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Calçadas: uma mensagem visual na paisagem urbana

Sidewalks: a visual message in the urban landscape

Serafim, Marcos Antonio


Mestrando do PPGDI - UNESP – Bauru – SP – serafim@ccb.org.br

Resumo
O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a função estética das calçadas no Brasil desde
sua ancestralidade em Portugal, as soluções mais contemporâneas, o estado da arte atual e
como elas podem interferir e refletir seu meio.

Palavras Chave: Calçadas, design, identidade, paisagem urbana

Abstract

This work proposes a reflection on the aesthetic function of the sidewalk in Brazil since its
roots in Portugal, the most contemporary, state of art and how they can affect and reflect
their environment.

Keywords: Sidewalks, design, identity, urban landscape

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Introdução

Totalmente cimentadas, petit-pavé, chão batido, gramado, placas cimentícias ou bloquetes


intertravados. Esses são alguns dos diversos processos utilizados para pavimentação das cal-
çadas. Especialmente nos grandes centros urbanos, as calçadas devem atender requisitos nor-
mativos que são ditos em sua maioria pelo plano de urbanização do município, especialmente
no que diz respeito a acessibilidade e legislações ambientais. No entanto, além de sua funcio-
nalidade em facilitar o tráfego de passantes as calçadas, em todas as partes do mundo, são
parte significativamente importante na composição da paisagem urbana, e ao longo da história
sua utilização ganhou diferentes materiais e tratamentos. Mas até que ponto os projetos de
calças colaboram ou interferem na paisagem urbana?

Petit-pavé
Os petit-pavés, ou pedras portuguesas, são rochas calcárias que formam os chamados mosai-
cos portugueses.
Também conhecidas como “mosaico português”, as primeiras pedras de cal-
cário e basalto chegaram ao Brasil, no início do século 20, trazidas do centro de
Lisboa, pelos próprios portugueses. Junto com algumas pedras, eles também
trouxeram o desenho das ondas do mar. As curvas sinuosas tornaram-se sím-
bolo de Copacabana, no Rio de Janeiro, e se espalharam em diversos pontos do
país. Mas, em cada lugar, os desenhos iam ganhando características únicas.
KOSSOSKI, 2007

Em Portugal foram os romanos que deixaram esse importante legado, já que eram feitas em
calçadas a maior parte das vias de comunicação que ligavam o Império, e que abrilhantava os
interiores dos palácios e das casas. Mais tarde, também os árabes contribuíram com a arte de
“calcetar”. No Brasil o petit-pavé é uma herança de nossa colonização lusitana, e não só o
Brasil beneficiou-se dessa herança, mas diversos paises de colonização portuguesa também
possuem grandes calçamentos desse material. Apesar de toda exaltação portuguesa em torno
do calcetamento por petit-pavé sua aplicação no Brasil, em alguns casos, é bastante contro-
versa, como sugere MALLON, 2006, no texto “Petit-pavé, a herança maldita”:

As calçadas de Curitiba causam polêmica desde 29 de março de 1693, quando


o capitão Matheus Leme realizou a primeira eleição para a Câmara de Verea-
dores da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Já naquela época o poder
público empurrava com a barriga algumas de suas atribuições. Os moradores
ficavam obrigados a limpar o Rio Belém para evitar o banhado em frente à i-

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greja matriz, as casas deveriam ser cobertas com telhas - coisa chique! - e as
ruas já iniciadas teriam de ser continuadas, para que a vila não viesse a ser um
aglomerado de becos sem saída. [...]

Se petit-pavé fosse colhido em árvore, diríamos que seria ele um pomo da dis-
córdia. Recentemente uma liminar proibiu a aplicação do petit-pavé na refor-
ma das calçadas da Rua Marechal Deodoro, provocando pedradas entre a Pre-
feitura e o Ministério Público. O MP argumenta que os mosaicos portugueses
são deslizantes e que, portanto, pedestres são de uma raça em extinção.

