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HELENA SORAYA LAMB

TCC- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SE XUAL


Todo trabalho, em cada uma das etapas, será submetido às ferramentas de
varredura CULTURA
para a detecção DAdeCULPABILIZAÇÃO
plágio. Assim caso seja detectado
DA VÍTIMA percentual
E acima
do tolerado, seu trabalho será invalidado em qualquer uma das atividades. Antes de
começar oNEUTRALIZAÇÃO
trabalho, leia o Manual do DAAlunoCONDUTA
e Manual doDO AGENTE
Plágio para compreender
todos itens obrigatórios e os critérios utilizados na correção.

Jacareí
2018
HELENA SORAYA LAMB

TCC- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


CULTURA DA CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA E
NEUTRALIZAÇÃO DA CONDUTA DO AGENTE NO
CONTEXTO SOCIAL ATUAL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Anhanguera de Jacareí, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Direito

Orientador: HELENA ROZA

Jacareí
2018
HELENA SORAYA LAMB

TCC- DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


CULTURA DA CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA E
NEUTRALIZAÇÃO DA CONDUTA DO AGENTE NO
CONTEXTO SOCIAL ATUAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Faculdade Anhanguera de Jacareí, como
requisito parcial para a obtenção do título de
graduado em Direito

Orientador: HELENA ROZA

BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Jacareí, 01 de Setembro de 2018.


Dedico este trabalho...

A todas as mulheres e homens que não


se calam diante de covardia e injustiça.
Sobretudo aos juristas, psicólogos,
professores, policiais, ONGs e todos que
lutam para que dignidade sexual não seja
uma mera formalidade jurídica.
AGRADECIMENTOS(OPCIONAL)

Agradeço a Deus e aos espíritos de luz que me permitiram galgar cada degrau
desses árduos anos de graduação que me transformaram em um ser humano
melhor.

Minha eterna gratidão aos meus pais, irmãs, sobrinhas e cunhados que me
apoiaram em cada minuto na realização desse trabalho e não desistiram de mim,
mesmo nos momentos em que eu mesma quase o fiz. Aos meus amigos e colegas
de grupo que compartilharam cada luta e cada vitória, tornando a caminhada mais
leve e feliz.

Ademais, meus mais calorosos agradecimentos aos queridos mestres que me


guiaram nesta senda do conhecimento, partilhando com todo o carinho e devoção
uma parte do vasto conhecimento que carregam, formando mais que operadores do
direito, e sim seres humanos mais críticos, justos e preparados para lutarem pela
concretização da justiça

Agradeço, especialmente, aos professores Rodrigo José Fuziger, que ministrou a


disciplina de Direito Penal nos cinco anos de graduação da maneira mais brilhante e
profissional que poderíamos ter. Aos Professores Robson Alves Ferri e Cristiano
Joukhadar pela contribuição em Processo Penal que tornaram esse trabalho
possível.

A todos que de alguma forma contribuíram para o deslinde desse projeto, meu mais
sincero muito obrigada!
Lamb, Helena Soraya. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual: Cultura da
Culpabilização da Vítima e Neutralização da Conduta do Agente. 2018. Número total
de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade
Anhanguera de Jacareí, Jacareí, 2018.

RESUMO
The present instrument deals with the propagation of the so-called "rape
culture" whose reflexes are commonly seen whenever a new case of rape occurs. In
this archaic and macho paradigm, the behavior of the victim, his clothes and his
habits justify the violation of his sexual dignity. However, what has become evident is
that individuals are harassed daily, and overwhelmingly, the victims are women in the
most common activities: in the house, in the collective, in the schools, in the work,
etc., Therefore, this work invites the reasoning, the light of victimology, whether the
fuse is the victim and its behavior or the moral backwardness of society.

Palavras-chave: rape; 2;rape culture 3; Palavra 4; Palavra 5.


LAMB, Helena Soraya. CRIMES AGAINST SEXUAL DIGNITY:
CULTURE OF VICTIM CLAUSE AND NEUTRALIZATION OF AGENT CONDUCT.
2018. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Direito) – Faculdade Anhanguera de Jacareí, Jacareí , 2018.

