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HISTÓRIA E CARISMA
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APOGEu: DE TURim à GLóRIA DE BERNINI
(1876-1934)
DOM BOSCO:
HISTÓRIA E CARISMA
3
APOGEu: DE TURim à GLóRIA DE BERNINI
(1876-1934)
EDB
©2007. LAS Librería Ateneo Salesiano, Roma. Editor da obra original: Aldo Giraudo.
©2010. Editorial CCS, Madri. Editores da edição espanhola: Juan José Bartolomé e Jesús
Graciliano González.
©2014. Editora Dom Bosco. Brasília.
Traduzido da edição espanhola Don Bosco: historia y carisma. Apogeo: de Turín a la gloria
de Bernini (1876-1934) pelo padre José Antenor Velho.
LENTI, Arthur J.
Isbn: 978-85-7741-273-0
CDD 922.22
CONTEXTO HISTÓRICO
DOS ÚLTIMOS ANOS DE DOM BOSCO
(1876-1890)
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Elenco dos primeiros-ministros deste período:
Agostinho Depretis I (25 de março de 1876);
Agostinho Depretis II (26 de dezembro de 1877);
Benedito Cairoli I (24 de março de 1878);
Agostinho Depretis III (19 de dezembro de 1878);
Benedito Cairoli II (14 de julho de 1879);
Benedito Cairoli III (25 de novembro de 1879);
Agostinho Depretis IV (29 de maio de 1881);
Agostinho Depretis V (25 de maio de 1883);
Agostinho Depretis VI (30 de março de 1884);
Agostinho Depretis VII (29 de junho de 1885);
Agostinho Depretis VIII (4 de abril de 1887);
Francisco Crispi I (29 de julho de 1887);
Francisco Crispi II (9 de março de 1889);
Antônio Rudini I (9 de fevereiro de 1891);
João Giolitti (15 de maio de 1892);
Francisco Crispi III (15 de dezembro de 1893);
[Antônio Rudini II (10 de março de 1896)].
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de Obras Públicas, José Zanardelli, e outros dignitários, aceitasse o convite do prefeito de Turim para
participar da inauguração da linha férrea Turim-Lanzo em 6 de agosto de 1876. O prefeito e o conselho
municipal de Lanzo pediram ao padre Lemoyne, diretor da Obra Salesiana, para usar os espaçosos pá-
tios da escola e seu jardim para a recepção oficial. Padre Lemoyne pediu orientações a Dom Bosco, que
aconselhou a pôr os estudantes e a estrutura à disposição. Ele mesmo, no dia anterior, foi a Lanzo com
alguns salesianos; a banda do Oratório atuou na inauguração e na recepção. Depois da inauguração e
da bênção da linha férrea, aos pés da colina, as personalidades e o povo subiram à escola salesiana, onde
receberam entusiasmadas boas-vindas. Os dignitários, já no jardim e depois das saudações e algum
refresco, começaram a fazer perguntas embaraçosas a Dom Bosco, que respondeu sem qualquer proble-
ma (cf. MB XII, 416s, onde o padre Ceria se apoia em Documenti Lemoyne XVII, 423-431). Também
presente, padre Lemoyne baseou-se na Crônica Autógrafa do padre Barberis, caderno 8, entrada de 8 de
agosto de 1876). O fato foi notícia na imprensa tanto católica quanto anticlerical.
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C. Duggan, History of Italy, 158.
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Francisco Crispi casara-se na Igreja em 1855 com Rosária Montmasson, a única mulher que
participou da Expedição dos Mil, em 1860, e que o acompanhou quando lutava com Garibaldi na
Sicília e em Nápoles contra os Bourbon. Mais tarde, abandonou Rosária, e em 26 de janeiro de 1878,
casou-se com Lina Barbaglio em cerimônia civil.
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Benedito Cairoli (1825-1889), político da extrema esquerda, combatera com Garibaldi e, de-
pois da unificação da Itália, foi eleito representante parlamentar (1869-1870). Quando a esquerda
chegou ao poder (1876), foi eleito primeiro-ministro (1878, 1879, 1880-1881). Como membro do
Grupo dos Cinco (1883), opôs-se à política do transformismo, de Depretis. Era um líder dinâmico da
extrema esquerda, sem conseguir controlá-la.
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3. A era Depretis
A esquerda moderada, de Depretis, obteve uma maioria considerável,
embora não esmagadora. Como consequência, o rei, em 29 de maio de 1881,
pediu a Depretis que formasse um novo governo. Iniciava assim a “era De-
pretis”. Ao esboçar seu programa, insistiu na urgência de uma reforma elei-
toral realista e na necessidade de melhorar o exército, pois, com a bonança
econômica, contava-se com fundos suficientes. Quanto às relações interna-
cionais, queria que a Itália fosse uma força de unidade e de paz. Durante esse
tempo, de 29 de maio de 1881 a 29 de julho de 1887, Agostinho Depretis
foi primeiro-ministro cinco vezes consecutivas até sua morte.10 Morreu em
29 de julho de 1887 aos 74 anos e foram-lhe concedidos funerais de Estado
e luto nacional.
4. A era Crispi
Em 7 de agosto de 1887, por decreto real, Francisco Crispi assumiu a
chefia do governo e também o ministério de Assuntos Exteriores.11 Cris-
pi foi três vezes primeiro-ministro, designado pelo rei (1887-1889; 1889-
1891; 1893-1896). Em política exterior, foi partidário da Tríplice Aliança
e organizou a colonização da Eritreia. Procurou impor o protetorado sobre
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Desde 1876, Depretis demonstrara ser mestre da tática e da administração suave e sutil para
pactuar com outros grupos políticos, capaz de moldar o Parlamento quase à sua vontade, de modo
parecido com Cavour, outro grande estadista piemontês. Depretis deu à Itália uma administração
eficiente, em que se levaram a cabo com discrição algumas reformas liberais, sem que a política fosse
alterada por controvérsias demasiado violentas. Na política exterior, como na nacional, seu instinto na-
tural, como ele mesmo disse, foi abrir o guarda-chuva quando visse uma nuvem no horizonte, e esperar
que passasse a tormenta. Como tática, costumava antecipar-se à derrota parlamentar renunciando em
tempo; e renunciou com sucesso em 1883, 1884, 1885 e 1887 para ficar livre de mudar de direção e
remodelar a coalizão. Quando formou seu oitavo e último gabinete em abril de 1887, eliminou os ge-
nerais Di Robilant e Riccoti, da direita, e elegeu Crispi e Zanardelli, da esquerda. Crispi, na oposição,
não poupara críticas ao governo, mas, ao colaborar com o astuto Depretis depois de dez anos fora do
poder, Crispi abandonou a esquerda independente e assumiu o sistema do transformismo; dessa forma,
apresentou-se como óbvio sucessor de Depretis, quando este faleceu nesse mesmo ano.
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Francisco Crispi (1819-1901), político controvertido, teve uma longa e variada história. Per-
tencia a uma família albanesa, que emigrara para a Sicília. Esteve a serviço do governo revolucionário
siciliano em 1848-1849 e em 1853 exilou-se na França e Inglaterra, por causa das suas atividades
revolucionárias em Milão. Enquanto estava em Londres associou-se a Mazzini, também no exílio,
e pelo mesmo motivo. Em 1860, uniu-se a Garibaldi na Expedição dos Mil à Sicília. De ideologia
republicana, foi deputado siciliano no Parlamento italiano desde a unificação da Itália em 1861 até,
praticamente, sua morte em 1901. Quando a esquerda chegou ao poder, em 1876, ele presidiu a câma-
ra dos representantes (1876) como líder da esquerda radical, e foi ministro do Interior (1877-1879).
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A epidemia de cólera
Uma grande epidemia de cólera, iniciada no sul da França e introduzida
na Itália pelos trabalhadores temporários, causou estragos de modo intermi-
tente de meados de 1884 até 1887. Foi a maior epidemia de que se recorda
daquele século. As vítimas chegaram a cerca de 50 mil. Só em Nápoles, ocor-
reram 8 mil óbitos, com uma taxa de mortalidade de 50% dos casos; a doen-
ça propagou-se nessa cidade com virulência especial por causa das deplorá-
veis condições higiênicas e estruturais. No Parlamento, o primeiro-ministro
Depretis apresentou um projeto de lei para “limpar” e reestruturar a cidade,
aprovado por unanimidade. O projeto de lei foi promulgado em 15 de janei-
ro e criou-se uma comissão para sua aplicação.
A epidemia, que fizera estragos em toda a península, causou muitas ví-
timas e chegou ao seu pico em Palermo (Sicília), onde foram registradas 189
mortes em um único dia, fazendo com que a cidade fosse posta em quarente-
na. O pânico e os levantes populares estenderam-se por toda a ilha, exigindo
o envio de 17 unidades do exército para manter a ordem pública.
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Representantes dos partidos democráticos reuniram-se em Roma, no dia 10 de fevereiro de
1881, com a finalidade, entre outras, de lutar pelo sufrágio universal, inclusive para mulheres.
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O transformismo
Durante a campanha eleitoral de 1882, Depretis expôs sua nova política
“transformista”. A ideia era que a esquerda moderada se aliasse com as forças
conservadoras da direita que estivessem dispostas a colaborar para encarar as
questões concretas enfrentadas pelo governo, deixando para trás as antigas
diferenças ideológicas da época do Ressurgimento.
Tratava-se de um convite e de um desafio dirigido aos candidatos con-
servadores, convidando-os à “transformação”, ou seja, a potenciar maiorias
fortes para formar um governo mais estável e eficaz. O que supunha abando-
nar os princípios ideológicos por uma conveniência de curto prazo. De fato,
no processo realizado na década dos anos oitenta, os slogans tradicionais da
esquerda e da direita foram perdendo significado, uma vez que os governos se
converteram num amálgama inerte da antiga oposição. A falta de propostas
de reformas significativas, desde 1882, fez com que a muitos parecesse óbvio
que as antigas divergências fossem esquecidas e as forças políticas se centras-
sem em assuntos importantes.
Por outro lado, contudo, o transformismo também resultou da incerteza
e da sensação de que a classe dominante da Itália precisava cerrar fileiras para
enfrentar o crescente desafio do socialismo, que ganhava adeptos em novas
camadas sociais e ameaçavam as instituições conservadoras da burguesia; a
partir disso a conveniência de unir-se na tarefa comum de conter a maré que
alguns chamavam de “viveiro de demagogia”.14
Os movimentos sociais
A questão social avançava e, nesses anos, foram crescendo e tornando-se
sempre mais ativas e exigentes as diversas organizações operárias e populares.
Em setembro de 1876, reuniu-se em Gênova o XIV Congresso dos Sin-
dicatos de Trabalhadores “federados”, de inspiração mazziniana. Concordou-
-se em não participar nas eleições enquanto o sufrágio universal não se con-
vertesse em lei. Também foi aprovada uma resolução pedindo a cooperação
de todas as sociedades operárias para garantir o fim da estruturação injusta
do trabalho.
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C. Duggan, History of Italy, 161.
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A Primeira Internacional, criada por Karl Marx em Londres, em 1864, como associação inter-
nacional de operários, foi dissolvida doze anos mais tarde, por causa das lutas internas entre marxistas
e anarquistas. A Segunda Internacional, criada em Paris, em 1889, ainda sobrevive como associação
livre de socialdemocratas. A Terceira Internacional, conhecida como Comintern, foi criada pelos bolche-
viques em 1919 para fomentar a causa da revolução mundial. Foi abolida durante a Segunda Guerra
Mundial, para não incomodar os aliados.
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Desde que a esquerda subiu ao poder, a fragmentação ideológica de seu bloco parlamentar
ameaçou a estabilidade do governo e demonstrou sua incapacidade de manter a ordem social. Além
disso, grupos extraparlamentares (republicanos mazzinianos, democratas, socialistas e anarquistas) pu-
seram em perigo a sobrevivência da ordem constitucional. Papado e monarquia eram os principais
objetivos.
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O termo irredentismo entrara no diálogo político em 1877 com a fundação da Associação pela
Itália Irredimida, à qual seguiu uma intensa campanha pela “redenção” de Trento e Trieste, promovida
pelo partido republicano mazziniano e pelo grupo radical garibaldino, que no espírito do Ressurgimento
estava destinado a completar a unificação, “redimindo” para a Itália as regiões de Trento e Trieste, que
ainda pertenciam ao império austríaco. As expectativas dos “irredentistas” foram dissipadas no Congresso
de Berlim (1878), quando a Itália renunciou a reclamar mais territórios e entrou na Tríplice Aliança.
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Passanante foi julgado nos inícios de março de 1879 e condenado à morte, sentença que o
rei comutou em prisão perpétua. No dia seguinte à tentativa de regicídio, numa celebração pela inte-
gridade do rei, que se deu em Florença, explodiu uma bomba, em consequência da qual morreram 4
pessoas e muitas ficaram feridas. Em janeiro de 1880, foram julgados e condenados, recebendo penas
severas, 14 membros da Internacional Socialista, acusados de cumplicidade no atentado, entre eles a
revolucionária russa, Ana Kuleshoff. Humberto I seria assassinado pelo anarquista Caetano Bresci em
10 de julho de 1900.
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Os movimentos católicos
Também os católicos, embora excluídos da política, estiveram ativos
neste período. Em 1877, inaugurou-se em Bolonha o Terceiro Congresso Ca-
tólico que, interrompido por um protesto anticlerical popular, foi encerrado
pelo chefe de polícia por razões de ordem pública; decisão que foi denunciada
com força na imprensa como inconstitucional. O Primeiro Congresso Cató-
lico fora celebrado em Veneza em 1874 quando se insistira na necessidade
de criar escolas e hospitais católicos. O Segundo Congresso, celebrado em
Florença em setembro de 1876, organizara a Obra dos Congressos. Tratava-se
de uma estrutura permanente aprovada por Pio IX com a finalidade de coor-
denar a Ação Católica na Itália. Os católicos, embora mantivessem a atitude
de não participação na política, animaram-se para apresentar-se às eleições
administrativas, provinciais ou locais, intervir na educação e nas obras de
caridade, e lutar contra o socialismo e a imoralidade por meio da imprensa,
de assembleias e petições ao Parlamento.
A Obra dos Congressos, que jurara obediência ao Papa no momento
do decreto Non Expedit, foi o principal instrumento de organização da opo-
sição católica contra o Estado liberal. De 1875 a 1890, seu comitê diretivo
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C. Duggan, History of Italy, 162-163. O autor menciona o atraso da agricultura italiana e o
lento processo de industrialização. “Nos anos sessenta e setenta do século XIX, a indústria ainda estava
em seus inícios... Na época da unificação, a Itália tinha meio milhão de teares, enquanto a Inglaterra
chegava a 30 milhões e a França, a 5,5 milhões. A produção anual de ferro-gusa era de umas 30 mil
toneladas comparadas com os 4 milhões da Inglaterra e o milhão da França” (ibid.).
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A atuação da Santa Sé
A Santa Sé continuava com sua política de isolamento e protesto contra
a usurpação de seus bens e a falta de independência e autonomia. As relações
com o Estado italiano continuavam tensas.
O ano de 1883 trouxe um lampejo de novidade. Uma carta a Leão XIII,
assinada pelo rei Guilherme I, da Alemanha, e referendada pelo primeiro-mi-
nistro, Otto von Bismarck, expressava sua satisfação pela melhora das relações
entre a Alemanha e a Santa Sé. Nela, anunciava-se a revisão das leis punitivas
da Kulturkampf contra a Igreja Católica. Como demonstração do desejado
desgelo das relações, a maior parte das dioceses na Prússia foi restaurada e o
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A educação
No âmbito da educação pública, uma portaria do ministro Miguel Cop-
pino (1822-1901), de 5 de março, decretava que o ensino primário era gratuito
e obrigatório para todas as crianças de 7 a 9 anos de idade. Foi uma reforma
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A lei das Garantias (1871) concedia ao papado reter algumas propriedades (Vaticano, São
João do Latrão e Castelgandolfo), manter, sem impedimento, a comunicação dentro da nação e com
o exterior, gozar de representação diplomática, honras reais e outros “privilégios”. Estas disposições,
porém, eram “concessões” do Estado às quais o Papa não tinha qualquer direito. Não eram, portanto,
restituições de uma soberania autêntica ou do poder temporal. Por isso, Pio IX e Leão XIII recusaram
a lei e não negociaram qualquer acordo ou reconciliação que excluísse a restituição. Depois, quando
em 1929 se chegou à reconciliação (conciliazione) entre Pio XI e Benito Mussolini, baseando-se na
restituição, embora não se utilizasse o termo, o Papa obteve a soberania sobre o “Estado do Vaticano”.
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Massawa, foi sitiado por Mula. Os soldados enviados em sua ajuda sofreram
uma emboscada e foram aniquilados em Dogali. O massacre de Dogali pro-
vocou em Roma e em outras cidades italianas manifestações maciças contra a
política do governo colonial.
No início de janeiro de 1889, o negus João IV, imperador da Etiópia,
fez uma aliança com seu rival o ras Menelik II, rei de Shewa ou Shoa, desig-
nando-o seu sucessor.22 Após a morte de João IV e da sucessão de Menelik
como imperador, em 10 de março de 1898, começaram as negociações; pelo
tratado de Uccialli, datado em 2 de maio e redigido em italiano e etíope, a
Itália reconheceu Menelik como imperador e este concedeu à Itália as con-
quistas feitas na costa do Mar Vermelho (Eritreia), mas recusou as intenções
da Itália de impor um protetorado colonial na Etiópia. A Itália reclamou o
protetorado de acordo com um artigo que previa a representação italiana da
Etiópia nas relações internacionais23 e que envolvia a existência de um pro-
tetorado. Os corpos militares italianos avançaram a oeste e, sem oposição,
ocuparam Asmara no interior da Eritreia. Enquanto isso, uma delegação da
Etiópia chegou à Itália para uma conferência com o ministro de Assuntos
Exteriores a fim de atualizar e concluir o tratado de Uccialli. A Itália poderia
manter os territórios já ocupados em troca de uma substancial ajuda finan-
ceira à Etiópia.
Especialistas do ministério italiano de Assuntos Exteriores não compro-
varam a correspondência exata dos textos do tratado e não levaram em conta
que o artigo sobre a representação, em virtude do qual a Itália reclamava o
protetorado, inexistia no texto etíope.
A Etiópia – de boa fé? – nada sabia de um protetorado; mas em 11
de outubro, o primeiro-ministro Crispi – de boa fé? – pôs-se em contato
com todos os embaixadores acreditados perante os governos signatários da
Conferência de Berlim de 1885 para dar-lhes conhecimento do protetorado
italiano “de fato” sobre a Etiópia. Alguns dias mais tarde, falando ao Parla-
mento, ele sublinhou a histórica “missão civilizadora” da Itália, exaltando as
vantagens que trariam as colônias para a indústria e o comércio italianos.
Em novembro, a Itália ampliava seu protetorado até a costa Benadir, ao
sul da Somália. Numa conferência internacional celebrada em Bruxelas, em
18 de novembro, sob a presidência do cardeal Carlos Lavigerie, arcebispo
22
João IV (1831-1889) derrotara Menelik na luta para suceder Tewodros II como imperador da
Etiópia (1872-1889). Deve-se reconhecer-lhe o fato de ter preservado a Etiópia da invasão do Sudão e
da Itália. Morreu em batalha contra os mahdistas sudaneses, em 1889.
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O artigo 17, presente no texto italiano do tratado, inexistia na versão etíope.
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Bispo e diplomata
Sexto de sete filhos de uma família da aristocracia menor, Vicente Joaquim
Pecci foi educado pelos jesuítas em Viterbo e no Colégio Romano, antes de
chegar à Academia dos Nobres, em Roma, para formar-se no serviço diplo-
mático papal.
Foi ordenado padre em 1837. Como legado pontifício em Beneven-
to, nos Estados Pontifícios (1838-1841), e arcebispo governador de Perúgia
(1841-1843), demonstrou grande energia contra a bandidagem e em opo-
sição aos liberais. Jovem clérigo, excepcionalmente audacioso, foi nomeado
núncio na Bélgica e feito arcebispo titular de Damietta (1843).
Enquanto esteve em Bruxelas, interveio nas missões diplomáticas em
Londres, Paris e Roma. Seu serviço diplomático foi interrompido ao interfe-
rir na política belga, num litígio entre o governo e os bispos sobre a educação.
Foi chamado a Roma por desejo expresso do rei Leopoldo I.
Em 1846, foi nomeado novamente arcebispo de Perúgia, tendo exercido
ali o seu ministério até 1878. Demonstrou interesse especial pelos estudos e
pela formação no seminário. Com a ajuda de seu irmão José, jesuíta e pro-
fessor no seminário, partidário da renovação do tomismo, estabeleceu, em
1859, a Academia de Santo Tomás. Durante os eventos revolucionários de
1859-1860, reafirmou a legitimidade do poder temporal do Papa e protestou
com firmeza contra a política religiosa do governo italiano. No Concílio Va-
ticano I, embora votando com a maioria, não foi membro destacado.
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Sumo Pontífice
Tradicionalmente, o cardeal camerlengo não costuma ser eleito Papa.
Entretanto, no conclave que se seguiu à morte de Pio IX, em 1878, o cardeal
Pecci, candidato dos moderados, foi eleito na terceira votação, com 44 dos
61 votos; era o dia 20 de fevereiro de 1878. Apesar de seus 68 anos de idade,
não seria um Papa de transição.
Ocupou o cargo até a morte em 1903 aos 93 anos de idade. Seu pontifi-
cado foi um dos mais significativos dos últimos tempos pelos seus numerosos
ensinamentos, suas iniciativas e seu excepcional prestígio. Embora paciente,
conciliador e prudente, demonstrou vontade firme e serena energia em suas
ações. Em muitos aspectos era tão conservador quanto o seu predecessor, mas
foi, sem dúvida, mais pragmático. O fato de, em 1879, nomear John Henry
Newman24 como cardeal indica que era capaz de aceitar diferentes pontos de
vista teológicos, coisa impossível em Pio IX.
Em continuidade com a iniciativa de Pio IX, Leão XIII favoreceu a de-
voção ao Sagrado Coração de Jesus. Sua encíclica Annum Sacrum, de 25 de
maio de 1899, consagrou o gênero humano ao Sagrado Coração.25 Muito
devoto da Virgem, escreveu uma encíclica sobre o rosário e acrescentou a
invocação “Mãe do Bom Conselho” às ladainhas lauretanas. Dedicou 9 encí-
clicas sobre a devoção à Santíssima Virgem e ao Rosário. Deu muita atenção
às missões. Seu pontificado coincidiu com o apogeu do colonialismo. Para
acelerar a abolição da escravidão africana, publicou 2 encíclicas, In Plurimis,
de 5 de maio de 1888 dirigida à jerarquia do Brasil, e Catholicae Ecclesiae,
de 20 de novembro de 1890. Valendo-se da concordata de 23 de junho de
1886, limitava o direito do patronato do rei de Portugal na Índia apenas às
possessões portuguesas. Nesse mesmo ano, estabeleceu a jerarquia na Índia.
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Itália
Tão logo eleito, Leão XIII protestou contra a situação sofrida pelo Papa
em Roma. Depois de fracassarem várias tentativas de conciliação, não esperava
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Alemanha
A Kulturkampf na Alemanha e a consequente perseguição da Igreja Cató-
lica chegaram ao fim depois de longas negociações. O partido de centro queria
a abolição completa das leis que impuseram restrições severas à vida e ação da
Igreja. Leão XIII ficou satisfeito com alguns acordos parciais de compromisso
(1880 e 1883). Só em 1886-1887 as leis foram formalmente revistas.
Bélgica
O Papa precisou enfrentar o profundo anticlericalismo da Bélgica. A
escola belga de Direito (1879) criou o conflito que ocasionou a ruptura das
relações diplomáticas com o Vaticano (junho de 1880). Não obstante, Leão
XIII convidou os católicos belgas intransigentes a acatarem a Constituição
de seu país. Foi nesse período que se formou um verdadeiro partido católico,
cujo êxito nas urnas (1884) deu lugar à renovação das relações diplomáticas.
França
Na França, Leão XIII pediu moderação aos católicos no momento de
votar as leis laicas. Depois de terem resultado vãs as esperanças de uma mo-
narquia restaurada e de fracassar o boulangismo,29 o Papa pressionou os cató-
licos franceses a aceitarem a Terceira República. Desde a saudação de Argel
pronunciada pelo cardeal Lavigerie em 12 de novembro de 1890, a encíclica
Au Milieu des Sollicitudes (16 de fevereiro de 1892), promoveu o Ralliement.30
29
O boulangismo (em francês: boulangisme ou la Boulange) foi um movimento político francês
do final do século XIX (1886-1891) que se opunha ao regime parlamentar da Segunda República fran-
cesa. Seu nome deriva do general Jorge Boulanger, militar que foi ministro da Guerra, alcançou grande
popularidade por suas reformas e preocupou o governo por seus discursos bélicos.
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O Ralliement designa a posição de uma parte dos católicos franceses que, seguindo os con-
selhos do papa Leão XIII e de sua encíclica Inter Innumeras Sollicitudines, aderiram à República. Essa
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Esta política foi interrompida, ao menos por algum tempo, pelo dissenso
entre os católicos franceses, por causa do posicionamento em relação ao caso
Dreyfus31 e a nova onda de anticlericalismo que levou à votação (1901) da Lei
das Associações e à eleição de Emílio Combes como primeiro-ministro.
Espanha
Leão XIII reconheceu discretamente a legitimidade da monarquia afon-
sina, sublinhando a necessidade da independência política por parte da Igreja
espanhola, independência que significava implicitamente sua desvinculação
do carlismo. Deu prioridade à tarefa de pôr fim às divisões políticas e di-
násticas existentes entre os católicos espanhóis, embora estivesse ciente do
obstáculo que supunha superar nesta meta sem se indispor com o clero e o
laicato comprometidos com o carlismo e, de fato, apesar de suas exortações,
não chegou ao objetivo.32
O Papa, em 1885, intermediou a disputa entre o Império alemão e a
Espanha sobre as ilhas Carolinas na Micronésia. A expansão colonial alemã
levou a ocupar as ilhas que estavam sob o domínio espanhol; por isso, no
conflito suscitado, buscou-se a arbitragem do Pontífice. Leão XIII deliberou
que aqueles territórios pertenciam de fato e de direito à Espanha, embora
tivesse que ceder alguns privilégios comerciais e uma opção preferencial a
favor da Alemanha no caso em que finalmente se decidisse pela venda das
ilhas. Esta opção de compra será exercida pela Alemanha depois do conflito
de 1898 entre Espanha e Estados Unidos. O Vaticano também intermediou
na guerra hispano-americana de 1898. A explosão do encouraçado america-
no Maine na baía de Havana, Cuba, em 15 de fevereiro de 1898, marcou um
ponto de não retorno e precedeu de apenas um mês à declaração de guerra.
Numa corrida contra o tempo, o Vaticano fez algumas gestões. Quando a
adesão não significava a aceitação da legislação hostil ao catolicismo, mas simplesmente o reconheci-
mento da República como poder constituído e realmente existente naquele momento. Após o fracasso
dos partidários do general Boulanger (1831-1891), alguns católicos franceses, com o cardeal Lavigerie
à frente, pensaram que o dever deles como cidadãos era unir-se às outras forças políticas para apoiar
o governo existente, aceito pelo povo. Apoiado por Leão XIII, o movimento encontrou a oposição de
todos os outros partidos políticos franceses.
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Alfred Dreyfus (1858-1935), judeu, capitão do exército francês, foi condenado por traição
em 1894 e encarcerado na Ilha do Diabo. Uma investigação posterior, provocada em grande parte
por Emílio Zola (1896), provou que a acusação baseava-se em documentos falsificados por militares
franceses. Durante a repetição do julgamento sua causa foi motivo de grandes divisões políticas, em
que o antissemitismo jogava um papel decisivo. Condenado pela segunda fez (1899), foi anistiado pelo
presidente Loubet. Mais tarde, em 1906, sua inocência foi reconhecida e sua patente militar restituída,
sendo-lhe concedida a medalha da Legião de Honra.
32
Cf. W. J. Callagan, La Iglesia católica en España. Barcelona: Crítica, 2002, 41-45, 70, 257.
36
Conferência de Paz de Haia se reuniu em 1899, o Papa não foi convidado por
oposição do governo italiano.
Outras nações
As relações foram tensas com a Áustria-Hungria, cujas autoridades se
mostraram particularmente desafiadoras em relação ao cardeal Rampolla. A
melhora das relações do Vaticano com a Rússia, condição para a união com
as Igrejas ortodoxas, incomodara a corte de Viena.
Leão XIII expressou em muitas ocasiões os seus sentimentos favoráveis
aos Estados Unidos. Acompanhou de perto o crescimento do catolicismo
naquele país, como deixou claro ao nomear dom Satolli como delegado apos-
tólico (1893) e com a encíclica Longinqua (6 de janeiro de 1895). As disputas
sobre o “americanismo” terminaram com a carta Testem Benevolentiae (22 de
janeiro de 1899).
As relações com as nações latino-americanas melhoraram. No quarto
centenário de Colón, publicou uma encíclica aos arcebispos da Espanha, da
Itália e da América (16 de julho de 1892). Em 1899 reuniu-se em Roma um
importante concílio representando a Igreja desses países.
Uma avaliação
Leão XIII foi um diplomata de peso; sua eleição marcou uma mudan-
ça no estilo do papado. Tinha um espírito mais liberal e tolerante do que o
seu predecessor. Reduziu a distância intelectual entre a Igreja e a sociedade
moderna, promovendo em todos os seminários católicos o estudo renovado
de Santo Tomás de Aquino. O que deu lugar à propagação da doutrina da
inexistência de conflito entre a verdadeira ciência e a verdadeira religião. Pro-
moveu o estudo da história da Igreja, acreditando, entre outras coisas, que o
estudo esclareceria as contribuições da Igreja para o progresso da civilização.
Apoiou a ciência experimental entre católicos eminentes.
À medida que seu pontificado avançava, Leão XIII percebeu que a de-
mocracia poderia ser útil tanto quanto a monarquia para a preservação e o
fortalecimento dos princípios católicos. Por conseguinte, incentivou os par-
tidos políticos católicos de tendência claramente liberal na Alemanha e na
Bélgica. Adotou uma atitude amistosa com o governo da República Francesa.
Foram dadas instruções aos católicos para que deixassem os princípios mo-
nárquicos e apoiassem a república.
Em 1890, porém, a política do Ralliement na França foi motivada tam-
bém pelo desejo do Papa de garantir a ajuda francesa para a solução da
37
38
FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
INICIAL DA OBRA SALESIANA
NA FRANÇA, ITÁLIA E ESPANHA
(1875-1888)
39
Dom Bosco entrou em Nice, chamado pelos membros das conferências de São
Vicente de Paulo daquela cidade. O conde Cays, presidente das conferências
de Turim, escrevera a Nice para comunicar que tinham em Turim 6 conferên-
cias de adultos, às quais estavam agregadas outras 3 de jovens, sob a direção
do piedoso e caridoso sacerdote padre João Bosco.1 Em 1874, o presidente da
conferência de Nice, Ernesto Michel, que fundara um patronato para apren-
dizes da localidade, pensou em entregá-lo a Dom Bosco e convidou-o para
visitar a cidade. A capacidade do patronato era muito limitada: dois quartos,
uma sala de aula e um celeiro transformado em capela.2 A visita de Dom Bos-
co a Nice, segundo Michel, foi feita por volta de 10 de dezembro de 1874.
O bispo da diocese, dom Pedro Sola, natural de Carmagnola, admirador de
Dom Bosco, sempre o apoiou. Em novembro de 1875, abriu-se a nova sede
num dos endereços de uma empresa falida, a fiação Avigdor, no número 21
da Rua Victor. Como diretor, foi nomeado o padre Ronchail, um italiano que
falava bem o francês. Acompanhavam-no o coadjutor Felipe Cappellaro e o
clérigo João Batista Perret. A obra foi transferida logo depois a um lugar mais
digno e espaçoso, situado na Praça das Armas, inaugurada oficialmente no dia
12 de março de 1877. Inicialmente, contava com um oratório e um internato
para aprendizes. Chamou-se Patronage Saint Pierre (Patronato de São Pedro),
porque assim se chamavam as conferências de São Vicente de Paulo em Nice
e como homenagem ao bispo da diocese. Aos poucos, foram-se abrindo novas
oficinas de sapataria, alfaiataria e carpintaria. Mais tarde, foi criada a forjaria
e, ao mesmo tempo, teve início a escola secundária para os internos.
Dom Bosco mandou imprimir para a ocasião um fascículo bilíngue, que con-
tinha pela primeira vez a sua carta-tratado sobre o Sistema Preventivo.3
As Filhas de Maria Auxiliadora também fundaram em Nice o Internato de
Santa Atanásia, em setembro de 1877.
1
Cf. Noces d’or de la Societé de St. Vincent de Paul a Nice, 1844-1894. Nice: Patronage Saint-
-Pierre, 1894.
2
Em relatório de 1894, Michel narra um diálogo, evidentemente adaptado, que manteve com
Dom Bosco, e cita algumas de suas memoráveis palavras: “Nas obras de Deus, só se deve ter em vista
se são necessárias ou não. Não sendo necessárias, não é preciso ocupar-se delas; mas, sendo necessárias,
deve-se fazê-lo sem medo; os meios materiais são o acréscimo que Deus prometeu, e ele mantém sua
promessa”. À pergunta sobre o que iria fazer, respondeu: “Enviarei 2 sacerdotes [...] que começarão a
trabalhar e, enquanto trabalham, verão o que é necessário fazer”. E o que se deve dar a esses sacerdotes?
“Um local ao abrigo da chuva e um pouco de sopa todos os dias” (Noces d’or, 60-61. Cf. F. Desramaut,
Don Bosco, 942).
3
Cf. MB XII, 118s, 530s; XIII, 106s.126s, 107s, 118s, 122s, 529, 536s.
40
Cf. H. Faure, Don Bosco à Marseille: histoire de l’Oratoire Saint Léon 1878-1958. Marselha:
4
Imprimerie Don Bosco, 1959. Cf. MB XIII, 93s, 736s: Sra. Prat-Noilly, benfeitora; 620-623: chegada;
631-632: noviciado.
5
Cf. MB XIV, 338s.
6
Cf. MB XIII, 523, 526, 536: SDB; 725: FMA.
7
Cf. Y. Le Carrérès, “Les colonies ou orphelitants agricoles tenus par les salésiens du Don
Bosco en France de 1878 a 1914”. In: F. Motto (ed.), Insediamenti, 140.
41
8
Cf. MB XIII, 732s; XIV 55, 84, 92: previsto ainda em 1878; XV, 53s: o sonho de Dom Bosco,
1880; progresso; XVII, 49s: estabelece-se, sonho “realizado”; 438.643s.
42
9
Cf. MB XVI, 259s.
10
Cf. MB XVII, 353s: fundação; 771s. Anexo 49: documento contratual.
43
Paris: 1884-1885
Patronato de São Pedro. Diretor: padre Carlos Bellamy.13
Durante sua permanência em Paris em 1883, Dom Bosco falou publicamente
da intenção de estabelecer uma fundação salesiana na capital. Entre as várias
ofertas recebidas em 1884, considerou a do Internato de São Pedro como a
mais prometedora. Fora fundado em 1878 pelo padre Paulo Pisani, conheci-
do historiador da Igreja, em Ménilmontant, animado distrito de classe operá-
ria de Paris. Desde que fora nomeado membro do Instituto Católico, em 1884,
padre Pisani procurava alguém que se encarregasse da obra; de aí a sua oferta.
Depois de algumas visitas de reconhecimento dos padres Durando e Camilo
de Barruel, e do inspetor, padre Albera, na reunião do Capítulo Superior em
fins de setembro de 1884, estando Dom Bosco convalescente, foi decidida a
fundação. Padre Albera, atuando em nome de Dom Bosco, comprou a pro-
priedade e assinou a escritura.
Importantes benfeitores, como o marquês de Franqueville, a condessa de Ces-
sac, ambos de Paris, e a condessa Georgina Stacpoole, de Londres e domicilia-
da em Roma, reuniram o dinheiro para a compra da propriedade e apoiaram
a obra. Padre Bellamy, sacerdote de Chartres, que se fizera salesiano no ano
anterior, foi nomeado diretor em 29 de janeiro de 1885. O pároco local, num
primeiro momento, opôs-se à tomada de posse dos salesianos, mas aceitou-a
mais tarde. O pessoal leigo permaneceu. Estudantes universitários ajudaram
os jovens. Era um início prometedor.
11
As informações que nos chegaram sobre a senhorita Louvet são escassas. Pode-se ver sua correspon-
dência com Dom Bosco em MB XV, 58s; MB XVI, 641s; Epistolario IV Ceria, 447-479. Cf. J. Itzaina,
“Charitable Mademoiselle: Don Bosco’s fifty-eight letters to Clara Louvet”, JSS 1 (1990), 35-46.
12
Luís Antônio Fleury Colle, conde Colle, de Toulon, foi um grande benfeitor e cooperador
salesiano na França, desde o primeiro encontro com Dom Bosco em 1881. Apoiou, com a maior ge-
nerosidade, as missões salesianas e outros projetos importantes, como a igreja do Sagrado Coração em
Roma. O conde e sua esposa, baronesa Sofia Maria Buchet, tiveram um filho, chamado como seu pai.
O jovem morreu de tuberculose aos 17 anos. “Apareceu” a Dom Bosco e acompanhou-o em alguns
sonhos. Dom Bosco escreveu sua biografia, publicada em francês: Biographie du jeune Louis Flery An-
toine Colle, Turim, 1882. Traduzida para o castelhano: Biografía del joven Luis Flery Colle. Montevidéu:
Editorial Don Bosco, 1954. Cf. MB XV, 83, 92, 609; MB XVI, 675s.
13
Cf. MB XVII, 359s, 364.
44
45
15
Cf. MB XI, 411s.
16
Cf. MB XIII, 291,428, 667s.
17
Citado por E. Ceria em Annali I, 271.
18
Cf. MB XII, 314, 526; XIII, 697s: Magliano Sabina; XIV, 324: Albano y Ariccia.
19
Cf. MB XIII, 692; XIV, 82, 324.
46
47
27
Cf. MB XVIII, 434s.
28
Cf. G. Iacono, Don Bosco e la Sicilia, 3 fascículos. Catania: Ispettoria Salesiana Sicula, 1999.
Cf. MB XIV, 49, 271-273.
29
Cf. MB XVII, 573, 327.
30
Cf. MB XII, 491s.
31
Cf. MB XIII, 661s.
48
32
Cf. MB XIV, 567s.
33
Cf. MB XIV, 330s.
34
Cf. MB XIV, 665.
35
Cf. MB XVIII, 175, 246.
49
38
Cf. MB XIII, 206, 704.
39
Cf. MB XIII, 495, 574, 585, 588: desenvolvimento do projeto e construção; XV, 393: consa-
gração. Para mais informações, ver MB IX 75, 921, 951; X 112, 346s, 1236s, 1276.
50
40
MB XIII, 495s. Em 1867, um grupo de proprietários constituíra um comitê para construir
uma igreja no distrito de San Secondo. A prefeitura concedeu a permissão da construção em 2 de janei-
ro de 1868, doou os terrenos e uma subvenção de 30 mil liras. Entretanto, o projeto parou até que, em
1871, a comissão e o vigário diocesano persuadiram Dom Bosco a assumi-lo. Em 27 de março de 1872,
começaram os trabalhos preliminares para a preparação do terreno e os materiais; Dom Bosco pediu
ao arquiteto para modificar o projeto a fim de incluir um edifício para oratório. A prefeitura recusou a
proposta e Dom Bosco desistiu do projeto. Nesse ínterim, porém, ele adquirira o terreno para construir
a igreja de São João Evangelista no vizinho distrito de San Salvario, local do Oratório de São Luís,
como homenagem a Pio IX. Recentemente nomeado arcebispo, dom Gastaldi reanimou o projeto de
San Segundo sob o patrocínio da diocese e começou a apresentá-lo como homenagem a Pio IX. A obra
foi retomada em 1875; a igreja foi consagrada em 1882. Dom Bosco começou a construção da igreja
de São João Evangelista em 1878, consagrada pelo arcebispo Gastaldi no final de 1882. Pio IX já havia
morrido; as duas igrejas, planejadas em homenagem, foram consagradas como monumento ao Papa.
51
MB XVII, 151.
41
MB XII, 487s; XIV, 327: Albano, Ariccia e Magliano Sabina; XIII, 650s: Magliano Sabina. Ofer-
42
tas em Roma: MB XIII, 137s, 585s; MB XIV, 50s; 74s, 320s com a correspondência. Annali I, 370-376.
52
nome, que deixara de existir. Pio IX deu seu consentimento e Dom Bosco
apresentou o rascunho de um acordo. As negociações complicaram-se nova-
mente e foram finalmente abandonadas quando Roma foi ocupada em 1870.
Em 1869, Pio IX fez nova oferta: a igreja de São Caio com os edifí-
cios adjacentes na colina do Quirinal, que pertenciam a uma congregação de
monjas que abandonaram o local e se transferiram para outro local. O Papa
queria que Dom Bosco estabelecesse um estudantado para os seus semina-
ristas, que poderiam frequentar as universidades romanas. Chegou-se a um
acordo, mas quando se tratou de assiná-lo, as monjas, com a cumplicidade
de algumas pessoas de Roma, triplicaram suas pretensões. Quando o exérci-
to italiano ocupou Roma em 1870, as monjas perderam suas propriedades.
Com o dinheiro previsto para essa compra, Dom Bosco adquiriu um terreno
em frente à igreja de Maria Auxiliadora de Turim.
Novamente, em fevereiro de 1870, Pio IX ofereceu a Dom Bosco a pe-
quena e preciosa igreja de San Giovanni della Pigna, com o edifício adjacente.
E, de novo, os acontecimentos políticos impediram a conclusão do acordo.
Em setembro de 1874, quando se acalmara um pouco a confusão causada
pela ocupação italiana de Roma, Dom Bosco tentou reiniciar as negociações.
Contudo, o cardeal vigário de Roma acreditava que não era conveniente es-
tabelecer nesse momento uma congregação religiosa nas citadas instalações e
o acordo foi postergado.43
Em 1874, o príncipe Gabrielli ofereceu aos salesianos o orfanato de San
Michele a Ripa, um imenso estabelecimento de ensino profissional fundado
e favorecido pelos papas anteriores; nessa época, fora assumido pelo governo
italiano e era administrado pelo príncipe, como presidente de uma comissão.
Dom Bosco aceitou a proposta e redigiu os termos básicos para chegar ao
acordo. Exigiu liberdade absoluta em tudo que se referisse à disciplina e à
educação, dispensa de todos os externos (famílias inteiras alojavam-se nas
várias partes do orfanato) e liberdade para administrar dois terços dos fun-
dos estipulados. O príncipe teve dificuldade para obter a concordância da
comissão, mas Dom Bosco manteve-se firme em seus termos. As negociações
continuaram por longo tempo. Inicialmente, Dom Bosco conseguiu que um
amigo de confiança em Roma atuasse como seu intermediário; depois, dei-
xou que o príncipe, que tinha a maior boa vontade, assumisse o assunto.44
Não temos outras informações sobre essas negociações. Pode-se supor que o
príncipe não obteve a concordância da comissão.
43
Em 1905, Pio X entregará a casa e a igreja aos salesianos como residência para sua Procura-
doria em Roma.
44
Ver correspondência entre ambos, em MB XIV, 320s.
53
MB XIII, 55s.
46
47
Carta de Dom Bosco ao cardeal Bilio, 29 de novembro de 1877, em Epistolario III Ceria, 244.
Cf. MB XII, 495.
54
Annali I, 376-377; MB XIV, 392s: nomeação do padre Dalmazzo como procurador; XIV, 386-
48
387: audiência com o cardeal Ferrieri; XIV, 391-392: roubo e incêndio na residência de Tor de Specchi.
49
MB XIV, 571: igreja do Sagrado Coração, preparação; XV, 153, 158, 251, 588: igreja do Sa-
grado Coração, construção; MB XVII, 210s: a busca de fundos e a construção da igreja e do internato;
MB XVIII, 20, 764s: a consagração.
55
Leão XIII retomou a ideia e renovou os projetos nos anos 1878-1880. O Papa
criou uma comissão para a construção e convocou o mundo todo numa coleta de
êxito apenas moderado. O projeto foi concluído e a igreja erigida como paróquia
dedicada ao Sagrado Coração, sendo colocada a primeira pedra em 16 de agosto
de 1869. A obra, contudo, parou por falta de fundos.
56
52
Memorandum, Dom Bosco ao cardeal vigário, 10 de abril de 1880, em Epistolario III Ceria,
564-566. MB XIV 579s.
53
Documenti XXII, 90-92, FBM 1,070 C6-8 [Os cursivos são dos editores].
57
54
Ver a carta de Dom Bosco ao duque de Norfolk, 13 de janeiro de 1888, em que Dom Bosco
fala de uma dívida de 250 mil liras, em Epistolario IV Ceria, 407-408.
58
As propostas eram estas: “Propostas feitas ao Ex.mo e Il.mo Sr. Arcebispo de Sevilha em 6 de
55
junho de 1879 por uma pessoa piedosa, em vista do estabelecimento de uma residência de 4 padres e
2 irmãos coadjutores da Congregação de São Francisco de Sales, na cidade de Utrera, diocese de Sevilha,
a 5 léguas desta capital e a 45 minutos pela estrada de ferro: Concede-se a casa aos padres por quatro
anos com capacidade suficiente para acolhê-los e a curta distância da igreja que o Sr. Arcebispo de
Sevilha lhes entregará para o culto. Ser-lhes-á proporcionado o mobiliário que necessitem para seu
estabelecimento na citada casa, de acordo com as orientações de sua Regra. Será garantido aos 4 padres
o estipêndio de 8 reais para cada missa aplicada na intenção desta piedosa pessoa no citado tempo dos
quatro anos, facultando-se optar por outras de maior estipêndio. Os gastos de viagem desses senhores
serão por conta da pessoa que faz estas propostas”. Sevilha, 6 de junho de 1879. O marquês viúvo de
Casa Ulloa. O original encontra-se em ASC e é reproduzido em A. Martín, Los salesianos de Utrera en
España. Inspectoría Salesiana de Sevilla, 1981, 65-66.
59
60
Padre Cagliero, que ficara na Espanha até meados de abril de 1881, vi-
sitou Portugal em seguida, em vista de uma possível fundação salesiana, que
só se realizaria em 1894.
56
Cf. R. Alberdi, Una ciudad para un santo: los orígenes de la obra salesiana en Barcelona. Barce-
lona: Editorial Tibidabo, 1966. MB XV, 230; XVII, 594, 602.
57
Doroteia Chopitea era filha de um rico espanhol de Santiago do Chile. Instalou-se em Bar-
celona com sua família quando, no Chile, foi declarada a guerra de independência da Espanha. Em
1832, Doroteia casou-se com José Maria, filho de um rico comerciante, Mariano Serra. Dom José
Maria morreu em 1882. Foi quando dona Doroteia entrou em contato com os salesianos; continuou a
ser sua protetora permanente até a morte em 1891. É considerada, com razão, a mãe da obra salesiana
em Barcelona. [Em 1927 foi iniciado o processo para sua beatificação e em 9 de junho de 1983 foi
declarada venerável: nota do tradutor.]
61
58
Cf. N. Echave, “El Tibidabo, la montaña del Corazón de Jesús”, BSe, junio, 2003, 8-9.
62
Providência; com vossa ajuda muito depressa será elevado neste monte um ma-
jestoso santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus”. Era a formulação de
uma profecia. Infelizmente, os proprietários não entregaram a documentação
notarial que certificava a doação da propriedade.
Não obstante, em 3 de julho de 1886, dois meses depois da partida de
Dom Bosco, foi inaugurada ali a primeira ermida ao Coração de Jesus. Sur-
gira por iniciativa de dona Doroteia de Chopitea e era um sinal palpável de
que não se podia dispor arbitrariamente daquela elevação, pois fora oferecida
ao Coração de Jesus.
Entretanto, ao faltar o título de propriedade, a posse foi discutida
e passou por diversas vicissitudes, até que em 17 de agosto de 1900 a
Sociedade Anônima Tibidabo entregou aos salesianos os seis mil metros
quadrados, que eles estimaram como necessários para a construção do
futuro templo.59
59
Com poucos recursos para um empreendimento de tão grande envergadura, os salesianos
precisaram esperar até 1902 para proceder à bênção da primeira pedra. O cardeal Casañas, bispo de
Barcelona, presidiu a cerimônia. As obras foram confiadas ao arquiteto da diocese, Henrique Sag-
nier, que dedicou ao Tibidabo toda a sua alma e toda a sua arte. Como prêmio pelo zelo e serviços à
Igreja, recebeu em 1923 o título pontifício de marquês. As obras continuaram com grande lentidão.
Por ocasião da “Semana Trágica” de Barcelona (julho de 1909), foram incendiados 80 edifícios
eclesiásticos na cidade. Esses incêndios suscitaram a reação de uma santa mulher, dona Amália
Vivè de Negra, que, com o pseudônimo de Maria Vitória, iniciou uma campanha de reparação
pelo ocorrido. Surgiu assim o lema “Expiação pelo sacrifício”. O templo seria erguido pela ação de
muitos sacrifícios anônimos como oferenda de amor ao Sagrado Coração. Em 17 de junho de 1911,
o templo foi coberto e pôde ser inaugurada a cripta com a presença do Reitor-Mor padre Paulo
Albera, segundo sucessor de Dom Bosco. Naquele dia, dom Laguarda, bispo de Barcelona, deu, pela
primeira vez, a bênção com o Santíssimo. No mesmo mês encerrou-se em Madri o XXII Congresso
Eucarístico Internacional e o presidente, dom Messeguer i Costa, arcebispo de Granada, propôs que
“se propague por toda a Espanha a ideia do templo nacional dedicado ao Sagrado Coração do Tibidabo,
para que nós espanhóis tenhamos também o quanto antes o nosso Montmartre”. A proposta foi aceita por
aclamação e assim o templo profetizado por Dom Bosco passou a ser templo “Expiatório e Nacio-
nal”. Em 1952, coube a Barcelona organizar o XXXV Congresso Eucarístico Internacional. Um mês
antes, em 25 de maio, dom Modrego, bispo de Barcelona, benzeu o templo do Tibidabo, já coberto
embora não concluído. Completavam-se cinquenta anos da colocação da primeira pedra. O primei-
ro ato do Congresso deu-se precisamente no templo, com a grande vigília da Adoração Noturna. As
obras continuaram até 1961, ano em que foi colocada a estátua do Sagrado Coração com os braços
abertos em atitude de abraçar a cidade de Barcelona e toda a Espanha. No dia 21 de outubro, o papa
João XXIII iluminou a partir de Roma a estátua e o templo, que ficou assim oficialmente concluído.
Cumprira-se a profecia de Dom Bosco.
63
60
Cf. MB XVII, 354.
61
Cf. MB XVII, 601, 606.
64
Chile
O primeiro salesiano a chegar ao Chile, depois de atravessar a Cordilhei-
ra dos Andes, foi o padre Domingos Milanésio. Em Concepción, o vigário da
diocese, padre Domingos Cruz, fazia o possível para obter pessoal salesiano.
Chegou-se a um acordo e seis salesianos, entre eles padre Evásio Rabagliati,
fizeram seu ingresso na cidade em 6 de março de 1887, com grande afluência
de público. A obra teve início com o Oratório e desenvolveu-se aos poucos
com a criação da escola e das oficinas.62
Inglaterra
Dom Bosco, no fim da vida, pôde ver realizado um de seus grandes
desejos, ou seja, mandar seus salesianos à Inglaterra. Alguns jovens de língua
inglesa foram acolhidos no Oratório de Valdocco favorecendo a fundação de
uma casa em Londres. Mais uma vez, foram as Conferências de São Vicente
de Paulo a abrir caminho. As conferências pediram a ajuda de Dom Bosco
para beneficiar a juventude pobre e abandonada do bairro de Battersea. A
condessa de Stacpoole teve um papel importante nas negociações. Os salesia-
nos administrariam uma paróquia e ocupar-se-iam da juventude do bairro.
Em 4 de novembro de 1887, dois padres: o irlandês Eduardo Mackierna,
que seria diretor e pároco, e o inglês Carlos Macey, coadjutor da paróquia e
62
Cf. A. Videla, Don Bosco en Chile: notas para una historia de los salesianos en Chile. Santiago:
Editorial Salesiana, 1983; S. Kuzmanich Buvinic, Presencia salesiana, 100 años en Chile, vol. I: Los
inicios: 1887. Santiago: Editorial Salesiana, 1987.
65
Equador
O presidente da República interessou-se pessoalmente pela ida dos sa-
lesianos a Quito. De acordo com o arcebispo, em 1885 ele interveio junto
a Dom Bosco. Depois de algumas vacilações por falta de pessoal reuniu-se
um grupo de missionários, com o padre Calcagno à frente; ele foi o último
que, em 6 de dezembro de 1887, recebeu a bênção de Dom Bosco, já muito
doente, antes de partir para a América. Os salesianos chegaram a Quito em
28 de janeiro de 1888 e telegrafaram imediatamente a Turim. O telegrama
foi lido a Dom Bosco no dia 30, que fez sinais de tê-lo entendido. Era a
véspera da sua morte.
O vicariato apostólico de Méndez y Gualaquiza (missão Shuar) foi esta-
belecido em 1892.
Cf. A. Druart, “Les letres de Monseigner Doutreloux à Don Bosco”, RSS 3 (1983), 274-
63
295; F. Staelens, “La corrispondenza belga di Don Bosco. Profilo socio-religioso dei corrispondenti.
L’immagine di Don Bosco in Belgio”, RSS 34 (1999), 31-65.
66
Se me atrevi a traduzir este libreto, foi unicamente pelo veemente desejo que
tinha de dar a conhecer nestes lugares um homem tão extraordinário como
Dom Bosco, e a obra mais extraordinária ainda, que fundou, isto é, a Con-
gregação Salesiana, altamente filantrópica e humanitária.65
64
Cf. A. Anjos, Centenário da obra salesiana em Portugal 1894-1994. Lisboa: Província Portu-
guesa da Sociedade Salesiana, 1995.
65
Sobre esta tradução e sua repercussão no Peru, cf. Jesús-Graciliano González, “Publicada en
Perú la primera traducción del Don Bosco de Charles D’Espiney”, RSS 49 (2006), 397-413.
67
para Dom Bosco pensar numa fundação em seu país.66 Temos também o tes-
temunho do vigário de Huanuco, monsenhor José Del Carmen Maraví, que,
desejoso de encontrar alguma solução para salvar a juventude, tentou fundar
uma sociedade e, em 13 de agosto de 1887, escreveu a Dom Bosco pedindo
um salesiano como mestre de noviços, como formador da nova sociedade. O
ambiente estava bem preparado, a ponto de, quando os primeiros salesianos
chegaram ali em 1891, serem recebidos triunfalmente pelas autoridades e por
um grande número de amigos e de salesianos cooperadores.
Dom Bosco precisou recusar pedidos de fundação, alguns por falta de pessoal,
outros porque as condições não eram aceitáveis e não garantiam a subsistência dos
salesianos, outros, porque na gestão da obra não se podia pôr em prática seu siste-
ma salesiano. O caso do reformatório de Santa Rita é um exemplo de como Dom
Bosco defendeu seus princípios educativos, mesmo à custa de renunciar a dirigir
66
A notícia pode ser lida nas MB XVIII, 149, e nos Annali I,60. Ali se fala de um “Presidente
da República peruana”. C. Calderón demonstrou que não se trata do então presidente do Peru, André
Avelino Cáceres, mas do ex-presidente, general Miguel Iglesias. Cf. C. Calderón y E. Pennati, Pre-
sencia salesiana en Perú. I. Los inicios 1891-1898. Lima: Editorial Salesiana, 1994, 25-26.
68
alguma obra que lhe era oferecida para trabalhar em favor da juventude carente,
mas com um sistema educativo diferente.
A notícia do bem que os salesianos faziam em Utrera e em Barcelona
propagava-se pela Espanha e despertava como era natural, também em outras
cidades, o desejo de tê-los [...]. Foi por isso que pessoas nobres e com recursos
se reuniram em Madri numa comissão, presidida pelo senador Silvela, que
fora ministro de Estado e depois embaixador em Paris; considerando que o
governo estava impossibilitado de remediar adequadamente, decidiram ofe-
recer por si mesmos um exemplo à nação inteira, assumindo o compromisso
de construir na capital um reformatório juvenil com seus próprios meios.
O Estado não se desinteressou totalmente, pois uma lei de 4 de janeiro
de 1883, autorizava a fundação de um grande instituto privado com a deno-
minação de escola de reforma para jovens e internato de correção paternal,
sob o patrocínio de Santa Rita. Antes de iniciar a obra, desejou-se considerar
qual sistema de educação deveria ser adotado. Para tanto, o deputado e mais
tarde senador Lastres com outro personagem madrileno viajaram por toda
a Europa [...]. Aonde quer que fossem não lhes foram mostrados mais do
que correcionais de todo tipo e retornaram com a ideia predominante de
estabelecimentos que eram mais prisões do que casas de educação [...]. Uma
vez reunidos os jovens, eles pensavam dividi-los em 4 categorias: 1ª os aban-
donados; 2ª os que estavam em perigo; 3ª os perigosos, mas que ainda não
tinham incorrido contra a lei, por não serem ainda responsáveis de seus atos;
4ª os meninos desordeiros de famílias de bem que precisavam de educação
especial, a fim de não manchar a boa fama de suas respectivas famílias [...].
Começou-se a construir um grandioso edifício. Já se tinham erguido
duas alas do edifício, quando chegou aos ouvidos do senhor Lastres a notí-
cia da casa salesiana de Barcelona. Ele mandou suspender imediatamente as
obras e escreveu a um banqueiro daquela cidade, que enviou primeiramente a
Sarriá o seu secretário e, depois, foi pessoalmente. Estes senhores não falavam
mais do que de reformatório, segundo o estilo das conhecidas casas de cor-
reção; mas o padre João Branda respondia-lhes que não era essa a finalidade
dos salesianos [...]. Dois meses depois dessas visitas, padre João Branda viu
chegar a Sarriá o deputado Lastres com outro senhor, que lhe pediam para vi-
sitar a casa detalhadamente, [...] ficaram o dia todo na casa, examinando seu
funcionamento, seus regulamentos e costumes, e concluíram que era preciso
escrever a Dom Bosco. Voltaram a Madri e, um mês depois, escreveram ao
padre João Branda, convidando-o a ir à capital [...]. Apresentou-se na nuncia-
tura e o núncio exortou-o a começar as tramitações, garantindo-lhe que era
um desejo expresso do rei, que prometia seu apoio.
69
70
Dom Bosco, nessa época, estava em viagem pela França com a intenção
de continuar, como o fez de fato, até a Espanha. Logo que se soube de sua
chegada a Barcelona, o senhor Lastres foi até lá, sendo portador também de
uma carta do Núncio [...]. Padre Miguel Rua, que acompanhava Dom Bosco
na viagem à Espanha conversou longamente com o senhor Lastres no dia 18
de abril [...]. Assentada a premissa de que Dom Bosco e seu Capítulo tinham
toda a boa vontade de uma fundação em Madri, mas que o pessoal era es-
casso, concretizou tudo nestas 5 condições essenciais: 1ª) liberdade da futura
direção para destinar os meninos aos ofícios que, de acordo com a inclinação
de cada um, parecessem mais adequados, levando em conta as necessidades e
os condicionamentos do estabelecimento; liberdade, também, para destinar
aos estudos os que, por sua conduta e inteligência, se fizessem merecedores
disso. 2ª) Necessidade de alguma medida para poder separar da massa geral os
alunos que fossem de obstáculo. 3ª) Conveniência de dar uma gratificação a
cada salesiano ou, melhor ainda, uma determinada quantia anual para todos
os salesianos que trabalhassem no colégio. 4ª) Oportunidade de estabele-
cer uma pensão para cada menino. 5ª) Necessidade de pensar seriamente no
modo de buscar trabalho para as oficinas.
Estabelecidos estes pontos fundamentais, padre Miguel Rua prometeu
que, em Turim, o assunto seria apresentado ao Capítulo Superior e que,
sendo aceita a proposta, seria redigido e remetido um projeto de convênio
ao senhor Silvela ou ao senhor Lastres, para que o examinassem e fizessem
suas observações a respeito. Ao mesmo tempo, porém, teve o cuidado de
insistir que não seria possível enviar imediatamente os salesianos a Madri
[...]. O Capítulo Superior só pôde ocupar-se do tema em 25 de junho.
Dom Bosco presidia a sessão. Ouvido o relatório do padre Miguel Rua,
71
72
67
Cf. Don Bosco y la caridad en las prisiones. Conferencia pronunciada en el Ateneo de Madrid
el día 12 de marzo de 1888, por Francisco Lastres. Madri: Tipografía de M. G. Hernández, 1888.
73
68
Cf. MB XVII, 597s.
74
69
MB XVIII, 653s.
75
Em 1876, foram cerca de 100 mil os italianos emigrantes, porém as cotas anuais aumentaram
1
paulatinamente até a Primeira Guerra Mundial: 1,3 milhão na década 1876-1885; 2,4 milhões entre
1886 e 1895; 4,3 milhões entre 1896 e 1905; 6 milhões entre 1906 e 1914.
76
janeiro de 1871 projeta um total de meio milhão, dos quais uns 50 mil em
Buenos Aires. Entre os anos 1876 e 1914, a Ligúria e o Piemonte foram as
regiões que mais emigrantes enviaram à Argentina, num total de 321.800.2
Em 1900, a população da arquidiocese de Buenos Aires era composta
ao redor de 265 mil pessoas de ascendência italiana, 122 mil de proce-
dência espanhola e outras 30 mil de origem francesa. Poucos milhares de
outras nacionalidades e pequenos grupos da população indígena marcavam
a diferença.
2
Assim distribuídos: 39 mil na década 1876-1885; 92 mil entre 1886 e 1895; 81 mil entre 1896
e 1905; e mais de 108 mil entre 1906 e 1914, década da grande onda migratória.
77
78
3
MB XI, 385s.
4
MB XI, 296s.
5
Carta de Cagliero a Dom Bosco, 4 de março de 1876, ASC A131.
6
BS 11, 10 de outubro de 1887, 122.
79
7
Em 1874, alguns destes “revolucionários” incendiaram o colégio dos jesuítas da cidade enquanto
os líderes do barrio recusaram receber os encarregados do recenseamento enviados pelo cônsul italiano.
8
Ver G. Rosoli, “Impegno missionario e assistenza religiosa agli emigranti nella visione e nell’opera
di Don Bosco e dei Salesiani”. In: F. Traniello, Don Bosco, 289-329, especialmente, 301ss. 317ss.
80
81
82
A carta original foi perdida num incêndio nas revoltas de Buenos Aires, em junho de 1955.
14
Felizmente, a carta fora publicada no número de abril de 1934, da Revista Eclesiástica do Arcebispado de
Buenos Aires. Cf. R. A. Entraigas, Los salesianos I, 32-35.
83
Sobre o assunto dos salesianos, o senhor arcebispo o verá com muito pra-
zer. Conheço bem Dom Bosco e considero-o um santo vivo. Dessa forma,
portanto, monsenhor [o arcebispo] me disse que V. S. pode escrever ao
conselho da confraria e, se esta aceitar, ele lhes dará de todo coração a
posse da igreja16 e os protegerá. Quanto à sua sugestão, em relação aos sa-
lesianos, monsenhor Aneyros ficaria contente de vê-los estabelecidos nesta
arquidiocese. O senhor arcebispo não recebeu os exemplares que V. S. diz
ter-lhe enviado...17
15
Mariano Antônio Espinosa (1844-1923) nasceu em Buenos Aires em 2 de julho de 1844.
Estudou teologia no Colégio Latino-Americano de Roma (1865-1869), onde foi ordenado no dia 11
de abril de 1868. Obteve o doutorado em Teologia pela Universidade Gregoriana em 1869. De volta a
Buenos Aires, foi nomeado secretário-geral da arquidiocese pelo arcebispo Aneyros e, em 1879, vigário-
-geral. Nesse mesmo ano, acompanhou como capelão, com dois salesianos, a expedição militar argen-
tina que abriu a fronteira sul além de Rio Negro, escrevendo um diário sobre isso. Em 15 de junho de
1893 foi nomeado bispo titular de Tiberiópolis; em 8 de fevereiro de 1898, primeiro bispo de La Plata;
e, em 31 de agosto de 1900, arcebispo de Buenos Aires, sucedendo o arcebispo Aneyros. Construiu a
basílica de Nossa Senhora de Luján e faleceu em 8 de fevereiro de 1923. Cf. Epistolario IV Motto, 368;
F. Desramaut, Don Bosco, 971, n. 45.
16
A igreja de Nossa Senhora das Mercês, Mater Misericordiae, era sede da confraria do mesmo
nome, que a construíra. O cônsul Gazzolo participara da compra do terreno. Para saber mais sobre a
história da confraria e sua relação com os salesianos, ver mais adiante.
17
Ver o extrato de Entraigas editado por F. Desramaut, Don Bosco, 952.
18
Pedro Ceccarelli (1842-1893) nasceu em Módena (Itália) em 1842. Depois de ordenado e
tendo recebido os graus de Doutor em Teologia e em Direito Canônico, emigrou para a Argentina em
1871 acompanhando a Buenos Aires o corpo do arcebispo Mariano de Escalada, que falecera em Roma
em 1870, durante o Concílio Vaticano I. Foi logo nomeado pároco (1873-1893) de San Nicolás de los
Arroyos, pequena cidade junto ao rio Paraná, a 250 quilômetros a noroeste de Buenos Aires. Durante o
seu exercício impulsionou várias obras, como o hospital de São Felipe, a escola infantil de São José e o
colégio do qual os salesianos iriam se encarregar. Em 1893, regressou a Roma em peregrinação; morreu
em sua cidade natal, Módena, nesse mesmo ano. Dom Bosco o conhecera em Roma. Cf. Epistolario
IV Motto, 368.
84
85
Padre Ceccarelli escreveu que mantivera uma longa conversa com o arcebispo
“sobre o famoso Dom Bosco e sobre o espírito que infundira na Congregação
fundada por ele”. O arcebispo “estava ansioso por dispor de alguns trabalha-
dores tão capazes e tão santos” em sua vasta arquidiocese, e pedira [a Cecca-
relli] que se encarregasse do assunto para que chegasse a bom porto.
19
P. Ceccarelli a J. B. Gazzolo, Buenos Aires, 26 de outubro de 1874, ver MB X, 1294s.
86
20
P. Ceccarelli a J. B. Gazzolo, San Nicolás de los Arroyos, 11 de novembro de 1874, em MB X, 1296s.
87
88
21
P. Ceccarelli a J. Bosco, San Nicolás, 30 de novembro de 1874, em MB X, 1300s.
22
J. F. Benítez a J. Bosco, 30 de novembro de 1874, em MB X, 1301s.
23
F. Desramaut, Don Bosco, 953-954 e 972, nota 53.
89
24
J. Bosco a M. A. Espinosa, 22 de dezembro de 1874, em Epistolario IV Motto, 366-369.
25
J. Bosco a P. Ceccarelli, 25 de dezembro de 1874, em Epistolario IV Motto, 372-374.
90
Gazzolo enviara-lhe alguns livros que informavam sobre os selvagens da Patagônia. Dom Bosco
27
91
Ao fazer este anúncio ao seu conselho e aos diretores que participavam das
conferências, Dom Bosco declarou que a iniciativa viera da Argentina, e que
ele pusera condições para aceitá-la. Os fatos históricos descritos anteriormente
dão uma nova visão do tema. Fora Dom Bosco que, com a mediação do cônsul
Gazzolo, iniciou as conversações, e aceitara a oferta “sem condições”. Mais de-
cisivo ainda é o fato de que Dom Bosco chame todo o empreendimento de mis-
são. E o faz dirigindo-se quer aos seus salesianos quer às autoridades de Roma,
enquanto ao escrever às autoridades da Igreja argentina ele fala simplesmente
nos termos do serviço salesiano: oratório, casa, colégio, paróquia etc.
A cena fora orquestrada e organizada por Dom Bosco e o cônsul para causar efeito. R. Entrai-
29
gas, no perfil biográfico do cônsul, diz que lhe agradava articular esses números (ver F. Desramaut,
Don Bosco, 973, nota 67). Ceria acrescenta: “Alguns superiores, diante do que viam, foram reticentes
em sentar-se no estrado. Temiam que, quando chegasse o momento de concretizar o projeto, este viria
abaixo por falta de pessoal ou falta de meios” (MB XI, 143).
92
Apresentação da “missão”
A reação à apresentação e às palavras do cônsul e de Dom Bosco foi en-
tusiasta e emotiva. Os salesianos e os meninos do Oratório estavam cheios
de espírito missionário. O mundo todo percebeu que se abriam novos hori-
zontes para a jovem congregação. Dom Bosco agiu imediatamente, mesmo
antes de pôr-se a caminho de Roma, para dar a conhecer a nova realidade
a todos os salesianos. Ao fazer um apelo para que se apresentassem volun-
tários para as missões entre os selvagens, enviou instruções a todas as casas
nesta circular:
30
MB XI, 143.
93
31
João Bosco aos salesianos, circular, Turim, 5 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto,
408-409; MB XI, 128-143s. Alguns dias antes, Dom Bosco escrevera pessoalmente a José Francisco
Benítez, presidente da comissão de San Nicolás de los Arroyos, a quem padre Ceccarelli elogiara viva-
mente. Nessa carta, de 2 de fevereiro de 1875, Dom Bosco enaltece o ancião pela sua caridade e “amor
pela Santa Sé”; pede-lhe que tome os salesianos sob sua proteção. Ver João Bosco a J. E. Benítez, Turim,
2 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto, 406-407; MB XI, 143s.
32
Para a crônica do padre Berto sobre a viagem de 1875 a Roma, ver ASC A004, Cronachette,
Berto, Memorie del viaggio a Roma nel 18 febbraio 1875, FDB 911 A9-D3.
94
33
João Bosco a Pio IX, Roma, anterior a 26 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto,
224-226.
34
MB XI, 145s.
95
96
Como suas palavras revelam, Dom Bosco desejava não só fundar a obra
salesiana de igreja e colégio, mas também a obra missionária propriamente
dita, que chamava de “conversão dos selvagens”. Mais ainda, a mão de obra
para esta dupla finalidade seria desde o início tanto de leigos como de sacer-
dotes. Padre Ceccarelli queria apenas 5 padres para San Nicolás. Dom Bosco
incluiu salesianos leigos no grupo e, quase imediatamente em 1877, viu a
necessidade de incluir as Filhas de Maria Auxiliadora.
Dom Bosco tinha obsessão pela ideia da missão, obsessão que com o
tempo se tornou mais intensa. Em 20 de maio de 1875, conversando com
padre Barberis, falou longamente sobre a necessidade de converter as massas
de infiéis que ainda existiam no mundo.38
37
G. Barberis, Cronachetta autografa, caderno 1, 11, em ASC A000: FDB 833 B9; MB XI, 145s.
38
G. Barberis, Cronachetta autografa, caderno 1, 16-18: FDB 833 C2-4.
97
Mais tarde, Dom Bosco daria corpo à sua estratégia missionária fazen-
do notar que os missionários anteriores, tentando chegar imediatamente a
essas tribos selvagens, quase sempre encontraram a morte. Os salesianos, ini-
cialmente, fundariam escolas e internatos na zona fronteiriça com as tribos
indígenas. As escolas estariam abertas aos filhos dos selvagens, estratégia que
facilitaria a aprendizagem do idioma, dos hábitos e costumes. Depois, gra-
dualmente, por meio da educação dos meninos seria possível chegar às tribos
propriamente ditas, para sua transformação social e religiosa. Buenos Aires
seria o quartel-general e San Nicolás, o trampolim que facilitaria o contato
religioso e social com os selvagens.
Como se verá em seguida, Dom Bosco estava muito preocupado pelo
bem-estar do grande e crescente número de imigrantes italianos que partiram
para a Argentina, mas estavam concentrados especialmente em Buenos Aires.
Chegaram ao país em busca de fortuna, mas, em parte por própria culpa e em
parte pela escassez de padres, estavam privados de assistência religiosa.
39
MB X, 274s.
98
40
Dom Bosco precisou mudar o plano que envolvia João Bonetti. João Cagliero, embora devesse
ir e retornar, ficou no comando de todo o empreendimento.
41
João Bosco a P. Ceccarelli, Turim, 28 de julho de 1875, em Epistolario IV Motto, 490-493.
42
João Bosco a P. Ceccarelli, Turim, 12 de agosto de 1875, em Epistolario IV Motto, 502-504.
99
43
Padre João Cagliero (1838-1926) tinha 37 anos no momento da partida. Era diretor espiritual ge-
ral da Sociedade Salesiana e das Filhas de Maria Auxiliadora. Posteriormente, seria o inspetor provincial dos
salesianos na América do Sul, vigário apostólico da Patagônia central e do norte (1883), sendo ordenado
bispo (1884). Mais tarde, foi nomeado bispo titular de Sebaste (1904); será, depois, delegado apostólico na
América Central (1908) e, por último, cardeal-bispo da diocese suburbicária de Túsculo (Frascati) (1915).
44
Padre José Fagnano (1844-1916) tinha 51 anos de idade e sete de sacerdócio no momento
da partida. No dia anterior à partida, um padre da primeira lista (Riccardi, cf. a carta de Dom Bosco
ao padre Ceccarelli citada anteriormente) precisou ser substituído. Dom Bosco recorreu ao padre Fag-
nano, que respondeu com generosidade. Foi diretor do colégio de San Nicolás durante seis anos que,
diversamente do prometido, precisou construir. Depois de recobrar-se de uma longa enfermidade, em
1879 foi nomeado pároco da missão de Carmen de Patagones. Em 1883, foi nomeado prefeito apos-
tólico da missão da Patagônia do Sul e da Terra do Fogo, que fundou e expandiu nos anos 1887-1916.
45
Padre Domingos Tomatis (1849-1912), de 26 anos de idade, fora aluno do Oratório. Em 1866,
estava pensando em unir-se aos jesuítas, mas seguiu o conselho de Dom Bosco e professou como salesiano
em 1867. Depois de ordenado em 1872, foi coordenador de estudos no colégio salesiano de Varazze até
quando Dom Bosco o escolheu para fazer parte da expedição missionária. É o autor da crônica da viagem
de Gênova a Buenos Aires. Em San Nicolás de los Arroyos foi coordenador de estudos e diretor. Em 1887,
fundou a obra salesiana no Chile, em Talca e Santiago, onde morreu de ataque cardíaco.
46
Padre Valentim Cassini (1851-1922), depois de trabalhar por oito anos com os aprendizes
do Oratório, foi escolhido para a missão após ser ordenado padre em 25 de outubro de 1875. (Sobre
a história de sua ordenação, ver MB XI, 373s.) Na Argentina, trabalhou como professor em San Ni-
colás de los Arroyos, em San Carlos de Almagro (Buenos Aires) e como diretor da escola agrícola de
Uribelarrea. Posteriormente, participou do grupo que iniciou a obra salesiana em São Francisco (EUA)
(1897-1901); regressou depois à Argentina e trabalhou em Carmen de Patagones e Almagro (Buenos
Aires), onde morreu.
100
101
53
Cf. MB XI, 376s; para ver as cartas, o decreto e o breve papal MB XI, 584s.
54
Cf. MB XI, 380s.
55
Cf. MB XI, 380s. Todo o capítulo (“A partida dos missionários”, 318-333), em particular o
discurso de despedida de Dom Bosco e os 20 memorandos (325-333), merece ser estudado cuidadosa-
mente para entender melhor as intenções de Dom Bosco.
56
Os detalhes sobre o navio e a viagem são da obra do padre Tomatis na edição crítica e comen-
tada de J. Borrego, “De Génova a Buenos Aires: itinerario de los primeros misioneros salesianos, por
don Domingo Tomatis”, RSS 2:1 (1983), 54-96.
57
A congregação das irmãs de Nossa Senhora das Mercês foi fundada em 1837, por Santa Maria
Josefa Rossello, para dedicar-se à caridade entre os pobres. Em Buenos Aires, trabalhariam entre os
imigrantes italianos.
58
O Savoie era um barco de 2.588 toneladas que media 102,86 por 11,46 metros. Lançado em
1854, em 1875 teve acrescentado um novo motor de dois cilindros que proporcionava a força de 350
cavalos com uma só hélice. “O Savoie tinha só dois mastros com a função mais de equilibrar o barco do
que aumentar sua velocidade [...]. Mesmo com vento favorável, com todas as velas enfunadas, o barco
não ganhava mais do que uma ou uma milha e meia por hora”. O barco podia transportar uns 700 pas-
sageiros, a maior parte na terceira classe. Com exceção do refeitório, os passageiros de primeira e segunda
102
classe compartilhavam as mesmas instalações. “Um grande toldo preso a umas grades e sustentado por
escoras arqueadas que se estendia por todo o espaço do navio serve de cobertura e protege os passageiros
da fumaça do motor e do sol. Até o último dos oficiais do barco e dos membros do pessoal de serviço
são sumamente profissionais. A limpeza e a higiene são mantidas com rigor por todo o barco” (Tomatis,
Diário da viagem). O navio transportava, também, animais vivos sob a ponte, com um matadouro anexo.
103
104
[Seus filhos] certamente farão muito bem não só em San Nicolás, como tam-
bém nesta capital, onde é muitíssimo conveniente que tenham uma casa, não
só para facilitar a comunicação com V. R., mas também porque poderiam
fazer aqui um bem imensamente maior do que farão em San Nicolás. Só aqui
há uns 30 mil italianos e a maioria dos sacerdotes italianos que aqui vêm,
oprime-me o coração dizê-lo, vêm para ganhar dinheiro e nada mais. Creio,
pois, muitíssimo conveniente que seus filhos assumam a direção da igreja
italiana que aqueles bons irmãos lhes oferecem. Prestarão, assim, um serviço
imenso não só aos italianos, mas também aos nossos.59
MB XII, 97s.
59
A confraria fora fundada em 1855 ao redor da imagem de Nossa Senhora das Mercês, de
60
Savona, que um grupo de imigrantes tinha trazido consigo. Originalmente, sua sede foi na igreja
de São Domingos. Foi erigida canonicamente em 1867. A igreja fora construída, pouco maior do
105
que uma capela, em 1870; a construção foi obra de uma comissão com contribuições dos imigrantes
italianos. Era e é conhecida simplesmente como a “igreja italiana”; foi dedicada em 1871, momento
em que o arcebispo a converteu em sede da confraria de Nossa Senhora das Mercês, transferindo-a de
São Domingos. A “igreja italiana” foi então dedicada a Nossa Senhora das Mercês. Muito cedo, por
vários motivos, surgiram problemas na confraria. Entre eles, os políticos, que tornaram necessária a
intervenção do arcebispo. Um dos capelães foi destituído; o outro, depois de trabalhar durante certo
tempo, foi embora.
61
Falhas legais no contrato destas designações fizeram com que, com o passar dos anos, a pro-
priedade dos salesianos fosse impugnada. Em 1939, foi confirmado oficialmente o direito dos salesia-
nos tanto à igreja como à confraria.
62
MB XII, 264.
106
107
108
64
Francisco Bodrato (1823-1880) nasceu em Mornese e tornou-se professor na cidade. Viúvo
e com dois filhos, conheceu Dom Bosco em 1864, ingressou no Oratório e fez a profissão perpétua
em 1865 aos 41 anos. Trabalhou como professor e administrador; em 1875, Dom Bosco nomeou-o
ecônomo-geral. Em 1876, foi escolhido para liderar o contingente da segunda expedição a Buenos Ai-
res. Ali trabalhou como pároco de La Boca, o hostil distrito em que o padre Cagliero acabava de fazer-se
presente. Em 1877, quando Cagliero deixou Buenos Aires para participar do I Capítulo Geral, Dom
Bosco nomeou-o administrador de todas as obras salesianas. Fundou uma escola de artes e ofícios que
foi logo transferida à escola Pio IX, de San Carlos de Almagro (Buenos Aires). Em 1878, foi nomeado
provincial da recém-criada Inspetoria Americana. Ao mesmo tempo, porém, que uma sangrenta guerra
civil arrasava a cidade, padre Bodrato, não podendo obter a assistência necessária para uma doença
crônica que sofria, faleceu em meio a dores intensas em 4 de agosto de 1880.
65
O contingente uruguaio partiu de Bordeaux porque as autoridades contrataram a passagem
dos missionários com uma companhia com sede nessa cidade. Luís Lasagna (1850-1895), órfão aos 9
anos de idade, salesiano em 1866, fora ordenado em 1873. Em 1876, foi escolhido por Dom Bosco
para liderar o grupo uruguaio da segunda expedição missionária. Foi o primeiro diretor do colégio
de Villa Colón e depois Inspetor; estava profundamente envolvido e era muito influente em temas
educacionais e sociais, como também no cuidado dos imigrantes. Promoveu a agricultura, a viticultura
e a imprensa católica. Em 1881, fundou um observatório meteorológico em Villa Colón. Trabalhou
para fundar a Universidade Católica de Montevidéu e uma escola superior de agricultura. Em 1893,
Leão XIII nomeou-o bispo entre os nativos da bacia amazônica. Nesse cargo, desenvolveu a missão do
Mato Grosso. Quando organizava uma missão ao norte do Brasil, morreu tragicamente em 1895 numa
colisão de trens em Juiz de Fora (MG), juntamente com seu secretário e 4 irmãs salesianas.
109
Tiago Costamagna (1846-1921) professou como salesiano em 1867. Foi ordenado sacerdote
66
em 1868 e nomeado bispo em 1895 como vigário apostólico de Méndez y Gualaquiza (Equador).
Faleceu em Bernal (Argentina) em 1921.
110
Teresa Gedda, 24; Ângela Valiese, 23; Teresa Mazzarello Baroni, 18; Ângela
Negris, 18; e Joana Borgna, 17. Todos deixaram marca extraordinária.
Os missionários da terceira expedição dividiram-se assim: cinco salesia-
nos foram indicados para a obra de Buenos Aires e quatro para San Nicolás.
Os oito restantes, que desembarcaram em Montevidéu, foram destinados ao
colégio de Villa Colón. As seis irmãs também permaneceram em Villa Colón,
onde fundaram sua primeira casa no Novo Mundo.
111
4. Comentário final
O apostolado em prol dos imigrantes italianos logo deu fruto de muitas
maneiras. Em primeiro lugar, as conversões e renovações religiosas obtidas
pareciam quase milagrosas; em pouco mais de dez anos, depois da morte de
Dom Bosco, as comunidades italianas em Buenos Aires, incluindo La Boca,
voltaram à prática católica. Em segundo lugar, foi-se criando um forte grupo
local de cooperadores e este grupo tornou possível a continuidade da obra
salesiana. Em terceiro lugar, as vocações para a Congregação Salesiana e o Ins-
tituto das Filhas de Maria Auxiliadora entre o povo do lugar eram promessa
de um futuro brilhante.
112
Indígenas sul-americanos
Na época do descobrimento e da conquista, nos inícios do século XVI,
as sociedades ameríndias apresentam três níveis culturais diversos; isso de-
terminou em grande parte a composição da população durante e depois do
período colonial.
67
Cf. “South America”, Encyclopaedia Britannica, Macropoedia (1987). Vol. XXIII, 683.
113
114
império inca ou estavam sob a sua influência. Avaliações mais recentes, que
situam a cifra de habitantes pré-colombianos ao redor dos 14 milhões de pes-
soas, parecem mais realistas. A civilização andina e os povos dominados ou in-
fluenciados por ela incluem talvez a metade da população indígena e também
as áreas mais povoadas do continente. Em outras regiões, a população era mais
escassa e havia também amplas zonas desabitadas.
Ainda hoje, é objeto de controvérsia a procedência dos indígenas sul-
-americanos. Muitos antropólogos acreditam que chegaram à América, vin-
dos da Ásia, em ondas sucessivas, a partir de 2500 a.C. Provavelmente, che-
garam cruzando o estreito de Bering, que separa os extremos do nordeste da
Ásia e o noroeste da América do Norte.
Ibéricos
Após a conquista e ao longo do período de dominação, só os espanhóis
e portugueses eram admitidos nas colônias sul-americanas. A exclusão rígida
de outros estrangeiros contou com poucas exceções embora um pequeno nú-
mero de europeus de outras nacionalidades tenha se assentado nas colônias
como consequência de uma imigração tolerada ou ilegal. O substrato étnico
dos povos da península ibérica também foi muito diverso. A maioria dos es-
panhóis provinha de Castela e das regiões do sul. Sabe-se muito pouco sobre
a procedência dos principais contingentes de portugueses.
Escravos africanos
Os serviçais africanos que acompanhavam seus senhores espanhóis ou
portugueses foram os primeiros escravos que chegaram ao continente. A im-
portação africana de escravos em grande escala aconteceu duas ou três déca-
das depois. A Espanha autorizou o comércio de escravos pela primeira vez em
1518, embora faltem informações confiáveis.
Uma opinião sobre a sua contribuição demográfica em números esti-
maria em 4 milhões para o Brasil e 3 milhões para o conjunto da América
hispânica, da qual só uma minoria foi à região andina e um número ainda
menor ao cone sul, os atuais Uruguai, Chile e Argentina.
Paradoxalmente, o comércio de escravos foi apoiado por aqueles que esta-
vam preocupados com o respeito pelos indígenas. Os escravos africanos eram
tidos por mais eficientes do que os indígenas americanos, particularmente no
trabalho das plantações tropicais. A maioria dos escravos importados vinha da
África ocidental, incluindo Angola. O comércio de escravos, mas não a escra-
vidão, deixou de existir nos inícios do século XIX.
115
MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA NA
AMÉRICA LATINA68
68
Cf. W. L. Langer, An Encyclopedia of World History. Versão revisada e atualizada da obra de
Ploetz. Boston, Houghton Mifflin Co., 1949.
116
117
118
Chile, Brasil e Uruguai, países nos quais a obra salesiana se estabeleceu durante
a vida de Dom Bosco.
Argentina
Após a conquista da independência, o sentimento de unidade era
frágil na Argentina, emergindo logo um importante problema político:
a adoção do sistema de governo republicano federativo ou centralizado.
Buenos Aires preferia o sistema unitário, mas as províncias, controladas
por líderes locais (caudillos) que temiam a preponderância da capital, pre-
feriam o sistema federativo. As províncias também queriam incluir o Pa-
raguai e o Uruguai no interior da nova nação, o que serviu de base para
complicações externas.
Em 1828, com a intervenção da Grã-Bretanha e o final da Guerra do
Brasil (entre o Império do Brasil e as Províncias do Prata), o Uruguai torna-se
um país independente. Separado da Espanha em 1811, era reclamado pelo
Brasil e considerado pela Argentina como parte das Províncias Unidas do Rio
da Prata (de fato, com várias províncias argentinas, participou da Liga Federal
ou Liga dos Povos Livres).
Em 1835, João Manuel Rosas assume a autoridade total de Buenos Aires;
12 províncias reconhecem o seu poder executivo na Confederação Argentina,
que se torna realidade. Rosas governa com poder absoluto na Província de
Buenos Aires, com grande ascendência sobre a Confederação, conservando
também sua representação exterior. Procurava levantar o prestígio argentino
no exterior e unir o Uruguai e o Paraguai à Federação.
Na década 1831-1841 surgem controvérsias com os Estados Unidos e a
Grã-Bretanha pelas ilhas Malvinas, cuja soberania reclamava e, com a França,
por causa do tratamento que os súditos franceses recebiam. Houve um blo-
queio francês no Rio da Prata (1838).
Em 1853, Justo José de Urquiza torna-se presidente da Argentina e em
1º de maio promulga a constituição federal, que a Província de Buenos Ai-
res recusou-se a aceitar. Ela estabelecia o mandato presidencial de seis anos,
o parlamento de duas câmaras e a independência do poder Judiciário. Em
1859, Buenos Aires é derrotada e em 10 de novembro une-se à confederação,
depois de se introduzir uma emenda constitucional.
Em 1o de maio de 1865, a Argentina assina uma aliança com o Uru-
guai e o Brasil. Enquanto isso, o Paraguai declara a guerra depois de a
Argentina recusar a permissão da passagem de tropas paraguaias pelo seu
território. A guerra termina em 1870, quando o ditador Francisco Solano
119
120
Chile
Após a independência em 1818, o chefe supremo, Bernardo O’Higgins, es-
tabelece as bases do Estado chileno e funda um governo altamente centralizado.
Em 1826, sob o governo de Ramón Freire, adota-se um modelo de go-
verno federalista, mas Freire se vê obrigado a renunciar, e seu sucessor, Fran-
cisco Antônio Pinto, promulga no ano seguinte uma segunda constituição fe-
deral. Crescem os partidos políticos: o liberal, que advoga pela democracia e a
autonomia local, e o conservador, apoiado pelas classes mais altas e pelo clero,
que propugna um sistema centralizado com uma autoridade executiva forte.
Em 1829, estala a guerra civil. Os conservadores, sob a liderança de
Diego José Víctor Portales, vencem e permanecerão no poder até 1861. Em
1833, é adotada uma constituição decididamente centralista, que concede
grandes poderes ao presidente. O catolicismo mantém o status de religião
de Estado. Em 1836, o Chile opõe-se à formação da temida confederação
peruano-boliviana e em 11 de novembro declara guerra. Mais tarde, em
1839, as tropas chilenas, sob o comando de Manuel Bulnes, derrotam a
confederação na decisiva batalha de Yungay.
Durante os dois mandatos de Bulnes acontece um grande desenvolvi-
mento interno e dão-se passos para estender a soberania chilena sobre a re-
gião do estreito de Magalhães. Cria-se um novo partido liberal enfrentando
o controle oligárquico conservador e que defende o corte dos poderes presi-
denciais. Em 1851, Manuel Montt (1809-1880) sucede a Bulnes e desfruta
de dois mandatos. Continua o progresso material, promove-se a educação e
adotam-se algumas reformas liberais.
Com o apoio de Montt, em 1861 é eleito José Joaquim Pérez, aceitável
para os liberais, marcando uma mudança para maior democracia e mudança
no poder a favor de elementos intelectuais e comerciais. Pérez governou em
duas ocasiões, durante as quais aumentou o desenvolvimento interno e inves-
tiu-se capital no Peru e na Bolívia pela exploração do guano e do nitrato. As
terras dos ameríndios araucanos converteram-se parcialmente em território
nacional como raiz da sua submissão total.
Durante o mandato do liberal Frederico Errázuris, em 1871, promove-
-se a educação, adotam-se reformas anticlericais, introduzem-se reformas que
levam a maior democratização enquanto continua o progresso econômico.
121
Brasil
O Brasil, que fora refúgio da família real portuguesa durante a ocupação
de Napoleão (1880-1814), proclamou sua independência de Portugal, ele-
gendo dom Pedro, filho do rei português, como imperador.
O descontentamento com as atuações do imperador leva algumas
províncias do norte à formação, em 2 de julho de 1824, da Confederação
do Equador, de orientação republicana; o movimento foi sufocado em 17
de setembro.
A província Cisplatina, também chamada Banda Oriental do Uruguai,
anexada ao Império em 1816, opõe-se a participar do Brasil e aspira pela in-
dependência. Por sua vez, as Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina) a
reclamava como parte da confederação.
Em 1825, estala a guerra entre Brasil e Argentina pela Banda Oriental
ou Uruguai, na qual o Brasil foi derrotado na batalha de Ituzaingo, em 20 de
fevereiro de 1827. Com a intervenção da Grã-Bretanha, o Uruguai tornou-
-se independente em 27 de agosto de 1828. A perda do Uruguai aumentou
a impopularidade do imperador. A oposição a Pedro I surge por causa das
tendências autocráticas, sua preferência por conselheiros portugueses e, so-
bretudo, pelo interesse mantido pelos assuntos de Portugal, querendo garan-
tir o trono português para sua filha Maria da Glória. Em 7 de abril de 1831,
enfrentando a oposição, Pedro I vê-se forçado a abdicar em favor de seu filho
122
123
Uruguai
Uruguai é o nome do grande rio que nasce no Brasil, corre de norte a
sul e une-se ao rio Paraná para formar o rio da Prata. A leste do rio Uruguai
e ao sul do Brasil há um território relativamente pequeno, a chamada Banda
ou margem Oriental. Esse território, atual Uruguai, ficou independente da
Espanha juntamente com o Paraguai e a Venezuela em 1811, mas continuou
a ser motivo de disputa entre Argentina e Brasil, até se tornar Estado inde-
pendente.
Em 27 de agosto de 1828, o Uruguai converte-se em Estado soberano
com o tratado que dá fim à guerra entre Brasil e Argentina sobre o status da
Banda Oriental. Redige-se uma constituição para a Banda Oriental do Uru-
guai, aprovada pelo Brasil e Argentina em 26 de maio de 1830.
Surgem algumas lutas entre facções e criam-se dois partidos, blancos e
colorados, encabeçados respectivamente por Manuel Oribe e Frutuoso Rivera.
Rosas, governador da Província de Buenos Aires e responsável pelas relações
exteriores das Províncias Unidas do Rio da Prata, para favorecer sua política,
apoia Oribe, enquanto Rivera recebe ajuda de forças francesas. Após a reti-
rada dos franceses em 1843, seguiu-se um acordo entre o cônsul francês e
Rosas. Oribe iniciou um assédio de oito anos à capital Montevidéu. Durante
o período do cerco do Rio da Prata, tropas francesas e inglesas ocupam terri-
tório uruguaio para controlar o argentino Rosas.
As contínuas desordens internas levam a uma prolongada guerra civil
entre o partido dos blancos com seu presidente Anastácio Aguirre e o governo
dos colorados, de Flores. Os blancos prevalecem. Quando o Brasil reclama pe-
las vexações sofridas por cidadãos brasileiros e Aguirre mostra-se intransigen-
te, chega-se a um acordo com Flores, e as forças brasileiras ocupam cidades
fronteiriças do Uruguai (1864-1865).
Em 1865, Flores ocupa Montevidéu e assume o governo. Dado que
Francisco Solano López, ditador do Paraguai, tinha relações com Aguirre,
estalou a guerra do Paraguai, em que o Uruguai, sob o governo colorado,
aliou-se ao Brasil e Argentina para aniquilar o Paraguai.
A guerra é seguida, nos anos 1870 a 1872, de um prolongado conflito
civil entre blancos e colorados, do qual estes últimos saem vitoriosos. Mas
124
71
Cf. R. Aubert (ed.), The christian centuries. Vol. V. Nova York-Londres: Darton, Longman &
Todd, 1978, 321-329, 333-335.
125
América do Sul. De fato, não é fácil determinar qual era a verdadeira natureza
do catolicismo na América hispânica.
Não se tratava de uma situação nova. Na América espanhola, como na
Pátria-Mãe, sempre houvera disputas sobre se o catolicismo devia servir como
instrumento de repressão, recalcando interpretações reducionistas do posi-
tivismo da lei divina em favor de uma elite privilegiada, ou como meio de
defender os direitos dos mais humildes, de acordo com os princípios da lei
natural e dos conceitos mais humanitários e liberais, que sempre foram asso-
ciados à fé. De modo que, nos inícios do período independentista, a Igreja
estava enfraquecida por uma séria dissensão interna.
Além disso, devia mover-se num contexto social e político que se tornara
decididamente hostil por causa do predomínio de sentimentos anticlericais.
A essência do anticlericalismo era uma atitude de desconfiança e também ani-
mosidade pela organização administrativa da Igreja e até do clero em geral.
Sugeriu-se que existisse na mentalidade crioula uma tendência a certas
crenças heréticas relacionadas com o quietismo, ou seja, a identificar a vonta-
de própria com a divina e questionar o valor da prática sacramental da Igreja
institucional e de seus ministros.
Aos problemas surgidos das divisões internas e do sentimento anticle-
rical imperante, logo se acrescentaram outros. A questão do favorecimento:
enquanto a independência era concretizada, surgia uma acalorada disputa
entre os capelães militares e os oficiais sobre o direito de conceder ou reco-
mendar alguém para um determinado cargo. A questão dos impostos: o clero
e os líderes políticos começaram a discutir sobre se os governos nacionais
deviam continuar com a tradição colonial de recolher dízimos para a Igreja. A
questão dos tribunais da Igreja e do privilégio de isenção judicial; autorizados
pelo foro eclesiástico dos tempos coloniais, eram atacados agora tanto por in-
telectuais como pelos burocratas do governo. Além disso, os vastos territórios
e riquezas da Igreja levantavam uma crescente crítica dos leigos e também de
alguns clérigos.
Os temas do favorecimento, dos impostos, dos tribunais eclesiásticos e
da propriedade da Igreja foram contestados intensamente em várias nações
europeias há séculos e, iniciado o século XIX, foram, em grande parte, re-
solvidos. No Brasil e na América hispânica, estas questões incômodas apare-
ceram pela primeira vez em 1800 e foram resolvidas no transcurso de várias
décadas violentas.
Depois de obter a independência, os políticos latino-americanos come-
çaram a olhar para a Europa a fim de inspirar-se em suas ideias. Encantados,
126
72
Augusto Comte (1798-1857), filósofo e sociólogo, criador do positivismo, teoria que consi-
derava a teologia e a metafísica como formas imaturas e imperfeitas de conhecimento; o saber positivo
seria baseado nos fenômenos naturais, suas leis e relações como verificadas pelas ciências empíricas. Na
esfera sociopolítica, o positivismo afirmava que as leis são normas sociais, válidas quando promulgadas
pelo soberano ou quando derivadas logicamente de decisões preexistentes; a avaliação ideal ou moral,
ou seja, se uma lei é injusta, não deveria limitar sua finalidade ou sua aplicação.
127
128
129
130
131
132
133
134
135
1
A. Favale, Missioni cattoliche, 13-48; A. Martín, Origen de las misiones, 47-81.
136
Contexto histórico
A tomada de consciência e a preocupação de Dom Bosco com as mis-
sões devem ser entendidas no contexto de ressurgimento na época em que
se despertava o interesse geral pela atividade missionária na Igreja. Depois
do revés na Revolução Francesa e como reação a ela, a Europa experimentou
um renascimento espiritual e religioso, favorecido também por ideais român-
ticos. O espírito liberal e anticlerical também estava se consolidando, espe-
cialmente entre a sempre mais numerosa classe média, e a Igreja conseguiu
reorganizar as estruturas para o cuidado pastoral dos fiéis e reabrir seminários.