Compartilhando da mesma calçada da Prefeitura, em termos, o arquiteto José


La Pastina Filho, superintendente regional do Iphan, defende a utilidade da es-
tética: ‘O petit-pavé é permeabilizante, permite que a água escoe para o solo.
É um dos símbolos de Curitiba. Temos desenhos das décadas de 30 e 40’. De
uma tradicional família de calceteiros, o engenheiro Emílio Garcia y Dias
concorda com La Pastina: ‘Quando nossa empresa calçou o Largo da Ordem,
tivemos que refazer toda a obra. Queriam o piso sem frestas, e deu no que deu:
na primeira chuva, sem permeabilização, aquilo virou ma cascata e a Galeria
Júlio Moreira - atrás da Catedral - encheu até ao gargalo’.
Com as calçadas, assim foi e assim é até hoje: atendendo aos requisitos da
municipalidade, seja o que Deus quiser. Cada proprietário de terreno é o re-
sponsável por sua própria calçada e esta polêmica se arrasta desde aquela
primeira eleição de 1693.

Apesar da controversa em Curitiba, o petir-pavé é um símbolo forte da colonização portugue-


sa e em suas cidades e nas cidades dos países colonizados por Portugal, surgem belos exem-
plos da versatilidade estética desse tipo de pavimento. Como sugerem as figuras abaixo:

Figura 1 – Calçada da cidade de Elvas em Portugal com aplicação de petit-pavé


(fonte: www.nossoskimbos.net)

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Figura 2 – Calçada da cidade de Faro em Portugal com aplicação de petit-pavé
(fonte: www.nossoskimbos.net)

Figura 3 – Calçada da cidade de Coimbra em Portugal com aplicação de petit-pavé


(fonte: www.nossoskimbos.net)

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Figura 4 – Calçada da cidade de Lisboa em Portugal com aplicação de petit-pavé
(fonte: www.nossoskimbos.net)

Figura 5 – Calçada em Macau com aplicação de petit-pavé


(fonte: www.nossoskimbos.net)

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Figura 6 – Calçada em Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil com aplicação de petit-pavé
(fonte: www.nossoskimbos.net)

Em São Paulo
A capital paulista, com seus milhões de transeuntes diários faz das calçadas das regiões cen-
trais um importante setor de cuidados em termos de manutenções e processos que facilitem a
vida dos cidadãos e do Poder Público. Além disso a calçada do centro de São Paulo tornou-se
um símbolo da própria cidade (figura 7), a exemplo do calçamento de Copacabana. Melo,
2005 relata como foi o surgimento de um dos símbolos da cidade de São Paulo:
Em 1966, Mirthes dos Santos Pinto era desenhista da Secretaria de Obras da
Prefeitura de São Paulo. O prefeito Faria Lima, famoso por seu dinamismo,
lançou um concurso para escolher um padrão de piso para a cidade. Mirthes
arriscou-se a estudar algumas alternativas, e acabou inscrevendo uma delas.
Ficou feliz em saber que estava entre os finalistas. Amostras de quatro proje-
tos foram implantadas num trecho da rua da Consolação e, após nova votação,
a alegria maior: sua proposta foi a vencedora.
O piso ganhou as calçadas da cidade. Nos primeiros anos, por iniciativa do
poder público, as avenidas passaram a ser ladeadas pelo desenho geometriza-
do do estado de São Paulo. Aos poucos, os ladrilhos foram sendo produzidos
por diversos fabricantes, e começaram a conquistar as calçadas das lojas e das
casas. Em uma década, ele já era onipresente na paisagem urbana. Havia se
tornado um ícone paulista.
Quem pensa que piso só serve para revestir o chão está muito enganado. O
projeto de Mirthes não parou de expandir os seus domínios. Ele deixou de ser
só um piso e transformou-se em um padrão gráfico, que passou a ser aplicado
nos suportes mais diversos. Até solado de sandália, fachada de loja, estampa
de tecido e rótulo de cerveja ele virou. Um sucesso!
No entanto, quase quarenta anos depois, Mirthes — agora Bernardes, seu no-
me de casada — não é só alegria: nunca recebeu um tostão pelo projeto. É
verdade que a satisfação de quem projeta é ver sua criação ganhar o mundo,
mas... nem um tostão também já é demais. É um notável caso de projeto que
caiu em domínio público logo ao sair da maternidade.
Até 2004, a história contada acima era pouco conhecida. Foram consultados
arquitetos e engenheiros, todos com longas trajetórias ligadas ao setor público,
e nenhum sabia dizer qual a origem desse desenho. Mirthes só apareceu de-
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pois da publicação de um artigo na revista Projeto/Design sobre o design no
ambiente urbano, no qual o desconhecimento da autoria do projeto era citada
explicitamente.

