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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

PROFESSORA DOUTORA PAULA COSTA E SILVA

APONTAMENTOS E AULAS TEÓRICAS


ANO LETIVO 2016|2017 | 3º ANO TURMA B
JOANA MARIA COSTA LOPES
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Direito Processual Civil I – Aulas teóricas

1. A Marcha do Processo: Introdução

O Direito Processual Civil é uma cadeira que estuda a teoria geral da realização da
justiça, que tende a atingir um procedimento para uma solução justa e o processo civil
surge numa fase de conflito entre as partes. O Direito Processual Civil engloba os
princípios fundamentais das estruturas da justiça sendo que o encadeamento processual é
um encadeamento valorativo, pois todo o Direito é deontologia (“dever ser”).

Perguntas para as quais responde o Direito Processual Civil:

a) Quem pode intentar uma ação? Problema da legitimidade : a legitimidade conduz


à racionalidade do processo e da decisão. A decisão ao invés da lei não pode ser
alterada, esgotados os recursos. A decisão vai assegurar a segurança e paz jurídica
para tal teremos de estudar a teoria geral dos pressupostos.
b) Qual o tribunal competente para o efeito? A jurisdição é o braço da soberania, ou
seja quando há conflito num Estado diferente da nacionalidade dos intervenientes,
todos os tribunais nacionais dizem ser competentes internacionalmente, os
tribunais portugueses podem ter de aplicar direito estrangeiro. Iremos estudar os
problemas de competência interna dos tribunais.
c) Qual o domicílio do réu?
d) Qual o objeto da ação?
e) A decisão proferida no conflito tem de ser a mais justa possível.
f) Quais as garantias processuais?
g) Os pressupostos do negócio jurídico ( TGDC) são os mesmo para os pressupostos
para o procedimento civil, sendo que do Direito Processual Civil a autonomia
privada não existe. Pressupostos Processuais: São condições que têm de estar
preenchidas para o juiz conseguir uma decisão de mérito, cada pressuposto tem
natureza valorativa.

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O CAP. II da matéria que iremos abordar é relativo à prova:

a) Testemunhas: existem as testemunhas privilegiadas, ou seja quando a testemunha


é um meio de prova e outro tipo de testemunhas através de gravações de voz ou
vídeo, estas provas também existem, mas será que essa prova vale?
b) O juiz tem sempre de ouvir o testemunho de ambas as partes, existem sempre
versões alternativas e o juiz poderá ficar em dúvida mas tem de decidir, significa
que a prova não é concordante o juiz tem de justificar o sentido pelo qual decide,
fundamentando. A decisão fundamentada é a garantia mais forte que o
ordenamento jurídico dá às partes durante o processo do litígio.

2. Os Princípios Processuais

O Processo equitativo | o que é um processo equitativo (art.20/4 CRP):

O processo tem de permitir que a solução tem de ser uma boa solução. A decisão fixa o
dever ser e é imodificável. Como se pode aceitar um efeito tão fatal como este? Em vigor
para sempre independentemente do conteúdo na ordem jurídica.

O processo tem garantias fundamentais, são aquelas que reconduzem ao processo


equitativo que é uma cláusula geral.

A Prof. Paula Costa e Silva admite 3 garantias fundamentais:

1. Princípio da igualdade;
2. Princípio do contraditório;
3. As garantias do decisor -O decisor tem de dar garantias de imparcialidade e
independência – nenhum fator externo ao conflito o vai condicionar.

Prof. Remédio Marques:

Os princípios processuais estruturantes exprimem as opções, as valorações político-


legislativas e axiológico-jurídicas que, em certo momento, prevalecem na comunidade.
São estes princípios processuais que dão sentido às inúmeras normas contidas no CPC e

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em diplomas processuais avulsos. São estes princípios que, enformando o atual processo
civil , servem para dar sentido à multidão de comandos e normas contidas no CPC e nas
leis processuais civis avulsas, são eles que, não raras vezes, auxiliam o intérprete e
aplicador do Direito a adotar as soluções mais justas nos litígios que devem ser dirimidos
nos tribunais, comandando a melhor sequência dos atos processuais e impondo ou
sugerindo regras de conduta processual a todos os intervenientes principais (tribunal,
partes, Ministério Público) ou acidentais (terceiros intervenientes principais ou
acessórios, assistentes ou outros terceiros).

Trata-se de princípios que podem ser princípios fundamentais e noutros casos princípios
instrumentais.

Tipos de princípios segundo o Prof. Remédio Marques:

1) Princípios relativos à promoção processual ou iniciativa: princípio do acesso


ao Direito e aos tribunais, princípio do dispositivo;
2) Princípios relativos à prossecução processual: princípio do contraditório,
princípio do inquisitório, princípio da preclusão, princípio da cooperação e da
boa-fé processual, principio da economia processual, princípio da legalidade dos
trâmites processuais, princípio da aquisição processual, princípio da estabilidade
da instância, princípio da adequação formal, princípio da concentração.
3) Princípios relativos à prova: direito à prova, aquisição processual, imediação.
4) Princípios relativos à forma: princípios da publicidade e oralidade.

Princípios relativos à prossecução processual:

É também importante saber de que maneira se conforma o objeto do processo (máxime, o


pedido, ou seja o efeito jurídico pretendido pela parte, e a causa a pedir, isto é os factos ou as
ocorrências da vida real que sustentam esse efeito jurídico) têm lugar os ciclos ou as fases que se
inserem na sequência de atos ou de procedimentos.

1. Princípio do dispositivo: ou da disponibilidade das partes, cuja manifestação primeira


vimos há pouco suceder quanto à iniciativa ou impulso processual inicial da parte. – De
acordo com este princípio o ónus da iniciativa processual cabe às partes e são elas que
devem formular o pedido e alegar a matéria de facto que lhe serve de fundamento (art. 5º
CPC) , bem como são elas que, de certa maneira, estimulam o desenvolvimento dos actos
processuais e são elas que querendo podem pôr termo ao processo ( por desistência da

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instância ) e determinar o conteúdo da decisão sobre o mérito da causa, nos casos de


confissão do pedido, desistência do pedido e transação.
a) Este princípio sofre limitações, assim em primeiro lugar quanto a aplicação do direito
aos factos dados como provados, o juiz não está limitado aos que as partes alegarem.
b) O juiz pode conhecer oficiosamente o direito material estrangeiro que couber aplicar
ao caso, mesmo que as partes o não invoquem (art.348ºCC)
c) Em terceiro lugar (fase do saneamento – art. 590º CPC) o juiz pode e deve proceder
à sanação de irregularidades da instância, sempre que isso for possível. Deve desde
logo sanar a falta de pressupostos processuais.

Estas limitações ao princípio do dispositivo são emanações do princípio do inquisitório, o qual,


só vigora plenamente nos processos de jurisdição voluntária: nestes processos, como referimos,
o juiz não está adstrito aos factos articulados pelas partes, bem como goza do poder de investigar
livremente os factos, recolher as provas e realizar as diligências que repute necessárias à
descoberta da verdade.

2. Princípio do inquisitório: o princípio do inquisitório projeta-se, essencialmente, na fase


da instrução da causa, incluindo os atos que têm lugar na audiência final de discussão e
julgamento. Neste sentido, as partes devem submeter-se às inspeções necessárias,
responder aos que lhes for perguntado, facultar o que lhes foi requisitado. Fora deste
campo da produção dos meios de prova, ao juiz cabe a direção formal do processo, nos
seus aspetos técnicos e de estrutura interna, tais como assegurar da regularidade da
instância e o normal andamento do processo, e outro sim prover ao suprimento da falta
de pressupostos processuais suscetíveis de sanação ( p. ex: a falta de constituição de
advogado nas causas onde essa constituição é obrigatória, a falta de capacidade
judiciária.)

3. Princípio do contraditório: de harmonia com este principio processual, a lei oferece a


cada parte a possibilidade de contestar e controlar a atividade da outra ao longo de todo
o processo, e não apenas na fase inicial ( dos articulados ), através da apresentação da
contestação (o Réu) ou da réplica (O Autor). Vale isto dizer que não podem ser
tomadas quaisquer providências contra uma pessoa, sem que ela seja previamente ouvida,
e que o juiz não pode decidir quaisquer questões de facto ou direito, sem que as partes
tenham tido a possibilidade de se pronunciarem sobre tais quês

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O resultado de um processo só pode ser justamente obtido se conferir as partes a


igualdade de armas – porque no processo,esta é sempre a estrutura, há alguém que ataca
e aquele que é atacado tem de ter armas adequadas para se poder defender, não se entende
um processo justo se houver desequilíbrio das partes. Colocadas as partes em situação
similar com as mesmas armas. A igualdade de condições sobre os factos que são alegados
no processo.

O Princípio do contraditório: pressupõe que não seja proferida nenhuma decisão antes
de todas as matérias relevantes serem submetidas a debate. Este princípio modifica todo
o processo. O processo não tem de admitir coisas que não são novas.

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2.2 Estrutura paradigmática do sistema processual para a decisão


das ações:

•Petição inicial | art. 259º art. 552º CPC - Príncipio do dispositivo


• A petição inicial é um ato declarativo de manifestação da vontade do autor,
através do qual se identifica a causa do pedido que revela o objetivo do
processo. Factos + pedido = causa do pedido.
Fase dos • Indicação do objeto processual
articulados •A ação tem -se por instalada com a recepção na secretaria da petição.

•Citação do réu | art. 219º CPC - Princípio do contraditório


•Revelia | art. 566º CPC
•Contestação | art. 569º CPC | Ónus para contestar (30 dias)
•Defesa por impugnação e defesa por excepção | art. 571º CPC + 576
Fase dos • Réplica | art. 584º CPC - Se forem invados factos novos há lugar a
articulados - réplica ( contestação da contestação feita pelo autor ).
contestação •Se o réu não contestar o processo acaba | art. 567/2 CPC | Sentença

•Fim dos articulados, o juiz profere, um despacho pré-saneador | art. 590º


CPC | artº 6º CPC
•o juiz aprecia aquilo que foi alegado, para indicar o que falta provar na
fase da instrução e pronuncia-se acerca da competência do tribunal para
Fase da condenaç decidir.
ao - Saneamento •Verifica os pressupostos da petição inicial para aferir do mérito da causa
| art. 552º CPC + 595/1/a) e b).

•Art. 410 e ss CPC


Fase da instrução

•O autor tem ou não tem razão no seu pedido? art. 607º CPC
•Princípio do dispositivo e limite ao inquisitório| art.608/2 CPC + 615º +
art. 609º CPC
•Art. 619º CPC - transitada em julgado a sentença ou despacho saneador
Sentença que decida do mérito da causa, a decisão sobre a relação meterial
controvertida fica a ter força obrigatória dentro do processo e fora dele.

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Na ausência de qualquer outra se aplica: 95% dos casos são com esta estrutura:

a) Objeto do processo: Na petição tenho de dizer quais o facto que


fundamentam a ação e desses factos vou retirar um efeito jurídico que se
traduz na formulação do pedido. O pedido traduz –se em efeitos jurídicos
constitutivos, modificativos e extintivos. A partir do objeto limitamos a
validade do processo.

b) As partes: O réu e o autor da ação – a sua personalidade; capacidade;


legitimidade. (pressupostos).
c) Indicação do Tribunal competente.

Nota: Esta estrutura é muito simplificada, pois o autor pode ser casado, o réu pode ser o
garante fiador a um devedor principal, as partes podem ser simples ou complexas. O autor
pode pedir várias coisas: emendar defeitos de uma obra (num contrato de empreitada por
exemplo), e pedir uma indeminização pelos danos.

1. A petição inicial |Pedido – Objeto do processo|: vai condicionar o conteúdo de


uma sentença que permanecerá na ordem jurídica. É uma declaração de vontade.
A petição inicial: é ato declarativo que é devidamente interpretado art. 286ºCC.1
2. Verificar se os pressupostos (art. 552 CPC) têm mérito para desencadear o
processo ou não2 – verificando também o Tribunal competente.
3. Coisas novas na contestação: réplica: Princípio do contraditório | art.3/3 CPC
4. Fase Instrutória | art. 410 ss CPC
5. Ponderação pelo decisor dos factos provados – análise das provas; ponto
intermédio em que o juiz diz as partes qual o destino do objeto processual. O que

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Artigos importantes – o art. 20/4 CRP (processo equitativo – direito fundamental do cidadão) + art.
18/2 CRP (restrições) – limite constitucional. – Petição inicial inicia-se com a receção na secretaria. As
ações instalam-se ou propõem-se. Fazer remissão para o art. 552 CPC.

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Só através da verificação destes pressupostos é que o juiz será capaz de decidir com mérito, atingindo
um processo equitativo, sem vícios.

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as partes têm de provar para atingir o propósito da ação. – Há certos temas de


prova que têm de ser respondidos para que acredite nesta causa.
6. Adjudicação pelo juiz.
7. O processo é uma estrutura sensível e elástica. O processo é um ato complexo,
através de atos necessários para uma boa decisão, só se sabe quais são no caso
concreto, através da análise do objeto do processo (petição inicial). – Verificação
de todas as condições sara reconhece o mérito da causa. (art.18º e 20/4º CRP) –
não pode haver pressupostos arbitrários.
8. Art. 591º CPC – Audiência Prévia: tudo o que o juiz faz é despacho ou decisão.
9. Despacho saneador – o juiz tem de verificar se há ou não exceções dilatórias:
são as consequências decorrentes da falta de preenchimento dos pressupostos
processuais. – art. 595º CPC. –
10. O juiz tem de verificar se está em condições para proferir uma razão de
mérito se tem todos os factos necessários para o efeito.
11. Fase saneadora – art. 595 CPC. – Com que é que ainda vai ficar até ao momento
da sentença.

2.3 Os princípios do dispositivo e contraditório


2.3.1 Os factos essenciais e instrumentais.

Os princípios instrumentais dão uma margem de modulação ao legislador para tipificar o


processo: é a partir destes princípios, os fundamentais (igualdade e contraditório) que
têm de estar sempre assegurados, que se pode flexibilizar o processo.

Na petição inicial entra logo a prova documental – e não a prova testemunhal. Quando
o instrutor do processo recebe o processo, já tem provas documentais do objeto do
processo. Quando passa para a fase instrumental o juiz analisa as provas documentais.

Princípio do dispositivo e instrutório: que poderes tem o juiz no que respeita à produção
de prova de um processo. – O Poder instrutório do juiz ocorre com o poder instrutório
das partes. Se em processo civil a regra dos poderes instrutórios são das partes, o
legislador ordinário pode modificar o poder instrutório. Na produção de prova: o juiz e as
partes têm quase que uma paridade, ao contrário do sistema norte-americano e britânico.

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Os factos essenciais se alegados pelas partes, e todos os factos instrumentais desde que
alegados pelos factos essenciais por referência aos quais os instrumentais são
instrumentais hajam sido alegados pelas partes. – Os factos essenciais têm de ser
preenchidos, é por referência ao pedido se eu pergunto se uma coisa é essencial ou não.
Diferença entre essencial e instrumental.

Às vezes os factos essenciais não são elemento de prova direta, como se faz a prova –
através de factos indiciais do facto essencial. O juiz pode instruir factos instrumentais,
para conhecer os factos essenciais. (análise do art.º. 5º CPC)

2.3.2. O princípio do dispositivo em confronto com o princípio do


inquisitório.

a) Análise da Professora Paula Costa e Silva:

Interligação com factos essenciais e instrumentais.

Segundo o art. 608/2 CPC o juiz tem de resolver todas as questões que as partes tenham
submetido à sua apreciação, relativamente ao objeto do processo, as questões entre o réu
e o autor surgem na contestação. O juiz tem de dar resposta a todas as questões que as
partes suscitaram. – O juiz conhece daquilo que as partes alegam como questões. O juiz
tem um limite “pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes” – há um
limite do tribunal e este limite é mais compreensível se atendermos à nulidade que é de
conhecimento oficioso, e à anulabilidade que não é de conhecimento oficioso.

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Se o juiz disser o contrato é nulo por falta de forma, sem o autor contestar é possível
porque as nulidades são de carácter oficioso, se for uma anulabilidade não pode. – art.
608/2/ in fine.

Dentro o objeto do processo temos o pedido – art. 609º CPC – o pedido limita o objeto
possível da condenação.

Art. 615 º CPC – causas de nulidade da sentença – alínea d) – interligada com o art. 608/
1/d) CPC – a sentença é nula tem as mesmas consequências.

O que é que isto tem de ver com os factos essenciais e instrumentais?

Há uma ligação do princípio do dispositivo e do poder do tribunal com o conteúdo da


decisão – este objeto processual limita o conteúdo da sentença, e o princípio do
dispositivo é essencial para perceber a ligação das questões do art. 608 e 615/1/d) CPC.

O Art. 411 CPC | Princípio do inquisitório | que sobre o juiz incumbe um dever – as
partes são encabeçadas num ónus. O “ Apuramento da verdade e à justa composição do
litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer” – é um híbrido de poder-dever
que é limitado. Ele tem de descobrir o que aconteceu, para chegar à justa composição da
causa, quanto aos factos que é lícito conhecer. As questões resultam de factos – narram
uma sequência de factos e acontecimentos. As questões surgem pela qualificação jurídica
dos efeitos narrados. Aplicando as regras jurídicas a estes factos, os factos que entram no
processo, são só factos jurídicos. Tem de haver uma descrição dos acontecimentos, a
história vai ter consequência no plano no Direito.

A preocupação do princípio do dispositivo funda-se em encontrar quais os factos


jurídicos que podem fundamentar a decisão. E fundamentar a decisão como? O juiz vai
ter de dizer se há um erro que resulte de nulidade, ele tem de ficar convencido que a
história narrada pelo autor e de acordo com a prova da história narrada é consistente, que
aquela questão efetivamente existiu.

1. Conta a história
2. Qualifica
3. E desses factos retira as consequências.

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Factos: art. 5º CPC | princípio do dispositivo –| às partes cabe alegar os factos essenciais,
o juiz não alega, só conhece e decide. Estes factos essenciais constituem a causa de
pedir. O destinatário da regra é o juiz, o declaratário são as partes. – Ou a forma tem um
efeito excecional ou tem forma de pedido.

Factos essenciais. É sempre por referência à regra em que a parte se fundamenta para
retirar um efeito jurídico.

Art. 5/2 CPC- são ainda considerados pelo juiz: “são tidos em conta”- factos que podem
fundamentar a decisão. O Juiz decide, portanto um facto é considerado quando pode
fundamentar uma decisão.

Os factos instrumentais previstos no art. 5/2/a) CPC – e a alínea b) ? Das duas uma, ou
o facto tem de ser alegado para desencadear o efeito, ou é essencial ou instrumental.

A categoria de complementar ou concretizar é da mesma ordem de instrumental ou


essencial? Não. O tipo legal pode ser mais ou menos complexo na sua construção. Por
exemplo o art. 483 CC – o que está entre virgulas “ com dolo ou mera culpa” cai, e fica
aquele que ilicitamente, ilicitamente atribuiu uma descrição à conduta – a ação procede
se não houver ilicitude? É um facto essencial, estes factos concretizam o ato ilícito.

Pegando ainda no exemplo da responsabilidade civil | art. 483º CC |:

Á luz do art. 5/2/b CPC – o ilícito é essencial – o dolo ou mera culpa estão a qualificar
a ação mas neste caso está a concretizar, e são partes essenciais. Este tipo legal da
responsabilidade civil é um ato complexo, existem factos essenciais que são
concretizáveis. O que joga este art.5º CPC nº1 – há um limite na aliena a), o juiz pode
fundamentar a decisão pelos factos essenciais, os essências têm de ter sido alegados pelas
partes, a natureza instrumental ou essencial dos factos não dispensa o princípio do
contraditório. Decorreram da prova que foi produzida.

Poderes de suprimento do Tribunal – quando os factos são essenciais – o juiz tudo tem de
fazer para que a base de facto seja integral e completa.

b) Análise do juiz Jorge Augusto Pais do Amaral:

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Quando o direito de uma pessoa é violado por outra, estamos perante um conflito de
interesses. O tribunal só poderá resolver esse conflito se a resolução lhe for solicitada
pelo interessado. O pedido é formulado no momento em que a ação é proposta, ou seja
na petição inicial. O titular do direito violado terá de propor a ação adequada,
desencadeando desse modo a atividade do tribunal para que seja proferida a decisão que
venha a solucionar o conflito.

