Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Cristiana Barreto
(Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo)
Resumo
Abstract
Uma versão resumida deste artigo foi publicada em francês no catálogo da exposição “Brésil
Indien, les arts des amérindiens du Brésil” (Réunion des Musées Nationaux, Paris, 2005).
Arte pré-colombiana e as terras baixas da América do Sul
Conclusões
Alguns arqueólogos sugerem que somente a partir de analogias
etnográficas é que a arqueologia pode interpretar as representações simbólicas
da arte pré-colombiana. MacDonald (1972), por exemplo, ao associar a
iconografia da cerâmica Tapajônica (Santarém) e, sobretudo, os animais nela
representados, a mitos compartilhados entre grupos indígenas Carib, argumenta
que a partir destes mitos atuais pode-se entender como os antigos Tapajós
ordenavam seu universo no passado.
Contudo, como vimos, nem sempre e analogia etnográfica dentro de um
contexto de continuidade histórica é possível, e outras dimensões dos estilos
artísticos arqueológicos devem exploradas, como apontamos acima na relação
entre formas de representação e processos de mudança social.
Especificamente no caso da Amazônia, e para avançarmos na questão de
quão diferentes eram as sociedades indígenas pré-coloniais das atuais, nos
parece que um novo olhar sobre a arte e estilos artísticos das tradições
arqueológicas pode contribuir para algumas respostas, se acompanhadas pela
experiência etnográfica com os domínios simbólicos de sistemas específicos de
arte, representação e comunicação através da cultura material, e em particular
da cerâmica, que parece ser um universo de estudo comum à etnografia e à
arqueologia.
Está claro que a análise de uma estética ameríndia da Amazônia que faça
uma ponte entre o passado e o presente é também possível no domínio da
construção da paisagem, isto é na estética espacial dos assentamentos, dos
monumentos ou de intervenções humanas no meio ambiente em geral, como
sugere Heckenberger (2005: 252) que identifica uma “estética cultural” de
construtividade e monumentalidade próprias aos povos Xinguanos, por exemplo.
Contudo, nem sempre os testemunhos arqueológicos desta estética da
paisagem foram preservados ou podem ser identificados em seu “projeto
original”, uma vez que a paisagem (sobretudo nos trópicos amazônicos) se
transforma inexoravelmente com o tempo, com ou sem a ação humana.
Deste ponto de vista, a cerâmica, assim como a arte rupestre, parece ser
um sujeito privilegiado para o estudo destes universos estéticos, pois apesar de
representarem apenas uma pequena parcela dos suportes materiais possíveis
das expressões estéticas, ela representa um dos poucos tipos de objetos que
são concebidos e construídos para perdurarem no tempo, talvez para a
eternidade, diferentemente dos artefatos mais efêmeros confeccionados em
palha, madeira, plumas e etc., os quais não sobrevivem às intempéries do
tempo. Contrastam também com a linguagem estética da decoração corporal
que tem uma duração mais circunstancial.
De maneira geral, o domínio das atividades cerimoniais também se
sobressai como contexto privilegiado para estes estudos, por serem nas
cerimônias que as sociedades indígenas atualizam suas crenças e concepções
do mundo. A cerâmica ceremonial, tanto a arqueológica e como a etnográfica,
como no exemplo das urnas funerárias, parece se constituir, portanto, em um
universo altamente promissor para aprofundar a abordagem aqui proposta.
Por fim, acreditamos que este esforço metodológico na direção de um
diálogo entre a arqueologia e a etnografia das sociedades amazônicas, em um
terreno no qual o casamento entre uma perspectiva histórica de longo prazo,
inerente à visão arqueológica, e a riqueza e complexidade da etnografia
disponível sobre sistemas amazônicos de representação visual de cosmologias
particulares, pode oferecer reais avanços para melhor entendermos as
mudanças ocorridas nas sociedades indígenas da Amazônia e melhor
avaliarmos o impacto da colonização européia sobre suas tradições culturais.
Bibliografia
Barreto, Cristiana
2003. Le symbolisme sexuel et les femmes dans l’art de l’Amazonie ancienne. Kaos,
Parcours du Monde, 2: 72-83.
2004. Gifts from the past: The material culture of ancient Amazonia. In Amazonia, Native
Traditions, editado por L. D. Grupioni e C. Barreto, pp. 115-129, BrasilConnects, São
Paulo.
Boomert, Arie
1987. Gifts of the Amazons: "Greenstone" Pendants and Beads as Items of Ceremonial
Exchange in Amazonia. Antropológica 67:33-54.
Brochado, José P.
1980. The Social Ecology of Marajoara Culture. M.A. Thesis, University of Illinois.
1984. An Ecological Model of the Spread of Pottery and Agriculture into Eastern South
America. Ph.D. Dissertation. University of Illinois at Urbana-Champaign.
