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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CADERNO DE EMPRESARIAL
TÍTULOS DE CRÉDITO

Aluna: Priscilla C. Ribeiro Dantas


Turma: CPIII A - 2 Semestre de 2018
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 1 – Prof. Luiz Gustavo Nunes Mourão


26/10/18

EMENTA:  TEORIA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO.


 Conceito de título de crédito no Código Civil.
 Características dos títulos de crédito.
 Atributos dos títulos de crédito.

 TEORIA DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Para Maria Bernardete Miranda, o CRÉDITO é a “transação entre duas partes, na qual
uma delas (o credor) entrega a outra (o devedor) determinada quantidade de dinheiro,
bens ou serviços, em troca de uma promessa de pagamento.”

São elementos essenciais do crédito: (i) a confiança e (ii) o tempo. Para Sérgio Covello,
destacam-se 4 elementos do crédito: (i) a confiança; (ii) o prazo; (iii) o interesse e (iv)
o risco. O interesse é a remuneração pela concessão do crédito, ou seja, os juros pagos
pelo crédito (no caso de crédito bancário). Já o risco é ineretne a todo tipo de crédito.

A disciplina dos títulos de crédito ganhou importância, na medida em que eles são os
principais instrumentos de circulação de riquezas no mundo moderno.

A Teoria Geral dos Títulos de Crédito permitiu uma disciplina uniforme para
documentos que, embora diversos entre si, apresentam características comuns.

 EVOLUÇÃO E FASES DO DIREITO CAMBIÁRIO:

Podemos afirmar que são 4 as fases que marcaram a evolução do direito cambiário:

(i) Período Italiano – até 1650: mercadores das cidades italianas / necessidade
de operar com moedas diferentes em praças diversas (letras de câmbio);

(ii) Período francês: (1650 até 1848): surge o endosso / a letra de câmbio deixou
de ser instrumento de pagamento para instrumento de crédito (podia ser
repassado);

(iii) Período Germânico: (1848=1930): codificadas as normas disciplinadoras da


cambial, separando-as das normas de direito comum / proteção especial ao
terceiro adquirente de boa-fé, como forma de garantir a circulação do
título;

(iv) Período Uniforme: aprovação, em 1930, das leis uniformes genebrinas sobre
letras de câmbio e notas promissórias, e, em 1931, sobre cheques.

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 NATUREZA DA OBRIGAÇÃO CAMBIAL:


A obrigação cambiária resulta de declaração unilateral de vontade por parte do
subscritor do título e não de contrato celebrado com o beneficiário.

Os devedores de um título de crédito são solidários. Esta regra encontra-se no artigo


47 da Lei Uniforme de Genebra. O devedor solidário que paga ao credor a totalidade
da dívida pode exigir, em regresso, dos demais devedores a quota-parte cabível a cada
um.

Porém, na obrigação cambial há hierarquia entre os devedores de um mesmo título.


Em relação a cada título, a lei irá escolher um para a situação jurídica de devedor
principal, reservando aos demais a de co-devedores. Mesmo os co-devedores só terão
direito de cobrar dos co-devedores que lhes antecederam.

Várias teorias tentam explicar a natureza dos títulos de crédito, destacando entre as
principais:

 TEORIAS CONTRATUALISTAS: defende que existem contratos entre os


envolvidos na relação cambiária; e

 TEORIA DA APARÊNCIA: a obrigação cambiária nasceria da aparência de vontade


do devedor, independentemente da vontade efetiva. A vontade do criador do
título não seria tão importante quanto a aparência criada. Assim, de acordo
com essa teoria, mesmo que ele não tivesse vontade de se obrigar, seu interesse
cederia espaço para o interesse maior na proteção da aparência.

 TEORIA DA DECLARAÇÃO UNILATERAL DE VONTADE: a fonte da obrigação


cambiária reside na mera declaração unilateral de vontade de quem coloca sua
assinatura no título. Essa teoria afirma que o título de crédito funciona
separadamente do negócio jurídico subjacente e a obrigação teria seu
fundamento em uma promessa dirigida ao público.

 TEORIA DO DUPLO SENTIDO DA VONTADE: segundo Vivante, autor desta teoria,


há dois mundos, que não se comunicam: o mundo dos contratos e o mundo dos
títulos. O devedor fica no meio dos dois. Não se pode trazer o fato de um
contratante ter deixado de cumprir sua obrigação (no mundo dos contratos)
para não pagar aquele que lhe apresentou o título (no mundo dos títulos).
Assim, em relação ao seu credor, o devedor do título se obriga por uma relação
contratual, motivo por que contra ele mantém intactas as defesas pessoais que
o direito comum lhe assegura; em relação a terceiros, o fundamento da
obrigação está na sua firma (do emissor), que expressa sua vontade unilateral
de obrigar-se, e essa manifestação não deve defraudar as esperanças que
desperta em sua circulação.

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Qual a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro?

O Código Civil Brasileiro incluiu os títulos ao portador entre as Obrigações por


Declaração Unilateral de Vontade. Logo, verifica-se que o nosso ordenamento jurídico
adotou a Teoria da Declaração Unilateral de Vontade.

Resta saber o momento do surgimento da obrigação cambiária, derivando dai as


seguintes teorias:

(i) TEORIA DA EMISSÃO: abraçada por Stobbe e Windscheid, preconiza que o


emitente do título dele se desvincula quando o põe em circulação. Só após
o abandono voluntário da posse, seja por ato unilateral, seja por tradição,
é que nasce a obrigação do subscritor. Sem emissão voluntária não se forma
o vínculo. A simples assinatura do título não representaria a vontade de se
obrigar. Só a vontade concreta de entregar o título é que aperfeiçoaria a
obrigação.

(ii) TEORIA DA CRIAÇÃO: defende que o direito deriva da criação do título. A


vontade do devedor já não importa para tal efeito obrigacional. É o título
que cria a dívida. A Teoria da Criação conclui que a obrigação cambiária se
aperfeiçoaria com a criação do título, isto é, com a simples assinatura do
devedor. A obrigação já existe com a simples assinatura. Observa Rubens
Requião que “a consequência da teoria da criação é severa e grave” - o
título roubado ou perdido, após a criação, leva consigo a obrigação do
subscritor.

Para os defensores da chamada teoria da criação, a obrigação cambial nasce a partir


da mera criação do título de crédito, ou seja, a partir da sua confecção material, que
se consuma com a respectiva assinatura do sacador.

Em contrapartida, para os adeptos da teoria da emissão, a obrigação cambial nasce


apenas com a entrega voluntária do título de crédito ao tomador, o seu beneficiário.

Fica o sacador obrigado se o título de crédito for roubado ou posto em circulação


contra a sua vontade?

A grande importância da distinção entre os pontos de vista da Teoria da Criação e da


Teoria da Emissão se manifesta para a solução de casos em que o título seja extraviado
ou posto em circulação contra a vontade do sacador.

Para os defensores da Teoria da Criação, como a obrigação cambial já havia nascido


desde a confecção do título, o sacador estará obrigado nessas situações.

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Por outro lado, para a Teoria da Emissão, a obrigação cambial ainda não teria se
aperfeiçoado, e, portanto, o sacador não assumiria, nesses casos, obrigação cambial
alguma.

No âmbito da LUG, adota-se a Teoria da Criação. Isso porque a proteção do credor de


boa-fé (arts. 16 e 17) em face dos devedores denota claramente o afastamento da
teoria da emissão. A LUG protege o credor que recebe de boa-fé o título de crédito,
ou seja, ainda que haja um vício na emissão (saída do título nas mãos do devedor), o
credor estará protegido.

No CC, temos traços da Teoria da Criação e traços da Teoria da Emissão. Assim, nos
arts. 896 e 905, parágrafo único do CC verifica-se a adoção da Teoria da Criação,
protegendo o portador de boa-fé do título de crédito, na medida em que ele teria seus
direitos resguardados. O art. 905, parágrafo único, determina que “a prestação é
devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente”.

O art. 909 do CC, por sua vez, filia-se à Teoria da Emissão, uma vez que visa a proteger
quem for injustamente desapossado do título.

A maioria da doutrina entende que Brasil adotou a teoria da declaração unilateral de


vontade e a subteoria da criação mitigada por traços da teoria da emissão.

 TÍTULOS CAMBIAIS E TÍTULOS CAMBIARIFORMES:

Títulos cambiais, genuínos, são apenas (i) letra de câmbio e (ii) nota promissória.

Todos os demais títulos de créditos, como o cheque, a duplicata etc., são considerados
apenas assemelhados ou cambiariformes, conforme leciona Pontes de Miranda.

Contudo, as regras da letra de câmbio e da nota promissória aplicam-se aos títulos


cambiariformes, em tudo que lhes for adequado, inclusive a ação de execução.

No direito brasileiro, leis especiais regulam os títulos de crédito, alguns usados em


larga escala, outros sem grande utilização nas práticas comerciais.

Podem ser mencionados:

 letra de câmbio;
 nota promissória;
 cheque;
 duplicata;
 títulos de crédito rural (nota promissória rural, duplicata rural, cédula rural
pignoratícia, cédula rural hipotecária, cédula rural pignoratícia e hipotecária e
nota de crédito rural);
 títulos de crédito industrial (cédula de crédito industrial e nota de crédito
industrial);

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 debêntures;
 warrant;
 conhecimento de transportes;
 ações;
 títulos da dívida pública;
 letra imobiliária;
 cédula hipotecária.

Alguns destes são civis e outros empresariais.

 CONCEITO DE TÍTULO DE CRÉDITO NO CÓDIGO CIVIL:

Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e


autônomo nele mencionado.

Esse conceito é trazido no art. 887 do CC, como segue:

Art. 887 do CC: “O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito


literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os
requisitos da lei.”

Essa definição existe há mais de 200 anos, porque em poucas palavras ela trata dos
requisitos essenciais do título de crédito. Quando se fala que o crédito está incorporado
no documento, esta-se falando de cartularidade. Ademais, o conceito traz também os
requisitos da literalidade e da autonomia.

Existem diversos tipos de documentos que representam crédito, por exemplo, cartão
de crédito que coloca dinheiro para o ticket do metrô. Mas nem todo documento que
representa um crédito será necessariamente um título de crédito. Para esses
documentos que representam um crédito mas que não tem os requisitos de um título
de crédito, dá-se o nome de FALSO TÍTULO DE CRÉDITO.

Ainda dentro do conceito de títulos de crédito cumpre destacar o conceito trazido por
Alberto Asquini: “título de crédito é o documento de um direito literal destinado à
circulação, idôneo para conferir de modo autônomo a titularidade de tal direito ao
proprietário do documento e necessário e suficiente para legitimar o possuidor ao
exercício do próprio direito.”

Quais as principais funções de um título de crédito?

Os títulos de crédito possuem duas funções fundamentais:

(i) provar a existência de uma obrigação e constituir um meio técnico para o


exercício de direitos de crédito; e
(ii) facilitar e agilizar a circulação de riquezas.

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Os títulos de crédito permitem que a simples transferência do documento transfira o


direito ali representado, assegurando à circulação dos direitos de crédito o máximo de
simplicidade e segurança.

Assim, podemos afirmar que a função primordial dos títulos de crédito é a mobilização
do crédito. Sua finalidade é a circulação. O título de crédito só é verdadeiramente tal
quando circula. Fora daí ele deve ser visto mais como documento, do que como título
propriamente dito.

Essa visão, aliás, é consagrada pela jurisprudência, que não mais aceita o documento
formal, como meio de o credor se beneficiar de uma situação de abstração ou
autonomia. Assim é que em muitos casos, demonstrado que o título foi criado não para
atender sua função primordial de circulação e mobilização do crédito, tem-se deixado
de aplicar certos princípios favoráveis ao credor.

São conhecidos acórdãos que veem em notas promissórias emitidas unicamente como
garantia de certos contratos de financiamento, ou de abertura de crédito, não mais
um título abstrato, mas um documento representativo de um direito, para cujo
exercício se impõe a demonstração da origem do débito.

Exemplo: as notas promissórias emitidas em branco pelos titulares de contas com


cheque especial, modalidade do contrato de abertura de crédito. A cártula é
preenchida pela instituição financeira (tal prática é vedada – ver Súmula 60 do STJ),
englobando todos os débitos constantes da conta, com os encargos contratuais. Ao
executar apenas o título, está na verdade o banco não se utilizando do mesmo em sua
função, mas com forma de impedir ou dificultar ao extremo a defesa do executado,
pois se executasse o contrato teria de anexar os demonstrativos contábeis.

Por isso, muitos comercialistas não veem como incorretas decisões que não aceitam o
título para execução, exigindo a comprovação dos débitos mediante a anexação do
contrato e dos demonstrativos contábeis.

Nesse sentido é o entendimento do STJ materializado nas seguintes súmulas:

Súmula 258 do STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito


não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado


do demonstrativo do débito, não constitui título executivo extrajudicial,
porquanto carece da liquidez característica dos títulos de crédito.

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Os particulares podem criar novos tipos de títulos de crédito não previstos em lei?

A matéria é objeto de controvérsia na doutrina destacando duas correntes sobre o


tema:

CORRENTE 1) Corrente defendida por Waldirio Bulgarelli, Fernando Boiteux e outros


reconhece que, tendo em vista que um dos atributos dos títulos de crédito é a chamada
legalidade ou tipicidade, ou seja, a impossibilidade estabelecida pela Lei de se
emitirem TCs que não estejam previamente definidos e disciplinados por lei, NÃO seria
dada aos particulares a faculdade de criação de TCs, uma vez que haveria a
necessidade de lei específica sobre cada TC.

CORRENTE 2) Outros doutrinadores defendem que a criação dos títulos atípicos é


perfeitamente válida, admitindo-se assim que os particulares criem documentos
passíveis de endosso ou aval. Para essa corrente os TCs atípicos são regidos pelo CC,
com base no disposto no art. 903 do CC, que determina sua aplicação apenas na
ausência de regra especial.

Com efeito, com o advento do CC/02 os títulos de crédito típicos ou nominados


continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos de
crédito atípicos ou inominados subordinam-se às normas do novo CC, desde que se
enquadrem na definição de TC do art. 887 do CC.

Portanto, o CC se aplicaria nas lacunas dos títulos de crédito típicos e integralmente


aos títulos atípicos

 CÓDIGO CIVIL X LEGISLAÇÃO ESPECIAL:

Como visto acima, podemos concluir, portanto, que existe uma classificação que divide
os títulos de crédito em:

 TÍPICOS (NOMINADOS): são aqueles criados por uma legislação específica, que
os regulamenta. Exs: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata,
cédulas e notas de crédito.

 ATÍPICOS (INOMINADOS): são aqueles criados pela vontade dos próprios


particulares, segundo seus interesses. Isso é permitido, desde que não violem
as regras do Código Civil. Como não são regulados por uma legislação específica,
devem obedecer às normas do Código Civil que tratam sobre títulos de crédito.

IMPORTANTE!!!!!
É interessante mencionar que os títulos atípicos, embora sejam títulos de crédito,
não são títulos executivos, na medida em que a executividade pressupõe um
reconhecimento legal específico. A atipicidade não atinge mais os títulos de crédito,
e sim os títulos executivos.

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Os títulos de crédito atípicos devem observar os requisitos presentes no art. 889, do


CC, que são requisitos mais singelos do que aqueles exigidos nos títulos de crédito
típicos.

O art. 903 do CC explica que a codificação privada (Código Civil) somente se aplica
para os títulos de crédito típicos de forma subsidiária. Vejamos:

“Art. 903 do CC: “Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de
crédito pelo disposto neste Código.”

Vejamos abaixo uma tabela com as principais diferenças dos títulos de crédito típicos
para os títulos atípicos:

CÓDIGO CIVIL LEGISLAÇÃO


CAMBIÁRIA
ÂMBITO DE APLICAÇÃO Títulos atípicos Títulos típicos
JUROS Vedados Permitidos
AVAL PARCIAL Vedado Permitido na LC e NP
CLÁUSULA NÃO À ORDEM Vedada Permitida
CLÁUSULA CAMBIÁRIA Vedada Permitida
OMISSÃO DO REQUISITO LEGAL Não invalida o negócio Invalida o negócio
jurídico jurídico

Exemplo:
Podemos citar como exemplo de título atípico o FICA, ou “vaca-papel”, que consagra
os direitos decorrentes do contrato de parceria pecuária. O objeto do contrato é a
cessão das vacas para cria, engorda, mediante partilha dos riscos e dos lucros. O título
(vaca-papel) representaria justamente o direito ao recebimento dos lucros e à
devolução dos animais entregues.

Tal título tem sido desvirtuado, servindo para simular a existência de um mútuo com
juros extorsivos. Nesse caso, o negócoi se mostra nulo pela existência de simulação e
fraude à lei. Apesar desse desvirtuamento, a existência do título, sem qualquer
simulação ou fraude, seria perfeitamente válida, como um título de crédito atípico.

 TERMINOLOGIA:

Para o estudo dos TCs, é fundamental a análise dos seguintes itens:

(i) cartularidade;
(ii) literalidade;
(iii) autonomia;
(iv) abstração; e

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(v) independência.

Quando a lei trata desses itens ela não os define como sendo um atributo, requisito,
princípio ou uma característica. Logo, cada doutrinador usa uma nomenclatura
diferente para definir cada um desses itens.

Exemplo:
 Prof. Eunápio Borges fala em “atributos essenciais ordinários dos títulos de
crédito”.
 Prof. Ricardo Negrão e Luiz Emygdio falam em “princípios essenciais ordinários
dos títulos de crédito”.
 Já Rubens Requião fala em “características essenciais ordinárias”.
[nomenclatura a ser utilizada na prova EMERJ]

 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS ORDINÁRIAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Passemos a análise de cada uma dessas características essenciais ordinárias dos títulos
de crédito:

1. CARTULARIDADE ou INCORPORAÇÃO:

O título de crédito deve possuir uma existência física, córporea, traduzida em uma
cártula, cuja a exibição é necessária para legitimar o exercício do direito cambial
(crédito) nele contido.

Assim, para a transferência do crédito é preciso que ocorra a transferência do


documento. Portanto, para a exigibilidade do crédito tem-se o requisito da
apresentação do título, servindo a cártula também para fins de LEGITIMAÇÃO do
crédito.

O documento é, pois, fundamental e necessário para o exercício dos direitos nele


referidos. Sem o documento, o titular não pode exigir o direito constante dele.

Em obediência a característica da cartularidade podemos concluir que:

(i) A posse do título pelo devedor presume o pagamento do título. Assim, para
se ter a prova do pagamento do título, é necessária a entrega do próprio
título, afastando a regra do art. 309 do CC, que admite a validade do
pagamento feito ao credor putativo;
(ii) Somente é possível protestar o título apresentando-o; e
(iii) Só é possível executar o título apresentando-o, não suprindo a sua ausência
nem mesmo com cópia autenticada.

Mesmo nos processos eletrônicos, a cartularidade á mantida, com a apresentação do


documento original digitalizado, podendo o juiz exigir que seja provada a retirada de

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circulação do título, com a apresentação do original em juízo ou outra medida nesse


sentido.

Também se costuma utilizar, com o mesmo sentido de cartularidade, a expressão


INCORPORAÇÃO, segundo o qual o direito de crédito se materializa no próprio
documento, não existindo o direito sem o respectivo título. A incorporação representa
a relação direta que se opera entre o documento e o direito de crédito, não existindo
este sem aquele.

O título INCORPORA de tal forma o direito creditício mencionado, que a sua entrega a
outra pessoa significa a transferência da titularidade do crédito. A aquisição da
propriedade do documento representaria a aquisição do próprio direito de crédito.

Quais as exceções já vistas em relação à cartularidade?

Tal aplicação da cartularidade vem sendo mitigada, admitindo-se, em determinadas


hipóteses, a nao apresentação do título original. Por questões de segurança, ou mesmo
por questões de impossibilidade fática de apresentar o original (ex: quando este está
em outro processo), admite-se a apresentação de uma cópia autenticada do TC, com
a assunção de mostrar o original quando pedido ou com certidão de que o original está
em outro processo
É interessante mencionar que a jurisprudência consolidou algumas exceções a
característica da cartularidade, destacando-se:

(i) Segundo a jurisprudência do STJ, não é necessária a apresentação do título


quando esse está anexo a investigação criminal (processo ou inquérito
policial). O STJ admitiu excepcionalmente a execução com cópia
autenticada de título, no caso de cheque que integra o inquérito policial ou
uma ação penal.
(ii) Duplicata virtual; e
(iii) Processo Falimentar.

Hoje é comum a materialização do crédito em arquivos eletrônicos de computador.


Muitos autores vêm dizendo que o princípio da cartularidade foi enfraquecido pelos
títulos de crédito não cartularizados – títulos virtuais (Lei 11.076/04 e art. 889, §3º do
CC). Contudo, é melhor dizer que a cartularidade vem sendo substituída pelo princípio
da incorporação, que é a existência do título em suporte físico ou digital.

É possível a existência de um título de crédito materializado por um arquivo digital?


A duplicata virtual mitiga a cartularidade?

A doutrina diverge sobre o tema. Vejamos as posições:

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CORRENTE 1) O STJ e parte da doutrina entendem que a duplica virtual é uma exceção
à cartularidade. Ou seja, a duplicata virtual não significa o fim da característica da
cartularidade, isso porque TODOS os demais TCs exigem a cartula, com exceção da
duplicata virtual.

O STJ (Infos 502 e 547) determina que o protesto será feito por mera indicação, mas
exige também o recibo, o boleto e o comprovante de entrega da mercadoria, ou seja,
provas de que a relação causal realmente ocorreu.

Nesse sentido, vejamos abaixo os enunciados do CJF sobre o tema:

Enunciado N. 461 CJF: As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por


indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo
credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das
mercadorias ou de prestação dos serviços.

Enunciado N. 462 CJF: Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos,


endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação
digital, respeitadas as exceções previstas em lei.

IMPORTANTE!!!
 Registre-se interessante decisão do Superior Tribunal de Justiça, que
entendeu ser título executivo extrajudicial duplicatas virtuais – emitidas por
meio magnético ou de geração eletrônica, não se exigindo, para o
ajuizamento da execução judicial, a exibição do título.
 Também os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual
devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e
dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços
suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em
princípio, títulos executivos extrajudiciais.
 Já o mero borderô (contrato de desconto bancário) não é considerado por si
só um título executivo extrajudicial. Segundo entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, a executabilidade nesse caso dependerá do título de
crédito dado em garantia ou à assinatura do devedor e de duas testemunhas.
Temática importante.

CORRENTE 2) Outra parte da doutrina entende que, na verdade, não se trata de uma
exceção, pois a cartularidade em si, existe, dentro de um processo de
desmaterialização dos TCs, ou seja, a cártula existe, mas é virtual.

Crítica: o art. 889, par. 3 do CC não está dizendo que o título pode ser corporificado
por um meio eletrônico, ele está dizendo apenas que o título pode ser emitido por
meios eletrônicos (titulo pode ser impresso no computador).

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2. LITERALIDADE:

A literalidade estabelece que somente terá validade para o direito cambiário as


relações constantes do próprio título, ou seja, assegura a certeza quanto à natureza,
conteúdo e modalidade da prestação prometida ou ordenada. Como consequência,
esse princípio impede que meros ajustes verbais possam influir no exercício do direito
mencionado no título.

Esse requisito consagra que o título de crédito se expressa por meio do enunciado
lançado na cártula, de modo que somente o que está nela escrito deve ser levado em
consideração.

Assim, podemos concluir que obrigações que não constam na cártula, não geram
efeitos cambiais.

Exemplo:
 Se o título prevê expressamente um valor de R$10mil, mas foi combinado
verbalmente um valor de R$15mil só poderá ser exigido o valor literal.
 Avalista em documento apartado não é devedor do título.

Assim, temos que os atos documentados em instrumentos apartados ainda que válidos,
nao podem ser opostos ao portador de boa-fé do título.

Exemplo:
 A quitação dada em documento apartado não pode ser oposta ao possuidor de
boa-fé que tenha adquirido o título por meio de circulação.

E se faltar algum dado essencial de um título de crédito?

STF diz que as lacunas podem ser preenchidas, conforme se depreende da redação da
Súmula 387.

Súmula 387 do STF: a cambial emitida ou aceita com omissões ou em branco pode
ser completada pelo credor de boa fé, antes da cobrança e do protesto.

Questão de Concurso) 😊😊😊


É nulo o título que depois é preenchido ou completado – FALSO.

A característica da literalidade se aplica a TODOS os títulos de crédito?

A literalidade não se aplica à duplicata. Isso porque na duplicata é admitida a quitação


em documento separado (art. 9 da Lei 5474/68), a compensação de valores não
previstos no título (art. 10 da Lei 5474) e a assunção de obrigação fora do título como
o chamado aceite presumido.

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IMPORTANTE!!!!
 A jurisprudência do STJ inicialmente não admitia a cobrança de encargos não
expressamente previstos no título, ainda que decorrentes do contrato
subjacente.
 Todavia, tal orientação foi superada, uma vez que não haveria sentido em
não impor ao devedor uma obrigação que ele conhece e já assumiu nos
termos do contrato subjacente.
 Por isso no REsp 167707 o STJ decidiu que: “a nota promissória vinculada a
contrato de empréstimo pessoal e fazendo-se acompanhar deste último, a
taxa de juros é aquela estabelecida na avença.”
 Dentro da mesma linha, tem se admitido que esse outro documento a que se
refere o título de crédito supra até algum dos requisitos essenciais ao título
de crédito, uma vez que a vinculação expressa permitiria a qualquer um ter
a ciência de todos os elmentos que interessam sobre a obrigação (REsp
968.320)

Quando falamos em título de crédito estamos falando de direito privado, que está
intimamente ligado ao Princípio da Legalidade. Assim, pode-se fazer qualquer
convenção no título de crédito, desde que nao seja proibida por lei.

E se lançar na cártula uma previsão ilegal? A cártula perde seu valor juridico?

Não! A cártula não perde seu valor jurídico, isso porque as disposições ilegais lançadas
na cártula são consideradas como NÃO-ESCRITAS.

A não observância da característica da literalidade no título de crédito, faz com que o


documento nao seja enquadrado como título de crédito.

3. AUTONOMIA:

A autonomia estabelece que as relações jurídico-cambiais são autônomas e


independentes entre si. Entende-se que o título de crédito configura documento
constitutivo de direito novo, autônomo, originário e completamente desvinculado da
relação que lhe deu origem.

Assim, cada um dos credores ou devedores do título possui uma obrigação autônoma,
no sentido de que seu crédito ou seu débito não é afetado por questões que digam
respeito a outras pessoas.

A autonomia qualifica o direito cambiário dos sucessivos titulares entre si.

Sob o ponto de vista dos sucessivos credores, a autonomia se aplica em duas situações
essenciais:

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 Ao credor de boa-fé não são oponíveis matérias ligadas a terceiros; e


 Não pode ser oposta ao possuidor do título a falta de legitimidade de quem o
transferiu.

Assim, qualquer pessoa de boa-fé, que adquira a condição de credora do título de


crédito obtém um direito novo como se fosse um credor originário, não ocupando a
posição do antigo credor.

AgRg no AREsp 724.963: “à luz dos arts. 915 e 916 do CC, o devedor só pode ao
portador as exceções fundadas na relação pessoal com este ou em relação ao
título, em aspectos formais e materiais, salvo na hipótese de má-fé do
endossatário, não verificada na espécie.”

Exemplo:
Romário emitiu uma nota promissória (que recebeu o aval de Ricardo) para Edmundo
que a endossou para Ronaldo. Considerando que houve 3 assinaturas (emissão, endosso
e aval), sem qualquer menção em contrário, temos 3 devedores solidários desse título.

ROMÁRIO ____________ EDMUNDO _____________ RONALDO

RICARDO
SE Romário for absolutamente incapaz e não for representado, a sua obrigação é nula.
Embora seja sua assinatura que crie o título, isso não invalida o título em si, nem as
demais obrigações. Ricardo e Edmundo continuarão sendo devedores do TC. Do mesmo
modo, se a assinatura de Romário for falsa, todas as outras obrigações se mantém,
dada a autonomia das obrigações (art. 7 da LUG)

Quais os principais efeitos da autonomia?

A autonomia traz duas consequências principais:

(i) Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé (processual):

Ao legítimo possuidor de um título de crédito, SALVO nas hipóteses em que fique


configurada sua má-fé, não se aplicam às exceções decorrentes de relações jurídicas
estabelecidas entre o devedor e os antigos portadores do título de crédito.

Só se pode suscitar a causa debendi em face do credor primitivo ou do terceiro ciente


dos vícios (má-fé). O portador legítimo do título de crédito exerce um direito próprio
e autônomo, desvinculado das relações jurídicas antecedentes.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Sendo assim, o portador do título não pode ser atingido por defesas relativas a negócios
do qual ele não participou. O título chega a ele completamente livre de vícios que
eventualmente adquiriu em relações pretéritas.

Esse princípio está assegurado no art. 7 da LUG e no mesmo sentido dispõe o art. 916
do CC.

