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SUMÁRIO
Apresentação . ............................................................................................................................................................................... 7

Introdução ..................................................................................................................................................................................... 9

Programação ............................................................................................................................................................................... 11

Legislação Básica e Políticas Públicas ........................................................................................................................................ 13

Direitos Humanos, ética e cidadania . ......................................................................................................................................... 19

Educação Ambiental . ................................................................................................................................................................... 27

Agenda 21 .................................................................................................................................................................................... 31

Responsabilidade Socioambiental ............................................................................................................................................... 35

Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P ................................................................................................................... 41

Principais temas relacionados ao uso racional dos recursos naturais e bens públicos: Papel/Água/Energia . ...................... 45

Passo a passo para implantação da A3P .................................................................................................................................... 59

Resíduos Sólidos .......................................................................................................................................................................... 63

Diretrizes para implementação de Coleta Seletiva de acordo com o Decreto 5.940/06 ........................................................... 67

Práticas Sustentáveis .................................................................................................................................................................. 71

Módulo didático-pedagógico . ...................................................................................................................................................... 77

Bibliografia . ................................................................................................................................................................................. 85

Saiba mais . .................................................................................................................................................................................. 86


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APRESENTAÇÃO

O
Decreto nº 5.940/06, publicado em 25 de outubro de 2006, instituiu a separação dos resídu-
os recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta
e indireta na fonte geradora e sua destinação às associações e cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e constituiu a Comissão da Coleta Seletiva Solidária, criada no âmbito de cada
órgão e entidade da administração pública federal direta e indireta com o objetivo de implantar e
supervisionar a separação dos resíduos recicláveis descartados na fonte geradora e a sua destinação
às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis.

A Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P é um projeto que se iniciou no Ministério do


Meio Ambiente, em 1999, e possui um papel estratégico na revisão dos padrões de produção e con-
sumo e na adoção de novos referenciais em busca da sustentabilidade socioambiental no âmbito da
administração pública. A A3P tem como objetivo sensibilizar os gestores públicos para as questões
ambientais, estimulando-os a incorporar princípios e critérios de gestão ambiental em suas ativi-
dades rotineiras, tendo como um dos principais eixos temáticos a gestão ambiental dos resíduos,
incluindo a parceria com cooperativas de catadores de lixo para a geração de trabalho e renda.

A implementação do Decreto nº 5.940/06, somada às ações da Agenda da Administração Pública


Federal, constitui-se numa estratégia que busca a construção de uma nova cultura institucional para um
novo modelo de gestão dos resíduos no âmbito da administração pública federal direta e indireta.

Existe um grande esforço sendo construído pelo Comitê Interministerial de Inclusão Social dos
Catadores de Lixo (Decreto de 11/09/2003), para a consolidação dessa integração e o alcance dos
objetivos do governo federal no processo de implementação e consolidação da referida política. Os
principais objetivos envolvem a mudança de hábito dos servidores da administração Pública Fede-
ral como colaboradores na redução dos gastos do governo, sua consciência ambiental e social e a
oportunidade de renda e inclusão social do segmento dos Catadores de Materiais Recicláveis.

A presente apostila contém subsídios teóricos básicos para a atuação dos membros das Comissões
de Coleta Seletiva Solidária os quais poderão ser considerados como referência para a realização de
suas atividades.
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INTRODUÇÃO

A
presente publicação é parte integrante do Projeto de capacitação dos servidores públicos para
implementação do Decreto nº 5.940/06 e da Agenda Ambiental na Administração Pública –
A3P e visa contribuir para a implantação efetiva da coleta seletiva solidária e da A3P no âm-
bito das instituições públicas. Essa ação foi proposta pelo Comitê Interministerial de Inclusão Social
dos Catadores de Materiais Recicláveis e executado pelo Grupo de Trabalho de Educação do Comitê
e contou com o apoio do programa de Fomento a Projetos de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas
do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG.

O conteúdo do curso foi elaborado para permitir aos membros das Comissões da Coleta Seletiva
Solidária uma visão abrangente da gestão ambiental e do processo de gerenciamento de resíduos no
âmbito das políticas públicas e dos compromissos assumidos pelo Brasil no que diz respeito à agenda
de sustentabilidade ambiental.

Dentro do projeto de capacitação são abordados assuntos relativos à legislação brasileira, meio
ambiente, direitos humanos, ética, cidadania, tecnologias sociais, entre outros, que visam à implan-
tação da coleta seletiva e da agenda ambiental. Esse conteúdo foi selecionado para fornecer aos
gestores públicos informações relevantes para a construção de uma nova cultura institucional com-
prometida com a sustentabilidade socioambiental das atividades públicas.

A iniciativa de capacitação foi delineada para atender às demandas dos membros das atuais Co-
missões da Coleta Seletiva, envolvendo um público inicial de 400 servidores federais, e será ampliada
para promover a capacitação de todos os gestores públicos da administração pública direta e indireta
integrantes das comissões.

Grupo de Trabalho de Educação


Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis
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PROGRAMAÇÃO
Curso de capacitação dos servidores públicos para implementação do Decreto
nº 5.940/06 e da Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

Segunda-feira
14:00 – 15:00 Legislação Básica e Políticas Públicas
15:00 – 16:00 Direitos Humanos, Ética e Cidadania
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 17:15 Educação Ambiental
17:15 – 18:00 Agenda 21

Terça-feira
14:00 – 15:00 Responsabilidade Socioambiental e A3P
15:00 – 16:00 Uso Racional dos Recursos - Água
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 17:30 Uso Racional dos Recursos - Papel e Energia
17:30 – 18:00 Licitações Sustentáveis

Quarta-feira
14:00 – 15:00 Resíduos Sólidos
15:00 – 16:00 Diretrizes para implementação do Decreto 5.940/06
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 18:00 Passo a passo para a Coleta Seletiva Solidária

Quinta-feira
14:00 – 16:00 Práticas Sustentáveis
16:00 – 16:15 Intervalo
16:15 – 18:00 Módulo Didático-pedagógico

Sexta-feira
14:00 – 18:00 Visita de Campo
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LEGISLAÇÃO BÁSICA E POLÍTICAS PÚBLICAS

A s ações necessárias para o alcance da sustentabi-


lidade ambiental devem ser vistas como um con-
junto único, uma vez que nenhuma ação, isoladamen-
a disciplinar a questão ambiental, relacionadas à
conservação do meio ambiente, uso dos ecossiste-
mas, educação ambiental, água, patrimônio genético,
te, é capaz de propiciar ganhos significativos para fauna e flora, entre outras. Outro marco importante
o enfrentamento dos atuais desafios socioambientais para a conservação ambiental no Brasil foi a publi-
cada vez mais em evidência tanto no cenário nacional cação da Lei nº 9.605, em fevereiro de 1998, Lei
como internacional. de Crimes Ambientais, que definiu sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades
A preocupação ambiental vem sendo tratada no lesivas ao meio ambiente.
âmbito internacional desde a realização da Confe-
rência de Estocolmo em 1972, ganhando destaque A legislação ambiental brasileira, um dos prin-
na Conferência das Nações Unidas para o Meio Am- cipais instrumentos da sustentabilidade ambiental,
biente e Desenvolvimento (Rio 92). Desde então, o prevê a manutenção e conservação do meio ambien-
conceito de desenvolvimento sustentável passou a ser te ao mesmo tempo que contempla a necessidade de
um referencial para todos os países. adoção de uma nova ética social, buscando explorar
a dimensão econômica de forma racional e adequa-
Outras convenções internacionais fazem parte do da, visando à manutenção do equilíbrio ecológico,
arcabouço jurídico brasileiro, encontrando-se algu- garantia da saúde, qualidade de vida e bem-estar
mas delas incorporadas à legislação e/ou regulamen- econômico, social e ambiental das milhares de fa-
tação específicas como, por exemplo: mílias brasileiras.
• Convenção de Basiléia sobre Controle de Mo-
vimentos Transfronteiriços de Resíduos Peri- No âmbito das políticas públicas, as questões am-
gosos e seu Depósito (Basiléia); bientais fazem parte da agenda pública, constituin-
• Convenção sobre Procedimento de Consen- do-se em fatores decisivos para o desenvolvimento
timento Prévio Informado para o Comércio sustentável e, ao mesmo tempo, demandando a com-
Internacional de Certos Produtos Químicos e plementaridade e a interação entre as mais diversas
Pesticidas Perigosos (Roterdã); ações do poder público. Essas ações devem, portanto,
• Protocolo de Montreal sobre Substâncias que ser articuladas e implementadas de forma transver-
Destroem a Camada de Ozônio; sal para que possam contribuir para a consolidação
• Convenção sobre Zonas Úmidas de Importân- das bases que permitirão a definição e implantação
cia Internacional, especialmente como Habi- de uma política efetiva para o desenvolvimento sus-
tat de Aves Aquáticas (Convenção RAMSAR); tentável do país.
• Convenção das Nações Unidas para Combate
à Desertificação; CONSTITUIÇÃO FEDERAL
• Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Na Constituição Federal, foi reservado um arti-
Mudança do Clima; go específico para tratar do meio ambiente, o que
• Protocolo de Quioto. demonstra a importância do tema para a sociedade
brasileira. O artigo 225 impõe ao poder público e
No Brasil, a publicação da Lei nº 6.938, em agos- à coletividade o dever de defender e preservar o
to de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio meio ambiente e exige, na forma da lei, que sejam
Ambiente, constituiu o marco inicial das ações para realizados estudos prévios de impacto ambiental
conservação ambiental e incorporação do tema nas para instalação de obra ou atividade potencial-
atividades de diversos setores da sociedade. A par- mente causadora de significativa degradação do
tir daí, várias normas e regulamentações passaram meio ambiente.
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Artigo 225 - "Todos têm direito ao meio ambien- POLÍTICAS PÚBLICAS


te ecologicamente equilibrado, bem de uso comum Entende-se por Políticas Públicas o conjunto de
do povo e essencial à sadia qualidade de vida..." ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos
sociais, configurando um compromisso público que
No texto constitucional, foram atribuídas compe- visa dar conta de determinada demanda, em diversas
tências aos entes federados para a proteção ambien- áreas. Expressa a transformação daquilo que é do
tal, o que possibilitou a descentralização e permi- âmbito privado em ações coletivas no espaço público
tiu à União, Estados, Municípios e Distrito Federal (GUARESCHI et al, 2004, p. 180).
ampla competência para legislarem sobre matéria
ambiental. Essas competências estão definidas nos A política pública compreende um elenco de ações
art. 21, 22, 23, 24. e procedimentos que visam à resolução pacífica de
conflitos em torno da alocação de bens e recursos
Além de um artigo exclusivo para tratar do meio públicos, sendo que os personagens envolvidos nesses
ambiente, o texto constitucional também faz referên- conflitos são denominados "atores políticos".
cia ao tema em outros artigos.
A sustentabilidade econômica, social e ambiental é
Artigos Constitucionais relacionados ao meio am- um dos grandes desafios da humanidade e exige ação do
biente: poder público para que seja possível garantir a inserção
da variável socioambiental no processo decisório, parti-
Art. 5º : XXIII; LXXI; LXXIII - Dos Direitos e Deve- cularmente na formulação das políticas públicas.
res Individuais
Art. 20: I; II; III; IV; V; VI; VII; IX; X; XI e 1º e 2º Atualmente, 50 do Produto Interno Bruto (PIB)
Art. 21: XIX; XX; XXIII a, b e c; XXV brasileiro dependem da biodiversidade, o que deman-
Art. 22: IV; XII; XXVI da a adoção de novos padrões de sustentabilidade,
Art. 23: I;III; IV; VI; VII; IX; XI bem como a busca por novas formas – mais inteli-
Art. 24: VI; VII; VIII
gentes – de pensar o desenvolvimento, preservando
Art. 43: 2º, IV e 3º
Art. 49: XIV; XVI os recursos naturais, dos quais depende a nossa eco-
Art. 91: 1º, III nomia e o crescimento sustentável do país.
Art. 103 - Competência para propor ação de inconsti-
tucionalidade; Desde 2003, quatro linhas básicas têm determi-
Art. 129: III e VI - Funções institucionais do Minis- nado o traçado da política ambiental do Brasil. Elas
tério Público; permearam todas as iniciativas, ações, projetos,
Art. 170: III e VI - Princípios Gerais da Atividade planos e programas do Ministério do Meio Ambien-
Econômica, Função Social da Propriedade e Defesa te (MMA). A promoção do desenvolvimento susten-
do Meio Ambiente. tável é a primeira delas. A necessidade de controle
Art. 174: 3º e 4º - Organização da atividade garimpei-
e participação social é outra dessas quatro linhas
ra, levando em conta a proteção do Meio Ambiente;
Art. 176: 1º ao 4º - Jazidas e recursos minerais; básicas. A terceira refere-se ao fortalecimento do
Art. 182: 2º e 4º - Política de Desenvolvimento Ur- Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama). O
bano; envolvimento dos diferentes setores do Poder Públi-
Art. 186: II - Da Política Agrícola e Fundiária e da co na solução dos problemas ambientais, incluso no
Reforma Agrária; princípio da transversalidade, é a quarta e última
Art. 200: VII; VIII - IV e VIII. Da Saúde, Saneamento linha que tem orientado a política ambiental. Es-
Básico e Colaboração na Proteção do Meio Ambiente. sas quatro diretrizes têm direcionado as atividades
Art. 216: V e 1º, 3º e 4º - Da Cultura do MMA, permitindo a construção de uma política
Art. 225
ambiental integrada.
Art. 231
Art. 232
Arts. 43 e 44 do ADCT É forçoso reconhecer que a aplicabilidade des-
ses princípios, no caso brasileiro, esbarra em certos
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obstáculos, tais como a fragilidade institucional, a e) lancem matérias ou energia em desacordo


falta de uma base sólida de dados ambientais, re- com os padrões ambientais estabelecidos.
cursos financeiros escassos e a carência de recursos
humanos necessários à prática de gestão ambiental • Poluidor - pessoa física ou jurídica, de direito
em todos os níveis. público ou privado, responsável, direta ou indi-
retamente, por atividade causadora de degra-
O processo de institucionalização das políticas dação ambiental;
ambientais no Brasil demanda um grande esforço de • Recursos Ambientais - a atmosfera, as águas
coordenação entre os diversos setores do governo. interiores, superficiais e subterrâneas, os estu-
Para ampliar os níveis de eficácia da ação do Estado ários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os
brasileiro na gestão ambiental, é necessário adotar
elementos da biosfera, a fauna e a flora.
estratégias que vão desde a correta aplicação dos ins-
trumentos previstos na legislação até novas formas
É importante ressaltar que a Política Nacional
de atuação, com maior transparência, maior controle
social e menor vulnerabilidade aos interesses econô- do Meio Ambiente consagrou um princípio muito im-
micos e político-partidários. portante quanto à responsabilidade do poluidor. Em
questões ambientais ela é objetiva, isto é, independe
INTEGRAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS da existência de dolo (intenção de causar o dano) ou
culpa (negligência, imperícia ou imprudência). O po-
POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE luidor é responsável pelos danos causados ao Meio
A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA foi Ambiente e a terceiros, devendo repará-los.
instituída pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981,
com o intuito de preservar, melhorar e recuperar a qua- Outro ponto importante da lei diz respeito ao art.
lidade ambiental propícia à vida, assegurando condi- 9º, no qual encontram-se enunciados os Instrumentos
ções ao desenvolvimento sócio-econômico, à segurança da Política Nacional de Meio Ambiente, como o zone-
nacional e à proteção da dignidade da vida humana. amento ambiental, avaliação de impacto ambiental, li-
cenciamento ambiental, sistema de informações sobre
Visando um melhor entendimento do tema am- o meio ambiente, cadastro técnico federal de ativida-
biental, o art. 3º da Lei 6.938/81 fornece as seguin- des e relatório de qualidade do meio ambiente.
tes definições:
• Meio Ambiente - o conjunto de condições, leis,
IMPACTO AMBIENTAL
influências e interações de ordem física e bio-
lógica, que permite, abriga e rege a vida em " Qualquer alteração das propriedades físicas,
todas as suas formas. químicas e biológicas do meio ambiente, causada
• Degradação da Qualidade Ambiental - a alteração por qualquer forma de matéria ou energia resultan-
adversa das características do meio ambiente; te das atividade humanas que, direta ou indireta-
• Poluição - a degradação da qualidade ambien- mente, afetem a saúde, a segurança e o bem-estar
tal resultante de atividades que, direta ou indi- da população; as atividades sociais e econômicas; a
retamente: biota; e as condições dos recursos ambientais."
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; A Lei 6.938/81 (art. 6º) constituiu o Sistema
b) criem condições adversas às atividades so- Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, composto
ciais e econômicas; pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios e
c) afetem desfavoravelmente a biota; também definiu as competências do Conselho Nacio-
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias nal do Meio Ambiente – CONAMA (art. 8º) que é o
do meio ambiente; órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA.
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de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos pelo titular


LEI DE SANEAMENTO
dos serviços, a análise e avaliação do ciclo de vida do
BÁSICO (Lei nº 11.445/2007)
produto e a logística reversa. Cria, ainda, mecanismos
A Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, estabe- para uma mudança de comportamento em relação aos
leceu as diretrizes nacionais para o saneamento básico atuais padrões insustentáveis de produção e consumo
e para a política federal de saneamento básico. Em para a adoção e internalização do conceito dos 5 Rs:
seu art. 52, a lei determina que a União elabore, sob Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar – em
a coordenação do Ministério das Cidades, o Plano Na- todas as etapas do processo. Também busca consolidar
cional de Saneamento Básico – PNSB, abrangendo o o controle social nas várias etapas da atividade no que
abastecimento de água potável, o esgotamento sanitá- se refere aos resíduos domiciliares urbanos, desde o
rio, a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos planejamento até a prestação dos serviços. O art. 3º
e a drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas, trata do envolvimento do Poder Público e da coletivi-
além de outras ações de saneamento básico de interes- dade na busca da efetividade das ações que envolvam
se para a melhoria da salubridade ambiental. os resíduos sólidos gerados. Por meio desse artigo, por
exemplo, o Ministério Público poderá atuar sempre
que houver o não cumprimento de uma obrigação pre-
A lei estabelece, ainda, que o PNSB deverá conter: vista na lei originada do PL 1991/07.
(a) objetivos e metas nacionais e regionalizadas, de
curto, médio e longo prazos, com vistas à universali- POLÍTICA NACIONAL URBANA
zação dos serviços e ao alcance de níveis crescentes de ESTATUTO DAS CIDADES
saneamento básico; (b) diretrizes e orientações para o
equacionamento de condicionantes de natureza políti- O Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) re-
co-institucional, legal e jurídica, econômico-financeira, gulamentou o capítulo de política urbana da Cons-
administrativa, cultural e tecnológica com impacto na tituição Federal (art. 182 e 183) e estabeleceu di-
consecução das metas e objetivos estabelecidos; (c) pro- retrizes gerais para a política urbana, bem como
posição de programas, projetos e ações necessários ao normas de ordem pública e interesse social que
regulam o uso da propriedade urbana em prol do
atingimento dos objetivos e metas da Política Federal
bem coletivo, segurança e bem-estar dos cidadãos e
de Saneamento Básico, com identificação das fontes de
equilíbrio ambiental.
financiamento; (d) diretrizes para o planejamento das
ações de saneamento básico em áreas de especial inte- De acordo com o texto do estatuto, a política ur-
resse turístico; (e) procedimentos para a avaliação siste- bana deve buscar o ordenamento para pleno desen-
mática da eficiência e eficácia das ações executadas. volvimento das funções sociais da cidade e da pro-
priedade urbana, tendo como uma de suas diretrizes
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS evitar a poluição e a degradação ambiental.
SÓLIDOS (PL n° 1991/07)
O estatuto também definiu o zoneamento ambiental
O Projeto de Lei que o Governo Federal encami- como um dos instrumentos da política urbana para orde-
nhou à Câmara dos Deputados é a primeira iniciativa nação do território e desenvolvimento econômico e social.
do Executivo que propõe regulamentar a questão dos
resíduos sólidos, estabelecendo as diretrizes para sua
POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS
gestão integrada.
HÍDRICOS (Lei Federal 9.433/1997)

A Lei nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997, instituiu


Dentre os principais avanços contidos no PL, desta-
a Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e
cam-se a responsabilização do gerador pelos resíduos
gerados, desde o acondicionamento até a disposição fi- criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Re-
nal ambientalmente adequada; a elaboração de Planos cursos Hídricos – SNGRH.
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Constituem-se em fundamentos da PNRH: I - a com características naturais relevantes, legalmen-


água é um bem de domínio público; II - a água é um te instituídos pelo Poder Público, com objetivos de
recurso natural limitado, dotado de valor econômi- conservação e limites definidos, sob regime especial
co; III - em situações de escassez, o uso prioritário de administração, ao qual se aplicam garantias ade-
dos recursos hídricos é o consumo humano e a des- quadas de proteção. A Lei 9.985/2000 prevê que
sedentação de animais; IV - a gestão dos recursos sua criação e gestão ocorram em consonância com
hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo as políticas administrativas do uso da terra e das
das águas; V - a bacia hidrográfica é a unidade ter- águas e com a participação da população local, pro-
ritorial para a implementação da PNRH e atuação movendo o desenvolvimento sustentável a partir dos
do SNGRH; VI - a gestão dos recursos hídricos deve recursos naturais.
ser descentralizada e contar com a participação do O SNUC é gerido pelo CONAMA, seu órgão deli-
Poder Público, dos usuários e das comunidades. berativo e consultivo; pelo Ministério do Meio Am-
biente, órgão central e que atua como coordenador;
A PNRH tem por objetivo promover a utiliza- e pelo Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter
ção sustentável dos recursos hídricos e a preven- supletivo, e os órgãos estaduais e municipais como
ção contra os eventos hidrológicos nocivos e busca: órgãos executivos, com a função de implementar o
I - assegurar à atual e às futuras gerações a ne- SNUC, subsidiar as propostas de criação e adminis-
cessária disponibilidade de água, em padrões de trar as unidades de conservação federais, estaduais
qualidade adequados aos respectivos usos; II - a e municipais nas respectivas esferas de atuação.
utilização racional e integrada dos recursos hídri-
cos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas As unidades de conservação dividem-se em dois
ao desenvolvimento sustentável; III - a prevenção grupos: as de proteção integral e as de uso susten-
e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de tável. As primeiras abrangem as estações ecológi-
origem natural ou decorrentes do uso inadequado cas, as reservas biológicas, os parques nacionais,
dos recursos naturais. os monumentos naturais e os refúgios de vida sil-
vestre e visam à preservação do ambiente local,
Foram definidos como instrumentos da PNRH: enfatizando determinadas características ambien-
os planos de recursos hídricos (planos de bacia hi- tais em particular.
drográfica, planos estaduais de recursos hídricos
e o plano nacional de recursos hídricos), o enqua- As unidades de uso sustentável visam a promover
dramento dos corpos de água em classes segundo a conservação do local, ou seja, o uso sustentá-
os usos preponderantes, a outorga dos direitos de vel de parcela de seus recursos naturais. Tais uni-
uso dos recursos hídricos, a cobrança pelo uso dos dades compreendem as áreas de proteção ambien-
recursos hídricos e o sistema de informações sobre tal (APA), áreas de relevante interesse ecológico
recursos hídricos. (ARIE), florestas nacionais (FLONA), reservas ex-
trativistas (RESEX), reservas de fauna, reservas de
SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES desenvolvimento sustentável, e reservas particulares
DE CONSERVAÇÃO (Lei Federal 9.985/2000) do patrimônio natural (RPPN), assim denominadas
segundo seu propósito principal.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação –
SNUC tem por objetivo garantir a biodiversidade, a Cada unidade de conservação possui um conselho
diversidade dos recursos genéticos e a integridade consultivo ou deliberativo responsável por sua gestão
dos processos ambientais, tanto por meio da preser- e por seu plano de manejo, cujos representantes en-
vação quanto da conservação dos ecossistemas. Ele volvem órgãos públicos, organizações da sociedade
é constituído pelas unidades de conservação, que civil e das populações tradicionais residentes na área,
são espaços territoriais e seus recursos ambientais, quando for o caso.
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ticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e


POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO
éticos. Portanto, é dotada de uma visão holística,
AMBIENTAL (Lei Federal 9.795/1999)
que considera a interdependência entre o meio na-
tural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque
Entendem-se por educação ambiental (EA) os da sustentabilidade.
processos por meio dos quais o indivíduo e a cole-
tividade constroem valores sociais, conhecimentos, A educação ambiental se faz valer tanto de manei-
habilidades, atitudes e competências voltadas para ra formal, permeando as várias disciplinas das insti-
a conservação do meio ambiente, bem de uso co- tuições de ensino, como informal, por meio da sensibi-
mum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e lização da coletividade sobre as questões ambientais
sua sustentabilidade. e estímulo a sua organização e participação na de-
fesa da qualidade do meio ambiente. Sua abrangên-
A Lei 9.795/99 define a EA como um componente cia compreende as três esferas de governo – União,
essencial e permanente da educação nacional, deven- estados e municípios.
do estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em cará- A estrutura da Política Nacional de Educação
ter formal e não-formal, sendo um direito de todos. Ambiental possui como organismos gestores o Órgão
Gestor e o Comitê Assessor no âmbito da União; as
A educação ambiental visa ao desenvolvimento Comissões Interinstitucionais de Educação Ambien-
de uma compreensão integrada do meio ambiente tal e Secretarias Estaduais nos estados; e as Secre-
em suas múltiplas e complexas relações, envolven- tarias Municipais de Educação e Meio Ambiente no
do aspectos ecológicos, psicológicos, legais, polí- âmbito dos municípios.
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DIREITOS HUMANOS, ÉTICA E CIDADANIA

permeado por disputas de poder e projetos de socie-


DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO dade. Um exemplo disso é a própria evolução do que
Sabrina Moehlecke1 se entende por direitos humanos, ao longo dos séculos,
até a formulação da noção contemporânea de direitos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA humanos que hoje nos serve de referência.
Qual a relevância dos direitos humanos na socie- As declarações de direitos humanos do mundo
dade brasileira nesse início do século XXI? O que moderno surgiram a partir de correntes filosóficas
mudou no modo como entendemos e lidamos com influenciadas pelo racionalismo e jusnaturalismo, nas
os direitos humanos, decorridos mais de vinte anos quais os intelectuais europeus do século XVIII estive-
do início do processo de redemocratização do país? ram imersos. Esse período foi caracterizado como o
O Brasil certamente não é o mesmo. Observam-se do apogeu do Iluminismo ou Ilustração. Sustentava-
avanços consideráveis em direção ao fortalecimento se, basicamente, que o homem, enquanto tal, teria
do Estado Democrático de direito, especialmente no direitos naturais. Contudo, historicamente, a idéia
campo normativo, onde está disponibilizado hoje um
de direito natural não surge com o jusnaturalismo
conjunto de instrumentos legais que possibilita a mo-
moderno; remonta, antes, ao pensamento cristão e
bilização em torno da defesa e da promoção dos di-
clássico, aos grandes moralistas, poetas e escritores
reitos humanos. Contudo, esse ainda é um processo
da Antigüidade, especialmente a Sófocles. Antígo-
lento e conflituoso. Permanece em nossa sociedade
uma distância entre os direitos proclamados e sua na, uma de suas melhores tragédias, trouxe como
real efetivação, ou seja, entre a teoria dos direitos questão central o confronto entre o direito natural e
humanos e sua prática cotidiana. Diante de uma so- o direito positivo do Estado e serviu de inspiração e
ciedade ainda marcada pela desigualdade, violên- reflexão para pensadores como Hegel, Kant, Rous-
cia e práticas autoritárias, como é possível pensar seau. Nesse sentido, a novidade trazida pelo Ilumi-
e atuar no sentido da construção de uma cultura de nismo foi a tradução do direito natural em lei escri-
direitos humanos e de que modo isso afeta a quali- ta e positiva, por meio das declarações de direito,
dade de vida dos brasileiros? como a Declaração Americana de Direitos, de 1776,
e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e
O CONTEXTO HISTÓRICO DOS do Cidadão, de 1789.
DIREITOS HUMANOS
Primeiramente, ao se iniciar uma reflexão sobre o De acordo com Marilena Chauí,
papel dos direitos humanos em nossa sociedade, é im- A prática de declarar direitos significa, em pri-
portante considerar sua dimensão histórica e social, meiro lugar, que não é um fato óbvio para todos
ou seja, o modo como tais direitos evoluíram ao longo os homens que eles são portadores de direitos e,
do tempo e os contextos onde se inseriam. De acordo por outro lado, significa que não é um fato óbvio
com Norberto Bobbio (1992), declarar que os homens que tais direitos devam ser reconhecidos por to-
nascem livres e iguais em direitos, como fizeram as dos. A declaração de direitos inscreve os direitos
primeiras declarações de direitos humanos modernas, no social e no político, afirma sua origem social e
é uma exigência da razão, mas não um dado histórico política e se apresenta como objeto que pede o re-
ou uma constatação da realidade. De fato, os homens conhecimento de todos, exigindo o consentimento
não são livres nem iguais. A efetiva garantia de direi- social e político (1989, p. 20).
tos implica um processo muito mais lento e incerto,
1
Socióloga, professora adjunta da Faculdade de Edação da Universidade Federal do Rio de Janeiro
18

