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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ADRIANO LUIS COSTA

RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO


AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO “PAPA-LÂMPADAS”

Salvador - Bahia
2009
2

ADRIANO LUIS COSTA

RECICLAGEM DE LÂMPADAS QUE CONTÊM MERCÚRIO


AVALIAÇÃO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO “PAPA-LÂMPADAS”

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em


Engenharia de Segurança do Trabalho da Escola
Politécnica da Universidade Federal da Bahia para a
obtenção do título de Engenheiro de Segurança do
Trabalho.

Orientador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça

Salvador - Bahia
2009
3

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Reitor: Prof. Naomar Monteiro de Almeida Filho

ESCOLA POLITÉCNICA

Diretor: Prof. Luis Edmundo Prado de Campos

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA

Chefe Deptº: Prof. Marcelo José Pirani

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

Coordenador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça

COSTA, Adriano Luis. Reciclagem de lâmpadas que contêm mercúrio - Avaliação do


método de processamento “Papa-Lâmpadas”. Salvador, 2009. 103 p.

Orientador: Prof. Pedro de Alcântara Ornelas Mendonça, Mestre.

Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) - Universidade


Federal da Bahia - Escola Politécnica - Departamento de Engenharia Mecânica - CEEST.

Palavras Chave: 1. Mercúrio; 2. Reciclagem; 3. Risco ocupacional; 4. Impacto ambiental.


4

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal da Bahia

Ao orientador Prof. Pedro de Alcântara


Ornelas Mendonça

Aos professores do CEEST

A José Neto e Fernando Maxixe da Ivomax

Aos amigos e colegas do CEEST

A minha família

A todos que direta ou indiretamente


contribuíram para a realização desta monografia
5

RESUMO

Das 100 milhões de lâmpadas fluorescentes produzidas por ano, quase metade é trocada
anualmente. Destas 50 milhões descartadas, apenas 6% chegam às empresas recicladoras.
Somente 8% encontram destinação em aterros sanitários apropriados para receber resíduos
com contaminantes tóxicos. Assim, 43 milhões de lâmpadas são jogadas fora de maneira
prejudicial ao ambiente e à saúde pública.

Com a crise energética de 2001, os brasileiros mudaram seus hábitos e padrões de


consumo energético. Depois de o consumidor adotar medidas simples como apagar a luz ao
deixar um ambiente, ou substituir as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, o gasto de
energia caiu consideravelmente no país. As fluorescentes compactas custam mais caro que as
incandescentes, porém, no final das contas, a relação custo-benefício acaba sendo
compensadora, em função da economia de eletricidade proporcionada.

O problema está no descarte dessas lâmpadas, pois quando há o rompimento do vidro o


mercúrio contido é expelido podendo intoxicar os seres humanos e o meio ambiente. Cabe
então ao governo, em suas esferas nacional, estadual e/ou municipal, fazer uso de seu poder
de legislador, e estabelecer as regras relacionadas à destinação das lâmpadas que contêm
mercúrio. Como no Brasil ainda não existe uma regulamentação abrangente sobre os resíduos
sólidos, o descarte inadequado das lâmpadas em lixões e aterros sanitários acaba sendo a
alternativa da maioria dos consumidores, especialmente os residenciais.

Desde a década de noventa empresas especializadas em reciclagem começaram a surgir


no mercado brasileiro como uma alternativa para o descarte de lâmpadas que contêm
mercúrio. Concomitantemente começaram a surgir também questionamentos sobre a
idoneidade destas empresas e capacidade das mesmas de dar aos resíduos das lâmpadas a
destinação adequada.

Considerando este contexto, objetivou-se com a presente monografia estudar as


lâmpadas que contêm mercúrio e o seu descarte junto a empresas especializadas que fazem da
reciclagem uma atividade comercial, encarregando-se da disposição dos resíduos. O enfoque
principal deste trabalho são os potenciais impactos ambientais e riscos ocupacionais
decorrentes desta atividade, especificamente de uma empresa que atua na Bahia, realizando a
denominada “Operação Papa-Lâmpadas”.
6

ABSTRACT

Of the 100 million fluorescent lamps produced per year, almost half is exchanged
annually. 50 million out of these, only 6% reach businesses recycled. Only 8% are appropriate
destination in landfills to receive waste with toxic contaminants. Thus, 43 million light bulbs
are thrown out of the way detrimental to the environment and public health.

With the energy crisis of 2001, the brazilians have changed their habits and patterns of
energy consumption. After the consumer adopting simple as turn off the light when leaving an
environment, or replace incandescent bulbs for fluorescent, the energy spent in the country
has fallen considerably. The compact fluorescent costs more expensive than the incandescent,
but in the end, the cost-benefit has been rewarding, depending on the economy of electricity
provided.

The problem is the disposal of these bulbs, because when the rupture is contained
mercury expelled can poison humans and the environment. It is then up to the government in
their spheres national, state and / or municipal, to use its power of legislature, and establish
rules related to allocation of lamps containing mercury. As in Brazil there is still no
comprehensive legislation on solid waste, the improper disposal of the lamps in landfills has
been the choice of most consumers, especially residential.

Since the nineties companies specializing in recycling began to appear in the brazilian
market as an alternative to the disposal of lamps containing mercury. Concurrently began to
appear also questions about the suitability of these companies and the same ability to waste
the allocation of lamps properly.

Considering this context, the aim of this monograph is to study the lights that contain
mercury and its disposal with specialized firms that make a business of recycling, is
responsible for the disposal of waste. The main focus is the potential environmental and
occupational risks from this activity, specifically a company that operates in Bahia,
performing the "Operação Papa-Lâmpadas".
7

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... 9

LISTA DE TABELAS....................................................................................... 10

LISTA DE SIGLAS........................................................................................... 12

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14
ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ..................................................................................... 16

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................... 18


2.1. CARACTERÍSTICAS DO MERCÚRIO SEUS COMPOSTOS ................................... 18
2.1.1. Aplicações práticas do mercúrio e seus compostos .................................................. 19
2.2. RISCOS DA EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO PARA OS SERES HUMANOS ........... 21
2.2.1. Casos expressivos de exposição ocupacional e ambiental ao mercúrio ................... 24
2.2.2. Riscos associados à exposição ocupacional .............................................................. 28
2.2.3. Legislação sobre exposição ocupacional ao mercúrio .............................................. 32
2.2.4. Medidas de ordem técnica e médica para redução dos riscos ocupacionais ............. 35
2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO ............... 39
2.3.1. Ecotoxicidade do mercúrio ....................................................................................... 39
2.3.2. Legislação ambiental brasileira sobre o mercúrio .................................................... 43
2.4. CARACTERÍSTICAS DAS LÂMPADAS DE MERCÚRIO ....................................... 48
2.4.1. Histórico das lâmpadas de descarga elétrica ............................................................. 49
2.4.2. Tipos de lâmpadas que contêm mercúrio ................................................................. 50
2.4.3. Mercado brasileiro das lâmpadas de mercúrio.......................................................... 54
2.4.4. Aspectos positivos das lâmpadas que contêm mercúrio ........................................... 56
2.4.5. Aspectos negativos das lâmpadas que contêm mercúrio .......................................... 59
2.5. RECICLAGEM DE LÂMPADAS NO BRASIL ........................................................... 61
2.5.1. Conceitos associados à prevenção da poluição ambiental ........................................ 62
2.5.2. Reciclagem artesanal ................................................................................................ 66
2.5.3 Reciclagem mecanizada ............................................................................................. 67
2.5.4. Principais empresas de reciclagem de lâmpadas e suas características .................... 69
2.5.4.1. Apliquim ............................................................................................................. 70
2.5.4.2. Mega Reciclagem ................................................................................................ 72
2.5.4.3. Brasil Recicle ...................................................................................................... 72
2.5.4.4. Tramppo .............................................................................................................. 73

3. METODOLOGIA ......................................................................................... 75
3.1. OBJETIVOS ................................................................................................................... 75
8

3.1.1. Geral .......................................................................................................................... 75


3.1.2. Específicos ................................................................................................................ 75
3.2. MÉTODO DE PESQUISA ............................................................................................. 76
3.3. POPULAÇÃO / AMOSTRA.......................................................................................... 76
3.4. LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................... 77

4. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E SEUS PROCESSOS ............... 78


4.1. HISTÓRICO DA IVOMAX ........................................................................................... 78
4.2. PROCESSAMENTO DAS LÂMPADAS ...................................................................... 79
4.2.1. Preparação da operação............................................................................................. 81
4.2.2. Transporte dos equipamentos e resíduos .................................................................. 83
4.2.3. Descaracterização das lâmpadas ............................................................................... 84
4.3. ANÁLISE QUÍMICA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS ......................................... 85
4.4. LICENÇAS AMBIENTAIS ........................................................................................... 88
4.5. RISCOS OCUPACIONAIS............................................................................................ 89

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ................................................................. 91


5.1. RISCOS OCUPACIONAIS............................................................................................ 91
5.2. IMPACTOS AMBIENTAIS .......................................................................................... 95
5.3. EQUIPAMENTOS MÓVEIS E ESTACIONÁRIOS ..................................................... 96
5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 98

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 99


9

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1. Principais constituintes de uma lâmpada fluorescente ........................................... 52


Figura 2.2. Distribuição por tipos de lâmpadas no Brasil ........................................................ 56
Figura 2.3. Distribuição por tipos de lâmpadas na região Nordeste ......................................... 56
Figura 2.4. Redução de mercúrio nas lâmpadas fluorescentes tubulares ................................. 58
Figura 2.5. Cadeia de distribuição reversa ............................................................................... 63
Figura 2.6. Ciclo do processo de reciclagem ............................................................................ 64
Figura 2.7. Ações para prevenção e controle da poluição ........................................................ 65
Figura 4.1. Sistema de descaracterização de lâmpadas “in company” ..................................... 79
Figura 4.2. Fluxo do processo de descaracterização de lâmpadas............................................ 80
Figura 4.3. Detalhes dos filtros primário e secundário ............................................................. 81
Figura 4.4. Detalhes da tampa e do acoplamento dos filtros .................................................... 82
Figura 4.5. Visão geral do equipamento com mangueiras conectadas ..................................... 82
Figura 4.6. Detalhes da operação de descaracterização de lâmpadas ....................................... 84
Figura 4.7. Detalhes do estoque inicial de lâmpadas e dos resíduos de vidro e alumínio ........ 85
Figura 5.1. Detalhe da falta de isolamento da área de trabalho ................................................ 93
Figura 5.2. Detalhe do uso de máscara facial somente pelo operador...................................... 94
Figura 5.3. Detalhes da fuga de gás com o pó fosfórico na operação de descaracterização .... 94
10

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1. Aplicação de alguns compostos do mercúrio ........................................................ 20


Tabela 2.2. Estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil, em toneladas .............. 21
Tabela 2.3. Valores de referência de mercúrio em pessoas não expostas ................................ 22
Tabela 2.4. Distribuição de trabalhadores segundo tempo de exposição e presença ou não de
intoxicação ............................................................................................................. 26
Tabela 2.5. Distribuição de trabalhadores segundo sinais detectados no exame clínico-
neurológico ............................................................................................................ 27
Tabela 2.6. Distribuição de trabalhadores segundo o resultado de dosagem de mercúrio
urinário ................................................................................................................... 28
Tabela 2.7. Distribuição de trabalhadores segundo a combinação do conjunto de alterações
apresentadas nos exames clínicos, neurológico, psiquiátrico e psicológico .......... 28
Tabela 2.8. Doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos .......... 32
Tabela 2.9. Parâmetros para controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio ......... 33
Tabela 2.10. Tabela de limites de tolerância ao mercúrio ........................................................ 33
Tabela 2.11. Limites de exposição aos vapores de Hg pela OSHA, NIOSH e ACGIH ........... 34
Tabela 2.12. Valor máximo de mercúrio total admitido nas águas e efluentes no Brasil ........ 43
Tabela 2.13. Resíduos perigosos de fontes não específicas (Anexo A) ................................... 44
Tabela 2.14. Resíduos perigosos de fontes específicas (Anexo B) .......................................... 45
Tabela 2.15. Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos (Anexo C)..................... 45
Tabela 2.16. Concentração máxima no extrato obtido no ensaio de lixiviação (Anexo F) ...... 45
Tabela 2.17. Padrões para o ensaio de solubilização (Anexo G) ............................................. 46
Tabela 2.18. Tipos de lâmpadas contendo mercúrio e sua utilização....................................... 51
Tabela 2.19. Composição da poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente .......................... 52
Tabela 2.20. Lâmpadas que contêm mercúrio e quantidades ................................................... 54
Tabela 2.21. Dados estimados do mercado brasileiro de lâmpadas em 2007 .......................... 55
Tabela 2.22. Quantidade de mercúrio contido nas lâmpadas por tipo de consumidor ............. 55
Tabela 2.23. Dados sobre a emissão de mercúrio nos Estados Unidos .................................... 58
Tabela 2.24. Quantidade total de mercúrio em lâmpadas comercializadas no Brasil .............. 60
Tabela 2.25. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes em alguns países ................................... 61
Tabela 2.26. Valor dos materiais recuperados pela reciclagem de lâmpadas fluorescentes .... 69
Tabela 2.27. Dados comparativos dos processos e custo de reciclagem no Brasil .................. 70
11

Tabela 4.1. Valor cobrado pelos serviços de reciclagem por lâmpada..................................... 79


Tabela 4.2. Resultado da análise química realizada pelo IPT .................................................. 86
Tabela 4.3. Resultado da análise do vidro e alumínio realizada pela Engequímica ................. 86
Tabela 4.4. Resultado da análise do pó fosfórico realizada pela Engequímica ........................ 86
Tabela 4.5. Resumo da análise química e destinação dos resíduos de lâmpadas ..................... 88
Tabela 4.6. Resultados das análises de ar atmosférico para fins de higiene ocupacional ........ 89
Tabela 5.1. Concentrações de mercúrio para o modelo Bulb Eater 55-VRS ........................... 92
Tabela 5.2. Concentração de mercúrio no modelo Bulb Eater 55-VRS-U............................... 92
12

LISTA DE SIGLAS

ABILUMI - Associação Brasileira de Importadores de Produtos de Iluminação


ABILUX - Associação Brasileira da Indústria de Iluminação
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists
ACPO - Associação de Combate aos Poluentes
ADEMA - Administração Estadual do Meio Ambiente
ANTT - Agência Nacional de Transportes Terrestres
ATRP - Autorização de Transporte de Resíduos Perigosos
CAS - Chemical Abstract Substance
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CIR - Centro de Informações de Resíduos
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONEM - Congresso Nacional de Engenharia Mecânica
CRA - Centro de Recursos Ambientais
CRR - Certificado de Recepção e Responsabilidade
EPA - Environmental Protection Agency
IBMP - Índice Biológico Máximo Permitido
IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FATMA - Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina
GT - Grupo de Trabalho
HSDB - Hazardous Substances Data Bank
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBE - Indicador Biológico de Exposição
IDLH - Immediately Dangerous to Life and Health
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
NEMA - National Electrical Manufacturers Association
NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health
NR - Norma Regulamentadora
OIT - Organización Internacional del Trabajo
ONU - Organização das Nações Unidas
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OSHA - Occupational Safety & Health Administrations


PGR - Procuradoria Geral da República
PRONAEM - Programa Nacional para Eliminação do Mercúrio
SINPHA - Sistema de Informação de Posses e Hábitos de Uso de Aparelhos Elétricos
TLV - Threshold Limit Value
TWA - Time Weighted Average
UFBA - Universidade Federal da Bahia
USGS - United States Geological Survey
VR - Valor de Referência da Normalidade
WHO - World Health Organization
14

1. INTRODUÇÃO

Gilvan Xavier, diretor da empresa Tramppo Recicla Lâmpadas, apresenta o seguinte


panorama no que tange às lâmpadas fluorescentes no Brasil (PIPE, 2007): “Das 100 milhões
de lâmpadas fluorescentes produzidas por ano, quase metade é trocada anualmente. Destas 50
milhões descartadas, apenas 6% chegam às empresas recicladoras. Somente 8% encontram
destinação em aterros sanitários apropriados para receber resíduos com contaminantes
tóxicos. Assim, 43 milhões de lâmpadas são jogadas fora de maneira prejudicial ao ambiente
e à saúde pública.”

De acordo com o IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - com a crise


energética de 2001, os brasileiros mudaram seus hábitos e padrões de consumo energético.
Depois de o consumidor adotar medidas simples como apagar a luz ao deixar um ambiente,
ou substituir as lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes, o gasto de energia caiu 24,4%
no país, entre junho de 2001 e fevereiro de 2002. As fluorescentes compactas custam, em
média, cinco vezes mais caro que as incandescentes, porém, no final das contas, a relação
custo-benefício acaba sendo compensadora, pois a economia de eletricidade proporcionada
pode chegar a 80% (IDEC, 2009).

Depois de ser incorporada em grande parte dos lares do país, a lâmpada fluorescente
compacta tornou-se uma boa alternativa para economizar energia. O problema está no
descarte, pois essas lâmpadas, juntamente com as fluorescentes tubulares e outros modelos
não tão conhecidos popularmente, são na verdade produtos tóxicos que contém metais
pesados. Quando há o rompimento dessas lâmpadas o mercúrio que é expelido pode intoxicar
os seres humanos, afetando o sistema nervoso central e outros órgãos. Se jogadas no lixo
comum podem acabar contaminando o solo e também o lençol freático, chegando, inclusive, à
cadeia alimentar do homem.

A ACPO - Associação de Combate aos Poluentes - destaca que como a maioria de


lâmpadas queimadas e quebradas ainda não conta com uma coleta seletiva em nível nacional,
quando são descartadas pelos domicílios e estabelecimentos do comércio, seguem para
“lixões” e aterros, sendo uma parcela mínima reciclada. A falta de uma regulamentação
rigorosa e eficaz faz com que toda a cadeia (indústria, comércio, distribuição, uso e descarte
de lâmpadas) seja extremamente perigosa, colocando em risco a saúde das pessoas envolvidas
(ACPO, 2006).
15

O IDEC entende que os fabricantes e importadores são responsáveis pela destinação


adequada desses resíduos. Os quatro maiores fabricantes (Philips, Osram, GE e Silvânia) e
algumas importadoras do país foram consultados por essa organização em 2008, e o serviço
de atendimento ao consumidor de todas as empresas contatadas afirmou que elas não recebem
os resíduos para a sua correta destinação final.

Soma-se a isso o fato do mercado consumidor de lâmpadas dividir-se em dois


segmentos, o residencial (pequenos geradores) e o industrial, comercial e serviços (grandes
geradores), sendo que estes últimos juntos são responsáveis pela produção de mais de 90%
dos resíduos de mercúrio, devendo então ser prioritariamente responsabilizados pela sua
destinação (ABILUX, 2003).

Roberto Castanon da ABILUX - Associação Brasileira da Indústria de Iluminação - destaca


outros aspectos relevantes relacionados com as lâmpadas inservíveis que contêm mercúrio,
que dificultam a formulação de uma solução adequada para esta problemática no Brasil:
• Estrutura complexa de distribuição de lâmpadas;

• Produto frágil e volumoso;

• Dimensões continentais do país (5.500 municípios e 47 milhões de unidades


consumidoras de energia elétrica, dos quais 40 milhões são residenciais);

• Impacto da inclusão do custo de disposição no custo do produto, aumento em cerca de


4 vezes o preço para o usuário final (como a antecipação de pagamento, desembolso no início
da vida útil da lâmpada);

• Pouca disponibilidade de aterros licenciados e recicladoras habilitadas nas regiões


Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país;

• Quase impossibilidade de se conhecer dados técnicos das lâmpadas dos importadores


independentes;

• Dificuldade do consumidor em separar lâmpadas por fornecedor (o modelo adotado


pelos Estados Unidos, por exemplo, atribui aos usuários e aos governos locais a destinação
final do produto);

• Os equipamentos e os processos de fabricação de lâmpadas são completamente


diferentes daqueles usados para a disposição/reciclagem.
16

Com base nessa realidade, verifica-se então que cabe ao governo, em suas esferas
nacional, estadual e/ou municipal, fazer uso de seu poder de legislar para estabelecer as regras
relacionadas à destinação das lâmpadas que contêm mercúrio, definindo exatamente como
proceder e quem são os responsáveis. Como no Brasil ainda não existe uma regulamentação
abrangente sobre os resíduos sólidos, apesar das discussões a respeito ocorrerem há pelo
menos duas décadas, o descarte inadequado das lâmpadas acaba sendo a alternativa da
maioria dos consumidores, especialmente os residenciais.

Enquanto as leis não se concretizam, empresas especializadas em reciclagem


começaram a surgir no mercado brasileiro desde a década de noventa como uma alternativa
para a destinação de lâmpadas que contêm mercúrio. De posse de variados modelos de
equipamentos, alguns nacionais e outros importados, aproximadamente dez empresas vêm
oferecendo seus serviços de forma regular na atualidade, estando as mesmas concentradas em
seis estados do país.

Concomitantemente começaram a surgir também questionamentos sobre a idoneidade


destas empresas e capacidade das mesmas de dar aos resíduos das lâmpadas, especialmente
para o mercúrio, a destinação mais segura do ponto de vista ambiental, já que os serviços
prestados são remunerados. Outro aspecto que gera dúvidas aos potenciais usuários dos
serviços de reciclagem são as condições nas quais o trabalho é executado, e quais os riscos de
exposição que os operadores dos equipamentos e outras pessoas inadvertidamente podem
estar sujeitas.

Nesta monografia, o objeto de estudo são as lâmpadas de descarga que contêm


mercúrio, produtos encontrados nas indústrias, comércio, empresas de serviços em geral, na
iluminação pública e nas residências, e o seu descarte junto a empresas especializadas que
fazem da reciclagem uma atividade comercial, encarregando-se da disposição dos resíduos,
inclusive do mercúrio. O enfoque principal são os potenciais impactos ambientais e riscos
ocupacionais decorrentes desta atividade, especificamente de uma empresa que atua na Bahia,
realizando a denominada “Operação Papa-Lâmpadas”.

ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

Esta monografia está dividida em cinco capítulos. No primeiro é feita a introdução ao


estudo das lâmpadas que contêm mercúrio e a sua reciclagem, que é o objetivo geral do
presente trabalho.
17

No segundo capítulo são apresentadas as fundamentações teóricas, que tratam sobre as


características do mercúrio seus compostos, os riscos da exposição ao mercúrio para os seres
humanos, os problemas ambientais da contaminação por mercúrio, as características das
lâmpadas de mercúrio e reciclagem de lâmpadas no brasil.

No terceiro capítulo é realizada a descrição da metodologia do trabalho, destacando os


objetivos geral e específicos, o método de pesquisa, aspectos associados à população e à
amostra estudada e também os problemas enfrentados na pesquisa.

O quarto capítulo apresenta a empresa recicladora que realiza na Bahia a “Operação


Papa-Lâmpadas”, incluindo as características principais de seus equipamentos, processos,
destinação de resíduos, licenças existentes para a operação com mercúrio e cuidados com a
saúde dos trabalhadores.

Por fim, o quinto capítulo traz as conclusões sobre o estudo e sugestões para colaborar
com o prosseguimento das pesquisas nesta área e com os usuários de lâmpadas que contêm
mercúrio.
18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. CARACTERÍSTICAS DO MERCÚRIO SEUS COMPOSTOS

O mercúrio é conhecido pelo homem desde a antiguidade. Egípcios, chineses, fenícios e


gregos já o utilizavam para a extração do ouro. Tumbas egípcias datadas de antes de 1500
A.C. continham o cinábrio, principal minério do qual se extrai o mercúrio, cuja composição é
o sulfeto de mercúrio (HgS) (ACPO, 2006).

