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A tomada de consciência dessas situações veio operar uma profunda alteração dos
conceitos de análise e dimensionamento dos equipamentos urbanos de drenagem,
evoluindo a própria concepção e cálculo dos sistemas, por forma a um ajustamento mais
adequado às formas diversificadas de crescimento urbano e de ocupação do solo. Os
aspectos quantitativos da drenagem pluvial constituem, no entanto, apenas uma parcela
do domínio da hidrologia urbana, assumindo importância crescente todos os aspectos
relacionados com a gestão da água e da análise dos aspectos de qualidade relacionados
com a rejeição de cargas poluentes veiculadas pelas águas pluviais.
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5.2. Concepção e constituição dos sistemas
O elevado custo dos investimentos afectos aos sistemas de drenagem de água pluvial,
relativamente ao das outras infra-estruturas urbanas, torna especialmente relevante a
necessidade de se implementarem soluções tecnicamente adequadas, mas também
economicamente viáveis.
As regras urbanísticas mais adequadas a uma redução dos caudais de ponta pluvial, e ao
controlo da qualidade da água, são aquelas que respeitam a integração de áreas
permeáveis em áreas impermeáveis, através de soluções de descontinuidade. Sempre
que possível, deverá ser privilegiado o estabelecimento de linhas de drenagem
superficial através de espaços livres. Valetas e vales largos e pouco profundos são, de
um modo geral, adequados para esse efeito. O tipo de solução a escolher deve ter em
conta o cumprimento dos seguintes objectivos:
- aumentar o volume de água pluvial retida e interceptada nas depressões do solo e nas
árvores e arbustos;
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Dada a interdependência entre os caudais pluviais, a bacia drenante e o tipo de
ocupação do solo, torna-se aconselhável conceber as infra-estruturas de drenagem logo
na fase inicial do planeamento urbanístico. Este aspecto é particularmente importante
quando as condições naturais são desfavoráveis do ponto de vista de disponibilidade de
energia potencial para se processar o escoamento (caso de zonas planas), quando se
prevêem alterações profundas nas condições topográficas iniciais, ou quando o
aglomerado populacional se situa a jusante de uma bacia hidrográfica de dimensões
relevantes. Quando, nessas condições, as áreas extra-urbanas são consideravelmente
importantes, e por isso também importantes os caudais pluviais correspondentes, deve
estudar-se o previsível comportamento do terreno, face à ocorrência de precipitações
intensas.
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5.2.2. Principais componentes
- cair na cobertura dos edifícios, sendo encaminhadas para tubagens de queda e ramais
domiciliários, acabando por drenar para colectores separativos de águas pluviais ou
para colectores unitários;
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- cair directamente sobre áreas pavimentadas, como parques de estacionamento, vias
rodoviárias, pátios, ... etc., drenando por valetas para dispositivos interceptores, de
onde são encaminhadas para colectores separativos pluviais ou colectores unitários;
- cair em áreas permeáveis, acabando, pelo menos uma fracção, por infiltrar-se no solo
ou afluir directamente a cursos de água.
As substâncias poluentes são depositadas sobre a superfície das vias e bermas por acção
atmosférica (em terminologia anglo-saxónica atmospheric fallout) ou resultam
directamente da actividade de construção e da circulação rodoviária (Hvitved-Jacobsen
e Youssef 1991). A magnitude e distribuição da acumulação dos poluentes parece variar
com o tipo e inclinação do pavimento, volume de tráfego, actividades de conservação,
características sazonais e uso do solo adjacente. Smith et al. 1979 (in Hvitved-Jacobsen
e Youssef 1991) indicam para os Estados Unidos da América as seguintes cargas
médias de partículas depositadas (em terminologia anglo-saxónica dust fall loads).
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Parâmetro Concentração Coeficiente
zona urbana zona rural de variação
S. suspensão 220 26 0,8-1,0
CQO 124 41 0,5-0,8
Azoto kjeldahl 2,72 1,4 0,7-0,9
total
Fósforo total 0,19 0,04 0,6-0,9
Chumbo 0,55 0,09 0,7-0,4
Zinco 0,38 0,09 0,6-0,7
No caso das águas ou escorrências pluviais drenarem para sistemas unitários, a carga
poluente então arrastada no interior da massa líquida pode ser muito superior à que seria
de esperar num sistema separativo pluvial. Efectivamente, por ocasião de precipitações
significativas, as “ondas de cheia” originam velocidades e tensões de arrastamento tais,
que são em regra suficientes para ressuspender e arrastar, para jusante, uma fracção
significativa das partículas em suspensão acumuladas, durante os períodos secos, sob a
soleira dos colectores. Estas situações ocorrem pelo facto de, durante os períodos
estivais, com caudais muito inferiores, aquelas tensões de arrastamento não serem
suficientes para garantirem condições de auto-limpeza.
Grande parte dos poluentes nas escorrências pluviais encontram-se associados aos
sólidos em suspensão, e com eles se pode correlacionar. Esses sólidos em suspensão
podem ser estimados, por sua vez, em função do volume de tráfego diário.
No que se refere particularmente aos metais pesados, uma fracção significativa pode
apresentar-se sob a forma particulada, associada aos sedimentos, sendo as respectivas
concentrações mais altas nas partículas de menor diâmetro médio. Resultados
experimentais apontam para o facto de uma fracção significativa dos sólidos em
suspensão e poluentes associados poderem ser removidos da fase líquida por
sedimentação.
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particulada. Como se pode observar no Quadro 5.2, o zinco, o cobre e o cádmio são
considerados mais solúveis que o chumbo.
A drenagem das escorrências pluviais para os meios hídricos receptores pode reflectir-
se em termos de aumento de turvação da água, acumulação de sedimentos com carência
de oxigénio, bioacumulação de substâncias tóxicas nos organismos bentónicos,
alteração no sabor e cor e modificação na qualidade e na diversidade da fauna aquática.