Nesse momento, predominava, enquanto noção de do ensino e da educação em geral, por promover o
direitos humanos, uma concepção individualista e li- respeito aos direitos humanos proclamados e pela
beral de sociedade, em que o indivíduo, dotado de um adoção de medidas progressivas de caráter nacio-
valor em si, era o seu fundamento, consagrando-se o nal e internacional, para assegurar sua observância
direito de liberdade como forma de limitar o poder de universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios
atuação do Estado em relação à ação do indivíduo. Estados-membros, quanto entre os povos dos territó-
Contudo, no século XIX, definido por Eric Hobsbawn rios sob sua jurisdição.
como a era das revoluções, a luta por direitos buscou
incorporar aos direitos civis e políticos também os A educação, na DUDH, assume papel especial na
direitos sociais. O movimento operário, principal pro- promoção dos direitos humanos; ela é, ao mesmo tem-
tagonista das transformações ocorridas no período, po, um direito humano em si e condição para a garantia
exigia mais do que a igualdade civil reconhecida pe- dos demais direitos. Em seu artigo 26 , a Declaração es-
las declarações de direito até então. Na Declaração pecifica algumas características do direito à educação:
Russa dos Direitos do Povo Trabalhador e Explora-
do, de 1918, por exemplo, garantia-se o direito ao Artigo 26
trabalho, à educação, à saúde, à moradia. Altera-se, 1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução
desse modo, a relação estabelecida entre indivíduo e será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fun-
Estado. De uma idéia de não interferência nos direi- damentais. A instrução elementar será obrigatória. A
tos individuais, ou seja, de uma postura negativa do instrução técnico-profissional será acessível a todos,
Estado, passa-se a exigir deste uma ação positiva e bem como a instrução superior, baseada no mérito.
ativa na garantia dos direitos sociais.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno
A questão dos direitos humanos assumiu novas desenvolvimento da personalidade humana e do for-
dimensões diante dos horrores decorrentes da II talecimento do respeito pelos direitos humanos e pe-
Guerra Mundial em meados do século XX, com a las liberdades fundamentais. A instrução promoverá
emergência do fenômeno do totalitarismo nazista e a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas
fascista. Ao final do conflito, a Declaração Universal as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará
dos Direitos Humanos (DUDH), aprovada em 1948, as atividades das Nações Unidas em prol da manu-
assume nesse momento pretensões globais e procura tenção da paz.
articular os direitos civis e políticos aos direitos eco-
nômicos, sociais e culturais, estabelecendo sua uni- Nos anos seguintes, a DUDH e também vários pactos,
versalidade, indivisibilidade e interdependência. Ou acordos e convenções foram ampliando a abrangência de
tais direitos e fortalecendo sua apropriação por meio dos
seja, incorporou-se na DUDH não apenas aquilo que
Estados signatários, valendo ressaltar, dentre eles:
se convencionou chamar de primeira geração de di-
• Convenção relativa à Luta contra a Discrimi-
reitos humanos, que consiste no direito às liberdades nação no Campo do Ensino (1960);
fundamentais – de locomoção, religião, pensamento, • Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políti-
opinião, aprendizado, voto –, mas também os direi- cos (1966);
tos de segunda geração, que abrangem os direitos • Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
econômicos, sociais e cultuais como educação, saú- Sociais e Culturais (1966);
de, oportunidades de trabalho, moradia, transporte, • Convenção Internacional sobre a Eliminação
previdência social, participação na vida cultural da de todas as Formas de Discriminação Racial
comunidade, das artes, manifestações artísticas. (1966);
• Convenção sobre a Eliminação de Todas as
A Declaração Universal dos Direitos Humanos Formas de Discriminação contra a Mulher
traz ainda, como objetivo comum a ser atingido por (1979);
todos os povos e nações, que o Estado, cada indiví- • Convenção sobre os Direitos da Criança
duo e cada órgão da sociedade se esforcem, por meio (1989);
19

• Convenção para proteção e promoção da diver- rismo que marca nossa sociedade, os trabalhos atuais
sidade de expressões culturais (2005). de direitos humanos vêm enfatizando quão reduzida é
esta perspectiva diante do que se entende hoje por direi-
Recentemente, foi acrescida à noção de direitos tos humanos. Essa é a concepção de direitos humanos
humanos também uma terceira geração de direitos, presente, por exemplo, no Plano Nacional de Direitos
que abrange o direito a um meio ambiente equilibra- Humanos (PNDH) aprovado pelo Governo Federal em
do e não poluído, uma qualidade de vida saudável, 1996 e, especialmente, no Plano revisado em 2002.
o direito à autodeterminação dos povos, direito ao
progresso, direito à paz, bem como a outros direitos No entanto, apesar dos avanços nas declarações de
difusos e coletivos, não mais restritos a indivíduos ou direitos, na elaboração do PNDH e na ampliação do
a grupos específicos, mas a toda a coletividade. conceito de direitos humanos, ainda são necessários es-
forços no sentido de sua materialização na sociedade
No início do século XXI, a noção contemporâ- brasileira, promovendo o fortalecimento de uma cultura
nea de direitos humanos com a qual se trabalha vem de direitos humanos no país nas várias esferas sociais.
abarcar todas as gerações de direitos, consideradas Um aspecto a ser enfrentado para que se alcance esse
igualmente fundamentais, sem hierarquizações, pre- objetivo relaciona-se com o reconhecimento de todo ci-
valecendo sua universalidade, indivisibilidade e inter- dadão brasileiro enquanto sujeito de direitos, capaz de
dependência, a partir de uma postura ativa do Estado participar das decisões do país. Para tanto, é fundamen-
como garantidor desses direitos. tal que se passe de uma cidadania passiva – aquela que
é outorgada pelo Estado, com a idéia moral da tutela e
A SOCIEDADE BRASILEIRA E do favor – para uma cidadania ativa – aquela que insti-
OS DIREITOS HUMANOS tui o cidadão como portador de direitos e deveres, mas
essencialmente criador de direitos para abrir espaços de
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 repre- participação e possibilitar a emergência de novos sujei-
senta o principal marco jurídico do processo de tran- tos políticos (cf. Benevides, 1998, p.150).
sição democrática e de institucionalização dos direi- Há que se atentar também em nosso país para a hie-
tos humanos. Ao instituir o Estado Democrático de rarquização entre tipos diferentes de cidadãos de acordo
Direito, define como seus fundamentos a soberania, a com a classe social à qual pertencem, sendo ainda comum
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores a criminalização da pobreza e a associação generalizada
do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo polí- das classes populares ao banditismo e à violência:
tico. Vale ainda ressaltar que a República Federati- As classes populares são geralmente vistas como
va no Brasil, regendo-se em suas relações nacionais ‘classes perigosas’, ameaçadoras pela feiúra da miséria,
e internacionais pelo respeito aos direitos humanos, ameaçadoras pelo grande número, ameaçadoras pelo
traz como seus objetivos fundamentais, dentre ou- possível desespero de quem nada tem a perder, e, assim,
tros, a erradicação da pobreza e da marginalização consolida-se o ‘medo atávico das massas famintas’. (...)
e a redução das desigualdades sociais e regionais. In- Esta é uma maneira de circunscrever a violência, que
dica, desse modo, sua consonância com a concepção existe em toda a sociedade, apenas aos ‘desclassifica-
contemporânea de direitos humanos, que abrange a dos’, que, portanto, mereceriam todo o rigor da polícia,
garantia não apenas de direitos políticos e civis, mas da suspeita permanente, da indiferença diante de seus
também de direitos econômicos, sociais e culturais. legítimos anseios (Benevides, 2004, p. 50).
Associados no regime militar à defesa dos direitos
de presos políticos, diante da violência institucional A construção e a consolidação de uma cultura em
praticada pelo Estado, os direitos humanos no Brasil direitos humanos no Brasil implicam, desse modo,
se estenderam aos presos comuns e acabaram por ser enfrentar essa série de desafios e contradições, ain-
identificados na sociedade como direitos de bandidos. da presente em nossa sociedade, que afeta todos os
Apesar de essa visão ainda predominar em alguns se- brasileiros em termos da sua qualidade de vida e
tores, inclusive como um legado histórico do autorita- das possibilidades de seu pleno desenvolvimento en-
20

quanto pessoa humana. A educação, nesse contexto, torna-se um elemento essencial para a construção da
aparece como um espaço privilegiado para a promo- democracia social.
ção dessa cultura de direitos humanos, contribuindo
para a difusão de atitudes, valores e práticas coe- Entendemos que tal forma de educação deve visar,
rentes com esses princípios, seja por meio da edu- também, ao desenvolvimento de competências para li-
cação escolar, no nível básico ou superior, seja pela dar com: a diversidade e o confl ito de idéias, as infl
educação não-formal, por meio da atuação de orga- uências da cultura e os sentimentos e emoções pre-
nizações da sociedade civil, pela mídia e os sistemas sentes nas relações do sujeito consigo mesmo e com o
de justiça e segurança. mundo à sua volta.

A EDUCAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA: Uma questão a ser apontada é que atualmente as


EIXOS TEMÁTICOS DA ÉTICA E DA DEMOCRACIA crianças e os adolescentes vão à escola para apren-
Ulisses F. Araújo2 der as ciências, a língua, a matemática, a história, a
física, a geografi a, as artes, e apenas isso. Não exis-
Em seu sentido tradicional, a cidadania expressa
te o objetivo explícito de formação ética e moral das
um conjunto de direitos e de deveres que permite aos
futuras gerações. Entendemos que a escola, enquanto
cidadãos e cidadãs o direito de participar da vida po-
instituição pública criada pela sociedade para educar
lítica e da vida pública, podendo votar e serem vota-
as futuras gerações, deve se preocupar também com a
dos, participando ativamente na elaboração das leis e
do exercício de funções públicas, por exemplo. Hoje, construção da cidadania, nos moldes que atualmente
no no entanto, o signifi cado da cidadania assume a entendemos. Se os pressupostos atuais da cidadania
contornos mais amplos, que extrapolam o sentido de têm como base a garantia de uma vida digna e a par-
apenas atender às necessidades políticas e sociais, e ticipação na vida política e pública para todos os seres
assume como objetivo a busca por condições que ga- humanos e não apenas para uma pequena parcela da
rantam uma vida digna às pessoas. população, essa escola deve ser democrática, inclusiva
e de qualidade, para todas as crianças e adolescentes.
Entender a cidadania a partir da redução do ser Para isso, deve promover, na teoria e na prática, as
humano às suas relações sociais e políticas não é co- condições mínimas para que tais objetivos sejam al-
erente com a multidimensionalidade que nos caracte- cançados na sociedade.
riza e com a complexidade das relações que cada um Mas como os valores são apropriados pelos su-
e todas as pessoas estabelecem com o mundo à sua jeitos? Adotamos a premissa de que os valores não
volta. Deve-se buscar compreender a cidadania tam- são nem ensinados, nem nascem com as pessoas. Eles
bém sob outras perspectivas, por exemplo, consideran-
são construídos na experiência signifi cativa que as
do a importância que o desenvolvimento de condições
pessoas estabelecem com o mundo. Essa construção
físicas, psíquicas, cognitivas, ideológicas, científi cas
depende diretamente da ação do sujeito, dos valores
e culturais exerce na conquista de uma vida digna e
implícitos nos conteúdos com que interage no dia-a-
saudável para todas as pessoas.
dia e da qualidade das relações interpessoais estabe-
Tal tarefa, complexa por natureza, pressupõe a lecidas entre o sujeito e a fonte dos valores.
educação de todos (crianças, jovens e adultos), a par-
tir de princípios coerentes com esses objetivos, e com Buscando atingir amplos espectros de atuação,
a intenção explícita de promover a cidadania pauta- entendemos que o trabalho de educação em valores
da na democracia, na justiça, na igualdade, na eqüi- que visam à construção da cidadania pode abarcar
dade e na participação ativa de todos os membros quatro grandes eixos temáticos que, de maneira ge-
da sociedade nas decisões sobre seus rumos. Dessa ral, confi guram campos principais de preocupação
maneira, pensar em uma educação para a cidadania da ética e da democracia nos dias atuais.

2
Professor da Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Pualo (UPS)
21

ÉTICA do professorado no trabalho, na convivência e nas


Na filosofia, o campo que se ocupa da refl exão atividades de integração. Uma escola democrática,
sobre a moralidade humana recebe a denominação de porém, deve possibilitar a participação como um
ética. Esses dois termos, ética e moral, têm signifi ca- envolvimento baseado no exercício da palavra e no
dos próximos e, em geral, referem-se ao conjunto de compromisso da ação. Quer dizer, uma participação
princípios ou padrões de conduta que regulam as rela- baseada simultaneamente no diálogo e na realização
ções dos seres humanos com o mundo em que vivem. dos acordos e dos projetos coletivos.

Uma educação ancorada em tais princípios, de A participação escolar autêntica une o esforço para
acordo com Puig (1998, p.15), deve converter-se em entender ao esforço para intervir. Dessa maneira, a esco-
um âmbito de reflexão individual e coletiva que permi- la precisa construir espaços de diálogo e de participação
ta elaborar racionalmente e autonomamente princípios no dia-a-dia de suas atividades curriculares e não-curri-
gerais de valor, princípios que ajudem a defrontar-se culares, de forma a permitir que estudantes, docentes e a
criticamente com realidades como a violência, a tortu- comunidade se tornem atores e atrizes efetivos, de fato,
ra ou a guerra. De forma específica, para esse autor, da construção da cidadania participativa.
a educação ética e moral deve ajudar na análisecrítica
da realidade cotidiana e das normas sociomorais vi- EXPERIÊNCIAS
gentes, de modo que contribua para idealizar formas Como as das assembléias escolares, dos grêmios
mais justas e adequadas de convivência. estudantis e dezenas de outros modelos de práticas
de cidadania, que vêm sendo implementados em es-
Ainda na linha de compreensão do papel da educa- colas públicas e privadas de todo o País, fornecem a
ção para a formação ética dos seres humanos, Cortina matéria-prima para que, de forma democrática, os
(2003, p.113) entende que a educação do cidadão e conflitos cotidianos sejam enfrentados nas escolas,
da cidadã deve levar em conta a dimensão comunitária permitindo a construção de valores de ética e de ci-
das pessoas, seu projeto pessoal e também sua capaci- dadania por parte dos membros da comunidade que
dade de universalização, que deve ser exercida dialogi- vivem dentro e no entorno escolar.
camente, pois, dessa maneira, elas poderão ajudar na
construção do melhor mundo possível, demonstrando
DIREITOS HUMANOS
saber que são responsáveis pela realidade social.
De forma específi ca, lidar com a dimensão comuni- De acordo com Tugendhat (1999, p.362), o com-
tária, dialogar com a realidade cotidiana e as normas portamento moral e ético consiste em reconhecer o
sociomorais vigentes nos remete ao trabalho com a di- outro como sujeito de direitos iguais e, dessa forma,
versidade humana, à abordagem e ao desenvolvimento as obrigações que temos em relação ao outro corres-
de ações que enfrentem as exclusões, os preconceitos pondem, por sua vez, a direitos. Complementando,
e as discriminações advindos das distintas formas de demonstra que todos os seres humanos, independen-
defi ciência, e pelas diferenças sociais, econômicas, temente de suas peculiaridades e papéis específi cos
psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideoló- na sociedade, têm determinados direitos simplesmen-
gicas e de gênero. Conceber esse trabalho na própria te enquanto seres humanos.
comunidade onde está localizada a escola, no bairro e
no ambiente natural, social e cultural de seu entorno, é Benevides (2004), ao tratar do tema dos direitos
essencial para a construção da cidadania efetiva. humanos, discute sua universalidade e a concepção
de que são naturais e, ao mesmo tempo, históricos.
CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA Partindo de formas de compreensão como as citadas
Puig (2000, p.33) entende que uma escola de- acima e como resultado do esforço da comunidade in-
mocrática define-se pela participação do alunado e ternacional para estabelecer parâmetros que possam
22

balizar as ações das diferentes culturas com relação e comunidade, pode facilitar o desenvolvimento do
ao que se considera como razoável quanto ao respeito respeito mútuo, do apoio mútuo e do aproveitamento
aos direitos fundamentais dos seres humanos, foi que dessas diferenças para melhorar nossa sociedade. É
a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou, durante seus anos de formação que as crianças ad-
em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Hu- quirem o entendimento das diferenças, o respeito e o
manos. Esse documento, em sua base, reconhece três apoio mútuos em ambientes educacionais que promo-
dimensões dos direitos humanos: 1) as liberdades in- vem e celebram a diversidade humana.
dividuais, ou o direito civil; 2) os direitos sociais; e 3)
os direitos coletivos da humanidade.
A construção de sociedades e escolas inclusivas,
abertas às diferenças e à igualdade de oportunidades
Os princípios presentes na Declaração Universal
para todas as pessoas, é um objetivo prioritário da
dos Direitos Humanos (DUDH) situam-se na confl
educação nos dias atuais. Nesse sentido, o trabalho
uência democrática entre os direitos e liberdades in-
com as diversas formas de defi ciências e uma ampla
dividuais e os deveres para com a comunidade em que
se vive. Juntamente à forma coletiva de acordo com a discussão sobre as exclusões geradas pelas diferen-
qual foi elaborada, a Declaração pode ser compreen- ças social, econômica, psíquica, física, cultural, ra-
dida como a base para o que vem sendo chamado de cial, de gênero e ideológica, devem ser foco de ação
valores universalmente desejáveis. das escolas. Buscar estratégias que se traduzam em
melhores condições de vida para a população, na
Dessa maneira, a DUDH pode ser um guia de re- igualdade de oportunidades para todos os seres hu-
ferência para a análise dos confl itos de valores vi- manos e na construção de valores éticos socialmente
venciados em nosso cotidiano e para a elaboração de desejáveis por parte dos membros das comunidades
programas educacionais que objetivem uma educação escolares é uma maneira de enfrentar essas exclu-
em valores. Se quisermos, portanto, promover uma sões e um bom caminho para um trabalho que visa à
educação ética e voltada a para a cidadania, devemos democracia e à cidadania.
partir de temáticas signifi cativas do ponto de vista
ético (como é o caso daquelas contidas na DUDH), Sustentado na discussão ampla desses quatro
propiciando condições para que os alunos e alunas eixos temáticos estrutura-se o “Programa Ética e
desenvolvam sua capacidade dialógica, tomem cons- Cidadania: construindo valores na escola e na so-
ciência de seus próprios sentimentos e emoções, e de- ciedade” e essa publicação, arquitetada a partir da
senvolvam a autonomia para tomada de decisão em organização multitemática, cujo objetivo é contribuir
situações confl itantes do ponto de vista ético/moral. para que educadores comprometidos possam traba-
lhar na escola e na sociedade a ética, a convivência
INCLUSÃO SOCIAL democrática, os direitos humanos, a inclusão social e
De acordo com Barth, (1990, p. 514-515), as dife- as relações entre escola e comunidade.
renças representam grandes oportunidades de apren-
dizado. Para ele, o que é importante nas pessoas – e Essa publicação reúne cinco produções, a saber:
nas escolas – é o que é diferente, não o que é igual. Inclusão escolar: desafios e possibilidades, de Maria
Para Stainback (1999), a total inclusão de todos os Terezinha C.Teixeira dos Santos; Educação e Direitos
membros da humanidade, de quaisquer raças, religi- Humanos: formação de professores e práticas esco-
ões, nacionalidades, classes socioeconômicas, cultu- lares, de José Sérgio F. de Carvalho; Ética e Edu-
ras ou capacidades, em ambientes de aprendizagem cação, Texto extraído dos Parâmetros Curriculares
23

Nacionais - MEC; A construção de relações e espaços to pessoal e também sua capacidade de universaliza-
democráticos no âmbito escolar, de Valéria Amorim ção, que deve ser exercida dialogicamente pois, dessa
Arantes; Escola, democracia e cidadania, de Lúcia maneira, poderão ajudar na construção do melhor
Helena Lodi e Ulisses F. Araújo. mundo possível, demonstrando saber que são respon-
sáveis pela realidade social. De forma específi ca, li-
INCLUSÃO ESCOLAR: DESAFI OS
dar com a dimensão comunitária e o diálogo com a
E POSSIBILIDADES
realidade cotidiana e as normas sociomorais vigentes
A construção de sociedades e escolas inclusivas, nos remete ao trabalho com a diversidade humana e
abertas às diferenças e à igualdade de oportunida- a abordar e desenvolver ações que enfrentem as ex-
des para todas as pessoas, é um objetivo prioritá- clusões, os preconceitos e as discriminações advindos
rio da educação nos dias atuais. Nesse sentido, o
das distintas formas de defi ciência, e pelas diferen-
trabalho com as diversas formas de defi ciências
e com as exclusões geradas pelas diferenças so- ças sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais,
cial, econômica, psíquica, física, cultural, racial, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero.
de gênero e ideológica devem ser foco de ação das
escolas. Buscar estratégias que se traduzam em A CONSTRUÇÃO DE RELAÇÕES E
melhores condições de vida para a população, na ESPAÇOS DEMOCRÁTICOS NO
igualdade de oportunidades para todos os seres
ÂMBITO ESCOLAR
humanos e na construção de valores éticos social-
mente desejáveis por parte dos membros das comu- Na escola, os distúrbios disciplinares, a violência
nidades escolares é uma maneira de enfrentar essa e o autoritarismo nas relações interpessoais são al-
situação e um bom caminho para um trabalho que guns dos maiores problemas sociais da atualidade e
visa à democracia e à cidadania. vêm comprometendo a busca por uma educação de
qualidade. São fenômenos complexos, cujo enfrenta-
EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: mento requer disposição e preparo para buscar cami-
FORMAÇÃO DE PROFESSORES nhos nãoautoritários.
E PRÁTICAS ESCOLARES
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por Enfrentar esses fenômenos exige dos profi ssionais
conter o consenso da comunidade internacional sobre da educação uma nova postura, democrática e dialógi-
os direitos considerados fundamentais o ser humano, ca, que entenda os alunos e as alunas não mais como
pode ser um guia de referência para a análise dos confl sujeitos passivos ou adversários que devem ser venci-
itos de valores vivenciados em nosso cotidiano e para dos e dominados. O caminho está no reconhecimento
a elaboração de programas educacionais que objetivem dos estudantes como possíveis parceiros de uma cami-
uma educação em valores. Se quisermos, portanto, pro- nhada política e humana que almeja a construção de
mover uma educação ética e voltada para a cidadania, uma sociedade mais justa, solidária e feliz.
devemos partir de temáticas signifi cativas do ponto de
vista ético (como é o caso daquelas contidas na DUDH),
ESCOLA, DEMOCRACIA E CIDADANIA
propiciando condições para que os alunos e alunas de-
senvolvam sua capacidade dialógica e desenvolvam a A base de sustentação das ações de ética e de ci-
capacidade autônoma de tomada de decisão em situa- dadania pode ser a organização e funcionamento em
ções confl itantes do ponto de vista ético/moral. cada escola do Fórum Escolar de Ética e de Cidada-
nia. Esse fórum tem como papel essencial articular os
diversos segmentos da comunidade escolar para que
ÉTICA E EDUCAÇÃO
se disponham a atuar no desenvolvimento de ações
A educação do cidadão e da cidadã deve levar em mobilizadoras em torno das temáticas de ética e de
conta a dimensão comunitária das pessoas, seu proje- cidadania no convívio escolar.
25

EDUCAÇÃO AMBIENTAL
A população humana vem crescendo em ritmo sem comprometer as possibilidades das futuras ge-
cada vez mais acelerado. Levou cerca de 1800 anos rações atenderem às suas próprias necessidades. A
para que a população humana atingisse o número de EA passa a ser assim, uma importante ferramenta
um bilhão de habitantes, porém em apenas cento e para a construção de um desenvolvimento associado
vinte anos, em 1920, completou-se o segundo bilhão. à sustentabilidade ambiental.
Em 1960, já se somavam 3 bilhões de habitantes e
em apenas quatorze anos esse número passou para A educação ambiental (EA) reforça na educa-
4 bilhões. Treze anos depois o quinto bilhão e agora, ção uma proposta de rediscussão da sociedade, da
na virada do milênio, já somos 6,5 bilhões. A cada natureza e da vida (Loureiro, 2002). A partir de
dia ocorre um crescimento médio de 350 mil habi- 1972 a EA começa a ser tratada como política pú-
tantes no planeta, mais ou menos 300 por minuto, blica (Conferência de Estocolmo) em vários países,
5 por segundo... já no Brasil essa discussão tem início no ano se-
guinte (1973) com a criação da Secretaria Espe-
Somado a esse crescimento desordenado está o cial do Meio Ambiente (SEMA), sendo responsável,
consumo, que apenas nos últimos 50 anos multiplicou- dentre outras coisas, pela sensibilização inicial da
se por seis, o que resulta em uma elevada geração de sociedade para as questões ambientais. Em 1981,
resíduos sólidos. Isso ocorre como resultado do nosso foi sancionada a Lei nº 6938 que estabeleceu a ne-
ciclo de vida e modelo de consumo e produção pratica- cessidade de inclusão da EA em todos os níveis de
dos, interferindo diretamente nas condições de saúde e ensino, inclusive na educação da comunidade, com o
qualidade ambiental dos aglomerados humanos.
intuito de capacitá-la à participação ativa na defesa
do meio ambiente. A Constituição Federal de 1988
Estudos indicam que no mundo são produzidas
reconhece o direito constitucional de todos os cida-
anualmente 400 milhões de toneladas de lixo, só no
dãos brasileiros à Educação Ambiental e atribui ao
Brasil são geradas 125.000 toneladas diariamen-
Estado o dever de promover a EA em todos os níveis
te. Desse total produzido no Brasil, apenas 3% vai
de ensino e a conscientização pública para a preser-
para a compostagem, 17% vai para os lixões, áreas
vação do meio ambiente.
destinadas ao acúmulo de lixo. No entanto a grande
maioria, 80%, é despejada no solo, a céu aberto,
ocupando terrenos baldios, fundos dos vales, con- Na Conferência Rio 92 é criada a agenda 21
taminando cursos d’água, atuando como fator de como um texto-chave para guiar governos e socieda-
degradação da qualidade das águas, da perda da des nas próximas décadas rumo ao estabelecimento
qualidade ambiental, comprometendo a qualidade de um novo modelo de desenvolvimento. Ela sugere
de vida das comunidades. ações, atores, metodologias e monitoramentos de
programas e reforça a EA como uma proposta de
A população humana vive em um ritmo tão ace- um esforço global para fortalecer atitudes, valores
lerado que muitas vezes não se dá conta do quanto e ações ambientalmente saudáveis. Nesse mesmo
o lixo que produz traz prejuízos ao meio ambiente. evento foi elaborado o Tratado de EA para socieda-
Há muitos anos tenta-se discutir um modelo de de- des sustentáveis e responsabilidade social, resultante
senvolvimento que traga harmonia entre as relações da Jornada de EA elaborado pelo fórum das ONGs.
econômicas e o bem-estar das sociedades e a gestão Esse tratado enfatiza o caráter crítico e emancipató-
racional e responsável dos recursos naturais (Carva- rio da EA e traz a noção de sociedades sustentáveis
lho & Guimarães, 2004). O termo desenvolvimento construída a partir de princípios democráticos, em
sustentável surgiu para explicar um modelo de desen- modelos participativos de gestão ambiental (Carva-
volvimento que atenda às necessidades do presente lho & Guimarães, 2002).
26

Ainda segundo Carvalho e Guimarães, para que da sociedade de consumo. Um problema que cresce
a Educação Ambiental pudesse ser implementada sistematicamente. Cada vez se produz mais lixo en-
como programa de governo, foi necessário atribuir- quanto as soluções, sejam de reciclagem ou disposi-
lhe duas dimensões: a formal – tratada nos sistemas ção final, são anti-econômicas e insuficientes devido
de ensino vinculados ao Ministério da Educação; e ao esgotamento de áreas próprias para este uso.”
a não formal – tratada pelas ações do Ministério do Precisamos no entanto rever este conceito, deixando
Meio Ambiente para abranger a parcela da socieda- de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua
de que não está na escola (técnicos, gestores etc.), totalidade, pois grande parte dos materiais que vão
incluindo o sistema de meio ambiente”. para o lixo podem (e deveriam) ser reciclados.

