a crescente desvalorização simbólica
da política, enquanto dimensão estruturadora da vida social, tem vindo a assistir-
se a uma crítica da operacionalidade dessa classificação. Por um lado, há quem
defenda que o desenvolvimento da sociedade ultrapassou as clivagens
herdadas da era industrial, enquanto outros acreditam que essas divisões
continuam activas e a diferenciar as opiniões sobre a organização social e o
papel do Estado. Ao longo deste texto foi frequentemente assinalado o facto de
os jovens exercerem um protagonismo limitado em termos de participação
política, sobretudo quando medido ou percepcionado em termos de
comportamentos institucionais. A questão que agora se impõe analisar consiste
em saber em que medida esse afastamento é ou não acompanhado por uma
diluição das categorias que estruturam o campo político. Com este fim,
perguntou-se directamente se a divisão entre a esquerda e a direita fazia ainda
sentido, pondo à consideração quatro alternativas de respostas: duas
defendendo a continuidade operativa da divisão e as outras opinando de forma
oposta, ou seja, advogando o seu esvaziamento enquanto formas de
categorização política. As duas razões contempladas para a caducidade da
divisão entre a direita e a esquerda residem ou na redução das diferenças

117
percepcionadas entre as posições defendidas pelos partidos ou no facto de essa
divisão já não se ajustar aos problemas com que as sociedades se debatem. Do
lado dos que consideram relevante continuar a usar essas duas categorias, a
justificação surge associada ao facto de elas continuarem a estar intimamente
relacionadas quer a muitas questões e problemas da sociedade quer a
profundas clivagens estruturais herdadas do passado que se mantêm ainda
activas na sociedade de hoje.
Analisando os resultados do inquérito observa-se que a opinião
maioritária (55,4%) tende a considerar sem sentido a divisão entre a direita e a
esquerda. A principal razão apontada revela que, para os jovens, a percepção
das diferenças entre as posições políticas é pouco nítida (37,1%).
Aparentemente, a diluição das categorias políticas parece estar mais associada
a uma questão de comunicação do que às mudanças que têm vindo a
atravessar a sociedade.

Diferenças entre a direita e a esquerda

Não há diferenças

Novos problemas

Posições diferentes

Problemas permanecem

0 10 20 30 40

No entanto, se considerarmos a posição dos jovens que advogam


posição contrária, ou seja, que defendem a existência de posições diferentes em
relações aos problemas da sociedade, verificamos que não está muito distante
(33,1%). Por conseguinte, a tratar-se de um problema de comunicação apenas
afectaria uma parte da população juvenil. Uma outra hipótese passaria por

118
admitir que a percepção das diferenças partidárias se encontra associada ao
interesse pela política, pelo que importa correlacionar a opinião em relação ao
sentido das categorias esquerda e direita com os indicadores de participação
política. É também possível que as justificações que apontam a mudança social
ou os problemas estruturais para sustentarem uma ou outra posição se
encontrem positivamente associadas a esses indicadores, na medida em que
pressupõem uma argumentação mais elaborada, indiciadora de uma maior
competência política.
A observação dos indicadores políticos tende genericamente a confirmar
a existência de uma relação significativa com a importância que se atribui à
divisão entre a direita e a esquerda. A defesa da continuidade operativa desta
categorização política aparece associada ao interesse pela política, à
participação eleitoral e política, ao voluntariado e ao associativismo (Quadro nº
20). É muito evidente que os jovens que percepcionam apenas ligeiras
diferenças nas posições dos partidos são os que politicamente se revelam
menos activos: votam menos, não se entusiasmam com a política e têm fraco
envolvimento social e associativo. Assim sendo, fica demonstrado que a razão
da diluição da divisão entre a direita e a esquerda não reside tanto num
problema de comunicação, mas na forma ou na intensidade com que os direitos
de cidadania são exercidos.
É, todavia, importante contrabalançar esta conclusão com a posição dos
jovens que, concordando também com a diluição das categorias políticas, a
defendem com base no argumento de que foi a própria mudança social que
acabou por vaticinar essa diluição. Estes jovens pontuam bastante melhor nos
indicadores políticos do que os que opinam não haver diferenças entre as
posições partidárias. Aproximam-se, por conseguinte, dos jovens que insistem
no sentido da divisão entre a direita e a esquerda, chegando mesmo a
ultrapassá-los no caso da participação associativa intensa. Mas, nos restantes
indicadores, mantêm-se abaixo. Não é, portanto, correcto supor que a
argumentação mais elaborada com que defendem a diluição da distinção entre a
direita e a esquerda se encontra mais correlacionada com os indicadores de

119
participação do que no caso dos jovens que sustentam a posição contrária, ou
seja, de que continua a fazer sentido falar dessa distinção simplesmente porque
existem posições muito distintas em relação a questões e problemas
fundamentais da sociedade.
A conclusão a que se chega indica que o argumento a favor da
sustentação das categorias de direita e de esquerda, enquanto formas
classificatórias do campo político, se relaciona com o interesse pela política e as
formas de intervenção cívica e política. Esta conclusão apoia a generalização da
ideia de que a diluição das categorias políticas vai a par e passo com o declínio
da participação política ou, pelo menos, com o uso limitado que os jovens fazem
do exercício da cidadania.

Quadro nº 20
A divisão entre a direita e a esquerda, segundo os indicadores
políticos e cívicos
Pequenas As sociedades Existem Os problemas
Diferenças entre a direita e a diferenças têm novos posições estruturais Total
esquerda entre partidos problemas diferentes na permanecem
sociedade

S/ ou pouco interesse na política 72,5 61,5 57,1 54,4 64,3


Algum ou muito interesse 27,4 38,5 42,8 45,6 35,7
(V=0,229; p=0,000)

Votou eleições legislativas 56,7 63,9 70,0 61,3 63,2


Não votou 43,3 36,1 30,0 38,7 36,8
(V=0,115; p=0,072)
n=589, idade >= 21 anos

Sim, quase de certeza 32,9 46,0 51,6 51,2 43,6


Sim, é provável 32,9 25,5 26,4 24,4 28,5
É pouco provável 15,9 10,9 8,7 15,1 12,5
Quase de certeza q/ não vou 18,1 17,5 13,4 9,3 15,4
(V=0,118; p=0,002)

Participação nula 35,0 29,7 26,2 25,8 30,1


Participação baixa 40,0 31,1 34,8 31,2 35,6
Participação moderada ou alta 25,0 39,2 39,0 43,0 34,3
(V=0,156; p=0,003)

Não voluntário 88,1 85,0 83,7% 83,1 85,6


Voluntário 11,9 15,0 16,3% 16,9 14,4
(V=0,059 p=0,433)

Sem participação associativa 79,9 72,3 69,8 66,7 73,6


Participação 1 associação 14,7 14,2 20,1 23,7 17,5
Participação em 2 ou mais 5,4 13,5 10,1 9,7 8,9
(V=0,142; p=0,012)

120
A confiança institucional

O maior ou menor empenhamento dos cidadãos, neste caso particular


dos jovens, no espaço público tem vindo a condicionar não apenas o uso ou o
exercício da cidadania mas também a contribuir para que se instale uma certa
ideia de crise no sistema de representação e de funcionamento das instituições
democráticas. Os sinais mais visíveis dessa crise reflectem-se, como já
referimos, no enfraquecimento do sentido de comunidade e da solidariedade
pública, no desinteresse pelos assuntos políticos, no alheamento em relação ao
funcionamento das instituições que integram o sistema político, como os partidos
ou os órgãos representativos da vontade popular, que, por vezes, se prolonga às
instituições que sustentam a sociedade civil, e na tendência para uma certa
diminuição da participação eleitoral. Alguns destes problemas já foram referidos
nas análises descritas ao longo deste texto. Trata-se agora de alargar um pouco
mais o âmbito da análise de forma a incluir a avaliação que os jovens fazem da
dimensão institucional, ou seja, a relação de confiança que estabelecem com as
instituições. Basicamente procurar-se-á diferenciar entre instituições que
inspiram confiança e as que suscitam uma reacção inversa. Com este fim, o
questionário indagou a confiança dos jovens em relação a um amplo conjunto de
instituições de âmbito diversificado, designadamente político, social e
internacional.
A visualização da distribuição das respostas mostra de imediato um
grande desequilíbrio na capacidade de as instituições angariarem confiança. Por
exemplo, no nível mais baixo de credibilidade encontram-se os partidos políticos,
posição que vai ao encontro da ideia de que os cidadãos não se reconhecem em
algumas das instituições fundamentais da democracia representativa. Do lado
oposto, ou seja, nos níveis mais elevados de confiança marcam presença as
instituições de âmbito internacional, como as Nações Unidas, as ONGs ou a
União Europeia.

121
A confiança institucional
Governo
Partidos Políticos
Parlamento
Tribunais
Autarquias
Administração
Polícia
União Europeia
Nações Unida
ONGs
Igreja
Comunicação social
Sistema de Saúde
Sistema de ensino

3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

Esta distribuição chama a atenção para o facto de a confiança estar


relacionada com o âmbito ou a natureza da instituição. É fácil, por exemplo,
verificar que as instituições representativas, como o governo, o parlamento e as
autarquias, obtêm as pontuações mais baixas, ficando apenas à frente dos
partidos políticos. A própria administração estatal, muitas vezes vista como um
prolongamento dos órgãos políticos, também não suscita grande apreço.
Significativamente, os tribunais, apesar de serem um órgão de soberania,
surgem numa posição um pouco mais à frente na vizinhança de um outro
conjunto de instituições que se inscreve no campo social, como sejam as
escolas, os hospitais, os jornais ou as igrejas. Do ponto de vista da confiança, a
polícia surge também integrada neste conjunto de instituições que goza de uma
razoável credibilidade, bastante acima das instituições políticas, mas aquém das
instituições internacionais. A comparação das instituições permite concluir que
são as de âmbito político as que, na opinião dos jovens inquiridos, suscitam
menos credibilidade, reforçando a ideia da existência de uma crise das
instituições representativas. Este resultado limita-se a sublinhar tendências
conhecidas, não representando um dado novo. Porém, a distribuição da

122
confiança institucional mostra também que as instituições internacionais
pontuam acima das instituições nacionais. E não se pode dizer que esta
vantagem se deva aos fins humanitários e universais de algumas dessas
instituições, como as Nações Unidas ou as ONGs. A União Europeia é
eminentemente uma instituição política bem cotada em termos de confiança. A
falta de credibilidade das instituições nacionais em comparação com as de
âmbito internacional parece, pois, sublinhar a existência de um défice interno
que amplia a crise de confiança que afecta um pouco por todo o lado o
funcionamento político das sociedades democráticas.
Como se verificou noutros indicadores, as atitudes políticas dos jovens
encontram-se relacionadas com o exercício da cidadania activa, quer na sua
expressão cívica quer na mais politizada. As atitudes mais críticas em relação ao
sistema político, em particular aos aspectos institucionais da democracia
representativa, advêm sobretudo dos jovens cujo afastamento do campo político
é mais significativo. Não se está a sugerir uma relação de causa e efeito entre a
postura política e a prática da cidadania, até porque ambas são afectadas pelos
atributos sociais dos protagonistas. Há evidentes relações entre as atitudes
políticas, o exercício da cidadania e certas variáveis sociais, como a educação
ou a classe social. Por exemplo, os jovens cujos níveis de participação são mais
elevados sustentam visões mais positivas em relação ao funcionamento das
instituições democráticas. Mas também é verdade que esses mesmos jovens
tendem a apresentar níveis mais elevados de escolaridade que, por seu turno,
se mostram bastante correlacionados com essas visões mais positivas. Por
conseguinte, no que respeita à confiança institucional espera-se que ocorra o
mesmo tipo de relações.
A medição da confiança institucional segundo os indicadores de
participação mostra uma diferença fundamental entre, por um lado, as
instituições políticas e internacionais e, por outro, as instituições sociais (Quadro
nº 21). Essa diferença tem sobretudo a ver com o facto de que o apoio ou a
confiança em relação ao primeiro grupo de instituições se revelar mais
associado à prática da cidadania activa. Com efeito, é possível observar, nos