Como se pode concluir, segundo o princípio dispositivo, as partes dispõem do processo,


cabendo ao juiz controlar a observância das normas processuais e, por fim , proferir a
decisão acerca do conflito de interesses que determinou a proposição da ação. É portanto,
aos litigantes que pertence a iniciativa da ação e o impulso necessário ao seu
prosseguimento, sendo-lhes igualmente permitido fazê-la terminar.

A atividade inicial a desenvolver pelas partes está consagrada no art. 3/1 CPC, que
determina que o tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupões
em que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada a deduzir
oposição.

Em suma, o processo só tem inicio por força do impulso do autor ao formular o respetivo
pedido ao tribunal. A iniciativa nunca poderá pertencer ao juiz. São as partes que – através
do pedido (do autor ou do reconvinte) e da defesa (do réu ou do reconvindo)
circunscrevem o “thema decidendum”.

Art. 5º CPC – a uma das partes cabe dar início ao processo e à outra deduzir oposição
(se não se conformar com o pedido), mas também cabe às partes impulsioná-lo. Além
disso, dispõem do objeto do processo.

A este respeito têm a disponibilidade das questões e dos factos necessários à decisão
do pedido.

Manifestações legais do princípio do dispositivo:

➢ Nos termos do art. 608º/ 2 CPC – o juiz deve resolver todas as questões que as
partes tenham submetido à sua apreciação. Por outro lado, por força do que dispõe
o art. 609º CPC a sentença não pode condenar em quantidade superior ou em
objeto diverso o que se pedir.
➢ Às partes cabe igualmente o ónus de prova dos factos que constituem
fundamento da ação ou da defesa | art. 342º CC |.

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➢ As partes têm ainda a disponibilidade de pôr termo ao processo: partindo da


vontade de ambas as partes, por meio de transação | art. 283º/2 CPC, partindo
do próprio autor pela desistência do pedido art. 283/1 CPC ou pela desistência
da instância art. 288/1 CPC, partindo do réu, pela confissão do pedido art. 284º
CPC.

O princípio do dispositivo tem vindo a ceder gradualmente em beneficio do princípio do


inquisitório, que é o princípio inverso, em que ao juizé atribuído um papel mais ativo na
condução do processo, o princípio do inquisitório vem previsto no art. 411º CPC – nos
termos do qual incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo oficiosamente, todas as
diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio,
quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer.

Pode dizer-se que as novas conceções legislativas têm sido orientadas no sentido de dar
prevalência a diferentes objetivos, é por isso que o princípio do dispositivo tem
atualmente certas limitações impostas pela necessidade de salvaguardar a verdade
material, em detrimento da forma e ainda com o objetivo de imprimir maior celeridade
e eficácia aos meios processuais. Equivale dizer que o princípio do inquisitório tem vindo
a conquistar gradualmente terreno ao princípio do dispositivo.

Embora o impulso processual pertença às partes, cumpre ao juiz providenciar pelo


andamento regular e célere do processo, promovendo oficiosamente as diligências
necessárias ao normal prosseguimento da açãoe recusando o que for impertinente ou
meramente dilatório; o juiz deve ainda suprir a falta de pressupostos processuais cuja
sanação seja possível, determinar a prática de atos necessários à regularização da instancia
ou, quando a sanação dependa de certo ato que deva ser praticado pelas partes,
convidando estas a praticá-lo art. 6/1 e 2 CPC, por outro lado deve o juiz adotar a
tramitação processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo ee a
forma dos atos processuais ao fim que visam atingir, assegurando um processo equitativo
– art. 547º CPC. Ao juiz também cabe convidar ao suprimento das insuficiências ou
imprecisões na exposição ou concretização da matéria de facto alegada, concedendo
prazo para apresentação de novo articulado art. 590|4 CPC.

Em suma, o princípio do dispositivo manter-se-á no que diz respeito aos pontos


essenciais, para que a intervenção do juiz não deixe de evidenciar o natural

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distanciamento relativamente à estratégia das partes. Por outro lado, não pode deixar de
ser atribuída às partes a responsabilização pelo êxito das posições que defendem o
processo. O que se passa em processo penal é diferente visto que o Estado detém o “jus
puniendi” e, por isso, lhe cabe não só a iniciativa de instaurar a ação penal, como também
tem o ónus de averiguar oficiosamente os factos que interessam ao apuramento da
verdade.

2.4 Princípio da prevalência da substância sobre a forma

Aula teórica 12/10/2016

O princípio da prevalência da substância sobre a forma significa a prevalência da decisão


de mérito sobre questões meramente processuais – para compreendermos este princípio
temos de recuar historicamente do Direito Romano:

a) Teremos em primeiro lugar de perceber o direito romano: através da figura do


pretor: existem traços importantes desta figura que permitem explicar este
principio novo do sistema processual – o pretor era eleito (tem de prometer o que
pode e não pode) quem pode não promete.

b) Para ser eleito ele tinha de publicar em público os direitos que ele ia reconhecer
às pessoas, através dele os cidadãos sabiam os direitos que tinha porque o pretor
reconhecia ações para a tutela desses mesmos direitos. A solução dos casos é
judicial, ora só são reconhecidos os direitos que têm cabimento que podem
resultar proclamados pelas ações do pretor. Porque o pretor não julgava ações, o
iudex é que julgada ações (não confundir com o juiz). O Iudex não é exatamente
o juiz, há uma diferença essencial, o iudex é um cidadão privado que valora
(produz prova) e ele diz qual o resultado da prova deduzida, ele faz isto por
referência a uma instrução que recebe do pretor para que ele julgue uma ação que
o pretor considere existente e que ajude no sentido favorável se tudo acontecer
como o pretor diz – para a ação ser atribuída.

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E que a julgue improcedente se verificar uma circunstancia que impede a procedência: a


exceção. As exceções dilatórias e perentórias: técnica de articulação do pretor e iudex:
atribuiu “excepcio si” – atribuiu exceto se.. o iudex avaliava a prova produzida, todos os
requisitos estavam preenchidos, mas depois tinha de verificar se não estava verificado
nenhuma das “excepciones” que o pretor lhe tinha indicado.

Ainda hoje se fala em exceções, são circunstancias que impedem o efeito produzido pela
ação – (pergunta de exame – o que são exceções).

• Quem dizia como ação devia ser decidida era o pretor, o que significa que o pretor
emitia esta declaração – verificou que a acione está prevista – fase preludiada no
pretor. Ele verifica no momento da concessão da “actio” ele aqui está a verificar
se os pressupostos que depende a concretização da ação estão preenchidos. A
ação chega à mão do iudex e vem saneada pelo pretor previamente. (os
pressupostos processuais foram preenchidos) – temos um sujeito que verifica a
regularidade da ação.

O inventor dos pressupostos processuais, o pretor, controla pressupostos e segrega


as exceções materiais – se verificado que houve dolo então não atribuiu “excepcio doli”
– um outro que julgava a causa, se o autor tem razão ou não. A acio procede, ou não
procede. Esta forma de fazer a coisa “o pretor dizia como era”.

Ao pretor cabia analisar os “ pressupostos” e ao iudex cabia o“ julgamento da causa”


– como é evidente hoje não ocorre assim a marcha do processo, a ação é distribuída a um
juiz e o processo entra na secretaria judicial e é entregue a um juiz, é sempre o mesmo
titular que vai verificar duas coisas ao longo do processo, se os pressupostos estão
preenchidos e se a ação deve ser julgada procedente ou improcedente – é o juiz que decide
a causa – se a instância está regulamente constituída ou não. É fundamental que estejam
preenchidos os pressupostos processuais. São as condições que asseguram uma decisão
de mérito.

Os pressupostos asseguram que a decisão que profira será a melhor possível –


antigamente duas pessoas faziam em tempos diferentes coisas distintas e a agora temos
uma pessoa a fazer estas operações – na ordem de conhecimento o juiz vê as questões

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que podem levar à absolvição da instância, estas questões são as excepções processuais
ou dilatórias.

❖ Exceções dilatórias:

As exceções que obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e que dão lugar à
absolvição da instância ou à remessa do processo para outro tribunal – art. 576º/2 CPC.
As exceções dilatórias, obstam a que se entre na apreciação da relação jurídica material,
por faltar alguma coisa a essa pronúncia final; elas não afetam o direito de ação: elas
dilatam, protelam, adiam a decisão do litígio. Em vez de extinguirem a ação, retardam
ou adiam o respetivo conhecimento do mérito. Embora afastem a possibilidade do
conhecimento do mérito da causa naquele momento, não afastam definitivamente. Quer
dizer que a absolvição da instância não obsta a que se possa propor outra ação sobre o
mesmo objeto – art. 279/1 CPC.

• Exceções dilatórias: aquilo se verifica quando não se preenche um pressuposto


processual. Verificam-se sempre que não estão preenchidos pressupostos
processuais por exemplo em relação à absolvição da instancia ( FALTA DE
PRESSUPOSTO PROCESSUAL ) a justificação para a sua absolvição decorre
primeiro decorre da falta de um prossuposto que implica a não garantia da tomada
de decisão possível, se falta então o pressuposto o processo não avança – a decisão
é formada não com as melhores condições. Um dos pressupostos é a competência
do tribunal (portanto não assegura que seja a melhor decisão possível) – o juiz não
reconhece o mérito da causa aquando da decisão da absolvição da instância.

As exceções dilatórias: elas não atingem a pretensão do autor, elas dilatam no tempo a
proteção do autor – atrasam só, por isso são só dilatórias.

16
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Suma:

A partir do momento em que não há distinção dos sujeitos que reconhecem a validade da
instancia e da ação, esta pessoa tem de perguntar em primeiro lugar: o autor pediu x, mas
estão verificadas as questões processuais que me permitem decidir com mérito? Se não
verificados todos os pressupostos surge uma exceção dilatória (dilata para outro
momento) e absolvo o réu não do pedido, mas da instância, neste processo ele não pode
ser julgado. Estão preenchidos todos os pressupostos e a instância está regular, averigua
os factos de direito.

O autor ao invés de obter a tutela, o réu podia obter a tutela – tinham de esperar por
outro processo – ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo crime. Se o réu
acusado em processo penal for absolvido daquele processo, não pode voltar a ser
chamado, o próprio réu tem interesse nas decisões de mérito (absolvição do pedido) o réu
tem interesse em ser absolvido do pedido, se o autor lhe bater a porta diz.

Isto significa que a sentença pode:

1. Pode absolver o réu do pedido; (o autor não tem razão).


2. Absolvição da instância (parece evidente que a absolvição do pedido é favorável
ao réu, e a absolvição da instancia é favorável a quem? Depende não prejudica a
propositura de uma nova ação – intuitivamente diríamos que é desfavorável ao
autor, porque atrasada (dilatar transitoriamente) – é boa para o autor em que prazo
– se correr o risco de o reu ser absolvido do pedido, mas pode ser desfavorável ele
consegue uma coisa e é melhor (reconhece o direito aquela pretensão. A analise
da causa é formal, por isso é que não é favorável ou desfavorável consoante a
decisão alternativa no concreto processo e que integralmente favorece o autor ou
o reu. Os pressupostos processuais são os pressupostos do negócio jurídico sem
cujo a verificação de destrói o titulo – as anulabilidades são estabelecidas no
interesse de alguém, o interesse é um particular ou privado. Nulidade é interesse
público.
3. Condenação do réu no pedido.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Os pressupostos processuais não são arbitrários | art. 20º CRP e art. 18º | isto quer
dizer que se o pressuposto que falta se destinar a proteger o réu, o réu não pode ser
condenado no pedido nessa ação porque falta uma condição para atingir uma decisão
de mérito.

❖ Todo o pressuposto que falta e é favorável ao réu.

a) Se faltar um pressuposto que protege o autor – pode o réu ser condenado no pedido
b) A decisão de mérito proferida é contra o autor que não esteve nas melhores
condições. A decisão vai ser sempre aquela que é proferida tipicamente quando
faltam pressupostos processuais, mas é superada por uma decisão de mérito
(absolvição do pedido) sempre que a decisão de mérito seja a mais favorável
possível pela falta do pressuposto em falta. Exemplo Prático: pode anular um negocio
jurídico feito pelo menor, mas favorável ao menor? Pode, mas não faz sentido. Os
pressupostos existem para proteger, se aquele que o pressuposto visa proteger faltar,
não há absolvição da instância. Prevalência DO MÉRITO SOBRE A FORMA.

❖ A decisão de forma justifica-se?

O processo existe para o reconhecimento do mérito, para averiguar se o autor tem razão:
com base no art. 20/4º CRP e art. 18º CRP do processo equitativo.

A prevalência da substância sobre a forma surge quando for necessária para proteger
a parte que é protegida e que é suposto proteger. Se o pressuposto protege, avanço para
o mérito: a forma foi superada pela possibilidade de uma ótima decisão de mérito. A
prevalência do mérito sobre a forma não me permite condenar o pedido do réu que é
protegido por um dos pressupostos que esta em falta.

Este princípio tem apoio na lei no art. 278/3 CPC | quando este princípio não se aplica,
ou seja quando não é possível recorrer à sanação, o juiz deve abster-se de conhecer o
pedido (não conhece do mérito da causa) logo a consequência é a aplicação do regime
das exceções dilatórias : cuja a incompetência diz respeito à absolvição do réu da
instância.

➢ A exceção dilatória: surge quando não há um pressuposto processual preenchido.


1. Temos um pressuposto processual,
2 . Neste caso do pressuposto não foi preenchido;

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

3 Há uma exceção dilatória;


4 Há absolvição do réu da instância

E este seria o regime normal, seria a mecânica básica que faz transmitir para outro
processo ( dilata no tempo a analise do mérito).

Ainda temos a hipótese de ter o regime da absolvição do réu do pedido e a condenação ,


do réu no pedido, sendo que existem 3 conteúdos possíveis para a decisão do juiz– esta
absolvição do réu da instancia que resulta da verificação de um problema processual – a
absolvição do réu do pedido é desfavorável para o autor , não é mais suscetível de
revisão. Se o pressuposto processual proteger o autor – há sempre absolvição do réu da
instância.

Quando a ordem jurídica nos diz: o menor é incapaz, a ordem jurídica quer proteger o
menor de atos que o vinculem – a incapacidade do menor é em beneficio do menor, a
alínea c) – incapacidade das partes ou do autor – art. 278 CPC – se o autor é incapaz é um
meio que a ordem jurídica impõe que protege o autor. | Que em princípio a incapacidade
do menor é sanável por representação legal e mais uma vez existe a sanação de uma
exceção dilatório, ou seja mais uma vez vemos a prevalência da substância em detrimento
da forma.

❖ Com esta explicação percebemos o art. 278/3 CPC: as exceções


dilatórias podem subsistir ou não, quer dizer que a sua falta ou irregular
preenchimento podem ser corrigidos durante o processo, a regra é mesmo essa é
a da sanação as exceções dilatórias.

Exemplo: O autor é incapaz – este ato não pode valer (exceção dilatória) a consequência
seria a absolvição da instancia, mas é possível suprir esta exceção, através da
representação legal neste caso. Ou seja, em suma, algumas exceções dilatórias são
possíveis de sanação.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Exemplo: O caso julgado é uma exceção que não é suscetível de sanação, esta ação não
pode ser julgada segunda vez porque os tribunais não se podem contradizer, isto impede
o segundo tribunal conhecer do mérito desta segunda causa, quer-se evitar a contradição
da ação, portanto o caso julgado é uma exceção dilatória que não possível de sanação,
não há como rasgar a primeira sentença na ordem jurídica. Esta exceção do caso julgado
foge à lógica do art, 278/3/ 2 parte CPC – “destinando-se a tutelar o interesse de uma
das partes” – é a mesma pessoa nos mesmos momentos processuais “no momento da
apreciação da exceção.

3. Não há absolvição da instância, quando o pressuposto proteger uma das partes


cuja exceção que persiste for sanável – havendo possibilidade de condenar o réu.

As valorações processuais olham para a razão de ser do que dispõe. Os pressupostos


processuais protegem uma parte ou outra – só aquele que é protegido é que tem
legitimidade para alegar que um pressuposto não está a ser protegido.

❖ Análise dos pressupostos processuais:

As condições de admissibilidade dos pressupostos só têm justificação à luz dos critérios


constitucionais ( art. 20 e 18 CRP ) – os pressupostos vão ter legitimidade constitucional
– para atingir a melhor razão de mérito possível , mas o art. 20/4 CRP refere que tem
de ser “em prazo razoável” ou seja, o Estado compromete-se a administrar justiça dentro
do prazo razoável – para além dos pressupostos do Tribunal e partes, vão encontrar
pressupostos que estão relacionados com a adequação razoável do processo. Os
pressupostos garantem o julgamento da causa num prazo razoável, este vetor entra na
complexidade. A complexidade em termos subjetivos e objetivos do processo faz surgir
os pressupostos. ( que em princípio serão sempre sanáveis).

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

3 | A Competência

1º Pressuposto é o da competência

Professora Paula Costa e Silva intercalado com o Juiz Jorge Pais do Amaral

3.1 | A Competência dos tribunais

a) Noção de jurisdição e de competência

Os tribunais exercem a função jurisdicional ou jurisdição, a jurisdição em sentido abstrato


compete a todos os órgãos jurisdicionais no seu conjunto, em concreto encontra-se
fracionada. A competência é a parcela da jurisdição que é atribuída a cada um dos órgãos
jurisdicionais. A competência é a fração do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal.
O poder jurisdicional está repartido pelos diversos tribunais segundo determinados
critérios. As normas que definem os critérios que presidem a repartição do poder de julgar
pelos diversos tribunais denominam-se regras de competência.

A jurisdição constitui o poder de julgar que é atribuído aos tribunais considerados do seu
conjunto. É com este sentido que o art. 202º CRP comete aos tribunais, como órgãos de
soberania, a função jurisdicional. A competência é apenas uma parcela desse poder,
depois fracionado entre os diferentes tribunais. A importância desta distinção surge
aquando dos conflitos que podem ser de jurisdição ou de competência.

Em conformidade com o que dispõe o art. 109/1 CPC há conflito de jurisdição quando
duas ou mais autoridades pertencentes a diversas atividades do Estado, ou dois ou mais
tribunais, integrados em ordens jurisdicionais diferentes se arrogam ou declinam o poder
de conhecer da mesma questão. Os conflitos jurisdicionais podem surgir por exemplo
entre o tribunal judicial e o tribunal administrativo.

O conflito de competência positivo ou negativo só pode surgir entre dois ou mais


tribunais da mesma ordem jurisdicional – art. 109/2 CPC – há conflito negativo de
competência quando por exemplo, um juízo cível e um juízo da família de Lisboa
(pertencentes a tribunais da mesma ordem jurisdicional) se atribuem mutuamente a

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

competência, negando a própria, para conhecer de determinada questão. Se ambos se


considerassem competentes para conhecer da mesma questão, o conflito seria positivo.

Os conflitos de jurisdição são resolvidos conforme os casos pelo Supremo Tribunal de


Justiça ou pelo Tribunal dos conflitos art. 110/1 CPC. Os conflitos de competência são
solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre
autoridades em conflito – art. 110/2 CPC.

3.2 | Modalidades de competência

O poder de julgar está distribuído entre os tribunais de acordo com diversos critérios,
numa primeira perspetiva podemos distinguir a competência interna e da competência
internacional, ambas trabalham com elementos de conexão.

A competência internacional: consiste na atribuição do poder de julgar aos tribunais


portugueses, no seu conjunto, em face dos tribunais estrangeiros, a questão da
competência internacional só surge quando a causa revele alguma conexão com outra
ordem jurídica estrangeira. Se qualquer dos seus elementos como sejam, as partes, o
pedido, ou a causa de pedir tiverem somente conexão com uma ordem jurídica o
problema não surgirá.

A competência fixa-se no momento da propositura da ação: o que significa que o que


interessa é o domicílio do réu na propositura da ação, o domicílio afere-se através da
residência atual do réu, e esta residência atual tem de se provar através da demonstração
de uma série de factos que concretizam o elemento de conexão.