Em 1999 é promulgada a Lei nº 9.795 que esta- A temática sobre produção e tratamento de resíduos
belece a Política Nacional de Educação Ambiental gera um conflito sobre as distintas condições sociais hu-
(PNEA) e veio reforçar essas dimensões e qualificar manas: quem gera as sobras e quem vive delas. O geren-
o direito de todos à EA, indicando seus princípios e ciamento dos resíduos humanos deve, além de privilegiar
objetivos, responsáveis por sua implantação, nos âm- a redução de seus volumes, o combate ao desperdício e
bitos formal e não-formal, e suas principais linhas de a promoção da reutilização e da reciclagem destes resí-
ação. No seu artigo 1º define a EA “Entende-se por duos, mostrar que antes disso tudo é necessário que se
educação ambiental os processos por meio dos quais reduza o consumo de materiais que os geram.
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências A pedagogia dos 3 R’s advoga uma seqüência ló-
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem gica a ser seguida: a redução do consumo deve ser
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de priorizada sobre a reutilização e reciclagem; e depois
vida e sustentabilidade”. da redução do consumo, a reutilização deve ser prio-
rizada sobre a reciclagem (Layrargues, P.P.2002).
Em 2001 é promulgada a Lei nº 10.172 - Plano
Nacional de Educação (PNE) que trata da inclusão Atualmente já se fala em 5 R’s adicionando os
da EA como tema transversal, devendo ser imple- outros 2 Rs antes dos 3 já mencionados: Repensar
mentada no ensino fundamental e médio. Por fim o e Recusar: repensar a necessidade de consumo e os
Decreto nº 4281/02 regulamenta a Lei nº 9795/99, padrões de produção e descarte; recusar possibilida-
detalha suas competências, atribuições e mecanismos des de consumo desnecessário. Depois disso, reduzir,
nela definidos e cria o Órgão Gestor (Ministério do reutilizar e daí pensar na reciclagem. É claro que
Meio Ambiente e Ministério da Educação) responsá- a reciclagem tem o seu valor, mas é preciso, antes,
vel pela coordenação dessa Política. Nesse sentido, a trazer para a discussão e principalmente reflexão, a
EA vem avançando no desenvolvimento de uma cida- questão do consumo. Após repensar, recusar o que
dania responsável para a construção de uma socieda- não é realmente necessário, reduzir o consumo e o
de sadia e socialmente justa. desperdício e reutilizar o que for possível, aí sim, de-
vemos pensar na reciclagem.
Essa sociedade sadia passa por qualidade de vida
e sua discussão precisa incluir o problema do lixo, O termo reciclagem surgiu na década de 70, quando
considerado todo e qualquer resíduo proveniente das as preocupações ambientais passaram a ser tratadas
atividades humanas em aglomerações urbanas, sen- com maior rigor. A reciclagem é o retorno da matéria-
do comumente definido como aquilo que ninguém prima ao ciclo de produção do qual foi descartado. O
quer.. Como podemos discutir qualidade de vida com termo, porém, já vem sendo usado popularmente para
a quantidade de pessoas passando fome e vivendo em designar o conjunto de técnicas envolvidas nesse proces-
condições precárias? Pessoas vivem dentro do lixo so, desde a coleta dos materiais que se tornariam lixo
se alimentado muitas vezes dele. Segundo Zanetti (ou que já estão no lixo), passando pela sua separação e
(2006) “o lixo urbano é um dos maiores problemas o seu processamento. No Brasil apenas 2% do lixo é re-
27

ciclado, o que equivale a uma ínfima parte dos resíduos Segundo o Manual de Educação para o Consumo
sólidos produzidos, ainda mais quando comparado aos Sustentável, “a reciclagem é uma das alternativas
dados dos EUA e da união Européia onde a reciclagem de tratamento de resíduos sólidos mais vantajosas,
desses resíduos chega a 40% do total descartado. tanto do ponto de vista ambiental como do social.
Ela reduz o consumo de recursos naturais, poupa
Outro ponto que devemos deixar claro é a diferen- energia e água e ainda diminui o volume de lixo e
ça entre a reutilização e a reciclagem. A reutilização a poluição. Além disso, quando há um sistema de
é utilizar novamente um material antes de descartá- coleta seletiva bem estruturado, a reciclagem pode
lo. Essa ação é muito realizada em oficinas ditas de ser uma atividade econômica rentável. Pode gerar
reciclagem onde transformam os resíduos sólidos co- emprego e renda para as famílias de catadores de
letados em outros bens, como vassouras e brinque- materiais recicláveis, que devem ser os parceiros
dos. A reciclagem por sua vez é a transformação dos prioritários na coleta seletiva”.
produtos em matéria prima para se iniciar um novo
ciclo de produção-consumo-descarte. A reciclagem Ainda segundo esse Manual, a reciclagem co-
de materiais é muito importante, tanto para diminuir meça com a coleta seletiva, que é a separação e o
o acúmulo de dejetos, quanto para poupar a natureza recolhimento, desde a origem dos resíduos sólidos
da extração inesgotável de recursos, além de causar potencialmente recicláveis. Para tanto, é preciso a
menos poluição ao ar, à água e ao solo. parceria entre governos, empresas e sociedade civil,
par se “desenvolver políticas adequadas e desfazer
O consumidor cidadão participativo pode auxiliar preconceitos em torno dos aspectos econômicos e da
no processo de reciclagem. Se separarmos todo o lixo confiabilidade dos produtos reciclados”.
produzido em residências, empresas, órgãos públicos,
impedimos que a sucata se misture aos restos de ali- A realização da coleta seletiva está, basicamen-
mentos e resíduos não recicláveis, o que facilita seu te, alicerçada na informação. Ou seja, o conheci-
reaproveitamento pelas indústrias, além de também mento, por todos, dos benefícios advindos desse
diminuir a poluição ambiental. No entanto para que processo, cujo resultado mais expressivo deve ser
essa ação seja efetiva, é fundamental que a coleta uma atenção constante e um cuidado permanente
desse resíduo seja feita seletivamente. contra o desperdício.
29

AGENDA 21

E m todo o planeta, a desigualdade na distribuição


de renda e consumo, conseqüência de uma série
de práticas políticas e econômicas há muito empre-
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL X
CRESCIMENTO ECONÔMICO
gadas no sistema capitalista para o desenvolvimento Na Rio 92 o conceito de desenvolvimento susten-
global, provoca intensos desequilíbrios sociais, eco- tável foi consolidado como diretriz para a mudan-
nômicos e ecológicos. ça de rumo no desenvolvimento global. Por meio da
Agenda 21 Global, os 179 países presentes assumi-
Nesse contexto, grandes eventos internacionais ram o desafio de incorporar em suas políticas públi-
foram realizados visando a estabelecer uma melhor cas princípios capazes de conduzi-los na construção
forma de se construir um novo modelo de desenvolvi-
de sociedades sustentáveis.
mento que possa promover o atendimento às reais ne-
cessidades do conjunto da população, respeitando as Podemos dizer que, para a Agenda 21, desenvol-
limitações da biodiversidade e dos recursos naturais. vimento sem sustentabilidade não é desenvolvimen-
Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio to. Hoje, já não é novidade em estudos e pesquisas
Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1992 na a constatação de que o desenvolvimento não é puro
cidade do Rio de Janeiro – a Rio 923 –, a proposta e simplesmente resultado do crescimento econômico.
da sustentabilidade, nascida na Conferência de Esto- Ou, o crescimento (sustentado) não é, como se acredi-
colmo em 1972, foi consolidada como diretriz para a tava, a causa do desenvolvimento (sustentável).
mudança de rumo no desenvolvimento.
Nesse sentido, muitos estudiosos têm chamado a
A Agenda 21 foi o documento mais abrangente atenção para a diferença entre crescimento econômi-
que resultou da Rio 92 e selou um compromisso en- co e desenvolvimento econômico. O primeiro considera
tre as diferentes nações participantes. Apresentou-se, positivo apenas resultados numéricos como, por exem-
tanto para o poder público como para a sociedade plo, o aumento do Produto Interno Bruto – PIB, e o
civil e o setor econômico, como um instrumento, um segundo considera a sustentabilidade e o equilíbrio en-
guia para a promoção de ações que estimulassem o
tre os fatores sociais, econômicos e ambientais.
desenvolvimento sustentável no século XXI.
O pesquisador Ladislau Dowbor, da Universidade de
Característica importante da Conferência do Rio, em
contraste com a Conferência de Estocolmo, é sua orien- São Paulo – USP, em palestra realizada no V Congres-
tação para o desenvolvimento, ampliando o debate para so Ibero-americano de Educação Ambiental – Joinville,
além de uma agenda exclusivamente ambiental. Isto é, Santa Catarina –, exemplifica essa diferença dizendo
o enfoque desse processo de planejamento apresentado que “parece absurdo, mas o essencial da teoria eco-
com o nome de Agenda 21 não é restrito às questões nômica com a qual trabalhamos não considera a des-
ligadas à preservação e conservação da natureza, mas capitalização do planeta. Na prática, em economia
sim a uma proposta que rompe com o planejamento doméstica, seria como se sobrevivêssemos vendendo
com predominância do enfoque econômico. os móveis, a prata da casa, e achássemos que, com
esse dinheiro, a vida está boa e que, portanto, estarí-
A Agenda 21 considera ainda questões estratégi-
amos administrando bem a nossa casa. Estamos des-
cas ligadas à geração de trabalho e de renda; à dimi-
nuição das disparidades regionais e interpessoais de truindo o solo, a água, a vida nos mares, a cobertura
renda; às mudanças nos padrões de produção e con- vegetal, as reservas de petróleo, a camada de ozônio,
sumo; à construção de cidades sustentáveis; à adoção o próprio clima, mas o que contabilizamos é apenas
de novos modelos e instrumentos de gestão. a taxa de crescimento”. Reforça constatando que é

3
Outros importantes documentos aprovados durante a Rio 92 foram a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção sobre Diversidade Biológica e o Tratado de
Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis.
30

natural que nos preocupemos em fazer funcionar a ferramentas que ajudam a melhor colocar e entender a
máquina econômica, pois se a máquina não funciona problemática de nossas localidades. Mas, para isso, o
não vamos a lugar algum. No entanto, precisamos, fundamental é partir da própria realidade com sua cul-
também, nos preocupar com o “para onde vamos”. tura, tradições, desejos, potencialidades e restrições.
Ou seja: a ferramenta ajuda, mas quem constrói é o
Esse é um exemplo da forma de pensar a sustenta-
conjunto da sociedade, tendo como parâmetro básico
bilidade: com uma visão sistêmica (visão do conjun-
to) e de longo prazo. Ainda de acordo com Ladislau as características de seu território e as relações so-
Dowbor, “Quando limitamos as nossas análises a uma ciais, econômicas e culturais construídas.
comparação quantitativa com o trimestre anterior e A Agenda 21 no Brasil não entende o conceito de
com o trimestre equivalente do ano anterior, real- desenvolvimento sustentável como uma imposição do
mente torna-se possível ignorar muita coisa”.
mundo globalizado para as sociedades locais; ao con-
O Relatório Bruntland, publicado em 1987, tam- trário, enfatiza a importância do nível local, da parce-
bém conhecido como o Relatório “Nosso Futuro Co- ria governo e sociedade, como condição para o alcance
mum”, lançou as bases para a discussão do desenvol- da sustentabilidade. O desafio é grande, mas o bom
vimento sustentável sugerindo a conciliação entre o senso mostra que é impossível termos soluções am-
crescimento econômico, proteção ambiental e justiça bientais dissociadas das sociais, econômicas, culturais
social. Os autores afirmam: “Tomamos um capital e éticas. Para este século XXI, precisamos agendar
ambiental emprestado às gerações futuras, sem qual- compromissos inadiáveis com a mudança nos padrões
quer intenção ou perspectiva de devolvê-lo. Os efeitos de produção e consumo; com a geração de trabalho e
da dissipação atual estão rapidamente acabando com renda; com o uso racional de nossos recursos naturais
as opções das gerações futuras. Muitos dos responsá- e com a justiça social, dentre outros. Não há como al-
veis pelas decisões tomadas hoje estarão mortos an- terar os padrões de produção e consumo do território
tes que o planeta venha a sentir os efeitos mais sérios
rumo à construção de sociedades sustentáveis se não
da chuva ácida, do aquecimento da Terra, da redução
alterarmos as relações de poder dentro desse mesmo
da camada de ozônio, da desertificação generalizada
ou da extinção das espécies”. território. Para isso, é preciso estabelecer instrumen-
tos de democracia participativa, cidadania ativa e mo-
Junto à necessidade de se pensar a dimensão am- delos de gestão compartilhada.
biental do desenvolvimento, o Relatório Bruntland
coloca a dimensão social dos processos econômicos: AGENDA 21 BRASILEIRA
“A pobreza é uma das principais causas e um dos
principais efeitos dos problemas ambientais no mun- Em 1997, em atendimento ao acordado na Rio
do. Portanto, é inútil tentar abordar esses problemas 92, à pressão de setores sociais e à proximidade da
sem uma perspectiva mais ampla, que englobe os fa- Rio + 5, o Governo Brasileiro, sob o protagonismo do
tores subjacentes à pobreza mundial e à desigualda- Ministério do Meio Ambiente, iniciou os movimentos
de internacional (...) A ecologia e a economia estão necessários à construção da Agenda 21 Brasileira.
cada vez mais entrelaçadas – em âmbito local, re- Logo a seguir, foi criada a Comissão de Políticas
gional, nacional, mundial – numa rede inteiriça de para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 21
causas e efeitos”. Nacional – CPDS, com a missão de coordenar o pro-
Neste início de século, teóricos ainda debatem cesso de construção da Agenda 21. Dez anos depois
a melhor definição para o conceito de desenvolvi- da Conferência de 1992, em junho de 2002, momen-
mento sustentável. Mas o que a prática tem nos to em que se aproximava a Conferência de Joanes-
mostrado é que, independentemente das nuances burgo – Rio + 10, o Brasil concluiu sua Agenda 21.
acadêmicas, o conceito tem sido aceito para definir A partir das propostas iniciais da CPDS, da contri-
a busca de um novo paradigma de desenvolvimen- buição de especialistas temáticos e de consultas es-
to. O importante é que os grupos sociais que forem taduais e regionais, foi entregue à sociedade ações
trabalhar o conceito compreendam que conceitos são e recomendações precisas para serem traduzidas em
31

compromissos éticos e políticos. Vale aqui mencionar construção da sustentabilidade brasileira.


que o processo de elaboração da Agenda 21 Brasi- No “Ações Prioritárias”, a CPDS enumera os desa-
leira envolveu cerca de 40 mil pessoas, direta e in- fios emergenciais a serem enfrentados pela sociedade
diretamente, e foi a primeira grande experiência de brasileira rumo a um novo desenvolvimento. As pro-
planejamento participativo desenvolvida no País no postas apresentadas nesse documento estão organiza-
período posterior à Constituição Federal de 1988. das em 21 objetivos estratégicos que se emolduram sob
temas como: a economia da poupança na sociedade do
Para a construção da Agenda 21 Brasileira, a conhecimento, a inclusão social por uma sociedade so-
CPDS tomou por base a Agenda 21 Global, mas de- lidária, a estratégia para a sustentabilidade urbana e
finiu metodologia que deixou clara a necessidade de rural, os recursos naturais estratégicos – água, biodi-
seguirmos caminho próprio, que considerasse nossas versidade e florestas – e a governança e ética para a
potencialidades e vulnerabilidades. A metodologia de promoção da sustentabilidade.
trabalho aprovada pela CPDS selecionou as áreas te-
máticas e determinou a forma de consulta e constru- A Agenda 21 Brasileira reconhece que é indispen-
ção do documento Agenda 21 Brasileira. A escolha sável o papel do Estado na construção do processo de
dos temas centrais foi feita de forma a compreender desenvolvimento sustentável no Brasil. O Estado deve
a complexidade do País e suas regiões dentro do con- servir como gestor dos interesses das futuras gerações,
ceito da sustentabilidade. São eles: agricultura sus- por meio de políticas públicas que utilizem mecanismos
tentável, cidades sustentáveis, ciência e tecnologia regulatórios ou de indução e controle do mercado, adap-
para o desenvolvimento sustentável, gestão dos re- tando a estrutura de incentivos a fim de garantir o uso
cursos naturais, infra-estrutura e integração regional racional de nossos recursos e, portanto, condições satis-
e redução das desigualdades sociais. fatórias de vida para esta e para as futuras gerações.

Para a CPDS, a Agenda 21 não deve ser entendida Por fim, a Agenda 21 Brasileira procura estabele-
apenas como um documento. Nem como um recei- cer equilíbrio negociado entre os objetivos e as estra-
tuário mágico, com fórmulas para resolver todos os tégias das políticas ambientais e de desenvolvimento
problemas econômicos, ambientais, sociais, culturais econômico e social, para consolidá-los num processo
e étnicos; e sim como um processo de participação de desenvolvimento sustentável. Esse esclarecimento
em que a sociedade, os governos, os setores econômi- é indispensável, uma vez que os planos de desenvolvi-
cos e sociais sentam-se à mesa para diagnosticar os mento no Brasil tendem, em geral, a listar objetivos
problemas, entender os conflitos envolvidos e pactuar e diretrizes potencialmente conflitivos sem explicitar
formas de resolvê-los. para o poder público os valores e preferências envol-
vidos. O processo de planejamento particpativo per-
Nesse sentido, a Agenda 21 Brasileira foi elabo- mite negociação entre os atores envolvidos, reduzin-
rada considerando que o desenvolvimento pressupõe do conflitos e permitindo maior convergência entre
um processo de inclusão social, com uma vasta gama objetivos e soluções que visam o interesse coletivo.
de oportunidades e opções para as pessoas, entenden-
do também que não pode haver desenvolvimento en- A partir de 2003, os 21 objetivos estratégicos
quanto houver iniqüidades sociais crônicas no nosso da Agenda 21 Brasileira foram incorporados ao
País e se as formas de uso dos recursos ambientais no Plano Plurianual de Governo – PPA 2004/2007 sen-
presente comprometerem os níveis de bem-estar das do, ainda, constituído o Programa Agenda 21 no Mi-
gerações futuras. nistério do Meio Ambiente, que para viabilizar suas
metas e objetivos estruturou-se em três ações: (i) im-
A Agenda 21 Brasileira resulta da composição de plementar a Agenda 21 Brasileira; (ii) promover a
dois documentos distintos: “Agenda 21 Brasileira – Re- elaboração e implementação de Agendas 21 Locais e
sultado da Consulta Nacional”, que traz as propostas e (iii) formação continuada em Agenda 21 Local.
demandas resultantes dos diferentes debates estaduais
e regionais e “Agenda 21 Brasileira – Ações Priori- As ações do Programa passam a privilegiar o for-
tárias”, que estabelece os caminhos preferenciais da talecimento da população no nível local, visando re-
32

forçar os processos participativos – essenciais para a pelas decisões tomadas.


Agenda 21, a qual propõe a cidadania ativa – , onde
diferentes grupos sociais estudem, analisem e discu- Essa nova forma de pensar a gestão pública, essa
tam os problemas de seu bairro, comunidade, cidade, parceria entre governo e sociedade civil é o caminho
bacia hidrográfica, bioma, estado e país para juntos para concretizar a democracia participativa e a cida-
desenharem um cenário de futuro desejável, onde dania ativa. Para tal, é necessário difundir e disponibi-
cada parceiro tenha clara sua parcela de responsa- lizar a todos os setores e grupos da população meios e
bilidade e os meios necessários para a implementa- instrumentos para uma participação ativa e qualifica-
ção das ações consensuadas pelo grupo. da, pois na discussão da sustentabilidade precisamos
incluir a cada dia um número maior de pessoas, dos
AGENDA 21 LOCAL menores aos maiores municípios de nosso País.
Tanto a Agenda 21 Global como a Agenda 21 Bra-
sileira dedicaram capítulos especiais à Agenda 21 Nada melhor para qualificar esse anseio como o
Local, ou seja, reconheceram a importância do nível preâmbulo da Carta da Terra, o referencial ético da
local na promoção do desenvolvimento sustentável. Agenda 21:

“... para seguir adiante, devemos reconhecer


É importante ressaltar o entendimento de que
Agenda 21 Local não é uma ação, um projeto especí- que, no meio da uma magnífica diversidade de
fico, e sim um processo de planejamento participativo culturas e formas de vida, somos uma família hu-
que envolve a implantação de um Fórum da Agenda mana e uma comunidade terrestre com um desti-
21, composto por governo e sociedade civil, respon- no comum. Devemos somar forças para gerar uma
sável pela construção de um Plano Local de Desen- sociedade sustentável global baseada no respeito
volvimento Sustentável que reflita os anseios, desejos pela natureza, nos direitos humanos universais,
e necessidades locais por meio de projetos e ações de na justiça econômica e numa cultura da paz. Para
curto, médio e longo prazos, com os respectivos meios chegar a este propósito, é imperativo que nós, os
de implementação e as responsabilidades do governo e povos da Terra, declaremos nossa responsabilida-
demais setores da sociedade local na implementação, de uns para com os outros, com a grande comuni-
acompanhamento e revisão desses projetos e ações. dade da vida e com as futuras gerações”.

Para a Agenda 21, o conceito de Desenvolvimento O esforço de planejar presente e futuro, com base
Local Sustentável está bem elaborado pela Professora nos princípios da Agenda 21, estimula o exercício da ci-
Tania Zapata4, ou seja, sugere transformação de es- dadania, gera inserção social e cria oportunidades para
truturas e de sistemas visando a uma melhora durável que sociedade e governo possam definir prioridades nas
da qualidade de vida da comunidade. Não se trata de políticas públicas que levem, dentre outros, à mudança
um simples arranjo local, como, por exemplo, a reso- nos padrões de produção e consumo; à geração de tra-
lução de alguns problemas específicos. O conceito de balho e renda e ao uso racional dos recursos naturais.
desenvolvimento local se apóia na idéia de que as loca-
lidades e territórios dispõem de recursos econômicos, A construção do conhecimento é tarefa decisi-
humanos, institucionais, ambientais e culturais, além va. Permite conhecer a realidade e as formas com-
de economias de escala não exploradas, que consti- petentes de transformá-la, os caminhos eficazes
tuem seu potencial de desenvolvimento. para a conservação dos recursos naturais e para
a preservação da vida das pessoas e do ambiente
Desenvolvimento Local Sustentável é, portanto, que as cerca. O conhecimento permite que cada
um processo orgânico, um fenômeno humano, não cidadão possa exercer a função de agente trans-
padronizado. Envolve os valores e os comportamen- formador ao ter consciência do papel ambiental,
tos dos participantes e a participação é entendida econômico, social, cultural e político que desem-
como o processo de tomar parte e se responsabilizar penham em sua comunidade.
4
ZAPATA, T. Referências conceituais do desenvolvimento local. Revista SEBRAE, nº 08, março/abril de 2003. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/revistasebrae/08/
artigodecapa_03.htm.
33

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
Ana Carla L. Almeida5

O processo econômico decorrente da globalização,


as transformações políticas e sociais mundias, a
inovação tecnológica e científica e, mais recentemen-
cioambiental que buscam trazer a sustentabilidade
ambiental do discurso para a prática. Essas dificul-
dades fazem com que seja notória a necessidade
te, os impactos das mudanças climáticas, têm evi- de mudança não apenas na postura, mas nos resul-
denciado a importância e a fragilidade da agenda tados obtidos a partir da implementação das diver-
socioambiental global e, ao mesmo tempo, destaca- sas iniciativas denominadas socioambientais, mas
do a preocupação de governos e sociedade, princi- que não englobam de uma forma sistêmica todas
palmente no que diz respeito à necessidade de revi- as suas dimensões (econômica, social, ambiental,
são dos atuais padrões insustentáveis de produção política e cultural).
e consumo e modelos econômicos adotados pelos
países desenvolvidos e economias emergentes, como As questões que remetem à Responsabilidade So-
é o caso do Brasil. cioambiental (RSA) são globais e sua compreensão é
diferente por parte das empresas e instituições (go-
Nos últimos anos, o modelo econômico globali- vernamentais ou não), dependendo dos impactos e
zado tem sofrido críticas severas, principalmente no da influência dos desafios econômicos, sociais e am-
que diz respeito ao acirramento das desigualdades bientais a serem enfrentados, bem como dos padrões
regionais. O movimento “anti-globalização”, por internacionais e nacionais adotados como referência
exemplo, tem atuado em resposta à globalização dos para o desenvolvimento em cada um dos diferentes
mercados pelas grandes corporações transnacionais, países. Entretanto, a importância da criação e ado-
colocando-se em oposição ao “abuso da globalização ção de políticas e programas de RSA aumentou e
e das instituições internacionais que promovem o pode ser considerada, em grande medida, como resul-
neoliberalismo sem consideração aos padrões éti- tado do processo desigual e desequilibrado de globa-
cos”. O movimento tem realizado protestos interna- lização das economias bem como da pressão exercida
cionais forçando a inclusão de tópicos globais e dos por organizações e movimentos sociais.
impactos sociais e ambientais nas agendas das cor-
porações e dos órgãos públicos, com vistas a mudar Apesar da crescente importância do tema obser-
os atuais padrões de crescimento e políticas econô- vada nos últimos anos, a noção de responsabilidade
micas desenvolvidas. social não é nova e, desde os anos 80, faz parte de
uma agenda voluntária do setor empresarial rela-
Desde a Declaração de Estocolmo, vários são os cionada ao desenvolvimento de projetos e ações de
tratados, convenções internacionais, discursos e ar- cunho social. A partir de 1990, o número de iniciati-
gumentos a favor do desenvolvimento sustentável e vas e as discussões relacionadas ao tema se expandi-
da conservação ambiental. É evidente que muitos re- ram e atualmente – como mencionado anteriormente
conhecem a sua importância e não se pode negar que – o assunto faz parte da agenda internacional, não
muitas ações importantes foram executadas e outras apenas restrita ao setor empresarial, mas também no
estão em execução, entretanto, a efetividade de todas âmbito das instituições governamentais que, cada vez
as iniciativas deve ser melhor avaliada, com vistas ao mais, têm participado como ator do processo, inclu-
seu aperfeiçoamento e efetividade. sive criando estruturas de governo específicas para
tratar do tema.
No Brasil, a extensão territorial é um dos fatores
a ser considerado para a avaliação das limitações e No âmbito do setor empresarial, a responsabili-
fragilidades de programas e projetos de caráter so- dade social das empresas é, essencialmente, um con-

5
Analista Ambiental (MMA).
34

ceito que expressa a decisão de contribuir voluntaria- A Declaração Universal dos Direitos Humanos,
mente em prol de uma sociedade melhor e um meio adotada em 1948, é um dos documentos básicos
ambiente mais equilibrado e sadio. Os compromissos das Nações Unidas e nela estão enunciados os di-
assumidos de forma voluntária pelas empresas vão reitos que todos os seres humanos possuem. A de-
além das obrigações legais, regulamentares e conven- claração tem sido usada como princípio e guia das
cionais que devem obrigatoriamente ser cumpridas. atividades empresariais consideradas socialmente
As empresas que optam por investir em práticas de responsáveis.
responsabilidade social elevam os níveis de desenvol-
vimento social, proteção ao meio ambiente e respeito “Todos os seres humanos nascem livres e
aos direitos humanos e passam a adotar um modo de iguais em dignidade e direitos. São dotados
de razão e consciência e devem agir em re-
governança aberto e transparente que concilia inte-
lação uns aos outros com espírito de frater-
resses de diversos agentes em um enfoque global de nidade.” (Artigo I da Declaração Universal
qualidade e viabilidade. dos Direitos Humanos)

Muitas empresas A Declaração da Organização Internacional do


têm desenvolvido os Trabalho – OIT sobre os princípios e direitos fun-
seus programas de damentais no trabalho foi adotada em junho de
responsabilidade so- 1998, e se trata de uma reafirmação universal do
cial segundo a abor- compromisso dos Estados Membros e da comunida-
dagem do “tripple de internacional em geral de respeitar, promover e
bottom line”, que se aplicar um patamar mínimo de princípios e direitos
constitui na principal no trabalho, que são reconhecidamente fundamen-
ferramenta do Índice tais para os trabalhadores. Os princípios e direitos
de Sustentabilidade fundamentais incluem oito Convenções relacionadas
da Dow Jones (Dow a quatro áreas básicas: liberdade sindical e direito à
Jones Sustainability Index) da Bolsa de Valores de Nova negociação coletiva, erradicação do trabalho infan-
Iorque e do Índice de Sustentabilidade Social (ISE) da til, eliminação do trabalho escravo e não discrimi-
Bovespa. O conceito se refere a um conjunto de indica- nação no emprego ou ocupação.
dores utilizado para a avaliação do desempenho econô-
mico das empresas e das suas ações de responsabilidade A OIT foi fundada em 1919 com o objetivo de promo-
social e ambiental. ver a justiça social e é a única agência do Sistema das
Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual os re-
No cenário atual, a RSA deixou de ser um conceito presentantes dos empregadores e dos trabalhadores têm os
restrito aos projetos sociais de cunho filantrópico de al- mesmos direitos que os do governo.
gumas empresas e passou a envolver um espectro mais
amplo, com temas que integram acordos internacionais, Durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento
como é o caso da Declaração Universal dos Direitos
Social, realizada em 1995 em Copenhague, Dinamar-
Humanos, Declaração da Organização Internacional do
ca, os líderes mundiais assumiram o compromisso de
Trabalho (OIT), Agenda 21, Declaração de Copenhague
para o Desenvolvimento Social e as Metas do Milênio. erradicar a pobreza do mundo e estabeleceram um
Os princípios constantes desses acordos constituem o plano de ação. A Declaração de Copenhague reafir-
amplo escopo do conceito de RSA que ganhou expres- mou o compromisso da Organização das Nações Uni-
são mundial no ano de 1999, durante o Fórum Econô- das com o conceito de desenvolvimento sustentável
mico Mundial, realizado em Davos (Suíça), quando o (no qual as dimensões social, econômica e ambiental
então Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, estão intimamente entrelaçadas), assumindo a erra-
propôs aos líderes empresariais mundiais a adoção do dicação da pobreza “como um imperativo ético, so-
Pacto Global (“Global Compact”). cial, político e econômico”.
35

DECLARAÇÃO DE COPENHAGUE: Em relação ao Pacto Global, o mesmo foi formal-


COMPROMISSOS ASSUMIDOS mente lançado como uma iniciativa voluntária, em
• Criação de um ambiente econômico, político, 20 de julho de 2000, na Sede das Nações Unidas, ob-
social, cultural e legal que permitirá às pesso- jetivando promover valores universais junto ao setor
as alcançarem o desenvolvimento social; privado, contribuindo para a geração de um merca-
• Erradicação absoluta da pobreza com o esta- do global mais inclusivo e sustentável por meio da
belecimento de metas para cada país; implementação de princípios universais nas áreas
• Emprego universal como uma meta política de direitos humanos, direitos do trabalho, prote-
básica; ção ambiental e combate à corrupção. Participam
• Promover a integração social baseada na promo- da iniciativa mais de 5.000 instituições signatárias
ção e proteção dos direitos humanos de todos; articuladas por 150 redes ao redor do mundo, en-
• Igualdade entre os gêneros; volvendo agências das Nações Unidas, empresas,
• Acesso igualitário e universal à educação e sindicatos, organizações não-governamentais, entre
serviços de saúde primários; outros parceiros.
• Acelerar o desenvolvimento da África e países
menos desenvolvidos;
• Assegurar que programas de ajuste estrutural
incluam metas de desenvolvimento social;
• Aumentar os recursos destinados ao desenvol-
vimento social;
• Fortalecer a cooperação para o desenvolvi-
mento social através da ONU.