A pregação e a instrução religiosa, meios de renovação espiritual, como os
Exercícios Espirituais e a imprensa católica reavivaram o espírito cristão com
sua poderosa inspiração missionária.
A contribuição das ordens e congregações religiosas, masculinas e femi-
ninas, de vida ativa e contemplativa, foi considerável; era inspirada na espi-
ritualidade missionária característica do século XIX e no fervor missionário
que frutificou no crescente número de pessoas que se somavam às fileiras dos
missionários que já estavam em ação.
É óbvio que o renovado interesse da Igreja não teria sido possível, se
os papas do período posterior a Napoleão e da época seguinte não tivessem
tomado a iniciativa. No século XIX, os passos mais decisivos foram dados
no pontificado de Leão XIII (1878-1903). Mas o movimento missionário já
tivera progressos significativos sob os papas Gregório XVI (1831-1846) e Pio
IX (1846-1878).
Entre outras conquistas, Gregório XVI atuou com firmeza para fazer a
transição entre a velha estrutura missionária do padroado e o novo sistema de
Igrejas locais e missões. Denunciou a escravidão e promoveu ativamente a sua
137
Padres e Irmãos dos Sagrados Corações de Jesus e Maria (Picpus), fundados entre
1792 e 1817 por Pedro Maria José Coudrin (1768-1837) com a ajuda de
Henriqueta Aymer de la Chevalerie (1767-1837).
2
As declarações oficiais de Gregório XVI estão na encíclica Sollicitudo Omnium Ecclesiarum (18
de setembro de 1835), no breve Commissi Nobis (4 de agosto de 1835), na carta apostólica In Supremo
Apostolatus Fastigio (3 de dezembro de 1839) e na instrução à Congregação para a Propagação da Fé
Neminem Profecto (23 de novembro de 1845).
3
Pio IX também procurou reorganizar a Igreja em países católicos e não católicos considerados
como jurisdições missionárias naquele tempo. Nos Estados Unidos, erigiu 38 novas dioceses e 11 pro-
víncias eclesiásticas. Na Austrália, fundou uma província eclesiástica e 9 dioceses. Em 1850, organizou
a jerarquia católica na Inglaterra, com um arcebispo e 12 bispos.
138
As Memórias do Oratório não mencionam essa crise vocacional, mas as Memórias Biográficas
4
dão-lhe espaço considerável (MB I, 328s, 415s). A Congregação dos Oblatos de Maria foi fundada
pelo padre Pio Bruno Lanteri (1759-1830) junto com outros padres. Foi aprovada pela Igreja em 1825
e 1826. Em 1834, os oblatos tinham sede na igreja da Consolata, em Turim. Entre outros serviços,
ocupavam-se das missões em Burma (atual Mianmar), onde foi criado um vicariato apostólico em
1842. Dom Bosco estava familiarizado com os oblatos, cujo fundador fora um dos iniciadores do
Colégio Eclesiástico. Por isso, é lógico pensar que Dom Bosco estivesse sob a influência oblata durante
seus anos no Colégio Eclesiástico (1841-1844).
139
Influências decisivas
Combonianos e Padres Brancos foram, possivelmente, os grupos religiosos
mais inovadores entre as novas forças no campo da missão na África. Seus
fundadores, respectivamente, o bispo dom Comboni e o cardeal Lavigerie,
foram sem dúvida os missionários mais eminentes do século.8 Eles também
5
Os Anais e as Cartas edificantes eram publicações da Sociedade para a Propagação da Fé e da
Pontifícia Obra da Santa Infância, ambas fundadas em Lyon; a primeira, por Pauline Jaricot (1799-
1862) com o bispo Charles de Forbin-Janson (1785-1844), em 1822; a segunda, pelo mesmo Forbin-
-Janson, em 1842. Cf. New Catholic Encyclopedia, “The Catholic University of America”. McGrill,
1967, V, 1001-1003; VII, 857-858.
6
MB III, 362s.
7
Cf. MB V, 105.
8
São Daniel Comboni (1831-1881) estudou línguas, medicina e teologia com a finalidade de
trabalhar pela evangelização da África. Uma vez ordenado padre, trabalhou como missionário no Nilo
Branco (1857); para essa missão, fundou os padres e as irmãs missionários de Verona (1867). Fun-
daram-se missões no Sudão e um seminário para a formação do clero nativo no Cairo, Egito (1867).
140
Comboni foi nomeado pró-vigário apostólico da África Central (1872) e, mais tarde, vigário (1877).
Foi pioneiro na introdução de novos métodos de evangelização; escreveu contra a escravidão, traba-
lhando ativamente pela sua abolição. Como linguista, geógrafo e etnólogo, trabalhou no campo das
línguas e das culturas africanas. Foi canonizado em 1996.
Carlos Lavigerie (1825-1892), catedrático de História da Igreja na Sorbona em 1857, tornou-
-se auditor da Rota Romana em 1861. Em 1863, foi nomeado bispo de Nancy e, em 1867, de Argel.
Depois de ser designado delegado apostólico para o Saara Ocidental e o Sudão em 1868, fundou duas
congregações missionárias para a África. Em 1882, foi nomeado cardeal arcebispo de Cartago. A partir
desse posto, converteu-se em importante força na implantação das diretrizes missionárias do papa Leão
XIII, especialmente no que se refere a potenciar o desenvolvimento dos povos nativos, com ênfase
especial na proteção da gente de raça negra e na abolição da escravidão.
9
Cf. MB XIV, 498.
10
Cf. MB IX, 711s, 889.
11
Cf. MB XII, 221s.
12
Cf. MB IX, 939; 656; XI, 423.
13
Cf. MB XVI, 252s.
141
14
Cf. MB XVII, 473s.
142
Fontes e notícias
Segundo o próprio Dom Bosco, como aparece nas fontes, este sonho
missionário, conhecido a posteriori como Sonho das missões da Patagônia, se
deu em 1871 ou 1872. Dom Bosco tentara identificar no sonho a terra e
o povo que via, mas não foi capaz de fazê-lo. Só depois de receber a oferta
15
Para uma breve, mas detalhada, apresentação de como o Vaticano I tratou do tema missioná-
rio, ver A. Favale, Missioni cattoliche, 29-44. O esquema nunca foi discutido por causa da interrupção
do Concílio provocada pela ocupação de Roma pelo Exército italiano. Visto com o olhar de hoje, pare-
ce retrógrado tanto em teoria missionária, quanto em estratégia, especialmente em sua atitude negativa
em relação à formação do clero nativo.
16
Cf. MB IX, 890s. Foi então, que o bispo José Sadoc Alemany, de São Francisco (EUA), so-
licitou salesianos para cuidar do orfanato de São Vicente em San Rafael, Califórnia, com uma carta
datada em 20 de julho de 1870; mais tarde, em sua visita a Turim, Dom Bosco aceitou o apelo. Mas as
negociações posteriores não levaram a qualquer resultado prático. Para mais detalhes, cf. M. Ribotta,
“The road not taken”, JSS 1:2 (1990), 45-67, principalmente 54-60. Para a história da presença dos
salesianos em São Francisco, cf. F. Motto, Vita e azione della parrocchia nazionale salesiana dei SS.
Pietro e Paolo a San Francisco. Roma: LAS, 2010.
17
Cf. P. Stella, Vita, 167-186.
143
Eis o sonho que fez Dom Bosco decidir o início do apostolado missionário
na Patagônia. Contou-o pela primeira vez a Pio IX na recente viagem feita a
Roma [antes de 31 de julho de 1876] e, depois, [contou-o] a alguns de nós. Em
30 de julho [falou dele] ao padre Bodrato. Eu também o ouvi dele na noite
desse mesmo dia em Lanzo, onde fora passar uns vinte dias de férias com
metade dos noviços clérigos. Três dias depois, já de volta a Turim, Dom Bosco
contou-o para mim, enquanto caminhávamos pela biblioteca. Tive o cuidado
de não mencionar que já o tinha ouvido, porque Dom Bosco normalmente
omitia um detalhe ou outro [na primeira narração]; e também porque, ou-
vido de seus próprios lábios, causava maior impressão sobre mim. Disse-nos
que éramos os primeiros a escutá-lo.19
O relato de Barberis
A crônica de Barberis é a fonte primária; assim o considerava padre
Lemoyne. Em ASC está na coleção de sonhos do padre Lemoyne. O ma-
nuscrito não se apresenta nem com a caligrafia de Barberis nem com a de
Lemoyne; parece ser uma cópia feita do rascunho original de Barberis e
inserida por Lemoyne em seu arquivo pessoal. Lemoyne começou sua edi-
ção tendo por base este manuscrito. Manteve a data original e a referência a
Padre Barberis estava sozinho com Dom Bosco. Mas a afirmação de Dom Bosco pode fazer
19
referência também ao padre Bodrato, que fora o primeiro a ouvir o sonho, e talvez a Lemoyne, que nos
Documenti afirma ter ouvido o sonho do próprio Dom Bosco.
144
Barberis, mas omitiu o título original. Fez algumas correções no texto e in-
troduziu algumas notas marginais apenas no primeiro e segundo parágrafo.
Mais adiante inseriu simplesmente barras de edição ( // ) nos lugares onde
pensava fazer mais correções.20
O relato de Lemoyne
Lemoyne afirma nos Documenti ter feito um rascunho da narração di-
reta que Dom Bosco lhe fizera em momento não especificado. O relato de
Lemoyne apresenta-se com sua caligrafia. A única adição marginal, também
de Lemoyne, está no início. As barras de edição em diversos pontos do texto
indicam os lugares correspondentes no relato de Barberis, onde se deveria
elaborar a impressão para que resultasse um texto unificado para os Docu-
menti.21 Diversamente do texto de Barberis, Lemoyne não faz uma introdu-
ção e tampouco afirma que seja narração de primeira mão. Foi redigida em
terceira pessoa.22
20
A crônica Barberis está em ASC A017: Sogni, Lemoyne, “31 de julho de 1876, sonho”: FDB
1314 D1-4. Não se detecta a caligrafia de Barberis; não está onde se esperaria encontrá-la, principal-
mente em ASC A000: Cronachette, Barberis, caderno 8, onde faltam páginas, embora o sonho figure
no Índice desse caderno (cf. FDB 843 E9 e 844 A3 e 5).
21
A crônica Lemoyne está em ASC A017: Sogni, Lemoyne, “1874? Le missioni: sogno”: FDB
1314 A8-11.
22
É a única vez nos Documenti que Lemoyne alega ter escutado o sonho e escrito uma crônica
de primeira mão. No final da introdução de Barberis, que transcreve nos Documentos, Lemoyne insere
estas palavras: “Padre Lemoyne também foi confidente deste segredo: ele e o padre Barberis escreveram
crônicas diferentes deste sonho”. Conclui adaptando as palavras finais de Barberis: “Dom Bosco disse
que nós éramos os primeiros a conhecer esta espécie de visão” (Documenti XIV, 140: FDB 1024 B8).
23
Documenti XIV (c. 28), 140-143 em ASC A063: Cronachette, Lemoyne: FDB 1024 B8-11.
A. Amadei em MB X, 53s (texto do sonho); 1267s (tentativas de Dom Bosco para identificar o povo
e a região do sonho).
145
Texto do sonho24
Crônica de Barberis Crônica de Lemoyne Documenti de Lemoyne
Sonho de Dom Bosco sobre as As missões: um sonho de Sonho de Dom Bosco sobre as
missões na Patagônia Dom Bosco missões na Patagônia
[Introdução do cronista]
[Introdução de Barberis]
Eis aqui o sonho pelo qual Dom
Eis aqui o sonho que levou Dom Bosco decidiu ir às missões na
Bosco a iniciar o apostolado mis- Patagônia. Primeiro, contou-
sionário na Patagônia. Contou-o -o ao Papa numa viagem que
pela primeira vez a Pio IX na re- fez a Roma (em 1876). Depois
cente viagem que fez a Roma (antes [contou-o] a alguns de seus pa-
de 31 de julho de 1876) e, depois, dres. Em 30 de julho de 1876
[contou-o] a alguns de nós. Em 30 [contou-o] ao padre Bodrato.
de julho [contou-o] ao padre Bo- Padre Júlio Barberis escutou-o
drato. Eu também o ouvi dele na de sua boca na noite desse mes-
noite do mesmo dia em Lanzo, mo dia em Lanzo, onde estivera
onde fora passar uns 20 dias de fé- de férias durante vinte dias com
rias com metade dos noviços cléri- metade dos noviços clérigos.
gos. Três dias depois, Dom Bosco Três dias mais tarde, em Turim,
contou-o a mim, já de volta a Tu- padre Barberis escutou o mesmo
rim, enquanto caminhávamos pela sonho dos lábios de Dom Bos-
biblioteca. Cuidei de não mencio- co enquanto caminhavam pela
nar que já o ouvira, porque Dom biblioteca; padre Barberis pro-
Bosco normalmente omitia um curou não mencionar que já o
detalhe ou outro [numa primeira tinha escutado, porque algumas
narração]; e também porque, ou- vezes Dom Bosco acrescentava
vido de seus próprios lábios, fazia detalhes omitidos em narrações
maior impressão em mim. Disse- anteriores. Padre Lemoyne tam-
-nos que éramos os primeiros a bém foi confidente deste segredo
escutá-lo. e ele e o padre Barberis fizeram
crônicas diferentes deste sonho.
Dom Bosco disse que éramos os
primeiros a conhecer esta “espé-
cie de visão”. Transcrevemos suas
palavras quase ao pé da letra.
24
As notas marginais de Lemoyne estão no texto em cursivo. As barras do editor Lemoyne (//) que apa-
recem em vários pontos indicam os lugares onde devia fazer o trabalho editorial. As palavras introduzidas no
relato de Barberis fazem parte do trabalho editorial de Lemoyne. Onde a fonte diz selvaggi, traduz-se por selva-
gens; onde diz indigeni, traduz-se por indígenas e onde diz barbari, por bárbaros. Estes termos, porém, devem
ser lidos no sentido que se lhes dá na literatura romântica, especialmente nas revistas missionárias da época.
146
Parecia-me estar numa região sel- Parecia estar numa imensa Pareceu-me encontrar-me
vagem e completamente desco- planície em que não se viam numa região selvagem e com-
nhecida [para mim]. // Era uma nem colinas nem montanhas. pletamente desconhecida [para
imensa e deserta planície em que Não era cultivada. Hordas de mim]. Era uma imensa e erma
não se viam nem colinas nem homens vagavam por ali [por planície em que não se viam
montanhas. Em seu extremo mais essa planície]. Estavam quase nem colinas nem montanhas.
distante, quase fora do alcance do nus; seus cabelos eram lon- Em seu extremo mais distan-
olho humano, [a planície] era to- gos e de seus ombros caíam te, porém, podiam-se ver picos
talmente rodeada de montanhas longas capas feitas de peles escarpados que a rodeavam
escarpadas que formavam uma co- de animais. Estavam armados completamente, formando uma
roa de cada lado dela. Na planície com lanças. // coroa de cada lado. Errando
vi dois grupos hordas de homens Esses vários grupos de ho- por essa planície, vi hordas de
// errantes. Estavam quase nus, e mens apresentavam várias homens. Estavam quase nus, de
eram de altura e compleição extra- cenas para o observador: altura e compleição extraordi-
ordinárias, olhar feroz, com cabe- alguns caçavam animais sel- nárias, com olhar feroz, com ca-
los longos e descuidados, // bron- vagens; alguns [outros] cami- belo longo e descuidado, bron-
zeados e de compleição escura, e nhavam com pedaços de car- zeados e de pele escura, como
vestidos tão somente suas únicas ne sangrando espetados nas única roupa umas longas capas
roupas eram grandes capas que ca- pontas de suas lanças; outros que caíam de seus ombros. Por
íam de seus ombros e eram feitas lutavam entre si; [mas] ou- armas, tinham uma espécie de
de peles de animais. Por armas, le- tros estavam lutando contra longa lança e uma funda (la-
vavam uma espécie de lança longa soldados vestidos à maneira ços). Estas hordas dispersas
e uma funda. // europeia; o chão estava cheio apresentavam várias cenas ao es-
de cadáveres. pectador. Alguns corriam atrás
de animais selvagens, enquanto
outros caminhavam com pe-
daços de carne sangrando nas
pontas de suas lanças. De um
lado, alguns lutavam entre si,
enquanto de outro, outros es-
tavam envolvidos num comba-
te corpo a corpo com soldados
vestidos à maneira europeia; o
chão estava cheio de cadáveres.
Apareceu, então, à vista, um gran- Dom Bosco tremeu diante Tremi diante desta visão quan-
de número de indivíduos cuja ma- dessa visão quando, de re- do, no outro extremo da pla-
neira de agir os apontava como pente, alguns missionários nície, apareceram numerosas
missionários de várias ordens [reli- apareceram do outro extremo pessoas cujas roupas e modo
giosas]. Aproximaram-se [dos indí- da planície. // Olhou-os fixa- de atuar os identificava como
genas] para pregar-lhes a fé de Jesus mente, mas não reconheceu missionários pertencentes a vá-
Cristo. ninguém. rias ordens [religiosas]. Aproxi-
mavam-se desses bárbaros para
pregar a religião de Jesus Cristo.
147
[os indígenas] com fúria diabólica Caminharam até os selva- [Olhei-os atentamente, mas não
e com cruel exultação mataram to- gens, mas tão logo estes bár- reconheci nenhum deles. Ca-
dos eles, partindo-os em pedaços baros os viram, lançaram- minharam até os selvagens, mas
que espetaram em suas longas afia- -se sobre eles e os mataram tão logo os bárbaros os viram,
das lanças. De tempos em tempos cruelmente cortando-os em lançaram-se sobre eles e, com
volta a estalar a luta entre eles, e pedaços. fúria diabólica e cruel exultação,
entre eles e as tribos vizinhas. // Em seguida, a luta continuou mataram todos eles. Sacrifica-
como antes. // ram-nos com crueldade, par-
tindo-os em pedaços e espetan-
do pedaços de carne com suas
longas e afiadas lanças. Algum
tempo depois, retomaram a luta
entre si e com os povos vizinhos.
[Cena II] [Cena II] [Cena II]
Depois de observar essas horríveis Então, ao longe, apareceram, Depois de ter observado a terrí-
matanças durante algum tempo, outros missionários. Dom vel carnificina por algum tempo,
perguntei-me: “Como será possí- Bosco olhou-os com atenção perguntei-me: “Como é possível
vel converter esta gente tão agres- e reconheceu-os. Eram pa- converter essa gente tão agressi-
siva?”. Nesse momento, vi um dres e clérigos de nossa Con- va?”. Nesse momento, vi à distân-
pequeno grupo de missionários, gregação. Conhecia os que cia um pequeno grupo de missio-
diferentes dos anteriores, avançan- iam à frente, mas a muitos nários, diferentes dos anteriores,
do com semblante alegre até eles, outros que vinham depois, avançando com semblante alegre
com uma banda de jovenzinhos à obviamente não os conhe- até os selvagens, precedidos por
sua frente. Mas comecei a tremer cia em absoluto. Avançavam uma banda de jovenzinhos. Mas
diante do simples pensamento de até as hordas de selvagens. comecei a tremer enquanto pen-
que iriam matá-los. Caminhei // Dom Bosco estava assustado. sava: “Irão matá-los”. Aproximei-
até eles. Não reconheci ninguém, Queria detê-los. Temia que -me deles; eram clérigos e padres.
mas sabia que eram salesianos mis- a qualquer momento encon- Olhei-os atentamente e reconheci
sionários, os nossos. “Como pode trassem o mesmo destino que nossos salesianos. Identifiquei os
ser isso?” [perguntei-me]. Não os missionários anteriores. // que caminhavam à frente, e em-
bora não sabendo quem eram os
queria que fossem mais adiante, e Os salesianos avançavam até
muitos que os seguiam, percebi
estava a ponto de detê-los e forçá- à multidão de selvagens re-
que também eles eram salesianos
-los a voltar, quando percebi que zando o rosário em voz alta.
missionários. “Como pode ser
sua chegada causava alegria geral Enquanto isso, os selvagens
isso?”, perguntei-me. Não queria
entre os bárbaros. Baixaram suas tinham-se reunido de todas que avançassem mais, e estive a
armas, abandonaram o seu com- as partes, rodeando os mis- ponto de detê-los. Temia que en-
portamento selvagem e receberam sionários à medida que avan- contrassem a qualquer momento
nossos missionários muito amavel- çavam. // o mesmo destino dos primeiros
mente. missionários. Tentava fazê-los re-
troceder quando percebi que sua
chegada estava causando alegria
geral entre os bárbaros. Baixaram
suas armas, abandonaram seu
comportamento selvagem e rece-
beram nossos missionários muito
amavelmente.
148
Murmurei com total assombro: Os salesianos estavam em pé Murmurei com total assombro:
“Vejamos como isso vai acabar”. em meio à multidão que os “Vejamos como isso vai acabar”.
Vi depois que nossos missionários rodeava, e se ajoelharam. Os Vi depois que nossos missioná-
ensinavam a [os indígenas], e que selvagens deixaram suas ar- rios avançavam até as hordas de
estes prestavam muita atenção e mas aos pés dos missionários selvagens. [Nossos missionários]
aprendiam. [Os missionários] re- e também se ajoelharam. ensinavam [aos indígenas] que
preendiam-nos, e eles punham as lhes prestavam toda atenção e
normas em prática. // Observei-os aprendiam diligentemente. [Os
missionários] admoestavam-
por algum tempo, e depois perce-
-nos, e aceitavam as repreensões
bi que estavam recitando o rosário,
e as punham em prática. Vi-os e
missionários e selvagens, em paz, percebi que os missionários esta-
todos juntos. // vam rezando o santo rosário. Os
selvagens, contudo, chegaram
de todas as direções e, rodeando
os missionários enquanto estes
passavam, respondiam todos
juntos à oração.
[Conclusão do sonho] [Conclusão do sonho] [Conclusão do sonho]
Depois de algum tempo, um dos Então, selvagens e missioná- Depois de algum tempo, os sa-
missionários entoou [o hino] Lou- rios uniram-se num canto sa- lesianos puseram-se em meio à
vor a Maria, e todos esses homens grado: “Louvor a Maria”. multidão e ajoelharam-se. Os
cantaram a canção em uníssono e selvagens deixaram suas armas
com tal força, que despertei em so- aos pés dos missionários e tam-
bém se ajoelharam. De repente,
bressalto.
um dos salesianos entoou [o
hino] Louvor a Maria, e todas
essas gargantas entoaram a can-
ção em uníssono com tanta for-
ça, que despertei em sobressalto.
[Conclusão e comentário de Dom [Conclusão] [Conclusão e comentário de
Bosco] Dom Bosco]
Tive esse sonho há quatro ou cinco Este sonho deixou uma pro- Tive este sonho há quatro ou
anos, // mas não dei muita atenção funda impressão em Dom cinco anos (disse estas palavras
[nesse momento], especialmente Bosco, que o considerou em 1876), que deixou uma forte
porque fui incapaz de averiguar como uma mensagem do céu. impressão em mim, pois o con-
que povos eram os indicados a par- É verdade que lhe escapava sidero uma mensagem do céu. É
tir das características que observara seu significado específico, mas verdade, seu significado concre-
nesses selvagens. sabia que tinha a ver com as to me escapa, mas entendo que
missões estrangeiras que, nesse tenha algo a ver com as missões
tempo todo, foram o seu so- estrangeiras, um projeto que é,
nho mais querido. desde há algum tempo, meu so-
nho mais querido.
149
Primeiro, pensei que eram africa- // Não tomara qualquer de- Ao despertar deste sonho, senti
nos // da região das missões de dom cisão a respeito porque, ao como meu velho coração batia
Comboni.25 Depois, como estava em abordar o tema com Pio IX, o de novo e voltava à vida. Mas
negociações com dom Raimondi, papa da Imaculada Conceição não pude fazer muito, especial-
para as missões em Hong Kong,26 // lhe dissera: “Ainda não. Espe- mente porque era incapaz de
pensei que podiam ser esses indíge- ra primeiro que tua obra este- averiguar que povos eram os in-
nas; mas depois de investigar, soube ja suficientemente assentada dicados a partir das característi-
que nem a região nem os habitantes cas que observara nos selvagens.
na Itália; quando chegar a tua
se encaixavam com o que eu vira [no
sonho]. Algum tempo depois tivemos hora, far-te-ei saber”.
a visita do arcebispo Quinn, da Aus-
trália [sic],27 e fiz-lhe perguntas sobre Ao despertar deste sonho,
a condição e o caráter dos selvagens Dom Bosco sentiu seu velho
dali; mas, novamente, disse-me que coração renascer para a vida.
não coincidiam com o que eu vira. As missões são agora uma
E mesmo assim, a impressão que o prioridade em sua mente.28
sonho causara em mim e o pressenti-
mento que me deixara eram tais que
não podia deixá-los passar; especial-
mente desde que, como a experiência
me ensinara o que tinha visto poderia
muito bem ocorrer. Enquanto isso,
começamos a falar da República da
Argentina e [a discutir] as propostas
para [fundar] obras em Buenos Aires
e San Nicolás através do cônsul ar-
gentino. Reuni dados, fiz as pesqui-
sas adequadas e solicitei informação.
Cheguei rapidamente à conclusão de
que o povo que eu vira eram os in-
dígenas da Patagônia, que viviam nas
regiões mais ao sul dessa República.
Desde então, não tive qualquer dúvi-
da sobre para onde devia dirigir meus
esforços e preocupações.
________________
25
Cf. acima, nota 8 deste capítulo.
26
Em 6 de outubro de 1873, o bispo Timoleonte Raimondi buscou a mediação do cardeal Barnabò
para obter salesianos missionários para Hong Kong. Em carta ao padre Rua, de 5 de janeiro de 1874 (Epistolario
IV Motto, 194-195), Dom Bosco escreve que falara com Pio IX sobre o projeto. Em 12 de março de 1874,
apresenta um pedido ao Papa no qual afirma que está para abrir uma “casa para meninos pobres na ilha de
Hong Kong, China” e “um internato e escola em Savannah, Geórgia, na América [do Norte]” (Epistolario IV
Motto, 251-252). Numa de suas crônicas, entrada de dezembro de 1875, Barberis nomeia a China, a América
do Norte, a África e a Austrália como países que solicitam salesianos (F. Desramaut, Don Bosco, 970, nota 31).
27
Dom Mateo Quinn, arcebispo de Sidney (Austrália).
28
Segue imediatamente (cf. FDB 1314 A10f) um extenso comentário de Dom Bosco, com caligrafia
de Lemoyne, que descreve as tentativas de Dom Bosco para identificar as pessoas e a região do sonho. Por
isso, retoma e amplia a crônica de Barberis sobre o mesmo tema (conclusão da narração de Dom Bosco).
Este material foi editado posteriormente. Ver Documenti XIV, 141-143: FDB 1024 B9-11; MB X, 1267s.
150
29
MB X, 52s.
151
Repercussões do sonho
A história da proposta argentina e sua aceitação por Dom Bosco já é
bem conhecida.30 Deve-se notar, porém, que Dom Bosco não esperou que
o Papa lhe dissesse que chegara o momento.31 “As missões da América do
Sul que ele já aceitara e outras que a Santa Sé lhe propusera” faziam parte de
um “empreendimento de natureza espiritual” que levou Dom Bosco a Roma
em fevereiro de 1875.32 Não há qualquer registro detalhado do que se disse
nessas audiências com Pio IX, entre 22 de fevereiro e 12 de março de 1875;
mas as missões, com as quais Dom Bosco se comprometera, deveriam estar
na agenda.
Além disso, não é claro em que momento, depois de receber a oferta
argentina, os dados e a informação pertinente, Dom Bosco interpretou seu
sonho como referência à Patagônia. Além de qualquer descrição verbal, o
cônsul Gazzolo parece ter mostrado a Dom Bosco algumas imagens de indí-
genas da Patagônia. Contudo, os que são descritos no sonho não se parecem
com nenhuma dessas etnias. Em todo caso, a identificação é uma conclusão
a posteriori.
João Belza, salesiano estudioso argentino, escreve que, ao fazer essa iden-
tificação, Dom Bosco
30
Cf. MB X, 603s; XI, 142s.
31
Ver o último parágrafo da Crônica do padre Lemoyne (coluna do meio, mais acima).
32
MB XI, 109.
33
Estes são os “comentários adequados” de J. E. Belza, citados por J. Borrego, Proyecto, 47, nota 157.
152
34
G. Furlong Cardiff, “Los jesuitas en la Patagonia”, em J. E. Belza, Argentina salesiana,
128-134.
153
154
35
MB XII, 278s.
36
MB XII, 278s.
155
37
Citado por Ceria em MB XII, 279s.
156
157
158
44
Cf. G. Rosoli, “Impegno missionario e assistenza religiosa agli emigrati nella visione e
nell’opera di Don Bosco e dei Salesiani”. In: F. Traniello, Don Bosco, 289-329; P. Stella, Vita, 175ss.
Até 1888, ano da morte de Dom Bosco, os salesianos, além dos centros missionários na Patagônia,
mantinham 19 casas na Argentina, Uruguai, Brasil, Chile e Equador, incluindo internatos e escolas
para estudantes e aprendizes, gráficas e livrarias.
45
Dom Bosco a dom José Hipólito Salas, bispo de Concepción, 29 de julho de 1876, ver
Epistolario Ceria III, 79-80.
46
Sobre os contatos com o cardeal Lavigerie, cf. MB IX, 471, 500, 889, 939s. Sobre dom Comboni,
cf. MB IX, 887s: carta de Comboni a Dom Bosco, 30 de julho de 1870, em que Comboni diz ter-lhe en-
viado pelo correio o Postulatum sobre as missões africanas apresentado no Vaticano I. Cf. P. Chiocchetta,
Daniele Comboni: carte per l’evangelizzazione dell’Africa. Bolonha: EMI, 1978, 215-233, 235-247.
47
ASC A000: Cronichetta. Barberis, caderno 8, 87.
159
Em carta a Leão XIII, Dom Bosco expressa a ligação estreita que via
entre o trabalho de educação nas escolas e a evangelização missionária:
48
Dom Bosco ao cardeal Franchi, 10 de maio de 1876, em Epistolario III Ceria, 58-60; 31 de
dezembro de 1877, em Epistolario III Ceria, 257-261. G. Barberis, “La Repubblica Argentina e la
Patagonia”, Letture Cattoliche, 291-292 (1877), 93-94.
49
Dom Bosco a Leão XIII, 13 de abril de 1881: Memoriale intorno alle missione salesiane, em
Epistolario III Ceria, 569, 573-574.
160
nova perspectiva. Para Dom Bosco, o mandato parecia também uma missão
jurídica, buscada e obtida do próprio Papa, pai da família dos crentes.50
Além disso, nas regiões que rodeiam a parte civilizada vivem grandes hordas
de selvagens, aos quais ainda não chegou a religião de Jesus Cristo, nem a civi-
lização, nem o comércio, e aonde os pés dos europeus até agora não puderam
deixar suas marcas. Estes países são os Pampas, a Patagônia e algumas ilhas
próximas, que formam, talvez, um continente superior a toda a Europa.51
161
suímos, no qual é exposto com clareza o conceito que Dom Bosco tinha
de missão. Quanto à informação que dá sobre a Patagônia, o relatório, sem
dúvida, reflete o conhecimento imperfeito que se tinha sobre essa região na
Europa de 1876. Contudo, alguns geógrafos consideram que esse trabalho de
Dom Bosco é o primeiro estudo científico geográfico de uma missão.56
que nossos missionários nos escreveram sobre essa região”. O relatório apresentava detalhes históricos
e antropológicos e informação religiosa sobre a Patagônia, e indicava como se fizera muito pouco do
ponto de vista missionário. Concluindo, oferece uma descrição de sua “condição atual”, com detalhes
confiáveis sobre as péssimas condições sociais e religiosas. O documento apresenta o “novo plano” que
Dom Bosco propunha para iniciar a tarefa de evangelização.
56
Por exemplo, as homenagens feitas a Dom Bosco pela Sociedade geográfica de Lyon por uma
conferência feita em 1883, em MB XVIII, 637s. Para uma discussão dos méritos científicos do ensaio,
ver D. Gribaudi, em Bollettino della Società Geografica Italiana. Roma, 1961, 312; P. Scotti, “Missio-
ni Salesiane: contributi geografici”, Missioni Salesiane 1875-1975. Estudos para o primeiro centenário.
Roma: LAS, 1977, 267.
57
Cf. Memorandum de Dom Bosco à Congregação para a Propagação da Fé, 10 de maio de
1876, em Epistolario III Ceria, 58-60. Memorandum de 31 de dezembro de 1877, em Epistolario III
Ceria, 275. Relatório para Leão XIII, 13 de abril de 1881, em Epistolario III Ceria, 569-574.
162
58
João B. Francesia, Francesco Ramello, chierico salesiano, missionario nell’America del Sud. San
Benigno Canavese: Tip. e Libr. Salesiana, 1888, 117: “Alguns protestam que as missões de Dom Bosco
na América consistem apenas em abrir escolas e internatos...”. Um dos que fizeram um comentário assim
foi o padre Colbachini, escalabriniano, que escreveu a outro padre amigo, em 28 de fevereiro de 1887:
“Os salesianos no Rio [de Janeiro], São Paulo, Montevidéu, Buenos Aires, com outros salesianos que
estão espalhados pelo mundo, não se preocupam com as missões, exceto por algumas poucas na Patagô-
nia... Só se preocupam em serem professores e diretores das escolas de artes e ofícios que dirigem nesta
parte do mundo. É um bom trabalho, mas muito longe do que a maioria das pessoas acredita ser...”.
Cf. M. Francesconi, Inizi della Congregazione Scalabriniana (1886-1888). Roma: CSE, 1969, 104.
59
S. Baggio, “La formula missionaria salesiana”. In: Centenario delle Missione Salesiane: discorsi
commemorativi. Roma: LAS, 1980, 43; L. Ricceri, “Il progetto missionario di Don Bosco”, idem, 14.
60
MB XI, 388: vinte lembranças aos primeiros missionários.
61
MB XVII, 274: testamento espiritual.
163
aos missionários que partiam e nas cartas que lhes enviava. Seus salesianos, pa-
dres, coadjutores e irmãs eram enviados “para anunciar a palavra de Deus”, para
“alargar a fé”, para “levar [...], proclamar [e] difundir a luz do Evangelho entre
os habitantes dos Pampas e da Patagônia”.62 Sobre isso, anota padre Caviglia:
A escola não era apenas um meio útil de evangelização. Para Dom Bos-
co, a educação era “um componente orgânico da atividade missionária”. De
aqui que pedisse aos seus missionários que, uma vez iniciada uma missão, di-
rigissem seus esforços para criar escolas e tirar vocações. Estava convencido de
que, na prática, o melhor método, o mais seguro, para civilizar e cristianizar a
Patagônia era dirigir-se aos jovens, como os de Turim, Nice ou Buenos Aires,
e convertê-los em “cidadãos honestos e bons cristãos”.
O binômio “cidadãos honestos e bons cristãos” converteu-se em sua fór-
mula missionária, como já o fora para a ação entre os pobres e abandonados.
Repete-o constantemente em termos equivalentes durante a década de 1880:
“evangelização e civilização”, “o bem da sociedade e da religião”; “religião e
verdadeira civilização”. É claro que se tratava de civilização cristã, pois estava
convencido de que “não há verdadeira civilização fora do catolicismo, a única
religião verdadeira que santifica, une e civiliza as nações”. Aderia-se, assim, à
posição muito comum naquela época de que uma sociedade seria civilizada
desde que fosse cristã (católica) e, no caso da Patagônia, estaria civilizada
quando fosse evangelizada.64 Dom Bosco garante a um cooperador que os
salesianos missionários “ofereciam suas vidas com prazer em se tratando de
salvar almas e propagar o Reino de Deus para levar a religião e a civilização a
esses povos que não conhecem nenhuma das duas”.65
62
MB XI, 383s: discurso de Dom Bosco aos primeiros missionários.
63
A. Caviglia, La concezione missionaria di Don Bosco e le attuazioni salesiane (Discorso). Roma:
Unione Missionaria del Clero in Italia, 1932, 8-10, 12, 20, 24-26.
64
Dom Bosco ao padre Bodrato, 15 de abril de 1880, em Epistolario III Ceria, 576-577: “civili-
zação e religião”, “civilização e evangelização”. Discurso de Dom Bosco aos cooperadores de Turim, 20
de janeiro de 1881, BS 5 (fevereiro de 1881), 3. Cf. P. Braido, Progetto operativo, 24-26.
65
Dom Bosco a um cooperador desconhecido, 1º de novembro de 1886, em Epistolario IV
Ceria, 363-364.
164
66
Carta circular de Dom Bosco aos cooperadores salesianos, 15 de outubro de 1886, em Epis-
tolario IV Ceria, 360-363.
67
C. Chiala, Da Torino alla Repubblica Argentina: lettere dei missionari salesiani. Turim: Ti-
pografia e Libreria Salesiana, 1877, 28, 30, 36-37: Dom Bosco deu aos coadjutores o título oficial
de catequistas; Bolettino Salesiano 9 (novembro de 1885), 165. Ele prometeu ao arcebispo Aneyros,
de Buenos Aires, que “em curto espaço de tempo, os centros missionários de Rio Negro, Carmen de
Patagones e Viedma teria seu próprio padre e professor. Em Carmen de Patagones será construído um
internato para meninos índios e outro para meninas sob a direção de nossas irmãs, as Filhas de Maria
Auxiliadora. Posteriormente, os coadjutores salesianos embarcariam para Patagones com a finalidade
de ensinar agricultura e os ofícios mais comuns” (Dom Bosco ao arcebispo Aneyros, 13 de setembro de
1879, em R. Entraigas, Los salesianos, III, 85). Quando Dom Bosco falece em 1888, 19 coadjutores
trabalham nas missões da Patagônia. L. Carbajal, Missioni salesiane, 41, 61, 71-72).
165
68
“Los verdaderos héroes del desierto”, La América del Sur (jornal de Buenos Aires), 4 (1880),
1152. In: C. Bruno, Los Salesianos y las Hijas de María Auxiliadora en la Argentina. Vol. I. Buenos
Aires: Inst. Salesiano de Artes Gráficas, 1981, 201-202.
69
MB XVII, 306.
70
P. Scoppola, Commemorazione civile di Don Giovanni Bosco nel centenario della sua morte,
Turim, 30 de janeiro de 1988, Roma: Tip. Don Bosco, 1988, 22. Carta circular de Dom Bosco, 25 de
agosto de 1876, em Epistolario III Ceria, 90: projeto para a formação de missionários nativos. Dom
Bosco ao cardeal Franchi, 31 de dezembro de 1877, em Epistolario III Ceria, 257: selvagens que se
convertem em evangelizados de selvagens. Relatório de Dom Bosco à Congregação para a Propagação
da Fé, Lyon, março de 1882, em Epistolario IV Ceria, 124: “abrir caminho até os indígenas através de
seus filhos”.
71
L. Carbajal, Missioni salesiane, 104.
166
Collectanea SCPF I, 352, resposta (1784). O caso de Maria Ward é instrutivo. Esta inglesa
73
dinâmica ingressou entre as clarissas descalças na Bélgica; mais tarde, fundou o Instituto da Bem-
-Aventurada Virgem Maria com regra jesuíta. Queria uma comunidade de monjas não enclausuradas,
sem qualquer hábito distintivo, envolvidas em tarefas de caridade e evangelização. Apresentou o plano
a Paulo V (1605-1621) em 1616 e recebeu sua aprovação extraoficial. Posteriormente, sob Urbano VIII
(1623-1643), a Congregação para a Propagação da Fé suspendeu as “jesuitinas”, monjas que não vivam
no claustro. A própria Maria Ward foi “encarcerada” por algum tempo num claustro da Alemanha,
porque trabalhava fora do convento, em contato com o povo. O Instituto seria, finalmente, aprovado
em 1877 e sua fundadora, oficialmente reabilitada.
167
74
Relatório de 31 de dezembro de 1877, em MB XIII, 768.
168
169
Anotações de etnografia
Povos indígenas da Patagônia e Terra do Fogo: tribos e características
São duas as características que distinguem os povos indígenas da Argen-
tina, do Chile e do Uruguai: de um lado, uma grande variedade de grupos,
às vezes, de poucos indivíduos, cada um com suas características constitutivas
(polimorfismo); de outro, a ausência de diferenças extremas, por exemplo,
nenhum desses povos apresenta pigmentação escura da pele, cabelo crespo ou
encaracolado, estatura muito pequena, extremidades inferiores muito gran-
des, semblante bem delineado ou formas suaves.
Não há motivo para supor que o ameríndio tenha uma tipologia inde-
terminada, isto é, que seja um tipo básico com potencial para desenvolver-se
tanto para a espécie europeia (austral-caucasiana) como para a mongólica. É
provável que o ameríndio seja uma mescla de tipos básicos. Se assim fosse,
seria possível tirar duas conclusões: 1o) A mescla se deu num momento em
que os tipos básicos estavam na fase inicial de diferenciação. 2o) Para produzir
o grande número de tipos diferentes, a mescla deve ter acontecido numa etapa
muito precoce de diferenciação. As duas conclusões opõem-se à teoria de que
a América foi habitada em época relativamente recente, ou seja, ao final ou
depois do Plistoceno, entre 20 mil e 10 mil anos atrás.
Os primeiros habitantes da América teriam chegado da Ásia através do
estreito de Bering. A passagem deve ter acontecido em tempos muito remotos.
Por causa da falta de uma diferenciação extrema, e por outras razões, a
sistematização dos tipos humanos destes povos indígenas nunca foi feita de
modo conclusivo.
170
Grupos e tipos
Concretamente, na Argentina e no Chile, entre os graus 30 e 53 de latitude
sul, dos Pampas ao Estreito de Magalhães, predominam os seguintes grupos:
171
Etnia fueguina
A parte mais ao sul do arquipélago era habitada por grupos étnicos que
entram principalmente sob a denominação de fueguinos. A ela pertencem
principalmente os Yamanas (Yahgans) e os Alakalufes. Sua feição tem pouco
de selvagem ou primitiva. É verdade que possuem arcos ciliares pronunciados
e arqueados, mas esta evolução, provavelmente por causa das severas condi-
ções climáticas da região, não afeta significativamente a posição do olho nem
lhes dá um aspecto primitivo como na etnia australoide. Os olhos, porém,
possuem um ligeiro aspecto mongólico. Eles têm ainda outros aspectos, além
desse, que negam a conexão australiana. A face é pouco proeminente, o na-
riz é bem formado, a cabeça ligeiramente alargada (dólico-meso-cefálica);
o cabelo é escuro, liso e duro na maioria dos casos; quase não têm pelos, a
pigmentação da pele é clara, a estatura é baixa, a parte inferior do corpo,
bastante curta.
Etnia patagônia
Os melhores representantes desta etnia são os tehuelches da Patagônia
central e do sul. Os puelches do norte da Patagônia e os araucanos dos Pam-
pas, com seus subgrupos, também pertencem a esta etnia. Em tempos remo-
tos esta etnia era relacionada com os fueguinos. O cabelo e a pele asseme-
lham-se, mas têm características especiais. Sua estrutura corporal e delicadeza
fazem-nos uma das melhores etnias existentes. Os patagônios são gente alta,
embora, às vezes, se tenha exagerado muito a sua estatura. O corpo tem apa-
rência tosca, mas possuem grande energia e elegância. A face é proeminente, a
testa, ampla e reta, o nariz bem formado, grande e fino, mas não pontiagudo,
e a cabeça arredondada.
Etnia intermédia
Os onas (assentados, sobretudo na Ilha Grande e nas ilhas maiores do ar-
quipélago da Terra do Fogo) representam um grupo intermédio. São mais al-
tos que os fueguinos, embora se pareçam mais a estes do que aos patagônios.
Os povos indígenas dos Andes ocidentais (Chile) assemelham-se muito
aos do lado oriental.
172
Dom Bosco aos salesianos, Turim, 5 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto, 408;
75
MB XI, 143.
76
Oxford Reference Dictionary. Oxford University Press, 1980, s.v., 736. Nova edição em 2000.
77
G. Bosco, Storia ecclesiastica ad uso delle scuole: nuova edizione migliorata ed accresciuta. Turim:
Tip. Oratorio di San Francesco di Sales, 1870, 309-310.
173
As descrições dos indígenas feitas por Dom Bosco em seus sonhos não
refletem a realidade, mas as imagens habituais de seu contexto cultural. As-
sim, os selvagens que vê no primeiro sonho missionário (1871-1872) são
descritos como “quase nus, de altura e compleição extraordinárias..., bronzea-
dos”. Esta descrição é mais apropriada para os indígenas da literatura român-
tica e das enciclopédias do século XIX do que de qualquer espécie real, tanto
fueguina como patagônia.
78
MB XI, 146s.
79
J. Borrego, Patagonia, 255-418.
80
S. Kuzmanich, Cuatro pueblos, 30-31.
174
81
MB XVIII, 388s; Annali I, 587f.
175
L. Massa, Monografía de Magallanes. Punta Arenas (Chile): Tip. Salesiana, 1945; A. CaÑas
82
Pinochet, La geografía de la Tierra del Fuego y noticias de antropología y etnografía de sus habitantes” .
In: S. Kuzmanich, Cuatro Pueblos, 113-120.
176
177
A proposta oficial argentina, aceita por Dom Bosco, não fazia qualquer
referência à evangelização das tribos indígenas da Patagônia e Terra do Fogo.
Reduzia-se à igreja italiana de Nossa Senhora das Mercês, em Buenos Aires,
e a uma escola em San Nicolás de los Arroyos, mais ou menos a 160 quilô-
metros a noroeste.
1
Por exemplo, em cartas ao padre Ceccarelli, 25 de dezembro de 1874, em Epistolario IV Motto,
372-373, e, em latim, a dom Aneyros, 15 de novembro de 1875, em Epistolario IV Motto, 552-553.
2
Carta circular, 5 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto, 407-409.
178
179
sul e sudoeste das regiões de Buenos Aires. Ali, os Padres da Missão [de São Vi-
cente de Paulo] estabeleceram uma missão em Los Toldos e uma base na foz do
rio Negro, onde estavam os postos militares de Carmen de Patagones e Viedma.
A partir dessa base, atendiam aos colonos ou gaúchos; ocasionalmente, também
se puseram em contato com os nativos dos arredores. Em 1872, os franciscanos
evangelizaram as tribos ranqueles dos Pampas. Entretanto, as constantes hostili-
dades na fronteira tornavam impossível uma atividade missionária continuada.
Dom Bosco persistiu em suas ideias e sonhos sobre as missões; para ele, a
proposta da Argentina dava oportunidades que iam além das igrejas e escolas
em Buenos Aires e San Nicolás. Era só uma questão de tempo; a hora das
missões haveria de ecoar.
Dom Bosco esteve a considerar seriamente uma ideia que, de início, podia
parecer absurda, mas que, apesar disso, apresentará ao [primeiro-ministro]
Minghetti. A proposta é estabelecer uma [colônia de imigrantes italianos]
na América do Sul, especificamente na Patagônia. O primeiro passo seria
estabelecer um forte ou paliçada; depois, aos poucos, em sucessivas incursões,
poder-se-ia dominar toda a região; e, ao mesmo tempo, os indígenas [selvag-
gi] poderiam ser civilizados. Os missionários salesianos estariam à disposição
para facilitar o processo neste último aspecto.
Dom Bosco propôs seu plano pela primeira vez na noite de sábado 5 [de
fevereiro de 1876]. Nesse ínterim, chegaram cartas do padre Cagliero, porta-
doras de excelentes notícias das missões [ou seja, da obra salesiana em Buenos
Aires]. Dessa forma, no dia seguinte, à noite, Dom Bosco voltou a falar de
seu plano com mais detalhes e de uma maneira que o fez parecer factível. E
acrescentou: “A primeira coisa que farei ao chegar a Roma será apresentá-lo
ao [primeiro-ministro] Minghetti”.4
180
Cagliero que trabalhava numa “série de projetos que aos olhos do mundo
pareceriam sonhos de um louco”.5 Provavelmente, ele se referia ao plano que
preparara para solucionar a questão dos imigrantes.
Dias antes desta carta, em abril de 1876, ele apresentara ao ministro ita-
liano de Assuntos Exteriores um plano para o estabelecimento de uma colô-
nia de imigrantes italianos. Essa colônia, “completamente italiana no idioma,
nos costumes e no governo”, daria as boas-vindas aos imigrantes italianos da
Argentina, do Chile, do Uruguai e do Paraguai e se estabeleceria na região
costeira, entre Rio Negro e o estreito de Magalhães. Dom Bosco acreditou
erroneamente que a região era uma espécie de terra de ninguém, “sem hospe-
darias, sem portos e nenhum governo estabelecido”.6
Um mês depois, escrevendo ao prefeito da Congregação para a Propaga-
ção da Fé, sugeria que se devia criar uma prefeitura apostólica “que exercesse
a autoridade eclesiástica sobre os habitantes dos Pampas e da Patagônia”, por-
que (assim acreditava) “nenhuma autoridade civil ou eclesiástica tinha influ-
ência nem poder algum... sobre essa vasta região”, pois carecia de qualquer
administração diocesana ou civil”.7
As cartas de Buenos Aires dos padres Fagnano e Cagliero indicaram-lhe
respeitosamente que o projeto não era factível. Padre Cagliero escrevia:
É temerário até mesmo mencionar [tal] coisa por aqui. Não estamos entre os in-
fiéis! Nem sequer podemos falar de nós mesmos como missionários apostólicos!
Depois de contatarmos os nativos e termos trabalhado entre eles durante alguns
anos, veremos... Em relação à Patagônia, é uma empresa para a qual os salesianos
ainda não estão preparados... É fácil fantasiar sobre ela, mas difícil de realizá-la na
prática... Temos de trabalhar para isso com zelo e paciência, sem fazer ruído. Não
podemos pretender, nós que acabamos de chegar, conquistar uma terra que nos é
desconhecida, com uma língua que não podemos falar... O senhor, porém, reve-
rendo pai, se o senhor pensa que é o correto, não dê importância ao raciocínio de
minha prudência demasiado humana, para não interferir nos planos de Deus!8
Dom Bosco ao padre Cagliero, 27 de abril de 1876, em Epistolario III Ceria, 52. Para um
5
comentário destes projetos e sobre o conhecimento geográfico de Dom Bosco destas regiões do sul da
Argentina em 1876, cf. J. Borrego, Primer proyecto, 21-72.
6
Dom Bosco ao ministro Melegari, Memorandum, 16 de abril de 1876, em Epistolario III Ceria, 44-45.
7
Dom Bosco ao cardeal Franchi, Memorandum, 10 de maio de 1876, em Epistolario III Ceria, 60.
8
Padre Cagliero a Dom Bosco, 5-6 de março de 1876, em ASC A131.
181
Dom Bosco reconheceu o seu erro, mas continuou a sustentar que “um
sistema de colonização” era “o meio mais conveniente para cristianizar e civi-
lizar os povos [da Patagônia]”. Ele nunca renunciou ao plano de erigir cano-
nicamente um ou mais vicariatos, pois os considerava como essenciais para
consolidar a ação de difundir o Evangelho, que culminaria na plantatio Ecclesiae
e na “criação de uma forma estável de civilização entre esses povos”. O vicariato
apostólico seria “o centro das colônias estabelecidas e das que, com a ajuda do
Senhor, esperava que fossem criadas”.
9
Tiago Malvano a Dom Bosco, 18 de agosto de 1876: FDB 1543 A5, citado em J. Borrego,
Originality, 479, nota 41.
182
10
Cf. J. Borrego, Proyecto, 61-67.
11
Padre Cagliero ao padre Rua, 20 de dezembro de 1876.
12
Epistolario III Ceria, 170.
183
13
Dom Bosco à Santa Sé (Leão XIII), 20 de abril de 1879, em Epistolario III Ceria, 468-470.
184
Terra do Fogo: Missão de São Sebastião, primeira fundação salesiana entre nativos (1893).
14
J. Borrego, Primo iter, 78-85.
185
186
16
Dom Bosco ao padre Costamagna, 31 de janeiro de 1881, em Epistolario IV Ceria, 7.
17
Dom Bosco ao padre Fagnano, 31 de janeiro de 1881, em Epistolario IV Ceria, 13-14.
18
G. Bosco, La Patagonia e le terre australi del continente americano. Turim, 1876.
187
19
Dom Bosco ao cardeal Franchi, 10 de maio de 1876, em Epistolario III Ceria, 58-61.
188
governo para ampliar a fronteira sul, Dom Bosco sugeria-lhe a ereção de uma
Prefeitura Apostólica em Carhué e de um Vicariato em Santa Cruz.20
Pouco depois, em carta ao cardeal João Simeoni, recém-nomeado pre-
feito da Congregação para a Propagação da Fé, propunha a criação de um
vicariato ou de uma prefeitura em Carmen de Patagones na foz do rio Negro.
Aqui “dois conhecidos chefes [nativos] pedem nossos missionários, com ga-
rantias de ajuda e proteção”.21
O cardeal Caetano Alimonda, arcebispo de Turim, e monsenhor Do-
mingos Jacobini foram nomeados delegados para estudar a proposta. Du-
rante essa fase das negociações, Dom Bosco escreveu a Leão XIII em 1880,
quando os salesianos, embora já estabelecidos na Patagônia, ainda não tives-
sem iniciado nenhuma atividade missionária.
Por obediência ao mandato de Sua Santidade, tive uma longa entrevista com
Sua Eminência o cardeal Alimonda e com o reverendíssimo monsenhor Ja-
cobini... Nós três concordamos que se deve erigir um vicariato apostólico
para as colônias [missões] estabelecidas no rio Negro e que se deve fundar na
Europa um seminário para preparar os operários evangélicos.
189
23
Dom Bosco ao cardeal Simeoni, 29 de julho de 1883, em Epistolario IV Ceria, 225-227. Cf.
MB XVI, 375s.
24
MB XVI, 366s; Annali I, 457-460.
25
Cf. ASC D579, Capitoli Generali presieduti da Don Bosco: FDB 1863 E7, onde aparece a
lista oficial dos participantes, 35 no total.
26
Nem a carta de convocação de Dom Bosco de 20 de junho de 1883, nem os oito temas indi-
cados na mesma data, nem as minutas do Capítulo, nem suas atas, publicadas conjuntamente com as
do CG IV em 1887, dão a entender que se falasse das missões. Cf. Epistolario IV Ceria, 221-222; ASC
D578: Capitoli Generali: FDB 1863 E7 - 1864 B6; OE XXVI, 249-280.
27
Cf. o capítulo seguinte.
190
191
31
A permanência de um mês em Roma é descrita com detalhes em MB XVII, 66s. Para uma
discussão, a partir de fontes primárias, dos eventos desta permanência romana: saúde de Dom Bosco,
privilégios, audiência papal, Carta de 1884, nomeação de um sucessor etc., cf. F. Desramaut, Don
Bosco, 1256-1262. Os privilégios foram enfim concedidos por decreto de 28 de junho de 1884.
32
Carta e memorando de Dom Bosco a Leão XIII, 13 de abril de 1880, em Epistolario IV Ceria,
567-575; MB XIV 624s. O relatório de 1883 do padre Fagnano sobre a missão de Rio Negro, em MB
XVI, 370s, foi utilizado por Dom Bosco para dar a conhecer às autoridades romanas o progresso da missão.
192
33
Annali I, 504-505.
34
Dom Bosco acompanha os missionários à América [do Sul]. É o título dado a este sonho no proje-
to modificado de Lemoyne e nos Documenti. Resta apenas o testemunho de Lemoyne. Encontrando-se
numa grande planície, Dom Bosco vê todas as obras interligadas por uma rede fantástica de estradas.
Então, depois de um voo de volta a Turim, e de novo à América do Sul, vê a planície transformada
numa esplêndida sala em que se reúnem cheios de alegria os missionários e todos os que foram salvos
através deles (rascunhos de Lemoyne A e B, em ASC A017, Sogni: FDB 1321 C11-D8 e B7-C10;
Documenti XXIX, 43-48 em ASC A078, Cronachette: FDB 1106 D12-E5). Cf. MB XVII, 299s.
35
Em carta a Dom Bosco, de 2 de janeiro de 1885, dom Aneyros comentara o mal-estar do go-
verno ao ver-se diante de fatos consumados sobre o vicariato. Cf. Epistolario IV Ceria, 314, nota 1; MB
XVII, 311s: comentário do prefeito da Congregação para a Propagação da Fé, escrevendo a Dom Bosco.
193
36
Para a história da perseguição do governador de Rio Negro aos salesianos e sobre a entrada de
dom Cagliero em seu vicariato, ver MB XVII, 314s.
37
Cartas de Dom Bosco: a dom Cagliero, 6 de agosto de 1885; ao padre Costamagna, inspetor,
e ao padre Fagnano, prefeito apostólico, 10 de agosto; ao padre Tomatis, diretor de San Nicolás, 14
de agosto; ao padre Lasagna, diretor de Villa Colón e inspetor do Uruguai e Brasil, 30 de setembro,
em Epistolario IV Ceria, 327-329, 332-337, 340-341; [San] Juan Bosco, “Cinco últimas cartas a jefes
misioneros, em Escritos espirituales. Introducción, selección de textos y notas por J. Aubry. Guatemala:
Instituto Teológico Salesiano, 1980, 309-319.
194
38
MB XVIII, 742s, 390s, 408, 745s; Annali II, 61-73.
195
Terra do Fogo
Em 1886, os padres Fagnano e Beauvoir acompanharam uma expe-
dição militar argentina ao sul, além do estreito de Magalhães, quando se
puseram em contato com os nativos e avaliaram as possibilidades de uma
missão na região.
39
José Beauvoir (1850-1930), nascido em Turim, fez-se salesiano em 1870 e foi ordenado padre
em 1875. Em 1878, Dom Bosco perguntou-lhe se iria como voluntário para as missões da América
do Sul; aceitou e partiu no mesmo ano. Depois de breve permanência no Uruguai e em Buenos Aires,
ofereceu-se como voluntário para a missão da Patagônia e Terra do Fogo. Foi o missionário que traba-
lhou mais duramente e durante mais tempo entre os indígenas. Participou em 1882-1883 da expedição
do general Villegas aos Andes como capelão militar e foi condecorado com a medalha de prata pelo
seu zelo sacerdotal. Com monsenhor Fagnano pôs as bases da missão de Santa Cruz e Rio Gallegos;
em seguida, passou vinte e cinco anos evangelizando os nativos da Patagônia central e Terra do Fogo.
Compilou um pequeno dicionário da língua ona, que mais tarde se fundiu com sua obra maior, Los
indígenas Selknam de la Tierra del Fuego. Faleceu em Buenos Aires em 1930.
196
197
198
199
200
6. Conclusão
A coragem e a perseverança de missionários e de missionárias tornaram
realidade o sonho original de Dom Bosco sobre as missões entre os indígenas.
De Turim, padre Rua, com grande investimento de pessoal e dinheiro e seu
contínuo apoio pessoal, respaldou os esforços dos missionários. A ajuda e o
apoio dos salesianos cooperadores foram decisivos. Em 1900, toda a parte
inferior da América do Sul, desde os Pampas até a Terra do Fogo, era reco-
nhecida como campo de missão confiado aos salesianos e, por eles, à Família
Salesiana de Dom Bosco.
201
1871-1872
Primeiro sonho missionário de Dom Bosco, narrado ao papa Pio IX em
1876, e aos padres Lemoyne e Barberis.
1874
Agosto: o cônsul João Gazzolo escreve ao arcebispo de Buenos Aires,
dom Aneyros, propondo que os salesianos estabeleçam uma obra na Ar-
gentina e comecem assumindo a igreja Mater Misericordiae, dos italianos,
em Buenos Aires.
24 de setembro: Dom Bosco recebe o pedido de enviar missionários
à Austrália.
10 de outubro: dom Aneyros escreve ao cônsul Gazzolo e envia a Dom
Bosco a proposta de uma fundação salesiana na Argentina.
Novembro: intercâmbio de cartas sobre uma escola em San Nicolás de
los Arroyos (padre Ceccarelli, senhor Benítez).
1875
28 de janeiro: Dom Bosco comunica aos diretores que as missões serão
estabelecidas na América do Sul.
5 de fevereiro: circular de Dom Bosco sobre a futura missão.
12 de maio: nos boas-noites, Dom Bosco dá por certo os planos de
estabelecer fundações salesianas na Argentina. Aceitou a proposta argentina.
202
1875
Os salesianos, de imediato, assumem a igreja de Nossa Senhora das
Mercês e atendem à comunidade de imigrantes italianos em Buenos Aires
(Argentina).
21 de dezembro: 7 dos 10 salesianos continuam em San Nicolás de los
Arroyos a fim de encarregar-se da escola.
Provável pedido feito a Dom Bosco para uma fundação na Índia.
1876
5 de abril-15 de maio: viagem de Dom Bosco a Roma com padre Berto;
na audiência, Dom Bosco fala das missões ao Papa e relata-lhe o sonho de
1871-1872.
Julho: o bispo de Concepción (Chile) solicita salesianos.
29 de julho: resposta de Dom Bosco: uma fundação no Chile só será
possível mais tarde, não antes de 1887.
Agosto: Dom Bosco faz um apelo público para financiar a segunda ex-
pedição missionária e informa ao governo italiano sobre o trabalho dos mis-
sionários em favor dos imigrantes italianos.
Dom Bosco também recebe o pedido de uma obra salesiana no Ceilão
(Sri Lanka), e pensa em enviar padre Cagliero. O plano é cancelado [a pri-
meira fundação deverá esperar até 1956].
203
De 1876 a 1883
Dom Bosco pressiona pelo reconhecimento de Roma para as missões
apostólicas salesianas.
1877
Os salesianos encarregam-se da igreja e da escola Santa Rosa de Lima,
em Villa Colón, próxima de Montevidéu (Uruguai): os edifícios foram trans-
feridos ao padre Cagliero em 24 de maio de 1876.
1o a 24 de junho: Dom Bosco, em Roma com o arcebispo Aneyros, de
Buenos Aires, a serviço das missões, e, de volta a Turim com o arcebispo.
6 de novembro: em Mornese, cerimônia de despedida da primeira
expedição missionária de 6 irmãs salesianas.
7 de novembro: em Turim, cerimônia de despedida da terceira expedi-
ção de 18 missionários salesianos, com os padres Costamagna e Vespignani
entre eles.
Paróquia e escola de São João Evangelista fundadas no bairro de La
Boca, Buenos Aires.
1o de setembro: é aceita a paróquia de Maria Auxiliadora e tem início a
escola Pio IX no bairro de Almagro, Buenos Aires, que em seguida se conver-
teria em centro de formação profissional.
1878
18 de setembro: breve de Leão XIII apoiando as missões salesianas.
Dezembro: quarta expedição missionária com alocução de Dom Bosco.
1879
Os salesianos estabelecem sua obra em Las Piedras (Uruguai)
204
1880
A paróquia, a missão e o internato de Viedma, na foz do rio Negro, são
confiados aos salesianos.
1881
Os salesianos estabelecem uma obra em Paysandú, Rosário (Uruguai).
205
1882
A obra salesiana é estabelecida em Neuquén (Argentina).
1883
Os salesianos estabelecem uma obra em Niterói (Brasil).
29 de julho: por solicitação da Santa Sé, Dom Bosco apresenta uma proposta
para a formação de três territórios de missão de direito apostólico (vicariatos, pre-
feituras) e os nomes de Cagliero, Costamagna e Fagnano como possíveis prelados.
30 de agosto: segundo sonho missionário de Dom Bosco sobre a Amé-
rica do Sul.
1883
Novembro: a Santa Sé cria dois territórios de missão: o pró-vicariato da
Patagônia norte e central e a prefeitura da Patagônia austral e Terra do Fogo.
1884
30 de outubro: solicitado por Dom Bosco, com o apoio do cardeal Ali-
monda, a Santa Sé eleva as missões a pleno vicariato e prefeitura, nomeando pa-
dre Cagliero e padre Fagnano, respectivamente, vigário e prefeito apostólicos.
7 de dezembro: Cagliero, vigário apostólico, é ordenado bispo.
1885
31 de janeiro: terceiro sonho missionário de Dom Bosco sobre a Amé-
rica do Sul.
9 de julho: dom Cagliero entra em sua sede em Carmen de Patagones,
na foz do rio Negro.
Estabelecem-se em Buenos Aires a escola de Santa Catarina e um centro
da juventude.
Os salesianos estabelecem-se em São Paulo (Brasil).
1887
21 de julho: padre Fagnano e 3 salesianos situam-se em Punta Arenas
(Terra do Fogo, Chile).
São criadas escola e paróquia salesianas em Concepción (Chile).
206
1887-1888
Expedição à ilha Dawson.
207
208
Lemoyne A
Padre Lemoyne, que participava do Capítulo,4 elaborou um relato de pri-
meira mão (Lemoyne A). Trata-se de uma longa narração autógrafa com
algumas notas suas à margem. Fala da reunião na grande sala no Equador
e relata a viagem para o sul, que termina em Punta Arenas, com uma con-
clusão do sonho e do despertar. Não fala de uma viagem de volta ao ponto
de partida.5
Lemoyne B
Posteriormente, padre Lemoyne redigiu um segundo relato, a partir do pri-
meiro, que apresentou a Dom Bosco para sua revisão (Lemoyne B). Como na
primeira redação, temos uma longa redação autógrafa que descreve a reunião
2
Carlos Maria Viglietti (1864-1915) foi secretário de Dom Bosco de 1884 até a morte do
santo. Em relação ao sonho, ele escreve: “Certa manhã de 1883, dia [da festa] de Santa Rosa de
Lima, Dom Bosco, assim que se levantou da cama, chamou-me ao seu quarto. Ditou-me um belo
sonho que tivera nessa noite e que tratava de nossas missões na América [do Sul]. O sonho foi lido
alguns dias mais tarde no Capítulo Geral, reunido em Valsálice” (ASC A010: Cronachette, Viglietti,
Memorie: FDB 1232. C6).
3
O relato das Atas do III Capítulo Geral está em ASC D579: Capitoli Generali presieduti da
Don Bosco, III CG (1883): FDB 1863 E12-1864 A1. Recorde-se que no III Capítulo Geral (1-7 de
setembro de 1883), padre Lemoyne, embora presente no Capítulo, ainda não fora nomeado secretário
geral. As atas, que deixam muito a desejar, eram obra do padre João Marenco (cf. MB XVI, 412s). Em
seu conjunto, a cópia de arquivo das atas parece ser transcrição das notas originais. Contudo, a narração
do sonho, que se conserva (à mão, com caligrafia diferente?), apresenta todas as características de um
rascunho original, não publicado.
4
O nome do padre Lemoyne aparece entre os 35 membros do CG III anotados nas atas. Cf.
ASC D579: Capitoli Generali presieduti da Don Bosco: FDB 1863 E7.
5
Lemoyne A está em ASC A017: Autografi-Sogni: FDB 1347 B10-C9.
209
na sala, a viagem de trem para o sul, que termina em Punta Arenas com uma
conclusão sobre o sonho e o despertar. Também aqui não há qualquer refe-
rência a uma viagem de volta.
Ao longo da primeira parte deste texto, aparece uma série de adições e cor-
reções da mão de Dom Bosco. Um grande acréscimo marginal, com mais de
160 palavras, quase no início, informa sobre a conversa que Dom Bosco escu-
tou na sala. Também Lemoyne redige outras notas marginais, provavelmente
acrescentadas mais tarde.
Apêndice X
Ao Lemoyne B, com sua conclusão, segue imediatamente um apêndice
bastante longo da mão de Lemoyne, com notas marginais, mas nenhu-
ma é de Dom Bosco. Nele se descreve uma viagem de volta ao ponto
de partida, por outro caminho. Esse apêndice está marcado com um X,
que corresponde a um X anterior colocado antes da conclusão do sonho
em Lemoyne B. 6
Lemoyne B, depois de ser autenticado por Dom Bosco, deve ser considerado o
texto legítimo do sonho. O valor do Apêndice X é incerto. Não fazia parte da
narração original; foi acrescentado à narração depois da conclusão do sonho e
do despertar e não tem sinais de ter sido revisado por Dom Bosco.
Lemoyne C
Posteriormente, Lemoyne elaborou o texto definitivo. Editou Lemoyne B me-
diante a inserção do Apêndice X em sua sequência lógica, antes da conclusão
e do despertar, integrando no texto todas as notas marginais e outros detalhes,
colhidos presumivelmente de Dom Bosco. Dessa forma, ele conseguiu uma
narração “completa e coerente”.7
Lemoyne B está em ASC A017: Autografi-Sogni: FDB 1347 A6-B5; seguido do Apêndice X:
6
210
211
Olhei, então, ao meu redor para averiguar, mas não reconheci ninguém.
Enquanto isso, como se só nesse momento percebessem a minha presença, convi-
daram-me para ir adiante e receberam-me amavelmente.
Perguntei, então: “Onde estamos? Estamos em Turim, Londres, Madri
ou Paris? E quem são os senhores?”. Mas aqueles homens ignoraram a minha
pergunta e continuaram o discurso sobre as missões.
11
Em vários sonhos, Dom Bosco é guiado por um intérprete. Domingos Sávio, por exemplo, faz
esse papel no sonho de Lanzo, de 1876. Aqui o intérprete é Luís Colle, filho do conde Luís Antônio
Fleury Colle, de Toulon, França. Em março de 1882, Dom Bosco visitou o jovem quando estava para
morrer de tuberculose. Morreu em 3 de abril aos 17 anos. Dom Bosco tinha uma tão elevada estima por
Luís e por seus pais, grandes benfeitores, que pouco tempo depois, com a ajuda do padre de Barruel,
escreveu e publicou uma biografia do jovem Luís Antonio Fleury Colle dedicada “A monsieur e madame
Colle” (Montevidéu: Editora Dom Bosco, 1954). Cf. MB XV, 74s, 91s. Luís iria ser o novo Domingos
Sávio? Seja como for, a identidade do intérprete-guia, segundo se apresenta nas fontes deste sonho, é
problemática. Nas atas do CG III o guia é simplesmente um “leigo”. Em Lemoyne A, e até a quarta
página do texto principal, o intérprete é descrito como “um personagem”, “aquele homem”. Todavia,
nas notas marginais posteriores de Lemoyne, desde a segunda página, já se especifica que era um jovem
identificado como “o filho dos condes Colli” (sic). Depois, da quarta página em diante, Lemoyne elimina
sistematicamente as denominações originais (“esse homem” etc.), que são substituídas com expressões
212
como “aquele jovem”, “aquele jovem querido”. Parece, então, que na narração original, Dom Bosco não
tenha identificado o intérprete com o jovem Luís Colle. Em Lemoyne B, a reelaboração do texto de Le-
moyne, revisto por Dom Bosco, o intérprete identifica-se com o jovem Colle desde o início. Sobre isso,
é significativo que, em outras ocasiões, Dom Bosco tenha falado de Luís Colle, que aparece com ele nos
sonhos missionários e em outros contextos (cf. MB XV, 85s). Concretamente, em relação a este segundo
sonho missionário, na carta ao conde Colle, de 11 de fevereiro de 1884, ele fala de Luís como seu guia:
“A viagem que fiz em companhia de nosso querido Luís é cada vez mais clara à medida que passam os
dias” (Epistolario IV Ceria, 501). Faz o mesmo em relação ao quarto sonho missionário nas cartas ao
conde e à condessa Colle, em 10 de agosto de 1885 e 15 de janeiro de 1886 (Epistolario IV Ceria, 516 e
521), onde se menciona um “passeio” que fiz em segredo com Luís à África central e China. Assinale-se,
porém, que como sustentam nossos documentos, no quarto sonho missionário, Luís Colle só aparece
entre os que exortam Dom Bosco, não como guia ou intérprete. No terceiro sonho missionário, há um
intérprete não identificado, mas Luís Colle só aparece no final entre os bem-aventurados.
213
A nota de Lemoyne, que segue, localiza um centro salesiano no grau 47 de latitude sul. Na
12
verdade, não há um centro salesiano nesse lugar. Santa Cruz, que historicamente se pode considerar
como a base de partida da futura missão de monsenhor Fagnano está quase no grau 50 de latitude sul.
Ushuaia, a futura fundação salesiana mais ao sul, está ao redor dos 55 graus.
214
Em nota mais tardia, no final do sonho, Lemoyne afirma que o bispo de São José da Costa
13
Rica, em carta de 15 de setembro de 1883, pedira salesianos. Essa cidade está no grau 10 de latitude
norte. A obra salesiana em São José seria iniciada em 1933.
215
14
Padre Ângelo Lago, secretário particular do padre Miguel Rua, morreu em odor de santidade
em 1914. [Nota dos editores]
216
217
218
não só no interior das cordilheiras, mas também ver através das solitárias cris-
tas das montanhas aquelas planícies intermináveis (Brasil?).
Tinha diante do meu olhar as riquezas incomparáveis daqueles países,
riquezas que seriam descobertas um dia. Vi inumeráveis minas de metais
preciosos, galerias intermináveis de carvão mineral, depósitos de petróleo tão
abundantes como até agora não encontraram em outros lugares.19
19
A nota marginal da mão de Lemoyne foi interpretada como indicação geográfica da futura
capital do Brasil, Brasília; apesar de não se mencionar qualquer cidade, e a descrição geográfica do lugar
ser muito geral para qualquer identificação. Neste momento, Dom Bosco tinha em mente o Brasil, mas
também Boston (Estados Unidos) e São José (Costa Rica).
20
Estas ideias foram ridicularizadas em Roma. Informando sobre as palavras de Dom Bosco, nos
Documenti, Lemoyne escreve: “Em Roma, eu o apresentei por completo ao cardeal Barnabò [prefeito
da Propaganda Fidei], que ridicularizou o projeto como fantasia infantil, especialmente a minha afir-
mação de que na América do Sul há grandes populações ainda por descobrir. Por isso, recusou-se a falar
com o Papa sobre isso. Então, o próprio Dom Bosco disse-o ao Papa, que, em seguida, levou a coisa
a sério, e pediu ao cardeal Franchi [próximo prefeito da Congregação] que fizesse um relatório. Sua
Eminência, porém, o foi postergando e, quando Pio IX insistiu, ele respondeu: ‘São delírios de uma
mente doentia!’. Pio IX, porém, ordenou, recebeu o relatório e respaldou plenamente a nova missão”.
(Documenti XIV, 143, ASC A063: Cronachette Lemoyne-Doc: FDB 1024 C4). Cabe assinalar que Pio
IX estivera como auditor nas delegações apostólicas do Chile e Peru de 1823 a 1825.
21
As palavras entre parêntesis deste e dos seguintes parágrafos são comentários de Lemoyne.
219
220
[Conclusão e despertar]
Enquanto contemplava aquele mapa à espera que o jovenzinho
acrescentasse alguma explicação, emocionado pela surpresa do que ti-
nha diante dos olhos, pareceu-me que Quirino tocasse a Ave-Maria do
22
Luís Lasagna (1850-1895), ordenado padre em 1873, foi para as missões com o segundo
grupo, em 1876. Como diretor e, depois, como inspetor, desenvolveu a obra salesiana no Uruguai e
iniciou projetos científicos e culturais. Ele estabeleceu a obra salesiana no Brasil. Foi ordenado bispo
em 1893 e encarregado por Leão XIII da missão de proteger e evangelizar os nativos. Contudo, pouco
depois, morreu em uma trágica colisão de trens.
221
[Conclusão moralista]
Dom Bosco concluiu seu relato com estas palavras: – “Com a doçura de
São Francisco de Sales, os salesianos atrairão para Cristo os povos da América
[do Sul]. Será empresa dificilíssima moralizar os selvagens, mas seus filhos
obedecerão com toda facilidade as instruções dos missionários e se fundarão
colônias e a civilização suplantará a barbárie, e assim muitos selvagens entra-
rão no redil de Cristo”.
N.B.: Como confirmação dessas visões extraordinárias, passaram-se ape-
nas alguns dias, até que o bispo de São José da Costa Rica, dom Bernardo Au-
gusto Thiel, e alguns senhores da missão, escreviam uma carta a Dom Bosco
pedindo-lhe alguns missionários salesianos. Pois bem, essa cidade encontra-se
precisamente sob o grau 10, mencionado no sonho.25
Comentário
O relato do sonho não apresenta outras observações nas fontes, exceto a con-
clusão anterior moralista de Dom Bosco. Entretanto, nas Memórias Biográficas,
Ceria tece extensos comentários sobre o caráter revelador do sonho e a precisão
de suas predições, além de ter previsto o futuro da obra salesiana. Ele afirma que
o conhecimento de Dom Bosco expresso no sonho relativo à geografia andina,
ao desenvolvimento da futura ferrovia, às riquezas materiais das cordilheiras e à
geografia e demografia da Terra do Fogo, não poderiam ser de origem humana.26
Igualmente na tradição salesiana, todas as referências geográficas,
como a Boston e São José da Costa Rica, neste e em outros sonhos, são
23
Dom Bosco estava em San Benigno Canavese, casa de noviciado nesse momento, para os Exer-
cícios Espirituais com os membros do CG III; foi despertado pelos sinos do Ângelus da igreja local de
San Benigno. Em seu estado de semivigília em que estava no início, pensou que era o sino do Ângelus
da igreja de Maria Auxiliadora em Turim, que era tocado pelo coadjutor Camilo Quirino (1847-1892),
“aquele santo coadjutor matemático, poliglota e sineiro” (MB XVI, 393s; MB XV, 564).
24
Os sonhos não duram a noite toda, embora possa parecê-lo. Duram apenas 15 ou 20 minu-
tos em tempo real, durante o sonho REM até o final de um ciclo de sonho. O sonho REM é sonhar
dormindo, que se relaciona com emoções frequentes, recordações vivas e preocupações importantes.
Enquanto se dorme, pode-se ter de três a cinco momentos de sonho REM; costuma começar depois
de 70 ou 90 minutos.
25
Nota de pé de página, acrescentada pelo editor Lemoyne.
26
Cf. MB XVI, 393s.
222
27
Para um comentário sobre essas questões e a “interpretação Brasília”, em particular,
ver p. 232-234 deste volume.
28
MB XVI, 393s, cf. A. Lenti, “Mission dreams II”, JSS 4:1 (1993), 1-60.
223
nem por viajantes, pois aquelas latitudes estavam ainda por explorar e eram
desconhecidas pelo turismo e pelas expedições científicas”.29 E falando, depois,
das explorações do salesiano padre Alberto de Agostini na Patagônia austral e
Terra do Fogo, Ceria enumera quatro âmbitos nos quais Dom Bosco demons-
tra esse conhecimento misterioso:30
1. A estrutura das cordilheiras andinas: Dom Bosco assinala que es-
tas montanhas não se elevam como uma muralha divisória, ou
seja, como uma cadeia homogênea (como comumente se acre-
ditava), mas que elas formam um complexo sistema de elevações
intercaladas e divididas por grandes depressões, “canais” ou vales;
e cita como exemplo desta última característica o “canal de Baker”,
no sul do Chile, “o mais extenso dos fiordes patagônicos, cujas ra-
mificações continentais formadas por profundas depressões, vales
e bacias lacustres, cortam a cordilheira patagônica entre os graus
45 e 52 de latitude sul”.
2. As redes ferroviárias: Dom Bosco fala das ferrovias onde então
reinavam o deserto e a solidão (e que, quando Ceria escreve, já
estavam em construção ou em planejamento, o que seria uma de-
monstração do conhecimento prévio e da realização das profecias).
3. A riqueza mineral ainda por descobrir, como o petróleo e o carvão:
Dom Bosco fala de grandes recursos minerais [nas] cordilheiras;
Ceria cita poços de petróleo em Comodoro Rivadavia31 e outras
partes da América do Sul.
4. O caráter geofísico do arquipélago fueguino e a distribuição da po-
pulação nativa nas ilhas: Dom Bosco descreve com exatidão as ilhas
e suas populações.
29
MB XVI, 394.
30
Parece não ser necessário recorrer a meios extraordinários de conhecimento para explicar o que
foi “visto” por Dom Bosco em seus sonhos missionários, pois podem ter uma explicação mais natural.
(Nota dos editores)
31
Cidade na costa argentina (não na cordilheira dos Andes) a 46 graus de latitude sul.
224
32
Para um comentário mais detalhado, ver J. Borrego, Proyecto, 21-72, esp. 28-33.
33
MB XVI, 384s.
34
Ver o texto do sonho, na página 219 deste volume.
35
Ver o texto do sonho, na página 220 deste volume.
36
Cf. Hammond Citation World Atlas, Maplewood, NJ, Hammond Inc., 1977, 141.
225
37
Como já mencionamos, esta obra foi editada criticamente, com extensa introdução, notas e
apêndices, Cf. J. Borrego, Patagonia. Borrego assinala que Ceria sabia que Barberis preparara algum
tipo de relatório (cf. MB XII, 261; 542-544), mas que não chegou a conhecer esse relatório (J. Bor-
rego, Patagonia, 3-4).
38
ASC A001 Cronachette-Barberis; cf. J. Borrego, Patagonia, 8. Também sabemos que, em
1876, ou seja, desde que a Argentina foi oferecida em 1874 até a redação do ensaio sobre a Patagônia
em 1876, Dom Bosco acumulara grande informação, exata ou não, sobre as regiões do sul da Argentina
e do Chile. O cônsul Gazzolo foi uma de suas fontes (cf. J. Borrego, Proyecto, 42-50).
39
Cf. J. Borrego, Patagonia, 40-42.
40
Cf. J. Borrego, Patagonia, 46-47.
41
Em um parágrafo de seis linhas sobre “Recursos minerais”, o autor escreve: “As altas montanhas
da cordilheira andina [na Patagônia] são formadas sobretudo por rochas duras. A planície, por outro lado,
é um aglomerado de rocha calcária, com grandes porções cobertas de areia e massas salinas...” (J. Borrego,
Patagonia, 51).
226
os recursos minerais e humanos das regiões andinas desde o século XVI. Com
essa base, Dom Bosco podia extrapolar facilmente e tirar deduções aplicáveis
ou não a outras regiões. Contudo, ainda assim, o relato do sonho demonstra
que, embora descreva com fidelidade os enormes recursos das regiões andi-
nas do norte, não é tão explícito ao falar da Patagônia e Terra do Fogo. O
único mineral mencionado neste território é o carvão, e é citado em relação
ao desenvolvimento cultural e econômico da região. Por outro lado, fala de
petróleo entre os recursos das cordilheiras, onde não foi encontrado.
Quanto aos países andinos do Peru, Equador e Colômbia, há algo de
petróleo nas regiões costeiras do Pacífico e em alguns vales baixos interiores.
Contudo, todas estas considerações não nos devem fazer perder de vista o
fato de que é muito provável que todas as ideias sobre os recursos minerais
proviessem da própria experiência cultural de Dom Bosco.42
Os nativos
Em relação à situação demográfica, no sonho de 1883 e em outros lu-
gares, Dom Bosco fala do grande número, inclusive de milhões de “selva-
gens”, que vivem em muitos lugares e particularmente na América. Falando
da Europa, diz: “Poucos têm a coragem de desafiar longas viagens ou [terras]
desconhecidas para salvar as almas desses milhões de almas”. Ele também alu-
de à “elevada densidade de população” que habita os grandes vales andinos.
Concluindo a alegoria da corda no sonho, o intérprete diz a Dom Bosco:
“Pois bem, essas montanhas são como uma encosta, como um limite. De
aqui até lá, estende-se a messe oferecida aos salesianos. São milhares e milhões
de habitantes que esperam o vosso auxílio, que aguardam a fé.”
Ao referir-se às ilhas do sul, Dom Bosco diz: “Algumas delas eram habita-
das por indígenas muito numerosos; outras, estéreis, nuas, rochosas, desabitadas,
outras completamente cobertas de gelo e neve. A ocidente, numerosos grupos
de ilhas, habitadas por muitos selvagens”.43
42
A mineração do carvão, em particular, fazia parte da experiência cultural de Dom Bosco. O
carvão, em suas diversas formas, fora utilizado como energia antes dos tempos de Dom Bosco. Em
meados do século XIX, a necessidade de aumentar a produção de coque e gás para a calefação e ilumi-
nação deu novo impulso à indústria do carvão. Igualmente, em meados do século XIX, a introdução da
dinamite (em substituição da pólvora nas explosões) e de brocas rotatórias ampliou muito a produção
de carvão. Pode-se dizer o mesmo sobre o petróleo. O primeiro poço foi perfurado em Titusville, Pen-
silvânia (Estados Unidos), em 1859. Em algumas décadas, a exploração petrolífera estendera-se não só
nos Estados Unidos, como também na Europa, no Oriente Médio e na Ásia oriental (cf. Enciclopedia
Britanica, Micropedia, 15ª ed., 1987, 3408; 8158; 9344). Sobre o petróleo nos países andinos, cf.
Hammond Citation World Atlas, Maplewood, NJ, Hammond Inc., 1977, 127 e 130.
43
Para todas as cifras deste parágrafo, ver sonho no capítulo IV, p. 146-150.
227
As ferrovias
Pode-se dizer o mesmo sobre as ferrovias do sonho. Primeiramente, a
experiência cultural imediata de Dom Bosco reflete-se no fato de ser o trem
o meio de transporte escolhido para a viagem em seus sonhos. Por isso, se a
viagem devia percorrer todo o continente, de norte a sul, pela lógica, a uma
pessoa que está diante do mapa da América do Sul ocorreria seguir o caminho
que passa pela encosta dos Andes. Do mesmo modo, se o trem, como era de
44
J. Borrego, Patagonia, 22 e 159.
45
Ver, por exemplo, carta de Cagliero a Chiala, de 4 de abril de 1876, em J. Borrego, Patagonia,
22, nota 80. Para outros detalhes, ver dados estatísticos nas p. 175-177 deste volume.
46
Ver o relato do sonho, de 1871-1872, feito por Barberis, apresentado no capítulo 2. No sonho
missionário de Barcelona, de 1886, relatado por Carlos Viglietti, Dom Bosco fala de populações nati-
vas dos lugares que vê (com menção específica de Hong Kong, Calcutá e Madagascar) como “selvagens
que se alimentam de carne humana” (MB XVIII 73s).
47
J. Borrego, Patagonia, 159.
48
J. Borrego, Patagonia, 20-21.
228
Estas cidades são sugestões próprias de Dom Bosco, segundo comentários do narrador.
49
Juan E. Belza, Sueños patagónicos. Buenos Aires: Instituto de Investigación Histórica Tierra
50
229
51
Cf. nota 12 deste capítulo.
230
Cf. nota 13 deste capítulo. O pedido de São José foi feito duas semanas depois do sonho, mas
52
as primeiras fundações foram criadas ali em 1907; em Valência (Venezuela), em 1895; em Caracas
(Venezuela), em 1894.
53
Cf. p. 214 deste volume.
54
Cf. p. 218 deste volume.
231
55
Para a história do pedido de Boston, ver MB XVI, 408s. Ver também a carta de Moigno em
MB XVI, 410. A correspondência está em FDB 135 A11-E12 e 136 A2-5.
56
Cf. MB XVI, 384s; para a passagem em questão, MB XVI 390s.
232
233
do sonho missionário de Dom Bosco. Dom Bosco nunca disse ter sonhado que sobrevoara as florestas
do Amazonas, nem que viu povos, nem que fora testemunha da morte de dois missionários salesianos;
e tampouco indiciou algum grau de longitude do lugar nem o lago que se estendia entre os graus 15 e
20 de latitude sul. Falou de “duas gerações de 60 anos sem contar a atual”, não em relação com a terra
prometida que seria descoberta, mas em relação com a conversão dos nativos (sobre a alegoria dos figos,
na sala). Apesar disso, a “opção Brasília” ainda continua a ser popular.
59
Brasília situa-se a 15,47o de latitude sul e a 47,55o de longitude oeste. Quanto à localização
de recursos minerais no Brasil, petróleo e gás natural, por exemplo, estão principalmente no Recônca-
vo (Bahia) e Alagoas (Sergipe) [e, descoberto mais recentemente, no litoral que vai de Santa Catarina
ao Espírito Santo]; depósitos de carvão, em geral de baixo valor, estão no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina; o ferro é elaborado principalmente em Minas Gerais e em menores quantidades no Mato
Grosso do Sul; o manganês é abundante no Mato Grosso e menos no Amapá e Minas Gerais. Os metais
preciosos, diamantes e outras pedras preciosas são abundantes no Brasil, mas não significativamente na
região de Brasília. Cf. Encyclopedia Britannica, Micropedia, 1987, XV, 192 e 197-198.
60
Cf. Encyclopedia Britannica. Atlas, 1986, 242-243. O lago Titicaca está situado entre os graus
15,30 e 16,30 de latitude sul, e entre os graus 69 e 70 de longitude oeste.
61
Cf. Hannond Citation World Atlas (1977), 137. Os minerais que se indicam nesta região são:
estanho, tungstênio, prata, ouro, cobre, chumbo, antimônio e zinco, mas não carvão. Também não se
encontra petróleo nessas altitudes.
234
ZEFERINO NAMUNCURÁ
(26 de agosto de 1886-11 de maio de 1905)
235
em Choele-Choel, ilha do rio Negro, não distante de Chimpay; era a partir dessa
missão que o salesiano padre Domingos Milanésio catequizava os nativos.
Zeferino foi batizado em Choele-Choel no dia 24 de dezembro de
1888. Da infância de Zeferino, praticamente, nada se sabe. Em 1894, a
família com outros indígenas emigraram para o noroeste dos Andes. De
ali, em 1897, quando Zeferino tinha 11 anos de idade, seu pai levou-o para
Buenos Aires matriculando-o numa escola pública. Todavia, pouco tempo
depois, por recomendação do presidente da república, passou à escola sa-
lesiana Pio IX, de Almagro, Buenos Aires. Nessa ocasião, o pai e o filho
estiveram com o bispo Cagliero que, nesse momento, visitava a escola. Uma
fotografia feita nesse dia mostra Zeferino e seu pai (nomeado coronel pelo
governo) à direita, e à esquerda do bispo. Por causa da liberdade da vida
indígena e da sua cultura e idioma, o início de vida na escola foi bastante
difícil. Logo, porém, Zeferino tornou-se exemplo para seus companheiros
de classe pela diligência e espírito religioso. Foi admitido à primeira comu-
nhão ao final dos exercícios espirituais daquele ano; e, desde então, sua vida
tomou uma forte orientação para a santidade.
236
237
238
OS SALESIANOS COOPERADORES.
A OBRA DE MARIA AUXILIADORA.
O BOLETIM SALESIANO
1. Os Salesianos cooperadores
Sempre se quis ver os salesianos cooperadores como a realização da
ideia dos membros externos, descrita nas Constituições de 1860 a 1873, e
suprimida no texto final ao ser recusada por Roma. Contudo, examinando
em profundidade o pensamento e os escritos de Dom Bosco, considera-
-se que os cooperadores são os continuadores, de forma nova e criativa,
dos colaboradores que, desde o início, o ajudaram na obra do Oratório.
Tratar-se-ia, pois, de uma realidade existente desde os primeiros anos da
atividade de Dom Bosco com os jovens. Ele mesmo o confirma num me-
morando de 1877.
239
1
O documento intitulado Cooperatori salesiani é um manuscrito autógrafo de Dom Bosco,
escrito em 1877 ou pelo final de 1876. É provável que se pensasse publicá-lo no Boletim Salesiano, mas
nunca o foi. Está em ASC A230 Cooperatori 3 (1), 2-3: FDB E8 1886-1887 A2. Aparentemente, o do-
cumento foi substituído por outro mais suave que apareceu no Boletim Salesiano (Bibliofilo Cattolico), 3
(setembro de 1877), 6. O manuscrito foi publicado em 1930 por Ceria, MB XI, 84s. Segundo Ceria,
Dom Bosco teria escrito esses memorandos para demonstrar que seu pedido de indulgências a Pio IX
para uma associação já estabelecida (e aprovada) baseava-se na realidade. O decreto de Pio IX concedeu
apenas indulgências a uma associação da qual foi informado que existia e que fora aprovada. Aquilo
que ele chama de decreto de aprovação foi, na realidade, um decreto de louvor através da concessão
de indulgências. Quando se lê o documento Cooperatori Salesiani no contexto do decreto de Pio IX
sobre os cooperadores, parece que a opinião de Ceria é consistente. Os sublinhados (em cursivo) que
aparecem no memorando estão no original.
2
A expressão italiana “oratorio festivo” é traduzido aqui literalmente como “oratório festivo”,
significando “reunião do Oratório nos dias festivos”, ou seja, nos domingos e dias santos.
240
Constituições. Só obteve um decreto de louvor (decretum laudis), mas foi pessoalmente confirmado
superior vitalício.
241
4
A frase é ambígua. As palavras iniciais parecem referir-se ao capítulo dos “membros externos”, que
figurava nas primeiras Constituições, mas uma das observações críticas recebidas por Dom Bosco em 1864
exigia a eliminação do capítulo relativo aos “membros externos”. Por isso, esta disposição não foi nem apro-
vada nem digna de louvor. Contudo, na segunda parte da frase, Dom Bosco diz que os “membros externos”
eram os mesmos cooperadores salesianos ou promotores. Isso ele o faz ainda mais claramente no parágrafo
seguinte. Talvez tivesse a intenção de manter a figura dos cooperadores salesianos como uma disposição
das Constituições Salesianas, e pode querer indicar que, pelo decreto de louvor da Sociedade Salesiana, que
ele chama de “aprovação”, também se louvava (“se aprovavam”) os cooperadores salesianos. Historiadores
salesianos debateram a identidade desses “membros externos” nas primeiras Constituições Salesianas.
242
2o Aos associados, ou seja, à Pia Sociedade Salesiana, que sempre foi a diretora
daqueles benfeitores, que, segundo as regras propostas para eles, se prestavam
com zelo e caridade a ajudar moral e materialmente os membros religiosos.
5
Ver texto em MB XI, 540s. As notas são de A. Lenti. Cf. J. Aubry, Cooperador salesiano: una
vocacion concreta en la Iglesia. Madri: Editorial CCS, 1973.
6
Sobre o texto das outras redações: o manuscrito, autógrafo de Dom Bosco da primeira redação,
está em ASC, A228ss, FDB 1886 B7-C2 e pode ser lido em MB X, 1310s. O folheto com o texto
original da segunda foi publicado na tipografia do Oratório de São Francisco de Sales em 1874, e está
reproduzido em MB X, 1315s. O texto da terceira redação pode ser visto em MB XI, 535s.
7
“Vis unita fortior (forças unidas se tornam mais fortes)” é um provérbio clássico: “Funiculus
triplex difficile rumpitur” (uma corda de três fios não se rompe facilmente) é dito bíblico (Ecl 4,12.
Vulgata). Atribuindo-o “ao Senhor”, Dom Bosco quer indicar aqui “Deus ou a Bíblia”, genericamente.
243
244
2. A Congregação Salesiana
Esta Congregação, que foi aprovada pela Igreja, pode servir de união se-
gura e estável para os cooperadores salesianos. De fato, ela tem como fim pri-
mário trabalhar em prol da juventude, na qual se fundamenta o futuro favo-
rável ou catastrófico da sociedade. Não pretendemos dizer com esta proposta
que este seja o único meio para remediar essa necessidade, porque existem
milhares, mas nós mesmos recomendamos vivamente que cada um empregue
os meios que julgar oportuno para alcançar esse grande fim. De nossa parte,
propomos um que é a obra dos cooperadores salesianos. Convidamos os bons
católicos que vivem no século a unirem seus esforços aos dos sócios desta nos-
sa Congregação. É verdade que o número deles cresceu notavelmente, mas
ainda estamos muito longe de poder responder aos pedidos que todos os dias
nos chegam de vários lugares da Itália, da Europa, da China, da Austrália, da
América e principalmente da República Argentina. Pedidos contínuos são-
-nos feitos para enviarmos ministros sagrados que se encarreguem da juven-
tude em perigo, que abram casas ou colégios, iniciem ou ao menos apoiem
as missões, que anseiam pela chegada de novos operários evangélicos. E, para
atender a tão grande necessidade, buscam-se cooperadores.
4. Maneiras de cooperar
Propõe-se aos cooperadores salesianos a mesma messe [apostólica] da
Congregação de São Francisco de Sales à qual pretendem associar-se:
245
8
Em uma das redações do projeto, Dom Bosco anota: a Congregação Salesiana dedica-se a difun-
dir os bons livros de muitas maneiras, especialmente com suas publicações mensais, uma delas conhecida
com o título de Leituras Católicas e, outra, com o de Biblioteca de clássicos italianos para a juventude.
9
At 4,32-37.
10
O cursivo é de Dom Bosco.
246
6. Obrigações particulares
1. Os membros da Congregação Salesiana consideram todos os co-
operadores como outros tantos irmãos em Jesus Cristo e a eles se
dirigirão sempre que seu trabalho puder ajudar em algo que seja
para a maior glória de Deus e o bem das almas. Com a máxi-
ma liberdade, quando for o caso, os cooperadores se dirigirão aos
membros da Congregação Salesiana.
2. Por conseguinte, cada sócio fará o quanto puder com seus pró-
prios meios ou com as esmolas recebidas de pessoas caridosas para
promover e apoiar as obras da associação.
3. Os cooperadores não têm qualquer obrigação pecuniária, mas fa-
rão mensalmente, ou ao menos anualmente, a esmola que lhes
dite seu bom coração. Essas esmolas serão entregues ao superior
para sustentar as obras promovidas pela associação.
11
A orientação contemplada neste artigo foi realizada com a fundação do Boletim Salesiano.
247
7. Benefícios
1. Sua Santidade, o reinante Pio IX concedeu aos promotores desta
obra, por decreto de 30 de julho de 1875, todos os favores, graças
espirituais e indulgências das quais possam gozar os religiosos sa-
lesianos, à exceção dos que se referem à vida comum. Será enviada
uma lista de todos [esses favores].
