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EDUCAÇÃO DO CAMPO: O CURRICULO DA CASA FAMILIAR RURAL E O

COMPROMISSO SOCIAL PARA A FORMAÇÃO CIDADÃ

Adylane Santos de Jesus- UNEB/ CAMPUS XV


Cátia Nery Menezes -UNEB/ CAMPUS XV

Resumo:

Diante da complexa relação do jovem de origem rural com as escolas urbanas, o


presente artigo vem discutir sobre a importância da Educação do Campo e a formação e
profissionalização dos jovens para atuarem em suas comunidades, valorizando os
saberes, que por falta de políticas públicas efetivas, e formação de profissionais
capacitados, são negados pelo currículo sistematizado e homogêneo das escolas
urbanas. Para tanto, iremos fazer uma e conseqüente apresentação da metodologia de
trabalho da Casa Familiar Rural-CFR da cidade de Nilo Peçanha no Baixo Sul da Bahia.
Esse modelo de educação e formação de sujeitos, originário da França vem
apresentando relevantes resultados na comunidade acima apresentada. Para isso
utilizamos a observação, entrevista e análise do currículo. Como categoria de análise
vamos utilizar a Educação do Campo, Pedagogia da Alternância, Humanização,
Emancipação, formação profissional. Foi possível identificar no currículo da CFR que
atende as especificidades dos discentes e possui um comprometimento com a formação
profissional e cidadã, tão necessária para a valorização dos saberes e para a construção
de uma sociedade inclusiva e que respeita as diferenças principalmente no processo de
ensino e aprendizagem.

Palavras- chave: Educação do Campo, Casa Familiar Rural, Pedagogia da alternância,


