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História refere-se a:
uma realidade passada, de factos
o discurso, o retrato produzido por alguém num certo momento, com certos materiais
Olhar sobre o que se passou não se chama história do Direito, mas sim “escrita da História do
Direito”,
Quintos --- cévula – tratou o Direito por género e espécie – uma forma de classificar
1. A história do direito é uma proposta discursiva sobre a realidade, uma leitura, uma construção –
por isso temos várias histórias do Direito
2. O Direito não é o conjunto das normas, mas sim o resultado das interpretações.
Historicidade –
AULA 2 – 25 fevereiro
HDP podia chamar-se “história dos juristas” ou “história dos discursos jurídicos”
Objeto imediato da história do Direito – discurso dos juristas e discursos sobre juristas,
testemunhos do passado que o historiador interpreta
A expressão medieval é desconhecida dos que viveram no período medieval – quem começou a
falar da Idade Média foram os primeiros humanistas, renascentistas (séc. XIV-XVI). Idade Média é o
tempo que mediou a Antiguidade Clássica e o Renascimento, a idade das trevas (expressão abusiva
e equivocada).
Humanismo jurídico – ideia de que é possível olhar para as fontes romanas e proceder a uma
sistematização do conhecimento jurídico, recuperando o que Cícero.
Justiniano, ao ordenar a compilação do Digesto (selecionou e compilou fontes de vários séculos,
corrigir divergências, reduzir à unidade), procedeu a um erro gravíssimo – recuperou-se, com
alterações significativas, a vigésima parte
Humanistas queriam recuperar o Direito Romano clássico
Duarte Nogueira
ordenamento antigo – 1143-1820 – ordenamento pluralista
o medieval – convivência natural de uma pluralidade de fontes jurídicas
o moderno – afirmação da lei face às demais fontes
Ruy e Martim de Albuquerque – monismo formal
Duarte Nogueira – pluralismo mitigado
ordenamento contemporâneo – 1820-atualidade – ordenamento monista
o Ruy e Martim de Albuquerque – monismo material
o Duarte Nogueira – monismo
Pluralismo - 4 dimensões
Pluralidade de poderes – quadro político português
o Séc. XII – queda do império romano – não há poder político centralizado num dado
território – autonomia de esferas políticas dentro de uma comunidade política maior
(Rei) – poder real, poderes civis, poderes eclesiásticos
Cidades - espaços autónomos, livres com poderes autónomos – vários
regimes senhoriais
Pluralidade de jurisdições – vários regimes senhoriais; nas cidades livres, quem decide é o
conselho dos vizinhos; decidem-se as questões recorrendo ao direito que se conhece
naquela localidade
Pluralidade de fontes do Direito – direito conhecido
o Vários ordenamentos, cada um com várias fontes
o Direito das localidades, Direito judicial, Direito consuetudinário…
Pluralidade de soluções –
(Pluralidade de protagonistas da ação jurídica)
Processo de controlo e centralização do poder – Rei afirma o seu poder sobre os outros poderes
desde 1211 (leis da cúria de Coimbra; Afonso II; primeiro momento em que um Rei toma um
conjunto de decisões políticas que se consubstanciam em atos legislativos, afirmando o seu poder;
novidades jurídicas; uma das leis faz referência a um magistrado – sobrejuiz – a que se pode
recorrer das decisões dos outros juízes)
Poder do rei afirma-se através
Da lei régia
Da administração régia, nomeadamente os juízes régios – alguém julgado pelo senhor da
sua terra, pode recorrer ao juiz régio que afirmam as fontes régias sobre as demais
1446 – ordenações afonsinas – supremacia da lei sobre as demais fontes
1143-1211 – criação jurídica do Reino de Portugal face a outros reinos – comunidade política
autónoma – Rei não reconhece nenhum poder igual ao seu na esfera interna (afirmação do poder
do Rei sobre o senhor ciivil, o senhor eclesiástico, os conslehos) e não reconhece poder igual ao seu
na esfera externa (o Rei de Castela é um igual e não tem poder no território português – esta regra
só tem uma exceção – o papa)
Rei tem mais deveres que direitos – O Rei cumpre uma função – reger – não se rege bem ou mal,
mas sim corretamente – sempre que o Rei governa mal, deixa de ser Rei – súbditos devem
obeceder ao que o Rei diz se e na medida em que o que o Rei diz é reto – Rei é um vassalo indireto
dos seus súbditos – Rei é um servo de Deus, está no poder por graça de Deus – oficio régio é um
vicariato divino – Rei está em representação de Deus
Para a generalidade das pessoas naquela época, a vida terrena era um momento passageiro, mas o
momento determinante será a vida eterna; é a forma como se vive na terra que levará ao juízo final
1446 – ordenações afonsinas – compilação com alterações do que seria o direito vigente – o que
se diz na lei é critério de aplicabilidade das outras fontes
AULA 3 – 4 março
Infungibilidade dos juristas (e de todas as pessoas) vale para tudo, para o texto de uma lei, para um
manual, para todas as expressões do discurso jurídico, e consequentemente, para a própria ideia de
Direito.
