Sei sulla pagina 1di 24

1

2
3
Para que aprender a escrever?

No mundo de hoje, ironicamente chamado da comunicação, a verdade é que a maioria


das pessoas pouco se comunicam. Isolam-se dos seus vizinhos. No lar, há cada vez menos
espaço para conversas. Na escola, os textos científicos e literários estão se tornando
estranhos, de difícil entendimento. Quando ocorrem conversas, frequentemente repetem-se
frases feitas por outros indivíduos, ideias estereotipadas – aquelas mesmas ideias e frases
maciçamente divulgadas pela programação televisiva... A situação não é nada otimista. Fala-
se pouco, lê-se quase nada. E escrever? Até a pergunta há de parecer estranha... Escrever para
quê?

Não é de admirar que muitas pessoas não sintam qualquer atrativo para escrever.
Quem não lê, quem fala tão pouco com seus semelhantes, não pode ter sequer ideias próprias.
Iria escrever o quê? Se não tomarmos providências, em breve, todos nos transformaremos em
robôs, em fantoches... Pagamos um preço muito alto para o progresso material desmedido,
que provoca a massificação e atrela os indivíduos a uma posição cômoda, passiva, nesta
desumana sociedade de consumo.

Certamente, é preciso reagir. A escola nos ensina muitos caminhos e o mais importante
deles é, sem equívoco, escrever. Quem escreve é levado a isolar-se da agitação, a pensar, a
refletir. Aí está o mérito da redação. Quem escreve concentra-se, analisa, raciocina, critica,

4
apresenta soluções próprias. Quem escreve dá valor a si mesmo, aprende a ver em
profundidade, descobre o prestígio relativo das coisas e põe às claras os enganos e as
manobras dos que nos pretendem ludibriar.

Escrever é o mais adequado meio para a formação da personalidade de seres livres,


independentes, realizados intimamente. Escrever é lutar contra as ideias prontas, frases feitas
para substituir os pensamentos e a linguagem. Pense nisso. Dedique-se à redação,
principalmente para meditar sobre a vida, sobre os indivíduos e sobre nós mesmos. Leva-nos
a ser mais humanos, a respeitar nosso semelhante, a comunicarmo-nos com ele mais
frequentemente. Leva-nos a ver nossas ideias, claramente expressas, a serviço da cultura, da
união entre as pessoas, da valorização do que é verdadeiro e honesto, do que realmente vale o
esforço.

Todos os indivíduos, escritores ou não, são unânimes em apontar as dificuldades da


tarefa de escrever. Muitos a consideram um aprendizado demorado, dispendioso e pouco
eficiente, já que são poucos os que chegam a redigir textos de forma adequada. Outros
afirmam que escrever é lutar inutilmente contra as palavras, pois parecem nunca atingir
plenamente os objetivos pretendidos. Além de tais aspectos, no cotidiano, a língua falada
parece ocupar um espaço de maior prestígio: telejornais, arquivos de vídeo disponibilizados
na internet, chamadas de celulares, entre outros, substituem tradicionais meios de
comunicação que se utilizavam da língua escrita. Diante desse cenário, cabe a pergunta:
Ainda vale a pena escrever? De onde vem essa importância? Por que, apesar das dificuldades,
ainda há quem acredite que se deve continuar a defender a Prática de Redação?

Funções da língua escrita


a) A função de transferência

Há alguns anos, justificava-se o aprendizado da língua escrita por sua capacidade de


superar o tempo e o espaço. Com a elaboração de um poema como Os Lusíadas, em 1580,
Luís de Camões pôde permanecer vivo até hoje; escrevendo a Carta sobre o achamento do
Brasil, Pero Vaz de Caminha nos legou importante registro da história do nosso país. Essa
função da escrita é chamada função de transferência, já que marca a transferência da
realização do ato comunicativo para um outro local ou para um outro momento, motivada
pela ausência do interlocutor no momento da enunciação.

b) A função de preservação

Basta entrarmos em uma biblioteca para nos darmos conta de uma outra função da
língua escrita: o armazenamento das informações. Poderíamos aqui argumentar que têm

5
também tal possibilidade os DVDs, pen drives, a nuvem, entre outros, que podem conservar,
de forma mais dinâmica e eficiente, as mensagens que pretendemos sejam lidas em outra
época ou outro espaço. No entanto, o livro possui um manuseio não dependente de aparelhos
ou de fontes de energia e é invulnerável à rapidez das transformações tecnológicas que
fizeram, por exemplo, com que toca-fitas se tornassem obsoletos ou com que “pré-históricos”
PCs fossem substituídos por rapidíssimos palmtops...

