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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

“LATO SENSU” (ESPECIALIZAÇÃO) A DISTÂNCIA


BOTÂNICA

BOTÂNICA ECONÔMICA

Eduardo van den Berg

Universidade Federal de Lavras - UFLA


Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE
Lavras-MG
2005
PARCERIA
Universidade Federal de Lavras - UFLA
Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE
REITOR
Antônio Nazareno Guimarães Mendes
VICE-REITOR
Ricardo Pereira Reis
DIRETOR DA EDITORA
Marco Antônio Rezende Alvarenga
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO
Joel Augusto Muniz
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Marcelo Silva de Oliveira
COORDENADOR DO CURSO
Evaristo Mauro de Castro
PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DA FAEPE
Edson Ampélio Pozza
EDITORAÇÃO
Centro de Editoração/FAEPE
IMPRESSÃO
Gráfica Universitária/UFLA

Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da


Biblioteca Central da UFLA

Van den Berg, Eduardo


Botânica econômica / Eduardo Van den Berg. – Lavras: UFLA, 2005.
56 p.: il. – Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” (Especialização) a Distância
– BOTÂNICA.

Bibliografia

1. Botânica. 2. Domesticação. 3. Gramínea. 4. Planta. I. Universidade


Federal de Lavras. II. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. III.
Universidade Federal de Lavras. IV. Título.

CDD – 581.6
630.28

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou
forma, sem a prévia autorização.
SUMÁRIO

1 Introdução....................................................................................................................5

2 Domesticação ..............................................................................................................6

3 Cereais utilizados pelo homem..................................................................................13

4 Plantas fornecedores de látex ...................................................................................18

5 Plantas produtoras de óleos e gorduras ....................................................................20

6 Plantas ceríferas........................................................................................................23

7 Exsudatos do tronco, bálsamos e gomas ..................................................................24

8 Plantas aromáticas ....................................................................................................25

9 Condimentos..............................................................................................................31

10 Plantas taníferas......................................................................................................34

11 Plantas têxteis .........................................................................................................36

12 Plantas corticeiras ...................................................................................................39

13 Plantas tintoriais ......................................................................................................40

14 Espécies madeireiras ..............................................................................................42

15 Matéria prima para celulose e papel........................................................................47

16 Plantas ornamentais ................................................................................................48

17 Plantas tóxicas ........................................................................................................49

18 Bioprospecção .........................................................................................................53

19 Bibliografia ...............................................................................................................58
1
INTRODUÇÃO

O escopo da Botânica Econômica é extremamente amplo. Existem, disciplinas,


áreas da ciência, cursos inteiros que abrangem apenas alguns aspectos daquilo que
pode ser chamado de botânica econômica. Assim, longe de esgotar o assunto, esta
obra pretende introduzi-lo. A intenção é que o leitor tenha uma idéia do universo a ser
explorado nesta área.
Um dos capítulos mais intrigantes desta abordagem é aquele que trata da
domesticação, em particular, da domesticação de espécies vegetais e suas
implicações para a nossa civilização. Mais no final do livro, uma outra faceta
intimamente ligada com a domesticação e uso de plantas nos tempos atuais é
tratada brevemente sob o tópico Bioprospecção.
A maior parte da obra lida com os diferentes grupos de produtos vegetais e
suas espécies fornecedoras adotadas pela civilização humana. Estes produtos e
espécies são descritos de forma sucinta, procurando enfatizar aqueles mais
importantes. No entanto, referências que tratam do assunto de forma mais extensa
são fornecidas nos respectivos capítulos. Neste sentido, os Jardins Botânicos de Kew
possuem uma impressionante coleção de objetos, produtos e plantas utilizadas pelos
povos ao redor do mundo, exibidos em suas coleções de Botânica Econômica e
apresentados sinteticamente por Griggs et al. (s/d).
2
DOMESTICAÇÃO

Um organismo domesticado pode ser definido como “uma espécie reproduzida


em cativeiro e assim modificada de seus ancestrais selvagens e de forma a se tornar
mais útil para os seres humanos que controlam sua reprodução e (no caso de
animais) seu suprimento de alimento” (Diamond 2002).
A domesticação de plantas e animais foi certamente o principal evento na
história da humanidade nos últimos 13.000 anos. Este processo alterou
profundamente a organização e complexidade das sociedades, funcionou como um
elemento marcante no desenvolvimento tecnológico, impulsionou mudanças
drásticas na distribuição de etnias no globo, alterou marcantemente a composição
genética das diversas sociedades humanas, alterou acentuadamente a forma de
ocupação do solo, a distribuição da vegetação natural, resultando em profundas
mudanças ambientais.
Entender o processo de domesticação e suas conseqüências é indispensável
para a compreensão de quem somos hoje e porque, e quem fomos no passado e o
que nos reserva o futuro. A investigação sobre a domesticação das plantas é feita
principalmente através de duas abordagens: estudos genéticos e escavações
arqueológicas. Os estudos genéticos visam descobrir o(s) ancestral(is) selvagens das
plantas domesticadas. A distribuição do(s) ancestral(is) pode indicar a região de
origem da espécie ou variedade em questão. A investigação arqueológica visa não só
identificar os locais de origem, mas também datar o início da domesticação.
Obviamente, ambas as abordagens têm suas limitações. No caso de escavações
arqueológicas, normalmente os dados são escassos e foram preservados apenas em
condições peculiares, como áreas mais secas e/ou cavernas, resultando em um
padrão de dados que não necessariamente representa a real abrangência da área
original da domesticação, assim como não necessariamente indica com precisão a
data da domesticação. Por outro lado, os dados genéticos muitas vezes falham em
indicar precisamente o ancestral da espécie em questão ou a sua área de
distribuição, isto porque a distribuição passada pode ser diferente da distribuição
atual, assim como o ancestral pode estar extinto ou modificado.
Recentemente foi publicada uma excelente revisão sobre o processo de
Domesticação 7

domesticação de plantas e animais, intitulado “Evolução, conseqüências e futuro da


domesticação de plantas e animais” (“Evolution, consequences and future of plant
animal domestication”) (Diamond 2002) no qual fundamentamos a maior parte deste
capítulo. Outros trabalhos foram consultados no processo e merecem nossa menção,
como Heisser Jr. (1977), Smith (2001) e Bryant (2003).

a. História da domesticação
i. A decisão de domesticar
A origem da domesticação e a razão porque em determinado momento da
história os seres humanos adotaram este processo são questões ainda bastante
obscuras e fonte de inúmeras especulações.
Os registros fósseis e arqueológicos existentes atestam a ocorrência das
primeiras domesticações com sucesso no final do Pleistoceno, cerca de 13.000 atrás.
Se houve tentativas anteriores ou não é algo a ser desvendado. Os primeiros
processos de domesticação parecem coincidir com o aumento da imprevisibilidade
climática, diminuição das populações de espécies animais de grande porte (que eram
preferidas pelas sociedades de caçadores-coletores) e aumento da ocupação
humana de habitats disponíveis. Tais mudanças parecem estar fortemente
relacionadas com a transição do comportamento de caça e coleta, e o nomadismo
associado a isto, para o cultivo de plantas e criação de animais, implicando em
agrupamentos humanos mais sedentários.
A transição da coleta e caça para o cultivo de plantas e criação de animais
resultou inicialmente em mais trabalho, menor estatura de adultos, condição nutritiva
pior e maior carga de doenças para a população humana. Apesar destes problemas,
a longo prazo, os benefícios secundários advindos do sedentarismo produziram
sociedades mais complexas e tecnificadas resultando no domínio destas sobre
aquelas baseadas na coleta e caça.

ii. Mudanças nos organismos durante a domesticação


A domesticação implica necessariamente em mudanças genéticas e fenotípicas
associadas à seleção efetuada pelo homem sobre os organismos. Entre os animais,
freqüentemente, a domesticação implica em cérebros menores e sentidos menos
aguçados, quando comparados com os seus parentes selvagens. Outras
características também foram favorecidas como maior docilidade, lã de melhor
qualidade, porte maior (ex. galinhas) ou menor (ex. auroques, os ancestrais dos bois
atuais).
Entre os cereais, uma das características inconscientemente selecionadas foi
sempre a não dispersão dos grãos. Embora um mutante cujas sementes não
dispersem esteja fatalmente condenado a extinção em populações naturais, em
populações cultivadas ou coletadas para posterior cultivo, este mutante seria
8 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

naturalmente selecionado devido a maior facilidade de coleta das sementes. Em


algumas situações, quando a domesticação foi feita para propósitos alternativos, uma
espécie ancestral resultou em culturas e raças bem diferentes. Por exemplo,
diferentes raças de cães ou os vários tipos de Brassica oleracea (mostarda, couve-
flor, couve, brócolis, etc.) (Cruciferae).

iii. Razão do número pequeno de espécies domesticadas


Um aspecto que sempre intrigou os cientistas foi o relativamente pequeno
número de espécies domesticadas. Por exemplo, das 148 espécies de grandes
herbívoros e onívoros (com mais de 45 kg), apenas 14 foram efetivamente
domesticadas. Das cerca de 200.000 plantas superiores selvagens, apenas 100
delas são efetivamente espécies domesticadas valiosas.
Apesar de inúmeras outras especulações, a provável razão para explicar o
pequeno número de espécies domesticadas está nas espécies em si e não nos
povos ou nas condições ambientais locais. Isto pode ser comprovado pelas
inúmeras, persistentes, mas falhas tentativas de se domesticar novas espécies
animais ou o grande número de espécies de plantas, que, embora sejam coletadas e
usadas pelo homem há muito tempo, nunca efetivamente se tornaram domésticas. A
história mostra que, nos últimos séculos, poucas espécies foram efetivamente
acrescentadas à relativamente pequena lista de espécies domésticas, sendo que as
espécies que entraram na lista são relativamente pouco importantes, em termos
econômicos.
Alguns fatores podem inibir a domesticação em plantas, entre eles o controle
poligênico de alguma característica indesejável. Por exemplo, as árvores produtoras
de amêndoas foram domesticadas a muito tempo atrás na Europa, embora os
carvalhos nunca o tenham sido para a produção de castanhas. O fato é que, embora
as amendoeiras produzissem frutos normalmente tóxicos, esta toxidez estava ligada
a um gene dominante simples, ou seja, naturalmente e freqüentemente sempre
apareceram eventualmente amendoeiras com frutos não tóxicos, sendo estas
facilmente selecionadas pelas populações humanas. No caso dos carvalhos, a
toxidez normalmente encontrada nos frutos está ligada a um controle poligênico,
sendo muito raras as árvores que produzem frutos com nenhuma ou baixa toxidez,
inibindo as possibilidades de domesticação através de coleta de sementes em
árvores na natureza.

iv. Razão do pequeno número de centros de domesticação


A domesticação de plantas e animais permitiu um enorme incremento na
produção de alimento, permitindo um fantástico progresso em termos de aumento
das populações, desenvolvimento tecnológico e sofisticação na estrutura política e na
capacidade militar destas sociedades. Como resultado disto, ao longo de todo o
Domesticação 9

globo, historicamente, as sociedades baseadas no cultivo da terra sobrepujaram,


subjugaram e exterminaram as populações humanas de caçadores e coletores.
Sendo assim, alguém poderia supor que em qualquer lugar do mundo, alguns dos
coletores-caçadores eventualmente começariam a domesticar organismos e
eventualmente se tornariam os dominadores da região, havendo assim múltiplos
centros de domesticação no globo.
Estranhamente, a domesticação parece ter surgido independentemente em no
máximo nove áreas ao redor do mundo (Crescente Fértil, China, Mesoamérica,
Andes/Amazônia, leste dos Estados Unidos, Sahel, África Oeste tropical, Etiópia e
Nova Guiné). Curiosamente, a maioria destas áreas não corresponde aos atuais
centros de produção de alimentos, como alguém poderia supor (Figura 1). Como
explicar este fato? Aparentemente, os eventos de domesticação dos animais e
plantas mais valiosas para a humanidade ocorreu onde estas plantas estavam
disponíveis como organismos selvagens. As sociedades que foram capazes de
realizar estas domesticações sobrepujaram as populações humanas de caçadores e
coletores que ocorriam próximo, expandindo o seu domínio e difundindo as espécies
domesticadas. Quando tais espécies domesticadas foram adotadas por outros povos
que habitavam áreas com climas mais favoráveis e solos mais férteis, tais povos se
tornaram mais poderosos que os povos que originalmente domesticaram as
espécies, mudando as áreas onde plantas e animais eram preferencialmente
cultivados e criados.