Antes de fazermos história do Direito, é necessário ter uma noção de Direito. Uma história do
Direito português que adota uma conceção de Direito configurado como conjunto de normas da
AR, o ponto de partida dessa HDP não pode ir para além da emergência desse Direito (em 1976). Se
nessa definição passa-se a ser o conjunto de normas emitidas por uma assembleia representativa,
não poríamos ir a antes de 1822.
Queremos estudar o passado, que não conhecemos. Como posso, á partida, pensar qual o meu
objeto, a partir de um critério, se não sei a sua viabilidade.
Ruy de Albuquerque – critério instrumental.
Ao escrever a história do Direito, não posso ficar preso às conceções de Direito de hoje. Se quero
saber os direitos que havia na idade média, não posso ficar preso ao conceito de Direito subjetivo
de Menezes Cordeiro. O conceito de negócio jurídico não existe nos sistemas de common law.
Moral: não podemos ficar presos aos conceitos de hoje, à dogmática de hoje. Se quero
compreender o direito atual, tenho de perceber como surgiram e porque surgiram os institutos e
conceitos atuais.
Noção instrumental: Direito como ordenação justiciavel (mais que justiça, a ideia de que se pode ir
perante alguém e dizer, tutelem-me, eu tenho razão, tenho de ser tutelado; aproxima-se da ideia
de jurisdição, ideia de se declarar que aquele comportamento é o devido, e por isso deve ser
respeitado, e por isso, o comprador tem de pagar o preço) da convivência humana (necessária à
existência de Direito).
As leis são hoje a forma de ordenar a convivência humana, mas não são a única. E mesmo a lei é
discutível, está sujeita a diferentes interpretações.
A ordenação da convivência humana é conformada, sobretudo, pelo modo como as fontes de
Direito são trabalhadas.
Periodificação
Ruy de Albuquerque: pluralismo/monismo
Almeida da Costa:
é artificial, ilustrando o caráter cultural, contingente, contextual do Direito
é produzida por alguém atendendo ao critério que escolhe. Mas antes de escolher um critério, é
necessário estudar história do direito.
critérios: fontes (monismo/pluralismo), ramos do Direito específicos…
A passagem do pluralismo para o monismo é feita pela afirmação do poder do Rei, perante os
outros poderes.
Fazer história é fazer um equilíbrio entre fontes a menos, fontes a mais, testemunhos a menos,
testemunhos a mais.
História interna do Direito – conteúdo normativo que vai ser encontrado nas fontes; história do
Direito da família, história do Direito penal
História externa do Direito – fontes do Direito, quais são e porque são
Em 1140 o Direito português surge num contexto em que a cultura jurídica que vinha do passado
era romanizada. Fontes? O Direito visigótico.
Em 711 com o problema da sucessão da monarquia visigótica dá-se a entrada de Tarik, a frente de
uma força muçulmana na península e que a conquista.
A proximidade cultural e religiosa entre visigodos e romanos trouxe paz entre eles.
Haverá paz entre cristãos e muçulmanos, mas diferente. Para os romanos o Direito valia para todos.
