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1
Índice
Introdução 3
Anexo
Questionário 150
2
Introdução
3
É possível olhar para a cidadania como uma panaceia para alguns destes
problemas. A democracia e o sistema político só têm a ganhar com a existência
de «verdadeiros» cidadãos, ou seja, pessoas politicamente envolvidas, bem
informadas e sustentando valores democráticos consistentes. Acredita-se que a
participação activa é a chave para se atingirem estes objectivos na medida em
que leva ao reforço dos sentimentos de pertença na sociedade, ao aumento do
conhecimento dos assuntos públicos e das questões sociais e à sustentação e
desenvolvimento das «virtudes cívicas», como a tolerância e o respeito em
relação aos outros. Neste sentido, a qualidade do sistema democrático está
cada vez mais associada ao papel dos cidadãos na dinamização das
comunidades em que vivem ou das instituições que sustentem a sociedade civil.
Face a este enquadramento, que pensam os jovens portugueses sobre o
papel dos cidadãos, dos seus direitos e deveres? Que sentimentos e
preocupações manifestam em relação ao funcionamento das instituições
políticas e da própria democracia? Que presença registam nas associações
voluntárias em que assenta parte significativa da sociedade civil? E em que
medida se sentem chamados a participar na acção politica, inclusive no
exercício eleitoral? Estas são algumas das questões exploradas pelo inquérito
em que se sustenta o presente estudo. O objectivo primário é conhecer e
caracterizar o comportamento cívico dos jovens portugueses, recorrendo a um
conjunto de indicadores e dimensões que definem esse comportamento.
Mas nenhum estudo sociológico se satisfaz com a descrição de
tendências gerais. A diferenciação das atitudes, das práticas e das
representações constitui uma tarefa essencial na compreensão dos fenómenos
sociais. Que grupos se evidenciam, quer positiva quer negativamente, no
envolvimento associativo e político? Que atributos sociais se encontram
associados às disposições que manifestam? Que relações se podem
estabelecer entre as diferentes dimensões da participação, por exemplo, entre o
associativismo voluntário e o interesse pela política?
Nesta segunda vertente, procurar-se-á isolar e identificar algumas das
condições sociais que favorecem (ou bloqueiam) o desenvolvimento e a
4
afirmação da participação. Do conhecimento sobre a realidade juvenil, podem
decorrer algumas consequências (reflexivas, claro!) para a sociedade
portuguesa. Dois exemplos, apenas. Esse conhecimento não pode deixar de
questionar o grau de mobilização cognitiva existente na sociedade, em que a
escolaridade assume, sem dúvida, um papel fundamental, ou, por outras
palavras, a capacidade de a democracia portuguesa produzir cidadãos críticos.
Não basta ter indivíduos civicamente interessados, informados e politicamente
competentes; é necessário também que estejam atentos à acção dos
governantes e dispostos a actuar no caso de essa acção ser considerada injusta
ou ilegítima. Outro exemplo importante refere-se à confiança que os jovens
manifestam. A confiança é importante na medida em que permite aos indivíduos
ultrapassarem os limites das relações familiares e comunitárias e estabelecerem
relações cooperativas com os outros que não conhecem, contribuindo para a
melhoria do nível de bem-estar da sociedade. Não há vida cívica nem
dinamização da sociedade civil sem uma confiança interpessoal generalizada. A
participação activa constitui possivelmente uma das melhores estratégias de a
promover.
Do ponto de vista metodológico, o universo de investigação é constituído
pelo conjunto de indivíduos entre os 15 e os 29 anos, residentes em Portugal
Continental em localidades com dez ou mais fogos. A dimensão final da amostra
foi de mil entrevistas1.
O estudo está dividido em seis partes. As três primeiras descrevem e
analisam os indicadores de participação juvenil. São assim passadas em revista
as práticas associativas e voluntárias, o exercício eleitoral e os comportamentos
face ao sistema institucional de representação, e, por último, o envolvimento em
actividades e iniciativas de natureza política. As outras três partes exploram o
impacto que as atitudes face ao campo político, às representações sobre a
1
Informações mais pormenorizadas sobre o processo de amostragem e a metodologia do estudo podem ser
mais consultados no arquivo (www.apis.ics.ul.pt) em que serão depositados os dados e a documentação
deste estudo.
5
cidadania e ao funcionamento da democracia têm na participação associativa e
política dos jovens portugueses.
6
O associativismo e o voluntariado juvenis
7
diferenças sociais entre jovens associados e não associados e as motivações
subjacentes à (não) participação associativa. A segunda descreve o voluntariado
juvenil, caracterizando o perfil social dos voluntários, identificando as
associações e as actividades em que se envolvem, e, finalmente, procurando
compreender as motivações e as representações subjacentes ao trabalho
voluntário juvenil.
A pertença associativa
2
Ver INRA (2001), Les Jeunes Européens en 2001 : Eurobaromètre 55.1, Bruxelles, Commission
Européenne, Direction Générale Éducation, Formation et Jeunesse ; INRA (1997), Les Jeunes Européens:
Eurobaromètre 47.2, Bruxelles, Commission Européenne, Direction Générale Éducation, Formation et
Jeunesse.
8
Pertença associativa
Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Sindicatos
Partidos políticos
Direitos humanos
Ambientais
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras
3
O teste usado e que aparece em muitas das análises apresentadas ao longo do texto é o V de Cramer.
Esta medida de associação, que se baseia na estatística do qui-quadrado, varia entre 0 (associação nula) e 1
(associação perfeita) e mede a associação entre variáveis numa tabela de contingência.
9
não associados evidencia o nível mais baixo de escolaridade (até ao ensino
básico), os jovens conjugalmente coabitantes, o sexo feminino e as classes
assalariadas. Destes dois perfis de variáveis pode inferir-se que a diferença
entre associados e não associados repousa nos níveis de instrução, no género,
na situação conjugal e na classe social4. É interessante verificar, desde logo, o
efeito praticamente nulo ou reduzido de certas variáveis, como a idade, a
pertença religiosa ou até mesmo da condição perante o trabalho.
Aparentemente, o aumento da idade não faz diminuir o interesse associativo e,
por outro lado, seria previsível que a condição estudantil, vista como um tempo
mais propenso à prática associativa devido a uma maior disponibilidade,
exercesse um estímulo mais forte do que aquele que realmente exerce.
Do lado das variáveis que estimulam a participação, é necessário reter
alguns aspectos importantes. Talvez seja de referir, em primeiro lugar, em
contraponto à condição estudantil, que, do ponto de vista da disponibilidade, a
condição mais decisiva é de facto a de solteiro. Apesar de a condição estudantil
ter apenas um impacto modesto na participação, o nível de instrução revela-se
altamente diferenciador. O nível de instrução elevado aparece associado ao
universo dos jovens associados, passando o inverso em relação à população
menos instruída. A intensidade religiosa é também bastante interessante. O
impacto desta variável não tem tanto a ver com a pertença religiosa, como com a
intensidade religiosa. Por exemplo, o conformismo religioso presente nos
católicos não praticantes surge do lado da não participação, enquanto os
católicos praticantes aparecem no da participação. Esta distinção mostra que
não é a pertença religiosa que produz a diferenciação entre associados e não
associados, mas a intensidade da prática religiosa.
4
A definição de classe social do inquirido é feita com base numa adaptação da grelha
desenvolvida por Erikson/Goldthorpe. A combinação entre a classificação nacional das
profissões a dois dígitos do INE (versão de 1994) e a situação na profissão de cada indivíduo
permite a constituição de seis classes: burguesia, nova burguesia assalariada, pequena
burguesia tradicional, salariato não-manual, trabalhadores independentes e salariato manual.
Quando não foi possível calcular a classe social do inquirido, assumiu-se a classe social da
família de origem.
10
A última variável que importa referir é o género. À primeira vista, os dados
sugerem a reprodução de um padrão tradicional, traduzido numa mais forte
propensão masculina na esfera pública. A questão que talvez importe esclarecer
consiste em saber se essa propensão tende a distribuir-se por todo o tipo de
participação ou aparece mais concentrado em algumas modalidades
associativas, designadamente as de âmbito desportivo.
Quadro nº 1
Perfis sociográficos do associativismo juvenil
Não Associados Desportistas Não
associados Desportistas
11
A caracterização do perfil sociográfico das práticas associativas
recenseadas no inquérito, ou seja, a composição social dos indivíduos que nelas
participam, suscita, desde logo, três observações de carácter geral (Quadro nº
2). Mantendo os mesmos procedimentos estatísticos já referidos, a primeira
observação incide nas associações com expressões numéricas pouco
significativas. Por exemplo, as associações de direitos humanos, de defesa de
animais ou ecológicas, de consumidores, reúnem apoios associativos inferiores
a 2%. Mas não é exclusivamente pela questão da dimensão que se fica a dever
a ausência de relações. Outras associações com expressão numérica reduzida
estabelecem, como veremos, relações fortes a certas variáveis. Na verdade,
acontece que as variáveis usadas para estabelecer os perfis sociográficos não
discriminam os indivíduos que integram essas associações.
A segunda observação refere o limitado número de variáveis que aparece
a caracterizar os diferentes tipos de associações. Não há sequer uma relação
entre o número de variáveis e a dimensão da associação. Regra geral, as
associações pequenas mas focalizadas em actividades muito específicas, como
os sindicatos ou a associações profissionais, aparecem tão discriminadas como
as associações de maior dimensão, como as desportivas, cuja oferta se
apresenta aberta ao conjunto da população jovem, sendo por isso bastante mais
diferenciada.
Uma terceira observação refere o facto de a variável característica estar
na maior parte dos casos associada à natureza da actividade associativa
desenvolvida. As associações religiosas aparecem, como seria de esperar,
coladas às modalidades religiosas, designadamente aos católicos praticantes e
à intensidade religiosa (muito regular ou regular). Como anteriormente se referiu,
verifica-se que a adesão associativa depende mais da intensidade do que da
filiação religiosa, embora, em alguns casos, também importe referi-la.
De natureza distinta, as associações profissionais e sindicais apresentam-
se muito ligadas a determinados segmentos juvenis. Em comum, partilham a
presença dos trabalhadores, dos níveis de ensino médio e superior, e dos
sectores mais velhos (25-29 anos). Deste modo, evidencia-se que a propensão
12
associativa no mundo laboral é mais forte na população mais escolarizada.
Sublinhe-se ainda duas outras características do sindicalismo: a presença
feminina e dos casados (esta situação está também relacionada com a presença
do segmento etariamente mais elevado).
Quadro nº 2
Perfis sociográficos das práticas associativas
Tipos de associações Variáveis mais características
13
população jovem associada e a não associada, tanto mais quando nas outras
práticas associativas não se registam diferenças de género.
Duas outras relações chamam a atenção para o papel significativo que a
escolaridade e a nova burguesia assalariada desempenham muitas vezes, mas
nem sempre, em simultâneo em várias associações, como as comunitárias ou
de assistência social. Estas relações mostram que a propensão associativa é
facilitada pelo nível de instrução e tende a expandir-se mais fortemente nas
classes médias.
Frequência da participação
50
40
30
%
20
10
0
N
M
un
ar
eg
ui
am
to
ca
ul
ar
re
en
gu
te
en
la
te
rm
en
te
14
O nível de envolvimento associativo é, no entanto, condicionado pelo tipo
de actividade. Deste modo, observa-se, sem surpresa, que a participação é mais
intensa no campo desportivo. Numa escala de quatro posições em que o valor
mais baixo (1) equivale a uma prática nula e o mais alto (4) a uma prática muito
regular, a participação desportiva destaca-se das restantes (3,4). Esta posição é,
sem dúvida, explicada pelo facto de a maior parte dos jovens envolvidos em
associações desportivas ser praticante de uma qualquer modalidade cuja prática
exige normalmente uma frequência intensa. Exceptuando os valores mais altos
da actividade desportiva, verifica-se que a maior parte das associações
apresenta uma prática regular de participação (em torno do valor 3). No limiar
superior surgem as associações culturais/artísticas, religiosas, de juventude, de
estudantes, de interesse específico (hobby) ou não especificadas (outras
associações), e no inferior as associações comunitárias, profissionais, sindicais,
políticas e ambientais. Apenas duas associações parecem produzir uma fraca
mobilização: as de defesa dos direitos humanos e as de consumidores.
Curiosamente, estas duas associações são também as que revelam níveis de
adesão mais baixos, pelo que a frequência da participação surge de algum modo
associada à sua capacidade de atracção.
n=267
15
A existência de contribuição financeira
16
Contribuição financeira
Comunitárias
Religiosas
Culturais/artísticas
Profissionais
Q3. Sindicatos
Partidos políticos
Direitos humanos
Ambientais
Juventude
Consumidores
Estudantes
Desportivas
Hobby
Outras
0,0 ,2 ,4 ,6 ,8 1,0
17
assim, o inquérito recenseou a existência de setenta e dois jovens que dizem
assumir responsabilidades colectivas. Em termos percentuais, os líderes ou
dirigentes juvenis representam 7,2% do total dos jovens inquiridos, e quase um
terço dos jovens associados (27%). Esta relativa dispersão das funções de
liderança sugere que a acção dos jovens não é passiva nem dependente,
adivinhando-se um protagonismo dinâmico na condução das associações de
que fazem parte.
A observação da distribuição dessas funções de liderança pelos
diferentes tipos de associações faz sobressair de imediato a não existência de
dirigentes em algumas delas, designadamente nas associações ambientais, de
defesa dos direitos humanos, de consumidores e nos partidos/juventudes
partidárias. Se nas três primeiras essa ausência se relaciona com o reduzido
número de casos recenseados, nos partidos políticos as razões devem ser
imputadas aos processos de organização interna. De outro modo não se
compreenderia que associações próximas da acção política, como os sindicatos,
com um número menos elevado de participantes refiram a presença de jovens
em funções de responsabilidade colectiva.
0,0 ,1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6
18
específico ou hobby. Nestas associações, mais de quatro em dez jovens dizem
desempenhar um papel de liderança. No caso das associações de estudantes
não é surpreendente tendo em conta a composição exclusivamente juvenil das
mesmas. Quanto às segundas, sugere que os jovens assumem grande
protagonismo no associativismo que se poderia designar por interesse lúdico.
Um pouco contracorrente constata-se que o desempenho de funções de
dirigentes nas associações de juventude fica aquém do que seria de esperar,
tendo em conta não apenas as atitudes pró-activas que promovem e divulgam,
mas também o protagonismo que comparativamente outras associações
assumem, designadamente as associações de estudantes. No que respeita às
associações desportivas, a percentagem relativamente reduzida de associados
(abaixo de 20%) desempenhando funções de liderança apenas vem reforçar a
ideia de que a maior parte dos associados é apenas praticante de uma qualquer
modalidade desportiva.
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As razões apontadas para a participação merecem ser confrontadas com
a pertença associativa. Em que medida variam com o tipo de actividades
desenvolvidas? A relação factorial descrita no quadro abaixo apresentado revela
que os motivos de participação que reúnem mais expressão numérica se
encontram relacionados entre si e são comuns à maior parte das associações.
Assim, pode facilmente verificar-se que os motivos de convivialidade, de
altruísmo e de desenvolvimento pessoal, apontados como as principais razões
de participação (e cujo peso numérico está proporcionalmente representado pela
dimensão dos círculos), aparecem relativamente próximos uns dos outros. Esta
proximidade indicia que os indivíduos que pertencem às associações que
ocupam a mesma zona do gráfico escolhem preferencialmente um desses
motivos. Para a maior parte dos associados, as associações proporcionam
oportunidades de convivência e de conhecimento de pessoas, formas de ajudar
os outros e experiências novas. As outras razões de participação afectam um
número muito reduzido de associações. As motivações relacionadas com o
desejo de mudança social ou de protagonismo social mais intenso aparecem
apenas vinculadas de forma significativa aos partidos políticos. Os sindicatos e
as associações profissionais surgem associados a outra razão indicando que a
motivação para este tipo de participação é bastante específica e tem a ver, sem
dúvida, com a defesa de interesses específicos representados por essas
associações.
20
Razões da não participação
21
Razões para a não participação associativa
Não existem
16,8%
57,8%
S/ tempo livre
18,3%
Sem interesse
Outra (2,9%)
n=733
22
entusiasmo e interesse em cerca de metade dos jovens portugueses. Será por
causa de uma oferta desinteressante ou por uma tradição associativa que nunca
encontrou grande expansão na sociedade portuguesa?
23
O voluntariado juvenil
Trabalho voluntário
Sim, no último ano
10,3%
Sim, mais de 1 ano
3,8%
Não me envolvi
86,0%
24
actividades, são significativamente em menor número do que as verificadas a
propósito das pertenças e práticas associativas. Deste modo, a percentagem de
jovens que se envolveram em trabalho voluntário nos últimos três anos é de
14,1%. Restringindo o período abrangido aos últimos doze meses, verifica-se
que apenas um em cada dez mantém um papel activo.
A relação entre trabalho voluntário e pertença associativa pode ser vista
quer através do número de voluntários que indicaram pertencer a uma
associação quer através da referência aos grupos em que desenvolveram esse
trabalho. Considerando apenas os jovens actualmente voluntários, dois em cada
três indicaram pertencer a uma associação. Aparentemente, apenas um terço
realiza um trabalho voluntário sem subscrever uma pertença associativa. Por
conseguinte, parece seguro ver no voluntariado uma actividade essencialmente
associativa. E em que associações ou grupos surge mais desenvolvido?
Associações/grupos do voluntariado
Igreja/grupo relig.
Assoc. comunitária
Grupo artístico
Trab. infância/juven
Org. política
Org. ecológica
Grupo recreativo
Grupo local
Campanha de fundos
Outro
0 10 20 30 40 50
Valores absolutos
25
capacidade de mobilização anda em torno de 2%. A natureza das actividades
desenvolvidas é também muito diversa: artísticas, de apoio à infância e à
juventude, recreativas, acção local e campanhas de fundo. Por último surgem
referências a organizações de intervenção política e ecológica, responsáveis por
uma mobilização de expressão reduzida (abaixo de 1%).
Interrogados sobre o tempo dispendido por semana, mais de metade dos
voluntários declara ocupar em média menos de uma hora por dia. Para 22,3%
esse tempo médio pode variar entre 8 a 14 horas por semana, ou seja, entre
uma e duas horas por dia. Uma percentagem semelhante é referida pelos jovens
que ocupam mais de quinze horas semanais em actividades voluntárias.
Até 7 horas
55,5%
22,3%
8 - 14 horas
22,2%
Mais de 15 h
26
horas semanais, surgem apenas duas organizações: as ecológicas e as
associações comunitárias que proporcionam serviços sociais ou de saúde.
Igreja/grupo relig.
Assoc. comunitária
Grupo artístico
Trab. infância/juven
Organ. política
Org. ecológica
Grupo recreativo
Grupo local
Campanha de fundos
2 4 6 8 10 12
Média
27
propensão feminina encontrada neste inquérito é inferior à masculina, ainda que
a diferença não tenha significado estatístico (respectivamente, 14,2% e 13,8%).
Esta propensão similar não afasta a possibilidade de as diferenças de género se
manifestarem nas actividades que são exercidas. Haverá alguma tendência
diferenciada? A resposta é afirmativa, ainda que as diferenças sejam limitadas.
Se nas associações comunitárias, artísticas, educativas, locais ou nas
campanhas de recolha de fundos não se constatam grandes diferenças, existem
outras em que se verificam tendências divergentes. Duas delas apenas
merecem uma breve referência na medida em que se apoiam num número muito
limitado de respostas (inferior à dezena). São elas a intervenção ecológica e a
acção política, tendo a primeira preponderância masculina e a segunda feminina.
Se não fosse o limitado número de respostas a que se reportam, essas
diferenças (a confirmarem-se) poderiam ter implicações bastante mais
interessantes. Esse interesse é evidente em duas outras actividades em que se
observam também divergências acentuadas segundo o género, embora num
sentido mais convencional e, até certo ponto, expectável. Referimo-nos ao facto
de a presença feminina ser de longe superior à dos rapazes nas organizações e
grupos religiosos (68,6%, contra 31,4%), ocorrendo o inverso nas associações
recreativas (respectivamente, 23,5% e 76,5%). Há, por conseguinte, uma
tendência para o voluntariado religioso juvenil assumir uma conotação feminina
e o recreativo (e, de certo modo, mais lúdico) ter um peso mais masculino.
A referência às actividades religiosas femininas permite chamar a atenção
para o papel importante da religião enquanto alavanca do voluntariado.
Referimos há pouco a presença mais significativa das categorias católicos
praticantes e outra religião. Agora trata-se de sublinhar a propensão destes dois
grupos para se envolverem em actividades de ajuda aos outros. Do confronto
entre eles resulta claro que a propensão é muito mais elevada na segunda
categoria. Enquanto o peso dos jovens católicos (17,6%) não anda muito longe
da média de voluntários juvenis (14%), os jovens de filiação religiosa não
católica exibem níveis de militância bastante elevados (45%). Sem pretender
5
Apenas são consideradas as variáveis que apresentam significância estatística.
28
diminuir a propensão específica destes jovens para as actividades de
voluntariado, é necessário ter em conta que o seu número absoluto não
ultrapassa as duas dezenas, correspondendo a 2,1% da amostra, pelo que se
aconselha uma leitura prudente e relativa dos números apresentados que não
deve, evidentemente, ofuscar o resultado substantivo a que se chegou.
Quadro nº 3
Perfil sociográfico do voluntariado juvenil
Voluntariado Não Sim
Total 86,0 14,0
29
Resultado também surpreendente pelo acentuado desvio em relação ao
peso dos voluntários na população encontra-se no grupo de instrução média ou
superior. Com efeito, evidencia um peso (29,8%) muito acima da «média» do
voluntariado. Aliás, é interessante referir que o envolvimento altruísta está
bastante correlacionado com a educação. No nível de instrução mais baixo, a
percentagem de jovens é bastante inferior (7,9%) à média, igualando-a (14.9%)
no grupo imediatamente a seguir (ensino secundário ou equivalente), para se
distanciar, como vimos, no grupo mais instruído. É, portanto, claro que a
militância altruísta é um atributo da população mais instruída.
Um elemento que se pode articular, até certo ponto, à correlação entre
educação e voluntariado é a condição estudantil. De todas as condições
ocupacionais é a que apresenta um valor mais distanciado (19,2%), embora não
muito, em relação à «média», seguida da dos desempregados (17,5%), que
inclui também os que procuram o primeiro emprego. Ambas ocupações
contrapõem-se à condição de trabalhador, sugerindo que a disponibilidade
temporal, supostamente mais abundante naquelas duas condições, é um
elemento favorável ao envolvimento militante. Por outro lado, a condição
estudantil, sobretudo quando associada aos níveis de instrução mais elevados,
deve potenciar e acentuar esse envolvimento, justificando a propensão mais
elevada dos estudantes em comparação com a dos desempregados.
