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Uma

Impressionante
História
Verídica Que
Poderá Mudar
Sua Vida
Para Sempre

Moody Adams
Uma Impressionante História
Verídica Que Poderá Mudar a Sua
Vida Para Sempre

Moody Adams

Obra
Missionária

‹Chamada da Meia-Noite›
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Fone: (51) 3241-5050 · FAX: (51) 3249-7385
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Os testemunhos e as homenagens deste
livro foram publicados originalmente na Escócia
em 1912. John Climie os compilou e editou a
pedido do irmão de John Harper, George.

Traduzido do original em inglês:


“The Titanic’s Last Hero”
Copyright © 1997
by the Moody Adams Evangelistic Association

publicado por
The Olive Press
Columbia, SC 29228
EUA

Tradução: Lailah Fernandes Pinto


Revisão: Ingo Haake
Joyce de Lima Silva
Capa e Layout: Reinhold Federolf

Todos os direitos reservados


para os países de Língua Portuguesa
© 1998 Obra Missionária
Chamada da Meia-Noite
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Composto e impresso em oficinas próprias

“Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito:


Eis o noivo! saí ao seu encontro” (Mt 25.6).
A “Obra Missionária Chamada da Meia-Noite”
é uma missão sem fins lucrativos, que crê em
toda a Bíblia como infalível e eterna Palavra de
Deus (2 Pe 1.21). Sua tarefa é alcançar todo o
mundo com a mensagem de salvação em
Jesus Cristo e aprofundar os cristãos no conhe-
cimento da Palavra de Deus, preparando-os
para a volta do Senhor.
DEDICADO A
Bill Guthrie,
DE GLASGOW, ESCÓCIA.
Um crente zeloso que manteve viva a história de
John Harper. Ele coletou materiais, entrevistou amigos
e até foi ao enterro da filha de John Harper.
Sem a sua pesquisa e seu trabalho, este livro não
seria possível. Ele prestou um grande serviço para a
obra de Jesus Cristo.
Índice Página
1. Morrer com Honra ......................................................... 15
2. A Fomação de um Herói................................................. 29
3. Meu Irmão Como Eu o Conhecia..................................... 45
4. Ele Saiu da Classe dos Trabalhadores.............................. 65
5. “Ele não Podia Viver sem Ganhar Almas”........................ 71
6. Nunca mais Haverá Outro.............................................. 77
7. “O Comovente Zelo e a Dedicação do Homem” ............... 85
8. Um Soldado Valente Dedicado a Deus............................. 93
9. Deus o Encarregou a Ser a Última Testemunha do Titanic .. 97
10. Uma Visão Impressionante.............................................. 101
11. Um Homem de Conselho Terno e Encorajador.................. 105
12. Quando Ele Falava, Almas Clamavam por Misericórdia ... 107
13. A Passagem de Despedida de John Harper...................... 113
14. Os Três Temas de um Herói ............................................. 119
15. “John Harper Levou a Mim e a Minha Esposa a Cristo” .... 125
16. Um Alcoólatra Encontrou Libertação................................ 133
17. “John Harper Foi um Pai Para Mim”................................ 137
18. Uma Dívida de um Pobre Pródigo a John Harper ............. 141
19. Um Pecador “Atolado na Lama” é Purificado ................... 145
20. Harper Derrotou o “Poder de Rebelião” ........................... 149
21. As Palavras de Harper Deram Plena Convicção de
Minha Culpa ................................................................. 153
22. “Harper Mostrou-me que Precisava de Cristo”.................. 155
23. Uma Mensagem de John Harper ..................................... 157
24. Bela Manhã................................................................... 161
25. “Os Escolhidos de Cristo” (Esboço de sermão de Harper).. 163
26. “Quem é o Tolo?” (Esboço de sermão de Harper) ............. 165
27. “Amor Inesquecível” (Esboço de sermão de Harper) ......... 167
28. “Tão Grande Salvação” (Esboço de sermão de Harper) .... 169
Prefácio
John Harper havia morrido há 85 anos quando seu
testemunho impactou a minha vida totalmente. Em
1997, eu estava na Igreja Batista Memorial Harper em
Glasgow, Escócia. Ali conheci Bill Guthrie, membro da
igreja, que tinha um conhecimento fantástico de Harper.
Guthrie me forneceu uma cópia rara do livro original de
Harper, documentos da igreja e registros relacionados a
pessoas cujas famílias conheceram esse herói escocês.
Por causa da minha experiência pessoal com a histó-
ria de Harper, decidi passá-la adiante para o máximo de
pessoas possível. Isso é feito com a convicção de que a
vida de John Harper é capaz de deixar uma marca per-
manente sobre todos aqueles que conhecerem a sua pas-
sagem dedicada por este mundo.
Harper era como um gigante de altruísmo num mun-
do onde a maioria dos homens está preocupada em ser
“o número um”, um gigante num mundo onde a maioria
dos homens não está disposta a se privar, um gigante da
paixão pelas almas num mundo onde poucos homens
realmente desejam a salvação do seu próximo.
Os testemunhos e as homenagens neste livro foram
impressas sob o título de John Harper: Um Homem de
Deus. John Climie escreveu o prefácio de 1912, o se-
gundo capítulo e compilou os comentários de amigos e
convertidos que conheceram John Harper. Eles foram
escritos a pedido do Pastor George Harper, irmão de
John Harper. Esses depoimentos originais foram pouco
modificados para preservar o estilo escocês de 1912.
10 • O Último Herói do Titanic

Joseph Addison, um escritor inglês, disse: “Coragem


e compaixão ilimitados... fazem o herói e o homem
completos”. Harper personificou a coragem e a compai-
xão que fizeram o completo herói.
Moody Adams
PREFÁCIO DO LIVRO

John Harper:
Um Homem de Deus
PUBLICADO EM 1912
A publicação deste volume foi realizada a pedido do
Pastor George Harper, que deu assistência muito valio-
sa, e cuja homenagem terna e amorosa à memória do
seu irmão despertará interesse especial. Como a biogra-
fia é composta principalmente de homenagens de vários
autores, foi impossível evitar a repetição. Mas conside-
rou-se apropriado que as homenagens apareçam tal qual
foram escritas, já que cada contribuinte escreve do seu
próprio ponto de vista.
O naufrágio do Titanic com sua carga viva causou la-
mentação em todo o mundo civilizado. A idéia de 1.522
vidas perdidas no naufrágio de um só navio é totalmen-
te estarrecedora. Mesmo depois do grande navio estar
no fundo do mar, os jornais, sem saberem o que tinha
acontecido, anunciavam que o Titanic era “absoluta-
mente insubmergível”. Mas as forças da natureza foram
demais para o gigantesco transatlântico. As águas nas
regiões polares, com o vento cortante do norte, solidifi-
caram-se, e daquela região ártica veio flutuando o enor-
me iceberg que rasgou o casco do navio e o levou para
o seu túmulo no oceano. “Pelo sopro de Deus se dá a
geada, a as largas águas se congelam” (Jó 37.10). O
iceberg estreitou a extensão do Atlântico, e o grande na-
vio foi lançado para o fundo do mar. O fato do Sr. Har-
12 • O Último Herói do Titanic

per ter sido levado no auge da sua carreira deixou mui-


tos perplexos.
Aventuramo-nos muitas vezes nos últimos anos a pre-
ver para ele um futuro de grande utilidade, mas

“Não sabemos o que nos espera.


Deus encobre nossos olhos com bondade”.

Prostramos nossas cabeças com reverência sob a


sombra dessa grande calamidade que roubou alguém
que viveu não para si mesmo, mas para a glória dAque-
le que o redimiu com Seu próprio sangue precioso.
Espera-se que esta pequena recordação de uma vida
dedicada a Deus e ao bem do seu próximo leve bênçãos
consigo, e seja um incentivo para muitos. Nesta espe-
rança, ela é lançada.
John Climie
197 St. Andrew’s Road, Glasgow
John Harper

À medida em que as chamas de outras ambições se


apagavam e extinguiam, a de John Harper ardia com
mais intensidade mesmo enquanto ele afundava num
túmulo de água. Quando a morte forçava outros a
encararem a insensatez das ambições de suas vidas, o
objetivo de John Harper de ganhar homens para Jesus
Cristo se tornava mais vital ao mesmo tempo em que
ele dava os seus últimos suspiros.
1
Morrer com
Honra

E
nquanto as águas escuras e geladas do Atlântico
enchiam lentamente o convés do Titanic, John
Harper gritava: “Deixem as mulheres, crianças e
descrentes subirem nos barcos salva-vidas.” Harper ti-
rou seu salva-vidas – a última esperança de sobrevivên-
cia – e o entregou a outro homem. Depois que o navio
desapareceu sob a água escura, deixando Harper se de-
batendo nas águas geladas, ouviram-no incentivando os
que estavam à sua volta a confiar em Jesus Cristo.
Era a noite de 14 de abril de 1912, uma noite de he-
róis, e John Harper foi um deles. Apesar das águas que
o tragavam serem extremamente frias e do mar à sua
volta estar escuro, John Harper deixou este mundo nu-
ma resplandecente glória.
Os atos de coragem de Harper foram espontâneos.
Ele não tinha motivo para imaginar que o Titanic afun-
daria, nem tempo para escrever um roteiro. Uma revista
comercial, The Shipbuilder, descreveu o Titanic como
“praticamente insubmergível”. No dia 31 de maio de
16 • O Último Herói do Titanic

1911, um empregado da Companhia de Construção Na-


val White Star disse: “Nem mesmo o próprio Deus pode
afundar esse navio”. O Titanic representava toda a segu-
rança, elegância e confiança da era vitoriana-edwardia-
na. A Associated Press era entusiasta do navio, decla-
rando: “Tudo que a riqueza e a habilidade modernas po-
diam produzir estava incorporado no Titanic, o navio
mais longo já construído, com mais de 4 quadras de
comprimento... com acomodações para uma tripulação
de 860 pessoas e capacidade para 3.500 passageiros, ele
foi construído com o mesmo cuidado dedicado aos me-
lhores cronômetros”. A ostentação e o tamanho recorde
do Titanic impressionaram a era dourada da construção
naval. Seus motores de 50.000 HP que produziam a ve-
locidade de 24 nós por hora eram protegidos por dezes-
seis compartimentos estanques. Cada um era protegido
por estruturas de aço. Na época do seu lançamento, o
Titanic era o maior objeto móvel manufaturado do
mundo. Depois de fazer as duas primeiras paradas para
passageiros e correio em Cherbourg e Queenstown, Ir-
landa, os passageiros se sentiram ainda mais seguros.
Harper escreveu numa carta para seu amigo Charles Li-
vingstone antes de atracar em Queenstown, dizendo:
“Até agora a viagem é tudo que se pode desejar.”
Às 11:40 da noite de 14 de abril de 1912, um iceberg
rasgou o lado estibordo do navio, jogando gelo por todo
o convés e arrebentando seis compartimentos estan-
ques. O mar se infiltrou. A maioria dos passageiros não
acreditava que o Titanic afundaria até que a tripulação
começou a lançar foguetes de sinalização para o alto.
Charles Pellegrino disse: “A água brilhou por todos os
lados. Barcos salva-vidas podiam ser vistos nela... Na-
quele enorme facho de luz artificial, as mentes também
Morrer com Honra • 17

foram iluminadas. Todos entenderam a mensagem dos


foguetes por si próprios”. Depois dos foguetes, ninguém
precisava ser convencido a entrar nos barcos salva-vi-
das. De repente, quando a água alcançou a metade da
ponte de comando, um estrondo que parecia um milhão
de pratos quebrando, cortou a noite. Enquanto a popa
do Titanic subia alto no céu para se preparar para seu
mergulho ao fundo do mar, um barulho terrível como
uma explosão abalou o ar da noite. Passageiros davam-
se as mãos e se jogavam na água. Às 2:20 da manhã o
Titanic começou sua descida lenta para o fundo do mar,
deixando uma nuvem emergente de fumaça e vapor aci-
ma do seu túmulo. Nas águas geladas do Atlântico Nor-
te, na calada da noite, o navio mais famoso do mundo
terminou sua primeira e última viagem, mas alcançou
uma mística náutica que só perde para a da arca de Noé.
Tudo aconteceu tão rápido, que Harper só pôde reagir.
Sua reação deixou um exemplo histórico de coragem e
de fé. “Os heróis da humanidade”, disse A. P. Stanley,
“são como as montanhas, como os planaltos do mundo
moral”. John Harper foi um desses heróis.

A Parte Mais Difícil do Seu Heroísmo


Nunca é fácil assumir tais ações heróicas, e para John
Harper foi excepcionalmente difícil. Sua filha pequena,
Nana, estava viajando com ele. Quatro anos antes, a
mãe dela adoeceu e morreu. Agora, Harper sabia, Nana
ficaria órfã aos seis anos de idade.
Quando o alarme indicou o fim do Titanic, Harper
imediatamente entregou Nana a um capitão do convés
com ordens para colocá-la num barco salva-vidas. En-
tão ele saiu para socorrer os outros. Nana foi resgatada
18 • O Último Herói do Titanic

e mandada de volta à Escócia, onde cresceu, casou-se


com um pastor, e dedicou toda a sua vida ao Senhor a
quem seu pai tinha servido.
Certa vez, depois de Harper escapar por pouco de se
afogar aos 26 anos, ele disse: “O medo da morte não me
preocupou em momento algum. Eu acreditava que a
morte súbita seria glória súbita, mas havia uma menini-
nha sem mãe em Glasgow”. Agora, essa menininha fi-
caria sem mãe e sem pai. Com certeza essa foi a parte
mais difícil para Harper.

O Herói em Contraste
O heroísmo altruísta desse escocês é acentuado pe-
la conduta contrastante de muitos colegas passageiros
nessa viagem mortal. Enquanto Harper entregava seu
colete salva-vidas, um banqueiro americano conseguiu
colocar um cachorro de estimação num barco salva-vi-
das, deixando 1.522 pessoas sem ajuda. Não havia um
espírito de “afundar com o navio”. Dos 712 salvos,
189 eram, inclusive, homens da tripulação. O coronel
John Jacob Astor tentou escapar com sua mulher num
barco salva-vidas e foi detido pelo segundo-oficial
Charles Lightoller. Astor era o homem mais rico do
mundo, mas isso foi insuficiente para forçar a sua en-
trada num simples barquinho salva-vidas. Daniel Buc-
kley se disfarçou de mulher na tentativa de conseguir
um lugar no barco. Os passageiros da primeira classe,
no primeiro barco salva-vidas a ser baixado, se recu-
saram a voltar e recolher pessoas que estavam se afo-
gando, apesar de haver espaço para muitos outros se-
rem salvos. A Sra. Rosa Abbott, a única mulher a afun-
dar com o navio e sobreviver, disse que um homem
Morrer com Honra • 19

tentou subir nas suas costas forçando-a para baixo da


água e quase afogando-a.
O Sr. Bruce Ismay, um dos donos do Titanic, diretor
administrativo da Companhia White Star e o responsá-
vel por não haver barcos salva-vidas [suficientes] a bor-
do, tornou-se o marinheiro mais infame desde o Capitão
Bligh. Ele subiu num barco salva-vidas enquanto cente-
nas de mulheres permaneceram no navio condenado. O
Capitão Smith ordenou a seus homens: “Façam o me-
lhor que puderem para as mulheres e crianças, e cada
um cuide de si”. Ao mesmo tempo, John Harper man-
dava os homens fazerem o que podiam para as mulheres
e crianças e cuidarem dos outros.

Uma Ambição Inabalável


Quando o monstruoso iceberg partiu as ambições
dos outros em pedaços, Harper demonstrou sua am-
bição inabalável que nem a morte podia afetar. Ele
declarou Jesus Cristo como a esperança do homem
até o fim, ao contrário de outros que foram forçados
a encarar a insensatez de suas ambições. Um certo
Sr. Hoffman raptou seus filhos, Lolo e Momon, que
ficaram conhecidos como as “crianças abandonadas
do Titanic”. Seu único desejo fora tirar suas crianças
de perto da mãe. Mas, diante da morte, ele as colo-
cou num barco salva-vidas, certificando-se de que elas
voltariam para a mãe delas em Nice, França. John
Phillips, um tripulante presunçoso, mandou o navio
The Californian “calar a boca” depois que este en-
viou pelo rádio o sexto aviso de icebergs no trajeto
do Titanic. Ao encarar a morte, sua presunção desa-
pareceu e ele clamou: “Deus me perdoe... Deus me
20 • O Último Herói do Titanic

perdoe”. O pai de Michel e Edmond Navratil levou


seus dois meninos a bordo do Titanic numa viagem
sem volta para a América a fim de escapar para sem-
pre da esposa, que ele tinha pego tendo um caso com
um oficial de cavalaria italiano. Abandonando sua am-
bição, Navratil colocou seus meninos num barco sal-
va-vidas. Suas últimas palavras foram: “Digam à sua
mãe que serei sempre dela”.
O projetista do Titanic passou os momentos finais da
sua vida no salão de fumar, observando um painel na
parede que dizia: “O Novo Mundo Por Vir”. Seu colete
salva-vidas foi deixado de lado, demonstrando o fim do
que fora um belo sonho por parte dele, dos donos do
navio e do público.
A Sra. Isador Straus, cujo marido era dono da Loja
de Departamentos Macy’s, não entrou num barco salva-
vidas. Ela disse ao seu marido: “Onde você for, eu
vou”; ajudou sua criada a entrar no barco número oito e
colocou seu casaco de pele nos seus ombros, dizendo-
lhe: “Mantenha-se aquecida. Eu não vou precisar dele”.
Benjamin Guggenheim e seu criado Victo Giglio
apareceram no convés em trajes de gala como dois
comediantes orgulhosos, dizendo: “Nos vestimos com
o melhor e estamos preparados para afundar como
cavalheiros”.
Jogadores de cartas trapaceiros, que viajavam com
identidades falsas e tinham roubado $30.000 dos passa-
geiros, pararam com suas trapaças. O instrutor T. W.
McCawley, que estava ensinando pessoas a montar em
cavalos e camelos mecânicos, interrompeu suas aulas.
O fascínio das camas luxuosas, lareiras, banhos turcos
com câmaras refrigeradas douradas e da primeira pisci-
na construída num transatlântico terminou. Passageiros
Morrer com Honra • 21

no salão da primeira classe cessaram as suas festas e


desfilaram no convés com coletes salva-vidas sobre os
trajes de gala. As reuniões de negócios pararam. O fa-
latório das socialites cessou. Mas, com o seu último
suspiro, John Harper, sem desanimar, continuou o tra-
balho da sua vida: convencer homens a “crer no Senhor
Jesus Cristo”.

Harper Conhecia Bem os Terrores do


Afogamento
A coragem de Harper não vinha da ignorância. Pro-
vavelmente ninguém no Titanic conhecia tão bem os
terrores do afogamento como John Harper. Aos dois
anos de idade ele caiu num poço e foi ressuscitado a
tempo por sua mãe. Aos vinte e seis anos, Harper foi le-
vado a alto mar por um correnteza e sobreviveu por
pouco. Aos trinta e dois anos ele encarou a morte num
navio com vazamento no Mediterrâneo. Talvez essa fos-
se a maneira de Deus testar esse servo para a sua mis-
são de último aviso no Titanic.
Harper já sabia o que centenas de pessoas desco-
briram naquela noite trágica – afogamento é uma mor-
te terrível. Will Murdoch, o primeiro-oficial do Tita-
nic, foi incapaz de enfrentar uma morte lenta na água
e se matou com um tiro quando a ponte de coman-
do afundou. Muitos dos 1.522 homens, mulheres e
crianças abandonados a bordo gritaram até ficar num
silêncio terrível. Em contraste, um John Harper con-
fiante encarou a morte com segurança absoluta de
que Jesus derrotou a morte e deu-lhe a dádiva da vi-
da eterna. Essa segurança ultrapassou os terrores do
afogamento.
22 • O Último Herói do Titanic

A Paixão de Toda a Sua Vida


O heroísmo de Harper não foi apenas um momento
glorioso de uma vida sem atos heróicos. Ele amou, cho-
rou, orou e trabalhou pelos outros durante toda a sua vi-
da. Harper recuperou alcoólatras, jogadores, e brigões.
Como pastor, às vezes, passava a noite inteira na sua
igreja orando pelas suas centenas de membros indivi-
dualmente. Harper trabalhava dia e noite, nos lares e
nas ruas, indicando uma vida melhor para os desampa-
rados. Ele trabalhava sem cessar entre os pobres, procu-
rando ajudá-los.
A labuta fatigante de Harper era realizada apesar de
sua má saúde. No verão de 1905, a enfermidade o inca-
pacitou por seis meses, acabou com sua saúde e roubou
sua bela e ressonante voz. Seu corpo nunca mais foi o
mesmo, restando apenas um esqueleto do homem que
fora. A pele pálida, o corpo frágil e as enfermidades
constantes de Harper eram as marcas de alguém que se
recusava a parar para descansar. Porém, apesar da má
saúde e do corpo cansado, Harper era sagaz e alegre.
Esse servo dedicado era conhecido por ser “glorificado
na sua fraqueza”. Na noite anterior ao naufrágio do Ti-
tanic, enquanto os outros jogavam e descansavam, John
Harper foi visto no convés do navio tentando com todo
zelo levar um rapaz a crer em Cristo.

Harper Teve uma Oportunidade de


Escapar do Titanic
Os atos heróicos de John Harper no Titanic assumem
uma dimensão maior quando se considera sua oportuni-
dade de ter evitado o desventurado navio. A princípio
estava marcado que Harper iria no navio Lusitania para
Morrer com Honra • 23

pregar na Igreja Memorial Moody em Chicago. Ao in-


vés disso, ele se levantou e informou aos homens da
Missão Seaman’s Center em Glasgow que os planos fo-
ram mudados e ele partiria no Titanic para a Igreja Me-
morial Moody de Chicago. Em 1911, ele havia tido as
melhores conferências desde os dias do grande D. L.
Moody, e a igreja o convidou novamente para três me-
ses de reuniões.
O Sr. Robert English levantou-se numa reunião no
Seaman’s Center e suplicou que Harper não viajasse pa-
ra Chicago. English disse a Harper que estava orando e
teve um pressentimento de que aconteceria um desastre
se ele fizesse essa viagem. Ele se ofereceu para pagar a
passagem se Harper adiasse a sua viagem. Vários ou-
tros testemunharam o fato de que English insistiu com
Harper, inclusive Willie Burns, que estava presente na
reunião em Glasgow, e as duas netas de English, Mary
Whitelaw e Georgina Smith, ambas membros da Igreja
Memorial Harper.
As palavras de English foram muito semelhantes às
palavras ditas ao apóstolo Paulo por um profeta cha-
mado Ágabo 1.900 anos antes. Ágabo atou suas mãos
e seus pés, dizendo: “Assim os judeus, em Jerusa-
lém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas
mãos dos gentios”. A recusa de Harper de voltar atrás
foi muito parecida com a reação de Paulo: “Que fa-
zeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois
estou pronto não só para ser preso, mas até para
morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus”
(Atos 21.10-13). Ambos, Paulo e Harper, tinham um
senso de propósito divino com relação às suas viagens,
e ambos estavam dispostos a morrer para realizar es-
se propósito.
24 • O Último Herói do Titanic

As advertências proféticas dadas a esses dois homens


de Deus indicam que o Senhor aprovou seu sacrifício. A
advertência de Ágabo deu um senso de propósito divino
a Paulo quando ele viajou a Jerusalém onde pregaria o
Evangelho, seria preso e condenado à morte. A adver-
tência do Sr. English deu a Harper o mesmo senso de
propósito divino quando ele se tornou a testemunha fi-
nal num navio da morte.

No Final só Havia Duas Classes


de Passageiros
Depois que o Titanic afundou, o escritório da White
Star em Liverpool, Inglaterra, colocou um grande pai-
nel de cada lado da entrada principal. Em um deles es-
creveram com letras grandes: “Identificados como Sal-
vos”, e no outro: “Identificados como Desaparecidos”.
Quando a viagem do Titanic começou havia três clas-
ses de passageiros. Mas, quando ela terminou o núme-
ro foi reduzido a duas – os que foram “salvos” pelos
barcos salva-vidas e os que ficaram “perdidos” nas
águas profundas.
Parentes e amigos dos passageiros do navio espera-
vam do lado de fora do escritório da White Star. Quan-
do notícias sobre um passageiro chegavam, seu nome
era escrito num pedaço de papelão. Então um emprega-
do levava o nome até o portão. De frente para a multi-
dão ele levantava o papelão; a multidão ficava num si-
lêncio mortal. Todos observavam ansiosamente para ver
em qual dos painéis o nome seria colocado.
John Harper mergulhou na morte com desprendimen-
to total, sabendo que estaria entre os passageiros perdi-
dos. Mas ele tinha certeza absoluta de que seu nome es-
Morrer com Honra • 25
26 • O Último Herói do Titanic

taria na lista dos “salvos” diante do trono de Deus. Lor-


de Mercer expressou assim a atitude de Harper com re-
lação à morte: “Numa única noite, entre o anoitecer e o
amanhecer, durante algumas poucas horas de incons-
ciência de muitos que dormiam tranqüilamente, parti-
ram desta terra centenas de vidas, algumas ricas em
promessas e futuros aparentemente felizes, levando com
elas todas as esperanças de outras pessoas. Mas a cons-
tância e a coragem cristãs, a renúncia absoluta e o he-
roísmo inabalável com que tantos encararam seu fim,
nos ajudam a perceber que a morte não é o fim de todas
as coisas e que esta vida é apenas a entrada para a vida
verdadeira, que ela é apenas o portal da eternidade”.