Para os muçulmanos, aquilo a que se chamaria “Direito” é uma decorrência da sharia’a, uma forma
de vida que permitirá uma espécie de bem-aventurança eterna. Só podem regular-se pela shari’a os
crentes e a crença não pode ser imposta. Se os espano-godos se converterem ao islamismo,
sujeitar-se-ão ao Direito muçulmano. Se se mantiverem cristãos, não podem sujeitar-se ao Direito
muçulmano. Para os muçulmanos isto não é um problema. As comunidades que se mantinham
cristãs podiam reger-se pelo seu próprio direito. Desde 711 até à afirmação de novas monarquias
cristãs que se reclamam herdeiras da monarquia visigótica no espaço peninsular, vai ser feita, com
base na memória que tinham do código visigótico, do direito romano vulgar, e conforme vão
descendo para sul vão absorvendo populações que conheciam essa mesma tradição. Os cristãos
que viviam sobre o poder de califas muçulmanos eram os chamados moçárabes. Os moçárabes
regiam-se pela memória que tinham do Direito visigótico.
Primeiro eixo da formação da história do Direito português – tradição do Direito romano vulgar que
se vai encontrar no séc. XII e XII com aquilo que se chama a receção do Direito romano justinianeu.
Este encontro permite dizer que a história do Direito português é um episódio da tradição
romanística.
AULA 4 – 11 março
Direito legislado, Direito judicial e Direito costumeiro são muitas vezes tratados como autónomos,
mas eles não existiram de forma independente.
Inexistência de um legislador com uma influência imediata no mundo.
São capítulos autónomos, mas é preciso integrar. Ao estar a ler sobre direito foraleiro, não me
posso esquecer do que já li sobre o Direito costumeiro, porque na comunidade as várias fontes são
invocáveis ao mesmo tempo. No conselho, perante o juiz local, posso recorrer às cartas, aos
costumes, à herança do código visigótico.
Livro II – estatuto dos clérigos; a propósito das relações entre clero e rei surge uma disposição (mais
tarde passa para o livro III nas ordenações filipinas) em que a epigrafe diz “quando a lei (direito
romano) contradiz a decretal (direito canónico), qual delas se deve guardar” quando o Direito
romano contradiz o Direito canónico, qual deles deve ser utilizado?
Se num texto que é a tentativa de estabelecer num único texto todo o Direito aplicável, utilizável
pelos juízes na resolução dos casos, no reino. Um texto feito na sequência de múltiplas reclamações
em cortes (reuniões com representantes do clero, da nobreza e dos conselhos, do terceiro estado,
das cidades). Reclamações: há uma multiplicidade de fontes e de regimes que não sabemos qual é
o direito. Desta incerteza resulta uma constante litigiosidade. Uns invocam o direito romano, outros
o canónico, e ninguém se entende.
Se houvesse apenas um direito, não tinha havido litígio.
Havia uma confusão permanente dos regimes jurídicos.
Face às reclamações dos representantes dos conselhos, era necessário definir qual o Direito. Até ao
séc. XV mantia-se a pluralidade de fontes.
Se o Rei, o que deve governar bem e retamente e manter o reino em paz e justiça (e se não o fizer
pode ser legitimamente afastado do poder; diz tudo sobre a ideia do período medieval como um
período de poder absoluto ou de ausência de direito), se preocupa em por a valer uma solução para
este problema (contradição entre direito romano e canónico), percebemos que esses dois direitos
são fontes importantes.
As ordenações vão pegar em fragmentos do Digesto e reproduzi-las. São uma espécie de resumo do
Direito romano e do direito canónico para quem não sabe latim. Quase ninguém sabe latim, ou
sequer sabe ler, o que traz problemas para o conhecimento das leis. O que faz com que os juristas
consiga exercer um poder muito significativo na vida social. A capacidade de ler e interpretar, que
para um leigo parece sobrenatural, faz com que tenham imenso poder.
1446 – Direito romano e direito canónico são importantes.
Rei – “Estabelecemos e pomos por lei, que quando algum caso for levado a tribunal, que seja
resolvido por alguma lei do Rei (direito legislado), estilo da nossa corte (direito judicial) ou costume
dos nossos reinos (direito costumeiro), antigamente utilizado” – pluralismo (não há um monopólio
da lei) mitigado (é uma das fontes, a lei, que determina o valor de uma das fontes).
