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FACULDADE DE DIREITO
DEPARTAMENTO DE DIREITO PRIVADO
DISCIPLINA DE FALENCIAS E RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS
Fortaleza/CE
2010
Antonio Luiz Garcia Junior
(Manhã)
Fortaleza/CE
2010
INDICE
1.INTRODUÇÃO........................................................................................................................4
9. CONCLUSÃO.......................................................................................................................36
10. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................................38
5
1. INTRODUÇÃO
O estudo do Direito Falimentar requer uma visão global de todos os ramos do direito,
visto que se encontra intimamente ligado à questões cíveis, constitucionais, penais,
processuais e até de certo modo tributárias, dentre outras.
Assim, através de uma analise dos dois institutos ( Função Social e Recuperação de
Empresas), buscaremos entender melhor a relação entre ambos, de forma que possamos, após
o estudo compreender a fundamentação da Recuperação e a necessidade de o Estado, apensar
de Neoliberal, garantir o cumprimento efetivo da função social das empresas.
6
Antes de adentrarmos realmente no cerne da questão que nos levou a elaborar este
trabalho, cabe destacar e ilustrar a importância que as sociedades empresárias imprimem
hodiernamente no Estado, demonstrando qual o verdadeiro papel por elas desempenhando.
Desde a Revolução Industrial em meados do século XIX até o advento da era global
pós-moderna que hoje se vivencia, a sociedade empresária ganhou contornos de
instituição central no cenário político-econômico. Determinadas corporações, ditas
transnacionais, possuem atualmente maior influência política e econômica que
vários Estados do mundo.
A atividade empresária cumpre relevante papel social e econômico, uma vez que
produz bens e serviços importantes para o desenvolvimento humano, gera
arrecadação tributária para os Estados além de empregos diretos e indiretos em prol
dos trabalhadores. É também fundamental no equilíbrio das contas públicas e na
balança comercial1.
se se quiser indicar uma instituição que, pela sua influência, dinamismo e poder de
transformação, sirva de elemento explicativo e definidor da civilização
contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição é a empresa. É dela que
depende, diretamente, a subsistência da maior parte da população ativa desse país,
pela organização do trabalho assalariado. A massa salarial já equivale, no Brasil, a
60% da renda nacional3.
Assim vemos que, desde a Revolução Industrial, a atividade empresária tem sido a
grande “engrenagem” que vem movimentando a evolução da sociedade, seja, como dito
1
GOMES, Larissa Silva. “Função Social e Recuperação de Empresas: uma abordagem sob o prisma da ordem
econômica constitucional e da análise econômica do Direito.” Texto extraído do sitio eletrônico Jus Navigandi
(HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=15040).
2
Op. Cit., GOMES, p. 1.
3
COMPARATO, Fábio Konder. Direito empresarial: estudos e pareceres. São Paulo: Saraiva, 1995, p.3.
8
alhures, pela detenção dos meios de produção, pela circulação de capital, bens e serviços,
geração de empregos ou fonte fiscal do próprio Estado. Inclusive, tal “importância” das
sociedade empresárias desde a referida Revolução, tem sido apontada como motivos mediatos
para a deflagração de Guerras, incluindo-se ai as duas Grandes Guerras Mundiais.
O fato é que, sendo a atividade por elas desenvolvida tão primordial para a
sobrevivência da economia estatal hodierna, em contrapartida, a saúde e manutenção de tais
instituições é de salutar importância para o Estado, o que, no direito contemporâneo gerou o
efeito que hoje estudamos nesse trabalho, qual seja, a necessidade de o ente estatal interferir
na atividade econômica – que, como veremos mais adiante, inicialmente é deixada sob a
responsabilidade do setor privado –, através da atividade jurisdicional, com a finalidade de
garantir a continuidade do cumprimento da Função Social que a instituição vinha
desempenhando, com o objetivo mediato de garantir a saúde econômica e financeira do
Estado.