Collomb, Gérard
2003. Réflexions sur un “style ethnique”: La céramique Kali’na du littoral oriental des
Guyanes. Journal de la Société des Américanistes, Cahier Guyanes, Paris.
Conkey, Margaret
1990 Experimenting with style and archaeology: some historical and theoretical issues. In
The Uses of Style in Archaeology. Editado por M. Conkey e C. Hastorf, pp.5-17, New
Directions in Archaeology series. Cambridge University Press, Cambridge.
DeBoer, Warren. R.
1984. The Last Pottery Show: System and Sense in Ceramic Studies. In The Many
Dimensions of Pottery: Ceramics in Archaeology and Anthropology, edited by A. C.
Pritchard, pp. 529-571. Universitaet van Amsterdam, Amsterdam.
Earle, Timothy
1990. Style and iconography as legitimation in complex societies. In The Uses of Style in
Archaeology. Editado por M. Conkey e C. Hastorf, pp. 73-81, New Directions in
Archaeology series. Cambridge University Press, Cambridge.
Guiart, Jean
1985. Art as a mean of communication in pre-literate societies. In Art as a Means of
Communcation in Pre-literate Societies, The Proceedings of the W.I.S. on Primitive and
Pre-colombian Art, editado por Erik Cohen e B. Danet, pp. 217-244. The Israel Museum,
Jerusalém.
Gomes, Denise
2001. Santarém: Symbolism and Power in the Tropical Forest. In Unknown Amazon,
Nature in Culture in Ancient Brazil. Edited by C. McEwan, C. Barreto, and E. Neves, pp.
134-154, British Museum Press, Londres.
Gow, Peter
1999a. A geometria do corpo. In A Outra Margem do Ocidente. Editado por Adauto
Novaes, pp.299-316. Cia da Letras, São Paulo.
1999b. Piro designs: Paintings and meaningful action in an Amazonian lived world.
Journal of the Royal Anthropological Institute, n.s. 5:299-46.
Heckenberger, Michael. J.
1999. O enigma das Grandes Cidades. Corpo Privado e Estado na Amazônia, In A Outra
Margem do Ocidente (Brasil 500 anos: Experiência e Destino). Editado por A. Novaes,
pp. 125-52. Cia. das Letras, São Paulo.
2005. The Ecology of Power. Culture, Place, and Personhood in the Southern Amazon
A.D. 1000-2000. Routledge, Nova Iorque e Londres.
Helms, Mary
1986. Art Styles and Interaction Spheres in Central America and the Caribbean. Journal
of Latin American Lore 12(1): 25-44.
Hodder, Ian
1982. Symbolic and Structural Archaeology. Cambridge University Press, Cambridge.
Lathrap, Donald. W.
1970a. La Floresta Tropical y El Contexto Cultural de Chavín. In 100 Años de
Arqueología en el Perú, edited by R. Ravines. Fuentes y Investigaciones para la Historia
del Perú, 3. Instituto de Estudios Peruanos: Edición de Petróleos del Perú, Lima.
1970b. The Upper Amazon. Praeger, New York.
MacDonald, Regina
1972. The order of things: an analysis of the ceramics from Santarém, Brazil. Journal of
the Steward Anthropological Society 4(1):39-55.
Magalis, Joanne. E.
1975. A Seriation of Some Marajoara Painted Anthropomorphic Urns. Ph.D.
Dissertation,University of Illinois.
McEwan, Colin
2001. Seats of Power: Axiality and Access to Invisible Worlds. In . Unknown Amazon,
Culture in Nature in ancient Brazil, pp. 176-175. The British Museum Press, Londres
Müller, Regina P.
1990. Os Asurini do Xingu. História e Arte. Unicamp, Campinas.
Neves, Eduardo G.
1999. Changing perspectives in Amazonian archaeology. In Archaeology in Latin
America, editado por G. Politis e B. Alberti, pp.216-243. Routledge, Londres.
2004. Landscapes of Ancient Amazonia. In Amazonia, Native Traditions, editado por L.
D. Grupioni e C.Barreto, pp. 95-111, BrasilConnects, São Paulo.
Nordenskiold, Erland
1930. Ars Americana. Vol.1. L’Archéologie du Bassin de l’Amazone. Les Édtions G. Van
Oest. Paris.
Overing, Joanna
1991. A estética da produção: o senso de comunidade entre os Cubeo e Piaroa. Revista
de Antropologia 34.
Palmatary, Helen. C.
1950. The pottery of Marajó Island, Brazil. Transactions of the American Philosophical
Society, vol.39.
Pereira, Edithe
1996. Las pinturas y los grabados rupestres del noroeste del Pará – Amazonia, Brasil.
Tese de doutoramento, Departamento de Arqueologia e Pré-história, Valência.