O Último Convertido de John Harper


Duas horas e quarenta minutos depois do Titanic co-
lidir com o iceberg, ele afundou nas águas geladas.
Centenas se ajuntaram em barcos e botes salva-vidas, e
outros se agarraram a pedaços de madeira esperando
sobreviver até que chegasse socorro. Durante cinqüenta
minutos horríveis os gritos de socorro encheram a noi-
te. Eva Hart disse: “O som das pessoas se afogando é
algo que não posso descrever para você. E ninguém
mais pode. É um som horrível. E há um silêncio terrível
que o segue”. O sobrevivente coronel Archibald Gracie
chamou isso de “a cena mais lastimável e horrível de
todas. Os gritos comoventes dos que estavam à nossa
volta ainda soam nos meus ouvidos, e eu me lembrarei
deles para o resto da minha vida”.
Durante aqueles 50 minutos, um homem agarrado a
uma tábua chegou perto de John Harper. Harper, que
estava se debatendo na água, gritou: “Você é salvo?” A
Morrer com Honra • 27

resposta foi: “Não”. Harper gritou as palavras da Bíblia:


“Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. Antes de
responder, o homem sumiu na escuridão.
Mais tarde, a correnteza os aproximou novamente.
Mais uma vez Harper, que estava morrendo, gritou a
pergunta: “Você é salvo?” Mais uma vez ele recebeu a
resposta: “Não”. Harper repetiu as palavras de Atos
16.31: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”.
Harper, que estava se afogando, soltou, então, as mãos
do objeto em que se segurava na água gelada e desceu
para seu túmulo no oceano. O homem que ele tentou
evangelizar confiou em Jesus Cristo. Mais tarde ele foi
socorrido pelos barcos salva-vidas do navio S.S. Carpa-
thia. Em Hamilton, Ontario, este sobrevivente testemu-
nhou que foi o “último convertido” de John Harper.
O último convertido de Harper foi alcançado pelas
últimas palavras de Harper: “Crê no Senhor Jesus
Cristo e serás salvo”.
Houve muitos heróis no Titanic, mas ajudando os ou-
tros enquanto se afogava, John Harper foi o último.
A pequena Nana

Uma coisa ele fazia,


e a fez até o fim – ele se esforçou para trazer
os homens do pecado até Deus.
2
A Formação de
um Herói
John Climie

F
az cerca de vinte anos, talvez um pouco mais, que
conhecemos o Sr. Harper pela primeira vez. Nossa
lembrança mais antiga dele era dos seus trabalhos
no Evangelho em Bridge-of-Weir. Na época ele só pare-
cia um rapaz crescido. Mas naquele tempo, como du-
rante toda a sua carreira pública, a chama do Senhor ar-
dia intensamente no seu coração.

A Conversão de John Harper


Ele nasceu em Houston, Renfrewshire, no dia 29 de
maio de 1872, e foi no último domingo de março de
1886, quando tinha treze anos e dez meses de idade, que
aceitou Jesus. Ele nunca foi um rapaz de confusão. Sua
juventude desde a pré-adolescência foi moldada e prote-
gida por sua fé no Senhor Jesus Cristo. O amor de Deus
foi derramado no seu coração, e permeou sua vida com-
30 • O Último Herói do Titanic

pletamente, formando seus pensamentos, induzindo à


ação no momento certo, e preservando-o do mal que está
neste mundo. Foi através de João 3.16: “Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho uni-
gênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”, que o caminho da salvação ficou
claro no seu coração e na sua mente. Esse tem sido o
meio de iluminar multidões. Foi o que o iluminou, e o li-
bertou do medo. “O perfeito amor lança fora o medo”.
Ele recebeu a verdade por amá-la, e a verdade o li-
bertou. Nas palavras esclarecedoras daquele texto, ele
viu Jesus como a dádiva de Deus oferecida ao mundo
inteiro, e, portanto, para ele como habitante deste mun-
do. Ele recebeu essa dádiva com ações de graça, e uma
nova vida começou.
Aqueles que dirigiam o culto em que ele aceitou o
Salvador foram abençoados com muitas conversões, mas
convertidos como John Harper são raros. Às vezes há
grande júbilo e muitos aleluias quando um pecador no-
tório se converte, mas, infelizmente, muitas vezes a ale-
gria dura pouco. Algumas pessoas por quem houve mui-
to regozijo, mais tarde provaram ser pouco confiáveis.
Não se sabe se houve alegria especial quando o me-
nino do interior aceitou Jesus naquela noite, mas depois
que recebeu a Palavra, ele a guardou num coração sin-
cero, e mais adiante deu frutos com paciência. A pala-
vra de João 15.16 poderia se referir a ele: “eu vos esco-
lhi a vós outros e vos designei para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça”.
Não é necessário que os homens tenham se afundado
no pecado para terem utilidade especial para Cristo de-
pois que a graça redentora de Deus os tenha alcançado.
No exercício do seu ministério público, o Sr. Harper ja-
A Formação de um Herói • 31

mais se afastou de Deus caindo profundamente em pe-


cado. Contudo, ele foi o instrumento de Deus para levar
ao Salvador muitos que estavam totalmente extraviados.
Desde o começo ele foi claramente, pela vontade de
Deus, “um vaso para honra, santificado, e adequado pa-
ra o uso do Mestre”.
É para o louvor do Senhor que Deus pode e consegue
mudar as vidas de homens degradados e infames, dan-
do-lhes um lugar de honra e distinção na Sua obra. Mas
as ações malignas deles antes da conversão, às vezes,
são uma armadilha para eles depois da conversão, ao in-
vés de um auxílio no serviço para Cristo. Uma vida pu-
ra antes da conversão é um recurso valioso.

A Herança de Pais Tementes a Deus


John Harper nasceu e foi criado num lar cristão, co-
mo será relatado mais tarde neste livro. Seus pais, po-
bres neste mundo, eram herdeiros do Reino que Deus
prometeu aos que O amam. Quanto mais lares cristãos,
melhor, não só para a igreja, mas para a nação também.
Ser criado no cuidado e conselho do Senhor, num am-
biente de oração e de reverência à Palavra de Deus, é
ser selado na juventude com marcas que são de grande
valor, apesar de ocasionalmente os resultados esperados
demorarem a aparecer.
Ser criado no temor de Deus é uma herança de valor
inestimável. Apesar de ter sido num domingo à noite em
março de 1886 que o menino de quase quatorze anos
aceitou a Cristo, havia todas as marcas dos anos anterio-
res guardadas na sua mente jovem. Não foi em vão que
ele ouviu durante esses anos marcantes as orações e sú-
plicas de seu pai e a exposição da Palavra de Deus na-
32 • O Último Herói do Titanic

quele lar simples. A lenha foi colocada na lareira do seu


coração, e eis que naquela noite de domingo uma fagu-
lha de amor divino caiu sobre ela, e a chama se acendeu.

Uma Experiência Marcante na Vida


de Harper
Durante os quatro anos que se seguiram não houve
nada de especial sobre ele, pelo menos nada que previs-
se a grande utilidade que marcaria sua vida futura. Ele
ia freqüentemente às reuniões bíblicas que eram realiza-
das com entusiasmo por alguns jovens da vila, com a
ajuda de pastores de outros lugares. Ele ficou livre de
amizades comprometedoras, e firmou-se na fé modera-
damente e sem ostentação.
Mas depois de quatro anos e quatro meses, quando
tinha acabado de fazer dezoito anos de idade, ele pas-
sou por uma experiência maior. O crescimento é uma
lei do Reino de Deus. Às vezes é bem devagar e quase
imperceptível. Outras vezes é espantosamente rápido.
Alguns homens crescem mais numa hora de temor pe-
rante as coisas de Deus do que outros que levam anos
para crescerem. Seja qual for a nova experiência, é sem
dúvida o Espírito de Deus agindo para o crescimento
em graça, levando a alma a um espaço mais extenso,
ampliando o horizonte, clareando a visão, implantando
ideais mais nobres.

Uma Visão de Esperança


Foi no ano de 1890 que John Harper teve a conscien-
tização que o selou para o ministério público. Ele estava
em casa sozinho num sábado à tarde no mês de junho.
A Formação de um Herói • 33

Ao redor da sua casa na vila, a natureza estava exube-


rante. Junho é o rei dos meses de verão na Escócia. As
flores desabrochavam. Os pássaros cantavam. O sol bri-
lhava. Mas enquanto outros jovens deviam estar pas-
seando nos campos verdes ou pelos riachos, dentro da-
quela casa na vila o Espírito de Deus levava um jovem a
pastos verdejantes e águas de descanso.
Uma clareza arrebatadora foi dada a ele, quase devas-
tadora na sua intensidade, na qual ele viu e sentiu como
nunca havia sentido antes o propósito de Deus na Cruz
de Cristo. No amor de Cristo pelos homens como visto
no Calvário ele admirou, de forma mais completa, uma
porta de esperança aberta para um mundo pecador, e
juntamente com essa revelação nova ele sentiu que
Deus o chamava, e entregava-lhe uma parte no ministé-
rio de reconciliação. No dia seguinte seus lábios esta-
vam abertos. Assumindo sua posição na rua da sua ci-
dade natal, ele começou a compartilhar um apelo fervo-
roso para que os homens se reconciliassem com Deus.

Um Pastor Sem Curso Teológico


Toda instrução que ele recebeu foi obtida no colé-
gio na sua cidade natal, e como muitos outros rapazes
ele não se entusiasmava com a escola. Ele estava an-
sioso por trabalhar, pensando como outros da sua ida-
de que o trabalho é sinal de maturidade. Além disso,
tudo que podia ganhar era necessário em casa. Logo
que pôde sair da escola, suas mãos estavam ocupadas
com o trabalho. Ele trabalhou com jardinagem por um
tempo, mas estava empregado numa fábrica de papel
quando teve a maravilhosa experiência e o chamado
para o ministério.
34 • O Último Herói do Titanic

Nenhuma universidade jamais teve a oportunidade de


moldá-lo. Ele foi treinado pela mão de Deus para o mi-
nistério, não tendo freqüentado curso teológico formal.
Talvez isso tenha diminuído seu “status” aos olhos de
alguns, mas não diminuiu seu zelo pelo bem-estar mo-
ral e espiritual do seu próximo. E, afinal, não é o que o
homem adquire com a escolaridade, mas o que o ho-
mem realiza que tem valor entre homens justos.

A Palavra de Deus era Sua Doutrina


Ele tinha uma mente organizada, o que ficou mais
evidente com o passar do tempo, e era um estudante de-
dicado de obras teológicas. Quando jovem, absorveu
muito da doutrina calvinista, mas do tipo muito rígido e
restrito. Porém, à medida em que cresceu em graça e
conhecimento, sua mente se expandiu, e não teve difi-
culdade em crer em qualquer verdade ou sistema de
doutrina que tivesse base bíblica. Ele adotou e seguiu a
Soberania Divina e o Livre Arbítrio como esses termos
são entendidos popularmente, acreditando que eram ba-
seados na Palavra de Deus. Dizia não saber explicar co-
mo eles co-existem, e não discutia sobre esses termos,
reconhecendo, como os homens mais sábios e dedica-
dos de todas as gerações, que eles são assuntos de fé e
não de debate.
Ele era um estudante zeloso da Bíblia. Lia a Escritura
Sagrada. Meditava nela. Usava qualquer comentário
que pudesse esclarecê-la, ou que o ajudaria a aprender
com ela. Submeteu-se à sua autoridade. Interpretou-a.
Poucos podiam usá-la melhor que ele “para o ensino,
para a repreensão, para a correção, para a educação
na justiça”. Aceitava qualquer forma de doutrina en-
A Formação de um Herói • 35

contrada nela. Fazia isso com persistência. Apegava-se


a toda instrução que ela lhe dava. Ele a amava como à
sua própria vida. Toda doutrina que não se encontrava
nas Escrituras Sagradas, não importava quão bem apre-
sentada, nem por quem fosse proclamada, não era aceita
por ele. “Assim diz o Senhor” era o seu lema.
Ele se firmava na rocha da revelação. As teorias dos
homens eram areia para ele. A Palavra de Deus era ro-
cha. Sempre provava seu valor, e não se envergonhava
de declarar sua fé nela. Sempre citava textos de forma
impressionante, e os homens lembrariam do texto sobre
o qual tinha pregado mesmo que não se lembrassem de
mais nada.
Um homem de negócios em Glasgow lembra-se de
vê-lo num salão em Kilbarchan há cerca de vinte anos
atrás citando 1 João 1.7: “E o sangue de Jesus, seu Fi-
lho, nos purifica de todo pecado”. As palavras “todo
pecado” foram repetidas por ele três vezes, cada vez
com maior ênfase. “Há algo nisso, rapaz”, o senhor dis-
se para si mesmo. Certamente havia, e no tempo deter-
minado esse “algo” foi visto.

Qualquer Esquina Era Seu Púlpito


Quando Deus precisa de um homem para o Seu ser-
viço Ele sabe onde procurá-lo. Ele observa o campo.
Ele vê a necessidade. Ele escolhe o homem. Ele cha-
mou Eliseu do arado, Amós do rebanho, Pedro do barco
de pesca nas margens do Mar da Galiléia, e John Har-
per da indústria de papel. E quando Deus coloca um ho-
mem num cargo, ninguém pode “demiti-lo”. Um lugar
será encontrado para ele quando o dom e o chamado de
Deus se manifestarem, e se não houver lugar para ele na
36 • O Último Herói do Titanic

igreja até que seja provado, testado e confirmado, Deus


encontrará para ele um local de serviço para manifestar
Seu chamado divino.
No serviço de Deus os cooperadores são sempre ne-
cessários, homens que estejam dispostos a trabalhar e
sofrer, gastar e serem gastos, suportar repreensão e pas-
sar por dificuldades como bons soldados de Jesus Cris-
to. John Harper era um cooperador – um cooperador de
Deus (1 Coríntios 3.9), um homem que se dedicava de
coração, alma, força e mente a todo serviço que presta-
va. No início da sua carreira não sonhava com o púlpito
da igreja. Se visse uma esquina vazia, seja qual fosse o
lugar, ele a enchia de ouvintes. Esse era o seu púlpito, e
fazia proveito dele. Por toda a região onde vivia, depois
de receber o revestimento especial de poder do alto,
saiu pregando a história da graça redentora. Bridge-of-
Weir, Kilbarchan, Elderslie, Johnstone, Linwood, e ou-
tros lugares o encontravam à noite depois do dia de tra-
balho terminar, proclamando com esperança vigorosa a
história do amor de Deus aos homens. Seu coração esta-
va incandescente. Uma coisa ele fazia então, e a fez até
o fim – ele se esforçava para trazer homens do pecado
para Deus.
Essa é uma obra que deve continuar, “a história de-
ve ser proclamada.” Os que estão afastados do Senhor
devem ser encontrados, avisados, convidados, e con-
vencidos a abandonar o pecado e seguir a Cristo. Se
um dos servos de Deus é levado, alguém deve estar
atento ao chamado divino para se apresentar e preen-
cher o espaço vazio. Não para servir necessariamente
na mesma área, mas para manter o testemunho vivo.
O número de testemunhas não deve diminuir. Hoje o
mundo precisa do Evangelho tanto quanto antes. O co-
A Formação de um Herói • 37

ração de Deus bate tão forte quanto antes. O sangue


de Jesus é tão eficaz quanto antes. O Espírito de Deus
está tão presente quanto antes, mas infelizmente deve
estar tão entristecido que o Seu poder é menos eviden-
te do que deveria ser. Haverá trabalho enquanto é dia.
Este é o dia da salvação. A noite vem, em que nenhum
homem poderá trabalhar.

“É Maravilhoso Ser Enviado de Deus”


Depois de cinco ou seis anos de dedicação, serviço
evangelístico constante, esforço na fábrica durante o
dia e à noite nos distritos rurais em redor convidando
homens a se prepararem para o encontro com Deus, o
reverendo E. A. Carter da Missão Pioneira Batista de
Londres “descobriu” o jovem pregador e o liberou pa-
ra dedicar todo o seu tempo e toda a sua energia à
obra que tanto amava. Com o patrocínio da Missão,
uma obra batista foi iniciada em Govan, um dos su-
búrbios de Glasgow, onde havia bastante espaço para
um trabalho ativo.
Durante algum tempo, cultos evangelísticos foram
realizados, depois uma igreja foi formada. O culto de
inauguração foi dirigido pelo pastor J. B. Frame, e no
dia seguinte um sermão foi pregado pelo Reitor Mac-
Gregor da Faculdade Dunoon sobre as palavras: “Hou-
ve um homem enviado por Deus cujo nome era
João” (João 1.6). A passagem deve ter provocado sor-
risos, mas era muito adequada à ocasião. Naquele salão
estava um homem que sem dúvida alguma, como resul-
tados futuros provaram, foi enviado por Deus, e seu no-
me era João (John). É maravilhoso ser enviado de
Deus. As referências que tinha consigo eram os sinais
38 • O Último Herói do Titanic

de que Deus já o moldara. Ele não tinha outras. Mas


essas eram suficientes para incentivar a certeza de que
Deus o enviara.
Apesar de jovem na idade, ele já tinha um histórico
confiável. O selo de Deus foi colocado na sua obra nos
diversos lugares onde ele deu um bom testemunho, e
agora em meio a uma multidão acreditava-se que seria
mais útil do que nunca. Essas esperanças não foram
desmentidas. Quando Deus envia um homem Ele pro-
porciona toda a graça necessária. Ele não deixa nada de
bom faltar para aqueles que andam corretamente no ca-
minho da obra à qual Ele os chama. Homens enviados
por Deus com uma mensagem do Evangelho são guar-
diões de um poder que converte pecadores do erro dos
seus caminhos.
Mas se os homens saem antes de Deus enviá-los, tais
resultados não aparecem. Na época de Jeremias, Deus
reclamou através dele daqueles que “falam as visões
do seu coração, não o que vem da boca do Senhor”
(Jeremias 23.16). Sobre eles disse: “Não mandei esses
profetas; todavia, eles foram correndo, não lhes falei
a eles, contudo, profetizaram. Mas, se tivessem esta-
do no meu conselho, então, teriam feito ouvir as mi-
nhas palavras ao meu povo e o teriam feito voltar do
seu mau caminho e da maldade das suas ações” (Je-
remias 23.21-22). Essa é uma descrição dos homens
que não são enviados. Eles não estão no conselho de
Deus. Não afastam as pessoas dos seus maus caminhos,
e das suas ações malignas.
Um homem enviado por Deus proclamará a Palavra
de Deus. Não declarará uma visão do seu próprio cora-
ção. O resultado será que os homens abandonarão seus
caminhos maus, e se prostrarão em arrependimento e
A Formação de um Herói • 39

adoração aos pés dEle, que foi crucificado, mas que


agora é o Salvador glorificado. Sob John Harper os ho-
mens abandonaram seus caminhos maus e suas obras
más. Eles renegaram a impureza e seguiram a santidade
sem a qual ninguém verá o Senhor.
Poderia parecer um evento sem importância para al-
guns a consagração daquele jovem para o ministério
de Deus naquele dia. Mas centenas e centenas de pes-
soas têm razão para agradecer a Deus por terem visto
sua face, ou ouvido sua voz. Durante cerca de dezoi-
to meses ele se esforçou sem cessar em Govan, traba-
lhando, orando, pregando, convidando, tocando os co-
rações e as vidas de alguns com seus apelos sinceros,
e reunindo à sua volta um pequeno grupo de homens
e mulheres que viram nele as marcas de um homem
enviado por Deus.

“Pregando Tudo o que Tinha Direito”


No início do seu trabalho em Govan um dos mem-
bros de um conjunto evangelístico foi enviado como re-
presentante da cidade para falar num culto missionário
em Govan. Quando chegou no cruzamento de Govan,
ele viu um jovem de pé “pregando tudo o que tinha di-
reito”. “Quem é?”, perguntou a um homem que estava
com ele. “Esse é o pastor da Missão Batista”, foi a res-
posta. A impressão que ficou naquela noite, reforçada
mais tarde com conhecimento maior do jovem que esta-
va “pregando tudo o que tinha direito”, segundo ele, le-
vou-o a participar da igreja quando ela foi formada, e
fez dele um dos amigos mais leais do Sr. Harper.
Depois de um ano e meio de trabalho em Govan,
Harper mudou-se para Gordon Halls, na rua Paisley.
40 • O Último Herói do Titanic

Neste lugar, no dia 5 de setembro de 1897, formou-se


uma igreja com 25 membros, alguns dos quais vieram
com ele de Govan. A igreja foi chamada de Igreja Ba-
tista de Paisley Road, o nome que ainda tem. Mas foi
sugerido que deveria chamar-se Igreja Memorial Harper
(e agora ela é conhecida assim).
Homens e mulheres de todas as idades juntaram-se
ao jovem pastor, e sob a sua liderança, a obra foi feita
sem formalidades. Em todos os cultos na igreja fazia-
se o máximo para ganhar homens para Cristo. Do lado
de fora, eram feitas pregações nas esquinas, nos por-
tões de prédios públicos durante as refeições, e sempre
que houvesse alguém para ouvir. A rede era lançada
para todos os lados. O zelo e o entusiasmo dos obreiros
pareciam ilimitados. Almas foram ganhas, a causa
prosperava, o número de membros aumentava. A fé
que age pelo amor e é radiante de esperança, animou
os obreiros, e os levou de vitória em vitória sobre as
forças da incredulidade.
Depois de quatro anos em Gordon Halls, um ter-
reno foi adquirido no distrito de Plantation, e um
galpão de ferro, com capacidade para quinhentas ou
seiscentas pessoas, foi erguido. A obra foi transfe-
rida, tendo esse local como centro, e do lado de
dentro foram vistas maravilhas do poder redentor de
Deus. Uma fonte contínua de misericórdia para per-
doar jorrava nos cultos, e há seis anos atrás o pré-
dio teve que ser ampliado para dar espaço para as
exigências crescentes da obra. Ele fica no meio de
uma população densa de trabalhadores. Ninguém, por
mais próximo da obra realizada jamais poderá saber
completamente quanto bem foi realizado pelo minis-
tério de John Harper.
A Formação de um Herói • 41

“Aquele Homem, o Sr. Harper, Estava


Pregando na Esquina, e Eu Aceitei Jesus”
O superintendente de um grande salão evangelístico
em Glasgow estava visitando há algum tempo atrás um
homem idoso em High Street, a duas milhas de distân-
cia da Igreja de Paisley Road. Perguntaram ao homem,
que tinha 80 anos, se ele confiava em Jesus. Imediata-
mente ele respondeu que sim. Quando perguntaram há
quanto tempo ele confiava no Salvador, ele disse: “No-
ve anos”. “Quantos anos você tinha, então?” “Tinha
acabado de fazer 70 anos”. “E como isso aconteceu?”
“Bem, eu estava passando em Plantation, e aquele ho-
mem, o Sr. Harper, estava pregando na esquina, e eu
aceitei Jesus ali mesmo”. Dentro e nos arredores do dis-
trito onde a igreja se situava, muitas casas foram aben-
çoadas, iluminadas, transformadas, pela pregação do
servo do Senhor, cujo fim tantos lamentam. A igreja
que foi formada com 25 membros tinha quase 500
membros quando, depois de 13 anos de trabalho, ele
foi, em setembro de 1910, assumir os deveres do pasto-
rado na Igreja de Walworth Road em Londres. O culto
de despedida foi inesquecível. O galpão de ferro, que ti-
nha lugar para 900 pessoas, fora muito pequeno para
acomodar todos os que queriam assistir ao culto, e o es-
paço de uma grande igreja na vizinhança foi graciosa-
mente cedido para a ocasião. Ela ficou lotada.