Além disso, é interessante mencionar que a boa-fé do portador do título se presume,


por isso, para que o devedor oponha exceções pessoais contra ele, deverá se
desincumbir do ônus de provar a sua má-fé.

Exemplo:
Cleber vende o celular para Nestor (compra e venda de celular). Acertam o valor de
300 reais. Nestor emite uma nota promissória com vencimento para 25/11/14. Nestor
passa a ser o devedor da nota promissória e Cleber o credor. O celular apresentou vício
e Nestor não pagou. Cleber ajuizou execução e nos embargos Nestor pode sim
apresentar a exceção pessoal de falha no produto. Mas vamos supor que Cleber passe
a nota promissória para Novelino (terceiro de boa-fé – novo credor). Novelino procura
Nestor para o pagamento e ele alega que o celular está com defeito. Isso pode? NÃO.
Aí é que está a autonomia, que é a grande garantia do crédito. Pouco importa o que
ocorreu nas relações anteriores.

(ii) Independência das Obrigações Cambiais:

Por força da autonomia, na sua faceta da “independência das obrigações cambiais”,


tem-se que as obrigações cambiais contidas no mesmo título são autonômas entre si,
de modo que eventuais vícios presentes em alguma delas não são aptos a macular a
validade das demais obrigações.

Exemplo: incapaz que assina a promissória, mas o avalista que assinou no mesmo título
é capaz. Embora a obrigação do incapaz seja inválida (obrigação principal), a obrigação
do avalista é valida, logo, se o avalista for acionado, deverá pagar o valor do título.

O acessório não segue a sorte do principal quando se trata de TCs. Não há falar em
acessoriedade quando a discussão envolver um título de crédito.

4. ABSTRAÇÃO:

O atributo da abstração está presente quando a emissão do título de crédito não está
vinculada por lei a nenhuma modalidade específica de negócio jurídico.

Assim, não importa a origem do título, ele existe abstratamente, completamente


desvinculado da relação inicial.

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A abstração deriva da cartularidade ou da incorporação, na medida em que o direito


incorporado ao título de crédito existirá por si só, desvinculado da relação jurídica
subjacente.

Quem recebe o TC recebe um direito abstrato, isto é, um direito não dependente do


negócio que deu origem ao título.

Com a transferência do título a terceiro de boa-fé ocorre a desvinculação do negócio


que lhe deu origem. Posto em circulação, o título passa a vincular outras pessoas que
não participaram da relação originárias, e que, por isso, assumem obrigações e direitos
tão somente em função do título.

A abstração tem relação direta com o princípio da boa fé. Se o credor está de boa-fé
ele não ser afetado por defesas causas, isto é, por defesas ligadas ao negócio jurídico.
Por outro lado, se o credor está de má-fé, não há motivo para protege-lo e, por isso,
ele poderá ser afetado pelo negócio jurídico que deu origem ao título.

Assim, a abstração não poderá ser invocada pelo credor sempre, isto é, o credor ainda
ficará sujeito as exceções causais, baseadas no negócio subjacente, quando ele não
estiver de boa-fé. Essa ausência de boa fé se apresenta em 3 situações:

(i) quando o credor participou do negócio viciado;


(ii) quando o credor tem conhecimento dos vícios do negócio;
(iii) quando o credor deveria ter conhecimento dos vícios do negócio (ex:
quando o credor adquire um título que faz menção expressa ao negócio
jurídico, isto é, o credor adquire um título com menção expressa à origem
desse título. As defesas causais nessa situação poderão ser opostas a
qualquer credor do título).

Vejamos alguns julgados que comprovam tais assertivas:

REsp 1361937: “DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DO


DEVEDOR. EXECUÇÃO DE NOTA PROMISSÓRIA. GARANTIA. AUSÊNCIA DE
CIRCULAÇÃO. NEGÓCIO SUBJACENTE. VÍCIOS DE CONSENTIMENTO. ESTADO DE
NECESSIDADE. ARTIGOS ANALISADOS: 17 DO DEC. 57.663/66; 156 DO CC/02. 2.
Discute-se a exequibilidade de nota promissória emitida em garantia de
pagamento por serviços médicos, prestados em regime de emergência a paciente
acometido de infarto do miocárdio, diante da alegação de vício de consentimento.
3. A autonomia e abstração dos títulos de crédito manifestam-se nas relações
cambiais com terceiros de boa-fé, portadores dos títulos. 4. Perante o credor
originário da nota promissória, o devedor se obriga por meio de uma relação
estritamente contratual, a qual se aplica à integralidade o Código Civil. 5. O
desequilíbrio latente na relação constituída em momento de grave angústia e
fragilidade da parte devedora, em que se busca pronto-atendimento de
emergência, caracteriza o elemento subjetivo exigido pelo art. 156 do CC,
devendo-se verificar a existência de excessiva onerosidade, a fim de configurar o

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estado de necessidade. 6. Imprescindível se oportunizar a dilação probatória às


partes, a fim de demonstrar ou afastar o equilíbrio entre os valores executados e
os serviços efetivamente prestados e, por conseguinte, reconhecer ou afastar o
vício de consentimento alegado.

RESP 1608424/SP: RECURSO ESPECIAL. DIREITO COMERCIAL. EMBARGOS À


EXECUÇÃO. TÍTULOS EXTRAJUDICIAIS. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE QUOTAS
SOCIAIS. EMISSÃO DE NOTAS PROMISSÓRIAS EM GARANTIA. NULIDADE DO
CONTRATO. RECONHECIMENTO JUDICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO.
PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO. OFENSA À COISA JULGADA. AUSÊNCIA DE
CIRCULAÇÃO DOS TÍTULOS. PERDA DE EXIGIBILIDADE. VINCULAÇÃO AO NEGÓCIO
ORIGINAL. 1. Embargos à execução fundada em contrato de compromisso de
compra e venda de quotas sociais e de 96 (noventa e seis) das 143 (cento e
quarenta e três) notas promissórias a ele vinculadas. Superveniência do trânsito
em julgado de sentença na qual restou reconhecida a nulidade do negócio jurídico
original. 2. Acórdão recorrido que, a despeito do advento do trânsito em julgado
de sentença que declarou a nulidade do contrato a que vinculadas as
notas promissórias executadas, determinou o prosseguimento do feito executório
com o abatimento de apenas parte do crédito, valendo-se para tanto do
fundamento de que no contrato tido como nulo existiria negócio não alcançado
pelos efeitos da nulidade decretada. 5. O reconhecimento da nulidade integral de
contrato, por decisão judicial transitada em julgado, obsta que seja
posteriormente reconhecida, em ações distintas, a validade parcial dessa mesma
avença, sob pena de se incorrer em grave ofensa à autoridade da coisa julgada. 6.
O reconhecimento da nulidade do contrato original torna inexigíveis as
notas promissórias pro solvendo emitidas em garantia do negócio ali
avançado, especialmente quando, por não terem circulado, apresentam-se
desprovidas da abstração. 7. Recurso especial provido.”

REsp 612.425: “Processual Civil. Comercial. Recurso especial. Execução. Cheques


pós-datados. Repasse à empresa de factoring. Negócio subjacente. Discussão.
Possibilidade, em hipóteses excepcionais. - A emissão de cheque pós-datado,
popularmente conhecido como cheque pré-datado, não o desnatura como título
de crédito, e traz como única conseqüência a ampliação do prazo de apresentação.
Da autonomia e da independência emana a regra de que o cheque não se vincula
ao negócio jurídico que lhe deu origem, pois o possuidor de boa-fé não pode ser
restringido em virtude das relações entre anteriores possuidores e o emitente.
Comprovada, todavia, a ciência, pelo terceiro adquirente, sobre a mácula
no negócio jurídico que deu origem à emissão do cheque, as exceções pessoais
do devedor passam a ser oponíveis ao portador, ainda que se trate de empresa
de factoring. Nessa hipótese, os prejuízos decorrentes da impossibilidade de
cobrança do crédito, pela faturizadora, do emitente do cheque, devem ser
discutidos em ação própria, a ser proposta em face do faturizado. Recurso especial
não conhecido.”

A autonomia e a abstração não merecem ser confundidas, como segue:

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AUTONOMIA ABSTRAÇÃO
 Independência das relações  Desvinculação do negócio à causa
cambiárias; debendi.
 Não influência de uma obrigação
sobre as outras obrigações do TC.

5. INDEPENDÊNCIA:

A independência consagra a ideia de que o título vale por si só, não precisando ser
complementado por outros documentos. O TC basta a si mesmo.

Por força do atributo da independência a cobrança do direito cambial pressupõe


exclusivamente a apresentação da cártula.

Exemplo:
Em um eventual processo de execução de um cheque, o título é suficiente, não
precisando, em regra, ser acompanhado de outros documentos, como contratos ou
notas fiscais.

Essa característica não se aplica a todos os títulos, pois alguns títulos, como a cédula
de crédito rural, em que a própria lei estabelece a necessidade de vir acompanhada
de orçamento ou as cédulas de crédito bancário que devem ser acompanhadas de
extratos bancários.

 NATUREZA JURÍDICA DOS TITULOS DE CRÉDITO:

A doutrina diverge sobre a natureza jurídica dos títulos de crédito, existindo


basicamente 3 perspectivas:

CORRENTE 1) Para os civilistas, o TC é uma coisa, bem móvel corpóreo, justamente


por conta da cartularidade.

CORRENTE 2) Para os processualistas, o TC é um título executivo extrajudicial. A LUG


traz as ações cambiais.

CORRENTE 3) Para os defendores do Direito Comercial, o TC corresponde a um ato de


empresa por força de lei. Atos de empresa por força de lei são aqueles atos que mesmo
que não praticados por empresários, ou mesmo que não relacionados à atividade
empresarial, possuem natureza empresária diante do objetivo do legislador em fazer
recair sobre eles as caracteristicas e princípios próprios do Direito Empresarial.

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 DO FORMALISMO OU RIGOR CAMBIÁRIO:

Para a emissão da cártula é necessária a observância de diversos requisitos


taxativamente previstos em lei, sob pena do documento não valer como título de
crédito.

A não observância dos requisitos não gera nulidade do documento, mas apenas não se
reconhece ao documento os efeitos de um título de crédito (art. 888 do CC).

Assim, se uma nota promissória não contiver o nome de seu beneficiário, por exemplo,
ela nao pode ser tratada como uma nota promissória, não podendo gozar, portanto, do
tratamento peculiar dos títulos de crédito, não sendo, por exemplo, passivel de
execução.

RESp 870.704: “DIREITO CAMBIÁRIO. NOTA PROMISSÓRIA. OMISSÕES. EXECUÇÃO


EXTINTA. SUPRIMENTO DO VÍCIO. AJUIZAMENTO DE NOVO PROCESSO EXECUTÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. 1. Nos termos da Súmula n. 387/STF, a cambial emitida ou
aceita, com omissões ou em branco, somente até a cobrança ou o protesto pode
ser completada pelo credor de boa-fé. 2. A execução anteriormente proposta com
base em promissória contendo omissões nos campos relativos à data da emissão,
nome da emitente e do beneficiário, além da cidade onde foi sacada, foi extinta
por desistência. Descabe agora ao credor, após o preenchimento dos claros,
ajuizar novo processo executório, remanescendo-lhe apenas a via ordinária. 3.
Recurso especial não provido.”

 DA NATUREZA QUESÍVEL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Vejamos abaixo os tipos de obrigações existentes:

 Obrigações Portáveis: compete ao devedor buscar o credor para operar o


pagamento na data do vencimento.

 Obrigações Quesíveis: compete ao credor buscar o devedor no vencimento da


obrigação para promover a cobrança.

Como no caso dos TC o devedor não tem certeza de quem é o atual credor do título
(em razão da circulação), nada mais lógico que o credor apresente o TC ao devedor
para poder exigir seu pagamento.

Diante da necessidade de apresentação do TC ao devedor, o TC consiste em uma


obrigação de NATUREZA QUESÍVEL, no sentido de que cabe ao credro dirigir-se ao
devedor para exigir o cumprimento da obrigação.

A natureza quesível dos TCs é o que vai justificar o instituto do protesto. Se o título
não é pago, o tabelião certifica que houve a cobrança pessoal, mas o pagamento não
foi feito.

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 DO CARÁTER PRO-SOLVENDO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Em regra todos os tcs possuem caráter pro-solvendo, o que significa dizer que o
surgimento da obrigação cambial não substitui a obrigação contratual que lhe deu
causa.

O surgimento da obrigação cambial não gera novação, não extingue a relação


contratual.

O TC nasce por causa de uma relação jurídica causal para criar um crédito para uma
pessoa. Entretanto, ao nascer, ele se desprende dessa relação para possuir
negociabilidade e circulabilidade.

Dessa forma, o credor pode demandar o devedor independente da relação jurídica


causal que deu causa ao título, ou seja, a relação jurídica que deu causa ao título pode
até ser nula que a relação cambiária permanece valendo.

Exemplo:
Relação causal de c&v de imóvel: nota promissória // c&v de mercadoria ou prestação
de serviço: duplicata

Assim, a relação que deu origem ao título só se extingue com o efetivo pagamento do
título. A simples entrega do título ao credor não significa a efetivação do pagamento.
Em outras palavras, a emissão do título não extingue a obrigação que lhe deu origem,
de modo que as duas, a obrigação cambial e a originária, coexistem.

REsp 1199001/RS: “O cheque, ordem de pagamento à vista, tem por função


extinguir a obrigação causal que ensejou sua emissão; sendo, em regra, pro
solvendo, de modo que, salvo pactuaçao em contrário, só extingue a dívida, isto
é, a obrigação que a cártula visa satisfazer consubstanciada em pagamento de
importância em dinheiro, com o efetivo pagamento.”

Com a emissão do título, estamos diante da mesma obrigação, dotada de outra


roupagem, a cambial; prova disso é a perda ou destruição do título não impede que o
credor ajuíze uma ação baseada no contrato. Assim, se o cheque emitido pelo
comprador, no contrato de compra e venda, for destruído, resta ao vendedor exigir o
pagamento do preço com base no contrato.

Existe alguma exceção à regra de que os títulos de crédito tem natureza pro
solvendo?

Sim!!! Excepcionalmente, a natureza do TC será PRO SOLUTO (para a morte da relação


jurídica causal), que não se presume, devendo vir escrita no próprio TC. Nessa hipótese
o surgimento da obrigação cambial provoca a extinção por novação da obrigação
contratual que lhe deu causa.

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Exemplo:
Maria comprou um sapato com um cheque. A loja endossou o cheque para um credor
X seu. Caso X perca o prazo de apresentação do cheque, ele terá direito de ingressar
com ação monitória. Caso também perca o prazo da ação monitória, terá direito a
ingressar com uma ação de conhecimento devendo provar toda a relação causal até o
título chegar em suas mãos. Entretanto, se o TC tiver natureza pro soluto, a relação
causal não existirá mais e ele não terá mais esse direito.

TÍTULO PRO SOLVENDO TÍTULO PRO SOLUTO


Para pagamento = só extingue a obrigação Em pagamento (quitação) = a obrigação
(causa subjacente) após sua liquidação. se extingue com a emissão do título ao
Não implica em novação. credor, que passa a contar apenas com o
direito cambial. Implica novação.

 CIRCULAÇÃO:

Uma das funções do TC é justamente permitir a circulação mais ágil de riquezas, daí
falar-se em cambiariedade dos TCs, entendida como a possibilidade de mudança do
credor, a possibilidade de transferência do crédito.

Isso não quer dizer, contudo, que os títulos de crédito sempre vão circular. Os TC
nascem para circular e essa é uma possibilidade que, em regra, se põe à disposição do
credor.

 TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO:

Os TC são títulos de apresentação, ou seja, sem a posse do TC ou legitimação judicial


não é possível exercer o direito cambiário.

O credor deverá sempre apresentar o TC ao devedor. E o devedor deve ter a cautela


de somente efetuar o pagamento a quem seja o portador legítimo do TC, evitando o
mau pagamento, que geraria o dever de pagar de novo a mesma obrigação.

 TÍTULO DE RESGATE:

Ao realizar o pagamento o devedor deve ter o cuidado de exigir a entrega do título


(LUG – art. 39 e art. 901 do CC) para evitar que o TC circule novamente, e, chegando
às mãos de um terceiro de boa-fé, a obrigação lhe seja novamente exigida. Em razão
disso, diz-se que o TC é um título de regaste.

 EXECUTIVIDADE:

O TC é um título executivo extrajudicial e, por isso, eles não precisam de confirmação


judicial. Quem tem um título de crédito pode requerer de imediato a adoção de

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medidas satisfativas do seu crédito, isto é, pode ajuizar diretamente um processo de


execução.

Tal característica não se aplica aos chamados títulos atípicos.

 PRESUNÇÃO DE LIQUIDEZ E CERTEZA:

O art. 783 do CPC exige que a execução seja fundada em um título liquido, certo e
exigível. Assim, qualquer título só poderá ser executado se atender esses 3
pressupostos.

O títulos de crédito possuem, a princípio, liquidez e certeza, uma vez que o documento
é suficiente para atestar a existência do crédito e, em regra, seu valor ou os critérios
para se chegar a seu valor estão definidos no título. Isso não impede, todavia, provas
em sentido contrário que podem afastar a liquidez ou a certeza do título de crédito.

 SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA:

Entende-se que há solidariedade nas obrigações cambiais. De acordo com essa


característica, todos aqueles que assinam a cártula são solidariamente responsáveis
pelo pagamento do título de crédito.
O credor poderá exigir de um, de alguns ou de todos o pagamento integral do título
(art. 47 da LUG).

Na solidariedade cambiária, o devedor pode cobrar a integralidade da dívida do outro


devedor solidário, mas somente se esse lhe for anterior, ou seja, o direito de regresso
somente poderá ser exercido em face dos devedores anteriores – assim, o pagamento
feito por determinado devedor extingue a obrigação de todos os devedores posteriores
a ele, não havendo mais como cogitar da cobrança desses codevedores posteriores.
Nesse sentido, o devedor originário não tem direito de regresso, pois não há coobrigado
anterior a ele.

SOLIDARIEDADE CIVIL SOLIDARIEDADE CAMBIÁRIA


 A obrigação dos devedores tem uma  A obrigação de cada devedor tem
causa comum uma causa distinta
 Unidade de prestação  Pluralidade de prestações
 Qualquer codevedor que pagar tem  Nem todos os codevedores têm
direito de regresso contra os outros direito de regresso contra os demais
 O direito de regresso pode ser exercido  O direito de regresso, quando existir,
contra todos os codevedores só é possível em relação aos
devedores anteriores
 O direito de regresso é pela quota-parte  O direito de regresso é exercido por
dos demais (art. 283, do CC) todo o valor do título (art. 49 LUG)
 A interrupção da prescrição em face de  A prescrição é individual, corre-se ou
um devedor afeta os demais (art. 202, interrompe-se para cada codevedor
§1º, do CC) (art. 71, da LUG)

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Exemplo de Solidariedade Civil:


 Romário, Edmundo e Ricardo são devedores solidários de um CONTRATO que
tem como credor Ronaldo. Ronaldo cobra Ricardo, o qual, por sua vez, efetua
o pagamento. Com isso nasce para ele o direito de regresso que pode ser
exercido em face do Romário e de Edmundo.

Exemplo Solidariedade Cambiária:


 Romário emitiu uma nota promissória (que recebeu o aval do Ricardo) para
Edmundo, que a endossou para Ronaldo. Considerando que houve 3 assinaturas
(emissão, endosso e aval), sem qualquer menção em contrário, então temos 3
devedores solidários desse título.

Romário ---------- Edmundo ------------ Ronaldo


Ricardo

 Ao pagar o título, Ricardo só poderá exercer o direito de regresso contra


Romário, uma vez que Edmundo é devedor posterior a ele. Assim o pagamento
feito por Ricardo já extinguiu a obrigação de Edmundo, nada mais podendo ser
exigido dele, nem em ação de regresso.

 DO COSMOPOLITISMO:

Os títulos de crédito foram criados com ânimo de gerar circulação de riqueza mesmo
fora dos limites geográficos de um único país. Dentro desse contexto, percebe-se um
esforço a nível mundial de harmonizar o tratamento dos títulos de crédito, o que se
traduz no cosmopolitismo e tem sua maior expressão na LUG que é o tratado
internacional assinado por todos os países civilizados do mundo e que contém regras
básicas de direito cambial que no Brasil valem para TODOS os títulos de crédito típicos.

 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Os títulos de crédito apresentam várias formas possíveis e, por isso, podem ser reunidos
em categorias para efeito de classificação, cujo valor é apenas didático e não guarda
uniformidade na doutrina. Vejamos abaixo algumas dessas classificações:

 LIVRE: não precisa observar padrão (ex.: letra de câmbio e


MODELO nota promissória).
 VINCULADO: há um padrão de forma e preenchimento (ex.:
cheque e duplicata).

 ORDEM DE PAGAMENTO: enseja em três situações jurídicas


(ordenador, beneficiário e destinatário da ordem). Ex.:
ESTRUTURA letra de câmbio, cheque e duplicata.
 PROMESSA DE PAGAMENTO: gera duas situações jurídicas
(promitente e beneficiário). Ex.: Nota promissória.

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 CAUSAIS: a lei define as possíveis causas de sua emissão,


constando no título a obrigação que lhes deu causa. Ex.:
HIPÓTESES DE Duplicata.
EMISSÃO  NÃO CAUSAIS (ABSTRATOS): podem ser emitidos por
qualquer causa. Ex.: cheque e nota promissória.

 AO PORTADOR: transmissíveis por mera tradição, pois não


identificam o credor. É vedada a expedição de títulos ao
portador sem autorização legal. A Lei 9069/95, que institui
o plano real, autorizou a emissão de cheque ao portador até
R$100,00.
 NOMINAIS: o título necessariamente identifica o credor.
CIRCULAÇÃO Podem ser:
a) Nominativos: dependem de registro em livro emitente
para serem exigidos (art. 921 do CC).
b) À ordem: são transferidos por mero endosso (o
endossante responde pelo pagamento do título – o art.
914 do CC não é aplicável aos títulos próprios),
dispensando qualquer outra formalidade.
c) Não à ordem: circulam mediante cessão de crédito (o
cedente não reponde pelo pagamento do título – art.
296 do CC), não podendo ser endossados.

Casos Concretos:

Questão 1)

Como compatibilizar o princípio da cartularidade com a existência da duplicata


virtual. Existe amparo legal para a previsão da duplicata virtual? Resposta
fundamentadamente.

Resposta:

O princípio da cartularidade estabelece que o crédito deve estar materializado em um


documento (título). Dessa forma, para a transferência do crédito é preciso que ocorra
também a transferência do documento.

Sobre a compatibilização do princípio da cartularidade com a existência da duplicata


virtual a doutrina se divide da seguinte forma:

CORRENTE 1) Corrente defendida por Waldirio Bulgarelli, Fernando Boiteux, Gladston


Mamede, Fábio Ulhoa Coelho entende que NÃO é possível a compatibilização da
duplicata virtual com a cartularidade, pois a disciplina dos títulos de crédito se
submete aos princípios da tipicidade (legalidade) e da literalidade. Nesse sentido, não
seria dado aos particulares a possibilidade de criação de títulos de crédito, uma vez

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que haveria a necessidade de lei específica sobre cada título de crédito. Assim, os
particulares poderiam criar documentos de crédito, mas não títulos de crédito; logo,
tais documentos não seriam passíveis dos institutos típicos dos títulos de crédito, como
endosso e aval, e seriam submetidos ao regime geral dos contratos.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Luiz Emygdio Rosa Júnior, José Engrácia Antunes,
Newton de Lucca, Marlon Tomazette defende que é possível SIM a compatibilização da
duplicata virtual com a cartularidade, pois se destinam a negócios peculiares quando
os títulos típicos não sejam capazes de atender às necessidades privadas.

A jurisprudência adotou o posicionamento da segunda corrente, ao sustentar que:

“REsp 1.633.399/SP: “Com o advento do Diploma civilista, passou a existir uma


dualidade de regramento legal: os títulos de crédito típicos ou nominados
continuam a ser disciplinados pelas leis especiais de regência, enquanto os títulos
atípicos ou inominados subordinam-se às normas do novo Código, desde que se
enquadrem na definição de título de crédito constante no art. 887 do Código
Civil.”

Como consequência a esse entendimento, o mais correto seria dizer que a


cartularidade vem sendo substituída pelo princípio da incorporação, que é a existência
do título em suporte físico ou digital. E, assim, não existe qualquer incompatibilidade
entre o princípio da cartularidade e a existência da duplicata virtual.

Questão 2)

Por que se pode afirmar que a nota promissória, na condição de título cambiário, é
um título de crédito cartular, literal, autônomo e abstrato?

Resposta:

A nota promissória se refere a uma promessa de pagamento em que o saque cria duas
posições jurídicas: o sacador e o sacado. Dessa forma, diz-se que se trata de um título
CARTULAR porque o crédito deve estar materializado em um documento, ou seja, para
a transferência do crédito é necessária a transferência do documento.

Além disso, entende-se que esse é um título LITERAL porque só tem validade para o
direito cambiário as relações constantes do próprio título e, por isso, assegura a
certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade da prestação prometida ou
ordenada, impedindo que meros ajustes verbais possam influenciar no exercício
mencionado no título.

É também tido como um título AUTÔNOMO, uma vez que as relações jurídico-cambiais
são autônomas e independentes entre si. Dessa forma, as obrigações cambiárias não
dependem da validade de uma declaração do subscritor.

25
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Por fim, é considerado como ABSTRATO em virtude do fato que com a transferência do
título a terceiro de boa-fé ocorre a desvinculação do negócio que lhe deu origem.

Questão 3)

Sobre o princípio da inoponibilidade de exceções cartulares, responda:


a) Qual é o enunciado e seu amparo legal?
b) O princípio tem aplicação aos títulos de crédito, independentemente da forma
de circulação?

Resposta:

A) Entende-se por Princípio da Inoponibilidade das Exceções Cartulares o fato de


que somente se pode suscitar a causa debendi em face do credor primitivo ou do
terceiro ciente dos vícios (má-fé). Ele está previsto no art. 17 da LUG e no art.
916, V do CC.

B) O Princípio da Inoponibilidade das Exceções Cartulares deve ser aplicado quando


os títulos de crédito forem transferidos através de endosso, mas não deve ser
aplicado no caso desses circularem pela forma de cessão de crédito (art. 294 do
CC).

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Aula 2 – Prof. Luiz Gustavo Mourão


26/10/18

EMENTA:  LETRA DE CÂMBIO.


 Conceito.
 Natureza Jurídica.
 Legislação aplicável.
 Requisitos essenciais.
 Institutos cambiários.
 Pagamento.
 Apresentação.
 Protesto.
 Ação cambiária.

 LETRA DE CÂMBIO:

A letra de câmbio consiste em ordem de pagamento pura e simples emitida pelo


sacador contra o sacado, em favor do tomador ou benificiário, no valor e nos termos
dela constantes (Decreto 57.663/1966). O regime da letra de câmbio é o geral,
aplicado, no que couber, aos demais títulos cambiais.

Quem cria o título promete que outra pessoa efetuará o pagamento. Neste documento
o que interessa é que o sacador promete que o sacado vai pagar o beneficiário.

 NATUREZA JURÍDICA:

A natureza jurídica da letra de câmbio é de ORDEM DE PAGAMENTO À VISTA OU A


PRAZO.

Quem são as partes envolvidas em uma transação envolvendo a letra de câmbio?

Temos 3 partes envolvidas na letra de câmbio:

(i) SACADOR (EMITENTE): é aquele que emite a letra, aquele que ordena o
pagamento para o sacado e responde pelo não cumprimento por parte deste.

(ii) SACADO: destinatário da ordem, que deverá realizar o pagamento. O caso só se


torna obrigado a cumprir essa ordem se assumir a obrigação assinando o título;
e

(iii) TOMADOR (BENEFICIÁRIO): em favor de quem é dirigida a ordem, beneficiário do


pagamento.

Em suma, o sacador dá uma ordem ao sacado para que ele pague determinada quantia
ao beneficiário.

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O instituto sempre envolve 3 personagens: o emitente ou sacador, que emite a letra


de câmbio em favor do tomador ou beneficiário, que é o credor em face do sacado,
que só será considerado devedor principal caso emita o aceite, tornando-se o
aceitante. Diante da recusa do aceite, o tomador deverá cobrar do sacador, que é o
coobrigado garantidor do título.

SACADOR SACADO

BENEFICIÁRIO

Tanto o sacador quanto o sacado (após o aceite) são codevedores do título.

Exemplo: Romário (sacador), Edmundo (sacado) e Ronaldo (beneficiário). Romário é


credor de Edumundo por determinado obrigação e, antes do pagamento dessa
obrigação, Romário compra mercadorias de Ronaldo para pagá-las no mesmo dia em
que teria que receber de Edmundo. A fim de simplificar o seu procedimento, Romário
emite uma letra de câmbio, na qual ela dá a Edmundo uma ordem para que ele pague
Ronaldo no vencimento. Nessa situação Ronaldo poderá procurar Edmundo para tentar
receber dele o seu crédito.

