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Exposição temporária

Piso 0

Hélio Oiticica
museu é o mundo
��/�� — ��/��/����
Poucos artistas refletiram sobre o seu trabalho
com a clareza e a acuidade de Hélio Oiticica.
Todas as questões que emergiram ao longo
do seu processo experimental, iniciado no
limiar da dissolução do Grupo Frente (núcleo
do concretismo carioca), em ����, estão
registadas em anotações, textos, entrevistas,
depoimentos e cartas. Em entrevista concedida
ao Jornal do Brasil em maio de ���� ele declara:
“Acho importantíssimo que os artistas dêem o
seu próprio testemunho sobre sua experiência.
A tendência do artista é ser cada vez mais
consciente do que faz. É mais fácil penetrar
o pensamento do artista quando ele deixa um
testemunho verbal de seu processo criador.
Sinto-me sempre impelido a fazer anotações
sobre todos os pontos essenciais do meu
trabalho”.
No caso específico de Oiticica, podemos
afirmar que obra e testemunho estão a tal ponto
entrecruzados que é impossível separá--los Hélio Oiticica com Bólide B�� Caixa ��
sem incorrer em prejuízo para ambos, pois “Homenagem a Cara de Cavalo”, ����/����
Fotografia: Cláudio Oiticica
são fundamentais para sua qualificação como
artista seminal da vanguarda brasileira dos mudança temática, mas uma mudança política
anos de ����, ���� e ����. fundada na participação do “espectador”.
A trajetória poética de Oiticica desloca-se A estratégia de oposição de Hélio Oiticica
da fatura impecável, quase assética, da sua à arte e à sociedade burguesas não se inscreve,
produção inicial, marcada pelo “construtivismo” no entanto, na tradição libertário--messiânica
internacional, para um “construtivismo favelar”. de teor marxista de grande penetração na
Essa chegada ao Brasil pela via universalista América Latina do período, mas na oposição
da invenção formal “concreta” e “neoconcreta” anarco-romântica e na tradição libertina,
consuma-se quando o escultor Jackson voltadas para a revolução comportamental
Ribeiro o leva ao Morro da Mangueira, no Rio individual. Talvez por causa disso tenha salvo
de Janeiro. “Tudo começou com a formulação sua obra da ilustração temático-social na qual
do Parangol頠em ����, com toda a minha muitos artistas da esquerda naufragaram.
experiência com o samba, com descoberta dos Hélio Oiticica – museu é o mundo  transborda
morros, da arquitetura orgânica das favelas os limites expositivos do Museu Coleção
cariocas (e consequentemente outras, como Berardo. Com obras espalhadas pelo exterior
as palafitas do Amazonas) e principalmente do edifício, a exposição coloca o público
as construções espontâneas, anónimas, nos em contato direto com a ideia do “Delirium
grandes centros urbanos – a arte das ruas, Ambulatório”, forma usada por Hélio Oiticica
das coisas inacabadas, dos terrenos baldios, para despertar nele mesmo o estado de criação
etc. Parangolé  foi o início, a semente, se bem latente. A sua aspiração maior a partir dos
que ainda num plano de ideias universalistas Penetráveis (que começam com o Projeto Cães
(volta ao mito, incorporação sensorial, etc.), de Caça  e vão até o fim de sua produção) era
da conceituação da Nova Objetividade e da que fossem como espaços abertos e cósmicos,
Tropicália ”. onde o indivíduo crie suas próprias sensações
Ele, portanto, chega à Tropicália  por meio sem condicionamentos históricos ou visuais, ou
de um processo que se inicia no “quadro” seja, que encontre dentro de si mesmo a chave
convencional da pintura ocidental, mas que para um “Exercício Experimental de Liberdade”,
progressivamente desconstrói em direção a como propunha Mário Pedrosa.
uma experiência brasileira. Essa transformação
não se dá, porém, numa esfera ilustrativa Fernando Cocchiarale e César Oiticica Filho
ou representacional. Ela não significa uma Comissários
Abstração e cor
“Na verdade, o que faço é uma síntese e não uma
abstração. Para isso foi preciso chegar à pintura
de uma só cor de diversas qualidades ou mudar
a direção de pinceladas para que uma mesma
cor tome dois aspectos. É isso também diferença
qualitativa. Não é obrigatório que tal cor seja tonal
(mesma cor com diversas qualidades); tonal aqui
tem outro sentido que o costumeiro. A obra se
poderá compor de várias cores, mas foi preciso
chegar ao tonal para a tomada de consciência da
cor-luz ativa. Ela, de agora em diante, será cor-luz
ativa, mesmo com duas qualidades diferentes,
ou tons, pois que tom aqui é qualidade, e o Metaesquema, ����
tom mesmo é a luz. Chego assim pela cor à
concepção metafísica da pintura.” Na nova expressão a que me proponho,
Dezembro de ����. os elementos que entram são o espaço, a cor,
a estrutura e o tempo.
A quebra do retângulo do quadro Embora os dois lados da pintura estivessem
“A meu ver a quebra do retângulo do quadro ou trabalhados, havia uma separação entre as
de qualquer forma regular (triângulo, círculo, etc.) placas, correspondente ao que antes seria
é a vontade de dar uma dimensão ilimitada à parede. Esta parte permanecia um elemento
obra, dimensão infinita. Essa quebra, longe de ser estético e inoperante.
algo superficial, quebra da forma geométrica em Pela necessidade de dinamizar essa parte
si, é uma transformação estrutural; a obra passa inclusa, de fazê-la viver, comecei a levantar as
a se fazer no espaço, mantendo a coerêncla placas que correspondiam aos dois lados. Em
interna de seus elementos, organímicos em sua vez de funcionarem apenas dois lados, vários
relação, sinais para si. O espaço já existe latente planos começaram a aparecer. As faces interiores
e a obra nasce temporalmente. A síntese é tomaram sentido, passando a funcionar. Foi então
espaciotemporal.” que fiz os não-objetos pendurados, cujas placas
� de setembro de ����. abrem em diversos ângulos fixos.”
Encontros – Hélio Oiticica , Rio de Janeiro: Azougue
Editorial, pp. ��-��. Trecho de texto publicado
originalmente no Suplemento Dominical, Jornal do
Brasil , �� de maio de ����.

