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Lexicografia
SUMÁRIO:
1. Introdução
2. As origens da pesquisa etimológica
2.1. A Etimologia na Antigüidade e na Idade Média
2.2. A Lingüística Comparativa
2.3. A abordagem pela Lingüística Histórica
3. Definição da Etimologia e da História das Palavras
4. As exigências que a pesquisa etimológica deve cumprir
5. A comparação de dicionários diacrônicos
5.1. O dicionário histórico-etimológico de Antônio Geraldo da Cunha
5.2. O dicionário histórico de Hermann Paul.
5.3. O dicionário etimológico de Friedrich Kluge
6. Considerações finais
1. Introdução
Visto isso, o lingüista tem que saber distinguir entre a polissemia de uma
forma e a homonímia de duas ou mais formas. Há para isso dois critérios: no ponto
de vista sincrônico, homônimos são “formas fonologicamente iguais, cujas
significações não se consegue associar num campo semântico definido” (Dubois,
1998: 327). Na perspectiva diacrônica, no entanto, são homônimos “apenas as
formas convergentes da gramática histórica” (id. ibid.). Nesse último sentido, cabo,
“acidente geográfico”, e cabo, “posto militar”, derivam ambos do substantivo latim
caput (= “cabeça, capital”) e representam, por isso, um caso de polissemia. Do outro
lado, sabe-se que a palavra são, no português: “santo” em próclise, deriva do latim
sanctus, enquanto a forma verbal são, de certo, tem sua origem na forma
correspondente do latim: sunt. Trata-se, então, de um caso de homonímia.
Vejamos, ainda, um exemplo do alemão: nesse idioma, o substantivo
Hahn significa tanto “macho da galinha” quanto “torneira”. Sabemos que o último
significado se formou, a partir do primeiro, apenas no século XV, devido a uma
transferência metafórica, baseada na observação que a torneira pode girar como a
ave e está sentada no tubo como uma cristã. A etimologia do antigo alto-alemão
hano (“Hahn”) leva o estudioso para a mesma raiz que deu origem ao verbo latim
cano (“canto”). O galo, então, é originalmente um cantor, o que ele continua a ser no
português moderno. Os falantes do alemão, no entanto, negariam fortemente que
um Hahn sabe cantar (em alemão: singen), afirmando que a ação barulhenta que
caracteriza o animal merece um nome próprio, chamado Krähen. Esse substantivo
deriva do verbo krähen que é um cognato de krächzen (grasnar ou rouquejar). A
Etimologia sabe contar milhares dessas histórias.
Etimologias gregas
Nome original Significado Motivação Assimilação
original fonética
posí-desmos grilhões, corrente o mar impede o o e (antes do i) foi
que prende os movimento livre inserido como
condenados enfeite
pollà eidōs quem sabe muito o deus é sábio inicialmente, foram
pronunciados dois l
no lugar de um s
[h]o seíōn o que agita, que Poseidon provoca p e s foram
faz vibrar terremotos acrescentados
Etimologias romanas
Original Significado
1. ex negativo:
(a palavra) guerra (tem sua forma),
bellum quia non est bellum
porque (a guerra) não é bela
(a palavra) bosque (tem sua origem no
lucus a non lucendo
fato) de (o bosque) não ser luzente
(a palavra) aliança (tem sua origem no
foedus a non foedo
fato) de (a aliança) não ser feia
2. pela contração:
cura: cor urit inquietação: ela queima o coração
(a palavra) janela (é uma abreviação de)
fenestra quod fert nos extra
'ela nos leva para fora'
lepus quia levi-pes lebre porque (tem) um pé leve
vulpes voli-pes (a palavra) raposa (vem de) pé volante
caelebs, "caelestium uitam ducens", per b solteiro, “levando a vida dos celestiais”, é
scribitur quod u consonans ante escrito com <b>, porque o /u/
consonantem poni non potest (Priscian consonantal não pode ser colocado antes
inst. 2, 18, 10) de uma consoante
“metade” ou “lado”. A origem mais remota no indo-europeu é incerta, mas, seja como
for, é certo que o significado “por causa de”, que aparece no alto-alemão moderno, é
secundário; ele surgiu a partir do significado “lado” em colocações como
meinethalben (“do meu lado” = “da minha parte, por causa de mim”), em analogia ao
padrão de meinerseits (“do meu lado” = “da minha parte, quanto a mim”).
Antigamente, pensava-se que a etimologia de uma palavra de uma língua
indo-européia se faz ao indicar o étimo indo-europeu, ou seja, a palavra primordial
que deu origem à palavra moderna. Desse modo, o étimo do numeral alemão acht
(“oito”) encontra-se na forma indo-européia *oktō(w). Contudo, fazer etimologias
desse tipo, restringe a pesquisa aos aspectos históricos da formação da palavra. Tal
concepção carece de um componente essencial da etimologia que é, a saber, a falta
da motivação da forma que pode ser indicada, apenas, quando se descobre a
maneira como a associação entre significante e significado se passou. No caso do
numeral acht, e em inúmeros outros, não foi possível encontrar pistas que
permitissem resolver esse enigma.