O cinábrio é encontrado em rochas próximas de atividades vulcânicas recentes, em


veios ou fraturas minerais e em áreas próximas de fontes de águas termais. O mercúrio é um
metal pesado cujo símbolo Hg deriva do latim hydrargyrum e, na sua forma elementar, em
condições normais de temperatura e pressão, é um líquido denso, inodoro e de aspecto
argênteo. (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O mercúrio rapidamente se combina com enxofre e halogênios a temperatura normal e


forma amálgamas com todos os metais, exceto ferro, níquel, cádmio, alumínio, cobalto e
platina. Reage exotermicamente (gerando calor), com metais alcalinos, é atacado pelo ácido
nítrico, mas não por clorídrico e, quando aquecido, combina com ácido sulfúrico. (OIT, 1998)

As formas nas quais pode ser encontrado são o mercúrio metálico (Hgº), mercúrio (I) e
mercúrio (II), nas quais os átomos perdem um ou dois elétrons, respectivamente, formando o
mercúrio mercuroso (Hg2++) e o mercúrio mercúrico (Hg++). Estes dois últimos, mercuroso e
mercúrico, formam diversos compostos químicos orgânicos e inorgânicos. As formas
orgânicas são aquelas em que o mercúrio é anexado covalentemente a, pelo menos, um átomo
de carbono. (WHO, 1990).

Os compostos formados a partir do mercúrio (II) são mais abundantes que aqueles
formados a partir do (I), e em adição a sais simples como cloretos, nitratos e sulfatos, formam
uma importante classe de compostos organomercuriais. Do ponto de vista toxicológico, os
compostos organomercuriais que causam maior preocupação são os ligados aos radicais
alquila de cadeia curta, onde o mercúrio se liga aos grupos metila, etila e propila. (WHO,
1976).

Os compostos de monometilmercúrio proporcionam riscos para a saúde humana. O


termo genérico "metilmercúrio" é utilizado para representar os compostos
19

monometilmercuriais. Em alguns casos, a identidade exata destes compostos não é conhecida,


exceto que contêm o cátion metilmercúrio (CH3Hg+) associado tanto a um simples ânion
como o cloreto, ou a moléculas de alto peso molecular, tais como proteínas, com cargas
negativas ou positivas (WHO, 1990).

No ciclo local do mercúrio na natureza, segundo Albert (1988), quando o metilmercúrio


está livre na água atravessa as membranas biológicas com facilidade, motivo pelo qual se
incorpora rapidamente as cadeias tróficas aquáticas. Esta característica, associada a sua
liposolubilidade e sua afinidade pelos grupos sulfidrilos das proteínas, fazem com que o
metilmercúrio seja muito perigoso para todos os seres vivos.

Para Nascimento & Chasin (2001), a crosta terrestre é fonte importante para a
contaminação de corpos aquáticos naturais. Uma parcela do mercúrio encontrado na água é de
origem natural, embora possa parcialmente ser de origem atmosférica e ter sido gerada,
também, por atividade antropogênica (humana). Portanto, é difícil avaliar quantitativamente
as contribuições relativas à atividade antropogênica e à natural em relação aos mercuriais que
sofrem lixiviação do solo para a água.

De acordo com Allan (1997), apud Nascimento & Chasin (2001), as estimativas de
emissão natural de Hg nos anos 70 são baseadas em análises de geleiras na Groenlândia, além
de outros locais no mundo. Novas técnicas de coleta de amostras e análise de metal em água e
gelo foram implementadas nos anos 80, assim, as estimativas mais recentes admitem uma
proporção de 50/50 para as emissões globais naturais / antropogênicas.

2.1.1. Aplicações práticas do mercúrio e seus compostos

As utilizações mais importantes do mercúrio metálico e seus compostos inorgânicos


incluem o processamento de minerais (prata e ouro); a produção de amálgamas; a fabricação e
reparação de instrumentos de medição ou de laboratório; manufatura de lâmpadas, tubos de
raios-X, interruptores, baterias, retificadores, etc.; como catalisador para a produção de cloro e
álcalis e na produção de ácido acético e acetaldeído de acetileno; em laboratórios de
investigação químicos, físicos e biológicos; na eletrodeposição de ouro, prata, bronze e
estanho; no curtimento e tratamento de peles e na fabricação de feltros em taxidermia; na
tecelagem, na fotografia e fotogravura; em tintas e pigmentos à base de mercúrio, e no fabrico
de seda artificial. Algumas destas aplicações têm caído em desuso devido aos efeitos tóxicos
da exposição ao mercúrio pelos trabalhadores (OIT, 1998).
20

Já os compostos orgânicos de mercúrio, que são aqueles nos quais o mercúrio está
ligado diretamente a um átomo de carbono, têm suas principais utilizações na prática médica,
sendo usados como anti-sépticos, germicidas, diuréticos e contraceptivos; no domínio dos
pesticidas, como algicidas, fungicidas, herbicidas e limocidas; como conservantes em tintas,
ceras e pastas para remover o mofo, tintas anti-incrustantes, tintas de látex; no tratamento de
microbicidas têxteis, papel, cortiça e madeira para uso em climas úmidos; na indústria
química, atuando como catalisadores nas diversas reações (OIT, 1998). A tabela 2.1 apresenta
algumas aplicações específicas de compostos orgânicos e inorgânicos do mercúrio.

Tabela 2.1. Aplicação de alguns compostos do mercúrio

Nome Composição Aplicação


Cloreto de (Hg2Cl2) Medicamento tópico para rashes e úlceras cutâneas,
mercúrio (I) antisséptico, composição de agrotóxicos, tintas para
cerâmica e em fogos de artifício.
Cloreto de (HgCl2) Reagente analítico em sínteses orgânicas, feltragem e
mercúrio (II) secretagem de pelos, crinas e plumas e de substâncias para
empalhamento de animais, curtimento do couro, fungicida
no tratamento de sementes e vegetais, e proteção de madeira.
Óxido de (HgO) Produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos, em
mercúrio antissépticos, em fungicidas, como pigmento para tintas e
em baterias de células secas (especialmente as utilizadas em
equipamentos miniaturizados)
Cianeto potássico [Hg(CN)2 2KCN] Douração e estanhagem de vidros para a fabricação de
de mercúrio espelhos
Fulminato de [Hg(CNO)2] Fabricação de espoletas e como detonante de explosivos
mercúrio para emprego militar ou industrial
Tiocianato de [Hg(SCN)2] Produção de fogos de artifício e como intensificador na
mercúrio indústria fotográfica
Sulfeto de (HgS) Pigmento vermelho ou preto para fabricação de tintas
mercúrio
Sulfato de (HgSO4) Galvanização de baterias e no tratamento a quente de
mercúrio amálgamas de ouro e prata, para recuperação destes metais
Estearato de [(C17H35CO2)2 Hg] Germicida
mercúrio
Fonte: BRASIL, 2001

No Brasil os principais setores que usam o mercúrio são: garimpo, indústria de cloro-
soda, fabricação de aparelhos elétricos, instrumentos científicos, lâmpadas fluorescentes,
catalisadores, odontologia, laboratórios de pesquisa, de análises químicas e biológicas,
indústria farmacêutica, refino do petróleo, fabricação de ácido acético e de acetaldeído (a
partir do acetileno) e indústrias de papel (AZEVEDO, 2003). A tabela 2.2 demonstra uma
estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil e respectivas quantidades, para
diversos setores.
21

Tabela 2.2. Estimativa anual de uso e emissão de mercúrio no Brasil, em toneladas

Quantidade
Setor Uso
Anual (T)
Estimativa do mercúrio de origem externa - importação
Garimpo de ouro Amálgama 130,0
Indústrias de cloro-soda Células de eletrólise 17,0
Lâmpadas fluorescentes Componente 1,1
Odontologia Amálgama dentário 2,8
Aterros sanitários e lixões Resíduo 5,0
Estimativa do mercúrio de origem interna - exportação
Produção de aço e ferro Contaminante do processo 12,0
Pirometalurgia (Pb, Zn, Cd) Contaminante do processo 4,5
Combustíveis fósseis e gás natural Contaminante 4,2
Queimadas Contaminante 8,7
Total estimado de origem externa - importação 29,4
Total estimado de origem interna - exportação 155,9
Total geral 185,9
Fonte: AZEVEDO, 2003

Com relação às quantidades utilizadas, a ACPO (2006), citando a ABILUX -


Associação Brasileira da Indústria de Iluminação, destaca que a importação anual de mercúrio
brasileira atinge 300 toneladas, apesar dos dados oficiais do governo não indicarem tal
quantia. Esta diferença deve ser levada em conta devido à inexistência de registros oficiais
mais abrangentes e criteriosos. Algumas hipóteses indicam que esta diferença pode estar
associada à entrada de mercúrio de forma clandestina no país.

2.2. RISCOS DA EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO PARA OS SERES HUMANOS

O mercúrio foi usado na medicina desde a época de Aristóteles até a Idade Média. Os
antigos chineses acreditavam que o cinábrio e o mercúrio tinham propriedades
medicamentosas que prolongavam a vida. Vários imperadores morreram de mercurialismo na
tentativa de assegurar a imortalidade, através da ingestão constante desse metal. Os antigos
hindus, por outro lado, acreditavam que o mercúrio possuía propriedades afrodisíacas. No
início do primeiro século depois de Cristo, na Grécia, o mercúrio foi usado como ungüento
medicinal. Foi muito usado como componente de ungüentos ou pomadas para o tratamento de
diversas doenças da pele, além de cosméticos, pelos romanos (D’ITRI, 1972; QUEIROZ,
1995; YAMADA et al., 1997; apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Durante a Idade Média o mercúrio foi muito usado pelos alquimistas, que tentavam
transformar o chumbo em ouro usando o mercúrio neste processo. O uso medicinal do
mercúrio ganhou maior importância a partir do século XVI, quando passou a ser aplicado na
22

tentativa de curar inúmeras doenças, principalmente nas feridas produzidas pela sífilis e como
diurético. Em 1557 o francês Jean Fernel descrevia os sinais e sintomas de intoxicação
mercurial em pacientes que recebiam o mercúrio como medicamento. Contudo, até o século
XIX, o mercúrio ainda era usado como medicamento para desobstrução intestinal e, no século
XX, o famoso mercuriocromo foi usado como anti-séptico (AZEVEDO, 2003).

Os níveis de mercúrio encontrados em populações não expostas constituem objeto de


estudo de vários artigos citados na literatura e que embasam o estabelecimento dos valores de
referência. Os indicadores biológicos da exposição humana ambiental são o mercúrio no
sangue e o mercúrio no cabelo, os quais permitem uma avaliação do grau de exposição
ambiental de populações ao mercúrio. O cabelo é a matriz biológica de escolha quando se
pretende avaliar a exposição pregressa ao mercúrio metálico e ao metilmercúrio e, por isso
mesmo, é particularmente empregado nas pesquisas de avaliação da exposição ambiental da
população em geral representada por pessoas sem histórico de contato profissional com o
mercúrio. O cabelo pode ser usado também para o levantamento do grau de exposição ao
metilmercúrio veiculado por alimentos por ele contaminados (FRIBERG et al., 1979;
RAHMAN, et al., 2000; WHO, 1991; apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

A tabela 2.3 mostra as concentrações de mercúrio no sangue, na urina e no cabelo


humano sugeridas como normais por diferentes autores.

Tabela 2.3. Valores de referência de mercúrio em pessoas não expostas

Indicador Biológico
Concentração Referência
de Exposição (IBE)
< 2 (também para metilmercúrio) LAUWERYS, 1986
< 1-5 (sangue total) HAMMOND, 1980
3-4 (limite máximo de concentração normal) KLAASEN, 1986
Sangue (µg/dL) > 4 (anormal em adultos) KLAASEN, 1986
até 10 BRAS IL, 1983
25 (máximo na população normal) KLAASEN, 1986
< 100 (corrigida a densidade para 1,018) HAMMOND, 1980
Urina (µg/g creatinina) < 5 LAUWERYS, 1986
1 SHAHRISTANI et al, 1976
Cabelo (µg/g)
2 OPS, 1987
Fonte: NASCIMENTO & CHASIN, 2001

A exposição ambiental da população geral ao mercúrio é estimada em,


aproximadamente, 1 µg/dia pelo ar, até 2 µg/dia pela água e 20 µg/dia através dos alimentos,
podendo, neste caso, atingir até 75 µg/dia, conforme a quantidade de peixes da dieta
(GOYER, 1995 apud AZEVEDO, 2003).
23

Populações com risco de intoxicação são aquelas com maiores probabilidades de


exposição a níveis perigosos do mercúrio ou as portadoras de condições biológicas ou
patológicas que podem exacerbar os efeitos da intoxicação pelo agente (AZEVEDO,
NASCIMENTO & CHASIN, 2001). Segundo estes autores, entre tais grupos populacionais
estão:

a) trabalhadores expostos ocupacionalmente ao mercúrio;

b) populações gerais vizinhas a fontes de poluição por mercúrio (minas, indústrias);

c) populações de regiões com contaminação por mercúrio (nas situações em que ocorra
tal contaminação, principalmente das águas, todos os habitantes locais que se alimentam da
fauna regional têm risco significativo de desenvolver intoxicação crônica);

d) pessoas que se alimentam preferencialmente de pescados e outros produtos aquáticos;

e) pessoas que usam prolongadamente medicamentos mercuriais;

f) doentes do Sistema Nervoso Central, doentes renais crônicos, doentes


broncopulmonares crônicos;

g) gestantes e crianças pequenas.

De acordo com as diferentes toxicidades, propriedades físico-químicas e riscos de dano


à saúde humana e do ambiente, pode-se estabelecer quatro categorias de mercúrio: o
elementar (metálico), os compostos inorgânicos, os alquilmercuriais e os demais compostos
orgânicos (AZEVEDO, 2003).

A rota principal de absorção do mercúrio metálico é a inalação. Já a absorção


gastrointestinal é desprezível. Os sais de mercúrio inorgânico podem ser absorvidos pelos
pulmões (inalação do aerossol inorgânico do mercúrio) ou pelo trato gastrointestinal. Também
é possível a absorção cutânea de mercúrio metálico e de seus sais inorgânicos. Os compostos
orgânicos do mercúrio são absorvidos facilmente por todas as vias (OIT, 1998).

Segundo Albert (1988), quando o vapor de mercúrio é absorvido pelos seres vivos,
especialmente os animais superiores como o ser humano, se distribui por todo o organismo
através da circulação sanguínea. Quando chega ao cérebro se ioniza e une às proteínas,
demorando a ser liberado, o que ocasiona danos reversíveis e irreversíveis neste e em outros
órgãos. Os compostos alquimercuriais entram nos organismos pela via respiratória, digestiva e
24

cutânea, pela qual podem ser absorvidas quantidades suficientes para causar intoxicações
graves.

O período da vida mais sensível à intoxicação pelo metilmercúrio é a fase intrauterina,


já que o feto parece ser de duas a cinco vezes mais sensível do que o adulto. Uma intoxicação
intrauterina resulta na paralisia cerebral, devida, em parte, pela inibição da migração de
neurônios das zonas centrais às áreas corticais periféricas. Nos casos menos graves foi
detectado um atraso no desenvolvimento psicomotor (OIT, 1998).

2.2.1. Casos expressivos de exposição ocupacional e ambiental ao mercúrio

A contaminação ambiental humana por ingestão do mercúrio e seus compostos teve dois
casos de maior relevância ao longo da história, os quais são relatados por diversos autores: o
de Minamata no Japão e o do Iraque.

No episódio de Minamata, a maior indústria de plásticos do Japão operando entre 1920


e 1960 na produção de acetaldeído e cloreto de vinila, aumentou a fabricação de seu principal
produto, o cloreto de vinila, na qual eram empregados sais de mercúrio no eletrodo das células
eletrolíticas. A fábrica funcionava de maneira muito ineficiente e estima-se que tenha lançado
ao mar 600 toneladas de mercúrio (OTTAWAY, 1982 apud AZEVEDO, 2003).

Nos sedimentos da baía a concentração de mercúrio, naquela época, alcançou níveis de


até 2.010 mg/kg (peso seco), na confluência do canal de descarga da empresa. Esta poluição
das águas da baía de Minamata resultou, também pela colaboração de bactérias
metanogênicas, em pesada contaminação dos moluscos e peixes locais por metilmercúrio,
sendo o destinatário final o morador da região que os ingeria (HARADA, 1995 apud
AZEVEDO, 2003).

Assim, de 1953 a 1956 surgiram numerosos casos de “uma doença neurológica


incomum” numa comunidade de pescadores situada na localidade denominada de Baía de
Minamata, em área litorânea do mar de Yatsushiro (McALPINE, SHUKURO, 1958 apud
AZEVEDO, 2003).

O mal se notabilizou como “Doença de Minamata”. Até 1984 haviam sido oficialmente
documentados 2.578 casos de doença pelo Japão, com 656 mortes. A primeira morte
aconteceu em 1954, com um pico de incidência em 1956. Após 1972, o número de mortes
tornou a aumentar rapidamente, com um segundo pico de incidência em 1976 (TAMASHIRO
et al., 1984 apud AZEVEDO, 2003).
25

Já no Iraque, os mercuriais orgânicos passaram a ser usados como desinfetantes de


sementes em 1955, e já no período de 1955 a 1959 ocorreram duzentos casos de intoxicação.
Um surto mais claramente definido foi verificado em 1960, acarretando cerca de mil
internações hospitalares (DAMLUJI, 1976 apud AZEVEDO, 2003).

No período de dezembro de 1971 a março de 1972 (inverno), uma ocorrência muito


grave de intoxicações por organomercuriais, na verdade uma epidemia, voltou a castigar o
Iraque. Desta feita houve admissão hospitalar de 6.530 casos, dos quais 459 evoluíram a
óbito. O agente tóxico então responsável foi o metilmercúrio contido no fungicida. Mais uma
vez, o mecanismo das intoxicações foi o consumo de pão feito de grãos (73.201 toneladas de
trigo e 22.262 toneladas de cevada) tratados com o fungicida, os quais deveriam ser utilizados
apenas para plantio. (TIKRITI, MUFTI, 1976; BAKIR et al., 1973; apud AZEVEDO, 2003)

No Brasil foi realizado um estudo aprofundado dos efeitos da exposição ocupacional ao


mercúrio no início da década de noventa, em uma fábrica de lâmpadas elétricas fluorescentes
no Estado de São Paulo.

Para verificar os efeitos da exposição ao mercúrio metálico sobre a saúde humana,


Zavariz & Glina (1993) realizaram um estudo tomando como base 91 dos 641 trabalhadores,
sendo que 83 (91,21%) eram do sexo masculino e 8 (8,79%) eram do feminino, com idades
variando de 20 a 65 anos. A escolaridade era predominantemente o primeiro grau incompleto,
porém não havia nenhum analfabeto.

O estudo foi realizado transversalmente compreendendo três aspectos, entre eles uma
visita à fábrica para entendimento dos processos de trabalho, determinação dos diferentes
grupos de risco e atendimento aos trabalhadores, que foram submetidos à avaliação clínica,
neurológica, psiquiátrica e psicológica.

Entre os principais resultados apresentados pelas autoras, destaca-se que dos 60


(65,93%) trabalhadores que se situavam na faixa de 20 a 35 anos, 50 (54,94%) estavam
intoxicados. O tempo de exposição variou de 4 meses a 30 anos, sendo que com tempo de
exposição até 3 anos foram encontrados 38 trabalhadores na faixa dos intoxicados (49,35%),
conforme indica a tabela 2.4.
26

Tabela 2.4. Distribuição de trabalhadores segundo tempo de exposição e presença ou não de


intoxicação

Tempo de Não
Intoxicados Inconclusivos Total
Exposição Intoxicados
(em anos) Nº % Nº % Nº % Nº %
Menos de 1 7 70,00 2 20,00 1 10,00 10 100,00
1-3 31 86,11 3 8,33 2 5,56 36 100,00
4-6 19 85,00 2 10,00 1 5,00 22 100,00
7-9 5 100,00 - - - - 5 100,00
10 - 12 7 77,78 2 22,22 - - 9 100,00
13 - 15 4 100,00 - - - - 4 100,00
16 - 18 1 50,00 1 50,00 - - 2 100,00
19 - 21 1 100,00 - - - - 1 100,00
22 - 24 1 100,00 - - - - 1 100,00
Acima de 24 1 100,00 - - - - 1 100,00
Total 77 84,89 10 10,46 4 4,65 91 100,00
Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

De acordo com Zavariz & Glina (1993), os sintomas referidos foram agrupados nas
síndromes gastrintestinal, neurológica, eretismo psíquico e outros. Na sintomatologia
gastrintestinal destacaram-se a epigastralgia (63,73%), digestão difícil (53,84%), gosto
metálico (52,74%). Na sintomatologia neurológica predominaram a cefaléia (79,12%),
parestesia (56,04%), insônia (52,74%) e tremores (50,54%). No eretismo psíquico os sintomas
mais referidos foram nervosismo (72,52%), irritabilidade (68,13%), distúrbios de memória
(50,54%) e tristeza (39,56%). Em outros sinto- mas foram encontrados irritação nos olhos
(64,83%), fraqueza muscular (61,53%) e borramento visual (48,35%).

Dos sinais detectados no exame clínico-neurológico, os mais importantes na


caracterização do quadro da intoxicação crônica por mercúrio metálico, segundo as autoras,
foram os tremores, as alterações de cavidade oral (faringite), linha azul na margem alveolar,
depósitos gengivais, ulcerações orais e a hipertensão arterial, que pode ser visto em detalhes
na tabela 2.5.
27

Tabela 2.5. Distribuição de trabalhadores segundo sinais detectados no exame clínico-


neurológico

Sinais Detectados Nº %
Tremores 69 75,82
Hipertensão Arterial 50 54,95
Faringite 47 51,65
Amigdalite 43 47,25
Conjuntivite 35 38,46
Hepatomegalia 20 21,98
Linha Azul na Margem Alveolar 16 17,58
Arritmia Cardíaca 14 15,38
Edema de Membros Inferiores 14 15,38
Sopro Sistológico de Foco Mitral 12 13,19
Depósitos Gengivais 8 8,79
Ulcerações Orais 8 8,79
Auscuta Pulmonar Alterada 5 5,49
Dor à Palpação da Região Epigástrica 4 4,40
Alterações Cutâneas 4 4,40
Alterações de Sensibilidade 2 2,20
Nistagmo Multidirecional Bilateral 1 1,09
Espondilite Anquilosante 1 1,09
Extração Renal 1 1,09
Punho Percussão Positiva 1 1,09
Dentes Moles 1 1,09
Alterações de Reflexos 1 1,09
Edema Gengival 1 1,09
Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Os resultados dos testes neuropsicológicos realizados para a verificação da memória


demonstraram existir 72 casos (79,12%) com distúrbios de memória variando de discretos
(20) a moderados (52). Não foram detectados distúrbios graves, mas apenas 15 trabalhadores
(16,48%) apresentaram resultados dentro da normalidade. Os exames complementares
efetuados revelaram os seguintes resultados com relação ao mercúrio urinário (tabela 2.6).
28

Tabela 2.6. Distribuição de trabalhadores segundo o resultado de dosagem de mercúrio


urinário

Resultado de HgU Nº %
Abaixo de 10 µg/1 23 11,97
10 - 19 µg/1 36 18,75
20 - 29 µg/1 32 16,66
30 - 39 µg/1 17 8,85
40 - 49 µg/1 15 7,82
50 e acima 27 14,06
Sem Informação 42 21,87
Total 192 100,00
Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Para a caracterização do quadro da intoxicação de cada trabalhador, Zavariz & Glina


(1993) levaram em consideração o somatório das alterações apresentadas em cada clínica
(médica, neurológica, psicológica e psiquiátrica), associadas entre si e comparadas com a
literatura internacional, sendo os dados demonstrados na tabela 2.7.

Tabela 2.7. Distribuição de trabalhadores segundo a combinação do conjunto de alterações


apresentadas nos exames clínicos, neurológico, psiquiátrico e psicológico

Trabalhadores
Alterações Combinadas aos Exames
Nº %
Clínico, Neurológico, Psiquiátrico, Psicológico 45 58,44
Clínico, Neurológico, Psicológico 9 11,69
Neurológico, Psiquiátrico, Psicológico 7 9,09
Neurológico, Psicológico 6 7,79
Clínico, Psiquiátrico, Psicológico 4 5,19
Psiquiátrico, Psicológico 3 3,90
Clínico, Psicológico 2 2,60
Clínico, Neurológico 1 1,30
Total 77 100,00
Fonte: ZAVARIZ & GLINA, 1993

Como conclusão geral as autoras destacam que o número de trabalhadores intoxicados


foi de 77 (84,62%), o que aponta para a gravidade do problema, em virtude da natureza da
doença, que compromete áreas nobres do organismo, acomete trabalhadores jovens e
apresenta ineficácia com relação aos tratamentos existentes.

