Sei sulla pagina 1di 24

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I

Departamento de Ciências da Comunicação – CESNORS/UFSM


Curso de Comunicação Social – Jornalismo
21 de junho a 08 de julho de 2010

A POSSE DO COMPUTADOR PORTÁTIL, OS USOS DA


INTERNET E A RECONFIGURAÇÃO DO TERRITÓRIO
INFORMACIONAL

ANTONIO MARCOS DEMENEGHI DA SILVA

Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para
aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Luciano Miranda e avaliação dos
seguintes docentes:

Prof. Luciano Miranda


Universidade Federal de Santa Maria
Orientador

Prof. Cláudia Herte de Moraes


Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Marcelo Freire Pereira de Souza


Universidade Federal de Santa Maria

Prof. José Antonio Meira da Rocha


Universidade Federal de Santa Maria
(Suplente)

Frederico Westphalen, 14 de junho de 2010.


0
A posse do computador portátil, os usos da internet e a reconfiguração do território
informacional

RESUMO
Este artigo é o resultado de uma pesquisa empírica qualitativa, realizada com o objetivo de
constatar nos usos da internet e do computador portátil, a reconfiguração do território
informacional. A fim de obter indicativos sociais comparou o caso de treze universitários que
usam o computador portátil e tem acesso a internet na maior parte do dia. Como instrumentos de
pesquisa foram realizadas entrevistas gravadas em áudio e observação participante. Constatamos
que o computador portátil é usado no acesso a múltiplos conteúdos; oferece interfaces amigáveis;
permanência on-line estendida; o contato com informações continuamente atualizadas. Que o uso
do computador portátil permite o controle o do fluxo informacional que é considerado de baixo
custo financeiro, com economia de tempo e esforço.

PALAVRAS-CHAVE: internet; tecnologias móveis; computador portátil; território


informacional

INTRODUÇÃO

O encontro de uma informação que serve de parâmetro na tomada de decisão, não mais
obriga, uma posição espacial fixa. É na composição de um espaço de relações mediado pela
internet e as tecnologias da informação que temos a gênese do território informacional. Processo
que interfere nas lógicas comerciais e também de espaço/tempo.

O computador portátil com tecnologia wireless 1, é um dispositivo cada vez mais presente
no ambiente acadêmico. Estudantes que nos usos das ferramentas de comunicação para a internet,
modificam o modo de obter informação e alteram as lógicas territoriais, por conseguinte,
mudanças no comportamento e na rotina de escolas e universidades.

Uma das propriedades de usos é o acesso a internet com mobilidade, prática que permite
conciliar atividades presenciais e usar as redes telemáticas para processar, armazenar e transferir
dados de modo ágil, localizar e ser localizado, responder e-mails, postar fotografias, fazer

1
Wireless: Se permitem definir assim, vários tipos de redes que são: Redes Locais sem Fio ou WLAN (Wireless Local Area Network), Redes
Metropolitanas sem Fio ou WMAN (Wireless Metropolitan Area Network), Redes de Longa Distância sem Fio ou WWAN (Wireless Wide Area
Network), redes WLL (Wireless Local Loop) e o novo conceito de Redes Pessoais Sem Fio ou WPAN (Wireless Personal Area Network).
Boletim bimestral sobre tecnologia de redes produzido e publicado pela RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa em 15 de maio de 1998 |
volume 2, número 5. Disponível em: <http://www.rnp.br/newsgen/9805/wireless.html>

1
comentários em postagens, emitir opinião em blogs, anunciar a rotina no twitter e ainda dispor de
uma diversidade de bancos de dados. É a tecnologia digital em rede permitindo a reconfiguração
do território informacional. Mas em função de quê, os alunos usam seus notebooks e as
ferramentas para a internet? Como os usos atuais estariam promovendo a reconfiguração do
território informacional?

Embora esta pesquisa tenha iniciado no primeiro semestre de 2010, no curso de


comunicação social da Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen,
há mais de oito anos acompanho e observo os usos da internet nas relações diárias. Nesta fase,
sob a orientação do Prof. Dr. Luciano Miranda, busquei referências nas obras de autores como
Michel de Certeau (2008), Pierre Bourdieu (2000), Chris Anderson (2006), Rogério Haesbaert
(2005), André Lemos (2007), entre outros, a fim de compreender e descrever este fenômeno
relativamente novo em nossa sociedade, que é o uso do computador portátil em atividades
cotidianas.

A pesquisa está focada num agrupamento social que dispõe dos recursos necessários para
o acesso à internet na maior parte do dia, portanto não tem a pretensão de discutir a problemática
da exclusão digital. Neste propósito, foi observado e entrevistado um universo de treze atores
sociais que diariamente usam o computador portátil em suas relações cotidianas. Doze
informaram possuir internet banda larga em casa e no local de estudo com tecnologia wireless2.
Portanto, o universo empírico pesquisado, contempla uma parcela privilegiada quanto ao uso de
computadores e acesso a internet. O objetivo foi identificar como cada um destes atores sociais
interage com os demais, e também, quais as lógicas que determinam as ações de conservação ou
reconfiguração deste território informacional.

METODOLOGIA E OBJETO EMPÍRICO

Trata-se de uma pesquisa empírica qualitativa que no modo de apropriação e nos usos
singularizados, informados por meio de entrevistas abertas e observação participante, estabeleceu

2
parâmetros de análise para compreender como se processam as táticas de apropriação e
dominação do território informacional. A pesquisa elenca indicadores sociais e correlacionam
com os conceitos de mídias locativas, território informacional e espaço.

As entrevistas foram gravadas em áudio e conduzidas na intenção de estabelecer um


dialogo de confiança. Foi usado um questionário misto, de perguntas com múltipla escolha e
outras abertas. Cada entrevista teve a duração de 25 minutos, em média, e também se
empreendeu uma observação participante com sete (7) voluntários enquanto estavam em sala de
aula, acessando a internet.

Os estudantes se relacionam em num espaço de práticas semelhantes e hora consideradas


para compor o objeto empírico:

 São estudantes universitários, pertencentes aos cursos de agronomia, engenharia


florestal, engenharia ambiental, jornalismo e relações públicas;
 Todos possuem computadores portáteis;
 Dispõe de acessibilidade a internet com tecnologia sem fio a maior parte do dia.
 São oriundos de diversas cidades
 São histórias de vidas diferentes;
 Estão em residência temporária.