Em 2000, foi aprovada a Declaração do Milênio,


um compromisso político que sintetizou várias das
importantes conferências mundiais da década de 90,
articulou as prioridades globais de desenvolvimento e
definiu metas a serem alcançadas até 2015. O docu-
mento incluiu na pauta internacional de prioridades
temas fundamentais de direitos humanos sob a pers-
pectiva do desenvolvimento, especialmente direitos
econômicos, sociais e culturais.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)


privilegiaram uma perspectiva de acompanhamento
dos avanços, de metas e prioridades a alcançar, en-
quanto a perspectiva de direitos humanos tem uma vi-
são mais ampla – aborda tanto metas intermediárias
como metas integrais de fortalecimento de direitos,
abarcando assim a amplitude da dignidade humana.
36

Além das iniciativas internacionais, outras na- Além das iniciativas mencionadas neste texto, é
cionais e intersetoriais relacionadas ao tema e ao importante destacar ainda o atual processo de cons-
amplo escopo da RSA surgiram no mundo inteiro e trução da ISO6 26000, que buscará estabelecer um
têm envolvido e despertado o interesse não apenas padrão internacional de diretrizes de Responsabili-
do setor empresarial, mas também dos governos, em dade Social e, diferentemente da ISO 9001 e da ISO
diversos países, que cada vez mais tem incluído o 14001, não será uma norma para certificação. O
tema em suas agendas. processo atual de desenvolvimento da norma se dife-
rencia dos anteriores e está sendo realizado por meio
Da mesma forma que o conceito, as práticas re- da criação de grupos de trabalho multissetoriais que
lacionadas à responsabilidade socioambiental estão
envolvem a participação de representações dos traba-
em contínuo processo de construção e aperfeiço-
lhadores; consumidores; indústria; governo; e organi-
amento. Atualmente, existe um grande número de
zações não governamentais (ONGs).
ferramentas que estão sendo oferecidas como alter-
nativas para os setores empresarial e governamen-
tal com vistas a promover avanços em seus projetos, A ISO 26000 abordará como temas centrais: go-
tornando-os mais transparentes e incluindo a parti- vernança organizacional; direitos humanos; práticas
cipação social. do trabalho; meio ambiente; práticas leais (justas) de
operação; questões relativas ao consumidor e envol-
Em 2000, a Organização para Cooperação e De- vimento e desenvolvimento da comunidade.
senvolvimento Econômico (OCDE) publicou as “Di-
retrizes de Responsabilidade Social para Empresas Todas essas iniciativas internacionais têm sido tra-
Multinacionais” que estabeleceram princípios e duzidas como novos padrões, acordos, recomendações
padrões de cumprimento voluntário, com vistas a e/ou códigos de condutas adotados em diferentes pa-
uma conduta empresarial responsável das empre- íses, inclusive no Brasil, e fazem parte da agenda de
sas multinacionais e que têm sido utilizadas como responsabilidade socioambiental do setor empresarial
instrumento para desenvolvimento de programas de e de instituições governamentais, principalmente das
responsabilidade social das empresas. As Diretrizes empresas públicas e sociedades de economia mista.
representam recomendações voluntárias e não vin-
culam governos às empresas. RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
NO SETOR PÚBLICO
No Brasil, a Portaria do Ministério da Fazen-
da nº 92/MF, de 12 de maio de 2003, instituiu, no Os novos desafios globais e a necessidade de promo-
âmbito do MF, o Ponto de Contato Nacional para ver uma Agenda de Desenvolvimento “que atenda às
a Implementação das Diretrizes da OCDE para as necessidades do presente, sem comprometer a capaci-
Empresas Multinacionais – PCN, que possui, den- dade de as futuras gerações atenderem às suas próprias
tre outras atribuições, participar de conversações necessidades”, tendo como princípio a necessidade de
entre as partes interessadas em todas as matérias mudar comportamentos e adotar novas práticas éticas e
abrangidas pelas Diretrizes a fim de contribuir para responsáveis – tanto no setor empresarial como público
a resolução de questões que possam surgir no seu – destaca a importância da criação de políticas e pro-
âmbito; cooperar com os Pontos de Contatos Na- gramas de Responsabilidade Socioambiental (RSA).
cionais dos demais países em relação às matérias
abrangidas nas Diretrizes; e acompanhar e imple- Promover a RSA é um dos elementos essenciais para
mentar, no que couber, as Decisões do Conselho da o desenvolvimento sustentável e demanda a integração
OCDE sobre as Diretrizes. das mais diversas instituições que podem e devem ser
6
A International Organization for Standardization (isso), criada em 1946, é uma confederação internacional de órgãos nacionais de normalização de todo o mundo e promo-
ve normas e atividades que favoreçam a cooperação internacional nas esferas intelectual, científica, tecnológica e econômica. No Brasil, sua representante é a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
37

mais envolvidas nas discussões atuais. Sustentabilida- impactos negativos ao meio ambiente. Em outras pa-
de não pode ser um assunto somente para seminários lavras, a conservação racional dos recursos naturais e
ou produção de relatórios, mas sim um critério a ser a proteção contra a degradação ambiental deve contar
inserido em todas as atividades governamentais, sejam fortemente com a participação do poder público.
elas atividades meio ou finalísticas.
A participação das instituições públicas no pro-
O Plano de Governo (2007 a 2010) apresentou cesso de RSA é necessária e o Estado é o principal
o Programa Setorial de Meio Ambiente e Desenvol- interlocutor junto à sociedade, possuindo uma ampla
vimento – “Cuidando do Brasil” – que tem como responsabilidade e papel indutor fundamental para
compromisso central a distribuição de renda, edu- tornar as iniciativas atuais, e também as futuras, mais
cação de qualidade e sustentabilidade ambiental, transparentes, incitando a inserção de critérios de sus-
em observância aos princípios da Agenda 21 Brasi- tentabilidade em suas atividades e integrando as ações
leira. Foi estabelecida como prioridade a promoção sociais e ambientais com o interesse público.
do desenvolvimento com inclusão social e educação
de qualidade. Para alcançar esse objetivo, o governo Além da capacidade de indução, o poder de mobi-
tem elevado os investimentos em áreas consideradas lização de importantes setores da economia exercido
estratégicas para o crescimento econômico e espera pelas compras governamentais, que movimentam de
que a iniciativa possa atrair, da mesma forma, o in- 10 a 15% do Produto Interno Bruto (PIB), é inques-
vestimento privado para o desenvolvimento dos seto- tionável e deve ser usado para garantir a mudança e
res estratégicos. adoção de novos padrões de produção e de consumo
que reduzam os impactos socioambientais negativos
Para promoção do crescimento econômico em ba- gerados pela atividade pública, contribuindo para o
ses sustentáveis, o governo estabeleceu quatro princí- crescimento sustentável e promovendo a responsabi-
pios que têm orientado a política ambiental: desenvol- lidade socioambiental no âmbito do setor e, por sua
vimento sustentável, transversalidade, participação vez, respondendo às expectativas sociais. A decisão
e controle social, os quais devem, também, orientar de implantação de um sistema de compras verdes,
todas as políticas implementadas pelo governo bra- por exemplo, é uma das formas das instituições pú-
sileiro. Essa nova orientação é fundamental, tendo blicas proverem as indústrias e fornecedores com in-
em vista que apenas os instrumentos de regulação e centivos reais para o desenvolvimento de tecnologias
comando e controle não são suficientes para o en- sustentáveis e compatíveis com uma política para o
frentamento dos novos desafios ambientais globais, desenvolvimento sustentável.
que cada vez mais demandam novas estratégias que
respondam e garantam, ao mesmo tempo e de forma A necessidade de enfrentar os desafios ambientais
sustentável, o crescimento econômico coerente com de uma maneira mais inovadora, harmonizando os
as políticas para o desenvolvimento sustentável. atuais padrões de produção e consumo com objeti-
vos econômicos, prioridades sociais e ambientais,
Há que se considerar ainda o papel que o governo tem motivado as mais diversas instituições públicas
desempenha na economia enquanto grande consu- a implementar iniciativas específicas e desenvolver
midor de recursos naturais, bens e serviços nas suas programas e projetos para promover a discussão so-
atividades meio e finalísticas, o que, muitas vezes, bre desenvolvimento e a adoção de uma política de
provoca impactos socioambientais negativos. A ado- Responsabilidade Socioambiental do setor público.
ção de critérios ambientais nas atividades adminis-
trativas e operacionais da Administração Pública A responsabilidade socioambiental é um processo
constitui-se um processo de melhoramento contínuo contínuo e progressivo de desenvolvimento de competên-
que consiste em adequar os efeitos ambientais das cias cidadãs, com a assunção de responsabilidades so-
condutas do poder público à política de prevenção de bre questões sociais e ambientais relacionadas a todos
38

os públicos com os quais a entidade interage: trabalha- Ao mesmo tempo, devem promover a revisão e ado-
dores, consumidores, governo, empresas, investidores e ção de novos procedimentos para as compras públicas
acionistas, organizações da sociedade civil, mercado e que levem em consideração critérios sustentáveis de
concorrentes, comunidade e o próprio meio ambiente. consumo que podem incluir, por exemplo: a obrigato-
A RSA busca integrar o crescimento econômico com o riedade de se respeitar a sustentabilidade ambiental
desenvolvimento sustentável, atuando na dinamização como um princípio geral da compra a ser realizada; a
de práticas socioambientais e no avanço em direção à inclusão da necessidade de proteção ambiental como
sustentabilidade no âmbito da administração pública e um critério para a seleção dos produtos e serviços; e a
das atividades do setor produtivo e empresarial. conformidade às leis ambientais como condição prévia
para participação nos processos licitatórios.
No âmbito do setor público, até o momento não
existe um entendimento único ou uma definição uni- É importante ressaltar ainda que a adoção de uma
versal para a Responsabilidade Socioambiental. O política de RSA pelas instituições públicas gera eco-
conceito pode diferir entre os diferentes órgãos e en- nomia dos recursos públicos, na medida em que esses
tidades, e também dos utilizados por diferentes orga- serão gastos com maior eficiência, além de beneficiar
nizações da sociedade civil e setor empresarial. o meio ambiente com menores emissões de CO2, con-
tribuindo para que o país possa cumprir seus com-
Além de implantar uma política coerente de RSA, promissos internacionais e ao mesmo tempo dando o
o governo possui um papel importante na disponibi- exemplo para outros países que ainda não implanta-
lização das condições necessárias para que outros ram agendas equivalentes.
setores da economia possam responder melhor às
expectativas sociais e necessidades de preservação A definição de uma estrutura básica e viável para a
ambiental. A estrutura para a implantação de uma implantação da RSA no âmbito da administração pú-
política de RSA demanda a construção de novas, bem blica demanda o estabelecimento de um ponto de co-
como o aperfeiçoamento das atuais ferramentas pú- ordenação para o processo, assim como a designação
blicas, leis e regulamentações, infra-estrutura, servi- das responsabilidades dentro do governo. O monitora-
ços e incentivos que possam promover e/ou garantir mento das iniciativas é outro componente importante
as mudanças necessárias para que as atividades pú- e um desafio a ser enfrentado e requer uma definição
blicas sejam sustentáveis. clara dos critérios obrigatórios a serem adotados e um
nível elevado de comprometimento das instituições pú-
O governo possui ainda um papel estratégico no blicas, bem como de uma estrutura de apoio e espe-
processo de RSA por meio da promoção do diá- cialmente de um sistema independente de verificação
logo entre os setores sociais, da conscientização dos impactos das iniciativas implantadas.
da sociedade sobre a importância de uma política
de responsabilidade socioambiental, da ampla pu- Atualmente, muitas iniciativas já estão sendo
blicidade e transparência das iniciativas de RSA, implementadas e são uma tentativa das instituições
promovendo a sensibilização e capacitação em governamentais de dar o exemplo. O Ministério do
parceria com as entidades do setor empresarial e Meio Ambiente, por exemplo, lançou e tem imple-
da sociedade civil. mentado, desde 1999, a Agenda Ambiental para a
Administração Pública (A3P), que tem sido reforça-
As instituições governamentais devem buscar a mu- da desde então. A A3P é uma ação voluntária que
dança de hábitos e atitudes internas, promovendo uma busca a adoção de novos padrões de produção e con-
nova cultura institucional de combate ao desperdício. sumo, sustentáveis, dentro do governo.
39

AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA E RESPONSABILIDADE NO SETOR PÚBLICO

D esde o seu lançamento, a Agenda Ambiental na


Administração Pública – A3P tem sido imple-
mentada por diversos órgãos e instituições públicas
A A3P faz parte do Plano Plurianual do Governo,
desde 2006, no âmbito do programa de educação
ambiental conduzido pelo Ministério do Meio Am-
das três esferas de governo e no âmbito dos três pode- biente, o que garante recursos para que a agenda
res. A A3P tem como objetivos principais sensibilizar possa ser efetivamente implantada e tornar-se um
os gestores públicos para as questões socioambien- novo referencial de sustentabilidade socioambiental
tais; estimular a incorporação de critérios para ges- das atividades públicas.
tão social e ambiental nas atividades públicas; pro-
mover a economia de recursos naturais e redução de A partir de 2007, com a reestruturação do Ministé-
gastos institucionais; e contribuir para a revisão dos rio do Meio Ambiente, a A3P passou a integrar o Depar-
padrões de produção e consumo e na adoção de novos tamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambien-
referenciais, no âmbito da administração pública, le- tal (DCRS) da Secretaria de Articulação Institucional e
vando à economia de recursos naturais e à redução de Cidadania Ambiental (SAIC). Nesse novo arranjo ins-
gastos institucionais. titucional, a A3P foi fortalecida enquanto Agenda de
Responsabilidade Socioambiental do governo e passou
A A3P se encontra em harmonia com o princípio da a ser uma das principais ações para proposição e esta-
economicidade, que se traduz na relação custo-benefí- belecimento de um novo padrão de responsabilidade nas
cio e, ao mesmo tempo, atende ao princípio constitucio- atividades econômicas na gestão pública.
nal da eficiência, incluído no texto constitucional (art.
37), por meio da Emenda Constitucional 19/1998, e É importante ressaltar ainda que diante da rele-
que se trata de um dever da administração. vância do projeto e dos resultados positivos alcan-
çados ao longo do seu desenvolvimento, a A3P foi
“... o que se impõe a todo agente público de contemplada, em 2002, com o prêmio UNESCO “O
realizar suas atribuições com presteza, perfei- melhor dos exemplos”, na categoria Meio Ambiente.
ção e rendimento funcional. É o mais moderno
princípio da função administrativa, que já não se TERMO DE ADESÃO
contenta em ser desempenhada apenas com lega- A Responsabilidade Socioambiental se inicia com
lidade, exigindo resultados positivos para o ser- a decisão de mudar e exige mudanças de atitudes e
viço público e satisfatório atendimento das ne- de práticas. O grande desafio consiste em transfor-
cessidades da comunidade e de seus membros.” mar discurso em prática, e intenção em compromis-
(princípio da eficiência administrativa – Hely so. Os princípios da responsabilidade socioambiental
Lopes Meirelles). demandam cooperação e união de esforços em torno
de causas significativas e inadiáveis.
A A3P reconhece o importante papel exercido
pela administração pública enquanto consumidora e O Termo de Adesão é o principal instrumento para
usuária de recursos naturais e a sua capacidade de sua institucionalização e tem por finalidade integrar
indução de novos padrões socioambientais. O atendi- esforços para desenvolver projetos destinados à im-
mento e satisfação dos interesses coletivos, enquanto plementação da A3P. Trata-se de uma iniciativa que
finalidade da administração pública, faz com que a demanda o engajamento individual e coletivo, a par-
mesma tenha a obrigação de dar o exemplo para to- tir do comprometimento pessoal e da disposição para
dos os setores da sociedade, promovendo o desenvol- a incorporação dos conceitos preconizados, para a
vimento e o crescimento sustentável. mudança de hábitos e a difusão do programa.
40

Atualmente, 36 instituições já firmaram com- Tanto a proteção ambiental, em face da cres-


promisso de implementação da agenda, por meio da cente demanda, como a potencialização de novas
assinatura do Termo de Adesão, e mais de 400 insti- possibilidades de oferta ambiental adquiriram im-
tuições integram a Rede A3P. A assinatura do termo portância extraordinária, cuja influência sobre o
A3P demonstra o comprometimento da instituição desenvolvimento se torna cada vez mais relevante.
com a agenda socioambiental e gestão transparente. Uma abordagem básica relacionada às preocupa-
ções ambientais se constitui na utilização positiva
REDE A3P do meio ambiente no processo de desenvolvimento.
A A3P também tem sido implementada por vários Trata-se da valorização de recursos que ainda não
órgãos e instituições públicas por meio da participa- haviam sido incorporados à atividade econômica.
ção na Rede A3P. A Rede é um canal de comunicação Num dado momento histórico, os conhecimentos
permanente para promover o intercâmbio técnico, técnicos permitem uma utilização dos recursos so-
difundir informações sobre temas relevantes à agen- cialmente aceitável. É recurso hoje o que não foi
da, sistematizar dados e informações sobre o desem- recurso ontem. Poderá ser recurso amanhã o que
penho ambiental dos órgãos, incentivar e promover não foi percebido hoje como recurso.
programas de formação e mudanças organizacionais,
permitindo a troca de experiências. A economia brasileira caracteriza-se por elevado
nível de desperdício de recursos energéticos e natu-
EIXOS TEMÁTICOS DA A3P rais. A redução desses constitui verdadeira reserva
de desenvolvimento para o Brasil, bem como fonte
Em suas ações, a agenda ambiental tem priorizado
como um de seus princípios a política dos 5 R’s: Re- de bons negócios. Quando se fala em meio ambien-
pensar, Reduzir, Reaproveitar, Reciclar e Recusar con- te, passam despercebidas oportunidades de negócios
sumir produtos que gerem impactos socioambientais ou de redução de custos. Sendo o meio ambiente um
significativos. Esse último R, em grande medida, irá potencial provedor de recursos mal aproveitados, sua
definir o sucesso de qualquer iniciativa para a introdu- inclusão no horizonte de negócios pode gerar ativida-
ção de critérios ambientais no local de trabalho. des que proporcionem lucro ou pelo menos se paguem
com a poupança de energia, de água, ou de outros
recursos naturais. Reciclar resíduos, por exemplo,
Nesse contexto, diante da importância que as
é transformá-los em produtos com valor agregado.
instituições públicas possuem em “dar o exemplo”
para redução de impactos socioambientais negati- Conservar energia, água e outros recursos naturais é
vos, a A3P foi estruturada em cinco eixos temáticos reduzir custos de produção.
prioritários – uso racional dos recursos naturais e
bens públicos, gestão adequada dos resíduos gera- 2. GESTÃO ADEQUADA DOS
dos, qualidade de vida no ambiente de trabalho, sen- RESÍDUOS GERADOS
sibilização e capacitação dos servidores e licitações Em várias instituições públicas, o processo de
sustentáveis - descritos a seguir: implantação da A3P tem se iniciado com a coleta
seletiva, tendo em vista que essa ação faz parte da
1. USO RACIONAL DOS RECURSOS agenda e foi reforçada a partir de 2006 com a edição
NATURAIS E BENS PÚBLICOS do Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de 2006, que
Nos atuais padrões de produção e consumo, surge a instituiu a separação dos resíduos recicláveis des-
cultura do desperdício, que ultrapassa as camadas de cartados pelos órgãos e entidades da administração
alta renda e paradoxalmente atinge as camadas menos pública federal direta e indireta na fonte geradora e
favorecidas. Cabe-nos refletir sobre a origem e a hege- a sua destinação às associações e cooperativas dos
monia de uma cultura pautada pelo desperdício. catadores de materiais recicláveis.
41

Na presente apostila, a gestão dos resíduos e a co- valorizando aqueles que participam de iniciativas
leta seletiva serão tratadas em um capítulo a parte. inovadoras e que buscam a sustentabilidade. Os pro-
cessos de capacitação promovem ainda um acesso
3. SENSIBILIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO democrático a informações, novas tecnologias e tro-
DOS SERVIDORES ca de experiências, contribuindo para a formação de
Criar a consciência cidadã da responsabilidade redes no setor público.
socioambiental nos gestores e servidores públicos é
um grande desafio para a implantação da A3P e ao 4. QUALIDADE DE VIDA NO
mesmo tempo fundamental para o seu sucesso. AMBIENTE DE TRABALHO
A administração pública deve buscar permanen-
As mudanças de hábitos, comportamento e padrões temente uma melhor Qualidade de Vida no Trabalho
de consumo de todos os servidores impacta diretamen- (QVT) promovendo ações para o desenvolvimento pes-
te na preservação dos recursos naturais, contribuindo soal e profissional de seus servidores. Para tanto, as
para a qualidade ambiental e proporcionando a redu- instituições públicas devem desenvolver e implantar
ção das emissões de gases de efeito estufa. programas específicos que envolvam o grau de satis-
fação da pessoa com o ambiente de trabalho, melhora-
mento das condições ambientais gerais, promoção da
Para que essas mudanças sejam possíveis, é neces-
saúde e segurança, integração social e desenvolvimen-
sário o engajamento individual e coletivo, pois ape-
to das capacidades humanas, entre outros fatores.
nas dessa forma será possível a criação de uma nova
cultura institucional de sustentabilidade das ativida-
des do setor público, sejam essas relacionadas à área Algumas das ações que podem ser implantadas
meio ou à área finalística. encontram-se relacionadas a seguir:
Uso e desenvolvimento de capacidades
O processo de sensibilização dos servidores envol- • Aproveitamento das habilidades;
• Autonomia na atividade desenvolvida;
ve a realização de campanhas que busquem chamar
• Percepção do significado do trabalho.
a atenção para temas socioambientais importantes,
esclarecendo a importância e os impactos de cada um
INTEGRAÇÃO SOCIAL E INTERNA
para o cidadão no processo.
• Ausência de preconceitos;
• Criação de áreas comuns para integração dos
A sensibilização deve ser acompanhada de ini- servidores;
ciativas para capacitação dos servidores, tendo em • Relacionamentos interpessoais;
vista tratar-se de um instrumento essencial para • Senso comunitário.
construção de uma nova cultura de gerenciamen-
to dos recursos públicos, provendo orientação, in- RESPEITO À LEGISLAÇÃO
formação e qualificação aos gestores públicos e • Liberdade de expressão;
permitindo um melhor desempenho das atividades • Privacidade pessoal;
implantadas. A formação dos gestores pode ser • Tratamento imparcial.
considerada como uma das condicionantes para a
efetividade da ação de gestão socioambiental no CONDIÇÕES DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
âmbito da administração pública. • Acesso para portadores de deficiência física;
• Comissão Interna de Prevenção de Aciden-
A capacitação é uma ação que contribui para o tes – CIPA ;
desenvolvimento de competências institucionais e • Controle da jornada de trabalho;
individuais nas questões relativas à gestão socioam- • Ergonomia: equipamentos e mobiliário;
biental e, ao mesmo tempo, fornece aos servidores • Ginástica laboral e outras atividades;
oportunidade para desenvolver habilidades e atitudes • Grupos de apoio anti-tabagismo, alcoolismo,
para um melhor desempenho das suas atividades, drogas e neuroses diversas;
42

• Orientação nutricional; sos a ela relativos. É importante notar que esses três
• Salubridade dos ambientes; aspectos são complementares e, muitas vezes, indis-
• Saúde Ocupacional. sociáveis em se considerando o meio ambiente em seu
sentido mais amplo.
5. LICITAÇÕES SUSTENTÁVEIS
Algumas leis brasileiras já criaram mecanismos
CONCEITO E PRINCÍPIOS que possibilitam a adoção de critérios socioambien-
A Constituição Federal, art. 37, inciso XXI, prevê tais para as compras públicas, como as leis 10.520/02
para a Administração Pública a obrigatoriedade de li- (criação de pregões por meio eletrônico), 8.248/91
citar. Esse artigo foi regulamentado pela Lei nº 8.666, (Lei de fomento ao setor de informática e automação),
de 21 de junho de 1993, que estabeleceu normas gerais 10.973/04 (Lei de Inovação Tecnológica) e 10.693/03
sobre licitações e contratos administrativos pertinentes (Programa de Aquisição de Alimentos); o artigo 24
a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, da lei 8.666/93 (licitações); e a Lei Complementar
alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, 123/06 (Lei Geral das Microempresas e Empresas de
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Pequeno Porte). Entretanto, se faz necessário estabe-
lecer outros instrumentos que permitam ao Estado oti-
mizar seu poder de compra de forma sustentável.
A licitação é o procedimento administrativo for-
mal em que a Administração Pública convoca, me- A Lei 8.666/93, embora leve em consideração o
diante condições estabelecidas em ato próprio (edital impacto ambiental do projeto básico de obras e ser-
ou convite), empresas interessadas na apresentação viços, não se refere ao fator ambiental com relação a
de propostas para o oferecimento de bens e serviços. compras. Assim, as exigências de produtos que con-
templem o conceito de sustentabilidade ambiental é
A licitação objetiva garantir a observância do possível na discriminação do produto a ser adquirido,
princípio constitucional da isonomia e selecionar a porém não é regulamentada e, portanto, obrigatória,
proposta mais vantajosa para a Administração, de o que seria um importante passo em direção às lici-
maneira a assegurar oportunidade igual a todos os tações sustentáveis.
interessados e possibilitar o comparecimento ao cer-
tame do maior número possível de concorrentes, fato Licitações que levem à aquisição de produtos e
que favorece o próprio interesse público. serviços sustentáveis não são apenas importantes
para a boa conservação do meio ambiente (abran-
O procedimento de licitação objetiva permitir que gendo a própria sociedade nele inserida), como tam-
a Administração contrate aqueles que reúnam as con- bém apresentam, no aspecto econômico, uma melhor
dições necessárias para o atendimento do interesse pú- relação custo/benefício a médio ou longo prazo quan-
blico, levando em consideração aspectos relacionados do comparadas às que se valem do critério de menor
à capacidade técnica e econômico-financeira do lici- preço. Portanto, é importante que seja implantada o
tante, à qualidade do produto e ao valor do objeto. quanto antes uma política para adoção de critérios de
sustentabilidade socioambiental nos editais de licita-
Há algumas diferentes modalidades de licitação, ções dos órgãos públicos.
porém todas se dão com a apresentação das propos-
tas de cada participante, sendo vencedor aquele que, COMPRAS SUSTENTÁVEIS
tendo seus produtos ou serviços as especificações re-
queridas, apresente aqueles cujo preço seja o menor Compras sustentáveis consistem naquelas em que
dentre as propostas. se tomam atitudes para que o uso dos recursos mate-
riais seja o mais eficiente possível. Isso envolve inte-
As denominadas licitações sustentáveis são aque- grar os aspectos ambientais em todos os estágios do
las que levam em consideração a sustentabilidade processo de compra e evitar compras desnecessárias
ambiental, social e econômica dos produtos e proces- identificando produtos mais sustentáveis que cum-
43

pram as especificações de uso requeridas. Logo, não se os mesmos possuem adequação ambiental
se trata de priorizar produtos apenas devido a seu as- para serem adquiridos;
pecto ambiental, mas sim considerar seriamente tal • Determinar a disponibilidade dos fornecedores
aspecto juntamente com os tradicionais critérios de – a disponibilidade de fornecedores de produ-
especificações técnicas e preço. tos ambientalmente corretos é um fator críti-
co para as compras sustentáveis. É necessário
Os produtos sustentáveis são feitos ou funcionam que se realizem levantamentos dos produtos e
de forma a: fornecedores, que se deixe claro a estes a po-
1. usar menos recursos naturais; lítica de compras sustentáveis da organização
2. conter menos materiais perigosos ou tóxicos; e que se os incentive a fornecer alternativas
3. ter maior vida útil; mais sustentáveis.
4. consumir menos água ou energia em sua pro-
dução ou uso; PRINCIPAIS TEMAS RELACIONADOS AO USO
5. poder ser reutilizado ou reciclado; RACIONAL DOS RECURSOS NATURAIS E
6. gerar menos resíduos (ex: ser feito de material BENS PÚBLICOS
reciclado, usar menos material na embalagem
ou ser reciclado pelo fornecedor). USO DO PAPEL
Em nossa sociedade, o papel está associado à ima-
Produtos sustentáveis não se resumem ao papel gem de educação, acesso à informação escrita e uma
reciclado, mas compreendem a maioria das ativida- melhoria na qualidade de vida. Entretanto, é notável
des e propósitos, tais quais construção, mobílias e que tanto no seu processo de produção como no atual
transporte. O poder de compra do governo (que re- modelo de consumo, muitos são os impactos decor-
presenta cerca de 10 a 15% do PIB Nacional) deve rentes do uso do papel.
ser utilizado na promoção da sustentabilidade das
atividades públicas, permitindo às instituições assu-
O consumo de papel no mundo tem aumentado ex-
mir a liderança pelo exemplo.
ponencialmente nos últimos 50 anos. Desde o começo
da década de 60, o consumo de papel aumentou em 5
Dicas para compras sustentáveis vezes, chegando hoje ao consumo de mais de 1 milhão
• Exigir o cumprimento da legislação e regula- de toneladas de papéis por dia. Esse enorme aumento
mentação pertinente na procura por serviços e no consumo de papel mundial não significa que haja
produtos; mais papel disponível para mais pessoas, refletindo
• Incentivar os fornecedores a oferecer produtos uma distribuição desigual e a existência de modelos
e serviços ambientalmente responsáveis a pre- de produção e consumo insustentáveis.
ços competitivos;
• Incentivar os fornecedores a realizar a coleta Nas atividades desenvolvidas na administração
ou reciclagem dos produtos usados; pública, o papel se constitui em um dos principais
• Incentivar os fornecedores de serviços a con- recursos naturais consumidos pela administração
siderar os impactos ambientais dos serviços pública com vistas à realização de suas atividades.
de entrega; O papel A4 - 75 g/m2 – amplamente utilizado pelos
• Informar-se sobre o desempenho ambiental órgãos públicos, ocupa posição de destaque quanto
de produtos e serviços– as decisões sobre ao uso nas ações rotineiras. Entretanto, também fa-
compras sustentáveis devem se basear em in- zem parte do uso diário das instituições públicas os
formações confiáveis e precisas sobre o ciclo envelopes, cartões de visita, agendas, papéis de re-
de vida dos produtos e serviços, informações cado, entre outros, todos envolvendo grandes quan-
essas muito importantes para a determinar tidades de papel.
44

Analisando alguns exemplos específicos atuais, Adicionalmente, apenas cerca de um terço da pro-
comparando o consumo diário de papel per capita dução de papel é utilizado para escrever e imprimir,
com a média mundial, nota-se a disparidade no con- sendo sua maioria empregada para publicidade e
sumo de papel entre os países. como embalagens. Logo, os altos valores do consu-
mo de papel em países desenvolvidos evidenciam um
maior consumo de produtos, e não propriamente uma
melhor educação.