Ilustração sobre livros digitais destaca a crescente dependência


dos indivíduos em relação aos aparelhos eletrônicos - em particular, os smartphones

c) A função de memorização

Nos telejornais, numa conferência e em muitas outras situações semelhantes, tem-se


uma outra função da língua escrita: a função de memorização. De certo modo, essa função é
semelhante à de preservação, mas com a diferença de que o que se preserva é algo que se
dirige ao momento e não ao futuro. As agendas são a prova diária dessa necessidade de
proteção contra o esquecimento que conta com a língua escrita como auxiliar inestimável.

d) A função de sócio-político-cultural

Dizia Heinrich Boll, tradutor e escritor alemão, que não havia forma mais sublime de
pertencer-se a um povo do que escrever sua língua, uma vez que há uma estreita relação entre
língua escrita e nacionalidade. Tomamos conhecimento pelos jornais, há algum tempo, da
campanha empreendida pelos franceses contra o que consideravam invasão de
americanismos em seu idioma, prova de que, mesmo as culturas consideradas “mais

6
avançadas”, preocupam-se em manter sua identidade cultural e nacional por meio da
preservação da própria língua.

e) A função artística

Ainda que a língua falada possa produzir obras de qualidade artística, não há dúvida de
que é a língua escrita o veículo das grandes obras da literatura universal.

f) A função de produção do conhecimento

A manutenção do prestígio da língua escrita se deve fundamentalmente a sua função


de produção do conhecimento e, ainda que imperfeita, é a ferramenta disponível para essa
tarefa. De fato, ao escrevermos, não estamos expressando um pensamento já formado, mas o
estamos formando à medida que escrevemos e, por isso mesmo, a língua escrita não deve
mais ser vista como “espelho do pensamento”, senão como a responsável por sua
estruturação. Os conhecimentos se vão formando simultaneamente a sua expressão
linguística. Nesse terreno, é visível a superioridade da escrita sobre a fala: esta última, pela
ausência de registro, possibilita desvios de raciocínio, incompletude, contradições etc. –
problemas mais facilmente controlados pela primeira.

7
Como se preparar de verdade
para enfrentar a Redação?

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu
posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só
poderia amá-la. Eu jogo com elas como se fossem dados: adoro a fatalidade. A palavra é tão forte
que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia. Cada palavra materializa o espírito.
Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Devemos modelar
nossas palavras até se tornarem o invólucro mais fino dos nossos pensamentos.

(LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. São Paulo: Record, 2014)

Seja como for, todas as “realidades” e as “fantasias” só podem tomar forma através da
escrita, na qual exterioridade e interioridade, mundo e ego, experiência e fantasia aparecem
compostos pela mesma matéria verbal; as visões polimorfas obtidas através dos olhos e da alma
encontram-se contidas nas linhas uniformes de caracteres minúsculos e maiúsculos, de pontos,
vírgulas, de parênteses; páginas inteiras de sinais alinhados, encostados uns nos outros como grãos
de areia, representando o espetáculo variado do mundo numa superfície sempre igual e sempre
diversa, como as dunas impelidas pelo vento do deserto.

(CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 2010)

Neste espaço introdutório, vamos enumerar alguns pressupostos básicos


necessários para uma boa produção textual, independentemente da modalidade
escolhida. Vamos, também, relacionar tais pressupostos com sugestões que lhe facilitem a
compreensão e a operacionalização. Leia e releia cada uma das orientações, sem se preocupar
com detalhes sobre a forma de viabilizá-las, na especificidade de cada tipo de texto redigido.
Seu conteúdo será retomado ao longo de todo o nosso curso.

8
• Ter o domínio correto da língua e o conhecimento de seus mecanismos básicos,
em termos de estrutura/ coerência/ vocabulário/ clareza/ correção de linguagem.