Figura 1. Centros de domesticação (em laranja) e produção agrícola atual (amarelo).


Extraído de Diamond et al. (2002).
10 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

v. Como a produção de alimentos domesticados se espalhou pelo


mundo
A expansão de organismos domesticados para outras partes do mundo a partir
dos centros de domesticação pode ter ocorrido de duas maneiras. A menos provável
ou a mais rara deve ter sido através dos povos nômades de coletores e caçadores
que adquiriram organismos domesticados e os levaram para outras regiões. Um
exemplo deste tipo de expansão parece ter acontecido no sudeste da África, a cerca
de 2.000 anos atrás, quando povos coletores e caçadores se tornaram criadores de
gado originário da Eurásia.
No entanto, a forma mais comum de expansão parece ter ocorrido através da
expansão das sociedades mais tecnificadas baseadas no cultivo do solo e criação de
animais sobre as sociedades mais primitivas dependentes da coleta e da caça.
A expansão das culturas e criações parece ter sido muito mais rápida no sentido
do eixo leste-oeste do que no sentido norte-sul. Isto parece estar ligado a maior
adaptabilidade das culturas e criações às regiões com latitudes similares, que
possuem os mesmos comprimentos de dia e sazonalidades similares. Tais regiões
possuem climas, habitats e doenças semelhantes e, assim, demandam menores
mudanças evolutivas nos organismos. A expansão de culturas e criações no sentido
norte-sul ocorreu muito mais lentamente. Estes fatos podem ser comprovados pela
rápida expansão do trigo, citros e pêssego no eixo leste-oeste e lenta expansão das
culturas domesticadas no México para a América do Sul (Figura 2).

Figura 2. Expansão de espécies domesticadas no globo: rápida (setas em verde),


lenta (setas em vermelho). Segundo Diamond et al. (2002).
Domesticação 11

b. Conseqüências da domesticação
Inúmeras e importantes foram as conseqüências da domesticação. Em termos
das sociedades humanas, a domesticação permitiu uma maior produção de alimento
localmente, resultando no abandono do nomadismo e fixação do homem. O
sedentarismo assim produzido, associado a mais intensa produção de alimento e
conseqüente possibilidade de diversificação de atividades, originou sociedades mais
diversificadas e complexas, estratificadas socialmente, com sistemas de governo
mais organizados e exércitos permanentes, literalmente extinguindo as sociedades
de caçadores-coletores.
Indiretamente, outros problemas surgiram, por exemplo, o surgimento de novas
doenças epidêmicas, cujo aparecimento só foi possível devido aos grandes
adensamentos populacionais. Outro fator que contribuiu para o aparecimento destas
doenças foi o contato mais íntimo com os animais domésticos, sendo estes
reconhecidamente a origem da maioria das doenças epidêmicas modernas. Por outro
lado, como um produto secundário destas epidemias, as populações humanas
sedentárias tornaram-se, por seleção, mais resistentes a estas doenças, e estas, por
sua vez, se tornaram o principal fator de extermínio das populações indígenas que
tiveram contato com as sociedades eurasianas em expansão.

c. O futuro da domesticação
A existência de um relativamente pequeno número de espécies domesticadas
gera em nós a expectativa que, graças à tecnologia atual e conhecimento científico,
um número maior de espécie poderia ser domesticado nestes tempos modernos.
Contrariamente a isto, inúmeros esforços modernos de domesticação de plantas e
animais têm tido poucos resultados práticos, e as espécies mais recentemente
domesticadas (“blueberries”, macadâmia, pecans e morangos) são relativamente
pouco importantes quando comparadas às espécies domesticadas no passado.
Apesar disto, é possível que o conhecimento genético-ecológico-ambiental nos
permita sucesso na domesticação de alguns organismos cujas tentativas passadas
foram frustadas.
Uma outra faceta da domesticação são os seus efeitos negativos sobre os
genótipos humanos selecionados anteriormente pelas centenas de milhares de anos
baseados na caça e coleta. Na sociedade atual, genótipos que anteriormente eram
benéficos entre coletores-caçadores, hoje levam ao aparecimento de doenças como
a diabetes tipo II e a hipertensão devido à conservação de sais no corpo. A baixa
freqüência de diabetes tipo II entre europeus parece ser produto do expurgo de
genótipos favoráveis a esta doença (através da morte prematura dos indivíduos
portadores destes genótipos) ao longo de maior tempo de convivência com culturas
agrícolas domesticadas. Em outras sociedades, onde a exposição a altas
12 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

concentrações de carboidratos é relativamente recente, a incidência de diabetes tipo


II tem crescido assustadoramente. Estima-se que entre 2000 e 2010, a incidência de
diabetes deve aumentar no mundo em torno de 46%.
3
CEREAIS UTILIZADOS PELO HOMEM
(DIAMOND, 2002; HEISER JR., 1977)

Mais de 70% das terras cultivadas estão ocupadas pela produção de cereais,
que respondem por mais de 50% das calorias consumidas pelo homem. Entre as
plantas indispensáveis à civilização humana da forma que a conhecemos, destacam-
se três cereais: trigo, arroz e milho.
Os cereais são importantes fontes de carboidratos devido ao endosperma
amiláceo de seus grãos. Por outro lado, têm baixo teor protéico e são pobres em
cálcio, vitamina A (exceto o milho amarelo) e vitamina C. Sendo assim, sua grande
importância está na excelente fonte de carboidratos que representam. As grandes
civilizações do Oriente Médio tiveram seu poder calcado na cultivo de trigo e cevada.
Já nas Américas, o milho foi essencial à pujança dos impérios ali formados. Na Ásia
oriental, em países como a China e o Japão, o arroz representou e ainda representa
a base alimentar daqueles povos.

a. O Trigo (Triticum spp., Graminae)


O trigo é provavelmente uma das primeiras plantas a serem domesticadas pelo
homem. Registros arqueológicos desta domesticação remontam a mais de 12.000
anos atrás. Atualmente o trigo é o cereal de maior importância econômica do mundo,
sendo utilizado principalmente para a fabricação de pão e confecção de massas. O
alto teor de glúten do trigo dá a massa do pão uma consistência grudenta que é
capaz de reter o gás carbônico produzido durante a fermentação permitindo, assim, o
crescimento da massa.
O processo de domesticação do trigo foi muito estudado e existem inúmeros
registros das etapas que originaram os tipos de trigo atualmente existentes e
cultivados.
As diferentes espécies de trigo existentes pertencem ao gênero Triticum.
Existem espécies diplóides, com 14 cromossomos, tetraplóides, com 28
cromossomos e hexaplóides, com 42 cromossomos. Obviamente, as espécies mais
primitivas foram as diplóides (AA), entre as quais se destaca o Triticum boeoticum
Boiss., uma espécie nativa do Oriente Médio, e T. monococcum L., esta última ainda
cultivada. Tais espécies apresentam grãos maiores e raques dos frutos menos
14 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
quebradiças. T. boeoticum provavelmente se hibridizou com alguma outra espécie
(provavelmente Aegilops speltoides Tausch) e sofreu uma duplicação de
cromossomos resultando em uma espécie tetraplóide (AABB).
Entre as espécies tetraplóides, T. dicoccoides (Körn.) Körn. ex Schweinf. é uma
nativa importante. Já T. dicoccum Schrank foi antigamente utilizada na fabricação de
massas e pão na Ásia e na região do Mediterrâneo, sendo atualmente mais usada
para a alimentação animal. Várias espécies tetraplóides apresentam os grãos sem
envoltório, o que, embora seja desvantajoso às plantas selvagens, são uma
importante vantagem para o seu cultivo. T. durum Desf. é atualmente a espécie
tetraplóide mais cultivada, sendo preferida para a fabricação de massas para
macarrão.
Uma das espécies tetraplóides provavelmente hibridizou com Aegilops
squarrosa L., produzindo um híbrido triplóide, que pela duplicação dos cromossomos
resultou em uma espécie hexaplóide (AABBDD). Entre as espécies hexaplóides
destaca-se T. spelta L., que foi outrora muito importante na Europa. Atualmente, a
espécie hexaplóide T. aestivum L., ou trigo comum, é a espécie de trigo mais
importante para a humanidade, sendo utilizada para a fabricação de pães.
Originalmente, é provável que o trigo fosse consumido, após a secagem e
moagem, na forma de um mingau. Só posteriormente, após o aparecimento de
poliplóides e seleção humana, foi possível a produção de pão. Paralelamente às
mudanças genéticas, ocorreram também, durante o processo de domesticação,
mudanças morfológicas que tornaram o trigo mais produtivo e mais adequado ao
cultivo e colheita. Inicialmente, os talos dos grãos eram quebradiços o que favorecia
o processo natural de dispersão. Com a domesticação deste cereal, os talos se
tornaram mais resistentes, o que favorecia a colheita. Outras mudanças também
aconteceram, como por exemplo, a pronta e regular germinação das sementes, as
brácteas que envolviam os frutos se tornaram mais soltas e houve um aumento do
tamanho dos grãos.
As atuais variedades de trigo permitem colheita mecânica e possuem
produtividade enormemente superior as espécies originais. Além disto, novos
híbridos têm sido produzidos visando a obtenção de produtos com outras
características, como por exemplo o triticale, um híbrido de trigo (Triticum) com
centeio (Secale).

b. O Arroz (Oryza spp., Gramineae)


Embora o arroz seja cultivado em uma área mais restrita que o trigo, devido a
sua importância na Ásia em países populosos como a Índia, China, Japão entre
outros, este cereal provavelmente alimenta mais pessoas que o próprio trigo, sendo a
principal fonte de carboidratos nestas regiões.

Comparativamente ao trigo e ao milho, pouco se conhece sobre a domesticação


Cereais utilizados pelo homem 15
do arroz. Sabe-se, no entanto, que isto provavelmente ocorreu antes de 5.000 anos
A.C., como indicam evidências arqueológicas encontradas na Tailândia. Certamente
a domesticação desta cultura ocorreu no sudeste asiático, onde continua a ter uma
importância imensa. Da China, o arroz foi levado para o Japão dois séculos antes do
início da era cristã. Nesta época, o arroz já era conhecido na Europa, tendo sido
levado para esta região por mercadores árabes e por Alexandre, o Grande. Para
muitos povos asiáticos a importância do arroz é tal que ele foi e é muitas vezes
considerado uma planta sagrada, como atestam escritos chineses e hindus.
O gênero Oryza possui cerca de 25 espécies. No entanto, a espécie Oryza
sativa L. é responsável pela quase totalidade do arroz produzido no mundo. Existe
ainda Oryza glaberrima Steud., uma espécie cultivada na África Ocidental, e O.
perennis Moench de ampla distribuição nas regiões tropicais úmidas e um possível
ancestral de O. sativa. É provável que esta espécie selvagem fosse colhida como o
trigo, até tornar-se cultivada. No processo de domesticação, os grãos se tornaram
maiores, os talos mais resistentes e o arroz perdeu as barbas comuns nas espécies
selvagens. Ainda existem espécies selvagens, algumas delas usadas em cerimônias
religiosas no sudeste asiático. Apesar de se conhecerem variedades tetraplóides, a
maioria das variedades é diplóide, tendo 24 cromossomos. As inúmeras variedades
de arroz podem ser divididas em dois grandes grupos: os tipos japonica de grãos
curtos e gomosos quando cozidos e os tipos indica, que ficam mais secos após o
preparo. Os tipos japonica, em geral, são mais produtivos.
Tradicionalmente o arroz é cultivado em terrenos alagados, embora existam
variedades que cresçam e produzam bem em terrenos secos. A própria EMBRAPA,
no Brasil, há vários anos vem lançando variedades adequadas ao cultivo nos solos
de cerrado.
Em 2005, foi anunciada na Inglaterra uma nova variedade de arroz dourado
geneticamente modificado (do grupo indica) que possui em seus grãos teores de
betacaroteno 20 vezes mais elevados que as variedades tradicionais. O betacaroteno
é metabolizado em vitamina A no organismo humano. Tal variedade vem de encontro
a uma das necessidades prementes em populações humanas que tradicionalmente
consomem arroz e são carentes desta vitamina, o que resulta em mais de 500.000
crianças cegas todos os anos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Além do consumo direto do arroz, este tem outras aplicações, como por
exemplo, a fabricação da bebida nacional do Japão, o saquê. Também pode ser
utilizado para a produção de goma. As cascas podem ser utilizadas como
combustível, na construção civil ou para a extração do furfurol, que por sua vez é
empregado na fabricação de certos tipos de plástico.
Uma outra atividade freqüentemente associada ao cultivo de arroz irrigado no
sudeste asiático é a criação de peixes, principalmente de carpas, constituindo um
complemento protéico importante em uma dieta dominada pelo arroz.
16 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

c. O Milho (Zea mays L.)


