Sei sulla pagina 1di 7

1 2

Publicado no 5º. Seminário Sobre Sustentabilidade – UNIFAE/Nov/2010 ações dos gestores privados.
A CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO COMO FATOR DE Nesse sentido, a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei complementar n°
ACCOUNTABILITY E DISCLOSURE NA SUSTENTABILIDADE DA GESTÃO PÚBLICA 101/2000) regula os limites da atuação pública, tendo como objetivo fortalecer os principais
eixos da administração pública, que, segundo Santos (2002, apud SLOMSKI, 2008, p. 174)
Antonio Gonçalves de Oliveira (UTFPR) - Agoliveira@utfpr.edu.br
são: o planejamento, a transparência, o controle e a responsabilidade na gestão dos
Hilda Alberton de Carvalho (UTFPR) – Hilda@utfpr.edu.br
recursos públicos e prestação de contas.
Dayanne Peretti Corrêa (UTFPR)* - dayanne@brturbo.com.br Consoante, a Contabilidade na qualidade de Ciência Social Aplicada com
* Bolsista Iniciação Científica – UTFPR/Fundação Araucária metodologia especialmente concebida para captar, registrar, acumular, resumir e interpretar
RESUMO os fenômenos que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer
ente ([...] mesmo pessoa de Direito Público, tais como: Estado, Município, União, Autarquia
O Princípio da Continuidade numa visão contábil-financeira aplicado às organizações
etc.) tem um campo de atuação muito amplo.
empresariais pressupõe sua sustentabilidade em direção à perpetuidade influenciando e
No que se refere às pessoas de Direito Público, destacam-se em FEA/USP (2006,
assegurando aos investidores o retorno de seus investimentos. Na Administração Pública
p. 22-24), dentre os grupos de “pessoas” e de “interesses” que necessitam da informação
não é diferente, destacando-se a existência do Princípio da Continuidade do Estado. Tal
contábil, o Governo e os Economistas Governamentais, os quais têm duplo interesse nas
princípio descreve o Estado como sociedade política que, assim como a empresa, deve ser
informações contábeis, haja vista estas subsidiarem o exercício do poder de tributar dos
perene e sustentável visando sempre à promoção do bem comum e o desenvolvimento de
estados (em sentido lato) e, até mesmo, contribuirem com a fundamentação sustentável de
seu povo. Consoante a contribuição esperada, este trabalho tem por objetivo discutir a
políticas públicas voltadas ao bem estar da sociedade.
importância da Contabilidade Aplicada ao Setor Público como ferramenta útil à efetividade
Da mesma forma, Horngren (2004, p. 4) convergente à visão de Marion (2010, p.
da Governança e da Governabilidade Públicas aderentes à uma visão de sustentabilidade
145) contribui com a discussão destacando a importância da Contabilidade na tomada de