Para atingir esse pressuposto, é necessário familiarizar-se com a língua escrita culta, o
que conseguimos por meio da leitura de diversos tipos de textos e também da consulta
sistemática a gramáticas e dicionários.

• Ter a capacidade de deflagrar e de organizar ideias: saber conjugar “inspiração”


com “articulação”.

Organizar as ideias, necessariamente, opõe-se à fragmentação com que aparecem em


nossa mente. Pensamos numa velocidade e escrevemos em outra. Precisamos, então, para
escrever, por um lado permitir e incentivar o fluxo de nossas ideias, e, por outro, organizá-las,
isto é, perceber e explicitar as relações que há entre elas.

Não iniba o que vem à mente a partir da necessidade de escrever algo, seja o que for.
Muitas ideias surgem assim mesmo, repentinamente. Tente rascunhar o que for aparecendo
com a preocupação única de ser fiel ao fluxo de percepções, intuições, divagações,
sentimentos, pensamentos, deflagrados pelo tema proposto (lembre-se de que “palavra-puxa-
palavra”: você precisa conquistar um ritmo de desenvoltura e intimidade com a escrita para
que possa se sentir mais seguro e mais criativo). Transforme a escrita em um hábito e
sistematicamente anote observações, insights e opiniões sobre o que acontece de interessante
no cotidiano, seja em experiências vividas, seja em leituras, em contato com as pessoas, a TV,
o cinema...

Logo após essa fase de inspiração, vem outro momento importante da prática de
redação: a montagem do texto, a escolha do que deve ficar e do que deve sair. Como ainda
não chegou o dia da prova do ENEM, aproveite para consultar uma gramática ou um
dicionário para realizar a tarefa de articulação das ideias do seu texto. É claro que, com a
experiência da prática constante, logo a consulta será dispensável.

Com a seleção das ideias, deve-se ordenar as frases, fundamentalmente, a


partir de alguns critérios:

• Perceber a diferença entre o principal e o secundário, hierarquizando a


sequência de parágrafos de modo a tornar claro, legível e interessante o
seu texto ao leitor.
• Saber conciliar ponto de vista, opinião, tomada de posição com
argumento, fundamentação, subsídio para que aquilo que você viu,
relatou ou questionou tenha consistência fora do seu texto, isto é, possua
vínculo lógico com a realidade e, ao mesmo tempo, possa despertar o
interesse de quem lê.

9
Seja num tipo de percepção sobre um determinado objeto que pretende descrever, seja
no sentido de um evento real ou imaginário que deseja narrar, seja numa tese que gostaria de
defender, a base de um bom texto está no equilíbrio entre afirmar (ou sugerir) e subsidiar
com elementos pertinentes a afirmação.

O peso da Redação
Mais do que um aluno que demonstre capacidade de memorização e repetição acrítica
de um conjunto de informações adquiridas de forma fragmentada, as Bancas
Examinadoras procuram selecionar aquele candidato que, mobilizando sua
experiência de leitura e escrita, estabelece e reorganiza relações de sentido,
interpreta dados e fatos e elabora hipóteses explicativas para diferentes áreas de
conhecimento, sem desconsiderar a complexidade dos fatores envolvidos. É
nesse contexto que você deve compreender a prova de Redação e o peso que ela tem nas
provas.
É importante que você saiba que a prova de Redação, ao avaliar o seu modo de
escrever um texto, não procura levar em conta apenas o conhecimento da modalidade culta
da língua. Muito mais do que isso, essa prova pretende avaliar os elementos mencionados
anteriormente, considerados condições necessárias para o bom desempenho em qualquer
curso das áreas de Ciências Exatas, Biológicas, Humanas e Artes (foco de quem enfrenta, por
exemplo, o ENEM).
A prova de Redação, caro (a) aluno (a), é um instrumento de avaliação de sua forma de
escrever sobre um determinado assunto, e escrever implica processos de leitura e de
elaboração de argumentos a partir de uma determinada situação. Em geral, cada proposta é
acompanhada por instruções específicas que delineiam o recorte temático e indicam o tipo de
texto que deve ser elaborado. A propósito, algumas propostas são precedidas por um
conjunto de textos – Coletânea – que serve de subsídio para a elaboração de sua redação.
A Coletânea tem por objetivo desencadear sua reflexão sobre o tema geral da prova de
redação, recortado na proposta. Espera-se que você articule sua experiência prévia de vida,
leitura e reflexão com a leitura que faz da coletânea de textos motivadores. Como se vê, essa
coletânea não é pensada como um roteiro interpretativo, mas como um conjunto de
possibilidades diversas de abordagem da própria complexidade do tema escolhido para a
prova, com o qual, supõe-se, você já tenha tido algum contato. Além disso, os textos de apoio
que compõem a Coletânea não se definem como uma hierarquia entre os excertos, que podem
ser aproveitados de diferentes maneiras, conforme o modo com que o candidato mobiliza sua
experiência prévia em função de seu projeto de texto.
Os excertos que compõem a coletânea são sempre de natureza diversa. Podem ser
conceituais, de natureza artística e ainda de teor descritivo, expondo visões sistemáticas,

