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SUMÁRIO
Apresentação . ............................................................................................................................................................................... 7
Introdução ..................................................................................................................................................................................... 9
Programação ............................................................................................................................................................................... 11
Agenda 21 .................................................................................................................................................................................... 31
Principais temas relacionados ao uso racional dos recursos naturais e bens públicos: Papel/Água/Energia . ...................... 45
Diretrizes para implementação de Coleta Seletiva de acordo com o Decreto 5.940/06 ........................................................... 67
Bibliografia . ................................................................................................................................................................................. 85
APRESENTAÇÃO
O
Decreto nº 5.940/06, publicado em 25 de outubro de 2006, instituiu a separação dos resídu-
os recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta
e indireta na fonte geradora e sua destinação às associações e cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e constituiu a Comissão da Coleta Seletiva Solidária, criada no âmbito de cada
órgão e entidade da administração pública federal direta e indireta com o objetivo de implantar e
supervisionar a separação dos resíduos recicláveis descartados na fonte geradora e a sua destinação
às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis.
Existe um grande esforço sendo construído pelo Comitê Interministerial de Inclusão Social dos
Catadores de Lixo (Decreto de 11/09/2003), para a consolidação dessa integração e o alcance dos
objetivos do governo federal no processo de implementação e consolidação da referida política. Os
principais objetivos envolvem a mudança de hábito dos servidores da administração Pública Fede-
ral como colaboradores na redução dos gastos do governo, sua consciência ambiental e social e a
oportunidade de renda e inclusão social do segmento dos Catadores de Materiais Recicláveis.
A presente apostila contém subsídios teóricos básicos para a atuação dos membros das Comissões
de Coleta Seletiva Solidária os quais poderão ser considerados como referência para a realização de
suas atividades.
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INTRODUÇÃO
A
presente publicação é parte integrante do Projeto de capacitação dos servidores públicos para
implementação do Decreto nº 5.940/06 e da Agenda Ambiental na Administração Pública –
A3P e visa contribuir para a implantação efetiva da coleta seletiva solidária e da A3P no âm-
bito das instituições públicas. Essa ação foi proposta pelo Comitê Interministerial de Inclusão Social
dos Catadores de Materiais Recicláveis e executado pelo Grupo de Trabalho de Educação do Comitê
e contou com o apoio do programa de Fomento a Projetos de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas
do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG.
O conteúdo do curso foi elaborado para permitir aos membros das Comissões da Coleta Seletiva
Solidária uma visão abrangente da gestão ambiental e do processo de gerenciamento de resíduos no
âmbito das políticas públicas e dos compromissos assumidos pelo Brasil no que diz respeito à agenda
de sustentabilidade ambiental.
Dentro do projeto de capacitação são abordados assuntos relativos à legislação brasileira, meio
ambiente, direitos humanos, ética, cidadania, tecnologias sociais, entre outros, que visam à implan-
tação da coleta seletiva e da agenda ambiental. Esse conteúdo foi selecionado para fornecer aos
gestores públicos informações relevantes para a construção de uma nova cultura institucional com-
prometida com a sustentabilidade socioambiental das atividades públicas.
A iniciativa de capacitação foi delineada para atender às demandas dos membros das atuais Co-
missões da Coleta Seletiva, envolvendo um público inicial de 400 servidores federais, e será ampliada
para promover a capacitação de todos os gestores públicos da administração pública direta e indireta
integrantes das comissões.
PROGRAMAÇÃO
Curso de capacitação dos servidores públicos para implementação do Decreto
nº 5.940/06 e da Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P
Segunda-feira
14:00 – 15:00 Legislação Básica e Políticas Públicas
15:00 – 16:00 Direitos Humanos, Ética e Cidadania
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 17:15 Educação Ambiental
17:15 – 18:00 Agenda 21
Terça-feira
14:00 – 15:00 Responsabilidade Socioambiental e A3P
15:00 – 16:00 Uso Racional dos Recursos - Água
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 17:30 Uso Racional dos Recursos - Papel e Energia
17:30 – 18:00 Licitações Sustentáveis
Quarta-feira
14:00 – 15:00 Resíduos Sólidos
15:00 – 16:00 Diretrizes para implementação do Decreto 5.940/06
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 18:00 Passo a passo para a Coleta Seletiva Solidária
Quinta-feira
14:00 – 16:00 Práticas Sustentáveis
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 18:00 Módulo Didático-pedagógico
Sexta-feira
14:00 – 18:00 Visita de Campo
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Nesse momento, predominava, enquanto noção de do ensino e da educação em geral, por promover o
direitos humanos, uma concepção individualista e li- respeito aos direitos humanos proclamados e pela
beral de sociedade, em que o indivíduo, dotado de um adoção de medidas progressivas de caráter nacio-
valor em si, era o seu fundamento, consagrando-se o nal e internacional, para assegurar sua observância
direito de liberdade como forma de limitar o poder de universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios
atuação do Estado em relação à ação do indivíduo. Estados-membros, quanto entre os povos dos territó-
Contudo, no século XIX, definido por Eric Hobsbawn rios sob sua jurisdição.
como a era das revoluções, a luta por direitos buscou
incorporar aos direitos civis e políticos também os A educação, na DUDH, assume papel especial na
direitos sociais. O movimento operário, principal pro- promoção dos direitos humanos; ela é, ao mesmo tem-
tagonista das transformações ocorridas no período, po, um direito humano em si e condição para a garantia
exigia mais do que a igualdade civil reconhecida pe- dos demais direitos. Em seu artigo 26 , a Declaração es-
las declarações de direito até então. Na Declaração pecifica algumas características do direito à educação:
Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explora-
do, de 1918, por exemplo, garantia-se o direito ao Artigo 26
trabalho, à educação, à saúde, à moradia. Altera-se, 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução
desse modo, a relação estabelecida entre indivíduo e será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fun-
Estado. De uma idéia de não interferência nos direi- damentais. A instrução elementar será obrigatória. A
tos individuais, ou seja, de uma postura negativa do instrução técnico-profissional será acessível a todos,
Estado, passa-se a exigir deste uma ação positiva e bem como a instrução superior, baseada no mérito.
ativa na garantia dos direitos sociais.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno
A questão dos direitos humanos assumiu novas desenvolvimento da personalidade humana e do for-
dimensões diante dos horrores decorrentes da II talecimento do respeito pelos direitos humanos e pe-
Guerra Mundial em meados do século XX, com a las liberdades fundamentais. A instrução promoverá
emergência do fenômeno do totalitarismo nazista e a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
fascista. Ao final do conflito, a Declaração Universal as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará
dos Direitos Humanos (DUDH), aprovada em 1948, as atividades das Nações Unidas em prol da manu-
assume nesse momento pretensões globais e procura tenção da paz.
articular os direitos civis e políticos aos direitos eco-
nômicos, sociais e culturais, estabelecendo sua uni- Nos anos seguintes, a DUDH e também vários pactos,
versalidade, indivisibilidade e interdependência. Ou acordos e convenções foram ampliando a abrangência de
tais direitos e fortalecendo sua apropriação por meio dos
seja, incorporou-se na DUDH não apenas aquilo que
Estados signatários, valendo ressaltar, dentre eles:
se convencionou chamar de primeira geração de di-
• Convenção relativa à Luta contra a Discrimi-
reitos humanos, que consiste no direito às liberdades nação no Campo do Ensino (1960);
fundamentais – de locomoção, religião, pensamento, • Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políti-
opinião, aprendizado, voto –, mas também os direi- cos (1966);
tos de segunda geração, que abrangem os direitos • Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
econômicos, sociais e cultuais como educação, saú- Sociais e Culturais (1966);
de, oportunidades de trabalho, moradia, transporte, • Convenção Internacional sobre a Eliminação
previdência social, participação na vida cultural da de todas as Formas de Discriminação Racial
comunidade, das artes, manifestações artísticas. (1966);
• Convenção sobre a Eliminação de Todas as
A Declaração Universal dos Direitos Humanos Formas de Discriminação contra a Mulher
traz ainda, como objetivo comum a ser atingido por (1979);
todos os povos e nações, que o Estado, cada indiví- • Convenção sobre os Direitos da Criança
duo e cada órgão da sociedade se esforcem, por meio (1989);
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• Convenção para proteção e promoção da diver- rismo que marca nossa sociedade, os trabalhos atuais
sidade de expressões culturais (2005). de direitos humanos vêm enfatizando quão reduzida é
esta perspectiva diante do que se entende hoje por direi-
Recentemente, foi acrescida à noção de direitos tos humanos. Essa é a concepção de direitos humanos
humanos também uma terceira geração de direitos, presente, por exemplo, no Plano Nacional de Direitos
que abrange o direito a um meio ambiente equilibra- Humanos (PNDH) aprovado pelo Governo Federal em
do e não poluído, uma qualidade de vida saudável, 1996 e, especialmente, no Plano revisado em 2002.
o direito à autodeterminação dos povos, direito ao
progresso, direito à paz, bem como a outros direitos No entanto, apesar dos avanços nas declarações de
difusos e coletivos, não mais restritos a indivíduos ou direitos, na elaboração do PNDH e na ampliação do
a grupos específicos, mas a toda a coletividade. conceito de direitos humanos, ainda são necessários es-
forços no sentido de sua materialização na sociedade
No início do século XXI, a noção contemporâ- brasileira, promovendo o fortalecimento de uma cultura
nea de direitos humanos com a qual se trabalha vem de direitos humanos no país nas várias esferas sociais.
abarcar todas as gerações de direitos, consideradas Um aspecto a ser enfrentado para que se alcance esse
igualmente fundamentais, sem hierarquizações, pre- objetivo relaciona-se com o reconhecimento de todo ci-
valecendo sua universalidade, indivisibilidade e inter- dadão brasileiro enquanto sujeito de direitos, capaz de
dependência, a partir de uma postura ativa do Estado participar das decisões do país. Para tanto, é fundamen-
como garantidor desses direitos. tal que se passe de uma cidadania passiva – aquela que
é outorgada pelo Estado, com a idéia moral da tutela e
A SOCIEDADE BRASILEIRA E do favor – para uma cidadania ativa – aquela que insti-
OS DIREITOS HUMANOS tui o cidadão como portador de direitos e deveres, mas
essencialmente criador de direitos para abrir espaços de
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 repre- participação e possibilitar a emergência de novos sujei-
senta o principal marco jurídico do processo de tran- tos políticos (cf. Benevides, 1998, p.150).
sição democrática e de institucionalização dos direi- Há que se atentar também em nosso país para a hie-
tos humanos. Ao instituir o Estado Democrático de rarquização entre tipos diferentes de cidadãos de acordo
Direito, define como seus fundamentos a soberania, a com a classe social à qual pertencem, sendo ainda comum
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores a criminalização da pobreza e a associação generalizada
do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo polí- das classes populares ao banditismo e à violência:
tico. Vale ainda ressaltar que a República Federati- As classes populares são geralmente vistas como
va no Brasil, regendo-se em suas relações nacionais ‘classes perigosas’, ameaçadoras pela feiúra da miséria,
e internacionais pelo respeito aos direitos humanos, ameaçadoras pelo grande número, ameaçadoras pelo
traz como seus objetivos fundamentais, dentre ou- possível desespero de quem nada tem a perder, e, assim,
tros, a erradicação da pobreza e da marginalização consolida-se o ‘medo atávico das massas famintas’. (...)
e a redução das desigualdades sociais e regionais. In- Esta é uma maneira de circunscrever a violência, que
dica, desse modo, sua consonância com a concepção existe em toda a sociedade, apenas aos ‘desclassifica-
contemporânea de direitos humanos, que abrange a dos’, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia,
garantia não apenas de direitos políticos e civis, mas da suspeita permanente, da indiferença diante de seus
também de direitos econômicos, sociais e culturais. legítimos anseios (Benevides, 2004, p. 50).
Associados no regime militar à defesa dos direitos
de presos políticos, diante da violência institucional A construção e a consolidação de uma cultura em
praticada pelo Estado, os direitos humanos no Brasil direitos humanos no Brasil implicam, desse modo,
se estenderam aos presos comuns e acabaram por ser enfrentar essa série de desafios e contradições, ain-
identificados na sociedade como direitos de bandidos. da presente em nossa sociedade, que afeta todos os
Apesar de essa visão ainda predominar em alguns se- brasileiros em termos da sua qualidade de vida e
tores, inclusive como um legado histórico do autorita- das possibilidades de seu pleno desenvolvimento en-
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quanto pessoa humana. A educação, nesse contexto, torna-se um elemento essencial para a construção da
aparece como um espaço privilegiado para a promo- democracia social.
ção dessa cultura de direitos humanos, contribuindo
para a difusão de atitudes, valores e práticas coe- Entendemos que tal forma de educação deve visar,
rentes com esses princípios, seja por meio da edu- também, ao desenvolvimento de competências para li-
cação escolar, no nível básico ou superior, seja pela dar com: a diversidade e o confl ito de idéias, as infl
educação não-formal, por meio da atuação de orga- uências da cultura e os sentimentos e emoções pre-
nizações da sociedade civil, pela mídia e os sistemas sentes nas relações do sujeito consigo mesmo e com o
de justiça e segurança. mundo à sua volta.
2
Professor da Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Pualo (UPS)
21
Uma educação ancorada em tais princípios, de A participação escolar autêntica une o esforço para
acordo com Puig (1998, p.15), deve converter-se em entender ao esforço para intervir. Dessa maneira, a esco-
um âmbito de reflexão individual e coletiva que permi- la precisa construir espaços de diálogo e de participação
ta elaborar racionalmente e autonomamente princípios no dia-a-dia de suas atividades curriculares e não-curri-
gerais de valor, princípios que ajudem a defrontar-se culares, de forma a permitir que estudantes, docentes e a
criticamente com realidades como a violência, a tortu- comunidade se tornem atores e atrizes efetivos, de fato,
ra ou a guerra. De forma específica, para esse autor, da construção da cidadania participativa.
a educação ética e moral deve ajudar na análisecrítica
da realidade cotidiana e das normas sociomorais vi- EXPERIÊNCIAS
gentes, de modo que contribua para idealizar formas Como as das assembléias escolares, dos grêmios
mais justas e adequadas de convivência. estudantis e dezenas de outros modelos de práticas
de cidadania, que vêm sendo implementados em es-
Ainda na linha de compreensão do papel da educa- colas públicas e privadas de todo o País, fornecem a
ção para a formação ética dos seres humanos, Cortina matéria-prima para que, de forma democrática, os
(2003, p.113) entende que a educação do cidadão e conflitos cotidianos sejam enfrentados nas escolas,
da cidadã deve levar em conta a dimensão comunitária permitindo a construção de valores de ética e de ci-
das pessoas, seu projeto pessoal e também sua capaci- dadania por parte dos membros da comunidade que
dade de universalização, que deve ser exercida dialogi- vivem dentro e no entorno escolar.
camente, pois, dessa maneira, elas poderão ajudar na
construção do melhor mundo possível, demonstrando
DIREITOS HUMANOS
saber que são responsáveis pela realidade social.
De forma específi ca, lidar com a dimensão comuni- De acordo com Tugendhat (1999, p.362), o com-
tária, dialogar com a realidade cotidiana e as normas portamento moral e ético consiste em reconhecer o
sociomorais vigentes nos remete ao trabalho com a di- outro como sujeito de direitos iguais e, dessa forma,
versidade humana, à abordagem e ao desenvolvimento as obrigações que temos em relação ao outro corres-
de ações que enfrentem as exclusões, os preconceitos pondem, por sua vez, a direitos. Complementando,
e as discriminações advindos das distintas formas de demonstra que todos os seres humanos, independen-
defi ciência, e pelas diferenças sociais, econômicas, temente de suas peculiaridades e papéis específi cos
psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideoló- na sociedade, têm determinados direitos simplesmen-
gicas e de gênero. Conceber esse trabalho na própria te enquanto seres humanos.
comunidade onde está localizada a escola, no bairro e
no ambiente natural, social e cultural de seu entorno, é Benevides (2004), ao tratar do tema dos direitos
essencial para a construção da cidadania efetiva. humanos, discute sua universalidade e a concepção
de que são naturais e, ao mesmo tempo, históricos.
CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA Partindo de formas de compreensão como as citadas
Puig (2000, p.33) entende que uma escola de- acima e como resultado do esforço da comunidade in-
mocrática define-se pela participação do alunado e ternacional para estabelecer parâmetros que possam
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balizar as ações das diferentes culturas com relação e comunidade, pode facilitar o desenvolvimento do
ao que se considera como razoável quanto ao respeito respeito mútuo, do apoio mútuo e do aproveitamento
aos direitos fundamentais dos seres humanos, foi que dessas diferenças para melhorar nossa sociedade. É
a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou, durante seus anos de formação que as crianças ad-
em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Hu- quirem o entendimento das diferenças, o respeito e o
manos. Esse documento, em sua base, reconhece três apoio mútuos em ambientes educacionais que promo-
dimensões dos direitos humanos: 1) as liberdades in- vem e celebram a diversidade humana.
dividuais, ou o direito civil; 2) os direitos sociais; e 3)
os direitos coletivos da humanidade.
A construção de sociedades e escolas inclusivas,
abertas às diferenças e à igualdade de oportunidades
Os princípios presentes na Declaração Universal
para todas as pessoas, é um objetivo prioritário da
dos Direitos Humanos (DUDH) situam-se na confl
educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho
uência democrática entre os direitos e liberdades in-
com as diversas formas de defi ciências e uma ampla
dividuais e os deveres para com a comunidade em que
se vive. Juntamente à forma coletiva de acordo com a discussão sobre as exclusões geradas pelas diferen-
qual foi elaborada, a Declaração pode ser compreen- ças social, econômica, psíquica, física, cultural, ra-
dida como a base para o que vem sendo chamado de cial, de gênero e ideológica, devem ser foco de ação
valores universalmente desejáveis. das escolas. Buscar estratégias que se traduzam em
melhores condições de vida para a população, na
Dessa maneira, a DUDH pode ser um guia de re- igualdade de oportunidades para todos os seres hu-
ferência para a análise dos confl itos de valores vi- manos e na construção de valores éticos socialmente
venciados em nosso cotidiano e para a elaboração de desejáveis por parte dos membros das comunidades
programas educacionais que objetivem uma educação escolares é uma maneira de enfrentar essas exclu-
em valores. Se quisermos, portanto, promover uma sões e um bom caminho para um trabalho que visa à
educação ética e voltada a para a cidadania, devemos democracia e à cidadania.
partir de temáticas signifi cativas do ponto de vista
ético (como é o caso daquelas contidas na DUDH), Sustentado na discussão ampla desses quatro
propiciando condições para que os alunos e alunas eixos temáticos estrutura-se o “Programa Ética e
desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem cons- Cidadania: construindo valores na escola e na so-
ciência de seus próprios sentimentos e emoções, e de- ciedade” e essa publicação, arquitetada a partir da
senvolvam a autonomia para tomada de decisão em organização multitemática, cujo objetivo é contribuir
situações confl itantes do ponto de vista ético/moral. para que educadores comprometidos possam traba-
lhar na escola e na sociedade a ética, a convivência
INCLUSÃO SOCIAL democrática, os direitos humanos, a inclusão social e
De acordo com Barth, (1990, p. 514-515), as dife- as relações entre escola e comunidade.
renças representam grandes oportunidades de apren-
dizado. Para ele, o que é importante nas pessoas – e Essa publicação reúne cinco produções, a saber:
nas escolas – é o que é diferente, não o que é igual. Inclusão escolar: desafios e possibilidades, de Maria
Para Stainback (1999), a total inclusão de todos os Terezinha C.Teixeira dos Santos; Educação e Direitos
membros da humanidade, de quaisquer raças, religi- Humanos: formação de professores e práticas esco-
ões, nacionalidades, classes socioeconômicas, cultu- lares, de José Sérgio F. de Carvalho; Ética e Edu-
ras ou capacidades, em ambientes de aprendizagem cação, Texto extraído dos Parâmetros Curriculares
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Nacionais - MEC; A construção de relações e espaços to pessoal e também sua capacidade de universaliza-
democráticos no âmbito escolar, de Valéria Amorim ção, que deve ser exercida dialogicamente pois, dessa
Arantes; Escola, democracia e cidadania, de Lúcia maneira, poderão ajudar na construção do melhor
Helena Lodi e Ulisses F. Araújo. mundo possível, demonstrando saber que são respon-
sáveis pela realidade social. De forma específi ca, li-
INCLUSÃO ESCOLAR: DESAFI OS
dar com a dimensão comunitária e o diálogo com a
E POSSIBILIDADES
realidade cotidiana e as normas sociomorais vigentes
A construção de sociedades e escolas inclusivas, nos remete ao trabalho com a diversidade humana e
abertas às diferenças e à igualdade de oportunida- a abordar e desenvolver ações que enfrentem as ex-
des para todas as pessoas, é um objetivo prioritá- clusões, os preconceitos e as discriminações advindos
rio da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o
das distintas formas de defi ciência, e pelas diferen-
trabalho com as diversas formas de defi ciências
e com as exclusões geradas pelas diferenças so- ças sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais,
cial, econômica, psíquica, física, cultural, racial, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero.
de gênero e ideológica devem ser foco de ação das
escolas. Buscar estratégias que se traduzam em A CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES E
melhores condições de vida para a população, na ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS NO
igualdade de oportunidades para todos os seres
ÂMBITO ESCOLAR
humanos e na construção de valores éticos social-
mente desejáveis por parte dos membros das comu- Na escola, os distúrbios disciplinares, a violência
nidades escolares é uma maneira de enfrentar essa e o autoritarismo nas relações interpessoais são al-
situação e um bom caminho para um trabalho que guns dos maiores problemas sociais da atualidade e
visa à democracia e à cidadania. vêm comprometendo a busca por uma educação de
qualidade. São fenômenos complexos, cujo enfrenta-
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: mento requer disposição e preparo para buscar cami-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES nhos nãoautoritários.
E PRÁTICAS ESCOLARES
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por Enfrentar esses fenômenos exige dos profi ssionais
conter o consenso da comunidade internacional sobre da educação uma nova postura, democrática e dialógi-
os direitos considerados fundamentais o ser humano, ca, que entenda os alunos e as alunas não mais como
pode ser um guia de referência para a análise dos confl sujeitos passivos ou adversários que devem ser venci-
itos de valores vivenciados em nosso cotidiano e para dos e dominados. O caminho está no reconhecimento
a elaboração de programas educacionais que objetivem dos estudantes como possíveis parceiros de uma cami-
uma educação em valores. Se quisermos, portanto, pro- nhada política e humana que almeja a construção de
mover uma educação ética e voltada para a cidadania, uma sociedade mais justa, solidária e feliz.
devemos partir de temáticas signifi cativas do ponto de
vista ético (como é o caso daquelas contidas na DUDH),
ESCOLA, DEMOCRACIA E CIDADANIA
propiciando condições para que os alunos e alunas de-
senvolvam sua capacidade dialógica e desenvolvam a A base de sustentação das ações de ética e de ci-
capacidade autônoma de tomada de decisão em situa- dadania pode ser a organização e funcionamento em
ções confl itantes do ponto de vista ético/moral. cada escola do Fórum Escolar de Ética e de Cidada-
nia. Esse fórum tem como papel essencial articular os
diversos segmentos da comunidade escolar para que
ÉTICA E EDUCAÇÃO
se disponham a atuar no desenvolvimento de ações
A educação do cidadão e da cidadã deve levar em mobilizadoras em torno das temáticas de ética e de
conta a dimensão comunitária das pessoas, seu proje- cidadania no convívio escolar.
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A população humana vem crescendo em ritmo sem comprometer as possibilidades das futuras ge-
cada vez mais acelerado. Levou cerca de 1800 anos rações atenderem às suas próprias necessidades. A
para que a população humana atingisse o número de EA passa a ser assim, uma importante ferramenta
um bilhão de habitantes, porém em apenas cento e para a construção de um desenvolvimento associado
vinte anos, em 1920, completou-se o segundo bilhão. à sustentabilidade ambiental.
Em 1960, já se somavam 3 bilhões de habitantes e
em apenas quatorze anos esse número passou para A educação ambiental (EA) reforça na educa-
4 bilhões. Treze anos depois o quinto bilhão e agora, ção uma proposta de rediscussão da sociedade, da
na virada do milênio, já somos 6,5 bilhões. A cada natureza e da vida (Loureiro, 2002). A partir de
dia ocorre um crescimento médio de 350 mil habi- 1972 a EA começa a ser tratada como política pú-
tantes no planeta, mais ou menos 300 por minuto, blica (Conferência de Estocolmo) em vários países,
5 por segundo... já no Brasil essa discussão tem início no ano se-
guinte (1973) com a criação da Secretaria Espe-
Somado a esse crescimento desordenado está o cial do Meio Ambiente (SEMA), sendo responsável,
consumo, que apenas nos últimos 50 anos multiplicou- dentre outras coisas, pela sensibilização inicial da
se por seis, o que resulta em uma elevada geração de sociedade para as questões ambientais. Em 1981,
resíduos sólidos. Isso ocorre como resultado do nosso foi sancionada a Lei nº 6938 que estabeleceu a ne-
ciclo de vida e modelo de consumo e produção pratica- cessidade de inclusão da EA em todos os níveis de
dos, interferindo diretamente nas condições de saúde e ensino, inclusive na educação da comunidade, com o
qualidade ambiental dos aglomerados humanos.
intuito de capacitá-la à participação ativa na defesa
do meio ambiente. A Constituição Federal de 1988
Estudos indicam que no mundo são produzidas
reconhece o direito constitucional de todos os cida-
anualmente 400 milhões de toneladas de lixo, só no
dãos brasileiros à Educação Ambiental e atribui ao
Brasil são geradas 125.000 toneladas diariamen-
Estado o dever de promover a EA em todos os níveis
te. Desse total produzido no Brasil, apenas 3% vai
de ensino e a conscientização pública para a preser-
para a compostagem, 17% vai para os lixões, áreas
vação do meio ambiente.
destinadas ao acúmulo de lixo. No entanto a grande
maioria, 80%, é despejada no solo, a céu aberto,
ocupando terrenos baldios, fundos dos vales, con- Na Conferência Rio 92 é criada a agenda 21
taminando cursos d’água, atuando como fator de como um texto-chave para guiar governos e socieda-
degradação da qualidade das águas, da perda da des nas próximas décadas rumo ao estabelecimento
qualidade ambiental, comprometendo a qualidade de um novo modelo de desenvolvimento. Ela sugere
de vida das comunidades. ações, atores, metodologias e monitoramentos de
programas e reforça a EA como uma proposta de
A população humana vive em um ritmo tão ace- um esforço global para fortalecer atitudes, valores
lerado que muitas vezes não se dá conta do quanto e ações ambientalmente saudáveis. Nesse mesmo
o lixo que produz traz prejuízos ao meio ambiente. evento foi elaborado o Tratado de EA para socieda-
Há muitos anos tenta-se discutir um modelo de de- des sustentáveis e responsabilidade social, resultante
senvolvimento que traga harmonia entre as relações da Jornada de EA elaborado pelo fórum das ONGs.
econômicas e o bem-estar das sociedades e a gestão Esse tratado enfatiza o caráter crítico e emancipató-
racional e responsável dos recursos naturais (Carva- rio da EA e traz a noção de sociedades sustentáveis
lho & Guimarães, 2004). O termo desenvolvimento construída a partir de princípios democráticos, em
sustentável surgiu para explicar um modelo de desen- modelos participativos de gestão ambiental (Carva-
volvimento que atenda às necessidades do presente lho & Guimarães, 2002).
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Ainda segundo Carvalho e Guimarães, para que da sociedade de consumo. Um problema que cresce
a Educação Ambiental pudesse ser implementada sistematicamente. Cada vez se produz mais lixo en-
como programa de governo, foi necessário atribuir- quanto as soluções, sejam de reciclagem ou disposi-
lhe duas dimensões: a formal – tratada nos sistemas ção final, são anti-econômicas e insuficientes devido
de ensino vinculados ao Ministério da Educação; e ao esgotamento de áreas próprias para este uso.”
a não formal – tratada pelas ações do Ministério do Precisamos no entanto rever este conceito, deixando
Meio Ambiente para abranger a parcela da socieda- de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua
de que não está na escola (técnicos, gestores etc.), totalidade, pois grande parte dos materiais que vão
incluindo o sistema de meio ambiente”. para o lixo podem (e deveriam) ser reciclados.
Em 1999 é promulgada a Lei nº 9.795 que esta- A temática sobre produção e tratamento de resíduos
belece a Política Nacional de Educação Ambiental gera um conflito sobre as distintas condições sociais hu-
(PNEA) e veio reforçar essas dimensões e qualificar manas: quem gera as sobras e quem vive delas. O geren-
o direito de todos à EA, indicando seus princípios e ciamento dos resíduos humanos deve, além de privilegiar
objetivos, responsáveis por sua implantação, nos âm- a redução de seus volumes, o combate ao desperdício e
bitos formal e não-formal, e suas principais linhas de a promoção da reutilização e da reciclagem destes resí-
ação. No seu artigo 1º define a EA “Entende-se por duos, mostrar que antes disso tudo é necessário que se
educação ambiental os processos por meio dos quais reduza o consumo de materiais que os geram.
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências A pedagogia dos 3 R’s advoga uma seqüência ló-
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem gica a ser seguida: a redução do consumo deve ser
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de priorizada sobre a reutilização e reciclagem; e depois
vida e sustentabilidade”. da redução do consumo, a reutilização deve ser prio-
rizada sobre a reciclagem (Layrargues, P.P.2002).
Em 2001 é promulgada a Lei nº 10.172 - Plano
Nacional de Educação (PNE) que trata da inclusão Atualmente já se fala em 5 R’s adicionando os
da EA como tema transversal, devendo ser imple- outros 2 Rs antes dos 3 já mencionados: Repensar
mentada no ensino fundamental e médio. Por fim o e Recusar: repensar a necessidade de consumo e os
Decreto nº 4281/02 regulamenta a Lei nº 9795/99, padrões de produção e descarte; recusar possibilida-
detalha suas competências, atribuições e mecanismos des de consumo desnecessário. Depois disso, reduzir,
nela definidos e cria o Órgão Gestor (Ministério do reutilizar e daí pensar na reciclagem. É claro que
Meio Ambiente e Ministério da Educação) responsá- a reciclagem tem o seu valor, mas é preciso, antes,
vel pela coordenação dessa Política. Nesse sentido, a trazer para a discussão e principalmente reflexão, a
EA vem avançando no desenvolvimento de uma cida- questão do consumo. Após repensar, recusar o que
dania responsável para a construção de uma socieda- não é realmente necessário, reduzir o consumo e o
de sadia e socialmente justa. desperdício e reutilizar o que for possível, aí sim, de-
vemos pensar na reciclagem.
Essa sociedade sadia passa por qualidade de vida
e sua discussão precisa incluir o problema do lixo, O termo reciclagem surgiu na década de 70, quando
considerado todo e qualquer resíduo proveniente das as preocupações ambientais passaram a ser tratadas
atividades humanas em aglomerações urbanas, sen- com maior rigor. A reciclagem é o retorno da matéria-
do comumente definido como aquilo que ninguém prima ao ciclo de produção do qual foi descartado. O
quer.. Como podemos discutir qualidade de vida com termo, porém, já vem sendo usado popularmente para
a quantidade de pessoas passando fome e vivendo em designar o conjunto de técnicas envolvidas nesse proces-
condições precárias? Pessoas vivem dentro do lixo so, desde a coleta dos materiais que se tornariam lixo
se alimentado muitas vezes dele. Segundo Zanetti (ou que já estão no lixo), passando pela sua separação e
(2006) “o lixo urbano é um dos maiores problemas o seu processamento. No Brasil apenas 2% do lixo é re-
27
ciclado, o que equivale a uma ínfima parte dos resíduos Segundo o Manual de Educação para o Consumo
sólidos produzidos, ainda mais quando comparado aos Sustentável, “a reciclagem é uma das alternativas
dados dos EUA e da união Européia onde a reciclagem de tratamento de resíduos sólidos mais vantajosas,
desses resíduos chega a 40% do total descartado. tanto do ponto de vista ambiental como do social.