Uma Dedicação Intensa


Ele sempre foi um pregador fervoroso. Nunca foi su-
perficial. Nunca foi um mero falador. Ele sempre foi
um homem que fixava seu olhar na necessidade de al-
42 • O Último Herói do Titanic

mas preciosas. Mas durante os últimos anos do seu mi-


nistério em Glasgow, a sua pregação parecia alcançar
um novo patamar. Havia uma dedicação intensa que
crescia com o passar dos anos. Seu poder de pregação
certas vezes tinha algo extraordinário. Não era simples-
mente quando fazia o apelo para os incrédulos se recon-
ciliarem com Deus, mas também quando exortava os fi-
lhos de Deus a coisas maiores. Sem dúvida, como aque-
les dentre nós que o conheciam podem testemunhar, o
desejo fervoroso e impetuoso que se expressava nas
suas pregações públicas brotava das horas prolongadas
de oração a que ele se dedicava. Ele era antes de mais
nada um homem de oração. Quase um mês antes da sua
morte, quando estava em Glasgow para uma visita, ele
passou meia hora tomando chá com alguns de nós, e a
última palavra que lembramos ter dito foi que a necessi-
dade de hoje era uma vida de oração mais intensa.
Seu breve ministério em Walworth Road foi clara-
mente abençoado por Deus. Melhoras foram feitas. O
número de membros da igreja aumentou. Tudo parecia
prometedor. Novos laços de interesse se formaram. No-
vas amizades foram feitas. Então veio o convite para di-
rigir cultos especiais na Igreja Moody em Chicago du-
rante o inverno passado. Referências ao trabalho notá-
vel aparecem nas últimas páginas deste livro.
Quando voltou para Londres em janeiro, não se acha-
va que ele concordaria em fazer outra visita tão cedo
como programou. Mas ele iria “no começo de abril”,
nos disse duas semanas antes de partir. “Por que vai
voltar já? Certamente não é para dirigir cultos especiais
novamente?”... “Oh, não”, ele disse: “eu vou dirigir os
cultos normais na Igreja Moody, e falar em conferên-
cias e outras reuniões em outros lugares”. Cheio de es-
A Formação de um Herói • 43

peranças ele embarcou no desventurado navio, e no ca-


minho encontrou o seu fim. É isso que devemos dizer?
Não é melhor dizermos que ele encontrou o seu Senhor
no caminho?
Naquela noite de domingo, apenas uma hora ou duas
antes do Titanic colidir com o iceberg, ele olhou para o
céu e vendo um brilho vermelho no oeste, disse: “Vai
fazer um belo dia amanhã”. Sim, faria, mas a beleza
que ele veria não era aquela à qual se referia quando
disse essas palavras. Ele veria a beleza do Salvador.
Depois de pouco tempo de casado, ele perdeu a sua
esposa no começo de 1906. Sua filhinha, Nana, agora
tem seis anos e alguns meses. A bênção do Senhor cer-
tamente estará sobre aquela menininha órfã. “Pai dos
órfãos... é Deus em sua santa morada” (Salmo 68.5).
Pastor George Harper

O medo da morte não me preocupou


por um só momento. Eu cria que morte
súbita seria glória súbita.
John Harper,
depois de quase ter se afogado
aos 32 anos.
3
Meu Irmão Como
eu o Conhecia
Pr. George Harper, Edinburgh

P
a­ra mim, o pas­tor John Har­per, que afun­dou com
as ou­tras mil e qui­nhen­tas e vin­te uma pes­soas na
ines­que­cí­vel ca­tás­tro­fe do Ti­ta­nic no dia 15 de
abril de 1912, era meu ir­mão nos dois sen­ti­dos, na car­ne
e no Se­nhor. Além dis­so, ele era meu úni­co ir­mão na
car­ne. Fo­mos cria­dos jun­tos, nos pros­trá­va­mos jun­tos
em fa­mí­lia, en­quan­to nos­so pai te­men­te a Deus
“...san­to, pai, e ma­ri­do ora­va de joe­lhos dian­te do Rei
eter­no dos céus”.
Quan­do pe­que­nos, dor­mía­mos jun­tos no mes­mo
quar­to, ía­mos pa­ra a es­co­la jun­tos, pes­cá­va­mos jun­tos
no pe­que­no ria­cho que pas­sa­va per­to da nos­sa ca­ba­na.
Sen­tá­va­mos jun­tos na igre­ja da vi­la, e com ape­nas três
me­ses de di­fe­ren­ça nos con­ver­te­mos na mes­ma épo­ca, e
com o pas­sar dos anos man­ti­ve­mos nos­sas cren­ças e
con­vic­ções em as­sun­tos es­pi­ri­tuais, com­par­ti­lhan­do
nos­sas ale­grias e tris­te­zas de to­das as ma­nei­ras. A gran­
46 • O Último Herói do Titanic

de co­lhei­ta de al­mas pre­cio­sas pa­ra o Rei­no do Se­nhor,


que meu que­ri­do ir­mão tes­te­mu­nhou em Chi­ca­go no in­
ver­no pas­sa­do, me en­cheu de ale­gria. Cer­ta­men­te, pois,
não me se­rá le­va­do a mal se eu ci­tar o tex­to: “An­gus­tia­
do es­tou por ti, meu ir­mão John, tu eras ama­bi­lís­si­
mo pa­ra co­mi­go! Ex­cep­cio­nal era o teu amor, ul­tra­
pas­san­do o amor de mu­lhe­res” (pa­la­vras de tris­te­za de
Da­vi pe­la mor­te de Jô­na­tas, 2 Sa­muel 1.26).

Salvo de Afogamento aos Dois Anos de Idade


A pri­mei­ra lem­bran­ça da mi­nha in­fân­cia es­tá as­so­cia­
da a um aci­den­te que acon­te­ceu com meu ir­mão. Es­tá­
va­mos brin­can­do per­to de um po­ço bas­tan­te fun­do em
nos­so quin­tal, quan­do John tro­pe­çou e caiu no po­ço. Na
épo­ca ele ti­nha dois anos e meio. O que eu po­de­ria fa­
zer? Só uma coi­sa, su­bir a es­ca­da e gri­tar: “Mãe, mãe”,
com to­da mi­nha for­ça. Ma­mãe veio ao res­ga­te a tem­po
de sal­var a vi­da de John.
Eu lem­bro bem co­mo ela le­van­tou os pés de­le no ar, e
co­mo a água saia de sua bo­ca. Con­fes­so que foi um mé­
to­do um tan­to pri­mi­ti­vo de rea­ni­ma­ção, mas foi o mé­to­
do de ma­mãe, e fun­cio­nou. Qua­se que John se afo­gou
aos dois anos e meio de ida­de!

Salvo de Afogamento aos 26 Anos de Idade


Vin­te e qua­tro anos de­pois es­tá­va­mos tra­ba­lhan­do
jun­tos nu­ma mis­são es­pe­cial co­mo “Os Har­per Bro­
thers” (“Os Ir­mãos Har­per”). O dia es­ta­va bom, es­tá­va­
mos a al­gu­mas mi­lhas de Bar­row-in-Fur­ness, no li­to­ral.
Sem con­si­de­rar a pos­si­bi­li­da­de de uma cor­ren­te­za for­te,
en­tra­mos na água pa­ra na­dar. Eu sa­bia na­dar um pou­co,
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 47

John não na­da­va na­da. Lo­go fi­ca­mos em apu­ros, e se


não fos­se o Po­der de Deus que con­tro­la to­das as coi­sas,
a his­tó­ria da vi­da do meu ir­mão e da mi­nha te­ria ter­mi­
na­do no mar na­que­la oca­sião. Quan­do es­tá­va­mos sãos e
sal­vos, sen­ti­mos, mes­mo exaus­tos, a cer­te­za de que nos­
so Pai Ce­les­te nos ti­nha sal­vo pe­la Sua mi­se­ri­cór­dia, e
jun­tos O lou­va­mos.

Salvo de Afogamento aos 32 Anos de Idade


Seis anos de­pois, nu­ma via­gem pa­ra a Pa­les­ti­na, John
jun­to com um ami­go, o Sr. Wylie de Glas­gow, es­ta­vam a
bor­do de um na­vio no Me­di­ter­râ­neo que co­me­çou a fa­
zer água su­bi­ta­men­te. De­pois de ho­ras de sus­pen­se,
quan­do fi­ca­ram fa­ce a fa­ce com a mor­te, fo­ram res­ga­ta­
dos. Meu ir­mão, nu­ma pa­les­tra mais tar­de, des­cre­veu
de­ta­lha­da­men­te es­se in­ci­den­te. Ele dis­se: “O me­do da
mor­te não me preo­cu­pou em mo­men­to al­gum. Eu acre­
di­ta­va que mor­te sú­bi­ta se­ria gló­ria sú­bi­ta, mas ha­via
uma me­ni­ni­nha sem mãe em Glas­gow e eu pen­sei que
de­ve­ria tê-la dei­xa­do sob a pro­te­ção do meu que­ri­do ir­
mão, Geor­ge, an­tes de par­tir”. Não é ne­ces­sá­rio di­zer
que seu ir­mão te­ria acei­ta­do a res­pon­sa­bi­li­da­de sem he­
si­tar, quer obri­ga­do quer não; uma res­pon­sa­bi­li­da­de que
ele con­si­de­ra­ria sa­gra­da. Des­se mo­do, em três oca­siões,
que eu sai­ba, an­tes da úl­ti­ma no dia 15 de abril de 1912,
meu ir­mão en­fren­tou fa­ce a fa­ce a mor­te nas águas.

“Um Aluno Dedicado”


Nos­sos pais eram pes­soas sim­ples. Meu pai ti­nha um
ne­gó­cio de te­ci­dos na vi­la de Hous­ton, que não ren­dia
um sa­lá­rio mui­to bom, mas ape­sar do pro­ble­ma de criar
48 • O Último Herói do Titanic

uma fa­mí­lia de seis pes­soas, ele se es­for­ça­va pa­ra nos


dar a me­lhor edu­ca­ção pos­sí­vel. Meu pai era um ho­mem
de bom ní­vel es­co­lar e lia mui­to. No en­tan­to, John não
era mui­to responsável nes­sa épo­ca, e dei­xou de apro­vei­
tar mui­tas coi­sas que se­riam pro­vei­to­sas pa­ra ele mais
tar­de, o que sem­pre ad­mi­tia. O in­crí­vel é co­mo se de­
sen­vol­veu tão bem. Mui­tas ve­zes, a ha­bi­li­da­de que ele
ti­nha de se co­mu­ni­car tan­to ver­bal­men­te co­mo por es­
cri­to era, pa­ra mim, sim­ples­men­te en­can­ta­do­ra. Con­tu­
do, a par­tir do fi­nal da ado­les­cên­cia ele es­tu­da­va mui­to,
pou­cos ho­mens pre­pa­ra­vam tão bem suas men­sa­gens
co­mo ele. Is­so, tal­vez se­ja, pe­lo me­nos, uma ex­pli­ca­ção
do de­sen­vol­vi­men­to do meu ir­mão.

“Ele me Elogiou por Proteger John”


Eu me lem­bro bem do nos­so pro­fes­sor cha­man­do
John pa­ra o cas­ti­go. De­ve ter si­do por cau­sa da li­ção
mal fei­ta. Eu acho que era. Mas a va­ri­nha es­ta­va sen­do
usa­da com mui­ta for­ça. Fi­quei sen­ta­do por al­gum tem­
po, con­tu­do o meu la­do mais for­te se im­pôs. Na­que­la
épo­ca, co­mo em to­dos os anos de in­fân­cia, meu ir­mão
era mui­to pre­cio­so pa­ra mim. Na mi­nha opi­nião, aqui­lo
não es­ta­va cer­to, com ou sem li­ção, es­se ho­mem não ia
ba­ter no meu ir­mão as­sim. Eu me le­van­tei se­gu­ran­do
mi­nha lou­sa so­bre a ca­be­ça, e di­zen­do ao mes­mo tem­
po: “Se vo­cê não pa­rar de ba­ter no meu ir­mão, eu vou
fa­zer vo­cê pa­rar”. Ele pa­rou na mes­ma ho­ra, veio ao
meu en­con­tro, e dian­te de to­dos me elo­giou por pro­te­
ger John. Cla­ro, ele era o meu ir­mão!
Os tem­pos de es­co­la lo­go se aca­ba­ram, e co­mo foi re­
la­ta­do por ou­tros, John co­me­çou a tra­ba­lhar ce­do. Na
épo­ca não se acha­va ruim man­dar um me­ni­no de qua­
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 49

tor­ze ou quin­ze anos tra­ba­lhar. Ele só pre­ci­sa­va ter uma


es­co­la­ri­da­de ra­zoá­vel, e ser es­for­ça­do o bas­tan­te. Du­
ran­te cin­co anos ou mais, ele te­ve vá­rios em­pre­gos. Foi
no co­me­ço des­se pe­río­do da sua vi­da que ele acei­tou Je­
sus. Eu me lem­bro bem da­que­la noi­te. Foi no úl­ti­mo do­
min­go de mar­ço de 1886, que o que­ri­do John nas­ceu do
Es­pí­ri­to. O ca­mi­nho foi bem pre­pa­ra­do pa­ra is­so.

Nosso Pai Zeloso


Meu pai era um ho­mem es­pe­cial, co­mo meu ami­go
Sr. Hugh Mor­ris diz no seu tes­te­mu­nho. Ele era um pu­
ri­ta­no na teo­lo­gia e na prá­ti­ca, um ho­mem que ama­va o
seu Se­nhor e sua Bí­blia. Um gran­de ad­mi­ra­dor de C. H.
Spur­geon, cu­jos ser­mões ele lia sem­pre, até mes­mo em
voz al­ta, e que, às ve­zes, to­dos nós tí­nha­mos que ou­vir,
quer gos­tás­se­mos ou não. O cul­to do­més­ti­co com a lei­
tu­ra cui­da­do­sa das Es­cri­tu­ras e a ora­ção, jun­ta­men­te
com cân­ti­cos dos Sal­mos de Da­vi, era nor­mal em nos­sa
ca­sa. To­da a fa­mí­lia foi edu­ca­da nes­se am­bien­te pu­ri­ta­
no. Lo­go John es­ta­va pron­to de ma­nei­ra bem real e prá­
ti­ca pa­ra o gran­de even­to na sua vi­da, ou se­ja, sua en­tre­
ga a Cris­to. O Sr. Wal­ter B. Sloan, e o Sr. Ar­chi­bald Orr
Ewing, am­bos ago­ra da Mis­são do In­te­rior da Chi­na, li­
de­ra­vam a Igre­ja Li­vre da vi­la na­que­la noi­te. Meu ir­mão
sen­tou-se ao meu la­do no ban­co da nos­sa fa­mí­lia.

“Nos Tornamos Um na Fé”


No fi­nal do cul­to foi fei­ta uma reu­nião de acom­pa­
nha­men­to, John fi­cou com ou­tras pes­soas, e com ba­se
em João 3.16 lhe mos­tra­ram a ri­ca pro­vi­são de Deus em
Je­sus pa­ra sua sal­va­ção. Três me­ses an­tes, eu ti­nha acei­
50 • O Último Herói do Titanic

to Je­sus co­mo meu Sal­va­dor pes­soal. Ago­ra éra­mos um


na fé que es­tá em Cris­to Je­sus. Sim, e gra­ças a Deus,
es­sa união em co­mu­nhão es­pi­ri­tual ja­mais foi que­bra­da
du­ran­te os vin­te seis anos do nos­so com­pa­nhei­ris­mo
cris­tão. Eu me lem­bro bem de co­mo meu que­ri­do pai se
ale­grou quan­do viu que Deus res­pon­de­ra as suas ora­
ções com a con­ver­são dos seus dois fi­lhos, se­gui­da lo­go
após pe­la cer­te­za de que tam­bém al­gu­mas de suas fi­lhas
acei­ta­ram a Cris­to.
A sub­se­qüen­te his­tó­ria da vi­da do meu ir­mão é con­
ta­da prin­ci­pal­men­te pe­los ou­tros nes­te li­vro, a re­ve­la­ção
adi­cio­nal e o cha­ma­do que ele re­ce­beu no ano de 1890,
seu co­me­ço com a en­tre­ga to­tal ao mi­nis­té­rio do Se­nhor
na vi­la de Hous­ton (sua Je­ru­sa­lém), e as vi­las cir­cun­vi­
zi­nhas. Por­tan­to, é su­f i­cien­te dar ape­nas al­guns de­ta­lhes
do seu ca­rá­ter e mi­nis­té­rio cris­tão. No de­cor­rer do tem­
po, a mis­são na vi­la de Hous­ton, des­cri­ta tão bem em
ou­tra par­te pe­lo Sr. W. B. Sloan, fe­chou. Es­sa mis­são te­
ve iní­cio pe­lo pró­prio Sr. W. B. Sloan no ve­rão de 1885
e con­ti­nuou por al­guns anos. Seu fe­cha­men­to ocor­reu
no co­me­ço da dé­ca­da de 1890. Na épo­ca, eu fi­ca­va fo­ra
a ne­gó­cios e só vol­ta­va uma vez a ca­da duas se­ma­nas.
Meu ir­mão, com al­guns ou­tros, li­de­ra­va cul­tos ao ar li­
vre to­dos os do­min­gos à tar­de. Quan­do es­ta­va em ca­sa,
eu aju­da­va com pra­zer.
Nu­ma des­sas oca­siões um ho­mem gran­de, que sem­
pre ti­nha dei­xa­do cla­ro a sua in­ten­ção de aca­bar com
aque­les cul­tos, apa­re­ceu. Mas nes­sa oca­sião só ha­via
dois de nós – meu ir­mão e eu. Fi­ze­mos um due­to, de­
pois nos re­ve­za­mos na pre­ga­ção. O ho­mem po­dia ter
fei­to o que de­cla­ra­va. Ele ti­nha mais de dois me­tros de
al­tu­ra e era mui­to for­te. Co­lo­cou seu pu­nho na fren­te de
nos­sos ros­tos e amea­çou nos de­for­mar se con­ti­nuás­se­
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 51

mos pre­gan­do, mas o es­pí­ri­to in­do­má­vel do meu ir­mão


não es­ta­va ne­nhum pou­co ame­dron­ta­do. Con­ti­nua­mos a
pre­gar e can­tar pa­ra Je­sus, ape­sar das suas amea­ças. De­
pois de cer­to tem­po ele nos dei­xou, fi­ca­mos em paz e
con­cluí­mos aque­le tu­mul­tua­do cul­to ao ar li­vre.
Se­ria ne­ces­sá­rio um li­vro in­tei­ro pa­ra des­cre­ver a
obra em Gryffe Gro­ve Hall, Brid­ge-of-Weir, em Johns­
to­ne, e ou­tras ci­da­des vi­zi­nhas, com as quais meu ir­mão
se iden­ti­f i­ca­va tan­to. Es­ses fo­ram anos de ze­lo in­ten­so
por Cris­to e Seu Rei­no. Mui­tos fo­ram le­va­dos a Cris­to
atra­vés do mi­nis­té­rio evan­ge­lís­ti­co fiel do meu ir­mão, e
o po­vo de Deus foi ani­ma­do e vi­vi­f i­ca­do. Eu ti­ve o pra­
zer in­des­cri­tí­vel em aju­dá-lo sem­pre que po­dia nes­ses
pri­mei­ros anos, e acom­pa­nhei sua vi­da ín­ti­ma, que era
trans­pa­ren­te, pu­ra e ver­da­dei­ra. Eu tes­te­mu­nho com ale­
gria so­bre is­so. Não vou dar de­ta­lhes da his­tó­ria de co­
mo John foi le­va­do a co­me­çar o mi­nis­té­rio ba­tis­ta. Es­sa
épo­ca da sua vi­da tem três ca­pí­tu­los di­fe­ren­tes, que são:
Go­van, Pais­ley Road, Glas­gow, e Wal­worth Road, Lon­
dres. Em ca­da am­bien­te a mão de Deus es­ta­va cla­ra­
men­te so­bre Seu ser­vo em po­der. Mas es­pe­cial­men­te is­
so acon­te­ceu em Pais­ley Road, Glas­gow.

“Poderoso na Oração”
Du­ran­te seus tre­ze anos de mi­nis­té­rio ali, cen­te­nas e
cen­te­nas de pes­soas fo­ram con­du­zi­das ao Rei­no de Cris­
to. Mais uma vez per­mi­tam-me dar de­ta­lhes de tu­do is­
so. Ou­tros con­ta­rão a his­tó­ria co­mo es­pec­ta­do­res. Meu
que­ri­do ir­mão era um ho­mem po­de­ro­so na ora­ção. Ele
era um mes­tre nes­sa ar­te sa­gra­da.
Em ou­tu­bro de 1899 vim de Brad­ford, on­de era pas­
tor, pa­ra Pais­ley Road, pa­ra li­de­rar uma mis­são de um
52 • O Último Herói do Titanic

mês. Noi­te após noi­te, quan­do es­ta­va pres­tes a anun­ciar


meu tex­to bí­bli­co, John des­cia do pal­co, ia pa­ra uma
pe­que­na sa­la, e se ajoe­lha­va em ora­ção. Ali ele su­pli­ca­
va a Deus, en­quan­to eu fa­zia o ape­lo pa­ra os ho­mens.
Não é ne­ces­sá­rio di­zer que os re­sul­ta­dos da­que­la mis­
são per­ma­ne­cem até ho­je. Eu ora­va com meu que­ri­do
ir­mão, vez após vez, e to­do o seu cor­po tre­mia mui­to,
ta­ma­nha era a sin­ce­ri­da­de das suas sú­pli­cas a Deus pe­
lo mun­do per­di­do. Mui­tas ve­zes ele cho­ra­va em ora­ção.
Co­mo seu Se­nhor, ele ofe­re­cia suas sú­pli­cas com “for­
te cla­mor e lá­gri­mas” (He­breus 5.7). Não é de se ad­
mi­rar que co­ra­ções en­du­re­ci­dos e tei­mo­sos se ren­diam
sob seu mi­nis­té­rio.
En­quan­to o ou­via oran­do, eu cos­tu­ma­va di­zer: “O
que­ri­do John es­tá mui­to pró­xi­mo de Deus”. Ele pa­re­cia
vi­ver na maior in­ti­mi­da­de com seu Se­nhor. Não ha­via
na­da fal­so em sua es­pi­ri­tua­li­da­de. Ele ja­mais ten­tou
con­ven­cer al­guém de que era mais san­to que os ou­tros,
mas sa­bia-se por ins­tin­to que ele era um ho­mem de
Deus, cu­ja ale­gria su­pre­ma es­ta­va na co­mu­nhão com
seu Se­nhor e Re­den­tor.

Tristezas Moldaram Sua Vida


A his­tó­ria com­ple­ta da­que­les tre­ze anos de tra­ba­lho
cris­tão con­sa­gra­do ja­mais po­de­rá ser con­ta­da. Pa­ra meu
que­ri­do ir­mão hou­ve anos de ale­gria e tris­te­za. Nem to­
do con­ver­ti­do se tor­nou uma “co­roa de ale­gria” pa­ra o
ser­vo do Se­nhor. Os fra­cos e in­ca­pa­zes cau­sa­vam mui­ta
dor ao meu ir­mão, e os des­via­dos qua­se par­tiam seu co­
ra­ção. Mas as ale­grias des­se pe­río­do mais do que com­
pen­sa­vam suas tris­te­zas. Mui­tos bus­ca­ram e en­con­tra­
ram a Cris­to, e sem­pre con­ti­nua­ram a se­guir o Se­nhor.
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 53

Foi du­ran­te es­sa épo­ca que duas coi­sas mui­to tris­tes


acon­te­ce­ram com meu ir­mão.
No ve­rão de 1905 sua saú­de fa­lhou, sua voz, que em
sua ju­ven­tu­de era be­la e res­so­nan­te, aca­bou com­ple­ta­
men­te. Du­ran­te seis me­ses ele não pô­de tra­ba­lhar. Es­sa
foi uma pro­va­ção mui­to du­ra pa­ra ele. Ele cho­ra­va co­
mi­go e eu com ele por cau­sa des­sa pro­va­ção. No en­tan­
to, uma via­gem no mar e re­pou­so ab­so­lu­to com tra­ta­
men­to es­pe­cial, com o tem­po re­cu­pe­ra­ram pe­lo me­nos
par­te da sua for­ça e ener­gia. Mas ele nun­ca mais te­ve a
mes­ma saú­de que an­tes. Quem o co­nhe­ceu ape­nas nos
seus úl­ti­mos anos viu só o es­que­le­to do seu pas­sa­do, is­
to é, da for­ça fí­si­ca e da boa apa­rên­cia.
É ver­da­de que du­ran­te os úl­ti­mos cin­co ou seis anos
da sua vi­da hou­ve um ama­du­re­ci­men­to ma­ra­vi­lho­so que
os mais ín­ti­mos não dei­xa­ram de per­ce­ber. Vía­mos o
ho­mem ex­te­rior fi­can­do mais fra­co, e o ho­mem in­te­rior
mais for­te sem­pre que nos en­con­trá­va­mos.

