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BIOSOFIA
O SOM E O NÚMERO
O Som Criador
S. João aplicou o termo Logos a Cristo, o revelador do Pai, a imagem visível do Deus
invisível (posto que a Palavra é a exteriorização do Pensamento – Divino e
Universal, como também o individual).
A Sinfonia do Universo
O termo ‘logos’ igualmente “tomou o seu lugar na linguagem musical grega,
referindo a medida da cítara ou da lira (i.e., os trastos ou travessões) onde a corda
deveria ser pisada de modo a produzir uma nota definida’(8)”. Este parece-nos um
facto muito sugestivo. Os sons puros (as 7 notas musicais, ou o que elas
representam), que integram a escala diatónica, são, na sua matriz, contenções de
arquétipos que no curso da Manifestação se desprendem e combinam
infinitamente. E esse Grande Septenário harmónico (matemático) é o que sustenta
e viabiliza a Manifestação dos mundos, a Lei do Ritmo operando por detrás.
É dito que a escala musical hindu terá evoluído de 3 notas apenas (9) para a escala
de 7. Essas 3 notas detinham a chave da vocalização do AUM, sendo que este
Mantra, o mais sagrado de todos os mantras, sintetiza e representa o poder da
Trindade. As três letras do AUM correspondem ao “Fogo Triplo”, respectivamente
Agni ou Abhimânim (Fogo ígneo) – ‘A’; Varuna ou Vishnu (Fogo aquoso, Águas do
Espaço ou Akasha) – ‘U’; Marut (Fogo aéreo, Espírito de Vida) – ‘M’.
Cada uma das 7 notas musicais representa cada um dos 7 Rishis (os 7 Filhos
Nascidos da Mente de Brahmâ) que transmitiram o conhecimento sagrado à
Humanidade. Diz a lenda que são os animadores (os espíritos) das 7 estrelas da
Ursa Maior, os quais, descendo à terra em forma de cisnes, ancoraram no lago
Mânasa-Sarovara (nos Himalaias) e aí comunicaram o conteúdo dos Vedas aos
mais merecedores entre os humanos. As notas musicais, no seu substracto, são
pois, cada uma delas, uma potência – um som – subtil e sintético que,
desdobrando-se infinitamente, e concretizando-se em linguagem, constitui os
Vedas e todo o escol de conhecimento superior e sagrado.
O Som e o Número
O Som e o Número caminham enlaçados. Com efeito, os Antigos postulavam que o
Universo fora feito segundo os preceitos de razão e medida. Acreditavam que uma
Trindade Divina fora a matriz e o motor que criara o Mundo. Essa Trindade,
pressuposto comum e fundamental de todas ou quase as religiões, era mais
precisamente uma Unidade-trina, a Unidade sob três aspectos distintos –
criação/expansão; sustentação/equilíbrio; destruição/interiorização/recolhimento.
Naturalmente, essa mesma matriz estava simbolizada na figura geométrica do
triângulo.
Para os antigos hindus, a matriz trinitária original cunhou e impregna tudo o que
existe, sendo o seu padrão director. Para os gregos, e designadamente para Platão,
três eram os triângulos que estariam na base constitutiva dos arquétipos dos 4
Elementos, sendo estes quatro os tijolos arquitectónicos de que fez uso o Grande
Arqueu (o Demiurgo) na Obra da Criação.
Muitos desses conhecimentos dos antigos, com efeito, parecem ter sido
verdadeiramente extraordinários. É o caso do Schem Hamaphoras. Schem era uma
fórmula de poder que insuflava vida ou o “pleroma”. Jesus foi acusado pelos judeus
de ter roubado este nome do Templo, valendo-se de artes mágicas, e de empregá-lo
para a produção dos seus milagres.
“(…) Da fase babilónica data, aliás, a obra “Schim Koma” (Medida da estatura de
Deus, tratando sobre medidas, formas precisas do corpo e do rosto divinos…), mas
o livro mais notável desta época é o Séphèr Iétzirah (Livro da Criação), escrito em
hebraico (na Síria, provavelmente) cerca do século VI ou VII. (…) A influência
gnóstica e neopitagórica é patente: Deus criou o mundo por intermédio das dez
Potências ou Verbos chamadas Séphiroths e as vinte e duas letras do alfabeto
hebraico”(16).
Segundo a crença judaica, do mesmo modo que Deus criou o universo e o homem a
partir do substrato (da alma) das vinte e duas letras hebraicas, os homens podem
replicar o acto criador se conhecerem as combinações adequadas. Nas palavras do
filósofo e cabalista Augustín Izquierdo, citadas na obra O Ritmo do Tempo, de
Patrick Mimran: “… ao princípio, a criação do Golem parece que apenas tinha um
carácter ritualista: acontecia como a coroação do estudo da Séphèr Iétzirah
empreendido por um grupo de pessoas. O ser artificial assim criado não tinha
nenhum objectivo prático. A sua realização destinava-se a pôr em evidência o poder
das palavras sagradas; o ser criado, a partir do barro, era imediatamente destruído.