Ela reduz o consumo de recursos naturais, poupa
Outro ponto que devemos deixar claro é a diferen- energia e água e ainda diminui o volume de lixo e
ça entre a reutilização e a reciclagem. A reutilização a poluição. Além disso, quando há um sistema de
é utilizar novamente um material antes de descartá- coleta seletiva bem estruturado, a reciclagem pode
lo. Essa ação é muito realizada em oficinas ditas de ser uma atividade econômica rentável. Pode gerar
reciclagem onde transformam os resíduos sólidos co- emprego e renda para as famílias de catadores de
letados em outros bens, como vassouras e brinque- materiais recicláveis, que devem ser os parceiros
dos. A reciclagem por sua vez é a transformação dos prioritários na coleta seletiva”.
produtos em matéria prima para se iniciar um novo
ciclo de produção-consumo-descarte. A reciclagem Ainda segundo esse Manual, a reciclagem co-
de materiais é muito importante, tanto para diminuir meça com a coleta seletiva, que é a separação e o
o acúmulo de dejetos, quanto para poupar a natureza recolhimento, desde a origem dos resíduos sólidos
da extração inesgotável de recursos, além de causar potencialmente recicláveis. Para tanto, é preciso a
menos poluição ao ar, à água e ao solo. parceria entre governos, empresas e sociedade civil,
par se “desenvolver políticas adequadas e desfazer
O consumidor cidadão participativo pode auxiliar preconceitos em torno dos aspectos econômicos e da
no processo de reciclagem. Se separarmos todo o lixo confiabilidade dos produtos reciclados”.
produzido em residências, empresas, órgãos públicos,
impedimos que a sucata se misture aos restos de ali- A realização da coleta seletiva está, basicamen-
mentos e resíduos não recicláveis, o que facilita seu te, alicerçada na informação. Ou seja, o conheci-
reaproveitamento pelas indústrias, além de também mento, por todos, dos benefícios advindos desse
diminuir a poluição ambiental. No entanto para que processo, cujo resultado mais expressivo deve ser
essa ação seja efetiva, é fundamental que a coleta uma atenção constante e um cuidado permanente
desse resíduo seja feita seletivamente. contra o desperdício.
29
AGENDA 21
3
Outros importantes documentos aprovados durante a Rio 92 foram a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção sobre Diversidade Biológica e o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis.
30
natural que nos preocupemos em fazer funcionar a ferramentas que ajudam a melhor colocar e entender a
máquina econômica, pois se a máquina não funciona problemática de nossas localidades. Mas, para isso, o
não vamos a lugar algum. No entanto, precisamos, fundamental é partir da própria realidade com sua cul-
também, nos preocupar com o “para onde vamos”. tura, tradições, desejos, potencialidades e restrições.
Ou seja: a ferramenta ajuda, mas quem constrói é o
Esse é um exemplo da forma de pensar a sustenta-
conjunto da sociedade, tendo como parâmetro básico
bilidade: com uma visão sistêmica (visão do conjun-
to) e de longo prazo. Ainda de acordo com Ladislau as características de seu território e as relações so-
Dowbor, “Quando limitamos as nossas análises a uma ciais, econômicas e culturais construídas.
comparação quantitativa com o trimestre anterior e A Agenda 21 no Brasil não entende o conceito de
com o trimestre equivalente do ano anterior, real- desenvolvimento sustentável como uma imposição do
mente torna-se possível ignorar muita coisa”.
mundo globalizado para as sociedades locais; ao con-
O Relatório Bruntland, publicado em 1987, tam- trário, enfatiza a importância do nível local, da parce-
bém conhecido como o Relatório “Nosso Futuro Co- ria governo e sociedade, como condição para o alcance
mum”, lançou as bases para a discussão do desenvol- da sustentabilidade. O desafio é grande, mas o bom
vimento sustentável sugerindo a conciliação entre o senso mostra que é impossível termos soluções am-
crescimento econômico, proteção ambiental e justiça bientais dissociadas das sociais, econômicas, culturais
social. Os autores afirmam: “Tomamos um capital e éticas. Para este século XXI, precisamos agendar
ambiental emprestado às gerações futuras, sem qual- compromissos inadiáveis com a mudança nos padrões
quer intenção ou perspectiva de devolvê-lo. Os efeitos de produção e consumo; com a geração de trabalho e
da dissipação atual estão rapidamente acabando com renda; com o uso racional de nossos recursos naturais
as opções das gerações futuras. Muitos dos responsá- e com a justiça social, dentre outros. Não há como al-
veis pelas decisões tomadas hoje estarão mortos an- terar os padrões de produção e consumo do território
tes que o planeta venha a sentir os efeitos mais sérios
rumo à construção de sociedades sustentáveis se não
da chuva ácida, do aquecimento da Terra, da redução
alterarmos as relações de poder dentro desse mesmo
da camada de ozônio, da desertificação generalizada
ou da extinção das espécies”. território. Para isso, é preciso estabelecer instrumen-
tos de democracia participativa, cidadania ativa e mo-
Junto à necessidade de se pensar a dimensão am- delos de gestão compartilhada.
biental do desenvolvimento, o Relatório Bruntland
coloca a dimensão social dos processos econômicos: AGENDA 21 BRASILEIRA
“A pobreza é uma das principais causas e um dos
principais efeitos dos problemas ambientais no mun- Em 1997, em atendimento ao acordado na Rio
do. Portanto, é inútil tentar abordar esses problemas 92, à pressão de setores sociais e à proximidade da
sem uma perspectiva mais ampla, que englobe os fa- Rio + 5, o Governo Brasileiro, sob o protagonismo do
tores subjacentes à pobreza mundial e à desigualda- Ministério do Meio Ambiente, iniciou os movimentos
de internacional (...) A ecologia e a economia estão necessários à construção da Agenda 21 Brasileira.
cada vez mais entrelaçadas – em âmbito local, re- Logo a seguir, foi criada a Comissão de Políticas
gional, nacional, mundial – numa rede inteiriça de para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 21
causas e efeitos”. Nacional – CPDS, com a missão de coordenar o pro-
Neste início de século, teóricos ainda debatem cesso de construção da Agenda 21. Dez anos depois
a melhor definição para o conceito de desenvolvi- da Conferência de 1992, em junho de 2002, momen-
mento sustentável. Mas o que a prática tem nos to em que se aproximava a Conferência de Joanes-
mostrado é que, independentemente das nuances burgo – Rio + 10, o Brasil concluiu sua Agenda 21.
acadêmicas, o conceito tem sido aceito para definir A partir das propostas iniciais da CPDS, da contri-
a busca de um novo paradigma de desenvolvimen- buição de especialistas temáticos e de consultas es-
to. O importante é que os grupos sociais que forem taduais e regionais, foi entregue à sociedade ações
trabalhar o conceito compreendam que conceitos são e recomendações precisas para serem traduzidas em
31
Para a CPDS, a Agenda 21 não deve ser entendida Por fim, a Agenda 21 Brasileira procura estabele-
apenas como um documento. Nem como um recei- cer equilíbrio negociado entre os objetivos e as estra-
tuário mágico, com fórmulas para resolver todos os tégias das políticas ambientais e de desenvolvimento
problemas econômicos, ambientais, sociais, culturais econômico e social, para consolidá-los num processo
e étnicos; e sim como um processo de participação de desenvolvimento sustentável. Esse esclarecimento
em que a sociedade, os governos, os setores econômi- é indispensável, uma vez que os planos de desenvolvi-
cos e sociais sentam-se à mesa para diagnosticar os mento no Brasil tendem, em geral, a listar objetivos
problemas, entender os conflitos envolvidos e pactuar e diretrizes potencialmente conflitivos sem explicitar
formas de resolvê-los. para o poder público os valores e preferências envol-
vidos. O processo de planejamento particpativo per-
Nesse sentido, a Agenda 21 Brasileira foi elabo- mite negociação entre os atores envolvidos, reduzin-
rada considerando que o desenvolvimento pressupõe do conflitos e permitindo maior convergência entre
um processo de inclusão social, com uma vasta gama objetivos e soluções que visam o interesse coletivo.
de oportunidades e opções para as pessoas, entenden-
do também que não pode haver desenvolvimento en- A partir de 2003, os 21 objetivos estratégicos
quanto houver iniqüidades sociais crônicas no nosso da Agenda 21 Brasileira foram incorporados ao
País e se as formas de uso dos recursos ambientais no Plano Plurianual de Governo – PPA 2004/2007 sen-
presente comprometerem os níveis de bem-estar das do, ainda, constituído o Programa Agenda 21 no Mi-
gerações futuras. nistério do Meio Ambiente, que para viabilizar suas
metas e objetivos estruturou-se em três ações: (i) im-
A Agenda 21 Brasileira resulta da composição de plementar a Agenda 21 Brasileira; (ii) promover a
dois documentos distintos: “Agenda 21 Brasileira – Re- elaboração e implementação de Agendas 21 Locais e
sultado da Consulta Nacional”, que traz as propostas e (iii) formação continuada em Agenda 21 Local.
demandas resultantes dos diferentes debates estaduais
e regionais e “Agenda 21 Brasileira – Ações Priori- As ações do Programa passam a privilegiar o for-
tárias”, que estabelece os caminhos preferenciais da talecimento da população no nível local, visando re-
32
Para a Agenda 21, o conceito de Desenvolvimento O esforço de planejar presente e futuro, com base
Local Sustentável está bem elaborado pela Professora nos princípios da Agenda 21, estimula o exercício da ci-
Tania Zapata4, ou seja, sugere transformação de es- dadania, gera inserção social e cria oportunidades para
truturas e de sistemas visando a uma melhora durável que sociedade e governo possam definir prioridades nas
da qualidade de vida da comunidade. Não se trata de políticas públicas que levem, dentre outros, à mudança
um simples arranjo local, como, por exemplo, a reso- nos padrões de produção e consumo; à geração de tra-
lução de alguns problemas específicos. O conceito de balho e renda e ao uso racional dos recursos naturais.
desenvolvimento local se apóia na idéia de que as loca-
lidades e territórios dispõem de recursos econômicos, A construção do conhecimento é tarefa decisi-
humanos, institucionais, ambientais e culturais, além va. Permite conhecer a realidade e as formas com-
de economias de escala não exploradas, que consti- petentes de transformá-la, os caminhos eficazes
tuem seu potencial de desenvolvimento. para a conservação dos recursos naturais e para
a preservação da vida das pessoas e do ambiente
Desenvolvimento Local Sustentável é, portanto, que as cerca. O conhecimento permite que cada
um processo orgânico, um fenômeno humano, não cidadão possa exercer a função de agente trans-
padronizado. Envolve os valores e os comportamen- formador ao ter consciência do papel ambiental,
tos dos participantes e a participação é entendida econômico, social, cultural e político que desem-
como o processo de tomar parte e se responsabilizar penham em sua comunidade.
4
ZAPATA, T. Referências conceituais do desenvolvimento local. Revista SEBRAE, nº 08, março/abril de 2003. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/revistasebrae/08/
artigodecapa_03.htm.
33
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
Ana Carla L. Almeida5
5
Analista Ambiental (MMA).
34
ceito que expressa a decisão de contribuir voluntaria- A Declaração Universal dos Direitos Humanos,
mente em prol de uma sociedade melhor e um meio adotada em 1948, é um dos documentos básicos
ambiente mais equilibrado e sadio. Os compromissos das Nações Unidas e nela estão enunciados os di-
assumidos de forma voluntária pelas empresas vão reitos que todos os seres humanos possuem. A de-
além das obrigações legais, regulamentares e conven- claração tem sido usada como princípio e guia das
cionais que devem obrigatoriamente ser cumpridas. atividades empresariais consideradas socialmente
As empresas que optam por investir em práticas de responsáveis.
responsabilidade social elevam os níveis de desenvol-
vimento social, proteção ao meio ambiente e respeito “Todos os seres humanos nascem livres e
aos direitos humanos e passam a adotar um modo de iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em re-
governança aberto e transparente que concilia inte-
lação uns aos outros com espírito de frater-
resses de diversos agentes em um enfoque global de nidade.” (Artigo I da Declaração Universal
qualidade e viabilidade. dos Direitos Humanos)
Além das iniciativas internacionais, outras na- Além das iniciativas mencionadas neste texto, é
cionais e intersetoriais relacionadas ao tema e ao importante destacar ainda o atual processo de cons-
amplo escopo da RSA surgiram no mundo inteiro e trução da ISO6 26000, que buscará estabelecer um
têm envolvido e despertado o interesse não apenas padrão internacional de diretrizes de Responsabili-
do setor empresarial, mas também dos governos, em dade Social e, diferentemente da ISO 9001 e da ISO
diversos países, que cada vez mais tem incluído o 14001, não será uma norma para certificação. O
tema em suas agendas. processo atual de desenvolvimento da norma se dife-
rencia dos anteriores e está sendo realizado por meio
Da mesma forma que o conceito, as práticas re- da criação de grupos de trabalho multissetoriais que
lacionadas à responsabilidade socioambiental estão
envolvem a participação de representações dos traba-
em contínuo processo de construção e aperfeiço-
lhadores; consumidores; indústria; governo; e organi-
amento. Atualmente, existe um grande número de
zações não governamentais (ONGs).
ferramentas que estão sendo oferecidas como alter-
nativas para os setores empresarial e governamen-
tal com vistas a promover avanços em seus projetos, A ISO 26000 abordará como temas centrais: go-
tornando-os mais transparentes e incluindo a parti- vernança organizacional; direitos humanos; práticas
cipação social. do trabalho; meio ambiente; práticas leais (justas) de
operação; questões relativas ao consumidor e envol-
Em 2000, a Organização para Cooperação e De- vimento e desenvolvimento da comunidade.
senvolvimento Econômico (OCDE) publicou as “Di-
retrizes de Responsabilidade Social para Empresas Todas essas iniciativas internacionais têm sido tra-
Multinacionais” que estabeleceram princípios e duzidas como novos padrões, acordos, recomendações
padrões de cumprimento voluntário, com vistas a e/ou códigos de condutas adotados em diferentes pa-
uma conduta empresarial responsável das empre- íses, inclusive no Brasil, e fazem parte da agenda de
sas multinacionais e que têm sido utilizadas como responsabilidade socioambiental do setor empresarial
instrumento para desenvolvimento de programas de e de instituições governamentais, principalmente das
responsabilidade social das empresas. As Diretrizes empresas públicas e sociedades de economia mista.
representam recomendações voluntárias e não vin-
culam governos às empresas. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
NO SETOR PÚBLICO
No Brasil, a Portaria do Ministério da Fazen-
da nº 92/MF, de 12 de maio de 2003, instituiu, no Os novos desafios globais e a necessidade de promo-
âmbito do MF, o Ponto de Contato Nacional para ver uma Agenda de Desenvolvimento “que atenda às
a Implementação das Diretrizes da OCDE para as necessidades do presente, sem comprometer a capaci-
Empresas Multinacionais – PCN, que possui, den- dade de as futuras gerações atenderem às suas próprias
tre outras atribuições, participar de conversações necessidades”, tendo como princípio a necessidade de
entre as partes interessadas em todas as matérias mudar comportamentos e adotar novas práticas éticas e
abrangidas pelas Diretrizes a fim de contribuir para responsáveis – tanto no setor empresarial como público
a resolução de questões que possam surgir no seu – destaca a importância da criação de políticas e pro-
âmbito; cooperar com os Pontos de Contatos Na- gramas de Responsabilidade Socioambiental (RSA).
cionais dos demais países em relação às matérias
abrangidas nas Diretrizes; e acompanhar e imple- Promover a RSA é um dos elementos essenciais para
mentar, no que couber, as Decisões do Conselho da o desenvolvimento sustentável e demanda a integração
OCDE sobre as Diretrizes. das mais diversas instituições que podem e devem ser
6
A International Organization for Standardization (isso), criada em 1946, é uma confederação internacional de órgãos nacionais de normalização de todo o mundo e promo-
ve normas e atividades que favoreçam a cooperação internacional nas esferas intelectual, científica, tecnológica e econômica. No Brasil, sua representante é a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
37
mais envolvidas nas discussões atuais. Sustentabilida- impactos negativos ao meio ambiente. Em outras pa-
de não pode ser um assunto somente para seminários lavras, a conservação racional dos recursos naturais e
ou produção de relatórios, mas sim um critério a ser a proteção contra a degradação ambiental deve contar
inserido em todas as atividades governamentais, sejam fortemente com a participação do poder público.
elas atividades meio ou finalísticas.