ABSTRACT

In view of the systematic increase in crimes against sexual dignity and the
growing naturalization of the conduct of the aggressor by society, it aims to present,
by the present instrument, a solution, under the light of victimology, to the
hierarchical society format in which the woman is put as the property of man, as a
facilitating element for increasing the violation of his sexual dignity, including rape
and other crimes of a sexual nature.

Key-words: Word 1; Word 2; Word 3; Word 4; Word 5.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES(UTILIZADA SOMENTE QUANDO HÁ ILUSTRAÇÕES
NO TCC)

Figura 1 – Título da figura.........................................................................................00


Figura 2 – Título da figura.........................................................................................00
Figura 3 – Título da figura.........................................................................................00
Figura 4 – Título da figura.........................................................................................00
Figura 5 – Título da figura.........................................................................................00
LISTA DE TABELAS(UTILIZADA SOMENTE QUANDO HÁ TABELAS NO TCC)

Tabela 1 – Título da tabela........................................................................................00


Tabela 2 – Título da tabela........................................................................................00
Tabela 3 – Título da tabela........................................................................................00
Tabela 4 – Título da tabela........................................................................................00
Tabela 5 – Título da tabela........................................................................................00
LISTA DE QUADROS(UTILIZAR SOMENTE SE HOUVER QUADROS NO CORPO
DO TCC)

Quadro 1 - Níveis do trabalho monográfico .............................................................00


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS(UTILIZADA SOMENTE QUANDO HÁ
ABREVIATURAS E SIGLAS NO TCC)

IPEA -Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................13
2. VALORES REMANESCENTE DO PERÍODO PATRIARCAL E SEUS
REFLEXOS NA CULTURA DA CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA.............................15
3. BIBLIOGRAFIA...................................................................................................20
13

1. INTRODUÇÃO

Embora em meados de 2018, a sociedade tenha logrado êxito em muitas


áreas cientificas e sociais e, não obstante tenhamos evoluído em muitos sentidos, o
que ainda se observa é o crescimento da denominada cultura do estupro, onde
pessoas são violadas sexualmente diariamente nas mais diversas situações e a
culpa, não raramente, recaem justamente sobre a vítima que, segundo padrões
machistas e misóginos da sociedade, contribuiu para o ocorrido, seja com suas
vestes, seja com seu comportamento.
Justificou-se a oferta do presente trabalho por inferir necessário que seja
trabalhado o aspecto simbólico da violência contra a mulher, no atual cenário em
que os valores patriarcais da nossa cultura se renova com várias linguagens,
atualmente, inclusive, como moral religiosa, bons costumes e etc., Evidenciou-se,
através deste instrumento que esses valores se assentam claramente no princípio
da autoridade e de hierarquia do homem sobre a mulher que distanciam, inclusive, o
mundo real em que vive a mulher, posto que mais de 48% das mulheres brasileiras
estão na força de trabalho, mas que as torna simbolicamente inferior ao homem.Isto
posto, inferiu-se digno de consideração a presente proposta por trazer à baila a
questão do valor que se busca proteger: o deslocamento radical dos costumes em
prol da dignidade humana em matéria sexual, respaldado na lei 12015/09.
Ante ao exposto, o presente instrumento visou responder até que ponto a
sociedade patriarcal e machista contribui para a violação dos direitos humanos
sobretudo das mulheres e qual a solução para tal problemática.
O objetivo precípuo deste trabalho foi estudar a clara relação entre o
patriarcado e a violência contra a mulher, sobretudo a sexual, bem como analisar
a necessidade de conscientização dos membros das Instituições Policiais acerca
da culpabilização da vítima, objeto do primeiro capítulo. Ademais, visou relacionar
o comportamento do criminoso e da vítima, à luz da criminologia, tratado no
segundo capítulo deste manuscrito
Ademais, visou apresentar pesquisas acerca do tema à luz de
doutrinadores, artigos que discorrem sobre o assunto, bem como relatos de
vítimas e voluntários de ONGs voltadas à proteção de vítimas de violência sexual,
donde se consolidou o terceiro capítulo.
14