Só mais tarde surge o Golem como um ser independente, a que se atribuem funções
utilitárias, e que pode representar um perigo para os que o rodeiam. Da lenda à
ficção literaria, designadamente ao Romantismo alemão, foi um passo…”.
O Espaço Vivente
Efetivamente, a Natureza é o grande Laboratório da Vida manifestada. Nele fervilha
a Consciência. O homem é um aprendiz de feiticeiro, mesmo nos seus mais ínfimos
empreendimentos. Tateamos no aparente invisível para sorvermos, gota a gota,
algo da grande Sabedoria, porque sabemos que ela ali se encontra. A evolução é
uma imitação progressiva de Deus.
Por outro lado, a Tetraktys encontra uma curiosa equivalência com o esquema da
Árvore da Vida (o Ootz Chim hebraico) ou Árvore das dez Sephiroth (de sephira =
número) uma vez que esta evoca o desdobramento da Década, do Um do Absoluto
ao 10 da Manifestação. Segundo o já referido Séphèr Iétzirah (Livro da Criação):
“Dez são os números saídos do Nada, e não o número nove; dez e não o número
onze. Compreende esta grande sabedoria, entende este conhecimento, investiga-o,
reflecte sobre ele, torna-o evidente, e reconduz o Criador ao seu Trono”.
(…) Por que proporção a gravidade decresce por distanciamento dos Planetas, os
antigos não deixaram suficientes indicações. Contudo, a ela parecem ter aludido
através da música das esferas celestes, designadamente o Sol mais os seis Planetas,
Mercúrio, Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, relacionando-a com Apolo e a sua
Lira de sete cordas (20) e medindo o intervalo das esferas em função do intervalo
dos tons musicais. Assim, eles alegavam que ‘sete tons’ foram trazidos à existência,
a cujo conjunto chamaram o diapasão da harmonia, e que Saturno foi movido pelo
som [phthong] Dório (21), ou seja, o grave (-pesaroso), e os restantes planetas por
mais agudos [como Plínio relata, de acordo com Pitágoras], e que o Sol vibra, faz
soar, as cordas (22).
Por esta razão, Macróbio diz: ‘a Lira de sete cordas de Apolo provê o entendimento
dos movimentos de todas as esferas celestes acima das quais a Natureza colocou o
Sol como regente’. E Proclo, [no seu Memorandum] sobre o Timeu de Platão: ‘… O
número sete, eles dedicaram a Apolo como aquele que abarca todas as sinfonias e,
assim, eles costumavam chamá-lo Deus o Hebdoma’getes, o que significava
Príncipe do número Sete. Semelhantemente, na Preparação do Evangelho, de
Eusébio, o Sol é chamado pelo oráculo de Apolo, o rei da harmonia dos sete sons.
Mas, por meio deste símbolo, eles indicavam que o Sol, pela sua própria força de
tensão, age sobre os Planetas naquela proporção harmónica das distâncias, segundo
a qual a força de tensão actua sobre cordas de diferentes comprimentos, ou seja,
inversamente na razão dobrada das distâncias. Pois a força pela qual uma mesma
tensão actua numa mesma corda de diferentes comprimentos é a recíproca do
quadrado do comprimento da corda. (…) já que Pitágoras, como Macróbio admite,
esticou intestinos de carneiros e tendões de bois, neles pendurando variados pesos
e, a partir daqui, estabeleceu as proporções da Celeste Harmonia”. De forma muito
clara, num testemunho de Conduitt, seu amigo e biógrafo, Newton confirma a sua
plena rendição à sabedoria de Pitágoras e revela, inequivocamente, a fonte das suas
inspirações: “‘… e eu pensei que a música das esferas de Pitágoras tinha a intenção
de tipificar a gravidade e que, assim como ele faz os sons e as notas dependerem da
medida das cordas, assim a gravidade depende da densidade da matéria…’”(23).
A espiral
A espiral assenta numa estrutura trinitária (no início da Manifestação, o primeiro
impulso terá gerado o triângulo). Na alegoria do Rig-Veda, Vishnu é descrito
cruzando aos saltos as sete regiões do Universo em três passadas [configurando o
primeiro impulso trinitário] e permeando todas as coisas com a essência dos seus
raios de luz.
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1) Em alguns dos Purânas, como este, Vishnu é o Supremo Deus.
