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ampliam seu controle sobre os países que lhe são periféricos. Estes,
despidos da soberania, deixam-se atingir por planos de erradicação
de plantações, devastadores do meio ambiente, por tratados de
extradição, transferidores do julgamento de seus nacionais para os
Estados Unidos da América, por uma atuação consentida, em seu
território, de agências de informação norte-americanas, até chegar
às intervenções militares diretas, que, já ocorridas na Bolívia e no
Panamá, repetem-se com o Plano Colômbia.
Internamente, em cada país, os empresários e empregados das
empresas produtoras e distribuidoras de drogas qualificadas de
ilícitas, estigmatizados como “traficantes”, ou ainda mais
demonizados como “narcotraficantes”, recebem toda a carga
negativa transferida para os que, como eles, cumprem o papel de
“bodes expiatórios” de todos os males. Ouvem-se, até mesmo,
indignadas manifestações contra o fato dos “traficantes explorarem
o vício” dos compradores de suas mercadorias. Ora, em uma
formação social capitalista, em que o lucro há de ser o objetivo
essencial de qualquer empreendimento empresarial, por que se
haveria de exigir que produtores e distribuidores de substâncias
psicoativas se abstivessem de lucrar, em atenção ao bem-estar de
consumidores? Por que as atividades das indústrias farmacêuticas,
que extraem lucros da doença, não são objeto de indignação? Ou,
ainda, as atividades de banqueiros, extraindo lucros das dificuldades
econômicas de quem se vê obrigado a recorrer a seus empréstimos,
até mesmo, por exemplo, para poder adquirir um lugar onde morar?
Os diferenciados e demonizados produtores e distribuidores de
drogas qualificadas de ilícitas, tornados “bodes expiatórios”, são,
convenientemente, utilizados para concentrar a hostilidade da
maioria, com o que se obtém a coesão em formações sociais
desequilibradas e conflituosas, como as que se fazem presentes
nesta chamada pós-modernidade.
A hostilidade e o medo despertado facilitam a intensificação do
controle social, a ampliação do poder do Estado de punir e o
simultâneo enfraquecimento do Estado Democrático de Direito.
Neste sentido, tem-se um eloqüente exemplo, vindo de pesquisa,
realizada sob encomenda do escritório francês da Anistia
Internacional. No país, que foi berço, em 1789, da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, inspiradora de todas as
posteriores declarações internacionais de direitos fundamentais do
indivíduo, 25% dentre os 1.000 entrevistados afirmaram ser
aceitável o recurso à tortura em certos casos excepcionais,
mencionando a hipótese de policiais usarem de violência para forçar
um “traficante” a confessar onde esconde a droga (notícia da referida
pesquisa, divulgada em 17 de outubro de 2000, em Paris, foi publicada na Folha
de São Paulo, na edição do dia 19 seguinte).
Por sua vez, os consumidores das drogas qualificadas de ilícitas
são estigmatizados como criminosos, infratores, ou doentes, que
devem sofrer uma pena explícita ou disfarçada em sanção
administrativa, ou obrigatoriamente se submeterem a tratamento
médico. A alternativa é aquela apontada por Alessandro Baratta: se
é enfermo, não é livre; se é livre, é mau (“FUNDAMENTOS IDEOLÓGICOS DA
ATUAL POLÍTICA CRIMINAL SOBRE DROGAS”,in SÓ SOCIALMENTE ..., org. Odair Dias
Gonçalves e Francisco Inácio Bastos, Rio de Janeiro, Relume Dumará, 1992,
páginas 35 a 49).
Condicionada pelos estigmas, mergulhada nos preconceitos,
fiando-se nas falsas informações, supõe a maioria que o consumo
das drogas qualificadas de ilícitas conduz à criminalidade. Dentre
muitos fatores, desconhece esta maioria que, como já anotou Emilio
Lamo de Espinosa, falando do consumo de heroína na Europa, “o
toxicômano não é delinqüente porque usa droga; é delinqüente
porque se vê privado dela”, para assinalar, mais adiante, que, com a
proibição, o que se conseguiu foi produzir o aumento de roubos a
farmácias, posteriormente substituídos, nas grandes cidades, pela
troca direta de objetos roubados por heroína (“CONTRA LA NUEVA
PROHIBICIÓN: LOS LÍMITES DEL DERECHO PENAL EN MATERIA DE TRÁFICO Y CONSUMO DE
ESTUPEFACIENTES”,trabalho publicado no BOLETIN DE INFORMACIÓN número 1303 do
Ministério da Justiça da Espanha, de 25 de fevereiro de 1983).