O milho foi domesticado no México a cerca de 7.000 anos atrás, se tornando o
principal alimento dos povos daquela região e, posteriormente, de outros povos da
América, incluindo a América do Sul. Diversas plantas, além do milho, foram
domesticadas no México, incluindo a abóbora (Cucurbita pepo L., Cucurbitaceae) e o
feijão (Phaseolus vulgaris L., Leguminosae). Todas estas três espécies se tornaram
bastante importantes na cultura dos povos pré-colombianos, mas nenhuma delas
adquiriu a proeminência do milho.
Durante a domesticação do milho, a raque das espiguetas se tornou mais rígida
e sem cerdas, além do mais, ocorreu a perda do processo natural de desarticulação
e dispersão dos grãos. A um bom tempo, tem-se como certo que o milho originou-se
das espécies ou subespécies de teosinto (gênero Zea). Embora existam teorias
recentes que propõe a origem do milho a partir do teosinto perene (Zea diploperennis
H.H. Iltis, Doebley & R. Guzmán) em hibridação com uma espécie de Tripsacum, a
origem mais provável foi a partir de um único ancestral comum, provavelmente o
teosinto anual (Zea mays ssp. parviglumis H.H. Iltis & Doebley). Vários trabalhos
genéticos têm reforçado esta idéia e, mais recentemente, encontraram-se diversas
populações nativas desta espécie de teosinto anual em torno da área de provável
origem do milho.
A partir de sua domesticação, provavelmente ocorrida na região do Rio Balsas,
sudeste do México, o milho se espalhou para o norte do México e, lentamente,
devido às diferenças ambientais, foi levado para a América do Sul. No processo de
domesticação e expansão do seu cultivo, o milho se tornou extremamente variável
quanto as suas adaptações a diferentes solos e climas, tamanho e cor das espigas e
dos grãos, porte, etc. Quando foi levado para a Europa, o milho não foi bem aceito,
sendo considerado mais uma curiosidade do que um alimento de qualidade. É
ilustrativa a visão do inglês John Gerard, no final do século XVI e início do XVII: “O
trigo turco (como o milho era chamado) nutre muito menos que o trigo, centeio,
cevada ou aveia ... fornece ao corpo pouco ou nenhuma nutrição. Não temos até
agora prova certa ou experiência referente às virtudes deste tipo de trigo; se bem que
os índios bárbaros, que nada sabem, são obrigados a fazer virtude da necessidade, e
acham-no um bom alimento: ao passo que nós podemos julgar com facilidade, que
ele pouco nutre, é de difícil e má digestão, alimento mais conveniente para porcos
que para o homem.” Em contraste com isto, atualmente o milho representa uma das
mais importantes culturas no mundo, principalmente nos EUA.
O milho é utilizado na alimentação humana, sendo que no México e outros
países, onde a sua presença é milenar, inúmeros produtos são fabricados com este
cereal. Talvez uma de suas maiores importâncias econômicas seja na alimentação
animal, pudendo ser utilizado diretamente ou para a fabricação de rações, sendo um
dos principais componentes para as rações de suínos.
O milho atualmente cultivado comercialmente nos países produtores é bastante
Cereais utilizados pelo homem 17
diferente das variedades ancestrais. As variedades comerciais resultam normalmente
do cruzamento de duas ou mais variedades, sendo por isto chamadas de híbridos.
Tais cruzamentos resultam em variedades mais produtivas graças aos benefícios do
vigor híbrido. Se por um lado, graças a estas variedades híbridas a produção de
milho no mundo cresceu vertiginosamente, por outro, pelo mesmo motivo da alta
produtividade, muitas populações humanas têm abandonado as suas antigas
variedades de milho em favor das variedades híbridas. Como resultado disto, tem
ocorrido uma enorme perda de diversidade genética pela extinção destas variedades
tradicionais. Tal problema precisa ser tratado com atenção, pois pode comprometer
os próprios programas de melhoramento do milho e de criação de novos híbridos,
mais produtivos ou mais resistentes a pragas e doenças. Mais recentemente, através
da engenharia genética, têm surgido variedades de milho transgênicas, induzindo
resistência a pragas ou tolerância à aplicação de herbicidas.
4
PLANTAS FORNECEDORAS DE
LÁTEX (RIZZINI & MORS, 1995)

Dentre as plantas fornecedoras de látex é destaque a seringueira (Hevea spp.,


Euphobiaceae). Várias espécies deste gênero são ou foram utilizadas para produção
de borracha natural. A seringueira é nativa da Amazônia brasileira e, por muito
tempo, o Brasil dominou o mercado da borracha, sendo isto a origem de grandes
fortunas e recursos que mudaram a face de grandes cidades da região Norte, tais
como Belém e Manaus, no século XIX. Em 1876, o inglês Henry Wickham conseguiu
contrabandear mudas de seringueira para o Royal Botanical Garden, próximo a
Londres, onde já havia uma estufa preparada para receber estas mudas. A partir
disto, os ingleses levaram a seringueira para as suas colônias orientais, vindo
desbancar a hegemonia brasileira.
Em seu estado natural, a seringueira ocorre em densidades relativamente
baixas. Isto torna a exploração das populações naturais pouco competitiva se
comparada com populações plantadas. No entanto, tentativas de plantios adensados
na Amazônia resultaram em enormes fracassos, como foi o caso da experiência da
Fordlândia no Pará nos anos 20. A razão disto é que, em condições de umidade
relativa elevada e alta densidade, ocorre a proliferação do fungo Microcyclus ulei, que
ataca as folhas e literalmente destrói as plantações. Tais insucessos, aliados a
produção em escala comercial em países do Oriente, como a Malásia (onde não
ocorre este fungo), levaram à decadência da produção de borracha no Brasil.
Atualmente, existem plantios de seringais em regiões de escape da doença, como
São Paulo e Centro-Oeste brasileiro, onde o clima sazonal desfavorece a proliferação
do fungo.
Plantas fornecedoras de látex 19
Outras plantas podem ser ou são utilizadas para extração de látex como pode
ser visto no quadro a seguir.

Nome comum Nome científico Origem Uso


Caucho Castilla ulei Warb. Pará e Mato Produção de borracha
(Moracee) Grosso
Mangabeira Hancornia Brasil Borracha de
speciosa B.A. qualidade inferior
Gomes
(Apocynaceae)
Balata Várias espécies de Brasil Plástico de origem
Sapotaceae vegetal, muito
utilizado no passado
Chicle Várias espécies de Brasil, América Produção de goma de
Sapotaceae Central mascar
5
PLANTAS PRODUTORAS DE ÓLEOS
E GORDURAS (LORENZI ET AL., 1996;
PEIXOTO, 1972; 1973; RIZZINI & MORS, 1995)

Os óleos e gorduras produzidas por plantas são ésteres de glicerina e ácidos


graxos. Quando apresentam consistência sólida são chamados de gorduras, e,
quando líquidos, de óleos. Os principais ácidos graxos são o palmítico, esteárico e
oléico. Os dois primeiros são “saturados” e conferem a consistência sólida aos
lipídeos dos quais participam na composição. O ácido oléico é “insaturado” e é o
principal componente dos óleos vegetais.
Óleos e gorduras possuem inúmeras aplicações na indústria alimentícia,
lubrificante, entre outras. Alguns óleos, chamados de “secativos”, são altamente
insaturados e sujeitos à auto-oxidação em contato com o ar, endurecendo
rapidamente. Tais óleos são muito utilizados na indústria de tintas.
Dentre todas as famílias botânicas, Palmae assume um papel de destaque
entre as plantas produtoras de óleos não secativos. Uma excelente obra sobre as
espécies de palmeiras nativas e cultivadas no Brasil é o livro de Lorenzi et al. (2004).

a. Dendezeiro (Elaeis guineensis L.)


O dendezeiro é talvez a palmeira produtora de óleo mais importante no mundo.
Provavelmente originária da África, é comum subespontaneamente na Amazônia,
Nordeste brasileiro e em outros estados como São Paulo e Espírito Santo. É possível
que tenha sido trazida para o Brasil pelos escravos, sendo aqui utilizada para a
produção do óleo de dendê, tradicional na Bahia. Em outros países, em particular na
África, esta palmeira é amplamente cultivada. O teor de óleo da polpa do fruto varia
de 47 a 63% e o da amêndoa de 42 a 46%. O óleo de dendê é extraído da polpa do
fruto, já a semente fornece um óleo chamado de palmiste, de múltiplas aplicações
industriais (por exemplo, em sabonetes e margarinas).
Plantas produtoras de óleos e gorduras 21

b. Coqueiro-da-bahia (Cocos nucifera L.)


De origem discutível, o coco-da-bahia, além de diversas outras utilidades,
possui uma polpa com 60 a 65% de óleo ou gordura. A exploração deste óleo é feita
em todo mundo através de um produto intermediário, a copra, que é a amêndoa
seca. Da copra, posteriormente se extrai o óleo ou gordura, utilizada na indústria
alimentícia ou na indústria de sabões e velas. A copra ralada é utilizada em
confeitaria e no preparo de uma emulsão conhecida por nós como “leite de coco”.
Outras utilidades desta planta estão o uso de estipe e folhas para construções
rústicas e do seu endosperma líquido com alto poder hidratante.

c. Babaçu (Orbingya martiana B. Rodr. e O. oleifera Burret)


O babaçu, cuja principal espécie comercial é O. martiana, predomina no meio
norte brasileiro (Maranhão e Piauí). O óleo de babaçu alcança 60 a 70% da
amêndoa, sendo empregado na indústria de sabões e detergentes.
A extração da castanha é feita tradicionalmente por mulheres e crianças
“quebradeiras de coco”. Atualmente existe um incentivo a formação de cooperativas
extrativistas de babaçu, que inclusive têm agregado valor ao produto, produzindo
seus próprios cosméticos e sabonetes.
Nas regiões de sua ocorrência, freqüentemente o babaçu se torna uma
infestante problemática de pastagens, podendo inviabilizar a atividade pecuária. Uma
outra forma de sua utilização é a exploração de seu palmito, podendo isto se tornar
uma forma econômica de combater esta invasora em pastagens.