2) Nos Vedas, inicialmente, essa trindade era composta por Vâyu, Sûrya ou Savitri,
e Agni, que mais tarde se fizeram correrponder, respectivamente, a Brahmâ, Vishnu
e Shiva. E no Pancavimsa Brahmana é dito, numa sugestiva exposição do acto
divino da Criação, muito semelhante, aliás, à versão Judaico-Cristã: “… Quando as
Águas ficaram maduras [na sua sazão] para a concepção, Vâyu pôs-se em
movimento sobre a sua superfície. E eis que nelas surgiu uma coisa belíssima:
Mitra-Varuna contemplou-se a si próprio, e nelas viu-se a si mesmo, reflectido
[paryapasyat]”.
3) Podemos ler no Glossário Teosófico, de Helena Blavatsky: … Vishnu é o Prajâpati
(criador) e supremo deus. Como tal, reúne em si três condições: 1ª, a de Brahmâ, o
Criador activo; 2ª, a do próprio Vishnu, o Conservador, e 3ª, a de Shiva ou Rudra, o
poder destruidor.
4) Segundo Megasthenes, “os Brachmanes da Índia (precursores dos Brahmanes)
afirmavam que Deus é luz, mas não aquela luz que vemos com os olhos, não aquela
que o sol esplende, mas que era a [energia da] Palavra; porém, que por este termo
não queriam significar a linguagem articulada mas sim a linguagem da Razão, pela
qual os mistérios ocultos do Conhecimento são entendíveis ao homem sábio”.
Diz a Tradição esotérica que os Brachmanes foram os primeiros filósofos, teólogos e
legisladores desta nossa civilização ária. Deles, e dos seus Conhecimentos Ocultos,
os gregos derivaram o Orfismo e respectivos Mistérios – não sendo Orpheu outro
senão Arjuna. Todos os preceitos de inofensividade e vida puríssima predicados por
Orfeu eram os mesmos abraçados pelos Brachmanes. Igualmente de acordo com
Megasthenes, estes santos homens “abstinham-se em absoluto dos sacrifícios
animais e de comer qualquer carne animal, subsistindo apenas de frutos, que não
retiravam das árvores mas esperavam que caíssem no solo; e que unicamente da
água do rio Tagabena [hipoteticamente o Tungabahadra]. Andavam com muito
pouca roupa e diziam que o corpo físico havia sido dado por Deus para revestir a
alma…”.
5) Os targumistas foram ainda mais longe e estenderam o significado deste termo
referindo-o ao Messias que havia de chegar.
6) “Vâch é a personificação mística da linguagem e o Logos feminino, sendo uno
com Brahmâ, que a criou de uma metade do seu corpo, que dividiu em duas partes”
(Glossário Teosófico).
7) Cusiosamente, dizia Clemente de Alexandria: “o Filho [ Verbo] é a Consciência de
Deus. O Pai só vê o mundo conforme este é reflectido no Filho”.
8 ) Josephus Lusitanus, in “Sophia e as Musas”, Biosofia nº 4.
9) Originalmente o Sâma-Veda era cantado em padrões musicais bem definidos,
sendo que, nos seus hinos, eram utilizadas apenas 3 notas.
10) Esta antiquíssima notação passou dos brâmanes da Índia para os persas, e
destes para os árabes e para algumas tribos nómadas, como a dos ciganos. Na
Grécia Antiga, Pitágoras, considerado o Pai da Escala Diatónica de 7 tons no
Ocidente, terá colhido esse ensinamento nos Mistérios dos Brachmanes da Índia,
Mistérios esses que tendiam, sobretudo, à instrução da classe sacerdotal. Sustenta a
Maçonaria que foram os Brachmanes quem legou aos egípcios o conteúdo dos seus
Ritos e Mistérios. Na Índia, Pitágoras ficou a ser chamado Yavanâchâria, “o Mestre
Jónio”. Por volta do ano 1000 da nossa era, Guido Darezzo, um monge italiano,
recuperou e rebaptizou aquela notação septenária (a partir das iniciais de uma
litania cantada em latim pelas crianças do coro da Igreja) na forma que nós
conhecemos: Ut (depois Dó) – Ré – Mi – Fá – Sol – Lá – San (depois Si).
11) A designação Sruti distinguiu os Hinos Védicos e, posteriormente, também os
Brahmanas, de todos as outras obras que, sendo embora consideradas sagradas e
fazendo autoridade para o pensamento hindu, se admite terem sido concebidas por
autores humanos. As Leis de Manu, por exemplo, não são Revelação; não são Sruti,
mas apenas Smriti, Recolecção ou Tradição. Os Brahamanas foram escritos em
sânscrito védico e o período da sua composição é geralmente chamado de idade ou
período Brahmânico. Eles são essencialmente comentários dos Vedas, explicitando
o ritual védico. Cada Brahmana é associado com um dos quatro Vedas e, na
tradição desse Veda, com uma shakha ou escola particular.