A fim de perceber as influências da história de vida, no modo de apropriação dos


conteúdos simbólicos e do computador portátil, foi elaborado como instrumento de pesquisa um
questionário sócio-cultural3 a fim de obter informações do contexto familiar.

3
Questionário adaptado do original. Desenvolvido no Departamento de Psicobiologia da UNIFESP – Universidade Federal de
São Paulo pela pesquisadora Cristina Lasaitis. Original sob o título “Questionário sócio econômico e étnico cultural”.Disponível
em: http://cristinalasaitis.files.wordpress.com/2008/12/questionario2.doc

3
A observação participante teve a duração de duas horas e trinta minutos (02h: 30min), em
média, e o objetivo foi verificar as reações, as posturas, as interfaces acessadas, os tipos de
conteúdos, e também, a interação com o ambiente material.
Com este procedimento foi possível observar a relação do conteúdo acessado com o
espaço de relações presenciais, o foco de atenção e o tempo dedicado a uma, ou outra atividade.
O formulário de observação pode consultado no item 6 do anexo 1.

A ordem de abordagem e aplicação das questões foi a seguinte:


1. Observação participante;
2. Abordagem para resposta às questões 1.1 até 1.4, focadas nos dispositivos técnicos
como banda de internet, tipo de computador e modo de acesso; (anexo 2)
3. Entrevista com base nas questões 2.1 até 4.5, com vistas ao o relato sobre os usos
do computador portátil e da internet (anexo 3). O questionário foi um guia para o
pesquisador. Partes das questões foram respondidas diretamente e, em grande
parte, foi estabelecido um diálogo a fim de não inibir o entrevistado sobre os usos
mais simples. O questionário a partir da questão 2.3 conforme o entrevistado
fornecia mais, ou menos dados no diálogo proposto, foi abandonado. A questão
3.1 foi aplicada de modo direto e as seguintes em função das anteriores.

As respostas das questões 4.1 a 4.5 foram obtidas no diálogo entre pesquisador, e
pesquisado, enquanto os entrevistados respondiam sobre os usos das questões 2.1 até 2.6.

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

O objetivo inicial desta pesquisa foi detectar como os atores sociais fazem uso da internet
quando providos de um computador portátil e conseqüentemente, como estes atores podem
expandir ou conservar o território informacional. A perspectiva teórica foca no ator social e por
esta razão, busca referências na obra de Michel de Certeau (2000), que no livro A invenção do
cotidiano, traz as definições necessárias para uma compreensão do objeto empírico.
Se é verdade que por toda parte se estende e se precisa a rede da “vigilância”, mais
urgente ainda é descobrir como uma sociedade inteira não se reduz a ela: que

4
procedimentos populares jogam com os mecanismos da disciplina e não se conformam
com ela a não ser para alterá-las; em fim, que “maneiras de fazer” formam a
contrapartida, do lado dos consumidores (dos dominados?). (CERTEAU, p.41)

Certeau desenvolve sua observação inspirado nos atos de fala, em que este “homem
ordinário” impregnado das “marcas do vivido”, se apropria da linguagem formal revelando a arte
de combinar e recombinar, jogando com os mecanismos da disciplina. Para o autor, o ato
enunciativo revela quatro características:
[...]este opera no campo de um sistema lingüístico; coloca em jogo uma apropriação, ou
uma reapropriação da língua por locutores; instaura um presente relativo a um momento
e a um lugar; e estabelece um contrato com o outro (o interlocutor) numa rede de lugares
e de relações. (CERTEAU, p. 40)

Na presente pesquisa, adotamos a mesma lógica de análise, por entender que esta
perspectiva mantém o foco nos atores sociais, no espaço de relações, não exclui o suporte e nem
o contexto material. É fundamental, a partir daqui, conceituar os fundamentos do território: lugar,
espaço e rede.

Noções espaciais e territoriais

Segundo Certeau, o lugar é “uma configuração instantânea de posições. Implica uma


indicação de estabilidade” (1990, p. 201), refere-se a coordenadas específicas de localização.
Numa comparação simples é o mesmo que indicar o lugar onde se mora, o endereço, o local de
trabalho, de estudo. Enfim, um lugar está associado ao exato, ao concreto (dois corpos não
ocupam o mesmo lugar).

Se o lugar é um ponto fixo, o espaço é “um lugar praticado”. Ou ainda, “um cruzamento
de móveis” (CERTEAU, p. 202). Teoricamente não tem limites definidos, mas revela um
trânsito, obedece a forças de sentido, velocidade, movimentação.

Pierre Bourdieu (2000, p. 137), ao referir-se ao espaço social, conceitua como “um espaço
de relações o qual é tão real como um espaço geográfico, no qual as mudanças de lugar se pagam
em trabalho, em esforços e sobre tudo em tempo”. A estrutura do espaço se constitui no trânsito

5
dos agentes sociais que a compõe, nas práticas, nos usos, nos fluxos que lhe conferem “vida”. É
um espaço de relações permeado por redes sociais.

As práticas sociais definem as vias de acesso que se efetivam em ruas, corredores, redes
de água, esgoto, energia, comunicação, entre outras. Um espaço cujas fronteiras podem ser
delineadas conforme os atores sociais percebem as possibilidades de usar e transitar pelos
espaços.

Todo espaço físico compartilhado pelos indivíduos, tende a obedecer a certas lógicas
organizacionais, instituídas para auxiliar no trânsito diário. Ir e vir nos espaços exige conhecer
seu funcionamento. Se tomar como exemplo uma rua, deve-se levar em conta o veículo, o
sentido, a trajetória, a possibilidade de retorno, a sinalização a velocidade média, e assim por
diante. Conseqüentemente atingir o objetivo proposto depende de recursos materiais e culturais
que são indissociáveis.

A capacidade de reconhecer e usar os recursos disponíveis no espaço marca o transito do


indivíduo e permite o domínio das situações, ao mesmo tempo, lhe confere um capital social cujo
ativo é usado para expandir relações e conseqüentemente o território, tanto na dimensão
simbólica, quanto concreta.

Ronald S. Burt (2001, p. 203), ao conceituar capital social, refere-se às possibilidades de


estar mais e melhor servido de conexões. Nestas ligações entre indivíduos ou grupos está em jogo
a capacidade de estabelecer trocas, suportar tensões e despertar confiaça. A posição que se ocupa
nesta relação é o ativo, ou seja, o capital social. Este, por sua vez, cria vantagens comparativas
para a execução de determinados fins. Terá melhor aproveitamento, ou retorno, quanto mais
indivíduos ou grupos estiverem relacionados.