2. Participarão de todas as missas, orações, novenas, tríduos, exercícios
espirituais, pregações, catequeses e demais obras de caridade que os
salesianos realizem no sagrado ministério, em qualquer lugar e em
todas as partes do mundo.
3. Participarão de todas as missas e orações feitas todos os dias na igre-
ja de Maria Auxiliadora de Turim para invocar as bênçãos do céu
sobre seus benfeitores, suas famílias e, especialmente, sobre os que
moral e materialmente fazem algum benefício a nossa congregação.
4. No dia seguinte à festa de São Francisco de Sales, todos os sacerdo-
tes da Congregação e os sacerdotes cooperadores celebrarão a mis-
sa pelos irmãos defuntos. Os não sacerdotes procurarão receber a
sagrada comunhão e rezar a terceira parte do rosário.
5. Quando um irmão cair enfermo, avisará logo o superior, para que faça
rezar por ele. Faça-se o mesmo no caso da morte de algum cooperador.
8. Práticas religiosas
1. Não há qualquer obra exterior prescrita para os cooperadores sale-
sianos, mas, para que sua vida possa assemelhar-se de algum modo
à dos que vivem em comunidade religiosa, se lhes recomenda mo-
déstia no vestir, frugalidade à mesa, simplicidade no mobiliário
da casa, delicadeza nas conversas, exatidão no cumprimento dos
deveres do próprio estado; procurando que as pessoas que deles
dependem guardem e santifiquem o dia festivo.
2. Eles são aconselhados a fazer todos os anos ao menos alguns dias
de exercícios espirituais. No último dia de cada mês, ou em ou-
tro que lhes seja mais apropriado, farão o exercício da boa-morte,
248
FICHA DE INSCRIÇÃO
Cada associado preencherá a ficha anexa e, devidamente assinada, fará com
que chegue às mãos do superior:
Assinatura do Cooperador
Benfeitores ou cooperadores?12
Ao ler este regulamento de 1876, poder-se-ia pensar que Dom Bosco
teve, desde o início, uma ideia clara e coerente do que eram os salesianos
cooperadores. Não parece que foi assim. De fato, estudando o contexto his-
tórico em que surgiram e a documentação que se possui, observa-se que a
fundação da pia união dos cooperadores esteve sujeita a uma evolução, na
12
Nota dos responsáveis da edição castelhana.
249
250
O cooperador “benfeitor”
Cooperadores benfeitores existiam aos milhares no mundo todo e, entre
eles, havia sacerdotes e leigos de todas as categorias sociais: nobres, gente da
classe média, operários, comerciantes, simples cidadãos, homens e mulheres.
Eram a longa manus num momento em que Dom Bosco, e depois seus suces-
sores, tinham muita necessidade de dinheiro e de outras ajudas para manter
e multiplicar as obras.
Dom Bosco falava com frequência da cooperação material, às vezes tam-
bém de modo imperioso. Assim, por exemplo, no Boletim Salesiano de dezem-
bro de 1878, diz: “As orações não bastam, a elas devem estar unidas as ações.
Nem os credores nem tampouco nossos jovens contentam-se com orações.
Eles comem pão, e muito, e por mais que se faça ou se diga com a finalidade
de convencê-los a deixar este costume, não querem saber senão disso, nem por
apenas um dia. Não pedem guloseimas, não, mas pão e sopa à saciedade, essa
é a comida que exigem e que nós lhes devemos proporcionar”.15 Por isso, pedia
ajuda para alimentar os muitos jovens que eram acolhidos nas casas salesianas.
Ele também pensava nos cooperadores como aval que lhe servia de
garantia em seus assuntos financeiros: “Mas com tantas obras que tem nas
mãos, Dom Bosco irá à bancarrota! Não senhor, não fomos à bancarrota, não
fomos até agora e não iremos no futuro. Temos como garantidores a divina
Providência e a caridade de nossos cooperadores”.16
Para Dom Bosco, a caridade material dos cooperadores era um requi-
sito essencial para serem bons cristãos. Numa sociedade em que, segundo a
mentalidade da época, era formada “por desígnio divino” entre ricos e pobres,
havia uma relação de salvação recíproca para uns e outros, igualmente obri-
gados à observância do amor no interior da diferença da própria condição.
“Deus fez o rico para se salvar com a caridade e com a esmola”. Ceria observa:
“Nenhum santo gastou tanto de suas forças e de seu tempo em convencer os
homens, em público e em privado, de que a esmola é um dever, um grave
dever: e não uma esmola feita segundo a medida do egoísmo, mas [a esmola
feita] no limite determinado pelos próprios meios”.17 A esmola não é, portan-
to, só um ato de generosidade caridosa, mas também uma rigorosa obrigação
de justiça distributiva com evidente impacto social.18
15
Bollettino Salesiano, dezembro, 1878, 8.
16
Conferência aos cooperadores em Casale Monferrato, 21 de novembro de 1883. Bollettino
Salesiano, dezembro, 1883, 202.
17
MB XV, 515s.
18
Cf. Bollettino Salesiano, dezembro de 1881, 5-7.
251
19
Cf. Epistolario Ceria, IV, 286-287.
20
Epistolario Ceria, III, 224-225.
21
Epistolario Ceria, IV, 310-311.
252
Sem os benfeitores, Dom Bosco não poderia levar adiante a sua obra;
por isso, podem ser chamados, com razão, com todo direito, de cooperadores
das obras salesianas.
Para os Filhos de Maria, cf. pedido e decreto em MB XI, 531s. Para os cooperadores, cf. pedido
23
253
254
Também querendo usar de especial bene- Também, querendo dar a estes sócios um
volência para com estes sócios concede- sinal de nossa benevolência, concedemos-
mos-lhes todas as Indulgências, tanto Ple- -lhes todas as indulgências, tanto plenárias
nárias como Parciais, que os Terciários de como parciais, que por concessão apos-
São Francisco de Assis possam obter por tólica podem lucrar os terciários de São
concessão apostólica e todas as indulgên- Francisco de Assis; e ainda concedemos 2425
cias que os Terciários podem lucrar nos com nossa Autoridade Apostólica, que as
dias de festa e nas igrejas de São Francisco indulgências que os Terciários podem lu-
de Assis, na festa de São Francisco de Sa- crar nos dias festivos e nas igrejas de São 24
les e nas igrejas da Congregação de pres- Francisco de Assis, possam-nas lícita e li- 25
bíteros salesianos, desde que cumpram vremente obter na festa de São Francisco
devidamente no Senhor as obras determi- de Sales e na igreja da Congregação Sale-
nadas para tais indulgências; assim o con- siana de presbíteros; desde que cumpram
cedemos com Nossa Autoridade Apostóli- devidamente diante do Senhor as obras de
ca. Sem que possam impedi-lo quaisquer piedade prescritas para lucrar estas indul-
outras faculdades que lhes forem opostas. gências. Sem que nada obste em contrá-
Queremos, também, que a transcrição da rio. E isso com validade para os tempos
presente Concessão ou as cópias impres- presentes e futuros. Também desejamos
sas da mesma, com a firma de um Notário que as presentes letras, subscritas por al-
público e o selo de uma pessoa constitu- gum notário público, referendadas com o
ída em Dignidade Eclesiástica, deem-lhe selo de pessoa eclesiástica constituída em
a mesma fé que a autêntica, se fosse apre- dignidade, lhe dê a mesma fé que as pre-
sentada [em público]. sentes se forem exibidas em público.
Dado em Roma, junto a São Pedro sob Dado em Roma, junto a São Pedro sob
o anel do Pescador, no dia 9 de maio de o anel do Pescador, no dia 9 de maio de
1876, ano trigésimo do nosso Pontificado. 1876, ano trigésimo do nosso Pontifica-
[Selo] do. [Selo]
Pelo Card. Asquinio, D. Iacobini, substituto. Pelo Card. Asquinio, D. Iacobini, subs-
tituto.
Esta foi a quarta e última elaboração dos estatutos intitulados Cooperadores salesianos. Uma associa-
26
ção dedicada a alargar os costumes cristãos e o bem da sociedade. Este documento está em MB XI, 540s.
27
Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 11 de julho de 1876, em MB XI, 78. Cf. A. Lenti, “The
Bosco-Gastaldi conflict. II”, JSS 5:1 (1994), 55-59.
255
seu porta-voz, cônego Tomás Chiuso, fazia saber que o imprimatur eclesiástico
do folheto deveria ter sido solicitado de antemão e que, além disso, o decreto
de ereção canônica da associação deveria ter sido apresentado ao ordinário
antes de “tais indulgências” serem dadas a conhecer.28
As explicações dadas por Dom Bosco, ou seja, que o folheto ainda es-
tava na gráfica, que os cooperadores formavam uma associação geral e não
diocesana, que se viu obrigado a passar por cima da cúria, porque não lhe
foi concedida audiência etc. estavam destinadas a cair em ouvidos moucos.29
Entretanto, como o arcebispo estava fora da cidade devido ao verão,
Dom Bosco não esperou resposta. Imprimiu o material na diocese de Alben-
ga, com a aprovação do bispo amigo, dom Anacleto Pedro Siboni. Alguns
meses depois, com o desejo de publicar o decreto, Dom Bosco apresentou
uma cópia à chancelaria. O arcebispo, através do cônego Chiuso, insistia em
ver o texto original, antes de aprovar qualquer publicação. Mais importante,
ainda, assinalava que o documento só estabelecia “indulgências e favores espi-
rituais” baseando-se numa suposta aprovação canônica anterior. Quem dera
tal aprovação canônica? De fato, o decreto de Pio IX, tanto o que se referia
aos cooperadores como o dirigido à Obra de Maria Auxiliadora, era redigido
de forma clara nesse sentido:
É certo que Pio IX apoiou de todo coração a criação dos salesianos coopera-
dores, assim como a Obra de Maria Auxiliadora. Antes do decreto de 9 de maio
de 1876, ele expressara sua aprovação, concedendo favores espirituais tanto oral-
mente como por escrito. Não é menos certo que o decreto em questão só conce-
dia indulgências. E o fez supondo que já tivesse obtido anteriormente a aprovação
canônica. Se não fora recebida da Santa Sé, de quem a recebera?
28
O cônego Chiuso a Dom Bosco, 16 de julho de 1876, em Documenti XVII, 413-414: ASC
A066: FDB 1041 A1-2. MB XI, 78.
29
Dom Bosco ao cônego Chiuso, 1º de agosto de 1876, em MB XI, 78.
30
Ver os textos dos decretos citados anteriormente.
256
Pelo que se sabe Dom Bosco não respondeu à carta do cônego Chiuso,
nem tinha qualquer necessidade disso. Nunca solicitara a aprovação da Santa
Sé para uma nova associação. Pedira apenas favores espirituais para uma asso-
ciação já existente e, para ele, já erigida canonicamente.
Dom Bosco argumentava sobre este ponto no memorando reproduzido
anteriormente, no qual sustentava que os salesianos cooperadores existiam
desde 1841, se identificavam com o trabalho em colaboração dos oratórios e
eram conhecidos como “Congregação de São Francisco de Sales”, que ele pre-
sidia como “superior”. A “Congregação” recebera o estímulo, as faculdades e
os favores espirituais, em várias ocasiões, da Santa Sé e de dom Luís Fransoni
por um decreto de 1852.31 Em 1858, a Congregação dividiu-se em duas fa-
mílias: uma fez votos religiosos e vivia em comunidade; a outra, conhecida
também como “União ou Congregação de São Francisco de Sales, promotores
ou cooperadores” continuava “a viver no mundo, enquanto trabalhava em fa-
vor dos oratórios”. Por isso, quando o recente decreto fala de uma associação
já erigida canonicamente, refere-se aos primeiros promotores que ao longo
de dez anos foram aprovados e reconhecidos de facto como autênticos co-
operadores na obra dos oratórios, obra formalmente criada pelo decreto de
1852. Continuam como uma associação [aprovada] de leigos que vivem no
mundo, mesmo depois de 1858, quando alguns deles começaram a viver em
comunidade com regras próprias.32
Podemos, porém, perguntar-nos: se a afirmação de Dom Bosco era
válida para os cooperadores, seria também válida para a Obra de Maria
Auxiliadora, para a qual o decreto de 1876, emitido com o dos coopera-
dores, usa a mesma fórmula, concedendo indulgências a uma associação já
erigida canonicamente?
257
258
259
38
Cf. A. Lenti, “Saint with a human face”, JSS 8:2 (1997), 188-190.
39
O curso rápido de estudos, denominado “escola de fogo”, suscitou críticas de salesianos no
Oratório, onde os estudantes das classes superiores uniram-se aos Filhos de Maria, que ali residiam (MB
XI, 59s). Para os comentários sobre o curso rápido (“escola de fogo”) ver as p. 261-262 deste volume.
40
Padre Celestino Durando (1840-1907) era o conselheiro geral para as escolas salesianas; estava
especialmente preocupado com a qualidade da escola do Oratório. Às vezes, não coincidia com Dom
Bosco nos assuntos escolares.
260
Dom Bosco falou com entusiasmo do projeto dos Filhos de Maria, ex-
pressando grandes esperanças de sucesso:
A razão pela qual devemos seguir adiante e nunca olhar para trás é que esta-
mos caminhando com segurança. Antes de iniciar qualquer obra, comprova-
mos que é a vontade de Deus. Tão logo temos essa segurança, devemos seguir
adiante. A partir daí, não importam as dificuldades que possam surgir pelo
caminho. Se Deus o quer, não temos nada a temer.44
Dois dias depois, no Boa-Noite, ele anunciava seu plano aos meninos,
dando detalhes para explicar o curso rápido de estudo.
41
A escola, ou melhor, a seção de estudantes, do Oratório era uma escola secundária de cinco
anos, com um currículo de humanidades muito semelhante ao bacharelado.
42
G. Barberis, Crônica original, entrada de 31 de janeiro de 1876, caderno IV, 32: FDB 837 C4.
43
G. Barberis, Crônica original, entrada de 5 de fevereiro de 1876, caderno IV, 52: FDB 837 D12.
44
G. Barberis, Crônica original, entrada de 6 de fevereiro de 1876, caderno IV, 52-53: FDB
837 D12-E1.
261
Além disso, devereis levar em conta que... as matérias que não entram
neste programa deverão ser estudadas mais adiante.48
45
O primeiro grupo de salesianos “missionários” fora para a América do Sul há apenas alguns me-
ses, em novembro de 1875. A necessidade de abastecer as missões, assim como o crescente trabalho que
os padres salesianos realizavam foi a razão pela qual Dom Bosco criou o programa de Filhos de Maria.
46
Algumas dioceses não exigiam um currículo de cinco anos para receber o hábito clerical e a
admissão ao seminário, mas Turim sim. Talvez, contudo, a verdadeira razão desta condição fosse que o
arcebispo de Turim, dom Gastaldi, era contrário ao projeto; e já se opusera energicamente à Obra de
Maria Auxiliadora.
47
Ao fazer os estudos de cinco anos da escola secundária (gimnasio), o estudante podia fazer um
exame geral e receber um diploma, que lhe dava acesso aos estudos superiores.
48
J. Barberis, Discorsetti, caderno, 25-28, entrada de 8 de fevereiro de 1876: FDB 838 E4-7.
262
Comentário conclusivo
O decreto sobre os cooperadores demonstra que o Papa acreditava que
os cooperadores fossem uma associação preexistente, já aprovada, que atuava
nas obras de piedade e caridade, especialmente em favor dos jovens. Era esse
também o entendimento de Dom Bosco.
O certo é que Dom Bosco não manifesta essa ideia em seu pedido,50
mas é evidente que era isso que tinha em mente.51 Por isso, solicitava favores
49
J. Barberis, Crônica original, entrada de 13 de março de 1876, caderno V, 9-11: FDB 839 A7-9.
50
Cf. MB XI, 76s.
51
Ver Memorando de 1877, p. 240-243 deste volume.
263
264
53
MB XI, 71s: cooperadores; MB XIII, 259s: cooperadores e Boletim Salesiano no I CG; MB
XIII, 606: organização dos cooperadores; MB XIV, 530s, 671s: cooperadores.
265
266
55
“Os associados”. Como no caso das Leituras Católicas, Dom Bosco considerava os que rece-
biam e aceitavam o Boletim não como “assinantes”, mas como “associados”, ou seja, faziam parte da
associação para ajudar de algum modo a obra salesiana.
56
Esta frase é uma nota marginal preliminar acrescentada no início da passagem seguinte. Colo-
ca os pontos iniciais para a discussão seguinte.
57
Em 1886, o Boletim difundia 40 mil exemplares em cada edição mensal ao custo de 25 mil
liras para o ano todo. Mas os custos de publicação foram recuperados com acréscimos desde o início,
por meio de donativos. Está confirmado que nos primeiros nove anos da publicação do Boletim, as
ofertas e os donativos chegaram a 900 mil liras, a ponto de Dom Bosco ser acusado de ter iniciado o
Boletim com a finalidade de arrecadar fundos.
267
58
Aqui, Dom Bosco dá alguns exemplos. O Boletim pode animar e ensinar o catecismo às crian-
ças e explica como se faz, ou a fazer o exercício da boa morte, os exercícios espirituais etc.
59
Aqui se dão outras razões para inscrever-se na associação.
60
Segue-se uma discussão sobre se os institutos religiosos podem ser indicados como cooperado-
res. Aparentemente não houve nada em contrário.
268
61
ASC D578, Capitoli Generali, GC I: FDB 1849 B12-05. Dom Bosco descreve que Roma re-
tirou o artigo sobre a política em 1864 e como ele procurara recolocá-lo em 1870 e 1874. Deram-lhe as
seguintes razões para sua remoção: “Este artigo está sendo eliminado pela terceira vez. Apesar de que em
si mesmo poderia ser admitido, nestes tempos e momentos, pode acontecer que alguém se sinta obriga-
do em consciência a participar na política. Com frequência, as questões políticas estão inseparavelmente
unidas às crenças religiosas, casos nos quais os bons católicos não devem permanecer à margem”.
62
As duas conferências anuais eram prescritas no Regulamento para os cooperadores salesianos,
cap. VI, art. 4. Dom Bosco presidiu a primeira conferência em Roma, em 27 de janeiro de 1878,
criando o modelo. Seguiu-se a ela uma conferência semelhante em Turim, em 16 de maio de 1878.
269
O Boletim não deve ser um folheto local que se dirige a regiões linguísticas lo-
cais, como França, Espanha, Itália etc. Deve ser e continuar a ser o órgão ofi-
cial geral da obra salesiana que atenda a todas as regiões. Deverá ser uniforme
na edição das notícias, com a finalidade de representar as diversas regiões; mas
todas as edições, sem importar o idioma, devem ser idênticas. Para garantir a
unidade no conteúdo e a orientação, o Boletim, em todas as edições, deve ser
impresso na casa-mãe. Esta arma, tão poderosa, não deve ser tirada das mãos
do Reitor-Mor; pois o Boletim, em outras mãos, pode adotar uma orientação
que não se ajuste aos objetivos do Reitor-Mor. [Se o Boletim fosse editado
localmente] até um inspetor poderia utilizá-lo para seus interesses pessoais ou
os de sua inspetoria contra os da congregação.
Desde então, as conferências eram feitas regularmente na língua de cada região (MB XIII, 614s). Eram
conhecidas como conferências salesianas porque, entre outras razões óbvias, começavam com a leitura
de um capítulo da vida de São Francisco de Sales.
63
ASC D579, Capitoli Generali, III CG: FDB 1864 A10-11.
270
A Obra (ou Congregação) para a Propagação da Fé, sem relação com a congregação romana
64
de Propaganda Fide, foi fundada em Lyon em 1822 por Paulina Jéricot com a finalidade de ajudar as
missões estrangeiras. Aos poucos, foi-se estendendo a outras nações. Seus boletins, chamados Anais da
propagação da fé, publicavam cartas e relatos de missionários em seu trabalho.
271
65
Padre Bonetti publicara em capítulos no Boletim, desde 1879, a Storia dell’Oratorio di San
Francesco di Sales.
66
ASC D869, Atas do Capítulo Superior, 17 de setembro de 1885: FDB 1880 A5-12.
272
V. Boletim Salesiano
suas páginas serão reservadas para informar as notícias das casas de cada país.
Contudo, o texto principal, em suas diversas edições, não será alterado.
3 Na América, quando for preciso fazer algum tipo de comunicação urgente,
o
Deliberazioni del Terzo e Quarto Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuti in Val-
67
salice nel settembre 1883-1886. San Benigno Canavese: Tipografia Salesiana, 1887, 24-25, em OE
XXXVI, 276-277.
273
Emerge com muita clareza, do que foi dito, a ideia de Dom Bosco so-
bre o Boletim Salesiano. Note-se, sobretudo, a sua insistência na publicação
centralizada e no controle pessoal do Boletim e de seus conteúdos. Só assim,
pensa Dom Bosco, seria obtido o objetivo de unir a cabeça com os membros
e os membros com a cabeça, para a unidade de ação.
Apesar de sua convicção de que a obra salesiana experimentaria uma
expansão mundial, Dom Bosco não pôde prever o colossal crescimento e a
diversificação da Congregação, nem os problemas que isso poderia criar para
manter o Boletim dentro dessas premissas.
Mesmo assim, a ideia de Dom Bosco sobre o que deveria ser e os objeti-
vos para os quais o Boletim Salesiano deveria servir devem ser cuidadosamente
ponderados.
274
Proêmio
Diversos são os caminhos oferecidos aos cristãos para viverem a fé do
seu Batismo. Alguns, sob o impulso do Espírito Santo, atraídos pela figura
68
Nota dos responsáveis da edição em castelhano.
275
CAPÍTULO I
O salesiano cooperador e a salesiana cooperadora na Igreja e no mundo
Art. 1. O fundador, um homem enviado por Deus
Para colaborar na salvação da juventude, “a porção mais delicada e pre-
ciosa da sociedade humana”, o Espírito Santo, com a maternal intervenção
de Maria, suscitou São João Bosco, que fundou a Sociedade de São Francisco
de Sales (1859); junto com Santa Maria Domingas Mazzarello, o Instituto
das Filhas de Maria Auxiliadora (1872); e estendeu a energia apostólica do
carisma salesiano com a constituição oficial da “Pia União dos Cooperado-
res Salesianos”, como terceiro ramo da Família (1876), unido à Sociedade
de São Francisco de Sales, denominada também Sociedade Salesiana de São
João Bosco ou Congregação Salesiana. O Espírito Santo formou em São João
Bosco um coração de pai e mestre, capaz de doação total, e inspirou-lhe um
método educativo impregnado pela caridade do Bom Pastor.
276
277
CAPÍTULO II
Compromisso apostólico do salesiano cooperador e da salesiana cooperadora
Art. 7. Testemunho das Bem-aventuranças
O estilo de vida pessoal do salesiano cooperador, marcado pelo espírito
das Bem-Aventuranças, o compromete a evangelizar a cultura e a vida social.
Por isso ele vive e testemunha: o primado do espírito, a fecundidade do sofri-
mento e a não violência como fermento de paz e de perdão; a liberdade em
obediência ao plano de Deus, que o leva a apreciar o valor e a autonomia pró-
prios das realidades seculares, empenhando-se em orientá-las, sobretudo para
o serviço das pessoas; a pobreza evangélica, administrando os bens que lhe são
confiados com critérios de sobriedade e partilha, à luz do bem comum; a se-
xualidade segundo uma visão evangélica de castidade, marcada pela delicadeza
e por uma vida matrimonial ou celibatária íntegra, alegre, centrada no amor.
278
279
280
281
4
Ver descrição do projeto de reformas do arcebispo Gastaldi em A. Lenti, “The Bosco-Gastaldi
conflict (1872-1882)”. Part I, JSS 4:2 (1993), 21-28.
282
5
G. Tuninetti, Gastaldi II, 248-249.
6
“O bispo, com a ajuda de sacerdotes e outras pessoas prudentes, bem versadas no conhecimen-
to da lei de Deus e da disciplina da Igreja, deverá investigar cuidadosamente os antecedentes familiares,
a vida pessoal, a idade, a educação, a conduta moral, a doutrina e a fé dos candidatos que desejam ser
ordenados, e os examinarão nestes temas precisos” (cânon citado em F. Desramaut, Don Bosco, 895).
7
Epistolario IV Motto, 287-290; MB X, 822s.
283
8
“A qualquer bispo”, não só ao ordinário da diocese onde se situava a casa-mãe. O rescrito de
3 de abril de 1874 concedia por dez anos, ao Reitor-Mor, a faculdade de emitir cartas dimissórias,
cf. MB X, 803s.
9
Arcebispo Gastaldi a Pio IX, 15 de julho de 1874. F. Desramaut, Don Bosco, 901-903, 914, nota
47. A carta está no Arquivo Secreto Vaticano, Epistolae latinae. Positiones et minutae, 126 (20-p. Ms.).
10
O primeiro padre pode ser Luís Chiapale. Não há informação disponível sobre o segundo.
284
11
Ver as duas notícias em MB X, 827s. L’Unità Cattolica, 24 [23] de agosto de 1874, ver F.
Desramaut, Don Bosco, 903-905, notas 51, 52.
12
Dom Bosco ao bispo Gaudenzi, 30 de agosto de 1874, em Epistolario IV Motto, 313.
285
13
Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 10 de setembro de 1874, em Epistolario IV Motto, 316-
318, MB X, 830s. Deve-se assinalar que o retiro foi cancelado depois da nota no jornal e depois da ad-
vertência do arcebispo. Por outro lado, pense-se o que se quiser sobre a política do arcebispo em relação
à pregação, como se expressava nos estatutos da diocese, a orientação certamente deveria ser aplicada
a um retiro para professores não salesianos de escola. Gastaldi não interferiu nos retiros dos salesianos.
14
Dom Galletti ao arcebispo Gastaldi, 14 de setembro de 1874, em MB X, 830. Dom Gastaldi
acreditava que Dom Bosco imprimira algumas de suas cartas provavelmente para usá-las contra ele.
Dom Galletti, em carta anterior ao arcebispo, de 3 de setembro de 1874 (MB X, 832s), garantia que
as únicas cartas que possuía de Dom Bosco eram as duas que foram impressas pela Congregação dos
Bispos e Regulares, incluídas na Positio para a aprovação das Constituições Salesianas. Sobre a crença do
arcebispo de que as cartas foram impressas para serem usadas contra ele, ver MB X, 825.
286
que me enviasse os nomes dos sacerdotes que iam dirigi-lo; e que, no futuro,
me notificasse [sobre os retiros] antecipadamente. Poucos dias depois alguém
(não ele) informa-me que o retiro fora cancelado. Por que cancelar uma boa
coisa por uma simples advertência? Não seria meu dever admoestar? Poderia
ter admoestado mais caridosamente? Não sou obrigado a velar para que não
se inflija a autoridade do meu ministério? [...] Além disso, este superior não
deveria ter-me notificado que outros dois retiros estavam programados exclu-
sivamente para os salesianos? Por outro lado, a carta desrespeitosa (palavras
irreverentes) está completamente fora de lugar [...]. Enquanto se promova o
bem das almas, não há motivo para perturbar minha administração, exigi-lo
faz parte de meu dever. Em todo este assunto, o arcebispo é o juiz competente
e não o sacerdote em questão. Se pensa que foi maltratado, que escreva ao
Papa. Mas, quem ele acredita ser para erigir-se em juiz neste assunto?15
A passagem revela a frustração do arcebispo por não ter sido capaz de fa-
zer-se entender por Dom Bosco. Contudo, lendo a correspondência relativa ao
episódio, chama a atenção esta, aparentemente, excessiva reação neurótica do
arcebispo.16 Fica também evidente algo pior, a sua suspeição em relação a Dom
Bosco. Padre Albert, homem santo, fez esforços heroicos para apresentar-lhe o
pesar de Dom Bosco e “explicar-lhe” como era Dom Bosco, sem sucesso.17
Cf. MB X, 836.
16
17
Padre Albert ao arcebispo Gastaldi, 22 de setembro de 1874, em MB X, 840s.
18
Cônego Chiuso a Dom Bosco, 21 de setembro de 1874, em MB X, 844; Dom Bosco ao cône-
go Chiuso, 27 de setembro de 1874, em MB X, 845s; Dom Bosco ao cônego Chiuso, 27 de setembro
de 1874, em MB X, 845.
287
Cf. G. Tuninetti, Gastaldi II, 269, nota 47; 270, nota 50.
20
21
Arcebispo Gastaldi à Congregação dos Bispos e Regulares, 23 de setembro de 1874, em
MB X, 842.
288
A resposta de dom Vitelleschi traz a data de 5 de outubro. Além de garantir a dom Gastaldi
22
que as Constituições Salesianas foram aprovadas definitivamente, afirmava que as demais questões
seriam tratadas pela Congregação dos Bispos e Regulares em novembro, cf. MB X, 843.
23
Arcebispo Gastaldi ao papa Pio IX, 4 de outubro de 1874, em MB X, 847s.
289
24
MB X, 853.
290
25
Arcebispo Vitelleschi a Dom Bosco, 1º de outubro de 1874, em MB X, 855.
26
Isso se deu em 18 de outubro, segundo nota do padre Berto numa cópia da carta de dom
Gastaldi, em Documenti XIV, 271-281 em ASC A063: FDB 1026 C9-D7.
27
Cardeal Berardi a Dom Bosco, 26 de outubro de 1874, em MB X, 859.
28
Dom Bosco ao cardeal Bizzarri, 12 de outubro de 1874, em Epistolario IV Motto, 333-337;
MB X, 856s.
29
Dom Bosco ao cardeal Berardi, 7 de novembro de 1874, com o memorando de 7 pontos, em
Epistolario IV Motto, 344-346; MB X, 859s.
291
O “jovem reitor” era padre José Maria Soldati, de 35 anos, principal agente da reforma do
30
seminário de Gastaldi. Em carta de 10 de novembro de 1874, dirigida ao arcebispo, Dom Bosco afirma
que nenhum seminarista diocesano foi aceito na congregação sem o consentimento do arcebispo; não
obstante tenha dado o devido refúgio temporário aos que precisavam. Isso se fez “para mitigar o res-
sentimento de suas famílias e amigos, que continuavam a reclamar contra o abuso [do arcebispo] como
se quisesse que os ex-seminaristas fossem abandonados por todos”. Em parágrafo anterior recordara ao
arcebispo sobre seu dever de ordenar os candidatos que não fossem indignos, argumentando sobre o
assunto, seguindo as decisões romanas (Epistolario IV Motto, 350-352; MB X, 863).
292
31
Ver em MB X, 861 pontos 1, 2 e 3 do memorando.
32
Quanto às reclamações de Dom Bosco, podemos observar: 1o Luís Chiapale foi salesiano pro-
fesso. Está catalogado no grupo de 18 ou 19 que “fundaram” a Sociedade Salesiana em 18 de dezembro
de 1859 (MB VI, 335, onde é denominado como “leigo” porque, nesse momento, era apenas um
estudante de 16 anos e ainda não recebera o hábito clerical). Segundo consta no registro das profissões,
Luís Chiapale foi um dos 23 que fizeram a primeira profissão em 14 de maio de 1862. Fez os votos per-
pétuos em 10 de agosto de 1867. 2o Dos 23 que professaram em 1862, 5 deixaram a congregação antes
de 1870. Chiapale não figura entre eles, mas saiu da congregação antes de 1874. E, segundo consta, 13
salesianos deixaram a congregação entre 1862 e 1874 (P. Stella, Economia, 295, 297, 301, 313-315).
Dom Bosco, em carta de 11 de outubro de 1874, escreveu ao vigário-geral, cônego José Zappata: “Diz-
-lhe [ao arcebispo] que aqueles [sacerdotes] que pertenceram alguma vez à Congregação Salesiana, não
lhe deram motivo de queixa por sua conduta censurável e que espero nunca o darão. De fato, cerca de
50 estão trabalhando com toda energia em sua arquidiocese” (Epistolario IV Motto, 331-332; MB X,
854). Quanto ao padre Pignolo e os seminaristas que trabalharam no Instituto de surdos-mudos não
existe informação disponível.
33
Para a carta com o pedido, em latim, cf. Epistolario IV Motto, 353-356; para a carta, MB
X, 864s; para o pedido, cf. MB X, 1003. Das razões expostas para pedir o favor, a última é a mais
imperiosa: “Assim se poderiam eliminar, finalmente, as objeções, baseando-se em que determinado
ordinário se negou a ordenar candidatos salesianos nos últimos três anos”. O cardeal Berardi pôde ou
não tramitar a seu tempo o pedido de Dom Bosco. Em todo caso, em 26 de fevereiro de 1875, Dom
Bosco apresentou a dupla solicitação: faculdade de expedir dimissórias e os privilégios tradicionais. Pio
IX criou uma comissão de cardeais para estudar a questão (MB XI, 181). Em 22 de setembro de 1875,
a Congregação dos Bispos e Regulares negou os dois pedidos.
293
34
Ver MB X, 864s.
35
Dom Bosco ao padre Guanella, 12 de dezembro de 1874, Epistolario IV Motto, 362; MB XI, 12.
36
Padre Guanella a Dom Bosco, 14 de dezembro de 1874, em MB XI, 12. São Luís Guanella
(1842-1915), ordenado padre em 1866 para a diocese de Como, distinguiu-se no ministério sacerdotal
pelo zelo e preocupação com os pobres. Tendo entrado em contato com os salesianos, quis ser um deles
e estabeleceu a obra salesiana em sua diocese. Foi salesiano de 1875 a 1878. Nesse período, associou-
-se ao desenvolvimento da Obra de Maria Auxiliadora (Filhos de Maria) em suas primeiras etapas (cf.
MB XI, 59s), exercendo o cargo de diretor, entre outros (cf. MB XI, 124, 130, 203, 230, 341, 309;
XII, 130, 580). Após retornar à sua diocese em 1878 (cf. MB XIII, 812s), fundou um internato para
meninos órfãos e abandonados e, depois, a casa da Divina Providência, em Como (1886), e outras
instituições semelhantes em outras cidades. Para perpetuar sua obra, fundou as Filhas de Santa Maria
da Providência e os Servos da Caridade (1904). Trabalhou no apostolado da imprensa, escrevendo
umas 50 obras. Associado a vários leigos católicos, foi pioneiro e muito ativo na questão social. Foi
canonizado em 23 de outubro de 2011.
37
MB X, 866s.
294
Dom Bosco a Pio IX, 31 de dezembro de 1874, em Epistolario IV Motto, 376-379; MB X, 866s.
38
40
Cardeal Berardi ao arcebispo Fissore, 9 de janeiro de 1875, em Documenti XV, 23-24, em ASC
A064: FDB 1027 A 10-11.
41
Dom Bosco ao arcebispo Fissore, 12 de janeiro de 1875, em Epistolario IV Motto, 391-393;
MB XI, 73s, com data de 16 de janeiro.
295
42
Dom Bosco ao cardeal Berardi, 7 de fevereiro de 1875, em Epistolario IV Motto, 411-414;
MB XI, 97s.
43
O rescrito pontifício que concedia a faculdade de emitir dimissórias exigia claramente a neces-
sidade da profissão perpétua (MB X, 892). Talvez Dom Bosco tivesse obtido uma concessão vivae vocis
oraculo [oralmente] de Pio IX.
44
Arcebispo Fissore ao cardeal Berardi, 12 de fevereiro de 1875, em MB XI, 548.
45
Documenti XV, 77, em ASC A064: FDB 1028 A4. MB XI, 102s.
296
297
298
51
MB XI, 187s.
52
Dom Bosco ao cardeal Bizzarri (e aos cardeais Martinelli, Patrizi e De Luca), 11 de setembro
de 1875, em Epistolario IV Motto, 517-520. MB XI, 195s.
53
MB XI, 199.
54
Monsenhor Fratejacci a Dom Bosco, 17 de setembro e 17 de outubro de 1875; a primeira,
transcrita apenas parcialmente em Documenti XV, 259-262, em ASC A064: FDB 1031 A6-9; MB
XI, 568s. Estas cartas destilam malícia. Na segunda carta, o autor regozija-se pelo desaparecimento de
Vitelleschi: “Ele ditou seu último decreto!”. Como conclusão da história dos privilégios, Ceria cita as
“palavras de consolo” de outra carta de Fratejacci a Dom Bosco: “Isso confirmará que [a Congregação
Salesiana] não é obra dos homens, mas de Deus... A hostilidade gratuita e o ódio de que fala o sal-
mista... são os sinais distintivos de todas as obras desejadas por Deus... Seus inimigos têm muito pelo
que ter medo” (carta de 5 de dezembro de 1875, Documenti XV, 344-348, em ASC A064: FDB 1032
C6-10. MB XI, 477). O arcebispo Sbarretti sucedeu a Vitelleschi como secretário da Congregação
dos Bispos e Regulares. Pouco depois, o cardeal Inocêncio Ferrieri foi designado sucessor do cardeal
Bizzarri como prefeito da congregação. Na percepção dos salesianos, o cardeal Ferrieri herdou o manto
de “inimigo” por excelência de Dom Bosco em Roma.
299
55
Ver MB XI, 478s. A carta de Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 26 de dezembro de 1875, re-
flete a convicção de Dom Bosco de que teria havido uma suspensão: “Respeitosamente lhe suplico que
me diga as razões [...], para que me possa corrigir da falta que pudesse ter cometido” (MB XI, 493s).
56
Cônego Chiuso a Dom Bosco, 27 de dezembro de 1875, em MB XI, 485: “Suas faculdades
para confessar continuam válidas... Estas faculdades jamais lhe teriam faltado, se o senhor tivesse feito
no devido tempo o que é costume nestas circunstâncias”.
57
Padre Bonetti a Pio IX, 28 de dezembro de 1875, em MB XI, 482s.
300
Ruídos de batalha são ouvidos a partir das sacristias... Dois formidáveis opo-
nentes, armados até os dentes, estão a ponto de entrar em combate. Um
responde pelo nome de dom Revalenta, e é especialista em chifradas. O outro
se faz passar por um grande fazedor de milagres, e é popularmente conhecido
como Dom Bosco, ou seja, Dominus Lignus [Senhor Bosque]. A luta entre
os dois gigantes é séria. Dom Bosco, que conta com o apoio total do Vatica-
no, nega-se a submeter-se à autoridade de dom Revalenta. Como a Itália em
1848, declara sua independência. Dom Revalenta, ao contrário, procura sub-
meter com valentia o rebelde fazedor de milagres e jurou ir adiante até que o
58
“O trem da meia-noite. Dom Bosco em Roma”, La Lanterna del Ficcanaso, 6 de maio de
1876: “Os jornais deixaram até agora de publicar uma parte interessante da notícia. O assim chamado
homem santo de Valdocco, caçador hipócrita e sem medo de legados, conhecido por pessoas iludidas
com o nome de Dom João Bosco, foi suspenso a divinis pelo arcebispo Gastaldi. É verdade! Por uma
vez, o arcebispo é digno de elogio: cumpriu com o seu dever”. Segundo este jornal, Dom Bosco viajara
a Roma para que levantassem a sua suspensão! (G. Tuninetti, Gastaldi II, 271, nota 57). O mesmo
jornal retornou ao tema em 9-10 de outubro de 1876, “Dom Bosco e o arcebispo”: “A razão oficial por
trás da suspensão é a seguinte: como sem-vergonha que é, Dom Bosco utiliza o confessionário para
assustar e intimidar os retardados mentais e os velhos grupos de cérebro apodrecido que se confessam
com ele. O que ele busca são suas propriedades; tudo ou parte [...]. Mas a razão real é que o poder que
Dom Bosco conquistou em Turim é, talvez, maior que o do arcebispo Gastaldi, um simples caso de
ciúmes profissionais” (G. Tuninetti, “L’immagine”, 230).
59
“Intrigas clericais, do nosso correspondente, Turim, 1º de outubro de 1875”: “O arcebispo
governa o império diocesano com normas duras, absolutas. Como era de esperar, seus padres deixam-se
dobrar à sua vontade e a todos os seus caprichos. Contudo, um sacerdote, um só, declarou com sucesso
a sua independência: o reverendo Dom Bosco” (G. Tuninetti, Gastaldi II, 270, nota 55; cf. Documenti
XV, 282-284, em ASC A064: FDB 1032 C4-6).
301
consiga. O choque é iminente. Vamos ver quem será o primeiro a cair. Ambos
são fortes, ao menos extorquindo heranças em leito de morte.60
60
“Sobre a cidade” II Fischietto (O assobio), 14 de outubro de 1875, n. 123, 1 (G. Tuninetti,
“L’immagine”, 228. Cf. Documenti XV, 284f, em ASC A064: FDB 1032 C6f; MB XI, 490s). “Revalen-
ta” é o apelido que este periódico satírico usava para referir-se ao arcebispo Gastaldi. Em outros artigos,
explica o apelido: “l’uomo del bosco” (o homem dos bosques, homem selvagem). As caricaturas mostra-
vam-no com aspecto simiesco. Esses epítetos não se referem a nenhum personagem do acervo popular
ou do carnaval. Foram cunhados com toda probabilidade pelo próprio periódico. “Dominus Lignus”
é a tradução latina de “Dom Bosco”. Lignus, em latim, e Bosco, em piemontês significam “bosque”.
61
Para esta seção, ver especialmente G. Tuninetti, Gastaldi II, 271-274.
62
Procurador Menghini ao arcebispo Gastaldi, 22 de novembro de 1875 (ASC A109, Persone,
Franchetti: FDB 601 A2-4). Carlos Menghini, advogado da Congregação dos Bispos e Regulares,
prestava serviços legais perante as congregações romanas, para dom Gastaldi e para Dom Bosco.
Atuava como “contato” e “informante” para os dois, uma espécie de “agente duplo”, embora, até ser
substituído, tenha demonstrado grande generosidade para com Dom Bosco. Seu papel no conflito
seria mais bem definido como ambíguo.
302
63
Procurador Menghini a Dom Bosco, 7 de fevereiro de 1876 (Documenti XVI, 135-136, ASC
A065: FDB 1036 B10-11). Como já se mencionou no volume 2, na preparação das edições “oficiais”
impressas em latim e italiano das Constituições para os irmãos, Dom Bosco não fora fiel ao texto origi-
nal aprovado em 1874. Tanto as provas tipográficas como o texto latino publicado em meados ou final
de 1874 apresentam variantes consideráveis, que se referem não só ao uso do latim e ao estilo, mas tam-
bém aos conteúdos. A variante mais importante deste último tipo foi a nota introdutória no capítulo
sobre o noviciado, no sentido de que Pio IX vivae vocis oraculo teria permitido que os noviços pudessem
participar dos trabalhos da Congregação, não levando em conta o que a congregação romana aprovara.
O texto oficial italiano, impresso em algum momento de 1875, não traduzia nem o texto impresso em
latim, nem o texto manuscrito aprovado. Quanto ao estilo e uso, retorna à tradição anterior do texto
italiano (1864). Também introduz variantes em relação aos conteúdos. A principal delas é a redução do
capítulo sobre o noviciado, de 17 a 7 artigos. Estes são os fatos; por diversas razões, o assunto não foi
contemplado por Roma. Até 1900, os salesianos continuaram a ler as Constituições como Dom Bosco
as tinha editado em 1875. No Capítulo Geral VIII (1898), padre Joaquim Berto notou a discrepância
entre o texto em uso e o texto aprovado em 1874 em relação às maiorias necessárias para a eleição dos
superiores maiores. Como consequência desta “revelação” e da pesquisa que se seguiu, padre Rua apre-
sentou o texto das Constituições em 1900, à qual seguiu, em 1903, a tradução italiana.
303
Devo tratar sobre um sacerdote que fez muito bem em minha diocese, mas
que também causou, e está causando, muito dano ao meu governo, desau-
torizando-me perante os sacerdotes e pessoas de minha diocese e perante os
bispos das dioceses vizinhas. Agora está a ponto de obter novos privilégios;
não quero nunca mais envolver-me com ele... Percebo que a autoridade cen-
tral da Igreja não confia em mim; o que é um requisito prévio essencial para
o cumprimento de meus deveres.65
64
Arcebispo Gastaldi ao cardeal Ferrieri, 24 [20] de março de 1876 (MB XI, 472). Aqui, a data
que se dá é 24 de março; 20 de março é a data apresentada nos Documenti XVI, 186-187, ASC A065:
FDB 1037 B1-2.
65
Arcebispo Gastaldi a Pio IX, 3 de abril de 1876, MB XII, 642.
66
Para as atividades de Dom Bosco em Roma, cf. MB XII, 160s. “Ao perceber que a Santa Sé não
lhe concederia todos os privilégios ao mesmo tempo, precisou solicitá-los aos poucos, por partes” (MB
XII, 160). Para diversos decretos papais e a ampliação dos privilégios, cf. MB XII, 675. Ver também
Dom Bosco ao padre Cagliero, Roma, 27 de abril de 1876, em Epistolario III Ceria, 51.
67
“A autoridade episcopal”, assim escrevia dom Gastaldi ao procurador Menghini, “sofrerá gran-
demente, e com essa concessão se verá distorcida a vida da Igreja. Se for permitido aos jovens ir ao
catecismo, cumprir seus deveres de Páscoa, receber a confirmação etc. nas igrejas salesianas, então, uma
porção do rebanho estará separada da legítima atenção pastoral da paróquia, com grandes consequên-
cias” (arcebispo Gastaldi ao procurador Menghini, 5 de maio de 1876, em MB XI, 600).
304
Gastaldi... pensou que podia atingir Dom Bosco, mas errou. Durante sua
permanência em Roma, apresentou seu ultimato ao Vaticano. Ou é reconhe-
cido como mestre em sua casa, ou seja, em sua diocese, e lhe é permitido deter
68
“Uma perda irreparável”, Il Fischietto, 23 de maio de 1876, 72, em G. Tuninetti, Gastaldi
II, 272 e nota 61. O extrato é digno de nota: “Ouvem-se rumores maliciosos em toda a cidade, nestes
dias de mau tempo. Um rumor diz que dom Revalenta [Gastaldi], muito mais irritado pela atitude
onipotente de Dom Bosco, tem-no perseguido com tão desapiedada determinação que o homem pode
ver-se obrigado a abandonar as plácidas margens do Dora e do Pó, talvez para sempre. O conflito [...]
adquiriu proporções tão alarmantes que a Santa Barraca [Santa Baracca] de Roma precisou intervir
[...]. Não nos enganemos a nós mesmos; parece que Dominus Lignus [Dom Bosco] sofreu perseguição
suficiente da parte de dom Revalenta e há uma possibilidade real desta vez, de que nos deixe para sem-
pre. Que perda irreparável seria para nós! Quem fará os milagres se o fazedor de milagres voou? [...].
Contudo, não se lhe pode lançar a culpa. Se dom Revalenta não descansa até vê-lo morto, é inevitável
que, cedo ou tarde, o homem terá que fugir”.
69
“Um bispo renuncia”, La Libertà, 30 de janeiro de 1877 (G. Tuninetti, Gastaldi II, 272; em
MB XIII, 26s, nota 1). Dom Gastaldi defendia fortemente as opiniões de Rosmini, deu orientação
rosminiana aos estudos de seu seminário na arquidiocese e defendeu o filósofo dos ataques dos jesuítas
e da censura romana. Seu bem conhecido rosminianismo era, é claro, “uma mancha contra ele” em
Roma. De fato, foi admoestado por isso; ver G. Tuninetti, Gastaldi II, 307-329.
305
70
“O arcebispo de Turim”, La Gazzetta del Popolo, 31 de janeiro de 1877 (Documenti XVIII,
50; MB XIII, 28, nota 1). La Gazzetta continuou a contar a história e a escavar no conflito. O padre
exclaustrado Antônio Bertetti escrevia: “Aqui há dois santos, ambos especialistas em subtrair dinheiro
do povo para a maior glória de Deus. Por essa mesma glória, Gastaldi quer impor sua autoridade com
o báculo..., enquanto o outro, bom amante do próprio direito, professa piamente sua independência”
(“As tribulações do arcebispo Gastaldi”, em La Gazzetta del Popolo, 4 de fevereiro de 1877, # 35, 1, em
G. Tuninetti, Gastaldi II, 272, nota 64.)
71
“Nossa diocese está em perigo”, Il Fischietto, 3 de fevereiro de 1877, # 15 (G. Tuninetti,
Gastaldi II, 273, nota 65). Uma caricatura que o acompanhava mostrava dom Gastaldi e Dom Bosco
numa luta livre. Interpretado com feições simiescas, com o torso nu e mostrando bíceps fortes, dom
Gastaldi deitado no tapete, aparentemente derrubado por Dom Bosco. A legenda diz: “Apesar da nu-
trição de Revalenta [Gastaldi] e de seus músculos poderosos, proeminentes, sofreu uma queda em sua
luta sem quartel com o fazedor de milagres de Valdocco, o homem dos bosques”.
72
“Relatório sobre a viagem a Roma, de janeiro de 1877”, Lettere Pastorali, 353s., em G. Tuni-
netti, Gastaldi II, 273, nota 67.
306
Dom Bosco. Enquanto isso, sua Falsa Excelência está de volta e justifica
seu regresso afirmando convenientemente que foi obrigado pela demanda
popular.73
73
“Os bolsos do arcebispo”, La Gazzetta del Popolo, 25 de fevereiro de 1877, # 56 (G. Tuninet-
ti, Gastaldi II, 272, nota 64). O jornal continuou novamente com o tema em seus artigos de março; di-
rigindo-se ao Papa num parágrafo diz: “Pio, se te resta algum amor-próprio, faze-nos um grande favor:
retira o nosso Gastaldi e faze-o cardeal. Tu és o único que o pode fazer; e cala-o para sempre” (Ibid.).
74
“O silêncio de Dom Bosco...”, La Gazzetta del Popolo, 29 de abril de 1877, # 118 (G. Tuni-
netti, Gastaldi II, 273, nota 69).
75
Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 28 de março de 1877, em Epistolario III Ceria, 161.
76
G. Tuninetti, Gastaldi II, 272, nota 67.
307
O representante Tortone perante a Santa Sé, 19 de março de 1877 (G. Tuninetti, Gastaldi
77
II, 273-274, nota 69, que cita o documento dos Arquivos Secretos Vaticanos). Em carta anterior, 2 de
fevereiro de 1877, monsenhor Tortone declarava que dom Gastaldi dissera a um amigo de confiança
que tinha a intenção de renunciar e que a principal razão era a oposição de Dom Bosco. E acrescentou:
“O arcebispo Gastaldi possui profunda sabedoria, é animado pela piedade autêntica e impelido por um
zelo incansável. Com essas qualidades, poderia ser um grande bispo, desde que isso fosse acompanhado
de igual prudência, paciência e mansidão”. Mencionou também que o clero se queixava de seu “recurso
demasiadamente frequente à suspensão a divinis” (Ibid.).
308
78
“L’arcivescovo di Torino e la Congregazione di San Francesco di Sales in Torino”, em Docu
menti XVIII, 86-88, ASC A067: FDB 1046 A9-11; MB XIII, 330s.
79
Maria Ausiliatrice col racconto di alcune grazie ottenute nel primo settennio dalla Consacrazione
della Chiesa a Lei dedicata in Torino, aos cuidados do sacerdote João Bosco. Turim: Tipografia e Libreria
dell’Oratorio di San Francesco di Sales, 1875. Foi publicada nas Letture Cattoliche 23: 9 de setembro
de 1875 e reimpressa em 1877. Ver texto em OE XXVI, 304-623. La nuvoletta del Carmelo ossia la
divozione a Maria Ausiliatrice premiata di nuove grazie, aos cuidados do sacerdote João Bosco, San Pier
D’Arena: Tipografia e Libreria di San Vincenzo de’ Paoli, 1877. Foi publicada nas Letture Cattoliche,
25:5, maio de 1877. Ver texto em OE XXVIII, 449-565.
80
O arcebispo Gastaldi a Dom Bosco, 17 de maio de 1877, em Documenti XVIII, 142, ASC
A067: FDB 1047 A5.
309
das vidas de santos e que estava fazendo o que se fazia em outros santuários
e em suas publicações, por exemplo, La Salette, Lourdes. Ceria observa que
o arcebispo não ficou satisfeito com a explicação e a discussão continuou
durante algum tempo.
81
Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 18 de maio de 1877, em Epistolario III Ceria, 175-176,
MB XI, 450s.
310
82
Pode-se ler uma crônica da visita em MB XIII, 133s, 139s.
83
Dom Bosco ao padre Cagliero, 30 de junho, e ao padre Lasagna, 16 de julho de 1877, em
Epistolario III Ceria, 194-195, 198-200. Ao padre Cagliero, em MB XIII, 152.
311
312
313
314
Sobre esta matéria, deve-se recordar que Dom Bosco obtivera uma dis-
pensa, vivae voci oraculo, de Pio IX. A afirmação de Dom Bosco ao cardeal
Ferrieri é inequívoca: Pio IX concedera, primeiramente, uma dispensa limi-
tada aos alunos salesianos que desejassem entrar na congregação e, depois,
generalizou o privilégio. As duas concessões foram registradas na Congrega-
ção dos Bispos e Regulares.99 Aparentemente, porém, apesar das concessões,
o arcebispo Gastaldi e, neste caso, o prefeito da congregação romana, cardeal
Ferrieri, exigiram que a prescrição canônica fosse respeitada sem exceções. Te-
mos aqui mais um exemplo de duas posições em conflito: o privilégio papal
a favor de Dom Bosco contra a prática canônica da congregação romana em
apoio à autoridade episcopal. É neste contexto que, parece, deve ser interpre-
tada a resposta do cardeal Ferrieri a Dom Bosco:
Somente esta sagrada congregação pode eximir da observância estrita dos decretos
papais [do direito canônico em vigor] relativas à admissão dos candidatos à Con-
gregação Salesiana. Perceba-se a importância que tem para seu instituto que o so-
licitante apresente as cartas testemunhais de seus respectivos ordinários, pois elas
informam sobre a boa ou má conduta de tais solicitantes. Ao mesmo tempo em
que se solicita o seu escrupuloso respeito aos decretos papais sobre este assunto,
entende-se que não se lhe proíbe a apresentação dos documentos pertinentes, nos
quais parece basear sua convicção de que estão dispensados de tal observância.100
98
Para a afirmação de Dom Bosco ao cardeal Ferrieri, ver MB XIII, 337.
99
MB XIII, 350. Essas concessões não lhe foram dadas por escrito, mas oralmente (vivae vocis
oraculo). Foram notificadas (e arquivadas?) à congregação romana, ver MB XIII, 386.
100
Para a história e a relativa correspondência, ver MB XIII, 332s.
101
Dom Bosco entendeu, também, que era uma proibição clara. Ao apresentar ao Papa o memorando
que enviara anteriormente ao cardeal, fazia notar: “O arcebispo... afirmava... que sua carta fora mal-interpre-
tada. Apesar disso, quem a lê, eu acredito, só pode entendê-la como uma real proibição” (MB XIII, 353s).
315
102
Padre Lazzero ao cônego Chiaverotti, 25 de agosto de 1877, em MB XIII, 334s.
103
MB XIII, 336. Padre Lazzero especificava que a permissão seria por escrito, como cautela
adicional.
104
Ver mais adiante o Memorando de 15 de outubro de 1877, nota 114.
105
A redação da proibição estabelecida na carta é, sem dúvida, obscura. De fato, prestar-se-ia a
uma interpretação generalizada entendida à margem do específico contexto diocesano. Nenhum sacer-
dote proveniente de outra diocese, por qualquer motivo, poderia celebrar a missa em qualquer igreja
ou oratório sem apresentar suas credenciais ao arcebispo e obter a licença. Por outro lado, o arcebispo
estabelecera a rigorosa política no recente calendário litúrgico: nenhum sacerdote, diocesano ou religio-
so, poderia celebrar a missa ou administrar os sacramentos nas igrejas da arquidiocese sem a sua licença
explícita, não necessariamente por escrito. Assim, dom Gastaldi explicou a proibição ao cardeal Ferrieri:
“As palavras ‘nem ele nem qualquer membro professso etc.’ foram acrescentadas unicamente para indi-
car que, embora o padre Perenchio fosse verdadeiro noviço ou membro professo..., o arcebispo poderia
proibir de celebrar a missa nas igrejas da diocese... Mas o decreto não cancelava qualquer autorização
explícita emitida anteriormente, em força da qual havia exercido o ministério um considerável número
de sacerdotes ao longo dos anos” (dom Gastaldi ao cardeal Ferrieri, 19-28 de setembro de 1877, em
Documenti XVIII, 236 -243, em ASC A067: FDB 1048 D3-10; em MB XIII, 339).
316
Apelações e contra-apelações
Este episódio, somado aos demais que o precederam e acompanharam, pro-
duziu um intenso intercâmbio epistolar ao longo da segunda metade de 1877.
Padre Rua ao cônego Maffei, 4 de novembro de 1877, em MB XIII, 356s. A resposta, cônego
107
317
318
109
Dom Bosco ao cardeal Ferrieri, 14 de setembro e 12 de outubro de 1877, em MB XIII, 337s.
110
Cardeal Ferrieri a Dom Bosco, 10 de outubro de 1877, em MB XIII, 349.
111
Cardeal Ferrieri a Dom Bosco, 14 de novembro de 1877, em MB XIII, 360.
112
L’arcivescovo di Torino e la Congregazione di San Francesco di Sales (detta perciò salesiana).
Stampato riservato per gli eminentissimi cardinali ed alcuni arcivescovi e vescovi [O arcebispo de
Turim e a Congregação de São Francisco de Sales (por isso, chamada comumente salesiana). Impresso
exclusivo para os eminentíssimos cardeais e alguns arcebispos e bispos]. Turim: Marietti, 1877, em
Documenti XVIII, 337-348, em ASC A067: FDB 1052 A5-B4; MB XIII, 353. O folheto de 11 páginas
tratava principalmente das queixas relacionadas ao ano de 1877.
113
Dom Bosco como em Documenti XVIII, 349-354, em ASC A067, FDB 1052 B5-10.
114
MB XIII, 371.
115
Padre Murialdo ao arcebispo Gastaldi, 18 de setembro; padre Testa a Dom Bosco, 29 de
setembro de 1877, em MB XIII, 345s.
319
resumo dos papéis de Gastaldi e do padre Domingos Franchetti; padre Tosa ao arcebispo Gastaldi, 28
de março de 1878, em MB XIII, 508s.
320
1874
Dom Gastaldi acusa Dom Bosco de insubordinação. Dificuldades com
o retiro espiritual em Lanzo (MB X, 828s).
1875
A Santa Sé submete a querela entre dom Gastaldi e Dom Bosco à arbi-
tragem do arcebispo Celestino Fissore, de Vercelli (MB XI, 89s).
1875-1876
Dificuldades de Dom Bosco com dom Gastaldi em relação ao projeto
dos Filhos de Maria e os Salesianos Cooperadores (MB XI, 36s, 53s, 69s).
Dom Bosco suspenso de ouvir confissões (MB XI, 479s).
1877
Dificuldades de Dom Bosco com dom Gastaldi em relação à publicação
das graças de Maria Auxiliadora (MB XIII, 367s; Epistolario Ceria III, 175).
Problemas dos padres Rocca, Perenchio e Lazzero com dom Gastaldi
(XIII MB, 331s).
Conflito entre dom Gastaldi e Dom Bosco pela publicação de uma carta
anônima crítica contra Gastaldi (MB XIII, 376s; XIV, 256s). Problemas rela-
tivos ao libelo (MB XIII, 353s).
Dificuldades de Dom Bosco e padre Bonetti com dom Gastaldi em
relação à igreja de São João Evangelista como monumento a Pio IX (MB
XIII, 574s).
321
1878-1879
Conflito de Dom Bosco e padre Bonetti com dom Gastaldi em relação ao
Oratório Santa Teresa, para meninas, das Filhas de Maria Auxiliadora em Chieri;
padre Bonetti é suspenso de ouvir confissões (MB XIII, 703s; XIV, 231s).
1880-1881
A questão Bonetti é levada perante a Congregação do Concílio (MB
XV, 188s).
1878-1882
O conflito entre Dom Bosco e dom Gastaldi sobre outros sete panfletos
anônimos; processo de dom Gastaldi contra Dom Bosco por difamação e o
julgamento perante o Santo Ofício (MB XV, 227s; 282s).
1882
Leão XIII ordena a reconciliação entre dom Gastaldi e Dom Bosco-pa-
dre Bonetti, segundo os termos do documento (Concordia) desfavorável aos
salesianos (MB XV, 263s).
O documento é assinado com relutância [julho] pelo procurador salesia-
no, padre Dalmazzo (MB XV, 264s).
Consagração da igreja de São João Evangelista, feita por dom Gastaldi
(MB XV, 378s).
1883
Morte repentina de dom Gastaldi (1o de abril, domingo de Páscoa). Pa-
dre Bonetti retorna a Chieri; avaliação de Ceria (MB XVI, 78s).
322
1
MB XIII, 507. Dom Bosco, parece, dispensou o advogado Menghini que desponta, desde
então, como conselheiro de dom Gastaldi em Roma.
323
2
Para a controvérsia sobre a anônima Carta do salesiano cooperador e a relativa correspondência,
ver MB XIII, 376s.
3
“Contudo, um autor anônimo, que se identificava como “cooperador salesiano”, publicou
uma carta [aberta] em defesa de Dom Bosco. Seu conteúdo é verídico, mas se apresenta com certo tom
hostil e desdenhoso. O arcebispo tomou-o como grande ofensa” (Barberis, Cronichetta, caderno 13,
17-18, em ASC A000: FDB 845 C2-3).
324
4
Cônego Maffei a Dom Bosco, 5 de dezembro; Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 9 de dezem-
bro; cônego Maffei a Dom Bosco, 10 de dezembro; Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 12 de dezembro
de 1877, em MB XIII, 376s; Epistolario III Ceria, 248-250.
5
Documenti XVIII, 426f, em ASC A067: FDB 1051 D11f.
6
“Risposte alle accuse della lettera stampata a Torino coi tipi di Camilla e Bartolero “[Réplicas
às acusações contidas na carta publicada em Turim pela Tipografia de Camilla e Bartolero]. Turim, 21
de dezembro de 1877, em Documenti XVIII, 430-433, em ASC A067: FDB 1051 E3-6.
7
A data, segundo as notas do padre Berto, em FDB 662 C4.
8
Para a declaração supostamente publicada no Boletim Salesiano, ver MB XIII, 384. Carta do padre
Bardessono a Dom Bosco, 20 de janeiro de 1878, em Documenti XIX, 52 [51-54], em ASC A068: FDB
1053 D2 [1-4]; extrato em MB XIII, 342. Padre Maximiliano Bardessono, estimado sacerdote conser-
vador da arquidiocese, era uma das “vítimas ilustres de Gastaldi”; na longa carta, marcada por amargas
palavras contra o arcebispo e sua cúria, elogiava a declaração de Dom Bosco pela sua calma, prudência e
discrição. Para um juízo negativo sobre Bardessono e sua carta, ver G. Tuninetti, Gastaldi II, 61.
325
326
14
Para o jornal de Gastaldi, Il Conciliatore, ver G. Tuninetti, Gastaldi I, 53-88. Durante os anos
da Revolução Liberal no Piemonte (1848), padre Lourenço Gastaldi participou do diálogo político e
sentiu-se muito atraído pelas ideias do grande filósofo e teólogo Antônio Rosmini-Serbati, cujos escri-
tos foram condenados mais tarde.
15
Piccolo saggio sulle dottrine di mons. Gastaldi, arcivescovo di Torino, preceduto da una introdu-
zione e seguito da alcune appendici [Breve ensaio sobre a doutrina de dom Gastaldi, arcebispo de Turim,
precedido de uma introdução e seguido de alguns apêndices]. Turim: Tip. Alessandro Fina, 1899, 155p.
16
L’arcivescovo di Torino, D. Bosco e D. Oddenino, ossia fatti buffi, seri e dolorosi, raccontati da
un chierese [O arcebispo de Turim, Dom Bosco e o padre Oddenino. Incidentes curiosos, sérios e dolorosos,
narrados por um habitante de Chieri]. Turim: Tip. G. Bruno e C., 1879, 52p. O prólogo deste texto é
assinado por “um pai de família”.
17
Breve ensaio, 27, 38-39, em G. Tuninetti, Gastaldi II, 280-281. Tiago Margotti (1823-1887)
foi o editor do importante periódico católico conservador L’Unità Cattolica.
327
Dom Bosco não leu o livro; conversando, disse-nos que não tinha tempo e que
não o leria. Disse-lhe que seria bom saber o que continha e respondeu-me que,
nesse momento, não podia perder tempo. [E acrescentou:] “Algumas pessoas
falaram-me a respeito e informaram-me de algumas coisas que contém. Isso é
tudo”. Quando lhe perguntaram se sabia quem era o autor e ou se tinha alguma
suspeição nesse sentido, respondeu que realmente não tinha nem ideia. O fato é
que aquilo que o livro diz é, em grande parte, em louvor de Dom Bosco e serve
para fazer com seu nome seja sempre mais conhecido entre o clero. O reverso da
medalha, porém, é que criou problemas para Dom Bosco. O livro (ou alguma
18
Citação livre de: “Qui giace monsignor tale / Cui stava meglio il laccio che il pastorale”, cf.
História de Chieri, 38, em F. Desramaut, Don Bosco, 1146, nota 54.
328
outra coisa) atingiu consideravelmente o arcebispo, pois ele pediu a Dom Bosco
que fosse vê-lo. Tiveram uma longa conversa; sobre o quê, ninguém sabe. Mais
tarde, o próprio arcebispo escreveu para dizer que manteria firmes as ordena-
ções no domingo da Trindade e que, se houvesse alguns salesianos para serem
ordenados, as adiaria. Esperemos o melhor.19
G. Barberis, Cronichetta, caderno 13, 38-39, em ASC A000: FDB 845 D11-12.
19
Dom Bosco ao cardeal Oreglia, 25 de março de 1878, em Epistolario III Ceria, 327-332. Os
20
temas tratados na audiência foram: a igreja de São João Evangelista e outras obras; a “adesão” do Papa
como salesiano cooperador; a necessidade de trabalhar pelos jovens em perigo; nomeação de um cardeal
protetor (cardeal Oreglia); a “inacabada questão” relativa à Congregação Salesiana e as dificuldades com
o arcebispo Gastaldi; favores, conselhos e bênçãos.
329
330
23
João Bonetti era um dos primeiros seguidores de Dom Bosco, ainda aos 17 anos de idade, um
pouco mais velho que o colega Domingos Sávio. Na fundação da Sociedade em 18 de dezembro de
1859, Bonetti, ainda não ordenado, foi eleito membro do Conselho.
331
24
Veja, por exemplo, Dom Bosco ao cardeal Alexandre Franchi [secretário de Estado], 28 de
maio de 1878 (Epistolario III Ceria, 348-349). Esta carta foi escrita como resposta a uma do cardeal,
para compensar as cartas de Gastaldi a Roma queixando-se sobre a igreja de São João Evangelista e
sobre o Boletim Salesiano. Depois de afirmar que o Boletim Salesiano era uma publicação do orfanato
de São Vicente, de Sampierdarena (Gênova), não estando, portanto sob a jurisdição de Gastaldi, Dom
Bosco escreve: “Eu não estou competindo com ninguém; os outros é que estão competindo comigo
[...]. Contudo, o arcebispo garantiu que [...] no futuro não se fará menção da igreja como monumento
a Pio IX. Prometemos isso apesar de os salesianos cooperadores considerarem injusta a proibição de
construir um monumento em memória do fundador de sua associação”.
25
Bollettino Salesiano, junho de 1878, 4-5, em MB XIII, 585s.
26
G. Barberis, Cronichetta, 18 de maio de 1878, caderno 13, 61-64 em ASC A000: FDB 846 A10-B1.
27
Arcebispo Gastaldi a Dom Bosco, 20 de julho de 1878, Documenti XIX, 202-203, em ASC
A0068: FDB 1056 A8-9; MB XIII, 587.
332
28
A “equipe editorial do Boletim Salesiano” a Dom Bosco, Sampierdarena, 1º de agosto de 1878,
em MB XIII, 592s.
29
Dom Bosco ao arcebispo Gastaldi, 6 de agosto de 1878, em Epistolario III Ceria, 373-374.
30
MB XIII, 597s.
31
Unità Cattolica, 18 de agosto de 1878, Documenti XIX, 225-226, em ASC A0068: FDB 1056 C7-8.
32
Para a história do Oratório de Santa Teresa e seus problemas, ver MB XIII, 700s.
333
sua própria casa, uma vez que as salesianas pertenciam à Congregação Sale-
siana. Por isso, sentiu muito pela decisão do arcebispo. Refere a sua decepção
ao bispo Pedro de Gaudenzi: “Uma boa sonora bofetada no rosto teria sido
menos humilhante para mim do que ter negado a permissão para benzer a
capela”.33 Além disso, como era de esperar, as instruções do arcebispo especi-
ficavam que os serviços religiosos na capela seriam celebrados apenas ocasio-
nalmente e que nunca entrariam em conflito com as atividades da paróquia.
O Oratório obteve grande sucesso, devido também ao fato de a paróquia
carecer de todo tipo de atividades juvenis para as meninas. As Filhas de Maria
Auxiliadora, jovens e dinâmicas, apoiadas pelo entusiasmo incontido e pelo
zelo do padre Bonetti, criaram um concorrido centro de atividades para as
meninas da região. Além de proporcionar as atividades tradicionais de um
oratório salesiano, as irmãs acrescentaram a dimensão educativa. Iniciaram-
-se as aulas dominicais para ensinar as meninas a ler e escrever, especialmente
as mais pobres que trabalhavam em muitas pequenas fábricas de Chieri. As
aulas foram popularizadas em seguida. Em dezembro, as jovens que partici-
pavam das atividades do Oratório chegavam a 400 e tornava-se evidente que
a paróquia, em grande parte, saía perdendo.
O clero de Chieri estava dividido sobre as atividades do Oratório. Um
grupo, entre os quais se destacava o cônego Mateus Sona, apoiava firme-
mente o trabalho. Distinguindo-se na crista da popularidade, padre Bonetti,
um pouco ingenuamente, pensou ter ganhado o combate. A reclamação do
padre Oddenino, contudo, não demorou muito, inicialmente a viva voz e,
em seguida, por escrito. No início de dezembro, escreveu a Dom Bosco e ao
arcebispo.34 A queixa era que os serviços religiosos em Santa Teresa eram
celebrados “ao mesmo tempo” dos da paróquia. Isso era um desafio ao acordo
feito anteriormente.
Respondendo por Dom Bosco, padre Bonetti explicou ao pároco que
os serviços no Oratório em Chieri eram os comuns a todos os oratórios e
que ninguém jamais se queixara. Além disso, o número do Boletim Salesiano
de 1º de janeiro de 1879 publicava um artigo do padre Bonetti intitulado:
“Uma esperança realizada: o Oratório de Santa Teresa de Chieri”. Depois de
descrever a caminhada venturosa do Oratório, concluía: “Para dar uma visão
completa, talvez devesse falar também de alguém que recentemente liderou
a oposição contra o Oratório. Posso fazê-lo num próximo número, caso seja
Dom Bosco ao bispo Gaudenzi, 6 de outubro de 1878, em Epistolario III Ceria, 392.
33
Padre Oddenino a Dom Bosco, 3 de dezembro de 1878, Documenti XLV, 6, em ASC A094:
34
334
Padre Oddenino a Dom Bosco, 28 de dezembro de 1878, Documenti XLV, 7f, em ASC A094:
36
335
40
Dom Bosco ao professor Pedro Vallauri, 9 de fevereiro de 1879, em Epistolario III Ceria, 444.
41
Dom Bosco ao cardeal Ferrieri, s/d, mas escrita pelo padre Berto em fevereiro de 1879, em
Epistolario III Ceria, 445-446; MB XIV, 235s.
42
Carta em Riabilitazione, Sommario, 20-21, em ASC A118: Persone, Gastaldi e i salesiani: FDB
635 E5-6; MB XIV, 271.
43
Pedido em Riabilitazione, Sommario, 23-25, em ASC A118: Persone, Gastaldi e i salesiani:
FDB 635 E8-10.
44
Pedidos em MB XIV, 704s.
45
Carlos Cays a Dom Bosco, 21 de fevereiro de 1879, em MB XIV, 699s.
336
O que posso dizer? Simplesmente que não pode fazer nada com aquele clero.
Fiz uma visita ali e convoquei o clero para uma reunião. O vigário forâneo,
o pároco e vários cônegos concordaram que não seria prudente que padre
Bonetti voltasse para Chieri”.46
46
Padre Rua ao padre Bonetti, 22 de março de 1879, Documenti XLV, 20, em ASC A094: FDB 1194
D8; MB XIV, 237. Durante todo o conflito, padre Rua atuou discretamente para pôr as partes de acordo.
47
Cônego Chiaverotti ao padre Bonetti, 18 de abril de 1879, em ASC A113: Persone, Gastaldi
e i salesiani: FDB 644 D11.
48
Cf. MB XIV, 226, onde Ceria defende padre Bonetti por recusar as condições.
49
Original da carta do padre Bonetti, em ASC A115: Persone, Gastaldi e i salesiani: FDB 633
B11-C2, transcrita em Documenti XLV, 2122, em ASC A094: FDB 1194 D9-10. Padre Ceria afirma
em MB XIV, 237, que a carta era confidencial a um amigo, que a tornara pública. Contudo, o original
das mãos do padre Bonetti não o avaliza; a carta começa assim: “Roma, 24 de abril de 1879. – Às
meninas do Oratório de Santa Teresa”.
50
Cartas de 28 de março e 20 e 28 de abril de 1879, Documenti XLV, 23-24, em ASC A094:
FDB 1194 D11-E3. O cônego Sona, de Chieri, posicionou-se do lado do padre Bonetti.
51
Padre Bonetti ao arcebispo Gastaldi, 2 de maio de 1879, em Documenti XLV, 28, ASC A094:
FDB 1194 E4; MB XIV, 228s.; padre Bonetti a Leão XIII, 4 de maio de 1879, em Riabilitazione, Somma-
337
rio, 34-43, ASC A115: Persone, Gastaldi e i salesiani: FDB 636 A7-B4. Para a descrição de Ceria sobre as
atitudes do arcebispo relativas às faculdades de Bonetti, ver MB XIV, 240.
52
MB XIV, 240s; o arcebispo Gastaldi a Dom Bosco, 27 de maio de 1879, em Documenti XX,
203-204, ASC A069: FDB 1061 D5-6. Para o apelo do padre Bonetti a Leão XIII, ver MB XIV, 239.
338
e sua direção espiritual por parte dos salesianos. Não fazia referência nem
a Chieri nem ao padre Bonetti, mas sua declaração pode dar a entender
que essas instituições e sua direção espiritual estavam sob o controle do
ordinário, e que o ministério dos salesianos em relação a elas “limita-se à
administração dos sacramentos e à pregação da Palavra de Deus e só como
o especifiquem os ordinários”.53
O verão de 1879 foi difícil para Dom Bosco também por outros mo-
tivos. Entre outras coisas, foi o verão em que o governo fechou a escola
do Oratório.
Padre Bonetti estava ansioso para que fosse levantada sua suspensão; ao
não encontrar audiência em Turim, apelou para Roma. Em julho e agosto,
expôs o caso por carta a dom Isidoro Verga, secretário da Congregação do
Concílio, e ao procurador Leonori, que se comprometeu a apresentar sua
questão.54 No entanto, apesar do arcebispo Verga e dos esforços do procura-
dor, em outubro ainda não se tivera qualquer progresso.
Padre Bonetti decidiu então fazer um quarto apelo ao Papa, por meio
do cardeal Nina, prefeito da Congregação do Concílio, recentemente no-
meado protetor da Sociedade Salesiana. O pedido seria tramitado pelo arce-
bispo Verga, secretário da mesma congregação e pelo procurador Leonori.55
Dom Bosco escreveu uma defesa em favor do padre Bonetti; elogiava-o sem
reservas como “um religioso louvável e exemplar”, “um zeloso e abnegado
sacerdote” em seu ministério em Chieri.56 Entretanto, o arcebispo Verga e o
procurador Leonori pensaram que, nesse momento, seria melhor não recor-
rer a Leão XIII.
Dom Bosco deu um passo a mais; em janeiro de 1880, nomeou padre
Francisco Dalmazzo seu procurador permanente em Roma.57 A primeira mis-
são do padre Dalmazzo foi avivar o caso Bonetti perante a Congregação do
Concílio. Atuou como representante de Dom Bosco até o final do conflito e
agosto de 1879 e 12 de janeiro de 1880), ver MB XIV, 220s, esp. 181 e 224s.
54
Padre Bonetti ao arcebispo Isidoro Verga, 16 de julho e 20 de agosto de 1879; padre Bonetti
ao procurador Leonori, 27 de julho de 1879, em Documenti XLIV, 33-34, ASC A093: FDB 1194
E9-10; MB XIV, 246s.
55
Padre Bonetti ao cardeal Nina; padre Bonetti ao procurador Leonori, 24 de outubro de 1879,
em Documenti XLIV, 39 e 42, ASC A093: FDB 1190 E7 e E10. A comunicação de Dom Bosco sobre
a conduta do padre Bonetti confirma o que este escrevera a Leonori em 27 de julho: “Minha censura
levantou a grave suspeita de que eu pudesse ser culpado de conduta imoral”.
56
Cf. a afirmação de Dom Bosco de 28 de outubro, em Epistolario III Ceria, 528-529; MB XIV, 252s.
57
Dom Bosco ao cardeal Nina, 12 de janeiro de 1880, em Epistolario III Ceria, 539-540; MB
XIV, 224s.
339
Se tivesse podido, nos últimos três anos ou mesmo neste ano, obter uma
audiência com o cardeal Ferrieri, teria podido dar-lhe alguma explicação que
pedisse. Isso teria evitado muitos problemas e muito prejuízo à nossa con-
gregação. Contudo, não pude fazê-lo. Não posso ocultar minha amarga e
dolorosa decepção por não poder apresentar minhas explicações. Eu e todos
os salesianos nos comprometemos a trabalhar pela Igreja até nosso último
alento. Não peço ajuda material. Eu só peço a consideração e a caridade, que
[acredito] é compatível com a autoridade na Igreja.
58
Padre Dalmazzo ao padre Rua, janeiro? de 1880, em Documenti XXII, 69, ASC A071: FDB
1069 C1, menção da audiência e hostilidade de Ferrieri; MB XIV, 447s, relato da primeira audiência
de Dalmazzo com o cardeal Ferrieri.
59
Padre Berto ao padre Rua, 18 de abril de 1880 e as recompilações do padre Berto, em MB
XIV, 462s.
60
Notas do padre Berto, em Documenti XXII, 87-88; MB XIV, 451. Diz-se tradicionalmente que
Leão XIII pediu a Dom Bosco que se encarregasse da construção da igreja do Sagrado Coração, quando
o projeto parou, e este exclamou: “Considero o desejo do Papa como uma ordem; eu obedeço!” (MB
XIV, 577; cf. Documenti XXII, 90-92, em ASC A071: FDB 1069 D10-12). Parece, contudo, que em
sua audiência com Leão XIII, 5 de abril de 1880, a igreja não foi mencionada (MB XIV, 572s). Antes de
deixar Roma, porém, ele escreveu uma proposta bem pensada ao cardeal vigário, pedindo-lhe que fosse
apresentada ao Papa para sua aprovação e bênção (Memorando de 10 de abril de 1880, MB XIV, 577s.).
Leão XIII parece ter ficado satisfeito e Dom Bosco deu andamento ao projeto (F. Desramaut, Don Bosco,
1141-1142). Ver mais detalhes sobre a igreja do Sagrado Coração nas p. 55-58.
340
Palavras ociosas? Não; quando alguém [Dom Bosco?] passa por uma monta-
nha de problemas para advertir o responsável [Gastaldi?]: “Atenção; esta erva
com que vos alimentais e dais em pasto ao vosso (rebanho) é venenosa”. Para
apresentar a própria defesa, não será preciso valorizar os perigos, contemplar
o terreno, descobrir as possíveis armas usadas pelo atacante?63
Para a parte final do conflito até sua conclusão, ver o tratamento detalhado de Ceria em MB
61
XV, 188s. Para toda esta seção, para a apresentação, interpretação e algumas referências, acompanho F.
Desramaut, Don Bosco, 1137ss, e Chronologie.
62
Dom Bosco ao bispo Gaudenzi, 6 de outubro de 1878, em Epistolario III Ceria, 391-392.
63
Documenti XIX, 255, em ASC A068: FDB 1057 A1 (fonte desconhecida). Conversa atenuada
em MB XIII, 885.
341
Parece que Dom Bosco dissesse que as várias ações do arcebispo foram
ruinosas para a Igreja e nocivas para a Congregação Salesiana e que ele devia
encontrar a maneira de defender-se a si mesmo e à Congregação contra os
inimigos. Se assim fosse, seria preciso concluir que, enquanto em 1878 e par-
te de 1879, Gastaldi continuava a fazer propostas formais, agora, para Dom
Bosco, acabara qualquer possibilidade de acordo.
Pode-se entender, então, o desgosto de Dom Bosco quando, em 22 de
outubro de 1880, recebeu uma carta do arcebispo repreendendo-o pela falta
de respeito que lhe demonstraram alguns meninos de San Benigno. Sem se
anunciar, visitara a escola salesiana com dois cônegos. Nas oficinas, alguns
meninos não o cumprimentaram corretamente e alguns clérigos salesianos
que estavam no pátio, ao vê-lo, “saíram correndo”. Ele queria que Dom Bos-
co recordasse a todos que estivessem sob a sua direção, “o caráter excelso e
divino do episcopado e a obrigação que tinham... de prestar-lhe as honras
que lhe eram devidas. Pois o bispo participa das ações do mesmo caráter de
nosso Salvador Jesus Cristo; o caráter de Cristo continua na terra na pessoa
dos bispos, que partilham com Cristo a plenitude do sacerdócio”.64 Isso fez
Dom Bosco rir ou chorar?
A ruptura definitiva do arcebispo com Dom Bosco deu-se em dezembro
de 1880, e por uma razão muito mais grave do que o incidente de falta de
respeito em San Benigno. Foi provocada por uma sentença desfavorável ao
arcebispo, emitida contra ele pela Congregação do Concílio no caso da sus-
pensão do padre Bonetti. A humilhação da derrota foi agravada pela maneira
como a decisão lhe foi transmitida.
Depois de longa espera, a questão do padre Bonetti foi apresentada antes
da reunião geral da Congregação do Concílio em meados de novembro de
1880, talvez por causa do novo apelo feito por ele diretamente ao Papa.65 O
procurador Leonori foi devidamente avisado sobre o processo; sem demo-
ra, ele informou a Dom Bosco em Turim. Inexplicavelmente, ele também
anexava uma carta com o carimbo da Congregação do Concílio dirigida ao
arcebispo para comunicar-lhe sobre o andamento do processo.66
Em 3 de dezembro, Dom Bosco, que estava em San Benigno nesse mo-
mento, encarregou padre Luís Deppert de entregar a carta. Este procurou
64
Arcebispo Gastaldi a Dom Bosco, 22 de outubro de 1880, em MB XIV, 801.
65
MB XIV, 250: “Cansado de estar à espera durante vinte e dois meses, padre Bonetti, em 17
de novembro de 1880, enviou diretamente ao Papa a súplica de 24 de outubro de 1879, mostrada pelo
arcebispo Verga”. F. Desramaut, Chronologie, 121, coloca a data de 10 de outubro.
66
Procurador Leonori a Dom Bosco, 29 de novembro de 1880, em Documenti XLV, 47, ASC
A094: FDB 1195 A11. Descrição em MB XIV, 250s.
342
67
Padre Deppert ao padre Dalmazzo, 18 de dezembro de 1880, em Documenti XLV, 52-53, ASC
A094: FDB 1195 B4-5. Descrição em MB XIV, 250s.
68
Arcebispo Gastaldi ao cardeal Caterini, 5 de dezembro de 1880, em Documenti XLV, 49-50,
ASC A094: FDB 1195 B1-2; MB XIV, 252.
69
Cônego Chiuso ao padre Bonetti, 24 de dezembro de 1880, em Documenti XLV, 54, ASC
A094: FDB 1195 B6; MB XV, 190.
70
Cônego Lione ao arcebispo Gastaldi, 5 de dezembro de 1880; o pároco Oddenino ao arcebispo
Gastaldi, 13 de dezembro de 1880, em Reabilitazione, Summarium, Addendum, 1-2 e 5-8, ASC A118:
Persone, Gastaldi e i salesiani, FDB 636 C5-6 e 7-12, com anotações marginais ultrajantes à mão.
343
71
Deposição de José Corno, secretário do arcebispo, no Processiculus de 28 de junho de 1917 (F.
Desramaut, Don Bosco, 1151, nota 80). Os Processiculi, pequenos processos, eram investigações secre-
tas realizadas durante o processo de beatificação de Dom Bosco entre 1915 e 1922. Foram necessárias
as deposições apresentadas contra Dom Bosco pelo advogado de dom Gastaldi, cônego Colomiatti.
72
Para a história, ver MB XV, 233s. Seria esta a posição de dom Gastaldi, defendida por Leoncini,
retratada finalmente por Pellicani. Em todo caso, a dedução de Leoncini era falsa; padre Turchi, que também
foi interrogado na época, confessou-se mais tarde autor do primeiro Presente e colaborador do segundo.
73
Arcebispo Gastaldi ao cardeal Caterini, 29 de dezembro de 1880, em Documenti XLV, 55-64,
ASC A094: FDB 1195 B7-C4; MB XV, 233.
74
Monsenhor Tortone à Santa Sé, 30 de dezembro de 1880, em Documenti XLV, 65-68, ASC
A094, em FDB 1195 C5-8, onde também podem ser lidos, impressos no interior do texto, alguns
parágrafos entre parêntesis de comentários díspares sobre a autoria (Tortone).
75
Apesar de os salesianos o terem considerado como um dos mais acérrimos inimigos, segundo Tu-
ninetti, o cônego Colomiatti “era uma pessoa honesta e competente”; “constata-se uma pessoa competente
344
e honrada pela sua carreira subsequente”. Tuninetti menciona em seguida as honras que lhe concederam
os sucessores de Gastaldi, o cardeal Alimonda e o arcebispo Davi Riccardi. G. Tuninetti, Gastaldi II,
64. [Aos autores da edição em castelhano parece que o juízo de Tuninetti é excessivamente generoso. Da
atuação do cônego, tanto no caso do conflito entre dom Gastaldi e Dom Bosco, como durante o processo
de canonização de Dom Bosco, pode-se deduzir que não foi tão objetivo nem tão honesto. No conflito,
mostrou-se certamente hábil, soube jogar suas cartas com sabedoria, manejou muito bem seus apoios no
Vaticano, convencido de que o arcebispo tinha razão. No caso dos opúsculos, porém, não acreditou na
palavra de Dom Bosco que, como se demonstrou mais tarde, dizia a verdade, mas baseou-se em aparentes
e frágeis indícios, e em opiniões de terceiros, que mais tarde foram desmentidas pelos considerados autores
das mesmas. Foi, sem dúvida, um fiel servidor do seu senhor, o arcebispo, e mais do que buscar a verdade,
procurou resolver a questão a seu favor. Também no processo de canonização, agarrou-se às suas opiniões
e não cedeu, mesmo quando a evidência demonstrava que não tinha razão ou quando suas próprias teste-
munhas desautorizavam-lhe as acusações que lhes atribuíra.]
76
Cônego Colomiatti ao arcebispo Gastaldi, 8, 9 e 10 de fevereiro de 1881, em ASC A113:
Gastaldi e i salesiani: FDB 645 D4-E4.
77
Cardeal Nina a Dom Bosco, 10 de fevereiro de 1881, em MB XV, 707. Sobre a atuação do
cônego Colomiatti em Roma, informa MB XV, 192s. Pode ser que Ceria esteja equivocado quando
acredita que Colomiatti fez esta proposta porque tinha um caso pouco firme (MB XV, 173). Colo-
miatti poderia ter preferido um acordo extrajudicial, também acreditando que poderia ganhar o caso.
78
Dom Bosco ao cardeal Nina, 27 de fevereiro de 1881, em MB XV, 194s. Data, em Documenti
XLV, 74, ASC A094: FDB 1195 D2.
345
ao cônego Colomiatti suas razões para recusar a oferta, uma posição que per-
maneceu sem alterações até que Leão XIII ordenou a reconciliação.
Nunca desejei outra coisa senão virar página a este e a outros infelizes as-
suntos. E não vejo modo mais simples de fazê-lo do que o esboçado no ano
passado, ou seja, que o arcebispo remova a suspensão que já suprimiu uma
vez e depois voltou a aplicar. Agora, porém, existe mais um grave obstáculo:
a ação com que o doutor Colomiatti nos ameaça, ou seja, se Dom Bosco
não se comprometer em negociar um acordo, o arcebispo o processará por
difamação baseando-se nos folhetos publicados contra ele. Rejeito a ameaça
com suas insinuações, isto é, não somos de modo algum responsáveis por
essas publicações. Não participei delas direta ou indiretamente. Sinto-me
ainda mais obrigado a assumir esta posição pelo fato de já ter sofrido amea-
ça semelhante contra mim da parte do arcebispo em repetidas ocasiões; ou
seja, que, se Dom Bosco, pessoalmente ou através de terceiros, tanto por
meios impressos como por documentos escritos à mão (exceto se dirigidos
ao Papa, à Congregação dos Bispos e Regulares) sempre que falasse contra
o arcebispo incorreria em suspensão. Podes comunicar minhas ideias ao
doutor padre Colomiatti.79
79
Dom Bosco ao padre Rua, 27 de fevereiro de 1881, em Epistolario IV Ceria, 28.
80
Dom Bosco ao cônego Colomiatti, Alassio, 5 de abril de 1881, em MB XV, 198s.
81
Para algumas atuações do padre Rua nesse momento, ver MB XV, 160s. F. Desramaut, Chro-
nologie, 126-128, enumera ao menos 10.
82
Arcebispo Gastaldi ao padre Rua, 10 de maio de 1881, em Documenti XLV, 82, ASC A094:
FDB 1195 D10; MB XV, 201.
346
347
1. Padre Luís Leoncini testemunhou por escrito ao arcebispo Gastaldi que, se-
gundo a declaração que padre Pellicani lhe fez, Dom Bosco era responsável
não só dos Presentes do capelão, mas de todos os panfletos difamatórios em
seu conjunto, e que o padre Pellicani confirmara essa afirmação.85
2. O arcebispo denunciou o padre Bonetti perante a Congregação do Concílio
como coautor, senão o autor, dos panfletos difamatórios; também pedia que
as Filhas de Maria Auxiliadora fossem colocadas sob a autoridade diocesana.86
3. O cônego Colomiatti escreveu ao cardeal protetor Nina para informar-lhe
que, como as tentativas de reconciliação tinham fracassado, o arcebispo
Gastaldi continuava pressionando com o caso.87
84
Dom Bosco ao arcebispo Verga; Dom Bosco ao cônego Colomiatti, 2 de junho de 1881; Dom
Bosco ao cônego Colomiatti, 11 de junho de 1881, em Epistolario IV Ceria, 57-59; padre Bonetti ao
arcebispo Verga, 7 de junho de 1881, em MB XV, 708. Para a história e sua interpretação, ver MB
XV, 201s.
85
Padre Leoncini ao arcebispo Gastaldi, 18 de junho de 1881, em Documenti XLV, 90-91, ASC
A094, FDB 1195 E6-7. Para a história, ver MB XV, 234s.
86
Arcebispo Gastaldi à Congregação do Concílio, 21 de junho de 1881 (F. Desramaut, Chro-
nologie, 131). Na mesma data, o procurador Leonori urgiu que Dom Bosco solicitasse em Roma a
aprovação das constituições das Filhas de Maria Auxiliadora (MB XV, 238). Sua situação canônica não
era clara no momento.
87
Cônego Colomiatti ao cardeal Nina, 25 junho de 1881, em MB XV, 712.
88
Dom Bosco ao procurador Leonori, 8 de julho de 1881, em Epistolario IV Ceria, 68-69.
348
89
Procurador Leonori ao padre Bonetti, 25 de setembro de 1881, em Documenti XLV, 94, ASC
A094: FDB 1195 E10.
90
Procurador Leonori a Dom Bosco, outubro de 1881, em Documenti XLV, 100-101, ASC
A094: FDB 1196 A4-5. O pequeno opúsculo foi apresentado a Dom Bosco e publicado pouco depois.
C. Leonori, Notizia sulla Società di San Francesco di Sales fondata da don Giovanni Bosco. Roma, Tip.
Tiberina, 1881.
91
Dom Bosco ao padre Pellicani, 14 de outubro de 1881, em Epistolario IV Ceria, 87-88; MB
XV, 235. Mais tarde, chegou uma retratação do padre Pellicani; talvez, demasiado tarde para a solução.
Ceria apresenta o texto da retratação de Pellicani (MB XV, 23, nota 1).
92
Cônego Colomiatti ao arcebispo Gastaldi, 14 de outubro de 1881, em ASC A113: Gastaldi
e i salesiani, Colomiatti, FDB 646 A 8-9; em MB XV, 235s. Breve texto de Colomiatti sobre o status
canônico, referido em especial à exceção das Filhas de Maria Auxiliadora e de outros conventos e ora-
tórios, problemas reais que existiam no assunto de Chieri (MB XV, 209).
349
siculus no interior do processo de beatificação de Dom Bosco. Ceria (MB XV, 236s) informa sobre as
impressões dessa época, de outras várias pessoas em Roma, que parecia ter Colomiatti um caso prima
facie contra Dom Bosco e padre Bonetti.
350
351
pro Congregatione Generali diei 17 Decembris 1881, Romae, Ex Typ. Tiberina, 1881, 50: apresenta-
ção de Leonori; 55: sumário; 11: sumário adicional, ASC A118: Persone, Gastaldi e i salesiani, Bonetti-
-Gastaldi: FDB 634 D7-636 D3.
98
S. Congregatione Concilii, Taurin. Interdicti localis super facultate audiendi confessiones, pro
Rma. Curia seu Rmo. Laurentio Gastaldi Archiepiscopo cum R. D. Johanne Bonetti Sacerdote Instituti
Salesiani. Memoriale facti et juris cum Summario pro Congregatione ... diei Mensis Decembris 1881.
Romae, Ex Typ. Mugnoz, 1881, 48, em ASC A118: Persone, Gastaldi e i Salesiani, Bonetti-Gastaldi:
FDB 636 D4-637 D4.
99
Para a apresentação detalhada dos acontecimentos sucessivos, cf. MB XV, 217 e 247s. Tam-
bém as Memórias Biográficas trazem um relato do resultado ligeiramente diferente.
100
Arcebispo Gastaldi ao cardeal Nina, 31 de dezembro de 1881, em MB XV, 224.
101
Relatório de Dom Bosco ao cardeal Nina, 2 de janeiro de 1882, em Epistolario IV Ceria, 109-
110; MB XV, 224. Para o texto da carta de desculpas recusada, ver Documenti XLV, 151-152, ASC
A094: FDB 1196 E5-6.
352
Estas novas acusações surgiram porque não alterarei o meu critério. Sou con-
trário a Rosmini; por isso, estou sendo acusado falsamente dos folhetos. Eu
não sou o seu autor. Minha posição [teológica] sempre foi professar as ver-
dades de nossa fé católica e seguir todas as diretrizes, todo conselho e todo
desejo do Sumo Pontífice.103
Dom Bosco não pode ser o autor dos folhetos que tratavam da questão
rosminiana, simplesmente porque ele não estava interessado na filosofia ou
teologia de Rosmini. Contudo, sua profissão de fé ultramontana não reforça-
va sua defesa.
Enquanto isso, o cardeal Ferrieri, respondendo à pergunta, já mencio-
nada, do cônego Colomiatti, relativa à situação jurídica das salesianas, punha
uma arma adicional na mão de dom Gastaldi. O cardeal Ferrieri confirmava
que o instituto devia ser diocesano, pois não havia qualquer registro nos ar-
quivos, nem sequer de ter recebido o Decretum laudis de Roma.104 Portanto,
a comunidade de Chieri estava sujeita à jurisdição do ordinário.
Pouco mais tarde, em 18 de janeiro de 1881, a Congregação do Concí-
lio, cujos cardeais já estavam com a Exposição de Dom Bosco, confirmou o
acordo em relação ao padre Bonetti e, nos termos mais enérgicos pela inso-
lente carta de 31 de dezembro, ordenou que dom Gastaldi o tornasse efetivo.
Ao mesmo tempo ordenava-se a dom Gastaldi e sua cúria que se abstivessem
de proceder contra Dom Bosco e/ou o padre Bonetti em Turim no assunto
102
MB XV, 731s, Apêndice 30 e 32: texto das citações da chancelaria ao padre Bonetti e a Dom
Bosco, em MB XV, 731s. Para a história detalhada e a maior parte da correspondência relacionada,
MB XV, 228s.
103
Dom Bosco ao cardeal Nina, 7 de janeiro de 1882, em Epistolario Ceria IV, 113-114; MB
XV, 251.
104
Cardeal Ferrieri ao arcebispo Gastaldi, 18 de janeiro de 1882, em Documenti XXIV, 278,
ASC A073, FDB 1198 E10, omitida nas Memórias Biográficas.
353
105
Cardeal Nina ao arcebispo Gastaldi, 31 de janeiro de 1882, em MB XV, 731.
106
Procurador Leonori ao padre Bonetti: telegrama, em Documenti XLV, 179, ASC A094: FDB
1197 B9; cartas, 29 de janeiro e 3 de fevereiro de 1882, em Documenti XLV, 205-206, ASC A094:
FDB 1197 D9f. Cf. MB XV, 727.
107
Esposizione del sacerdote Giovanni Bosco agli Eminentissimi Cardinali della Sacra Congregazione
del Concilio. S. Pier d’Arena: Tipografia di San Vincenzo de’ Paoli, 1881, 76, em OE XXXII, 49-124.
A data da entrega é aquela aduzida pelo procurador Menghini, em Una adducta (anexo) [Processo de
beatificação de Dom Bosco, 1921], 23-24. Cf. F. Desramaut, Don Bosco, 1155, 1169, nota 109.
354
108
O prólogo (“Razões desta declaração”) está em MB XV, 213s acompanhado de comentários.
109
MB XV, 213, cf. OE XXXII, 52.
110
OE XXXII, 121-123.