Currículo

Introdução

O termo Educação no dicionário Aurélio significa “ação ou efeito de educar-se,


ensino, instrução, desenvolvimento das capacidades humanas visando à integração
social.” Esse conceito de Educação simplista traduz de forma precisa o processo de
ensinar e aprender que as famílias e a sociedade realizavam desde o início da
civilização.
A educação entendida como um processo que possibilitava os indivíduos a darem
continuidade aos saberes, crenças, modos de vida de uma determinada comunidade no
decorrer do processo histórico, foi se institucionalizando e adquirindo um sentido mais
amplo, e não mais o de passar para as novas gerações os saberes da comunidade, e sim,
o de produzir conhecimento sistematizado.
Nesse sentido a educação passou a determinar que tipo de conhecimento os
indivíduos deveriam ter, para participarem da sociedade. Com isso, a educação
institucionalizada passou a perceber o individuo como um ser homogêneo, e com
necessidades de serem moldados. Esse pensamento tem influência do Inatismo, corrente
teórica da psicologia que percebia o sujeito como uma tabula rasa e que a escola tinha o
papel de preencher o vazio.
A educação em seu processo histórico esteve aberta para atender a ideologia
dominante e homogeneizar as pessoas. Com o avanço dos estudos educacionais, e
especificamente os estudos de Paulo Freire no Brasil na década de 60, a discussão
passou a contribuir de forma significativa para sinalizar a necessidade de a educação
ultrapassar o modelo elitista e homogeneizador, pois o processo educacional que estava
posto não dava conta de atender a uma grande parcela da população brasileira
analfabeta, proveniente na maioria das vezes, do campo.
É pensando sobre essas questões que esse artigo tem como foco de discussão a
educação do campo, especificamente sobre o currículo da Casa Familiar Rural- CFR,
que possui vários centros distribuídos por todo Brasil e tem como objetivo geral a
formação integral do jovem rural com o envolvimento da família e da comunidade,
atendendo às necessidades do meio rural e animando o desenvolvimento interno e
sustentável do campo. O pressuposto metodológico é a Pedagogia da Alternância, que
visa à valorização da cultura e a afirmação da identidade dos indivíduos do campo, para
garantir a sua permanência no local de origem e melhorar a condição de vida, através da
utilização da tecnologia agrícola atrelado aos saberes da comunidade, além de garantir a
profissionalização dos jovens.
Para isso vamos analisar o currículo adotado pela Casa Familiar Rural, tomando
como base inicial a Casa Familiar Rural Agro florestal –CFAF, localizada na cidade de
Nilo Peçanha no Baixo Sul da Bahia.
Entendendo a educação como um processo humanizador, onde os indivíduos vão
adquirir conhecimentos para se emanciparem e terem consciência do seu papel na
comunidade onde estão inseridos, para intervir e modificar a realidade, a CFR atua
como forte incentivador de mudança, para os indivíduos reconhecer e valorizar as suas
origens.
Então, para dar conta dessa questão, vamos fazer uma reflexão sobre a Casa
Familiar Rural e sua importância para a formação dos jovens, levando em conta que
essa modalidade da Educação do campo, vem para atender a uma especificidade ,
visando o desenvolvimento e a sustentabilidade local, para que os jovens permaneçam
na comunidade de origem com condições dignas.
A responsabilidade social da educação, não pode se restringir apenas a garantia
do acesso, mas em ampliar a possibilidade do individuo adquirir conhecimentos básicos
para entender a sua realidade e criar caminhos de intervenção a fim de melhorar a sua
condição de vida. Diante disso, iremos utilizar como categoria de análise, educação do
campo, pedagogia da alternância, formação cidadã, emancipação e humanização.
Esse trabalho é recorte de uma pesquisa que está em andamento sobre a
Educação de Jovens e Adultos no Baixo Sul da Bahia. Sabemos dos desafios e da
importância desse estudo para pensarmos juntamente com a comunidade e os órgãos
governamentais sobre essa modalidade de ensino, que tem urgência de ter uma
identidade legitimada e profissionais preparados para darem conta da especificidade do
público e da própria dinâmica da Educação de Jovens e Adultos.
A Casa Familiar Rural é uma alternativa de inclusão social e de valorização dos
saberes da “terra” e que a escola urbana deslegitima esses saberes através do currículo
sistematizado e homogêneo, negando a cultura do campo. É pensando nessa questão que
esse trabalho se constitui em um convite para refletirmos criticamente sobre a educação
do campo enquanto uma modalidade de ensino que necessita afirmar a sua identidade, e
ter um currículo diferenciado, para dar conta da especificidade e da demanda local. Para
ampliarmos a possibilidade de uma intervenção embasada em uma teoria, para juntos
criarmos caminhos de intervenção e proposição de políticas públicas locais, para
melhorar o atendimento e a qualidade do ensino e para a educação humanizar e
emancipar os indivíduos.

Casa Familiar Rural e a histórica formação dos jovens

A Casa Familiar Rural teve origem na França no ano de 1935, pelo fato de um
rapaz, filho de agricultor, não ter interesse pela escola regular, alguns agricultores
juntamente com o padre da paróquia da comunidade se organizaram e fundaram a Casa
Familiar Rural, com o intuito de oferecer conhecimento elementar (leitura e escrita),
atrelado a vivência do campo. Para dar conta dessa exigência o ensino se constituiu em
períodos na escola e outro na comunidade (família), ou seja, os indivíduos ficavam na
Casa Familiar Rural uma semana no período integral e duas semanas com a família,
onde utilizava o conhecimento adquirido para ajudar na atividade do campo.
Durante duas semanas eles pesquisam com as suas famílias os temas
previstos no Plano de Formação. Em período subseqüente, vão para a
CFR (Casa Familiar Rural) sede- durante uma semana, socializam os
saberes sobre a sua realidade e ampliam o conhecimento técnico-
científico através das Fichas Pedagógicas, visitas técnicas, plano de
estudo, cursos, etc. A finalização de cada alternância é a síntese do
novo conhecimento produzido por todos e o início de outra. São
realizadas 15 alternâncias por turma a cada ano e o curso tem a
duração de três anos. (ALMEIDA, 2006)

