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Cálculo Diferencial e Integral II

Prof. Rodrigo dos Santos Veloso Martins

Departamento Acadêmico de Matemática


Universidade Tecnológica Federal do Paraná
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Sumário

1 Funções de Várias Variáveis 1

1.1 Funções de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Funções de Três ou Mais Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis 15

2.1 Limite de Funções de Várias Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.2 Derivadas Parciais de Funções de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.3 Derivadas Parciais de Funções de Mais de Duas Variáveis . . . . . . . . . . . 37

2.4 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.5 Planos Tangentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

2.6 Aproximações Lineares e Diferenciabilidade Total . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.7 Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3 Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações 57

3.1 Derivadas Direcionais e Vetores Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57


3.2 Valores Máximo e Mı́nimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

3.3 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

4 Integrais Múltiplas 89

4.1 Integrais Duplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

4.2 Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

4.3 Mudança de Coordenadas em Integrais Duplas . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

4.4 Integrais Triplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

4.5 Mudança de Coordenadas em Integrais Triplas . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

A Topologia de Rn 149
Capı́tulo 1

Funções de Várias Variáveis

1.1 Funções de Duas Variáveis

Definição 1.1.1. Uma função de duas variáveis é uma regra que associa a cada par (x,y) ∈
D um único valor real f (x,y), onde D é um conjunto de R2 . O valor f (x,y) é dito a imagem
do ponto (x,y) e o conjunto D é dito o domı́nio da função f .

Definição 1.1.2. Seja f uma função de duas variáveis com domı́nio D. Definimos a imagem
de f como o conjunto de todos os valores reais que são de fato imagem de algum ponto
(x,y) ∈ D. Em outras palavras:

Im f = {z ∈ R : z = f (x,y) para algum (x,y) ∈ D}.

Escrevemos frequentemente f : D −→ R para indicar que f é uma função real com


domı́nio D com imagem no conjunto dos números reais.

.Obs: Quando definimos uma função f (x,y) de duas variáveis através de uma equação, fica

1
2

1
Figura 1.1: Associação de um ponto Figura 1.2: Ilustração de f (−2,3) = −
6
(x,y) a um número real f (x,y). no Exemplo 1.1.5.

entendido que o domı́nio de f é o conjunto de todos os pontos (x,y) do plano para os quais
a expressão dada está bem definida. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Exemplo 1.1.3. Considere o mapa do Brasil e fixe como origem do sistema cartesiano a
cidade de Brası́lia. A altitude z de um ponto (x,y) em relação ao nı́vel do mar define uma
função de duas variáveis z = f (x,y). O domı́nio D desta função não consiste de todos os
pontos do plano, pois D está restrito aos pontos (x,y) ∈ R2 que representam o território
Brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

O exemplo acima ilustra o conceito de função de duas variáveis, mas não esperamos que
seja possı́vel encontrar uma expressão envolvendo funções elementares (funções polinomiais,
exponenciais, trigonométricas, etc) que descreva todo o relevo brasileiro. Abaixo, no Exemplo
1.1.5, temos um exemplo de uma função definida através de uma expressão.

Exemplo 1.1.4. Considere a função

1
f (x,y) = .
xy

Podemos calcular o valor de f em algum ponto (x,y) qualquer de R2 da seguinte forma: se


(x,y) = (−2,3), então
1 1
f (−2,3) = =− .
(−2) · 3 6
3

Veja a Figura 1.2. Devemos ter xy 6= 0 para que a expressão acima esteja bem definida, logo

Dom f = {(x,y) ∈ R2 : x 6= 0 e y 6= 0}.

A imagem de f é dada por Im f = (−∞, 0) ∪ (0, +∞). De fato, para nenhum par (x,y)
temos f (x,y) = 0, logo 0 ∈
/ Im f . Para qualquer outro valor real z, podemos encontrar um
par (x,y) tal que f (x,y) = z. Por exemplo, o número z = 5 está na imagem de f , pois z = 5
é a imagem do ponto (x,y) = (1, 1/5):
 
1 1
f 1, = = 5.
5 1 · 15
O mesmo argumento mostra que qualquer número z1 6= 0 é imagem, por exemplo, do ponto
(x,y) = (1, 1/z1 ). Veja a Figura 1.3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

1
Figura 1.3: Imagem da função f (x,y) = destacada em vermelho.
xy

Exemplo 1.1.5. Considere a função f (x,y) = x2 + y 2 + 2xy. Como não existe restrição para
soma e multiplicação de números reais, temos Dom f = R2 . A fim de determinar a imagem
de f , observamos que
f (x,y) = x2 + y 2 + 2xy = (x + y)2 .

Segue que Im f = [0, +∞). De fato, para qualquer z1 ≥ 0, temos z1 = f (x,y) se e somente

se (x + y)2 = z1 . O ponto (x,y) = ( z1 , 0) é uma solução para esta equação:
√ √
f ( z1 , 0) = ( z1 + 0)2 + 1 = z1 .
4


Em outras palavras, o ponto (x,y) = ( z1 , 0) tem como imagem z1 . Isto mostra que Im f =
[0, +∞). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

É comum escrevermos z = f (x,y) para representar que os valores que uma função assume
através de uma nova variável, que denotamos neste caso por z. Esta variável é dita uma
variável dependente: os valores que z assume estão condicionados ao valores que escolhemos
para as variáveis x e y. As variáveis x e y estão livres para assumir qualquer valor dentro do
domı́nio D da função. Por este motivo dizemos que x e y são variáveis independentes. Se
escrevermos z = f (x,y) no Exemplo 1.1.5, então temos que z = 9 quando (x,y) = (1,2).
p
Exemplo 1.1.6. Determine e esboce o domı́nio da função f1 (x,y) = x2 − y.

Como a raiz quadrada de números negativos não está bem definida nos números reais,
devemos ter x2 − y ≥ 0 para que a expressão que define f1 (x,y) esteja bem definida. Em
outras palavras, devemos ter x2 ≥ y:

Dom f1 = {(x,y) ∈ R2 : y ≤ x2 }.

O domı́nio de f1 define uma região no plano xy que é definida pela inequação y ≤ x2 . Esta
inequação pode ser interpretada como a união de todos os pontos (x,y) que satisfazem y = x2
e y < x2 ; a igualdade representa os pontos de R2 que se encontram na parábola y = x2 ,
enquanto a desigualdade y < x2 inclui no domı́nio de f1 os pontos que se encontram abaixo
desta parábola. Veja Figura 1.4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Exercı́cio 1.1.7. Determine o domı́nio e a imagem das funções abaixo.


(i) f (x,y) = x2 + y 2 (ii) g(x,y) = x2 − y 2 (iii) h(x,y) = x + 2y

Exercı́cio 1.1.8. Determine e esboce o domı́nio das funções abaixo.

1 1
(i) f (x,y) = p (ii) g(x,y) = p
4
y − x2 3
x − y2
5

p
Figura 1.4: Domı́nio da função f1 (x,y) = x2 − y.

(iii) h(x,y) = sen(xy) (iv) F (x,y) = ln(xy)

Podemos representar graficamente o comportamento de uma função f (x,y) de duas


variáveis de diferentes maneiras. O exemplo abaixo utiliza um “mapa de calor”.

Exemplo 1.1.9. Considere uma placa de metal que ocupa o retângulo [0,1] × [0,1] do plano
xy, isto é, o retângulo definido pelos intervalos [0,1] no eixo x e [0,1] no eixo y. A temperatura
T (x,y) em graus Celsius em cada ponto da placa é dada pela função

T (x,y) = 100 − 50x2 − 50y 2 .

Por exemplo, a temperatura na origem é T (0,0) = 100 − 50 · 02 − 50 · 02 = 100, enquanto no


ponto (1,1) temos temperatura T (1,1) = 100 − 50 · 12 − 50 · 12 = 0. Podemos representar
graficamente a distribuição de temperatura na placa através de um “mapa de calor”: veja
a Figura 1.5, onde temos associada a cada ponto do quadrado [0,1] × [0,1] uma cor, onde
os pontos em azul indicam uma região mais fria da barra, enquanto pontos em vermelho
indicam uma temperatura mais alta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

A representação gráfica mais comum de uma função de duas variáveis é, no entanto, o
seu gráfico em R3 , conforme definido abaixo.
6

Figura 1.5: Mapa de calor de uma função Figura 1.6: Gráfico da função do
de duas variáveis (Exemplo 1.1.9). Exemplo 1.1.9.

Definição 1.1.10. Seja F uma função de duas variáveis com domı́nio D. O gráfico de F é
definido como o conjunto de pontos (x,y,z) de R3 tais que (x,y) ∈ D e z = F (x,y).

Figura 1.7: Gráfico de uma função de duas variáveis.

Temos na Figura 1.6 a representação em R3 da função T (x,y) da Figura 1.5 e, para


facilitar a visualização, exibimos ainda o mesmo esquema de cores. Destacamos nessa figura
o ponto (x,y,z) = (0,0,100): este é um ponto do gráfico porque satisfaz z = T (x,y), isto é,
7

100 = T (0,0). Como z = T (x,y), os pontos mais altos (maior valor de z) obedecem ainda a
escala da Figura 1.5: os pontos em vermelho são os mais altos, por volta de 100◦ C, enquanto
os pontos mais baixos (menores valores de z) estão coloridos em azul.

Exemplo 1.1.11. Considere a função f (x,y) = 6 − 3x − 2y. Note que Dom f = R2 . O


gráfico de f é definido por

z = f (x,y) ⇐⇒ z = 6 − 3x − 2y ⇐⇒ 3x + 2y + z = 6.

Segue que o gráfico de f é um plano. Assim como dois pontos definem uma reta, três pontos
(não-colineares) definem um plano; escolhemos portanto três pontos arbitrários do plano
acima para, a partir destes, traçar o gráfico da função f . Como

x = 0, y = 0 =⇒ z = 6,
x = 0, z = 0 =⇒ y = 3,
y = 0, z = 0 =⇒ x = 2,

o gráfico de f pode ser esboçado como na Figura 1.8. Temos ilustrado na Figura 1.8 também
que f (1,1) = 6 − 3 − 2 = 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Figura 1.8: Gráfico da função f (x,y) = 6 − 3x − 2y.


8

p
Exemplo 1.1.12. Considere a função f (x,y) = 9 − x2 − y 2 . Note que o domı́nio de f é
dado por
9 − x2 − y 2 ≥ 0 ⇐⇒ x2 + y 2 ≤ 9,

onde, pelo Teorema de Pitágoras, a expressão r2 = x2 +y 2 representa o quadrado da distância


de um ponto (x,y) à origem. Segue que o domı́nio de f é dado pelo cı́rculo do plano de raio
p
3 e centro na origem. Além disso, se z = 9 − x2 − y 2 , então, elevando ambos os lados da
equação ao quadrado, obtemos

z 2 = 9 − x2 − y 2 ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 = 9. (1.1)

Provamos acima que, se (x,y,z) é um ponto do gráfico de f , então (x,y,z) é um ponto da


esfera descrita na Equação (1.1): aquela com centro na origem e raio 3.1 Entretanto, nem
p
todo ponto da esfera é ponto do gráfico de f , pois se z = 9 − x2 − y 2 então z ≥ 0. Segue
que o gráfico de f consiste do hemisfério superior da esfera descrita na Equação (1.1); veja
a Figura 1.9. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

A seguir trataremos de curvas de nı́vel. Este conceito nos ajuda a compreender o gráfico
de funções de duas variáveis, além de apresentar grande aplicabilidade em problemas práticos.

Definição 1.1.13. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. Uma curva de nı́vel de f é
uma curva no plano x,y definida por uma equação da forma f (x,y) = k, para k um número
real qualquer.

Como o gráfico de f (x,y) é definido pela equação z = f (x,y), uma curva de nı́vel f (x,y) =
k corresponde à restrição z = k ao gráfico de f , isto é, corresponde à interseção do gráfico de
f com o plano z = k. Em outras palavras, a curva de nı́vel f (x,y) = k representa o conjunto
de pontos do gráfico que estão à mesma altura k do plano xy.
1
Para mais informações sobre a equação de superfı́cies conhecidas como uma esfera, ver o Capı́tulo 9 do
livro Paulo Winterle, Geometria Analı́tica.
9

p
Figura 1.9: Gráfico da função f (x,y) = 9 − x2 − y 2 .

Exemplo 1.1.14. Considere a função do Exemplo 1.1.12. Para cada número real k, temos
p
f (x,y) = k ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = k. (1.2)

Vejamos abaixo algumas curvas de nı́vel de f :

p
(i) k = 0 : 9 − x2 − y 2 = 0 ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = 0 ⇐⇒ x2 + y 2 = 9;
p
(ii) k = 1 : 9 − x2 − y 2 = 1 ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = 1 ⇐⇒ x2 + y 2 = 8;
p
(iii) k = 2 : 9 − x2 − y 2 = 2 ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = 4 ⇐⇒ x2 + y 2 = 5.

Nas curvas de nı́vel (i), (ii) e (iii) temos a equação de uma circunferência; note que o raio
decresce à medida que k cresce. Em outras palavras, a interseção dos planos z = k com o
gráfico da função são dadas por circunferências que vão encolhendo à medida que k cresce.
Note ainda que

p
(iv) k = 3 : 9 − x2 − y 2 = 3 ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = 9 ⇐⇒ x2 + y 2 = 0,
10

p
(v) k = 4 : 9 − x2 − y 2 = 4 ⇐⇒ 9 − x2 − y 2 = 16 ⇐⇒ x2 + y 2 = −7.

A única solução para a a equação do item (iv) é a origem: (x,y) = (0,0). Isto significa que o
plano z = 3 intersecta o gráfico da função no único ponto (0,0,3). Como a equação do item
(v) não possui solução, concluı́mos que o plano z = 4 tem interseção vazia com o gráfico da
função. Finalmente, note que
p
(vi) k = −1 : 9 − x2 − y 2 = −1.

Vemos que para valores negativos de k também temos uma equação sem solução, isto é, como
no item (v), temos interseção vazia com o gráfico da função.

A Figura 1.10 ilustra a interseção do gráfico da função com o plano z = 1, isto é, a curva
de nı́vel f (x,y) = 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Figura 1.10: Curva de nı́vel f (x,y) = 1.

Curvas de nı́vel de uma função de duas variáveis são frequentemente representadas no


plano: consideramos a projeção no plano xy da curva obtida pela interseção entre o gráfico
z = f (x,y) de uma função e o plano z = k. Dessa maneira é possı́vel, através de uma figura
bidimensional, compreender as principais caracterı́sticas do gráfico de uma função.
11

Ilustramos a representação do gráfico de uma função de duas variáveis através de curvas


de nı́vel com a Figura 1.11. No centro da Figura 1.11 temos algumas curvas de nı́vel da
função do Exemplo 1.1.14 em R3 . À direita na Figura 1.11 temos representadas a projeção
destas curvas no plano xy. Note que a superfı́cie z = f (x,y) é mais inclinada onde as curvas
de nı́vel estão mais próximas umas das outras: no caso da função do Exemplo 1.1.14, isto
ocorre com as curvas de nı́vel mais próximas ao plano xy (valores mais baixos de z).

3 0.800
1.200
1.400
1.600
1.800
3.00 3.00
2.75 2.75 2 2.200
2.400

2.50 2.50
2.25 2.25 1 2.800

2.00 2.00
1.75 1.75
1.50 1.50 0
1.25 1.25
1.00 1.00 1
2.600
3 3
2 2 2
2.000
1 1
3 0 3 0
2 2 1.000
1 1 1 1 3
0 2 0 2
1 1
2 3 2 3
3 3
2 1 0 1 2

p
Figura 1.11: Curvas de nı́vel de f (x,y) = 9 − x2 − y 2 .

Exercı́cio 1.1.15. Considere a função z = f (x,y) = 6 − 3x − 2y, cujo gráfico se encontra


na Figura 1.8. Represente em um único plano cartesiano as suas curvas de nı́vel z = k para
k = 0, 1, 2, 3.

Exercı́cio 1.1.16. Considere a função z = f (x,y) = x2 − y 2 , cujo gráfico se encontra na


Figura 1.12. Represente em um único plano cartesiano as suas curvas de nı́vel z = k para
k = −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3.

Exercı́cio 1.1.17. Considere a função z = f (x,y) = sen x + cos y, cujo gráfico se encontra
na Figura 1.13. Represente em um único plano cartesiano as suas curvas de nı́vel z = k para
12

k = −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3.

Figura 1.12: Gráfico da função Figura 1.13: Gráfico da função


f (x,y) = x2 − y 2 . f (x,y) = sen x + cos y.

1.2 Funções de Três ou Mais Variáveis

Definição 1.2.1. Uma função de n variáveis é uma regra que associa a cada ponto (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈
D um único valor real f (x1 , x2 , . . . ,xn ), onde D é um conjunto de Rn . Este valor f (x1 , x2 , . . . , xn )
é dito a imagem do ponto (x1 , x2 , . . . , xn ) e o conjunto D é dito o domı́nio da função f .

Definição 1.2.2. Seja f uma função de n variáveis com domı́nio D. Definimos a imagem
de f como o conjunto de todos os valores reais que são de fato imagem de algum ponto
(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D. Em outras palavras:

Im f = {z ∈ R : z = f (x1 , x2 , . . . , xn ) para algum (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D}.

É comum também neste caso escrevermos y = f (x1 , . . . , xn ) e para indicar que y é uma
variável dependente de x1 , . . . , xn ; estas são ditas variáveis independentes. No caso de uma
função f de três variáveis escrevemos frequentemente os pontos de seu domı́nio como (x,y,z);
veja a Figura 1.14.
13

Figura 1.14: Função de três variáveis w = f (x,y,z).

Assim como na Seção 1.1, quando definimos uma função f (x1 , x2 , . . . , xn ) de n variáveis
através de uma equação, fica entendido que o domı́nio de f é o conjunto de todos os pontos
(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn para os quais a expressão dada está bem definida.

Exercı́cio 1.2.3. Determine o domı́nio das funções abaixo. Para as funções dos itens (i) e
(ii), esboce ou descreva em palavras o domı́nio como um conjunto de R3 .

ln z
(i) f (x,y,z) = √
x+y−z

(ii) g(x,y,z) = (x2 + y 2 − z)−3/2

(iii) h(x1 , x2 , x3 , x4 ) = (x21 − 3x4 ) tg(x2 + x3 )



exp x2 /(x3 − 2)
(iv) ϕ(x1 , . . . , x5 ) = p3
x25 − x1
Definição 1.2.4. Seja f (x,y,z) uma função de três variáveis. Uma superfı́cie de nı́vel de f
é uma superfı́cie em R3 definida por uma equação da forma f (x,y,z) = k, para k um número
real qualquer.

Uma superfı́cie de nı́vel de uma função de três variáveis f (x,y,z) representa um conjunto
de pontos onde o valor da função permanece inalterado.

Exercı́cio 1.2.5. Para cada uma das funções abaixo, esboce o gráfico das superfı́cies de
nı́vel f (x,y,z) = k para k = −2, −1, 0, 1, 2.
14

(a) f (x,y,z) = x + y + z

(b) g(x,y,z) = x2 + y 2 + z 2

(c) h(x,y,z) = x2 − y 2 + z 2
Capı́tulo 2

Limites e Derivadas de Funções de


Várias Variáveis

Neste capı́tulo temos como objetivo estender o conceito de derivada de funções de uma
variável para funções de várias variáveis. Expressamos matematicamente o conceito de taxas
de variação neste contexto mais amplo através do conceito de derivadas parciais, extensão
natural da derivada de funções de uma variável. A seguir definimos o que é a derivada
total de uma função; além de fornecer a aproximação do comportamento de uma função em
torno de um ponto, a derivada total representa um conceito fundamental em estudos mais
profundos de funções de várias variáveis. Munidos destas ferramentas podemos observar
como o estudo de funções de várias variáveis, em particular o conceito de derivada, nos
ajuda na abordagem de problemas presentes na indústria ou no nosso dia-a-dia. Estudamos
primeiramente, entretanto, o conceito limite de funções de várias variáveis.

15
16

2.1 Limite de Funções de Várias Variáveis

Relembramos primeiramente o que significa a afirmação limx→x0 f (x) = L no caso de uma


função de uma variável f (x). Em palavras, dizemos que

“o limite de f (x) quando x tende a x0 é L se f (x) assume valores arbitrariamente


próximos de L desde que x esteja suficientemente próximos de x0 .”

Convém escrever este conceito em termos matemáticos precisos, pois nem sempre é
possı́vel seguir nossa intuição: o gráfico de uma função de 4 variáveis, por exemplo, é um con-
junto de pontos de R5 . Dizemos que limx→x0 f (x) = L se, dada uma margem de erro ε > 0
em torno do valor L, basta escolhermos pontos suficientemente próximos de x0 que teremos
f (x) dentro desta margem de erro. Ou seja, dada qualquer margem de erro ε > 0, existe um
intervalo (x0 − δ, x0 + δ) tal que se x ∈ (x0 − δ, x0 + δ), x 6= x0 , então f (x) ∈ (L − ε, L + ε).

Cabe ressaltar que excluı́mos o valor de f (x) em x = x0 da análise acima, pois a função
f por vezes sequer está definida no ponto x0 . Desejamos estudar o comportamento de f (x)
nas proximidades do ponto x0 , não exatamente no ponto x0 . Na Figura 2.1 temos ilustrada
uma função que tal que limx→1 f (x) não existe. Dada uma margem de erro ε > 0 pequena,
não é possı́vel escolher um intervalo (1 − δ, 1 + δ) tal que f (x) ∈ (L − ε, L + ε) para todo
x ∈ (1 − δ, 1 + δ), x 6= 1.

O mesmo raciocı́nio se aplica a uma função f (x,y) de duas variáveis. Considere um ponto
P = (a,b) que seja ponto de acumulação de seu domı́nio; veja a Definição A.10 e a discussão
que segue. Dizemos que

“o limite de f (x,y) quando (x,y) tende a (a,b) é L se f (x,y) assume valores


arbitrariamente próximos de L desde que (x,y) esteja suficientemente próximos de (a,b).”
17

Figura 2.1: Função y = f (x) cujo limite quando x → 1 não existe.

Assim como é discutido no Apêndice A, para definir o limite de funções de duas variáveis
basta interpretar corretamente a noção de pontos próximos um do outro, isto é, pontos a
uma distância pequena um do outro. Ao invés de buscarmos um intervalo (x0 − δ, x0 + δ)
no domı́nio (conjunto da reta), buscamos um disco de centro P e raio δ onde tenhamos
f (x,y) ∈ (L − ε, L + ε).

Definição 2.1.1. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis e seja P = (a,b) um ponto de
acumulação de seu domı́nio D. Dizemos que o limite de f (x,y) é L quando (x,y) se aproxima
de (a,b) se, para todo ε > 0, existe um disco B com raio δ > 0 tal que, se (x,y) ∈ B ∩ D e
(x,y) 6= (a,b), então f (x,y) ∈ (L − ε, L + ε). Escrevemos nesse caso

lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)

Caso contrário, dizemos que o limite acima não existe.

O limite de funções de duas variáveis satisfaz propriedades semelhantes àquelas vistas no


estudo de funções de uma variável. Estas propriedades nos dão suporte para o cálculo de
limites de funções simples.

Teorema 2.1.2. Sejam f (x,y) e g(x,y) funções de duas variáveis cujos domı́nios possuem
18

Figura 2.2: Função z = f (x,y) cujo limite quando (x,y) → (a,b) é L.

Figura 2.3: Função z = f (x,y) cujo limite quando (x,y) → (a,b) é L.

(a,b) como ponto de acumulação. Suponha que

lim f (x,y) = L1 e lim g(x,y) = L2 .


(x,y)→(a,b) (x,y)→(a,b)

Então:


(i) lim f (x,y) + g(x,y) = L1 + L2 ;
(x,y)→(a,b)
19


(ii) lim f (x,y) − g(x,y) = L1 − L2 ;
(x,y)→(a,b)

(iii) lim f (x,y) · g(x,y) = L1 · L2 ;


(x,y)→(a,b)

(iv) se k é um número real, lim k · f (x,y) = k · L1 ;


(x,y)→(a,b)

f (x,y) L1
(v) se L2 6= 0, lim = ;
(x,y)→(a,b) g(x,y) L2

Exemplo 2.1.3. Considere o limite da função

x − xy + 3
f (x,y) =
x2 y + 5xy − y 3

quando (x,y) → (0,1). Segue dos itens (i) e (iii) do Teorema 2.1.2 que

lim (x − xy + 3) = 0 − 0 · 1 + 3 = 3
(x,y)→(0,1)

e
lim (x2 y + 5xy − y 3 ) = 02 · 1 + 5 · 0 · y − 13 = −1.
(x,y)→(0,1)

Portanto,
3
lim f (x,y) = = −3.
(x,y)→(0,1) −1

..................................................................................... 

Exemplo 2.1.4. Considere o limite da função

x3 − xy 2
f (x,y) =
x−y

quando (x,y) → (0,0). Note que

lim (x3 − xy 2 ) = 0
(x,y)→(0,0)

e
lim (x − y) = 0.
(x,y)→(0,0)
20

No entanto, manipulando a função obtemos

x3 − xy 2 x(x2 − y 2 ) x(x − y)(x + y)


lim = lim = lim
(x,y)→(0,0) x − y (x,y)→(0,0) x−y (x,y)→(0,0) x−y
x6=y x6=y

= lim x(x + y) = 0.
(x,y)→(0,0)
x6=y

..................................................................................... 

Se o limite de uma função de uma variável g(x) quando x se aproxima de x0 é L então


g(x) deve se aproximar do valor L quando x se aproxima de x0 , independente do caminho
escolhido. Como o domı́nio de uma função de uma variável é um subconjunto da reta, isto
só pode ocorrer de duas formas: pela esquerda ou pela direita do ponto x0 . Estes limites
laterais devem ser iguais para o limite limx→x0 g(x) exista. Analogamente, para que o limite
da Definição 2.1.1 exista, é necessário que f (x,y) se aproxime de L quando (x,y) se aproxima
de (a,b), independente do caminho escolhido: se f (x,y) se aproxima de valores distintos
L1 6= L2 quando (x,y) se aproxima de (a,b) por caminhos distintos C1 , C2 , então o limite
lim(x,y)→(a,b) f (x,y) não existe. Veja a Figura 2.4.

Figura 2.4: Função z = f (x,y) cujos limites por caminhos C1 e C2 são distintos.
21

.Obs: Um caminho passando por um ponto (a,b), como citado acima, é um conjunto de
pontos do plano que possui (a,b) como ponto de acumulação. Se o limite de f (x,y) quando
(x,y) se aproxima de (a,b) por um caminho C é L, escrevemos

lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)
(x,y)∈C

Se escolhemos a reta y = x como um caminho para analisar o limite de uma função f (x,y)
quando (x,y) se aproxima de zero, podemos escrever também

lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)
y=x

......................................................................................... /

Teorema 2.1.5. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis, (a,b) um ponto de acumulação
de seu domı́nio e C1 , C2 caminhos do plano contendo o ponto (a,b). Se

lim f (x,y) = L1 e lim f (x,y) = L2


(x,y)→(a,b) (x,y)→(a,b)
(x,y)∈C1 (x,y)∈C2

onde L1 6= L2 , então o limite lim(x,y)→(a,b) f (x,y) não existe.