Versou acerca do tratamento disposto pela Lei e por doutrinadores, bem


como pela criminologia, à medida que analisará o conceito de vítima e sua
relação direta com o assunto.Ademais, houve exposições de sugestões técnicas
no sentido de sanar a questão proposta pelo trabalho, qual seja: a cultura
denominada “cultura do estupro”, tema, outrossim, do terceiro capítulo.
Ante ao exposto, segue desenvolvimento do manuscrito.
15

2. VALORES REMANESCENTES DO PERÍODO PATRIARCAL E SEUS


REFLEXOS NA CULTURA DE CULPABILIZAÇÃO DA VÍTIMA

Precipuamente, ao tratar sobre os reflexos do período patriarcal, faz mister


mencionar que a mulher sempre esteve em desvantagem em relação ao homem no
que tange as relações sociais. O que se observa é que o mundo, numa perspectiva
literal, sempre pertenceu aos homens e que as mulheres apenas participam dele na
posição de colaboradora, complementadora, mas, raramente, como indivíduos
dotados de personalidade em si. Nesse contexto, dispõe Simone de Beauvoir
(1980,81):
O mundo sempre pertenceu aos machos. Nenhuma das razões que nos
propuseram para explicá-lo nos pareceu suficiente. É revendo à luz da
filosofia existencial os dados da pré-história e da etnografia que poderemos
compreender como a hierarquia dos sexos se estabeleceu. Já verificamos
que, quando duas categorias humanas se acham em presença, cada uma
delas quer impor à outra sua soberania; quando ambas estão em estado de
sustentar a reivindicação, cria-se entre elas, seja na hostilidade, seja na
amizade, sempre na tensão, uma relação de reciprocidade. Se uma das
duas é privilegiada, ela domina a outra e tudo faz para mantê-la na
opressão. Compreende-se, pois que o homem tenha tido vontade de
dominar a mulher. Mas que privilégio lhe permitiu satisfazer essa vontade?
(BEAUVOIR, 1980, 81).

Congruente se faz mencionar que a disparidade de gênero e de sexo é tão


antiga quanto à própria idéia de sociedade, fortalecida, não raro pela instituição
familiar, em que pese à função desta no pleno desenvolvimento intelectual do
individuo; compromissos referentes a tarefas domesticas são delegadas conforme
o sexo, sendo que a mulher sempre foi a responsável, desde cedo, pelo zelo e
cuidado com a família e os filhos, sendo privada, não raro de buscar sua própria
independência financeira. Neste sentido, dispõe Maria Berenice Dias:
Na sociedade ocidental, existe um modelo preestabelecido de
conduta. Ao homem cabe o espaço público e à mulher, o espaço privado,
nos limites da família e do lar. As mulheres recebem educação diferenciada,
pois necessitam ser mais controladas, mais limitadas as suas aspirações e
desejos. Isso enseja a formação de dois mundos: um, de dominação,
externo, produtor; outro, de submissão, interno, reprodutor. A essa distinção
estão associados papeis de gênero de homens e mulheres: ele provendo a
família e ela cuidando do lar, cada um desempenhado na sua função.
(DIAS, 2004a, p. 44).
16