Sendo a competência um pressuposto, se falta um pressuposto há uma exceção dilatória


e consequentemente há absolvição da instância, a possibilidade de
concretização/manipulação dos efeitos do processo não são possíveis quando se fixa a
ação no tribunal competente.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

• Elementos de facto: Quando a petição inicial entra no tribunal decorre um


período de tempo entre a petição e o saneamento? O pressuposto da competência
tem de estar preenchido na propositura mas só é analisado no saneamento, ora e
se o pressuposto da altura da preposição for válido no saneamento? Não havendo
prejuízo para a parte aplica-se o princípio da prevalência do mérito sobre a forma.

A competência: fixa-se no momento da propositura da ação:

Fixa-se sempre no tribunal e não sai de aqui ( a Professora Paula Costa e Silva utiliza o
exemplo do cão, ou seja o cão não sai quando se senta daquele local ) – é a competência
do tribunal fixado que vai determinar a análise de outros factos, sendo que são irrelevantes
as modificações de facto que ocorram posteriormente, a não ser nos casos especialmente
previstos na lei. E são igualmente irrelevantes as modificações de direito, exceto se for
suprimido o órgão a que a causa estava a afeta ou lhe for atribuída competência de que
inicialmente carecia para o conhecimento da causa.

A pergunta que o tribunal deve fazer é: “ sou competente ou incompetente?” – Salvo se


o critério de competência preterido for territorial, o tribunal que declara que é
incompetente envia o processo para o tribunal competente.

Há tribunais territorialmente localizados num determinado local ( critério territorial )


depois de verificado este pressuposto , vêm os outros.

• Como começamos a determinar a competência? | Há vários critérios para


determinar|

1. Elementos de conexão com uma ordem jurídica estrangeira | competência


internacional | se há incompetência, há absolvição da instância.
2. Atender à ordem dos tribunais quanto à matéria, saber se são de jurisdição comum
ou se são de jurisdição administrativa.
3. Dentro da competência interna existem diversos critérios, sendo que o território
está circunscrito a áreas o Tribunal de Lisboa por exemplo não pode julgar todos
os casos do país, a competência organiza-se por critérios políticos também,
nomeadamente quanto à organização judicial dos tribunais da primeira instância.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

• A competência interna, que se traduz na repartição, entre os diversos tribunais


portugueses, o poder de julgar, subdivide-se, conforme resulta do art. 60/2 CPC
em:

a) Competência em razão da matéria;


b) Competência em razão do valor da causa;
c) Competência em razão da hierarquia judiciária;
d) Competência em razão do território;

A questão da competência coloca-se ao autor no momento em que pensa em instaurar a


ação. O autor terá de saber onde deve propor a ação, ou seja determinar o tribunal
competente para proferir a respetiva decisão. Para isso, terá de proceder a uma análise
dos critérios que presidem à divisão do poder jurisdicional.

3.3 | Breve nota sobre a competência interna:

A) Sua repartição e momento de fixação:

Depois de apurada a competência internacional ( posteriormente analisada em baixo ) dos


tribunais portugueses, importa, no plano interno, determinar o tribunal competente.

A competência dos tribunais judiciais, no âmbito da jurisdição civil, é regulada


conjuntamente pelo estabelecido nas leis de organização judiciária e pelas disposições
deste Código. ( art. 60º CPC ). Nos termos do art. 60/2 CPC, a jurisdição reparte-se, na
ordem interna, pelos diferentes tribunais segundo matéria, valor da causa, a hierarquia
judiciária e o território. No mesmo sentido dispõe o art. 37º/1 da Lei 62/2013.

B) Competência em razão da matéria:

São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra
ordem jurisdicional | art. 64º CPC |.

As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, em razão da matéria,


são da competência dos tribunais e das secções dotados de competência especializada |
art. 65º CPC |. Quer dizer que as causas que não forem atribuídas por lei a alguma

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

jurisdição especial, como, por exemplo Tribunais administrativos ou Tribunal de


Contas, entende-se que são da competência dos Tribunais judiciais.

Na verdade, a competência em razão da matéria assenta no princípio da especialização,


é vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função da matéria do litígio, dado
que é muito vasta a especificidade das normas que integram os diversos ramos do Direito
e são muito complexas as questões que se colocam a quem tem de decidir. Desta
repartição da competência em função das matérias a decidir resultará necessariamente a
melhor qualidade e mais agilidade da atividade judicial.

Os tribunais de comarca, são de competência genérica e de competência especializada art.


80/2 da Lei 62/2013. Em complemento determina o art. 81º deste diploma que os tribunais
da comarca se desdobram em:

1. Instâncias centrais que integrem secções de competência especializada;


2. Instâncias locais que integram secções de competência genérica e secções de
proximidade.

Nas instâncias centrais podem ser criadas as seguintes secções de competência


especializada: cível, criminal, instrução criminal, família e menores, trabalho, comércio,
execução. Por sua vez nas instâncias locais, as secções de competência genérica podem
ainda desdobrar-se em secções cíveis, em secções criminais e em secções de pequena
criminalidade.

C) Competência em razão do valor:

As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, pelo seu valor se
inserem na competência da instância central e da instancia local | art. 66º CPC |. A
incompetência em razão do valor da causa é sempre de conhecimento oficioso do tribunal,
seja qual for a ação que se suscite. Compreende-se que assim seja, porque estão em causa
princípios da organização judiciária.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

D) Competência em razão da hierarquia:

Os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para efeito de recurso das


suas decisões. Existem tribunais judiciais:

Supremo Tribunal
de Justiça

Tribunais da
Relação

Tribunais judiciais
de 1ª instância

Os tribunais estão hierarquizados formando uma pirâmide, cuja a base é contruída pelos
tribunais da 1ª instância. No plano intermédio encontram-se os tribunais da relação, que
funcionam como tribunais de 2ª instância. No vértice da pirâmide situa-se o Supremo
Tribunal de Justiça.

Tribunais de 1ª instância:

• Estando situados na base da pirâmide, cabe-lhes o julgamento de todas as


questões, qualquer que seja o valor da ação. Quando o valor ultrapassa a sua
alçada ( 5000 euros) será possível interpor recurso das suas decisões para o
tribunal da Relação, que julgará em 2ª instância. Se a ação tiver um valor superior

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

ao da alçada do tribunal da Relação ( 30.000 euros ), a decisão por este proferida


pode ainda ser objeto de recurso para o Supremo Tribunal de Justiça. Há porém,
ações que admitem sempre recurso, independentemente do seu valor | art. 629º nº
2 e 3 CPC.
• Os tribunais de primeira instância apesar de constituírem a base da pirâmide tem
a função de julgar além de outros os recursos interpostos das decisões dos notários
e conservadores do registo.

A hierarquia judiciária não significa que os juízes dos tribunais de grau inferior
dependam ou devem obediência aos de grau superior. A hierarquia traduz-se no poder
conferido aos tribunais superiores de, pela via de recurso, revogarem ou alterarem as
decisões dos tribunais inferiores. Conforme dispõe o art. 203º CRP os tribunais são
independentes e apenas estão sujeitos à lei. Nos termos do art. 4º da Lei 62/2013 os juízes
julgam apenas segundo a CRP e a lei e não estão sujeitos a quaisquer ordens ou instruções,
salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em via de recurso por tribunais
superiores. E não podem ser responsabilizados por via de regra, das suas decisões.

Supremo Tribunal de Justiça:

➢ Tem sede em Lisboa art. 45º da Lei nº 62/2013.


➢ Compreende secções em matéria cível, penal e social.
➢ Conhece dos recursos e das causas que por lei sejam da sua competência | art. 69º
CPC|.
➢ Por via de regra o STJ apenas conhece de matéria de Direito por força do art. 46º
da Lei nº 62/2013.
➢ O STJ é pois essencialmente um tribunal de revista. Cabe-lhe rever o modo de
como foi feita a aplicação da lei substantiva, aos factos provados nas decisões
proferidas pelas instâncias e as interpretações que estas fizeram das leis
processuais.
➢ No entanto, em certas circunstâncias, as partes podem requerer que o recurso
interposto da decisão proferida pelo tribunal de 1ª instancia suba diretamente para
o STJ – como se compreende isto só é possível se no recurso apenas se suscitarem
questões de direito, isto é, quando tiver sido impugnada a decisão sobre matéria
de facto. Por outro lado, também se exige que as partes não impugnem quaisquer

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

decisões interlocutórias. Trata-se de um recurso “per saltum”, visto que não passa
pelo Tribunal da Relação.
➢ Cabe ao STJ a uniformização de jurisprudência.

Tribunais da Relação:

➢ Conhecem dos recursos e das causas que por lei sejam da sua competência – art.
68/1 CPC.
➢ Os tribunais da Relação são por via de regra tribunais de 2ª instância, designam-
se pelo nome do município em que se encontram instalados.
➢ Os tribunais da Relação compreendem secções em matéria cível, penal, social,
família, menores, comércio, propriedade intelectual e de concorrência, regulação
e supervisão.
➢ Existem tribunais da Relação em Lisboa, Porto, Coimbra, Guimarães e Évora.

E) Competência em razão do território.

Supremo Tribunal de Justiça tem competência em todo território e os tribunais da


Relação e os tribunais de 1ª instância têm nas áreas das respetivas circunscrições. Art. 43º
da Lei 62/2013.

A competência territorial para um causa determina-se, portanto em função de 2


parâmetros:

1. Circunscrição territorial correspondente ao tribunal;


2. Elemento de conexão de cada tipo de ações com a circunscrição;

Entre os elementos de conexão relevantes para a determinação da competência territorial,


podemos aferir o foro do réu, o foro real, ou da situação dos bens , o foro obrigacional,
o foro do autor, e o foro sucessório.

O foro do réu – constitui regra geral – quando não exista disposição especial para a
atribuição da competência territorial, é competente para a ação, por força desta regra o
tribunal do domicílio do réu. Com este princípio procura a lei facilitar a defesa do réu.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Art. 80 e 81º CPC. Para a determinação do domicílio do réu deve atender-se ao que dispõe
os art. 82 e ss CC.

O foro obrigacional – é o lugar onde deve ser cumprida a obrigação. – O lugar onde a
obrigação deve ser cumprida é o que resulta do disposto do art. 772 e 776º CC.

3.4 | Extensão e modificações da competência:

a) Enunciado

As regras sobre a competência dos tribunais podem ser sujeitas a alguns desvios pelo
aparecimento de questões suscitadas no decurso da ação. Verificadas certas condições, o
tribunal estende a sua competência por forma a poder julgar, para além da ação, essas
questões para as quais não teria normalmente competência.

Assim, sendo o tribunal competente para determinada ação, passa a sê-lo também
para questões nelas suscitadas. Por outras palavras, a competência do tribunal para
julgar a ação estende-se às questões que nela sejam levantadas. A extensão e modificações
da competência estão previstas nos art. 91º a 95º CPC.

Estes preceitos preveem a extensão da competência em relação às questões incidentais


| art. 91º CPC | às questões prejudiciais | art. 92º CPC | e às questões reconvencionais |
art. 93º CPC. Da modificação da competência tratam os artigos 94º (pactos privativo e
atributivo de jurisdição) e art. 95º CPC (competência convencional).

b) Questões incidentais

A primeira destas disposições legais diz respeito às questões incidentais. Questão


incidental ou incidente é a questão surgida no decurso do processo, distinta da questão
principal que dele era objeto, mas com ela relacionada. O incidente pressupõe em regra a
existência de uma questão a resolver que se configure como secundária face ao objeto
da ação o do recurso e como ocorrência anormal e com autonomia processual em relação

29
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

ao processo principal. Não é possível proferir a sentença final sem que antes seja decidida
essa questão incidental.

O tribunal competente para a ação é também competente para o conhecimento dos


incidentes que nela se levantem e das questões que o réu suscite como meio de defesa
| art. 91/1 CPC |

• Os incidentes constituem ocorrências estranhas ao desenvolvimento


processual. O tribunal competente para conhecer da ação passa a sê-lo também
para conhecer destas questões que, normalmente, não caberiam na sua
competência. Verifica-se a extensão da competência do tribunal a estas questões.

Exemplos:

A grande parte dos incidentes estão dispersos pelo CPC, estão tipificados na lei, como
incidentes da instância os seguintes:

➢ Verificação do valor da causa | art.º. 260 a 310º CPC |


➢ Intervenção de terceiros | art. 311º a 350º CPC |
➢ Liquidação | art. 358 a 361º CPC |

Se no decurso da ação falecer uma das partes o tribunal competente para a ação sê-lo-á
também para decidir o incidente de habilitação. Normalmente, o tribunal competente para
a habilitação dos sucessores da parte falecida é do lugar da abertura da sucessão. Porém
se não for este tribunal em causa, passa a ter por extensão, competência também para a
habilitação.

Deste modo, o tribunal competente para julgar a ação proposta com fundamento num
contrato celebrado entre o autor e o réu, é também competente para conhecer da nulidade
do contrato invocada pelo réu, mesmo que para conhecimento desta nulidade fosse
competência atribuída a outro tribunal, no caso de ter sido alegada como autónoma.

Esta extensão da competência tem limites previstos no art. 91/2º CPC – assim a
decisão das questões e incidentes suscitados não constitui caso julgado fora do processo
respetivo, exceto se alguma parte requerer o julgamento com essa amplitude e o tribunal
for competente do ponto de vista internacional e em razão da matéria e da hierarquia.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Consequência: se a decisão proferda sobre incidentes ou sobre meios de defesa que não
envolvam diretamente o objeto da ação, mesmo que transitada em julgado, vale apenas
como caso julgado formal | art. 620º CPC | o que significa que não valerá fora daquele
processo|

➢ Só constituirá caso julgado material art. 621º CPC se tal tal for requerido por
alguma das partes, isto é, se alguma das partes requerer o processamento da
questão como numa ação autónoma (para uma questão valer fora do processo).
Porém, para que o requerimento neste sentido possa ser atendido, não pode faltar
ao tribunal a competência necessária, em razão da nacionalidade, da matéria, ou
da hierarquia.

C) Questões Prejudiciais.

Se o conhecimento do objeto da ação depender da decisão de uma questão que seja da


competência do tribunal criminal ou do tribunal administrativo, pode o juiz sobretestar na
decisão até que o tribunal competente se pronuncie | art. 92º/1º CPC |. Por vezes, o
conhecimento do objeto da causa está dependente do conhecimento prévio de uma certa
questão. Quer dizer, o conhecimento da causa não pode ter lugar sem que se decida uma
questão que faz parte do encadeamento lógico da sentença a proferir. Esta questão tem,
portanto, de ser previamente julgada, e por isso se diz prejudicial, ou seja, (pré) judicial.

É questão prejudicial: toda aquela cuja solução constitua pressuposto necessário da


decisão de mérito, quer esta necessidade resulte da configuração da causa de pedir, quer
da arguição ou existência duma exceção (perentória ou dilatória), quer ainda do objeto de
incidentes em correlação lógica com o objeto do processo, e seja mais ou menos direta a
relação que corra entre essa questão e a pretensão.

31
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

➢ Neste caso, a lei em vez de estender a competência ao tribunal da causa, atribui


ao juiz a faculdade de sobretestar , isto é interromper a decisão até que o tribunal
competente se pronuncie sobre a questão prejudicial.
➢ O art. 92º CPC – faz referência unicamente a questões prejudiciais para cujo
conhecimento é competente o tribunal criminal ou o tribunal administrativo. Tem
aplicação quando o tribunal criminal ou administrativo têm competência para o
conhecimento de questão que se torna necessário para a decisão de outra questão
que constitui objeto da ação proposta no tribunal judicial cível,
➢ Se o juiz do tribunal cível tiver de proferir decisão sobre essas questões, fá-lo-á
apenas com a finalidade de tornar possível o prosseguimento do processo.

D) Competência para questões reconvencionais

A reconvenção tem lugar quando o réu formula, na ação contra ele proposta, um pedido
autónomo contra o autor.

O tribunal da ação é competente para questões deduzidas por via de reconvenção, desde
que tenha competência para elas em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia;
se a não tiver é o reconvindo absolvido da instância | aart.93/1 CPC.

No Caso de reconvenção, quando o pedido formulado pelo réu seja distinto do que foi
deduzido pelo autor, os respetivos valores somam-se, nos termos do art. 299/2 CPC. Neste
caso é portanto, alterado o valor inicial da causa.

Essa alteração do valor da causa pode fazer com que o tribunal onde a mesma corre deixe
de ser competente em razão do valor, o que implicará a necessidade de remeter a ação
para o tribunal que passou a ser competente. Neste sentido, determina o nº2 do art. 93º
CPC que, quando, por virtude da reconvenção, o tribunal deixe de ser competente em
razão do valor, deve o juiz oficiosamente remeter o processo para o tribunal competente.

E) Competência convencional

O art. 94º e 95º CPC tratam da modificação da competência. Em ambos os casos, a


competência que normalmente seria atribuída a um tribunal para dirimir um litígio é
modificada por convenção das partes.

32
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

➢ Se a convenção tem por fim afastar regras que regulam a competência


internacional dos tribunais portugueses - art.62º CPC, toma a designação de pacto
privativo ou atributivo de jurisdição | art.94º CPC |.
➢ Se a convenção entre as partes tem em vista a alteração das regras da competência
interna (em razão do território) trata-se da competência convencional. | Art.95º
CPC|. Este artigo veda às partes a possibilidade de afastarem as regras de
competência em razão da matéria, hierarquia e do valor da causa.
➢ Porém, o preceito permite às partes afastar, por convenção expressa, a aplicação
das regras de competência em razão do território, salvo no art. 104º CPC (isto é
nos casos em que a incompetência relativa é do conhecimento oficioso do
tribunal). – Pode dizer-se que se trata de um pacto de aforamento segundo o qual
é dada às partes a possibilidade de escolher o foro, ou seja, o tribunal
territorialmente cometente para conhecer de certos litígios.
➢ O tribunal escolhido por convenção das partes tem competência exclusiva.
Por isso, o tribunal que, segundo a lei, seria o competentem deixa de o ser.
➢ A competência resultate da convenção das partes é tão vinculativa como a
que deriva da lei | art. 95/3º CPC.|

Análise dos Pactos de jurisdição no ordenamento jurídico português |

• Por força do art.59º CPC os tribunais portugueses são internacionalmente


competentes não só quando se verifica algum dos elementos de conexão referidos
nos art. 63 e 63º CPC mas também quando as partes lhes tenham atribuído
competência nos termos do art. 94º CPC.
• Quer dizer as partes podem convencionar qual a jurisdição competente para
dirimir determinados litígios, nos termos do disposto no art. 94º CPC.

Aliás ao analisar a questão da competência internacional deveremos previamente verificar


se existe algum pacto privativo ou atributivo de competência internacional aos tribunais
portugueses.

Art. 94/1 CPC: as partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir
um litígio determinado, ou litígios eventualmente decorrentes de certa relação jurídica –
contando que a relação controvertida tenha conexão com mais de uma ordem jurídca.

33
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

O pacto negociado pelas partes pode ser atributivo ou privativo da competência


internacional dos tribunais portugueses.

a) O Pacto Atributivo: quando concede competência a um tribunal ou a vários


tribunais portugueses.
b) O Pacto Privativo: Quando retira competência a um ou a vários tribunais
portugueses e atribui exclusivamente a um ou vários tribunais estrangeiros.

Por força do art. 94/2 CPC | a designação convencional pode envolver a atribuição de
competência exclusiva ou meramente alternativa com os tribunais portugueses – quando
esta exista, presumindo-se que seja exclusiva em caso de dúvida.

O acordo das partes denomina-se pacto de jurisdição e não de competência porque o


que as partes convencionaram diz respeito à jurisdição, isto é, à atribuição da competência
dos tribunais, do nosso ou de outro país, considerados no seu conjunto e não à repartição
da competência entre os tribunais portugueses.

Pode acontecer, porém, que as partes cheguem a identificar um dos tribunais portugueses
– assim se as partes atribuírem por exemplo a competência ao tribunal de Lisboa, estão a
celebrar um pacto de jurisdição.

Atribuindo a competência a um tribunal português e ao mesmo tempo um pacto de


competência interna designando o tribunal competente de entre os tribunais portugueses.

• O pacto de jurisdição só é válido quando se verificam cumulativamente os


requisitos do art. 94/3 CPC.