111
OE XXXII, 123-124.
355
Arcebispo Gastaldi a Leão XIII, em Documenti XLV, 223-226, ASC A094: FDB 1198 A3-6.
113
114
MB XV, 532s. Nessa audiência, Dom Bosco atreveu-se a pedir novamente os privilégios, em
Documenti XXIV, 148-149, ASC A073: FDB 1079 D6-7. O Papa parecia inclinado a concedê-los, o
que não aconteceu na audiência de 1880. De fato, pouco depois, em 5 de maio, Leão XIII nomeou uma
comissão de cardeais para estudar o assunto, em Documenti XXIV, 147, ASC A073: FDB 1079 A8.
356
Satanás?”.115 Seja como for, nesse momento não se vislumbrava uma so-
lução para o conflito.
Padre Berto informou que Leão XIII teria dito a Dom Bosco que, de acor-
do com as garantias recebidas, o arcebispo Gastaldi (“essa raposa”, acrescenta
padre Berto) buscasse um ponto comum para conseguir um acordo com Dom
Bosco.116 Dom Bosco já não acreditava nessa possibilidade. Não lhe restava mais
do que tentar no momento, uma audiência com os cardeais; caso contrário, o
caminho seria aberto como pudesse. Com o cardeal Nina, o mais próximo,
ele reafirmou a sua posição em 8 de maio: padre Bonetti devia ser plenamente
reintegrado sem condições; quanto aos folhetos, não tiveram participação dos
salesianos. Em uma declaração anexa adicional apresenta a sua dor:
115
Padre Berto ao padre Bonetti, 2 de maio de 1882, em Documenti XLV, 260-261, ASC A094:
FDB 1198 D4-5.
116
Padre Berto ao padre Bonetti, 25 de abril de 1882, em Documenti XLV, 249-250, ASC A09:
FDB 1198 C5-6.
117
Dom Bosco ao cardeal Nina, Roma, 8 de maio de 1882, em MB XV, 255s, carta de Dom
Bosco e declaração anexa. Nesta carta, Dom Bosco refere-se a outras tentativas anteriores fracassadas
de reconciliação e acusa o arcebispo.
357
estava feliz por saber que o cardeal Jacobini, secretário de Estado, que Leão XIII
colocara em contato com o cardeal Nina, anulara o veredicto da Congregação
do Concílio sobre o padre Bonetti e que o próprio Papa estava preparando uma
reconciliação adequada.118
A posição salesiana em Roma ficou ainda mais enfraquecida devido a
um caso não relacionado com a questão. Em abril, um professor da escola
salesiana de Cremona, padre Ermenegildo Musso, recebera uma condenação
de três meses por abuso de menores e a escola fora fechada. Dizia-se que o
cardeal Ferrieri pensava numa visita apostólica às escolas salesianas. Leão XIII
vetou o plano, mas ficou surpreso com o relatório sobre a imoralidade numa
escola salesiana.119
A ausência de Dom Bosco de Roma, nesse momento crucial, foi perce-
bida por alguns como fuga de seus acusadores. Logo que se assegurou “de que
o arcebispo Gastaldi buscava realmente uma solução”, o Papa, que assumira o
comando na questão, queria que Dom Bosco estivesse disponível em Roma.
O cardeal Nina disse ao cônego Colomiatti que Leão XIII decidira dizer pes-
soalmente a Dom Bosco o que desejava fazer.120
A ausência prematura parece ter sido a última responsável pela sua der-
rota. Dom Bosco, de volta a Turim, ali estivera menos de três dias, quando
um telegrama do procurador salesiano, padre Francisco Dalmazzo, avisou-o
que sua presença em Roma era exigida com urgência por ordem do Papa.121
Dias antes, Dalmazzo escrevera a Dom Bosco para informar-lhe com detalhes
sobre diversos aspectos da posição salesiana. Em particular, ele assinalava que
a “fuga” de Roma de Dom Bosco dera má impressão, que o Papa levara muito
a sério o testemunho Pellicani-Leoncini e que a desautorização de Pellicani,
segundo o qual nunca fora subornado por Dom Bosco para atacar o arcebis-
po, como se alegava, era considerada “insuficiente”.122
118
Um adducta, 10-11 [processo de beatificação de Dom Bosco, 1921], testemunho de Colo
miatti, em ASC A280: Documenti ufficiali: FDB 2243 E7-8.
119
Padre Dalmazzo a Dom Bosco, 15 de maio de 1882, em Documenti XLV, 265-267, ASC
A094: FDB 1198 D9-11. MB XV, 578s.
120
Um adducta, 11 [processo de beatificação de Dom Bosco, 1921], testemunho de Colomiatti,
em ASC A280: Documenti ufficiali: FDB 2243 E8.
121
Telegramas e mensagens trocadas, 18-19 de maio de 1882, em Documenti XLV, 271, ASC
A094: FDB 1198 E3. MB XV, 258s.
122
Padre Dalmazzo a Dom Bosco, 15 de maio de 1882, em Documenti XLV, 265-267, ASC
A094: FDB 1198 D9-11. Aparentemente, Pellicani esperara um longo tempo antes de responder ao
pedido de Dom Bosco de 14 de outubro de 1881, mencionado anteriormente. O original da retratação
de Pellicani não foi encontrado. Imprimiram-se cópias em 1o de junho para distribuição em Roma pelo
padre Dalmazzo.
358
123
Dom Bosco ao padre Dalmazzo e ao cardeal Nina, 20 de maio de 1882, em MB XV, 258s.
Sofria de pés chatos e feridas abertas nos pés inchados e de um doloroso abscesso de hemorroidas que
não lhe permitia permanecer sentado. Num testemunho durante o processo de beatificação de Dom
Bosco, o cônego Colomiatti citará diversas testemunhas para afirmar que Dom Bosco não queria apa-
recer em Roma por motivos diversos da doença (um adducta, 11 em ASC A280: Documenti ufficiali:
FDB 2243 E8-9). Ver telegramas e cartas trocadas, em F. Desramaut, Chronologie, 130-132.
124
Dom Bosco a Leão XIII e ao cardeal Nina, 30 de maio de 1882, em MB XV, 263s; Epistolario
IV Ceria, 140.
125
Um folheto intitulado Smentita di un’accusa contro Don Bosco [Refutação de uma acusação
feita contra Dom Bosco], San Pier d’Arena: Tip. dell’Oratorio di S. Vincenzo de’ Paoli, 1o de junho de
1882, 4, impressa com data de 30 de maio de 1882, reproduz uma declaração feita pelo padre Antônio
Pellicani: “Afirmo diante de Deus que a única proposta que me foi feita por Dom Bosco foi de escrever
um memorando ao Papa”. Pellicani acrescenta que isso foi a única coisa que disse ao cônego Colomiatti
quando lhe pediu que testemunhasse; ver o texto em MB XV 255s.
126
Padre Bonetti ao papa Leão XIII, 6 de junho de 1882, em Documenti XLV, 290-298, ASC
A094: FDB 1199 A9-B5. Sobre o efeito danoso da carta e o sentimento do padre Bonetti, ver MB XV
269, nota 1.
127
Os dois rascunhos de 7 pontos são comparados em MB XV, 246s. A proposta salesiana foi
escrita pelo padre Bonetti e aprovada por Dom Bosco.
128
Padre Dalmazzo a Dom Bosco, 18 de junho de 1882, em Documenti XLV, 301-303, ASC
A094: FDB 1199 B8-10; MB XV, 270.
359
Padre Dalmazzo ao cardeal Nina, 15 de junho de 1882, em Documenti XLV, 300f., ASC
130
A094: FDB 1199 B7f. Padre Dalmazzo a Dom Bosco, em Documenti XLV, 301-303, ASC A094: FDB
1199 B8-10; MB XV, 269s.
131
Telegrama, padre Rua (no lugar de Dom Bosco) ao padre Dalmazzo, 21 de junho de 1882,
em Documenti XLV, 303, ASC A094: FDB 1199 B10. Cardeal Nina a Dom Bosco, 23 de junho de
1882, em Documenti XLV, 305-306; MB XV, 272. Dom Bosco ao cardeal Nina, 27 de junho de 1882,
em MB XV, 272. Dom Bosco ao padre Dalmazzo, 28 de junho de 1882, em Epistolario IV Ceria, 147.
360
Padre Dalmazzo a Dom Bosco, 30 de junho de 1882, em Documenti XLV, 326-328, ASC A094: FDB
1199 D8-11. Cardeal Nina a Dom Bosco, 5 de julho de 1882, em MB XV, 275s.
132
Correspondência em MB XV, 274s.
133
Dom Bosco ao cardeal Nina, 25 de julho de 1882 e 4 de agosto de 1882, em Epistolario IV
Ceria, 155,159-160. Na carta de 4 de agosto, Dom Bosco fala de maledicências e de artigos de jornais.
134
Cf. G. Tuninetti, Gastaldi II, 286; MB XV, 275s.
135
Padre Bonetti em sua carta ao padre Dalmazzo oferece uma maliciosa interpretação do ato, 12
de novembro de 1882, em Documenti XLV, 363f, ASC A094: FDB 1200 10-11.
361
Os folhetos
Quem foi o autor dos panfletos difamatórios que tiveram um papel tão
notável na longa guerra e foram responsáveis pela ampliação do “teatro de
operações”?
O que se sabe hoje provém de uma confissão escrita pelo padre João Tur-
chi, dirigida ao cardeal prefeito da Congregação dos Ritos em 25 de outubro
de 1895, em relação ao processo de beatificação de Dom Bosco.136
O longo e comprometedor documento começa afirmando que ele (pa-
dre Turchi), testemunha sob juramento no processo de beatificação de Dom
Bosco, dera previamente aos juízes uma declaração confidencial lacrada para
uso exclusivo e secreto da Congregação dos Ritos, para eliminar qualquer
suspeita sobre a cumplicidade de Dom Bosco no assunto dos libelos difama-
tórios. Sua carta (do padre Turchi, de 1895), que também devia ser secreta e
confidencial, foi escrita com o mesmo propósito.
Depois de tratar da gestão do arcebispo Gastaldi e de sua chancelaria,
continua a falar dos folhetos oferecendo a seguinte informação:
1. A Carta do cooperador, de 1877, foi escrita pelo padre João Batista Anfossi,
sacerdote da diocese de Turim, próximo aos salesianos.137
136
Padre Turchi ao cardeal prefeito da Congregação dos Ritos, Bra (Cuneo) 25 de outubro de 1895, em
MB XIX, 402s. F. Desramaut, Don Bosco, 1162, nota 147, e G. Tuninetti, Gastaldi II, 275-282, comentam
o testemunho de Turchi. Ver o texto integral da carta nas p. 733-740 deste volume.
137
João Batista Anfossi (1840-1913), de Vigone, Turim, foi aluno salesiano e seminarista no
Oratório nos anos cinquenta e sessenta. Como padre diocesano e cônego da igreja da Santíssima Trin-
dade, em Turim, manteve um vínculo permanente com Dom Bosco e os salesianos. É frequentemente
citado como fonte nas Memórias Biográficas. Pôs-se ao lado Dom Bosco durante o conflito, mas sua
queixa perante o arcebispo transcendeu o conflito particular. Com referência à polarização do clero
a favor ou contra Gastaldi, seu biógrafo escreve: “Alguns apoiavam Dom Bosco como um modo de
vingar-se do arcebispo por outras razões. Foi esse o caso... de sacerdotes como João Batista Anfossi e
João Turchi. Conhecidos intrigantes e intrometidos, eles foram os autores dos panfletos anônimos”
(G. Tuninetti, Gastaldi II, 277).
362
138
João Turchi (1838-1909), de Castelnuovo (Asti), também foi aluno salesiano e seminarista
no Oratório. Companheiro e amigo por toda a vida de Anfossi permaneceu fiel a Dom Bosco e aos
salesianos. Como padre diocesano, atuou como professor em várias escolas. Ao escrever ao cavalheiro
Oreglia, em Roma, em meados de dezembro de 1867, Dom Bosco fala da possibilidade de recomendar
o padre Turchi como tutor na casa da duquesa de Sora, em Roma (Epistolario I Ceria, 517). Ele viveu
em Roma nos anos 1877-1878, época dos panfletos, onde foi secretário de Dom Bosco (Dom Bosco
ao padre Rua, Roma, 3 de janeiro de 1878, em Epistolario III Ceria, 263). Em carta datada em 10 de
fevereiro de 1878 e dirigida ao padre Berto, em Roma com Dom Bosco, padre Anfossi escreve: “Cum-
primentos ao padre Turchi, permita-lhe ler esta carta e diga-lhe que estou esperando com impaciência
a publicação da sua” (ASC A116: Persone, Gastaldi: FDB 619 C2-5). É provável que “esta publicação”
refira-se ao Presente. Então, padre Berto teria sabido o que se passava. E... poderia Dom Bosco ter
sabido alguma coisa pelo padre Berto?
139
Antônio Ballerini (1805-1881) foi um dos jesuítas que ainda em 1841 chamara a atenção e se
opusera a um jovem Gastaldi naquilo que mais tarde se converteria na “questão rosminiana”. Autor de
tratados teológicos, Ballerini foi o líder dos jesuítas romanos na luta antirrosminiana (G. Tuninetti,
Gastaldi II, 254, nota 49; 256; 282, nota 104).
João Batista Rostagno, também jesuíta, ex-professor de direito canônico na Bélgica, com domi-
cílio em Turim, colaborou com Ballerini e padre Turchi nos folhetos (G. Tuninetti, Gastaldi II, 256,
280, nota 94). Participou como perito do CG I (1877). Como amigo e conselheiro, ajudou Dom Bosco
estudando diversas questões que surgiram durante o conflito, por exemplo, a matéria da publicação das
graças de Maria Auxiliadora, o assunto de Perenchio, a suspensão do padre Bonetti e outras controvér-
sias. Dom Gastaldi suspeitava de sua cumplicidade nos folhetos (MB XI, 453; MB XIII, 252s; 288ss.;
MB XIV, 228s; MB XV, 282s).
363
O autor de [A história de Chieri] é ainda incerto, mas parece que Bonetti deu
uma boa mão nela. Pode ser possível pronunciar-se a respeito no futuro, base-
ando-se em evidência interna, especialmente por meio de um estudo do estilo
do texto. Pode-se considerar como certo que padre Anfossi e padre Turchi eram
informados pelos salesianos, padre Joaquim Berto e padre João Bonetti, ambos
muito próximos de Dom Bosco. As duas partes mantiveram uma relação [inin-
terrupta através dos] anos e com frequente intercâmbio de correspondência. De
aí se depreende que os salesianos tiveram um papel auxiliar na produção desses
escritos. Contudo, também é certo que o fizeram sem o conhecimento de Dom
Bosco. Nunca, nem os ex-alunos nem os salesianos o teriam comprometido de
algum modo [envolvendo-o] em seu propósito obscuro.140
140
F. Desramaut, Don Bosco, 1162; G. Tuninetti, Gastaldi II, 282, nota 104.
364
O cardeal Nina confirma-o numa entrevista de 13 de maio de 1882. O procurador Leonori negou a
alegação com veemência, em Positio, Summarium ex officio, 10, em ASC A280: Documenti ufficiali:
FDB 2244 A6-8.
365
positivo. Como diz Stella, isso era indicado, também nos títulos que figuram
em cada seção do relatório; por exemplo, “Dom Bosco não é responsável” [do
início da] controvérsia; [durante o conflito] “as ações e atitudes do Servo de
Deus estiveram sempre livres de culpa”. Depois de observar que Dom Bosco
compusera a Exposição com a ajuda do padre Bonetti, o examinador mani-
festou que a apresentação dos fatos poderia requerer alguma correção e que o
tom era um tanto emocional. E acrescenta:
Pelo que posso ver, tudo isso não altera na mínima parte a natureza dos fatos
expostos. Sem dizer que estas alterações acidentais são explicadas pelo fato de
o autor do opúsculo, escrevendo sob a pressão de prover à defesa do próprio
Instituto, podia facilmente acontecer-lhe acentuar não raramente ou atenuar
sob determinados aspectos alguns acréscimos dos fatos que narrava, não com
a deliberada intenção de alterar conscientemente a verdade dos mesmos, mas
porque assim o sentia em seu espírito, que naturalmente não pode deixar de
estar preocupado, ansioso e desassossegado diante da espera do resultado do
julgamento iminente.
366
4. Comentário final
Tentamos fazer a crônica do conflito de Dom Bosco com seu arcebis-
po de maneira coerente, embora seletiva, ressaltando os temas que emergiram.
A documentação original produzida pelo conflito, recolhida em vários arqui-
vos, é abundante. Biógrafos e historiadores procuraram chegar a certa compre-
ensão deste longo assunto, amplamente conhecido e escandaloso, que envolvia
143
MB XIV, 233s.
367
368
intensamente. Tal atitude não era mero autoritarismo, ao qual se sentia pro-
fundamente inclinado, mas baseava-se mais na firme convicção de que, como
bispo, possuía autoridade apostólica.144
Embora a sensibilidade eclesiológica de cada um afetasse o conflito, o con-
traste apresentou-se na pastoral e não no aspecto teórico. Os dois grandes, impor-
tantes, líderes da Igreja governavam e administravam com estilo muito diferente,
seguramente também com estilos pastorais em contraste. Desramaut escreve:
144
Cf. G. Tuninetti, Gastaldi II, 288.
145
F. Desramaut, Don Bosco, 1163-1164.
369
146
G. Tuninetti, Gastaldi II, 288-289.
370
147
O texto final da Concordia encontra-se em MB XV, 266s. Foi assinado em 15 de junho; a data
oficial é 16 de junho de 1882.
371
372
Salesianos
Ângelo Maria Rocca: ex-seminarista diocesano (1853-1943). Salesiano
(1873), recém-ordenado sacerdote (1877), foi-lhe impedido de celebrar a
santa missa na cidade natal: foi censurado pelo arcebispo Gastaldi por cele-
brar, apesar disso, em seu oratório privado (1877).
Francisco Dalmazzo: salesiano (1845-1895); diretor de Valsálice (1872-
1880); procurador-geral da Sociedade Salesiana (1880-1887), representante de
Dom Bosco em Roma no caso Bonetti e na reconciliação final (1880-1882).
João Bonetti: diretor do Boletim Salesiano (1838-1891) desde 1878,
eleito diretor espiritual da Sociedade Salesiana (1886). Como diretor do Ora-
tório das salesianas em Chieri foi envolvido diretamente no conflito.
João Perenchio: sacerdote de Ivrea, censurado por dom Moreno por re-
correr aos salesianos, suspenso pelo arcebispo Gastaldi por celebrar em Turim
sem licença (1877). Causa involuntária da suspensão do padre Lazzero.
Joaquim Berto: secretário de Dom Bosco (1847-1914), esteve ao lado
de Dom Bosco e de todos os salesianos no conflito (1870-1888).
373
Autoridades romanas
Caetano Tortone: encarregado dos negócios da Santa Sé em Turim
(1814-1891); fez investigações e informou a Santa Sé em diversas ocasiões,
especialmente no momento da ameaçadora renúncia de dom Gastaldi (1876-
1877) e da questão do padre Bonetti em Chieri (1878-1879).
Carlos Menghini: monsenhor (m. 1896), advogado que trabalhava nas
congregações romanas, assessor legal de Dom Bosco (1874-1879), assessor legal
de dom Gastaldi no processo perante a Congregação do Concílio (1879-1882).
Constantino Leonori: monsenhor, advogado que trabalhou nas congre-
gações romanas, advogado de Dom Bosco e do padre Bonetti (1879-1883).
Eneas Sbarretti: arcebispo (1808-1884), secretário da Congregação dos
Bispos e Regulares, que sucedeu a dom Vitelleschi (1875), nomeado cardeal
em 1877.
374
Outros envolvidos
Antônio Ballerini: sacerdote jesuíta e teólogo em Roma (1805-1881),
líder da campanha anti Rosmini, autor do Breve ensaio contra a posição ros-
miniana de dom Gastaldi.
Antônio Pellicani: sacerdote de Savona, ex-jesuíta; foi citado por Leon-
cini como se Dom Bosco lhe tivesse solicitado que escrevesse contra o arce-
bispo (1879-1882). Sua desautorização do fato chegou muito tarde.
Celestino Fissore: cônego (1814-1889), vigário-geral de Turim nos anos
cinquenta, arcebispo de Vercelli (1871); foi chamado a mediar o conflito
(1875) e investigar a autoria dos panfletos.
Luís Leoncini: sacerdote escolápio. Testemunhou na chancelaria contra
Dom Bosco em relação à autoria dos panfletos (1879-1880).
375
ORGANIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA
SOCIEDADE SALESIANA
T. Valsecchi, “Origine e sviluppo delle ispettorie salesiane: serie cronologica fino all’anno
1
1903”, RSS 2 (1983), 252-273. É o primeiro de três artigos que descrevem a criação das Inspetorias
de 1877 a 1983.
376
Dois anos antes, o Capítulo Geral I (1877), em sua décima sexta sessão,
dera as mesmas razões para a decisão de se evitar o termo provincial e usar em
seu lugar o de inspetor.
2
Ver as Constituições como foram aprovadas em 1874 (Q) em G. Bosco, Costituzioni, 155; MB
XIV, 221. Leve-se em conta que, em vez de “visitadores ou inspetores (visitatores, sive inspectores)”, a
edição impressa latina de 1875 (T) coloca “visitatores, sive cognitores” e a edição impressa italiana de
1875 oferece “visitatori o riconoscitori”. [Recorde-se que as siglas Ns, Q, T etc., correspondem às diversas
redações resenhadas por Motto na edição crítica do texto das Constituições, já citada anteriormente,
cf. vol. 2, p. 315-317.]
3
MB XIV, 221.
377
4
ASC D578 I CG (1877), sessão 16, Barberis Minutas, em cópia definitiva, 251-252: FDB
1851 E5-6; correspondem ao primeiro rascunho, 202-203: FDB 1845 E8-9.
5
OE XXXI, 241; MB XIV, 217.
6
CG II, nona conferência, 9 de setembro de 1880, atas de Barberis, caderno I, 74: FDB 1858 C5.
378
379
11
ASC D578, CG I, sessão décima sexta; atas de Barberis, exemplar passado a limpo, 254: FDB
1851 E8.
12
Elenco Generale della Società di San Francesco di Sales. Turim: Tipografia Salesiana, 1878, 10-
16; 17-20; 21-23; 23-24.
13
Cf. MB XIV, 40s. Esta conferência foi, na verdade, uma reunião ampliada do Capítulo su-
perior, em vez da conferência geral, que não se pôde fazer em Turim porque Dom Bosco estava na
França. Dever-se-ia perguntar por que se celebraram conferências deste tipo, com capacidade de tomar
decisões, sendo que o Capítulo Geral devia reunir-se a cada três anos para esse fim, de acordo com as
Constituições. Em todo caso, esta foi a última Conferência.
380
7 de fevereiro de 1879
Pela manhã, fizeram-se reuniões em pequenos grupos. [...] Pela tarde, muito
antes das 5, foi convocada uma assembleia geral. Seu objetivo era chegar
a uma decisão prática sobre as províncias, [para assim cumprir] o que, em
princípio, fora recomendado pelo Capítulo Geral [I]. A decisão foi de es-
tabelecer, no momento, as seguintes províncias: a piemontesa, a lígure e a
[província] sul-americana. As casas situadas fora destas áreas serão anexa-
das a uma delas. As residências provinciais seriam: Turim para a provín-
cia piemontesa; Alassio para a província da Ligúria, e Buenos Aires para
a província [sul] americana. Padre Francésia, atual diretor de Varazze, foi
nomeado provincial da província piemontesa; mas continuará em seu posto
atual até o outono. Padre Cerruti foi nomeado provincial da província da
Ligúria enquanto continua como diretor da escola de Alassio. Padre Rocca,
no momento professor do liceu em Alassio, foi nomeado vice-diretor, a fim
de deixar o padre Cerruti livre para visitar as casas da província. Quanto à
província americana [do sul], padre Bodrato, que foi provincial nos últimos
dois anos, permanecerá no cargo. Estas decisões não são definitivas, mas à
moda de experiência.
Creio que se deva acrescentar aqui um comentário. No que se refere
tanto à pessoa que será designada como aos provinciais e à residência
provincial, Dom Bosco já tomara uma decisão. Limitou-se a apresentar
sua decisão aos membros do capítulo [conferência, na verdade], em vez
de abrir um debate sobre o tema. Quando este sistema de províncias esti-
ver em funcionamento, então se tirará uma grande carga dos ombros dos
membros do Capítulo superior. Os diretores locais também receberão
grande ajuda.14
ASC D868, atas do Capítulo superior, pasta II, caderno 2 (1879), 61, 72-73: FDB 1878 C7 e D5-6.
14
No relatório de 1879, Dom Bosco fala de fundações iminentes, Bríndisi (Apúlia), Catânia e
15
381
10 de março de 1879
Aos diretores de nossas casas:
Vemos com grande satisfação como a nossa humilde Congregação, com a aju-
da de Deus, adquire todos os dias maior crescimento e se dilata mais e mais.
Por isso, para corresponder à bondade divina, não devemos descuidar de nada
que possa contribuir para a sua consolidação. Com esse fim, o Capítulo su-
perior e alguns diretores de nossas casas reuniram-se no colégio de Alassio
no dia 6 de fevereiro do corrente ano e criaram as inspetorias, das quais dou
comunicação a todos os diretores de nossas casas.
Dom Bosco aos diretores salesianos, 10 de março de 1879, em ASC A175: Circolari, 1879:
17
FDB 1367 D5-8 (cópia caligráfica imitando – padre Berto? – a assinatura, Sac. Gio Bosco), em Epistolario
III Ceria, 451-452.
382
383
384
Texto
[Apresentação introdutória do relatório]
Nossas Constituições, cap. VI, estabelecem que a cada três anos apre-
sente-se à Santa Sé um relatório sobre o estado moral e material, assim como
sobre o desenvolvimento desta sociedade. Apresentamos alguns relatórios
no passado, mas não muito detalhados, pois a abertura de novas casas e as
adaptações às circunstâncias concretas de tempo e lugar, que a Congregação
nascente precisou fazer, nos tornou impossível uma apresentação completa e
detalhada como se requeria. O Reitor-Mor desta Congregação, desejoso de
prestar em tudo o devido respeito à Santa Sé, com a plena confiança de rece-
ber as observações e os conselhos que possam contribuir para a maior glória
de Deus, cumpre agora este dever, expondo humildemente o estado em que
se encontra esta pia sociedade nos diversos países nos quais exerce alguma
atividade do sagrado ministério ou atende à educação científica ou artística
da juventude.
18
Esposizione alla S. Sede dello stato moral e materiale della Pia Società di S. Francesco di Sales nel
marzo del 1879. Sampierdarena: Tip. Salesiana, 1879. Os dados estatísticos oferecidos nas notas de
rodapé são citados seguindo M. Wirth, Don Bosco et la famille salésienne. Paris: Éditions Don Bosco,
2002, 535-536, e P. Braido, Don Bosco fondatore: “Ai Soci Salesiani” (1875-1885). Introduzione e testi
critici. Roma: LAS, 1995. [As estatísticas são aproximadas e não devem ser tomadas como absolutas.]
385
[Resumo histórico]
Nossa Congregação, em 1841, não era mais do que um catecismo, um
lugar de recreação festiva.19 Em 1846, acrescentou-se uma residência para
aprendizes pobres,20 criando um instituto privado, à moda de uma família
numerosa.21 Vários sacerdotes e alguns senhores deram sua ajuda como co-
operadores externos do piedoso empreendimento. Em 1852, o arcebispo de
Turim aprovou o instituto, concedendo por iniciativa pessoal todas as faculda-
des necessárias e oportunas ao reverendo João Bosco, constituindo-o superior
e diretor da obra dos oratórios.22 A partir daquele ano até 1858, teve início
a vida comum; escola, educação de clérigos, alguns dos quais, ao chegar ao
sacerdócio, ficaram no instituto. Em 1858, Pio IX, de santa memória, acon-
selhava ao reverendo Bosco que criasse uma pia sociedade com a finalidade de
conservar o espírito da obra dos oratórios. Ele mesmo, benevolamente, traçava
as Constituições desta sociedade,23 que foram levadas à prática mediante a vida
comum, à moda de congregação eclesiástica de votos simples.24
Seis anos depois, a Santa Sé emitia um decreto no qual louvava, reco-
mendava o instituto e suas Constituições e nomeava um superior.
Em 1870, era definitivamente aprovado o instituto com suas Constitui-
ções com a faculdade de expedir as dimissórias aos clérigos salesianos que
25
386
Inspetoria piemontesa
26
Esta passagem descreve a organização monolítica e a estrutura piramidal da congregação. A
frase “sob a dependência direta e absoluta da Santa Sé”, elimina a autoridade dos bispos; muitos acre-
ditaram que se referia ao arcebispo Gastaldi, que se atribuía o controle de alguns aspectos da Congre-
gação. A frase pode expressar a ideia de Dom Bosco de isenção, que a congregação ainda não obtivera,
mas não tem apoio em qualquer norma das Constituições Salesianas, como a congregação romana se
apressou a notar em suas observações críticas.
27
“Um milhão de cópias por ano” é, certamente, um exagero.
387
6. Uma igreja dedicada a São Francisco de Sales e um pátio adjacente para a re-
creação nos domingos e dias festivos. Atendem aos jovens da cidade de Turim.
7. Aulas diurnas e noturnas para meninos pobres e abandonados da cidade
de Turim.
8. Situados na cidade, uma igreja dedicada a São Luís e um pátio para a re-
creação. Aqui os jovens assistem aos serviços religiosos e recebem instrução
religiosa. Aqui também estão em construção uma monumental igreja em
homenagem a Pio IX e um internato.
9. Anexo ao mesmo Oratório há uma escola diurna para meninos pobres e
abandonados. A finalidade deste Oratório e escola é manter os jovens longe
dos protestantes [valdenses], que estabeleceram na região uma igreja, um
internato, uma escola e um hospital.
10. Situado na paróquia dos santos Pedro e Paulo, um oratório dedicado a São
José, com a igreja anexa e espaço de jogos para a recreação.
11. Os salesianos também oferecem o serviço de capelão para a oficina de São
José, criada para jovens solteiras que precisam de emprego e ajuda especial.
12. Serviço semelhante é proporcionado à família de São Pedro, fundada para
acolher jovens mulheres rebeldes que, depois de passar algum tempo na
prisão, desejam aprender algum ofício e levar vida cristã.
13. Serviço semelhante é proporcionado no instituto do Bom Pastor, fundado
para acolher e ajudar as meninas em situação de risco ou que precisam de
reabilitação moral.
14. Situada perto da cidade de Turim, em Valsálice, uma escola para filhos de
famílias ricas, oferece um completo plano de estudos primários, secundários
e de bacharelado.
15. Serviços de capelão são oferecidos ao que restou da casa dos irmãos [das
Escolas Cristãs], que se encontra nas imediações [de Valsálice].
16. Fora da cidade de Turim, junto ao povoado de Caselle, os salesianos condu-
zem um oratório e uma escola para meninos, e prestam assistência religiosa
à população local. Aqui também os noviços da Congregação passam as fé-
rias de verão.
17. Na cidade de Mathi, próxima a Lanzo, temos uma fábrica de papel na qual
os jovens trabalham [como] aprendizes. Produz-se o papel necessário para as
nossas gráficas de Turim, Sampierdarena, Nice, Montevidéu e Buenos Aires.
18. Na localidade de Lanzo, a escola de São Felipe Neri oferece um programa
completo de escola primária e secundária para 250 estudantes internos e
externos. Anexa a ela, uma igreja pública está aberta à população local.
388
Inspetoria lígure
A casa central desta inspetoria encontra-se na cidade de Alassio, diocese
de Albenga. Compõe-se de uma série de obras:
25. Uma igreja pública dedicada a Nossa Senhora dos Anjos, que atende a po-
pulação local, tanto jovem quanto adulta.
26. Uma escola com mais de 200 internos e 400 estudantes externos, que ofe-
rece um programa completo de estudos primários, secundários e técnicos.28
27. Os salesianos da escola de Alassio também dirigem a escola pública na loca-
lidade de Laigueglia. Cabe assinalar que o ordinário da diocese designou o
diretor da escola de Alassio, [padre] Francisco Cerruti, doutor em filosofia,
diretor espiritual de todos os institutos religiosos de mulheres da diocese.
28. Na cidade de Vallecrosia, diocese de Ventimiglia, a casa salesiana é dedicada a
Maria Auxiliadora. Ali se fundaram uma igreja e uma escola pública primária
com o propósito expresso de afastar os jovens dos protestantes [valdenses]
que abriram uma escola própria, um templo e um internato na região.
29. Na cidade de Varazze, diocese de Savona, os salesianos dirigem a escola de
São João Batista, com uns 150 estudantes residentes da escola primária, do
ensino “técnico” e da secundária.
28
Entenda-se técnico no sentido de escola técnica, segundo a reforma escolar de Casati (1859).
389
30. Uns 500 estudantes estão matriculados como externos nos mesmos programas.
31. Na mesma cidade, uma igreja pública oferece instrução religiosa e os santos
sacramentos ao maior número possível de jovens.
32. Na cidade de Sampierdarena, diocese de Gênova, há o internato de São Vi-
cente de Paulo, com igreja pública anexa. A igreja atende a vários milhares
de pessoas com a celebração da santa missa, o sacramento da penitência, a
pregação e a catequese.
33. Aqui se encontra a escola dos assim chamados “Filhos de Maria Auxilia-
dora”, na qual estão matriculados uns 200 [jovens] adultos que aspiram ao
estado eclesiástico.
34. Há também aqui oficinas nas quais os jovens aprendizes aprendem um ofício.
35. Criaram-se escolas diurnas e noturnas para estudantes residentes e externos.
36. [Aqui também] o arcebispo confiou aos salesianos a igreja de Nossa Senhora
das Graças, como missão paroquial.
37. Na cidade de [La] Spezia, diocese de Sarzana, temos o internato de São Pau-
lo, com uma igreja pública para os fiéis em geral, escola diurna e noturna,
e uma escola, de tempo parcial, para residentes. O fim principal da escola
é manter os jovens longe da escola protestante situada nas proximidades.
Esta instituição foi fundada a pedido e pela caridade de Pio IX, de feliz
memória,29 e ajudada pela generosidade de Sua Santidade Leão XIII, feliz-
mente reinante.
38. Na cidade e diocese de Lucca, o pessoal salesiano dirige um internato, uma
igreja pública e um pátio de recreação, aberto aos meninos do bairro, aos
domingos e dias festivos.
Inspetoria romana
39. Em Magliano, capital do distrito de Sabina, os salesianos dirigem os semi-
nários menor e maior de filosofia e teologia, assim como uma escola primá-
ria e secundária, da qual participam os jovens do lugar. Há também uma
residência para estudantes.
40. Na cidade e diocese de Albano, os salesianos dirigem a escola secundária
municipal pública e um seminário menor.
41. Aqui também atendem uma igreja pública para os fiéis em geral.
42. Na cidade de Ariccia, os salesianos dirigem a escola primária pública local e
atendem uma igreja pública tanto para jovens como para adultos.
29
Pio IX morreu em 1878.
390
Inspetoria Sul-americana
[Argentina]
Com o respaldo e o apoio material de Pio IX, os salesianos estabeleceram sua
obra na América do Sul. Sua Santidade desejava realizar um tríplice objetivo
com a missão: 1o atender os imigrantes italianos que se encontram dispersos
em grande número pela América do Sul, os adultos e, especialmente, os jo-
vens; 2o abrir escolas fronteiriças ao território dos selvagens que servissem de
seminários menores e de internato para os mais pobres e mais abandonados
entre eles; 3o por este meio, abrir caminho para a evangelização dos Pampas
e das tribos da Patagônia. Nossa primeira expedição [missionária] aconteceu
391
República do Uruguai
61. Em Villa Colón, os salesianos abriram a escola Pio [IX] e o seminário [me-
nor] para as missões. Serve também de seminário menor da diocese e é
credenciada pela Universidade do Estado.
62. No mesmo lugar, [os salesianos] dirigem uma igreja pública que atende a
população local.
30
Se Dom Bosco estivesse aludindo a vocações indígenas, estaria expressando uma expectativa
que não se realizaria.
392
Observações gerais
1. As casas da Congregação são propriedade dos próprios membros. As dívidas
existentes são compensadas com a venda futura de propriedades de valor igual.
2. Os jovens que recebem uma educação cristã com instrução profissional ou aca-
dêmica nas casas salesianas são uns 40 mil. Deles, a cada ano, uns 300 optam
pelo estado eclesiástico; a maioria entra no seminário de sua diocese, mas al-
guns optam pela vida religiosa e outros, pelas missões estrangeiras. Desde sua
aprovação pela Santa Sé (3 de abril de 1874), a Congregação experimentou
um aumento muito consolador. Os 250 salesianos de então, chegaram ao atual
número de 700; e as casas, de 17 a 64.31
393
meninas pobres, como os salesianos fazem pelos meninos pobres. Com a aju-
da do bom Deus, a partir de uma única casa originária, este humilde instituto
experimentou um notável desenvolvimento:
33
O conceito congregação, que provém das escolas da Restauração, referia-se às reuniões de estu-
dantes nos domingos e dias festivos para atividades religiosas ao longo do dia.
394
395
34
Em 1879, segundo os registros, as irmãs professas eram 146 e as noviças 49, que viviam em 18 casas.
35
Em 1877, os noviços eram 120, dos quais 59 professaram; em 1878, os noviços eram 142, dos
quais 47 professaram; em 1879, os noviços eram 147, dos quais 58 fizeram a profissão.
36
Dom Bosco refere-se ao arcebispo Gastaldi, de Turim. Em 1879, o conflito estivera a ponto de ruptura.
396
397
Eminência Reverendíssima:
Recebi cópia das observações que a autorizada Congregação dos Bispos e Re-
gulares se dignou fazer sobre a exposição do estado moral e material da Pia
Sociedade de São Francisco de Sales.
Antes de tudo, agradeço humildemente a V. E., garantindo-lhe que conserva-
rei estas observações como um tesouro para proveito dos sócios salesianos, e
37
Ver o texto em MB XIV, 220s.
398
que servirão de norma para os futuros relatórios, que se devem prestar à Santa
Sé a cada triênio.
Entretanto, considero-me obrigado a apresentar os esclarecimentos pedidos
na mesma ordem numérica com que foram feitas as observações.
1. Nada se diz na citada exposição sobre o estado econômico do Instituto, nem so-
bre o noviciado, que deve ser feito segundo a norma do que prescrevem os sagrados
cânones e as constituições apostólicas.
R.) A Pia Sociedade não existe legalmente, pelo que não pode possuir, nem
contrair dívidas, nem créditos. As casas da Congregação (como se diz na pági-
na 13 da mencionada exposição) são de propriedade dos membros da mesma;
há dívidas, mas um dos sócios tem à venda um imóvel de valor suficiente para
pagá-las. A Congregação, como ente moral e legal, não possui e não pode
possuir coisa alguma.
Há uma casa de noviciado aqui em Turim, aprovada e regulamentada pela
mesma sagrada Congregação dos Bispos e Regulares, e seguem-se todas as
mesmas normas estabelecidas e aprovadas, segundo o cap. XIV de nossas
Constituições; com as mesmas normas, e com o decreto de aprovação da
Congregação da Propagação da Fé, foi aberta outra casa de noviciado em
Buenos Aires, capital da República Argentina. Com autorização da anterior-
mente mencionada Congregação dos Bispos e Regulares, vai-se dando vida ao
de Marselha, onde já está adiantada a construção de um edifício adequado e
oportuno para dar cumprimento a todas as observações prescritas para esse
fim. Logo será preciso abrir outro noviciado na Espanha, na diocese de Se-
vilha, para o que se fará a seu tempo o pedido formal à Santa Sé com o fim
de obter a devida autorização. Foi também apresentado o pedido para abrir
um noviciado em Paris, mas algumas dificuldades surgidas tornam difícil sua
realização, pelo que fica suspensa qualquer gestão relacionada a esse assunto.
O diretor dos noviços é um sacerdote de ciência e piedade comprovadas.
Ajudam-no outros dois sacerdotes. Fazem com regularidade, todos os dias,
meditação, leitura espiritual, visita ao santíssimo sacramento, rezam o rosário
da bem-aventurada Virgem Maria. Reúnem-se todas as tardes para receberem
a bênção eucarística. Confessam-se todas as semanas e comungam quase dia-
riamente. Têm todas as semanas duas conferências e uma instrução sobre as
Constituições. Até agora, foi mantida a observância religiosa.
2. A Pia Sociedade não pode ser dividida em inspetorias, que é coisa insólita, mas em
províncias, para cuja criação, em cada caso, deve-se obter a faculdade da Santa Sé.
R.) A Pia Sociedade foi dividida em inspetorias de acordo com o artigo 17, cap.
IX, de nossas Constituições, que diz assim: “Se for necessário, o Reitor-Mor,
399
400
401
402
não pode possuir nem contrair dívidas. Prossegue depois dizendo que as casas da
Congregação são propriedade de alguns sócios; existem dívidas, mas um sócio
pôs à venda um imóvel para pagá-las. Conclui que a Congregação, como ente
moral ou como ente legal, não possui, nem pode possuir.
Pensa esta sagrada congregação que todas estas expressões de existência não legal,
quer V. S. entendê-las em relação à lei civil, hostil aos pios institutos; posto que
em relação às leis da Igreja, perante a qual não tem qualquer vigor as leis civis,
todos os pios institutos, e também o dos salesianos, têm sua existência legal, se-
gundo os sagrados cânones. Por isso, estão submetidos à Santa Sé, em relação aos
bens que possuem por qualquer título e em qualquer nome os tenham adquirido
e os possuam. Todos os pios institutos, em sua relação trienal, sem atender às leis
civis de qualquer governo, fazem sua exposição sobre o estado econômico, expondo
resumidamente os bens que possuem sob qualquer nome; as rendas, de qualquer
procedência recebam, e como são distribuídos; e, se devem vender bens, mesmo
mantidos em nome de terceiras pessoas, contrair dívidas, esta sagrada congregação
sempre lhes inculcou a necessidade do beneplácito apostólico e têm-se mostrado
obedientes; somente V. S. alegou a lei civil para eximir-se dessas obrigações. Reflita
que as Constituições Salesianas foram aprovadas pela Santa Sé com as obrigações
que resultam do art. 2 do cap. VI e do art. 3 do cap. VII, ainda quando foram
impostas tais leis civis na época indicada da aprovação.
R.) Em relação à propriedade. Esta nossa pia sociedade não é um ente moral
que possa possuir perante a sociedade civil nem perante a Igreja.
No cap. IV de nossas Constituições lê-se: “Portanto, os professos nesta socie-
dade podem conservar o que chamam de domínio radical de seus bens”. No
mesmo cap. II diz-se: “Podem, em contrapartida, os sócios dispor livremente
sobre o domínio, seja por testamento, seja (com permissão do Reitor-Mor)
por atos inter vivos”.
Devido à aflição dos tempos presentes, este ponto era fundamental para nós,
e eu pedia na aprovação de nossas Constituições como deviam ser entendidas
as palavras do cap. VII, art. 3, que assim se expressa: “Nas alienações dos bens
da sociedade e de dinheiro alheio, faça-se de acordo com o direito, segundo
os sagrados cânones e constituições apostólicas”.
Por meio do arcebispo, mais tarde cardeal Vitelleschi e então secretário da
sagrada Congregação dos Bispos e Regulares, os eminentíssimos declararam:
a resposta está no próprio artigo, ou seja, in alienationibus bonorum Societatis,
e isso deverá ser entendido que, quando os tempos e os lugares permitirem
possuir algo em comum ou em nome da Pia Sociedade Salesiana, terá que
se observar este artigo como o observam todas as congregações religiosas e
403
eclesiásticas. Isso parece conforme o art. 2 do dito cap. VII, onde se diz que
o Reitor-Mor “Não tem faculdade para comprar ou vender nada do que per-
tence aos imóveis, sem consentimento do Capítulo superior”.
Este foi o sentido que eu sempre dei a nossas Constituições, desde o princípio
da existência desta Pia Sociedade Salesiana. Assim sempre as entendeu o sumo
pontífice Pio IX, de sempre gloriosa memória, como também os eminentís-
simos cardeais eleitos para o exame e a aprovação de nossas Constituições.
Considerar submetidos às prescrições dos sagrados cânones os imóveis
possuídos pessoalmente pelos sócios como bens eclesiásticos, introduziria
confusão no encaminhamento de nossas coisas, posto que todos os sale-
sianos fizeram sua profissão religiosa apoiados no primeiro artigo do cap.
IV, De voto paupertatis, que começa assim: “O voto de pobreza, do qual
se trata aqui, só se refere à administração de qualquer bem, não à posse”.
2o [Observação crítica sobre o noviciado em Marselha] No mesmo esclareci-
mento sobre a Observação número I, V. S. afirma que, com autorização da sa-
grada Congregação dos Bispos e Regulares, está sendo preparado o noviciado
de Marselha. Não constando à mencionada Sagrada Congregação ter dado tal
autorização, vê-se na necessidade de solicitar a V. S. o envio de cópia do corres-
pondente rescrito, do qual resulte a faculdade de abrir o noviciado em Marselha.
R.) Noviciado de Marselha. Em relação à autorização do noviciado de Marse-
lha, que se deseja erigir, eu interpretei mal, posto que a sagrada Congregação
dos Bispos e Regulares tendo pedido, com data de 5 de fevereiro de 1879, o
parecer ao bispo daquela cidade, ele respondeu favoravelmente com data de
23 de fevereiro de 1879; pelo que se acreditava que já era gestão concluída,
enquanto esta todavia está em curso. Anexam-se os correspondentes docu-
mentos e renova-se o pedido para a concessão do favor.
3o [Observação crítica sobre as inspetorias] Na resposta que V. S. dá à Observa-
ção número 2, diz que a Pia Sociedade foi dividida em inspetorias de acordo
com o art. 17 do cap. IX das constituições. Agora, pelo Reitor-Mor si opus
fuerit, capitulo superiore approbante, e não de inspectore. Todos os institutos, em
qualquer parte do mundo que se encontrem, estão divididos em províncias, prévia
aprovação da Santa Sé, que nunca admitiu que a divisão fosse feita com outro
nome. V. S. terá que ater-se à regra geral.
R.) Para a divisão em inspetorias em vez de províncias, julguei que esta era
a aplicação prática do art. 17, cap. IX de nossas Constituições: “Se necessá-
rio, o Reitor-Mor, com o consentimento do Capítulo superior, estabelecerá
alguns visitadores, aos quais encarregará de visitar um determinado número
de casas”. O nome de província ou provincial, nestes tempos calamitosos, nos
404
poria entre os lobos que nos devorariam ou nos dispersariam. Esta termino-
logia foi proposta pelo próprio Pio IX, de sempre cara e grata memória. No
caso de que se quisesse absolutamente instaurar os nomes antigos, suplico
que esta obrigação fique limitada ao relacionamento com a Santa Sé, dando
liberdade de empregar no mundo os modos e vocábulos que são possíveis
nestes tempos.
4o [Observação crítica sobre os institutos femininos] No esclarecimento dado
por V. S. à observação número 3, assim se expressa: Ao abrir institutos femi-
ninos e assumir sua direção espiritual seguir-se-ão todas as normas descritas
no cap. X das constituições. Neste capítulo, fala-se da abertura de casas para
clérigos, para jovens e para meninos, cuja educação se confia aos salesianos; não se
fala em absoluto da abertura de casas de mulheres para serem dirigidas por eles.
Nem se pode dizer ter sido intenção da Santa Sé permitir a abertura e direção de
casas deste tipo pelos salesianos ao aprovar as Constituições, por ser isso contrário às
suas máximas fundamentadas em motivos muito razoáveis. Os salesianos poderão
conduzir a direção espiritual nas casas de mulheres, quando lhes seja confiada pe-
los respectivos ordinários, e esta direção espiritual deve consistir na administração
dos sacramentos e na pregação da Palavra de Deus, tal e como lhes seja confiado
por tais ordinários.
R.) Quanto às irmãs de Maria Auxiliadora, os salesianos não têm em suas
casas mais ingerência do que a espiritual, dentro dos limites e modos que
permitam e prescrevam os ordinários em cujas dioceses existe alguma casa
das mesmas.
5o [Observação crítica sobre as irmãs salesianas] V. S. responde assim: Quando
as Constituições Salesianas foram aprovadas, tratou-se e discutiu-se quanto ao
que se refere ao instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. O Instituto de Maria
Auxiliadora depende do superior-geral da Sociedade Salesiana. Examinada a
volumosa documentação dos salesianos, e especialmente a parte relativa à aprova-
ção das Constituições, observou-se que nunca se tratou e menos ainda se discutiu
sobre o que se refere às Filhas de Maria Auxiliadora. Se isso fosse verdade, segu-
ramente esta sagrada congregação teria ordenado a separação dos dois institutos.
Nunca acostumou aprovar, especialmente nos tempos mais próximos de nós, que os
institutos femininos dependam dos institutos masculinos; e, se talvez tenha ocorrido
algum caso desta dependência, sempre ordenou que cessasse de imediato. V. S. quer
introduzir um costume contrário, que esta congregação não pode senão reprovar.
R.) Quanto ao Instituto de Maria Auxiliadora, se foi ou não proposto na
aprovação de nossas Constituições, posso afirmar quanto segue: quando
nossas Constituições foram apresentadas [em 1873] para sua aprovação
405
38
No texto italiano (MB XIV, 222 [Ceria]), observação quinta, primeira série, diz-se: superiore
generale (masculino), não superiora generale (feminino). A resposta de Dom Bosco foi afirmativa: ele
era o superior-geral do instituto. Deve-se ter em conta que, de acordo com as primeiras Constituições
FMA, o Reitor-Mor, Dom Bosco, e depois o padre Rua, era o superior-geral do Instituto.
39
Na observação sexta, segunda série, o cardeal pergunta se o Instituto conta com uma madre
geral e se é totalmente independente da Congregação Salesiana. Novamente, a resposta de Dom Bosco
é afirmativa em ambos os casos. Nas eleições de 29 de janeiro de 1872, Maria Mazzarello foi eleita
para dirigir o Instituto. Ela recusou, mas em seguida determinou-se que fosse vigária. Dom Bosco,
porém, em 1874 ordenou que Maria Mazzarello fosse a superiora do Instituto. Maria Mazzarello era a
superiora-geral em termos práticos e o Instituto era independente da Congregação Salesiana para todos
os efeitos práticos. Contudo, é um fato que, juridicamente, ou seja, de acordo com as Constituições
FMA, Dom Bosco, Reitor-Mor dos salesianos, era o superior-geral do Instituto das Filhas de Maria
Auxiliadora. Esta situação prevaleceu até 1905, quando Roma interveio para separar juridicamente as
duas congregações, as Constituições FMA foram revistas e aprovadas sem o devido processo. O Insti-
tuto converteu-se numa congregação autônoma de direito pontifício.
406
Exposto isso tudo, peço a V. E. que bem considere com paternal bondade que
a Pia Sociedade Salesiana teve início sem meios materiais, em tempos cala-
mitosos e sustentou-se em meio a crescentes dificuldades e combatida de mil
maneiras. Por isso, precisa de toda a benevolência e indulgência compatíveis
com a autoridade da santa mãe Igreja. Chegam já a 100 as casas abertas, nas
quais se oferece educação cristã a quase 50 mil meninos dos quais mais de 600
entram todos os anos como seminaristas.40 Por outro lado, creio que posso ga-
rantir a V. E. que os salesianos não têm outro fim que trabalhar para a maior
glória de Deus, para o bem da santa Igreja e levar o evangelho de Jesus Cristo
aos índios dos Pampas e da Patagônia.
Prostrado diante de V. E., peço perdão se, involuntariamente, tivesse escrito algu-
ma palavra menos conveniente, enquanto tenho a honra de poder professar-me
De V. E. Rev.ma
Seu inegável servidor João Bosco, sac.
Anotações conclusivas
1o Deve-se advertir que no resumo histórico do relatório, como em outras partes,
a Congregação é apresentada como existente desde 1841. Uma convicção
ou reivindicação constante de Dom Bosco.
40
Novamente, as estatísticas são aqui muito exageradas. Em 1880, por exemplo, quando Dom
Bosco respondeu à segunda série de observações, as casas eram 32.
407
vezes, evasivo. Por isso, o cardeal Ferrieri opinava que não se podia confiar
nele. Contudo, também se deve leva em conta que Ferrieri era um dos
maiores adversários de Dom Bosco e que algumas de suas perguntas refle-
tem aquelas que Dom Bosco já tivera de responder no processo de aprova-
ção das Constituições, das quais vários artigos não eram vistos com bons olhos
por alguns círculos vaticanos.
408
409
As atas das conferências de Alassio, a cargo do padre Barberis, não estão na seção correspon-
2
dente (ASC D577: Conferenze Generali, E6: FDB 1869-1873 D8), mas entre as minutas do Capítulo
superior (ASC D868: Consiglio Superiore Verbali: FDB 1878 A1-D8).
410
3
Os Capítulos Gerais aparecem nas Memórias Biográficas, como segue: I CG: MB XIII, 243s;
II CG: MB XIV, 518s; III GC: MB XVI, 243s; IV CG: MB XVIII, 174s. Cf. J. Rasor, The spiritual
identity of the salesian brother in the light official salesian documents. Tese de doutoramento. Roma: UPS,
1995. Embora centrado no salesiano coadjutor, este estudo apresenta descrições sucintas dos trabalhos
dos Capítulos Gerais I a XXII. Também em J. Rasor, “Early salesian regulations: formation in the
Preventive System”, JSS 8: 2 (1997), 206-268. G. Bosco, Costituzioni della Società di San Francesco di
Sales [1858]-1875. Edição crítica de Francesco Motto. Roma: LAS, 1982.
411
Art. 5o - O Reitor-Mor é eleito por votação pelo Capítulo superior, pelo di-
retor de cada casa local e por um membro professo de cada casa local, eleito
pelos membros professos perpétuos dessa casa. Se, por alguma razão, alguém
não puder participar e emitir seu voto, a eleição realizada pelos assistentes
será válida.6
4
G. Bosco, Costituzioni, 115 [texto aprovado em 1874].
5
G. Bosco, Costituzioni, 115.
6
G. Bosco, Costituzioni, 131.
412
7
G. Bosco, Costituzioni, 143.
8
Art. 3o: Sua eleição acontecerá na festa de São Francisco de Sales, quando é costume que se reúnam
todos os diretores das casas locais [para a Conferência Geral de São Francisco de Sales]. Três meses antes da
festa, o reitor[-mor] notificará a todas as casas a data em que será feita a eleição. G. Bosco, Costituzioni, 143.
Art. 4o: Para tal fim, cada diretor deverá convocar os membros professos perpétuos de sua casa
para escolher o irmão que o acompanhará nas próximas eleições. G. Bosco, Costituzioni, 145.
9
A questão foi levantada em relação com o Capítulo Geral Extraordinário convocado para ele-
ger padre Pedro Ricaldone, sucessor do padre Felipe Rinaldi, em 1932. Contudo, nessa época, regia o
regulamento dos Capítulos Gerais aprovado em 1904.
413
10
[G. Bosco] Deliberazioni del Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuto in Lanzo Torinese
nel settembre 1877. Turim: Tipografia e Libreria Salesiana, 1878, em OE XXIX, 377-472.
11
[G. Bosco] Deliberazioni del secondo Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuto in
Lanzo Torinese nel settembre 1880. Turim: Tipografia Salesiana, 1882, em OE XXXIII, 1-96.
414
415
13
[G. Bosco] Capitolo Generale della Congregazione Salesiana da convocarsi in Lanzo nel prossimo
settembre 1877. Turim: Tipografia Salesiana, 1877, em OE XXVIII, 313-336.
416
Contexto histórico14
O I CG aconteceu no momento em que o conflito entre Dom Bosco
e dom Gastaldi adquiria dimensões importantes. As críticas do arcebispo à
Congregação Salesiana abrangiam todos os aspectos da prática da formação
religiosa e sacerdotal. Esta preocupação esteve claramente presente no traba-
lho do primeiro Capítulo.
Quanto ao contexto político e eclesiástico, devemos assinalar que tanto
na Itália como na França, onde a obra salesiana se estabelecera, estavam no
poder os partidos da esquerda liberal, hostis à Igreja. Nesses países, as forças
conservadoras católicas uniram-se à oposição. Dom Bosco acabava de or-
ganizar os salesianos cooperadores como uma união católica independente,
não política, para o apostolado salesiano. A obra salesiana estabelecera-se na
Argentina e no Uruguai. Em 1877, os salesianos eram 241, dos quais 162
com votos perpétuos e 79 com votos temporários, e os noviços eram 120. As
casas somavam 21. O instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (1872) tam-
bém crescia e trabalhava em associação com os salesianos. Por isso, tornava-se
necessário aperfeiçoar as estruturas da Congregação, tanto para garantir sua
sobrevivência na Igreja como para realizar um apostolado mais eficaz.
14
Cf. ASC D578: Capitoli Generali, I Capitolo generale: FDB C10 1831-1853 A5. Esta coleção
contém principalmente manuscritos e cópias impressas dos seguintes elementos: a convocação de Dom
Bosco e os schemata precapitulares, uma quantidade de propostas apresentadas por salesianos com
notas manuscritas de Dom Bosco, exemplares em rascunho e editado das atas feitas pelos secretários
eleitos, padres Barberis e Berto, várias cópias manuscritas das Deliberações e uma cópia impressa das
mesmas. Cf. [G. Bosco], Deliberazioni del Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuto in Lanzo
Torinese nel settembre 1877. Turim: Tipografia e Livraria Salesiana, 1878, em OE XXIX, 377-472.
Sobre o I CG, ver MB XIII, 243s, e o estudo de M. Verhulst, “Note storiche sul Capitolo Generale
1° della Società Salesiana (1877)”, Sal 43 (1981), 849-882.
15
Ver a lista dos membros em MB XIII, 252s.
417
orgânicos que facilitassem uma interpretação prática [...]. Esse foi o objetivo
do I Capítulo Geral celebrado em 1877”.16
Realização e temática17
O Capítulo trabalhou debaixo de certa pressão, pois todos os partici-
pantes, Dom Bosco e seu conselho em especial, tinham muito trabalho à
frente. De fato, foram necessárias duas interrupções. Os temas foram dis-
cutidos nas sessões plenárias, chamadas “conferências”, realizadas em geral
duas vezes por dia.
Na sessão de abertura foram nomeadas 5 comissões para estudar e apre-
sentar os temas das sessões gerais. Mais tarde, seriam nomeadas outras 3 co-
missões adicionais.18 Em cada sessão geral, as comissões apresentavam por
escrito seus relatórios para discussão, antes da votação das deliberações.
Por causa das duas pausas de grande duração, de 14 a 20 de setembro
e de 22 de setembro a 2 de outubro, o Capítulo foi realizado em três etapas.
16
Relatório de Dom Bosco, Deliberazioni, 1878, 3.
17
Para mais detalhes sobre o trabalho capitular, ver MB XIII, 243s.
18
Sobre a formação das oito comissões, ver MB XIII, 251s.
418
19
Cf. MB XIII, 269.
419
Resultados
Dado o caráter eminentemente prático do Capítulo, não se podiam
esperar grandes novidades. E, de fato, elas não aconteceram. As coisas mais
interessantes foram as intervenções complementares de Dom Bosco, em
que ele revelava alguns aspectos proeminentes do seu pensamento e da sua
mentalidade sobre os temas tratados ou sobre outros que não integravam
o programa.
As Constituições, capítulo VI, artigo 5o, prescreviam que as normas apro-
vadas por um Capítulo Geral deviam ser editadas e impressas e apresentadas à
20
Deliberazioni dei sei primi Capitoli Generali della Pia Società Salesiana, precedute delle Regole o
Costituzioni della medesima. San Benigno Canavese: Tipografia e Libreria Salesiana, 1894.
420
Santa Sé. Por voto, os membros do Capítulo decidiram confiar a tarefa editorial
a Dom Bosco e seu conselho. Dom Bosco trabalhou mais de um ano para dar
forma ao material do Capítulo, e as Deliberações foram publicadas em novem-
bro de 1878.
Apesar de seu início solene e da esperança de elaborar diretrizes defini-
tivas, o Capítulo teve êxito moderado. Foi um Capítulo “prático”, no qual
se pretendia criar normas concretas de aplicação direta na vida das casas e
escolas salesianas.
Dom Bosco nunca apresentou as atas à Santa Sé, pela aparente razão
de que os resultados foram menos significativos dos esperados. De fato, ele
exprimiu sua decepção ao padre Barberis, quando lhe disse que as atas talvez
devessem ser reeditadas somente para a publicação dos artigos. Não gostara
do debate prolongado e inconclusivo sobre minúcias.21 Dom Bosco escrevia
no prólogo aos irmãos:
421
A maior parte dessas ideias será exposta mais adiante. Pela sua importância,
reproduzimos no apêndice a intervenção sobre a denominação salesiano, sem-
pre mais difundida.22
22
Cf. Barberis, Verbali, em três cadernos, conservados em ASC D 578. MB XIII, 243s.
23
Cf. ASC: Capitolo Generale II, D579: FDB A6 1853-1859 B3. As atas foram escritas sepa-
radamente pelos padres Barberis e Marenco, secretários eleitos pelo Capítulo. Estes registros aparecem
em ASC e em FDB da seguinte maneira: um caderno contém o relatório da sessão de abertura (3 de
setembro) de várias mãos, seguido do rascunho incompleto do padre Barberis, informando apenas os
debates de 4 a 11 de setembro (ASC D578: FDB 1856 A11-C6); outro caderno semelhante contém as
atas do padre Marenco, também incompletas, que registram as sessões desde a tarde de 5 de setembro
até o final de 15 de setembro, dia da conclusão do Capítulo (FDB 1857 D2-1857 A1), dois cadernos
com as atas do padre Barberis, que contêm as atas do Capítulo desde seu início na noite de 3 de setem-
bro até sua conclusão, na noite de 15 de setembro (FDB 1857 B7-1859 A9).
A carta de convocação de Dom Bosco e a carta pós-capitular podem ser encontradas em Lettere
circolari di D. Bosco e di D. Rua ed altri loro Scritti ai Salesiani. Turim: Tipografia Salesiana, 1896, 13-
15; Epistolario Ceria III, 637-638.
Um relatório tardio de Dom Bosco: [G. Bosco], Deliberazioni del secondo Capitolo Generale della
Pia Società Salesiana tenuto en Lanzo Torinese nel settembre 1880. Turim: Tipografia Salesiana, 1882, em
OE XXXIII, 1-96. Para uma breve crônica, ver MB XIV, 518s, e Annali I, 465-468. Padre Ceria não
conheceu as atas deste II CG, que aparecerão mais tarde, por isso dá poucas notícias e muito genéricas
sobre ele. Esteve, contudo, com o único sobrevivente que ainda restava daquele Capítulo e recebeu dele
a carta que reproduzimos no apêndice.
24
Ver acima.
422
Desenvolvimento
O II CG reuniu-se em Lanzo, de 3 a 15 de setembro de 1880, ou
seja, durante treze dias. Os membros presentes por direito eram 27. Nesse
momento, os salesianos somavam 405, dos quais 325 com votos perpétuos
e 80 com votos temporários. O que indicava um aumento de 184 salesia-
nos desde o Capítulo anterior, todos trabalhando em 32 casas. Os noviços
chegavam a 146.
Dom Bosco pensou que não era necessária uma longa preparação.25 Na
carta de convocação aos diretores, de 27 de junho de 1880, ele pediu que
todos participassem, salvo se estivessem impossibilitados por sérias dificul-
dades. Participaria, também, um irmão de profissão perpétua de cada casa,
eleito pelos professos perpétuos da casa, pois o Capítulo Geral iria escolher
os membros do Conselho Geral, exceto o Reitor-Mor. Os diretores deviam
convocar uma reunião dos irmãos e recolher suas propostas para serem leva-
das ao Capítulo.26
25
Cf. MB XIV, 519s.
26
Dom Bosco aos diretores, 27 de junho de 1880, em Epistolario Ceria III, 593-594. Para as
eleições, o eleitorado compreendia os membros do capítulo e um irmão professo perpétuo de cada casa
(Constituições, cap. IX, arts. 1 e 4).
27
Barberis, Verbali, caderno I, 10-11.
28
No final do ano, Dom Bosco nomeou padre Sala como ecônomo, substituindo padre Ghiva-
rello, e padre Bonetti, como conselheiro no lugar do padre Sala.
423
29
Cf. a encíclica Aeterni Patris, 4 de agosto de 1879.
30
Cf. Marenco, Verbali, 17; Barberis, Verbali, caderno 2, 14.
424
Padre Barberis assinala que, no final, o Capítulo Geral votou a favor de dar
“plenos poderes e ampla autoridade ao Reitor-Mor, com seu conselho, para
organizar e esclarecer o que eles acreditem para o bem e o progresso da Con-
gregação, especialmente em relação às missões estrangeiras”.
Resultados
O II CG foi principalmente uma revisão e complementação do primei-
ro. Muitos dos participantes eram jovens e não podiam contribuir de forma
significativa na discussão dos temas.31 Todavia, Dom Bosco fez declarações
importantes, especialmente na segunda sessão.
31
Cf. MB XIV, 520s.
425
Como Dom Bosco previa uma longa espera antes que as deliberações do
Capítulo estivessem prontas para publicação, decidiu apresentar aos irmãos
“alguns pontos que considerou importante observar”. A circular traz a data de
8 de dezembro de 1880, uns três meses depois do Capítulo.32
A carta foi escrita pelo padre Rua e assinada por Dom Bosco, que escreveu pessoalmente: “PS:
32
Nosso atual diretório enumera todos os membros do Capítulo superior e determina os irmãos professos
que têm o direito de serem candidatos à eleição”. Esta circular foi enviada pelo correio a todos os diretores.
426
33
A carta, datada oficialmente em 8 de dezembro de 1880, foi escrita e assinada alguns dias
antes, em 29 de novembro.
427
34
Ver a apresentação e avaliação do padre Ceria sobre o II CG, em MB XIV, 519s.
428
Desenvolvimento
O Capítulo reuniu-se durante seis dias, em Valsálice, de 2 a 7 de setem-
bro. Os membros de direito eram 35.
35
ASC: D579 Capitolo Generale III: FDB 1859 D4-1864 D9. Breves anotações do padre Ma-
renco, algumas notas do padre Barberis, em FDB 1863-1864 D9 E7. Diversamente do que diz Ceria,
as páginas iniciais das atas de Marenco não estão faltando; elas estão fora de lugar. Por elas, tomamos
conhecimento de que o Capítulo teve início em 2 de setembro, não em 1º de setembro, como garante
Ceria. O ASC conserva outros materiais, por exemplo, a carta de convocação de Dom Bosco (FDB 1859
B4; veja-se Epistolario Ceria IV, 221-222) e muitas propostas dos irmãos (C1 FDB 1859-1862 A 12).
A apresentação resumida de Ceria do III CG encontra-se em MB XVI, 400s e em Annali I, 468-472.
36
Domingo da Ressurreição, MB XVI, 78s.
37
O modo como morreu foi objeto de controvérsia, ver MB XVI, 357s.
429
MB XVI, 412.
38
As anotações feitas pelo padre Marenco são, em geral, muito sucintas para entender as reuniões.
39
Delas, Ceria tira diversos temas interessantes, porque refletem o pensamento de Dom Bosco sobre o tema
em questão. Apesar disso, não representam o trabalho do Capítulo como tal, embora façam parte dele.
430
Como nos dois primeiros Capítulos Gerais, também neste Dom Bosco
fez intervenções importantes. Uma das sessões, inclusive, foi quase toda dedi-
cada à narração do segundo sonho missionário.
Quanto ao noviciado, Dom Bosco, como sabia que alguns artigos da
versão latina aprovada foram suprimidos na tradução italiana, que os salesia-
nos tinham à mão, explicou que o termo noviciado não devia ser utilizado,
e em seu lugar dever-se-ia usar segunda prova, e seria preciso referir-se aos
noviços como inscritos. Reafirmou que Pio IX lhe dissera várias vezes que
na formação dos salesianos se procurasse fazer com que os noviços fossem
bons, tal como deveria ser um sacerdote exemplar no meio do mundo; para
tanto, requerem-se as obras de piedade que levam a esse fim e, ao mesmo
tempo, que seria bom exercerem seus ofícios para assim conhecer quais são
suas disposições, sem, porém, que isso impeça os exercícios de piedade. Leão
XIII, quando foi perguntado [sobre o tema] não mudou nada do que Pio
IX ordenara.
Padre Albera falou da conveniência de que os noviços franceses fizessem
o noviciado na França e não na Itália. A diversidade da língua, da educação
e, especialmente, de sensibilidade tornavam-no aconselhável. Foi aprovada a
moção para estabelecer o noviciado na França que, de fato, seria aberto em
Sainte Marguerite, próximo de Marselha, imediatamente depois do Capítulo.
Foi aprovada também a moção de criar um noviciado separado para
os coadjutores. Em 22 de outubro de 1883, os aspirantes coadjutores
que aprendiam algum ofício, começariam o noviciado só para eles em
San Benigno.40
No tema da moralidade entre os salesianos, Dom Bosco não podia ser
mais claro: falou da separação entre os religiosos salesianos e os externos,
homens e mulheres. “A Congregação precisa ser purificada”, dizia. Nenhum
estranho seja admitido à mesa comum, mas haja um refeitório apropriado
[para os hóspedes]. Em vista da moralidade pessoal e da boa fama da Con-
gregação, nenhuma mulher deveria alojar-se numa casa salesiana; e dever-
-se-ia cumprir o estabelecido sobre a separação física do lugar de trabalho
das irmãs (lavanderia, cozinha). Para reforçar esta recomendação, Dom
Bosco referia que existira o perigo de uma visita apostólica à Congregação
promovida por alguns altos escalões vaticanos (especialmente pelo cardeal
Ferrieri, bem conhecido pela oposição a Dom Bosco no conflito com Gas-
taldi), embora, afortunadamente, não tenha sido realizada por intervenção
direta do Papa.
40
Ver as palavras de Dom Bosco sobre o noviciado para os estudantes clérigos em MB XVI, 414.
431
41
Chegaram ao Capítulo algumas queixas sobre isso: “Entre os coadjutores corre a voz [dizia al-
guém] que eles são mantidos na Congregação como pessoas desconsideradas, e há quem vá além ao dizer
que os salesianos coadjutores são tidos como simples empregados”; “O nome de coadjutor soa pouco bem
entre nós; por exemplo, um pobre saído da prisão é aceito em nossa casa e se lhe dá o nome de coadjutor”;
“Soa-lhes mal o nome de coadjutor, porque com o mesmo nome são chamadas as pessoas de serviço”. Cf. P.
Braido, Don Bosco, sacerdote, II, 572-576; A. Lenti, Dom Bosco: história e carisma, volume 2, p. 743-791.
432
Resultados
O decreto com que o Capítulo facultava a Dom Bosco e seu conselho a
reelaboração, conclusão e publicação das Deliberações foi redigido e aprova-
do. A brevidade do Capítulo não permitiu que os temas fossem amplamente
trabalhados; de aí que o trabalho das comissões foi arquivado para continuar
o debate no Capítulo seguinte. Não se fez, portanto, uma publicação espe-
cial; as resoluções finalmente foram publicadas incorporadas às do Capítulo
seguinte, de 1887.
Do ponto de vista histórico, “o III Capítulo Geral assume um significa-
do notável para a biografia de Dom Bosco, graças ao papel ativo que ainda
pôde ter nele e as ideias que transmitiu aos salesianos, como fundador e su-
perior, sobre temas considerados essenciais para o espírito da Congregação”.42
42
Cf. P. Braido, Don Bosco, sacerdote, II, 568.
43
Cf. ASC: D579 Capitolo Generale IV: FDB 1864 D11-1868 D11. Ver as atas, bem deta-
lhadas, do padre Lemoyne, em D9: FDB 1867-1868 A6. A carta de convocação de Dom Bosco, 31
de maio de 1886, em Lettere circolari di D. Bosco e di D. Rua ed altri loro scritti ai Salesiani. Turim:
Tipografia Salesiana, 1896, 33-35. Breve “relatório” de Dom Bosco, ibid., 40-43. Normas publicadas:
[G. BOSCO] Deliberazioni del terzo e del quarto Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuti en
Valsálice nel settembre 1883-1886. S. Benigno Canavese: Tipografia Salesiana, 1887, em OE XXXVI,
253-280. Uma crônica detalhada, em MB XVIII, 174s; Annali I, 560-566.
44
MB XVIII, 72s.
433
MB XVII, 258s.
45
MB XVII, 259s; Epistolario IV Ceria, 347-349. Não está claro por que Dom Bosco esperou
46
434
também nomeava oficialmente dom Cagliero seu vigário para toda a América
do Sul; não se esqueceria de que Cagliero já atuara como tal ao se estabelecer
ali a obra salesiana em 1875.
A construção da igreja e residência do Sagrado Coração, em Roma, ca-
minhava em bom ritmo.
Naqueles dias, os salesianos chegavam a 636, dos quais 576 eram professos
perpétuos e 60 temporários, trabalhando em 48 casas. Os noviços eram 254.
Desenvolvimento
O Capítulo reuniu-se em Valsálice, de 1o a 7 de setembro de 1886. Os
membros participantes por direito eram 37; da América, apenas dom Lasag-
na esteve presente.47 Moderador era o padre Francisco Cerruti, que continua-
ria como tal em muitos outros Capítulos Gerais. Padre Lemoyne atuou como
secretário; fora nomeado secretário do Capítulo superior no final de 1883.
A carta de convocação, de 31 de maio de 1886, traz a assinatura de
Dom Bosco.48 Dado que chegava ao fim o período de seis anos dos membros
do conselho geral e seria preciso fazer eleições, “cada diretor – escrevia – será
acompanhado por um membro de votos perpétuos, eleito pelos irmãos de
sua casa”. Esses eleitores adicionais não eram membros do Capítulo. Na
mesma carta, Dom Bosco convida os diretores e os eleitores para os exercí-
cios espirituais de preparação, que seriam celebrados em San Benigno, de 25
a 31 de agosto.
A carta traz os temas ou esquemas, alguns do terceiro Capítulo, total ou
parcialmente.
47
Ver a lista dos membros em MB XVIII, 679s (apêndice 34).
48
Lettere Circolari di D. Bosco e di D. Rua ed altri loro scritti ai Salesiani, Turim: Tipografia Sa-
lesiana, 1896, 33-35.
49
Em MB XVIII, 174, apresenta-se o esquema como “Diretrizes para a seção técnica das casas
salesianas...”. O que foi tratado nos Capítulos III e IV era sobre o modo de criar um programa apro-
priado de instrução e aprendizagem para os aprendizes, pelo que a oficina de antigo estilo converteu-se
numa autêntica escola profissional. Como demonstram as diretrizes publicadas, não tinham o sentido
de escola técnica, nem assumiam a reforma Casati (1859) nem qualquer forma moderna. Ver o texto
destes Regulamentos em MB XVIII, 700s (apêndice 39).
435
50
Ver as deliberações e sugestões sobre o serviço militar em MB XVIII, 611s (apêndice 36).
51
Ver as normas para a admissão às ordens em MB XVIII, 692s (apêndice 37).
436
52
Ver MB XVIII, 694s (apêndice 38) para o Regulamento das paróquias salesianas. Entenda-se que
estes complexos Regulamentos tinham caráter indicativo e seriam submetidos a modificações posteriores.
53
Ver os comentários de Ceria sobre estes decretos em MB XVIII, 192s.
54
Sobre o Boletim Salesiano, ver MB XVIII, 185s e A. Lenti, acima.
55
MB XVIII, 188.
56
MB XVIII, 188s.
437
438
O APELATIVO “SALESIANO”.
DAR A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
439
440
todos os dias para ver o modo de corrigi-las e sair dos prejuízos. Entretanto,
deve-se ter paciência, saber suportar e, em vez de encher o ar de queixas e
lamentos, trabalhar mais do que se possa imaginar, para que as coisas conti-
nuem a caminhar bem. Tendes aí o que se entende por sermos, aos poucos,
conhecidos e praticamente com o Boletim Salesiano. Faremos prevalecer este
princípio; com a graça de Deus, e sem dizer muitas palavras diretamente, [o
Boletim] será fonte de imensos bens para a sociedade civil e eclesiástica.58
Padre Ceria não chegou a ler as atas do II CG, mas parece-nos interessante
conhecer o que ele escreveu sobre o Capítulo, baseando-se na documentação que
tinha, e, sobretudo, nas declarações de um dos participantes desse Capítulo. Re-
produzimos os comentários do padre Ceria e a carta do padre Rocca.
441
442
59
ASC D578: FDB 1859 A12-B2. Padre Ângelo Maria Rocca (1853-1943) entrou no Orató-
rio em 1875 e foi ordenado no ano seguinte. De 1877 a 1901, foi diretor em várias casas salesianas.
Devido a uma enfermidade, retirou-se para Cuorgnè, de onde escreveu a carta. Quando participou
do II CG (1880), tinha 27 anos e era diretor da casa de La Spezia. Padre Ceria, enquanto trabalhava
nas Memórias Biográficas, em 1932, escreveu-lhe, sendo o único membro do Capítulo ainda vivo, para
solicitar suas lembranças. A presente carta foi sua resposta, à qual o padre Ceria se refere em MB XIV,
519, como as recordações do padre Rocca.
443
O que me surpreende é que esta minha cabeça não conservou nenhuma lem-
brança da presença do reverendo padre Rua. Contudo, estou certo de que ele
participou ativamente em todos os debates em andamento.
Em minha opinião, a falta de interesse e o tipo de indiferença que marcaram
as sessões e os debates do Capítulo se devem principalmente a uma só pessoa:
padre Barberis. Certamente, o pobre homem agiu e falou pensando no bem
da Congregação e o êxito do Capítulo, mas o fez de uma maneira que desin-
teressou os demais. Queria ser protagonista o tempo todo, insistia até que
prevalecesse seu ponto de vista; encontrava falhas no que as outras pessoas
propunham; intervinha sempre quando outros estavam falando; interrompeu
o próprio Dom Bosco. Afinal, Dom Bosco, aborrecido com seus modos tão
grosseiros, precisou dirigir algumas palavras adequadas ao padre Barberis em
idioma piemontês. Todos riram e creio que ele tomou nota.
O Capítulo, todavia, já estava chegando ao seu fim. Várias propostas nem
sequer chegaram a ser apresentadas. Outras questões foram tratadas apressa-
damente, sem chegar a qualquer conclusão. Terminamos (e todos estiveram
de acordo) confiando tudo ao Capítulo superior. Nosso Venerável alegrou-se
muito por isso. Creio que as decisões deste Capítulo não foram publicadas
separadamente, até que foram publicadas mais tarde com os demais Capítu-
los. Recordo que, quando surgiu a decisão de entregar todas as matérias do
Capítulo ao Capítulo superior, alguns membros não estavam muito de acor-
do com isso. Contudo, o debate terminou de forma pacífica e com perfeita
caridade.
Assim, pois, nos despedimos de nosso pai comum e do padre Rua, levando
conosco as mais gratas recordações de suas palavras, exortações e bênçãos.
Não posso recordar mais nada. Sinta-se livre e utilize esta memória como
melhor lhe parecer. Decidi-me a escrevê-la para merecer, como o senhor me
garantiu que aconteceria, a bênção de nosso Beato Dom Bosco. Tudo o que
escrevi é verdade; nada é exagerado.
Por favor, aceite meus mais respeitosos bons desejos. Memento mei.
Seu querido irmão.
Padre Ângelo Maria Rocca
PS: Gostaria de acrescentar outra lembrança. Às vezes, enquanto padre
Barberis falava, alguns dos membros mais jovens (incluindo-me, confesso)
continuavam a falar de coisas irrelevantes, fazendo piadas e rindo. Tanto era
assim que fomos chamados à ordem para que voltássemos ao trabalho, não
me recordo por quem.
444
O ESCUDO SALESIANO
História e conteúdos
Antes do IV Capítulo Geral, em 24 de setembro de 1885, Dom Bosco
fez várias nomeações em seu conselho para cobrir os encargos vacantes cria-
dos pela nomeação do padre Rua como vigário. Com uma circular, de 8 de
dezembro de 1885, ele comunicou essas nomeações aos salesianos. Para isso
utilizou um papel de carta que trazia pela primeira vez o escudo salesiano.
Qual a sua origem e o seu desenvolvimento histórico?
O carimbo
Até 1884, a Congregação Salesiana, diversamente de outras famílias re-
ligiosas, não tinha um escudo oficial próprio. Antes de aparecer na carta de
Dom Bosco, em 1885, utilizava-se um carimbo nos documentos oficiais e
nas cartas.
O carimbo era um objeto redondo de uma polegada e um quarto de
diâmetro. No centro, havia a imagem de São Francisco de Sales, com o busto
de frente, enquadrado por dois ramos de louro na parte inferior. Acima da
imagem, ao redor da borda, figuravam as palavras “Societas Salesiana”. Embai-
xo da figura, também ao redor do círculo, um texto dizia: “Discite a me quia
mitis sum” (Mt 11,29: “Aprendei de mim que sou manso”), aplicado neste
caso a São Francisco de Sales.
Primeiro desenho
Em 1884, foi preparado um escudo adequado. Padre Antônio Sala apre-
sentou o esboço preliminar ao Capítulo superior em 12 de setembro de 1884.
Ele era o ecônomo geral da Congregação e, no momento, encarregava-se em
Roma da construção da igreja do Sagrado Coração e do colégio anexo para
internos. A ideia surgiu da sugestão de uma autoridade eclesiástica de Roma.
Considerava-se oportuno e importante que aparecesse entre os escudos de
Pio IX e Leão XIII, na basílica do Sagrado Coração.
O desenho original foi obra do professor Boidi. Mostrava um broquel
no qual o escudo ou campo se dividia verticalmente por uma âncora de gran-
de dimensão. À direita da âncora (esquerda do leitor) estava o busto de São
Francisco de Sales, iluminado por uns raios que vinham do alto, e do outro
lado um coração em chamas. Sob a âncora havia um bosque com montanhas
cobertas de neve, visível ao fundo. Dois ramos de palmeira e o laurel com
445
Ver uma breve descrição em MB XVII, 280, 365s; Annali I, 530. O professor Boidi, amigo
60
e colaborador dos salesianos, era professor de desenho técnico na escola de São João Evangelista em
Turim. Em 1877, desenhou as portas da igreja de São João Evangelista que Dom Bosco construía em
memória de Pio IX.
446
Modificações de 1934
Por ocasião da canonização de Dom Bosco, o escudo salesiano foi “reto-
cado”, sem alterações significativas.
O lema Da mihi animas, cetera tolle, numa faixa ondulante na base do
escudo, foi mantida sem alterações. As figuras simbólicas no campo também
foram mantidas, exceto em suas cores, que as tornaram mais reais, e a simpli-
ficação da cauda do cometa.
Algumas pequenas modificações interessaram o escudo e a ornamentação:
- A forma de pergaminho modelado do escudo ficou mais ornamentada.
- A forma oval original tornou-se mais arredondada.
- A cor do campo foi mudada de azul intenso com incisões horizontais
por um sólido azul celeste.
- A coroa de rosas que arremata o escudo sob a cruz radiante foi subs-
tituída por dois grandes ramos de rosas entrelaçados com folhas de carvalho
na mesma posição.
- A cruz foi duplicada de tamanho.
- Na borda do escudo foram postos adornos barrocos adicionais.
Assim modificado, o escudo salesiano foi mantido sem alterações até
nossos dias.
Significado espiritual
Mesmo depois de cem anos de seu primeiro desenho, o escudo ainda
merece atenção, não tanto pelo seu caráter heráldico, que é respeitável, mas
principalmente pela espiritualidade encarnada pelo seu lema e seus símbolos.
61
MB XVII, 257s; Epistolario IV Ceria, 347-349.
447
Lema
Dom Bosco recusou várias vezes algumas propostas que lhe foram feitas;
ao oferecer a sua, disse que teve “um lema desde os primeiros tempos do Ora-
tório [...]: Da mihi animas, cetera tolle! Essa era, de fato, a inscrição colocada
por ele à porta de seu quarto e que chamou a atenção de Domingos Sávio:
“Agora estou entendendo: aqui se trata de almas”. Do ponto de vista pastoral,
o lema expressa a prioridade que deve dar sentido a todas as obras salesianas.
Interpretação espiritual
O sentido literal do texto bíblico não expressa uma prioridade pastoral,
mas devia ser interpretado em sentido espiritual. Esta é a interpretação tra-
dicional. Por exemplo, no comentário do Gênesis atribuído a São Remígio,
arcebispo de Reims (século V-VI) ou ao diácono Floro de Lyon (†860), le-
mos: Da mihi animas! Interpreta-se em sentido espiritual e místico (PL 131,
85 D). Ruperto de Deutz faz a mesma interpretação em seu In Genesim XIV
(PL 167, C 380-381 B): “Da mihi animas. Interpretado espiritualmente, a
passagem refere-se à pessoa cristã”. São Máximo, bispo de Turim (século V),
escreveu em suas Homilias: “A Palavra revelada deve ser entendida em sentido
interior e espiritual. Esta é a única maneira com que se pode iluminar o povo.
Se as Escrituras não forem entendidas espiritualmente, suas riquezas não po-
derão chegar ao coração humano”.
448
Adaptação ascética
O lema chegou a Dom Bosco, adaptado no sentido ascético que adquirira
nos escritos mais recentes, aos quais teve acesso. A interpretação foi atribuída
a São Francisco de Sales, mas essa adaptação não se encontra em nenhum dos
escritos conhecidos do santo. Dom João Pedro Camus, bispo de Belley, em sua
obra O espírito de São Francisco de Sales, coloca essas palavras na boca de São
Francisco. As palavras também são citadas pelo padre José Cafasso e outros
escritores ascéticos contemporâneos; encontram-se na Forma Cleri e na Regula
Cleri, de 1752, dois livros que, segundo padre Berto, Dom Bosco usava com
frequência para sua meditação diária. Lê-se na Regula Cleri: “Ó, Senhor, aman-
te das almas, dá-me uma parte desse amor, para que eu possa dizer com toda
sinceridade e fervor: ‘Da mihi animas, coetera tolle tibi’ ”.62
62
Sobre o lema, sua fundamentação bíblica e sua aplicação apostólica, ver R. Vicent, “‘ Da mihi
animas, cetera tolle’: una reflexión bíblica sobre Génesis 14,21 y la figura de Abrahán”, CFP 13 (2007),
27-45; M. Wirth, “‘ Da mihi animas, cetera tolle’: notas sobre las interpretaciones exegéticas y el empleo
espiritual de Génesis 14,21”, CFP 13 (2007), 133-153; A. Giraudo, “‘Da mihi animas, cetera tolle’: del
lema a la interioridad y al estilo de vida”, CFP 13 (2007), 155-177.
449
A ornamentação
1. O ramo de palmeira, antigo símbolo cristão, documentado na lite-
ratura e na arte, representa a recompensa reservada a uma vida sa-
crificada e virtuosa. Também representa o martírio. São Gregório
Magno (século VI) escreve: “Assim como a palma era oferecida ao
‘campeão dos jogos’, também será dada ao cristão que em sua vida
terrena alcançar a vitória sobre Satanás e suas próprias paixões”
(Diálogos 3,26).
2. O ramo de louro também simboliza a vitória, assim como a sabedoria.
3. As rosas sob a cruz podem ter a intenção de recordar o sonho de
Dom Bosco do caramanchão de rosas (rosas e espinhos), sonho
que representa a situação real da vida do salesiano.
450
II CG: 1880
Lanzo Torinese, de 3 a 15 de setembro: 13 dias. 27 participantes;
405 salesianos.
Regulamento especial.
IV CG: 1866
Valsálice (Turim), de 1o a 7 de setembro: 6 dias. 37 participantes;
635 salesianos.
Regulamentos e normas. Legisla-se sobre a formação dos irmãos e as
escolas de Formação Profissional.
451
VI CG: 1892
Valsálice (Turim), de 29 de agosto a 6 de setembro. 8 dias. 69 par-
ticipantes; 1.225 salesianos.
Estudo e piedade.
IX CG: 1901
Valsálice (Turim), de 1o a 5 de setembro: 4 dias. 154 participantes;
2.916 salesianos.
Noviciados e casas de formação. Sanatio obtida da Santa Sé, “uma
vez por todas” para todos os atos irregulares anteriores (1902).
X CG: 1904
Valsálice (Turim), de 23 de agosto a 13 de setembro: 21 dias. 75
participantes, entre eles, pela primeira vez, um coadjutor; 3.223
salesianos.
De acordo com as Constituições, reduz-se o número de participantes.
As Constituições são atualizadas com 109 artigos adicionais
orgânicos e os regulamentos; publica-se uma edição impressa
(1907). Os Capítulos Gerais, desde então, serão celebrados a
cada seis anos.
[Padre Rua faleceu em 6 de abril de 1910.]
452
XV CG: 1938
Instituto Conde Rebaudengo (Turim), de 23 de junho a 6 de julho:
13 dias. 105 participantes; 11.401 salesianos.
Eleições de conselheiros. Trata-se e legisla-se sobre as casas de formação.
453
454
XX CG Especial: 1971-1972
Casa Geral, recém-construída (Roma), para onde oficialmente se
transferirá de Turim a direção geral, em 1o de junho de 1972.
De 10 de junho de 1971 a 5 de janeiro de 1972: 206 dias; o
Capítulo mais longo da história salesiana. 202 participantes;
19.737 salesianos.
Padre Luís Ricceri, reeleito Reitor-Mor aos 70 anos.
Tema principal: a identidade salesiana. Novas Constituições e Re-
gulamentos vigentes ad experimentum. Reestrutura-se o governo
central da Congregação, segundo o que foi disposto pelo Capítulo.
455
456
63
Acréscimo do tradutor.
457
458
Admissão ao noviciado
A admissão dos candidatos ao noviciado (“segunda prova” ou “prática da
regra”) e a profissão foi um tema permanente na ordem do dia do Capítulo
superior durante anos.
Quanto ao noviciado, com as admissões, que podemos chamar de ordi-
nárias, de jovens que passaram pelos canais normais da escola salesiana (aspi-
rantado), encontram-se relatos de admissões que não eram tão normais. Do-
cumentam, em parte, a necessidade de vocações sacerdotais e os problemas de
recrutamento. Alguns exemplos serão suficientes.
Dois padres diocesanos do seminário de Magliano Sabino, atendido
em parte pelos salesianos, pediram para unir-se a eles e queriam ir a Turim
imediatamente. Dom Bosco pensou que era melhor permanecerem onde es-
tavam para não irritar as autoridades, mas que já eram considerados como
noviços sob a direção do diretor salesiano, padre José Daghero. Mais tarde,
1
IV CG, sessão terceira, 2 de setembro de 1886, Marenco, Atas, 5: FDB 1867 E1.
459
Esteve conosco durante mais de três meses; sua conduta sempre foi satisfa-
tória. Agora, pede para vestir novamente o hábito clerical, como salesiano.
Ocorre o fato de o nosso colégio de Alassio precisar justamente de um indi-
víduo já maduro como assistente do administrador. Dado que não há mais
ninguém disponível, vamos fazê-lo feliz, admitindo-o como noviço, impor-
-lhe o hábito clerical e enviá-lo para esse cargo em Alassio.5
2
Reunião do Capítulo superior, 16 de fevereiro de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 60: FDB
1876 B10.
3
Os Irmãos Hospitaleiros da Imaculada Conceição formavam uma pequena Congregação laical
que trabalhava em hospitais de Roma e arredores. Pio IX pediu a Dom Bosco que ajudasse essa vaci-
lante comunidade; ele supervisionou pessoalmente algumas reformas iniciais. Padre José Scappini fora
nomeado superior. Sobre o assunto, ver MB XII, 317s, 505s; MB XIII, 13s.
4
Reunião do Capítulo superior, 16 de fevereiro de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 61: FDB
1876 B11.
5
Reunião do Capítulo superior, 16 de fevereiro de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 61-62: FDB
1876 B11-12.
460
Dom Gastaldi via com especial desgosto o costume de Dom Bosco fa-
cilitar o hábito clerical aos ex-seminaristas diocesanos, que o tinham deixado
por sua própria vontade ou porque foram demitidos. Pensava ser inevitável
que alguns deles, depois de conseguirem a ordenação em condições favorá-
veis, retornariam inadaptados à diocese. Dom Bosco, porém, baseando-se em
sua experiência com a Obra de Maria Auxiliadora (filhos de Maria), estava
ansioso para dar uma oportunidade aos jovens adultos, fossem ex-seminaris-
tas ou não. Com prazer, ele examinava o interesse de leigos adultos que da-
vam garantias. Foi esse o caso de Ângelo Piccono, viúvo de 29 anos, com uma
filha pequena, policial de carreira e estudante universitário. Foi admitido no
noviciado em maio de 1877; Dom Bosco disse-lhe que continuasse a cursar
a universidade.6 Fez a profissão um ano depois: “Foi admitido aos votos per-
pétuos e, em seguida, ordenou-se” (novembro de 1878);7 posteriormente,
trabalhou com sucesso na América do Sul e no México.
Dom Bosco expressou sua convicção sobre a validade da prática de ad-
mitir adultos, quando era estudado o interesse de certo Battolla, marinheiro
de carreira à espera de ser promovido a capitão. Alguns acreditavam que não
fora suficientemente provado, mas Dom Bosco objetou:
Gostaria muito que quando um desses jovens adultos vem até nós disposto a
continuar, que alguém o tomasse sob sua proteção e cuidasse dele. Em pouco
tempo, essa pessoa estaria preparada para o trabalho [como salesiano]. Um
menino, ao contrário, requer muitos anos de preparação; o sucesso nunca
é certo, não obstante pudesse ser muito bom. Pode acontecer todo tipo de
incidentes para se extraviarem; o mesmo não acontece com os adultos. Sendo
cuidados e inspirados por bons ideais, em poucos meses podem ser enviados
ao campo de trabalho.8
Dada por certa a validade da ideia dos filhos de Maria, as atas mostram
que foi considerada urgente a necessidade de adotar critérios mais rígidos
para a admissão dos candidatos, especialmente em relação aos jovens adul-
tos que vinham de seminários diocesanos. Os registros demonstram também
que os membros do Conselho mostravam-se, quem sabe pela gravidade da
situação, mais preocupados do que o próprio Dom Bosco. Depreende-se cla-
ramente esta percepção das atas de uma reunião do final de 1878. Seu obje-
tivo principal era a admissão de candidatos; entre eles, alguns ex-seminaristas
6
Reunião do Capítulo superior, 6 de maio de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 78: FDB 1876 D4.
7
Reunião do Capítulo superior, 15 de maio de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 8: FDB 1877 A9.
8
Reunião do Capítulo superior, 6 de maio de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 79: FDB 1876 D5.
461
Até agora a regra era admitir candidatos sem mais, desde que apresentassem as
condições mais básicas. Em todo caso, depois, solicitava-se alguma informa-
ção confidencial. Agora, contudo, a política concordada é que não se admita
um candidato que não apresente os testemunhos necessários.10
9
Reunião do Capítulo superior, 4 de novembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 26: FDB
1877 C3. O princípio, expressado tão enfaticamente por Cagliero, de que a Congregação não existia
para ser refúgio de pecadores arrependidos era uma ideia exposta por Dom Bosco sempre que preci-
sou defender sua particular concepção de noviciado salesiano perante as autoridades. De fato, falou
claramente sobre o tema numa das sessões do II CG: “Na admissão dos candidatos devemos guiar-
-nos sempre por este princípio e norma: nossa Congregação não é lugar no qual se possa entrar para
converter-se e reformar-se moralmente. Uma pessoa que foi vítima de maus hábitos ou vícios e deseja
reformar-se e fazer penitência deve procurar outra das muitas ordens religiosas que foram fundadas
para esse fim. Nós não admitimos essas pessoas, pois nossa sociedade foi criada com o objetivo específi-
co de ser uma ajuda aos outros por meio de uma vida serviço eminentemente ativo [...]. Se essas pessoas
fossem admitidas em vista de sua boa disposição atual, podem fazer o bem pelo tempo que durar o seu
fervor original. Contudo, cedo ou tarde, quando se defrontarem com situações perigosas do ministério
sacerdotal ou de nosso apostolado específico, voltariam a reincidir em seus costumes anteriores” (II
CG, sessão décima primeira, 10 de setembro de 1880, Barberis, Atas, caderno II, 6: FDB 1858 D12).
10
Reunião do Capítulo superior, 4 de novembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 26-27:
FDB 1877 C3-4.
462
Justificava-se uma medida tão drástica? Chamo-a drástica, porque até ago-
ra as coisas eram feitas com mais indulgência. O motivo dessa indulgência
pode ter sido por não temos instalações independentes para essas pessoas
que partilham tudo em comum com os noviços: sala de estudo, refeitó-
rio, dormitório, recreio, capela etc. Contudo estamos muito preocupados.
Temos gente na Congregação que deixa muito a desejar e acaba causando
problemas. Temos também gente no noviciado que carece de espírito re-
ligioso, no entanto não podemos despedi-la. Isso é especialmente certo
com os seminaristas maiores. Portanto, devemos ser menos conformistas
e não devemos permitir-lhes que entrem em casa em regime de internato.
Contudo, estamos bloqueados em duas frentes: 1ª É desejo de Dom Bosco
que, nesta matéria, continuemos a nos guiar pelos conselhos de São Paulo:
“Omnia probate; quod bonum est tenete” [Provai de tudo, conservai o que
é bom]. Isso significa permitir a entrada de muitos. 2ª Antes de aceitar os
possíveis candidatos pedimos, de fato, os documentos e buscamos infor-
mação confidencial, mas, parece que quando é solicitado por um aspirante
realmente bom, os reitores de seminários retêm seus testemunhos, enquan-
to dão documentos de recomendação de boa vontade quando os candida-
tos são menos desejáveis. E nós ficamos com a palha. Padre Cagliero, que
se encarregou das entradas por alguns meses, está muito descontente e es-
teve batalhando com Dom Bosco sobre o tema [...]. De fato, pediu a Dom
Bosco que o exonere desse trabalho. Quanto a mim, sinto-me frustrado e
11
Reunião do Capítulo superior, 4 de novembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 27-28:
FDB 1877 C4-5.