Mister se faz mencionar a idéia enraizada de que a mulher, em decorrência


de sua capacidade reprodutiva, tem seu valor laboral questionado, posto que neste
período deva se afastar de suas atividades, reforçando a discriminação de gênero,
inserindo a mulher em um contexto de submissão e inferioridade ao homem, valores
mais uma vez reforçados pelo modelo de família patriarcal onde o homem é o
provedor, enquanto a mulher é a cuidadora.
É sabido que a legislação trabalhista atual visa proteger a garantia do
emprego da mulher que engravida na constância do contrato de trabalho
indeterminado, em consonância com os direitos e garantias previstos no artigo 5º da
Carta Magna. Evidente se mostra que se não houvesse a proteção garantida pela
legislação para o emprego da gestante, o fato da gestante ter desempenhado
satisfatoriamente suas funções antes da gestação, não seria óbice ao trabalhador
em dispensá-la.
Nesta senda, Alice Monteiro de Barros afirma que a garantia de emprego da
gestante tem o objetivo de impedir “que a função fisiológica da mulher no processo
de reprodução constitua causa de discriminação, com embaraços ao exercício de
seu direito ao trabalho.” (BARROS, 2009, p. 1.114). Continua a referida autora que
“a finalidade da estabilidade provisória é preservar o emprego, permitindo que a
empregada retorne ao trabalho, demonstrando que a gravidez não é doença, mas
um estado fisiológico.” (BARROS, 2009, p. 1.117).
Observada a perspectiva histórica, restou evidenciado, conforme preceitua
Pinheiro, o enraizamento do preconceito de gênero, visto que as grandes
sociedades sempre se edificaram na figura do homem como centro, resultando na
subalternidade da figura feminina e a conseqüente negligencia dos direitos destas,
sempre figurando como, já mencionado nesse manuscrito, como a colaboradora do
homem, como se deste fosse um instrumento. (PINHEIRO, 2012, p. 15).
Vale frisar que mesmo na seara da Legislação Civil, a ampliação dos direitos
da mulher dentro da sociedade e da própria família ainda é muito recente. O código
de Bevilacqua versou sobre a família como sendo uma instituição estritamente
patriarcal, onde mulher e filhos eram sujeitos ao poder limitador e intimidador do pai,
sobre o qual recaia a maioria dos direitos, inclusive sobre a prole e o patrimônio. A
mulher, por sua vez, era considerada relativamente incapaz, necessitando da
representação do marido para os atos da vida cível. Neste sentido, discorre Venosa:
17

Os Códigos elaborados a partir do século XIX dedicaram normas sobre a família.


Naquela época, a sociedade era eminentemente rural e patriarcal, guardando
traços profundos da família da Antiguidade. A mulher dedicava-se aos afazeres
domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos direitos do homem. O marido era
considerado o chefe, o administrador e o representante da sociedade conjugal.
Nosso Código Civil de 1916  foi fruto direto dessa época. (VENOSA, 2014, p. 16).

Sob a égide do ordenamento de 1916, somente ao homem coube o direito de


romper o matrimonio, dispondo, ademais, do direito de repudiar a esposa, caso esta
fosse estéril ou adúltera. O artigo 233 deste revogado Código, como já mencionado,
inseriu a mulher como mera coadjuvante nas relações familiares, cabendo a esta,
1
tão somente o papel de ajudadora.
Neste sentido, discorre Martha Solange Scherer Saad, "na classificação dos
direitos e deveres de cada cônjuge, a diferença de tratamento entre o marido,
chefe da sociedade conjugal, e a mulher, sua colaboradora, ficava evidente"
(SAAD, 2010, p. 27).
Foi somente com o advento do Código Reale, em 2002, que a mulher
recebeu efetivo respaldo legal no que tange ao espaço que ocupa na sociedade,
isso se deu em decorrência do clamor feminino pela equiparação dos direitos,
surgindo, neste período, os movimentos feministas, que, dentre outras conquistas,
alcançaram o direito ao voto, até então reclinado às mulheres.
Contudo, se faz mister frisar, numa análise invertida da linha do tempo
legislativa, que tal avanço na Lei 10.406/2002, a saber o Código Civil de 2002,
somente fora possível sob a égide do caráter de igualdade de direito concedidos
pela Constituição cidadã de 1988.
No ordenamento pátrio, o legislador constitucional, em decorrência do fim
de um período de abusos atrelados a Ditadura, trouxe a baila a necessidade de
tutelar a dignidade humana bem como vedar o retrocesso, tratando de vincular a
igualdade de gênero a própria idéia do principio da Dignidade Humana na figura
do artigo 5:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