A disponibilidade (ou a falta dela) parece constituir um obstáculo para
outras situações. Se os investimentos profissionais, sobretudo no início da
actividade profissional, exigem uma focalização e uma concentração mais
exclusivas, a que se juntam também os empenhamentos conjugais e familiares,
as pressões sobre o tempo disponível que eles induzem podem inibir a eventual
realização de actividades de «tempos livres», nas quais se encontra a prática de
acções dirigidas aos outros. Por isso, não admira encontrar nos solteiros e nos
divorciados envolvimentos mais intensos do que nos jovens que vivem
conjugalmente. Mesmo que as diferenças não sejam particularmente
significativas, as três situações conjugais (casados pela Igreja, casados pelo civil
e situações de facto) apresentam percentagens inferiores à média da população
30
(14%), ou seja, respectivamente de 6,8%, 10,7% e 8,8%. Deste modo, a
condição conjugal e familiar, como a inserção profissional, mostra-se algo
refractária ao voluntariado, pelo menos durante o período juvenil.
Por último, uma palavra quanto à origem social dos voluntários. Três
classes apresentam valores superiores à média: burguesia (28,9%), nova
burguesia assalariada (21,8%) e pequena burguesia tradicional (18,8%). Destas
três classes provêm quase metade (44,5%) dos voluntários, número bastante
significativo se atendermos que o peso destas classes na amostra é de apenas
26%. Em termos gerais, fica assim demonstrado uma maior propensão por parte
dos jovens das classes médias para o voluntariado. Este resultado não pode
deixar de ser associado, como vimos, ao papel da educação superior, cuja
relação com as classes em causa é conhecido e evidenciado desde há muito
pela sociologia da educação.
Razões e motivações
31
Razões para o trabalho voluntário
100
80
valores absolutos
60
40
20
0
U
Pe
In
M
m
ter
elh
di
fa
fa
do
es
or
m
se
ar
de
ili
ili
pe
as
ar
ar
um
ss
oc
pr
oa
am
óx
ied
l
ig
im
ad
o
o
e
Adicionalmente à questão da motivação, inquiriu-se também a forma de
entrada no voluntariado. Em consonância com a principal motivação que faz
corresponder o voluntariado a um interesse pessoal, a iniciativa de contactar
com uma associação parte na maior parte das vezes do próprio (42,5%). Na
segunda posição (34,2%), aparece a influência de terceiros. Por vezes, a
iniciativa recai na organização que chama a si o processo de recrutamento. Este
processo é indicado por um em cada cinco jovens (19,9%).
40
30
%
20
10
0
Co
To
Um
Nã
m
nt
o
at
ei
m
ac
er
el
tar
ai
ce
em
ni
am
ira
ci
br
-m
ati
pe
o
e
va
sos
a
n = 137
32
Representações e atitudes
33
As pessoas estão mais ou menos
dispostas a ajudar os outros
60
50
40
30
20
Não voluntário
10 Voluntário
Mais Menos A mesma
34
morais em relação ao papel que os indivíduos devem assumir perante os outros,
em particular, os grupos socialmente mais vulneráveis, mas essa posição pode
também trazer implicitamente a crítica a um intervencionismo estatal, porventura
considerado excessivo e ineficaz.
80
60
%
40
20
Não voluntário
0 Voluntário
Às pessoas Ao governo
Conclusão
35
As razões da reduzida participação associativa estão, sem dúvida,
relacionadas com a capacidade da sociedade em promover comportamentos
colectivos e de cooperação, mas, no que concerne às variáveis exploradas,
verificou-se que a escolaridade, ou a falta dela, é uma das que mais contribui
para a explicar. Não fosse essa fraca participação, o associativismo mostraria
outra vitalidade, atendendo aos indicadores positivos relativos à frequência, às
contribuições financeiras e ao desempenho dos papéis de liderança por parte
dos jovens associados. Em alguns casos, a falta de estruturas, de equipamentos
ou de apoios retraem a procura associativa, mas é sobretudo a indisponibilidade
que, na opinião dos jovens, mais desmotiva a vinculação associativa.
Em termos da dimensão quantitativa, a prática do voluntariado alinha no
mesmo sentido do associativismo, ou seja, o envolvimento aponta para um
número relativamente modesto, afectando um em cada dez jovens. O
voluntariado dispersa-se por várias actividades em que se destacam as
associações de natureza comunitária e religiosa. A referência à religião é
importante para se caracterizar o perfil do jovem voluntário, mas outras variáveis
como a escolaridade, a condição estudantil e a origem social estão igualmente
presentes. O tempo dispendido em actividades voluntárias pode representar, em
média, entre uma ou duas horas diárias, e a razão que justifica a escolha destas
actividades parece residir num sentimento de responsabilidade perante si
mesmo e os outros. Com efeito, os voluntários apontam como principal razão o
interesse intrínseco que as actividades de ajuda aos outros lhes suscitam, mas,
simultaneamente, consideram seu dever agir no sentido da mudança social.
36
Voto, Simpatia Partidária e Socialização
A importância de votar
O voto é uma forma de participação política e cívica entre outras, mas que
continua a assumir muita importância para a maioria dos jovens. Como se
observa, cerca de metade dos jovens inquiridos (50,7%) considera o acto de
votar muito ou extremamente importante. Juntando os que o avaliam como
importante (37,1%) conclui-se então que são poucos aqueles que lhe atribuem
pouco ou nenhum valor (12,3%).
Numa escala de um a cinco, em que o valor mais pequeno corresponde a
uma desvalorização completa do voto e o mais elevado à sua valorização
máxima, a média da importância atribuída ao voto (3,59) varia significativamente
segundo o sexo e tende a aumentar de acordo com a idade, o nível de
habilitação escolar e a hierarquização social (Quadro nº 4). Do ponto de vista do
género, os homens revelam dar menos valor a este acto cívico (3,51), assim
como os mais jovens, entre os 15 e os 19 anos (3,44), os menos escolarizados
(3,30) e os de estatuto socioeconómico mais baixo, designadamente o salariato
37
manual e o não manual (3,47 e 3,5, respectivamente). Em sentido inverso, as
mulheres (3,66), os que têm entre 25 e 29 anos (3,73), que frequentam ou
frequentaram o ensino médio ou superior (4,08) e que pertencem, em particular,
à nova burguesia assalariada (3,98) consideram, em média, que é muito
importante votar.
A importância de votar
40
30
%
20
10
0
Extramamente Importante Nada
Muito Pouco
Quadro 4
A importância de voto, segundo as variáveis sociográficas (diferença de médias)
F (1, 994) = 4,541; p = 0,033 < 0,05
Masculino 3,51
Sexo
Feminino 3,66
Total 3,59
F (2, 994) = 6,219; p = 0,002 < 0,05 (G1≠G3)6
15-19 3,44
Idade 20-24 3,56
25-29 3,73
Total 3,59
F (2, 989) = 41,278; p = 0,000 < 0,05 (G1≠ G2, 3; 2≠G3)
Até ao ensino básico 3,30
Escolaridade Ensino secundáriote 3,72
Ensino médio ou superior 4,08
Total 3,59
F (5, 962) = 5,290; p = 0,000 < 0,05 (G2≠G4, 6)
Burguesia 3,76
Nova burguesia assalariada 3,98
Pequena burguesia tradicional 3,57
Classe
Salariato não-manual 3,51
Trabalhadores independentes 3,66
Salariato manual 3,47
Total 3,59
6
Grupos que são significativamente diferentes entre si (teste de Scheffé, p < 0,05).
38
Estes resultados revelam que a importância atribuída às eleições e, por
conseguinte, ao processo democrático formal, continua a ser grande, mesmo
que outras formas de participação política menos convencionais possam ser
utilizadas na defesa de causas mais específicas. Esse apoio ao processo
eleitoral tende a ser mais evidente à medida que a idade avança e a entrada da
vida adulta se estabelece, e é mais forte nos grupos sociais de níveis
socioeconómicos e de instrução mais elevados.
O significado de votar
Significado do voto
Uma obrigação
7,8%
Uma opção
Um direito
22,0%
40,3%
29,9%
Uma responsabilidade
39
básico ou equivalente) e pertencentes ao salariato manual, enquanto que os
mais escolarizados (ensino médio ou superior) e que se situam na nova
burguesia assalariada tendem a defini-lo como uma responsabilidade (Quadro nº
5). Refira-se ainda que os trabalhadores independentes são os que menos
afirmam que o voto é um direito, do mesmo modo que a definição do voto como
responsabilidade recebe pouca sustentação por parte dos jovens que integram a
classe social do salariato não-manual e dos que apresentam níveis de
escolaridade mais baixos.
Quadro nº 5
O significado do voto segundo a escolaridade e a classe social
Uma Uma Uma
Um direito Total
responsabilidade opção obrigação
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico equivalente 38,5 25,5 28,1 7,9 100,0
Ensino secundário ou equivalente 40,4 32,2 18,6 8,7 100,0
Ensino médio ou superior 44,2 37,4 12,9 5,5 100,0
Classe social (p=0,000)
Burguesia 41,9 34,4 15,1 8,6 100,0
Nova burguesia assalariada 44,9 37,8 11,8 5,5 100,0
Pequena burguesia tradicional 45,5 36,4 15,2 3,0 100,0
Salariato não-manual 41,6 26,7 22,9 8,7 100,0
Trabalhadores independentes 22,2 41,7 30,6 5,6 100,0
Salariato manual 37,7 28,5 25,6 8,2 100,0
40
A participação eleitoral
Não
42,8%
57,2%
Sim
n = 650
7
O primeiro Recenseamento Eleitoral deve ser feito obrigatoriamente com 18 anos de idade,
embora a Lei 13/99 de 22 de Março permita fazer o recenseamento eleitoral com 17 anos (art.º
35.º), ficando provisório até completar os 18 anos, dado que só poderá exercer o seu direito de
voto a partir dessa altura.
8
A abstenção oficial nas eleições legislativas de 2002 foi de 37,2% para o total da população
continental. (Fonte: STAPE).
41
claramente o peso explicativo da idade para a não participação politica,
revelando que são invariavelmente os mais jovens que menos comparecem aos
actos eleitorais.
Dado que o género constitui cada vez menos um indicador de integração
nas instituições da esfera pública devido à redução das desigualdades sociais
entre homens e mulheres no ensino e no mundo do trabalho, pouco surpreende
a inexistência de diferenças em termos da participação eleitoral (Quadro nº 6).
No entanto, outras diferenças podem ser observadas: verifica-se que são os
mais velhos (entre os 25 e os 29 anos), os níveis de escolaridade mais elevados
(ensino médio ou superior) e o grupos social da nova burguesia assalariada que
apresentam níveis de participação eleitoral mais elevados; em contrapartida, os
jovens de idade entre 20 e 24 anos, os níveis mais baixos de escolaridade e o
grupo do salariato manual ocupam posição inversa, ou seja, estão muito mais
representados na abstenção eleitoral .
Quadro nº 6
A participação eleitoral segundo a idade, a escolaridade e a classe social
Sim Não Total
Idade (p=0,000)
20-24 40,6 59,4 100,0
25-29 70,5 29,5 100,0
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico ou equivalente 45,9 54,1 100,0
Ensino secundário ou equivalente 59,1 40,9 100,0
Ensino médio ou superior 74,8 25,2 100,0
Classe Social (p=0,000)
Burguesia 65,0 35,0 100,0
Nova burguesia assalariada 74,8 25,2 100,0
Pequena burguesia tradicional 52,4 47,6 100,0
Salariato não-manual 56,7 43,3 100,0
Trabalhadores independentes 44,0 56,0 100,0
Salariato manual 47,1 52,9 100,0
42
jovens se debatem na transição para a vida adulta, designadamente na entrada
do mercado de trabalho e na vida activa. A transição para a vida adulta, que
inclui a aquisição e a expressão do entendimento politico e dos direitos, é,
comparativamente ao que ocorria em gerações anteriores, mais lenta, complexa
e feita num contexto de risco em que a transmissão do conhecimento sobre a
politica se realiza por meios muito distinto dos que existiam no passado. Por
exemplo, a inserção na vida activa em idades mais jovens permitia um contacto
mais precoce com a política por via do trabalho e da sindicalização. O crescente
afastamento do mundo de trabalho devido à escolarização da população jovem
pode explicar, em parte, a menor participação que se verifica actualmente nos
mais novos, observando-se uma mudança de comportamento a partir da idade
de 25 anos, altura em que aumenta a inserção na vida activa, sobretudo a dos
jovens de níveis de escolaridade mais elevados e que pertencem aos estratos
socioeconómicos mais altos. No entanto, a hipótese de que os jovens se
interessariam mais pelos assuntos, instituições e processos relacionados com a
política e estariam mais motivados para se envolverem e participarem
activamente, nomeadamente através das eleições, quanto mais inseridos se
encontrassem na vida activa e mais estabilizadas estivessem as suas
trajectórias familiares e profissionais, não pode ser sustentada a partir da base
empírica aqui proporcionada.
A distribuição eleitoral
43
ou em branco assume ainda alguma expressão (6,4%). Contabilizando o total
dos votos e dividindo-os pela tradicional clivagem ideológica entre a esquerda e
a direita, constata-se que a grande maioria dos jovens se coloca à esquerda:
60,1%, votaram num dos três partidos mais à esquerda do continuum político,
contra 33,1% que optaram por um dos dois à direita. Este facto torna-se
particularmente mais significativo quando é sabido que o PSD venceu as
eleições legislativas de 2002, juntando-se posteriormente ao CDS/PP para
formarem uma coligação governativa de centro/direita.9
Distribuição eleitoral
PSD
PS
PP/ CDS
PCP
Bloco de esquerda
Outro
Nulo / em branco
0 10 20 30 40 50
9
Resultados eleitorais oficiais para o total da população continental votante nas legislativas de
2002: PSD - 40,5%; PS - 38,8%; CDS/PP - 8,8%; PCP/PEV – 7,3%; BE – 2,9%; Outros - 1,6%;
Brancos e Nulos – 1,9% (Fonte: STAPE).
44
nova burguesia assalariada que registou a mais baixa votação neste partido
político (16,4%). O PCP colheu a preferência, comparativamente com os
restantes partidos, do salariato manual (13,3%) e dos trabalhadores
independentes (25%), enquanto o BE atingiu a expressão eleitoral mais elevada
nos jovens que pertencem à nova burguesia assalariada (16,4%).
Quadro nº 7
Distribuição eleitoral segundo a escolaridade e a classe social
Nulo /
PP/
BE PCP PS PSD Outro em Total
CDS
branco
Escolaridade (p=0,050)
Até ao ensino básico 4,7 8,2 54,1 22,4 2,4 0 8,2 100,0
Ensino secundário 8,3 4,8 38,1 42,9 3,6 ,0 2,4 100,0
Ensino médio ou superior 11,8 7,1 42,4 22,4 5,9 1,2 9,4 100,0
Classe social (p=0,003)
Burguesia 11,8 5,9 50,0 23,5 5,9 0,0 2,9 100,0
Nova burguesia assalariada 16,4 1,8 54,5 16,4 0,0 1,8 9,1 100,0
Pequena burguesia tradicional 0,0 0,0 12,5 87,5 0,0 0,0 0,0 100,0
Salariato não-manual 6,7 5,6 38,2 34,8 5,6 0,0 9,0 100,0
Trabalhadores independentes 12,5 25,0 12,5 37,5 12,5 0,0 0,0 100,0
Salariato manual 0,0 13,3 53,3 26,7 3,3 0,0 3,3 100,0
Foi também pedido aos jovens que indicassem os dois aspectos que mais
influenciam a sua decisão de votar num determinado partido.10 De acordo com
os resultados apresentados, os factores que, em primeiro lugar, mais pesam no
sentido do voto são o programa do partido ou da coligação (20%) e a
experiência e a competência dos candidatos (19,5%). Seguidamente surge a
sinceridade e a honestidade dos candidatos (16,4%) e a simpatia ou a
identificação partidária (16,3%). A abordagem dos temas na campanha eleitoral
(14,2%) é o quinto aspecto mais relevante, seguindo-se a figura do partido
(7,8%). Por fim, a acção do partido em funções governativas (5,2%) e o
10
Desta análise foram excluídos os inquiridos que responderam que não têm idade para votar ou
não estão recenseados (6,3%), que não costumam ir votar (6,3%) ou que votam em branco
(0,4%), que não souberam (8,6%) ou não quiseram responder (6,9%) a esta questão («Quando
considera a possibilidade de votar num determinado partido, qual o aspecto que mais influencia
a sua decisão? E a seguir?».
.
45
argumento de que se vota num partido por ser simplesmente de oposição ao
governo (0,7%) são motivos que pouco influenciam as escolhas.
Como segundo aspecto mais determinante na escolha eleitoral surgem
nas posições cimeiras a experiência e a competência dos candidatos (18,9%),
os temas que são abordados nas campanhas (17,3%) e ainda a sinceridade e a
honestidade dos políticos (16,6%). Secundariamente, são também apontadas
razões como o programa do partido ou da coligação (13,4%), a simpatia ou a
identificação partidária (12%) e só depois a figura do líder do partido (10,3%) e a
acção do partido no governo (8,5%). A oposição do partido ao governo soma
apenas 2,9%.
0 5 10 15 20
Em 1º lugar %
Em 2º lugar
46
enquanto a experiência e a competência dos candidatos são sobretudo tidas em
consideração pelos jovens pertencentes ao salariato manual e pelos que têm
entre 25 e 29 anos. A simpatia e a identificação partidárias são factores de
influência para a burguesia (e menos para o salariato não manual), enquanto a
figura do partido é saliente para o salariato manual. Os temas que são
abordados na campanha eleitoral são relevantes sobretudo para os mais jovens
de idade inferior a 20 anos (ao contrário dos mais velhos que pouca importância
dão a este aspecto) e a acção do partido no governo assume relevância na faixa
etária seguinte (20 aos 24 anos) e no grupo dos trabalhadores independentes.
Quadro nº 8
Aspectos que influenciam o voto segundo a idade e a classe social
I II III IV V VI VII VIII Total
Idade (p=0,038)
< 19 11,9 22,0 16,4 18,9 5,7 20,8 3,8 0,6 100,0
20-24 17,0 20,8 17,0 15,4 7,7 14,7 7,3 0,0 100,0
25-29 17,9 18,2 23,1 16,2 9,1 10,4 3,9 1,3 100,0
Classe social
(p=0,000)
Burguesia 30,0 21,4 12,9 12,9 4,3 11,4 4,3 2,9 100,0
NBA 18,9 24,3 16,2 14,4 6,3 16,2 1,8 1,8 100,0
PBT 13,6 50,0 13,6 0,0 0,0 18,2 4,5 0,0 100,0
S. não-manual 11,5 16,6 24,7 18,0 7,5 16,6 4,7 0,3 100,0
Independentes 17,4 26,1 8,7 4,3 4,3 17,4 21,7 0,0 100,0
Sal. manual 18,2 16,6 17,6 19,8 11,8 10,7 5,3 0,0 100,0
I – A simpatia ou a identificação partidária V – A figura do líder do partido
II – O programa do partido ou da coligação VI – Os temas que são abordados na campanha
III – A experiência e a competência dos candidatos VII – A acção do partido no governo
IV – A sinceridade e a honestidade dos candidatos VIII – A oposição do partido ao governo
A intenção de voto
11
As eleições legislativas imediatamente posteriores à aplicação do inquérito datam de 20 de
Fevereiro de 2005 que, por terem sido convocadas antecipadamente, não estavam ainda em
perspectiva quando a questão foi colocada.
47
votar e 12,2% que é pouco provável que o façam. Estes resultados indicam
novamente uma taxa de abstenção elevada dada a pré-disposição para não
votar, desde já, de um número significativo de indivíduos, juntando-se, na altura
das eleições, outros que por motivos circunstanciais optarão também pela
abstenção eleitoral.
40
30
%
20
10
0
Q
N
ua
ão
pr
po
se
ov
uc
áv
de
o
pr
el
c
er
ová
te
v
z
a
el
As razões da abstenção
48
Razões da abstenção eleitoral
Não recenseado
S/interesse político
Sem oportunidade
Nada de importante
Outros motivos
0 10 20 30 40
S/ interesse no voto
Outras
0 10 20 30 40 50
49
opinião, leva os jovens a não votarem. Mais de um terço (34,3%), atribui ao facto
de este grupo etário pensar maioritariamente que o voto não leva a nada. A falta
de gosto pela política é a segunda explicação, avançada por 20,9%. Na terceira
posição aparecem duas razões: a falta de informação sobre os partidos e
candidatos políticos e a percepção de que não há grandes diferenças entre eles
(13,1% e 12,2%, respectivamente). O não recenseamento e a forma como as
campanhas são feitas, que levam ao desinteresse pelo voto, totalizando,
respectivamente, 7,5% e 6,1%, são os dois motivos que ocupam a quarta
posição. Por fim, na última posição, já com pouca expressão numérica, surgem
os argumentos da contestação ao poder político, em que a abstenção eleitoral é
entendida como uma forma de protesto (3,6%), e da falta de tempo, que impede
os jovens de exercerem o seu direito de voto devido a terem vidas muito
ocupadas (2,3%).
Não há diferenças
Pouco informados
Sem recenseamento
Vidas ocupadas
Fora da política
Forma de protesto
Campanhas s/estímulo
0 10 20 30 40
50
candidatos é a razão mais apontada entre os que têm 25 e 29 anos e que
frequentam ou frequentaram o ensino superior. O motivo do não recenseamento
está mais representado nos mais jovens, nos que frequentam ou frequentaram
os níveis de escolaridade mais baixos e nos grupos do salariato não-manual e
da pequena burguesia tradicional; em contraposição aos mais velhos, aos níveis
mais elevados de ensino e aos grupos mais «burgueses». A forma como as
campanhas são feitas tem o acordo, em particular das mulheres, do grupo etário
entre 25 e 29 anos e dos grupos sociais da nova burguesia assalariada e da
pequena burguesia tradicional, ao invés das mulheres pertencentes ao salariato
manual que são as que menos assinalam este motivo. Por fim, a abstenção
eleitoral como forma de protesto recolhe a concordância sobretudo das
mulheres.