d. Outras espécies produtoras de óleo


Além das espécies citadas acima, outras palmeiras brasileiras possuem
potencial para a extração de óleos, como é caso da bacaba (Oenocarpus bacaba
Mart.), do urucuri (Attalea excelsa Mart.), do buriti (Mauritia spp.), do tucum (Bactris
spp. e Astrocarium spp.) e da macaúba (Acrocomia spp.).
Outros óleos não secativos podem ser extraídos do algodoeiro (Gossypium
spp., Malvaceae), da mamona (Ricinus communis L., Euphorbiaceae) e da soja
(Glycine hispida Maxin., Leguminosae). O óleo do algodão, extraído de suas
sementes, é importante na indústria alimentícia e francamente utilizado na
alimentação animal. A mamona produz o óleo de rícino, utilizado industrialmente por
não perder viscosidade, mesmo em altas temperaturas. O subproduto da extração
deste óleo, a torta de mamona, pode ser utilizado na alimentação animal com
cautela, por possuir uma proteína tóxica (ricina) e ser altamente alergênico. O óleo de
soja é rico em gorduras insaturadas, sendo muito utilizado na culinária.
Os óleos extraídos do amendoim (Arachis hypogaea L., Leguminosae) e do
girassol (Helianthus annuus L., Compositae) são também utilizados na culinária,
sendo que o óleo de girassol, devido ao alto teor de ácidos graxos insaturados, é
22 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
preferido àqueles com maiores teores de ácidos graxos saturados.
Outras espécies produtoras de óleos e gorduras não secativos são: andiroba
(Carapa guianensis Aubl.), castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa H.B.K.), abacate
(Persea americana Mill.), milho (Zea mays L.), pequi (Caryocar brasiliense Camb.),
tingui (Magonia pubescens St. Hill.).
Entre as plantas produtoras de óleos secativos, cabe destacar a Euphorbiaceae
conhecida com tungue (Aleurites fordii Hemsley), cultivada em todo o mundo para
produção de óleo de importância enorme para a indústria de tintas e vernizes. Uma
outra espécie importante na extração de óleos secativos é o linho (Linum
usitatissimum L.) da família Linaceae, de cujas sementes se extraí um dos mais
importante óleos secativos.
Existe uma espécie nativa brasileira, a oiticica (Licania rigida Benth) da qual
também se extrai um óleo secativo.
6
PLANTAS CERÍFERAS (LORENZI ET AL.,
1996; RIZZINI & MORS, 1995)

a. Carnaúba (Copernica alba Morong e C. prunifera (Miller) H. E. Moore,


Palmae)
Duas espécies de Copernica (C. alba e C. prunifera) podem ser usadas para a
extração de cera, sendo que C. prunifera (carnaúba) é certamente a mais produtiva e
importante. Esta espécie ocorre no Nordeste brasileiro (do Maranhão a Bahia), junto
aos rios, inclusive em áreas periodicamente inundadas.
A cera produzida por esta planta é de ótima qualidade, embora bastante cara
devido ao modo de extração. No passado, a utilização desta cera era mais difundida
(polimento, impermeabilização, selador, fabricação de sabonete e batom).
Atualmente, o aparecimento de ceras sintéticas e mais baratas substituiu, em parte, o
uso da cera de carnaúba. Ainda assim, existe a exploração desta cera para fins
específicos.
A cera é extraída da superfície das folhas e cada folha de carnaúba rende de 3
a 10g, razão do seu alto preço. Após coletadas, as folhas são secas ao sol, sobre
grandes lençóis e depois batidas para retirar a cera.

b. Outras espécies ceríferas


Uma outra espécie de palmeira cerífera é o licuri (Syagrus coronata (Mart.)
Becc.), que produz uma cera parecida com a da carnaúba, mas de pior qualidade.
Esta espécie ocorre de Pernambuco a Minas Gerais. Uma cera também similar a da
carnaúba é extraída da Maranthaceae Calathea lutea (Aubl.) Meyer. A sua cera tem
alto ponto de fusão, embora não seja ainda explorada comercialmente. Originária do
Baixo Amazonas, esta planta ocorre inclusive no estado do Rio de Janeiro.
Como um subproduto da extração do açúcar, pode-se extrair cera da cana-de-
açúcar (Saccharum officinarum L., Gramineae), constituindo esta uma enorme fonte
potencial para fornecimento de ceras vegetais.
7
EXSUDATOS DO TRONCO,
BÁLSAMOS E GOMAS (RIZZINI & MORS,
1995)

Diversas árvores produzem exsudatos do tronco conhecidos como bálsamos


ou, em alguns casos, como gomas.
Entre os exsudatos cabe destacar aqueles produzidos por plantas da família
Burseraceae, chamados de resina Elemi. Embora existam espécies na Ásia e África,
pertencentes a esta família, que produzem esta resina, no Brasil, cabe destacar as
espécies do gênero Protium, conhecidas por breu-branco ou almecega. Tais resinas
(compostos terpênicos) podem ser utilizadas no preparo de tintas e vernizes ou são
aromáticas usadas em incensos. Atualmente resinas de Protium têm sido usadas na
indústria de perfumaria.
Os bálsamos são derivados dos ácidos benzóicos ou cinâmicos. Entre eles,
podemos destacar aquele extraído da Leguminosae Myroxylon spp. (óleo-bálsamo).
Erronemente conhecido como bálsamo, o óleo-resina (exsudato com ácidos
resinosos e compostos voláteis) extraído da Leguminosae copaíba (várias espécies
de Copaifera) é muito usado como medicinal. Neste caso, o tronco é perfurado até o
cerne, fluindo às vezes mais de cinco litros de óleo. Este possui propriedades
medicinais, sendo tradicionalmente utilizado pelas populações humanas na sua
região de ocorrência.
As gomas são carboidratos hidrófilos utilizados na fabricação de colas e tintas
para aquarela. Várias espécies de Leguminosae do gênero Acacia produzem
exsudatos gomosos explorados comercialmente, entre elas cabe destacar a A.
senegal Willd., de origem africana, e a A. decurrens Willd. de origem australiana,
produtoras de goma arábica.
Outras espécies produtoras de gomas são: angico (Anadenanthera spp.,
Leguminosae), pau-de-tucano (Vochysia spp., Vochysiaceae) e cajueiro (Anacardium
occidentale L., Anacardiaceae).
8
PLANTAS AROMÁTICAS (LORENZI, 2000;
LORENZI ET AL., 2003; RIZZINI & MORS, 1995;
VIEIRA, ET AL. 2002)

As plantas aromáticas produzem e armazenam óleos essenciais utilizados na


indústria de perfumaria e, secundariamente, em condimentos ou mesmo produtos
medicinais.
Normalmente estes óleos, devido a sua delicadeza, são extraídos por processos
especiais, normalmente vinculados ao arraste por vapor d’água. O Brasil é grande
produtor destes óleos essenciais, sendo praticamente auto-suficiente e fornecendo
essências para outros países.

a. Árvores que fornecem cumarina


A cumarina é uma essência muito utilizada na indústria de perfumaria,
composição de bouquets e aromatização do tabaco. Uma das espécies mais
utilizadas na extração da cumarina é o cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.,
Leguminosae). A cumarina presente principalmente em suas sementes é extraída por
meio de álcool e posteriormente purificada. O cumaru ocorre na região Amazônica.
Uma outra espécie de Leguminosae produtora de cumarina é a amburana
(Amburana cearensis (Fr. All.) A.C. Smith.). Esta espécie ocorre no Nordeste
brasileiro, predominantemente na caatinga, podendo, porém, ocorrer em outras
regiões, até a Argentina. Embora, tradicionalmente, esta espécie seja explorada
exclusivamente para a extração de madeira, suas sementes possuem altos teores de
cumarina e a produção de sementes é elevada, transformando esta espécie em uma
potencial produtora de cumarina em escala comercial.
26 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

b. Essências obtidas de madeiras


i. Pau-rosa
Uma das essências mais consumidas pela indústria de perfumaria é o álcool
terpênico linalol. Este álcool pode ser encontrado em diversas espécies ao redor do
mundo, sendo a canforeira (Cinnamomum camphora (L.) J. Presl, Lauraceae) a mais
famosa. Em 1925, descobriu-se no Pará uma árvore conhecida como pau-rosa
(Aniba rosaeodora Ducke, Lauraceae) que produz um óleo aromático rico em linalol.
A partir deste momento iniciou-se uma exploração predatória desta espécie levando
quase a sua extinção. Como resultado disto, hoje o Brasil importa a essência
sintetizada em laboratórios suíços.
A extração do óleo se dá por arraste de vapor, sendo o rendimento em torno de
1kg de óleo por 100kg de lenho. Para se ter uma idéia da intensidade de exploração,
o Brasil chegou a produzir 300 a 400 toneladas de óleo por ano na década de 60.

ii. Sassafrás
O safrol é uma essência originalmente extraída da espécie norte-americana de
Lauraceae Sassafras albidum (Nutt.) Nees. Esta essência é utilizada na indústria
farmacêutica, perfumaria e indústria química.
No Brasil o safrol foi encontrado na canela-sassafrás (Ocotea odorifera (Vellozo)
Rohwer, Lauraceae), abundante no sul do país. A exploração predatória desta
espécie levou a redução acentuada de suas populações nativas, até a proibição de
sua exploração em 1991.
Mais recentemente foi encontrado o safrol na Piperaceae Piper hispidinervum
C.D.C., existente na região amazônica (no Acre principalmente). Nesta condição,
estas piperáceas comportam-se como pioneiras, formando povoamentos quase
puros em áreas de clareiras e prestando-se assim a exploração comercial.

iii. Candeia
A espécie Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Compositae) é usada
para a extração de um óleo essencial cujo princípio ativo é o alfabisabolol, muito
utilizado na indústria de cosméticos e fármacos. Esta espécie ocorre em regiões de
campos com altitude variando de 1.000 a 1.700 m (Pérez et al. 2004), sendo comum
nas bordas das matas de galeria que ocorrem nestas regiões, embora também possa
ocupar áreas de interflúvios nestas regiões.

iii. Eucalipto
Diversas espécies do gênero Eucalyptus (Myrtaceae) produzem óleos
essenciais. Este gênero é originário da Austrália, mas é cultivado em todo o mundo,
inclusive no Brasil, onde existem várias espécies plantadas com sucesso. Além de
Plantas aromáticas 27
seus óleos essenciais, a maior importância dos eucaliptos está na produção de
celulose, carvão para siderurgia e outros fins, madeira para mourões e construções,
inclusive podendo ser usada em indústria moveleira.
Os óleos de eucalipto são diversificados, assumindo inclusive importância
taxonômica. Entre os óleos extraídos de espécies de eucalipto podemos citar o
eucaliptol ou cineol (Eucaliptus globulus Labil), usado para inalações; o felandreno
(E. phelandra B & Sm. e outros), usado em desinfetantes e desodorantes; piperitona
(E. dives Schauer e outros), transformado posteriormente em timol e mentol; um
quarto grupo de óleos usado em perfumaria vem de E. marthuri Deane & Maid.
(geraniol e acetato de garanila) e de E. citriodora Hook. (citronelal).

c. Ervas produtoras de óleos essenciais


i. Menta (Mentha spp., Lamiaceae)
Plantas do gênero Mentha, que não são nativas do Brasil, mas cultivadas aqui
profusamente, fornecem um óleo bruto aromático, do qual, por arrastamento de
vapor, retira-se o mentol. Esta essência é amplamente utilizada como aromatizante
de tabaco, alimentos, indústria farmacêutica e cosmética, etc. Atualmente o Brasil é
um dos principais produtores, comercializando tanto o óleo bruto, como o mentol.

ii. Outras plantas


Outras plantas herbáceas podem ser utilizadas para a produção de óleos
como segue no quadro abaixo.
Nome comum Nome científico Origem Óleo essencial
Alfavacão Ocimum - eugenol
gratissimum L.
(Lamiaceae)
Gerânio Pelargonium - geraniol
odoratissimum Ait.
(Geraniaceae)
Capim-limão Cymbopogon Ásia Citral (perfumes e
flexuosus (DC.) sabonetes)
Stapf. (Gramineae)
Citronela Cymbopogon Java Geraniol e citronelal
nardus Rendle
(Gramineae)

d. Óleos cítricos
Das plantas do gênero Citrus (Rutaceae) extraem-se diversos óleos essenciais
comercializados e valorizados no mundo inteiro. Os óleos podem ser extraídos das
cascas, das folhas ou das flores. Os óleos das folhas (petitgrain) são empregados na
28 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
perfumaria e saboaria fina. Os óleos das flores (neroli) são extremamente apreciados
pela indústria de perfumaria fina.
Tradicionalmente estes óleos eram produzidos em países europeus
mediterrâneos, principalmente na Itália, na ilha da Sicília e sul da França. Hoje, a
produção se estendeu a outros países e continentes.

e. Outras plantas
Inúmeras outras plantas existem no Brasil com potencial para a exploração de
óleos essenciais. Entre as famílias com maior potencial estão Myrtaceae, Lauraceae,
Verbenaceae e Lamiaceae, embora as essências não estejam limitadas a estas
famílias.
9
INFUSÕES (ABIC 2007; MACFARLANE 2003;
ODARDA 2007)

Tradicionalmente, a humanidade tem usado diversas plantas em infusão em


chás ou outras bebidas. Frequentemente, tais bebidas fazem parte de rituais sociais
dos diversos grupos onde eles são usados.