A participação das instituições públicas no pro-
O Plano de Governo (2007 a 2010) apresentou cesso de RSA é necessária e o Estado é o principal
o Programa Setorial de Meio Ambiente e Desenvol- interlocutor junto à sociedade, possuindo uma ampla
vimento – “Cuidando do Brasil” – que tem como responsabilidade e papel indutor fundamental para
compromisso central a distribuição de renda, edu- tornar as iniciativas atuais, e também as futuras, mais
cação de qualidade e sustentabilidade ambiental, transparentes, incitando a inserção de critérios de sus-
em observância aos princípios da Agenda 21 Brasi- tentabilidade em suas atividades e integrando as ações
leira. Foi estabelecida como prioridade a promoção sociais e ambientais com o interesse público.
do desenvolvimento com inclusão social e educação
de qualidade. Para alcançar esse objetivo, o governo Além da capacidade de indução, o poder de mobi-
tem elevado os investimentos em áreas consideradas lização de importantes setores da economia exercido
estratégicas para o crescimento econômico e espera pelas compras governamentais, que movimentam de
que a iniciativa possa atrair, da mesma forma, o in- 10 a 15% do Produto Interno Bruto (PIB), é inques-
vestimento privado para o desenvolvimento dos seto- tionável e deve ser usado para garantir a mudança e
res estratégicos. adoção de novos padrões de produção e de consumo
que reduzam os impactos socioambientais negativos
Para promoção do crescimento econômico em ba- gerados pela atividade pública, contribuindo para o
ses sustentáveis, o governo estabeleceu quatro princí- crescimento sustentável e promovendo a responsabi-
pios que têm orientado a política ambiental: desenvol- lidade socioambiental no âmbito do setor e, por sua
vimento sustentável, transversalidade, participação vez, respondendo às expectativas sociais. A decisão
e controle social, os quais devem, também, orientar de implantação de um sistema de compras verdes,
todas as políticas implementadas pelo governo bra- por exemplo, é uma das formas das instituições pú-
sileiro. Essa nova orientação é fundamental, tendo blicas proverem as indústrias e fornecedores com in-
em vista que apenas os instrumentos de regulação e centivos reais para o desenvolvimento de tecnologias
comando e controle não são suficientes para o en- sustentáveis e compatíveis com uma política para o
frentamento dos novos desafios ambientais globais, desenvolvimento sustentável.
que cada vez mais demandam novas estratégias que
respondam e garantam, ao mesmo tempo e de forma A necessidade de enfrentar os desafios ambientais
sustentável, o crescimento econômico coerente com de uma maneira mais inovadora, harmonizando os
as políticas para o desenvolvimento sustentável. atuais padrões de produção e consumo com objeti-
vos econômicos, prioridades sociais e ambientais,
Há que se considerar ainda o papel que o governo tem motivado as mais diversas instituições públicas
desempenha na economia enquanto grande consu- a implementar iniciativas específicas e desenvolver
midor de recursos naturais, bens e serviços nas suas programas e projetos para promover a discussão so-
atividades meio e finalísticas, o que, muitas vezes, bre desenvolvimento e a adoção de uma política de
provoca impactos socioambientais negativos. A ado- Responsabilidade Socioambiental do setor público.
ção de critérios ambientais nas atividades adminis-
trativas e operacionais da Administração Pública A responsabilidade socioambiental é um processo
constitui-se um processo de melhoramento contínuo contínuo e progressivo de desenvolvimento de competên-
que consiste em adequar os efeitos ambientais das cias cidadãs, com a assunção de responsabilidades so-
condutas do poder público à política de prevenção de bre questões sociais e ambientais relacionadas a todos
38
os públicos com os quais a entidade interage: trabalha- Ao mesmo tempo, devem promover a revisão e ado-
dores, consumidores, governo, empresas, investidores e ção de novos procedimentos para as compras públicas
acionistas, organizações da sociedade civil, mercado e que levem em consideração critérios sustentáveis de
concorrentes, comunidade e o próprio meio ambiente. consumo que podem incluir, por exemplo: a obrigato-
A RSA busca integrar o crescimento econômico com o riedade de se respeitar a sustentabilidade ambiental
desenvolvimento sustentável, atuando na dinamização como um princípio geral da compra a ser realizada; a
de práticas socioambientais e no avanço em direção à inclusão da necessidade de proteção ambiental como
sustentabilidade no âmbito da administração pública e um critério para a seleção dos produtos e serviços; e a
das atividades do setor produtivo e empresarial. conformidade às leis ambientais como condição prévia
para participação nos processos licitatórios.
No âmbito do setor público, até o momento não
existe um entendimento único ou uma definição uni- É importante ressaltar ainda que a adoção de uma
versal para a Responsabilidade Socioambiental. O política de RSA pelas instituições públicas gera eco-
conceito pode diferir entre os diferentes órgãos e en- nomia dos recursos públicos, na medida em que esses
tidades, e também dos utilizados por diferentes orga- serão gastos com maior eficiência, além de beneficiar
nizações da sociedade civil e setor empresarial. o meio ambiente com menores emissões de CO2, con-
tribuindo para que o país possa cumprir seus com-
Além de implantar uma política coerente de RSA, promissos internacionais e ao mesmo tempo dando o
o governo possui um papel importante na disponibi- exemplo para outros países que ainda não implanta-
lização das condições necessárias para que outros ram agendas equivalentes.
setores da economia possam responder melhor às
expectativas sociais e necessidades de preservação A definição de uma estrutura básica e viável para a
ambiental. A estrutura para a implantação de uma implantação da RSA no âmbito da administração pú-
política de RSA demanda a construção de novas, bem blica demanda o estabelecimento de um ponto de co-
como o aperfeiçoamento das atuais ferramentas pú- ordenação para o processo, assim como a designação
blicas, leis e regulamentações, infra-estrutura, servi- das responsabilidades dentro do governo. O monitora-
ços e incentivos que possam promover e/ou garantir mento das iniciativas é outro componente importante
as mudanças necessárias para que as atividades pú- e um desafio a ser enfrentado e requer uma definição
blicas sejam sustentáveis. clara dos critérios obrigatórios a serem adotados e um
nível elevado de comprometimento das instituições pú-
O governo possui ainda um papel estratégico no blicas, bem como de uma estrutura de apoio e espe-
processo de RSA por meio da promoção do diá- cialmente de um sistema independente de verificação
logo entre os setores sociais, da conscientização dos impactos das iniciativas implantadas.
da sociedade sobre a importância de uma política
de responsabilidade socioambiental, da ampla pu- Atualmente, muitas iniciativas já estão sendo
blicidade e transparência das iniciativas de RSA, implementadas e são uma tentativa das instituições
promovendo a sensibilização e capacitação em governamentais de dar o exemplo. O Ministério do
parceria com as entidades do setor empresarial e Meio Ambiente, por exemplo, lançou e tem imple-
da sociedade civil. mentado, desde 1999, a Agenda Ambiental para a
Administração Pública (A3P), que tem sido reforça-
As instituições governamentais devem buscar a mu- da desde então. A A3P é uma ação voluntária que
dança de hábitos e atitudes internas, promovendo uma busca a adoção de novos padrões de produção e con-
nova cultura institucional de combate ao desperdício. sumo, sustentáveis, dentro do governo.
39
Na presente apostila, a gestão dos resíduos e a co- valorizando aqueles que participam de iniciativas
leta seletiva serão tratadas em um capítulo a parte. inovadoras e que buscam a sustentabilidade. Os pro-
cessos de capacitação promovem ainda um acesso
3. SENSIBILIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO democrático a informações, novas tecnologias e tro-
DOS SERVIDORES ca de experiências, contribuindo para a formação de
Criar a consciência cidadã da responsabilidade redes no setor público.
socioambiental nos gestores e servidores públicos é
um grande desafio para a implantação da A3P e ao 4. QUALIDADE DE VIDA NO
mesmo tempo fundamental para o seu sucesso. AMBIENTE DE TRABALHO
A administração pública deve buscar permanen-
As mudanças de hábitos, comportamento e padrões temente uma melhor Qualidade de Vida no Trabalho
de consumo de todos os servidores impacta diretamen- (QVT) promovendo ações para o desenvolvimento pes-
te na preservação dos recursos naturais, contribuindo soal e profissional de seus servidores. Para tanto, as
para a qualidade ambiental e proporcionando a redu- instituições públicas devem desenvolver e implantar
ção das emissões de gases de efeito estufa. programas específicos que envolvam o grau de satis-
fação da pessoa com o ambiente de trabalho, melhora-
mento das condições ambientais gerais, promoção da
Para que essas mudanças sejam possíveis, é neces-
saúde e segurança, integração social e desenvolvimen-
sário o engajamento individual e coletivo, pois ape-
to das capacidades humanas, entre outros fatores.
nas dessa forma será possível a criação de uma nova
cultura institucional de sustentabilidade das ativida-
des do setor público, sejam essas relacionadas à área Algumas das ações que podem ser implantadas
meio ou à área finalística. encontram-se relacionadas a seguir:
Uso e desenvolvimento de capacidades
O processo de sensibilização dos servidores envol- • Aproveitamento das habilidades;
• Autonomia na atividade desenvolvida;
ve a realização de campanhas que busquem chamar
• Percepção do significado do trabalho.
a atenção para temas socioambientais importantes,
esclarecendo a importância e os impactos de cada um
INTEGRAÇÃO SOCIAL E INTERNA
para o cidadão no processo.
• Ausência de preconceitos;
• Criação de áreas comuns para integração dos
A sensibilização deve ser acompanhada de ini- servidores;
ciativas para capacitação dos servidores, tendo em • Relacionamentos interpessoais;
vista tratar-se de um instrumento essencial para • Senso comunitário.
construção de uma nova cultura de gerenciamen-
to dos recursos públicos, provendo orientação, in- RESPEITO À LEGISLAÇÃO
formação e qualificação aos gestores públicos e • Liberdade de expressão;
permitindo um melhor desempenho das atividades • Privacidade pessoal;
implantadas. A formação dos gestores pode ser • Tratamento imparcial.
considerada como uma das condicionantes para a
efetividade da ação de gestão socioambiental no CONDIÇÕES DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
âmbito da administração pública. • Acesso para portadores de deficiência física;
• Comissão Interna de Prevenção de Aciden-
A capacitação é uma ação que contribui para o tes – CIPA ;
desenvolvimento de competências institucionais e • Controle da jornada de trabalho;
individuais nas questões relativas à gestão socioam- • Ergonomia: equipamentos e mobiliário;
biental e, ao mesmo tempo, fornece aos servidores • Ginástica laboral e outras atividades;
oportunidade para desenvolver habilidades e atitudes • Grupos de apoio anti-tabagismo, alcoolismo,
para um melhor desempenho das suas atividades, drogas e neuroses diversas;
42
• Orientação nutricional; sos a ela relativos. É importante notar que esses três
• Salubridade dos ambientes; aspectos são complementares e, muitas vezes, indis-
• Saúde Ocupacional. sociáveis em se considerando o meio ambiente em seu
sentido mais amplo.
5. LICITAÇÕES SUSTENTÁVEIS
Algumas leis brasileiras já criaram mecanismos
CONCEITO E PRINCÍPIOS que possibilitam a adoção de critérios socioambien-
A Constituição Federal, art. 37, inciso XXI, prevê tais para as compras públicas, como as leis 10.520/02
para a Administração Pública a obrigatoriedade de li- (criação de pregões por meio eletrônico), 8.248/91
citar. Esse artigo foi regulamentado pela Lei nº 8.666, (Lei de fomento ao setor de informática e automação),
de 21 de junho de 1993, que estabeleceu normas gerais 10.973/04 (Lei de Inovação Tecnológica) e 10.693/03
sobre licitações e contratos administrativos pertinentes (Programa de Aquisição de Alimentos); o artigo 24
a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, da lei 8.666/93 (licitações); e a Lei Complementar
alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, 123/06 (Lei Geral das Microempresas e Empresas de
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Pequeno Porte). Entretanto, se faz necessário estabe-
lecer outros instrumentos que permitam ao Estado oti-
mizar seu poder de compra de forma sustentável.
A licitação é o procedimento administrativo for-
mal em que a Administração Pública convoca, me- A Lei 8.666/93, embora leve em consideração o
diante condições estabelecidas em ato próprio (edital impacto ambiental do projeto básico de obras e ser-
ou convite), empresas interessadas na apresentação viços, não se refere ao fator ambiental com relação a
de propostas para o oferecimento de bens e serviços. compras. Assim, as exigências de produtos que con-
templem o conceito de sustentabilidade ambiental é
A licitação objetiva garantir a observância do possível na discriminação do produto a ser adquirido,
princípio constitucional da isonomia e selecionar a porém não é regulamentada e, portanto, obrigatória,
proposta mais vantajosa para a Administração, de o que seria um importante passo em direção às lici-
maneira a assegurar oportunidade igual a todos os tações sustentáveis.
interessados e possibilitar o comparecimento ao cer-
tame do maior número possível de concorrentes, fato Licitações que levem à aquisição de produtos e
que favorece o próprio interesse público. serviços sustentáveis não são apenas importantes
para a boa conservação do meio ambiente (abran-
O procedimento de licitação objetiva permitir que gendo a própria sociedade nele inserida), como tam-
a Administração contrate aqueles que reúnam as con- bém apresentam, no aspecto econômico, uma melhor
dições necessárias para o atendimento do interesse pú- relação custo/benefício a médio ou longo prazo quan-
blico, levando em consideração aspectos relacionados do comparadas às que se valem do critério de menor
à capacidade técnica e econômico-financeira do lici- preço. Portanto, é importante que seja implantada o
tante, à qualidade do produto e ao valor do objeto. quanto antes uma política para adoção de critérios de
sustentabilidade socioambiental nos editais de licita-
Há algumas diferentes modalidades de licitação, ções dos órgãos públicos.
porém todas se dão com a apresentação das propos-
tas de cada participante, sendo vencedor aquele que, COMPRAS SUSTENTÁVEIS
tendo seus produtos ou serviços as especificações re-
queridas, apresente aqueles cujo preço seja o menor Compras sustentáveis consistem naquelas em que
dentre as propostas. se tomam atitudes para que o uso dos recursos mate-
riais seja o mais eficiente possível. Isso envolve inte-
As denominadas licitações sustentáveis são aque- grar os aspectos ambientais em todos os estágios do
las que levam em consideração a sustentabilidade processo de compra e evitar compras desnecessárias
ambiental, social e econômica dos produtos e proces- identificando produtos mais sustentáveis que cum-
43
pram as especificações de uso requeridas. Logo, não se os mesmos possuem adequação ambiental
se trata de priorizar produtos apenas devido a seu as- para serem adquiridos;
pecto ambiental, mas sim considerar seriamente tal • Determinar a disponibilidade dos fornecedores
aspecto juntamente com os tradicionais critérios de – a disponibilidade de fornecedores de produ-
especificações técnicas e preço. tos ambientalmente corretos é um fator críti-
co para as compras sustentáveis. É necessário
Os produtos sustentáveis são feitos ou funcionam que se realizem levantamentos dos produtos e
de forma a: fornecedores, que se deixe claro a estes a po-
1. usar menos recursos naturais; lítica de compras sustentáveis da organização
2. conter menos materiais perigosos ou tóxicos; e que se os incentive a fornecer alternativas
3. ter maior vida útil; mais sustentáveis.