Figura 7 – À esquerda, proposta de Mirthes S. Pinto para o calçamento paulista e à direita o resultado com al-
guns anos de deterioração

Os pavimentos projetados por Mirthes, apesar de seu grande sucesso e a inquestioná-


vel solução estética projetada, tornou-se ao longo do tempo um problema em termos de solu-
ção material. Destacamentos de placas e difícil manutenção tornaram-se constantes na pavi-
mentação das calçadas paulistas, hoje a prefeitura de São Paulo vem substituindo o calçamen-
to por pavers cimentícios.

Identidade
As calçadas em muitas cidades brasileiras foram personalizadas para que pudessem
servir como símbolo da própria cidade. Em alguns casos essa alternativa ganha identidade tão
própria da cidade que passa a ser símbolo, como são os casos do calçamento de Copacabana
no Rio de Janeiro e São Paulo. Esses símbolos devem dizer muito sobre a cidade, criando uma
identidade bastante singular. MELO (2005) destaca os dois momentos vividos por Copacaba-
na e São Paulo, fazendo um comparativo nas soluções gráficas adotadas nas duas cidades de
forma bem distinta:
Resposta paulista ao brilhante projeto da calçada de Copacabana, seu desenho
austero é fruto de uma solução engenhosa. Com apenas três peças quadradas
— uma branca, uma preta e uma branca & preta, dividida na diagonal — cria-
se um padrão de repetição infinito. Fabricado em ladrilho hidráulico, é de fácil
produção e instalação, e acabou afirmando-se como uma identidade reconhe-
cível e reconhecida pelo cidadão.

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O desenho é um bom retrato do pragmatismo paulista: em contraste com as
curvas do mar e das montanhas da calçada de Copacabana, a geometria rigo-
rosa do mapa do estado de São Paulo. É difícil não entendê-lo como eco do
movimento concreto, de raízes tão marcadamente paulistas. A partir das pos-
sibilidades da oposição positivo/negativo é criado um jogo de figura/fundo, no
qual ora só se vêem as formas brancas, ora só se vêem as formas pretas. Essa
construção geométrica migrou para símbolos de sucessivos governos estadu-
ais, além da já citada transformação em padrão gráfico, aplicável nos mais di-
versos suportes.

Seu maior trunfo é a simplicidade compositiva, que se impõe pela clareza e


legibilidade. Piso é informação subliminar. Esse desenho superou essa condi-
ção e foi assumido como um ícone paulista.

Criar identidade através do calçamento, ou enaltecer símbolos, essas são algumas das atribui-
ções estéticas que as calçadas podem alcançar quando bem planejadas. Na cidade de Tupã, no
interior de São Paulo, surgiu na década de 40 uma das primeiras fábricas a fabricar o primeiro
carro genuinamente brasileiro. E em 2009 uma curiosa disputa ganhou destaque para os afi-
cionados por carro, como descreve a jornalista Simone Coelho do portal Globo.com na página
do “Auto Esporte” na reportagem “Calçada com logotipo histórico da DKW-Vemag é recupe-
rada em Tupã” (figura 8):
A logomarca da DKW-Vemag, desenhada na calçada em frente a antiga fá-
brica da marca, em Tupã (SP), foi recuperada há cerca de um mês. O traba-
lho da década de 50 estava deteriorado com a falta de conservação nos últi-
mos anos. A revitalização do símbolo foi cobrada por apaixonados por au-
tomobilismo e moradores mais antigos da cidade a 520 km da capital paulis-
ta. “Como homem público, senti-me na obrigação de atender aos pedidos. É
uma forma de preservar a história, a época de ouro do automóvel”, afirma
Valdir de Oliveira, vereador que apresentou o pedido de restauração ao pre-
feito.