Face aos resultados encontrados, pode concluir-se que o sistema político
parece não conseguir captar grande atenção dos jovens, afastando-os, assim,
do envolvimento partidário e eleitoral. Este afastamento pode estar também
relacionado com a evolução que a acção política tem conhecido no sentido da
adopção de métodos de marketing cada vez mais centralizados, orientados
sobretudo para grupos chave de eleitores e visando a maximização dos
resultados eleitorais. As estratégias dos partidos políticos têm vindo a privilegiar
as faixas etárias mais velhas e as classes médias, pelo que os votantes mais
jovens podem não se reconhecer suficientemente nos discursos e nas intenções
políticas gerais difundidos pelos partidos políticos. É possível que as suas
expectativas não estejam a receber a atenção que provavelmente se exigiria.
Além disso, na condução das estratégias eleitorais de maximização de votos
(catch-all), os partidos políticos tornaram-se crescentemente pragmáticos e são
vistos como desprovidos de ideais que os distingam dos seus adversários. Tudo
isto pode estar a contribuir para que os jovens concluam que os partidos
políticos são distantes e irrelevantes com poucas diferenças entre si, que a
política é pouco interessante e que o voto não leva a nada. Se assim for, pode
dizer-se que as estratégias partidárias não têm sido suficientemente
incentivadoras da participação e do gosto pela política.
51
Quadro nº 9
Razões da abstenção eleitoral juvenil segundo o sexo, idade,
escolaridade e classe social
I II III IV V VI VII VIII Total
Sexo (p=0,002)
Masculino 11,0 11,8 7,3 3,0 36,0 24,4 2,2 4,3 100,0
Feminino 13,6 14,5 7,5 1,5 32,5 17,4 5,0 8,0 100,0
Idade (p=0,001)
15-19 7,4 15,5 11,3 1,8 35,0 21,9 3,2 3,9 100,0
20-24 10,4 12,2 7,4 3,3 34,5 23,2 3,6 5,4 100,0
25-29 17,7 11,7 4,9 2,0 33,4 18,0 3,7 8,6 100,0
Escolaridade
(p=0,016)
Ensino básico 8,9 14,5 9,8 2,2 31,5 23,3 3,4 6,3 100,0
Ens. Secund. 13,7 12,6 6,7 2,8 35,8 20,4 3,6 4,5 100,0
Médio/superior 17,6 10,7 3,1 1,3 38,4 15,7 4,4 8,8 100,0
Classe social
(p=0,000)
Burguesia 13,2 16,5 2,2 4,4 29,7 24,2 5,5 4,4 100,0
NBA 16,3 13,0 1,6 0,8 43,1 10,6 3,3 11,4 100,0
PBTl 3,1 12,5 18,8 6,3 18,8 21,9 3,1 15,6 100,0
Não-manual 10,5 13,4 11,0 1,3 32,8 20,2 2,9 7,9 100,0
Independentes 18,9 5,4 10,8 5,4 32,4 18,9 8,1 0,0 100,0
Sal. manual 12,7 12,7 5,8 3,3 34,8 25,7 2,9 2,2 100,0
I – Não consideram haver uma grande diferença entre os IV – Têm vidas muito ocupadas
partidos e candidatos V – O voto não leva a nada
II – Não têm informação suficiente acerca dos partidos e VI – Não gostam de política
candidatos VII – Não irem votar é uma forma de protesto
III – Muitos deles ainda não se recensearam VIII – A forma como as campanhas são feitas leva ao
desinteresse pelo voto
52
metade dos inquiridos, mostram que os jovens tendem a posicionar-se à
esquerda do espectro político.
Simpatia partidária
60
50
% 40
30
20
10
0
PSD PP/ CDS Bloco de esquerda Nenhum
PS PCP Outro
53
qualquer formação política. O CDS/PP é escolhido em particular pelos jovens
pertencentes à burguesia.
Quadro nº 10
Simpatia partidária segundo a idade, escolaridade e classe social
Sem
PP/
BE PCP PS PSD Outro simpati Total
CDS
a
Idade (p=0,000)
15-19 5,4 1,6 12,8 9,3 0,4 0,8 69,8 100,0
20-24 7,6 3,6 18,2 18,2 1,7 1,0 49,8 100,0
25-29 9,1 3,8 30,7 15,0 1,0 0,0 40,4 100,0
Escolaridade (p=0,000)
Até ao ensino básico ou equivalente 3,5 2,0 22,2 11,0 0,7 0,7 59,9 100,0
Ensino secundário 11,0 2,9 15,2 18,1 1,0 0,0 51,9 100,0
Ensino médio ou superior 11,9 5,2 30,6 15,7 2,2 1,5 32,8 100,0
Classe social (p=0,000)
Burguesia 12,2 2,4 20,7 14,6 3,7 1,2 45,1 100,0
Nova burguesia assalariada 17,3 2,9 32,7 11,5 0,0 0,0 35,6 100,0
Pequena burguesia tradicional 3,4 3,4 13,8 27,6 0,0 0,0 51,7 100,0
Salariato não-manual 5,8 2,6 17,5 14,6 0,9 0,6 58,0 100,0
Independentes 22,6 6,5 9,7 16,1 3,2 0,0 41,9 100,0
Salariato manual 3,4 3,8 24,5 13,5 0,8 0,4 53,6 100,0
54
dos modelos de identificação parental, sobretudo em politica, a transmissão
entre gerações continua eficaz. Mas essa eficácia não impede que o lugar da
politica na família tenha vindo a mudar, não se revestindo hoje da mesma forma
e dos mesmos conteúdos que tinha no passado, existindo actualmente uma
maior desdramatização e banalização, em parte explicável pela presença
massiva dos media e pela mudança das relações interpessoais no sentido de
uma maior tolerância e permissividade no seio familiar. A própria conjuntura
actual, não sendo particularmente favorável ao desenvolvimento da participação
e de atitudes positivas face ao sistema político, tem também conduzido ao
enfraquecimento da percepção das questões políticas quer nos jovens, quer nos
pais.
A transmissão dos valores no âmbito familiar está assim sujeita a
pressões de mudança e a influência que resulta pode ser de natureza mais
afectiva do que cognitiva. Mas, ainda assim, essa transmissão é um apoio
importante que permite estabelecer uma ancoragem e situar politicamente os
indivíduos. A família pode representar uma primeira mediação para um dos
campos do espectro político-ideológico em termos de esquerda e direita, ou
provocar um afastamento ou recusa da política. Em qualquer dos casos,
influencia decisivamente as condições do encontro com a política.
Restringindo a influência familiar aos progenitores, perguntou-se aos
jovens a preferência ideológica do pai e da mãe, utilizando a habitual clivagem
entre esquerda e direita. Desde logo, é possível observar que o conhecimento
(ou falta dele) do posicionamento político do pai e da mãe é muito idêntico: perto
de metade dos jovens inquiridos confessa não saber politicamente situar
nenhum deles (cerca de 41%).
Dos que afirmam saber, a maioria refere que os pais são tendencialmente
mais de esquerda (25,4% para o pai e 23,8% para a mãe), dividindo-se depois
quase de igual modo os que mencionam que os pais são de direita e os que não
são nem de esquerda nem de direita, com as percentagens a rondar 18%,
embora, nesta última categoria, a percentagem relativa ao pai apresente um
valor mais baixo (15,5%). Apesar de as diferenças registadas serem pequenas,
55
pode constatar-se, ainda assim, que o pai em relação à mãe tende a definir-se
mais vincadamente em torno de um dos pólos ideológicos, enquanto a mãe
tende a uma posição mais neutra.
50,0
40,0
P ai
30,0
Mãe
%
20,0
10,0
0,0
Mais de esquerda Mais de direita Nem de esquerda Não sabe
nem de direita
56
Quadro nº 11
Tendência ideológica do pai e da mãe segundo a simpatia partidária dos jovens
Conclusão
57
Quanto ao posicionamento político-ideológico, os resultados indicam que
existe uma certa tendência por parte dos jovens para se posicionarem mais à
esquerda do espectro político, consubstanciada na declaração de voto nas
eleições legislativas de 2002, em que os três partidos mais esquerda (BE, PCP e
PS) recolheram a preferência da maioria dos eleitores de idade inferior a 30
anos. Apesar de a simpatia e a identificação partidárias condicionarem o
exercício do voto, os factores que mais pesam, em primeiro lugar, no momento
da votação são o programa do partido ou da coligação e a experiência e a
competência dos candidatos, enquanto a figura do partido, a acção do partido no
poder e o argumento de que se vota num partido por ser simplesmente da
oposição são motivos que pouco contam.
Os resultados sugerem também que as escolhas e os comportamentos
políticos podem ser em grande medida influenciados pelo espaço de discussão
política que a família proporciona, atendendo a que existe uma correspondência
significativa entre o posicionamento politico-ideológico dos jovens, ou a falta de
interesse pela política, e o dos seus progenitores.
58
A acção política e a mobilização cognitiva
59
As restantes actividades revelam uma capacidade de mobilização actual
abaixo de 10%. No entanto, se agregarmos a participação actual e a passada,
algumas delas, atingem valores bastante expressivos. A que surge na primeira
posição é a prática da greve: três em cada dez jovens já recorreram a este meio
de luta, um quarto dos quais no decurso do último ano (6,7%). Visando
influenciar o curso dos acontecimentos políticos, a participação em
manifestações e em acções de protesto atraem ou atraíram um quarto do nosso
universo. Um pouco mais atrás em termos de capacidade de mobilização,
atingindo um quinto dos jovens, surge a prática de boicote à compra de produtos
de consumo por razões de natureza política, ética ou ambiental. Esta última, é a
que atinge, neste conjunto de actividades que estamos a comentar, a expressão
mais elevada no último ano (7,2%), reflectindo não só o carácter mais recente
desta forma de protesto mas também o eco que encontra junto dos sectores
juvenis. Por último, na lista das actividades que ultrapassam a fasquia de 10%,
aparece a ida a um comício político. Não chegam a 15% os jovens que declaram
já ter participado nesta acção política, e o número dos que o fizeram no último
ano é irrisório (2,3%), tanto mais quando nesse ano se verificou um processo
eleitoral. Este dado converge no sentido da argumentação de que se assiste
hoje em dia nas sociedades democráticas a um declínio da participação dos
cidadãos que se reflecte também na capacidade de mobilização dos
protagonistas políticos.
O grupo das actividades menos participadas diz respeito a acções que
exigem mais iniciativa ou um desempenho mais activo, como distribuir
propaganda partidária (8,8%), contactar um político para expressar uma opinião
(7,3%) e manifestar opiniões de forma pública, seja através da Internet ou de
grupos de discussão política (6,7%) ou ainda através da comunicação social
(5,2%). Se o número de jovens alguma vez envolvidos nestas actividades é
bastante pequeno, em termos de prática actual, ou seja, no decurso dos últimos
doze meses, desce a valores quase residuais: não vão além de três, em cada
cem, os jovens que as referem. Atendendo à natureza activa e empenhada
60
destas actividades, a reduzida expressão reflecte assim o efeito refractário que
parece afectar presentemente a esfera política da sociedade.
A tese do declínio da participação na esfera pública e política pressupõe
uma situação anterior em que os cidadãos manifestavam mais empenhamento
nos destinos e no funcionamento da democracia. Ainda que nem sempre seja
fácil fundamentar quantitativamente a evolução da participação política,
sobretudo quando se aumenta o arco temporal, pode aventar-se a hipótese de
que certas conjunturas passadas, como o período da transição democrática,
suscitaram mais interesse e empenhamento activo pelos assuntos políticos do
que o actual momento histórico. Os níveis baixos de participação que de forma
geral temos vindo a observar não constituem necessariamente uma tendência
irreversível nem estão condenados a permanecer. Por conseguinte, fazia todo o
sentido inquirir os jovens sobre a possibilidade de poderem vir a envolver-se nas
actividades descritas. Ou seja, tratava-se de descobrir o potencial de
mobilização e de disposição para a acção.
De forma algo surpreendente, verifica-se que a maioria dos que nunca
tomaram parte em iniciativas e acções políticas admite vir a fazê-lo. É certo que
certas actividades são mais atractivas do que outras, mas pelo menos metade
dos jovens reconhecem a possibilidade de desencadearem as acções descritas.
Esta elevada capacidade potencial contrasta com a participação real moderada
ou baixa, mas, em todo o caso, contraria a ideia de que a juventude vive num
estado de passividade endémica que os imobilizaria numa redoma individualista
e os afastaria definitivamente da esfera pública. Os resultados obtidos sugerem
que a participação não é apenas uma questão dependente da decisão ou da
vontade individuais, sendo a oportunidade tanto ou mais importante do que a
motivação pessoal. Possivelmente os jovens não encontram os canais
adequados de participação para poderem expressar a capacidade de acção
potencial que revelam possuir. Há também sinais claros de que caso venham a
concretizar essa capacidade haverá certamente canais e domínios preferenciais.
Por exemplo, as actividades que suscitam o maior número de recusas, sendo,
por isso, menos susceptíveis de produzirem mobilização, são as que envolvem
61
os canais mais convencionais: fazer propaganda partidária (34,7%) e ir a um
comício político (31,1%). Estes indicadores deixam antever que a mobilização
política se faz mais em torno de uma acção concreta e, possivelmente,
associada a temas ou interesses que escapam ou não são contemplados pelos
processos de representação formal.
Quadro nº 12
Acções e iniciativas políticas
Fez no Fez Admite Nunca
Acções de natureza política realizadas último antes fazer
ano
Assinar uma petição ou um abaixo-assinado 10,3 22,1 58,2 9,4
Boicotar ou comprar por razões políticas/éticas/ambientais 7,2 13,4 62,3 17,1
Participar em manifestações ou acções de protesto 5,4 19,8 60,3 14,6
Ir a um comício político 2,3 12,3 54,3 31,1
Participar em greves 6,7 21,8 57,5 14,0
Contactar ou tentar contactar um político 2,9 4,4 69,9 22,8
Dar dinheiro ou recolher fundos para uma actividade social 14,4 26,6 53,4 5,6
Contactar comunicação social para expressar opiniões 1,4 3,8 70,5 24,3
Participar num fórum político 2,1 4,6 65,7 27,6
Divulgar propaganda partidária 2,3 6,5 56,5 34,7
62
intensidade da participação que os diferencia mas a natureza da acção que
pressupõem. Verificou-se que as actividades menos mobilizadoras tendem a
assumir uma acção mais organizada e colectiva. Em contraponto, as actividades
que integram o outro grupo tendem a exibir acções de natureza mais
individualista, ainda que possam depender de iniciativas organizacionais. Por
exemplo, assinar uma petição, fazer donativos, boicotar ou comprar
determinados produtos ou realizar uma acção de protesto pressupõem,
evidentemente, a existência de um esforço colectivo minimamente organizado,
mas a participação nessas acções depende apenas da decisão de cada um, não
sendo necessário estar vinculado ou mesmo identificar-se com as organizações
que as promovem. A participação é, nestes casos, um acto meramente individual
dependendo da oportunidade ou do conhecimento da iniciativa.
À luz deste duplo sentido da participação política, ou seja, entre acções
de natureza individualista ou colectiva, é fácil concluir que as primeiras estão
bastante mais representadas. Sem entrar agora no aspecto quantitativo, é
possível sublinhar, desde já, que, além do tão apregoado declínio da
participação, o envolvimento político dos jovens tende a ser mais caracterizado
por acções individuais do que colectivas. O individualismo não se reflecte
apenas na retracção em relação ao espaço público e no tipo de acção que nele
é exercida, mas também no facto de a acção se manifestar tendencialmente
através de movimentos e iniciativas esporádicas, em vez do exercício regular
dos mecanismos institucionais de participação.
Quadro nº 13
Tipos de acção política
Análise factorial dos indicadores de acções políticas Acções Acções
individualistas Colectivas
Assinar uma petição ou um abaixo-assinado ,662 ,149
Boicotar/comprar p/ razões políticas/éticas/ambientais ,592 ,155
Participar em manifestações ou acções de protesto ,727 ,154
Ir a um comício político ,256 ,507
Participar em greves ,631 ,155
Contactar ou tentar contactar um político ,282 ,604
Dar dinheiro/recolher fundos p/ uma actividade social ,571 ,062
Contactar comunicação social p/ expressar opiniões ,061 ,657
Participar num fórum político ,046 ,694
Divulgar propaganda partidária ,126 ,654
Análise factorial de componentes principais com rotação Varimax.
63
Variações na participação política
64
Mas, qualquer que seja o critério temporal usado, sobressaem duas
conclusões. A primeira destaca o alheamento do exercício da cidadania política
de uma parte bastante significativa dos jovens; a segunda, aponta para a
existência de vários níveis de envolvimento, que nunca atingem, mesmo no
grupo mais activo, expressões muito intensas, na medida em que o número de
acções assinalado é algo limitado, considerando o tipo de acções e os períodos
de tempo em causa.
60 30
%
%
40 20
20 10
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 9 10 0 1/2 3 ou mais
65
efeito significativo. A observação das percentagens mostra uma participação
ligeiramente superior nas mulheres e nas categorias conjugais casados
civilmente e divorciados/separados, mas, como indica a medida de associação
usada (V de Cramer), a diferença não tem grande significado. Vejamos, então,
as variáveis que assumem um papel mais diferenciador, referindo primeiramente
o efeito dessas variáveis no grupo dos jovens passivos e ponderando depois as
diferenças entre a participação baixa e a moderada ou elevada.
De uma forma geral, pode dizer-se que a participação tende a crescer
segundo a idade, os níveis de escolaridade, o status social e a inserção
ocupacional (Quadro nº 14). O efeito da idade revela-se nos jovens passivos
pela maior representatividade do grupo mais novo (38,1%) quer em relação ao
mais velho (30,2%), quer em relação ao peso que o grupo mais novo assume
nos jovens mais activos (19,3%). Neste nível de participação, os mais velhos
atingem um peso bastante mais elevado (42%). Seja qual for a idade
considerada, verifica-se sempre um movimento linear, pelo que a participação
aumenta com a idade. Aos mais novos corresponde uma participação nula ou
muito reduzida, ao grupo de idade intermédia encontra-se associada uma
participação baixa que passa a moderada e alta na população mais velha.
Associados em parte à idade, sobretudo no que respeita aos jovens mais
novos, os níveis de escolaridade revelam um padrão similar ao comportamento
etário. Os menos instruídos mostram-se menos aptos a intervir,
independentemente do facto de muitos deles serem também mais novos. A
escolaridade é normalmente considerada um indicador fundamental na
explicação da participação social e política. O entendimento do mundo é uma
condição necessária para agir sobre ele, pelo que a relação entre escolaridade e
participação é positiva. Os dados recolhidos vão nesse sentido. Os níveis baixos
de escolaridade estão bastante associados à passividade, representando 58,7%
dos indivíduos cuja participação é nula, quando, no grupo mais activo, cai para
menos de metade desse valor (26,6%). Contrastantes são também os números
da distribuição do ensino superior, sendo, no grupo mais participativo, quase
cinco vezes superior (32,8%) ao de participação nula (7,1%). De notar que o
66
ensino médio tende a aproximar-se do valor médio, ou seja, não se desvia muito,
nem para cima nem para baixo, do peso que possui na população, pelo que
associação entre educação e participação se fica a dever ao comportamento dos
níveis educacionais extremos. Ou seja, o ensino superior potencia
consideravelmente a participação e a baixa escolaridade exerce uma acção
fortemente inibidora, pautando-se o ensino médio por um efeito mais ou menos
neutro. É precisamente a forte presença do ensino superior (e,
consequentemente, a reduzida expressão dos níveis baixos de escolaridade)
que marca a diferença entre os jovens mais activos e menos activos, tornando a
escolaridade uma variável bastante mais crítica do que a idade na explicação da
participação política dos jovens.
Do ponto de vista ocupacional, o principal aspecto que importa referir é a
oposição entre, por um lado, estudantes e trabalhadores, e, por outro,
desempregados e outras categorias ocupacionais (em que predominam as
ocupações domésticas). Por conseguinte, o tipo de inserção social parece
exercer um efeito sobre a participação que se manifesta na condição mais
passiva ou menos participativa dos jovens não inseridos nas duas grandes
esferas da actividade social: a escola e o trabalho. Com efeito, os
desempregados e os que integram a ocupação outra aparecem
proporcionalmente mais representados nos grupos de participação nula e baixa.
Neste sentido, estes dois grupos aproximam-se entre si e distanciam-se do
grupo de participação mais elevada, que, além da presença menos expressiva
dessas duas categorias ocupacionais, se caracteriza ainda por uma
representação mais elevada de estudantes. A categoria estudantil apresenta-se
ligeiramente mais favorável à participação do que a de trabalhador, mas o efeito
da ocupação fica sobretudo marcado pelo papel inibidor que as inserções menos
sujeitas a processos de socialização exercem sobre a mobilização e acção
juvenis.
Por último, a participação também surge condiciona pela classe social. A
comparação entre os dois níveis extremos de participação mostra um
protagonismo mais activo por parte dos grupos de status social mais elevado,
67
designadamente na burguesia e na nova burguesia assalariada, enquanto os
assalariados manuais se caracterizam por uma passividade bastante acentuada.
Deste modo, os territórios da participação parecem claramente delimitados por
fronteiras sociais, indiciando que a qualidade e a quantidade dos recursos que
cada grupo social é capaz de mobilizar tendem a incentivar ou a inibir a tomada
de posição ou a expressão de opiniões no domínio público. Recursos como a
natureza das capacidades cognitivas, a acessibilidade e as oportunidades de
intervenção pública e o sistema de motivações e de incentivos que acompanham
as acções e orientações dos indivíduos surgem assimetricamente distribuídos
pelo espaço social, condicionando o uso e a expressão da participação.
Quadro nº 14
Perfis sociográficos das actividades de natureza política não institucional
Participação Participação Participação
nula reduzida moderada ou Total
elevada
68
A mobilização cognitiva pela política
69
grande atenção, revelando uma atitude de acompanhamento distanciado e de
reduzido envolvimento.
40
30
%
20
10
0
Muito Algum Pouco Nenhum
70
discute seja com amigos (36%) ou com a família (35,1%). Para um terço dos
jovens, a política ou é «tabu» ou não é objecto da comunicação interpessoal.
40
30
30
%
%
20
20
10
10
0 0
Nunca Raramente Algumas Muitas Nunca Raramente Algumas Muitas
71
Em resumo, a mobilização que a discussão de assuntos políticos exerce
tende a acentuar ligeiramente as posições extremas, entre os que gostam muito
de discutir política e os que a rejeitam como tema de conversa, não revelando
qualquer diferença comunicacional entre a família e os amigos.