aplicável à Gestão do Estado. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica e
decisão descrevendo que “[...] o objetivo básico da informação contábil é ajudar alguém a
exploratória e a observação teórico-empírica sobre a aderência da disclosure
tomar decisões”. Não obstante, Independentemente de quem tome a decisão, o
(transparência) e da accountability (responsabilidade social de prestar contas à sociedade) à
entendimento da informação contábil propicia que esta seja melhor, segura e mais bem
Gestão Pública. Como resultados foi possível constatar uma forte interrelação entre os
fundamentada. Desta forma, destaca-se o atendimento a um dos princípios fundamentais da
termos, haja vista a Contabilidade evidenciar os resultados e as ações dos governos a partir
governança (neste caso a governança pública), a prestação de contas (accountability) que
da governança (o meio/o como) relacionada com a governabilidade (poder e ações políticas)
segue em linha articulada com os demais, que também são de suma importância para a
e também que ambas são orientadas para a sustentabilidade do Estado. Sobre a
gestão do bem público: transparência (disclosure), equidade e responsabilidade. Para
sustentabilidade do Estado, constatou-se ainda que esta é mais abrangente que o próprio
Marques apud Slomski (2008, p. 51) o atendimento articulado a esta principiologia é um
termo sustentabilidade, o qual em muitas das vezes é reduzido à visão eco-ambiental e não
grande desafio para o setor público.
considera importantes variáveis de cunho financeiro (equilíbrio) e econômico-sociais
De forma stricto Mota (2009) alinhado à visão de Kohama (2006) e Slomski (2005)
inerentes à função social do Estado.
contribui com a temática, destacando que a Contabilidade das entidades do setor público
Palavras-chave: accountability; disclosure; governança; governabilidade; sustentabilidade. tem como função principal estudar, registrar, controlar e evidenciar o patrimônio e suas
variações. Nesse sentido, essa tarefa impõe o emprego de um grande número de técnicas e
procedimentos contábeis que a transforma numa complexa ramificação da Ciência Contábil.
INTRODUÇÃO
Também, a Contabilidade Aplicada ao Setor Público está sujeita ainda ao
A Gestão Pública tem seus alicerces fixados nos princípios da legalidade, que é
cumprimento de normas legais que contemplam exigências destinadas a efetuação de
imperativo em relação às ações dos gestores públicos, determinando que somente se pode
controle sobre o orçamento público e sobre os atos praticados pelos administradores, que
fazer aquilo que está descrito em lei e não aquilo que a lei não veda, como aplicável às
possam apresentar reflexos no patrimônio. Para Mota (2009), neste cenário se enquadram
3 4