Essas alterações podem ser anuladas ou, pelo menos, minimizadas, implementando
várias medidas e procedimentos, de entre os quais se incluem os seguintes:
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c) tratamento por infiltração rápida (em terminologia anglo-saxónica rapid filtratation)
em bacias ou valas apropriadas - neste caso, a massa líquida é descarregada em
terrenos permeáveis e percola através do solo, num meio filtrante;
Enquanto uma fracção significativa das partículas em suspensão pode ser removida por
sedimentação ou filtração, outras substâncias poluentes são removidas da massa líquida
por processos químicos e biológicos. Os solos não inundados parecem ter enorme
capacidade para reter e mobilizar metais pesados, como o chumbo.
A construção de bacias de retenção para reduzir cargas poluentes pluviais é uma prática
corrente nos Estados Unidos da América e em vários Países Europeus. As bacias com
longos tempos de retenção (da ordem das semanas ou meses) são, em regra, bastante
eficientes em termos de tratamento. Uma fracção significativa dos metais pesados e do
fósforo fica “imobilizada” nos sedimentos do fundo das bacias. A concentração de azoto
reduz-se por acção de processos de nitrificação-desnitrificação. Quando as bacias têm
dimensões adequadas, a eficiência de remoção de sólidos suspensos e chumbo pode
ascender a 90%, enquanto a eficiência de remoção de fósforo pode ascender a 65% e a
eficiência de remoção da CBO (carência bioquímica de oxigénio), CQO (carência
química de oxigénio), azoto total, cobre e zinco poderá ascender a 50%.
O mesmo não se pode dizer dos métodos de cálculo de caudais, cuja diversidade,
multiplicada pelas sua inúmeras variantes, decorrentes do número e tipo de parâmetros
e da gama de valores que cada um pode assumir, abrange um campo muito vasto.
Ao contrário das bacias rurais, as bacias urbanas são caracterizadas por uma
consideravelmente maior impermeabilização dos solos (afecta à construção dos
edifícios, vias de comunicação, parques de estacionamento, etc...), e à existência de
extensas redes de colectores, com o consequente aumento das velocidades de
escoamento e redução do tempo de resposta das bacias de drenagem. As bacias ou sub-
-bacias urbanas são, também, em regra, de pequena dimensão, raramente excedendo a
centena de hectares.
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Embora estas folhas não tenham como objectivo principal a análise de métodos de
cálculo de caudais pluviais, entendeu-se recomendável relembrar e apreciar as
limitações do método racional e método racional generalizado, tendo em conta a sua
aplicação a bacias de drenagem urbanas.
A origem e autoria dos princípios da fórmula racional (embora à data não intitulada
como tal) é atribuída a Mulvaney, engenheiro irlandês que em 1851 publicou o artigo
“On the use of the self-registering and flood gauges in making observations on the
relation of rainfall and flood discharges in a given catchment”. Esta publicação foi no
entanto completamente ignorada até 1889, altura em que Emil Kuickling, engenheiro
municipal de Rochester (estado de Nova York) introduziu a expressão nos Estados
Unidos da América intitulando-a de fórmula racional. Esta fórmula foi posteriormente
divulgada em Inglaterra por Lloyd-Davis, e a sua utilização generalizou-se a muitos
outros países, nas décadas que se seguiram.
Qp = C I A (5.1)
sendo,
Qp - caudal de ponta (m3/s)
C - coeficiente (-)
I - intensidade de precipitação (m3/(ha.s))
A - área da bacia de drenagem (ha)
As hipóteses de base do método residem no conceito de tempo de concentração e na
linearidade da relação precipitação útil (C x I) - caudal (Q). O tempo de concentração
pode ser definido, como se sabe, como o tempo dispendido no percurso de água
precipitada, desde o ponto hidraulicamente mais afastado da bacia até à secção em
estudo. A parcela de precipitação que origina escoamento na rede de colectores pode ser
denominada precipitação útil.
No método racional a relação Qp/I é linear (assim como a relação Qp/A). A variável de
entrada é a intensidade de precipitação I(tc,T) e o operador de transformação é
representado por C x A.
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propriamente dito) mas também efeitos, mais ou menos importantes, de retenção,
regolfo e atraso do escoamento superficial ao longo do terreno, linhas de água naturais e
colectores. Todos estes efeitos dependem não só das características físicas e de
ocupação da bacia mas, também, designadamente do estado de humidade do solo e da
duração e distribuição da precipitação antecedente.
Desde os estudos clássicos, publicados por Horner e Flynt (in COSTA 1983), e
referentes ao estudo de três pequenas bacias de drenagem de águas pluviais da cidade de
St. Louis (EUA) que se sabe que o coeficiente C está longe de se poder considerar
constante se, em relação às chuvadas, se estabelecerem relações entre precipitações e
caudais por elas produzidos. Para uma dada bacia, o coeficiente C poderá variar, por
exemplo, entre 0,2 e 0,8, dependendo tal da precipitação que lhe deu origem. Não é pois
legítimo avaliar frequências de caudais a partir da frequência de precipitações nem vice-
versa. No entanto, Horner e Flynt tiveram a ideia de estudar precipitações e caudais
como fenómenos independentes a as relações então estabelecidas permitiram mostrar
uma certa constância entre precipitações e caudais da mesma frequência.
A intensidade de precipitação I deve ser avaliada para condições críticas. Ou seja, deve-
se admitir que toda a área da bacia contribui para a avaliação do caudal na secção de
interesse o que, por definição, acontece a partir do momento em que a duração da
chuvada iguala o tempo de concentração da bacia. Para durações inferiores ao tempo de
concentração, nem toda a bacia contribui para o caudal de ponta máximo. Para durações
superiores, é menor a intensidade de precipitação e, portanto, menor o caudal
correspondente.
Apesar do inestimável valor do método racional, que permite calcular com facilidade e
rapidez caudais com qualquer frequência, tem sido contestada a sua aplicação para
bacias com áreas superiores a 200 a 2000 ha, nomeadamente no caso de serem bacias
rurais ou semi-rurais.
Nos Estados Unidos da América, na Rússia e em alguns outros países, o recurso a estas
tabelas ou a outras afins constitui o procedimento consignado nos seus regulamentos
nacionais.
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MÉTODO RACIONAL - PRECIPITAÇÃO DE PROJECTO
Em todas as formulações do tipo racional, a precipitação é representada pelos valores da
intensidade média máxima, de duração igual ao tempo de concentração.