10
elaborações subjetivas e dados concretos sobre o tema da prova. Um detalhe muito
importante: não se deve copiar esses excertos, sob pena de redução da nota atribuída ao seu
texto ou, até mesmo, a anulação de sua redação.
A maior parte das propostas solicita uma dissertação (o principal objeto
de treinamento deste Curso de Redação). Nesse tipo de texto, é especialmente
importante que você, com sua experiência de leitura e reflexão, reconheça a complexidade do
recorte temático proposto, discutindo e explorando argumentos de modo a sustentar sua
perspectiva sobre o tema. Não se espera um texto que polarize opiniões, mas sim um texto
crítico sobre o recorte proposto, que indique domínio na identificação das partes, na análise
das relações e na interpretação dos sentidos.
Lembre-se de que, em todas as propostas, você deverá levar em consideração sua
leitura da coletânea. Lembre-se também de que você deverá escolher apenas uma das
propostas para a redação, indicando a modalidade textual escolhida.

11
Como os corretores avaliam
Para que um texto se configure como um bom texto, é preciso que o autor tenha uma
experiência de leitura, que delineie um projeto de texto em função de um objetivo específico e
o formule através da escrita. Nesse sentido, são três os parâmetros de avaliação
(acompanhe, mais adiante, o treino sobre esse importante tópico de nosso programa) de uma
redação: a leitura, a consistência temático-textual e a articulação escrita.

1 - Leitura

A Torre de Babel, de Bruegel, o Velho (1563)

Conta a Bíblia, no livro de Gênesis, capítulo 11, versículos 1 a 9, a história da Torre de


Babel. Num tempo remoto, “todo mundo se servia de uma mesma língua e das mesmas
palavras”. É então que as pessoas decidem construir “uma cidade e uma torre cujo ápice
penetre nos céus”. Vendo tal obra, Deus a associa ao fato de que “todos constituem um só
povo e falam uma só língua”. Decide, por isso, confundir a linguagem dos homens “para que
não mais se entendam um ao outro”.

12
Podemos interpretar – e muitos realmente o fazem – que a narrativa bíblica relata o
início do desentendimento entre os homens, relacionando parte dessa discórdia à inexistência
de uma única língua para todos. Contudo, podemos também notar que, de acordo com a
Bíblia, a diversidade entre as línguas existe para que cumpra a vontade divina, de modo que a
história da Torre de Babel pode ser positivamente avaliada. O escritor e grande pensador
italiano Umberto Eco, em sua obra A busca da língua perfeita, elogia a diversidade
linguística, vista como “obstáculo aos projetos dos conquistadores” e ao “contágio de
corrupção entre os povos”, o que garantiria o “caráter nacional” de cada um deles.
Seja como for, é fato que o longo processo de sucessivas divisões por que passaram as
comunidades humanas pré-históricas levou à grande diversidade entre as línguas. Muitas não
têm escrita, mas, como fenômeno oral, todas são dotadas do mesmo grau de complexidade;
não é correto falar em línguas gramaticalmente mais simples do que outras. A linguagem em
si é um fenômeno universalmente igual para todos os homens, ainda que se manifeste em
línguas que se fizeram historicamente desiguais.
Assim como acontece com outros traços culturais, pessoas que convivem tendem a
desenvolver modos próprios de falar. Até as famílias apresentam termos ou expressões
compreensíveis só domesticamente! Se um grupo se mantém afastado por longo tempo do
convívio com outros grupos a tendência é que desenvolva uma língua própria.
Essa explicação se refere não só ao surgimento de línguas diferentes, como também à
própria diversidade interna das línguas. Intuitivamente, todos sabemos que falantes do
mesmo idioma não o empregam de modo rigorosamente igual. Há, por exemplo, maneiras
típicas de falar relacionadas às regiões do país, às faixas etárias, aos grupos e classes sociais e
até ao estilo individual.
As línguas, enfim, manifestam a mesma capacidade humana de expressão, mas variam
bastante, tanto umas em relação às outras como internamente. Esse fenômeno pode acarretar
o inconveniente de que não possamos nos comunicar de imediato com todos os homens, mas
também pode ser encarado pelo lado positivo de permitir a todos, nações e indivíduos, o
exercício de sua especificidade.
Sobre o conceito de leitura, especificamente, várias obras nos levam a depreender que
ler, costumeiramente um ato tomado como decifração, corresponde a uma atividade de
atribuição de significado, pelo leitor. Tal ato requer de cada leitor um trabalho produtivo oral
e/ou escrito voltado para o funcionamento do texto, com possibilidade de produção textual,
tanto para assentimento quanto para discordância.
Segundo o dicionário, interpretar, entre outros significados, é “aclarar, explicar o
sentido de; tirar uma indução; ajuizar da intenção; reproduzir ou exprimir a intenção de.”
Interpretar é dar sentido à experiência, aprender a refletir em outro plano.