Exemplo 2.1.6. Considere a função

xy
f (x,y) = .
x2 + y2

O domı́nio de f consiste de todos os pontos do plano exceto a origem. Veremos agora que o
limite de f quando (x,y) se aproxima deste ponto não existe. Considere os caminhos C1 e
C2 dados por C1 = {(x,y) ∈ R2 : x = 0} e C2 = {(x,y) ∈ R2 : y = x}. Então

0·y
lim f (x,y) = lim = 0.
(x,y)→(0,0) y→0 02 + y2
(x,y)∈C1

Por outro lado,


x·x x2 1
lim f (x,y) = lim = lim = .
(x,y)→(0,0) x→0 x2 + x2 x→0 2x2 2
(x,y)∈C2
22

Como os limites de f quando (x,y) → (0,0) por C1 e C2 são distintos, segue do Teorema
2.1.5 que o limite lim(x,y)→(0,0) f (x,y) não existe.

Veja a Figura 2.5. O caminho C1 fornece os pontos em branco na figura, enquanto os


pontos no caminho C2 fornecem os pontos em tom vermelho-escuro. Apesar do argumento
acima ser suficiente para provar que o limite em questão não existe, você pode considerar
o caminho Cm = {(x,y) ∈ R2 : y = mx} na figura e calcular o limite de f (x,y) quando
(x,y) → (0,0) por este caminho: repare que cada escolha de m fornece uma cor diferente
no mapa de calor à esquerda da Figura 2.5, fornecendo também um valor diferente para o
limite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Figura 2.5: Gráfico da função z = xy/(x2 + y 2 ).

.Obs: O Teorema 2.1.5 nos permite provar apenas que um limite não existe. Caso encon-
tremos dois (ou mais) caminhos que resultem no mesmo limite, nada podemos afirmar sobre
o limite global. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Exercı́cio 2.1.7. Mostre que os limite abaixo não existem.


23

x2 y
(a) lim
(x,y)→(0,0) x4 + y 2

x4 − y 2
(b) lim
(x,y)→(0,0) x4 + y 2

x
(c) lim −p
(x,y)→(0,0) x2 + y2
xy
(d) lim
(x,y)→(0,0) |xy|

Assim como no estudo de funções de uma variável, a definição de continuidade de uma


função de duas variáveis é compreendida de imediato a partir do conceito de limite.

Definição 2.1.8. Uma função f (x,y) de duas variáveis é dita contı́nua em um ponto (a,b)
de seu domı́nio se o limite lim f (x,y) existe e
(x,y)→(a,b)

lim f (x,y) = f (a,b).


(x,y)→(a,b)

Caso contrário dizemos que f é descontı́nua em (a,b). Se f é contı́nua em todo ponto de seu
domı́nio dizemos simplesmente que f é contı́nua.

.Obs: Note que o conceito de limite de uma função f (x,y) se estende a pontos (a,b) que não
pertencem ao domı́nio de f , enquanto a continuidade de uma função está definida apenas
para pontos de seu domı́nio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Usando as propriedades de limite enunciadas no Teorema 2.1.2 podemos ver que a soma,
diferença, produto e quociente de funções contı́nuas resultam também em funções contı́nuas;
no último caso, como anteriormente, exigimos que a função no denominador não se anule no
ponto em questão. Outros exemplos de funções contı́nuas são obtidos através da composição
de funções, como enunciado abaixo.

Teorema 2.1.9. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis contı́nua, (a,b) um ponto do
domı́nio de f e H(z) uma função de uma variável. Se f (x,y) é contı́nua em (a,b) e H(z) é

contı́nua em f (a,b), então a função composta (H ◦ f )(x,y) = H f (x,y) é contı́nua em (a,b).
24

Exemplo 2.1.10. As funções abaixo são contı́nuas em seus respectivos domı́nios:

(i) funções polinomiais em duas variáveis, como f (x,y) = x4 y 2 − 2xy 3 + 3x2 ;


5x2 y − 3x4 y 2
(ii) funções racionais (quociente de polinômios), como g(x,y) = ;
xy + 1
2 2
(iii) h(x,y) = ex−x y +1 ;
 2 
x − xy
(iv) ϕ(x,y) = sen .
x + y − xy

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Note que afirmas que as funções do Exemplo 2.1.10 são contı́nuas em seus respectivos
domı́nios, o que não significa que estas funções possuam todo o plano como domı́nio. Por
exemplo a função do item (ii) não está definida no ponto (x,y) = (1, − 1), já que este ponto
anula o seu denominador; logo, a função g não é contı́nua em (1, − 1), mas é contı́nua em
todo ponto (x,y) em que ela está bem definida.

Os conceitos de limite e continuidade vistos acima podem ser estendidos diretamente


para funções de mais de duas variáveis. Por vezes representaremos um ponto de Rn como
uma n-upla (x1 , . . . , xn ), mas também usaremos a notação x para um ponto deste espaço;
tome cuidado com a notação para não confundir um número real com um ponto de Rn , pois
estes diferem na notação muitas vezes no uso de fonte em negrito.

Definição 2.1.11. Seja f (x1 , . . . , xn ) uma função real de n variáveis com domı́nio D ⊆ Rn e
seja a um ponto de Rn que é ponto de acumulação de D. Dizemos que o limite de f quando
x → a é L se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se x ∈ B(a,δ), x ∈ D e x 6= a, então
f (x) ∈ (L − ε, L + ε).

Definição 2.1.12. Seam f (x1 , . . . , xn ) uma função de n variáveis e a ∈ Rn um ponto de seu


domı́nio. Dizemos que f é contı́nua em a se o limite lim f (x) existe e
x→a

lim f (x) = f (a).


x→a
25

Figura 2.6: Função w = f (x,y,z) cujo limite quando (x,y,z) → (a,b,c) é L.

2.2 Derivadas Parciais de Funções de Duas Variáveis

Considere a Figura 2.7, onde encontramos uma tabela indicando a sensação térmica re-
gistrada de acordo com as condições do vento e a temperatura. A sensação térmica, que
denotaremos por S, depende dos valores da temperatura T e da velocidade V do vento
registrada. Em outras palavras, a grandeza S é uma função de T e V : S = f (T,V ).

Temos na Figura 2.7 destacada a coluna referente a ventos de 65 km/h (V = 65). Uma
vez que fixamos o valor V = 65 para a velocidade do vento, a sensação térmica passa a
depender apenas da temperatura registrada. Em outras palavras, fixando V = 65 temos que
S = f (T,65) é uma função de apenas uma variável, que denotamos por g(T ):

g(T ) = f (T,65).

Podemos ver através da coluna destacada como a sensação térmica aumenta conforme a
temperatura aumenta; esta taxa de variação é representada pela derivada da função g. Por
26

Figura 2.7: Sensação térmica de acordo com a condição do vento e


temperatura registrada. Fonte: Inmetro.

exemplo, a taxa de variação da sensação térmica S em relação à temperatura quando T = 12


é representada pela derivada da função g em T = 12:

g(T ) − g(12) g(12 + h) − g(12)


g 0 (12) = lim = lim .
T →12 T − 12 h→0 h

Como g(T ) = f (T,65), podemos escrever a derivada de g em T = 12 como

f (T,65) − f (12,65) f (12 + h,65) − f (12,65)


g 0 (12) = lim = lim .
T →12 T − 12 h→0 h
27

Podemos também observar a variação da sensação térmica mantendo fixo um valor para
a temperatura. A linha destacada na Figura 2.7 corresponde aos valores de S para T = 12.
Analogamente, se mantivermos a temperatura fixa em 12o C, a sensação térmica passa a ser
uma função de apenas uma variável: S depende apenas da velocidade V do vento. Denotamos
esta função por G(V ):
G(V ) = f (12,V ).

A variação da sensação térmica em função da velocidade do vento nesta situação é represen-


tada pela derivada da função G(V ). Por exemplo, para V = 65,

G(65 + h) − G(65) f (12, 65 + h) − f (12,65)


G0 (65) = lim = lim .
h→0 h h→0 h

De um modo geral, se z = f (x,y) é uma função de duas variáveis, podemos avaliar a taxa
de variação de z em relação a x ou a y, mantendo a outra variável fixa, assim como fizemos
acima. Isto é, consideramos a função g(x) = f (x,b) e calculamos a derivada de g(x) em um
ponto x = a. A derivada de g(x) no ponto x = a é chamada de derivada parcial de f em
relação a x no ponto (a,b).

Definição 2.2.1. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (a,b) um ponto interior ao
seu domı́nio. Considere a função de uma variável dada por g(x) = f (x,b). A derivada parcial
fx (a,b) de f em relação a x no ponto (a,b) é definida como

g(a + h) − g(a) f (a + h,b) − f (a,b)


fx (a,b) = g 0 (a) = lim = lim ,
h→0 h h→0 h

caso o limite exista. Analogamente, se G(y) = f (a,y), a derivada parcial fy (a,b) de f em


relação a y no ponto (a,b) é definida como

G(b + h) − G(b) f (a,b + h) − f (a,b)


fy (a,b) = G0 (b) = lim = lim ,
h→0 h h→0 h

caso o limite exista.


28

A Figura 2.8 ilustra o significado da Definição 2.2.1: a derivada parcial fx (a,b) é definida
 
como o limite da variação média f (a + h,b) − f (a,b) /h em intervalos da forma [a, a + h]
(ou [a − h, a]) na direção do eixo x.

Figura 2.8: Variação de uma função f na direção do eixo x.

Existem muitas notações diferentes para derivadas parciais. Abaixo vemos algumas ma-
neira de representar a derivada parcial de uma função f (x,y) em relação a x:

∂f ∂f ∂z ∂z
fx (a,b) = (a,b) = = (a,b) = = Dx f (a,b).
∂x ∂x (a,b) ∂x ∂x (a,b)

Naturalmente, usamos uma notação semelhante para representar a derivada parcial de f em


relação a y:

∂f ∂f ∂z ∂z
fy (a,b) = (a,b) = = (a,b) = = Dy f (a,b).
∂y ∂y (a,b) ∂y ∂y (a,b)

Exemplo 2.2.2. Calcule as derivadas parciais fx (2, − 1) e fy (2, − 1) da função f abaixo:

f (x,y) = −x4 + 2x2 y 3 − y + 5.

Para calcular a derivada parcial fx (2, − 1) podemos fixar y = −1 e considerar a função


29

de uma variável resultante:

g(x) = −x4 + 2x2 (−1)3 − (−1) + 5 = −x4 − 2x2 + 6.

Segue que g 0 (x) = −4x3 − 4x e então

fx (2, − 1) = g 0 (2) = −4 · 8 − 4 · 2 = −32 − 8 = −40.

A derivada parcial fy (2, − 1) é obtida de maneira semelhante. Mantemos x = 2 fixo e


consideramos a função resultante na variável y:

h(y) = g(2,y) = −24 + 2 · 22 y 3 − y + 5 = 8y 3 − y − 11.

Segue que h0 (y) = 24y 2 − 1 e assim

fy (2, − 1) = g 0 (−1) = 24(−1)2 − 1 = 23.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Apresentamos os cálculos do Exemplo 2.2.2 como acima para fins didáticos, mas normal-
mente calculamos derivadas parciais usando o conceito de função derivada parcial: veja a
Definição 2.2.3 e o Exemplo 2.2.4.

Definição 2.2.3. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. A derivada parcial de f em
relação a x é definida como a função que associa a cada (x,y) ∈ Dom f a derivada parcial
fx (x,y):
f (x + h,y) − f (x,y)
fx (x,y) = lim ,
h→0 h
caso o limite exista. Analogamente, a derivada parcial de f em relação a y é definida como
a função que associa a cada (x,y) ∈ Dom f a derivada parcial fy (x,y):

f (x,y + h) − f (x,y)
fy (x,y) = lim ,
h→0 h

caso o limite exista.


30

Para calcular a derivada parcial de uma função f (x,y) em relação a x, como as Definições
2.2.1 e 2.2.3 sugerem, consideramos a variável y como uma constante e derivamos a expressão
como uma função de uma variável. O mesmo é feito para o cálculo de fy (x,y).

Exemplo 2.2.4. As derivadas parciais da função

f (x,y) = −x4 + 2x2 y 3 − y + 5

em relação a x e y são dadas por:

fx (x,y) = −4x3 + 2 · 2x · y 3 + 0 = −4x3 + 4xy 3 ,

fy (x,y) = 0 + 2x2 · 3y 2 − 1 + 0 = 6x2 y 2 − 1.

As derivadas parciais de f no ponto (2, − 1), calculadas no Exemplo 2.2.2, podem ser obtidas
da seguinte maneira:

fx (2, − 1) = −4 · 23 + 4 · 2(−1)3 = −32 − 8 = −40,

fy (2, − 1) = 6 · 22 (−1)2 − 1 = 24 − 1 = 23.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Exemplo 2.2.5. As derivadas parciais da função

g(x,y) = sen(x2 + 2y 3 )

são calculadas usando a regra da cadeia para funções de uma variável. Para calcular a
derivada parcial gx , consideramos y como uma constante e escrevemos sen(x2 + 2y 3 ) =
F (G(x)), onde F (x) = sen x e G(x) = x2 + 2y 3 . Logo,
dF  dG
gx (x,y) = G(x) · = cos(x2 + 2y 3 ) · 2x = 2x cos(x2 + y 2 ).
dx dx
Analogamente,
gy (x,y) = cos(x2 + 2y 3 ) · 6y 2 = 6y 2 cos(x2 + 2y 3 ).

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
31

Exercı́cio 2.2.6. Calcule as derivadas parciais das funções abaixo em relação a x e a y.

(a) f (x,y) = ln(x2 − y 3 )


x2
(b) g(x,y) = tg(x)
y
3 y 6 −2x
(c) h(x,y) = (x2 − y)ex

(d) F (x,y) = cos x2 + ln(2x4 y − y 3 )




tg(x2 − y 2 ) + xy
(e) G(x,y) =
x2

(f) H(x,y) = exp sec(xy)

Frequentemente, em uma situação real, lidamos com uma função f (x,y) cuja expressão
algébrica não é conhecida, como é o caso na Figura 2.7. Podemos nestes casos aproximar os
valores das derivadas parciais utilizando a sua definição.

Exemplo 2.2.7. Considere a função S = f (T,V ) que expressa a sensação térmica S em


função da temperatura T e da velocidade V do vento na Figura 2.7. A derivada parcial
fT (12,65) expressa a taxa de variação da sensação térmica S em função da temperatura T ,
isto é, descreve como a S variará se mantivermos V = 65 fixo e aumentarmos ligeiramente
a temperatura T = 12. Não podemos, no entanto, calcular esta derivada parcial como nos
Exemplos 2.2.2 e 2.2.4 pois não temos uma expressão algébrica para f (T,V ). Utilizamos
então a definição de derivada parcial para obter uma aproximação.

Considere a função g(T ) = f (T,65). Temos fT (12,65) = g 0 (12) e o valor desta derivada
pode ser aproximada utilizando a definição
g(T ) − g(12)
fT (12,65) = g 0 (12) = lim .
T →12 T − 12
Aproximamos o valor de g 0 (12) através de alguns valores da tabela na Figura 2.7, escolhendo
um à direita de T = 12 e um à esquerda:
g(13) − g(12) 1−0
g 0 (12) ≈ = = 1,
13 − 12 1
32

g(11) − g(12) −2 − 0
g 0 (12) ≈ = = 2.
11 − 12 −1
Tirando a média dos valores acima temos a aproximação fT (12,65) = g 0 (12) ≈ 1,5. A
interpretação desta derivada parcial é a seguinte: quando a temperatura é 12o C e o vento
tem velocidade de 65 km/h, a sensação térmica S aumenta 1,5o C para um aumento de 1o C
da temperatura real.

Analogamente, podemos obter uma aproximação para a derivada parcial fV (12,65) ao


considerar a função G(V ) = f (12,V ) e aproximar a derivada G0 (65) usando os valores à
direita e à esquerda de V = 65 na Figura 2.7:
G(68) − G(65) −1 − 0 1
G0 (65) ≈ = =− ,
68 − 65 3 3
G(61) − G(65) −0 − 0
G0 (65) ≈ = = 0.
61 − 65 −4
Fazendo a média aritmética destas aproximações obtemos fV (12,65) = G0 (65) ≈ 0,16. Pode-
mos assim prever que, quando a temperatura é de 12o C e o vento tem velocidade 65 km/h,
a sensação térmica diminui aproximadamente 0,16o C para um aumento de uma unidade na
velocidade do vento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Vimos no começo desta seção que a derivada parcial fx (a,b) de uma função z = f (x,y)
representa a taxa de variação de z em relação a x no ponto x = a, se mantivermos y = b fixo.
Vejamos agora o que esta derivada parcial representa geometricamente. A equação y = b
representa uma reta no plano, mas y = b define um plano no espaço. Veja a Figura 2.9.

Logo, quando fixamos y = b no estudo do comportamento da função f (x,y) estamos


restringindo nossa atenção à interseção do gráfico z = f (x,y) com este plano; o resultado
desta interseção é uma curva que denotamos por C1 (Figura 2.10). A curva C1 coincide com
o gráfico da função g(x) = f (x,b). Vemos assim que a derivada parcial fx (a,b) representa o
coeficiente angular da reta tangente a C1 no ponto (a,b).

A derivada parcial fy (a,b) tem um significado semelhante: ela representa o coeficiente


33

Figura 2.9: A equação y = b define uma reta no plano e um plano no


espaço.

Figura 2.10: Curva C1 dada pela interseção do plano y = b com o


gráfico z = f (x,y).

angular da reta tangente à curva C2 no ponto (a,b), onde C2 é a curva obtida pela interseção
do gráfico de f com o plano x = a. Veja as Figuras 2.12 e 2.13.
34

Figura 2.11: Significado geométrico de fx (a,b).

Figura 2.12: Curva C2 dada pela interseção do plano x = a com o


gráfico z = f (x,y).

Exemplo 2.2.8. Considere a função


3y 2
f (x,y) = 9 − x2 − .
2
As derivadas parciais de f em (1, − 1) são dadas por

∂f
= −2x = −2,
∂x (1,−1)

(1,−1)
35

Figura 2.13: Significado geométrico de fy (a,b).



∂f 6y
=− = 3.
∂y (1,−1) 2 (1,−1)
As curvas C1 e C2 correspondentes, obtidas através da interseção de z = f (x,y) com os
planos y = 1 e x = −1, são ilustradas nas Figuras 2.14 e 2.15. Vemos que no ponto (1, − 1)
a curva C1 temos um coeficiente angular negativo na direção do eixo x, enquanto o gráfico
da função tem uma inclinação positiva na direção do eixo y. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Até o momento estudamos superfı́cies em R3 dadas pelo gráfico de funções de duas


variáveis, isto é, superfı́cies definidas por equações da forma z = f (x,y). De um modo geral,
uma equação a três variáveis F (x,y,z) = 0 define uma superfı́cie em R3 . Podemos, também
neste caso, nos perguntar qual é a taxa de variação de z em relação a x ou a y em um
determinado ponto; o significado geométrico destas derivadas parciais é o mesmo, ilustrado
nas Figuras 2.10 a 2.13. Isto é feito através de derivação implı́cita, processo que se assemelha
com aquele estudado no cálculo de funções de uma variável.

Exemplo 2.2.9. Calcule o valor de ∂z/∂x no ponto (1,1,1) supondo que a equação

xy + z 3 x = 2yz

define implicitamente uma função z = f (x,y) na vizinhança do ponto (1,1,1) cujas derivadas
36

Figura 2.14: Plano y = −1 e gráfico de z = 9 − x2 − 3y 2 /2.

Figura 2.15: Plano x = 1 e gráfico de z = 9 − x2 − 3y 2 /2.

parciais de primeira ordem existem.

Supondo que z é função de x e y, ambos os lados da equação acima dependem da variável


x. Suas derivadas parciais em relação a esta variável são iguais, logo, considerando que y é
37

uma constante, temos


∂ ∂ ∂ ∂ 3 ∂z
xy + z 3 x =

2yz ⇐⇒ xy + z x = 2y .
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
Como z é uma variável que depende de x, calculamos as derivadas acima usando a regra do
produto e a regra da cadeia:
 
2 ∂z ∂z
1 · y + 3z x + z 3 · 1 = 2y .
∂x ∂x
Segue que
∂z ∂z ∂z
3z 2 x − 2y = −y − z 3 ⇐⇒ (3z 2 x − 2y) = −y − z 3 .
∂x ∂x ∂x
Portanto,
∂z −y − z 3
= 2 .
∂x 3z x − 2y
Podemos calcular o valor desta derivada parcial no ponto (1,1,1) através da expressão acima:
∂z −1 − 13 −2
(1,1,1) = = = −2.
∂x 3 · 12 · 1 − 2 · 1 3−2

..................................................................................... 

2.3 Derivadas Parciais de Funções de Mais de Duas


Variáveis

Derivadas parciais de funções de três ou mais derivadas são definidas analogamente ao que
vimos na Definição 2.2.1: mantemos todas as variáveis constantes e consideramos a variação
da função com respeito apenas à restante.

Definição 2.3.1. Seja f (x1 , . . . , xn ) uma função de n variáveis e (a1 , . . . , an ) ∈ Rn um ponto


interior ao seu domı́nio. Definimos, para k = 1, . . . , n, a derivada parcial de f em relação a
xk no ponto (a1 , . . . , an ) como

∂f f (a1 , . . . , ak−1 , ak + h, ak+1 , . . . , an ) − f (a1 , . . . , ak−1 , ak , ak+1 , . . . , an )
= lim ,
∂xk (a1 ,...,an ) h→0
h
38

caso o limite exista. A derivada parcial de f em relação a xk é definida como a função que
associa a cada (x1 , . . . , xn ) ∈ Dom f a sua derivada parcial ∂f /∂xk .

A derivada parcial de f (x1 , . . . , xn ) em relação a xk pode ser escrita também como:

∂f
= fxk = fk = Dk f.
∂xk

Nosso foco neste curso se encontra em funções de duas ou três variáveis. Ilustramos a
Definição 2.3.1 neste último caso: o cálculo da derivada parcial fx de uma função f (x,y,z),
por exemplo, é calculada considerando que y,z são constantes e derivando a expressão como
uma função de apenas uma variável.

Exemplo 2.3.2. As derivadas parciais fx , fy e fz da função

f (x,y,z) = xz sen(y + 3z)

são dadas por


fx (x,y,z) = z sen(y + 3z),

fy (x,y,z) = xz cos(y + 3z) · (1 + 0) = xz cos(y + 3z),

fz (x,y,z) = x sen(y + 3z) + xz cos(y + 3z) · (0 + 3) = x sen(y + 3z) + 3xz cos(y + 3z).

..................................................................................... 

Cabe ressaltar que as derivadas parciais de uma função de três variáveis têm inter-
pretações semelhantes àquelas vistas para funções de duas variáveis. Por exemplo, se T (x,y,z)
indica a temperatura em cada ponto (x,y,z) de um sólido E do espaço, a derivada parcial
Tx (a,b,c) indica que variação de temperatura esperamos se caminharmos dentro do sólido E
na direção do eixo x, partindo do ponto (a,b,c).
39

2.4 Derivadas Parciais de Ordem Superior

No estudo de funções de uma variável, a segunda derivada f 00 de uma função f (x) tem
grande importância: além de descrever a concavidade do gráfico de f , ela fornece um teste
para verificarmos se pontos crı́ticos são extremos relativos. Derivadas parciais de segunda
ordem têm um papel semelhante.

Seja z = f (x,y) uma função de duas variáveis. A derivada parcial fx da função f é uma
função de duas variáveis, logo podemos pensar nas derivadas parciais de fx (x,y) em relação a
x ou a y; o mesmo ocorre com fy (x,y). A derivada parcial de segunda ordem de f em relação
a x é definida como a função fxx (x,y) que associa a cada ponto (x,y) a derivada parcial da
função fx (x,y) em relação a x:

∂ 2f ∂ 2z
 
∂ ∂f
fxx = (fx )x = = = .
∂x ∂x ∂x2 ∂x2

Definimos analogamente as outras derivadas parciais de segunda ordem de f :

∂ 2f ∂ 2z
 
∂ ∂f
fyy = (fy )y = = = ,
∂y ∂y ∂y 2 ∂y 2

∂ 2f ∂ 2z
 
∂ ∂f
fxy = (fx )y = = = ,
∂y ∂x ∂y∂x ∂y∂x
e
∂ 2f ∂ 2z
 
∂ ∂f
fyx = (fy )x = = = .
∂x ∂y ∂x∂y ∂x∂y
Exemplo 2.4.1. Determine as derivadas parciais de segunda ordem da função

f (x,y) = x cos y + yex .

Temos
fx (x,y) = cos y + yex e fy (x,y) = −x sen y + ex ,

logo
fxx (x,y) = yex ,
40

fyy (x,y) = −x cos y,

fxy (x,y) = − sen y + ex ,

e
fyx (x,y) = − sen y + ex .

..................................................................................... 

Verificamos que no caso da função f do Exemplo 2.4.1 temos fxy = fyx . Isto não foi
apenas uma coincidência; esta igualdade ocorre em muitos casos, descritos no teorema abaixo.

Teorema 2.4.2. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (a,b) um ponto interior ao
seu domı́nio. Se as derivadas parciais fxy e fyx existem e são contı́nuas em um conjunto
aberto contendo o ponto (a,b), então

fxy (a,b) = fyx (a,b).

.Obs: Podemos definir derivadas parciais de terceira ordem de uma função f (x,y) da mesma
maneira, isto é, como as derivadas parciais das funções fxx , fyy , fxy e fyx . Entretanto, nas
aplicações do Cálculo Diferencial e Integral à Fı́sica e às Engenharias encontramos mais
frequentemente derivadas parciais de primeira e segunda ordem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

.Obs: Derivadas parciais de segunda ordem para funções de três ou mais variáveis, assim
como derivadas parciais de ordem superior, são definidas analogamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . /

2.5 Planos Tangentes

Seja f (x,y) uma função de duas variáveis tais que suas derivadas parciais fx e fy existem
e são contı́nuas em um disco aberto com centro em (x0 , y0 ) ∈ Dom f . Seja S a superfı́cie
definida pelo gráfico de f e considere as curvas C1 e C2 obtidas a partir da interseção de S
41

com os plano y = b e x = a. Ilustramos com as Figuras 2.11 e 2.13 que fx (x0 , y0 ) e fy (x0 , y0 )
representam o coeficiente angular das retas T1 e T2 tangentes a C1 e C2 em (x0 , y0 ). Existe
um único plano que contém as retas T1 e T2 , dito o plano tangente a S em (x0 , y0 ); veja a
Figura 2.16.

Figura 2.16: Planto tangente π ao gráfico z = f (x,y) de uma função.

A equação geral do plano de R3 que contém o ponto (x0 , y0 , z0 ), z0 = f (x0 , y0 ), com vetor
normal →

n = (A,B,C) é

A(x − x0 ) + B(y − y0 ) + C(z − z0 ) = 0.

