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vida. É mais: ela tomou o lugar da vida.”, faz com que o leitor comece a lançar
inúmeras inferências ao texto a ser lido referentes ao papel da televisão na sociedade
brasileira, que podem ser confirmadas ou não ao término da leitura do ensaio.
Logo no início do primeiro parágrafo do ensaio, o sujeito-autor remete o seu
pensamento ao passado experienciado e além disso lança perguntas ao sujeito-leitor
como numa verdadeira relação dialógica com o propósito de testar o conhecimento do
leitor sobre a questão a ser tratada. Só nesse parágrafo há quatro perguntas diretas que
principalmente quase que obrigam o leitor a recorrer imediatamente a dois dos melhores
dicionários disponíveis no mercado. Ao assumir esse discurso, o sujeito-autor
estabelece uma posição superior à do leitor, especialmente à dos mais jovens, ao
pressupor que estes não vão saber o que seria o termo “televizinho”, usado por ele
várias vezes nesse parágrafo.
O sujeito autor não espera muito após lançar as duas primeiras perguntas para
poder explicar o sentido atribuído à palavra televizinho. É sabido que ao fazer isso ele
lançou mão da função referencial da linguagem como forma de facilitar a leitura do
sujeito-leitor. As duas últimas perguntas têm mais a função de provocar o leitor e
manter contato com o seu destinatário de modo a testar o canal de comunicação, isto é,
através do uso da função fática da linguagem. E, não se pode deixar de lado o fato de
que o sujeito-autor ao escrever: “Pois corra aos dicionários” está fazendo uso da função
conativa da linguagem com o objetivo de influenciar o destinatário. Em seguida, inicia
alguns elogios ao amigo dicionário que guarda eternamente palavras que já estão mortas
pelo desuso de seus falantes. Em seguida dá exemplos de vocábulos extremamente
incomuns para leitores contemporâneos mas que segundo ele repousam em sono
esplêndido no dicionário. Ao citar essas palavras, a saber: bufarinheiro, alcouceira,
mandrana e parvajola, que respectivamente possuem o sentido de honestidade,
vergonha, intimidade e virgindade, o sujeito-autor ironiza a realidade da sociedade ao
dizer que embora essas palavras estejam em uso, elas denominam práticas bastante em
falta, em desuso entre os membros dos segmentos sociais.
No segundo parágrafo, após superar o possível sentimento de desconfiança que o
próprio sujeito-autor sabia que dominaria o sujeito-leitor frente a palavra “televizinho”,
procura embasar e reforçar suas colocações através da evocação de um diálogo entre
alguns leitores que possivelmente teriam vivido na época dos primeiros anos da
televisão e consequentemente também teriam sido ou até conhecido algum televizinho.
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invidualidade. Os próprios apresentadores da TV se referiam a eles. Davam
boa noite “aos televizinhos”. Depois, desapareceu. Desapareceu como, por
exemplo, a figura do agregado, tão popular nos romances do século XIX. O
agregado, mal comparando, era um televizinho sem televisão.
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qualquer tipo de mudança nas esferas sociais. Se os participantes do discurso deixam de
usar determinada palavra, esta cai em desuso e se fossiliza de modo a correr o risco de
não mais ser ressuscitada porque é desnecessária para os processos comunicativos.
A dicotomia entre o real e o ficcional, bem como a função da televisão nesse
contexto passa a ser discutida pelo sujeito-autor no quarto parágrafo. Inicialmente a
televisão vivia seus anos de inocência. A vida da televisão era uma e a vida real, a dos
seres humanos era outra. Ainda havia um certo distanciamento por parte dos seus
assistentes domiciliares.