Por tais motivos, o uso do papel precisa ser revisto


atualmente pela sociedade e, especialmente, no âm-
bito das empresas e órgãos governamentais, que se
utilizam do papel em grande escala.

SOBRE O PAPEL
No processo de fabricação do papel, a matéria-
prima mais utilizada é a madeira (celulose), cujas
Percebe-se que há uma grande diferença de con- fibras são obtidas a partir de florestas plantadas de
sumo entre cada local, o que evidencia o desperdício eucalipto e pinus. Também podem ser utilizados no
de papel nos países com maior poder de consumo, processo a pasta mecânica ou reaproveitamento de
os desenvolvidos. Caso os países em desenvolvimento papéis usados.
atingissem os níveis de consumo dos desenvolvidos,
a produção de papel precisaria crescer muito para
O papel pode ser reciclado uma quantidade li-
suprir a demanda, requerendo o plantio de grandes
mitada de vezes, pois as fibras de celulose que o
áreas de florestas para se obter sua matéria prima.
compõem perdem sua qualidade a cada processo de
Da mesma forma, o volume de resíduos de papel ge-
reciclagem. Como nesse processo as aparas de pa-
rado sofreria um forte aumento e exigiria a criação
pel usado são misturadas com água e desintegra-
de novos locais de disposição.
das para formar uma polpa, as fibras de celulose
Poder-se-ia deduzir que o consumo de papel é di- têm seu tamanho e resistência reduzidos, gerando
retamente proporcional à taxa de alfabetização de um papel com qualidade inferior. Por isso, há papéis
um país, já que os países desenvolvidos possuem um que misturam fibras virgens e recicladas para au-
consumo sensivelmente superior aos demais. Porém, mentar sua resistência.
no quadro abaixo pode-se verificar que tal fato não
corresponde à realidade. A variedade existente de tipos de papel, incluí-
dos os reciclados, culminaram na criação de nor-
mas visando ao estabelecimento de uma qualidade
mínima de papéis para determinados usos. Para os
papéis destinados a documentos, a norma ISO 9706
define requisitos técnicos a serem atendidos relati-
vos às propriedade físico-químicas (pH do extrato e
reserva alcalina), resistência ao rasgo e resistência à
oxidação (determinada pelo número kappa, que deve
ser menor que 5). Portanto, papéis para fins menos
nobres, como rascunho e lembretes, entre outros, não
necessitam possuir uma qualidade semelhante às de
papéis destinados a documentos.
45

IMPACTOS AMBIENTAIS
Todos os produtos adquiridos pela administração
pública, durante o seu ciclo produtivo, provocam
impactos ambientais seja na fase de extração ou no
processo de manufatura. Assim sendo, a decisão de
comprar qualquer produto pressupõe a geração de
determinados impactos indiretos que são inevitáveis
em maior ou menor grau. Em adição ao menor consumo de recursos na pro-
dução, é importante salientar que com a reciclagem
do papel há redução sensível do volume de resíduos
Os problemas ambientais relacionados à produção e
destinados aos aterros sanitários, aumentando sua
consumo de papéis são de grande escala, sendo os prin-
vida útil e facilitando a coleta de lixo.
cipais impactos relacionados ao alto consumo de maté-
ria prima - especialmente madeira, água e energia.
Por fim, além dos impactos ambientais do papel
reciclado serem menores, seus impactos sociais po-
O setor de celulose e papel sofre algumas críticas
dem ser muito mais benéficos devido à possível gera-
quanto aos aspectos e impactos ambientais que provo-
ção de emprego e renda se implantado um sistema de
ca. Além de usar intensivamente recursos florestais, o
coleta seletiva que o supra.
processo produtivo demanda grandes quantidades de
água e gera altos volumes de efluentes líquidos, re- REDUÇÃO DO USO DO PAPEL
síduos sólidos e emissões atmosféricas. Na produção
da polpa de celulose, além dos gastos consideráveis de Outro aspecto importante a ser ressaltado diz res-
água e energia, gera-se um efluente rico em matéria peito às iniciativas do setor público para substitui-
orgânica e, portanto, muito poluente. Já no branquea- ção e/ou redução do uso do papel. Os avanços nas
mento da polpa, a utilização do cloro (Cl2) como agen- tecnologias de informação, principalmente por meio
te clarificador causa a geração de organoclorados, do uso das tecnologias de desmaterialização de pro-
substâncias altamente tóxicas ao homem e de difícil cessos e documentos, têm possibilitado ao setor pú-
remoção no tratamento de efluentes. blico a adoção de novas ferramentas, mais eficientes.
Entretanto, podemos dizer que ainda se tratam de
Para a redução dos impactos é fundamental que o iniciativas pontuais, envolvendo um reduzido número
setor papeleiro utilize os recursos naturais de forma de instituições e que não agregam todos os processos
racional e realize investimentos em tecnologias me- da administração pública.
nos poluidoras, buscando a preservação da biodiver-
sidade e a otimização do uso de recursos hídricos e de
Atualmente, com as tecnologias disponíveis é pos-
energia. Isso já vêm acontecendo nos últimos anos,
principalmente com relação à eliminação do uso de sível implantar processos informatizados e desmate-
cloro no branqueamento do papel e redução do consu- rializados para grande parte dos procedimentos ad-
mo de água por meio de processos otimizados e reuso ministrativos com vistas a reduzir ou mesmo eliminar
da mesma nas unidades produtoras. o uso do papel. Em alguns casos, o processo poderá
envolver a transferência, a transmissão de dados em
Outra forma importante de se reduzir os impactos rede ou a sua inserção em suportes como fita magné-
da produção de papel é por meio de sua reciclagem. tica, disquete, etc, com vistas à substituição da versão
Embora ainda implique em consumo de água e ener- em papel por um equivalente eletrônico (fotografia
gia, a produção do papel reciclado utiliza tais recursos digital do conteúdo ou conteúdo em formato digital).
em quantidade muito menores do que as da produção
tradicional e lança no ambiente volumes menores de A otimização do uso do papel também pode ser
poluentes, como se pode ver no quadro a seguir: exercida por meio do reaproveitamento de papéis tor-
46

nados inúteis para rascunhos, lembretes, anotações,


entre outros usos, por meio de impressões de frente
e verso, que reduzem o uso de papel pela metade.
Com medidas como essas, pode-se realizar o mesmo
trabalho com uma utilização muito menor de papel,
o que reduz os custos decorrentes de sua aquisição e
os resíduos gerados.

VANTAGENS DA DESMATERIALIZAÇÃO
• Maior eficiência no processo de comunicação
• Simplificação dos processos
• Economia de recursos naturais e materiais
• Maior facilidade no intercâmbio de informações
• Maior facilidade para controle do processo (acompanhamento
“on line”)

USO DA ÁGUA7
Maria do Carmo Zinato
M.Sc. Planejamento Urbano e Rural
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano
Ministério do Meio Ambiente

1. Introdução
“Cada sociedade possui uma relação peculiar com Ciclo hidrológico - caracteriza-se pelo movimento
a água, que reflete a diversidade de valores e de ex- constante da água e por sua passagem por diferentes
periências acumuladas”.
estados físicos (sólido, líquido e gasoso), dependendo
da maior ou menor quantidade de energia (calor) que
O Brasil possui uma moderna legislação de recur-
sos hídricos que estimula e fortalece as práticas de- a Terra recebe do Sol. Parte da água que chega à
mocráticas, no contexto de uma nova cultura da água. superfície da Terra evapora-se novamente. O restante
Este capítulo tem o objetivo de apresentar os conceitos pode seguir diversos caminhos, envolvendo:
básicos necessários para o entendimento da gestão in- • a infiltração no solo, ficando disponível para
tegrada de recursos hídricos e, ao mesmo tempo, pre- as plantas ou alimentando os lençóis freáticos
tende ser um convite para seu maior envolvimento com constituindo-se em águas subterrâneas;
as questões relacionadas com água na entidade em que
• o escoamento pelas encostas dos morros, for-
trabalha e no processo de coleta seletiva do qual faz
mando sulcos e canais de drenagem, até atingir
parte direta ou indiretamente.
lagos, córregos, rios e, por fim, os oceanos;
2. Conceituação • a formação de camadas de gelo e geleiras em
regiões de clima frio;
O acesso universal à água de qualidade, seu uso
racional e reuso são alguns dos temas mais atuais na • a absorção pelas plantas e o consumo de água
gestão de recursos hídricos no mundo. Discutir esses pelos animais. Parte da água absorvida retorna
assuntos requer o conhecimento preliminar de alguns novamente para a atmosfera através da trans-
conceitos básicos, tais como: piração das folhas e dos poros dos animais.

7
Texto extraído e adaptado do livro “Água: Manual de Uso”, editado pelo MMA, Brasília, 2006. Disponível no http://pnrh.cnrh-srh.gov.br
47

tre eles a exploração excessiva, que pode provocar


o esgotamento dos aqüíferos; a contaminação das
águas subterrâneas por efluentes sanitários e indus-
triais, agro-tóxicos, fertilizantes, substâncias tóxi-
cas provenientes de vazamentos como, por exemplo,
tanques de combustível.

Necessidade de consumo por dia - Segundo a Or-


ganização das Nações Unidas (ONU), um ser humano
precisa de 20 a 50 litros de água por dia, uma média
de 1.000 litros/hab.ano, para beber, cozinhar, tomar
banho e lavar roupas e utensílios.

Gestão por bacia - A bacia é a unidade de planeja- 3. Fundamentos da Lei


mento dos recursos hídricos, integrando políticas para
A Lei Federal nº 9.433/97, conhecida como Lei das
a implementação de ações conjuntas visando ao uso,
Águas, estabelece a Política e cria o Sistema Nacional
conservação e recuperação das águas. Como a delimi-
de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).
tação territorial por bacia hidrográfica pode ser dife-
rente da divisão administrativa, ou seja, da divisão por São fundamentos da Lei nº 9.433/97:
estados e municípios, a gestão por bacia hidrográfica
pode proporcionar uma efetiva integração das políticas • o consumo humano e a dessedentação de ani-
públicas e ações regionais, o que é bastante positivo. mais como usos prioritários em situações de
escassez;
Erosão - A ação do vento e da chuva, das águas,
dos rios e do mar transporta partes do solo, deixando • a água como recurso natural limitado e dotado
em seu lugar falhas e buracos. A redução da cobertu- de valor econômico;
ra vegetal, remoção das matas ciliares e da vegetação
protetora das áreas de recarga dos aquíferos, a movi- • o uso múltiplo das águas;
mentação de solos em áreas de declividade acentuada
e em áreas de preservação permanente, a degradação • a bacia hidrográfica como unidade territorial
de áreas de cultivo, lotes vagos ou margens de cursos para a implementação do gerenciamento das
d´água, entre outros, provocam o aumento da erosão e águas; e
do assoreamento, degradando a qualidade da água, seja
em áreas de agricultura, seja no ambiente urbano. • atuação do SINGREH; a gestão descentraliza-
da e participativa dos recursos hídricos.
Água subterrâneas - As águas subterrâneas cor-
respondem à água que infiltra no subsolo, preenchen- O SINGREH constitui-se de um conjunto de me-
do os espaços formados entre os grânulos minerais canismos jurídico-administrativos, sejam leis, insti-
e fissuras das rochas. Essas águas tendem a migrar tuições ou instrumentos de gestão, com a finalidade
continuamente, abastecendo nascentes, leitos de rios, de colocar em prática a Política Nacional, dando su-
lagos e oceanos. Os recursos hídricos subterrâneos, porte técnico e institucional para o gerenciamento de
em geral, estão sujeitos a uma série de riscos, den- recursos hídricos no País.
48

tendo recursos para o financia-


mento de programas e interven-
ções contemplados nos planos de
recursos hídricos. Os critérios
gerais da cobrança são definidos
pelos Conselhos de Recursos Hí-
dricos. Os Comitês de Bacia Hi-
drográfica definem os valores a
serem cobrados.

Sistema Nacional de Infor-


mações de Recursos Hídricos - é
um sistema de coleta, tratamen-
A Lei nº 9.433/97 estabelece os instrumentos para to, armazenamento, recuperação
possibilitar a implementação da Política Nacional de e difusão de informações relevantes sobre recursos
Recursos Hídricos: hídricos e fatores relacionados à sua gestão.

Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), Objetivos estratégicos que todos os brasileiros de-
Planos Estaduais de Recursos Hídricos e os Planos vem procurar alcançar (PNRH):
de Recursos Hídricos por bacia hidrográfica. Os dois
• mais água disponível, superficial ou subterrâ-
primeiros são planos estratégicos que estabelecem di-
nea, e com melhor qualidade.
retrizes gerais sobre os recursos hídricos do País ou
• diminuição dos conflitos de uso da água, exis-
do Estado. O Plano de Recursos Hídricos por bacia
tentes ou potenciais, ou causados por eventos
hidrográfica é o instrumento de planejamento local
críticos, como inundações, secas e outros.
onde se define como conservar, recuperar e utilizar
• percepção da conservação da água como um
os recursos hídricos daquela bacia.
valor social e ambiental importante.
Enquadramento dos corpos d´água em classes,
O conhecimento desses fundamentos, instru-
segundo usos preponderantes, com o objetivo de as-
mentos e objetivos estratégicos dá a cada pessoa
segurar às águas qualidade compatível com os usos
uma grande liberdade de agir, propor ações e par-
mais exigentes a que forem destinadas, e diminuir os
ticipar da implementação da Política Nacional na
custos de combate à poluição das águas, mediante
bacia hidrográfica onde mora ou trabalha. A res-
ações preventivas permanentes.
ponsabilidade é conjunta e o pacto pelas águas (o
PNRH) foi firmado pelos representantes da socie-
Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos:
dade civil, do setor usuário e do governo, ou seja,
é o instrumento pelo qual o Poder Público autoriza o
nossos representantes.
usuário a utilizar as águas de seu domínio, por tem-
po determinado e em condições preestabelecidas. Tem 4. Uma nova cultura da água
como objetivo assegurar o controle quantitativo e qua-
litativo dos usos da água superficial ou subterrânea, e O aumento da demanda por água, somado ao cres-
o efetivo exercício do direito de acesso à água. cimento das cidades, à impermeabilização dos solos, à
degradação da capacidade produtiva dos mananciais,
Cobrança pelo uso da Água - é um mecanismo à contaminação das águas e ao desperdício conduzem
educador, que reconhece a água como bem econômi- a um quadro preocupante em relação à sustentabi-
co e dá ao usuário uma indicação de seu real valor, lidade do abastecimento público, especialmente em
incentivando a racionalização do uso da água e ob- algumas regiões metropolitanas brasileiras.
49

A Política Nacional de Recursos Hídricos veio Para alguns, basta abrir a torneira, em suas ca-
em boa hora, procurando estabelecer regras para a sas, para que a água jorre em abundância. Entre-
discussão de tais conflitos, no âmbito de cada bacia tanto, para milhares de pessoas, em áreas rurais e
hidrográfica e com a participação dos setores envol- periferias urbanas, é necessário gastar horas para
vidos – governo, usuários e sociedade civil. Ela exi- ir buscá-la, a muitos quilômetros de distância.
ge, entretanto, a mudança de diversos paradigmas ou
formas de resolução de conflitos, diferentes dos tra- Além da escassez, a contaminação da água
dicionais. Os rios, que antes dividiam Estados ou mu- também põe em risco a vida humana, a saúde, o
nicípios, hoje são razão para reuniões e negociações bem-estar social, a diversidade biológica e a qua-
para que volte a ser útil para todos. Decisões que an- lidade da alimentação dos seres vivos. Por isso
mesmo, ambas – a quantidade e a qualidade da
tes eram tomadas em âmbitos superiores e distantes
água - são responsáveis por conflitos e tensões em
dos problemas, hoje são discutidos em reuniões dos
algumas bacias hidrográficas.
órgãos colegiados do SINGREH, que têm poder de
decisão (Comitês e Conselhos). E a responsabilidade
pela qualidade adequada das águas em quantidade Como parte da nova cultura da água, mudar hábi-
suficiente para todos é de cada brasileiro, de acordo tos cotidianos é responsabilidade de cada um. O livro
com o pacto firmado por mais de 7 mil pessoas, que “Água: Manual de Uso” lista uma série de cuidados com
a água na alimentação, na higiene pessoal da residência
participaram da construção do PNRH.
ou do local de trabalho. Trata também da importância
de se trocar peças sanitárias danificadas e oferece téc-
Para assumir tal responsabilidade, cada vez mais nicas para lavar qualquer objeto em casa ou irrigar as
é importante manter-se informado e conversar a res- áreas externas, com o objetivo de se usar bem cada gota
peito dos cuidados que a água requer em cada bacia de água, sem desperdícios. Há dicas muito inteligentes
hidrográfica. Algumas fontes de informação confiá- também para grandes áreas externas, edifícios condo-
veis são: miniais ou públicos. Dá a conhecer as barraginhas e ou-
• http://pnrh.cnrh-srh.gov.br – Documentos do tras tecnologias e metodologias bastante úteis.
PNRH, inclusive o “Água: Manual de Uso”.
• http://www.cnrh-srh.gov.br – Todas as leis, de- A nova cultura da água zela pela saúde das pes-
soas. Ao cuidar do saneamento ambiental (abasteci-
cretos e resoluções relacionados ao tema.
mento de água, esgotamento sanitário, manejo de re-
• http://www.mma.gov.br – Sobre a formulação síduos sólidos urbanos e manejo de águas pluviais) o
de políticas, documentos relevantes e acom- município está cuidando da saúde de sua população,
panhamento da implementação da Política e evitando a contaminação por meio da água destinada
avanços do SINGREH. ao consumo. Além de ser responsabilidade do Estado,
• http://www.ana.gov.br – Sobre a implementa- todos nós podemos contribuir, buscando informações,
ção do PNRH e os projetos relacionados ao junto à prefeitura de seu município, sobre coleta se-
tema. letiva e as melhores formas de descarte de seu lixo.
• http://brasil.rirh.net - O sítio da Rede Intera- Existem muitas cidades do mundo cujos rios foram
mericana de Recursos Hídricos (RIRH) dedi- recuperados e ficaram livres de poluição depois do
tratamento do lixo e do esgoto.
cado ao Brasil que pode facilitar a busca des-
ses meios de comunicação e intercâmbio de Ressalta-se neste capítulo, entretanto, os cuida-
experiências. dos necessários com a água no trabalho. A atuação
• http://www.rebob.org.br - Fórum Nacional de dos funcionários, nos Sistemas de Gestão Ambiental
Comitês de Bacia e a Rede Brasileira de Orga- (SGA) ou na Agenda Ambiental na Administração
nismos de Bacia (REBOB). Pública (A3P), nas Comissões para a Coleta Seletiva
50

Solidária e nas Cooperativas de Reciclagem, pode re- as bacias sanitárias, a água utilizada para lavar as
presentar uma grande diferença no consumo de água. mãos pode servir para abastecer a bacia de descar-
É importante destacar que o objetivo último não é ga. Colocar torneiras com acionamento restrito ou
a economia financeira ou a economia do próprio re- com sensor automático ou instalar registro regu-
curso hídricos (especialmente em locais onde não há lador de vazão da torneira (onde a pressão é alta)
problemas de escassez), o que também é importante. são práticas que diminuem o consumo. Em alguns
Mas importa principalmente a ação consciente e res- casos, obras de adaptação são necessárias, mas no
ponsável de cada pessoa com relação à água enquan- caso de novas edificações tais medidas podem ser
to um elemento fundamental à sua vida. Trata-se de incorporadas ao projeto e resultar em economias
uma mudança de comportamento decorrente de uma de larga escala, pelo número de usuários e pelo
nova cultura com relação a esse precioso bem. tempo de utilização.

Sistemas como o SGA e a A3P consistem, entre ou- Nas áreas abertas e externas, seja de estacionamen-
tras coisas, na análise dos procedimentos empregados
tos ou de composição paisagística, o respeito às curvas
na realização das atividades da organização e seus im-
de nível contribui para uma boa drenagem da água que
pactos na água, no ar, no solo, na geração de ruídos e
escorre pela ação das chuvas ou de alguma atividades
odores, e na alteração da paisagem. Também analisam
a redução, a reciclagem ou a eliminação dos resíduos humana. Sempre que possível deve-se usar as curvas de
sólidos (lixo) e líquidos (efluentes ou esgotos). nível, para que a água de chuva seja retida, evitando ero-
são e aumentando a capacidade de infiltração no solo.
Sugere-se, principalmente, que se analise com os
atores dos projetos em que pontos do processo de co- O Decreto 5.940/06 abre uma grande oportuni-
leta seletiva há alguma relação com a água, seja do dade a todas as Comissões e Cooperativas quando
ponto de vista do processamento dos resíduos (coleta, estabelece que “Deverão ser implementadas ações
transporte, estacionamento, armazenamento, mani- de publicidade de utilidade pública, que assegurem
pulação, máquinas, resíduos e destino finais), seja do a lisura e igualdade de participação das associações
ponto de vista das pessoas envolvidas (saúde, higiene, e cooperativas de catadores de materiais recicláveis
bem estar no trabalho e em casa). no processo de habilitação”. Uma oportunidade de
educar cada vez mais pessoas, usando informações
Evitar que os resíduos contaminem o meio am- de qualidade, em tais publicações. Na construção de
biente ao redor das instalações, a contaminação de uma nova cultura da água, as pessoas são os sujeitos
aqüíferos ou corpos d´água superficiais, evitando, que podem mudar uma história de desperdícios e de
por exemplo, armazenar substâncias tóxicas de ma- mal trato. O cuidado com a água é o reflexo do nosso
neira inadequada, que possam ser lavadas ou infiltra- cuidado com a própria vida.
das pela chuva. A aquisição de equipamentos de alta
pressão de água que permitam uma limpeza efetiva EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
e com grande economia, cuidando sempre do desti-
no da água resultante da lavagem de qualquer objeto De modo geral, as edificações públicas apresentam
ou matéria-prima, fazendo algum tipo de tratamento oportunidades significativas de redução de custos e de
caso contenha substâncias tóxicas, antes de deixar economia de energia através de um melhor gerencia-
que regresse à natureza. mento da instalação, adoção de equipamentos tecno-
logicamente mais avançados e eficientes, alterações
Em alguns casos é necessário ou conveniente de algumas características arquitetônicas, utilização
implantar um Sistema de Aproveitamento de Água de técnicas modernas de projeto e construção, alte-
de Chuva e em outros é importante considerar o rações dos hábitos dos usuários e de algumas rotinas
reuso das águas. Em edifícios públicos, além do de trabalho na edificação. Entretanto, é importante
aproveitamento da água da chuva para alimentar esclarecer que as oportunidades de redução de con-
51

sumo de energia elétrica em cada prédio devem ser mando de modo a modular o uso da iluminação de
identificadas em um estudo específico, com recomen- acordo com as necessidades. Em novas construções,
dação das ações a serem empreendidas e análise de pode-se introduzir modernas técnicas de arquitetura
viabilidade técnico-econômica. e construção que reduzam os requerimentos energé-
ticos para iluminação.
O combate ao desperdício de energia elétrica é
vantajoso para todos os envolvidos. Ganha o consu- Os projetos de iluminação devem considerar os
midor, que passa a comprometer menor parcela de índices mínimos de iluminamento definidos na nor-
seus custos, o setor elétrico, que posterga investimen- ma NBR 5413 da Associação Brasileira de Normas
tos necessários ao atendimento de novos clientes, e a Técnicas - ABNT - de modo a manter o conforto e
sociedade como um todo pois, além dos recursos eco- segurança dos usuários. Sob essa ótica, são sugeridas
nomizados, as atividades de eficientização energéti- como alternativas viáveis:
ca geram empregos através do próprio serviço e da
utilização de equipamentos, em sua quase totalidade Medidas Imediatas Sem Necessidade de Investi-
fabricados no país, e contribuem para a conservação mentos:
e melhoria do meio ambiente evitando as agressões • Manter limpas lâmpadas e luminárias para
ambientais inerentes à construção de usinas hidrelé- permitir a reflexão máxima da luz;
tricas ou ao funcionamento de usinas térmicas. • Desligar luzes de dependências, quando não esti-
verem em uso, tais como: salas de reunião, WCs,
1. Dicas para redução do consumo de energia elétrica iluminação ornamental interna e externa, etc;
• Ligar sistema de iluminação somente aonde
não haja iluminação natural suficiente. O sis-
No intuito de disseminar as medidas de eficienti- tema de iluminação só deve ser ligado momen-
zação energética, apresentamos à seguir uma série de tos antes do início do expediente;
sugestões específicas para cada sistema típico de pré- • Nos espaços exteriores reduzir, quando possí-
dios públicos e de escritórios. Todas as medidas que vel e sem prejuízo da segurança, a iluminação
exigem investimentos devem ser realizadas após uma em áreas de circulação, pátios de estaciona-
análise econômica de sua viabilidade e, preferencial- mentos e garagens;
mente, devem fazer parte de um conjunto de medidas • Usar preferencialmente luminárias abertas,
identificadas em um diagnóstico energético para que retirando, quando possível, o protetor de acrí-
a sinergia entre elas seja aproveitada e a economia lico, o que possibilita a redução de até 50% do
máxima possível na edificação seja alcançada. número de lâmpadas sem perda da qualidade
do iluminamento.
ILUMINAÇÃO
Medidas de Médio e Longo Prazo com Investi-
São os sistemas de iluminação que apresentam, mentos:
indubitavelmente, o maior número de medidas para • Substituir lâmpadas incandescentes por fluo-
conservação de energia de fácil aplicação. rescentes compactas e fluorescentes normais
por modelos eficientes com reator eletrônico.
Nos jardins, estacionamentos externos e áreas
A evolução das técnicas de projeto e instalação,
de lazer, dar preferência a lâmpadas de vapor
acompanhada do surgimento de novos equipamen-
de sódio a alta pressão;
tos, com destaque especial aos novos tipos de lâm-
• Usar reatores eletrônicos com alto fator de po-
padas eficientes, reatores eletrônicos e luminárias tência;
de alta eficiência, oferece uma considerável gama • Usar luminárias reflexivas de alta eficiência,
de alternativas para o alcance da eficientização com superfícies interiores desenhadas de forma
energética. Em instalações já existentes, podem a distribuir adequadamente a luz. Refletores de
ser introduzidas alterações em seus sistemas de co- alumínio anodizado são os mais eficientes;
52

• Controlar a iluminação externa por timer ou


foto célula;
• Utilizar interruptores para setorização;
• setorizar os circuitos a fim de aproveitar a ilumi-
nação natural. Instalar, se possível, um interrup-
tor para cada 11 m2 ou sensores de ocupação;
• Utilizar sensores de presença nos ambientes
pouco utilizados. O aumento excessivo do nú-
mero de acendimentos de lâmpadas reduz sua
vida útil, portanto, em locais de pouco tempo
de permanência e com elevada intermitência de
ocupação, o uso de lâmpadas eficientes e fluo- AR-CONDICIONADO
rescentes não é adequado. Nestes casos faz-se
Medidas Imediatas sem Necessidade de Investimentos
necessário uma avaliação de custo benefício;
• Manter as janelas e portas fechadas, evitando
• Rebaixar as luminárias quando o pé-direito for
a entrada de ar externo;
alto, reduzindo, conseqüentemente, a potência
• Limitar a utilização do aparelho somente às
total necessária;
dependências ocupadas;
• Projetar iluminação localizada quando a ati-
• Evitar a incidência de raios solares no ambien-
vidade assim o exigir, reduzindo proporcional-
te climatizado, pois aumentará a carga térmi-
mente a iluminação geral do ambiente;
ca para o condicionador;
• Instalar nas áreas próximas às janelas circui-
• Limpar o filtro do aparelho na periodicidade
tos independentes e sensores com fotocélulas,
recomendada pelo fabricante, evitando que a
que ajustam automaticamente os níveis de
sujeira prejudique o seu rendimento;
iluminação necessários para complementar a
• No verão, não refrigerar excessivamente o am-
luz natural. Reatores com dimmer consomem
biente. O conforto térmico é uma combinação
14% mais energia que os comuns, e, portanto,
de temperatura e umidade, sendo recomenda-
devem ser usados apenas nas luminárias pró-
do entre 22 e 24 ºC de temperatura e 50 e 60
ximas a grandes painéis de vidro;
% de umidade relativa do ar. O frio máximo
• Paredes, pisos e tetos devem ser pintados
nem sempre é a melhor solução de conforto;
com cores claras que exigem menor nível de
• Desligar o ar-condicionado em ambientes não uti-
iluminação artificial. A redução de carga de
lizados ou que fiquem longo tempo desocupados;
iluminação reduz como conseqüência a carga
• Manter desobstruídas as grelhas de circulação
térmica para o condicionamento de ar.
de ar;
• Manter livre a entrada de ar do condensador;
A seguir apresentamos duas tabelas práticas que
• Verificar o funcionamento do termostato;
servem de orientação para adequação da iluminação
• No inverno ou em dias frios desligar o ar-con-
aos ambientes e uso de lâmpadas mais eficientes.
dicionado central ou individual e manter so-
mente a ventilação;
• Regular ao mínimo necessário a exaustão do
ar nos banheiros contíguos aos ambientes cli-
matizados;
• Não operar as válvulas de bloqueio do sistema
de água gelada em posição parcialmente aber-
ta (estrangulada);
53

• Estudar a possibilidade de ventilar naturalmen- • Isolar termicamente tubulações e tanques de


te o edifício à noite, para retardar o acionamen- serviço;
to do sistema de ar-condicionado pela manhã. • Tratar quimicamente a água de refrigeração.