12) “O último dos faraós indígenas, Nectanebo (360-350 A.C.) foi, segundo a
tradição grega, o mais versado em ciências ocultas e o mago mais poderoso entre
todos os soberanos do Egipto. Os malefícios mediante figuras de cera, a criação de
seres vivos artificiais, desempenharam um importante papel nos ensaios mágicos
do seu círculo íntimo. O emprego das figurinhas Ushabti, duplos do morto, etc, está
(mas, aqui, como magia benéfica) aparentado com estas práticas; a técnica da
criação de homunculi pela insuflação de pneuma e inserção de uma palavra mágica
escrita no boneco de argila passou tal e qual à Cabala hebraica por meio do Séphèr
Iétzirah ou Livro da Criação, e constituiu a origem das lendas de criação de
homúnculos na Idade Média, especialmente de todo o ciclo do Golem de Praga” (El
Número de Oro, I-II, de Matila C. Ghika, Editorial Poseidon).
13) No passado, por vezes esta designação “Dáimones” tinha mesmo o sentido de os
Chitkala ou Pitris do esoterismo hindu, noutras o de Devas ou da Essência
elemental superior. O “génio” (ou dáimon) de Sócrates era tido como o seu “Eu-
superior”. No Banquete, Platão assim se expressa: “Prenchendo o intervalo que
separa o homem de Deus, os Dáimones unem-no ao grande Todo. É deles que
procede toda a ciência divinatória, toda a arte sacerdotal dos sacrifícios, das
iniciações, dos encantamentos, de toda a alta Magia e de toda a Goécia”.
14) O Triângulo sefirótico é uma década triangular, em escala ascendente, composta
de 10 nomes divinos. É a decomposição mágica do Tetragrama inexpressável, o
Schem Hamaphoras (ou Schem ha mephorasch, literalmente, “o nome divino
inexpressável”), IHVH, condensação da força oculta divina, que os profanos
pronunciam Ia Hvé H ou Ié Ho Va H.
15) El Número de Oro, de Matila C. Ghyka, Editorial Poseidon, Buenos Aires, 1968.
16) Idem.
17) Philosophie et mystique du nombre, de Matila C. Ghyka, Editions Payot &
Rivages, 1952.
18) Idem.
19) Relativamente a esta trilogia, “3, 4 e 5”, também Vitruvius, o mais célebre
arquitecto da Roma antiga, defendia que a arquitectura dos templos deveria tomar
por base a analogia com um corpo humano perfeitamente proporcionado, o qual é
harmónico em todas as suas partes. Nesses termos, ele considerava que o
comprimento de um templo deveria ser o dobro da sua largura, e as proporções do
vestíbulo aberto e da câmara fechada interna deveriam guardar a relação 3 – 4 – 5,
sendo 3 a profundidade do vestíbulo, 4 a largura, e 5 a profundidade da câmara.
20) A Lira da alegoria de Apolo não é outra que a de Orfeu, a célebre Phorminx, a
qual, depois da sua morte, foi levada para o grande Templo da Apolo, onde
permaneceu por largo tempo universalmente admirada. Diz a fábula que um certo
dia foi roubada por Neanthus, com a cumplicidade de um sacerdote. Quando este
quis tocá-la para obter os mesmos maravilhosos prodígios que Orfeu, dela só
conseguiu extrair sons horrorosamente dissonantes. Foi, então, atacado e
despedaçado por cães selvagens que ficaram enraivecidos pelo efeito de tais sons de
pesadelo. Com este episódio os fabulistas quiseram significar que quando o
Conhecimento sagrado cai nas mãos dos profanos e é prevertido, o mal destrói-se a
si próprio e àqueles que o perpetraram. Sobre a phorminx, disse Helena Blavatsky
ser o “Mistério séptulo da iniciação”.
21) Muito sugestivamente é este termo aqui empregue: phthong (som, palavra
verbalizada), de phthalein, pronunciar, criar som pela palavra. O mesmo acontece
com o termo Dório, na acepção de “o dom de Deus” (da raiz grega doron, que
significa “dom”).
22) Ver a alusão, acima, à origem do termo “logos”, para os trastos das cordas dos
instrumentos musicais.