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Figura 5.1 - Curvas de intensidade-duração-frequência aplicáveis a Portugal Continental (adaptada de
Matos e Silva 1986).
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QUADRO 5.4 - Valores médios do coeficiente “C” para utilização na fórmula racional
(Manual nº 37, ASCE
Tipologia de ocupação Coeficiente
Comercial
no centro da cidade 0,70 - 0,95
nos arredores 0,50 - 0,70
Residencial
habitações unifamiliares 0,30 - 0,50
prédios isolados 0,40 - 0,60
prédios geminados 0,60 - 0,70
suburbano 0,25 - 0,40
Industrial
pouco denso 0,50 - 0,80
muito denso 0,60 - 0,90
Parques e cemitérios 0,10 - 0,25
Campos de jogos 0,20 - 0.40
Tipologia de superfície Coeficiente
Pavimento
asfáltico 0,70 - 0,95
betão 0,80 - 0,95
Passeios para peões 0,85
Coberturas (telhados) 0,75 - 0,95
Relvado sobre solo permeável
plano < 2% 0,05 - 0,10
médio, 2% a 7% 0,10 - 0,15
inclinado > 7% 0,15 - 0,20
Relvado sobre solo impermeável
plano < 2% 0,13 - 0,17
médio, 2% a 7% 0,18 - 0,22
inclinado > 7% 0,25 - 0,35
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QUADRO 5.5 - Coeficiente “C” em função do período de retorno, para diversas tipologias de
ocupação (adaptado de Drainage Criteria Manual 1977
Coeficiente
Tipologia de superfície Período de retorno (anos)
5-10 25 100
Pavimento
asfáltico 0,80 0,88 0,95
betão 0,85 0,93 0,95
Passeios 0,85 0,93 0,95
Coberturas (telhados) 0,85 0,93 0,95
Relvado em solo permeável
plano < 2% 0,07 0,08 0,09
médio, 2% a 7% 0,12 0,13 0,15
inclinado > 7% 0,17 0,19 0,21
Relvado em solo impermeável
plano < 2% 0,18 0,20 0,22
médio, 2% a 7% 0,22 0,24 0,27
inclinado > 7% 0,30 0,33 0,37
Área florestada em solo impermeá-
vel
plano < 2% 0,12 0,13 0,15
médio, 2% a 7% 0,20 0,22 0,15
inclinado > 7% 0,30 0,33 0,37
Área florestada em solo permeável
plano < 2% 0,30 0,33 0,37
médio, 2% a 7% 0,40 0,44 0,50
inclinado > 7% 0,50 0,55 0,62
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QUADRO 5.7 - Valores dos coeficientes de rugosidade das fórmulas de Izzard (K) e de Kerby
(N).
Tipologia da superfície K Tipologia da superfície N
Pavimento asfáltico liso 0,0070 Impermeável liso 0,02
Pavimento arenoso liso 0,0075 Solo compactado liso 0,10
Pavimento em betão 0,012 Relvado disseminado, superfície rugosa 0,20
Pavimento de gravilha 0,017 Pastagens; relva densa 0,40
Wisner 1983 apresenta o estudo das curvas de variação do tempo de entrada (te) com a
percentagem de áreas impermeáveis (IMP), resultantes de simulação de caudais
utilizando o modelo SWMM (Figura 5. 2). Esta figura evidencia a convergência dos
valores de te para a faixa de valores de 5 a 10 minutos.
Figura 5.2 - Curva de variação do tempo de entrada (te) com a percentagem de áreas impermeáveis.
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QUADRO 5.8 - Valores do tempo de entrada, em minutos, recomendados em Inglaterra e
Canadá
Inglaterra Canadá
T IMP (%) T
1/2 1 2 5 2 5 25 100
30 13 10 8 5
5-10 4-8 4-7 3-6 50 9 8 7 5
70 8 7 6 5
90 8 7 6 5
IMP - Áreas impermeáveis
T - período de retorno (anos)
Costa 1956 deduz que a fórmula racional é apenas um caso particular de uma fórmula
mais geral, aplicável a bacias com qualquer percentagem de áreas impermeáveis.
Aquele autor propõe a expressão:
O quociente 2v1/v reflecte a percentagem de água precipitada que não sofre atraso ou
efeito de armazenamento superficial e que, efectivamente, contribui para o caudal de
ponta. O quociente t/tc exprime, em termos quantitativos, o facto do escoamento nas
linhas de água principais ser muito mais rápido do que nas linhas de água secundárias
ou sobre o terreno, o que faz com que, no momento em que se regista o caudal de ponta,
não esteja realmente a contribuir toda a bacia. O coeficiente de regolfo γ reflecte o facto
do regime de escoamento estabelecido não ser uniforme e criarem-se efeitos de regolfo
(movimento gradualmente variado) que atrasam o escoamento e amortecem os caudais
máximos.
99
Na Figura 5.3 Apresentam-se, relações gráficas que permitem calcular, de forma
expedita, o coeficiente de redução global do método racional generalizado. Como se já
referiu anteriormente, este coeficiente é calculado, analiticamente, de acordo com a
expressão:
Figura 5.3 - Cálculo expedito do coeficiente de redução global do método racional generalizado.
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APRECIAÇÃO DOS MÉTODOS DE CÁLCULO
Uma das críticas mais frequentemente apontada ao longo dos anos ao método racional
foi a de sobrestimar os valores dos caudais de ponta, pelo facto de não ter em conta na
sua expressão (Q = CIA), e de forma directa, os efeitos de armazenamento na rede de
colectores.
No método italiano, pelo contrário, esta preocupação é privilegiada e atendida pela sua
formulação analítica, baseada na equação da continuidade, que é, na realidade, uma
equação de balanços de volumes (fazendo intervir directamente o volume armazenado).
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uma capacidade de resposta mais eficiente, possibilitada por meios de cálculo mais
poderosos.
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Figura 5.4 - Representação esquemática do escoamento em valeta.