463
irritado pelo que acontece. Nós não entregamos nossos indesejáveis a ou-
tros; não damos testemunhos sobre eles. Por que outros se aproveitam de
nós? Os indivíduos sobre os quais discutimos foram admitidos por ordem
de Dom Bosco. Tive de escrever-lhes e dizer para virem. Agora, contudo,
na medida em que está em meu poder, não vou uni-los aos demais. O as-
sunto é sério. A Congregação criou um bom nome; os pedidos para entrar
nela são numerosos e vêm de todas as partes. Contudo, muitos solicitantes
[como os descritos mais acima] são em geral pessoas desajustadas em ou-
tros lugares.12
12
Reunião do Capítulo superior, 27 de dezembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 57-59:
FDB 1877 E 10-12.
13
Até 1886, Dom Bosco continuou a insistir nesse ponto. “Devemos manter – dizia – os nomes
que temos usado, como aspirantes e ano de prova; deveríamos evitar os termos noviços, noviciado, cujo
uso nem é necessário nem útil” (IV CG, sessão terceira, 2 de setembro de 1886, Marenco, Atas, 5:
FDB 1867 E1).
464
Dom Bosco indica que, como regra geral, nunca se deve ceder quando a moral
está em dúvida. Nesses casos, é melhor recusar o pedido pura e simplesmente,
antes de colocar em casa uma pessoa de moralidade duvidosa. Podemos passar
por cima de sua inteligência limitada, falta de educação, maus resultados nos
estudos, mas nunca [haja] dúvidas quanto à sua moralidade. Isso é essencial.15
Ao admitir um jovem como noviço, especialmente um noviço clérigo, preci-
samos tomá-lo à parte e perguntar, com estrita confidencialidade a questão:
“Importas-te?” Ele responderá: “Não, em absoluto”. “Diz-me, então, como
foi a tua conduta moral no ano passado?”. [...] Se o jovem ainda precisa su-
perar um mau hábito, seria preciso adverti-lo para não continuar, a menos
que dê evidência clara de sua vocação e do firme propósito de utilizar todos
os meios necessários para consegui-lo [...]. Ao examinar um jovem sobre sua
vocação, nunca devemos deixar de lhe perguntar sobre esse assunto.16
14
Reunião do Capítulo superior, 26 de outubro de 1885, Lemoyne, Atas, 85a: FDB 1883 A1.
Em outra ocasião, quanto à admissão de aspirantes, “Dom Bosco fez saber, em estrita confidenciali-
dade, que não se admitisse em nenhuma circunstância qualquer aspirante ao sacerdócio de quem se
soubesse ou suspeitasse que tivesse frequentado prostíbulos” (III CG, sessão nona, 6 de setembro de
1883, Marenco, Atas, 15: FDB 1864 A9).
15
Reunião do Capítulo superior, 30 de agosto de 1884, Lemoyne, Atas, 24b: FDB 1880 E12.
16
Reunião do Capítulo superior, 24 de agosto de 1885, Lemoyne, Atas, 65b: FDB 1882 B10.
Como se pode deduzir das fontes, as palavras “moralidade”, “moral” (moralità) e seu oposto “imora-
lidade”, no uso de Dom Bosco, referem-se ao âmbito da sexualidade e sua prática. No caso do jovem
em questão, a palavra normalmente se refere às experiência sexuais juvenis, como curiosidade sexual,
pensamentos, masturbação etc.
465
com as muito santas normas promulgadas por Pio IX em seus decretos. Isso
inclui a criação das comissões examinadoras indicadas.17
[Na nona sessão] foi colocada a questão sobre a criação ou não de um novicia-
do separado para os noviços aprendizes. Dom Bosco quer reforçar sua posição
separando-os do restante do grupo de jovens que trabalham [no Oratório]. A
maioria dos membros do Capítulo está de acordo sobre a necessidade de um
noviciado separado, mas não se tomou a decisão final. Contudo, será criado
algum programa em San Benigno.21
Reunião do Capítulo superior, 3 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 43a-b: FDB 1881 C11-12.
17
Lemoyne, Atas, 54b, FDB 1881 E12 e 55a-b: FDB 1882 A1-2.
19
IV CG, sessão oitava, 5 de setembro de 1886, Lemoyne, Atas, 10: FDB 1867 E6.
20
III CG, sessão segunda, 3 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 4: FDB 1863 E10.
21
III CG, sessão nona, 6 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 15: FDB 1864 A9.
466
22
Alocução de 19 de outubro de 1883. O texto é apresentado em MB XVI, 312s.
23
Reunião do Capítulo superior, 6 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 27b: FDB 1881 A6.
467
Padre Rua propõe um noviciado de dois anos para os coadjutores, antes de se-
rem admitidos à profissão. Suas motivações são, primeiramente, que devemos
chegar a conhecer a fundo esta classe de pessoas; e, em segundo lugar, que
eles devem adquirir um conhecimento mais profundo das obrigações que as-
sumem com a profissão dos votos. Poder-se-ia fazer alguma exceção em casos
especiais. Padre Cagliero [está de acordo, mas] é contrário a qualquer tipo de
exceção. Padre Rua faz notar que um noviciado de dois anos para os coadjuto-
res não é uma disposição das Constituições, mas [que será apresentado como]
uma prática aprovada pelo Capítulo superior por ser necessária. [...] Padre
[Paulo] Albera apresenta em seguida os pedidos de dois leigos noviços, Pelazza
e Sabaino, e fala em favor deles. Estão para terminar o noviciado de um ano.
O Capítulo superior decide prolongar o noviciado durante um segundo ano,
de acordo com a nova prática.24
Reunião do Capítulo superior, 2 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 40a: FDB 1881 C7.
24
Reunião do Capítulo superior, 17 de agosto de 1877, Barberis, Atas, caderno I, 96-97: FDB
25
1876 E10-11.
468
ocasiões, para dispensar os irmãos que não tinham espírito salesiano e nunca
deveriam ter sido admitidos à profissão.
Dom Bosco disse: “Talvez devêssemos perguntar ao padre [Segundo] Franco [je-
suíta] e averiguar como tratam desse assunto [na Companhia de Jesus]”. Contudo
[acrescenta Barberis], nesta reunião foram mais benévolos e a maioria dos solicitantes
foi admitida à profissão [perpétua]. Alguém pensava que só deveriam ser admitidos
aos votos trienais. “É pior”, respondeu [Dom Bosco]. “Pensariam que não estão nem
a pé nem a cavalo e sua motivação poderia enfraquecer ainda mais. Não, a maneira
de fortalecer sua resolução consiste em admiti-los de uma vez aos votos perpétuos”.26
Dom Bosco expressou várias vezes sua opinião sobre a questão dos votos
trienais; não só se opunha à prática tradicional, como também a evitou nas
Constituições que ele mesmo escrevera.27
Na conferência geral celebrada em 1875, durante o segundo turno dos
exercícios espirituais, em Lanzo, a sessão de 23 de setembro foi dedicada às
admissões. Ceria anota a “conhecida posição de Dom Bosco” sobre a matéria
e informa o que ele disse: “No que me diz respeito, só posso ver alguma dife-
rença entre os votos perpétuos e os trienais, uma vez que também posso dis-
pensar dos votos perpétuos, quando alguém já não é apto à Congregação”.28
Na conferência de Alassio, de 1879, Dom Bosco fez uma declaração
ainda mais clara sobre o tema, segundo informa Barberis:
Quando foi estudada a admissão de alguns que pediam os votos trienais, Dom
Bosco aproveitou a oportunidade para reiterar seu ponto de vista: “Os votos
trienais têm uma perspectiva demasiadamente tentadora para os jovens e muitos
26
Reunião do Capítulo superior, 2 de dezembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 39: FDB
1877 D4.
27
As primeiras Constituições, do primeiro rascunho de 1858 à última redação, aprovadas em
1874, estabeleciam os votos trienais ao menos por dois períodos. Cf. G. Bosco, Costituzioni, 172-173,
capítulo sobre admissões, art. 4 (5 ou 7).
28
MB XI, 161s; 167s, com comentários de Ceria. As atas desta conferência não foram encon-
tradas. Dom Bosco, em suas Constituições, dera poder ao Reitor-Mor para dispensar dos votos, mas as
autoridades romanas recusaram essa norma antes da aprovação.
469
caem na tentação. Se, ao contrário, fazem seus votos perpétuos, ficam tranquilos
e deixam de pensar [em abandonar]. Aceitei os votos trienais, porque tinha uma
ideia diferente da congregação [romana]; porque pensava estabelecer algo muito
diferente do que finalmente foi aprovado. Fomos obrigados a nos amoldarmos a
isso e basta. Contudo, como as coisas andam, os votos trienais deixam a pessoa
demasiadamente exposta à tentação. Se um candidato possui as qualidades e a
disposição necessárias, deveria fazer os votos perpétuos, não os trienais”.29
Ceria cita o que parece ser a determinação final de Dom Bosco sobre a
questão, no boa-noite de 5 de setembro de 1879:
Devo-lhes informar que esta é a última vez que se farão os votos por três anos.
A partir de agora, todos os que fazem os votos, os farão perpétuos. A expe-
riência demonstrou que os votos trienais são uma tentação demasiadamente
séria enfrentada por alguns.30
Era uma boa pessoa, mas estava extraordinariamente apegado à sua mãe, que
era muito pobre. Ela esperava que seu filho a ajudasse economicamente, pelo
que se opunha que continuasse na Congregação. O filho, fraco como era e
com vontade de ajudar a mãe, não se atreveu a fazer os votos perpétuos e, ao
terminar os votos trienais, não pediu a renovação. O Senhor, contudo [...],
quis dar a todos nós uma lição com esta morte. Deus, que proporciona ali-
mento às aves do céu e aos animais do campo, não abandona os que deixam
tudo, incluindo a família, para segui-lo. Ao contrário, Deus frustra as espe-
ranças daqueles que confiam nas pessoas e nas coisas, e não n’Ele. Neste caso,
o filho foi castigado, morrendo sem votos, e também a mãe, que foi castigada
perdendo o filho em quem depositara suas esperanças.31
29
Conferência de Alassio, sessão 2, 7 de fevereiro de 1879, relato de Barberis nas Atas, caderno
II, 76-77: FDB 1878 B5-6. Ver um extenso comentário de Ceria em MB XIV, 43s.
30
MB XIV, 361. Ceria acrescenta, porém, que Dom Bosco não cumpriu estritamente sua regra,
e se continuou a fazer votos trienais. Não obstante, numa reunião do Capítulo superior em 1884,
admitiram-se os noviços diretamente aos votos perpétuos; ver reunião do Capítulo superior, 15 de
janeiro de 1884 em Lemoyne, Atas, 3a-b: FDB 1880 B5-6.
31
II CG, sessão sétima, 7 de setembro de 1880, Barberis, Atas, caderno I, 60-61: FDB 1858 B8-9.
470
Entre os que irão [às missões] está o clérigo salesiano Calcagno, que foi ad-
mitido à profissão apesar de ainda lhe faltarem cinco meses para completar
o noviciado. É aluno nosso e tem os melhores testemunhos de vários lugares
em que viveu, em especial dos carmelitas, onde foi noviço durante quase um
ano. [...] O jovem coadjutor Grosso também foi admitido aos votos. Veio
para nós há três anos, mas foi noviço apenas três meses. É um problema, mas
lá [na Argentina] precisam de alguém para dirigir a oficina de encadernação.
Não podia ser enviado sem votos. É um bom jovem. Que vá e que o Senhor
esteja com ele.32
Esta indagação pode ser boa em si mesma, mas não deve ser estabelecida
como forma de agir. Em primeiro lugar, algumas pessoas poderiam fazer má
utilização dela, e, em segundo lugar, se alguém quiser enganar, pode fazê-
-lo com impunidade, porque não se pode consultar o confessor de maneira
alguma.
32
Reunião do Capítulo superior, 2 de dezembro de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 41: FDB
1877 D6.
33
Reunião do Capítulo superior, 15 de janeiro de 1884, Lemoyne, Atas, 3b: FDB 1880 B6.
471
Padre Cagliero quis saber a que título se pode receber uma pessoa de 72 anos
na Congregação. Dom Bosco responde que se trata de uma exceção. Padre
Cagliero objeta que há exceções que se tomam diariamente e que esta só re-
força a ideia de que os jovens devem sustentar os mais velhos. Pensa que nesta
matéria devemos guiar-nos pelo senso comum [...]. Dom Bosco responde
que se pode acrescentar a observação de que estas pessoas sejam admitidas em
caráter excepcional. Se estas pessoas fossem sacerdotes, sua idade não seria um
assunto que preocupasse. Padre Cagliero insiste que, mesmo que estas pessoas
mais velhas fossem sacerdotes, estariam fora de lugar entre nós. Padre Rua
olha o catálogo e descobre que Cattaneo nunca foi noviço, nem sequer aspi-
rante. Dom Bosco então propõe que se diga a todos eles que podem desfrutar
de todas as vantagens espirituais sendo salesianos cooperadores.34
Padre Cagliero informa que o voto dos capítulos de sua casa é negativo. Dom
Bosco, porém, faz notar que Novelli lhe garantiu que quer ser sacerdote e
que pretende perseverar na Congregação. Esteve muito desanimado, porque
em sua comunidade não lhe foi demonstrada qualquer consideração. Pelo seu
desânimo perdeu a confiança em seu diretor e descuidou da sua confiança,
aproximando-se dele só quando era absolutamente necessário. Contudo, con-
fessava-se a cada dez ou onze dias e comungou com regularidade. Quanto à
conduta moral, não há acusações contra ele. Além do mais, obteve o título
para ensinar no terceiro e quarto ano da escola primária. Padre Cagliero acres-
centa que seu diretor, padre [José] Bertello, queixou-se de sua desobediência
e falta de disciplina, mas que o padre Isnardi, por sua vez, pensa que é melhor
que os outros dois, Giachino e Palmieri. Deve-se recordar também que Novelli
foi recusado no seminário de Brescia e Palmieri, no de Roma. [...] Dom Bosco
pensa que [Novelli] deve ser transferido a outra casa, mas padre Durando diz
que já foi mudado três vezes. Dom Bosco responde que se o padre Bertello
tivesse informado do menor defeito em matéria de conduta moral, ele seria
despedido da Congregação. Mas, parece, está limpo nesse aspecto. E, também,
34
Reunião do Capítulo superior, 12 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 31b: FDB 1881 B2.
472
35
Reunião do Capítulo superior, 12 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 32a: FDB 1881 B3.
473
não venha à Itália. Deve encontrar a maneira de evitar o serviço militar [na
França]. Essas pessoas podem colocar-nos em perigo.
Concluindo, Dom Bosco afirma um princípio importante: “Se alguém não
está preparado para a profissão no tempo indicado, deve ser despedido. Igual-
mente, quando se nega a ordenação a alguém, este deve considerar-se como
não pertencente à Congregação; portanto, deve ser despedido formalmente”.
O pedido de Testoris é recusado.36
36
Reunião do Capítulo superior, 5 de abril de 1884, Lemoyne, Atas, 10a: FDB 1880 C7. Deve-se
advertir que naqueles tempos os salesianos faziam votos perpétuos para exercer sua profissão num estado
concreto no interior da Congregação, ou seja, ou como coadjutores ou como sacerdotes. Se alguém pro-
fessava para exercer como sacerdote e não era admitido às ordens deixava de existir a razão de sua profis-
são e, portanto, devia abandonar a Congregação, na qual professara para ser sacerdote. Não era o mesmo
para os que haviam professado como coadjutores, que não podiam ser expulsos se ficavam doentes.
37
Parece que no período que estamos considerando, o mundo inteiro percebesse a existência da
Congregação Salesiana e sua obra. Pode ser de interesse ao leitor saber que, em 1884, houve pedidos
para fundações de Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora em São Petersburgo e Odessa [Rússia]: ver
reunião do Capítulo superior, 28 de fevereiro de 1884, Lemoyne, Atas, 8a: FDB 1880 C3).
474
38
Reunião do Capítulo superior, 15 de maio de 1878, Barberis, Atas, caderno II, 9-10: FDB
1877 A10-11.
39
II CG, sessão quarta, 5 de setembro de 1880, Barberis, Atas, caderno I, 34-35: FDB 1857 E6-7.
475
40
Reunião do Capítulo superior, 18 de setembro de 1885, Lemoyne, Atas, 79a: FDB 1882 E1;
14 de novembro de 1887, Lemoyne, Atas, 108a: FDB 1883 D11. É a última reunião presidida por
Dom Bosco.
41
Reunião do Capítulo superior, 18 de setembro de 1885, Lemoyne, Atas, 79a: FDB 1882 E1.
42
Reunião do Capítulo superior, 9 de setembro de 1885, Lemoyne, Atas, 72a: FDB 1882 C11.
Dom Bosco falou com os mesmos termos, mas com maiores detalhes, na reunião do Capítulo superior,
29 de novembro de 1885, Lemoyne, Atas, 88a: FDB 1883 A7.
476
43
Reunião do Capítulo superior, 16 de janeiro de 1884, Lemoyne, Atas, 4b: FDB 1889 B8.
44
Reunião do Capítulo superior, 5 de novembro de 1885, Lemoyne, Atas, 87a: FDB 1883 A5.
477
“Em primeiro lugar, nenhuma mulher deve alojar-se conosco em [nossa] casa.
A lavanderia [onde se empregam mulheres], também não deve ter comuni-
cação com o resto da casa. Em segundo lugar, o que foi estabelecido [pelo
III CG] em relação à separação dos lugares em que vivem e os locais em que
nossas irmãs trabalham, deve ser colocado em prática sem demora. Isso é
de suma importância e deve-se dar-lhe uma atenção imediata e séria”. [...]
Dom Bosco relata que a Congregação dos Bispos e Regulares, por causa de
relatórios recebidos, previra uma visita apostólica [das casas salesianas]; e teria
atuado em consequência se o Santo Padre não tivesse intervido. Isso teria
sido uma mancha vergonhosa para nosso bom nome. A Congregação romana
recebera um relatório de comportamento imoral, verossímil [um acréscimo
acima da linha, mas seguramente falso]: um salesiano tinha o costume de
visitar os locais onde as irmãs trabalhavam, criou amizade com uma delas e
juntos planejaram fugir. Contudo, por causa de circunstâncias imprevistas, o
plano frustrou-se. Foi o cardeal [Inocêncio] Ferrieri quem recebeu o relatório
e falou com o Papa sobre a possibilidade da visita.46
45
III CG, sessão segunda, 3 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 3: FDB 1863, E9. A comis-
são nomeada incluía os padres Rua, Bertello, Notário, Belmonte e Costamagna.
46
III CG, sessão quinta, 4 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 8-9: FDB 1864 A2-3.
47
Ver F. Desramaut, Don Bosco, 1219-1221.
478
48
Sobre o padre Davi Pirro, lê-se em nota bene de uma carta de Dom Bosco ao padre José Bologna:
“Estou escrevendo ao padre Pirro para repreendê-lo por ter atraiçoado a si mesmo, à Congregação e à
Igreja. Estou advertindo-o que cavou um poço para si mesmo e que abra os olhos etc. Ele te falará do
assunto” (carta de 13 de maio de 1880, em Epistolario III Ceria, 588; cf. também MB XIV, 498). Ceria
acrescenta simplesmente: “Padre Pirro vinha de Nápoles e já se decidira a deixar a Congregação”. As
Memórias Biográficas mencionam padre Por[r]ani em ligação com outros assuntos, mas não tem nada a
ver com este, cf. Francis Desramaut, Don-Bosco a Nice: la vie d’une ecole professionnelle catholique entre
1875 et 1919. Paris: Apostolat des Editions, 1980, 367, nota 74.
49
Um relato resumido está em MB XV, 139, onde Ceria omite o nome e fala apenas de “um
professor”. Bertolo, porém, parece que era um clérigo salesiano (F. Desramaut, Don Bosco, 1219).
479
50
Desramaut dá o nome de alguns desses jornais e cita alguns extratos: o Cronaca dei Tribunali e
o Gazzetta del Popolo, de Turim, o Epoca, de Gênova, o Messaggero, de Roma. Epoca escreveu: “A gente
entra em vertigem quando contempla tal monstruoso abismo de maldade e vergonha”. E o Cronaca dei
Tribunali: “Até mesmo o sistema judicial está comovido, à medida que avança o processo desses assassi-
nos de adolescentes, que trabalham debaixo da capa do hábito religioso. [...] Respeitamos Dom Bosco
[...]. Mas seu nome não deve ser invocado para proteger estes criminosos, nem a bandeira da Caridade
deve ser usada para tapar tão inusitada vileza moral” (F. Desramaut, Don Bosco, 1220-1221.1229,
notas de referência).
51
O relato de Ceria em MB XV, 576ss. MB XV, 813s traz o decreto do fiscal C. T. Villa ao
tribunal de apelação de Brescia em favor do padre Musso.
52
O procurador-geral, padre Dalmazzo, a Dom Bosco, Roma, 15 de maio de 1882, resumido
em MB XV, 578.
53
III CG, sessão décima primeira, 7 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 18-19: FDB 1864 B1.
480
Dirigimos nossa atenção para um assunto muito importante que por muito
tempo esteve na mente dos superiores. Defrontamo-nos com a questão de
limpar a Congregação, eliminando alguns de seus membros que não vivem
segundo seu espírito e se converteram em mau exemplo e obstáculo para os
demais. Primeiramente, foi elaborada uma lista desses indesejáveis que apa-
rentemente tinham se recuperado. Depois de ceder com muitos deles, final-
mente foram indicados oito como expulsos. Também foram indicados outros
dois irmãos, mas não serão notificados, pois devem fazer o serviço militar
num futuro próximo e se lhes deixa seguir o seu curso. Esta é a primeira vez
que agimos para expulsar um grupo de pessoas e foi uma experiência penosa.
Todos, porém, aceitaram a medida tomada.55
481
56
Ver, mais adiante, os principais escritos doutrinais sistemáticos de Dom Bosco neste período,
1875-1885.
482
57
Conferência Geral de Alassio, sessão segunda, 7 de fevereiro de 1879, Barberis, Atas, caderno
II, 73: FDB 1878 B2.
58
Cf. nota no art. 3o do cap. 6 (governo religioso da Congregação) nas Constituições de 1875,
texto italiano, em G. Bosco, Costituzioni, 113. Deliberazioni del secondo Capitolo Generale [...]. Turim:
Tipografia Salesiana, 1882, 1, em OE XXXIII, 9.
483
Não se contente com uma simples promessa, pois neste caso, o vínculo entre
[...] superiores e súditos não seria adequado. O senhor nunca poderia estar se-
guro deles, nem poderia contar com eles durante algum período de tempo.60
59
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 14: FDB
1857 C9.
60
MB V, 860.
61
O autógrafo de Dom Bosco, reelaborado e corrigido, tudo de sua mão, está em ASC A223
Autografi-sogni: FDB 1346 C12-E2. Segue-se uma transcrição do padre Berto com correções acrescen-
tadas por Dom Bosco: FDB 1346 E3-10. Ver o texto em MB XV 183s.
484
O manto era adornado com dez diamantes, cinco na frente e cinco na parte
posterior, cada um com o nome de uma virtude. Na parte mais próxima ao
pescoço trazia uma faixa atada na frente, com uma fita que caía sobre o peito.
A faixa do manto trazia a legenda em latim, “A Pia Sociedade Salesiana em
1881”. Na fita que caía sobre o peito estavam escritas as palavras: “Como deve
ser”. De repente, tudo escureceu e a cena mudou. O mesmo nobre senhor apa-
receu com ar de desgosto. O manto que trazia estava todo corroído e no lugar
dos diamantes havia traças, que devoravam o tecido, criando nele grandes bu-
racos. Novas palavras em latim: “Como a Pia Sociedade Salesiana corre perigo
de ser no ano 1900”. A cena mudou novamente e apareceu um jovem vestido
com uma túnica bordada em prata e ouro. Ao redor da túnica trazia uma fran-
ja com diamantes muito luminosos. Ele cantou uma mensagem de esperança
e um coro de vozes uniu-se ao canto. Em seguida, Dom Bosco acordou.
O sonho em seu conjunto, e especialmente em sua parte central, reflete
as preocupações de Dom Bosco e os temores com a saúde espiritual da Con-
gregação e corrobora o que dissera no II CG do ano anterior.
Quanto à sua ordem, os diamantes-virtudes (em italiano, no rascunho
original; em seguida, foi passado para o latim na correção de Dom Bosco)
aparecem como segue: fé, esperança, caridade, trabalho, temperança, obedi-
ência, [voto de] pobreza, [grande] recompensa, [voto de] castidade. Também
aqui, a obediência precede a pobreza e a castidade. Mais significativo é o lugar
que Dom Bosco, com sua letra, estabelece os diamantes da obediência no
manto. Em seu projeto original, no centro da parte posterior do manto, no
lugar de honra, portanto, ele colocara o diamante da castidade. Em seguida,
porém, corrigiu seu próprio texto e escreveu obediência no lugar da castidade.
Ao comentar o sonho, Stella assinala que, embora Dom Bosco com fre-
quência tenha exaltado a castidade como a virtude mais bela, “escreveu que a
obediência é a primeira e o fundamento de todas as outras virtudes, também
na vida religiosa”.62 É compreensível, portanto, que Dom Bosco insistisse na
prática da obediência. Sua percepção de que os diretores salesianos, e também
os sócios mais próximos, tivessem uma atitude um tanto descuidada na obe-
diência a seus superiores, a ele mesmo em especial, desagradava-lhe muito, o
que explica sua grande preocupação.
Novamente, e com maior ênfase, na nona sessão do II CG, Dom Bosco
voltou a falar da obediência principalmente em relação aos superiores.
P. Stella, Mentalità, 528. Para apoiar esta afirmação, Stella cita II giovane provveduto, 1847,
62
13, e as Memórias Biográficas: MB IV, 749; VI, 800; VII, 555; IX, 526 etc., onde Dom Bosco se
refere ao tema.
485
Dom Bosco queria que essa manifestação fosse uma verdadeira prestação
de contas da consciência; assim o redigiu nos rascunhos das Constituições de
1858 a 1873.65 As autoridades da Igreja, contudo, não estavam de acordo
com a medida como era concebida por Dom Bosco e ordenaram que fosse
reduzida a “uma prestação de contas da vida exterior”. Dom Bosco continuou
a convidar à “plena confiança” nas relações dos irmãos com seu diretor. Na
mesma sessão, a nona, do II CG, Barberis anota: “Dom Bosco tinha coisas a
dizer”. Seus comentários referiam-se ao espírito que deve unir os irmãos ao
seu diretor e entre eles mesmos.
“Os irmãos devem considerar o próprio diretor como pai amoroso, como ir-
mão mais velho, nomeado para esse cargo com a única finalidade de ajudá-los
a realizarem bem o próprio trabalho [...]. Devem estar convencidos de que
uma escola ou uma casa só funciona bem quando os irmãos, em seus diversos
trabalhos, vivem e trabalham unidos com um só coração e uma só alma. Isso,
na prática, não é obviamente possível se os irmãos não colocam seu diretor no
II CG, sessão terceira, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 29-30:
63
486
“Neste trabalho, devem ter sempre em conta que a cadeia pela qual se comu-
nica a autoridade jurídica não pode ser manipulada; ou seja, desde o Papa ao
Reitor-Mor, às inspetorias e, finalmente, aos diretores de cada casa local”.68
66
II CG, sessão nona, 9 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 70-72: FDB
1858 C6-8.
67
G. Bosco, Costitutioni, 151. Sobre os artigos do voto de obediência e a forma e o estilo da
autoridade e da obediência salesiana, ver o perspicaz estudo de F. Motto, “La figura del superiore
salesiano nelle Costituzioni della Società di S. Francesco di Sales”, RSS 2 (1983), 3-53.
68
CG I, sessão décima sexta, Barberis, Atas transcritas, 254: FDB 1851 E8. A comissão nomeada
para estudar e elaborar um relatório sobre “Inspetorias e obrigações dos inspetores”, era composta pelos
padres Cagliero, Rua e Albera. Cf. MB XIII, 216.
69
Brevi notizie sulla Congregazione di San Francesco di Sales dall’anno 1841 al 1879, em OE
XXXI, 241; cf. MB XIV, 191.
487
70
II CG, sessão primeira, 3 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 8: FDB
1857 C3.
488
Pelo final do II CG, Dom Bosco propôs que se nomeasse uma comissão
para estudar “como se poderia estender a autoridade do Reitor-Mor direta-
mente a cada um dos membros do Capítulo superior e, depois, a todos os
membros da Congregação, através dos provinciais e dos diretores”. A comis-
são era composta pelos membros do Capítulo superior.72
II CG, sessão nona, 9 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 74: FDB
71
1858 C5.
72
II CG, sessão décima terceira, 11 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno II,
14: FDB 1858 E8.
73
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 14-15:
FDB 1857 C9-10.
489
74
Carta de Dom Bosco a Gabrielli, junho de 1879, em Epistolario III Ceria, 481-482. Note-se
que o termo “amorevolezza” (empregado aqui como componente do trinômio “razão, religião, bonda-
de”) não aparece mais no documento.
75
Carta de Dom Bosco a Gabrielli, 23 de julho de 1879, em Epistolario III Ceria, 499. A buro-
cracia romana e outras complicações impediram que as negociações fossem concluídas com êxito. Cf. o
que se disse anteriormente sobre a fundação da casa correcional de Santa Rita, em Madri.
76
J. M. Prellezo, “Valdocco (1866-1888): problemi organizzativi e tensioni ideali nelle ‘conferenze’
dei primi salesiani’, RSS, 8 (1989), 289-328 (especialmente 294-297, 308-311) descreve a “situação real”
em relação à disciplina e aos castigos usados nos primeiros tempos no Oratório e a disposição gradual ao
longo dos anos de uma verdadeira política disciplinar “dombosquiana”, que não fosse contra os princípios
490
fundamentais do Sistema Preventivo. Prellezo cita o uso de algumas formas “extremas” de castigo no Orató-
rio com o consentimento de Dom Bosco. Refere-se, também, a uma carta escrita por Dom Bosco ao chefe
de polícia de Turim: “A fim de controlar alguns jovens [...] nós temos permitido usar todo meio adequado e,
em casos extremos, buscar a ajuda da polícia, como fomos obrigados a fazer em várias ocasiões”. Cópia desta
carta autógrafa, sem data, mas que pode ser datada em fins dos anos sessenta do século XIX, encontra-se em
ASC A173, Lettere autografe: FDB 4 B2-4.
A Carta sobre os castigos, de 29 de janeiro de 1883, que por muito tempo foi atribuída a Dom Bosco,
não é sua, como o demonstrou repetidamente o professor Prellezo. Cf. J. M. Prellezo, “Dei castighi da infli-
ggersi nelle case salesiane: una lettera circolare attribuita a Don Bosco”, RSS 5 (1986), 263-308. Idem, “’Dei
castighi’ (1883) puntualizzazioni sull’autore e sulle fonti redazionali dello scritto”, RSS 52 (2008), 287-307.
77
Ver a edição crítica e um estudo da carta em seu contexto histórico, em P. Braido, “La Lettera
di Don Bosco da Roma del 10 maggio 1884”, RSS 3 (1884), 296-374; Idem, La Lettera di Don Bosco
da Roma del 10 maggio 1884 (Roma: LAS, 1984); Idem, “Due Lettere da Roma”, Scritti Pedagogici e
Spirituali (LAS: Roma, 1987, 269-303); J. M. Prellezo, “La(s) carta(s) de Roma (1884)”, Cuadernos
de Formación Permanente, 17, 2011, 179-202.
78
Marenco anota sobre este tema: “Aqui, Dom Bosco relata um episódio para confirmá-lo”. A
carta não foi conservada.
79
III CG, sessão de encerramento, 7 de setembro de 1883, Marenco, Atas, 20: FDB 1864 B2.
491
492
em questão pode ser que seja um santo homem, mas pode ter a tendência de
tratar os meninos de maneira áspera ou impaciente. Todas as suas virtudes são
deixadas de lado e o defeito se converte em fator decisivo.
Permiti-me que o repita: a doçura e a caridade entre nós mesmos e para com
os meninos são os meios que melhor realizam a boa educação e a promoção de
vocações. Esta é a razão dada pelos meninos: “Se os salesianos se amam assim
uns aos outros, também haverão de me amar; serei um deles”. É certo que não
se deve entrar na Congregação com a finalidade de encontrar amor. Mas os
meninos raciocinam assim. Quando entram, começam a se comportar bem e,
aos poucos, convertem-se em autênticos [membros] ativos da Congregação e
fazem muito bem. Em outras circunstâncias, nunca teriam entrado; na maioria
dos casos, ter-se-iam desorientado completamente e acabariam mal. A mansi-
dão e a caridade, pelo contrário, haveria de lhes proporcionar sua salvação.80
80
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880. Barberis, Atas transcritas, caderno I, 15-17:
FDB 1857 C10-12.
493
81
A formulação em cursivo é um acréscimo interlinear. Os jardins de infância foram introduzi-
dos na Itália e em Turim pelo pedagogo padre Ferrante Aporti (1791-1858). Propiciava novos métodos
na educação das crianças, tendo incorrido na censura das autoridades da Igreja. Dom Bosco censurou
e foi muito crítico com este educador; ver, por exemplo, MB II, 188; 209s; 213.
82
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 17-18:
FDB 1857 C12-D1.
83
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas, 8: FDB 1856 B7.
494
depende da escolha da reta vocação e que, por isso, deve-se pensar muito, rezar
e pedir conselho. Evitar dizer a um menino que deve ou não ser sacerdote.
O importante é que os meninos pensem na vocação e escolham aquela que
lhes seja mais adequada. Depois, se existir a semente de uma vocação [ao sacer-
dócio ou à vida religiosa] ela não será sufocada, mas se desejará que germine. 5o
Promover a leitura de nossas publicações, como a vida de Domingos Sávio, de
[Miguel] Magone etc. Uma pessoa jovem raciocinará assim: “Uma casa, uma
escola, uma congregação que pode tornar santos estes jovens é digna do meu
apreço e admiração; e, se eu quisesse ser sacerdote, é aí que eu gostaria de sê-
-lo. Na verdade, eu até poderia tentá-lo”. 6o Trabalhemos bem duramente. Há
muitos frades e sacerdotes que se dedicam à pregação, à confissão etc.; contu-
do, não se identificam suficientemente e o povo o sabe. Os salesianos, porém,
são vistos ensinando na aula, dando instrução religiosa, pregando do púlpito;
estão um pouco por todas as partes e fazem um pouco de tudo. Esta [atividade
incansável] é o que atrai as pessoas para nós. Alguém me disse há algum tem-
po: “Enviei um salesiano a Roma e ele pôs metade da cidade em movimento.
O que teria acontecido se o senhor tivesse mandado 15 ou 16 salesianos?”.84
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 19-
84
20: FDB 1857 D2-3. Padre Francisco Dalmazzo foi o primeiro salesiano residente em Roma, como
procurador-geral (1880).
495
É muito importante que nossos meninos sejam dirigidos por confessores [sa-
lesianos], porque eles estão imbuídos do espírito salesiano. É frequente que se
peça a alguns sacerdotes que estão conosco por longo período de tempo que os
ouça em confissão. Podem ser bons e santos sacerdotes, mas, não sendo salesia-
nos, não são formados no espírito da nossa Congregação. O conselho que dão
na confissão pode ser contrário àquele que um sacerdote salesiano daria. Como
consequência, o menino perde a confiança em seu confessor [salesiano] ou em
seu diretor. Não posso pensar em nada mais prejudicial para uma vocação.
Durante um retiro espiritual em Lanzo, um jovem buscou o conselho de Dom
Bosco a respeito de certa dificuldade na vocação. Em seguida, foi confessar-se
com um sacerdote visitante, não salesiano, e recebeu um conselho oposto. Esse
foi o início do deslize do jovem até a total ruína espiritual.86
Pouco mais tarde, na mesma sessão, Dom Bosco é novamente citado so-
bre o tema da vocação, que desta vez, segundo a teologia do tempo, destacou
a obrigação de seguir a vocação.
Conferência de Alassio, sessão segunda, 7 de fevereiro de 1879, Barberis, Atas, com as atas do
85
496
88
II CG, sessão sexta, 6 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 51: FDB
1858 A11.
497
Nem as orações nem os milagres serão de proveito para neutralizar este mun-
do perverso. São necessárias as obras. Precisamos dar o quanto possível um
lar a muitos jovens.89
498
92
Ver comentário sobre as circunstâncias que determinaram a reelaboração deste artigo, em F.
Desramaut, “Lo scopo della Società nella costituzioni salesiane”. In: La missione dei salesiani nella
Chiesa. Turim: LDC, 1970, 65-85; A. Lenti, “Community and mission: spiritual insights and salesian
religious life in Don Bosco’s Constitutions”, JSS 9:1 (1998), 1-57.
93
G. Bosco, [...] Savio [...] (1859), 53, em OE XI, 203.
94
G. Bosco, “Cose da notarsi [...]”, em G. Bosco, Costituzioni, 229. Dom Bosco reafirmou este
ponto de vista muitas vezes, por exemplo, no “Resumo histórico” (Cenno istorico), apresentado em Roma
com o texto constitucional em 1873-1874 (P. Braido, Don Bosco per i giovani, 125); nos Regulamentos
para os salesianos cooperadores (G. Bosco, Cooperatori salesiani, ossia... [1876] 6, em OE XXVIII, 260).
95
“E para dirigir os oratórios aos domingos e dias festivos”, aparece como acréscimo à margem.
499
só96 aquelas com as quais se sirva o povo (pel popolo) e os jovens pobres, de-
satendidos. [Disse:] “Estas obras pastorais correspondem mais ao nosso fim,
realizam um bem enorme e atraem a simpatia e a ajuda de todas as pessoas,
boas e más. Ao mesmo tempo elas precisam de menor número de pessoal;
e, o mais importante em nossos dias, é que o pessoal não tem por que ser
academicamente qualificado. Infelizmente, temos pouco pessoal com títulos,
diplomas ou graus. Nestes lares para meninos aprendizes poderemos, depois,
estabelecer aos poucos também uma escola elementar. Esta estratégia reduzirá
o perigo de investigações por parte das autoridades escolares, que desejam
comprovar o programa de estudos e o atestado de professores”.97
Para salesianos
Quanto ao material de leitura adequada, Barberis informa:
Deixando outros temas menos importantes, surgiu o da leitura e dos maus
livros. Dom Bosco expressou sua preocupação com os livros que alguns de
nossos clérigos leem com prazer. [Disse:] “Essas leituras podem ser muito
prejudiciais para nossos jovens, porque é o que são na realidade os nossos
clérigos. É certo que os livros são lidos de forma rápida, simplesmente pela
novidade da trama, e no momento da leitura não fazem nenhum dano. Mais
tarde, contudo, recordam-se e detêm-se num deles, e suscitam ideias que es-
tão em desacordo com os ensinamentos doutrinais e morais da religião cristã”.
Insistiu-se com os diretores, com firmeza, para que afastassem este tipo de
literatura das mãos de seus jovens e de seus irmãos. Foram assinaladas espe-
cialmente como obras a retirar, as de Ariosto, Metastasio, D’Azeglio e Giusti.
Mas não se devia parar aqui. Deve-se desaconselhar também a leitura de no-
velas que, de fato, não são más e foram escritas com boa finalidade, mas que
II CG, sessão oitava, 7 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 62-63:
97
500
Dom Bosco também fez uma séria advertência contra as leituras proi-
bidas, e mesmo contra apresentá-las favoravelmente, porque degradam ou
contradizem a doutrina católica em assuntos de fé e moral.99
Dom Bosco acrescentou: “Há uma mania entre os sacerdotes mais jovens,
como também nos mais velhos que ensinam nas escolas, de lerem livros proi-
bidos, e pedem-me licença [para isso]. Este é um assunto muito sério. Para o
verdadeiro conhecimento da fé católica em toda a sua beleza, deve-se adquirir
um profundo conhecimento da mesma em sua totalidade. Se a mente estiver
cheia de preconceitos [contra a fé católica], embora seja em apenas um ponto,
ela não será apreciada em seu conjunto. Creio, pois, que nunca se devam ler
livros maus, mesmo se alguém está certo de não sofrer qualquer dano moral
[com essa leitura]. Há muitos livros bons disponíveis sobre todos os tipos
de temas. Recorramos a essas fontes nas quais sobressai a excelência, e não
percamos tempo em buscar na lama o pouco bem que possa ter. Além disso,
ocorre raramente que mesmo esse pouco de bom esteja completamente livre
de sujeira, ou que tal leitura não produza o efeito de diminuir a própria devo-
ção ou aumentar o preconceito pessoal contra a religião”.100
98
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 22: FDB
1857 D5. Entre os escritos poéticos de Ludovico Ariosto (1474-1533) está o poema épico cavalheires-
co, Orlando furioso, considerado a melhor expressão poética do renascimento italiano. Pedro Metastasio
(1698-1792) é autor, entre outras obras, de numerosos melodramas (Didone abbandonata, La clemenza
di Tito etc.). Máximo Taparelli, Marquês d’Azeglio (1798-1866), escritor piemontês e político ativo
no Risorgimento, é autor de novelas políticas (Ettore Fieramosca etc.) e de memórias (I miei ricordi). José
Giusti (1809-1850), poeta e escritor, conhecido pelas suas sátiras políticas e sociais (Lo stivale etc.).
Alexandre Manzoni (1785-1873), novelista italiano e poeta ativo no tempo do Risorgimento, conhe-
cido especialmente pela sua obra I promessi sposi (Os noivos), novela histórica da Itália do século XVII
com ressonâncias políticas. Antônio Bresciani (1798-1862), jesuíta, novelista e polemista de La Civiltà
Cattolica. Segundo Franco, pregador jesuíta e escritor religioso.
99
O Santo Ofício proibia alguns livros explicitamente pelo seu nome, e depois eram incluídos no Índex
Librorum prohibitorum. Contudo, muitos outros livros estavam proibidos, ipso jure; o código em vigor na épo-
ca enumerava uma dezena de categorias de livros proibidos. Basicamente, todos os livros, católicos ou não, que
contradissessem o ensinamento tradicional da Igreja nos âmbitos da Sagrada Escritura, da doutrina teológica
e filosófica e da doutrina e da prática moral, estavam proibidos por lei. Também por lei estavam proibidos os
livros que ridicularizassem a religião, defendessem práticas alheias à ética cristã, o suicídio, por exemplo, ou
fossem irreligiosos, por defender a superstição, a magia etc., ou lascivos ou obscenos. Em nosso caso, parece que
se tratasse principalmente de literatura que não respeitava a doutrina, a filosofia, a religião ou a moral católica.
100
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 22-23:
FDB 1857 D5-6.
501
A preocupação de Dom Bosco com as leituras dos irmãos parece ter sido
motivada, primeiramente, pelo que ele esperava que fosse um compromisso
inquebrantável de seus salesianos com a fé e a vida moral católica. Contu-
do, também era motivada, sem dúvida, pela percepção do perigo espiritual
que havia nessas leituras. Pois se Dom Bosco, de um lado, queria que seus
seguidores estivessem “com o mundo” e que trabalhassem sem temor “no
mundo”, de outro, acreditava que devia defendê-los das más influências do
mundo com medidas cautelares destinadas a protegê-los. Contudo, além das
preocupações de proteção, na separação do mundo ou na renúncia a ele (fuga
mundi), também havia um componente importante de ascese salesiana.
Para jovens
A preocupação de oferecer proteção parece que foi decisiva para a pre-
mente chamada de atenção de Dom Bosco sobre o controle estrito e a su-
pervisão de todo o material de leitura dos jovens nas escolas salesianas. Sua
convicção de que pela leitura de livros, mesmo aparentemente inofensivos,
poder-se-ia produzir algum grave dano espiritual aos jovens, evidencia-se em
sua exortação final no II CG.
101
II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Barberis, Atas transcritas, caderno I, 23-24:
FDB 1857 D6-7. Nicolau Machiavelli (1469-1527), político e filósofo italiano, viveu em Florença; au-
tor de Il principe (O Príncipe), seu livro mais famoso, também escreveu ensaios de história e literatura.
502
102
A série Selecta ex Latinis Scriptoribus (Seleção de clássicos latinos) teve início em meados de
1860 e continuou mesmo depois da morte de Dom Bosco, de uma forma mais ampla para incluir tam-
bém os clássicos gregos. A Biblioteca della Gioventù Italiana (Biblioteca da juventude italiana) começou
a ser publicada em janeiro de 1869 e acabou em 1885 com a publicação do volume 204. Dom Bosco
determinou os critérios editoriais para a Literatura italiana numa circular (MB IX, 428s). Ele também
pretendia pôr nas mãos da juventude livros que pudessem ser lidos por prazer, sem prejuízo espiritual.
No II CG, ele sugeriu e expressou essa esperança (II CG, sessão segunda, 4 de setembro de 1880, Bar-
beris, Atas transcritas, caderno I, 24: FDB 1857 D7). Uma nova série surgiu em 1886 como Leituras
amenas (Letture amene), que persistiu até 1889.
103
Ver A. Lenti, “Key-concepts, concerns and fears of a founder: Don Bosco in his declining
years”. Part II. JSS 7:1 (1996), 36-63.
503
Ceria escreve que foi pensando nesse tipo de preocupação, que levou Dom
Bosco a pedir ao padre Lemoyne que escrevesse uma carta, que ele mesmo editou
e enviou às escolas com sua assinatura, em 1o de novembro de 1884. A carta cir-
cular de Dom Bosco sobre o controle dos livros dos alunos e o material de leitura
nas escolas salesianas é prova importante de seu constante interesse pelo tema.105
Dom Bosco começa a carta manifestando a grave preocupação que o le-
vou a escrevê-la e pede a todos os salesianos que assumam maior sentido de res-
ponsabilidade como educadores, uma responsabilidade que “deve ser compar-
tilhada conjunta e indivisivelmente, tanto por mim como por vós”. A questão
a abordar com urgência, diz, é a dos livros “utilizados pelos nossos jovens; que
livros se devem manter fora de seu alcance e quais deveriam ser permitidos para
leitura pessoal, assim como para [leitura] comunitária”. A carta refere-se à ânsia
moderna pela leitura e fala da forma com que se utilizam os livros para mode-
lar as mentes dos jovens. Passa, depois, a inculcar a vigilância para evitar que
os maus livros possam ser introduzidos na escola no início do curso e durante
o ano escolar e sugere alguns métodos, como a inspeção nos armários, baús e
pacotes. Ao mesmo tempo em que é inflexível em relação à vigilância e aos mé-
todos de controle, Dom Bosco também solicita aos interessados, especialmente
aos diretores, a se orientarem pelo espírito salesiano na matéria. Reconhecendo
não ser possível conter o desejo dos meninos pela leitura, a carta também abor-
da o tema dos bons livros que se hão de aconselhar e faz diversas sugestões para
a leitura, tanto em particular como em público.
104
Reunião do Capítulo superior, 12 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 33a-b: FDB 1881 B5-6.
105
MB XVII, 192s. Uma cópia impressa com a assinatura de Dom Bosco (autêntica?) está em
ASC A175, Lettere circolari, Una gravissima cagione: FDB 1368 C9-11. Uma nota do arquivista cita
padre Ceria: “A assinatura poderia ser própria de Dom Bosco, ao menos não se descarta”. Contudo, uma
simples comparação com a letra de Dom Bosco nesse período mostra que esta assinatura é muito firme
e caligráfica para ser autêntica. Dom Bosco estava perdendo o controle de suas mãos e acabava de so-
breviver a uma enfermidade quase fatal. A autenticidade da carta como tal, porém, não está em questão.
504
505
Quase todas as atas do Capítulo superior estão em ACS D868 Consiglio Superiore: Verbali:
106
506
Atas do II CG (1880)
Foram seus redatores os padres Júlio Barberis e João Marenco, secretá-
rios eleitos pelo Capítulo.
113
ACS D868 Consiglio Superiore: Verbali, FDB 1879 E12.
114
FDB 1880 A1-1.
115
FDB 1880 B1-1883 E3.
116
As atas das sessões destas conferências (de 1868 em diante) estão em ASC D577 Conferenze
Generali: FDB 1869 E6 - 1873 D8. Relatórios sucintos ou extensos estão nas Memórias Biográficas.
117
Foi especial, porque se deu depois do I CG (1877) e quase um ano antes do II CG (1880);
mais do que “conferência geral” foi, na verdade, uma reunião de alguns diretores com os membros do
Capítulo superior; sem dúvida, como instrumento regulador de governo, rivalizou com as conferências
gerais e também com alguns Capítulos gerais.
118
FDB 1878 C7-D8.
507
119
ACS D579: Capitoli Generali presieduti da Don Bosco, FDB 1856 A11-C6.
120
FDB 1856 D2-1857 A1.
121
FDB 1857 B7-1859 A9.
122
FDB 1857 B7-1858 D6; caderno I das Atas transcritas (II CG, Sessão 2, 4 de setembro de 1880).
123
FDB 1858 D7-1859 A9.
124
FDB 1863 E7-1864 B9.
125
125 FDB 1864 B10-12
126
FDB 1864 C10-D8.
508
[Os livros maus e sua influência perniciosa sobre as mentes dos jovens]
As primeiras impressões recebidas pelas mentes castas e os corações sen-
síveis dos jovenzinhos duram todo o tempo de sua vida; e os livros, hoje em
dia, são uma de suas principais causas. A leitura tem para eles uma atração
muito viva e excita sua curiosidade impaciente, e disso depende, muitíssimas
vezes, a escolha definitiva que fazem do bem ou do mal. Os inimigos das
almas conhecem esta poderosa arma, e a experiência ensina o quão crimi-
nosamente sabem usá-la para dano da inocência. Os títulos chamativos, a
boa qualidade do papel, a nitidez da impressão, a delicadeza das gravuras, a
economia no preço, o domínio do estilo, a variedade da trama, o ardor das
descrições, tudo é estudado com arte e esperteza diabólicas. A nós, cabe con-
trapor armas contra armas, arrancar das mãos de nossos jovens o veneno que
lhes é oferecido pela imoralidade e a impiedade; contrapor livros bons a livros
maus. Ai de nós se dormíssemos enquanto o inimigo vela continuamente
para semear a cizânia!
127
Ver texto completo em MB XVII, 197S.
509
Carta circular de Dom Bosco sobre a leitura nas escolas salesianas (1884).
510
[Outras orientações]
Contudo, uma vez descoberto um livro proibido pela Igreja ou por ser
imoral, seja lançado logo ao fogo. Houve livros que foram proibidos aos jo-
vens e, por conservá-los, acarretaram a ruína de sacerdotes e clérigos. Pro-
cedendo assim, espero que não entrem livros maus em nossos colégios e, se
entrarem, sejam logo destruídos. Entretanto, além dos livros maus, deve-se
estar atento a outros que, embora sendo bons ou indiferentes em si mesmos,
podem, contudo, resultar perigosos por não serem convenientes à idade, ao
lugar, aos estudos, às inclinações, às paixões nascentes, à vocação. Estes livros
também devem ser eliminados. Quanto aos livros honestos e amenos, far-se-
-ia um grande favor aos estudos se pudessem ser prescindidos; os professores
511
Dom Bosco manteve a palavra, embora fosse apenas uma ideia e inspiração. As Letture dra
128
matiche (Leituras dramáticas, ou seja, obras de teatro) começaram em 1885 e as Letture amene (Leituras
amenas), em 1886. Ambas eram publicadas a cada dois meses.
512
[Conclusão]
Meus queridos filhos, escutai, recordai e praticai estes avisos que vos
dou. Percebo que meus anos caminham para o seu ocaso. Também os vossos
vão passando velozmente. Trabalhemos, pois, com zelo, para que seja abun-
dante a messe das almas salvas, que possamos apresentar ao bom Pai de famí-
lia, que é Deus. E o Senhor vos abençoe e convosco os nossos jovens alunos,
aos quais cumprimentareis de minha parte, recomendando a suas orações este
pobre ancião, que tanto vos ama em Jesus Cristo.
Afeiçoadíssimo em Jesus Cristo,
João Bosco, presbítero.
513
1
MB XVII, 181s, 499s. Sobre o tema, ver os excelentes estudos de J. M. Prellezo, “Valdocco
(1866-1889): problemi organizzativi e tensioni nelle ‘conferenze’ dei primi salesiani”, RSS 15 (1989),
289-328; idem, “L’Oratorio di Valdocco nel ‘Diario’ di don Chiala e don Lazzero (1875-1888.1895):
introduzione e testi critici”, RSS 15 (1990), 347-442; idem, “L’Oratorio de Valdocco nelle ‘Conferenze
capitolari’ (1866-1877): introduzione e testo critico”, RSS 18 (1991), 61-154; Idem, “L’Oratorio de
Valdocco nelle ‘adunanze del capitolo della casa’ e nelle ‘Conferenze mensili’ (1884): introduzione e testi
critici”, RSS 19 (1991), 245-294; idem, “Valdocco 1884. Problemi disciplinari e proposte di riforma:
introduzione e testi critici, RSS 20 (1992), 35-71. Recompilados e publicados em: J. M. Prellezo,
Valdocco en el XIX, entre lo real y lo ideal: documentos y testimonios sobre una experiencia pedagógica. Madri:
Editorial CCS, 2000.
514
Prellezo trabalha com fontes primárias: as atas do capítulo da casa do Oratório e outros docu-
mentos; embora faça referência explícita às atas do Capítulo superior e dos Capítulos Gerais, não as
cita com a amplidão que aqui se faz. Não obstante, é imprescindível para compreender este período do
Oratório e interpretar sua evolução, seu primeiro artigo, “Valdocco (1866-1888): problemi organizza-
tivi e tensioni nelle ‘conferenze’ dei primi salesiani”, RSS 15 (1989), 294-297, 308-311. Guiamo-nos
por suas ideias, embora nosso objetivo seja chamar a atenção sobre a dinâmica dos processos sociais
em andamento. Em particular, propusemo-nos a ressaltar as ideias de Dom Bosco com suas próprias
palavras; de aí, oferecermos extensos extratos das atas.
2
Na reforma educativa de Casati (1859), os cinco anos de estudos secundários eram chamados
de gimnasio. Era dividido em seção inferior de três anos e seção superior de dois anos, que terminavam
com o exame de Estado e a titulação (licenza).
515
516
517
518
em dois, seção de maiores e de menores. Por outro lado, no ‘livro de conduta’, os aprendizes estavam
registrados pelo nome da seguinte maneira: 36 impressores, 73 encadernadores, 33 alfaiates, 39 sapa-
teiros, 22 carpinteiros, 14 mecânicos, 6 fundidores, 5 chapeleiros; um total de 228, sem contar os da
livraria” (MB X, p. VI). J. M. Prellezo, Valdocco (1866-1888), p. 299, 318, apresenta cifras um tanto
menores, procedentes do registro.
9
Reunião do Capítulo superior, 7 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 18a: FDB 1880 D11.
10
Reunião do Capítulo superior, 7 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 13a: FDB 1880 D1.
11
Reunião do Capítulo superior, 4 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 25b: FDB 1881 A2.
519
520
13
Reunião do Capítulo superior, 19 de maio de 1884, Lemoyne, Atas, 12a: FDB 1880 C11.
521
Dom Bosco decide criar uma comissão para estudar a forma de salvaguardar
e promover os bons costumes no Oratório. São escolhidos para essa comissão
padre Rua, padre Bonetti, padre Lazzero, padre Durando e padre Cagliero.
Sua finalidade é cada um estudar o assunto seriamente, depois, reunir-se na
tarde de segunda-feira e trocar ideias. Pede-se ao padre Bonetti [que preside a
comissão] que explore as opiniões de cada membro do capítulo da casa e de
cada professor e, em seguida, informe à comissão na reunião de segunda-feira
[9 de junho].14
Reunião do Capítulo superior, 5 de junho de 1884, Lemoyne, Atas, 13a-14a: FDB 1880 D1-3.
14
15
Esses documentos estão em ASC 38 Fondazioni: FDB 240 B8-241 A3. Para a edição crítica,
cf. J. M. Prellezo, Voldocco en el XIX, 259-273.
522
2o Como consequência, deve ser visto com frequência no recreio com os me-
ninos; fazer frequentes visitas às salas de aula e a outros locais onde seus auxi-
liares trabalham. Esta presença servirá para estabelecer sua autoridade perante
os alunos, promover a confiança recíproca e fazer com que o bom exemplo
seja seguido pelos demais salesianos. Como resultado, voltará a florescer o
método seguido por Dom Bosco e pelos primeiros salesianos nos velhos tem-
pos, e com ele o espírito de família.
3o Posto que o diretor deva ocupar-se em muitas coisas por meio do pre-
feito, do conselheiro de estudos, do diretor espiritual e dos professores,
também deverá reunir-se regularmente com eles, para trocar informação e
pontos de vista em relação à conduta dos meninos e da disciplina na escola.
Essas trocas de informação criarão compreensão recíproca e promoverão a
unidade de direção.
4o Tarefa do diretor é educar os meninos na virtude e na vida cristã, assim
como corrigi-los, quando a correção for necessária. Isso demonstrará que
ele está realmente preocupado com seu bem-estar espiritual. Por isso, deve
ser ele a dirigir os meninos nos Boas-Noites e organizar suas palavras ao
redor de temas relacionados com a conduta moral e a vida cristã. A boa
vontade será promovida, e eles se sentirão em casa; ao mesmo tempo em
que os maus entenderão que não são estimados, a não ser que mudem e
demonstrem que são dignos.
5o É preciso um diretor espiritual capaz e experiente, uma pessoa que possa
instruir e guiar os meninos com habilidade e prudência, uma pessoa que pos-
sa conquistar sua estima e confiança.
6o Por diversas razões, foi falado em expulsar os meninos que causam dano
moral aos demais. A esses jovens não se deve permitir o regresso.16
16
Bonetti, Relazione: FDB 240 D11-E2. J. M. Prellezo, Valdocco en el XIX, 272-273.
523
É preciso um diretor que tenha total autoridade, que seja o único juiz e intér-
prete do que se há de fazer; e, depois, muitas outras coisas que se acrescentarão.
Os superiores devem considerar a nomeação de um diretor (e um prefeito)
exclusivamente para a escola [Febraro].17
Ano passado foi proposto estudar o motivo pelo qual faltava o clima de con-
fiança nas classes superiores. O que respondi na época, respondo agora e muito
mais quanto vi confirmado pela carta enviada de Roma por Dom Bosco. Não
têm confiança porque são mais heróis do que os outros no mal. Sua doença
dominante são as más conversas e más leituras etc. [...]. O Oratório é o lugar
em que um irmão se sente mais isolado. Entre tantos superiores não há um su-
perior direto, que possa dizer uma palavra imediata, de estímulo... [Canepa].19
524
Dom Bosco quer saber: “Quem é responsável pela disciplina na casa? A quem
devem dirigir-se os professores e assistentes para obter apoio? É ao diretor
espiritual? [...] Já disse e repito que não se devem poupar despesas em tudo
o que for necessário para garantir a boa ordem. O trabalho do diretor não é
fazer as coisas por si mesmo, mas certificar-se de que as coisas sejam feitas pela
pessoa adequada”. Em seguida, pede que a próxima reunião de sexta-feira seja
dedicada à discussão destes assuntos.21
21
Reunião do Capítulo superior, 30 de junho de 1884, Lemoyne, Atas, 14b-15a: FDB 1880 D6-7.
22
Reunião do Capítulo superior, 4 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 17a-b: FDB 1880 D9-10.
525
“Cada um atenda ao próprio trabalho e nada mais. Por exemplo, deixe que
o diretor espiritual cuide da instrução religiosa e da capela e vele para que os
regulamentos sejam respeitados; tenha em conta que a boa caminhada da casa
depende do seu trabalho. O diretor se for necessário também deve deixar de
pregar e confessar. Seu único trabalho é supervisionar tudo e todos”.23
526
24
Este novo conselheiro do Capítulo superior seria encarregado do “componente operário” da
Congregação, ou seja, das oficinas, da comunidade de aprendizes e do pessoal, salesianos coadjutores,
relacionado com as oficinas. O termo italiano para esse cargo nas fontes é “conselheiro artístico” ou
“conselheiro profissional”. Como as oficinas se converteram gradualmente em escolas profissionais, o
termo “conselheiro para as escolas profissionais” seria o adequado.
25
Reunião do Capítulo superior, 4 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 25b: FDB 1881 A2.
527
Quero que o padre Francésia seja transferido para o Oratório; quero que ele e
o padre Lazzero assumam a direção desta casa. Um diretor não pode atender
a tanta gente. Padre Lazzero, mais de uma vez, pediu-me por escrito que lhe
fosse concedida uma ajuda. Proponho que se dividam as tarefas de direção
entre eles, confiando ao padre Francésia a comunidade dos estudantes e tudo
o que ela comporta; a dos aprendizes, ao padre Lazzero, dispensando-o assim
de atender aos estudantes. Refiro-me a que o padre Lazzero se encarregue dos
Reunião do Capítulo superior, 4 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 25b-26a: FDB 1881 A2-3.
26
Reunião do Capítulo superior, 4 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 26b: FDB 1881 A4.
27
Dom Bosco (ou Lemoyne) queria dizer César Cagliero não José Cagliero (1847-1874).
528
[Em vez de encaminhá-los a uma das duas comunidades ou criar uma especial
para eles] precisamos livrar-nos dessas pessoas que vivem na casa e que não
pertencem à Congregação. Ao menos não devem comer conosco, nem assistir
às funções [religiosas] conosco. Eles dão palpites em tudo; veem e ouvem
tudo e depois riem de nós e espalham indiscrições sobre nós.29
28
Reunião do Capítulo superior, 12 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 33b: FDB 1881 B6.
29
Reunião do Capítulo superior, 12 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 33b-3a: FDB 1881 B6-7.
529
Padre Francésia volta a falar do tema dos dois diretores. Não se negaria a acei-
tar a proposta de Dom Bosco, mas tem receio de que “alguém possa colocar
uma questão de ordem”. Padre Rua fala novamente de dois vice-diretores; e
acrescenta que, de um lado, parece ser a única medida adequada para salva-
guardar a unidade de comando; e, de outro, permite atuações independentes.
30
Reunião do Capítulo superior, 18 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 34b: FDB 1881 B8.
530
Padre Rua pergunta ao padre Lazzero se ficaria satisfeito com sua nomeação
como diretor de Lanzo. Padre Lazzero responde que o consenso da reunião
do Capítulo de ontem elimina qualquer censura de sua parte; mas que não
pode evitar a sensação de que esta nomeação é uma manobra mal dissimulada
para expulsá-lo do seu posto no Oratório. Padre Rua garante-lhe que não é o
caso. Padre Cerruti insiste na necessidade de um conselheiro com dedicação
integral às escolas profissionais e que o padre Lazzero é a pessoa requerida
especificamente para o posto pelos salesianos leigos e também pelos jovens
aprendizes. Padre Lazzero mostra-se inflexível: “Trabalhei como diretor do
Oratório por muitos anos e não posso permitir que seja degradado o meu
bom nome. Além disso, tenho o apoio de Dom Bosco; tenho a intenção de
permanecer no Oratório como diretor dos aprendizes”. 32
31
Reunião do Capítulo superior, 19 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 35b: FDB 1881 B10.
Com a expressão “colocar uma questão de ordem” (fare questione di gabinetto), padre Francésia, longe
de ridicularizar, provavelmente queria dizer que alguém poderia desafiar a decisão de Dom Bosco com
as Constituições.
32
Reunião do Capítulo superior, 20 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 36b: FDB 1881 B12.
33
Reunião do Capítulo superior, 29 de setembro de 1884, Lemoyne, Atas, 38b: FDB 1881 C4.
531
34
Reuniões do Capítulo superior, 5 de janeiro, 20 de março, 22 de junho, 2 de outubro de 1885,
Lemoyne, Atas, 54a, 56b, 62a, 84b: FDB 1881 E11, 1882 A4, B3, E12. Dom Bosco queria seriamente
que a solução funcionasse. Conservamos uma série de declarações, por exemplo: “Ganharíamos muito
se eventualmente os estudantes e os aprendizes pudessem usar capelas diferentes” (ibidem, 56b: FDB
1882 A4). “Precisamos determinar com urgência as competências e responsabilidades dos superiores
da casa”. “Confiamos na boa vontade e na prudência dos dois diretores. Já é hora de analisar os re-
gulamentos da casa e quais devem ser alterados ou corrigidos para responder às necessidades de hoje”
(ibidem, 62a: FDB 1882 B3).
35
Società di San Francesco di Sales. Anno 1887 (Elenco), citado por J. M. Prellezo, Valdocco en
el XIX, 252.
532
É triste ver a mudança que tantos jovens sofreram para pior, depois de um
começo prometedor, no momento em que chegam ao quinto ano de gimna-
sio. É um fato que a maioria do quarto ano e os meninos do quinto ano, em
vez de optar pela vocação sacerdotal, vão à universidade ou conseguem um
trabalho de colarinho branco. É verdade que alguns escolhem a vocação sacer-
dotal, mas, devido à pressão dos pais, os artifícios dos párocos ou o conselho
do bispo vão para o seminário diocesano. E, contudo, de cada 100 jovens
do quarto e quinto ano, apenas dois ou menos pagam a pensão normal. Os
demais ou são aceitos gratuitamente ou, ao menos, a casa proporciona-lhes os
livros e a roupa. Dessa forma, o dinheiro de nossos benfeitores subvenciona
nossos futuros advogados, médicos e escritores. Os jovens que se matriculam
em outras escolas salesianas [e pagam sua educação] são certamente livres de
buscar outras carreiras. Mas isso não se pode tolerar nesta nossa casa, em que
os jovens vivem da caridade pública. Minha pergunta, então, é: qual é a nossa
obrigação e o que devemos fazer?37
36
Deliberazioni del Secondo Capitolo Generale della Pia Società Salesiana tenuto in Lanzo Torinese nel
settembre 1880. Turim: Tip. Salesiana, 1882, seção III, capítulo III e IV, 53-59, em OE XXXIII, 61-67.
37
Reunião do Capítulo superior, 5 de junho de 1884, Leomoyne, Atas, 13a: FDB 1880 D1.
38
Para a história e os detalhes, ver MB XIV, 87s, especialmente o Memorandum, 87-88, 135-
190. Cf. M. Ribotta, “The day they shut down the Oratory school”, JSS 2:1 (1991), 19-44.
533
39
Reunião do Capítulo superior, 5 de junho de 1884, Lemoyne, Atas, 13b: FDB 1880 D2.
“Como escola apostólica são designadas as várias formas de ‘seminários menores’ concebidos para pre-
parar os candidatos muito jovens para o noviciado ou o seminário. A fórmula adotada, por razões
históricas na segunda metade do século XIX, pelos franciscanos (seminários seráficos), estas escolas se
propagaram entre as congregações religiosas e nas dioceses. O programa de estudos desses seminários
baseava-se geralmente nos formatos seculares ordinários, mas foram modificados e reduzidos para que
se ajustassem às finalidades estritamente religiosas e eclesiásticas da escola” (P. Peano, “Seminari serafi-
ci”, em Dizionario degli Istituti di Perfezione, VIII. Roma: Edizioni Paoline, cols. 1264-1268).
534
535
Dom Bosco pergunta a respeito das medidas que se devem adotar em relação
ao quarto e quinto anos de gimnasio para o próximo ano, a fim de garantir um
bom clima moral na casa. Ele já decidiu: 1o só serão admitidos nos dois graus
superiores os jovens que quiserem seguir a vocação sacerdotal; 2o o Oratório
não garantirá o acesso aos exames públicos para obter o diploma.
Padre Durando, prefeito geral dos estudos, afirma que essa medida afastaria
de nós jovens de talento e só ficariam os medíocres. Além do mais, alguns dos
que gostaríamos de excluir iriam embora de qualquer forma. Por outro lado,
o estudo e a ajuda pessoal que se proporciona ao estudante para seu progresso
nos estudos demonstraram que são os melhores incentivos para a boa conduta
moral. Dom Bosco reafirma que não quer ser contrariado, mas que seja ajuda-
do a realizar seu plano, que considera o melhor para alcançar seu fim. Padre
Durando retira suas objeções.41
41
Reunião do Capítulo superior, 4 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 17b: FDB 1880 D10) J.
M. Prellezo, Valdocco (1866-1888), 275-276, fala desta passagem, com um breve comentário sobre
as observações do padre Durando que, parece, não eram sem fundamento. “Mas Dom Bosco preferiu
cortar a discussão.”
42
Reunião do Capítulo superior, 7 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 18a: FDB 1880 D11.
536
Devem ser excluídos os que pudessem ser de mau exemplo para os outros
e de dano para si mesmos. Em todo caso, ninguém dos que atualmente es-
tão no quarto ano deve ser readmitido.43 Alguns indivíduos que, claramente,
não possuem vocação e cuja conduta é equívoca, deve-se tirá-los do colégio
e despedi-los. É preciso estar atentos para não passar estes estudantes para a
sessão dos aprendizes. Colocando-se um estudante que não tem vocação com
os aprendizes, fazem-se estragos entre eles à direita e à esquerda, porque estes
tais são indivíduos da pior espécie.44
“Ao julgar a conduta moral de um menino, não nos devemos guiar pelas suas
notas no boletim informativo mensal que, em geral, são boas. E quando en-
contrarmos um menino que é mau (malvagio), não nos enganemos, pensando
que poderá mudar profundamente”.
Dom Bosco acredita que, inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, nossa
escola terá de se colocar no mesmo nível das chamadas escolas apostólicas. Na
medida do possível, sejam admitidos somente os que desejarem ser salesianos,
sobretudo se desejarem ir às missões.
[E acrescentou:] “Se estes jovens podem ou não pagar suas cotas não tem
qualquer importância; que sua casa se encarregue disso [...]. O Senhor prove-
rá todo o necessário e mais, se fizermos o possível para promover as vocações;
43
A frase, se a entendo corretamente (e assim a entende Prellezo), supõe que Dom Bosco neste
momento já tomara a decisão de eliminar o quinto ano. Contudo, como logo veremos, o debate sobre
o destino do quinto ano será novamente abordado.
44
Reunião do Capítulo superior, 7 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 18b: FDB 1880 D12.
537
não economizemos gastos para esta obra. Entretanto, se os jovens que ingres-
sarem com essas condições mudarem de opinião, que paguem suas pensões
completas. Que seja também esta a regra em todas as nossas escolas”.45
45
Reunião do Capítulo superior, 19 de julho de 1884, Lemoyne, Atas, 19a: FDB 1880 E1.
538
Dom Bosco estava muito doente nos meses de julho e agosto. A coluna
vertebral encurvara, obrigando-o a caminhar vacilante e com dificuldade. Ti-
nha febre e devia submeter-se a uma pequena cirurgia. O calor era sufocante
na cidade. Dom Bosco, acompanhado por Viglietti, procurou um pouco de
alívio em Mathi, nas colinas próximas a Turim, de 15 de julho a 22 de agosto.
Ali recebeu a visita de seus colaboradores, amigos e dignitários da Igreja. Mas
não conseguiu ficar inativo. Em 22-23 de agosto, visita as salesianas em Nizza
[Monferrato], para as profissões religiosas. De ali vai a San Benigno para os
exercícios espirituais, de 24 de agosto a 4 de setembro; e a Valsálice, de 5 a
28 de setembro. A deterioração física vai-se tornando sempre mais evidente.
As atas indicam apenas esta digressão de Dom Bosco sobre o tema. Mui-
ta atenção foi dada, porém, ao assunto ao longo das três semanas seguintes, a
julgar pelo enfrentamento que se deu em 16 de setembro.
Padre Rua apresenta o projeto proposto por Dom Bosco para a eliminação do
quinto ano de bacharelado no Oratório.
Dom Bosco explica: “Minha intenção é que esta eliminação refira-se às nossas
casas de beneficência e só a elas”.
Padre Bonetti pede que sejam apresentadas as razões a favor e contra, porque
o Capítulo deve estar ao corrente em questão tão importante.
Padre Rua faz um breve relato de suas observações. Ele examinou o resultado
nos exames dos alunos do quinto ano de bacharelado, tanto em relação à
46
Reunião do Capítulo superior, 24 de agosto 1885, Lemoyne, Atas, 66a: FDB 1882 B11.
539
540
para nós e levariam os meninos para eles, porque eles têm o quinto ano. O
Cottolengo mesmo envia seus alunos para o exame de revalidação. Se deter-
minarmos suprimir o quinto ano, os meninos virão para estar um ou dois
anos e, depois, irão a outra parte. Os próprios párocos dirão que não temos
os cursos completos. Também os padres ignorantes repetirão que nós não
temos todos os cursos e teremos falta de alunos e, como consequência, falta
de vocações.
Padre Rua responde-lhe que essa voz não poderia correr, porque os meninos te-
riam a oportunidade de ir a outros nossos colégios, onde completariam os cursos.
Padre Francésia replica que, se enviarmos a outros colégios os que fizeram o
quarto ano no Oratório, seria para eles uma grata e perigosa surpresa, não
prevista por hora. A mudança de orientação é algo que merece reflexão. Me-
ninos de outros colégios, que vieram ao Oratório com atestado de boa con-
duta, aqui deram mau resultado. Por isso, propõe elaborar um novo programa
unicamente para o Oratório. Conserve-se o quinto ano, mas suprimam-se as
matrículas acessórias de história, ciências naturais etc., exceto as matemáticas;
dedique-se tempo às três literaturas grega, italiana e latina. Para admitir ao
exame prévio para o recebimento da batina nos seminários, exigem o certifi-
cado de ter feito o quinto ano. Neste ano, os párocos fizeram uma declaração
de ter feito cursar, sob a sua direção, o quinto ano a todos os do quarto ano
que saíram do Oratório e queriam entrar no Seminário. Insista-se que os pro-
fessores ensinem bem as três literaturas e haverá grande progresso em nossos
estudos, que agora estão atrasados. Vigiem-se bem as salas de aula.
Dom Bosco: “Mantenho sempre a minha opinião. Se não se tomar esta me-
dida seremos obrigados a criar as escolas apostólicas”.
Padre Bonetti apoia a proposta do padre Francésia.
Padre Durando sustenta que, suprimindo-se o quinto ano, acabarão por ficar
conosco somente os piores alunos.
Dom Bosco: “Os que vêm de suas casas com livros maus ou princípios maus,
fora, fora, já, do Oratório!”.
Padre Bonetti observa que se poderia fazer um ano de experiência, seguindo
o programa do padre Francésia. Assim se obteria a finalidade de Dom Bosco,
porque o quinto ano não pode servir para os que não querem ser sacerdotes.
Padre Rua observa que, abolindo-se em grande parte as matrículas secundá-
rias, os professores também deixarão de ter a ocasião de falar, ao explicar as
lições do exame de revalidação e, portanto, de despertar nos alunos a avidez
de glória no mundo.
541
Padre Durando adverte que nós precisamos enviar os clérigos para o exame de
revalidação, como preparação para os títulos e diplomas universitários.
Dom Bosco: “Pois bem, aceito por um ano o que o padre Francésia propõe,
como experiência e como passo para realizar minha intenção de suprimir o
quinto ano”.
A moção aprovada no Capítulo foi assim formulada: “Conserve-se o quinto
ano do bacharelado, suprimindo as matrículas secundárias, mas mantendo as
matemáticas!”.47
3. Comentário conclusivo
Merecem algum comentário os textos que nos transmitiram tanto os
temores de Dom Bosco sobre a vida e o futuro da Congregação, como sua
preocupação com o clima moral do Oratório, pois são um tanto descon-
certantes e revelam uma preocupação desmesurada e, aparentemente, uma
severidade excessiva.
47
MB XVII, 498s.
48
J. M. Prellezo, Valdocco (1866-1888), 318.
49
MB XVII, 498s.
542
Na noite passada, fui bruscamente despertado por gritos dolorosos que vi-
nham do quarto de Dom Bosco. Pulei da cama e fiquei a escutar. Entre sufo-
cos asfixiantes, Dom Bosco estava chorando: “Ai! Ai! Socorro! Socorro!”. Sem
duvidar por um instante, entrei em seu quarto. “Dom Bosco, perguntei-lhe, o
senhor está doente?”. “Meu querido Viglietti”, respondeu-me já plenamente
acordado, “não, não estou doente, mas tu sabes, não podia respirar. Não te
preocupes, retorna ao teu quarto e volta a dormir”.
Nesta manhã, depois da missa, quando lhe levei o café como de costume,
Dom Bosco confiou-me: “Querido Viglietti, já não me restam forças; esma-
gava-me o peito a dor dos gritos da noite passada. Tive sonhos, nestas últimas
quatro noites, que me obrigavam a gritar e, agora, estou totalmente esgotado”.
Viglietti, Crônica adicional 1884-85, 65-70, 1o de dezembro de 1884, em ASC A012 Crona
50
chette: FDB 1829 E1-6. Para uma descrição detalhada das crônicas de Viglietti e sua localização em
ASC/FDB, cf. A. LENTI, “Don Bosco’s last years, his last illness and saintly death from eyewitness
accounts”, JSS 5:2 (1994), 30-35.
543
Portanto, segundo dom Re, os últimos anos de Dom Bosco foram carac-
terizados por uma “paralisia cerebral progressiva”.51
Depois de se referir a outras descrições sintomáticas nas fontes sobre a
enfermidade de Dom Bosco, Stella comenta que, se as coisas eram assim, ter-
-se-iam elementos para explicar uma série de incidentes, situações ou furores
emocionais de Dom Bosco nos últimos anos, como o ardor que colocava ao
falar com os outros e certas formas de tergiversação nas questões relacionadas
com Gastaldi; ou o querer empreender viagens superiores às suas forças, à
França, Espanha, Áustria, Roma; as lágrimas repentinas e outras formas de
Positio super dubio [...], Summarium ex officio, 135, citada em P. Stella, Canonizzazione, 179.
51
Doutor José Fissore foi um dos médicos que atenderam Dom Bosco em sua última enfermidade. O
cardeal Alimonda sucedera a dom Gastaldi como arcebispo de Turim em 1883. Citando um dicionário
médico, Stella explica a progressiva paralisia como “uma enfermidade caracterizada pelo progressivo
enfraquecimento das reações musculares, com dificuldade para ouvir e alteração na fala, especialmente
extraordinária em caso de loucura. Esta situação se deve a uma desordem que afeta o sistema nervoso
central e é sempre mortal” (P. Stella, ibidem).
544
Para que ninguém pudesse entender mal seu significado, nos rascunhos
posteriores (1864 a 1874), acresceu a cláusula: “Sempre que deem uma bem
fundada esperança de êxito em [sua vocação para] o sacerdócio”.53
A expansão da Congregação além de Turim desde os primeiros anos de
1860, em sua maior parte, foi na forma de escolas: no Piemonte, na Itália,
52
P. Stella, ibidem, 180. Este autor, Lenti, não se sente em condições de emitir um juízo a respei-
to. Apenas desejaria assinalar que, a partir da forma como os sentimentos de Dom Bosco são relatados na
ata, que ele examinou em sua totalidade, tem-se a impressão de uma severidade em seus juízos e decisões,
mas não de que sofresse alguma enfermidade progressiva, como o Alzheimer ou uma esclerose fatal.
53
G. Bosco, Costituzioni, 76-77. Nos rascunhos de 1864 a 1867, Dom Bosco também espe-
cificou o número de jovens que faziam os “estudos clássicos” em vista deste fim, ou seja, o seguimento
da vocação sacerdotal: na casa de Valdocco, mais ou menos 555 (1864) e 800 (1867); na escola de
Mirabello, perto de 100 (1864) e 150 (1867); na escola de Lanzo, mais ou menos 200 (1867). Em
rascunhos posteriores não apresentou os dados estatísticos.
545
Cf. P. Stella, “Le ricerche su Don Bosco nel venticinquesimo 1960-1985: bilancio, problemi,
54
prospettive”. In: P. Braido (ed.), Don Bosco nella chiesa a servizio dell’umanità: studi e testimonianze.
Roma: LAS, 1987, 395.
55
Ver capítulo VII deste volume, p. 260-263.
56
J. M. Prellezo, Valdocco (1866-1888), 316-318.
546
57
Barberis, Cronichetta, 23 de janeiro de 1876, ASC A000: FDB 837 B7.
547
Dom Bosco, nem mesmo nos últimos anos, deixou sua atividade febril:
as viagens longas e extenuantes, a presidência dos Capítulos Gerais, as contí-
nuas intervenções para garantir o futuro da sua jovem Congregação e o bom
ambiente no Oratório, sua atuação como escritor e o novo impulso dado ao
apostolado da imprensa são provas evidentes de um dinamismo incansável.
Esse período também foi o do seu declínio físico, com vários episódios de
doenças que terminaram com a sua morte, período que se torna instrutivo,
porque é totalmente pessoal.1
Sua morte não foi nem repentina nem inesperada. Sofrera enfer-
midades crônicas graves ao longo de muitos anos. Seu estado piorou
progressivamente, a ponto de, em 1884, uma grave doença crítica quase
tê-lo obrigado a retirar-se, marcando o início de um declínio de três anos
até o fim.
Seus biógrafos referiram detalhadamente os últimos anos, sua última en-
fermidade e santa morte. Ao fazê-lo, detêm-se na importância histórica da
vida e da obra de Dom Bosco. Procuramos reconstruir aqui o período final
da vida de Dom Bosco, dando atenção especial à sua pessoa, ressaltando suas
palavras e atitudes.2 Contamos com relatos de testemunhas oculares, crônicas
1
Falar de declínio físico é referir-se, principalmente, ao envelhecimento natural que, no caso de
Dom Bosco, foi acompanhado de várias enfermidades. A condição física de Dom Bosco podia estar
deteriorada, mas sua liderança moral e espiritual continuou firme até o fim.
2
Cf. F. Desramaut, “Don Bosco negli ultimi anni della sua vita (1885-1887)”. In: C. Semera-
ro (ed.), Invecchiamento e vita salesiana in Europa. Leumann: LAS, 1992, 175-195; A. Lenti, “Don
Bosco’s last years, his last illness and saintly death from eyewitness accounts”, JSS 5 (1994), 23-97; F.
Desramaut, Don Bosco, 1280-1349.
548
e memórias escritas por salesianos muito próximos a Dom Bosco.3 Essas fontes
servirão agora de base para um breve exame do período de sua quase retirada,
os últimos três anos e meio de vida.
A Crônica original, de Viglietti, será a principal fonte. A Memória, de
Enria, também é relevante. As demais fontes ocupam-se, sobretudo, da últi-
ma enfermidade de Dom Bosco.
3
O primeiro e mais importante, os Documenti de Lemoyne, volumes XXXVI-XXXIX e XLIV,
658-739, em ASC A085-A088: Cronachette, Lemoyne-Doc; FDB 1142-1161 e 1193 E4-1194 B11.
Ceria serviu-se desta desordenada coleção de material nas Memórias Biográficas (MB XVIII, 485s), que
também inclui importantes dados impressos proporcionados pelas fontes dos arquivos.
4
MB IV, 217s.
5
MO (Brasília: Editora Dom Bosco, p. 78).
6
MB II, 491s.
7
MB XI, 397.
549
2. A crise de 1884
Em 1884, teve início um inexorável e progressivo colapso físico. Todo o
seu sistema se viu afetado, de modo que a gravidade de seu estado se tornou
irreversível. A partir de 1871, e provavelmente como consequência de uma
indisposição, foi-se desenvolvendo nele uma enfermidade que comprome-
tia progressivamente suas vértebras e produzia nele um inchaço edematoso
muito doloroso nas extremidades inferiores. A situação tornava-se ainda mais
grave por causa do trabalho contínuo e das graves preocupações que não o
abandonaram até quase o final. É certo que, tendo-se resolvido o contencioso
com dom Gastaldi, ele desfrutava de um período de paz e contava com o
apoio total e a grande estima da autoridade da Igreja local, o arcebispo cardeal
Alimonda, em particular. Além disso, via-se envolvido pelo amor filial incon-
dicional de seus muitos filhos e sentia-se apoiado pela ajuda e admiração de
muitos seguidores devotos. Entretanto, continuava a trabalhar sem descanso,
pressionado constantemente por numerosas preocupações: a obra na América
do Sul, as questões econômicas, os privilégios não concedidos, o temor pelo
futuro da Congregação, para mencionar alguns.
A crise de fevereiro
O início de uma primeira e grave crise aconteceu em fevereiro. Os sale-
sianos próximos de Dom Bosco alarmaram-se enormemente; parece que ele
mesmo desconfiasse de sua recuperação. Em 8 de fevereiro, incluiu em seu
Testamento espiritual uma lista de benfeitores importantes, com mensagens
que lhes deveriam ser entregues depois de sua morte.8 Contraiu quase em
seguida uma séria bronquite. Mais uma vez, os sintomas registrados eram
fraqueza extrema, dores no peito, escarros com sangue, batimentos cardíacos
fracos e pulso fraco. Os médicos insistiram que ficasse acamado. Escrevendo a
Clara Louvet nesse momento, Dom Bosco admitia estar muito mal de saúde
e queixava-se, sobretudo, de dores no peito.9
Memorie dal 1841 al 1884-5-6 [...], 17-22 e 117-127, em ASC A223: Taccuini: FDB 748 E9 -
8
749 A2 e 749 E1-12. As observações de F. Motto, em sua edição crítica, fazem notar que 8 de fevereiro
de 1884 foi a data indicada por Dom Bosco, que depois seria mudada para 1885.
9
Dom Bosco a Clara Louvet, 14 de fevereiro de 1884, em MB XVI, 656.
550
A. Elementos gerais:
B. Elementos locais:
10
ASC A024: Malattie: FDB 437 B9-12.
11
Esta expressão significa uma inflamação nos alvéolos bronquiais que pode ser produzido pelo
próprio processo sanguíneo. Trata-se, portanto, de um enfisema bronquial, a “irritação bronquial” de
que se fala no número 5.
12
“Eretismo” alude à excessiva irritação do sistema nervoso que afeta os órgãos vitais.
13
A “refeição” é um preparado provavelmente de pasta de tamarindo.
551
4. Regime alimentar misto: carne com verdura cozida, ovos cozidos, laticínios.
5. Alternar a cada mês, durante dez dias, a água de Vals com a de La Bourbade,
a ser bebida durante as refeições.
6. Deixar por algum tempo os trabalhos habituais e, sobretudo, as tensões
prolongadas de espírito.
Marselha, 25 de março de 1884. Assinado, Combal.
A crise de setembro
A crise de fevereiro despertara temores nas autoridades tanto salesianas
como eclesiásticas. A forma com que Dom Bosco se arrastou por Roma du-
rante sua permanência em abril e maio chamou a atenção das autoridades
romanas pelo seu declínio físico. Como ele mesmo informou mais tarde ao
seu conselho, quando se discutiu a nomeação de um vigário, Leão XIII lhe
falara: “Sua saúde vai mal, o senhor precisa de ajuda e é preciso que tenha um
assistente ao seu lado”.15 O que levou à nomeação do padre Rua como vigário
com direito de sucessão.
Enquanto isso, o dia 14 de setembro de 1884 marcou o início de uma
segunda grave crise. Dom Bosco viu-se obrigado a abandonar os Exercícios
espirituais que se realizavam em Valsálice, retornar ao Oratório e ficar acama-
do por causa de um doloroso inchaço das pernas e dos pés. As fontes falam
14
A consulta com o doutor P. M. Combal (1814-1888) em 1884 não foi a última. Na viagem
à Espanha em 1886, Dom Bosco deteve-se por alguns dias em Montpellier, aparentemente para ver o
doutor Combal, uma vez que ali não havia obra salesiana. Padre Rua, que acompanhava Dom Bosco,
pode ter sugerido essa parada. Viglietti informa que o médico, com sua família, visitou Dom Bosco nas
tardes de 7, 8 e 9 de maio. Nesta última visita, escreve Viglietti: “O doutor Combal chegou e examinou
Dom Bosco acamado; a visita durou uma hora. Mais tarde, me disse: ‘Em minha opinião, o fato de
Dom Bosco ainda estar vivo é um dos maiores milagres. Temos um homem que literalmente está morto
de esgotamento, mas continua a trabalhar todos os dias, quase sem se alimentar. Não obstante, continua
a viver’” (Viglietti, Cronaca originale, IV, 62: FDB 1225, B6).
15
Lemoyne, Atas das reuniões do Capítulo superior, 23 de outubro de 1884, I, 45: FDB 1881 D3.
552
16
Viglietti, Cronaca originale, 3, 14 de setembro de 1884: FDB 1222 D5. Em sua Crônica
transcrita e editada, Viglietti acrescenta que alguém sugeriu que se untasse a perna de Dom Bosco com
certo unguento; e relata um episódio que levou a retirar o padre Berto, que sofria de alguma enfermida-
de mental, como assistente de Dom Bosco. Escreveu: “Turim, 14 de setembro de 1884”, e continuou:
“Sinto que devo acrescentar o seguinte episódio para memória. Eu não o incluí na anterior [na Crônica
original] com receio de ferir o padre Berto. Isto, porém, dá muito mais crédito ao nosso querido pai
Dom Bosco. Dom Bosco chegou ao Oratório vindo de Valsálice por volta das 5 p.m. Padre Berto
não tinha coragem de falar com Dom Bosco nesse momento e estava, também, com humor de cão.
Pediu que as pernas inchadas de nosso pobre paciente fosse examinada e perguntou-me como tratar a
enfermidade. Em seguida, sem maiores preâmbulos, pegou um pouco de óleo de gautéria (giusquiamo)
e começou a esfregar fortemente a perna de Dom Bosco. Eu, que estava em pé no corredor, ouvi que
Dom Bosco dizia ao padre Berto com muita suavidade: ‘Padre Berto, isso dói; por favor, deixa disso,
faz-me mal’. Padre Berto, porém, não deu atenção e continuou o procedimento sem sentido. Pelas 6 e
meia, chegou o doutor Fissore e, quando deu uma olhada na perna, disse a Dom Bosco sem rodeios:
‘Quem, diabos, fez isso? O senhor faria melhor livrando-se desse asno… de assistente, ou o senhor
não voltará a me ver’. Dom Bosco manteve-se em silêncio, mas eu me senti obrigado a informar sobre
tudo isso ao padre Sala, ecônomo geral. Padre Sala disse-me que o Conselho Superior decidira afastar
o padre Berto de Dom Bosco, porque o pobre homem sofria de neurose. Na verdade, subira ao quarto
do padre Berto para falar com ele sobre o assunto; mas o padre Berto lhe fechara a porta no nariz. Padre
Sala, posteriormente, pediu ajuda a quatro robustos coadjutores e disse-lhes o que fazer. Esperaram até
as 7 e meia, momento do primeiro jantar, do qual padre Berto costumava participar. Então, forçaram
a fechadura da porta de seu quarto e, com cordas, baixaram as coisas do quarto ao pátio, três andares
abaixo: os armários que continham documentos de arquivo, a cama e outros pertences do padre Ber-
to. Do pátio, transferiram tudo a um quarto no edifício da tipografia. Em seguida, colocaram nova
fechadura no antigo quarto e fecharam a porta. Fizeram-no com tanta rapidez que, às 8 [da noite] já
tinham terminado o trabalho. (Mais tarde, o padre Rua transferiu-se ao antigo quarto do padre Berto
e, para mim, deram o quarto que agora serve de capela.) Quando padre Berto descobriu, correu até o
quarto de Dom Bosco e começou a gritar e bater à porta. Dom Bosco, de seu leito de dor, podia ouvir
os gritos de seu pobre amigo e sentiu muita pena dele. Disse-me: ‘O pobre padre Berto está doente.
Cuida para que lhe seja demonstrado carinho e o devido o respeito. Trabalhou muito duro por Dom
Bosco!” (Viglietti, Crônica transcrita e editada, 19-21: FDB 1232 D11-E1).
17
ASC D868: Consiglio Superiore: Verbali, Lemoyne, Atas I, 35: FDB 1881 B9.
553
G. Albertotti, Chi era, 78, 82-83. Trombose é a coagulação do sangue nos vasos sanguíneos.
18
554
A viagem foi um sucesso, mas também pôs à prova, em cada etapa, a re-
sistência física de Dom Bosco. Uma entrada da crônica em Marselha, o lugar
mais distante a que chegou, resume a situação.
O que mais admiro em Dom Bosco é a extraordinária virtude com que oculta
suas dolorosas enfermidades. Às vezes, a dor é muito intensa e sofre visivel-
mente. Mas quando não pode ocultar a dor exteriormente, sorri e diz: “O
espetáculo deve continuar: Dom Bosco está sem dinheiro!”.20
Dom Bosco foi o primeiro a falar, e suas palavras comoveram a todos até as
lágrimas. Disse que não se apresentava diante deles para pronunciar um longo
discurso. Em primeiro lugar, sua má saúde impedia-o de fazê-lo e, além do
mais, havia para isso um orador muito mais eloquente. Ele simplesmente
queria dar graças a Deus e, além de a Ele, aos cooperadores pela sua caridade
e generosidade. [...] Não podia saber, continuou, se esta seria a última visita
que lhes faria. Deus o poderia chamar em seguida para a eternidade. Se fosse
esse o caso, e se Deus na verdade o levasse com Ele para o céu, seu primeiro
pensamento seria pedir a Jesus e Maria e a todos os santos que abençoem e
protejam a todos os que contribuíram para a salvação de tantas almas.21
padre Viglietti (Roma: LAS, 2009) que cobre o período de 24 de março de 1885 a 31 de janeiro de
1888. A. Lenti segue outra redação e nós a respeitamos. Se alguém quiser consultar a crônica de Pablo
Marín, pode fazê-lo seguindo a ordem dos dias citados por A. Lenti].
20
Viglietti, Cronaca originale, I, 44, Marselha, 13 de abril de 1885: FDB 1223 A2.
21
Viglietti, Cronaca originale, I, 50-51, Marselha, 17 de abril de 1885: FDB 1223 A5.
22
Viglietti, Cronaca originale, I, 66, Nice, 27 de abril de 1885: FDB 1223 B1.
23
Viglietti, Cronaca originale, I, 71-72, Sampierdarena, 2 de maio de 1885: FDB 1223 B3-4.
555
Este surto de energia pode ter origem em sua total satisfação. A viagem
à França fora um grande sucesso. A presença de Dom Bosco teve o efeito de
mobilizar a caridade de seus cooperadores, atraindo grandes somas de di-
nheiro, a maior parte dedicada imediatamente às obras locais. Viglietti, quase
diariamente, anota as quantidades recebidas, as ofertas de gente comum e as
ofertas mais consistentes dos ricos; ninguém mais generoso do que o conde
Antoine Fleury Colle e sua família.
Dom Bosco transferiu-se para Mathi, acompanhado pelo padre Bonetti, por
Viglietti, seu secretário, e pelo clérigo [Ângelo] Festa. Os superiores insistiam
que deveria passar algum tempo aqui e descansar, porque estava tão fraco que
não poderia suportar o calor do verão na cidade [...]. Dom Bosco distrai-se,
recordando numerosos episódios do passado, enquanto passeia pelo jardim.
Parece que está melhorando e que recupera suas forças; seu apetite também
melhorou.24
Esta situação causava grande preocupação, de modo que, apesar de sua total
indiferença pela própria saúde e contra suas objeções, os salesianos dispuse-
ram um regime especial exclusivamente para ele.25
24
Viglietti, Cronaca originale, II, 83, Mathi, 15 e 16 de julho de 1885: FDB 1223 B12.
25
G. Albertotti, Chi era, 78.
556
cozidos em geral. Ter à mão comprimidos de mirra [para depois das refeições].
Encomendar a gelatina que lhe será servida em água quente. (Fazer todos esses
preparativos através do diretor ou administrador da casa.) Manter sempre um
pequeno frasco de zabaione ou creme para seu uso quando não puder celebrar
a missa ou para uma emergência. Oferecer-lhe os jornais da manhã ou da noi-
te. Servir-lhe biscoitos no café da manhã.26
Viglietti, Cronaca originale, II, 95 e 101-102, Mathi, 7 e 15 de agosto de 1885: FDB 1223
27
C6 e 9-10.
557
Dom Bosco passou por algumas experiências que ele interpretava como
premonições de sua morte. Viglietti escreve:
28
Viglietti, Cronaca originale, II, 108-109, San Benigno, 26 de agosto de 1885: FDB 1223 D1.
29
Viglietti, Cronaca originale, II, 110, San Benigno, 30 de agosto de 1885: FDB 1223 D2.
30
Viglietti, Cronaca originale, II, 111-112, San Benigno, 31 de agosto de 1885: FDB 1223 D2-3.
558
Hoje é a festa da Imaculada Conceição. [...] Dom Bosco fez um ato de presen-
ça no jantar com todos [os irmãos]. Apenas muito raramente Dom Bosco dá
a bênção [do Santíssimo]; esta tarde, quis fazê-lo pessoalmente. Percebi que
o povo [que participava da cerimônia] começou a aproximar-se para vê-lo. E
não poucos se comoviam até as lágrimas ao verem como o venerável ancião
arrastava o seu corpo, completamente desgastado por uma vida de trabalho
em favor dos jovens.
À primeira hora desta tarde, Dom Bosco fez uma conferência aos irmãos.
Leu-se a circular que anunciava a nomeação oficial de um vigário para a Con-
gregação.31 Em seguida, Dom Bosco falou. Disse que devia tudo a Maria e
assinalou que todas as nossas grandes obras foram realizadas no dia da Ima-
culada. Em seguida, passou a falar de como era o Oratório há quarenta e
quatro anos, comparando-o com a nossa situação atual. Disse que todas as
graças derramadas pelo céu sobre nós através da intercessão de Maria foram o
resultado daquela primeira fervorosa Ave-Maria que ele e aquele jovem (Bar-
tolomeu Garelli) rezaram juntos na igreja de São Francisco.32
Preparou-se um novo altarzinho para Dom Bosco. Ele foi colocado naquele
que costumava ser o meu quarto. Hoje Dom Bosco celebrou a missa pela
primeira vez e eu o ajudei. Dom Bosco vinha dizendo a missa por muitos
anos num altar-móvel, junto à parede da sala de espera. Era apenas um ar-
mário, uma abertura estreita e mal iluminada, que não dava espaço suficiente
nem sequer para o ajudante. Sempre acreditei que os quartos de Dom Bosco
O decreto no qual o padre Rua era nomeado vigário com direito de sucessão fora emitido em
31
novembro de 1884. Dom Bosco, contudo, esperou um ano antes de fazer o anúncio oficial aos irmãos.
