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A Experiência do Espírito (2)

Júlio Paulo Tavares Zabatiero

1. Experiência de transformação pessoal

Uma das características positivas do período moderno foi a


valorização do ser humano, a valorização da pessoa, o
reconhecimento dos direitos humanos, da dignidade inviolável de
toda pessoa, independentemente de cor, raça, gênero, credo, ou
condição econômica e social. Na prática, porém, esse
reconhecimento é constantemente ameaçado pelo racismo, pelo
sexismo, pelo classismo, pelos preconceitos e violências de todo
tipo. Na teoria, todos os seres humanos são iguais, mas na
prática de sociedades capitalistas, por exemplo, são dignas
somente as pessoas que têm, que compram e vendem, que
participam do mercado, que “aproveitam as oportunidades”, que
são vencedoras. Na prática de algumas sociedades orientais, por
outro lado, são dignas somente as pessoas que se submetem
cegamente à religião, ou ao Estado e sua ideologia. Em nenhum
desses tipos de sociedade a verdadeira dignidade humana é
experimentada em sua plenitude. Em alguns casos, a própria fé
cristã é usada como instrumento dessa desumanização – e
também por isso precisamos compreender bem o que significa
sermos transformados pelo Espírito, sermos novas pessoas,
pessoas santificadas, separadas.

1 Unida Teologia da Espiritualidade


Tomar a cruz e seguir Jesus não pode ser entendido como
anulação da humanidade, como desprezo pelo corpo, como
transformação da pessoa em objeto, nem como rendição a
qualquer poder humano que se apresente como atraente e
salvador – significa, sim, construir um estilo de vida semelhante
ao de Jesus Cristo. Fazer morrer a natureza terrena (Cl 3,5) não é
anular e mortificar o corpo, mas lutar contra a carne e contra o
pecado. Adornar-se da beleza interior não é negar a beleza
corpórea e exterior, mas subordiná-la ao amor, à justiça e à
solidariedade. A experiência do Espírito nos transforma para
sermos plenamente humanos. No Espírito, a vida humana
encontra sua verdadeira dignidade, seus verdadeiros propósitos,
sua verdadeira energia. É um erro imaginar, ou mesmo pensar,
que a experiência do Espírito nos faz menos humanos. Viver no
Espírito é viver plenamente como ser humano, em todas as
dimensões da humanidade, na medida em que a experiência do
Espírito nos torna semelhantes a Jesus Cristo, que se tornou
como um de nós (Hb 2,17).
Quem vive no Espírito encontra a verdadeira humanidade
em seu próprio corpo, que é templo do Espírito (I Co 6,19), e é
vivificado pelo Espírito (Rm 8,11). Um erro comum em alguns
sistemas teológicos é confundir a vida no Espírito com a vida sem
corpo, uma vida incorpórea, como se nos tornássemos anjos após
a conversão. Pelo contrário, a experiência do Espírito é
experiência do corpo, no corpo, para o corpo humano. Para o
corpo que, na força do Espírito, ressuscitará e será transformado
em corpo imortal, animado pelo Espírito (I Co 15,35-45). Outro

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erro comum, é confundir a santidade com a repressão dos
prazeres legítimos do corpo humano – como os prazeres advindos
da comida, do esporte, do lazer, do sexo, da música, das artes,
etc. Corpo santificado é corpo dignificado para também sentir
prazer, viver em prazer, desfrutar de todas as coisas boas criadas
por Deus. Desfrutar de todos os prazeres possíveis, e de forma
legítima, amorosa, semelhante a Jesus Cristo. “Todas as coisas
me são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas
nem todas edificam” (I Co 10,23). Corpo santificado é o corpo da
pessoa que sabe discernir entre as coisas que convêm e as que
não; entre as que edificam e as que não edificam – ética da
liberdade e da responsabilidade – e, assim, com discernimento,
sabe experimentar de forma justa todas as coisas boas da vida.
Acima de tudo isto, corpo santificado é corpo da pessoa que ama
como Cristo amou – entregando-se para o bem do outro.
A experiência do Espírito libera as possibilidades e
potencialidades de cada pessoa para viver amorosamente, para
viver em plena comunhão com outras pessoas, nas mais diversas
estruturações da vida em sociedade. Na família, no trabalho, no
lazer, na comunidade eclesial, na política, no movimento social,
em todas as situações a pessoa cheia do Espírito frutifica em
relacionamentos que tornam as pessoas participantes mais
humanas e mais parecidas com Jesus Cristo. O fruto do Espírito
é descrito por Paulo em Gálatas 5,22-23 com termos
predominantemente ligados aos relacionamentos pessoais: amor,
bondade, benignidade, fidelidade, longanimidade, mansidão.
Além destes termos tipicamente relacionais, também