“Annie está Morrendo”


Mas a maior tris­te­za ain­da es­ta­va por vir. No co­me­
ço de 1906, sua es­po­sa foi le­va­da. A Sra. Har­per era
um gran­de au­xí­lio pa­ra ele. Ela era um pou­co mais
ve­lha, e mui­to ani­ma­da. Meu ir­mão e ela, na épo­ca
Srta. Bell, se co­nhe­ce­ram du­ran­te uma obra mis­sio­ná­
ria em Brid­ge-of-Weir. Du­ran­te dez anos es­pe­ra­ram um
pe­lo ou­tro. Eu me ale­grei mui­to com o ca­sa­men­to do
meu ir­mão com a Srta. Bell. Mas, in­fe­liz­men­te seu
ca­sa­men­to du­rou pou­co. Du­rou pou­co mais que dois
anos. Uma me­ni­ni­nha nas­ceu no Ano No­vo de 1906 e
pou­cos dias de­pois o es­pí­ri­to da Sra. Har­per “su­biu
nos ares até o céu”.
54 • O Último Herói do Titanic

Ja­mais me es­que­ce­rei des­se even­to. Na épo­ca eu era


pas­tor da Igre­ja Ba­tis­ta de Bells­hill. Era um do­min­go à
noi­te, ti­nha aca­ba­do de ler mi­nha pas­sa­gem, Isaías
28.15-18, “Alian­ça com a mor­te”, quan­do fui cha­ma­
do pa­ra uma sa­la, pois um po­li­cial que­ria fa­lar co­mi­go.
Ele re­ce­beu o re­ca­do por te­le­gra­ma do meu ir­mão. Di­
zia o se­guin­te: “Que­ri­do Geor­ge, por fa­vor ve­nha ime­
dia­ta­men­te, An­nie es­tá mor­ren­do. Eu que­ro que Mary e
vo­cê es­te­jam do meu la­do”. A Mary aqui men­cio­na­da
era mi­nha es­po­sa.
Vol­tei pa­ra meu cul­to, cha­mei dois dos nos­sos obrei­
ros pa­ra o pal­co, e os dei­xei res­pon­sá­veis pe­lo cul­to.
Cha­ma­ram um ta­xi, e mi­nha es­po­sa e eu fo­mos o mais
rá­pi­do pos­sí­vel pa­ra per­to do meu que­ri­do ir­mão na sua
tris­te­za pro­fun­da. Ah, ele era meu ir­mão, e na­da me im­
pe­di­ria de es­tar com ele na sua pro­va­ção. Fi­ca­mos do
la­do da ca­ma da Sra. Har­per du­ran­te do­ze ho­ras fa­zen­
do tu­do que po­día­mos pa­ra con­for­tá-la, e ali­viar a sua
dor, e de­pois, quan­do o seu es­pí­ri­to en­trou no lar ce­les­
te, fe­cha­mos seus olhos cui­da­do­sa­men­te.
Es­sa pro­va­ção, acres­cen­ta­da as­sim àque­la que ti­nha
so­fri­do um ano an­tes, o dei­xou ar­ra­sa­do. Foi seu Get­sê­
ma­ni, seu ba­tis­mo de fo­go. O cá­li­ce era amar­go, mas ele
o be­beu, di­zen­do: “Não se­ja co­mo eu que­ro, e, sim,
co­mo tu que­res”.

Cuidando do seu Bebê


Lo­go de­pois dis­so, mi­nha que­ri­da es­po­sa o con­ven­
ceu a nos dei­xar cui­dar da pe­que­na Na­na pa­ra ele, o que
per­mi­tiu ape­nas du­ran­te uns seis me­ses. Nós te­ría­mos
pra­zer em cui­dar da pe­que­na du­ran­te os anos se­guin­tes
pa­ra o bem do seu pai e o bem de­la, mas es­sa ale­gria
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 55

não foi da­da a nós. Meu ir­mão sen­tia mui­to a fal­ta da


sua que­ri­da es­po­sa. Seu lar ja­mais fo­ra o mes­mo pa­ra
ele de­pois. Ele ti­nha uma per­so­na­li­da­de que ne­ces­si­ta­va
de com­pa­nhia. So­men­te al­guns me­ses an­tes de ser le­va­
do, es­ti­ve­mos jun­tos por al­guns dias. Era co­mo uma vi­
da no­va pa­ra ele. Ora­mos, can­ta­mos, an­da­mos, e con­
ver­sa­mos mui­to jun­tos. Ele fa­lou mui­to so­bre as­sun­tos
re­la­cio­na­dos ao seu fu­tu­ro, as­se­gu­ran­do-me que não ti­

Uma razão porque o “Titanic” estava equipado com somente 20 botes


salva-vidas: não se queria bloquear a vista dos passageiros...
56 • O Último Herói do Titanic

nha re­ve­la­do is­so a mais nin­guém. In­fe­liz­men­te não foi


da von­ta­de de Deus pre­ser­var a sua vi­da pa­ra rea­li­zar
al­guns des­ses pla­nos e pro­pó­si­tos.

A Mudança Para Londres


Quan­do acei­tou o con­vi­te pa­ra pas­to­rear a Igre­ja em
Wal­worth Road, Lon­dres, ele me es­cre­veu con­tan­do so­
bre seus cul­tos de des­pe­di­da em Pais­ley Road. Ele me
pe­diu com ur­gên­cia pa­ra ir ao seu chá de des­pe­di­da. Eu
fiz is­so sem re­cla­mar. Eu es­ta­va no seu pri­mei­ro cul­to de
apre­sen­ta­ção em Go­van, e sen­tei, a pe­di­do de­le, ao seu
la­do nes­sa úl­ti­ma oca­sião. Que reu­nião! Lá­gri­mas fo­ram
der­ra­ma­das e ho­me­na­gens fo­ram da­das em sua hon­ra,
mas ne­nhu­ma fra­se pa­re­ceu exa­ge­ra­da. Em Lon­dres, co­
mo em Glas­gow, Deus aben­çoou a obra do Seu ser­vo.
Em um ano a ve­lha igre­ja, com mui­tas tra­di­ções li­ga­
das à sua his­tó­ria, pas­sou por um rea­vi­va­men­to im­pres­
sio­nan­te. É pos­sí­vel que, sob o mi­nis­té­rio do meu es­ti­
ma­do ami­go e ir­mão pas­tor A. Mon­cur Ni­block, que era
co-pas­tor com meu que­ri­do John, ela con­cor­res­se com
Pais­ley Road. Es­sa foi mi­nha con­vic­ção du­ran­te uma vi­
si­ta re­cen­te que lhe fiz. De­pois veio Chi­ca­go!

Chicago Lamenta a Morte de Harper


Quem po­de fa­lar da gran­de obra rea­li­za­da atra­vés do
tra­ba­lho do meu pre­cio­so ir­mão na fa­mo­sa Igre­ja
Moody na­que­la ci­da­de du­ran­te os me­ses de in­ver­no de
1911-1912? O re­ve­ren­do E. Y. Wool­ley, pas­tor as­sis­ten­
te da­que­la gran­de igre­ja, nu­ma car­ta que me es­cre­veu
no dia 11 de maio, diz: “Vol­tei pa­ra Chi­ca­go pa­ra en­
con­trar, co­mo es­pe­ra­va, nos­so po­vo en­tris­te­ci­do pe­la
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 57

mor­te do Sr. Har­per. Nos­sa reu­nião se­ma­nal on­tem à


noi­te es­ta­va lo­ta­da. Tí­nha­mos um to­tal de tre­zen­tas pes­
soas a mais que o nor­mal, e cen­te­nas es­ta­vam cho­ran­do
en­quan­to os de­ta­lhes da sua mor­te fo­ram re­la­ta­dos. Eu
ja­mais co­nhe­ci um ho­mem que te­nha con­quis­ta­do os
co­ra­ções do po­vo des­sa ma­nei­ra em ape­nas três me­ses
de co­mu­nhão. No do­min­go que vem ha­ve­rá um cul­to
me­mo­rial pa­ra ele, mas é fá­cil ver que to­dos os nos­sos
cul­tos se­rão em gran­de par­te me­mo­riais. Deus o usou
en­quan­to es­ta­va aqui co­mo nun­ca vi um ho­mem ser usa­
do an­tes”. Es­te é o tes­te­mu­nho do Sr. Wool­ley.
Te­nho vá­rias car­tas de Chi­ca­go es­cri­tas pa­ra mim pe­
lo que­ri­do John. O de­se­jo mais for­te des­cri­to em to­das
es­sas car­tas é que eu oras­se por ele. “Ore por mim, ore
por mim a ca­da mi­nu­to”, ele es­cre­veu. Meu ir­mão nun­
ca me­diu es­for­ços, mas com o pas­sar dos anos ele pa­re­
cia sa­cri­f i­car-se mais e mais pe­los ou­tros, e es­pe­cial­
men­te pe­lo seu Se­nhor.

Colheita em Chicago
A re­vis­ta Vi­da de Fé, re­fe­rin­do-se à sua obra ma­ra­vi­
lho­sa em Chi­ca­go, dis­se: “Seus cul­tos pro­du­ziam tan­tas
ri­cas bên­çãos que a vi­si­ta se pro­lon­gou pa­ra três me­ses,
e a Igre­ja Moody es­ta­va pas­san­do por um dos rea­vi­va­
men­tos mais mar­can­tes da sua his­tó­ria. O po­vo do Se­
nhor tam­bém te­ve um rea­vi­va­men­to es­pi­ri­tual. Uma
ilus­tra­ção prá­ti­ca dis­so foi o fa­to de que uma dí­vi­da de
1.000 li­bras foi pa­ga em qua­tro dias”.
Ao vol­tar de Chi­ca­go ele fez uma vi­si­ta rá­pi­da à Es­
có­cia, pas­san­do pri­mei­ro por Edin­burgh, on­de di­ri­giu
dois cul­tos, am­bos rea­li­za­dos em nos­sa igre­ja em Gor­
gie. Sua pa­la­vra era po­de­ro­sa. De Edin­burgh ele via­jou
58 • O Último Herói do Titanic

pa­ra Glas­gow, de­pois pa­ra Pais­ley, Denny, e Cum­nock


em Ayrs­hi­re. Em to­dos es­ses lu­ga­res seu mi­nis­té­rio era
“no Es­pí­ri­to San­to e com mui­ta con­f ian­ça”, ape­sar de
seu cor­po es­tar des­gas­ta­do.

O Convite para Voltar a Chicago


De­vi­do ao pe­di­do ur­gen­te e mui­to cor­dial da Igre­ja
Moody em Chi­ca­go ele con­cor­dou em vol­tar por mais
três me­ses. Nu­ma car­ta pa­ra mim, do dia 1º de abril, ele
es­cre­veu de Lon­dres: “Va­mos zar­par de Li­ver­pool no
sá­ba­do no na­vio Lu­si­ta­nia”. In­fe­liz­men­te, ao in­vés de­le
ter ido na­que­le bar­co, uma se­ma­na mais tar­de ele em­
bar­cou no des­ven­tu­ra­do Ti­ta­nic.
O Ti­ta­nic zar­pou de Sou­thamp­ton pa­ra No­va York no
dia 10 de abril. No dia 15 de abril ele es­ta­va no fun­do
do ocea­no, le­van­do con­si­go 1.522 vi­das pre­cio­sas, en­
tre elas meu pró­prio ir­mão que­ri­do e com­pa­nhei­ro,
John Har­per.
Não pre­ci­so re­la­tar no­va­men­te aqui os de­ta­lhes des­se
tris­te de­sas­tre. Eu acho que eles são mais ou me­nos co­
nhe­ci­dos por to­dos, e su­po­nho que a pró­xi­ma ge­ra­ção
sa­be­rá des­sa ter­rí­vel ca­tás­tro­fe em mar tran­qüi­lo, quan­
do o su­pra-su­mo da com­pe­tên­cia hu­ma­na em en­ge­nha­
ria na­val afun­dou na sua pri­mei­ra via­gem. Não pos­so
ten­tar ex­pli­car o Pro­pó­si­to que le­va tal ho­mem de Deus
em ple­na ati­vi­da­de.

A “Entrada Triunfal” de Harper


Só pos­so di­zer que mi­nha con­f ian­ça es­tá na sa­be­do­
ria su­pre­ma de Deus. “Um dia en­ten­de­re­mos”. Acho
que Ke­ble des­cre­ve is­so mui­to bem quan­do diz:
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 59

“Teu Deus te diz que bom te é


por vis­ta não an­dar, e sim por fé,
con­fia en­tão en­quan­to aqui,
pois bre­ve as nu­vens pas­sa­rão
quan­do Seu be­lo ros­to bri­lhar so­bre ti.”

Real­men­te is­so é tu­do que se po­de fa­zer dian­te de


tal Po­der. Ne­nhu­ma men­sa­gem de des­pe­di­da foi en­
via­da a nós do na­vio que afun­da­va, nem um bei­jo de
des­pe­di­da, pe­lo que se sa­be, foi da­do na sua pe­que­
na fi­lha. Cal­mo e con­tro­la­do ele a en­tre­gou a um
dos ofi­ciais do na­vio no con­vés su­pe­rior, en­quan­to
ele mes­mo obe­de­ceu às or­dens do ca­pi­tão de fi­car
no se­gun­do con­vés. Is­so foi ape­nas meia ho­ra an­tes
do gran­de na­vio afun­dar.

Nin­guém sa­be­rá quais fo­ram seus pen­sa­men­tos du­


ran­te aque­la úl­ti­ma meia ho­ra na ter­ra. Te­mos cer­te­
za de uma coi­sa: não hou­ve re­cla­ma­ções quan­do ele
“zar­pou”. Ele te­ve uma “en­tra­da triun­fal”.

“Ain­da que por quem mor­reu,


mi­nha al­ma eu não da­rei à dor
co­mo se fo­ra a mor­te pu­ra di­vi­são.
Por ti não se vê pran­to meu
pois és co­mo a cul­ti­va­da flor
que bro­ta além do mu­ro e da vi­são.
A mor­te es­con­de o que se vê,
mas não di­vi­de quem crê.
Além do mu­ro es­tás
com Cris­to e em sua paz,
e se Ele aqui me tem em Sua mão,
em Cris­to es­ta­mos, dois, ain­da em união.”
60 • O Último Herói do Titanic

“Pense Mais na Vida de Agora do que


na Vida do Passado”
Den­tre vá­rios ou­tros, um ir­mão que­ri­do me es­cre­
veu: “Não re­cla­me do que seu Pai Ce­les­tial fez com
vo­cê. Ele o hon­rou, e ao mes­mo tem­po cum­priu Sua
pró­pria pro­mes­sa, ‘on­de eu es­tou, ali es­ta­rá tam­bém
o meu ser­vo’. Os an­jos de­vem ter da­do ca­lo­ro­sas
boas-vin­das ao seu ir­mão. Pen­se mais na vi­da de ago­
ra, do que na vi­da do pas­sa­do. Mais na ‘en­tra­da triun­
fal’ do que na saí­da es­tra­nha e re­pen­ti­na. Amor e
sa­be­do­ria es­tão no tro­no – amor per­fei­to e sa­be­do­ria
per­fei­ta. Às ve­zes tu­do po­de pa­re­cer mui­to es­tra­nho,
mas de­ve ser o me­lhor. Ten­te ca­var um po­ço no seu
Va­le de Ba­ca”.
Obri­ga­do, que­ri­do ir­mão, é is­so que es­tou ten­tan­do
fa­zer, e à me­di­da em que meu po­ço fi­ca mais fun­do, mi­
nha al­ma an­seia ain­da mais e mais pe­la ma­nhã glo­rio­sa
e vin­dou­ra, quan­do os enig­mas da vi­da se­rão es­cla­re­ci­
dos na Sua luz.
Gos­ta­ria de di­zer aqui quão pro­fun­da­men­te va­lo­ri­zo
to­das as men­sa­gens ca­ri­nho­sas de com­pai­xão que re­
ce­bi nes­sa mi­nha ho­ra de tris­te­za e la­men­to. Pe­ço que
meus ami­gos te­nham cer­te­za da mi­nha gra­ti­dão pes­
soal. Não es­tou so­zi­nho na mi­nha tris­te­za. Mi­nha que­
ri­da es­po­sa fi­cou com o co­ra­ção par­ti­do por cau­sa da
per­da do seu cu­nha­do. E as mi­nhas ir­mãs – Sra. Sin­
clair e Sra. Gi­ven em Johns­to­ne, Sra. Bal­loch em St.
Bos­well’s, e Sra. Auc­kland em Go­van, to­das cho­ram
co­mi­go por cau­sa da nos­sa per­da ir­re­pa­rá­vel. Nos­so ir­
mão era mui­to que­ri­do por nós co­mo fa­mí­lia. Pa­ra ca­
da mem­bro da fa­mí­lia seu “amor era ma­ra­vi­lho­so” e
re­tri­buí­do por nós (ir­mãs e ir­mão).
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 61

“Ah, se a Sua Voz Arrebatadora Pudesse


Alcançar Nossos Corações Endurecidos”
Sua fi­lhi­nha, Na­na, ain­da não per­ce­be a gran­de per­
da. Que o Deus do seu pai co­lo­que Seu man­to so­bre ela
e a pro­te­ja do ven­to de um mun­do frio e pe­ca­dor! Que a
von­ta­de do nos­so Pai Ce­les­te pa­ra ela se­ja cum­pri­da, e
que pe­lo me­nos o es­pí­ri­to ter­re­no de de­vo­ção do seu pai
ao seu Se­nhor se­ja en­con­tra­do ne­la na ho­ra cer­ta.
Mul­ti­dões la­men­tam a per­da do meu que­ri­do ir­mão.
Ele era um gran­de pes­ca­dor de al­mas, um ver­da­dei­ro
pas­tor. Ele le­vou mul­ti­dões aos pés de Cris­to, e de­pois
as ali­men­tou com o me­lhor pão. Seus dons ana­lí­ti­cos e
ho­mi­lé­ti­cos eram de al­to ní­vel, co­mo se­rá vis­to em ou­
tra par­te des­te li­vro, e já que ou­tros ir­mãos tes­te­mu­
nham com pra­zer so­bre es­se fa­to eu só o men­cio­no.
Nu­ma car­ta a uma de suas ir­mãs, no dia 27 de ju­nho
de 1892, quan­do ain­da era um jo­vem pas­tor, ele es­cre­
veu: “Ah, se pu­dés­se­mos ter mais fé num Sal­va­dor amo­
ro­so e vi­vo, e se pu­dés­se­mos abrir nos­sos co­ra­ções o su­
fi­cien­te pa­ra re­ce­ber mais do Seu amor ter­no, con­su­mi­
dor, cons­tran­ge­dor, pe­ne­tran­te, ah, se abrís­se­mos nos­sos
ou­vi­dos pa­ra ou­vir a do­ce voz do Noi­vo quan­do Ele
sus­sur­ra pa­ra nos­sas al­mas: ‘Le­van­te-se, meu amor, mi­
nha que­ri­da, ve­nha, dei­xe as ilu­sões pas­sa­gei­ras des­te
dia tran­si­tó­rio’. Ah, se a Sua voz ar­re­ba­ta­do­ra pu­des­se
al­can­çar nos­sos co­ra­ções en­du­re­ci­dos pa­ra que ti­vés­se­
mos se­de e cla­más­se­mos por um re­la­cio­na­men­to mais
ín­ti­mo com o Sal­va­dor cru­ci­f i­ca­do”.
Es­sa é ape­nas uma ci­ta­ção cur­ta de uma car­ta que es­
tá dian­te de mim, mui­tas par­tes da qual são mui­to sa­
gra­das pa­ra se­rem pu­bli­ca­das. Ah, sim! a men­sa­gem da
Cruz foi a men­sa­gem do seu mi­nis­té­rio fer­vo­ro­so do co­
62 • O Último Herói do Titanic

me­ço ao fim. Mas tal­vez de ma­nei­ra mui­to es­pe­cial a


Cruz en­cheu sua vi­são du­ran­te o fi­nal do seu mi­nis­té­rio.
Sua in­ten­ção era es­cre­ver e pu­bli­car num li­vro al­guns
dos ser­mões que Deus usou na con­fe­rên­cia em Chi­ca­go,
mas Deus quis es­cre­vê-los de ou­tra ma­nei­ra, per­ma­nen­
te­men­te nos co­ra­ções e nas vi­das dos pe­ca­do­res res­ga­ta­
dos e san­tos rea­vi­va­dos. Al­gu­mas cen­te­nas des­ses es­bo­
ços pre­cio­sos e su­ges­ti­vos es­tão no fun­do do ocea­no.
No en­tan­to, po­de­mos di­zer ver­da­dei­ra­men­te so­bre seu
tes­te­mu­nho e sua obra: “Mes­mo de­pois de mor­to, ain­
da fa­la”.

A Fraqueza do Meu Irmão


Ha­via um la­do do ca­rá­ter do meu ir­mão que pa­re­cia
es­tar fo­ra de sin­to­nia com o la­do que des­cre­vi com de­
ta­lhes. Ele era fa­cil­men­te en­ga­na­do. Mui­tas ve­zes eu o
ad­ver­ti com re­la­ção a is­so. Eu po­de­ria ci­tar vá­rios ca­
sos de que te­nho co­nhe­ci­men­to, em que ele so­freu, às
ve­zes ter­ri­vel­men­te e por mui­to tem­po, nas mãos da­
que­les que eram pra­ti­ca­men­te im­pos­to­res. Mas ele ape­
nas res­pon­dia quan­do eu o ad­ver­tia: “Tu­do bem, o Se­
nhor os co­nhe­ce, Ele cui­da­rá de­les”. Com ex­ce­ção des­
sa pe­que­na fra­que­za, pa­ra al­guns de nós que o
co­nhe­cía­mos in­ti­ma­men­te, ele se­ria qua­se nos­so ideal
em per­fei­ção hu­ma­na.
O lei­tor po­de ter cer­te­za de que pro­cu­ro, em tu­do
que es­cre­vo so­bre meu que­ri­do ir­mão, mag­ni­f i­car a
gra­ça de Cris­to que se ma­ni­fes­ta­va tão ma­ra­vi­lho­sa­
men­te no Seu ser­vo. Acho que es­te mun­do po­bre, mi­se­
rá­vel e con­de­na­do, ato­la­do no pe­ca­do, e que re­jei­ta a
Cris­to aber­ta­men­te, so­fre gran­de pre­juí­zo ao per­der um
ho­mem de Deus co­mo meu ir­mão, que sem­pre cho­ra­va
Meu Irmão Como eu o Conhecia • 63

por ele, e der­ra­ma­va a for­ça da sua vi­da por ele. Tam­


bém acho que a Igre­ja de Cris­to, que in­fe­liz­men­te é tão
apá­ti­ca, não po­de se dar ao lu­xo de di­zer adeus a um
mi­nis­té­rio tão ani­ma­dor, tão ne­ces­sá­rio. Mas po­de ser
que Deus es­te­ja des­sa for­ma cha­man­do al­guns ou­tros
ser­vos Seus pa­ra maior con­sa­gra­ção, obras mais sig­ni­
fi­can­tes, pa­ra o preen­chi­men­to de um es­pa­ço va­zio
cria­do pe­la par­ti­da de John. “En­quan­to cha­mas, Se­
nhor, cha­ma a mim”. Que as mul­ti­dões se­jam ba­ti­za­das
com o mes­mo es­pí­ri­to, ze­lo e en­tu­sias­mo pe­la gló­ria de
Cris­to, pe­la con­ver­são dos per­di­dos, e pa­ra que se
apres­se o dia da tão es­pe­ra­da vin­da do nos­so Se­nhor e
Sal­va­dor Je­sus Cris­to.
Pr. John Dick

Alcoótras, jogadores,
e brigões recuperados, agora
são servos entusiasmados de Deus,
todos louvam o Salvador a quem amam
por causa do dia em que conheceram
John Harper.
4
Ele Saiu
da Classe dos
Trabalhadores
Homenagem do Pastor John Dick, Igreja
Batista de Paisley Road, Glasgow

E
s­cre­ver uma ho­me­na­gem a John Har­per não é fá­
cil, pois quan­do es­cre­ve­mos no su­per­la­ti­vo, sen­ti­
mos que não fi­ze­mos jus à obra e ao ca­rá­ter des­se
obrei­ro de­di­ca­do de Deus.
Eu co­nhe­ci o Sr. Har­per há do­ze anos, e se­te anos
atrás pas­sei dez dias com ele en­quan­to li­de­ra­va uma
mis­são es­pe­cial em Pais­ley Road. Na épo­ca apren­di a
amá-lo, e co­nhe­cer John Har­per me­lhor era amá-lo
mais. Éra­mos ho­mens di­fe­ren­tes, mas ha­via uma afi­ni­
da­de en­tre nós que se for­ta­le­ceu com os anos, e seu
gran­de de­se­jo era que eu o subs­ti­tuís­se em Pais­ley
Road, se um dia ele saís­se de lá. Ago­ra is­so acon­te­ceu,
66 • O Último Herói do Titanic

mas ja­mais pen­sa­mos que a sua cor­ri­da aqui na ter­ra


ter­mi­na­ria aos trin­ta e no­ve anos.