Neste ponto, a titulo de corroborar nosso entendimento, cabe trazer à baila o sábio
ensinamento de CANHA e CRESQUI que, fazendo uma análise do meio em que as
instituições empresariais estão inseridas, lêem de forma maestral os riscos da atividade
desenvolvida (princípio da austeridade) e a importância do papel desenvolvido pelas empresas
no âmbito da Função Social. Senão vejamos:
4
CANHA, Lucas Alves, e CRESQUI, Wesley Luiz Vidigal. “A função social na recuperação judicial da
empresa”. Texto extraído do sitio eletrônico “Paraná Online” (http://www.parana-
online.com.br/colunistas/226/76984/?
postagem=A+FUNCAO+SOCIAL+NA+RECUPERACAO+JUDICIAL+DA+EMPRESA).
9
5
OLIVEIRA, Celso Marcelo. “Comentários à Nova Lei de Falências”. 1ª ed. São Paulo, IOB Thonson Editora.
10
observar o quadro da situação empresarial não de forma isolada, mas de maneira sistêmica a
fim de se perceber a importância das empresas para o meio em que se encontram.
Assim sendo, passemos agora para uma analise mais legalista no que se refere à
regulamentação da atividade econômica e da Função Social desempenhada por ela, tratando
do assunto principalmente no âmbito axiológico e constitucional, trazendo o presente estudo,
através da analise pormenorizada da regulamentação do assunto pela nossa Constituição, para
o ambiente jurídico-econômico nacional.
Muito embora não seja o objetivo primordial de nosso estudo, uma análise da
regulamentação da atividade econômica pela Constituição Federal se faz salutar e primordial
no momento em que através de suas diretrizes, poderemos chegar ao fundamento da Função
Social, e, conseqüentemente, ao da Recuperação de Empresas, que é nosso objetivo neste
trabalho. Assim vejamos:
6
PRETTO NETO, Dary. “Função Social, preservação da empresa e viabilidade econômica na Recuperação de
Empresas.” Texto retirado do sitio eletrônico “Web Artigos”
(http://www.webartigos.com/articles/45063/1/FUNCAO-SOCIAL-PRESERVACAO-DA-EMPRESA-E-
VIABILIDADE-ECONOMICA-NA-RECUPERACAO-DE-EMPRESAS/pagina1.html)
11
A presença de temas econômicos, quer esparsos em artigos isolados por todo o texto
das Constituições, quer localizados em um de seus "títulos" ou “capítulos”, vem
sendo denominada "Constituição Econômica". Significa, portanto, que o assunto
econômico assume sentido jurídico, ou se "juridiciza", em grau constitucional.
Decorre desse fato a sua institucionalização pela integração na "Ordem Jurídica",
configurando a "Ordem Jurídico-Econômica"7.
7
SOUZA, Washington Peluso Albino. Primeiras Linhas de Direito Econômico. 4. ed. São Paulo: LTr, 1999.
p.218.
8
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 89.
12
A esta altura, cabe analisar o dispositivo legal que trata do assunto. Vejamos:
9
Art. 170 da Constituição da República Federativa do Brasil.
13
redução das desigualdade sociais, a manutenção do meio ambiente, dentre tantos outros
objetivos da própria Republica, por assim dizer, são fundamentos para o exercício da atividade
econômica pelo empresário.
Não obstante, apesar dessa limitação, devemos entender que o Estado não só pode,
mas deve intervir em casos de crise econômica ou abuso de poder econômico por parte da
sociedade empresária, a fim de garantir o cumprimento da Função Social da atividade
empresarial desenvolvida, diante principalmente de mais um princípio insculpido inclusive no
caput do art. 170 da CF 88, qual seja, o da justiça social.
Seguinte com nosso estudo, cabe trazer o pensamento da já citada autora GOMES,
que em seu estudo sobre o tema afira de maneira salutar e pontual que
10
FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 89.