123
mais variados indicadores, uma tendência no sentido de a confiança institucional
aumentar à medida que sobe a participação ou o interesse pela política. Por
exemplo, os jovens que têm muito interesse pela política, que costumam ou
pensam ir votar, ou que participam regularmente na vida cívica e política
mostram-se mais confiantes nos organismos políticos, como o governo ou o
parlamento, e internacionais, como as Nações Unidas. Em contrapartida, a
confiança nas instituições sociais, como as escolas, a comunicação social ou a
Igreja, surge menos associada à participação, e quando aparece correlacionada
é quase sempre no sentido negativo, ou seja, são precisamente os jovens
menos participativos que tendem a confiar mais neste tipo de instituições. A
única excepção de relevo diz respeito ao voluntariado em que existe uma
relação positiva entre esta prática cívica e a confiança nas instituições sociais.
Nos outros indicadores, a confiança nas instituições sociais ou é neutra ou
aparece relacionada com a abstenção eleitoral e os baixos níveis de
envolvimento cívico e político.
Mostra-se assim que a confiança nas instituições políticas e internacionais
está correlacionada com o exercício da cidadania activa, enquanto no caso das
instituições sociais a relação é mais independente. A desconfiança política é
sobretudo apanágio dos jovens pouco participativos ou indiferentes em relação
ao campo político. Há, no entanto, dificuldade em estabelecer uma relação de
causalidade entre a confiança institucional e a participação. Tanto se pode dizer
que a primeira conduz à segunda, como o contrário. Mas para o nosso propósito,
basta reafirmar que a participação tende a reforçar a confiança
(independentemente de se poder considerar o efeito inverso) e que, por esse
motivo, o declínio da participação que muitos advogam só pode significar a
deterioração dos níveis de confiança institucional existentes na sociedade.

124
Quadro nº 21
A confiança institucional e os indicadores políticos e cívicos (médias)
Confiança institucional Confiança nas Confiança nas Confiança nas
instituições instituições instituições
políticas internacionais Sociais

Sem interesse pela política 3,4 5,5 5,0


Pouco interesse pela política 4,0 5,9 4,8
Algum interesse pela política 3,7 6,5 4,9
Muito interesse pela política 4,9 6,4 5,0
Total 4,1 6,0 4,9
(F=32,055; p=0,000) (F=14,684; p=0,000) (F=0,739; p=0,529)

Votou eleições legislativas 4,2 6,0 4,6


Não votou 3,9 5,8 4,9
Total 4,1 5,9 4,7
(F=7,097;p=0,008) (F=2,042;p=0,154) (F=3,555;p=0,060)
n=589, idade >= 21 anos

Sim, quase de certeza 4,3 6,4 4,7


Sim, é provável 4,2 5,8 4,8
É pouco provável 3,8 5,6 4,9
Quase de certeza que não vou 3,6 5,8 5,3
Total 4,1 6,0 4,9
(F=8,094; p=0,001) (F=8,886; p=0,00) (F=3,627;p=0,013)

Participação nula 4,0 5,7 5,0


Participação baixa 3,9 5,9 4,9
Participação moderada ou alta 4,4 6,4 4,8
Total 4,1 6,0 4,9
(F=8,913;p=0,000) (F=13,72;p=0,00) (F=0,529; p=0,589)

Não voluntário 4,0 5,9 4,8


Voluntário 4,6 6,4 5,1
Total 4,1 6,0 4,9
(F=12,31;p=0,000) (F=6,978;p=0,008) (F=1,723;p=0,190)

Sem participação associativa 4,0 5,9 4,9


Participação 1 associação 4,4 6,1 5,0
Participação em 2 ou mais 4,5 6,3 4,7
Total 4,1 6,0 4,9
(F=6,613;p=0,001) (F=1,307;p=0,271) (F=0,69;p=0,502)

Conclusão

A descrição da relação entre os jovens e a política vai no mesmo sentido


dos indicadores de participação analisados em capítulos anteriores. Se, como
vimos, esses indicadores apontam para níveis de mobilização relativamente
modestos, as questões agora analisadas relativas ao significado da política, à
divisão entre a direita e a esquerda e à confiança institucional reforçam a ideia
do distanciamento (e do desinteresse) dos jovens em relação à política. Em

125
termos maioritários sustentam uma representação negativa da política que a
reduz a uma competição entre políticos que procuram fazer-se eleger, defendem
o desaparecimento das diferenças ideológicas e programáticas entre os partidos
políticos e a caducidade das categorias esquerda e direita, e, por fim, atribuem
pouca credibilidade às instituições políticas. Estas posições parecem ir assim ao
encontro das ideias que sustentam o declínio da política enquanto campo
estruturador da vida social.
Há, no entanto, algum excesso neste tipo de generalização. Identificar
uma tendência maioritária não pode significar a homogeneização de todas as
posturas juvenis. Mesmo dentro de uma tendência dominante existe diversidade,
sendo por isso possível ter uma visão menos redutora das posições dos jovens
em relação à política. A representação negativa da política coexiste com outras
mais positivas que valorizam a função representativa ou deliberativa; há mais de
uma razão para justificar a irrelevância da distinção entre direita e a esquerda,
além de muitos jovens opinarem em sentido contrário; e a erosão da confiança
não afecta, do mesmo modo, todas as instituições políticas, e não justifica o
receio de uma crise institucional generalizada, havendo até muitas instituições,
sobretudo de âmbito internacional e social, a beneficiar de elevada credibilidade.
Esta diversidade de opiniões contrabalança a unanimidade que parece ressaltar
quando se sublinham as tendências principais. Falar de um distanciamento em
relação à política implica ter presente não só a existência de escalas desiguais,
mas também o facto de importantes segmentos juvenis nutrirem uma postura
inversa.
Outro aspecto que importa evidenciar é a relação que se estabeleceu
entre, por um lado, a relevância da política e a confiança institucional, e, por
outro, as formas de participação social e política. Não é possível, obviamente,
estabelecer uma relação de causa e efeito, mas a relação sugere que a prática e
a aprendizagem da cidadania, muito motivadas pelo efeito da escolaridade,
constituem, sem dúvida, uma forma de revitalizar o significado da política e a
relevância que se lhe atribui e de renovar a credibilidade das instituições que
suportam a democracia representativa.

126
Participação juvenil e atitudes face à democracia

A relação entre o apoio que os jovens concedem ao sistema democrático


e as formas de participação social e política constitui uma questão fundamental
no campo das orientações políticas. A importância da avaliação desta relação
radica na convicção actual de que se assiste nas democracias ocidentais a um
declínio do envolvimento público na política e a uma crise no sistema de
representação democrática. O receio de que o declínio da participação venha a
minar o fundamento das sociedades ocidentais baseia-se no argumento de que
sem existir um apoio político (difuso e especifico) por parte da maioria dos
cidadãos as democracias não poderão sobreviver. Deste modo, o inquérito
procurou captar e avaliar o apoio juvenil ao sistema democrático através de duas
questões: uma descrevendo a posição dos jovens em relação aos princípios
básicos ou à concepção ideal de democracia; a outra avaliando o grau de
satisfação com o seu funcionamento na sociedade portuguesa.
A análise destas duas atitudes é por si só um objectivo suficientemente
importante na medida em que permite equacionar aspectos do apoio e da
legitimidade do regime democrático. No entanto, a qualidade da democracia são
se esgota nas apreciações ou avaliações dos cidadãos, pressupondo também
uma participação activa. Caso contrário, corre-se o risco de se assistir ao
aumento da distância entre eleitores e governantes e ver assim criadas ou
ampliadas as condições para uma crise de legitimidade ou de representação do
regime democrático. É, portanto, vital que as atitudes favoráveis à democracia
sejam acompanhadas por sentimentos de confiança nas instituições e por uma
participação activa na esfera pública. Do ponto de vista avaliativo, o
envolvimento cívico e político dos jovens é tão importante como as atitudes que
manifestam.
As relações entre as atitudes face à democracia e o exercício da
cidadania activa terão assim de constituir um segundo pólo de análise.
Basicamente procurar-se-á perceber se a cidadania activa decorre da adesão à

127
democracia ou se, em alternativa, depende mais da avaliação do funcionamento
da democracia. A questão que se coloca é então a de determinar de que forma
as convicções e as avaliações sobre a democracia se relacionam com a
participação social e política dos jovens.
No sentido de evitar um conflito metodológico entre a avaliação do ideal
democrático e a satisfação com o funcionamento concreto da democracia, a
referida relação entre atitudes e participação será analisada tendo por base uma
tipologia que assenta nas duas questões. Ou seja, a tipologia combina a adesão
a um ideal de organização social (a democracia) e o julgamento ou satisfação
em relação ao seu funcionamento concreto. A partir de uma versão dicotómica
dessas duas questões, a tipologia apresenta quatro posicionamentos possíveis:
a) Democratas satisfeitos. Este grupo corresponde à combinação entre a crença
no ideal democrático e a avaliação positiva do funcionamento da democracia.
b) Democratas insatisfeitos. Partilham com o grupo anterior da mesma crença,
mas confessam-se insatisfeitos com a democracia. Um dos interesses deste
grupo consiste em ver se a insatisfação se traduz em retracção individualista, ou,
pelo contrário, se converte numa procura activa de alternativas ao
funcionamento democrático actual. Por isso, este grupo poderia designar-se por
democratas críticos
c) Desafectos satisfeitos. A falta de convicção democrática poderia reflectir uma
hostilidade antidemocrática, mas, como veremos posteriormente, traduz mais
significativamente uma atitude de indiferença perante a cidadania política que
pode ser designada por desafeição. Parece, por isso, mais adequado designar
os jovens que não expressam uma adesão democrática por desafectos em vez
de designá-los por antidemocratas. Além disso, seria um pouco incongruente, a
menos que fosse meramente residual, encontrar uma associação positiva entre
convicções antidemocráticas e satisfação com o funcionamento da democracia.
d) Desafectos insatisfeitos. Este grupo alia a falta de convicções democráticas
ao descontentamento em relação ao funcionamento democrático. A posição
deste grupo pode traduzir quer uma preferência por sistemas autoritários, quer
uma frustração ou insatisfação extrema em relação à cidadania democrática.

128
Será, portanto, a partir destes grupos que se abordará as relações entre
as atitudes face à democracia e as formas de participação juvenil.
Em resumo, o itinerário da análise começará por descrever o apoio que os
jovens concedem nos dias de hoje à democracia através da avaliação, por um
lado, da adesão no plano dos princípios ou das concepções ideais e, por outro,
da satisfação em relação à forma como a democracia está implementada e
funciona na sociedade portuguesa. A combinação destas duas dimensões
avaliativas permitirá construir uma tipologia de quatro posicionamentos distintos.
O passo seguinte irá quantificar a importância destes quatros grupos e traçar o
perfil sociográfico de cada um deles, a que se seguirá a análise das relações
que estabelecem com as formas de participação social e política.

As atitudes dos jovens portugueses face à democracia

As atitudes em relação à democracia (ou seja, o apoio ao ideal e ao


funcionamento democráticos) baseiam-se, como foi referido, em duas questões
cuja formulação foi feita nos termos seguintes: a) «Muitas pessoas pensam que
a democracia é a melhor forma de governo. Concorda completamente,
concorda, não concorda nem discorda, discorda ou discorda completamente
com esta opinião?»; e b) «De uma forma geral, encontra-se muito satisfeito,
mais ou menos satisfeito, pouco satisfeito ou nada satisfeito com a forma como a
democracia funciona em Portugal?».
Segundo os resultados do inquérito, a pergunta que refere a adesão ao
ideal democrático reúne um apoio bastante generalizado (o somatório das duas
respostas mais favoráveis corresponde a 70,4%), enquanto a pergunta sobre a
satisfação suscita um nível de entusiasmo significativamente mais baixo (44,4%,
considerando também as duas respostas que exprimem mais satisfação). A
diferença entre os dois indicadores pode explicar-se pelo facto de a adesão ao
ideal democrático ser relativamente imune às flutuações da conjuntura
económica e política que afectam significativamente a avaliação do desempenho
concreto da democracia. Factores como escândalos governamentais ou a

129
incapacidade dos agentes políticos em promover o crescimento económico e o
emprego têm sido apontados como podendo afectar a satisfação das pessoas,
mas que não afectam necessariamente a crença na democracia.