Fim do quadro
“Já não tenho dúvidas que a era do fim quadro
está definitivamente inaugurada. Para mim
a dialética que envolve o problema da pintura
avançou, juntamente com as experiências (as
obras), no sentido da transformada pintura-quadro
Relevos Espaciais , ���� em outra coisa (para mim o não-objeto), que já não
é mais possível aceitar o desenvolvimento «dentro
Relevos espaciais do quadro», o quadro já se saturou. Longe de
“O primeiro passo foi fazer um quadro sem ser a «morte da pintura», é a sua salvação, pois
costas. A estrutura do quadro girava ���°. Era a morte mesmo seria a continuação do quadro
ainda uma pintura de dois lados, mas já acrescida como tal, e como «suporte» da «pintura».”
de sentido de tempo. Ainda que virtualmente Hélio Oiticica. Aspiro ao grande labirinto , Rio de
destruída, a forma retangular permanecia. Senti Janeiro: Rocco, ����, pp. ��-��. Trecho de texto
necessidade de transformá-la. O plano do quadro escrito a �� de fevereiro de ����.
era ainda estático; o sentido de tempo não
prevalecia integralmente, não estava integrado
na gênese da obra.
Estrutura-cor cor. É, na verdade, a integração dos elementos
“A experiência da cor, elemento exclusivo da cor, tempo, espaço numa nova estrutura.”
pintura, tornou-se para mim o eixo mesmo do que “Projeto Cães de Caça e pintura nuclear”, in
faço, a maneira pela qual inicio uma obra. [...] Encontros – Hélio Oiticica  , Rio de Janeiro: Azougue
A cor é uma das dimensões da obra. Editorial, p. ��. Trecho de depoimento, novembro
É inseparável do fenômeno total, da estrutura, de ����.
do espaço e do tempo, mas como esses três é um
elemento distinto, dialético, uma das dimensões. “A estrutura do Núcleo aparece e se gera num
Portanto possui um desenvolvimento próprio, sentido totalmente arquitetônico; dir-se-iam
elementar, pois é o núcleo mesmo da pintura, estruturas paredes, às quais, acrescentando
sua razão de ser. Quando, porém, a cor não está teto, passariam a ser protocasas. Os Núcleos em
mais submetida ao retângulo, nem a qualquer tamanho grande em que é possível a penetração
representação sobre este retângulo, ela tende revelam isso mais claramente; na verdade o
a se «corporificar»; torna-se temporal, cria sua sentido íntimo da estrutura do Núcleo é o de
própria estrutura, que a obra passa então a ser recriar o espaço exterior, criando-o na verdade
o «corpo da cor».” pela primeira vez, esteticamente.”
Hélio Oiticica. Aspiro ao grande labirinto , Rio de “O problema dos opostos”, in Aspiro ao grande
Janeiro: Rocco, ����, p. ��. Trecho de texto escrito labirinto , Rio de Janeiro: Rocco, ����, p. ��. Trecho
a � de outubro de ����. de texto escrito a � de fevereiro de ����.

Penetrável
“No Penetrável o fato do espaço ser livre, aberto,
pois que a obra se dá nele, implica uma visão
e posição diferentes do que seja a «obra». Um
escultor, p. ex., tende a isolar sua obra num socle,
não por razões simplesmente práticas, mas pelo
próprio sentido de espaço de sua obra; há aí a
necessidade de isolá-la. No Penetrável,
o espaço ambiental o penetra e envolve num só
tempo. Mas fora daí onde situar o Penetrável?
Talvez nasça daí a necessidade de criar o que
chamo de «projetos». Não que sejam socles 
Bilateral Equali , ���� dos penetráveis (que idéia superficial seria),
mas que «guardem» essas obras, criem como
Núcleos que prelúdios à sua compreensão. Que sentido
“Os Núcleos são o desenvolvimento das obras teria atirar um penetrável num lugar qualquer,
suspensas no espaço que venho realizando mesmo numa praça pública, sem procurar
desde que transformei a pintura do quadro qualquer espécie de integração e preparação
para o espaço. Essas obras suspensas são para contrapor ao seu sentido unitário? Essa
do conhecimento do público, já que foram necessidade é profunda e importante, não só
expostas ano passado. Os Núcleos são também pela origem da própria idéia como para evitar
suspensos, porém não só como uma peça, mas que a mesma se perca em gratuidades de
são constituídos alguns de �, outro de ��, outro colocação, local, etc. Que adiantaria possuir a
de ��, outro até de �� peças. obra «unidade» se essa unidade fosse largada
A meu ver constituem a consequência da à mercê de um local onde não só não coubesse
pintura-quadro transformada em pintura no como idéia, assim como não houvesse a
espaço, organizando-se aqui em núcleos, possibilidade de sua plena vivência
sugerindo mesmo a idéia de uma «pintura e compreensão?”
nuclear». Não cabe também aqui a explicação Hélio Oiticica. Aspiro ao grande labirinto , Rio de
teórico-estética da idéia. Acho, porém, que são Janeiro: Rocco, ����, p. ��. Trecho de texto escrito
uma inovação importantíssima na integração a � de junho de ����.
da cor em novo contexto estético que não o
«quadro», para mim ultrapassado, constituindo
ainda um «suporte» para o desenvolvimento da

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