Note-se que as expressões (2.4) e (2.5) só são aplicáveis quando se admite que o
escoamento se processa em regime uniforme. Ou seja, quando as secções de cálculo se
situam a jusante de troços, de comprimentos superiores a 15 m, com características
geométricas sensivelmente constantes.
Adoptando como princípio que as águas pluviais tenham um trajecto superficial o mais
extenso possível, os dispositivos interceptores devem ser localizados em secções onde a
valeta, definida pela superfície do arruamento e a face vertical do passeio, atinja a sua
capacidade limite.
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Critério da limitação de velocidade
Aos dois critérios atrás referidos é recomendável, em regra, acrescentar um terceiro, que
limite o valor do caudal máximo por valeta a 300 l/s.
Valores acima deste limite, para os dispositivos interceptores geralmente usados (desde
sarjetas de passeio até duplos sumidouros de duas grades) conduzem a eficiências de
comportamento bastante baixas. Podem, no entanto, existir situações particulares em
que não seja razoável considerar tal critério.
Considerações complementares
Os três critérios apresentados são válidos tanto para o escoamento superficial em bacias
de cabeceira como em bacias interiores. A aplicação destes critérios permite definir a
localização dos dispositivos interceptores, nada adiantando, no entanto, no que respeita
ao tipo e dimensão dos mesmos, os quais deverão ser definidos tendo em conta a
garantia de uma eficiência hidráulica média entre 75 e 85%, entendendo-se como
eficiência hidráulica a razão entre o caudal captado e o caudal total afluente ao
dispositivo interceptor.
Entende-se por sarjeta de passeio, o dispositivo cuja caixa de recolha está situada sob o
passeio, processando-se a entrada de água por uma abertura lateral, localizada na face
vertical do lancil, tal como se ilustra na Figura 5.5.
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Figura 5.5 - Representação esquemática de uma sarjeta de passeio sem depressão (adaptada de Sousa e
Matos 1990 a)).
O volume de água que um dispositivo deste tipo pode interceptar varia com as
características geométricas da valeta a montante. Por outro lado, o facto do declive
transversal da valeta na zona adjacente à sarjeta de passeio ser constante ou variável
(caso haja depressão localizada) tem influência importante no seu comportamento
hidráulico.
Caso haja depressão, tal como se ilustra na Figura 5.6, a expressão (5.6) deve ser
corrigida, de modo a que se possa ter em linha de conta o efeito do incremento de carga
hidráulica na capacidade de vazão do dispositivo.
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Figura 5.6 - Representação esquemática de uma sarjeta de passeio com depressão (adaptada de Sousa e
Matos 1990 a)).
F = V2/(g y) (5.8)
M = LF/(a tg θ) (5.9)
C = 0,45/1,12M (5.10)
θ- ângulo que o plano do pavimento forma, na depressão, com o plano vertical do
lancil do passeio (graus);
C = 0,45/1,12N (5.12)
EXEMPLO DE CÁLCULO
- Enunciado
- Cálculos
a) Cálculo de yo e Vo
yo = 1542 (Q3/8 N3/8)/(tg θo3/8 J3/16) = 0,032 m
Vo = Qo/Ao = Qo/(yo2 tg θo /2) = 0,41 m/s
b) Cálculo de y, V e Q
Com base na expressão (2.11) é possível escrever:
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V = Qo/A = 0,01/0,039 = 0,26 m/s
F = V2/ gy = 0,0262 / (9,8 x 0,097) = 0,071
M = LF/(a tg θ) =(0,6 x 0,071) / (0,06 x 8,276) = 0,086
Q = L (K+C) yo3/2 g1/2 = 0,6 x (0,20+0,45/1,120,086) x 0,0323/2 x 9,81/2 =
= 0,007 m3/s = 7 l/s
Designa-se por sumidouro um dispositivo cuja caixa de recolha de água pluvial está
situada sob uma ou mais grades, por onde se processa a entrada de água captada, tal
como se ilustra na Figura 5.7.
Figura 5.7 - Representação esquemática de um sumidouro sem depressão (adaptada de Sousa e Matos
1990 a)).
108
O comprimento de grade necessário para captar todo o caudal que sobre ela se escoa, e
assim anular a parcela q3, é função da velocidade, Vo, da altura de escoamento
uniforme, yo, da largura das barras, C1, da distância entre barras, C2 e da aceleração da
gravidade, g.
Lo = m Vo (yo/g)1/2 (5.13)
sendo,
O caudal, q1 (m3/s), que se escoa entre a primeira abertura da grade e o lancil do passeio
é função da altura da água, yo (m); da velocidade média, Vo (m/s); do comprimento do
sumidouro L (m); da distância, d (m), entre o lancil e a primeira abertura da grade e da
aceleração da gravidade, g (m/s2). É então válida a seguinte expressão:
Para que o caudal q2, proveniente de escoamento exterior à grade sobre o arruamento, se
anule, é necessário que o sumidouro tenha um comprimento superior um valor crítico.
Este comprimento crítico, L' (m), pode ser dado em função dos valores de yo (m), Vo
(m/s), θo (graus), g (m/s2) e da largura da grade B (m), de acordo com a seguinte
expressão:
109
(L'/Vo) (g/y')1/2 = 1,2 tg θo (5.15)
Quando houver depressão junto ao lancil do passeio, a expressão (5.15) toma a seguinte
forma:
Se o comprimento do sumidouro for inferior ao valor crítico, L', o caudal, q2 (m3/s), não
é nulo, podendo ser dado pela seguinte expressão:
EXEMPLO DE CÁLCULO 1
- Enunciado
- Cálculos
a) Cálculo de yo ,Vo e Lo
= 0,041 m
110
y' = yo - B/tg θo = 0,041 - 0,31/48 = 0,035 m
L' = 1,2 tg θo Vo (y'/g)1/2 = 1,2 x 48 x 0,50 x (0,035/9,8)1/2 = 1,72 m
q = q1 + q2 = 6,0 [Vo2 d3 (yo/g)1/2/L2] + [(L'-L)/4] g1/2 y'3/2 =
= 6,0 x 0,502 x 0,033 x (0,041/9,8)1/2/0,562 + [(1,72-0,56)/4] x
x 9,81/2 x 0,0353/2 = 0,006 m3/s
Q = Qo - q = 0,02 - 0,006 = 0,014 m3/s
Nestas condições, o caudal de captado, Q, é cerca de 70% do caudal afluente, podendo
considerar-se a capacidade de escoamento do sumidouro relativamente insatisfatória.