A democracia é a melhor forma de governo Satisfação com a democracia


60 50

50
40

40

30
%

30

%
20 20

10
10
0
Co

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di

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en
sc

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.

os
Com efeito, a adesão à ideia democrática é, como vimos, elevada, mas
mesmo entre os que não se manifestam a favor dela, a oposição assumida é
baixa. Apenas 4,2% dos inquiridos discordam ou discordam muito da ideia de
que a democracia representa a melhor forma de governo. Os que não a apoiam
expressamente refugiam-se maioritariamente na posição neutra de quem não
concorda mas também não discorda. Esta posição não traduz necessariamente
uma preferência por sistemas não democráticos, devendo ser mais
adequadamente interpretada como a manifestação de uma atitude de
indiferença ou passividade em relação à cidadania política, que não exclui a
possibilidade de, em determinadas conjunturas, de que não faltam exemplos
históricos recentes, se tornar um campo fértil para a eclosão de iniciativas e
movimentos antidemocráticos, como a xenofobia ou o racismo. Apesar deste
risco, o apoio à democracia parece estar bem enraizado na juventude
portuguesa e não surge ameaçado pela insatisfação que a maior parte dos
jovens experimenta em relação ao seu real funcionamento.

130
Se a crença democrática não surge directamente ameaçada, a avaliação
pouco ou nada positiva que a maioria dos jovens faz do funcionamento do
sistema democrático não deixa de ser preocupante e poderá estar relacionada
com o pretenso declínio da participação cívica e política. Como está fora do
âmbito desta análise analisar as possíveis causas da fraca participação que se
observa nas sociedades democráticas, o nosso interesse incidirá, por um lado,
na relação entre os níveis de satisfação com a democracia e a participação, e,
por outro, no papel que as convicções democráticas exercem nessa mesma
participação. Até que ponto a insatisfação acentua a tendência para a não
participação? Os jovens insatisfeitos tenderão alhear-se dos deveres cívicos e
políticos? Qual o papel das convicções democráticas no exercício da cidadania?
E os jovens que aderem mais intensamente ao ideal democrático mostrar-se-ão
civicamente mais empenhados, qualquer que seja o seu nível de satisfação?
As democracias para sobreviverem precisam de mobilizar os seus
cidadãos, especialmente os grupos mais propensos a apoiar, ou até a
protagonizar, a regeneração das instituições democráticas. A identificação
desses grupos, no âmbito desta análise, será realizada a partir da tipologia que
resulta do cruzamento das duas atitudes face à democracia. Tendo em
consideração que os jovens que apoiam a concepção ideal de democracia
suplantam por larga vantagem os que não a aprovam, não restam dúvidas de
que os democratas estarão mais representados, desconhecendo-se apenas a
repartição entre satisfeitos e insatisfeitos. A distribuição dos dados mostra que a
distância entre eles é bastante pequena, cabendo, no entanto, a supremacia aos
democratas satisfeitos (36,5%, contra 34,7%). Do lado dos jovens que não
alimentam, ou pelo menos não expressam, convicções democráticas, a
distribuição entre os dois grupos é muito mais desequilibrada, inclinando-se a
favor da insatisfação. O grupo dos desafectos insatisfeitos representa um quinto
da população, enquanto menos de um em cada dez jovens se assume como
desafecto satisfeito (8,4%). A insatisfação é muito mais evidente nos jovens que
não partilham concepções democráticas do que nos jovens democratas. A razão
de ser é facilmente explicável: quem não é democrata tem menos razões para

131
estar satisfeito com o seu funcionamento. Mas, como anteriormente se referiu, a
não adesão à democracia pode traduzir um sentimento de indiferença face à
cidadania política, pelo que não é incompatível recensear, ainda que minoritário,
um conjunto de jovens sem convicções democráticas a manifestar satisfação
com o seu modo de funcionamento.

Tipologia das atitudes face à democracia


40

30
%

20

10

0
Democratas satisf. Desafectos insatis.
Democratas insatisf. Desafectos satisf.

Um dos interesses da tipologia é o de chamar a atenção para a forma


como o grupo dos democratas insatisfeitos lida com a tensão inerente às suas
atitudes em relação à democracia. Se no caso dos desafectos insatisfeitos existe
apenas uma atitude negativa e contrária à democracia, a insatisfação no caso
dos democratas pode reverter-se em mobilização a favor do melhoramento dos
mecanismos de funcionamento da democracia representativa. A verificar-se, a
insatisfação seria assim sinónimo de uma posição crítica visando a
transformação das instituições democráticas. Obviamente que a possibilidade de
o germe de mudança social estar mais presente nos democratas insatisfeitos é
uma hipótese que necessita de ser explorada pela observação dos níveis de
participação, especialmente no que diz respeito às formas alternativas ou não
convencionais do envolvimento político.

132
A estas questões se voltará numa fase posterior de análise, tratando-se
agora de descrever os atributos e perfis sociográficos dos quatro grupos, de
forma a identificar o impacto que as localizações e pertenças sociais exercem na
sua diferenciação.

Os perfis sociais das atitudes em relação à democracia

É conhecido o efeito bastante significativo que determinadas variáveis


sociográficas, designadamente o nível de instrução, exercem no grau de
interesse que os jovens manifestam em relação à mobilização política. No que
respeita às atitudes face à democracia essas relações estão muito menos
exploradas, não se podendo presumir à partida a presença de condicionalismos
importantes. Quanto muito, no que respeita à satisfação com a democracia,
tendo em consideração a sua extrema sensibilidade às condições materiais,
pode presumir-se que os sectores socialmente menos inseridos e
economicamente mais débeis sejam mais propensos a experimentarem níveis
de insatisfação mais elevados relativamente ao modo como a democracia
funciona. Mas, no que toca às crenças democráticas, as suposições são mais
difíceis de aventar, sendo, no entanto, possível admitir que as variáveis
correlacionadas com a mobilização e a acção políticas, como a idade ou o nível
de instrução, possam condicionar significativamente a adesão aos ideais da
democracia. A descrição dos perfis dos quatro grupos permitirá a verificação das
presunções agora avançadas.
Começando por referir o grupo mais importante — o dos democratas
satisfeitos — verifica-se que possui uma composição masculina ligeiramente
mais forte, uma presença mais significativa dos escalões etários mais novos,
que o torna o segundo grupo mais jovem, ainda que bastante distanciado do
grupo mais juvenil dos desafectos satisfeitos; apresenta ainda uma
representação mais forte dos estudantes, a que se associam níveis de instrução
mais elevados, especialmente do ensino superior, e uma pertença preferencial

133
aos sectores burgueses em detrimento dos sectores assalariados (Quadro nº
22).
Uma suposição que pode ser feita em relação aos democratas
insatisfeitos é admitir que a insatisfação está, sem dúvida, ligada às condições
materiais e aos sentimentos de privação que afectam mais expressivamente
determinados sectores juvenis. E é, possivelmente, a presença desses sectores
que contribui para traçar um perfil com características algo distintas das do
grupo anterior. Os democratas insatisfeitos, do ponto de vista do género, exibem
mais equilíbrio, ainda que ligeiramente favorável às mulheres, revelam-se como
o grupo etariamente mais velho, pelo que é natural observar uma vantagem da
condição trabalhadora sobre a estudantil, mas, em termos de pertenças sociais e
de níveis de instrução, não se mostram distintos do resto da população. É
necessário, no entanto, notar que, à luz dos elementos analisados, as
convicções democráticas não são abaladas pelas críticas que são dirigidas ao
funcionamento concreto das sociedades, que assentam nos sentimentos de
insegurança e de privação provocados pelas situações materiais de existência.
Continuando a analisar os jovens que expressam insatisfação em relação
ao funcionamento da democracia deparamo-nos com um segundo grupo que,
contrariamente aos dois anteriores, não manifesta convicções democráticas.
Conforme já referimos, esta falta de convicções, mais do que traduzir uma
aversão à democracia e uma preferência por soluções autoritárias, revela uma
atitude de indiferença em relação à cidadania e à organização políticas. Mesmo
admitindo como certa esta interpretação, não deixa de constituir um motivo de
preocupação o facto de um em cada cinco jovens manifestar uma posição
negativa e indiferente, e, alguns deles, possivelmente, adversa, face ao regime
democrático. Nuns casos, porque esses jovens poderão vir a ser mobilizados por
iniciativas e movimentos não democráticos; noutros, porque os níveis elevados
de desmobilização e de desmotivação em relação ao exercício dos direitos
cívicos e políticos contribuem para minar os fundamentos de uma democracia
saudável. Torna-se, por isso, importante identificar as variáveis que condicionam
a atitude mais negativa e contrária à cidadania democrática.

134
Quadro nº 22

Atributos e perfis das atitudes perante a democracia

Democratas Democratas Desafectos Desafectos Total


satisfeitos insatisfeitos insatisfeitos satisfeitos

Total 36,5 34,7 20,3 8,5 100

Masculino 55,1 48,8 55,3 29,1 50,7


Feminino 44,9 51,2 44,7 70,9 49,3
(V=0,144; p=0,000)

15-19 29,1 22,2 23,7 50,0 27,4


20-24 35,6 35,5 37,9 24,4 35,1
25-29 35,3 42,3 38,4 25,6 37,6
(V=0,121; p=0,000)

Estudantes 40,1 33,0 26, 53,8 36,0


Trabalhadores 51,9 55,6 58,9 34,6 53,2
Desempregados 5,9 8,6 12,1 6,4 8,2
Outra 2,1 2,8 2,6 5,1 2,7
(V=0,102; p=0,001)

Ensino básico 37,7 45,3 57,9 53,8 45,8


Ensino médio 41,5 37,6 30,0 33,3 37,1
Ensino superior 20,8 17,1 12,1 12,8 17,0
(V=0,111; p=0,001)

Burguesia 12,1 10,2 5,9 9,2 9,9


Nova burguesia assalariada 13,9 14,6 7,0 21,1 13,4
Pequena burguesia tradicional 3,9 4,1 2,2 3,9 3,6
Salariato não-manual 39,3 39,5 39,5 47,4 40,1
Trabalhadores independentes 4,2 2,2 7,6 ,0 3,9
Salariato manual 26,6 29,3 37,8 18,4 29,1
(V=0,116; p=0,001)

A descrição do grupo dos desafectos insatisfeitos evidencia de novo uma


supremacia masculina, uma acentuada presença dos escalões mais velhos, que
anuncia uma forte representação da condição trabalhadora que, neste grupo,
ultrapassa a do anterior, sendo, portanto, a mais elevada, e que se faz
igualmente acompanhar pelos valores mais altos de desemprego. Não restam
dúvidas de que os desafectos insatisfeitos têm fraca afinidade com o universo
estudantil e pertencem significativamente ao mundo dos assalariados manuais.
Do ponto de vista da instrução, constituem o grupo menos instruído, com uma
presença maioritária no escalão do ensino básico. As características que surgem
associadas ao perfil sociográfico sugerem que a localização social dos