Ele Foi um Homem Treinado por Deus


Ao per­der nos­so que­ri­do ir­mão, per­de­mos um gran­de
pre­ga­dor. Vin­do da clas­se dos tra­ba­lha­do­res, ele apa­re­
cia dian­te dos seus com­pa­nhei­ros co­mo um ho­mem trei­
na­do por Deus. Ne­nhu­ma fa­cul­da­de po­de rei­vin­di­car tê-
lo for­ma­do, ele se tor­nou pas­tor atra­vés de Deus. A pai­
xão da sua vi­da era ga­nhar al­mas. Não era anor­mal pa­ra
ele dei­xar de dor­mir no sá­ba­do à noi­te, oran­do pe­las al­
mas, e cla­man­do por Po­der Di­vi­no pa­ra ca­pa­ci­tá-lo a
pre­gar pa­ra a gló­ria de Deus. Foi es­se amor in­ten­so pe­
las al­mas que o fez li­te­ral­men­te vi­ver en­tre o po­vo.

Será este o sentido da vida: riqueza, fama e beleza?


Ele Saiu da Classe dos Trabalhadores • 67

Harper Conquistou os Corações das Pessoas


Simples
Com or­gu­lho o po­vo da re­gião con­ta-me co­mo ele
cos­tu­ma­va che­gar pa­ra o jan­tar ou chá, e sen­tar-se com
eles pa­ra to­mar uma re­fei­ção sim­ples, ser­vi­da nu­ma
me­sa sem toa­lha. Ele era co­mo um de­les, en­vol­ven­do-
se nas suas tris­te­zas e ale­grias – acon­se­lhan­do e ad­
ver­tin­do, re­go­zi­jan­do-se e cho­ran­do – e des­sa ma­nei­ra
va­lo­ro­sa e amo­ro­sa ele con­quis­tou as pes­soas sim­ples
que ho­je la­men­tam a sua mor­te co­mo se ele fos­se par­
te da fa­mí­lia.
Seu amor e sua com­pai­xão eram fe­no­me­nais, por
cau­sa da in­fluên­cia com­pas­si­va e atraen­te que sem­pre
ema­na­va de­le. Não é de se ad­mi­rar que ca­tó­li­cos e pro­
tes­tan­tes, po­bres e mi­se­rá­veis, der­ra­ma­ram mui­tas lá­gri­
mas com a men­ção da sua mor­te! To­do o po­vo da re­gião
o ama­va e ad­mi­ra­va os es­for­ços her­cu­léos des­se gran­de
e com­pas­si­vo obrei­ro de Deus.

Vidas Foram Mudadas para Sempre


Ele era um gran­de es­tu­dan­te da Bí­blia, e seu en­si­na­
men­to efi­cien­te é ma­ni­fes­to nos vá­rios jo­vens na con­
gre­ga­ção que têm um co­nhe­ci­men­to pro­fun­do do Li­vro
dos Li­vros, e que ab­sor­ve­ram o en­tu­sias­mo do pas­tor
Har­per pe­lo es­tu­do da Bí­blia. Em Pais­ley Road e Wal­
worth Road, Lon­dres, o seu do­mí­nio im­pres­sio­nan­te
das ver­da­des bí­bli­cas foi es­sen­cial pa­ra tra­zer de vol­ta
à ver­da­de mui­tos que es­ta­vam afas­ta­dos. Um ho­mem
im­por­tan­te de Lon­dres tes­te­mu­nhou que de­via sua po­
si­ção atual a John Har­per que, com sua ex­po­si­ção in­te­
li­gen­te da Pa­la­vra Vi­va, o con­ven­ceu do er­ro dou­tri­ná­
68 • O Último Herói do Titanic

rio. Ou­tro obrei­ro im­por­tan­te de Deus dis­se que se não


fos­se por John Har­per, ho­je ele es­ta­ria en­vol­vi­do na
con­fu­são da in­f i­de­li­da­de.
Al­coó­la­tras, jo­ga­do­res, e bri­gões re­cu­pe­ra­dos, ago­ra
são ser­vos en­tu­sias­ma­dos de Deus, to­dos lou­vam o Sal­
va­dor a quem amam, por cau­sa do dia em que co­nhe­ce­
ram John Har­per. Acon­se­lha­men­to pes­soal era seu for­te,
seu ta­to e sua gran­de­za de es­pí­ri­to o tor­na­vam ta­lha­do
pa­ra es­se tra­ba­lho.
Ele co­nhe­cia as di­f i­cul­da­des e ten­ta­ções do tra­ba­lha­
dor, ele co­nhe­cia sua li­te­ra­tu­ra e seu mo­do de pen­sar,
pe­lo fa­to de ser um de­les, e ape­sar de al­guns se res­sen­ti­
rem com o que cha­ma­vam de sua ati­tu­de ex­tre­ma, eles o
ama­vam e fo­ram os pri­mei­ros a re­co­nhe­cer sua sin­ce­ri­
da­de in­ten­sa.
Ele era um gran­de pre­ga­dor de cul­tos ao ar li­vre,
e sa­bia di­ri­gir gran­des pla­téias que o apre­cia­vam.
As pes­soas fa­la­vam com or­gu­lho do efei­to da sua
voz mag­ní­f i­ca ao ar li­vre, e con­ta­vam co­mo ele
li­da­va sá­bia e fir­me­men­te com to­do ti­po de in­ter­
rup­ção. Nin­guém po­dia de­tê-lo, pois seu co­nhe­ci­
men­to ex­ten­so e pro­fun­do das ver­da­des bí­bli­cas o
ca­pa­ci­ta­va pa­ra com­ba­ter com su­ces­so to­dos os ata­
ques.
Era mui­to co­mum ver al­mas cons­tran­gi­das ao ar
li­vre, e al­guns até se ajoe­lha­vam no lo­cal e con­fes­
sa­vam seus pe­ca­dos. Ho­je al­guns des­ses fru­tos da
gra­ça são diá­co­nos e mem­bros res­pei­ta­dos da Igre­ja
Ba­tis­ta de Pais­ley Road, cons­truí­da no lu­gar on­de
mui­tos dos seus mem­bros cos­tu­ma­vam jo­gar e bri­gar!
Que tes­te­mu­nho do po­der do Evan­ge­lho, atuan­do atra­
vés de um ho­mem com­ple­ta­men­te de­di­ca­do à gran­de
obra de ga­nhar al­mas!
Ele Saiu da Classe dos Trabalhadores • 69

Uma Inspiração para Milhares


Ele era um ora­dor es­pe­ta­cu­lar! Sua ha­bi­li­da­de em ho­
mi­lé­ti­ca era in­crí­vel! Seus ser­mões dou­tri­ná­rios cres­
ciam sob seu tra­ta­men­to até pa­re­ce­rem uma ár­vo­re
gran­de e vis­to­sa, que dá som­bra e pro­te­ção a mui­tos
via­jan­tes can­sa­dos. Seu co­nhe­ci­men­to am­plo da li­te­ra­
tu­ra pu­ri­ta­na, teo­ló­gi­ca e de avi­va­men­to o ca­pa­ci­tou pa­
ra ador­nar seus dis­cur­sos de tal ma­nei­ra que o ou­vin­te
saía com uma sen­sa­ção de sa­tis­fa­ção.
Co­mo é di­fí­cil com­preen­der que es­se gran­de pre­ga­
dor en­tu­sias­ma­do, de­di­ca­do, in­te­li­gen­te e ga­nha­dor de
al­mas par­tiu! To­das as de­no­mi­na­ções la­men­tam sua
mor­te, pois as suas ener­gias eram da­das li­vre­men­te pa­ra
to­dos, por­que ele não co­nhe­cia a in­ve­ja mi­nis­te­rial. Sua
vi­da se­rá uma ins­pi­ra­ção pa­ra mi­lha­res, sua in­fluên­cia
se­rá ines­que­cí­vel, seu exem­plo con­ta­gian­te, e ape­sar de
ter si­do apa­ga­do no au­ge da sua car­rei­ra, não re­cla­ma­
mos da sua pas­sa­gem pa­ra um ser­vi­ço maior. Ten­tar
subs­ti­tuí-lo é ten­tar o im­pos­sí­vel, mas es­tar no seu lu­gar
é uma ins­pi­ra­ção.
Ele foi pa­ra a sua re­com­pen­sa, e ca­be aos que o
co­nhe­ciam e ama­vam be­ne­f i­ciar-se do seu exem­plo e
ten­tar preen­cher o es­pa­ço va­zio da me­lhor ma­nei­ra
pos­sí­vel.
Adeus, meu que­ri­do ir­mão! Que seu man­to de pas­
tor caia so­bre seu su­ces­sor in­dig­no, e que a pai­xão que
en­cheu sua al­ma con­tro­le o au­tor des­ta ho­me­na­gem
ina­de­qua­da.
Pr. Hugh Gunn

No meio da massa confusa de homens,


mulheres e crianças se afogando, ele não
deixaria de indicar a Cruz, e assim como vivia,
morreria com esse nome nos lábios
– Jesus! Jesus!! Jesus!!!
5
“Ele não
Podia Viver sem
Ganhar Almas”
Homenagem do Pr. Hugh Gunn,
Igreja Batista John Street, Glasgow

N
os­so que­ri­do ir­mão, Sr. Har­per, era um ho­mem
em Cris­to. Ele era to­tal­men­te de­di­ca­do a Deus.
Eu o co­nhe­cia bem, e nun­ca vi ne­le na­da des­fa­
vo­rá­vel. Ele não ti­nha ne­nhum pas­sa­tem­po, e não pro­
cu­ra­va ne­nhum en­tre­te­ni­men­to além de apro­fun­dar o
seu pra­zer em Deus. To­do po­der e to­da pai­xão de seu
ser pa­re­ciam se ale­grar com a vi­da de Deus. Ele es­ta­va
con­ti­nua­men­te pe­ran­te o al­tar.

Uma Paixão por Santidade


Ele era um ho­mem de ze­lo in­ten­so. Es­se ze­lo foi ge­
ra­do por sua cons­ciên­cia de Deus. O po­der da eter­ni­da­
72 • O Último Herói do Titanic

de pa­re­cia re­pou­sar so­bre ele o tem­po to­do. Is­so o ca­


rac­te­ri­za­va con­ti­nua­men­te, na ora­ção, na pre­ga­ção, no
acon­se­lha­men­to pes­soal de in­di­ví­duos com re­la­ção à
sal­va­ção.
Ele era um ho­mem de ora­ção. Ja­mais me es­que­ce­rei
das reu­niões de ora­ção com ele. Lo­go que co­me­ça­va a
orar em voz al­ta, to­dos per­ce­biam que ele ti­nha in­ti­mi­
da­de com Deus. Ao ou­vi-lo orar, sen­tía­mos o de­se­jo de
fi­car so­zi­nhos e abrir o co­ra­ção pe­ran­te Deus. A ora­ção
exi­gia mui­to de­le. Ele bus­ca­va orar no Es­pí­ri­to San­to.
Era co­mum pas­sar noi­tes in­tei­ras so­zi­nho oran­do. Li­te­
ral­men­te vi­nha da pre­sen­ça de Deus pa­ra seu po­vo. Seus
ser­mões eram ri­cos pe­la ora­ção, por is­so ti­nham gran­de
po­der pa­ra rea­vi­var e san­ti­f i­car o po­vo de Deus, e le­var
pe­ca­do­res cho­ran­do à Cruz.

A Mão de Deus Estava Sobre Ele


Ele era um ho­mem de Deus. Um ho­mem san­to de
Deus. O Se­nhor era tu­do pa­ra ele, tan­to que sem­pre bus­
ca­va a co­mu­nhão com Deus. Ele de­lei­ta­va-se na fra­que­
za em Cris­to. A mão po­de­ro­sa de Deus es­ta­va so­bre ele.
E sem dú­vi­da, es­se era o se­gre­do de sem­pre ter o que
in­des­cri­tí­vel­men­te cha­ma­mos de un­ção. Ja­mais o ou­vi
fa­lar sem ela.
Co­mo pas­tor, ele ti­nha mui­to cui­da­do na pre­pa­ra­ção
pa­ra o púl­pi­to. Ele lem­bra­va as palavras de M’Chey­ne:
“óleo ba­ti­do pa­ra o san­tuá­rio”. Pa­re­cia que ele com­
preen­dia com­ple­ta­men­te os san­tos e pe­ca­do­res, e ca­da
um re­ce­bia sua por­ção pe­ran­te Deus. Ele bus­ca­va an­sio­
sa­men­te le­var o po­vo de Deus à ple­ni­tu­de de uma vi­da
aben­çoa­da em Cris­to, e não que­ria que fi­cas­se sa­tis­fei­to
com al­go me­nos que a vi­da abun­dan­te que en­chia sua
“Ele não Podia Viver sem Ganhar Almas” • 73

pró­pria al­ma. John era mui­to aben­çoa­do ao le­var cren­tes


à obra de Deus. Nun­ca os in­cen­ti­vou a ser ou fa­zer al­go
que ele pró­prio não era ou não fa­zia. Ele mos­tra­va o ca­
mi­nho.

Sua Paixão pelas Almas


Nos­so que­ri­do ir­mão pos­suía um ze­lo in­ten­so pe­las
al­mas. Es­sa era real­men­te a ca­rac­te­rís­ti­ca mar­can­te da
sua vi­da con­sa­gra­da. Ele pa­re­cia ser in­ca­paz de vi­ver
sem ga­nhar al­mas pa­ra Cris­to. Al­mas! Al­mas!! Al­mas!!!
preen­chiam to­da a sua vi­da.
Ele era leal à Pa­la­vra de Deus. Nun­ca se­guia os ca­mi­
nhos du­vi­do­sos da crí­ti­ca, pois a Pa­la­vra de Deus era o
seu guia.
O pas­tor John não to­le­ra­va al­guns dos mé­to­dos mo­
der­nos de rea­li­zar a obra cris­tã. Pa­ra ele era qua­se blas­
fê­mia ofe­re­cer aos ho­mens, que es­tão mor­ren­do, en­tre­
te­ni­men­tos e di­ver­sões ao in­vés do Evan­ge­lho glo­rio­so
que traz sal­va­ção a to­das as pes­soas. Seu pró­prio mi­nis­
té­rio era um exem­plo vi­vo da­qui­lo que so­men­te o Evan­
ge­lho po­de al­can­çar.

“Suba Mais”
Ten­do si­do uma bên­ção pa­ra a Igre­ja Moody em Chi­
ca­go, ele foi con­vi­da­do a vol­tar pa­ra uma se­gun­da mis­
são, e na ida pa­ra lá, Cris­to veio até ele e dis­se: “Su­ba
mais”. Que en­con­tro com seu Se­nhor! Te­nho mui­ta cu­
rio­si­da­de em sa­ber co­mo ele agiu nos úl­ti­mos mo­men­
tos da sua vi­da. Co­mo de cos­tu­me, ele não dei­xa­ria de
se­car as lá­gri­mas, con­for­tar, e aju­dar até o úl­ti­mo mi­nu­
to da sua vi­da. No meio da mas­sa con­fu­sa de ho­mens,
74 • O Último Herói do Titanic

Pr. A. Moncur Niblock


Aci­ma: um bra­ço de guindaste dos bo­tes sal­va-
vi­das lem­bra que ha­via es­pa­ço pa­ra sal­var
somente 1.178 passageiros. Mas al­guns
dos bar­cos só fo­ram ocupa­dos pela
me­ta­de por pu­ro me­do, ner­vo­sis­mo e
egoís­mo. Das mais de 1.500 vítimas,
apro­xi­ma­da­men­te 500 afun­da­ram
com o na­vio e as ou­tras mor­re­ram
nas águas ge­la­das. O re­ló­gio foi en­
con­tra­do com uma pes­soa afo­ga­da e
pa­rou na ho­ra da ca­tás­tro­fe.
“Ele não Podia Viver sem Ganhar Almas” • 75

mu­lhe­res e crian­ças se afo­gan­do, ele não dei­xa­ria de in­


di­car a Cruz, e as­sim co­mo vi­via, mor­re­ria com es­se no­
me nos lá­bios – Je­sus! Je­sus!! Je­sus!!!
Só houve um John Harper e não haverá outro;
ninguém jamais o substituirá. Ele se foi, nós ficamos
para trás! Para quê? Para chorar e deixar nossas
mãos desocupadas? Não, certamente não! Mas, sim,
para trabalhar, vigiar, esperar, pregar a Cristo, e este
crucificado, para salvar aqueles que estão
clamando a nós: “Salvem nossas almas”.
6
Nunca Mais
Haverá Outro
Homenagem do Pr. A. M. Niblock, feita na
Igreja Batista de Walworth Road, Londres

É
com sen­ti­men­tos in­des­cri­tí­veis que es­tou aqui
nes­ta ma­nhã. A gran­de ca­la­mi­da­de que caiu so­
bre nós, com a per­da do nos­so que­ri­do pas­tor, o
re­ve­ren­do John Har­per, nos lan­çou nu­ma es­cu­ri­dão de
on­de nos­sos co­ra­ções e nos­sas men­tes ain­da não con­se­
guem sair. Na noi­te de se­gun­da-fei­ra pas­sa­da, saí­mos da
reu­nião de ora­ção pa­ra nos­sas ca­sas cheios de lou­vor a
Deus pe­la pre­ser­va­ção do nos­so que­ri­do ami­go.

A Promessa Falha de um Navio


Insubmergível
Os jor­nais nos dis­se­ram que ele es­ta­va num na­vio in­
sub­mer­gí­vel, que tu­do era se­gu­ro, e que não ha­via ra­zão
pa­ra te­mer, mas in­fe­liz­men­te a pa­la­vra do ho­mem não é
co­mo a Pa­la­vra de Deus – imu­tá­vel, cons­tan­te e cer­ta. E
78 • O Último Herói do Titanic

as obras do ho­mem não são co­mo as de Deus, pois pa­la­


vras e obras fa­lha­ram, co­mo vi­mos nes­se tris­te de­sas­tre.
O na­vio era in­sub­mer­gí­vel, e afun­dou; le­vou con­si­go às
es­cu­ras pro­fun­de­zas o cor­po da­que­le que amá­va­mos
tan­to, mas, gra­ças a Deus, sa­be­mos que ele foi pa­ra o
céu pa­ra es­tar com o Se­nhor.
So­fre­mos uma gran­de per­da, e não so­men­te nós, mas
to­da a Igre­ja de Deus, uma per­da que não po­de ser subs­
ti­tuí­da. Só ha­via um John Har­per, e nun­ca mais ha­ve­rá
ou­tro, nin­guém ja­mais o subs­ti­tui­rá. Ele se foi, nós fi­ca­
mos pa­ra trás! Pa­ra quê? Pa­ra cho­rar e dei­xar nos­sas
mãos de­so­cu­pa­das? Não, cer­ta­men­te não! mas pa­ra tra­
ba­lhar, vi­giar, es­pe­rar, pre­gar a Cris­to, e es­te cru­ci­f i­ca­
do, e as­sim sal­var aque­les que es­tão cla­man­do a nós:
“Sal­vem nos­sas al­mas”.
Meu co­ra­ção sen­te o mes­mo que os seus, sim, es­ta­
mos so­fren­do jun­tos, e só Deus sa­be quão gran­de é o
va­zio que es­tá nos seus co­ra­ções nes­ta ma­nhã.

Nossa Fornalha de Aflição


Deus ama es­ta igre­ja, Ele a hon­rou ao ce­der, por um
tem­po, es­se ho­mem de ora­ção pa­ra le­vá-la aos pas­tos
ver­de­jan­tes da ver­da­de e às águas tran­qüi­las da co­mu­
nhão com Deus. O pró­prio fa­to de­le ter es­ta­do aqui pro­
va o amor de Deus por vo­cês, e que Deus es­co­lheu es­se
po­vo pa­ra Si, pa­ra que Ele mos­tras­se a Sua gló­ria e vir­
tu­de atra­vés de vo­cês. Ho­je vo­cês es­tão na for­na­lha da
afli­ção. Mas não é is­so que Deus quer pa­ra Seu po­vo?
Isaías diz: “Pro­vei-te na for­na­lha da afli­ção”, e nis­so
que acon­te­ceu co­nos­co, Deus es­tá nos pro­van­do pa­ra Si.
A In­gla­ter­ra ho­je é uma ter­ra de la­men­ta­ção. Há mui­
tas viú­vas e mui­tos ór­fãos que, há pou­co tem­po atrás,
Nunca Mais Haverá Outro • 79

AA co­co­llu­
u­nnaa do do le­ le­
me
me do doTi­ Ti­tta­
a­nnic.
ic. O O
que
que era era de de ma­ ma­
dei­
dei­rra,
a, co­ co­m moo aa
ro­
ro­ddaa do do le­ le­m me,e,
de­
de­ssa­
a­ppa­
a­rre­
e­cceu.
eu. O O
mes­
mes­m moo acon­ acon­tte­ e­
ceu
ceu nosnos de­ de­m mais ais
des­
des­ttro­
ro­çços os do do
na­
na­vvio.
io. Que Que mo­ mo­
men­
men­ttos ostrá­
trá­ggi­i­ccos os
fo­
fo­rram
am vi­ vi­vvi­i­ddos
os
exa­
exa­tta­
a­mmen­
en­ttee nes­nes­
ta
ta pon­
pon­ttee de de co­ co­
man­
man­ddo! o!
80 • O Último Herói do Titanic

es­ta­vam con­tan­do os dias, as ho­ras quan­do te­riam a ale­


gria de ver os seus que­ri­dos de vol­ta. Ho­je seus co­ra­
ções es­tão par­ti­dos. A tris­te­za en­trou nos seus es­pí­ri­tos,
e es­tão so­zi­nhos, seu fu­tu­ro é du­vi­do­so, e o es­pí­ri­to da
so­li­dão to­mou con­ta de­les. Ago­ra não têm nin­guém pa­ra
abra­çar, con­f iar, com­par­ti­lhar; seu par­cei­ro se foi, aque­
le que era a sua ou­tra me­ta­de, a quem ama­vam, de quem
fa­ziam par­te.

“Ele orava por vocês. Como orava”


Deus nos aju­de, en­tão, a fa­zer a par­te de um ver­da­
dei­ro cris­tão e a lem­brar des­sas pes­soas em nos­sas ora­
ções pe­ran­te o tro­no eter­no. Eu já dis­se que per­di um
ami­go, um ir­mão e um pas­tor. Is­so é ver­da­de, não é
mes­mo? Ele real­men­te era um ami­go. Po­día­mos che­gar
pa­ra ele e abrir nos­sos co­ra­ções, sa­ben­do que ele va­lo­ri­
za­ria nos­sa con­f ian­ça, se­ria gen­til co­nos­co li­dan­do com
to­da de­li­ca­de­za, e se­ja qual fos­se o con­se­lho ele po­de­ria
ser se­gui­do.
Ora, John era um pas­tor, um pas­tor de ove­lhas. O
que mos­tra que era um ho­mem cons­cien­te de suas pres­
ta­ções de con­tas ao gran­de Pas­tor do re­ba­nho de que
cui­da­va.
Ele ora­va por vo­cês. Co­mo ora­va! Al­guns de nós ti­ve­
mos o pri­vi­lé­gio de nos reu­nir­mos com ele em ora­ção a
Deus, e nes­sas ho­ras ele se en­tre­ga­va com­ple­ta­men­te;
mui­tas ve­zes nos ma­ra­vi­lha­mos com a sua ou­sa­dia, pe­
din­do a Deus gran­des coi­sas, e fa­lan­do com Ele com in­
ti­mi­da­de. Eu nun­ca co­nhe­ci um ho­mem co­mo ele na
ora­ção. Eu vi seu suor li­te­ral­men­te es­cor­ren­do en­quan­to
su­pli­ca­va em ora­ção.
Nunca Mais Haverá Outro • 81

Às ve­zes ele pa­re­cia ter su­bi­do com asas de águia e


es­tar lon­ge de nós, lon­ge na­que­le céu azul on­de Deus
es­tá, mas ao mes­mo tem­po per­ce­be­mos que ele tra­zia o
céu pa­ra a ter­ra. Quan­do John Har­per ora­va, o céu e a
ter­ra se en­con­tra­vam, e os que es­ta­vam per­to de­le sa­
biam dis­so, por­que o sen­tiam.
Ele era um Brai­nerd, um Ed­wards, um M’Chey­ne,
um Wil­liam Burns, um Fin­ney, e um Caug­hey, to­dos
ao mes­mo tem­po. Co­mo ele ora­va pe­las ove­lhas do
re­ba­nho! Ó ami­gos, de­ve­mos mui­to ao nos­so Se­nhor
Je­sus por per­mi­tir que ele en­tras­se nas nos­sas vi­das.
So­mos ho­je mais ri­cos es­pi­ri­tual­men­te por cau­sa das
suas ora­ções, e nos dias vin­dou­ros quan­do re­ce­ber­mos
bên­çãos es­pi­ri­tuais, lem­brem-se de que em gran­de par­
te mui­tas de­las se­rão as res­pos­tas das ora­ções do nos­
so ir­mão au­sen­te.