Se C 6= 0, podemos dividir a equação por C e reescrevê-la como

z − z0 = A0 (x − x0 ) + B 0 (y − y0 ). (2.1)

Quando fixamos y = y0 na Equação (2.1) obtemos a equação da reta T1 :

z − z0 = A0 (x − x0 ).

O número A0 na equação acima representa o coeficiente angular da reta tangente T1 , logo


a = fx (x0 , y0 ). Analogamente, ao fixarmos x = x0 na Equação (2.1), concluı́mos que B 0 =
fy (x0 , y0 ).
42

Teorema 2.5.1. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis com derivadas parciais contı́nuas
em torno de um ponto (x0 , y0 ). A equação do plano tangente à superfı́cie z = f (x,y) no
ponto (x0 , y0 , z0 ), z0 = f (x0 , y0 ), é dada por

z − z0 = fx (x0 , y0 )(x − x0 ) + fy (x0 , y0 )(y − y0 ).

Exemplo 2.5.2. Determine a equação do plano tangente ao gráfico da função

f (x,y) = −3x2 + 6x − 2y 2 − 12y − 28

no ponto (2, −2, −12).

Temos que
fx (x,y) = −6x + 6 e fy (x,y) = −4y − 12,

logo
fx (2, −2) = −6 e fy (2, −2) = −4.

Segue que a equação do plano tangente é dada por

z + 12 = −6(x − 2) − 4(y + 2) ⇐⇒ 6x + 4y + z = −8.

Veja as Figuras 2.17 e 2.18.

..................................................................................... 

.Obs: Para entender a geometria do gráfico de f , realizamos um procedimento chamado


completar quadrados. Temos como objetivo escrever o termo −3x2 + 6x da expressão que
define f como −3x2 + 6x = a(x + b)2 + c. Note que

− 3x2 + 6x = −3(x2 − 2x) = −3 (x − 1)2 − 1 = −3(x − 1)2 + 3.


 
(2.2)

Analogamente, temos

− 2y 2 − 12y = −2(y 2 + 6y) = −2 (y + 3)2 − 9 = −2(y + 3)2 + 18.


 
(2.3)
43

Figura 2.17: Planto tangente do Figura 2.18: Planto tangente do


Exemplo 2.5.2. Exemplo 2.5.2.

Seguem das Equações (2.2) e (2.3) que o gráfico de f é dado por

z = −3(x − 1)2 + 3 − 2(y + 3)2 + 18 − 28 = −3(x − 1)2 − 2(y + 3)2 − 7,

isto é,
z + 7 = −3(x − 1)2 − 2(y + 3)2 .

Logo, se
x − 1 = x1 , y + 3 = y1 e z + 7 = z1 , (2.4)

então
z1 = −3x21 − 2y12 .

Concluı́mos que o gráfico z = f (x,y) consiste de uma translação (Equação (2.4)) do para-
boloide elı́ptico z = −3x2 − 2y 2 ; veja a Figura 2.19. Veja a Seção 1.3 de Cálculo Volume 1,
James Stewart e os exercı́cios 65 e 66 de Cálculo Volume 2, James Stewart. . . . . . . . . . . . . . /

2.6 Aproximações Lineares e Diferenciabilidade Total

Seja y = f (x) é uma função de uma variável. Se f é diferenciável em x = x0 , então seu gráfico

possui uma reta tangente bem definida no ponto x0 , f (x0 ) . A Figura 2.20 sugere que o valor
44

Figura 2.19: Gráfico da função do Exemplo 2.5.2.

de f (x) para pontos próximos x próximos de x0 podem ser aproximados pela coordenada y
fornecida pela reta tangente. Como esta reta tangente contém o ponto (x0 , f (x0 ) e possui
coeficiente angular f 0 (x0 ), a equação da reta é

y − f (x0 ) = f 0 (x0 )(x − x0 ) ⇐⇒ y = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ).

A aproximação de f (x) pela coordenada y fornecida pela reta tangente pode então ser escrita
como
f (x) ≈ L(x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) · (x − x0 ), para x próximo de x0 . (2.5)

Vejamos uma justificativa alternativa para a aproximação (2.5). A derivada de f no


ponto x0 é definida como
f (x0 + h) − f (x0 ) f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim = lim ,
h→0 h x→x 0 x − x0
logo podemos pensar na seguinte aproximação, para x um número real próximo de x0 (h
pequeno):
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) ≈ =⇒ f (x) ≈ f (x0 ) + f 0 (x0 ) · (x − x0 ). (2.6)
x − x0
Como L(x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) · (x − x0 ) é a equação da reta tangente ao gráfico de f em
x = x0 , a Equação (2.6) nos diz que é possı́vel aproximar os valores de f em torno do ponto
45

Figura 2.20: Linearização de f (x) = x2 em torno de x = 1.

x0 pelos de sua reta tangente em x0 . Esta aproximação é dita a aproximação linear de f em


torno de x = x0 :

f (x) ≈ L(x) = f (x0 ) + f 0 (x0 ) · (x − x0 ), para x − x0 = h pequeno. (2.7)

A função L(x) no lado direito da Equação (2.7) é dita a linearização de f em torno de


x0 . A Figura 2.20 ilustra a aproximação linear de f (x) = x2 em torno de x = 1. Veja a
Seção 3.10 de Cálculo Volume 1, James Stewart, para mais informações sobre a linearização
e aproximações lineares de funções de uma variável.

É possı́vel aproximar os valores de uma função de duas variáveis em torno de um ponto


(x0 , y0 ) através de uma função linear de duas variáveis; tais funções têm um plano como
gráfico. Temos nas Figuras 2.21 e 2.22 ilustrados o gráfico e o plano tangente da função do
Exemplo 2.5.2; observe o que ocorre quando damos um zoom nas proximidades do ponto
(2, −2, −12).
46

Figura 2.21: Planto tangente do Figura 2.22: Planto tangente do


Exemplo 2.5.2. Exemplo 2.5.2.

Considere o caso do Exemplo 2.5.2. A equação do plano tangente à função f (x,y) =


−3x2 + 6x − 2y 2 − 12y − 28 no ponto (2, −2, −12) é 6x + 4y + z = −8. A imagem de f em
um ponto (x,y) próximo de (2, − 2) pode ser aproximado pelo valor de z que a equação do
plano tangente em (2, −2, −12) fornece, como as Figuras 2.21 e 2.22 sugerem. Por exemplo,
para (x,y) = (2,1, −1,9), temos na equação do plano tangente

6(2,1) + 4(−1,9) + z = −8 ⇐⇒ 12,6 − 7,6 + z = −8 ⇐⇒ z = −3.

A aproximação linear afirma neste caso que f (2,1, −1,9) ≈ −3. O valor real de f (2,1, −1,9)
pode ser calculado através da expressão f (x,y) = −3x2 + 6x − 2y 2 − 12y − 28, o que fornece
f (2,1, −1,9) = −3,05.

A aproximação linear acima pode ser escrita da seguinte maneira. Quando substituı́mos
um certo ponto (x,y) na equação 6x + 4y + z = −8 do plano tangente e calculamos o z
correspondente estamos usando a seguinte função de duas variáveis: como z = −6x − 4y − 8,
temos
z = L(x,y) = −6x − 4y − 8.

A função L(x,y) acima é aquela que possui como gráfico o plano z = −6x − 4y − 8. Então
as Figuras 2.21 e 2.22 sugerem que, para pontos (x,y) próximos de (2, − 2), a aproximação
47

de f (x,y) por L(x,y) é bem precisa:

f (x,y) ≈ L(x,y) = −6x − 4y − 8.

Definição 2.6.1. Seja f (x,y) uma função com derivadas parciais contı́nuas em torno de um
ponto (a,b) ∈ Dom f . A linearização de f em (a,b) é definida como a função L(x,y) que tem

como gráfico o plano tangente a z = f (x,y) no ponto a, b, f (a,b) :

L(x,y) = f (a,b) + fx (a,b)(x − a) + fy (a,b)(y − b).

A aproximação

f (x,y) ≈ L(x,y) = f (a,b) + fx (a,b)(x − a) + fy (a,b)(y − b).

é definida como a aproximação linear de f em (a,b).

Exercı́cio 2.6.2. Determine o plano tangente ao gráfico da função f (x,y) = y sen x + x2 y 2 ex


no ponto (0,1,0) e use-o para aproximar o valor de f no ponto (0.1, 0.9).

Note que, se escrevemos x = a + ∆x, y = b + ∆y, então a aproximação linear de f em


(a,b) é escrita como

f (a + ∆x, b + ∆y) ≈ f (a,b) + fx (a,b)∆x + fy (a,b)∆y.

Em uma situação como a do Exercı́cio 2.6.2 devemos nos perguntar: qual o erro cometido
ao fazer tal aproximação? Ou seja, ao aproximarmos o valor de f (x,y) em um ponto (a +
∆x, b + ∆y) pelo plano tangente de f em (a,b), será que a diferença
 
E(∆x, ∆y) = f (a + ∆x, b + ∆y) − f (a,b) + fx (a,b)∆x + fy (a,b)∆y

é pequena? Podemos reformular a pergunta da seguinte maneira: será que à medida que ∆x
e ∆y se aproximam de zero o erro E(∆x, ∆y) fica cada vez menor? De certa forma, intro-
duzimos o conceito de diferenciabilidade (total) de funções de duas variáveis para descrever
os casos em que esta linearização fornece uma boa aproximação.
48

Definição 2.6.3. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (a,b) um ponto interior ao
seu domı́nio. Dizemos que f é diferenciável em (a,b) se

E(∆x, ∆y) = ε1 ∆x + ε2 ∆y

onde ε1 , ε2 → 0 quando (∆x, ∆y) → (0,0).

Podemos reescrever a condição da Definição 2.6.3 da seguinte maneira: definimos o in-


cremento de z nesta situação como

∆z = f (a + ∆x, b + ∆y) − f (a,b),

de modo que f é diferenciável em (a,b) se

∆z = fx (a,b)∆x + fy (a,b)∆y + ε1 ∆x + ε2 ∆y,

onde ε1 , ε2 → 0 quando (∆x, ∆y) → (0,0).

O teorema a seguir fornece uma condição suficiente para a diferenciabilidade de uma


função de duas variáveis; como esta condição é mais simples que a diferenciabilidade, pode-
mos usá-lo para garantir que a linearização fornece de fato uma boa aproximação. Para um
resultado mais preciso sobre o erro cometido na aproximação linear de uma função de duas
variáveis, veja a Seção 14.6 de Cálculo Volume 2, George Thomas.

Teorema 2.6.4. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis e (a,b) um ponto interior ao seu
domı́nio. Se as derivadas parciais fx e fy existem em um disco aberto contendo (a,b) e são
contı́nuas em (a,b), então f é diferenciável em (a,b).

Definição 2.6.5. Sejam f (x,y,z) uma função com derivadas parciais contı́nuas em torno de
um ponto (a,b,c) ∈ Dom f . A linearização de f em (a,b,c) é definida como a função

L(x,y,z) = f (a,b,c) + fx (a,b,c)(x − a) + fy (a,b,c)(y − b) + fz (a,b,c)(z − c).

A aproximação

f (x,y,z) ≈ L(x,y,z) = f (a,b,c) + fx (a,b,c)(x − a) + fy (a,b,c)(y − b) + fz (a,b,c)(z − c)


49

é definida como a aproximação linear de f em (a,b,c).

2.7 Regra da Cadeia

Sejam f e g funções de uma variável tais que y = f (x) e x = g(t). Então, pela regra da
cadeia,
dy dy dx
= .
dt dx dt
Por exemplo, se y = cos(t2 − 3t), então podemos escrever y = cos x, onde x = t2 − 3t. Logo,
dy dy dx
= = − sen x · (2t − 3) = −(2t − 3) sen(t2 − 3t).
dt dx dt
Este regra de derivação possui um análogo para funções compostas de várias variáveis; a
Figura 2.23 ilustra a composição de funções do enunciado do Teorema 2.7.1.

Figura 2.23: Composição de funções.

Teorema 2.7.1. Sejam z = f (x,y) uma função diferenciável de x e y, onde x = g(t) e


y = h(t) são funções diferenciáveis de t. Então

z = f g(t), h(t) = F (t)

é uma função diferenciável de t e


dz ∂z dx ∂z dy
= + .
dt ∂x dt ∂y dt
50

x y

t t

Figura 2.24: Regra da cadeia (Teorema 2.7.1).

Demonstração: Provaremos, de acordo com a definição de derivada de função de uma


variável, que o limite
F (t + ∆t) − F (t) ∆z
lim = lim
∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t

existe e é igual à expressão acima. Um incremento não nulo ∆t na variável t produz incre-
mentos
∆x = g(t + ∆t) − g(t), ∆y = h(t + ∆t) − h(t)

nas variáveis x e y que, por sua vez, produzem um incremento ∆z na variável z. Como f é
diferenciável, segue da Definição 2.23 que

∆z = fx ∆x + fy ∆y + ε1 ∆x + ε2 ∆y,

onde ε1 , ε2 → 0 quando (∆x, ∆y) → (0,0). Logo,


∆z ∆x ∆y ∆x ∆y
= fx + fy + ε1 + ε2 ,
∆t ∆t ∆t ∆t ∆t
e, quando ∆t se aproxima de zero, temos
 
∆z ∆x ∆y ∆x ∆y
lim = fx · lim + fy · lim + lim ε1 + ε2 .
∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t ∆t
Como x = g(t) e y = h(t) são diferenciáveis, temos
∆x dx ∆y dy
lim = e lim = ,
∆t→0 ∆t dt ∆t→0 ∆t dt
Portanto,
∆z dx dx dx dy
lim = fx · + fy · +0· +0· ,
∆t→0 ∆t dt dt dt dt
51

isto é,
dz ∆z ∂z dx ∂z dy
= lim = · + · ,
dt ∆t→0 ∆t ∂x dt ∂y dt
como gostarı́amos.
x2
 
dz
Exemplo 2.7.2. Encontre o valor de em t = 1 se z = cos e
dt y

x = 2t + 1 e y = t3 .

Temos pela regra da cadeia (Teorema 2.7.1) que

dz ∂z dx ∂z dy
= + (2.8)
dt ∂x dt ∂y dt

onde
 2  2
∂z ∂ x x 2x
= cos = − sen ,
∂x ∂x y y y
 2  2 2
∂z ∂ x x x
= cos = − sen − 2 .
∂y ∂y y y y

Usando as expressões x = 2t + 1, y = t3 obtemos os seguintes valores para t = 1:

(2t + 1)2 2(2t + 1)


 
∂z
= − sen = −6 sen 9, (2.9)
∂x t=1 t3 t3 t=1

(2t + 1)2 ((2t + 1)2


 
∂z
= sen = 9 sen 9. (2.10)
∂y t=1 t3 t6 t=1
Além disso, temos
dx d dy d
= (2t + 1) = 2 e = t3 = 3t2 ,
dt dt dt dt
logo
dx dy
=2 e = 3. (2.11)
dt t=1 dt t=1
Segue das Equações (2.8) a (2.11) que

dz
= (−6 sen 9) · 2 + (9 sen 9) · 3 = −12 sen 9 + 27 sen 9 = 15 sen 9 ≈ 6,18.
dt t=1

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
52

Um resultado semelhante ao Teorema 2.7.1 é válido também para funções de n variáveis.

Teorema 2.7.3. Sejam z = f (x1 , . . . , xn ) uma função diferenciável de n variáveis, onde


x1 , . . . , xn são funções diferenciáveis de t, isto é, x1 = g1 (t), . . . , xn = gn (t). Então

z = f g1 (t), . . . , gn (t) = F (t)

é uma função diferenciável de t e

dz ∂z dx1 ∂z dxn
= + ··· + .
dt ∂x1 dt ∂xn dt

x1 x2 xn

t t t

Figura 2.25: Regra da cadeia (Teorema 2.7.3).

dw
Exemplo 2.7.4. Encontre o valor de em t = 0 se w = xy + z e
dt

x = cos t, y = sen t e z = t. (2.12)

Temos pela regra da cadeia (Teorema 2.7.3) que

dw ∂w dx ∂w dy ∂w dz
= + + .
dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt

Como x = cos t, y = sen t e z = t, temos

dx dy dz
= − sen t, = cos t e = 1,
dt dt dt

logo
dx dy dz
= 0, =1 e = 1.
dt t=0 dt t=0 dt t=0
53

Mais ainda, temos


∂w ∂w ∂w
= y, =x e = 1.
∂x ∂y ∂z
onde x = cos t, y = sen t e z = t implicam em x = 1, y = 0 e z = 0. Portanto,

∂w ∂w ∂w
= 0, =1 e = 1.
∂x t=0 ∂y t=0 ∂z t=0
Segue que
dw
= 0 · 0 + 1 · 1 + 1 · 1 = 2.
dt t=0

Note que a Equação (2.12) descreve uma hélice no espaço; o significado da derivada que
calculamos acima é a taxa de variação de w conforme o ponto (x,y,z) se desloca seguindo o
caminho descrito pela hélice. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

Situações envolvendo taxas de variação relacionadas podem ser vistas através do prisma
de funções de várias variáveis.

Exemplo 2.7.5. A lei dos gases ideias afirma que a temperatura T em Kelvin, a pressão P
em newtons por metro quadrado e o volume V em metros cúbicos de um gás satisfazem a
equação P V = kT , onde k é uma constante de proporcionalidade. Use esta lei com k = 10
para encontrar a taxa de variação da temperatura em relação ao tempo de um gás no instante
em que seu volume é de 120 m3 sob uma pressão de 8 N/m2 , sabendo que seu volume está
crescendo a uma taxa de 2 m3 /s e a pressão está decrescendo a uma taxa de 0,1 N/m2 s.

A temperatura do gás pode ser escrita como uma função de duas variáveis
1
T = P V,
10
onde P = P (t) e V = V (t) são funções do tempo. Segue da regra da cadeia que
dT ∂T dP ∂T dV
= · + · ,
dt ∂P dt ∂V dt
isto é,
dT V dP P dV
= · + · .
dt 10 dt 10 dt
54

Segue que no instante dado temos

dT 120 8
= · (−0,1) + · 2 = −1,2 + 1,6 = 0,4.
dt 10 10

Então a temperatura do gás está aumentando a uma taxa de 0,4 K/s neste instante. . . . .

O teorema a seguir representando a versão mais geral da regra da cadeia.

Teorema 2.7.6. Seja y = f (x1 , . . . , xn ) uma função diferenciável de n variáveis onde cada
xi é função diferenciável de t1 , . . . , tm : xi = gi (t1 , . . . , tm ). Então

y = f g1 (t1 , . . . , tm ), . . . , gn (t1 , . . . , tm )

é uma função diferenciável de t1 , . . . , tm e, para j = 1, . . . , m,

∂y ∂y ∂x1 ∂y ∂xn
= + ··· + .
∂tj ∂x1 ∂tj ∂xn ∂tj

x1 x2 xn

t1 tj tn t1 tj tn t1 tj tn

Figura 2.26: Regra da cadeia (Teorema 2.7.6).

Exemplo 2.7.7. Seja u = x4 y + y 2 z 3 onde x = rset , y = rs2 e−t e z = r2 s sen t. Encontre o


∂u
valor de quando (r,s,t) = (2,1,0).
∂s
Temos pela regra da cadeia que

∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂z
= · + · + ·
∂s ∂x ∂s ∂y ∂s ∂z ∂s
55

onde
∂x ∂y ∂z
= ret , = r2se−t e = r2 sen t.
∂s ∂s ∂s
Segue que, se (r,s,t) = (2,1,0),

∂x ∂y ∂z
= 0, =1 e = 1.
∂s (r,s,t)=(2,1,0) ∂s (r,s,t)=(2,1,0) ∂s (r,s,t)=(2,1,0)

Temos ainda que


∂u ∂u ∂u
= 4x3 y, = x4 + 2yz 3 e = 3y 2 z 2 .
∂x ∂y ∂z
Para (r,s,t) = (2,1,0) temos (x,y,z) = (2,2,0), logo

∂u ∂u ∂u
= 64, = 16 e = 0.
∂x (r,s,t)=(2,1,0) ∂y (r,s,t)=(2,1,0) ∂z (r,s,t)=(2,1,0)

Segue que
∂u
= 64 · 2 + 16 · 4 + 0 · 0 = 192.
∂s (r,s,t)=(2,1,0)
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Exercı́cio 2.7.8. O raio de um cilindro circular reto está decrescendo a uma taxa de 5
cm/min e sua altura está aumentando a uma taxa de 12 cm/min. Determine a taxa de
variação do volume do cilindro no instante em que o raio é 20 cm e a altura é 40 cm.

Exercı́cio 2.7.9. Seja w = x + 2y + z 2 onde x = r/s, y = r2 + ln s e z = 2r. Determine o


valor da taxa de variação de w em relação a r e s quando r = −2 e s = 3.

Exercı́cio 2.7.10. Seja z = f (x,y) uma função diferenciável tal que

x = g(t), g 0 (5) = −1, fx (−2,15) = 3, g(5) = −2,

y = h(t), h0 (5) = 4, fy (−2,15) = 2, h(5) = 15.


dz
Determine o valor de quando t = 5.
dt
Exercı́cio 2.7.11. A produção W de trigo em toneladas em um dado ano depende da tem-
peratura média T e da precipitação anual de chuva R. Cientistas estimam que a temperatura
56

média está aumentando a uma taxa de 0,15o C por ano e a precipitação está decrescendo a
uma taxa de 0,1 cm por ano. Eles também estimam que, nos nı́veis atuais de produção,
dW
WT = −2 e WR = 8. Determine uma estimativa para a taxa de variação da produção
dt
de trigo em função do tempo.
Capı́tulo 3

Derivadas Direcionais, Vetores


Gradiente e Aplicações

3.1 Derivadas Direcionais e Vetores Gradiente

Vimos no Capı́tulo 2 que as derivadas parciais de uma função z = f (x,y) num ponto (x0 ,y0 ),
definidas por
f (x0 + h,y0 ) − f (x0 ,y0 )
fx (x0 ,y0 ) = lim
h→0 h
e
f (x0 ,y0 + h) − f (x0 ,y0 )
fy (x0 ,y0 ) = lim
h→0 h
representam a taxa de variação de z em relação às variáveis x e y, respectivamente. Geo-
metricamente, fx (x0 ,y0 ) e fy (x0 ,y0 ) representam o coeficiente angular das retas tangentes às
curvas obtidas pela interseção do gráfico de f com os planos y = b e x = a; veja as Figuras
2.11 e 2.13. Veremos agora que é possı́vel determinar a taxa de variação de z em uma direção
arbitrária, dada por um vetor unitário ~u = (a,b).

Definimos esta taxa de variação de maneira análoga às definições fx (x0 ,y0 ) e fy (x0 ,y0 ). O

57
58

vetor com a direção e sentido de ~u e módulo h é h~u = (ha, hb). Consideramos um segmento
de comprimento h na direção do vetor ~u partindo do ponto (a,b). O quociente da variação
total de f neste “intervalo” por h representa a variação média de f neste segmento; como
os extremos deste intervalo são dados pelos pontos (x0 , y0 ) e (x0 + ha, y0 + hb), esta média
é dada por
f (x0 + ha, y0 + hb) − f (x0 , y0 )
.
h
O limite desta média quando h → 0 representa a taxa de variação (instantânea) de interesse.
Veja a Figura 3.1 e compare com a Figura 2.8.

Figura 3.1: Taxa de variação de uma função f no ponto (x0 , y0 ) na direção do


vetor unitário ~u = (a,b).

Definição 3.1.1. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto interior ao
seu domı́nio. Seja ~u = (a,b) ∈ R2 um vetor unitário. A derivada direcional de f na direção
do vetor ~u no ponto (x0 ,y0 ) é definida como

f (x0 + ha, y0 + hb) − f (x0 , y0 )


D~u f (x0 , y0 ) = lim ,
h→0 h

se o limite existir.
59

Note que se ~u = ~i = (1,0) ou ~u = ~j = (0,1) então a derivada direcional D~u f (x0 , y0 )


coincide com as derivadas parciais fx (x0 , y0 ) e fy (x0 , y0 ), isto é,

D~i f (x0 , y0 ) = fx (x0 , y0 ) e D~j f (x0 , y0 ) = fy (x0 , y0 ).

Compare as Definições 3.1.1 e 2.2.1 nos casos ~u = ~i e ~u = ~j.

.Obs: Cabe ressaltar que o conceito de direção apresentado aqui diverge daquele estudado
em Geometria Analı́tica. De acordo com os conceitos de Geometria Analı́tica, neste contexto
de derivada direcional de funções, por direção definida por um vetor ~u entende-se a direção
e o sentido definidos por este vetor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

O teorema abaixo fornece uma maneira simples de calcular a derivada direcional de uma
função.

Teorema 3.1.2. Seja f (x,y) uma função diferenciável de duas variáveis definida sobre um
conjunto aberto. Se (x0 ,y0 ) ∈ Dom f e ~u = (a,b) é um vetor unitário, então a derivada
direcional D~u f (x0 ,y0 ) existe e

D~u f (x0 ,y0 ) = fx (x0 ,y0 ) · a + fy (x0 ,y0 ) · b.

Demonstração: Considere a função de uma variável g(h) = f (x0 + ha, y0 + hb). Segue da
definição de derivada de uma função que
g(h) − g(0) f (x0 + ha, y0 + hb) − f (x0 , y0 )
g 0 (0) = lim = lim = D~u f (x0 , y0 ). (3.1)
h→0 h h→0 h
Por outro lado, temos g(h) = f (x,y) onde x = x0 + ha e y = y0 + hb. Então, pela regra da
cadeia,
∂f dx ∂f dy
g 0 (h) = · + · = fx (x,y) · a + fy (x,y) · b,
∂x dh ∂y dh

onde (x,y) = x(h), y(h) = (x0 + ha, y0 + hb). Para h = 0 temos x(h) = x0 e y(h) = y0 ,
então
g 0 (0) = fx (x0 , y0 ) · a + fy (x0 , y0 ) · b. (3.2)

O resultado segue das Equações (3.1) e (3.2).


60

Exemplo3.1.3. Calcule a derivada direcional D~u f (1,2), onde f (x,y) = x2 + xy e ~u =



1 1
√ ,√ .
2 2
Temos fx (x,y) = 2x + y e fy (x,y) = x, logo fx (1,2) = 4 e fy (1,2) = 1. Segue que

1 1 5
D~u f (1,2) = 4 · √ + 1 · √ = √ .
2 2 2

..................................................................................... 

O significado geométrico da derivada direcional é semelhante ao das derivadas parciais.


Dados uma função f (x,y), um ponto (x0 ,y0 ) ∈ Dom f e um vetor unitário ~u = (a,b), a
interseção do gráfico de f com o plano b(x − x0 ) − a(y − y0 ) = 0 é um curva C cujo

coeficiente angular da reta tangente no ponto a, b, f (a,b) é igual a D~u f (x0 ,y0 ). Veja as
Figuras 3.2 e 3.3.

Figura 3.2: Significado geométrico da derivada direcional.

Cabe ressaltar que o Teorema 3.1.2 é válido apenas para vetores unitários. Vetores de
mesma direção e módulos diferentes forneceriam derivadas direcionais de diferentes valores,
o que não é de nosso interesse. Por esse motivo, se a direção em questão é definida por um
61

Figura 3.3: Significado geométrico da derivada direcional.

vetor de módulo diferente de 1, é necessário normalizá-lo para usar então aplicar o Teorema
3.1.2.