Plog, Stephen
1990. Socioploitical implications of stylistic variation in the American Southwest. In The
Uses od Style in Archaeology. Editado por M. Conkey e C. Hastorf, pp.61-72, New
Directions in Archaeology series. Cambridge University Press, Cambridge.
Porro, Antonio
1994. Social Organization and Political Power in the Amazon Floodplain: the
Ethnohistorical Sources. In Amazonian Indians from Prehistory to the Present:
Anthropological Perspectives. Edited by A. C. Roosevelt, pp. 79-94. Tucson: University
of Arizona Press.
Reichel-Dolmatoff, Gerardo
1961. Anthropomorphic figurines from Colombia, their magic and art. In Lothrop, S.(ed.)
Essays in pre-Columbian art and archaeology. Harvard University Press.
1978.Beyond the Milky Way: Hallucinatory Imagery of the Tukano Indians. UCLA Latin
American center Publications.
1985. Basketry as a Metaphor: Arts and Crafts of the Desana Indians of the North west
Amazon. Occasional Papers of the Museum of Cultural History 5. University of
California, Los Angeles.
Ribeiro, Berta
1989. Arte Indígena. Linguagem Visual. Itatiaia/Edusp, Belo Horizonte.
1992. A mitologia pictórica dos Desâna. In Grafismo Indígena, Estudos de Antropologia
Estética. Organizado por L. Vidal, pp.35-52. Studio Nobel/Fapesp, São Paulo.
Rivière, Peter
1969. Myth and material culture: Some symbolic interrrelations. In Forms of Symbolic
Action. Editado por R. Spencer, pp. 151-166. University of Washington Press, Seattle.
Roe, Peter G.
1982. The Cosmic Zygote. Cosmology in the Amazon Basin. Rutgers University Press,
New Brunswick.
1995. The Arts of the Amazon. In Arts of the Amazon, editado por B. Brown, pp.17-23.
Thames and Hudson, Londres.
Roosevelt, Anna C.
1988, Interpreting Certain Female Images in Prehistoric Art. In: Miller, V. (ed.), The Role
of Gender in Precolumbian Art and Architecture. Harvard University Press.1988.
1991. Moundbuilders of the Amazon : Geophysical Archaeology on Marajó Island, Brazil.
Academic Press, San Diego.
1999. The Development of Prehistoric Complex Societies: Amazonia: a Tropical Forest. In
Complex Polities in the Ancient Tropical World. Edited by L. J. Lecero, pp. 13-33,
Archaeological Papers of the Amarican Anthropological Association 9, Washington D.C.
Schaan, Denise P.
1997. A linguagem iconográfica da cerâmica Marajoara. Um estudo da arte préhistórica
na Ilha de Marajó, Brasil (400-1300AD). Coleção arqueologia n. 3. Edipucrs, Porto
Alegre.
2001a. Into the labyrinths of Marajoara pottery: status and cultural identity in an
Amazonian complex society. In The Unknown Amazon. Nature in culture in ancient
Brazil, editado por C. McEwan, C. Barreto, e E. G. Neves, pp. 108-133. British Museum
Press, Londres.
2001b. Estatuetas Marajoara: o Simbolismo de Identidades de Gênero em uma
Sociedade Complexa Amazônica. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Série
Antropologia 17(2):23-63.
2003 A ceramista, seu pote e sua tanga: Identidade e significado em uma comunidade
Marajoara. Trabalho apresentado no 11a. Reunião da Sociedade de Arqueologia
Brasileira, São Paulo.
2004 The Camutins Chiefdom. Rise and development of complex societies on Marajó
Island, Brazilian Amazon. Tese de Ph.D., Universidade de Pittsburgh.
Silva, Fabíola A.
2003. Cultural Behaviors of Indigenous Populations and the Formation of the
Archaeological Record in Amazonian Dark Earth: The Asurini Do Xingu Case Study. In
Amazonian Dark Earths. Origin, Properties, Management.1, editado por Norwell, pp.373-
385. Academic Publishers, Kluwer.
Whitehead, Neil
1992. Tribes makes States and States makes Tribes: Warfare and the Creation of
Colonial Tribes and States in Northeastern South America. In War in the Tribal Zones.
Expanding States and Indigenous Warfare, editado por R. Brian Ferguson and Neil. L.
Whitehead, pp.127-150. School odf American research Press, Santa Fe.
Willey, Gordon
1962. The early great styles and the rise of pre-Columbian civilizations. American
Anthropologist 64:1-14.
Wobst, H. Martin
1977 Stylistic behavior and information exchange. In For the Director; Research Essays
in the Honor of James B. Griffin. Editado por Charles Cleland. Museum of Anthropology
Anthropological Papers, Paper 61, pp. 317-142. University of Michigan, Ann Arbor.