Ao falar em Direito local, pensa-se no Direito local escrito, mas também há costume local.
Pluralismo mitigado – afirmação de um poder/jurisdição e uma primazia do Direito posto em
pratica por esse poder sobre as demais fontes e os demais poderes.
1446 – Rei faz compilação do Direito pátrio, pedida pela comunidade, que tinha os seus costumes,
o seu direito local, pediu ao Rei que definisse qual o Direito que vale. As pessoas pedem ao Rei que
diga qual o Direito que vale. O Rei, respondendo a este apelo, define as fontes que podem
continuar a valer.
Se o Rei consegue fazer isto em 1446, muito antes tinha começado um processo de afirmação do
poder/da jurisdição régia, sobre os demais poderes/jurisdições. Podemos olhar para 1211, mais de
200 anos antes das ordenações afonsinas, do início do pluralismo mitigado e ver aqui a raiz desse
processo. Não se passa de um período para o outro num passo mágico. Há tendências que se vão
impondo e que conduzem para uma nova forma de viver. É isso que acontece com a afirmação da
jurisdição régia.
Este mundo começou a ser derrubado com a afirmação da lei, com o ressurgimento da lei como
instrumento de governação. A razão de ser disto, como foi possível isto acontecer, isto é, a
supremacia do Rei e da lei sobre os demais poderes e as demais fontes. Como foi possível isto
acontecer?
Próxima aula: finalidade do poder régio e administração do reino; fundamento disso, ou seja, as
conceções de justiça e Direito subjacentes à ordem jurídica medieval. A lei e o Rei muito por força
do contexto político e filosófico, religioso da época, conseguiu sobrepor-se a todo este localismo, a
todo este pluralismo, afirmando a sua vontade sobre todas as outras experiências. Vontade essa
que era limitada, conformada, por uma particular mundividência. A mundividência teológico-cristã
que assenta numa reconfiguração da filosofia helénica pensada pelos padres da igreja (patrística).
O juiz medieval tinha à sua frente várias soluções, o que levanta o problema da escolha e da
responsabilidade inerente à escolha. Perante uma multiplicidade de soluções, o que faço? Recorro
ao Direito que mais bem conheço. Por isso o juiz da cidade provavelmente vai adotar a solução que
está na carta daquela cidade, ou o costume local daquela cidade. O que dificilmente vai fazer:
recorrer, sem mais, à lei do Rei. Várias razões para não aplicar a lei régia: as leis são escassas; são
mal conhecidas (não há imprensa; as ordenações afonsinas não são impressas, apenas as
manuelinas. Para conhecer as ordenações é preciso que um copista as tenha transcrito e depois
vendido, o que fazia o preço caro); a maior parte dos juízes (séc. XI-XII) não sabiam ler, porque eles
foram escolhidos para julgar aquele conflito, mas não são profissionais.
Tudo muda no final do séc. XII, séc. XIV, reinado de D. Pedro I, se vai impor a figura do juiz de fora
(de fora da cidade, da localidade, do conselho). Um juiz nomeado pelo Rei, pago, que não conhece
as pessoas, não tendo relações familiares ou comerciais com as partes envolvidas, nem especial
afeição pelo direito local.
O que permitia resolver o problema? hábito, proximidade.
Com o juiz de fora: aplica o Direito que conhece, muitas vezes leis do Rei
O juiz de fora integra a vereação do conselho, imiscui-se no poder local, decide de acordo com
outros critérios, está a exercer uma função, sendo remunerado em bens e serviços (casa,
alimentos). E quem custeia estes custos é o conselho, os homens bons, os habitantes do conselho
que integram o conselho, que têm o estatuto de vizinhos, os homens livres do conselho, têm de
pagar. É uma intromissão, uma perda de autonomia, e são eles que pagam
A relação de forças é já muito diferente.
O juiz de fora surge para impor a mão do Rei. Isto começa a ser afirmado no início do séc. XIII.