As estruturas de redes é que permitem o acesso, o trânsito, o encontro. Quanto mais


ramificado e interligado estes espaços, mais os seus habitantes (ou passantes) podem expandir
suas fronteiras. As percepções das fronteiras e a livre circulação entre estas vias é que delimitam
o espaço e demarcam um território.
6
Neste sentido, território é uma abstração delineada pelo contorno que tem origem na
apropriação e na dominação dos espaços e dos lugares. Este processo se dá tanto na dimensão
simbólica, quanto concreta, portanto a noção de pertencimento depende do modo que o indivíduo
percebe as lógicas de posse e domínio.

A apropriação se dá na dimensão simbólica e a dominação na dimensão concreta.


Haesbaert (2005) refere-se à etimologia da palavra território.
desde a sua origem, o território nasce com uma dupla conotação, pois etimologicamente
aparece tão próxima de terra-territórium quanto terreo-teritor (terror, aterrorizar), ou
seja, tem a ver com dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror,
do medo, - especialmente para aqueles que, com esta dominação ficam alijados da terra,
ou no territorium são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo, por extensão, podemos
dizer que, para aqueles que tem o privilégio de usufruí-lo, o território inspira a
identificação (positiva) e a afetiva “apropriação”. ( HAESBAERT, 2005, p. 6774)

Essa dupla dimensão dá noções de pertencimento e instaura este presente relativo


associado ao momento, ao lugar. Nesta relação é construída a lógica de significação, a qual
Haesbaert afirma ser fundamental para compreender a territorialidade.
É justamente por fazer uma separação demasiado rígida entre território como dominação
(material) e território como apropriação (simbólica) que muitos ignoram a complexidade
e a riqueza da “multiterritorialidade” em que estamos mergulhados. ( HAESBAERT, p.
6783)

Se a territorialidade depende da faculdade de exercer domínio e ter posse, pode-se


compreendê-la como uma relação de poder em ambos os sentidos: simbólico, “carregado de
marcas do „vivido‟ e concreto „vinculado ao valor de troca‟”. (HAESBART, p. 6774)

O autor conclui que as duas dimensões estão em acentuado conflito no espaço, em certa
medida as relações de dominação são “unifuncionais” e a concentração dos recursos materiais
tende a favorecer a lógica capitalista hegemônica, dificultado as reapropriações dos espaços.

TERRITÓRIO INFORMACIONAL E SUA RECONFIGURAÇÃO

7
Conceber território informacional não exclui a dimensão que traz as marcas do “terra-
territórium”. Ao deslocar-se por uma cidade é possível obter inúmeras informações que
identificam o lugar, localizam o passante, desde o sentido de uma rua até os letreiros de um
outdoor eletrônico. São informações que trazem as marcas do coletivo e compostas por
identidades afeiçoadas aquele espaço praticado. O controle das informações que identifica um
lugar é mais ou menos flexível, controlável. É neste sentido que cada morador ou visitante,
baseado em suas lógicas faz a leitura ou o mapeamento das informações. Traduzindo para o
território informacional constituído no ambiente digitalizado. Lemos (2008) define o conceito:
Territórios informacionais podem ser entendidos como áreas onde o fluxo informacional,
na interconexão entre o ciber-espaço e o espaço urbano é controlado digitalmente. Aqui,
os usos podem tanto controlar as entrada, quanto as saídas dos dados de informação.[...]
Eu entendo o território informacional como a área de controle (e para ser controlada
pelo) do fluxo de informação digital em uma intersecção com uma área física. Então um
lugar, como resultado da territorialização (delimitação geográfica leis e regulações),
ganha uma nova camada de informação que é um novo território pelas redes eletrônicas
e dispositivos móveis. (LEMOS, p. 96)

As informações associadas ao espaço praticado, não mais obriga, as restrições indicadas


no mundo material. A conexão estabelecida com a internet permite a busca por informações
adicionais mediadas entre o espaço material e o espaço digital.

As informações que nos chegam emanam de múltiplos pontos, desde a observação visual,
auditiva, olfativa e tátil no ambiente presencial, passando pela leitura de códigos como a escrita,
até os múltiplos conteúdos que podem ser acessados por dispositivos móveis. É a perspectiva de
usar os bancos de dados disponíveis em escala mundial que permitem reconfigurar o território
informacional.
A reconfiguração do território informacional consiste em “processos[que] são limitados
pelo mundo real e, distante de uma desterritorialização, eles criam novas formas de
territorialização através do controle informacional (a capacidade para produzir e
consumir informação enquanto móvel).[...] precisamos pensar acerca de fluxos, eventos,
e realidade expandida, ao invés de lugares fixos de comunidade enraizadas ou
desterritorialização no ciber espaço com a substituição do ”real” pelo “virtual” (LEMOS
2008, p. 104)

A perspectiva da pesquisa esta delimitada aos atores sociais e os usos do computador


portátil. Portanto, é o modo de emitir e filtrar as informações que vai definir o território
informacional.

8
REDES E ESPAÇO MULTITERRITORIAL.

O trânsito do bit relativizou as distâncias. Portanto, nos territórios constituídos na internet,


todos podem se comunicar com todos, conseqüentemente novos fluxos informacionais são
formados a todo o momento, os interagentes estão num espaço multiterritorial, em que as
possibilidades de recombinar ligações são multiplicadas.

Nesta perspectiva a internet favorece a expansão do território informacional, Chris


Anderson (2006, p. 38) na obra The Long Tail afirma que “estamos evoluindo de um mercado de
massa para uma nova forma de cultura de nicho, que se define agora não pela geografia, mas
pelos pontos em comum”.

Ele acrescenta que “esse é o mundo da "peer production" (produção colaborativa ou entre
pares), fenômeno extraordinário, possibilitado pela Internet, caracterizado pelo voluntarismo ou
amadorismo de massa”. (ANDERSON, p. 71)

O encontro com os iguais na rede tem multiplicadas as chances de efetivação, porém a


expansão do território requer uma qualificação técnico-científica que determina o sentido e
promove o encontro. Os “nichos” se fortalecem, porém para obter vantagens, ou ocupar lugar de
liderança, requer uma participação “altamente especializada” que, além do tempo de participação
no espaço em questão, a qualidade da participação e o domínio das ferramentas, também
constituem o ativo.