Ele Viveu Praticamente sem Teto e Morreu


sem um Túmulo
Nos­so ami­go, ir­mão, e pas­tor foi pa­ra seu lar. Quan­
do sua que­ri­da es­po­sa foi ti­ra­da de­le há uns seis anos
atrás, ele fi­cou, de cer­ta for­ma, sem te­to. Era sua es­po­sa
que cui­da­va da ca­sa, nos ar­re­do­res de Glas­gow, seu
“lar”. Ago­ra ele es­tá com ela, e além dis­so, es­tá com seu
Se­nhor e Sal­va­dor, a quem ele ado­ra­va, ama­va e ser­
via...
Quan­do o Ti­ta­nic afun­dou, le­vou con­si­go seu po­bre
frá­gil cor­po, mas não o seu es­pí­ri­to, pois es­te foi pa­ra
seu lar com Deus. En­tão não de­ve­mos nos lem­brar de­le
co­mo era na car­ne, mas co­mo é ago­ra com Cris­to. Se
lem­brar­mos do ho­mem na car­ne, ve­re­mos o po­bre cor­
po no fun­do do mar, e ima­gi­na­re­mos que ele es­tá frio e
82 • O Último Herói do Titanic

A ma­dei­ra, o es­to­fa­men­to e as al­mo­fa­das su­mi­ram, e a areia do


mar po­liu a es­tru­tu­ra me­tá­li­ca. Nin­guém mais sen­ta-se nes­te ban­co
nu­ma pro­fun­di­da­de de mais de 3.800 me­tros!
Nunca Mais Haverá Outro • 83

so­zi­nho, o que não é ver­da­de. Não, ami­gos, não nos en­


tris­te­ce­mos co­mo os de­mais. Aque­le cor­po era ape­nas a
mo­ra­da ter­re­na de um no­bre ho­mem de Deus. O ho­mem
se foi, e o ta­ber­ná­cu­lo ter­re­no ago­ra não tem mo­ra­dor.
Se pu­dés­se­mos, o co­bri­ría­mos e guar­da­ría­mos, e co­lo­
ca­ría­mos seu cor­po no tú­mu­lo com amor, por cau­sa da
al­ma que vi­veu ne­le, mas não o po­de­mos, e, por is­so,
nos sub­me­te­mos e pros­tra­mos à von­ta­de de Deus. Pois
Deus se agra­dou em le­var nos­so ir­mão pa­ra Si des­sa
for­ma, não sa­be­mos por quê. Mas uma coi­sa sa­be­mos,
Deus fez o que é cer­to, e à Sua von­ta­de di­ze­mos,
Amém!
Sr. Hugh Morris, Evangelista

Com uma pele pálida e um corpo frágil ele


não parecia ser muito forte: Ninguém poderia
imaginar que ele viveria durante aqueles anos para
realizar a grande obra que realizou, pois como obreiro
na vinha do Mestre ele trabalhava sem cessar, como
todos que o conheciam sabiam.
7
“O Comovente
Zelo e a
Dedicação do
Homem”
Homenagem do Sr. Hugh Morris,
Evangelista

F
oi privilégio meu ter a amizade do Sr. John Har-
per por vinte cinco anos, e ao ler as notícias sobre
seu triste fim nos jornais, depois do terrível desas-
tre do Titanic, mal podia acreditar que esse seria o des-
tino do homem de quem me despedi pouco tempo antes,
que, desde que o conheci, nunca pareceu tão preparado
para o trabalho física, intelectual, e espiritualmente. Eu
o ouvia pregar com freqüência, mas o sermão que pre-
gou na Reunião do Meio-Dia em Bothwell Street, Glas-
gow, no dia do nosso último encontro sobre a terra, na
86 • O Último Herói do Titanic

quarta-feira, dia 20 de março, ficou marcado na minha


mente por sua lucidez, sinceridade e força espiritual,
que dava certeza de que seus dons como proclamador
das Boas Novas de Deus não se acabaram, mas aumen-
taram e se fortaleceram desde nosso encontro anterior.
Há vinte cinco anos atrás, como um menino de qua-
torze anos, ele começou a trabalhar nos jardins de Baro-
chan House, Houston, Renfrewshire. Com uma pele pá-
lida e um corpo frágil, ele não parecia muito forte. Nin-
guém poderia imaginar que ele viveria durante aqueles
anos para realizar a grande obra que realizou, pois co-
mo obreiro na vinha do Mestre, ele trabalhou sem ces-
sar, como todos que o conheciam sabiam. Uma caracte-
rística marcante daqueles primeiros anos, que deixava
radiante sua vida de jovem, era sua reverência pelas coi-
sas de Deus.
Tive o privilégio de conhecer os pais de John, e quem
pode subestimar a influência benigna de um lar onde
Cristo é Senhor e Mestre, numa vida jovem que cresce
no seu meio? Seu pai era um homem muito modesto,
mas também um homem marcante, pois o amor de
Deus, que enchia seu coração, o fazia pensar, falar e
agir de modo a declarar com clara voz que ele era um
“servo de Jesus Cristo” como o seguinte incidente de-
monstrará.

George Harper Sabia Lidar com


Humilhações
Um dia numa fazenda, onde os trabalhadores estavam
juntando feno em montes, o fazendeiro começou a pro-
vocá-lo e zombar da sua religião enquanto ele passava.
Os trabalhadores riram. George Harper não disse nada a
“O Comovente Zelo e a Dedicação do Homem” • 87

O navio de pesquisas “Atlantis II”, com o submarino “Alvin” no guin-


daste da popa.
Em 9 de julho de 1986, Robert D. Ballard e sua equipe de 9 pessoas
iniciaram a expedição ao “Titanic”. Com a ajuda de satélites, depois de
3½ dias chegaram exatamente ao local onde haviam descoberto os
destroços há um ano. Depois de onze mergulhos com o submarino
“Alvin” e com o robô-filmador “Jason”, acabavam de ser feitas as foto-
grafias mais espectaculares dos restos desse “rei dos mares”, tiradas
na escuridão total das profundezas.

princípio, mas depois virou-se para o fazendeiro e citou


Apocalipse 21.8: “Quanto, porém, aos covardes, aos
incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos im-
puros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os men-
tirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde
com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte”, e al-
guns outros textos semelhantes.
O riso cessou, o velho fazendeiro ficou tremendo, de-
pois se voltou e fugiu para dentro de casa. Daquele dia
88 • O Último Herói do Titanic

em diante, ninguém da fazenda sequer tentou ridiculari-


zar George Harper ou a sua religião. Um homem de
verdadeira santidade, poderoso nas Escrituras e podero-

A proa do “Titanic” abriu uma verdadeira cratera no fundo do mar.


Isso nos traz à lembrança passagens bíblicas que dizem: “...descerá
a soberba de seu poder” (Ez 30.6), ou: “...serei semelhante ao Altíssi-
mo. Contudo levado serás ao Seol, ao mais profundo abismo! (Is
14.14 e15), ou alguns trechos de Ezequiel 28.15-19: “Perfeito eras
nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado... Elevou-se o teu
coração por causa da tua formosura... Todos os que te conhecem en-
tre os povos estão espantados de ti; chegaste a um fim horrível...!”
“O Comovente Zelo e a Dedicação do Homem” • 89

so na oração. Quantas vezes na hora da refeição sentei-


me com a minha Bíblia na mão e ouvi com grande pro-
veito esse “Mestre de Israel” abrir as Escrituras. Nin-
guém conseguia ouvi-lo orar e não ficar comovido pelo
comovente zelo e pela dedicação do homem. Não se po-
de duvidar que ele conhecia o caminho direto para o
trono da graça.
Eu saí daquela região e fui morar em Largs. John
Harper foi trabalhar no comércio de carpetes em El-
derslie, depois, na fábrica de papel em Kil-barchan.
Veio o chamado para pregar o Evangelho, e ele obede-
ceu. Em toda a região, Johnstone, Kil-barchan, Lin-
wood, Elderslie e Bridge-of-Weir, John foi pregando
com poder. Primeiro a escola e depois um salão foram
usados para reuniões em Bridge-of-Weir. Várias vezes
pediram para mim passar um fim-de-semana ali.

Há Cinco Pessoas Aqui que Ainda não


Aceitaram a Cristo
Uma reunião ficou marcada em minha memória.
Aquele domingo estava violentamente chuvoso. Na ho-
ra da reunião à noite, o tempo não tinha melhorado. Es-
távamos esperando pouca gente, porque a estrada para o
local era longa, escura e cercada de árvores. No palco,
depois de dizer o hino, eu perguntei se ele achava que
havia algum incrédulo presente. Ele conhecia bem os
trabalhadores, e depois de um minuto ele sussurrou para
mim: “Há cinco pessoas aqui que ainda não aceitaram a
Cristo”. Eu pedi que John orasse pela conversão daque-
les cinco, enquanto eu pregaria para a conversão deles.
“Estou de acordo”, ele disse com um sorriso. Quando a
primeira reunião terminou, ninguém se mexeu para ir
90 • O Último Herói do Titanic

embora. Não fizemos pressão sobre ninguém, nem usa-


mos estratégias para segurá-los. Todos ficaram sentados
voluntariamente, e quando perguntamos se as cinco
pessoas queriam aceitar a Cristo, elas disseram que sim,
e todas as cinco fizeram a profissão de fé em Jesus an-
tes de ir embora. Ele costumava falar sobre essa reunião
quando nos encontrávamos depois disso.

Aos 20 Anos Ele Era o Líder


Outra reunião que organizou foi uma conferência pa-
ra obreiros cristãos em Brae of Ran-furly, Bridge-of-
Weir, numa tarde de sábado no verão. Eu dei uma pa-
lestra naquela conferência, e ainda me lembro da gran-
de reunião e da vida espiritual sadia que todos
demonstravam.
Quando lembramos que naquela época ele não tinha
nem 20 anos de idade, e que já era o líder de toda a
obra, isso nos mostra que, junto com os anos seguintes
de trabalho duro e zelo ilimitado para ganhar os perdi-
dos para Cristo, ele não estava trabalhando pela força da
carne, mas através do “poder do Espírito”, depois de re-
ceber ordens do “Líder e Comandante” para ir.
Agora pode-se dizer que sua obra está terminada,
tendo colocado “suas mãos no arado” ele nunca mais
olhou para trás. Na época em que estava trabalhando
com força total no distrito mencionado acima, ele me
escreveu dizendo que viu, e estava convencido pela Pa-
lavra de Deus, que deveria se batizar por imersão, e pe-
diu para que eu realizasse a cerimônia.
Eu não era pastor, e na época nem tinha o título de
“evangelista”, mas como ele insistiu que eu o batizasse,
num sábado de manhã fomos juntos para Noddle Burn
“O Comovente Zelo e a Dedicação do Homem” • 91

no norte de Largs, e ali, no lago sob a ponte da estrada


de Wemyss Bay, John Harper, por obediência ao seu Se-
nhor, foi batizado na forma do Novo Testamento.

As Últimas Palavras de John e de


Seu Pai Para Mim
A última vez que vi o piedoso pai de John vivo, tive-
mos uma conversa sobre as “coisas relativas ao Rei”. E
apesar dele, na época, estar trabalhando normalmente,
me assegurou com muita calma e com ênfase que sabia
que estava perto do fim da sua jornada aqui. Sua saúde
estava normal, mas ele me disse que as orações de mui-
tos anos foram respondidas, e a chamada para o lar viria
em breve. Era verdade, pois duas semanas depois eu es-
tava em Houston no seu velório.
No fim de março deste ano me encontrei com John.
Ele partiria em breve para Chicago. Ele disse: “Talvez
ainda o veja lá”. “Sim, tenha fé”, foi minha resposta.
Não. Não, Chicago, mas “a Cidade que tem fundamen-
tos”, onde não há campanhas evangelísticas, pecado, ca-
tástrofes, tristezas. Com Cristo, com Ele para sempre,
nos encontraremos. Glória a Deus.
Sr. W.D. Dunn, Evangelista

E agora o corpo precioso do soldado valente está sob


as ondas do oceano, e seu espírito lavado pelo sangue
está na presença do Senhor lá na terra de luz e glória,
a pátria de todos os que amam e servem ao Cristo de
Deus. Adeus, querido soldado, nos encontraremos
na manhã sem nuvens.
8
Um Soldado
Valente Dedicado
a Deus

Homenagem do Sr. W. D. Dunn, Evangelista

D
ou com prazer meu testemunho carinhoso sobre
a fidelidade e o genuíno valor do falecido pastor
John Harper. Eu o conhecia há vinte anos, e du-
rante todo esse período tivemos uma amizade íntima,
buscando a santificação dos santos de Deus, e a salva-
ção das almas perdidas. Durante minha longa experiên-
cia na obra cristã tive contato com os melhores obreiros
do Senhor, e sem reserva, posso dizer que nenhum pas-
tor, professor, ou evangelista jamais tocou minha alma
mais que os apelos e as pregações do pastor John Har-
per, porque ele sempre fora dedicado a Deus e às almas.
94 • O Último Herói do Titanic

“Dá-me Almas ou Morrerei”

John Welch, na beira da sua lagoa, à meia-noite, dis-


se: “Oh Deus, dá-me a Escócia, ou morrerei”, e muitas
vezes ouvi o pastor Harper dizer, enquanto se prostrava
perante Deus, coberto de suor: “Oh Deus, dá-me almas,
ou morrerei”. Então ele soluçava e chorava, como se
seu coração fosse explodir. É de admirar que Deus lhe
tenha dado almas para Cristo às centenas?
Nosso querido irmão era um estudante aplicado da
preciosa Palavra de Deus – ele cria que ela foi inspira-
da por Deus do Gênesis ao Apocalipse, e ele a pregava
com uma visão clara. Muitas vezes assisti aos cultos na
Igreja Batista de Paisley Road que mais pareciam um
campo de batalha, santos chorando por não serem co-
mo Cristo, e pobres pecadores perdidos clamando por
salvação.

Harper “Morava ao Lado do Céu”


Que vitórias gloriosas da graça foram conquistadas
através do seu ministério no Espírito Santo naquela par-
te da cidade! E por onde ele passou, tanto em público
quanto em particular, levava consigo o perfume santo
do seu Senhor. Muitas vezes senti, depois de estar com
ele no Evangelho ou no Santo Lugar do Senhor, que ele
estava amadurecendo rapidamente para uma obra maior.
Ele morava ao lado do céu, portanto sua alma estava as-
pirando constantemente o ar do céu.
A bênção de alma que nosso irmão tinha o livrou de
qualquer vestígio de partidarismo, e por isso ele pregava
em perfeita harmonia com todas as outras denomina-
ções da Igreja Cristã. Ele aprendeu através da graça que
Um Soldado Valente Dedicado a Deus • 95

a Igreja e a obra da Igreja são uma, e estava pronto para


ajudar qualquer ministro irmão que precisasse dos seus
serviços.

Ele Vivia Sob Pressão Suficiente Para


“Destruir o Mais Poderoso dos Homens”
Muitos de nós imaginamos como ele vivia sob uma
tensão tremenda, provocada pela quantidade de prega-
ções que fazia, e por noites gastas em oração, que pare-
ciam suficientes para destruir o mais forte de todos os
homens, mas ele continuava como um trem expresso,
determinado a alcançar seu destino sem demoras, seus
olhos fixados no Senhor, crucificado, sepultado, ressur-
reto, que subiu ao céu, intercede por nós e está para vol-
tar. E todos os poderes do inferno não poderiam remo-
vê-lo do centro da determinação de sua alma.
E agora o corpo precioso do soldado valente está sob
as ondas do oceano, e seu espírito lavado pelo sangue
está na presença do Senhor lá na terra de luz e glória, a
pátria de todos os que amam e servem o Cristo de Deus.
Adeus, querido soldado, nos encontraremos na ma-
nhã sem nuvens.
Sr. John Paton

Alguns de nós podem muito bem imaginá-lo


nesses últimos minutos agonizantes a bordo do Titanic
condenado, no meio de um grupo de almas feridas
e arrependidas, indicando-lhes o Salvador que
amou e serviu tão bem, e ajudando-as a
agarrar a sua última chance.
9
Deus o
Encarregou
a Ser a Última
Testemunha do
Titanic

Homenagem do Sr. John Paton, de Carmyle

F
ico agradecido pela oportunidade de registrar o
quanto devo na minha vida cristã à amizade com o
querido John Harper. Acho que a palavra de Pro-
vérbios 17.27: “O sereno de espírito é homem de in-
teligência”, é realmente verdadeira, e os dois amigos
que agora estão com o Senhor e que mais “afiaram” a
minha vida foram Matthew Colquhoun e John Harper.
Reconstituição artística da proa do “Titanic” no fundo do mar com base nas fotos tiradas. Ao seu redor se encon-
tram grandes quantidades de destroços e restos do navio.
Deus o Encarregou a Ser a Última Testemunha... • 99

Zelo Ardente
Ambos eram amigos íntimos, não só meus, mas um
do outro, e antes de morrer no dia 6 de maio de 1909,
Matthew serviu muitas vezes ao Senhor em Paisley
Road durante o pastorado de John Harper. Um deles me
impressionava muito pela doce e transparente santidade
da sua vida, o outro, da mesma forma pelo seu zelo ar-
dente e dedicado, ambas qualidades nascidas do amor
fervoroso deles pelo Salvador. Quando vemos como é
fácil deixar a lâmina da vida espiritual ficar sem fio,
damos mais valor ao privilégio de amizades como es-
sas, e só a eternidade revelará quantas pessoas comuns
da comunidade cristã, como eu, devem ter sido aben-
çoadas através do contato com essas duas vidas.

Gastar e Ser Gasto


Estar na companhia de John Harper era renovar no
coração o desejo de “gastar e ser gasto” na obra do
Mestre. Alguns de nós podem muito bem imaginá-lo
nesses últimos minutos agonizantes a bordo do Tita-
nic condenado, no meio de um grupo de almas feri-
das e arrependidas, indicando-lhes o Salvador que
amou e serviu tão bem, e ajudando-as a agarrarem a
sua última chance.
Deus não tem muitos servos a quem Ele confiaria tal
obra, e isso para mim é pelo menos a explicação do
nosso irmão estar a bordo do Titanic, ao invés de viajar
no Lusitania, como havia planejado.
Que todos nós sigamos John Harper da mesma forma
que ele seguiu Jesus.
Sr. Robert Logan, Evangelista

Oh! Como ele inflamava-se,


orava, trabalhava e chorava pela conversão
dos pecadores, e, graças a Deus,
muitos foram levados aos pés do Salvador
através dos seus esforços consagrados.
10
Uma Visão
Impressionante
Homenagem do Sr. Robert Logan,
Evangelista

O
fim repentino e inesperado do nosso querido ir-
mão, Sr. Harper, foi como uma bofetada para
aqueles dentre nós que o conheciam e amavam,
e ainda achamos difícil pensar que ele deixou o local
das suas zelosas, altruístas e frutíferas obras.

A Força da Sua Vida Pessoal


O Sr. Harper era um homem forte. Ele era forte no
seu amor pelos irmãos. O seu aperto de mão bondoso e
seu cumprimento de irmão eram sempre animadores.
Ele era forte no seu amor e na sua reverência pe-
la Bíblia. O seu desenvolvimento no estudo da Bíblia
e o conhecimento bíblico adquirido eram muito im-
pressionantes.
102 • O Último Herói do Titanic

Ele era forte no seu amor pela oração. Ele sabia co-
mo poucos parecem saber que o poder verdadeiro entre
os homens deve ser precedido de comunhão com Deus.
Por isso, ele não praticava os dez ou quinze minutos
normais de oração a Deus. Ele passava horas em oração
persistente diante de Deus pela salvação das almas per-
didas. Ah, se tivéssemos mais intercessores assim!

Em meio à montanha de destroços foi descoberto também este


cofre. Quantos não teriam desejado dar tudo o que possuíam para
salvar suas vidas e as de suas famílias?
Uma Visão Impressionante • 103

A Força da Sua Preocupação com os Outros

Ele era forte no seu amor pelos perdidos. Ele tinha


um amor intenso pelas almas! Ele ficava ansioso pela
santificação dos santos. Oh! Como ele inflamava-se,
orava, trabalhava e chorava pela conversão dos pecado-
res, e, graças a Deus, muitos foram levados aos pés do
Salvador através dos seus esforços consagrados.

A Fonte da Sua Força


Ele amava fortemente o Salvador que morreu por ele.
John vivia, andava, orava e pregava com a consciência
de uma visão impressionante do Calvário. Portanto,
Cristo, o Crucificado, era sempre o seu tema. Para ele o
nome de Jesus era doce, sagrado e precioso. Que seu
manto caia sobre muitos de nós para que possamos
completar com sucesso a carreira que nos está proposta
até o dia raiar, quando nos encontraremos para nunca
mais dizer adeus.
O conteúdo da carta (de Harper)
era principalmente de incentivo
à atividade incessante para alcançar
os perdidos e de fortalecimento
dos santos, e para encorajar-me
pessoalmente a continuar na obra
entre os pecadores e desprezados.
11
Um Homem de
Conselho Terno e
Encorajador
Homenagem do Sr. Alex Galbraith,
missionário entre marinheiros, Glasgow

M
inha amizade e comunhão com o querido ir-
mão John Harper, a quem eu amava no Senhor,
começou há uns doze ou quatorze anos. Eu o
vi desenvolver-se e crescer espiritualmente no zelo pe-
las almas dos homens e na lealdade a Cristo e à Sua
verdade.
Recebi as últimas notícias dele cerca de uma semana
antes dele ter se apresentado, pela última vez, na Reu-
nião do Meio-Dia em março, e o conteúdo da sua carta
era principalmente de incentivo à atividade incessante
para alcançar os perdidos e de fortalecimento dos santos,
e para encorajar-me pessoalmente a continuar na obra
entre os pecadores e desprezados; e ainda me lembro da
ternura das suas palavras de conselho e incentivo.
Pastor Malcolm Ferguson

Depois da morte da Sra. Harper,


muitas vezes ele passava a noite na igreja
e orava pelas pessoas que ocupavam cada
assento, e, no domingo, buscava e esperava
que almas fossem salvas. Ele era uma luz
ardente e brilhante.
12
Quando Ele
Falava, Almas
Clamavam por
Misericórdia
Homenagem do pastor M. Ferguson,
Armiesland

F
oi meu privilégio e minha alegria conhecer o fale-
cido pastor John Harper durante mais de doze
anos. Eu ouvi falar dele pela primeira vez em
New Cumnock, onde tinha dirigido alguns cultos. A
igreja formada ali pelo Sr. James Adair estava procuran-
do um pastor e queriam muito ficar com o Sr. Harper.
Eu vi os frutos da sua missão, e senti que qualquer igre-
ja teria razão em ficar com tal homem de Deus.
Mais tarde o conheci em Gordon Halls, Paisley Road,
e quando vi o espírito e entusiasmo das reuniões, disse
108 • O Último Herói do Titanic

a um dos obreiros: “Não vão conseguir manter o Sr.


Harper aqui por muito tempo”.

Reavivamento Constante
Bem, ele não foi levado de Paisley Road tão facil-
mente. Ele ficou ali por muitos anos, e centenas agrade-
cerão a Deus por toda a eternidade pelo seu fiel minis-
tério naquele lugar. Outros contarão a história da igreja,
seu crescimento, seus reavivamentos constantes, as
multidões, e as centenas de almas salvas e abençoadas.

Grandes Multidões e Grande Convicção


Eu estive lá com freqüência em 1905, quando as notí-
cias do reavivamento de Gales se espalharam. Não fui
para Gales, mas muitas vezes vi cenas na Igreja de Pais-
ley Road semelhantes ao que tinha ouvido que estava
acontecendo lá. As multidões eram tão grandes que se
tornava difícil entrar, e depois de entrar, era ainda mais
difícil chegar ao palco. Então, antes de alguém conse-
guir falar por dez minutos, almas estavam clamando por
misericórdia sob o grande poder de Deus. Não era emo-
ção. Era o Espírito Santo convencendo do pecado. Eu
me perguntava muitas vezes: Qual é o segredo dessa
bênção perene em Paisley Road? Mas quando estava
com o pastor na sua sala ou na sua casa, o segredo era
logo revelado.

“Íntimo com Deus”


Ninguém podia ficar perto do Sr. Harper muito tem-
po sem descobrir que ele era um poderoso homem de
Quando Ele Falava, Almas Clamavam... • 109

Na presença da morte se impõe a questão do sentido da vida.