135
desafectos insatisfeitos radica nos sectores menos qualificados das classes
trabalhadoras, como indiciam os níveis de instrução, e mais atingidos pelas
condições de precariedade económica de que os valores do desemprego dão
prova. Se a insatisfação em relação ao funcionamento democracia pode ser
facilmente imputável às condições materiais, como observámos também no
grupo dos democratas insatisfeitos, a falta de adesão ou a atitude de indiferença,
e, eventualmente, adversa, às convicções democráticas deve ser imputada à
escolaridade. Como verificaremos também no último grupo, os jovens que
manifestam uma atitude de desafectação estão, comparativamente aos jovens
democratas, bastante mais representados no escalão mais baixo de instrução,
sugerindo que a educação exerce uma influência importante no desenvolvimento
dos ideais e das concepções da democracia.
O último grupo da tipologia ilustra uma lógica minoritária em que a
satisfação com as condições de funcionamento da sociedade surge em paralelo
com manifestações de indiferença e, em alguns casos, de aversão às
convicções democráticas. Quase que se poderia dizer que a crítica está ausente
na medida em que a democracia não representa um valor com significado. Não
se verifica neste grupo, contrariamente ao anterior, qualquer combinação entre o
mal-estar social e a atitude não democrática. Que atributos sociais poderão,
então, estar na base das tendências que os desafectos satisfeitos revelam?
Como se referiu no comentário ao grupo precedente, a relação positiva entre a
educação e as crenças na democracia faz antever uma escolaridade baixa nos
jovens desafectos satisfeitos. De facto, assim é. A representação maioritária no
escalão nível de instrução mais baixo e a presença proporcionalmente mais
fraca nos outros dois níveis de instrução comprovam uma vez mais a influência
positiva da educação no desenvolvimento dos valores democráticos. Prova
adicional desta influência reside no facto de a instrução, mais precisamente a
baixa escolaridade, ser a única variável comum aos dois grupos de jovens
desafectos, que divergem no que respeita às outras variáveis. Com efeito,
verificamos que os jovens desafectos satisfeitos se caracterizam por um
predomínio feminino e são significativamente mais novos do que qualquer dos

136
outros três grupos atrás referidos, pelo que não é de estranhar que estejam
fortemente representados no meio estudantil. Característica deste grupo é ainda
a forte presença da categoria ocupacional outra, que inclui sobretudo as
actividades domésticas, que não pode deixar de ser relacionada com a
composição feminina do grupo. Do ponto de vista da localização social
sobressaem sobretudo sectores das «classes médias».

As atitudes perante a democracia e a participação social e política

A questão que agora será analisada procura estabelecer a resultante de


duas tendências com direcções contrárias. Se as convicções democráticas
podem constituir uma força — não custa admiti-lo — que impele para a
participação, a insatisfação em relação ao funcionamento democrático actua no
sentido inverso, acentuando o retraimento individual e desmotivando a acção
colectiva. Admitindo que o efeito destas forças se oriente no sentido previsto,
pode antever-se que a capacidade de mobilização e de acção seja mais elevada
nos jovens democratas satisfeitos do que nos desafectos insatisfeitos. Mais
difícil de antever é o impacto da combinação entre a insatisfação e as
convicções democráticas nos níveis de participação. A insatisfação que certos
sectores juvenis manifestam transformar-se-á em força crítica visando o
melhoramento da sociedade e a regeneração das instituições democráticas ou,
pelo contrário, tenderá a afastá-los do exercício da cidadania cívica e política? O
protagonismo do grupo dos democratas insatisfeitos surge, assim, como uma
das principais questões que importa esclarecer, não sendo possível admitir, à
partida, a amplitude da conversão do descontentamento em atitude crítica.
Quanto ao grupo dos desafectos satisfeitos, na ausência de convicções
democráticas, não são de prever elevados níveis de participação, ainda que a
satisfação que revelam os possa incentivar a agir em determinadas áreas,
preferencialmente na esfera social.

137
A primeira observação sobre a relação entre as atitudes perante a
democracia e a participação política social consiste em assinalar a associação
significativa registada em todos os indicadores. As conexões fortes e as
influências mútuas entre as atitudes favoráveis à democracia e o correspondente
exercício cívico e político confirmam a relação genérica que se estabeleceu à
partida, faltando agora descrever como os grupos «dissonantes», ou seja, que
combinam uma atitude favorável com outra desfavorável, se comportam em
relação aos outros (Quadro nº 23).
Começando por descrever o impacto das atitudes sobre o primeiro
indicador político, verifica-se que o exercício eleitoral é mais acentuado nos
democratas satisfeitos (69,2%), seguidos de muito perto pelos democratas
insatisfeitos (67%). O comportamento eleitoral dos dois grupos de jovens
desafectos é semelhante entre si e bastante distanciado do dos jovens
democratas, caracterizando-se sobretudo por um elevado abstencionismo:
maioritariamente, não exercem o direito de voto. O contraste não podia ser mais
nítido: elevada participação, do lado dos democratas; absentismo, do lado dos
jovens desafectos. Deste modo, pode depreender-se deste indicador que a
participação eleitoral está associada às convicções democráticas, sendo
relativamente pouco afectada pela maior ou menor satisfação que os jovens
experimentam com o funcionamento da sociedade. Votar é antes de tudo um
dever de quem partilha a ideia de cidadania. Se essa concepção não existe, há
menos motivação para agir segundo as regras que dela derivam.

138
Quadro nº 23
As atitudes perante a democracia e a participação social e política

Democratas Democratas Desafectos Desafectos Total


satisfeitos insatisfeitos insatisfeitos satisfeitos

Total 36,5 34,7 20,3 8,5 100

Votou eleições legislativas 69,2 67,0 44,3 46,9 61,6


Não votou 30,8 33,0 55,7 53,1 38,4
(V=0,215; p=0,000)
n=589, idade >= 21 anos

Sim, quase de certeza 48,1 41,2 32,3 21,9 40,5


Sim, é provável 28,1 32,3 26,8 37,0 30,1
É pouco provável 8,6 16,0 15,2 12,3 12,8
Quase de certeza que não vou 15,1 10,5 25,6 28,8 16,6
(V=0,132; p=0,000)

Participação nula 31,0 26,5 43,7 36,7 32,5


Participação baixa 34,5 39,8 32,1 40,5 36,4
Participação moderada ou alta 34,5 33,6 24,2 22,8 31,1
(V=0,106; p=0,002)

Não voluntário 81,1 88,6 89,2 88,5 86,0


Voluntário 18,9 11,4 10,8 11,5 14,0
(V=0,106; p=0,016)

Sem participação associativa 67,7 75,6 78,9 73,1 67,7


Participação em 1 associação 21,1 17,6 15,3 17,9 21,1
Participação em 2 ou mais 11,1 6,8 5,8 9,0 11,1
associações
(V=0,076; p=0,100)

Esta tendência relativa à participação política formal pode ainda ser


analisada com base no indicador da intenção de voto. Os resultados obtidos são
menos drásticos, mas mesmo assim corroboram as observações feitas em
relação ao exercício eleitoral nas eleições legislativas de 2002. Vista por este
indicador, a participação aumenta em todos os grupos, especialmente nos
jovens desafectos, fazendo baixar significativamente a abstenção. Idealmente, a
maioria dos jovens acha que deveria ir votar, embora, como mostrou o indicador
da prática eleitoral, uma parte deles acabe por abster-se. Em todo o caso, é
importante observar que mesmo havendo uma descida em termos de intenção
de voto, a abstenção atinge, apesar disso, valores expressivos: 40% dos jovens
desafectos dizem claramente que de certeza ou muito provavelmente não irão

139
votar. Há, consequentemente, uma recusa explícita da participação por parte de
certos sectores juvenis. Do lado dos jovens democratas, a posição é
completamente inversa, revelando a maioria uma intenção favorável. À luz do
indicador de intenção do voto, são confirmadas as mesmas relações que se
observaram a propósito da prática efectiva do voto, ou seja, de que há uma
congruência entre as convicções democráticas e o comportamento eleitoral dos
jovens que as perfilham.
O último dos três indicadores políticos diz respeito à participação não
institucional que refere acções e actividades que não se inserem no âmbito do
funcionamento institucional do sistema político, mas que decorrem dos direitos
de cidadania. O indicador já foi suficientemente descrito pelo que se pode passar
de imediato a referir as conexões que estabelece com as atitudes perante a
democracia. Começando por isolar o nível de participação nula, ou seja, os
jovens que nunca se envolveram nas acções ou actividades inquiridas, verifica-
se que os valores mais elevados se registam, sem surpresa, no grupo dos
desafectos insatisfeitos, atingindo quase um em cada dois destes jovens
(43,7%). Em contrapartida, o valor mais baixo regista-se precisamente no grupo
antípoda dos jovens democratas insatisfeitos (26.5%), ainda que o outro grupo
democrata não surja muito longe (31%). O facto de os jovens democratas
insatisfeitos não se caracterizarem pela participação nula poderá significar uma
maior propensão para o activismo político não convencional, indo ao encontro da
ideia de que o descontentamento poderia corresponder a uma posição crítica e
mais empenhada na procura de vias democráticas alternativas. Mas, antes de se
poder concluir neste sentido, importa analisar a intensidade que colocam nesse
activismo. No entanto, é possível, desde já, concluir que os jovens democratas
revelam sempre uma maior propensão para se envolverem e intervirem na
esfera política independentemente da natureza institucional ou não da acção em
causa. Acrescente-se ainda que a diferença entre os jovens desafectos
satisfeitos e insatisfeitos é significativa e vai no sentido de mostrar que a
satisfação com o funcionamento democrático predispõe mais facilmente à
participação.

140
Quanto à intensidade da participação, que se desdobra num nível baixo e
noutro moderado e alto, suscita essencialmente duas observações. A primeira
diz respeito aos grupos mais passivos e a segunda aos mais activos. A diferença
entre os jovens desafectos satisfeitos e os insatisfeitos radica sobretudo no nível
baixo de participação, já que no nível moderado e alto se mostra pouco
significativa. Neste sentido, pode afirmar-se que os satisfeitos são mais activos,
mas que o seu envolvimento na acção é pouco intenso, confirmando-se, em todo
o caso, a ideia de que a satisfação favorece a participação mesmo na ausência
de convicções democráticas.
Em relação à diferença entre os democratas satisfeitos e insatisfeitos
verifica-se que o maior protagonismo destes últimos se centra no nível mais
baixo de participação, sendo ligeiramente favorável aos primeiros no nível
moderado e alto. Por conseguinte, a diferença em termos de protagonismo é
pouco significativa, não permitindo justificar uma propensão específica dos
jovens democratas insatisfeitos por acções de natureza não institucional. Ainda
que se possa supor que afecte uma parte deles, a insatisfação não se converte
de forma generalizada em atitude crítica e em posições alternativas de acção.
Os dados relativos a este tipo de participação vão assim ao encontro dos
indicadores políticos convencionais no sentido em que assinalam a influência
das convicções democráticas na participação política, quer seja ou não de
âmbito institucional, e o papel praticamente inoperante do descontentamento.
Deste modo, o exercício da cidadania política pressupõe a adesão prévia a
valores e concepções democráticos.
Esclarecida a relação entre as atitudes face à democracia e a participação
política, especialmente a questão da presumível posição crítica dos jovens
insatisfeitos, interessa agora ver em que medida a insatisfação pode afectar a
participação no campo social. A atitude de alheamento dos jovens desafectos
em relação à cidadania e à participação política propagar-se-á também ao
campo social? Ou será de admitir, como se sugeriu, que uma atitude positiva
face ao funcionamento da sociedade predisponha a um envolvimento mais
favorável, em particular no campo associativo e no voluntariado. À semelhança

141
do que se fez com os indicadores políticos, a primeira observação incide sobre o
grau de associação entre as atitudes e a participação social. Os valores obtidos
mostram que, no caso do associativismo, a relação não é significativa e, no do
voluntariado, ainda que a relação revele uma associação, o nível de significância
é pouco elevado.
Apesar destes resultados, importa referir que são os democratas
satisfeitos que mais se envolvem em actividades de voluntariado. A propensão
que revelam é quase duas vezes superior à dos outros jovens, que não
apresentam entre si níveis de envolvimento diferenciados. Por conseguinte, a
associação que se detectou refere-se única e exclusivamente à dissensão do
grupo mais activo. Quanto à prática associativa, a vantagem também pertence
aos jovens democratas satisfeitos. Estão mais presentes no fenómeno
associativo e acumulam mais frequentemente múltiplas pertenças. No entanto,
essa vantagem que apresentam em relação aos outros jovens, que entre si
registam algumas diferenças, não é de todo muito significativa. Os menos
participativos são os jovens desafectos insatisfeitos, apresentando-se os jovens
desafectos satisfeitos numa posição um pouco mais à frente da dos jovens
democratas insatisfeitos, sobretudo no que se refere às múltiplas pertenças
associativas. Mas, como todas estas diferenças têm pouco ou nenhum
significado estatístico, a conclusão que se retira destes dados aponta no sentido
de a participação associativa não ser afectada, ou apelo menos em termos
significativos, nem pelas convicções nem pela satisfação com a democracia. A
razão de ser desta ausência de associação talvez se deva ao facto de o
associativismo, contrariamente ao voluntariado, não assumir necessariamente
um sentido de intervenção cívica. Muitas associações pressupõem apenas a
existência de um utente ou de um consumidor de serviços ou de actividades, e
não promovem qualquer acção que se inscreva no âmbito do exercício de
cidadania ou em prol da comunidade. É por isso que a pertença associativa
aparece tão desligada das atitudes. No caso do voluntariado esta relação está
presente, mas o facto de surgir apenas associada, ainda assim de forma pouco
pronunciada, aos jovens democratas satisfeitos, sugere que, apesar de

142
exercerem uma influência positiva, as convicções democráticas não constituem
o único, e muito possivelmente, nem o mais importante, factor de motivação.

