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A consideração do uso do Nome divino nos livros que constituem o Pentateuco (Génesis-
Deuteronómio) está na origem da chamada «hipótese documentária», que atribui a formação
do Pentateuco à colação de tipo redactorial de quatro documentos: um documento Javista (J),
um outro, Eloísta (E), um terceiro, Sacerdotal (P de Priest, em alemão) e, finalmente, o
documento Deuteronomista (D)1. Efectivamente, os dois primeiros documentos aludem ao uso
do Nome divino pelo autor sagrado: Javista, porque utiliza sobretudo o tetragrama YHWH (na
origem do nome Javé); Eloísta, por utilizar o nome Elohim (Deus). No entanto, recentemente,
essa atribuição coloca cada vez mais problemas, tendo mesmo sido abandonada na última
edição do Pentateuco da Traduction Œcuménique de la Bible (TOB).
O aniconismo em Israel
Tryggve N. D. Mettinger foi quem mais aprofundou a questão do aniconismo em Israel e no
contexto mais vasto do Médio Oriente antigo5. Nos seus escritos, este autor estabelece duas
distinções. Em primeiro lugar, postula uma diferença entre um aniconismo de facto, pré-
exílico e que Israel partilha com o mundo semita ocidental, e um aniconismo programático, a
partir do exílio (expresso no segundo mandamento) e mais específico a Israel. O primeiro
seria tolerante e, em muitos casos, teria coexistido com outras expressões icónicas (por
exemplo, a representação de deusas); o segundo, absolutamente combativo, iconofóbico e
iconoclasta. Em segundo lugar, Mettinger distingue ainda entre um aniconismo materializado
(expresso, por exemplo, nas «estelas» cúlticas) e um aniconismo vazio (representado pelos
«querubins» e, eventualmente, pelos «bezerros» de Betel). O primeiro constitui uma
representação da divindade, mas sem tomar forma antropomórfica ou teriomórfica. O segundo
pressuporia uma presença invisível da divindade: no caso de Jerusalém, os querubins
constituíam o suporte da presença invisível de Javé-Sabaoth; e o mesmo aconteceria, segundo
alguns exegetas, em Betel, onde os bezerros serviam de suporte à presença invisível de Javé
(concebido como um deus da tempestade, à maneira de Baal em Ugarite, que também é
representado sobre um bezerro).
Em relação ao aniconismo materializado no culto de «estelas», Mettinger não tem dificuldade
em enumerar variadíssimos exemplos, de Mari à Arábia pré-islâmica, passando por Biblos,
Tirzah, Dan, Láquis, Arad ou Petra. No que toca ao aniconismo vazio, o próprio reconhece
maior dificuldade de argumentação (fundada sobretudo na iconografia fenícia), e a sua
interpretação fundamenta-se numa construção teológica desenvolvida desde 1982, mas que foi
criticada ainda recentemente6. Segundo Mettinger, o Primeiro Templo tinha desenvolvido
uma teologia específica a Javé-Sabaoth (isto é, o Senhor dos «Exércitos [celestes]), segundo a
qual Javé habitava o seu templo-palácio de Jerusalém, «entronizado» sobre os querubins e
reinando sobre Sião, garantindo a sua segurança e inviolabilidade. A catástrofe do exílio foi
um rude golpe para esta teologia, dando origem a duas outras, pós-exílicas: nos meios
sacerdotais (Ezequiel e P), a teologia de Sabaoth foi substituída pela teologia da Kabod (a
«Glória» divina); e, nos meios deuteronomistas, pela teologia do Shem (o «Nome» divino,
pois, Deus, esse habita agora nos céus). O aniconismo programático destas duas teologias
(em Dt 5 e Ex 20) seria, deste modo, a continuação do aniconismo de facto da teologia do
Sabaoth, do Deus invisível entronizado sobre querubins.
de Jerusalém) e, durante o exílio, uma redacção de tipo deuteronomista (= R ) associa D e JE (acrescentos deuteronomistas
D
em JE e jeovistas em D). Finalmente, no início da época persa é escrito o documento sacerdotal, na origem da última
actividade redactorial (= R ) – entre 450 e 400 a.C. –, que combina P com JED para formar o Pentateuco actual.