Medidas de Médio e Longo Prazo com Investimentos ELEVADORES


• Dimensionar o sistema de ar-condicionado Medidas Imediatas sem Necessidade de Investimentos
para a carga total real, levando em conta o • Manter os elevadores funcionando plenamente
uso de iluminação eficiente e as medidas ado- somente nos horários de muita movimentação
tadas para a envoltória do prédio que reduzam (entrada, saída e hora de almoço);
a carga térmica; • Fazer campanhas de conscientização para que
• Escolher o sistema de ar-condicionado consi- os usuários não utilizem o elevador para subir
derando, além dos custos de aquisição e insta- um andar ou descer dois;
lação, também os de manutenção, operação e • Localizar os serviços de maior contato com o
o consumo de energia; público e com sub-fornecedores nos andares
• Dar preferência, se possível, ao sistema de Vo- térreos.
lume de Ar Variável (VAV), que otimiza a va-
zão de ar-condicionado evitando desperdício; Medidas de Médio e Longo Prazo com Investimentos
• Estudar a viabilidade econômica de instalar • Instalar controladores de tráfego para evitar
um sistema de termoacumulação de gelo ou que uma mesma chamada desloque mais de
água gelada, o que permitirá deslocar o con- um elevador;
sumo elétrico do sistema de ar-condicionado • Optar por elevadores com motores de alta efi-
para o horário fora de ponta. Tanques de gelo ciência, variação de freqüência e modernos
ocupam menos espaço que os de água gelada; sistemas de controle de tráfego, e dimensioná-
• Utilizar volume de ar variável de acordo com a los para a possibilidade de velocidade reduzi-
necessidade de cada ambiente e procurar aten- da, de modo a reduzir o consumo;
der vários ambientes com a mesma máquina; • Especificar escadas rolantes com sensores de
• Utilizar, sempre que possível, controle de tempe- presença e, sempre que possível, escadas aces-
ratura (termostato) setorizado por ambientes; síveis, a fim de otimizar o tráfego.
• Utilizar ciclo economizador de temperatura ou
entálpico, com o objetivo de evitar o funciona- Motores e Bombeamento de Água
mento dos compressores quando as condições do • Promover campanha sobre a redução do con-
ar externo estiverem próximas às de conforto; sumo de água de modo a reduzir o consumo de
• Realizar balanceamento do sistema; energia elétrica no bombeamento da mesma;
• Usar acessórios de insuflamento adequados; • Eliminar vazamentos de água, evitando des-
• Modelar a geração de frio e setorizar sua dis- perdícios;
tribuição de acordo com as necessidades; • Verificar se a alimentação elétrica do motor esta
• Em climas quentes e secos, estudar a possibili- de acordo com as especificações do fabricante;
dade de utilizar resfriador evaporativo em vez de • Dimensionar adequadamente os motores e dar
ar-condicionado convencional. Esse equipamen- preferência aos de alto rendimento, que, em-
to umidifica o ar, baixando sua temperatura sem bora sejam mais caros que os do tipo padrão,
uso de compressores ou ciclo de refrigeração, o apresentam maior eficiência energética;
que permite grande economia de energia; • Considerar a instalação de controlador ele-
• Empregar sistemas automatizados de controle; trônico de velocidade nos motores que funcio-
• Reparar janelas e portas quebradas ou fora de nam com carga parcial, tais como motores dos
alinhamento; compressores rotativos, bombas, torres, e ven-
• Reparar fugas de ar, água e fluido refrigerante; tiladores do sistema de ar-condicionado;
54

• Evitar o bombeamento de água no horário Disciplinar o uso de fogões, cafeteiras, ebulido-


de ponta. res e aquecedor elétrico de água, de forma a evitar
desperdícios.
Aquecimento
• Reduzir a temperatura de água dos aquecedo-
Freezers e geladeiras
res para banheiro e cozinha para 55ºC;
• Evitar que as portas fiquem abertas desneces-
• Utilizar duelas e torneiras com baixa vazão na
sariamente;
água quente;
• Fazer degelo periódico;
• Sempre que possível, optar por centralizar a
• Evitar a colocação de alimentos quentes;
produção de água quente e vapor;
• Mantê-los em perfeito estado de conservação,
• Aquecimento de água efetuado por sistemas
particularmente em relação à borracha de ve-
baseados em combustíveis, como gás natural e
dação da porta;
GLP, é sempre consideravelmente mais econô-
• Manter o termostato regulado no mínimo ne-
mico que com sistemas elétricos;
cessário;
• Avaliar a viabilidade do emprego de sistema
• Localizá-los fora do alcance de raios solares
solar para aquecimento de água;
ou de outras fontes de calor.
• Avaliar a recuperação do calor rejeitado nas
unidades de refrigeração e ar condicionado
Computadores
para aquecimento de água.
Manter acionado o Programa Energy Star. Esse sis-
Jardins tema desliga o monitor sempre que o computador não
• Dar preferência, no projeto paisagístico, a estiver em uso. Para ativá-lo siga os seguintes passos:
plantas que necessitam de pouca água. Proje- • Clicar em: Meu computador;
tar, quando possível, cisternas para armazenar • Painel de Controle;
água de chuva e eliminar o bombeamento para • Vídeo;
a irrigação dos jardins no horário de ponta; • Configurações;
• Usar lâmpadas de vapor de sódio. • Propriedades Avançadas;
• Monitor. Acionar a opção “Monitor Compatí-
Garagens vel com Energy Star”;
• Iluminar somente as áreas de circulação de • Voltar em Propriedades de Vídeo, clicar em “Pro-
veículos e não diretamente os boxes; teção de Tela” e em Recursos de Economia de
• Para os boxes, estudar a possibilidade de ins- Energia do Monitor. Colocar o intervalo desejado.
talar interruptores individuais comuns ou do
tipo pêra, que permitem o desligamento par- Sugerimos
cial de lâmpadas fluorescentes; Espera Com Baixa Energia - após 5 minutos
• Usar lâmpadas fluorescentes; Desligar Monitor - após 15 minutos
• Aproveitar ao máximo a iluminação natural,
de modo a não usar a iluminação artificial Instalação Elétrica
durante o dia; A execução, de modo sistemático, de um adequa-
• Em pátios de estacionamento a céu aberto, usar do programa de manutenção das instalações elétricas
lâmpadas de vapor de sódio a alta pressão. está inserida no contexto da filosofia de conservação
de energia elétrica, visto que a sua ausência implica
Utilização de Equipamentos Elétricos em Geral em: aumento de perdas térmicas, custos adicionais
A adoção de medidas simples para equipamentos imprevistos em virtude da incidência de defeitos nas
elétricos em geral, como as apontadas a seguir, cer- instalações, maior consumo, maior probabilidade de
tamente permitirá reduções de consumo. ocorrência de incêndios, etc.
55

Portanto, recomenda-se verificar a instalação elé- • Fazer a limpeza preferencialmente durante o


trica periodicamente para localizar possíveis fugas dia, fora do horário de ponta;
de corrente por defeitos de isolação ou emendas de • Iniciar a limpeza pelos andares superiores, man-
fios malfeitas. tendo todos os demais apagados, caso a mesma
seja realizada após o encerramento do expediente;
Limpeza e Conservação • Programar o serviço de forma a que o ambien-
A maneira pela qual são executadas as tarefas re- te ou andar tenha a respectiva iluminação e
ferentes a limpeza e conservação dos prédios influi no outros equipamentos desligados imediatamen-
consumo da energia elétrica. Assim, recomenda-se a te após a sua conclusão;
adoção das seguintes providências: • Evitar a limpeza da edificação no horário de ponta.
57

PASSO A PASSO PARA IMPLANTAÇÃO DA A3P


I. PLANEJAMENTO • identificação de falhas e pontos de melhoria;
1. Criação e regulam entação da Comissão Gestora da A3P: • replanejamento de procedimentos;
• formar a comissão com servidores de dife- • identificação de ações de controle;
rentes setores da instituição; • identificação de indicadores de aprimora-
• oficializar a comissão por meio de instru- mento.
mento legal pertinente.
5. Elaboração do Plano do Comunicação
2. Diagnóstico ambiental da instituição • apresentação da proposta de uso racional e
• identificação de pontos críticos; combate ao desperdício aos dirigentes;
• avaliação dos impactos ambientais e des- • campanha de sensibilização dos servidores
perdícios; com divulgação na intranet, cartazes, eti-
• mapear gastos da entidade com energia, quetas e informativos;
água, papel e outros materiais de expedien- • produzir informativos referentes a temas so-
te e recursos naturais; cioambientais, experiências bem-sucedidas
• levantamento dos programas de qualidade e progressos alcançados pela instituição.
de vida no ambiente de trabalho, saúde e
segurança do trabalhador; 6. Elaboração de Plano de Capacitação e Formação da
• realizar uma pesquisa de opinião pública sobre Comissão Gestora da A3P, dos servidores e dos funcionários
a importância da agenda para a instituição. da copeiragem e serviço de limpeza por meio de palestras,
reuniões, exposições, oficinas, etc.
3. Definição de projetos e atividades a partir do diag-
nóstico, priorizando as situações mais críticas. II. USO RACIONAL RECURSOS/ COMBATE AO
• elaborar planos e programas voltados à eli- DESPERDÍCIO
minação ou minimização dos impactos am- 1. Consumo de papel
bientais gerados no ambiente de trabalho, • levantamento e acompanhamento do consu-
bem como para a qualidade de vida, saúde mo de papel usado para impressão e cópias;
e segurança dos trabalhadores; • levantamento das impressoras que preci-
• implantar programa de substituição de in- sam de manutenção ou substituição;
sumos e materiais por produtos que provo- • uso de papel frente e verso;
quem menos danos ao meio ambiente; • confecção de blocos de anotação (com pa-
• elaborar questionário para distribuir a to- pel usado só de um lado);
dos os funcionários, sobre o papel de cada • uso de papel não-clorado ou reciclado.
um na realização dos objetivos do órgão e
na economia de recursos. 2. Consumo de energia
• sistematizar o resultado dos questionários; • fazer diagnóstico da situação das instala-
• produção ou compra de lixeiras, que viabi- ções elétricas e propor as alterações neces-
lizem a coleta seletiva; sárias para redução do consumo;
• cadastrar-se na Rede A3P. • levantamento e acompanhamento do con-
sumo de energia;
4. Avaliação e Monitoramento • propor implantação de sensores em banheiros;
• avaliação sistemática; • conscientização através de campanhas para:
• verificação do desempenho ambiental; • desligar luzes e monitores na hora do almoço;
58

• fechar as portas quando ligar o ar condi- frente e verso;


cionado; • constar no contrato de reprografia a im-
• aproveitar as condições naturais do am- pressão dos documentos em frente e verso;
biente de trabalho – ventilação, luz solar; • compra de papel não-clorado ou reciclado;
• desligar um dos elevadores em horários es- • constar nos contratos de copeiragem e ser-
pecíficos. viço de limpeza adoção de procedimentos
que promovam o uso racional dos recursos
3. Consumo de copos plásticos (item I) e a capacitação dos funcionários
• conscientização para uso de copos indivi- para desempenho desses procedimentos.
duais não-descartáveis;
• compra de “canecas” para todos os servi- V. CONSTRUÇÕES E REFORMAS SUSTENTÁVEIS
dores.
1. Propor que, sempre que possível, as obras pú-
4. Consumo de água blicas (novas construções ou reformas) levem em
• levantamento sobre a situação das instala- conta a questão ambiental, preocupando-se com a
ções hidráulicas e proposição das alterações eficiência energética das edificações, utilização de
necessárias para redução do consumo; materiais ambientalmente corretos, disposição de re-
• levantamento e acompanhamento do con- síduos, utilização racional da água. Algumas ações
sumo de água; para alcançar estas metas são as que seguem:
• conscientização para o não desperdício da água. • projetos de novas edificações devem preo-
cupar-se em facilitar a ventilação e a ilumi-
III. GESTÃO DE RESÍDUOS nação naturais, o que economizará energia
(redução da necessidade de lâmpadas e ar
1. Adequação ao decreto presidencial nº 5.940 de
condicionado ligados);
25/10/2006:
• utilizar madeira certificada ou ao menos de
• instituir uma comissão setorial de coleta
comprovada origem legal – e, de preferên-
seletiva com um representante por unidade
cia, produzida nas proximidades;
e envolver outros órgão alocados no mesmo
• implementar sistemas de reaproveitamento
prédio ou condomínio;
da água para fins não potáveis;
• implantação da coleta seletiva (Resolução
• utilização de placas fotovoltaicas em pe-
do CONAMA nº 275 de 25 de abril de 2001
quenos edifícios para geração de energia;
– Estabelece código de cores para diferen-
• no acabamento, escolher torneiras com tem-
tes tipos de resíduos na coleta seletiva);
porizador, lâmpadas fluorescentes sem mer-
• doação de materiais recicláveis para coo-
cúrio, bacias sanitárias com menor consumo
perativas de catadores de lixo.
de água, controladores automáticos de luz
para banheiros e corredores, etc.
2. Destinação adequada dos resíduos perigosos (p. ex.
resíduos de saúde, lâmpadas fluorescentes, etc.)
VI. QUALIDADE DE VIDA, SAÚDE E SEGURAN-
ÇA NO TRABALHO
IV. LICITAÇÕES SUSTENTÁVEIS
1. Implantar programas de qualidade de vida, saúde e
1. Propor que, sempre que possível, sejam feitas aquisi-
segurança no trabalho como por exemplo:
ções de bens e materiais; contratações de serviços e projetos
• implantar programa de prevenção de riscos
ambientalmente saudáveis como por exemplo:
ambientais;
• compra de impressoras que imprimam em
59

• formação da comissão de prevenção de aci- os impactos que o desperdício pode causar


dentes e brigadas de incêndio; ao meio ambiente e aos cofres públicos;
• manutenção ou substituição de aparelhos que • apresentar o resultado do questionário e abrir
provocam ruídos no ambiente de trabalho; um espaço para o debate sobre o mesmo;
• promover atividades de integração no local • convidar um representante do MMA para
de trabalho e qualidade de vida como: gi- apresentar o programa A3P e fazer uma
nástica laboral, oficinas de talento, etc. descrição rápida dos órgãos que aderiram
o Programa;
VII. DIVULGAÇÃO E MOBILIZAÇÃO • apresentação de representante(s) da(s)
cooperativa(s) de material reciclável;
1. Segue abaixo uma proposta de roteiro, que a • apresentação cultural (música, teatro e/ou
equipe de trabalho pode seguir em cada setor da Ins- outros) que se relaciona com o trabalho da
tituição com seus respectivos servidores, para divul- A3P, com distribuição de kits (coletores,
gação e mobilização: bloco de papel reutilizado e outros);
• apresentar aos funcionários o resultado do • apresentar a proposta de trabalho de acor-
diagnóstico, com a presença dos dirigentes, do com a realidade da entidade, incenti-
fazendo comparação com os gastos de ou- vando o debate dos participantes, a fim de
tros órgãos que aderiram a A3P e explicar finalizar a proposta.
61

RESÍDUOS SÓLIDOS

E sse é um tema muito rico e que necessita ser


discutido e amadurecido pela sociedade, pois en-
volve tanto o aspecto ambiental como o social. Pos-
• coleta diferenciada: serviço que compreende a
coleta seletiva, entendida como a coleta dos
resíduos orgânicos e inorgânicos, e a coleta
sui muitas particularidades e especificidades. Está multi-seletiva, compreendida como a coleta
diretamente relacionado com o comportamento do efetuada por diferentes tipologias de resíduos
seu gerador, local geopolítico onde foi gerado, onde sólidos, normalmente aplicada nos casos em
e como é manejado até a disposição final ambiental- que os resultados de programas de coleta sele-
mente adequada. tiva implementados tenham sido satisfatórios;
• consumo sustentável: consumo de bens e ser-
CONCEITO viços, de forma a atender às necessidades das
Podemos começar com a palavra lixo, muito usa- atuais gerações e permitir melhor qualidade de
da em nosso vocabulário, e que segundo o dicionário vida, sem comprometer o atendimento das ne-
Michaelis, significa “aquilo que se varre para tornar cessidades e aspirações das gerações futuras;
limpa a sua casa, rua, jardim, etc.; restos de cozinha • destinação final ambientalmente adequada:
e refugos de toda espécie, como latas vazias e emba- técnica de destinação ordenada de rejeitos,
lagens de mantimentos que ocorrem em uma casa; segundo normas operacionais específicas, de
imundície, sujidade, escória, detrito, entulho, por- modo a evitar danos ou riscos à saúde pública
caria”. É uma palavra derivada do termo latim lix, e à segurança, minimizando os impactos am-
que significa cinza. Como podemos observar, ela está bientais adversos;
associada a algo que não tem mais valor, indesejável, • fluxo de resíduos sólidos: movimentação de re-
no qual queremos manter longe de nosso convívio. É síduos sólidos desde o momento da geração até
preciso rever o conceito de lixo, e suas formas de tra- a disposição final dos rejeitos;
tamento e iniciarmos uma mudança de hábitos. Por • geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas
essa razão, passaremos a nos referir ao lixo, objeto ou jurídicas, públicas ou privadas, que geram
resíduos sólidos por meio de seus produtos e
de nosso tema, como resíduos. Mais ainda, podemos
atividades, inclusive consumo, bem como as
definir lixo como: resíduos mais rejeitos.
que desenvolvem ações que envolvam o manejo
e o fluxo de resíduos sólidos;
De acordo com os conceitos propostos no projeto • gerenciamento integrado de resíduos sólidos:
de lei PL 1.991 de 2007 que prevê a instituição das atividades de desenvolvimento, implementa-
diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos sólidos e a ção e operação das ações definidas no Plano
Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual falare- de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, a fis-
mos mais adiante, o Capítulo II das definições, des- calização e o controle dos serviços de manejo
tacamos as seguintes: dos resíduos sólidos;
• resíduos sólidos: resíduos no estado sólido e • gestão integrada de resíduos sólidos: ações
semi-sólido, que resultam de atividades de ori- voltadas à busca de soluções para os resíduos
gem urbana, industrial, de serviços de saúde, sólidos, de forma a considerar as dimensões
rural, especial ou diferenciada; políticas, econômicas, ambientais, culturais
• rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgo- e sociais, com a ampla participação da socie-
tadas todas as possibilidades de tratamento e dade, tendo como premissa o desenvolvimento
recuperação por processos tecnológicos aces- sustentável;
síveis e disponíveis, não apresentem outra pos- • reutilização: processo de reaplicação dos resí-
sibilidade que não a disposição final ambien- duos sólidos sem sua transformação biológica,
talmente adequada. física ou físico-química;
62

• manejo de resíduos sólidos: conjunto de ações SITUAÇÃO DOS RESÍDUOS NO BRASIL


exercidas, direta ou indiretamente, com vis-
tas à operacionalizar a coleta, o transbordo, o A situação do manejo de resíduos sólidos no país
transporte, o tratamento dos resíduos sólidos é preocupante, principalmente no que diz respeito à
e a disposição final ambientalmente adequada questão da disposição final, uma vez que 63,6% dos
de rejeitos; municípios brasileiros utilizam lixões como forma de
• tratamento ou reciclagem: processo de trans- disposição dos resíduos sólidos urbanos, 18,4% uti-
formação dos resíduos sólidos, dentro de pa- liza aterros controlados e 13,8% dispõem os resídu-
drões e condições estabelecidas pelo órgão os em aterros sanitários (IBGE, 2002). De natureza
ambiental, que envolve a alteração de suas complexa, o problema deixa de ser simplesmente uma
propriedades físicas, físico-químicas ou bioló- questão de gerenciamento técnico para inserir-se em
gicas, tornando-os em novos produtos, na for- um processo orgânico de gestão participativa.
ma insumos, ou em rejeito.
No tocante aos resíduos sólidos domiciliares, o
Os resíduos também são classificados quanto à origem: panorama atual do país aponta sérios problemas re-
a) resíduos domiciliares: resíduos sólidos gerados lacionados com a gestão dos serviços de manejo dos
por residências, domicílios, estabelecimentos resíduos sólidos, cujas soluções de disposição final, em
comerciais, prestadores de serviços e os oriun- sua grande maioria, não apresentam sustentabilidade
dos dos serviços públicos de limpeza urbana e quer seja ambiental, quer seja econômico-financeiro e
manejo de resíduos sólidos, que por sua natu- social, acentuando o comprometimento da qualidade
reza ou composição tenham as mesmas carac- dos recursos hídricos, do meio ambiente e da saúde
terísticas dos gerados nos domicílios; pública. Esse quadro tem-se agravado nas últimas dé-
b) resíduos industriais: resíduos sólidos oriundos cadas devido ao processo de urbanização desordenado
dos processos produtivos e instalações i n - nas cidades brasileiras e à ocupação de áreas de for-
dustriais, bem como os gerados nos serviços ma irregular, acentuando as disparidades regionais e
públicos de saneamento básico, excetuando- aprofundando as desigualdades socioeconômicas.
se os relacionados na alínea “c” do inciso I do
art. 3° da Lei no 11.445, de 2007; Em termos legais, uma série de leis federais têm
c) resíduos de serviços de saúde: resíduos sólidos colaborado com definições que são estratégicas
oriundos dos serviços de saúde, conforme para o setor de saneamento. Dentre elas, a Lei nº
definidos pelo Ministério da Saúde em regula- 10.257/2001 - o Estatuto das Cidades – que definiu
mentações técnicas pertinentes; o acesso aos serviços de saneamento básico como
d) resíduos rurais: resíduos sólidos oriundos de um dos componentes do direito à cidade, e a Lei nº
atividades agropecuárias, bem como os 11.107/2005 – Lei dos Consórcios Públicos - que
gerados por insumos utilizados nas respectivas criou uma base normativa para a gestão associada
atividades; e dos serviços públicos entre os entes federativos. O
e) resíduos especiais: aqueles que por seu volume, Decreto nº 5.940/06 que institui a coleta seletiva
grau de periculosidade, de degradabilidade ou nos órgãos públicos e a destinação as organizações
outras especificidades, requeiram procedimen- de catadores de materiais recicláveis, como um es-
tos especiais ou diferenciados para o manejo
forço na consolidação de uma política pública de
e a disposição final dos rejeitos, considerando
inclusão social e emancipação financeira desse seg-
os impactos negativos e os riscos à saúde e ao
mento. E em janeiro de 2007, foram promulgados
meio ambiente.
o decreto que regulamenta a Lei de Consórcios e a
Para tratar dos diferentes resíduos existem Leis, Lei nº 11.445/2007 – Lei de Saneamento Básico,
Decretos, resoluções (CONAMA, ANVISA) e nor- que institui as diretrizes para os serviços públicos
mas (ABNT) que encontram-se disponíveis no CD de saneamento básico e define o marco da política
anexo a esta apostila. federal de saneamento básico. Por fim, em setem-
63

bro de 2007, o Presidente da República, por meio Desta forma, a conversão do PL nº 1991/07 em lei
da Mensagem 672/2007, encaminhou à Câmara dos trará reflexos positivos no âmbito social, ambiental
Deputados Projeto de Lei - PL nº 1991/07, que ob- e econômico, pois não só tende a diminuir o consumo
jetiva instituir a Política Nacional de Resíduos Sóli- dos recursos naturais, como proporciona a abertura
dos e dá outras providências. de novos mercados, gera trabalho, emprego e renda,
conduz à inclusão social e diminui os impactos am-
Ressalta-se a importância da aprovação da Lei bientais provocados pela disposição inadequada dos
11.445/2007 – Lei do Saneamento, que contempla resíduos. Com essa iniciativa prevê-se um significati-
o planejamento como ferramenta fundamental para vo avanço para o equacionamento da questão, com a
o desenvolvimento das ações de saneamento básico, possibilidade de viabilizar novos arranjos para a ges-
dentre eles o manejo dos resíduos sólidos, de modo a tão de resíduos, reforçada com a instituição das leis
permitir a qualificação e eficiência no gasto público, de Consórcios Públicos. Para muitos municípios, a
bem como a sustentabilidade e perenidade dos proje- possibilidade da constituição de consórcios públicos é
tos de saneamento, além de garantir os direitos dos uma das formas de enfrentar os problemas referentes
cidadãos e usuários em receber serviços eficientes, à prestação dos serviços de limpeza urbana, incluin-
regulados e permanentemente fiscalizados. do a destinação final, com menores custos.