23) In “The Pipes of Pan”, de J. E. McGuire e P. M. Ratta
24) “… Enquanto a geometria euclidiana trabalha com objectos que existem num
número inteiro de dimensões (a linha, numa dimensão; a elipse, em duas
dimensões; a esfera, em três dimensões, etc.), a geometria fractal está relacionada
com objectos (fractais) que existem em dimensões fraccionárias. Um fractal é uma
figura geométrica irregular, gerada por um algoritmo matemático simples e que,
para além de ter dimensão fraccionária, tem outra importante propriedade: as
imagens muito ampliadas dos fractais são essencialmente indistinguíveis da versão
não ampliada. Ou seja, o fractal é invariante relativamente à escala, propriedade
conhecida por auto-semelhança. Como se conclui, essa propriedade da invariância
de escala permite conhecer a estrutura do todo pela ampliação da parte e mesmo
tomar essa parte como unidade de construção do objecto global, embora, à primeira
vista, parecesse que não, pelo facto de a unidade de construção ser muito mais
simples do que a figura final. A geometria fractal põe, assim, em interacção, numa
harmonia que era difícil de adivinhar, o carácter imprevisível e aleatório de um
resultado, e a ordem e simplicidade do algoritmo que o gera! Além disso, mostra
que o simples pode, afinal, gerar o complexo!” (Liliana Ferreira, “Enigmas da
Ciência”, Biosofia nº 20).
25) No âmbito do infinitamente pequeno, novos ramos da ciência, novas
tecnologias revolucionárias, despontam agora. É o caso das Nanociências, nas quais
se estima que para cima de 20 000 cientistas estejam hoje directamente envolvidos
em projectos de pesquisa, e um número igualmente significativo em diversificados
empreendimentos, cujo denominador comum é produzir e controlar, à escala
atómica, novos materiais artificiais sintéticos. Foram já desenvolvidos dispositivos
tão minúsculos como uniões magnéticas, caixas e sistemas de convexidade
quânticos, transístores nos quais se pode controlar o movimento de electrões um a
um… No campo da Biologia, as promessas são infindáveis, como, aliás, se poderá
inferir pelas conquistas já realizadas em torno do ADN. Novas espécies começam
agora a ser produzidas (o que inicia, paralelamente, o levantamento de novas
questões bioétcas), como, no Japão, um sapo totalmente transparente, com a
finalidade de facilitar o estudo e a observação do crescimento de tumores.nsi (Notes
and Records of the Royal Society of London, Vol. 21, Nº 2).
26) Leonardo Da Vinci baptizou-a por “Secção Áurea”, e dela fez uso sistemático na
sua arte. Kepler, no seu escrito Mysterium Cosmographicum, chamou-a “a Jóia da
Geometria”… Trata-se de uma constante real algébrica irracional com o valor
arredondado a três casas decimais de 1,618. Este número está intimamente
envolvido com os processos do crescimento. Phi (e não Pi [π], quociente da divisão
do comprimento de uma circunferência pela medida do seu respectivo diâmetro),
como é designado o “número de ouro”, está presente na arquitectura estrutural de
múltiplos organismos marinhos (conchas, por exemplo, do nautilus, da
architectonia nobilis, do hippopus hippopus), dos seres humanos (o tamanho e a
proporção entre si de determinados ossos do esqueleto), do mundo vegetal (na
disposição das folhas e talos de numerosas plantas, bem como na configuração de
corolas de flores…), etc, etc. No âmbito da Astronomia, para além de se patentear
no posicionamento relativo dos corpos do sistema solar, estamos convictos de que
igualmente determina o tipo de espiral descrita pelo sol no seu movimento sideral.
27) Neste passo, a figura do Dodecaedro – o mais sagrado de todos os poliedros e
que integra todos os outros 4 – é o paradigma da Quinta-Essência (o Akasha), mãe
dos arquétipos dos 4 Elementos. Considerado por Platão como o símbolo da
Harmonia Universal, representa a amplificação, a três dimensões, da simetria
pentagonal e da potência da “Secção Dourada”. Para ele, o 12 é o número radical do
Espaço; o Dodecaedro é o número estrutural do Universo. Entre os Pitagóricos, a
alusão e mesmo a pronúncia do nome do Dodecaedro fora do seu círculo interno,
eram rigorosamente interditos. Muito se poderia acrescentar sobre esta figura
extraordinária. Não caberia, porém, no âmbito restrito deste artigo.
28) Registe-se que os comprimentos dos lados de cada dois triângulos sucessivos se
dispõem sempre na razão áurea.
29) Nomeadamente, os nºs 7, 9 e 10.
30) No equilíbrio da Manifestação, constituído pelos três Gunas (Rajas, Sattva e
Tamas), Brahmâ simboliza a qualidade Rajas (actividade, o arranque, o que
espoleta a Manifestação), e Shiva a qualidade Tamas (contra’acção, recolhimento).
31) Ananta, exotericamente também um epíteto de Vishnu, representa, do ponto de
vista esotérico, o upadhi de Vishnu (seu veículo).
32) Com efeito, a propriedade característica do Akasha é o Som.
para uma nova compreensão da Vida, do Universo e do
Homem.