Esse modelo de Educação do Campo influenciou alguns países principalmente, o


Brasil. As primeiras experiências de Casa Familiar Rural foram no Paraná e Santa
Catarina, posteriormente foi se expandido pelo território brasileiro. É estimado que
atualmente existam aproximadamente mais de 240 Casas Familiares Rurais espalhadas
em mais de 900 municípios brasileiros. De acordo com ALMEIDA (2006), os critérios
básicos para a participação dos jovens no processo formativo são:

 Desejar ser incluído/a no Programa da CFR em regime de Alternância;


 Ser filho ou filha de agricultores e residir na comunidade rural;
 Ter espírito associativista e cooperativista;
 Demonstrar potencial de liderança;
 Integração da família na comunidade;
 Ter a 4ª série concluída e noções básicas de português e matemática;
 Desejar ter o seu próprio negócio (agronegócio);
 Ter a idade entre 14 e 21 anos.

O Brasil é um país agrícola, historicamente a população brasileira era rural, a


partir da década de 60 com o processo de industrialização, a migração da população do
campo para a cidade se intensificou, em busca de melhores condições de vida e
emprego. A população que vem para a cidade em sua maioria é analfabeta, sabe apenas
o manejo da lida do campo, nesse contexto o estado se vê pressionado pelos
empresários internacionais a instruir a mão de obra.
Esse fato contribui para a realização de campanhas de alfabetização, em meio às
quais sobressaem os movimentos de educação e cultura popular do início da década de
1960, sob influência de Paulo Freire. Esse movimento foi “cortado” pelo governo
militar. Essas questões históricas vem afirmar o descaso do poder estatal para com a
Educação de Jovens e Adultos, principalmente com a Educação do Campo, pois a lógica
até então posta, era que as pessoas do campo fossem obrigadas a sair da localidade de
origem em busca de oportunidades. KOLLING (1999) nos traz uma reflexão a respeito
da educação do campo onde diz que

Conceber uma educação básica do campo, voltada aos interesses e ao


desenvolvimento sociocultural e econômico dos povos que habitam e
trabalham no campo, atendendo as suas diferenças históricas e
culturais para que vivam com dignidade e para que, organizados,
resistam contra a expansão e a expropriação, ou seja, este do campo
tem o sentido do pluralismo das idéias e das concepções pedagógicas:
diz respeito à identidade dos grupos formadores da sociedade
brasileira. Não basta ter escolas no campo: quer-se ajudar a construir
escolas do campo, ou seja, escolas com um projeto político
pedagógico vinculado as causas, aos desafios, aos sonhos, à história e
à cultura do povo trabalhador do campo. (KOLLING, 1999, p. 29)

Para isso o processo de ensino e aprendizagem deve dar condições do aluno


conseguir atrelar o conhecimento técnico do dia a dia com o escolar e a partir daí poder
modificar a realidade onde vive. E a Casa Familiar Rural possibilita ao jovem usar o
conhecimento do senso comum com a tecnologia agrícola.

A experiência da CFR na cidade de Nilo Peçanha-Ba

É pensando nas questões acima apresentadas que a Casa Familiar Rural Agro
Florestal da cidade de Nilo Peçanha, no Baixo Sul da Bahia, foi implantada. A região
do Baixo Sul tem uma predominância na atividade agrícola, a maioria dos alunos que
frequentam a escola, tem origem rural, no entanto o currículo da escola urbana
desconsidera essa especificidade dos educandos da educação básica. Por isso o interesse
de estar discutindo sobre a educação do campo como uma possibilidade dos alunos não
terem que sair do lugar de origem para estudar e consequentemente afirmar a sua
identidade e profissionalizar-se.
A CFAF na cidade de Nilo Peçanha é voltada para atividade agro florestal, essa
especialização na atividade rural aconteceu em virtude da região atender a essa
demanda, diagnosticada a partir da observação da cultura agrícola local e de entrevista
com os moradores.