11
BASTOS, Celso Ribeiro, MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5 de
outubro de 1988, v.7. 2. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 20.
14
12
Op. Cit., GOMES. p 3.
15
Deste modo, se falando em atividade, a “empresa” deve ser “exercida” por um ente,
pessoa natural ou jurídica, com personalidade jurídica própria. Nesse caso, o empresário.
Assim, não se pode confundir os dois termos (“empresa” e “sociedade empresária”), uma vez
que a primeira é a atividade, e a segunda o sujeito de direito que a exerce.
O fato é que esta distinção, na verdade, torna-se mais técnica do que prática, visto
que no dia-a-dia é comum confundir-se e misturar-se os dois termos ao tratarmos do assunto,
chamando de “empresa” o ente administrador, principalmente. Assim, esclarecidos quaisquer
problemas terminológicos já apresentados ou futuros, passemos adiante e tratemos da Função
Social da Empresa, enquanto atividade econômica.
13
Op. Cit., GOMES. p 3.
16
Isso se faz necessário pelo fato de que a Função Social não se dirige realmente para a
“empresa” (conceito delimitado no último ponto to tópico anterior), mas sim para a riqueza
decorrente da atividade desenvolvida, seu fundo de comércio e seu valor de mercado e valor
na sociedade, principalmente.
De maneira mais clara, deve-se ter em mente que a Função Social não tem por objeto
a empresa por esta ser simplesmente a atividade desenvolvida. O que realmente importa para a
sociedade são os produtos decorrentes dessa atividade, sejam os bens de produção, de
consumo ou de serviços; as riquezas por ela criadas, como a circulação de capital e as
contribuições fiscais adimplidas ao Estado; seus bens móveis e imóveis, cambiais ou não,
marcas, patentes, Konw How’s, etc; o valor de suas ações; e principalmente, o valor
axiológico que a empresa possui dentro da sociedade em que está inserida.
Todavia, deve-se ter em mente que, apesar de a empresa dever se dirigir no sentido
da busca pelo social, isso não significa abster-se a percepção de lucro. A necessidade da
observância da Função Social da empresa apenas acarreta que o lucro deva ser precedido de
um prévio “adimplemento” das obrigações Jurídicas assumidas. Nesse sentido, nos fala a
jurista MEZZANOTTI: “o lucro não se legitima por ser mera decorrência da propriedade dos
bens de produção, mas como prêmio ou incentivo ao regular desenvolvimento da atividade
empresária, segundo as finalidades sociais estabelecidas em lei”15.
Por fim, mas de forma não menos importante ,vale trazer os ensinamentos do
professor COMPARATO, que afirma que
14
Op. Cit., GOMES. p 4.
15
MEZZANOTTI, Gabriela. A Disciplina da Empresa: efeitos da autonomia privada e da solidariedade social.
Novo Hamburgo: Feevale, 2003, p.38.
16
Op. Cit., COMPARATO. p 235.
17
Op. Cit., COMPARATO. p 236.
18
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
(...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
(...)18.
Deste modo, percebemos de forma mais acentuada como a Função Social decorre da
propriedade privada, principalmente se analisarmos os incisos do art. 5º da CRFB/1988
transcritos acima. Em conseguinte, podemos perceber que a atividade empresarial, por ser
meio de exercício da propriedade, é também meio de efetivação da Função Social da Empresa.
18
Art. 5º, XXII e XXIII da CRFB.
19
19
GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 273.
20
Já no que tange a Atividade Empresaria, temos que esta possui papel fundamental
para a efetivação da função social em comento. Isso porque, segundo assevera mais uma vez
GOMES,
Deste modo, a Atividade Empresaria possui papel dominante neste processo, vez que
é principalmente, se não exclusivamente através das “empresas” que respondem pela
circulação de capital no meio globalizado hodierno, através da produção de riquezas que serão
utilizadas para o “consumo social” (criação de empregos, valorização do trabalho e da pessoa
humana, etc.) ou para o aumento da produção, seja através de bens de consumo ou produção.