Inquirições –
sobretudo a partir de Afonso II, mas que continua com Afonso III e Afonso IV, ou seja, a partir do
momento em que há alguma estabilidade na conquista do território para além do tejo, os monarcas
portugueses vão começar a ocupar-se do exercício efetivo da jurisdição. As preocupações militares
e povoadoras dos primeiros reis são instrumentais face à preocupação de afirmação de um poder
político autónomo. Diz-se que esses reis não fizeram leis. Mas os primeiros Reis fizeram cartas de
privilégio, concederam cartas de forais. Estes instrumentos normativos eram fundamentais. A
jurisdição exerce-se de múltiplas formas. Fazer leis é uma delas.
“O Rei deve governar bem e retamente”, “manter o reino em Direito e justiça”. Terceira frase:
aquela que justifica a pouca intervenção legislativa do Rei nos primeiros reinados: “Manter os usos
e os foros do reino”. O Rei não tem poder absoluto porque deve respeitar os outros poderes. Se há
usos e costumes, se há foros do reino, não é legitimo ao Rei intervir quando e do modo que
entender recorrendo à lei. Há uma ideia que provém da estrutura da monarquia visigótica, que é a
ideia de o Rei governar como conselho. O Rei não se pode impor. Por isso se fala das leis de Leão,
das Leis de poiança, das Leis de Coimbra, isto é, de leis postas a valer, publicitadas, dadas a
conhecer, porventura aprovadas em assembleias em que estavam os mais altos dignitários do
reino, civis e eclesiásticos. Não há cortes, não há representação popular.
Caída a monarquia visigótica, sucede, no que respeita ao exercício do poder, uma fragmentação do
poder, que já estava em curso na monarquia visigótica. O Rei não tinha um efetivo poder sobre
todo o reino visigótico. Esta fragmentação conduziu, em diferentes espaços, a diferentes
protagonistas do poder.
O que se passava sobre o poder muçulmano? O Direito islâmico, como o judaico, é intrinsecamente
associado, e impossível de desligar, da religião. A religião tem de ser livremente observada, não
deve haver conversões forçadas. Se não há conversões forçadas, aqueles que não se convertem
mantém a sua religião e o seu Direito. Aos cristãos sobre o domínio muçulmano que mantém a sua
cultura, a sua língua, a sua religião, os seus modos de vida, o seu direito costumeiro (o direito que
seguem espontaneamente sem ser imposto pelo poder político), chamamos moçárabes.
Monumentos visigóticos: código de Eurico, código …, código visigótico são textos aprovados por
monarcas visigóticos contendo direito visigótico. O breviário contém fontes romanas.
O código visigótico era de aplicação territorial. Contem direito romano vulgar. Aprovado em 654, foi
aprovado no Concilio de Toledo.
Um texto normativo mandado fazer pelo Rei é aprovado por um concilio, numa assembleia de
entidades eclesiásticas. A monarquia visigótica está associada a uma religião e a uma ideia, que era
meramente afirmada no império romano (afirmada de boca), que o monarca era imperador por
graça de Deus, em nome de Deus, e respondia a Deus. O Direito posto a valer pelo imperador, a
atuação do imperador, devia orientar-se pelo exemplo divino. Mas daqui não eram retiradas
consequências. Na experiência medieval, pela influência da patrística (e para a experiencia
visigótica o autor relevante é Isidoro de Sevilha, autor de As etimologias, que consistem num
resumo da sabedoria greco-romana, sobre política e Direito). Na monarquia visigótica é
reconhecida a importância da igreja e das autoridades eclesiásticas. Manifestação disto: o código
visigótico é feito no Concilio de Toledo. Não por isso é um texto de direito canónico. Apenas quer
dizer que o texto se insere num quadro de pensamento para o qual é fundamental a ideia do
exemplo divino, que vai ser mais alimentada em todas as monarquias que sucedem à visigótica, a
partir do espaço asturo-leonês.
Os moçárabes, os visigóticos eram cristãos, que aceitavam a presença, no terreno político, das
autoridades eclesiásticas.
Direito relevante na monarquia visigótica, para os moçárabes, para as monarquias leonesa,
castelhana, portuguesa, para as peninsulares: Direito canónico
Direito canónico: Direito da igreja, igreja pensada como a assembleia dos crentes, e não como as
autoridades eclesiásticas. Havendo conflitos, eles eram resolvidos não junto do pretor ou dos
funcionários do imperador, mas dentro da comunidade, junto daqueles que dão orientação
espiritual. Por isso vingou até ao séc. XIV-XV a ideia de que os cristãos estão sobretudo sujeitos ao
Direito da igreja.
