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João José Alves Dias
Outra Perspetiva
3
Autor:
© João José Alves Dias (1957-)
CHAM - Centro de Humanidades; DH - FCSH;
CEH, Universidade NOVA de Lisboa
Imagem da Capa:
São João Evangelista
– pormenor.
iluminura de Jean Colombe [Bourges, ativo 1463-1491]
Folha de um Livro de Horas
© FR-Paris: Musée du Louvre
Cabinet des dessins, RF 29086
Grafismo da Capa:
Nicolau Tudela
Edição:
Outra Perspetiva - Lisboa
Impressão:
Artipol – www.artipol.net
Tiragem: 500 exemplares
Depósito legal:469219/20
ISBN:978-989-54526-2-0
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Para o Pedro Mesquita
5
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IN PRINCIPIO reúne algumas das diferentes «folhas de
sala» produzidas em colaboração com a Biblioteca Nacional de
Portugal.
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Letra perfeita e clara
que se pode ler sem óculos:
Nos 550 anos da morte de Gutenberg
Por norma, numa carta ou num diário escreve-se aquilo que se observa, se
vive, ou se pensa de entre o mais extraordinário do que nos acontece e não
tanto o quotidiano, porque esse, pela sua constância, quase não se regista.
Assim aconteceu em 1455, numa carta que o bispo italiano Enea Silvio
Piccolomini (Aeneas Silvius Piccolomini), futuro Papa Pio II, escreveu, a 12
de março, para o Cardeal Juan Carvajal. Nela, o Bispo diz que se encontrou,
na feira de Frankfurt, com um homem maravilhoso que tinha consigo não a
Bíblia completa mas alguns dos seus livros, numa escrita perfeita e clara, que
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o destinatário poderia ler sem esforço e sem óculos1. Conjugando esta
informação com as notas manuscritas no fim de dois volumes dos
exemplares de uma Bíblia impressa2 que se guarda na Biblioteca Nacional de
França – nas quais notas se informa que o trabalho de se iluminar, rubricar
e encadernar se acabou, na Igreja de Santo Estêvão (Stephanskirche), de
Mainz, quer a 15, quer a 24 de agosto de 1456 –, é comumente aceite que
esse homem maravilhoso seria Johann Gutenberg, o qual se encontrava a
receber encomendas para a Bíblia que estava a imprimir, como se conclui
pelo resto da carta. Estes são os raros testemunhos contemporâneos dos
primeiros anos de impressão, dado que os livros nada dizem acerca do modo
como são produzidos – nem data, nem local, nem oficina.
1
«De viro illo mirabili apud Frankfordiam viso nihil falsi ad me scriptum est. Non vidi
biblias integras, sed quinterniones aliquot diversorum librorum, mundissime ac
correctissime litterae, nulla in parte mendaces, quos tua dignatio sine labore et
absque berillo legeret» (Erich Meuthen, «Ein neues frühes Quellenzeugnis (zu
Oktober 1454?) für den ältesten Bibeldruck. Enea Silvio Piccolomini am 12. März
1455 aus Wiener Neustadt an Kardinal Juan de Carvajal Meuthen, Erich». In:
Gutenberg-Jahrbuch, vol. 57 (1982) p. 108-118). Cf. também de Martin Davies,
«Juan de Carvajal and Early Printing: The 42-line Bible and the Sweynheym and
Pannartz Aquina». In: The Library, 6th series, 18 (September 1996), p. 193-215.
2
Paris, Bibliothèque nationale de France, département Réserve des livres rares, A-
71 (1-2); VELINS-70
10
Bible de Gutenberg : [Biblia latina]. Ex. sur vélin - Volume 4
[https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k9912845/f319.image]
Bible de Gutenberg :
[Biblia latina]. Ex. sur
vélin - Volume 2
[https://gallica.bnf.f
r/ark:/12148/bpt6k
991282d/f399.item]
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O livro impresso começava uma aventura que nunca mais terminaria
até aos dias de hoje. Sem dúvida que foi o grande invento que ajudou a
mudar a humanidade. Embora já lhe tenha chamado o último invento
medievo3, julgo que será mais certeiro dizer que é o primeiro invento da
modernidade pois ele mesmo se transforma e dá corpo a essa nova era.
3
João José Alves Dias, «A Imprensa Incunabulística Portuguesa: novas interpre-
tações» / II Encontro Internacional de Estudos Medievais / Humanas: Revista do
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, 21 (1) tomo 2, 1998, pp. 273-296.