34
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

94/3/a) CPC | determina que o pacto


só pode dizer respeito a um litígio
sobre dtos. disponíveis -

94/3/b) CPC | outro dos requisitos


94/3/e) CPC | que o pacto que resulte de dispõe que a eleição do foro só é válida
acordo escrito e quanto à emnção da se for aceite pela lei do tribunal
jurisdição competente deve ser expressa. designado.

94/3/d) Proibe o pacto de jurisdição que 94/3/c) CPC | O pacto de jurisdição só é


recaia sobre matéria da exclusiva válido se for justificado por um interesse
competência dos tribunais portugueses sério de ambas as partes ou de uma delas,
- o pacto não pode privar os tribunais desde que não envolva inconveniente para a
portugueses da competencia que a outra.
leilhe atribuiu de modo exclusivo | art.
63º CPC

• Art. 94/3/a) CPC | - Dtos. Indisponíveis – são os que estão subtraídos à livre
disponibilidade das partes como por exemplo os relativos ao estado das pessoas. |
Casamento e filiação |. Um direito deve considerar-se indisponível quando o seu
titular não puder privar-se dele por simples ato de vontade.

A “contrario sensu” os dtos. Disponíveis são aqueles que o titular pode livremente dispor,
se o litigio versar sobre direitos indisponíveis não será válido o pacto de jurisdição.

• Art. 94/3/c) CPC | Com este requisito pretende-se evitar que seja escolhido um
tribunal com a qual a causa e as partes não tenham qualquer conexão relevante.

Assim o elemento de conexão entre o tribunal designado e a causa deve ser de ordem
pessoal (domicílio ou nacionalidade) ou real ( situação dos bens) | art. 62/a) + 41/2
CPC.
35
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Entende-se que não devem ser consideradas relevantes as convenções que


objetivamente correspondiam a manifestações de oportunismo, capricho ou
mera comodidade.

F) Tribunal competente no caso de pluralidade de réus

Outro desvio das regras da competência verifica-se no caso de pluralidade de réus.

Quando o tribunal competente para determinada ação é o lugar do domicílio do réu, nos
termos do art.80º CPC, tal regra não pode ser observada se a ação for proposta contra
vários réus com domicílios situados em áreas correspondentes a diversos tribunais.

O art. 82º CPC – regula esta situação atribuindo a competência ao tribunal do domicilio
do maior número deles. Se for igual o número de diferentes domicílios, dá o autor a
possibilidade de escolher.

Nestes casos, o réu ou os réus que se encontrarem na posição minoritária ( ou até em


igualdade) não poderão invocar a incompetência do tribunal , se este não corresponder
ao lugar do domicílio.

3.5 | Competência internacional:

36
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

O problema surge quando a causa, através de qualquer dos seus elementos, está em
conexão com outra ordem jurídica, além da portuguesa.

Trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais
portugueses ou pelos tribunais estrangeiros. Se a a situação não revelar qualquer elemento
de conexão com a ordem jurídica estrangeira, tudo se passa no âmbito da competência
interna.

• Prof. Miguel Teixeira de Sousa:

A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim a de situações que, apesar


de possuírem, na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas
estrangeiras, apresentam igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica
portuguesa.

A diferença entre a competência interna e a internacional consiste no seguinte: a


competência interna respeita às situações que na perspetiva da ordem jurídica portuguesa,
não possuem qualquer conexão relevante com outras ordens jurídicas; a competência
internacional refere-se aos casos que apresentam uma conexão com outras ordens
jurídicas. A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a competência
dos tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de situações que, apesar de
possuírem, na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas
estrangeiras, apresentam igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica
portuguesa.

Note-se que no caso concreto pode implicar somente o funcionamento das regras da
competência interna, mas a aplicação das regras da competência internacional nunca
dispensa a aferição do tribunal internamente competente. Suponha-se que por
exemplo que dois portugueses domiciliados em território português se pretendem
divorciar em Portugal; a situação contende apenas com a competência interna dos
tribunais portugueses, pelo que só têm de ser aplicadas as correspondentes regras de
competência relativas à ação de divórcio. Em contrapartida, se forem dois espanhóis,
domiciliados em Espanha, que se desejam divorciar em Portugal, isso exige,
primeiramente, a verificação da competência internacional dos tribunais portugueses
para a ação de divórcio e depois a análise do tribunal competente na ordem interna para
essa mesma ação, ou seja, requerer a conjugação da aferição da competência internacional
com a aplicação das regras sobre competência interna.

37
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Cada país pode fixar os elementos e conexão que considera relevantes para se atribuir
a competência para julgar determinados litígios; conforme dispõe o art. 59º CPC sem
prejuízo de que se encontre estabelecidos em regulamentos europeus ou outros
instrumentos internacionais, os tribunais são competentes internacionalmente quando se
verifique algum dos elementos de conexão referidos no art. 62º CPC e 63º ou quando as
partes lhes tenham atribuído competência nos termos do art. 94º CPC. Sendo assim, os
elementos de conexão da ação com a ordem jurídica de diferentes países deve atender-
se para atribuir competência internacional aos tribunais portugueses está prevista nos
art. 62 e 63 CPC.

As normas de receção só determinam, através da referida conexão, que os tribunais de


uma jurisdição nacional são competentes para apreciar uma relação jurídica
plurilocalizada. Essas normas não são normas de competência, porque não a atribuem a
um tribunal, antes se limitam a determinar as condições em que uma jurisdição nacional
faculta os seus tribunais para a resolução de um certo litígio com elementos
internacionais.

As normas de recepção/conexão – preenchem no âmbito processual, uma função paralela


àquela que as normas de conflitos realizam no âmbito substantivo: estas determinam qual
a lei aplicável a uma relação jurídica plurilocalizada (se a lei do foro ou uma lei
estrangeira) aquelas aferem se essa mesma relação pode ser apreciada pelos tribunais de
uma certa ordem jurídica.

Análise do art. 62º CPC

Alínea a) | princípio da coincidência: é atribuída competência internacional aos


tribunais portugueses, quando a ação deva ser proposta em Portugal, segundo as regras
da competência internacional estabelecidas em lei portuguesa. As regras da competência
internacional constam do art. 70º ss CPC | Verifica-se portanto, uma coincidência entre a
competência internacional e a competência interna territorial. Quando de acordo com as
regras da competência territorial previstas na ordem interna, a ação deva ser instaurada
em Portugal, os tribunais portugueses terão competência internacional para julgar essa
ação, mesmo que existam elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras. Assim
conforme a alínea a) do art. 62º CPC conjugado com o que dispõe do art. 70º CPC, as
ações relativas a direitos reiais ou pessoais de gozo sobre imóveis devem ser propostas
38
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

no tribunal da situação dos bens. Se os bens estão situados em Portugal, os tribunais


portugueses terão competência, não só interna, como internacional, por aplicação do
referido princípio da coincidência.

Alínea b) | princípio da causalidade:

Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes para a propositura da ação


quando tiver sido praticado em Portugal o facto que serve de causa de pedir ou algum
dos factos que a integram. É fácil idealizar um exemplo: basta que imaginemos uma ação
de divórcio de um casal italiano que vive em Portugal, sabendo que nas ações
constitutivas a causa de pedir é o facto concreto que se invoca para obter o efeito
pretendido | art. 581/4º CPC | os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes para a ação de divórcio proposta por um dos cônjuges com fundamento na
prática de adultério cometido pelo outro em território português.

- Ou outro exemplo: Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes


quando, apesar de o facto ilícito ter ocorrido no estrangeiro, partes dos danos se
produziram em Portugal.

Alínea c) | princípio da necessidade:

O critério da necessidade abarca não só a impossibilidade jurídica, por inexistência de


tribunal competente para dirimir o litígio em face das regras de competência internacional
das diversas ordens jurídicas com as quais ele apresenta uma conexão relevante, como
também a impossibilidade prática, derivada de factos anómalos impeditivos dos
funcionamento da jurisdição competente.

Exige-se porém que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um
elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real. Segundo o princípio da necessidade, a
competência é atribuída nos tribunais portugueses quando o direito invocado pelo autor
só possa tornar-se efetivo por meio de ação proposta em Portugal. Evidencia-se, assim, a
necessidade de propor a ação nos tribunais portugueses por ser o único modo de efetivar
o direito do autor.

Além disso é atribuída competência internacional aos tribunais portugueses não só nos
casos de necessidade, mas também nos casos de dificuldade. Assim, a ação deve ser
proposta os tribunais portugueses quando a propositura da ação no estrangeiro
representaria para o autor dificuldade apreciável.

39
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Como exemplo de um caso de dificuldade apreciável na propositura da


ação no estrangeiro, podemos idealizar uma situação em que existisse um conflito
armado, ou de corte de relações diplomáticas com o país cujos tribunais seriam
competentes. Assim, os tribunais portugueses passariam a ser competentes para a
propositura da ação, devido a essa dificuldade que o autor de deparou. Poderá dizer-se
que estamos perante na presença de uma atitude de último recurso. Pretende-se, por esta
via, prevenir a denegação de justiça que resultaria da circunstância de não ser possível ou
ser muito difícil propor uma ação no estrangeiro.

Regulamento (EU) nº 1215/2012 | Análise

Raciocínio da Prof. Paula Costa e Silva e Prof. Miguel Teixeira de Sousa

➢ Se por ventura houver conexão com um a ordem jurídica estrangeira


começa-se por analisar a competência internacional, sendo que uma ação
é regulada por uma pluralidade de fontes, para a resolução de um caso
prático teremos de ir primeiro ao regulamento da competência
internacional.
➢ O CPC só se aplica subsidariamente – quando não existe instrumento
internacional e sobre ele prevaleça.
➢ Esses Estados para efeito do exercício da jurisdição são estrangeiros ou
não sob o ponto de vista de Portugal? Esses Estados que integram a União
de Estados são estados estrangeiros ou não relativamente a Portugal. Para
responder a esta questão temos a classificação entre a competência
primária e a secundária, sendo que a competência primária (intenta a
ação) e a secundária ( decide se aplica a sentença estrangeira ). - Tem de
ser célere para produzir efeitos com o Estado do destino. A nossa
integração num espaço de cooperação não apaga as soberanias, mesmo
com a existência da EU, não apaga as soberanias, portanto as decisões
proferidas por tribunais estrangeiros, são mesmo estrageiros.

40
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

➢ Na regulação da competência internacional o que se pergunta é: a


regra positiva esteja ela onde estiver pode ser derrogada pelas partes, as
partes podem afastar por convenção, por contrato a competência que
resulta das regras? Se as partes puderem afastar as regras não é a lei, é a
vontade das partes. Se as partes não puderem afastar as regras a fonte
primária é a lei, o princípio geral é que que as regras do direito positivo
são suscetíveis de derrogação – é o princípio geral mas há exceções:

1. Sempre que há uma parte mais frágil do contrato, a lei protege a parte mais
fraca – vamos encontrar zonas que são excluídas da Auto violação, da parte
mais frágil – e ainda exceções que tenham razões de ser mais fortes. Os
elementos de conexão existindo uma certa margem de proteção – conferem
uma proteção de valores e deste modo não há arbítrio nos elementos de
conexão.

| Âmbito de aplicação do Regulamento |

➢ Delimitação positiva:

O Regulamento 1215/2012 é aplicável em matéria civil e comercial


independentemente da natureza da jurisdição isto é do tribunal que é competente
na ordem interna | art. 1/1º || que pode ser civil, comercial , laboral, ou mesmo
criminal. – A matéria civil e comercial não deve ser interpretada segundo o direito
de qualquer Estado Membro, mas de acordo com os objetivos e o sistema do
Regulamento e com a observância dos princípios gerais que decorrem do conjunto
dos sistemas de Direito nacionais.

➢ Delimitação negativa:

Este regulamento não abrange:

- Matérias fiscais, aduaneiras e administrativas;

- Estado e capacidade de pessoas singulares;

41
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

- Regimes matrimoniais, testamentos, e sucessões;

- Falências, concordatas e processos análogos;

- Segurança Social;

- Arbitragem;

➢ Âmbito espacial | Domicílio intracomunitário |

O critério geral do domicílio do réu | Art.4º Regulamento – na competência


internacional – é indiferente para réu ser demandado no seu domicílio ou no domicílio do
autor? Não. Não é indiferente, desde logo pela dificuldade da língua e as diferenças de
jurisdição – os custos também têm implicação. A escolha deste critério, é o critério
primário e geral – e visa proteger a parte demandada, mesmo numa regra aparentemente
tao técnica a lei esta a fazer uma opção – quem ela protege mais – altamente valorativo o
elemento de conexão. Por exemplo conhecendo um pedido indemnizatório num acidente
– temos de atender que quando há um acidente – normalmente a ação indeminizatória é
interposta no tribunal da localização do acidente por um motivos de prova – as
necessidades de prova prevalecem ao critério geral, de modo conseguir com que o
processo decorra de uma forma eficiente – e estes são os critérios.

Outro exemplo: quanto à extensão da autoridade | ao impugnar um ato administrativo


no banco de Portugal ? Não é em Luxemburgo que se mete a ação, será em Portugal. Ou
seja a ação é distribuída mediante a disponibilidade dos meios probatórios ( por exemplo
recorrer a aos públicos, e documentais ).

O esquema geral (quadro geral) será então: ver se a competência internacional se


determina pela convenção das partes, em segundo lugar pela lei (lei com fonte
internacional ou lei com fonte interna) e nessas leis temos três critérios de atribuição
primária:

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

1. O domicílio do réu que não depende da sua nacionalidade; (art.4º do


Regulamento).
2. Os critérios especiais em que tendo em atenção o tipo de pretensão se atribuiu
competência alternativa para além do tribunal do domicílio do réu | art.7º do
Regulamento por exemplo. |
3. Situações em que há competência exclusiva | Art.º. 5º e 6º do Regulamento
e art. 24º e 25º.

Competências alternativas ou exclusivas | Noção – as competências exclusivas dizem


respeito a um só tribunal e um só tribunal é competente, todos os outros são
incompetentes. Quando as competências são cumulativas – compete ao autor escolher
de quais os critérios que pretende.

❖ Quando o autor pode escolher, o réu não pode invocar a incompetência


do tribunal do seu domicílio (pois trata-se de competências cumulativas).

As convenções das partes | pacto de jurisdição | atribuem competência exclusiva ao


tribunal que escolhe. Art. 25/1º do Regulamento.

➢ Domicílio extracomunitário | art. 6º do Regulamento |

Na situação em que o demandando não tem domicílio num Estado-membro observam-se


as seguintes regras:

- A competência é regulada em princípio pela lei interna do Estado do foro sem


prejuízo da aplicação das regras relativas à competência exclusiva prevista no art. 24º
do Regulamento e aos pactos de jurisdição prevista regulação no art. 25º
Regulamento, sem prejuízo ainda do art. 18º ( Consumidor ), e do art. 21º/2 do
Regulamento 8 (entidades patronais). Ora se nenhuma dessas normas for aplicável ao
caso, tratando-se de por exemplo da propositura de uma ação, em que o autor é uma
sociedade com sede em Portugal e tratando-se de um incumprimento de um contrato,
aplicar-se-ão as normas internas portuguesas, para determinar qual será o tribunal
competente, ou seja teríamos primeiro:

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

• Atender ao art. 62º CPC e ver onde o pedido do autor se encaixa, se na alínea a)
| Princípio da coincidência | na alínea b) | Princípio da causalidade | ou alínea
c) | Princípio da necessidade.
• Se houver correspondência entre o pedido e a alínea a) do art. 62º CPC, então
aplicar-se-ão os art. 70ºss do CPC | quanto à competência territorial|.
• Como neste caso se tratava de matéria contratual, ter em atenção a aplicação
do art. 71º CPC | competência para o cumprimento da obrigação | e interligar
este artigo, com os artigos 772º e 776º do Código Civil, quanto ao local de
pagamento ou cumprimento da obrigação, sendo que ter especial atenção às
obrigações pecuniárias | art. 774º CPC | (porque a lógica é inversa). Outro artigo
importante é o artigo 885º CC quando à compra e venda.
• Sendo que em matéria obrigacional e contratual trata a secção cível | art. 79º, 80,
81º e 117º da Lei da Organização do Sistema Judiciário, é necessário saber qual
será o tribunal competente.
Então o último passo é ir ao art. 37º da Lei da Organização do Sistema
Judiciário – 62/2013 de 26 de Agosto e analisar a competência segundo os quatro
critérios:
1. Competência em razão da matéria; art. 40º da lei 62/2013
2. Competência em razão do valor; art. 41º
3. Competência em razão da hierarquia; art. 42º
4. Competência em razão do território; art. 43º

Depois de concluída esta fase: Ir à lei 49/2014 de 27 de Março – Regime da


Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais.

- Contra esse demandando podem ser invocadas quaisquer regras de competência


vigentes na ordem jurídica interna do Estado de foro, mesmo que elas sejam consideradas
exorbitantes e não possam ser invocadas contra demandados com domicilio num dos
Estados-membros | art. 6/2º CPC | - nomeadamente as notificadas pelos Estados-membros
à Comissão nos termos do art. 76º / alínea a) .

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Em Suma: Quadro geral | Competências & critérios de aplicação.

Critério geral do domicílio


do réu | art. 4º do
Regulamento.

Critério especial |
Competências especiais | art.
5/1 e art. 7º e ss

Critério exclusivo |
competência exclusiva | art.
24º do Regulamento

Convenção das partes | Pacto


de Jurisdição | art. 25º do
Regulamento - vale como
exclusiva.

Pacto de jurisdição | art. 25º do Regulamento

a) Generalidades;

Os pactos de jurisdição do art. 25º do Regulamento são válidos nas seguintes condições:

•Esses pactos não podem derrogar nenhuma das


art.24º do Regulamento competências exclusivas previstas no art. 24º

art. 15º | 17º | 23º do •Esses pactos não podem contrariar os requisitos mais exigentes que
valem para os pactos de jurisdição em matéria de seguros, contratos
Regulamento celebrados por consumidores e contrato individual de trabalho

Requisitos Gerais |

1. O pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes, pelo que deve


respeitar todos os requisitos exigidos quanto à formação do contrato;
2. A convenção deve determinar o tribunal ou os tribunais competentes para a
aplicação da causa | art. 25/1/1ªparte.

Efeitos |

1. O pacto de jurisdição produz um efeito atributivo e um efeito derrogatório;

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

2. O pacto atribui em princípio | art. 25º/1 | competência exclusiva ao tribunal


designado;
3. Como consequência desta competência exclusiva do tribunal escolhido, nenhum
outro tribunal permanece competente para a apreciação da ação – o tribunal
no qual a causa foi proposta em violação do pacto de jurisdição deve
declarar-se oficiosamente incompetente – quando o demandado for domiciliado
no território de um Estado – Membro e não comparecer em juízo.

A nulidade do contrato não impede o funcionamento da cláusula atributiva de


competência | TJ 3/7/1997 | Benincasa \ Dentalkit – como a invalidade do negócio não
implica a invalidade do pacto é no tribunal designado que deve ser apreciada a invalidade
daquele negócio.

Efeitos substantivos: O pacto de jurisdição é vinculativo para as partes, em certos casos


essa convenção também pode ser vinculativa para terceiros – como por exemplo o
portador de um conhecimento de carga | TJ – Ac. 19.06.1984

Pacto Tácito | art. 26º do Regulamento

- Segundo o Prof. Miguel Teixeira de Sousa, a Prof. Paula Costa e Silva não admite que
este Pacto seja denominado como tácito.

1. Se a parte comparecer em juízo e não arguir a competência do tribunal esse tornar-se


competente para conhecer do litígio, excepto se houver outro tribunal com uma
competência exclusiva para apreciar a causa.

2. O regime vale igualmente quando a incompetência do tribunal resultar de um pacto de


jurisdição;

3. O referido efeito de atribuição de competência não se produz se o réu comparecer


(comparecer, significa no ordenamento jurídico português contestar) em juízo para
arguir a incompetência do tribunal ou se houver um outro tribunal exclusivamente
competente.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

A questão da revelia segundo as regras do regulamento:

Análise do art. 28º Regulamento a comparência que se refere este artigo, depende de
outros ordenamentos jurídicos, por exemplo a comparência no ordenamento jurídico
português é a contestação do réu, se o réu não souber da propositura da ação não tem
como se defender (violação do princípio da igualdade das armas), ora o art. 28º do
Regulamento /1 – joga com o art. 4º domicilio do réu – o regulamento não fala em réu,
o requerido/demandado.