a. Café (Coffea arabica L. e C. canephora Pierre ex A. Froehner,


Rubiaceae)
Originário das montanhas subtropicais da Etiópia, o café se transformou em um
dos principais produtos da agropecuária brasileira, sendo o país o maior produtor
mundial. Duas espécies são cultivadas, sendo que C. arabica é a que produz bebidas
de melhor qualidade e possui maior expressão na economia brasileira. Esta espécie
é mais produzida em Minas Gerais, tradicionalmente no sul do estado e, mais
recentemente, na região do Triângulo Mineiro. Também é cultivada no estado de São
Paulo indo até o norte do Paraná. O café robusta (C. canephora) é mais adequado
para climas mais quentes, produzindo bebida de pior qualidade, embora assuma
certa importância na composição de misturas com C. arabica. O maior produtor de
robusta no Brasil é o estado do Espírito Santo, mas este também é plantado em
Rondônia.
O café foi contrabandeado da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor
Francisco de Mello Palheta em 1727. Inicialmente seu cultivo teve maior sucesso no
vale do Rio Paraíba, Rio de Janeiro. A expansão da cultura para os estados de Minas
Gerais e São Paulo foi um dos principais causadores do desmatamento intensivo da
Mata Atlântica. Nas últimas décadas, áreas de cerrado do Triângulo Mineiro têm sido
abertas para a produção desta cultura.
Mais recentemente, há uma crescente busca de melhor qualidade de bebida
nos grãos nacionais, gerando um maior investimento em tecnologia de produção e
processamento do grão, como um diferencial no preço da mercadoria no mercado
externo.
30 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

b. Chá (Camellia sinensis (L.) Kuntze, Theaceae)

O chá é uma das infusões mais consumidas no mundo, sendo o mais


importante no Ocidente. Diferentes tipos de chás são produzidos pela infusão de
folhas de Camellia sinensis após diversos métodos de processamento. O
processamento das folhas sempre envolve a oxidação das mesmas e, de acordo com
o grau de oxidação, são produzidas as diferentes variações de chás desta planta. A
espécie é originária das regiões subtropicais com clima de monções próximas à
Índia, sendo este país o maior produtor mundial, seguido de perto pela China.
O uso de chá nos países de sua origem é uma tradição milenar, com diversas
variantes de acordo com os aspectos culturais de cada região. Uma das tradições
mais importantes no Japão é o consumo ritualístico do chá. Alguns destes costumes
foram adotados e modificados pelos europeus em seus países, sendo tradicional o
consumo de chá na Grã-Bretanha.
Mais recentemente, o chá-verde, uma variante produzida desta planta

c. Erva-mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil., Aquifoliaceae)

A erva-mate é uma árvore da região subtropical da América do Sul, comum no


Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, principalmente como arvóres de sub-bosque
das florestas de araucária. As tribos indígenas destas regiões já possuíam o hábito
de beber infusões das folhas desta planta, sendo tal costume incorporado pelos
povos europeus colonizadores.
No Brasil, a erva-mate é consumida preferencialmente como chimarrão (Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) ou como bebida fria, o tereré (Mato Grosso
do Sul). Ela é colhida em povoamentos naturais ou, mais recentemente, em plantios.

d. Outras espécies

Nome comum Nome científico Origem Parte utilizada


Hortelã Anadenanthera Brasil Casca e lenho
spp.
(Leguminosae)
Erva-cidreira
Capim-limão
9
CONDIMENTOS (GRIGGS ET AL., S/D;
RIZZINI & MORS, 1995)

Os condimentos são constituídos por partes de plantas (folhas, caules, frutos,


etc.) dessecadas que podem ser usados na culinária emprestando aos alimentos
sabores e aromas agradáveis. Antigamente os condimentos eram conhecidos por
especiarias, gerando um comércio intenso entre a Europa e a Ásia durante a Idade
Média e Renascença. Não são incluídos aqui os temperos tais como cebola, salsa,
alho, etc.

a. Pimenta-do-reino
A pimenta-do-reino constitui-se dos frutos de Piper nigrum L. (Piperaceae)
colhidos de vez e, então, secos. Esta planta é cultivada em grande escala na Ásia e
África. No Brasil, foi trazida e cultivada por colonos japoneses, que atualmente
abastecem o mercado interno.

b. Pimenta-de-macaco e pimenta-de-bugre
Espécies do gênero Xylopia (Annonaceae) produzem frutos utilizados como
substitutos da pimenta-do-reino. Entre estas espécies X. aromatica (Lam.) Mart., que
ocorre nos cerrados, é a mais utilizada. Os seus frutos são ralados e aplicados em
carnes, sendo, no entanto, menos picantes que a pimenta-do-reino.

c. Pimentas do gênero Capsicum


Diversas espécies do gênero Capsicum (Solanaceae) produzem frutos de sabor
ardido e amplamente utilizado na culinária de vários países e regiões, onde cabe
destacar o México e a Bahia (Brasil). A taxonomia deste gênero é complicada e o
número de espécies é discutível e polêmico. No Brasil popularmente conhecem-se
quatro tipos de pimenta: pimenta-malagueta, pimenta-chifre-de-veado, pimenta-
comari e pimenta-de-cheiro.
32 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

d. Noz-moscada
Extraída da moscateira (Myristica fragrans Houtt.), da família Myristicaceae, a
noz moscada é quase exclusivamente produzida na ilha de Granada, no Caribe. No
Brasil, tem-se uma espécie de Lauraceae (Cryptocarya moschata Mart.), cujas
sementes apresentam propriedades semelhantes a noz moscada verdadeira.

e. Canela
A canela é extraída de duas espécies da família Lauraceae, Cinnamomum
zeylanicum Breyne, originária do Ceilão, e C. cassia Nees, originária China, sendo
cultivada em toda a Ásia Tropical.

f. Louro
O louro (Laurus nobilis L., Lauraceae) tem origem mediterrânea e suas folhas
são tradicionalmente usadas na culinária brasileira.

g. Gengibre
O rizoma desta planta (Zingiber officinale Rosc., Zingeberaceae) originária da
Índia e Indochina é usado como condimento culinário e em bebidas alcoólicas.

h. Plantas da família Lamiaceae


A região em torno do Mediterrâneo e Oriente Médio é rica em plantas da família
Lamiaceae. Esta família possui inúmeras espécies aromáticas, tradicionalmente
utilizadas na culinária daqueles povos e na fabricação de chás. Posteriormente
muitas destas plantas foram trazidas para o Brasil. Entre as espécies mais
importantes podemos destacar: Ocimum basilicum L. (basilicão), Origanum majorana
L. (orégano), Rosmarinus officinalis L. (alecrim), Melissa officinalis L. (erva-cidreira),
Mentha piperita L. (hortelã).

i. Baunilha
A baunilha é extraída comercialmente da Orchidaceae Vanilla planifolia Andr.,
de origem mexicana, embora existem inúmeras outras espécies pertencentes a este
gênero e possuidoras do mesmo aroma.
As plantas são trepadeiras cultivadas tradicionalmente no México há séculos.
No entanto, o maior produtor é Madagascar. Tradicionalmente a cultivo se dá em
matas derrubadas onde se deixam algumas árvores para servirem de suporte. Para
que ocorra a produção de frutos, a polinização é efetuada manualmente.
Normalmente os frutos são secos em um processo complicado e vendidos a países
como os EUA, o maior consumidor.
Condimentos 33

j. Cravo-da-índia
O cravo-da-índia constitui-se dos botões florais secos da espécie de Myrtaceae
Syzygium aromaticum Merr. & Per. Tais botões são extremamente apreciados como
condimento, graças à presença do eugenol. Uma outra aplicação deste produto é na
Medicina e Odontologia como analgésico. Em herbários, tradicionalmente emprega-
se o cravo-da-índia como repelente de insetos pragas.
10
PLANTAS TANÍFERAS (RIZZINI & MORS,
1995)

Várias plantas são capazes de produzir taninos, mas apenas umas poucas são
utilizadas comercialmente devido à concentração destes produtos. Os taninos têm a
propriedade de embeber tecidos, couros e peles, tornando-se menos putrescíveis,
por isso são largamente utilizados na curtição de couros.

a. Acácia-negra
De origem australiana, esta planta (Acacia decurrens Willd., Leguminosae) foi
introduzida em diversos outros países para a produção de taninos. Entre estes
países estão o Brasil e a África do Sul. Esta espécie é provavelmente a mais
importante na produção de taninos. No Brasil, ela é cultivada principalmente no Rio
Grande do Sul, ocupando áreas extensas e sendo a espécie mais importante na
produção de taninos no país.

b. Barbatimão
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Cov. (Leguminosae) é uma espécie
extremamente comum em cerrados. Tradicionalmente esta espécie tem suas
populações naturais exploradas para a extração de taninos. Ramos e árvores são
cortados, tendo suas cascas extraídas. Após o corte ocorre a regeneração abundante
desta espécie.

c. Quebracho
O quebracho (Schinopsis lorentzii (Griseb.) Engl., Anacardiaceae) já foi
considerada a até a década de 40 a espécie mais importante para a extração de
taninos. Neste caso, tais substâncias são extraídas do lenho e não da casca. O
quebracho tem a sua ocorrência em áreas confluentes do Paraguai, Argentina e
Brasil e, embora até hoje, este seja um produto importante de exportação do
Paraguai e Argentina, o quebracho perdeu relevância para outras matérias primas
mais comuns e exploráveis.
Plantas taníferas 35

d. Outras espécies

Nome comum Nome científico Origem Parte utilizada


Angicos Anadenanthera Brasil Casca e lenho
spp.
(Leguminosae)
Aroeira Schinus terebinthi- Rio de Janeiro, Casca
folius Raddi Minas Gerais e
(Anacardiaceae) São Paulo
Mangue Rhizophora mangle América do Sul e Casca
L. (Rizophoraceae) Central
Eucalipto Eucalyptus spp. Austrália Casca e lenho
(Myrtaceae)
11
PLANTAS TÊXTEIS (GRIGGS ET AL., S/D;
LORENZI ET AL., 1996; RIZZINI & MORS, 1995)

Uma enorme quantidade de espécies de plantas pode ser utilizada para a


produção de tecidos, vassouras, tapetes e material de enchimento. Medina (1959),
citado por Rizzini & Mors (1995), relacionou 2.287 espécies vegetais utilizáveis como
têxteis.

a. Espécies com fibras na semente


i. Algodão
As fibras do algodão são atualmente indispensáveis para a humanidade,
produzindo tecidos termicamente confortáveis, não alergizantes e relativamente
baratos. O gênero Gossypium (Malvaceae) é originário da América, sendo o Brasil
um importante centro de dispersão. O algodoeiro mais cultivado e de maior
importância comercial é o algodão herbáceo (G. hirsutum L. var. hirsutum), sendo
amplamente cultivado no Centro-Oeste brasileiro e envolvendo uma enorme
agroindústria, desde de seu plantio até ao enfardamento e posterior produção de fios
e tecidos.
No Nordeste brasileiro, se cultiva o algodoeiro arbóreo e perene conhecido
como seridó (G. hirsutum L. var. mariae-galante). Além deste, existem várias outras
espécies entre as quais cabe destacar G. barbadense L., cujas variedades são
conhecidas como mocó, algodão-verdão e rim-de-boi.
Historicamente, o algodão afetou profundamente a história da humanidade, em
particular alguns países. A Revolução Industrial na Inglaterra começou efetivamente
com a invenção de descaroçadores mecânicos e teares mecânicos, o que barateou
enormemente o custo de produção de tecidos a partir do algodão. Com o aumento da
demanda de matéria-prima por parte desta industrialização, diversos países
investiram no plantio de algodão, entre eles o Brasil e os EUA. Nos EUA, a economia
da região sul foi fortemente baseada na produção de algodão a partir de mão-de-
obra escrava, o que se tornou um dos pivôs da Guerra da Secessão.
O Brasil foi um grande produtor de algodão até meados do século XX, onde o
aparecimento do bicudo levou à decadência das lavouras. Atualmente, um novo ciclo
Plantas têxteis 37
algodoeiro se instalou no Centro-Oeste, utilizando alta tecnologia para solucionar
problemas fitossanitários e aumentar a produtividade.