2.2.2. Riscos associados à exposição ocupacional

Segundo Azevedo & Ramos (1993), o mercúrio foi a primeira substância a ser objeto de
legislação para controle da doença por ele causada em trabalhadores. Em meados do século
29

XVII, nas minas de mercúrio em Idrija, Iugoslávia, o dia de trabalho foi reduzido para 6 horas
em oposição às 14 horas normais em outras atividades àquele tempo. O hidrargirismo ou
mercurialismo (intoxicação crônica por mercúrio) é a mais antiga das doenças profissionais
conhecidas e foi descrita por Pope em 1665, embora Paracelso já a tivesse relatado em 1567.

Em 1700, Ramazzini igualmente assinalou doenças dos trabalhadores das minas de


extração de mercúrio e dos trabalhadores de douração de jóias. Em 1721 encontra-se a
menção de doenças em gengivas e tremores das mãos em mineradores. Em 1861 foram
relatados casos graves de estomatites em operários que fabricavam espelhos e de mineradores
sem nenhum dente (BAIR, 2002 apud ACPO, 2006).

Os indivíduos podem expor-se aos vapores de Hg elementar, mercuriais inorgânicos e


às poeiras contendo mercuriais alquílicos, intoxicando-se com esses compostos, em indústrias
que os produzem ou os usam como matéria-prima, ou pelo manuseio dos produtos
industrializados (HSDB, 2000 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

A intoxicação por mercúrio, principalmente aquela a longo prazo, pode ocorrer entre
trabalhadores em qualquer tipo de atividade ou indústria em que se utilize o mercúrio, seja
numa etapa intermediária de um processo, seja na obtenção de produtos derivados. Em locais
de trabalho onde se emprega o mercúrio metálico, altas concentrações de seu vapor podem
ocorrer no ar ambiente em conseqüência de sua volatilidade, o que se pode constituir em sério
risco de mercurialismo. Muitas vezes laboratórios químicos, físicos e gabinetes odontológicos
chegam a apresentar concentrações de mercúrio no ar superiores ao limite recomendado
(SALGADO et al., 1986 apud AZEVEDO, 2003).

Diversas profissões possibilitam a exposição ao mercúrio, sendo que a via de entrada


principal do produto no organismo do trabalhador é por inalação, dado que o mercúrio
metálico evapora em temperatura ambiente e, quanto mais quente o local de trabalho, maior a
quantidade evaporada e, portanto, maior o risco de inalação (ACPO, 2006).

Além da via respiratória, as vias cutânea, ocular e digestiva também são importantes
meios de penetração/absorção do mercúrio e seus compostos, considerando-se a exposição
ocupacional (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

As diferentes formas de apresentação do mercúrio oferecem riscos diferenciados de


exposição. Além da forma de mercúrio metálico, cujos vapores são inodoros e incolores e o
trabalhador não tem noção de que está inalando tais vapores, temos diversos compostos
inorgânicos (cloreto de mercúrio - HgCl2; sulfeto de mercúrio - HgS; cloreto mercuroso -
30

Hg2Cl2) e diversos compostos orgânicos em uso (cloreto de metilmercúrio - CH3HgCl;


metilmercúrio - Hg(CH3)2 e acetato de fenilmercúrio - C8H8HgO2), sendo os orgânicos de
fácil solubilidade na água e nos tecidos adiposos do corpo humano, transpondo as barreiras
hematoencefálica e placentária. Já o mercúrio inorgânico concentra-se nos rins, danificando
os néfrons (AZEVEDO, 2003).

Os sintomas de uma intoxicação aguda por mercúrio inorgânico ou metálico são


irritação pulmonar (pneumonia química), que pode produzir um edema pulmonar agudo.
Também é possível que seja afetada a função renal. Quase sempre, a intoxicação aguda se
deve à ingestão acidental ou voluntária dos sais de mercúrio, que produz uma grave
inflamação do trato gastrointestinal, seguida rapidamente de insuficiência renal pela necrose
dos órgãos (OIT, 1998).

O envenenamento crônico pelo mercúrio inorgânico começa geralmente de forma


assintomática, o que dificulta sua detecção precoce. O principal órgão danificado é o sistema
nervoso. Inicialmente, podem ser aplicados testes usados para detectar as mudanças
psicomotoras e neuromusculares e o tremor ligeiro. Às vezes é possível detectar efeitos renais
leves (proteinuria, albuminuria, enzimuria) antes dos efeitos neurológicos (OIT, 1998).

Se a exposição excessiva ao mercúrio inorgânico não for descontinuada, os sintomas


neurológicos e outras manifestações como tremor, sudorese e dermatografismo se acentuam, e
aparecem mudanças no comportamento e transtornos de personalidade, acompanhados, em
alguns casos, de problemas digestivos (estomatite, diarréia) e de uma deterioração no estado
geral de saúde (anorexia, perda de peso). Uma vez chegado neste estágio, o afastamento da
exposição não mais permite a recuperação total do trabalhador (OIT, 1998).

Com relação ao mercúrio orgânico, os sinais e os sintomas da intoxicação aguda


também não são facilmente percebidos no início, aparecendo depois de um período de
latência que pode oscilar entre uma e diversas semanas. Este período da latência depende do
valor da dose, assim, quanto maior a dose, menor o tempo de latência. Na exposição crônica
ao mercúrio orgânico, essencialmente os mesmos sintomas e sinais da aguda são percebidos,
devido a sua acumulação no sistema nervoso central, o que produz danos a área sensorial,
visual e auditiva. Nos casos de intoxicação mais graves há ocorrência de convulsões (OIT,
1998).

Alterações do sistema nervoso podem ocorrer com ou sem envolvimento do trato


gastrintestinal, onde dois quadros clínicos podem ser observados: leves tremores, semelhantes
31

aos encontrados em esclerose múltipla, e parkinsonismo, com tremor em estado de descanso e


redução da função motora. Uma das duas condições é dominante e pode ser complicada por
irritação mórbida e pronunciada hiperatividade mental (eretismo mercurial) (HSDB, 2000
apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Azevedo (2003) comprova que, mesmo em concentrações baixas de mercúrio no


ambiente de trabalho, os trabalhadores apresentam tremores. Exemplifica indicando que
trabalhadores que ficaram expostos por mais de quinze anos a concentração de apenas 0,026
mg/m3 apresentaram tais sintomas.

Os tremores são mais marcados em situações em que o paciente se sente embaraçado ou


envergonhado. Em casos extremos, tais tremores invadem toda a musculatura voluntária de
forma continuada, havendo casos em que o paciente necessita ser amarrado para evitar que
caia da cama. Os tremores cessam durante o sono, embora cólicas e contrações possam ser
observadas e sejam mais evidentes em situação de estresse emocional, uma das características
que permitem diagnosticar a intoxicação por mercúrio (HSDB, 2000 apud NASCIMENTO &
CHASIN, 2001).

Para o HSDB (2000) apud Nascimento & Chasin (2001), o parkinsonismo mercurial
apresenta-se como andar cambaleante, oscilante e irregular, ausência de reflexos de equilíbrio
e hipotonia, sintomas vegetativos leves com rigidez facial, sialorréia, dentre outros.
Entretanto, esse parkinsonismo é geralmente leve.

Para o estabelecimento de políticas públicas no campo da saúde do trabalhador, o


Ministério da Saúde brasileiro, considerando o artigo 6.º, parágrafo 3.º, inciso VII, da Lei n.º
8.080/90, definiu a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, a ser adotada como referência
dos agravos originados no processo de trabalho no Sistema Único de Saúde, para uso clínico e
epidemiológico. As doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos
(denominadas e codificadas segundo a CID-10), são apresentadas na tabela 2.8.
32

Tabela 2.8. Doenças causalmente relacionadas ao mercúrio e seus compostos tóxicos

Doenças relacionadas ao mercúrio e seus compostos CID-10


Outros transtornos mentais decorrentes de lesão e disfunção cerebrais e de F06.-
doença física
Transtornos de personalidade e de comportamento decorrentes de doença, F07.-
lesão e de disfunção de personalidade
Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático não-especificado F09.-
Episódios Depressivos F32.-
Neurastenia (inclui Síndrome de Fadiga) F48.0
Ataxia Cerebelosa G11.1
Outras formas especificadas de tremor G25.2
Transtorno extrapiramidal do movimento não-especificado G25.9
Encefalopatia Tóxica Aguda G92.1
Encefalopatia Tóxica Crônica G92.2
Arritmias cardíacas I49.-
Gengivite Crônica K05.1
Estomatite Ulcerativa Crônica K12.1
Dermatite Alérgica de Contato L23.-
Doença Glomerular Crônica N03.-
Nefropatia Túbulo-Intersticial induzida por metais pesados N14.3
Efeitos Tóxicos Agudos T57.1
Fonte: BRASIL, 2001 (adaptação)

2.2.3. Legislação sobre exposição ocupacional ao mercúrio

A NR 7 (BRASIL, 1978a) estabelece que o PCMSO deve incluir, entre outros, a


realização obrigatória dos exames médicos: admissional, periódico, de retorno ao trabalho, de
mudança de função e demissional. Os exames compreendem a avaliação clínica, abrangendo
anamnese ocupacional e exame físico e mental e exames complementares, realizados de
acordo com os termos específicos nesta NR e seus anexos.

Para os trabalhadores cujas atividades envolvem os riscos discriminados no Quadro I da


NR 7, os exames médicos complementares deverão ser executados e interpretados com base
nos critérios constantes do referido quadro e seus anexos. A periodicidade de avaliação dos
indicadores biológicos do Quadro I deverá ser, no mínimo, semestral, podendo ser reduzida a
critério do médico coordenador, ou por notificação do médico agente da inspeção do trabalho,
ou mediante negociação coletiva de trabalho. A tabela 2.9 apresenta os parâmetros para
controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio inorgânico.
33

Tabela 2.9. Parâmetros para controle biológico da exposição ocupacional ao mercúrio

Indicador
Agente Biológico Método
VR* IBMP** Analítico Amostragem Interpretação
Químico Material Análise
Biológico
Mercúrio Urina Mercúrio Até 5 35 µg/g EA A PU T-12 EE
Inorgânico µg/g creatinina 12
creatinina
* IBMP - Índice Biológico Máximo Permitido: é o valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe
que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem deste
valor significa exposição excessiva
** VR - Valor de Referência da Normalidade: valor possível de ser encontrado em populações não-expostas
ocupacionalmente
Fonte: BRASIL, 1994

Já a NR 15 (BRASIL, 1978b), no seu anexo nº 11, estabelece os agentes químicos cuja


insalubridade é caracterizada por Limite de Tolerância e inspeção no local de trabalho. Nas
atividades ou operações nas quais os trabalhadores ficam expostos a agentes químicos, a
caracterização de insalubridade ocorrerá quando forem ultrapassados os Limites de Tolerância
constantes do Quadro nº 1 do referido anexo. Todos os valores fixados no Quadro nº 1 são
válidos para absorção apenas por via respiratória. A tabela 2.10 apresenta o Limite de
Tolerância para o mercúrio, exceto as suas formas orgânicas.

Tabela 2.10. Tabela de limites de tolerância ao mercúrio

Absorção Até 48 Grau de insalubridade a


Agentes Valor ser considerado no caso
também horas/semana
Químicos teto de sua caracterização
pela pele ppm* mg/m3**
Mercúrio
(todas as formas - - - 0,04 Máximo
exceto orgânicas)
* ppm - partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar contaminado
** mg/m3 - miligramas por metro cúbico de ar
Fonte: BRASIL, 1978

Segundo Zavariz (2007), os valores para níveis de mercúrio no ar nos locais de trabalho
previstos na legislação brasileira estão totalmente defasados. Embora nenhum valor limite
para vapores de mercúrio no ar seja seguro, devem ser adotados minimamente os valores
internacionais recomendados pelos órgãos mundialmente reconhecidos, desde que não
resultem em contaminação ou alterações à saúde dos expostos. São os seguintes:

• Valor Limite de Tolerância de 0.025 mg/m3 (0.025 mg de mercúrio por metro cúbico
de ar) para jornada normal de 8 horas diárias e 40 horas semanais (adotado pela ACGIH -
American Conference of Governmental Industrial Hyienists).
34

• Limite Teto de 0.1 mg/m3 de ar. Este valor não pode ser ultrapassado em nenhum
momento da jornada de trabalho (adotado pela OSHA - Occupational Safety and Health
Administration).

Na tabela 2.11 pode-se observar todos os valores de referência para os Limites de


Exposição propostos pela OSHA, NIOSH e ACGIH - American Conference of
Governamental Industrial Hygienists - para o mercúrio.

Tabela 2.11. Limites de exposição aos vapores de Hg pela OSHA, NIOSH e ACGIH

Compostos
Tipo Compostos Alquil Compostos Aril
Inorgânicos
OSHA
8 horas TWA 0.01 mg/m3 0.1 mg/m3 0.1 mg/m3
C (Teto) 0.04 mg/m3 - -
NIOSH
8 horas TWA 0.01 mg/m3 - Pele 0.05 mg/m3 - Pele 0.05 mg/m3 - Pele
STEL/C (Teto) 0.03 mg/m (STEL) - Pele 0.1 mg/m (C) - Pele 0.1 mg/m3 (C) - Pele
3 3

IDLH 2 mg/m3 10 mg/m3 10 mg/m3


ACGIH
8 horas TWA 0.01 mg/m3 - Pele 0.1 mg/m3 - Pele 0.025 mg/m3 - Pele
STEL 0.03 mg/m3 - Pele - -
Fonte: OSHA, 2007

As siglas significam (CISQ, 2004):

• TLV - Threshold Limit Value (Limite de Limiar) - é a concentração no ar de


substâncias selecionadas pela ACGIH, que representam condições, nas quais se acredita que
praticamente todos os trabalhadores podem ser expostos continuamente sem efeitos adversos.
TLV´s são guias de aconselhamento, não sendo padrões legais, mas padrões baseados em
evidências de experiência industrial, de estudos com animais ou com humanos, quando
existirem. Há diferentes tipos de TLV´s: TWA, STEL e C;

• TLV-TWA - Time Weighted Average (Média Ponderada de Tempo) - é considerado o


tempo médio de exposição de uma pessoa a um agente químico, relativo a um período de
trabalho (por exemplo, 8 horas/dia). A média é determinada por amostragem do contaminante
ao longo do período;

• TLV-STEL - Short Term Exposure Limit (Limite de Exposição Curta) - consiste na


concentração máxima a qual indivíduos podem ser expostos por um curto período (15
minutos), por apenas quatro vezes ao dia ao longo da jornada, e com intervalos de pelo menos
1 hora entre as exposições;
35

• TLV-C - Ceiling (Teto ou Limite Máximo) - é uma descrição geralmente associada a


um limite de exposição, e refere-se à concentração que não deve ser ultrapassada, nem por um
instante;

• IDLH - Immediately Dangerous to Life and Health (Imediatamente Perigoso à Vida e


à Saúde) - representa o nível máximo de exposição do qual uma pessoa pode escapar do local
em 30 minutos sem a manifestação de sintomas que impeçam sua saída ou afetem
irreversivelmente sua saúde.

Segundo Grigoletto et al. (2008), analisando os valores limites estabelecidos pela


OSHA, NIOSH e ACGIH, verifica-se que esses são semelhantes para todos os compostos de
mercúrio (alquil, aril e compostos inorgânicos de mercúrio). Observa-se também que, para o
composto alquil mercúrio (metilmercúrio), os limites de exposição para 8 horas de trabalho
são até dez vezes menores comparando com os outros compostos (aril e mercúrio inorgânico).

Na NR 15 não há fixação de limites para as várias formas do mercúrio, como o faz a


ACGIH (exceto para os alquilmercuriais). Assim, para todas as formas de mercúrio, exceto as
orgânicas, o limite de exposição ocupacional (LEO) segundo a legislação brasileira é de 0,04
mg/m3 (NASCIMENTO & CHESIN, 2001).

A NIOSH sugere que os limites em ambientes de trabalho para vapores de mercúrio


devam ser inferiores a 0,05 mg/m3, pois o eretismo, que é um sintoma característico de
mercurialismo crônico e mais freqüentemente observado que tremores, ocorre em 33% dos
trabalhadores expostos a níveis superiores a 0,05 mg/m3 e em 8% dos trabalhadores abaixo
desse nível. Os estudos realizados em ambientes laborais demonstram que exposições mais
elevadas aos vapores variam de 0,016 a 0,687 mg/m3 (ACGIH, 1986 apud NASCIMENTO &
CHESIN, 2001).

2.2.4. Medidas de ordem técnica e médica para redução dos riscos ocupacionais

No controle da exposição ocupacional e na prevenção das intoxicações algumas


medidas preventivas de ordem técnica devem ser tomadas no local de trabalho (HSDB, 2000
apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001). São elas:

• monitorização ambiental - vigiar para que a concentração de mercúrio e de seus


compostos no ambiente ocupacional não ultrapasse os limites recomendados pela legislação;
36

• derramamento do produto - deve ser evitado e, se ocorrer, limpar imediatamente e


adequadamente a área; vasilhames com mercúrio e seus compostos devem estar bem
fechados;

• os assoalhos - não devem ser porosos pois o mercúrio pode acumular-se em cantos ou
frestas e, devido à sua elevada volatilidade, contaminar o ambiente, e devem ser lavados com
solução de sulfeto de cálcio ou com outro reagente disponível;

• todos os trabalhadores diretamente envolvidos nas operações de manipulação de


compostos de mercúrio devem banhar-se antes de deixar o local de trabalho; também deve ser
evitado alimentar-se ou fumar nesses locais;

• ventilação adequada e uso de uniformes descartáveis - de modo que não venham a


constituir uma fonte de contaminação e absorção cutânea, e uniformes úmidos ou
contaminados devem ser removidos e trocados imediatamente;

• máscaras - devem ser apropriadas a vapores de mercúrio;

• lentes de contato - devem ser evitadas por trabalhadores que manipulam mercuriais;

• pele e mãos - quando contaminadas, devem ser imediatamente lavadas com água.

De acordo com a OIT (1998), todo o esforço possível deve ser feito para substituir o
mercúrio por outras substâncias que envolvem menos riscos. Por exemplo, a indústria do
feltro pode usar compostos sem mercúrio. Especificamente nas minas, podem-se aplicar
técnicas de perfuração úmidas. A ventilação é a medida de segurança principal e, se uma não
existir a ventilação apropriada, os trabalhadores terão que usar o equipamento de proteção
respiratória.

Na indústria, sempre que é possível, o mercúrio deve ser manipulado em sistemas


fechados hermeticamente e medidas estritas de higiene do trabalho são exigidas. Quando
houver derrame de mercúrio, é importante evitar toda a contaminação das superfícies de
trabalho, que devem ser lisas, de um material não absorvente e ter uma leve declividade para
um coletor ou, na falta dele, uma grade metálica e uma calha cheia da água para recolher
alguma gota do mercúrio que porventura caia (OIT, 1998).

A OIT (1998) recomenda ainda que os trabalhos têm de ser projetados de modo que se
reduza ao mínimo o número de pessoas expostas ao mercúrio. É necessário evitar a
contaminação da roupa e das partes expostas do corpo, o que pode constituir numa fonte
37

perigosa de vapor do mercúrio perto da zona respiratória. As roupas protetoras são para uso
especial, devendo ser trocadas a cada retorno ao trabalho. As operações de pintura com tintas
que contêm compostos de mercúrio devem ser feitas com EPI e ventilação apropriada.

Os compostos alquilmercuriais de corrente curta devem ser eliminados ou substituídos


por outros materiais, sempre que é possível. Se não se pode evitar a manipulação, deve-se
recorrer aos sistemas fechados combinados com uma ventilação apropriada para limitar a
exposição ao mínimo. Muito cuidado deve ser tomado para evitar a contaminação de fontes de
água com os efluentes do mercúrio, já que este pode ser levantado pelos mananciais,
produzindo desastres como o acontecido em Minamata no Japão (OIT, 1998).

Nascimento & Chasin (2001) destacam que medidas preventivas de ordem médica
também devem ser estabelecidas para controle da exposição ocupacional ao mercúrio, e
incluem:

• Exame médico pré-admissional tendo em vista a natureza da toxicidade do mercúrio e


seus compostos, e os tipos de efeitos nocivos que eles acarretam ao organismo, preconiza-se a
realização de cuidadoso exame clínico-laboratorial, previamente à admissão, em pessoas que
poderão vir a expor-se àqueles agentes químicos. Devem ser avaliadas as funções: pulmonar,
hepática, renal, digestiva, além do sistema nervoso e da pele. Devem ser realizadas pesquisas
dos biomarcadores de exposição ao metal (mercúrio no sangue, urina e cabelo). Não é
recomendável admitir, para função que implique em risco de contato com o mercúrio, os
portadores de alterações nos órgãos anteriormente citados ou os que apresentam resultados
preocupantes nas avaliações toxicológicas mencionadas.

• Exame médico periódico, no qual o médico do trabalho deve observar, entre outros
aspectos, lesões gengivais, alterações neurológicas (tremores) e oculares (estado do cristalino
anterior). A espécie do metal e o tipo de exposição determinam o órgão crítico a ser avaliado
pelo clínico (DINMAN, 1973 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001). A avaliação da
condução nervosa, os testes neurocomportamentais e os testes cognitivos podem, também, ser
de muita valia.

• Avaliação médica rotineira dos trabalhadores expostos a compostos de mercúrio, com


a finalidade de reconhecer sinais e sintomas precoces e reverter a situação. Exposição a
vapores de mercúrio (forma elementar) leva ao aparecimento de efeitos no sistema nervoso
central. A medicina do trabalho deve reconhecer no trabalhador os primeiros sinais não
específicos decorrentes da exposição crônica, a denominada síndrome astênica vegetativa ou
38

micromercurialismo (tremores, aumento da tireóide, gengivites, alterações hematológicas


etc.). A tríade excitabilidade, tremores e gengivites é a manifestação característica da
intoxicação por mercúrio pela inalação de seus vapores. Manifestações clínicas dos efeitos
neurotóxicos decorrentes de exposição a metilmercúrio, que devem ser observadas, incluem
parestesia, ataxia, neurastenia, perda de visão e de audição etc. (GOYER, 1996 apud
NASCIMENTO & CHASIN, 2001);

• Monitorização biológica realizada por meio da determinação dos indicadores ou


biomarcadores de exposição (IBE), e posterior comparação do resultado obtido com os limites
biológicos de exposição ou, como chamado na NR 7, índice biológico máximo permitido
(IBMP).

A NR 7, que dispõe sobre os parâmetros de controle biológico da exposição ocupacional


a agentes químicos, propõe a utilização do mercúrio inorgânico urinário total como IBE -
Indicador Biológico de Exposição - de trabalhadores aos compostos de mercúrio.

O IBE mais utilizado para se aferir a exposição ao mercúrio e ao metilmercúrio são suas
próprias determinações em diferentes constituintes do organismo, mais freqüentemente
sangue, cabelo e urina (FRIBERG, 1985 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Para Nascimento & Chasin (2001), o IBE a ser escolhido para adoção em programa de
toxicovigilância da exposição ao mercúrio, em pesquisa, ou em análise de emergência, irá
depender além, obviamente, da disponibilidade de condições analíticas, do tipo de exposição
(intencional, acidental, ocupacional, ambiental, alimentar, medicamentosa) e do composto
mercurial a que se está exposto. Não há uma regra única, nem a existência para o mercúrio de
um IBE que seja universal.