também os princípios do Direito Financeiro. continuidade e perpetuidade do Estado em busca do bem comum de seu povo.
Tendo em vista o setor público ser totalmente regulado, observados os princípios O quarto bloco do estudo versa sobre os procedimentos metodológicos
gerais do Direito, principalmente do Direito Administrativo, a Lei 4.320/64 é a norma em empregados no ensaio, reconhecendo as limitações dos métodos, ligando-se de imediato à
vigor de maior importância no que tange à definição de procedimentos específicos para a quinta seção que sugere novos estudos acerca da temática tratada neste estudo,
Contabilidade das entidades do setor público (disclosure). Frise-se que há também destacando-a como um fértil campo a ser explorado. Por fim, as considerações finais
exigências contempladas na Lei Complementar 101/00 (a propalada Lei de confirmam o saudável imbricamento entre os termos estudados aplicados à gestão pública
Responsabilidade Fiscal), bem como em outras leis e atos normativos, tais como: Decretos, numa visão contributiva para a sustentabilidade do Estado.
Portarias e Instruções Normativas.
Ainda, também o órgão regulador e fiscalizador do exercício da profissão contábil - 1. A CONTABILIDADE COMO SISTEMA DE INFORMAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) “legisla” sobre o emprego da Ciência Contábil no A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a
Setor Público. Nesse sentido, referido Conselho editou a Resolução CFC-1.111/07 prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira,
especialmente para tratar dos Princípios Fundamentais de Contabilidade na perspectiva do física e de produtividade, com relação à entidade objeto de contabilização. Os objetivos da
setor público e, mais recentemente, disponibilizou à comunidade contábil as Normas Contabilidade, pois, devem ser aderentes, de alguma forma explícita ou implícita, àquilo que
Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público – NBCASP, as quais estão o usuário considera como elementos importantes para seu processo decisório (PADOVEZE,
estabelecidas em um conjunto de dez resoluções (CFC-1.128/2008 a 1.137/2008). 2004, p. 51-52).
Consoante, o objetivo deste trabalho é discutir a importância da Contabilidade Concernente à Contabilidade Aplicada ao Setor Público, coloquialmente chamada
Aplicada ao Setor Público como ferramenta útil à efetividade da Governança e da de Contabilidade Pública, Kohama (2010, p.25) a destaca como sendo “o ramo da
Governabilidade Públicas aderentes à uma visão de sustentabilidade aplicável à Gestão do Contabilidade que estuda, orienta, controla e demonstra a organização e execução da
Estado. Fazenda Pública; o patrimônio público e suas variações”.
Destarte, o estudo conforme proposto justifica-se por vir se somar às fontes de Consoante, a Contabilidade Pública é um dos ramos mais complexos da ciência
contribuição para desenvolvimento do conhecimento na área de referência (Gestão e contábil e tem por objetivo captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos
Governanança Públicas), haja vista a valorização dos princípios relacionados à que afetam as situações orçamentárias, financeiras e patrimoniais das entidades de direito
transparência, equidade, prestação de contas, responsabilidade social e continuidade do público interno, ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios e respectivas
estado visando ao desenvolvimento do Estado (em sentido lato) e de seu povo. autarquias (KOHAMA, 2010, p. 25-26), atuando sobre os sistemas: orçamentário; financeiro;
Nesse sentido, consoante o objetivo e justificativa deste estudo, o mesmo não tem patrimonial; e de compensação.
como pretensão de esgotar o assunto que “habita” fértil campo para futuros estudos. De forma convergente e complementarmente à visão de Kohama (2005), Mota
Nesse sentido, respeitadas as limitações em busca do atingimento do objetivo (2009, p. 222) destaca que “para se conceituar bem a Contabilidade Pública é necessário
proposto, consoante a metodologia empregada, este trabalho é dividido em sete conhecer todos os dispositivos legais pertinentes, com destaque para a Lei 4.320/1964”.
“blocos/seções” incluindo esta introdução. Assim, para o autor
A primeira parte discorre sobre a importância da Contabilidade como Sistema de
a Contabilidade Pública é o ramo da Ciência Contábil que aplica na Administração
Informação na Gestão Pública, mostrando que a Contabilidade enquanto ciência pode
Pública as técnicas de registro dos atos e fatos administrativos, apurando resultados
também ser entendida como um fértil banco de dados que podem ser transformados em e elaborando relatórios periódicos, levando em conta as normas de Direito
informações úteis ao processo de decisão a partir das ações de planejamento e controle. Financeiro (...), os princípios gerais de finanças públicas e os princípios da
Contabilidade.
A segunda seção situa o sistema de informação contábil no ambiente da gestão
pública, definindo os limites inical e final para o seu efetivo emprego. Na terçeira seção é Nota-se a partir da intepretação dos artigos 29 e 89 da referida Lei que a
discutida a interrelação entre o Estado enquanto ente político-social, a governança enquanto Contabilidade (nesse caso a pública) é encarregada de acompanhar a execução da receita
meio, a governabilidade enquanto poder político e a sustentabilidade como princípio da orçamentária, nos termos de sua exegese descrevendo que “caberá aos órgãos de
5 6