Jesus é a “âncora segura para as nossas almas” e em meio a um
mundo maduro para o juízo é o bote salva-vidas que nos leva à
maravilhosa eternidade na presença de Deus.
110 • O Último Herói do Titanic

Deus, especialmente na oração. Ele conhecia a Deus e a


sua Bíblia, e por experiência própria o poder interior do
Espírito Santo lhe era também familiar. Tinha um amor
ardente por Cristo e pelas almas. Eu ficava impressio-
nado com a quantidade de trabalho que o Sr. Harper ti-
nha. Seu modo de estudar e de se preparar para os ser-
mões maravilhosos que fazia, eram um assombro para
muitos. Mas enquanto a maioria de nós dormia, ele es-
tava no esconderijo do Altíssimo, íntimo com Deus e
com a Sua Palavra durante a noite inteira numa pequena
sala na igreja de Paisley Road.

Noites Inteiras de Oração


Depois da morte da Sra. Harper, muitas vezes ele
passava a noite na igreja orando pelas pessoas que ocu-
pavam cada assento, e, no domingo, ele buscava e espe-
rava que almas fossem salvas. Ele era uma luz ardente e
brilhante. Alguns ardem mas não brilham, outros bri-
lham mas não ardem. Quando ele falava pode-se dizer o
que disse o homem que foi ouvir Rowland Hill: “As pa-
lavras saiam queimando do seu coração”. Ele acreditava
no que pregava, e pregava o que acreditava. Cristo e as
coisas eternas eram tão reais para ele. Ele vivia e prega-
va “como se Cristo tivesse morrido ontem, ressuscitado
hoje, e voltasse amanhã”.

Ele Sentia a Presença de Deus


Se um pregador já teve consciência da presença de
Deus, era o Sr. Harper, e ele fazia seus ouvintes sen-
tirem o mesmo. Uma vez o ouvi dizer numa conferên-
cia: “Não vamos convencer e converter muitos peca-
Quando Ele Falava, Almas Clamavam... • 111

dores com risadas e piadas. Alguns já expulsaram o


Espírito Santo dos cultos evangelísticos com risadas, e
uma coisa que vemos claramente em muitas reuniões
é a falta de consciência profunda da presença e do po-
der de Deus”.

“Sentiremos Sua Falta”


Dizemos dele o que Jônatas disse de Davi: “Pergun-
tar-se-á por ti, porque o teu lugar estará vazio”. Co-
mo alguns de nós sentimos sua falta! Sua palavra ani-
madora, suas mensagens auxiliadoras, e acima de tudo a
inspiração da sua presença atraente. Sempre que me
despedia dele, ia para casa orar. Esse era o efeito que a
presença do Sr. Harper tinha em mim.
Que pelo seu exemplo piedoso, totalmente consagra-
do, sejamos incentivados a estarmos alertas não só para
“guardar a fortaleza”, mas para invadir as fortalezas das
trevas como nosso irmão gostava de fazer.
Nossa despedida perto da estação
em Old Cumnock em março passado,
foi um incidente inesquecível.
Concordamos em dar uma passagem
bíblica um ao outro... A passagem que
me deu foi uma em que ele pensava
muito há algum tempo:

“Aquele, porém, que faz a


vontade de Deus permanece eternamente”
(1 João 2.17b)
13
A Passagem
de Despedida de
John Harper
Homenagem do pastor Wm. Wright

D
enny e o distrito circunvizinho devem muito a
Deus pelo presente que foi o Sr. John Harper.
Senti que havia uma manifestação de Cristo na
sua vida que ainda não conhecia. Certa vez tivemos
uma conversa sobre Cristo habitando em nós, e ele su-
geriu a nossa necessidade de ser “fortalecidos com po-
der, mediante o seu Espírito no homem interior”, pa-
ra que Cristo possa habitar em nossos corações pela fé.
Ainda jovem ele passou por esse processo de fortaleci-
mento, e quando veio para Denny isso foi visto de ma-
neira espetacular.
Ele acreditava em receber de Deus o texto sobre o
qual iria pregar, e vi sua alma em grande angústia até
que tivesse o testemunho do Espírito Santo com relação
114 • O Último Herói do Titanic

à passagem das Escrituras que iria expôr. Os títulos de


seus sermões também tinham a marca divina, e seus tó-
picos eram muito bem elaborados.

Denny, Escócia, é Sacudida para Deus


Denny não é sacudida facilmente, mas quando man-
dou encher a cidade com placas que diziam: “O inferno
existe?”, alguns pararam para pensar. Ele anunciou um
assunto que não esqueço: “A coisa mais difícil do mun-
do”, que era ir para o inferno, com base em 2 Pedro 3 e
9, porque o pecador tem que ir contra a vontade de
Deus.

O robô-fotógrafo “Jason” filma através de uma janela dos aloja-


mentos vazios da tripulação.
A Passagem de Despedida de John Harper • 115

Campos Verdes e Campos Brancos

Em setembro de 1910, John pregou um dos ser-


mões mais agradáveis e animadores que jamais ouvi.
O título era “Campos Verdes e Campos Brancos”. Os
campos estavam verdes aos olhos dos discípulos, es-
tavam brancos para a colheita aos olhos de nosso Se-
nhor. Ao pregar essa mensagem poderosa de Deus
durante a mesma missão, ele fez a seguinte pergun-
ta para os evolucionistas responderem: “Se a condi-
ção do caráter humano está sempre evoluindo, como
é que Aquele que é reconhecido por quase todos co-
mo o homem perfeito, Jesus, existiu há quase mil e
novecentos anos atrás?”

Lutando Contra as Forças do Inferno


Harper tinha uma convicção firme de que Satanás o
teria matado se pudesse. Ele estava sempre ciente, espe-
cialmente nos últimos anos do seu ministério, do confli-
to que se passava em cada culto entre os poderes da luz
e os poderes das trevas. Ele deu-me pessoalmente um
pequeno conselho em setembro passado em Londres
que tem ajudado muito minha alma em relação a isso:
“O diabo não pode lhe tocar no território da ressurrei-
ção”. Apesar de ser atacado por Satanás com freqüên-
cia, ele descansava em Deus.
Nove anos atrás perguntei-lhe: “No Evangelho, o que
substitui o quarto mandamento?” Sua resposta imediata
foi: “O descanso do Senhor”.
Para os menos informados, a sua mudança de Glas-
gow para Londres pareceu um erro, mas uma igreja rea-
vivada em Londres, e outras igrejas influenciadas posi-
116 • O Último Herói do Titanic

Reconstituição fotográfica da popa do “Titanic”. Um “cadáver de


navio” que agora poderia descansar em paz. Mas parece que por
trás da catástrofe do “Titanic” há algo mais: uma advertência de
Deus às pessoas de hoje!!

tivamente, provaram que ele seguiu a vontade do Espíri-


to ao trocar Paisley Road por Walworth Road.

Palavras de Despedida de John Harper


Nossa despedida perto da estação em Old Cumnock
em março passado foi um incidente inesquecível. Con-
cordamos em dar um texto bíblico um ao outro. Eu lhe
dei: “Apascenta minhas ovelhas”, que o levou a fazer
esta afirmação marcante: Quando estava em Chicago
concentrado em oração, Deus, através do Seu Espírito
Santo, lhe deu a certeza de que sua filhinha, de seis
anos de idade, já era salva. Eu agradeci a Deus e a ele
com sinceridade pela bela história, e muito mais porque
estou convencido de que, nessa área, muitos estão fora
A Passagem de Despedida de John Harper • 117

da vontade de Deus hoje, pois não reconhecem que as


crianças que creram são ovelhas do rebanho.
A passagem que me deu foi uma em que ele pensava
muito há algum tempo: “Aquele, porém, que faz a
vontade de Deus permanece eternamente” (1 João
2.17b).
Sr. William R. Andrew

Na vida particular em Chicago,


o Sr. Harper era radiante e alegre,
e apesar de, às vezes, ficar doente e
sofrer muita dor, que piorava com o
trabalho excessivo, ele era
enaltecido na sua fraqueza,
porque assim o poder de Cristo
se manifestava nele.
14
Os Três Temas de
um Herói

Homenagem do Sr. Wm. R. Andrew,


de Glasgow

É
difícil compreender que um amigo e irmão que
significava tanto para nós foi retirado do local da
sua obra, e que nunca mais estaremos juntos com
ele para proclamar o amor de Jesus para esse pobre
mundo pecador.
A pregação do nosso irmão era uma demonstração de
Espírito e poder. Seus temas eram a Cruz de Cristo, a
graça maravilhosa de Deus ao homem, e a vinda imi-
nente do nosso Senhor Jesus Cristo. Suas mensagens
sobre graça deixavam seus ouvintes totalmente atentos.
Enquanto o Espírito de Deus tocava os corações dos
seus ouvintes, ele pedia para que se abrissem, repetindo
vez após vez as palavras de um coro favorito:
120 • O Último Herói do Titanic

“Não posso mais, e cedo,


abandono o próprio medo,
caio constrangido pela morte do Amor,
e Te confesso meu Conquistador.”

A mensagem de Gálatas 2:19b-20: “Estou cruci-


ficado com Cristo; logo, já não sou eu quem vi-
ve, mas Cristo vive em mim, e esse viver que,
agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de
Deus, que me amou e a si mesmo se entregou
por mim”, era outra que meu querido irmão enfa-
tizava. Muitas vezes ele pedia para os ouvintes re-
petirem as palavras dessa passagem com cuidado e
em espírito de oração, e, assim, muitos passaram a
ter um novo conceito do seu significado, e uma no-
va experiência da sua verdade, aceitando “apenas a
vontade de Deus”.

A Canção dos Lábios de John Harper


As palavras seguintes de um hino, muitas vezes, esta-
vam nos seus lábios:

“Com Cristo sepultado e junto a Ele ressurreto,


que mais me resta senão a paz tão linda,
cessar a luta e desfrutar o Seu afeto,
e andar em vida nova, que é infinda.”

Na vida particular em Chicago, o Sr. Harper era ra-


diante e alegre, e apesar de, às vezes, ficar doente e so-
frer muita dor, que piorava com o trabalho excessivo,
ele era enaltecido na sua fraqueza, porque assim o po-
der de Cristo se manifestava nele.
Os Três Temas de um Herói • 121

Um Ouvinte Compassivo

No tempo livre ele sempre estava às ordens daqueles


que vinham, como muitos diariamente, confessar peca-
dos, pedir ajuda, conselhos e oração. Ele era um ouvinte
amoroso e compassivo das muitas histórias de tristeza e
injustiças, e nada era um incômodo ou sacrifício se pu-
desse, de alguma forma, salvar alguns.
Seu preparo para toda sua obra estava em sua vida de
oração. O que testemunhamos e compartilhamos disso
foi um privilégio inesquecível. Muitas vezes, depois de
um dia de trabalho duro, ele chegava ao seu quarto
exausto e precisando de descanso e sono, mas outras
coisas o chamavam. Ao invés de descansar, ele caía de
joelhos ao lado da cama, e abria sua alma em oração
agonizante a Deus para que salvação e bênção viessem
para aqueles que recusavam a mensagem do Espírito em
Chicago, Londres e na Escócia. Os amigos eram men-
cionados pelo nome – aqueles com quem ele trabalhou
na obra do Evangelho durante os anos do seu ministé-
rio, e também muitos cuja salvação o preocupava.

Uma Voz com “Tons” de Amor


Havia um toque de suavidade, amor e intimidade no
próprio tom da sua voz enquanto, em oração, ele usava o
querido nome “Senhor Jesus”. Era evidente que nosso
irmão já tinha chegado à presença íntima do seu Senhor.
Então, deixando um pouco a oração, ele passava para a
Palavra. O ensinamento que saía dos seus lábios era ma-
ravilhoso quando ele expressava um novo esclarecimen-
to da verdade que acabava de receber do “Senhor Jesus”.
O Senhor, o Espírito, realmente falava através dele.
122 • O Último Herói do Titanic

John Harper foi antes de nós para a obra maior. Que


o nosso Deus nos faça fiéis como ele era enquanto ain-
da trabalhamos aqui.

Surpreendentemente, a ferrugem corrói os destroços no fundo do


mar, apesar da escassez de oxigênio. Na foto, a proa do navio que
já foi majestoso e o auge da tecnologia da época.
Os Três Temas de um Herói • 123

“Ninguém tem maior amor que este: de dar al-


guém a própria vida em favor dos seus amigos”
(João 15.13).
Devemos tudo que somos,
humanamente falando, à inspiração
que vinha da sua vida consagrada,
e nosso único desejo é continuar a
conhecer o Senhor, andando com
humildade e oração perante
nosso Deus, para que Ele seja
honrado e glorificado pela
nossa vida diária.
15
“John Harper
Levou a Mim e a
Minha Esposa a
Cristo”
Testemunho 1

O
sábado, dia 9 de agosto de 1902, foi um dia de
grande alegria na terra, porque naquele dia nosso
falecido Rei Edward foi coroado com pompa e
cerimônia, e Londres foi o centro em que centenas de re-
presentantes de outras nações estavam presentes para o
magnífico evento. O dia seguinte, domingo, 10 de agosto
de 1902, foi um dia de grande alegria para mim, porque
nessa data minha esposa e eu reconhecemos Jesus Cristo
como Salvador e Senhor das nossas vidas.
A obra vinha acontecendo cerca de um ano antes dis-
so, na pequena “igreja de ferro”, como era conhecida a
126 • O Último Herói do Titanic

igreja de chapas onduladas (onde se realizavam os cultos


da Igreja Batista de Paisley Road, sob o ministério do
pastor John Harper). A igreja ficava cheia nos cultos, e
um trabalho dinâmico ao ar livre era feito logo antes da
nossa conversão. Nunca tínhamos entrado numa Igreja
Batista antes, mas vimos o Sr. Harper no meio dos seus
obreiros no culto ao ar livre na esquina da ruas Plantation
e Paisley várias vezes quando subimos até a Rua Paisley.
Na sexta-feira à noite, 7 de agosto de 1902, dois
obreiros da Igreja Batista bateram à porta da casa da
mãe da minha esposa (na época ainda não éramos casa-
dos) e a convidaram para o culto evangelístico na igreja
de ferro no sábado à noite, às 6:30. Quando fui vê-la no
sábado à noite, ela me falou da visita, e perguntou se eu
queria ir com ela. Eu geralmente freqüentava outra igre-
ja, e não queria deixar a nossa igreja nem por uma noite
e ir para outra.
Mas concordei, e na noite seguinte me encontrava pe-
la primeira vez dentro de uma Igreja Batista. Ela estava
lotada. Recebemos um aperto de mão caloroso de dois
diáconos na porta, e um hinário. O louvor era entusiás-
tico, sem formalidades. Mas o sermão – bem, eu não sei
o que o pregador disse, mas lembro desta passagem:
“Tal homem se apascenta de cinza” (Isaías 44.20).

“Toda Palavra Penetrava, e me Senti


Culpado por Causa dos Meus Pecados”
O pastor Harper era o pregador, e como ele pregava!
Toda palavra penetrava, e me senti culpado por causa
dos meus pecados, e então soube que precisava de sal-
vação. Não lembro nenhuma palavra do sermão, mas a
sinceridade e a paixão do pregador me cativaram. Nun-
“John Harper Levou a Mim... a Cristo” • 127

ca tinha ouvido uma pregação assim, tão poderosa e su-


plicante. Quando o sermão terminou, um rapaz e uma
moça levantaram e cantaram o doce dueto “Coberto pe-
lo Sangue de Jesus”, eu absorvi as palavras do hino co-
mo um viajante sedento debaixo de um sol escaldante
bebe água fresca da fonte na beira do caminho. O que
não sabia era que estava começando a beber daquela
Água Viva da Fonte Eterna, da qual, se um homem be-
ber, nunca mais terá sede.
O dueto acabou, e foi seguido por um período de ora-
ção. Depois o Sr. Harper pediu que todos aqueles que
quisessem confiar em Jesus Cristo como seu Salvador
pessoal levantassem a mão, e eu levantei a minha. Eu
sabia que era um pecador. Sabia que precisava de Cris-
to. Conhecia a Bíblia o suficiente para estar ciente do
fato de que precisava me converter para entrar no Reino
dos Céus. Nesse memorável dia 10 de agosto fiquei pe-
rante Deus com a alma quebrantada, e pronta para a sal-
vação. Depois que levantei a minha mão, resolvi a ques-
tão da salvação da minha alma ao aceitar Jesus Cristo
como meu Salvador.
Ninguém falou comigo. Ninguém orou comigo. Nin-
guém leu passagens comigo. O acordo que aconteceu
foi entre meu Senhor e eu, e foi uma grande bênção
real. Eu sabia que naquela noite de domingo, sentado
no antepenúltimo banco da igreja, do lado direito do
pastor, meus pecados foram perdoados, e nasci de Deus.
Jesus pode dar paz a uma alma.

“Minha Esposa Quase Teve um Ataque”


Na reunião a seguir, um irmão querido que agora está
na glória chegou para minha esposa e perguntou se ela
128 • O Último Herói do Titanic

confiava em Jesus. Ela disse: “Não”. Então ele disse a


ela as Palavras da Vida, mas ela ainda não entendia a
verdade da salvação. Ele parou de falar com ela um
pouco e voltou-se para mim e perguntou se eu era salvo.
Eu disse: “Sim”, e minha esposa quase teve um ataque.
“Isso não é verdade”, disse ela. Ela achava que eu só
queria me livrar do homem. Ela não conseguia entender
como eu podia ser salvo se ninguém tinha falado comi-
go, nem lido a Bíblia para mim. Mas o Espírito de Deus
havia falado comigo. O irmão perguntou quando eu
confiei em Cristo, e eu disse: “Quando eu levantei mi-
nha mão na reunião anterior”. Então ele voltou-se para
minha esposa, testemunhou sobre sua salvação, e en-
quanto contava a respeito, ela compreendeu e também
foi salva.
Graças a Deus por Seu amor maravilhoso e Sua gra-
ça. Ambos fomos salvos na mesma noite. Isso foi há
mais de nove anos atrás, e desde então vivemos “guar-
dados pelo poder de Deus, mediante a fé, para sal-
vação”. Três meses depois fomos batizados, por oca-
sião de nossa profissão de fé no Senhor Jesus Cristo,
pelo pastor Harper, recebidos pela comunidade, e con-
tinuamos em comunhão com a Igreja de Paisley Road
desde então.

Devemos Tudo que Somos à Sua Inspiração


Sempre agradecemos a Deus por nos levar à Igreja
Batista de Paisley Road, e pelo privilégio de ter conhe-
cido o Sr. Harper. Como ele cuidou de nós, orando por
nós, nos sustentando “com o trigo mais fino, e ...com o
mel que escorre da rocha”, e cuidadosa e sabiamente
nos aconselhando. Devemos tudo que somos, humana-
John
Harper
morreu pre-
parado e com
a certeza da sua
salvação em Jesus
Cristo - Isso lhe deu a
força para ceder seu
colete salva-vidas para
que outra pessoa
tivesse a chance de sobrevi-
ver ao trágico naufrágio.
“John Harper Levou a Mim... a Cristo” • 129
130 • O Último Herói do Titanic

mente falando, à inspiração que vinha da sua vida con-


sagrada, e nosso único desejo é continuar a conhecer o
Senhor, andando com humildade e oração perante nosso
Deus, para que Ele seja honrado e glorificado pela nos-
sa vida diária.
Nossos corações ficaram quebrantados quando ouvi-
mos sobre seu trágico fim, mas achamos que ele prefe-
ria ser levado de repente do que numa cama com uma
doença crônica. Agora ele foi para o seu descanso, e
suas obras o seguem. Mas a memória da sua vida será
uma inspiração para todos que o conheceram, e seu zelo
fervoroso, sua paixão ardente, devoção leal, e sincerida-
de intensa só podem ter deixado sua marca naqueles
que estavam sob seu ministério.
Adeus, querido pastor, e pai no Evangelho, que seus
filhos procurem andar dignos da vocação à qual foram
chamados. Que as verdades que você pregou tantas ve-
zes dêem frutos nas suas vidas. Que seu exemplo de en-
trega santa à Vontade de Deus incentive outros a seguir
a Cristo como você seguiu. E que nós todos busquemos
fazer a Vontade de Deus, em direção à perfeição. Não é
“adeus”, mas apenas “boa noite”. Mais alguns dias e
nos encontraremos, e nunca mais diremos adeus na ter-
ra de cânticos e alegria, onde não há despedidas, nem
lágrimas, nem dor, nem tristeza, nem morte, e nem pe-
cado. Graças a Deus, nem mais pecado,

“Até que rompa o dia, e fuja a sombra


envergonhada.”
“Sobre o meu peito, amado, dorme, e bem
de manso
recosta a fronte e sorve o teu descanso,
pois, se te amo, por Cristo és muito mais amado.”
“John Harper Levou a Mim... a Cristo” • 131

“Os que forem sábios, pois, resplandecerão, como


o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzi-
rem à justiça, como as estrelas sempre e eternamen-
te” (Daniel 12.3).
P. C. M.
Pela primeira vez na minha vida,
alguém se importou com a minha alma,
e naquela noite me levou ao
conhecimento da verdade.
16
Um Alcoólatra
Encontrou
Libertação
Testemunho 2

C
omo convertido, sou grato a Deus pela sua lon-
ganimidade e misericórdia, pelo fato de não ter
me abandonado nos meus pecados. Fui até onde
um homem pode ir nos prazeres e nas loucuras do peca-
do, da bebida e do jogo, e várias vezes destrui meu lar e
quase fui à falência. Foi quando estava nessa vida louca
que fui alcançado pela graça de Deus.
No sábado à noite, 6 de novembro de 1897, eu estava
totalmente bêbado, e no domingo seguinte à noite esta-
va sofrendo as conseqüências disso. Para passar o tem-
po fui passear na Rua Paisley com um amigo que me
apresentou a dois membros da Igreja Batista que tinha
sido formada há cerca de dois meses antes, tendo o Sr.
Harper como pastor.
134 • O Último Herói do Titanic

Pela primeira vez na minha vida, alguém se importou


com a minha alma, e naquela noite me levou ao conhe-
cimento da verdade, e pude dizer de coração: “Confia-
rei, e não temerei”. Desde então tenho sido motivo de
surpresa para muitos. O próprio Deus fez a transforma-
ção. Naquela noite minha esposa também pôde experi-
mentar a misericórdia oferecida, e daí em diante temos
peregrinado juntos para Sião. Ao invés de buscar a be-
bida forte, estou satisfeito com a água viva que jorra pa-
ra a vida eterna.