O mercúrio no sangue é um bom IBE quando se deseja conhecer o grau de exposição


recente, e aplica-se tanto para o mercúrio metálico, quanto para o inorgânico e o orgânico. No
caso específico de pretender-se avaliar a exposição recente ao metilmercúrio, pode-se recorrer
às hemácias em vez de sangue total. O sangue pode ser usado na avaliação da exposição
ocupacional e também ambiental. A dieta e a exposição ambiental podem afetar as
concentrações de mercúrio no sangue (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O mercúrio na urina é um IBE razoável para avaliação da exposição ao mercúrio


inorgânico ou ao elementar, tendo boa aplicação na vigilância da exposição ocupacional
recente a ambos (ROELS et al., 1987 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).
39

A facilidade de colheita também depõe a seu favor. Muitos especialistas, instituições


científicas e órgãos governamentais propõem valores limites para os IBE´s, mantendo-se, à
luz dos conhecimentos disponíveis, a garantia de manutenção da saúde das pessoas. Estes são
os Limites de Tolerância Biológicos (LTB´s) ou índices biológicos máximos permitidos
(IBMP´s), que, se nunca ultrapassados, fazem crer que uma intoxicação não sobrevirá daquela
exposição. Não há um consenso sobre estes limites e eles variam segundo os diferentes
autores e instituições, podendo ser diminuídos sempre que nova evidência toxicológica assim
o determinar (NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

De acordo com estas autoras, a avaliação dos dados toxicológicos e das evidências
epidemiológicas permite o estabelecimento da identificação do risco para alguns efeitos, tais
como, carcinogenicidade, mutagenicidade, efeitos na reprodução e toxicidade sistêmica.

2.3. PROBLEMAS AMBIENTAIS DA CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO

A prevenção da exposição ambiental de populações ao mercúrio pode ser razoavelmente


conseguida pela avaliação do mercúrio no ambiente e observância a certos limites propostos.
Estes limites se baseiam nas concentrações de mercúrio já registradas em distintas partes do
mundo e nas quais não se detectaram efeitos nocivos sobre a saúde da população exposta.
Contudo, eles não foram suficientemente estudados e avaliados, ao contrário dos limites
ocupacionais, e poderão sofrer alterações sempre que novas pesquisas assim o recomendarem,
ou se mudanças importantes das condições de exposição aconteceram (AZEVEDO, 1994).

2.3.1. Ecotoxicidade do mercúrio

Diversos autores citados por Azevedo (2003) mencionam que toda vez que um
organismo contaminado por mercúrio estiver em nível inferior numa cadeia trófica, seu
predador absorverá aquele mercúrio orgânico, mas revelará concentrações comparativamente
aumentadas, fenômeno este conhecido como biomagnificação.

De acordo com o USGS (2000 e 2009b), a biomagnificação refere-se à seqüência de


processos que resulta em altas concentrações de uma substância nos organismos de níveis
tróficos mais elevados (peixes, animais que se alimentam de peixes e pessoas), e ocorre
porque a fonte de alimento é progressivamente mais concentrada, aumentando assim a
bioacumulação no topo da cadeia alimentar.
40

A bioacumulação é o processo no qual os organismos (inclusive seres humanos) podem


adquirir contaminantes mais rapidamente do que seus corpos podem eliminá-los, e depende da
taxa de absorção, do modo de captação (ingestão, epiderme, guelras de peixes, etc.), de quão
rapidamente a substância é eliminada do organismo, da transformação da substância por
processos metabólicos, dos lipídios (gordura) contidos no organismo, da hidrofobicidade da
substância, de fatores ambientais, e outros fatores físicos e biológicos. A bioacumulação pode
resultar em concentrações da substância maiores do que seria esperado se a água fosse o único
mecanismo de exposição (USGS, 2009a).

Em estudo de avaliação da presença de mercúrio em diversos tipos de peixes num


ambiente contaminado, foi observado que o metal se concentrava mais intensamente à medida
que se evoluía na cadeia trófica. Os peixes vegetarianos apresentavam 6,64 ppm, os peixes
que se alimentavam de invertebrados 12,4 ppm, os peixes onívoros 26,6 ppm e os peixes
piscívoros 40,2 ppm (AZEVEDO, 2003).

Para dar uma idéia da magnitude a respeito da biomagnificação, Raposo (2001)


considera os seguintes elementos da cadeia alimentar e a respectiva concentração de
mercúrio: água fresca (10 ppt de Hg), algas (28 a 34 ppb de Hg) e músculo de peixes (230 a
500 ppb de Hg). Com base nos cálculos do autor, é possível verificar uma relação da ordem
de 1:50.000 entre a concentração da água e a concentração máxima no músculo de peixes.

Quanto à toxicidade para os diversos seres vivos, o mercúrio afeta de diferentes formas
os microorganismos, as plantas e animais aquáticos e as plantas e animais terrestres, conforme
exposto a seguir.

• Toxicidade para microrganismos: O mercúrio inorgânico lhes provoca efeitos


nocivos em concentrações de 5 µg/L, em meio de cultura, e os organomercuriais, em
concentrações 10 vezes inferiores. Um dos fatores que afetam a toxicidade é a velocidade de
absorção do metal pelas células. O mercúrio se liga a membranas celulares dos
microrganismos, aparentemente a um número limitado de sítios de ligação. Assim, os efeitos
estão relacionados à densidade celular e às concentrações do mercúrio no substrato. Esses
efeitos tendem a ser irreversíveis, por isso, o mercúrio, mesmo em baixas concentrações,
representa um grave risco aos microrganismos (WHO, 1989).

• Toxicidade para plantas e animais aquáticos: As formas de mercúrio orgânico


tendem a ser mais tóxicas que as inorgânicas para os animais aquáticos. Concentração de 1
µg/L de mercúrio inorgânico afeta esses organismos. Vários são os efeitos fisiológicos e as
41

alterações bioquímicas, além de efeitos sobre a reprodução, associados às concentrações


subletais de mercúrio. Estas alterações são de difícil avaliação (WHO, 1989).

Os organomercuriais são rapidamente absorvidos por organismos aquáticos. Estes, e


particularmente os insetos, acumulam mercúrio em altas concentrações. Os peixes absorvem o
mercúrio com facilidade e o acumulam em seus tecidos, principalmente na forma de
metilmercúrio, mesmo se expostos ao mercúrio inorgânico. A metilação bacteriana do
mercúrio inorgânico (além de se dar no ambiente) pode ocorrer por meio das bactérias
encontradas nas guelras, superfície ou intestinos do peixe. Poucas são as evidências de que os
peixes metilem ou desmetilem mercúrio (WHO, 1989).

Tanto o mercúrio orgânico quanto o inorgânico são absorvidos diretamente da água


como dos alimentos ou da ingestão dos sedimentos. No entanto, o metilmercúrio acumula-se
mais eficientemente do que o mercúrio inorgânico na maioria dos organismos aquáticos.
Tanto a absorção como a depuração dependem da forma do metal, da fonte de exposição
(água ou alimento) e do tipo de tecido receptor, resultando em diferentes padrões de
acumulação (NOAA, 1996 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

O acúmulo de mercúrio nas cadeias aquática e terrestre resulta em risco para o homem,
principalmente pelo consumo de peixe de águas contaminadas, particularmente os predadores,
como atum, peixe-espada e outros peixes de água salgada, mesmo se pescados distantes da
região costeira, frutos do mar como mariscos, além de pássaros e mamíferos que se alimentam
de peixes e ovos de pássaros (WHO, 1976).

A eliminação do metilmercúrio de organismos aquáticos e em peixes é lenta, podendo


levar meses ou anos. A perda de mercúrio inorgânico é mais rápida e assim a maior parte é
retida como metilmercúrio (WHO, 1989).

• Toxicidade para plantas e animais terrestres: Os vegetais tendem a ser mais


insensíveis aos efeitos tóxicos dos compostos mercuriais. Em plantas superiores observa-se
que o mercúrio pode interferir na fotossíntese, na transpiração, na absorção de água e na
síntese de clorofila, sendo que esses efeitos podem ser atribuídos mais aos danos causados às
raízes do que propriamente a uma ação direta do metal. As ervas tendem a acumular mais
metais que as gramíneas e os vegetais de folhas verdes (AZEVEDO, 2003).

Dos animais terrestres que se contaminam com mercúrio, os pássaros são os mais
estudados. A forma como essas aves armazenam o mercúrio é variada e depende da espécie,
42

órgão e locais onde vivem. Os mais contaminados são os que se alimentam em estuários
(WHO, 1989).

Os pássaros alimentados com mercúrio inorgânico apresentam uma diminuição da


ingestão de alimento e, consequentemente, baixo crescimento. Outros efeitos mais sutis são
observados em sistemas enzimáticos, função cardiovascular, parâmetros sangüíneos, resposta
imunológica, estrutura e função renal, além de alterações de comportamento (BOENING,
2000 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

Azevedo (2003) destaca que existem poucos estudos que avaliam os efeitos do mercúrio
em mamíferos selvagens, e a maior parte está relacionada com o vison (espécie de marta) e
com o Microtus ochrogaster. Nestes animais o metilmercúrio mostrou-se mais tóxico que as
espécies inorgânicas do mercúrio.

As fontes de emissão e contaminação ambiental pelo mercúrio dividem em duas:


naturais e antropogênicas (atividade humana).

• Fontes naturais: As principais fontes naturais de mercúrio são as desgaseificações da


crosta terrestre, as emissões dos vulcões e a evaporação de corpos aquáticos. As estimativas
mais recentes indicam que as emissões naturais são da ordem de 2.700 a 6.000 toneladas / ano
(Lindberg et al., 1987 apud WHO, 1991).

De acordo com Clayton (1982) apud Nascimento & Chasin (2001), o mercúrio é obtido
quase que exclusivamente do HgS, mineral cuja composição é de 86,2% Hg e 13,8% S,
embora possa ser encontrado em outros minérios na forma de mercúrio elementar, sendo mais
freqüente em calcário, arenito, serpentina, andesita, basalto e riolita (alkaline feldspar e
quartzo).

• Fontes antropogênicas: A capacidade de extração mundial de mercúrio por


mineração é estimada em cerca de 10.000 toneladas / ano, mas este valor varia
consideravelmente de ano para ano, dependendo do valor comercial do metal. Atividades de
mineração também resultam em perdas de mercúrio em função do despejo de rejeitos e
descargas diretas para a atmosfera (WHO, 1990).

Outras fontes importantes de emissão de mercúrio são a queima de combustíveis


fósseis, fundição de minérios metálicos que contém enxofre, mineração de ouro, produção de
cimento, incineração de lixo e diversas aplicações industriais do metal. A liberação total de
43

mercúrio para a atmosfera devido à atividade humana, embora difícil de ser avaliada com
precisão, é estimada em torno de 3.000 toneladas / ano (WHO, 1991).

Como o mercúrio natural deriva da desgaseificação da crosta terrestre, através de


vulcões e provavelmente da evaporação dos oceanos, mesmo havendo a diminuição da
atividade antropogênica desse metal, admite-se que a contaminação do ambiente, das águas e
do solo continue a ocorrer através de processos de mineração de chumbo, cobre e zinco, que
emitem mercúrio para a atmosfera em quantidades estimadas em 100 toneladas / ano (WHO,
1990 apud NASCIMENTO & CHASIN, 2001).

2.3.2. Legislação ambiental brasileira sobre o mercúrio

A Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005) dispõe sobre a classificação dos corpos
de água (doces, salobras e salinas) e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem
como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes. Especificamente para o
mercúrio, são estabelecidos os seguintes valores máximos conforme demonstra a tabela 2.12.

Tabela 2.12. Valor máximo de mercúrio total admitido nas águas e efluentes no Brasil

Classificação da água Classe Valor máximo de mercúrio


1e2 0,0002 mg/L Hg
Água doce 3 0,002 mg/L Hg
4* ---
1 0,0002 mg/L Hg
Água salina 2 1,8 µg/L Hg
3* ---
1 0,0002 mg/L Hg
Água salobra 2 1,8 µg/L Hg
3* ---
Efluentes de qualquer fonte poluidora 0,01 mg/L Hg
* Águas destinadas à navegação e à harmonia paisagística
Fonte: BRASIL, 2005

A Resolução CONAMA 401 (BRASIL, 2008) estabelece os limites máximos de


chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os
critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras
providências. As pilhas e baterias que sejam comercializadas, fabricadas no território nacional
ou importadas, deverão atender aos seguintes teores máximos dos metais de interesse:

• pilhas e baterias de pilhas elétricas zinco-manganês e alcalino-manganês devem conter


até 0,0005% em peso de mercúrio, quando for do tipo pilha ou acumulador portátil, e conter
44

até 2,0% em peso de mercúrio, quando for do tipo pilha-botão, bateria de pilha botão e pilha
miniatura;

• baterias com sistema eletroquímico chumbo-ácido, não poderão possuir teores de


metais acima do limite de 0,005% em peso de mercúrio.

A ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas - possui uma norma específica


para classificação de resíduos perigosos, a NBR 10004:2004, que substituiu a norma de igual
numeração, datada de 1987 (ABNT, 2004).

De acordo com a NBR 10004:2004, os resíduos gerados em diferentes fontes produtoras


podem ser classificados de acordo com o grau de risco ou periculosidade para a saúde pública
e meio ambiente como: Classe I - perigosos e Classe II - não perigosos. Os resíduos Classe I
são considerados perigosos por apresentarem uma das cinco características: inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. O mercúrio inclui-se como Classe I
pelo risco, principalmente, ligado à toxicidade e patogenicidade humana, além da
contaminação ambiental (GRIGOLETTO et al., 2008).

As lâmpadas de pós-consumo que possuem vapor de mercúrio estão destacadas na NBR


10004:2004 (Anexo A) que classifica os resíduos quanto aos seus riscos potenciais ao meio
ambiente e à saúde pública, indicando aqueles que devem ter manuseio e destinação mais
rigidamente controlados. Esta norma classifica especificamente as lâmpadas fluorescentes
após o uso como “resíduo perigoso de fontes não específicas (resíduo classe I) sob código
F044, sendo a característica de periculosidade a sua toxidez (SANCHES, 2008).

São os seguintes os anexos da NBR 10004:2004:

Tabela 2.13. Resíduos perigosos de fontes não específicas (Anexo A)

Código de Constituinte Característica de


Resíduo perigoso
identificação perigoso periculosidade
F044 Lâmpada com vapor de Mercúrio Tóxico
mercúrio após o uso
Fonte: ABNT, 2004
45

Tabela 2.14. Resíduos perigosos de fontes específicas (Anexo B)

Fonte Código de Constituintes Características de


Resíduo perigoso
geradora identificação perigosos periculosidade
Lodos do tratamento de águas
residuárias da produção do
Químicos monômero de cloreto de vinila
K175 Mercúrio Tóxico
orgânicos que utiliza como catalisador o
cloreto mercúrico num processo
à base de acetileno
Lamas de purificação de
salmoura, provenientes de
células de mercúrio em
K071 unidades de produção de cloro,
Mercúrio Tóxico
onde não se faz a prépurificação
Química
da salmoura
inorgânica Lodos provenientes do
tratamento de efluentes líquidos
K106 originados no processo de Mercúrio Tóxico
produção de cloro em células de
mercúrio
Efluentes líquidos provenientes
de etapas de limpeza ou
K079 materiais cáusticos gerados em
Mercúrio Tóxico
processos de produção de tintas
Lodos provenientes do
Fabricação tratamento de efluentes líquidos
K081 Mercúrio Tóxico
de tintas originados no processo de
produção de tintas
Lodos ou poeiras provenientes
do sistema de controle de
K082 emissão de gases empregado na
Mercúrio Tóxico
produção de tintas
Fonte: ABNT, 2004

Tabela 2.15. Substâncias que conferem periculosidade aos resíduos (Anexo C)

Substâncias Código de CAS - Chemical


Nome comum Outra denominação identificação Abstract Substance
Acetato de fenilmercúrio* - P092 62-38-4
Fulminato de mercúrio (II)* - P065 628-86-4
Mercúrio* - U151 7439-97-6
Mercúrio (compostos de - - -
mercúrio) NE**
* Substâncias agudamente tóxicas (anexo D) ** NE- Não especificado de outra forma
Fonte: ABNT, 2004

Tabela 2.16. Concentração máxima no extrato obtido no ensaio de lixiviação (Anexo F)

Código de Limite máximo no CAS - Chemical


Parâmetro
identificação Lixiviado (mg/L) Abstrat Substance
Inorgânicos

Mercúrio D011 0,1 7439-97-6


Fonte: ABNT, 2004
46

Tabela 2.17. Padrões para o ensaio de solubilização (Anexo G)

Parâmetro Limite máximo no extrato (mg/L)

Mercúrio 0,001
Fonte: ABNT, 2004

Segundo Durão & Windmöller (2008), o teste de lixiviação descrito na norma NBR
10005:2004, consiste em simular em laboratório as condições mais inadequadas possíveis nos
processos de deposição e verificar o quanto de mercúrio é extraído do resíduo nessas
condições. A fase líquida usada como extrator constituirá o lixiviado que será submetido a
análises químicas para verificar a periculosidade do resíduo. Caso a concentração do mercúrio
no lixiviado esteja acima do limite máximo, ele deve ser disposto em instalações adequadas.

Mais especificamente, com relação aos resíduos gerados pelas lâmpadas fluorescentes, o
bulbo de vidro de uma lâmpada apresenta 70% da massa total de uma lâmpada de vapor de
mercúrio. O chumbo, presente no vidro, excede os limites estabelecidos pela NBR
10004:2004, logo, esse resíduo é classificado como perigoso, ou seja, um resíduo de Classe I.
O pó de fósforo, que representa 2% da massa total de uma lâmpada fluorescente, contém
mercúrio e cádmio. Concentrações elevadas do mercúrio, que podem variar de lâmpada para
lâmpada, também qualificam esse resíduo como perigoso (DURÃO & WINDMÖLLER,
2008).

Zavariz (2007) destaca no Brasil não existe legislação específica que abarca os diversos
aspectos, de modo a prevenir os riscos advindos do uso de mercúrio em lâmpadas. Entretanto,
existem fundamentos legais que dão embasamento para se estabelecer padronizações de
procedimentos e exigências. Também não existe determinação legal da quantidade de
mercúrio que deve ser utilizada, por tipo de lâmpada, de modo a reduzir os riscos para a vida.

A Constituição de 1988, no artigo 225 define que “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações” (ZAVARIZ, 2007).

É considerado crime previsto no Código Penal Brasileiro “expor a vida ou a saúde de


outrem a perigo direto e iminente”. O Código Civil Brasileiro estabelece que “aquele que, por
ato ilícito causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, ainda que os danos causados pelo
mercúrio sejam irreparáveis do ponto de vista social e de saúde pública (ZAVARIZ, 2007).
47

O acordo “Gestão Ambiental de Resíduos Especiais de Geração Universal e


Responsabilidade Pós-Consumo”, assinado pelos Ministros do Meio Ambiente dos países do
Mercosul, estende a responsabilidade da gestão ambiental aos fabricantes/importadores de
lâmpadas de mercúrio e tubos fluorescentes, entre outros produtos (ZAVARIZ, 2007).

São direitos básicos previstos no Código de Defesa do Consumidor: a proteção da vida,


saúde e segurança, contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e
serviços considerados perigosos ou nocivos, bem como à informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, preço e sobre os riscos que apresentem. Neste sentido, cabe ao
fabricante prestar informações através de impressos apropriados que devem acompanhar o
produto. Independentemente da existência de culpa os fabricantes e importadores respondem
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos (ZAVARIZ, 2007).

Para suprir esta lacuna legislativa, destaca Zavariz (2007), a coordenadora do Programa
Nacional de Mercúrio, do Ministério do Trabalho e Emprego/Delegacia Regional do Trabalho
no Estado de São Paulo, no início do ano de 2006, convidou diversas entidades
representativas da área governamental e da sociedade civil organizada para discutir e elaborar
um documento em comum acordo, abordando todos os aspectos preventivos aos riscos
relacionados à fabricação, importação e exportação, uso, transporte, descarte, coleta,
reciclagem e disposição final de lâmpadas com mercúrio e dar encaminhamentos ao mesmo.

A primeira reunião ocorreu em março de 2006, quando foi criado um grupo de trabalho,
o GT - Lâmpadas, constituído por representantes das entidades presentes, que assumiram o
compromisso de participar das reuniões do grupo, até a finalização dos trabalhos, tendo como
objetivo discutir e elaborar um documento abordando todas as questões relativas às lâmpadas
com mercúrio, desde a fabricação até o destino final dos produtos, perpassando pela
quantidade de mercúrio utilizada por tipo de lâmpada, a forma de reciclagem, recuperação de
mercúrio, a coleta, o transporte, a armazenagem, o manuseio e o descarte, inclusive
doméstico, e que servirá de subsídio para adoção de procedimentos e regulamentações a
serem implementados pelos órgãos competentes (ZAVARIZ, 2007).

Novas reuniões do GT - Lâmpadas foram realizadas em setembro e outubro de 2008


com a presença de representantes de diversas entidades, porém, devido à complexidade do
assunto e a multiplicidade de interesses, não houve consenso entre os participantes, e nova
48

reunião foi marcada para dezembro de 2008. Na página do CONAMA na Internet


(http://www.mma.gov.br/port/conama/ctgt/gt.cfm?cod_gt=148) onde é possível acompanhar o
processo nº 02000.001522/2001-43, que “dispõe sobre resíduos de lâmpadas mercuriais”,
consta como última informação que a reunião de dezembro de 2008 foi cancelada.

Enquanto não é estabelecida uma legislação federal, alguns estados e municípios


brasileiros estão se mobilizando e criando suas próprias leis relacionadas às lâmpadas de
mercúrio e sua disposição. Segundo Polanco (2007), no estado de São Paulo existe a Lei nº
10.888 de 2001 que trata do descarte de produtos potencialmente perigosos junto ao resíduo
urbano. O município de Americana no estado de São Paulo, através da Lei nº 3.578 de 2001,
dispõe sobre a responsabilidade da destinação de pilhas, baterias e lâmpadas usadas e dá
outras providências. Em Campinas, também no estado de São Paulo, a Lei nº 11.294 de 2002
proíbe a disposição de lâmpadas fluorescentes, que utilizam mercúrio metálico, e similares em
aterros sanitários.

No Rio Grande do Sul, a Lei nº 11.187 de 1998, estabelece normas para o descarte de
pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes que contenham mercúrio, proibindo a disposição em
depósitos públicos de resíduos sólidos e a sua incineração. Em Caxias do Sul, estado de Rio
Grande do Sul, a Lei nº 5.873 de 2002, disciplina o descarte e o gerenciamento adequado de
pilhas, baterias e lâmpadas usadas no município. O Estado de Santa Catarina, pela Lei nº
11.347 de 2000, regulamenta sobre a coleta, o recolhimento e o destino final de resíduos
sólidos potencialmente perigosos, tais como baterias, pilhas e lâmpadas de mercúrio e proíbe
sua disposição em aterros sanitários (POLANCO, 2007).

Na Bahia, em específico, foi criado o Projeto de Lei nº 11.305 em 1997, para dispor
sobre o descarte de lâmpadas fluorescentes, baterias de telefones celulares e relógios. Uma
busca recente por esta Lei, porém, não produziu resultados, o que aparentemente demonstra
que a mesma não passou da fase de projeto.

2.4. CARACTERÍSTICAS DAS LÂMPADAS DE MERCÚRIO

Uma lâmpada é um conversor de energia. Ainda que possa realizar funções secundárias,
seu principal propósito é a transformação de energia elétrica em radiação eletromagnética
visível. Existem muitas maneiras de criar luz, porém o método normalmente utilizado na
iluminação geral é a conversão de energia elétrica em luz (OIT, 1998).
49

Existem lâmpadas de dois tipos básicos: de filamento (ou incandescentes) e de descarga.


As lâmpadas de filamento ou incandescentes são as mais antigas, e têm esse nome por causa
do modo como produzem a luz: por aquecimento de um filamento metálico a temperatura
suficiente para que ele fique vermelho. Ainda que seja possível fabricar uma lâmpada
incandescente com qualquer tipo de filamento (nas primeiras lâmpadas se utilizava carbono),
hoje em dia a maioria delas utiliza filamento de tungstênio (OIT, 1998).