Contabilidade... organizar demonstrações mensais da receita arrecadada para servirem de em conta que todas as áreas do conhecimento geram informações.
base à estimativa da receita, na proposta orçamentária...” e também que “a Contabilidade A Contabilidade, além de gerar informações, permite explicar os fenômenos
evidenciará os fatos ligados à administração orçamentária, financeira, patrimonial e patrimoniais, construir modelos de prosperidade, efetuar análises, controlar, servindo também
industrial”. para prever e projetar exercícios seguintes, entre tantas outras funções. Nesse contexto
Também, em atendimento a Lei 4.320/64 em destaque, Mota (2009, p. 223) mostra está inserida a prestação de contas à sociedade (accountability) – responsabilidade social –
que de forma transparente, tempestiva e intelegível (disclosure).
Do ponto de vista sistêmico, a Contabilidade está integrada com o meio ambiente.
a Contabilidade Pública registra a previsão da receita e a fixação da despesa
Dessa forma, fica evidenciada a visão da Contabilidade como um sistema aberto, ou seja,
estabelecidas no orçamento público aprovado para o exercício, escritura a execução
orçamentária, faz a comparação entre a previsão e a realização das receitas e que não depende somente das informações internas, mas da ligação e filtragem de
despesas, revela as variações patrimoniais, demonstra o valor do patrimônio e informações externas à entidade.
controla: as operações de crédito; a dívida ativa; os créditos; e as obrigações (...).
Sobre visão sistêmica aplicada à Contabilidade, elevando-a à situação de sistema,
De conformidade com o artigo 85 da Lei 4.320/64, a Contabilidade será organizada Kroetz et al. (1998) mencionam que
de modo a permitir: o acompanhamento da execução orçamentária; o conhecimento
da composição patrimonial; a determinação dos custos dos serviços industriais; o
é de todos conhecida a similitude entre a empresa e um organismo vivo. Neste
levantamento dos balanços gerais; e a análise e interpretação dos resultados
organismo, podemos distinguir um cérebro, encarregado das decisões; os membros,
econômicos e financeiros.
encarregados da ação; o sistema nervoso, que se incumbe de transmitir o comando
do cérebro para os membros e as informações dos sentidos para o cérebro.
Desta forma “(..) a Contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação
de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem Partindo desse enfoque organizacional extensivo às organizações públicas e as
ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados” (artigo 83 da Lei 4.320/64). entidades políticas do Estado, por analogia, visualiza-se a Contabilidade Aplicada ao Setor
Além da Lei 4.320/64 em comento, frise-se e destaque-se que também para as Público (Contabilidade Pública) como um sistema nervoso que serve de elo de ligação entre
Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBCASP) editadas pelo a Administração (o poder decisório em nível político e de planejamento) e as áreas de
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) por meio das Resoluções n° 1.128 a 1.137/2008, execução, e vice-versa. Na realidade existe uma dependência das partes, uma vez que
a “Contabilidade Aplicada ao Setor Público é o ramo da ciência contábil que aplica, no todas estão ligadas intencionalmente para manter o organismo em funcionamento.
processo gerador de informações, os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Assim, não basta ter um bom sistema nervoso se o cérebro não responde aos
normas contábeis direcionadas ao controle patrimonial de entidades do setor público”. estímulos e vice-versa. O serviço público, para sua funcionalidade, depende de uma boa
Quanto ao objeto da Contabilidade enquanto ciência, não obstante no setor privado administração, assessorada pela Contabilidade Pública como fonte de informações úteis aos
a doutrina expressamente o definir como sendo o patrimônio (privado), assim também o é processos de gestão, destacando-se a necessidade de utilização, por parte dos gestores,
no caso da Administração Pública, expandindo-o ao nível de patrimônio público que das informações produzidas pelo sistema de informação contábil.
exegéticamente é definido pela Resolução CFC n° 1.1 29/2008 como sendo
2. AMBIÊNCIA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL APLICADO AO SETOR
o conjunto de direitos e bens, tangíveis ou intangíveis, onerados ou não, adquiridos,
PÙBLICO
formados, produzidos, recebidos, mantidos ou utilizados pelas entidades do setor
público, que seja portador ou represente um fluxo de benefícios, presente ou futuro, A Contabilidade Aplicada ao Setor Público pode ser entendida, na prática, como um
inerente à prestação de serviços públicos ou à exploração econômica por entidades subsistema dentro do macrosistema (Administração Pública – o Estado). Este, por sua vez,
do setor público e suas obrigações. (MOTA. 2009, p. 223)
integra um sistema maior, que é o sistema ambiental.
Sendo um dos objetivos da Contabilidade fornecer informações sobre as mutações Entende-se como usuário das demonstrações fornecidas pelo sistema de
que ocorrem no patrimônio das entidades (públicas e privadas), não se deve considerar a informação contábil toda pessoa física ou jurídica que tenha interesse na avaliação da
Ciência Contábil, como muitos fazem, como mero instrumento de informação. Há que se levar situação e do progresso de determinada entidade, seja ela uma empresa ou um ente
7 8