P
2
A ordem cronológica dos quatro documentos (E1E2JD) foi, entretanto, alterada, devido aos estudos de Karl H. Graf
(1815-1869), Abraham Kuenen (1828-1891) e Theodor Nöldeke (1836-1930) acerca do escrito sacerdotal, situando-o no
período pós-exílico, e considerando também E2 como posterior a J, que passou a ser o documento mais antigo. É essa
ordem (JEDP) que aparece na síntese de J. Wellhausen.
3
A. de PURY, «Pg as Absolute Beginning», in T. RÖMER-K. SCHMID (eds.), Les Dernières Rédactions du Pentateuque, de
L’Hexateuque et de L’Ennéateuque, Lovaina, Peeters, 2007, pp. 99-128.
4
Recentemente foi exposta uma imagem representando, supostamente, Javé e Achera, e que pode ser apreciada no livro de
O. KEEL, L’Eternel féminin. Une face cachée du Dieu biblique, Labor et Fides, 2007, p. 48 (trata-se do catálogo de uma
exposição realizada no Musée de l’Orient, em Friburg, Suíça).
5
T. N. D. METTINGER, No graven image? Israelite aniconism in its ancient Near Eastern context, Almqvist & Wiksell Int.,
1995; ID., «Israelite aniconism: developments and origins», in K. VAN DER TOORN (ed.), The Image and the Book: Iconic
Cults, Aniconism, and the Rise of Book Religion in Israel and the Ancient Near East, Peeters, 1997, pp. 173-204; ID., «A
Conversation with my Critics: Cult Image or Aniconism in the First Temple?», in Y. AMIT et al., Essays on Ancient Israel in
its Near Eastern Context, Eisenbrauns, 2006, pp. 273-296.
6
Cf. A. WOOD, Of Wings and Whells: A Synthetic Study of the Biblical Cherubim, Walter de Gruyter, 2008. Para o nosso
autor, cf. T. N. D. METTINGER, The Dethronement of Sabaoth: Studies in the Shem and Kabod Theologies, C. W. K. Gleerup,
1982.
7
Estes indícios são retirados dos artigos de H. NIEHR, «In Search of the YHWH’s Cult Statue in the First Temple», in K. VAN
DER TOORN (ed.), The Image and the Book: Iconic Cults, Aniconism, and the Rise of Book Religion in Israel and the Ancient
Near East, Peeters, 1997, pp. 73-96; e de M. KÖCKERT, «Suffering from Formlessness: The Ban on Images in Exilic Times»,
in B. BECKING-D. HUMAN (ed.), Exile and Suffering, Brill, 2008, pp. 33-52.
8
A arqueologia comprova, efectivamente, que apenas na época persa desaparecem em Yehud todo o tipo de imagens (cf. E.
STERN, «Religion in Palestine in the Assyrian and Persian Periods», in B. BECKING-M. KORPEL [eds.], The Crisis of Israelite
Religion, Leiden, 1999, pp. 245-255.
9
Nota bibliográfica: sobre os Deuteronomistas e a evolução redactorial do texto de 2Rs 22-23, veja-se Thomas RÖMER,
La première histoire d’Israel. L’École deutéronomiste à l’œuvre, Genebra, Labor et Fides, 2007, pp. 55-62; sobre o alcance
da descoberta do «livro da lei», ver Jonathan BEN-DOV, «Writing as Oracle and as Law: New Contexts for the Book-Find of
King Josiah», in JBL 127, 2 (2008), pp. 223-239; enfim, sobre a exegese recente de 2Rs 22-23, ver ainda David HENIGE,
«Found But Not Lost: A Skeptical Note on the Document Discovered in the Temple under Josiah», in Journal of Hebrew
Scriptures, 7 (2007) – http://ejournals.library.ualberta.ca/index.php/jhs/article/view/5657.