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hebraico, a manifestação de admiração pelo novo invento, assim como uma
alusão à sua produção: «De perto nos chegaram, há pouco, novidades sobre
as quais um filho nunca teria interrogado o seu pai. Na verdade, é caso para
perguntar se alguma vez existiu um facto como este, desde os tempos mais
recuados da história da Humanidade. A mão escreve um livro às avessas;
abaixa o que está elevado e sobe o que está em baixo. A escrita é produzida
com chumbo, graças a uma ponta de ferro».4
4
João José Alves Dias, Nova forma da transmissão do verbo – a imprensa / Nova
História de Portugal, dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, vol. V, Portugal
do Renascimento à Crise Dinástica, coord. de João José Alves Dias, Lisboa, Editorial
Presença, 1998, p. 498.
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Aldo Manuzio o inventor do itálico
Escolhemos como mote principal da mostra o itálico ou cursivo. Em
setembro de 1500, em Veneza, é impresso, na Casa de Aldo Manuzio, um
livro com a correspondência de Catarina de Siena, freira dominicana
canonizada que, nos dias de hoje, é aceite como Doutora da Igreja. O livro
inclui uma gravura da Santa, idealizando uma das muitas experiências de
êxtase do seu casamento místico com Jesus, trocando com ele o seu
coração.
15
Gravura de Santa
Catarina de Siena,
[Epistole. Orazioni
scelte], Bartolommeo de
Alzano, Veneza, Aldo
Manuzio, setembro 1500
(BNP INC. 1123)
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de Estudos Históricos (CEH) e do Centro de História d’Aquém e d’Além-Mar
(CHAM) – associaram-se em torno dessa mesma efeméride, organizando
uma mostra da obra dos prelos venezianos aldinos (escolhida de entre o
acervo que se encontra à guarda da BNP) e de um seminário, evocando não
só o tipógrafo e Humanista, mas também o itálico como um dos seus
grandes legados à humanidade.
Aldo Manuzio (Bassiano, Lácio, Estados Papais, ca. 1450) tanto pode
ser classificado como um Humanista que se transformou em tipógrafo,
como um tipógrafo que se formou pelo gosto e interesse no estudo e na
divulgação dos clássicos; imprimiu o conjunto de textos inaugurais da
cultura ocidental, na língua original – quer fosse o latim, quer fosse o grego
clássico. A passagem do quinto centenário da sua morte, que ocorreu em
Veneza, a 6 de fevereiro de 1515, está a ser evocada nas principais
Bibliotecas do mundo.
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Mas Aldo Manuzio não se limitou à invenção do itálico: aperfeiçoou
o parque tipográfico em caracteres gregos que até então só ensaiara dar
pequenos passos (incluindo nesse parque capitulares de grandes
proporções); desenhou um novo corpo romano, o R:114, que permitiu a
impressão de livros em formatos anteriormente quase só reservados a livros
de devoção (in 8.º); inventou o «índice» dos livros; realizou obras ilustradas
que se transformaram em livros de prestígio, de conhecimento, de estudo,
de divulgação e de sonho.
Ao passar o quinto centenário da morte de Aldo Manuzio (ca 1450-
1515), o homem que ajudou a transformar a tipografia em arte, esta mostra
evoca não só o tipógrafo e Humanista, mas também as suas inovações como
grandes legados deixados à Humanidade.
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Marca de impressão, [Epistole. Orazioni scelte], Bartolommeo de Alzano,
Veneza, Aldo Manuzio, setembro 1500 (BNP INC. 1123)
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A diáspora da palavra
obras de autores portugueses impressas fora de
Portugal no séc. XVI (1501-1520)
A cultura portuguesa no século XVI
conheceu o mundo. Muitas são as obras
escritas por portugueses – de grandes
livros, a pequenos textos, passando por
poemas isolados – que foram impressas
além-fronteiras. Umas acompanharam
a diáspora dos seus autores, outras
foram aí produzidas por razões
económicas ou por interesse dos locais
nos escritos desses portugueses – uns
vivos, outros mortos.
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Para responder as estas questões elaborámos um projeto de
investigação que consiste no levantamento de toda a obra de autores
portugueses – porque nascidos em Portugal – impressa entre 1501 e 1600,
fora das fronteiras territoriais lusitanas.
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Os resultados dessa investigação vão sendo apresentados – em
exposições sequenciais – na Biblioteca Nacional de Portugal, com os livros
escolhidos entre os exemplares estudados que se encontram nas coleções à
guarda da BNP e da Biblioteca Pública de Évora.