O ponto positivo da casa familiar Rural na vida e na formação


desses jovens é que a maioria descobre a atividade profissional
que deseja seguir, e o mais importante de tudo, o conhecimento
que adquirem e levam para a comunidade, isso a longo prazo
tem um retorno muito significativo não só para a família, mas
também para a cooperativa e para a comunidade de uma forma
geral. (Informação verbal)i

A Casa Familiar Rural no Baixo Sul atinge ainda as cidades de Cairu, Igrapíuna e
Tancredo Neves, é financiada pela Fundação Odebrecht e por outras entidades
governamentais como o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da
Bahia (IDES). A iniciativa busca criar um ambiente de reflexões troca de
conhecimentos e aprendizado na área empresarial rural. Para que os jovens e suas
famílias tenham condições de permanecer no lugar de origem e produzir os produtos
agrícolas com qualidade utilizando as mais avançadas técnicas agrícolas atreladas com o
conhecimento que possuem.
O público da CFR de Nilo Peçanha é composto por 32 jovens, sendo 16 mulheres
e 16 homens, entre 16 e 21 anos, que estejam cursando o ensino médio, e os pais
possuam um sítio, ou um terreno produtivo, esse pré- requisito é fundamental, pois os
jovens vão pesquisar, e implementar o conhecimento adquirido na CFR na prática, de
preferência em seu próprio terreno. Isso possibilita o confronto e a comparação da
validade da tecnologia agrícola apreendida com o saber da comunidade, para dessa
forma estar avaliando o papel da CFR na referida localidade. Dessa forma, a proposta é
contribuir para a melhoria das condições técnicas e aumentar a produtividade, além de
organizar, praticar e fortalecer a cooperativa.
Essa é uma das ações que a CFR realiza para ajudar a comunidade a produzir
com qualidade e conseguir escoar a produção com preços satisfatórios, como também
incentivar o trabalho coletivo, através do diálogo e do espírito de solidariedade.

A cooperativa é extremamente necessária para o pequeno e


médio produtor rural diminuir os custos, e investir em
tecnologias para melhorar a qualidade dos seus produtos, nós
incentivamos a criação e a manutenção como um dos pré-
requisitos dos alunos para que a família participe do processo de
formação que oferecemos, e temos percebido bons resultados, a
relação interpessoal tem melhorado, o diálogo que antes não era
importante, hoje é fundamental para o coletivo decidir o melhor.
(Informação verbal)ii

O trabalho na CFR é realizado com a família e com o jovem, o mesmo possibilita


uma maior aproximação com a comunidade e o ensino está voltado para atender a
necessidade da realidade desses jovens. Entendemos que a relação CFR - família –
jovem, é extremamente significativa para fortalecer os laços e desenvolver a escuta
sensível para todos participarem do processo de construção e apreensão do saber de
forma democrática e, a escola, através do ensino oportunizar, segundo FREIRE (1996)
“a formação humanizadora e a emancipação dos excluídos.”

A formação dos jovens está relacionada com a aquisição do conhecimento


técnico - cientifico imprescindível para dar conta da dinâmica de mercado e aumentar a
produtividade agrícola e a qualidade dos produtos, e os jovens terem uma visão
empresarial para se tornarem empreendedores de sucesso. Para, além disso, a formação
cidadã é a mola mestra quando se pensa em desenvolver o espírito coletivo através da
cooperativa. Dessa maneira os estudantes vão ser estimulados a fortalecer princípios
fundamentais para o convívio em grupo, mediados pelo diálogo, o respeito e a ética.
Esse princípio nos faz lembrar uma fala de SANTOS (2006) quando diz que:

O viver na/da roça produz uma identidade cultural especifica,


construída num processo de interação constante com a terra, marcada
por uma “ética de afeto” com a “natureza”. Produzem ainda relações
sociais especificas marcadas pela solidariedade, pela ajuda mútua,
configurando-se como uma comunidade. (SANTOS, 2006, p. 82)

A educação tem uma responsabilidade social, na formação e preparação do


jovem para a vida, não apenas para o mercado de trabalho, e a CFR, dentro da sua
proposta pedagógica, metodologia e teoria, tem garantido essa formação, para que os
indivíduos protagonizem ações que beneficie a sua família bem como a comunidade
onde estão inseridos, utilizando o conhecimento técnico -cientifico com os valores, o
respeito e a ética.