EXEMPLO DE CÁLCULO 2
- Enunciado
- Cálculos
y' = y - B/tg θ
Po = y + B + y'/cos θo
tg θ = 0,031/(0,01+0,31/48) = 18,835;
y = 0,057 m;
y' = 0,0405 m;
Ao = 0,05447 m2
P- perímetro útil exterior da grade, não incluindo o espaço ocupado pelas barras
transversais (m);
Quando a carga hidráulica sobre a grade está compreendida entre 0,12 e 0,42 m, o
comportamento hidráulico desta é indefinido. Nestas condições, deve admitir-se que o
valor do caudal captado está entre os valores limites obtidos por aplicação das
expressões (5.18) e (5.19).
EXEMPLO DE CÁLCULO
112
- Enunciado
- Cálculos
P = (0,4+0,4/2) x 2 = 1,2 m
Nestas condições, dado que h ≤ 0,12 m, obtém-se:
Q = 0,83 P h3/2 = 0,83 x 1,2 x 0,083/2 = 0,23 m3/s
- As sarjetas de passeio têm reduzida capacidade hidráulica, o que não torna a sua
utilização recomendável, a não ser que sejam implantadas em zonas rebaixadas (com
depressões acentuadas), onde afluam caudais pluviais pouco significativos (inferiores
a 20 l/s).
- A capacidade hidráulica dos sumidouros simples (isto é, constituídos apenas por uma
grade) é, em regra, superior à das sarjetas de passeio. Considera-se, no entanto, de
grande conveniência que esses dispositivos sejam implantados em valetas pelo
menos levemente rebaixadas (a > 1 cm). O comportamento destes dispositivos, desde
que tenham dimensões superiores a 0,56 x 0,28 m2, é bastante eficiente, até caudais
afluentes da ordem de 50 l/s, mesmo quando implantados em valetas de elevado
declive. No caso de se acentuar a profundidade da valeta (a > 1 cm), o que pode
trazer inconvenientes sérios, nomeadamente para a segurança da circulação do
tráfego, aumenta, em regra, a eficiência hidráulica do sumidouro.
113
quando se preveja que as grades do sumidouro possam vir a ser significativamente
obstruídas. A eficiência hidráulica destes sistemas não difere substancialmente da
dos sumidouros duplos.
114
Figura 5.9 - Planta e corte de uma sarjeta de passeio.
115
Figura 5.10 - Planta e corte de um sumidouro simples.
116
Figura 5.11- Planta e corte de um sumidouro duplo.
117
possível, para fora das áreas afectadas, através da rede clássica de colectores. A uma
estratégia de concentração, unidireccional, de técnica única, contrapõe-se uma
estratégia de desconcentração, através de um conjunto diversificado de técnicas.
Neste sub-capítulo 5.6, adaptado em grande parte de Matos, R. (1999) dá-se uma
panorâmica geral dos objectivos, das vantagens e limitações e dos critérios de selecção
das técnicas de controlo na origem, e apresenta-se seguidamente, para cada uma delas e
de forma necessariamente sumária, a definição e o princípio de funcionamento, as
vantagens e os inconvenientes específicos, a concepção e o dimensionamento, a
construção e a manutenção.
118
intervenção urbana, um conhecimento claro das suas limitações e, consequentemente,
dos respectivos domínios de aplicação e de exclusão.
Relativamente aos riscos de inundação há no entanto que ter presente que, ao passar-se
de uma solução clássica de rede de colectores, praticamente independente do meio em
que se insere e com flexibilidade limitada, para uma matriz de soluções mais ou menos
dispersas no tecido urbano, cujo comportamento está estreitamente ligado às condições
do meio (nomeadamente o solo, o tipo de urbanização e o enquadramento paisagístico),
acresce a importância de uma concepção global, por um lado, e de uma análise e
simulação prévia de cenários de maior risco (precipitações excepcionais ou disfunções
de funcionamento por colmatagem, por exemplo), por outro. A sensibilização e
responsabilidade individual e colectiva ganham também aqui uma dimensão acrescida.
Em síntese, pode dizer-se que no plano técnico estas soluções podem ser
potencialmente mais eficazes do que a solução clássica de rede enterrada, em termos de
controlo de cheias, mas exigem uma nova postura, em termos de concepção e
implementação, marcada pela necessidade de intervenção de especialistas em hidrologia
e hidráulica urbana ao nível dos estudos de planeamento e do desenho urbano de
pormenor e não, como tradicionalmente, a jusante do plano de urbanização, após
definição dos modelos e das tipologias de ocupação do solo. Exigem também maior
diálogo e envolvimento das equipas de trabalho e verdadeira articulação disciplinar.
119
superior, relativamente a metais pesados (Jacobsen e Mikkelsen 1996 e Sansalone
1998).
Do ponto de vista ambiental, estas soluções são potencialmente mais eficazes do que a
solução clássica de controlo da poluição, mas exigem, para melhor utilização das suas
potencialidades e integração no espaço urbano, a intervenção das especialidades de
hidrologia, hidráulica urbana e ambiente, ao nível dos estudos de planeamento e do
desenho urbano. Exigem igualmente maior envolvimento, articulação disciplinar e
coordenação na concepção, no desenvolvimento e na aplicação.