Ao invés de jogar e me preocupar com o que vou ga-


nhar, encontrei, pela graça de Deus, a vitória em Jesus
Cristo. Ao invés de blasfemar e falar palavrões, tenho
uma nova canção em minha boca.
Um Alcoólatra Encontrou Libertação • 135

Deus tem cuidado de mim pela graça durante quator-


ze anos e meio. A Ele seja toda glória. Sou salvo pela
graça mediante a fé em Jesus, que completou a obra de
redenção na Cruz. Há um Mediador entre Deus e o Ho-
mem, o Homem Cristo Jesus, e eu creio nEle. Louvado
seja Seu Santo nome.
J.B.
Devo tudo que sou,
abaixo de Deus, ao nosso falecido,
muito querido e muito lamentado
pastor John Harper, que foi para mim
um pai e irmão, cuidando de mim,
orando por mim, e instruindo-me
na nova vida.
17
“John Harper
Foi um Pai Para
Mim”
Testemunho 3

O
desejo do meu coração e minha oração a Deus é
que alguém que passou pela experiência amarga
e humilhante de inúmeros fracassos e provações
como eu, liberte-se do pecado. Que ao ler este testemu-
nho humilde, confie em Jesus Cristo, o único Salvador,
e una-se a mim no Seu louvor.
Eu era católico de nascimento, educação, treinamento
e profissão; aprendi a beber e a satisfazer outros desejos
também. Quando ainda era bem jovem, alistei-me no
exército onde o vício da bebida aumentou, e onde levei
uma vida muito desregrada. Cumpri meu tempo; voltei
para casa com o vício mais forte que nunca, tanto no
serviço quanto na vida civil.
138 • O Último Herói do Titanic

Fiz várias tentativas para largar da bebedeira e de ou-


tros pecados, procurando a confissão, fazendo promes-
sas, fazendo votos, etc., mas nada adiantou. Eu não con-
seguia me libertar, e muitas vezes pensei: “O que adian-
ta fazer todas essas confissões, etc., se cada vez fico
pior que antes?”, até que num sábado à noite, 14 de ja-
neiro de 1905, fui para a Igreja de Ferro, na Rua Planta-
tion, novamente sob a influência do álcool. Era um tem-
po de reavivamento, e todo mundo parecia estar muito
alegre. O culto continuou, mas não sei dizer bem o que
se passava, apenas que fiquei muito triste, convencido
de que era um grande pecador e levava uma vida ruim.
“John Harper Foi um Pai Para Mim” • 139

Graças a Deus, um homem crente me notou e veio


sentar do meu lado. Ele foi o instrumento na mão de
Deus para me levar ao Salvador. Mas não sem um con-
flito doloroso. Satanás deu todas as razões possíveis e
imagináveis para que eu não confiasse em Cristo como
meu Salvador. Mas quando confiei nEle, a alegria, a
paz e o senso de um novo poder valeram a pena.
Sem a menor dúvida e sem medo, senti e soube que
fora salvo, e graças a Deus tenho certeza disso agora.
“Não sou como deveria ser, mas não sou como era an-
tes”. Devo tudo que sou, abaixo de Deus, ao nosso fale-
cido, muito querido e muito lamentado pastor John Har-
per, que foi para mim um pai e irmão, cuidando de
mim, orando por mim, e ensinando-me na nova vida.
Quatro dias depois da minha conversão, minha espo-
sa aceitou o Salvador. Passaram-se três meses, nos bati-
zamos e nos tornamos membros da igreja. Agora sou
um dos diáconos, e fui escolhido para o cargo alguns
meses atrás.
H.P.
Devo muito ao meu querido e falecido
pastor Sr. Harper, por seu ensinamento e sua
inspiração, e pelo incentivo que me deu para dar o
máximo para Deus. Louvo a Deus pelo privilégio de
aprender com ele durante 12 anos, e por ter
estado envolvido na obra do Senhor
com ele durante esse período.
18
Uma Dívida de
um Pobre Pródigo
a John Harper
Testemunho 4

E
u era um pecador indefeso, preso pelo poder da
bebida e de uma língua blasfema. Tentei me arre-
pender indo à igreja e fazendo promessas, mas
isso não adiantou nada. Estavam realizando uma mis-
são especial na Igreja Batista, em Gordon Halls. Eu ti-
nha um irmão que era membro da igreja. Fizeram uma
oração especial para mim. Deus ouviu e respondeu a
oração. Fui convidado e fui a um dos cultos. No final,
um dos diáconos falou comigo e perguntou se eu era
salvo, ou se gostaria de ser. Ele leu João 3.16 e me
mostrou que “todo aquele” significa qualquer um e se
referia a mim. Confiei em Cristo naquela noite, 11 de
outubro de 1898.
142 • O Último Herói do Titanic

O Sr. Harper veio para minha casa no dia seguinte


para ver se eu tinha crido em Cristo, o que eu já tinha
feito, e creio até hoje. Sou o que sou pela graça de
Uma Dívida de um Pobre Pródigo a John Harper • 143

Deus. Devo muito ao meu querido e falecido pastor Sr.


Harper, por seu ensinamento e sua inspiração, e pelo in-
centivo que me deu para dar o máximo para Deus. Lou-
vo a Deus pelo privilégio de aprender com ele durante
12 anos, e por ter estado envolvido na obra do Senhor
com ele durante esse período. Agora tenho o cargo de
diácono. Eu, que era um pobre bêbado e um blasfemo.
Mas encontrei misericórdia através do Senhor Jesus
Cristo.
“A Deus seja toda glória, porque ele tem feito gran-
des coisas”.
A.M.L.
Oh! que graça que transforma
um pobre bêbado, vendedor de uísque,
e um pecador atolado na lama,
como eu era, em um filho de Deus
e do Seu amor.
Devo tudo na minha vida
espiritual à influência e ao ensinamento
do Sr. Harper, que me ensinou as
coisas de Deus, e cuja vida foi
uma inspiração para mim.
19
Um Pecador
“Atolado na
Lama” é
Purificado
Testemunho 5

G
raças a Deus pela Sua graça redentora que tirou
um pobre pecador como eu do lamaçal, e me co-
locou entre príncipes. Cresci numa igreja evan-
gélica, mas não conhecia a salvação de Deus. Ainda jo-
vem, quando morava em Greenock, entrei no comércio
de bebidas decidido a evitar qualquer bebida, e não pro-
vá-la. Mas logo caí sob seu poder e domínio, e me
transformei num alcoólatra convicto. Fiquei tão acostu-
mado que podia beber o dia inteiro, e ninguém notava.
Vendi aquela coisa maldita por doze anos atrás do
balcão de um bar, e em todos esses anos não fui para
146 • O Último Herói do Titanic

casa sóbrio nenhuma vez. Deixei o comércio de bebidas


e fui para uma fábrica de limonada. Mas não adiantou,
porque eu fornecia água com gás para bares, e também
ficava bêbado lá.
Aos 25 anos vim para Glasgow e fui contratado pela
empresa P. & W. M’Lellan, a Metalúrgica Clutha. Mas
mesmo assim era uma vítima da bebida. Fui aprisiona-
do pelo mal gigante, e não conseguia me libertar do seu
poder.
Certa noite, no Ano Novo de 1901, fiquei muito
doente, e chamaram o médico. Ele disse que eu só tinha
três horas de vida. Então esse seria o resultado da mi-
nha bebedeira, três horas – e depois o inferno. Eu sabia
que era para lá que iria. Sabia que não tinha esperança,
mas orei para que Deus me livrasse, e eu deixaria de be-
ber e teria uma vida melhor. Ele me livrou, e durante
dois anos lutei contra a minha paixão pelo uísque e pela
cerveja, mas ainda bebia vinho.

Harper Mostrou Que Eu Precisava de Cristo


Eu resolvi visitar todas as igrejas em Glasgow, para
ver se ouvia algo que me trouxesse descanso e paz.
Num domingo à noite, 1º de novembro de 1903, fui pa-
ra a Igreja Batista, na Rua Plantation, e ouvi o Sr. Har-
per pregar. Uma jovem cantou “Para o Além”, e senti
que se não aceitasse Jesus Cristo eu passaria para o
além e estaria perdido.
Ninguém falou comigo. Eu estava tão ciente que pre-
cisava de Cristo, que sabia que tudo que tinha a fazer
era aceitá-lO como meu Salvador. Fiz isso, e agora, de-
pois de oito anos e meio de vitória sobre a bebida e o
pecado, posso dizer que a Palavra de Deus é verdadeira:
Um Pecador “Atolado na Lama” é Purificado • 147

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura;


as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram no-
vas” (2 Co 5.17).

Um Novo Mundo
Eu estava num mundo novo. O desejo de beber su-
miu. A paz encheu minha alma. Eu soube que fora sal-
vo desde o momento em que disse: “Senhor, confiarei
em Ti, mesmo sozinho, confiarei em Ti” e, graças a
Deus, Seu poder e Sua graça têm me sustentado. Cerca
de um ano depois, fui batizado, e me tornei membro da
igreja.

O Impacto da Vida do Sr. Harper


Agora sou diácono na igreja. Oh! que graça que
transforma um pobre bêbado, vendedor de uísque, e um
pecador atolado na lama, como eu era, num filho de
Deus e do Seu amor. Devo tudo na minha vida espiri-
tual à influência e ao ensinamento do Sr. Harper, que
me ensinou as coisas de Deus, e cuja vida foi uma ins-
piração para mim.
Que Deus ajude algum pobre alcoólatra a confiar no
meu Salvador, e descobrir que “Por isso também pode
salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus,
vivendo sempre para interceder por eles” (Hebreus
7.25).
J.C.
O que somos na vida cristã devemos a nosso falecido
e querido pastor, Sr. Harper, cuja vida de temor a Deus
e exemplo santo foi um grande auxílio para nós. Ele
que cuidou de nós como um pai cuida dos seus filhos, e
nos fez apreciar o estudo das Escrituras e a nos alegrar
em esperar por Deus através da oração.
20
Harper
Derrotou o
“Poder de
Rebelião”
Testemunho 6

Q uero dar meu testemunho simples do poder re-


dentor e protetor do Senhor Jesus Cristo, que
experimentei há 15 anos. Foi no dia 27 de ou-
tubro de 1897, minha mãe estava realizando um en-
contro no dia de “Halloween”, e me pediram para le-
var minha namorada para o chá. Nem desconfiava que
fizeram a festa para que eu conhecesse o Sr. Harper.
Quando a noite chegou e nos reunimos todos na sala,
para minha surpresa vi o Sr. Harper na sala com vá-
rios membros da igreja (agora um deles é o diácono
principal da igreja).
150 • O Último Herói do Titanic

Minha mãe era membro da igreja, e estava entre os


primeiros que deram início à igreja em Gordon Halls. É
claro que eu sabia o que aconteceria depois do chá –
eles conversariam comigo sobre a minha alma. Bem, to-
mamos nosso chá, e depois de conversar um pouco
achei que era hora de sair. Estava ficando muito quente
para mim, então levantei para pegar meu chapéu, mas
não conseguia encontrá-lo. Ele foi tirado do seu lugar.
Saí sem chapéu, mas logo parei porque era uma noite
fria, e tive que voltar para casa para pegar algo a fim de
cobrir minha cabeça. Nem sabia que receberia algo para
cobrir os meus pecados.

“Quebrei as Minhas Defesas”


Quando cheguei em casa, um irmão idoso se apro-
ximou e falou comigo sobre Cristo. No canto da sala
o Sr. Harper estava conversando com a minha namo-
rada sobre sua alma. Logo depois, o Sr. Harper come-
çou a orar, agradecendo a Deus pela decisão dela. En-
tão me rendi e também aceitei a Cristo como meu Sal-
vador e Senhor. Ficaram claras para nós as escrituras
de Isaías 53.6: “Todos nós andávamos desgarrados
como ovelhas”, etc., e Romanos 10.9: “Se, com tua
boca, confessares a Jesus como Senhor e, em teu co-
ração creres que Deus o ressuscitou dentre os mor-
tos, serás salvo”.
Jamais esqueceremos aquela noite memorável, lo-
go depois fomos batizados e nos tornamos membros
da igreja. Depois de mais de 14 anos provando o
amor e a salvação de Cristo, podemos dizer que a
Sua graça é suficiente para nós, e Seu poder se aper-
feiçoa na fraqueza.
Harper Derrotou o “Poder de Rebelião” • 151

“O Sr. Harper Cuidou de Nós Como


Um Pai Cuida dos Seus Filhos”
O que somos na vida cristã devemos a nosso falecido
e querido pastor Sr. Harper, cuja vida de temor a Deus e
exemplo santo foi um grande auxílio para nós. Ele que
cuidou de nós como um pai cuida dos seus filhos, e nos
fez apreciar o estudo das Escrituras e a nos alegrar em
esperar em Deus através da oração.
Como gostaria de orar como ele, e agora que ele está
na presença do Senhor que tanto amava e que serviu
com tanta lealdade, nosso único desejo é seguir os seus
passos como ele seguiu a Cristo.
C. B. e Sra. B.
Enquanto o Sr. Harper
prosseguia, minha convicção de
culpa crescia, e vi que precisava
de um Salvador.
Ali me entreguei completamente,
e tenho vivido com alegria
desde então.
21
As Palavras de
Harper Deram
Plena Convicção
de Minha Culpa
Testemunho 7

N
a noite de domingo do dia 4 de julho de 1897,
fui ouvir o Sr. Harper. O texto sobre o qual pre-
gou foi Apocalipse 3.20: “Eis que estou à por-
ta e bato”. Eu tinha convicção de culpa há algum tem-
po e, enquanto o Sr. Harper continuava a sua prega-
ção, minha convicção crescia, e vi que precisava de
um Salvador.
Ali me entreguei completamente, e tenho vivido com
alegria desde então. Nem tudo é um mar de rosas, mas
Cristo é tudo que preciso. Sou membro da Igreja Batista
Paisley Road, e minha esposa também.
S. M. K.
Reconheci o meu pecado,
reconheci que precisava de
um Salvador, e ali mesmo
me entreguei a Cristo.
22
“Harper
Mostrou-me
que Precisava
de Cristo”
Testemunho 8

N
a noite de domingo de 27 de junho de 1897 fui
para Boilmaker’s Hall, Govan, onde o pastor
Harper estava pregando, e a passagem de que
tratava era João 3.36: “Por isso quem crê no Filho tem
a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde
contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele perma-
nece a ira de Deus”.
Reconheci o meu pecado, reconheci que precisava de
um Salvador, e ali mesmo me entreguei a Cristo.
John Harper

Em breve Ele virá,


a porta será fechada,
a porta do Reino será lacrada.
É possível que só nos reste
pouco tempo.
Mas imagine o que se pode
fazer na efemeridade destes
últimos dias!
23
Uma Mensagem
de John Harper
Proferida em 1911 na Igreja Moody
em Chicago

V
isão, compaixão, intercessão – esses são os três
grandes elos na corrente da obra redentora.
Quão claramente podemos vê-los no ministério
salvador e na obra da vida do nosso Próprio Senhor Je-
sus. Ele viu as multidões como ovelhas sem um pastor –
espalhadas, cortadas, machucadas, e ensangüentadas – e
se essa foi a visão diante dos Seus olhos quando obser-
vou uma multidão das pequenas vilas religiosas da Ga-
liléia, onde o povo tinha alto nível moral nos seus hábi-
tos diários, e não era preso à bebida e a maldades diver-
sas, qual seria Sua impressão se visse Chicago hoje?

“Orem”
Com aquela visão Seu coração ficou comovido por
compaixão, agitado com um sentimento profundo – ou
158 • O Último Herói do Titanic

melhor, agonizando por dentro. Ele teve compaixão de-


les, tomando suas dores e tristezas sobre Seu próprio
coração de amor, e com esse espírito cheio de amor Ele
se voltou para Seus discípulos e disse: “orem”, e sem-
pre que possível Se retirava para um monte isolado para
passar a noite ou a madrugada em oração.

Dá-Nos “Vigilantes Homens de Oração”


Queridos, poucos entre nós têm a visão do Mestre, e
portanto, poucos entre nós têm o coração cheio de com-
paixão, o ministério conseqüente da intercessão! Se al-
guma convicção ocupou o meu espírito mais do que
qualquer outra, e se apoderou dele há alguns anos de
maneira solene como a eternidade, foi que a necessida-
de urgente da igreja e do mundo perdido é de interces-
sores – não de pastores, por mais que sejam necessá-
rios, mas de vigilantes homens de oração que sabem co-
mo se colocar entre Deus e as pessoas, em jejum e
intercessão, e que não deixarão o trono da graça até que
recebam da Sua presença refrigério e salvação que glo-
rificarão Seu nome na terra.
Então a igreja receberá pregadores inflamados, obrei-
ros cobertos com Seu poder, e a igreja reavivada pelo
Espírito se tornará o instrumento do nosso Senhor glori-
ficado para despertar num mundo incrédulo a convic-
ção do pecado e a necessidade do sangue redentor, e o
temor do juízo vindouro.

“A Porta Será Fechada”


Em breve Ele virá, a porta será fechada, a porta do
Reino será lacrada. É possível que só nos reste pouco
Uma Mensagem de John Harper • 159

tempo. Mas imagine o que se pode fazer na efemerida-


de destes últimos dias! Que reuniões de oração e inter-
cessão podemos ter! Que sacrifícios para Ele podemos
fazer! Que poder do trono podemos receber! Que bên-
çãos podemos testemunhar na separação dos últimos
membros do corpo de Cristo deste mundo perdido em
trevas, enquanto se aproxima o julgamento final!

Deus quer que


a nossa luz seja
vista pelos ho-
mens.

Será que carre-


gamos o peso
deste
mundo perdido
nas nossas
intercessões
diante de Deus,
ou a nossa
comunhão com
o Senhor se
parece com esta
lamparina quase
apagada e
fumegante?

Depois desse breve tempo, haverá a glória da Sua


presença, a reunião alegre com os amados, o “muito
bem” vibrante do Mestre no Seu trono de julgamento
[do galardão] – a entrada para nunca mais sair.
Mas não haverá mais oportunidade de orar para que
almas perdidas se prostrem aos Seus pés nem de ganhá-
las para Ele eternamente.
Vede, fiéis, ao Senhor
nosso Mestre,
olhos fitos em nossa missão,
mesmo em face de pronto desastre,
proclamamos, leais, Seu perdão.
Se o sol, em luz pura, se fôr,
nascerá inda com mais fulgor.
24
Bela Manhã
Na noite anterior ao naufrágio do Titanic, o Sr. Har-
per foi visto tentando com zelo levar um rapaz a Cristo.
Depois, no convés, ao ver um raio de luz vermelha no
poente, ele disse: “Vai fazer uma bela manhã”.

Sim, nossa manhã será bela


quando o sol se inclinar no poente
e as nuvens qual rósea janela
se fecharem aos olhos da gente!
Na esperança da aurora sonhamos,
que gloriosa virá, confiamos.
O que conta a manhã é precioso,
quando é forte o embate do mar,
quando o rei do oceano furioso,
nossos barcos fizer naufragar,
e no fundo do mar, tenebroso,
multidões forem morte encontrar.
Mesmo assim a manhã será bela
quando em glória rompermos o véu
já vencida a tormenta, a procela,
a coroa ganharmos no céu.
Onde está, ó Morte, o teu aguilhão?
Grande é Deus que nos dá salvação!
162 • O Último Herói do Titanic

Vede, fiéis, ao Senhor nosso Mestre,


olhos fitos em nossa missão,
mesmo em face de pronto desastre,
proclamamos, leais, Seu perdão.
Se o sol, em luz pura, se fôr,
nascerá inda com mais fulgor.
A partida do crente, na morte,
é a entrada na vida eternal;
bem melhor lá será sua sorte
na presença de Deus, imortal.
Prá quem é, em Jesus, vencedor,
a manhã será bela... e sem dor.

Horace E. Govan
25
“Os Escolhidos
de Cristo”
Esboço de um Sermão de John Harper

“Eles não são do mundo, como também eu não


sou” (João 17.16).
1. Ele recebeu Seus escolhidos do Pai – versículo 6.
2. Ele roga por eles – não pelo mundo – versículo 9.
3. Eles são odiados pelo mundo – versículo 14.
4. Ele quer guardá-los do mal do mundo
– versículo 15.
5. Ele os envia como foi enviado ao mundo
– versículo 18.
6. Ele deseja sua união para convencer o mundo
– versículo 21.
7. Ele mostra que o mundo não conhece o Pai
– versículo 25.
As palavras do texto (versículo 16) nos mostram:
I. Uma Verdade Distinta da Fé Cristã.
1. Crentes não são do mundo na origem da sua vida
– Eles nasceram do alto.
164 • O Último Herói do Titanic

2. Não são do mundo no caráter do seu serviço


– A vida cristã consiste em fazer a vontade de
Deus.
3. Não são do mundo na natureza da sua conduta
– Eles buscam a santidade. Eles detestam o
pecado.
4. Não são do mundo na fonte da sua alegria
– Sua alegria está em Deus, o mundo se alegra
com o pecado.
5. O assunto das suas conversas não é do mundo
– Seu desejo é saber mais de Jesus.
As palavras do texto nos mostram:
II. Uma Avaliação Para o Coração Cristão.
Se não são do mundo, isso se verá:
1. Na hora da angústia e da aflição.
2. Em meio à provação e à perplexidade.
3. Nas decisões e escolhas feitas.
4. Nas horas de prosperidade e sucesso.
As palavras do texto sugerem para nós:
III. Que Certamente Haverá Provações na Vida
Cristã.
1. O mundo nos rejeitará.
2. O mundo não nos amará.
26
“Quem é o Tolo?”
Esboço de um Sermão de John Harper

“Pequei... tenho procedido como louco”


(1 Samuel 26.21).
O texto indica claramente que:
I. Tolo É o Homem que Sacrifica sua Vida no
Templo do Prazer Imoral.
“Os loucos zombam do pecado” (Provérbios 14.9).
Outra versão é, “O pecado zomba dos loucos”.
Ele zomba dos homens ao prometer o que nunca faz.
Os homens sacrificam tudo e não ganham nada.
1. O pecado rouba a paz de consciência.
2. O pecado rouba a pureza da mente.
3. O pecado rouba a saúde do corpo.
4. O pecado rouba a esperança do céu.
II. Tolo é o Homem que se Cobre de Infidelidade.
“Diz o insensato no seu coração: Não há Deus”
(Salmo 14.1).
1. Não é tolo aquele que troca a luz pela escuridão?
2. Não é tolo aquele que troca a esperança pelo
desespero?
3. Não é tolo aquele que troca o conforto do
Evangelho por uma filosofia morta?
166 • O Último Herói do Titanic

III. Tolo é o Homem que Adia a Decisão por Cristo


até a Hora da Morte.
Ele é um tolo porque é um perdedor presente.
1. Ele perde a verdadeira alegria do coração.
2. Ele perde a consciência tranqüila.
3. Ele perde a vitória sobre o pecado.
4. Ele perde a capacidade de apreciar a vida.
Ele pode ser um perdedor para sempre.
Ele pode acabar perdendo a oportunidade.
27
“Amor
Inesquecível”
Esboço de um Sermão de John Harper

“Leva-me após ti, apressemo-nos. O rei me intro-


duziu nas suas recâmaras. Em ti nos regozijaremos e
nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos,
mais do que do vinho” (Cantares de Salomão 1.4).
Neste versículo temos as três decisões do amor:
I. A Decisão de Seguir.
1. Ele segue com ansiedade: “Apressemo-nos”.
2. Ele segue de perto. Não como Pedro, de longe.
Mas como Davi: “A minha alma apega-se a ti”. Note
que ela vem após, não antes dEle. “Leva-me após ti”.
II. A Decisão de Ser Feliz e se Regozijar.
1. Note a fonte da alegria do crente. É “em ti”.
2. Não nos “ungüentos” (versículo 3)
– símbolos das graças que Ele dá.
3. Não nas “recâmaras” (versículo 4). Símbolos
dos privilégios e dos bons momentos que Ele dá.
4. Mas “em ti”. Toda nossa alegria, tanto passiva
quanto ativa, deve estar nEle.
168 • O Último Herói do Titanic

III. A Decisão de Lembrar.


Que memória! Nos lembraremos de toda ocasião
em que Ele demonstrou Seu amor por nós.
1. Nos lembraremos do fato do Seu amor.
Nos atrevemos a esquecer desse fato?
2. Ainda nos lembramos da extensão do Seu amor.
Ele nos resgata do nosso pecado.
3. Nos lembraremos da eternidade do Seu amor. Não
podemos saber quando começou. Não podemos alcan-
çar o seu fim. É eterno. Quando estamos no Seu amor
estamos num círculo.
4. Nos lembraremos do propósito do Seu amor. Ele
nos amou para nos salvar dos nossos pecados, e nos sal-
var para Si.
Note alguns dos resultados de nos lembrarmos do
Seu amor:
1. Isso nos dá um banquete celestial. Obtemos bebida
melhor que o vinho.
2. Isso nos dá um antídoto contra o medo que Joseph
Irons descreve assim:
“Tenho sede de Ti,
Tua Presença é minha vida, minha alegria, meu céu,
E tudo sem Ti está morto para mim”.
28
“Tão Grande
Salvação”
“Como escaparemos nós, se negligenciarmos
tão grande salvação?” (Hebreus 2.3)

A salvação é a maior obra de Deus. A salvação de um


mundo perdido é maior que a criação de um mundo no-
vo. A salvação é grande quando consideramos:
I. A Grandeza do Perigo do Qual Ela Livra.
As almas correm perigo de serem perdidas.
II. A Grandeza do Preço Pago para Oferecê-la.
O precioso sangue de Cristo é de valor
incalculável.
III. A Grandeza do Poder Que Ela Representa
1. Ao salvar da impureza do pecado.
2. Do desejo do pecado.
3. Do domínio do pecado.
IV. A Grandeza da Posição à Qual Ela Exalta.
Ela nos faz filhos de Deus, herdeiros da glória.
V. A Grandeza da Esperança que Ela Proporciona.
Nos garante o céu.
As Reações dos Leitores a Este Livro
Poderoso São Impressionantes:
“Fascinante...” –– Arno
Arno Froese
Froese
“Você
“Você certamente
certamente derramará
derramará lágrimas
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de
compaixão
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Mas tenho
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certeza de
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sempre pelo
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–– James
James Rizzuti
Rizzuti

“O Titanic morreu, mas o heroísmo de


John Harper viverá para sempre!”
O
O naufrágio
naufrágio dodo Titanic
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mais que
que uma
uma tragédia
tragédia histórica.
histórica.
É
É heroísmo
heroísmo corajoso
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inspiram todos
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de Hollywood
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John Harper
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causa
um
um impacto
impacto que
que pode
pode transformar
transformar vidas.
vidas.

O Último Herói do Titanic


Uma Realidade Que Você Não Pode Ignorar.

Obra
Missionária

Chamada da Meia-Noite
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Fone: (51) 3241 - 50 50 · FAX: (51) 3249-73 85
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