Na reconstrução do étimo, é comum aplicar as leis fonéticas que têm
relevância para o caso em destaque e (nos casos mais favoráveis) recorrer às leis
da mudança semântica. No último exemplo, a vogal inicial /o-/ combina com a forma
moderna /a-/ porque há muitas evidências independentes que comprovam a
validade da lei fonética “/o/ ind.-eur. → /a/ al.”. Isso vale também para as outras
mudanças observáveis nesse exemplo. O exemplo mostra, então, que cada
etimologia individual tem que ser compatível com as generalizações já
estabelecidas. Todavia, como já foi dito, essas generalizações se baseiam também
em tais etimologias. Por exemplo, a lei fonética acima mencionada apóia-se em
numerosas correspondências do tipo “/ahto/ no alto-alemão antigo ~ /octo/ no latim“.
Vê-se, então, que a Etimologia se caracteriza, como (quase) toda a Lingüística
moderna, pelo movimento de vaivém entre a dedução e a indução.
No início do século XX, a lingüística se ocupou, cada vez mais, da história
de uma palavra:
“A orientação da pesquisa etimológica deslocou-se fortemente, das
épocas primordiais, proto-históricas e pré-históricas, para o tempo
que seguiu ao início da tradição escrita e, desse modo, para o
destino das palavras e dos grupos de palavras, nas suas
ramificações, nos seus entrelaçamentos multiformes e nas suas
relações com as outras palavras que pertencem ao mesmo campo
associativo” (Drosdowski, 1977: 202).
Os etimologistas começaram a preocupar-se mais com o conteúdo das
palavras e com o caráter sistemático e estrutural da língua.3 Esse deslocamento da
perspectiva deve-se, primeiramente, à influência dos romanistas que tiveram uma
compreensão diferente da etimologia. Uma vez que a maioria das palavras das
línguas neolatinas pode, facilmente, ser derivada de palavras originais do latim ou do
latim tardio, a questão das raízes, para a etimologia romanista, não teve a mesma
urgência como no comparativismo germânico. Em vez disso, os romanistas
focalizaram muito mais “a compreensão da história das palavras” e investigaram
especialmente “às implicações semânticas e onomasiológicas no contexto das
mudanças sócio-culturais e históricas” (Pfister, 1980: 21-22). Nessa tarefa,
costumaram aprofundar seus estudos até o nível lingüístico de latim, mas, além
disso, não se interessaram muito por uma explicação da origem de uma palavra.4
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como uma condição prévia que não pode ser negligenciada. Walter von der
Wartburg (1977: 145) chama, então, a atenção para o fato de que a pesquisa da
língua deve andar de mãos dadas com a pesquisa das coisas:
“Quem pretende investigar o vocabulário de um povo deve, também,
estudar a vida inteira desse povo, seus métodos de trabalho, suas
ferramentas, suas idéias religiosas e éticas, seus costumes e
hábitos, suas roupas e as respectivas alterações de moda”.
Pfister (1980), também, lembra que há, entre a história cultural e a
pesquisa etimológica, uma conexão íntima que é importante, especialmente, para os
estudos da História das Palavras. Desse modo, o autor recorre ao romanista Jud
quando afirma:
“[...] apenas uma ligação íntima entra a História Cultural e a
Etimologia que, durante muito tempo, foi demasiadamente
excludente, conseguirá garantir, à História das Palavras, uma
participação na História Geral das Idéias que lhe foi concedido
unanimemente na época dos irmãos Grimm [...]” (Pfister, 1980: 76).
Além disso, conforme Walter von der Wartburg (1977), convém ficar
atento, também, ao lado semântico e ao contexto situacional e cultural de uma
palavra. O autor lembra que a menor alteração num matiz do significado de uma
palavra tem seu efeito, também, sobre todas as palavras adjacentes. Por isso, um
etimologista não pode contentar-se com a observação do desaparecimento ou da
aceitação de um significado, mas deve perguntar-se, também, a qual palavra o
significado desaparecido foi acrescentado, respectivamente, qual é a palavra que
perdeu o significado transferido (cf. Wartburg, 1977: 149). Fazendo um balanço do
que se discutiu, até então, sobre a metodologia, o autor constata:
“que é preciso seguir as ramificações múltiplas do grupo de palavras
em pesquisa e, também, todas as relações que esse conjunto
manteve com outros grupos de palavras durante o tempo em que
pertence a uma língua, sem desistir da questão da sua etimologia”
(Wartburg, op. cit.: 154).
atenção para o fato de que esse método permite um acesso rápido aos lemas e,
desse modo, facilita, ao consulente, o manuseio da obra.
Para facilitar uma representação comparativa dos três dicionários,
colocamos, no anexo, o verbete sobre “pai” ou “Vater”, respectivamente. Onde for
necessário remetemos a outros trechos citados no anexo.
datação explícita dos lemas é realizada apenas a partir do século XIV, ou seja, a
partir dos primórdios do alto-alemão moderno. Quanto às formas de palavras mais
antigas, há, nos verbetes relevantes, apenas uma indicação da fase na história
lingüística e a datação dos textos fontes que podem informar sobre o surgimento
histórico de um determinado vocábulo.