Para melhor ilustrar e por um ponto final ao assunto, cabe trazer ao estudo o
ensinamento de CHAVES e ROSENVALD:
lucros, tampouco em desoneração do Estado sobre as funções que lhe são inerentes.
A empresa não pode renunciar à sua finalidade lucrativa, mas é tão responsável
quanto o Poder Público em assegurar direitos fundamentais ao indivíduo, por meio
de políticas ambientais e culturais e oferta de benefícios diretos e indiretos à
sociedade22.
O fato é que, diante do meio em que se está inserida a empresa, não se pode abstrair
a importância que a mesma possui para a sociedade, devendo entende-la de forma sistêmica e
não isolada. Daí nasce a importância da observação da Função Social pela Empresa. Função
esta decorrente da propriedade privada e canalizada através das atividades empresariais
desenvolvidas pelas instituições.
22
Farias, Cristiano Chaves de; Rosenvald, Nelson. Direitos Reais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 11.
22
23
Op. Cit., GOMES, p. 4.
23
24
OLIVEIRA, Celso Marcelo. “Comentários à Nova Lei de Falências”. 1ª ed. São Paulo, IOB Thonson Editora.
25
Op. Cit., GOMES, p. 4.
24
justiça social e da Função Social que a atividade empresarial deve desenvolver dentro da
sociedade.
Já nosso segundo conceito, trazido pelo jurista italiano ROCCO, usa aspectos
diferentes daqueles trazidos pelo jurista alemão para delimitar os termos da falência. Segundo
o autor italiano, partindo-se de uma análise mais especifica do crédito advindo das obrigações,
temos que Falência
Destaca Ruben Ramalho em sua obra que um dos conceitos que melhor exprimem a
natureza e os objetivos do instituto que ora comentamos nos foi dado por Amaury Campinho.
Referido autor conseguiu fundir tanto a noção econômica como a noção jurídica de falência.
Desde modo, define-a: “Falência é a insolvência do devedor comerciante que tem seu
patrimônio submetido a um processo de execução coletiva28”
Por fim, mas não menos brilhante, afirma PAES DE ALMEIDA de maneira salutar
que
a falência deve ser considerada como um instituto jurídico que objetiva garantir os
credores do comerciante insolvente, assim, considerado aquele cujo passivo é
superior ao patrimônio, ou, por outras palavras, cujos bens são insuficientes para
saldar seus débitos29
26
LACERDA, J. C. Sampaio. Manual de Direito Falimentar, Ed. Freitas Bastos, 1999, pág. 18
27
PACHECO, José da Silva. Processo de Falência e Concordata. 7ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Forense. 1997
28
RAMALHO, Ruben. Curso Teórico e Prático de Falências e Concordatas, Ed. Saraiva, 1993, pág. 4
29
ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Concordata, 10ª Edição, SARAIVA
26
Assim, entendemos que, das conceituações acima elencadas, a que melhor exprime o
instituto em comento é aquela apresentada por Ruben Ramalho quando cita Amauri
Campinho. Assim, podemos entender que
Falência é quando o passivo de uma empresa é maior que seu ativo, o que acarreta
em sua situação de insolvência, dando assim ensejo à execução coletiva de seu
patrimônio a fim de que os interesses dos credores sejam garantidos, de forma que
se liquidem as obrigações e se encerre a atividade empresarial.
GUERRA, em seu livro, por sua vez, afirma que referido instituto pode ser entendido
como o “meio de se preservar as organizações produtivas, as fontes de riqueza e as
empresas, uma vez que o devedor e seus credores terão liberdade para um acordo que
permita recuperar a sociedade empresária e manter os empregos gerados31”. Em tal conceito,
30
MACHADO, Rubens Approbato (Coordenador). Comentários à Nova Lei de Falências e Recuperação de
Empresas. Ed. Quartier Latin, 2ª Edição.