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24
Cancioneiro Geral de
Garcia de Resende.
A arte de trovar, que em todo tempo foi mui
estimada…
A BNP assinala os 500 anos da edição do
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende
com uma pequena mostra em que se
expõem as variantes de impressão da
primeira edição.
Cancioneiro geral: com privilégio /
[Ordenado e emendado por Garcia
de Resende, fidalgo da casa del
Rei nosso senhor e escrivão da
fazenda do príncipe], Almeirim,
Lisboa. 28 setembro 1516.
[http://purl.pt/12096]
25
Castela (impresso em Valencia, em 1514) – meteu mãos à obra, ordenando
e emendando a impressão de um Cancioneiro Geral de Portugal.
26
de folgar, com destaque no próprio índice). Na obra apresentam-se
composições produzidas entre o ano de 1449 e o ano de 1516, de
aproximadamente três centenas de compositores – nem todos dignos do
nome de poeta. Mas é graças a esta obra que hoje conhecemos alguma da
melhor poesia lírica do país, produzida na época.
27
RES. 110 A. RES. 112 A.
28
Sabe-se que os livros até ao momento em que são encadernados –
o que pode até distanciar mais de um século sobre o momento em que
foram impressos –, podem ir recebendo folhas infiltradas. Folhas essas que
recriam uma realidade diferente da verdadeira e que a ajudam a esconder.
É uma gralha que é corrigida; é um deitado que é desmanchado durante a
impressão; ou um rato que roeu um caderno, ou um meio caderno, já
impresso; uma chuva que desfaz algumas folhas armazenadas; um incêndio;
e tantas e tantas outras fatalidades que podem atacar as folhas impressas.
Não se esqueça que também existem ordenações de impressão
extraordinárias: para aumentar uma tiragem que começou por ser mais
pequena e que se quer a meio maior; para fuga ao pagamento de direitos
de autor; para contornar a censura; e tantas outras coisas que a nossa
própria imaginação não consegue hoje comprovar.
29
auctorum damnatae memoriae (Lisboa, 1624) publica toda a censura,
assinalando-a verso a verso. Vejam-se dois pequenos exemplos, da forma
como era indicada a censura:
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«Fol. 31., p 2., coln. 3, em
uma resposta que começa
Quem mais perde, se
risque o sétimo verso: Ca
dito tem, com os dois
seguintes; E logo adiante
se risque toda a cantiga de
Antão de Montoro em
louvor da rainha Dona Isa-
bel, que começa: Alta Ray-
nha soberana; e acaba:
recibiera carne humana,
donde se riscará também
todo o nome do Autor.»
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32
Aqu e le ún ic o e xe m p lo …
450 anos da lírica de Camões
Aquele único exemplo… é o
primeiro poema impresso de
Luís de Camões, hoje conheci-
do. É uma «Ode ao Conde de
Redondo», pedindo a prote-
ção para um livro de um
amigo. Integra o conjunto de
paratextos dos Coloquios dos
simples, e drogas he cousas
medicinais da India, de Garcia
de Orta. Foi impresso, em Goa,
em 1563, por Ioannes de
Endem, um impressor alemão
que havia pouco tempo
instalara o seu prelo na Índia
portuguesa.
33
Se a Lírica de Luís de Camões é hoje abundante, a sua quase
totalidade só foi impressa depois da morte do poeta. Para além da obra
épica (Os Lusía-
das, impressos, em
Lisboa, em 1572), só
foram divulgados, em
vida do autor, três
poemas: a ode que
agora se evoca; uma
elegia e um soneto,
ambos publicados
na Historia da Prouin-
cia Sancta Cruz, de
Pero de Magalhães de
Gândavo, impressa
em Lisboa, em 1576.
Embora pas-
sem este ano os 450
anos sobre a impres-
são da obra de Garcia
de Orta, que inclui,
repetimos, a primeira
composição lírica de
34
Luís de Camões, a sua primeira versão impressa esteve afastada do
conhecimento comum até à segunda metade do século XIX. É certo que a
«Ode ao Conde de Redondo» passou a integrar a lírica de Camões a partir
da segunda edição das Rimas, impressa em 1598, mas copiada de uma
versão manuscrita que se afastava, em alguns versos, da versão original. Nas
edições seguintes, a ode continua a ser reproduzida com variantes. Faria e
Sousa, na edição comentada, impressa em 1685, confronta as duas versões,
anotando as suas principais variantes, mas prevalecendo a edição de 1598.