13
A operação de interpretação refere-se a inferências e generalizações que
podem ser feitas a partir de descrições. A interpretação não se limita à simples
tradução; supõe acrescentar sentido, ler nas entrelinhas, preencher os vazios, e,
dentro dos limites do determinado material, ampliar seu conteúdo. Interpretar
é compreender relatórios: numéricos, de figuras, gráficos, artísticos e literários.
Um famoso pensador, John Stuart Mill, disse certa vez: “O grande problema da vida é
fazer inferências.” É difícil imaginar que possamos viver um dia comum sem fazer
interpretações a partir de dados. Às vezes, temos tendências para ultrapassar os dados e
algumas pessoas tendem a deformá-los com erros grosseiros. Outras vezes, podemos
apresentar excesso de cautela, embora cautela seja desejável. Não é pouco comum a
incapacidade para interpolar e extrapolar, ver sentido íntimo e sentido ampliado durante a
leitura de um texto. Para percebermos a importância de uma atenta leitura, basta dizer que
aprender a correlacionar causa e efeito é uma importante habilidade de pensamento.
Com nosso programa de treinamento, a preparação para domínio de leitura incluirá,
dentre outros, textos não literários recolhidos semanalmente em revistas, jornais e livros
contemporâneos. Paralelamente, fontes de leitura como outdoors, folhetos publicitários e/ou
explicativos, vídeos, fotografias, obras de artes plásticas, peças musicais, entre outras, são
recomendadas como textos que, embora não verbais, devem ser objeto de análise.
Recomendamos também que filmes, vídeos e peças de teatro sejam tomados como
instrumentos para leitura. O entrelinhas tem um espaço reservado para esse importante
momento de preparação para você!
Em seu texto, você deve elaborar pontos de contato com a leitura dos textos
motivadores (da Coletânea). É preciso mostrar a relevância desses pontos para o seu projeto
de texto. Se você simplesmente reproduzir os textos (ou partes deles) em forma de colagem,
sem elaboração dos elementos selecionados, perderá muitos pontos. Se você desconsiderar
completamente a coletânea, sua redação poderá ser anulada.

2 - Consistência temático-textual

O texto a ser elaborado deve revelar conteúdo que mantenha relação com o recorte
temático da proposta. Tangenciar o recorte temático implica grande perda de
pontos. Fugir completamente ao recorte implica anulação de sua redação.
Você deve elaborar seu projeto de texto de acordo com as características do tipo de
texto da proposta escolhida. Se seu texto apresentar apenas mínimos elementos que
caracterizem o tipo de texto exigido, você perderá muitos pontos. Na ausência de elementos
estruturadores da modalidade textual exigida, sua redação será anulada.