Na hipótese da reconfiguração do território informacional na internet os atores sociais se


apropriam de softwares que têm uma funcionalidade aberta, ou seja, são cada vez mais
customizáveis e flexíveis quanto aos usos. O espaço de relações se expande na via digital, e as
redes multiterritoriais são organizadas por quem se dispõe a pagar com tempo e com esforço.

Não obstante, a apropriação de um território informacional na contemporaneidade requer


maior vigilância, é como os usos de “um não lugar” em que as táticas de apropriação dependem
“do tempo vigiado para “captar no vôo” possibilidades de ganho” (CERTEAU p. 47) o que difere
9
das estratégias montadas socialmente para dominação de espaços funcionalizados. O tempo gasto
neste propósito se constitui o maior custo.

Um computador portátil une duas propriedades fundamentais de perspectiva


multiterritorial, que são a mobilidade e a flexibilidade de uso. Quando conectado à internet,
segundo André Lemos (2007) torna-se um “lugar/objeto”, cujo conceito é subsumido ao de
“mídias locativas”.

O COMPUTADOR PORTÁTIL COMO MÍDIA LOCATIVA.

Santaella (2008) afirma que o termo mídias locativas foi usado pela primeira vez por
Karlis Kalnins, nomeava uma categoria de teste para processos e produtos realizados por grupos
interessados em tecnologias emergentes. Surge no espírito comunitário de promover trocas de
informações como imagens, textos e sons em dispositivos habilitados com GPS.

Andre Lemos (2007) afirma que as mídias locativas funcionam como um ponto de
referência, ou seja, um “lugar/objeto”, ao qual, é agregado informação contextual relacionada
com o posicionamento geográfico.

Embora o modo de uso do computador portátil pelos alunos estudados, não se aplique ao
conceito clássico de mídias locativas, ele é brevemente esclarecido.
As mídias locativas são utilizadas para agregar conteúdo digital a uma localidade,
servindo para funções de monitoramento, vigilância, mapeamento, geoprocessamento
(GIS), localização, anotações ou jogos. (LEMOS, 2007)

A palavra “local” está relacionada ao ponto de localização geográfica; uma referência


espacial de posição absoluta. Um computador portátil só pode ser comparado a um lugar/objeto,
quando em uso e conectado à internet, porque nestas condições, ele permite a localização do
indivíduo, mesmo que este esteja em trânsito. A mobilidade, sem perder a capacidade de
interação, é que confere a esta mídia o status de locativa.

10
A livre circulação de bens simbólicos criou novas rotas, múltiplos territórios, Certeau
(1990, p. 202) afirma que o “espaço é modificado pelas transformações devido às proximidades
sucessivas”. O bit e a internet. Há muito têm modificado as estruturas de relações, estreitando as
distâncias e acabando com despesas onerosas para obter informação. A possibilidade de encontrar
e ser encontrado, trocando informações, é um fator que permite controlar o fluxo informacional
que compõe os recursos para empreender as práticas diárias.

Dentre as mídias locativas o computador portátil é uma das mais completas no acesso à
internet. Sua posse proporciona interfaces amigáveis, transmitir e manipular dados, localizar e ser
localizado, manter diálogo direto, processar, armazenar e transferir informações. Portanto confere
ao ator social o controle de entrada e saída das informações sem perder a mobilidade.

Potencialidades que antes só podiam ser efetuadas em locais concretos e “delimitadas


geograficamente”. Lemos (2007) complementa, afirmando que os “lugares/objetos passam a
dialogar com dispositivos informacionais, enviando, coletando e processando dados a partir de
uma relação estreita entre informação digital, localização e artefatos digitais móveis”.

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Uso do computador portátil:

Como relação de poder

O referencial teórico proposto no projeto de pesquisa permitiu concluir que a


territorialidade enquanto relação de poder se constitui na síntese das forças provenientes da
história de vida (capacidade adquirida para perceber os recursos disponíveis no espaço praticado),
no tempo e no esforço empreendido para obter as informações e na diversidade informacional
disponível nos bancos de dados mundiais. Forças que influenciam na tomada decisão, porque são

11
os parâmetros para compor, conservar e conseqüentemente, reconfigurar o território
informacional.

Para melhor expor os resultados obtidos chamaremos os alunos de engenharia florestal,


ambiental e agronomia de “engenheiros” e os alunos de relações públicas e jornalismo de
“comunicólogos”. Estabeleceu-se um comparativo, considerando o tempo de conexão, a fim de
obter indicadores comparativos entre os dois grupos e compreender as lógicas de apropriação,
tanto do computador portátil, quanto da internet.

Os engenheiros atribuem importância aos conteúdos estudados em sala de aula. Fato


confirmado pelo conteúdo acessado na internet e pelo tempo dedicado a estas atividades.
Conclui-se que os usos dos “engenheiros” estão em torno do eixo temático de suas atividades
acadêmicas, mas também se mostrou evidente as interações com amigos, colegas e familiares por
meio do Orkut, MSN e os e-mails.

Estabelecendo uma comparação entre o tempo de uso da internet, entre estes dois grupos,
foi possível detectar que os comunicólogos acessam em média, cinco horas e meia todos os dias
(5h30mim), já os engenheiros duas horas e meia (2h30mim).

Os engenheiros valorizam a instituição de ensino como oportunidade profissional,


mantendo o foco no conteúdo ali ministrado. Evitam usar a internet em sala de aula, valorizam as
entidades de classe e o resultado é percebido no território informacional estabelecido na internet,
e também, na dificuldade de observar estes alunos usando o computador em sala de aula.
SF - Em hipótese alguma eu uso o computador em sala de aula. Só para fazer alguns
ajustes em trabalhos aqui na faculdade. (anexo, 4 p. 40)
CLC - Só ligo o computador quando preciso, depois desligo. Para fins específicos em
média uma hora e meia por dia, principalmente para pesquisas acadêmicas. Procuro
muito sobre genética das plantas. Encontrei coisas interessantes sobre o parque nacional
das sequóias, sempre volto procurar informações lá. (anexo, 4 p. 8)
CLC - Tenho cadastro no Gaia Village é um fórum para receber informações sobre suas
áreas de interesse, conforme informado no perfil de usuário. É uma comunidade que
conheci na faculdade. (anexo, 4 p. 8)

O tempo é canalizado para as atividades acadêmicas e o território informacional não se


pauta na diversidade de assuntos de outros campos. Mesmo assim, observam-se a diversidade de