A experiência tem demonstrado, por sua vez, que as técnicas de controlo na origem
apresentam custos iniciais (de primeiro investimento) inferiores às soluções clássicas
(Valiron e Tabuchi 1992). Verifica-se ainda que a diferença é tanto maior quanto maior
é a dispersão das soluções para a mesma área geográfica e que a conjugação ou
composição de soluções em série pode apresentar custos globais muito competitivos. De
entre os factores que contribuem para a redução do custo global podem referir-se os
seguintes:
120
Na visão tradicional e clássica, os projectos de infra-estruturas de drenagem pluvial são
realizados, em geral, na sequência da execução dos projectos de urbanização. Esta
ordem de intervenção temporal não é naturalmente desejável no quadro da opção por
técnicas de controlo na origem, na medida em que a pré-definição da ocupação do solo
pode induzir a eliminação ou a perda de potencialidades de técnicas possíveis. Na
verdade, exemplos bem sucedidos de integração de técnicas de controlo na origem em
projectos de ordenamento urbano têm mostrado a importância de aspectos como os que
a seguir se enumeram (Chocat et al. 1997):
121
• tipo e funcionalidade da área a drenar: pavimento rodoviário para
circulação ou estacionamento, área pedonal, edificação, lote, área de
pequena dimensão ou de dimensão apreciável;
• declive da área;
122
• influência no ambiente: potencialidades relativas à redução da poluição
de natureza permanente;
Considerações introdutórias
Estes caudais podem ser desviados do seu percurso inicial por intermédio de
descarregadores laterais, convenientemente dimensionados. Por vezes, interpõe-se no
percurso da água pluvial (na terminologia anglo-saxónixa «on-line») uma ou mais
lagoas em série, que amortecem naturalmente os caudais de ponta de cheia. A dimensão
destas bacias ou lagoas pode ser, na maioria dos casos, ampliada, para acompanhar os
efeitos decorrentes da impermeabilização crescente da bacia de drenagem que se
desenvolve a montante. Outras vezes, essa ampliação é justificada tendo em vista
reduzir os riscos associados à ocorrência de regolfos indesejáveis. A possibilidade de se
fasearem os investimentos, de acordo com as necessidades construtivas e
disponibilidades financeiras, torna este tipo de solução frequentemente atraente.
123
- criação de reservas de água para fazer face a necessidades
agrícolas, ocorrência de incêndios e actividades industriais e
municipais, como limpeza de arruamentos e parques ;
- bacias enterradas.
As bacias a céu aberto são geralmente construídas em terra, com taludes reforçados ou
diques de protecção lateral. Podem resultar de simples intercepção de uma linha de água
em local de fisiografia favorável, através de uma pequena barragem ou açude, ou de
zonas em depressão natural com solos de resistência e características adequadas.
As bacias a seco são concebidas para estarem geralmente sem água, acumulando-a
apenas em períodos específicos, correspondentes à ocorrência de precipitações mais ou
menos significativas. A escolha deste tipo de solução é bastante frequente e depende,
em grande parte, das condições de permeabilidade e de flutuação do nível freático do
aquífero local. Na Figura 5.12 apresenta-se o perfil transversal de uma bacia a seco.
As bacias com nível de água permanente são concebidas para terem água
permanentemente, mesmo durante os períodos de ausência de precipitação. Em regra, a
escolha deste tipo de solução acarreta maiores investimentos e custos de exploração do
que os correspondentes às bacias a seco e está condicionada a uma alimentação de água
por parte do aquífero subjacente. Na Figura 5.13 apresenta-se esquematicamente o
perfil transversal de uma bacia com nível de água permanente.
124
Figura 5.12 - Perfil transversal de uma bacia a seco
Figura 5.13 - Perfil transversal de uma bacia com nível de água permanente
As bacias a céu aberto podem ser em série ou em paralelo. No primeiro caso, todo o
caudal proveniente de montante aflui à bacia. Assim, se se tratar de um sistema unitário,
o caudal de tempo seco não é desviado. No segundo caso, o escoamento de tempo seco
não aflui, em princípio, à bacia de retenção; apenas os caudais em excesso,
correspondentes à ocorrência de precipitação, são desviados e armazenados
temporariamente na bacia.
125
precipitações excepcionais ou à obstrução das secções de escoamento que garantem o
funcionamento normal da bacia.
No caso de bacias a seco, o fundo deve ser construído com inclinações suficientes
(≥ 5/100), para evitar a formação de zonas sem renovação de água, enquanto para os
taludes das bermas é aconselhável, respectivamente para os casos de acesso público ou
não, a adopção de inclinações máximas de 1/6 ou 1/2. Os taludes das bacias podem ser
revestidos com cobertura vegetal adequada, nomeadamente resistente a períodos de
inundação mais ou menos prolongados.
No caso de uma bacia com um nível de água permanente, é recomendada uma altura de
água mínima de 1,5 m, mesmo em tempo seco, a fim de evitar um excessivo
desenvolvimento de plantas aquáticas e de assegurar eventual vida piscícola, o que é
importante para a estabilidade do equilíbrio ecológico no ecossistema formado pela
bacia. Se a bacia estiver integrada em zona urbana, convém assegurar uma variação
máxima do nível da água de, aproximadamente, 0,5 m, e garantir um tratamento
conveniente das bermas. O grau de tratamento das bermas pode ser conseguido do
seguinte modo:
As bacias a seco são as mais utilizadas, dado que em regra implicam menores
investimentos e menores custos de exploração. Por vezes, constitui uma prática acertada
implantar no corpo da bacia um pequeno canal revestido, para o escoamento dos
caudais permanentes ou decorrentes de precipitação ocorrida no período estival.
Por vezes e nomeadamente como resultado das primeiras precipitações após a estiagem,
a água pluvial está bastante poluída. Essa poluição resulta, fundamentalmente, da acção
erosiva no solo (com transporte, por exemplo, de sólidos em suspensão e nutrientes) e
da acção de lavagem dos pavimentos e outras superfícies impermeabilizadas.
Uma água pluvial pode conter matéria mineral, sedimentável ou não, partículas
arenosas, matéria orgânica, óleos, gorduras hidrocarbonatos, corpos flutuantes de maior
ou menor dimensão e microrganismos patogénicos.
126
equipamentos, como grades e tamisadores. Em todo o caso, tanto os sólidos em
suspensão como os corpos flutuantes contribuem para a ocorrência de efeitos estéticos
desagradáveis, cuja relevância se torna mais acentuada no caso das bacias de nível de
água permanente.