14
3 - Articulação escrita

Espera-se que você elabore um texto cuja leitura seja fluida, resultante de uma
estruturação sintático-semântica bem articulada pelos recursos coesivos. A produção escrita,
aqui referida, trata da argumentatividade, da concordância nominal e verbo-nominal, da
conexão de constituintes intrassentenciais, intersentenciais, e macrodiscursivos, da
referenciação, da coesão lexical, da pontuação, e da ortografia. Os diferentes recursos da
escrita fazem com que um texto seja mais do que uma soma de frases, que seja
um conjunto consistente, bem organizado, pessoal, polêmico, técnico...
Reconhecer esses recursos da escrita mostra que você tem uma experiência
consistente de leitura de um texto escrito em língua portuguesa.
O candidato deve demonstrar domínio na exposição de seu pensamento por escrito,
através de descrições, explicações, justificativas, exemplificações, comparações etc. Espera-se
ainda que você saiba redigir o resumo de um texto dado, selecionando as informações e
organizando-as de acordo com sua importância para objetivos determinados.

15
O domínio da
Competência Linguística

Como já destacado nas páginas anteriores deste Caderno de Redação, para interpretar
corretamente qualquer texto, é preciso refletir sobre algumas operações cognitivas que, no
uso cotidiano da linguagem, os falantes realizam de maneira quase sempre inconsciente ou
intuitiva. Esses processos revelam, na verdade, um sofisticado trabalho mental. Afinal, os
significados das palavras estão definidos a priori ou são construídos na situação de uso? Se
uma mesma palavra pode se referir a fenômenos distintos, como o interlocutor é capaz de
perceber o sentido pretendido pelo falante? Se há mais de uma palavra para designar uma
mesma ideia, o que nos faz optar por uma palavra e não por outra?
De fato, o problema sobre a significação, ou seja, sobre os mecanismos por meio dos
quais a língua significa o mundo, foi desde sempre objetivo de investigação dos estudiosos da
linguagem. As ênfases e as perspectivas de análise sobre a linguagem verbal e as línguas
foram se modificando ao longo dos estudos linguísticos. Isso se deveu também às mudanças
de percepção dos estudiosos sobre as relações entre a linguagem e a maneira de o ser humano
se relacionar com o mundo. Houve, por exemplo, vertentes de estudo que conceberam a
linguagem como representação pura e simples da realidade, como se as palavras se
aplicassem como etiquetas a um mundo previamente ordenado. Para outros, a linguagem
seria parte do processo de compreensão e ordenação da realidade pelo ser humano e teria
influência direta na maneira como este a perceberia. Povos com línguas distintas veriam o
mundo por meio de lentes diferentes; distinguiriam outra gama de cores, ordenariam as
quantidades por meio de variados sistemas de contagem, entre outros aspectos.

16
Apesar de enorme variedade de visões sobre a produção de sentidos de linguagem, os
esforços de investigação relacionados a esse campo foram reunidos em um domínio do
conhecimento chamado Semântica.

Semântica é a área do saber que estuda a significação, a relação das


palavras com o mundo e como se produzem os sentidos na linguagem verbal.
Em nosso treinamento, teceremos considerações sobre aspectos relacionados ao nível
semântico de um texto, ou seja, que diz respeito ao plano das significações da linguagem.
Essa abordagem descreve as línguas naturais como sistemas constituídos de elementos
significantes, isto é, dotados de capacidade de significar. Os usuários da língua aprendem
desde muito cedo a considerar o contexto em que os enunciados são produzidos, em sua
atrefa de interpretá-los adequadamente. Essa operação de interpretação é feita contínua e
inconscientemente, reveladora da sensibilidade dos falantes para o fato de que a linguagem
não tem uma significação imanente e imutável. De fato, o sentido da linguagem está
sempre vinculado a fatores de natureza pragmática (de uso efetivo na prática
cotidiana). Por isso, processos seletivos como o ENEM mostram-se diferentes dos exames
tradicionais, pois buscará verificar se você é capaz de usar os conhecimentos em situações
reais da sua vida em sociedade.
Por fim, as competências e habilidades fundamentais da área de
conhecimento de Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias estão contidas em:
I. Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho
e em outros contextos relevantes para sua vida;
II. Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de
acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais;
III. Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria
vida, integradora social e formadora da identidade;
IV. Compreender a Arte como saber cultural e estético gerador de significação e
integrador da organização do mundo e da própria identidade;
V. Analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens,
relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,

17
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de
produção e recepção;
VI. Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como
meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados,
expressão, comunicação e informação;
VII. Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas
manifestações específicas.