Conclusão

A análise realizada sobre as atitudes face à democracia e à participação


política e social dos jovens permite destacar duas conclusões importantes. A
primeira sublinha a presença de convicções democráticas bastantes
generalizadas na população, a par de um sentimento maioritário de
descontentamento relativamente ao modo como a democracia funciona na
sociedade portuguesa. Como se notou, a este descontentamento estará
provavelmente associado não apenas a incapacidade da sociedade, que se
acentuou com a desaceleração económica dos últimos anos, em sustentar e
satisfazer as expectativas sociais e económicas dos sectores juvenis, mas
também uma certa degradação da instituições democráticas que têm revelado
alguma dificuldade em darem de si mesmas uma imagem mais transparente e
credível. Apesar do descontentamento ser significativo, não se assinala qualquer
ameaça à sustentabilidade política da democracia. O facto de as crenças ou as
orientações antidemocráticas terem fraca expressão e visibilidade, permite
sustentar que o apoio à democracia é, em grande medida, independente do
maior ou menor grau de descontentamento que os jovens experimentam em
relação ao seu funcionamento.
Sem se ter entrado na discussão do declínio da participação política e
social que alguns defendem, a análise realizada permitiu chegar a uma segunda
conclusão que salienta o facto de o descontentamento não provocar
necessariamente a redução ou a dissipação da presença juvenil na esfera
pública. O descontentamento só induz apatia e indiferença políticas quando se
faz acompanhar por uma ausência de convicções democráticas. A consciência
dos deveres e dos direitos que decorrem da cidadania democrática explica que
os jovens que a manifestam se mostrem politicamente mais participativos,
mesmo quando expressam descontentamento em relação ao funcionamento da

143
democracia. No entanto, não se encontrou evidência empírica que possa
sustentar a ideia de que o descontentamento democrático alimente uma atitude
crítica que predisporia um número crescente de jovens a intervirem no sentido
de mudarem e melhorarem os canais e os mecanismos de participação da
democracia representativa. A participação aparece, assim, como apanágio dos
jovens que surgem mais identificados com as instituições democráticas, sendo
esta a razão que pode também explicar a prevalência da acção política
convencional, designadamente a eleitoral, sobre as formas alternativas de
envolvimento político.

144
Conclusão final

O panorama da participação associativa e política dos jovens portugueses


traçado neste estudo faz emergir dois tipos de condicionantes. O primeiro liga-se
aos movimentos de fundo da sociedade, em que se destacam o declínio do
político, a tradição cívica e a escolaridade. O segundo tipo de condicionantes
sublinha os aspectos de natureza mais conjuntural que passam pela avaliação
do funcionamento da democracia, pelas atitudes em relação ao campo político e,
por último, pelas representações sobre o papel do cidadão na sociedade. Em
ambos os casos, ou seja, quer em termos estruturais quer conjunturais, a maior
parte das condicionantes referidas actua no sentido de refrear ou de inibir a
participação.
Focalizando a atenção na primeira condicionante, o declínio do político, é
possível constatar que a vida social é muito mais regulada hoje em dia pela
esfera económica do que pela da política. O declínio do político é antes de tudo
uma questão simbólica no sentido em que deixou de exercer a atracção que
detinha sobre os indivíduos, afectando a credibilidade na acção política e a
confiança nas instituições representativas. A par desta tendência, a evolução
das sociedades tem sido no sentido da retracção da acção do Estado na
sociedade, restringido benefícios e apoios a muitas estruturas da sociedade civil,
que se repercute naturalmente nos níveis de participação. Acrescente-se ainda
que a tradição centralizadora e fechada do Estado português não facilita a
devolução à sociedade de mecanismos de participação na acção e políticas
públicas.
A segunda condicionante estrutural da participação tem a ver com a
tradição cívica da sociedade. Basicamente estamos a referir as disposições dos
cidadãos quer em relação à participação associativa e à acção cooperativa, quer
em relação às atitudes face ao sistema político. Por múltiplas razões que não
foram abordadas no estudo, como a experiência não democrática que Portugal
conheceu por um longo período, ou a presença centralizadora e omnipresente

145
do Estado que atrofiou e atrofia o desenvolvimento da sociedade civil, o país
dificilmente conheceu uma cultura cívica eficaz que incentivasse a participação e
a presença dos cidadãos no espaço público, como se demonstra pela baixa
confiança interpessoal, a par da promoção de atitudes favoráveis ao
funcionamento do sistema político. O fraco desenvolvimento da cultura cívica
contribui para explicar a participação reduzida que se verifica nas actividades
associativas e voluntárias e as atitudes negativas que os portugueses nutrem em
relação ao sistema político, como se pode comprovar a partir dos dados a que
nos referiremos um pouco mais adiante a propósito das condicionantes
conjunturais.
Dentro das razões que limitam a participação juvenil, a escolaridade
merece referência especial. Como se pôde observar, existe uma variação
sistematicamente positiva entre o aumento da instrução e os níveis de
participação. Os jovens mais instruídos são mais activos, têm mais consciência
cívica e fazem mais uso dos direitos de cidadania. Da mesma forma, os países
com tradições cívicas mais desenvolvidas apresentam invariavelmente níveis
elevados de escolaridade. Sabe-se que a generalização da escolaridade é um
processo relativamente recente na sociedade portuguesa e que a frequência do
ensino superior se encontra aquém dos padrões desejáveis em termos de
comparação internacional. Este défice «estrutural» de formação tem um impacto
significativo na socialização dos cidadãos e na afirmação da cidadania, tanto na
vertente de acesso a direitos como na de exercício das obrigações e das
responsabilidades cívicas. A escolaridade é uma variável muito importante na
formação de cidadãos politicamente competentes e empenhados na acção
pública e cívica.
Revistas as condicionantes estruturais que limitam a participação cívica e
política dos jovens, podemos agora olhar para o impacto dos aspectos
conjunturais que, apesar de tudo, não são tão limitativos. Tendo em
consideração os três aspectos referidos — o funcionamento da democracia, as
atitudes em relação ao campo político e as representações de cidadania — pode
dizer-se que os dois primeiros bloqueiam mais do que promovem a cultura de

146
participação, enquanto em relação ao terceiro se passa o contrário. Ao longo do
estudo, os indicadores analisados mostraram claramente que a opinião dos
jovens em relação ao político e ao funcionamento institucional está longe de ser
favorável, embora seja necessário não generalizar em demasia para evitar correr
o risco de ignorar a diversidade das posições que, apesar de tudo, existe. Esta
opinião dominante pouco favorável, ou mesmo negativa, só pode contribuir para
desmotivar a acção política dos jovens. Em contrapartida, as representações
sobre a cidadania são mais positivas e vão ao encontro de uma concepção
activa. Os jovens revelam-se abertos a uma defesa alargada de direitos e
reconhecem obrigações cívicas, mais do que políticas, em relação à
comunidade.
Este é um ponto central do presente estudo. Se existe um sentido de
participação que poderá ser consolidado e ampliado é precisamente o da acção
cívica. Os dados deste inquérito mostram que existe um potencial de
mobilização que pode ser explorado, sobretudo se o enquadramento da acção
privilegiar o nível local, pelo facto de os jovens considerarem que é aí que
assentam e desenvolvem os laços e as identidades de pertença. Mas também
revelaram que o associativismo é um dos caminhos possíveis para incrementar
a participação, como ficou bem demonstrado a partir das relações que se
estabeleceram entre as duas variáveis. A revitalização do associativismo como
forma de promover a acção cívica juvenil passará, sem dúvida, pelo menos em
alguns casos, pelo apoio directo a equipamentos e actividades, mas estará,
certamente, mais dependente das oportunidades abertas na sociedade civil,
quer por iniciativa dela própria quer pela devolução de competências hoje
inscritas no âmbito estatal.
Em contrapartida, a política, entendida aqui no sentido «convencional»
protagonizada pelos partidos políticos, parece ter menos possibilidades de
afirmação. A relutância que o envolvimento institucional na política suscita, em
parte provocado pela falta de credibilidade das instituições e pelo declínio da
política, ficou suficientemente evidenciada para não permitir, pelo menos a curto
prazo, alimentar grandes expectativas em relação ao desenvolvimento da

147
participação política. É necessário, no entanto, ter presente que este
distanciamento não significa necessariamente o esvaziamento do político. A
possibilidade de a acção ser desencadeada por causas que transcendem as
agendas políticas convencionais ou por «reacções» que escapam ao controlo do
sistema político existe sempre na juventude, pelo menos em estado latente. Mas
não há forma de saber quando e em que condições, ou mesmo se essa
possibilidade ocorrerá num horizonte que consigamos actualmente alcançar.
Apesar de um certo desalento em relação à esfera política, há razões
para crer que a consciência de cidadania não deixará de se afirmar, em
consequência de uma crescente mobilização cognitiva assente nos progressos
da escolaridade e na abertura que uma sociedade democrática proporciona. Já
em relação à participação é de crer que o reforço do associativismo será
decisivo na medida em que representa uma componente fundamental do
desenvolvimento de uma sociedade civil.

148
Questionário

149
Associativismo e cidadania política dos jovens (dos 15 aos 29 anos)

I ASSOCIATIVISMO JUVENIL

Q1. Para começar, gostaria de saber se participa ou é membro de alguma associação. Pertence a
alguma das organizações ou associações indicadas na seguinte lista?

(MOSTRAR CARTÃO 1 — LER — RESPOSTA MÚLTIPLA)

ASSOCIAÇÕES PERTENCE/
PARTICIPA
V Associações comunitárias ou de assistência social 01
V Associações religiosas ou de Igreja/paroquiais 02
V Associações culturais ou artísticas (musica, dança, 03
teatro)
V Associações profissionais 04
V Sindicatos 05
V Partidos políticos / juventudes partidárias 06
V Movimento ou organizações de direitos humanos 07
V Associações para a protecção da natureza, dos 08
animais ou do ambiente.
V Associações de juventude 09
V Associações de consumidores 10
V Associações de estudantes 11
V Associações/clubes desportivos 12
V Associações/clubes em torno de um interesse 13
específico ou de um hobby (coleccionadores, clubes
de aeromodelismo, etc.)
V Outros clubes ou associações 14
V Nenhum clube ou associação 15
V Não sabe 98
V Não responde 99

150
[PERGUNTAR PARA TODAS AS ASSOCIAÇÕES DE QUE O INQUIRIDO É MEMBRO OU
PARTICIPANTE]

Q2. Em relação à(s) associação(ões) de que é membro ou participante, com que


frequência participa. Diria que participa muito regularmente, com alguma regularidade,
raramente ou nunca?