A competência internacional é sinal de soberania – quando é que aceitam exercer


jurisdição? É necessária a circulação das decisões – por isso é que a União Europeia
tem competência.

Análise do art. 29º Regulamento – art. 29/1 – os tribunais que não tenham sido o primeiro
demandado tem de suspender as ações propostas pelo autor.

Art. 30º Do Regulamento – é em homenagem à harmonia dos julgados – não se quer um


fenómeno de conflito de jurisdições. Regulamento

Art. 7º - Reconhece no âmbito da União Europeia a Competência internacional – principio


da necessidade – verificação de especialidade na proposição de uma ação – dificuldade
extrema – obrigações alimentares.

47
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

FONTES REGULADORAS DE COMPETENCIA:

A) Autonomia privada | pactos de jurisdição;


B) Convenções de Arbitragem

Prof. Eduardo Talamina:

Pacto de arbitragem – principal fontes convencionais de atribuição de competência – a


Prof. Paula já contextualizou este fonte convencional – de um lado existe:

a) Pactos de jurisdição internacional – as partes estabelecem que se surge um conflito


entre elas, ou um conflito instaurado – optam desde logo por uma jurisdição de
um determinado Estado – esses Pactos de jurisdição não podem atingir a
competência exclusiva.
b) Competência territorial dentro da jurisdição nacional – pactos pelas quais as partes
estabelecem determinado litigio dentro do território estadual | pactos de
competência – há limites, só se admite quando a uma modalidade de normas que
não sejam de ordem pública. | Litígios de direitos reiais de imoveis por exemplo |
c) Convenções de Arbitragem | Pacto: negócio jurídico pelo qual as partes de um
conflito já existente, ou um eventual conflito futuro, estabelecem que aquele
litigio não se submeterá aos órgãos judiciais / estaduais – mas sim será submetida
à um julgar privado – alguém que não integra a estrutura estatal. - O julgador é
alheio a qualquer estrutura estatal, é escolhido pelas partes, ( no direito brasileiro
, lele desenvolve uma atividade ). Este árbitro exerce jurisdição? Sendo que a
jurisdição é a expressão da soberania? O árbitro tem esse poder de julgar porque
as partes lhe deram esse poder, então mas onde fica o conceito de jurisdição
interligado à lógica estatal?

- A Arbitragem não é uma escolha estatal e uma autorização – mas independentemente


disso a arbitragem decorre das partes e não do Estado. No Brasil a sentença judicial tem
o mesmo valor que uma sentença arbitral. Não é jurisdição no sentido estadual.
48
Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

- Na essência , na

Qualidade da atividade dos arbítrios, é equivalente à atividade jurisdicional estatal – a


delegação a terceiro de resolução de um litígio é marcado pela imparcialidade – os
italianos – a condição de não sujeito (alguém que está como parte fora do litigio) –
portanto | Argumento da jurisdição material para fundamental uma jurisdição da
Arbitragem |.

Qual é a natureza da arbitragem, do negócio jurídico?

- O que é que a acontece na transação.

Arbitragem:

- Há a perda da solução estatal, não são situações coincidentes. | A Arbitragem Voluntária


é um negócio jurídico processual, que assim emitem declarações de negociais
convergentes em submeter um certo litígio a esta forma de composição do seu conflito de
interesses. Neste caso, as partes podem, ou não – submeter ao concreto litígio à (hétero)
composição vinculativa de um terceiro (árbitro).

- Quais os efeitos de uma convenção arbitral?

1. Efeito positivo: da convenção: é poder permitir a realização de uma arbitragem, essa


clausula serve de suporte para a instituição de um processo privado, tem de respeitar o
contraditório, o dispositivo. Este efeito positivo permite o desenvolvimento do processo,
dá aos árbitros o poder de julgar , é geradora da competência do arbitro, e é confirmada o
facto de não ser uma delegação estatal, é da vontade das partes.

2. Efeito negativo: da convenção consiste em proibir a jurisidição estatal de intervir na


covenção arbitral – se uma delas for ao tribunal estatal , a outra parte alega uma defesa:
este litigio foi convencionado arbitralmente, logo os tribunais estatais não são e nem
podem ser competentes. Preclusão dos tribunais estatais. O juiz estatal não pode
oficiosamente conhecer da convenção arbitral, precisa de haver delegação da parte
interessada. Problemas maiores: como devem comportar-se os juízes estatais quando a
convenção arbitral? Os juízes podem analisar esta convenção? O réu a aponta
oportunamente a existência de convenção arbitral? Esta convenção arbitral é nula, la fi
feita de uma hipótese que não admite arbitragem, um caso em que a intervenção judiciária

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é indisponível, pode o juiz estatal intervir? Há uma dúvida quando à duvida da extenção
desta convenção arbitral. O juiz estatal não pode mesmo intervir, à luz do princípio da
competência| e autoridade.

Negócio processual através do qual as partes regulam o pressuposto processual


competência - convenção da arbitragem. (afastam a regra legal, tornam irrelevante o
elemento de conexão escolhido pela regra) – o pacto de jurisdição atribuem competência
a um tribunal estadual. O acto de arbitragem retira jurisdição a um tribunal estadual. Elas
não alteram os critérios de decisão.

- Os tribunais estaduais não têm de decidir sobre direito estrito – os Tribunais arbitrais
podem decidir segundo a equidade se os tribunais estaduais poderem.

Equidade – nos contratos é que se preveem as convenções de arbitragem – há atribuição


de poderes de equidade fraca.

Art. 20 CRP/4 – as convenções arbitrais têm de estar submetidas ao processo equitativo


– Não há limites constitucionais. Materialmente eles resolvem conflitos – e o Estado
reconhece essas decisões? O Tribunal Arbitral não pode executar – se o Estado não
reconhecer – a decisão do Tribunal Arbitral não é competente.

Lei 63/2011 de 14 de Dezembro – Tipicamente as decisões do tribunal arbitral não


admitem recurso, as partes podem convencionar. Há uma forma de impugnação do
Acórdão do Tribunal Arbitral que é a ação de anulação – nesse caso, o tribunal vai caçar
ou não – neste tipo de impugnação o tribunal estadual não pode reformular o mérito da
causa mas pode impugná-lo. O prevalece a primeira decisão transitada em julgado (em
Processo), quando há colisão entre duas decisões entre um tribunal estadual e arbitral –
prevalece a primeira decisão.

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LEI DA ARBITRAGEM VOLUNTÁRIA

Conflito/ interligação com Lei n.º 62/2011, de 12 de Dezembro | LITÍGIOS


EMERGENTES DE DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL -
MEDICAMENTOS DE REFERÊNCIA/GENÉRICOS.

O contrato em que está integrada a convenção de arbitragem pode estar um contrato


internacional – se não existisse a convenção de arbitragem, seria regulado o litígio pela
competência internacional.

❖ PROF. REMÉDIO MARQUES | Análise:

- A Arbitragem: corresponde a uma inegável manifestação do poder de


autodeterminação da vontade das pessoas – o submeter, pelos contraentes através de uma
convenção de arbitragem, a resolução de um litígio a um tribunal arbitral traduz a
realização de um negócio jurídico processual que é expressão da autonomia negocial
enão da atividade jurisdicional estadual quando poder público inerente à soberania do
Estado.

- Os tribunais arbitrais só possuem competência declarativa – pelo que a execução


forçada das decisões condenatórias proferidas por tribunais arbitrais é lograda nos
tribunais estaduais. Mas parece claro que atualmente podem emitir providências
cautelares suscetíveis de antecipar provisoriamente a decisão definitiva, contanto que a
convenção de arbitragem o preveja.

- Esta possibilidade atribuídas às partes de resolver os conflitos de interesses ,mediante


juízes-árbitros, permite que tais decisões arbitrais não sejam passíveis de impugnação à
luz da teoria geral do negócio jurídico: estas decisões não podem ser anuladas por
qualquer um dos litigantes. Tais decisões proferidas por tribunais arbitrais apenas podem,
ou bem ser objeto de anulação do tribunal judicial, nos termos e com os fundamentos do
art. 46º da citada Lei da Arbitragem Voluntária, ou bem podem ser objeto de recurso para
o Tribunal da Relação que desfrute de jurisdição no local da arbitragem , caso as partes
não tenham renunciado os recursos.

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❖ Natureza da arbitragem voluntária

Na arbitragem o litígio termina com a emissão de uma decisão que conhece acerca da
verificação ou não verificação de certos factos e julga o pleito aplicando o direito
constituído ou resolve o conflito de interesses através da equidade – e é exatamente
esta possibilidade de julgar segundo a equidade , que explica por que as partes não se
limitam a acordar a constituição de um tribunal de juízes diferentes dos tribunais e dos
juízes estaduais: a submissão da resolução do litígio a um tribunal arbitral é expressão
de um contrato mais intenso pelo que as partes renunciam à jurisdição estadual no que
tange à apreciação do mérito desse litígio.

- Quanto aos efeitos: A convenção de arbitragem celebrada em conformidade com a lei


e a vontade das partes obrigam-nas a promover a composição do litígio no tribunal
arbitral. Não se trata de uma mera opção ou alternativa. Daí que, se algum dos
contraentes violar a convenção de arbitragem, o que equivale a violar um negócio
jurídico bilateral, essa violação pode ser invocada perante os tribunais estaduais como
meio de defesa de outro contraente, que tenha sido aí demandado: ele pode deduzir a
exceção dilatória , ou seja a exceção de preterição do tribunal arbitral voluntario ou de
convenção de arbitragem, de jeito a paralisar a ação que contra ele tenha sido motivada
no tribunal estadual à revelia daquilo que fora acordado na convenção de arbitragem.

- Esta procedência desta exceção conduz à absolvição do réu da instância, impedindo


o tribunal estadual de apreciar o mérito da causa – todavia é um exceção que, sendo de
conhecimento provocado, depende da invocação pela parte interessada.

❖ Constituição e o funcionamento do Tribunal Arbitral:

O tribunal arbitral voluntário não institucionalizado deve ser composto por um


número impar de membros, podendo funcionar como um único arbitro, nos termos do
art. 8º da Lei 63/2011 de 14 de Dezembro – O tribunal arbitral é composto por três
árbitros salvo se a convenção de arbitragem dispuser em contrário.

A decisão arbitral; anulação e recurso; reconhecimento e execução de arbitragem


efetuada no estrangeiro: de harmonia com a regra segundo o qual o tribunal arbitral

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desfruta de competência para apreciar a sua própria competência, este tribunal pode
pronunciar-se sobre a sua própria competência – art. 18º, mesmo que, para isso se faça
mister apreciar, quer a existência , a validade, quer a eficácia da convenção de arbitragem
ou do contrato em que ela se insira, quer enfim, a aplicabilidade daquela convenção.

- A execução destas decisões do tribunal arbitral, somente poderá correr nos tribunais
da 1ª instância, porém a execução destas decisões dos tribunais arbitrais somente poderá
correr nos tribunais judiciais , in casu, nos juízos de competência genérica ou no juízo de
competência especializada da comarca onde tenha decorrido a arbitragem.

Modalidades de incompetência |
A) Enunciado

Antes de propor a ação deve o autor procurar saber qual o tribunal competente para
a mesma, tendo em conta as diversas regras enunciadas.

I. Desde logo deve apurar se a ação, através de qualquer dos seus elementos, tem
conexão com a jurisdição de outros países. Em caso afirmativo terá de
averiguar da competência internacional dos tribunais portugueses. Se essa
conexão não existir, a questão nem sequer é suscitada.
II. Constatada a competência dos tribunais portugueses, é chegado o
momento de saber qual deles tem competência para decidir a ação,
considerando os critérios da competência interna já enunciados.
III. Em primeiro lugar deve averiguar qual o tribunal de 1ªinstância
territorialmente competente. Se na respetiva área só existir um tribunal de
competência genérica, a pesquisa estará simplificada.
IV. Se, na propositura da ação, não forem respeitadas as regras da competência,
as consequências que daí derivam, dependem do tipo de violação.

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| A lei distingue entre:


a) Incompetência absoluta: corresponde à violação de normas de interesse e ordem
pública, e tem por isso um tratamento mais severo do que o correspondente à
incompetência relativa.
b) Incompetência relativa: violação de meras normas de interesse e ordem
particular.

Antes de referir os efeitos de cada uma das violações convém saber qual o momento que
deve ser tido em conta para fixar a competência do tribunal. Como já sabemos, a
competência fixa-se no momento em que a ação se propõe, sendo irrelevantes as
modificações de facto que corram posteriormente, a não ser nos casos especialmente
previstos na lei | art. 38º1 da Lei nº 62/2013.

Exemplo: se a ação foi proposta no tribunal do domicilio do réu, que vivia em Viseu, por
ser este o tribunal territorialmente competente, o tribunal mantém a sua competência
mesmo, que entretanto, o réu tenha transferido o seu domicilio para Coimbra.

a) A Incompetência Absoluta:

Nos termos do disposto no art.96º CPC, determina a incompetência absoluta do tribunal:

a) A infração das regras de competência em razão da matéria e da hierarquia e das


regras de competência internacional;
b) A preterição de tribunal arbitral.

A incompetência absoluta corresponde, portanto, à infração de regras de competência


em razão da matéria e da hierarquia, das regras de competência internacional e ainda ao
caso em que a ação foi proposta no tribunal comum e devia ter sido no tribunal
arbitral.

I. A incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes e, exceto se decorrer


da violação de pacto privativo de jurisdição ou preterição de tribunal arbitral
voluntário, deve ser suscitada oficiosamente pelo tribunal | art. 97º CPC.

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II. Qualquer das partes tem, portanto, legitimidade para arguir a incompetência
absoluta do tribunal, o que significa que pode ser arguida pelo próprio autor,
que foi quem a ocasionou. Pode ainda, ou melhor deve ser conhecida
oficiosamente pelo próprio tribunal, exceto se resultar da violação do pacto
privativo de jurisdição ou de preterição do tribunal arbitral voluntário.

Tudo isto pode ter lugar enquanto não houve sentença com trânsito em julgado sobre o
mérito da causa. Sendo assim, a arguição ou conhecimento oficioso pela primeira vez
tanto pode verificar-se no tribunal de 1ª instância como no tribunal de recurso.

A violação das regras de competência em razão da matéria que apenas respeitem aos
tribunais judiciais só pode ser arguida ou oficiosamente conhecida, até ser proferido
despacho saneador, ou, não havendo lugar a este, até ao inicio da audiência final | art.
97/2 CPC. Neste caso considerou o legislador que a gravidade da violação seria menor.
Por isso encurtou o prazo de arguição ou de conhecimento oficioso, que não poderá ter
lugar depois do despacho saneador ou, não o havendo atá ser dado inicio à audiência final
art. 97/2 CPC.

Exemplo: podemos apontar o caso da ação que foi proposta num tribunal de competência
genérica em vez de o ter sido no tribunal de competência especializada, como seja o
tribunal de família. Esta menor gravidade só se verifica se a violação das regras de
competência em razão da matéria respeitar apenas a tribunais judiciais. Quer dizer, se a
ação tiver sido proposta num tribunal judicial em vez de o ser num tribunal não judicial,
a incompetência é considerada mais grave e por isso a lei dilata o prazo de arguição que
será o previsto no art. 97/1 CPC. – É o que se verifica se a ação foi proposta num
tribunal comum e devias ter sido num tribunal administrativo.

Conforme o art. 99º CPC – a verificação da incompetência absoluta implica a


absolvição do réu da instancia ou indeferimento em despacho liminar quando o
processo o comportar. O processo comporta o indeferimento liminar quando a citação
depender de prévio despacho judicial. Art. 226/4º CPC. Neste caso o juiz, em vez de
ordenar a citação do réu, profere despacho de indeferimento liminar ao detetar o vício da
incompetência absoluta do tribunal, de que deve conhecer oficiosamente.

Quando a citação não depende de prévio aviso judicial, porque incumbe à secretaria
promovê-la oficiosamente | art. 226º1 CPC – o juiz terá o primeiro contacto com o
processo já depois dos articulados. Conhecerá do vício no momento de proferir o

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despacho saneador| art. 595/1/a) CPC. Neste caso ao conhecer da incompetência absoluta
(oficiosamente ou porque foi arguida) tem de limitar-se a absolver o réu da instância.
Na verdade, o juiz depara com uma exceção dilatória | art. 577º e art. 278º/1/a) CPC –
que terá como consequência a absolvição do réu da instância por força do art. 576/1 e 2
CPC.

A decisão que determine a incompetência absoluta do tribunal, embora transite em


julgado, tem apenas valor de caso julgado formal – só valendo – portanto no respetivo
processo – art. 100º CPC.

O caso julgado que ser forme sobre o despacho que determinou a incompetência absoluta
do tribunal, não tem alcance de caso julgado material, o que significa que não tem valor
fora do processo , o que significa que não tem valor fora do processo (art.619º e 620º
CPC). É uma forma de garantir a liberdade de julgamento de cada juiz. Na verdade, sendo
proposta outra ação no tribunal tido por competente, nada impede que o juiz deste tribunal
o considere incompetente.

❖ A lei estabelece, pois, uma exceção:

Permitindo que o STJ ou o Tribunal de conflitos, conforme os casos, decida, de forma


definitiva, através de recurso interposto do acórdão do Tribunal da Relação, qual o
tribunal competente, em razão da matéria ou da hierarquia, para julgar a ação. Art. 101/1
e 2 CPC. É sempre admissível recurso, independentemente do valor da causa, se tiver
como fundamento a violação das regras de competência internacional – em razão da
matéria ou da hierarquia ou ofensa de caso julgado| art. 629/2/a) CPC.

b ) A Incompetência Relativa

A incompetência relativa corresponde a violação de normas de competência fundadas no


valor da causa, na divisão judicial do território ou decorrentes do estipulado na
convenção prevista no art. 95º - art. 102º CPC.

A incompetência relativa pode ser arguida pelo réu, sendo o prazo de arguição o fixado
para a contestação, oposição ou resposta ou, não havendo lugar a estas, para outro meio
de defesa que tenha a faculdade de deduzir | art. 103/1 CPC.

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Conforme se verifica, o conhecimento da incompetência relativa está em regra


dependente da arguição pelo réu, e este deve fazê-lo dentro do prazo fixado para
apresentar a sua defesa. A arguição não pode partir do autor.

Sendo a incompetência arguida pelo réu, pode o autor responder no articulado


subsequente da ação ou, não havendo lugar a este, em articulado próprio, dentro de 10
dias após a notificação da entrega do articulado do réu. | art. 103/2 CPC.

O art. 104º CPC estabelece, porém várias exceções ao determinar, no seu nº1 que a
incompetência em razão do território deve ser conhecido oficiosamente pelo tribunal,
sempre que os autos fornecerem os elementos necessários nos seguintes casos:

1. Nas causas a que se referem o art. 70º, a primeira parte do nº1 e nº 2 do art. 71º
e aos artigos 78, 83 e 84 e 85/1º e art. 89/1 e 2 CPC.
2. Nos processos cuja decisão não seja procedida de citação do requerido.
3. Nas causas que, por le, devam correr como dependência de outro processo.

O juiz deve conhecer oficiosamente da incompetência em razão do território sempre que


os autos fornecerem os elementos necessários para o efeito. Significa isto que o juiz só
pode servir-se dos elementos contidos nos autos – nos articulados ou nos documentos
juntos – e não deve fazer diligências estranhas à tramitação normal do processo com a
finalidade de averiguar dessa incompetência | art. 411º CPC princípio do inquisitório.

Alínea b) do art. 104/1 CPC – para compreender mesmo o alcance desta alínea, basta
ter em conta que nos casos aí previstos, se ao juiz não fosse dada a possibilidade de
conhecer oficiosamente da incompetência, esta nunca poderia ser conhecida antes de
proferida a decisão. Na verdade se atentarmos por exemplo no procedimento cautelar cuja
providência é decretada sem audiência prévia do requerido, concluiremos que não poderia
ser este a arguir a incompetência em momento anterior à decisão, visto que não lhe foi
dado conhecimento do processo, pois nem sequer foi citado. Impõe-se, por isso, que a
incompetência relativa seja de conhecimento oficioso pelo tribunal, quando o processo
fornecer os elementos necessários para tal.