“A alma humana é como um lago que se comunica com o mar por meio de um canal
submerso; embora aparentemente o lago esteja cercado por terra, o seu nível de
água
baixa ou se eleva com as marés, por obra dessa conexão oculta. Ocorre o mesmo
com
a consciência humana: existe uma conexão subterrânea entre as almas individuais e
a
alma do mundo, e essa comunicação se processa profundamente, confinada nos
escaninhos mais primitivos da consciência…” (Dion Fortune)
De igual modo, verifica-se, sem margem para dúvidas, e de modo generalizado, que
as novas gerações – inclusive as crianças pequenas, que ainda não sabem ler
“instruções” – têm claramente uma maior aptidão (em relação à anterior) para tudo
o que diga respeito à informática, a jogos de computadores, ao funcionamento de
telemóveis e quaisquer maquinarias electrónicas. Tal se deve, presumivelmente, à
recente conquista gradual, mas efectiva e massiva, destas tecnologias, dos seus
funcionamentos e dos seus conceitos. Uma aprendizagem inovadora de muitos é
incorporada subjectivamente pela constituição genética da vaga dos que lhes
seguem temporalmente.
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2) … no seu livro “Helena Blavatsky - A Vida e a Influência Extraordinária da
Fundadora do Movimento Teosófico Moderno”, Editora Teosófica, Brasília, 1997.
Rupert Sheldrake foi o descobridor dos campos morfogenéticos.
“O Todo contém a parte e a Parte contém o todo”, diz uma consagrada fórmula
ocultista. O homem – o Microcosmo – é o reflexo e a réplica do Macrocosmo, com
os seus Planos (e subplanos) septenários. Também o homem possui sete princípios
ou corpos, cada um deles focalizado e da mesma substância-vida de cada um dos
Planos do septenário cósmico. Os três superiores constituem a “contraparte divina”
no homem, a Trindade imperecível, dita espiritual, Âtman (Espírito), Buddhi
(Sabedoria Intuitiva) e Manas (Mente; neste caso, a natureza superior de Manas, a
Mente Abstracta). Os outros quatro, que conformam o chamado “Quaternário
inferior”, são de natureza (mais) material e corruptíveis (3). Este Quaternário
constitui a nossa, assim chamada, “Personalidade”, e é composto dos princípios
Sthûla-sharîra (o corpo físico); Linga-sharîra (duplo-etérico ou duplo-astral, o
corpo das causas formativas, que modela, energiza e sustém o corpo físico.
Configura uma espécie de estrutura reticular electromagnética que vivifica e provê
coesão às partículas físicas constituintes) e o Prâna, que ele veicula; Kâma-rûpa
(corpo dos desejos, instintos e paixões animais); Manas inferior (veículo da mente
intelectiva, concreta).
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3) Em todas as culturas (e no inconsciente colectivo da humanidade), o quaternário
(o 4) é o símbolo, por excelência, da matéria.
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6) A palavra dragão foi herdada do grego “drako”, que significa serpente.
7) A Árvore Bo foi a árvore sob a qual, segundo a tradição, Buda atingiu a
iluminação.
Os Tijolos da Matéria Física
No lótus Mûladhâra está indelevel e latentemente registada, impressa, a memória
do percurso da Humanidade (não nos esqueçamos que o homem não é apenas o seu
corpo físico, o corpo que se vê…). Entretanto, esta realidade subjectiva transfere-se
e coagula-se na componente física do ser humano. Todo o património de aquisições
biológicas – morfológicas, funcionais, psicológicas e mentais – da Humanidade está
registado no seu “Código Genético”. A estrutura fundamental desse registo, no
Plano Físico, é o ADN – a molécula básica da vida biológica – com os seus quatro
pilares de construção: Guanina, Citosina, Timina e Adenina.(8). Cada um destes
pilares constituintes traz consigo uma semente subjectiva e uma missão
impulsionadora que produz definidos e específicos efeitos no Plano Físico. Cada um
é portador de prolíficos códigos – como se fossem finíssimos e multicoloridos fios
que, de forma exímia e combinada, conformarão o grande Painel animado que
representa cada existência física, pleno de imagens e significados. De forma
integrada, eles dotarão cada ser que nasce de específicas habilidades e qualidades
potenciais. Cada um deles e o seu conjunto propenderão o seu psiquismo, o seu
temperamento, a sua natureza intelectual, as suas características físicas (9).
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Estas, são bases nitrogenadas que se aliam, cada uma delas, a uma molécula de
desoxirribose (açúcar) e a um ácido fosfórico para formar um nucleotídeo, principal
base das cadeias polinucleotídeas que, por sua vez, formam o ADN (ácido
desoxirribonucléico). É a ordenação dessas bases nitrogenadas que define a
informação genética de que o ADN é portador. Os maiores dos genes possuem
100.000 pares de letras mas, em média, eles agrupam cerca de 40.000 pares.