4. consumir menos água ou energia em sua pro-
dução ou uso; PRINCIPAIS TEMAS RELACIONADOS AO USO
5. poder ser reutilizado ou reciclado; RACIONAL DOS RECURSOS NATURAIS E
6. gerar menos resíduos (ex: ser feito de material BENS PÚBLICOS
reciclado, usar menos material na embalagem
ou ser reciclado pelo fornecedor). USO DO PAPEL
Em nossa sociedade, o papel está associado à ima-
Produtos sustentáveis não se resumem ao papel gem de educação, acesso à informação escrita e uma
reciclado, mas compreendem a maioria das ativida- melhoria na qualidade de vida. Entretanto, é notável
des e propósitos, tais quais construção, mobílias e que tanto no seu processo de produção como no atual
transporte. O poder de compra do governo (que re- modelo de consumo, muitos são os impactos decor-
presenta cerca de 10 a 15% do PIB Nacional) deve rentes do uso do papel.
ser utilizado na promoção da sustentabilidade das
atividades públicas, permitindo às instituições assu-
O consumo de papel no mundo tem aumentado ex-
mir a liderança pelo exemplo.
ponencialmente nos últimos 50 anos. Desde o começo
da década de 60, o consumo de papel aumentou em 5
Dicas para compras sustentáveis vezes, chegando hoje ao consumo de mais de 1 milhão
• Exigir o cumprimento da legislação e regula- de toneladas de papéis por dia. Esse enorme aumento
mentação pertinente na procura por serviços e no consumo de papel mundial não significa que haja
produtos; mais papel disponível para mais pessoas, refletindo
• Incentivar os fornecedores a oferecer produtos uma distribuição desigual e a existência de modelos
e serviços ambientalmente responsáveis a pre- de produção e consumo insustentáveis.
ços competitivos;
• Incentivar os fornecedores a realizar a coleta Nas atividades desenvolvidas na administração
ou reciclagem dos produtos usados; pública, o papel se constitui em um dos principais
• Incentivar os fornecedores de serviços a con- recursos naturais consumidos pela administração
siderar os impactos ambientais dos serviços pública com vistas à realização de suas atividades.
de entrega; O papel A4 - 75 g/m2 – amplamente utilizado pelos
• Informar-se sobre o desempenho ambiental órgãos públicos, ocupa posição de destaque quanto
de produtos e serviços– as decisões sobre ao uso nas ações rotineiras. Entretanto, também fa-
compras sustentáveis devem se basear em in- zem parte do uso diário das instituições públicas os
formações confiáveis e precisas sobre o ciclo envelopes, cartões de visita, agendas, papéis de re-
de vida dos produtos e serviços, informações cado, entre outros, todos envolvendo grandes quan-
essas muito importantes para a determinar tidades de papel.
44
Analisando alguns exemplos específicos atuais, Adicionalmente, apenas cerca de um terço da pro-
comparando o consumo diário de papel per capita dução de papel é utilizado para escrever e imprimir,
com a média mundial, nota-se a disparidade no con- sendo sua maioria empregada para publicidade e
sumo de papel entre os países. como embalagens. Logo, os altos valores do consu-
mo de papel em países desenvolvidos evidenciam um
maior consumo de produtos, e não propriamente uma
melhor educação.
SOBRE O PAPEL
No processo de fabricação do papel, a matéria-
prima mais utilizada é a madeira (celulose), cujas
Percebe-se que há uma grande diferença de con- fibras são obtidas a partir de florestas plantadas de
sumo entre cada local, o que evidencia o desperdício eucalipto e pinus. Também podem ser utilizados no
de papel nos países com maior poder de consumo, processo a pasta mecânica ou reaproveitamento de
os desenvolvidos. Caso os países em desenvolvimento papéis usados.
atingissem os níveis de consumo dos desenvolvidos,
a produção de papel precisaria crescer muito para
O papel pode ser reciclado uma quantidade li-
suprir a demanda, requerendo o plantio de grandes
mitada de vezes, pois as fibras de celulose que o
áreas de florestas para se obter sua matéria prima.
compõem perdem sua qualidade a cada processo de
Da mesma forma, o volume de resíduos de papel ge-
reciclagem. Como nesse processo as aparas de pa-
rado sofreria um forte aumento e exigiria a criação
pel usado são misturadas com água e desintegra-
de novos locais de disposição.
das para formar uma polpa, as fibras de celulose
Poder-se-ia deduzir que o consumo de papel é di- têm seu tamanho e resistência reduzidos, gerando
retamente proporcional à taxa de alfabetização de um papel com qualidade inferior. Por isso, há papéis
um país, já que os países desenvolvidos possuem um que misturam fibras virgens e recicladas para au-
consumo sensivelmente superior aos demais. Porém, mentar sua resistência.
no quadro abaixo pode-se verificar que tal fato não
corresponde à realidade. A variedade existente de tipos de papel, incluí-
dos os reciclados, culminaram na criação de nor-
mas visando ao estabelecimento de uma qualidade
mínima de papéis para determinados usos. Para os
papéis destinados a documentos, a norma ISO 9706
define requisitos técnicos a serem atendidos relati-
vos às propriedade físico-químicas (pH do extrato e
reserva alcalina), resistência ao rasgo e resistência à
oxidação (determinada pelo número kappa, que deve
ser menor que 5). Portanto, papéis para fins menos
nobres, como rascunho e lembretes, entre outros, não
necessitam possuir uma qualidade semelhante às de
papéis destinados a documentos.
45
IMPACTOS AMBIENTAIS
Todos os produtos adquiridos pela administração
pública, durante o seu ciclo produtivo, provocam
impactos ambientais seja na fase de extração ou no
processo de manufatura. Assim sendo, a decisão de
comprar qualquer produto pressupõe a geração de
determinados impactos indiretos que são inevitáveis
em maior ou menor grau. Em adição ao menor consumo de recursos na pro-
dução, é importante salientar que com a reciclagem
do papel há redução sensível do volume de resíduos
Os problemas ambientais relacionados à produção e
destinados aos aterros sanitários, aumentando sua
consumo de papéis são de grande escala, sendo os prin-
vida útil e facilitando a coleta de lixo.
cipais impactos relacionados ao alto consumo de maté-
ria prima - especialmente madeira, água e energia.
Por fim, além dos impactos ambientais do papel
reciclado serem menores, seus impactos sociais po-
O setor de celulose e papel sofre algumas críticas
dem ser muito mais benéficos devido à possível gera-
quanto aos aspectos e impactos ambientais que provo-
ção de emprego e renda se implantado um sistema de
ca. Além de usar intensivamente recursos florestais, o
coleta seletiva que o supra.
processo produtivo demanda grandes quantidades de
água e gera altos volumes de efluentes líquidos, re- REDUÇÃO DO USO DO PAPEL
síduos sólidos e emissões atmosféricas. Na produção
da polpa de celulose, além dos gastos consideráveis de Outro aspecto importante a ser ressaltado diz res-
água e energia, gera-se um efluente rico em matéria peito às iniciativas do setor público para substitui-
orgânica e, portanto, muito poluente. Já no branquea- ção e/ou redução do uso do papel. Os avanços nas
mento da polpa, a utilização do cloro (Cl2) como agen- tecnologias de informação, principalmente por meio
te clarificador causa a geração de organoclorados, do uso das tecnologias de desmaterialização de pro-
substâncias altamente tóxicas ao homem e de difícil cessos e documentos, têm possibilitado ao setor pú-
remoção no tratamento de efluentes. blico a adoção de novas ferramentas, mais eficientes.
Entretanto, podemos dizer que ainda se tratam de
Para a redução dos impactos é fundamental que o iniciativas pontuais, envolvendo um reduzido número
setor papeleiro utilize os recursos naturais de forma de instituições e que não agregam todos os processos
racional e realize investimentos em tecnologias me- da administração pública.
nos poluidoras, buscando a preservação da biodiver-
sidade e a otimização do uso de recursos hídricos e de
Atualmente, com as tecnologias disponíveis é pos-
energia. Isso já vêm acontecendo nos últimos anos,
principalmente com relação à eliminação do uso de sível implantar processos informatizados e desmate-
cloro no branqueamento do papel e redução do consu- rializados para grande parte dos procedimentos ad-
mo de água por meio de processos otimizados e reuso ministrativos com vistas a reduzir ou mesmo eliminar
da mesma nas unidades produtoras. o uso do papel. Em alguns casos, o processo poderá
envolver a transferência, a transmissão de dados em
Outra forma importante de se reduzir os impactos rede ou a sua inserção em suportes como fita magné-
da produção de papel é por meio de sua reciclagem. tica, disquete, etc, com vistas à substituição da versão
Embora ainda implique em consumo de água e ener- em papel por um equivalente eletrônico (fotografia
gia, a produção do papel reciclado utiliza tais recursos digital do conteúdo ou conteúdo em formato digital).
em quantidade muito menores do que as da produção
tradicional e lança no ambiente volumes menores de A otimização do uso do papel também pode ser
poluentes, como se pode ver no quadro a seguir: exercida por meio do reaproveitamento de papéis tor-
46
VANTAGENS DA DESMATERIALIZAÇÃO
• Maior eficiência no processo de comunicação
• Simplificação dos processos
• Economia de recursos naturais e materiais
• Maior facilidade no intercâmbio de informações
• Maior facilidade para controle do processo (acompanhamento
“on line”)
USO DA ÁGUA7
Maria do Carmo Zinato
M.Sc. Planejamento Urbano e Rural
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano
Ministério do Meio Ambiente
1. Introdução
“Cada sociedade possui uma relação peculiar com Ciclo hidrológico - caracteriza-se pelo movimento
a água, que reflete a diversidade de valores e de ex- constante da água e por sua passagem por diferentes
periências acumuladas”.
estados físicos (sólido, líquido e gasoso), dependendo
da maior ou menor quantidade de energia (calor) que
O Brasil possui uma moderna legislação de recur-
sos hídricos que estimula e fortalece as práticas de- a Terra recebe do Sol. Parte da água que chega à
mocráticas, no contexto de uma nova cultura da água. superfície da Terra evapora-se novamente. O restante
Este capítulo tem o objetivo de apresentar os conceitos pode seguir diversos caminhos, envolvendo:
básicos necessários para o entendimento da gestão in- • a infiltração no solo, ficando disponível para
tegrada de recursos hídricos e, ao mesmo tempo, pre- as plantas ou alimentando os lençóis freáticos
tende ser um convite para seu maior envolvimento com constituindo-se em águas subterrâneas;
as questões relacionadas com água na entidade em que
• o escoamento pelas encostas dos morros, for-
trabalha e no processo de coleta seletiva do qual faz
mando sulcos e canais de drenagem, até atingir
parte direta ou indiretamente.
lagos, córregos, rios e, por fim, os oceanos;
2. Conceituação • a formação de camadas de gelo e geleiras em
regiões de clima frio;
O acesso universal à água de qualidade, seu uso
racional e reuso são alguns dos temas mais atuais na • a absorção pelas plantas e o consumo de água
gestão de recursos hídricos no mundo. Discutir esses pelos animais. Parte da água absorvida retorna
assuntos requer o conhecimento preliminar de alguns novamente para a atmosfera através da trans-
conceitos básicos, tais como: piração das folhas e dos poros dos animais.
7
Texto extraído e adaptado do livro “Água: Manual de Uso”, editado pelo MMA, Brasília, 2006. Disponível no http://pnrh.cnrh-srh.gov.br
47
Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), Objetivos estratégicos que todos os brasileiros de-
Planos Estaduais de Recursos Hídricos e os Planos vem procurar alcançar (PNRH):
de Recursos Hídricos por bacia hidrográfica. Os dois
• mais água disponível, superficial ou subterrâ-
primeiros são planos estratégicos que estabelecem di-
nea, e com melhor qualidade.
retrizes gerais sobre os recursos hídricos do País ou
• diminuição dos conflitos de uso da água, exis-
do Estado. O Plano de Recursos Hídricos por bacia
tentes ou potenciais, ou causados por eventos
hidrográfica é o instrumento de planejamento local
críticos, como inundações, secas e outros.
onde se define como conservar, recuperar e utilizar
• percepção da conservação da água como um
os recursos hídricos daquela bacia.
valor social e ambiental importante.
Enquadramento dos corpos d´água em classes,
O conhecimento desses fundamentos, instru-
segundo usos preponderantes, com o objetivo de as-
mentos e objetivos estratégicos dá a cada pessoa
segurar às águas qualidade compatível com os usos
uma grande liberdade de agir, propor ações e par-
mais exigentes a que forem destinadas, e diminuir os
ticipar da implementação da Política Nacional na
custos de combate à poluição das águas, mediante
bacia hidrográfica onde mora ou trabalha. A res-
ações preventivas permanentes.
ponsabilidade é conjunta e o pacto pelas águas (o
PNRH) foi firmado pelos representantes da socie-
Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos:
dade civil, do setor usuário e do governo, ou seja,
é o instrumento pelo qual o Poder Público autoriza o
nossos representantes.
usuário a utilizar as águas de seu domínio, por tem-
po determinado e em condições preestabelecidas. Tem 4. Uma nova cultura da água
como objetivo assegurar o controle quantitativo e qua-
litativo dos usos da água superficial ou subterrânea, e O aumento da demanda por água, somado ao cres-
o efetivo exercício do direito de acesso à água. cimento das cidades, à impermeabilização dos solos, à
degradação da capacidade produtiva dos mananciais,
Cobrança pelo uso da Água - é um mecanismo à contaminação das águas e ao desperdício conduzem
educador, que reconhece a água como bem econômi- a um quadro preocupante em relação à sustentabi-
co e dá ao usuário uma indicação de seu real valor, lidade do abastecimento público, especialmente em
incentivando a racionalização do uso da água e ob- algumas regiões metropolitanas brasileiras.
49
A Política Nacional de Recursos Hídricos veio Para alguns, basta abrir a torneira, em suas ca-
em boa hora, procurando estabelecer regras para a sas, para que a água jorre em abundância. Entre-
discussão de tais conflitos, no âmbito de cada bacia tanto, para milhares de pessoas, em áreas rurais e
hidrográfica e com a participação dos setores envol- periferias urbanas, é necessário gastar horas para
vidos – governo, usuários e sociedade civil. Ela exi- ir buscá-la, a muitos quilômetros de distância.
ge, entretanto, a mudança de diversos paradigmas ou
formas de resolução de conflitos, diferentes dos tra- Além da escassez, a contaminação da água
dicionais. Os rios, que antes dividiam Estados ou mu- também põe em risco a vida humana, a saúde, o
nicípios, hoje são razão para reuniões e negociações bem-estar social, a diversidade biológica e a qua-
para que volte a ser útil para todos. Decisões que an- lidade da alimentação dos seres vivos. Por isso
mesmo, ambas – a quantidade e a qualidade da
tes eram tomadas em âmbitos superiores e distantes
água - são responsáveis por conflitos e tensões em
dos problemas, hoje são discutidos em reuniões dos
algumas bacias hidrográficas.
órgãos colegiados do SINGREH, que têm poder de
decisão (Comitês e Conselhos). E a responsabilidade
pela qualidade adequada das águas em quantidade Como parte da nova cultura da água, mudar hábi-
suficiente para todos é de cada brasileiro, de acordo tos cotidianos é responsabilidade de cada um. O livro
com o pacto firmado por mais de 7 mil pessoas, que “Água: Manual de Uso” lista uma série de cuidados com
a água na alimentação, na higiene pessoal da residência
participaram da construção do PNRH.
ou do local de trabalho. Trata também da importância
de se trocar peças sanitárias danificadas e oferece téc-
Para assumir tal responsabilidade, cada vez mais nicas para lavar qualquer objeto em casa ou irrigar as
é importante manter-se informado e conversar a res- áreas externas, com o objetivo de se usar bem cada gota
peito dos cuidados que a água requer em cada bacia de água, sem desperdícios. Há dicas muito inteligentes
hidrográfica. Algumas fontes de informação confiá- também para grandes áreas externas, edifícios condo-
veis são: miniais ou públicos. Dá a conhecer as barraginhas e ou-
• http://pnrh.cnrh-srh.gov.br – Documentos do tras tecnologias e metodologias bastante úteis.
PNRH, inclusive o “Água: Manual de Uso”.