Epigrafe do Título IX do Livro II das ordenações – “Quando a lei (direito romano) contradiz a
decretal (direito canónico), qual delas se deve guardar?” O problema da contradição entre direito
romano e direito canónico existe desde o início e manteve-se. A igreja sempre pretendeu que os
crentes resolvessem os seus conflitos de acordo com o Direito canónico.
Pluralismo: vários estatutos, jurisdições, poderes
Solução que se impõe? A que resultar do equilíbrio de relações de poder em cada momento. Por
vezes a igreja consegue, por vezes não.
No espaço peninsular o Direito canónico, que tem como fontes principais as sagradas escrituras
(que não dizem quem tem razão no caso concreto). Cânones (direito canónico) são as regras
aprovadas pelas autoridades eclesiásticas. Dois grupos: papa, autoridade máxima de uma igreja
local. Também na igreja há pluralismo. Na igreja de braga há regras diferentes das da igreja de
Sevilha. Qual é o cânone que se aplica?
Por isso tornou-se necessário haver compilações de cânones. Uma dessas compilações, a Espane,
que teve particular importância no espaço peninsular.
Herança jurídica da monarquia visigótica: código visigótico, colexio espane. Herança relevante para
as monarquias cristãs ou para quem vive sobre um governante muçulmano, mas mantendo a
herança cristã.
Após a constituição de antonino caracalo, 212, conceção da cidadania aos homens livres do
império, todos se regem pelo Direito romano, que ninguém conhece. Dá-se a vulgarização do
Direito romano. O que acontece ao Código Visigótico, aprovado em 654, a monarquia cai em 711,
as populações vão passando alguns exemplares de geração em geração, mas a memória normativa
que prevalece não é a do texto, mas a do modo como o texto foi sendo interpretado e posto em
prática. Aquilo a que muitas vezes se chama direito costumeiro é, muitas vezes, a herança da
tradição de aplicação, em constante mutação, do código visigótico. Já não há juízes do Rei para
impor o texto do Código Visigótico. Impõe-se o que se conhece. E o que se conhece não é o texto
integral, mas formas de integrar esse texto. Esta é a herança do Direito costumeiro.
Uma coisa é a forma como as pessoas vivem o direito costumeiro, outra coisa muito diferente é a
teorização doutrinária sobre esse fenómeno. Lei de 1211 “há um mau costume” – é possível falar
de requisitos do costume. Interessa falar dos requisitos a quem não quer acolher o costume, às
partes que não são por ele beneficiadas. Quem decide? O juiz local. Mas também ao Rei não
interessa aplicar o costume. Mas o Rei tem de manter o respeito pelos usos e costumes. O Rei diz
então, mantenho o respeito pelos usos e costumes se e na medida em que esses costumes forem
adequados, forem retos, forem conformes à razão, conformes ao Direito canónico, isto é, desde
que e na medida em que não sejam maus costumes.
Paralelamente com a afirmação destas monarquias, com o passar do tempo, a fronteira muito
instável entre o poder cristão e o poder muçulmano vai baixando, passando para sul, mais do lado
do Atlântico que do mediterrâneo. São conquistados novos espaços, que deixam de estar sobre o
domínio muçulmano. Problema no que respeita ao exercício do poder: o Rei não tem uma
administração para impor o poder e garantir a justiça. O que vai acontecer? Todo o território está
sujeito a uma espécie de soberania régia, um domínio régio. O Rei vai exercer diretamente o poder
em parte das terras, vai conceder o governo dessas terras a senhores civis ou a senhores
eclesiásticos ou a comunidades autónomas. Temos o poder régio, o poder senhorial civil ou
eclesiástico e o poder concelhio, das cidades livres. Em cada um destes domínios é este o poder, é
esta a jurisdição, e é aqui que está a origem da pluralidade de poderes e da pluralidade de
jurisdições. Ao conceder a terra ao senhores civis e aos senhores eclesiásticos, o Rei concede-lhes
jurisdição. Se há um litigio nessa terra quem julga é o senhor, não o Rei. Há uma carta, um
documento, através do qual o Rei concede o poder sobre essa terra, e ao fazê-lo, estabelece quais
são alguns dos poderes e dos deveres do senhor da terra. Alguns porque alguns outros poderes não
têm de lá estar escritos porque na península, através do Direito costumeiro, é habitual que com a
concessão do domínio sobre uma terra se concedam também alguns poderes. Isto vale para os
senhores civis e eclesiásticos e para os concelhos. É concedido o poder sobre a terra. Os conselhos
têm autonomia de jurisdição. Os senhores também podem conceder cartas de privilégio para
aquelas terras. Surgem conselhos.