Outro indicador do interesse que os assuntos políticos suscitam encontra-
se no grau de persuasão que os inquiridos empregam no sentido de
convencerem as pessoas com quem discutem a aceitarem os argumentos e as
posições que defendem ou até a mudarem de opinião. Esta pergunta surge no
questionário para avaliar a intensidade do envolvimento e do empenho que
colocam na discussão política. Se a discussão é em si mesma um indicador de
interesse, o empenho persuasivo constitui uma medida bastante mais apurada,
permitindo inclusive avaliar até que ponto a discussão política é vivida como
«paixão», ou seja, não apenas como uma troca cognitiva mas também
emocional. As respostas analisadas anteriormente cerceiam fortemente a
possibilidade de a comunicação política ser vivida como «paixão» de forma
generalizada. Como vimos, para parte significativa dos jovens nem se pode falar
da existência de comunicação política, na medida em que pura e simplesmente
não a discutem. Para os outros, cuja capacidade comunicacional é variável,
manifestar-se-ão de forma intensa e empenhada na discussão ou manterão
apenas uma postura de fraco envolvimento emocional? E haverá alguma relação
entre a frequência do envolvimento discursivo e o empenho e persuasão que
colocam nas discussões?
Embora o gráfico não possa mostrar, é de imaginar que a frequência da
discussão induza um maior recurso à persuasão. O empenho na discussão faz
com que se procure convencer os outros das razões que a sustentam. Olhando
para a distribuição não parece que o uso da persuasão seja mais frequente do
que a própria discussão.
Começa-se, evidentemente, por ter de se excluir os jovens que
normalmente não discutem, porque, neste caso, não faz sentido perguntar se
recorrem à persuasão em discussões em que não participam. Mas, mesmo
assim, é de assinalar o facto de o número dos que dizem nunca usar a
72
persuasão (41,8%) ser superior ao dos que não participam em discussões. Esta
diferença mostra que alguns jovens, provavelmente os que discutem menos
frequentemente, não colocam grande empenho persuasivo nas discussões,
indiciando um envolvimento pouco intenso com o domínio político.
40
30
%
20
10
0
Muitas Algumas Raramente Nunca
73
É evidente que a política, como qualquer outro assunto, não pode exercer
uma atracção universal, havendo naturalmente um escalonamento em função do
grau de interesse. No entanto, a política não é um tema como qualquer outro, a
que se adira por mera curiosidade ou motivação intelectual. O interesse pela
política não está desligado da participação pelo que importa averiguar até que
ponto o desinteresse acentua a desmotivação pela acção. Esta influência pode
ser vista de duas formas: directamente, através do impacto na participação das
variáveis que traduzem a mobilização cognitiva, ou seja, as três variáveis já
analisadas e outra que será a seguir comentada; indirectamente, pelo perfil
sociográfico dessas variáveis, comparando-o depois com as variáveis que se
encontram relacionadas com a participação. Antes, porém, de iniciar esta
análise, falta convocar a última variável que integra a bateria dos indicadores da
mobilização cognitiva e que refere a atenção dispensada à informação noticiosa.
Um pouco em direcção contrária às tendências que temos vindo a realçar
no que respeita ao interesse político, o acompanhamento da informação
noticiosa parece constituir uma atitude quase universal no universo juvenil. É
certo que desconhecemos o interesse com que seguem as notícias, o tipo de
conteúdos a que são mais sensíveis, que não inclui apenas assuntos políticos,
ou o meio de comunicação que privilegiam. Mas, em todo o caso, parece não
restarem dúvidas de que os jovens não andam desinformados sobre os
acontecimentos que ocorrem na cena mundial. Nem todos, é evidente, terão o
mesmo conhecimento. Possivelmente será menor nos que se mostram mais
alheados e tenderá a aumentar à medida que cresce a procura e o consumo da
informação noticiosa. A propensão para estar a par e seguir a informação
veiculada pela comunicação social parece não se correlacionar de maneira forte
com o interesse pela política ou com a discussão política. Não quer isto dizer
que os jovens que mais se interessam e discutem não procurem informação
noticiosa. Há todas as razões para pensar que o fazem. O comportamento
divergente vem dos jovens que, apesar de terem pouco ou nenhum interesse
pela política e, consequentemente, não terem ou raramente terem discussões
políticas, se mostram interessados em acompanhar, ainda que com uma
74
regularidade variada, as notícias que quotidianamente são difundidas. Deste
ponto de vista, a exposição aos meios de comunicação social, enquanto medida
da mobilização cognitiva, revela-se mais produtiva do que os outros indicadores,
indiciando que a relação entre, por um lado, a compreensão e o conhecimento
dos acontecimentos que ocorrem no mundo, e, por outro, o interesse pelos
assuntos políticos não é, de modo algum, linear. Se os indicadores de
mobilização cognitiva não se comportam todos do mesmo modo, a questão que
precisa de ser explorada é a do impacto diferencial que cada um desses
indicadores exerce na participação e acção dos jovens.
50
40
%
30
20
10
0
Muito frequente Frequente Rara
No fundo, por que razão determinados jovens dão mais atenção aos
assuntos políticos do que outros? Que variáveis ajudam a explicar essa
diferença? E haverá alguma relação entre essa atenção e os comportamentos
políticos dos jovens? Estas são as questões que serão agora analisadas. O
pressuposto de que se parte admite naturalmente que algumas variáveis
desenvolvem uma disposição favorável aos assuntos políticos que se traduz no
interesse, nas discussões ou na exposição noticiosa. As variáveis em causa são
todas, excepto uma, de natureza sociográfica. A excepção diz respeito à
75
participação política e a ideia é a de verificar em que medida a atenção dada aos
assuntos políticos tem ou não reflexos em termos comportamentais. Quanto às
restantes, permitirão fazer sobressair o impacto das localizações e das
identidades sociais no desenvolvimento dessas disposições.
Das seis variáveis sociodemográficas analisadas, apenas duas revelaram
não exercer qualquer efeito: o género e a situação conjugal (Quadro nº 15).
Apesar de a política surgir em termos de esfera pública bastante associada ao
universo masculino, as inquiridas deste inquérito não mostram dar menos
atenção que os homens aos assuntos políticos. Seja em termos de interesse, de
discussão ou de exposição noticiosa, as diferenças de género são praticamente
inexistentes. As diferenças assinaláveis que aparecem na vida social no que
respeita ao protagonismo político não podem ser imputadas, pelo menos na
população juvenil, a motivações pessoais, pelo que a questão das oportunidades
de participação se torna bastante mais crítica. Em todo o caso, o facto de as
atitudes não se diferenciarem é um sinal positivo no sentido de uma maior
igualização de género na reorganização do campo político.
A situação conjugal é a segunda variável sem influência na atenção dada
aos assuntos políticos. Deste ponto de vista, a transição para a vida conjugal e
familiar parece completamente inócua. Nem mesmo afecta a exposição noticiosa
que se poderia depreender a partir do desempenho de responsabilidades mais
alargadas no campo profissional e familiar. Por conseguinte, é de admitir que os
indivíduos continuem a prestar a mesma atenção que dedicavam aos assuntos
políticos antes de terem assumido uma mudança do seu quadro de vida.
Do lado das variáveis que exercem um impacto positivo, começaremos
por destacar as duas que têm um efeito linear, ou seja, a idade e o nível de
instrução. Dada a escala ordinal das variáveis é possível observar que a
influência é progressiva. À medida que a idade aumenta sobe a importância
atribuída aos assuntos políticos: o interesse cresce, as discussões intensificam-
se, a persuasão desenvolve-se e a exposição noticiosa está mais presente. A
idade favorece a integração do indivíduo na comunidade política.
76
Efeito semelhante pode ser constatado com a educação. Aliás, não é de
admirar. Observámos já, e continuaremos a registar noutras áreas que serão
vistas mais adiante, o importante papel desempenhado por esta variável. A
educação aumenta as capacidades cognitivas, a compreensão das coisas e a
capacidade de retenção e de acesso à informação, requisitos que facilitam a
captação e o interesse pelas realidades políticas. Os jovens mais instruídos
alcançam sempre valores mais elevados em qualquer dos indicadores que
traduzem a mobilização cognitiva.
Outras duas variáveis não possibilitam a observação de efeitos lineares,
mas permitem identificar a influência das localizações sociais na importância
atribuída aos assuntos políticos. Uma dessas localizações implica a situação
ocupacional. A distribuição das médias mostra que, na maior parte dos
indicadores, a condição trabalhadora surge à frente. A segunda posição é
ocupada pelos estudantes que apenas são ultrapassados pelos desempregados
no indicador que expressa a exposição à informação noticiosa. De notar que é
neste indicador que as diferenças entre as várias categorias ocupacionais
atingem os valores mínimos, revelando que todas elas têm uma elevada
exposição à comunicação social. A categoria outra, composta essencialmente
por ocupações domésticas, aparece sempre na última posição, normalmente a
uma distância considerável das restantes. A distribuição das categorias
ocupacionais sugere que a atenção dada aos assuntos políticos está
correlacionada com a participação na vida social. Os sectores sociais afastados
do trabalho (desempregados) ou circunscritos à vida familiar e privada (caso das
domésticas) mostram não só menos interesse pela política, mas também, devido
à possível limitação dos contactos sociais, menos oportunidades para poderem
discutir assuntos políticos. Ao contrário do que acontece no meio escolar ou
laboral, em que a profusão de contactos sociais torna mais frequente a abertura
à discussão política. As diferenças que se verificam entre estudantes e
trabalhadores podem dever-se a várias causas, mas é possível que o sentido de
pertença à comunidade política se reforce no exercício profissional, tanto mais
quando o efeito cumulativo de outras variáveis, cuja relação com a atenção
77
política já foi assinalada, como a educação ou a idade, tende a manifestar-se
mais acentuadamente na condição trabalhadora.
A classe social é a última das variáveis sociográficas analisadas. Em
termos gerais, pode dizer-se que a nova burguesia assalariada e os
trabalhadores independentes são os dois grupos que dão mais atenção aos
assuntos políticos, qualquer que seja o indicador considerado. Em contrapartida,
o salariato manual ocupa sempre a última posição. Também se verifica que é
precisamente no indicador da exposição à informação noticiosa que as
diferenças entre os diferentes grupos são mínimas, em virtude da ampla
abertura, como já se referiu, de todos os grupos sociais à comunicação social. A
atenção aos assuntos políticos segundo os grupos sociais dificilmente poderá
ser isolada dos efeitos da escolaridade, da participação na vida social e da
socialização familiar. Sem o aprofundamento destas influências, que estão além
do campo de análise, não é possível ir mais longe na explicação das diferenças
que se verificam entre os diferentes grupos sociais.
Por último, falta-nos atender à relação entre a atenção dispensada aos
assuntos políticos e a propensão para o envolvimento em acções e iniciativas
políticas. Esta variável já foi largamente explorada ao longo deste capítulo pelo
que nos dispensamos de a referir novamente. O ponto que agora importa
sublinhar é o facto de se ter constatado a existência de um efeito
estatisticamente significativo, ou seja, à medida que se passa da não
participação para os níveis mais altos de envolvimento político, aumenta o
interesse pela política, a frequência das discussões, o uso da persuasão e
mesmo a exposição à informação noticiosa. É claro que, neste caso, não faz
sentido falar de uma relação de causa e efeito na medida em que, o mais
provável é a existência de um reforço mútuo. Quem mais se envolve
politicamente mais interesse tem pela política, e vice-versa. A correlação tem a
virtude de mostrar que o exercício de determinadas práticas, como a discussão
política na família ou a exposição à informação noticiosa, se adquiridas ao longo
do processo de socialização, pode potenciar as acções e as iniciativas políticas
dos cidadãos. Neste sentido, o exercício da cidadania encontra-se fortemente
78
vinculado aos processos de socialização nos diferentes espaços sociais em que
ocorrem ao longo da vida dos indivíduos.
Quadro nº 15
Perfis sociográficos dos indicadores de mobilização cognitiva
Interesse Discussão Discussão Uso da Exposição à
pela política política política persuasão informação
(família) (amigos) noticiosa
79
Conclusão
80
A participação juvenil e as representações de cidadania
Os direitos de cidadania
81
da igualdade, que se traduz na defesa de um nível de vida justo para todos e na
garantia de que os cidadãos devem receber um tratamento igual por parte das
autoridades. Sem o reconhecimento da importância destes direitos dificilmente
se poderá aceitar a existência de uma cidadania democrática.
Observando a pontuação dos diferentes direitos inquiridos é evidente
reconhecer que todos eles, à excepção de um, têm médias elevadas. Na escala
de um a sete, alcançam valores em torno de 6,5. Na primeira posição aparece o
direito a um nível de adequado (6,6), imediatamente seguido pelo
reconhecimento dos direitos das minorias, pela exigência de tratamento igual
para todos e pela necessidade de os cidadãos serem ouvidos nos processos de
decisão pública. A uma certa distância deste grupo, aparece, na quinta posição a
manifestação de mais oportunidades de participação nos processos de decisão
pública (6,2). A única questão que não recolheu pontuação acima de seis foi a
polémica aceitação da desobediência civil como forma de protesto contra
medidas governamentais (4,9). Mesmo assim, o facto de a pontuação ser
superior ao ponto médio (4) indica que há mais jovens a aplaudir e a reivindicar
esse direito do que a opor-se.
Vida adequada
Direitos d/ minorias
Tratamento igual
Ouvir os cidadãos
Partic.nas decisões
Desobediência civil
82
Em todo o caso, com a ajuda da análise factorial, comprovou-se que o
reconhecimento da desobediência civil é bastante menos consensual e não
parece convergir na mesma direcção dos restantes direitos inquiridos. Enquanto
estes últimos se relacionam em grande parte entre si, ou seja, se um indivíduo
dá grande importância a um deles tende também a atribuir importância idêntica
aos outros, no que respeita à desobediência civil parece manifestar-se mais
divergência do que convergência. Todavia, se esta excepção for ignorada, pode
dizer-se que estamos perante a aceitação de um conjunto alargado de direitos
que contribui para fundamentar a cidadania democrática. Em termos dessa
aceitação, mesmo atendendo a que nos movemos no território das
representações, pelo que não há certezas de que os direitos sejam
salvaguardados e reproduzidos na prática quotidiana, os jovens portugueses
exprimem uma posição democrática consolidada.
Deveres e responsabilidades
83
do cidadão. Pelo contrário, a ideia de cidadania activa é inseparável das
responsabilidades e da participação. No mínimo, os indivíduos deveriam
compreender que o exercício dos deveres faz, afinal, parte dos seus direitos de
cidadãos e que o facto de não exercê-los constitui um prejuízo para o conjunto
da comunidade. O estatuto de cidadão não resulta apenas de uma pertença à
comunidade mas implica igualmente a participação nos assuntos comunitários.
Nesta medida, a concepção activa de cidadania destaca o papel dinâmico,
responsável e solidário do indivíduo.
O propósito do inquérito consiste precisamente em avaliar as
representações de cidadania que prevalecem entre os jovens. Essa avaliação foi
realizada através de um conjunto amplo de indicadores que vão desde as
obrigações legais, como o pagamento de impostos, até às regras de convivência
democrática, como a tolerância ou o reconhecimento das diferenças, passando
ainda pelas manifestações e comportamentos cívicos. A observação das
pontuações dos indicadores mostra que a maior parte deles obtém uma
pontuação elevada. Numa escala de um a sete, em que o sentido da variação
vai de nada importante para muito importante, metade dos indicadores obtêm
uma média igual ou superior a seis. Todos os outros, à excepção de um («Estar
disposto a ser militarmente mobilizado em caso de necessidade ou guerra»),
situam-se acima do ponto médio da escala (4). Por conseguinte, mesmo
havendo alguma variação entre conjuntos de indicadores, a orientação das
respostas dos jovens vai no sentido de considerar que a cidadania envolve um
vasto leque de responsabilidades e obrigações. Respeitar a propriedade pública,
ser tolerante com os outros, obedecer às leis e aos regulamentos, votar, pagar
impostos são exemplos de comportamentos que fazem parte do cabaz das
«virtudes cívicas» que é suposto terem sido incutidas na formação e na
constituição do cidadão. A representação dos deveres está, portanto, longe de
poder ser considerada minimalista e envolve a ideia da participação, pelo que é
possível dizer que a concepção de cidadania que os jovens defendem é mais
activa do que passiva.
84
Os «deveres» do cidadão
Votar sempre
Pagar os impostos
Obedecer às leis
Vigiar o governo
Estar em associações
Aceitar opiniões
Consumo consciente
Solidário no país
Solidário outro país
Mobilização militar
Cumprir código
cidadão ecológico
Respeitar bens publ.
Ser tolerante
85
outros e pelo bem público. Por último, restam dois indicadores com valores
elevados (igual ou acima de 0,60): «ajudar em Portugal as pessoas que vivem
pior do que eu» e «ajudar as pessoas que, no resto do mundo, vivem pior do que
eu») que, como se depreende, integram a mesma dimensão. Como ambos os
indicadores revelam um sentido de serviço aos outros, pode considerar-se a
solidariedade como uma dimensão da cidadania.
Quadro nº 16
Análise factorial dos indicadores dos deveres de cidadania
Deveres de cidadania Dimensão Dimensão Dimensão
cívica política solidária
Votar sempre nas eleições 0,14 0,65 0,09
Pagar sempre os impostos 0,45 0,59 -0,04
Obedecer sempre às leis e regulamentos 0,57 0,43 0,04
Vigiar a acção do governo 0,13 0,69 0,00
Participar activamente em associações sociais ou políticas -0,12 0,68 0,33
Procurar compreender o pensamento das pessoas com outras opiniões 0,46 0,22 0,48
Escolher produtos por razões políticas, éticas ou ambientais, mesmo que 0,18 0,50 0,28
custem um pouco mais.
Ajudar em Portugal as pessoas que vivem pior do que eu. 0,34 0,03 0,78
Ajudar as pessoas que, no resto do mundo, vivem pior do que eu. 0,28 0,06 0,81
Estar disposto a ser militarmente mobilizado em caso de necessidade ou -0,13 0,26 0,54
guerra.
Cumprir as regras de trânsito seja como peão ou como automobilista 0,79 0,08 0,12
Contribuir para um ambiente melhor separando o lixo e colocando-o nos 0,81 0,15 0,15
locais correctos
Não danificar a propriedade pública (não deitar lixo para o chão, não 0,84 0,12 0,10
escrever nas paredes, etc.)
Ser tolerante com as pessoas que são diferentes de mim 0,66 0,06 0,40
Análise factorial de componentes principais com rotação Varimax.
86
Importância média
das três dimensões de cidadania
6,6
6,4
6,2
6,0
5,8
5,6
5,4
5,2
5,0
Cívica Política Solidária
87
participação. Mas, em todo o caso, é de sublinhar a correspondência entre o
aumento da consciência cívica e os níveis de participação.
Outra forma de captar a importância dos deveres de cidadania a que o
inquérito recorreu foi através de uma pergunta de escolhas alternativas. As
diferentes alternativas de resposta permitem diferenciar actividades através das
quais se manifesta o exercício dos deveres cívicos. A primeira resposta
contempla o envolvimento em assuntos políticos ou de governação; a segunda
apela à participação em organizações nacionais cuja acção contribua para a
mudança da sociedade; a terceira privilegia a intervenção voluntária de âmbito
local; por último, permite-se que o inquirido recuse as alternativas que lhe são
propostas. A distribuição das respostas mostra um grande desequilíbrio e uma
clara preferência pelo modo de acção consubstanciado na penúltima categoria
(58,2%). Ou seja, os jovens consideram ser seu dever intervir na resolução dos
problemas que se manifestam a nível local. A intervenção a nível nacional
através de organizações que contribuam para a mudança social aparece como a
segunda opção mais privilegiada (27,8%), mas este apoio apenas consegue
mobilizar metade do número dos jovens que manifestam preferência pela acção
voluntária local. Displicente é o número dos que consideram ou privilegiam a
acção de âmbito político e governamental como deveres de cidadania (3,9%).
A participação do cidadão
Política/governação
Organiz. nacionais
Voluntariado local
Em nenhuma destas
0 10 20 30 40 50 60 70
88
Esta fraca preferência reflecte não apenas o reduzido interesse que os
jovens dedicam à política, a que nos referimos noutra parte da análise, mas
também a relevância que atribuem às acções de natureza social em comparação
com as de natureza política. Por último, regista-se o facto de um em cada dez
jovens declarar que não se identifica com nenhuma das actividades propostas.
Esta falta de identificação pode imputar-se quer à não adequação dessas
actividades com o entendimento que esses jovens têm do papel do cidadão,
quer a um eventual desinteresse pela intervenção cívica. No entanto, como a
pergunta se reporta a atitudes, e como verificámos a partir da pergunta anterior a
existência de um sentimento de dever forte em relação à cidadania, é possível
admitir que a falta de identificação se relacione mais com a desadequação das
actividades e não tanto com a recusa assumida perante o exercício dos deveres
cívicos.
As quatro perguntas sobre as formas privilegiadas de intervenção cívica
apresentam também perfis sociodemográficos e de participação distintos
(Quadro nº 17). Referindo, em primeiro lugar, a resposta que colheu mais apoio
— a intervenção voluntária a nível local —, observa-se que, em termos de
atributos sociodemográficos, é mais característica dos estudantes, do ensino
superior e dos solteiros, e, em termos de indicadores de participação, está mais
presente nos jovens que vão ou tencionam ir mais vezes votar e nos que se
encontram mais envolvidos em práticas políticas, voluntárias e associativas. Ou
seja, a acção voluntária local é defendida pelos jovens cujos níveis de
participação são mais elevados, em parte justificados ou motivados por uma
escolaridade de nível superior e por um quadro de vida em que as
responsabilidades profissionais e familiares estão ainda pouco presentes.
A segunda escolha mais referida — a participação em organizações
nacionais — surge com um perfil próximo da anterior. Também aqui os
estudantes, os solteiros, o ensino superior e alguns grupos sociais de estatuto
mais elevado se encontram mais representados. O mesmo volta a acontecer no
que respeita aos indicadores de participação. Aparecem igualmente os jovens
que mais votam e que se mostram mais activos nas actividades políticas,
89
voluntárias e associativas, ainda que se revelem, na generalidade dos
indicadores, menos activistas dos que privilegiam a acção voluntária local.
Os jovens que entendem que os deveres dos cidadãos passam sobretudo
pelo envolvimento nos assuntos políticos e na governação encontram-se mais
representados nos grupos mais velhos, nos trabalhadores, nos níveis de
instrução abaixo do ensino superior e nas situações conjugais. Este perfil indica
que a inserção profissional e o envolvimento conjugal e familiar desenvolvem
uma orientação mais difusa no sentido da responsabilidade política que produz
consequências em termos do sentido da participação. Com efeito, as práticas
deste grupo tendem a privilegiar a participação política, designadamente o
exercício eleitoral e o envolvimento político, em relação à participação cívica
quer seja através da acção voluntária ou da vinculação associativa. É, portanto,
um perfil que acentua a orientação política e menos a envolvente da participação
cívica, em parte justificado por uma disponibilidade mais limitada, em virtude das
responsabilidades profissionais e familiares.