[MOSTRAR CARTÃO 2]

regularmente

regularidade
Com alguma

Raramente

responde
Não sabe
Nunca
Muito

Não
V Associações comunitárias ou de assistência
1 2 3 4 8 9 ()
social
V Associações religiosas ou de
1 2 3 4 8 9 ()
Igreja/paroquiais
V Associações culturais ou artísticas (musica,
1 2 3 4 8 9 ()
dança, teatro)
v Associações profissionais 1 2 3 4 8 9 ()
V Sindicatos 1 2 3 4 8 9 ()
V Partidos políticos/Juventudes partidárias 1 2 3 4 8 9 ()
V Movimento ou organizações de direitos
1 2 3 4 8 9 ()
humanos.
V Associações para a protecção da natureza,
1 2 3 4 8 9 ()
dos animais ou do ambiente
V Associações de juventude 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações de consumidores 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações de estudantes 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações/ clubes desportivos 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações/clubes em torno de um
interesse específico ou de um hobby
1 2 3 4 8 9 ()
(coleccionadores, clubes de aeromodelismo,
etc.)
V Outros clubes ou associações 1 2 3 4 8 9 ()

151
[PERGUNTAR PARA TODAS AS ASSOCIAÇÕES DE QUE O INQUIRIDO É MEMBRO]

Q3. Costuma dar regularmente uma contribuição monetária para essa(s) associação(ões) (por
exemplo, uma quota mensal)?

responde
Não sabe
Não

Não
Sim
V Associações comunitárias ou de assistência social 1 2 8 9 ()
V Associações religiosas ou de Igreja/paroquiais 1 2 8 9 ()
V Associações culturais ou artísticas (musica, dança, teatro) 1 2 8 9 ()
v Associações profissionais 1 2 8 9 ()
V Sindicatos 1 2 8 9 ()
V Partidos políticos/Juventudes partidárias 1 2 8 9 ()
V Movimento ou organizações de direitos humanos. 1 2 8 9 ()
V Associações para a protecção da natureza, dos animais ou
1 2 8 9 ()
do ambiente
V Associações de juventude 1 2 8 9 ()
V Associações de consumidores 1 2 8 9 ()
V Associações de estudantes 1 2 8 9 ()
V Associações/ clubes desportivos 1 2 8 9 ()
V Associações/clubes em torno de um interesse específico
1 2 8 9 ()
ou de um hobby (coleccionadores, clubes, etc.)
V Outros clubes ou associações 1 2 8 9 ()

Q4. E desempenha um papel de dirigente ou assume algum tipo de responsabilidade colectiva


na(s) associação(ões) a que pertence?

responde
Não sabe
Não

Não
Sim

V Associações comunitárias ou de assistência social 1 2 8 9 ()


V Associações religiosas ou de Igreja/paroquiais 1 2 8 9 ()
V Associações culturais ou artísticas (musica, dança, teatro) 1 2 8 9 ()
v Associações profissionais 1 2 8 9 ()
V Sindicatos 1 2 8 9 ()
V Partidos políticos/Juventudes partidárias 1 2 8 9 ()
V Movimento ou organizações de direitos humanos. 1 2 8 9 ()
V Associações p/a protecção da natureza/animais/ ambiente 1 2 8 9 ()
V Associações de juventude 1 2 8 9 ()
V Associações de consumidores 1 2 8 9 ()
V Associações de estudantes 1 2 8 9 ()
V Associações/ clubes desportivos 1 2 8 9 ()
V Associações/clubes em torno de um interesse específico
1 2 8 9 ()
ou de um hobby (coleccionadores, clubes, etc.)
V Outros clubes ou associações 1 2 8 9 ()

152
[APENAS PARA OS QUE SÃO MEMBROS DE UMA ASSOCIAÇÃO]

Q5. Qual a principal razão que o/a leva a participar nas associações que indicou?

[RESPOSTA SIMPLES]

[MOSTRAR CARTÃO 3]

Principal razão
V É uma forma de conviver e de conhecer novas 1
pessoas
V É uma forma de prestar um serviço aos outros e à 2
comunidade.
V É uma forma de me enriquecer pessoalmente e de 3
adquirir novas experiências e competências
V É uma forma de poder contribuir para a 4
transformação da sociedade
V É uma forma de os jovens se fazerem ouvir 5
V Outra. Qual? 6
V Não sabe 8
V Não responde 9

[PARA OS JOVENS QUE NÃO SÃO MEMBROS DE NENHUMA ASSOCIAÇÃO]

Q6. Qual a principal razão para não participar em nenhuma actividade associativa?

[RESPOSTA SIMPLES]

[MOSTRAR CARTÃO 4]

Principal razão
V As actividades associativas têm pouco ou nenhum 1
interesse.
V Não existem associações em que esteja interessado 2
em participar no local onde vivo
V Mesmo que desejasse participar numa associação não 3
saberia onde me dirigir.
V Tenho pouco tempo livre para participar em 4
actividades associativas.
V Outra. Qual? 5
V Não sabe 8
V Não responde 9

153
[PARA TODOS]

Q7. Pensando nos últimos 3 anos, ocupou algum do seu tempo a participar em qualquer tipo de
serviços comunitários ou de actividades voluntárias, ou nunca teve tempo ou interesse para fazer
isso? (Por actividade voluntária não se entende apenas a pertença a uma associação, mas a
realização de um trabalho de ajuda aos outros sem receber qualquer pagamento monetário).

[MOSTRAR CARTÃO 5]
()
Sim, envolvi-me nesse tipo de trabalho nos últimos 12 meses 1
Sim, mas não nos últimos 12 meses 2
Não me envolvi nesse tipo de trabalhos nestes úlitmos 3 anos 3
Não sabe 8
Não responde 9

[FAZER Q8/Q9/Q10/Q11 APENAS PARA OS QUE DIZEM TER FEITO TRABALHO VOLUNTÁRIO –
CÓDIGOS 1 E 2 DA PERGUNTA Q7]

Q8. Indique todos os grupos para quem trabalhou voluntariamente, ou seja, sem
receber dinheiro, nos últimos três anos?

Q9. E quantas horas, em média, por semana ocupa ou ocupou a realizar trabalho
voluntário nos grupos ou associações em que participa ou participou nos últimos três
anos?

[MOSTRAR CARTÃO 6]

Q8. Q9.
Trabalhou Número de
Voluntariamente horas
V Numa Igreja ou num grupo religioso 01
V Numa associação cívica ou comunitária, ou num grupo
que proporciona serviços sociais e de saúde (ex: apoio
aos sem-abrigo, às pessoas carenciadas, doentes ou 02
deficientes)
V Num grupo artístico 03
V Num grupo que trabalha com a infância, juventude ou 04
em educação.
V Num organização política ou uma campanha política 05
V Numa associação ecologista 06
V Num grupo recreativo 07
V Num grupo que procurava resolver um problema na 08
zona/bairro em que vivo
V Campanha de angariação de fundos em géneros ou 09
em dinheiro destinada a fins sociais
V Noutro. Qual? __________________________ 10
V Em nenhum 11
V Não sabe 98
V Não responde 99

154
Q10. Que razões o/a levaram a envolver-se nesse tipo de trabalho voluntário?

[RESPOSTA MÚLTIPLA]
[MOSTAR CARTÃO 7]

()
Um familiar meu estava já envolvido 1
Um membro da minha família mais chegada estava ligado a
2
esse grupo/associações
Um amigo pediu-me para colaborar 3
Tinha interesse na actividade 4
Sinto-me responsável por procurar fazer com que a sociedade
5
se torne melhor.
Outra razão. QuaL? 6
Não sabe 8
Não responde 9

Q11. Como estabeleceu o primeiro contacto com a associação ou grupo a que está
mais ligado?

[MOSTRAR CARTÃO 8]

(14)
Eles contactaram-me 1
Contactei-os eu 2
Uma terceira pessoa pôs-me em contacto 3
Não me lembro 4
Não sabe 8
Não responde 9

[PARA TODOS, NOVAMENTE]

Q12. Pensa que as pessoas estão hoje mais ou menos dispostas a ajudar os outros do
que no passado?

[MOSTRAR CARTÃO 9]

(14)
Mais dispostas 1
Menos dispostas 2
Têm a mesma disposição 3
Não sabe 8
Não responde 9

155
[MOSTRAR CARTÃO 10]

Q13. Qual das duas afirmações vai mais ao encontro da sua forma de pensar?

()
Devo ser responsável e participar no melhoramento da
1
sociedade.
O melhoramento da sociedade é da responsabilidade do
2
governo.
Não sabe 8
Não responde 9

156
II CIDADANIA

Q14. Existem diferentes opiniões em relação ao que é necessário fazer para ser um bom
cidadão. No que lhe diz pessoalmente respeito, numa escala de 1 a 7, em que 1 significa nada
importante e 7 muito importante, que importância atribui a:
[MOSTRAR CARTÃO 11]

importante
importante

responde
Não sabe
Muito

Não
Nada
V Votar sempre nas eleições 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Pagar sempre os impostos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Obedecer sempre às leis e
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
regulamentos
V Vigiar a acção do governo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Participar activamente em
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
associações sociais ou políticas
V Procurar compreender o
pensamento das pessoas com 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
outras opiniões
V Escolher produtos por razões
políticas, éticas ou ambientais,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
mesmo que custem um pouco
mais.
V Ajudar em Portugal as pessoas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
que vivem pior do que eu.
V Ajudar as pessoas que, no resto
do mundo, vivem pior do que 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
eu.
V Estar disposto a ser
militarmente mobilizado em 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
caso de necessidade ou guerra.
V Cumprir as regras de trânsito
seja como peão ou como 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
automobilista
V Contribuir para um ambiente
melhor separando o lixo e
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
colocando-o nos locais
correctos
V Não danificar a propriedade
pública (não deitar lixo para o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
chão, não escrever nas
paredes, etc.)
V Ser tolerante com as pessoas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
que são diferentes de mim

157
Q15. Na sua opinião, em qual das seguintes actividades é mais importante um
cidadão participar?

[MOSTRAR CARTÃO 12]

()
Envolver-se em política e/ou na governação. 1
Participar em organizações nacionais que procuram
2
mudar a sociedade
Realizar trabalho voluntário na comunidade para
3
resolução de problemas locais
Em nenhuma destas
Não sabe 8
Não responde 9

[MOSTRAR CARTÃO 13]

Q16. Quando pensa em Portugal, sente optimismo em relação ao futuro do país ou


pelo contrário considera existirem razões para que se olhe o futuro com
preocupação?

()
Optimismo em relação ao futuro 1
Sinto existirem razões para que se olhe o futuro com
2
preocupação.
Não sabe 8
Não responde 9

[MOSTRAR CARTÃO 14]

Q17. Diria que sente muito, algum, pouco ou nenhum orgulho em ser português?

()
Muito orgulho 1
Algum orgulho 2
Pouco orgulho 3
Nenhum orgulho 4
Não sabe 8
Não responde 9

158
Q18. Com que grupo se identifica mais?

[MOSTRAR CARTÃO 15]

()
O Bairro/localidade onde vive 1
A cidade onde vive 2
A região onde vive 3
O país onde vive 4
A União Europeia 5
O mundo 6
Não sabe 8
Não responde 9

Q19. Pensando nos problemas que existem à nossa volta, em que medida considera
que, se decidisse fazer alguma coisa, a sua acção seria eficaz no sentido de os
resolver.