Destaca-se, ainda, que uma mesma pessoa pode ocupar mais de uma posição (ex.:
sacador e tomador ou sacador e sacado). Dessa forma, o sacador, sacado e tomador
não precisam necessariamente ser pessoas diferentes. É possível, por exemplo, sacador
e tomador serem a mesma pessoa.

De fato, a LUG admite, em seu art. 3.º, que a letra seja sacada:

(i) à ordem do próprio sacador;


(ii) sobre o próprio sacador; ou
(iii) por ordem e conta de terceiro.

No Brasil a letra de crédito não vingou, pois foi substituída pela duplicata.

Em que consiste o SAQUE?

O saque é o ato de criação do título de crédito, exercido pela figura do sacador, que
o emite em favor de um terceiro (tomador) ou do próprio sacador. Ainda, também é
possível que o sacador emita um título de crédito em desfavor dele mesmo (ex.1).

Ex1: cheque administrativo - em que o banco se posiciona como sacador e sacado.

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O SAQUE é a declaração cambial originária dos títulos de crédito representativos de


ordens de pagamento. O saque representa simultaneamente o ato de criação do título
e a emissão da ordem de pagamento propriamente dita.

O SAQUE é, portanto, sinônimo de ORDEM DE PAGAMENTO.

Para ser letra de câmbio pressupõe sempre 3 partes (sacador/sacado/beneficiário). A


duplicata, por sua vez, tem somente sacador e sacado.

A figura do endossante e do endossatário são figuras acidentais, no sentido de não


serem obrigatórias. Uma LC que não foi endossada não deixa de ser LC por conta disso.

Da mesma maneira, a LC pode ser objeto de AVAL. Com o aval, passa-se a ter a figura
do avalista e do avalizado.

Quanto a ordem de pagamento, quando ela é aceita, o sacado também se torna


aceitante. O fato do sacado rejeitar a ordem de pagamento não descaracteriza a LC
como título de crédito.

 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL:

No Brasil, as letras de câmbio foram regidas inicialmente pelo Código Comercial de


1850. Contudo, a parte que tratava do tema foi revogada pelo Decreto 2.044/1908.
Durante a vigência desse Decreto foi realizada a Convenção de Genebra que buscava a
uniformização mundial no tratamento da letra de câmbio e nota promissória.

A Lei Uniforme de Genebra (Decreto 57.663/66) representa uma tentativa de uma


legislação comum entre vários países. Essa uniformização se deu em relação às regras
consideradas necessárias, na medida em que em relação às demais regras havia a
possibilidade de adoção de reservas.

A reserva representa a mera possibilidade jurídica para o legislador nacional e não a


obrigação de modificar o regime imposto pela LUG. Além das reservas, admitiu-se que
em alguns casos que o legislador nacional regulasse diretamente determinado assunto,
independentemente da derrogação das normas da LUG.

A LUG foi incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro, com as reservas permitidas


pelos arts. 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 15, 16, 17, 19 e 20 do anexo II. O Brasil não adotou
integralmente a LUG, tendo feito 13 das 23 reservas permitidas.

Assim, temos como legislação primária a LUG naquilo em que não foi objeto de reserva
e também os dispositivos citados do Decreto 2044/1908 em relação às reservas e
omissões da LUG. Além disso, é certo que o Código Civil (art. 903) se aplicará
supletivamente, ou seja, na ausência de legislação especial.

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O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Recurso Extraordinário nº


71.154/70, resolveu a questão decidindo que tem eficácia imediata no País a
Convenção Internacional aprovada pelo Congresso em Decreto Legislativo e
promulgada por decreto do Presidente da República (Decreto 57.663/66). Além
disso, decidiu-se que o Decreto 2.044/1908 não foi revogado pelo Decreto
57.663/66, mantendo sua vigência em relação às reservas e omissões da LUG.

Assim, caso seja adotada uma reserva ou sendo a LUG omissa, tem aplicação o Decreto
2.044/1908 que permanece em vigor. Veja o quadro abaixo:

DECRETO Nº 2044/1908 LUG APLICAÇÃO


Silente Regula LUG
Regula Silente Decreto 2044
Regula Regula de modo diferente LUG
Regula Regula de modo diferente Decreto 2044
e há reserva
Regula e há reserva, sem
Silente que a faculdade tenha sido LUG
exercitada
Silente Silente Código Civil

Abaixo tabela com as reservas feitas pelo Brasil na LUG:

Artigo do anexo Artigo do anexo I Artigo Decreto


II reservado afastado (ou que se 2044/08 mantido
pelo preâmbulo permite afastar) por força da Matéria
da LUG peça aplicação da reserva (ou outro
reserva no anexo II a aplicar)
Matéria concorrente à
faculdade de
determinar a maneira
de suprir a falta de
2 Art. 1º, nº 8 Art. 1º, V assinatura. O Dec. 2044
(afastar) admite também a
assinatura de
mandatário com
poderes especiais.
Preenchimento de letra
de câmbio e nota
3 Art. 10 (afastar) Arts. 3º e 54, §4º promissória (vide. S.
387 do STF e art. 891 do
CC)
1) Nos termos do art. 30
a letra deve ser exibida
até dois dias após o

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vencimento. A
inobservância só opera
5 Art. 38 (completar) efeitos se a letra é
“sem despesas” (perda
do direito de ação
contra os coobrigados -
art. 53 da LUG);

2) Se for pagável no
território nacional, tem
que ser exibida até o
vencimento, sob pena
exclusiva de perdas e
danos.
Permite a
determinação interna
do que seja câmara de
compensação. Norma
6 Art. 38, al. 2ª inaplicável por falta de
definição pátria (PL
3608/2008 arquivado).
Pagamento efetivo em
moeda nacional pode
eventualmente
7 Art. 41, al. 3ª (pode sujeitar-se as condições
ser afastado) de câmbio previstas no
art. 41, al. 1ª
Prazo para protesto por
falta de pagamento,
9 Art. 44, al. 3ª Art. 28 como sendo o 1º dia útil
seguinte ao
vencimento.
Vencimento
extraordinário da letra
10 Art. 43, nº 2 e 3; Art. 19, II pelo não aceite ou a
Art.44, nº 5 e 6 falência do aceitante.
13 Art. 48, “2” e 49 Art. 406 do CC Fixação interna de taxa
de juros.
Direito do portador à
indenização em caso de
decadência ou
15 Art. 48 prescrição, com o
locupletamento injusto
do sacador ou
aceitante.

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Constituição de
16 provisão à data do
vencimento e direitos
especiais do portador
sobre essa provisão.
Fixação interna das
causas de interrupção e
prescrição; e também
do início da prescrição
17 Art. 71 Art. 202, III do CC para a ação de regresso
de endossante contra
endossante ou sacador.
Liberdade na
19 Art. 75, item 1 Art. 54, I nomenclatura das notas
promissórias.
Aplicação das reservas
20 Art. 46 e art. 77 às notas promissórias.
da LUG

 OBRIGAÇÕES DO SACADOR:

De acordo com o art. 9 da LUG o sacador é garante do pagamento e do aceite da ordem


de pagamento.

Assim, temos que sacador é um DUPLO GARANTIDOR DO TÍTULO DE CRÉDITO,


garantindo o aceite e o pagamento do título pelo sacado, de forma que se o sacado
não emite o aceite, o sacador será o garantidor do título, nunca o devedor principal.

Obs: tal nomenclatura é de suma importância, visto que a prescrição cambial contra o
devedor principal é de 3 anos, enquanto a prescrição cambial contra os coobrigados
garantidores é de 1 ano.

A garantia do aceite significa que no caso de negativa do aceite, o sacador poderá ser
demandado direta e antecipadamente pelo crédito. Por sua vez, a garantia do
pagamento significa que diante de negativa do pagamento pelo aceitante, o sacador
poderá ser demandado diretamente por todo o valor do título.

Na hipótese de haver recusa do aceite opera-se o vencimento antecipado do título.


Para cobrar do sacador será necessário efetivar o protesto tempestivo do título.

Art. 9 da LUG: “O sacador é garante tanto da aceitação como do pagamento de


letra. O sacador pode exonerar-se da garantia da aceitação; Toda e qualquer
cláusula pela qual ele se exonere da garantia do pagamento considera-se como
não escrita.”

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 REQUISITOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO:

Os requisitos dos títulos de crédito podem ser divididos em:

(i) Requisitos Intrínsecos; e


(ii) Requisitos Legais:
 Requisitos Essenciais; e
 Requisitos Não Essenciais.

Passemos à analise de cada um desses requisitos:

(i) REQUISITOS INTRÍNSECOS:

A letra de câmbio se refere a uma declaração de vontade, devendo, por isso, atender
certos requisitos intrínsecos do art. 104 do CC, destacando-se:

 Capacidade do Agente: os absolutamente e relativamente incapazes não podem


se obrigar em um título de crédito, tendo em vista o disposto no art. 42 do Dec.
2044/1908, aplicável no Brasil pela omissão da LUG sobre o assunto.

Assim, exige-se também a capacidade de assumir obrigações de caráter


patrimonial, que falta ao empresário falido. A manifestação poderá ser feita de
próprio punho ou por meio de representante.

 Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e

 Forma prescrita ou não defesa em lei.

Contudo, a legislação cambiária dá um tratamento diferente à falta desses requisitos


intrínsecos, em razão do princípio da autonomia e da proteção da aparência. Assim, a
falta de algum dos requisitos, não invalida o próprio título, apenas atinge aquela
obrigação e não o título como um todo (art. 888 do CC).

Art. 888 do CC: “A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua
validade como título de crédito, não implica a invalidade do negócio jurídico que
lhe deu origem.”

(ii) REQUISITOS LEGAIS:

Os títulos de créditos, por se tratarem de documentos de legitimação, possuem uma


proteção especial. Assim, vige o formalismo de forma que o documento somente será
considerado título se atender os requisitos impostos pela lei.

Os requisitos se dividem em dois grupos, os essenciais, que não podem estar ausentes
de forma alguma, e os não essenciais, que podem ser supridos.

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1. REQUISITOS ESSENCIAIS:

a) Cláusula Cambial: refere-se a a identificação do nome do título por meio da


expressão “letra de câmbio” inserta no próprio corpo do texto, não bastando
estar fora, mesmo que em destaque.

b) Ordem de Pagamento: deve constar do teor literal do título. Trata-se de


mandado de pagamento puro e simples, sem qualquer condição, de quantia
determinada.

Se houver dicotomia na quantia em algarismos e por extenso, prevalecerá o por


extenso. Havendo divergência entre quantias escritas por extenso, prevalecerá
a de menor valor.

O valor da letra de câmbio pode ser objeto de alguma indexação?

Prevalece que a lei não veda o saque cambial com correção monetária por
índice oficial ou de amplo conhecimento no comércio.

A cláusula de juros é permitida nas letras: (a) à vista; (b) a certo termo de
vista. O título deve indicar a taxa, contando-se da data da emissão, se outra
não for indicada.

É possível letra de câmbio em moeda estrangeira?

A princípio, o valor de uma letra de câmbio brasileira deverá ser expresso em


reais, tendo em vista a proibição genérica de obrigações assumidas em moeda
estrangeira (art. 318 do CC e art. 1º da Lei 10.192/2001). Contudo, essa regra
possui uma série de exceções previstas no Dec. 857/69 e art. 6º da Lei 8.880/94.

Portanto, as letras de câmbio poderão, excepcionalmente, ser emitidas em


moeda estrangeira, por exemplo, quando for sacada por devedor ou credor que
resida fora do Brasil, advier de obrigação assumida no exterior, for referente a
contratos de exportação ou importação, contratos de cambio, entre outros.

Quando estiver em moeda estrangeira, o pagamento deverá ser feito em moeda


nacional pelo câmbio do dia do vencimento ou do dia do pagamento (art. 41,
primeira parte, da LUG).

c) Nome do Sacado: deverá haver também a sua identificação pelo RG, CPF, título
de eleitor ou carteira profissional.

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d) Nome do Tomador/ Beneficiário: não se admite letra de câmbio ao portador,


apesar de ser “à ordem” = transferível via endosso. Por isso é fundamental
indicar no título o nome da pessoa que deve ser paga.

e) Data da Emissão: deve constar no título a data do saque. A data é essencial


para se fixar a capacidade do sacador.

f) Assinatura do Sacador: Se não souber ou não puder assinar, o sacador deverá


fazê-lo por procurador nomeado por instrumento público. Não se admite
chancela mecânica.

Não possuindo um dos Requisitos Essenciais, o título não é considerado nulo, mas
ineficaz cambiariamente.

2. REQUISITOS NÃO ESSENCIAIS OU SUPRÍVEIS:

a) Lugar do Pagamento: serve para indicar ao beneficiário onde deve se apresentar


com o título para recebê-lo. Não sendo este indicado, reputar-se-á aquele
constante ao lado do nome do sacado – considera-se seu domicílio. Não havendo
nenhuma das duas indicações, o documento não vale como letra de câmbio.

b) Local de Emissão: tal requisito não é essencial porque pode ser suprido. Assim,
se não houver indicação do local, considerar-se-á o indicado ao lado do nome
do sacador, que também será seu domicílio. Não havendo nenhuma indicação,
a letra é nula, não gozando de eficácia cambial.

c) Data de Vencimento: não constando, não se descaracteriza o título, que passará


a ser à vista (art. 2º da LUG).

O lugar da emissão, local do pagamento e a data do vencimento são acidentais, não


maculando a validade do título em caso de sua ausência.

 INSTITUTOS CAMBIÁRIOS:

Uma letra de câmbio representa uma declaração de vontade do sacador no sentido de


ordenar ao sacado o pagamento de determinada quantia em proveito do beneficiário.

A par dessa declaração, que sempre existirá, podem surgir outras declarações de
vontade na letra de câmbio, tais como:

(i) Intenção de assumir a obrigação pelo pagamento do título (aceite);


(ii) Intenção de transferir o título (endosso); e
(iii) Intenção de garantir o pagamento desse título (aval).

Todas essas declarações de vontade que se fazem no título são chamadas de


declarações cambiais ou institutos cambiários.

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As várias declarações que eventualmente sejam feitas na letra de câmbio são todas
independentes entre si, ou seja, os vícios de uma das declarações não afetam as
demais. Cada declaração de vontade é autônoma e se mantém imune a problemas nas
outras declarações.

 TÍTULO EM BRANCO:

A presença dos requisitos impostos em lei faz com que o documento seja considerado
como um título de crédito. Todavia, a verificação da obediência desses requisitos não
é necessária desde a emissão do título.

Contudo, eles deverão ser completados antes da cobrança ou protesto do título (STF,
Súmula 387 e CC, art. 891) – o portador de boa-fé é procurador bastante do sacador
para completar o título - TEORIA DO MANDATO IMPLÍCITO OU PRESUMIDO.

Súmula 387 do STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco,


pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.”

Art. 891 do CC: “O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser
preenchido de conformidade com os ajustes realizados.
Parágrafo único. O descumprimento dos ajustes previstos neste artigo pelos que
deles participaram, não constitui motivo de oposição ao terceiro portador, salvo
se este, ao adquirir o título, tiver agido de má-fé.”

Emitido o título em branco, isto é, sem todos os elementos exigidos pela legislação, é
certo que pode haver o preenchimento do título ao longo da sua vida, mas antes do
exercício do direito. Esse preenchimento das lacunas da letra emitida em branco pode
ser feito pelo próprio credor do título, que possui uma espécie de mandato para
preencher o documento.

Caso o devedor emita um título em branco, compete a ele devedor demonstrar que o
preenchimento pelo credor foi abusivo. A princípio presume-se a boa-fé do credor,
competindo ao devedor a prova de má-fé. Demonstrada a má-fé, qualquer obrigação
presente no título se tornará inexigível.

 VENCIMENTO E PAGAMENTO:

Em conformidade com o art. 6 do Decreto 2044/08, os vencimentos das letras de


câmbio são:

(i) Vencimento à vista: é pagamento à vista aquele que ocorre na apresentação


ao sacado;

(ii) Vencimento em dia certo: é o próprio sacador quem determina o prazo de


pagamento;

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(iii) Vencimento a certo termo da data: significa a tempo certo da emissão, ou


seja, o vencimento passa a correr da data da emissão ou do saque;

(iv) A tempo certo termo da vista: o prazo somente começa a correr da data do
aceite e, na falta deste, do protesto.

 VENCIMENTO ANTECIPADO:

Mesmo que tenha sido estipulada uma data de vencimento, em determinados casos o
título vence antecipadamente, ou seja, torna-se exigível antes do dia inicialmente
previsto.

Certos fatos previstos em lei autorizam o credor a exigir o pagamento do título


imediatamente, ou seja, antes do vencimento do título

O art. 43 da LUG prevê entre os casos de vencimento antecipado:

(i) Recusa total ou recusa parcial do aceite;


(ii) Falência do sacado ou aceitante, suspensão de pagamentos pelo sacado ou
aceitante e execução frustrada contra o sacado ou aceitante;
(iii) Falência do sacador na letra não aceitável.

Pela difusão dos títulos de crédito para operações não empresariais, a insolvência civil
do devedor, decretada judicialmente, também é uma hipótese de vencimento
antecipado.

O art. 19 do Decreto 2.044/08 consagra ainda as seguintes hipóteses de vencimento


antecipado.

Art. 19 do Decreto 2044: “A letra é considerada vencida, quando protestada:


I. pela falta ou recusa do aceite;
II. pela falência do aceitante.
O pagamento, nestes casos, continua diferido até ao dia do vencimento ordinário
da letra, ocorrendo o aceite de outro sacado nomeado ou, na falta, a
aquiescência do portador, expressa no ato do protesto, ao aceite na letra, pelo
interveniente voluntário.”

 PRORROGAÇÃO DO VENCIMENTO:

Conforme se depreende do art. 74 da LUG, o ordenamento jurídico pátrio não admite


que o credor conceda dias de tolerância para o cumprimento da obrigação. Caso o
faça, ele poderá perder os direitos contra os devedores indiretos, uma vez que se exige
para a cobrança deles um protesto tempestivo (art. 53 da LUG).

Se o credor conceder voluntariamente a prorrogação do vencimento e, em razão disso,


perder o prazo para protesto (de até 1 dia útil após o vencimento), não poderá cobrar
mais nenhum dos devedores indiretos.

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Caso as partes convencionem uma prorrogação para o vencimento, essa convenção


somente valerá entre as partes que fizeram o ajuste. O acordo só produz efeito entre
os próprios acordantes. Se todos os signatários do título concordarem todos ficarão
vinculados a essa prorrogação.

 PAGAMENTO:

O pagamento representa forma normal de extinção das obrigações assumidas em um


título de crédito. Chegado o vencimento, a princípio, deve ocorrer pagamento da
obrigação, isto é, deverá ser cumprida a ordem dada na letra de câmbio, aqui
entendida como a entrega do dinheiro.

A doutrina classifica o pagamento nos títulos de crédito de duas formas:

(i) Pagamento Extintivo: o pagamento extingue a vida útil do título de crédito.


Na letra de câmbio é o pagamento feito pelo aceitante ou pelo sacador de
letra não aceita; e

(ii) Pagamento Recuperatório: não extingue a vida útil do título a medida em


que faz nascer o direito de regresso. É o pagamento feito pelo devedor
indireto, quando lhe permite recuperar o valor pago dos obrigados
anteriores. Ele extingue a responsabilidade de quem pagou e apenas dos
obrigados posteriores, mas não extingue a letra de câmbio em si, que ainda
será usada para recuperar o valor pago.

Qual o objeto do pagamento?

O pagamento deverá abranger aquilo que está escrito no título. Contudo, nem sempre
o pagamento se limitará a tal valor, podendo haver a incidência de alguns encargos
sobre o valor previsto no título.

Tais encargos podem ser dos mais diversos tipos (multas, juros de mora, juros
remuneratórios), sendo certo que, a maior parte desses encargos, somente poderá ser
exigidoa se estiver expressamente prevista no título.

É possível a cobrança de juros moratórios se eles não estiverem expressamente


previstos no título de crédito?

Sim!!! Os JUROS MORATÓRIOS representam uma penalidade pelo atraso no pagamento


da obrigação, constituindo verdadeira sanção pela mora do devedor. Tal penalidade
está prevista nos arts. 48 e 49 da LUG e, por isso, não precisam estar previstos
expressamente no título. Assim, mesmo que o título seja omisso, haverá a incidência
de juros de moratórios no caso de atraso.

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Trata-se de mora ex re que não depende de qualquer notificação ao devedor, uma vez
que ela é caracterizada pelo simples fato do não pagamento no vencimento.

O STJ se divide em relação a taxa de juros a ser cobrada nesses casos. Em que pese a
Corte Especial ter entendido no REsp 727.842 que os juros de mora decorrentes do
descumprimento de obrigação civil são calculados conforme a taxa Selic, por ser ela
que incide como juros moratórios dos tributos federais; posteriormente, ainda se
verificam decisões divergindo sobre o tema. Nesse sentido, registre a decisão do STJ
que diz que “as Turmas integrantes da Segunda Seção deste Tribunal firmaram sua
orientação no sentido de que, na responsabilidade extracontratual, os juros de mora
incidem a partir do evento danoso (Súmula 54 do STJ), pela taxa do art. 1062 do
CC/1916 até 10-1-2003 (0,5% ao mês) e, após essa data, com a entrada do CC/02, pela
prevista no art. 406 (1% ao mês).

É possível a cobrança de juros remuneratórios se eles não estiverem expressamente


previstos no título de crédito?

Não!!! Os JUROS REMUNERATÓRIOS, por sua vez, têm como função remunerar o credor
pela indisponibilidade do capital. A ideia fundamental aqui é a de frutos civis do
capital, e não de uma sanção como nos juros moratórios.

Os juros remuneratórios não decorrem automaticamente da lei. Assim, para que eles
possam ser exigidos nos títulos de crédito, é essencial que eles estejam previstos no
documento, por força do princípio da literalidade.

Contudo, nem sempre é possível a pactuação de juros remuneratórios. Vejamos abaixo


tabela com resumo sobre o tema:

TÍTULO JUROS REMUNERATÓRIOS


Títulos Atípicos  CC considera não escrita a pactuação dos juros
remuneratórios (art. 890 do CC)
Cheque  Art. 10 da Lei 7357: também considera não escrita a
pactuação de juros remuneratórios.
Letras de Câmbio e  Art. 5 da LUG considera possível a pactuação dos juros
Nota Promissória remuneratórios, mas apenas nos títulos com vencimento
à vista ou a certo termo de vista.
 Nos outros tipos de vencimento, há determinação clara
do momento em que a obrigação será exigida, de modo
que a eventual remuneração do credor deverá ser
embutida no próprio valor do título.

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Como é feita a prova de pagamento do título?

Em regra, a prova de pagamento do título deve ser feita por escrito no próprio título,
isto é, o recibo de quitação NÃO deverá ser dado em instrumento separado, mas no
próprio documento.

Tal exigência visa a proteger o próprio devedor, uma vez que qualquer pessoa que tiver
o título em mãos saberá que o título já foi pago. O recibo dado em separado não tem
valor perante terceiros, produzindo efeitos apenas na relação entre as partes,
produzindo efeito apenas entre as partes. Assim, se o título circular e chegar às mãos
de um terceiro de boa-fé, o devedor será obrigado a pagar novamente.

Destaca-se, por fim, que a simples entrega do título representa apenas uma presunção
de pagamento, que poderá ser elidida por prova em contrário nos 60 dias que se
seguirem (art. 324 do CC).

Ocorrendo pagamento parcial, deverá haver uma dupla quitação, uma escrita no título
e outra em separado. Não havendo falar em entrega do título nesse caso, uma vez que
ele ainda será usado para cobrança do valor restante.

É possível o pagamento antecipado do título? Fica o credor obrigado a receber o


valor se o devedor resolver pagar antecipadamente o título?

O credor só pode apresentar o título para pagamento no dia do vencimento. Se o


devedor quiser pagar o título antecipadamente, o credor não é obrigado a receber
antes do vencimento da letra.

Se o devedor resolver pagar antes o título, ele assumirá o risco integral por tal
pagamento, não gozando das normas que protegem o devedor, isto é, se fizer o
pagamento à pessoa errada, será obrigado a pagar de novo.

Pode o credor do título recusar o pagamento parcial pelo devedor?

O portador do título não pode recusar o pagamento parcial pelo aceitante no


vencimento do título (art. 39, 2 da LUG).

Caso o portador do título o recuse, ele perde o direito contra os obrigados indiretos
em relação à quantia oferecida para pagamento. Tal regra visa a proteger os devedores
indiretos, que só devem responder pela falta de pagamento do devedor principal ou
do sacdo. Se a falta de pagamento é parcial, sua responsabilidade também deverá ser
parcial.

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Destaca-se, ainda, que o pagamento parcial não representa o efetivo pagamento, isto
é, ele equivale a um não pagamento, que deverá ser demonstrado por meio de
protesto, para que o credor possa cobrar a parte faltante dos devedores indiretos.

Como funciona o perdão da dívida (remissão) no caso dos títulos de crédito com
mais de um devedor solidário?

O art. 388 do CC estabelece que a remissão concedida a um devedor solidário libera


os demais de pagar a parte que caberia a esse devedor. Eles ficam liberados de pagar
a parte que não mais poderá ser exigida por eles em sede de direito de regresso.

Tal regra também será aplicável aos títulos de crédito, mas deverá ser compatibilizada
com o regime cambiário. Nesse caso, temos devedores solidários, mas há aqui uma
solidariedade cambial entre os devedores, na qual o direito de regresso se exerce pela
totalidade da obrigação.

Assim, nos títulos de crédito, a remissão vai beneficiar a pessoa a quem foi dirigido o
perdão, bem como os coobrigados posteriores, como se fosse o próprio pagamento
feito pelo codevedor.

Se um devedor paga a obrigação do título, os devedores posteriores ficam liberados.


Do mesmo modo, ocorrerá com a remissão. Assim, temos que:

 Remissão concedida ao Sacado ou Aceitante: extingue a obrigação cambiária


de todos;

 Remissão concedida ao Sacador: exonera o sacador, bem como os endossantes


e respectivos avalistas, não exonerando o aceitante; e

 Remissão concedida ao Endossante: libera os obrigados posteriores.

 APRESENTAÇÃO:

Intimamente ligada ao vencimento está a apresentação da cambial ao sacado para o


respectivo pagamento.

O pagamento deverá ser efetuado contra a apresentação do próprio título de crédito.

O art. 38 da LUG estabelece que:

Art. 38 da LUG: “O portador de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo
de data ou de vista deve apresentá-la a pagamento no dia em que ela é pagável
ou num dos 2 (dois) dias úteis seguintes.”

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O Brasil, contudo, formou reserva prevista no art. 5 do Anexo II, prevalecendo, pois, a
regra prevista no art. 20 do Decreto 2044, que dispõe:

Art. 20 do Decreto 2044: “A letra deve ser apresentada ao sacado ou ao aceitante


para o pagamento, no lugar designado e no dia do vencimento ou, sendo este dia
feriado por lei, no primeiro dia útil imediato, sob pena de perder o portador o
direito de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas.”

A apresentação tem por fim a identificação do credor perante o devedor, já que o


título é facilmente transmissível, excluindo-se os casos em que já tenha havido
protesto por falta de aceite, na forma do art. 44 da LUG, apesar de poder ainda a letra
ser facilmente endossada, não ferindo o art. 20, primeira alínea, da LUG.

Quem pode fazer a apresentação do título?

A apresentação deverá ser feita pelo portador legítimo de título (art. 38 da LUG) que
é a pessoa que justifica o seu direito pela presenção do seu nome no título, ou por uma
sequência ininterrupta de endossos.

Além disso terão legitimidade para fazer a apresentação do título: o cessionário e o


sucessor (herdeiros).

A quem deve ser feita a apresentação do título?

Os legitimados a apresentar o título para pagamento deverão fazê-lo ao:

(i) aceitante ou ao sacado da letra de câmbio e da duplicata;


(ii) emitente da nota promissória;
(iii) sacado no cheque.

A apresentação se justifica pois esses são os devedores principais do título, logo são
eles que têm a obrigação final de efetuar o pagamento.

Qual o prazo para apresentação do título de crédito?

Via de regra, nos títulos à vista, a apresentação deverá ocorrer até 1 ano após a
emissão do título, admitida alterações desse prazo pelo sacador e apenas reduções
pelos endossantes.

Nos demais tipos de vencimento, a apresentação deve ser feita no dia do vencimento,
ou em um ou dois dias úteis seguintes (art. 38 da LUG). O Brasil adotou a reserva ao
texto da LUG, prevista no art. 5 do anexo II do Decreto 57.663/66 pelo qual poder-se-

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á prever que, “em relação às letras pagáveis no seu território, o portador deverá fazer
a apresentação no próprio dia do vencimento”.

Para a maior parte da doutrina, contudo, está em vigor a norma do art. 20 do Decreto
2044/08, exceto no que tange à sanção, que exige a apresentação no dia do
vencimento, ou, se feriado, no primeiro dia útil imediato.