18
Mecanismos para elaboração
de um projeto de texto

É costume definir-se textualidade como o conjunto de aspectos que tornam o texto


uma unidade semântica e não apenas uma mera sequência de frases. Nesse sentido, a
coerência é considerada fator básico para a textualidade porque é responsável pelo sentido do
texto. Ela envolve não somente fatores lógicos e semânticos (de criação de significado), mas
também cognitivos, pois depende do partilhar de conhecimento entre os interlocutores para a
devida organização das ideias.
Para iniciarmos nosso treinamento com base na conhecida pergunta que vem à mente
de candidatos ao ENEM – Como organizar as ideias? - , passemos ao estudo dos
princípios reguladores do sentido do texto. Conhecidos como mecanismos de
estruturação textual, os Fatores da Textualidade respondem por um conjunto de regras
que, além da Coesão e da Coerência, contribuem para tornar uma dissertação
linguisticamente organizada e argumentativamente mais convincente. Na verdade, a eficácia
do texto dissertativo que você deve compor não dependerá apenas da estrutura linguística
nem apenas de raciocínios bem construídos, mas também de outros fatores, tais como:

• as intenções (projetos) de leitura do corretor;


• os conhecimentos prévios do corretor sobre o tema;
• a relação que o corretor tem com você, autor;
• a posição social do corretor em relação à que você ocupa;
• a percepção do corretor sobre o jogo político e ideológico envolvido no
texto;
• o domínio que o corretor avaliará dos recursos da língua e do gênero
textual lido que você apresentou.

19
A intenção é que orienta todo o processo de composição de um texto. Todo
texto quer convencer, impressionar, solicitar, criticar e visa produzir os efeitos
correspondentes no interlocutor, tornando aceitável o ato que enuncia.
Escolha lexical/seleção vocabular
Articulação dos enunciados e validade dos argumentos

Grau mínimo de organização estético-visual do texto e referente às


expectativas do leitor. Como um “pacto de leitura”, sua redação deve permitir
pressuposições e inferências feitas a partir do conhecimento das formas
discursivas.

Pressuposto= previsão de ideias


Inferência= interpretação dedutiva

O contexto pode oferecer elementos para que o leitor compreenda a


mensagem. Para isso, o texto deve se adequar à situação sócio-comunicativa, que
diz respeito à relevância e à pertinência das ideias. Assim, algo que poderia ser
visto como incoerência e falta de textualidade, em determinada situação, é visto
como qualidade em outra.
Tolerância pragmática
Incoerência proposital

Diretamente ligada à quantidade e à qualidade de ideias, baseia-se na


relação entre informações novas e informações já apresentadas.
Progressão das ideias
Continuidade temática

Implica o conhecimento prévio de outros textos para a compreensão de


determinada mensagem. Dessa forma, a interpretação pode assumir várias
formas, que vão desde a citação literal de palavras de outrem, com indicação de
fonte, até alusões mais sutis ou imitação de um estilo discursivo consagrado.

Citação, analogia e argumentação histórica

20
TEXTOS MOTIVADORES

“Ao longo da vida fazemos muitas escolhas, mas é preciso reconhecer que uma das mais
difíceis é a escolha profissional. Os jovens, que mal saíram da adolescência, precisam tomar uma
decisão que pode definir seu futuro. Além disso, são bombardeados por informações sobre as
melhores profissões para trabalhar e ainda sofrem com a pressão dos pais e as influências de seus
grupos de amizades.
Em alguns casos, a escolha da profissão ocorre ainda na infância. Brincadeiras e sonhos
infantis acabam se tornando um objetivo na vida dos adolescentes. A pergunta "O que você deseja ser
quando crescer?" continua sendo comum na vida das crianças e já vem repleta de expectativas dos
adultos. Elas podem optar pela profissão dos pais ou, conforme crescem, vão alternando as
preferências de acordo com o que aprendem sobre cada uma.
É positivo para os jovens receberem incentivos dos pais para seguirem os próprios desejos.
Contudo, esse desprendimento não é tarefa fácil para os pais que pensam em um futuro próspero para
seus filhos, visto que a prosperidade está, muitas vezes, relacionada a profissões reconhecidas e
valorizadas socialmente. Assim, alguns jovens adultos terminam por assumir um desejo que não lhes
pertence e logo se frustram no início do curso superior.”