E assim se manteve e assim continua na magna edição que o Visconde de
Juromenha faz das Obras de Luiz de Camões (Lisboa, 1861, vol. II, p. 275-
-278).
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BNP RES. 456 P.
36
BPE RES 480
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Antes de Lineu
o mundo das plantas na coleção de
impressos da BNP
A moderna taxonomia assenta no trabalho de sistematização levado a cabo
no séc. XVIII por Lineu (1707-1778) que constitui, ainda hoje, um marco na
história da ciência, e da botânica em particular, ao ponto de se poder falar
no antes e no depois de Lineu. Já desde o séc. XVI, porém, que outros, como
o português Garcia d’ Orta, desenvolviam esforços pioneiros de recolha e
sistematização do conhecimento botânico.
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quase sempre, a mesma. Muitas vezes não se sabia com exatidão qual era o
simples de que se falava; qual era, com precisão, a correspondência entre as
plantas da Europa Ocidental e as plantas da Europa Oriental. Não se
conhecia a correspondência exata com o termo grego, latino ou árabe que
os diferentes autores utilizavam. Era, pois, pela prática que se chegava a
uma conclusão.
40
Com as descobertas da imprensa e do mundo, a Europa passou a juntar ao
saber prático o saber teórico e da observação. No que ao conhecimento
botânico dizia respeito, as viagens de exploração, o conhecimento de novos
simples, a formalização de novas drogas e de novos químicos depressa
tornam obsoletos alguns dos conceitos apresentados nesses livros legados
pelo passado.
41
É neste contexto que surge a obra de Garcia d’Orta cuja importância
não passou despercebida no mundo científico contemporâneo à sua
produção.
42
exigência do intérprete. Porque ele mudou e resumiu o estilo claro de
Garcia d’Orta; ele cortou o que Cristóvão da Costa tinha acrescentado e
esclareceu Monardes em muitos locais, embelezando o conjunto com
meritosas e doutas observações. Deste modo, a sua fama correu mundo,
assim como a dos primeiros autores que de outro modo teriam ficado
confinados aos limites dos seus países.» (2.ª ed. Lyon, 1619, p. [5]).
43
44
Santa Teresa de Ávila:
Caminho de Perfeição (1515-1582)
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Pormenor de gravura da obra: Vita S. Virginis Teresiae a Iesu Ordinis Carmelitarum
excalceatorum piae restauratricis […]. Antuerpiae: apud Ioannem Galleum, M.DC.XXX. (BNP
E.A. 14//6 P.)
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ver impresso. Corre o ano de 1580 quando D. Teotónio de Bragança,
arcebispo de Évora, recebe o pedido de o fazer publicar. Embora frei
Bartolomeu Ferreira acabe a censura a 7 de outubro de 1580, o livro só fica
impresso em fevereiro de 1583, em Évora, na oficina gerida pela viúva de
André de Burgos, sob a denominação Tratado que escriuio la Madre Teresa
de Iesus. A las hermanas religiosas de la Orden de Nuestra Señora del
Carmen del Monesterio del Señor Sanct Ioseph. De Auila de donde a la sazon
era priora y fundadora. Madre Teresa de Jesus morrera cinco meses antes
(4 de outubro de 1582). Mas este é o seu primeiro livro impresso.
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Muitas e muito estranhas
cousas que viu e ouviu…:
O primeiro século de edições da Peregrinaçam
d e Fer na m M e nd e z P in to (1 6 1 4 - 17 1 1 )
Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu... é um dos subtítulos da
obra que Fernão Mendes Pinto construiu para nela narrar o muito que de
extraordinário viveu e presenciou.
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águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é
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águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é
tanta, que de todo lhes faz esquecer a sua pátria, ou a vaidade e a cegueira
que lhes causa a sua cobiça é tamanha, que por ela negam a Deus e a seus
pais (cap. 122). É essencialmente por ser um livro polémico, que descreve a
realidade que o Outro não conhece (ou em que não quer acreditar),
conseguindo ironizar e
criticar, que o seu autor
recebe o ápodo de
mentiroso! O próprio autor
tem consciência dessa
probabilidade: … que é
muito para se recear contá-
lo, ao menos a gente que viu
pouco do Mundo: porque
esta, como viu pouco,
também costuma a dar
pouco crédito ao muito que
outros viram. (cap. 14).
51
Mas não é a biografia de Fernão Mendes Pinto que nos interessa
nesta exposição: 1614 nada representa na vida desse escritor que nasce em
Montemor-o-Velho, circa 1510, e morre em Almada, no Pragal, a 8 de julho
de 1583.