Assim, pela legislação brasileira, a LC e a NP deverão ser apresentadas para pagamento


no dia do vencimento, ou no primeiro dia útil seguinte, caso o vencimento não caia em
dia útil.

A não apresentação do título no prazo não implica a apreda de quaisquer direitos conra
os devedores indiretos, o que só ocorrerá se não for feito o protesto.

Não apresentado o título no prazo, qualquer devedor tem o direito de depositar a


quantia relativa ao título, uma vez que é seu direito pagar o título e a não apresentação
no prazo representa a mora do credor.

 PROTESTO:

O instituto do protesto será tratado em aula própria sobre o tema.

 AÇÃO CAMBIAL:

O instituto da ação cambial será tratado em aula própria sobre o tema.

Casos Concretos:

Questão 1)

JOSÉ DO AMARAL ajuizou execução em face de ANTÔNIO SILVEIRA, avalista de uma


letra de câmbio, ensejando a interposição por este de embargos à execução, sob a
alegação, comprovada, de que sua obrigação se limitaria a 50% do valor do título,
tal qual foi indicado ao lado de sua assinatura. Afirma o embargado que a regra do
Código Civil proibitiva do aval parcial, invocada pelo executado, não seria aplicável
para a letra de câmbio. A alegação do embargante deve ser acolhida? Resposta
fundamentada.

Resposta:

A letra de câmbio consiste na ordem de pagamento pura e simples emitida pelo sacador
contra o sacado, em favor do tomador, no valor e nos termos dela constantes. Por
outro lado, o aval consiste na garantia pessoal do crédito que pode ser tida pela simples
assinatura no anverso.

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O caso concreto versa sobre a possibilidade de aval parcial. Observa-se que o art. 897,
§ ún. do CC traz uma vedação quanto a sua possibilidade, excepcionando-a no caso de
disposição diversa em lei especial. O art. 30 do Dec. 57.663/66 traz a possibilidade de
o aval se dar pelo total ou parte do crédito, não devendo ser aplicada a vedação do
Código Civil.

Art. 897 do CC: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de


pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.

Art. 30 do Decreto 57663: “O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em


parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um
signatário da letra.”

Com base nos argumentos acima deve ser acolhida a alegação do embargante,
limitando a sua responsabilidade a 50% do crédito.

Questão 2)

EUSTÁQUIO opôs embargos à execução extrajudicial de letra de câmbio movida por


MAXIMINA, ao argumento de que o título exequendo não continha a data nem o local
da sua emissão. A embargada defendeu-se, alegando que a menção à cidade na qual
o título foi emitido era desimportante, porque o endereço do devedor consta do
documento. Alegou, ainda, que a data somente tinha relevância ao tempo em que
se exigia o registro do título em repartição fiscal, em 15 dias (Decreto-Lei nº
427/69). Decida a questão, com os fundamentos legais pertinentes.

Resposta:

Entre os requisitos para a letra de câmbio destacam-se: (i) data do saque e (ii) local
de sua emissão.

A data do saque é considerado requisito essencial da LC uma vez que indispensável


para se fixar a capacidade do sacador.

Por sua vez, o requisito de indicação do local da emissão é tido como um requisito não
essencial, ou seja, suprível. Assim, se não houver indicação do local, considerar-se-á
o indicado ao lado do nome do sacador, que também será seu domicílio. Não havendo
nenhuma indicação, a letra é nula, não gozando de eficácia cambial.

No caso concreto, observa-se que tanto o local quanto a data estão ausentes no título
e, por isso, esse deve ser considerado nulo ante a ausência de elemento essencial de
validade. A LC não gozará, portanto, de eficácia cambial.

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Aula 3 – Prof. Thiago Neves


29/10/18

EMENTA:  SAQUE.
 Obrigação do sacador.
 ACEITE (conceito).
 Forma.
 Data do aceite.
 Lugar de apresentação.
 Apresentação para aceite.
 Entrega e retenção do título.
 Efeitos do aceite.
 Falta e recusa do aceite.
 Aceite qualificado.
 Cláusula não aceitável.

 SAQUE:

O saque é o ato de criação, de preenchimento e de colocação do título para circular.

Por meio do saque, o sacador cria materialmente o título e o coloca em circulação.

Qual a natureza jurídica do saque?

Discute-se na doutrina a natureza jurídica do saque e o momento em que efetivamente


ocorre o saque.

Em relação a natureza juridica, temos 3 teorias:

 TEORIA DA EMISSÃO: o saque e o nascimento da obrigaçao cambiária ocorrem


com a feitura material do título e a sua colocação voluntária em circulação pelo
sacador.

A Teoria da Emissão visa a proteção do sacador contra atos de má-fé do


portador do título (beneficiário). Protege-se o sacador de furto, de roubo e etc.
Isso porque se não houver a entrega voluntária do título pelo sacador não se
tem propriamente o saque, não se tem a criação do título.

 TEORIA DA CRIAÇÃO: o saque é um ato puro de criação. A mera feitura material


do título já caracteriza o saque – portanto já nasce a obrigação cambiária. No
momento em que sacador cria o título, ainda que ele não entregue o título ao
beneficiário, já se tem como originado o saque. Para os casos em que se
verificar má-fé, o sacador terá como meio de defesa a EXCEPTIO DOLI.

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 TEORIA DA APARÊNCIA: verifica-se o saque e o surgimento da obrigação


cambiária, com a feitura do título e a sua posse por aquele que legitimamente
é o beneficiário da cártula. Há o saque e consequentemente o surgimento da
obrigação cambiária pela feitura material do título e a sua posse por aquele
que aparenta ser o beneficiário do crédito.

O ordenamento juridico brasileiro adota a Teoria da Criação (art. 905, par.único do


CC) mitigada pela Teoria da Emissão (art. 909 do CC).

 OBRIGAÇÃO DO SACADOR:

O art. 9º da LUG estabelece que o sacador é garante tanto da aceitação como do


pagamento da letra de câmbio. Esse poderá se exonerar da garantia da aceitação, mas
nunca da garantia de pagamento e, por isso, considera-se como não escrita toda e
qualquer cláusula que o exonere de tal.

O sacador é aquele que cria a cártula, logo deverá responder por esse fato. Por essa
razão ele é considerado o garante da obrigação cambiária. Ele assume a
responsabilidade pelo adimplmento da obrigação cambiária.

Ele assume essa responsabilidade em 3 hipóteses, quais sejam:

(i) Nas letras não aceitas pelo sacado;


(ii) Se a letra for aceita e não for paga; e
(iii) Nas letras de câmbio com vencimento à vista, em que não se tem a
apresentação para aceite, só tem a apresentação para o pagamento.

Nesses 3 casos acima mencionados o sacador garante a obrigação cambiária. Essa


cobrança do crédito para a satisfação da obrigação cambiária contra o sacador reclama
o cumprimento de uma condição de procedibilidade – o PROTESTO.

Em que consiste o protesto?

O PROTESTO é o ato que atesta o não pagamento ou não aceitação da obrigação. É


com o protesto que o sacador terá ciencia inequívoca que a obrigação não foi paga ou
não foi aceita. É preciso protestar o título para cobrar o sacador.

Pode o sacador se isentar da responsabilidade de pagamento do título?

Como o sacador é o GARANTE da obrigação cambiária, é vedada ao sacador inserir na


cártula cláusula isentiva de responsabilidade. Art. 15 do Anexo 1 da LUG. O sacador
nao pode incluir na cartula cláusula limitativa ou isentiva de responsabilidade.

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 ACEITE:

O aceite é a declaração unilateral do sacado no sentido de aceitar a ordem de


pagamento que lhe foi dada pelo sacador.

Assim, temos que o aceite é uma declaração unilateral de vontade dada pelo sacado
antes do vencimento do título que, ao se tornar aceitante de forma espontânea, torna-
se também o devedor principal passando a integrar a relação cambiária. Portanto, nos
títulos de crédito emitidos pelo próprio devedor cambial, não há que se falar em
aceite.

O aceite é facultativo e imotivado, mas uma vez feito, é irretratável, pois caso o
tomador endosse o TC aceito para um terceiro, este pressupõe que poderá cobrar o TC
do aceitante.

O STJ já firmou o entendimento de que: “O aceite é ato formal e deve aperfeiçoar-se


na própria cártula mediante assinatura (admitida a digital) do sacado no título, em
virtude do princípio da literalidade, nos termos do que dispõe o art. 25 da LUG, não
possuindo eficácia cambiária aquele lançado em separado à duplicata.”

Uma das funções da letra de câmbio é unificar em uma única relação cambiária duas
relações de crédito.

Exemplo: Sacador era credor do sacado (relação 1) e uma outra relação entre sacador
e beneficiário (relação 2 – em que o sacador é devedor do beneficiário). A LC consegue
unificar 2 relações de crédito em uma única relação cambiária.

Letra de câmbio

Sacador Emissão Tomador


Pagamento
Aceite

Sacado

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Quem é o ACEITANTE de um título de crédito?

Todo aquele que opuser sua assinatura na letra, ainda que não seja o sacado, será
considerado aceitante. Ou seja, um representante sem poderes do sacado será
considerado o aceitante da LC e devedor principal do título de crédito.

Por outro lado, diante do aceite, os demais obrigados (sacador e endossantes) são
garantidores do pagamento do título de crédito, não devedores. Portanto, no
vencimento da LC, se o sacado não pagá-la, mesmo tendo aceitado, os demais
coobrigados poderão ser acionados.

Art. 8 da LUG: “Todo aquele que apuser a sua assinatura numa letra, como
representante de uma pessoa, para representar a qual não tinha de fato poderes,
fica obrigado em virtude da letra e, se a pagar, tem os mesmos direitos que o
pretendido representado. A mesma regra se aplica ao representante que tenha
excedido os seus poderes.”

Em que consiste o aceite a rogo?

O art. 8º da LUG estabelece que todo aquele que opuser sua assinatura na letra, como
representante de uma pessoa, para representar a qual não tinha de fato poderes ou
extrapolar seus poderes, fica obrigado em virtude da letra. A isso se chama aceite a
rogo.

O instituto do aceite se aplica a todos os títulos de crédito?

Não!!! O aceite é instituto exclusivo do direito cambiário aplicável nos casos de ordens
de pagamento à prazo, ou seja, em que há um lapso temporal entre a emissão da
cártula e a data do seu vencimento.

Isso restringe o instituto do aceite a basicamente duas hipóteses:

(i) aceite nas letras de câmbio; e


(ii) aceite nas duplicatas.

Vejamos abaixo o aceite em cada uma dessas espécies de títulos de crédito.

(i) ACEITE NA LETRA DE CÂMBIO:

Na letra de câmbio o sacado só se vincula a obrigação cambiária quando dá o aceite.


Na LC só há falar em aceite quando o sacado dá formalmente o seu aceite na LC, ele
se torna aceitante e devedor principal e direito da obrigação cambiária. Se ele não der

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o aceite ele não integra a obrigação cambiária, e aí ele não pode ser demandado para
cumprir essa obrigação.

Não se pode exigir do sacado que não aceitou o cumprimento da obrigação cambiária.
Ele só se torna devedor quando dá o seu aceite. Ele é chamado de devedor direto pois
ele pode ser chamado a cumprir a obrigação cambiária na data do seu vencimento. No
caso do aceitante é desnecessário o protesto pois ele é devedor direto.

(ii) ACEITE NA DUPLICATA:

Na duplicata a relação se dá de forma diferente, pois a relação é direta entre (a) o


vendedor (credor); e (b) o devedor (comprador).

A duplicata é emitida nas compras e vendas com prazo superior a 30 dias e nas
prestações de serviço. O credor-vendedor emite a duplicata diretamente ao devedor-
comprador. O aceite é portanto juridicamente obrigatório. Ainda que o devedor não
dê formalmente o seu aceite, ele está vinculado ao cumprimento da obrigação.

Há, contudo, duas situações em que o devedor pode se eximir do cumprimento da


obrigação cambiária, na forma do art. 8 e 21 da Lei 5474/68, nas hipóteses de RECUSA
MOTIVADA DO ACEITE POR PARTE DO DEVEDOR. Ex: se o devedor comprovar que não
tem a compra e venda à prazo, ele não se vincula a obrigação.

 CARACTERÍSITICAS DO ACEITE:

Entre as características do aceite destacam-se:

(i) EVENTUAL: o aceite é eventual ou facultativo, ou seja, o aceite pode ser dado
ou não. O fato de não ter aceite não retira a eficácia do título. Ainda que não
haja o aceite do sacado, a obrigação cambiária continua a existir e o sacador se
tornará garante dessa obrigação.

(ii) ATO FORMAL: o aceite deve ser dado formalmente no título. O aceite quanto ato
formal pode ser de 2 tipos:

 Aceite Simples: é a mera assinatura no anverso do título, ou seja, no


rosto do título; e

 Aceite Qualificado: aquele em que o sacado além de assinar utiliza-


se de uma expressão que indique que está aceitando aquela
obrigação. O aceite qualificado pode ser dado em qualquer lugar da
cártula, tanto no verso quanto no anverso pois se esta
expressamente afirmando que se está aceitando, portanto, podendo
o aceite ocorrer em qualquer lugar.

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O aceite é manifestação direta do sacado ou pode ser feita por um terceiro com
poderes especiais. Se esse terceiro não tiver poderes especiais, ele passa a se obrigar
pessoalmente na condição de aceitante pelo cumprimento da obrigação.

 FORMA DE ACEITE:

Para assumir a condição de devedor do título, o sacado deve expressar sua vontade
aceitando a ordem que lhe foi dada. Essa manifestação de vontade deve ser
exteriorizada no próprio título, mediante a assinatura do sacado ou de procurador com
poderes especiais.

A legislação presume como aceite a simples assinatura do sacado na frente do título,


no anverso da letra de câmbio, mesmo sem qualquer indicação. Caso o sacado assine
o título no verso, tal assinatura somente será considerada um aceite se for
complementada por uma declaração (ex: expressões do tipo aceitação, aceitante, de
acordo).

O aceite dado fora do título produz algum efeito?

Via de regra o aceite deve ser firmado no próprio título em razão do princípio da
literalidade, em que vale aquilo que está no título, contudo a doutrina diverge sobre
o tema:

CORRENTE 1) Corrente capitaneada por Bulgarelli e Mamede defende que o aceite fora
do título produz efeitos normalmente, tornando o sacado devedor da obrigação.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Luiz Emygdio sustenta que o aceite dado em
separado produz efeitos não cambiários, como um reconhecimento de dívida, mas
admite a possibilidade do aceite dado em separado, no caso de aceite riscado pelo
sacado, nos termos do art. 29 da LUG.

Art. 29 da LUG: “Se o sacado, antes da restituição da letra, riscar o aceite que
tiver dado, tal aceite é considerado como recusado. Salvo prova em contrário, a
anulação do aceite considera-se feita antes da restituição da letra.
Se, porém, o sacado tiver informado por escrito o portador ou qualquer outro
signatário da letra de que aceita, fica obrigado para com estes, nos termos do seu
aceite.”

Assim temos que a legislação garante ao sacado o direito de arrependimento, podendo


o sacado riscar o aceite antes de devolver o título a quem o apresentou. Nesse caso, o
aceite riscado nao produz efeitos, ou seja, o sacado continua sem responsabilidade
pelo pagamento do título.

Todavia, se ele comunicou por escrito a qualquer dos signatários da LC que deu o
aceite, ele fica vinculado em relação a essas pessoas que receberam a comunicação.

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Não se trata exatamente de um aceite dado fora do título, mas da não produção dos
efeitos do cancelamento do aceite em relação àqueles que foram comunicados. [TIRAR
DÚVIDA PROF]

 DATA DO ACEITE:

Em relação à obrigatoriedade de data no aceito, destaca-se que, como regra, não há


necessidade de aposição de data no aceite. Contudo, há uma exceção naquelas letras
com vencimento a certo termo de vista. Isso porque a letra com vencimento a certo
termo de vista é aquela letra cujo prazo de vencimento se conta a apartir da vista do
título pelo sacado para aceite, sendo inequívoco que é preciso datar o aceite pelo
sacado.

Caso não seja colocado o dia do aceite nas letras a certo termo da vista, o portador
poderá promover um protesto por falta da data de aceite, cujo dia será estabelecido
como o dia do aceite. Tal protesto não é essencial, na medida em que, para efeito do
vencimento do título, considera-se a data do aceite o último dia do prazo para
apresentação (art. 35 da LUG), contando-se daí o respectivo prazo.

 LUGAR DE APRESENTAÇÃO:

O lugar de apresentação do aceite é o domicílio do sacado.

Art. 21 da LUG: “A letra pode ser apresentada, até o vencimento, ao aceite do


sacado, no seu domicílio, pelo portador ou até por um simples detentor.”

 APRESENTAÇÃO PARA ACEITE:

A apresentação para aceite é o ato por meio do qual o credor apresenta materialmente
o título ao sacado para que ele aceite ou não a obrigação.

O prazo para apresentação do título para aceite, em regra, é até a data de vencimento
do título. Até o vencimento o credor pode apresentar o título para aceite.

Na verdade, como regra geral, a apresentação para aceite acaba sendo uma garantia
para o credor de que ele tem uma pessoa para exigir no momento do vencimento sem
a necessidade de protesto. É uma garantia para ele, pois ele apresenta antes do
vencimento e já fica sabendo se vai ter um devedor ou não para a obrigação. Mas nada
impede que ele apresente o título na data do vencimento, já para pagamento. Aí se o
sacado pagar está implícito que ele aceitou e pagou.

Nos títulos com vencimento à vista não se tem a apresentação para aceite. Os títulos
com vencimento à vista são aqueles títulos que vencem no momento da apresentação.
A exibição do título já leva ao vencimento porque o título é a vista, não sendo
aplicável, nesse caso, o instituto do aceite.

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Será que nos títulos com vencimento à vista há uma absoluta impossibilidade para
apresentação para aceite?

Tem-se admitido aceite em título com vencimento à vista, desde que não se coloque
a data, porque se colocar data venceu naquela data e se não pagar vai ter que
protestar. O objetivo aqui é apenas dar a certeza ao credor de que o sacado aceitou o
aceite.

A apresentação para aceite é obrigatória nos títulos de crédito?

Em regra a apresentação é facultativa, CONTUDO nos títulos com vencimento a certo


termo de vista a apresentação para aceite é OBRIGATÓRIA. Isso porque nos títulos com
vencimento a certo termo de vista o prazo de vencimento se conta a partir da data do
aceite.

Essa apresentação deve se dar, como regra, até 1 ano a contar da data de emissão do
título, sob pena de se perder o direito de cobrar os demais coobrigados.

Esse prazo de 1 ano pode ser ampliado ou reduzido pelo sacador quando emite o título.
O sacador pode estabelecer o prazo maior ou menor de 1 ano para apresentação do
título para aceite.

Os endossantes também podem alterar esse prazo caso o título circule antes da
apresentação para aceite. Só que no caso dos endossantes, eles só podem REDUZIR
esse prazo, eles não podem aumentar esse prazo.

No título com vencimento a certo termo de vista, o prazo de vencimento se conta da


apresentação para o aceite, então o requisito essencial para esse aceite é a DATAÇÃO
DO ACEITE, ou seja, é necessário datar o aceite.

Se o aceitante não colocar a data verificam-se 3 possibilidades:

(i) Protesto por omissão de data. A data do protesto é considerada a data do


aceite;
(ii) O próprio credor pode colocar a data desde que de boa-fé. Isso porque as
lacunas dos títulos podem ser preenchidas posteriomente desde que boa-fé
(Súmula 387 do STF); e
(iii) Presume-se que o aceite foi dado no último dia do prazo para apresentação
para aceitação (1 ano a contar da data de emissão do título).

Em que consiste o direito de reapresentação do título?

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O sacado tem o direito de pedir a reapresentação do título no primeiro dia


subsequente, garantindo-se assim a oportunidade de o sacado confirmar o que foi
combinado com o sacador. Trata-se de um direito do sacado, logo, não há a
possibilidade de negativa a tal pedido.

 PRAZO PARA EXIBIÇÃO DA LETRA DE CÂMBIO:

O prazo para exibição da letra de câmbio só possui consequência em face dos demais
coobrigados, pois a exibição para aceite fora do prazo gera a exoneração dos demais
coobrigados, de forma que o portador só poderá cobrar do devedor principal se este
houver dado o aceite, ainda que fora do prazo (art. 53, lug).

Art. 53 da LUG: Depois de expirados os prazos fixados:


- para a apresentação de uma letra à vista ou a certo termo de vista;
- para se fazer o protesto por falta de aceite ou por falta de pagamento;
- para a apresentação a pagamento no caso da cláusula "sem despesas".
O portador perdeu os seus direitos de ação contra os endossantes, contra o sacador
e contra os outros coobrigados, à exceção do aceitante.
Na falta de apresentação ao aceite no prazo estipulado pelo sacador, o portador
perdeu os seus direitos de ação, tanto por falta de pagamento como por falta de
aceite, a não ser que dos termos da estipulação se conclua que o sacador apenas
teve em vista exonerar-se da garantia do aceite.
Se a estipulação de um prazo para a apresentação constar de um endosso, somente
aproveita ao respectivo endossante.

 LETRA EMITIDA À VISTA:

A letra emitida à vista é apresentada diretamente para o pagamento pelo sacado,


dispensando-se o aceite, sendo o prazo de exibição para vista de 1 ano, salvo pacto
expresso em contrário.

 LETRA EMITIDA A CERTO TERMO DA VISTA:

A letra emitida à certo termo da vista é apresentada para vista no prazo de 1 ano
(salvo pacto expresso em contrário) e, depois dela, começa a correr o prazo de
vencimento do pagamento.

Ex: vencimento em 4 meses da vista, com vista em até 3 meses.

 LETRA A DIA CERTO:

A letra emitida em dia certo possui prazo de apresentação pré-determinado e a


exibição para aceite deve ser feita até a data do vencimento.

Em a apresentação sendo feita antes do prazo, busca-se o aceite, enquanto que a


apresentação feita no dia do vencimento busca o pagamento.

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 LETRA A CERTO TERMO DA DATA:

A letra emitida a certo termo da data possui prazo de apresentação pré-


determinado em que é necessário operar uma contagem de prazo em dias corridos.
Nesse caso, a exibição para aceite deve ser até a data do vencimento.

Em a apresentação sendo feita antes do prazo, busca-se o aceite, enquanto que a


apresentação feita no dia do vencimento busca o pagamento.

Ex: vence daqui 6 meses (da data de emissão) - se a letra foi emitida na 6ª f, o prazo
começa na 2ª f.

LETRA DE CÂMBIO LETRA DE CÂMBIO


A CERTO TERMO DE VISTA A CERTO TERMO DE DATA
Vencível em lapso contado do aceite. Vencível em lapso contado do saque.
Apresentação para aceite é obrigatória, Apresentação para aceite é facultativa e
já que a exigibilidade do título é contada o credor pode apresentar o título apenas
por um prazo que começa a correr com o para pagamento.
aceite.

 ENTREGA E RETENÇÃO DO TÍTULO:

A apresentação para aceite envolve a colocação material do título à disposição do


sacado, não sendo suficiente a mera notificação do sacado para que dê o aceite. Não
há obrigatoriedade de se deixar o título nas mãos do sacado. Todavia, nada impede
que ele deixe o título em poder do sacado.

A legislação não estabelece o prazo no qual deverá haver a devolução do título, sendo
razoável admitir que esse prazo seja de 24 horas, caso não haja nenhum prazo
combinado entre as partes. Passado esse prazo, a retenção do título se mostra
indevida, sendo cabivel medidas de tutela de urgência visando a busca e apreensão do
título.

 TIPOS DE ACEITE:

Entre os diferentes tipos de aceite destacam-se:

(i) ACEITE TOTAL: é a regra, em que o Sacado assume o Valor do TC por inteiro.

(ii) ACEITE PARCIAL: é a exceção, em que o sacado assume apenas uma parcela
do valor do TC, ou seja, apenas parte da obrigação cambiária. Sendo o
aceite parcial, considera-se que houve recusa sobre o montante restante,
ocasionando o vencimento antecipado sobre o valor recusado.

⇛ Banca CESPE, Prova AGU: Considerou que ocorre vencimento antecipado


sobre todo o valor do TC.

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(iii) ACEITE SIMPLES: é aquele em que o sacado simplesmente aceita


integralmente a obrigação cambiária, sem fazer qualquer modificação.

(iv) ACEITE MODIFICATIVO: é a exceção, em que o sacado emite o aceite mas


altera parte das condições fixadas na letra de câmbio. Nesse caso, o
aceitante se obriga nos termos do aceite emitido (art. 26 da LUG), enquanto
o sacador e demais coobrigados podem ser demandados antecipadamente,
pois o aceite modificativo é considerado uma recusa de aceite, ou seja, o
aceite modificativo é válido e eficaz em relação ao aceitante, mas ineficaz
em relação ao sacador.

Ex: sacado emite o aceite mas altera a praça de pagamento; o prazo de


vencimento.

Art. 26 da LUG: “O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo a uma
parte da importância sacada. Qualquer outra modificação introduzida pelo aceite
no enunciado da letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica, todavia,
obrigado nos termos do seu aceite.”

O aceite modificativo pode se dar de duas formas:

 Aceite Domiciliado: é aquele em que o sacado aceita a obrigação


mas altera a obrigação do pagamento. Ele altera o lugar em que o
credor deve ir para receber o valor. Nesse caso se admite que o
sacado indique terceiro responsável pelo pagamento. Além de
alterar o local do pagamento, ele pode indicar um 3 que se
responsabilizará pelo pagamento. Esse 3 não se torna devedor, mas
sim uma pessoa que vai efetivar o pagamento, ele é uma pessoa que
vai concretizar a entrega do crédito.

 Aceite com Alteração de Data: é aquele em que o sacado aceita a


ordem de pagamento, mas altera a data do vencimento.

Essas modificações vinculam o aceitante, ou seja, se ele dá um


aceite modificando o local de pagamento ou modificando a data, ele
fica vinculada aqueles novos termos. Mas o credor não é obrigado a
aceitar esses novos termos. A alteração da cártula pelo sacado é
considerada uma recusa de aceite.

Se o credor não concordar com a modificação, ele vai fazer um


PROTESTO POR RECUSA DE ACEITE.

OBS: São chamados de aceite qualificado tanto o aceite limitativo (aceite parcial)
quanto o modificativo, devendo ficar atento em provas objetivas.

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(v) ACEITE POR INTERVENÇÃO: é aquele em que um terceiro que não o sacado
aceita a ordem de pagamento e assume a condição de devedor.

O aceite por intervenção pode se dar de duas formas:

 Aceite por Indicação: um coobrigado que já integra a obrigação vai


indicar outro para aceitar. Se essa terceira pessoa aceitar a
indicação, ele estará vinculado ao cumprimento dessa obrigação e o
credor não poderá se opor. O credor fica vinculado necessariamente.

 Aceite Voluntário: em que uma terceira pessoa após o prazo para


aceite e após o protesto por falta de aceite, voluntariamente aceita
a obrigação cambiária e aí tem-se como válida essa aceitação. Essa
vinculação não é obrigatória, já tendo sido protestado, o credor tem
uma faculdade de admitir ou não esse novo aceite. Se ele não
reconhecer ou não admitir esse novo aceite, ele poderá exigir já dos
coobrigados o cumprimento da obrigação cambiária.

 EFEITOS DO ACEITE:

Entre os principais efeitos do aceite, destacam-se:

 O aceite torna o sacado o DEVEDOR DIRETO (obrigado principal e direto) da


obrigação cambiária. Então quando ele aceita ele passa a ser o devedor da
obrigação, de modo que quando do vencimento o título tem que ser
apresentado a ele para pagamento.

 O aceitante responde pelo pagamento do título independentemente da


realização do protesto, ao contrário dos demais devedores, cuja execução, a
princípio, depende de um protesto tempestivo (art. 53 da LUG).

 Para exigir dos demais intrgrantes da cadeia o cumprimento da obrigaçao caso


o aceitante não pague no vencimento, o credor vai precisar protestar o título
por falta de pagamento. Esse protesto deve ser feito até o dia util seguinte ao
do vencimento (art. 28 do Decreto 2044/08). Feito o protesto, o credor vai
poder cobrar dos coobrigados.

 O pagamento feito por um coobrigado autoriza que ele regresse


cambiariamente contra TODOS os devedores que lhe são anteriores.

 Quando há o ACEITE e o sacador paga a obrigação, o sacador tem direito de


regresso contra o ACEITANTE, porque o aceitante é o devedor da obrigação. Em
regra, o regresso é sempre pra tras, porém, quando se tem um aceite do título,
se tem um devedor, de modo que o sacador que pagou poderá regressar contra
o aceitante.

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 Se o aceitante pagar, acabou a cadeia e não poderá mais cobrar de ninguém,


ou seja, todos os outros devedores do título ficam liberados. O pagamento feito
por ele é o pagamento final do título.