31
GUERRA, Erica. Nova Lei de Falências. Ed. LZN, 2005.
27
desta vez, já vemos por parte do autor uma preocupação maior em delimitar a necessidade de
se resguardar aspectos mais sociais do que empresariais, como os empregos, por exemplo.
referido instituto pode ser visto como o ato de convocar os credores para verificar a
viabilidade do plano de recuperação apresentado pela sociedade empresária e
implementar as diretrizes traçadas pelo mesmo, caso aceito pelos credores, sob a
égide do poder judiciário 32.
Ainda sob a ótica processual, temos o professor CAMPINHO, que afirma que
Recuperação de Empresa pode ser visto como
Por fim, mas não menos brilhante, cabe trazer o conhecimento magistral do professor
PAES DE ALMEIDA ao afirma,
32
LOPES, Bráulio Lisboa. Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial de Empresas. Artigo retirado do sítio
eletrônico
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/2232/NOVA_LEI_DE_FALENCIAS_E_RECUPERACAO_JUDIC
IAL_DE_EMPRESAS
33
CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa – o novo regime de insolvência empresarial. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006, p. 11
34
ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de falência e recuperação de empresa. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
28
Deste modo, estaria sendo observada a Função Social da Empresa em todos os seus
aspectos, seja no cumprimento das obrigações assumidas pelos devedores, seja pelo resguarda
a direitos sociais como o emprego, a circulação de capital, e o desenvolvimento da sociedade
ao seu redor.
Pela lei 11.101/05, nos moldes do art. 48, poderá requerer a Recuperação Judicial o
empresário devedor que exerça atividade empresarial a mais de 2 anos e que atenda aos
seguintes requisitos de maneira cumulativa:
III – não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
Parágrafo único. A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge
sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.35
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação
de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à
atividade econômica.36
produtora e dos empregos, além de principalmente viabilizar a realização da função social que
lhe é precípua na economia moderna, como demonstrado no começo do presente trabalho.
Através do que foi visto nos tópicos anteriores, podemos chegar a conclusão de que a
prioridade de se manter a fonte produtora decorre da necessidade de seu garantir a
continuação da atividade empresarial. Perdida a capacidade de produzir da empresa, fica
visivelmente dificultado o cumprimento por parte da empresa daqueles aspectos tidos como
fundamentais para a efetivação da função social da empresa, quais seja, a circulação de
capital, a produção de bens de consumo e serviço que desenvolvem a sociedade em que se
encontra inserida a empresa, etc. Até mesmo a manutenção dos empregos se torna dificultada
e quase impossibilitada diante da “Falência” prévia dos meios de produção.
Desse modo, podemos entender que, por reflexo, qualquer outro objetivo da
Recuperação de Empresas visa a manutenção de sua função social no meio em que se encontra
inserida.
Por fim, no que diz respeito aos objetivos da Recuperação, cabe trazer o
entendimento do professor OLIVEIRA, que afirma que
Devemos destacar que a lei 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, tem como objetivo
viabilizar a superação da crise financeira da empresa, permitindo a manutenção e a
existência da própria empresa, os empregos gerados pela empresa, promovendo
ainda a preservação e a continuação da empresa, sua importante função econômica
e social e propriamente o estímulo à atividade econômica.39
Isso se dá pelo fato de o empresário, além de ser titular de seus interesses pessoais e
privados, responde também pelos interesses coletivos da sociedade em que sua atividade está
inserida, de forma sistêmica, como dito alhures. Desta forma, sequer pode renunciar a este
direito, devendo prover todos os meios de resguardar sua atividade em prol do bem estar
coletivo e da saúde do meio em que se encontra.
A principal conseqüência desta idéia pode ser traduzida no sentido de que o Juiz
apenas atuará como fiscal da regularidade formal do pedido. Assim sendo, verificando o
magistrado que o requerente realmente apresenta todos os requisitos trazidos em lei, nada
mais poderá fazer a não ser deferir o processamento da recuperação da empresa.