Exemplo 3.1.4. Determine a derivada direcional da função f (x,y) = ln(x2 + y 2 ) no ponto


(2,1) na direção definida pelo vetor ~u = (−1,2).

Temos
2x 2y
fx (x,y) = e fy (x,y) = ,
x2 + y2 x2 + y2
logo
4 2
fx (2,1) = e fy (2,1) = .
5 5
√ √
O módulo de ~u é dado por k~uk = 1 + 4 = 5. Segue que ~u tem a direção do vetor unitário
 
1 −1 2
~v = √ (−1,2) = √ , √ .
5 5 5

Segue que a derivada direcional em questão é dada por

1 4 2 2 −4 + 4
D~v f (2,1) = − √ · + √ · = √ = 0.
5 5 5 5 5 5

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
62

Observamos que o Teorema 3.1.2 descreve o valor da derivada direcional D~u f (x0 ,y0 )

através do produto escalar dos vetores ~u = (a,b) e fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) :

D~u f (x0 ,y0 ) = fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) · (a,b) = fx (x0 , y0 ) · a + fy (x0 , y0 ) · b.

O vetor fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) é dito o vetor gradiente de f no ponto (x0 , y0 ).

Definição 3.1.5. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. O vetor gradiente ou, simples-
mente, o gradiente de f é a função ∇f que associa a cada ponto (x,y) ∈ Dom f o vetor

∇f (x,y) = fx (x,y), fy (x,y) = fx (x,y)~i + fy (x,y)~j.




Com a notação acima, podemos reescrever o Teorema 3.1.2 da seguinte maneira:

D~u f (x,y) = ∇f (x,y) · ~u. (3.3)

Mas o que o vetor gradiente de uma função f (x,y) de duas variáveis representa? A resposta
desta pergunta envolve a seguinte propriedade do produto escalar de dois vetores:

~u · ~v = k~ukk~v k cos θ, (3.4)

onde θ ∈ [0, π] é o ângulo de ~u e ~v . Portanto,

D~u f (x0 , y0 ) = ∇f (x0 , y0 ) · ~u = k∇f (x0 ,y0 )kk~uk cos θ,

e como ~u é vetor unitário na Equação (3.3),

D~u f (x0 , y0 ) = k∇f (x0 ,y0 )k cos θ. (3.5)

Veja a Figura 3.4: diferentes vetores ~u formarão diferentes ângulos θ com o vetor gradiente.
Segue da Equação (3.5) que a derivada direcional D~u f (x0 , y0 ) é maximizada quando cos θ = 1.
Isto ocorre quando θ = 0, isto é, quando ~u tem a mesma direção e sentido do vetor ∇f (x0 ,y0 ).
Em outras palavras, o valor máximo de D~u f (x0 ,y0 ), para (x0 , y0 ) fixo, considerando todos os
vetores unitários ~u ∈ R2 , ocorre quando ~u tem a direção de ∇f (x0 ,y0 ). Isto significa que ao
63

Figura 3.4: Ângulo θ formado pelo vetor ~u que define a derivada direcional e o
vetor gradiente ∇f (x0 ,y0 ).

caminharmos no gráfico z = f (x,y) da função f partindo do ponto (x0 , y0 ), temos a subida


com maior inclinação na direção do vetor gradiente ∇f (x0 , y0 ). Mais ainda, usando cos θ = 1
na Equação (3.5) concluı́mos que a derivada direcional nesta direção tem valor k∇f (x0 ,y0 )k.

Note que a Equação (3.5) implica ainda que a derivada direcional D~u f (x0 ,y0 ) é mı́nima
quando cos θ = −1; isto é equivalente a θ = π, isto é, quando ~u e ∇f (x0 , y0 ) têm a mesma
direção mas sentidos opostos. Além disso, concluı́mos também que a taxa de variação de f
em (x0 ,y0 ) é nula em uma direção ~u se e somente se ~u é ortogonal a ∇f (x0 ,y0 ).

Teorema 3.1.6. Seja f (x,y) uma função diferenciável de duas variáveis e seja (x0 ,y0 ) um
ponto de seu domı́nio. Então a taxa de variação máxima de z = f (x,y) no ponto (x0 , y0 )
ocorre na direção ∇f (x0 ,y0 ) e este valor máximo é dado por |∇f (x0 ,y0 )|.
x2
Exemplo 3.1.7. Considere a função f (x,y) = + 3y 2 . Determine a direção em que
2
z = f (x,y):

(a) cresce mais rapidamente no ponto (2,1);

(b) decresce mais rapidamente no ponto (2,1);

(c) possui taxa de variação nula no ponto (2,1).

O vetor gradiente de f é dado por ∇f (x,y) = (x,6y), logo ∇f (2,1) = (2,6). Segue que a
64

direção em que z = f (x,y) cresce mais rapidamente é ~u = (2,6); aquela em que z decresce
mais rapidamente é −~u = (−2, − 6). As duas direções em que z possui taxa de variação nula
são aquelas ortogonais ao vetor gradiente, isto é, aquelas dadas por ~v = (a,b) onde

~v · ∇f (2,1) = 0, isto é, 2a + 6b = 0, isto é, 6b = −2a.

Devemos então escolher dois vetores v~1 , v~2 com direções opostas que satisfazem a equação
6b = −2a. Segue que as direções em que a derivada direcional é nula são as dos vetores
v~1 = (6, − 2) e v~2 = (−6,2). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

O vetor gradiente de uma função f (x,y) possui uma outra propriedade importante. Não
é possı́vel apresentar estas ideias em sua plenitude pois é necessário um conhecimento prévio
de parametrização de curvas; veja o Capı́tulo 13 de Cálculo Volume 2, James Stewart.

Teorema 3.1.8. Sejam f (x,y) = k uma curva de nı́vel de uma função diferenciável f de
duas variáveis e (x0 , y0 ) um ponto desta curva. Então ∇f (x0 , y0 ) é ortogonal a esta curva de
nı́vel no ponto (x0 , y0 ).

Mais precisamente, o Teorema 3.1.8 afirma que ∇f (x0 , y0 ) é ortogonal à reta tangente
a esta curva de nı́vel no ponto (x0 , y0 ); veja a Figura 3.5. Nas Figuras 3.6 e 3.7 temos
representados o campo gradiente de duas funções f (x,y): para alguns pontos (x,y) do plano,
é representado graficamente o vetor ∇f (x,y). O campo gradiente ilustra o fato que os vetores
gradientes apontam para a direção de “subida do morro” (subida de maior inclinação).

Podemos definir de maneira análoga a derivada direcional e o vetor gradiente de uma


função de três variáveis. Teoremas semelhantes são provados com os mesmos argumentos.

Definição 3.1.9. Sejam F (x,y,z) uma função de três variáveis e (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto interior
ao seu domı́nio. Seja ~u = (a,b,c) ∈ R3 um vetor unitário. A derivada direcional de F na
direção do vetor ~u no ponto (x0 ,y0 ,z0 ) é definida como
F (x0 + ha, y0 + hb, z0 + hc) − F (x0 , y0 , z0 )
D~u F (x0 , y0 , z0 ) = lim ,
h→0 h
65

Figura 3.5: O vetor gradiente ∇f (x0 , y0 ) é ortogonal à curva de nı́vel f (x,y) = k


contendo (x0 ,y0 ).

se o limite existir.

Definição 3.1.10. Seja F (x,y,z) uma função de três variáveis. O vetor gradiente ou, sim-
plesmente, o gradiente de F é a função ∇F que associa a cada ponto (x,y,z) ∈ Dom F o
vetor

∇F (x,y,z) = Fx (x,y,z), Fy (x,y,z), Fz (x,y,z)

= Fx (x,y,z)~i + Fy (x,y,z)~j + Fz (x,y,z)~k.

Teorema 3.1.11. Seja F (x,y,z) uma função diferenciável de duas variáveis definida sobre
um conjunto aberto. Se (x0 ,y0 ,z0 ) ∈ Dom F e ~u = (a,b,c) é um vetor unitário, então a
derivada direcional D~u F (x0 ,y0 ,z0 ) existe e

D~u F (x0 ,y0 ,z0 ) = ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) · ~u

= Fx (x0 ,y0 ,z0 ) · a + Fy (x0 ,y0 ,z0 ) · b + Fz (x0 ,y0 ,z0 ) · c.

A Equação (3.4) também é válida para vetores ~u, ~v de R3 . Segue então do Teorema
3.1.11 que o máximo da derivada direcional D~u F (x0 ,y0 ,z0 ), para (x0 ,y0 ,z0 ) fixo, dentre todos
os vetores unitários ~u ∈ R3 , é k∇F (x0 ,y0 ,z0 )k e ocorre quando ~u tem a direção e sentido do
vetor gradiente ∇F (x0 ,y0 ,z0 ).

Teorema 3.1.12. Seja F (x,y,z) uma função diferenciável de três variáveis e seja (x0 ,y0 ,z0 )
66

Figura 3.6: Campo gradiente Figura 3.7: Campo gradiente


p
de f (x,y) = 9 − x2 − y 2 . de f (x,y) = x2 − y 2 .

um ponto de seu domı́nio. Então a taxa de variação máxima de w = F (x,y,z) no ponto


(x0 , y0 , z0 ) ocorre na direção ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) e este valor máximo é dado por k∇F (x0 ,y0 ,z0 )k.

Já foi discutido anteriormente o conceito de plano tangente ao gráfico de uma função.
Entretanto, nem toda superfı́cie S de R3 representa o gráfico z = f (x,y) de uma função f
de duas variáveis. Algumas podem ser descritas como a superfı́cie de nı́vel de uma função F
de três variáveis, isto é,
S = {(x,y,z) ∈ R3 : F (x,y,z) = k}.

Neste caso, é possı́vel provar que se (x0 ,y0 ,z0 ) é um ponto de S e C é uma curva contida em
S que passa por (x0 ,y0 ,z0 ), então ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) é ortogonal à reta tangente a C neste ponto.
É natural portanto definir o plano tangente a S em (x0 ,y0 ,z0 ) como aquele que contém o
ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e tem o vetor ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) como vetor normal. Veja a Figura 3.8.

Definição 3.1.13. Seja F (x,y,z) uma função diferenciável de três variáveis. Sejam S a
superfı́cie de nı́vel definida pela equação F (x,y,z) = k e (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto de S. Suponha
que ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) 6= (0,0,0). Definimos o plano tangente π a S em (x0 ,y0 ,z0 ) como o plano
67

f(a,b)

π
b y

Figura 3.8: Reta normal a uma superfı́cie.

que contém o ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e tem o vetor ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) como vetor normal:

π : Fx (x0 ,y0 ,z0 )(x − x0 ) + Fy (x0 ,y0 ,z0 )(y − y0 ) + Fz (x0 ,y0 ,z0 )(z − z0 ) = 0.

A reta normal r à superfı́cie S no ponto (x0 ,y0 ,z0 ) é definida como aquela que passa pelo
ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e é normal ao plano tangente a S neste ponto:

r : (x,y,z) = (x0 ,y0 ,z0 ) + ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) · t,

isto é, 


 x = x0 + Fx (x0 ,y0 ,z0 ) · t,

r: y = y0 + Fy (x0 ,y0 ,z0 ) · t,


 z = z + F (x ,y ,z ) · t.

0 z 0 0 0

Note que, se f (x,y) é uma função de duas variáveis, então seu gráfico z = f (x,y) corres-
68

ponde à superfı́cie de nı́vel F (x,y,z) = 0 da função F (x,y,z) = z − f (x,y):

z = f (x,y) ⇐⇒ z − f (x,y) = 0 ⇐⇒ F (x,y,z) = 0.

Assim, de acordo com a Definição 3.1.13, o plano tangente ao gráfico de f num ponto
(x0 ,y0 ,z0 ) é dado por

−fx (x0 ,y0 )(x − x0 ) − fy (x0 ,y0 )(y − y0 ) + 1 · (z − z0 ) = 0,

isto é,
z − z0 = fx (x0 ,y0 )(x − x0 ) + fy (x0 ,y0 )(y − y0 ).

Esta equação coincide com aquela do Teorema 2.5.1; em outras palavras, podemos enxergar
o gráfico de uma função de duas variáveis como uma superfı́cie de nı́vel, se desejarmos. A
reta normal ao gráfico de uma função de duas variáveis está bem definida portanto pela
Definição 3.1.13.

Exemplo 3.1.14. Determine o plano tangente e a reta normal à superfı́cie y = x2 − z 2 no


ponto (4,7,3).

A superfı́cie em questão é dada pela equação F (x,y,z) = 0, onde F (x,y,z) = y − x2 + z 2 .


Como
Fx (x,y,z) = −2x =⇒ Fx (4,7,3) = −8,

Fy (x,y,z) = 1 =⇒ Fy (4,7,3) = 1,

Fz (x,y,z) = 2z =⇒ Fz (4,7,3) = 6,

temos que o plano tangente a S no ponto (4,7,3) é

−8(x − 4) + 1(y − 7) + 6(z − 3) = 0 ⇐⇒ −8x + y + 6z + 7 = 0.

As equações paramétricas da reta normal a S em (4,7,3) são





 x = 4 − 8t,

y = 7 + t,



 z = 3 + 6t.
69

..................................................................................... 

Exercı́cio 3.1.15. Determine as direções em que a derivada direcional de f (x,y) = ye−xy


no ponto (0,2) tem valor 1.

Exercı́cio 3.1.16. Determine os pontos do plano em que a direção de maior crescimento de


f (x,y) = x2 + y 2 − 2x − 4y é ~v = ~i + ~j.

3.2 Valores Máximo e Mı́nimo

Estudaremos nesta seção pontos de máximo e mı́nimo de funções de várias variáveis, definidos
a seguir.

Definição 3.2.1. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto interior
ao domı́nio de f . Dizemos que (x0 ,y0 ) é um extremo local de f se existe um disco aberto D
com centro em (x0 ,y0 ) e raio r > 0 tal que:

(i) f (x0 ,y0 ) ≥ f (x,y) para todo (x,y) ∈ D, ou

(ii) f (x0 ,y0 ) ≤ f (x,y) para todo (x,y) ∈ D.

Dizemos, respectivamente, que (x0 ,y0 ) é ponto de máximo ou ponto de mı́nimo de f . O valor
f (x0 ,y0 ) é dito um valor máximo local ou um valor mı́nimo local, respectivamente.

Para encontrar os extremos locais de funções de uma variável, buscamos os pontos que
possuem reta tangente horizontal; na Figura 3.9 temos ilustrados os extremos locais da
função y = 0,1x3 −1,2x. No caso de uma função z = F (x,y) de duas variáveis, procedemos de
maneira semelhante: buscaremos os pontos (x0 ,y0 ) do domı́nio de F onde gráfico de F possui

plano tangente horizontal. Como o plano tangente a z = F (x,y) no ponto x0 , y0 , F (x0 ,y0 )
tem equação
z − z0 = Fx (x0 ,y0 )(x − x0 ) + Fy (x0 ,y0 )(y − y0 ),
70

isto equivale a procurar os pontos onde ambas as derivadas parciais de F se anulam.

2
-2

f
B

Figura 3.9: Função y = f (x) com extremos locais nos pontos A e B.

Teorema 3.2.2. Sejam F (x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto interior ao
domı́nio de F . Se (x0 ,y0 ) é um extremo local de F e as derivadas parciais de primeira ordem
de F existem em (x0 ,y0 ), então

Fx (x0 ,y0 ) = Fy (x0 ,y0 ) = 0.

Demonstração: Seja g(x) = F (x,y0 ). Se (x0 ,y0 ) é um extremo local de F , então x = x0 é


um extremo local de g(x). A função g é derivável em x = x0 ; segue do Teorema de Lagrange
que g 0 (x0 ) = Fx (x0 ,y0 ) = 0. Um argumento análogo mostra que Fy (x0 ,y0 ) = 0.

Cabe ressaltar que o Teorema 3.2.2 não afirma que todo ponto onde as derivadas par-
ciais de primeira ordem z = F (x,y) se anulam é extremo local de F ; apenas a recı́proca é
verdadeira, logo a lista de pontos (x,y) tais que Fx (x,y) = Fy (x,y) = 0 representam apenas
candidatos para extremos locais de F . Como o Teorema 3.2.2 não afirma nada sobre os
pontos onde alguma das derivadas parciais de primeira ordem de F não existe, estes também
compõem candidatos a extremos locais. Dizemos que os candidatos a extremos locais de F
são os pontos crı́ticos de F .
71

Definição 3.2.3. Sejam F (x,y) uma função de duas variáveis (x0 ,y0 ) um ponto interior a
Dom F . Dizemos que (x0 ,y0 ) é um ponto crı́tico de F se

(i) alguma das derivadas parciais de primeira ordem de F não existe em (x0 , y0 ), ou

(ii) Fx (x0 ,y0 ) = Fy (x0 ,y0 ) = 0.

.Obs: Note que uma função de duas variáveis F (x,y) a condição Fx (x0 ,y0 ) = Fy (x0 ,y0 ) = 0
é equivalente a ao gradiente ∇F (x0 ,y0 ) se anular neste ponto (x0 ,y0 ) ∈ Dom F ; assim o
Teorema 3.2.2 afirma que se F possui um extremo local em um ponto (x0 ,y0 ) onde Fx e Fy
existem, então ∇F (x0 ,y0 ) = ~0. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Exemplo 3.2.4. Considere a função F (x,y) = x2 − 2x + 3y 2 + 12y + 16. Como as derivadas


parciais de F existem em todo o plano, os pontos crı́ticos de F são aqueles que satisfazem o
sistema  
 F (x,y) = 0,  2x − 2 = 0,
x
⇐⇒
 F (x,y) = 0,  6y + 12 = 0.
y

Segue que o único ponto crı́tico de F é (1, − 2).

..................................................................................... 

Exemplo 3.2.5. Considere a função G(x,y) = x2 − y 2 . Analogamente, os pontos crı́ticos de


G são aqueles que satisfazem o sistema
 
 G (x,y) = 0,  2x = 0,
x
⇐⇒
 G (x,y) = 0,  −2y = 0.
y

Concluı́mos que G, assim como F , possui um único ponto crı́tico: (x,y) = (0,0).

..................................................................................... 

É possı́vel verificar se os pontos crı́ticos dos Exemplos 3.2.4 e 3.2.5 são de fato extremos
locais: completando quadrados, podemos escrever a função F como

F (x,y) = (x − 1)2 − 1 + 3(y + 2)2 − 12 + 16 = (x − 1)2 + 3(y + 2)2 + 3.


72

Como (x − 1)2 ≥ 0 e 3(y + 2)2 ≥ 0 para todo (x,y) ∈ R2 , temos F (x,y) ≥ 3 para todo
(x,y) ∈ R2 . Segue de F (1, − 2) = 3 que (1, − 2) é mı́nimo local de F . Veja as Figuras 3.10
e 3.11.

O ponto crı́tico do Exemplo 3.2.4 não é um extremo local: na direção do plano yz


(x = 0) a função G assume os valores G(0,y) = −y 2 ; na direção do plano xz (y = 0), temos
G(x,0) = x2 . Segue que em qualquer disco aberto contendo o ponto (0,0) a função G assume
valores maiores e menores que G(0,0) = 0. Veja as Figuras 3.12 e 3.13.

Figura 3.10: Plano tangente à função do Figura 3.11: Plano tangente à função do
Exemplo 3.2.4 no ponto (1, − 2). Exemplo 3.2.4 no ponto (1, − 2).

Assim como no estudo de funções de uma variável, podemos verificar se um ponto crı́tico
de uma função f (x,y) de duas variáveis é um máximo local ou mı́nimo local usando a segunda
derivada da função; neste caso, as derivadas parciais de segunda ordem da função.

Teorema 3.2.6 (Teste da Segunda Derivada). Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis
e (x0 ,y0 ) um ponto crı́tico de f . Suponha que f possui derivadas parciais de segunda ordem
contı́nuas em uma vizinhança de (x0 ,y0 ). Considere

 2
D = D(x0 ,y0 ) = fxx (x0 ,y0 ) · fyy (x0 ,y0 ) − fxy (x0 ,y0 ) .
73

Figura 3.12: Plano tangente à função do Figura 3.13: Plano tangente à função do
Exemplo 3.2.5 no ponto (0,0). Exemplo 3.2.5 no ponto (0,0).

Então:

(i) se D > 0 e fxx (x0 ,y0 ) > 0, então (x0 ,y0 ) é mı́nimo local de f ;

(ii) se D > 0 e fxx (x0 ,y0 ) < 0, então (x0 ,y0 ) é máximo local de f ;

(iii) se D < 0, então (x0 ,y0 ) não é extremo local de f .

Se D = 0, nada podemos afirmar com este teste.

.Obs: Se (x0 ,y0 ) é ponto crı́tico de f e D = D(x0 ,y0 ) < 0, dizemos que (x0 , y0 ) é ponto de
sela de f . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ./

.Obs: O discriminante D = D(x,y) no enunciado do Teorema 3.2.6 é uma função de duas


variáveis; para cada ponto (x,y) ∈ Dom f , as derivadas parciais de segunda ordem de f
assumem valores possivelmente diferentes e D, portanto, também. Note que D pode ser
escrito como o determinante de uma matriz 2x2:


fxx fxy
D =

fyx fyy

......................................................................................... /
74

Exemplo 3.2.7. Determine os pontos crı́ticos da função f (x,y) = x4 + y 4 − 4xy + 1 e


classifique-os como máximos locais, mı́nimos locais ou pontos de sela.

Note que as derivadas parciais de f existem em todo o seu domı́nio: Dom f = R2 . Segue
que seus pontos crı́ticos são dados pelas soluções do sistema
 
 f (x,y) = 0,  4x3 − 4y = 0,
x
⇐⇒
 f (x,y) = 0,  4y 3 − 4x = 0.
y

Da primeira equação concluı́mos que y = x3 ; segue da segunda equação que

4x9 − 4x = 0 ⇐⇒ 4x(x8 − 1) = 0 ⇐⇒ x = 0, x = −1 ou x = 1.

Então os pontos crı́ticos de f são os pontos (0,0), (1,1) e (−1, − 1). Para aplicar o teste da
segunda derivada, calculamos as derivadas parciais de segunda ordem de f :

fxx (x,y) = 12x2 , fyy (x,y) = 12y 2 , fxy (x,y) = −4.

O teste da segunda derivada aplicado em cada um dos pontos crı́ticos fornece:

 2
• D(0,0) = fxx (0,0) · fyy (0,0) − fxy (0,0) = 0 − 16 = −16;
 2
• D(1,1) = fxx (1,1) · fyy (1,1) − fxy (1,1) = 144 − 16 = 128 e fxx (1,1) = 12
 2
• D(−1, − 1) = fxx (−1, − 1) · fyy (−1, − 1) − fxy (−1, − 1) = 144 − 16 = 128 e
fxx (−1, − 1) = 12.

Segue que (1,1) e (−1, − 1) são pontos de mı́nimo de f com valores de mı́nimo local dados
por f (1,1) = f (−1, − 1) = −1. O ponto (0,0) é um ponto de sela de f . Veja a Figura 3.14.

..................................................................................... 

Exercı́cio 3.2.8. Determine os pontos crı́ticos das funções abaixo e classifique-os como
máximos locais, mı́nimos locais ou pontos de sela.
75

Figura 3.14: Gráfico da função f (x,y) = x4 + y 4 − 4xy + 1.

1 1
(i) f (x,y) = xy + +
x y
(ii) g(x,y) = e−y cos x

(iii) h(x,y) = (x2 + y 2 )3 − 3(x2 + y 2 )

Funções de três ou mais variáveis. Funções de n variáveis, n ≥ 3, satisfazem propri-


edades semelhantes em relação a extremos relativos; há também uma maneira de verificar
se um ponto crı́tico de uma tal função é de fato um extremo relativo usando derivadas de
ordem superior, mas omitiremos este resultado deste texto devido à sua complexidade.

Teorema 3.2.9. Sejam F (x1 , . . . , xn ) uma função de n variáveis e (a1 , . . . , an ) um ponto


interior a Dom F . Se (a1 , . . . , an ) é um extremo relativo de F e as derivadas parciais de
primeira ordem de F existem em (a1 , . . . , an ), então ∇F (a1 , . . . , an ) = ~0:

∂F ∂F
(a1 , . . . , an ) = · · · = (a1 , . . . , an ) = 0.
∂x1 ∂xn

Funções contı́nuas em conjuntos fechados e limitados. Se f (x) é uma função de uma


variável contı́nua em um intervalo fechado [a,b], então f tem máximo absoluto e mı́nimo
76

absoluto em [a,b], isto é, existem x1 ,x2 ∈ [a,b] tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para todo
x ∈ [a,b]. Temos um resultado semelhante para extremos absolutos de funções de n variáveis:
podemos garantir que uma função F (x1 , . . . , xn ) contı́nua assume valores máximo e mı́nimo
absolutos desde que seu domı́nio seja um conjunto fechado e limitado.

Teorema 3.2.10. Seja F (x1 , . . . , xn ) uma função de duas variáveis com domı́nio D fechado
e limitado. Se F é contı́nua então F possui pontos de mı́nimo e máximo absolutos em D.
Em outras palavras, existem (a1 , . . . , an ), (b1 , . . . , bn ) ∈ D tais que

F (a1 , . . . , an ) ≤ F (x1 , . . . , xn ) ≤ F (b1 , . . . , bn ), para todo (x1 , . . . , xn ) ∈ D.

Se um dos extremos absolutos mencionados no Teorema 3.2.10 for um ponto interior a


D, então ele é extremo local e portanto ponto crı́tico. Segue que para encontrar os extremos
absolutos de uma função F contı́nua em um conjunto D fechado e limitado devemos procurar
pelos pontos crı́ticos de F em seu interior e compará-los com os valores de F nos pontos de
fronteira de D. Enunciamos um método para tal abaixo, onde por compacto entende-se um
conjunto fechado e limitado de Rn .
Método 1 (Extremos de Funções Contı́nuas em Compactos)
Para encontrar os extremos absolutos de uma função F de n variáveis contı́nua em um
conjunto D fechado e limitado, seguimos os seguintes passos:

1. encontre os pontos crı́ticos de F no interior de D;

2. encontre os extremos de F na fronteira de D;

3. o maior dos valores de F nos pontos encontrados nos Passos 1 e 2 será o máximo
absoluto de F , enquanto o menor será o mı́nimo absoluto de F .

Exemplo 3.2.11. Determine os extremos absolutos de F (x,y) = 2 + 2x + 2y − x2 − y 2 no


conjunto D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9, 0 ≤ y ≤ 9 − x}.
77

O domı́nio D considerado para a função F é um triângulo, ilustrado na Figura 3.15.

Figura 3.15: Conjunto D do Exemplo 3.2.11.

Seguindo os Passos 1-3 acima, devemos primeiramente buscar os pontos crı́ticos de F no


interior de D:  
 f (x,y) = 0,  2 − 2x = 0,
x
⇐⇒
 f (x,y) = 0,  2 − 2y = 0,
y

Segue que o único ponto crı́tico de F em D é o ponto (1,1); note que não é necessário aplicar
o teste da segunda derivada a este ponto pois iremos comparar o valor de F (1,1) = 4 com
os valores de F encontrados no Passo 2. Dividimos a fronteira de D em três segmentos,
percorrendo os lados do triângulo no sentido trigonométrico a partir do segmento vertical:

L1 = {(0,y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 9},

L2 = {(x,0) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9},

L3 = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9 e y = 9 − x}.