 A prescrição da execução contra o aceitante tem um prazo maior (3 anos do


vencimento) do que contra os outros devedores.

 FALTA, RECUSA E CANCELAMENTO DO ACEITE:

A falta e a recusa embora produzam os mesmos efeitos, tem tratamentos distintos.


Vejamos:

(i) FALTA DE ACEITE:

A falta de aceite se dá naquelas hipóteses em que o sacado está impossibilitado de dar


o aceite.

Exemplo: o sacado está internado na UTI ou o sacado está viajando fora do país.

Nota-se que aqui não há propriamente uma recusa, há, na verdade, uma
impossibilidade de aceitação. Nesse caso, o credor poderá aguardar até o termino do
prazo de apresentação do aceite para reapresentar.

O aceite pode ser dado, como regra, até a data de vencimento do título (exceto se for
letra a certo termo de vista que terá como prazo 1 ano para apresentação por aceite).
Então, o credor tem todo esse lapso temporal para obter o aceite e ter a garantia do
aceitante. Se o credor não quiser esperar, o credor faz o PROTESTO POR FALTA DE
ACEITE, que tem como consequencia o vencimento antecipado da obrigação cambiária
e o credor vai poder exigir imediatamente de TODOS os coobrigados o cumprimento da
obrigação.

(ii) RECUSA DE ACEITE:

Diante da recusa do aceite, o devedor principal será o sacador, devendo a negativa do


aceite ser demonstrada por meio do protesto. Nesse caso, o sacado exerce uma postura
cambiária legítima, não podendo sofrer consequências cambiais, dado que o aceite é
facultativo.

A recusa do aceite, total ou parcial, gera o vencimento antecipado da letra de câmbio,


podendo o tomador ou o portador cobrar o título diretamente do sacador ou demais
coobrigados garantidores desde já.

É aquela hipótese em que o sacado manifesta a sua não-aceitação. Essa manifestação


pode ser tácita ou expressa no título.

Ela será tácita quando o sacado agir de modo inequivocamente a não aceitar.

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A recusa expressa é quando o sacado coloca no título expressamente “não aceito”.

Nesses casos o credor fará o protesto por recusa do aceite antecipando o vencimento
da obrigação.

O aceita parcial pode ser considerado recusa do aceite?

Dentro da recusa do aceite, temos a LIMITAÇÃO DO ACEITE, que ocorrerá naqueles


casos em que o sacado dá um ACEITE PARCIAL, aceitando apenas parte da obrigação.

Esse aceite parcial é considerado uma recusa de aceite. O aceitante parcial se vincula
a obrigaçao na forma como ele aceitou, ou seja, se ele aceitou parcialmente, ele se
vincula ao crédito parcial. Por conta disso, o credor não é obrigado a aceitar o aceite
parcial. Então, o credor tem a possibilidade de nesses casos em que há uma limitaçao
de aceite, PROTESTAR POR RECUSA DE ACEITE, acarretando o vencimento antecipado
da obrigação cambiária.

Dúvida: quando tem aceite parcial e o credor levou a protesto, vence


antecipadamente toda a divida ou somente a parcela remanescente? Alexandre
afirmou que vence antecipadamente somente a parcela remanescente.

(iii) CANCELAMENTO DO ACEITE:

A LUG autoriza no art. 24 que o sacado peça ao credor que apresente o título para
aceite no dia seguinte a data em que ele apresentou o título para aceite. O sacado
teria 24 horas para refletir se aceita ou não aquela obrigação (PRAZO PARA RESPIRO).

Art. 24 da LUG: “O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma
segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os interessados somente
podem ser admitidos a pretender que não foi dada satisfação a este pedido no
caso de ele figurar no protesto.
O portador não é obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao
aceite.”

A LUG também admite que nessas hipóteses de pedido de reapresentação, o sacado


fique com o título em seu poder por 24 hs para refletir, sendo possível que o sacado
dê o seu aceite na cártula nesse período. Imaginemos, contudo, que antes da
devolução, o sacado desista, ele, então, poderá fazer o cancelamento do aceite dado
anteriormente na cártula e aí esse aceite não produzirá nenhum efeito. Nesse caso, o
sacado não se vincula, ele nao se obriga, EXCETO se ele comunicar por escrito a sua
aceitação ao credor ou a outro integrante da cadeia cambiária.

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Se ele por escrito comunicar que aceitou e depois cancelar o aceite, ele fica vinculado
a obrigação cambiária, mas tão somente aquela pessoa que ele comunicou a sua
aceitação.
Exemplo:
Credor apresentou o título para o sacado. O sacado vai e dá o aceite no título e manda
e-mail dizendo que deu o aceite na obrigação. Depois que ele envia o email, ele desiste
e risca o aceite e devolve o título para o credor e o credor endossa esse título para
frente. Perante esse credor que ele mandou o email ele está vinculado, perante os
demais ele nao esta vinculado.

 CLÁUSULA PROIBITIVA DE ACEITE:

O sacador poderá se exonerar da garantia do aceite por meio da cláusula proibitiva do


aceite (cláusula não aceitável). A cláusula apenas impede o vencimento antecipado do
título em face do sacador diante da recusa do aceite do sacado.

Por outro lado, a garantia de pagamento não é exonerável, sendo considerada não
escrita.

Admite-se que o sacador insira na cártula uma cláusula proibitiva de aceite, tambem
chamada de cláusula não aceitável.

A cláusula proíbe a apresentação do título para aceite. O objetivo é impedir que o


terceiro ao apresentar o título para aceite antes do vencimento do título, ele só vai
poder apresentar o título no vencimento, porque assim impede que ele apresentando
antes, haja recusa e por conseguinte o protesto. O objetivo é impedir o vencimento
antecipado por recusa de aceite.

É possível apresentar o título para aceite com cláusula proibitiva de aceite?

SIM!!!! Pode se apresentar o título para aceite, e se houver o aceite, ok, tudo bem.
Agora se houver a recusa, o portador estará impedido de protestar o título, porque nao
podia nem ter apresentado para aceite.

Essa cláusula proibitiva de aceite é possível em qualquer hipótese?

Não!!! Nos títulos com vencimento a certo termo de vista não é possível essa cláusula
proibitiva de aceite. Porque os títulos com certo termo de vista tem que ter
necessariamente a data do aceite, logo, não se pode ter uma cláusula proibitiva de
aceite.

Casos Concretos:

Questão 1)

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O emitente de uma letra de câmbio foi demandado pelo tomador em virtude da


recusa de aceite do sacado. Em defesa, o réu alegou que o título tinha sido sacado
com cláusula expressa exonerando-o da responsabilidade do pagamento. Procede a
alegação? Analise a questão de forma fundamentada.

Resposta:

O art. 9º da LUG determina que o emitente é: (i) o garantidor da aceitação; e (ii)


garantidor do pagamento da LC.

Em relação à garantia da aceitação, é possível que o emitente se exonere da garantia


da aceitação mediante previsão expressa no título. Nesta hipótese o sacador só poderá
ser cobrado na data do vencimento do título.

Em relação à garantia do pagamento da LC, o emitente não pode se exonerar do


pagamento, devendo ser considerada não escrita a cláusula de exoneração da garantia
do pagamento pelo sacador, diferentemente do que ocorre com os endossantes que
podem, por sua vez, não garantir pagamento às pessoas a quem a letra for
posteriormente endossada, na forma do art. 15 da LUG.

Art. 15 da LUG: “O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da


aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo
endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for
posteriormente endossada.”

Questão 2)
Credor de letra de câmbio com vencimento a certo termo de vista apresentou o
título para aceite do sacado dois anos da data de emissão. Em razão da recusa do
aceite, ajuizou ação cambial em face de um dos endossantes, que, em embargos,
alegou que a letra, com vencimento a certo termo de vista, só tem força executiva
se comprovada a dação de aceite pelo sacado.

Resposta:
No caso em questão, não procedem os embargos, pois em havendo recusa do aceite
pelo sacado, o prazo de vencimento é contado a partir do protesto comprobatório da
recusa, não sendo o aceite requisito essencial para a execução dos coobrigados de letra
de câmbio.

O juiz deveria extinguir o feito, sob fundamento da inobservância de condição especial


da ação, pois as letras de câmbio com vencimento a certo termo de vista, devem ser
apresentadas ao sacado para aceite, dentro do prazo de um ano a contar de sua
emissão, sob pena da perda dos direitos cambiais em relação aos coobrigados (art. 23
e 53, LUG).

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Aula 4 – Prof.Thiago Neves


29/10/18

EMENTA:  ENDOSSO I.
 Conceito.
 Pressuposto.
 Forma.
 Endosso em branco e em preto.
 Endosso parcial.
 Efeitos do endosso.
 Diferenças do endosso para a cessão de crédito.
 Cadeia de endossos.

 ENDOSSO:

O endosso é o ato por meio do qual o portador da cártula a transfere a terceiro, bem
como o direito nela corporificado. O endosso é instituto exclusivo do direito cambiário.
É o ato em que o credor (portador da cártula) transfere esse título e o crédito para
terceiro.

O credor é o endossante que transfere o crédito materializado no título para terceiro


que é o endossatário.

O ENDOSSO PRÓPRIO OU TRANSLATIVO é uma declaração unilateral eventual (ato


jurídico cambiário) por meio da qual o endossante transfere cambiariamente o título
de crédito (e, consequentemente, o crédito nele transcrito) ao endossatário, que passa
a integrar a relação cambiária como devedor indireto, garantidor solidário. Ou seja, o
endossante faz uma promessa indireta de pagamento para uma pessoa indeterminada
que completa-se com a tradição do título, conforme indica o art. 910 §2º do CC.

Deve-se destacar que, salvo cláusula expressa em sentido contrário, nos títulos de
crédito típicos, a obrigação cambiária é sempre solidária e de regresso com relação
aos endossantes anteriores, que tornam-se devedores cambiários indiretos,
garantidores solidários, não havendo benefício de ordem entre os endossantes.
contudo, é necessária a prova de que o aceitante não pagou o TC por meio do protesto.

Por outro lado, no caso dos títulos atípicos (não previsto em lei e regidos pelo CC), o
art. 914 determina que os endossantes não são garantidores solidários, salvo cláusula
expressa em sentido contrário.

Ex título de crédito típico:


A (sacador - devedor principal) emitiu uma LC em favor de B (tomador) tendo C
(aceitante) como sacado que emitiu o aceite. B endossou a LC para D. D endossou a LC
para E.

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Na data do vencimento E poderá cobrar o TC de qualquer pessoa pois há uma


solidariedade cambiária. Caso qualquer um que não o devedor principal pague a dívida,
este poderá cobrar os outros devedores que estão atrás dele na relação cambial,
exonerando os que estão na sua frente (pois a obrigação cambiária é solidária e de
regresso).

Caso E cobre de qualquer um que não seja o devedor principal e este dê quitação
parcial ao TC, o título continuará sendo exigível dos endossatários posteriores ao
pagador pela parte não paga que não ficarão exonerados. O pagador terá direito de
regresso contra o sacador, o tomador, o aceitante e outros coobrigados anteriores.

 PRESSUPOSTO DO ENDOSSO: CLAÚSULA À ORDEM:

O endosso é o meio próprio para se efetuar a transferência de títulos de crédito, mas


esse nem sempre irá ser realizado. Para que se efetive o endosso, é necessário que o
título possua cláusula à ordem.

Dessa forma, a referida cláusula serve como pressuposto para que se transfira o título
de crédito por meio do endosso.

Por ser o endosso a forma usual de transferência, o art. 11 da LUG e art. 17 da Lei
7.357/85 estabelece que a cláusula à ordem será presumida na letra de câmbio, na
nota promissória e cheque. Nesses casos, caso queira se impedir o endosso, deve-se
escrever expressamente a cláusula não à ordem ou outra equivalente.

Inserida expressamente a cláusula não à ordem, o título só poderá ser transferido com
a forma e os efeitos de uma cessão ordinária de créditos (LUG – art. 11, Lei no 7.357/85
– art. 17, § 1º), vale dizer, sem a mesma agilidade e segurança para o credor, garantida
pelo endosso.

Qual a consequência de se fazer um endosso em um título com cláusula não à ordem?

CORRENTE 1) Corrente defendida por Alberto Asquini e Luiz Emygdio da Rosa Jr – afirma
que o endosso não irá produzir qualquer efeito, uma vez que a legislação exige que a
transferência do título se dê como a forma e os efeitos de uma cessão de crédito.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Antônio Pavone La Rosa, Pontes de Miranda,


Gustavo Bonelli, Joaquin Garrigues e Lorenzo Mossa – afirma, de outro lado, que o
endosso feito contra a proibição do título é válido, não produz efeitos de endosso, mas
apenas de cessão de crédito.

Embora a lei fale que, com a cláusula não à ordem, o título só poderá ser transferido
com a forma de uma cessão ordinária de créditos, é certo que o endosso feito nesse
caso tem todos os elementos necessários para a cessão de crédito, permitindo a
conversão substancial do negócio jurídico. Nesse caso, as duas partes manifestaram

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sua vontade de transferir e de receber o título, o que, mesmo sem um contrato escrito,
é suficiente para a cessão de crédito. Além disso, é claro que intenção das partes era
de efetivamente transferir o título.

OBSERVAÇÃO:
Segundo o prof. é muito comum dizer que o endosso é modo de transmissão ou
transferência do título à ordem, ou seja, aqueles títulos em que se tem indicação do
beneficiário e não há claúsula proibitiva do endosso. No entanto, a própria LUG
ressalva a possibilidade de endossar qualquer letra de câmbio (art. 11 da LUG). Assim,
toda letra de câmbio mesmo que não envolva a claúsula à ordem é transmissível por
endosso.

Assim, mesmo os títulos ao portador podem ser endossados. O endosso não se resume
a transmissão dos títulos à ordem. A unica vedação ao endosso são os títulos não a
ordem, nesses casos a transmissão se dará pela cessão civil dos títulos.

 FORMA DO ENDOSSO:

O beneficiário da LC é o titular dos direitos incorporados no título. Para que esses


direitos sejam transferidos para outra pessoa, é preciso que o beneficiário manifeste
sua vontade.

A vontade do beneficiário deverá ser formalizada no próprio título em razão do


princípio da cartularidade. Se o endosso for escrito fora do título não produzirá efeitos
cambiais.

Caso não haja espaço suficiente no título, deverá colar uma folha de papel (anexo ou
alongamento) ao título e endossar nessa folha, que, para todos os efeitos, é o próprio
título de crédito.

O padrão de endosso é a simples assinatura no verso (dorso) do título. Mas também


vale como endosso a assinatura do beneficiário na face (anverso) do título, desde que
acompanhada de alguma expressão que demonstre a intenção de transferir o título
(pague-se a, transfiro para ...)

Em qualquer hipótese, deve haver a assinatura do beneficiário. A princípio tal


assinatura deverá ser feita de próprio punho. Admite-se, contudo, que o endosso seja
firmado por um procurador do beneficiário, dotado de poderes especiais para efetivar
o endosso.

 CARACTERÍSTICAS DO ENDOSSO:

Entre as principais caracterísiticas do endosso destacam-se:

(i) EVENTUAL: o endosso é eventual ou facultativo e, por conseguinte, a


existência do crédito independe de se ter endosso ou não.

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(ii) ENDOSSO TOTAL: o endosso só pode ser da integralidade do crédito. Não


se admite como consequência o endosso parcial. Não se pode endossar parte
do crédito. (art. 12 da LUG). O que fundamenta a impossibilidade de
endosso parcial é a cartularidade. Se o crédito se materializa por meio da
cartúla, logo o credito acompanha necessariamente o título, de modo que
não é possível o endosso parcial. Não tem como entregar a metade da letra
de câmbio para um credor.

(iii) FORMAL: o endosso por ser formal tem que ser feito no próprio título, é um
ato formal. A depender da cadeia de endosso admite-se as chamadas folhas
anexas ou folhas de alongamento, tem que estar anexa ao título (não é uma
folha apartada do título)

O endosso pode ser de duas modalidades:

 Endosso Simples: corresponde a uma mera assinatura no verso da


cártula. Se o sujeito coloca uma assinatura no verso, sem nada
mencionar, tem-se um endosso.

 Endosso Qualificado: corresponde a assinatura com a expressão que


o título está sendo endossado. Nesse caso, ele pode ser aposto em
qualquer lugar do título, pois se está indentificando qual a natureza
daquela assinatura. Logo, pode ser tanto no verso quanto no
anverso.

 ENDOSSO EM BRANCO E EM PRETO:

Além da assinatura do beneficiário, o endosso pode identificar ou não a pessoa que vai
receber o título. Ao endossar o título, o beneficiário deixa de ser o credor daquela
obrigação, passando a assumir outra condição, a de endossante. É a presença do nome
do endossatário que irá diferenciar o endosso em preto do endosso em branco.
Assim, temos que:

 ENDOSSO EM PRETO (NOMINATIVO): é quando se faz o endosso identificando a


figura do beneficiário, ou seja, do endossatário. O endosso em preto pode ser
feito tanto na frente quanto no verso do título.

 ENDOSSO EM BRANCO (AO PORTADOR): é aquele endosso em que não se indica a


pessoa do endossatário. O endosso em branco somente pode ser lançado no verso
do título. O título passa a circular como se fosse ao portador, ou seja, a simples
tradição do título já é suficiente para transferi-lo. Cuidado! O título não se torna
ao portador, apenas sua circulação passa a seguir as regras dos títulos ao
portador.

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Aquele que recebe o endosso em branco e o repassa por tradição ou


simplesmente inserindo o nome de terceiro (tradição nominal) não fará parte da
cadeia de endosso e não terá responsabilidade.

Quando o portador recebe um titulo endossado em branco, ele tem três


possibilidades:

(i) Ele pode colocar o seu nome ou o nome de um terceiro na


cártula, ou seja, ele pode se identificar como endossatário
ou colocar o nome de um terceiro, caso em que ele vai
transferir o título ao terceiro, sem integrar formalmente a
cadeia. A vantagem é que ele não se torna obrigado na
relação cambiária.

(ii) Ele pode ainda fazer um outro endosso em branco ou pode


fazer o endosso em preto. Ele coloca sua assinatura na
cartula seguindo a cadeia ou faz um endosso em preto.

(iii) O endossatário pode simplesmente fazer a entrega material


do título para outra pessoa, transferindo-o ao portador.

 ENDOSSO PARCIAL:

É considerado nulo o endosso parcial (parte do valor da letra). Nesse caso, o endosso
será considerado ineficaz, e tratado como cessão civil de crédito.

Além disso, é considerada não escrita (ineficaz) a cláusula que impõe condição
(suspensiva ou resolutiva) ao endosso. Assim, considera-se eficaz o endosso e ineficaz
a condição.

Indicando ou não o nome do beneficiário, o endosso deverá transferir sempre a


totalidade dos direitos incorporados ao documento. O princípio da cartularidade
impede que seja feita uma cisão do direito mencionado do título, uma vez que terá
que se apresentar o documento para exercer o direito (art. 12 da LUG).

Em suma: Diferentemente do pagamento e do aval, o endosso parcial é nulo (Arts. 12,


LUG c/c 912, PÚ, CC), pois o título de crédito é indivisível e o endosso depende da
tradição do título para se aperfeiçoar (Art. 910, §2º, CC).

Art. 12 da LUG: “O endosso deve ser puro e simples. (...) O endosso parcial é
nulo.”

Art. 912, PÚ, CC: “É nulo o endosso parcial.”

Art. 910, §2º, CC. “A transferência por endosso completa-se com a tradição do
título.”

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Dessa forma, aplica-se o art. 170, CC e considera-se que a transmissão possui natureza
de cessão civil de crédito, em que o cedente garante apenas a existência do crédito e
não a solvência (Art. 296, CC c/c 914, CC).

Art. 170 do CC: “Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro,
subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam
querido, se houvessem previsto a nulidade.”

 EFEITOS DO ENDOSSO:

Entre os efeitos do endosso, destacam-se:

(i) Transferir o título e o direito nele corporificado, qual seja, o crédito: o


endossatário passa a ser o novo credor. Essa transferência abrange ainda todas
as garantias inerentes ao título, sejam elas pessoais (aval) ou reais (hipoteca e
etc)

(ii) Tornar o endossante coobrigado ou responsável pela obrigação cambiária


(devedor indireto ou devedor cambiário solidário): o endossante passa a ser
codevedor.

 DIFERENÇA DO ENDOSSO PARA A CESSÃO DE CRÉDITO:

No ENDOSSO, o endossante (aquele que transfere) como regra assume a


responsabilidade pelo adimplemento da obrigação cambiária. No endosso não precisa
da notificação pois o endossante transfere o título mas ele continua responsável,
então, o credor não fica prejudicado.

A solidariedade decorrente do endosso é uma solidariedade cambiária. A ação


cambiária de regresso só pode ser dirigida contra os coobrigados que lhe são anteriores
na cadeia (os posteriores são liberados) e o regresso é pela TOTALIDADE DA DÍVIDA. Ele
terá direito a cobrar a totalidade porque em relação aos devedores anteriores ele é
credor, uma vez que a cadeia é subsequente.

Só se torna formalmente um coobrigado quando se integra formalmente a cadeia,


sendo necessário endossar, ou apor seu nome/ sua assinatura no título. Por isso aquele
que circula o título por tradição e não faz seu nome figurar no título, ele não integra
a cadeia e, portanto, não se torna coobrigado (título ao portador).

Já na CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO o cedente somente responde pela existência do


crédito, ele não responde pela solvabilidade, ou seja, ele não responde pelo
inadimplemento do devedor. E é por isso que na cessão de crédito se exige a
notificação. O cedido tem que concordar com aquela cessão pois ele perde a garantia
daquele que era o devedor original da obrigação.

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A solidariedade decorrente da cessão é uma solidariedade civil. Aqui, o credor pode


exigir de qualquer devedor a integralidade da dívida e aquele devedor que pagou a
integralidade tem direito de regresso no limite da QUOTA-PARTE DE CADA UM.

Vejamos abaixo tabela com as principais diferenças entre o instituto do endosso para
a cessão de crédito:

ENDOSSO CESSÃO DE CRÉDITO

 Instituto típico do direito cambiário. Não  Exige a notificação do devedor para ter
exige notificação do devedor. eficácia em relação a este (art. 290 do CC);

 Forma de circulação dos títulos à ordem;  Forma de transferência de direitos em


geral;

 Vigora o princípio da inoponibilidade das  Admite oponibilidade de exceções. O


exceções (art. 17, lug c/c 916, cc). O devedor pode opor ao cessionário as
devedor não pode alegar contra o exceções pessoais ligadas a ele, bem como
endossatário de boa-fé exceções pessoais aquelas exceções pessoais atinentes
referentes ao endossante; exclusivamente ao cedente;

 É ato jurídico unilateral, literal e integral  É um negócio jurídico bilateral (natureza


(declaração unilateral de vontade); contratual);

 Confere direitos autônomos diante do  Confere direitos derivados (os mesmos


princípio da autonomia das obrigações direitos do cedente), uma cessão viciada
(direitos novos em relação aos do portador contamina as subseqüentes;
anterior);

 O endossante responde pela aceitação e  O cedente não se obriga (não garante o


pelo pagamento. Logo, se obriga pagamento e sim a existência do crédito),
solidariamente, salvo cláusula em contrário logo não se torna devedor em face do
(torna-se devedor indireto); cessionário, salvo cláusula em contrário;

 A nulidade de um endosso não afeta os  A nulidade de uma obrigação acarreta a


endossos posteriores (pr. da autonomia); nulidade das demais;

 O endosso não pode ser parcial;  A cessão pode ser parcial;

 O endosso não pode se subordinar a  A cessão pode subordinar-se a condição;


condição;

 O endosso pode ser dado no próprio título  Pode ser dada no documento em que se
ou em folha anexo. materializou o título ou em outro
documento (termo de cessão de crédito).

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 ESPÉCIES DE ENDOSSO:

Entre as espécies de endosso destacam-se:

(i) ENDOSSO PRÓPRIO OU TRANSLATIVO (ENDOSSO PLENO): é o endosso comum,


aquele em que se transfere o título e o crédito. O título é entregue ao
endossatário que passa a ser seu proprietário.

Em regra, no endosso próprio, o endossatário não tem nenhuma


responsabilidade, pois se enquadra na condição de beneficiário. Contudo, diz a
Súmula 475 do STJ (origem no Inf. 484) que, se ele conhece ou poderia conhecer
a existência de um vício e ainda assim age, gerando um dano, será
responsabilizado por isso (ex. protesta um título tendo sido informado de que a
assinatura era falsa).

Súmula 475 do STJ: “Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o


endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício
formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra
os endossantes e avalistas.”

(ii) ENDOSSO IMPRÓPRIO: nele há transferência apenas do papel e não da


propriedade. Compreende tanto o endosso-mandato como o endosso-caução.

A) ENDOSSO-MANDATO: a transferência do título é tão somente para possibilitar


ao endossatário cobrar o valor do título em nome do endossante. O endosso-
mandato confere poderes de representação. O endosso-mandato não
transfere o crédito. O endossatário somente recebe o título com poderes para
cobrar o crédito e todos os endossos subsequentes ao endosso-mandato
necessariamente também serão endosso-mandato. Tem que indicar quem é
a figura do endossatário, ou seja, indica-se aquele que tem os poderes para
fazer a cobrança.

Exemplo:
Pedro tem uma letra de câmbio, mas não quer ter o trabalho de cobrá-la. Ele
procura uma empresa de cobrança/banco para fazê-lo. Pedro tem que
investir o banco dos poderes para cobrar. No entanto, não transfere a
titularidade do título. Quando o banco proceder à cobrança e obtiver o valor
do título constante ele terá que devolvê-lo a Pedro.

Como fica a responsabilidade no caso do endosso-mandato?

No endosso-mandato, em regra, a responsabilidade (pelo protesto indevido,


por exemplo) é do endossante-mandante, pois ele é o proprietário do título.
Excepcionalmente, a responsabilidade recairá sobre o endossatário, quando

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comprovado que este agiu com excesso em seus poderes, nos termos do
enunciado 476 da Súmula do STJ:

Súmula 476 do STJ:” O endossatário do título de crédito por endosso-mandato só


responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de
mandatário.”

É possível endosso posterior ao endosso-mandato?

Sim, mas desde que seja outro endosso mandato. Isso porque depois de um
endosso-mandato, só cabe outro endosso-mandato (art. 18 da LUG). Nada
mais é do que um substabelecimento, com todas as implicações previstas no
art. 667 do CC. O endossatário-mandatário transfere para outrem apenas o
poder de cobrança que possui através de um novo endosso-mandato.
Certamente não há transferência da propriedade, pois só se pode transferir
o que se tem.

A morte do endossante acaba com o endosso-mandato?

No mandato civil, a morte ou incapacidade do mandante é uma das formas


de extinção do contrato de mandato (art. 682, II, do CC).

Contudo, no endosso-mandato, é diferente, a morte ou incapacidade do


endossante não acaba com o endosso-mandato (ele cobra e depois entrega o
dinheiro aos herdeiros/legatários), a fim de proteger o terceiro de boa-fé que
não é obrigado a descobrir se o endossante ainda é vivo/capaz (art. 18 da
LUG).

B) ENDOSSO-CAUÇÃO (PIGNORATÍCIO):

Às vezes, ao invés de procurar um banco para que esse efetue a cobrança, o


titular de determinado título de crédito procura o banco para efetuar um
empréstimo e, como garantia de pagamento, institui um penhor do título de
crédito, por ser este um bem móvel (deixa-se um título em garantia de outra
obrigação).

A forma de se dar um título de crédito em penhor é o endosso-caução ou


pignoratício, através do acréscimo das seguintes expressões no título: “em
garantia” ou “em penhor”. Não há transferência da titularidade do crédito.
O banco (endossatário) ficará com a posse legítima da letra de câmbio até a
quitação do empréstimo (cumprimento da obrigação principal), mas seu
credor continua sendo o endossante-mutuário. Uma vez quitado o
empréstimo, a letra é devolvida ao seu credor.

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É possível endosso posterior ao endosso pignoratício?

O endossatário só pode transferir aquilo que tem, qual seja a possibilidade


de cobrança da garantia que ele tem. Portanto, depois de endosso-caução só
cabe endosso-mandato (art. 19 da LUG). Isto porque ele não pode dar para
outrem uma garantia de algo que a ele não pertence.

Atenção!!! para a maioria da doutrina, se o título de crédito for o cheque,


não se pode utilizar o endosso-caução, porque o cheque é uma ordem de
pagamento à vista e, portanto, funcionaria como pagamento e não como
garantia.

C) ENDOSSO PÓSTUMO (TARDIO): é aquele feito após o protesto do título por falta
de pagamento ou após ultrapassado o prazo para protesto por falta de
pagamento. Depois de protestado o título por falta de pagamento, ou depois de
ultrapassado o prazo para protesto, tem-se a morte cambiária do título.

Depois do prazo para protesto por falta de pagamento, a relação cambiária se


encerra ali, de modo que qualquer transferência desse crédito se daria pela
cessão civil de crédito. Mas a lei admite o endosso nesses casos, mas terá efeito
de cessão.