• http://www.cnrh-srh.gov.br – Todas as leis, de- A nova cultura da água zela pela saúde das pes-
soas. Ao cuidar do saneamento ambiental (abasteci-
cretos e resoluções relacionados ao tema.
mento de água, esgotamento sanitário, manejo de re-
• http://www.mma.gov.br – Sobre a formulação síduos sólidos urbanos e manejo de águas pluviais) o
de políticas, documentos relevantes e acom- município está cuidando da saúde de sua população,
panhamento da implementação da Política e evitando a contaminação por meio da água destinada
avanços do SINGREH. ao consumo. Além de ser responsabilidade do Estado,
• http://www.ana.gov.br – Sobre a implementa- todos nós podemos contribuir, buscando informações,
ção do PNRH e os projetos relacionados ao junto à prefeitura de seu município, sobre coleta se-
tema. letiva e as melhores formas de descarte de seu lixo.
• http://brasil.rirh.net - O sítio da Rede Intera- Existem muitas cidades do mundo cujos rios foram
mericana de Recursos Hídricos (RIRH) dedi- recuperados e ficaram livres de poluição depois do
tratamento do lixo e do esgoto.
cado ao Brasil que pode facilitar a busca des-
ses meios de comunicação e intercâmbio de Ressalta-se neste capítulo, entretanto, os cuida-
experiências. dos necessários com a água no trabalho. A atuação
• http://www.rebob.org.br - Fórum Nacional de dos funcionários, nos Sistemas de Gestão Ambiental
Comitês de Bacia e a Rede Brasileira de Orga- (SGA) ou na Agenda Ambiental na Administração
nismos de Bacia (REBOB). Pública (A3P), nas Comissões para a Coleta Seletiva
50
Solidária e nas Cooperativas de Reciclagem, pode re- as bacias sanitárias, a água utilizada para lavar as
presentar uma grande diferença no consumo de água. mãos pode servir para abastecer a bacia de descar-
É importante destacar que o objetivo último não é ga. Colocar torneiras com acionamento restrito ou
a economia financeira ou a economia do próprio re- com sensor automático ou instalar registro regu-
curso hídricos (especialmente em locais onde não há lador de vazão da torneira (onde a pressão é alta)
problemas de escassez), o que também é importante. são práticas que diminuem o consumo. Em alguns
Mas importa principalmente a ação consciente e res- casos, obras de adaptação são necessárias, mas no
ponsável de cada pessoa com relação à água enquan- caso de novas edificações tais medidas podem ser
to um elemento fundamental à sua vida. Trata-se de incorporadas ao projeto e resultar em economias
uma mudança de comportamento decorrente de uma de larga escala, pelo número de usuários e pelo
nova cultura com relação a esse precioso bem. tempo de utilização.
Sistemas como o SGA e a A3P consistem, entre ou- Nas áreas abertas e externas, seja de estacionamen-
tras coisas, na análise dos procedimentos empregados
tos ou de composição paisagística, o respeito às curvas
na realização das atividades da organização e seus im-
de nível contribui para uma boa drenagem da água que
pactos na água, no ar, no solo, na geração de ruídos e
escorre pela ação das chuvas ou de alguma atividades
odores, e na alteração da paisagem. Também analisam
a redução, a reciclagem ou a eliminação dos resíduos humana. Sempre que possível deve-se usar as curvas de
sólidos (lixo) e líquidos (efluentes ou esgotos). nível, para que a água de chuva seja retida, evitando ero-
são e aumentando a capacidade de infiltração no solo.
Sugere-se, principalmente, que se analise com os
atores dos projetos em que pontos do processo de co- O Decreto 5.940/06 abre uma grande oportuni-
leta seletiva há alguma relação com a água, seja do dade a todas as Comissões e Cooperativas quando
ponto de vista do processamento dos resíduos (coleta, estabelece que “Deverão ser implementadas ações
transporte, estacionamento, armazenamento, mani- de publicidade de utilidade pública, que assegurem
pulação, máquinas, resíduos e destino finais), seja do a lisura e igualdade de participação das associações
ponto de vista das pessoas envolvidas (saúde, higiene, e cooperativas de catadores de materiais recicláveis
bem estar no trabalho e em casa). no processo de habilitação”. Uma oportunidade de
educar cada vez mais pessoas, usando informações
Evitar que os resíduos contaminem o meio am- de qualidade, em tais publicações. Na construção de
biente ao redor das instalações, a contaminação de uma nova cultura da água, as pessoas são os sujeitos
aqüíferos ou corpos d´água superficiais, evitando, que podem mudar uma história de desperdícios e de
por exemplo, armazenar substâncias tóxicas de ma- mal trato. O cuidado com a água é o reflexo do nosso
neira inadequada, que possam ser lavadas ou infiltra- cuidado com a própria vida.
das pela chuva. A aquisição de equipamentos de alta
pressão de água que permitam uma limpeza efetiva EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
e com grande economia, cuidando sempre do desti-
no da água resultante da lavagem de qualquer objeto De modo geral, as edificações públicas apresentam
ou matéria-prima, fazendo algum tipo de tratamento oportunidades significativas de redução de custos e de
caso contenha substâncias tóxicas, antes de deixar economia de energia através de um melhor gerencia-
que regresse à natureza. mento da instalação, adoção de equipamentos tecno-
logicamente mais avançados e eficientes, alterações
Em alguns casos é necessário ou conveniente de algumas características arquitetônicas, utilização
implantar um Sistema de Aproveitamento de Água de técnicas modernas de projeto e construção, alte-
de Chuva e em outros é importante considerar o rações dos hábitos dos usuários e de algumas rotinas
reuso das águas. Em edifícios públicos, além do de trabalho na edificação. Entretanto, é importante
aproveitamento da água da chuva para alimentar esclarecer que as oportunidades de redução de con-
51
sumo de energia elétrica em cada prédio devem ser mando de modo a modular o uso da iluminação de
identificadas em um estudo específico, com recomen- acordo com as necessidades. Em novas construções,
dação das ações a serem empreendidas e análise de pode-se introduzir modernas técnicas de arquitetura
viabilidade técnico-econômica. e construção que reduzam os requerimentos energé-
ticos para iluminação.
O combate ao desperdício de energia elétrica é
vantajoso para todos os envolvidos. Ganha o consu- Os projetos de iluminação devem considerar os
midor, que passa a comprometer menor parcela de índices mínimos de iluminamento definidos na nor-
seus custos, o setor elétrico, que posterga investimen- ma NBR 5413 da Associação Brasileira de Normas
tos necessários ao atendimento de novos clientes, e a Técnicas - ABNT - de modo a manter o conforto e
sociedade como um todo pois, além dos recursos eco- segurança dos usuários. Sob essa ótica, são sugeridas
nomizados, as atividades de eficientização energéti- como alternativas viáveis:
ca geram empregos através do próprio serviço e da
utilização de equipamentos, em sua quase totalidade Medidas Imediatas Sem Necessidade de Investi-
fabricados no país, e contribuem para a conservação mentos:
e melhoria do meio ambiente evitando as agressões • Manter limpas lâmpadas e luminárias para
ambientais inerentes à construção de usinas hidrelé- permitir a reflexão máxima da luz;
tricas ou ao funcionamento de usinas térmicas. • Desligar luzes de dependências, quando não esti-
verem em uso, tais como: salas de reunião, WCs,
1. Dicas para redução do consumo de energia elétrica iluminação ornamental interna e externa, etc;
• Ligar sistema de iluminação somente aonde
não haja iluminação natural suficiente. O sis-
No intuito de disseminar as medidas de eficienti- tema de iluminação só deve ser ligado momen-
zação energética, apresentamos à seguir uma série de tos antes do início do expediente;
sugestões específicas para cada sistema típico de pré- • Nos espaços exteriores reduzir, quando possí-
dios públicos e de escritórios. Todas as medidas que vel e sem prejuízo da segurança, a iluminação
exigem investimentos devem ser realizadas após uma em áreas de circulação, pátios de estaciona-
análise econômica de sua viabilidade e, preferencial- mentos e garagens;
mente, devem fazer parte de um conjunto de medidas • Usar preferencialmente luminárias abertas,
identificadas em um diagnóstico energético para que retirando, quando possível, o protetor de acrí-
a sinergia entre elas seja aproveitada e a economia lico, o que possibilita a redução de até 50% do
máxima possível na edificação seja alcançada. número de lâmpadas sem perda da qualidade
do iluminamento.
ILUMINAÇÃO
Medidas de Médio e Longo Prazo com Investi-
São os sistemas de iluminação que apresentam, mentos:
indubitavelmente, o maior número de medidas para • Substituir lâmpadas incandescentes por fluo-
conservação de energia de fácil aplicação. rescentes compactas e fluorescentes normais
por modelos eficientes com reator eletrônico.
Nos jardins, estacionamentos externos e áreas
A evolução das técnicas de projeto e instalação,
de lazer, dar preferência a lâmpadas de vapor
acompanhada do surgimento de novos equipamen-
de sódio a alta pressão;
tos, com destaque especial aos novos tipos de lâm-
• Usar reatores eletrônicos com alto fator de po-
padas eficientes, reatores eletrônicos e luminárias tência;
de alta eficiência, oferece uma considerável gama • Usar luminárias reflexivas de alta eficiência,
de alternativas para o alcance da eficientização com superfícies interiores desenhadas de forma
energética. Em instalações já existentes, podem a distribuir adequadamente a luz. Refletores de
ser introduzidas alterações em seus sistemas de co- alumínio anodizado são os mais eficientes;
52
RESÍDUOS SÓLIDOS
bro de 2007, o Presidente da República, por meio Desta forma, a conversão do PL nº 1991/07 em lei
da Mensagem 672/2007, encaminhou à Câmara dos trará reflexos positivos no âmbito social, ambiental
Deputados Projeto de Lei - PL nº 1991/07, que ob- e econômico, pois não só tende a diminuir o consumo
jetiva instituir a Política Nacional de Resíduos Sóli- dos recursos naturais, como proporciona a abertura
dos e dá outras providências. de novos mercados, gera trabalho, emprego e renda,
conduz à inclusão social e diminui os impactos am-
Ressalta-se a importância da aprovação da Lei bientais provocados pela disposição inadequada dos
11.445/2007 – Lei do Saneamento, que contempla resíduos. Com essa iniciativa prevê-se um significati-
o planejamento como ferramenta fundamental para vo avanço para o equacionamento da questão, com a
o desenvolvimento das ações de saneamento básico, possibilidade de viabilizar novos arranjos para a ges-
dentre eles o manejo dos resíduos sólidos, de modo a tão de resíduos, reforçada com a instituição das leis
permitir a qualificação e eficiência no gasto público, de Consórcios Públicos. Para muitos municípios, a
bem como a sustentabilidade e perenidade dos proje- possibilidade da constituição de consórcios públicos é
tos de saneamento, além de garantir os direitos dos uma das formas de enfrentar os problemas referentes
cidadãos e usuários em receber serviços eficientes, à prestação dos serviços de limpeza urbana, incluin-
regulados e permanentemente fiscalizados. do a destinação final, com menores custos.
8
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aplicado a resíduos sólidos — Agregando valor social e ambiental — 2007.
64
dades de manejo de resíduos sólidos envolvendo ca- nº 11.445/2007), que modifica o inciso XXVII do ca-
tadores, as circunstâncias atuais são propícias para put do art. 24 da Lei de Licitações (Lei 8666/93). A
estreitar ainda mais esse compromisso. nova redação amplia a possibilidade de participação
Na esfera internacional, tem-se a ratificação do de cooperativas e associações de catadores na presta-
Protocolo de Quioto, que apresenta exigências socio- ção de serviços ligados à coleta e ao beneficiamento
ambientais. Na esfera nacional, merecem destaque o de materiais recicláveis, como transcrito a seguir:
amadurecimento e fortalecimento da categoria pro-
fissional de catadores de materiais recicláveis e a Art. 24: É dispensável à licitação: XXVII – na
aprovação de leis e decretos que concretizam o papel contratação da coleta, processamento e comercia-
do catador organizado como agente do sistema de lização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou
manejo de resíduos sólidos. reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta sele-
tiva de lixo, efetuados por associações ou coopera-
Uma das iniciativas nacionais de fortalecimento tivas formadas exclusivamente por pessoas físicas
dos catadores foi a criação do Fórum Nacional Lixo de baixa renda reconhecidas pelo poder público
e Cidadania (FL&C), em 1998, que impulsionou uma como catadores de materiais recicláveis, com o
mudança de paradigma na gestão dos resíduos sóli- uso de equipamentos compatíveis com as normas
dos. A partir daí, o gerenciamento eficiente dos resí- técnicas, ambientais e de saúde pública (ROMANI
duos sólidos passou a ser uma questão de cidadania, & SEGALA, 2007).
o que vem conferindo maior visibilidade ao catador
de materiais recicláveis. MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO
Segundo Dias (2002), esse fenômeno converge Outra grande conquista ocorreu em 2002 com o
com a elevada complexidade sócio-ambiental das ci- reconhecimento, pelo Ministério do Trabalho e Em-
dades, fruto de um modelo predatório de apropriação prego da categoria profissional — Catadores de Ma-
da natureza, o que vem ratificando os efeitos cumu- teriais Recicláveis.
lativos da ação antrópica particularmente desde o
início da década de setenta em todo o mundo. Ações recentes do governo federal brasileiro vêem,
cada vez mais, corroborar para o reconhecimento da
Cada dia mais pode ser percebido nas cidades o relevância dos serviços prestados à sociedade pelos
crescimento dos problemas com resíduos e também catadores. O Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de
um aumento da população excluída das possibilida- 2006, é mais uma iniciativa do governo federal para
des de trabalho e produção. Dessa combinação surge apoiar essa categoria. O Decreto instituiu a separa-
a atividade do catador de resíduos. Tratados com des- ção dos resíduos recicláveis descartáveis pelos órgãos
criminação pela sociedade e vistos como inimigos dos e entidades da administração pública federal direta e
serviços de limpeza pública por muitos representantes indireta na fonte geradora, e a sua destinação as as-
das administrações municipais, por causarem proble- sociações e cooperativas dos catadores de materiais
mas para a coleta de resíduos e provocarem tumulto recicláveis e outras providências.
na ordem urbana, em função da utilização do espaço
público para separação e armazenamento dos mate- COLETA SELETIVA
riais. Com o tempo e a organização dessa atividade,
esta situação começou a se reverter e aos poucos os O interesse pelo meio ambiente e pelos problemas
catadores tem sido vistos por alguns segmentos como relacionados com os resíduos sólidos tem resultado
trabalhadores que desempenham importante papel em questionamentos por parte de diversos segmentos
social e que merecem ser considerados. da população sobre a situação de seus municípios e
as metas de seus governantes, criando um cenário fa-
O trabalho dos catadores nas cidades brasileiras vorável à busca de soluções não usuais.
teve início muito antes da tomada de consciência am-
biental, largamente difundida na década de 80. As Diante do quadro nacional de escassez de recursos
ações originais surgiram como uma estratégia de so- financeiros e do grande déficit no setor de planeja-
brevivência. Hoje em dia, além da motivação ligada mento, os problemas crescem, sobretudo no campo
à fonte de renda, eles também são considerados agen- do saneamento e da saúde pública, ficando os resí-
tes ambientais, colaboradores diretos dos sistemas de duos sólidos relegados a um segundo plano. No que
reaproveitamento e reciclagem de materiais. se refere ao tratamento dos resíduos, as instalações
66
convencionais requerem grandes investimentos e al- minados, esses materiais são depositados na frente
tos custos de operação, quase sempre inacessíveis à das residências, sendo, então, removidos pelos trans-
maioria dos municípios. portes de coleta.