[MOSTRAR CARTÃO 16]

()
Muito eficaz 1
Eficaz 2
Pouco eficaz 3
Nada eficaz 4
Não sabe 8
Não responde 9

Q20. Alguma vez trabalhou informalmente com alguém ou com um grupo para
resolver um problema na comunidade em que vive?

[MOSTRAR CARTÃO 17]

()
Não, não o fiz 1
Sim, mas não nos últimos 12 meses. 2
Sim, nos últimos 12 meses 3
Sim, mas não tenho a certeza quando o fiz. 4
Não sabe 8
Não responde 9

159
[MOSTRAR CARTÃO 18]

Q21. De uma forma geral, acha que todo o cuidado é pouco quando se lida com as pessoas ou acha que
se pode confiar na maioria das pessoas?

()
Todo o cuidado é pouco quando se lida com as pessoas 1
Pode-se confiar na maioria das pessoas 2
Não sabe 8
Não responde 9

[MOSTRAR CARTÃO 19]

Q22. De seguida vou-lhe apresentar duas frases e peço-lhe que escolha a que vai
mais ao encontro da sua forma de pensar.

()
Há geralmente indicações claras em relação ao que é certo e
1
errado
O que é certo ou errado pode ser diferente de pessoa para
2
pessoa
Não sabe 8
Não responde 9

160
III PARTICIPAÇÃO POLÍTICA

Q23. Vamos agora falar de política. Vou começar por lhe ler uma lista de acções políticas ou
sociais que as pessoas podem fazer. Por favor, indique para cada uma delas:

[MOSTRAR CARTÃO 20]

Nunca fez
Fez em
Fez no mas Nunca Não Não
anos
ano admite o faria sabe responde
anteriores
fazer
V Assinar uma petição ou um abaixo-
1 2 3 4 8 9 ()
assinado
V Boicota, ou comprar deliberadamente,
certos produto por razões de natureza 1 2 3 4 8 9 ()
política, ética ou ambiental.
V Participar em manifestações ou acções
1 2 3 4 8 9 ()
de protesto
V Ir a um comício político 1 2 3 4 8 9 ()
V Participar em greves 1 2 3 4 8 9 ()
V Contactar, ou tentar contactar, um
político ou uma autoridade para 1 2 3 4 8 9 ()
expressar a sua posição.
V Dar dinheiro ou recolher fundos para
1 2 3 4 8 9 ()
uma actividade social.
V Contactar ou aparecer na Comunicação
1 2 3 4 8 9 ()
Social a expressar as suas opiniões.
V Participar num fórum político através
da Internet ou num grupo de 1 2 3 4 8 9 ()
discussão
V Divulgar propaganda partidária através
da roupa, de autocolantes ou de 1 2 3 4 8 9 ()
cartazes.

161
[MOSTRAR CARTÃO 21]

Q24a Dos seguintes assuntos, qual acha que é o mais importante para os jovens de hoje?

Q24b E qual é o segundo mais importante?

Q24c E o terceiro mais importante?

Q24a Q24b Q24c


1º mais 2º mais 3º mais
importante importante importante
() () ()
Ambiente 01 01 01
Segurança social 02 02 02
Saúde 03 03 03
Terrorismo e defesa nacional 04 04 04
Emprego 05 05 05
Relações familiares 06 06 06
Habitação 07 07 07
Formação profissional 08 08 08
Racismo 09 09 09
Lazer/tempos livres 10 10 10
Sida 11 11 11
Economia e equilíbrio orçamental 12 12 12
Relações pessoais 13 13 13
Crime e segurança pessoal 14 14 14
Suicídio juvenil 15 15 15
Custo da educação universitária 16 16 16
Droga 17 17 17
Direitos humanos 18 18 18
Não sabe 98 98 98
Não responde 99 99 99

Q25. Agora vou ler-lhe o que algumas pessoas disseram sobre o que a política significa para elas. Indique a
frase que melhor expressa a sua opinião.

[MOSTRAR CARTÃO 22]

()
Política significa uma competição entre políticos para se elegerem 1
Política trata do debate de leis e assuntos relacionados com o país 2
Política reflecte os esforços de uma comunidade para resolver os
3
seus problemas
Política é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz 4
Não sabe 8
Não responde 9

162
[MOSTRAR CARTÃO 23]
Q26. Falando da divisão entre a direita e a esquerda, acha que esta divisão ainda faz
sentido nos dias de hoje?

()
Não, porque as diferenças entre os partidos estão cada vez menores 1
Não, porque as sociedades têm novos problemas que não passam
2
por essa divisão
Sim, porque existem posições diferentes na sociedade em relação a
3
muitas questões importantes
Sim, continua a ser fundamental falar-se na divisão entre esquerda
e direita, porque os problemas estruturais da sociedade 4
permanecem
Não sabe 8
Não responde 9

Q27. Imagine uma lei (nacional) que considerasse injusta ou prejudicial. Neste caso,
qual seria a probabilidade de fazer algo, quer agisse sozinho ou em conjunto com
outros?

[MOSTRAR CARTÃO 24]

()
Altamente provável 1
Provável 2
Improvável 3
Altamente improvável 4
Não sabe 8
Não responde 9

Q28. Se decidisse fazer algo, qual seria a probabilidade dessa reivindicação ser ouvida [M
pelo governo ou os seus representantes? AN
TE
R
CARTÃO 24]

()
Altamente provável 1
Provável 2
Improvável 3
Altamente improvável 4
Não sabe 8
Não responde 9

163
[MOSTRAR CARTÃO 25]

Q29. Qual o seu grau de interesse pela actividade política?

(33)
Muito interesse 1
Algum interesse 2
Pouco interesse 3
Nenhum interesse 4
Não sabe 8
Não responde 9

[MOSTRAR CARTÃO 26]

Q30 Com que frequência diria que discute política ou a actividade do governo com a sua família?

Q31 E com os amigos?

Q30 Q31
() ()
Nunca 1 1
Raramente 2 2
Algumas vezes 3 3
Muitas vezes 4 4
Não sabe 8 8
Não responde 9 9

Q32. Procura persuadir os seus amigos, familiares ou colegas de trabalho a aceitarem a sua
posição ou as suas opiniões políticas?

[MOSTRAR CARTÃO 27]

(39)
Frequentemente 1
Algumas vezes 2
Raramente 3
Nunca 4
Não sabe 8
Não responde 9

164
Q33. Qual das seguintes frases descreve melhor a sua atitude em relação às
notícias?

[MOSTRAR CARTÃO 28]

(40)
Sigo as notícias de perto quase sempre, independentemente
1
de alguma coisa de importante estar a acontecer ou não
Sigo as notícias de perto apenas quando algo de importante
2
ou interessante está a acontecer
Raramente sigo as notícias de perto 3
Não sabe 8
Não responde 9

165
IV – VOTO / RECENSEAMENTO

Q34. Vamos agora falar de eleições. Começo por perguntar se considera o acto de
votar extremamente importante, muito importante, importante, pouco importante ou
nada importante?

[MOSTRAR CARTÃO 29]

()
Extremamente importante 1
Muito importante 2
Importante 3
Pouco importante 4
Nada importante 5
Não sabe 8
Não responde 9

Q35. Na sua opinião, qual a palavra que melhor descreve o seu sentimento
face ao acto de votar?

[MOSTRAR CARTÃO 30]

()
Um direito 1
Uma responsabilidade 2
Uma opção 3
Uma obrigação 4
Não sabe 8
Não responde 9

Q36. Votou nas últimas eleições legislativas de Março de 2002?

()
Sim 1
Não 2
Não sabe 8
Não responde 9

166
[APENAS PARA OS QUE RESPONDERAM SIM À PERGUNTA ANTERIOR]

Q37. Em que partido votou?

[MOSTRAR CARTÃO 31]


()
PSD 1
PS 2
PP/ CDS 3
PCP 4
Bloco de esquerda 5
Outro 6
Não sabe 8
Não responde 9

[APENAS PARA OS INQUIRIDOS QUE RESPONDERAM NÃO NA Q36]

Q38. E porque razão não votou?

[MOSTRAR CARTÃO 32]

()
Não estava recenseado 1
A política não me interessa 2
Não tive oportunidade (doença, estava ausente, etc.) 3
Nas últimas eleições não havia nada de importante em jogo 4
Não sabe 8
Não responde 9

[APENAS PARA OS QUE RESPONDERAM «não estava recenseado» NA Q38]

Q39. Qual a razão principal por que não estava recenseado?

[MOSTRAR CARTÃO 33]

()
Ainda não teve tempo para o fazer 1
Não se tem preocupado com isso pois não é uma prioridade 2
Não tem interesse em votar 3
Não sabe como se recensear 4
Não tem idade 5
Tem estado a viver longe de casa 6
Não sabe 8
Não responde 9

167
[PARA TODOS, NOVAMENTE]
Q40. Tem simpatia por algum dos partidos políticos portugueses? Se sim, por qual?

[MOSTRAR CARTÃO 34]

()
PSD 1
PS 2
PP/ CDS 3
PCP 4
Bloco de esquerda 5
Outro 6
Não tem simpatia por nenhum 7
Não sabe 8
Não responde 9

Q41 Diria que o seu pai é uma pessoa mais de esquerda, ou mais de direita, ou não
é nem da esquerda nem da direita?

Q42 E a sua mãe?

[MOSTRAR CARTÃO 35]


Q41 Q42
() ()
Mais de esquerda 1 1
Mais de direita 2 2
Nem de esquerda nem de direita 3 3
Não sabe 8 8
Não responde 9 9

Q43. Vou ler-lhe algumas razões que levam uma parte dos jovens a não votar. Na sua
opinião, qual a principal razão porque esses jovens não votam.

[MOSTRAR CARTÃO 36]

()
Porque não consideram haver uma grande diferença entre os 01
partidos/candidatos
Porque não têm informação suficiente acerca dos 02
partidos/candidatos
Porque muitos deles ainda não se recensearam 03
Porque têm vidas muito ocupadas 04
Porque acham que o voto não leva a nada 05
Porque não gostam de política 06
Porque não irem votar é uma forma de protesto 07
Porque a forma como as campanhas são feitas leva ao 08
desinteresse pelo voto
Não sabe 98
Não responde 99

168
Q44. Quando considera a possibilidade de votar num determinado partido, qual o aspecto
que mais influencia a sua decisão? E a seguir?

[MOSTRAR CARTÃO 37]

V V
Aspecto que mais Segundo aspecto que
influencia mais influencia
() ()
A simpatia ou a identificação partidária 01 01
O programa do partido ou da coligação 02 02
A experiência e a competência dos candidatos 03 03
A sinceridade e a honestidade dos candidatos 04 04
A figura do líder do partido 05 05
Os temas que são abordados na campanha 06 06
A acção do partido no governo 07 07
A oposição do partido ao governo 08 08
Costumo votar em branco 09 09
Não costumo ir votar 10 10
Não tenho idade ou não estou recenseado 11 11
Não sabe 98 98
Não responde 99 99

Q45. Pensa ir votar nas próximas eleições?

[MOSTRAR CARTÃO 38]

()
Sim, quase de certeza 1
Sim, é provável 2
É pouco provável 3
Não, quase de certeza que não vou 4
Não sabe 8
Não responde 9

169
V DEMOCRACIA

Q46. Existem diferentes opiniões acerca dos direitos das pessoas em democracia. Numa
escala de 1 a 7, em que 1 significa nada importante e 7 significa muito importante,
qual a importância que atribui a

[MOSTRAR CARTÃO 39]

importante
importante

responde
escolher
consigo
Muito

Não

Não
Nada
V Que todos os cidadãos tenham
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
um nível de vida adequado
V Que as autoridades
governamentais respeitem e 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
protejam os direitos das minorias
V Que as autoridades
governamentais tratem todos da
mesma maneira, 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
independentemente da posição
que cada um ocupa na sociedade.
V Que os políticos considerem as
opiniões dos cidadãos antes de 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
tomarem decisões
V Que as pessoas tenham mais
oportunidades para participarem
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
em processos de decisão
públicos.
V Que os cidadãos possam
envolver-se em actos de
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
desobediência civil quando se
opõem às acções do governo.