ii.Espécies produtoras de paina ou Kapok


A samaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn., Malvaceae), originária da América
tropical, sendo inclusive comum no Brasil amazônico, é cultivada em Java, Filipinas e
Ceilão, para a produção de paina leve e impermeável a água, útil em enchimentos
em geral (por exemplo salva-vidas) e como isolante térmico.
Outras espécies com paina semelhante são aquelas malváceas do gênero
Bombax e Ceiba speciosa (A. St.-Hill.) Ravenna, a paineira. A taboa (Typha
domingensis Pers., Typhaceae) também produz produto similar ao Kapok.

b. Fibras de folhas
Várias espécies pertencentes às monocotiledôneas possuem folhas cujas fibras
encontram diversos empregos na confecção de tecidos e cordas. Normalmente as
folhas destas plantas são colhidas, malhadas em cepo e lavadas abundantemente
em água. Após a secagem, são “penteadas” em máquinas especiais.
Duas espécies de Agavaceae do gênero Agave são especialmente importantes
para isto, A. furcroides Lem., mais explorado no México e A. sisalana Perr., mais
cultivado no Brasil. As plantas deste grupo estão adaptadas a climas mais secos, se
dando bem no Nordeste brasileiro. Após alguns anos, estas plantas emitem um
enorme pendão floral que, ao invés de produzir flores, originam uma quantidade
enorme de bulbilhos, sendo estes utilizadas no plantio.
O Brasil é o segundo produtor mundial de sisal, sendo o produto empregado na
confecção de cordas, barbantes, chapéus, redes, etc. Além disto, partes da planta
podem ser empregadas para a alimentação animal ou na produção de pasta
celulósica. No México, o eixo da inflorescência é empregado na produção da tequila.
Outras plantas produzem fibras de folhas úteis, entre elas cabe destacar o
abacá (Musa textilis Neé, Musaceae), chamada também de banana têxtil, que é um
dos produtos agrícolas mais importantes nas Filipinas. Tem-se ainda o caroá
(Neoglaziovia variegata (Arr. Cam.) Mez., Bromeliaceae) e espécies de Sensevieria
(Liliaceae).

c. Fibras de entrecasca
Várias plantas produzem fibras encontradas no caule entre a casca e o
periciclo, às vezes incluindo este último.
O linho (Linum usitatissimum L., Linaceae), além da extração de óleo, é
cultivado para produção de fibras utilizadas em tecidos. Outra espécie, usada da
mesma forma é o cânhamo (Cannabis sativa subsp. sativa L., Cannabinaceae), que
não possui o princípio ativo da maconha (Cannabis sativa subsp. indica (Lam.) Small
& Crong.).
38 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
A juta é extraída de duas espécies de Corchorus (Malvaceae), C. olitorius L. e
C. capsularis L., ambas originárias da Ásia e cultivadas principalmente na Índia, em
terrenos alagadiços. A fibra é extraída colhendo-se a planta debaixo da água e
pondo-a a secar. Após a secagem é colocada novamente na água para que ocorra
putrefação, sendo então removido os detritos, tornando-se as fibras facilmente
destacáveis. Lava-se novamente e processa-se a secagem. A juta é utilizada para
confecção de sacarias para cereiais, café, etc. Atualmente, a juta tem sido produzida
no Brasil na região do baixo Amazonas.
O Ramie ou rami (Boehmeria nivea (L.) Gaud., Urticaceae) é originário da Ásia,
mas ocorrendo de forma sub-espontânea no Brasil. No exterior, é principalmente
cultivado na Japão, China e Índia. No Brasil, vem sendo cultivado desde a década de
50, principalmente por imigrantes japoneses. As suas fibras são extremamente
resistentes e são separadas quimicamente, sendo utilizadas para fabricação de
roupas de baixo, estofamento, barbante e papel.
Outras espécies podem ser utilizadas neste sentido, como é o caso de algumas
malváceas tais como guaxima (Urena lobata L.), malvas (Sida rhombifolia L., entre
outras espécies do gênero Sida) e mamorana (Pachira aquatica Aubl.).

d. Fibras de palmeiras
As palmeiras (Palmae) são importantes fornecedoras de fibras. Entre elas cabe
destacar as piaçavas, extraídas das bainhas das plantas, principalmente das
espécies Attalea funifera Mart. (na Bahia), Leopoldinia piassaba Wall. (na Amazônia).
Outras palmeiras podem ser úteis para isto, principalmente aquelas do gênero
Oenocarpus.
Outras fibras são extraídas do coco-da-bahia (Cocos nucifera L.), do mesocarpo
do fruto, das folhas do tucum (Astrocaryum tucumã Mart.), da carnaúba (Copernica
cerifera (Arr. Cam.) Mart.) e do buriti (Mauritia spp.).
12
PLANTAS CORTICEIRAS (RIZZINI
& MORS, 1995)

A origem da cortiça é o súber de algumas plantas, que o produzem em grande


quantidade. A maioria das árvores produz súber, mas em pequena quantidade.
Espécies que produzem súber em quantidade suficiente para a exploração comercial
são poucas.
A cortiça é formada por células mortas e cheias de ar e caracteriza-se por sua
leveza, flutuabilidade, impermeabilidade e elasticidade.
A espécie que é comercialmente mais explorada e que supera em muito as
outras espécies alternativas, tanto em quantidade de cortiça como em termos de
expressão comercial, é o carvalho corticeiro (Quercus suber L., Fagaceae). Esta
espécie é amplamente cultivada em países como Portugal, Espanha, Argélia,
Tunísia, França, Marrocos e mesmo na Ásia. A cortiça produzida por este carvalho
representa a quase totalidade da cortiça produzida no mundo.
A planta entra em produção a partir dos 20 anos de idade, sendo a cortiça
retirada de 9 em 9 anos. A planta pode alcançar 500 anos de idade. A cortiça é
retirada e fervida para liberação de taninos e restos de seiva, podendo ser utilizada
para isolamento térmico, rolhas, linóleo, sapatos, salva-vidas, etc.
Algumas plantas no Brasil, principalmente na região do cerrado, produzem
cortiça o suficiente para justificar a sua exploração comercial. Entre elas pode-se
destacar: pau-santo (Kielmeyera coriacea Mart., Clusiaceae), que é a espécie mais
importante no Brasil; pau-marfim (Agonandra brasiliensis Miers., Opilaceae); pau-
lepra (Pisonia tomentosa Casar, Nyctaginaceae); favela-branca (Enterolobium
ellipticum Benth, Leguminosae); pereiro-do-campo (Aspidosperma dasycarpum Mart.,
Apocynaceae); Connarus suberosus Planch; mulungu (Erythrina mulungu Mart.,
Leguminosae) e Symplocos lanceolata (Mart.) A. DC. Estas duas últimas espécies,
devido à espessura da cortiça são potenciais candidatas ao cultivo comercial.
13
PLANTAS TINTORIAIS (GRIGGS, S/D;
RIZZINI & MORS, 1995)

Atualmente, com a evolução da indústria química e conseqüente crescimento da


produção e diversificação dos corantes sintéticos, os corantes de origem vegetal
perderam enormemente a importância que possuíam no passado, embora alguns
ainda estejam presentes no mercado.

a. Henê
Desde o início da cosmética, o henê, extraído da Lythraceae Lawsonia inermis
L., alcançou e ainda alcança uma posição de proeminência. Originário do Oriente
Próximo, ainda hoje é utilizado em tinturas de cabelos.
O cultivo desta espécie é mais expressivo na África e Ásia Austral, podendo ser
cultivado no Brasil também.

b. Urucum
O urucum (Bixa orellana L., Bixaceae) é uma espécie neotropical que possui
sementes revestidas de arilo vermelho-cinabarina, rico em bixina, um pigmento
insípido e inócuo utilizado para colorir alimentos. Freqüentemente, este produto é
vendido como colorau. O pigmento foi no passado utilizado pelos índios para pinturas
no corpo, sendo utilizado, como veículo, óleos animais ou vegetais, já que ele é
lipossolúvel. Uma de suas propriedades interessantes é sua ação como filtro solar
em relação aos raios ultravioletas.

c. Pau-campeche
Haematoxylon campechianum L. (Leguminosae) é uma espécie nativa da
América Central que produz um pigmento de cor negra extremamente duradouro, a
hemateína, por isto sua importância. Além disto, desta espécie se extrai a
hematoxilina, utilizada em laboratórios de histologia como corante.
Plantas tintoriais 41

d. Pau-brasil
Intimamente ligado a história de nosso país, o pau-brasil (Caesalpinia echinata
Lam., Leguminosae), além de emprestar o nome a nação, forneceu durante um longo
tempo um pigmento vermelho, a brasileína, de grande importância no comércio dos
séculos XVI e XVII. A exploração desta espécie foi tão intensa, que até hoje é rara na
Mata Atlântica.

e. Outras espécies

Nome comum Nome científico Origem Pigmento


Tatajuba Maclura tinctoria América Central e Amarelo a pardo
(L.) D. Don ex do Sul
Steud. (Moraceae)
Jenipapo Genipa americana América Central e Preto (dos frutos
L. (Rubiaceae) do Sul verdes)
Simplocos Symplocos spp. Cosmopolita Vermelho (das raízes
(Symplocaceae) e folhas)
Carajuru Arrabidaea chica Amazônia Vermelho
(HBK) Bur.
(Bignoniaceae)
Cuieté Crescentia cujete Amazônia Preto ou marron
L. (Bignoniaceae)
Liquens Várias Várias Várias
14
ESPÉCIES MADEIREIRAS (CARVALHO,
2003; LORENZI, 1992; 1998; LORENZI ET AL.,
2003; RIZZINI & MORS, 1995)

A caracterização ou mesmo a simples listagem das espécies madeireiras


utilizadas e potenciais certamente foge do escopo deste texto acadêmico, isto porque
a diversidade de espécies é enorme. Além disto, de acordo com a demanda dos
mercados e disponibilidade das espécies, há uma constante mudança na lista e na
importância comercial das espécies, tornando a sua atualização impraticável. Obras
excelentes sobre este assunto são os livros de Lorenzi (1992, 1998, 2003), além de
Carvalho (2003).
A exploração madeireira no Brasil, excetuando-se espécies de Eucalyptus e
Pinus e umas poucas outras espécies, é feita basicamente a partir da retirada de
toras de florestas nativas. Tal atividade foi desenvolvida abundantemente na Mata
Atlântica e, atualmente, responde por uma enorme parcela da ocupação de mão-de-
obra, abertura de estradas e circulação de capital na região do Brasil ocupada pela
Floresta Amazônica.
Apesar da pressão internacional e das exigências legais, apenas uma pequena
porcentagem destas toras provem de áreas sob planos de manejo sustentável. Além
disso, muitos destes planos são questionáveis quanto a sua sustentabilidade, seja
devido à carência ou deficiência no acompanhamento técnico, desconhecimento
científico da dinâmica das florestas ou ausência de fiscalização. Por outro lado, a
Amazônia possui claramente uma vocação florestal e a manutenção de sua
cobertura atual de vegetação não só é importante para a conservação da enorme
diversidade biológica existente ali, como também é importante para regulamentação
climática do globo. Assim, torna-se essencial o desenvolvimento e aplicação de
tecnologias que permitam a exploração sustentável dos recursos madeireiros na
Amazônia, sem comprometer as populações das espécies comerciais ou não.
Historicamente, a exploração de recursos madeireiros no Brasil, e mais
atualmente na Amazônia, se dá através de ciclos predatórios focados em espécies
importantes para o mercado em uma determinada época. Isto aconteceu com o
jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All., Leguminosae), na Mata Atlântica
Espécies madeireiras 43
e, mais atualmente, com o pau-marfim (Balfourodendron riedelianum Engl.,
Rutaceae) e o mogno (Swietenia macrophylla King., Meliaceae), este último na
Amazônia.
As madeiras, devido à relativa leveza, resistência e facilidade para produção de
peças com diferentes formas, sempre foram utilizadas pelo homem na produção de
instrumentos de trabalho, móveis, construções, embarcações, veículos, etc. Devido a
sua enorme e variada utilidade, a exploração de madeiras vem ocorrendo a milhares
de anos. Não são raros os exemplos onde tal exploração, normalmente associada à
ocupação agropecuária, transformou paisagens enormes, reduzindo as áreas de
florestas nativas e transformando as áreas remanescentes em pequenos fragmentos.
Isto ocorreu na Mata Atlântica, nas florestas de araucárias do Sul do País e está
ocorrendo na Amazônia.
Devido ao crescente escassez de madeiras nativas e crescente demanda do
mercado por recursos madeireiros, tem sido formadas no Brasil florestas plantadas
de pinos (Pinus spp., Pinaceae), eucalipto (Eucalyptus spp., Myrtaceae) e outras
espécies, como por exemplo, mais recentemente, a teca (Tectona grandis L. f.,
Lamiaceae).
Abaixo segue a lista de algumas espécies madeireiras brasileiras de maior
importância.

