INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO; CIÊNCIAS
E TECNOLOGIA DO ESTADO DO PARÁ
CAMPUS-BRAGANÇA
João Carlos Martins das Mercês Junior1
“UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A
EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA”
A cada dia nasce algo dentro de nós
mesmos que perpetua por toda vida, da
nossa própria vida, o que de fato somos.
Comparado a Esfinge que
ameaçadoramente impunha a Édipo;
‘decifra-me ou devoro-te’, mas ao
contrário do mito, não é a Esfinge que se
atira ao abismo e sim o homem (ao abismo
do conhecimento), descobrindo que este
não tem fim...
“A curiosidade de saber quem somos, de conhecer
nossa origem, a origem do mundo, nasceu quando
o primeiro homem olhou para o céu e se viu só, a
mercê da natureza que tanto cria quanto destrói.”
(Marcelo Gleiser; A dança do Universo, 2006, p.
14;).
Quem nunca se deparou frente a tal
curiosidade, sobre, ou melhor, sob tais
questões que há tanto tempo não apenas
despertam a vontade de saber do homem,
mas a sede de poder mudar, de
transformar e aumentar sua própria sorte
mediante as exigências do meio.
Se pararmos por um breve momento
para analisarmos a história na perspectiva
deste tema, veremos que foram vários os
filósofos e pensadores que procuram
dentro de si mesmo o conhecimento
necessário para entender os desígnios da
natureza, que segundo Gleiser; tanto cria
quanto destrói. No entanto;... Perguntas que
transcendem a distinção entre opostos ficam
sem respostas... (Marcelo Gleiser; A dança do
Universo; P, 19.)
Atualmente, por conhecermos mesmo
que seja de maneira relativamente
superficial ou simplesmente por ouvirmos
falar de fórmulas matemáticas capazes de
resolverem ou demonstrem situações que
humanamente são atingíveis somente na
nossa imaginação, somos persuadidos de
imediato a acreditar em tal proeza, se
levarmos em consideração tanta
materialização e disponibilidade do
conhecimento; que é a nossa tecnologia...
Contudo, muitas vezes, se não sempre,
1 que “nada” existia antes de “tudo”, estamos
Graduando do curso de licenciatura plena em
física do IFPA; campus – Bragança. Turma: l881NA
– 2009; matrícula: 200988008; turno: noite.
esquecemos que tais conhecimentos,
levaram séculos, até mesmo milênios para
serem definidos, desafiando as maiores e
mais criativas mentes que a humanidade
já produziu...
A própria história nos impõe um fato
de que nenhuma cultura, independente do
lugar ou época, deixou de procurar
respostas para os vários fenômenos da
natureza e é claro, mesmo que
implicitamente, uma maneira de se
beneficiar deles... Contudo, ao longo dos
tempos, nenhum dos fenômenos chamou
tanta atenção e cativou continuamente a
perspicácia do homem quanto o mistério
da Criação, ao meu vê, tal questão servil
não só de estímulo, mas também de
inspiração para tudo que o homem criou
de mais belo, assim como para tudo que
destruiu de mais perfeito... Pois
encontraremos em todos os centímetros
do percurso desta incrível trajetória
humana, um riquíssimo repertório de
filosofias e simbolismo que oscilam e
tocam as fronteiras entre a ciência e a fé,
ficando claras as nossas faltas, ou nítida as
limitações, da imaginação e do potencial
da humanidade. “Não existe nenhum
caminho lógico para os descobrimentos
das leis elementares; o único caminho é a
intuição” (Einstein; apud, Rohden; O
enigma do Universo)
Apesar de séculos de acúmulo de
experiência, somos restritamente limitados
a entender o mundo de forma polarizada,
baseado em opostos que se completam,
tais como; alto-baixo; quente-frio; largo-
estreito; dia-noite, etc. É desta forma que
entendemos a realidade e devido a isto,
temos poucos argumentos lógicos para
darem sentidos a tudo que transcendem
esta polarização, ou seja: Deus; a Origem;
o Absoluto; o Ovo Cósmico ou as Leis da
física... Daí surge à necessidade da
intuição, além da nossa inteligência para
perceber, ainda que infinitesimalmente
esse suposto princípio, pois estamos
milênios-luz de entendermos
completamente os mistérios do universo.