Por último, os que acham que nenhuma das respostas anteriores constitui
uma representação adequada dos deveres de cidadania encontram-se mais
presentes nos mais novos, nos menos escolarizados, nas situações
ocupacionais menos características, como o desemprego e as actividades
domésticas, e no salariato manual. Este conjunto de variáveis define, como
noutras partes já se assinalou, um perfil muito refractário à participação. Com
efeito, os jovens que preferem não indicar uma escolha revelam-se pouco
propensos à acção no espaço público: votam menos e têm um envolvimento
muito limitado com as realidades do voluntariado e do associativismo. Tendo em
consideração este enquadramento, o facto de não terem escolhido uma resposta
pode não só revelar uma inadequação das alternativas propostas, mas também
alguma indiferença pelos papéis activos que o exercício da cidadania pressupõe.
90
Quadro nº 17
Perfis sociográficos e de participação das representações de cidadania
Dimensões da cidadania Formas de envolvimento do cidadão
Indicadores Dim. Dim. Dim. Política/ Organ. Volunta- Nenhu-
sociográficos e de Cívica Política Solida- Gover- Nacio- riado ma
participação riedade nação nais local
Sim, quase de certeza 6,52 5,76 5,36 34,3 43,3 40,8 23,6
Sim, é provável 6,19 5,36 5,41 45,7 26,2 30,4 30,3
É pouco provável 6,01 4,75 4,85 17,1 16,3 8,9 19,1
Quase de certeza não vou 6,40 5,05 5,14 2,9 14,3 19,8 27,0
F=16,714 F=39,264 F=7,517; V=0,196; p=0,000
;p<0,000 ;p<0,000 p<0,000
Participação nula 6,26 5,33 5,41 32,4 29,2 31,3 54,2
Participação baixa 6,36 5,30 5,20 27,0 34,8 38,7 28,1
Particip. moderada ou alta 6,46 5,54 5,25 40,5 36,0 30,0 17,7
F=4,903; F=4,752; F=2,986; V=0,169; p=0,000
p<0,001 p<0,009 p<0,051
Não voluntário 6,33 5,34 5,24 94,3 89,6 81,9 95,7
Voluntário 6,57 5,67 5,51 5,7 10,4 18,1 4,3
F=10,631 F=11,242 F=5,996; V=0,145; p=0,000
;p<0,001 ;p<0,001 p<0,015
S/ participação associativa 6,34 5,34 5,24 67,6 74,2 70,5 83,5
Participação 1 associação 6,35 5,45 5,42 29,7 19,3 19,4 14,4
Participação em 2 ou mais 6,50 5,58 5,35 2,7 6,4 10,1 2,1
F=1,367; F=2,302; F=1,691; V=0,126p=0,020
p<0,255 p<0,101 p<0,185
91
Preocupações e problemas da sociedade
92
comparação com a população adulta dedicarem em termos relativos mais
atenção e interesse a esses temas. Esta diferença, no entanto, não apaga a
convergência que existe entre as gerações jovens e as mais velhas nos temas
mais consensuais, como o emprego ou a saúde.
A terceira preocupação refere um tema recorrente e, este sim, desde
sempre conotado com a condição juvenil — a droga. Um em cada dez jovens
escolhe a droga como principal preocupação (9,3%) e quase um terço refere-a
nos três primeiros lugares (27,8%). Estes números traduzem um receio real em
relação a um problema que os pode directamente atingir, como no caso do
emprego ou da saúde. Mas, enquanto estes dois últimos são vistos como
bastante ligados a factores externos e imponderáveis em relação aos quais nem
sempre é possível agir, o tema da droga surge muito mais directamente
dependente da vontade e do autocontrolo do indivíduo. É possível, por isso,
interpretar a preocupação em relação à droga não tanto como um problema que
os afecte ou possa vir afectá-los individualmente, mas mais como um problema
que atinge colectivamente a condição juvenil. Partindo desta interpretação, pode
dizer-se que a droga, na opinião dos jovens, continua a ser um tema associado à
juventude, havendo também aqui uma convergência entre as representações
juvenis e as que se encontram difundidas na população em geral.
Outro tema com importância percentual acima de 20%, ou seja, referido
como uma das três preocupações principais, é o da formação profissional.
Estando, sem dúvida, relacionada com a transição para o mundo de trabalho, a
referência à formação profissional revela a inquietação que o emprego ou a falta
dele provoca. Às dificuldades da inserção profissional junta-se agora a carência
de qualificação profissional. É possível que alguns jovens a percepcionem como
uma condição necessária para o início da actividade profissional, mas, apesar
disso, não constitui uma preocupação universal na medida em que outros jovens
parecem não considerar a necessidade de qualificação profissional como uma
questão crítica para uma bem sucedida transição para o mercado de trabalho.
Os quatro temas até agora referidos — emprego, saúde, droga e
formação profissional — agregam mais de metade das respostas múltiplas (cujo
93
somatório triplica o número de inquiridos). Dos dezoito temas propostos são,
portanto, os que mais caracterizam e preocupam os jovens. Os outros temas
recolhem consensos menos alargados. E valerá a pena referi-los porque alguns
deles aparecem em termos de imagem pública bastante conotados com a
condição juvenil. Porém, devido ao número elevado de temas, iremos, por
razões de economia de exposição, dividi-lo de acordo com o limiar abaixo e
acima de 10% (e, neste último caso, inferior a 20%) e comentar globalmente
cada um dos grupos.
Dando seguimento ao critério do peso numérico, os temas que obtiveram
apoio acima de 10% são sete: sida (18,7%), ambiente (18,4%), relações
familiares (15,2%), direitos humanos (14,1%), crime e segurança pessoal
(12,6%), lazer/tempos livres (11%) e habitação (10,5%). Alguns destes temas,
como a sida ou o ambiente, estão socialmente bastante conotados com a
juventude, mas outros traduzem problemas que afectam de forma indiscriminada
o conjunto da população. A referência ao tema sida por um número elevado de
jovens permite estabelecer alguma conexão com a preocupação que manifestam
em relação à saúde. È possível que, para muito deles, a atenção que lhe
dedicam não decorra de qualquer posição em relação ao sistema de saúde nem
às condições do próprio indivíduos mas do receio que as doenças sexualmente
transmissíveis suscitam. Nesta perspectiva, o tema sida reflecte o lugar que a
sexualidade ocupa nos estilos de vida juvenis.
Outro tema igualmente conotado com a juventude é o ambiente. Os
números mostram existir um apoio significativo, mas esse apoio parece não ter o
grau de generalização que por vezes se lhe atribui. Quando posta em confronto
com outros temas, a preocupação ambiental aparece referida atrás de outras
preocupações relacionadas, por exemplo, com o trabalho (emprego e formação
profissional) ou a saúde (droga, sida). Mesmo assim, se tivermos em conta estes
dois agrupamentos temáticos, o ambiente não deixa de surgir como a terceira
área de inquietação dos jovens.
A defesa dos direitos humanos é outro tema que integra o grupo das
percentagens moderadas e que vale a pena referir. Ainda que a sua expressão
94
numérica seja limitada não deixa de constituir um indicador das orientações que
movem a juventude portuguesa. O reconhecimento dos direitos humanos é um
dos movimentos que condicionam hoje em dia a reflexão (e a definição) em
torno da cidadania. O facto de eles serem subscritos por um número não
desprezível de jovens, indicia uma sensibilidade crescente à forma como os
direitos são pensados e reconhecidos no interior da sociedade portuguesa. A
impossibilidade de se poder estabelecer uma comparação com a população
adulta impede de afirmar que as concepções mais abertas de cidadania estariam
potencialmente mais desenvolvidas e consolidadas em determinados segmentos
juvenis.
Os restantes assuntos revelam preocupações mais genéricas que são
igualmente partilhadas pela restante população. A atenção dada à família, à
segurança, aos tempos livres e à habitação são assuntos que preocupam a
generalidade das pessoas. É evidente que há algo de arbitrário na classificação
de um tema como sendo mais ou menos típico dos jovens sem se ter em conta a
distribuição do mesmo na população adulta. Por exemplo, ainda que a habitação
assuma uma relevância própria na juventude, é sentido também por largos
sectores da população. Na impossibilidade de se poderem estabelecer essas
comparações, resta assinalar as preocupações que à luz das mudanças que
afectam a sociedade se mostram mais susceptíveis de marcar a condição
juvenil.
Avançando no sentido de caracterizar as preocupações menos
difundidas, emergem, no grupo das percentagens inferiores a 10%, os seguintes
temas: custo da educação universitária (9,8%), relações pessoais (9%),
terrorismo e defesa social (7,7%), equilíbrio orçamental (7,7%), segurança social
(6,8%), racismo (4%) e suicídio juvenil (3%). É compreensível, em alguns casos,
o apoio reduzido que recolhem. Por exemplo, o custo com a educação
universitária apenas preocupa os jovens que estão ou têm expectativa de estar
no ensino superior que, como se sabe, representam uma percentagem
relativamente baixa em termos de comparação internacional. Também se
justifica a baixa inquietação que o suicídio juvenil suscita em virtude da sua
95
incidência residual. Quanto aos outros temas, excluindo apenas o das relações
humanas, cujo fraco apoio pode ser imputado a uma designação demasiada
vaga, é possível observar que integram a agenda da conjuntura política actual.
Apesar da ampla exposição que recebem nos meios de comunicação social, o
terrorismo, o défice orçamental ou o financiamento da segurança social não são,
longe disso, considerados preocupações prioritárias. Aparentemente,
poderíamos julgar que os jovens não se interessam por assuntos de âmbito
colectivo. Mas não é o caso. Como vimos, mesmo não considerando os temas
que mais directamente lhes dizem respeito, como o emprego ou a saúde, a
atenção dada ao ambiente e aos direitos humanos revela que os jovens se
preocupam com assuntos que reflectem preocupações e necessidades de
âmbito geral. Simplesmente esses assuntos não são os que têm vindo a marcar
o debate político, constituindo, assim, mais um sinal ou uma razão do seu
afastamento em relação ao campo político.
Quadro nº 18
As preocupações sociais dos jovens
1º escolha 1ª escolha Total Total
Temas que preocupam os jovens
(n)) (%) (n) (%)
96
Sentimentos de identificação, confiança e orientações
97
(ligeiramente acima de 15%). A pertença local é, portanto, mais forte do que a
nacional ou a regional. Mesmo após longos anos de adesão, a identificação
europeia apenas convence uma minoria de jovens (2,8%), inferior mesmo à que
refere o nível planetário (5,5%).
Sentimentos de identificação
O Bairro/localidade
A União Europeia
O mundo
0 10 20 30 40
Esta identificação com o plano local significa que os jovens têm fraca
consciência nacional ou que não se assumem como parte integrante da nação?
Não necessariamente. A razão da identificação local relaciona-se com as
vinculações afectivas e a fraca mobilidade geográfica por razões de estudo,
profissionais ou familiares. Uma parte significativa dos jovens, inclusive por
razões etárias, permanece nos locais onde nasceram ou vivem há longo tempo,
pelo que se torna difícil desenvolverem uma consciência cosmopolita voltada
para os grandes espaços de integração, sejam eles o nacional, o europeu ou o
planetário. Ainda assim, a forte identificação local não despreza o
reconhecimento nacional, como se pode verificar a partir do sentimento de
orgulho nacional. Quando interrogados sobre esse sentimento, a esmagadora
maioria dos jovens não se inibe de manifestar muito orgulho (48,9%) ou pelo
menos algum orgulho (43,8%). Só uma pequena minoria (6,3%) parece não
nutrir esse sentimento por Portugal. Esta manifestação de orgulho por parte dos
jovens é uma prova da identificação que estabelecem com o país, embora essa
98
manifestação não os prive de se sentirem mais próximos das pertenças locais. O
orgulho exprime, deste modo, uma vinculação à comunidade nacional que se
expressa, de forma mais notória, nos âmbitos mais localizados ou regionais que
a integram.
Muito orgulho
Algum orgulho
Pouco orgulho
Nenhum orgulho
0 10 20 30 40 50 60
99
A confiança interpessoal
100
80
60
%
40
20
0
Todo cuidado é pouco Pode-se confiar
100
que se antevê uma correspondência acentuada entre níveis baixos de
participação cívica e política e a atitude de desconfiança.
Com efeito, o cruzamento dos indicadores de participação com as atitudes
de confiança mostra que os jovens mais activos são bastante mais positivos em
relação aos outros. Em qualquer dos indicadores em causa, os jovens que mais
participam têm mais confiança. É certo que a atitudes de desconfiança
continuam a ser dominantes, reflectindo, aliás, uma característica da sociedade
portuguesa, mas a relação positiva entre confiança e participação, comprova que
os esforços no sentido do reforço das práticas associativas e voluntárias
constituem uma estratégia adequada de disseminação da atitude de confiança
na sociedade. Em direcção contrária, é também possível observar que a
participação eleitoral dos jovens (e não só) é afectada pelo clima de confiança
existente na sociedade, pelo que a inversão da tendência de diminuição que,
actualmente, afecta a evolução das democracias ocidentais, só será conseguida
por uma mudança da atitude em relação aos outros.
Quadro nº 19
Participação e confiança interpessoal
A confiança interpessoal Todo o cuidado é pouco Pode-se confiar na
quando se lida com pessoas maioria das pessoas
101
A ideia de que a geração actual reflecte valores em mudança está
também presente na forma de conceber a moral, ou seja, enquanto sistema de
distinções claras e fronteira definidas ou como juízo contingente e circunstancial.
Interrogados sobre as orientações relativas à concepção do certo e do errado a
maior parte dos jovens parece sustentar uma posição relativista admitindo que
essa distinção «pode ser diferente de pessoa para pessoa» (70,8%). Apenas um
em cada dez jovens acredita haver «indicações claras em relação ao que é certo
ou errado».
60
%
40
20
0
Indicações claras É relativa
102
A escolha entre a liberdade e igualdade
60
50
40
%
30
20
10
0
Liberdade Igualdade
Conclusão
103
fluidez das fronteiras entre o certo errado podem ser vistas como potenciais
ameaças ao desenvolvimento das atitudes cívicas e do «espírito de
comunidade» que estão subjacentes à concepção de cidadania.
104
A participação juvenil e a esfera política
105
resolverem um problema colectivo. A segunda questão procura avaliar o
potencial de mobilização contra situações consideradas injustas, a partir de uma
situação hipotética em que se indaga a predisposição dos jovens a agir contra
uma lei ilegítima. A terceira mede a opinião dos inquiridos em relação à
sensibilidade dos governos às reivindicações e aos protestos sociais, no
pressuposto de que uma maior ou menor sensibilidade condiciona a crença na
eficácia da acção social.
No que respeita à crença na eficácia da acção, mesmo atendendo à
forma genérica da questão, observa-se que a maior parte dos jovens não é
muito optimista no que respeita aos resultados ou às consequências da acção. O
balanço entre os optimistas, ou seja, os que acreditam na eficácia da acção, e os
pessimistas nem é muito desequilibrado (43,6%, contra 56,4%). As diferenças
mais significativas aparecem sobretudo entre os extremos da escala em que as
posições dos mais cépticos suplantam as dos que têm confiança plena nos
resultados a alcançar (15,4%, contra 5,2%).
40
30
%
20
10
0
M
Ef
Po
N
ad
ui
ic
u
co
to
az
ae
ef
ef
fic
ic
ica
a
az
z
z
106
mais convencidos do que os descrentes das virtualidades que emergem dos
empenhamentos colectivos. Um ponto também relevante passa, evidentemente,
por apurar os atributos sociais que separam uns e outros. Mas antes, convém
olhar as outras questões sobre o sentimento de competência subjectiva por duas
razões. O conjunto das três questões forma uma sequência lógica pelo que é
importante ter, em primeiro lugar, uma perspectiva geral destes dados. Em
seguida, será igualmente interessante ver as conexões que estas questões
estabelecem entre si, em particular se a crença na eficácia da acção e a
disposição em protestar contra uma lei injusta se relacionam ou não com a
convicção de que os governos são sensíveis aos protestos e às reivindicações
dos cidadãos.
A distribuição das respostas relativas à questão da mobilização
potencial12 não se afigura muito diferente da eficácia da acção. A repartição
entre os que se mostram dispostos a agir e os que se revelam refractários a
acções de protesto quase que divide ao meio a população (respectivamente,
46,6% e 53,4%), mas observa-se igualmente um desequilíbrio mais acentuado
nas extremidades da escala.
40
30
%
20
10
0
M
Pr
Po
Na
ui
ov
da
co
to
áv
pr
pr
pr
el
o
ov
ov
vá
áv
áv
vel
e
e
l
12
O texto da pergunta é o seguinte: «Imagine uma lei (nacional) que considerasse injusta. Neste caso, qual
seria a probabilidade de fazer algo, quer agisse sozinho ou em conjunto com outros?».
107
Com efeito, os inquiridos que não manifestam qualquer intenção de
poderem vir a participar em qualquer tipo de acção de protesto são em número
bastante superior aos que exprimem intenção oposta (18,8%, contra 7,4%).
Comparando as duas perguntas, verifica-se que a eficácia da acção não tem
uma distribuição muito distinta da mobilização potencial. Esta semelhança será
um indício de que os jovens mais dispostos à acção são também os que revelam
mais confiança na eficácia da mesma?
Analisemos antes a última questão. Acreditam os jovens que o governo
ou os seus representantes eleitos são sensíveis às acções de protesto e às
reivindicações dos cidadãos13? A resposta é clara: a maior parte dos jovens
(76,5%) pensa que é pouco ou nada provável serem ouvidos. Se os jovens já
não estão, de uma forma geral, muito confiantes no resultado da acção, essa
confiança diminui quando o alvo em causa é o governo ou a esfera política.
40
30
%
20
10
0
M
Pr
Po
Na
ui
ov
da
co
to
áv
pr
pr
pr
el
o
ov
ov
vá
áv
áv
vel
e
e
l
108
constituir um motivo de inibição da participação. Na realidade, esta não depende
apenas da «motivação» dos indivíduos, mas também da existência de canais na
sociedade que permitam ou facilitem a intervenção dos cidadãos. Havendo
possibilidades efectivas de comunicação e a percepção de que a intervenção
dos cidadãos pode resultar em benefícios concretos, aumentam-se os estímulos
à participação e a crença na eficácia da acção. Mas se, pelo contrário, existir a
convicção de que a distância entre governados e governantes é considerável e,
pior do que isso, o convencimento de que os governantes não são sensíveis às
reivindicações e protestos dos cidadãos, haverá certamente menos razões para
que os jovens se sintam confiantes na capacidade de poderem vir a influenciar
os rumos da governação. Aparentemente, os dados do inquérito não abonam
muito a favor dessa confiança.
Que relações se podem então estabelecer entre as três questões em
torno da competência subjectiva? A análise das correlações revelou valores
relativamente elevados (entre 0,50 e 0,55) e a análise factorial sugeriu que as
três questões podem ser subsumidas numa única dimensão, indicando que
todas elas constituem formas adequadas de medir e de representar a
competência subjectiva. Consequentemente, construiu-se uma nova variável
escalonada em quatro posições a partir da qual foi possível estabelecer as
relações do sentimento de competência subjectiva com os atributos sociais dos
jovens e os indicadores da participação política e cívica (Quadro nº 19).
O exame do teste estatístico mostra que apenas duas variáveis
sociodemográficas desempenham uma influência relevante em termos de
competência subjectiva: a instrução e a classe social. A influência da instrução
dificilmente constituirá uma surpresa, havendo duas razões que a podem
justificar. A escolaridade proporciona e desenvolve capacidades cognitivas e
instrumentais, permitindo que os jovens mais instruídos se sintam mais
preparados para intervir. Neste sentido, pode dizer-se que a competência tem
um conteúdo cognitivo. Mas, por outro lado, na medida em que estão em causa
13
Os termos exactos da pergunta são os seguintes: «Se decidisse fazer algo, qual seria a probabilidade
dessa reivindicação ser ouvida pelo governo ou os seus representantes?»
109
sentimentos subjectivos, é provável que a escolaridade reforce também a auto-
estima e estimule a confiança na capacidade de auto-realização. Porque estão
convencidos de que são capazes de alcançarem o que pretendem, esses jovens
estão também mais inclinados a acreditar nos resultados das acções que vierem
a empreender. Se assim for, a competência subjectiva teria igualmente uma
base motivacional individual que não pode ser desligada do efeito da
escolaridade.
Ainda que tenha óbvias conexões com a escolaridade, a influência que a
classe social desempenha pode ser atribuída a outra razão distinta das que
foram assinaladas. As redes de influência e de relacionamentos, normalmente
referidas sob a designação de capital social, distribuem-se desigualmente pelo
espectro social. Os grupos socioeconómicos mais privilegiados têm
naturalmente mais «capital social», ou seja, mais capacidade de influência. Por
esta razão, os jovens que pertencem a esses grupos tendem a incorporar mais
facilmente essas disposições objectivas, traduzindo-as em níveis mais elevados
de competência subjectiva. A pertença a essas redes sociais faz, sem dúvida,
aumentar o sentimento de agilidade social e a confiança nos resultados que se
procuram alcançar. A afirmação da competência subjectiva, ou seja, a convicção
de que se é capaz de influenciar a governação através de acções «políticas»
estaria assim dependente não apenas dos instrumentos cognitivos e
motivacionais que a escolaridade proporciona, mas, igualmente, da própria
experiência social que resulta em grande medida do grupo social de pertença.
110
Quadro nº 19
111
O significado da política
112
a vida das comunidades, ainda que não se estabeleça qualquer relação explícita
com o papel dos cidadãos. Este papel está, evidentemente, presente na última
concepção proposta que apresenta a política como forma de o cidadão se fazer
ouvir, evocando implicitamente a ideia de participação e de capacidade
deliberativa.
Descritas as concepções subjacentes às diferentes respostas14, pode
passar-se a referir a sua distribuição na amostra. Os resultados são
concludentes. A concepção que privilegia uma visão crítica e negativa da política
e dos políticos é largamente maioritária (53,2%). O desinteresse e o afastamento
dos jovens da esfera política podiam não ser necessariamente incompatíveis
com uma ideia da política enquanto espaço de representação ou de deliberação.
Mas não é isso que acontece. Na opinião da maioria, a política reduz-se ao
espírito de competição entre políticos e à procura de lugares públicos.