52
Foi na época a obra portuguesa que conheceu o maior número e
variedade de traduções impressas. Se Os Lusíadas (1572), de Luís de
Camões, um seu contemporâneo, foi traduzida para castelhano (1580), latim
(1622), inglês (1655) e italiano (1658), no primeiro século após a sua
impressão, a Peregrinação (1614) foi-o para castelhano (1620), francês
(1625), neerlandês (1652),
inglês (1653) e alemão
(1671) todas conhecendo
diferentes impressões e
edições, algumas delas
apresentadas nesta exposi-
ção pela primeira vez.
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As surpresas (que foram uma constante) registadas ao longo da
elaboração do catálogo, obrigaram a um confronto suplementar: o da
observação de todos os exemplares das obras expostas. Optou-se, assim,
por apresentar no momento da inauguração um Guia da Exposição – onde
o visitante pode observar e apreender toda a investigação – enquanto não
se consegue o confronto de todos os exemplares conhecidos de todas as
edições da Peregrinação impressas nos séculos XVII e XVIII.5
5
Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu… O primeiro século de edições da
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto: Guia da Exposição. 3.ª ed. Lisboa: Biblioteca
Nacional de Portugal : Centro de Estudos Históricos : Centro de História d’Aquém e
d’Além-Mar, 2016; (1.ª 2014; 2.ª 2016 – ed. eletrónicas).
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Ilustrações da edição impressa em 1671, em língua alemã.
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Cervantes: a figura que se
esconde por detrás da obra
Miguel de Cervantes Saavedra morreu em 1616, em Madrid, a 22 de abril.
Foi romancista, dramaturgo, poeta e militar. Contava então 68 anos de
idade, dado ter nascido em Alcalá de Henares, em 1547, onde foi batizado a
9 de outubro, na igreja de Santa María la Mayor (aceita-se que tenha nascido
no dia de S. Miguel, 29 de setembro).
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El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha / Compuesto por Miguel de
Ceruantes Saauedara. Em Lisboa: Impresso com lisença do Santo Officio por Iorge
Rodriguez, Anno de 1605.
58
Não é raro um autor ser menos conhecido do que um herói por si
inventado. Nos dias de hoje, graças aos meios audiovisuais, é normal
conhecerem-se as figuras do Super-Homem, do Capitão América, do Tintim,
do Pinóquio e de tantos outros, desconhecendo-se, na maioria das vezes, o
nome do seu criador literário.
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El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha / Compuesto por Miguel de
Ceruantes Saauedara. Em Lisboa: Impresso com lisença do Santo Officio por Iorge
Rodriguez, Anno de 1605.
60
Miguel de Cervantes Saavedra constitui um bom exemplo do autor
castelhano que ultrapassa – desde o início da publicação da sua obra – a
fronteira, sem necessidade de tradução. Galatea, a primeira novela
cervantina (obra que nunca completou), conhece uma segunda impressão
em Lisboa, no ano de 1590, cinco anos apenas depois da edição primeira que
ocorrera em Alcalá de Henares, em 1585. A edição portuguesa, comprada
em Évora no ano de 1610, serviu de base à tradução que se publicou em
Paris, em 1611, dado ambas conterem as mesmas omissões.
61
El ingenioso hidalgo Don Quixote de la Mancha / Compuesto por Miguel de
Ceruantes Saauedara. En Lisboa: Impresso por Pedro Crasbeeck, Anno M. DCV. [=
1605]
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Miguel de Cervantes não se esgota na criação da figura de D. Quixote. Em
1613, publicam-se as suas Novelas Ejemplares em que o autor redige o seu
autorretrato:
Éste que veis aquí, de rostro aguileño, de cabello castaño, frente lisa y
desembarazada, de alegres ojos y de nariz corva, aunque bien
proporcionada; las barbas de plata, que no ha veinte años que fueron de
oro, los bigotes grandes, la boca pequeña, los dientes ni menudos ni
crecidos, porque no tiene sino seis, y ésos mal acondicionados y peor
puestos, porque no tienen correspondencia los unos con los otros; el cuerpo
entre dos extremos, ni grande, ni pequeño, la color viva, antes blanca que
morena; algo cargado de espaldas, y no muy ligero de pies; éste digo que
es el rostro del autor de La Galatea y de Don Quijote de la Mancha, y del
que hizo el Viaje del Parnaso, a imitación del de César Caporal Perusino, y
otras obras que andan por ahí descarriadas y, quizá, sin el nombre de su
dueño. Llámase comúnmente Miguel de Cervantes Saavedra. Fue soldado
muchos años, y cinco y medio cautivo, donde aprendió a tener paciencia en
las adversidades. Perdió en la batalla naval de Lepanto la mano izquierda
de un arcabuzazo, herida que, aunque parece fea, él la tiene por hermosa,
por haberla cobrado en la más memorable y alta ocasión que vieron los
pasados siglos, ni esperan ver los venideros, militando debajo de las
vencedoras banderas del hijo del rayo de la guerra, Carlo Quinto, de felice
memoria.