...Se assumirmos que “algo” criou “tudo”
caímos em uma regressão infinita; quem criou o
algo que criou tudo? Como podemos entender o
que existia antes de “tudo” existir? Se dissermos
assumindo a existência de “nada”, o que
implicitamente assume a existência de “tudo” que
lhe é contrário. Nada já é muito como na história de
1
Alice no País das Maravilhas, em que o Rei
Vermelho pergunta a Alice: “O que você está
vendo?”, e Alice responde: “Nada”. O rei,
impressionadíssimo, comenta: “Mas que ótimos
olhos você tem!”... (Marcelo Gleiser; A dança do
Universo; P, 18.)
Foram vários os filósofos, desde os
grandes sábios da antiguidade do sec. VI
a.C aos renascentistas do sec. XVII d.C aos
revolucionários do sec. XX, que
procuraram várias vezes, de forma
desesperada compreender a ordem que a
natureza se manifesta, mesmo que para
isso fosse preciso transcender as
limitações dos sentidos, imposta por essa
realidade polarizada... Contudo, em
hipótese alguma podemos esquecer o
lendário “poeta cego” Homero, por ser
atribuído a este a autoria das obras que
lançaram as primeiras chamas no caminho
do conhecimento em questão, a Ilíada e a
Odisséia. Segundo seus poemas o
universo tinha a forma de uma casca de
ostra, cercada por um rio-oceano,
descreve o céu feito de bronze ou ferro,
sendo sustentado por pilares, além de
fazer referências à constelação como
Órion, as Plêiades e as fases da lua; sec.
VIII a.C.. Entretanto, ao contrário do que
muitos pensam, os gregos não foram os
únicos na antiguidade a contribuírem com
o conhecimento, o intelecto e a civilização
dos povos...
Ao mesmo tempo em que os gregos plantavam
a semente da filosofia ocidental, Sidarta Gautama,
o Buda, pregava na Índia que para atingir o nirvana
devemos nos libertar da ambição e dos prazeres
sensuais, enquanto na China Lao-Tseu transcendia
nossa representação polarizada da realidade
através da união mística do Tao, e Confúcio
estabelecia princípios morais de vida e liderança na
sociedade. O VI a.C. foi um ponto de transição na
história da humanidade. É como se algo estivesse
flutuando no ar, com o poder mágico de excitar as
faculdades racionais das pessoas em níveis sem
precedentes, uma “brisa de despertar” que se
espalhou pelo planeta, convidando a mente a
confrontar os mecanismos internos da alma e da
Natureza. (Marcelo Gleiser; A dança do Universo; P,
45.)
Entre os gregos podemos citar: OS
IÔNICOS; Tales (600 a.C.) 2, que estudou
a natureza de forma racional, província da
razão e não personificação de deuses ou
causas, bem como efeitos do sobrenatural,
dizia que tudo era feito de água;
2 homem compreendesse isso, viveríamos
As datas a seguir fazem referência ao apogeu de
cada filósofo ou sua filosofia.
2
Anaximandro (550 a.C.) propôs o
primeiro modelo mecânico do cosmo, ao
afirmar que a terra era circundada por
uma grande roda cósmica cheia de fogo,
onde o sol nada mais era que um simples
orifício que permitia que o fogo escapasse,
a mesma explicação servia tanta para as
estrelas quanto para as fases da lua, só
que em outras rodas, dizia também que
inúmeros mundos existiram antes do
nosso; Anaxímenes (520 a.C.) pensava
que tudo era constituído por ar, conforme
a variação da densidade, rarefeito era
fogo, mais denso seria água e
conseqüentemente terra e pedra, o ar,
visto como esferas cristalinas; Heráclito,
o obscuro, (500 a.C.) “_ tudo está em
mudança e nada permanece parado”, o
mesmo homem não poderia penetrar por
duas vezes o mesmo rio, para este filósofo,
“o divergente consigo mesmo concorda”,
pois o equilíbrio só poderia ser atingido
através da complementação entre os
opostos, para ele a substância básica era o
fogo, devido sua faculdade de por tudo em
movimento, de mudar as coisas.