Do lado dos que constituem a opinião minoritária, destacam-se várias
posições. A primeira apresenta a política como lugar de regulação e debate das
leis e assuntos do país (26,6%). Se esta representação sublinha sobretudo os
seus aspectos formais e abstractos, a que surge a seguir enfatiza a natureza
representativa da vontade colectiva que se traduz nos «esforços de uma
comunidade para resolver os seus problemas» (12,5%). A política como
representação de uma comunidade, logo de um conjunto de interesses, sugere
uma maior aproximação entre os cidadãos e os seus representantes. Esta
relação tende a reforçar-se ainda mais quando se considera a última resposta
que propõe o entendimento da política como espaço de deliberação dos
cidadãos («Política é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz»).
Esta é, sem dúvida, a que mais se aproxima de um conceito alargado de
cidadania activa, em que a ideia de participação colectiva assume um lugar de
relevo. No entanto, o apoio que suscita é relativamente baixo (7,6%).
14
O texto completo da pergunta é o seguinte: «Agora vou ler-lhe o que algumas pessoas disseram sobre o
que a política significa para elas. Indique a frase que melhor expressa a sua opinião. 1. Política significa
uma competição entre políticos para se elegerem; 2. Política trata do debate de leis e assuntos relacionados
com o país; 3. Política reflecte os esforços de uma comunidade para resolver os seus problemas; 4. Política
é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz».
113
Significado da política
Competição
Resolver problemas
Voz do cidadão
0 10 20 30 40 50 60
114
à concepção deliberativa (a «política é a forma através da qual o cidadão faz
ouvir a sua voz»), que surge mais apoiada pelos níveis educacionais médios,
contrariando a possibilidade de uma associação crescente entre as
representações mais avançadas e o aumento da instrução. Os sectores menos
instruídos destacam-se, como seria de esperar, na visão negativa da política
enquanto espaço de competição entre políticos que se procuram eleger ou na
posição mais neutra que a entende essencialmente como função legislativa.
Do ponto de vista do género, as principais diferenças que se assinalam
sublinham o forte apoio masculino à representação deliberativa, enquanto o
apoio feminino se distribui de forma mais equilibrada por todas as respostas,
ainda que se evidencie uma preferência um pouco mais vincada pela concepção
representativa da política.
Em comparação com os atributos sociográficos, os indicadores de
participação revelam-se mais associados às representações sobre a política. O
efeito mais significativo encontra-se na participação associativa. Com efeito, o
associativismo cresce à medida que se cruzam as diferentes representações da
política. Os jovens associados, sobretudo os que marcam presença em duas ou
mais associações, têm uma identificação mais forte com a concepção
deliberativa do que com a da representação, que aparece bem distanciada das
outras duas. À luz deste indicador, o associativismo parece constituir um meio
privilegiado para promover e difundir uma ideia positiva da política, encarando-a
como um espaço de representação de interesses comunitários e de deliberação.
Nos restantes indicadores de participação as relações não são tão
vincadas. Mesmo assim, os jovens que votaram, que têm intenção de votar nas
próximas eleições e os que se encontram envolvidos em trabalho voluntário
mostram-se mais inclinados a defender posições deliberativas ou
representativas do que os jovens absentistas ou que não exercem trabalho
voluntário.
115
Quadro nº 20
Representações da política, segundo os perfis sociográfico e de participação
Concepções da política Competição Elaboração de Represen- Deliberação Total
leis Tacão
116
Em relação ao último indicador de participação — a frequência de
iniciativas políticas — a relação é bastante menos linear. A representação
deliberativa não surge particularmente associada aos jovens politicamente mais
activos que manifestam preferência pela concepção representativa. Em todo o
caso, a conclusão que resulta dos indicadores analisados aponta no sentido de
que a participação tem um impacto positivo nas representações da política, ou
seja, a ideia negativa da política enquanto espaço de competição entre políticos
que apenas visam eleger-se não tem acolhimento junto dos jovens com mais
responsabilidades cívicas e sentido colectivo da vida social.
117
percepcionadas entre as posições defendidas pelos partidos ou no facto de essa
divisão já não se ajustar aos problemas com que as sociedades se debatem. Do
lado dos que consideram relevante continuar a usar essas duas categorias, a
justificação surge associada ao facto de elas continuarem a estar intimamente
relacionadas quer a muitas questões e problemas da sociedade quer a
profundas clivagens estruturais herdadas do passado que se mantêm ainda
activas na sociedade de hoje.
Analisando os resultados do inquérito observa-se que a opinião
maioritária (55,4%) tende a considerar sem sentido a divisão entre a direita e a
esquerda. A principal razão apontada revela que, para os jovens, a percepção
das diferenças entre as posições políticas é pouco nítida (37,1%).
Aparentemente, a diluição das categorias políticas parece estar mais associada
a uma questão de comunicação do que às mudanças que têm vindo a
atravessar a sociedade.
Não há diferenças
Novos problemas
Posições diferentes
Problemas permanecem
0 10 20 30 40
118
admitir que a percepção das diferenças partidárias se encontra associada ao
interesse pela política, pelo que importa correlacionar a opinião em relação ao
sentido das categorias esquerda e direita com os indicadores de participação
política. É também possível que as justificações que apontam a mudança social
ou os problemas estruturais para sustentarem uma ou outra posição se
encontrem positivamente associadas a esses indicadores, na medida em que
pressupõem uma argumentação mais elaborada, indiciadora de uma maior
competência política.
A observação dos indicadores políticos tende genericamente a confirmar
a existência de uma relação significativa com a importância que se atribui à
divisão entre a direita e a esquerda. A defesa da continuidade operativa desta
categorização política aparece associada ao interesse pela política, à
participação eleitoral e política, ao voluntariado e ao associativismo (Quadro nº
20). É muito evidente que os jovens que percepcionam apenas ligeiras
diferenças nas posições dos partidos são os que politicamente se revelam
menos activos: votam menos, não se entusiasmam com a política e têm fraco
envolvimento social e associativo. Assim sendo, fica demonstrado que a razão
da diluição da divisão entre a direita e a esquerda não reside tanto num
problema de comunicação, mas na forma ou na intensidade com que os direitos
de cidadania são exercidos.
É, todavia, importante contrabalançar esta conclusão com a posição dos
jovens que, concordando também com a diluição das categorias políticas, a
defendem com base no argumento de que foi a própria mudança social que
acabou por vaticinar essa diluição. Estes jovens pontuam bastante melhor nos
indicadores políticos do que os que opinam não haver diferenças entre as
posições partidárias. Aproximam-se, por conseguinte, dos jovens que insistem
no sentido da divisão entre a direita e a esquerda, chegando mesmo a
ultrapassá-los no caso da participação associativa intensa. Mas, nos restantes
indicadores, mantêm-se abaixo. Não é, portanto, correcto supor que a
argumentação mais elaborada com que defendem a diluição da distinção entre a
direita e a esquerda se encontra mais correlacionada com os indicadores de
119
participação do que no caso dos jovens que sustentam a posição contrária, ou
seja, de que continua a fazer sentido falar dessa distinção simplesmente porque
existem posições muito distintas em relação a questões e problemas
fundamentais da sociedade.
A conclusão a que se chega indica que o argumento a favor da
sustentação das categorias de direita e de esquerda, enquanto formas
classificatórias do campo político, se relaciona com o interesse pela política e as
formas de intervenção cívica e política. Esta conclusão apoia a generalização da
ideia de que a diluição das categorias políticas vai a par e passo com o declínio
da participação política ou, pelo menos, com o uso limitado que os jovens fazem
do exercício da cidadania.
Quadro nº 20
A divisão entre a direita e a esquerda, segundo os indicadores
políticos e cívicos
Pequenas As sociedades Existem Os problemas
Diferenças entre a direita e a diferenças têm novos posições estruturais Total
esquerda entre partidos problemas diferentes na permanecem
sociedade
120
A confiança institucional
121
A confiança institucional
Governo
Partidos Políticos
Parlamento
Tribunais
Autarquias
Administração
Polícia
União Europeia
Nações Unida
ONGs
Igreja
Comunicação social
Sistema de Saúde
Sistema de ensino
122
confiança institucional mostra também que as instituições internacionais
pontuam acima das instituições nacionais. E não se pode dizer que esta
vantagem se deva aos fins humanitários e universais de algumas dessas
instituições, como as Nações Unidas ou as ONGs. A União Europeia é
eminentemente uma instituição política bem cotada em termos de confiança. A
falta de credibilidade das instituições nacionais em comparação com as de
âmbito internacional parece, pois, sublinhar a existência de um défice interno
que amplia a crise de confiança que afecta um pouco por todo o lado o
funcionamento político das sociedades democráticas.
Como se verificou noutros indicadores, as atitudes políticas dos jovens
encontram-se relacionadas com o exercício da cidadania activa, quer na sua
expressão cívica quer na mais politizada. As atitudes mais críticas em relação ao
sistema político, em particular aos aspectos institucionais da democracia
representativa, advêm sobretudo dos jovens cujo afastamento do campo político
é mais significativo. Não se está a sugerir uma relação de causa e efeito entre a
postura política e a prática da cidadania, até porque ambas são afectadas pelos
atributos sociais dos protagonistas. Há evidentes relações entre as atitudes
políticas, o exercício da cidadania e certas variáveis sociais, como a educação
ou a classe social. Por exemplo, os jovens cujos níveis de participação são mais
elevados sustentam visões mais positivas em relação ao funcionamento das
instituições democráticas. Mas também é verdade que esses mesmos jovens
tendem a apresentar níveis mais elevados de escolaridade que, por seu turno,
se mostram bastante correlacionados com essas visões mais positivas. Por
conseguinte, no que respeita à confiança institucional espera-se que ocorra o
mesmo tipo de relações.
A medição da confiança institucional segundo os indicadores de
participação mostra uma diferença fundamental entre, por um lado, as
instituições políticas e internacionais e, por outro, as instituições sociais (Quadro
nº 21). Essa diferença tem sobretudo a ver com o facto de que o apoio ou a
confiança em relação ao primeiro grupo de instituições se revelar mais
associado à prática da cidadania activa. Com efeito, é possível observar, nos
123
mais variados indicadores, uma tendência no sentido de a confiança institucional
aumentar à medida que sobe a participação ou o interesse pela política. Por
exemplo, os jovens que têm muito interesse pela política, que costumam ou
pensam ir votar, ou que participam regularmente na vida cívica e política
mostram-se mais confiantes nos organismos políticos, como o governo ou o
parlamento, e internacionais, como as Nações Unidas. Em contrapartida, a
confiança nas instituições sociais, como as escolas, a comunicação social ou a
Igreja, surge menos associada à participação, e quando aparece correlacionada
é quase sempre no sentido negativo, ou seja, são precisamente os jovens
menos participativos que tendem a confiar mais neste tipo de instituições. A
única excepção de relevo diz respeito ao voluntariado em que existe uma
relação positiva entre esta prática cívica e a confiança nas instituições sociais.
Nos outros indicadores, a confiança nas instituições sociais ou é neutra ou
aparece relacionada com a abstenção eleitoral e os baixos níveis de
envolvimento cívico e político.
Mostra-se assim que a confiança nas instituições políticas e internacionais
está correlacionada com o exercício da cidadania activa, enquanto no caso das
instituições sociais a relação é mais independente. A desconfiança política é
sobretudo apanágio dos jovens pouco participativos ou indiferentes em relação
ao campo político. Há, no entanto, dificuldade em estabelecer uma relação de
causalidade entre a confiança institucional e a participação. Tanto se pode dizer
que a primeira conduz à segunda, como o contrário. Mas para o nosso propósito,
basta reafirmar que a participação tende a reforçar a confiança
(independentemente de se poder considerar o efeito inverso) e que, por esse
motivo, o declínio da participação que muitos advogam só pode significar a
deterioração dos níveis de confiança institucional existentes na sociedade.
124
Quadro nº 21
A confiança institucional e os indicadores políticos e cívicos (médias)
Confiança institucional Confiança nas Confiança nas Confiança nas
instituições instituições instituições
políticas internacionais Sociais
Conclusão
125
termos maioritários sustentam uma representação negativa da política que a
reduz a uma competição entre políticos que procuram fazer-se eleger, defendem
o desaparecimento das diferenças ideológicas e programáticas entre os partidos
políticos e a caducidade das categorias esquerda e direita, e, por fim, atribuem
pouca credibilidade às instituições políticas. Estas posições parecem ir assim ao
encontro das ideias que sustentam o declínio da política enquanto campo
estruturador da vida social.
Há, no entanto, algum excesso neste tipo de generalização. Identificar
uma tendência maioritária não pode significar a homogeneização de todas as
posturas juvenis. Mesmo dentro de uma tendência dominante existe diversidade,
sendo por isso possível ter uma visão menos redutora das posições dos jovens
em relação à política. A representação negativa da política coexiste com outras
mais positivas que valorizam a função representativa ou deliberativa; há mais de
uma razão para justificar a irrelevância da distinção entre direita e a esquerda,
além de muitos jovens opinarem em sentido contrário; e a erosão da confiança
não afecta, do mesmo modo, todas as instituições políticas, e não justifica o
receio de uma crise institucional generalizada, havendo até muitas instituições,
sobretudo de âmbito internacional e social, a beneficiar de elevada credibilidade.
Esta diversidade de opiniões contrabalança a unanimidade que parece ressaltar
quando se sublinham as tendências principais. Falar de um distanciamento em
relação à política implica ter presente não só a existência de escalas desiguais,
mas também o facto de importantes segmentos juvenis nutrirem uma postura
inversa.
Outro aspecto que importa evidenciar é a relação que se estabeleceu
entre, por um lado, a relevância da política e a confiança institucional, e, por
outro, as formas de participação social e política. Não é possível, obviamente,
estabelecer uma relação de causa e efeito, mas a relação sugere que a prática e
a aprendizagem da cidadania, muito motivadas pelo efeito da escolaridade,
constituem, sem dúvida, uma forma de revitalizar o significado da política e a
relevância que se lhe atribui e de renovar a credibilidade das instituições que
suportam a democracia representativa.
126
Participação juvenil e atitudes face à democracia
127
democracia ou se, em alternativa, depende mais da avaliação do funcionamento
da democracia. A questão que se coloca é então a de determinar de que forma
as convicções e as avaliações sobre a democracia se relacionam com a
participação social e política dos jovens.
No sentido de evitar um conflito metodológico entre a avaliação do ideal
democrático e a satisfação com o funcionamento concreto da democracia, a
referida relação entre atitudes e participação será analisada tendo por base uma
tipologia que assenta nas duas questões. Ou seja, a tipologia combina a adesão
a um ideal de organização social (a democracia) e o julgamento ou satisfação
em relação ao seu funcionamento concreto. A partir de uma versão dicotómica
dessas duas questões, a tipologia apresenta quatro posicionamentos possíveis:
a) Democratas satisfeitos. Este grupo corresponde à combinação entre a crença
no ideal democrático e a avaliação positiva do funcionamento da democracia.
b) Democratas insatisfeitos. Partilham com o grupo anterior da mesma crença,
mas confessam-se insatisfeitos com a democracia. Um dos interesses deste
grupo consiste em ver se a insatisfação se traduz em retracção individualista, ou,
pelo contrário, se converte numa procura activa de alternativas ao
funcionamento democrático actual. Por isso, este grupo poderia designar-se por
democratas críticos
c) Desafectos satisfeitos. A falta de convicção democrática poderia reflectir uma
hostilidade antidemocrática, mas, como veremos posteriormente, traduz mais
significativamente uma atitude de indiferença perante a cidadania política que
pode ser designada por desafeição. Parece, por isso, mais adequado designar
os jovens que não expressam uma adesão democrática por desafectos em vez
de designá-los por antidemocratas. Além disso, seria um pouco incongruente, a
menos que fosse meramente residual, encontrar uma associação positiva entre
convicções antidemocráticas e satisfação com o funcionamento da democracia.
d) Desafectos insatisfeitos. Este grupo alia a falta de convicções democráticas
ao descontentamento em relação ao funcionamento democrático. A posição
deste grupo pode traduzir quer uma preferência por sistemas autoritários, quer
uma frustração ou insatisfação extrema em relação à cidadania democrática.
128
Será, portanto, a partir destes grupos que se abordará as relações entre
as atitudes face à democracia e as formas de participação juvenil.
Em resumo, o itinerário da análise começará por descrever o apoio que os
jovens concedem nos dias de hoje à democracia através da avaliação, por um
lado, da adesão no plano dos princípios ou das concepções ideais e, por outro,
da satisfação em relação à forma como a democracia está implementada e
funciona na sociedade portuguesa. A combinação destas duas dimensões
avaliativas permitirá construir uma tipologia de quatro posicionamentos distintos.
O passo seguinte irá quantificar a importância destes quatros grupos e traçar o
perfil sociográfico de cada um deles, a que se seguirá a análise das relações
que estabelecem com as formas de participação social e política.
129
incapacidade dos agentes políticos em promover o crescimento económico e o
emprego têm sido apontados como podendo afectar a satisfação das pessoas,
mas que não afectam necessariamente a crença na democracia.
50
40
40
30
%
30
%
20 20
10
10
0
Co
Co
0
ão
isc
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a
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u
te
di
m
en
sc
en
te
.
os
Com efeito, a adesão à ideia democrática é, como vimos, elevada, mas
mesmo entre os que não se manifestam a favor dela, a oposição assumida é
baixa. Apenas 4,2% dos inquiridos discordam ou discordam muito da ideia de
que a democracia representa a melhor forma de governo. Os que não a apoiam
expressamente refugiam-se maioritariamente na posição neutra de quem não
concorda mas também não discorda. Esta posição não traduz necessariamente
uma preferência por sistemas não democráticos, devendo ser mais
adequadamente interpretada como a manifestação de uma atitude de
indiferença ou passividade em relação à cidadania política, que não exclui a
possibilidade de, em determinadas conjunturas, de que não faltam exemplos
históricos recentes, se tornar um campo fértil para a eclosão de iniciativas e
movimentos antidemocráticos, como a xenofobia ou o racismo. Apesar deste
risco, o apoio à democracia parece estar bem enraizado na juventude
portuguesa e não surge ameaçado pela insatisfação que a maior parte dos
jovens experimenta em relação ao seu real funcionamento.
130
Se a crença democrática não surge directamente ameaçada, a avaliação
pouco ou nada positiva que a maioria dos jovens faz do funcionamento do
sistema democrático não deixa de ser preocupante e poderá estar relacionada
com o pretenso declínio da participação cívica e política. Como está fora do
âmbito desta análise analisar as possíveis causas da fraca participação que se
observa nas sociedades democráticas, o nosso interesse incidirá, por um lado,
na relação entre os níveis de satisfação com a democracia e a participação, e,
por outro, no papel que as convicções democráticas exercem nessa mesma
participação. Até que ponto a insatisfação acentua a tendência para a não
participação? Os jovens insatisfeitos tenderão alhear-se dos deveres cívicos e
políticos? Qual o papel das convicções democráticas no exercício da cidadania?
E os jovens que aderem mais intensamente ao ideal democrático mostrar-se-ão
civicamente mais empenhados, qualquer que seja o seu nível de satisfação?
As democracias para sobreviverem precisam de mobilizar os seus
cidadãos, especialmente os grupos mais propensos a apoiar, ou até a
protagonizar, a regeneração das instituições democráticas. A identificação
desses grupos, no âmbito desta análise, será realizada a partir da tipologia que
resulta do cruzamento das duas atitudes face à democracia. Tendo em
consideração que os jovens que apoiam a concepção ideal de democracia
suplantam por larga vantagem os que não a aprovam, não restam dúvidas de
que os democratas estarão mais representados, desconhecendo-se apenas a
repartição entre satisfeitos e insatisfeitos. A distribuição dos dados mostra que a
distância entre eles é bastante pequena, cabendo, no entanto, a supremacia aos
democratas satisfeitos (36,5%, contra 34,7%). Do lado dos jovens que não
alimentam, ou pelo menos não expressam, convicções democráticas, a
distribuição entre os dois grupos é muito mais desequilibrada, inclinando-se a
favor da insatisfação. O grupo dos desafectos insatisfeitos representa um quinto
da população, enquanto menos de um em cada dez jovens se assume como
desafecto satisfeito (8,4%). A insatisfação é muito mais evidente nos jovens que
não partilham concepções democráticas do que nos jovens democratas. A razão
de ser é facilmente explicável: quem não é democrata tem menos razões para
131
estar satisfeito com o seu funcionamento. Mas, como anteriormente se referiu, a
não adesão à democracia pode traduzir um sentimento de indiferença face à
cidadania política, pelo que não é incompatível recensear, ainda que minoritário,
um conjunto de jovens sem convicções democráticas a manifestar satisfação
com o seu modo de funcionamento.
30
%
20
10
0
Democratas satisf. Desafectos insatis.
Democratas insatisf. Desafectos satisf.
132
A estas questões se voltará numa fase posterior de análise, tratando-se
agora de descrever os atributos e perfis sociográficos dos quatro grupos, de
forma a identificar o impacto que as localizações e pertenças sociais exercem na
sua diferenciação.
133
aos sectores burgueses em detrimento dos sectores assalariados (Quadro nº
22).
Uma suposição que pode ser feita em relação aos democratas
insatisfeitos é admitir que a insatisfação está, sem dúvida, ligada às condições
materiais e aos sentimentos de privação que afectam mais expressivamente
determinados sectores juvenis. E é, possivelmente, a presença desses sectores
que contribui para traçar um perfil com características algo distintas das do
grupo anterior. Os democratas insatisfeitos, do ponto de vista do género, exibem
mais equilíbrio, ainda que ligeiramente favorável às mulheres, revelam-se como
o grupo etariamente mais velho, pelo que é natural observar uma vantagem da
condição trabalhadora sobre a estudantil, mas, em termos de pertenças sociais e
de níveis de instrução, não se mostram distintos do resto da população. É
necessário, no entanto, notar que, à luz dos elementos analisados, as
convicções democráticas não são abaladas pelas críticas que são dirigidas ao
funcionamento concreto das sociedades, que assentam nos sentimentos de
insegurança e de privação provocados pelas situações materiais de existência.
Continuando a analisar os jovens que expressam insatisfação em relação
ao funcionamento da democracia deparamo-nos com um segundo grupo que,
contrariamente aos dois anteriores, não manifesta convicções democráticas.
Conforme já referimos, esta falta de convicções, mais do que traduzir uma
aversão à democracia e uma preferência por soluções autoritárias, revela uma
atitude de indiferença em relação à cidadania e à organização políticas. Mesmo
admitindo como certa esta interpretação, não deixa de constituir um motivo de
preocupação o facto de um em cada cinco jovens manifestar uma posição
negativa e indiferente, e, alguns deles, possivelmente, adversa, face ao regime
democrático. Nuns casos, porque esses jovens poderão vir a ser mobilizados por
iniciativas e movimentos não democráticos; noutros, porque os níveis elevados
de desmobilização e de desmotivação em relação ao exercício dos direitos
cívicos e políticos contribuem para minar os fundamentos de uma democracia
saudável. Torna-se, por isso, importante identificar as variáveis que condicionam
a atitude mais negativa e contrária à cidadania democrática.