Enquanto o território não está conseguido, o Rei tem de conceder terrenos, para que as pessoas
estejam disponíveis para ir para a fronteira. Para isso é preciso que as condições de vida na
fronteira sejam melhores que as condições no sítio em que as pessoas estão. Cartas de privilégio,
cartas de povoação – qual o regime de exploração da terra, que impostos pago, que deveres
militares tenho.
Cartas de foral – a questão já não é saber como se explora a terra mas saber como se vive. Por isso
têm regras de direito processual, fiscal, penal, regime da vindicta privada (Leis de 1211 – lei tenta
reger a vindicta privada), administrativo, sobretudo matérias de Direito público.
Onde estão a matéria de contratos, casamentos, testamentos, que vão estar nas ordenações? Estão
na herança do Código Visigótico. Há matérias que já estão costumeiramente tratadas, numa
memória aplicativa do Código Visigótico, um texto de há 500 anos, e por isso não é necessário
estarem nas cartas de foral. Passado algum tempo, as pessoas começam a pensar que convém
reduzir a escrito as regras costumeiras. Terceira carta de privilegio – os foros. No texto espanhol
fala-se dos foros extensos (os foros breves são os forais). Redução a escrito dos costumes em
matéria de Direito privado
Paralelamente, surge como fonte de Direito o direito judicial. Os juízes da terra resolvem os casos.
Muitas vezes, não tendo as normas costumeiras sempre soluções para o caso, surge o que se
chama na terminologia moderna de lacunas. O modo como os juízes decidem vai tornar-se fonte de
Direito. No futuro, outros juízes vão aproveitar o modo como estes juízes decidiram.
Estilo – costume jurisprudencial; naquele tribunal é habitual decidir-se daquela maneira; vale para
tribunais locais como para o tribunal régio. O fundamental vai ser o estilo da corte. “Onde houver
lei, costume ou estilo da corte”. Estilo da corte é direito judicial. A corte é o tribunal presidido pelo
Rei, não é as cortes.
Alvidros – são árbitros. Quando as partes têm um litigio podem escolher vizinhos para decidir o
caso.
Façanhas – soluções inovadoras, que se mostram proveitosas e adequadas para casos complexos, e
que se tornam um exemplo.
É do conjunto de fontes do direito local, direito costumeiro e direito judicial que emerge o Direito
peninsular, diferente de jurisdição para jurisdição. É neste contexto plural que, a partir do inicio do
séc. XIII, afirmado o poder do Rei, afirmado um caráter definitivo da conquista para sul, vai emergir
uma nova fonte muito relevante, como instrumento do poder régio, como afirmação da jurisdição
régia sobre os demais poderes e jurisdições: a lei.
Inquirições – investigações desenvolvidas por magistrados do rei, que vão de terra em terra, de
domínio senhorial em domínio senhorial, para garantir se os senhores estão a governar aquelas
terras de acordo com os poderes que estavam nas cartas de concessão do poder. E invariavelmente
o Rei vai dizer que estes poderes não são seus, estes poderes não podem ser exercidos por
ninguém a não ser o Rei.
Vai criar dois novos magistrados judiciais: sobrejuizes e corregedores. São um instrumento que
permite uma segunda instância na jurisdição. Posso recorrer para os juízes do Rei, posso controlar
as decisões dois juízes locais, senhoriais ou concelhios. Afirmação do poder régio.
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Aula-dia 18