12
referenciais teóricos obtidos pela leitura de artigos e teses. Enfim, leituras que servem de
parâmetro para atuação em seu território informacional específico. Neste modo de apropriação,
percebe-se a conservação e expansão do território informacional.
CLC - No Scielo eu faço buscas por temas em todos os países, se não conheço a língua
do artigo, ali mesmo tem uma ferramenta que faz a tradução. É um site muito
interessante eu gasto muito tempo ali procurando artigos, eles servem para embasar
meus trabalhos com outros autores. Se não fosse esta possibilidade eu talvez não tivesse
acesso, porque muitas destas obras não foram traduzidas para o português ou nem
chegam ao nosso país. (anexo, 4 p. 8)
SEM - Varias coisas que eu estou aprendendo na faculdade, sobre a realidade do Brasil,
tu pode buscar na internet para poder discutir com o professor. Jornal eu gosto, mas eu
não tenho aqui. (anexo, 4 p. 37)
SF - Como estou no primeiro semestre não tenho experiência, então eu olho alguns
modelos de relatórios em pdf, que procuro no Google, e também procuro fotos para
ilustrar meus trabalhos. (anexo, 4 p. 38)

Nas lógicas de apropriação dos “engenheiros” a valorização da classe profissional é


evidenciada pelos seus acessos a conteúdos relacionados à Federação dos estudantes e
comunidades específicas sobre a profissão. De modo sintético é possível concluir que, entre eles,
os conteúdos acessados são: os do currículo acadêmico; sobre movimento estudantil, entidades de
classe e relacionamento entre amigos, colegas e familiares.
WG - Antes não me ligava no movimento estudantil, e daí lendo e participando, foi
possível perceber outras perspectivas. Acaba influenciando no meu cotidiano. Eu não
mando muito e-mail, mais recebo, eu participo das reuniões da FEAB (Federação dos
Estudantes de Agronomia do Brasil), e me cadastrei no site para receber informações.
Os boletins da FEAB me influenciam, tem muita coisa que eu nunca tinha percebido.
(anexo, 4 p. 43)
SEM - Guardo muuuuitas coisas nos favoritos, por exemplo, o Brasil de Fato, Atribuna e
um blog do movimento dos estudantes e da engenharia florestal (BEF) e a Feab -
federação dos agrônomos. Tenho cadastro nestes blogs e recebo atualizações no e-mail.
Leio regularmente. (anexo, 4 p. 37)

Portanto, o conteúdo é especializado, procurou-se nos indicativos sócio-culturais


possíveis explicações para a valorização do campo específico. Os pais dos “engenheiros” têm
formação escolar que oscila entre: o ensino fundamental completo e o médio completo, a renda
familiar na média é entre dois e três salários mínimos. A história de vida familiar pode exercer
influência na atitude de não desviar a atenção do propósito empreendido. Seja pela oportunidade
de concluir um curso superior, fato que a maioria dos pais não alcançou.

O argumento se fortalece no comparativo com os comunicólogos. Da sua parte, a renda


familiar é, na média, de três a seis salários mínimos e, quanto maior a renda do entrevistado, mais

13
atividades paralelas observamos em sala de aula. Menor a percepção do curso como a
oportunidade de profissionalização e menor o interesse ao conteúdo de aula. Isso não significa
que o capital cultural destes alunos tenha prejuízos. No que, demonstraram isso nas entrevistas.
Como efeito, e entendido com base na formulação de Bourdieu, não se deve considerar
que o capital cultural como recurso de distribuição desigual na sociedade, que é fonte de
distinção e poder, cuja posse é privilégio de poucos indivíduos. Possui três formas que tornam
mais possível tal entendimento:
ao estado incorporado, [exige uma incorporação que, tanto quanto supõe um trabalho de
inculcação e de assimilação, custa tempo e tempo que deve ser investido pessoalmente
pelo investidor.]; ao estado objetivado, sob a forma de bens culturais, quadros, livros,
dicionários, instrumentos, máquinas, que são o vestígio ou a realização de teorias, ou de
críticas das teorias, de problemáticas, etc.; e enfim ao estado institucionalizado, forma de
objetivação que é preciso colocar à parte porque, como se vê com o título escolar,
outorga ao capital cultural que é tida por garantir propriedades de todo originais
(BOURDIEU, 1979, p. 3).

Neste propósito que não atribuímos qualquer demérito a nenhum entrevistado diante de
suas prioridades informacionais.

Na conservação do território e diversidade de referências

Usar a internet para obter diversidade de pontos de vista é uma atitude comum entre os
dois grupos entrevistados: o que varia é o interesse, os temas, o formato, e o tempo empreendido
na busca. No caso dos “comunicólogos”, que predominantemente são do curso de jornalismo, a
busca oscila entre os conteúdos do currículo acadêmico e variedades cotidianas, como futebol,
música, cinema, moda etc.

Os comunicólogos não se constrangem ao usar o computador e a internet em sala de aula.


A média de tempo que este grupo fica conectado à internet durante o dia todo e de cinco horas e
meia. A conexão tem maior duração e os conteúdos informacionais concorrem com o currículo
do curso. As buscas por informações valorizam a diversidade de eixos temáticos e,
conseqüentemente, não existe a mesma mobilização em torno de entidades de classe.
CL - Tem muitos livros que não tem na biblioteca, que é bem restrita, e o tempo que a
gente tem de aula, não é o suficiente, na internet podemos buscar coisas que te
esclarecem, artigos coisas assim. Procuro críticas de livros, fotos, vídeos, artigos. Leio
muito na internet. (anexo, 4 p. 3)

14
CM - Uso a internet para aprender. Com vídeo aulas no youtube aperfeiçoei minha
diagramação, aprendi a editar vídeos, leio fóruns para tirar dúvidas. O tempo que estou
conectado, comigo junto, deve ocupar ¼ do meu dia; 1/3 se for fazendo um download
etc. Baixo musica, 70%; vídeo 10%; programas 10%; e o restante é PDF e afins. (anexo,
4 p. 12)
JZ - Se não fosse à internet, onde eu ia buscar as informações sobre os concursos? No
diário oficial? No zero hora? Um jornal é “grosso de informação” a gente leva muito
tempo procurando. Na internet em questão de 10 a 15 minutinhos eu posso olhar sobre
vários concursos. Onde é a prova, quando é a prova, o que cai na prova, quais os
requisitos, qual é o salário. (anexo, 4 p. 51)

Os comunicólogos empreendem mais tempo na busca por conhecimentos diversificados.