1
BRASIL. Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L3071.htm>.
18

Contudo, importante se fez mencionar que tal feito resultou,


precipuamente, da intensa participação das mulheres que buscaram romper os
paradigmas machistas daquela época, se manifestando através de cartas
enviadas aos constituintes, onde clamaram pelo rigor na proteção do gênero,
movimento iniciado no fim dos anos 70, período que fora criado o CNDM,
Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres.
Na seara da proteção da dignidade sexual dos indivíduos, escopo deste
manuscrito, vale pontuar que a referida carta trouxe menção expressa ao tema,
pleiteando, no inciso 3 “considerar como estupro qualquer ato ou relação sexual
forçada, independente da relação do agressor com a vítima, de ser esta virgem ou
não e do local em que ocorra.” [ CITATION Con85 \l 1046 ]
Ademais, no titulo 5 da mencionada carta, fora requerido a retirada da
expressão “Mulher Honesta” do Código Penal, cujo teor visava desclassificar os
crimes sexuais cometidos contra mulheres que mantinham condutas
consideradas impróprias à época. Sobre a polêmica normativa, prelecionou
Nelson Hungria: “mulher honesta é "não somente aquela cuja conduta, sob o
ponto de vista da moral, é irrepreensível, senão também aquela que ainda não
rompeu com o minimum de decência exigido pelos bons costumes"
(in Comentários ao Código Penal, v.8, 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 1981,
p.139).
Em se tratado de legislação muito anterior a atual constituição federal, cuja
vigência se dá até os dias atuais, não é de se estranhar que o Código Penal tenha
enfrentado diversas reformas, visando adequar-se aos novos fatos sociais e, com
o tema de crimes de cunho sexual não foi diferente. Ao que refere ao titulo três da
carta das mulheres, vale mencionar que até então, a legislação penal tratava do
assunto em titulo denominado “Crimes contra os Costumes”. Ou seja, a legislação
não visava preservar a dignidade intrínseca ao ser humano, e sim, regrar as
relações para que fosse seguido um padrão considerado correto a época.
Tanto é verdade, que ao marido era permitido ter relação sexual com sua
esposa, independente de seu consentimento, posto que não se tratasse de
relação sexual ilícita, afinal era decorrente do casamento, além do fato que a
cópula carnal era dever recíproco dos cônjuges. Contudo, mesmo após a
alteração da legislação penal sobre o assunto, continuou a doutrina, à época, a
19

discordar quanto a configuração do estupro onde marido figurava como agente


ativo.
Neste sentindo, Hungria e Noronha discordavam que houvesse crimes, a
não ser nos casos em que haveria ponderáveis razões para a recusa da mulher
ao coito (marido atacado de moléstia venérea, por exemplo) 2. Fragoso não
admitia a possibilidade do crime de estupro contra a mulher e Bento de Faria que
considerava na expressão conjunção carnal outras espécies de coito, só via a
possibilidade de delito quanto aos atos de libertinagem diversos da cópula normal,
e em casos que o marido é portador de doenças venéreas. 3 Por sua vez, Celso
Delmanto entendeu ocorrer estupro sempre que houver constrangimento do
marido para a realização da conjunção carnal, por constituir o fato, abuso de
direito.4
Ainda numa análise temporal do tratamento jurídico e doutrinário, não se
pode olvidar que a instauração da CPMI da Exploração Sexual de 2003, criados
pelo Senador Arthur Virgílio Neto e pela  Deputada Laura Carneiro foi o embrião
da Lei 12.015, de 07 de Agosto de 2009 que alterou o Título VI do Código Penal,
removendo a tão controvertida expressão Crimes Contra os Costumes e a
inserção da expressão Crimes Contra a Dignidade Sexual.
Ademais, tal alteração também se estendeu ao título I do mencionado
capítulo que contava com cinco tipos penais, a saber: estupro, atentado violento
ao pudor, posse sexual mediante fraude e assédio sexual. Antes da reforma,
somente mulheres poderiam figurar no pólo passivo de um crime sexual, e no
pólo ativo, somente os homens, admitindo a figura da mulher neste pólo, apenas
como participe ou co-autora. Neste contexto, somente era considerado estupro a
cópula sexual pênis- vagina, enquanto, demais condutas eram consideradas
atentado violento ao pudor. Vale mencionar, contudo que a reforma do Código
Penal não representa abolitio criminis destes tipos penas, sendo que tão somente
fora incorporado no mesmo crime de estupro. Destarte, o agente que comete
copula vaginal e anal no mesmo ato, responde tão somente por um tipo penal, a
saber, estupro, conquanto que outrora, responderia em concurso material.