Q47. Muitas pessoas pensam que a democracia é a melhor forma de governo. Concorda
completamente, concorda, não concorda nem discorda, discorda ou discorda
completamente com esta opinião?

[MOSTRAR CARTÃO 40]

()
Concordo completamente 1
Concordo 2
Não concordo nem discordo 3
Discordo 4
Discordo completamente 5
Não sabe 8
Não responde 9

170
Q48. Qual das seguintes frases está mais próxima da sua opinião?

[MOSTRAR CARTÃO 41]

()
Acho que a liberdade e a igualdade são importantes. Mas,
se tivesse que escolher entre as duas, escolheria a
A 1
liberdade, ou seja, cada um pode viver em liberdade e
desenvolver-se à vontade
A liberdade e a igualdade são importantes. Mas, se tivesse
que escolher entre as duas, escolheria a igualdade, ou seja,
B 2
que ninguém seja desfavorecido e que as diferenças entre
as classes sociais não sejam tão acentuadas
Não sabe 8
Não responde 9

Q49. A seguir vou ler-lhe uma lista de várias instituições como a polícia, o Governo, a
administração pública, etc. Por favor, indique, numa escala de 0-10, em que 0
significa nenhuma confiança e 10 significa confiança muito forte, qual o grau de
confiança que tem nas seguintes instituições:

[MOSTRAR CARTÃO 42]

muito forte
Confiança

Não sabe

responde
Nenhuma
confiança

Não
V O Governo
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Partidos Políticos
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V O Parlamento
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Tribunais
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Autarquias
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Administração pública
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Polícia
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A União Europeia
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Nações Unidas
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Organizações não
governamentais 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Igreja
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Meios de Comunicação
Social 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V O Sistema de Saúde
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Universidade
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99

171
Q50. De uma forma geral, encontra-se muito satisfeito, mais ou menos satisfeito, pouco
satisfeito ou nada satisfeito com a forma como a democracia funciona em Portugal?

[MOSTRAR CARTÃO 43]

()
Muitosatisfeito 1
Mais ou menos satisfeito 2
Pouco satisfeito 3
Nada satisfeito 4
Não sabe 8
Não responde 9

Q51 Pensando na administração pública portuguesa, em que medida pensa que está
empenhada em servir as pessoas?

[MOSTRAR CARTÃO 44]

()
Muito empenhada 1
Moderadamente empenhada 2
Pouco empenhada 3
Nada empenhada 4
Não sabe 8
Não responde 9

172
Q52. Vou ler-lhe um conjunto de opiniões relativas à actividade política. Diga-me, por
favor, se concorda muito, concorda, não concorda nem discorda, discorda ou
discorda muito em relação a cada uma delas.

[MOSTRAR CARTÃO 45]

Nem concorda

Não responde
nem discorda
Concorda

Concorda

Não sabe
Discorda

Discorda
muito

muito
V Pessoas como eu não têm qualquer
1 2 3 4 5 8 9 ()
influência sobre o que o Governo faz
V Penso que os políticos não se
interessam muito com o que as pessoas 1 2 3 4 5 8 9 ()
como eu pensam
V Sinto que tenho uma boa compreensão
dos problemas políticos mais 1 2 3 4 5 8 9 ()
importantes com que o país se debate.
V Penso que posso ter um papel activo
num grupo que se interessa por 1 2 3 4 5 8 9 ()
questões políticas.
V Às vezes a política parece tão
complicada que pessoas como eu não 1 2 3 4 5 8 9 ()
conseguem perceber o que se passa
V Os políticos estão apenas interessados
nos votos das pessoas e não nas suas 1 2 3 4 5 8 9 ()
opiniões.
V De uma forma geral, o governo governa
em benefício de todos e não de alguns 1 2 3 4 5 8 9 ()
grupos
V Os jovens gostariam de ter mais
oportunidades para poderem participar
1 2 3 4 5 8 9 ()
nos assuntos que afectam directamente
as suas vidas

173
VI— SOCIOGRAFIA

Q53 Sexo

()
Masculino 1
Feminino 2

Q54 Qual é a sua idade

|___|___| anos
()

(MOSTRAR CARTÃO 66)


Qual é a sua situação conjugal actual?
Q55

()
Solteiro/a 1
Casado/a pela igreja 2
Casado/a pelo civil 3
Vive conjugalmente sem ser casado/a 4
Separado(a)/Divorciado/a 5
Viúvo/a 8
Não responde 9

Q56. Com quem é que vive habitualmente?


[LISTE NA TABELA ABAIXO A RELAÇÃO COM O INQUIRIDO, DE PARENTESCO OU NÃO]

Tipo de Relação com o Inquirido


1 Pai/mãe
2 Irmão/Irmã
3 Avó/Avô
4 Tio/Tia
5 Outros. Quais?
9 Não responde

174
Passando agora a falar de habilitações…

Q57. Qual o grau de instrução mais elevado que atingiu ou frequenta?

()
Nunca frequentou a escola 01
Frequentou, mas não completou o 1.º ciclo do ensino básico ou 02
equivalente
1º ciclo do ensino básico ou equivalente (4º ano de escolaridade, 03
antigo ensino primário, 4ª classe)
2º ciclo do ensino básico ou equivalente (5º e 6º ano de 04
escolaridade, antigo 1º e 2º anos do ciclo preparatório ou do
liceu)
3º ciclo do ensino básico ou equivalente (7º ao 9º ano de 05
escolaridade, antigo ensino secundário, antigo 3º ao 5º ano do
liceu)
Ensino secundário ou equivalente (10º ao 12º ano de 06
escolaridade, antigo ensino complementar, antigo 6º e 7º ano do
liceu, antigo ano propedêutico)
Ensino médio (bacharelato) 07
Ensino superior (licenciatura ou pós-graduação) 08
Não sabe 98
Não responde 99

Q58. Qual o grau de instrução mais elevado que o seu pai atingiu?

()
Nunca frequentou a escola 01
Frequentou, mas não completou o 1.º ciclo do ensino básico ou 02
equivalente
1º ciclo do ensino básico ou equivalente (4º ano de escolaridade, 03
antigo ensino primário, 4ª classe)
2º ciclo do ensino básico ou equivalente (5º e 6º ano de 04
escolaridade, antigo 1º e 2º anos do ciclo preparatório ou do
liceu)
3º ciclo do ensino básico ou equivalente (7º ao 9º ano de 05
escolaridade, antigo ensino secundário, antigo 3º ao 5º ano do
liceu)
Ensino secundário ou equivalente (10º ao 12º ano de 06
escolaridade, antigo ensino complementar, antigo 6º e 7º ano do
liceu, antigo ano propedêutico)
Ensino médio (bacharelato) 07
Ensino superior (licenciatura ou pós-graduação) 08
Não sabe 98
Não responde 99

[NOTA PARA O ENTREVISTADOR: caso não saiba ou não queira responder ao grau de instrução
do pai ou à figura que o substitui, perguntar pelo grau de instrução da mãe. Se assim acontecer,
a partir daqui as questões de caracterização relativas ao pai devem ser colocadas relativamente a
essa mesma pessoa]

175
Falando agora acerca de situações profissionais

Q59. Alguma vez exerceu uma actividade profissional, mesmo que a tempo parcial?

()
Sim 1
Não 2
Não sabe 8
Não responde 9

[APENAS PARA OS INQUIRIDOS QUE RESPONDERAM SIM NA Q59]

Q60. Qual é a sua actividade profissional actual, ou a ultima caso actualmente não se encontre a
trabalhar? (especificar o mais possível) Profissão principal

CNP - Classificação Nacional das Profissões - 4 dígitos


Não sabe, descrição inadequada
9998
Não responde
9999
()
______________________________________________________________________

Q61. Qual é/era a sua situação nessa profissão (actual ou última)?

()
Patrão 1
Isolado/trabalhador por conta própria 2
Trabalhador em empreendimento familiar 3
Assalariado/trabalhador por conta de outrém 4
Outra situação (especifique) 5
Não sabe 8
Não responde 9

176
[NOVAMENTE PARA TODOS]

Q62 Qual é actualmente a sua situação perante o trabalho?


()
Estudante 01
Trabalhador-estudante 02
Exerço uma profissão/tenho um emprego 03
Ajudo familiares sem receber ordenado 04
Procuro o meu primeiro emprego. 05
Estou desempregado à procura de novo emprego 06
Não trabalho nem procuro emprego 05
Ocupo-me exclusivamente das tarefas domésticas (doméstico/a) 08
Outra situação: especifique 09
Não responde 99

Q63. Relativamente ao seu pai, qual é a sua actividade profissional actual, ou a última, caso
actualmente o seu pai não se encontre a trabalhar? (especificar o mais possível) Profissão
principal.

CNP - Classificação Nacional das Profissões - 4 dígitos


Não sabe, descrição inadequada 9998
Não responde 9999
()

Q64. E qual é/era a situação nessa profissão (actual ou última) do seu pai?

()
Patrão 1
Isolado/trabalhador por conta própria 2
Trabalhador em empreendimento familiar 3
Assalariado/trabalhador por conta de outrém 4
Outra situação: especifique 5
Não sabe 8
Não responde 9

177
Q65. Voltando novamente à sua própria situação, aproximadamente quanto dinheiro recebe por
mês, quer através do trabalho, quer da família ou de outros meios? Assinale o escalão
correspondente à sua situação económica.

[MOSTRAR CARTÃO 67]

()
Até 50 euros 1
51-100 euros 2
101-250 euros 3
251-500 euros 4
501-1000 euros 5
Mais de 1000 euros 6
Não sabe 8
Não responde 9

[NOTA PARA O ENTREVISTADOR: no caso dos inquiridos que já trabalham, esta quantia refere-
se ao ordenado líquido, depois de feitos os descontos, mais outras eventuais fontes de
rendimento]

Q66. Como se classifica relativamente à religião?

()
Não crente/ateu (não acredito em 1
nenhum Deus
Agnóstico (não sei se existe algum Deus) 2
Indiferente 3
Católico praticante 4
Católico não praticante 5
Crente de outra religião não católica- 6
especifique
Não sabe 7
Não responde 8

Q67. Pessoalmente, considera-se uma pessoa…

[MOSTRAR CARTÃO 68]

()
Extremamente religiosa 01
Muito religiosa 02
Mais ou menos religiosa 03
Pouco religiosa 04
Nada religiosa 05
A religião é-me indiferente 06
Não sabe 98
Não responde 99

178
Q68. Em termos genéricos, qual o grau de satisfação que sente em relação à sua vida
familiar em casa. Diria que está muito satisfeito, satisfeito, pouco satisfeito ou nada
satisfeito?

[MOSTRAR CARTÃO 69]

()
Muito satisfeito 1
Satisfeito 2
Pouco satisfeito 3
Nada satisfeito 4
Não sabe 8
Não responde 9

Q69. Vou agora ler-lhe uma lista de diferentes objectivos que os jovens podem ter.
Utilizando uma escala de 1 a 10, em que 1 significa nada importante e 10 significa
muito importante, qual a importância que atribui a cada um destes objectivos.

[MOSTRAR CARTÃO 70

importante
importante

rimportant

responde
Não sabe
Muito

Não
Nada

V Ser bem sucedido na


01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
profissão
V Ter uma família unida / vida
01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
familiar intensa
V Ser bem sucedido
financeiramente e ganhar 01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
muito dinheiro
V Ser um cidadão preocupado
01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
com o bem do país
V Estar empenhado na
01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
democracia, indo votar
V Ter uma religião e viver de
acordo com as crenças 01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
religiosas
V Estar empenhado em ajudar
os outros e em tornar o 01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
mundo um sítio melhor
V Adquirir mais conhecimento,
01 02 03 04 05 06 07 08 98 99 ()
educação ou capacidades

179

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