Na cessão os antecedentes não respondem, só o devedor principal da obrigação


responde. Aquele que recebe o endosso postumo, só tem possibilidade de exigir
o crédito do devedor principal da obrigação, ele não pode exigir dos demais
coobrigados porque tem efeito de cessão civil.

D) ENDOSSO DE RETORNO: é aquele feito em favor de pessoa que já figurava


anteriormente na cadeia. É endossar para alguém que anteriormente já figura na
cadeia, ou seja, retorna o título para ele.

Há endosso retorno quando o título retorna às mãos de seu emitente. Há uma


confusão de credor e devedor na mesma pessoa. Ex. A → B → C → A.

E) REENDOSSO: é o endosso feito por quem recebeu o endosso de retorno. Aquele


que recebe o endosso de retorno e faz um novo endosso, ocorre o reendosso.

Há reendosso (ou endosso plural) quando a mesma pessoa figura na cadeia


cambiária como endossante mais de uma vez. Ex. A → B → C → D → B → F.

Não haverá reendosso se o emitente do título figurar posteriormente na cadeia


cambiária como endossante. Ex. A (emitente) → B → C → A (endossante) → D.

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 CADEIA DE ENDOSSOS:

O legislador permite a realização de endossos seguidos (art. 911 do CC), ainda que
após o vencimento do título (art. 920 do CC).

Art. 911 do CC: “Considera-se legítimo possuidor o portador do título à ordem com
série regular e ininterrupta de endossos, ainda que o último seja em branco.
Parágrafo único. Aquele que paga o título está obrigado a verificar a regularidade
da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas.”

Art. 920 do CC: “O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do


anterior.”

O último endossatário é considerado portador do título e tem direito de receber a


quantia.

 FACTORING E ENDOSSO:

O contrato de factoring é extremamente importante para a circulação dos títulos de


crédito. Ele é conceituado como a prestação cumulativa e contínua de serviços de
acessória creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos,
administração de contas a pagar e receber, compra de direitos creditórios resultantes
de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços.

Assim sendo, percebe-se que se refere a uma atividade empresarial de prestação de


serviços e compra de ativos financeiros (créditos). Porém, nem sempre essas atividades
serão exercidas simultaneamente. Por conta disso, a doutrina diferencia algumas
modalidades de contratos:

(i) FACTORING TRUSTEE: nesse há apenas a prestação de serviços de gestão


financeira e negócios da empresa-cliente.

(ii) MATURITY FACTORING: ocorre a compra de créditos, mas sem a antecipação


de recursos. Assim, a empresa de factoring apenas garantiria a adimplência
ou pontualidade do pagamento. Além disso, nessa modalidade haveria a
prestação de serviços vinculados ao crédito.

(iii) CONVENTIONAL FACTORING: envolve a compra de direitos creditórios, com


o pagamento imediato dos valores a quem transferiu os créditos. É a
modalidade mais comum.

Embora existam diversas modalidades de factoring, a que mais interessa ao tema é a


terceira, qual seja, conventional factoring.

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O STJ tem decisões afirmando que a transferência dos créditos no factoring deverá
ocorrer por meio de cessão de crédito, e não endosso, afastando os princípios da
autonomia e abstração em benefício do credor.

Pelo risco inerente ao contrato, o STJ tem entendido que não poderiam ser aplicados
os princípios próprios dos títulos de crédito, mas, sim, as regras da cessão de crédito,
que de certa forma não protegem tanto o credor.

Contudo, muito se discute quanto ao tema, já que o próprio STJ no passado admitiu
que não é admissível restringir o uso do endosso nas operações de factoring, mantendo
a vigência dos princípios dos títulos de crédito.

JULGADO FACTORING
Resp 1236701  É desnecessária a notificação de emitente de cheque com cláusula
"à ordem", para que o faturizador que tenha recebido a cártula por
meio de endosso possa cobrar o crédito decorrente de operação de
factoring.

REsp 1439749  Oposição de exceções pessoais à empresa de factoring.


 A pessoa que está obrigada a pagar o título de crédito poderá
invocar exceções pessoais que tenha contra o beneficiário
original para evitar o pagamento mesmo que este título tenha
circulado e já se encontre nas mãos de terceiro? A pessoa, para
não pagar, pode alegar que o negócio subjacente não
aconteceu? • Regra: NÃO. Se o título circulou e se encontra
nas mãos de terceiro de boa-fé, este poderá cobrar o valor do
devedor. O devedor, por seu turno, não poderá invocar contra
o portador exceções pessoais que tenha e que estejam
relacionadas com o beneficiário original. • Exceção: Factoring.
Se o título tiver sido cedido para uma empresa de factoring:
SIM. Na operação de factoring, há verdadeira cessão de
crédito, e não mero endosso, razão pela qual fica autorizada
a discussão da causa debendi, conforme prevê o art. 294 do
CC. A faturizadora (factoring) não pode ser equiparada a um
terceiro de boa-fé porque ela tem uma relação mais profunda
com a faturizada, devendo fazer uma análise do crédito que
lhe está sendo transferido. O sacado pode opor à faturizadora
a qual pretende lhe cobrar duplicata recebida em operação de
factoring exceções pessoais que seriam passíveis de
contraposição ao sacador, ainda que o sacado tenha
eventualmente aceitado o título de crédito.

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Casos Concretos:

Questão 1)

Uma letra de câmbio foi emitida por VERA contra GERALDO em favor de EDUARDO,
que a transferiu por endosso em branco para ROBERTO e este, por tradição, para
JOSÉ. O portador (José) endossou em branco para SOLANGE, que, por tradição,
transferiu a CAROL. O sacado não aceitou a ordem dada. Vencido o título, quem o
portador pode demandar para satisfação do seu crédito? Resposta fundamentada.

Resposta:

Vera é sacador e coobrigado; Eduardo é endossante e coobrigado. Não há aceite e, por


conseguinte, obrigado principal. Como Roberto transferiu o título a José por tradição
não se obrigou. José é endossante e coobrigado. Solange não é obrigada pela mesma
razão de Roberto. Assim, Carol poderá demandar os coobrigados Vera, Eduardo e José,
observados os atos e prazos previstos na LUG, cf. determina o art. 53. Ressalte-se que,
dentre estes atos, ganha relevo a necessidade da interposição do protesto em tempo
hábil com fundamento também no art. 44 da LUG.

Carol somente teria ação contra José, Eduardo e Vera. Geraldo também não pode ser
cobrado porque não deu o aceite.

Questão 2)

Uma letra de câmbio aceita por Florentina foi entregue pelo sacador a Roberval,
que a endossou em branco para Miguel. Que opções tem o endossatário para
transferir o crédito a terceiro?

Resposta:

Na forma do art. 14 da LUG, o endossatário tem três opções:

(i) Preencher o espaço em branco com o nome do terceiro;


(ii) Endossar de novo em branco ou em preto; e
(iii) Remeter o título a um terceiro por tradição, sem endossá-lo (art. 14, da
LUG).

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Aula 5 – Prof. Alexandre Assumpção


30/10/18

EMENTA:  ENDOSSO II.


 Endosso sem garantia.
 Proibição de novo endosso.
 Endosso próprio e impróprio.
 Endosso-mandato e endosso-caução.
 Endosso tardio, posterior ou póstumo.
 Cancelamento do endosso.

 ENDOSSO SEM GARANTIA:

O crédito é incorporado ao título e pode ser transferido pela via do endosso, que é
forma especial de transferência de título à ordem. Nos títulos de crédito quando há o
endosso, o endossante, via de regra, assume a responsabilidade pelo pagamento. É
portanto, um devedor solidário, um coobrigado.

No entanto, essa regra foi afastada pelo Código Civil. O endosso está previsto no art
914, caput do CC.

Art. 914 do CC: “Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso,


não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título.
§ 1 - Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor
solidário.
§ 2 - Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados
anteriores.

O endosso previsto no CC tem o mesmo efeito da cessão de crédito. Na cessão de


crédito, o cedente não responde pelo pagamento nem pela solvência do devedor.
Portanto, no CC, presumidamente, o endosso é sem garantia, ou seja, o endossante
não responde pelo cumprimento da prestação constante do título.

Algumas disposições do CC podem ser afastadas se houver previsão em lei especial (art.
903 CC). O CC estabelece que se o título for à ordem, havendo endosso, o endosso será
sem garantia.

Contudo, pelo art. 914, parágrafo 1º, CC diz que o endossante pode ser
responsabilizado pelo pagamento, se indicar que se torna coobrigado, que garante o
pagamento. Isso deve estar escrito no título, "como pagarei" ou "respondo pelo
pagamento" pelo endossante ou por seu procurador com poderes especiais.

Pode ser, portanto, com garantia, se houver disposição expressa no título.

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Na legislação especial, nós não temos uma regra uniforme, ou seja, depende do título
em espécie (nominados). Em alguns títulos em espécie, temos a mesma regra do Código
Civil.

Se a legislação não mandar aplicar legislação especial, ou cambiária ou a própria,


aplicar-se-á a regra do art. 914 do CC, ou seja, o endossante não responde pelo
pagamento.

Essa regra, por exemplo, é aplicada:

 Cédula de produto rural (ART 10, II, lei 8929/94);


 Conhecimento de transporte - o endossante não responde pela prestação (ART
6º, decreto 19473/1930).

Para outros títulos, aplica-se uma regra oposta: o endosso, a princípio, é com garantia.
Quando o endossante endossa, se torna um coobrigado, se torna um devedor solidário.
Ele poderá, contudo, excepcionar essa regra e colocar uma cláusula sem garantia, em
que ele nao responderá pelo pagamento. Nesse caso, ele apenas transmitirá o título.

Essa regra é aplicada, por exemplo:

 letra de câmbio (ART 15 da LUG);


 nota promissória (ART 77 da LUG);
 cheque (ART 21 da lei 7357/85);
 duplicata (ART 25 da lei 5474/68).

Deve-se verificar na lei especial qual é a regra sobre o endosso.

A definição de título de crédito não inclui "à ordem", porque é possível que a lei
especial crie título de crédito que não seja à ordem. O endosso só poderá ser usado se
o título for à ordem. Para ser não à ordem, a legislação especial deverá prever
expressamente.

De acordo com o art. 15, primeiros alínea, salvo disposição em contrário, o endossante
garante o pagamento. O endossante é, portanto, devedor solidário/coobrigado. A
disposição em contrário, se houver, deve estar expressamente escrita no título.

Em suma:

Como regra, quem transfere o título responde pelo pagamento do título. No entanto,
pode haver cláusula em contrário, caso em que teremos um endosso sem garantia.

No endosso sem garantia, só há a transferência do título e o endossante não se


responsabiliza pelo pagamento perante o endossatário e nem perante os que lhe
sobrevierem. Tem os mesmos efeitos, portanto, de uma cessão civil de créditos.

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Art. 15 da LUG: “O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante tanto da


aceitação como do pagamento da letra. O endossante pode proibir um novo
endosso, e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for
posteriormente endossada.” [combinar com o art. 9 da LUG]

O sacador, por expressa disposição do art. 9º da LUG, não pode excluir sua
responsabilidade pelo pagamento e pela aceitação do título.

 ENDOSSO PROIBITIVO DE NOVO ENDOSSO:

Na cláusula proibitiva de novo endosso, o endossante proíbe que o endossatário efetue


novo(s) endosso(s). Esta cláusula, contudo, não é impositiva. Se for desrespeitada e o
endossatário realizar novo endosso, aquele endossante que apôs a cláusula proibitiva
de novo endosso não mais responderá pelo pagamento perante os novos endossatários
(só perante o primeiro). Os novos endossos terão natureza de cessão civil de créditos
em relação àquele que desrespeitou a cláusula proibitiva de novo endosso. Em relação
aos endossantes anteriores, mantém a qualidade de título de crédito.

Exemplo:
A endossa para B, mas, ao endossar o título, proíbe novo endosso. A como endossante
é co-devedora. No entanto, se B desrespeita a cláusula proibitiva de novo endosso e
endossa para C, A não poderá mais ser executada (ela não responde por esse novo
endosso). A responde perante B (garante o endossatário seguinte), mas não responde
perante novos endossatários (C, D etc.).

Difere, portanto, do endosso sem garantia, pois no endosso sem garantia o endossante
não garante o endossatário seguinte e nem os demais.

CLÁUSULA DE ENDOSSO SEM CLÁUSULA DE ENDOSSO PROIBITIVO


GARANTIA DE NOVO ENDOSSO
 O endossante não garante o  O endossante garante o primeiro
endossatário seguinte nem os endossatário, mas não garante os
demais; demais endossatários;
 Tem os mesmos efeitos de uma  Os novos endossos terão efeitos de uma
cessão civil de crédito; e cessão civil de crédito; e
 Só ocorre a transferência do título e  O endossante responde perante o
o endossante não responde. primeiro endossatário, mas não
responde perante os demais.

A cláusula proibitiva de novo endosso também não se confunde com a cláusula não à
ordem. Na cláusula não à ordem, o título só poderá ser transferido por meio de uma
cessão de crédito. Já na cláusula proibitiva de novo endosso, o endosso ainda poderá
ser realizado; contudo, os novos endossatários não terão o direito de cobrar da pessoa
que proibiu o novo endosso.

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CLÁUSULA PROIBITIVA DE NOVO CLÁUSULA NÃO À ORDEM


ENDOSSO
 O endosso poderá ser realizado,  O título somente poderá ser transferido
contudo os novos endossatários não por meio de cessão de crédito.
terão o direito de cobrar da pessoa
que proibiu o novo endosso.

Vejamos o esquema abaixo.:

A fez endosso para B, que fez endosso para C, mas é um endosso com proibição de
novo endosso. Assim, B garante o pagamento, mas se C não receber essa quantia, B
será solidário. Contudo, C tem uma restrição: C não poderá fazer novo endosso. Se C
respeitar essa restrição, B responderá pelo pagamento. Se C fizer um novo endosso,
descumprindo a cláusula, B não responderá às pessoas para quem o título for
posteriormente endossado.

Portanto, todos os endossos posteriores ao segundo endosso não obrigam B. B só fica


obrigado perante C. Se houver um endosso a D, D não poderá cobrar de B. Se D tiver
um avalista e endossar para E, o avalista de D não poderá cobrar de B. [Contudo, se B
tivesse um avalista, o avalista de D poderia cobrar do avalista de B, porque o aval é
autônomo.]

 ENDOSSO PRÓPRIO X ENDOSSO IMPRÓPRIO:

No endosso próprio, também chamado de endosso comum, o crédito é transferido ao


endossatário, ou seja, deixa de ser titular de direitos sobre o título. O endossante não
tem mais direitos sobre o título. No endosso próprio, transfere-se o crédito e todos os
direitos.

O endosso impróprio se caracteriza na transmissão do título com outra finalidade: não


se transfere a propriedade do título; não é uma alienação comum. Há uma transmissão
do título, mas não há alienação. O endossatário ainda tem direitos sobre o título.

São três as hipóteses de endosso impróprio:

1. Endosso-mandato;
2. Endosso-penhor; e
3. Endosso fiduciário.

Passemos à analise de cada uma dessas espécies de endosso impróprio:

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1. ENDOSSO-MANDATO:

É regulado no art. 917 do CC e no art. 18 da LUG. A disciplina entre essas leis é a


mesma. A finalidade do endosso mandato não é transferência em caráter definitivo da
disposição do crédito. "Mandato" lembra representação, procuração. Assim, a
finalidade desse endosso é tornar o endossatário-mandatário um cobrador, ou seja, o
endossante continua credor. Ele não transferiu o seu direito de crédito; apenas
conferiu o exercício de direito de cobrança ao endossatário. O endossatário recebe o
título apenas para efeito de cobrança e não se torna um novo credor.

Como se trata de um endosso impróprio, todo endosso impróprio deve especificar que
não se trata de endosso comum, pelo princípio da literalidade. Assim, deve haver junto
com o endosso a cláusula-mandato. E qualquer palavra, expressão ou texto que indique
que aquele endosso é um endosso mandato. Do contrário, será um endosso
comum/endosso próprio.

A LUG apresenta algumas sugestões de cláusula -mandato. Exemplo.: "valor e


cobrança", "endosso por procuração".

OBS: O endosso mandato deve ser em preto; deve-se indicar expressamente quem é o
mandatório e também deve conter a expressão "mandato", ou equivalente,
registrando-se que se trata de endosso impróprio.

Como se trata de um mandato, o mandatário não pode exercer mais direitos do que
recebeu. Assim, o mandatário não poderá fazer um novo endosso/alienar o título. Se
é mandatário, não tem poderes de alienação, a menos que esteja expressamente
autorizado, o que deve estar escrito na cártula.

Art. 917 do CC: “A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere


ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição
expressamente estatuída.
§ 1 - O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o título na
qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu.
§ 2 - Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde
eficácia o endosso-mandato.
§ 3 - Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as
exceções que tiver contra o endossante.”

Art. 18 da LUG: “Quando o endosso contém a menção "valor a cobrar" (valeur en


recouvrement), "para cobrança" (pour encaissement), "por procuração" (par
procuration), ou qualquer outra menção que implique um simples mandato, o
portador pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode
endossá-la na qualidade de procurador.
Os coobrigados, neste caso, só podem invocar contra o portador as exceções que
eram oponíveis ao endossante.

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O mandato que resulta de um endosso por procuração não se extingue por morte
ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário.

O art 917, parágrafo 2º traz uma distinção do mandato comum do direito civil. Com a
morte, o endosso-mandato não perde validade. Contudo, pelo ART 682, II, CC cessa o
mandato pela morte ou interdição de uma das partes. Se for um mandato decorrente
do endosso não extingue. É uma exação trazida pelo ART 917, parágrafo 2º ao ART 682,
II, todos do CC.

A morte do mandante ou sua incapacidade, portanto, não extingue a cobrança. Poderá


cobrar ao curador ou herdeiros/inventariantes. Por ser um endosso impróprio, pode o
devedor opor ao endossatário somente as exceções que tiver ao endossante.

Exemplo.: B fez endosso mandato para C. X, que é devedor, pode opor exceção por ser
dívida de jogo. Como é endosso impróprio, não há abstração e, assim, as exceções
serão as mesmas, podendo ser opostas ao endossatário.

Esse endosso mandato não habilita a cobrança judicial. É um endosso apenas para atos
extrajudiciais. Para a cobrança judicial, a menos que seja em juizado, devemos
contratar um advogado. Isso envolve contratação de um profissional e fixação de
honorários. São questões que extrapolam um simples mandato cambiário. Não tem
efeito de cláusula judicia, que é um mandato específico. É, na verdade, um mandato
ad negocia.

Os coobrigados só podem invocar contra o devedor as mesmas exceções e não novas.

A LUG tem um erro de tradução; a expressão correta é "mandante" e não "mandatário"


como está escrito no ART 18 LUG.

2. ENDOSSO PENHOR (PIGNORATÍCIO):

Se eu falo em endosso penhor ou pignoratício e o título representa o crédito, garantia


é o crédito. Se o título representa mercadoria, a mercadoria é a garantia.

As bases legais são: art. 918 CC e art. 19 LUG.

Art. 918 do CC: “A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere


ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título.
§ 1 - O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título na
qualidade de procurador.
§ 2 - Não pode o devedor opor ao endossatário de endosso-penhor as exceções que
tinha contra o endossante, salvo se aquele tiver agido de má-fé.

Art. 19 da LUG: “Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor


em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador pode

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exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só
vale como endosso a título de procuração.
Os coobrigados não podem invocar contra o portador as exceções fundadas sobre
as relações pessoais deles com o endossante, a menos que o portador, ao receber
a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.”

Penhor não é alienação definitiva da coisa. Penhor é garantia real. O bem empenhado
pode voltar à disposição do proprietário.

O que é dado em garantia é o crédito, podendo ser representado pelo valor ou pela
mercadoria.

É preciso indicar expressamente que se trata de endosso penhor. A finalidade é apenas


dar em garantia.

O credor pignoratício não pode ficar com o bem, ele não tem status de proprietário.
Para tanto, é preciso cobrar o penhor, já que o título é executivo extrajudicial. Como
o credor pignoratício não é dono do crédito, não poderá fazer endosso comum. Só
poderá fazer o endosso-procuração.

O credor pignoratício não pode fazer novo endosso penhor porque não dispõe da coisa.

Se é endosso impróprio, o credor apenas tem o título em garantia: não faz dele novo
credor daquele crédito. Razão pela qual não pode fazer um novo endosso: não pode
fazer endosso comum nem endosso penhor. Pode apenas fazer o endosso-procuração.

A única diferença entre o CC e a LUG é que o CC não dá exemplos de cláusulas penhor.


"Valor em garantia" ou "valor em penhor" são exemplos dados pela LUG.

3. ENDOSSO FIDUCIÁRIO:

Está previsto no art. 66-B, parágrafo 3, da lei 4728/65. Essa lei instituiu a alienação
fiduciária em garantia para obrigações assumidas no âmbito do mercado financeiro e
de capitais.

Art. 66-B da Lei 4728: “O contrato de alienação fiduciária celebrado no âmbito do


mercado financeiro e de capitais, bem como em garantia de créditos fiscais e
previdenciários, deverá conter, além dos requisitos definidos na Lei no 10.406, de
10 de janeiro de 2002 - Código Civil, a taxa de juros, a cláusula penal, o índice de
atualização monetária, se houver, e as demais comissões e encargos.
§ 3 - É admitida a alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de
direitos sobre coisas móveis, bem como de títulos de crédito, hipóteses em que,
salvo disposição em contrário, a posse direta e indireta do bem objeto da
propriedade fiduciária ou do título representativo do direito ou do crédito é
atribuída ao credor, que, em caso de inadimplemento ou mora da obrigação
garantida, poderá vender a terceiros o bem objeto da propriedade fiduciária

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independente de leilão, hasta pública ou qualquer outra medida judicial ou


extrajudicial, devendo aplicar o preço da venda no pagamento do seu crédito e
das despesas decorrentes da realização da garantia, entregando ao devedor o
saldo, se houver, acompanhado do demonstrativo da operação realizada.”

É uma alienação imprópria porque a alienação fiduciária institui a propriedade


fiduciária. A propriedade fiduciária é resolúvel (ART 1361 do CC), porque é constituída
com o escopo de garantia.

O parágrafo 3º não usa a expressão endosso fiduciário, mas deduzimos que ele está
autorizado pela leitura do dispositivo.

É admitida a alienação fiduciária de títulos de crédito. O credor manterá a posse do


título. Se posso ter alienação fiduciária de títulos de crédito e o credor ficará com o
título, como isso é operacionalizado em títulos à ordem? Por endosso. Que endosso?
Endosso fiduciário. É um endosso fiduciário, fazendo menção que se trata daqueles nos
termos do ART 66-B da lei 4728/65. Sendo título à ordem, será endosso fiduciário.

 ENDOSSO PÓSTUMO ou TARDIO:

O endosso póstumo ou tardio é aquele endosso que acontece após o vencimento do


título. Em regra, é válido e tem efeito de endosso. Contudo, excepcionalmente, terá
efeito de cessão civil de crédito:

a) quando for posterior ao protesto por falta de pagamento ou;

b) quando for posterior à expiração do prazo para protesto (ex. o prazo para
protestar letra de câmbio e nota promissória é o primeiro dia útil após o
vencimento – art. 28 do Dec. 2.044/08; o da duplicata é de 30 dias após o
vencimento – art. 13, L. 5474/68; o do cheque é o mesmo do da apresentação
– art. 48, L. 7357/85).

Nesses casos, tendo efeito de cessão civil de créditos, só poderá mover ação civil de
cobrança direta em face daquele que diretamente lhe transferiu o crédito
postumamente, pois o título morreu para o mundo cambiário (morre junto com ele
eventual aval que tenha sido dado), ou mover execução cambial em face do devedor
principal (sacado que tenha dado o aceite na letra de câmbio, por exemplo). Os demais
coobrigados não poderão ser cobrados pelo endossatário póstumo (somente poderão
ser cobrados em regresso pelo endossante póstumo).

REsp 1189028/MG: “Como o endosso póstumo tem a forma de endosso, prescinde


da notificação do devedor para ter validade em relação a ele, não se aplicando a
norma do art. 290 do Código Civil”.

Atenção: No endosso póstumo com efeito de cessão de crédito, não se opera o


fenômeno da abstração, ou seja, o direito transferido será o mesmo que o endossante

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possuía – um direito derivado. Por isso, as defesas que poderiam ser opostas ao
endossante póstumo se comunicam ao endossatário póstumo.

Exemplo:
O prazo para protestar uma duplicata é de 30 dias após seu vencimento.

1) Vencimento em 30/06 → Endosso em 03/07: endosso


2) Vencimento em 30/06 → Protesto em 01/07 → Endosso em 03/07: cessão
civil de créditos
3) Vencimento em 30/06 → Endosso em 30/08: cessão civil de créditos

Em linhas gerais podemos afirmar que:

 Art. 27 da Lei do Cheque: o endosso póstumo tem efeito de cessão de crédito,


ainda que o endossante do cheque responda pelo pagamento.

 Art. 20 da LUG: temos uma orientação intermediária.

Art. 20 da LUG: “O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o


endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de
pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto,
produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
Salvo prova em contrário, presume-se que um endosso sem data foi feito antes de
expirado o prazo fixado para se fazer o protesto.”

 No CC se o endosso for feito antes do protesto e dentro do prazo para o título


ser apresentado a protesto, terá efeito de endosso. Fora dessa cumulatividade,
terá efeito de cessão. Se um dos requisitos não estiver previsto, será cessão.

 CANCELAMENTO DO ENDOSSO:

Em relação ao cancelamento do endosso, temos o art 50, segunda alínea da LUG.

Art. 50 da LUG: “Qualquer dos coobrigados, contra o qual se intentou ou pode ser
intentada uma ação, pode exigir, desde que pague a letra, que ela lhe seja
entregue com o protesto e um recibo.
Qualquer dos endossantes que tenha pago uma letra pode riscar o seu endosso e
os dos endossantes subseqüentes.”

A princípio, o cancelamento do endosso não poderia ser feito. O decreto 2044/1908


diz no art 44, parágrafo 1º. que o endosso ou aval cancelado é considerado não escrito.

Entretanto, essa regra foi mitigada porque o art 50, segunda alínea da LUG possibilita
o cancelamento se a letra tiver sido paga. Pode-se riscar a expressão que indica o
cancelamento na cártula.

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Se o cancelamento for feito por endossante anterior ou que não pagou, não poderá
riscar o endosso. Só pode riscar o endosso a própria pessoa que pagou e os devedores
posteriores. Fora isso segue sendo não escrito.

Assim, podemos concluir que:

 Só é possível o cancelamento do endosso antes da tradição do título ou depois


do pagamento/do adimplemento. Qualquer outro cancelamento é ilegítimo,
fraudulento.

 CLÁUSULAS CAMBIÁRIAS: [DESPENCA EM CONCURSO]

CLÁUSULA PROPÓSITO
ENDOSSO  A cláusula não à ordem só pode ser inserida pelo emitente
NÃO À ORDEM do título, e faz com que a circulação seja feita
exclusivamente por meio de termo de cessão de crédito.
 Dessa forma, os cedentes não respondem solidariamente
pela obrigação diante da regra do art. 296, cc, salvo
estipulação em contrário.
 Duplicata: a cláusula é proibida, pois seus requisitos são
essenciais que prevê a cláusula à ordem (art. 2º, §1º, vii, lei
de duplicatas).

ENDOSSO  É o endosso em que o endossante não assume


SEM GARANTIA responsabilidade cambiária, de forma que não poderá ser
cobrado por nenhum endossatário da cadeia cambiária.
 Diferencia-se da cláusula proibitiva de novo endosso, em
que o endossante se obriga ao pagamento apenas perante o
seu endossatário.

ENDOSSO  A cláusula não proíbe um novo endosso, mas apenas garante


PROIBITIVO o direito de cobrança ao seu endossatário direto em face
DE NOVO do endossante que inseriu a cláusula.
ENDOSSO  O endossante só poderá ser cobrado pelo seu endossatário
direto e não pelos outros endossatários na sua frente da
cadeia cambiária.

CLÁUSULA  A cláusula sem protesto inserida pelo emitente do título


SEM PROTESTO dispensa a realização do protesto para todos os agentes da
cadeia cambiária, tanto do devedor principal quanto dos
coobrigados.
 Por outro lado, a cláusula sem protesto inserida por um
endossante ou avalista aproveita apenas aquele que inseriu
a cláusula, que continuará a ser necessário para cobrar o
título dos demais coobrigados.

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Deve-se destacar que o art. 890 do CC afirma que, no caso do título que circula
por meio de cessão de crédito regulado pelo código civil, as cláusulas sem
garantia; proibitiva de novo endosso e sem protesto são consideradas não
escritas.

Art. 890 do CC: “Consideram-se não escritas no título a cláusula de juros,


a proibitiva de endosso, a excludente de responsabilidade pelo pagamento
ou por despesas, a que dispense a observância de termos e formalidade
prescritas, e a que, além dos limites fixados em lei, exclua ou restrinja
direitos e obrigações.”