A CFR tem um impacto significativo na comunidade, isso não


podemos negar, mas falta a gente, enquanto monitor, e até a
própria instituição ouvir a comunidade para saber da demanda,
para dessa forma desenvolver um trabalho que prime pelo
coletivo. (Informação verbal)iii

A CFR oferece uma excelente estrutura física, materiais didáticos, técnicos,


currículo flexível, valorização dos saberes, trabalha a partir da realidade dos educandos.
No período de matricula a procura é grande, na maioria das vezes excede o número de
vagas, mas esse fato não garante a permanência dos discentes, por conta do alto índice
de evasão chegando a quase 40 por cento das vagas oferecidas. Os jovens entram na
Casa Familiar Rural motivados por várias possibilidades e lá acabam também
descobrindo suas reais vocações seja voltada para o que a mesma oferece, ou algo
externo, fato que enobrece ainda mais a manutenção da instituição nessas comunidades.
Essa reflexão de FREIRE (1996) traduz de forma contundente o papel da escola
enquanto um agente que oferece instrumentos para que o sujeito possa empregá-la de
acordo a sua necessidade.

Mulheres e homens, somos os únicos seres que, social e


historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso,
somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora,
algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir
a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir,
constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à
aventura do espírito. (FREIRE, 1996 p. 69)

Essa fala de Freire traz a importância da escola respeitar e valorizar a autonomia


dos indivíduos, para decidir qual profissão tem mais familiaridade, a CFR com o
currículo e com a proposta metodológica possibilita ao jovem decidir, através da
descoberta, da atividade laboral que é realizada durante o período da alternância na
família, onde vai aplicar o conhecimento técnico-cientifico na comunidade, se tem
vocação ou não para dar continuidade ao trabalho com a “terra”. E esse processo de
elaboração e reelaboração é fundamental para o individuo ter consciência do seu papel
na sociedade, enquanto agente multiplicador de conhecimento. Essa consciência não é
adquirida de uma hora para outra, muito menos ensinada, deve ser vivenciada pelos
indivíduos.

Então a Casa Familiar Rural de Nilo Peçanha, tem atendido dentro da proposta
da Pedagogia da Alternância que segundo (SILVA, 2003) se constitui como:

Princípio fundamental e norteador de seus projetos educativos. Tal


princípio implica em um processo de formação que combina e articula
períodos de vivência no meio escolar e no meio familiar. Alterna-se,
assim, a formação agrícola na propriedade com a formação teórica
geral na escola que, além das disciplinas básicas, engloba uma
preparação para a vida associativa e comunitária. Na articulação entre
os dois tempos e espaços da formação, são utilizadas diversas
estratégias pedagógicas, denominadas Instrumentos Pedagógicos da
Alternância, como: Plano de Estudo; Caderno da Realidade;
Colocação em comum; Visitas de Estudos; Intervenção Externa;
Caderno Didático; Visitas às famílias; Projeto Profissional do Jovem;
Estágios. ( SILVA, 2003, s/p)

KOLLING (1999) e SILVA (2006) trazem a importância da construção da


identidade da Educação do Campo e KOLLING (1999) pontua:
A educação do campo precisa ter uma educação especifica isto é
alternativa. Mas, sobretudo, deve ser educação, no sentido amplo de
processo de formação humana, que constrói referenciais culturais e
políticas para a intervenção das pessoas e dos sujeitos na realidade,
visando a uma humanidade plena e feliz. (KOLLING, 1999, p. 24)

SILVA (2003) e KOLLING (1999) trazem contribuições significativas sobre o


processo metodológico de intervenção que a Educação do Campo deve ter para realizar
o ensino de acordo com a cultura local, incentivando o reconhecimento dos sujeitos na
cultura onde está inserido. Então, a CFR de Nilo Peçanha dentro das possibilidades e da
proposta teórica que fundamenta o processo de ensinar e aprender, tem estimulado a
valorização da cultura local, para que os jovens encontrem alternativas de emprego, que
gerem condições melhores de vida dentro da comunidade a que pertece, contribuindo
para a aquisição e socialização do conhecimento técnico- cientifico.