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
CONSUMO CONSCIENTE O consumo é um dos nossos grandes instrumentos
de bem estar, mas precisamos aprender a produzir e
Pense rápido: o que é consumo? A palavra é bem consumir os bens e serviços de uma maneira diferente
conhecida de todos e, seguramente, tem algum signi- da atual, visto que o modelo hoje utilizado de pro-
ficado para você. Consumir implica em um proces- dução e consumo contribuiu para aprofundar alguns
so de seis etapas que, normalmente, realizamos de aspectos da desigualdade social e do desequilíbrio
modo automático e, muitas vezes, impulsivo. O mais ambiental. Mas as coisas não precisam ser assim e
comum é as pessoas associarem consumo a compras, existe um enorme potencial para que o consumo que
o que está correto, mas incompleto, pois não englo- nos trouxe a essa situação, se exercido de outra for-
ba todo o sentido do verbo. A compra é apenas uma ma, nos tire dela.
etapa do consumo. Antes dela, temos que decidir o
que consumir, por que consumir, como consumir e de O caminho para a mudança dos atuais padrões de
quem consumir. Depois de refletir a respeito desses consumo passa pela adoção do “consumo conscien-
pontos é que partimos para a compra. E após a com- te”. Exemplificando, o consumidor pode, por meio
pra, existe o uso e o descarte do que foi adquirido. de suas escolhas, buscar maximizar os impactos
positivos e minimizar os negativos dos seus atos de
Considerando todos esses aspectos do consumo, consumo, e dessa forma contribuir com seu poder de
você vai ver que ele está presente praticamente o consumo para construir um mundo melhor. Em pou-
tempo todo em nossas vidas. Ao acordar, vamos ao cas palavras, é um consumo com consciência de seu
banheiro e consumimos água, eletricidade, pasta de impacto e voltado à sustentabilidade.
dente e sabonete. Depois tomamos café-da-manhã
e lá vai café, pão, manteiga, geléia, frutas, água, O consumidor consciente busca o equilíbrio entre
a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade do pla-
eletricidade. E mais água para fazer o café e para
neta, lembrando que a sustentabilidade implica em
lavar a louça. Quando saímos para o trabalho, a
um modelo ambientalmente correto, socialmente jus-
menos que se vá a pé ou de bicicleta, consumimos
to e economicamente viável. O consumidor consciente
combustível, mesmo que seja do ônibus e, no caso do
reflete a respeito de seus atos de consumo e como eles
metrô, energia elétrica. Dependendo da ocupação de
irão repercutir não só sobre si mesmo, mas também
cada um, haverá diferentes tipos de consumo, mas é
sobre as relações sociais, a economia e a natureza. O
quase certo que haverá uso de eletricidade, papel e
consumidor consciente também busca disseminar o
cafezinho, por exemplo. Portanto, mesmo que você conceito e a prática do consumo consciente, fazendo
passe o dia todo sem sequer abrir a carteira, terá com que pequenos gestos de consumo realizados por
consumido muita coisa. um número muito grande de pessoas promovam gran-
Por isso o consumo é algo muito importante e que des transformações.
provoca diversos impactos. Primeiro em nós mesmos, O consumo consciente pode ser praticado no
já que temos que arcar com as despesas do consumo e dia-a-dia, por meio de gestos simples que levem
também nos beneficiamos do bem estar derivado dele. em conta os impactos da compra, uso ou descarte
Depois, o impacto na economia, porque ao adquirir- de produtos ou serviços. Tais gestos incluem o uso e
mos algo, movimentamos a máquina de produção e descarte de recursos naturais como a água, a com-
distribuição, ativando a economia. Também afeta a pra, uso e descarte dos diversos produtos ou servi-
sociedade, porque é dentro dela que ocorrem a pro- ços, e a escolha das empresas das quais comprar,
dução, as trocas e as transformações provocadas pelo em função de sua responsabilidade socioambiental.
consumo. E, por fim, o impacto sobre a natureza, que Assim, o consumo consciente é uma contribuição
nos fornece as matérias-primas para a produção de voluntária, cotidiana e solidária para garantir a sus-
tudo o que consumimos. tentabilidade da vida no planeta.
70
Praticar o consumo consciente consiste numa atitude A falta de água de boa qualidade provoca diversos
de liberdade de escolha. É uma tomada de posição cla- males. Entre 1995 e 2000, ocorreram no Brasil 700
ra, democrática e ética. O consumo consciente irá gerar mil internações hospitalares por doenças relaciona-
uma reflexão que tem por conseqüência a geração de das à falta de água e saneamento básico. Portanto,
uma cadeia de estímulos que irá contagiar positivamen- quando você fecha a torneira ao escovar os dentes,
te as empresas e seus funcionários, sua família, colegas ao se ensaboar no banho e ao lavar a louça, você
e amigos que, diante do exemplo, serão impelidos a re- está utilizando uma prática sustentável, um ato que
fletir sobre os seus próprios atos de consumo. terá um impacto positivo para a sociedade; para a
economia, porque adiará a necessidade de novos in-
Para ficar mais claro, vamos dar um exemplo vestimentos no setor; para a natureza, porque não
simples. Sabe-se que a água é um recurso natural estará pressionando as nascentes; e para você, que
escasso e cerca de 30% da população mundial não vai economizar na conta de água. (Texto Original do
tem acesso à água tratada de boa qualidade. Por- Instituto Akatu)
tanto, mesmo que você consiga arcar com sua con-
TECNOLOGIAS SOCIAIS – TS
ta de água, e portanto possa, em princípio, gastar
o montante de água que lhe for disponível, tal fato Por que falar de Tecnologias Sociais?
trará como impacto a não disponibilidade de água,
O termo Tecnologias Sustentáveis surgiu no uni-
um recurso precioso e muito escasso, para um grande
verso das ONGs e, sendo percebido como um termo
número de pessoas. Além disso, antes da água chegar
que poderia circunscrever práticas de intervenções so-
à sua torneira, ela é tratada, gerando um custo para ciais que se destacam pelo seu êxito na melhoria das
os cofres públicos. Economizando-se água, o volume condições de vida da população, construindo soluções
tratado será menor e os custos serão mais baixos. que se relacionam estreitamente com a realidade dos
Caso contrário, para aumentar o abastecimento, o locais ao qual se aplicam, começou a ser utilizado
órgão responsável terá de investir em novas estações principalmente no diálogo com tais organizações.
de tratamento, que exigirão investimentos e usarão
o dinheiro que poderia ser aplicado em outras áreas, Desse modo, a necessidade de adotar um novo nome
tais como saúde, educação ou transporte. Um outro para as práticas sociais se deu a partir de que, muitas
ponto a considerar é que, se a água for usada em vezes, a despeito de sua eficácia em resolver problemas,
quantidade maior do que a realmente necessária, as tais práticas e as aprendizagens delas decorrentes fica-
fontes usadas podem não conseguir suprir a deman- vam circunscritas aos espaços nos quais ocorriam.
da. Se isso acontecer, as autoridades terão de buscar
água mais longe, o que provavelmente vai encarecer Nomear tais práticas, possibilitando sua visibi-
o custo da água e vai dificultar o acesso a ela pelas lidade, é um modo de legitimar as ONGs junto ao
populações de baixa renda. sistema de CT&I (permitindo que tenham acesso a
recursos destinados à produção científica, tecno-
lógica e inovadora do país) e, também, organizar
e disseminar experiências que contenham elemen-
tos de TS – o que, sem dúvida, significa contribuir
para a melhoria das práticas de intervenção social
dos diversos atores que se propõem a desenvolvê-
las. A reflexão e a construção do conceito de TS
devem ser capazes de melhorar práticas sociais
e de contribuir para que novos significados para
a produção de conhecimento sejam construídos,
aproximando os problemas sociais de soluções e
ampliando os limites da cidadania.
71
Falar em TS é abordar processos que, ao mesmo as fontes de petróleo e outras matérias-primas não
tempo, se inserem na mais moderna agenda do conhe- renováveis estavam e estão se esgotando. Reciclar
cimento e na mais antiga das intenções – a superação significa = re (repetir) + cycle (ciclo). Para compre-
da pobreza. É falar do resultado concreto e inovador endermos a reciclagem, é importante “reciclarmos”
do trabalho de pessoas que resolveram problemas o conceito que temos de lixo, deixando de enxergá-
inspiradas pela sabedoria popular e com o auxílio de lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade.
pesquisadores. É também falar de produtos de orga- O primeiro passo é perceber que o lixo é fonte de
nizações da economia solidária que se inserem num riqueza e que para ser reciclado deve ser separado.
circuito econômico cada vez mais significativo. Ele pode ser separado de diversas maneiras, sendo a
mais simples separar o lixo orgânico (ou molhado) do
A percepção de Tecnologia Social surgiu no diá- inorgânico (ou seco).
logo com as entidades da sociedade civil organizada
e na observação de seu modo de ação. Daí, puderam- A grande solução para os resíduos sólidos é aque-
se verificar as práticas de intervenção social que se
la que prevê a máxima redução da quantidade de
destacam pelo êxito na melhoria das condições de
resíduos na fonte geradora. Quando os resíduos não
vida da população, construindo soluções participa-
podem ser evitados, devem ser reciclados por reuti-
tivas estreitamente ligadas às realidades locais onde
lização ou recuperação.
são aplicadas.
Mais do que a capacidade de implementar soluções Desde o início dos anos 50, quando foi trazido para
para determinados problemas, as tecnologias sociais o Brasil o processo DANA, que fazia a separação ma-
podem ser vistas como métodos e técnicas que per- nual do lixo em correias transportadoras e o lixo or-
mitem impulsionar processos de empoderamento das gânico era tratado num fermentador rotativo durante
representações coletivas da cidadania para habilitá- 72 horas, a única solução implantada em diversos cen-
las a disputar, nos espaços públicos, as alternativas tros urbanos eram as usinas de tratamento com esse
de desenvolvimento que se originam das experiências processo, as quais, devido aos fortes odores emitidos,
inovadoras e que se orientam pela defesa dos interes- acabavam por se situar fora dos centros urbanos, em
ses das maiorias e pela distribuição de renda. (Textos locais afastados, aumentando muito o custo de trans-
originais do ITS-Instituto de Tecnologia Social e da porte. Devido a seu alto custo inicial e à inexistência
RTS-Rede de Tecnologias Sociais). de um processo efetivo de reciclagem, afora o do lixo
orgânico vendido como adubo, tais usinas significavam
TECNOLOGIAS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS um elevado ônus para as prefeituras.
A reciclagem surgiu como uma maneira de rein-
troduzir no circuito econômico uma parte da matéria Segundo Vaz e Cabral numa avaliação crítica da
(e da energia), que se tornaria lixo. Assim desviados, atual situação: “A melhor solução para a destinação
os resíduos são coletados, separados e processados final do lixo é ter menos lixo; a reciclagem é indis-
para serem usados como matéria-prima na produção pensável”. Os lixões continuam sendo o destino da
de bens, os quais eram feitos anteriormente com ma- maior parte dos resíduos urbanos produzidos no Bra-
téria-prima virgem. sil, com graves prejuízos ao meio ambiente, à saúde e
à qualidade de vida da população, embora represen-
A reciclagem é um processo que converte o lixo tem para a população de catadores de rua seu meio
descartado (matéria-prima secundária) em produto de sobrevivência, pois muitos deles ainda retiram o
semelhante ao inicial ou outro. Reciclar é economizar seu sustento dos lixões.
energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao
ciclo produtivo o que é jogado fora. A palavra reci- Mesmo nas cidades que implantaram aterros sa-
clagem foi introduzida ao vocabulário internacional nitários, o rápido esgotamento de sua vida útil man-
no final da década de 80, quando foi constatado que tém evidente o problema do destino do lixo urbano.
72
A situação exige soluções para a destinação final do da não preocupação com os resíduos orgânicos é
lixo no sentido de reduzir o seu volume. Ou seja: no o fato dos principais divulgadores e patrocinadores
destino final, é preciso ter menos lixo. As soluções dos programas de reciclagem serem empresas. Essas
convencionais são: têm como meta não um meio ambiente mais saudá-
• Os aterros sanitários são grandes terrenos onde vel, mas sim a possibilidade de obter matéria prima
o lixo é depositado, comprimido e depois espa- mais barata. Portanto, preocupam-se apenas com o
lhado por tratores em camadas separadas por reaproveitamento dos produtos industriais que lhes
terra. As extensas áreas que ocupam, bem como servem de insumos.”
os problemas ambientais que podem ser causa-
dos pelo seu manejo inadequado, tornam pro- A instalação da usina de reciclagem de Vitória –
blemática a localização dos aterros sanitários ES, em 1990, em um antigo “lixão” evitou enormes
nos centros urbanos maiores, apesar de serem a prejuízos ambientais e reuniu trabalhadores que vi-
alternativa mais econômica em curto prazo; viam em condições sub-humanas, explorados pelas
• Os incineradores, indicados sobretudo para “máfias do lixo”, controladas por aparistas e suca-
materiais de alto risco, podem ser utilizados teiros, dando-lhes melhores condições de trabalho
para a queima de outros resíduos, reduzindo e remuneração. Esse exemplo mostra o caminho a
seu volume. As cinzas ocupam menos espaço seguir para uma verdadeira inclusão social de cata-
nos aterros e se reduz o risco de poluição do dores e trabalhadores na reciclagem.
solo. Entretanto, exigem sistemas caros que
evitem liberar gases nocivos à saúde e seu Essas usinas pretendem resolver os aspectos ad-
alto custo os torna inacessíveis para a maio- versos relatados acima por Milanez (1999) de for-
ria dos municípios; ma viável economicamente, agregando valor à qua-
• As usinas de compostagem transformam os re-
se totalidade dos resíduos sólidos do lixo doméstico
síduos orgânicos presentes no lixo em adubo,
e tornando a reciclagem uma indústria altamente
reduzindo o volume destinado aos aterros. É
rentável. Somente no setor de plásticos, calcula-
difícil cobrir o alto custo do processo com a
se que existam no Brasil cerca de 300 instalações
receita auferida pela venda do produto. Além
industriais de reciclagem de plástico, que faturam
disso, não se resolve o problema de destinação
perto de R$ 250 milhões por ano e geram até 20
dos resíduos inorgânicos, cuja possibilidade de
mil empregos diretos. A maior parte é formada por
depuração natural é menor.
pequenas empresas.
Segundo Milanez (1999), “É comum as pes-
Outro aspecto é o estímulo à formação de toda
soas, quando pensam em redução de lixo, falarem
a cadeia produtiva que complemente o papel dessas
apenas em reciclagem, ou seja, referirem-se ao
organizações cooperativas na produção de produtos
plástico, ao papel, ao vidro e aos metais. Em pou-
cos casos a matéria orgânica é considerada. Esse finais que consumam as matérias prima resultantes
erro pode ser considerado bastante grave, uma vez de reciclagem, promovendo a geração de trabalho e
que a matéria orgânica é a que apresenta maior renda em regiões defasadas no desenvolvimento.
participação no lixo. Se, por um lado, pode-se di-
zer que a matéria orgânica é biodegradável, e por O Brasil enfrenta problemas sociais, ambientais e
isso com o tempo será decomposta, por outro lado econômicos que podem ser minimizados pela utilização
deve-se lembrar que é exatamente a sua decom- de algumas tecnologias de reciclagem, principalmente
posição que gera os resíduos líquidos (chorume) e aquelas relacionadas à ausência de coleta seletiva de
gasosos (metano e gases de enxofre) nos aterros. E resíduos sólidos em diversas cidades do Brasil.
são esses efluentes os principais agentes impactan-
tes do meio ambiente. Na minha opinião a causa Hoje, a grande preocupação na temática de resí-
73
MÓDULO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Wélcio Silvério de Toledo
A velocidade presente no cotidiano dos indivíduos Assim, consegue-se alcançar objetivos que atendam
que trabalham acaba por fazer com que se perca a di- as necessidades ambientais, que resultam na melhoria
mensão do trabalho exercido e a dimensão do humano da qualidade de vida de todos os servidores, as necessi-
por trás do trabalho também corre o risco de se esvair. dades profissionais, que resultam na economia de gas-
A conseqüência disso pode ser um ambiente permeado tos por parte do governo e numa gestão pública mais
pelo espectro do sofrimento, ficando o prazer relega- eficaz, e, por fim, que atendam também às necessida-
do aos momentos passados fora dessa situação. O pa- des sociais, já que o resultado de toda uma boa gestão
radoxo prazer/sofrimento é uma questão subjetiva do ambiental vai se desdobrar em ações sociais com os
próprio trabalhador que não fica só no campo indivi- parceiros nessa atividade, nesse caso a inclusão social
dual, pois é compartilhada coletivamente no ambiente dos catadores de materiais recicláveis.
social, que também pode ser o ambiente do trabalho.