Casos Concretos:

Uma letra de câmbio foi emitida no dia 04/02/2009 com vencimento a 1 (um) mês
da data. O título foi aceito 7 (sete) dias após sua emissão. No dia 06/03/2009, o
beneficiário (Paulo) endossou a cártula para "A" e, como não tivesse ainda o
aceitante honrado o pagamento, no mesmo dia foi realizado o aponte para protesto.
O protesto foi lavrado e registrado em 11/03/2009. Na data do endosso, "A" exigiu
do beneficiário um avalista e este apresentou "B", que lançou aval em preto no
título em favor de Paulo ("avalizo Paulo, assinado "B"") e datou seu aval. No dia
12/03/2009, munido do título e da certidão de protesto, "A" ajuizou cambial em
face do aceitante, do sacador, de Paulo e de seu avalista. Todos alegaram carência
do direito de ação de "A". O juiz acolheu a alegação e extinguiu o processo. "A"
apelou e invocou em síntese: a) que pode cobrar a dívida de qualquer um dos
coobrigados; b) que o endosso de Paulo foi feito antes do protesto (dia 06/03); c)
que o endosso depois do vencimento tem o mesmo efeito (art. 920, do Código Civil);
c) que foi observado o prazo do art. 44, 3ª alínea da LUG. Analise o caso e informe
se agiu corretamente o juiz ao reconhecer a carência do direito de ação em face
dos devedores.

Resposta:

Trata a questão de endosso póstumo. O endosso depois do prazo para aponte a protesto
tem efeito de cessão de crédito. No caso em tela, o endosso foi feito quando o prazo
do art. 28 do Decreto 2044/1908 já havia expirado, acarretando a incidência do art.
53 da LUG, ou seja, a perda do direito de ação em face do (i) sacador; (ii) endossante
e (iii) avalistas, à exceção do aceitante.

Ademais, não cabe invocar o art. 920 do CC, em razão da norma do art. 20 da LUG e o
art. 44, 3 alínea foi objeto de reserva (art. 9, Anexo II).

Assim, agiu corretamente o juiz ao julgar carente o portador do direito de ação em


face dos coobrigados, mas equivocou-se em relação ao ACEITANTE.

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Art. 28 do Decreto 2044: “A letra que houver de ser protestada por falta de aceite
ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil
que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto,
tirado dentro de três dias úteis.”

Art. 53 da LUG: “Depois de expirados os prazos fixados:


- para a apresentação de uma letra à vista ou a certo termo de vista;
- para se fazer o protesto por falta de aceite ou por falta de pagamento;
- para a apresentação a pagamento no caso da cláusula "sem despesas".
O portador perdeu os seus direitos de ação contra os endossantes, contra o sacador
e contra os outros coobrigados, à exceção do aceitante. Na falta de apresentação
ao aceite no prazo estipulado pelo sacador, o portador perdeu os seus direitos de
ação, tanto por falta de pagamento como por falta de aceite, a não ser que dos
termos da estipulação se conclua que o sacador apenas teve em vista exonerar-se
da garantia do aceite.
Se a estipulação de um prazo para a apresentação constar de um endosso, somente
aproveita ao respectivo endossante.”

Art. 920 do CC: “O endosso posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do


anterior.”

Art. 20 da LUG: O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que o


endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto por falta de
pagamento, ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto,
produz apenas os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.

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Aula 6 – Prof. Alexandre Assumpção


30/10/18

EMENTA:  AVAL.
 Conceito.
 Forma.
 Outorga conjugal.
 Aval limitado.
 Avalizado.
 Aval antecipado.
 Avais simultâneos.
 Aval sucessivo.
 Responsabilidade do avalista.
 Direito do avalista.
 Diferença entre o aval e a fiança.
 Diferença entre o aval e o endosso.
 Aval posterior ao vencimento.

 AVAL:

O aval é uma declaração cambial eventual na qual o avalista garante o pagamento do


avalizado, sendo esta uma garantia típica do mundo cambiário. Ele se torna devedor
solidário da obrigação, sem benefício de ordem (art. 47, LUG).

O avalista não “substitui” o avalizado, na medida em que, no direito cambiário, vigora


o princípio da autonomia das obrigações, razão pela qual a obrigação assumida pelo
avalista é distinta daquela assumida pelo avalizado. Sendo nula a relaçao jurídica que
deu origem ao título, isso em nada afeta a obrigação do avalizado para com o credor.

Decidiu o STJ, porém, isoladamente, no REsp 1436245, por mitigar o princípio da


autonomia, em uma situação em que a relação jurídica que deu origem ao título tinha
um objeto ilícito, razão pela qual o credor não poderia cobrar do avalizado (devedor
direto), mas poderia cobrar do avalista:

REsp 1436245: “O princípio da abstração, segundo o qual o título se desvincula do


negócio jurídico que lhe deu origem, e o princípio da autonomia da obrigação do
avalista pelo qual a obrigação do avalista é autônoma em relação à do avalizado,
podem ser mitigados na hipótese de colisão com outros princípios, como o da boa-
fé, que permeia todas as relações jurídicas, e o da vedação do enriquecimento
sem causa”

Apesar dessa autonomia, o avalista responde da mesma forma que o avalizado. Isto
significa que, se o avalizado for devedor principal do título, o avalista também será
tratado como tal, ou seja, não será necessário protesto para cobrá-lo e o prazo
prescricional para sua execução é o mesmo do avalizado.

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O STJ já reconheceu inclusive a possibilidade de inclusão do nome do avalista nos


cadastros de inadimplentes, mesmo sem protesto ou execução, desde que ele seja
devidamente avisado (REsp 209478/SC). Já se o avalizado for devedor indireto, o
avalista será cobrado tal qual um devedor indireto, sendo necessário o prévio protesto.

 LEGISLAÇÃO DO AVAL:

O instituto do aval está previsto no art. 897 do CC e no art. 30 e seguintes da LUG.

Art. 897 do CC: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de


pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.”

Art. 30 da LUG: “O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte


garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um
signatário da letra.”

 FORMA DO AVAL:

Aval significa garantir, assinar em baixo.

Para que a garantia se efetive é necessário que o avalista declare sua vontade por
escrito. Essa assinatura poderá tanto ser feita de próprio punho como por procurador
com poderes especiais.

O local correto para o aval é na frente, na face, no anverso do título. Se o aval for
dado no dorso, desde que esteja claro que é um aval, deve ser respeitado, em
observância ao princípio da literalidade, sendo este o entendimento de Luiz Emydgio.

O aval em branco, na LUG, presume-se dado em favor do sacador (art. 31, LUG). Em
relação aos títulos atípicos, em favor do emitente ou devedor final (art. 899, CC).

Art. 31 da LUG: “O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa. Exprime-
se pelas palavras "bom para aval" ou por qualquer fórmula equivalente; e assinado
pelo dador do aval.
O aval considera-se como resultante da simples assinatura do dador aposta na face
anterior da letra, salvo se se trata das assinaturas do sacado ou do sacador.
O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de indicação, entender-se-
á pelo sacador.

Ao pagar, o avalista pode agir em regresso contra o avalizado e contra os obrigados


anteriores, podendo até mesmo riscar do título seu aval, bem como a assinatura dos
obrigados posteriores (art. 50, LUG).

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 CARACTERÍSTICAS DO AVAL:

O aval é uma declaração cambiária, própria dos títulos de crédito, em que uma pessoa
garante uma obrigação assumida no título firmado pelo avalizado.

O aval tem as seguintes características:

 obrigação acessória (não é um requisito de validade do título);


 escrita (dependendo do título ter formato cartular ou escritural, se for
escritural o aval será lançado por assinatura digital porque o título nao tem
representação cartular, mas se o título tem cártula, logo deverá ter a
assinatura de próprio punho);
 unilateral;
 facultativa (livre de vontade);
 incondicional; e
 literal.

 FIGURAS JURÍDICAS NO AVAL:

As partes no aval são:

(i) Avalista: é aquele que assume a obrigação de pagar o título de crédito, do


mesmo modo que um devedor desse título, isto é, ele dá o aval por alguém
do título.

Atenção!! Jamais falar “avalista do título”, pois é errado. O avalista é


avalista de uma pessoa e não do título. Falar “avalista NO título” é correto,
agora falar “avalista DO título” é errado. Isso porque quando o aval é dado
em branco o avalizado é uma pessoa determinada por lei (emitente do título
na LC) e não são todos os signatários do título. Sempre que o aval é dado
em branco o avalizado é o emitente.

(ii) Avalizado: pessoa por quem se dá o aval, cuja identificação é fundamental


para definir os contornos dos direitos e deveres do avalista.

Caso o avalizado não seja identificado, se estará diante de um aval em


branco. Nessa hipótese, presume-se que o avalizado é o sacador (art. 31 da
LUG).

Em relação aos títulos atípicos, o CC estabelece que o aval em branco se


presume a favor do emitente ou devedor final (art. 899).

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Qual a finalidade do aval?

A finalidade do aval é garantir o pagamento de uma obrigação firmada no título pelo


avalizado.

Trata-se de uma GARANTIA PESSOAL ou FIDEJUSSÓRIA.

 OUTORGA CONJUGAL PARA VALIDADE DO AVAL:

O art. 1647, “iii” do CC exige que se o conjuge for casado, ele precisa obter autorização
do outro conjuge, SALVO se o casamento for pelo regime de separação absoluta de
bens (com pacto nupcial). Para qualquer outro tipo de regime de separação, será
necessário o aval do conjuge.

Destaca-se, contudo, que na legislação especial cambiária não há a exigência da


assinatura do conjuge. Fica então a dúvida se a omissão da legislação especial é lacuna
ou silêncio eloquente.

Se interpretarmos que ausência de dispositivo quanto a outorga conjugal para a


validade do aval pela legislação especial é uma lacuna, aplica-se o CC, ou seja, haveria
a necessidade da autorização conjugal.

Contudo, se interpretarmos que a legislação espcial nao trata da matéria porque não
precisa, caso de silencio eloquente, logo não se aplica o CC, ou seja, não há
necessidade de autorização conjugal para a concessão do aval.

Qual a posição dos tribunais sobre o tema?

A primeira posição do STJ era pela LACUNA da legislação especial, logo aplicável o CC,
seria necessária a outorga conjugal (posição prof. Alexandre).

Em 2016, contudo, o STJ entendeu que não era mais lacuna, mas sim silêncio
eloquente, ou seja, nao prevê a outorga conjugal porque não precisa. É suficiente a
assinatura de apenas um dos conjuges, estaria implicitamente dispensada a outorga
conjugal (art. 31 da LUG), mas, apenas para títulos que tenham o aval regulado em lei
própria.

Assim, por esse entendimento:

 Se a legislação especial tratou do tema do aval, mas foi silente em relação a


outorga conjugal, não tem que aplicar o CC – assim, a assinatura de apenas um
dos conjuges é suficiente.

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 Se a legislação especial do título não tratou do tema do aval, logo, aplica-se o


CC, ou seja, faz-se necessária a outorga conjugal, salvo no regime de separação
total.

REsp 1526560-MG: “Não é necessária prévia autorização do cônjuge para que a pessoa
preste aval em títulos de créditos típicos. O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu
que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge
(exceção: se o regime de bens for da separação absoluta). Essa norma exige uma interpretação
razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário. Diante
disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de
créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil. Por outro lado, os
títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam
obedecer essa regra do art. 1.647, III, do CC. Em suma, o aval dado aos títulos de créditos
nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital. Exemplos de títulos de créditos
nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.”

 AVAL LIMITADO (“PARCIAL”):

Normalmente o avalista se responsabiliza por pagar a dívida inteira. Contudo, a


assunção dessa responsabilidade é ato de vontade, logo, o próprio avalista pode limitar
essa obrigação garantindo apenas uma parte do título. Se ele pode garantir a dívida
toda, então, não há motivos para que ele nao possa resolver garantir menor que isso.
Portanto, o avalista pode dar um ava parcial ou limitado.

O Código Civil proíbe o aval parcial para os títulos atípicos, conforme o art. 897, §un.

Contudo, tal vedação não se aplica para os títulos que sejam regidos por leis especiais:
cheques, letra de câmbio, nota promissória e duplicata. Assim, ao contrário do endosso
parcial que é nulo, o aval parcial é perfeitamente admitido, ou seja, o avalista pode
garantir parte da dívida (art. 30 da LUG c/c art. 29 da Lei 7357/85 e art. 25 da Lei
5474/68).

 AVAL ANTECIPADO:

A figura do aval antecipado somente existe na letra de câmbio e na duplicata, porque


se relaciona a existência ou não do aceite. Nesse caso, o aval é prestado ao sacado
antes do aceite.

Pode o avalista dar o aval pelo sacado quando este ainda não é devedor do título,
isto é, antes de o sacado dar o aceite?

A matéria é objeto de divergência na doutrina. Vejamos:

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CORRENTE 1) Corrente defendida por Luiz Emydgio, Fábio Ulhôa e Rubens Requião
entende que o aval dado em favor do sacado vai produzir efeitos independentemente
do aceite ou não por parte deste, uma vez que a obrigação do avalista é autônoma e
sua intenção deve ser preservada.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Fran Martins, Alberto Asquini entende que o aval
dado em favor do sacado só produzirá efeitos caso o sacado se torne aceitante, pois o
avalista assume obrigações da mesma natureza que a do avalizado (art. 32, LUG).

Para Tomazette, deve haver ao menos a aparência do aceite, isto é, da existência da


obrigação do avalizado.

 AVAL SIMULTÂNEO:

O AVAL SIMULTÂNEO é também chamado de COAVAL e ocorre quando duas ou mais


pessoas avalizam um título conjutamente, garantindo a mesma obrigação cambial.

Ocorre quando uma pessoa é avalizada por dois ou mais avalistas. Não existe limitação
ao número de avalistas, desde que seja um terceiro, o avalizado pode ter dois ou mais
avalistas. A obrigação avalizada pode ter mais de um garantidor. Aplicam-se as normas
da solidariedade passiva, ou seja, a solidariedade de devedores. Assim, cada coavalista
responde pelo valor integral perante o portador. O portador do titulo pode cobrar o
valor integral de qq um dos avalistas. O avalista que pagar ao portador tem ação de
regresso contra os demais avalistas pela quota-parte. Qualquer coavalista pode ser
cobrado pelo quantia integral, o regresso contra os coavalistas deve observar o limite
da quota-parte de cada um.

 AVAL SUCESSIVO:

O AVAL SUCESSIVO é chamado de “AVAL DO AVAL”. O aval sucesssivo é o aval prestado


em vima de um aval anteriormente prestado. Ocorre quando alguém avaliza um outro
avalista. As regras são similares as regras da cadeia de endossos. Nessa cadeia de avais,
um avalista tem que avalizar o outro.

Nesse caso, todos os eventuais avalistas dos avalistas terão a mesma responsabilidade
do avalizado, ou seja, aquele que pagar a dívida terá direito de regresso em relação
ao total da dívida e não apenas em relação a uma parte dela.

A regra é igual a da cadeia de endossos, assim, o avalista que paga libera os posteriores
e pode cobrar dos anteriores. Se o avalizado paga, ele libera todos os avalistas.

Esses avais sucessivos precisam ser necessariamente em preto, porque o aval em


branco é presumidamente em favor do sacador/emitente. Se fizer o aval em branco,

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quebra-se a cadeia de avais. Todos os avais precisam ser em preto para se indentificar
o entrelaçamento. Para ser sucessivo o aval tem que ser necessariamente em preto.

Por isso o STF entende que avais em branco, ainda que superpostos, não podem ser
sucessivos, são considerados avais simultâneos – em favor do sacado.

Súmula 189 do STF: “Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e


não sucessivos.”

Súmula 26 do STJ: “O avalista do titulo de credito vinculado a contrato de mútuo


também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como
devedor solidário.”

 RESPONSABILIDADE DO AVALISTA:

Ao dar uma aval eficaz o avalista se torna devedor solidário do título de crédito – art.
47 da LUG. Assim, mesmo que o avalizado possua bens, o avalista estará obrigado a
pagar a integralidade da obrigação.

O avalista não possui benefício de ordem, isto é, ele não pode indicar bens livres e
desembaraçados do avalizado quando for demandado para honrar sua obrigação.

Ele poderá ainda ser um devedor principal ou indireto, uma vez que ele responde da
mesma forma que o avalizado. Assim, se o avalizado for devedor principal, o avalista
será devedor principal. Se o avalizado for um devedor indireto, o avalista também será
um devedor indireto.

Assim, podemos concluir que:

 Quando o Avalizado for Devedor Principal do Título: temos que o avalista


também será tido como devedor principal. Logo, não será necessário o protesto
para cobrar o avalista e o prazo prescricional será o mesmo previsto para o
avalizado.

 Quando o Avalizado for Devedor Indireto do Título: temos que o avalista


também será tido como devedor indireto. Logo, será necessário o protesto para
cobrar o avalista e o prazo prescricional será o mesmo previsto para o
avalizado.

Diante dessa equiparação o STJ entendeu possível a inclusão do nome do avalista nos
cadastros de inadimplentes, mesmo sem protesto ou execução, desde que ele seja
devidamente avisado.

REsp 209478: “SERASA. Avalista. Inexistência de ação ou de protesto. O garante


que assina como avalista de nota promissória e co-obrigado em contrato bancário

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pode ter seu nome inscrito no Serasa uma vez caracterizado o inadimplemento,
independentemente de propositura da ação de cobrança ou de protesto.
Impedimento existiria se a relação obrigacional estivesse sub judice, por iniciativa
do credor ou do devedor, o que não acontece. Recurso conhecido e provido.”

 AUTONOMIA E ABSTRAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DO AVALISTA:

Apesar da equiparação formal, é certo que a obrigação do avalista é autônoma em


relação à obrigação do avalizado, ou seja, não é afetada pela obrigação do avalizado.

Assim, mesmo que a obrigação do avalizado seja considerada nula, ou mesmo se for
falsa a assinatura do avalizado, o aval permanece.

Contudo, no caso de vícios formais do título o documento não terá valor como título
de crédito e, diante disso, não subsistirá o aval (art. 7º e 32 da LUG).

Art. 7 da LUG: “Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de se obrigarem


por letras, assinaturas falsas, assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que
por qualquer outra razão não poderiam obrigar as pessoas que assinaram a letra,
ou em nome das quais ela foi assinada, as obrigações dos outros signatários nem
por isso deixam de ser válidas.”

Art. 32 da LUG: O dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por
ele afiançada.
A sua obrigação mantém-se, mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser
nula por qualquer razão que não seja um vício de forma.
Se o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra
contra a pessoa a favor de quem foi dado o aval e contra os obrigados para com
esta em virtude da letra.

 TRANSMISSÃO AOS HERDEIROS:

A obrigação do avalista é uma garantia pessoal, mas não é personalíssima. Por isso, ela
será transmitida aos herdeiros do avalista, dentro das forças da herança (art. 1792 do
CC).

 CARACTERÍSTICAS DO AVAL:

Entre as principais características do aval destacam-se:

(i) EQUIVALÊNCIA: o avalista encontra-se na mesma posição do avalizado (ex:


caso executado, pagando a quantia cobrada, o avalista terá direito de
regresso contra o avalizado e contra todos os devedores anteriores a ele,
no valor total da dívida).

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(ii) AUTONOMIA: obrigação do avalista é autônoma em relação à obrigação do


avalizado, ou seja, não é afetada pela obrigação do avalizado. Mesmo que
a obrigação do avalizado seja considerada nula, ou mesmo se for falsa a
assinatura do avalizado, o aval permanece, salvo em virtude de vícios
formais do título (LUG – arts. 7o e 32). No caso de vícios formais, o
documento não terá valor como título de crédito e, diante disso, não
subsistirá o aval. Em decorrência dessa mesma autonomia, não pode o
avalista usar como defesa matéria atinente ao avalizado.

(iii) GARANTIA PESSOAL: a obrigação do avalista é uma garantia pessoal, mas


não é personalíssima. Não sendo personalíssima, ela se transfere aos
herdeiros do avalista, dentro das forças da herança (CC – art. 1.792).

 DIREITO DO AVALISTA:

O avalista possui um direito, qual seja, o DIREITO DE REGRESSO, que nasce ao efetuar
o pagamento do título de crédito.

Ao pagar o título ele se torna proprietário do título e exercerá todos os direitos


decorerentes dessa propriedade, tornando-se credor do título, podendo exigir dos seus
codevedores o pagamento da obrigação.

O direito de regresso se aplica contra as mesmas pessoas contra quem o avalizado teria
o direito de regresso. Ele tem os mesmos direitos do avalizado e do direito de cobrar
o próprio avalizado.

Ao pagar, o avalista pode riscar do título seu aval, bem como a assinatura dos obrigados
posteriores (art. 50 da LUG)

Trata-se de direito novo e autônomo e não de sub-rogação como consta


equivocadamete da LUG.

Imaginemos as seguintes situações:

SITUAÇÃO 1)
Romário emitiu uma NP (que recebeu aval de Ricardo) para Edmundo, que a endossou
para Ronaldo. Todavia, caso Ricardo pague esse título, ele não poderá exercer seu
direito de regresso em face de Romário e Edmundo, porquanto o direito de regresso
somente pode ser exercido por devedores anteriores, ficando liberados os posteriores.
Ao pagar o título, Ricardo somente poderá exercer o direito de regresso contra
Romário, uma vez que Edmundo é devedor posterior a ele.

ROMÁRIO ___________________ EDMUNDO __________________ RONALDO

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

RICARDO

SITUAÇÃO 2)
Caso Ricardo fosse avalista de Edmundo, ele teria direito de regresso contra o avalizado
(Edmundo) e contra os coobrigados anteriores.

ROMÁRIO ___________________ EDMUNDO __________________ RONALDO

RICARDO

 DIFERENÇA ENTRE AVAL E FIANÇA:

A FIANÇA é um contrato e pressupõe o consentimento de duas partes, o fiador e o


credor, com o benefício ao terceiro (o afiançado). A fiança traz uma obrigação
acessória. O fiador tem benefício de ordem. A nulidade da obrigação da fiança se
estende à fiança. Se a obrigação afiançada for simulada, essa nulidade por simulação
aproveita o fiador. A fiança é formalizada em um contrato e dar-se-à por escrito (tem
que ter um documento de constituição da fiança – art. 819 do CC). As dívidas futuras
podem ser objeto de fiança (art. 821 do CC). O fiador pode opor ao credor exceções
pessoais do afiançado (art. 837 do CC).

O AVAL, por sua vez, é ato unilateral de vontade. O aval, embora seja um ato unilateral
de vontade, ele tem a finalidade de garantir uma obrigação que existe no título. Essa
obrigação que existe no título, ela pode ser NULA, mas mesmo assim o avalista
responde, porque a obrigação do avalista é cambial, ela é autônoma. O avalista não
tem benefício de ordem. A nulidade da obrigação avalizada não se estende ao avalista.
O aval é declaração cambiária, não é formalizado em um contrato. O aval decorre da
assinatura do avalista ou de um procurador com poderes especiais (não precisa de um
documento de aval). Não é possível avalizar obrigações futuras. A obrigação do avalista
se mantem, ainda que nula a obrigação do avalizado. O avalista não pode opor
exceções pessoais ao credor.

AVAL FIANÇA
GARANTIAS PESSOAIS
Instituto do direito cambiário Instituto do direito civil
Declaração unilateral de vontade Declaração bilateral de vontade
Vigora o princípio da literalidade, pelo Não vigora o princípio da literalidade,
que deve constar do título pelo que pode vir em documento
separado
Vigora o princípio da autonomia, razão Em regra, a fiança não é autônoma, mas
pela qual os vícios da obrigação acessória, razão pela qual nulo o

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principal não maculam o aval nem vice- contrato ao qual se vincula, extinta
versa estará a fiança (art. 837, CC)
Existe solidariedade na cadeia Em regra, o fiador pode invocar o
cambiária, não podendo o avalista benefício de ordem (art. 827, CC)
invocar benefício de ordem
A insolvência ou incapacidade O credor pode exigir a substituição do
superveniente do avalista não autoriza fiador insolvente ou incapaz (art. 826,
sua substituição CC)
Se houver mais de um avalista, cada Se houver mais de um fiador, eles
avalista paga a dívida inteira ao credor podem se reservar o benefício da
divisão
A obrigação do avalista se transfere aos Só se transfere se o fiador já fosse
herdeiros independente da data do responsável quando do óbito
óbito

 DIFERENÇA ENTRE AVAL E O ENDOSSO:

Endosso é transmissão do crédito a título a ordem. Aval é garantia de pagamento tanto


no título a ordem quanto no título não a ordem. Qualquer título de crédito pode
receber aval.

Vejamos abaixo tabela com as principais diferenças entre aval e endosso:

AVAL ENDOSSO

Declaração cambiária facultativa, que Declaração cambiária facultativa, que


torna o declarante responsável pelo torna o endossante, em regra, devedor do
pagamento do título. título.
Visa garantir o pagamento do título. Visa transferir a propriedade do título.
A responsabilidade do avalista decorre de A responsabilidade do endossante
um ato de vontade. decorre da lei.
Sempre assumirá uma obrigação. Quem endossa poderá não assumir
obrigação nenhuma (endosso sem
garantia).
Pode ser dado por qualquer pessoa. Só pode ser feito pelo portador legítimo
do título.

 AVAL POSTERIOR AO VENCIMENTO (AVAL PÓSTUMO):

Aval póstumo ou tardio é aquele prestado após o vencimento do título.

É possível aval póstumo ou tardio? Quais seus efeitos?

A doutrina diverge sobre o tema. Vejamos abaixo as posições:

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

CORRENTE 1) Corrente defendida por Fran Martins e Waldirio Bulgarelli defende que
com o vencimento do título de crédito, o mundo cambial morre. Portanto, não é mais
possível a utilização de instrumentos cambiários. Logo, o aval valerá como fiança,
desde que preenchidos os requisitos formais necessários para a fiança. É minoritária.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Luiz Emydgio e adotada pelo STJ defende que o
título não morre com o vencimento, mas com o protesto ou com o fim do prazo para
protesto. Logo, para essa corrente devemos avaliar o momento em que o aval foi
concedido:

 Aval dado depois do vencimento, mas antes do protesto ou do fim do prazo


para protesto: vale como aval normal.
 Aval dado depois do vencimento e depois do protesto ou depois de findo prazo
para protesto: aqui temos a “morte” do título no mundo cambiário. Assim,
definitivamente não valerá como aval, mas como fiança.
A corrente 2 é a majoritária em nosso ordenamento. Em relação à duplicata, vide art.
12 da L. 5474/68. Em relação aos demais títulos, vide art. 900 do CC.

Passemos à analise dos 4 artigos do aval no CC:

 ART. 897 do CC:

Art. 897 do CC: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de


pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.”

Via de regra, o CC limita/ restringe a utilização do AVAL aos pagamentos em dinheiro.


Se o pagamento for em mercadoria, não seria admissível o aval, todavia, o art. 903 do
CC determina que se lei especial determinar essa possibilidade, então, será admissível.

Se a lei especial não tratar do tema, adota-se a determinação do CC que só admite o


aval para “soma (quantia) determinada”.

Art. 897, parágrafo único veda o aval parcial. Assim, o aval parcial é NULO. No CC p
aval é uma declaração cambiária INTEGRAL. Só que na legislação cambiária existem
leis que admitem o AVAL PARCIAL.
Assim, a depender da legislação, o aval pode ser parcial ou integral. A regra do CC é
que o aval é sempre integral, porque o aval parcial é nulo, logo a legislaçao especial
tem que admitir de modo expresso para que o parcial seja aplicado. Se a legislação
especial não falar em aval parcial de forma expressa, mas mandar aplicar a legislação
cambial, então, será possivel o aval parcial. Se nao tiver referência à legislação
cambial, não poderá aplicar o aval parcial.

 ART. 898 do CC:

Art. 898 do CC: “O aval deve ser dado no verso ou no anverso do próprio título.

97
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

§ 1 - Para a validade do aval, dado no anverso do título, é suficiente a simples


assinatura do avalista.
§ 2 - Considera-se não escrito o aval cancelado.

O aval é uma declaração informal no sentido de que não se precisa celebrar um


contrato, pode ser dado por uma simples assinatura.

Enquanto o endosso é apenas assinatura, ele só tem eficácia se for dado no dorso, nas
costas do título; no caso do aval ocorre o oposto, quando se tem apenas a assinatura,
ela só tem eficácia se for no rosto do título.

O AVAL PURO E SIMPLES é a assinatura do avalista ou do mandatário com poderes


especiais (no anverso)

O AVAL QUALIFICADO a assinatura é identificada por aval. Aqui também é possível que
o aval seja dado por mandatário (art. 892 do CC) – aqui pode-se assinar em qualquer
lugar do título (verso ou anverso).

Art. 892 do CC: “Aquele que, sem ter poderes, ou excedendo os que tem, lança a
sua assinatura em título de crédito, como mandatário ou representante de
outrem, fica pessoalmente obrigado, e, pagando o título, tem ele os mesmos
direitos que teria o suposto mandante ou representado.”