O território informacional, paradoxalmente, é escassamente relacionado a conteúdos
especializados da ciência da comunicação. O computador portátil, salvo algumas exceções, fica
o dia todo ligado (sem atenção exclusiva). Em alguns casos fica conectado na madrugada
concluído download de arquivos.

Na independência do espaço funcionalizado

A posse do computador portátil confere aos estudantes autonomia na realização de tarefas


curriculares, não dependendo dos dispositivos materiais da universidade, a demais, conteúdos
informacionais da área da comunicação são obtidos na internet. Nas residências não estão
fisicamente presos em salas e escritórios, obtêm vantagens para otimizar o tempo e realizar trocas
de modos inusitados (no banheiro, na cozinha, na cama).
CL - Todo mundo vai com os computadores pra sala e ficam lá assistindo TV,
conversando, as vezes trocamos algum link de uma comunidade do Orkut. Mas chega
um ponto que tu tem que parar tudo e fazer só uma coisa. E-mail que a gente recebe e
gosta a gente manda uma para as outras. (anexo, 4 p. 4)
MLG - Por incrível que pareça às vezes o cara esta no quarto ao lado e usa o NSN para
mandar um recado, arquivos também, as vezes é só levantar e pegar o pen-drive, mas é
mais fácil transferir por MSN. Isso acontece muito. Muitas vezes quando tu já esta na
cama, só pra não sair do quarto enviamos pequenos lembretes, amanhã se lembra de
fazer isso. Ohh! Baixa a TV, coisas assim só pra não levantar da cama. (anexo, 4 p. 24)

A mobilidade do computador portátil potencializa as trocas informacionais entre pontos


de conexão. A conexão prolongada usando o MSN, Orkut e o twitter, advém da percepção de que
todos podem estabelecer comunicação com todos em tempo real. Neste território informacional
se efetivam múltiplas formas de uso com mobilidade.

15
Todos os entrevistados afirmaram que ligam o computador, checam os e-mails, abrem o
MSN e o Orkut, deixando-os on-line, e depois partem para as atividades decorrentes da rotina de
estudo ou trabalho. A rede estabelecida nestas conexões efetiva a reconfiguração do território
informacional. Porque, nestes fluxos de informação é que mobilizações podem acontecer, em
fim, voltando ao referencial teórico, Certeau (2008), estas são as “maneiras de fazer” que formam
a contrapartida, do lado dos consumidores, é nestas interações que os “procedimentos populares
jogam com os mecanismos da disciplina e não se conformam com ela a não ser para alterá-las”.
(CERTEAU, p.41)

Na “economia”

Em comum entre os investigados foi à percepção de que o uso da internet permite uma
economia de esforço, tempo e recursos financeiro, aliado à comodidade e mobilidade, tanto na
comunicação direta, quanto no acesso a conteúdos de bancos de dados.

As redes de pessoas e grupos se constituem uma fonte de informação acessível a qualquer


momento e com baixo custo. As possibilidades de efetuar trocas informacionais a baixo custo já
são percebidas pela maioria dos entrevistados. Não só como uma economia de recursos
financeiros, mas também, de tempo e de esforço.
SF - Onde eu moro é afastado da cidade, então pelo MSN trocamos informações para
fazer os trabalhos, e também converso com o pai e a mãe. Antes a mãe gastava muito em
celular, agora mão gasta nada para falar pelo MSN. (anexo, 4 p. 40)
CT - O meu gosto por tecnologia sempre tive, eu assinava a revista INFO, mas como a
internet tem tudo eu não compro mais. (anexo, 4 p. 14)
SF - Na internet encontro a facilidade, a comodidade de buscar e aprofundar questões do
meu interesse. Por exemplo, sobre o intercâmbio, quando quero conhecer um país de
destino, ou ficar sabendo de informações específicas. Se não existisse a internet eu não
teria a disposição de buscar de outro modo, mesmo que ele existisse. (anexo, 4 p. 40)

O uso do computador portátil interfere nas lógicas de posicionamento geográfico e no


modo de buscar informações distantes do ambiente concreto. Nesta pesquisa foi possível detectar
que os entrevistados, em maior ou menor grau, percebem as vantagens de uso da rede como via
de comunicação que permite obter informações de vários pontos, mesmo que distantes do espaço
concreto.

16
No propósito de compreender o conceito de mídias locativas quanto ao controle de
entrada e saída da informação, marra-se o caso de MG, 22 anos, estudante de jornalismo e direito
que, tanto na entrevista, quanto na observação, demonstrou usar o computador portátil para
estabelecer um território informacional que se encontra em tensão com o território informacional
empreendido no material. Denota um possível uso numa perspectiva da multiterritorialidade. Ou
a própria reconfiguração do território informacional.

Na otimização do tempo

O estudante cursou seis semestres de música, morou na Europa, já fez cursos de inglês e
italiano, e foi observado durante atividades no curso de jornalismo em que acessava a internet e
em constantes atualizações de e-mails, twitter, Msn e Orkut, mantendo-se mais concentrado no
computador do que no ambiente presencial. Problemas técnicos com o sinal da internet o
deixavam inquieto, inclusive saiu da sala. O computador naquele momento não foi usado como
ferramenta de apoio ao ambiente concreto, muito pelo contrário, é uma fuga do ambiente
concreto.
MG - Consiste em checagem e resposta de: email, MSN, Orkut, Twitter, face Book e em
seguida o blog. Tudo em função da banda. Eu procuro deixar o pessoal a par das
questões da banda... Tem sempre alguém querendo saber a respeito de novidades. (anexo
4, p. 19)
MG – Aqui (no Cesnors) o sinal da internet não é bom, mas devido a faculdade ser
isolada da cidade eu uso para me manter atualizado, ali com o meu mundinho. Nada,
além disso, não busco muito conteúdo. (anexo 4, p. 20)
MG - Cursei seis semestres de musica. Me mantenho atualizado lendo vários livros
sobre gêneros musicais. A internet é uma ferramenta que me possibilita uma gama maior
de experimentações de leituras, em uma livraria, não seria possível comprar tantos
livros, alguns que nem acho tão bom, não compraria só para conhecê-los... Só é possível,
por este recurso de baixar um livro em PDF. É assim que a internet me influencia pelo
conteúdo que eu tenho acesso, e traz subsídios para reafirmar minhas convicções ou
conhecer outras opiniões. (anexo 4, p. 20)

A apropriação da ferramenta e dos softwares, neste caso, se dá em função da música. Os


livro em PDF, à divulgação de trabalhos musicais, datas de shows, lançamentos da banda são
informações que o situa num espaço de interação com outros pares, que não os presenciais.
Participa de um espaço multiterritorial em que o lugar é o objeto midiático. Localização efetivada
pelo computador portátil, no qual MG agrega informações relativas ao seu território

17
informacional musical, ao seu sítio interno, criado na vontade de manifestação pela música, pelas
opiniões, que na ocasião se mostrou como o interesse mais imediato.