Currículo da Casa Familiar Rural de Nilo Neçanha: formação profissional e


humanizadora

Esse artigo é um recorte da pesquisa sobre Educação de Jovens e Adultos no


Baixo Sul da Bahia, que está em processo de aplicação de questionário. O interesse pelo
estudo da CFR surgiu no decorrer da aplicação do questionário na cidade de Nilo
Peçanha, onde foi sinalizado por conversas informais e posteriormente pela investigação
documental (matricula do aluno) que uma parcela significativa de alunos tem se
ausentado por uma semana (período da alternância) da escola regular, para freqüentar a
CFR.
Esse fato curioso trouxe alguns questionamentos como: Qual é o atrativo da
CFR? Por que mesmo matriculado na escola regular os jovens freqüentam a CFR?
Como é o currículo da CFR? Antes de esclarecer essas questões é necessário
entendermos a Educação do Campo como uma modalidade da Educação Básica,
sinalizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, mas que ainda
não possui uma política pública eficaz, para dar conta da especificidade do público,
local, respeitando entre outras questões a cultura da comunidade onde o discente está
inserido.
O currículo da escola urbana tem uma lógica e uma demanda que não é a mesma
da Educação do Campo. Esse fato é um grande desafio que a escola do campo enfrenta,
superar o discurso homogêneo e lutar pela inclusão das diferenças culturais no contexto
escolar.
A análise do Currículo tem como base algumas diretrizes pontuadas na
conferencia sobre a Educação do Campo, que propôs políticas públicas para essa
modalidade, e como categoria de análise vamos utilizar educação do campo, pedagogia
da alternância, humanização, emancipação e formação profissional.
Dentre outros objetivos a II Conferencia Nacional para a Educação do
Campo propõe:
- Políticas curriculares e de escolhas e distribuição do material didático pedagógico que
levem em conta a identidade do povo da roça.
- Defender o campo como um lugar de vida, cultura, produção, moradia, lazer, cuidado
com o conjunto da natureza e novas relações solidárias que respeitem as especificidades
sociais, éticas, culturais dos sujeitos.
- Respeito à especificidade da educação do campo e a diversidade de seus sujeitos

O currículo da Casa Familiar Rural de Nilo Peçanha é estruturado por módulos


que integra a vivência no espaço da instituição e posteriormente a utilização do
conhecimento junto à família. O objetivo geral é a profissionalização do jovem para
utilizar a tecnologia agrícola na comunidade onde vive, para que os mesmos sejam
agentes multiplicadores do saber cientifico e valorizar a cultura local.
Cada módulo corresponde a uma alternância, no total são 15, o curso tem a
duração de 03 anos. A CFR de Nilo trabalha com a área agro florestal. Os módulos são:

1º Alternância Tema: Nossa realidade: sociedade, cultura e natureza

2º Alternância Tema: Ecofisiologia vegetal, piaçava - produção e comercialização

• 3º Alternância Tema: Sistemas agro florestais.


• 4º Alternância Tema: Manejo da água, solo e recuperação de áreas degradadas
• 5º Alternância Tema: Legislação ambiental e unidades de conservação
• 7º Alternância Tema: Noções básicas de silvicultura
• 6° Alternância Tema: Noções básica de cultivo da piaçava.
• 8º Alternância Tema: Segurança do trabalho e plantio de essências florestais
nativas
• 9º Alternância Tema: Cooperativismo, associativismo e organizações sociais.
• 10º Alternância Tema: Controle alternativo de pragas e doenças
• 11º Alternância Tema: Elaboração de projetos, captação de recursos – projeto de
vida.
• 12º Alternância Tema: Cultivo de essências florestais exóticas
• 13º Alternância Tema: Manejo de produtos não madeireiros – cravo, pimenta e
guaraná
• 14º Alternância: Tema: Tecnologia de sementes - pupunha
• 15º Alternância Tema: Fruticultura: banana, maracujá e citrus