Buscamos agora os extremos de F na sua fronteira (Passo 2):

• L1 : se g(y) = F (0,y) = 2+2y −y 2 , então g 0 (y) = 0 se e somente se y = 1; consideramos


em L1 os pontos (e valores)

F (0,9) = −61, F (0,0) = 2 e F (0,1) = 3.


78

• L1 : se h(y) = F (x,0) = 2+2x−x2 , então h0 (x) = 0 se e somente se x = 1; consideramos


em L2 os pontos (e valores)

F (9,0) = −61, F (0,0) = 2 e F (1,0) = 3.

• L3 : se ϕ(x) = F (x, 9 − x) = 2 + 2x + 2(9 − x) − x2 + (9 − x)2 , então

9
ϕ0 (x) = 0 ⇐⇒ −2x + 18 − 2x = 0 ⇐⇒ x = ,
2
 
9 9
donde o único ponto crı́tico de ϕ é , ; consideramos em L3 os pontos (e valores)
2 2
 
9 9 41
F (9,0) = −61, F (0,9) = −61 e F , =− .
2 2 2

Segue que o máximo absoluto de F em D é (1,1), com valor máximo 4, e o valor mı́nimo
absoluto −61 ocorre nos pontos (0,9) e (9,0). Veja a Figura 3.16: nela temos ilustrada o
gráfico da função f no retângulo [0,9] × [0,9]; o plano vertical delimita a região do gráfico
diretamente acima do triângulo D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 

3.3 Multiplicadores de Lagrange

Muitas vezes, assim como no Exemplo 3.2.11, a parte mais trabalhosa da busca aos extremos
absolutos de uma função de duas variáveis f (x,y) em um conjunto fechado e limitado D ⊆ R2
é a análise do comportamento da função em sua fronteira. Frequentemente a fronteira de
tal conjunto D é definida através de uma equação da forma g(x,y) = k, como no exemplo
abaixo.

Considere o problema de encontrar o máximo absoluto da função f (x,y) = xy no conjunto

D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 10}.
79

Figura 3.16: Extremos absolutos da função F no conjunto D (Exemplo 3.2.11).


O conjunto D define um cı́rculo de centro na origem e raio 10. O gráfico de f , ilustrado
na Figura 3.17 na direção do conjunto D acima, sugere que os valores de máximo e mı́nimo
absolutos são atingidos na fronteira do conjunto. A fronteira de D é definida pela equação
g(x,y) = 10, onde g(x,y) = x2 + y 2 . Vemos na Figura 3.18 a fronteira de D e o gráfico de
algumas curvas de nı́vel de f : f (x,y) = k para k = 2,3,4,5 e 6.

Note que a curva g(x,y) = 10 intercepta a primeira curva de nı́vel de f (x,y) = 2 nos
pontos A,B,C e D: estes pontos de interseção representam os pontos (x,y) da circunferência
que possuem imagem 2 por f . O mesmo ocorre para as curvas de nı́vel f (x,y) = 3 e
f (x,y) = 4: estas curvas de nı́vel interceptam a circunferência em quatro pontos (não estão
destacados na figura). A curva de nı́vel f (x,y) = 5 também intercepta a circunferência, mas
desta vez através de dois pontos de tangência: F e G. A curva de nı́vel f (x,y) = 6 ilustra
o fato que qualquer curva de nı́vel f (x,y) = k com k > 5 não intercepta a circunferência.
Segue que os pontos de máximo absoluto (x1 ,y1 ), (x2 ,y2 ) de f (x,y) na circunferência x2 +
y 2 = 10 ocorrem nos pontos de tangência mencionados: o valor máximo absoluto atingido é
80

Figura 3.17: Gráfico de f (x,y) = xy com domı́nio D, como no Exemplo 3.3.1.

Figura 3.18: Gráfico de g(x,y) = 10 e curvas de nı́vel de f (x,y) = xy.

f (x1 ,y1 ) = f (x2 ,y2 ) = 5.

A curva x2 + y 2 = 10 pode ser vista como a curva de nı́vel g(x,y) = 10 da função


g(x,y) = x2 + y 2 . Assim, os pontos de máximo do problema acima podem ser vistos como
os ponto da curva g(x,y) = 10 que interceptam uma curva de nı́vel f (x,y) = k em pontos
(x,y) onde os gradientes de g e f são paralelos; em outras palavras, são pontos (x,y) que
81

satisfazem 
 ∇f (x,y) = λ · ∇g(x,y),
(3.6)
 g(x,y) = 10.

para algum número real λ. É possı́vel provar que o extremo absoluto de uma função f
de duas variáveis sujeita a uma condição g(x,y) = k sempre satisfaz um sistema como o
da Equação (3.6). Mais ainda, o mesmo é válido para extremos absolutos de uma função
F (x,y,z) de três variáveis sujeita a uma condição G(x,y,z) = k.
Método 2 (Multiplicadores de Lagrange)
Para determinar os extremos absolutos de uma função diferenciável F (x,y,z) sujeita a
G(x,y,z) = k, onde ∇G(x,y,z) 6= (0,0,0) sobre a superfı́cie G(x,y,z) = k:

1. Determine as soluções (x,y,z,λ) do sistema



 ∇F (x,y,z) = λ · ∇G(x,y,z),
(3.7)
 G(x,y,z) = k.

2. Compare o valor de F nos pontos (x,y,z) encontrados no Passo 1; o maior deles


será o valor máximo de F sob a restrição G(x,y,z) = k, enquanto o menor será o
mı́nimo.

Cabe ressaltar que ∇F (x,y,z) = λ · ∇G(x,y,z) se e somente se



 F (x,y,z) = λ · Gx (x,y,z),
 x


Fy (x,y,z) = λ · Gy (x,y,z),


 F (x,y,z) = λ · G (x,y,z),

z z

de modo que o sistema da Equação (3.7) pode ser escrita como um sistema de quatro
equações. Este método se aplica de maneira análoga à funções F,G de n variáveis, n ≥ 2.

Veremos abaixo que a função que usamos acima como exemplo tem de fato valor máximo
z = 5 na circunferência x2 + y 2 = 10.
82

Exemplo 3.3.1. Determine os extremos absolutos da função f (x,y) = xy no conjunto

D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 10}.

O único ponto crı́tico de f no interior de D ocorre quando fx (x,y) = fy (x,y) = 0, isto é,
quando y = x = 0. Segue do Método de Multiplicadores de Lagrange que os extremos de f

na fronteira de D (circunferência de raio 10) satisfazem o sistema
 
 f (x,y) = λ · gx (x,y),  y = 2λx,
 x

 


fy (x,y) = λ · gy (x,y), ⇐⇒ x = 2λy, (3.8)

 

 x2 + y 2 = 10,
  x2 + y 2 = 10.

Segue da primeira e segunda equações que

y x
= ⇐⇒ y 2 = x2 . (3.9)
2x 2y

Substituindo a Equação (3.9) na terceira equação do sistema obtemos



x2 + x2 = 10 ⇐⇒ x2 = 5 ⇐⇒ x = ± 5.
√ √
Concluı́mos a partir da Equação (3.9) que as soluções do sistema (3.8) são pontos ( 5, 5),
√ √ √ √ √ √
( 5, − 5), (− 5, 5) e (− 5, 5). Como

f (0,0) = 0,
√ √ √ √
f ( 5, 5) = f (− 5, − 5) = 5,

e
√ √ √ √
f (− 5, 5) = f ( 5, 5) = −5,

os extremos absolutos de f no conjunto D ocorrem nos pontos:

√ √ √ √
(i) máximo absoluto nos pontos ( 5, 5), ( 5, 5) com valor 5;
√ √ √ √
(ii) mı́nimo absoluto nos pontos (− 5, 5), ( 5, − 5) com valor −5.
83

Veja a Figura 3.17. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O Método de Multiplicadores de Lagrange nos permite resolver problemas de cunho


prático onde é necessário encontrar o máximo ou o mı́nimo de uma função de várias variáveis
sujeita a uma certa condição.

Exemplo 3.3.2. Encontre o ponto P do plano π : 2x + y − z − 5 = 0 mais próximo da


origem.
p
A distância de um ponto (x,y,z) à origem é dada por d = x2 + y 2 + z 2 . Devemos
minimizar esta função d = d(x,y,z) sujeita à restrição g(x,y,z) = 2x + y − z − 5 = 0; isto
é equivalente a minimizar a função f (x,y,z) = x2 + y 2 + z 2 sujeita a g(x,y,z) = 0, pois um
ponto (x0 ,y0 ,z0 ) minimiza d(x,y,z) se e somente se ele minimiza f (x,y,z). Pelo Método dos
Multiplicadores de Lagrange, consideramos o sistema
 


 f x (x,y) = λ · g x (x,y), 

 2x = λ · 2,

 

 f (x,y) = λ · g (x,y),
  2y = λ · 1,

y y
⇐⇒


 fz (x,y) = λ · gz (x,y), 

 2z = λ · (−1),

 


 g(x,y,z) = 0,  2x + y − z − 5 = 0.

Segue das três primeiras equações do sistema que

λ λ
x = λ, y= , z=− . (3.10)
2 2

Substituindo a Equação (3.10) na quarta equação do sistema obtemos


 
λ λ 5
2λ + − − − 5 = 0 ⇐⇒ 3λ − 5 = 0 ⇐⇒ λ = .
2 2 3

Segue da Equação (3.10) que o ponto de π que minimiza a distância à origem é


 
5 5 5
(x,y,z) = , ,− .
3 6 6

..................................................................................... 
84

Exemplo 3.3.3. Uma caixa retangular sem tampa é feita de 12 m2 de papelão. Determine
o volume máximo dessa caixa.

Se x,y,z são as arestas da caixa, então seu volume é uma função de três variáveis:
V (x,y,z) = xyz. A área total da caixa de papelão, considerando todas as suas faces, é
igual a 12 m2 ; se g(x,y,z) = xy + 2xz + 2yz, então temos g(x,y,z) = 12. Temos portanto
que encontrar o máximo absoluto da função V (x,y,z) sujeita a condição g(x,y,z) = 12.
Consideramos, pelo Método de Lagrange, as soluções do sistema
 


 Vx (x,y) = λ · gx (x,y), 

 yz = λ(y + 2z),

 

 V (x,y) = λ · g (x,y),
 
 xz = λ(x + 2z),
y y
⇐⇒
 V (x,y) = λ · gz (x,y),  xy = λ(2y + 2x),
 z

 

 


 g(x,y,z) = 12, 
 xy + 2yz + 2xz = 12.

Multiplicando a primeira equação dos sistema por x e a segunda por y vemos que

xyz = λ(xy + 2xz) = λ(xy + 2yz).

Não podemos ter λ = 0 pois isso implicaria que alguma das outras variáveis se anula. Logo,

xy + 2xz = xy + 2yz ⇐⇒ 2xz = 2yz ⇐⇒ x = y, (3.11)

onde estamos usando o fato que os pontos de interesse satisfazem z 6= 0; caso contrário
terı́amos V = 0. Temos ainda da segunda e terceira equações que

λ(xy + 2yz) = λ(2yz + 2xz) ⇐⇒ xy + 2yz = 2yz + 2xz ⇐⇒ y = 2z, (3.12)

onde supomos x 6= 0 pelo mesmo argumento. Substituindo as conclusões obtidas nas


Equações (3.11) e (3.12) na quarta equação do sistema obtemos
x x
x · x + 2x · + 2x · = 12 ⇐⇒ 3x2 = 12 =⇒ x = 2.
2 2
Segue das Equações (3.11) e (3.12) que y = 2 e z = 1.

..................................................................................... 
85

Exercı́cio 3.3.4. Uma companhia possui três fábricas A, B e C produzindo o mesmo pro-
duto. O custo total para a Fábrica A produzir x unidades é dado por FA (x) = 3x2 + 200; o
custo total para as Fábricas B e C produzirem y e z unidades é dado respectivamente por
FB (y) = y 2 + 400 e FC (z) = 2z 2 + 300. Determine como a produção deve ser distribuı́da
para minimizar o custo de um pedido de 1.100 unidades.

Extremos de funções sujeitas a duas restrições. Considere a curva C de interseção


do cilindro x2 + y 2 = 1 com o plano x + y + z = 1; como encontrar os pontos de C
que estão mais próximos da origem? Em outras palavras, queremos minimizar a função
F (x,y,z) = x2 + y 2 + z 2 para (x,y,z) no conjunto de pontos que satisfazem ambas equações
g(x,y,z) = 1 e h(x,y,z) = 1, onde g(x,y,z) = x2 + y 2 e h(x,y,z) = x + y + z. Veremos a seguir
como usar o Método de Multiplicadores de Lagrange para resolver este tipo de problema de
otimização.

Sejam S1 e S2 as superfı́cies definidas pelas equações g(x,y,z) = k1 e h(x,y,z) = k2 e


seja C a curva de interseção destas superfı́cies. Seja P0 = (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto de extremo
de F (x,y,z) sujeita a estas condições. Segue do que foi visto no começo desta seção que
∇F (x0 ,y0 ,z0 ) é ortogonal a C neste ponto, isto é, ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) é ortogonal à reta tangente a
C neste ponto. O plano π ortogonal a esta reta contém todos os vetores ortogonais a C em P0 ;
como C está contida em S1 ,S2 e ∇g(x0 ,y0 ,z0 ), ∇h(x0 ,y0 ,z0 ) são ortogonais a S1 , S2 , respectiva-
mente, segue que ∇g(x0 ,y0 ,z0 ), ∇h(x0 ,y0 ,z0 ) estão contidos no plano π. Portanto qualquer ve-
tor contido π se escreve como uma combinação linear dos vetores ∇g(x0 ,y0 ,z0 ), ∇h(x0 ,y0 ,z0 ).
Logo,
∇F (x0 ,y0 ,z0 ) = λ · ∇g(x0 ,y0 ,z0 ) + µ · h(x0 ,y0 ,z0 ),

para algum par de números λ, µ ∈ R. Veja a Figura 3.19. O ponto P0 = (x0 ,y0 ,z0 ) deve
86

satisfazer portanto o sistema





 ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) = λ · ∇g(x0 ,y0 ,z0 ) + µ · h(x0 ,y0 ,z0 ),

g(x,y,z) = k1 ,



 h(x,y,z) = k .
2

Figura 3.19: Extremo de uma função F (x,y,z) sujeita a duas restrições.

Método 3 (Multiplicadores de Lagrange)


Para determinar os extremos relativos de uma função diferenciável F (x,y,z) sujeita a
g(x,y,z) = k1 e h(x,y,z) = k2 , onde ∇g(x,y,z) 6= (0,0,0) e ∇g(x,y,z) 6= (0,0,0) são vetores
linearmente independentes:

1. Determine as soluções (x,y,z,λ,µ) do sistema





 ∇F (x0 ,y0 ,z0 ) = λ · ∇g(x0 ,y0 ,z0 ) + µ · h(x0 ,y0 ,z0 ),

g(x,y,z) = k1 ,



 h(x,y,z) = k .
2

2. Compare o valor de F nos pontos (x,y,z) encontrados no Passo 1; o maior deles


será o valor máximo de F sob as restrições g(x,y,z) = k1 e h(x,y,z) = k2 , enquanto
o menor será o mı́nimo.

Exemplo 3.3.5. Determine o ponto da curva C de interseção do cilindro x2 + y 2 = 1 com


o plano x + y + z = 1 que está mais próximo da origem.
87

Se F (x,y,z) = x2 + y 2 + z 2 , g(x,y,z) = x2 + y 2 e h(x,y,z) = x + y + z, segue do método


de Lagrange que devemos encontrar as soluções do sistema
 


 2x = λ · 2x + µ · 1, 

 (1 − λ)x = µ/2,
 
 

∇F = λ · ∇g + µ · h, 2y = λ · 2y + µ · 1, (1 − λ)y = µ/2,
 
 


 
 

  
g(x,y,z) = k1 , , ⇐⇒ 2z = λ · 0 + µ · 1, ⇐⇒ 2z = µ,

 
 

 x2 + y 2 = 1, x2 + y 2 = 1,

 h(x,y,z) = k . 
 

2  


 


 x + y + z = 1, 
 x + y + z = 1.

Segue de z = µ/2 que


µ
= z = (1 − λ)x = (1 − λ)y.
2
A equação acima é satisfeita em dois casos:

(i) λ = 1 e z = 0, ou

(ii) λ 6= 1 e x = y = z/(1 − λ).

No caso (i), temos z = 0 e assim



 x2 + y 2 = 1,
=⇒ x2 + (1 − x)2 = 1 ⇐⇒ 2x2 − 2x = 0,
 x + y = 1,

logo (x,y) = (1,0) ou (0,1). Temos assim os pontos (1,0,0) e (0,1,0).

No caso (ii) temos x = y, logo a equação x2 + y 2 = 1 fornece



2 2
2x = 1 ⇐= x = ± .
2
Logo, da última equação do sistema temos

x + x + z = 1 ⇐⇒ z = 1 − 2x.
√ √ ! √ √ !
2 2 √ 2 2 √
Temos assim os pontos , ,1 − 2 e − ,− , 1 + 2 . A distância à origem
2 2 2 2
dos pontos encontrados são dadas por

F (1,0,0) = 1,
88

F (0,1,0) = 1,
√ √ !
2 2 √ 1 1 √ √
F , , 1 − 2 = + + 1 − 2 2 + 2 = 4 − 2 2,
2 2 2 2
√ √ !
2 2 √ 1 1 √ √
F − ,− , 1 + 2 = + + 1 + 2 2 + 2 = 4 + 2 2.
2 2 2 2
Segue que (1,0,0) e (0,1,0) são os!pontos mais próximos da origem, enquanto o mais distante
√ √
2 2 √
é o ponto − ,− ,1 + 2 . ..................................................... 
2 2
Capı́tulo 4

Integrais Múltiplas

Estudaremos neste capı́tulo a integral definida de funções de duas ou três variáveis. Ambas
são definidas de maneira semelhante, mas no caso de funções de duas variáveis temos um
significado geométrico bastante intuitivo deste conceito, que é muito semelhante àquele da
integral definida de uma função de uma variável. Por esse motivo inciamos um capı́tulo com
uma revisão da definição de integrais definidas em uma variável.

Integras definidas de funções de uma variável. Seja y = f (x) uma função de uma
variável contı́nua e não-negativa em [a,b]. Considere o problema de determinar a área da
região S entre o gráfico de f e o eixo x, de x = a até x = b (Figura 4.1). Não temos, a
princı́pio, ferramentas para o cálculo desta área, mas podemos abordar o problema fazendo
uso da área de uma figura conhecida, como o retângulo. Consideramos uma partição do
intervalo [a,b] em n subintervalos através dos pontos

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b,

89
90

onde xj − xj−1 = ∆x = (b − a)/n para j = 1, . . . , n. Escolhemos um ponto x∗j em cada


subintervalo [xj−1 , xj ] e consideramos a soma
n
X
f (x∗j ) · ∆x. (4.1)
j=1

A soma da Equação (4.1) representa uma aproximação para a área de S, pois f (x∗j ) · ∆x
fornece a área do retângulo de base ∆x e altura f (x∗j ); veja a Figura 4.2.

Figura 4.1: Região entre o gráfico de uma função e o eixo x.

Figura 4.2: Aproximação da área de uma região: escolha x∗4 = x3 no quarto


subintervalo.

Conforme ilustrado na Figura 4.3, quanto maior o número de retângulos, mais precisa é
a aproximação da área de S. Definimos a integral definida de f (x) em [a,b] como o limite
91

das aproximações dadas Equação (4.1) quando n se aproxima de infinito; assim, no caso de
uma função contı́nua e não-negativa em [a,b], a integral definida coincide com a área de S.
Z b Xn
f (x) dx = lim f (x∗j )∆x. (4.2)
a n→∞
j=1

Figura 4.3: Aproximação da área de uma região: quanto maior o número de


retângulos, mais precisa é a aproximação.

.Obs: Cabe ressaltar que a notação usada na Equação (4.2) para a integral definida da
R
função y = f (x) sobre o intervalo [a,b] não foi escolhida por acaso. O sı́mbolo representa
o limite de uma soma, conforme discutido acima. Este sı́mbolo é acompanhado por f (x) dx,
indicando a soma da área de retângulos de altura f (x) e base infinitesimal dx: quando o
número de retângulos se aproxima de infinito, o valor de ∆x se aproxima de zero. Os números
R
a e b que acompanham o sı́mbolo indicam que esta soma é feita para retângulos desde
x = a até x = b. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

4.1 Integrais Duplas

Considere agora uma função z = f (x,y) de duas variáveis contı́nua e não-negativa no


retângulo
R = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}.

Denotaremos tais retângulos por R = [a,b] × [c,d]. Considere o volume do sólido S de R3


situado acima do retângulo R e abaixo do gráfico de f ; veja a Figura 4.4.
92

Figura 4.4: Função contı́nua f (x,y) definida sobre o retângulo R = [a,b] × [c,d].

Aproximamos o volume V (S) de S pela soma do volume de figuras conhecidas: parale-


lepı́pedos. Dividimos o retângulo R em retângulos menores ao dividir os intervalos [a,b] e
[c,d] em n intervalos menores: consideramos as partições

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,

onde
b−a d−c
xj − xj−1 = ∆x = e yj − yj−1 = ∆y = ,
n n
para j = 1, . . . , n. Dividimos assim o retângulo R em n2 retângulos menores dados por
Ri,j = [xi−1 , xi ] × [yj−1 , yj ], para i,j = 1, . . . , n. Veja a Figura 4.5. Note que cada retângulo
Ri,j tem área ∆A = ∆x · ∆y.

Escolhemos um ponto (x∗i,j , yi,j



) em cada retângulo Ri,j e consideramos o paralelepı́pedo
com base Ri,j e altura f (x∗i,j , yi,j

). O volume deste paralelepı́pedo é dado por f (x∗i,j , yi,j

)·∆A;
veja a Figura 4.6. A soma do volume destes paralelepı́pedos fornece uma aproximação para
o volume V (S) de S:
93

Figura 4.5: Partição do retângulo R em retângulos menores.

n X
X n
V (S) ≈ f (x∗i,j , yi,j

)∆A. (4.3)
i=1 j=1

Figura 4.6: Aproximação do volume de um sólido por paralelepı́pedos.

A aproximação dada pela Equação (4.3) fica cada vez mais precisa à medida que o número
de retângulos cresce. Escrevemos portanto o volume de S como
n X
X n
V (S) = lim f (x∗i,j , yi,j

)∆A.
n→∞
i=1 j=1
94

A integral dupla de f (x,y) sobre o retângulo R é escrita através da mesma expressão. En-
tretanto, para apresentar a definição formal desta integral dupla consideramos uma situação
um pouco mais geral: dividimos os intervalos [a,b] e [c,d] em n e m subintervalos, onde
possivelmente temos n 6= m:

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < ym−1 < ym = d.

Definição 4.1.1. Seja f (x,y) uma função de duas variáveis definida sobre um retângulo
R = [a,b] × [c,d]. A integral dupla de f sobre R é definida como
ZZ n X
X m
f (x,y) dA = lim f (x∗i,j , yi,j

)∆A.
R m,n→∞
i=1 j=1

caso o limite exista. Dizemos nesse caso que f é integrável em R.

.Obs: Ressaltamos que a Definição 4.1.1 é válida não só para funções não-negativas e
contı́nuas em um retângulo; apenas neste caso a integral dupla representa o volume de
um sólido, mas a definição permanece válida no caso mais geral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

.Obs: O limite através do qual a integral dupla é definida deve independer da escolha
dos pontos (x∗i,j , yi,j

). Em outras palavras, para qualquer escolha de pontos (x∗i,j , yi,j

), i =
1, . . . , n, j = 1, . . . , m, o limite da Definição 4.1.1 deve fornecer o mesmo valor. Se f é de
fato integrável em R, então podemos considerar uma escolha que nos seja mais conveniente

para os pontos (x∗i,j , yi,j ): podemos escolher (x∗i,j , yi,j

) como o ponto que fornece o máximo
ou o mı́nimo de f no subretângulo Ri,j , ou simplesmente (x∗i,j , yi,j

) = (xi,j , yi,j ). Podemos
também supor que m = n, de modo que a integral dupla pode ser escrita como
ZZ n X
X n
f (x,y) dA = lim f (xi,j , yi,j )∆A.
R n→∞
i=1 j=1

O teorema abaixo garante que funções em uma determinada classe são integráveis. . . . . . . /

Teorema 4.1.2. Se f (x,y) é uma função de duas variáveis contı́nua em R = [a,b] × [c,d],
então f é integrável em R.
95

Teorema 4.1.3. Sejam R um retângulo de R2 e f (x,y), g(x,y) funções integráveis em R.


Então:
ZZ ZZ ZZ
 
(i) f (x,y) ± g(x,y) dA = f (x,y) dA ± g(x,y) dA;
R R R
ZZ ZZ
(ii) c · f (x,y) dA = c f (x,y) dA, para todo número real c;
R R
ZZ ZZ
(iii) se f (x,y) ≥ g(x,y) para todo (x,y) ∈ R, então f (x,y) dA ≥ g(x,y) dA.
R R
RR
Exemplo 4.1.4. Calcule a integral R
f (x,y) dA, onde f (x,y) = 5 − x e R = [0,5] × [0,3].

Como f é contı́nua em R, segue do Teorema 4.1.2 que f é integrável em R. Além disso,


pelo Teorema 4.1.3 temos
ZZ ZZ ZZ
(5 − x) dA = 5 dA − x dA, (4.4)
R R R
ZZ ZZ
onde 5 dA = 5 1 dA representa o volume da caixa retangular de base R e altura 5:
R R
ZZ
5 dA = 5 · 3 · 5 = 75. (4.5)
R
ZZ
Para calcular a integral x dA, considere as partições
R

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,

onde xi = 5i/n e yj = 3j/n. Temos assim


ZZ n X
X n n X
X n
x dA = lim f (xi,j , yi,j ) · ∆A = lim xi · ∆A
R n→∞ n→∞
i=1 j=1 i=1 j=1
n X n   n n n
X 5i 5 3 75 XX 75 X
= lim · = lim 3 i = lim 3 n·i
n→∞
i=1 j=1
n n n n→∞ n
i=1 j=1
n→∞ n
i=1
n
75 X 75 n(n + 1)
= lim i = lim · ,
n→∞ n2 n→∞ n2 2
i=1
96

então ZZ
75
x dA = . (4.6)
R 2
Segue das Equações (4.4), (4.5) e (4.6) que
ZZ
75 75
f (x,y) dA = 75 − = .
R 2 2

..................................................................................... 