9) Com efeito, cada célula do homem (e dos demais seres vivos) transporta dentro
de si uma incomensurável “biblioteca” – o ADN. Esta biblioteca possui cerca de
30.000 “livros” – os genes –, cada um deles replicando as informações necessárias
para a preservação das características da espécie e para a definição das
características individuais, bem como para o pleno funcionamento biológico. O ser
humano comporta no seu organismo biológico cerca de100 trilhões de células.
Na verdade, as letras Vam, Sham, Sham e Sam são apenas símbolos, as formas
grosseiras de uma realidade mais subtil a que se denomina Mâtrikâ. Sob essa
conformação grosseira, elas são o som positivo, Shabda, detentor de potencialidade
criadora (10). Elas encontram ainda correspondência com os 4 elementos
filosóficos: Fogo, Ar, Água e Terra.
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10) É dito, ainda, que as letras Vam, Sham, Sham e Sam são a essência e as
sementes espirituais dos 4 Vedas - Vam, do Rig-Veda; Sham, do Yajus-Veda; Sham,
do Sâma-Veda, e Sam, do Atharva-Veda -, bem como das 4 Yugas: Satya, Tretâ,
Dvapâra e Kali. “Veda”, no seu sentido original, é a ideação divina no tocante à
criação dos mundos, cujos conteúdos foram parcialmente revelados aos Grandes
Rishis do passado e incarnados nos 4 Vedas.
Por outro lado, e agora no sistema Cabalístico hebraico, todas as atribuições
místicas quádruplas fazem-se corresponder às 4 letras do Tetragrammaton, Yod,
Hé, Vau, Hé, o Nome Sagrado que usualmente se traduz por Jeová, e, ainda, aos
“Quatro Mundos Cabalísticos” (Atziluth, Briah, Yetzirah, Assiah), com toda a
inerente riqueza de correlação de significados e qualidades potenciais.
Como já dissemos, outra síntese representativa que se configura no chakra
Mûladhâra (ao qual corresponde a Sephirah Malkuth) é a do “Quaternário inferior”
(a que correspondem as 4 Sephiroth inferiores: Yesod, Netzach, Hod e Malkuth), e
dele constitui o ponto focal.
E, no Islão, a Palavra Criadora (a equação cósmica divina) é Kalimat Allah. As
quatro consoantes deste mantra – K, L, M, T – simbolizam a manifestação
quaternária da Unidade primeira, sendo esta expressa na tríade de vogais A, I, A
(em que se oculta o nome inefável de ALLAH).
O CAMINHO DA FELICIDADE
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”
A juntar a isto, todas estas disparidades são, ainda, amplamente multiplicadas pelo
facto de que mesmo a ideia que cada um tem de si próprio pode mudar ao longo da
vida (e muda constantemente, tantas vezes quando menos se espera), à mercê das
transformações que vão ocorrendo. Como disse um grande instrutor dos nossos
tempos: “um desgosto, a perda do trabalho, um insulto, e a sua própria imagem,
aquilo a que você chama uma pessoa, muda profundamente” (2).
E essas coisas, tão diferentes, tão impermanentes e, quase sempre, tão antagónicas
não podem, evidentemente, dar acesso ao tal conhecimento/sabedoria que desvela
os segredos das divindades e dos cosmos, a que se referia o filósofo. Não podem,
pelas mesmas razões, conter nenhuma veracidade plausível.
De facto, as concepções que cada um tem acerca de si próprio, consequência de
ideias puramente pessoais e ilusórias, não correspondem minimamente à realidade:
O ser ilimitado que é cada um de nós, a nossa verdadeira identidade, aquele que
nunca nasce e nunca morre, não pode ser percebido no nível mental. E porque as
palavras são da mente e não vão além dela, esse ser (superior) só pode ser descrito
em termos negativos, ou seja, através daquilo que não é (e que, geralmente, julga
que é) (5).
É através do entendimento daquilo que não somos, e com que, geralmente, nos
identificamos (e a que nos apegamos): o corpo, a mente e seus objectos –
percepções, conceitos, memórias, pensamentos, desejos, emoções, medos,
associações mentais – e da desidentificação com eles, que despertaremos e
chegaremos ao conhecimento dessa verdadeira natureza que levará à efectiva
compreensão dos “deuses e do universo” (6).
Neste sentido atente-se ao que nos diz, embora de forma algo velada, Helena
Blavatsky, quase logo a abrir o seu livro A Voz do Silêncio: “Aquele que quiser ouvir
a voz do Nada, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do
Dharana. Tendo-se tornado indiferente aos objectos da percepção, deve o aluno
procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a
ilusão. A Mente é a grande assassina do Real. Que o discípulo mate o assassino” (7).