público.
É nessa perspectiva que se aborda a Contabilidade Aplicada ao Setor Público e o Não obstante a compreensão da importância da Contabilidade como fonte útil de
ambiente, isto é, de que forma ela contribui para o ambiente global e de que maneira capta informações para o processo de planejamento, controle e decisão, a atuação da
os inputs externos para processá-los e transformá-los em informações úteis ao processo de Contabilidade Aplicada ao Setor Público depende das ações do Estado numa filosofia de
tomada de decisões. governança pública vinculada a ação política da governabilidade visando à sustentabilidade.
Usando o enfoque sistêmico, frise-se que o ambiente interfere diretamente nas A próxima sessão permite a compreensão e a importância dos temas em comento.
variações patrimoniais (públicas e privadas), que são registradas e estudadas pela
Contabilidade. Exemplificando, é possível dizer que parte das ações governamentais causa 3. ESTADO, GOVERNANÇA, GOVERNABILIDADE E SUSTENTABILIDADE
mutações no patrimônio, e ainda, que eventos naturais podem causar danos a esse mesmo O Estado (DALLARI apud CRUZ, MARQUES & ARACELI, 2009), “é uma ordem
patrimônio, o que deve ser registrado e evidenciado pela Contabilidade.
jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado
Recebendo e processando dados internos e externos, cabe à Contabilidade pública território”, daí então a finalidade precípua do surgimento do Estado na visão de Dallari: o
cumprir sua responsabilidade social (accountability), informando à sociedade e
bem comum.
demonstrando como as ações administrativas podem interferir no sistema global
Consoante as autoras destacam que
(disclosure).
Desse modo, sendo um sistema que está inserido no sistema maior, e tendo o setor (...) de um modo geral, as pessoas costumam acreditar que o Estado existe para
promover o bem comum, para garantir que as pessoas tenham acesso a direitos
público um nível de relacionamento entre os ambientes interno e externo (OLIVEIRA, 2004,
básicos definidos na constituição de cada território, para assegurar ainda que
p.53-55; NAKAGAWA, 1993, p.24; e PADOVEZE, 2000, p.32), o sistema de informação interesses privados não se sobreponham ao interesse público.
contábil, por analogia, assume o mesmo relacionamento.
Ratificando a expectativa das pessoas (povo de um determinado território
Isso significa que o sistema de informação contábil se estende até as fronteiras do
soberano), em especial no Brasil, a Carta Magna da República, imperativa fonte primária
setor público que de forma análoga ao “sistema empresa” descrito por (RICCIO, 1989, p.62),
(originária) de nosso ordenamento jurídico, regula que o Estado brasileiro tem por
tem como limites inicial: a ocorrência de qualquer transação que resulte em alteração do
finalidades precípuas assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
patrimônio público, ou seja, qualquer ato praticado pela administração que seja passível de
segurança, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça elevando-os ao nível de
valorização monetária e, portanto, passível de ser registrado e controlado pela Contabilidade
valores supremos da sociedade.
e, como final: sempre que alguma decisão, seja em nível operacional, tático ou estratégico,
Destarte, para (CRUZ, MONTEIRO & ARACELI, 2009) convergentes à visão de
tenha que ser tomada, e que decorra daí qualquer alteração no patrimônio abrangido.
Botelho (2004, p. 36), “a ação do Estado para o suprimento das demandas da coletividade
Consoante, a figura 1 graficamente mostra os limites do sistema de informação contábil
está condicionada à disponibilidade de recursos públicos”. É aí que a Contabilidade ganha
aplicado ao setor público.
força como instrumento util ao processo de gestão em nível de governança, governabilidade
Figura 1 – Limites do Sistema de Informação Contábil
e sustentabilidade públicas, haja vista atuar, conforme já demonstrado, sobre o Orçamento
Público (elaboração, execução, controle e avaliação), que é o instrumento utilizado para
definir a quantidade e destinação dos recursos do Estado.
Para promover o bem comum de seus entes, o Estado necessariamente pratica
ações executivas e políticas de governo, com destaque para a governança e
governabilidade atualmente em estudo numa visão contemporânea da gestão pública como
“nova Gestão Pública”, ou New Public Management (NPM) que pressupõe administrar o
setor público à luz dos modelos de gestão aplicados na iniciativa privada consoante os
conceitos de gestão estratégica e, até, empreendedorismo (visando ao empreendedorismo
FONTE: Os autores
9 10