2
Respectivamente: Comentários. Ob. Cit.v.8, p.114-115: e NORONHA, E. Magalhães.Direito Penal 2.
Ed. São Paulo: Saraiva, 1964.v 3, p. 130-132
3
Código penal brasileiro comentado. Rio de Janeiro: Record, 1959.v.5,p15
4
Delmanto, Celso. Exercício e abuso de direito no crime de Estupro. RT 536/258
20

Conquanto o exponencial avanço na legislação no que se refere ao


tratamento de crimes de natureza sexual, o que se percebeu, através de
recorrentes casos veiculados pela mídia em suas diversas manifestações, foi a
crescente vulnerabilidade da mulher aos crimes de natureza sexual, respaldada,
não raro, pelo arcaico hábito de se vincular a conduta da vítima como fator
estimulante de tal violação, configurando, pois a chamada “cultura de estupro” no
país. Para Jolúzia Batista, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria
(Cfemea), e Junéia Martins Batista, representante da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), essa cultura se revela na banalização do crime, aceito e
tolerado por parcela importante da população. Essa banalização faz com que a
mulher vítima de estupro sinta medo e vergonha de denunciar a agressão sofrida,
avaliou. [ CITATION Red16 \l 1046 ]
Para Luiz Regis Prado (2014) a nova definição legal o bem juridicamente
tutelado é a liberdade sexual da pessoa em sentido amplo, incluindo-se aí sua
integridade, sua autonomia sexual e a inviolabilidade carnal. Ou seja, resguarda-
se o livre consentimento da pessoa, em matéria sexual. Entretanto, ainda que se
verifique grande evolução na proteção da dignidade e da liberdade dos
indivíduos no domínio da própria sexualidade, ainda persiste, em pleno século
XXI, a cultura primitiva do machismo, propulsora do estupro e de outras formas
de violência, como a exploração sexual, praticadas, sobretudo, contra mulheres,
crianças e adolescentes. O mais recente caso a chocar a sociedade brasileira foi
o estupro coletivo cometido contra uma jovem de 16 anos, em uma favela do Rio
de Janeiro. Casos dessa natureza, infelizmente, não são esporádicos, ainda que
não alcancem o mesmo destaque na mídia nacional.
A mera percepção da ocorrência de uma cultura sexual e depravada que
naturaliza esse tipo de conduta abusiva, fundamentando tais episódios e
invertendo a culpa do estupro, permite sublimar o discurso puramente acusatória
e sexista de crimes desta natureza que visa definir estupradores como
determinado tipos de pessoas – e se consiga inferir as condições em que ocorre o
abuso sexual sistematico de crianças, meninas e mulheres.
Ocorre que mulheres são, na sociedade moderna, arrimos de família da
mesma forma que homens; elas trabalham com indivíduos do sexo oposto, utiliza
de coletivos com estes, transitam pelas ruas nos mais diversos horários,
usufruindo de seu direito de liberdade.
21