A descarga elétrica é uma técnica utilizada em modernas fontes de luz para o comércio
e indústria, porque a produção de luz é mais eficaz. Alguns tipos de lâmpadas combinam a
descarga elétrica com a fotoluminescência. Uma corrente elétrica passa através de um gás
excita os átomos e moléculas que emitem radiação com um espectro característico dos
elementos presentes. Normalmente dois metais são utilizados, de sódio e mercúrio, porque as
suas características permitem radiação no espectro visível. Lâmpadas de descarga são
geralmente divididas em categorias de baixa ou alta pressão (OIT, 1998).

2.4.1. Histórico das lâmpadas de descarga elétrica

Durante um longo tempo as formas artificiais de produção de luz foram sendo


aperfeiçoadas, mas mantinham como base o princípio de utilização do fogo, como as velas e
os sistemas de iluminação a gás, o que caracteriza a estagnação desta área do conhecimento
durante este período. Uma grande revolução nos sistemas de iluminação somente ocorreu
depois que o homem dominou a eletricidade, o que colocou a prova a criatividade e o
conhecimento científico dos estudiosos da época (ANDRÉ, 2004).

André (2004) relata que à medida que a utilização da eletricidade no desenvolvimento


de fontes de luz se difundia, várias técnicas foram testadas, como aquelas aplicadas por
Thomas Edison no aperfeiçoamento e conseqüente produção de lâmpadas incandescentes de
aplicação prática. Entretanto, mesmo antes do desenvolvimento da lâmpada incandescente, já
se conhecia o fato de que uma descarga elétrica em gás rarefeito produz luminosidade. Uma
das primeiras descargas de gás, causada acidentalmente, foi observada por Picard em uma
tarde em Paris em 1676, quando carregava um barômetro de mercúrio. O movimento do
mercúrio no vácuo de Torricelli causou o fenômeno da luz.

A primeira demonstração de sucesso registrada, de uma lâmpada de descarga utilizada


para iluminação pública, foi feita em 1876 por um engenheiro russo. A lâmpada de
Jablochkoff apresentava simplicidade e baixo custo como maiores diferencias, e a quantidade
50

de luz também superava em muito tudo o que já se tinha obtido. Esta lâmpada que foi usada
para iluminar ruas, prédios públicos e docas, tornou-se atrativo em praticamente todos os
eventos industriais e sobre eletricidade desde o seu lançamento até 1890 (ANDRÉ, 2004).

Para André (2004), durante estes pouco mais de cem anos da existência deste tipo de
lâmpada, registrou-se uma grande evolução, sendo uma das etapas importantes neste
desenvolvimento foi a invenção, por Peter Cooper-Hewitt em 1901, da lâmpada de vapor de
mercúrio.

2.4.2. Tipos de lâmpadas que contêm mercúrio

Nas lâmpadas de descarga elétrica, o fluxo luminoso é gerado a partir da passagem da


corrente elétrica em um gás, mistura de gases ou vapores. Em lâmpadas fluorescentes e outras
lâmpadas de mercúrio, a radiação ultravioleta, resultante da luminescência do vapor de
mercúrio devido à descarga no gás, é convertida em luz visível por uma cobertura de fósforo
no interior do tubo. Se esta emissão existe somente durante o período de excitação, ela é
chamada de “fluorescência” (ANDRÉ, 2004).

A Instituição “Net Resíduos” de Portugal realizou um estudo quanto aos riscos inerentes
aos usos das lâmpadas, com base nas legislações vigentes na Comunidade Européia e na
presença, na lâmpada, de compostos potencialmente perigosos. Neste estudo, foi realizada a
distinção dos tipos de lâmpadas existentes em duas categorias distintas: “lâmpadas não
potencialmente perigosas para o meio ambiente” composta pelas lâmpadas incandescentes, e
“lâmpadas potencialmente perigosas para o meio ambiente” composta de lâmpadas que
contêm mercúrio (ZANICHELI et al., 2004). A tabela 2.18 apresenta o resultado desta
classificação para lâmpadas potencialmente perigosas para o meio ambiente.
51

Tabela 2.18. Tipos de lâmpadas contendo mercúrio e sua utilização

Lâmpadas Tipos Funcionamento Componentes Usos


Fluorescentes Descarga de Vidro, metal (alumínio), Áreas residenciais,
corrente elétrica mercúrio, fósforo, parques, grandes
antimónio, estrôncio, áreas de superfície,
tungsténio, argão, índio hospitais, teatros,
bário, ítrio, chumbo, ETR anúncios
Vapor de Descarga de Vidro, metal Iluminação de
Mercúrio de corrente elétrica (alumínio),vapor de entradas, decoração
Alta Pressão mercúrio, gases inertes, interior, centros
estrôncio, bário, ítrio, comerciais, vias de
chumbo, vanádio, ETR trânsito, instalações
Descarga fabris
Fluorescentes Halogenetos Descarga de Vidro, metal (alumínio), Zonas abertas,
Metálicos corrente elétrica sal de sódio, mercúrio, recintos desportivos,
(potencialmente iodetes de metal, gases zonas industiais,
perigosas para o inertes, césio, estanho, vitrines de lojas,
ambiente) tálio, estrôncio, bário, ítrio, iluminação pública
chumbo, vanádio, ETR
Vapor de Descarga de Vidro, metal (alumínio), Zonas industriais,
Sódio de Alta corrente elétrica gás de sódio, gases inertes, ruas, exposições,
Pressão mercúrio, bário, ítrio, pontes, linhas de
chumbo, estrôncio vanádio, comboio, estradas,
ETR tunéis, indústria
pesada
Vapor de Descarga de Vidro, metal (alumínio), Iluminação pública
Sódio corrente elétrica gás de sódio, gases inertes, (auto-estradas, tunéis,
Descarga Não- ETR parques de
Fluorescentes de Baixa
Pressão estacionamento)
de Alta
Pressão Sódio-Xénon Descarga de Vidro, metal (alumínio), Ruas, passeios,
corrente elétrica sódio, gases inertes, ETR largos, parques, áreas
residenciais, estátuas
Fonte: CIR, 2009

Alguns dados sobre os principais tipos de lâmpadas de descarga elétrica que contêm
mercúrio são apresentados a seguir:

• Lâmpadas fluorescentes tubulares (inclusive circulares): De alta eficiência e longa


durabilidade, são encontradas nas versões Standard com eficiência energética de até 70lm/W,
temperatura de cor entre 4.100 e 6.100K e índice de reprodução de cor de 85%, e Trifósforo
com eficiência energética de até 100lm/W, temperatura de cor entre 4.000 e 6.000K e índice
de reprodução de cor de 85% (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

Segundo André (2004), uma das lâmpadas de descargas mais comuns, na atualidade, é a
lâmpada fluorescente de baixa pressão. A lâmpada fluorescente é uma lâmpada de descarga
de mercúrio de baixa pressão, de seção normalmente circular, podendo ter cátodos frios ou
quentes, na qual a maior parte da luz é emitida por uma camada de material fluorescente
excitada pela radiação ultravioleta gerada pela descarga (figura 2.1).
52

Fonte: ANDRÉ, 2004

Figura 2.1. Principais constituintes de uma lâmpada fluorescente

Battye et al.(1994) apud Raposo & Roeser (2000) explicam que uma lâmpada
fluorescente típica é composta de um tubo selado de vidro preenchido com gás argônio à
baixa pressão (2,5 Torr) e vapor de mercúrio à baixa pressão parcial. Nestas condições, o tubo
está em vácuo parcial. O interior do tubo é revestido com uma poeira fosforosa composta de
vários elementos, conforme demonstra a tabela 2.19.

Tabela 2.19. Composição da poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescente

Concentração Concentração Concentração


Elemento Elemento Elemento
(ppm) (ppm) (ppm)
Alumínio 3.000 Chumbo 75 Manganês 4.400
Antimônio 2.300 Cobre 70 Mercúrio 4.700
Bário 610 Cromo 9 Níquel 130
Cádmio 1000 Ferro 1900 Sódio 1700
Cálcio 170.000 Magnésio 1000 Zinco 48
Fonte: TRUESDALE et al. apud RAPOSO & ROESER, 2000

Espirais de tungstênio, revestidas com substância emissora de elétrons, forma os


eletrodos em cada uma das extremidades do tubo. Quando a voltagem é aplicada, os elétrons
passam de um eletrodo para outro, criando um fluxo de corrente, denominado de arco
voltaico, ou descarga elétrica. Estes elétrons chocam-se com os átomos de argônio, os quais
por sua vez emitem mais elétrons. Os elétrons chocam-se com os átomos do vapor de
mercúrio, e energizam o vapor causando a emissão de radiação ultravioleta (UV). Quando os
raios ultravioletas atingem a camada fosforosa que reveste a parede do tubo, ocorre então a
fluorescência, produzindo luz visível (BATTYE et al.,1994 apud RAPOSO & ROESER,
2000).

O tubo usado numa lâmpada fluorescente padrão é fabricado com vidro é similar ao
usado por toda a indústria de vidro para a fabricação de garrafas e outros itens de consumo
comum. Os terminais da lâmpada são de alumínio ou plástico, enquanto os eletrodos são
53

feitos de tungstênio, níquel, cobre ou ferro. Nenhum desses materiais apresenta risco potencial
se a lâmpada quebrar, exceto o perigo óbvio do vidro quebrado. A camada branca,
normalmente chamada de fósforo, que reveste o tubo de uma lâmpada fluorescente padrão é
geralmente um clorofluorfosfato de cálcio, com pequenas quantidades de antimônio e
manganês (1 a 2%) na matriz de fósforo. A quantidade destes componentes menores pode
mudar ligeiramente dependendo da cor da lâmpada. Uma lâmpada padrão de 4' tem cerca de 4
a 6 gramas de poeira fosforosa (BATTYE et al.,1994 apud RAPOSO & ROESER, 2000).

• Lâmpadas fluorescentes compactas: Possuem a tecnologia e as características de


uma lâmpada fluorescente tubular, porém com tamanhos reduzidos. São utilizadas para as
mais variadas atividades, seja comercial, institucional ou residencial, com as seguintes
vantagens: consumo de energia 80% menor, durabilidade 10 vezes maior, design moderno,
leve e compacto, aquecem menos o ambiente, representando forte redução na carga térmica
das grandes instalações, excelente reprodução de cores, com índice de 85% e tonalidade de
cor adequada para cada ambiente, com opções entre 2.700K, com aparência de cor semelhante
às incandescentes, a 4.000K com aparência de cor mais branca (CATÁLOGO OSRAM, 1998
apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor metálico: São lâmpadas que combinam iodetos metálicos, com
altíssima eficiência energética, excelente reprodução de cor, longa durabilidade e baixa carga
térmica. Sua luz é muito branca e brilhante. Tem versões de alta potência recomendadas para
grandes áreas, com índice de reprodução de cor de até 90%, eficiência energética de até
100lm/W e temperatura de cor de 4.000 a 6.000K, em vários formatos, e de baixa potência de
70 a 400W, com formato tubular com diversas bases, apresentando alta eficiência, ótima
reprodução de cor, vida útil longa e baixa carga térmica (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud
APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de sódio: Com eficiência energética de até 130lm/W, de longa


durabilidade, é a mais econômica fonte de luz. Com formatos tubulares e elipsoidais, emitem
luz branca dourada e são utilizadas em locais onde a reprodução de cor não é um fato
importante, como em estradas, portos, ferrovias e estacionamentos (CATÁLOGO OSRAM,
1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de sódio brancas: Seu diferencial é a emissão de luz branca,


decorrente da combinação dos vapores de sódio e gás xênon, resultando numa luz brilhante
como as halógenas ou com aparência de cor das incandescentes. Acionadas por reatores
eletrônicos, podem ter, através de chaveamento, a temperatura de cor alterada de 2.600 para
54

3.000K ou vice versa. São utilizadas em áreas comerciais, hotéis, exposições, edifícios
históricos, teatros, stands, etc. (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de vapor de mercúrio: Com aparência branca azulada, eficiência de até


55lm/W e potências de 80 a 1.000W, são normalmente utilizadas em vias públicas e áreas
industriais (CATÁLOGO OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

• Lâmpadas de luz mista: Compostas por um filamento e um tubo de descarga,


funcionam em tensão de rede de 220V, sem uso de reator. Via de regra, representam
alternativa de maior eficiência para substituição de lâmpadas incandescentes (CATÁLOGO
OSRAM, 1998 apud APLIQUIM, 2009).

Com relação à quantidade de mercúrio contida nos diferentes modelos de lâmpadas de


descarga elétrica, a Abilux (2008) sintetiza os dados conforme apresentado na tabela 2.20.

Tabela 2.20. Lâmpadas que contêm mercúrio e quantidades

Quantidade média Variação das médias


Potência
Tipo de lâmpada de mercúrio de mercúrio por
(W)
(g) potência (g)
Fluorescentes tubulares 15 a 110 0,009 0,003 a 0,020
Fluorescentes compactas 5 a 65 0,005 0,002 a 0,010
Luz mista 160 a 500 0,017 0,014 a 0,047
Vapor de mercúrio 80 a 400 0,032 0,015 a 0,075
Vapor de sódio 70 a 1000 0,019 0,015 a 0,030
Vapor metálico 35 a 2000 0,045 0,003 a 0,170
Fonte: ABILUX, 2008

2.4.3. Mercado brasileiro das lâmpadas de mercúrio

A Abilux (2008) apresentou ao GT - Lâmpadas (CONAMA) os dados estimados do


mercado de lâmpadas no Brasil em 2007, destacando a participação da produção local e das
importações, conforme a tabela 2.21.
55

Tabela 2.21. Dados estimados do mercado brasileiro de lâmpadas em 2007

Volume Produção local Importações


Tipo de
comercializado
lâmpada (milhões/ano) % (milhões/ano) %
(milhões/ano)
Fluorescente 70 56 80 14 20
Tubular
Fluorescente 90 0 0 90 100
Compacta
Descarga de 9 2,7 30 6,3 70
alta intensidade
Fonte: ABILUX, 2008

A Abilux (2003) divide o mercado consumidor de lâmpadas contendo mercúrio


considerando o segmento residencial e o segmento industrial, comercial e serviços, de forma a
identificar proporcionalmente quem são os maiores geradores de resíduos, os quais devem ser
prioritariamente responsabilizados pela sua destinação. Os dados são reunidos na tabela 2.22.

Tabela 2.22. Quantidade de mercúrio contido nas lâmpadas por tipo de consumidor

Número de Quantidade de
Tipo de consumidor estabelecimentos mercúrio % de mercúrio total
eletrificados (x 1000) (Kg)
Industrial, Comercial 6000 1.013 92,4
e Serviços
Residencial 41000 83 7,6
Total 47000 1.096 100
Fonte: ABILUX, 2003

Nas figuras 2.2 e 2.3 são exibidos gráficos com informações relativas à distribuição de
lâmpadas, segundo os diferentes tipos, nos domicílios dos clientes residenciais no Brasil e na
região Nordeste, respectivamente. O levantamento foi realizado em 2005 pela Eletrobrás e
Procel e mostra que as lâmpadas incandescentes ainda são utilizadas em proporções
significativas, mas as lâmpadas fluorescentes, especificamente as compactas, já têm uso
predominante na região Nordeste (ELETROBRÁS/PROCEL, 2005).
56

25W Inc.
2% 1% 1% 1% 5% 40W Inc.
17%
60W Inc.
100W Inc.
150W Inc.
20W Fluor. Tubular
40W Fluor. Tubular
Fluor. Comp. até 15W
15% Fluor. Comp. >15W
37% Fluor. Circular
9%
6% 0% 6% Dicróica
Outro
Fonte: ELETROBRÁS/PROCEL, 2005

Figura 2.2. Distribuição por tipos de lâmpadas no Brasil

25W Inc.
2% 0% 1% 2% 8% 40W Inc.
29% 60W Inc.
100W Inc.
150W Inc.
20W Fluor. Tubular
40W Fluor. Tubular
Fluor. Comp. até 15W
29% Fluor. Comp. >15W
14% 1%
6% 0% Fluor. Circular
8%
Dicróica
Outro

Fonte: ELETROBRÁS/PROCEL, 2005

Figura 2.3. Distribuição por tipos de lâmpadas na região Nordeste

2.4.4. Aspectos positivos das lâmpadas que contêm mercúrio

Segundo a Abilux (2008), são as seguintes as vantagens ambientais das lâmpadas


contendo mercúrio em relação às incandescentes: eficiência luminosa de três a seis vezes
superior, vida útil de três a quinze vezes mais longa e 70% a 80% de redução de consumo
energia. Além disso, devido à maior eficiência e vida útil, as lâmpadas contendo mercúrio
geram menos resíduos, reduzem o consumo de recursos naturais para a geração de energia
elétrica e produzem menos resíduos de mercúrio decorrentes da queima de carvão ou óleo
para geração de energia.
57

Para Raposo & Roeser (2000) as lâmpadas de mercúrio têm um tempo de vida de três a
cinco anos, ou um tempo de operação de aproximadamente 20.000 horas, sob condições
normais de uso.

O IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - realizou entre janeiro e abril


de 2003 um teste que teve como ponto de partida as normas da ABNT (NBR 14538:2000 e
NBR 14539:2000 e do Inmetro (Portaria nº 27 de 2002). No total, foram realizados oito
ensaios: potência consumida, fluxo luminoso, depreciação, corrente de alimentação, eficiência
luminosa, verificação da presença de material ferroso no casquilho, verificação das
informações disponíveis na embalagem e no corpo dos produtos (tensão, potência, fator de
potência e freqüência), e a equivalência com a lâmpada incandescente (IDEC, 2003).

Adicionalmente, os técnicos do IDEC (2003) também avaliaram as informações


previstas pelo Código de Defesa do Consumidor e elaboraram uma lista com itens
complementares, além dos obrigatórios segundo os padrões técnicos. São eles: potência de
equivalência, temperatura de cor, aparência de cor, fluxo luminoso, índice de reprodução de
cor, eficiência luminosa, vida média em horas, nome e identificação do fabricante e/ou
importadora (endereço, CNPJ e telefone) e garantia.

Após a medição das características das lâmpadas fluorescentes, os técnicos calcularam o


custo total dos produtos (preço somado ao valor em reais do consumo de energia). Os
resultados foram comparados ao custo total das lâmpadas incandescentes de potência
equivalente. O objetivo era descobrir qual dos dois tipos acabava saindo mais barato. O teste
avaliou 18 modelos de lâmpadas fluorescentes e apresentou como resultado a eliminação de
quatro modelos de duas marcas diferentes.

O catálogo da OSRAM 2008-2009 destaca que as lâmpadas fluorescentes produzem


mais de 70% da luz artificial em todo o mundo. Proporcionam excelente economia de energia
e são ecologicamente corretas, características que fazem da sua linha a primeira escolha para
diversas aplicações. As lâmpadas fluorescentes tubulares aliam alta eficácia luminosa com
baixo consumo de energia. Já as fluorescentes compactas produzem mais luz e consomem
muito menos energia que as incandescentes comuns e duram muito mais. Cada vez mais
compactas, podem ser utilizadas em substituição às lâmpadas incandescentes comuns.

A versão LUMILUX® da OSRAM, por exemplo, consome apenas 15% da energia que
uma lâmpada incandescente comum precisa para gerar a mesma quantidade de luz. Em termos
de durabilidade, elas são ainda uma excelente alternativa, pois a vida média de uma lâmpada
58

fluorescente LUMILUX® T5 HO é de 24.000 horas, e de uma LUMILUX® T8 é de 20.000


horas, comparadas com apenas 1.000 horas de uma lâmpada incandescente comum.

No que tange ao mercúrio, a indústria de lâmpadas tem realizado investimentos


significativos nos projetos de produtos e processos de produção, reduzindo continuamente a
quantidade contida nas lâmpadas. As pesquisas, contudo, ainda não viabilizaram a sua
substituição nas lâmpadas (NEMA, 2005). A figura 2.4 mostra a evolução para lâmpadas
tubulares de 4’ (120 cm).

Fonte: NEMA, 2005

Figura 2.4. Redução de mercúrio nas lâmpadas fluorescentes tubulares

Com base em dados coletados nos Estados Unidos é possível verificar outras tendências
de melhoria ao longo dos anos, em diversos índices associados à reciclagem de lâmpadas que
contém mercúrio, conforme demonstra a tabela 2.23 (NEMA, 2000).

Tabela 2.23. Dados sobre a emissão de mercúrio nos Estados Unidos

Anos
Aspectos Avaliados
1990 1995 2000 2004*
Número de lâmpadas dispostas (milhões) 440 530 620 680
Total de mercúrio contido nas lâmpadas (t) 24 27 17 13
Total de mercúrio liberado no ar e água (t)** 3,66 2,3 1,1 0,36
Disposição por reciclagem (%) 2 8 15 25
Disposição em aterros (%) 82 77 71 64
Disposição em incineradores (%) 16 15 14 11
Liberação pelos incineradores no ar e água (%) 90 51 33 9
Lâmpadas quebradas (%) 98 92 85 75
Mercúrio contido no vidro reciclado (mg/lâmpada) 1,5 1,5 1,5 0,75
* Projeção ** Redução principalmente por melhorias nos processos de incineração
Fonte: NEMA, 2000
59

2.4.5. Aspectos negativos das lâmpadas que contêm mercúrio

Segundo Durão & Windmöller (2008), o uso de lâmpadas fluorescentes pode até
representar uma significativa economia doméstica, comercial e industrial. No entanto, se por
um lado a natureza agradece a economia no uso dos recursos naturais pelo uso de lâmpadas
fluorescentes na iluminação, a proliferação do seu uso está gerando uma nova demanda
ambiental: O que fazer com as lâmpadas queimadas?

A durabilidade das lâmpadas fluorescentes compactas informada é de 5 anos, mas, na


prática, isso não tem ocorrido. Muitas lâmpadas estão tendo durabilidade menor que as
incandescentes. Em termos de energia, há realmente economia, mas em termos financeiros
essas lâmpadas custam 10 vezes a mais e a durabilidade é questionável (BRASIL, 2006).

Em seus ensaios laboratoriais realizados em 2003 o IDEC concluiu que os padrões


exigidos pelas normas e leis brasileiras para lâmpadas fluorescentes compactas nem sempre
são obedecidos. Nas medições de potência, por exemplo, 28% das lâmpadas não atenderam às
padronizações. Cerca de 22% das lâmpadas perderam seu poder de iluminação ao longo das
horas de uso, conforme os ensaios de depreciação. Dois modelos de uma determinada marca
descumpriram as normas em dois testes: o de fluxo luminoso e o de eficiência luminosa.
Poucas lâmpadas queimaram antes do término dos ensaios: das 180 testadas (dez unidades de
cada modelo), apenas 12 não resistiram aos testes (IDEC, 2003).

Com relação às diretrizes das normas técnicas e do Código de Defesa do Consumidor


relativos às informações disponíveis nos rótulos e nas lâmpadas avaliadas, grande parte dos
dados foi contemplada pelos fabricantes. Nos casos em que houve ausência de informações, o
IDEC sugeriu que as mesmas fossem incorporadas (IDEC, 2003).

A lâmpada fluorescente de pós-consumo é considerada um resíduo perigoso, por isso, a


NBR 10004:2004 exige uma destinação adequada a fim de evitar a contaminação do meio
ambiente e de garantir a saúde dos seres humanos. Embora uma lâmpada quebrada libere
apenas uma pequena quantidade de mercúrio, o problema ambiental pode ser gerado pelo
efeito acumulativo e persistente do metal pesado proveniente de muitas lâmpadas
(SANCHES, 2008).

O risco oferecido por uma única lâmpada é quase nulo. No entanto, levando em
consideração que o Brasil comercializa cerca de 100 milhões de lâmpadas por ano, o
problema do descarte destas se agrava enormemente. Isso sem contar que as indústrias de
reciclagem de lâmpadas de mercúrio são responsáveis pelo controle de apenas
60

aproximadamente 6% do estoque de lâmpadas queimadas no país (LUMIÈRE, 2007 apud


DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

A Abilux (2003) estimou que a quantidade total de mercúrio utilizada nas lâmpadas
comercializadas no Brasil em 2001 foi de aproximadamente 1,1 tonelada, conforme detalhado
na tabela 2.24.