Na carta, apresentava o padre Rua como vigário com todos os poderes, sem mencionar qualquer direito
de sucessão, cf. Epistolario IV Ceria, 347-349.
32
Viglietti, Cronaca originale, II, 128-129, Turim, 8 de dezembro de 1885: FDB 1223 D11.
559
Nestes últimos dias, Dom Bosco vem repetindo o refrão: “A fome tira o lobo
de sua toca”. Por isso, apesar de seu físico estar arruinado e de ter má saúde,
vê-se obrigado a iniciar outra viagem; uma viagem que o levará, talvez, até a
Espanha. Já estamos a falar de uma data de partida.34
Acompanhado pelo seu fiel secretário, pelo padre Cerruti e o padre Sala,
que iam visitar as casas da Ligúria para algum serviço, Dom Bosco saía de
Turim em 12 de março para Gênova. Depois, viajaria em etapas ao longo da
costa italiana e francesa até Marselha, onde o padre Rua se uniu a ele. De ali,
o trio passaria à Espanha, tendo Barcelona como destino. Em cada etapa, os
dias eram cheios de entrevistas, visitas, conferências a cooperadores, celebra-
ções religiosas, recepções, graças, bênçãos, grandes multidões e boas coletas,
com episódios e fatos de todos os tipos! Ouve-se uma ou outra vez: “Dom
Bosco está morto de cansaço, mas impávido e entusiasmado”.
Certa noite, em Sampierdarena, Dom Bosco sentou-se para conversar
com os irmãos.
Viglietti, Cronaca originale, II, 133-134, 29 de janeiro de 1886: FDB 1223 E1-2.
33
Viglietti, Cronaca originale, II, 149, 1o de março de 1886: FDB 1223 E9.
34
35
Viglietti, Cronaca originale, III, 60, 15 de março de 1886: FDB 1224 C6. Gianduia era um
personagem-marionete que representava a máscara típica de Turim.
560
Quando Dom Bosco ia embora, “as senhoras deixavam o que estavam fazendo
ou apareciam às portas e, com autêntica compaixão, olhavam para Dom Bos-
co que se arrastava penosamente pelos corredores”.36
Depois de uma permanência de dois dias em Toulon, hóspedes de hon-
ra do conde Colle e família, nossos viajantes chegaram a Marselha. “Os
jornais publicaram a notícia da chegada de Dom Bosco a Marselha, havendo
uma enorme multidão de gente que deseja vê-lo”.37 Ao fim de uma semana
cansativa, cheia de febril atividade religiosa e social, “Dom Bosco sente-se
extremamente cansado”. “Assessorados pelo padre Rua, decidimos sair para
Barcelona na quarta-feira [7 de abril] às 5 da tarde, numa cabine [de trem]
especialmente reservada. Chegaremos em dezessete horas ao nosso destino
[8 de abril]”.38
Permanência em Barcelona
Após um dia de repouso, Dom Bosco recebeu as boas-vindas oficiais dos
jovens da escola profissional salesiana de Sarriá (Barcelona).
Os jovens nos entretiveram muito bem com a banda. [...] Dom Bosco deu um
caramelo a cada um deles. Os meninos estão encantados por terem Dom Bosco
entre eles. Papai está muito bem, a dor de suas enfermidades parece ter diminuí-
do. Está muito contente.39
Dois dias depois da chegada, Dom Bosco teve o famoso sonho de Bar-
celona, o quinto e último dos grandes sonhos missionários; aquele no qual a
Senhora Pastora lhe mostrou vinte estações missionárias numa linha que se
estende de Santiago (Chile) através do centro da África, até Pequim (China).
Viglietti recolheu o sonho como o escutou de Dom Bosco.40
Viglietti, Cronaca originale, III, 68, 27 de março de 1886: FDB 1224 C10.
36
Viglietti, Cronaca originale, III, 73, 1o de abril de 1886: FDB 1224 C12.
37
38
Viglietti, Cronaca originale, III, 74, 2 de abril de 1886: FDB 1224 D1. Nessa época, só havia
duas obras na Espanha: o internato de Utrera, perto de Sevilha (1881), e a escola profissional (oficinas)
em Sarriá, perto de Barcelona (1883). O diretor era o padre João Branda que, alguns meses antes, ex-
perimentara uma visita noturna de Dom Bosco, que interpretou como bilocação. Contudo não pôde
conseguir que Dom Bosco o confirmasse, quando se encontrou com ele na estação.
39
Viglietti, Cronaca originale, III, 81, 10 de abril de 1886: FDB 1224 D4.
40
Viglietti, Cronaca originale, III, 84-87, 11 de abril de 1886: FDB 1224 D6-7. Para um co-
mentário deste sonho, cf. A. Lenti, “Don Bosco’s missionary dreams: images of a worldwide salesian
apostolate [II]”, JSS 4 (1993), 17-26.
561
562
...uma multidão frenética lançou-se sobre Dom Bosco para vê-lo de perto
ou tocá-lo. Mas os guarda-costas logo afastavam as pessoas. Uma vez a salvo,
41
Viglietti, Cronaca originale, IV, 1 e 6, 15 de abril de 1886: FDB 1224 D11 e E2. “Com
pouco conhecimento se governa o mundo!”
42
Viglietti, Cronaca originale, IV, 8-9 e 21; 18, 20 e 26 de abril de 1886: FDB 1224 E3 e 9.
563
Dom Bosco rodeado pela burguesia catalã, numa caricatura publicada pelo diário anticle-
rical La Campana de Gracia com a legenda em catalão: “Santos de outras épocas viviam
rodeados de velas e círios; os santos de hoje o estão de milhões” (8 de maio de 1886).
564
...Dom Bosco é assediado por uma multidão, está sem fôlego e nem sequer pode
pôr-se de pé. Ele sorri e sussurra-me: “Eu me pergunto se me poderiam dispen-
sar destes espancamentos por devoção”. Esta manhã, depois da missa, ficou
realmente sem forças; não podia articular uma palavra a mais. Como respirava
com grande esforço, chamou-me e perguntou com um sorriso: “Haverá alguém
em Turim que fabrique foles? Preciso de dois que me ajudem a respirar!”.49
Durante algumas noites, Dom Bosco sonhou que era atacado por monstros.
Sonha com gatos que se convertem em cães, com ursos que se convertem em
leões, serpentes que têm a forma de demônios e o atacam com ferocidade.
Ontem à noite esteve gritando por uma boa meia hora. Insistiu em chamar:
“Viglietti! Viglietti!”. De início, abstive-me de intervir por receio de estragar
alguma bela visão [que estivesse tendo]. Mas, pensando bem, sabendo como
lhe doía o peito de gritar e como estaria cansado, despertei-o. Agradeceu-me
sinceramente: “Obrigado, meu querido Viglietti”, disse, “fizeste-me um gran-
de favor. Estes sonhos incomodam-me muito!”.50
46
Viglietti, Cronaca originale, IV, 53-59, 6 de maio de 1886: FDB 1225 B1-41.
47
Em Montpellier, o doutor Combal visitou novamente Dom Bosco durante várias tardes para
exames médicos.
48
Viglietti, Cronaca originale, V, 1, 19 de maio de 1886: FDB 1225 B12.
49
Viglietti, Cronaca originale, V, 6, 29 de maio de 1886: FDB 1225 C3. A frase, em piemontês
é: Chisà se dui pugn per divusion as polu dese?
50
Viglietti, Cronaca originale, V, 11, 15 de junho de 1886: FDB 1225, C5.
565
Na festa de São João Batista (24 de junho), Dom Bosco celebrou seu
onomástico em família.
Esta manhã, Dom Bosco celebrou a santa missa na igreja, no altar de São
Pedro. Como na festa de Maria Auxiliadora, eu o ajudei. Após a missa, comeu
alguma coisa no refeitório dos irmãos. Não tomara ali o café da manhã nos
últimos vinte e cinco anos. Às 9 e meia, os alunos chegaram para oferecer seus
presentes. Ontem à noite [...], padre Lemoyne apresentou a Dom Bosco uma
bela obra escrita por ele, a vida de Mamãe Margarida.51
Com a bênção do Santíssimo Sacramento, pôs-se fim aos atos [da conferên-
cia]. Depois, tivemos de atravessar a comprida igreja, maior do que qualquer
outra existente em Turim, para chegar aos coches. O arcebispo [Luís Nazari
di] Calabiana [de Milão] caminhou com Dom Bosco apoiando-o de um lado,
enquanto eu o apoiava de outro. A multidão ficou admirada vendo o arce-
bispo ajudar Dom Bosco. Diziam: “Como se amam!”. Custou-nos mais de
vinte minutos caminhar ao longo da igreja. Quando chegamos aos coches, a
multidão de pessoas já enchera a grande praça e as ruas próximas. A grande
multidão estourou em aclamações: “Viva Dom Bosco! Viva o arcebispo!”.53
51
Viglietti, Cronaca originale, V, 16, 24 de junho de 1886: FDB 1225 C8. Parece que o padre
Lemoyne estivera por algum tempo a escrever uma pequena biografia da mãe de Dom Bosco, talvez
para as Leituras Católicas. É provável que o próprio Dom Bosco tenha sido sua principal fonte. Quan-
do, em 1885, padre Lemoyne começou a reunir e editar os Documenti, esse material foi incluído. Dom
Bosco aprovou o projeto. De fato, quando passou pela França a caminho da Espanha em 1886, e foi
hóspede do conde Luís Colle, em Toulon, os dois falaram da biografia e o conde ofereceu-se para pagar
os gastos com a publicação. Padre Lemoyne reelaborou o material reunido nos Documenti e imprimiu
a popular biografia intitulada Scene morali di famiglia esposte nella vita di Margherita Bosco. Racconto
edificante ed ameno [Cenas morais de família expostas na narração edificante e amena da vida de Mar-
garida Bosco]. Turim: Escola Tipográfica Salesiana, 1886.
52
Viglietti, Cronaca originale, V, 33, 31 de agosto de 1886: FDB 1225 D4.
53
Viglietti, Cronaca originale, V, 41, 12 de setembro de 1886: FDB 1225 D7.
566
Nos dias bons de outono, Dom Bosco desfrutou de uma viagem ao campo.
Para os dias do mês passado, quando o tempo o permitia, preparei uma ar-
madilha e levei Dom Bosco para um passeio. O cocheiro vai ao campo. Uma
vez ali, descemos, e Dom Bosco passeia comigo, conversando agradavelmente
o tempo todo. Isso lhe dá um pouco de alívio. Esta tarde, em nosso caminho
de volta, encontramos o coche do cardeal. O cardeal desceu, aproximou-se do
nosso coche, cumprimentou Dom Bosco e parou para conversar por algum
tempo; depois, voltou ao seu coche. Quando nos aproximávamos de casa não
pudemos deixar de comentar, cheios de admiração, a bondade do cardeal.55
54
Viglietti, Cronaca originale, V, 46, 21 e 22 de setembro de 1886: FDB 1225 D11 e 12.
55
Viglietti, Cronaca originale, V, 59, 4 de novembro de 1886: FDB 1225 E5.
56
Viglietti, Cronaca originale, V, 61, 18 de dezembro de 1886: FDB 1225 E6.
567
Este ano, pela primeira vez, Dom Bosco não pôde vir pessoalmente, como
fora sempre o seu costume, para apresentar a estreia (strenna) do Ano-novo
aos irmãos. Mandou o padre Rua em seu lugar. Dom Bosco sente-se muito
fraco já há alguns dias. Ontem, insistiu em atender confissões. Aconselhei-o a
não o fazer, de acordo com a recomendação dos médicos. Ele me disse: “Vejo
que tens medo de ir confessar-te; não é isso mesmo? Eu sei por que: tens feito
alguma coisa realmente ruim”. Então, sorrindo, tomou minha mão entre as
suas e disse: “Meu querido Viglietti, se não posso ouvir as confissões dos me-
ninos, o que mais posso fazer por eles? Prometi a Deus que ia trabalhar pelo
bem de meus jovens até meu último respiro”.57
Inícios de 1887
Uma das primeiras entradas da Crônica do padre Viglietti de 1887 pare-
ce pontuar a situação do que viria depois.
Alguém comentou comigo que, quando está à mesa durante as refeições, Dom
Bosco fala muito pouco e parece estar sempre absorto em seus pensamentos.
Dias atrás, quando colocava água no vinho, ouvi-o sussurrar para si mesmo.
Dizia: “Jesus também, na cruz, quis que seu sangue se misturasse com água”.58
57
Viglietti, Cronaca originale, V, 63, 31 de dezembro de 1886: FDB 1225 E7. A estreia de
Ano-novo (strenna), tradição salesiana, costuma ser em forma de lembrança ou mensagem espiritual.
58
Viglietti, Cronaca originale, V, 68, 4 de janeiro de 1887: FDB 1225 E10. Dom Bosco refere-
-se a Jo 19,34.
59
Viglietti, Cronaca originale, V, 69-71 e 72-73, 4 e 5 de janeiro de 1886: FDB 1225 E10-11
e 12. Na primeira noite, a Serva do Senhor, falando em latim, garantiu-lhe que o salesiano Luís Olive
se curaria. Na segunda noite, voltou para dar-lhe conselhos sobre a Congregação. Dom Bosco pensou
que era suficientemente importante para ele mesmo escrevê-lo. O autógrafo de Dom Bosco está em
ASC A223: Autografi-Sogni: FDB 1347 C10-D3.
568
dolorosos males que está padecendo. Esta manhã tinha um olhar espantado
e disse-me que não tivera um momento de descanso durante a noite, só em
pensar na visão que teve. Acrescentou que se os meninos escutassem o seu
relato, iniciariam uma vida de santidade ou desmaiariam de puro medo.60
60
Viglietti, Cronaca originale, VI, 22-23, 3 de abril de 1887: FDB 1226 A11. Segue uma des-
crição de cinco páginas de um pesadelo terrificante sobre o inferno.
61
Viglietti, Cronaca originale, VI, 29 e 30, 5, 6 e 7 de abril de 1887: FDB 1226 B2 e 3.
62
Viglietti, Cronaca originale, VI, 43, 25 de abril de 1887: FDB 1226 B9.
63
Viglietti, Cronaca originale, VI, 49, 29 de abril de 1887: FDB 1226 12.
569
Esta manhã, Dom Bosco celebrou a missa num quarto ao lado do seu, onde
foi colocado um belo armário-altar. Quando chegou ao último evangelho, as
toalhas do altar começaram a arder e as chamas se espalharam. Pulei sobre
o altar e tentei várias vezes apagar as chamas com as mãos, mas não conse-
gui. Finalmente, apaguei o fogo com dois jarros de água. Como resultado,
queimei-me bastante, e minhas mãos estão em mau estado.64
A atividade em Roma foi constante. Dignitários eclesiásticos e civis e bispos
de várias partes do mundo insistiam em ver Dom Bosco. Em 8 de maio, foi
celebrado um banquete de festa com numerosos hóspedes ilustres.
Dom Bosco levantou-se para falar e, entre outras coisas, elogiou [o falecido] pa-
dre [Tiago] Margotti. Outros também se levantaram para falar, improvisando
eloquentes e sinceros discursos em inglês, francês e espanhol [além de italiano].
O jantar festivo foi realizado especialmente para homenagear o padre [Miguel]
Rua, vigário de Dom Bosco, que foi objeto de elogios sinceros e bem merecidos.
Num dado momento, as portas abriram-se e os jovens do colégio cantaram be-
las canções em homenagem ao padre Rua no dia de seu onomástico.65
As páginas da crônica dos dias seguintes contêm uma longa lista de visi-
tantes ilustres. Num dado momento, Viglietti informa:
Dom Bosco está morto de cansaço, está completamente esgotado. Diz que
não pode esperar mais do que o momento de retornar a Turim. Pensa estar em
caminho no dia 17 [depois da consagração da igreja em 14 de maio], fazendo
uma única escala em Pisa.66
570
67
Viglietti, Cronaca originale, VI, 68-69, 13 de maio de 1887: FDB 1226 C10-11. Uma últi-
ma entrada na crônica sobre a casa do Sagrado Coração em Roma diz: “No dia anterior à consagração
da igreja, sexta-feira, 13 de maio de 1887, o mesmo dia da audiência do Papa, Dom Bosco interveio
para que se acolhesse no internato 7 órfãos nessa mesma noite. E o fez para obter a bênção do Senhor
sobre a obra”. Padre Antíoco Deíala, que foi diretor da comunidade do Sagrado Coração de 1978 a
1981, colheu esta informação sem citar a fonte; o autor tomou conhecimento disso pela gentileza do
padre Mário Fabbian, que posteriormente foi diretor e pároco.
68
Viglietti, Cronaca originale, VI, 78-80, 14 de maio de 1887: FDB 1226 D3-4. A igreja foi con-
sagrada antes de ser terminada para permitir que Dom Bosco participasse, pois ia decaindo rapidamente.
571
Pobre Dom Bosco! Mais de quinze vezes fez uma pausa, profundamente
comovido e com lágrimas, incapaz de continuar. Como de costume, eu o
ajudava, e a cada passo precisava intervir indicando-lhe que continuasse a
celebração. Depois da missa, uma multidão de pessoas ajuntou-se ao seu re-
dor para beijar-lhe a mão. Também essas pessoas se sentiram profundamente
comovidas. Ao chegar à sacristia, as pessoas que chegavam à primeira sala
pediram-lhe a bênção. “Sim, sim”, afirmou Dom Bosco; mas, ao voltar-se
para pronunciar a bênção rompeu em soluços e cobriu o rosto com as mãos.
“Sim, abençoo-vos, abençoo-vos”, murmurou com voz embargada, e saiu.
Mais tarde, perguntei a Dom Bosco por que se tinha emocionado tanto du-
rante a celebração da missa. Disse-me: “Apresentou-se vivamente diante de
meus olhos a cena [de minha infância nos Becchi] quando aos 10 anos sonhei
com a Congregação. Podia ver e escutar muito claramente os meus irmãos e
a minha mãe discutirem sobre o sonho, que nada então [parecia real (?)]”.69
Hoje, Dom Bosco escreveu a seguinte carta ao Santo Padre Leão XIII: “Bea-
tíssimo Padre: estou para partir de Roma, muitíssimo consolado e animado
pela recepção verdadeiramente carinhosa e paterna que Sua Santidade me
concedeu. A igreja e a escola do Sagrado Coração já estão em funcionamen-
to. [...] A casa dos pobres órfãos ainda não foi finalizada, mas espero que o
seja logo, se Deus me der vida. Ainda temos uma dívida pendente de 51 mil
liras pela fachada da igreja. Se Sua Santidade pudesse assumir ao menos uma
parte da soma devida, nossa situação financeira melhoraria um pouco. Todos
os nossos meninos órfãos, uns 250 mil, oferecem orações diariamente pelo
permanente bem-estar de Sua Santidade”.70
69
Viglietti, Cronaca originale, VII, 3-5, 16 de maio de 1887: FDB 1226 D7-8. A última frase
está incompleta.
70
Viglietti, Cronaca originale, VII, 6-8, 17 de maio de 1887: FDB 1226 D9-11; também no
Epistolario IV Ceria, 377. O número de “órfãos” é uma estimativa exagerada; os salesianos tinham nessa
época 60 casas no mundo todo.
572
Após uma escala em Pisa, onde Dom Bosco e seu séquito foram hós-
pedes do arcebispo, estavam de volta ao Oratório na tarde de 20 de maio.
“Padre Rua deu a bênção solene com o Santíssimo Sacramento, pois era o
[início do] tríduo [de preparação para] a festa de Maria Auxiliadora. Dom
Bosco insistiu em estar presente no santuário para a bênção”.
Nestes últimos dias, Dom Bosco foi atingido por algumas dores que o abatem
tremendamente. Dá pena vê-lo sofrer. Não fala, respira fatigosamente. Não
pôde comparecer ao almoço dos ex-alunos [em Turim]. Não devia ter feito a
viagem. Hoje, um grupo de superiores salesianos e os jovens do Oratório vie-
ram cumprimentá-lo em seu aniversário. Também recebeu muitos telegramas
das casas e dos cooperadores.74
71
G. Albertotti, Chi era, 78.
72
Viglietti, Cronaca originale, VII, 17 e 20, 3 e 5 de junho de 1887: FDB 1226 E2 e 4.
73
Viglietti, Cronaca originale, VII, 29, 7 de julho de 1887: FDB 1226 E8.
74
Viglietti, Cronaca originale, VII, 34-35, Lanzo, 15 de agosto de 1887: FDB 1226 E11. Os
registros paroquiais como já se viu no primeiro volume, anotam seu nascimento em 16 de agosto.
573
Parece que Dom Bosco previu algum evento importante que acontece-
ria logo, uma espécie de contrarrevolução contra o mundo anticlerical secu-
lar. Viglietti anota: “Dom Bosco disse repetidamente: ‘Estou esperando com
grande apreensão os acontecimentos importantes de 1888 e 1891’”.75 Talvez
estas premonições se baseassem em sua avaliação da situação política, ou em
seus sonhos, embora nenhum deles seja citado. Ele se expressaria com maior
clareza algum tempo depois. Viglietti escreve:
75
Viglietti, Cronaca originale, VII, 37, Valsálice, 2 de setembro de 1887: FDB 1226 E12.
574
Esta manhã, depois de ler os jornais, Dom Bosco disse: “Espera e verás; se
não durante o jubileu do Papa, sem dúvida, em algum momento do futuro
próximo, será formada uma cruzada contra os revolucionários. Pode ser que
não haja nenhum derramamento de sangue, mas serão postos entre a espada
e o muro, e se verão obrigados a devolver ao Papa o que é dele por direito”.76
Viglietti diz-nos que padre Lemoyne apressou-se a tecer sua teia de ima-
ginação especulativa sobre o tema.
76
Viglietti, Cronaca originale, VII, 54-55, 27 de novembro de 1887: FDB 1227 A9. O “jubileu
papal” seriam as bodas de ouro da ordenação sacerdotal de Leão XIII (1887-1888). Parece que Dom
Bosco estivesse pensando na restauração do poder temporal do Papa.
77
Viglietti, Cronaca originale, VII, 45-47, 18 de novembro de 1887: FDB 1227 A4-5. Carlos
Gastini (1833-1902) foi um dos primeiros meninos do Oratório que permaneceram no Oratório como
leigos. Atuava no palco e como animador artístico, era um escritor fácil em versos nos acontecimentos
festivos. As estranhas especulações de Lemoyne, que se baseiam talvez em “profecias” que circulavam
na época, parecem também mais irreais do que a “contrarrevolução” de Dom Bosco.
575
Há algumas noites, pelo que Dom Bosco me disse, sonhou com o padre
[José] Cafasso. No sonho, padre Cafasso acompanhou-o numa visita a todas
as nossas casas, também a mais distante na América [do Sul] [...]. Infelizmen-
te, está tão cansado que não tem forças para nos contar a história toda.79
Isso se deu em fins de outubro. A saúde de Dom Bosco não foi melhor
em novembro.
Este ano, pela primeira vez, a situação de Dom Bosco impediu-o de participar
do rosário pelos falecidos, rezado por toda a comunidade na igreja. Eu dirigi
o rosário em nossa pequena capela particular, e alguns dos nossos queridos
coadjutores uniram-se a Dom Bosco nessa récita.80
Dom Bosco teme que logo deva deixar de celebrar missa. O pobre esteve a
dizer missa com um esforço doloroso e com uma voz apenas audível. Estive
78
Viglietti, Cronaca originale, VII, 38, 28 de setembro de 1887: FDB 1227 A1.
79
Viglietti, Cronaca originale, VII, 43-44, 24 de outubro de 1887: FDB 1227 A3-4.
80
Viglietti, Cronaca originale, VII, 44, 1o de novembro de 1887: FDB 1227 A4.
81
Viglietti, Cronaca originale, VII, 48-54, Turim, 24 de novembro de 1887: FDB 1227 A6-9.
576
a ajudá-lo na celebração do santo sacrifício nos últimos três anos e agora vejo
que lhe falta força para isso. Há vários meses não se volta [para as pessoas]
para o Dominus vobiscum. E, no último mês, no momento da comunhão das
pessoas ficou sentado, deixando que eu a distribuísse. Também não tem força
para recitar a Ave-Maria e as orações [ao final da missa]. Recito essas orações
em seu lugar, enquanto segue a oração em silêncio. Entretanto, no dia em que
se sente bem, levo-o para dar um passeio. Apoiado em mim consegue cami-
nhar uma distância moderada. Esperemos que tudo caminhe bem!82
Dom Bosco passou uma noite ruim. Esta manhã não foi capaz de celebrar a
missa, e por isso assistiu à minha e recebeu a santa comunhão que lhe dei.
Quando me voltei para dizer Ecce Agnus Dei, vi que Dom Bosco estava cho-
rando como uma criança. Mas ele acompanha com bom espírito. Esta manhã,
enquanto eu lia o jornal para ele, como de costume, continuou ironizando e
fazendo piadas sobre sua doença.83
82
Viglietti, Cronaca originale, VII, 56-57, 2 de dezembro de 1887: FDB 1227 A10. Na ce-
lebração da missa, antes da reforma litúrgica, o sacerdote rezava olhando para o tabernáculo e a cruz,
dando as costas ao povo. Quando devia saudar com o Dominus vobiscum, virava-se para o povo. A missa
terminava com algumas orações rezadas apenas pelo sacerdote, ajoelhado diante do altar.
83
Viglietti, Cronaca originale, VII, 58, 3 de dezembro de 1887: FDB 1227 A11.
577
Esta manhã, Dom Bosco ouviu a missa e recebeu a sagrada Comunhão, pois
não pôde celebrar. Que doloroso sacrifício foi isso para ele, na festa da Imacu-
lada Conceição! Mas está sempre alegre. Quando alguém lhe pergunta como
está, ele sempre responde que está bem. Desdenha sobre suas dores. A incli-
nação de sua coluna vertebral está aumentando dia a dia. Mas brinca sobre
isso e recita o dito popular muito conhecido no Piemonte: “Ó, minhas costas,
minhas pobres costas, acabou o teu pesado fardo”. Também suas pernas foram
durante algum tempo um fardo pesado para ele. E também compôs alguns
versos em piemontês, para rir-se com eles, e os recita com frequência: “Ó
minhas pernas, minhas inchadas pernas, retas ou retorcidas, mantenham-se
sempre fortes até o dia de minha morte”.
Louvada seja Maria Imaculada! Ontem à noite chegou ao Oratório o bispo de
Liége, Bélgica [Vítor-José Doutreloux]. A finalidade de sua visita é conseguir
84
Viglietti, Cronaca originale, VII, 58-61, 6 de dezembro de 1887: FDB 1227 A10-12.
85
Viglietti, Cronaca originale, VII, 62-63, 7 de dezembro de 1887: FDB 1227 B1.
578
579
Hoje à noite, padre Rua e eu levamos Dom Bosco para um passeio. Em nosso
caminho de volta, vimos o cardeal caminhando pelos pórticos do bulevar
Vítor Emanuel. Sem duvidar, disse ao nosso cocheiro que fosse para aquele
lado. Então, desci, fui ao encontro do cardeal e perguntei-lhe se podia dedicar
um momento a Dom Bosco, que queria dizer-lhe algumas palavras. “Ó! É o
padre João, nosso querido padre João”, exclamou o cardeal. Subiu ao coche
e, sentando-se ao seu lado, abraçou-o e beijou-o carinhosamente. Enquanto
isso, muitas pessoas tinham-se reunido e estavam contemplando a comovente
cena. Ouvi as pessoas comentarem: “Como se querem bem!”. Os dois vene-
ráveis anciãos passearam juntos até a rua Cernaia. Ali, o cardeal desceu e nós
voltamos para o Oratório.87
Nos últimos dias, a saúde de Dom Bosco esteve piorando. Já não pode cami-
nhar e deve ser empurrado numa cadeira de rodas. Quase não pode respirar.
Como consequência, vai dormir às 7 da noite e levanta-se às 10 da manhã.
Ouve minha missa e recebe a sagrada Comunhão na cama.
Esta tarde, porém, insistiu em fazer um passeio. Assim, pois, padre Bonetti
e eu o colocamos numa poltrona e o levamos ao coche. Parece que se sentiu
bem na viagem. À medida que íamos, disse-me que quando chegássemos em
casa, me recordasse de transmitir em seu nome esta mensagem a todos os sa-
lesianos: “Todos os salesianos, os superiores em especial, devem tratar nossos
empregados com grande caridade”.
Esta tarde, o doutor reconheceu que o estado de Dom Bosco se deteriorou
consideravelmente. Ordenou que fosse posto na cama.88
Viglietti, Cronaca originale, VII, 72-73, 16 de dezembro de 1887: FDB 1227 B6.
87
Viglietti, Cronaca originale, VII, 73-75, 20 de dezembro de 1887: FDB 1227 B6-7. Deve ter
88
sido o serviço atento do cocheiro a motivá-lo a dar o conselho sobre os empregados. Viglietti encerra
esta anotação inserindo uma observação à margem: “Antes de deitar-se, Dom Bosco disse ao padre Rua:
‘Sobre Viglietti, eu o entrego a ti. Ser-te-á de grande ajuda’”.
580
Fontes
As mais importantes são, de longe, as crônicas e as memórias escritas
pelo clérigo salesiano Carlos Maria Viglietti, secretário, homem de confiança
e companheiro constante durante os últimos quatro anos da vida de Dom
Bosco. Segue-lhe em importância o livro de memórias escrito pelo salesiano
coadjutor Pedro José Enria, que foi enfermeiro de Dom Bosco a partir de
1871. Muito breve, mas de grande interesse, é a crônica episódica escrita pelo
padre Antônio Sala, nesse momento, ecônomo geral da Congregação. Padre
Francisco Cerruti, membro do Capítulo superior, também é autor de um
livro de memórias, que abrange um período muito limitado de tempo. Padre
Miguel Rua, prefeito e vigário-geral, enviou vários boletins com a intenção
de manter os salesianos informados da situação de Dom Bosco durante a
crise do final de dezembro de 1887 e início de janeiro de 1888. Enfim, temos
o ensaio póstumo intitulado Quem foi Dom Bosco?, obra do médico que o
atendeu, João Albertotti;89 trata-se de um texto de valor desigual, mas, obvia-
mente, é atendível quando fala da enfermidade de Dom Bosco.
89
G. Albertotti, Chi era Don Bosco. Biografia físico-psicopatológica escrita pelo seu médico.
Gênova: Fratelli Pala, 1929. O livro foi póstumo, publicado por um filho do médico de Dom Bosco.
581
90
Padre Lemoyne foi capelão das salesianas em Nizza [Monferrato] desde 1877. Chamado a
Turim no outono de 1883 como secretário-geral, teve a oportunidade de, seguindo sua inclinação,
reunir material para uma futura biografia de Dom Bosco, agrupados em 45 volumes ou Documenti.
Seu Ricordi de gabinetto [Memórias de escritório] é uma pequena agenda-calendário de 1846, usada em
parte por Lemoyne durante seus dias de seminário e utilizado novamente como diário quase quarenta
nos depois! As entradas em questão referem-se ao ano 1884.
91
Ver breve nota biográfica em A. Lenti, Dom Bosco: história e carisma. Volume 1, p. 34-35.
92
C. M. Viglietti, Due parole, apêndice à Crônica transcrita e editada, caderno 5, 426-434:
FDB 1240 D6-E2.
582
No outono desse ano [1883], comecei meu segundo ano de colégio universi-
tário [em Valsálice]. Pois bem, naquele mesmo novembro, o cardeal Caetano
Alimonda foi nomeado arcebispo de Turim e Dom Bosco me chamou para
preparar o presente da Congregação ao nosso recém-nomeado pastor; deveria
ser um grande mapa da diocese de Turim. Desenhei-o a partir de detalhados
mapas militares, para que mostrasse claramente todas as ruas, os atalhos e os
cursos d’água; casas paroquiais, capelas, igrejas e vicariatos. O cardeal mos-
trou-se encantado com o presente. Dom Bosco também ficou muito satisfeito
com o trabalho, sobretudo porque o mapa mostrava seu lugar de origem e a
casa em que nascera.
583
Mencionei a questão aqui só porque foi nessas circunstâncias que um dia entrei
em Turim para apresentar “esta obra-prima” ao arcebispo. Foi nessa ocasião
que Dom Bosco me chamou ao seu aposento e me perguntou à queima-roupa:
“Gostaria de [deixar o colégio universitário e] vir permanentemente a Turim
como meu secretário?”. Fiquei atônito e fora de mim pela alegria causada por
essa proposta; só podia crer em minha boa sorte. Dom Bosco continuou: “Em
breve, irei a Roma. Fica aqui no meu lugar até meu regresso. Tu deverás ser o
baculus senectutis meae” [o cajado da minha velhice].93
Por muito tempo eu desejara dedicar minha vida às missões da América. Ob-
viamente teria sido um sacrifício muito doloroso para mim, mas pareceu-me
que fazia algo nobre: deixar tudo, pátria e família, e passar toda a minha vida
trabalhando na penumbra naquelas terras distantes. Já consultara padre Cagliero
93
C. M. Viglietti, Pequena memória autobiográfica, 1-3, FDB 1232 C5-7. Este relato
autobiográfico de três páginas narra como Dom Bosco escolheu Viglietti para ser seu secretário.
94
C. M. Viglietti, Crônica original, I, 1: FDB 1222 D4. Padre Berto, secretário pessoal de Dom
Bosco por muitos anos e arquivista da Congregação, ficou muito doente com uma neurose e teve de
deixar esse serviço.
95
C. M. Viglietti, Crônica original, I, 3, 4 de outubro de 1884: FDB 1222 D5.
584
Entre maio de 1884 e janeiro de 1888, cuidou de Dom Bosco com de-
voção de servo como seu leitor, sacristão, ajudante e companheiro constante.
Embora Viglietti não tenha sido a única companhia de Dom Bosco em suas
últimas viagens, a sagacidade de secretário, a competência, as habilidades, a
personalidade e o entusiasmo incontido demonstraram que era uma valio-
síssima ajuda na França (1885),97 na Espanha (1886),98 em Milão (1886)99
C. M. Viglietti, Crônica transcrita e editada [vol. I], caderno 1, 23-25, 4 de outubro de 1844:
96
FDB 1232 E3-5. Depois da morte de Dom Bosco, padre Rua nomeou-o diretor espiritual em Lanzo
(1890-1896) e, em seguida, diretor de Bolonha (1896-1904), Savona (1904-1906) e, finalmente, de
Varazze (1906-1912), onde em 1907, coube-lhe passar pelo infame escândalo. Morreu em Valdocco
em 1915.
97
C. M. Viglietti, Crônica original, I, 5-78, 24 de março-6 de maio de 1885: FDB 1222 D6
- 1223 B7.
98
C. M. Viglietti, Crônica original, III, 57-93 + IV, 1-72, 12 de março-15 de maio de 1886:
FDB 1224 C4 - 1225 B10.
99
C. M. Viglietti, Crônica original, V, 36-45, 11-13 de setembro: FDB 1225 D6-10.
585
e em Roma (1887).100 Viglietti servia como leitor para Dom Bosco, cuja vi-
são se deteriora bastante, e escrevia sob o seu ditado as cartas, os sonhos, as
recordações do passado, as comunicações oficiais etc. Depois de obter ra-
pidamente um conhecimento básico da língua espanhola, encarregou-se da
correspondência nessa língua. Dom Bosco tratava-o como filho, e Viglietti
lhe correspondia com devoção filial e afeto de criança. Dom Bosco confiava
plenamente nele.
Viglietti não diz onde e quando encontrou tempo para estudar os trata-
dos de teologia; em sua crônica, ele indica de passagem as datas em que rece-
beu as diversas ordens sacras; todas, nos últimos meses de 1886. Uma carta
dele ao padre Barberis revelaria que, possivelmente, também sofreu algum
tipo de crise vocacional.101 Não obstante, foi ordenado sacerdote em 18 de
dezembro desse ano.102
Viglietti demonstra-se, em todo momento, uma pessoa sensível e cheio
de imaginação e é, de longe, o mais original dos cronistas. Embora, à exceção
das viagens mais longas, ele não fizesse anotações diárias nem um diário, suas
crônicas contêm grande quantidade de informações sobre os últimos anos de
Dom Bosco, incluindo episódios, frases, recordações e um pouco de humor.
São cheias de relatos de sonhos, milagres e outros acontecimentos extraordi-
nários. Falam, com entusiasmo e admiração, das viagens triunfais de Dom
Bosco, da sua popularidade, tanto entre os grandes como entre os humildes.
Crônicas e Memórias
Quem lê as crônicas de Viglietti, conservadas em ASC (ASC A012),
logo perceberá repetições, reedições e várias mãos, numa palavra, todo um
processo editorial. Isso se explica porque Viglietti, ao escrever para futuros
biógrafos, redigia sua crônica original, ou seções da mesma, por etapas. Escre-
veu, também, memórias adicionais à parte. Obviamente, esta forma editorial
100
C. M. Viglietti, Crônica original, VI, 31-83 + VII, 3-10, 20 de abril-20 de maio de 1887:
FDB 1226 B3-D11.
101
A carta fala da conversa que durou até muito tarde, quando Dom Bosco lhe disse “palavras
celestes”. Viglietti continua: “O bom pai me quer muito! Eu chorava de puro afeto, enquanto ele me
apertava em seus braços. Depois, mandou-me por obediência que falasse com o senhor e com o padre
Rua sobre minha ordenação” (Viglietti a Barberis, 14 de junho de 1886, em F. Desramaut, Don Bosco,
1284, nota 31).
102
C. M. Viglietti, Crônica original, V, 61, 18 de dezembro de 1886: FDB 1225 E6: “Hoje,
com 11 companheiros, fui ordenado sacerdote pelo bispo [João Batista] Bertagna na capela do seminá-
rio”. 19 de dezembro de 1886: “Hoje celebrei minha primeira missa para a comunidade dos estudantes.
[...] Não de parece real ser sacerdote aos 22 anos e meio de idade!”.
586
103
F. Desramaut, Memorie I, 171-175; Idem. Don Bosco, 1363-1364, tentou a descrição des-
se processo editorial. P. Marín publicou uma edição crítica apenas da primeira redação da crônica,
com introdução e notas: Carlo Maria Viglietti, Cronaca di Don Bosco: prima redazione (1885-1888).
Roma: LAS, 2009.
104
ASC A012: Cronachette-Viglietti, Cronaca di D. Bosco: FDB 1222 D2 -1237 D8.
105
Os volumes I, II, III, VII e VIII mantêm sua capa em que se indica expressamente o número
do volume. Os volumes IV, V e VI não têm capa e não há indicação do número do volume, mas só
têm a página do título. As datas de entrada e outros elementos formais, porém, indicam claramente
que correspondem à sequência.
106
As primeiras doze entradas, de 20 de maio a 31 de dezembro de 1884 (p. 1-4) foram riscadas,
porque Viglietti, assim o afirma, conservava uma memória à parte para complementar o registro diário
trazido pelos padres Berto e Lemoyne. Pode ser que esta memória à parte seja a Crônica adicional de
1884-1885, descrita em seguida.
107
A pequena entrada de 24 de maio de 1885 (p. 82-83) está riscada (FDB 1223 B12). Viglietti
explica: “O principal propósito desta crônica é anotar os acontecimentos durante as viagens de Dom
Bosco. Por isso, quando está em sua casa de Turim durante uma permanência prolongada, os aconte-
cimentos são anotados à parte”.
108
Como indica o próprio Viglietti, as entradas de 24 de março de 1885 a 25 de fevereiro de
1886 (p. 1-56) são uma repetição – para facilitar a leitura? – do mesmo período do volume anterior
(FDB 1223 E12 - 1224 C4).
587
109
Este é o famoso Diário de Barcelona.
110
Os oito cadernos estão em FDB como segue: (1) 1222 D2 - 1223 B7; (2) 1223 B8-E10; (3)
1223 E11 - 1224 D10; (4) 1224 D11 - 1225 B11; (5) 1225 B12-E12; (6) 1226 A1-D5; (7) 1226
D7 - 1227 B10; (8) 1227 B11-D8. Devemos observar que cada quadro FDB [das microfichas] contém
duas páginas dos pequenos cadernos.
111
FDB 1232 C5 - 1240 E2.
112
O caderno III tem o que parece ser um acréscimo, sem indicação dos números de página, mas
mantendo as entradas em ordem. O acréscimo traz por título “Tomo II, de 18 de maio de 1886 a 31
de janeiro de 1888”, levando a pensar que a crônica transcrita pode ter tido a intenção de apresentar a
estrutura formal dos dois volumes, ou partes: parte I, presumivelmente, a partir de 20 de maio de 1884
até 15 de maio de 1886, ao final da viagem à Espanha; parte II, de 18 de maio de 1886 a 31 de janeiro
de 1888, morte de Dom Bosco. Portanto, a estrutura atual de cinco cadernos só pode ser seu formato
material resultante do que formava cinco cadernos inteiros. Seja como for, para efeitos práticos, pode-
-se manter o formato de cinco cadernos, com sua paginação sequencial, e o volume sem numeração da
segunda seção pode ser tratado como um acréscimo ao caderno III.
588
Os cinco cadernos estão em FDB como segue: (1) 1232 C5 -1235 A9; (2) 1235 A10 - 1236 A7;
114
(3) 1236 D6 1237 D8 + 1237 D9 - 1238 E7; (4) 1238 E8 - 1240 C4; (5) 1240 C5-D2 + D3-5 + D6-E2.
589
Escrevi esta crônica da forma mais honesta que pude; […] relatei os aconte-
cimentos tal como aconteceram dia a dia. Recolho-os como eu mesmo os vi
ou como Dom Bosco me informou ou me informaram outros encarregados
desta tarefa. Se for culpado de algum equívoco, peço sua amável indulgência.
Sobretudo quando viajamos, os compromissos mantinham-nos tão ocupados
durante o dia que eu encontrava tempo para anotar algumas coisas só altas
horas da noite. [...] O que foi recolhido nesta crônica, contudo, foi escrito
por alguém que nem de dia, nem de noite, se separou de Dom Bosco, alguém
que conhecia todos os seus segredos e que, por isso, pode falar com maior
conhecimento do que muitos sobre o que se refere a este santo homem.115
Diário
Não se trata, propriamente, de um diário, mas de um registro da atuação
diária de Dom Bosco, na realidade, uma coleção de episódios, sonhos etc.,
desde a primeira infância de Dom Bosco, que Viglietti pode ter ouvido do
mesmo Dom Bosco ou de outros. Este material foi transcrito num livro agen-
da-calendário bastante pequeno intitulado La rimembranza per l’anno 1880
[Memória para o ano 1880].
O título colocado na capa por Viglietti diz: “Diário, com índice de con-
teúdos [acréscimo], 1883, 1885”. Em outro lugar, diz: “Memórias do clérigo
Carlos Viglietti, 1885”.117
Todas as entradas são datadas a partir de 1885. A primeira entrada, sem
data, na página 27 do livro-agenda impresso, é o famoso regime feito por
Dom Bosco em vista de sua saúde.118 Segue imediatamente a única verdadeira
entrada da “crônica”, de 15 de julho de 1885.
C. M. Viglietti, Crônica transcrita e editada, “Conclusão”, caderno 5, 422-424: FDB 1240 D3-5.
115
117
Diario con indice delle materie 1883-1885; Memorie per cura del ch. Viglietti Carlo 1885 FDB
1231 D5 - 1232 C4.
118
FDB 1231 D8.
590
Crônica adicional119
Trata-se de um caderno sem título, bastante extenso (p. 1-98 + 116-
119), manuscrito de Viglietti, com algumas entradas de outros. Uma nota
à margem de um arquivista diz no início: “Este caderno, escrito pelo padre
Carlos Viglietti, contém notícias e relatos que ele pode ter ouvido do próprio
santo. Padre Lemoyne acrescentou alguns elementos de suas mãos, cf., por
exemplo, p. 96”.
O texto de Lemoyne aparece nos acréscimos que se encontram nas pá-
ginas 49, 83-84 e 96-98.120 Há também uma pequena adição de uma terceira
mão na p. 98.121 Em seguida, há um índice do conteúdo escrito por Viglietti,
com paginação diferente, p. 116-119.122
Depois de duas entradas riscadas, de junho de 1884, esta crônica co-
meça com a entrada “Anno 1862”, recordando a profecia de Dom Bosco de
que um salesiano presente será bispo, profecia que agora [1884] verificou-
-se em Cagliero.
Segue, depois, a primeira entrada verdadeira da crônica, 26 de junho
de 1884, que narra a festa de São Luís, em Lanzo, com a presença do padre
Cagliero, já nomeado bispo. No mais, a crônica é, na verdade, uma série de
episódios que datam de diversos períodos da vida de Dom Bosco, reunidos
presumivelmente na data em que foram ouvidos.
Coleção em rascunho123
Sem qualquer título, esta coleção é composta por uma série de ar-
tigos impressos: cartas de Viglietti e artigos sobre Dom Bosco publi-
cados em vários jornais; o texto impresso da crônica de Viglietti sobre
a última enfermidade de Dom Bosco, publicado no Boletim Salesiano
com o título “Diário da enfermidade de Dom Bosco”; resenhas de livros
posteriores de Viglietti, dos quais parece estar muito orgulhoso, e outros
materiais. Os artigos têm normalmente uma introdução com data, da
mão de Viglietti. As entradas com data vão de 17 de maio de 1886 a 28
de setembro de 1896.
119
FDB 1228 E1 - 1230 C2.
120
FDB 1229 C9, FDB 1230 A7-8, FDB 1230 B8-10.
121
FDB 1230 B10.
122
FDB 1230 B11-C2.
123
FDB 1230 C12 - 1231 D4.
591
Breve esboço125
Pedro José Enria (1841-1898) nasceu na pequena cidade de San Benigno,
próxima a Turim. Quando tinha pouco mais de 7 anos, sua mãe morreu e seu
pai casou-se novamente. Em 1852, a família emigrou para Turim, onde prospe-
rou durante algum tempo, até que foi atingida, primeiro, por uma epidemia de
malária e, em 1854, pela cólera, que deixou órfãos Pedro e seus irmãos.
Um pequeno esboço biográfico encontra-se em E. Ceria, Profili, 79-95. Baseado nele, ver
125
Dizionario biografico dei salesiani. Turim: Ufficcio Stampa Salesiano, 1969, 116.
592
Enria, Memoria, 99-169: FDB 934 C2 - 935 C12; ASC A013: Malattie, Varazze: FDB
127
especialmente, 430 D12 - 431 E12; 433 B10-12, D10-E1; 434 A1-2, A7-B2.
593
Memórias
Os arquivos de Enria, na seção “crônicas” do Arquivo Salesiano Central
(A005 ASC) contêm uma série de memórias.
1. Fragmento de quatro páginas que começa com as palavras “Em
1854”.131
2. Caderno de 95 páginas, seis delas sem numeração depois da pá-
gina 89, contém o que aconteceu até a enfermidade de Varazze
(1872).132 Um primeiro – frustrado – início diz: “Eu, Pedro José
Enria [...]”; o segundo começa: “Em 1854 [...]”.
3. Memórias parciais, de 26 páginas, dos últimos dias de Dom Bosco
que começam com “1887, 20 de abril” e ficam incompletas.133
130
Enria, a testemunha 14 em janeiro-fevereiro de 1893 (P. Stella, Canonizzazione, 119), pre
parou uma extensa deposição por escrito: cf. ASC A005: Cronachette, Enria: FDB 938 C6 - 939 C5.
131
FDB 931 A12-B3.
132
FDB 931 B4 - 932 D11.
133
FDB 937 D3 - 938 A4.
594
134
FDB 938 A5-B8.
135
FDB 938 B9-C5.
136
FDB 932 D12 - 937 C8.
137
E. Ceria, Profili, 94.
138
A seção inicial da Memoria de Enria, 1-24: FDB 932 D12-E12 + 933 A1-11, pode ser vista
transcrita em P. Stella, Economia, 494-506.
139
FDB 936 D8-937 C8.
140
FDB 938 C9-D2.
595
Antônio Sala
Nota biográfica141
Antônio Sala (1836-1895) nasceu num lar rico. A família era proprietária
de uma fábrica têxtil, da qual Antônio foi gerente aos 20 anos. Mas em 1863,
aos 27 anos, decidiu ir embora com Dom Bosco e os salesianos. O “gigante
gentil”, como chegou a ser conhecido, enamorou-se imediatamente do estilo
de vida espartano do Oratório, dos jovens e de Dom Bosco, em particular. Foi
ordenado em 1869; em seguida, participou das aulas de Teologia Moral no Co-
légio Eclesiástico. Em 1875, Dom Bosco nomeou-o auxiliar do administrador
da Congregação, a quem sucedeu em 1880. Ao desempenhar estes cargos, su-
pervisionou os projetos importantes de construção, em especial, a construção da
igreja de São João Evangelista, em Turim (1878-1882) e a do Sagrado Coração,
em Roma (1884-1888). Foi chamado, depois, para ajudar Dom Bosco na etapa
final de sua doença, em fins de 1887. Abrindo suas memórias, Sala escreve:
596
Memórias143
Este manuscrito de nove páginas foi aparentemente escrito apressada-
mente, sem atender à correção da linguagem ou à beleza do estilo. De fato, é
muito difícil de ler.
Em nota inicial, padre Sala especifica a data em que começou suas fun-
ções de enfermeiro, em 30 de dezembro de 1887. Segue uma dúzia de epi-
sódios, alguns dos quais só estão nesta memória. Recolhe também algumas
ocorrências engenhosas de Dom Bosco e algumas de suas valiosas afirmações
não testemunhadas em outros lugares. Os defeitos literários são amplamente
compensados pelo fato de, como o padre Sala indica, tudo ter sido escrito a
partir da experiência direta e pessoal.
143
ASC A009, Sala: FDB 1222 C5-D1.
597
144
Dados biográficos provenientes de E. Ceria, Profili capitolari, 232-255; ver também F. Cer-
ruti, Lettere circolari e programmi di insegnamento. Introduzione, testi critici e note di J. M. Prellezo.
Roma: LAS, 2006, 8-42; R. Ziggiotti, Don Francesco Cerruti. Turim: SEI, 1949; Dizionario Biografico
dei Salesiani, Turim: Ufficio Stampa Salesiano, 1969, 82.
145
ASC A005, Cerruti: FDB 963 A8-12.
146
ASC A024, Malattie: FDB 437 D8, 9, 10, 11, e 12; E1, 3, e 5, respectivamente.
147
ASC A024, Malattie: FDB 437 E2.
598
148
Chi era Don Bosco, ossia Biografia fisio-psico-patologica di Don Bosco, scritta dal suo medico
Dott. Albertotti Giovanni, pubblicata dal figlio Giuseppe Albertotti. Gênova: Poligrafica San Giorgio,
1929. 100 p., introdução do filho, p. 7-29; texto do médico de Dom Bosco, p. 33-100.
149
G. Albertotti, Chi era, 9-12, segundo o testemunho de seu filho.
150
Os médicos consultados, cuja opinião sobre o estado de Dom Bosco foi de grande impor-
tância, foram José Fissore, desde 1871, Celestino Vignolo-Lutati, durante os anos oitenta, e, em grau
menor, Tomás Bestente, em sua última enfermidade. Fissore e Vignolo, especialistas em seus campos,
parece que tiveram um papel importante durante a última enfermidade. José Fissore era “professor de
medicina interna na universidade de Turim e um dos mais estimados médicos da cidade” (G. Alber-
totti, Chi era, 79). Em 1871, quando Dom Bosco caiu gravemente enfermo em Varazze, padre Rua
fez com que consultasse um cirurgião local, o doutor Carattini. Durante a última enfermidade, Fissore
assumiu um papel sempre mais decisivo; parece, de fato, ter sido o porta-voz da equipe médica. Ce-
lestino Vignolo-Lutati (1838-1924) era muito unido aos salesianos; seu nome aparece também como
Vignola-Luzzati, mas a maioria das vezes como Vignolo. Os Vignolo tinham relação com os Viglietti.
O secretário de Dom Bosco, Carlos Maria Viglietti, era sobrinho do médico. Dom Bosco tinha grande
amizade com as duas famílias. O mais significativo é que Vignolo era um especialista no campo das
599
doenças bronco-pulmonares. Uma revista profissional fala dele como “o melhor especialista médico de
seu tempo e inspetor dos serviços de saúde para todos os hospitais de Turim”. Tomás Bestente (Bestenti)
fora estudante no Oratório em 1866-1867; quando entrou na faculdade de medicina, abandonou as
práticas religiosas. Em 1881, Dom Bosco encontrou-se com ele no hospital geral, onde Bestente era
médico residente, reconheceu-o, convidou-o para jantar e “o recuperou”. Durante a última enfermidade
de Dom Bosco, Bestente parece ter tido um papel menor, porque era o mais jovem da equipe médica.
Mas, como era médico do departamento de saúde pública da cidade, serviu de instrumento para obter
a permissão do sepultamento especial de Dom Bosco em Valsálice. Ver M. Molineris, Vita episodica di
Don Bosco. Castelnuovo Don Bosco, ISBS, 1974, 421-432.
151
Apenas um exemplo: “Geneticamente, Dom Bosco era dotado de uma constituição física
bastante forte. O tipo do seu crânio, preeminente na região do Piemonte, era braquicefálico. O de-
senvolvimento prematuro do sistema cérebro-espinhal, assim como o sistema muscular, que herdou
principalmente de sua mãe, [...] foi um fator determinante”. E apresenta as medidas do crânio de Dom
Bosco: “Circunferência: 550 mm; diâmetro posterior basal: 190 mm; diâmetro transversal basal: 170
mm; um grau considerável de oxicefalia” (G. Albertotti, Chi era, 80, 98). O portador de oxicefalia
possui uma deformidade parietal que produz uma espécie de efeito doloroso no alto da cabeça.
600
1
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 40-41, 31 de janeiro de 1888: FDB 1227 D8.
601
M. Molineris, Don Bosco inédito, 312-318, 323-330, 332-337; Idem, Vita episodica, 421-445.
2
O enfisema é um tipo de doença pulmonar obstrutiva crônica, que envolve lesões nas pequenas
3
bolsas de ar dos pulmões (alvéolos). Como consequência, o corpo não recebe o oxigênio necessário. O
enfisema torna difícil a tomada de ar. Também pode produzir tosse crônica e dificuldade para respirar,
pois com o enfisema, os alvéolos são parcialmente destruídos e, por isso, diminui a ventilação pulmo-
nar e a respiração se vê gravemente afetada. A insuficiência respiratória causa os sintomas descritos
nos diversos surtos da doença: tosse profunda e dolorosa, asma, extremidades edematosas (inchaço
das pernas e dos pés), dores reumáticas, cianose (coloração azul), pulso fraco ou irregular, com outras
complicações relacionadas com o coração por causa da diminuição do fluxo do sangue no miocárdio.
602
feriores. Já não pode falar. Seus rins e pulmões também estão afetados. Por aí
se vê porque não há esperança”. “E a que o senhor atribui esta enfermidade?”
“Nenhuma causa imediata é responsável por isso. É, sobretudo, o resultado
de uma deterioração física geral, produzida pela vida de trabalho excessivo e
agravada por contínuas pressões.”4
4
O original francês, em Documenti XLIV, 687-688: FDB 1194 A3f., foi traduzido e inserido na
edição do Boletim Salesiano da crônica de Viglietti sobre a última enfermidade de Dom Bosco (C. M.
Viglietti, Cronaca corretta 1886-1896: FDB 1230 E9-10). Saint-Genest acrescenta que Dom Bosco,
ao perceber a presença do repórter, pediu-lhe que entrasse, para agradecer-lhe pela sua anterior amabi-
lidade. Escreve: “O quarto de Dom Bosco parecia a cela de um monge. Estava deitado numa humilde
cama de ferro, pequena. A expressão de seu rosto era doce, quase angelical. Olhou-me com bondade e
tentou sorrir. Com grande esforço, pegou minha mão. Percebi que seus lábios se moviam e que estava
procurando falar comigo. Inclinei-me sobre ele e, de perto, quase inaudível, sussurrou-me ao ouvido:
Obrigado por ter-me vindo ver. Reze por mim”.
5
G. Albertotti, Chi era, 78. FDB 533 B12.
603
“Morto [...] in seguito a mielite lenta”: FDB 754 B4. “Mielite” é a inflamação da medula espinhal.
6
7
Uma insinuação nesse sentido aparece pela primeira vez no jornal de Turim La Gazzetta del
Popolo, acolhida logo por uns cinquenta jornais italianos. Relato e comentários em MB XVI, 346s.
604
8
The Tablet, sábado, 31 de dezembro de 1887, 1058.
9
Enria, Memoria, 258-259: FDB 937 A5-6.
605
[...]. Apesar de estar tão mal, Dom Bosco recebia a santa comunhão todas as
manhãs. Padre Viglietti celebrava a santa missa no altar particular erguido no
quarto ao lado. A porta era aberta e, assim, Dom Bosco podia ver e ouvir o sa-
cerdote. Com que recolhimento ele assistia a santa missa e com que fé rezava
na elevação da hóstia! Quando adorava Jesus no santíssimo sacramento, Dom
Bosco parecia inflamado pelo fogo do amor sagrado. Ao receber a sagrada
comunhão, parecia já não estar neste mundo. Eu ficava ajoelhado junto à sua
cama e observava todos os seus movimentos. Posso testemunhar que nesses
momentos, Dom Bosco parecia absorto no céu.10
10
Enria, Memoria, 260-262: FDB 937 A7-9.
11
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VII, 75-76, 21 de dezembro de 1887: FDB 1227 B7-8.
606
Disse-me: “Viglietti, vê que não sejas o único sacerdote a estar aqui. Preciso
que haja alguém preparado para administrar-me os santos óleos”. Garanti-
-lhe: “Dom Bosco, o padre Rua está sempre no quarto ao lado. Em todo caso,
o senhor não está tão mal para falar dessa maneira”. Dom Bosco insistiu:
“Sabe-se na casa que estou tão gravemente enfermo?”. “Sim, Dom Bosco”,
respondi-lhe. “Todos os salesianos sabem do seu estado; não só na casa, mas
em todas as casas do mundo todo; todos estão rezando pelo senhor”. “Para
que me cure?”, murmurou Dom Bosco: “Eu vou para a eternidade”. Dito
isto, Dom Bosco comove-se e começa a chorar. Tem um aspecto distante.
Dirigiu-se novamente a mim: “Faze com que esteja tudo preparado para o
santo viático. Somos cristãos e devemos oferecer de bom grado a Deus a pró-
pria existência” [...].
E acrescentou: “Transmite minhas saudações a tua mãe e diz-lhe que se esfor-
ce por educar sua família de modo cristão. Pede-lhe, também, que reze por
ti, para que sejas sempre um bom sacerdote e instrumento para a salvação de
muitas almas”.
Padre Bonetti entrou. Dom Bosco levantou a mão em sinal de saudação e
falou-lhe carinhosamente com lágrimas nos olhos. Dom Bosco repete com
frequência o pedido para que tudo esteja preparado para a administração da
unção. Disse-o ao padre Rua e comentou: “É certo que tenho aqui esta boa
peça”, e indicou-me: “mas gostaria que houvesse mais alguém aqui comigo”.
Às 2 da tarde, piorou. Voltou-se para mim: “Viglietti, certifica-te de dizer
a teu amigo, o senhor Luís [Martí-Codolar] que não se esqueça de nossos
missionários e diz-lhe que sempre recordarei a ele e a sua maravilhosa família.
Peço a todos vós que rezeis por mim. Dize a todos os teus companheiros e
irmãos que orem por mim para que eu possa morrer na graça de Deus. Não
peço mais nada”.
12
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VII, 77-78, 21-22 de dezembro de 1887: FDB 1227 B8.
Recorde-se que Viglietti era sobrinho do doutor Vignolo.
607
Disse a dom Cagliero: “Entendeste o que deves dizer ao Santo Padre, a razão
pela qual deve proteger as missões? Com a proteção do Papa, irás à África,
atravessarás a África; depois, entrarás na Ásia, na Tartária etc.” [...]
Às 4 e meia, os doutores Vignolo e Fissore iniciaram um prolongado exame
médico [...]. Os médicos não encontraram nada de preocupante em seu or-
ganismo. Há esperanças, desde que o paciente possa ingerir alimentos. Neste
momento, o estado de Dom Bosco parece um pouco melhor. O doutor Vig-
nolo quis provar a força de Dom Bosco e pediu-lhe que apertasse sua mão tão
forte quanto pudesse. Dom Bosco avisou-o com um sorriso: “Veja que vou
causar-lhe algum mal; acredite”. “Aperte, aperte!”, respondeu o médico. Dom
Bosco o fez e o médico retirou logo a mão, impressionado com sua força.
Às 5 da tarde, veio o confessor de Dom Bosco, padre Giacomelli, e ficaram
sozinhos por três minutos; estava tudo em ordem.13
Enria recorda que era preciso obrigar Dom Bosco a tomar os remédios
prescritos. Se os tomava, dizia: “Quando são tomados com reta intenção pode
ser que haja algum resultado”. E, anota Enria: “Era evidente que os remédios
já não faziam qualquer efeito”. Em seguida relata um episódio interessante.
Certa noite, Dom Bosco disse-me: “Acho que gostaria de tomar um copo de
leite”. “Não tenho nada de leite aqui no quarto”, respondi-lhe, “porque o mé-
dico o proibiu e foi eliminado”. Mas, insistiu: “Realmente, acredito que beber
um pouco de leite me faria muito bem”. “Se realmente o quer”, respondi-
-lhe, “irei e trarei algo em seguida”. “Mas, como vais conseguir agora quando
todas as portas estão fechadas à chave?”. “Eu vou me preocupar com isso; já
as conseguirei”. Coloquei o remédio e um pouco de água sobre a mesa de
cabeceira e saí. Corri com toda pressa até o estábulo, despertei o encarregado
e pedi-lhe um pouco de leite para nosso querido pai. Quando Dom Bosco
me viu de volta tão depressa com um copo de leite, riu gostosamente. Depois,
me disse: “Pobre Enria, quantas preocupações tens por minha causa! Podes
estar certo de que o Senhor te recompensará generosamente. De minha parte,
recomendo-te em minhas orações ao Senhor e a Maria Auxiliadora”. Quem
não se comoveria diante de palavras tão ternas? Quão agradecido se mostrava
nosso bom pai por qualquer pequeno serviço que lhe fosse prestado! Sentia-
-me tão eufórico, que desejava dar a vida por ele.14
13
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VII, 78-80, VIII, 3-6, 23 de dezembro de 1887: FDB
1227 B9 - C3.
14
Enria, Memoria, 264-265, FDB 937 A11-12.
608
Com que fé esperava por Jesus nesta manhã. Estava tranquilo e sereno, oran-
do o tempo todo com grande confiança. Enquanto isso, na igreja de Maria
Auxiliadora, os coroinhas e o clero preparavam-se para a solene administração
do santo viático.15
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 6-9, 24 de dezembro de 1887: FDB 1227 C3-4. O
16
609
17
Rua, Queridos irmãos, 26 de dezembro de 1887: FDB 437 D8.
18
Rua, Queridos irmãos, 27 de dezembro de 1887: FDB 437 D9.
610
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 10, 26 de dezembro de 1887: FDB 1227 C5.
19
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 11-12, 27 de dezembro de 1887, FDB 1227 C5-6.
20
Embora o dia de São João Evangelista fosse o dia onomástico de Dom Bosco, prevaleceu o costume de
celebrá-lo em 24 de junho, festa de São João Batista. Não está claro que tipo de tratamento ele preci-
sou naquela noite. Provavelmente foi examinado o penoso aumento ou dor na base da espinha dorsal;
talvez o mesmo que mais tarde exigiu uma intervenção cirúrgica.
611
médicos lhe digam a verdade sobre seu estado. Saibam os senhores que eu não
tenho medo”, e declara. “Estou em paz e pronto para partir”.21
Em seu boletim de 28 de dezembro aos irmãos, padre Rua fala com es-
perança de sinais de recuperação. Mas se apressa a acrescentar que, segundo
os médicos, “a melhora poderia ser apenas temporária”.22 E, de fato, Viglietti
fala de uma recaída nessa mesma noite.
Esta noite, Dom Bosco passou muito mal, a ponto de temer que chegara a
sua hora. Fez-me buscar o padre Rua e dom Cagliero. Disse-lhes: “Prometei-
-me que vos amareis uns aos outros e caminhareis uns com os outros como
irmãos”. Citando, concluiu: “Carregai as cargas uns dos outros. Mostrai uns
aos outros o exemplo das boas obras. O auxílio de Deus e de Maria Santíssima
não vos faltará. Recomendai a recepção frequente da comunhão e a devoção a
Maria Santíssima. Pedi a todos que orem pela minha salvação eterna”. Às 10,
recebeu a bênção papal de dom Cagliero e fez com que o bispo recitasse por
ele o ato de contrição. Disse-lhe: “Difunde a devoção à Santíssima Virgem
na Terra do Fogo. É inimaginável o número de almas que Maria Auxiliadora
deseja ganhar para o céu através dos salesianos”.
Padre Bonetti pediu a Dom Bosco uma lembrança para as Irmãs [salesia-
nas]. Dom Bosco respondeu-lhe: “A obediência. [Diz-lhes] que pratiquem
a obediência e que a façam praticar” [...]. À 1 da madrugada pediu alguma
coisa para beber. Foi-lhe negado devido aos vômitos contínuos. E ele disse,
então: “Precisamos pagar por um gole de nossa própria água”. E acrescen-
tou: “É preciso aprender a viver e é preciso aprender a morrer. As duas coisas
são importantes”.23
21
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 13 e 15, 28 de dezembro de 1887: FDB 1227 C6 e 8.
22
Rua, Queridos irmãos, 28 de dezembro de 1887: FDB 437 D10.
23
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 17-19, 29 de dezembro de 1887: FDB 1227 C8-9.
As frases são citadas em latim: “Carregai as cargas uns dos outros” [...], “Alter alterius onera portate [...]”
[Gl 6,2]; “Mostra-te em tudo” [...], “In omnibus teipsum praebe exemplum bonorum operum” [Tt 2,7];
“Devemos pagar [...]”, “Aquam nostram praetio bibimus” [Lm 5,4].
612
24
Cerruti, Memoria, 4, 30 de dezembro de 1887: FDB 963 A11.
613
Estou realmente contente e feliz de informar que o nosso querido pai melhora
a cada dia. Pode respirar com mais liberdade; pode falar com maior facilidade
e mais claramente, e pode ingerir alimentos com maior eficácia. Os médicos
começam a ter alguma esperança de que em breve possa estar convalescendo
e que, não muito tempo depois, possa levantar-se da cama.26
Viglietti, creio que seria uma boa ideia dizer ao padre Rua que se mantivesse
atento, porque minha cabeça já não funciona. Não sei se é manhã ou tarde,
ou que dia ou que ano é. Estou desorientado e não sei onde estou. Posso
reconhecer as pessoas, mas só ligeiramente, e não posso recordar as circuns-
tâncias. Não sei se rezo ou não, se é domingo ou outro dia da semana. Vós
deveis ajudar-me.27
Esta tarde, depois de uma consulta dos médicos, começamos a dar a Dom
Bosco uma dieta de migalhas de pão, um ovo e um pouco de café. Antes de
experimentar a comida, Dom Bosco tirou o gorro, fez o sinal da cruz e rezou
com lágrimas nos olhos. Eu tinha muito medo de que a comida lhe fizesse
mal. Contudo, aceitou tudo muito bem. Depois de comer, sentia-se real-
mente bem. Perguntou sobre mil coisas, sobre os acontecimentos políticos,
sobre o Papa, Bismarck e Crispi. Queria saber como as coisas caminhavam na
casa [...]. Disse-me: “Viglietti, [...] como pode uma pessoa, depois de vinte e
um dias de cama, sem tomar qualquer alimento e nem sequer estar na posse
de suas faculdades mentais, quase de repente, recuperar a consciência e o
entendimento, sentir-se suficientemente forte até para levantar-se da cama
e experimentar o velho impulso de voltar a trabalhar?” [...]. E acrescentou:
“O que Deus pode fazer com seu divino poder, ó Virgem, tu podes obtê-lo
por tua intercessão. Há segredos que se devem levar consigo para o túmulo”.
25
Rua, Bulletin de la santé de Dom Bosco, 31 de dezembro de 1887: FDB 437 E2.
26
Rua, Queridos irmãos, 5 de janeiro de 1888: FDB 437 E5.
27
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 22, 6 de janeiro de 1888: FDB 1227 C11.
614
Insisti: “Mas o senhor não os dirá, verdade?”. “Não”, respondeu; “há que se
deter diante do sobrenatural e não perguntar nada. Há que se reconhecer a
intervenção de Deus, mas o porquê e o como é melhor deixá-lo a Deus. Evi-
dentemente, minha hora ainda não chegou. Pode ser logo, mas não agora”.28
Hoje, o duque de Norfolk pediu para ver Dom Bosco. Os jornais falavam dele
como enviado da rainha Vitória ao Papa. Ao ver Dom Bosco, ajoelhou-se ao
seu lado. A entrevista durou perto de meia hora. Falaram da situação em seu
país. O duque pediu que se estabelecesse em Londres uma casa salesiana como
o Oratório e falou das missões na China. Aceitou os encargos de Dom Bosco
para o Papa. Em seguida, recebeu a bênção de Dom Bosco e foi embora.
Esta noite, Dom Bosco me disse: “A situação é esta. Sinto muito não poder
ajudar-vos como fazia antes, indo pessoalmente em busca de caridade. Gas-
tei até o último centavo antes de minha enfermidade, mas estou carente de
meios, enquanto nossos jovenzinhos continuam a pedir pão. O que dar a eles?
É preciso que se diga a quem quiser fazer caridade a Dom Bosco e a seus or-
fãozinhos, que o façam logo, porque Dom Bosco já não poderá mendigar”.29
O estado de Dom Bosco vai melhorando lenta, mas constantemente. Só pre-
cisa recuperar um pouco de suas forças, para que possa deixar a cama. Já não
sente qualquer dor. Todas as manhãs, desde 15 de janeiro, escutou a santa
missa e recebeu a santa comunhão de minha mão.30
Viglietti ousou esperar, mas aconteceu uma recaída, embora ele esperas-
se uma completa recuperação.
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 23-25, 7 de janeiro de 1888: FDB 1227 C11-12. “O
28
que Deus pode fazer [...]”, é citado em latim: “Quod Deus potentia tu prece, Virgo, potes” [São Bernardo].
29
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 25-27, 8 de janeiro de 1888: FDB 1227 C12-D1.
Não se diz aqui se esta observação sobre as doações caritativas foi ocasionada pela visita do rico duque.
Antes, porém, na crônica, Viglietti informa sobre o estrito modo de pensar de Dom Bosco sobre o uso
do dinheiro dos ricos. Conta que Dom Bosco quisera que alguém publicasse um folheto sobre o tema,
mas que se encontrara com tal oposição pelas consequências de sua visão estrita, que abandonou o
tema. Recentemente, porém, num sonho, a Virgem Maria o teria repreendido pelo seu silêncio sobre
o assunto. Ela recordou o mau uso do dinheiro dos ricos, acrescentando (em latim): “Se o que sobra e
não é necessário fosse dado aos pobres, seria muito maior o número dos eleitos”. Acusou de cobardia o
sacerdote que tem medo de pregar sobre o dever de dar aos pobres aquilo que sobra (C. M. Viglietti,
Cronaca originale, VII, 18-20, 4 de junho de 1887: FDB 1226 E3-4).
30
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 28-29, 20 de janeiro de 1888: FDB 1227 D2.
615
Hoje, o estado de Dom Bosco é muito grave. Pede que lhe digam devotas
orações jaculatórias. Esta noite era doloroso ver como tentava falar. [...] Dom
Cagliero disse que tinha a intenção de ir a Roma, mas Dom Bosco lhe disse:
“Espera até depois de...”.33
A enfermidade foi avançando inexorável. A Dom Bosco custava sempre mais
respirar. Sentia dores terríveis, mas nunca se queixava. Continuava a rezar:
“Que se faça a vontade de Deus em todas as coisas” [...]. Que admirável
exemplo de abnegação e renúncia nos deixou o nosso bom pai Dom Bosco!34
Exortado pelo padre Bonetti para recordar-se de que Jesus na cruz sofreu
tortura sem poder mover-se nem à direita nem à esquerda, Dom Bosco res-
pondeu: “Sim, penso o tempo todo”.35
31
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 29-30, 22 de janeiro de 1888: FDB 1227 D2-3.
32
Sala, Memoria, 9: FDB 1222 D1.
33
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 30 e 32, 25 e 26 de janeiro de 1888: FDB 1227 D3-4.
34
Enria, Memoria, 265-266: FDB 937 A12-13.
35
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 33, 27 de janeiro de 1888: FDB 1227 D4.
616
Chamaram-me certa noite à cabeceira de Dom Bosco e subi com toda pressa.
Padre Francésia foi comigo. Precisamos levantar Dom Bosco e colocar um
travesseiro por baixo e, depois, colocá-lo sobre ele para aliviar a dor que os
incômodos da cama e da ferida [da operação] recente lhe causavam. Dom
Bosco disse-me: “Não era preciso incomodar para isso uma celebridade tão
grande [padre Francésia]”. E riu gostosamente.
Outra noite sentia muita dor e, de vez em quando, mexia-se se esforçando
para encontrar uma posição mais cômoda. Nesse momento, entrou o médico
que o assistia [Albertotti]; Dom Bosco fez um gesto com a cabeça em minha
direção indicando que queria falar comigo. Aproximei meu ouvido à sua boca
e ele sussurrou-me ao ouvido com brilho nos olhos: “Diga ao médico que ele
alcançaria fama imortal, se encontrasse a maneira de mudar as costas quan-
do elas incomodam”. Quando o médico chegou, padre Sala repetiu a saída
engenhosa, enquanto Dom Bosco sorria amavelmente. Sua preocupação era
manter alegres os que estavam junto ao seu leito.36
Outro dia Dom Bosco disse-lhe [ao padre Sala]: “Procura preparar tudo para
o meu enterro, sabes? Porque, caso contrário, farei que me levem ao teu quar-
to”. Já se faziam tratativas para obter um lugar exclusivamente para o sepulta-
mento dos salesianos no cemitério de Turim. As gestões estavam sendo feitas
há vários anos. Padre Sala garantiu a Dom Bosco que se ocuparia sem demora
do assunto. De fato, foi o padre Sala que, depois de intensas negociações, con-
seguiu a permissão para que Dom Bosco fosse sepultado em Valsálice. Parece
que Dom Bosco há tempos sabia que ia deixar logo este mundo.37
36
Sala, Memoria, 4-5: FDB 1222, C8-9.
37
Enria, Memoria, 273: FDB 937 B8.
38
Enria, Memoria, 274: FDB 9937 B9.
617
O pobre Dom Bosco sofre, não tanto pela dor, mas pelos incômodos que
acredita estar nos causando. Disse-me: “Conhecesses muito bem minha preo-
cupação com o asseio; agora, porém, não me é possível consegui-lo”.39
Uma noite, ao ver a terrível dor que suportava, perguntei-lhe: “Dom Bosco,
o que posso fazer para aliviar um pouco o seu sofrimento?”. “Reza!”. E acres-
centou em seguida: “Parece-me que tenho o corpo enterrado num buraco”.
Levantei-o, então, enquanto padre Viglietti colocava um pequeno travesseiro
por baixo. Esta operação exigiu que eu mantivesse o corpo de Dom Bosco
por alguns minutos no ar. Quando se sentou, disse-lhe: “Pobre Dom Bosco,
temo que o tenhamos machucado muito!”. “Devo dizer o contrário: pobre
Sala, que precisou trabalhar tão duramente! Mas quando chegar a hora, eu me
encarregarei de devolver-lhe o pagamento desta boa obra”.40
Dois dias antes da festa de São Francisco [de Sales, 27 de janeiro] (creio que
era), aconteceu que eu me encontrasse sozinho em seu quarto. Aproveitei um
momento em que sua respiração parecia menos cansada, e disse-lhe: “Dom
Bosco, sente-se mal, verdade?” “Sim”, respondeu-me; “mas tudo passa; tam-
bém isto passará”. Juntou as mãos, profundamente comovido, e pôs-se a rezar.
Eu o deixei descansar um pouco e, em seguida, voltei a falar: “Dom Bos-
co”, disse-lhe, “estará agora muito contente, pensando que depois de tantas
privações e trabalhos, conseguiu fundar casas em várias partes do mundo e
estabelecer solidamente a Congregação Salesiana”. “Sim”, respondeu, “eu de
fato, o fiz para o Senhor... Seria possível ter feito mais... Contudo meus filhos
o farão”. Depois de uma pausa, acrescentou: “Nossa congregação é dirigida
por Deus e protegida por Maria Auxiliadora”.41
39
Sala, Memoria, 5, FDB 1222 C9. Isso supunha para Dom Bosco uma vergonha e um sofri-
mento a mais, que soube suportar com grande humildade e com uma gota de sadio humor.
40
Sala, Memoria, 5-6: FDB 1222 C9-10.
41
Sala, Memoria, 6-7 FDB 1222 C10-11.
42
Sala, Memoria, 3: FDB 1222 C7.
618
43
Enria, Memoria, 266: FDB 937 B1.
619
a dor é insuportável. Se esta situação continuar por muito tempo, creio que
não poderei suportá-lo”. Depois, lamentando (acredito) ter dito essas palavras,
levantou os olhos para o céu e exclamou com firmeza: “Que se faça a vontade
de Deus em todas as coisas!”.44
O dia todo de ontem, durante a noite e nesta manhã, esteve delirando com
frequência. Ouço-o chorar em várias ocasiões: “Estão errados!” ou “Avante,
sempre avante!”. Chamava-nos frequentemente por nossos nomes. Esta ma-
nhã exclamou até vinte vezes, “Mare! Mare!”. Nas últimas horas esteve orando
com as mãos juntas: “Ó Maria, Maria!”. A todos, ele diz: “Ver-te-ei no Pa-
raíso”. Ao padre Bonetti disse: “Dize aos meninos que os espero a todos no
Paraíso”. Esta manhã recebeu o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. A
todos dava as últimas lembranças. “Fazei com que todos rezem por mim e que
os jovens recebam a comunhão”; pegava com frequência o crucifixo e o beija-
va. Tendo-se mostrado a ele a imagem de Maria Auxiliadora, disse: “Sempre
coloquei toda a minha confiança em Maria Auxiliadora” [...]. Voltou-se para o
padre Bonetti, dizendo-lhe: “Ouve: dirás às irmãs que se observarem as regras
terão a sua salvação garantida”.
Os médicos constataram seu estado crítico. Tinham a esperança de que
aguentasse por algum tempo, mas não falavam mais de recuperação. Dom
Bosco perguntou-lhes sobre seu estado e o doutor Fissore respondeu: “As coi-
sas podem melhorar amanhã, hoje o mau tempo está contra nós”. Dom Bosco
sorriu e, apontando com seu dedo indicador, responde: “Amanhã? Amanhã
farei uma viagem muito longa”.45
44
Enria, Memoria, 269-271: FDB 937 B4-6.
45
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 33-36, 28 de janeiro de 1888: FDB 1227 D4-6.
620
novo. Recebeu a sagrada comunhão enquanto fui recitando para ele algumas
palavras de ação de graças, que repetiu com autêntica emoção. Esta foi a últi-
ma vez que nosso querido Dom Bosco recebeu nosso Senhor.46
Esta manhã, todos pareciam estar de acordo que não se devia administrar a
comunhão a Dom Bosco, pois está inconsciente a maior parte do tempo. Mas
eu me opus. Pensava que nesse momento crítico, o Senhor o despertaria e lhe
daria força. Eu celebrava a missa e, quando lhe levei a comunhão, jazia num
torpor inconsciente. Disse em voz alta as palavras: “Que o corpo de nosso
Senhor...”, e nesse momento, ele reagiu, olhou para a hóstia, juntou as mãos
[comungou] e, em seguida, manteve-se em recolhimento. Mais tarde, voltou
ao estado de delírio, como continua até este momento, 5 da tarde [...]. Já não
responde a nada, exceto quando alguém lhe fala do paraíso ou da salvação da
alma. Então, manifesta sua aprovação concordando com a cabeça.
Esta noite, continuou a repetir textos das Escrituras com os quais estivera
familiarizado durante toda a sua vida de atividade caritativa: “Amai vossos
inimigos”; “Fazei o bem aos que vos perseguem”; “Buscai primeiro o Reino
de Deus”; “Purifica-me de meu pecado”. Padre Bonetti disse-lhe a jaculatória:
“Maria, Mãe da graça, defende-nos do inimigo”. Dom Bosco continuou: “E
recebe-nos na hora da morte” [...]. Ouvia o que lhe sussurravam repetida-
mente: “Jesus! Jesus! Maria! Jesus e Maria, eu vos entrego o [meu] coração e a
minha alma”; e acrescentou: “Em tuas mãos, Senhor, entrego meu espírito”.
Depois, mais audível: “Mare! Mare!, abre-me as portas do céu!”. Hoje, excla-
mou centenas de vezes: “Mare!”, “Mare! Amanhã! Amanhã!”.47
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 36-39, 29 de janeiro de 1888: FDB 1227 D6-7. Na
47
missa em latim, antes do Vaticano II, o sacerdote dizia, ao colocar a hóstia na língua do comungante:
“Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam. Amen”.
621
leve para longe de nós, para o céu”. Essa foi uma noite dolorosa para nosso
amado pai. Quase não podia respirar, nem sequer podia engolir líquidos e
tivemos que nos limitar a umedecer seus lábios ressecados pela febre ardente.
Por volta das 2 da madrugada deu um respiro num ataque de dispneia. Tentei
levantá-lo e coloquei seus braços ao meu redor. Nesse momento, pensei que
ia morrer em meus braços. Rezei com todo o meu coração: “Senhor, leva-me
a mim, mas que nosso bom pai viva”. Aos poucos, tranquilizou-se e sussurrou:
“Maria, Auxiliadora dos cristãos, roga por mim”. Acrescentou repetidamente:
“Faça-se a vontade de Deus em todas as coisas”. Este momento penoso ficará
gravado para sempre em mina mente.48
Santa morte
Nas primeiras horas de 31 de janeiro, as últimas anotações de Viglietti,
completadas com outros vários acréscimos, diziam o seguinte:
48
Enria, Memoria, 274-276: FDB 937 B9-11.
49
C. M. Viglietti, Cronaca originale, VIII, 40-41, 30 de janeiro de 1888: FDB 1227 D8.
622
50
Que tenha adoecido e precisado afastar-se para longa convalescência, está confirmado pela
sua mesma afirmação: “31 de janeiro de 1888. Depois da morte de Dom Bosco, levaram-me à casa do
doutor Celestino Vignolo Lutati. 4 de fevereiro. Retornei ao Oratório. A senhora Consuelo Pascual de
Martí-Codolar, seu filho e seu sobrinho, Joaquim, chegaram de Barcelona. Vieram para levar-me com
eles à sua casa em Barcelona. Fui com eles no dia 9 de fevereiro. Estive em Barcelona [algum tempo],
pois estava muito doente. Levaram-me à vila da família Martí-Codolar de Horta e ali permaneci até
que fiquei bom. Joaquim Martí-Pascual acompanhou-me de volta a Turim” (C. M. Viglietti, Coletâ-
nea em rascunho, 1886-1896: FDB 1230 D5-5).
623
do nosso bom pai. Não posso descrever essa triste cena e a dor de todos nós.
Todos nós chorávamos, misturando orações e soluços. Mas o Senhor compa-
deceu-se de nosso querido pai e concedeu-lhe algum alívio, tendo diminuído
um pouco a dificuldade de respirar que nos assustava e entristecia. Aprovei-
tando a oportunidade, padre Rua voltou-se para Dom Bosco e disse: “Dom
Bosco, aqui estamos nós, seus filhos. Pedimos-lhe perdão pelos desgostos que
precisou sofrer por nossa causa. Em sinal de perdão e benevolência paterna,
dê-nos mais uma vez, a sua bênção. Eu conduzirei sua mão e pronunciarei
a fórmula. Por favor, abençoe-nos e abençoe também a todos os seus filhos
espalhados pelo mundo e nas missões”.
Seguiu-se depois uma nova crise; não há palavras para descrever a dor de
todos os que ali estavam. Deus permitiu que o santo corpo sofresse até o
fim, mas a crise passou e, aos poucos, sua respiração se acalmou novamente,
tornou-se quase normal. Todos, de novo, se retiraram para o quarto ao lado
para rezar e esperar. Eu fiquei junto à cama de Dom Bosco. Por volta das 4,
percebi que sua respiração já não era suave e brotavam gotas de suor. Entrei
no quarto ao lado e alertei os superiores. Quando todos estavam novamente
de joelhos ao redor da cama, rezaram-se as orações às quais se seguiram as
ladainhas; depois delas, o bispo leu o Profiscicere [Parte, ó alma cristã]. Em
seguida, sem que déssemos conta, enquanto todos nós mantínhamos os olhos
fixos naquele rosto querido, Dom Bosco dormiu no Senhor. Eram 4 e 45 da
manhã de terça-feira, 31 de janeiro de 1888.
Dom Bosco morreu sem violência. Nós nos mantivemos ajoelhados e olhan-
do para ele. Parecia dormir. Mas sua alma já voara para o céu a fim de receber
o belo paraíso de Deus, a recompensa preparada para ele por suas virtudes he-
roicas e seus trabalhos. Não se pode descrever a dor que todos nós experimen-
tamos nesses momentos. Ainda ajoelhados ao redor da cama, continuamos a
rezar e chorar. Não podíamos desviar nossos olhos daquele venerado rosto.
Parecia que ia despertar a qualquer momento e dizer-nos alguma palavra a
mais de alento e de conselho. Todos estavam dominados pela dor. Todavia,
padre Rua disse: “Ficamos duplamente órfãos. Mas consolemo-nos. Se per-
demos um pai (na terra), adquirimos um protetor no céu. Demonstremo-nos
dignos dele, seguindo seus santos exemplos. Ele intercederá diante do trono
de Deus e de Maria Santíssima por todos os seus amados filhos órfãos na
terra. Mantenhamos vivo o seu espírito e o transmitamos também aos nossos
jovens. Fazendo isso, Deus fará com que nosso pai Dom Bosco viva entre nós
até o fim do mundo”.51
51
Enria, Memoria, 276-282: FDB 937 B11-05.
624
Comentário final
Dom Bosco morreu santamente. Morreu como vivera, unido a Cristo
crucificado, invocando a intercessão de Maria, em oração de entrega total a
Deus. E, por mais notável que isso pareça, não surpreende.
Por outro lado, ler estas crônicas e memórias é uma experiência pro-
fundamente comovedora: revela novas facetas da irradiante vida espiritual
de Dom Bosco. Sua perseverança paciente nas insuportáveis dores é uma das
características mais notáveis da história de seus últimos anos e, mais concreta-
mente, de seus últimos dias. “Que se faça em mim a santa vontade de Deus”
foi uma das mais repetidas orações de Dom Bosco. E este homem grande e
santo não só suportou a dor; iluminou-a. Encontrou forças em si mesmo para
ocultar sua dor com sagacidade e alguma pilhéria. Contemplou a dissolução
de seu corpo com humor e graça.
O lado humano de Dom Bosco revelava-se a cada passo nas crônicas. Su-
gere um homem que conseguiu muito em sua vida e recebeu o reconhecimen-
to, até a exaltação, em todas as partes. Aqui também está um homem que, com
absoluta coerência, aceita suas limitações, reconhece humildemente sua impo-
tência e suas indigências, e entrega-se confiantemente ao cuidado dos outros.
Por outro lado, o serviço delicado e sem limites, prestado a Dom Bosco
pelos seus filhos espirituais parece absolutamente incrível. Ficaram constan-
temente ao seu lado não só os poucos que o atendiam, mas muitos outros;
desde o início, os seus mais próximos passaram horas e horas acudindo-o na
cama com admirável amor. Estas crônicas são testemunhas de um fluxo cons-
tante de amor e afeto de filhos totalmente dedicados ao pai amado. E não se
tratava de mero serviço imperioso. Era a resposta agradecida do coração ao
verdadeiro amor, à sincera devoção e à constante preocupação que o bom pai
tivera pelos seus filhos durante toda a vida.
52
Enria, Memoria, 182-185: FDB 937 C5-8. Padre Viglietti, porém, termina sua crônica de
forma mais pessoal e profundamente dolorida: “Pobre filho! a tua crônica encerrou-se. Quem te con-
solará? Pobre menino... amaste tanto aquele bom pai! Certamente tudo o que pude fazer por este
adorado pai, eu o fiz. Se alguma vez pude causar-lhe algum desgosto... espero que me tenha perdoado.
Amava-me tanto! Não tenho dificuldade em dizer com todos os superiores: sim... sim... eu era o seu
predileto”. Cronaca originale, VIII, 41: FDB 1227 D8. Cf. P. Marín, p. 241.
625
2. O sepultamento53
Na reunião do Capítulo Superior de 19 de setembro de 1884, padre
Rua, que presidia a sessão por causa da ausência de Dom Bosco, apresentara
algumas das questões a serem enfrentadas se Dom Bosco viesse a morrer:
53
Resumimos o que padre Ceria conta nas Memórias Biográficas sobre os funerais de Dom Bosco
e o translado de seus restos mortais a Valsálice. MB XVIII, 553s.
626
627
Ao realizar esta operação, o doutor Bestenti deu uma prova extraordinária de seu afeto por
54
Dom Bosco. Como o tempo pressionasse e faltasse um recipiente adequado, ele mesmo, uma vez feita
a mistura do sublimado e da água num balde, impregnou com o líquido o interior do ataúde, utili-
zando uma esponja que ele empapava e espremia com suas próprias mãos. Padre Celestino Durando
advertiu-o que a sua pele se queimaria e ele respondeu que, como eles [os salesianos] tinham feito a sua
obrigação, permitissem que cumprisse com a sua, pois se sentia muito feliz de prestar aquele último
serviço de um bom filho a seu pai. E, de fato, a febre elevada que lhe adveio por causa das queimaduras
das mãos obrigou-o a ficar dez dias acamado.
628
O cortejo fúnebre
Pelas três da tarde do dia dois de fevereiro, as ruas pelas quais, como
anunciaram os jornais, devia passar o cortejo fúnebre, estavam repletas de
gente. O cortejo saiu pela porta da igreja de Maria Auxiliadora, percorreu a
rua do Cottolengo, o calçadão do Príncipe Oddone, a avenida Regina Mar-
gherita, a rua de Ariosto, retornando até o outro trecho da rua do Cottolen-
go, para entrar novamente na igreja.
O féretro foi carregado nos ombros de oito padres salesianos. À sua pas-
sagem todos tiravam o chapéu; muitos se ajoelhavam e, frequentemente se
ouvia exclamar: “Era um santo!”. Atrás do ataúde, entre os padres Celestino
Durando e Antônio Sala, caminhava o padre Miguel Rua, com a cabeça in-
clinada, recolhido em sua imensa dor; na retaguarda, os demais membros do
Capítulo Superior. E, depois deles, uma grande multidão de eclesiásticos e
leigos, uns para render pessoalmente homenagem ao extinto e outros como
representantes de entidades ou personalidades da cidade. Não faltaram repre-
sentações estrangeiras. Ladeando o longo séquito, caminhavam duas filas de
criados de libré, carregando as armas das casas nobres de Turim, precedidos
dos escudeiros da Prefeitura.
Os meninos do Oratório amontoavam-se no recinto sagrado. Na igreja
entraram unicamente as Filhas de Maria Auxiliadora e o clero, muito nu-
meroso. Tão logo o féretro se dispôs a entrar, a banda do Oratório entoou
a marcha fúnebre. Os sinos rompiam o ar com seu lento repique. Pelo
portão recém-aberto, apareceu um facho luminoso de mil círios, que o
recebeu e introduziu no templo, cravejado de luzes. Os bispos dom Leto
e dom Cagliero adiantaram-se com seus respectivos sacerdotes assistentes
até o presbitério, enquanto o presidente da celebração, dom Bertagna, em
pé, esperava que se colocassem diante do féretro. Em meio ao silêncio mais
solene, o bispo deu a bênção ritual.55
Concluída a absolvição do defunto, foi permitido que o povo se aproxi-
masse. Uma grande multidão precipitou-se sobre o féretro para tocá-lo, para
beijá-lo, para levar consigo qualquer coisa que estivesse sobre ele. A condução
do cadáver fora tão solene e imponente que se pôde dizer que aquilo foi mais
um triunfo ou uma apoteose do que uma função fúnebre.
Desde tempos imemoráveis não se recordava de tão numerosa afluência
de gente para participar do enterro de um simples padre. O cálculo geral
simo desejo de ir em seguida a Turim; mas confessava, ao mesmo tempo, que a indisposição espiritual
que o angustiava pela perda de seu querido amigo não permitia que presidisse o enterro.
629
estimou em 200 mil as pessoas que se apresentaram para honrar Dom Bosco
com sua presença.56
Depois que a multidão deixou o templo e as portas foram fechadas, os
salesianos, com um pequeno acompanhamento, recolocaram o féretro na igreja
de São Francisco de Sales, onde ficou oculto, à espera de serem concluídas as
tramitações para sua sepultura definitiva.
630
bendito decreto. Padre Antônio Sala não queria de maneira alguma, nem
mesmo provisoriamente, que Dom Bosco fosse levado ao cemitério público.
Estava disposto a escondê-lo em seu próprio quarto que, por se localizar na
parte mais elevada e num setor separado da casa, prestava-se para livrá-lo das
investigações da polícia.
Enfim, às 4 e meia da tarde chegou a permissão e todos puderam respirar
com alívio. Uma hora depois, um coche fúnebre transladava o corpo de Dom
Bosco a Valsálice. No pequeno coche que Dom Bosco utilizava para seus pas-
seios vespertinos, iam atrás dele, rezando o rosário, padre Rua, dom Cagliero,
padre João Bonetti e padre Antônio Sala. Seguiam-no outros dois coches, com
o fiscal responsável e quatro coveiros. A insegurança, que durou até o último
instante e o temor de algum jornalista mal-intencionado, obrigou a ocultar o
translado aos amigos e, assim, pôde ser feito sem que ninguém o percebesse.
Às 6 da tarde, o coche fúnebre entrava no pátio de Valsálice, recebido
pelos clérigos estudantes com velas acesas, que acompanharam o féretro até a
capela; o féretro era levado nos ombros de oito deles. As ordens levadas pelo
representante da Prefeitura eram que a inumação fosse feita naquela mesma
tarde e que se redigisse uma ata; os operários, porém, ainda não tinham ter-
minado de preparar o lóculo. Por isso, procurou-se alongar o mais possível
a cerimônia na capela, de modo que, concluídas as exéquias, os clérigos co-
meçaram a cantar o ofício dos defuntos. O inspetor, alertado do problema,
não demonstrou percebê-lo. Os homens que deviam atestar o sepultamento
foram entretidos, para ganhar tempo, convidando-os para uns copos de bom
vinho; dessa forma, persuadidos de que o féretro de Dom Bosco já fora co-
locado na sepultura, assinaram o documento e foram embora. Seu chefe,
aproximando-se do padre Júlio Barberis, murmurou-lhe ao ouvido: “Sou ex-
-aluno” e, dito isso, cumprimentou-o e foi embora.
Quando as testemunhas foram embora, o féretro foi depositado num
pequeno coro, diante do qual se colocaram cortinas e tapeçarias, como enfei-
tes festivos, que dissimularam o “esconderijo”, e foi proibido falar do assunto
fora do colégio com quem quer que fosse. O féretro permaneceu ali mais dois
dias. As precauções tomadas impediram que o fato fosse conhecido fora.
Por sorte, não houve nenhuma imprudência, de modo que se pôde proce-
der tranquilamente ao sepultamento na segunda-feira, 6 de fevereiro. Tudo foi
feito sem ruídos, ao anoitecer, para que os vizinhos não tomassem conhecimen-
to. Estavam presentes os superiores do capítulo e várias superioras das Filhas
de Maria Auxiliadora, com a madre-geral. Dom Cagliero benzeu a sepultura
e, em seguida, colocaram o féretro no lóculo. Em seguida, dom Cagliero diri-
giu aos clérigos umas breves palavras dizendo-lhes que os superiores confiavam
631
632
Na imprensa
As percepções jornalísticas são necessariamente limitadas no tempo
e no espaço, mas com frequência, pela sua espontaneidade, estão mais
próximas da realidade do que algumas construções hagiográficas posterio-
res. Jornais variados, positiva ou negativamente, acompanharam durante
vários anos as vicissitudes da vida de Dom Bosco e de suas instituições.
As resenhas jornalísticas produzidas por ocasião de sua morte acentuam o
impacto emotivo produzido neles e indicam que se estava diante de um
personagem importante, um homem, um padre, exteriormente simples,
modesto, mas de grande estatura espiritual, com aspectos de personalida-
de de grande relevo.
Precedia todas as evocações jornalísticas com um primeiro perfil tran-
quilo e equilibrado, o jornal L’Unità Cattolica, de Turim, que fora sempre
amigo de Dom Bosco e que mais do que todos os jornais estava informado
sobre o desenvolvimento da obra salesiana e o seu fundador e promotor.