A eutrofização dos corpos de água, nomeadamente no caso das bacias de nível de água
permanente, pode tornar-se de extrema acuidade se o transporte de nutrientes
(designadamente de compostos de azoto e de fósforo) for significativo. Nestas
condições, é favorecida a proliferação súbita de certas espécies vegetais (ocorrendo
desequilíbrios ecológicos, em determinados períodos, com degradação da qualidade da
água provocada, nomeadamente pela existência de algas mortas no fundo da bacia, ou
em suspensão na massa de líquida.
Entre os elementos dissolvidos incluem-se metais pesados (Zn, Pb, Cu, Ni. Cr, Hg)
particularmente os dois primeiros. Os metais pesados não têm acção significativa a
curto prazo, podendo representar grave inconveniente se se acumularem no fundo,
(fracção particulada) contribuindo para a toxicidade de espécies animais e vegetais.
127
Figura 5.14 - Planta e perfis transversais de uma bacia de retenção localizada no Concelho de Almada
Em Abreu 1983, Almeida 1985 e Almeida e Pinto 1987 são apresentados métodos e
fórmulas para o dimensionamento aproximado de bacias de retenção.
O método simplificado, apresentado em Abreu 1983, pode ser apresentado sob a forma
seguinte:
Exemplo de cálculo
- Enunciado
- Dados
- Cálculos
130
- Comentários
Num pavimento reservatório a camada de base dispõe de uma estrutura de vazios com
capacidade de armazenamento das águas pluviais, podendo a camada de desgaste ser ou
não porosa.
131
Figura 5.15 - Secção transversal de pavimento reservatório
132
Figura 5.16 - Condições hidráulicas de entrada e saída em pavimento reservatório
Pelo facto de se armazenar água na camada de base há que ter cuidados acrescidos com
a escolha dos materiais para as camadas subjacentes, em especial quando se permitir a
percolação da água pela base e a capacidade de carga do terreno de fundação for
sensível à variação do teor em água. Em alguns casos poderá ser necessário recorrer a
uma impermeabilização.
A saída da água pode efectuar-se por dois modos: i) de forma distribuída, promovendo-
se a infiltração directa no terreno de fundação; ii) de forma localizada, através de dreno
de saída para uma câmara de visita munida a jusante de um dispositivo de regulação do
caudal. Uma combinação das duas soluções pode existir tendo como principal vantagem
permitir o funcionamento do dreno nos dois sentidos (como difusor, se estiver em carga,
ou como colector, em caso contrário), minimizando problemas de colmatagem. Porém,
se se dispuser de camada de desgaste porosa, as vantagens conferidas por esta situação
tornam-se menos sensíveis.
133
de escoamento, entre 15 a 30% - tem um impacte sensível ao nível da mitigação de
problemas de inundação.
Figura 5.17 - Comportamento de pavimento reservatório com camada de desgaste porosa e de pavimento
tradicional, Craponne, França
134
Figura 5.18 - Parque de estacionamento construído com pavimento reservatório e camada de desgaste
porosa, Bordéus, França
Contudo, o reconhecimento das suas vantagens, por um lado, e a evolução das técnicas
e dos procedimentos de manutenção que a utilização crescente destas infra-estruturas
tem incentivado, tendem a reduzir o peso a dar às limitações evocadas (Chocat et al
1997).
Concepção e dimensionamento
135
condições topográficas: essencialmente inclinações locais (um
elevado declive condiciona naturalmente a capacidade de
armazenamento da água, sendo no entanto possível conceber um
pavimento reservatório, embora com custos acrescidos, com a
introdução de superfícies de seccionamento como se ilustra na
Figura 5.19);
136
estimado através do produto da superfície de infiltração pela capacidade de absorção do
solo. Esta por sua vez, pode admitir-se igual à permeabilidade do meio, no caso de
pequenas alturas de escoamento e níveis freáticos situados a distância superior a um
metro do base do pavimento, situação em que se admite não haver influência do nível
freático na permeabilidade da camada de base do pavimento.
137
Figura 5.21 -Tipos de alimentação de poços absorventes (Azzout et al. 1994)
Figura 5.22 – Poços absorventes com e sem material de enchimento (Azzout et al. 1994)
Os inconvenientes dos poços absorventes prendem-se com a escala reduzida dos efeitos
de armazenamento e a tipologia dispersa da solução com a necessidade de manutenção
regular e frequente para evitar fenómenos de colmatagem e com eventuais riscos de
contaminação de águas subterrâneas.
138
Figura 5.23 – Tipos de utilização de poços de infiltração em meio urbano (Chocat et al.1997)
139
Figura 5.24 – Exemplificação da associação de poço absorvente com outras técnicas de controlo na
origem (Azzout et al. 1994)
Concepção e dimensionamento
140
conhecer de forma tão precisa quanto possível a capacidade de infiltração do futuro
poço que condiciona o valor do potencial da capacidade de infiltração, bem como as
características do aquífero de destino final das águas pluviais (nomeadamente
utilizações, flutuações sazonais, níveis piezométricos máximos e sentido de escoamento
subterrâneo).
A alimentação de uma trincheira de infiltração pode ser feita directamente através das
escorrências superficiais ou através de rede de colectores, como se exemplifica na
Figura 5.25.
141
Figura 5.25 - Tipos de alimentação de trincheira de infiltração (Azzout et al. 1994)
Figura 5.26 - Exemplos de trincheiras de infiltração com e sem cobertura (Azzout et al. 1994)
A saída da água pode efectuar-se por dois meios: i) de forma distribuída, através de
infiltração directa no solo, constituindo uma trincheira dita de infiltração; ii) de forma
localizada, através de dreno de saída para uma câmara de visita munida a jusante de
dispositivo de regulação do caudal, constituindo uma trincheira dita de retenção. Na
Figura 5.27 exemplificam-se estes dois tipos. As duas soluções podem também
coexistir.
Figura 5.27 - Exemplos de trincheira de infiltração e de trincheira de retenção (Azzout et al. 1994)
142
No caso de uma trincheira de infiltração é aconselhável a colocação de um geotêxtil na
base do seu núcleo drenante para evitar a migração de materiais finos para o seu
interior.