público, ainda incipiente). diz respeito às “condições sistêmicas e institucionais sob as quais se dá o exercício

Sobre Governança Pública (KISSLER, HEIDEMANN, 2006), referenciando o debate do poder, tais como as características do sistema político, a forma de governo, as
relações entre os Poderes, o sistema de intermediação de interesses” (Santos,
atual acerca da modernização do setor público alemão, destacam que esta “tornou-se um 1997, p. 342).
conceito-chave que todos o utilizam sem saber extamente o que é, e também que
Destarte, há uma interrelação imbricada entre a Contabilidade Pública, a
(...) seu significado original continha um entendimento associado ao debate político- governança e a governabilidade convergindo para um ponto focal representado pelo bem
desenvolvimentista, no qual o termo era usado para referir-se a políticas de comum do povo. Assim, nota-se que o estado em suas ações políticas (governabilidade) e
desenvolvimento que se orientavam por determinados pressupostos sobre
executivas-operacionais – o meio/ o como (governança) deve agir vislumbrando a essência
elementos estruturais – como gestão, responsabilidades, transparência e legalidade
do setor público – considerados necessários ao desenvolvimento de todas as do princípio da continuidade, seja na visão contábil, ou mesmo numa visão estatal
sociedades (pelo menos de acordo com os modelos idealizados por organizações substantiva relacionada à continuidade do estado em prol do seu povo.
internacionais como a Organização das Nações Unidas [ONU] ou a Organization for
European Cooperation and Development [OECD].
O atendimento ao princípio da continuidade do estado está diretamente relacionado
à visão de sustenatbilidade pública. Nesse contexto, este estudo vê a sustentabilidade como
Não obstante, trazendo a discussão para o setor público brasileiro, (FONSECA,
algo de maior espectro que a visão eco-ambiental, uma vez que no setor público,
BURSZTYN, 2009) de forma aderente à visão de Kissler e Heidmann (2006), entendem a
substantivamente, há que se contemplar além das variáveis ambientais, também aquelas
governaça pública como sendo “um termo-chave na implantação de políticas ambientais e
relacionadas à legalidade, às finanças públicas (saúde financeira) e às políticas econômico-
de desenvolvimento” e que
sociais.

(...) o fortalecimento da governança representa uma possibilidade de estabelecer um


Desta forma, para se falar em sustentabilidade pública, há que se (des)considerar
processo político mais abrangente, eficiente e justo. A idéia de governaça promove o os modismos e os free-riders discursivos, os quais, para Fonseca & Bursztyn (2009), são
pluralismo político (McFarland, 2007), a eficiência e a transparência nas escolhas e
aqueles que reproduzem o “bom” discurso da governança e da sustentabilidade sem
decisões públicas, visando incluir uma ampla gama de atores sociais e processos.
precisar seguí-los na prática, o que amplia a distância entre o discurso e a realidade nas
Nessa mesma direção de entendimentos, os autores trazem ao plano a relevante questões relacionadas à gestão pública.
visão de Grindle (2004) para quem, numa abordagem mais substantiva Assim a sustentabilidade pública pode ser entendida como a capacidade do ente
público em susbsistir ao tempo e aos governos (governabilidade) – princípio da continuidade
(...) governança consiste em: distribuição de poder entre instituições de governo; a
legitimidade e autoridade dessas instituições; as regras e normas que determinam do Estado -, promovendo, a despeito dos free-riders, a continuidade do estado alicerçada
quem detém poder e como são tomadas as decisões sobre o exercício da pelas ações de governança (accountability e disclosure) visando ao bem comum do povo.
autoridade; relações de responsabilização entre representantes, cidadãos e
agências do Estado; habilidade do governo em fazer políticas, gerir os assuntos
administrativos e fiscais do Estado, e prover bens e serviços; e impacto das 4. METODOLOGIA
instituições e políticas sobre os bem estar público.
A metodologia de pesquisa utilizada no estudo baseou-se na abordagem teórico-
Consoante, o processo de governança pública envolve múltiplas categorias de empírica, fazendo uso da análise bibliografica aplicada às obras e artigos relevantes sobre a
partes interessadas (stakeholders). Trata-se então do povo, do governo, das instituições e temática em estudo: Contabilidade e gestão pública. Frise-se que, quanto aos fins,
de suas inter-relações visando ao interesse de coletividades e à prevalência do bem considerando a contribuição de Vergara (2004), a pesquisa que subsidiou este trabalho é
comum, razão de ser do Estado enquanto ente público. classificada como sendo do tipo descritiva.
A governabilidade, por sua vez está ligada à ação do governo, ou seja, ação de A mesma autora, relativamente à pesquisa bibliográfica, de acordo com a visão de
“governar” enquanto verbo. Assim, pode-se inferir que a governabilidade condiz mais à Koche (2003), destaca que esta, por fornecer valiosas contribuições teóricas sobre o tema a
dimensão político-estatal e ser pesquisado, é um instrumental indispensável em qualquer tipo de pesquisa e, desta
forma, fez-se o uso de tal instrumental. Porém, reconhecendo o problema do possível
esgotamento que a pesquisa bibliográfica pode vir a sofrer por si só como alertou Vergara
11 12