Fonte: http://www.personare.com.br/os-jovens-e-o-dilema-da-escolha-profissional-m3361

“A escolha da profissão é um processo que deve ser feito ao longo do ensino médio. O jovem
deve ter uma postura ativa, buscar informações, conhecer e visitar o profissional no seu ambiente de
trabalho.” (Selena Garcia Greca, psicóloga especialista em orientação profissional e desenvolvimento
de carreira)

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/vida-na-universidade/vestibular/os-tres-pilares-que-
sustentam-a-escolha-da-profissao-dwwue4lum7it1lad4apn7oxn2

21
“As relações entre o trabalho e a família ao longo da história são marcadas por inúmeras
mudanças. Há alguns séculos, antes do marco da Revolução Industrial, o trabalho era transmitido
através das gerações de uma família, sem grandes questionamentos. Em muitos casos, o sobrenome
da família era designado pelo nome da ocupação familiar, o que acabava por marcar fortemente o
pertencimento daquele membro àquela família. De acordo com Barata e Bueno (1999), na obra
intitulada ‘Dicionário das famílias brasileiras’, existem diversos sobrenomes tomados de profissões,
principalmente aqueles de origem germânica, como ‘Zimmermann’ (que significa carpinteiro,
marceneiro), ‘Schmidt’ (ferreiro), ‘Schröder’ (alfaiate) e ‘Müller’ (moleiro).
Enquanto a subsistência da sociedade era baseada em atividades essenciais como agricultura e
comércio, as famílias ficavam fechadas em si sem a necessidade de troca. A família servia, ela própria,
como grupo profissional (Durkheim, 1984). Entretanto, a transição do trabalho no campo para o
modo de produção capitalista faz com que o trabalho emigre da esfera privada para a esfera pública. A
nova ordem social, inaugurada com o advento do capitalismo, promove o desenvolvimento do
trabalho assalariado, que modifica a função econômica da família, assim como a relação desta com o
trabalho.
É, principalmente, a partir da Revolução Industrial que passa a prevalecer a ideia de ‘o homem
certo no lugar certo’, visando a uma maior produtividade. Até então, não existia a possibilidade de
uma escolha profissional, já que os filhos acabavam por seguir o ofício do seu grupo familiar. De
acordo com Bock (2006), a escolha profissional só assume uma maior importância quando o modo de
produção capitalista instala-se de forma definitiva.
No contexto de trabalho contemporâneo, surgiram centenas de profissões, enquanto muitas
outras deixaram de existir. A noção de trabalho configura-se não mais como uma progressão contínua
e hierárquica dentro de uma organização, pois outras necessidades se impõem no mercado de
trabalho, que, por sua vez, já não é mais como aquele da modernidade sólida e do capitalismo pesado -
termos cunhados por Bauman (2001) para denominar a era do apogeu da industrialização. Nesse
estágio, o trabalho era caracterizado como uma rotina em grandes fábricas; o capital estava enraizado
no solo e os trabalhadores sentiam-se seguros em relação a seus empregos. O tempo conferido ao
capitalismo sólido era de longo prazo.” (Maria Elisa Grijó Guahyba de Almeida e Andrea Seixas
Magalhães, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil.)

Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902011000200008

Fonte: http://www.andredahmer.com.br/

22
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos
ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita
formal da língua portuguesa sobre o tema “Desafios dos jovens na escolha da
profissão”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de
seu ponto de vista.

INSTRUÇÕES PARA A REDAÇÃO


1. O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
2. O texto definitivo deve ser escrito à tinta preta, na folha própria, em até 30 linhas.
3. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá
o número de linhas copiadas desconsiderado para a contagem de linhas.

*Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
- tiver até 7 (sete) linhas escritas, sendo considerada “texto insuficiente”.
- fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
- apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto.
- apresentar nome, assinatura, rubrica ou outras formas de identificação no espaço destinado ao texto.

GUIA DE TREINAMENTO | AULA 1

23
24

Potrebbero piacerti anche