O professor, então, deve ir além de qualquer prag-
Nessa perspectiva, todo o trabalho veicula impli- matismo e, diante deste cenário, educadores são desa-
citamente um custo humano que se expressa sob a fiados a responder de forma competente aos anseios
forma de carga de trabalho, e as vivências de prazer- da sociedade contemporânea com decisões firmes e
sofrimento têm como um dos resultados o confronto ousadas, comprometidos com o processo de formação
do sujeito com essa carga que, por conseguinte, im- do ser humano. Refletir, sobre novos conceitos e prá-
pacta no seu bem-estar. ticas de ensino que definem o processo de formação
76
humana tornou-se condição necessária à compreen- O grande mérito dessa categoria é mostrar que a
são crítica da realidade, a partir das mudanças ob- engrenagem social não se move por si mesma, que
servadas no contexto do capitalismo. não existe aquele todo unitário de sociedade pregado
pelos positivistas. A conclusão que se chega é que a
2 - VISÕES SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO única autonomia possível à escola é aquela necessá-
José Luiz Piotto D’ Ávila em seu livro A Critica da ria para encobrir sua dependência. Percebe-se a di-
Escola Capitalista em Debate, que analisa a escola ferença de classes, mas não existe lugar para a luta
como espaço aberto, no qual os encaminhamentos da de classes ou para qualquer ação transformadora no
prática política-pedagógica devem levar em conta o seio do aparelho escolar.
universo teórico que envolve os agentes dessa prática. O último posicionamento é o daqueles autores que,
A relação entre educação institucional e sociedade, embora reconhecendo a ação reprodutora da educa-
como seleiro de ações e atitudes que, em maior ou ção com respeito à sociedade vigente, enfatizam os
menor grau, nos coloca diante de questões relativas aspectos contraditórios dessa ação reprodutora. Nesse
à praticas sociais, se faz como matriz analítica para grupo, encontram-se os que vislumbram possibilidades
se compreender a escola na dinâmica da totalidade reais de mudanças da sociedade numa perspectiva re-
social e a imagem que se tem de educação. volucionária, não desconsiderando a luta de classes.
D’Ávila (1986) nos apresenta três posicionamen- Paulo Freire pode ser considerado um represen-
tos básicos de autores, que dizem respeito à relação tante dessa última categoria. Ele acredita que ainda
entre escola e sociedade. Aproximando e distancian- é pela educação que se pode corrigir a direção equi-
do os diversos posicionamentos encontrados, propõe vocada do desenvolvimento humano. Considerando
três categorias para a análise. que a práxis deve estar articulada com a consciência,
propõe a prática educativa no processo de conscien-
Na primeira categoria as estruturas básicas da tização que deve ser, ao mesmo tempo, desafiadora
sociedade são encaradas de uma maneira acrítica e transformadora, usando como estratégia o diálogo
e a relação educação/sociedade não pode perder o crítico, a fala e a consciência.
equilíbrio, sendo a escola um instrumento de apolo-
Foram apresentadas aqui três correntes de pensado-
gia da sociedade vigente. Nela, as estruturas básicas
res sobre educação e seu papel na sociedade. Cabe res-
da sociedade são encaradas de uma maneira passiva saltar, que essas correntes de pensamento não seguem
e à educação é atribuída a função de reproduzi-las, um padrão determinado, onde um modelo vem para
aperfeiçoá-las. substituir o outro, seguindo um referencial evolucionis-
ta de sociedade. Resta saber, até que ponto as concep-
Um outro posicionamento é o daqueles autores ções de escola dos alunos, professores e demais cidadãos
que reconhecem a função reprodutora da escola, com preocupados com a prática pedagógica se distanciam
uma postura crítica diante das estruturas da socie- ou se aproximam dos posicionamentos aqui elencados;
dade (ibidem). A crítica da escola reprodutivista co- já que o foco dessa publicação é o aluno adulto inserido
meça com Bourdieu que, juntamente com Passeron, no processo produtivo, ou seja, na sociedade. E como
questionam a neutralidade do sistema educacional, adultos temos uma possibilidade de ação e atuação e
decorrente da autonomia a ele concedida por deter- não podemos nos anular diante dessa possibilidade.
minação da classe que detém o poder. O problema
desse pensamento é que não avança no sentido de pro- 3 - ANDRAGOGIA – EDUCAÇÃO DE ADULTOS
por transformações na sociedade por meio da escola.
Eles criticam a escola como aparelho de reprodução A educação de adultos deve se apresentar de ma-
da realidade existente, mas não identificam como po- neira diferenciada da educação infantil. A educa-
demos, por meio da escola, alterar as estruturas de ção de adultos, também conhecida por andragogia,
uma sociedade. utiliza-se de metodologia e técnicas específicas para
77
auxiliar e facilitar prática pedagógica. Essa educa- Os novos conhecimentos e novas habilidades de-
ção deve ser caracterizada por abordagens e métodos vem ser relacionados com suas experiências anterio-
apropriados que garantam o maior sucesso possível res. Sem este ajustamento os adultos tendem a rejei-
das atividades educativas. tar novas aprendizagens.
Uma das marcas da andragogia é o fato de par- O fato de o adulto possuir maiores experiências
tir do mundo já conhecido pelo adulto, considerando que uma criança, pode proporcionar-lhe duas impor-
seu contexto, suas vivências, suas experiências e suas tantes variáveis;
aprendizagens através dos próprios erros e acertos. • um ponto positivo quando consegue estabe-
lecer relações com novos conhecimentos e/ou
Entre os princípios defendidos pela andragogia habilidades;
citam-se: • um ponto negativo quando essas experiências
• autonomia - onde o aprendiz é livre para fazer dificultam a quebra de velhos paradigmas.
as próprias escolhas e tomar decisões;
Os adultos aprendem melhor em ambiente informal
• experiência - que o adulto possui e que lhe ga-
A formalidade da sala de aula inibe e cerceia a
rante um cabedal de conhecimentos, sem mui-
aprendizagem. É importante manter a informalida-
tas vezes ter pisado numa sala de aula;
de do ambiente para que professor e aluno possam
• prontidão para o aprender - interessa ao adul-
trocar informações e construírem juntos um melhor
to aprender o que lhe terá utilidade;
ambiente para a aprendizagem.
• aplicação da aprendizagem - o que o adulto se
propõe a aprender tem que ter aplicabilidade A disposição física em sala de aula deve ser ade-
no mundo real;. quada ao objetivo de uma aula voltada aos adultos.
• motivação para aprender - o que leva o adulto
a aprender é a sua motivação interna que está Uma variedade de métodos deve ser utilizada em
ligada a valores e objetivos pessoais capacitação de adultos
A escolha dos métodos e das técnicas devem le-
COMO O ADULTO APRENDE: var em consideração, a personalidade dos adultos,
os objetivos andragógicos e o conteúdo das discipli-
Os adultos devem querer aprender
nas a se trabalhar.
Os adultos devem ter forte motivação que os le-
vem a adquirir novos conhecimentos e/ou habilida- O professor deve estar atento às respostas (fee-
des; o desejo de aprender pode ser despertado, po- dback) dadas pelos alunos referente aos métodos e
rém nunca imposto. técnicas que estiverem sendo utilizados. Assim ele
pode substituir ou reorientar os métodos e técnicas,
Os adultos aprendem fazendo conforme as necessidades observadas.
Quanto mais o conteúdo for vivenciado na prática,
tanto mais fácil será a aprendizagem. Os adultos querem orientação e não notas
É importante para o adulto conhecer o seu próprio
Os adultos aprendem resolvendo problemas liga- progresso. É recomendável o uso de conceitos, auto-
dos à realidade avaliação, hétero-avaliação, grupo-análise e feedback.
Os problemas apresentados em sala de aula devem
ter certa ligação com as experiências dos adultos. Os adultos estão disponíveis à participação
Exemplos de exercícios devem ser retirados do seu O equilíbrio no processo de ensino participativo/
ambiente de trabalho e de sua vivência diária. criativo advirá do senso democrático do relaciona-
A experiência afeta a aprendizagem do adulto mento professor/aluno/grupo.
78
O sucesso ou não de uma aula, depende da sua • O plano de aula: agora que já vimos alguns
adequação ao tempo disponível, ao ambiente e ao aspectos e detalhes da aula, o próximo passo
grupo de alunos. será a preparação de um plano de aula. Res-
saltamos que há necessidade de uma certa pro-
METODOLOGIA DE ENSINO porção nas partes da aula. Um plano de aula
bem elaborado deve ter todos os elementos es-
A importância da escolha da metodologia de ensi- senciais e acessórios da aula: tema da aula;
no-aprendizagem é fundamental. A matéria por si é objetivos da aula; duração prevista (por fase e
inerte para fins de aprendizagem, é apenas uma força total); materiais didáticos; recursos audiovisu-
potencial. Quando é trabalhada com uma boa meto- ais; conteúdo por fase; estratégias, métodos a
dologia torna-se rica, sugestiva e eficaz, dinamizando, usar; fontes de referências.
inspirando e abrindo novas perspectivas de estudo.
• Material didático: o material didático é a li- O plano de aula deve ser estruturado de acordo
gação entre as palavras e a realidade. O ideal com a seqüência lógica do processo ensino-aprendi-
seria que toda aprendizagem se efetuasse em zagem cobrindo as quatro fases da aula: preparação,
situação real da vida. Não sendo isto possível, apresentação, aplicação e avaliação.
o material didático substitui a realidade, repre-
sentando-a da melhor forma possível, de manei- 5 - FASES DA AULA
ra a facilitar a assimilação por parte do aluno.
• Recursos audiovisuais: o recursos audiovisuais A experiência tem mostrado que sem dúvida, quan-
são todos os recursos que contribuem para a boa do se trata de ministrar uma aula em condições nor-
assimilação do assunto ou tema desenvolvido em mais, a seqüência mais lógica e consagrada é a se-
aula. São os veículos de comunicação que sen- guinte:
sibilizam o participante por meio da visão, da 1. preparação;
audição da capacidade intelectiva ou criativa. 2. apresentação;
Os meios audiovisuais aproximam o ensino da 3. aplicação;
experiência direta e são de notável eficácia como 4. verificação.
recursos auxiliares de aprendizagem, principal-
Preparação
mente na fase de apresentação dos assuntos.
• Estratégias motivacionais: escolher com ante- A finalidade desta fase é predispor, preparar ou
cedência os meios de motivar os participan- motivar os participantes para ouvir e participar da
tes é sempre aconselhado. Todo início de aula aula. Podemos destacar desta fase a introdução e a
caracteriza-se pela prática da motivação, que motivação.
precisa ser provocada pelo professor. • Introdução: na introdução procuramos colocar
Os propósitos da motivação consistem em des- os alunos a par do assunto a ser tratado. Os
pertar o interesse, estimular o desejo de apren- motivos, as razões da aula, devem ser acla-
der e dirigir esforços para atingir metas defini- rados já neste momento. Em se tratando de
das. Não haverá aprendizagem sem que haja assunto longo, apresentado em mais de uma
esforço voluntário por parte de quem aprende. aula, deve-se fazer revisão da aula anterior.
A motivação tem por fim estabelecer conexão • Motivação: despertar o interesse no parti-
entre professor e aluno. cipante deve ser a segunda preocupação do
• Fontes de referência: o professor deve indicar professor. A motivação é fator decisivo no
fontes de consulta para os que participantes desenvolvimento da aula e não poderá haver
aprofundem os assuntos. Para isto, o professor aproveitamento se o participante não estiver
precisará ter às mãos todas as referências bi- motivado; se não estiver disposto a despender
bliográficas do assunto, bem como esquemas esforço. O professor deve procurar todos os re-
para possíveis trabalhos de pesquisas. cursos cabíveis para motivar os participantes,
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lembrando-se de que nem todos são desperta- aluno por toda a aula. Utilize todos os recur-
dos pelos mesmos motivos. É a motivação que sos para dinamizar a aula, pois a monotonia é
dá vida, espontaneidade e razão de ser à aula. a maior deficiência do professor. Procure não
ficar estático; movimente-se moderadamente.
Apresentação • Procure concretizar a aula:
Uma vez motivado o grupo, partimos para a apre- Necessário se faz que o professor procure es-
sentação ou desenvolvimento da aula, durante a qual o tabelecer articulação com o real, de manei-
professor deve facilitar a assimilação dos temas abor- ra a evitar a pura conceituação intelectual e
dados. Uma boa prática é relacionar o assunto numa verbal, que acaba por desviar a atenção do
ordem lógica, partindo do simples ou fácil para o com- participante.
plexo e difícil. O assunto deve ser apresentado em do- • Procure corrigir e adequar a linguagem
ses ou etapas intercaladas de pequenas revisões.
É claro que não são desejáveis os extremos:
linguagem muito rara e/ou sobejamente técni-
Aplicação
ca que cheira pedantismo, nem aquela carre-
A aplicação tem como finalidade primeira o exer-
cício daquilo que foi apresentado na fase anterior. gada de vícios e gírias. O que se deve usar
Os erros devem ser corrigidos, as dúvidas devem ser é uma linguagem acessível aos participantes.
aclaradas repetidas vezes. Se o assunto e as condi- As gírias são totalmente dispensáveis.
ções permitirem, forme grupos de estudos e supervi- • Use adequadamente a voz
sione-os de perto. A aplicação, como as demais fases Não existe uma voz padrão. Cada professor
da aula, tem seu fundamento em leis e princípios de deve usar a voz que tem, mas da maneira mais
aprendizagem. eficiente possível. É importante que o profes-
sor pronuncie bem as palavras e que a sua dic-
Verificação ção seja boa. A boa dicção dá à palavra o seu
A verificação é a avaliação de aprendizagem para devido peso e sabor, com naturalidade, o que
apurar o grau em que cada aluno, individualmente, facilita a compreensão de quem ouve. Uma
e a classe, no seu conjunto, conseguiram os resul- boa prática para melhorar a dicção é a leitura
tados previstos e desejados. A avaliação deve ser em voz alta, para correção imediata da pro-
entendida e aceita como válida e necessária, tanto núncia e da entonação incorreta.
para o professor como para o aluno. Por meio dela, • Cuidado com a apresentação pessoal
mensura-se tanto o rendimento do aluno quanto à
proficiência do professor. Há muito o quê se falar sobre a apresentação do
professor, mas analisaremos os aspectos de sua ação
6 - ASPECTOS BÁSICOS PARA CONDUÇÃO DA na classe, quanto à espontaneidade, movimentação,
AULA COM EFICIÊNCIA
aparência pessoal, entusiasmo e autocontrole.
• Siga o plano da aula: o plano de aula é feito para
ser seguido. O professor deve se basear no plano Espontaneidade - o professor deve ser espontâneo,
de aula para ser bem sucedido em sua tarefa. sem inibição e insegurança. O grau de espontaneida-
de aumenta à medida que o professor se integra com
• Procure motivar e manter a motivação do grupo. os demais participantes da aula.
O professor deve predispor os participantes
para o que vai ser tratado durante a aula. Au- Movimentação - o professor deve manter discreta
las e esforços já foram perdidos, por falta de movimentação, evitando ficar sentado ou parado por
uma apresentação interessante daquilo que se muito tempo. Deve evitar também movimentos rápi-
quer ensinar. Procure manter o interesse do dos. Os cacoetes devem ser evitados ao máximo.
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Autocontrole - o professor deve manter o autocon- Uma aula será sempre bem sucedida se forem
trole em todas as circunstâncias diante dos alunos, tomados alguns cuidados. A preparação da
sem, entretanto, perder a ousadia e a espontaneidade aula, a elaboração do plano de aula e a obser-
de aprender com os eles. vação de seus pontos básicos, não são suficien-
• Prosseguir com a aula, quando todos entende- tes. A preparação antecipada da sala de aula
rem o assunto em questão também é importante. Providencie para que
O desenvolvimento de uma aula não deve ser tudo esteja arrumado na ordem de uso. A fal-
tão rápido que não permita ao participante fa- ta de algum material prejudica a aula e pode
zer anotações e acompanhar o que está sendo comprometer a imagem do professor.
exposto e, principalmente, refletir sobre o seu • Recomendação Final
tema. Não passe para o esquema seguinte sem
ter a certeza da assimilação do assunto. Para Não se esqueça de chegar antes dos participan-
não incorrer em erros, faça revisões constan- tes. A curiosidade pode levar alguém a mexer
tes; assim terá certeza de que os participantes no seu material e isto pode causar estragos e
estão assimilando o conteúdo. acidentes. Dê exemplo, seja pontual.
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