Tabela 2.24. Quantidade total de mercúrio em lâmpadas comercializadas no Brasil

Teor de Volume comercializado Quantidade total


Tipo de lâmpada mercúrio de mercúrio
(milhões/ano) Abilux* Abilumi**
(g) utilizada (t)
Fluorescente 0,015 56 90% 10% 0,840
Tubular
Fluorescente 0,004 14 30% 70% 0,056
Compacta
Descarga de alta 0,020 10 80% 20% 0,200
intensidade
Total - 80 78% 22% 1,096
* Produção nacional ** Importação
Fonte: ABILUX, 2003

Segundo Sanches (2008), ao ser rompida, a lâmpada fluorescente emite vapores de


mercúrio que são absorvidos pelos organismos vivos, contaminando-os. Além disso, o
descarte realizado nos aterros faz com que estes resíduos contaminem o solo e, mais tarde, os
cursos d’água, chegando à cadeia alimentar, causando danos ambientais a plantas e animais,
os quais podem ser ingeridos pelo homem. A intoxicação por ingestão apresenta efeitos
desastrosos, podendo afetar o sistema nervoso do homem, causar vida vegetativa ou,
dependendo da concentração de mercúrio no corpo, levar até mesmo a morte.

O ciclo de intoxicação do mercúrio causado pelo descarte inadequado de lâmpadas


fluorescentes pode ocorrer por via cutânea devido ao manuseio inadequado e por via
respiratória ao inalar vapor de mercúrio. Esta inalação pode causar dor de estomago, diarréia,
tremores, depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, sangramento nas gengivas, insônia,
falhas de memória, fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade,
dificuldade de prestar atenção e até a demência (SANCHES, 2008).

Para fins de referência, a tabela 2.25 compara o volume de lâmpadas fluorescentes


recicladas por ano em alguns países, sendo que o Brasil aparece com índice bastante inferior
ao da Alemanha, por exemplo, que descarta o mesmo número de unidades.
61

Tabela 2.25. Reciclagem de lâmpadas fluorescentes em alguns países

Descarte Reciclagem Reciclagem


País
(milhões/ano) (milhões/ano) (%)
Holanda 24 20 83,3
Suécia 14 7 50
Alemanha 100 50 50
Bélgica 12 6 50
EUA 903 220 25
Noruega 6 2 33,3
Espanha 35 5 14,3
Itália 45 5 11,1
França 50 5 10
Reino Unido 50 5 10
Brasil 100 6 6
Fonte: MRT SYSTEM, 2009

2.5. RECICLAGEM DE LÂMPADAS NO BRASIL

As empresas de engenharia ambiental, atentas ao problema do descarte de produtos com


metais pesados em suas composições, criaram uma maneira de colaborar com a preservação
do meio ambiente por meio da reciclagem de lâmpadas fluorescentes, evitando que estas
sejam jogadas em aterros e lixões. Porém, algumas condições essenciais devem ser
estabelecidas na cadeia de distribuição reversa, como a lucratividade nas etapas, a qualidade
dos materiais reciclados, a escala econômica de atividade e a existência de um mercado para
os produtos com conteúdo de reciclados (SANCHES, 2008).

Segundo Sanches (2008) a reciclagem das lâmpadas fluorescentes deve satisfazer aos
interesses econômicos das empresas envolvidas, ou seja, da indústria de reciclagem e das
empresas que compram os materiais reciclados para utilizá-los como matéria-prima em seus
processos produtivos. Os preços de venda dos reciclados, portanto, devem ser competitivos
em relação aos preços das matérias-primas virgens que irão substituir.

Os materiais obtidos por meio da reciclagem de lâmpadas fluorescentes devem permitir


a fabricação de produtos com boa qualidade e economicamente aceitáveis, além de
rendimentos industriais compatíveis nos processos. O mercúrio extraído destas lâmpadas, por
exemplo, é reintegrado ao ciclo produtivo por meio das empresas que fabricam termômetros e
o vidro é utilizado nas indústrias de cerâmica devido a sua alta qualidade (SANCHES, 2008).

A quantidade de material reciclado das lâmpadas, de acordo com Sanches (2008), deve
ser suficiente e constante para que possibilite a realização de atividades em escala econômica.
Com a qualidade e os baixos preços comprovados, o material reciclado passa a ser uma
62

matéria-prima, por isso, quanto maior a quantidade comercializada, maior a economia gerada
no lote.

Além disso, é necessário que exista mercado para os produtos fabricados com materiais
reciclados, pois este fator vai refletir nas demandas dos reciclados. Exemplo: se a indústria de
termômetros apresentar uma queda nas vendas, conseqüentemente consumirá menos mercúrio
reciclado de lâmpadas, ou seja, a demanda desta matéria-prima será afetada pela baixa
demanda do produto final (SANCHES, 2008).

2.5.1. Conceitos associados à prevenção da poluição ambiental

A lâmpada fluorescente de pós-consumo é considerada um resíduo, portanto, o


consumidor final é gerador de resíduos e, conseqüentemente, deve ser responsabilizado pela
destinação ambientalmente adequada desses produtos de pós-consumo. Porém, em muitas
regiões do Brasil ainda não existem pontos de coleta seletiva organizados, a fim de que as
pessoas físicas descartem adequadamente as lâmpadas fluorescentes de uso doméstico, que
geralmente são consumidas em baixa quantidade. Já no caso das empresas é diferente, pois
devido à grande quantidade de lâmpadas fluorescentes descartadas, estas podem ser enviadas
diretamente às indústrias de reciclagem credenciadas, que são especializadas no
gerenciamento ambientalmente correto de resíduos (SANCHES, 2008).

Geralmente a coleta seletiva é administrada pela própria indústria de reciclagem, por


isso, as lâmpadas já utilizadas são previamente separadas em condições e locais adequados
pela empresa que gerou o resíduo, até que o material seja coletado. Esse tipo de operação
minimiza a quantidade de lixo que vai para os aterros ou outros tipos de disposição final. As
lâmpadas coletadas são encaminhadas às empresas de reciclagem, que realizam seus
procedimentos internos para dar continuidade de forma adequada ao fluxo reverso desses bens
de pós-consumo (SANCHES, 2008).

A figura 2.5 abaixo apresenta a cadeia de distribuição reversa do setor de lâmpadas


fluorescentes, mostrando que os caminhos percorridos pelas lâmpadas de pós-consumo são
diferentes dos percorridos pelas lâmpadas novas.
63

Fonte: SANCHES, 2008

Figura 2.5. Cadeia de distribuição reversa

A logística reversa de pós-consumo do setor apresenta um fluxo reverso que não utiliza
etapas da cadeia de suprimentos direta, ou seja, existe uma cadeia de distribuição própria para
o processo reverso das lâmpadas fluorescentes, cujos objetivos dividem-se em ecológico,
legal e econômico. O primeiro é voltado para a preservação do meio ambiente e o uso
sustentável de recursos, o segundo associa-se a necessária intervenção governamental por
meio da legislação para permitir um melhor equacionamento da questão das lâmpadas
fluorescentes de pós-consumo, e o terceiro envolve o lucro obtido pelas indústrias de
reciclagem que comercializam os materiais recuperados de lâmpadas fluorescentes, além das
organizações que reduzem as despesas comprando matéria-prima reciclada (SANCHES,
2008).

Sanches (2008) destaca ainda que o termo “reciclagem de lâmpadas fluorescentes”


refere-se à recuperação de seus materiais constituintes e à reintegração destes ao processo
produtivo das indústrias de lâmpadas ou outros segmentos, isto é, o processo de reciclagem
não gera novas lâmpadas fluorescentes, mas estende o ciclo de vida de seus componentes. A
figura 2.6 esquematiza o ciclo do processo de reciclagem.
64

Fonte: RAPOSO, 2001

Figura 2.6. Ciclo do processo de reciclagem

As etapas consideradas como mais importantes são: recebimento, separação por tipo e
tamanho, contagem, armazenamento em local adequado, separação dos resíduos e obtenção
de matéria-prima secundária por meio do processo de reciclagem, armazenamento dos
materiais reciclados e comercialização para variados segmentos (SANCHES, 2008).

Conforme visto, a indústria de lâmpadas tem realizado investimentos significativos nos


projetos de produtos e processos de produção, reduzindo continuamente a quantidade de
mercúrio contida nas lâmpadas e, por outro lado, a reciclagem das lâmpadas tem permitido
que seus materiais constituintes sejam recuperados e reintegrados ao processo produtivo das
indústrias de lâmpadas ou de outros segmentos, estendendo o ciclo de vida de seus
componentes.

Com relação a estas diferentes iniciativas, Kiperstok et al. (2002) salientam que as
técnicas para redução da poluição dividem-se em duas categorias: fim-de-tubo (end-of-pipe) e
prevenção. As tecnologias fim-de-tubo se caracterizam pelo baixo valor de seus produtos,
pelo alto custo da sua implementação e pelo fato de não eliminar os poluentes, mas apenas
transferi-los de um meio receptor para outro. Para esses autores, nas medidas de fim-de-tubo
assume-se que os resíduos são inevitáveis e procura-se apenas reduzir o impacto do seu
lançamento no meio ambiente. Para isto se gasta energia e outros insumos.
65

Já a prevenção da poluição representa um novo paradigma para equacionar o problema


da poluição, pois transfere o eixo da discussão dos limites da fábrica para o interior do
processo produtivo. Para tal, torna-se necessário identificar as causas da geração de resíduos,
que estão normalmente associadas a falhas no processo produtivo, uma vez que gerar resíduos
implica em custos adicionais com perdas de matéria-prima, tratamento e disposição final,
entre outros (KIPERSTOK et al., 2002).

Este novo enfoque pode ser melhor visualizado na figura 2.7, na qual as possíveis
tecnologias e/ou atitudes gerenciais e técnicas, organizam-se da esquerda para a direita, e de
cima para baixo, segundo sua importância ou prioridade de aplicação (LAGREGA, 1994 apud
KIPERSTOK et al., 2002).

Fonte: KIPERSTOK et al., 2002

Figura 2.7. Ações para prevenção e controle da poluição


66

Para Kiperstok et al. (2002) a redução na fonte prioriza medidas baseadas em mudanças
no produto, nos insumos, na tecnologia empregada e nas boas práticas operacionais, e ocorre a
partir do questionamento “precisamos de um determinado produto ou o produzimos/
compramos/usamos porque sempre foi assim?”.

Uma vez esgotadas as idéias para redução na fonte, passa-se a pensar no reuso e
reciclagem de resíduos gerados. Normalmente se define reuso como sendo o aproveitamento
de um resíduo ou efluente diretamente em outro processo, sem que para isso haja necessidade
de promover qualquer adequação de suas características. Já a reciclagem é o aproveitamento
do resíduo a partir de uma modificação das suas características para atender aos requisitos de
outro processo. A reciclagem interna reintegra os resíduos ao próprio processo de produção da
empresa (corrente residual), enquanto a externa tem o processamento dos resíduos fora da
empresa (KIPERSTOK et al., 2002).

2.5.2. Reciclagem artesanal

O número reduzido de recicladoras no Brasil, segundo Pereira (2004) é o principal


entrave para que se adote este tipo de descarte para as lâmpadas fluorescentes, porque
dependendo da localização em que as lâmpadas estejam, o transporte pode elevar
significativamente o preço da reciclagem, acabando por desmotivar qualquer iniciativa. Uma
alternativa informal surgiu na região metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro: a
reciclagem artesanal para o aproveitamento do tubo de vidro para a fabricação de peças
decorativas.

O processo inicia-se pelo recebimento das lâmpadas. Na maioria das vezes elas são
doadas, porém em algumas épocas há necessidade de serem compradas. O armazenamento
das lâmpadas é feito de forma precária, por empilhamento num galpão. O processo produtivo
pode ser dividido em quatro etapas: a abertura, a lavagem, a confecção das peças e a
embalagem (PEREIRA, 2004).

Pereira (2004) esclarece que a etapa de abertura inicia-se com um leve aquecimento nas
extremidades da lâmpada, seguido de um choque térmico para gerar o trincamento, e em
seguida as lâmpadas são encaminhadas para a área de lavagem aonde as extremidades
metálicas são retiradas. Neste ponto ocorre a liberação de vapor sob forte pressão carreando
parte da poeira que se espalha no ar, e se deposita sobre o operador e à sua volta. A etapa de
lavagem é realizada em dois reservatórios contendo água inicialmente limpa. Em um deles, o
67

resíduo de cada lâmpada é retirado com auxílio de uma esponja presa na ponta de um cabo de
madeira. A finalização da lavagem é feita com a água do segundo reservatório e o efluente é
descartado diretamente no esgoto urbano.

O tubo de vidro já lavado é encaminhado para a etapa da confecção das peças, onde
com o auxilio de um maçarico o tubo começa a tomar forma de ampolas com duas pontas.
Esta é a estrutura básica para a confecção das outras peças. A última etapa é a embalagem,
que é feita após o resfriamento das peças, sendo utilizadas folhas de jornal e caixas de papelão
para o armazenamento (PEREIRA, 2004).

Segundo as referidas autoras, nesta recicladora, atualmente, são produzidas cerca de


4500 peças semanais de 25 modelos diferentes, utilizando cerca de 550 lâmpadas. A infra-
estrutura utilizada é precária, tanto do sistema de gás, como da refrigeração, elétrica e
hidráulica. São utilizados bujões de gás para os maçaricos e a refrigeração é feita com uma
bomba de ar comprimido, que direciona o ar na direção do operador facilitando o resfriamento
das lâmpadas e do próprio operador.

Pereira (2004) identificou como pontos críticos em sua pesquisa, do ponto de vista da
saúde ocupacional, que entre os voluntários avaliados somente oito participaram em mais de
uma campanha, e que seis deles apresentam um aumento significativo na relação
Hg/creatinina, sendo todos acima dos valores recomendados pela NR 7. Dado a
complexibilidade da situação, os voluntários foram encaminhados a buscar o
acompanhamento médico no Ambulatório de Saúde Ambiental e Ocupacional e o Núcleo de
Estudos de Saúde Coletiva (NESC). Os resultados mostram que os trabalhadores estão tendo
um aumento contínuo do teor de mercúrio na urina decorrente de sua atividade laboral.

2.5.3 Reciclagem mecanizada

Os processos de reciclagem de lâmpadas podem ser divididos em duas categorias: via


úmida e via seca. O processo via úmida envolve a quebra da lâmpada com lavagem
simultânea, retendo o mercúrio na fase líquida, com posterior tratamento do efluente
(normalmente, através da precipitação com sulfeto de sódio). A problemática deste método é
o consumo de recurso natural (água), bem como a disposição de resíduos de composto de
mercúrio em aterros. Já o processo via seca quebra a lâmpada em ambiente fechado e
exaurido para captação de vapores de mercúrio. O mercúrio exaurido é captado em sistema de
68

filtro e os componentes da lâmpada passam por sistema de destilação a vácuo (APLIQUIM,


2009).

Um dos processos mecanizados de reciclagem via seca mais usual, em operação no


Brasil e em várias partes do mundo envolve basicamente duas fases: a de esmagamento e a de
destilação do mercúrio. Na fase esmagamento os materiais constituintes das lâmpadas usadas
são separados em cinco classes: terminais de alumínio, pinos de latão/componentes ferro-
metálicos, vidro, poeira fosforosa rica em mercúrio e isolamento baquelítico (RAPOSO &
ROESER, 2000).

Raposo & Roeser (2000) explicam que inicialmente as lâmpadas são implodidas e/ou
quebradas em pequenos fragmentos, por meio de um processador (britador e/ou moinho). Isto
permite separar a poeira de fósforo contendo mercúrio dos outros elementos constituintes. As
partículas esmagadas restantes são conduzidas a um ciclone por um sistema de exaustão, onde
as partículas maiores, tais como vidro quebrado, terminais de alumínio e pinos de latão são
separados e ejetados para fora do ciclone, onde são separados por diferença gravimétrica e por
separação eletrostática. A poeira fosforosa e particulados são coletados em um filtro no
interior do ciclone.

A fase de destilação do mercúrio contido na poeira de fósforo envolve um processo


químico ou um processo térmico. No processo térmico, o material é aquecido a temperaturas
muito altas (maiores que 600°C). O material vaporizado a partir desse processo é condensado
e coletado em recipientes especiais ou decantadores. O mercúrio assim obtido pode passar por
nova destilação para se removerem impurezas. Emissões fugitivas durante esse processo
podem ser evitadas usando-se um sistema de operação sob pressão negativa (PCEPC, 2007
apud DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

No caso do processo químico, ou lixiviação, o resíduo é tratado por processo de


extração, envolvendo algum líquido extrator e a solução resultante precisa então passar por
algum outro tratamento para recuperar o mercúrio. O método de lixiviação tem como
desvantagens, comparado com o processo térmico, a complexidade do processo, a
necessidade de diversas etapas, a utilização de reagentes químicos e, especialmente, a geração
de efluentes que demandam um tratamento adequado para serem descartados, sendo, portanto,
menos utilizado que o processo térmico (DURÃO & WINDMÖLLER, 2008).

De acordo com Durão & Windmöller (2008) todos os constituintes das lâmpadas podem
ser reciclados, exceto o isolamento baquelítico. Os vidros podem ser recuperados para
69

produção de novas lâmpadas ou novos vidros em aplicação não alimentar. O alumínio e os


pinos de latão, após limpeza, podem ser fundidos e utilizados para produção de novos
materiais. O pó de fósforo, quando livre do mercúrio, pode ser reutilizado em fábricas de
cimento.

Sanches (2008) relata que, atualmente, os materiais reciclados de lâmpadas


fluorescentes são destinados à indústria em geral, como o vidro, que devido a sua resistência
pode ser usado na constituição da cerâmica. O mercúrio pode ser vendido às empresas que
fabricam termômetros e barômetros, e o pó fosfórico sem contaminação de mercúrio pode ser
vendido ao próprio fabricante de lâmpadas, já que a matéria-prima nova é muito cara. A
tabela 2.26 apresenta uma estimativa dos valores comerciais dos materiais recuperados das
lâmpadas fluorescentes.

Tabela 2.26. Valor dos materiais recuperados pela reciclagem de lâmpadas fluorescentes

Valor de Economia em
Material Comprador de
compra aprox. relação à Observação
reciclado material reciclado
(R$/kg) matéria-prima
Metais (latão Diversos 0,90 100% Preço de sucata
e alumínio)
Vidro Indústria cerâmica 0,20 100% Preço de sucata
Mercúrio Indústria de termô- 1000,00 Praticamente Preço de
metros e barôme- não existe matéria-prima
tros e de lâmpadas
fluorescentes
Fonte: SANCHES, 2008

2.5.4. Principais empresas de reciclagem de lâmpadas e suas características

Até 1993 não existiam alternativas para tratamento de lâmpadas no Brasil, e a totalidade
das lâmpadas era descartada no lixo comum, sendo normalmente direcionadas a aterros
sanitários. Não existem estudos sobre o impacto causado por esta destinação inadequada de
lâmpadas. A partir de 1993, surgiram várias empresas no mercado se propondo a fazer o
tratamento das lâmpadas (ZANICHELI et al., 2004).

Na atualidade, existe no Brasil pelo menos uma dezena de empresas especializadas na


reciclagem de lâmpadas, as quais utilizam diferentes equipamentos, tanto importados como
nacionais, para o processamento e descontaminação dos resíduos. O serviço de reciclagem
pode ser executado em instalações próprias (equipamento estacionário) ou nas instalações dos
clientes (equipamento móvel). A destinação dos resíduos e os preços praticados também
70

variam, estando relacionados, de uma forma geral, ao tipo de equipamento e à região onde a
empresa atua.

Ente as empresas de maior visibilidade no momento estão a Apliquim - SP, Brasil


Recicle - SC, Bulbox - PR, Ivomax - BA, Mega - PR, Naturalis - SP, Recitec - MG, Silex -
RS e Tramppo - SP. Na tabela 2.27 é apresentada uma síntese das informações de algumas
dessas recicladoras reunidas por Polanco (2007).

Tabela 2.27. Dados comparativos dos processos e custo de reciclagem no Brasil

Custo sem
Capacidadetransporte (R$)
Empresa UF Tipo de Processamento
(lâmpadas/mês)
Lâmpada Kg
Apliquim SP Fragmentação seca + recuperação 400.000 0,70 -
térmica de Hg
Brasil SC Corte de terminais + separação de 160.000 0,45 2,56
Recicle componentes
HG MG Trituração e separação química - 0,50 -
Desconta-
minação
Mega PR Trituração e separação química 150.000 0,45 a -
Reciclagem 0,58
Naturalis SP Trituração no próprio cliente e 38.000 0,60 -
do Brasil disposição dos filtros contaminados
em aterro de resíduos Classe I
Recitec MG Fragmentação seca + recuperação 200.000 0,75 4,00
térmica de Hg
Sílex SC Fragmentação seca + recuperação 144.000 0,55 a 3,60 a
térmica de Hg no próprio cliente 0,60 3,70
Tramppo SP Sopro + recuperação térmica de Hg 120.000 0,50 -
Fonte: POLANCO, 2007

2.5.4.1. Apliquim

• Histórico: Fundada em 1985, a Apliquim foi a primeira empresa do Brasil a realizar


tratamento de resíduos contendo mercúrio. Suas atividades iniciais envolveram a recuperação
de mercúrio a partir de resíduos da fabricação de cloro-soda, termômetros, pesticidas
agrícolas a base de mercúrio, resíduos da fabricação de lâmpadas. Em 1993, passou a realizar
o tratamento de lâmpadas contendo mercúrio, tornando-se a primeira instituição no hemisfério
sul a desenvolver tal atividade (ZANICHELI et al., 2004).

• Processamento: A descontaminação é feita com um equipamento nacional, de


fabricação própria que faz a retortagem a vácuo. O equipamento, segundo um dos
proprietários é inédito no Brasil, e somente países como a Suécia e a Alemanha recuperam
71

mercúrio utilizando processo semelhante, embora utilizando outra tecnologia. A retorta é um


equipamento utilizado em nível industrial, específico para processos que envolvem reações
químicas, e é um pouco parecida com uma panela de pressão, cuja boca é voltada para baixo.
A ausência de ar é necessária para evitar contaminação no processo. O mercúrio é extraído
com um índice de recuperação de 100% (ATIYEL, 2001).

• Resíduos: O vidro recuperado pela Apliquim é encaminhado para fabricação de


esmaltes cerâmicos. Metais são encaminhados para recicladores de metais, e o mercúrio
comercializado para instituições que o utilizem em seu processo, com devida autorização do
IBAMA (órgão que fiscaliza a comercialização do mercúrio no Brasil).

• Licenças: Em 2004 a Apliquim foi interditada pelo Ministério do Trabalho (DRT/SP)


por emitir para o meio ambiente de trabalho níveis de mercúrio incompatível com a legislação
vigente (ACPO, 2006). Ainda em 2004 o PRONAEM - Programa Nacional para Eliminação
do Mercúrio - que vistoria as empresas que fazem uso do mercúrio em todo território
nacional, suspendeu a interdição do processo de tratamento de lâmpadas da Apliquim
justificando que a máquina de rupturas de lâmpadas passou a contar com processo mais
integrado e com dispositivos de controle de poluição mais adequados (ACPO, 2009).

Segundo Zanicheli et al. (2004) a Apliquim é licenciada pela CETESB e credenciada


pelo IBAMA para processar resíduos mercuriais. Na página da CETESB (2009) é possível ver
a situação das licenças da Apliquim ao longo dos anos, inclusive as que foram negadas.

Cada remessa de lâmpadas é documentada por um “Certificado de Descontaminação de


Lâmpadas Usadas” e “Termo de Recepção de Responsabilidade” emitidos pela Apliquim e
nominal ao cliente gerador das lâmpadas. Esse documento é parte integrante do Sistema de
Gestão Ambiental da Apliquim que lhe conferiu a certificação pela norma ISO 14001:2004
(PGR, 2008).