Como lugar/objeto

Os lugares são os pontos de conexão em que usuários se encontram, Chris Anderson


(2006, p. 38) observa que os pontos em comum, são a nova geografia nos ambientes constituídos
pelos nichos. Na internet é possível encontrar os pares pela convergência de interesses, com
fluidez, já a presença no ambiente material requer outro tempo, em que o coletivo dominante dá
menos flexibilidade; entrar e sair de uma sala de aula requer uma reflexão pautada no coletivo. O
uso do computador portátil permite formar um território informacional
MG – Qual o conteúdo do teu blog?
O conteúdo do blog é puro devaneio, serve para minhas filosofias e críticas sociais,
discutir alguns dogmas, Os “mentalistas” criticam o meio ambiente e ao mesmo tempo
poluem só pelo fato de estarem vivos, e vice versa. Coisas assim, se eu acordo e resolvo
falar do preço do papel higiênico, é isso que vou fazer no blog. Leio blogs de todos os
tipos e acho interessante, mas o meu é de mim para mim mesmo. Acho muito bom
quando alguém me critica se expondo pelas idéias. (anexo 4, p. 20)

Ao responder esta questão o entrevistado, estava no intervalo da aula de sociologia em


que a professora argumentava sobre protestos criativos, e exemplificava o conteúdo com
manifestações do Greenpeace, o que demonstra que o ambiente concreto também está sendo
assimilado pelo aluno.

Em apoio presencial

O uso da mídia locativa, quando utilizada em apoio às atividades presenciais, serve como
fonte de informação para atuação no ambiente material funcionalizado.

Para o entrevistado CM (anexo 4 p. 12) o computador portátil e a internet são utilizados


em apoio e suporte para as atividades presencias. Mesmo com a internet ativa no ambiente de
aula, o aluno não estabelece contato pelo MSN. Na entrevista informou usar para o mesmo fim o

18
Orkut e o e-mail, porque estabelece outro tempo de resposta e não atrapalha a atividade
presencial.

Mesmo assim se mantém on-line, constantemente conectado e esporadicamente checando


e-mails e recados no Orkut, ou seja, controlando o fluxo das informações que chegam e saem do
dispositivo móvel. Este perfil de usuário embora não use como ferramenta de comunicação
direta, ainda mantém as características de uso como lugar/objeto agregando informações para
resolução das atividades presenciais.
CM - Eu colho depoimentos pelo Orkut para fazer matérias. Não preciso me deslocar até
o local do fato. No dia em que a balsa se desprendeu e ficou a deriva em Ametista, eu
contatei uma das pessoas que estavam no ônibus e peguei depoimentos dela. Quando
morreu o cantor Leonardo (gaúcho), contatei com uma amiga... Pude ilustrar a minha
matéria. (anexo 4, p. 12)
CM - Muitas amizades iniciaram ali, hoje são amigos presenciais. Muitos contatos
profissionais começaram ali, muitas oportunidades de veiculação do que eu faço no
jornalismo pude divulgar no zero hora, diário gaúcho, correio do povo. O financeiro
também... se não fosse a internet não teria vendido fotos pro zero hora, pro diário
gaúcho. (anexo 4, p. 12)

Portanto o principal uso dado à internet é como fonte de informações, o que também
denota uma expansão do território informacional.

Na relativização das distâncias

O território informacional se constitui neste espaço social e reconfigurado neste uso, em


direção do material para o digital, ou do digital para o material. Desenvolvendo fugas,
conservando, mas também, expandindo. Relações constituídas no ambiente presencial, quando
afastadas da proximidade física, podem ser aproximadas na internet, e aquelas distantes sem a
possibilidade de encontro na situação atual também são favorecidas pela relativização das
distâncias.
SF - Mantenho contato com amigos de outras cidades, o ano passado eu estudava com
uma turma em que cada um foi para uma cidade diferente e agora nos conversamos pra
saber como é que estão. Tem amigos de primos meus que eu não conheço, e mantenho
contato, mas são poucos, é esporádico. (anexo, 4x p. 40)
PF - Tenho amizades que só existem nas redes sociais, converso regularmente com estes
contatos e fazem parte do meu cotidiano. Troco informações e alguns amigos já se
tornaram relações concretas. Se não fosse a internet eu nunca ficaria sabendo do
Cesnors, eu não estaria aqui. (anexo, 4 p. 34)

19
ZJ - Minha cidade é pequena, quando chega um produto que eu quero, um tênis Nike por
exemplo, as vezes é um preço exorbitante. Como eu já conheço a marca e na internet
eles fazem com frete grátis é bem mais viável. (anexo, 4 p. 51)
MLG - Quando eu posso ou dá certo, devido o fuso horário, me comunico com amigos
que foram embora (outros países) em busca de emprego e estudo. Moravam perto e
agora moram longe. Tenho uma amiga que seria minha colega de faculdade e acabou
não vindo pra cá, é uma das pessoas que eu mais mantenho contato pelo MSN e não
conheço pessoalmente, hoje, agora a pouco estava falando com ela. Tem alguns casos
assim. (anexo, 4 p. 24-25)

Foi observado que, entre os entrevistados, há quem busque informações para atender
necessidades relacionadas ao espaço de práticas. Mantendo o eixo temático focado nas atividades
realizadas no espaço de ralações materiais. Mesmo que sejam referenciais diversificados e
obtidos exclusivamente na internet, fazem parte de seu universo pessoal.

CONCLUSÃO

Os usos do computador portátil permitem a liberação dos espaços funcionais, a interação


mediada por interfaces amigáveis, à permanência on-line estendida, e conseguintemente, o
contato com informações atualizadas de modo contínuo. Processo que está em função do
“homem ordinário”, “cidadão comum”, controlando o que deve, ou não deve, promover o
encontro.