Dom Bosco morrera “no ósculo do Senhor a quem servira fielmente ao lon-
go de setenta e dois anos cheios, muito cheios de boas obras, uma maior e
mais santa do que a outra” e realizadas “com rara paciência, com constância
invencível”. “Sua existência foi, de fato, entre as mais providenciais, e teve
muitos pontos de contato com as vidas mais ilustres, e especialmente com a
de São Francisco de Sales, santo a quem ele imitou, com singular devoção, na
mansidão, na doçura, na calma inalterável e no zelo contra a heresia”. Vivera,
porém, com o “caráter particular” da atualidade: ele foi “o apóstolo de nossos
tempos”, cujo “pensamento dominante” foi “a educação da juventude”, tra-
balhando nela “infatigavelmente e de todas as maneiras, com a palavra, com
os escritos, com muitas e variadíssimas instituições”. “É notório, prosseguia,
que Dom Bosco tivera o dom dos milagres e muitos se contam como solida-
mente comprovados”; “mas é certo que o milagre grande e insigne foi que ele
633
634
635
Salesiano, ocupava o primeiro lugar “entre todos os elogios fúnebres”; foi tra-
duzido em outras línguas, com edição em Nice, Barcelona e Buenos Aires. Para
o cardeal, Dom Bosco fez uma extraordinária obra de evangelização, movido
pela caridade; mais ainda, de divinização do seu século, movido pelas quatro
grandes paixões que marcaram sua ação:
636
637
638
639
Outros testemunhos
São muitos os estudiosos que viram em Dom Bosco um dos represen-
tantes mais eminentes deste moderno tipo de santidade. Nele, escreve o
teólogo Ceslao Pera, verificou-se “a perfeição da caridade, necessária para todo
apostolado”, capaz de induzi-lo a “deixar também a divina contemplação [...]
para servir a Deus na salvação do próximo”. Era, também, um homem de
72
Aos educadores e alunos do colégio do Sacro Cuore de Roma, em 25 de junho de 1932. Cf.
Discorsi di Pio XI, I, 33-35.
73
20 de fevereiro de 1927. Ver Discorsi di Pio XI, I, 677ss.
640
74
C. Pera, I doni dello Spirito Santo nell’anima del B. Giovanni Bosco. Turim: SEI, 1930, 57.
75
A. Portaluppi, “La spiritualità del Beato D. Bosco”, La Scuola Cattolica 58 (1930), 24-26.
76
J. H. Nicolas, Contemplazione e vita contemplativa nel cristianesimo. Cidade do Vaticano:
Editrice Vaticana, 1990, 279.
77
A. Caviglia, Don Bosco: profilo, 10.
78
P. Cras, “La spiritualité d’ un homme d’action. Saint Jean Bosco”, La Vie Spirituelle 20
(1938), 287-288.
79
Conferência aos cooperadores, BS 4 (1880), n. 7, p. 12.
641
642
643
A colaboração do padre Rua com Dom Bosco, como também a dos de-
mais membros do Capítulo Superior, nunca se reduziu à simples execução das
próprias funções no organograma de governo estabelecido nas Constituições;
a colaboração foi sempre uma sincera e total disposição de estar a serviço de
Dom Bosco em tudo o que ele acreditasse ser necessário para levar adiante o
bom encaminhamento da Congregação. Entre Dom Bosco e seus colaborado-
res mais próximos, todos educados por ele, o intercâmbio de ideias e ações era
tal, que não se vira a necessidade de pensar em alguém que substituísse o su-
perior enquanto ele vivesse. De fato, entre os órgãos de governo da Sociedade
Salesiana não existia o cargo de vigário substituto do superior com autoridade
constitucionalmente reconhecida. Também não consta, e nem é pensável, uma
iniciativa do Conselho Superior nesse sentido. A todos, porém, preocupava o
futuro e o que aconteceria no dia em que Dom Bosco viesse a faltar.
O próprio Dom Bosco, até fins de 1884, parece não ter pensado na even-
tualidade de nomear um substituto com autoridade jurídica. Assim, entre as
recomendações que faz em seu Testamento espiritual para serem executadas de-
pois de sua morte, escreve que o Capítulo Superior, “especialmente o vigário,
de acordo com o prefeito”, deverá informar a morte do Reitor, com uma carta
a todos os salesianos, recomendando orações por ele e pela correta eleição do
sucessor depois do sepultamento; dar conhecimento de uma carta já escrita por
ele a seus amados filhos em Jesus Cristo; e estabelecer o dia e a eleição do novo
superior. Está claro que, quando Dom Bosco escreveu estas recomendações,
não lhe passava pela mente nomear o seu sucessor. Ele pensava que este deve-
ria ser eleito por toda a Congregação, conforme as regras. Mais tarde, ao reler
o que escrevera anteriormente, corrige na nota: “Pense-se que estas páginas
foram escritas em setembro de 1884, antes que o Santo Padre nomeasse um
vigário com [direito de] sucessão, portanto, sejam modificadas como convém”.1
1
F. Motto, Testamento spirituale, 29. MB XVII, 253, 270. Os cursivos são dos autores da edição
em espanhol.
644
Reunião do Capítulo Superior, 24 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 44a, em ASC D868
2
645
“Sua Santidade, nesta ocasião, pediu-me para escrever-lhe sobre outro assunto
muito importante. Ele viu que a saúde de Dom Bosco decai a cada dia e teme
pelo futuro de seu Instituto. Gostaria que sua eminência, usando a influência
que lhe dá tão bons resultados, fale com Dom Bosco e convença-o a desig-
nar a pessoa que acredite como idônea para sucedê-lo ou para nomear como
vigário com direito de sucessão. O Santo Padre, nos dois casos, se reservaria
prover como lhe parecesse mais prudente. Deseja, contudo, que sua eminên-
cia faça depois as tramitações que se referem tanto ao bem do Instituto”.4
4
Extrato da carta de dom Jacobini, citada em Epistolario IV Ceria, 347.
646
Dom Bosco revela que, de acordo com uma recente carta que recebeu, o Papa
deseja que ele designe um vigário com direito de administração e de suces-
são [acréscimo entre linhas]. “Através desta ação, o Santo Padre demonstra
o grande amor que tem à nossa Congregação, assim como sua preocupação
pelo seu bem-estar”. O fato de querer que o próprio Dom Bosco nomeie o
seu sucessor é uma demonstração de estima e reconhecimento do mérito.
Dom Bosco teria preferido deixar que os irmãos exercessem livremente seu
direito e elegessem o superior depois de sua morte. Mas a carta do Papa não
lhe deixa outra opção. O Papa comentara a ideia com ele quando esteve este
ano em Roma.
Dissera a Dom Bosco: “Vossa saúde não é boa; tendes necessidade de ajuda,
de ser assistido; é conveniente ter ao vosso lado uma pessoa que recolha vossas
tradições, que possa fazer reviver muitas coisas que não estão escritas e que, se
o estão, não seriam interpretadas no justo sentido” [Dom Bosco acrescentou:]
“Meditei muito sobre isso etc.”. Dom Bosco, em seguida, pede a opinião do
Capítulo sobre a resposta que deve dar ao Santo Padre. A opinião unânime do
Capítulo é que Dom Bosco deve escolher quem ele quiser; e com isso a questão
estará concluída. Dom Bosco, porém, pergunta novamente, se antes de apresen-
tar um nome ao Papa, deve convocar uma eleição geral. A opinião do Capítulo é
negativa sobre esse ponto. Dom Bosco deve escolher seu vigário e administrador
com direito de sucessão e enviar o nome ao Papa para sua aprovação.5
Trata-se, agora, de nomear um vigário para Dom Bosco e que este o represen-
te em tudo: perante a Igreja nos assuntos canônicos, perante o Estado, como
5
Reunião do Capítulo Superior, 24 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 44a, em ASC D868
Consiglio Superiore, Verbali: FDB 1881 D3.
647
meu procurador em assuntos civis. Talvez agradasse ao Papa que Dom Bosco
se retirasse totalmente e descansasse; mas, a não ser que esteja enganado, se
continuo com a minha responsabilidade, ainda poderei ser útil à Congrega-
ção. Mesmo se fique como Reitor-Mor apenas como figura, minha simples
pessoa seria suficiente para incentivar a caridade em lugares como a França,
Espanha, Polônia. Mas preciso, de verdade, de alguém a quem recomendar
a Congregação e sobre cujos ombros poder descarregar a responsabilidade.
Neste sentido, fiz escrever ao Sumo Pontífice, declarando-me disposto, con-
tudo, a cumprir sua decisão. Gostaria de ter escrito pessoalmente, mas não
consegui acabar, senão depois de várias peripécias e, enfim, dei-me conta de
que terminara de escrever em outro papel, que estava embaixo da carta. Mi-
nha pobre cabeça já não aguentava. A carta já foi enviada. Até que chegue a
resposta pontifícia, teremos que encontrar alguém para colocar à frente da
Congregação e que assuma o governo com total responsabilidade.
A esta altura, pediu para o padre Rua ler a carta que o Papa mandara
dom Jacobini escrever com essa finalidade.6 Nela, propunha-se uma destas
duas opções: designar aquele que Dom Bosco julgasse idôneo para sucedê-lo,
ou indicar quem pudesse assumir em seguida o título de vigário com direito
de sucessão. Dom Bosco, então, continuou a dizer:
Fica claro que Dom Bosco ainda não contemplava sua plena retirada
do cargo, por isso optou pela segunda possibilidade projetada por Leão XIII:
nomear um vigário que não fosse imediatamente superior-geral da Congrega-
ção. Neste sentido, Dom Bosco deu sua resposta ao Papa; a carta foi remetida
ao cardeal Alimonda que, por sua vez, expediu-a ao cardeal protetor Nina,
6
Ver um extrato da carta de dom Jacobini em MB XVII, 277s.
7
Reunião do Capítulo Superior, 28 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 45a-b, em ASC D868,
Consiglio Superiore, Verbali: FDB 1881 D5-6. Se o prefeito Rua chegasse a ser vigário, deveria no-
mear outro prefeito às suas ordens, até que o Capítulo Geral elegesse um prefeito, de acordo com as
Constituições. Padre Rua, desde 1876, assumira sempre mais as responsabilidades no governo da Con-
gregação e, nos anos oitenta, começou a governá-la em todos os assuntos, não ex officio. Seu título era
prefeito, não vigário. O cargo de vigário era uma novidade. Os cursivos são do autor.
648
Nesse ínterim, Leão XIII falara de seus sentimentos com o padre João
Cagliero. Numa audiência concedida em 5 de novembro, proclamara-o bispo
e nomeara-o vigário apostólico da Patagônia central e setentrional; depois
de dar-lhe esta missão, falou de sua preocupação pela obra de Dom Bosco,
quando seu fundador morresse. Está “velho”, dizia-lhe inclinando a cabeça
de modo significativo. É preciso recolher seus ensinamentos e seu espírito
e transmiti-lo sem alterações; caso contrário, a Sociedade Salesiana logo se
verá arruinada. Não havia tempo a perder. Enquanto o fundador vivesse seria
possível saber facilmente qual era o espírito que animava a Congregação, Faz
falta “um vigário capaz disso tudo”, concluía o Soberano Pontífice.9
8
Explicações em MB XVII, 275s.
9
F. Desramaut, Vida de Don Miguel Rua. Madri: Editorial CCS, 2009, 138.
649
de Dom Bosco e arquivista. Dom Bosco ampliava sempre mais a esfera de res-
ponsabilidade do padre Rua, dando como motivações, seu delicado estado de
saúde e a necessidade de que alguém o substituísse. Em junho de 1885, numa
reunião do Capítulo Superior, Dom Bosco insistiu:
É essencial que o padre Rua seja aliviado de todos os problemas e esteja to-
talmente disponível a Dom Bosco. Preciso dele ao meu lado, porque já não
posso continuar neste ritmo. Devo transferir toda a responsabilidade ao padre
Rua, para que eu possa estar livre de todas essas preocupações e ainda pos-
sa ser de alguma ajuda pela minha experiência. Também poderei durar um
pouco mais. Precisamos de alguém que busque dinheiro para caridade através
de cartas e presenças pessoais, não só em Turim, mas também em Gênova,
Milão, Roma. Até agora, Dom Bosco encarregou-se disso, mas já não posso
fazê-lo. Alguém mais deve fazê-lo em meu nome.10
10
Reunião do Capítulo Superior, 22 de junho de 1885, Lemoyne, Atas, 62a, em ASC D868
Consiglio Superiore, Verbali: FDB 1882 B3. Destaque-se que Dom Bosco, na reunião, ainda se absti-
vera de dizer que o padre Rua fora nomeado vigário.
11
Cf. P. Braido, “Don Michele Rua primo autodidatta visitatore salesiano”, RSS 9 (1990), 167-168.
650
Devo dizer-vos duas coisas. A primeira refere-se a Dom Bosco, que já está um
tanto cansado e precisa de alguém que faça suas vezes. A segunda refere-se
ao vigário-geral, que substitua Dom Bosco no que este fazia e se encarregue
de tudo o que for necessário para o bom andamento da Congregação; estou
certo também de que, ao tratar dos negócios, ele sempre receberá de bom
grado as sugestões de Dom Bosco e dos irmãos e, ao assumir sobre si este car-
go, somente desejará ajudar a Pia Sociedade Salesiana, de sorte que, quando
eu morrer, minha morte não altere em nada o caminho da Congregação. Por
conseguinte, o vigário deve tomar as decisões oportunas para que as tradições
que temos atualmente se mantenham intactas. Assim o recomendou encare-
cidamente o Papa. As tradições são diferentes das regras, enquanto ensinam o
modo de explicar e praticar as mesmas regras. Deve-se procurar que estas tra-
dições sejam mantidas depois de mim e sejam conservadas pelos que vierem
depois de nós. Meu vigário-geral na Congregação será o padre Miguel Rua.
Esse é o pensamento do Santo Padre, que me escreve através de dom Jacobini.
Ele desejava proporcionar a Dom Bosco toda a ajuda possível e perguntou-me
quem me parecia poder fazer minhas vezes. Eu respondi que preferia o padre
Rua, porque também é um dos primeiros na ordem do tempo na Congrega-
ção, porque há muitos anos exerce este cargo e porque esta nomeação seria
do agrado de todos os irmãos. Sua Santidade respondeu, há não muito tem-
po, por meio do eminentíssimo cardeal Alimonda: “Está bem”, aprovando
assim a minha decisão. Portanto, de hoje em diante, padre Miguel Rua fará
minhas vezes em tudo, e o que eu posso fazer, ele poderá fazer; tem os plenos
poderes do Reitor-Mor, ou seja: aceitações, imposição da batina, eleição de
secretário, delegações etc. Contudo, a nomeação do padre Rua como vigário
exige que esteja ao meu lado e, por isso, deve renunciar ao cargo de prefeito
da Congregação. Como consequência, e usando a faculdade que as Regras
me concedem, nomeio prefeito da Congregação o padre Celestino Durando,
atualmente conselheiro escolar.12
651
Dom Bosco, então, preparou uma carta circular para anunciá-lo ofi-
cialmente aos irmãos. Com essa finalidade, fez com que o padre Lemoyne a
redigisse e imprimiu-a com a data de Todos os Santos [1o de novembro de
1885]. Pensando melhor, porém, Dom Bosco redigiu novamente o texto e
escolheu a data de 8 de dezembro de 1885. Este segundo rascunho foi a carta
enviada aos irmãos. A carta repete o que Dom Bosco dissera ao seu conselho,
mas de uma forma ligeiramente diferente. Um assunto é novo: a nomeação
de dom Cagliero como representante de Dom Bosco para a América do Sul.
“Enquanto, para nossas missões na América do Sul, nomeio o bispo João
Cagliero para que seja meu pró-vigário com plena autoridade sobre todo o
pessoal, as casas e Inspetorias da região”.14
A nomeação foi solenizada no Oratório em 8 de dezembro. Dom Bosco
quis estar presente no refeitório, coisa que não fazia há algum tempo, porque
suas pernas se negavam a subir e descer escadas. Também não presidia, salvo
raras vezes, a bênção do Santíssimo e, nesse dia, o fez. Os presentes subiam nos
bancos para vê-lo enquanto se dirigia ao altar desde a sacristia, caminhando
muito lentamente. À tarde, fez uma conferência aos salesianos no presbitério
da igreja de Maria Auxiliadora, como o fazia todos os anos nessa data. Antes
de tomar a palavra, mandou ler a circular da nomeação. Nada comentou, mas
enalteceu a Virgem que abençoa e protege a obra salesiana. Foram recordadas
as vicissitudes do Oratório desde suas origens. A comparação entre o passado e
o presente evidenciava o longo caminho percorrido e predizia um bom futuro.
13
Ibidem.
14
Epistolario Ceria IV, 347-349; MB XVII, 620. A crônica de Viglietti, 8 de dezembro de 1885,
anota que a carta foi lida aos irmãos reunidos na Casa-mãe nessa mesma tarde (Viglietti, Cronaca ori-
ginale, II, 128-129, 8 de dezembro de 1885: FDB 1223 D11. Cf. a edição da Cronaca de Viglietti de
P. Marín, p. 82). Padre Cagliero fora representante de Dom Bosco na América desde que a obra ali
se estabelecera em 1875, justamente quando o padre Rua estava, na prática, “no comando” da casa. É
duvidoso que a nova nomeação de dom Cagliero significasse algo mais do que sempre fora.
652
O dia da Imaculada Conceição sempre foi um dia de alegria para nossa Pia
Sociedade. Neste ano, nossa Mãe nos deu o presente de uma notícia que foi
recebida pelos salesianos como o mais precioso, o mais querido, o mais de-
sejado presente; refiro-me à nomeação oficial ao pesado, embora doce, cargo
de ser o pai de nossa Pia Sociedade. Quantas graças tem-nos dado a Senhora
e lhe prometemos ser para o senhor, como para o querido Dom Bosco, filhos
obedientes e cheios de zelo.15
Citado por A. Amadei, Il Servo di Dio Michele Rua. I. Turim: SEI, 1931, 348. Tomado quase
16
à letra do testemunho do cardeal Cagliero sobre as virtudes do padre Rua no processo de beatificação.
653
Comentário final
Deve-se assinalar em primeiro lugar que, ao anunciar a nomeação do
padre Rua, Dom Bosco não fez referência a qualquer decreto papal e que
nenhum decreto foi encontrado depois de sua morte. Parece que o decreto
de nomeação jamais entrou no arquivo, mas acredita-se que com sua carta ao
cardeal Alimonda, o cardeal Nina também tenha enviado o decreto oficial de
nomeação. Especula-se, também, que o cardeal Alimonda o entregou a Dom
Bosco, para que pudesse fazer as gestões posteriores, nas quais o decreto fosse
necessário. Será que Dom Bosco o extraviou? Ou o decreto foi redigido, co-
municado e arquivado em Roma, mas nunca enviado a Turim? Ceria acredita
que o documento foi perdido (leia-se: foi descartado) ao passar pela Congrega-
ção dos Bispos e Regulares, cujo prefeito, cardeal Ferrieri, não acreditava que
a Congregação Salesiana sobreviveria à morte do fundador. O decreto não
foi visto por ninguém; Dom Bosco nunca o mencionou expressamente; tam-
pouco foi encontrado quando procurado depois da sua morte. Contudo, a
existência real de um decreto oficial de nomeação foi comprovada mais tarde,
pois o segundo decreto, expedido pela Santa Sé em 11 de fevereiro de 1888,
confirmava a nomeação do padre Rua, referindo-se a um decreto anterior de
nomeação do dia 27 de novembro de 1884.
Em segundo lugar, que no anúncio oficial ao seu conselho e aos irmãos,
Dom Bosco não menciona o “direito de sucessão”, ponto muito importan-
te. Subentendia-se, certamente, pois, também a segunda opção proposta por
Roma, que ele escolheu em vez da primeira que era a aposentadoria e a nome-
ação de um sucessor imediato, falava de “um vigário com direito de sucessão”.
Na reunião de 24 de setembro de 1885, Dom Bosco falou explicitamente de
um vigário para garantir a continuidade da sociedade “depois da minha mor-
te”; e também na nota acrescentada ao anteriormente citado Testamento espi-
ritual, Dom Bosco alude a um vigário com direito de sucessão.17 Entretanto,
em seu anúncio oficial, Dom Bosco não deixou plenamente claro o direito
de sucessão. De aí que, depois de sua morte, ao não se encontrar o decreto de
nomeação, a sucessão do padre Rua suscitara dúvidas razoáveis.
Em terceiro lugar, ao ler com atenção os documentos, podem-se deduzir
os motivos da atitude pouco decidida e um tanto vaga de Dom Bosco tanto
no anúncio da nomeação, como na ambiguidade com que deixa o assunto do
direito de sucessão. Antes de tudo, aparece um motivo de ordem constitucio-
nal: o amor e respeito às Constituições. Dom Bosco preferiria que o sucessor
fosse eleito como prescreviam as Constituições. Por isso, pode ter pensado que
17
F. Motto, Testamento spirituale, 29. MB XVII, 257, 273.
654
18
Reunião do Capítulo Superior, 24 de outubro de 1884, Lemoyne, Atas, 44a, em ASC D868
Consiglio Superiore, Verbali: FDB 1881 D3.
19
Cf. Viglietti, Cronaca originale, 29 de dezembro de 1887. Na edição de P. Marín, 233.
655
2. A sucessão
À morte de Dom Bosco, os salesianos eram 773 e os noviços 276, reu-
nidos em 58 casas e 6 Inspetorias, todos dirigidos por homens aprovados por
Dom Bosco. As irmãs salesianas eram 415, as noviças 164, reunidas em 54
casas em 4 Inspetorias; também elas eram dirigidas por mulheres capazes,
sob a orientação dos salesianos. Mas, para além dos números, da organização
e da vitalidade, eram o espírito e a dedicação dos membros, sob a liderança
do padre Rua e de madre Daghero, que garantiam a sobrevivência das duas
Congregações. Nenhum salesiano e nem qualquer outro que conhecesse a
situação real poderia ter a menor dúvida a respeito.20
Dificuldades em Roma
Não era essa a percepção que se tinha em Roma. O cardeal Ferrieri,
para citar apenas um exemplo notável, parece ter sempre considerado a Con-
gregação Salesiana como uma experiência de entusiasmados, que carecia de
pessoal solidamente formado e sem possibilidades de sobreviver à morte do
fundador. Algumas autoridades romanas sugeriram que a Sociedade Salesiana
deveria ser dissolvida e ter seus membros e obras unidos a algum instituto
religioso mais consolidado.
O próprio Leão XIII parecia disposto a aceitar a sugestão e chegou a
considerar que os salesianos fossem unidos aos escolápios (Congregação das
Escolas Pias, fundada por São José de Calasanz). Esquecera-se o Papa de que
já havia nomeado o padre Rua como sucessor? Ou, talvez, como não conhe-
cesse as qualidades e a capacidade do padre Rua, Leão XIII fora assaltado por
dúvidas, apesar da nomeação? Na verdade, vira o padre Rua apenas umas
duas vezes e, provavelmente, seu caráter humilde e modesto pode ter levado o
Papa a considerá-lo uma pessoa carente das qualidades necessárias para dirigir
um instituto religioso.
Foi dom Emiliano Manacorda, bispo de Fossano, familiarizado com as
autoridades e as instituições romanas, grande amigo de Dom Bosco e dos
salesianos, quem defendeu a causa salesiana em Roma. Em sintonia com o
padre César Cagliero, procurador-geral salesiano na Cidade Eterna, tratou
do assunto com o cardeal Lúcido Parocchi, que além de ser vigário do Papa
em Roma e prefeito da Congregação dos Bispos e Regulares, também era o
cardeal protetor da Congregação Salesiana. Dom Manacorda também entrou
em contato com outros cardeais importantes que tinham acesso ao Papa e
20
Para um estudo amplo dos resultados que levaram à confirmação, ver MB XVIII, 608s.
656
Dificuldades em Turim
Sem o decreto papal, após a morte de Dom Bosco, padre Rua não podia
apresentar-se legitimamente como seu sucessor. Por isso, na carta circular, em
que anunciava a morte de Dom Bosco, sua assinatura não trazia qualquer tí-
tulo. E, embora continuasse a exercer a autoridade de vigário, ele o fez com a
intenção de recorrer imediatamente a Roma. O cardeal Alimonda, que tinha
conhecimento de como caminhavam as coisas, ao ser consultado, aconselhou
o padre Rua a recorrer à Santa Sé. Assim, em 8 de fevereiro de 1888, padre
Rua apresentou ao Papa uma exposição detalhada da situação e concluía:
21
Cf. M. Rua, Lettere circolari, 19-20. Ver extratos da carta do padre Rua, em MB XVIII, 615s.
657
Rua, já designado e proposto como vigário pelo nosso mesmo Dom Bosco, aten-
dendo a uma solicitação de Sua Santidade que, em sua paterna bondade desejava
ver assim garantido o bem-estar da Congregação Salesiana; e mais, encontrando-
-nos entre os primeiros superiores conhecemos a disposição de espírito não só
dos eleitores, como de todos os sócios e, por isso, podemos garantir com a mais
íntima convicção do coração que a notícia anunciadora de que o santo Padre
havia indicado o sacerdote Miguel Rua como nosso superior-geral seria acolhi-
da não só com profunda submissão, mas também com sincera e cordialíssima
alegria. Acrescentamos ainda que, se por acaso, fosse preciso fazer uma eleição
segundo a Regra, o sentimento comum é que o padre Rua seria escolhido com
totalidade de votos, tanto por obséquio a Dom Bosco, que sempre o teve como
seu primeiro confidente e seu braço direito, como também pela estima que todos
têm por suas exímias virtudes, pela especial habilidade no governo do Instituto e
por sua singular maestria em resolver os assuntos, do que já deu luminosas provas
sob a direção de nosso inesquecível e queridíssimo fundador e pai.22
22
Cf. M. Rua, Lettere circolari, 20-21. Cf. MB XVIII, 617s.
658
Nosso esforço deve ser consolidar e, no seu devido tempo, ampliar as obras
iniciadas por Dom Bosco; seguir fielmente os métodos praticados e ensinados
por ele; e imitar em todas as nossas palavras e ações o modelo que o Senhor
em sua bondade colocou diante de nós.25
23
Para o texto latino do decreto, cf. MB XVIII, 844.
24
Cf. M. Rua, Lettere circolari, 15-24. Ver um extrato da carta em MB XVIII, 619s.
25
Cf. M. Rua, Lettere circolari, 25-31. Para a carta e o relato da audiência papal, ver MB XVIII, 846s.
26
Ver Epistolario IV Ceria, 393, diversamente do que diz em MB XVIII, 621s. Sobre a autoria,
ver F. Motto, Testamento spirituale, 16.
659
27
Para o texto da carta: F. Motto, Testamento spirituale, 60-62; MB XVIII, 621s. Para as pala-
vras de Dom Bosco dizendo que esta carta fosse escrita: F. Motto, ibid., 33; MB XVII, 259.
28
Para esboços biográficos, cf. Dizionario Biografico dei Salesiani. Turim: Ufficio Stampa, 1969.
29
Padre Barberis cuidava das casas de formação que dependiam diretamente do Capítulo Superior:
Turim-Valdocco, Valsálice (estudantado filosófico para os clérigos), San Benigno (noviciado para os
coadjutores), Foglizzo Canavese (noviciado para os clérigos). Teoricamente, também dos outros novicia-
dos: Marselha e Buenos Aires.
660
661
Inspetores em exercício
Padre João Batista Francésia (1838-1930), Inspetor da Inspetoria do Piemon-
te, 50 anos.
Padre Francisco Cerruti (1844-1917), Inspetor da Inspetoria da Ligúria,
44 anos.
662
Situação financeira
Na citada reunião do Conselho Superior de 19 de setembro de 1884, em
que se tratou do sepultamento de Dom Bosco, padre Cerruti considerou que
a questão do enterro tinha importância secundária.
Muito mais importante é pôr em ordem os assuntos materiais de Dom Bosco.
Os atuais imóveis que estão em seu nome devem ser redistribuídos. Indepen-
dentemente das ações desagradáveis que deveremos enfrentar com seus her-
deiros, os impostos de sucessão por si só serão enormes. Só os impostos sobre
as instalações do Oratório se elevarão a mais de 300 mil liras.30
Reunião do Capítulo Superior, 19 de setembro de 1884. Lemoyne, Atas, 35a, em ASC D868,
30
663
664
seu cargo.32 Em síntese, a tarefa que o padre Rua precisou enfrentar nos anos
de seu reitorado pode ser assim resumida:
1. Conduzir e buscar o bem da Congregação, que é o governo or-
dinário de qualquer Reitor-Mor. Padre Rua exerceu este governo
satisfatoriamente nos vinte e dois anos de seu reitorado.
2. Garantir a continuidade da Congregação. Como vimos, ele preci-
sou dissipar, ainda no início do seu reitorado, o perigo real de que
a Congregação fosse dissolvida e agregada a outra já consolidada no
tempo. A habilidade diplomática de alguns bons amigos e, sobretu-
do, a personalidade madura do padre Rua evitaram esse risco.
3. Expandir e buscar o progresso da Congregação numa dupla di-
mensão: de um lado, a expansão numérica e geográfica das obras,
assim como a consolidação das já existentes e, de outro, a for-
mação do pessoal que permitisse não só conduzir as obras, mas
potenciá-las em todos os sentidos.
4. Seguir fielmente a metodologia ensinada e praticada por Dom Bosco
e velar para que as tradições permanecessem inalteradas, conservan-
do-as e conduzindo-as para que fossem a salvaguarda das regras. Isso
tudo supôs um intenso trabalho de regulamentação, que fixasse de
maneira clara as tradições nos diversos aspectos e setores da atividade
da Congregação. Esta foi uma das responsabilidades mais árduas e
delicadas do governo do padre Rua, dado que, de um lado, Dom
Bosco deixara muitas coisas em estado embrionário e, de outro, era
necessária a adaptação aos tempos e à legislação da Igreja em mu-
dança. Uma das preocupações e dos principais acertos do padre Rua
foi o equilíbrio entre tradição e novidade, de tal modo que tudo se
mantivesse dentro do espírito genuíno de Dom Bosco.
Durante o reitorado do padre Rua, a Congregação deu largos passos
em muitos aspectos. Seus anos como Reitor-Mor (1888-1910) foram uma
época de mudanças sociais generalizadas, produto da rápida industrializa-
ção e do desenvolvimento tecnológico. Foi também uma época de eferves-
cência teológica. A Igreja envolveu-se na questão operária. Os salesianos
o fizeram ocupando-se dos problemas dos trabalhadores, sobretudo na
prática da formação. Era sempre maior o número de católicos leigos que
trabalhavam pelo bem da Igreja; padre Rua cooperou nesse movimento,
dando grande impulso e organização aos salesianos cooperadores.
32
Já em sua primeira carta como Reitor-Mor, padre Rua expôs em síntese seu programa de ação,
seguindo sempre as pegadas de Dom Bosco. M. Rua, Lettere circolari, 25-31.
665
666
667
34
Cf. o testemunho do padre Rua, em MB IV, 302.
35
Padre Merla, que fora ajudante de Dom Bosco desde 1846, fundou mais adiante a Família de
São Pedro, para reintegrar na sociedade as meninas arrependidas.
36
O professor Bonzanino abrirá sua escola para meninos de boa família no edifício que acolhera
uma escola dirigida pela mãe de Sílvio Pellico e pelo mesmo Sílvio Pellico. O professor aceitou os jovens
de Dom Bosco gratuitamente, com a convicção de que poderiam ser de bom exemplo para os meninos
ricos pela aplicação e o estilo ascético de vida.
37
No cinquentenário desse acontecimento, em 1902, a cidade de Castelnuovo concedeu a cida-
dania honorária ao padre Rua.
668
das mães do Oratório, com Mamãe Margarida, a mãe de Dom Bosco. Quan-
do Mamãe Margarida morreu em 1856, ela passou a ser sua sucessora.38
Miguel era amigo de Domingos Sávio (1854-1857) e foi eleito presi-
dente da Companhia da Imaculada. Foi um dos quatro que se reuniram nos
aposentos de Dom Bosco em 26 de janeiro de 1854 e decidiram fazer “um
exercício prático de caridade”. “Desde então, aqueles que se comprometeram
neste exercício [de caridade] foram conhecidos pelo nome de salesianos”.39
Em 25 de março de 1855, emitiu os votos privados diante de Dom Bosco.
Em 1858, acompanhou Dom Bosco em sua primeira viagem a Roma
para administrar assuntos da Congregação e redigiu um diário da permanên-
cia em Roma.
Foi membro fundador da Sociedade Salesiana em 18 de dezembro de
1859 e, embora apenas subdiácono, foi eleito diretor espiritual da recém-
-criada Sociedade.
38
Padre Rua declarou que, nesse momento, Dom Bosco pensava em fundar uma Congregação
de religiosas que trabalhassem como donas de casa. Cf. MB V, 560s.
39
Os quatro jovens eram Rocchietti, Artiglia, Cagliero e Rua, de acordo com uma nota tardia do
padre Rua, que não se encontra em Documenti. FDB 1929 C10; MB V, 9.
669
670
671
Reitor-Mor (1888-1910)
O reitorado do padre Rua divide-se em dois períodos: o primeiro com-
preende os doze anos que vão desde sua designação como sucessor de Dom
Bosco (1888) até sua primeira eleição como Reitor-Mor pelo capítulo geral
de 1898;44 o segundo período vai de 1898 até sua morte em 1910.
Como discípulo fiel, padre Rua comprometeu-se seriamente a preservar
o que fora conseguido pelo mestre, mas o fez como continuador prudente
e criativo. Ao mesmo tempo em que mantinha firme o espírito essencial e
o carisma do fundador, atuou de modo dinâmico para responder às novas
necessidades dos tempos, dando demonstrações de verdadeiro talento para o
governo e a organização.
Como Reitor-Mor, considerou sua máxima responsabilidade, primei-
ramente, dar estabilidade e favorecer a maior expansão da obra salesiana, e,
em segundo lugar, formar os salesianos no autêntico espírito do fundador e
transmitir fielmente as genuínas tradições do carisma salesiano à posteridade.
Ninguém como ele possuía as qualidades e a autoridade moral para fazê-lo:
conhecera Dom Bosco intimamente; gozara da sua plena confiança e colabo-
rara com ele em todos os principais momentos da história da Congregação,
da sua origem à aprovação definitiva; ninguém como ele sabia interpretar o
pensamento e a vontade do fundador; gozava, também, da confiança e ad-
miração de todos os salesianos. Por isso, desde o princípio, a autoridade do
padre Rua foi reconhecida e apoiada. Acrescente-se ainda que o seu reitorado,
com duração de vinte e dois anos, permitiu-lhe conceber, desenvolver e apli-
car um plano de ação bem desenhado.45
42
Ao longo de todo o mês atuou como o fizera Dom Bosco. Também parece que nessa ocasião
fez um “milagre”. Cf. A. Amadei, Don Michele Rua I, 361.
43
MB XVIII, 537.
44
Segundo os termos da nomeação do padre Rua como Reitor-Mor feito pela Santa Sé em feve-
reiro de 1888, ele tinha o direito de sê-lo até 1900; e embora ele em sua humildade tenha interpretado
que seu direito de sucessão terminasse ao completar os 12 anos desde sua primeira designação, pediu,
para maior segurança, que a Santa Sé aceitasse a sua renúncia aos dois anos que lhe faltavam, para fazer
coincidir a eleição do novo Reitor-Mor com a eleição dos demais membros do Capítulo Superior. Em
30 de agosto de 1898 foi eleito quase por unanimidade (213 dos 217 votantes, incluindo ele mesmo).
Era a primeira vez que se elegia um Reitor-Mor na Congregação. Cf. J. G. González, I sei Capitoli
Generali presieduti da don Michele Rua. Roma: Casa Geral, 2010, 349-350.
45
Cf. Annali I, 7.
672
46
Ver o texto completo do discurso de Paulo VI em BS, 1o de dezembro de 1972.
673
Após a carta enviada a todas as casas salesianas pelo nosso venerando Ca-
pítulo Superior, eu vos escrevo hoje pela primeira vez em minha nova condi-
ção de Reitor-Mor, à qual, em que pese a minha indignidade, fui elevado pela
Divina Providência da maneira que nela se manifestou a todos. Apresento-me
sob os auspícios de São José, cuja festa celebramos no dia de hoje; e confio
que este grande santo, patrono da Igreja universal, também quererá ser, junto
com sua Esposa Santíssima, protetor especial de nossa humilde sociedade e
assistir-me benignamente no desempenho do meu cargo.
Teria muitas coisas a dizer-vos, mas desta vez creio que será muito agra-
dável e proveitoso para todos que vos fale da audiência que tive com Sua
Santidade Leão XIII no dia 21 de fevereiro. Encontrareis mais abaixo um
relatório detalhado. Por ele podereis perceber o elevado conceito em que o
nosso fundador era tido pelo Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Posso dizer que a mesma estima [ele] gozava perante os eminentís-
simos cardeais e outros personagens de distinção, a quem tive a honra
de visitar: todos falavam do pranteado Dom Bosco fazendo dele grandes
elogios, e alguns me exortaram a iniciar o quanto antes a causa de beatifi-
cação. De modo especial o cardeal vigário, nosso benévolo protetor, que já
me fizera escrever sobre o assunto antes que eu fosse a Roma. Ali me falou
disso nas duas audiências que me concedeu e, ao despedir-me dele, foram
estas as suas palavras: “Recomendo-lhe a causa de Dom Bosco; recomendo-lhe
a causa de Dom Bosco”.
As expressões do Sumo Pontífice e essas recomendações de seu eminen-
tíssimo vigário despertaram em mim dois pensamentos: um, é pôr mãos à
obra imediatamente para recolher as memórias de tudo que se refira à vida de
47
Cf. M. Rua, Lettere circolari, 25ss.
674
Padre Rua com a família Martí-Codolar [Barcelona, Espanha] em 1899. 1: padre Miguel
Rua. 2: padre João Marenco. 3: senhor Luís Martí-Codolar. 4: senhora Consuelo Pascual de
Bofarull. 5: senhor Narciso Pascual de Bofarull. 6: padre Antônio Aime. 7: pároco de San
Juan de Horta. 8: padre Felipe Rinaldi. 9: padre Manoel Hermida. 10: padre José Calasanz.
11: padre Rosell. 12: senhor Javier Martí- Codolar. 13: senhora Jesusa Serra de Chopitea.
14: senhora Ángeles Martí-Codolar.
675
676
É a mais ampla biografia do padre Rua. Padre Amadei está muito bem
informado, acumula testemunhos e fatos e é muito minucioso. A obra é dividida
por anos, o que rompe um pouco a linha da narração. Não esclarece as fontes e
não valoriza criticamente a abundante documentação, por isso nem sempre é con-
fiável. Pertence ao tipo de biografias narrativas encomiásticas, muito preocupadas
em realçar a figura do biografado e insistindo muito nos aspectos sobrenaturais e
em traçar um retrato moral do padre Rua. (Original em italiano)
Amadei, Angelo, Un altro Don Bosco, don Rua. Turim, 1934, 703 páginas.
Redução sintetizada em um único volume dos três anteriores. (Original em
italiano)
Ceria, Eugenio, Vita del Servo di Dio Don Michele Rua, primo sucessore
de San Giovanni Bosco. Turim: SEI, 1949, 600 páginas.
Padre Ceria é mais sóbrio do que o padre Amadei, sem esforçar-se para in-
cluir até os mínimos detalhes, mas resumindo ou escolhendo o mais significativo,
respeitando os documentos originais. Bem documentada, homogeneamente orga-
nizada e bem escrita. De leitura fácil e agradável, continua a ser fundamental.
(Original em italiano)
Francésia, João Batista, Vida de Don Miguel Rúa, primer sucesor de Don
Bosco. Barcelona: Sarriá, 1911. Volume das Leituras Católicas, 382 páginas.
Mais do que uma biografia, trata-se das memórias do autor, companheiro
e confessor do padre Rua. Escrito com grande entusiasmo, é de agradável leitura.
Interessante pelo ambiente do Oratório em que o padre Rua se move, mas genéri-
ca, incompleta e criticamente frágil. (Original em italiano)
677
Bosco, Terésio, Don Miguel Rúa, primer sucesor de Don Bosco. Madri:
Editorial CCS, 2010, 56 páginas.
Breve vida do bem-aventurado padre Rua, com matéria tomada de outros
autores. Divulgação. (Original em italiano)
Positio: El Siervo de Dios Don Miguel Rúa, primer sucesor de san Juan
Bosco. Posiciones y artículos para el proceso del Ordinario sobre la fama de
santidad, las virtudes y milagros. Tradução do italiano por P. José M. Vidal.
Montevidéu: Imprenta Latina, 1937, 200 páginas. O original é de 1922 e
traz uma carta-prólogo do padre Felipe Rinaldi.
Síntese das declarações feitas com juramento durante o processo de beatifi-
cação pelas testemunhas que conheceram e trataram proximamente com o padre
Rua. Embora realizadas em tom eminentemente ponderativo próprio desses pro-
cessos, contém muitas e fundamentais provas para conhecer a personalidade moral
e espiritual do padre Rua. São precedidas de uma breve, mas bem ponderada,
biografia do então Servo de Deus.
678
2. Estudos
Don Michele Rua, primo successore di Don Bosco.
Congresso Internacional da ACSSA celebrado em Turim de 28 de outu-
bro a 1o de novembro de 2009. Roma: LAS, 2010.
679
BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO
DE DOM BOSCO
680
1. O processo de beatificação
Dom Bosco foi objeto de veneração desde o momento de sua morte em
31 de janeiro de 1888. Mesmo ainda em vida, a fama de santidade e a noto-
riedade de seu poder taumaturgo estenderam-se por todas as partes e conti-
nuaram a crescer. Sobretudo a sua sepultura, no colégio salesiano de Valsálice,
atraía um número sempre crescente de devotos. Essa onda de devoção, com a
convicção pessoal que os salesianos tinham da santidade de seu fundador, le-
vou padre Rua a iniciar os preparativos para introduzir, o quanto antes, a cau-
sa de beatificação do amado pai Dom Bosco. Em sua primeira carta circular
como Reitor-Mor, de 19 de março de 1888,5 convidava os irmãos a recolher
recordações e reunir testemunhos, enviando o material à casa-mãe. Os irmãos
deviam ser totalmente sinceros em suas declarações e estar preparados para, se
fossem convocados, declarar as afirmações com juramento.
Os membros do V Capítulo Geral, reunido em setembro de 1889, es-
creveram e assinaram o pedido para a introdução da causa.6 Padre Rua, por
meio do padre Bonetti, apresentou-a ao arcebispo de Turim em 31 de janeiro
de 1890, juntamente com seu pedido pessoal.
Entre fevereiro de 1888 e dezembro de 1889, padre Bonetti, auxiliado
pelo padre Berto, redigiu os artigos, ou seja, as declarações sobre a vida, o
trabalho, as virtudes, os dons sobrenaturais etc. de Dom Bosco, que seriam
apresentados ao arcebispo com o pedido de introdução do processo ordiná-
rio. Os salesianos, em seguida, contrataram como advogado e procurador um
qualificado canonista romano, Hilário Alibrandi, que revisou os 807 artigos.
Seguindo seu conselho, foram reduzidos a 408.
Os artigos revestiam-se de grande importância, pois não tentavam ape-
nas narrar a vida de Dom Bosco ou evidenciar as intervenções divinas a seu
favor, mas pretendiam, de um lado, deixar bem clara a fama de santidade
que se formara espontaneamente ao redor de sua figura e, de outro, teste-
munhar o heroísmo na prática das virtudes, tanto as teologais (fé, esperança
e caridade), como as cardeais (prudência, justiça, fortaleza e temperança) e
Lettere circolari di Don Michele Rua ai Salesiani. San Benigno Canavese: Scuola Tipográfica
5
681
Processo de beatificação
Consta de dois momentos:
1o. Processo ordinário ou diocesano;8 é realizado na diocese do bem-
-aventurado; no caso de Dom Bosco deu-se em Turim, de junho de 1890
a abril de 1897. A principal missão deste processo é investigar a fama de
santidade, as virtudes e os dons sobrenaturais do futuro bem-aventurado,
mediante o testemunho de pessoas escolhidas para o caso.
2o. Processo apostólico.9 Antes de ser iniciado é preciso aprovar a docu-
mentação do processo ordinário e, em caso afirmativo, é autorizado o início
7
Muitas pessoas participaram do processo, que foi realizado durante o pontificado de quatro
papas: Leão XIII (1878-1903), Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922) e Pio XI (1922-1939).
Cinco arcebispos regeram a sede de Turim nesse período: o cardeal Caetano Alimonda (1883-1891),
o arcebispo Davi Riccardi (1891-1897), o cardeal Agostinho Richelmy (1897-1923), o cardeal José
Gamba (1923-1930) e o cardeal Maurílio Fossati (1930-1965). Quatro Reitores-Mores, sucessores
de Dom Bosco, governaram a Congregação Salesiana durante o processo: padre (agora beato) Miguel
Rua (1888-1910), padre Paulo Albera (1911-1921), padre (agora beato) Felipe Rinaldi (1922-1931) e
padre Pedro Ricaldone (1932-1951).
8
O processo diocesano chama-se oficialmente ordinário, porque acontece sob a autoridade do
bispo (ordinário) da diocese a que o servo de Deus pertencia. Também se chama informativo, porque o vo-
lume de informações sobre o candidato é recolhido, em nível diocesano, das declarações das testemunhas.
9
Esta etapa do processo se chama apostólica, porque acontece sob a autoridade da Sé Apostólica (ou
seja, do Papa) através da Sagrada Congregação dos Ritos [hoje, Congregação para as causas dos santos].
682
Processo de canonização
O processo de canonização após a beatificação costuma ser simples:
reconhecimento dos milagres exigidos, decreto de tuto e fixação da data
de canonização.
No caso de Dom Bosco houve uma pequena complicação por causa do
estudo da causa de Domingos Sávio, cuja biografia, escrita por Dom Bosco,
apresentava dificuldades de ordem histórica. A data da canonização foi fixada
para 1o de abril de 1934, dia da Páscoa da Ressurreição.
10
Atualmente, o título de Venerável é concedido depois de ter sido aprovada a heroicidade das virtudes.
683
684
Roma, foi nomeado postulador (1891-1897). Quando o padre Belmonte morreu (1901), o padre
Rinaldi, recém-nomeado prefeito geral, sucedeu-o como vice-postulador.
12
Os juízes eram os cônegos Bartolomeu Roetti, vigário-geral, Estanislau Gazelli e Luís Nasi.
Atuaria como notário e secretário o cônego Mauro Rocchietti e como meirinho, o senhor Pedro Aghemo.
13
Cf. neste volume, capítulo IX, p. 326-331.
685
1890.14 Continuou a apresentar suas queixas ao longo dos anos e, mais tarde,
seus arquivos foram importantes no processo apostólico.
Sessões e testemunhas
O processo exigia dois tipos de testemunhas, as convocadas para respon-
der ao questionário e as que, por ofício [ex officio], deviam esclarecer aspectos
que carecessem de esclarecimento. Padre Bonetti apresentou 28 testemunhas
principais, homens de diversas idades e de diversos estados de vida: 13 eram
salesianos; 1 era religioso (agora santo), padre Leonardo Murialdo, funda-
dor dos josefinos; 8 eram diocesanos; os demais, leigos, alguns “amigos de
família”, de Castelnuovo. Foram chamadas pelo tribunal 17 testemunhas ex
officio: 3 para darem testemunho independente e 14 para confirmarem alguns
pontos de testemunhos alheios. O salesiano padre João Branda, por exemplo,
foi chamado para confirmar o testemunho da assim chamada bilocação de
Dom Bosco em Barcelona.15
14
Nessa carta, o cônego anotava com amargura que as nomeações do padre Bonetti como pos-
tulador, do cônego Sorasio como promotor, e do padre Rocchietti como membro do tribunal eram um
desafio à verdade e um atentado ao Senhor, Cf. P. Stella, Canonizzazione, 74.
15
As 28 testemunhas principais, chamadas pelo postulador salesiano, juraram na primeira sessão
de seu testemunho. Da quarta sessão, em 26 de julho de 1890, até a 439ª, de 23 de janeiro de 1896,
apresentaram o próprio testemunho na seguinte ordem:
Dom João Batista Bertagna (sessões 4-8), bispo auxiliar.
Padre Joaquim Berto, salesiano (sessões 10-46).
Padre Segundo Marchisio, salesiano (sessões 57-66).
Padre João Francisco Giacomelli, diocesano (sessões 68-74).
Padre Félix Reviglio, diocesano (sessões de 75-86).
Senhor Tiago Manolino, pedreiro (sessões 87-88).
Senhor José Turco, agricultor (sessões 89-90).
Senhor João Filippello, negociante (sessões 91-92).
Senhor Jorge Moglia, agricultor (sessões 93-94).
Cônego Jacinto Ballesio, diocesano (sessões 95-104).
Padre Ângelo Sávio, salesiano (sessões 105-108).
Padre Francisco Dalmazzo, salesiano (sessões 109-125).
Coadjutor Pedro Enria, salesiano (sessões 127-136).
Padre Leonardo Murialdo, OSJ (sessões 137-142).
Dom João Cagliero, salesiano (sessões 143-168).
Padre Francisco Cerruti, salesiano (sessões 169-192).
Padre João Batista Piano, diocesano (sessões 193-200).
Coadjutor José Rossi, salesiano (sessões 201-210).
Senhor João Villa, confeiteiro (sessões 211-220).
Padre João Batista Francésia, salesiano (sessões 221-248).
Padre Luís Piscetta, salesiano (sessões 250-267).
Padre Júlio Barberis, salesiano (sessões 268-308).
Padre João Batista Lemoyne, salesiano (sessões 309-347).
686
687
688
18
Nos últimos dias de mandato de dom Gastaldi em Turim, Bertagna era professor de Teologia
Moral no seminário diocesano de Casale, antes de ser nomeado bispo coadjutor do sucessor de Gas-
taldi, cardeal Alimonda.
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21
Padre Lemoyne informa sobre esta cura milagrosa em sua biografia de Dom Bosco (G. B.
Lemoyne, Vita del venerabile servo di Dio Giovanni Bosco. Turim: SEI, 1913. Vol. II, 657-660). Ceria,
também informa sobre o milagre nas Memórias Biográficas, mas não menciona as reservas do doutor
Ramello. Ele acrescenta que a senhora Della Vale morreu pouco depois de testemunhar, em 1896, aos
56 anos de idade, “de uma enfermidade não especificada” (MB XVIII, 604s).
692
câncer não fora comprovada e que não era impossível a cura do útero por
processos naturais. Contudo, revelou seu agnosticismo, quando disse ao cô-
nego Sorasio, que fora vê-lo pessoalmente: “Sim, para os que acreditam nos
milagres, este é um milagre!”.
Outras curas23
Foram investigadas outras três curas milagrosas. Em 29 de abril de 1896
foi chamada para testemunhar a irmã Filomena Cravosio, religiosa domi-
nicana, que descreveu sua cura imediata de dores do estômago e do fígado,
quando Dom Bosco lhe apareceu na manhã de 31 de janeiro de 1888. Dom
Bosco acabara de morrer, embora ela não o soubesse.
22
Tanto Lemoyne como Ceria mencionam a cura da senhora Piovano quando falam da cura de
Marina Della Valle.
23
Ver uma crônica detalhada das três “curas” em P. Stella, Canonizzazione, 107-109.
693
P. Lemoyne teve em mãos durante algum tempo uma cópia completa das Atas. Serviu-se desse
24
material na compilação do seu monumental Documenti. Acredita-se que teria obtido essas atas durante
a transcrição delas no colégio salesiano de Valsálice.
694
695
fizeram o possível para manter-se no justo limite. Dois lugares eram particu-
larmente metas importantes de devoção e, por isso, deviam ser estritamente
vigiados: os aposentos de Valdocco, onde Dom Bosco vivera e morrera, e
a sepultura de Valsálice. Nos aposentos, foi criada uma forma de devoção
que teve grande repercussão e sucesso. Tratava-se da celebração de missas no
altar onde Dom Bosco celebrava durante a sua enfermidade. Ali acorriam
às terças-feiras, dia da semana em que morrera, grupos de alunos das classes
mais adiantadas para participar da santa missa e rezar pelo descanso eterno
do querido pai; pedia-se, também, pelo sucesso do processo de beatificação e
canonização. Não se tratava de culto a um santo, mas de um ato em homena-
gem a uma pessoa querida que, além do mais, servia para promover entre os
jovens a piedade e a frequência dos sacramentos.29
Mais difícil e delicado era o controle na sepultura de Dom Bosco em
Valsálice, à qual acorriam muitas pessoas e grupos, tanto para rezar por ele
e invocar sua proteção para obtenção de graças como para levar ex-votos de
agradecimento por graças alcançadas. Em algum caso, chegara-se ao exagero.30
Com autorização eclesiástica também eram distribuídas estampas e relíquias
para aumentar a devoção popular, tornar conhecida a vida ou alguns pensa-
mentos de Dom Bosco e rezar para que Deus se dignasse conceder a graça da
canonização. O juízo sobre non culto foi favorável.
696
Animadversiones do promotor da fé
Monsenhor Alexandre Verde, como promotor da fé, examinou a agen-
da preparada para a introdução da causa e redigiu as observações críticas
(animadversiones). Ele partia da convicção, já surgida no processo do cônego
Cottolengo, de que as boas obras de caridade não garantiam a santidade de
quem as realiza; a partir disso, ele questionava as motivações de Dom Bos-
co, suas proclamadas revelações sobrenaturais ou sonhos e, sobretudo, sua
virtude ou santidade. Dom Bosco poderia ter sido apenas um pragmático
ambicioso que obteve sucesso, um competidor obstinado e batalhador, um
manipulador inteligente, um homem carente de interesse ascético e de vir-
tudes sólidas.34
31
Este pequeno processo sobre os escritos, instigado pelo cônego Colomiatti deve ser distinguido
do posterior breve processo sobre os panfletos, provocado pelo próprio cônego.
32
Esposizione del sacerdote Giovanni Bosco agli eminentissimi cardinali della sacra congregazione
del Concilio. Sampierdarena: Tip. di S. Vincenzo de’ Paoli, 1881. Este extenso e detalhado documento,
obra do combativo padre Bonetti que, no auge do conflito, respondia ao breve que Gastaldi apresentara
em Roma, traz a assinatura de Dom Bosco e, por isso, ele se tornava responsável pelo conteúdo.
33
Assim se expressava o teólogo censor: “Tal Exposição foi julgada pelo menos improcedente.
Esta imputação, no meu modo de ver, não é nem razoável, nem merecida. Tal Exposição, de fato, é
justamente devida à necessidade que o Servo de Deus sentia de buscar a defesa e a tutela de seu Insti-
tuto religioso, contra o qual o arcebispo de Turim, não menos de seis vezes, já expressara reclamações e
publicado outros escritos”. Cf. P. Stella, Canonizzazione, 129.
34
Para entender a posição de monsenhor Verde, deve-se levar em conta que fora o promotor da
fé em duas causas anteriores à de Dom Bosco: a causa de Ana Maria Taigi (1769-1839) e a de Bernardo
Clausi (1789-1849). Em relação a Ana Maria Taigi, monsenhor Verde indicara a pouca credibilidade das
testemunhas, recrutadas no círculo restrito de seus devotos e a qualificara de pobre viúva, cuja religiosi-
dade caíra não raramente em intemperanças ingênuas. Bernado Clausi, segundo monsenhor Verde, não
podia ser apresentado como modelo de santidade por causa do seu comportamento banal e à tendência
à depressão psíquica, que o levara também a lançar-se ao mar em estado de delírio em busca de uma
espécie de anulação purificadora, que monsenhor Verde julgava como gesto semelhante ao suicídio. Por
outro lado, também tinha diante de si as animadversiones feitas pelo defensor da fé à causa do cônego
Cottolengo, nas quais se sublinhava a ambivalência de suas obras de caridade, pois de sua bondade in-
trínseca e de sua eficácia e expansão não se podia deduzir que fossem, sem mais, movidas pela virtude do
fundador. Mas que a virtude podia ter sido movida pela astúcia em manipular a religiosidade coletiva.
697
698
699
causa em Roma. Como consequência, o lugar da sepultura em Valsálice poderia ser aberto ao público
para sua veneração. Desde 1913, o título de venerável é conferido com o decreto sobre a prática heroica
das virtudes, que Dom Bosco obteria em 1927.
700
39
Considere-se que o processo ordinário de beatificação de Domingos Sávio foi introduzido em
Turim em 1908 e o processo apostólico em Roma, em 1914, ao mesmo tempo em que avançava em
Turim a fase inicial do processo apostólico de Dom Bosco.
40
Os restos mortais foram exumados oficialmente na sepultura de Valsálice. O ataúde externo
de madeira estava um pouco deteriorado; o segundo aparentava bom estado e corretamente sigilado.
O caixão de zinco, interior, porém, apresentava sinais de corrosão. Algumas partes do corpo estavam
mumificadas; outras, porém, tinham-se desfeito. Deve-se levar em conta que houve uma exumação an-
terior do corpo de Dom Bosco. Em 1904, o caixão foi aberto por ocasião do X CG. Esta exumação foi
feita com a permissão das autoridades da cidade e na presença do arcebispo cardeal Richelmy. Naquela
ocasião, antes de ser novamente sigilado o caixão de zinco, um médico pulverizou o corpo com uma so-
lução desodorante. A substância química usada corroera o zinco, ao mesmo tempo em que a exposição
ao ar fez com que partes do corpo se quebrassem. Antes da beatificação em 1929, os restos mortais de
Dom Bosco seriam de novo examinados oficial e solenemente e se recolheriam amostras para relíquias.
701
702
42
Recorde-se que a maior parte da geração de Gastaldi, tanto bispos como sacerdotes, já falecera,
como também muitas pessoas cujo testemunho contrário a Dom Bosco fora recolhido por Colomiatti.
Outros não puderam ser chamados por diversas razões. A situação da Igreja de Turim mudara e muitos
dos clérigos, como padre José Allamano, da igreja da Consolata, afastaram-se da antiga posição da cúria.
43
Confutaziome delle accuse formulate contro la causa del ven. Giovanni Bosco. Roma: Stabilimento
Poligrafico per l’Amministrazione della Guerra, 1922. Os autores da refutação dispuseram de novos
materiais: papéis pessoais que o arcebispo Gastaldi deixara ao seu secretário, cônego e historiador Tomás
Chiuso. Assim narra o padre Tomasetti em sua crônica sobre como os papéis do arcebispo chegaram
aos salesianos: “Neste ponto, pode ser que seja interessante relatar como foram postos à disposição dos
salesianos alguns documentos muito importantes. Entre os homens do arcebispo Lourenço Gastaldi,
houve certo cônego Tomás Chiuso, que fora amigo de Dom Bosco, mas por alguma razão convertera-
-se então em inimigo acérrimo de Dom Bosco. Trabalhara tão ao gosto do arcebispo que este lhe legou
todos os seus objetos pessoais: roupa, vestes sacras, cálices, mitras, livros, documentos pessoais etc.; mas
com o sucessor de dom Gastaldi, sem dúvida devido a alguns graves erros, o cônego Chiuso foi suspenso
a divinis [das funções sacerdotais], expulso da cúria e privado de seus benefícios. [...] Ao encontrar-e
em dificuldades econômicas, viu-se obrigado a vender os objetos de valor que herdara do arcebispo.
703
das principais questões apresentadas por Colomiatti. Era, pelo seu estilo, um
ataque implacável contra o cônego e dom Gastaldi.
Com a derrota de Colomiatti, a causa de beatificação de Dom Bosco
parecia encaminhar-se para uma conclusão rápida e favorável. As palavras do
recém-eleito papa Pio XI aos salesianos e alunos numa audiência geral em 25
de junho de 1922 reforçou essa impressão. Falou nos termos mais carinhosos
e otimistas sobre Dom Bosco e a sua causa:
Contamo-nos com profunda satisfação entre os mais antigos amigos pessoais
do venerável Dom Bosco. Vimos o vosso glorioso pai e benfeitor, vimo-lo
com nossos próprios olhos. Estivemos coração a coração junto dele. Entre
nós houve um breve e não vulgar intercâmbio de ideias, de pensamentos, de
considerações. Vimos este grande promotor da educação cristã, observamo-
-lo naquele modesto local que ele mantinha entre os seus, e que era, por sua
vez, tão eminente posto de comando, estendido ao mundo todo, e tão exten-
so quando benéfico. Somos, por isso, admiradores entusiasmados da obra de
Dom Bosco, e nos sentimos felizes por tê-lo conhecido e, por graça divina, ter
podido contribuir em sua obra com nossa modestíssima ajuda. Esta obra, nós a
vimos também na Itália, na Polônia, dos Cárpatos ao Báltico, e vimos os filhos
daquele Grande, totalmente consagrados à sua obra tão santa, tão grande, tão
benéfica [...]. É-nos impossível ver-vos sem contemplar o grande espetáculo
que surge e se estende atrás de vós, de milhares, centenas de milhares, milhões
de jovens, de homens feitos, em todas as posições sociais, nas mais variadas
condições de vida, que beberam das fontes do venerável Dom Bosco tesouros
da educação cristã. Este magnífico espetáculo é o monumento maior e mais
grandioso que se possa jamais elevar ao vosso pai e diante do qual qualquer
outro monumento material resulta ser pequena e pobre coisa...44
Foi assim que os salesianos puderam adquirir a preço de barganha, entre outras coisas, uma mitra pre-
ciosa, que foi utilizada por muitos anos, e talvez ainda seja utilizada, nas funções solenes da basílica de
Maria Auxiliadora dos cristãos. Igualmente, o cônego Domingos Franchetti, desejando ajudar, comprou
de Chiuso todos os livros e documentos pessoais de Gastaldi, entre eles, alguns de caráter muito con-
fidencial. Neste lote, havia um arquivo considerável de documentos relativos à disputa de Dom Bosco
com o arcebispo. O cônego Franchetti amavelmente pôs os documentos pertinentes à disposição dos
salesianos proporcionando assim a evidência pela qual se poderiam refutar as acusações difamatórias. Ah,
os desígnios da Divina Providência!”.
44
Bollettino Salesiano, julho de 1922, 117s. Cf. Discorsi di Pio XI, 33-35.
704
45
O cardeal Antônio Vico, prefeito da Congregação dos Ritos, era o relator da causa desde
1915; o arcebispo Ângelo Mariani seria nomeado promotor geral em 1926. Em 1922, padre Rinaldi
foi eleito Reitor-Mor, e padre Estêvão Trione foi nomeado vice-postulador. Ao final de 1923, padre
Dante Munerati foi nomeado bispo de Volterra e padre Francisco Tomasetti, procurador e postulador
da causa. Monsenhor João Romagnoli foi defensor da causa dos salesianos, servindo-se dos serviços dos
advogados Pedro Melandri e Miguel Ângelo Tellina. Romagnoli foi censurado pelo Santo Ofício em
1926, sendo contratado monsenhor João Della Cioppa como advogado. Salotti, mesmo sendo vice-
-promotor e mais tarde promotor da fé, continuou atuando, privadamente, como estrategista da defesa
salesiana, orientando o postulador padre Tomasetti e defendendo a causa.
46
A congregação é a assembleia de cardeais, sozinhos ou com “consultores”, prelados e teólogos.
705
706
cardeal Caetano Bisleti, dos padres da Consolata. Nesse momento, ele era o
prefeito da Congregação dos Seminários e Universidades e fora o relator da
causa do padre Cafasso. O cardeal Camilo Laurenti, no momento prefeito
da Congregação para a Propagação da Fé, também próximo aos padres da
Consolata, o apoiou.50 As respostas da defesa foram consideradas insuficientes.
Salotti, que também falou pela defesa, viu-se numa situação incômoda, por ser
promotor da fé. O idoso cardeal Vico, relator, poderia ter argumentado con-
trariamente, mas preferiu que houvesse um adiamento da sessão. E o fez para
evitar a possibilidade de um voto negativo, que teria acabado com a causa.
A suspensão supunha que o Papa devia dar permissão para celebrar uma
segunda congregação extraordinária preparatória. Quando monsenhor Salot-
ti apresentou ao Papa o seu relatório e a sua consternação, Pio XI concedeu
facilmente a permissão, pois desejava que a causa de Dom Bosco avançasse.
A esta altura, e com o assessoramento de Salotti, os salesianos contrata-
ram um novo advogado, monsenhor Della Cioppa, pessoa muito qualificada,
bem conhecida e apreciada nos círculos romanos.
Enquanto isso, o promotor da fé, monsenhor Salotti, preparava novas
observações críticas sobre as objeções do padre Ojetti. Para melhorar a res-
posta, padre Pedro Cossu, canonista do Capítulo Superior, supervisionou a
recompilação da nova documentação. Quanto à presumida cumplicidade de
Dom Bosco na redação dos folhetos infamantes contra o arcebispo Gastaldi, a
cúria de Turim fez uma declaração juramentada, pois não conseguiu encontrar
a carta original do padre Pellicani.51 Padre Rinaldi escreveu pessoalmente uma
carta para explicar a dispensa do breviário, motivada pela visão deficiente de
Dom Bosco, e a presumida profecia relativa à participação de dom Cagliero
no Vaticano I, que fora uma interpretação do padre Bonetti. Em todo caso, foi
preparada a resposta e redigido o novo sumário.
A congregação preparatória adiada aconteceu no dia 14 de dezembro de
1926. Assim o narra o padre Tomasetti:
A declaração do padre Pellicani, que mais tarde seria retratada por ele, referia que Dom Bosco
51
lhe pedira para escrever contra Gastaldi. A defesa não apelou para o testemunho do padre Turchi, que,
na prática, resolvia o assunto da autoria dos panfletos, pois, neste caso, a acusação apresentada contra
Dom Bosco não era de autoria, mas de suborno.
707
dre Ojetti não emitiu nenhum voto, pelo que seu nome não apareceu na lista dos consultores. Cf. P.
Stella, Canonizzazione, 203.
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709
710
711
Conclusão
Em 2 de junho de 1929, Pio XI proclamou Dom Bosco bem-aventura-
do. A basílica de São Pedro em Roma encheu-se completamente de dignitá-
rios, eclesiásticos e civis, e de uma multidão não normalmente grande. Em
6 de junho, a beatificação foi celebrada em Turim. Pela manhã, houve uma
solene missa pontifical na basílica de Maria Auxiliadora; à tarde, os restos
mortais de Dom Bosco, depositados numa urna de cristal e prata, foram
transladados triunfalmente de Valsálice a Valdocco.56 O tema musical da
procissão, o conhecido Giù dai colli [Da colina um dia distante... Dom Bosco
retorna], foi composto pelo músico salesiano padre Miguel Gregorio, com
letra de outro salesiano, padre Segundo Rastello.57
56
Para o relatório detalhado do translado do corpo, ver MB XIX, 167s.
57
Para o texto italiano e a música, ver MB XIX, 415s.
712
2. O processo de canonização
No início de 1930, passado o entusiasmo das solenes celebrações, o pro-
curador e postulador salesiano em Roma, padre Tomasetti, apresentou novo
pedido ao Santo Padre para a continuação da causa de Dom Bosco. Foram
apresentados em seu apoio cartas de pessoas insignes, eclesiásticos e leigos.
Os salesianos contaram novamente com monsenhor Della Cioppa
como advogado e com o senhor Pedro Melandri como procurador. O cardeal
Alexandre Verde era o relator, e monsenhor Salvador Natucci, promotor da
fé, em substituição a dom Salotti que, em 1927, fora nomeado secretário da
Congregação para a Propagação da Fé.
Em reunião de 17 de junho de 1930, os cardeais da Congregação dos
Ritos deram voto favorável para a continuação, que o Papa aprovou sem de-
mora. Em seguida, a Congregação, com decreto muito elogioso, ordenou a
instauração da causa de canonização. Foi nesse momento que, ao se cruzarem
as causas de Dom Bosco e de Domingos Sávio, surgiu um novo problema
para a causa de Dom Bosco.
713
à causa para sua canonização, padre Tomasetti trabalhou para que a Con-
gregação dos Ritos fixasse as datas das congregações para a beatificação de
Domingos Sávio.
Em 1o de julho de 1930, deu-se a congregação antepreparatória com
resultados positivos. Contudo, 8 dos 19 votos pediam a suspensão ou o adia-
mento, um sinal que indicava problemas futuros.
O problema real surgiu na congregação preparatória, que se reuniu em
3 de maio de 1931. A maioria dos votos foi favorável, mas não todos. Entretan-
to, padre Henrique Quentin,59 um sábio beneditino de Solesmes, chefe do de-
partamento histórico da Congregação dos Ritos, achou que a vida de Domingos
Sávio, escrita por Dom Bosco, tinha graves defeitos do ponto de vista histórico.
Pediu ao padre Tomasetti a documentação relativa ao processo de Domingos
Sávio e, em especial, a biografia como fora estudada no processo de Dom Bosco.
Em vez de dar uma simples opinião, padre Quentin redigiu um ensaio
crítico que encaminhou diretamente a Pio XI. Tornou-se, assim, necessária
uma resposta dos salesianos, também encaminhada ao Papa. Enquanto isso,
Della Cioppa e Melandri elaboraram uma crítica ao estudo do padre Quen-
tin do ponto de vista processual; os padres Amadei e Caviglia responderam
às objeções relativas à biografia de Domingos Sávio. Amadei rebateu a in-
terpretação de Quentin; Caviglia referiu-se ao importante valor histórico da
biografia, destacando também a existência de testemunhas independentes.
Padre Tomasetti acrescentou outras testemunhas: uma delas, companheiro de
Domingos Sávio, e o outro, um historiador.
Quando padre Tomasetti apresentou a resposta salesiana à Congregação dos
Ritos, esta cortou e enfraqueceu drasticamente o texto. Padre Tomasetti, contu-
do, imprimiu em separado o texto não editado e apresentou-o privadamente ao
Papa. Quando Pio XI inteirou-se dos fatos, ordenou que o texto de Quentin e a
resposta salesiana fossem retirados do recurso e se continuasse a causa.
Em 21 de fevereiro de 1933, foi celebrada uma segunda congregação
preparatória. Padre Quentin reafirmou sua posição, indicando as passagens
nas quais Dom Bosco citara suas fontes sem muita precisão. O voto, porém,
foi favorável.
Em 27 de junho de 1933, deu-se a congregação geral, na presença de Pio
XI. Padre Quentin não se deteve em seu ataque e o próprio Papa interveio
para silenciá-lo e concluir o longo debate. Obviamente, a votação foi positi-
va. O decreto sobre a prática heroica da virtude de Domingos Sávio, com o
título de venerável, chegou em 9 de julho de 1933.
59
Cf. F. Tomasetti, Memoria, 419-425; P. Stella, Canonizzazione, 213-223.
714
60
MB XIX, 224s; cf. P. Stella, Canonizzazione, 224-233.
715
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Consistórios e canonização
Pio XI celebrou três consistórios, um secreto, outro semipúblico e ou-
tro público. Os dois primeiros aconteceram em 31 de dezembro de 1933;
o terceiro, em 15 de janeiro de 1934. Essas reuniões foram realizadas para
permitir que o Papa ouvisse as opiniões finais dos cardeais, pois a canoni-
zação é um assunto considerado estritamente ligado ao magistério infalível
do Papa. Também facilitava aos postuladores fazer a alegação final em favor
de seus candidatos à santidade, que eram quatro neste caso.62 Por último,
Pio XI fixou a data em que celebraria a solene cerimônia de canonização
dos candidatos.
Dom Bosco foi canonizado no domingo da Páscoa da Ressurreição, 1o
de abril de 1934. A cerimônia na basílica de São Pedro foi soleníssima, im-
possível de ser descrita; nela estiveram presentes as mais altas autoridades da
Igreja e do Estado. No dia seguinte, Dom Bosco foi homenageado no Ca-
pitólio, com a participação dos superiores salesianos, cardeais e membros de
posição elevada do governo fascista, inclusive Benito Mussolini. Uma semana
depois, a canonização foi celebrada em Turim com solenidade semelhante.
O salesiano padre João Pagella, músico notável, compôs o hino para a oca-
sião: Campane suonate (traduzido em português como Os sinos maviosos).63
717
718
habitual. O que fazia dele um grande aos olhos de todos, mas não necessaria-
mente um santo aos olhos de alguns. Hoje, as coisas mudaram e alguns não
só o veem como santo como também o veem como modelo de santidade, que
se adiantou de um século ao Concílio Vaticano II.67
Não se deve pensar, por isso, que a maioria daqueles que precisaram julgar
a vida e as obras de Dom Bosco nos processos de beatificação e canonização
tenham-no feito com má intenção. Declarar alguém como santo era, e é, algo
muito sério, que tem grande transcendência espiritual para a vida da Igreja, pois
supõe convalidar de forma oficial um modo de ser cristão e de viver autentica-
mente o Evangelho. Não o viu assim a antiga historiografia salesiana, que jul-
gou com dureza e considerou como inimigos pessoais de Dom Bosco e de seus
salesianos, os que apresentavam objeções, até mesmo razoáveis, à canonização
daquele que já haviam canonizado em seu coração. É possível que algum dos
objetores fosse pouco ou nada simpatizante de Dom Bosco e de seus salesianos,
mas a maioria era constituída de pessoas responsáveis, que acreditavam agir com
a maior boa intenção pelo bem da Igreja, aqueles que eram seus elevados repre-
sentantes, embora não deixassem de ser homens do seu tempo. Equivocaram-se,
talvez não por má vontade, mas porque não foram capazes de apreciar o novo
estilo de santidade representado por Dom Bosco. Hoje, provavelmente, modi-
ficariam seus esquemas e seus conceitos de avaliação, e entenderiam e julgariam
diferentemente a vida, as virtudes e as atitudes de Dom Bosco que, por outro
lado, como homem que era, também não deixava de ter seus defeitos.
Objeções
Ao repassar agora algumas objeções que os diversos censores, ou “advo-
gados do diabo”, apresentaram no processo, não é difícil avaliar a distância
que os separava de Dom Bosco. Vejamos as principais dessas objeções:68
1ª. Falta de formação dada aos membros de sua Congregação e o es-
tilo de vida, seu e dos salesianos, que lhes parecia muito mundana ou pouco
de acordo com a dignidade própria dos sacerdotes daquele tempo.
67
O conhecido teólogo francês Maria-Dominique Chenu, O.P., respondendo nos anos oitenta
do século passado à pergunta de um jornalista que lhe pedia para indicar os nomes de alguns santos
portadores de uma mensagem de atualidade para os novos tempos, afirmou sem duvidar: “Agrada-me
recordar, antes de tudo, aquele que antecedeu o Concílio de um século: Dom Bosco. Ele já é, profeti-
camente, um homem modelo de santidade pela sua obra, que é ruptura com o modo de pensar e crer
de seus contemporâneos”. Cf. Documentos capitulares do CG26. São Paulo: Salesiana, 2008, p. 170.
68
Para as objeções, cf. Positio super dubbio. Roma: Tip. Augustiniana, 1921. Para as declarações
do cônego Colomiatti, cf. 3-52; para as de dom Cagliero, p. 68-110; para as do padre Allamano, p.
110-116. Seguem as de outras testemunhas. A resposta da defesa às acusações estão em Confutazione
delle accuse contro la causa del V. Giovanni Bosco. Roma: Stabilimento Poligrafico, 1922.
719
720
lesianos, na prática, ele obteve bons resultados, pois, seguindo seu método,
chegou a formar um grupo de indivíduos muito qualificados e com diplomas
em vários campos; gente como Miguel Rua, João Batista Francésia, Celestino
Durando, Francisco Cerruti, Paulo Albera, João Garino, José Bertello, Cle-
mente Bretto, Luís Piscetta etc. Mestres competentes e autores de excelentes
livros de texto que os próprios membros da oposição, provavelmente, utiliza-
ram talvez sem saber quem fossem seus autores.
Quanto à formação religiosa e eclesiástica, é evidente que muitos salesia-
nos formados por Dom Bosco levavam uma vida autenticamente evangélica
e de firme compromisso cristão. Alguns eram considerados como pessoas
de excepcional vida de santidade, até mesmo dignas da honra dos altares:
Domingos Sávio, Miguel Rua, Augusto Czartoryski, Felipe Rinaldi e André
Beltrami. E algo muito digno de se levar em conta é que para dar a formação
religiosa, Dom Bosco não reprimia em absoluto a personalidade individual
de seus alunos, mas procurava respeitá-la e elevá-la à perfeição cristã.
Don Bosco ritorna! [Dom Bosco retorna!]: chegada da urna de São João Bosco em Valdocco.
721
722
69
Positio super dubbio. Roma: Tip. Agustiniana, 1921, 40.
723
Terceira, pedir custou-lhe imensos sacrifícios e dissabores, mas ele tinha a ideia
clara de que os ricos devem compartilhar sua riqueza com os pobres. A esmola
é um dever para os ricos e é a única maneira que eles têm para se salvar. Hoje,
admiramos sua coragem, embora possamos dizer, talvez, que ficou socialmen-
te aquém. Certamente não o acusaríamos de pedir, com insistência, ajuda
material para seus meninos necessitados, ou o aconselharíamos a mudar sua
ideia de esmola como mera caridade pela da justa distribuição da riqueza e a
participação do que alguém possui com os necessitados. Mas, infelizmente, as
ideias sociais do seu tempo não iam tão longe.
Em relação aos casos concretos de que foi acusado, todos eles receberam
uma resposta cabal, porque não correspondiam à verdade, como, de um lado,
dom Cagliero deixou bem claro em suas declarações documentadas, e, de
outro, o bem-aventurado Allamano, ao desmentir plenamente o que o padre
Colomiatti afirmava sobre Dom Bosco e as relações com seu tio padre Cafas-
so, que lhe deixou importantes doações em seu testamento.
5ª. Dom Bosco não teria aspirado à perfeição no trabalho. O cônego
Colomiatti apresentou como objeção contra a santidade de Dom Bosco o
que ele dissera ao padre Cafasso e a dom Gastaldi, que o bem não precisa ser
bem feito, mas simplesmente deve ser feito. Parece que a intenção do cônego
era dizer que Dom Bosco não tendia à perfeição, mas se contentava com a
mediocridade. Algumas testemunhas explicaram o contexto em que Dom
Bosco pronunciara estas palavras, que nada tinham a ver com a insinuada in-
tenção de Colomiatti. O mesmo Pio IX afirmou que Dom Bosco lhe dissera
pessoalmente que ele queria estar sempre na vanguarda. Contudo, parece que
se possa atribuir, sim, a Dom Bosco a frase ou, ao menos a ideia, de que, às
vezes, o ótimo é inimigo do bom.
O fato é que Dom Bosco era um homem com os pés no chão, alguém
que conhecia a situação real, as dificuldades concretas, as limitações que im-
pedem passar por cima dos obstáculos. Era um realista e sabia muito bem
que só a partir de um realismo dinâmico podia lançar-se em projetos que
pareceriam utópicos, e que só caminhando por etapas seria possível chegar
ao fim. Estava certo de que o aquilo que num momento parece impossível,
depois, pode ser possível e tornar-se realidade. Por isso o sadio (e santo) realis-
mo de Dom Bosco contrastava com o idealismo perfeccionista daqueles que
defendiam que o bem ou se faz bem ou não se faz. Dom Bosco, ao contrário,
pensava que o bem sempre deve ser feito e o melhor que se possa em cada
momento, embora nem sempre se possa fazê-lo de modo perfeito. O pior
é permanecer parado à espera do momento ideal para agir. É nesse sentido
que o ótimo é mais de uma vez inimigo do bom. Se Dom Bosco, dizia dom
724
725
conflitos, que ele não provocava e que não desejou, mas dado que existiram,
quis manter-se fiel às suas convicções e, por isso, precisou pagar um preço
elevado em dissabores, incompreensões, calúnias e humilhações.
7ª. Milagres e falsas profecias. Objetou-se no processo que alguns dos
milagres a ele atribuídos em vida não foram realmente milagres, como a cura
do conde Chambord, e que algumas de suas profecias ou não se realizaram,
como predizer que o padre Rua chegaria aos 75 anos, tendo morrido aos 72,
ou que dom Cagliero participaria do final do Concílio Vaticano, do qual não
participou. Outras podiam ser explicadas facilmente por cálculos estatísticos,
como a predição de algumas mortes. Sobre este tema já se falou em vários
capítulos desta obra e a eles nos remetemos.
Ainda durante o processo, foi dada uma resposta cabal a estas objeções,
um tanto ridículas num assunto de tanta transcendência. Dom Bosco não
dissera ter feito esse milagre nem formulado a profecia da vida do padre Rua;
sobre dom Cagliero, simplesmente dissera que participaria de um grande
acontecimento no Vaticano, sem determinar a qual acontecimento se referia.
Alguns de seus admiradores falaram que era o encerramento do Concílio
Vaticano; outros, do conclave para a eleição do papa Pio XI. Nada disso tem
outra importância senão confirmar a fama de taumaturgo atribuída por mui-
ta gente a Dom Bosco ainda em vida.
Tem, porém, grande importância o fato de Dom Bosco atribuir o extra-
ordinário de sua vida a Deus e à proteção de Maria. Era algo que aprendera
ainda criança e que experimentara desde o sonho dos 9 anos até o fim de sua
vida, quando com grande comoção podia exclamar que tudo fora feito por
Deus pela mediação de Maria Auxiliadora e que, se tivesse tido mais fé, teria
feito muito mais coisas.
Podem faltar muitas coisas num santo, mas o que não pode faltar é a
experiência pessoal de Deus, desenvolvida primeiramente em sua própria
vida e transmitida, depois, aos outros. São muitos os detalhes da vida de
Dom Bosco que apontam nessa direção: sua natureza, seu ambiente familiar,
o tempo que lhe coube viver, as circunstâncias que rodearam sua infância
e seus estudos, o encontro providencial com pessoas de grande fé e elevada
espiritualidade. “A grande convicção de Dom Bosco sempre foi sentir-se
enviado por Deus, de não ter partido de uma sensibilidade própria, mas de
ter concebido que Deus lhe confiava os jovens e ter-se sentido chamado a
ser pai, irmão e amigo deles, e foi assim que surgiu toda a sua experiência
educativa e o seu Sistema Preventivo”.70
70
P. Chávez. Entrevista. Jornadas de Espiritualidade da Família Salesiana, 2008.
726
727
Eminência Reverendíssima:
Nosso postulador geral comunica-me que, entre as observações que ain-
da se fazem no exame sobre o heroísmo das virtudes do venerável servo de
Deus João Bosco, nosso fundador, desejam-se mais provas sobre sua vida de
oração e seu espírito profético. Rezei e meditei sobre um e outro e, como con-
firmação das abundantes deposições a favor do que se quer demonstrar e que
se encontram nas atas processuais, sinto-me obrigado a fazer a V. E. Revma.
duas declarações, também disposto a fazê-lo sob juramento:
1ª. Objeta-se que o Servo de Deus pediu e obteve a dispensa do Breviário.
Pediu-a quando estava pelos 50 anos e acontecia-lhe não poder ler de modo
algum durante longos períodos de tempo. Ele mesmo o declarou a mim, ainda
clérigo, quando lhe comuniquei que ia fazer-me consultar por um oculista.
Olhou-me, como para dizer-me que não tiraria disso qualquer proveito e disse-
-me: “Vê, também eu sempre tive a visão fraca e agora se debilitou tanto, que
em certos períodos não posso ler nada, absolutamente nada, enquanto que em
71
MB XIX, 399s.
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que fosse ele o autor; pouco depois, soube-se que o cônego Colomiatti, advo-
gado fiscal da cúria, iniciara algumas investigações e interrogara testemunhas
em relação a isso.
Nesse momento, eu era secretário da cúria e, certo dia, o cônego Chiuso,
secretário do arcebispo, chanceler e posteriormente pró-vigário-geral, disse-
-me que, na minha qualidade de promotor da secretaria episcopal, deveria
insistir com o advogado fiscal, cônego Colomiatti, para iniciar um processo
contra Dom Bosco, como autor de tais opúsculos.
Respondi prontamente que não acreditava ser possível que Dom Bosco
tivesse caído nessa baixeza, que ele tinha muitas outras coisas a fazer, pois
devia prover de pão a muitos estudantes e aprendizes do seu Oratório, em
seus colégios e nas missões; acrescentei que também acreditava que ele fosse
incapaz de tratar de temas filosóficos como se tratavam em um dos opúsculos;
e tive a coragem e a audácia de dizer-lhe, dado que fora meu condiscípulo
durante os estudos de Moral: Vê que Dom Bosco já é um colosso tão grande
que nos vence a todos!
O cônego Chiuso, surpreso, disse-me: Então, tu sabes quem é o autor.
Não, respondi, mas suspeito de alguém, que por delicadeza não ousei nomear.
Era o padre Rostagno, SJ, com quem conversava ao encontrar a caminho do
escritório; e, embora ele soubesse muito bem quem eu era, ouvi-o exclamar
certo dia: Ah, nós daremos um jeito em vosso arcebispo! O cônego Chiuso,
ao ver que eu não falava mais nada, enviou-me ao cônego Colomiatti, que
me repetiu o mesmo convite ou ordem. Repeti-lhe as razões manifestadas ao
cônego Chiuso, mas omitindo meu juízo sobre o colosso. Ele, então, com ar
seguro, disse: E se o condenássemos? Então, respondi, inclinar-me-ei diante
da sentença, devendo supor que terão tido muitas provas, tão claras e seguras,
que se devia condená-lo. Ao chegar a este ponto, ele tomou nas mãos uma
pasta volumosa (imagino que continha as deposições das testemunhas já in-
terrogadas) e mostrando-a para mim, sentenciou: O senhor está vendo? Não
faremos o processo de Dom Bosco como o fizemos para o Cottolengo!
Assinei o pedido já preparado para proceder contra Dom Bosco... parcat
mihi Deus! Era a época do autoritarismo e do ultramontanismo, para não
dizer mais!
Desde o momento em que me atrevi a tomar a defesa de Dom Bosco,
vi-me tolerado na cúria. O arcebispo, sem aludir ao que se passara, informou-
-me pouco depois que a paróquia de Aglié (do patronato de S. A. o duque
de Gênova) estava vacante, dizendo-me que faria bem se a aceitasse; insistiu
nisso mais tarde, com fervor, e respondi que me era doloroso deixar a diocese
em que tinha nascido. Pouco tempo depois, ofereceu-me a paróquia de São
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Eminência Reverendíssima:
Em minha deposição perante os reverendíssimos juízes no processo da
causa de beatificação do santo sacerdote que foi Dom Bosco, pedi e obtive
apresentar aos mesmos reverendíssimos juízes um envelope lacrado que sirva
exclusivamente e em absoluto segredo confiado à sagrada Congregação dos
Ritos; e também me pareceu bem fazê-lo assim para que a sagrada Congrega-
ção dos Ritos se convença muito mais de que Dom Bosco não escreveu, nem
mandou escrever opúsculos contra dom Lourenço Gastaldi, que foi arcebispo
de Turim; e para que os nomes dos escritores dos opúsculos impressos contra
ou melhor, sobre dom Gastaldi, não cheguem ao conhecimento do público,
nem passem à história. Ao escrever estas linhas, eu entendo fazê-lo sob os mes-
mos vínculos de juramento, com os quais estava ligado em minha deposição.
Protesto, também, que não escrevo com qualquer rancor à memória de
dom Gastaldi; e ainda, tendo a compadecer-me dele porque era homem da
primeira impressão, e porque seu cérebro devia ter algo de anormal, sobre
o que encontrei concordância comigo de um bispo piemontês ainda vivo,
muito prudente, muito douto e muito piedoso; porque também penso que,
como se costuma dizer, estava mal rodeado, e o comprova a cada dia a con-
duta do cônego Tomás Chiuso, que foi secretário e conselheiro de dom Gas-
taldi, este Chiuso que foi, há pouco, por disposição de sua santidade o papa
Leão XIII, suspenso de celebrar missa, de ser cônego da catedral como era
anteriormente, e declarado incapaz para qualquer cargo ou emprego ecle-
siástico; e também o demonstrou o padre Marcellino,74 pároco então e até
estes últimos tempos da paróquia dos Santos Mártires em Turim. Este, que
era íntimo e conselheiro de dom Gastaldi, e que obtivera a paróquia como
favor especial do arcebispo, perdera, depois, a sua reputação moral; e quando
finalmente dom Gastaldi pôde convencer-se de que só se tratava de mentiras
73
MB XIX, 403s.
74
Luís Marcellino foi um dos que participaram do ato de fundação da Sociedade Salesiana, em 1859.
733
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válido. Se nosso mui venerado arcebispo dom Davi dei Conti Riccardi não os
cita, é porque, como certo dia me dizia dom Re, bispo de Alba, pode-se crer
num consentimento tácito do cabido metropolitano. Contudo, como supor
que o cabido não tenha protestado oportunamente? Dessa forma, enquanto
isso, o sínodo seria, às vezes, sínodo e [às vezes] não sínodo.
Além disso, dom Gastaldi tivera suas dificuldades com Margotti e o
[jornal] Unità Cattolica, perseguindo-o de tal modo que Margotti se viu obri-
gado a transferir a propriedade do jornal ao seu irmão Estêvão, para ver-se
livre dele. Ficou muito estranho que, à morte de Gastaldi, as notícias que
diria de palácio, ou seja, em relação à exposição do cadáver e ao que acontecia
no palácio episcopal e na capela externa anexa ao mesmo, como também em
relação ao cerimonial da condução do cadáver etc., todas as notícias, e muito
detalhadas, eram dadas por um jornal liberalíssimo, e o pior, depois, pela
Gazzetta del Popolo, ou seja, a Gazzetta Piemontese, de onde as tomavam as
publicações religiosas.
Dom Gastaldi também era de ideias liberais, como o demonstra de
modo singular uma sua [carta] Pastoral. Admito, porém, que dom Gastaldi
fosse mal servido pela sua cúria. Certa vez, encontrando-me num dos escri-
tórios da chancelaria em Roma disse-me um excelente canonista: Mas será
possível que em Turim não haja alguém que entenda de cânones?
De fato, querendo-se conhecer melhor as desordens e os males daquele
tempo, convém ler os diversos opúsculos publicados então por dom Gastaldi,
sem excluir a Exposição do Sacerdote João Bosco aos Eminentíssimos Cardeais da
Sagrada Congregação do Concílio, que este [Dom Bosco] escreveu com certa
repugnância em obediência à Santa Sé: opúsculo que foi preciso imprimir,
mas em edição reservadíssima e feita durante a noite e com pessoal estranho
às casas salesianas, à exceção do diretor da tipografia de São Vicente de Paulo
em San Pier d’Arena, 1881.
Que os opúsculos contivessem a verdade, podendo-se dizer que todos
o admitiam, demonstra-se também porque dom Gastaldi queria iniciar um
processo, se não contra os autores dos opúsculos, ao menos contra os edi-
tores; mas, aconselhando-se com o procurador do rei, este lhe perguntou:
Mas, são verdadeiras as coisas de que falam essas publicações? Sim... pois
é..., respondeu o arcebispo. Então, o procurador ou magistrado que fosse,
acrescentou: “Se as coisas são verdadeiras, evite iniciar processos: seria lançar
lenha na fogueira e ficaria pior do que deixar por isso mesmo...”. Disso se
falava em Turim e se dava como coisa certa. Portanto, os males existiam e
eram graves, gravíssimos. Passo agora aos opúsculos, para dizer sobre eles o
que mais importa.
736
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sobre o que acontecia por lá, que ele podia saber melhor do que eu em Roma
e assim me dava material novo para o Presente.
Enquanto isso, fiquei sabendo em Roma que também o padre jesuíta An-
tônio Ballerini (parece-me que se chamava assim) estava escrevendo sobre as
doutrinas de dom Gastaldi. Fui até ele, para que esclarecesse algo de que pre-
cisava, parece-me que sobre os milagres,76 ou seja, em relação à aprovação ou
não do ordinário em sua diocese; e falamos, eu do meu Presente e ele do seu
Ensaio sobre as doutrinas como mais acima. Em relação a Gastaldi, dizia-me
que devia ser, parece-me, desmascarado, o que exigia a imprensa, pois não havia
outro caminho para mantê-lo na raia. E o pobre dom Gastaldi apoiava-se em
seculares e tinha também um parente ministro da Guerra, o general Macé de La
Roche. Quando disse a Ballerini que, como ouvira, o Papa pensava em remover
dom Gastaldi, mas que temia que decidisse a fazer algo desagradável, e armasse
algum escândalo, o mesmo Ballerini acrescentou: mas já o fez, já o fez. [...]
Em resumo, o padre Ballerini direta ou indiretamente, com o que fazia e
com o que me disse, animou-me e convenceu-me a continuar o caminho que se-
gui. Fui eu, portanto, que escrevi o Presente, e com a firme persuasão de ter feito
algo de bom. Foi impresso em Turim, na Tipografia de G. Bruno e Cia., 1878.
[...] Eu já estava em Turim durante 1878-1879 quando o padre Balle-
rini mandou para lá o manuscrito do seu Piccolo saggio; e eu escrevi o que
antecede e o que segue ao que é propriamente o pequeno Ensaio, ou seja, o
prólogo, a introdução, quatro apêndices, acrescentando o último, O Oratório
de São Francisco de Sales em Turim, original de dom Gastaldi, quando não era
mais cônego, e antes de ir como missionário à Inglaterra; e, para encerrar,
escrevi também a advertência com que termina o fascículo [...]. Enquanto
escrevia o que antecede (e encontrava-me no instituto dos cegos de Turim)
[...], veio visitar-me certo dia o padre Rostagno, jesuíta, célebre professor
de direito canônico na Bélgica (creio que era em Lovaina), que, inteirara-se,
não sei como, de que me ocupava do Ensaio de Ballerini e que estava escre-
vendo algo para acompanhar o mesmo ensaio. Servi-me dele, então, para me
aconselhar e iluminar; deu-me sugestões especiais e alguns incentivos; até
mesmo acrescentou alguma opinião que eu remanejei segundo o meu estilo.
Por isso, se pequei, foi com a cumplicidade de dois ilustres jesuítas, o padre
Antônio Ballerini e o padre Rostagno. Outro opúsculo reproduzido por um
jornal, se não me engano o Conciliatore, cujo diretor era o teólogo colegiado
(pela Universidade) Lourenço Gastaldi, e não recordo agora o título exato do
opúsculo, foi compilado pelo citado professor Anfossi; eu só acrescentei no-
tas de pé de página. Outro opúsculo, que se refere à questão de Chieri, entre
76
Digo milagres já admitidos há tempo em outras dioceses.
738
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[...] João Bosco sentia ter recebido especial vocação e ser assistido e
quase guiado pela mão, no modo de atuar sua missão, pelo Senhor e pela
intervenção materna da Virgem Maria. Sua resposta foi tal que a Igreja o
propôs oficialmente aos fiéis como modelo de santidade [...]. Sua estatu-
ra de Santo coloca-o, com originalidade, entre os grandes Fundadores de
77
AAS 80 (1988), 969-987.
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Adão. II. 188. 550, 583, 598, 612, 613, 629, 635, 645,
648, 649, 651, 654, 657, 682, 685, 687,
Adriano, João. I. 317.
689, 690, 739, 751, 752, 767.
Adriano, Luís. I. 317.
Allamano, José. I. 312, 339, 350, 353,
Adriano, Pascoal. I. 317. 354, 365, 366, 623. II. 698.
Adriano, Silvestre. I. 317. Allavena, Tiago. III. 101, 102, 103.
Afonso XII. II. 300, 306, 287. Allemand Lavigerie, Carlos Marcial (car-
Agostini, Alberto de. III. 224. deal). III. 139.
Agostini, Antônio. II. 178. Allemand, J. I. 420.
Agostini, P. De (impressor). II. 62, 184, Allora, Alexandre. II. 166, 167.
192, 193, 196, 197, 198, 200, 794. Alsina (general). III. 184.
Aguirre, Anastásio. III. 124. Alvazzi Delfrate (doutor). III. 693.
Aimeri. I. 546. Amadei, Ângelo. I. 5, 21, 25, 28, 48, 49,
Alasia, José Antônio. I. 302, 345, 352, 52, 69, 70, 74, 75, 79, 80, 82, 88, 90,
353, 354. II. 421, 422. 92, 451, 609, 614, 615. II. 6, 85, 165,
286, 289, 294, 295, 297, 298, 367,
Alasonatti, Vitório. I. 22, 65, 450, 547. II.
372, 392, 668, 669, 670, 671, 674,
48, 76, 138, 141, 146, 211, 230, 233,
707, 711, 716, 717, 718, 734, 739,
240, 245, 246, 252, 258, 259, 260,
793, 794. III. 6, 145, 151, 518, 653,
261, 568, 584.
672, 676, 677, 703, 714, 743, 779.
Albera, Paulo. I. 49, 53, 58, 70, 71, 534. Amadeu de Saboia. II. 307, 627.
II. 5, 139, 144, 233, 260, 261, 348,
578, 585, 620, 707, 742, 779, 780, Amadeu VIII (duque de Saboia). I. 397.
782, 783, 820. III. 5, 44, 45, 63, Amil y Feijoo, Vicente. III. 125.
258, 379, 383, 419, 431, 453, 468, Anacleto (santo). II. 161, 162.
487, 538, 551, 663, 682, 721, 766. Anacleto, Pedro Siboni (bispo). II. 224,
Alberdi, Ramón. III. 61, 635, 766, 791. 369, 674, 675.
Albert, Frederico João Luís (beato). II. Andreola, F. II. 458.
436, 581. III. 286, 287, 374. Aneyros, Leão Frederico. III. 78, 81, 82,
Alberti, Pedro (jovem do Oratório). II. 566. 83, 84, 85, 89, 93, 100, 101, 104,
Alberto C. (jovem do Oratório). II. 139, 145. 155, 165, 178, 183, 185, 191, 193,
202, 203, 204, 311.
Alessio, Félix. II. 578.
Anfossi, João Batista. I. 22, 181. II. 133,
Alexandre III. II. 181, 201. 244, 259, 261, 362, 372, 566, 568. III.
Alimonda, Caetano (cardeal). I. 258, 340, 326, 362, 363, 364, 374, 687, 689,
350, 351, 401. II. 434, 449. III. 56, 737, 738.
799
Angelis, Felipe De (cardeal). I. 481. II. Audisio, Guilherme (cônego). I. 269. II. 203.
337, 339, 429. Audisio, Roberto (casa). I. 389, 393, 394,
Anglesio, Luís. III. 289. 609. II. 593.
Aniceto (santo). II. 161. Auffray, Agostinho. I. 42. II. 212.
Anjos, A. III. 67. Avellaneda, Nicolau. III. 96, 120.
Antonelli, João (cardeal). II. 337, 402, 432. Averardi, Lorenzo (cardeal?). II. 216.
Antonelli, Tiago (cardeal). II. 52, 176, Aymer de la Chevalerie, Henriqueta. III. 138.