• Preço: R$ 0,65 por lâmpada para descontaminação de lotes de 1.000 a 2.999 unidades.
Esse preço é válido para qualquer tamanho, tipo e potência de lâmpada. Para descontaminação
de lâmpadas já quebradas o preço é de R$ 3,50 por quilograma (dados do início de 2008).
Estes valores são para material posto na unidade de processamento, pois a Apliquim não faz
retirada fora do estado de São Paulo (PGR, 2009).
72

2.5.4.2. Mega Reciclagem

• Histórico: A Mega Reciclagem iniciou suas atividades em Curitiba em 1998,


percebendo a carência do mercado em empresas especializadas na destinação final de
lâmpadas de vapores metálicos e na descontaminação do mercúrio e outros metais pesados.
(ZANICHELI et al., 2004).

• Processamento: A empresa é voltada exclusivamente ao bloqueio da toxicidade de


lâmpadas inservíveis, destruindo-as e gerando subprodutos reutilizáveis em processos de
manufatura industrial. Oferece também orientação quanto ao manejo, acondicionamento,
estocagem, transporte e legislação aplicável. O processo consiste, basicamente, na triagem e
descontaminação das lâmpadas, que são quebradas por submersão em meio líquido onde
reagentes químicos separam os materiais tóxicos do vidro e dos metais (ZANICHELI et al.,
2004).

• Resíduos: Os subprodutos gerados pelo processo são encaminhados para diversas


empresas de diversos segmentos para que possam ser reciclados. Após o processo de
descontaminação o mercúrio é encaminhado para uma empresa especializada na tridistilação
do mercúrio que posteriormente comercializa (ZANICHELI et al., 2004).

• Licenças: Na homepage da Mega Reciclagem não consta se a mesma possui licença


(arquivo não disponível) junto aos órgãos municipais, estaduais e federais para a atividade
desenvolvida.

Zanicheli et al. (2004) por sua vez, destacam que a Mega Reciclagem possui todas as
licenças para comercialização do mercúrio, no entanto, contatos realizados com a empresa e
seus clientes não proporcionaram detalhes quanto ao receptor do resíduo de mercúrio.

• Preço: R$ 0,45 a R$ 0,58 por lâmpada (OSADA, 2006 apud POLANCO, 2007).

2.5.4.3. Brasil Recicle

• Histórico: A Brasil Recicle começou a atuar no mercado em 2000 em conseqüência


da necessidade de vidros para uso como matéria-prima em outro negócio no segmento de
produtos para animais de estimação, principalmente bebedores para passarinho. Como as
lâmpadas fluorescentes continham mercúrio, não bastava recolhê-las, era preciso tratá-las
também, o que despertou o interesse pela reciclagem (ZANICHELI et al., 2004).
73

• Processamento: O processo utilizado por ela consiste no corte dos terminais e


limpeza interna do tubo de vidro com escova giratória. Durante o corte é aplicado um jato de
ar em uma extremidade do tubo e exaustão no lado oposto. Nessa fase, os terminais metálicos
são separados do processo e armazenados em bombonas para posterior trituração e separação.
Os tubos de vidro após o corte e limpeza, são armazenados ou triturados. As poeiras finas são
retidas nos filtros manga e o vapor de mercúrio é adsorvido nos filtros à base de carvão
ativado. O processo permite a recuperação de vidro e sucata metálica (POLANCO, 2007).

• Resíduos: O vidro obtido a partir da reciclagem é utilizado por indústrias cerâmicas


da região como parte de fabricação de lajotas (ATIYEL, 2001). Resíduos como alumínio,
terminais de contato, polímeros e bulbos são separadamente armazenados e os subprodutos,
após o laudo do IPT, são comercializados (ZANICHELI et al., 2004).

• Licenças: Conforme consta em sua homepage a empresa possui licenças estaduais e


federais, tais como: licença de funcionamento para descontaminação de lâmpadas especiais,
emitido pela FATMA - Fundação do Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina, Cadastro
Técnico Federal de Atividades potencialmente poluidoras do IBAMA, entre outros
(POLANCO, 2007).

Com base em um levantamento realizado, a PGR (2008) menciona que juntamente com
a Nota Fiscal e Fatura, a Brasil Recicle envia o CRR - Certificado de Recepção e
Responsabilidade, devidamente reconhecido pelo cartório.

• Preço: R$ 0,63 para lâmpadas fluorescentes acima de 1,21 m e R$ 0,45 para as demais
(custo unitário no início de 2008). Lâmpadas quebradas são processadas por R$ 2,56 / Kg. A
coleta deverá obedecer à quantidade mínima de 1000 (mil) lâmpadas por descarte,ou
faturamento de R$ 450,00. A empresa Brasil Recicle não cobra pelo frete. (PGR, 2009).

2.5.4.4. Tramppo

• Histórico: A Tramppo é uma empresa que em 2003 incubou-se no Centro Incubador


de Empresas Tecnológicas (CIETEC) da Universidade de São Paulo (USP), obtendo
financiamento em 2004 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) para desenvolver o equipamento de reciclagem de lâmpadas e, em 2005, pelo
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), desenvolveu um
sistema que recupera os componentes das lâmpadas fluorescentes tubulares. O equipamento
74

possui tecnologia similar à existente na Suécia, conhecida como tratamento por sopro, mas foi
desenvolvido integralmente pela própria empresa e patenteado em 2005 (POLANCO, 2007).

• Processamento: O equipamento é totalmente automatizado, computadorizado e com


monitoramento automático para detecção de mercúrio. O processo completo é composto por
três fases: sopro, trituração do vidro tubular e sublimação de mercúrio. As lâmpadas tubulares
são alimentadas automaticamente no equipamento, que faz o corte de terminais, separando-os
do processo. Um sistema de sopro e sucção retira do tubo o pó de fósforo contendo mercúrio,
separando-o do tubo de vidro limpo. Após o sopro, o tubo de vidro limpo que sai do processo
é fragmentado em um sistema móvel de trituração e o vidro é recolhido em tambores. A
poeira de fósforo contendo mercúrio é aquecida para separação dos demais materiais. Com o
aquecimento, o mercúrio sublima, e é resfriado para condensação e recuperação (POLANCO,
2007).

• Resíduos: Por enquanto, a empresa ainda não está vendendo o mercúrio retirado das
lâmpadas, porque a quantidade é muito pequena (o mínimo para comercialização é de 1 quilo,
sendo que de cada mil lâmpadas são retiradas 8 gramas de mercúrio, em média). O vidro
triturado é vendido para uma grande fabricante nacional de vidros e o pó fosfórico está sendo
negociado para utilização na produção de tintas. Os terminais de alumínio, separados no início
do processo, são destinados para uma cooperativa de um conjunto habitacional popular de São
Paulo e depois para uma empresa recicladora da matéria-prima (FAPESP, 2008).

• Licenças: A Tramppo possui licença de operação da CETESB desde junho de 2007


(CETESB, 2009).

• Preço: R$ 0,50 por lâmpada entregue na Tramppo independente do volume a ser


reciclado (dados do início de 2008) (PGR, 2009).
75

3. METODOLOGIA

Neste item é apresentada a metodologia de pesquisa usada para o desenvolvimento da


presente monografia, bem como os objetivos envolvidos desse estudo. A descrição dos
objetivos vem em primeiro plano, seguida das hipóteses da pesquisa, da descrição do método
de trabalho e pela delimitação da população abrangida.

3.1. OBJETIVOS

3.1.1. Geral

O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar o método de reciclagem de


lâmpadas denominado “Operação Papa-Lâmpadas”, que atua em Salvador e região
metropolitana, com enfoque nos riscos de exposição ocupacional dos trabalhadores que
executam os serviços, e nos possíveis impactos ambientais produzidos pelo mercúrio durante
o processamento das lâmpadas, transporte do equipamento e disposição dos resíduos.

3.1.2. Específicos

Os objetivos específicos do estudo são os seguintes:

a) Avaliar de forma quantitativa os riscos de exposição dos operadores ao mercúrio


durante o processamento das lâmpadas e o nível de descontaminação dos resíduos, a luz da
legislação em vigor;

b) Analisar qualitativamente as etapas de preparação, transporte e operação do


equipamento, bem como a destinação final dos resíduos, de forma a identificar possíveis
riscos de contaminação com mercúrio para os trabalhadores e população em geral;

c) Examinar os potenciais impactos ambientais produzidos pelo mercúrio na reciclagem


das lâmpadas, decorrentes tanto do processamento como da disposição dos resíduos;

d) Discutir se o processamento de lâmpadas com equipamentos móveis (in company)


apresenta riscos ocupacionais e ambientais diferenciados em relação aos equipamentos
estacionários, cuja operação é feita nas instalações das empresas recicladoras;
76

e) Apoiar as organizações e os consumidores em geral na escolha de métodos de


reciclagem de lâmpadas que contém mercúrio, de forma que os recursos investidos produzam,
em contrapartida, resultados aceitáveis do ponto de vista ocupacional e ambiental (objetivo de
ação).

3.2. MÉTODO DE PESQUISA

O método de pesquisa empregado na elaboração da presente monografia foi dividido


nas seguintes etapas principais:

a) Revisão bibliográfica, realizada com o intuito de obter informações referentes aos


métodos mecanizados de processamento de lâmpadas que contêm mercúrio empregados no
Brasil, com enfoque nos riscos ocupacionais e ambientais;

b) Visita às instalações de uma empresa de reciclagem de lâmpadas que atua em Salvador


e região metropolitana, para coletar dados sobre o seu histórico, equipamentos utilizados,
destinação dos resíduos, licenças existentes e preços praticados, entre outros;

c) Observação do serviço de reciclagem de lâmpadas florescentes tubulares em uma


empresa cliente, a fim de conhecer o método de processamento e verificar as condições de
trabalho dos operadores, bem como os riscos ambientais existentes;

d) Avaliação crítica dos dados coletados face à legislação trabalhista e ambiental em


vigor, visando identificar pontos fortes e oportunidades de melhoria do processo, que possam
servir de parâmetro para os clientes atuais e futuros na contratação do serviço de reciclagem
de lâmpadas.

3.3. POPULAÇÃO / AMOSTRA

A avaliação foi realizada somente em uma empresa, por ser a única que atua
regularmente em Salvador e região metropolitana. Com relação aos trabalhadores envolvidos,
a empresa possui três funcionários que preparam, manuseiam, transportam e operam o
equipamento de dascaracterização de lâmpadas e seus acessórios, bem como auxiliam na
disposição dos resíduos. Os laudos das análises amostrais de exposição dos trabalhadores ao
mercúrio e da descontaminação dos resíduos foram obtidos no acervo da própria empresa de
reciclagem.
77

3.4. LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Considerando que o processo é relativamente padronizado, inicialmente foi previsto que


haveria pelo menos uma visita a um cliente para acompanhar o serviço de descaracterização
das lâmpadas in company, com o objetivo de observar os detalhes da operação, entrevistar os
trabalhadores e registrar imagens para serem inseridas na monografia. Por dificuldades de
liberação do acesso às instalações das empresas clientes, no entanto, acabou não sendo
possível realizar nenhuma visita, sendo as imagens apresentadas obtidas em vídeos
disponibilizados pela Ivomax.
78

4. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA E SEUS PROCESSOS

4.1. HISTÓRICO DA IVOMAX

A Ivomax Serviços Ambientais Ltda. está localizada em um galpão em Campinas de


Pirajá, Salvador / BA, e entre as suas diversas atividades, atua na busca de alternativas que
colaborem para que empresas e instituições ecologicamente conscientes possam dar um
destino ambientalmente seguro a seus resíduos, e um dos maiores exemplos deste esforço é o
seu sistema móvel de descaracterização de lâmpadas fluorescentes (in company), denominado
de “Operação Papa-Lâmpadas”.

Como a operação é executada nas dependências dos clientes, as instalações da Ivomax


são relativamente simples, contando com um escritório e um depósito que totalizam 24 m2. A
empresa possui dois equipamentos do modelo Bulb Eater fabricados pela Air Cycle
Corporation dos Estados Unidos, dois veículos utilizados para transporte e três funcionários
que executam os serviços.

A produção tem sido, em média, de 40000 lâmpadas descaracterizadas por mês, no


entanto, com os dois equipamentos em operação, a Ivomax tem capacidade de processar
140000 lâmpadas. O equipamento permite a reciclagem de todos os modelos de lâmpadas que
contêm mercúrio, mas a maior participação no cômputo total é de lâmpadas fluorescentes
tubulares.

A carteira de clientes conta atualmente com aproximadamente 150 empresas,


compreendendo indústrias e outras organizações de considerável porte, que têm em comum a
certificação ISO 14001:2004 ou a preservação ambiental como prioridade na gestão de seus
negócios. Os clientes estão em sua maioria concentrados em Salvador e região metropolitana,
porém, são atendidas também algumas empresas no interior da Bahia ou unidades de negócios
de empresas multisite que atuam em outros estados do nordeste, como o Ceará, Sergipe, entre
outros.

Para serviços realizados até 60 km da sede da Ivomax, os preços por lâmpada reciclada
são os apresentados na tabela 4.1.
79

Tabela 4.1. Valor cobrado pelos serviços de reciclagem por lâmpada

NÚMERO DE LÂMPADAS PREÇO UNITÁRIO (R$)


1 - 500 1,52
501 - 1000 1,37
1001 - 2000 1,21
2001 - 3000 1,06
> 3000 0,90
Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

4.2. PROCESSAMENTO DAS LÂMPADAS

A descaracterização das lâmpadas é um processo relativamente simples, que envolve


basicamente o transporte do equipamento até o cliente, a preparação do equipamento e do
local de trabalho, o processamento propriamente dito e o retorno para as instalações da
Ivomax, onde os resíduos ficam armazenados até completar a quantidade estabelecida para
destinação, como ilustra a figura 4.1.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.1. Sistema de descaracterização de lâmpadas “in company”


80

O fluxo mais detalhado contendo todas as etapas do processo pode ser visualizado na
figura 4.2.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.2. Fluxo do processo de descaracterização de lâmpadas


81

4.2.1. Preparação da operação

Os procedimentos preparatórios da operação estão descritos na Instrução Operacional


IO-IVM-01, a qual estabelece que antes de começar o processo de descaracterização, as
condições do local e a forma de armazenamento das lâmpadas devem ser avaliadas. A área de
operação é isolada com cones e correntes e a aproximação de pessoas não envolvidas com o
processo de descaracterização é proibida, inclusive colaboradores dos clientes, exceto se os
mesmos estiverem utilizando todos os EPI's requeridos.

Os filtros primário e secundário são trocados mantendo registro em formulário


específico, considerando o seguinte critério: um filtro primário para cada tambor processado e
um filtro secundário para cada dez tambores processados. Após a troca, é verificado se os
filtros primário e secundário estão acoplados corretamente na caixa de filtros, conforme as
fotografias da figura 4.3.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.3. Detalhes dos filtros primário e secundário

A tampa com o motor é colocada no tambor (base da máquina) e vedada através do


parafuso de ajuste, e o filtro de carvão ativo e a caixa de filtros (primário e secundário) são
então acoplados na tampa do tambor, conforme as fotografias da figura 4.4.
82

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.4. Detalhes da tampa e do acoplamento dos filtros

A seguir a mangueira de sucção da tampa do tambor é conectada à entrada da caixa de


filtros e a mangueira de exaustão é conectada entre a saída da caixa dos filtros e a entrada da
caixa do filtro de carvão ativo. Com a fixação do tubo guia e ligação a rede de energia elétrica
o equipamento está pronto para operar, conforme ilustra a figura 4.5.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.5. Visão geral do equipamento com mangueiras conectadas

Antes de iniciar a operação é verificado se há vazamento nas conexões. Caso haja, os


acoplamentos são refeitos e, se necessário, as mangueiras são substituídas. Em nenhuma
hipótese o equipamento deve operar com vazamento. O teste para detectar fugas acidentais do
vapor de mercúrio é feito aplicando-se espuma em todo o sistema, observando a formação de
bolhas.
83

4.2.2. Transporte dos equipamentos e resíduos

As atividades de transporte são estabelecidas na Instrução de Trabalho IT-IVM-03. O


transporte existente antes da operação envolve somente os componentes do equipamento
(apresentados no item 4.2.1) e os tambores metálicos de duzentos litros que são usados para
armazenar os resíduos de vidro e alumínio. Os tambores são substituídos à medida que vão
enchendo, e têm capacidade para abrigar de 850 a 1400 lâmpadas, dependendo do modelo que
está sendo processado.

Com relação ao retorno do equipamento e tambores cheios para a sede, a Ivomax está
dispensada da obtenção da ATRP - Autorização de Transporte de Resíduos Perigosos - junto
aos órgãos ambientais, pois os tambores são fechados com tampa e fecho de segurança, e em
seu interior ficam apenas componentes já descontaminados. A condicionante VII da Licença
do CRA apresenta como requisito que qualquer acidente no transporte do equipamento seja
comunicado imediatamente ao CRA. Havendo qualquer derramamento indesejado, os
resíduos são coletados com utensílios comuns e recolocados nos tambores.

Os filtros primário e secundário, por sua vez, ficam inseridos no próprio equipamento,
sendo transportados com ele. Quando saturados, são embalados em sacos plásticos e
colocados em tambores para serem encaminhados para a sede da empresa e, posteriormente,
para a destinação final. O filtro de carvão ativado fica acondicionado em um recipiente
blindado que é transportado junto com o equipamento e conectado durante a operação.

No transporte para destinação final também não são requeridos maiores cuidados com
relação aos tambores e filtros primário e secundário. Já o filtro de carvão ativado, conforme
condicionante V da Licença do CRA, requer uma ATRP para o transporte até o local de
descarte. Até o momento a empresa teve de transportar um único filtro em setembro de 2008,
o qual foi retirado do equipamento, acondicionado em dois sacos plásticos e colocado dentro
de um tambor metálico lacrado. Tal procedimento foi apresentado previamente pela Ivomax
ao CRA por meio de um Manifesto de Resíduos, sendo fornecido pelo CRA a ATRP nº
0225/2008-1371.

Com base na Portaria nº 402 de 12 de fevereiro de 2004 da ANTT, no transporte


terrestre de produtos perigosos o mercúrio deve ser enquadrado na Classe 6 (substâncias
tóxicas, infectantes e irritantes), mais precisamente na Subclasse 6.1 (substâncias tóxicas),
com nº ONU 2024 (mercúrio composto líquido) e 2025 (mercúrio composto sólido)
(BRASIL, 2004).
84

Desta forma, os rótulos de risco são fixados no recipiente do carvão ativado adsorvido
de mercúrio, na ocasião do seu embarque, conforme determina a classificação da ONU
(inflamabilidade, corrosividade, etc.). O veículo que transporta os resíduos perigosos também
é identificado através das placas de risco conforme legislação vigente.

4.2.3. Descaracterização das lâmpadas

Para realizar a descaracterização é seguida a Instrução Operacional IO-IVM-01, que


estabelece que as lâmpadas devem ser transportadas do local de armazenamento até o local
onde se encontra o equipamento, tomando todo cuidado para evitar quebras. As lâmpadas
então são desembaladas e qualquer tipo de adesivo é retirado, garantindo que as mesmas
fiquem limpas antes de iniciar o processo. Quando ocasionalmente houver a quebra de uma
lâmpada, o operador recolhe os resíduos e lança no tubo guia, sendo este o mesmo
procedimento feito com os resíduos de lâmpadas quebradas encontrados junto com as
lâmpadas inteiras armazenadas pelos clientes.

O operador posiciona-se de maneira que a extremidade do tubo-guia, onde as lâmpadas


serão inseridas, fique na altura do seu tórax, para facilitar o processo e garantir a segurança e
ergonomia. As lâmpadas fluorescentes são introduzidas no tubo alimentador e quebradas pela
hélice posicionada sob a tampa do tambor do equipamento. As fotografias da figura 4.6
ilustram a alimentação do equipamento.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.6. Detalhes da operação de descaracterização de lâmpadas

Os fragmentos de vidro e metais caem no fundo do tambor e as poeiras finas (fósforo e


micro-partículas de vidro) e o vapor de mercúrio, são direcionadas por um sistema de
insuflação/exaustão de ar para dois filtros de celulose. As poeiras são retidas nesses filtros e o
85

vapor de mercúrio é adsorvido nos filtros à base de carvão ativado. Nenhum material sólido
ou líquido é colocado dentro dos tambores, exceto o vidro, o alumínio das lâmpadas
quebradas e os filtros usados. As fotografias da figura 4.7 mostram o estoque de lâmpadas
inteiras (antes) e de resíduos de vidro e alumínio (depois).

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 4.7. Detalhes do estoque inicial de lâmpadas e dos resíduos de vidro e alumínio

4.3. ANÁLISE QUÍMICA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS

Em termos de classificação, a descaracterização das lâmpadas permite que os resíduos


sejam divididos em duas fases: a sólida e a gasosa. A sólida é obtida pela trituração das
lâmpadas, transformando-as em fragmentos de vidro e alumínio e o pó fosfórico, resíduos
estes classificados segundo a NBR 10004:2004 como Classe II. Já a gasosa consiste em criar
um caminho preferencial para que os gases contidos nas lâmpadas passem pelos filtros, de
forma a reter o mercúrio, que é considerado resíduo Classe I pela norma.

A análise química dos resíduos sólidos foi feita inicialmente em 2002, na época da
aquisição dos equipamentos, pelo IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas, por solicitação da
empresa denominada Naturalis do Brasil, que é parceira da Ivomax e atua em São Paulo. Os
ensaios de lixiviação e solubilização para detectar os níveis de mercúrio no vidro e no pó
fosfórico foram realizados conforme as normas NBR 10004, NBR 10005, NBR 10006 e NBR
10007 vigentes na época, publicadas em 1987. A tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos
pelo IPT nas análises químicas das lâmpadas.
86

Tabela 4.2. Resultado da análise química realizada pelo IPT

Resultados das amostras (mg/L)* NBR 10004


Ensaio Elemento (limite máximo)
Nº 1 Nº 2 Nº 3 Resíduo filtro**
0,1 mg/L
Lixiviação Mercúrio < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,03
(Anexo G)
0,001 mg/L
Solubilização Mercúrio 0,01 0,01 0,01 0,1
(Anexo H)
* As amostras denominadas Nº 1, Nº 2 e Nº 3 são de vidro somente (sem as peças de alumínio)
** O resíduo do filtro é o genericamente denominado pó fosfórico nesta monografia
Fonte: IPT, 2002

O IPT concluiu que o mercúrio estava dentro do limite máximo permitido para o extrato
de lixiviação e acima do limite permitido para o extrato de solubilização, tanto nas amostras
de vidro como na amostra de pó fosfórico, e com base nos resultados obtidos classificou os
resíduos como Classe II - não inertes, ou seja, os resíduos não foram considerados perigosos.

Já a Ivomax realizou a análise química do vidro e alumínio duas vezes desde a entrada
em atividade, e a análise do pó fosfórico foi feita em uma ocasião. Os ensaios de lixiviação e
solubilização para detectar os níveis de mercúrio foram realizados segundo as normas NBR
10004, NBR 10005, NBR 10006 e NBR 10007 publicadas em 2004. As tabelas 4.3 e 4.4
apresentam os resultados dos laudos disponibilizados pela Ivomax, obtidos pela Engequímica
nas análises químicas do vidro e alumínio e do pó fosfórico das lâmpadas, respectivamente.

Tabela 4.3. Resultado da análise do vidro e alumínio realizada pela Engequímica

Data da
Parâmetros Métodos Limites Lixiviado Solubilizado
análise
Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,1 09/02/06 0,048 mg/L -
Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,001 09/02/06 - 0,177 mg/L
Fonte: ENGEQUÍMICA, 2006

Tabela 4.4. Resultado da análise do pó fosfórico realizada pela Engequímica

Data da
Parâmetros Métodos Limites Lixiviado Solubilizado
análise
Mercúrio EPA 7470 ≤ 0,1 09/02/06 0,1 mg/L -
Fonte: ENGEQUÍMICA, 2007

Mais uma vez a análise da solubilização apresentou resultados superiores ao permitido


no ensaio de solubilização para as amostras de vidro e alumínio. Segundo a NBR 10004:2004,
os resíduos Classe II A - não inertes, podem ter propriedades tais como: biodegradabilidade,
combustibilidade ou solubilidade em água.
87

Com relação à identificação, armazenamento e destinação dos resíduos gerados no


processo de descaracterização, os procedimentos a serem seguidos estão definidos na
Instrução de Trabalho IT-IVM-03. Os tambores contendo vidro e alumínio são identificados e
armazenados temporariamente no depósito da empresa que é de alvenaria, tem cobertura de
telhas metálicas e piso cimentado impermeável. Os tambores são encaminhados mensalmente
para uma cimenteira que mói o vidro e o alumínio e usa como insumo em seu processo de
fabricação de clinquer portland. A condicionante IV da Licença do CRA exige que os
resíduos sólidos sejam encaminhados para empresas licenciadas ambientalmente ou dispostos
em aterro industrial igualmente licenciado, mantendo documentação comprobatória.