Entre as vantagens das trincheiras de infiltração conta-se a sua fácil integração no tecido
urbano, as suas potencialidades na harmonização da paisagem urbana e na valorização
do espaço, a relativa facilidade de execução e o custo acessível. Como vantagens
específicas destes dispositivos, conta-se, geralmente, a elevada capacidade de absorção,
que pode conduzir à dispensa de colector a jusante. As trincheiras de infiltração
constituem assim uma solução alternativa interessante em situações em que não existe
meio receptor próximo. Estas técnicas não dispensam no entanto uma manutenção
cuidada, indispensáveis à minimização de riscos de colmatagem. Por outro lado, poderá
haver o risco de contaminação das águas subterrâneas, designadamente por ocorrência
de poluição acidental.
A trincheira de infiltração é uma das técnicas de maior implantação actual ao nível das
soluções de controlo na origem, em vários países europeus, nos Estados Unidos da
América, Japão e Austrália. Inúmeras publicações, editadas ao longo da última década,
traduzem, na prática, a experiência adquirida com realizações deste tipo (Fujita 1990,
Somaratne & Argue 1990, Stenmark 1990, Geiger 1990, Pratt & Powell 1993, Hopkins
& Argue 1993 E O´Loughlin et al. 1995).
143
Figura 5.28 - Sistema de retenção/infiltração mulden-rigolen (Sieker 1998)
Concepção e dimensionamento
144
nas águas de drenagem pluvial, como é o caso de áreas de
utilização agrícola ou certas áreas do tipo industrial urbano,
incluindo estações de serviço, áreas de armazenamento de produtos
químicos ou, de um modo geral, superfícies com riscos de
contaminação associados.
Figura 5.30 - Vala relvada com seccionamento transversal em madeira (adaptado de Thomachot 1981)
146
Na Figura 5.31 pode observar-se uma vala relvada integrada no espaço verde de uma
urbanização. O tipo de coberto vegetal a utilizar, em geral relva ou plantas rasteiras,
deve ser adaptado ao tipo de escoamento previsto, ao solo e ao clima. Devem evitar-se
espécies vegetais de folha caduca para minimizar a obstrução de eventuais dispositivos
de regulação de caudais.
As valas revestidas de coberto vegetal têm como vantagem servir de meio receptor às
águas de escorrência superficial, assegurando a condução gravítica para os pontos mais
baixos da área em estudo. Entre as vantagens destes dispositivos contam-se as suas
potencialidades de integração paisagística e de valorização do espaço, a relativa
facilidade de execução e o baixo custo. Estas técnicas não dispensam, no entanto, uma
manutenção cuidada, indispensável à manutenção das condições hidráulicas de
escoamento e à minimização de riscos de colmatagem. Por outro lado, pode haver risco
de contaminação das águas subterrâneas designadamente por ocorrência de poluição
acidental, pelo que, em situações particularmente vulneráveis, poderá ser necessário
prever a integração de dispositivos de intercepção e tratamento.
Concepção e dimensionamento
Esta situação pode e deve alterar-se nomeadamente com uma maior aposta na
concepção integrada das infra-estruturas de drenagem, ao nível do ordenamento do
território e do planeamento urbanístico.
148
No dimensionamento de uma rede de drenagem de água pluvial podem considerar-se,
em regra, as três seguintes etapas fundamentais: definição dos elementos de base;
cálculo dos caudais pluviais de projecto; verificação do comportamento hidráulico dos
colectores.
Lj
tp = Σ (5.23)
Vj
em que:
149
Lj - comprimento do colector de ordem j (a montante da secção de
cálculo);
Vj - velocidade de escoamento (em regime uniforme) no colector de
ordem j.
7º determinação da intensidade de precipitação para uma duração igual ao
tempo de concentração, a partir da expressão analítica I = atb e dos
parâmetros a e b, definidos no passo 3º;
Como se pode inferir da descrição sequencial dos passos de cálculo no método racional,
cada colector é dimensionado individualmente e independentemente (excepto no que
respeita ao cálculo do tempo de concentração) e o valor que lhe corresponde de
intensidade de precipitação é recalculado, em cada secção de cálculo, para a área total
drenada. Dado que o dimensionamento se processa de montante para jusante, as áreas
drenantes são crescentes nas sucessivas secções de cálculo e, igualmente, os respectivos
tempos de concentração. As intensidades de precipitação de cálculo correspondentes
são, em regra, decrescentes, sendo os novos valores aplicados às áreas drenantes em
cada secção de cálculo.
A série de passos de cálculo descritos evidenciam que um trabalho deste tipo realizado
manualmente pode tornar-se demorado e fastidioso, sobretudo se se trata de redes com
um número elevado de trechos. O cálculo automático, quer se recorra ao método
racional para a determinação de caudais quer a outro método alternativo, aplica-se com
grandes vantagens de rapidez e eficiência ao dimensionamento de rede de colectores (a
esse respeito consulte-se, por exemplo, Almeida 1983 ou Sousa 1983).
150
No caso das bacias de drenagem que não são de cabeceira, o caudal de superfície
afluente às respectivas secções de jusante não é, em regra, igual ao caudal originado nas
próprias bacias, dado o facto dos dispositivos interceptores da águas pluvial,
implantados a montante, não recolherem, em geral, a totalidade dos caudais afluentes.
Pelo contrário, no caso dos dispositivos interceptores de percurso, não se põe com tanta
acuidade a preocupação de maximizar o percurso da água escoada superficialmente,
dado o facto da extensão da rede de drenagem enterrada já estar definida. Interessa,
sobretudo, e com especial importância, minimizar os custos sociais e económicos
associados à ocorrência de inundações.
No que se refere à qualidade da água das escorrências pluviais, seja quando transportada
em colectores separativos, seja quando transportadas em colectores unitários, sabe-se
que arrastam, em regra, quantidades significativas de substâncias poluentes,
nomeadamente sólidos em suspensão, hidrocarbonetos e metais, em particular chumbo,
zinco e ferro. O impacte negativo da descarga dessas águas poluídas em meios
receptores sensíveis pode ser minimizado e controlado recorrendo a processos
“naturais” de tratamento (particularmente a lagoas ou bacias de retenção de toalha de
água permanente) e a reservatórios de regularização inseridos em sistemas de drenagem.
151
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