134
Quadro nº 22
135
desafectos insatisfeitos radica nos sectores menos qualificados das classes
trabalhadoras, como indiciam os níveis de instrução, e mais atingidos pelas
condições de precariedade económica de que os valores do desemprego dão
prova. Se a insatisfação em relação ao funcionamento democracia pode ser
facilmente imputável às condições materiais, como observámos também no
grupo dos democratas insatisfeitos, a falta de adesão ou a atitude de indiferença,
e, eventualmente, adversa, às convicções democráticas deve ser imputada à
escolaridade. Como verificaremos também no último grupo, os jovens que
manifestam uma atitude de desafectação estão, comparativamente aos jovens
democratas, bastante mais representados no escalão mais baixo de instrução,
sugerindo que a educação exerce uma influência importante no desenvolvimento
dos ideais e das concepções da democracia.
O último grupo da tipologia ilustra uma lógica minoritária em que a
satisfação com as condições de funcionamento da sociedade surge em paralelo
com manifestações de indiferença e, em alguns casos, de aversão às
convicções democráticas. Quase que se poderia dizer que a crítica está ausente
na medida em que a democracia não representa um valor com significado. Não
se verifica neste grupo, contrariamente ao anterior, qualquer combinação entre o
mal-estar social e a atitude não democrática. Que atributos sociais poderão,
então, estar na base das tendências que os desafectos satisfeitos revelam?
Como se referiu no comentário ao grupo precedente, a relação positiva entre a
educação e as crenças na democracia faz antever uma escolaridade baixa nos
jovens desafectos satisfeitos. De facto, assim é. A representação maioritária no
escalão nível de instrução mais baixo e a presença proporcionalmente mais
fraca nos outros dois níveis de instrução comprovam uma vez mais a influência
positiva da educação no desenvolvimento dos valores democráticos. Prova
adicional desta influência reside no facto de a instrução, mais precisamente a
baixa escolaridade, ser a única variável comum aos dois grupos de jovens
desafectos, que divergem no que respeita às outras variáveis. Com efeito,
verificamos que os jovens desafectos satisfeitos se caracterizam por um
predomínio feminino e são significativamente mais novos do que qualquer dos
136
outros três grupos atrás referidos, pelo que não é de estranhar que estejam
fortemente representados no meio estudantil. Característica deste grupo é ainda
a forte presença da categoria ocupacional outra, que inclui sobretudo as
actividades domésticas, que não pode deixar de ser relacionada com a
composição feminina do grupo. Do ponto de vista da localização social
sobressaem sobretudo sectores das «classes médias».
137
A primeira observação sobre a relação entre as atitudes perante a
democracia e a participação política social consiste em assinalar a associação
significativa registada em todos os indicadores. As conexões fortes e as
influências mútuas entre as atitudes favoráveis à democracia e o correspondente
exercício cívico e político confirmam a relação genérica que se estabeleceu à
partida, faltando agora descrever como os grupos «dissonantes», ou seja, que
combinam uma atitude favorável com outra desfavorável, se comportam em
relação aos outros (Quadro nº 23).
Começando por descrever o impacto das atitudes sobre o primeiro
indicador político, verifica-se que o exercício eleitoral é mais acentuado nos
democratas satisfeitos (69,2%), seguidos de muito perto pelos democratas
insatisfeitos (67%). O comportamento eleitoral dos dois grupos de jovens
desafectos é semelhante entre si e bastante distanciado do dos jovens
democratas, caracterizando-se sobretudo por um elevado abstencionismo:
maioritariamente, não exercem o direito de voto. O contraste não podia ser mais
nítido: elevada participação, do lado dos democratas; absentismo, do lado dos
jovens desafectos. Deste modo, pode depreender-se deste indicador que a
participação eleitoral está associada às convicções democráticas, sendo
relativamente pouco afectada pela maior ou menor satisfação que os jovens
experimentam com o funcionamento da sociedade. Votar é antes de tudo um
dever de quem partilha a ideia de cidadania. Se essa concepção não existe, há
menos motivação para agir segundo as regras que dela derivam.
138
Quadro nº 23
As atitudes perante a democracia e a participação social e política
139
votar. Há, consequentemente, uma recusa explícita da participação por parte de
certos sectores juvenis. Do lado dos jovens democratas, a posição é
completamente inversa, revelando a maioria uma intenção favorável. À luz do
indicador de intenção do voto, são confirmadas as mesmas relações que se
observaram a propósito da prática efectiva do voto, ou seja, de que há uma
congruência entre as convicções democráticas e o comportamento eleitoral dos
jovens que as perfilham.
O último dos três indicadores políticos diz respeito à participação não
institucional que refere acções e actividades que não se inserem no âmbito do
funcionamento institucional do sistema político, mas que decorrem dos direitos
de cidadania. O indicador já foi suficientemente descrito pelo que se pode passar
de imediato a referir as conexões que estabelece com as atitudes perante a
democracia. Começando por isolar o nível de participação nula, ou seja, os
jovens que nunca se envolveram nas acções ou actividades inquiridas, verifica-
se que os valores mais elevados se registam, sem surpresa, no grupo dos
desafectos insatisfeitos, atingindo quase um em cada dois destes jovens
(43,7%). Em contrapartida, o valor mais baixo regista-se precisamente no grupo
antípoda dos jovens democratas insatisfeitos (26.5%), ainda que o outro grupo
democrata não surja muito longe (31%). O facto de os jovens democratas
insatisfeitos não se caracterizarem pela participação nula poderá significar uma
maior propensão para o activismo político não convencional, indo ao encontro da
ideia de que o descontentamento poderia corresponder a uma posição crítica e
mais empenhada na procura de vias democráticas alternativas. Mas, antes de se
poder concluir neste sentido, importa analisar a intensidade que colocam nesse
activismo. No entanto, é possível, desde já, concluir que os jovens democratas
revelam sempre uma maior propensão para se envolverem e intervirem na
esfera política independentemente da natureza institucional ou não da acção em
causa. Acrescente-se ainda que a diferença entre os jovens desafectos
satisfeitos e insatisfeitos é significativa e vai no sentido de mostrar que a
satisfação com o funcionamento democrático predispõe mais facilmente à
participação.
140
Quanto à intensidade da participação, que se desdobra num nível baixo e
noutro moderado e alto, suscita essencialmente duas observações. A primeira
diz respeito aos grupos mais passivos e a segunda aos mais activos. A diferença
entre os jovens desafectos satisfeitos e os insatisfeitos radica sobretudo no nível
baixo de participação, já que no nível moderado e alto se mostra pouco
significativa. Neste sentido, pode afirmar-se que os satisfeitos são mais activos,
mas que o seu envolvimento na acção é pouco intenso, confirmando-se, em todo
o caso, a ideia de que a satisfação favorece a participação mesmo na ausência
de convicções democráticas.
Em relação à diferença entre os democratas satisfeitos e insatisfeitos
verifica-se que o maior protagonismo destes últimos se centra no nível mais
baixo de participação, sendo ligeiramente favorável aos primeiros no nível
moderado e alto. Por conseguinte, a diferença em termos de protagonismo é
pouco significativa, não permitindo justificar uma propensão específica dos
jovens democratas insatisfeitos por acções de natureza não institucional. Ainda
que se possa supor que afecte uma parte deles, a insatisfação não se converte
de forma generalizada em atitude crítica e em posições alternativas de acção.
Os dados relativos a este tipo de participação vão assim ao encontro dos
indicadores políticos convencionais no sentido em que assinalam a influência
das convicções democráticas na participação política, quer seja ou não de
âmbito institucional, e o papel praticamente inoperante do descontentamento.
Deste modo, o exercício da cidadania política pressupõe a adesão prévia a
valores e concepções democráticos.
Esclarecida a relação entre as atitudes face à democracia e a participação
política, especialmente a questão da presumível posição crítica dos jovens
insatisfeitos, interessa agora ver em que medida a insatisfação pode afectar a
participação no campo social. A atitude de alheamento dos jovens desafectos
em relação à cidadania e à participação política propagar-se-á também ao
campo social? Ou será de admitir, como se sugeriu, que uma atitude positiva
face ao funcionamento da sociedade predisponha a um envolvimento mais
favorável, em particular no campo associativo e no voluntariado. À semelhança
141
do que se fez com os indicadores políticos, a primeira observação incide sobre o
grau de associação entre as atitudes e a participação social. Os valores obtidos
mostram que, no caso do associativismo, a relação não é significativa e, no do
voluntariado, ainda que a relação revele uma associação, o nível de significância
é pouco elevado.
Apesar destes resultados, importa referir que são os democratas
satisfeitos que mais se envolvem em actividades de voluntariado. A propensão
que revelam é quase duas vezes superior à dos outros jovens, que não
apresentam entre si níveis de envolvimento diferenciados. Por conseguinte, a
associação que se detectou refere-se única e exclusivamente à dissensão do
grupo mais activo. Quanto à prática associativa, a vantagem também pertence
aos jovens democratas satisfeitos. Estão mais presentes no fenómeno
associativo e acumulam mais frequentemente múltiplas pertenças. No entanto,
essa vantagem que apresentam em relação aos outros jovens, que entre si
registam algumas diferenças, não é de todo muito significativa. Os menos
participativos são os jovens desafectos insatisfeitos, apresentando-se os jovens
desafectos satisfeitos numa posição um pouco mais à frente da dos jovens
democratas insatisfeitos, sobretudo no que se refere às múltiplas pertenças
associativas. Mas, como todas estas diferenças têm pouco ou nenhum
significado estatístico, a conclusão que se retira destes dados aponta no sentido
de a participação associativa não ser afectada, ou apelo menos em termos
significativos, nem pelas convicções nem pela satisfação com a democracia. A
razão de ser desta ausência de associação talvez se deva ao facto de o
associativismo, contrariamente ao voluntariado, não assumir necessariamente
um sentido de intervenção cívica. Muitas associações pressupõem apenas a
existência de um utente ou de um consumidor de serviços ou de actividades, e
não promovem qualquer acção que se inscreva no âmbito do exercício de
cidadania ou em prol da comunidade. É por isso que a pertença associativa
aparece tão desligada das atitudes. No caso do voluntariado esta relação está
presente, mas o facto de surgir apenas associada, ainda assim de forma pouco
pronunciada, aos jovens democratas satisfeitos, sugere que, apesar de
142
exercerem uma influência positiva, as convicções democráticas não constituem
o único, e muito possivelmente, nem o mais importante, factor de motivação.
Conclusão
143
democracia. No entanto, não se encontrou evidência empírica que possa
sustentar a ideia de que o descontentamento democrático alimente uma atitude
crítica que predisporia um número crescente de jovens a intervirem no sentido
de mudarem e melhorarem os canais e os mecanismos de participação da
democracia representativa. A participação aparece, assim, como apanágio dos
jovens que surgem mais identificados com as instituições democráticas, sendo
esta a razão que pode também explicar a prevalência da acção política
convencional, designadamente a eleitoral, sobre as formas alternativas de
envolvimento político.
144
Conclusão final
145
do Estado que atrofiou e atrofia o desenvolvimento da sociedade civil, o país
dificilmente conheceu uma cultura cívica eficaz que incentivasse a participação e
a presença dos cidadãos no espaço público, como se demonstra pela baixa
confiança interpessoal, a par da promoção de atitudes favoráveis ao
funcionamento do sistema político. O fraco desenvolvimento da cultura cívica
contribui para explicar a participação reduzida que se verifica nas actividades
associativas e voluntárias e as atitudes negativas que os portugueses nutrem em
relação ao sistema político, como se pode comprovar a partir dos dados a que
nos referiremos um pouco mais adiante a propósito das condicionantes
conjunturais.
Dentro das razões que limitam a participação juvenil, a escolaridade
merece referência especial. Como se pôde observar, existe uma variação
sistematicamente positiva entre o aumento da instrução e os níveis de
participação. Os jovens mais instruídos são mais activos, têm mais consciência
cívica e fazem mais uso dos direitos de cidadania. Da mesma forma, os países
com tradições cívicas mais desenvolvidas apresentam invariavelmente níveis
elevados de escolaridade. Sabe-se que a generalização da escolaridade é um
processo relativamente recente na sociedade portuguesa e que a frequência do
ensino superior se encontra aquém dos padrões desejáveis em termos de
comparação internacional. Este défice «estrutural» de formação tem um impacto
significativo na socialização dos cidadãos e na afirmação da cidadania, tanto na
vertente de acesso a direitos como na de exercício das obrigações e das
responsabilidades cívicas. A escolaridade é uma variável muito importante na
formação de cidadãos politicamente competentes e empenhados na acção
pública e cívica.
Revistas as condicionantes estruturais que limitam a participação cívica e
política dos jovens, podemos agora olhar para o impacto dos aspectos
conjunturais que, apesar de tudo, não são tão limitativos. Tendo em
consideração os três aspectos referidos — o funcionamento da democracia, as
atitudes em relação ao campo político e as representações de cidadania — pode
dizer-se que os dois primeiros bloqueiam mais do que promovem a cultura de
146
participação, enquanto em relação ao terceiro se passa o contrário. Ao longo do
estudo, os indicadores analisados mostraram claramente que a opinião dos
jovens em relação ao político e ao funcionamento institucional está longe de ser
favorável, embora seja necessário não generalizar em demasia para evitar correr
o risco de ignorar a diversidade das posições que, apesar de tudo, existe. Esta
opinião dominante pouco favorável, ou mesmo negativa, só pode contribuir para
desmotivar a acção política dos jovens. Em contrapartida, as representações
sobre a cidadania são mais positivas e vão ao encontro de uma concepção
activa. Os jovens revelam-se abertos a uma defesa alargada de direitos e
reconhecem obrigações cívicas, mais do que políticas, em relação à
comunidade.
Este é um ponto central do presente estudo. Se existe um sentido de
participação que poderá ser consolidado e ampliado é precisamente o da acção
cívica. Os dados deste inquérito mostram que existe um potencial de
mobilização que pode ser explorado, sobretudo se o enquadramento da acção
privilegiar o nível local, pelo facto de os jovens considerarem que é aí que
assentam e desenvolvem os laços e as identidades de pertença. Mas também
revelaram que o associativismo é um dos caminhos possíveis para incrementar
a participação, como ficou bem demonstrado a partir das relações que se
estabeleceram entre as duas variáveis. A revitalização do associativismo como
forma de promover a acção cívica juvenil passará, sem dúvida, pelo menos em
alguns casos, pelo apoio directo a equipamentos e actividades, mas estará,
certamente, mais dependente das oportunidades abertas na sociedade civil,
quer por iniciativa dela própria quer pela devolução de competências hoje
inscritas no âmbito estatal.
Em contrapartida, a política, entendida aqui no sentido «convencional»
protagonizada pelos partidos políticos, parece ter menos possibilidades de
afirmação. A relutância que o envolvimento institucional na política suscita, em
parte provocado pela falta de credibilidade das instituições e pelo declínio da
política, ficou suficientemente evidenciada para não permitir, pelo menos a curto
prazo, alimentar grandes expectativas em relação ao desenvolvimento da
147
participação política. É necessário, no entanto, ter presente que este
distanciamento não significa necessariamente o esvaziamento do político. A
possibilidade de a acção ser desencadeada por causas que transcendem as
agendas políticas convencionais ou por «reacções» que escapam ao controlo do
sistema político existe sempre na juventude, pelo menos em estado latente. Mas
não há forma de saber quando e em que condições, ou mesmo se essa
possibilidade ocorrerá num horizonte que consigamos actualmente alcançar.
Apesar de um certo desalento em relação à esfera política, há razões
para crer que a consciência de cidadania não deixará de se afirmar, em
consequência de uma crescente mobilização cognitiva assente nos progressos
da escolaridade e na abertura que uma sociedade democrática proporciona. Já
em relação à participação é de crer que o reforço do associativismo será
decisivo na medida em que representa uma componente fundamental do
desenvolvimento de uma sociedade civil.
148
Questionário
149
Associativismo e cidadania política dos jovens (dos 15 aos 29 anos)
I ASSOCIATIVISMO JUVENIL
Q1. Para começar, gostaria de saber se participa ou é membro de alguma associação. Pertence a
alguma das organizações ou associações indicadas na seguinte lista?
ASSOCIAÇÕES PERTENCE/
PARTICIPA
V Associações comunitárias ou de assistência social 01
V Associações religiosas ou de Igreja/paroquiais 02
V Associações culturais ou artísticas (musica, dança, 03
teatro)
V Associações profissionais 04
V Sindicatos 05
V Partidos políticos / juventudes partidárias 06
V Movimento ou organizações de direitos humanos 07
V Associações para a protecção da natureza, dos 08
animais ou do ambiente.
V Associações de juventude 09
V Associações de consumidores 10
V Associações de estudantes 11
V Associações/clubes desportivos 12
V Associações/clubes em torno de um interesse 13
específico ou de um hobby (coleccionadores, clubes
de aeromodelismo, etc.)
V Outros clubes ou associações 14
V Nenhum clube ou associação 15
V Não sabe 98
V Não responde 99
150
[PERGUNTAR PARA TODAS AS ASSOCIAÇÕES DE QUE O INQUIRIDO É MEMBRO OU
PARTICIPANTE]
[MOSTRAR CARTÃO 2]
regularmente
regularidade
Com alguma
Raramente
responde
Não sabe
Nunca
Muito
Não
V Associações comunitárias ou de assistência
1 2 3 4 8 9 ()
social
V Associações religiosas ou de
1 2 3 4 8 9 ()
Igreja/paroquiais
V Associações culturais ou artísticas (musica,
1 2 3 4 8 9 ()
dança, teatro)
v Associações profissionais 1 2 3 4 8 9 ()
V Sindicatos 1 2 3 4 8 9 ()
V Partidos políticos/Juventudes partidárias 1 2 3 4 8 9 ()
V Movimento ou organizações de direitos
1 2 3 4 8 9 ()
humanos.
V Associações para a protecção da natureza,
1 2 3 4 8 9 ()
dos animais ou do ambiente
V Associações de juventude 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações de consumidores 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações de estudantes 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações/ clubes desportivos 1 2 3 4 8 9 ()
V Associações/clubes em torno de um
interesse específico ou de um hobby
1 2 3 4 8 9 ()
(coleccionadores, clubes de aeromodelismo,
etc.)
V Outros clubes ou associações 1 2 3 4 8 9 ()
151
[PERGUNTAR PARA TODAS AS ASSOCIAÇÕES DE QUE O INQUIRIDO É MEMBRO]
Q3. Costuma dar regularmente uma contribuição monetária para essa(s) associação(ões) (por
exemplo, uma quota mensal)?
responde
Não sabe
Não
Não
Sim
V Associações comunitárias ou de assistência social 1 2 8 9 ()
V Associações religiosas ou de Igreja/paroquiais 1 2 8 9 ()
V Associações culturais ou artísticas (musica, dança, teatro) 1 2 8 9 ()
v Associações profissionais 1 2 8 9 ()
V Sindicatos 1 2 8 9 ()
V Partidos políticos/Juventudes partidárias 1 2 8 9 ()
V Movimento ou organizações de direitos humanos. 1 2 8 9 ()
V Associações para a protecção da natureza, dos animais ou
1 2 8 9 ()
do ambiente
V Associações de juventude 1 2 8 9 ()
V Associações de consumidores 1 2 8 9 ()
V Associações de estudantes 1 2 8 9 ()
V Associações/ clubes desportivos 1 2 8 9 ()
V Associações/clubes em torno de um interesse específico
1 2 8 9 ()
ou de um hobby (coleccionadores, clubes, etc.)
V Outros clubes ou associações 1 2 8 9 ()
responde
Não sabe
Não
Não
Sim
152
[APENAS PARA OS QUE SÃO MEMBROS DE UMA ASSOCIAÇÃO]
Q5. Qual a principal razão que o/a leva a participar nas associações que indicou?
[RESPOSTA SIMPLES]
[MOSTRAR CARTÃO 3]
Principal razão
V É uma forma de conviver e de conhecer novas 1
pessoas
V É uma forma de prestar um serviço aos outros e à 2
comunidade.
V É uma forma de me enriquecer pessoalmente e de 3
adquirir novas experiências e competências
V É uma forma de poder contribuir para a 4
transformação da sociedade
V É uma forma de os jovens se fazerem ouvir 5
V Outra. Qual? 6
V Não sabe 8
V Não responde 9
Q6. Qual a principal razão para não participar em nenhuma actividade associativa?
[RESPOSTA SIMPLES]
[MOSTRAR CARTÃO 4]
Principal razão
V As actividades associativas têm pouco ou nenhum 1
interesse.
V Não existem associações em que esteja interessado 2
em participar no local onde vivo
V Mesmo que desejasse participar numa associação não 3
saberia onde me dirigir.
V Tenho pouco tempo livre para participar em 4
actividades associativas.
V Outra. Qual? 5
V Não sabe 8
V Não responde 9
153
[PARA TODOS]
Q7. Pensando nos últimos 3 anos, ocupou algum do seu tempo a participar em qualquer tipo de
serviços comunitários ou de actividades voluntárias, ou nunca teve tempo ou interesse para fazer
isso? (Por actividade voluntária não se entende apenas a pertença a uma associação, mas a
realização de um trabalho de ajuda aos outros sem receber qualquer pagamento monetário).
[MOSTRAR CARTÃO 5]
()
Sim, envolvi-me nesse tipo de trabalho nos últimos 12 meses 1
Sim, mas não nos últimos 12 meses 2
Não me envolvi nesse tipo de trabalhos nestes úlitmos 3 anos 3
Não sabe 8
Não responde 9
[FAZER Q8/Q9/Q10/Q11 APENAS PARA OS QUE DIZEM TER FEITO TRABALHO VOLUNTÁRIO –
CÓDIGOS 1 E 2 DA PERGUNTA Q7]
Q8. Indique todos os grupos para quem trabalhou voluntariamente, ou seja, sem
receber dinheiro, nos últimos três anos?
Q9. E quantas horas, em média, por semana ocupa ou ocupou a realizar trabalho
voluntário nos grupos ou associações em que participa ou participou nos últimos três
anos?
[MOSTRAR CARTÃO 6]
Q8. Q9.
Trabalhou Número de
Voluntariamente horas
V Numa Igreja ou num grupo religioso 01
V Numa associação cívica ou comunitária, ou num grupo
que proporciona serviços sociais e de saúde (ex: apoio
aos sem-abrigo, às pessoas carenciadas, doentes ou 02
deficientes)
V Num grupo artístico 03
V Num grupo que trabalha com a infância, juventude ou 04
em educação.