Os filtros primário e secundário também são armazenados em tambores no depósito, e a


cada três meses são encaminhados para uma empresa especializada que incinera o pó
fosfórico. Os filtros de ar propriamente ditos, segundo a condicionante III da Licença do
CRA, devem ser encaminhados para reciclagem, tratamento de descontaminação ou
destruição, em empresas licenciadas ambientalmente.

Já o filtro de carvão ativado fica acondicionado em um recipiente blindado do próprio


equipamento, e só é removido a cada 500.000 lâmpadas processadas ou dois anos, o que
ocorrer primeiro. Até o momento foi atingida a capacidade de um filtro, cujo destino foi uma
empresa produtora de cloro-soda, que desenvolveu um método piloto de tratamento do carvão
ativado para retirada do mercúrio, o qual é utilizado como matéria prima em seu processo
produtivo. A tabela 4.5 sintetiza o tratamento dado aos resíduos gerados no processo de
descaracterização das lâmpadas e os controles dos níveis de mercúrio já realizados.
88

Tabela 4.5. Resumo da análise química e destinação dos resíduos de lâmpadas

Classe Análise química Destino final


Armazenamento
Descrição NBR (Quantidade/ (Para quem/
(Local/Tempo)
10004 Responsável) Finalidade)
Vidro II B Duas análises, Depósito da Ivomax Cimenteira para moagem
realizadas pelo IPT durante um mês e aproveitamento no
e Engequímica processo produtivo
Metal II B Duas análises, Depósito da Ivomax Cimenteira para moagem
realizadas pelo IPT durante um mês e aproveitamento no
e Engequímica processo produtivo
Pó fosfórico II B Duas análises, Depósito da Ivomax Empresa especializada
contido nos realizadas pelo IPT durante três meses para incineração e
filtros primário e Engequímica descarte dos resíduos
e secundário
Mercúrio I - Recipiente blindado Indústria de cloro-soda
contido no do equipamento para tratamento e
carvão ativo durante dois anos aproveitamento no
processo produtivo
Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Sobre o descarte dos resíduos cabe destacar ainda que a Ivomax paga para as empresas
receptoras para que dêem a destinação apresentada acima, diferentemente da prática descrita
por Sanches (2008) na tabela 2.25, onde os materiais recuperados na reciclagem de lâmpadas
têm valor comercial.

4.4. LICENÇAS AMBIENTAIS

A Ivomax adquiriu seus equipamentos em 2001 e iniciou efetivamente suas atividades


comerciais em maio de 2006, após ter recebido a licença simplificada do CRA - Centro de
Recursos Ambientais - do estado da Bahia, segundo o processo nº 2005-007170/TEC/LS-
1078. A licença é válida até abril de 2009 e está em fase de renovação.

A empresa esta cadastrada no IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos


Recursos Naturais Renováveis - como executante de Atividades Potencialmente Poluidoras,
mais especificamente, para prestação de serviços de “tratamento e destinação de resíduos
industriais”. O Certificado de Regularidade é válido até maio de 2009.

Para prestar serviços no estado de Sergipe a Ivomax possui uma Licença de Operação
de nº 648/2008 emitida pela ADEMA - Administração Estadual do Meio Ambiente. A licença
foi renovada em dezembro de 2008.

Como foi relatado no item 2.3.2 desta monografia, não existe uma legislação abrangente
a nível federal sobre o descarte de lâmpadas que contém mercúrio, e nos estados e municípios
89

existem somente algumas leis pioneiras a cerca do assunto. Assim sendo, para a prestação de
serviços em outros estados a Ivomax não tem exigências específicas, adicionais àquelas já
atendidas na Bahia e Sergipe. Cabe ressaltar, adicionalmente, que muitos dos clientes acabam
solicitando por conta própria a apresentação de atestados e licenças para prestação do serviço,
mesmo que de outros estados, de forma a se respaldar em relação a possíveis fiscalizações de
órgãos ambientais.

4.5. RISCOS OCUPACIONAIS

Do ponto de vista comercial, muitos dos clientes da Ivomax, por necessidade de


justificar os investimentos com o descarte de lâmpadas, por exigência normativa ou por
estarem imbuídos de maior consciência ambiental e social, exigem que sejam apresentados os
laudos de exames do ar atmosférico para fins de higiene ocupacional, chegando, em alguns
casos, a realizarem as análises por conta própria.

Do ponto vista legal, a condicionante I da Licença do CRA obriga a Ivomax a


apresentar semestralmente um relatório de medição da concentração de mercúrio na descarga
do exaustor, contemplando análise crítica, laudos analíticos, conclusão e recomendações. A
tabela 4.6 apresenta os resultados dos Relatórios de Análise cedidos pela Ivomax, realizados
nos anos de 2007 e 2008 pela Environ Científica, segundo o método NIOSH 6009, para
avaliar o nível de mercúrio no ar atmosférico para fins de higiene ocupacional.

Tabela 4.6. Resultados das análises de ar atmosférico para fins de higiene ocupacional

Amostra Nº do cliente Volume (L) Data da coleta Resultados (mg/m3)*


68428.1 553368 454,6 19/01/2007 < 0,001
71723.1 512261 74,75 26/07/2007 0,012
71723.2 512263 73,06 26/07/2007 0,008
71723.1 512262 76,26 26/07/2007 0,004
76508.1 535554 77,60 06/03/2008 < 0,003
76508.2 535546 77,80 06/03/2008 < 0,003
79404.1 516943 90,00 23/07/2008 0,003
* Limites de Tolerância: NR 15 = 0,04 mg/m3
ACGIH (2006) = 0,025 mg/m3
Fonte: ENVIRON CIENTÍFICA, 2007 e 2008

Para atender a NR 7 a Ivomax realiza os exames periódicos, nos quais são monitorados
os níveis de mercúrio no organismo dos trabalhadores através da urina. Como os resultados
dos exames são de acesso exclusivo do médico do trabalho e do próprio funcionário, foram
90

apresentados os ASO´s do Técnico de Operações emitidos pelo SESI Lucaia, datados em


29/03/2008, 12/11/2008 e 06/12/2008, cujas conclusões registradas são “apto para a função”.

A Licença do CRA também tem como condicionante II o fornecimento de EPI´s aos


funcionários, adequados e compatíveis com o exercício de suas funções, e a fiscalização de
seu efetivo uso conforme estabelecido na NR 6 do MTE. A Ivomax estabelece na IO-IVM-01
e IT-IVM-03 os procedimentos relativos ao fornecimento, uso, preservação e controle dos
EPI´s. A máscara com filtro para vapor de mercúrio é de uso obrigatório durante toda a
operação, desde o reconhecimento do local onde as lâmpadas estão armazenadas até o
desligamento da máquina, para proteção do operador e seus ajudantes de eventual exposição
ao mercúrio.

A empresa conta ainda com armários metálicos nas suas instalações para guarda dos
EPI´s, de forma que fiquem separados das roupas e acessórios de uso externo dos
trabalhadores. A higienização dos EPI´s é de responsabilidade dos próprios funcionários.
91

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Considerando as limitações da pesquisa, que foi feita sem nenhuma visita para
acompanhamento da operação in company, e as informações obtidas na revisão bibliográfica,
são retomados os objetivos desta monografia e realizadas a seguir algumas considerações
sobre o serviço de reciclagem de lâmpadas que contém mercúrio com equipamento móvel.

5.1. RISCOS OCUPACIONAIS

Com relação ao monitoramento biológico da exposição ocupacional ao mercúrio, a


Ivomax vem cumprindo a periodicidade dos exames determinada pela NR 7, e as informações
disponíveis nos ASO´s, apesar de não serem muito esclarecedoras, demonstram que os
Valores de Referência, a priori, estão sendo respeitados.

No que tange aos riscos de exposição dos operadores ao mercúrio durante o


processamento das lâmpadas, é possível verificar no item 4.5 que os resultados apresentados
nos Relatórios de Análises são cerca de dez vezes mais conservadores do que a legislação em
vigor, tanto se forem usados como referência os Limites de Tolerância da NR 15 como os da
ACGIH.

O Departamento de Controle de Substâncias Tóxicas da EPA - Environmental


Protection Agency - dos Estados Unidos realizou em 2001 uma pesquisa com o objetivo de
avaliar diferentes tipos de equipamentos de reciclagem de lâmpadas fluorescentes disponíveis
no mercado americano, tanto móveis como estacionários, considerando, entre outros aspectos,
os resultados de controles de emissões de mercúrio (EPA, 2001). Entre os equipamentos
avaliados estavam dois modelos da Air Cycle Corporation, fabricante da recicladora usada
pela Ivomax, e os resultados das análises, a título de enriquecimento desta discussão, são
apresentados nas tabelas 5.1 e 5.2.
92

Tabela 5.1. Concentrações de mercúrio para o modelo Bulb Eater 55-VRS

Lâmpadas Período de Resultados


Local da amostragem processadas coleta (h)a das amostras
(unidades) (mg/m3)e
Antes do tratamento pelos filtrosb,d 820 4 4,0
Na saída do filtro de carvão ativadob,c 820 4 0,045
Na saída do filtro de carvão ativadoc,d 446 4 0,03
Entre os filtros de ar e o de carvão ativadoc,d 446 4 0,45
Zona de respiração do operador (7,5 h)c 446 4 0,002
Zona de respiração do operador (30 min.)c 100 0,5 0,001
OSHA (Limite de Exposição permitido): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele)
15 minutos (TWA) = 0.1 mg/m3 (teto)
NIOSH (Limite de Exposição recomendado): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele)
a
Equipamento funcionou por 8 horas mas as lâmpadas só foram processadas durante o período abaixo, exceto
para o valor na zona de respiração do operador (período de 30 minutos)
b
Dados de 22/11/2000 (fornecidos pela Air Cycle Corporation a Minnesota Pollution Control Agency)
c
Dados de 07/11/2000 (obtidos em um relatório publicado pela Air Cycle Corporation)
d
Amostra coletada integralmente durante um período de 8 horas
e
Todas as amostras foram analisadas pelo método NIOSH 6009
Fonte: EPA, 2001

Tabela 5.2. Concentração de mercúrio no modelo Bulb Eater 55-VRS-U

Lâmpadas Resultados das amostras (mg/m3)e


Local da amostragem processadas 90 min. 390 min.d 8 horas
a
(unidades) (média)
Entre os filtros de ar e carvão ativado 450 9,28 0,057 1,79
Na saída do filtro de carvão ativado 450 0,00211 0,00218 0,00217
Zona de respiração do operador 450 0,0603b 0,00264 0,00907
c
0,0443
OSHA (Limite de Exposição permitido): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele)
15 minutos (TWA) = 0.1 mg/m3 (teto)
NIOSH (Limite de Exposição recomendado): 8 horas (TWA) = 0.05 mg/m3 (pele)
a
300 lâmpadas modelo U e 150 tubulares
b
Amostras coletadas ao longo dos primeiros 15 minutos de processamento das lâmpadas
c
Amostras coletadas ao longo dos últimos 75 minutos de processamento das lâmpadas
d
Amostra coletada após o equipamento ser desligado, mas sem lacrar a abertura de alimentação das lâmpadas
e
Todas as amostras foram analisadas pelo método NIOSH 6009
Fonte: EPA, 2001

Para ambos os modelos de equipamentos a EPA (2001) conclui que as concentrações de


mercúrio na zona respiratória do operador e após o filtro de carvão ativado foram abaixo da
OSHA, tanto para os limites de exposição admissível de 8 horas como para o de 15 minutos.

A EPA (2001) destaca, no entanto, que os ensaios da Air Cycle Corporation foram
realizados durante um período de 8 horas, mas parte do tempo foi com o equipamento em
operação e outra parte com o equipamento ocioso. Os relatórios não forneceram detalhes
sobre as condições de realização dos ensaios, como se o filtro de carvão ativado era novo ou
93

usado, e se a abertura de alimentação das lâmpadas foi lacrada quando os equipamentos


estavam ociosos.

Segundo a EPA (2001), não foram realizados monitoramentos por meio de um


instrumento de leitura adequado, durante as trocas de tambores e do filtro de carvão ativado
próximo da sua capacidade limite. Apesar do STEL e PEL basearem-se em 15 minutos
(TWA) e 8 horas (TWA), respectivamente, estes resultados não conseguiriam avaliar as
concentrações de vapor de mercúrio associadas a tarefas como a mudança de tambor ou outras
situações imprevistas durante a operação.

A análise qualitativa das etapas de preparação, transporte e operação do equipamento,


bem como a destinação final dos resíduos foi comprometida pela impossibilidade de
acompanhar o serviço in company (vide limitações da pesquisa), porém, com base nos vídeos
assistidos sobre o processo de descaracterização, três aspectos puderam ser evidenciados: o
isolamento da área de trabalho, o uso de EPI´s pelos trabalhadores e a fuga de gases pelo tubo
guia durante a operação. As fotografias da figura 5.1 demonstram duas situações de
descaracterização de lâmpadas com o “Papa-Lâmpadas” onde não foi feito o isolamento da
área, sendo uma delas executada pela Ivomax.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.1. Detalhe da falta de isolamento da área de trabalho

Cabe destacar que na Ivomax o isolamento da área com cones é previsto no


procedimento IO-IVM-01. No caso da outra empresa, não há informações disponíveis para
justificar a existência ou não de isolamento. Com relação aos EPI´s, as fotografias da figura
5.2 demonstram duas situações de descaracterização de lâmpadas com o “Papa-Lâmpadas”
onde ambos os trabalhadores usa máscara facial (esquerda) e onde somente o operador usa a
máscara, ficando o ajudante exposto a possíveis liberações de mercúrio.
94

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.2. Detalhe do uso de máscara facial somente pelo operador

Na figura da direita é possível verificar o abastecimento de lâmpadas feito pelo


ajudante, o qual está sem máscara facial a uma distância bastante próxima do equipamento em
operação. As fotografias da figura 5.3 demonstram uma aproximação da câmera de vídeo que
captou a fuga de gases contendo pó fosfórico pelo tubo guia no momento da trituração da
lâmpada, evidenciando que o equipamento não opera hermeticamente, e portanto é
imprescindível o uso de EPI´s durante todas as etapas do processo.

Fonte: Dados fornecidos pela IVOMAX, 2009

Figura 5.3. Detalhes da fuga de gás com o pó fosfórico na operação de descaracterização

Em sua avaliação a EPA (2001) destaca ainda que tambores que tenham qualquer
irregularidade na área de contato com a tampa do equipamento ou danos no dispositivo de
vedação também podem permitir a liberação de partículas e de vapor de mercúrio durante a
operação. Assim sendo, os trituradores devem ser instalados em áreas externas ou em locais
bem ventilados, acessíveis apenas ao pessoal devidamente treinado.
95

Atividades como a substituição dos filtros e tambores devem ser realizados por
trabalhadores equipados com EPI´s adequados, incluindo máscara facial com respirador (com
indicadores do "fim de vida"), luvas resistentes e macacão de material especial. Quando o
aparelho não estiver em uso, a via de alimentação das lâmpadas precisa ser fechada com
tampa ou dispositivo similar para impedir a liberação das emissões de mercúrio (EPA, 2001).

5.2. IMPACTOS AMBIENTAIS

No quesito nível de descontaminação dos resíduos, especificamente no que tange ao


ensaio de lixiviação, observa-se nos dados disponíveis no item 4.3 que não há uma
unanimidade, uma vez que os resultados variam entre dez vezes menos que o limite máximo,
no caso do vidro, até exatamente o limite máximo, no caso do pó fosfórico. Uma majoração
do número de ensaios talvez pudesse auxiliar no esclarecimento da questão. Segundo um dos
proprietários da Ivomax, o fato dos resultados estarem no limite máximo para o pó fosfórico é
o que vem determinando o seu envio para incineração, ao invés de optar por um descarte
menos dispendioso.

Com relação ao ensaio de solubilidade, o proprietário da Ivomax entrevistado declarou


que tal indicador não compromete a atividade de reciclagem pois não há utilização de
líquidos, especificamente a água, no processamento das lâmpadas.

Os filtros usados deverão ser considerados perigosos e tratados adequadamente, a


menos que tenham sido testados e considerados não perigosos, com as concentrações de
mercúrio total e solúvel abaixo dos respectivos índices previstos na legislação (EPA, 2001).
Na Ivomax os filtros primário e secundário após o uso são jogados no lixo comum. De acordo
com um dos proprietários entrevistados, o fabricante orienta que os filtros podem ser
reaproveitados, mas em função dos resultados das análises do pó fosfórico, por medidas de
segurança, a empresa opta pelo descarte.

Na destinação de resíduos de vidro e alumínio junto a uma fábrica de cimento portland,


a Ivomax recebe, em contrapartida, um documento atestando o efetivo recebimento para uso
em seu processo produtivo. Com relação ao pó fosfórico, que é incinerado por uma empresa
especializada, e ao mercúrio, processado em uma planta de cloro-soda, a Ivomax não possuía
documentos comprobatórios até o momento da visita a sua. Segundo o proprietário da
empresa que foi entrevistado, tais documentos seriam providenciados pela ocasião da
renovação da Licença do CRA, ainda no mês de abril de 2009.
96

5.3. EQUIPAMENTOS MÓVEIS E ESTACIONÁRIOS

Com relação às vantagens e desvantagens de equipamentos móveis em relação aos


estacionários, no que diz respeito aos riscos ocupacionais e ambientais, não foram
encontradas informações suficientemente detalhadas sobre os equipamentos fixos na
realização desta monografia, de forma a permitir um parecer mais embasado sobre o assunto.

A EPA (2001) em sua pesquisa destaca que a principal vantagem dos equipamentos
móveis é que eles ocupam menos espaço, e dispensam embalagens e outros cuidados
adicionais para prevenir a quebra das lâmpadas durante o armazenamento ou transporte até
uma recicladora. Baseada em um estudo de três empresas que usam equipamentos móveis,
porém, a EPA concluiu que aparentemente não há vantagens significativas em termos de
redução nos custos quando o processamento é feito nas instalações dos clientes.

Outro inconveniente apontado pela EPA (2001) com relação aos equipamentos da Air
Cycle Corporation é que nenhum dos modelos avaliados na pesquisa estava equipado com um
sistema de contagem de lâmpadas, de monitoramento do mercúrio, nem indicadores para
advertir sobre a necessidade de mudanças dos filtros ou de tambores cheios. O operador
precisa monitorar o número e tipo de lâmpada esmagada para determinar quando os filtros de
carvão ativado precisam ser substituídos.

Já os equipamentos móveis de maior porte e os estacionários têm como desvantagem o


custo do investimento, de forma que os únicos usuários que podem comprar estas unidades
são geradores de quantidades muito grandes de lâmpadas fluorescentes, ou empresas de
reciclagem que prestam esta atividade comercialmente (EPA, 2001).

Zavariz (2007) em seu documento apresentado ao GT - Lâmpadas do CONAMA com


recomendações relativas às lâmpadas com mercúrio, a serem implementadas pelos órgãos
competentes em todo o território nacional, inclui no item V, aspecto 3, a seguinte proposição:
“Fica proibida a realização de quebra ou tratamento de lâmpadas contendo mercúrio em
unidades móveis, seja em veiculo ou similares ou quaisquer meios passíveis de deslocamento
para a realização deste tipo de atividade". Esta autora porém não justifica no documento o
motivo da defesa de tal posição.

A ACPO (2006) menciona em seu relatório sobre o mercado de mercúrio no Brasil que
as empresas recicladoras necessitam de rígido e constante controle para o cumprimento da
legislação, independentemente do seu método de processamento, de forma que estas cumpram
97

o seu desejável papel ambiental e não coloquem em risco o ambiente laboral, o meio ambiente
e a vida no seu entorno.

Segundo a ACPO (2006), existe o problema da introdução no mercado brasileiro de


tecnologias que não foram totalmente verificadas quanto a sua segurança e eficácia, como é o
caso do equipamento denominado “Papa-Lâmpadas”, que vem sendo utilizado para
reciclagem de lâmpadas fluorescentes e promete dar conta da sua destinação. Por outro lado, a
própria ACPO noticiou que em 2004 e 2006, respectivamente, duas empresas recicladoras de
mercúrio (Apliquim e Brasil Recicle), ambas usuárias de equipamentos estacionários, foram
interditadas pelo Ministério do Trabalho (DRT/SP) por emitirem para o meio ambiente de
trabalho níveis de mercúrio incompatíveis com a legislação vigente.

Conclui-se então que ambos os tipos de equipamentos, móveis e estacionários, possuem


características positivas e negativas que podem ser preponderantes do ponto de vista
comercial, contudo, no que tange a saúde das pessoas, independente do método de
processamento empregado, é imprescindível a avaliação permanente das concentrações de
mercúrio e seus compostos liberados no ar, para minimizar os riscos de intoxicação dos
trabalhadores envolvidos, e da população em geral que estiver dentro do raio de ação dos
gases durante a operação.

Com relação à destinação dos resíduos, aparentemente não existem diferenças


ambientalmente significativas entre os dois tipos de equipamentos, já que ambos geram os
mesmos componentes (vidro, alumínio e pó fosfórico), os quais, uma vez descontaminados,
são encaminhados de forma similar para o aproveitamento em processos de outras empresas
ou para a destruição.

No caso específico do mercúrio, do ponto de vista ambiental, a diferença entre os


equipamentos não é determinada pela forma de descaracterização das lâmpadas, que é
aparentemente similar, e sim pela sua capacidade de processar os resíduos a fim de destilar e
remover as impurezas do mercúrio. Como foi relatado nesta monografia, o equipamento
usado na operação “Papa-Lâmpadas” não têm esta capacidade, sendo necessário que o carvão
ativado passe por um processamento posterior, que depende, dentre outras coisas, da detenção
de conhecimento e de equipamentos tecnologicamente adequados.
98

5.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos objetivos específicos estabelecidos para esta monografia é apoiar as


organizações e os consumidores em geral na escolha de métodos de reciclagem de lâmpadas
que contém mercúrio, de forma que os recursos investidos produzam, em contrapartida,
resultados aceitáveis do ponto de vista ocupacional e ambiental.

Apesar das limitações da pesquisa, acredita-se que tal objetivo foi alcançado, uma vez
que um volume considerável de informações a cerca da reciclagem de lâmpadas que contém
mercúrio foi sintetizado em um único documento. Tais informações podem servir,
primeiramente, para se decidir de forma mais consciente entre reciclar ou não as lâmpadas, e
em segundo lugar, para facilitar na escolha da empresa recicladora.

Como o mercado de reciclagem ainda é restrito e consideravelmente caro, no momento,


os pequenos consumidores ainda não têm uma opção acessível para destinação de suas
lâmpadas. Para viabilizar uma ação de amplitude nacional, estadual ou então municipal, é
preciso pressionar os legisladores para que cumpram seu papel, de forma que os trabalhadores
deste segmento, os usuários em geral e a natureza como um todo sejam preservados da
contaminação por mercúrio.

Por fim, reforçando a mensagem de Azevedo (1994) e da OIT (1998), o controle da


exposição ocupacional ao mercúrio, nas mais diferentes atividades em que ele ou seus
compostos são empregados ou produzidos, pode e deve ser feito pela introdução de medidas
de ordem técnica, sendo que uma das mais relevantes é a substituição do mercúrio por
produtos menos perigosos nos processos industriais.
99

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Apresentação. Outubro de 2008.

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______. Lixiviação de resíduos sólidos: NBR 10005. Rio de Janeiro, 2004.

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