O problema começa quando nessas circunstâncias, a vítima é reduzida a


objeto de indivíduos que entendem essa liberdade como direito de molestá-la e,
não raro matá-la. Ademais, como se não bastasse suportar tal fardo, quando tal
fato se torna público, vozes se levantam para questionar o motivo de tal
exposição. Questionam o motivo de a mulher estar na rua naquele horário e com
determinada roupa, como seu houvesse, horário permitido para que violências
dessa natureza ocorram.
Pois bem, ocorre que o violador nem sempre é um desconhecido que ataca
sua vítima em um coletivo, por achar sua roupa “insinuante”, visto que, não raro,
as agressões ocorrem dentro do círculo familiar: pais, padrastos, irmãos e demais
parentes figuram, rotineiramente, como agentes ativos de estupros, inclusive
contra crianças; evidenciado, deste modo, que a conduta da vítima não tem
ligação absoluta com a conduta do autor.
Nadai (2012) nota, em sua leitura dos boletins de ocorrência e inquéritos
policiais, que são as violações perpetradas por desconhecidos que merecem
maior atenção investigativa e o uso de palavras incisivas, como “sexo forçado
com uso de violência”. Na própria escrita das peças, algumas palavras são
destacadas em maiúsculo, como “Desconhecido”. Fatos ocorridos dentro da
dinâmica familiar tendem a ser descritos com outra tonalidade, com frases do tipo
“a vítima alega” ou com o uso frequente de aspas. As narrativas de uma e outra
ocorrência são distintas e os abusos mais comuns, perpetrados em casa e por
conhecidos, são os que mais merecem desconfiança da palavra da vítima. O
Estado brasileiro é absolutamente conivente com a cultura do estupro. Debert,
Lima e Ferreira (2008), em estudo já clássico e iniciado por Corrêa (1981), notam
que mesmo na ocorrência de homicídio de mulheres existe uma desconfiança
sobre a culpa da vítima; em tribunais de júri, é comum que as mulheres mortas
sejam investigadas em sua conduta para definir qual a pena justa dos
assassinos.9
Ademais, resta congruente mencionar que tal cultura gera nas vítimas o
temor de se sujeitar a novos constrangimentos, de modo que a vítima acaba por
se calar ante a violação, posto que o pressuposto de “merecimento” parte, muitas
vezes, da própria autoridade policial que, em que pese à postura repulsiva e
covarde do agressor, levanta questionamentos acerca da roupa da vítima no
22

momento da agressão, como se roupas consideradas “decentes” colocassem


rédeas nos impulsos do agressor.
Necessário se faz mencionar também, que, conquanto ser o homem
passível do crime de estupro, como já mencionado, a mulher figura como vítima
principal deste delito, demonstrando, destarte, que a violência contra a mulher é
efetiva, contínua e roborada por notícias veiculadas diariamente, sem levar em
consideração os que não são levados às autoridades.
Ademais, segundo levantamento de 2011 do IPEA, 70% das vítimas de
estupros no Brasil são crianças e adolescentes, o que, na maioria das vezes inibe
que a vítima denuncie o agressor. Neste número, vale mencionar, que metade
dos crimes contra menores não são primários: tanto vítima, quanto agressor, já
figurou em ocorrências similares antes. [ CITATION Cer17 \l 1046 ]
Essa mesma pesquisa estimou que pelo menos 527 mil pessoas são
estupradas por ano no Brasil, ao passo que no caso de vítimas menores, os
principais agressores são pais e parentes. 5
Considerando que a dignidade atrelada à pessoa humana é um atributo
intrínseco ao indivíduo, não há que se falar em cerceamento desta proteção por
conta de gênero. Tanto é assim que todo indivíduo é passível de direitos e deveres,
vez que é puníveis condutas como a prostituição ou a pedofilia.
É indubitável que, conforme preleciona Lívya Ramos Sales Mendes de Barros
e Alline Pedra Jorde-Birol:
Não procede, portanto, a idéia de que o estuprador seja necessariamente um
homem “anormal! Dotado de taras e perversões incontroláveis, sujeitos a cometer,
em nome de sua perturbação patológica, toda a sorte de violências sexuais. Há
certa Tendência a se acreditar que quem comete crimes como esse são pessoas
que sofrem distúrbios mentais, depravação ou estão à margem da sociedade. E é
quando estas características não são encontradas no delinquente que se procura na
pessoa da vítima uma justificativa para o cometimento do ilícito. Existem vários
critérios para se justificar uma violência sexual. [ CITATION Lív14 \l 1046 ]
Avaliações comportamentais e toda a história de vida dos envolvidos no
6
cenário do crime são reviradas, respingando até em familiares e amigos.