Outro fato relevante foi o encaminhamento ao


Congresso Nacional do PL nº 1991, cuja concep-
ção mantém estreita consonância com a Lei de Sa- INTEGRAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS
neamento Básico e a Lei dos Consórcios Públicos RECICLÁVEIS NA COLETA SELETIVA8
e seu decreto regulamentador nº 6.017/07. Dentre
Como estabelecido no capítulo XXI da Agenda 21,
os principais avanços contidos no PL, destaca-se
o manejo ambientalmente saudável dos resíduos pressu-
a responsabilização do gerador pelos resíduos ge-
rados, desde o acondicionamento até a disposição põe hierarquicamente a redução ao mínimo dos resíduos
final ambientalmente adequada; a elaboração de e o aumento ao máximo da reutilização e da reciclagem.
Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Apesar de a prioridade centrar-se na transformação do
pelo titular dos serviços, a análise e avaliação do estilo de vida e, dos padrões de produção e consumo, a
ciclo de vida do produto e a logística reversa. Cria, reciclagem também é preconizada como uma ação im-
ainda mecanismos para uma mudança de comporta- portante. Além da reinserção de bens na cadeia produ-
mento em relação aos atuais padrões insustentáveis tiva, possibilitando uma economia em matéria-prima, o
de produção e consumo para a adoção e internaliza- processo permite também a redução da poluição do ar e
ção do conceito dos 5Rs: Repensar, Recusar, Reduzir, da água, e a economia de energia (MAGERA, 2003).
Reutilizar e Reciclar - em todas as etapas do proces-
so. Também busca consolidar o controle social nas A implantação de programas de coleta seletiva in-
várias etapas da atividade no que se refere aos re- centiva o desvio de materiais inorgânicos que seriam
síduos domiciliares urbanos, desde o planejamento encaminhados aos aterros sanitários, maximizando
até a prestação dos serviços. Destaca-se também, a as chances de o empreendimento gerar biogás. Tam-
geração de trabalho e renda, com a participação dos bém permite economias em energia a partir da reci-
catadores no retorno dos materiais recicláveis a ca- clagem dos materiais coletados, quando comparado a
deia produtiva. Além disso, temos o art. 3º que trata
processos tradicionais de produção.
do envolvimento do Poder Público e da coletivida-
de na busca da efetividade das ações que envolvam
os resíduos sólidos gerados, por meio do qual, por Outro ganho importante da coleta seletiva diz res-
exemplo, o Ministério Público poderá atuar sempre peito à agregação de valor social, mediante a inclu-
que houver o não cumprimento de uma obrigação são de catadores ao programa. Embora o país venha
prevista na lei originada do PL 1991/07. apresentando avanços no desenvolvimento de ativi-

8
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo aplicado a resíduos sólidos — Agregando valor social e ambiental — 2007.
64

dades de manejo de resíduos sólidos envolvendo ca- nº 11.445/2007), que modifica o inciso XXVII do ca-
tadores, as circunstâncias atuais são propícias para put do art. 24 da Lei de Licitações (Lei 8666/93). A
estreitar ainda mais esse compromisso. nova redação amplia a possibilidade de participação
Na esfera internacional, tem-se a ratificação do de cooperativas e associações de catadores na presta-
Protocolo de Quioto, que apresenta exigências socio- ção de serviços ligados à coleta e ao beneficiamento
ambientais. Na esfera nacional, merecem destaque o de materiais recicláveis, como transcrito a seguir:
amadurecimento e fortalecimento da categoria pro-
fissional de catadores de materiais recicláveis e a Art. 24: É dispensável à licitação: XXVII – na
aprovação de leis e decretos que concretizam o papel contratação da coleta, processamento e comercia-
do catador organizado como agente do sistema de lização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou
manejo de resíduos sólidos. reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta sele-
tiva de lixo, efetuados por associações ou coopera-
Uma das iniciativas nacionais de fortalecimento tivas formadas exclusivamente por pessoas físicas
dos catadores foi a criação do Fórum Nacional Lixo de baixa renda reconhecidas pelo poder público
e Cidadania (FL&C), em 1998, que impulsionou uma como catadores de materiais recicláveis, com o
mudança de paradigma na gestão dos resíduos sóli- uso de equipamentos compatíveis com as normas
dos. A partir daí, o gerenciamento eficiente dos resí- técnicas, ambientais e de saúde pública (ROMANI
duos sólidos passou a ser uma questão de cidadania, & SEGALA, 2007).
o que vem conferindo maior visibilidade ao catador
de materiais recicláveis. MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Em 2002, o Ministério do Trabalho e Emprego Conforme já exposto no capítulo da Educação


reconheceu a categoria profissional dos catadores e, Ambiental, uma das propostas para a solução dos
no ano seguinte, foi criado o Comitê Interministerial problemas relacionados com os resíduos é a utiliza-
da Inclusão Social de Catadores de Lixo. Paralela- ção do Princípio dos Cinco Erres (5R’s) – Repensar,
mente, em grande parte impulsionados pelo FL&C, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
os catadores construíram uma identidade coletiva e
ganharam maior nível de organização, tendo promo- Esse princípio deve ser considerado como o ideal
vido desde então diversos encontros regionais, nacio- de prevenção e não-geração de resíduos, somados à
nais e internacionais. Com a criação do Movimen- adoção de padrões de consumo sustentável, visando
to Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis poupar os recursos naturais e conter o desperdício.
(MNCR), a categoria passou a ganhar mais espaço e
expressão política. Nessa esteira, devemos incluir os cuidados com o
consumo de água, energia e combustíveis. Esses cui-
Conforme dito anteriormente, uma oportunidade dados nem sempre estão ligados à questão dos resídu-
recentemente aberta no país para uma mudança na os, mas combinam com a responsabilidade ambiental
condução de vida dos catadores, possibilitando sua de todos nós, dependentes dos recursos naturais, dos
integração a programas de manejo de resíduos sóli- quais falamos anteriormente quando abordamos a
dos, veio com a aprovação da Lei de Saneamento (Lei Agenda Ambiental na Administração Pública.
65

DIRETRIZES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE COLETA


SELETIVA DE ACORDO COM O DECRETO Nº 5.940/06
Clesivania Santos Rodrigues – Autora
Luciene Velez e Fabio Cidrin G. Alves – Co-autores

A queda na oferta de postos de trabalho tem levado


um número cada vez maior de pessoas a ocupar
as ruas e delas retirar seu sustento. A atividade de
Um dos grandes ganhos dessa categoria de traba-
lho foi a criação em 1998 do Fórum Nacional Lixo
e Cidadania, constituído por diversas instituições. Na
catar papéis e material reciclável, existente nas cida- sua criação os principais objetivos do Fórum eram:
des há várias décadas, começou a agregar um núme- retirar crianças do trabalho nos lixões e colocá-las
ro cada vez maior de indivíduos que passaram a fazer na escola, ampliar a renda de famílias que vivem da
parte dessa “economia marginal” da cidade. catação e erradicar os lixões.

Segundo Dias (2002), esse fenômeno converge Outra grande conquista ocorreu em 2002 com o
com a elevada complexidade sócio-ambiental das ci- reconhecimento, pelo Ministério do Trabalho e Em-
dades, fruto de um modelo predatório de apropriação prego da categoria profissional — Catadores de Ma-
da natureza, o que vem ratificando os efeitos cumu- teriais Recicláveis.
lativos da ação antrópica particularmente desde o
início da década de setenta em todo o mundo. Ações recentes do governo federal brasileiro vêem,
cada vez mais, corroborar para o reconhecimento da
Cada dia mais pode ser percebido nas cidades o relevância dos serviços prestados à sociedade pelos
crescimento dos problemas com resíduos e também catadores. O Decreto nº 5.940, de 25 de outubro de
um aumento da população excluída das possibilida- 2006, é mais uma iniciativa do governo federal para
des de trabalho e produção. Dessa combinação surge apoiar essa categoria. O Decreto instituiu a separa-
a atividade do catador de resíduos. Tratados com des- ção dos resíduos recicláveis descartáveis pelos órgãos
criminação pela sociedade e vistos como inimigos dos e entidades da administração pública federal direta e
serviços de limpeza pública por muitos representantes indireta na fonte geradora, e a sua destinação as as-
das administrações municipais, por causarem proble- sociações e cooperativas dos catadores de materiais
mas para a coleta de resíduos e provocarem tumulto recicláveis e outras providências.
na ordem urbana, em função da utilização do espaço
público para separação e armazenamento dos mate- COLETA SELETIVA
riais. Com o tempo e a organização dessa atividade,
esta situação começou a se reverter e aos poucos os O interesse pelo meio ambiente e pelos problemas
catadores tem sido vistos por alguns segmentos como relacionados com os resíduos sólidos tem resultado
trabalhadores que desempenham importante papel em questionamentos por parte de diversos segmentos
social e que merecem ser considerados. da população sobre a situação de seus municípios e
as metas de seus governantes, criando um cenário fa-
O trabalho dos catadores nas cidades brasileiras vorável à busca de soluções não usuais.
teve início muito antes da tomada de consciência am-
biental, largamente difundida na década de 80. As Diante do quadro nacional de escassez de recursos
ações originais surgiram como uma estratégia de so- financeiros e do grande déficit no setor de planeja-
brevivência. Hoje em dia, além da motivação ligada mento, os problemas crescem, sobretudo no campo
à fonte de renda, eles também são considerados agen- do saneamento e da saúde pública, ficando os resí-
tes ambientais, colaboradores diretos dos sistemas de duos sólidos relegados a um segundo plano. No que
reaproveitamento e reciclagem de materiais. se refere ao tratamento dos resíduos, as instalações
66

convencionais requerem grandes investimentos e al- minados, esses materiais são depositados na frente
tos custos de operação, quase sempre inacessíveis à das residências, sendo, então, removidos pelos trans-
maioria dos municípios. portes de coleta.

A coleta seletiva, para a administração pública, A separação dos materiais


pode ter objetivos tão variados quanto os próprios O acondicionamento e a coleta, quando realizados
problemas observados em sua comunidade. Tanto
sem a segregação dos resíduos na fonte, resultam na
pode atender aos interesses preservacionistas de co-
deterioração, parcial ou total, de várias das suas fra-
munidades preocupadas com o meio ambiente, como
ções recicláveis. O papelão se desfaz com a umidade,
possibilitar uma sensível redução das quantidades de
resíduos a serem dispostos em aterros, principalmen- tornando-se inaproveitável; o papel, assim como o
te nas regiões onde a escassez de áreas adequadas plástico em filme (sacos e outras embalagens) se suja
é problema, e também contribuir para a geração de em contato com a matéria orgânica, perdendo valor;
emprego e renda, essa última, sobretudo, com a par- e os recipientes de vidro e lata enchem-se com outros
ceria estabelecida entre o poder público e os catado- materiais, dificultando sua seleção e causando risco
res de materiais recicláveis. de acidentes aos trabalhadores da coleta de resíduos;
também a mistura de determinados materiais, como
Para se proceder à Coleta Seletiva, é essencial que pilhas, cacos, tampinhas e restos de equipamentos ele-
o material seja separado e acondicionado adequada- trônicos pode contribuir para o risco de acidentes e
mente. Esse sistema de separação traz mais vanta- piorar significativamente a qualidade dos recicláveis.
gens para o processo da reciclagem, pois: Portanto, a implantação da coleta seletiva deve prever
• Melhora a qualidade dos materiais, evitando- a separação dos materiais na própria fonte geradora,
se a mistura de frações diferentes de resíduos evitando o surgimento desses inconvenientes.
que podem tornar muitos materiais potencial-
mente recicláveis inúteis, fazendo-os se tornar
Para a implantação deste sistema, os resíduos ge-
rejeitos pela atitude mal pensada do gerador;
rados podem ser separados em dois grupos:
• Facilita o controle de impactos ambientais;
• Gera uma menor quantidade de rejeitos; • Materiais recicláveis - compostos por papel,
• Necessita de menor área de instalação das papelão, vidro, metal e plástico.
usinas; • Materiais não-recicláveis - também chamados
• Proporciona menos gasto com essa instalação de lixo úmido ou simplesmente lixo: compostos
e com os equipamentos de separação, lavagem pela matéria orgânica e pelos materiais que
e secagem. não apresentam, atualmente, condições favo-
ráveis à reciclagem.
Formas de execução da coleta seletiva
A relação dos materiais assim classificados pode
A coleta seletiva pode ser realizada de duas for-
variar de um lugar para outro, uma vez que para de-
mas básicas:
terminada localidade pode não ser interessante, ou
• Remoção de porta-a-porta; e
mesmo viável, a separação de determinados mate-
• Utilização de postos de entrega voluntária
riais, por exemplo, devido à simples inexistência de
(PEVs).
mercado comprador.
Remoção porta-a-porta
Remoção por intermédio de postos de entrega vo-
A remoção porta-a-porta consiste na coleta dos luntária — PEVs
materiais recicláveis gerados, numa atividade seme-
lhante à da coleta regular executada pela maioria A utilização de postos de entrega voluntária
dos municípios brasileiros. Nos dias e horários deter- (PEVs) implica em uma maior participação da po-
67

pulação. Os transportes de coleta não se deslocam de COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA


residência em residência. A própria população, mo-
tivada, deposita seus materiais recicláveis em pontos A publicação do Decreto 5.940/06 corrobora para
predeterminados, onde são acumulados para retirada que a Coleta Seletiva Solidária passe a ser uma ação
posterior (coleta). de Responsabilidade Socioambiental do Governo Fe-
deral, promovendo a geração de trabalho e renda
Os PEVs podem ter constituição muito varia- para os catadores de materiais recicláveis, ao ins-
da, dependendo dos recursos disponíveis. Normal- tituir a separação dos resíduos recicláveis descar-
mente são formados por conjuntos de recipientes tados pelos órgãos e entidades da administração
plásticos ou metálicos, como latões de 200 litros pública federal direta e indireta na fonte geradora,
e contêineres, ou de alvenaria, formando pequenas e a sua destinação às associações e cooperativas de
caixas ou baias onde os materiais são depositados. catadores de materiais recicláveis. O tratamento
Esses recipientes, que devem atender às exigências de esgoto e a disposição final de resíduos consti-
de capacidade e função, são identificados por co- tuem sérios problemas para muitos municípios que,
res, seguindo as normas internacionais, e devem entretanto, podem equacioná-los individualmente
ser protegidos da chuva e demais intempéries por ou por meio de associações e consórcios intermuni-
uma pequena cobertura. cipais. A administração municipal assume a opera-
ção dos sistemas de água, esgoto e resíduos, ou os
A construção de contêineres com telas metálicas concede para operação por terceiros. A dimensão
tem sido utilizada como uma alternativa bem sucedi- ambiental deve estar sempre incorporada à presta-
da, uma vez que possibilita que os recicláveis dispos- ção dos serviços.
tos nos contêineres sejam visualizados, o que contribui
para a inibição da deposição equivocada dos resíduos.
Abaixo são enumerados alguns benefícios da Cole-
A localização dos PEVs, preferencialmente, deve ta Seletiva Solidária:
ser em lugares protegidos, de fácil acesso e visualiza- • Aumento da renda dos catadores;
ção, freqüentados por grande número de pessoas. • Criação de novos postos de trabalho nos pro-
cessos de coleta, triagem, beneficiamento e
Vantagens: economia na coleta e prévia separação reciclagem;
dos materiais; • Melhoria das condições de trabalho dos cata-
dores;
Desvantagem: possibilidade de depredação das • Fortalecimento das organizações de catadores;
instalações por vandalismo e necessidade de empenho • Redução dos resíduos encaminhados aos ater-
da população em conduzir seus materiais recicláveis ros sanitários;
até os pontos de entrega voluntária, podendo resultar • Fomento às atividades produtivas de reciclagem;
num percentual de participação menor que o da cole- • Fortalecimento de ações integradas com vistas
ta porta-a-porta. à cidadania.
69

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
CONSUMO CONSCIENTE O consumo é um dos nossos grandes instrumentos
de bem estar, mas precisamos aprender a produzir e
Pense rápido: o que é consumo? A palavra é bem consumir os bens e serviços de uma maneira diferente
conhecida de todos e, seguramente, tem algum signi- da atual, visto que o modelo hoje utilizado de pro-
ficado para você. Consumir implica em um proces- dução e consumo contribuiu para aprofundar alguns
so de seis etapas que, normalmente, realizamos de aspectos da desigualdade social e do desequilíbrio
modo automático e, muitas vezes, impulsivo. O mais ambiental. Mas as coisas não precisam ser assim e
comum é as pessoas associarem consumo a compras, existe um enorme potencial para que o consumo que
o que está correto, mas incompleto, pois não englo- nos trouxe a essa situação, se exercido de outra for-
ba todo o sentido do verbo. A compra é apenas uma ma, nos tire dela.
etapa do consumo. Antes dela, temos que decidir o
que consumir, por que consumir, como consumir e de O caminho para a mudança dos atuais padrões de
quem consumir. Depois de refletir a respeito desses consumo passa pela adoção do “consumo conscien-
pontos é que partimos para a compra. E após a com- te”. Exemplificando, o consumidor pode, por meio
pra, existe o uso e o descarte do que foi adquirido. de suas escolhas, buscar maximizar os impactos
positivos e minimizar os negativos dos seus atos de
Considerando todos esses aspectos do consumo, consumo, e dessa forma contribuir com seu poder de
você vai ver que ele está presente praticamente o consumo para construir um mundo melhor. Em pou-
tempo todo em nossas vidas. Ao acordar, vamos ao cas palavras, é um consumo com consciência de seu
banheiro e consumimos água, eletricidade, pasta de impacto e voltado à sustentabilidade.
dente e sabonete. Depois tomamos café-da-manhã
e lá vai café, pão, manteiga, geléia, frutas, água, O consumidor consciente busca o equilíbrio entre
a sua satisfação pessoal e a sustentabilidade do pla-
eletricidade. E mais água para fazer o café e para
neta, lembrando que a sustentabilidade implica em
lavar a louça. Quando saímos para o trabalho, a
um modelo ambientalmente correto, socialmente jus-
menos que se vá a pé ou de bicicleta, consumimos
to e economicamente viável. O consumidor consciente
combustível, mesmo que seja do ônibus e, no caso do
reflete a respeito de seus atos de consumo e como eles
metrô, energia elétrica. Dependendo da ocupação de
irão repercutir não só sobre si mesmo, mas também
cada um, haverá diferentes tipos de consumo, mas é
sobre as relações sociais, a economia e a natureza. O
quase certo que haverá uso de eletricidade, papel e
consumidor consciente também busca disseminar o
cafezinho, por exemplo. Portanto, mesmo que você conceito e a prática do consumo consciente, fazendo
passe o dia todo sem sequer abrir a carteira, terá com que pequenos gestos de consumo realizados por
consumido muita coisa. um número muito grande de pessoas promovam gran-
Por isso o consumo é algo muito importante e que des transformações.
provoca diversos impactos. Primeiro em nós mesmos, O consumo consciente pode ser praticado no
já que temos que arcar com as despesas do consumo e dia-a-dia, por meio de gestos simples que levem
também nos beneficiamos do bem estar derivado dele. em conta os impactos da compra, uso ou descarte
Depois, o impacto na economia, porque ao adquirir- de produtos ou serviços. Tais gestos incluem o uso e
mos algo, movimentamos a máquina de produção e descarte de recursos naturais como a água, a com-
distribuição, ativando a economia. Também afeta a pra, uso e descarte dos diversos produtos ou servi-
sociedade, porque é dentro dela que ocorrem a pro- ços, e a escolha das empresas das quais comprar,
dução, as trocas e as transformações provocadas pelo em função de sua responsabilidade socioambiental.
consumo. E, por fim, o impacto sobre a natureza, que Assim, o consumo consciente é uma contribuição
nos fornece as matérias-primas para a produção de voluntária, cotidiana e solidária para garantir a sus-
tudo o que consumimos. tentabilidade da vida no planeta.
70

Praticar o consumo consciente consiste numa atitude A falta de água de boa qualidade provoca diversos
de liberdade de escolha. É uma tomada de posição cla- males. Entre 1995 e 2000, ocorreram no Brasil 700
ra, democrática e ética. O consumo consciente irá gerar mil internações hospitalares por doenças relaciona-
uma reflexão que tem por conseqüência a geração de das à falta de água e saneamento básico. Portanto,
uma cadeia de estímulos que irá contagiar positivamen- quando você fecha a torneira ao escovar os dentes,
te as empresas e seus funcionários, sua família, colegas ao se ensaboar no banho e ao lavar a louça, você
e amigos que, diante do exemplo, serão impelidos a re- está utilizando uma prática sustentável, um ato que
fletir sobre os seus próprios atos de consumo. terá um impacto positivo para a sociedade; para a
economia, porque adiará a necessidade de novos in-
Para ficar mais claro, vamos dar um exemplo vestimentos no setor; para a natureza, porque não
simples. Sabe-se que a água é um recurso natural estará pressionando as nascentes; e para você, que
escasso e cerca de 30% da população mundial não vai economizar na conta de água. (Texto Original do
tem acesso à água tratada de boa qualidade. Por- Instituto Akatu)
tanto, mesmo que você consiga arcar com sua con-
TECNOLOGIAS SOCIAIS – TS
ta de água, e portanto possa, em princípio, gastar
o montante de água que lhe for disponível, tal fato Por que falar de Tecnologias Sociais?
trará como impacto a não disponibilidade de água,
O termo Tecnologias Sustentáveis surgiu no uni-
um recurso precioso e muito escasso, para um grande
verso das ONGs e, sendo percebido como um termo
número de pessoas. Além disso, antes da água chegar
que poderia circunscrever práticas de intervenções so-
à sua torneira, ela é tratada, gerando um custo para ciais que se destacam pelo seu êxito na melhoria das
os cofres públicos. Economizando-se água, o volume condições de vida da população, construindo soluções
tratado será menor e os custos serão mais baixos. que se relacionam estreitamente com a realidade dos
Caso contrário, para aumentar o abastecimento, o locais ao qual se aplicam, começou a ser utilizado
órgão responsável terá de investir em novas estações principalmente no diálogo com tais organizações.
de tratamento, que exigirão investimentos e usarão
o dinheiro que poderia ser aplicado em outras áreas, Desse modo, a necessidade de adotar um novo nome
tais como saúde, educação ou transporte. Um outro para as práticas sociais se deu a partir de que, muitas
ponto a considerar é que, se a água for usada em vezes, a despeito de sua eficácia em resolver problemas,
quantidade maior do que a realmente necessária, as tais práticas e as aprendizagens delas decorrentes fica-
fontes usadas podem não conseguir suprir a deman- vam circunscritas aos espaços nos quais ocorriam.
da. Se isso acontecer, as autoridades terão de buscar
água mais longe, o que provavelmente vai encarecer Nomear tais práticas, possibilitando sua visibi-
o custo da água e vai dificultar o acesso a ela pelas lidade, é um modo de legitimar as ONGs junto ao
populações de baixa renda. sistema de CT&I (permitindo que tenham acesso a
recursos destinados à produção científica, tecno-
lógica e inovadora do país) e, também, organizar
e disseminar experiências que contenham elemen-
tos de TS – o que, sem dúvida, significa contribuir
para a melhoria das práticas de intervenção social
dos diversos atores que se propõem a desenvolvê-
las. A reflexão e a construção do conceito de TS
devem ser capazes de melhorar práticas sociais
e de contribuir para que novos significados para
a produção de conhecimento sejam construídos,
aproximando os problemas sociais de soluções e
ampliando os limites da cidadania.
71

Falar em TS é abordar processos que, ao mesmo as fontes de petróleo e outras matérias-primas não
tempo, se inserem na mais moderna agenda do conhe- renováveis estavam e estão se esgotando. Reciclar
cimento e na mais antiga das intenções – a superação significa = re (repetir) + cycle (ciclo). Para compre-
da pobreza. É falar do resultado concreto e inovador endermos a reciclagem, é importante “reciclarmos”
do trabalho de pessoas que resolveram problemas o conceito que temos de lixo, deixando de enxergá-
inspiradas pela sabedoria popular e com o auxílio de lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade.
pesquisadores. É também falar de produtos de orga- O primeiro passo é perceber que o lixo é fonte de
nizações da economia solidária que se inserem num riqueza e que para ser reciclado deve ser separado.
circuito econômico cada vez mais significativo. Ele pode ser separado de diversas maneiras, sendo a
mais simples separar o lixo orgânico (ou molhado) do
A percepção de Tecnologia Social surgiu no diá- inorgânico (ou seco).
logo com as entidades da sociedade civil organizada
e na observação de seu modo de ação. Daí, puderam- A grande solução para os resíduos sólidos é aque-
se verificar as práticas de intervenção social que se
la que prevê a máxima redução da quantidade de
destacam pelo êxito na melhoria das condições de
resíduos na fonte geradora. Quando os resíduos não
vida da população, construindo soluções participa-
podem ser evitados, devem ser reciclados por reuti-
tivas estreitamente ligadas às realidades locais onde
lização ou recuperação.
são aplicadas.

Mais do que a capacidade de implementar soluções Desde o início dos anos 50, quando foi trazido para
para determinados problemas, as tecnologias sociais o Brasil o processo DANA, que fazia a separação ma-
podem ser vistas como métodos e técnicas que per- nual do lixo em correias transportadoras e o lixo or-
mitem impulsionar processos de empoderamento das gânico era tratado num fermentador rotativo durante
representações coletivas da cidadania para habilitá- 72 horas, a única solução implantada em diversos cen-
las a disputar, nos espaços públicos, as alternativas tros urbanos eram as usinas de tratamento com esse
de desenvolvimento que se originam das experiências processo, as quais, devido aos fortes odores emitidos,
inovadoras e que se orientam pela defesa dos interes- acabavam por se situar fora dos centros urbanos, em
ses das maiorias e pela distribuição de renda. (Textos locais afastados, aumentando muito o custo de trans-
originais do ITS-Instituto de Tecnologia Social e da porte. Devido a seu alto custo inicial e à inexistência
RTS-Rede de Tecnologias Sociais). de um processo efetivo de reciclagem, afora o do lixo
orgânico vendido como adubo, tais usinas significavam
TECNOLOGIAS DE RECICLAGEM DE RESÍDUOS um elevado ônus para as prefeituras.
A reciclagem surgiu como uma maneira de rein-
troduzir no circuito econômico uma parte da matéria Segundo Vaz e Cabral numa avaliação crítica da
(e da energia), que se tornaria lixo. Assim desviados, atual situação: “A melhor solução para a destinação
os resíduos são coletados, separados e processados final do lixo é ter menos lixo; a reciclagem é indis-
para serem usados como matéria-prima na produção pensável”. Os lixões continuam sendo o destino da
de bens, os quais eram feitos anteriormente com ma- maior parte dos resíduos urbanos produzidos no Bra-
téria-prima virgem. sil, com graves prejuízos ao meio ambiente, à saúde e
à qualidade de vida da população, embora represen-
A reciclagem é um processo que converte o lixo tem para a população de catadores de rua seu meio
descartado (matéria-prima secundária) em produto de sobrevivência, pois muitos deles ainda retiram o
semelhante ao inicial ou outro. Reciclar é economizar seu sustento dos lixões.
energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao
ciclo produtivo o que é jogado fora. A palavra reci- Mesmo nas cidades que implantaram aterros sa-
clagem foi introduzida ao vocabulário internacional nitários, o rápido esgotamento de sua vida útil man-
no final da década de 80, quando foi constatado que tém evidente o problema do destino do lixo urbano.
72

A situação exige soluções para a destinação final do da não preocupação com os resíduos orgânicos é
lixo no sentido de reduzir o seu volume. Ou seja: no o fato dos principais divulgadores e patrocinadores
destino final, é preciso ter menos lixo. As soluções dos programas de reciclagem serem empresas. Essas
convencionais são: têm como meta não um meio ambiente mais saudá-
• Os aterros sanitários são grandes terrenos onde vel, mas sim a possibilidade de obter matéria prima
o lixo é depositado, comprimido e depois espa- mais barata. Portanto, preocupam-se apenas com o
lhado por tratores em camadas separadas por reaproveitamento dos produtos industriais que lhes
terra. As extensas áreas que ocupam, bem como servem de insumos.”
os problemas ambientais que podem ser causa-
dos pelo seu manejo inadequado, tornam pro- A instalação da usina de reciclagem de Vitória –
blemática a localização dos aterros sanitários ES, em 1990, em um antigo “lixão” evitou enormes
nos centros urbanos maiores, apesar de serem a prejuízos ambientais e reuniu trabalhadores que vi-
alternativa mais econômica em curto prazo; viam em condições sub-humanas, explorados pelas
• Os incineradores, indicados sobretudo para “máfias do lixo”, controladas por aparistas e suca-
materiais de alto risco, podem ser utilizados teiros, dando-lhes melhores condições de trabalho
para a queima de outros resíduos, reduzindo e remuneração. Esse exemplo mostra o caminho a
seu volume. As cinzas ocupam menos espaço seguir para uma verdadeira inclusão social de cata-
nos aterros e se reduz o risco de poluição do dores e trabalhadores na reciclagem.
solo. Entretanto, exigem sistemas caros que
evitem liberar gases nocivos à saúde e seu Essas usinas pretendem resolver os aspectos ad-
alto custo os torna inacessíveis para a maio- versos relatados acima por Milanez (1999) de for-
ria dos municípios; ma viável economicamente, agregando valor à qua-
• As usinas de compostagem transformam os re-
se totalidade dos resíduos sólidos do lixo doméstico
síduos orgânicos presentes no lixo em adubo,
e tornando a reciclagem uma indústria altamente
reduzindo o volume destinado aos aterros. É
rentável. Somente no setor de plásticos, calcula-
difícil cobrir o alto custo do processo com a
se que existam no Brasil cerca de 300 instalações
receita auferida pela venda do produto. Além
industriais de reciclagem de plástico, que faturam
disso, não se resolve o problema de destinação
perto de R$ 250 milhões por ano e geram até 20
dos resíduos inorgânicos, cuja possibilidade de
mil empregos diretos. A maior parte é formada por
depuração natural é menor.
pequenas empresas.
Segundo Milanez (1999), “É comum as pes-
Outro aspecto é o estímulo à formação de toda
soas, quando pensam em redução de lixo, falarem
a cadeia produtiva que complemente o papel dessas
apenas em reciclagem, ou seja, referirem-se ao
organizações cooperativas na produção de produtos
plástico, ao papel, ao vidro e aos metais. Em pou-
cos casos a matéria orgânica é considerada. Esse finais que consumam as matérias prima resultantes
erro pode ser considerado bastante grave, uma vez de reciclagem, promovendo a geração de trabalho e
que a matéria orgânica é a que apresenta maior renda em regiões defasadas no desenvolvimento.
participação no lixo. Se, por um lado, pode-se di-
zer que a matéria orgânica é biodegradável, e por O Brasil enfrenta problemas sociais, ambientais e
isso com o tempo será decomposta, por outro lado econômicos que podem ser minimizados pela utilização
deve-se lembrar que é exatamente a sua decom- de algumas tecnologias de reciclagem, principalmente
posição que gera os resíduos líquidos (chorume) e aquelas relacionadas à ausência de coleta seletiva de
gasosos (metano e gases de enxofre) nos aterros. E resíduos sólidos em diversas cidades do Brasil.
são esses efluentes os principais agentes impactan-
tes do meio ambiente. Na minha opinião a causa Hoje, a grande preocupação na temática de resí-
73

duos, além dos já citados resíduos


orgânicos, inorgânicos, líquidos e
gasosos, é o denominado “lixo tec-
nológico”. São as baterias, pilhas,
celulares, microcomputadores, e
dezenas de componentes e equipa-
mentos elétricos e eletrônicos, que
nos desafiam a definir sua destina-
ção final com aproveitamento sus-
tentável. O que fazer com eles?