A excepção prevista na alínea c) encontra a sua razão de ser na vantagem que resulta da
apensação de processos. Como por exemplo de uma causa que corre por apenso, pode ser
referido o processo incidente de habilitação de sucessores, no caso de ter falecido uma
das partes | art. 352/2 CPC.

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A incompetência relativa é sempre de conhecimento oficioso quando resultar da


infração das regras de competência que dizem respeito ao valor da causa, seja qual for a
ação em que se suscite | art. 104/2º CPC.

Quando a incompetência relativa é arguida pelo réu (que não se pode limitar à sua
invocação) produzidas as provas indispensáveis à respetiva apreciação, o juiz decide qual
é o tribunal competente para a ação. Art. 105/1 CPC.

❖ Se a exceção for julgada procedente – por o tribunal ter considerado


incompetente, o processo é remetido para o tribunal competente .
❖ Se a exceção for julgada improcedente o processo prosseguirá
normalmente no tribunal onde se encontra pendente.

É claro que a remessa da ação para o tribunal competente ou o seu prosseguimento no


tribunal onde foi proposta, só se verificarão depois de ter transitado em julgado o
despacho que apreciou a exceção de incompetência relativa – art.105/3 CPC .

No caso de a incompetência radicar na violação de pacto privativo de jurisdição, o


juiz não pode ordenar a remessa do processo para o tribunal estrangeiro
competente, visto que a sua jurisdição não vai além fronteiras de Portugal. Por isso só
lhe resta proferir um despacho a absolver o réu da instância.

- Tendo o processo sido remetido para outro tribunal, aí continuará a os seus termos,
visto que a instância não foi julgada extinta | art. 278/2 CPC. Da decisão que aprecie a
competência cabe a reclamação , com efeito suspensivo, para o presidente da respetiva
Relação, o qual decide definitivamente a questão – art. 105/4 CPC.

❖ Ao conhecimento da competência são aplicáveis as mesmas regras que se


utilizam para os conflitos de competência. A reclamação para o presidente do
Tribunal da Relação constitui uma solução administrativa que é mais célere e
pragmática.

A decisão transitada em julgado resolve definitivamente a questão da competência,


mesmo que tenha sido oficiosamente suscitada | art. 105/2 CPC.

Significa isto que se a exceção for julgada improcedente, não mais pode vir a ser
discutida esta questão no processo. Se a exceção da incompetência relativa for procedente
– (art.105/3º CPC) o processo é remetido par ao tribunal competente, que fica deste modo

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vinculado a decisão do juiz que ordenou a remessa do processo, isto é, o juiz do


tribunal “ad quem” ao receber o processo, não poderá declarar-se incompetente.

A decisão transitada em julgado sobre a exceção de competência relativa do tribunal em


razão do território tem força de caso julgado material assim resolvendo definitivamente a
questão | Ac. Do STJ de 2/2/2000.

C ) Preterição do tribunal arbitral:

A preterição do tribunal arbitral consiste no facto de ter sido proposta uma ação
com violação do compromisso arbitral previamente estabelecido entre as partes.
Quer dizer, se as partes se haviam comprometido a submeter a decisão do litigio
a um tribunal arbitral, mas depois uma delas propôs a ação num tribunal comum,
houve desrespeito do autor pelo compromisso que havia assumido. O réu pode
invocar a preterição do tribunal arbitral.

A preterição do tribunal arbitral também pode resultar do não cumprimento da lei


que o impunha, Assim, a preterição pode dizer respeito a um tribunal arbitral
necessário ou a tribunal arbitral voluntário.

- Verifica-se o primeiros casos, quando foi proposta num tribunal comum uma
ação que, por imposição legal, é da competência de um tribunal arbitral. art. 1082º
CPC.

❖ Deparamos com um caso de preterição de um tribunal arbitral voluntário quando


foi proposta
Num tribunal comum a ação que devia ter sido proposta no tribunal
convencionado pelas partes.

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O tribunal deve conhecer oficiosamente das exceções dilatórias, salvo da


incompetência absoluta decorrente da violação de pacto privativo ou da
preterição de um tribunal arbitral voluntário e da incompetência relativa nos
casos não abrangidos pelo disposto no art. 104º - art. 578º CPC.

A preterição do tribunal arbitral voluntário não é portanto de


conhecimento oficioso | art. 578º CPC – trata-se de uma exceção que terá
de ser invocada pelo réu.

| PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS |

Como resulta do art. 152º/1 CPC, os juízes têm o dever de administrar a justiça,
proferindo despacho ou sentença sobre matérias pendentes. Para que o juiz possa dar
razão ao autor, isto é, para que a ação seja julgada procedente, torna-se necessário que
a providência por si requerida esteja em conformidade com determinada norma de direito
substantivo. Quando o juiz chega a proferir sentença transitada em julgado procedente ou
improcedente a pretensão do autor, diz-se que o tribunal conheceu do mérito da causa
ou como também se diz, proferiu decisão de fundo. Ao propor a ação, o autor pretende
que ela termine exatamente deste modo, isto é, com a decisão sobre o mérito. Preferida
a sentença, esta torna-se, em princípio, inalterável logo que transite em julgado. Os
requisitos necessários para que a ação possa proceder constituem condições da ação.

Porém o juiz, antes de se preocupar com a pretensão formulada pelo autor terá
primeiramente averiguar da existência dos chamados pressupostos processuais. Estes
constituem os requisitos de cuja verificação depende da apreciação do mérito da causa.
Estes requisitos são portanto, “questões prévias” ao conhecimento de fundo. Eles
condicionam precisamente esse conhecimento, isto é, o conhecimento do mérito da causa.
A falta de pressuposto processuais pode determinar que o juiz se abstenha de conhecer,
do mérito e em vez disso, tenha de absolver o réu da instância.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

O juiz deve procurar suprir a falta de pressupostos processuais ou convidar as partes


a fazê-lo, quando a sanação dependa de atos a praticar por estas | art. 6/2º CPC. Não sendo
sanada a falta, geralmente o juiz absolverá o réu da instância – o que não impedirá o
autor de propor outra ação sobre o mesmo objeto – art. 279º/1 CPC.

De qualquer modo, o que importa reter é que o processo não chegará a seu termo, isto é,
não será proferida decisão sobre o mérito enquanto no processo não forem tidos em conta
determinados pressupostos processuais.

Os pressupostos processuais podem ser negativos ou positivos. Constituem


pressupostos positivos aquela cuja verificação é essencial para que o juiz conheça do
mérito da causa. E constituem pressupostos negativos aquela cuja verificação obstar a que
o juiz aprecie o mérito da ação. Entre estes podemos referir a litispendência, o caso
julgado, e existência de compromisso arbitral. Sendo que a grande maioria dos
pressupostos processuais serem de conhecimento oficioso – art. 577º e 578º CPC.

1. A PERSONALIDADE JURIDICÁRIA

1.1 Análise da Prof. Paula Costa e Silva:

As condições que as partes têm de reunir para que o tribunal possa avançar para o
conhecimento do mérito da causa, são tidas através da conjugação de dois pressupostos
com regimes similares, a personalidade judiciária alicerçada à participação judiciária3.
A personalidade jurídica é a possibilidade de exercer pessoal e livremente a nossa
capacidade jurídica. (capacidade de exercício). A capacidade judiciária interliga-se com
a capacidade de exercício. O art. 15º parametriza a capacidade judiciária com capacidade

3
Era.40 e ss CPC.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

de exercício, e não vai competir ao direito processual, quem é que tem de estar em
assistência do incapaz.

O menor: a forma suprimento é através representação, poderá ser através do poder


parental. A parte do processo vai ser o menor, só que o menor não pode atuar livremente
e pessoalmente no direito privado, por maioria de razão não pode no direito processual,
terá de ser representado para suprimir o pressuposto da capacidade de exercício. No caso
da inabilitação e interdição terá o mesmo mecanismo.

O direito processual acolhe as incapacidades e modos de suprimento do direito privado.


Ao lado deste pressuposto há um outro, que não existe no direito privado, que é o
patrocínio judiciário (por intermédio de advogado), não é verdadeiramente uma forma de
representação. Mas o advogado não supre uma incapacidade da parte, o advogado
existe para suprir outras necessidades sendo que o advogado é um técnico que sabe
defender melhor a parte que representa, a lei impõe que numa causa de maior impacto
tem de haver um advogado. O advogado serve ainda para uma finalidade muito
importante, conseguir anular o desequilíbrio emocional que o exercício do processo
põe sobre a parte. Permite bloquear a emoção no exercício de situações jurídicas. Os
advogados têm constituintes (não têm clientes).

O Patrocínio e a capacidade judiciária – são semelhantes porque a capacidade


judiciaria ativa e o patrocínio obrigatório ativo são pressupostos processuais, e a passiva
(capacidade e patrocínio) são pressupostos de atos processuais.

• Do lado ativo – vão condicionar o proferimento da decisão de mérito porque já


sabem que a regra é esta; se não tiverem preenchidos o juiz não decide sobre o
mérito da causa.
• Do lado passivo: faltando o seu preenchimento não se prejudica o proferimento
de uma decisão de mérito, mas a consequência da incapacidade judiciaria passiva
e da falta do patrocínio – atingem o ato praticado pelo reu na contestação. A
incapacidade ativa porque atingem o ato inicial da instancia – não há um ato
capaz de dizer ao juiz o que se quer, porque aquilo que se diz querer não vale. Do
lado do réu o ato também não pode valer – quando o ato do réu não vale – o
processo tem de prosseguir, quando se atinge a contestação tudo se passa como se
tivesse havido uma revelia.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Porque as regras parecem regular da mesma forma a capacidade ativa e passiva –


mas as regras são diferentes e têm consequências diferentes – partindo do princípio
que o autor incapaz pratica o ato de preclusão da instancia , o incapaz (menor) ( art.
27 regra geral CPC ) | 28/2 CPC – tem de haver intervenção dos representantes (
ratificação ) caso o ato não seja ratificado não há sanação ( o vício padece). A
instancia está regular, mas a contestação não vale, foi praticada por um incapaz –
exatamente o mesmo raciocínio.

É através dos elementos de intervenção que se conclui se os pressupostos estão ou não


estão preenchidos | Elemento da assinatura; indicação do domicilio do profissional.

❖ As incapacidades | são formas de proteção, regimes de híper proteção do


incapaz: se legais representantes não intervierem na ação, o MP representa-os,
lamentavelmente cada vez mais frequente. O MP faz o controlo da legalidade,
em regra não tem contacto direto com o incapaz, desconhece os factos, a
possibilidade de o MP fazer uma contestação efetiva é difícil, ainda há outro
meio, a revelia do incapaz é inoperante.

Proteção do menor: o autor não fica isento de fazer prova. Significa que o autor não tem
a vida facilitada.

Análise dos pressupostos segundo o Juiz Pais do Amaral:

a) A Personalidade judiciária;
b) Capacidade judiciária;
c) A legitimidade das partes;
d) Interesse processual;
e) Patrocínio judiciário;

❖ A Personalidade judiciária |

Dispõe o art. 11/1 CPC que a personalidade judiciária consiste na suscetibilidade


de ser parte. Partes são as pessoas que requereram, ou contra as quais foi requerida a
providência judiciária que se pretende alcançar através da ação.

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- O processo exige pelo menos duas partes em posições opostas – à primeira chama-se
autor/requerente/demandante. E à segunda parte chama-se réu/requerido/demandado – as
partes como se compreende, devem ficar logo identificadas na petição inicial | art. 552º
CPC. ( alínea a).

Porém outras pessoas podem vir a ter intervenção no processo quer em substituição
daquelas, quer ao lado delas. A substituição acontece quando, ocorreu transmissão da
coisa ou direito litigioso por ato entre vivos – art. 263º CPC ou por substituição de pessoa
falecida – art. 351º CPC – a intervenção de terceiros pode ser espontânea ou provocada,
conforme resulta, respetivamente dos aert. 311º e 316º CPC.

Além do autor e do réu que são as partes principais, podem outras pessoas assumir no
processo uma posição subordinada. São as partes acessórias. É o que se verifica no caso
da assistência, o assistente, é uma pessoa que tem interesse jurídico em que a decisão do
pleito seja favorável a uma das partes, por isso intervém no processo como seu auxiliar|
art. 326º CPC.

- A personalidade judiciária é definida na lei segundo o critério da coincidência | art.


11/2 CPC – todo o sujeito de direitos é necessariamente pessoa em sentido jurídico.
A personalidade jurídica vem a ser precisamente a qualidade de pessoa ou sujeito de
direito. Assim têm personalidade judiciária todas as pessoas singulares , as pessoa
jurídicas ou seja, as pessoas coletivas (associações ou fundações) e as sociedades a que
seja reconhecida.

A personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida – art. 66º


CC – e termina com a morte – ao abrigo do art. 68º CC. No que concerne às pessoas
coletivas, embora tenham de estar em juízo por meio dos respetivos representantes legais,
as ações são instauradas em nome delas ou contra elas, pois que são elas as verdadeira
parte.

Porém o princípio da coincidência estabelecido no art. 11/2 CPC – sofre exceções pois a
lei chega a estender a personalidade judiciária a quem não tem personalidade jurídica –
nos termos do art. 12º CPC, quer dizer que este preceito admite , como partes da causa,
entidades às quais não é reconhecida personalidade jurídica.

1. É o caso da herança jacente – art. 2046º CC – Neste caso o titulares ou titulares


da herança ainda não foram determinados, porque a herança ainda não foi aceita.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Sendo assim a ação deve ser intentada por ela (como autora) e contra ela (como
ré), visto que à herança jacente estende o art. 12/a) CPC a personalidade judiciária
– por outras palavras, tendo-lhe sido estendida a personalidade judiciária é a
própria herança jacente a verdadeira parte e não qualquer sucessível.
2. Têm de igual forma personalidade judiciária nos termos do art. 12º CPC:
- Alínea b) as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais –
art. 195 e 199 do CC.
- Alínea c) as sociedades civis | art. 980 do CC.
- Alínea d) as sociedades comerciais antes da data do registo definitivo do
contrato pela qual se constituem nos termos do art. 5º do CSC.
- Alínea e) o condomínio resultante da propriedade horizontal – relativamente às
ações que se inserem no âmbito dos poderes do administrador – art. 1436º CC .
- Alínea f) os navios, nos casos previstos em legislações especial.

3. O art. 13º CPC estende ainda a personalidade judiciária às sucursais, agências , filiais,
delegações ou representações de uma pessoa coletiva – se a ação proceder de factos por
ela praticados. Trata-se de entidades que são apenas órgãos da administração local e como
tais subordinados à administração central | em princípio não deviam ter personalidade
judiciária, a qual pertence à pessoa coletiva ou sociedade, porém quando estão em causa
factos por ela praticados podem ser demandar ou ser demandadas. Por outro lado o art.2º
do mesmo preceito prevê os casos em que o facto foi praticado pela administração
principal sedeada no estrangeiro quando está em causa uma obrigação contraída por
um português ou estrangeiro domiciliado em Portugal.

Se a administração principal tiver sede ou domicilio em país estrangeiro, as sucursais,


agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal podem
demandar e ser demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela,
quando a obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro
domiciliado em Portugal | art. 13/2 CPC.

Em suma a atribuição da personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais,


delegações ou representações depende da circunstância de a administração principal
ter ou não sede ou domicilio em Portugal.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

- 1. Se tiver sede em Portugal (ou domicilio) só terão personalidade jurídica as sucursais,


agências, filiais, delegações ou representações quando o objeto da ação diz respeito a
factos por elas praticados.

- 2. No caso de a administração principal ter sede ou domicilio no estrangeiro à


administração local é reconhecida personalidade judiciária, não só em relação aos factos
por si praticados, mas também aos que foram praticados pela administração central,
quando a obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro
domiciliado em Portugal.

A atribuição da personalidade judiciária às sucursais e outras congéneres não atinge a


personalidade da sociedade ou pessoa coletiva, podendo esta demandar ou ser
demandada.

❖ As consequências da falta de personalidade:

A falta de personalidade judiciária, é em princípio insanável – significa isto que tendo


sido contatada a sua falta, seja do lado do autor ou do lado do réu, o tribunal deverá
proferir despacho em que diz abster-se de conhecer do pedido – absolvendo o réu da
instância – por força do disposto no art. 278/1/c) CPC.

No entanto o art. 14º CPC prevê uma exceção – quando a ação foi indevidamente
proposta contra a sucursal, a falta de personalidade judiciária pode ser sanada mediante
a intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição do processado – quer
dizer se ação foi proposta contra qualquer dessas entidades quando o devia ter sido contra
a administração principal, o vício pode ser sanado pela intervenção desta no processo: ou
ratifica todo o processado – que por isso prosseguirá ou não ratifica e neste caso terá de
ser repetido. No caso da falta de personalidade judiciária resultar de a ação ter sido
proposta pelo representante da pessoa falecida ou contra a pessoa falecida pode pôr-se
termo a tal falta mediante a habilitação dos sucessores prevista noa rt. 351º CPC.

A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma exceção dilatória | art.
577/c) CPC – é de conhecimento oficioso como a generalidade das exceções dilatórias.
Art. 578º CPC.

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- Se a citação do réu depender de prévio despacho judicial – art. 226º/4º CPC – e se a


exceção não for sanável nos termos do art. 14º CPC – pode o juiz em vez de ordenar a
citação, indeferir liminarmente a petição inicial.

- Se a falta de personalidade só for conhecida no despacho saneador deve o juiz proferir


despacho de absolvição do réu da instância. Quando a falta de personalidade judiciária
for sanável nos termos do art. 14º o tribunal antes de proferir despacho de absolvição do
réu da instância – deve providenciar para que a administração principal proceda à
sanação, do modo acime referido – art. 6/2 CPC. ( dever de gestão processual).

❖ A Capacidade Judiciária;

Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa não basta que as partes tenham
personalidade judiciária, é necessário que possuam igualmente capacidade judiciária.

A capacidade judiciária pode entender-se como aptidão para adquirir direitos e para os
exercer, sendo assim podemos considerar dois graus de capacidade, a capacidade de
gozo e ca capacidade de exercício desses direitos. Na generalidade, as pessoas têm
capacidade de gozo de direitos, o que se traduz na sua capacidade jurídica. Nos termos
do quer dispõe o art. 67º CC as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer relações jurídicas
salvo disposição legal em contrário, o que se traduz a sua capacidade jurídica.

Qualquer ser humano pode tornar-se sujeito de direitos e obrigações, essa capacidade de
adquirir direitos denomina-se capacidade de gozo. Em principio toda a pessoa física tem
plena capacidade de gozo, além das restrições à capacidade de gozo, existem restrições
(e estas a Processo Civil interessam) à suca capacidade de exercício dos direitos. Quer
dizer, embora a pessoa tenha plena capacidade de gozo de direitos, a lei, pretendendo
protege-la contra a sua inexperiência (caso da menoridade) ou contra o seu deficiente
estado de saúde mental (caso da interdição ou inabilitação), determina que não poderá
exercer por si os direitos de que é titular, apenas o podendo fazer por meio de um
representante legal.

- À incapacidade de exercício de direitos se referem os artigos 123º (incapacidade dos


menores), 139º CC (incapacidade do interdito) e 153º CC (inabilitação).

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❖ Conforme a define o art. 15º CPC – a capacidade judiciária consiste na


suscetibilidade de estar por si, em juízo.
❖ A possibilidade de estar por si em juízo, significa também o poder de escolher
livremente quem o represente na ação. Aqueles quer não possuem capacidade
judiciária não podem estar por si mesmos em juízo nem por meio de representante
por si livremente escolhido. O seu representante é imposto por lei.
❖ A capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício dos
direitos conforme dispõe o art. 15/2 CPC.

Ao referir que a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de
exercício de direitos, o preceito estabelece a correspondência entre a capacidade
judiciária e a capacidade de exercício dos direitos, querendo significar que possuem
plena capacidade judiciária aqueles que possuem igualmente total capacidade de
exercício dos direitos. Geralmente as pessoas singulares ou coletivas possuem plena
capacidade de exercício de direitos.