5
http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/artigo/20/estupro-no-brasil-vitimas-autores-fatores-situacionais-
e-evolucao-das-notificacoes-no-sistema-de-saude-entre-2011-e-2014
6
https://jus.com.br/artigos/27429/a-culpabilizacao-da-mulher-vitima-de-estupro-pela-conduta-do-seu-
agressor
23

No que se refere à violência sexual, sobretudo contra mulheres de forma


amplificada, a percepção da maioria da sociedade brasileira, segundo pesquisa
do IPEA, é de culpar a vítima, reflexo da já mencionada cultura patriarcal.
Tanto é assim quem, em entrevista a populares acerca do tema, 58% dos
entrevistados se posicionaram no sentido de que “se a mulher soubesse como se
comportar, haveria menos estupros.”
Tal falácia só reforça a deturpada idéia de que o homem não seja capaz de
controlar seus apetites sexuais, de modo que as mulheres sejam culpadas pelos
crimes sexuais.
A conduta culpabilizadora da vítima já foi objeto de estudo da criminologia,
sobretudo no que tange a figura da vítima.
Edgard de Moura Bittencourt, destacando as dificuldades para estabelecer
um conceito único de vítima, pondera haver o sentido originário, com que se
designa a pessoa ou animal sacrificado à divindade; o geral, significando a
pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do
acaso; o jurídico- geral, representando aquele que sofre diretamente a ofensa ou
ameaça ao bem tutelado pelo direito, o jurídico penal restrito, designando o
indivíduo que sofre diretamente as consequências da violação da norma penal; e
por fim, o sentido jurídico penal amplo, que abrange o indivíduo e a comunidade
que sofre com as consequências do crime. [ CITATION Edg78 \l 1046 ]
Conclui-se, portanto, a real necessidade de conscientização dos entes
da sociedade, sobretudo ao que se refere ao às autoridades policiais, visto que,
em que pese o número alto de vitimas de crimes de cunho sexual, muitos outros
casos ocorrem no silencio, pois a vitima se abstém de denunciar o agressor,
justamente para evitar aumentar ainda mais o constrangimento a que foi
submetida.
24

3. BIBLIOGRAFIA
Você precisa trazer mais obras jurídicas/doutrinas para enriquecer o trabalho.
No mínimo quatro autores diferentes é o recomendado.

Bittencourt, Edgard de Moura. In: VÍTIMA, por Edgard de Moura Bittencourt, 65. SÃO
PAULO: UNIVERSITÁRIA DE DIREITO, 1978.
Cerqueira, Daniel. IPEA ATLAS DA VIOLÊNCIA. 20 de maio de 2017.
http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/artigo/20/estupro-no-brasil-vitimas-autores-
fatores-situacionais-e-evolucao-das-notificacoes-no-sistema-de-saude-entre-2011-e-
2014 (acesso em 05 de Junho de 2018).
Constituinte 1987-1988-Carta das Mulheres aos Constituintes. 1988.
http://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-cidada/constituintes/a-
constituinte-e-as-mulheres/Constituinte%201987-1988-Carta%20das%20Mulheres
%20aos%20Constituintes.pdf (acesso em 22 de 09 de 2018).
Magalhães, Lívia. A culpabilização da mulher, vítima de estupro, pela conduta do
seu agressor. 04 de 2014. https://jus.com.br/artigos/27429/a-culpabilizacao-da-
mulher-vitima-de-estupro-pela-conduta-do-seu-agressor (acesso em 01 de 09 de
2018).
25

ANEXOS
Elemento opcional, sendo um texto ou documento não elaborado pelo
autor, que serve de fundamentação, comprovação e ilustração.
Os anexos são identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão
e pelos respectivos títulos. Excepcionalmente, utilizam-se letras maiúsculas
dobradas, na identificação dos anexos, quando esgotadas as 26 letras do
alfabeto.
26

ANEXO A
Título do Anexo

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