Aquela inocente caixa de luz revelou-se muito mais que uma caixa de luz,
porém. Revelou-se uma caixa de surpresas, caixa de Pandora, caixa-preta –
escolha o leitor a caixa de sua preferência. Cedo transbordou para muito
além de seu suposto lugar certo e determinado. Hoje se conhece todo seu
alcance. Não é que a televisão tenha ocupado todos os cantos da vida. Essa
também não deixa de ser uma visão ingênua. É outra coisa: a televisão
tomou o lugar da vida. Substituiu-a. Engoliu-a e vomitou-se a si mesma no
lugar.
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isso ao tomar o lugar da própria vida. Com o intuito de materializar o máximo possível
a sua imagem mental dessa dominação da televisão sobre a vida, ele faz uma construção
de sentido a partir da utilização de uma figura de linguagem para intensificar tal
fenômeno. Ao dizer que a televisão engoliu a vida e vomitou-se a si mesma no lugar, o
autor faz uso da prosopopeia (personificação), figura de linguagem que consiste em
atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.
Definitivamente, o sujeito-autor não está nada satisfeito com os novos rumos que
a televisão tem tomado nos últimos anos. Ao iniciar o sexto parágrafo com a colocação
“No doce tempo do televizinho, (...)”, que apresenta a palavra “doce” como qualidade
positiva atribuída àquela época, o autor expressa o amor que tinha pela figura do
televizinho e a possibilidade de interação que ele trazia aos lares.
A situação contemporânea em torno da televisão está tão mudada que o sujeito-
autor enche-se de sarcasmo para dizer que a vida real ainda pulsava e se sobrepunha à
influência da TV, esta que ainda não havia sugado tudo que pairava à sua volta. Mesmo
que o homem se sentisse vislumbrado com o novo aparelho, ainda era possível realizar
outras atividades mais dinâmicas e interativas como jogar futebol no campo e pular o
Carnaval na rua. Algo que hoje soa quase que como pertencente a outro mundo,
principalmente para os moradores das grandes cidades que vivem praticamente isolados
em seus apartamentos e se contentam em assistir à partida de futebol na TV. Os
telespectadores da contemporaneidade gozam ao serem convidados pela Rede Globo
para assistirem a seleção brasileira dar o melhor de si, porque é lá na tela da TV que a
verdadeira emoção acontece. Assim, não é raro, caso se experimente sair em frente de
casa no horário de uma partida televisionada, perceber que a rua está menos
movimentada porque os seres humanos estão todos hipnotizados pela imagem
televisionada, pela representação da verdadeira realidade.
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assistido e venerado Big Brother e todas as outras mídias que vão entrar em voga depois
dele como os sites de relacionamento: Orkut, Second Life, Sonico e outros nos quais o
objetivo é se mostrar e deixar ser visto. Foi necessário que o sujeito-autor fizesse todo
esse retorno ao passado, à época do querido televizinho, para que o sujeito-leitor
pudesse compreender pelo menos um pouco do seu sentimento de pesar.
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mas que não proporcionam ao ser humano o contato com a vida. Outro filme que desta
vez critica a produção dos reality shows é O Show de Truman do diretor Peter Weir, que
mostra a vida de um cidadão chamado Truman que desde o seu nascimento foi criado
em um estúdio de TV comandado por um diretor que controla cada segundo de sua vida
e a transmite para milhões de pessoas. O filme é uma excelente parábola do mundo
moderno dominado pela mídia e pela imagem. Por fim, já no Brasil, seria preciso
ressuscitar o espírito do televizinho, este que possivelmente para o autor poderia ser o
salvador da pátria para a situação incomunicável e de falta de solidariedade em que o
mundo se meteu. O televizinho seria quem resgataria o processo comunicativo frente à
TV. Pena que hoje, todos podem se deleitar com seu aparelho individual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PEDROSA, Cleide Emília Faye. Análise Crítica do Discurso: Uma Proposta para a
Análise Crítica da Linguagem. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/ixcnlf/3/04.htm. Acesso em 23/06/2009
TOLEDO, Roberto Pompeu de. Saudade do televizinho. Veja. São Paulo, p.122, edição
1740, 27 fev. 2002.
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