Nome comum Nome científico Origem Utilidade


Andiroba Carapa guianensis Antilhas ao Brasil Mobílias, carpintaria,
Aubl. (Meliaceae) (Amazônia) embarcações
Angelim-pedra Hymenolobium Pará e Amazonas Mobília, carpintaria,
excelsum Ducke. marcenaria,
(Leguminosae) construção civil e
construção naval
Angico-vermelho Anadenanthera Do Maranhão à Construções rurais,
spp. Argentina lenha e carvão
(Leguminosae)
Aroeira-do-sertão Myracrodruon Do Ceará à Obras externas,
urundeuva Allemão Argentina mourões
(Anacardiaceae)
44 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

Nome comum Nome científico Origem Utilidade


Braúna Schinopsis Caatinga bahiana Dormentes e obras
brasiliensis Engl. externas
(Anacardiaceae)
Candeia Eremanthus Bahia a São Paulo Mourões, óleo
erythropappus em terrenos essencial
(DC.) MacLeish elevados
(Compositae)
Canelas Lauraceae Variável, Imbuia no Óleos, obras
(Ocotea, Paraná e Santa internas, mobília
Nectandra). Entre Catarina
elas, a imbuia (O.
porosa (Ness. &
Mart.) Barroso)
Cedro Cedrela fissilis C. fissilis: Minas Carpintaria,
Vell., C. odorata L., Gerais ao Rio marcenaria, mobília,
C. angustifolia S. & Grande do Sul construção naval e
Hoc. (Meliaceae) C. odorata: México aeronáutica,
ao Nordeste instrumentos
brasileiro musicais, etc.
C. angustifolia:
floresta atlântica
montana até
Argentina
Cerejeira Amburana Vale do Rio Doce Mobília, lambris,
cearensis (MG e ES) e balcões, tonéis,
(Allemão) A. C. caatinga nordestina folheados
Sm. (Leguminosae)
Espécies madeireiras 45

Nome comum Nome científico Origem Utilidade


Garapa Apuleia leiocarpa Do Nordeste Construção,
(Vog.) Macbr. brasileiro à marcenaria, interiores,
(Leguminosae) Argentina tacos, dormentes, etc.
Guatambu Aspidosperma spp. Várias partes do Carpintaria,
(Apocynaceae) Brasil xilogravura, tacos,
sapatos, etc.
Ipê Tabebuia spp. Da Amazônia à Estruturas externas,
(Bignoniaceae) Argentina tacos, construção
pesada, tacos e
bengalas, cangas, etc.
Jacarandá-da- Dalbergia nigra Sul da Bahia até Folheados, mobília de
bahia (Vell.) Fr. All. São Paulo (quase luxo, objetos
(Leguminosae) desapareceu) decorativos, cabos de
talheres, instrumentos
musicais, etc.
Jatobá Hymenaea spp. Sul do México a Construção pesada,
(Leguminosae) região Sudeste e obras hidráulicas,
Centro-Oeste postes, carroçaria,
etc.
Jequitibá-rosa Cariniana legalis Sul da Bahia ao Tabuado, carpintaria,
(Mart.) Kuntze Rio Grande do Sul, compensados,
(Lecythidaceae) inclusive no sapatos, etc.
Centro-oeste e
Acre
Óleo-bálsamo Myroxylon Sul do México ao Construção civil e
balsamum (L.) Norte da Argentina naval, pontes e
Harms estruturas externas,
(Leguminosae) carroçaria, etc.
Paraju Manilkara longifolia Sul da Bahia ao Madeiramento para
(DC.) Dub. Norte do Espírito telhados e vigas
(Sapotaceae) Santo
46 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

Nome comum Nome científico Origem Utilidade


Pau-de-balsa Ochroma Sul do México ao Madeira muito leve,
pyramidale (Cav.) Peru, Bolíva e jangadas e balsas
Urb. (Malvaceae) Amazônia para navegação
fluvial, brinquedos
Pau-marfim Balforodendron São Paulo ao Rio Mobília, hélice de
riedelianum Engl. Grande do Sul avião, tacos, objetos
(Rutaceae) torneados, etc.
Pau-pereira Platycyamus Sul da Bahia a São Construções, eixos,
regnellii Benth. Paulo e sul de postes, esteios,
(Leguminosae) Goiás carroçaria
Peroba-de- Paratecoma Da Bahia até Minas Construção civil e
campos peroba (Record) Gerais e Espírito naval, carroçaria,
Kuhlm. Santo tacos, etc.
(Bignoniaceae)
Peroba-rosa Aspidosperma Floresta Atlántica Construção civil e
polyneuron M. Arg. da Bahia ao naval, carroçaria,
(Apocynaceae) Paraná, Argentina, tacos, etc.
Paraguai e Peru
Pinheiro-do- Araucaria Minas Gerais a A madeira brasileira
Paraná angustifolia (Bert.) Argentina que foi mais
O. Ktze. (Arauca- explorada:
riaceae) construção, mobília,
etc.
Sucupira Bowdichia Amazônia, Brasil Mobília
virgilioides H.B.K. Central, Nordeste e principalmente
(Leguminosae) Sudeste. Chega a
Venezuela
Vinhático Plathymenia Pernambuco até Construção civil e
reticulata Benth. Minas Gerais e Rio naval, mobiliário
(Leguminosae) de Janeiro fino, forros e tábuas,
tacos, portas, etc.
15
MATÉRIA PRIMA PARA CELULOSE E
PAPEL (GRIGGS ET AL. S/D; RIZZINI & MORS,
1995)

O grosso da celulose brasileira é proveniente de espécies cultivadas de


Eucalyptus (Myrtaceae) e Pinus (Pinaceae). No entanto, existem outras fontes
potenciais, tais como o sisal (Agave sislana Perr., Agavaceae), bagaço da cana-de-
açúcar, banana têxtil (Musa textilis Née, Musaceae), papel de arroz (Tetrapanax
papyrifer (Hook.) K. Koch, Araliaceae), papiro (Cyperus papyrus L., Cyperaceae),
entre outros.
Tentativas de produção da celulose a partir de matas nativas tiveram resultados
insatisfatórios devido à heterogeneidade de espécies e de matéria-prima, tornando a
atividade pouco competitiva quando comparada com espécies plantadas.
Ainda, há outras espécies cultivadas, nativas ou não, que podem fornecer
matéria-prima para celulose, entre elas Araucaria angustifolia (Bert.) Kuntze
(Araucariaceae), Cupressus lusitanica Mill. (Cupressaceae) e Cunninghamia
lanceolata Hook. (Taxodiaceae).
16
PLANTAS ORNAMENTAIS (LORENZI &
MELLO FILHO, 2001; LORENZI & SOUZA, 2001;
LORENZI ET AL., 2003; RIZZINI & MORS, 1995)

A elevada diversidade vegetal brasileira, assim como o clima tropical que


permite o cultivo de inúmeras espécies exóticas torna o Brasil riquíssimo em
possibilidades de cultivo de plantas ornamentais e domesticação de plantas da nossa
própria flora.
Algumas das plantas nativas, devido a adaptações específicas ligadas ao seu
habitat, são muito difíceis de serem domesticadas e adotadas como ornamentais.
Espécies de campos rupestres são especialmente difíceis neste sentido. Por outro
lado, o potencial da flora brasileira em termos de espécies ornamentais é fantástico.
A descrição das espécies ornamentais adotadas no Brasil foge ao escopo deste
texto acadêmico. Uma excelente obra que trata deste assunto é a obra de Lorenzi &
Souza (2001) e Lorenzi & Mello Filho (2001).
17
PLANTAS TÓXICAS (GRIGGS ET AL. S/D;
LORENZI, 2000; OLIVEIRA ET AL. 2003; RIZZINI &
MORS, 1995)

Apesar do conhecimento popular apontar inúmeras plantas como tóxicas,


experimentação criteriosa tem mostrado que muitas delas não o são e que, dentre as
plantas realmente tóxicas, poucas causam prejuízo econômico significativo.

a. Plantas tóxicas ao gado


Na família Malpighiaceae, existem algumas espécies de Mascagnia,
principalmente M. rigida (Juss.) Griseb., cuja ingestão das folhas pelo gado pode ser
fatal em 24 a 48hs. Também, M. pubiflora (Juss.) Griseb. e, possivelmente, outras
espécies do gênero podem ser tóxicas.
Já a maniçoba (Manihot glaziovii M. Arg., Euphorbiaceae), uma espécie arbórea
encontrada no Nordeste brasileiro, possui um glicosídeo cianogênico encontrado nos
ramos jovens que são avidamente consumidos pelo gado na época da seca,
culminando em envenenamento e morte.
Uma planta que costuma levar a uma perda considerável de rezes é a erva-de-
rato (Palicourea marcgravii St. Hill., Rubiaceae). Esta espécie produz o ácido
monofluoracético, de efeito fulminante quando ingerido. A espécie ocorre no leste do
país, comumente em sub-bosque de florestas, sendo consumida pelo gado na época
da seca.
A coerana (Cestrum laevigatum Schl., Solanaceae) e outras espécies do gênero
Cestrum são comprovadamente tóxicas, sendo consumidas quando produzem brotos
novos após queimadas ou roçadas. Estas espécies produzem glicosídeos ou
agliconas de ação cardiotóxica.
Pteridium aquilinum (L.) Kuhn é uma Polipodiaceae de distribuição cosmopolita,
mas freqüentemente encontrada em áreas que foram desmatadas. Quando
consumidas em grande quantidade provoca intoxicação no gado. Tais plantas são
adaptadas a terrenos ácidos, desaparecendo sob calagem.
O alecrim-das-campinas (Holocalyx balansae Mich., Leguminosae) é uma
árvore que, após a derrubada da mata e queima, emite brotos de sua cepas com
elevado conteúdo de ácido cianídrico, antes de qualquer outra gramínea ocupar a
50 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
área, sendo avidamente consumidos pelo gado, provocando mortandade intensa. Tal
fenômeno é chamado de “peste das queimadas” e está associada à
fotossensibilização e aparecimento de necroses nas áreas expostas.
Outras espécies podem provocar intoxicação ao gado como pode ser visto no
quadro abaixo.
Nome comum Nome científico Ocorrência Princípio ativo
Oficial-de-sala Asclepias Brasil Glicosídeos
curassavica L.
(Apocynaceae)
- Psedocalymma - Substância não
elegans (Vell.) identificada
Kuhlm.
(Bignoniaceae)
- Senecio Sul do Brasil e Alcalóides
brasiliensis Less. Argentina
(Compositae)
Cavalinha Equisetum martii Terrenos -
Milde e E. alagadiços
pyramidale Goldm.
(Equisetaceae)
Peroba-d’água Sessea brasiliensis Matas da Serra do Alcalóides nos frutos
Tol. (Solanaceae) Mar
Mio-mio Baccharis cordifolia Sul do Brasil, Tricotecenos
DC. (Compositae) Uruguai, Argentina
e Paraguai
Xique-xique Crotalaria - Alterações fatais no
spectabilis Roth. fígado
(Leguminosae)
Plantas tóxicas 51

Nome comum Nome científico Origem Utilidade


- Isotoma vulgaris Antilhas, sub- Alcalóides
(Willd.) Presl. espontânea no
(Campanulaceae) Brasil
Cambará Lantana camara L. Brasil Fotossensibilização
(Verbenaceae) lenta

b. Plantas ornamentais tóxicas

Nome comum Nome científico Ocorrência Princípio ativo


Dama-da-noite Cestrum - Glicosídeos ou
laevigatum Schl. agliconas de ação
(Solanaceae) cardiotóxica
Cambará Lantana camara L. Brasil Fotossensibilização
(Verbenaceae) lenta
Espirradeira Nerium oleander L. Originária do norte Glicosídeos
(Apocynaceae) da África e Ásia cardiotóxicos
Menor, hoje
cosmopolita
Chapéu-de- Thevia ahouai A. Sul americana Glicosídeos
napoleão DC. (Apocynaceae) cardiotóxicos
Comigo-ninguém- Dieffenbachia Ráfides de oxalatos
pode seguine (L.) Schott de cálcio,
e D. picta (Lodd.) associadas a lipídeo
Schott (Araceae) tóxico que gera
asfixia
52 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica

c. Plantas com proteínas tóxicas


Algumas plantas são tóxicas devido a presença de toxoalbuminas. O quadro
abaixo lista algumas delas.