Os interditos, porém, não têm qualquer capacidade de exercício de direitos, por isso são
destituídos de capacidade judiciária – art. 139º CPC – outras pessoas têm a sua
capacidade de exercício de direitos limitada. Daí o dizer-se que a capacidade judiciária
tem por base e por medida a capacidade de exercício dos direitos. É o caso dos
inabilitados. Os inabilitados têm a sua capacidade judiciária limitada aos atos
especificados na sentença que decretou a inabilitação | art. 901/2º CPC.

- Relativamente aos jovens, só quando atingem a maioridade, o que acontece quando


perfazem dezoito anos, é que adquirem plena capacidade do exercício de direitos,
ficando então habilitados a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens à luz do art. 130º
CC. Porém existem exceções à incapacidade dos menores como as que constam do art.
127º do CC. Assim, o menor com mais de 16 anos tem plena capacidade judiciária para
litigar em ação em que estejam em causa os bens que adquiriu pelo seu trabalho. São,
portanto, limitações que referimos quanto aos inabilitados e aos menores que justificam
que no art. 15/2 CPC seja dito que a capacidade judiciária tem por medida a capacidade
de exercício dos direitos. Quem não tiver capacidade judiciária, só pode estar em juízo
através dos seus representantes legais.

❖ Modos de suprimento da incapacidade judiciária;

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Com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua inexperiência ou incompleta


formação ou contra o seu deficiente estado mental, a lei determina que não podem
exercer, por si próprias, um direito cuja titularidade lhes é reconhecida. Estão nesta
situação os menores, os interditos e inabilitados. A sua incapacidade de exercício é
suprida pelos meios adequados previstos na lei. Os atos jurídicos não deixarão de ser
exercitados pelo facto de o incapaz não os poder praticar por ele próprio. Em substituição
do incapaz agirá o seu representante legal ou agirá o próprio incapaz com consentimento
de certa pessoa ou entidade, o curador – art. 16/1 CPC.

Dos menores Dos interditos Dos inabilitados

• A incapacidade dos • O interdito é •art. 152º CC


menores é suprida equiparado ao menor, •A inabilitação é
pelo poder parental sendo-lhe aplicáveis, decretada em ação
• art. 124º e 1921º CC com necessárias especial igualmente
adaptações as prevista nos artigos
disposições do
891ºCC a 905ºCC. A
art.139ºCC
sentença a decretar
•A interdição é designará o curador
decretada em ação e especificará os
especial intentada atos que devem ser
com essa finalidade autorizados ou
- art. 891 a 905º CPC praticados por este -
art.901ºCC 1 e 2

- A nomeação do representante legal:

Pode acontecer que o incapaz não tenha representante legal na altura em que se pretende
propor uma ação em seu nome, ou quando a ação foi proposta contra ele. Se a urgência
de nomeação de representante não se compadece com a demora própria do respetivo
processo, deverá ser nomeado um curador provisório. Será um curador “ad litem”, que
cessará as suas funções logo que seja nomeado o representante legal – art. 17º CPC.

Se a questão de a incapacidade judiciária surgir no momento da citação por se ter


verificado a impossibilidade de o citando a receber, o incapaz será representado por um
curador especial – art. 20º CPC. – A necessidade de nomeação de curador provisório
surgirá não só nos casos em que o incapaz não tem representante legal, art. 17/1 CPC –
mas também naqueles casos em que, tendo-o, o mesmo está impossibilitado de exercer a
representação – art. 17/4 CPC.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Pode ainda surgir a necessidade de nomear curador provisório apesar de não faltar o
representante legal, é o que acontece quando no decurso do processo, se verifica a falta
de acordo dos progenitores quanto à orientação da defesa dos interesses do menor – art.
18/2 CPC.

- Defesa do Incapaz pelo Ministério Público:

Se o incapaz ou o seu representante legal não deduzir oposição, incumbe ao Ministério


Público a defesa dele, para o que será citado. Assim dá a lei ao incapaz uma segunda
oportunidade de defesa a cargo do Ministério Público, sempre que o incapaz ou o seu
representante legal quando devidamente citados, não deduzem oposição. Para isso é
citado o Ministério Público e corre novamente o prazo para a contestação. Quando o
ministério público represente o autor, será nomeado um defensor oficioso – art. 21/2 CPC.
Este defensor oficioso desempenhará o papel que ao MP caberia. Não surgirá portanto a
necessidade de tal representação, se o ausente ou o incapaz já tiverem constituído
mandatário judicial.

- Sanação da incapacidade judiciária e da irregularidade de


representação

A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante


a intervenção ou citação do representante legítimo ou do curador do incapaz | art. 27/ 1
CPC. – Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se
o vício não existisse | art. 27/2 CPC.

Em suma, se o incapaz estiver por si em juízo quando só podia estar por intermédio
do seu representante legal ou de curador, verifica-se um caso de incapacidade
judiciária, que constitui uma exceção dilatória | art. 577/ c) CPC. Mas a incapacidade
pode ser sanada a todo o tempo pela intervenção do representante legítimo. Basta que este
ratifique o processado pelo incapaz para que o vício se considere sanado. A ratificação
pode ser feita por simples requerimento. No caso de não ratificar, fica sem efeito o
processado a partir do momento em que a falta se verificou, renovando-se os prazos para
a prática dos atos atingidos.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

• Há irregularidade de representação quando, embora o incapaz esteja


representado em juízo não o esteja pelo devido representante, ou seja, por aquele
a quem a lei atribui o poder de representação. As consequências são as mesmas
que referimos para a incapacidade.

- Se a irregularidade verificada consistir na preterição de um dos pais, tem-se como


ratificado o processado anterior, quando preterido devidamente notificado, nada
disser dentro do prazo fixado, havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação
ou da renovação dos atos, esse desacordo será decidido em conformidade com
disposto no art. 18º e art. 27/3º CC.

❖ Legitimidade |

A PROF. PAULA COSTA E SILVA | Interligação entre a legitimidade e o interesse


processual.

A legitimidade é o pressuposto que estabelece a relação entre a parte e o objeto da


causa4: a legitimidade permite fazer funcionar todas as garantias fundamentais do próprio
processo, fundamenta o princípio do contraditório, tem de ser a pessoa cuja esfera
jurídica é afetada. A legitimidade ainda vai estabelecer a racionalidade a própria decisão.
E, portanto, tem legitimidade a parte da relação material controvertida: mas o problema?
Este conceito de parte não se interliga com o objeto da ação.

Também a legitimidade é um pressuposto formal, quer dizer que o autor ter tido
estabelecido um determinado contrato com o réu, e o réu diz que não: o que significa que

4
O objeto do processo é integrado pelos factos essenciais e instrumentais | art. 5º CPC | os factos
essenciais são aqueles que integram a causa de pedir ou fundamento da exceção e cuja falta
determina a inviabilidade da acção ou da excepção e os factos instrumentais são, probatórios e
acoessórios são aqueles que indiciam os factos essenciais e que podem ser utilizados para aprova
indiciária destes últimos. Os factos essenciais realizam uma função constitutiva do direito invocado pelo
autor ou uma exceção deduzida pelo réu, pelo que a falta da sua alegação pelo autor determina a
ineptidão da petição inicial por inexistência de causa de pedir, os factos instrumentais destinam-se em
conjugação com os factos essenciais a dar a procedência da ação ou da exceção.

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

eu tive de verificar que houve uma relação controvertida. A ação serve para saber se
existem situações jurídicas ou não e se a ação é procedente ou não.

Se chegarmos ao art. 577/e) CPC significa que percorri tudo para chegar a um juízo de
inadmissibilidade ( exceção dilatória) – o modo como o autor configurou a relação
material controvertida, significa que deslocamos esta questão formal para uma questão
substantiva - Legitimidade substantiva. Ou seja se houver um contrato em que o
credor intenta uma ação a um terceiro (sem ser o devedor ) não há absolvição da
instância, a ação é considerada improcedente, há caso julgado material. Efeito material,
não se dá a legitimidade for processual/formal.

A legitimidade que resulta da titularidade de uma relação processual controvertida - e


qualificada por legitimidade direta – esta regra aplica-se a legitimidade regular.

Análise do art. 30/3º CPC – “são considerados titulares do interesse relevante para o
efeito da legitimidade”– partindo deste art. Podemos ver que há regras especiais que
vão prevalecer no interesse processual.

A legitimidade é o tal pressuposto que pressupõe a titularidade do interesse


processual. – O legislador escolheu o critério do título que coincide com os sujeitos da
relação controvertida, o critério é configurado pelo autor. A titularidade do interesse
pressupõe uma titularidade de uma situação controvertida. – A zona problemática:
cruzamento da legitimidade com as partes. O titular do interesse coincide com a parte? A
lei parece admitir que sim.

O nexo é um nexo de uma leitura prima facie, de acordo com a narrativa o autor é que
é titular do interesse relevante previsto no art. 30/3º CPC – esta é a legitimidade direta
– onde prevalece a titularidade do interesse. O que implica que há de haver casos em
que a legitimidade é atribuída a quem não tem interesse, aparentemente todos os
legitimados tem um interesse, porque a lei não dispensa do interesse – mas para a lei são
titulares de um interesse relevante as partes da relação controvertida e de acordo com a
construção da regra.

- O art. 30/1 e 2 CPC – o nº1, 2º e 3 estabelece uma espécie de uma pirâmide que se vai
densificando – diz nos que o autor é parte legitima quando tem interesse direto em
demandar – é o concretizado pelo nº2 e no fundo a parte tem interesse em demandar para

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

tirar proveito da procedência da ação, ao contrário do réu, que tem interesse na


improcedência da ação.

- O art. 30 está construído como se fosse uma pirâmide – nem sempre é fácil sabermos
quando o autor tira proveito da ação – o legislador ainda nos dá um atalho – no nº3 – vem
nos dizer que tem de ser um interesse relevante, e é este interesse que dá racionalidade
ao processo. Como é evidente a decisão refere-se a uma situação jurídica – e a quem é
reconhecido o direito.

Por exemplo no caso de haver um processo em que está em causa uma ação de
reivindicação, o proprietário tem de fazer prova do titulo, o pai do réu ou do autor não
têm legitimidade, não são proprietários- a decisão de mérito para ser racional tem de
envolver as pessoas cujas esferas jurídicas se concretizem através do interesse
processual, através do interesse relevante das partes. ~E este pressuposto que dá uma boa
decisão e que resulta de um processo equitativo – as partes nomeadamente os titulares
do contraditório, e o contraditório é a possibilidade de contrariar – só as partes tem
capacidade de influenciar o decisor, todas estas coisas estão ligadas. Só tem sentido o
caso julgado quando a parte for parte legitima, foi esta parte que pdoe influenciar que o
decisor para chegar a uma decisão de mérito.

Há casos em que o sujeito não tem interesse juridicamente relevante , mas a lei em alguns
casos atribui legitimidade a estes sujeitos sem interesse | existem outros critérios- nem
sempre a parte legitima tem interesse. Existem outros valores em tensão para que a parte
esteja no processo.

A legitimidade fixa-se no momento da propositura da ação | não se poderá aceitar


manipulações da legitimidade a lei obriga a parte a ficar como parte legítima, art.30/3
CPC – a parte mesmo não tendo interesse, à uma parte que pode proteger o réu ou o autor
de uma manipulação da legitimidade. A parte que não tem interesse pode habilitar-se a
trocar de posição com o réu ou autor por exemplo numa ação de reivindicação – no caso
de haver discussão da titulo da propriedade. A partir do momento em que o proprietário
se habilita na ação (não estando no inicio) tem legitimidade direta. O problema é que a
parte inicial (o autor por exemplo) fica com legitimidade indireta – isto põe em causa a
lógica do art. 30º - em homenagem a tutela da contraparte. Este caso é um daqueles que
quando se discutia a fronteira entre parte em sentido formal e material da parte – porque
a partir do momento em que o proprietário vendeu a coisa, já não poderá ser parte. A parte

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

principal é importante para atribuir faculdades, direitos, vinculações quando do processo.


A legitimidade indireta – “falta de indiciação da lei em contrário” – art. 30/3º CPC -
paralelo com o contrato a favor de terceiro | art. 444º / 2 CC – o terceiro tem legitimidade
direta , está aqui a explicação da necessidade da formalização do conceito de parte – o
sujeito do contraditório. Mas por situação jurídica alheia. Neste caso o promissário tem
legitimidade indireta.

❖ Critérios especiais: nos casos em que a legitimidade é plural – numa


legitimidade em que a parte é composta por compartes – são vários sujeitos que
compõe o mesmo polo na instância | ver por exemplo o art. 1691ºCC “são de
responsabilidade de ambos os cônjuges” – há de haver casos em que a existência
do casal vai repercutir-se na responsabilidade patrimonial no seio das obrigações.
Alíneas críticas – c) e d) . Quando aqui a lei fala em ambos, há uma hierarquia na
responsabilidade patrimonial. – art. 1695/1 CC. Quais são as repercussões da
casamento na configuração na legitimidade processual plural tem sempre como
ponto de referencia a legitimidade material quando o direito material impõe ou
permite vários a legitimidade processual vai impor ou permitir vários. É o direito
material que nos dá o padrão de referencia sempre na determinação da
legitimidade plural – art. 30/3 in fine “tal como configurada pelo autor”.

❖ Análise do Remédio Marques:

Legitimidade processual (Remédio Marques)

Legitimidade processual. Noção

A legitimidade processual exprime a posição concreta por quem é parte numa causa
perante o conflito de interesses que aí se discute e pretende resolver. Esta situação consiste
no facto de se ser pessoa ou pessoas cuja procedência da acção lhes atribui uma situação
de vantagem (Autor) ou a pessoa ou as pessoas a quem essa procedência causa uma
desvantagem (réu).

Elementos definidores da legitimidade

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

É esta a ideia que podemos retirar do artigo 30º CPC quando este diz que o autor é parte
legitima quando tem interesse directo em demandar e que o réu é parte legitima quando
tem interesse directo em contradizer. Este interesse pessoal tem de ser obrigatoriamente
um interesse directo, ou seja, tanto o interesse de demandar como o interesse de
contradizer, pois as vantagens ou utilidades ou, por outro lado, as desvantagens ou perdas
repercutem-se directamente na esfera jurídico-patrimonial de quem está a litigar, o autor
e o réu.

Há portanto uma necessidade de a acção correr somente entre as pessoas que não são
estranhas á situação jurídica controvertida.

Só é parte legitima quem revela o interesse a uma tutela jurisdicional favorável, seja
quanto á procedência ou improcedência da pretensão concretamente formulada. É parte
legítima quem puder retirar alguma vantagem com a decisão.

A partes materiais, as que são titulares do direito controvertido, que tenham poderes de
disposição sobre bem ou objecto do litígio, desfrutam naturalmente de legitimidade
processual. Há excepções, pode acontecer que se seja parte material, mas que não se tenha
o poder de disposição da coisa, como no caso do comproprietário e co-herdeiro, mas
mesmo assim a lei confere legitimidade processual essa parte.

As partes formais, ou seja, que não são titulares do direito controvertido, também podem
desfrutar de legitimidade processual, como no caso das agências, sucursais ou delegações
podem ser demandadas ou demandar, ainda que o facto de onde resulte a pretensão tenha
sido praticado pela pessoa colectiva com sede no estrangeiro.

Exemplos:

Um condómino não tem legitimidade processual para cobrar judicialmente os créditos do


condomínio sobre outro condómino, já que não é portador do interesse tutelado pelo
direito invocado, mas pelo contrário o portador desse interesse é o administrador do
condomínio em representação deste.

Os pais não gozam de legitimidade processual para reivindicar a terceiro os bens de filho
maior, pois não são titulares do interesse tutelado pelo direito invocado.

A legitimidade processual distingue-se da legitimidade substantiva, esta traduz-se no


poder de disposição atribuído pelo direito substantivo o ao autor do acto jurídico. Por
exemplo, cada um dos cônjuges não tem poderes bastantes para alienar um imóvel próprio
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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

ou comum sem o consentimento do outro cônjuge, mesmo que sobre o imóvel exerça
poderes de administração exclusivos, artigo 1682º - A / 1 CC. O mandatário por exemplo,
exerce poderes representativos, tem legitimidade substantiva para alienar um imóvel, em
nome, por conta e no interesse do mandante, sendo este negocio oponível ao mandante.

A legitimidade processual é um pressuposto de cuja verificação depende do


conhecimento do mérito da causa (artigo 278º CPC). A legitimidade substantiva é um
requisito de procedência do pedido.

Critério subsidiário de fixação de legitimidade processual

Sempre que a lei não disponha de outro modo, subsidiariamente são titulares do interesse
em demandar ou do interesse directo em contradizer as pessoas que são titulares da
situação (ou relação) material controvertida.

A legitimidade processual é, assim, definida pela situação material controvertida, e esta


é a situação que constitui objecto do processo (exemplo: posição assumida pelos
intervenientes num acidente de viação). É este o sentido do artigo 30º/3 CPC.

Todavia, há imensos casos em que, a mais da situação de interesses difusos, em que a lei
confere legitimidade processual a pessoas que não são titulares ou não os únicos titulares
da situação material controvertida. Exemplos: Companhia de seguros, cabeça de casa ou
com o testamenteiro numa herança indivisa, administrador de um condomínio,
comproprietário, co-herdeiro. Nestes últimos casos a lei atribui legitimidade processual a
quem não goza de poderes de disposição sobre a coisa ou o direito em litígio, ou sobre
toda a coisa ou sobre a totalidade do direito. Sendo assim, é justo que a sentença
desfavorável ao autor não vincule ou não seja oponível aos restantes co-titulares do
direito, salvo quando a lei expressamente o indicar.

O apuramento da legitimidade faz-se independentemente de prova dos factos que


integram a causa de pedir. De modo que a parte desfruta de legitimidade processual
quando, admitindo-se, ab intio, na configuração dada pelo autor da petição, que existe a
relação material controvertida, a parte for efectivamente o seu titular.

Legitimidade nas relações com pluralidade de interessados

Pluralidade de partes. Litisconsórcio e coligação

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

Na maioria dos casos, as situações suscitadas pela pratica forense dão-se entre duas partes,
a mais da presença do juiz, formando a situação ou relação material controvertida.

Por várias vezes acontece que esta dualidade de partes, por um lado o autor e por outro
réu, não existe, existindo vários autores e vários réus. Temos assim, situações de
pluralidades de partes constitutivas da já conhecida relação jurídica processual triangular
vulgarmente formada entre o autor, o réu e o tribunal.

Essa pluralidade de partes pode brotar da mesma relação ou situação material


controvertida ou de diferentes relações ou situações materiais cpontrovertidfas, pode ser
uma pluralidade de partes originária ou superveniente e, pode ainda constituir uma
pluralidade de partes que necessariamente tem de ser constituída ou cuja constituição
depende da vontade dos litigantes, ainda que por razões de oportunidade ou de
conveniência.

A lei portuguesa distingue portanto, Litisconsórcio de coligação.

No Litisconsórcio a pluralidade de partes exprime a existência de uma relação ou situação


material controvertida e, logo, de um único pedido formulado contra ou por vários réus:
então esta unicidade da relação controvertida corresponde a uma pluralidade de pessoas.
Enquanto que na coligação, a pluralidade de partes traduz a existência de várias relações
ou situações controvertidas. A lei exige que na coligação exista uma pluralidade de
pedidos.

A pluralidade de partes pode ser originária ou inicial, na medida em que se forma logo
com a propositura da acção; pode ser sucessiva ou superveniente, na medida, em que,
uma vez proposta a acção, nela intervenham certos terceiros, mediante certos incidentes
processuais de intervenção de terceiros (intervenção principal: espontânea ou provocada:
artigos 311º a 317 CPC; a intervenção acessória e assistência: artigos 321º a 332º CPC; e
o incidente da oposição: espontânea, provocada e os embargos de terceiro: artigos 333º a
350º CPC.

A pluralidade de partes pode ser ainda voluntária (esta cumulação subjectiva depende
somente da vontade das partes) ou necessária (sempre que a cumulação se revele
obrigatória, por determinação da lei, de convenção das partes ou da natureza da relação
jurídica controvertida.