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encontramos a alegria e o domínio próprio como expressões do
Espírito – a verdadeira alegria que se pode ter na amizade, na
comunhão com o próximo, e domínio próprio para poder se
relacionar adequadamente, não transformando os
relacionamentos em formas de comércio, de barganha, não
usando as outras pessoas, nem a natureza, para benefícios
exclusivamente individuais.
Viver humanamente, com dignidade e honra, é viver para
concretizar a vontade de Deus em benefício de toda a criação, é
vida missionária. É viver como cidadã e cidadão do Reino de Deus
que, em tudo o que faz, dá testemunho do Reino de Deus – em
casa, no trabalho, no lazer, no estudo, na política, etc. É viver de
forma tal que os valores mundanos não governem nossa vida:
valores como os do individualismo, do egocentrismo, do
consumismo, da indiferença, da sede de poder, da ganância sem
fim, da transformação de tudo em mercadoria, em objetos
descartáveis – especialmente outras pessoas e a natureza criada
por Deus. Vida plenamente humana é vida em imitação a Jesus
Cristo, é vida na esperança, na força do Espírito Santo:
Vida na expectativa da parusia [palavra grega que se
costuma traduzir por “retorno de Cristo”, mas que
significa, literalmente, “presença”] transcende em muito o
simples aguardar, precaver-se e permanecer firme na fé,
levando à iniciativa ativa. É uma vida na antecipação do
vindouro, em expectativa criadora. Homens não vivem
apenas de tradições, mas também [eu diria,
principalmente] de antecipações. Em temores e
esperanças antecipam seu futuro ainda desconhecido e
orientam suas vidas de acordo com ele e adaptam a ele
sua vida. A expectativa do futuro de Cristo coloca o
presente na luz do Vindouro e torna a vida corporal

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experimental no poder da ressurreição. Assim, a vida se
torna uma vida de ‘cabeça erguida’ (Lc 21,28) e de ‘porte
ereto’ (Bloch). Torna-se uma vida que, no empenho por
justiça e paz neste mundo, está dedicada à colaboração
no reino de Deus. (MOLTMANN, J. O Caminho de Jesus
Cristo. Cristologia em dimensões messiânicas, Petrópolis,
Vozes, 1993, p. 450s.)