Nome comum Nome científico Ocorrência Princípio ativo


Mamona Ricinus communis - Ricina (presente nas
L. (Euphorbiaceae) sementes)
Pinhão-de-purga Jatropha curcas L. Ampla Curcina
e J. gossypiifolia L.
(Euphorbiaceae)
Jequiriti Abrus precatorius - Abrina
L. (Leguminosae)

d. Plantas tóxicas a peixes


Numerosas plantas são utilizadas para pesca por serem tóxicas aos peixes. De
uma forma geral, muitas delas são conhecidas como timbó, sendo utilizadas desde
os tempos pré-colombianos. As plantas são esmagadas e colocadas dentro da água,
liberando as substâncias tóxicas. Em pouco tempo, peixes começam a boiar e podem
ser capturados.
Um aspecto curioso do uso destas plantas está no controle de piranhas. Este
tipo de peixe é mais sensível ao timbó do que as demais espécies, bastando 3 partes
por milhão para exterminar não só os adultos, como os jovens e ovos. Tal método foi
usado entre 1957 e 1961 para o extermínio de piranhas em 10 barragens
compreendendo 48.000 Km2 no Nordeste brasileiro, incluindo o açude de Orós.
Também no EUA, o timbó foi utilizado para eliminação de ictiofauna invasora e
indesejável, para posterior povoamento com as espécies originais.
Plantas tóxicas 53

As espécies conhecidas por timbó mais utilizadas na América do Sul são:

Nome comum Nome científico Ocorrência Princípio ativo


Timbó-urucu Derris urucu (Killip América do Sul Rotenona associada
et Smith) Macbride a saponinas
(Leguminosae)
Timbó- D. nicou (Aubl.) América do Sul Rotenona associada
macaquinho Macbride a saponinas
(Leguminosae)
Timbó-de-caiena Tephrosia toxicaria América do Sul Rotenona associada
Pers. a saponinas
(Leguminosae)
Timbó, tingui Espécies de América do Sul Saponinas tóxicas
Serjania, Paullinia
e Magonia
(Sapindaceae)
- Jacquinia spp. América do Sul -
(Teophrastaceae)
- Wallacea insignis América do Sul -
Spruce
(Ochnaceae)
- Euphorbia América do Sul -
cotinifolia L.
(Euphorbiaceae) e
Phyllanthus
brasiliensis (Aubl.)
Poir.
(Phyllanthaceae)

e. Plantas inseticidas
Plantas com princípios inseticidas já foram mais utilizadas antes do advento de
inseticidas sintéticos. Neste sentido, plantas com presença de rotenona, como é o
caso de Derris urucu (Killip et Smith) Macbride (Leguminosae), já foram cultivadas e
comercializadas no passado.
Uma outra planta ainda muito utilizada é o piretro (Chrysanthemum
cinerariaefolium Bocc., Compositae), de onde se extrai piretróides.
Do tabaco (Nicotiana tabacum L., Solanaceae) se utiliza a nicotina e outros
alcalóides úteis na combate a insetos. Outras plantas extremamente tóxicas são
espécies do gênero Ryania (Salicaceae), entre as quais R. acuminata Eiclh e R.
speciosa Vahl. são as mais conhecidas, possuindo os nomes populares de mata-
cachorro ou mata-calado. Seu composto ativo é a rianodina.
54 EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica
f. Plantas alucinógenas
Algumas plantas possuem substâncias que provocam um estado alterado de
consciência, alucinações, sonhos, etc. Muitas destas plantas foram e são utilizadas
em cerimônias religiosas. Entre elas, uma das mais famosas é a cactácea mexicana
Lophophora williamsii (Lem.) Coult., chamada de mescal ou peytl, cujo alcalóide
psilocibina provoca potentes alucinações.
No Brasil, o toe (Datura insignis Barb. Rodr., Solanaceae) foi e é utilizado pelos
índios como alucinógeno devido a substância escopolamina. Ainda no Brasil, o caapi
ou iagê (Banisteriopsis caapi (Spruce) Morton, Malpighiaceae), devido à presença de
harmina, produz alucinações fortes e é utilizada em rituais religiosos.
Na caatinga, plantas do gênero Mimosa (Leguminosae), tais como M. verrucosa
Benth. (jurema branca) e M. hostilis Benth. (jurema-preta), possuem em sua casca o
alucinógeno dimetiltriptamina. Uma outra leguminosa comum em todo o Brasil com
compostos alucinógenos é Anadenanthera peregrina (L.) Speg., o angico-vermelho,
cujas sementes torradas e reduzidas a pó possuem elevada dose do alcalóide
bufotenina.

g. Plantas alergênicas
Um dos grandes obstáculos ao emprego da mamona na confecção de rações
são os compostos alergênicos de sua proteína. Outras plantas podem ter compostos
alergênicos problemáticos, como é o caso da caviúna-vermelha (Machaerium
scleroxylon Tul, Leguminosae) que, apesar de sua valiosa madeira, o contato
progressivo com o lenho sensibiliza os indivíduos que lidam constantemente com
esta espécie. Algumas anacardiáceas como as do gênero Lithraea, na América do
Sul, Toxicondendron¸ na América do Norte e Rhus, na Ásia têm alto potencial
sensibilizador para o tegumento cutâneo.

h. Plantas urentes e cáusticas


Por urtiga são conhecidas várias espécies, algumas delas pertencentes à
família Urticaceae. No Brasil destacam-se Urera baccifera Gaud. que provoca
empolação passageira e coceira intensa.
Na família Euphorbiaceae, temos as espécies conhecidas como cansanção,
Cnidoscolus oligandrus (M. Arg.) Pax, e favela, C. phyllacanthus (Mart.) Pax &
Hoffm., cujo líquido urticante encerrado em espículas é extremamente urticante,
contendo histamina.
Algumas trepadeiras pertencentes ao gênero Mucuna (Leguminosae),
conhecidas como pó-de-mico (M. urens DC. e M. pruriens (L.) DC.), possuem
tricomas que penetram na epiderme provocando coceira e irritação.
Outras espécies podem ser urticantes como é o caso do látex de Calophyllum
brasiliense Camb. (mangue, Clusiaceae), que origina manchas escuras na pele e o
Plantas tóxicas 55
látex da morácea Naucleopsis oblongifolia (Kulm.) Carauta, que é tóxico. Cabe ainda
destacar a planta amazônica Hura crepitans L. (Euphorbiaceae), cujo látex é
extremamente tóxico, produzindo grandes edemas e fortes dores.
18
BIOPROSPECÇÃO

Os capítulos anteriores mostraram claramente como o homem usou e tem


usado a diversidade biológica vegetal para os mais diversos fins. Como já foi
enfatizado, o processo de domesticação ligado a este uso raramente pode ser
caracterizado como intencional e tem ocorrido de forma lenta e complexa, sendo
fortemente associada ao progresso social das comunidades humanas (veja Griggs et
al., s/d).
No entanto, mais recentemente, com o desenvolvimento da engenharia
genética e melhoramento vegetal e expansão das indústrias farmacêuticas, um novo
e intenso interesse tem crescido em relação à diversidade biológica. A enorme
variedade de plantas existente no globo tem se mostrado uma importante fonte de
recursos genéticos e compostos químicos úteis ao homem. O processo ativo de
busca e descoberta destes recursos é comumente denominado bioprospecção.
Dentro desta nova realidade, enormes conflitos de interesse têm surgido. Os
países detentores de tecnologia e capital necessário à bioprospecção normalmente
são aqueles do hemisfério norte que, por outro lado, são pobres em diversidade
biológica. Por outro lado, os países com elevada diversidade biológica são
normalmente carentes em termos de recursos financeiros e tecnológicos. Tal quadro
tem gerado historicamente um processo de exploração inescrupulosa dos recursos
biológicos dos países megadiversos por aqueles detentores de tecnologia, resultando
em elevados benefícios econômicos para estes últimos e benefícios pequenos, nulos
ou até negativos para os primeiros.
O Brasil, particularmente, apresenta-se no centro desta questão, pois sendo o
país que concentra a maior diversidade de organismos do planeta, tem sido visado
constantemente por iniciativas de bioprospecção. Os aspectos legais ligados à forma
da bioprospecção e a distribuição dos seus benefícios têm sido regidos pela
Convenção sobre Biodiversidade Biológica (CDB), assinada por 170 países e em
vigor desde 29 de dezembro de 1993. Além desta convenção internacional, esforços
internos dos próprios países têm sido efetuados no sentido de controlar e disciplinar
a prospecção de recursos biológicos. No Brasil, cabe destacar a normatização
implementada pelo governo através do IBAMA e do CGEN (Conselho de Gestão do
Bioprospecção 57
Patrimônio Genético) em relação aos processos de coleta, armazenamento e
transporte de material advindo do patrimônio natural de diversidade biológica
nacional. Tal normatização e sua implementação visam o controle dos abusos no
processo de acesso a riqueza biológica do país, coibindo a biopirataria e aumentando
as possibilidades de benefícios do uso da biodiversidade nacional. Outro aspecto
importante no Brasil é o estabelecimento de prioridades, estratégias e confecção de
programas direcionados a bioprospecção (Vieira et al. 2002).
A prospecção de novos compostos químicos freqüentemente passa pelo
contato com povos tradicionais, cujo conhecimento e uso de plantas e animais são
um importante atalho no direcionamento das atividades de pesquisa. O problema é
que, normalmente, as comunidades tradicionais recebem pouco ou nada por este
conhecimento. Muitas vezes o retorno é até negativo, quando, por exemplo, para a
obtenção do produto for necessária a coleta destrutiva da espécie, resultando na
redução de suas populações. Um exemplo disto foi o já citado uso do pau-rosa
amazônico na indústria de perfumaria.
Para que a bioprospecção seja uma atividade ecologicamente sustentável e
socialmente justa alguns princípios precisam ser obedecidos (Santos 2001): i)
princípio da prevenção: na possibilidade de danos irreparáveis, a prospecção deve
ser interrompida; ii) princípio da preservação: a prospecção deve ser feita de forma
que promova a conservação do recurso; iii) princípio da equidade: os benefícios
devem ser distribuídos de forma justa entre as partes envolvidas, em particular, os
países proprietários do recurso explorado; iv) princípio da participação pública: a
população envolvida no processo de prospecção deve participar do processo e seus
benefícios de forma mais ampla possível; v) princípio da publicidade: o processo de
prospecção deve ser totalmente transparente ao público, vi) princípio do controle
público e privado: o processo de prospecção tem que estar submetido ao controle por
órgãos públicos e privados e vii) princípio da compensação: a comunidade detentora
dos recursos ou do conhecimento deve receber compensação justa em termos
monetários e ou por meio de bens.
Os benefícios reais ou potenciais advindos da bioprospecção podem contribuir
direta ou indiretamente para a definição de políticas e captação de recursos para a
conservação de ecossistemas naturais. Tais benefícios podem ser quantificados
economicamente e fazem parte de uma estratégia relativamente recente de
atribuição de valores monetários aos serviços ambientais provenientes de área
naturais. Tal estratégia é denominada valoração ambiental (Pavarini, 2000). Dentro
deste processo de valoração, outros fatores são considerados tais como o valor da
preservação de ciclos biológicos, conservação de solo e água entre outros. No
entanto, talvez um dos aspectos onde os benefícios econômicos podem ser medidos
mais diretamente e inclusive comercializados se refere à bioprospecção.
19
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