O listisconsórcio voluntário e o litisconsórcio necessário

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

a) O listisconsórcio é voluntário quando a pluralidade de partes que do lado activo


quer do lado passivo, resulta da vontade do autor ou do réu (pedir intervenção
principal de um condevedor: artigo 317º CPC. Se os interessados não forem
demandados da não resulta qualquer ilegitimidade, pois o litisconsórcio verifica-
se por mera iniciativa das partes ou de uma delas. O artigo 32º do CPC refere-se
a esta modalidade. De modo que se o autor ou o réu não demandar dos demais
interessados, o tribunal apenas deve conhecer a respectiva quota-parte do interesse
ou da responsabilidade (artigo 32º/1 CPC). Exemplo: quando os litígios envolvem
contitularidade de direitos reais, a legitimidade processual activa acha-se
assegurada, ainda quando a acção seja movida apenas por um dos compossuidores
ou por um dos comproprietários etc. o colocar na disponibilidade das partes o
litisconsórcio provoca outros efeitos quando se trata de listisconsórcio voluntário,
tais como, na falta de citação de um dos réus não anula os actos processuais
subsequentes ( artigo 190º/b) CPC); o recurso interposto por uma das partes
vencidas não aproveita, por via de regra às restantes (artigo 634º/1, alínea a), a
contrario sensu, do CPC). Cada um dos litisconsortes pode livremente transigir,
desistir ou confessar o pedido (artigo 288º/1 CPC). Embora o litisconsórcio seja
apenas voluntário isso não significa que não seja conveniente demandar todos os
interessados da relação material controvertida: para efeitos de caso julgado e de
oponibilidade de decisões que venham a ser proferidas.

b) O listisconsórcio necessário é aquela situação de pluralidades de partes (com


unicidade de relação material controvertida) que é imposta às próprias partes. Essa
imposição pode resultar da lei (litisconsórcio necessário legal), de convenção das
próprias partes (listisconsórcio necessário convencional) ou da natureza da
própria relação material controvertida (listisconsórcio necessário natural).

Litisconsórcio necessário legal: inúmeras situações em que a lei exige que a acção seja
proposta por ou contra várias pessoas. Exemplos: acções destinadas a efectivar a
responsabilidade emergente de um acidente de viação, quando o pedido formulado
ultrapassar os limites fixados pelo seguro obrigatório – acção proposta contra a
seguradora e a pessoa civilmente responsável. Se a acção for intentada somente contra a
empresa a de seguro, esta poderá fazer intervir o tomador.

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❖ Interesse processual |
Noção |

Embora a lei não lhe faça referência direta, o interesse processual constitui também um
dos pressupostos processuais respeitante às partes.

Existe interesse processual quando se puder dizer que o autor tem necessidade de
instaurar e fazer seguir uma ação para a tutela do seu direito. De outro modo, o interesse
processual pressupõe que é inevitável recorrer à via judicial por não restar ao individuo
outro modo de satisfazer a sua pretensão.

Os italianos em vez de interesse processual, chamam-lhe interesse em agir e os alemães


necessidade de tutela jurídica. Estas designações são sugestivas para compreender melhor
o alcance deste pressuposto processual.

Significa em suma que, “o direito do demandante está carecido de tutela judicial”, tem
por isso de se socorrer dos tribunais e instaurando o respetivo processo.

- Ora com este pressuposto pretende-se precisamente evitar que as pessoas sejam
chamadas a juízo, sem que nada o justifique, e ao mesmo tempo, evitar que os tribunais
sejam sobrecarregados com a atividade que, por desnecessária, não aproveitaria a
ninguém.

Para que se justifique a intervenção do tribunal, não basta que o autor alegue e prove a
titularidade de um direito. Deve ainda convencer de que na situação concreta, o seu direito
necessita da tutela judicial que solicita.

- Parece que o interesse processual, só diz respeito à parte que toma a iniciativa da ação,
o autor ou o demandante. | Porém depois da proposta, pode também o réu (demandando)

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

ter interesse em que a ação prossiga. Por isso, a lei tutela os seus interesses, fazendo
depender a desistência da instância da aceitação do réu, se requerida depois de ter sido
oferecida a contestação | 286/1º CPC.

- A desistência da instância: é livre até ao momento em que o réu apresentar a


contestação. A partir daí depende da aceitação do réu. Na verdade, o réu pode ter
interesse em que seja proferida decisão.

A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresentar a contestação.


A partir daí, depende da aceitação do réu. Na verdade, o réu pode ter interesse em que
seja proferida decisão de mérito para ver resolvida, de uma vez por todas, a questão que
no processo é discutida. Basta pensar na hipótese de a petição inicial ter sido elaborada
de forma pouco cuidada, de modo a comprometer irremediavelmente o êxito da pretensão
do autor. Se o réu aceitasse a desistência da instância, isso apenas conduziria à extinção
da instância (art. 277.º, al. d) – pelo que o autor poderia mais tarde propor uma nova ação
e apresentar uma petição porventura mais esmerada.

Por outro lado, a desistência do pedido é livre, pois, como se compreende, é vantajosa
para o réu. E, continuando a tomar em conta o interesse do réu, a lei determina que a
desistência do pedido não prejudica a reconvenção (art. 286.º/2).

A existência deste pressuposto processual não é encarada com igual acuidade nas diversas
espécies de ações:

• Ações de condenação e ações executivas: a violação do direito do autor evidencia


claramente a necessidade de pedir ao tribunal a reintegração do direito violado. O
autor tem interesse em propor a ação. Basta que o autor alegue ser titular de um
crédito e que houve incumprimento da prestação por parte do réu para que não
fiquem quaisquer dúvidas sobre o seu interesse processual. Nem se exige que a
violação do direito seja atual, pois que é possível pedir a condenação no
pagamento de prestações vincendas e até a condenação in futurum. Também não
existem dúvidas sobre a existência de tal pressuposto processual, se o autor
invocar a ofensa de um direito real ou de um direito de personalidade.

Excecionalmente, a lei determina que, apesar de não ser exigível a obrigação no momento
em que a ação é proposta, o réu seja condenado a satisfazer a prestação no momento
próprio (art. 610.º/1). Neste caso, teve-se em vista o princípio da economia processual,

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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

por forma a aproveitar a atividade processual desenvolvida até ao momento de proferir a


sentença.

Art. 610.º/3: atendendo à ausência de interesse processual do autor, este será condenado
nas custas e a satisfazer os honorários doa advogado do réu.

Se essa mesma falta de interesse processual do autor, por não ser exigível a obrigação,
for detetada no despacho liminar deve determinar o indeferimento liminar. O princípio da
economia processual só deve ter tido em conta no momento de proferir a sentença. Para
não desperdiçar toda a atividade processual até então desenvolvida, a sentença condenará
a satisfazer a prestação na data em que esta se vencer.

Quando o réu não tenha dado causa à ação e a não conteste, são as custas pagas pelo autor
(art. 535.º/1).

• Ações constitutivas: existe interesse processual quando o direito potestativo


correspondente não é daqueles que possa ser exercido por simples declaração de
vontade do respetivo titular.

Quando a ação constitutiva é de divórcio ou de separação de pessoas e bens, o direito


potestativo não pode ser exercido sem o concurso do tribunal.

Se se trata da constituição de uma servidão legal, o direito potestativo em que assenta não
tem de ser exercido necessariamente por via judicial, podendo sê-lo por via extrajudicial.
Não se exige, porém, que o autor, para fundamentar o seu interesse processual, alegue
que tentou, sem êxito, obter o acordo com a parte contrária.

Quando a ação constitutiva tem subjacente um direito potestativo que pode ser exercido
mediante um simples ato unilateral, o tribunal deve abster-se de conhecer do pedido, por
faltar o interesse processual. É o que se passa no caso de revogação ou renúncia de
procuração e no caso de resolução do contrato (arts. 1170.º/1, 1179.º e 436.º CC).

• Ação declarativa de simples apreciação: a questão da presença do interesse


processual surge sobretudo no domínio desta ação, para a qual os defensores do
pressuposto exigem que se verifique uma situação de incerteza objetivamente
grave, de molde a justificar a intervenção judicial.

Nas ações de simples apreciação torna-se mais difícil concluir pela existência do interesse
em agir. Trata-se de ações em que ainda não se verificou qualquer violação do direito. O

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autor apenas propõe a ação para pôr termo a uma situação de incerteza ou de dúvida
acerca da existência ou inexistência de um direito ou de um facto.

Qual o grau de incerteza ou de dúvida que se deve exigir para que se possa dizer que o
autor tem interesse processual?

A dúvida tem de ser objetiva e não subjetiva. Tem de ser fundamentada em factos
concretos, não sendo suficiente que exista apenas na mente do autor. Não basta que a ação
tenha por objeto a discussão de uma questão de cariz meramente académico.

Faltará interesse processual ao autor que pretende propor uma ação com o fim de negar
a paternidade que lhe foi atribuída por uma pessoa, em tom jocoso. Esta atribuição, por
não ser séria, não tem qualquer gravidade.

A gravidade da dúvida depende do prejuízo que a situação de incerteza pode gerar.

Se uma pessoa pretende vender um determinado prédio, a incerteza quanto à existência


de uma servidão de passagem pode influenciar o respetivo preço.

Nas ações de simples apreciação devem verificar-se 2 requisitos (para que haja
interesse processual):

• Objetividade;

• Gravidade.

1. Consequências da falta de interesse processual.

A falta de qualquer pressuposto processual constitui exceção dilatória. Nos casos em que
a citação depende de prévio despacho judicial - art. 226.º/4 – se, da petição inicial, resultar
manifesta falta de interesse processual, o juiz deve indeferi-la liminarmente, em vez de
ordenar a citação.

Se a falta do pressuposto for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz abster-se


de conhecer do mérito da causa, absolvendo o réu da instância (art. 278.º, al. e)).

Quando no momento de proferir a sentença se verificar que a obrigação ainda não é


exigível, isso não obstará a que o juiz condene o devedor a satisfazer a prestação no
momento em que a obrigação se vença (art. 610.º). Neste caso, a única sanção pela falta
de interesse processual traduzir-se-á na condenação do vencedor no pagamento das custas
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Professora Paula Costa e Silva 1º Semestre Turma B

e no dos honorários do advogado do réu, por se entender que o réu não deu causa à ação
(art. 610.º/3 + art. 535.º).

Se a inutilidade da lide surgir no momento posterior à propositura da ação, como


acontece, por exemplo, no caso de desaparecimento da coisa reivindicada, deve a
instância ser declarada extinta (art. 277.º, al. e)).

❖ Patrocínio Judiciário.

1. Noção.

Consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro.


Geralmente as partes não têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e,
por isso, devem estar representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para o
fazer. Aliás, é sempre conveniente que não sejam as próprias partes a conduzir
diretamente a defesa dos seus interesses no processo, por lhes faltar a serenidade
desinteressada para esse efeito.

Art. 40.º: torna obrigatória a constituição de advogado nos casos aí previstos.

O patrocínio judiciário é exercido plenamente pelos advogados e, em termos limitados,


pelos advogados estagiários e pelos solicitadores.

Não se confunde com a assistência técnica aos advogados prevista no art. 50.º. Esta é
prestada ao advogado e não propriamente à parte. Justifica-se nos casos em que no
processo se suscitam questões de natureza técnica para as quais o advogado não tenha a
necessária preparação.

Da sua indicação – que poderá ser feita no articulado, juntamente com o oferecimento das
outras provas ou em requerimento até 10 dias antes da audiência final – deve constar a
questão técnica que irá ser apreciada (art. 50.º/2).

2. Constituição obrigatória de advogado.

Em todas as causas é admitida a intervenção de advogados em representação das partes.


Porém, há causas em que, pela sua importância ou pela sua natureza, essa intervenção se
torna obrigatória. Só nestas causas se poderá falar do pressuposto processual.

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Nas outras causas, a intervenção de advogado é apenas facultativa, o que equivale a dizer
que as partes podem litigar por si.

Art. 40.º/1: é obrigatória a constituição de advogado:

• Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível


recurso ordinário: causas da competência dos tribunais de 1ª instância. A
admissibilidade de recurso ordinário resulta da conjugação do valor da ação com
o da alçada do tribunal de que se recorre e ainda com o valor da sucumbência (art.
629.º/1). É admissível recurso ordinário nos casos em que o valor da ação é
superior ao da alçada do tribunal de que se recorre, quando o valor em que a parte
decaiu (sucumbência) é também superior a metade dessa mesma alçada.

• Nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do


valor: causas em que é sempre admissível recurso quaisquer que sejam aqueles
valores. O arts. 629.º/2 e 3 fazem alusão a essas causas cujas decisões admitem
sempre recurso independentemente do valor da causa e da sucumbência.

• Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores: geralmente as


causas são propostas nos tribunais de 1º instância. Porém, há casos em que são
propostas no Tribunal da Relação, funcionando então como tribunal de 1ª
instância. Nos tribunais superiores é sempre obrigatória a constituição de
advogado, quer para a propositura das ações nos casos em que têm o seu início no
Tribunal da Relação, quer nos casos em que as causas sobrem ao tribunal superior
pela via do recurso.

Mesmo nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, podem as próprias


partes, por si sós, fazer requerimentos que não envolvam questões de direito (art. 40.º/2).

3. Mandato.

Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado pela parte por meio
de mandato judicial. Este pode ser conferido por meio de instrumento público ou
particular (art. 43.º, al. a) do Código do Notariado).

O mandato judicial também pode ser conferido por declaração verbal da parte no auto de
qualquer diligência que se pratique no processo (art. 43.º, al. b)).

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O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e


termos do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante tribunais superiores,
sem prejuízo das disposições que exijam a outorga de poderes especiais por parte do
mandante (art. 44.º/1).

Nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de subestabelecer
o mandato – art. 44.º/2.

Subestabelecimento: consiste na transferência total ou parcial (pelo mandatário


constituído) para outro advogado, dos poderes que lhe foram conferidos. É feito pela
mesma forma da procuração. E pode ser com reserva ou sem reserva de poderes.

• Com reserva: haverá uma pluralidade de mandatários. Em qualquer altura o


primeiro mandatário poderá reassumir os poderes de representação e patrocínio.

• Sem reserva: implica a exclusão do anterior mandatário (art. 44.º/3). Isto significa
que o mandatário põe termo ao mandato que anteriormente lhe foi conferido pela
parte, sendo substituído por outro advogado. Terá de haver, portanto, prévia
autorização do mandante para que se proceda à total transferência de poderes.

A eficácia do mandato depende de aceitação, que pode ser manifestada no próprio


instrumento público ou em documento particular, ou resultar de comportamento
concludente do mandatário (art. 44.º/4).

A aceitação pode ser expressa ou resultar do comportamento que o mandatário assumiu,


que revele claramente que aceitou o mandato.

Os mandatários judiciais podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto e desistir
do pedido ou da instância, quando estejam munidos de procuração que os autorize
expressamente a praticar qualquer desses atos (art. 45.º/2).

Estes atos traduzem-se num poder de disposição sobre direitos alheios. Por isso, a lei
exige que o mandatário só os possa praticar quando munido de procuração que
individualize a causa e o autorize expressamente a fazê-lo.

Porém, quando a nulidade da confissão, desistência ou transação provenha unicamente da


falta de poderes do mandatário judicial ou da irregularidade do mandato, a sentença
homologatória é notificada pessoalmente ao mandate, com a cominação de, nada dizendo,

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o ato ser havido como ratificado e a nulidade suprida; se declarar que não ratifica o ato,
este não produz quando a ti qualquer efeito (art. 291.º/3 + art. 1163.º CC).

O mandatário pode desistir livremente do recurso interposto, sem necessidade de


procuração com poderes especiais. Neste caso, não há disposição de um direito material.
Neste sentido, determina o art. 632.º/5 que o recorrente pode, por simples requerimento,
desistir do recurso interposto até à prolação da decisão.

4. Revogação e renúncia do mandato.

O mandato pode ser revogado pela parte que concedeu os poderes e também pode o
advogado renunciar ao mandato recebido. A revogação e a renúncia devem ter lugar no
próprio processo e são notificadas tanto ao mandatário ou ao mandante, como à parte
contrária (art. 47.º/1).

É a partir da notificação que se produzem os efeitos da revogação e da renúncia (art.


47.º/2).

Art. 47.º/3: nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, se a parte, depois
de notificada da renúncia, não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias:

• Suspende-se a instância, se a falta for do autor ou do exequente;

• O processo segue os seus termos, se a falta for do réu, do executado ou do


requerido, aproveitando-se os atos anteriormente praticados;

• Extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer


ação, se a falta for do requerente, opoente ou embargante.

O autor está interessado em que o processo prossiga. Por isso, se não constituir novo
mandatário, a instância fica suspensa e, mais tarde, será considerada deserta (art. 281.º/1).
Se foi o réu que não constituiu novo mandatário, não se pode suspender a instância,
porque isso seria do seu interesse. Neste caso, o processo seguirá os seus trâmites
aproveitando-se os atos praticados pelo advogado cujo mandato terminou.

Sendo o patrocínio obrigatório, se o réu, o reconvindo, o executado ou o requerido não


puderem ser notificados, é nomeado oficiosamente mandatário (art. 51.º/3 + art. 47.º/4).

5. Patrocínio a título de gestão de negócios.

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Em caso de urgência – que deve ser alegada -, o patrocínio pode ser exercido como gestão
de negócios (art. 49.º/1). Esta dá-se quando uma pessoa assume a direção de negócio
alheio no interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autorizada (art. 464.º
CC).

Esta supõe a falta de procuração ou mandato. Esta falta equipara-se à nulidade da


procuração ou mandato, ou ao seu excesso.

A gestão de negócios representa uma intromissão não autorizada na esfera jurídica de


outrem que pode trazer prejuízos ao titular (art. 466.º CC).

A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar, sob pena de o gestor
ser condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte
contrária ou à parte cuja gestão assumiu (art. 49.º/2).

A não ratificação determina que fiquem sem efeito os atos praticados pelo gestor.

O despacho que fixar o prazo para a ratificação é notificado pessoalmente à parte cujo
patrocínio o gestor assumiu (art. 49.º/3).

A gestão de negócios não se confunde com os casos em que, apesar de ainda não existir
procuração, já existe um contrato de mandato e, portanto, também autorização para o
mandatário intervir. Neste caso, o advogado age como mandatário, embora ainda sem
procuração, que terá de apresentar no prazo que lhe for fixado.

6. Falta ou irregularidade do mandato. Consequências.

Art. 41.º: se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a constituição, o tribunal
oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, fá-lo-á notificar para o constituir
dentro de prazo certo.

Se o vício não for sanado dentro do prazo fixado, o juiz proferirá despacho de absolvição
do réu da instância, quando a falta é do autor.

Se o mandatário em falta for o do réu e não for sanada a falta no prazo acima referido,
ficará sem efeito a defesa que tiver apresentado.

Se a falta de advogado constituído se verificar na fase de recurso, este não terá


seguimento.

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# Não se pode confundir a falta de constituição de advogado com a falta de


procuração prevista no art. 48.º/1. Neste caso, o ato processual foi praticado por
advogado, mas este não juntou aos autos a respetiva procuração. O juiz fixar-lhe-á um
prazo para o fazer. Se a procuração que junta agora ao processo tem data anterior ao ato
praticado, a junção virá tudo sanar. Se a procuração foi passada com data posterior, a
parte terá de ratificar o ato praticado pelo advogado.

7. Responsabilidade do mandatário.

O advogado tem o dever de não advogar contra o direito, não usar de meios ou
expedientes ilegais, nem promover diligências reconhecidamente dilatórias, inúteis
ou prejudiciais para a correta apreciação da lei ou a descoberta da verdade (art.
85.º/2 da Lei 15/2005, de 26/1).

Quando se reconheça que o mandatário da parte teve responsabilidade pessoal e direta


nos atos pelos quais se revelou a má fé na causa, dar-se-á conhecimento do facto à Ordem
dos Advogados ou à Câmara dos Solicitadores, para que estas possam aplicar as sanções
respetivas e condenar o mandatário na quota-parte das custas, multa e indemnização que
lhes parecer justa (art. 545.º).

O advogado que, por ação ou omissão, violar dolosa ou culposamente os seus deveres
consagrados no Estatuto comete infração disciplinar (art. 110.º Estatuto).

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