Modos de vigilância e apropriação dos espaços, agora do digital para o concreto, ou do


concreto para o digital. O valor de troca? O tempo e o esforço. Assim criamos a afetividade para
pertencer aos espaços vivos nesta teia que permite novas territorializações.

Os usos permanentes de ferramentas de comunicação como MSN, twitter, e-mail e orkut


denota a valorização das interfaces de interação. Constatamos que a presença constante neste
território é uma vigilância (tempo de uso) com o objetivo de constatar as reconfigurações deste
“lugar”. O uso define o trânsito do ator neste espaço e sua apropriação se constitui nas constantes
interações (comentários e postagens), em que as “marcas do vivido” exercem forte influência no
modo de expressão (conteúdo postado).

20
A vigilância faz parte de uma tática que permite a observação do comportamento dos
“interagentes”. Percepção que serve para as tomadas de posição no ambiente concreto e também
no digital. É nesta interação que o território informacional está em constante reconfiguração.

A preferência de uso das ferramentas instantâneas, constatado nesta pesquisa, ainda


denota prevalecer à sociabilidade com os colegas e familiares, mas já se definem funcionalidades
em auxílio de atividades acadêmicas e de trabalho profissional. Enfim, que a posse do
computador móvel libera o ator social das paredes concretas e dos pontos fixos do espaço,
conteúdos digitalizados permitem usufruir da experiência adquirida por povos distantes da terra
natal. Quando transformada em bit, armazenada em bancos de dados e disponibilizada na
internet. O capital a ser despendido é o tempo e o esforço para manter a relação e obter este
recurso simbólico, menos dependente de recursos financeiros.

Na internet a dimensão concreta da territorialidade se apresenta nos softwares,


codificadores e decodificadores que permitem o trânsito da informação neste espaço de relações.
São passíveis de dominação e apropriação, cuja identidade é detectável pela extensão dos
arquivos. Recursos que envolvem disputas territoriais, em que o domínio é exercido por
companhias de softwares, e também com os consumidores que se apropriação e trocam estes
recursos livremente na rede.

Todo arquivo gravado em bancos de dados possui uma extensão que obriga uma
codificação e decodificação, propriedades dos arquivos que permitem a detecção da
funcionalidade na interface, a visualização e a leitura. Nesta perspectiva existe uma disputa pela
centralização (concentração) de fluxos informacionais. Territorialidade que define as disputas
pelo controle de quem passa, pois se muitos passam constitui-se o mercado da informação.
Ganham território ferramentas com interfaces flexíveis e passíveis de apropriação pelos atores
sociais.

Mesmo havendo funcionalidades e disputas, os códigos, softwares e interfaces são usadas


para efetivar os mais variados tipos de trocas entre usuários. Tanto os lugares geográficos, quanto

21
os territórios simbólicos interferem no modo de uso. A organização tática dos atores sociais se
vale de algumas das interfaces que dominam o território dos fluxos diretos.
CL - Todo mundo vai com os computadores pra sala e ficam lá assistindo TV,
conversando, às vezes trocamos algum link de uma comunidade do Orkut. E-mail que a
gente recebe e gosta a gente manda uma para as outras. (anexo, 4 p. 4)
FS - Onde eu moro é afastado da cidade, então pelo MSN trocamos informações para
fazer os trabalhos, tirar dúvidas antes das provas. (anexo, 4 p. 4)

São lugares formados por disposições temporárias. Têm nas trocas diretas um modo de
difusão que foge ao controle das companhias; é um território tático criado para os usos
cotidianos, a fim de manter e vigiar suas afetividades e compromissos sociais.

Enfim, a territorialidade passa por transformações evidenciando a multiterritorialidade. A


apropriação simbólica dos conteúdos informacionais se dá pelas lógicas adquiridas neste espaço
multicultural. Os territórios se configuram e reconfiguram a todo o momento. Estar inserido na
tecnologia digital, possuir um computador e acesso à internet, organizar e estabelecer contatos e
ter mobilidade colabora à aquisição do capital social, que se constitui o ativo do ator no espaço de
relações.

Portanto, a posse do computador portátil conectado à internet confirma a reconfiguração


do território que se efetiva por fatores como os modos de interação, a diversidade das
informações, a rapidez de transito do conteúdo, o baixo custo financeiro e a economia de esforço.
Neste espaço praticado, intercalam atividades acadêmicas com interações para sociabilidade pelo
Orkut, MSN, twitter e e-mail. Estas ferramentas de comunicação permanecem ativas na área de
trabalho, sempre que conectadas à internet. São utilizadas para múltiplos fins, entretenimento,
relacionamento afetivo, trabalho, estudo, trocas de links e outras funcionalidades que escapam a
observação.

22
REFERÊNCIAS

ANDERSON, Chris. A cauda longa: do mercado de massa para o mercado de nicho; tradução Afonso
Celso da Cunha Serra, Rio de Janeiro: Elsevier, 2006

BURT, Ronald S. Capital Social: Teoria e Pesquisa, editado por Nan Lin, Karen S. Cook, e Ronald S.
Burt. New York: Aldine Gruyter. (2001) disponível em: http://faculty. chicagobooth.edu/
ronald.burt/research/SCSH.pdf

BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico; tradução Fernando Tomaz 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil 2000.

BOURDIEU, Pierre. Les trois états du capital culturel. Actes de la recherche en sciences sociales,
vol. 30, n. 1, 1979, p. 3-6.

CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. 14. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro, RJ.
Vozes, 2008.

HAESBAERT, Rogério. Da Desterritorialização à Multiterritorialidade. Anais do X Encontro de


Geógrafos da América Latina. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005 a, pp. 6774- 6792.

LEMOS, André, Mídias locativas e territórios informacionais, em: Lucia Santaella e Priscila Arantes
(eds.), Estéticas tecnológicas. Novos modos de sentir, São Paulo, Educ, no prelo.

LEMOS, André. Mobile comunication and new sense of places: a critique spatialization in cyberculture.
Revista Galáxia, São Paulo n. p.91-108, dez. 2008.

SANTAELLA, Lucia. A estética política das mídias locativas. em: Nómadas nº 28 . IESCO, Instituto de
Estudios Sociales Contemporaneos, UC, Universidade Central, Bogotá: Colômbia. Abril2008. Disponível
em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/colombia/iesco/ nomadas/28/ ISSN: 0121-7550.

23

Potrebbero piacerti anche