2. Experiência de criatividade sócio-cultural

Um erro derivado do individualismo moderno é a separação


entre vida pessoal e vida social. Uma vida digna, plena, não pode
ser vivida individualisticamente. Todo ser humano vive em
sociedade, e viver transformadamente é, também, viver
transformadoramente. A vida em sociedade possui múltiplas
dimensões: social, cultural, econômica, política. A experiência do
Espírito nos capacita a viver criativamente em todas essas
dimensões. Em relação à dimensão política, por exemplo, uma
vida plenamente humana inclui a plena cidadania, a vida em
sociedade em sua forma mais legítima e ampla. Ser cidadão da
cidade celestial (Fp 3,20) não anula a nossa cidadania terrena, ao
contrário, permite com que cada cristã e cristão viva de forma
mais intensa, democrática e justa a sua cidadania, se torne
responsável por seu país e povo e vivencie os valores de uma nova
sociedade, na qual as divisões e barreiras produzidas pelo pecado
não mais tenham lugar – cidadania que resiste contra todos os
sexismos, racismos, classismos, e quaisquer ideologias que
impeçam que cada pessoa tenha vida plenamente digna (cf. Gl
3,26-29; Ef 4,21-24; Cl 3,9-11). A experiência do Espírito é
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experiência que nos convoca à participação na vida política sob a
ótica da justiça, a fim de que as instituições e estruturas do
Estado estejam efetivamente a serviço do povo.
Em relação à dimensão econômica, a experiência do Espírito
nos possibilita viver com liberdade e solidariedade. Nas
economias centradas no lucro, ou naquelas centradas no
comando, o dinheiro e o poder se tornam “deuses”, ídolos a quem
se deve servir cegamente – viver é fazer todo o possível para
conseguir e acumular cada vez mais e mais dinheiro e/ou poder.
E quanto mais se tem, mais se consome, mais se acumulam
objetos e produtos supérfluos, e até pessoas são transformadas
em mercadoria – para o prazer, para a dominação, para a
humilhação. Quem vive no Espírito não serve a Mamon (Mt 6,24),
e nem fica preocupado com o sustento e o dia de amanhã (Mt
6,25-34), pois sabe que Deus é o sustentador de toda a sua
criação. Por isso, trabalha e faz de seu dinheiro meio para servir
ao próximo (Ef 4,28), e humaniza as relações econômicas, de
modo a colocar o dinheiro em seu devido lugar – apenas um meio
de troca, um papel que pode nos ajudar a servir a Deus e o
próximo, e não um objeto para amar, pois o amor ao dinheiro é a
raiz de todos os males (I Tm 6,9-10). A experiência do Espírito nos
conduz a uma vida economicamente simples, baseada na
dignidade e na solidariedade. Não uma vida de pobreza e falta,
mas uma vida com as necessidades supridas individual, familiar
e socialmente – economia com solidariedade e justiça social.
Em relação à dimensão cultural, a experiência do Espírito
estimula toda a criatividade humana para construir valores,

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imagens, símbolos, arte, literatura, dança, enfim, todas as
expressões culturais legítimas que podem ser meios de
humanização e também de comunicação do Evangelho. A cultura
humana é, simultaneamente, expressão das luzes e sombras da
humanidade em sua ampla diversidade, é expressão tanto da
justiça como do pecado. A experiência do Espírito leva o povo de
Deus a ser sal da terra e luz do mundo, edificando a cultura de
forma justa, solidária, amorosa. Leva o povo de Deus a valorizar a
diversidade cultural e usá-la para vivenciar os valores do Reino
de Deus e expressá-los das mais variadas formas culturais
possíveis. Leva, também, o povo de Deus a resistir a todas as
formas de uso da cultura para a opressão, para a dominação,
para a desumanização, enfim, resiste a toda presença do pecado
na cultura. Contextualização e inculturação são os termos que,
na teologia da missão, têm sido usados para descrever a
dimensão cultural da missão do povo de Deus. São termos que
nos lembram, por um lado, que muitas vezes o Evangelho foi
subordinado pecaminosamente a formas culturais injustas – e se
tornou instrumento de morte. Mas nos convocam, também, a
inculturar o Evangelho de forma justa e santa, de modo a
construir formas culturais cada vez mais cheias da luz de Cristo.
Nas palavras de C. René Padilla:
a contextualização do evangelho é possível pela ação do
Espírito Santo no povo de Deus. Na medida em que a
Palavra de Deus se encarna na igreja, o evangelho toma
forma na cultura. E isto reflete o propósito de Deus: a
intenção de Deus não é que o Evangelho se reduza a uma
mensagem verbal, mas que se encarne na igreja e,
através dela, na história. Aquele Deus que sempre falou
aos homens a partir de dentro da situação histórica
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designou a igreja como o instrumento para a
manifestação de Jesus Cristo em meio aos homens. A
contextualização do evangelho jamais pode ser levada a
cabo independente da contextualização da igreja na
história. (PADILLA, C. R. Missão Integral. Ensaios sobre o
Reino e a Igreja. Londrina: Descoberta, 2005, p. 114)

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