Assim, por mais que seja um direito do devedor, a Recuperação ainda deve ser vista
como uma “intervenção” estatal nos meios de produção privados. Deste modo, deve-se ter
cuidado no momento da concessão e observar-se se realmente é o caso de deferimento.
Deve-se ter em mente que, muitas vezes, embora a sociedade empresaria apresente
os quesitos trazidos na lei, não há viabilidade econômica na busca do soerguimento da
empresa.
Desta forma, pode sair demasiadamente danoso tentar sanar a crise em que se
encontra determinada empresa, ocorrendo que os ônus são muito maiores do que os possíveis
benefícios. Neste caso, em prol também da Função Social, prefere-se a decretação imediata da
Falência do que a concessão da Recuperação, tendo em vista os prejuízos que a tentativa de
reerguer a empresa traria ao meio econômico.
O fato é que não se pode prejudicar o meio econômico em detrimento de uma única
empresa caso a inviabilidade econômica da empresa em questão ponha em xeque toda a
sociedade e o próprio Estado.
Assim, por mais que seja um direito, deve-se ponderar os limites desta concessão, na
medida da observância da viabilidade econômica da Recuperação da empresa.
Por meio disso, percebemos que o empresário, como dito alhures de maneira
exaustiva, é detentor não apenas de seus direitos privados e individuais, mas também
representante dos interesses coletivos da sociedade em que se encontra insculpido, vez que sua
atividade empresarial acarreta em crescimento de empregos, renda e diminui as desigualdade
sociais, acarretando assim em uma Justiça Social mais eficaz e lídima. A isso chamamos de
Função Social da Empresa.
34
Por esses motivos pode-se entender que hoje em dia a Recuperação é uma obrigação
da sociedade empresária, não podendo o empresário renunciar a este direito (pois a
recuperação também é um direito), tendo em vista a necessidade/obrigação que sua empresa
tem de cumprir com a Função Social acima delimitada.
Todavia, embora seja uma obrigação do empresário, o Estado não possui meios
coercivos de impor ao devedor o devido cumprimento. Com efeito, não há como realmente
coagir a sociedade empresária à requerer a Recuperação Judicial.
Ocorre que, por força da Lei Maior, por ser a atividade econômica deixada nas mãos
da iniciativa privada, cabendo ao Estado exercer tal atividade apenas em casos específicos e
determinados em lei, não pode realmente o Estado interferir ex oficio no âmbito empresarial a
fim de garantir o exercício da função social das empresas, mesmo diante da inércia do
empresário em requerer a Recuperação Judicial ou Extrajudicial, sob pena de malferir os
interesses privados e interferir na ordem econômica financeira, que, por força dos arts. 170 e
173 da Carta Magna fora deixada nas mãos da iniciativa privada, nos termos expostos no
inicio deste trabalho.
Desta forma, não pode o Estado extrapolar os limites estipulados por ele próprio na
Carta Política. Seria um total abuso por parte do Poder Público, mesmo que este agisse em
defesa dos interesses coletivos na busca de garantir a Função Social da empresa.
Para alguns estudiosos, a pena para o empresário que não requer a Recuperação de
sua empresa em tempo oportuno já é suficiente nos dias de hoje: qual seja, a decretação da
falência da sociedade empresária. Todavia, este não é nosso entendimento. É verdade que a
decretação direta de Falência do empresário pode ser uma forma de “repressão” pelo não
requerimento da recuperação a tempo. Mas o fato é que, por muitas vezes, a decretação
falencial acaba sendo bom para empresários que, de algum modo, por meios ilícitos, causa a
própria insolvência a fim de fugir da cobrança de credores. Além do mais, o mais importante é
35
que, tendo em vista sempre a Função Social que a atividade empresária desenvolve, o prejuízo
causado à sociedade em que a empresa falida está inserida pode ser grave demais, causando
danos muitas vezes irreparáveis, como a falência de inúmeros outros pequenos empresários
que dependiam da atividade desenvolvida por aquele que ficou inerte e teve sua Falência
decretada de maneira sumaria como simples “punição” por sua inércia.