Integrais duplas iteradas. Estudaremos a seguir integrais duplas iteradas, que fornecem
um método mais simples para o cálculo de integrais duplas. Isto será feito através de integrais
iteradas, que veremos a seguir. Sejam F (x,y) uma função contı́nua no retângulo R = [a,b] ×
[c,d] e x0 um ponto de [a,b]. Então F (x0 ,y) é uma função contı́nua de uma variável: gx0 (y) =
F (x0 ,y). Definimos a integral parcial de f (x,y) em relação a y de y = c a y = d como
Z d Z d
A(x0 ) = gx0 (y) dy = F (x0 ,y) dy.
c c

Cabe ressaltar que a expressão acima depende do valor x0 ∈ [a,b] fixado: a princı́pio, para
cada x0 ∈ [a,b] diferente, temos uma função gx0 (y) diferente e portanto um valor A(x0 )
diferente. A integral iterada de F (x,y) sobre R é definida como
Z b Z b Z d 
A(x) dx = F (x,y) dy dx. (4.7)
a a c
Z 2 Z 2
Exemplo 4.1.5. Calcule a integral iterada (1 − 6x2 y) dy dx.
0 −1

Para cada x ∈ [0,2] fixo, tratamos a variável x como uma constante na integral abaixo:
Z 2 y=2
2 2 2

A(x) = (1 − 6x y) dy = (y − 3x y ) = 2 − 12x2 − (−1 − 3x2 ) = 3 − 9x2 .
−1 y=−1

Segue da Equação (4.7) que


Z 2Z 2 Z 2 x=2

(1 − 6x2 y) dy dx = (3 − 9x2 ) dx = (3x − 3x3 ) = 6 − 24 − 0 = −18.
0 −1 0 x=0

..................................................................................... 
97

O teorema abaixo afirma que integrais duplas de funções contı́nuas podem de fato ser
calculadas como integrais iteradas.

Teorema 4.1.6 (Fubini). Se F (x,y) é uma função contı́nua no retângulo R = [a,b] × [c,d],
então Z bZ
ZZ d Z d Z b
F (x,y) dA = F (x,y) dy dx = F (x,y) dx dy.
R a c c a

O Teorema 4.1.6 pode ser interpretado geometricamente da seguinte maneira. Sejam


F (x,y) uma função contı́nua e não-negativa em R = [a,b] × [c,d] e S o sólido entre R e o
gráfico de F . Para cada y0 ∈ [c,d], temos que F (x,y0 ) = hy0 (x) é uma função de uma variável
e Z b
A(y0 ) = F (x,y0 ) dx
a

representa a área entre o gráfico de h e o eixo x de x = a até x = b, isto é, A(y0 ) representa
a área lateral do sólido na Figura 4.7.

Figura 4.7: Interpretação geométrica do Teorema de Fubini.

Temos por definição que a integral iterada de F se escreve como


Z d n
X
A(y) dy = lim A(yi )∆y, (4.8)
c n→∞
j=1
98

onde A(yi )∆y é o volume do sólido da Figura 4.7. A soma no lado direito da Equação (4.8)
fornece uma aproximação para o volume do sólido S; à medida que n cresce esta aproximação
se torna cada vez mais precisa, fornecendo V (s) no limite quando n se aproxima de infinito.

Exemplo 4.1.7. Calcule a integral de f (x,y) = y sen(xy) sobre R = [1,2] × [0,π/2].

Temos
ZZ Z π/2 Z 2 Z x=2
π/2

y sen(xy) dA = y sen(xy) dx dy = − cos(xy) dy
R 0 1 0 x=1
Z π/2   y=π/2
 1
= − cos(2y) + cos y dy = − sen(2y) + sen y
0 2 y=0
 
1 π 1
= − sen π + sen − − sen 0 + sen 0 = 1.
2 2 2

..................................................................................... 

Exercı́cio 4.1.8. Calcule as integrais abaixo.


Z π/2 Z 2
(i) xy sen y dx dy
0 1
Z ln 2 Z ln 5
(ii) e2x−y dx dy
0 0

xy 2
ZZ
(iii) dA, onde R = [0,1] × [−3,3].
R x2 + 1

Exercı́cio 4.1.9. Determine o volume V do sólido delimitado pela superfı́cie x2 + 2y 2 + z =


16, pelos planos x = 2, y = 2 e pelos planos coordenados.

Integrais duplas sobre regiões gerais. Seja f (x,y) uma função contı́nua sobre um con-
junto limitado D ⊆ R2 . Seja R um retângulo do plano que contém D e considere a função
F : R −→ R 
 f (x,y), se (x,y) ∈ D,
F (x,y) =
 0, se (x,y) ∈ R − D.
99

Veja as Figura 4.8 e 4.9. Se a integral de F sobre R existe, então definimos a integral dupla
de f sobre D como ZZ ZZ
f (x,y) dA = F (x,y) dA. (4.9)
D R

Figura 4.8: Definição de integral dupla sobre uma região geral.

Figura 4.9: Definição de integral dupla sobre uma região geral.

.Obs: Intuitivamente, a contribuição de F nos pontos (x,y) ∈ R − D é nula, pois F ≡ 0


nestes pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /
ZZ
.Obs: Se f (x,y) ≥ 0 em D, então f (x,y) dA define o volume do sólido situado direta-
D
mente acima de D e abaixo do gráfico de f (x,y). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

A integral dupla da Equação (4.9) tem sua existência garantida se D é uma região do
tipo I ou II. Dizemos que D ⊆ R2 é uma região do tipo I se existem um intervalo [a,b] e
100

funções g1 (x), g2 (x) contı́nuas em [a,b] tais que

D = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)}. (4.10)

Veja a Figura 4.10.

Figura 4.10: Regiões do Tipo I.

Vejamos agora como podemos calcular a integral dupla


ZZ
f (x,y) dA,
D

onde f (x,y) é uma função contı́nua sobre uma região D do tipo I. Considere um retângulo
R = [a,b]×[c,d] que contém a região D e uma função F (x,y) como na Equação (4.9). Observe
que Z bZ
ZZ ZZ d
f (x,y) dA = F (x,y) dA = F (x,y) dy dx.
D R a c
Note que, conforme ilustrado na figura à direta da Figura 4.11, temos para cada x0 ∈ [a,b]
fixo que 


 0, se c ≤ y < g1 (x0 ),

F (x0 ,y) = f (x,y), se g1 (x0 ) ≤ y ≤ g2 (x0 ),


0, se g2 (x0 ) < y ≤ d.

Portanto,
Z d Z g1 (x0 ) Z g2 (x0 ) Z d
A(x0 ) = F (x0 ,y) dy = F (x0 ,y) dy + F (x0 ,y) dy + F (x0 ,y) dy,
c c g1 (x0 ) g2 (x0 )

isto é, Z g2 (x0 )


A(x0 ) = F (x0 ,y) dy.
g1 (x0 )
101

Veja a Figura 4.11. Como ZZ Z b


f (x,y) dA = A(x) dx,
D a

temos o resultado abaixo.

Figura 4.11: Cálculo de integrais duplas sobre regiões do Tipo I.

Teorema 4.1.10 (Integrais Duplas sobre Regiões do Tipo I). Se f (x,y) é função
contı́nua sobre a região do tipo I

D = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)},

então Z bZ
ZZ g2 (x)
f (x,y) dA = f (x,y) dy dx.
D a g1 (x)

Exemplo 4.1.11. Esboce a região

D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 e 1 ≤ y ≤ ex }
ZZ
x
e calcule a integral dupla dA.
D y

Um esboço da região D pode ser encontrado na Figura 4.12: é a região delimitada pela
exponencial e as duas retas, formando o “triângulo” com vértices A, B e C. Segue do
102

Teorema 4.1.10 que


ZZ Z 1 Z ex Z 1
y=ex
x x
dA = dy dx = x · ln |y| dx
D y 0 1 y 0 y=1
1 1
x=1
x3
Z Z
2 1
= (x · x − x · ln 1) dx = x dx = = .
0 0 3 x=0 3

Figura 4.12: Região D do Exemplo 4.1.11.

..................................................................................... 

Exemplo 4.1.12. Encontre o volume V do sólido abaixo do paraboloide z = x2 +y 2 e acima


da região D do plano xy limitada pela reta y = 2x e pela parábola y = x2 .

Um esboço da região D pode ser encontrado na Figura 4.13. Para escrever o conjunto D
como uma região do tipo I, como na Equação (4.10), determinamos os pontos de interseção
de y = 2x e y = x2 :

2x = x2 ⇐⇒ x2 − 2x = 0 ⇐⇒ x(x − 2) = 0 ⇐⇒ x = 0 ou x = 2.

Segue que
D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 2 e x2 ≤ y ≤ 2x},
103

e portanto,
2 2x 2  y=2x
y 3
ZZ Z Z Z 
2 2 2 2 2
V = (x + y ) dA = (x + y ) dy dx = x y+ dx
D 0 x2 0 3 y=x2
Z 2 Z 2
8x3 x6 14x3 x6
 
3 4 4
= 2x + −x − dx = −x − dx
0 3 3 0 3 3
 4  x=2
x5 x7 7 · 23 25 27
 
7x 3 7 4 16
= − − = − − =2 − −
6 5 21 x=0 3 5 21 3 5 21
 
245 − 84 − 80 81 8 · 27 216
=8 =8· = = .
3·5·7 3·5·7 35 35

Figura 4.13: Região D do Exemplo 4.1.12.

..................................................................................... 

Lembramos que a integral de F (x,y) considerada na definição estabelecida na Equação


(4.9) tem sua existência garantida se D é uma região do tipo I ou II; definimos acima o que
é uma região do tipo I e apresentamos agora a definição de uma região do tipo II. Dizemos
que D ⊆ R2 é uma região do tipo II se existem um intervalo [c,d] e funções contı́nuas h1 (y),
h2 (y) contı́nuas em [c,d] tais que

D = {(x,y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e h1 (y) ≤ x ≤ h2 (y)}. (4.11)


104

Segue por argumentos análogos que, se f (x,y) é contı́nua em D, então


ZZ Z d Z h2 (y)
f (x,y) dA = f (x,y) dx dy.
D c h1 (y)

Veja a Figura 4.14.

Figura 4.14: Cálculo de integrais duplas sobre regiões do Tipo II.

Teorema 4.1.13 (Integrais Duplas sobre Regiões do Tipo II). Se f (x,y) é função
contı́nua sobre a região do tipo II

D = {(x,y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e h1 (y) ≤ x ≤ h2 (y)}.

então ZZ Z d Z h2 (y)
f (x,y) dA = f (x,y) dx dy.
D c h1 (y)
ZZ
Exemplo 4.1.14. Calcule xy dA, onde D é a região do plano xy limitada pela reta
D
2
x − y − 1 = 0 e pela parábola y = 2x + 6.

Podemos escrever D como uma região do tipo II, conforme indicado na Figura 4.15.
Como y 2 = 2x + 6 se e somente se x = −3 + y 2 /2, temos

D = {(x,y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e − 3 + y 2 /2 ≤ x ≤ y + 1},

onde c,d representam a ordenada dos pontos de interseção da reta e da parábola:


y2
−3 + = y + 1 ⇐⇒ y 2 − 2y − 8 = 0 ⇐⇒ y = 4 ou y = −2.
2
105

Segue que
4 y+1 4
x=y+1
x2
ZZ Z Z Z
xy dA = xy dx dy = y· dy
D −2 −3+y 2 /2 −2 2 x=−3+y2 /2
1 4
Z   4 
2 y 2
= y(y + 2y + 1) − y − 3y + 9 dy
2 −2 4
1 4
Z  5 
y 3 2
= − + 4y + 2y − 8y dy
2 −2 4
  y=4
1 1 6 4 2 3 2

= − y + y + y − 4y
2 24 3 y=−2
 12   6 
1 2 8 2 6 4 1 2 4 2 3 2
= − +2 + 2 −4·2 − − +2 − 2 −4·2
2 24 3 2 24 3
4
 5 3

2 2 2 1 1
= − + 24 + −4+ −1+ +1
2 3 3 6 3
 
23 1 −46 + 72 + 1 27
= 8 − + 12 + =8· =8· = 36.
3 6 6 6

Figura 4.15: Região D do Exemplo 4.1.14.

..................................................................................... 
106

A integral dupla sobre regiões gerais satisfaz as seguintes propriedades.

Teorema 4.1.15. Sejam D, D1 , D2 ⊆ R2 regiões do plano xy e f,g funções integráveis sobre


essas regiões. Então:
ZZ ZZ ZZ
 
(i) f (x,y) ± g(x,y) dA = f (x,y) dA ± g(x,y) dA;
D D D
ZZ ZZ
(ii) c · f (x,y) dA = c f (x,y) dA;
D D

(iii) se f (x,y) ≥ g(x,y) para todo (x,y) ∈ D, então


ZZ ZZ
f (x,y) dA ≥ g(x,y) dA;
D D

(iv) Se D = D1 ∪ D2 e a interseção D1 ∩ D2 , se não-vazia, consiste apenas de pontos de


fronteira de D1 , D2 , então
ZZ ZZ ZZ
f (x,y) dA = f (x,y) dA + f (x,y) dA.
D D1 D2

Figura 4.16: Ilustração do item (iv) do Teorema 4.1.15.

Em muitos casos temos a opção de descrever uma região D ⊆ R2 como uma região do
tipo I ou do tipo II, ou ainda, como uma união de regiões do tipo I ou do tipo II. Nestes
casos, podemos fazer a escolha mais conveniente. No exercı́cio abaixo verificamos que a
região do Exemplo 4.1.14 pode ser escrita como uma união de regiões do tipo I; a resolução
feita acima é mais simples. Mais ainda, no exemplo seguinte, vemos que a escolha da ordem
de integração pode inviabilizar o cálculo da integral através das técnicas vistas neste texto.
107

Exercı́cio 4.1.16. Calcule a integral do Exemplo 4.1.14 como uma integral do tipo I.
ZZ
2
Exemplo 4.1.17. Calcule ey dA, onde R é o triângulo do plano xy limitado pelas retas
R
x = 0, y = 1 e y = x.

Poderı́amos facilmente escrever a integral dupla acima como uma integral do tipo I, mas
2
terı́amos assim que resolver a integral indefinida ey dy, que não pode ser expressa através
de funções elementares. Escrevemos então R como uma região do tipo II, como indicado na
Figura 4.17:
R = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ x ≤ y},

Segue que
ZZ Z 1 Z y Z 1
x=y Z 1
y2 y2 y2 2

e dA = e dx dy = x·e dy = yey dy.
R 0 0 0 x=0 0

Fazendo a substituição u = y 2 na integral acima concluı́mos que


2 y=1
ey
ZZ
y2 1
e dA = = (e − 1).
R 2 y=0 2

..................................................................................... 

Exercı́cio 4.1.18. Esboce a região do plano xy sobre a qual a integral abaixo deve ser
calculada e troque a ordem de integração para efetuar os cálculos:
Z 8Z 2
1
√ 4
dy dx.
0 3x 1 + y

Uma das aplicações da integral definida de uma função de uma variável é o cálculo da
área de regiões do plano. Através da definição abaixo poderemos fazer isto também por
integrais duplas.

Definição 4.1.19. A área de uma região fechada e limitada R ⊆ R2 é definida como


ZZ
A(R) = 1 dA,
R

se a integral existir.
108

Figura 4.17: Triângulo R do Exemplo 4.1.17.

A intuição por trás da Definição 4.1.19 é que a referida integral dupla representa o volume
de uma caixa cilı́ndrica S de altura 1, cujas tampa e base têm o formato de R. Seu volume
seria portanto
V (S) = A(R) · 1 = A(R).

Veja a Figura 4.18. Note que no caso de uma região do tipo I a Definição 4.1.19 coincide
com a definição de área vista no cálculo integral de funções de uma variável: se R é dada
por
R = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)},

então
ZZ Z bZ g2 (x) Z b
y=g2 (x) Z b
 
A(R) = 1 dA = 1 dy dx = y
dx = g2 (x) − g1 (x) dx.
R a g1 (x) a y=g1 (x) a

Valor médio de uma função de duas variáveis. Seja F (x,y) uma função contı́nua
sobre um retângulo R = [a,b] × [c,d]. A fim de definir o valor médio Fm de F sobre R,
109

Figura 4.18: Ilustração da Definição 4.1.19.

consideramos partições

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,

e consideramos a soma abaixo como uma aproximação para Fm :


n n
1 XX
Fm ≈ 2 F (xi ,yj ).
n i=1 j=1

Em outras palavras, escolhemos um ponto em cada subretângulo Ri,j e fazemos a média


aritmética do valor de F nestes pontos. Note que
n n n n n n
1 1 XX ∆x ∆y X X 1 XX
Fm ≈ F (xi ,yj ) = F (xi ,yj ) = F (xi ,yj )∆A.
n n i=1 j=1 b − a d − c i=1 j=1 A(R) i=1 j=1

Intuitivamente, à medida que n se aproxima de infinito a aproximação acima fica cada vez
mais precisa. Como
n n ZZ
1 XX n→∞ 1
F (xi ,yj )∆A −→ F (x,y) dA,
A(R) i=1 j=1 A(R) R

estabelecemos a definição abaixo.

Definição 4.1.20. Seja F (x,y) uma função de duas variáveis definida sobre uma região
R ⊆ R2 . Definimos o valor médio de F sobre R como
ZZ
1
Fm = F (x,y) dA,
A(R) R
110

se a integral existir.

Podemos interpretar a Definição 4.1.20 da seguinte maneira: Fm representa a altura do


cilindro com base e tampa dados por R e com volume igual ao do sólido definido originalmente
pelo gráfico de F (x,y).

Exercı́cio 4.1.21. Determine o valor médio da função f (x,y) = x sen y sobre a região D
limitada pelas curvas y = 0, x = 1 e y = x2 .

4.2 Coordenadas Polares

Nesta seção estudaremos uma maneira alternativa de descrever pontos do plano. Este
conteúdo nos ajudará a calcular integrais duplas (e triplas), mas é importante ressaltar
que as aplicações de coordenadas polares não se restringem ao cálculo de integrais múltiplas.

Podemos descrever a localização de um ponto P do plano através das coordenadas (x,y)


usuais: estes números representam a distância de P aos eixos x e y. Alternativamente,
consideramos um ponto O, dito o polo, e um eixo semelhante ao eixo x, dito o eixo polar ;
localizamos P no plano através do par (r,θ), onde r representa a distância de P até a origem
−→
e θ o ângulo entre o eixo polar e OP no sentido trigonométrico. Veja a Figura 4.19.

Note que podemos representar um mesmo ponto em coordenadas polares através de


diferentes pares (r,θ) ∈ R2 . Para cada ponto P (r,θ) do plano, os pares (r,θ + 2π), (r,θ + 4π),
etc, representam o mesmo ponto P . Outros pares (r,θ) com r < 0 também representam o
mesmo ponto P ; veja a Figura 4.20. É comum considerarmos para r valores não negativos
e fixar para a variável θ um intervalo da forma [0,2π] ou [−π,π].

A transformação de coordenadas polares para coordenadas cartesianas é simples, basta


111

Figura 4.19: Coordenadas cartesianas e polares.

Figura 4.20: Coordenadas polares.

consider na Figura 4.19 o triângulo retângulo de hipotenusa OP .

x = r cos θ y = r sen θ (4.12)

A mudança de variáveis no sentido contrário se dá através da Equação (4.12), ao observamos


que x2 + y 2 = r2 (cos2 θ + sen2 θ) = r2 e y/x = tg θ.
y
r 2 = x2 + y 2 tg θ = (4.13)
x
Observamos, no entanto, que dado qualquer número w ∈ R existem dois ângulos θ1 , θ2 ∈
[0,2π] tais que tg(θ1 ) = w e tg(θ2 ) = w; esta escolha deve ser feita com bastante atenção.

Exemplo 4.2.1. As coordenadas cartesianas para o ponto (r,θ) = (2, π/4) são dadas por

2 √
x = r cos θ = 2 · = 2,
2
112


2 √
y = r sen θ = 2 · = 2.
2

..................................................................................... 

Exemplo 4.2.2. Determine coordenadas polares para o ponto (x,y) = (− 3,1).

Temos pela Equação (4.13) que


p q √
r = x + y = (− 3)2 + 12 = 2,
2 2

y  
−1 −1 1
θ = tg = tg −√ .
x 3

Como tg(π/6) = 1/ 3, temos que

 π  π 3
tg π − = tg − =− .
6 6 3

Os pontos (r,θ) = (2,5π/6) e (r,θ) = (2, − π/6) representam, respectivamente, pontos no



segundo e quarto quadrantes. Portanto, o ponto (x,y) = (− 3,1) corresponde a (r,θ) =
(2,5π/6).

..................................................................................... 

.Obs: É absolutamente essencial um conhecimento sólido do cı́rculo trigonométrico: seno


e cosseno de ângulos básicos como θ = 0◦ , 30◦ , 45◦ , 60◦ , 90◦ e os ângulos correspondentes
nos outros quadrantes. O mesmo pode ser dito das propriedades trigonométricas abaixo,
principalmente no que diz respeito a integração de funções trigonométricas:

cos2 θ + sen2 θ = 1,
tg2 θ + 1 = sec2 θ,
cotg2 θ + 1 = cosec2 θ, (4.14)
cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b,
sen(a + b) = sen a cos b + sen b cos a.

....................................................................................../
113

Uma equação em duas variáveis F (x,y) = 0 descreve uma curva no plano através de
coordenadas cartesianas. Da mesma forma, uma equação F (r,θ) = 0 descreve uma curva
plano, que consiste em todos os pontos que possuem pelo menos uma representação polar
que satisfaz essa equação. Lembramos que um mesmo ponto possui diferentes representações
em coordenadas polares: por exemplo, o ponto (x,y) = (−1,0) pode ser representado como
(r, θ) = (1, π) ou (r, θ) = (−1,0).

Como um primeiro exemplo, observamos que a equação r = k descreve o conjunto de


pontos a uma distância fixa do polo (origem), logo a curva em questão é a circunferência
de raio r = k. Veja a Figura 4.21. Vejamos agora o que ocorre com a equação θ = t: esta
equação descreve o conjunto de pontos P tais que OP forma um ângulo fixo t com o eixo
polar; considerando não só r ≥ 0, mas também valores negativos para r, concluı́mos que a
equação θ = t representa uma reta que contém o polo (origem). Veja a Figura 4.22.

Figura 4.21: Pontos P1 , P2 Figura 4.22: Pontos P1 , P2


pertencentes à circunferência r = k. pertencentes à reta θ = t.

.Obs: Um ponto do plano contém muitas representações polares distintas e escolhemos a


mais conveniente em cada situação. No caso de uma reta θ = t, ilustrada na Figura 4.22,
optamos por manter o ângulo θ fixo e considerar valores positivos e negativos para r:

{(r, θ) ∈ R2 : θ = t, r ∈ R}.

A mesma reta pode ser descrita também da seguinte maneira:

{(r, θ) ∈ R2 : θ = t, r ≥ 0} ∪ {(r, θ) ∈ R2 : θ = −t, r > 0}.


114

Esta última descrição pode não ser tão conveniente por ter um caráter descontı́nuo. . . . . . /

Exemplo 4.2.3. Esboce a curva definida pela equação r = 6 sen θ.

Faremos uso das Equações (4.12) e (4.13) para tal: como y = r sen θ, temos r = 6 sen θ
se e somente se
y
r =6· =⇒ r2 = 6y =⇒ x2 + y 2 = 6y.
r
Completando quadrados obtemos:

x2 + y 2 − 6y = 0 ⇐⇒ x2 + y 2 − 6y + 9 − 9 = 0 ⇐⇒ x2 + (y − 3)2 = 9.

Segue que a equação r = 6 sen θ define uma circunferência de raio 3 e centro (0,3). Veja a
Figura 4.23.

Figura 4.23: Circunferência definida pela equação r = 6 sen θ.

..................................................................................... 

Algumas regiões planas são descritas mais facilmente através de coordenadas polares; isto
nos é bastante útil no cálculo de integrais duplas. Como exemplo, consideramos a região

D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1}. (4.15)


115

A região D consiste do cı́rculo unitário com centro na origem, isto é, a circunferência x2 +y 2 =
1 e seu interior. Podemos descrever D através de coordenadas polares da seguinte maneira.
Para cada θ0 ∈ [0, 2π] fixo, consideramos os pontos com distância a origem menor ou igual
a 1:
D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π}. (4.16)

Podemos ainda considerar o intervalo [−π, π] para a coordenada θ:

D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 1, −π ≤ θ ≤ π}. (4.17)

Veja a Figura 4.24. As descrição dada pela Equação (4.16) sofre de ambiguidade na fron-
teira do retângulo da Figura 4.24 no seguinte sentido: todos os pontos do segmento r = 0
correspondem ao ponto (x,y) = (0,0); mais ainda, os segmentos θ = 0 e θ = 2π correspon-
dem ao mesmo segmento nas coordenadas cartesianas. Veja a Figura 4.25. Entretanto, para
cada ponto (x,y) no interior deste retângulo, temos exatamente um ponto da forma (4.15) e
vice-versa. Temos uma situação semelhante para o retângulo definido pela Equação (4.17).

Figura 4.24: Região D da Equação (4.15).

Considere agora as Equações (4.18) e (4.19) abaixo:

D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 1, −2π ≤ θ ≤ 2π}, (4.18)

D = {(r, θ) ∈ R2 : − 1 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π}. (4.19)


116

Figura 4.25: Ambiguidade oriunda da Equação (4.16).

Na condição 0 ≤ r ≤ 1, −2π ≤ θ ≤ 2π da Equação (4.18) observamos tal ambiguidade


também no interior do retângulo: por exemplo, os pontos (r, θ) = (1/2,π/2) e (r, θ) =
(1/2,5π/2) correspondem ao mesmo ponto (x,y) = (0,1). A condição da Equação (4.19)
apresenta um problema semelhante: os pontos (r, θ) = (1/2,π/2) e (r, θ) = (−1/2, − π/2)
correspondem ao mesmo ponto (x,y) = (0,1). Veremos que será necessário descrever conjun-
tos em coordenadas polares sem ambiguidade, como nas Equações (4.16) e (4.17).

Exemplo 4.2.4. Descreva em coordenadas polares a região D do plano limitada pela cir-
cunferência x2 + y 2 = 4 que se encontra à direita da reta x = 0.

Uma representação gráfica desta região é encontrada na Figura 4.26. A circunferência


x2 + y 2 = 4 possui equação r = 2 em coordenadas polares. Considerando o intervalo [0, 2π]
para a coordenada θ, podemos descrever esta região como

D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ π/2} ∪ {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 3π/2 ≤ θ ≤ 2π}.

A descrição acima, entretanto, possui um caráter descontı́nuo que pode ser evitado ao se
considerar o intervalo [−π,π] para os ângulos que percorrem o cı́rculo trigonométrico:

D = {(r, θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, −π/2 ≤ θ ≤ π/2}.

..................................................................................... 
117

Figura 4.26: Região D do Exemplo 4.2.4.

.Obs: Cabe ressaltar que um intervalo da forma [0,2π] é suficiente para descrever os pontos
de uma circunferência, mas em alguns casos é necessário considerar um intervalo maior para
descrever (sem ambiguidade) uma curva. Este é o caso da curva r = θ, θ ∈ [0, 8π]. Veja a
Figura 4.27. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Figura 4.27: Espiral descrita por r = θ, θ ∈ [0, 8π].