197, 280, 391, 646, 650, 652, 653,
654, 655, 658, 659, 660, 661, 662, Baccino, João Batista. II. 374. III. 77,
663, 672, 673, 675, 678, 679, 681, 101, 104, 106, 110, 111.
682, 683, 684, 685, 686, 687, 688, Bachelard, Gastão. I. 75.
689, 690, 691, 692, 694, 817. III. 32,
Baggio, S. (cardeal). III. 163.
101, 258.
Baius, Miguel. I. 319.
Antonucci, Antônio (cardeal). II. 340.
Bakunin, Miguel. III. 14, 80.
Aporti, Ferrante. II. 148, 553.
Balbo, César (conde). I. 455, 485, 486,
Appendino, F. N. (editor). I. 443, 444. 487, 488, 627. II. 670.
Arborio Mella (conde). III. 50. Ballerini, Antônio. III. 363, 375, 738.
Arduíno, Inocêncio. I. 287, 291. Ballesio (senhor). I. 420.
Arenal Llata, Rogelio. I. 50, 59, 85, 611. Ballesio, Jacinto. II. 84, 85.
Arms, Guilherme. III. 154. Balma, João Antônio (arcebispo). II. 663,
Arnaldi, João Batista (arcebispo). II. 613, 675, 691.
614, 615, 616, 617, 618. Balmaceda. III. 122.
Arnaud (listado doméstico). I. 319, 322. Balmes, Jaime Luciano. I. 270, 271.
Arnauld, Antônio. I. 320, 322, 323. Banaudi, Pedro. I. 119, 228, 231, 256, 313.
Arnauld, Madre Angélique. I. 320. Barale, Pedro (coadjutor). II. 769. III. 265.
Arpino, Maurício. II. 595. Baravalle, João. II. 576.
Arquimedes de Siracusa. II. 155. Barbaglio, Lina. III. 14.
Artiglia, Santiago. II. 48, 106, 238, 245. Barbera, G. III. 233.
Asquinio, D. Iacobini. III. 255. Barberis, Júlio. I. 19, 24, 25, 26, 27, 32,
33, 34, 45, 49, 72, 74, 86, 87, 103,
Astengo, André. II. 341, 353. 104, 107, 108, 111, 112, 242, 248,
Átila. II. 155. 251, 359, 425, 426, 427, 429, 430,
Aubert, Roger. I. 334. II. 647. III. 125. 431, 432, 433, 459, 460, 461, 464,
469, 613, 614, 620, 625. II. 57, 114,
Aubineau, León. I. 36, 37.
191, 241, 242, 243, 244, 250, 306,
Aubry, Joseph. I. 18. II. 212, 539, 779, 796. 307, 308, 488, 515, 517, 531, 534,
III. 194, 243, 757, 760, 768, 791. 535, 611, 621, 623, 638, 643, 759,
Audisio, Cipriano (coadjutor). II. 790. 771, 773, 807. III. 13, 49, 50, 55,
800
93, 97, 144, 145, 146, 150, 151, 155, Belásio, Antônio (monsenhor). I. 36.
156, 159, 160, 161, 174, 175, 180, Bellamy, Carlos. III. 44, 653.
187, 202, 226, 228, 260, 261, 262,
Bellerate, Bruno. III. 791.
263, 266, 324, 328, 329, 332, 378,
379, 380, 385, 410, 417, 421, 422, Belletrutti (conde). II. 587.
423, 424, 425, 429, 433, 444, 446, Bellezza, Maria Teresa (senhora). II. 622.
460, 461, 462, 463, 464, 466, 467, Bellia, Santiago (Tiago). I. 562. II. 46, 88,
468, 470, 471, 473, 475, 480, 481, 106, 236, 238. III. 140, 153.
483, 484, 486, 487, 488, 489, 493,
Bellingeri, Caetano. I. 534, 552.
494, 495, 496, 497, 498, 500, 501,
502, 503, 505, 506, 507, 508, 516, Bellino, Carlos. II. 566.
517, 526, 529, 530, 544, 547, 558, Bellísio, Bartolomeu. I. 555.
586, 631, 652, 660, 670, 686. Belmonte, Domingos. II. 578, 765, 768.
Bardessono dei Conti di Nigra. I. 36 Belmonte, Estêvão. III. 101,104, 106, 111,
Bardessono, Maximiliano. II. 447. III. 436, 478, 532, 611, 660, 685, 694, 695.
325, 327. Beltrami, André. III. 49, 721.
Bargetto, João Antônio. I. 414. Beltramo, Úrsula (mãe do padre Cafasso).
Baricco, Pietro. I. 392, 393, 515, 609. II. 70. I. 364.
Barnabò (cardeal). III. 150, 219. Belza, Juan E. III. 152, 153, 229, 743.
Barolo, Júlia Falletti (marquesa). I. 14, Benítez, José Francisco. III. 85, 87, 88,
102, 179, 241, 358, 366, 370, 372, 89, 90, 94, 104, 106, 107, 202.
384, 404, 419, 423, 425, 426, 427, Bento XIV. I. 283, 375b. II. 9, 410, 456.
428, 431, 434, 435, 436, 437, 439,
Bento XVI. III. 32, 33.
440, 442, 445, 446, 447, 448, 450,
451, 452, 453, 454, 456, 461, 462, Berardi, Constâncio. II. 134, 566.
465, 466, 467, 469, 470, 471, 473, Berardi, José (cardeal). II. 290, 298, 299,
476, 478, 479, 481, 520, 526, 541, 300, 307, 363, 372, 385, 386, 387,
552, 553, 554, 589, 592, 625, 626, 388, 390, 391, 402, 409, 566, 668,
627, 629. II. 54, 77, 137, 158, 246, 807. III. 291, 293, 295, 296, 298, 375.
470, 472, 478, 594, 607, 636, 638, Bérault-Bercastel, Antoine-Henri. I. 271,
643, 700, 708, 725. 272, 589, 591. II. 154.
Barone, Francisco. II. 599. Berchialla, Vicente. II. 604.
Barosso, Domingas. I. 143. Bergese, Antônio. III. 198.
Barretta (menino do Oratório). I. 532. Berizzi, Pedro. I. 371, 422, 534.
Barruel, Camille de. III. 44, 212, 231. Berruto, Mateus. I. 143.
Bartolomé, Juan José. III. 4, 9, 779. Bert, Amadeu. II. 176, 183, 184, 186,
Beauharnais, Eugênio (Virrey). I. 125. 190, 195.
Beauharnais, Hortênsia (mãe de Napoleão Bertagna, João Batista. I. 348, 350, 351,352,
III). I. 491. 353, 509. II. 361, 442. III. 327, 586,
Beauvoir, José. III. 196, 199, 200, 205. 629, 686, 689, 690, 698, 735.
Becker, Pedro. I. 334. Bertello, José. II. 88, 738.
801
Bertetti, Antônio. III. 306. Bismarck, Otto von. I. 331. II. 271, 284,
Berteu, Agustín. I. 546. 299, 692. III. 23, 27, 28, 614.
Bertinetti. III. 333. Bizzarri, José André (cardeal arcebispo).
Bertino, Pedro. II. 566. II. 334, 335, 370, 371, 386, 387, 389,
390, 408, 409. III. 258, 291, 298,
Bertino, Ricasoli (barão). II. 53, 267, 268, 299, 303, 323, 375.
273, 367, 563, 648, 654, 655, 656,
657, 658, 659, 660, 662, 664, 670. Blanch, Francisco. II. 127.
Berto, Joaquim. I. 19, 24, 25, 26, 27, 34, Blangino, José. II. 139.
72, 74, 89, 94, 95, 107, 120, 169, Bodrati (clérigo salesiano). III. 263.
230, 427, 428, 462, 463, 613, 614. Bodrato, Francisco. II. 581. III. 77, 109,
II. 57, 133, 206, 218, 227, 286, 288, 110, 144, 146, 164, 187, 380, 381,
289, 290, 291, 294, 297, 298, 299, 382, 383.
317, 372, 377, 378, 386, 391, 398,
Boggero, João. II. 261, 315, 316, 319,
645, 646, 656, 661, 672, 681, 683,
462, 473, 616.
688, 689, 691, 692, 693, 752, 753,
793. III. 57, 94, 203, 291, 303, 325, Boggero, José. II. 576.
336, 340, 354, 356, 357, 363, 364, Bogner, senhora. I. 546.
365, 373, 382, 417, 449, 484, 553, Bolívar, Simón. III. 117, 118.
582, 584, 587, 649, 681, 686.
Bólmida, Luís (Jacó Levi). I. 232.
Bérulle, Pedro de. I. 296.
Bologna, José. III. 41, 43, 45, 479.
Besucco, Francisco. I. 42,72, 98. II. 57,
Bonaparte, I. 125, 149.
78, 80, 116, 117, 140, 165, 172, 232,
590, 605. Bonaparte, Luís Napoleão. I. 497, 499,
481, 628.
Bettandier (monsenhor). II. 736.
Bonaparte, Napoleão III. I. 500.
Beza, Teodoro de. II. 188.
Boncompagni, Carlos. I. 513. II. 9, 10,
Biancardi, José. I. 300, 301, 309, 313, 610.
22, 23, 46, 50, 120, 151, 441, 553,
Bianchi, Raimundo. II. 235, 316, 378, 379, 554, 556, 557, 558, 559, 560, 563,
387, 388, 390, 454, 530, 549, 550, 809. 565, 572, 573, 605, 797, 813.
Bianco di Barbania, Carlos (barão). I. 548, Bonetti, João. I. 5, 18, 19, 21, 22, 23, 24,
569. II. 220, 587. 27, 30, 31, 40, 44, 52, 65, 66, 72, 73,
Bianco, Enzo. II. 779. 76, 77, 83, 94, 95, 96, 98, 99, 102,
Bianco, Juva (senhora). I. 570. II. 221. 109, 111, 120, 121, 144, 205, 278,
Bíbulo, Públio. II. 255. 416, 417, 440, 450, 462, 516, 525,
532, 552, 555, 598, 609, 613, 614. II.
Biginelli, Luís. I. 36.
5, 48, 57, 65, 82, 107, 108, 109, 110,
Biglione, Jacinto Alberto. I. 140, 141, 113, 114, 115, 132, 135, 138, 167,
143, 144, 145, 146, 147, 148, 150, 176, 191, 236, 240, 246, 247, 248,
154, 155, 156, 173, 205, 206. 249, 249, 250, 252, 253, 254, 255,
Bilio, Luís M. (cardeal). II. 298. III. 54. 259, 260, 261, 435, 508, 509, 565,
Birago de Vische, Carlos E. (marquês). 578, 584, 615, 656, 769, 793, 801.
II. 203. III. 5, 50, 57, 58, 99, 231, 232, 272,
802
300, 321, 322, 325, 327, 328, 331, Borelli, Paulo Maria. II. 374, 378.
332, 333, 334, 335, 336, 337, 338, Borgatello, Mayorino. III. 213.
339, 340, 341, 342, 343, 344, 345,
Borgatti, Francisco. II. 661, 662.
346, 347, 348, 349, 350, 351, 352,
353, 354, 356, 357, 358, 359, 360, Borgna, Francisco. III. 693.
361, 363, 364, 365, 366, 367, 371, Borgna, Joana. III. 111.
372, 373, 374, 375, 382, 419, 420, Borino, João B. I. 54, 452.
423, 430, 436, 437, 473, 521, 522,
Boroli, Paulo. II. 32, 274, 684, 794.
523, 524, 527, 532, 534, 535, 538,
539, 541, 544, 556, 577, 580, 582, Borrego, Jesus. I. 33. III. 102, 152, 157,
607, 609, 611, 612, 616, 620, 621, 161, 174, 175, 181, 182, 183, 185,
631, 659, 660, 671, 675, 681, 684, 225, 226, 228, 229, 744, 770, 792.
685, 686, 687, 697, 707, 739, 770. Borromeu, Carlos (São). I. 342, 376. II.
Bonfanti, G. II. 269. 163, 435. III. 282, 283, 289, 290,
369.
Bongioanni, José. II. 103.
Borsarelli (baronesa). I. 546.
Bongioanni, Marco. III. 233, 770.
Borsarelli [di Rifreddo], Carlos Antônio.
Bongiovanni, Carlos. I. 513. I. 446, 447, 547, 568, 256. II. 209,
Bongiovanni, Domingos. III. 687, 690, 691. 219.
Bongiovanni, José. II. 108, 109, 110, 111, Bosco (família). I. 143.
112, 165, 167, 259, 261, 604, 631. Bosco, Antônio José (meio-irmão). I. 156,
Bono, Claudio. II. 566. 205, 618.
Bonomelli, Jeremias. III. 25. Bosco, Cândida. I. 570. II. 221.
Bonzanino, Carlos. I. 513. II. 121, 565. Bosco, Felipe Antônio (avô). I. 141, 143, 151.
Borbonese (cavalheiro). I. 546 Bosco, Francisco (aluno). II. 106, 238, 566.
Bordoni, Antônio José. II. 147. Bosco, Francisco Luís (padre). I. 143, 144,
Borel, João. I. 107, 108, 112, 119, 262, 146, 148, 156, 205, 208, 617.
267, 358, 359, 369, 372, 425, 426, Bosco, João (bisavô). I. 143.
430, 435, 436, 438, 439, 440, 441, Bosco, João Francisco (tio-avô) I. 143.
442, 443, 444, 445, 446, 447, 448, Bosco, José Luís (irmão). I. 156, 173, 208,
449, 450, 451, 453, 456, 457, 458, 618.
459, 460, 461, 462, 463, 464, 465, Bosco, Lúcia Teresa (filha de José). I. 209.
466, 467, 468, 469, 470, 471, 472,
Bosco, Margarida Cagliero (primeira es-
473, 474, 476, 477, 479, 505, 506,
posa do pai de Dom Bosco). I. 144,
507, 516, 519, 520, 523, 524, 526,
156, 173, 205.
532, 539, 540, 541, 542, 546, 547,
548, 550, 553, 568, 571, 573, 581, Bosco, Margarida Zucca (avó). I. 143,
610, 621, 626, 627, 629, 630 (Bor- 144, 146, 148, 156, 161, 173, 175,
relli 119, 546, ou Borelli 267, 442, 188, 199, 203.
459, 539, 541, 542, como Dom Bosco Bosco, Paulo (irmão do avô). I. 143.
o chama). II. 88, 209, 219, 235, 245, Bosco, Teresa Maria (tia-avó). I. 144,
246, 348, 453, 472, 638. 156, 205.
803
804
Cáffaro-Rore, Mário. II. 130, 471. Calosso, João Melquior. I. 76, 81, 119, 177,
Cagliero, João. I. 22, 31, 53, 65, 69, 77, 178, 192, 195, 196, 197, 198, 199, 201,
151, 170, 180, 182, 242, 253, 254, 202, 211, 212, 311, 313, 317, 404, 618.
511, 520, 534, 620. II. 48, 49, 57, Calosso, José. I. 119.
67, 84, 102, 104, 106, 107, 109, 119, Calosso, Maria. I. 178, 209.
133, 137, 139, 232, 233, 238, 245, Calvino, João. II. 188.
246, 258, 259, 260, 261, 348, 364,
Camburzano di, Vitório (conde). I. 569.
374, 603, 616, 620, 631, 634, 704,
II. 209.
715, 716, 728, 734, 742, 761. III. 60,
61, 67, 79, 99, 100, 104, 106, 107, Camilo de Lelis (são). II. 176.
109, 110, 111, 112, 120, 140, 155, Campagna (cooperador, banqueiro). I.
158, 166, 173, 175, 180, 181, 183, 569. II. 219.
188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, Campana, Federico. II. 578.
198, 203, 204, 206, 228, 236, 237, Campi, José. II. 704.
238, 300, 304, 311, 361, 379, 380, Campora (frei). I. 176.
419, 423, 433, 435, 436, 462, 463,
Canals Pujol, Juan. I. 277, 611. II. 90, 107,
468, 471, 472, 473, 475, 487, 555,
118, 119, 120, 121, 122, 123, 124,
521, 522, 526, 527, 528, 529, 531,
125, 126, 128, 129, 130, 131, 164,
537, 538, 577, 578, 579, 584, 585,
485, 493.
591, 608, 609, 610, 612, 613, 616,
Cañas Pinochet, A. III. 175.
617, 622, 623, 629, 631, 645, 649,
652, 653, 655, 657, 660, 662, 669, Candela, Antônio. II. 791.
670, 686, 690, 698, 707, 719, 724, Candelo, Antônio (Segundo). I. 234. II. 566.
725, 726, 728, 729, 730, 744. Canonica (escultor). III. 238.
Cagliero, José. II. 528. Canova, Antônio. II. 157.
Cagliero, Margarida. I. 144, 156, 173, 205. Canton, Carlos. II. 664, 665, 666.
Cairoli, Benito. III. 11, 13, 14, 15, 21, 26. Cappa Della Valle, Maria. III. 692.
Calabiana, Luís Nazari di. I. 335. II. 19, Cappellaro, Felipe. III. 40.
27, 48, 577, 578, 580, 797. Carbajal, Lino. III. 175.
Calcufurá, João. III. 184, 235. Carbajal, Luís. III. 165, 166, 743.
Calderón, C. III. 68. Carcani, Aquiles. III. 349.
Callagan, Lou William J. III. 36. Cardiel. III. 153.
Callori di Vignale, Carlota (condessa). II. Carlos (jovem ressuscitado). II. 132.
563, 578, 595. Carlos Alberto de Saboia. I. 107, 134, 158,
Callori di Vignale, Frederico (conde). II. 587. 159, 159, 203, 218, 348, 361, 389,
Calmet, Agostinho. I. 270. 393, 398, 399, 422, 458, 476, 485,
485, 487, 488, 490, 492, 493, 494,
Calógero, Gusmão. II. 737.
495, 496, 497, 498, 504, 522, 527,
Calosso, Carlos Vicente. I. 211. 528, 529, 542, 607, 624, 627, 628. II.
Calosso, Francisco. I. 291. 10, 11, 12, 17, 22, 29, 39, 40, 41, 44,
805
46, 114, 132, 157, 175, 180, 185, 203, Cassini, Valentim. III. 100, 578, 664.
553, 554, 813. III. 12. Cassulo, Ângela. III. 110.
Carlos Emanuel I (duque). I. 158, 378, Castellani, Armando. I. 536, 549, 609.
398, 399.
Castellano, Luís. II. 134.
Carlos Emanuel IV. I. 125, 131, 399.
Castellano, Vicente. II. 566.
Carlos Félix. I. 116, 134, 158, 159, 203, Cataldi (barão). II. 587.
218, 219, 223, 224, 236, 285, 384,
Cataldi, José (marquês). II. 585, 586.
398, 399, 453, 513, 619. II. 10, 552,
575, 813. Cataldi, Luísa (baronesa). II. 587.
Carlos Magno. I. 83, 396. II. 155. Caterini, Próspero (cardeal). II. 369, 389.
III. 343, 344, 351, 375.
Carlos Maria Isidro (Carlos V). II. 292,
294, 295, 299, 300, 305, 306, 307, 807. Cattaneo, Carlos Ambrósio. II. 147.
Carlos VII. II. 300, 306. Cattaneo, Carlos. II. 31.
Carmagnola, José. I. 184. Cavaglià, Estêvão (aluno do Oratório).
II. 134.
Carminati, A. II. 480, 481, 486.
Cavaglià, Piera. I. 40, 43, 611. II. 697, 698.
Cárpano, Jacinto. I. 370, 423, 449, 472,
520, 523, 524, 526, 532, 533, 543, Cavallo (senhora). I. 546.
546, 547, 548, 550, 551, 552, 568, Cavallo, Bernardo. I. 150.
569, 629. II. 220. Cavallo, Miguel. I. 231.
Carpignano, Félix. II. 435. III. 320. Cavanis, Antônio Ângelo. II. 324, 331,
Cartier, Luís. I. 38, 42. 382, 458, 459.
Casalegno, Bernardo (jovem do Oratório). Cavanis, Marco Antônio. II. 324, 331,
II. 137. 382, 459.
Casalis, Godofredo. I. 340, 348, 449, Caviglia, Alberto. I. 18, 277, 279, 588,
533, 551 552 609. 594. II. 85, 103, 106, 108, 109, 119,
Casas, Bartolomé de las. III. 128. 121, 125, 127, 128, 129, 153, 160,
164, 165, 166, 600, 601, 744, 745,
Casas, José. III. 772.
749, 793, 795. III. 158,164, 641,
Casati, Gabriel. II. 22, 23, 51, 66, 71, 714, 762.
151, 554, 558, 559, 560, 561, 562,
Cavour, Camilo Benso (conde e ministro).
563, 565, 567, 572, 573, 574, 575,
579, 580, 584, 586, 797, 813. I. 386, 446, 455, 458, 459, 461, 462,
487, 492, 494, 500, 504. II. 9, 12, 13,
Casazza-Riccardi, Julieta (condessa). I. 14, 15, 16, 17, 19, 20, 21, 22, 27, 28,
570. II. 221.
29, 30, 31, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39,
Caselle, Segundo. I. 143, 147, 148, 155, 40, 41, 42, 43, 45, 47, 48, 49, 50, 51,
224, 225, 227, 230, 231, 232, 234, 243, 52, 53, 159, 176, 203, 238, 250, 265,
257, 259, 300, 301, 303, 313, 609. 266, 267,268, 277, 559, 560, 575,
Caselli, Luís. II. 628. 605, 645, 647, 648, 667, 694, 797,
Casimiro (cacique). III. 154. 798. III. 12, 16, 39.
806
Cavour, Gustavo Benso (marquês e pai). I. Cerruti, Francisco. I. 22, 58, 72, 534. II.
524, 546. II. 17, 39, 203, 694. 57, 149, 259, 261, 566, 568, 578,
Cavour, Miguel Benso (marquês e vigá- 583, 584, 738. III. 70, 380, 381, 384,
rio). I. 392, 456, 457, 462, 474, 476, 389, 420, 434, 435, 436, 479, 531,
480, 485, 491, 542, 543, 565, 627. II. 557, 560, 581, 598, 612, 613, 652,
39, 399. 660, 662, 663, 686, 721, 773.
Cays, Carlos (conde). I. 569, 584. II. 24, Cerruti, João Batista (bispo). II. 369.
104, 105, 135, 219, 587. III. 40, 336, Cesari, Antônio (oratoriano). II. 158, 160.
380, 670.
Cessac, Parisina (condessa). I. 91. III. 44.
Ceccarelli, Pedro B. III. 84, 85, 86, 87,
Chantal, Joana Francisca. I. 91, 300,
88, 89, 90, 92, 94, 97, 99, 100, 104,
309, 378.
106, 107, 108, 178, 202, 203, 463.
Celman, Miguel Juarez. III. 120. Chávez, Pascual. I. 8, 10, 59. II. 628.
Ceppellini, Vicente. II. 274, 794. Chiacchio Bruno, Jerônimo. III. 755,
762, 774.
Ceretti, João Domingos (bispo). II. 204.
Chiala [Chiale], César. II. 616, 754, 755,
Ceria, Eugênio. I. 5, 6, 18, 21, 28, 32, 38,
765. III. 165, 228, 514, 745.
48, 49, 52, 55, 56, 59, 67, 68, 70, 71,
74, 75, 78, 79, 80, 82, 83, 83, 88, 89, Chiapale, Luís. II. 259, 261, 249. III.
90, 91, 92, 95, 193, 227, 242, 247, 284, 292, 293.
271, 301, 440, 448, 536, 585, 610, Chiaramonte, Luís Barnabé (Pio VII). I. 132.
614, 615. II. 5, 6, 28, 71, 81, 82, 86, Chiardi, José. I. 147.
87, 101, 122, 164, 166, 169, 212,
Chiatellino, Miguel Ângelo. I. 548, 569.
298, 341, 362, 364, 514, 515, 581,
592, 763, 766. III. 5, 6, 13, 44, 46, II. 220.
54, 56, 57, 58, 92, 155, 156, 157, Chiaveroti [Chiaverotti, Chiavaroti], Gas-
158, 159, 160, 161, 162, 164, 165, par Carlos João Columbano (arcebis-
166, 179, 181, 183, 184, 187, 188, po). I. 195, 159, 260, 264, 276, 280,
189, 190, 191, 192, 193, 194, 210, 281, 283, 284, 285, 288, 290, 300,
213, 220, 213, 222, 223, 224, 225, 337, 340, 365, 621.
226, 232, 240, 251, 252, 263, 264, Chiaverotti, Jacinto. III. 313, 314, 316,
280, 299, 304, 307, 310, 311, 312, 337, 373, 640.
314, 321, 322, 325, 329, 332, 333,
Chiaves (doutor). I. 548, 570. II. 220.
334, 335, 336, 337, 338, 339, 341,
345, 346, 347, 348, 349, 350, 352, Chicco, Ludovico. I. 353.
353, 356, 359, 360, 361, 363, 382, Chierotti, Luigi. II. 320.
406, 422, 423, 428, 429, 430, 437, Chiocchetta, P. III. 159.
441, 442, 443, 447, 469, 470, 479,
Chiodo, Jorge. I. 469.
480, 490, 504, 506, 542, 549, 559,
572, 592, 595, 596, 598, 626, 646, Chiosso, Giorgio. I. 382, 386, 387, 388, 611.
652, 654, 659, 677, 678, 680, 681, Chiuso, Luís (jovem do Oratório). II. 566.
692, 693, 756, 762, 733, 779. Chiuso, Tomás (cônego). I. 444. II. 28,
Cerrato, Natale. I. 154, 155, 234, 393, 374, 434, 451. III. 256, 257, 258,
445, 446, 610. II. 198. 285, 287, 288, 300, 343, 361, 373,
807
690, 703, 704, 730, 731, 732, 733, Colomiatti, Luís. III. 693.
737, 739. Colomiatti, Manoel. I. 20. II. 434. III.
Chopitea, Doroteia. III. 56, 58, 535, 641. 341, 344, 345, 346, 347, 348, 349,
Ciattino. João. II. 213, 260. 350, 352, 353, 356, 357, 358, 359,
360, 361, 365, 367, 372, 373, 683,
Cibrario, Luís (conde). I. 25. II. 558, 813. 685, 690, 697, 698, 701, 702, 703,
III. 380. 704, 719, 723, 724, 730, 731, 732,
Cibrario, Nicolau Antônio (jovem do 737, 739.
Oratório). II. 566, 581. Colón, Cristóvão. III. 37, 774, 791.
Cima, Vicente. I. 225, 227. Combal, Pedro M. I. 37.
Cinzano, Pedro Antônio. I. 180, 210, Combes, Emile. III. 36.
244, 246, 256, 257, 260, 261, 264, Comboni, Daniel (bispo). III. 139, 140,
291, 293, 295, 302, 303, 314, 315, 141, 142, 150, 156, 159, 160, 168.
317, 358, 403, 425. II. 238.
Comollo, José (tio de Luís). I. 235, 244,
Cionchi, Henrique (menino de 5 anos). 248, 256, 259, 291, 358, 425.
II. 614, 615. Comollo, Luís. I. 72, 229, 233, 234, 235,
Clarac, Maria Luísa Angélica. II. 358, 447, 243, 244, 246, 247, 259, 262, 263, 265,
448, 449, 699, 700, 701, 810, 817. 266, 267, 273, 274, 275, 276, 277, 278,
Clarendon (lorde). II. 32. 279, 285, 290, 291, 292, 293, 294, 295,
296, 297, 298, 299, 300, 302, 470, 566,
Clément, Adèle. I. 78.
585, 586, 587, 603, 611, 619, 621, 630.
Clemente IX. I. 322. II. 80, 107, 116, 117, 126, 142, 147,
Clemente VII. I. 328. 148, 165. III. 512.
Clemente VIII. II. 380, 382, 384, 390, Comotti, José. I. 409, 412.
409, 410. Comte, Augusto. III. 127.
Clemente XIII. I. 331, 336. Conestabile, Carlos (conde). I. 36. II.
Clemente XIV. I. 300, 335, 336. 114, 115.
Coan, Titus. III. 154. Conrado II. I. 397.
Cocchi, João. I. 371, 381, 382, 385, 395, Consalvi, Hércules (cardeal). I. 132, 280.
420, 421, 422, 423, 424, 455, 507, Conti, Evaristo (jovem do Oratório). II. 566.
515, 525, 526, 533, 534, 545, 549, Contratto (bispo). II. 714, 722.
550, 551, 553, 554, 556, 558, 561, Coppino, Miguel. III. 25.
564, 567, 625, 628. II. 59, 595.
Corio (maestro). II. 63.
Colbachini, P. III. 163. Corno, José Bernardo (cônego). II. 681.
Colin, João Cláudio Maria. II. 459. III. 344, 373, 687, 690, 732.
Colle, Luís (conde). I. 160. Correnti, César (ministro). II. 444, 563, 813.
Colle, Luís. I. 40. Corsi, Gabriela (condessa). II. 221, 670,
Collin de Plancy, Jacques-Albin (barão). 671, 816.
II. 29. Costa, André. II. 697, 698, 772. III. 21, 735.
808
809
Despard, Jorge Packenham. III. 154. Du Boÿs, Alberto. I. 20, 37, 39, 40, 41,
Desramaut, Francisco. I. 5, 8, 18, 42, 42, 43, 52, 153, 611, 614.
45, 50, 56, 59, 61, 65, 67, 68, 69, Duchesne, Luís. I. 78.
71, 73, 75, 84, 87, 90, 92, 94, 100, Duggan, Christopher. II. 269, 648, 794.
109, 154, 155, 163, 189, 193, 197, III. 13, 19, 22, 743.
268, 270, 291, 308, 585, 588, 590, Duina, Antônio (jovem do Oratório). II.
591, 592, 594, 598, 610, 611. II. 5, 167.
27, 28, 29, 117, 157, 160, 162, 163,
Dupanloup (amigo da marquesa Barolo).
198, 206, 211, 222, 227, 228, 229,
I. 455.
237, 246, 258, 299, 337, 348, 349,
377, 485, 489, 536, 537, 615, 616, Dupanloup (bispo) I. 40.
645, 647, 650, 652, 658, 659, 660, Dupré, José (comandante). II. 219.
669, 670, 677, 681, 694, 697, 700, Durando, Antônio Maria. II. 354.
707, 709, 710, 711, 734, 794, 795, Durando, Celestino. II. 107, 108, 109,
804. III. 5, 40, 81, 82, 84, 89, 92, 259, 261, 303, 308, 566, 662. III.
150, 192, 280, 283, 284, 285, 297, 44, 72, 260, 272, 380, 383, 384, 419,
326, 328, 331, 335, 340, 341, 342, 423, 434, 436, 446, 472, 522, 527,
344, 346, 348, 350, 354, 359, 362, 530, 536, 537, 541, 542, 544, 547,
364, 369, 478, 479, 480, 499, 548, 579, 602, 627, 628, 629, 651, 660,
586, 587, 649, 653, 678, 743, 744, 663, 721.
775, 793.
Durando, Marco Antônio [Marcantonio].
Destefanis, João Batista. I. 350, 548, 569. II. 319, 320, 338, 341, 343, 435, 448,
II. 220. 486, 807, 808.
Dettori, João. I. 286.
Diamond, Patrício. III. 196. Echave, N. III. 62.
Diego (marquês da Casa Ulloa). III. 59, 60. Engels, Friedrich. III. 20.
Diessbach, Nikolaus von. I. 336, 337, Enria, Pedro. II. 24, 26, 27, 60, 94, 677, 712.
338, 339. Entraigas, R. A. III. 82, 83, 84, 92, 165,
Dionisi, Aníbal. II. 162, 607. 743, 775.
Dogliani, José. III. 58. Errázuris, Frederico. III. 121.
Dolan, J. I. 334. Escalada, Mariano José de. (arcebispo).
Dominici, Maria Henriqueta. I. 423. II. III. 82, 84.
698, 700, 707, 708, 709, 727, 817. Espinosa, Mariano Antônio (monse-
Doré, Pedro. II. 607. nhor). III. 84, 85, 89, 90, 92, 93,
Doria (marquês). II. 724, 730. 104, 108, 184, 205.
Doubet. I. 334. Estêvão, Fábio. III. 373.
Doutreloux, Vítor José (bispo). III. 66, 578.
Faà di Bruno, Alexandre. II. 198.
Drago, A. del (cardeal). II. 216.
Faà di Bruno, Francisco (beato). II. 198,
Dreyfus, Alfredo. III. 36.
199, 200, 358, 436, 446, 447, 449,
Druart, A. III. 66. 450, 451, 803, 810.
810
Fagnano, José. II. 581. III. 77, 100,104, Ferrero (tipografia). I. 183, 277, 470, 588,
106, 107, 110, 120, 154, 155, 157, 591, 594, 596. II. 183, 505.
169, 181, 185, 186, 187, 190, 191, Ferrero La Marmora, Afonso. II. 268.
192, 193, 194, 195, 196, 197, 198,
Ferrero Rua, Joana Maria. I. 183, 184,
199, 200, 206, 214, 221, 664.
186. III. 667.
Falkner, T. III. 153.
Ferrero, Antônio. III. 197.
Farini, Luís Carlos (ministro). II. 268, 648.
Ferretti, G. III. 47.
Fassati, Domingos (marquês) De Maistre.
Ferrettino, Joana. II. 713.
I. 548, 569. II. 24, 219, 628.
Ferrieri, Inocêncio (cardeal). III. 55, 57,
Fassati, Maria (marquesa) De Maistre. I.
299, 304, 313, 314, 315, 316, 317,
548. II. 221.
318, 319, 323, 325, 329, 330, 331,
Fassio, Gabriel. II. 130. 336, 338, 339, 340, 349, 353, 356,
Faure, H. III. 41. 358, 367, 375, 398, 408, 431, 478,
Favale, A. III. 136, 143, 744. 480, 654, 656.
Favini, Guido. I. 50. II. 212,779. Ferry, Júlio (ministro francês). II. 211. III. 45.
Favre (chanceler francês). II. 284. Fessler, Joseph. II. 281, 806.
Febraro, Estêvão. III. 522, 524, 527. Filiberto, Manuel (duque). I. 364, 398.
Febbraro, João Agostinho. I. 152, 302. Filippello, Doroteia. I. 190.
Febbraro, José. I. 178, 205, 209, 216. Filippello, João. I. 224.
Febbraro, Maria (Maria Calosso, esposa Filippi (irmãos). I. 107, 108, 441, 448,
de José Bosco). I. 209. 456, 458, 459, 461, 463, 471, 512,
Febbraro, Rosa. I. 216. 541, 543, 626. II. 56, 101, 593, 622.
Febrônio, Justino (pseudônimo de Johann Fino, João. I. 545. II. 219.
Nikolaus von Hontheim, bispo). I. 330. Fiora, Luís. II. 449.
Felipe V (Filipe V). I. 131. Fioramonti, Domingos. III. 241.
Felloni, Cláudio. I. 389, 390, 391, 392. Fissore, Celestino (arcebispo). II. 318, 319,
Fernando I (de Nápoles). I. 130, 134, 320, 576, 673, 675, 693. III. 280, 287,
157, 158, 203. 288, 289, 295, 296, 321, 354, 356, 375.
Fernando I (imperador austríaco.) II. 22. Fissore, José. III. 544, 553, 599, 602, 608,
Fernando III (de Habsburgo). I. 130. 613, 620, 687, 694.
Fernando Maria Alberto (duque de Gêno- Fitzroy, F. III. 153.
va). II. 17, 24, 25, 27, 48, 133. Flávio, Josefo. I. 270, 594.
Fernando VII da Espanha. I. 157. II. 305. Fleury Colle, Luís Antônio (pai e conde
Ferrari, José. II. 31. Colle). III. 44, 212, 556.
Ferrario. III. 161. Fleury Colle, Luís Antônio. III. 44, 212,
Ferrata (cardeal). II. 735. 756, 764.
Ferré, Pedro Maria (bispo). I. 419, 479. II. Fleury, Claude. I. 270, 271, 272, 589.
233, 349, 368, 369, 477, 752. Foá, Elias. I. 231, 232.
Ferrer, Vicente. II. 202. Fonseca, Manuel Deodoro da. III. 123.
811
Fontana, Carlos. II. 790. 318, 319, 320, 321, 336, 341, 343,
Forbin-Janson, Carlos de (bispo). III. 140. 350, 351, 353, 400, 401, 416, 421,
427, 432, 434, 435, 465, 470, 476,
Fornara, Antônio (jovem do Oratório).
522, 553, 575, 576, 645, 650, 797,
II. 567.
807. III. 240, 241, 257, 264, 287,
Fornasio, Luís. II. 137. 292, 386, 408, 667.
Fossati, Maria (marquesa). I. 570. Frassinetti, José. II. 191, 193, 194, 632, 701,
Fossati, Maurílio (cardeal). II. 449. 702, 704, 719, 720, 722, 818. III. 250.
Francesconi, M. III. 163. Fratejacci, João Batista (monsenhor). III.
Francésia, João Batista. I. 22, 65, 72, 145, 299, 374.
275, 276, 309, 511, 533. II. 49, 81, Frayssinous, Denys. I. 270, 271.
87, 106, 109, 114, 125, 191, 232, 233, Frederico Guilherme. III. 24.
238, 246, 259, 261, 338, 560, 565, Freire, Ramón. III. 121.
566, 568, 584, 596, 604, 658, 659,
Frescarolo, Francisco. II. 790.
660, 661, 662, 670, 725. III. 82, 163,
380, 381, 382, 383, 418, 447, 527, Fuchs, João. III. 233.
528, 529, 530, 531, 540, 541, 542, Furlong Cardiff, G. III. 153.
617, 662, 677, 686, 721, 727. Fynn. III. 109.
Franchi, Alexandre. III. 31, 95, 102, 157, 158,
160, 161, 166, 179, 181, 188, 219, 332. Gabrielli (príncipe). III. 53, 490.
Francisco I. I. 312, 397. Gaeti. II. 674.
Francisco II de Bourbon. II. 36, 37. Gagliardi, José. II. 219.
Francisco IV. I. 130, 217. Gaia, José. II. 241, 261, 749, 757.
Francisco José I. II. 288, 289, 299, 277, Galeffi, Maria Madalena. II. 656. III. 55.
287, 778, 806. Galletti, Eugênio (bispo). I. 350, 351,
Francisco José II. II. 49, 305. 548, 570. II. 209, 220. III. 286.
Franco, Segundo S. J. II. 191. Gallizia, Pedro Jacinto. I. 309.
Franco. I. 194. Galluppi, Pascoal. I. 268.
Franqueville (marquês). III. 44. Galvagno. II. 517.
Fransoni, Luís (arcebispo). I. 14, 58, 81, Gamba, José (cardeal). III. 110, 682, 711.
103, 107, 230, 259, 260, 281, 283, Gambetta, Leão. III. 45.
287, 288, 290, 299, 300, 301, 304, Garando, João Batista. II. 66.
310, 340, 349, 358, 363, 366, 370,
Gardiner, Allen. III. 154.
372, 401, 425, 436, 458, 481, 482,
517, 518, 519, 527, 528, 529, 530, Garelli, Bartolomeu. I. 102, 117, 346,
531, 532, 542, 544, 549, 550, 551, 357, 407, 408, 409, 411, 412, 414,
563, 567, 575, 576, 577, 578, 580, 416, 417, 479, 510, 511, 538, 625.
582, 621, 629, 630. II. 13, 14, 46, 47, Garelli, Francisca. II. 709.
50, 54, 189, 190, 203, 204, 210, 213, Garga, Pedro (vigário-geral). II. 663.
217, 223, 224, 225, 227, 229, 231, Garibaldi, José. I. 136, 362, 499, 500,
232, 237, 240,244, 252, 315, 316, 502, 534. II. 17, 30, 31, 32, 33, 34,
812
36, 37, 41, 43, 44, 45, 51, 52, 134, 372, 373, 374, 375, 387, 396, 398,
265, 269, 270, 271, 272, 273, 274, 408, 417, 423, 429, 431, 459, 461,
311, 613, 648, 664, 797, 798, 805. 480, 482, 544, 550, 671, 685, 688,
III. 14, 16, 21, 80. 689, 690, 691, 696, 697, 702, 703,
Garigliano, Guilherme. I. 229, 262, 704, 706, 707, 724, 725, 730, 732,
263, 274. 733, 734, 735, 736, 737, 738, 739,
740, 743, 744, 797.
Garino, João. I. 72. II. 134, 138.
Gastaldi, Margarida. I. 105, 180, 530,
Gastaldi, Bartolomeu. II. 421. 548, 570. II. 88, 209, 221, 426.
Gastaldi, Lourenço (arcebispo). I. 28, 31, Gastaldi, Pedro. I. 339.
46, 90, 91, 105, 258, 283, 284, 303,
334, 335, 339, 340, 345, 350, 351, Gastini, Carlos. I. 562. II. 46, 236.
352, 353, 354, 355, 401, 432, 442, Gastão d’Orleans (conde d’Eu). III. 123.
450, 548, 550, 570, 611, 623. II. 8, Gaude, Francisco (cardeal). II. 253, 254,
88, 191, 209, 220, 223, 224, 233, 255, 401.
234, 235, 275, 310, 338, 339, 340, Gaudenzi, Pedro José (bispo). II. 197,
344, 346, 347, 351, 352, 358, 359, 369, 376, 671, 675. III. 285, 334,
360, 361, 362, 363, 364, 365, 366, 341.
367, 368, 369, 370, 371, 372, 373, Gávio, Camilo (jovem do Oratório). II.
374, 375, 376, 377, 378, 380, 386, 125, 130.
387, 388, 389, 390, 391, 392, 393, Gazzanica, Francisco Pedro. I. 301.
394, 395, 396, 398, 410, 413, 415,
Gazzelli, Estanislau (cônego). II. 674.
420, 421, 422, 423, 424, 425, 426,
427, 428, 429, 430, 431, 432, 433, Gazzolo, João Batista. I. 430. III. 77, 81,
434, 435, 436, 437, 438, 439, 440, 82, 83, 84, 85, 86, 87, 89, 90, 91,
441, 442, 443, 444, 445, 446, 447, 92, 95, 96, 99, 101, 102, 151, 202,
448, 449, 450, 451, 486, 589, 594, 226, 780.
597, 598, 599, 623, 636, 641, 661, Gedda, Teresa. III. 111.
662, 674, 675, 676, 678, 679, 681, Genghini, Clelia. II. 704.
683, 687, 688, 690, 691, 692, 693, Gentile. II. 22, 560.
711, 728, 744, 795, 808, 809, 810. Germani. II. 106.
III. 7, 8, 50, 51, 52, 57, 95, 102, 255,
Germano, João. II. 238.
258, 260, 262, 280, 281, 282, 283,
284, 285, 286, 287, 288, 289, 291, Germano, Proverbio. II. 393.
292, 293, 294, 295, 296, 297, 298, Gerola, Lourenço, SJ. II. 191.
299, 300, 301, 302, 303, 304, 305, Geuna, Jorge (jovem do Oratório). II. 567.
306, 307, 308, 309, 310, 311, 312, Geymonat, Paulo. II. 176.
315, 316, 317, 318, 319, 320, 321,
Gherardesca, Ugolino della (conde). II. 155.
322, 323, 324, 325, 326, 327, 328,
329, 330, 331, 332, 333, 335, 336, Ghilardi, Tomás (bispo). II. 151, 203.
337, 338, 341, 342, 343, 344, 345, Ghivarello, Carlos. I. 22, 23, 25, 65. II.
346, 348, 349, 351, 352, 353, 354, 259, 260, 261, 567. III. 380, 423.
355, 356, 357, 358, 360, 361, 362, Giacomelli, João Francisco. I. 309, 546.
363, 364, 365, 366, 367, 368, 370, II. 144.
813
Giacomelli, João. I. 263, 269, 274, 309, Gregório, Miguel. III. 712.
447, 548, 568, 570. II. 220, 612. Gregório VII. I. 329. II. 154, 155.
Gianinati. II. 238. Gregório XI. I. 328.
Giannatelli, R. II. 697. Gregório XIII. I. 319. III. 167.
Gianotti, João Antônio (arcebispo). I. Gregório XVI. I. 217, 272, 330, 337, 342,
230. II. 427. 361, 374, 375, 376, 489, 590, 624.
Giardino, André. II. 66. II. 10, 159, 182, 313, 330, 331, 382,
Gino, Carlos José. I. 184. 458, 459. III. 34, 137, 138.
Gioberti, Vicente. I. 269, 343, 363, 485, Grévy, Júlio (ministro). II. 211. III. 45.
486, 487, 488, 627. II. 422, 719. Gribaudi, D. III. 162.
Gioia, Vicente. II. 765. III. 101, 102, 103. Grignon Monfort de, Luís Maria. II. 605.
Giolitti, João. III. 11. Grossi, I. 346.
Giraudi, Fidel. I. 435, 459, 462, 464, Guala, João José (padre). I. 337.
469, 511, 512, 513, 610. II. 593, 789. Guala, João. I. 257.
Giraudo, Aldo. I. 4, 8, 9, 94, 95, 267, 268, Guala, Luís. I. 286, 317, 318, 333, 334,
269, 277, 285, 288, 289, 290, 300, 337, 338, 339, 340, 341, 342, 343,
301, 302, 309, 313, 342, 365, 372, 344, 345, 346, 347, 348, 349, 351,
401, 443, 445, 576, 610. II. 4, 295. 356, 357, 358, 366, 367, 368, 419,
425, 444, 446, 455, 466, 471, 473,
Giusiana, Jacinto. I. 227, 312. 539, 612, 623. II. 457, 477, 719.
Giustina, G. A. I. 382. Guanella, Luís. III. 48, 258, 294, 295, 374.
Giustiniani, Santiago (cardeal). I. 374. Guanti, Joaquim. II. 106, 238.
Gizzi, Pascual (cardeal) I. 489, 501. Guarini, Guarino. I. 398.
Gobinet, Charles. I. 593. Guéronnière, Louis-Étienne de la. II. 33, 35.
Goffi, Domingos. II. 61. Guibert, José Hipólito (cardeal). III. 43.
Gólzio, Félix. I. 351, 353, 368. Guidazio, Pedro. II. 515, 581.
Gonella, Marcos. I. 76, 448, 543, 569. Guilherme I. I. 129. II. 276, 283, 284,
II. 219. 294, 298, 299, 305. III. 23.
Guinnard, Augusto. III. 161.
González, Jesús Graciliano. I. 4, 8, 10, 12,
18, 37, 39, 193, 612. II. 4, 212, 241, Guiol, Clement (abade). II. 211. III. 41,
42, 45, 498.
259, 260, 261, 795. III. 4, 9, 67, 415,
672, 679, 681, 793, 794. Gurgo, Segundo (jovem do Oratório).
II. 133.
González, Tirso. I. 272.
Gyulai, Ferencz (general) II. 34.
Gotti (cardeal). II. 735.
Gozzi, Gaspar. I. 272, 589. Hauranne, Jean du Vergier. I. 320, 321.
Graco (irmãos). II. 199. Hearder, Harry. I. 138.
Graglia, Francisco. I. 146, 174, 206. Henrion, Matthieu-Richard Auguste
Grassino, João. I. 546, 568, 572. II. (barão). I. 270, 272, 589. II. 154.
560, 561. Henrique VIII. II. 188.
814
815
Lastres, Francisco. I. 41. III. 69, 71, 73, 779. 540, 542, 550, 551, 552, 553, 555,
Lazzero, José. I. 72. II. 259, 261, 765, 769, 558, 560, 561, 562, 566, 578, 597,
770. III. 313, 314, 316, 317, 319, 321, 598, 610, 611, 613, 614, 620, 625. II.
373, 374, 380, 423, 436, 473, 514, 5, 6, 24, 25, 26, 58, 59, 60, 62, 63, 64,
517, 521, 522, 523, 524, 525, 526, 66, 68, 78, 81, 86, 92, 108, 125, 133,
527, 528, 529, 531, 532, 534, 599, 136, 141, 191, 233, 236, 244, 252,
622, 660, 745. 253, 254, 255, 260, 261, 280, 288,
Le Carrérès, Y. III. 41. 289, 299, 341, 343, 348, 349, 367,
429, 457, 539, 553, 559, 563, 574,
Leão XII. I. 170, 194, 195, 204, 374. II.
581, 615, 623, 629, 630, 651, 652,
330, 331, 457.
656, 657, 659, 660, 666, 670, 671,
Leão XIII. I. 90. II. 205, 308, 313, 314, 699, 716, 726, 728, 729, 794, 805. III.
444, 451, 489, 491, 634, 644, 744. III. 5, 6, 13, 56, 140, 144, 145, 146, 150,
7, 17, 23, 24, 25, 26, 31, 32, 33, 34, 35, 151, 152, 191, 193, 202, 208, 209,
36, 37, 38, 41, 50, 56, 57, 74, 77, 109, 210, 211, 212, 213, 214, 215, 217,
137, 141, 160, 162, 184, 189, 191, 219, 220, 221, 222, 225, 230, 231,
192, 204, 221, 280, 320, 322, 323, 232, 233, 270, 280, 299, 338, 356,
329, 330, 336, 337, 338, 339, 340, 433, 435, 436, 465, 466, 467, 468,
345, 346, 351, 354, 356, 357, 358, 470, 471, 472, 473, 474, 476, 477,
359, 360, 361, 364, 390, 431, 433, 490, 504, 505, 507, 518, 519, 520,
434, 445, 480, 520, 521, 552, 570,
521, 522, 525, 526, 527, 528, 529,
571, 572, 575, 645, 647, 648, 649,
530, 531, 532, 534, 535, 536, 537,
656, 659, 671, 674, 682, 733, 739.
538, 539, 542, 549, 552, 553, 558,
Leite de Vasconcellos, Sebastião. III. 67. 559, 566, 575, 582, 584, 587, 595,
Lemaître, Antônio. I. 321, 322. 627, 645, 647, 648, 650, 651, 652,
Lemoyne, João Batista. I. 5, 19, 21, 23, 24, 655, 660, 663, 686, 692, 693, 695,
25, 27, 28, 29, 30, 33, 34, 36, 43, 44, 698, 779.
45, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 55, 59, 60, Lemoyne, Luís. I. 60.
61, 62, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 72, Lenti, Arthur J. I. 4, 8, 10, 11, 299, 612,
73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 632. II. 3, 4, 106, 116, 164, 224, 286,
83, 84, 85, 87, 88, 89, 90, 91, 92, 95, 288, 421, 476, 492, 795, 821. III. 3, 4,
103, 159, 160, 163, 164, 165, 172, 8, 223, 243, 255, 260, 282, 432, 437,
173, 174, 176, 177, 181, 184, 187, 499, 503, 517, 518, 543, 545, 548, 555,
188, 189, 190, 191, 192, 193, 194, 561, 564, 582, 680, 706, 744, 779.
196, 197, 200, 205, 206, 209, 210,
223, 241, 242, 243, 244, 245, 246, Leoncini, Luís. III. 344, 348, 349, 358,
247, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 375.
254, 256, 257, 260, 265, 276, 301, Leonori, Constantino. III. 323, 330, 339,
302, 303, 306, 308, 311, 312, 313, 342, 348, 349, 351, 352, 354, 365,
314, 315, 316, 358, 359, 372, 382, 374, 402.
385, 416, 425, 427, 428, 429, 431, Leopoldo (duque da Toscana). I. 496, 504.
432, 433, 440, 451, 462, 463, 464, III. 31.
465, 505, 508, 514, 515, 532, 536, Leopoldo II. I. 332.
816
817
Marcellino, Luís. II. 107, 108, 109, 167, 259. Martin de Moussy, V. III. 175.
Marchetti, Giovanni (arcebispo). I. 270, 271. Martín, A. III. 59, 136, 744.
Marchisio, Clemente. I. 355. II. 446. Martin, George. I. 128, 487, 488, 494.
Marchisio, Jaime. I. 291. Martina, Antônio (jovem do Oratório).
Marchisio, Lúcia. I. 225, 227. II. 567.
Marchisio, Luís (jovem do Oratório). II. 137. Martina, G. I. 318. II. 647, 660, 696.
Marchisio, Santiago. I. 225, 227. Martinelli, Tomás (cardeal). II. 387, 390,
644. III. 299.
Marchisio, Segundo. I. 72, 75, 145, 191,
194. II. 238. Martinengo, Francisco. II. 191.
Marenco, João. I. 89. II. 735, 737, 738, Martinho V. I. 328.
740, 818. III. 209, 269, 422, 424, Marx, Karl. II. 424. III. 20.
429, 430, 459, 464, 465, 466, 467, Maria Ward. III. 167.
478, 480, 488, 491, 507, 508, 662,
675, 685, 695. Masera, Maria. I. 143.
Marengo, Francisco. I. 546, 548, 568, Masino (condessa). I. 546.
570. II. 220, 405, 663. Massa, Lourenço. III. 175, 176.
Margarida (rainha). III. 238. Massaglia, João. II. 125, 130, 165.
Margotti, Estêvão. III. 736. Massaia. III. 159.
Margotti, Tiago. II. 199, 203, 308, 359. Massè, Lourencinha. I. 570.
III. 327, 331, 567, 570, 736. Matera, Luís (monsenhor) III. 191.
Maria Adelaide (rainha da Áustria). II. 17,
Mathews, Ricardo. III. 154.
24, 27, 28, 133.
Matta, João Batista. I. 227, 230.
Maria Clotilde, princesa. II. 28, 32.
Matta, José. I. 198, 225.
Maria da Glória. III. 122.
Matta, Lúcia Pianta. I. 178, 225.
Maria Luísa da Áustria. I. 129, 130.
Maria Teresa (rainha-mãe da Áustria). I. 158, Matteucci, Félix (ministro). II. 568.
331, 336, 451. II. 17, 24, 27, 48, 133. Mazenod, Carlos Eugênio. III. 139.
Marietti, Pedro. II. 153, 456, 614, 617. Mazzarello Baroni, Teresa. III. 111.
Marín Sánchez, Pablo. I. 35, 611. II. 795. Mazzarello, Felicina (Felicidade). II.
Marion-Brésillac, Melquior Maria José de 703, 713.
(bispo). III. 139. Mazzarello, Maria. I. 17, 62, 67, 226. II.
Marocchi, Máximo. I. 309, 612. 8, 232, 235, 278, 358, 632, 697, 702,
Marongiu Nurra, João Manoel (arcebis- 703, 704, 707, 708, 712, 713, 716,
po). II. 650, 654. 717, 718, 719, 722, 723, 724, 725,
726, 727, 728, 729, 730, 731, 732,
Marriott, J. A. R. I. 216, 486, 487, 488, 490.
733, 741, 817, 818. III. 39, 110, 169,
Marrou, Henri I. I. 77. 279, 406, 751, 773, 792.
Marsilius de Pádua. I. 327, 328. Mazzarello, Petronila. II. 702, 706, 713,
Martano, José (jovem do Oratório). II. 567. 723, 725.
818
Mazzè, Lourencinha. II. 225. Milanésio, Domingos. II. 374. III. 65,
Mazzini, José. I. 136, 159, 217, 218, 361, 110, 186, 221, 236.
362, 484, 485, 486, 487, 491, 493, Minelli, João (jovem do Oratório). II. 567.
495, 496, 497, 499, 500, 501, 529, Minghetti, Marcos (primeiro-ministro). I.
619, 627. II. 17, 29, 30, 31, 32, 35, 485, 487. II. 268, 270, 648, 650, 684,
39, 43, 44, 45, 46, 176, 268, 269, 270, 685, 686, 687. III. 12, 13, 180.
275, 311, 422, 605, 648, 721, 797, Minguzzi, Domingos. I. 69.
805. III. 12, 13, 16, 80.
Miniasi [Menini], Fernando. I. 346.
Mazzucco, Jacinto (jovem do Oratório).
Miscio, A. III. 47.
II. 567.
Modrego (bispo de Barcelona). III. 63.
Medina, Bartolomeu. I. 325.
Moglia (os) I. 75, 177, 189, 190, 191,
Meille, João Pedro. II. 176.
192, 193, 194, 196, 204, 211.
Melano, João (cônego). I. 546.
Moglia, Ana (irmã de Luís). I. 190.
Melegari (ministro). III. 181.
Moglia, Ana Francisca Catarina (filha). I.
Mellica, José (jovem do Oratório). II. 567. 190, 191.
Menabrea, Luís Frederico (primeiro-mi- Moglia, Doroteia Fillipello (esposa). I. 75,
nistro). II. 268, 273, 275, 648, 664, 190, 192.
665, 666, 816.
Moglia, Gregório. I. 75.
Mendl, Michael. II. 101, 237. Moglia, João (tio de Luís). I. 75, 190.
Mendre, Luís. I. 36. Moglia, Jorge Lourenço Maria (filho). I.
Menelik II (imperador). III. 29. 190, 191.
Menghini, Carlos. II. 387, 388. III. Moglia, José (tio de Luís). I. 190.
298, 302, 303, 304, 320, 323, 351, Moglia, Luís Nicolau (proprietário). I. 75,
352, 354, 374. 177, 190.
Menotti, Ciro. I. 217. Moglia, Nicolau (tio de Luís). I. 190, 214.
Mercier, Désiré-Joseph. III. 33. Moglia, Teresa (irmã de Luís). I. 190.
Merla, Pedro. I. 371, 461, 513. Moia (senhorita). I. 546.
Mermillod, Gaspar. II. 307. Moigno, J. III. 231, 232.
Merode, Xavier (ministro). I. 502. Molina, Luís. I. 319, 546.
Messeguer i Costa. III. 63. Molinari, Bartolomeu. II. 765. III. 101.
Metternich, Klemens von. I. 134, 157, Molineris, Miguel. I. 143, 184, 189, 190,
158, 159, 217, 331, 332, 486, 489, 197, 260, 303, 314, 315, 317, 610. II.
491, 492, 493, 616, 627. 125, 164, 794.
Mezzofanti, José (cardeal). II. 158. Momo, José. II. 107.
Michel, Ernesto. III. 40. Mônaco La Valletta, Rafael (cardeal). III.
Michelotti, Ana. II. 446. 24, 57, 340, 375.
Michelotti, Bernardo (abade). II. 599. Monateri, José. III. 367, 383.
Midali, Mário. II. 206, 697, 718, 791, 796. Monsieur et à Madame Colle. III. 199.
819
Montalenti, Carlos José. I. 156. 377, 411, 487, 550, 642, 644, 654,
Montebruno, Francisco. II. 214, 468, 471. 659, 660,743, 758, 781, 794.
Monti, Antônio. II. 28. Mottura, José. I. 268, 287, 291.
Monti, Paolo. II. 609. Mottura, Sebastião. I. 287, 291.
Monti, Vicente. II. 158. Munerati, Dante. II. 741.
Montmasson, Rosália. III. 14. Murat, Joaquim Mariscal. I. 125.
Montt, Manuel (arcebispo). III. 121, 133. Murialdo, Ernesto. I. 534.
Moreno, Luís (bispo de Ivrea). I. 335. II. Murialdo, Leonardo (São). I. 259, 371,
47, 151, 189, 190, 194, 196, 198, 203, 421, 422, 424, 444, 520, 521, 533,
204, 205, 341, 447, 448, 450, 699, 534, 547, 548, 549, 550, 569, 609,
803, 804. III. 258, 313, 314, 373. 629. II. 70, 151, 220, 436, 445, 446.
III. 370, 686.
Moretta, João Batista. I. 437, 440, 441,
446, 471, 475, 540, 626. Murialdo, Roberto Félix. I. 371, 421, 422,
506, 526, 533, 546, 547, 548, 550,
Morglia, Henrique. II. 598. 553, 563, 569, 577. II. 59, 70, 220,
Moroni, J. III. 175. 405, 446. III. 319, 320.
Morozzo, Carlos (cônego). II. 674. Mussa, Benedito. I. 546.
Mosca, Emília. II. 716. Musso, Antônio. III. 343, 344.
Motto, Francisco. I. 5, 18, 51, 82, 98, Musso, Ermenegildo. III. 358, 479, 480.
105, 107, 110, 170, 300, 304, 305, Musso, João Batista. I. 315, 364, 548,
307, 308, 312, 395, 418, 419, 434, 570. II. 220.
435, 437, 438, 440, 442, 442, 458,
Mussolini, Benito. III. 25, 55, 717.
462, 470, 472, 475, 481, 507, 546,
559, 562, 567, 597, 610, 611, 612. II. Muzi, João (monsenhor). I. 501.
5, 25, 62, 69, 81, 82, 105, 153, 177, Muzzarelli, Afonso. II. 162, 607.
178, 179, 197, 204, 228, 254, 281,
282, 298, 300, 302, 315, 324, 337, Nalbone, José. I. 446.
347, 349, 351, 361, 362, 364, 365,
Namuncurá, Manuel. III. 184, 185, 186,
368, 371, 375, 385, 386, 388, 389,
235, 238.
392, 393, 427, 431, 432, 453, 454,
457, 485, 486, 487, 532, 533, 547, Namuncurá, Zeferino. III. 235, 236, 237,
579, 589, 594, 595, 598, 621, 645, 238, 767.
647, 649, 650, 651, 652, 653, 654, Napoleão Bonaparte (Luís) III. I. 137,
656, 658, 660, 661, 662, 663, 664, 491, 497, 499, 500, 532, 628. II. 30,
666, 668, 669, 670, 671, 672, 673, 31, 32, 33, 34, 35, 37, 38, 41, 47,
674, 675, 676, 677, 680, 683, 684, 50, 51, 53, 154, 155, 157, 203, 266,
685, 686, 687, 688, 690, 691, 692, 270, 271, 276, 280, 283, 284, 290,
693, 694, 695, 705, 708, 751, 752, 654, 667, 798. III. 39, 45, 117, 122,
753, 793, 794, 795. III. 5, 41, 82, 84, 137, 168.
90, 91, 94, 95, 96, 99, 143, 150, 158, Napoleão Bonaparte. I. 101, 125, 126,
173, 178, 280, 283, 285, 286, 291, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 134,
292, 293, 294, 295, 296, 298, 299, 157, 159, 165, 173, 206, 219, 222,
820
223, 256, 280, 281, 282, 283, 284, Occhiena, João Miguel. I. 172.
287, 300, 318, 330, 335, 336, 337, Occhiena, Margarida (Mamãe Marga-
340, 351, 361, 362, 384, 399, 403, rida). I. 40, 45, 140, 144, 145, 146,
404, 452, 486, 491, 497, 499, 628. II. 147, 148, 149, 150, 151, 152, 153,
10, 194, 580. 156, 159, 160, 161, 162, 163, 164,
Napp, R. III. 175. 165, 166, 167, 170, 172, 173, 174,
Nardi, Xavier (monsenhor). II. 691. 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181,
182, 183, 184, 185, 186, 187, 188,
Nasi, Ângelo. II. 578.
189, 190, 192, 193, 195, 196, 197,
Nasi, Fancisco (cônego). II. 663. 198, 199, 200, 203, 204, 205, 206,
Nasi, Luís (cônego). I. 532, 548, 570. II. 208, 209, 210, 213, 214, 216, 224,
220, 673. III. 41, 685. 225, 261, 276, 214, 315, 357, 472,
Nay. II. 772. 507, 511, 617, 618, 622. II. 49, 62,
88, 128, 309, 426, 625. III. 566, 669,
Negris, Ângela. III. 111.
787, 789, 793.
Negro, João Batista (jovem do Oratório).
Occhiena, Maria. I. 172.
II. 140.
Occhiena, Melquior Marcos (padrinho).
Negroni (bispo). II. 642.
I. 145, 172, 173, 185.
Newman, John Henry (cardeal). III. 32. Occhiena, Miguel. I. 172, 173, 175, 177,
Nicco, Eugênio. I. 245. 185, 188, 191, 192, 193, 196, 200,
Nicolis di Robilant, Luigi C. I. 346, 348, 204, 213, 216.
444, 446, 610. Occhiena, Segundo. I. 145.
Nicotera, João. III. 12. Occhiena, Vicentina. I. 570. II. 221.
Nina, Lourenço. III. 34, 339, 345, 348, 351, Ockham, Guilherme. I. 327, 328.
352, 353, 354, 356, 357, 358, 359, 360, Odão de Saboia. I. 397.
361, 365, 367, 375, 422, 468, 469, 654. Oddenino, André. III. 324, 327, 333, 334,
Nobili Vitelleschi, Salvador (cardeal). III. 335, 336, 343, 366, 367, 373, 739.
283, 375. Odone, José Antônio (bispo). II. 627.
Norfolk (duque de). III. 58, 615. Olier, Jean Jacques. II. 484.
Novelli, Giuseppe. I. 39. Olive, Luís. III. 49, 568.
Novo, Maria Teresa (senhora Bellezza). Olivero, João. III. 295.
II. 622.
Olivieri, Raimundo. I. 63.
Onesti, Francisco. I. 548, 570. II. 220.
O’Higgins, Bernardo. III. 121. Oreglia di Santo Stefano (marquesa). II.
Oberdan, Guilherme. III. 27. 665.
Occelletti Chevalier, Carlos. I. 429. II. Oreglia di Santo Stefano, Frederico. I. 22.
594, 595, 596. II. 52, 67, 69, 261, 616, 665, 666,
Occhiena, Francisco. I. 200. 749, 757. III. 293, 363.
Occhiena, Joana Maria (Mariana). I. 172, Oreglia di Santo Stefano, Luís (cardeal).
173, 175, 183, 184, 185, 186, 188, III. 319, 325, 329.
197, 216, 618. II. 88, 128. Oreglia, Jorge (cônego). II. 673.
821
822
Pestarino, Domingos. I. 62, 63, 66. II. 254, 255, 256, 267, 269, 270, 272,
213, 358, 632, 699, 701, 702, 703, 273, 274, 276, 277, 280, 281, 286,
704, 705, 706, 708, 709, 710, 711, 287, 288, 290, 292, 295, 299, 302,
712, 713, 714, 715, 716, 719, 720, 308, 310, 311, 313, 314, 316, 317,
721, 722, 723, 724, 725, 726, 727, 318, 322, 325, 327, 330, 335, 337,
728, 731, 732, 733, 748, 817, 818. 338, 339, 343, 347, 351, 358, 359,
III. 239. 360, 365, 366, 367, 371, 375, 385,
Petiti, João (jovem do Oratório). II. 138. 386, 387, 388, 390, 391, 392, 393,
Petitti di Roreto, Carlo Ilarione. I. 387, 393. 394, 397, 398, 400, 422, 427, 429,
Pettiva, Segundo. II. 259. 431, 438, 448, 450, 453, 463, 464,
476, 477, 489, 498, 505, 508, 509,
Peyron, Amadeu. I. 550.
511, 512, 533, 592, 597, 603, 604,
Piano, João. II. 127. 605, 612, 613, 617, 631, 636, 646,
Pianta, João. I. 179, 231. 648, 650, 651, 652, 653, 654, 655,
Pianta, Lúcia. I. 179, 225. 657, 659, 660, 662, 667, 668, 669,
Picco, Mateus. I. 513. II. 121, 127, 130, 670, 671, 673, 674, 675, 676, 679,
167, 565, 568, 801. 680, 681, 683, 684, 689, 692, 694,
711, 717, 727, 796, 797, 805, 806,
Pigafetta, Antônio. III. 174. 807, 816. III. 7, 14, 17, 22, 25, 32,
Pignolo. III. 292, 293. 34, 38, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 57,
Pilone, Catarina. I. 250. 77, 87, 95, 101, 109, 110, 111, 136,
Pinamonti, João. I. 275. 137, 138, 140, 142, 144, 146, 150,
151, 152, 156, 161, 262, 204, 219,
Pinardi, Francisco. I. 14, 103, 107, 108,
236, 237, 240, 248, 253, 254, 256,
116, 179, 180, 182, 421, 434, 435, 437,
258, 281, 284, 289, 291, 293, 294,
441, 448, 449, 450, 456, 458, 459, 460,
295, 296, 298, 300, 303, 304, 305,
461, 462, 463, 464, 465, 465, 466, 468,
306, 315, 319, 320, 321, 323, 331,
471, 472, 475, 484, 505, 506, 507, 508,
332, 333, 335, 336, 340, 361, 368,
510, 511, 512, 516, 532, 540, 543, 555,
370, 377, 383, 386, 388, 390, 391,
559, 565, 591, 596, 626, 628. II. 26,
392, 400, 404, 405, 431, 436, 445,
46, 49, 54, 55, 56, 61, 62, 76, 87, 119,
446, 459, 460, 464, 465, 466, 484,
237, 470, 448, 581, 601, 622, 624, 625,
497, 699, 724, 735, 751, 752, 754,
625, 626.
756, 760, 761, 762, 763, 764, 767,
Pio I. II. 161. 768, 771, 772, 773, 776, 780, 784,
Pio IX. I. 41, 61, 83, 97, 111, 170, 254, 785, 786, 788, 789, 790.
330, 375, 376, 419, 421, 434, 486, Pio V. I. 319. II. 610.
488, 489, 492, 494, 495, 496, 499,
Pio VI. I. 128.
501, 502, 503, 504, 524, 529, 531,
536, 550, 562, 627, 628. II. 11, 12, Pio VII. I. 101, 126, 128, 130, 132, 133,
13, 18, 21, 27, 29, 34, 35, 37, 41, 43, 134, 173, 194, 206, 280, 286, 336,
45, 46, 50, 51, 52, 53, 126, 152, 157, 337, 338, 339, 374, 376, 501, 616. II.
160, 185, 205, 210, 211, 223, 224, 147, 313, 459, 610, 612, 617.
231, 236, 240, 250, 251, 252, 253, Pio VIII. I. 195, 196, 204, 374.
823
Pio X. III. 17, 25, 48, 53, 238, 682, Prinotti, Lorenzo. I. 371.
700, 713. Provana de Colegno, José Maria (conde).
Pio XI. I. 373. III. 25, 238, 639, 640, 682, I. 107, 458, 475, 476.
704, 707, 708, 709, 710, 711, 712, Provana de Colegno, Luís. I. 542. II. 553.
713, 714, 717, 722, 726, 730, 778.
Provera, Francisco. I. 22, 72. II. 259, 260,
Pio XII. I. 373.
261, 565, 577, 578, 581.
Pirola. G. II. 458.
Provera, Vicente. II. 577, 578.
Pirri, P. II. 647.
Proverbio, Germano. II. 393.
Pisacane, Carlos. II. 31, 32.
Puecher, Francisco. I. 511.
Pisanelli, José. II. 577.
Pisani, Paulo. III. 44. Pugnetti [Pignetti], Valeriano. I. 225.
Pistone, Bartolomeu. III. 197, 198. Pugno, João. I. 523.
Ploetz. III. 116. Pullini, Máximo. I. 546.
Poirino, Felipe de. II. 191.
Poirino, Santiago. II. 43. Quaglia, Ângelo (cardeal). II. 326, 338, 339,
Ponte (Ponti), Pedro. I. 107, 347, 423, 340, 341, 344, 346, 353, 402, 414, 808.
447, 450, 509, 520, 533, 546, 547, Quaranta, Martinho. III. 462.
548, 550, 551, 552, 553, 554, 555,
568, 570, 571, 573, 574, 629, 630. II. Quarelli, Davi (jovem do Oratório). II. 138.
58, 59, 220. Quesada, V. III. 161.
Ponza di San Martino, Gustavo (conde). Quesnel, Pascásio. I. 322.
II. 276, 667.
Portales, Diego José Víctor. III. 121. Quinn, Mateus (arcebispo). III. 150.
Posada, Maria Esther. II. 696, 697, 699, Quirino, Camilo. III. 221, 222.
700, 701, 702, 704, 705, 707, 714, Quiroga. III. 153.
715, 716, 717.
Prasca, Ângela (condessa, mãe de Lemoy-
ne). I. 60. Rabagliati, Evásio. III. 65.
Prat-Noilly (senhora). III. 41. Racca, João (jovem do Oratório). II. 135.
Prato, Leão. III. 331, 332. Racine, João. I. 321.
Prellezo, José Manuel. I. 8, 95, 98, 547, Rademacher, Daniel. II. 25, 28.
609, 611, 612. II. 243, 697, 794, 796,
81, 105. III. 157, 490, 491, 514, 515, Rademaker (conde). I. 546.
519, 520, 522, 523, 524, 532, 536, Radetzky, José von. I. 492, 494, 495, 497.
537, 542, 546, 598, 744, 745, 759,
Raimondi, Timoleonte. III. 151.
761, 784, 791, 792, 793, 794, 795,
796, 797, 6, 147, 467, 489, 490, 493, Ralli, Plácido. II. 644.
495, 497, 498, 499, 506, 510, 515, Ramello, Cândido. III. 692.
519, 567, 720, 721, 722, 748, 749,
750, 751, 752. Ramello, Francisco. III. 163.
Prialis, Lourenço. I. 287, 291. Ramello, José. II. 566.
Priana Carpani, João. II. 178. Rampolla, Mariano. III. 25, 34, 35, 37.
824
825
Romagnosi, João Domingos. II. 553. 69, 70, 71, 72, 73, 103, 144, 145, 154,
Romano, Lourenço. I. 82, 312. 155, 181, 182, 183, 186, 210, 242,
Romero, Cecília. II. 285, 697, 706, 710, 252, 350, 511, 534, 547, 585, 609,
711, 712, 713, 714, 715. 611, 620. II. 5, 47, 48, 50, 52, 57, 77,
81, 88, 103, 104, 106, 107, 108, 109,
Ronchail, José. III. 39, 40, 45, 380, 473,
11, 130, 131, 132, 133, 135, 146, 167,
555, 558.
211, 212, 231, 232, 233, 237, 238,
Roppolo Musso, João Batista. I. 315.
239, 245, 246, 251, 254, 255, 256,
Roppolo Musso, José. I. 315. 259, 260, 261, 286, 316, 318, 393,
Roppolo, Alfredo (jovem do Oratório). 462, 478, 479, 499, 541, 566, 573,
II. 567. 578, 579, 580, 584, 628, 656, 661,
Rosas, João Manuel de. III. 119, 123, 664, 665, 666, 671, 698, 718, 734,
124, 133. 735, 737, 738, 739, 740, 741, 742,
Rosmini, Antônio Serbati. I. 79, 85, 269, 750, 751, 752, 759, 768, 779, 780,
352, 359, 363, 432, 496, 511, 532. II. 781, 783, 794, 818, 820. III. 5, 8, 32,
49, 62, 158, 257, 330, 331, 409, 422, 55, 64, 66, 71, 72, 77, 150, 183, 197,
423, 424, 427, 433, 444, 447, 453, 201, 205, 207, 216, 238, 271, 272,
461, 487, 512, 513, 566, 622, 642. III. 275, 300, 303, 312, 313, 314, 317,
33, 305, 308, 327, 353, 359, 360, 375. 335, 336, 337, 340, 345, 346, 360,
Rosoli, Gianfausto. III. 80, 159, 745. 363, 379, 380, 383, 406, 410, 414,
Rossaro. III. 66. 415, 419, 420, 422, 423, 426, 429,
433, 434, 435, 437, 444, 445, 447,
Rossi de Santa Rosa [Derossi de Santaro-
451, 452, 467, 468, 472, 473, 478,
sa], Pedro de. I. 510. II. 13, 46.
487, 494, 516, 517, 522, 525, 527,
Rossi, Félix. I. 553. 528, 529, 530, 531, 534, 538, 539,
Rossi, José I. 71. II. 67, 231, 260, 749, 540, 544, 545, 552, 553, 559, 560,
757, 790. III. 60, 437, 593, 611, 686. 561, 562, 566, 568, 569, 570, 571,
Rossi, Marcelo. II. 753, 790. 573, 580, 581, 582, 585, 586, 598,
Rossi, Paulo Francisco. I. 520, 546, 548, 599, 601, 607, 609, 610, 611, 612,
552, 569, 574. II. 220. 613, 614, 617, 623, 624, 626, 627,
Rossi, Pellegrino de. I. 496, 628. 629, 630, 631, 644, 645, 646, 648,
649, 650, 651, 652, 653, 654, 655,
Rosso, Ana. I. 178, 198, 205.
656, 657, 658, 659, 660, 662, 663,
Rossum, G. M. van. II. 698. 664, 665, 666, 667, 668, 669, 670,
Rota, Pedro. III. 110. 671, 672, 673, 674, 675, 676, 677,
Roussel. III. 43. 678, 679, 680, 681, 682, 684, 687,
Roussin, Luís. I. 42. 721, 726, 739, 743.
Rovere, Jerônimo Della. I. 282. Rubino, João Batista. I. 580.
Rovetto, Antônio. II. 259. Rudini, Antônio. III. 11.
Rua, Luís (jovem do Oratório). II. 130. Ruffino [Rufino], Domingos. I. 19, 21,
Rua, Miguel. I. 17, 21, 22, 24, 25, 28, 31, 22, 23, 24, 27, 30, 31, 52, 65, 66, 62,
38, 42, 44, 47, 48, 50, 52, 53, 65, 68, 73, 76, 98, 101, 111, 408, 409, 411,
826
416, 613. II. 134, 260, 261, 581, 616. San Martín, José de. III. 117, 118.
Saccarelli, Gaspar. I. 371, 546. Sanmartino d’Agliè (conde). II. 597.
Sacilotti, Pedro. III. 233. Santa Ana. II. 630, 642, 698, 700, 707,
Sadoc Alemany, José. III. 143. 708, 709, 710, 727.
Sáenz Peña, Luís. III. 120. Santa Teresa. I. 455.
Sagrini, Tibério. I. 346. Santa Zita. I. 371. II. 177, 197.
Saint-Cyran, João A. I. 320, 321, 322. Santo Afonso Maria de Ligório. I. 273,
292, 294, 305, 318, 324, 326, 336,
Saint-Simon, Henri de. II. 43. 342, 343, 345, 350, 367, 375, 592,
Sala, Antônio. I. 27, 28, 72. II. 581. 593, 624. II. 147, 162, 309, 405, 421,
Salas, José Hipólito. III. 159. 421, 422, 454, 456, 551, 607, 719,
Sales Francisco São (Oratório). I. 6, 7, 14, 720, 721.
17, 23, 44, 71, 91, 94, 95, 99, 102, 103, Santo Agostinho. I. 110, 222, 283, 319,
104, 111, 114, 119, 120, 179, 300, 324, 371, 508. II. 131, 170, 173, 312,
307, 309, 320, 342, 366, 371, 373, 323, 480.
377, 395, 399, 418, 419, 422, 434, Santo Anacleto. II. 161, 162.
435, 436, 437, 438, 441, 450, 451, Santo Aniceto. II. 161.
463, 505, 506, 507, 510, 511, 512,
Santo Eleutério. II. 161.
514, 515, 516, 519, 520, 526, 533,
536, 537, 538, 543, 545, 553, 555, Santo Evaristo. II. 161.
556, 557, 559, 561, 562, 563, 565, Santo Higino. II. 161.
567, 572, 575, 576, 577, 578, 579, Santo Inácio de Loyola. I. 373. II. 138,
593, 606, 615, 624, 626, 628, 629, 147, 170, 457, 481, 580, 670, 671.
630. II. 6, 23, 47, 54, 55, 56, 61, 63, Santo Irineu. II. 162.
65, 66, 68, 76, 80, 81, 98, 103, 105,
Santo Isidoro, lavrador. II. 177, 197.
106, 111, 118, 164, 165, 168, 172,
193, 194, 207, 208, 210, 211, 214, Santo Tomás de Aquino. II. 405.
215, 216, 217, 222, 223, 224, 226, Santos mártires Solutor, Aventor e Otávio.
228, 229, 237, 238, 241, 242, 245, II. 623.
252, 253, 259, 261, 278, 282, 304, Sanzio, Rafael. III. 12.
320, 322, 323, 324, 325, 327, 341, São Caetano. II. 525.
342, 353, 355, 368, 372, 399, 405,
411, 412, 413, 414, 415, 449, 464, São Calisto. II. 161.
466, 468, 470, 473, 474, 478, 480, São Clemente Hofbauer. I. 336.
525, 528, 536, 541, 544, 570, 601, São Clemente. II. 161.
620, 622, 626, 630, 638, 706, 713, São Cleto. II. 161, 162.
716, 723, 727, 750, 800, 804, 819.
São Cosme. II. 255.
Salloti, Carlos. II. 794.
São Damião. II. 255.
Sallua. II. 370.
São Felipe Neri. I. 118, 223, 259, 267,
Salvaj Giocondo, Pedro (monsenhor). II. 287, 304, 376, 377, 506, 564, 602,
450, 663, 681. III. 312. 624. II. 163, 435.
Sanglau, Aquiles de. II. 285, 619. São Gregório Magno. III. 450.
827
São Jerônimo Emiliani. II. 312, 453. 260, 261, 449, 468, 472, 568, 622,
São João Maria Vianney. II. 425. 628. III. 686.
São José. II. 51, 65, 106, 110, 111, 143, Sávio, Ascânio. I. 82, 312, 548, 570. II.
169, 211, 227, 446, 594, 595, 596, 220, 240, 453. III. 295, 687.
630, 759, 766, 800, 814. Sávio, Benedita. II. 698, 699, 700, 701, 817.
São Justino. II. 161, 162. Sávio, Carlos. II. 129.
São Leonardo de Porto Maurício. II. 162. Sávio, Domingos. I. 42, 72, 97, 98, 210,
São Lino. II. 161. 278, 586. II. 48, 49, 50, 57, 78, 80,
82, 85, 87, 88, 95, 99, 106, 107, 108,
São Luís Gonzaga. II. 111, 118, 129, 214, 109, 116, 117, 118, 119, 120, 121,
220, 466, 605. 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128,
São Marcelo. II. 193, 623. 129, 130, 131, 148, 163, 164, 165,
São Martinho de Tours. II. 160. 166, 167, 231, 238, 426, 485, 565,
590, 600, 601, 603, 604, 605, 608,
São Pancrácio. II. 160.
794, 795, 801, 802. III. 212, 218,
São Pedro. II. 160, 161, 162, 182, 187, 238, 263, 331, 448, 495, 499, 512,
188, 189, 193, 311, 351, 595, 630, 598, 639, 668, 669, 683, 701, 713,
668, 671, 802. 714, 715, 721, 741, 753, 754, 755,
São Policarpo de Esmirna. II. 162. 756, 757, 758, 759, 761, 762, 763,
São Sisto. II. 161. 786, 789.
Sávio, Estêvão. II. 106, 238.
São Sotério. II. 161.
Sávio, Evásio. I. 216.
São Telésforo. II. 161.
Sávio, Teresa Tosco, II. 127.
São Vicente de Paulo. II. 49, 104, 105, 111,
113, 198, 320, 330, 435, 448, 449, 450, Savonarola, Jerônimo. II. 155.
455, 528, 574, 585, 586, 595, 700, 800. Sbarretti, Eneas. III. 299, 323, 374.
São Zeferino. II. 161. Scaglietti, José (jovem do Oratório). II. 140.
Saracco, João Batista (jovem do Oratório). Scalabrini, João. III. 25.
II. 141. Scanagatti, Miguel. I. 569. II. 220.
Sardá, Félix. III. 58, 788, 796. Scappini, José. III. 54, 460, 534.
Sarmiento, Domingos Faustino. III. 81, Scarampi di Pruney, Fernando (marquês).
96, 120. II. 584.
Sartoris, Espírito. I. 194, 260, 317, 404. Scarampi di Pruney, Ludovico (marquês).
I. 534.
Satolli. III. 37.
Scarampi, João (marquês). I. 569. II. 219.
Savini-Svegliati, Ângelo (monsenhor). II.
Scavini (jovem do Oratório). II. 765.
232, 316, 322, 326, 339, 340, 345,
347, 373, 378, 388, 408, 475, 487, Scavini, Bartolomeu. III. 101.
526, 527, 549, 807. Scavini, Pedro. II. 405.
Sávio, Ângelo. I. 22, 77, 511. II. 24, 106, Schmid, Teófilo. III. 154.
212, 214, 231, 238, 240, 252, 259, Schoenemberger, P. II. 779.
828
829
830
Valdivieso y Zanartu, Rafael Valentim. Vigliani, Paulo Honorato. II. 250, 653,
III. 133. 684, 685, 686, 687, 688, 689, 690,
Valdo (Waldo), Pedro. I. 522, 524. II. 692, 693, 817.
181, 185, 188, 201, 203. Viglietti, Carlos Maria. I. 19, 27, 29, 30,
Valenti Binelli, Felicidade. II. 598. 33, 34, 35, 67, 72, 73, 74, 91, 93,
160, 171, 611, 614. II. 82, 304, 490,
Valentini, Eugênio. I. 48, 193, 195, 432,
491, 729, 795. III. 208, 209, 228,
442, 533, 547, 612.
429, 538, 539, 543, 549, 552, 553,
Valerio, G. I. 382. 554, 555, 556, 557, 558, 559, 560,
Valfré, Sebastião (beato) I. 342. II. 163. 561, 562, 563, 564, 565, 566, 567,
Vallauri, Francisco. II. 126, 128. 568, 569, 570, 571, 572, 573, 574,
Vallauri, Pedro. III. 336. 575, 576, 577, 578, 579, 580, 581,
582, 583, 584, 585, 586, 587, 588,
Valle, Carlos Mateus della. III. 692.
589, 590, 591, 592, 596, 599, 601,
Valle, Manuel Teodoro del. III. 67. 603, 605, 606, 607, 608, 611, 612,
Valle, Marina della. III. 687, 692, 693, 694. 613, 614, 615, 616, 618, 620, 621,
Vallino, Luís (jovem do Oratório). II. 141. 622, 623, 625, 652, 655, 729, 790.
Valsecchi, T. III. 376. Vigna, José Camilo. II. 568.
Vaschetti, Francisco. II. 107, 108, 109, Villa (senhor). I. 182, 183.
167, 576, 577. Villanova, Clemente. I. 569. II. 219.
Vaucher. II. 185. Villari, Pascoal. III. 26.
Vecchi di Val Cismon, C. M. II. 653. Villefranche, Jacques-Melchior. I. 20, 41,
Vegezzi, Xavier. II. 650, 652, 653, 654, 42, 43, 52, 614.
655, 816. Villegas, Conrado. III. 186, 196, 205.
Veglio. II. 652. Villeneuve (condessa). I. 37.
Verbist, Teófilo. III. 139. Villeneuve, Pedro (conde). I. 37.
Verda, Domingos. II. 665. Vimercati (conde). II. 661.
Verga, Isidoro (arcebispo). III. 339, 342, Vincente. III. 41.
347, 348, 375.
Virano, José. I. 404.
Vergier de Hauranne (Duvergier), Jean
Virano, Manoel. I. 190, 214, 215, 365.
du. I. 320.
Vitelleschi, Salvador Nobili (arcebispo).
Vértiz, João José de. III. 153.
II. 235, 316, 372, 378, 379, 380, 385,
Vespignani, José. II. 778, 779, 783, 784, 386, 387, 388, 389, 390, 391, 394,
785, 786, 788, 790, 820. 408, 409, 530, 549, 550, 683, 809.
Veuillot, Luís Francisco. II. 307. III. 283, 289, 291, 298, 299, 323,
Viancini, Francisco (conde de Viancino). 374, 375, 403.
I. 38, 534, 569. II. 219. Vítor Amadeu de Saboia. I. 221. II. 158,
Videla, A. III. 65. 307, 627.
831
832
Nota: Os temas tratados são especificados nos títulos dos Capítulos e dos Apêndices. Para
facilitar a busca dos temas nos capítulos correspondentes dos três volumes assinalamos
aqui os mais importantes.
833
834
Nota: Os livros e artigos aqui elencados são encontrados na Biblioteca do Instituto Teo-
lógico Pio XI-Unisal, São Paulo.
835
________. Santo. Vida do clérigo Luiz Comollo. Niterói: Escolas Profissionais Salesia-
nas, 1940. 132p. (Leituras Católicas, 602).
________. Santo. Vida do jovem Miguel Magone: aluno do oratório festivo São Francisco
de Sales. 3.ed. Niterói: Escolas Profissionais Salesianas, 1960. 96p. (Leituras
Católicas, 824).
________. Santo. Vida do venerável jovenzinho Domingos Sávio: aluno do oratório de S. Francisco
de Sales (Turim-Itália). Nitheroy, 1936. 199p. (Leituras Católicas, 554-555).
________. Santo. Vidas de jovens: as biografias de Domingos Sávio, Miguel Magone e
Francisco Besucco. Brasília: Edebe, 2013. 286p.
________. A vocação contrariada. 2.ed. Niterói: Escolas Profissionais Salesianas, 1939.
54p. (Leituras Católicas, 8).
836
________. Dom Bosco. 5.ed. São Paulo: Salesiana, 1983. 39p. (Heróis, 01).
________. Dom Bosco aos jovens: um caminho para Deus. São Paulo: Salesiana, 1999. 191p.
________. Dom Bosco: uma biografia nova. Hilário Passero (Tradutor). 2.ed. São Paulo:
Salesiana Dom Bosco, 1993. 564p.
BRAIDO, Pietro. Bom cristão e honesto cidadão: uma fórmula do “humanismo educativo
de Dom Bosco”. s.l.p.: s.c.p, s.d.p.. 53f.
________. Dom Bosco padre dos jovens no século da liberdade. São Paulo: Salesiana,
2008. 2v.
________. O projeto operacional de Dom Bosco e a utopia da sociedade cristã. São Paulo:
Salesiana Dom Bosco, 1984. 38p. (Cadernos Salesianos, 35).
________. Prevenir, não reprimir: o sistema educativo de Dom Bosco. São Paulo: Salesiana,
2004. 376p.
BROCARDO, Pedro. Dom Bosco: profundamente homem - profundamente santo. São
Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1986.
BUCCELLATO, Giuseppe. Dom Bosco: notas para uma história espiritual de sua vida.
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CASSANO, João. Collectânea dos factos mais belos da vida de S. João Bosco. Nitéroi:
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________. Sonho e realidade: na vida de um santo. São Paulo: Dom Bosco, 1979. 159p.
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GIRAUDO, Aldo. “‘Eu os fiz conhecer-me por inteiro’: aspectos do acompanhamento
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série, São Paulo, Ano 1, v. 01, n. 1, p.70-74, jan.-jun. 2010.
MOTTO, Francesco. “Dom Bosco, ‘estadista’ do ressurgimento”. Cadernos Salesianos,
São Paulo, v. 4, n. 7, p.89-92, jan./jun. 2013.
SANDRINI, Marcos. “Dom Bosco e os jovens, um binômio inseparável”. Grande
Sinal, Petrópolis, n. 4, p.393-414, 1988.
“SÃO João Bosco, vida e obra”. Grande Sinal, Petrópolis, v. 42, n. 4, p.449-456, 1988.
VIGANÓ, Egídio. “Experiência de Deus em São João Bosco”. Grande Sinal, Petrópo-
lis, n. 4, p.381-392, 1988.
VALENTINI, Eugênio. “A vocação e a direção dos seminários: à margem do III Con-
vênio dos Superiores dos Seminários da Itália”. Revista Eclesiástica Brasileira,
Petrópolis, v. 12, n. 2, p.304-325, jun.1952.
842
Siglas e abreviaturas............................................................................................. 5
Apresentação do Terceiro Volume........................................................................ 7
Capítulo I
CONTEXTO HISTÓRICO DOS ÚLTIMOS
ANOS DE DOM BOSCO (1876-1890)
1. A “revolução parlamentar” (1876)................................................................. 12
2. Os governos Depretis e Cairoli (1877-1881)................................................. 14
3. A era Depretis................................................................................................ 16
4. A era Crispi.................................................................................................... 16
5. A situação na Itália de 1877 a 1888............................................................... 17
As mortes do rei e do papa................................................................................. 17
A epidemia de cólera.......................................................................................... 18
Reforma da lei eleitoral e eleições gerais.............................................................. 18
O transformismo................................................................................................ 19
Os movimentos sociais....................................................................................... 19
A situação dos trabalhadores do campo.............................................................. 21
Os movimentos católicos.................................................................................... 22
A atuação da Santa Sé......................................................................................... 23
Tentativa de aproximação entre Igreja e Estado................................................... 24
Evolução das comunicações................................................................................ 25
A educação......................................................................................................... 25
A política internacional da Itália......................................................................... 26
Inícios do colonialismo italiano.......................................................................... 27
Apêndice
LEÃO XIII (1810-1903). NOTA BIOGRÁFICA............................................. 31
Bispo e diplomata............................................................................................... 31
Sumo Pontífice................................................................................................... 32
Política com os vários Estados............................................................................. 34
Itália............................................................................................................. 34
Alemanha...................................................................................................... 35
843
Bélgica........................................................................................................... 35
França........................................................................................................... 35
Espanha......................................................................................................... 36
Outras nações................................................................................................. 37
Uma avaliação.................................................................................................... 37
Capítulo II
FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DA OBRA SALESIANA
NA FRANÇA, ITÁLIA E ESPANHA (1875-1888)
1. Fundações salesianas na França...................................................................... 39
Casas salesianas no sul da França: de Nice a Marselha......................................... 39
Fundações no norte da França: Lille e Paris........................................................ 42
As leis contra as congregações religiosas na França (1880) e os salesianos............ 45
2. Fundações salesianas na Itália........................................................................ 46
Fundações em diversas províncias italianas......................................................... 46
Turim. Igreja (1878-1882) e internato (1882-1884) de São João Evangelista...... 50
A obra salesiana em Roma.................................................................................. 52
Tentativas fracassadas de Dom Bosco para estabelecer-se em Roma...................... 52
Dom Bosco e os concepcionistas (1876-1880)................................................... 54
Procurador e Procuradoria estabelecidos pela primeira vez em Roma (1880).......... 55
A Igreja (1880-1887) e o internato (1885-1887) do Sagrado Coração.............. 55
3. Fundações salesianas na Espanha (1881 e 1884)........................................... 58
Primeira casa salesiana na Espanha: Utrera (Sevilha)........................................... 59
A casa de Sarriá (Barcelona). Fevereiro de 1884.................................................. 61
O templo do Tibidabo, em Barcelona................................................................. 62
Apêndice
ÚLTIMAS FUNDAÇÕES DE DOM BOSCO NA EUROPA E NA
AMÉRICA DO SUL......................................................................................... 65
Criadas no tempo de Dom Bosco (1887-1888).................................................. 65
Chile............................................................................................................. 65
Inglaterra....................................................................................................... 65
Equador......................................................................................................... 66
Negociações iniciadas com Dom Bosco (obras estabelecidas mais tarde)............. 66
Estatísticas à morte de Dom Bosco..................................................................... 68
844
845
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847
848
Apêndice
CRONOLOGIA DA FUNDAÇÃO E PRIMEIRA ORGANIZAÇÃO
DA OBRA SALESIANA NA AMÉRICA DO SUL (1871-1888).................. 202
Estabelecimento da obra salesiana na região do Prata (Argentina e Uruguai)........ 203
Missões salesianas realmente estabelecidas ....................................................... 205
Missões salesianas de direito apostólico............................................................. 206
Negociadas por Dom Bosco, criadas pelo padre Rua......................................... 207
Capítulo VI
PRESENÇA SALESIANA NA AMÉRICA DO SUL.
4. SEGUNDO SONHO MISSIONÁRIO: SAN BENIGNO,
30 DE AGOSTO DE 1883
1. Fontes e tradição textual do sonho.............................................................. 208
2. A narração do sonho (Lemoyne B).............................................................. 211
Comentário.................................................................................................. 222
3. Algumas questões sobre o sonho.................................................................. 223
A visão da América do Sul nos sonhos.............................................................. 224
Características geofísicas e recursos minerais..................................................... 225
Os nativos........................................................................................................ 227
As ferrovias....................................................................................................... 228
Caráter premonitório dos sonhos...................................................................... 229
Um centro salesiano da Patagônia nos 47 graus de latitude sul?........................ 230
No grau 10 de latitude norte: São José (da Costa Rica)?................................... 231
Boston, Massachusetts (Estados Unidos).......................................................... 231
Entre os graus 15 e 20 de latitude sul, Brasília?................................................. 232
Apêndice
ZEFERINO NAMUNCURÁ (26 de agosto de 1886-11 de maio
de 1905)......................................................................................................... 235
Capítulo VII
OS SALESIANOS COOPERADORES.
A OBRA DE MARIA AUXILIADORA. O BOLETIM SALESIANO
1. Os Salesianos cooperadores......................................................................... 239
Memorando de Dom Bosco (1877).................................................................. 240
Estatutos, quarta redação (1876)...................................................................... 243
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856
Capítulo XV
ÚLTIMA ENFERMIDADE E MORTE DE DOM BOSCO
1. Última enfermidade e santa morte.............................................................. 601
Primeira crise: de 20 a 31 de dezembro............................................................. 605
Exames médicos e pedido de Dom Bosco para estar preparado.......................... 606
Santo viático e unção dos enfermos................................................................. 609
Os boletins do padre Rua aos salesianos.......................................................... 610
Aparente recuperação: de 1o a 20 de janeiro...................................................... 613
Crise final e morte: de 21 a 31 de janeiro......................................................... 616
Santa morte................................................................................................. 622
Comentário final.......................................................................................... 625
2. O sepultamento........................................................................................... 626
As tramitações para a sepultura......................................................................... 627
O cortejo fúnebre............................................................................................. 629
Os restos mortais de Dom Bosco em Valsálice.................................................. 630
3. Ecos da personalidade de Dom Bosco após a sua morte.............................. 633
Na imprensa..................................................................................................... 633
Nas orações fúnebres........................................................................................ 635
Pio XI, uma testemunha excepcional................................................................ 639
Outros testemunhos......................................................................................... 640
Apêndice
DO TESTAMENTO ESPIRITUAL DE Dom BOSCO ............................. 642
Capítulo XVI
A SUCESSÃO DE DOM BOSCO
1. Nomeação do vigário com direito de sucessão............................................. 645
Reuniões do Capítulo Superior: 24 e 28 de outubro de 1884........................... 647
Demora em tornar público o decreto................................................................ 649
Anúncio oficial da nomeação do padre Rua...................................................... 650
Comentário final.............................................................................................. 654
2. A sucessão.................................................................................................... 656
Dificuldades em Roma..................................................................................... 656
Dificuldades em Turim..................................................................................... 657
857
858
Parte III
Bibliografia sobre Dom Bosco (em castelhano)............................................... 749
1. Escritos de São João Bosco........................................................................... 750
2. Estudos sobre Dom Bosco............................................................................ 766
Índice onomástico........................................................................................... 799
Índice dos principais temas.............................................................................. 833
Bibliografia brasileira....................................................................................... 835
859