No fim do ano passado, a prefeitura iniciou a construção de uma rampa de


acesso para portadores de necessidades especiais na calçada, reforma que
destruiu parte do logotipo da Vemag, construído em petit pave (tipo de pe-
dra). “Foi serviço de operários da empreiteira contratada, que evidentemente
não estavam atentos ao logotipo. Detalhe, aliás, que muitos tupãenses tam-
bém não percebiam. Principalmente os mais jovens”, diz Oliveira.

No início desse ano, o prefeito autorizou a recuperação da logomarca e o rea-


juste do acesso para os deficientes. “O custo foi praticamente zero. Gastamos
apenas com cimento e a recolocação das pedrinhas no logotipo da DKM-
Vemag”, afirma o vereador. Com a calçada recém revitalizada - ainda fal-
tam, porém, detalhes de limpeza - , a prefeitura de Tupã recebeu mais de 50
emails de agradecimento.“Não esperava uma resposta tão rápida. Recebi cor-
reio de moradores da cidade, de Brasília, Goiânia, São Paulo e até do Cana-
dá”, diz o vereador.

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Figura 8 – Calçada com logotipo da DKW-Vemage devidamente recuperada na cidade de Tupã/SP

A mobilização mostrada na “reportagem-denúncia” demonstra o quanto os símbolos são


importantes na manutenção da história e da caracterização das culturas, e que os mesmos
podem ser universalizados. E a calçada, como bem de larga duração pode perpetuar durante
muito tempo uma identidade local, promovendo um elo entre o cidadão e seu ambiente.

Calçada e paisagem urbana


De acordo com Munari, 1997, a comunicação visual ocorre por meio de mensagens
visuais. A calçada, o mobiliário urbano, as edificações, sinalizações etc. No dia-a-dia somos
bombardeados por informações visuais vindas de diferentes emissores, para Munari, 1997, a
comunicação visual ocorre por meio de mensagens visuais. Presume-se portanto que um e-
missor emita as mensagens e que o receptor as receba. No caso das calçadas essa mensagem é
mutável ao longo do dia. O calçamento da praia de Copacabana e o calçamento da Avenida
Paulista não são os mesmos às 12 horas de uma segunda-feira e às 3 horas de um domingo.
Transeuntes, ambulantes, lixo e todas as interferências possíveis modificam o olhar sobre a
calçada e impedem e alteram sua percepção estética. Seguno Cullen, 2006, a paisagem urbana
é um conceito que exprime a arte de tornar coerente e organizado, visualmente, o emaranhado
de edifícios, ruas e espaços que constituem o ambiente urbano.

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Conclusão
Há a necessidade de organizar os espaços urbanos levando em conta as calçadas como
parte integrante desse sistema. E ainda, perceber o valor histórico das calçadas. Para isso de-
ve-se repensar a utilização de materiais que ao mesmo tempo respeitem as normalizações vi-
gentes e preservem ou criem novas mensagens nas calçadas. Para isso é importante que tecno-
logias de processos, materiais, arquitetura e urbanismo e design investiguem de forma mais
contundente a referência visual e histórica presente em nossas calçadas.

Bibliografia
COELHO, Simone. Calçada com logotipo histórico da DKW-Vemag é recuperada em
Tupã. 2009.
Disponível em: http://revistaautoesporte.globo.com/Revista/Autoesporte/0,,EMI62315-
10142,00-
CALCADA+COM+LOGOTIPO+HISTORICO+DA+DKWVEMAG+E+RECUPERADA+E
M+TUPA.html. Acesso em: 17/04/2009.

KOSSOSKI, Danilo. Calçadas registram a história. 2007.


Disponível em: http://arquivo.jmnews.com.br/includes/print.php?id_nots=4178. Acesso em:
30/03/2009

CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana. São Paulo, Edições 70, 2006.

MALLON, Luciana do Rocio, Petit-pavé a herança maldita. 2006. Disponível em:


http://www.parana-
online.com.br/colunistas/67/41149/?postagem=PETIT+PAVE+A+HERANCA+MALDITA.
Acesso em: 03/08/2009.

MELO, Chico Homem de. Signofobia. Coleção Textos de Design. São Paulo, Rosari, 2005,
p. 52-54.

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