No ano seguinte, 1614, é a Viage del Parnaso que é impressa (Madrid, viuda
de Alonso Martin) seguindo-se-lhe Ocho comedias, y ocho entremeses
nuevos nunca representados, pela mesma casa impressora, em 1615.
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Segunda parte del ingenioso Cauallero don Quixote de la Mancha / Por Miguel de
Ceruantes Saauedra, autor de su primera parte. Madrid, por Juan de la Cuesta, 1615.
Madrid, BNE,
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Mas o êxito da primeira parte da obra El Ingenioso Hidalgo Don Quixote de
la Mancha foi tamanho que um denominado «Alonso Fernández de
Avellaneda», aproveitando os oito anos de tardança do aparecimento da
continuação da narrativa, ousa escrever e publicar um Segundo tomo del
ingenioso hidalgo don Quixote de la Mancha (Tarragona, en casa de Felipe
Roberto, 1614).
O tempo corre adverso, os seus projetos ainda não estão terminados. Quer
compor uma obra que não seja para sorrir. Escreve Los Trabalos de Persiles,
y Sigismunda. Na dedicatória da obra, que só será impressa depois da sua
morte, escreve:
Ayer me dieron la estremaunción y hoy escribo esta. El tiempo es breve, las
ansias crecen, las esperanzas menguan, y, con todo esto, llevo la vida sobre
el deseo que tengo de vivir.
Não viveu muito mais, não chegou a escrever a segunda parte da sua
Galatea, mas deixou uma obra que muito tem feito sonhar. Ajudou a criar
um mundo que sabe sorrir com as suas desventuras. Todos nós já fomos,
somos ou seremos, em qualquer momento da nossa vida, um Dom Quixote
que acaba por deixar de acreditar e morrer...
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66
Shakespeare: 400 anos
Quem não conhece a expressão: ser, ou não ser, eis a questão... 6
Pode-se afirmar, sem qualquer dúvida, que quase todos sabem que
foi escrita por Shakespeare e que constitui o começo do primeiro
verso daquilo que poderíamos classificar como um poema
monológico integrado no poema dramático Hamlet. Felizes são
«aqueles que por obras valerosas se vão da morte libertando», como
Camões lembrou. É que se, por um lado, estamos a evocar a
passagem de 400 anos sobre a data da morte do seu autor, por outro
lado, estamos a dizer que ele continua vivo, dado que todos os dias
alguém, no mundo, lembra e pronuncia uma frase por si escrita ou
assiste a uma representação (quer em teatro, quer em cinema) de
uma das muitas obras que nos deixou.
William Shakespeare foi um autor (poeta e dramaturgo) e
ator inglês que nasceu em 1564 e morreu em 1616 (ambos os
momentos a 23 de abril) 7. A sua obra é vasta. Aceita-se, comumente,
6
No original «To be, or not to be, that is the question ... » (1.º Ato, 1 ." Cena).
7
Na verdade, os 400 anos da morte de Shakespeare só ocorrem a 3 de maio
porque a Inglaterra só adotou a reforma do Calendário, proposta pelo Papa
Gregoriano, em 1752 (ver o texto das p. 71-73).
67
que compôs 38 peças de teatro (tragédias e comédias baseadas em
factos e personagens históricas), 154 sonetos, 2 longos poemas
narrativos e diversos pequenos poemas. Em todos os seus escritos
perpassa o tratamento do homem como escravo das suas paixões,
nos diversos contextos políticos e culturais, transformando-se,
contudo, ao mesmo tempo, em poeta do amor.
8
A opera representada em Lisboa, no Teatro S. Carlos, em 1798, Giulietta e
Romeo, do compositor Nicola Antonio Zingarelli, sobre libreto de Giuseppe
Maria Foppa (estreada em Milão, em 1796), tem por base a novela quinhentista
de Luigi da Porto, fonte comum de inspiração do tema também a W.