OS ELEÁTICOS; Parmênides (480
a.C.) “o que é não pode ser mudado” com
esse raciocínio Parmênides acreditava que
toda mudança é ilusória, não passava de
um engano dos sentidos; Zenão (460 a.C.)
criou diversos paradoxos que envolviam o
movimento, “a regressão infinita”.
OS PITAGÓRICOS; Pitágoras (520
a.C.) difundiu a matematização da
natureza, se tudo que existe possui forma
e esta pode ser representada por números,
logo os números são a essência do
conhecimento, uma porta ao nível superior
de sabedoria, um meio pelo qual poderiam
atingir um estado de purificação,
ironicamente, esta motivação mística que
inspirou os pitagóricos a atingirem níveis
incríveis, nunca vistos no conhecimento
causou também enorme resistência as
suas idéias.
OS ATOMISTAS; Leucipo (430 a.C.)
concluiu que tudo era feito de átomos
indivisíveis; Demócrito (400 a.C.) o último
grande filósofo pré-socrático, ficou
conhecido como “O Filósofo Sorridente”,
por achar que tudo se reduz a átomos
movendo-se no vazio, assim, quando o
felizes, por sabermos que nossas almas
desfrutariam de um gozo perpétuo...
 Outro grande filósofo da nossa história proporcionavam fácil compreensão.
foi Platão (380 a. C.), o qual, de certa Entretanto, é graças a influencia de são
forma foi responsável por grande parte, se Tomas de Aquino que as idéias
não imparcialmente, de todo o aristotélicas são completamente
conhecimento adquirido ao longo dos absorvidas pela igreja e
séculos, culminando com o magnífico conseqüentemente difundidas através dos
trabalho de Kepler, no sec. XVII d.C.. Platão séculos. Para Aristóteles; o universo era
dizia que “Deus é um eterno geômetra”, eterno e espacialmente infinito; contínuo e
convertendo o misticismo numérico dos sem nenhum espaço vazio; não possui um
pitagóricos a um novo misticismo, desta criador; porém, acreditava que existia um
vez, geométrico. Segundo Platão, Deus ou deus que governava o universo do ponto
Demiurgo, não teria criado o Universo ou a mais distante da terra, bem ao centro do
matéria, que acreditava se formada pela mesmo...
combinação de ar, fogo, água e terra, no Aristarco (310 a.C.), em seu tratado
entanto, tal ‘inteligência’ era responsável Sobre os tamanhos e a distancia do Sol e
pela ordem e evolução no mundo. da Lua, que nos diz que o Sol é bem maior
Acreditava haver um objetivo para tudo; que a terra e conclui que o Sol era o centro
apesar do mundo dos sentidos não ser tão do cosmo, a causa de seus erros é
perfeito quanto o “mundo das idéias”, é no atribuído aos instrumentos utilizados
primeiro que são revelados “os (disponíveis) e não aos seus métodos, que
mecanismos operacionais da Mente eram eficazes e coerentes. Um fato no
Divina”. mínimo interessante, é que Nicolau
Em minha opinião, a maior Copérnico (que é considerado o pai da
contribuição de Platão para a ciência não astronomia moderna), no sec. XVI estava à
foram os relatos dos ensinamentos de seu pá dos trabalhos de Aristarco ao colocar o
mestre Sócrates e a apologia que fez sobre Sol no centro do Sistema Solar e admitir o
a filosofia socrática, mas sim o apelo aos Heliocentrismo, contrariando a então
alunos de sua Academia que estes vigente teoria, a geocêntrica (que
explicassem de forma satisfatória as considerava a Terra como o centro do
irregularidades e descrevesse em detalhes Sistema Divino).