Todas as abordagens descritas


acima nos levam a obter soluções,
a desenvolver ferramentas, ins-
trumentos, tecnologias que dêem
conta de resolver os problemas Esses produtos voltam ao mercado consumidor de
existentes e os gargalos que impedem nosso desen- duas maneiras: (re)produzidos pela indústria (as lati-
volvimento sustentável. nhas que viram latinhas novamente) ou produzidos pelas
comunidades que agregam valor ao material reciclável
As tecnologias utilizadas nos processos industriais e os transformam em outros produtos: peças artesanais,
de reciclagem são tecnologias de alto custo, de gran- por exemplo, bolsas de garrafa PET, porta-retratos de
papel reciclado, etc. Reparem que essas duas maneiras
de porte, desenvolvidas em universidades e centros de
envolvem tecnologias diferentes: a primeira, industrial,
pesquisa, e são denominadas “convencionais”; dife- utilizará um equipamento convencional; já a segunda
rentemente das tecnologias sociais que, geralmente, desenvolverá uma tecnologia social que propiciará um
são de baixo custo, de pequeno porte, e geradas em produto novo com agregação de valor, podendo, portan-
comunidades e/ou localidades onde elas se desenvol- to, ser comercializado e, conseqüentemente, melhorará
vem a partir de uma necessidade ou na resolução de o nível de renda dessas pessoas.
algum problema localizado.
A reciclagem está intimamente ligada ao proces-
so social de empoderamento de algumas populações
A questão dos resíduos requer uma abordagem de
excluídas, como é o caso dos catadores de materiais
forma sistêmica, com identificação de todas as eta- recicláveis e suas famílias, que vivem da comerciali-
pas do processo, e em cada uma dessas etapas iden- zação dos materiais recicláveis que coletam, mas que
tificamos a utilização de ferramentas, de instrumen- necessita de políticas públicas efetivas que organizem
tos, de técnicas, de práticas, de equipamentos que o setor e representem finalmente a solução definitiva
possibilitam o adensamento tecnológico do processo para a sustentabilidade do planeta e de uma socieda-
na cadeia da reciclagem. de justa e igualitária para todos (página 76).

A inserção de Ciência, Tecnologia & Inovação no


O processo da reciclagem envolve diversas opera-
processo da cadeia da reciclagem é uma estratégia
ções de transformação do produto que incluem desde para o desenvolvimento sustentável que promove a
a produção e a geração, passando pela coleta, tria- inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da
gem e classificação, beneficiamento, transporte e a população e do meio ambiente, com grandes ganhos
reciclagem propriamente dita, até o produto voltar econômicos para a região onde se aplica todo o pro-
ao mercado consumidor (figura acima). cesso (MCT/IBIPTI, 2005).
74
75

MÓDULO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Wélcio Silvério de Toledo

1 - INTRODUÇÃO A preocupação com o meio ambiente é uma das


questões que hoje afetam a vida do ser humano, con-
O mundo de hoje se encontra marcado pela grande
tribuindo para a melhoria ou deterioração da sua
importância dada aos meios utilizados para atender
qualidade de vida e, consequentemente, influencian-
à necessidade dos seres humanos em seu ambiente de
do diretamente em seu bem-estar. A criação de uma
trabalho. Questões relacionadas ao ambiente de tra-
agenda ambiental para servir como referencial ao
balho em si, à vida do cidadão atendido pelo serviço
trabalhador preocupado com o mundo à sua volta
público e à vida do trabalhador do século XXI, são
bem como a sensibilização dos gestores públicos para
de suma importância para que a relação entre o ser
as questões ambientais, incorporando princípios e
humano e seu meio seja a mais convergente possível.
critérios de gestão ambiental em suas atividades co-
tidianas, caminham na direção dos novos paradigmas
A atividade de quem trabalha deve ser pensada
como um processo permanente de regulação que visa presentes no mundo do trabalho, voltado para uma
responder aos objetivos propostos em forma de tare- visão mais global e menos compartimentalizada.
fas e às determinações situacionais, físicas, materiais,
sociais, instrumentais, entre outras. A visão e conse- As necessidades de novas aprendizagens e princi-
qüente avaliação que o trabalhador faz do seu estado palmente o gerenciamento dos conhecimentos adqui-
interno também pode ser considerado uma determi- ridos estão cada vez mais relacionados às mudanças
nante na sua atividade profissional, assim como o meio ocorridas no cenário mundial, o que pode transformar
ao qual ele está inserido e a forma com que esse ser os riscos em grandes oportunidades de crescimento.
humano se relaciona com esse meio. Nesse sentido se Nesse sentido, a valorização da educação no ambiente
faz importante conhecer o trabalhador e estabelecer de trabalho e o incentivo à capacitação do servidor
uma relação de mais proximidade entre os próprios público para lidar com essas novas demandas pode ser
trabalhadores e entre os trabalhadores e àqueles que considerada como uma das condicionantes para efeti-
estão na posição de comando – que também devem se vidade da ação de gestão ambiental, especialmente da
ver e serem vistos como trabalhadores. coleta seletiva, no âmbito da administração pública.

A velocidade presente no cotidiano dos indivíduos Assim, consegue-se alcançar objetivos que atendam
que trabalham acaba por fazer com que se perca a di- as necessidades ambientais, que resultam na melhoria
mensão do trabalho exercido e a dimensão do humano da qualidade de vida de todos os servidores, as necessi-
por trás do trabalho também corre o risco de se esvair. dades profissionais, que resultam na economia de gas-
A conseqüência disso pode ser um ambiente permeado tos por parte do governo e numa gestão pública mais
pelo espectro do sofrimento, ficando o prazer relega- eficaz, e, por fim, que atendam também às necessida-
do aos momentos passados fora dessa situação. O pa- des sociais, já que o resultado de toda uma boa gestão
radoxo prazer/sofrimento é uma questão subjetiva do ambiental vai se desdobrar em ações sociais com os
próprio trabalhador que não fica só no campo indivi- parceiros nessa atividade, nesse caso a inclusão social
dual, pois é compartilhada coletivamente no ambiente dos catadores de materiais recicláveis.
social, que também pode ser o ambiente do trabalho.
O professor, então, deve ir além de qualquer prag-
Nessa perspectiva, todo o trabalho veicula impli- matismo e, diante deste cenário, educadores são desa-
citamente um custo humano que se expressa sob a fiados a responder de forma competente aos anseios
forma de carga de trabalho, e as vivências de prazer- da sociedade contemporânea com decisões firmes e
sofrimento têm como um dos resultados o confronto ousadas, comprometidos com o processo de formação
do sujeito com essa carga que, por conseguinte, im- do ser humano. Refletir, sobre novos conceitos e prá-
pacta no seu bem-estar. ticas de ensino que definem o processo de formação
76

humana tornou-se condição necessária à compreen- O grande mérito dessa categoria é mostrar que a
são crítica da realidade, a partir das mudanças ob- engrenagem social não se move por si mesma, que
servadas no contexto do capitalismo. não existe aquele todo unitário de sociedade pregado
pelos positivistas. A conclusão que se chega é que a
2 - VISÕES SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO única autonomia possível à escola é aquela necessá-
José Luiz Piotto D’ Ávila em seu livro A Critica da ria para encobrir sua dependência. Percebe-se a di-
Escola Capitalista em Debate, que analisa a escola ferença de classes, mas não existe lugar para a luta
como espaço aberto, no qual os encaminhamentos da de classes ou para qualquer ação transformadora no
prática política-pedagógica devem levar em conta o seio do aparelho escolar.
universo teórico que envolve os agentes dessa prática. O último posicionamento é o daqueles autores que,
A relação entre educação institucional e sociedade, embora reconhecendo a ação reprodutora da educa-
como seleiro de ações e atitudes que, em maior ou ção com respeito à sociedade vigente, enfatizam os
menor grau, nos coloca diante de questões relativas aspectos contraditórios dessa ação reprodutora. Nesse
à praticas sociais, se faz como matriz analítica para grupo, encontram-se os que vislumbram possibilidades
se compreender a escola na dinâmica da totalidade reais de mudanças da sociedade numa perspectiva re-
social e a imagem que se tem de educação. volucionária, não desconsiderando a luta de classes.

D’Ávila (1986) nos apresenta três posicionamen- Paulo Freire pode ser considerado um represen-
tos básicos de autores, que dizem respeito à relação tante dessa última categoria. Ele acredita que ainda
entre escola e sociedade. Aproximando e distancian- é pela educação que se pode corrigir a direção equi-
do os diversos posicionamentos encontrados, propõe vocada do desenvolvimento humano. Considerando
três categorias para a análise. que a práxis deve estar articulada com a consciência,
propõe a prática educativa no processo de conscien-
Na primeira categoria as estruturas básicas da tização que deve ser, ao mesmo tempo, desafiadora
sociedade são encaradas de uma maneira acrítica e transformadora, usando como estratégia o diálogo
e a relação educação/sociedade não pode perder o crítico, a fala e a consciência.
equilíbrio, sendo a escola um instrumento de apolo-
Foram apresentadas aqui três correntes de pensado-
gia da sociedade vigente. Nela, as estruturas básicas
res sobre educação e seu papel na sociedade. Cabe res-
da sociedade são encaradas de uma maneira passiva saltar, que essas correntes de pensamento não seguem
e à educação é atribuída a função de reproduzi-las, um padrão determinado, onde um modelo vem para
aperfeiçoá-las. substituir o outro, seguindo um referencial evolucionis-
ta de sociedade. Resta saber, até que ponto as concep-
Um outro posicionamento é o daqueles autores ções de escola dos alunos, professores e demais cidadãos
que reconhecem a função reprodutora da escola, com preocupados com a prática pedagógica se distanciam
uma postura crítica diante das estruturas da socie- ou se aproximam dos posicionamentos aqui elencados;
dade (ibidem). A crítica da escola reprodutivista co- já que o foco dessa publicação é o aluno adulto inserido
meça com Bourdieu que, juntamente com Passeron, no processo produtivo, ou seja, na sociedade. E como
questionam a neutralidade do sistema educacional, adultos temos uma possibilidade de ação e atuação e
decorrente da autonomia a ele concedida por deter- não podemos nos anular diante dessa possibilidade.
minação da classe que detém o poder. O problema
desse pensamento é que não avança no sentido de pro- 3 - ANDRAGOGIA – EDUCAÇÃO DE ADULTOS
por transformações na sociedade por meio da escola.
Eles criticam a escola como aparelho de reprodução A educação de adultos deve se apresentar de ma-
da realidade existente, mas não identificam como po- neira diferenciada da educação infantil. A educa-
demos, por meio da escola, alterar as estruturas de ção de adultos, também conhecida por andragogia,
uma sociedade. utiliza-se de metodologia e técnicas específicas para
77

auxiliar e facilitar prática pedagógica. Essa educa- Os novos conhecimentos e novas habilidades de-
ção deve ser caracterizada por abordagens e métodos vem ser relacionados com suas experiências anterio-
apropriados que garantam o maior sucesso possível res. Sem este ajustamento os adultos tendem a rejei-
das atividades educativas. tar novas aprendizagens.

Uma das marcas da andragogia é o fato de par- O fato de o adulto possuir maiores experiências
tir do mundo já conhecido pelo adulto, considerando que uma criança, pode proporcionar-lhe duas impor-
seu contexto, suas vivências, suas experiências e suas tantes variáveis;
aprendizagens através dos próprios erros e acertos. • um ponto positivo quando consegue estabe-
lecer relações com novos conhecimentos e/ou
Entre os princípios defendidos pela andragogia habilidades;
citam-se: • um ponto negativo quando essas experiências
• autonomia - onde o aprendiz é livre para fazer dificultam a quebra de velhos paradigmas.
as próprias escolhas e tomar decisões;
Os adultos aprendem melhor em ambiente informal
• experiência - que o adulto possui e que lhe ga-
A formalidade da sala de aula inibe e cerceia a
rante um cabedal de conhecimentos, sem mui-
aprendizagem. É importante manter a informalida-
tas vezes ter pisado numa sala de aula;
de do ambiente para que professor e aluno possam
• prontidão para o aprender - interessa ao adul-
trocar informações e construírem juntos um melhor
to aprender o que lhe terá utilidade;
ambiente para a aprendizagem.
• aplicação da aprendizagem - o que o adulto se
propõe a aprender tem que ter aplicabilidade A disposição física em sala de aula deve ser ade-
no mundo real;. quada ao objetivo de uma aula voltada aos adultos.
• motivação para aprender - o que leva o adulto
a aprender é a sua motivação interna que está Uma variedade de métodos deve ser utilizada em
ligada a valores e objetivos pessoais capacitação de adultos
A escolha dos métodos e das técnicas devem le-
COMO O ADULTO APRENDE: var em consideração, a personalidade dos adultos,
os objetivos andragógicos e o conteúdo das discipli-
Os adultos devem querer aprender
nas a se trabalhar.
Os adultos devem ter forte motivação que os le-
vem a adquirir novos conhecimentos e/ou habilida- O professor deve estar atento às respostas (fee-
des; o desejo de aprender pode ser despertado, po- dback) dadas pelos alunos referente aos métodos e
rém nunca imposto. técnicas que estiverem sendo utilizados. Assim ele
pode substituir ou reorientar os métodos e técnicas,
Os adultos aprendem fazendo conforme as necessidades observadas.
Quanto mais o conteúdo for vivenciado na prática,
tanto mais fácil será a aprendizagem. Os adultos querem orientação e não notas
É importante para o adulto conhecer o seu próprio
Os adultos aprendem resolvendo problemas liga- progresso. É recomendável o uso de conceitos, auto-
dos à realidade avaliação, hétero-avaliação, grupo-análise e feedback.
Os problemas apresentados em sala de aula devem
ter certa ligação com as experiências dos adultos. Os adultos estão disponíveis à participação
Exemplos de exercícios devem ser retirados do seu O equilíbrio no processo de ensino participativo/
ambiente de trabalho e de sua vivência diária. criativo advirá do senso democrático do relaciona-
A experiência afeta a aprendizagem do adulto mento professor/aluno/grupo.
78

4 - PLANEJAMENTO EM EDUCAÇÃO espera de seu aluno durante as aulas?


• Recursos didáticos – aqui tratamos do mate-
O que é o ser humano? Como ele vive? Qual a dife- rial utilizado durante o curso. (Apostilas, li-
rença básica entre esse ser tão complexo e os outros vros de texto, textos de apoio, etc). Também é
animais que habitam o nosso mundo? explicitado aqui quais os recursos audiovisuais
utilizados no decorrer do curso.
Se fossemos responder a essas perguntas dentro
• Avaliação - aqui deve ser colocado de manei-
de um contexto histórico ou científico talvez acabarí-
ra bem clara como os alunos serão avaliados durante
amos fugindo do propósito deste capítulo, que é con-
o curso. Que tipos de avaliação serão feitos? Quantas
ceituar o planejamento e demonstrar a importância
serão? Como ocorrerá o processo? Importante lem-
deste dentro do contexto educacional. Planejamos
brar que não devemos utilizar somente um instru-
nossas vidas, pois a realidade dada necessita sempre
mento de avaliação e que esta deve ser processual, ou
ser analisada, julgada e transformada. Como vivemos
para o futuro, devemos ser conscientes da nossa vida seja, não deve acontecer somente ao final do curso.
presente, para que saibamos elaborar nossos planos
PLANEJAMENTO DE AULA - O QUE É?
de maneira coerente com nossa visão de mundo, evi-
tando que alguém, alheio à nossa visão de mundo, No plano de aula o professor especifica e opera-
planeje nossas vidas por nós. cionaliza os procedimentos diários para a concretiza-
ção do plano de curso. Segundo Piletti (apud HAIDT,
PLANO DE CURSO - O QUE É? 2003:103), o planejamento de aula é a “seqüência de
Plano de Curso é a organização de um conjunto tudo que vai ser desenvolvido em um dia letivo. (...) É a
de matérias que vão ser ensinadas e desenvolvidas sistematização de todas as atividades que se desenvol-
em uma instituição educacional, durante o período de vem no período de tempo em que o professor e o aluno
duração de um curso. interagem, numa dinâmica de ensino-aprendizagem”.

ETAPAS DE UM PLANO DE CURSO ETAPAS DO PLANEJAMENTO DE AULA


• Ementa – onde se faz uma breve sinopse do Objetivos
que vai ser trabalhado no curso. Não deve pas- Cada aula deve ter seus objetivos específicos e es-
sar de quatro linhas. tes devem ser de acordo com o objetivo geral da aula
• Objetivos (geral e específicos) – aqui se coloca ou do evento de capacitação. Não deve haver confli-
de maneira pontual o que se pretende alcançar tos entre o objetivo geral e os objetivos específicos.
com o curso. Os objetivos iniciam sempre com
o verbo no infinitivo. É importante mostrar aonde se quer chegar, o que
• Justificativa – parte onde iremos explicitar a se quer alcançar, o que se deseja fazer, quando se exi-
importância de se realizar esse curso. Aqui nós ge esforço de alguém. Toda atividade de capacitação
deve ser planejada e todo planejamento principia com
vamos mostrar o por quê de se trabalhar esse
a fixação dos objetivos.
ou aquele conteúdo. Importante que o instru-
tor esteja bem a par do seu trabalho para po- Podemos dizer que os objetivos da aula devem ser:
der elaborar uma boa justificativa. concretos e bem definidos; atingíveis dentro do tem-
• Conteúdo – aqui são colocados de maneira sin- po limitado; expressos em termos de ações e atitudes
tética os conteúdos a serem desenvolvidos ao dos alunos (e não do professor).
longo do curso. Geralmente os conteúdos são
divididos em unidades. A seleção dos assuntos ou temas
• Metodologia de ensino – essa parte é destinada Ao planejar a aula, o professor deve selecionar,
a falar de como será desenvolvido o curso. Que convenientemente, os conteúdos, estabelecendo com
tipo de aula será dada? Como será a prática de critério a seqüência de assuntos a serem desenvolvidos.
ensino desenvolvida pelo instrutor? O que ele Esta é uma prática que embora difícil é necessária.
79

O sucesso ou não de uma aula, depende da sua • O plano de aula: agora que já vimos alguns
adequação ao tempo disponível, ao ambiente e ao aspectos e detalhes da aula, o próximo passo
grupo de alunos. será a preparação de um plano de aula. Res-
saltamos que há necessidade de uma certa pro-
METODOLOGIA DE ENSINO porção nas partes da aula. Um plano de aula
bem elaborado deve ter todos os elementos es-
A importância da escolha da metodologia de ensi- senciais e acessórios da aula: tema da aula;
no-aprendizagem é fundamental. A matéria por si é objetivos da aula; duração prevista (por fase e
inerte para fins de aprendizagem, é apenas uma força total); materiais didáticos; recursos audiovisu-
potencial. Quando é trabalhada com uma boa meto- ais; conteúdo por fase; estratégias, métodos a
dologia torna-se rica, sugestiva e eficaz, dinamizando, usar; fontes de referências.
inspirando e abrindo novas perspectivas de estudo.
• Material didático: o material didático é a li- O plano de aula deve ser estruturado de acordo
gação entre as palavras e a realidade. O ideal com a seqüência lógica do processo ensino-aprendi-
seria que toda aprendizagem se efetuasse em zagem cobrindo as quatro fases da aula: preparação,
situação real da vida. Não sendo isto possível, apresentação, aplicação e avaliação.
o material didático substitui a realidade, repre-
sentando-a da melhor forma possível, de manei- 5 - FASES DA AULA
ra a facilitar a assimilação por parte do aluno.
• Recursos audiovisuais: o recursos audiovisuais A experiência tem mostrado que sem dúvida, quan-
são todos os recursos que contribuem para a boa do se trata de ministrar uma aula em condições nor-
assimilação do assunto ou tema desenvolvido em mais, a seqüência mais lógica e consagrada é a se-
aula. São os veículos de comunicação que sen- guinte:
sibilizam o participante por meio da visão, da 1. preparação;
audição da capacidade intelectiva ou criativa. 2. apresentação;
Os meios audiovisuais aproximam o ensino da 3. aplicação;
experiência direta e são de notável eficácia como 4. verificação.
recursos auxiliares de aprendizagem, principal-
Preparação
mente na fase de apresentação dos assuntos.
• Estratégias motivacionais: escolher com ante- A finalidade desta fase é predispor, preparar ou
cedência os meios de motivar os participan- motivar os participantes para ouvir e participar da
tes é sempre aconselhado. Todo início de aula aula. Podemos destacar desta fase a introdução e a
caracteriza-se pela prática da motivação, que motivação.
precisa ser provocada pelo professor. • Introdução: na introdução procuramos colocar
Os propósitos da motivação consistem em des- os alunos a par do assunto a ser tratado. Os
pertar o interesse, estimular o desejo de apren- motivos, as razões da aula, devem ser acla-
der e dirigir esforços para atingir metas defini- rados já neste momento. Em se tratando de
das. Não haverá aprendizagem sem que haja assunto longo, apresentado em mais de uma
esforço voluntário por parte de quem aprende. aula, deve-se fazer revisão da aula anterior.
A motivação tem por fim estabelecer conexão • Motivação: despertar o interesse no parti-
entre professor e aluno. cipante deve ser a segunda preocupação do
• Fontes de referência: o professor deve indicar professor. A motivação é fator decisivo no
fontes de consulta para os que participantes desenvolvimento da aula e não poderá haver
aprofundem os assuntos. Para isto, o professor aproveitamento se o participante não estiver
precisará ter às mãos todas as referências bi- motivado; se não estiver disposto a despender
bliográficas do assunto, bem como esquemas esforço. O professor deve procurar todos os re-
para possíveis trabalhos de pesquisas. cursos cabíveis para motivar os participantes,
80

lembrando-se de que nem todos são desperta- aluno por toda a aula. Utilize todos os recur-
dos pelos mesmos motivos. É a motivação que sos para dinamizar a aula, pois a monotonia é
dá vida, espontaneidade e razão de ser à aula. a maior deficiência do professor. Procure não
ficar estático; movimente-se moderadamente.
Apresentação • Procure concretizar a aula:
Uma vez motivado o grupo, partimos para a apre- Necessário se faz que o professor procure es-
sentação ou desenvolvimento da aula, durante a qual o tabelecer articulação com o real, de manei-
professor deve facilitar a assimilação dos temas abor- ra a evitar a pura conceituação intelectual e
dados. Uma boa prática é relacionar o assunto numa verbal, que acaba por desviar a atenção do
ordem lógica, partindo do simples ou fácil para o com- participante.
plexo e difícil. O assunto deve ser apresentado em do- • Procure corrigir e adequar a linguagem
ses ou etapas intercaladas de pequenas revisões.
É claro que não são desejáveis os extremos:
linguagem muito rara e/ou sobejamente técni-
Aplicação
ca que cheira pedantismo, nem aquela carre-
A aplicação tem como finalidade primeira o exer-
cício daquilo que foi apresentado na fase anterior. gada de vícios e gírias. O que se deve usar
Os erros devem ser corrigidos, as dúvidas devem ser é uma linguagem acessível aos participantes.
aclaradas repetidas vezes. Se o assunto e as condi- As gírias são totalmente dispensáveis.
ções permitirem, forme grupos de estudos e supervi- • Use adequadamente a voz
sione-os de perto. A aplicação, como as demais fases Não existe uma voz padrão. Cada professor
da aula, tem seu fundamento em leis e princípios de deve usar a voz que tem, mas da maneira mais
aprendizagem. eficiente possível. É importante que o profes-
sor pronuncie bem as palavras e que a sua dic-
Verificação ção seja boa. A boa dicção dá à palavra o seu
A verificação é a avaliação de aprendizagem para devido peso e sabor, com naturalidade, o que
apurar o grau em que cada aluno, individualmente, facilita a compreensão de quem ouve. Uma
e a classe, no seu conjunto, conseguiram os resul- boa prática para melhorar a dicção é a leitura
tados previstos e desejados. A avaliação deve ser em voz alta, para correção imediata da pro-
entendida e aceita como válida e necessária, tanto núncia e da entonação incorreta.
para o professor como para o aluno. Por meio dela, • Cuidado com a apresentação pessoal
mensura-se tanto o rendimento do aluno quanto à
proficiência do professor. Há muito o quê se falar sobre a apresentação do
professor, mas analisaremos os aspectos de sua ação
6 - ASPECTOS BÁSICOS PARA CONDUÇÃO DA na classe, quanto à espontaneidade, movimentação,
AULA COM EFICIÊNCIA
aparência pessoal, entusiasmo e autocontrole.
• Siga o plano da aula: o plano de aula é feito para
ser seguido. O professor deve se basear no plano Espontaneidade - o professor deve ser espontâneo,
de aula para ser bem sucedido em sua tarefa. sem inibição e insegurança. O grau de espontaneida-
de aumenta à medida que o professor se integra com
• Procure motivar e manter a motivação do grupo. os demais participantes da aula.
O professor deve predispor os participantes
para o que vai ser tratado durante a aula. Au- Movimentação - o professor deve manter discreta
las e esforços já foram perdidos, por falta de movimentação, evitando ficar sentado ou parado por
uma apresentação interessante daquilo que se muito tempo. Deve evitar também movimentos rápi-
quer ensinar. Procure manter o interesse do dos. Os cacoetes devem ser evitados ao máximo.
81

Apresentação pessoal - o professor deve apresen- • Não retarde o progresso do grupo


tar-se sobriamente vestido, limpo e bem arrumado.
Quando alguns participantes não conseguem
O professor não deve ser o primeiro a adotar as novi-
dades da moda, mas também não deve ser o último. entender o assunto e o professor insiste, o res-
tante do grupo se desinteressa. É uma boa prá-
Entusiasmo - o professor deve demonstrar entu- tica marcar um horário especial para explicar
siasmo em todas as atividades. É um meio de conta- o assunto, detidamente, aos mais vagarosos.
giar positivamente, os participantes. • A preparação

Autocontrole - o professor deve manter o autocon- Uma aula será sempre bem sucedida se forem
trole em todas as circunstâncias diante dos alunos, tomados alguns cuidados. A preparação da
sem, entretanto, perder a ousadia e a espontaneidade aula, a elaboração do plano de aula e a obser-
de aprender com os eles. vação de seus pontos básicos, não são suficien-
• Prosseguir com a aula, quando todos entende- tes. A preparação antecipada da sala de aula
rem o assunto em questão também é importante. Providencie para que
O desenvolvimento de uma aula não deve ser tudo esteja arrumado na ordem de uso. A fal-
tão rápido que não permita ao participante fa- ta de algum material prejudica a aula e pode
zer anotações e acompanhar o que está sendo comprometer a imagem do professor.
exposto e, principalmente, refletir sobre o seu • Recomendação Final
tema. Não passe para o esquema seguinte sem
ter a certeza da assimilação do assunto. Para Não se esqueça de chegar antes dos participan-
não incorrer em erros, faça revisões constan- tes. A curiosidade pode levar alguém a mexer
tes; assim terá certeza de que os participantes no seu material e isto pode causar estragos e
estão assimilando o conteúdo. acidentes. Dê exemplo, seja pontual.
83

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