Através da análise do Curriculo é possível perceber a relação teoria - prática que


a CFR estabelece, é extremamente significativa para a aprendizagem do jovem como
também para dar sentido aos conteúdos estudados teoricamente. O interessante é que
esses jovens são estimulados a pesquisar “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem
ensino. Esses fazeres se encontram um no corpo do outro”. (FREIRE, 1996, p.29)
Afinal de contas qual é o atrativo da CFR? Com base na análise do currículo e
entrevista com os monitores, os jovens ao participarem do processo de formação na
CFR, são estimulados a trazer o conhecimento que possuem, e dessa forma aperfeiçoá-
los mediados pela tecnologia agrícola. Conseguem no decorrer do curso uma base
teórica- prática sobre a lida no campo, como também as questões ligadas à compra,
venda, investimentos, que a escola regular não dá conta, devido à proposta curricular ter
outro direcionamento. São motivados pelo retorno que visualizam ainda em processo de
formação que tanto a família quanto eles percebem.
O currículo da CFR Agro florestal de Nilo Peçanha possui características da
modalidade de ensino da Educação do Campo, em virtude de ser oferecida para
indivíduos que possui uma ligação próxima ao campo (moram lá), fato sinalizado na
LDB 9394/96. Quando trata dessa modalidade, contempla uma metodologia, concepção
teórica, recursos, professores capacitados para lidar com a especificidade dos alunos,
como também do ensino que é oferecido. SILVA (2007), KOLLING (1999), SANTOS
(2003) trazem, que a Educação do Campo necessita realizar um trabalho e ter um
currículo diferenciado, para atender a demanda (ao aluno) e a CFR consegui dar conta
dessas exigências mínimas, explicitado na proposta curricular e nos objetivos de cada
módulo.
Segundo SILVA (2007) a Pedagogia da Alternância assume, um sentido de
estratégia de escolarização que possibilita aos jovens que vivem no campo, conjugar a
formação escolar com as atividades e as tarefas na unidade produtiva familiar, sem
desvincular -se da família e da cultura rural . E no contexto da CFR de Nilo Peçanha, a
proposta curricular evidencia a proximidade aluno- família- CFR, para a construção do
conhecimento acontecer, como também, para valorizar os saberes da “ terra” que os
discentes levam para a sala de aula, e que é fundamental para a troca de saberes entre
monitor e aluno.
No módulo I- “Nossa realidade, sociedade, cultura e natureza”, deixa explicito
que o trabalho didático, pedagógico realizado na CFR, prima não só pela formação
profissional como também pela formação cidadã dos jovens( FREIRE 1999, 2005), tão
necessária para conscientizar os sujeitos sobre o seu papel na sociedade, como também
instrumentalizá-los de conhecimento para intervir na comunidade onde estão inseridos e
ser o propositor de mudanças. A maioria dos módulos do currículo engloba os saberes
do indivíduo, o processo de transformação e de emancipação desses na comunidade,
algo possível de ser realizado em virtude da proposta do trabalho pedagógico que é
realizado na CFR.
De acordo com SILVA (2007) a profissionalização do jovem para uma
atuação mais qualificada na agricultura, através da sucessão de
seqüências entre o meio familiar e o meio escolar é compreendida
sob a lógica de uma conjugação da formação teórica com a formação
prática. O meio escolar (CFR) proporciona o conhecimento
técnico-científico, o meio familiar viabiliza sua aplicação prática nas
condições reais e específicas. O currículo da casa Familiar agro
florestal de Nilo Peçanha objetiva a profissionalização do jovem, que
através dos módulos 12º (Cultivo de essências florestais exóticas) e 13º (Manejo
de produtos não madeireiros – cravo, pimenta e guaraná), tem a possibilidade de aplicar
o conhecimento na lida do campo, porém os outros módulos também contemplam a
realização da atividade prática na família, esses em especiais, mais específicos com a
atividade a qual a alternância está voltada.
Dessa forma, a Casa Familiar Rural de Nilo Peçanha, é uma modalidade de
Educação do Campo, mas para, além disso, é um projeto social e político (FREIRE
2005), pois possibilita à formação profissional do sujeito revestida da valorização da
cultura local tão necessária para o processo de humanização e a educação/ professor são
agentes mediadores do conhecimento, oportuniza aos sujeitos a refletir sobre a realidade
local, para transforma - lá.
Esse processo não acontece de uma hora para outra, demanda uma
conscientização de todos os envolvidos no processo de ensinar e aprender, como
também da escola primar pelo respeito às diferenças e valorizar a cultura local, e o
currículo da CFR de Nilo Peçanha, contempla os aspectos socioculturais da comunidade
a que pertencem.
O currículo da CFR contempla a especificidade desse público e o currículo da
escola regular ainda não realiza o processo de ensino e aprendizagem levando em
consideração os indivíduos que residem na zona rural. Analisando a CFR pesquisada, e
os alunos que estudam em instituições regulares no período da alternância, vimos que
seria interessante uma interlocução entre essas instituições para juntas proporem ações
que deem conta da necessidade dos educandos, e dessa forma serem promotoras de
mudanças.