Não pode a sociedade responder pela inércia da sociedade empresária. Ao nosso ver,
a solução seria sim a falência do empresário inerte, bem como a averiguação de possíveis
crimes falimentares ou comuns por ele cometido, mas também a implantação de medidas que
garantam a sobrevivência do meio econômico em que a empresa estava inserida (o que
também é um objetivo da Recuperação) através, por exemplo, da liberação de incentivos
fiscais aos micros e pequenos empresários que dependiam de alguma forma da atividade antes
desempenhada pelo falido.
Por fim, cabe destacar que, muito embora não haja meios coercitivos eficientes ainda
para imprimir à sociedade empresária a obrigação de requerer a Recuperação Judicial, o
simples fato de haver a exigência de o empresário justificar o porque de não ter requerido o
instituto em comento já comprova o fato de que o requerimento da Recuperação se trata
realmente de uma obrigação da empresa, e não de um mero direito, devendo o empresário
inerte arcar com as devidas conseqüências de seus atos e omissões.
Maior. No entanto, tal circunstancia, não retira a obrigatoriedade por parte do empresário de
requerer a recuperação diante de uma situação de crise, por ser este titular não apenas de
interesses privados seus, mas também representar os interesses coletivos da sociedade que o
circunda e que se reflete na observância da função social de sua empresa.
Por fim, cabe destacar que estas duas colocações, ao nosso ver, são as conseqüências
mais importantes decorrentes da fundamentação da Recuperação de Empresas na necessidade
de cumprimento da Função Social por parte da sociedade empresária, visto que reflete não
apenas a necessidade de o Estado prestar meios de garantir este cumprimento, ao tratar o
instituto falencial em comento como Direito, mas também demonstra o caráter público e
irrenunciável da função social, ao caracterizar a recuperação como obrigação do devedor.
Não obstante esta conclusão, o maior problema que ainda persiste a falta de meios
coercitivos que o Estado poderia impor ao devedor inerte em caso de não requerimento da
Recuperação por ele. Todavia, este empecilho não retira o caráter público insculpido na
Recuperação pela Função Social da empresa.
9. CONCLUSÃO
37
Deste modo, julgamos ter atingido objetivo principal deste trabalho, qual seja, uma
análise do instituto da Recuperação de Empresas, fosse Judicial ou Extrajudicial, sob o prisma
da Função Social desenvolvida pela atividade empresarial, analisando seus fundamentos e
objetivos, bem como as conseqüências dessa fundamentação, dando assim uma visão
teleológica e fundamental do instituo falencial a fim de se poder melhor entender não apenas a
importância da continuidade da atividade empresária, mas também a do cumprimento da
função social que todas as empresas desenvolvem na sociedade em que se encontram
inseridas.
38
10. BIBLIOGRAFIA
4. OLIVEIRA, Celso Marcelo. “Comentários à Nova Lei de Falências”. 1ª ed. São Paulo,
IOB Thonson Editora
7. FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Direito Econômico. 5. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2004
10. GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. São Paulo:
Malheiros, 2002
11. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2006
12. LACERDA, J. C. Sampaio. Manual de Direito Falimentar, Ed. Freitas Bastos, 1999
13. PACHECO, José da Silva. Processo de Falência e Concordata. 7ª Ed. Rio de Janeiro.
Editora Forense. 1997
14. RAMALHO, Ruben. Curso Teórico e Prático de Falências e Concordatas, Ed. Saraiva,
1993
15. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Concordata, 10ª Edição, SARAIVA
18. LOPES, Bráulio Lisboa. Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial de Empresas.
Artigo retirado do sítio eletrônico
http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/2232/NOVA_LEI_DE_FALENCIAS_E_RE
CUPERACAO_JUDICIAL_DE_EMPRESAS