Shakespeare.
9
Com a colaboração do Conselheiro Antonio José Viale, professor dele e dos
filhos (D. Carlos e D. Afonso) escolhido por D. Fernando.
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acessíveis a quem não dominava o inglês ou o francês - língua em que
foi abundantemente lido em Portugal, durante o século XIX. Essas
traduções foram importantes para a difusão da sua obra, tanto em
Portugal como no Brasil.
69
Lisboa, 20 de setembro de
1582
PT/TT/LO/003/3/036
70
Quando 23 de abril, em
Londres, era 3 de maio, em Paris
Há 400 anos, a 3 de maio do ano de 1616, morreu em Stratford-upon-Avon,
William Shakespeare. Não, não é engano. Hoje, sim, dia 3 de maio, é que
ocorrem 400 anos sobre a data da sua morte, segundo o calendário que está
- e estava já - em vigor em Portugal (e em toda a Europa que seguia a Igreja
Católica de Roma). Quando em Londres era 23 de abril, em Lisboa, ou em
Madrid, ou em Roma, era 3 de maio, desde o ano de 1583. Por isso, e ao
contrário do que tem sido anunciado e festejado, Miguel de Cervantes, o
famoso criador da personagem D. Quixote, não foi enterrado no dia em que
Shakespeare morreu. Entre a morte dos dois grandes escritores existe uma
diferença de onze dias, dado que na contagem comum e vulgar da Europa
de hoje, Cervantes morreu em 22 de abril e Shakespeare morreu a 3 de
maio, desse ano de 1616. Afinal o Dia Internacional do Livro, que se festejou
a 23 de abril, passado, não foi, nem é, a data da morte de nenhum destes
dois autores.
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calendário seguido no Reino-Unido marcava, nesse momento, uma data
diferente, daquela que era marcada no calendário seguido em Paris. Entre
as duas margens do Canal havia, nesse ano de 1616, dez dias de diferença
num mesmo momento. Pode parecer confuso, mas não é.
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era, como é, importante para a Igreja de Roma, dado a Páscoa ter como
referência a data do Equinócio para a sua determinação.
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Raúl Rêgo Bibliófilo
Qualquer estudioso do livro português conhece o valor dos estudos, em forma
de ensaio, que Raúl Rêgo assinou, ao longo da sua vida, nos diferentes jornais
em que colaborou. Eram crónicas realizadas com o conhecimento profundo e
sábio de um homem culto, que lia, estudava e amava os livros que lhe chegavam às
mãos. É certo que Raúl Rêgo colecionava livros, era um dos grandes bibliófilos
portugueses. Mas colecionar livros é diferente de ser bibliófilo; e ser bibliófilo
também é diferente de ser um estudioso e um expert no assunto: é que um
livro cerrado não traz cultura! Mas o bibliófilo não gosta apenas do livro pelo
conhecimento (ou divertimento) que o mesmo lhe pode proporcionar... gosta do
livro pelo cheiro, pelo formato, pela época em que foi feito, pelo autor que o
escreveu, pela tipografia que o imprimiu e, também, pelo seu conteúdo. Enfim,
gosta do livro pelo livro. E Raúl Rêgo era esse expert, esse bibliófilo, que se
passeava de livraria em livraria na busca de saciar o seu prazer infinito. Depois de
ter caçada a presa, anotava-a, estudava-a e, na maioria das vezes, escrevia
sobre ela.
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do século XVI, escolhendo daqueles apenas os que não existem nas coleções da
própria BNP. É a oportunidade para o público entrar em contacto com os
tesouros que ajudaram a formar a cultura do intelectual. Quando se conseguiu
localizar a(s) crónica(s) que Raúl Rêgo dedicou ao mesmo livro, essa crónica é
também apresentada.
Para além desses “meus livros” – nome retirado de uma das suas
crónicas narrativas – apresentam-se, também, alguns livros (ou catálogos de
livraria ou de leilões) que Raúl Rêgo prefaciou, divulgou ou estudou
Apontamento biográfico:
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Revolução, por não querer abdicar dos seus princípios. Raul Rêgo passa a dirigir
A Luta, jornal criado em 1975, tendo por base os mesmos valores.