Considerações finais

Diante do exposto, pudemos ver o quanto é importante profissionalizar os jovens


respeitando a realidade em que vivem. A Casa Familiar Rural desempenha um enorme
papel nessas comunidades, pois trabalha a educação do campo com respeito aos saberes
e as culturas encontradas na localidade onde estão instaladas.
Como Kolling afirma

A educação do campo precisa ser uma educação especifica isto é


alternativa. Mas, sobretudo, deve ser educação, no sentido amplo de
processo de formação humana, que constrói referenciais culturais e
políticas para a intervenção das pessoas e dos sujeitos na realidade,
visando a uma humanidade plena e feliz. (KOLLING, 1999, p. 24)

A Casa Familiar rural não só qualifica esses jovens para o mercado de trabalho,
mas para viver em sociedade, e respeitar a sua comunidade, os saberes dos seus pais. A
enxergarem que há esperança de melhorias no seu lugar de origem sem que os mesmos,
necessitem procurá-las em outros lugares, e o mais complicado, sem a devida
qualificação. A Casa Familiar forma o jovem para a cidadania e para se notarem
enquanto agentes transformadores.
O que até agora pudemos notar é, que os resultados da instalação dessa instituição
em Nilo Peçanha apresentam retornos significativos. A comunidade aprova e respeita o
trabalho dos monitores, os jovens em sua maioria valorizam a sua formação proveniente
desses espaços, muito mais do que a formação básica mediada pelos espaços formais.
Em virtude disto, é evidente a importância das CFRs em localidades como a
apresentada, pois atua no sentido de levar conhecimento técnico ao campo através da
profissionalização dos futuros multiplicadores desses saberes, e conseguem este feito
através de um currículo flexível e importante para o desenvolvimento da capacidade de
convivência em grupo dessa população, proporcionada pela pedagogia da alternância.
Essa pesquisa não se esgota aqui devido a amplitude e complexidade da discussão e por
entender que necessitamos explicitar a necessidade da Educação do Campo ser discutida
no meio acadêmico e nas comunidades, para que dessa forma seja respeitada e
valorizada na sua diversidade e especificidade, e para que o município e estado
proponham políticas efetivas para a implantação e manutenção da escola no campo.

Referência Bibliográfica

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experiência brasileira .Disponível em: http://sisifo.fpce.ul.pt/?r=15&p=108 acesso em:
12 de junho de 2010.

Nota
i
Informação verbal junto monitor W
ii
Informação verbal junto monitor Y
iii
Informação verbal junto monitor W

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