V Num organização política ou uma campanha política 05
V Numa associação ecologista 06
V Num grupo recreativo 07
V Num grupo que procurava resolver um problema na 08
zona/bairro em que vivo
V Campanha de angariação de fundos em géneros ou 09
em dinheiro destinada a fins sociais
V Noutro. Qual? __________________________ 10
V Em nenhum 11
V Não sabe 98
V Não responde 99
154
Q10. Que razões o/a levaram a envolver-se nesse tipo de trabalho voluntário?
[RESPOSTA MÚLTIPLA]
[MOSTAR CARTÃO 7]
()
Um familiar meu estava já envolvido 1
Um membro da minha família mais chegada estava ligado a
2
esse grupo/associações
Um amigo pediu-me para colaborar 3
Tinha interesse na actividade 4
Sinto-me responsável por procurar fazer com que a sociedade
5
se torne melhor.
Outra razão. QuaL? 6
Não sabe 8
Não responde 9
Q11. Como estabeleceu o primeiro contacto com a associação ou grupo a que está
mais ligado?
[MOSTRAR CARTÃO 8]
(14)
Eles contactaram-me 1
Contactei-os eu 2
Uma terceira pessoa pôs-me em contacto 3
Não me lembro 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q12. Pensa que as pessoas estão hoje mais ou menos dispostas a ajudar os outros do
que no passado?
[MOSTRAR CARTÃO 9]
(14)
Mais dispostas 1
Menos dispostas 2
Têm a mesma disposição 3
Não sabe 8
Não responde 9
155
[MOSTRAR CARTÃO 10]
Q13. Qual das duas afirmações vai mais ao encontro da sua forma de pensar?
()
Devo ser responsável e participar no melhoramento da
1
sociedade.
O melhoramento da sociedade é da responsabilidade do
2
governo.
Não sabe 8
Não responde 9
156
II CIDADANIA
Q14. Existem diferentes opiniões em relação ao que é necessário fazer para ser um bom
cidadão. No que lhe diz pessoalmente respeito, numa escala de 1 a 7, em que 1 significa nada
importante e 7 muito importante, que importância atribui a:
[MOSTRAR CARTÃO 11]
importante
importante
responde
Não sabe
Muito
Não
Nada
V Votar sempre nas eleições 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Pagar sempre os impostos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Obedecer sempre às leis e
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
regulamentos
V Vigiar a acção do governo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
V Participar activamente em
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
associações sociais ou políticas
V Procurar compreender o
pensamento das pessoas com 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
outras opiniões
V Escolher produtos por razões
políticas, éticas ou ambientais,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
mesmo que custem um pouco
mais.
V Ajudar em Portugal as pessoas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
que vivem pior do que eu.
V Ajudar as pessoas que, no resto
do mundo, vivem pior do que 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
eu.
V Estar disposto a ser
militarmente mobilizado em 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
caso de necessidade ou guerra.
V Cumprir as regras de trânsito
seja como peão ou como 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
automobilista
V Contribuir para um ambiente
melhor separando o lixo e
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
colocando-o nos locais
correctos
V Não danificar a propriedade
pública (não deitar lixo para o
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
chão, não escrever nas
paredes, etc.)
V Ser tolerante com as pessoas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
que são diferentes de mim
157
Q15. Na sua opinião, em qual das seguintes actividades é mais importante um
cidadão participar?
()
Envolver-se em política e/ou na governação. 1
Participar em organizações nacionais que procuram
2
mudar a sociedade
Realizar trabalho voluntário na comunidade para
3
resolução de problemas locais
Em nenhuma destas
Não sabe 8
Não responde 9
()
Optimismo em relação ao futuro 1
Sinto existirem razões para que se olhe o futuro com
2
preocupação.
Não sabe 8
Não responde 9
Q17. Diria que sente muito, algum, pouco ou nenhum orgulho em ser português?
()
Muito orgulho 1
Algum orgulho 2
Pouco orgulho 3
Nenhum orgulho 4
Não sabe 8
Não responde 9
158
Q18. Com que grupo se identifica mais?
()
O Bairro/localidade onde vive 1
A cidade onde vive 2
A região onde vive 3
O país onde vive 4
A União Europeia 5
O mundo 6
Não sabe 8
Não responde 9
Q19. Pensando nos problemas que existem à nossa volta, em que medida considera
que, se decidisse fazer alguma coisa, a sua acção seria eficaz no sentido de os
resolver.
()
Muito eficaz 1
Eficaz 2
Pouco eficaz 3
Nada eficaz 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q20. Alguma vez trabalhou informalmente com alguém ou com um grupo para
resolver um problema na comunidade em que vive?
()
Não, não o fiz 1
Sim, mas não nos últimos 12 meses. 2
Sim, nos últimos 12 meses 3
Sim, mas não tenho a certeza quando o fiz. 4
Não sabe 8
Não responde 9
159
[MOSTRAR CARTÃO 18]
Q21. De uma forma geral, acha que todo o cuidado é pouco quando se lida com as pessoas ou acha que
se pode confiar na maioria das pessoas?
()
Todo o cuidado é pouco quando se lida com as pessoas 1
Pode-se confiar na maioria das pessoas 2
Não sabe 8
Não responde 9
Q22. De seguida vou-lhe apresentar duas frases e peço-lhe que escolha a que vai
mais ao encontro da sua forma de pensar.
()
Há geralmente indicações claras em relação ao que é certo e
1
errado
O que é certo ou errado pode ser diferente de pessoa para
2
pessoa
Não sabe 8
Não responde 9
160
III PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
Q23. Vamos agora falar de política. Vou começar por lhe ler uma lista de acções políticas ou
sociais que as pessoas podem fazer. Por favor, indique para cada uma delas:
Nunca fez
Fez em
Fez no mas Nunca Não Não
anos
ano admite o faria sabe responde
anteriores
fazer
V Assinar uma petição ou um abaixo-
1 2 3 4 8 9 ()
assinado
V Boicota, ou comprar deliberadamente,
certos produto por razões de natureza 1 2 3 4 8 9 ()
política, ética ou ambiental.
V Participar em manifestações ou acções
1 2 3 4 8 9 ()
de protesto
V Ir a um comício político 1 2 3 4 8 9 ()
V Participar em greves 1 2 3 4 8 9 ()
V Contactar, ou tentar contactar, um
político ou uma autoridade para 1 2 3 4 8 9 ()
expressar a sua posição.
V Dar dinheiro ou recolher fundos para
1 2 3 4 8 9 ()
uma actividade social.
V Contactar ou aparecer na Comunicação
1 2 3 4 8 9 ()
Social a expressar as suas opiniões.
V Participar num fórum político através
da Internet ou num grupo de 1 2 3 4 8 9 ()
discussão
V Divulgar propaganda partidária através
da roupa, de autocolantes ou de 1 2 3 4 8 9 ()
cartazes.
161
[MOSTRAR CARTÃO 21]
Q24a Dos seguintes assuntos, qual acha que é o mais importante para os jovens de hoje?
Q25. Agora vou ler-lhe o que algumas pessoas disseram sobre o que a política significa para elas. Indique a
frase que melhor expressa a sua opinião.
()
Política significa uma competição entre políticos para se elegerem 1
Política trata do debate de leis e assuntos relacionados com o país 2
Política reflecte os esforços de uma comunidade para resolver os
3
seus problemas
Política é a forma através da qual o cidadão faz ouvir a sua voz 4
Não sabe 8
Não responde 9
162
[MOSTRAR CARTÃO 23]
Q26. Falando da divisão entre a direita e a esquerda, acha que esta divisão ainda faz
sentido nos dias de hoje?
()
Não, porque as diferenças entre os partidos estão cada vez menores 1
Não, porque as sociedades têm novos problemas que não passam
2
por essa divisão
Sim, porque existem posições diferentes na sociedade em relação a
3
muitas questões importantes
Sim, continua a ser fundamental falar-se na divisão entre esquerda
e direita, porque os problemas estruturais da sociedade 4
permanecem
Não sabe 8
Não responde 9
Q27. Imagine uma lei (nacional) que considerasse injusta ou prejudicial. Neste caso,
qual seria a probabilidade de fazer algo, quer agisse sozinho ou em conjunto com
outros?
()
Altamente provável 1
Provável 2
Improvável 3
Altamente improvável 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q28. Se decidisse fazer algo, qual seria a probabilidade dessa reivindicação ser ouvida [M
pelo governo ou os seus representantes? AN
TE
R
CARTÃO 24]
()
Altamente provável 1
Provável 2
Improvável 3
Altamente improvável 4
Não sabe 8
Não responde 9
163
[MOSTRAR CARTÃO 25]
(33)
Muito interesse 1
Algum interesse 2
Pouco interesse 3
Nenhum interesse 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q30 Com que frequência diria que discute política ou a actividade do governo com a sua família?
Q30 Q31
() ()
Nunca 1 1
Raramente 2 2
Algumas vezes 3 3
Muitas vezes 4 4
Não sabe 8 8
Não responde 9 9
Q32. Procura persuadir os seus amigos, familiares ou colegas de trabalho a aceitarem a sua
posição ou as suas opiniões políticas?
(39)
Frequentemente 1
Algumas vezes 2
Raramente 3
Nunca 4
Não sabe 8
Não responde 9
164
Q33. Qual das seguintes frases descreve melhor a sua atitude em relação às
notícias?
(40)
Sigo as notícias de perto quase sempre, independentemente
1
de alguma coisa de importante estar a acontecer ou não
Sigo as notícias de perto apenas quando algo de importante
2
ou interessante está a acontecer
Raramente sigo as notícias de perto 3
Não sabe 8
Não responde 9
165
IV – VOTO / RECENSEAMENTO
Q34. Vamos agora falar de eleições. Começo por perguntar se considera o acto de
votar extremamente importante, muito importante, importante, pouco importante ou
nada importante?
()
Extremamente importante 1
Muito importante 2
Importante 3
Pouco importante 4
Nada importante 5
Não sabe 8
Não responde 9
Q35. Na sua opinião, qual a palavra que melhor descreve o seu sentimento
face ao acto de votar?
()
Um direito 1
Uma responsabilidade 2
Uma opção 3
Uma obrigação 4
Não sabe 8
Não responde 9
()
Sim 1
Não 2
Não sabe 8
Não responde 9
166
[APENAS PARA OS QUE RESPONDERAM SIM À PERGUNTA ANTERIOR]
()
Não estava recenseado 1
A política não me interessa 2
Não tive oportunidade (doença, estava ausente, etc.) 3
Nas últimas eleições não havia nada de importante em jogo 4
Não sabe 8
Não responde 9
()
Ainda não teve tempo para o fazer 1
Não se tem preocupado com isso pois não é uma prioridade 2
Não tem interesse em votar 3
Não sabe como se recensear 4
Não tem idade 5
Tem estado a viver longe de casa 6
Não sabe 8
Não responde 9
167
[PARA TODOS, NOVAMENTE]
Q40. Tem simpatia por algum dos partidos políticos portugueses? Se sim, por qual?
()
PSD 1
PS 2
PP/ CDS 3
PCP 4
Bloco de esquerda 5
Outro 6
Não tem simpatia por nenhum 7
Não sabe 8
Não responde 9
Q41 Diria que o seu pai é uma pessoa mais de esquerda, ou mais de direita, ou não
é nem da esquerda nem da direita?
Q43. Vou ler-lhe algumas razões que levam uma parte dos jovens a não votar. Na sua
opinião, qual a principal razão porque esses jovens não votam.
()
Porque não consideram haver uma grande diferença entre os 01
partidos/candidatos
Porque não têm informação suficiente acerca dos 02
partidos/candidatos
Porque muitos deles ainda não se recensearam 03
Porque têm vidas muito ocupadas 04
Porque acham que o voto não leva a nada 05
Porque não gostam de política 06
Porque não irem votar é uma forma de protesto 07
Porque a forma como as campanhas são feitas leva ao 08
desinteresse pelo voto
Não sabe 98
Não responde 99
168
Q44. Quando considera a possibilidade de votar num determinado partido, qual o aspecto
que mais influencia a sua decisão? E a seguir?
V V
Aspecto que mais Segundo aspecto que
influencia mais influencia
() ()
A simpatia ou a identificação partidária 01 01
O programa do partido ou da coligação 02 02
A experiência e a competência dos candidatos 03 03
A sinceridade e a honestidade dos candidatos 04 04
A figura do líder do partido 05 05
Os temas que são abordados na campanha 06 06
A acção do partido no governo 07 07
A oposição do partido ao governo 08 08
Costumo votar em branco 09 09
Não costumo ir votar 10 10
Não tenho idade ou não estou recenseado 11 11
Não sabe 98 98
Não responde 99 99
()
Sim, quase de certeza 1
Sim, é provável 2
É pouco provável 3
Não, quase de certeza que não vou 4
Não sabe 8
Não responde 9
169
V DEMOCRACIA
Q46. Existem diferentes opiniões acerca dos direitos das pessoas em democracia. Numa
escala de 1 a 7, em que 1 significa nada importante e 7 significa muito importante,
qual a importância que atribui a
importante
importante
responde
escolher
consigo
Muito
Não
Não
Nada
V Que todos os cidadãos tenham
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
um nível de vida adequado
V Que as autoridades
governamentais respeitem e 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
protejam os direitos das minorias
V Que as autoridades
governamentais tratem todos da
mesma maneira, 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
independentemente da posição
que cada um ocupa na sociedade.
V Que os políticos considerem as
opiniões dos cidadãos antes de 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
tomarem decisões
V Que as pessoas tenham mais
oportunidades para participarem
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
em processos de decisão
públicos.
V Que os cidadãos possam
envolver-se em actos de
1 2 3 4 5 6 7 8 9 ()
desobediência civil quando se
opõem às acções do governo.
Q47. Muitas pessoas pensam que a democracia é a melhor forma de governo. Concorda
completamente, concorda, não concorda nem discorda, discorda ou discorda
completamente com esta opinião?
()
Concordo completamente 1
Concordo 2
Não concordo nem discordo 3
Discordo 4
Discordo completamente 5
Não sabe 8
Não responde 9
170
Q48. Qual das seguintes frases está mais próxima da sua opinião?
()
Acho que a liberdade e a igualdade são importantes. Mas,
se tivesse que escolher entre as duas, escolheria a
A 1
liberdade, ou seja, cada um pode viver em liberdade e
desenvolver-se à vontade
A liberdade e a igualdade são importantes. Mas, se tivesse
que escolher entre as duas, escolheria a igualdade, ou seja,
B 2
que ninguém seja desfavorecido e que as diferenças entre
as classes sociais não sejam tão acentuadas
Não sabe 8
Não responde 9
Q49. A seguir vou ler-lhe uma lista de várias instituições como a polícia, o Governo, a
administração pública, etc. Por favor, indique, numa escala de 0-10, em que 0
significa nenhuma confiança e 10 significa confiança muito forte, qual o grau de
confiança que tem nas seguintes instituições:
muito forte
Confiança
Não sabe
responde
Nenhuma
confiança
Não
V O Governo
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Partidos Políticos
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V O Parlamento
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Tribunais
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Autarquias
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Administração pública
()
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Polícia
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A União Europeia
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Nações Unidas
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V As Organizações não
governamentais 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Igreja
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V Os Meios de Comunicação
Social 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V O Sistema de Saúde
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
V A Universidade
00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 98 99
171
Q50. De uma forma geral, encontra-se muito satisfeito, mais ou menos satisfeito, pouco
satisfeito ou nada satisfeito com a forma como a democracia funciona em Portugal?
()
Muitosatisfeito 1
Mais ou menos satisfeito 2
Pouco satisfeito 3
Nada satisfeito 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q51 Pensando na administração pública portuguesa, em que medida pensa que está
empenhada em servir as pessoas?
()
Muito empenhada 1
Moderadamente empenhada 2
Pouco empenhada 3
Nada empenhada 4
Não sabe 8
Não responde 9
172
Q52. Vou ler-lhe um conjunto de opiniões relativas à actividade política. Diga-me, por
favor, se concorda muito, concorda, não concorda nem discorda, discorda ou
discorda muito em relação a cada uma delas.
Nem concorda
Não responde
nem discorda
Concorda
Concorda
Não sabe
Discorda
Discorda
muito
muito
V Pessoas como eu não têm qualquer
1 2 3 4 5 8 9 ()
influência sobre o que o Governo faz
V Penso que os políticos não se
interessam muito com o que as pessoas 1 2 3 4 5 8 9 ()
como eu pensam
V Sinto que tenho uma boa compreensão
dos problemas políticos mais 1 2 3 4 5 8 9 ()
importantes com que o país se debate.
V Penso que posso ter um papel activo
num grupo que se interessa por 1 2 3 4 5 8 9 ()
questões políticas.
V Às vezes a política parece tão
complicada que pessoas como eu não 1 2 3 4 5 8 9 ()
conseguem perceber o que se passa
V Os políticos estão apenas interessados
nos votos das pessoas e não nas suas 1 2 3 4 5 8 9 ()
opiniões.
V De uma forma geral, o governo governa
em benefício de todos e não de alguns 1 2 3 4 5 8 9 ()
grupos
V Os jovens gostariam de ter mais
oportunidades para poderem participar
1 2 3 4 5 8 9 ()
nos assuntos que afectam directamente
as suas vidas
173
VI— SOCIOGRAFIA
Q53 Sexo
()
Masculino 1
Feminino 2
|___|___| anos
()
()
Solteiro/a 1
Casado/a pela igreja 2
Casado/a pelo civil 3
Vive conjugalmente sem ser casado/a 4
Separado(a)/Divorciado/a 5
Viúvo/a 8
Não responde 9
174
Passando agora a falar de habilitações…
()
Nunca frequentou a escola 01
Frequentou, mas não completou o 1.º ciclo do ensino básico ou 02
equivalente
1º ciclo do ensino básico ou equivalente (4º ano de escolaridade, 03
antigo ensino primário, 4ª classe)
2º ciclo do ensino básico ou equivalente (5º e 6º ano de 04
escolaridade, antigo 1º e 2º anos do ciclo preparatório ou do
liceu)
3º ciclo do ensino básico ou equivalente (7º ao 9º ano de 05
escolaridade, antigo ensino secundário, antigo 3º ao 5º ano do
liceu)
Ensino secundário ou equivalente (10º ao 12º ano de 06
escolaridade, antigo ensino complementar, antigo 6º e 7º ano do
liceu, antigo ano propedêutico)
Ensino médio (bacharelato) 07
Ensino superior (licenciatura ou pós-graduação) 08
Não sabe 98
Não responde 99
Q58. Qual o grau de instrução mais elevado que o seu pai atingiu?
()
Nunca frequentou a escola 01
Frequentou, mas não completou o 1.º ciclo do ensino básico ou 02
equivalente
1º ciclo do ensino básico ou equivalente (4º ano de escolaridade, 03
antigo ensino primário, 4ª classe)
2º ciclo do ensino básico ou equivalente (5º e 6º ano de 04
escolaridade, antigo 1º e 2º anos do ciclo preparatório ou do
liceu)
3º ciclo do ensino básico ou equivalente (7º ao 9º ano de 05
escolaridade, antigo ensino secundário, antigo 3º ao 5º ano do
liceu)
Ensino secundário ou equivalente (10º ao 12º ano de 06
escolaridade, antigo ensino complementar, antigo 6º e 7º ano do
liceu, antigo ano propedêutico)
Ensino médio (bacharelato) 07
Ensino superior (licenciatura ou pós-graduação) 08
Não sabe 98
Não responde 99
[NOTA PARA O ENTREVISTADOR: caso não saiba ou não queira responder ao grau de instrução
do pai ou à figura que o substitui, perguntar pelo grau de instrução da mãe. Se assim acontecer,
a partir daqui as questões de caracterização relativas ao pai devem ser colocadas relativamente a
essa mesma pessoa]
175
Falando agora acerca de situações profissionais
Q59. Alguma vez exerceu uma actividade profissional, mesmo que a tempo parcial?
()
Sim 1
Não 2
Não sabe 8
Não responde 9
Q60. Qual é a sua actividade profissional actual, ou a ultima caso actualmente não se encontre a
trabalhar? (especificar o mais possível) Profissão principal
()
Patrão 1
Isolado/trabalhador por conta própria 2
Trabalhador em empreendimento familiar 3
Assalariado/trabalhador por conta de outrém 4
Outra situação (especifique) 5
Não sabe 8
Não responde 9
176
[NOVAMENTE PARA TODOS]
Q63. Relativamente ao seu pai, qual é a sua actividade profissional actual, ou a última, caso
actualmente o seu pai não se encontre a trabalhar? (especificar o mais possível) Profissão
principal.
Q64. E qual é/era a situação nessa profissão (actual ou última) do seu pai?
()
Patrão 1
Isolado/trabalhador por conta própria 2
Trabalhador em empreendimento familiar 3
Assalariado/trabalhador por conta de outrém 4
Outra situação: especifique 5
Não sabe 8
Não responde 9
177
Q65. Voltando novamente à sua própria situação, aproximadamente quanto dinheiro recebe por
mês, quer através do trabalho, quer da família ou de outros meios? Assinale o escalão
correspondente à sua situação económica.
()
Até 50 euros 1
51-100 euros 2
101-250 euros 3
251-500 euros 4
501-1000 euros 5
Mais de 1000 euros 6
Não sabe 8
Não responde 9
[NOTA PARA O ENTREVISTADOR: no caso dos inquiridos que já trabalham, esta quantia refere-
se ao ordenado líquido, depois de feitos os descontos, mais outras eventuais fontes de
rendimento]
()
Não crente/ateu (não acredito em 1
nenhum Deus
Agnóstico (não sei se existe algum Deus) 2
Indiferente 3
Católico praticante 4
Católico não praticante 5
Crente de outra religião não católica- 6
especifique
Não sabe 7
Não responde 8
()
Extremamente religiosa 01
Muito religiosa 02
Mais ou menos religiosa 03
Pouco religiosa 04
Nada religiosa 05
A religião é-me indiferente 06
Não sabe 98
Não responde 99
178
Q68. Em termos genéricos, qual o grau de satisfação que sente em relação à sua vida
familiar em casa. Diria que está muito satisfeito, satisfeito, pouco satisfeito ou nada
satisfeito?
()
Muito satisfeito 1
Satisfeito 2
Pouco satisfeito 3
Nada satisfeito 4
Não sabe 8
Não responde 9
Q69. Vou agora ler-lhe uma lista de diferentes objectivos que os jovens podem ter.
Utilizando uma escala de 1 a 10, em que 1 significa nada importante e 10 significa
muito importante, qual a importância que atribui a cada um destes objectivos.
[MOSTRAR CARTÃO 70
importante
importante
rimportant
responde
Não sabe
Muito
Não
Nada
179