Aquilo que estas práticas de ajuda procuram (e podem) fazer (e estamos a pensar
no seu melhor), é alguma “harmonização” das tensões mais insuportáveis que se
estabeleçam entre os vários conceitos, condicionamentos, desejos intensos,
tendências e modelos que se antagonizam ou incompatibilizam no seio de uma
mesma personalidade que a eles, de uma maneira ou doutra, foi afiliada, e que
tornam difícil, ou mesmo muito angustiante, a vida corrente do sujeito em que o
conflito se instala.
Só que estas “novas verdades”, mesmo que de um patamar superior, são ainda do
nível da personalidade (embora muitas vezes, lamentavelmente, rotuladas de
“esotéricas” ou mesmo “espirituais”) e não pode haver estabilização permanente
neste plano, onde a “felicidade” se procura através do “prazer” do encontro com as
“coisas” de que se “gosta” e do evitar da “dor” do defrontar as “outras coisas” de que
se “não gosta” – incapazes que somos de, serenamente, “deixar que chegue o que
vem, e deixar ir o que se vai” (2).
Onde
Procurar a felicidade no nível da pessoa, faz lembrar a anedota do homem
embriagado que procurava a moeda perdida debaixo do candeeiro de iluminação
pública: não fora ali que a tinha perdido, mas só ali dispunha da luz que, julgava
ele, lhe permitiria encontrá-la.
Esta estratégia não leva, evidentemente, a lado nenhum. Não é possível encontrar a
moeda no sítio onde ela não está. Não é possível encontrar a felicidade na
personalidade, nem através dos seus padrões mentais, nem na satisfação dos seus
desejos, nem em coisa nenhuma do seu campo de acção. Só pode ser achada onde
foi perdida, no nosso ser real, que é paz e que é amor.
E para se encontrar esse ser, que é também consciência pura, eterna, imutável e
vazia de pressupostos, tem de se ir além da pessoa e “além da mente que divide e
cria os opostos [Kama-Manas], permitindo que apareça uma `outra mente´
[Buddhi-Manas – a mente superior ao serviço da Intuição] que una e harmonize”
(2).
Como
E a maneira como se vai além da personalidade e do seu mundo, dizem todos os
Mestres e toda a Tradição, é através da desidentificação com ela. Este é o único
caminho para a evolução espiritual.
Ouçamos o grande instrutor que foi Sri Nisargadatta Maharaj, o que ele diz e
aconselha:
- “ O mundo real está além do alcance da mente; nós vemo-lo através da rede dos
nossos desejos, divididos entre dor e prazer, bom e mau, interno e externo. Para ver
- “Veja como funciona, observe os motivos e os resultados das suas ações. Estude a
prisão que construiu em seu redor, por inadvertência. Ao conhecer o que você não
é, chegará ao conhecimento de si próprio” (2).
Bom demais
Quando
No que respeita ao quando começar, estou convicto de que um processo de
desidentificação com a personalidade pode ser iniciado mais cedo do que,
geralmente, se imagina.
Nesse sentido vai o alvitre que Helena Blavatsky nos faz: “E tendo aprendido a tua
Ajnana, abandona a Sala da Aprendizagem” (7) .
Vítor Martins
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(1) – No texto, a palavra “mente” e suas derivadas são utilizadas no sentido da
expressão sânscrita “Kama-Manas”, que designa o conjunto da mente e das
emoções influenciando-se mutuamente. Este conjunto, em que a Humanidade, em
geral, está focalizada é, usualmente, dirigido pela vertente emocional.
(2) – Sri Nisargadatta Maharaj (1897-1981) – Transcrito do livro “Eu Sou Aquilo –
Conversações com Sri Nisargadatta Maharaj” – Editora Advaita, Brasil.
(3) – O mundo das pessoas é mental. É, como dissemos, falso, limitado, relativo,
mutável e tem, apenas, a realidade que a mente de cada um lhe “emprestar”. Mas,
apesar disso, em cada plano de consciência esse mundo de ilusão acaba por se
constituir, para todos os efeitos práticos, numa verdadeira “realidade” para as
pessoas que a ele pertencem e dele partilham: a única “realidade” a que têm acesso
enquanto se mantiverem nesse nível de compreensão.
(5) – Fique, no entanto, claro que não podendo a nossa verdadeira individualidade
ser experienciada, percebida ou conceptualizada, sem ela, por outro lado, não pode
haver nem experiências, nem percepções, nem conceitos.
(6) – Sendo que, o entendimento daquilo que se não é, vai acabar por ser efectuado,
ainda, no nível mental. É a mente que nos prende, é a mente que nos liberta!