o movimento circular dos planetas. Tal Pulando alguns séculos na história,
missão, ou melhor, a busca por esta não que estes não sejam dignos de
resposta ficou conhecida como; “salvar os atenção, ao contrário, foram os mais
fenômenos”, o seja, reduzir os complexos expressivos com: Johannes Kepler,
movimentos dos planetas a simples conhecido por formular as três leis
movimentos circulares. fundamentais da mecânica celeste,
Se seguirmos a trajetória de um planeta conhecidas como Leis de Kepler: Galileu
através do céu noturno durante vários meses, Galilei, contemporâneo de Kepler,
observaremos que seu movimento é bastante
errático; em comparação com as constelações de
desenvolveu os primeiros estudos
fundo, veremos que, após avançar em sua sistemáticos sobre o movimento
trajetória, o planeta parece mover-se para trás uniformemente acelerado e do
durante um período, antes de retomar seu pêndulo,enunciou o princípio da inércia e o
movimento na direção original. Esse movimento conceito de referencial inercial, fez várias
para trás, chamado de movimento retrógrado, é
causado simplesmente pela velocidade orbital descobertas sobre o Sol, a Lua, Vênus,
menor, em comparação com a terra, dos planetas Júpiter, Saturno e a Via Láctea,
externos (Marte, Júpiter, Saturno...)(Marcelo solidificando a idéia o heliocentrismo;
Gleiser; A dança do Universo; P, 65; 66.) Isaac Newton, foi o primeiro a
Em seguida temos Aristóteles (340 demonstrar que o movimento de objetos,
a.C.), o filósofo que mais, e por maior tanto na Terra como em outros corpos
tempo, influenciou o pensamento no celestes, são governados pelo mesmo
mundo ocidental, perdurando por conjunto de leis naturais; a gravitação
aproximadamente dois mil anos. Isso universal e fundamentalizou o que hoje
graças aos diversos campos do conhecemos como mecânica clássica,
conhecimento que atuou bem como a através da formulação de três leis ( leis de
ordem e a classificação aos vários estudos, Newton); René Descartes, "pai da
além do senso comum e lógico que as matemática moderna"; Bento de
3
Espinoza, que contribuiu de forma Gleiser; Marcelo, A dança do Universo; 1ª
fantástica com a modernização da Edição, Companhia de Bolso [2006] 2
filosofia; Gottfried Leibniz, que recebe os reimpressões.
créditos junto com Newton, pelo Rohden; Huberto, Einstein O Enigma do
Universo; 2ª Edição, MARTIN CLARET.
desenvolvimento do cálculo moderno...;
entre outros cientistas e filósofos que
contribuíram de maneira sem igual com o A mente que se abre a uma idéia,
desenvolvimento da ciência em suas mais jamais voltará ao seu tamanho original.
abrangentes áreas... (Albert Einstein)
Sendo assim, chego ao mais curto dos
séculos, o frenético séc. XX, onde um só Lembre-se que as pessoas podem
nome expressa toda a euforia e esplendor tirar tudo de você, menos o seu
da ciência moderna; Albert Einstein, tido conhecimento. (Albert Einstein)
como um mito, um nome solitário dentre
tantas idéias; um gênio inatingível, dentro ANOTAÇÕES
da fama e popularidade que alcançou...;
A cavalgada de um adolescente em um raio
de luz, relógios que andam mais depressa quando
estão imóveis, disco de 33 rotações cujo centro
envelhece mais rápido que a borda, raios luminosos
que se curvam, objetos que mudam de tamanho e
de peso, dois gêmeos que não têm a mesma idade,
buracos negros no espaço dos quais nem mesmo a
luz pode escapar, todas estas noções que parecem
fugir do bom senso fazem parte do universo insólito
da realidade einsteiniana.
(Einstein; O Enigma do Universo; Huberto
Rohden; P, 177)
Como podemos perceber, foram
encima dos erros providos das limitações
sensórias bem como, dos acertos dos
grandes filósofos em virtudes de suas
intuições que a humanidade já teve o
prazer de parir, que construímos e
acumulamos conhecimentos e em
conseqüência, nos tornamos o que
somos..., a ponto de duvidarmos ou
simplesmente nos impressionarmos, com a
nossa própria capacidade e potencial...
Relativamente, saímos de maneira subida
de um poço de incertezas, a uma planície
de entusiasmos e conquistas que
possibilitaram a realização de inúmeros
sonhos, entre estes, o de voar...; graças à
materialização do conhecimento
acumulado através dos séculos, frutos de
mentes brilhantes, aceitos hoje como
tecnologia.

REFERENCIAS;