(2004), este trabalho não tem a pretensão e nem condição de esgotar tão relevante e ligação operacional entre eles. A Contabilidade modifica o meio e é por ele modificada. A
extenso assunto. Consoante, este estudo é apenas um recorte de um fecundo campo para governança (meio/como) pública orienta as ações que são registradas pela Contabilidade. A
novos estudos. govenabilidade, ações políticas do governo origina decisões e ações que são executadas
Destaque-se que ensaios de carater bibliográfico e descritivo tem sido valorizados e em atendimento aos princípios da governança para registro e controle por parte da
amplamente aceitos no mundo acadêmico, considerando a abrangência e relevância do Contabilidade, tudo isso visando à sustentabilidade do Estado em fiel observância aos
assunto estudado, para o qual não necessariamente se justifica a aplicação estritamente princípios da continuidade numa visão contábil e da continuidade do Estado numa visão
positivista que outrora imperou sobre os recortes acadêmicos. político-social objetivando o bem comum de seu povo.

5. SUGESTÃO PARA NOVOS ESTUDOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

Partindo do observado no estudo, como dito este trabalho reconhecidamente não ACELRAD, Henri (org). A Duração das Cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas.
Rio de Janeiro: DP & A Editora, 2001.
abrange à exaustão o tema estudado. Assim, considerando o fecundo campo para novas
investigações, sugere-se como possíveis, dentre outros, um maior aprofundamento sobre: (i) BRASIL. Lei 4.320 (1964). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 03 jun.
1964. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4320.htm. Acesso em: 13 mar.
governança pública como filosofia de gestão; sustentabilidade pública; (iii) governabilidade e 2010.
governança aplicadas à gestão publica municipal, etc.
BRASIL. Lei Complementar 101 (2000). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Outros trabalhos de caráter positivistas também podem ser desenvolvidos, os quais DF, 05 mai. 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm.
poderão medir, dentre outras, (co)relações (in)existentes entre população, partido político Acesso em:
13 mar. 2010.
governante e o nível de governança/governabilidade.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.111 (2007). Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 05 dez. 2007. Disponível em:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.128 (2008). Diário Oficial [da]
A Contabilidade enquanto ciência social aplicada ao setor público, não obstante República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
exigência legal (Lei 4.320/64) pode ser considerada como ferramenta útil ao processo de http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.

“gestão” publica, possibilitando aos gestores a transformação de dados (dispostos na forma BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.129 (2008). Diário Oficial [da]
de banco de dados) em informações para a tomada de decisões que (retro)alimentam o República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
sistema.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.130 (2008). Diário Oficial [da]
Consoante, a Contabilidade atua de forma sistêmica, vinculando ações de
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
governança e governabilidade visando subsidiar decisões e realizações que contribuem http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.

para a sustentabilidade do Estado. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.131 (2008). Diário Oficial [da]
A sustentabilidade do Estado “trabalhada” neste estudo é maior do que o próprio República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
termo sustentabilidade, pois, para tanto, extrapolou a visão (muitas vezes reducionista) da
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.132 (2008). Diário Oficial [da]
sustentabilidade como “filosofia” una aplicada ao eco-ambiente, considerando também
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
variáveis de cunho legal, financeiro, político e econômico-social. http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
O objetivo do estudo foi instigar a discussão acerca de termos comumente BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.133 (2008). Diário Oficial [da]
empregados no setor público que, muitas das vezes não são de conhecimento dos agentes República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
que o fazem como free-riders discursivos de Fonseca & Bursztyn (2009) reproduzindo
“bom” discurso da governança e da sustentabilidade sem precisar seguí-los na prática. BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.134 (2008). Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
Consoante, constata-se fiel imbricamento entre os termos estudos, haja vista a http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
13 14

BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.135 (2008). Diário Oficial [da] NAKAGAWA, Masayuki. Introdução à controladoria: conceitos, sistemas, implementação. São
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em: Paulo: Atlas, 1993.
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010.
OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento estratégico. 20. ed. São Paulo: Atlas,
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.136 (2008). Diário Oficial [da] 2004.
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em:
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010. PADOVEZE, Clóvis Luis. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. 4.
ed. São Paulo: Atlas, 2004.
BRASIL. Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Resolução 1.137 (2008). Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 nov. 2007. Disponível em: ________. Sistemas de informações contábeis: fundamentos e análise. 2. ed.
http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/Default.aspx. Acesso em: 14 mar. 2010. São Paulo: Atlas, 2000.

BOTELHO, E. C., A Contribuição das Funções de Governo dos Municípios Catarinenses para o RICCIO, Edson Luiz. Uma contribuição ao estudo da Contabilidade como sistema de
Desenvolvimento Sustentável. 120 f. 2004. (Monografia) Graduação em Ciências Econômicas. informação. São Paulo, 1989. Tese (Doutorado em Contabilidade e Controladoria) - Faculdade de
UFSC, Florianópolis, 2004. Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo.

BRESSER-PEREIRA, L. C., O Modelo Estrutural de Governança Pública. Revista Eletrônica Sobre SANTOS, Maria Helena de Castro. “Governabilidade, Governança e Democracia: Criação da
a Reforma do Estado, Salvador, p. 1-18, jun/jul/ago. 2007. Capacidade Governativa e Relações Executivo-Legislativo no Brasil PósConstituinte”. Revista de
Ciências Sociais. Rio de Janeiro, volume 40, nº 3, p 335-376, 1997.
BURSTYN, Marcel (org). Ciência, Ética e Sustentabilidade: desafios ao novo século. Brasília:
Cortez/UNESCO, 2001. SLOMSKI, Valmor; MELLO, Gilmar Ribeiro de; TAVARES FILHO, Francisco; MACÊDO, Fabrício de
Queiroz. Governança Corporativa e Governança na Gestão Pública. 1ª ed. São Paulo: Atlas,
CRUZ, C. F.; MARQUES, A. L.; FERREIRA, A. C. S. Informações Ambientais na Contabilidade 2008.
Pública: Reconhecimento de sua Importância para a Sustentabilidade. Revista Sociedade,
Contabilidade e Gestão, Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 10-23, jul/dez. 2009. ________. Controladoria e Governança na Gestão Pública. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2005.

FEA/USP, Equipe de Professores (IUDÍCIBUS, Sérgio de. Coord). Contabilidade Introdutória. 10ª VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração.
Ed. São Paulo: Atlas, 2006. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

FONSECA, I. F.; BURSZTYN, M.; A Banalização da Sustentabilidade: reflexões sobre governança


ambiental em escala local. Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 24, n. 1, p. 17-46, jul/dez. 2009.

HORNGREN, Charles T.; SUNDEM, Gary L.; STRATTON, Willian O. Contabilidade Gerencial. 12a
ed. São Paulo: Pearson/Prentice Hall, 2004.

KISSLER, L; HEIDEMANN, F. G., Governança Pública: novo modelo regulatório para as relações
entre Estado, mercado e sociedade?. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, 40(3), p.
479-499, mai/jun. 2006.

KOCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da


pesquisa. 21. ed. São Paulo: Vozes, 2003.

KOHAMA, Heilio. Contabilidade Pública: teoria e prática. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.

________. Contabilidade Pública: teoria e prática. 11ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010.

KROETZ, Cesar Eduardo Stevens; MATTOS, Wilson Castro de; FONTOURA, José Roberto.
Aplicação da teoria geral dos sistemas à Contabilidade. Revista Brasileira de Contabilidade,
Brasília, v. 27, n. 114, p.20-28, nov./dez. 1998.

MARCONI, Marina de Andrade & LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. 3ª. ed. São Paulo:
Atlas, 1996

MARION, José C. Contabilidade Empresarial, 14ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MOTA, Francisco Glauber Lima. Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 1ª. ed. Brasília: Coleção
Gestão pública, 2009.

Potrebbero piacerti anche