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J. V. de Pina Martins
«um admirador, quase um companheiro
for a d o t emp o, d a q uele te mp o sem
tempo que nós chamamos o Renascimento»
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(espiritualidade e defesa do cristianismo jansenista), com uma dissertação
de licenciatura Miséria e grandeza do Homem em Les pensées de Blaise
Pascal –, a sua passagem por Roma transformou-o em «um admirador,
quase um companheiro fora do tempo, daquele tempo sem tempo que nós
chamamos o Renascimento» (nas palavras de Eduardo Lourenço 10) que
aparece aprimorado no estudo Humanisme et Renaissance de l’Italie au
Portugal. Les deux regards de Janus. Giovanni Pico della Mirandola e Sá de
Miranda transformam-se nas duas faces, tal como um Janus, que viviam no
pensamento intelectual de Pina Martins. A eles se juntavam depois, e só
depois, Camões, Erasmo, Thomas More, João de Barros e tantos outros.
10
«Recordando J. V. Pina Martins» / Estudos Italianos em Portugal, Instituto Italiano
de Cultura de Lisboa, nova série, n.º 5, 2010, p. 177.
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Colaborou com a Biblioteca Nacional em diversas iniciativas, com
destaque para a exposição comemorativa do 4º centenário de Os Lusíadas
em 1972.
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quer de compras, quer de vendas, quer de trocas – das raridades
bibliográficas e do grande desconhecimento de alguns livreiros.
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acabou-se na vila de Chaves, o que quer dizer, o manuscrito foi concluído na
vila de Chaves, na data indicada»11]. E continuava eu: «O impresso,
Professor, foi-o, certamente, na Galiza, e por isso a presença involuntária de
diversos castelhanismos no texto, causados pelo compositor/impressor.»
Pina Martins respondia-me, então, com palavras quase idênticas àquelas
que ele mesmo escreveu, contando o episódio do jantar com Marcello
Caetano: «quando tive conhecimento das primeiras objeções, preparei novo
artigo, não só reduzindo à sua insignificância estes reparos, que não tinham
fundamento, mas trazendo novos elementos que, entretanto, eu tinha
alcançado de um confronto muito pormenorizado com incunábulos
espanhóis de Zamora e Salamanca um pouco anteriores a 1489. O meu
artigo começava por indicar que, de facto, se destinava a pessoas cultas (e
Marcello Caetano era cultíssimo), mas não especialistas de bibliografia.»11 E
fique o João sabendo que estou convencido que a todos convenci. Ousei
contra-argumentar ainda: mas Professor, acha mesmo que é possível (quer
pelo peso, quer pelo volume) um impressor ambulante transportar a
quantidade de tipos em chumbo que foram necessários para realizar os
deitados de apenas um caderno (em formato de fólio) composto por 16
páginas!… E a máquina, o peso e o tamanho da máquina prelo que foi
necessário transportar para a impressão de um deitado, com aquela
11
J. V. de Pina Martins - «De como identifiquei o Tratado de Confissom». Revista
ICALP, vol. 15, março de 1989, 119-130. [http://cvc.instituto-
camoes.pt/dmdocuments/idconfissom.pdf].
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complexidade, para ficarem certos todos os frentes e versos das 15 folhas [=
60 p.] que formam o incunábulo? O tamanho da carroça que era necessária?
Olhou para mim e disse apenas: «o coração tem razões que a própria razão
desconhece» e essa frase tinha-lhe sido ensinada por um dos seus primeiros
mestres: Blaise Pascal.
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Letra Perfeita e Clara que se pode ler sem óculos: nos 550 anos da morte de
Gutenberg ………………………………………………………………………………7
Aldo Manuzio o inventor do itálico …………………………………………………… 13
A diáspora da palavra: obras de autores portugueses impressas fora de
Portugal no século XVI (1501-1520) ……………………………………… 19
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende: a arte de trovar, que em todo
tempo foi mui estimada… …………………………………………………….. 23
Aquele único exemplo… 450 anos da lírica de Camões ……………………… 31
Antes de Lineu: o mundo das plantas na coleção de impressos da BNP ... 37
Santa Teresa de Ávila: Caminho de Perfeição (1515-1582) ………………. 43
Muitas e muito estranhas cousas que viu e ouviu …: o primeiro século de
edições da Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto (1614-1711). 47
Cervantes: a figura que se esconde por detrás da obra ……………………. 55
Shakespeare: 400 anos ………………………………………………………………………. 65
Quando 23 de abril, em Londres, era 3 de maio, em Paris …………………… 69
Raúl Rêgo Bibliófilo …………………………………………………………………………… 73
J. V. de Pina Martins «um admirador, quase um companheiro fora do tempo,
daquele tempo sem tempo que nós chamamos o Renascimento». 77
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