4.3 Mudança de Coordenadas em Integrais Duplas

Até o momento temos realizado substituições simples: tratamos todas as variáveis como
constantes com exceção daquela em relação a qual estamos integrando no momento. Se
118

estamos realizando uma integral na variável z, fazemos uma substituição da forma

u = g(z) =⇒ du = g 0 (z)dz,

de modo a facilitar o cálculo da integral. Na seção a seguir veremos que é possı́vel reali-
zar uma troca de coordenadas dupla no seguinte sentido: substituiremos simultaneamente
ambas variáveis de uma integral dupla por outras duas. Será possı́vel também realizar uma
substituição deste tipo com integrais triplas.

Ao considerar a integral de uma função de uma variável f (x), muitas vezes realizamos
uma mudança de coordenadas x = g(u) a fim de facilitar nossos cálculos. A integral se
escreve então da seguinte maneira:
Z Z
f (x) dx = f g(u) g 0 (u) du.


Por exemplo, podemos encontrar uma primitiva para a função f (x) = x cos(x2 ) ao considerar

a mudança de variáveis x = g(u) = u: temos
√ 1
x = g(u) = u =⇒ x2 = u e g 0 (u) = √ ,
2 u
logo

Z Z Z
2 1 1 1
x cos(x ) dx = u cos u √ du = cos u du = sen(x2 ) + C.
2 u 2 2
Se desejamos calcular uma integral definida, digamos
Z 3
x cos(x2 ) dx,
2

então devemos ajustar o domı́nio de integração [2,3] à nova variável através da equação
Z b Z g−1 (b)
f g(u) g 0 (u) du.

f (x) dx =
a g −1 (a)

No exemplo citado, temos x = g(u) = u, logo u = x2 e

x = 2 =⇒ u = 4,
x = 3 =⇒ u = 9.
119

Segue que
Z 3 Z 9
9
2 1 1 1 
x cos(x ) dx = cos u du = sen(u) = sen(9) − sen(4) .
2 2 4 2 4 2

Veremos agora como efetuar uma mudança de coordenadas em integrais duplas.

Considere a integral de uma função f (x,y) de duas variáveis sobre uma região R do plano.
Seja T (u,v) uma transformação de R2 em R2 :

T (u,v) = (x,y), onde x = g(u,v) e y = h(u,v).

Suponha que para algum conjunto S do plano uv temos T (S) = R. Veja as Figuras 4.28 e
4.29.

Figura 4.28: Transformação T : R2 −→ R2 .

Figura 4.29: Regiões R e S dos planos xy e uv tais que T (S) = R.


120

Exemplo 4.3.1. Seja


R = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 4}

e considere a transformação
T (r,θ) = (r cos θ, r sen θ).

Se S = {(r,θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ 2π}, então T (S) = R. Veja a Figura 4.24.

..................................................................................... 

Suponha que T é uma transformação C 1 (derivadas parciais contı́nuas) e que T é injetiva


no interior de S (note que, no Exemplo 4.3.1, T é injetiva em int S). Veremos agora como
a transformação T afeta a integral dupla de f (x,y) sobre R.

Na definição de integral dupla consideramos uma partição do domı́nio da integral em


retângulos pequenos e somamos a contribuição de cada um deles; no limite, quando o número
de retângulos se aproxima de infinito, temos a integral dupla. Consideramos portanto um
retângulo S0 em S e sua imagem R0 = T (S0 ), como ilustrado na Figura 4.30.

Figura 4.30: Retângulo S0 ⊆ S e sua imagem R0 = T (S0 ).

Aproximamos a área de R0 pelo área de um paralelogramo, conforme indicado na Figura


4.31. A área deste paralelogramo é dada por |~a ×~b|, onde, pela definição de derivada parcial,

~a = T (u0 + ∆u, v0 ) − T (u0 , v0 ) ≈ Tu (u0 , v0 ) · ∆u.


121

O mesmo é válido para o vetor ~b:

~b = T (u0 , v0 + ∆v) − T (u0 , v0 ) ≈ Tv (u0 , v0 ) · ∆v.

Segue que a área de R0 pode ser aproximada por:


 
A(R0 ) ≈ | Tu (u0 , v0 ) · ∆u × Tv (u0 , v0 ) · ∆v | = |Tu (u0 , v0 ) × Tv (u0 , v0 )| · ∆u∆v
(4.20)
= |Tu (u0 , v0 ) × Tv (u0 , v0 )| · A(S0 ),
onde
~
i ~j ~k
∂x ∂y

∂u ∂u
∂x ∂y ∂y ∂x
Tu × Tv = ∂u ∂y
∂u ∂v − ∂u ∂v .
∂x
0 = =

∂u ∂x ∂y
∂v ∂v

∂x ∂y
∂v ∂v
0
A Equação (4.20) fornece a relação entre um elemento de área de S e sua imagem no plano
xy. Este tipo de relação determina como deve ser feita uma mudança de coordenadas em
uma integral dupla; veja o Teorema 4.3.3.

Figura 4.31: Aproximação da área de R0 = T (S0 ) por um paralelogramo.


Definição 4.3.2. O Jacobiano de uma transformação T (u,v) = x(u,v), y(u,v) é definido
como
∂x ∂x
∂(x,y) ∂u ∂v
∂x ∂y ∂y ∂x
J(u,v) = = ∂u ∂v − ∂u ∂v .
=
∂(u,v) ∂y ∂y
∂u ∂v

Teorema 4.3.3. Sejam T , R e S como acima e suponha que o Jacobiano de T é não-nulo
em S. Então, se f (x,y) é contı́nua em R,
ZZ ZZ
 ∂(x,y)
f (x,y) dA = f x(u,v), y(u,v) dA.
R S ∂(u,v)
122

ZZ p
Exemplo 4.3.4. Calcule x2 + y 2 dA, onde D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 4}.
D

Seja T (r,θ) a mudança de coordenadas polares, como na Equação (4.12). Conforme visto
na Seção 4.2, temos T (S) = D, onde

S = {(r,θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ 2π}.

Então,
ZZ p ZZ p Z 2π Z 2 √
∂(x,y) ∂(x,y)
x2 + y 2 dA = (r cos θ)2 + (r sen θ)2 dA = r2 dr dθ,
D S ∂(r, θ) 0 0 ∂(r, θ)
onde
∂x ∂x
∂(x,y) ∂r ∂θ
cos θ r(− sen θ)
J(r,θ) = = = = r.
∂(r,θ) ∂y ∂y
sen θ r cos θ

∂r ∂θ

Logo,
2π 2 2π 2
r=2 Z 2π
r3
ZZ p Z Z Z Z
2 2
8 8 16π
x + y dA = r · r dr dθ = dθ = dθ = · 2π = .
D 0 0 0 0 3 r=0

0 3 3 3

..................................................................................... 

.Obs: Note que o Jacobiano da mudança de coordenadas polares será sempre o mesmo,
independente da integral dupla a ser calculada. De acordo com os cálculos do Exemplo
4.3.4, temos
∂(x,y)
= r. (4.21)
∂(r,θ)
......................................................................................... /

Exemplo 4.3.5. Se uma placa fina de metal ocupa uma região D do plano e possui densidade
de massa pontual dada por uma função f (x,y), para (x,y) ∈ D, então sua massa é dada por
ZZ
M= f (x,y) dA.
D

Uma placa de metal ocupa a região do plano exterior à circunferência r = 3 e interior


à circunferência r = 6 sen θ. Sabendo que sua densidade de massa é dada por f (x,y) =
(x2 + y 2 )−1/2 , determine sua massa.
123

Veja um esboço da região D ocupada pela placa na Figura 4.32. Temos que

D = {(r,θ) ∈ R2 : θ0 ≤ θ ≤ π − θ0 , 3 ≤ r ≤ 6 sen θ},

onde θ0 é determinado pela interseção das circunferências:


1
3 = 6 sen θ ⇐⇒ sen θ = .
2
Segue que θ0 = π/6. Portanto,
5π/6 6 sin θ
ZZ Z Z
2 2 −1/2 2 2 −1/2
 ∂(x,y)
M= (x + y ) dA = (r cos θ) + (r sen θ) ∂(r,θ) dr dθ

D π/6 3
Z 5π/6 Z 6 sin θ Z 5π/6 Z 6 sin θ Z 5π/6
r=6 sin θ
r−1 r dr dθ =

= dr dθ = r dθ
π/6 3 π/6 3 π/6 r=3
Z 5π/6
θ=5π/6

= [6 sen θ − 3] dθ = (−6 cos θ − 3θ)
π/6 θ=π/6
√ ! √ !
3 5π 3 π √ 15π 3π √
= −6 − −3· − −6 · −3· =6 3− + = 6 3 − 2π.
2 6 2 6 6 6

Figura 4.32: Região D do Exemplo 4.3.5.

..................................................................................... 

Exercı́cio 4.3.6. Faça uma mudança de variáveis para as coordenada polares nas integrais
abaixo e calcule-as.
124

Z 0 Z 0
2 Z 4 Z √16−y2
(i) dy dx. (ii) x2 y dx dy.
−1

− 1−x2 1 + x2 + y 2 √
−4 − 16−y 2

4.4 Integrais Triplas

Considere uma caixa retangular B ⊆ R3 dada por

B = {(x,y,z) ∈ R3 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, r ≤ z ≤ s}. (4.22)

Denotamos caixas como B daqui em diante por B = [a,b] × [c,d] × [r,s]. Definimos a integral
tripla de uma função de três variáveis f (x,y,z) sobre B de maneira análoga a integrais duplas.
Ilustramos esta definição com uma situação prática: a Equação Geral do Balanço Molar; veja
a Seção 1.2 do livro Elementos de Engenharia das Reações Quı́micas, H. S. Fogler.

Considere um sistema limitado por uma caixa B como aquela da Equação (4.22) onde
ocorre uma reação quı́mica envolvendo uma substância quı́mica q. Estamos interessados em
descrever quantos mols Nq = Nq (t) desta substância nós temos em B em um dado instante
de tempo. Temos que Nq depende da taxa de mols de q que entram e saem de B; estas
quantidades são denotadas por Fq0 e Fq na Figura 4.33. Mas também devemos contabilizar
quantos mols por unidade de tempo Gq = Gq (t) são produzidos ou consumidos de B através
da reação quı́mica que ali ocorre. Descrevemos a quantidade Gq através do conceito de
integrais.

Figura 4.33: Reação quı́mica em um sistema.


125

Se a substância q é produzida em B de maneira uniforme, digamos a uma taxa de rq mols


por minuto por cm3 , então Gq é facilmente determinado: Gq = rq · V (B), onde V (B) denota
o volume de B. Entretanto, esta taxa com que q é produzida pode ser diferente em cada
ponto de B; por exemplo, esta taxa pode depender da proximidade de uma fonte de calor.
Seja F (x,y,z) a função que representa a taxa com que q é produzida no ponto (x,y,z) por
minuto por cm3 . Consideramos partições dos intervalos [a,b], [c,d] e [r,s] em n subintervalos
de mesmo comprimento:

a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b,


c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,
r = z0 < z1 < z2 < · · · < zn−1 < zn = s,

onde
b−a d−c s−r
∆x = , ∆y = , ∆z = .
n n n
Estas partições dividem a caixa B em n3 caixas menores Bi,j,k , para 1 ≤ i,j,k ≤ n, ditas
subvolumes; veja a Figura 4.34. O ı́ndice “i,j,k” em Bi,j,k indica o subvolume formado pelo
i-ésimo intervalo na partição de [a,b], o j-ésimo intervalo na partição de [c,d] e o k-ésimo
intervalo na partição de [r,s]. Cada subvolume Bi,j,k tem volume ∆V = ∆x · ∆y · ∆z.

Em cada subvolume Bi,j,k escolhemos um ponto (x∗i,j,k , yi,j,k


∗ ∗
, zi,j,k ) e fazemos a seguinte
aproximação: consideramos que a taxa de produção de q em Bi,j,k é constante e igual a
F (x∗i,j,k , yi,j,k
∗ ∗
, zi,j,k ). Assim, o número de mols de q produzidos em Bi,j,k por unidade de

tempo é F (x∗i,j,k , yi,j,k ∗
, zi,j,k ) · ∆V . Veja a Figura 4.34. Procedendo desta maneira para todo
subvolume Bi,j,k obtemos a seguinte aproximação para a taxa de produção de q no sistema:
n X
X n X
n
Gq ≈ F (x∗i,j,k , yi,j,k
∗ ∗
, zi,j,k ) · ∆V.
i=1 j=1 k=1

À medida que n cresce, o número de subvolumes de controle fica cada vez maior e o
volume de cada um deles fica cada vez menor. Veja a Figura 4.35. Assim, o erro cometido
pela aproximação acima (taxa de produção de q constante em cada subvolume de controle)
126

Figura 4.34: Aproximamos F (x,y,z) em cada subvolume de controle por uma constante.

fica cada vez menor. Intuitivamente temos que este erro se aproxima de zero no limite quando
n se aproxima de infinito, donde
n X
X n X
n
Gq = lim F (x∗i,j,k , yi,j,k
∗ ∗
, zi,j,k ) · ∆V. (4.23)
n→∞
i=1 j=1 k=1

Figura 4.35: Divisão de uma caixa retangular em caixas menores.

A definição de integral tripla se dá de maneira análoga à Equação (4.23), mas nesta
definição consideramos uma situação um pouco mais geral: particionamos os intervalos
[a,b], [c,d], [r,s] em `, m e n subintervalos, onde não necessariamente temos ` = m = n.

Definição 4.4.1. Seja F (x,y,z) uma função de três variáveis definida em uma caixa retan-
gular B = [a,b] × [c,d] × [r,s]. Definimos a integral tripla de F sobre B como
ZZZ ` X
X m X
n
F (x,y,z) dV = lim F (x∗i,j,k , yi,j,k
∗ ∗
, zi,j,k ) · ∆V,
B `,m,n→∞
i=1 j=1 k=1

se o limite existir. Dizemos nesse caso que a função F é integrável sobre B.


127

.Obs: O limite acima deve existir e fornecer o mesmo valor para quaisquer escolha dos
pontos (x∗i,j,k , yi,j,k
∗ ∗
, zi,j,k ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Temos a integrabilidade de uma função garantida se ela for contı́nua, assim como no caso
bivariado. Temos também a possibilidade de calcular integrais triplas através de integrais
iteradas.

Teorema 4.4.2. Se F (x,y,z) é uma função contı́nua em uma caixa retangular B = [a,b] ×
[c,d] × [r,s], então F é integrável em B.

Teorema 4.4.3 (Fubini). Se F (x,y,z) é contı́nua em uma caixa retangular B = [a,b] ×


[c,d] × [r,s], então
ZZZ Z sZ d Z b
F (x,y,z) dV = F (x,y,z) dx dy dz.
B r c a

A integral iterada do Teorema 4.4.3 pode ser feita em qualquer ordem sem alteração no
valor da integral. Podemos escrever, por exemplo,
ZZZ Z dZ bZ s
F (x,y,z) dV = F (x,y,z) dz dx dy.
B c a r

A integral tripla iterada, da maneira que está escrita no Teorema 4.4.3, representa o seguinte
processo: fixamos um ponto (y0 ,z0 ) ∈ [c,d] × [r,s] e consideramos a função de uma variável
F (x,y0 ,z0 ); a integral definida desta função sobre [a,b] é um número que depende de (y0 ,z0 ),
denotado por V (y0 ,z0 ): Z b
V (y0 ,z0 ) = F (x,y0 ,z0 ) dx.
a

Calculamos a seguir a integral dupla de V (y,z) sobre o retângulo [c,d] × [r,s]:


ZZZ ZZ
F (x,y,z) dV = V (y,z) dA.
B [c,d]×[r,s]

ZZZ
Exemplo 4.4.4. Calcule a integral xy sen(yz) dV , onde B é a caixa retangular limi-
B
tada pelos planos coordenados e pelos planos x = π, y = 1 e z = π/3.
128

Temos que B = [0, π] × [0,1] × [0, π/3], logo


ZZZ Z π Z 1 Z π/3
xy sen(yz) dV = xy sen(yz) dz dy dx.
B 0 0 0

A integral na variável z pode ser feita através da seguinte substituição simples:

u = yz =⇒ du = y dz.

Então: z=π/3
Z π/3  π
xy sen(yz) dz = −x cos(yz)
= −x cos y + x cos 0.
0 z=0 3
Logo, Z π Z 1 Z π/3 Z π Z 1 h  π i
xy sen(yz) dz dy dx = −x cos y + x dy dx,
0 0 0 0 0 3
onde
Z 1  π   y=1
h i 3  π 3 π 
−x cos y + x dy = −x sen y + xy = −x sen + x.
0 3 π 3 y=0 π 3

Portanto,
√ #
π
" √ !
x=π
x2 3 3 x2
ZZZ Z
3 3
xy sen(yz) dV = −x + x dx = − +
B 0 π 2 2 2π 2 x=0

π2 3 3 π2 √ π2
=− + = −f rac3π 34 + .
2 2π 2 2

..................................................................................... 

Integrais triplas sobre regiões sólidas gerais. Sejam E um conjunto fechado e limitado
qualquer de R3 e f (x,y,z) uma função contı́nua em E. A integral tripla de f sobre E é
definida de maneira análoga ao que vimos na Seção 4.1. Consideramos uma caixa retangular
B = [a,b] × [c,d] × [r,s] que contém E e a função

 f (x,y,z), se (x,y,z) ∈ E,
F (x,y,z) =
 0, se (x,y,z) ∈ B − E.
129

Definimos a integral tripla de f sobre E como


ZZZ ZZZ
f (x,y,z) dV = F (x,y,z) dV, (4.24)
E B

caso a integral à direita exista. A existência desta integral é garantida se E é uma região
sólida do tipo I, II ou III, como definiremos a seguir.

Uma região sólida E ⊆ R3 é dita uma região do tipo I se existem D ⊆ R2 e funções


u1 (x,y), u2 (x,y) contı́nuas em D tais que

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (x,y) ∈ D e u1 (x,y) ≤ z ≤ u2 (x,y)}. (4.25)

Em outras palavras, E é a região sólida de R3 que se encontra diretamente acima (ou abaixo)
da região D do plano xy, acima do gráfico da função u1 (x,y) e abaixo do gráfico de u2 (x,y);
veja a Figura 4.36. Por argumentos análogos àqueles vistos na Seção 4.1 temos
ZZZ Z Z "Z u2 (x,y)
#
f (x,y,z) dV = f (x,y,z) dz dA. (4.26)
E D u1 (x,y)

Figura 4.36: Região sólida do tipo I.

Logo, se D é uma região do plano do tipo I, como definido na Equação (4.10),

D = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)},


130

então Z bZ
ZZZ g2 (x) Z u2 (x,y)
f (x,y,z) dV = f (x,y,z) dz dy dx.
E a g1 (x) u1 (x,y)

Se E ⊆ R3 é como na Equação (4.25) e D é uma região do tipo II,

D = {(x,y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e h1 (y) ≤ x ≤ h2 (y)},

então temos da Equação (4.26) que


ZZZ Z d Z h2 (y) Z u2 (x,y)
f (x,y,z) dV = f (x,y,z) dz dx dy.
E c h1 (y) u1 (x,y)

Exercı́cio 4.4.5. Calcule as integrais abaixo.


Z π Z π/2 Z xz y 
(i) cos dy dx dz
π/2 z 0 z
Z 2 Z √4y−y2 Z 2−y
(ii) dx dz dy
0 0 0
ZZZ
Exemplo 4.4.6. Calcule z dV , onde E é a região no primeiro octante limitada pelo
E
plano x + y + z = 1.

É necessário entendermos a geometria desta região sólida para descrevê-la adequada-


mente, como na Equação (4.25). Note que

x = y = 0 =⇒ z = 1,
x = z = 0 =⇒ y = 1,
y = z = 0 =⇒ x = 1.

Um esboço da região sólida E se encontra na Figura 4.37.

Como x + y + z = 1 ⇐⇒ z = 1 − x − y, podemos descrever E da seguinte forma:

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (x,y) ∈ D e 0 ≤ z ≤ 1 − x − y},


131

Figura 4.37: Região sólida do Exemplo 4.4.6.

onde D é a região triangular do plano xy destacada em azul na Figura 4.37; veja também a
Figura 4.39. Temos

D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ 1 − x},

logo,
1 1−x 1−x−y 1
z=1−x−y
1−x
z 2
ZZZ Z Z Z Z Z
z dV = z dz dy dx = dy dx
E 0 0 0 0 0 2 z=0
3 y=1−x
1 1 1−x
Z 1
− −
Z Z
1 (1 x y)
= (1 − x − y)2 dy dx = − dx
2 0 0 2 0 3
y=0
 x=1
1 1 (1 − x)4
Z 
3 1 1
= (1 − x) dx = − = .
6 0 6 4
x=0 24

Figura 4.38: Região D referente à Figura 4.37.

..................................................................................... 
132

Fazemos uso da integral tripla para definir o volume de uma região sólida geral E ⊆ R3 .
Lembramos que a integral da função constante igual a 1 sobre um intervalo [a,b] ⊆ R ou
sobre uma região D ⊆ R2 fornece a medida deste domı́nio, isto é, o comprimento do intervalo
ou a área da região: Z b ZZ
dx = b − a e dA = A(D).
a D
Definimos o volume de um sólido E de maneira análoga, como a integral da função constante
1 sobre E.

Definição 4.4.7. Seja E uma região sólida de R3 . Definimos o volume de E como


ZZZ
V (E) = dV,
E

caso a integral exista.

Exercı́cio 4.4.8. Calcule o volume da região sólida E indicada na Figura 4.39, delimitada
pelo cilindro y = x2 e pelos planos z = 0 e y + z = 1.

Figura 4.39: Região sólida E do Exercı́cio 4.4.8 e região do plano xy correspondente.

Dizemos que E ⊆ R3 é uma região do tipo II se existem uma região D do plano yz e


funções u1 (y,z), u2 (y,z) contı́nuas em D tais que

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (y,z) ∈ D e u1 (y,z) ≤ x ≤ u2 (y,z)}. (4.27)

Cabe ressaltar que uma região sólida E ⊆ R3 pode ser vista como uma região do tipo I ou
do tipo II, ou ainda como uma região do tipo III, conforme veremos mais à frente; cabe a nós
133

fazer a escolha mais conveniente. No exemplo abaixo trataremos a região sólida em questão
como uma região do tipo II.
ZZZ
Exemplo 4.4.9. Calcule x2 ey dV , onde E ⊆ R3 é a região sólida limitada pela su-
E
perfı́cie z = 1 − y 2 e pelos planos z = 0, x = 1 e x = −1.

Um esboço da região sólida E pode ser encontrado na Figura 4.40. Podemos descrever
E como uma reigão sólida do tipo II:

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (y,z) ∈ D e − 1 ≤ x ≤ 1},

onde
D = {(y,z) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ z ≤ 1 − y 2 }.

Segue que
1−y 2 1−y 2
1 1 1
x=1
x3 y
ZZZ Z Z Z Z Z
2 y 2 y
x e dV = x e dx dz dy = e dz dy
E −1 0 −1 −1 0 3 x=−1
1 1−y 2
z=1−y2
2 1 y 2 1
Z Z Z Z
2 y
= e dz dy = ze dy = (1 − y 2 )ey dy.
−1 0 3 3 −1 z=0 3 −1

A integral acima pode ser feita por partes: fazendo

u = (1 − y 2 ) =⇒ du = −2ydy
dv = ey dy =⇒ v = ey ,

temos
Z 1
1 Z 1 Z 1
2 y
2 y y
(1 − y )e dy = (1 − y )e − (−2y)e dy = 0 + 2 yey dy
−1 −1 −1 −1
1
= 2 (yey − ey ) = 2 e − e − (−1)e−1 + e−1 = 4e−1 ,

−1

onde a última integral também foi feita por partes através da escolha u = y, dv = ey dy.
Segue que ZZZ
2 8
x2 ey dV = · 4e−1 = .
E 3 3e
134

Figura 4.40: Região sólida E do Exemplo 4.4.9 e região do plano yz correspondente.

..................................................................................... 

Dizemos que E ⊆ R3 é uma região do tipo III se existem uma região D do plano xz e
funções u1 (x,z), u2 (x,z) contı́nuas em D tais que

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (x,z) ∈ D e u1 (x,z) ≤ y ≤ u2 (x,z)}. (4.28)


ZZZ
Exemplo 4.4.10. Calcule x dV , onde E ⊆ R3 é a região sólida limitada pelos planos
E
x + z = 1 e y + 3z = 3.

Temos na Figura 4.41 um esboço da região sólida E. Podemos descrever E como uma
região sólida do tipo III:

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (x,z) ∈ D e 0 ≤ y ≤ 3 − 3z},

onde D é o triângulo do plano xz situado no primeira quadrante e delimitado pela reta


x + z = 1:
D = {(x,z) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1 − x}.

Logo, ZZZ ZZ Z 3−3z Z 1 Z 1−x Z 3−3z


x dV = x dy dA = x dy dz dx.
E D 0 0 0 0
135

Temos y=3−3z
Z 3−3z
x dy = x · y = 3x − 3xz.
0 y=0
Logo,  z=1−x
ZZZ Z 1 Z 1−x Z 1 
3 2
x dV = [3x − 3xz] dz dx = 3xz − xz dx,
E 0 0 0 2 z=0
isto é,
ZZZ Z 1     x=1
3 3 3 3 2 3 4 3 3 3
x dV = x − x dx = x − x = − −0= .
E 0 2 2 4 8 x=0 4 8 8
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Figura 4.41: Região sólida E do Exemplo 4.4.10.


ZZZ √
Exemplo 4.4.11. Calcule x2 + z 2 dV , onde E ⊆ R3 é a região sólida limitada pelo
E
paraboloide y = x2 + z 2 e pelo plano y = 4.

Temos na Figura 4.42 um esboço da região sólida E. Podemos descrever E como uma
região sólida do tipo III:

E = {(x,y,z) ∈ R3 : (x,z) ∈ D e x2 + z 2 ≤ y ≤ 4},

onde D é o cı́rculo obtido pela interseção do paraboloide com o plano y = 4:

D = {(x,z) ∈ R2 : x2 + z 2 ≤ 4}. (4.29)


136

Logo, ZZZ √ ZZ Z 4 √
x2 + z2 dV = x2 + z 2 dy dA.
E D x2 +z 2

A integral acima pode ser calculada através de substituições trigonométricas, mas ela é bas-
tante simplificada com o uso de coordenadas polares. Calculamos primeiramente a integral
mais interna:
ZZZ √ y=4
ZZ Z 4 √
x2 + z2 dV = x2 + z2 · y dA,
E D x2 +z 2 y=x +z 2
2

logo, ZZZ √ ZZ h √ i
x2 + z2 dV = 4 x2 + z 2 − (x2 + z 2 )3/2 dA.
E D

A região D descrita na Equação (4.29) pode ser escrita facilmente em coordenadas polares
através de x = r cos θ, z = r sen θ e

0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ r ≤ 2.