No que diz respeito à história das palavras, Paul dá importância à
representação do desenvolvimento que levou aos diferentes significados lexicais,
com o fim de elucidar as condições de natureza histórica que propiciaram o processo
da formação morfológica das palavras (Paul, 2002: X). Os diferentes significados dos
lemas são listados conforme a ordem cronológica, mas, onde foi possível, o
significado geral antecede os significados que são específicos a certos domínios
técnicos ou grupos sociais. Significados que são ligados, intimamente, são marcados
através de uma pontuação específica. Para poder explicar os diferentes significados
de um vocábulo, a documentação de Paul baseia-se no uso literário das palavras.
Aqui, se mostra mais uma vez o cuidado que os autores tiveram com a redação dos
verbetes e a escolha dos exemplos; pois os trechos citados não documentam
apenas a forma em destaque, mas servem, também, como um complemento da
paráfrase semântica do vocábulo (op. cit.: XI). Muito agradável também, o arranjo
tipográfico do “Paul” que é extremamente claro: os lemas principais e os sublemas
são impressos em negrito, já as documentações, em itálico. Tal procedimento não
facilita apenas a busca dos verbetes, mas também distingue, visivelmente, a parte
da documentação e a parte explicativa.
O dicionário de Hermann Paul é o único dicionário alemão que
desenvolve, num só volume, os significados das palavras numa perspectiva histórica
através de uma documentação literária que inclui, também, a literatura depois da
Segunda Guerra Mundial. Devido a sua perspectiva histórica, o “Paul” facilita tanto a
compreensão da literatura mais antiga, particularmente do Classicismo e do
Romantismo, quanto promove uma reflexão mais profunda sobre as estruturas e as
tendências do uso presente do alemão. Com essas qualidades, o dicionário se
dirige, especialmente, aos professores e estudantes de língua e literatura alemãs.
As novidades mais importantes da edição mais recente incluem um
alargamento do registro por estrangeirismos e internacionalismos, pelos vocábulos
da extinta República Democrática das Alemanha (RDA) e pelas palavras que
surgiram na época da reunificação dos dois Estados alemães, depois de 1989. Além
disso, foi feita uma atualização do acervo vocabular, conforme as novas tendências
do vocabulário alemão, especialmente nos domínios das linguagens técnicas e
científicas e na área das mídias e do uso público da palavra. O “guia do vocabulário”
foi revistado completamente, assim como o quadro sinóptico de categorias que
precede a lista dos lemas e que classifica o vocabulário conforme critérios histórico-
semânticos e didáticos.
Em suma, o “Paul” deixa a impressão de uma obra completa e útil. Seu
único aspecto negativo encontra-se, talvez, no fato de que as documentações levam
em consideração, “apenas”, o uso literário da palavra. Tal procedimento causa uma
certa parcialidade porque o Deutsches Wörterbuch não se apresenta como um
dicionário da linguagem literária, mas como uma obra que pretende exaurir todas as
correntes do léxico alemão e apresentar todo o acervo atual dessa língua. O corpus
de textos-fontes deveria ter sido selecionado em conformidade com esse objetivo.
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grande e numa parte de remissões, impressa com letras menores. Desse modo, é
possível separar, facilmente, a informação essencial, das informações adicionais que
fornecem, por exemplo, a indicação dos textos fontes e/ou as palavras cognatas nas
modernas línguas germânicas. Em resumo, as informações destinadas ao usuário
com amplo conhecimento filológico não sobrecarregam a parte principal. Essa
estratégia previdente não aumenta apenas a clareza, mas corresponde também às
necessidades do público alvo que, certamente, não se constitui apenas por
especialistas.
Um motivo de insatisfação encontra-se na consideração dos campos
semânticos e da apresentação das conexões íntimas entre os vocábulos. Nota-se
que o “Kluge” indica, no fim da parte principal, os compostos e derivados do lema e
que, na parte das remissões, chama a atenção do consulente para palavras
etimologicamente ou semanticamente aparentadas, mas é inegável, também, que a
obra não explica o significado e o processo de formação desses derivados e
compostos. Além disso, destaca-se que esse dicionário é muito econômico quanto à
indicação de derivações e de relações de parentesco.
6. Considerações finais
Referências bibliográficas
Notas de fim
1
Trata-se, nessas mudanças fonéticas, de intervenções subjetivas na estrutura fonética da
palavra. Além disso, foi costume indicar, para cada vocábulo, várias possibilidades
interpretativas. No ponto de vista moderno, portanto, é preciso avaliar aqueles trabalhos
etimológicos como produtos de mera especulação (cf. Sanders, 1977: 10-11).
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Na etimologia, não se recomenda aplicar as leis fonéticas rigidamente, porque a mudança
fonética não tem um caráter contínuo e sempre permite exceções. Especialmente as
palavras muito freqüentes, como preposições, partículas, verbos com um significado muito
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