Como x2 + z 2 = r2 , segue que


ZZZ √ Z 2π Z 2 Z 2π Z 2
 2
4r − (r2 )3/2 r dr dθ =
 3
4r − r4 dr dθ,
 
2 2
x + z dV =
E 0 0 0 0

logo
ZZZ √ 2π 2  r=2 Z 2π  Z 2π
r5
Z Z  
4 32 48
x2 + z 2 dV = r − dθ = 16 − dθ = dθ.
E 0 0 5
r=0 0 5 0 5

Portanto, ZZZ √
48 96π
x2 + z 2 dV = 2π = .
E 5 5
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O Exemplo 4.4.11 foi resolvido através do uso de coordenadas polares em um dos planos
coordenados, mais precisamente no plano xz. Quando descrevemos os pontos do espaço
através de uma das coordenadas cartesianas usuais e usamos coordenadas polares para o
plano das coordenadas restantes estamos usando um sistema de coordenadas cilı́ndricas.
137

Figura 4.42: Região sólida E do Exemplo 4.4.11.

Na próxima sessão veremos como podemos calcular integrais triplas em outros sistemas de
coordenadas. Serão abordados mais diretamente os sistemas de coordenadas cilı́ndricas e
esféricas.

Exercı́cio 4.4.12. Reescreva a integral tripla que expressa o volume do sólido do Exercı́cio
4.4.8 as ordens possı́veis de integração:

(i) dz dy dx

(ii) dz dx dy

(iii) dy dz dx

(iv) dy dx dz

(v) dx dz dy

(vi) dx dy dz

Exercı́cio 4.4.13. Determine o volume das regiões sólidas abaixo.

(i) A região sólida do primeiro octante delimitada pelos plano x + z = 1 e y + 2z = 2.

(ii) A região sólida do primeiro octante delimitada pelos plano x = 4 − y 2 e y + z = 2.


138

4.5 Mudança de Coordenadas em Integrais Triplas

Podemos realizar mudanças de coordenadas em integrais triplas de maneira semelhante ao


caso de integrais duplas; veja a Seção 4.3. Seja T (u,v,w) = (x,y,z) uma transformação de
R3 em R3 :
x = x(u,v,w), y = y(u,v,w), z = z(u,v,w).

Definimos o Jacobiano de T como



∂x ∂x ∂x
∂u ∂v ∂w

∂(x,y,z)
∂y ∂y ∂y

J(u,v,w) = = . (4.30)

∂(u,v,w) ∂u ∂v ∂w
∂z ∂z ∂z
∂u ∂v ∂w

Teorema 4.5.1. Sejam T (u,v,w) = (x,y,z) uma transformação com derivadas parciais
contı́nuas e R,S regiões sólidas dos espaços xyz e uvw, respectivamente, tais que T (S) = R.
Suponha que o Jacobiano de T não se anula em S e que T é injetiva no interior de S. Se
f (x,y,z) é função contı́nua em R, então
ZZZ ZZZ
 ∂(x,y,z)
f (x,y,z) dV = f x(u,v,w), y(u,v,w), z(u,v,w) dV.
R S ∂(u,v,w)

Sistemas de coordenadas cilı́ndricas. Veremos neste texto dois tipos adicionais de


coordenadas no espaço: coordenadas cartesianas e esféricas. No sistema de coordenadas
cilı́ndricas, descrevemos a localização de um ponto P (x,y,z) do espaço mantendo uma das
coordenadas cartesianas e usando coordenadas polares no plano coordenado formado pelas
outras duas variáveis. Por exemplo, podemos usar as coordenadas (r,θ,z), onde z é sua cota
cartesiana original e r,θ são as coordenadas polares da projeção de P no plano xy. Temos
portanto
x = r cos θ, y = r sen θ, z = z,

e
y
x2 + y 2 = r 2 , tg θ = , z = z.
x
139

Veja a Figura 4.43. O Jacobiano da mudança de coordenadas cilı́ndricas é dado por



∂x ∂x ∂x
∂r ∂θ ∂z cos θ r(− sen θ) 0

∂(x,y,z) ∂y ∂y ∂y
= ∂r ∂θ ∂z = sen θ 0 = r. (4.31)

r cos θ
∂(r,θ,z)
∂z ∂z ∂z
∂r ∂θ ∂z 0 0 1

Figura 4.43: Coordenadas cilı́ndricas.

Exemplo 4.5.2. Determine o volume do sólido E no primeiro octante limitado pelo cilindro
x2 + y 2 = 4 e pelo plano z + y = 3.

Temos na Figura 4.44 um esboço do sólido E, onde o plano z + y = 3 está indicado em


vermelho. Podemos escrever a região sólida E como

E = {(r,θ,z) ∈ R3 : (r,θ) ∈ D, 0 ≤ z ≤ 3 − y},

onde D é a região indicada em rosa na Figura 4.44. Descrevemos esta região em coordenadas
polares da seguinte maneira:

D = {(r,θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ π/2}. (4.32)

Portanto, ZZZ ZZ Z 3−y ZZ


V (E) = dV = dz dA = [3 − y] dA.
E D 0 D
140

Segue da Equação 4.32 que


Z π/2 Z 2 Z π/2 Z 2
∂(x,y,z)
V (E) = [3 − r sen θ]

dr dθ =
[3r − r2 sen θ] dr dθ
0 0 ∂(r, θ,z) 0 0
Z π/2  2 3
 r=2 Z π/2  
3r r 8
= − sen θ dθ = 6 − sen θ dθ
0 2 3 r=0 0 3
  θ=π/2
8 8
= 6θ + cos θ = 3π − .
3 3 θ=0

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Figura 4.44: Sólido do Exemplo 4.5.2.

Exemplo 4.5.3. Determine o volume do sólido E limitado pelas superfı́cies z = 4, x2 +y 2 = 1


e z = 1 − x2 − y 2 .

Veja um esboço do sólido E na Figura 4.45. Note que as superfı́cies x2 + y 2 = 1 e


z = 1 − x2 − y 2 possuem equações cilı́ndricas r = 1 e z = 1 − r2 , respectivamente. Temos
que
E = {(r,θ,z) ∈ R3 : (r,θ) ∈ D, 1 − r2 ≤ z ≤ 4},

onde
D = {(r,θ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π}.

Segue da Equação (4.31) que


ZZZ Z 2π Z 1 Z 4
Z 2π Z 1 Z 4
∂(x,y,z)
V (E) = dV = dz dr dθ = rdz dr dθ,
1−r2 ∂(r,θ,z)

E 0 0 0 0 1−r2

onde Z 4
r dz = r 4 − (1 − r2 ) = 3r + r3 .

1−r2
141

Logo,
2π 1 2π  r=1 2π
3r2 r4
Z Z Z  Z  
3
3 1
V (E) = [3r + r ] dr dθ = + dθ = + dθ
0 0 0 2 4
r=0 0 2 4
Z 2π
7 7π
= dθ = .
0 4 2

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Figura 4.45: Sólido do Exemplo 4.5.3.

Exercı́cio 4.5.4. Determine o volume do sólido E limitado por z = 0, x2 + y 2 = 2y e


z = x2 + y 2 .

Sistema de coordenadas esféricas. Veremos agora um outro sistema de coordenadas


para pontos do espaço. Descrevemos a localização de um ponto P = (x,y,z) do espaço
através das coordenadas (ρ, θ, φ), onde ρ é a distância de P até a origem, φ é o ângulo entre
−→ ~
OP e k = (0,0,1) e θ é como em coordenadas cilı́ndricas. O sistema de coordenadas (ρ, θ, φ)
é dito o sistema de coordenadas esféricas.

Consideramos os intervalos ρ ≥ 0, θ ∈ [0,2π] e φ ∈ [0,π], pois esta região do espaço ρθφ é


o suficiente para descrever todos os pontos do espaço xyz. Veja as Figuras 4.47, 4.48 e 4.49.

Seja r a projeção do segmento OP no plano xy; veja a Figura 4.46. Então, assim como
142

Figura 4.46: Coordenadas esféricas.

Figura 4.47: Coordenadas ρ = ρ0 e φ = φ0 fixas, θ ∈ [0,2π].

em coordenadas cilı́ndricas, temos

x = r cos θ e y = r sen θ, (4.33)

onde
r
sen φ = =⇒ r = ρ sen φ. (4.34)
ρ
Além disso, temos
z
cos φ = =⇒ z = ρ cos φ. (4.35)
ρ
143

Figura 4.48: Coordenadas ρ = ρ0 e θ = θ0 fixas, φ ∈ [0,π].

Figura 4.49: Coordenadas θ = θ0 e φ = φ0 fixas, ρ ≥ 0.

Segue das Equações (4.33), (4.34) e (4.35) que

x = ρ sen φ cos θ,
y = ρ sen φ sen θ, (4.36)
z = ρ cos φ.
144

Note também que


−→
|OP |2 = x2 + y 2 + z 2 = ρ2 . (4.37)

Exercı́cio 4.5.5. Esboce as superfı́cies definidas pelas equações abaixo.

(i) ρ = 1.

(ii) θ = π/6.

(iii) φ = π/4.

Para facilitar o cálculo de uma integral tripla, podemos fazer uso de coordenadas esféricas
através do Teorema 4.5.1. O Jacobiano desta mudança de coordenadas é dado por

∂x ∂x ∂x
sen φ cos θ −ρ sen φ sen θ ρ cos φ cos θ

∂ρ ∂θ ∂φ
∂(x,y,z) ∂y ∂y ∂y
= = sen φ sen θ ρ sen φ cos θ ρ cos φ sen θ

∂(ρ,θ,φ) ∂u ∂v ∂w
∂z ∂z ∂z
−ρ sen φ.

∂ρ ∂θ ∂φ cos φ 0

= −ρ2 sen3 φ cos2 θ − ρ2 sen φ cos2 φ sen2 θ − ρ2 sen φ cos2 φ cos2 θ − ρ2 sen3 φ sen2 θ

= −ρ2 sen3 φ(cos2 θ + sen2 θ) − ρ2 sen φ cos2 φ(sen2 θ + cos2 θ)

= −ρ2 sen3 φ − ρ2 sen φ cos2 φ = −ρ2 sen φ(sen2 φ + cos2 φ)

= −ρ2 sen φ.

Como sen φ ≥ 0 para 0 ≤ φ ≤ π, em valor absoluto temos



∂(x,y,z) 2
∂(ρ,θ,φ) = ρ sen φ. (4.38)

Exemplo 4.5.6. Calcule o volume V de uma esfera de raio R.


RRR
Temos V = E
dV , onde

E = {(x,y,z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 ≤ R2 }.
145

Temos x2 + y 2 + z 2 = R2 se e somente se ρ2 = R2 e, como ρ é sempre não-negativo, isto é


equivalente a ρ = R. Segue que a esfera E pode ser escrita como

E = {(ρ,θ,φ) ∈ R3 : 0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ φ ≤ π, 0 ≤ ρ ≤ R}.

Logo,
2π π R Z 2π Z π Z R
Z Z Z
∂(x,y,z)
V = ∂(ρ,θ,φ) dρ dφ dθ =
ρ2 sen φdρ dφ dθ
0 0 0 0 0 0
Z 2π Z π 3 ρ=R Z 2π Z π 3
ρ R
= sen φ dφ dθ = sen φ dφ dθ
0 0 3 ρ=0 0 0 3
φ=π
R3 2π R3 2π 4πR3
Z Z

= (− cos φ) dθ = 2 dθ = .
3 0 φ=0 3 0 3

..................................................................................... 

Exemplo 4.5.7. Determine o volume V do sólido limitado inferiormente pelo cone z =


p
x2 + y 2 e superiormente pelo plano z = 1.

Veja um esboço deste sólido na Figura 4.50. Note que, para ρ 6= 0 e φ ∈ [0,π], temos em
coordenadas esféricas
p p
z= x2 + y 2 ⇐⇒ ρ cos φ = (ρ sen φ cos θ)2 + (ρ sen φ sen θ)2
p
⇐⇒ ρ cos φ = ρ2 sen2 φ(cos2 θ + sen2 θ)
p
⇐⇒ ρ cos φ = ρ2 sen2 φ ⇐⇒ ρ cos φ = ρ sen φ ⇐⇒ cos φ = sen φ.

A equação acima é válida para φ ∈ [0,π] se e somente se φ = π/4. Em outras palavras,


φ = π/4 é a equação de um cone em coordenadas esféricas. A equação do plano z = 1 é
dada por
1
z = 1 ⇐⇒ ρ cos φ = 1 ⇐⇒ ρ = .
cos φ
Segue que o sólido em questão pode ser descrito como

E = {(ρ,θ,φ) ∈ R3 : 0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ φ ≤ π/4, 0 ≤ ρ ≤ 1/ cos φ}.


146

Então,
2π π/4 1/ cos φ 2π π/4
ρ=1/ cos φ
ρ3
ZZZ Z Z Z Z Z
2

V = dV = ρ sen φ dρ dφ dθ = sen φ dφ dθ
E 0 0 0 0 0 3 ρ=0
Z 2π Z π/4
1 1
= sen φ dφ dθ.
3 0 0 cos3 φ
Fazendo a substituição u = cos φ na integral iterada acima temos
φ=π/4
1 2π 1 2π 1 2π
Z Z   Z
1 1 1 π
V = 2
dθ = √ − 2 dθ = [2 − 1] dθ = .
3 0 2 cos φ φ=0 6 0 ( 2/2) 2 1 6 0 3

Figura 4.50: Sólido do Exemplo 4.5.7.

..................................................................................... 

Exemplo 4.5.8. Determine o volume do sólido localizado no primeiro octante e limitado


p
inferiormente e superiormente pelas superfı́cies z = x2 + y 2 e x2 + y 2 + z 2 = z, respectiva-
mente.
p
Vimos no Exemplo 4.5.7 que z = x2 + y 2 define um cone no espaço cuja equação em
coordenadas esféricas é φ = π/4. Completamos quadrados a fim de entender a geometria
desta superfı́cie:
1 1
x2 + y 2 + z 2 = z ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 − z = 0 ⇐⇒ x2 + y 2 + z 2 − z + =
4 4
 2
1 1
⇐⇒ x2 + y 2 + z − = .
2 4
147

Logo a equação x2 +y 2 +z 2 = z define uma esfera de centro (0,0,1/2) e raio 1/2; note que esta
esfera tangencia o plano xy na origem. Devemos determinar sua equação em coordenadas
esféricas: para ρ > 0 temos

x2 + y 2 + z 2 = z ⇐⇒ ρ2 = ρ cos φ ⇐⇒ ρ = cos φ.

Segue que o sólido em questão é dado por

E = {(ρ,θ,φ) ∈ R3 : 0 ≤ θ ≤ π/2, 0 ≤ φ ≤ π/4, 0 ≤ ρ ≤ cos φ}.

Portanto,
π/2 π/4 cos φ π/2 π/4
ρ=cos φ
ρ3
ZZZ Z Z Z Z Z
2

V = dV = ρ sen φ dρ dφ dθ = sen φ dφ dθ
E 0 0 0 0 0 3 ρ=0
Z π/2 Z π/4
1
= cos3 φ sen φ dφ dθ.
3 0 0

Fazendo a substituição u = cos φ na integral iterada acima temos


π/2
φ=π/4 Z π/2  √ 4
cos4 φ
Z 
1 1 4
V = − dθ = − 2/2 + 1 dθ
3 0 4 φ=0 12 0
Z π/2  
1 1 1 3 π π
= − + 1 dθ = · · = .
12 0 4 12 4 2 32

..................................................................................... 

Exercı́cio 4.5.9. Determine o volume do sólido limitado superiormente pela superfı́cie z =


p
x2 + y 2 e inferiormente por ρ = 2 cos φ.
148

Figura 4.51: Sólido do Exemplo 4.5.8.


Apêndice A

Topologia de Rn

Nesta seção estudaremos os conceitos básicos de topologia de conjuntos de R2 e R3 . A


necessidade de tal estudo pode ser justificada ao lembrarmos do seguinte teorema sobre
funções de uma variável: se f (x) é função contı́nua em [a,b], então existem x0 , x1 em [a,b]
tais que f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ) para todo x ∈ [a,b]. Para a garantia da existência de máximo
e mı́nimo de f em [a,b], é necessário que f seja contı́nua e que o intervalo em questão
seja fechado. Na Figura A.1 temos o gráfico da função f (x) = 1/x. Quando analisamos
esta função no intervalo fechado [1,2], como f é contı́nua em [1,2], temos os pontos C e D
representando o máximo e o mı́nimo da função neste intervalo, respectivamente. Entretanto,
se consideramos o intervalo (0,1] ou (0,1), a função f não possuirá mais pontos de máximo.
Isto ocorre devido ao fato de que nenhum destes intervalos é fechado.

Conforme vimos nas Seções 1.1 e 1.2, o domı́nio de uma função de duas ou três variáveis é
um conjunto de R2 ou de R3 , respectivamente. Conjuntos fechados também desempenharão
um papel importante na busca por máximos e mı́nimos de funções de várias variáveis. Ao
estudo de conjuntos abertos e fechados damos o nome de topologia.

O conceito fundamental no estudo da topologia de Rn é a distância entre dos pontos, de

149
150

C
1
D
0
3 2 1 0 1 2 3 4 5 6
f
1

Figura A.1: Gráfico da função f (x) = 1/x.

modo que as definições que apresentamos abaixo para conjuntos de R2 podem ser adaptadas
prontamente para espaços de dimensão n 6= 2, como R ou R3 ; basta interpretar corretamente
o significado do conceito de distância em cada espaço.

Definição A.1. Sejam P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2 ) pontos de R2 . Definimos a distância


destes pontos como
p
|P1 − P2 | = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 .

Denotaremos a distância de dois pontos P1 , P2 também por d(P1 , P2 ).

Com exceção de conjuntos triviais como o conjunto vazio ou um conjunto unitário, um


dos conjuntos mais simples de R2 é um disco. Definimos um disco a partir da noção básica
de que uma circunferência é lugar geométrico dos pontos a uma distância fixa de seu centro.
Mais precisamente, a circunferência de raio r e centro P0 de R2 pode ser descrita como
{P ∈ R2 : |P − P0 | = r}. Um disco fechado de R2 é um conjunto que contém a fronteira de
uma circunferência assim como seu interior. Um disco aberto é um conjunto que contém o
interior de uma circunferência, mas não a circunferência propriamente dita.

Definição A.2. Sejam P0 um ponto de R2 e r > 0. Definimos o disco fechado de R2 de


151

centro P0 e raio r como o conjunto

B(P0 , r) = {P ∈ R2 : |P − P0 | ≤ r}.

O disco aberto de R2 de centro P0 e raio r é definido como o conjunto

B(P0 , r) = {P ∈ R2 : |P − P0 | < r}.

Figura A.2: Disco fechado. Figura A.3: Disco aberto.

Exercı́cio A.3. Considere o ponto P0 = (1,2). Determine se as afirmações abaixo são


verdadeiras ou falsas, justificando.

(a) (3,4) ∈/ B(P0 ,2)


 
3
(b) , 3 ∈ B(P0 ,2)
2
√ !
3 4+ 3
(c) , ∈ B(P0 ,2)
2 2
√ !
3 4+ 3
(d) , ∈ B(P0 ,2)
2 2

Como mencionado acima, basta interpretar corretamente o conceito de distância que as


definições e teoremas apresentados nesta seção sejam válidos para Rn , n ≥ 1. Daremos
destaque não só a de conjuntos do plano mas também a conjuntos da reta, já que este espaço
nos é bastante familiar. O disco aberta de R2 de centro P consiste do conjunto de pontos
152

do plano a distância menor que r de P ; o conceito análogo de R é o conjunto de pontos a


distância menor que r de um número a, ou seja, o intervalo (a − r, a + r). Analogamente,
discos fechados de centro P e raio r correspondem a intervalos da forma [a − r, a + r].

A seguir apresentamos os conceitos de ponto interior e ponto de fronteira de um conjunto.


Tome o exemplo do intervalo [0,1]: ambos os pontos 0 e 1/2 pertencem ao intervalo [0,1],
mas o ponto 0 intuitivamente pertence à fronteira deste conjunto, enquanto o ponto 1/2 não.
O ponto 0 é ponto de fronteira de [0,1] e o ponto 1/2 é ponto interior a [0,1].

Definição A.4. Seja A um conjunto de R2 .

(i) Dizemos que P é ponto interior a A se existe r > 0 tal que B(P,r) ⊆ A.

(ii) Dizemos que P é ponto exterior a A se existe r > 0 tal que B(P,r) ∩ A = ∅.

(iii) Dizemos que P é ponto de fronteira de A se P não é ponto interior ou exterior a A.

Figura A.4: Pontos interior, exterior e de fronteira de um conjunto.

É possı́vel provar que P é um ponto de fronteira de A se e somente se para todo r > 0 o


disco B(P,r) contém pontos de A e seu complementar R2 − A.

Cabe ressaltar que P é dito um ponto interior a A se existe um disco centro em P que
está contido em A. Não é necessário que todos os discos centrados em P estejam contidos
em A; basta que um deles esteja e a definição de ponto interior estará assim satisfeita. Veja
a Figura A.5.
153

Figura A.5: Ponto interior a um conjunto.

A partir das definições acima, que tratam da natureza de um ponto em relação a um


conjunto, definimos o que são conjuntos abertos e fechados.

Definição A.5. Seja A um conjunto de R2 . O interior de A, denotado por int A, é definido


como o conjunto de pontos interiores a A:

int A = {P ∈ R2 : P é ponto interior a A}.

Dizemos que A é um conjunto aberto se todo ponto de A é interior a A, isto é, se int A = A.

Podemos entender a definição acima analisando conjuntos já bastante familiares: inter-
valos abertos e fechados de R. O intervalo A = [0,1] não é, intuitivamente, aberto. A
definição acima solidifica esta intuição. O ponto 0 não é ponto interior a A, pois nenhum
intervalo aberto centrado em 0 está contido em A. Seguindo este raciocı́nio é possı́vel provar
que int A = (0,1). Logo, como int A 6= A, este intervalo não é aberto. Por outro lado, o
intervalo (0,1) é aberto, pois todo ponto de (0,1) é interior a ele.

Definição A.6. Seja A um conjunto de R2 . A fronteira de A, denotada por ∂A, é definida


como o conjunto de pontos de fronteira de A:

∂A = {P ∈ R2 : P é ponto de fronteira de A}.

Dizemos que A é um conjunto fechado se A contém todos os seus pontos de fronteira, isto é,
se ∂A ⊆ A.

Novamente buscamos entender a definição acima através do exemplo de intervalos em R.


154

Considere o intervalo A = [0,1]. Os pontos de fronteira de A são 0 e 1, isto é, ∂A = {0,1}.


Como A contém todos os seus pontos de fronteira, segue que A é de fato um intervalo fechado.
Já o intervalo (0,1) não é fechado, pois ele não contém seus pontos de fronteira: 0 e 1.

.Obs: Cuidado! Existem conjuntos que não são nem abertos nem fechados, como é o caso do
intervalo [0,1) em R. Existem também conjuntos que são abertos e fechados simultaneamente.
Veja o exercı́cio abaixo. Portanto, se você já determinou que um conjunto não é aberto, não é
verdade que este conjunto é necessariamente fechado. É necessário verificar ambas Definições
A.5 e A.6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . /

Definição A.7. Seja A um conjunto de R2 . O exterior de A, denotado por ext A, é definido


como o conjunto de pontos exteriores a A:

ext A = {P ∈ R2 : P é ponto exterior a A}.

O conceito de exterior de um conjunto pode ajudar a consolidar o entendimento do


interior e fronteira de um conjunto devido ao seguinte resultado.

Teorema A.8. Seja A um conjunto de R2 . Então o interior, a fronteira e o exterior de A


são conjuntos dois a dois disjuntos (interseção vazia) tais que

int A ∪ ∂A ∪ ext A = R2 .
  

Exercı́cio A.9. Para cada um dos conjuntos abaixo, determine e esboce seu interior e sua
fronteira. Determine também se os conjuntos são abertos e/ou fechados.

(a) A1 = {(x,y) ∈ R2 : 1 ≤ x ≤ 2, 1 ≤ y ≤ 2}

(b) A2 = {(x,y) ∈ R2 : 1 < x < 2, 1 < y < 2}

(c) A3 = {(x,y) ∈ R2 : 1 ≤ x ≤ 2, 1 < y < 2}

(d) A4 = R2
155

(e) A5 = {(1,1)}

Definição A.10. Seja A um conjunto de R2 . Dizemos que P ∈ R2 é um ponto de acumulação


de A se, para todo r > 0, o disco B(P,r) contém um ponto de A distinto de P .

Pontos de acumulação são fundamentais para a definição do conceito de limite. Veja o


exemplo ilustrado na Figura A.6, onde o domı́nio da função está destacado em vermelho.
O ponto x = −5 não é um ponto de acumulação da função ilustrada. Apesar da função
possuir uma descontinuidade no ponto x = 1, é natural pensar em limites laterais e no limite
absoluto de f (x) à medida que x se aproxima de 1. A discussão de qualquer tipo de limite
de f (x) quando x se aproxima de x = −5 não faz sentido.

Figura A.6: Ponto isolado em x = −5.

Observamos que um ponto de acumulação de A pode pertencer ou não a A.

Exemplo A.11. Considere o conjunto A = {(x,y) ∈ R2 : x > 1}. O ponto (1,2) é ponto de
acumulação de A, mas (1,2) ∈
/ A. Veja a Figura A.7.

..................................................................................... 

Exercı́cio A.12. Determine o interior, a fronteira e o exterior do conjunto A do Exemplo


A.11.

O teorema abaixo fornece uma caracterização de pontos de acumulação. Isto significa


156

Figura A.7: Conjunto A e ponto de acumulação de A.

que você pode usar a condição da Definição A.10 ou a condição do teorema abaixo como
definição de ponto de acumulação; adote aquele com que você se sente mais à vontade.

Teorema A.13. Seja A um conjunto de R2 . Um ponto P ∈ R2 é ponto de acumulação de


A se e somente se para todo r > 0 o disco B(P,r) contém infinitos pontos de A.

Por fim, apresentamos a definição de conjunto limitado. Este conceito é importante no


contexto de máximos e mı́nimos de funções contı́nuas, discutido no começo desta seção. Uma
função contı́nua de uma variável f (x) admite máximo e mı́nimo em um intervalo fechado
desde que este intervalo seja limitado. Por exemplo, a função f (x) = x é contı́nua no intervalo
[1, +∞) mas não admite ponto de máximo neste intervalo. Veja a Figura A.8 Veremos que
este intervalo não é limitado com a definição abaixo.

Figura A.8: Gráfico da função f (x) = x com domı́nio [1, +∞).

Definição A.14. Dizemos que um conjunto A de R2 é limitado se existe r > 0 tal que A
157

está contido no disco de raio r e centro na origem O = (0,0):

A ⊆ B(O,r).

Mencionamos acima que basta adaptar o conceito de distância em espaços de dimensão


maior para que as definições e teoremas desta seção se apliquem nestes espaços. Definimos
abaixo precisamente a distância entre dois pontos de Rn .

Definição A.15. Sejam P = (x1 , . . . , xn ) e Q = (y1 , . . . , yn ) pontos de Rn . Definimos a


distância destes pontos como
p
|P − Q| = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + · · · + (xn − yn )2 .

Em particular, a distância entre dois pontos P = (x1 , y1 , z1 ) e Q = (x2 , y2 , z2 ) é dada por


p
|P − Q| = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 + (z1 − z2 )2 .

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