A regra é a de que o aval uma vez firmado não pode ser cancelado, desde que ainda
exista obrigação a ser garantida e exigível. Se o avalista pagar ou se a dívida estiver
prescrita, então, o avalista poderá cancelar seu aval. O aval cancelado considera-se
não escrito.

Atenção ao art. 24, par. único do D 2044 que consagra que o avalista que paga pode
riscar o próprio aval ou dos endossadores e avalistas posteriores. O CC, por sua vez,
não faz tal ressalva, em que pese ficar implícito tal ideia.

Art. 24 do Decreto 2044: “O pagamento feito pelo aceitante ou pelos respectivos


avalistas desonera da responsabilidade cambial todos os coobrigados.
O pagamento feito pelo sacador, pelos endossadores ou respectivos avalistas
desonera da responsabilidade cambial os coobrigados posteriores.
Parágrafo único. O endossador ou o avalista, que paga ao endossatário ou ao
avalista posterior, pede riscar o próprio endosso ou aval e os dos endossadores ou
avalistas posteriores.”

 ART. 899 DO CC:

Art. 899 do CC: O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de
indicação, ao emitente ou devedor final.
§ 1 - Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado e
demais coobrigados anteriores.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

§ 2 - Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que nula a obrigação daquele


a quem se equipara, a menos que a nulidade decorra de vício de forma. [c/c art.
824 do CC]

O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar. Ele não se equipara a qualquer
devedor, somente aquele cujo nome indicar (aval em preto). Se o aval for em branco,
ele se equipara ao emitente.

O pagamento feito pelo avalizado desonera o avalista?

Atenção ao tema pois as pessoas confundem. O avalista tem ação de regresso contra o
seu avalizado, mas o avalizado não tem ação de regresso contra o seu avalista. Se o
avalista pagar ele terá ação de regresso contra o avalizado e seus garantes. O avalizado
se pagar, libera o seu avalista. O avalizado desonera o avalista (libera-o de
responsabilidade).

Art. 899, par. 2 comparado com o art. 824 do CC. Se o documento tem vício de forma
ele não vale como TC, então, o avalista poderá alegar a exceção de vício de forma. Na
fiança, é o oposto.

 ART. 900 DO CC:

Art. 900 do CC: “O aval posterior ao vencimento produz os mesmos efeitos do


anteriormente dado.” [ c/c art. 903 do CC]

Esse dispositivo trata do aval póstumo ou tardio, é aquele aval dado após o vencimento.
O CC permite o instituto do aval póstumo e como não há vedação expressa na legislação
cambiária, logo o aval póstumo é permitido pelo art. 900 do CC (c/c art. 903)

Passemos à analise dos artigos da LUG que tratam do AVAL:

 ART. 30 DA LUG:

É válido o aval parcial.

Para ser avalista precisa ser capaz, porque a capacidade cambiária é a capacidade
civil. Sendo a pessoa capaz, ela poderá prestar aval sozinho sem nenhuma assistência,
também é possível dar aval um signatário da letra (ex: um avalista do sacador poderá
figurar como avalista de outro obrigado no titulo, PORÉM o patrimônio é único)

 ART. 31 da LUG:

No CC (art. 898) o aval é dado no próprio título, contudo no art. 31 da LUG prevê o
aval dado em folha anexa ao título, um prolongamento.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O CC determina que o aval exprime-se pelas palavras: “bom por aval”, “aval de” ...
trata-se do aval qualificado, podendo ser dado no verso ou anverso. O aval é assinado
pelo dador do aval. Mesmo que o título seja eletrônico, tem que ter a assinatura
(assinatura digital).

O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação entender-se-á pelo SACADOR.


Aval em branco na LC não é dado em face do aceitante, mas sim do SACADOR, logo
será necessário o protesto por falta de pagamento. Ele é coobrigado, não é obrigado
principal.

 ART. 32 DA LUG:

São as mesmas informações do art. 899 do CC. Essa expressão “afiançada” está errada.
A obrigação do avalista se mantem mesmo no caso da obrigação ser nula, salvo vício
de forma. E o avalista que paga tem direito de regresso contra o avalizado e seus
garantes.

Casos Concretos:

Questão 1)

Paulo Silva é o devedor principal de uma letra de câmbio. Seus colegas de trabalho,
José Bento e Henrique Neto, garantiram por aval a referida obrigação cambiária, a
pedido de Paulo. Os avais foram lançados no anverso da letra, de forma sobreposta
e sem indicação do avalizado. Considerando a situação apresentada, responda se
houve, na hipótese, avais simultâneos ou sucessivos, discorrendo, ainda, sobre a
solidariedade nos avais simultâneos e sucessivos. Resposta fundamentada.
Respostas fundamentadas.

Resposta:

O aval se refere a garantia pessoal, que visa reforçar a garantia do pagamento do


título. A obrigação do avalista é autônoma, ou seja, eventual nulidade da obrigação
do avalizado não compromete a do avalista, salvo se por defeito de forma.

Diferencia-se o aval sucessivo do aval simultâneo. O primeiro se refere ao avalista do


avalista, ou seja, em cima do aval anteriormente prestado é dado novo aval. Já o aval
simultâneo se refere a assinatura ao lado do aval anteriormente prestado.

A Súmula 189 do STF estabelece que o aval em branco, ainda que superposto, é
considerado simultâneo e não sucessivo. Assim, no caso concreto verifica-se que está
configurado o aval simultâneo.

Questão 2)

100
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Banco de Pernambuco propos ação de título executivo extrajudicial contra Insilene


S/A, João Luiz Gonzaga e Josefa Maria Gonzaga, para a cobrança de emprestimo
àquela sociedade, representado por cédula de crédito industrial garantida por
hipoteca cedular em segundo grau e por aval, prestados pelos dois últimos
executados. Em procedimento paralelo, a executada Insilene (ação de indenização)
alega que o crédito obtido junto ao banco jamais foi colocado a sua disposição, mas
retido para saldar debitos anteriores da própria mutuária. A ação de indenização
foi julgada procedente. No tocante à execução, foi a ação extinta por sentença,
dada a falta de liquidez, certeza e exigibilidade do título. O Banco recorre alegando
que a quantia relativa ao empréstimo, não tem destinação prevista no corpo da
cédula, mas foi utilizada para pagamento de outros débitos contraídos por Insilene
S/A. Esse desvio de finalidade assevera resolve-se em perdas e danos e não conduz
a descaracterização do título quanto aos avalista. Assiste razão ao recorrente?

Resposta:

O DESVIO DE FINALIDADE do empréstimo não exime de responsabilidade os avalistas


(art. 52 do DL 413/69 c/c art. 32 da LUG). Não restou comprovada nenhuma falta de
requisito essencial da cédula de crédito industrial avalizada. Assim, a responsabilidade
do avalista subsiste, ainda que nula a obrigação daquele a quem se equipara, a menos
que a nulidade decorra de vício da forma.

A garantia prestada pelo avalista possui autonomia em relação ao negócio que a


originar, dela guardando independência e se abstraindo: a garantia é do ato unilateral
e não do negócio a ele subjacente. A obrigação do avalista, considerada em si mesma,
é distinta da obrigação do avalizado. Nesse sentido, vide REsp 94.291/RJ:

Questão 3)

Banco Oriente S/A firmou um contrato de empréstimo de R$200mil com o


Restaurante Peixe Bom Ltda. para a construção do estabelecimento deste, com
vencimento previsto para 90 dias, pactuando-se juros, correção e etc. Os dois sócios
da devedora firmaram contrato também na qualidade de avalistas e de co-
devedores solidários. O contrato contou com a assinatura de duas testemunhas. Foi
emitida, pela devedora, uma nota promissória em garantia, vencível no mesmo
prazo, com aval de seus dois sócios. Assim, responda:
1 – Nos embargos à execução do contrato, você acataria a alegação de dois sócios,
de que no caso eles não tem legitimidade passiva para a execução, porque inexiste
a figura do aval contratual e porque não se presume a fiança?
2 – Nos embargos do conjuge avalista, opostos à execução da nota promissória, você
acataria a alegação de invalidade da penhora sobre a meação, já que o empréstimo
não se dera em proveito do casal ou da família?

Resposta:

101
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

1 – Não. Embora não exista a figura do aval contratual, eis que esse instituto somente
tem cambimento nos títulos de crédito pagáveis em dinheiro, foi dado aval aos sócios
na nota promissória. Esse título pode ser avalizado e os avalistas são responsáveis
solidários com o avalizado (sem benefício de ordem) perante o portador do título,
conforme os arts. 77 e 32 da LUG.

2- Abaixo segue julgado com orientação dos Tribunais a respeito:

REsp 346995: PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. MEAÇÃO DA ESPOSA. ÔNUS DA PROVA.


AVAL. CÔNJUGE SÓCIO DA EMPRESA AVALIZADA. PRESUNÇÃO. ORIENTAÇÃO DO
TRIBUNAL. RECURSO PROVIDO.I- A meação da mulher casada não responde pela
dívida contraída exclusivamente pelo marido, exceto quando em benefício da
família. II - É da mulher o ônus de provar que a dívida contraída pelo marido não
veio em benefício do casal. III - Em se tratando de aval do marido, presume-se o
prejuízo da mulher, salvo se o marido for sócio da empresa avalizada, como na
Espécie.

O art. 1642, I do CC estabelece que o casado pode livremente paraticar atos


relacionados à sua atividade empresária, inclusive prestar aval sem necessidade de
autorização conjugal. Havendo presunção iuris tantum de que a dívida contraída pelo
marido se reverteu em benefício da família, a meação do conjuge também responde
pela satisfação do débito executado, salvo prova em contrário a ser desincumbido pelo
conjuge.

102
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 7 – Prof. Thiago Neves


31/10/18

EMENTA:  PROTESTO.
 Conceito.
 Modalidades.
 Procedimento.
 Avisos.
 Efeitos.
 Prazo.
 Sustação do protesto.
 Sustação dos efeitos do protesto.
 Cancelamento.
 Protesto indevido.
 Cláusula sem protesto.

 CONCEITO DE PROTESTO:

O protesto é o “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o


descumprimento da obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida”. O
protesto pode também provar a recusa do aceite que não é uma obrigação.

O protesto é um ato praticado pelo credor, perante o competente cartório, para fins
de incorporar no título de crédito a prova de fato relevante para as relações cambiais.
É o ato oficial pelo qual se prova a não realização da promessa contida na letra.

O protesto não é meio de cobrança, servindo exclusivamente como meio especialíssimo


de prova.

O detentor de um direito de crédito para exercê-lo em face dos devedores indiretos,


por exemplo, deverá provar o não pagamento do título no vencimento (protesto por
falta de pagamento).

 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AO PROTESTO:

O protesto é regulado nas seguintes leis:

 Lei 9.492/97;
 Artigos 44 ao 46 da LUG;
 Reservas dos artigos 9 e 10 do Anexo II.

 CARACTERÍSTICAS DO PROTESTO:

Entre as principais características do protesto destacam-se:

(i) Ato formal;

103
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(ii) Ato solene;

(iii) Ato cambiário público: uma de suas principais intenções é dar publicidade
a um fato relevante para as relações cambiais, fazendo com que o fato
produza efeitos para além da relação em que ocorreu. Essa é a natureza
jurídica do protesto.

(iv) Natureza extrajudicial: o protesto cambiário não se confunde com o


protesto judicial do artigo 867 do CPC. Portanto, é realizado
independentemente de intervenção do juiz.

 EFEITOS CAMBIÁRIOS:

O protesto tem vários efeitos cambiários, destacando-se:

(i) definir a partir de que momento o endosso ou o aval será considerado


póstumo;
(ii) possibilitar a cobrança dos demais coobrigados que não o devedor principal
etc.

 EFEITOS EXTRACAMBIÁRIOS:

O protesto produz também efeitos extracambiários, isto é, que não se relacionam ao


direito cambiário, tal qual possibilitar o pedido de falência, com base no art. 94, I, da
Lei 11.101/05, possibilitar a contagem de prazos prescricionais etc.

 FUNÇÃO DO PROTESTO:

A função do protesto é probatória. O protesto cambiário visa provar principalmente o


não pagamento (protesto por falta de pagamento), o não aceite (protesto por falta de
aceite) ou a não devolução (protesto por não devolução).

Ao incorporar determinado fato ao seu título mediante protesto, ele atua na


salvaguarda de direitos (ex. ele interrompe a prescrição).

Não se pode utilizar o protesto de maneira equivocada, isto é, como meio de coação
indireta ao pagamento, de forçar a cobrança.

 OBJETO DO PROTESTO:

São três os objetos do protesto:

a) Título de crédito;
b) Título executivo;

104
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Documento de dívida – abrange apenas os documentos que representem uma obrigação


líquida quanto ao valor e exigível. Nesse sentido, o STJ afastou a possibilidade de
protesto por falta de pagamento de contratos de locação (RMS 17400/SP).

Cabe protesto de boleto bancário?

A matéria é objeto de divergência na doutrina:

CORRENTE 1) Corrente defendida pelos tabeliães entende que o boleto bancário pode
ser protestado, sob o argumento de ser um documento de dívida.

CORRENTE 2) Posição do STJ no REsp 902.017/RS é a de que o boleto bancário é uma


declaração unilateral de vontade por parte do credor e não um documento de dívida
e, por isso, não pode ser protestado, diante da insegurança jurídica que lhe
acompanha.

Cabe protesto de certidão de dívida ativa?

Sim!!! Antigamente, o STJ entendia não ser possível o protesto da CDA, sob o
argumento de que não haveria interesse de agir da Fazenda, dada a existência de um
procedimento próprio de execução fiscal.

No entanto, o STJ mudou seu posicionamento no REsp 1126515/PR, em razão da


alteração legislativa promovida pela Lei 12.767/2012, que alterou o art. 1º, p.ú, da
Lei 9.492/97, para permitir o protesto de CDA.

 MODALIDADES DE PROTESTO:

O protesto pode ser dividido nas seguintes modalidades:

(i) Protesto por falta de pagamento;


(ii) Protesto por falta de aceite;
(iii) Protesto por falta da devolução do título; e
(iv) Protesto por falta da data do aceite.

Vejamos abaixo cada uma dessas modalidades de protesto:

(i) PROTESTO POR FALTA DE PAGAMENTO: em todos os títulos de crédito, o protesto


serve para provar o não pagamento da obrigação por parte do devedor no
vencimento.

Quais os efeitos do protesto por falta de pagamento?

105
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Entre os efeitos do protesto por falta de pagamento destacam-se:

1. Possibilidade de cobrança dos devedores indiretos: sua responsabilidade


pressupõe a demonstração cabal de que o sacado não efetuou o pagamento,
mediante protesto, salvo para quem apôs cláusula sem protesto, sem
despesas. Se não protestar ou protestar fora do prazo (art. 53, LUG), o
credor só poderá cobrar cambialmente o aceitante e seus avalistas, para
quem o protesto é dispensado.

2. Interrupção da prescrição (art. 202, CC): realizado o protesto, tempestivo


ou não, o prazo prescricional volta do zero (superada a Súmula 153 do STF).

3. Configuração de impontualidade para fins de pedido de falência: se o


sacado aceitou e não pagou injustificadamente, está inadimplente. Sendo
um empresário, poderá ser formulado um pedido de falência, presentes os
demais requisitos do art. 94, I, da Lei 11.101/05.

4. Inscrição em cadastros de inadimplentes: tal efeito não depende de nova


comunicação, além da intimação no protesto, e só atinge aquele devedor
que for intimado pelo cartório.

A LUG foi objeto de reserva quanto ao prazo para protesto, optando o Brasil por
aplicar o art. 28 do Decreto 2.044/1908, que prevê que o protesto deve se dar um
dia útil após o vencimento do título.

(ii) PROTESTO POR FALTA DE ACEITE: serve para provar, nas letras de câmbio e
duplicatas, que o sacado não aceitou a ordem que lhe foi dada.

Só poderá ser realizado este protesto enquanto for possível dar o aceite, ou seja,
até o vencimento do título (art. 44 da LUG e art. 21, §1º, da Lei 9.492/97). Se o
título for apresentado no último dia do prazo e o sacado pedir uma segunda
apresentação, o protesto pode ser tirado no dia útil seguinte ao da apresentação.

Quais os efeitos do protesto por falta de aceite?

O principal efeito do protesto por falta de aceite é a possibilidade de cobrança


antecipada dos devedores indiretos (sacador, endossantes e respectivos avalistas):
eles garantem que o sacado irá dar o aceite, salvo se houver a cláusula não aceitável
e, portanto, se o sacado não deu aceite, logo também não irá pagar, o que permite
que os que deram tal garantia sejam cobrados mesmo antes do vencimento.

A recusa do aceite gera o vencimento antecipado da letra de câmbio (art. 43, LUG).
No caso de o sacado não ter aceitado a ordem, o protesto é essencial, pois é a única

106
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

maneira de cobrar os devedores indiretos. Se não protestar, o documento deixa de ser


um título cambial e passa a ser apenas um meio de prova.

(iii) PROTESTO POR FALTA DE DEVOLUÇÃO DO TÍTULO: a legislação não estabelece o


prazo para devolução, mas se entende como razoável o de 24 horas. Depois disso,
a retenção é indevida, autorizando a prova solene da não devolução do título.

(iv) PROTESTO POR FALTA DE DATA NO ACEITE: caso o título que tenha vencimento
a certo termo da vista seja aceito, mas não datado, compete ao portador tirar
em tempo hábil o protesto para que conste a data do aceite (ou completar a
lacuna, desde que de boa-fé).

 LOCAL PARA PROTESTO:

Os locais para realização do protesto variarão conforme o título. Vejamos:

 Letra de Câmbio: a LUG é omissa no que diz respeito ao protesto de letra de


câmbio. Portanto, devemos recorrer ao artigo 28, p.ú, do Decreto 2.044/08,
que afirma como competente ou o local do aceite ou o local do pagamento.
Não há possibilidade de não existir nenhum dos dois locais, pois isso
descaracterizaria o título, em razão da falta de requisito.

 Nota Promissória: é o local do pagamento. Se não tiver descrito o local do


pagamento na nota, o local passa a ser o da emissão, conforme art. 76, alínea
3, da LUG, que é presumido como o local do domicílio do emitente.

 Cheque: é o local do pagamento, conforme artigo 28 da Lei 7.357/85. Na


omissão do local do pagamento, o local passa a ser o da emissão, que é
presumido como o local do domicílio do emitente.

 Duplicata: é o local do pagamento.

E se o protesto for feito em local indevido?

O protesto será anulado e tanto o apresentante do protesto como o tabelião que o


lavrou poderão ser responsabilizados pelos danos eventualmente gerados.

 PRAZOS PARA PROTESTO:

Os prazos para realização do protesto também variarão de acordo com o título de


crédito:

 Letra de Câmbio e Nota Promissória: primeiro dia útil seguinte ao vencimento


(art. 28, Decreto 2.044/08).

107
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 Duplicata: 30 dias contados do vencimento (art. 13, §4º, da Lei 5.474/68).

 Cheque: o STJ se manifestou no sentido de que o cheque pode ser protestado


enquanto ainda possuir força executiva.

O prazo de cobrança do cheque envolve o prazo de apresentação, que pode ser


dividido em:

(i) Prazo de 30 dias: se for na mesma praça; ou


(ii) Prazo de 60 dias: se for em praça distinta (art. 33 da Lei 7.357/85).

O prazo para propositura da execução é de 6 meses contados da apresentação


frustrada ou do término do prazo para apresentação (art. 59 da Lei 7.357/85).

Segundo entendimento do STJ, cheque prescrito não pode ser protestado (AgRg
no AREsp 270557/RJ), gerando danos in re ipsa.

IMPORTANTE!!!
 Protesto para fim falimentar: não precisa respeitar o prazo prescricional de
seis meses.
 O art. 202, III, do Código Civil afirma que o protesto é causa interruptiva do
prazo prescricional, razão pela qual não mais subsiste o verbete sumular 153
do STF.

 PROCEDIMENTO DO PROTESTO:

O cartório competente para realizar o protesto é o Tabelião de Protestos de Títulos.

As seguintes etapas deverão ser oberservados na formalização do protesto:

(i) PEDIDO DE PROTESTO:

O tabelião não age de ofício, devendo o interessado, ou seja, qualquer portador do


título formular o pedido em tal sentido.

O pedido deve ser dirigido ao cartório competente – Tabelionato de Títulos e Protestos.


Se houver um só, dirige direto a ele. Se houver mais de um, haverá a distribuição (art.
7º, L.9492/97).

O pedido deve ser instruído com o título ou documento de dívidas originais.

No caso de retenção indevida pelo sacado, permite-se a apresentação da segunda via,


ou no caso da duplicata, o chamado protesto por indicações, que se limitarão a conter
os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata (art. 8º,
L. 9492/97).

108
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O tabelião, então, examinará a regularidade formal do título (art. 9º da L. 9492/97),


qual seja se presentes os requisitos de cada título. Se houver alguma irregularidade, o
procedimento não será levado adiante. Tudo correto, segue o curso normal.

(ii) INTIMAÇÃO:

Feito o pedido, compete ao tabelião proceder à intimação do devedor para pagar,


devolver, aceitar ou datar o aceite (emitente da nota promissória ou do cheque, sacado
nas letras de câmbio e duplicatas) (art. 14, L. 9492/97).

A princípio, a intimação não precisa ser pessoal. No entanto, no protesto para fins de
falência, o STJ já se manifestou pela essencialidade da identificação da pessoa que
recebeu a intimação, em razão de sua gravidade (Súmula 361, STJ).

Excepcionalmente, esgotadas as possibilidades de intimação pessoal, proceder-se-á a


intimação por edital (art. 15, L. 9492/97).

REsp 1398356-MG: “O tabelião, antes de intimar o devedor por edital, deve


esgotar os meios de localização, notadamente por meio do envio de
intimação por via postal, no endereço fornecido por aquele que procedeu
ao apontamento do protesto.”

O protesto só será registrado em 3 dias úteis da protocolização do pedido (art. 12, L.


9492/97), excluindo-se o dia da protocolização e incluindo-se o do vencimento. Se a
intimação ocorrer no último dia do prazo ou depois dele, o protesto poderá ser lavrado
no primeiro dia útil seguinte. Este prazo é para que o devedor possa optar por aceitar,
pagar ou devolver o título.

Atenção: A corrente majoritária (STJ e Luiz Emydgio) entende que os três dias não
devem ser contados do protocolo, mas sim da intimação (exclui-se o dia da intimação
e conta-se o terceiro dia).

(iii) LAVRATURA DO PROTESTO:

Se dentro do prazo da intimação houver pagamento, aceite ou devolução do título,


bem como a datação do aceite, não haverá protesto. Se essas medidas não forem
tomadas, o tabelião irá lavrar o protesto, com os requisitos do art. 22 da Lei de
Protestos.

 RESUMO E OBSERVAÇÕES:

1ª. Protocolização do protesto (art. 9º da Lei 9.492);


2ª. Intimação do devedor (art. 14);
3ª. Acatar a desistência do apresentante (art. 16);
4ª. Acolhimento da devolução, do aceite ou do pagamento (art. 19);

109
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

5ª. A lavratura e o registro do protesto (art. 20);


6ª. Averbação da retificação de erros materiais pelos serviços (art. 25);
7ª. Cancelamento do registro de protesto (art. 26);
8ª. Prestar informações e certidões dos atos praticados (art. 27).

Como fica a responsabilidade do tabelião por danos decorrentes do protesto?

O tabelião é responsável pessoalmente por todo o procedimento do protesto civil,


penal e administrativamente. Portanto, eventuais danos causados em razão de sua
atuação serão ressarcidos.

O devedor que deixar de comunicar os coobrigados do protesto responde por


eventuais danos?

O devedor, ao ser intimado do protesto, deverá notificar os coobrigados. Se eles não


forem comunicados, isso não os desobriga da obrigação cambial que assumiram, mas,
se sobrevierem eventuais danos desta “surpresa”, o devedor por eles irá responder.

Atenção: O STJ entende que o mero apontamento inicial para protesto, ou seja, a
protocolização em si, não gera ressarcimento de danos. Só o registro de um protesto
indevido pode gerar danos passíveis de indenização.

 SUSTAÇÃO DO PROTESTO:

A sustação do protesto tem por objetivo impedir que o protesto seja lavrado e,
consequenteente, produza seus efeitos.

É uma medida judicial que ocorre diante da utilização equivocada do protesto, ou seja,
com desvio de finalidade, com outro objetivo que não o probatório, principalmente o
de coação indireta para pagamento.

Há dois fundamentos para essa medida: o art. 17, §§2º e 3º, da Lei 9.492/97 e o poder
geral de cautela do magistrado que pode até mesmo liminarmente sustar o protesto.

Ela só é cabível enquanto não consumado o protesto e é baseada em uma cognição


sumária. Por isso, tende a ser uma medida cautelar não satisfativa (ou uma
antecipação de tutela em ação de conhecimento – art. 273, §7º, CPC). São requisitos
para a sustação:

a) Fumus boni juris: é a plausibilidade do direito invocado, ou seja, a aparência


de que a obrigação não mais existe ou da irregularidade formal do protesto. A
simples existência de uma ação discutindo a dívida ou a prescrição da execução
não são suficientes para a sustação.

110
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

b) Periculum in mora: existência de um dano potencial que se quer evitar, o que


é claro na sustação do protesto, diante da possibilidade de inserção do nome
do devedor nos cadastros restritivos do crédito.

Lembrar que em sede de tutela antecipada, requer-se ainda a reversibilidade


dos efeitos do provimento antecipatório. Na sustação, a situação é plenamente
reversível, pois a qualquer tempo o protesto poderá ser lavrado.
Da intimação do tabelião, o autor da ação cautelar tem 30 dias para mover uma
ação principal. Caso contrário, a liminar concedida será revogada e o protesto
voltará a valer (art. 806 do CPC).

É possível pedir a sustação de um protesto cujo valor seja ínfimo?

Sim!!! O valor do protesto não influi na possibilidade ou não da sustação, pois o


protesto indevido por si só é capaz de gerar grandes danos.

E se o autor pede a sustação do protesto e deposita o valor protestado como caução?

Nesse caso, o magistrado está vinculado à concessão da medida cautelar de sustação.

E quando o protesto for considerado necessário, ou seja, indispensável ao exercício


de certos direitos pelo credor?

A jurisprudência entende que nesse caso não cabe sustação. Ex. protesto por falta de
aceite – se não for realizado, o credor não pode cobrar de ninguém, sendo essencial
sua tempestividade (art. 53, LUG), e, além disso, nenhum efeito terá para o sacado. E
quando causar efeitos ao sacado? Nesse caso, o ideal seria limitar os efeitos do protesto
e não proibir sua sustação.

E se, no curso da ação cautelar de sustação, o protesto for lavrado?

Nesse caso, não há mais como sustar o protesto, mas se admite a sustação dos efeitos
do protesto, bem como de sua divulgação, para evitar que danos sejam ocasionados.

 SUSTAÇÃO DOS EFEITOS DO PROTESTO:

Se o protesto já tiver sido lavrado, não há mais possibilidade de se sustar o protesto,


uma vez que ele já foi lavrado. Apesar disso, vem-se admitindo a proteção do devedor
nesses casos, pela sustação dos efeitos do protesto, bem como da sua divulgação.
Mesmo após a lavratura do protesto, pode-se impedir por exemplo a inscrição do
cadastro de inadimplentes.

111
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Caso o devedor preencha os requisitos necessários para a tutela de urgência, ele


poderá obter a sustação dos efeitos do protesto.

SUSTAÇÃO DO PROTESTO SUSTAÇÃO DOS EFEITOS DO PROTESTO

Evita que o protesto seja realizado. Significa que o protesto já foi realizado e
apenas se quer sustar os seus efeitos
enquanto se discute a matéria. Assim, se
deseja o cancelamento do protesto.
Ocorre nos 3 dias anteriores ao registro. Ocorre após os 3 dias do registro.

 CANCELAMENTO DO PROTESTO:(art. 26, l. 9492/97)

Lavrado o protesto, não se pode cogitar mais de sua sustação, podendo no máximo
haver a sustação dos seus efeitos. Apesar disso, o protesto estará concluído e ficará
registrado nos assentamentos do cartório. Para retirar tal registro, deve­se
providenciar o cancelamento do protesto (Lei no 9.492/97 – art. 26).

Tal cancelamento poderá ocorrer se não mais subsistir o fato provado pelo protesto,
isto é, o pagamento do título enseja o cancelamento do protesto. Nesse caso, deve­se
apresentar ao cartório a prova desse pagamento, o que, em regra, se dá pela
apresentação do próprio título. Excepcionalmente, contudo, apenas para fins de
cancelamento do protesto, admite­se como prova de pagamento uma declaração da
pessoa que figurou no protesto como credor, com a sua identificação e firma
reconhecida.

O cancelamento do protesto está previsto no art. 26 da Lei 9492/97. Tal cancelamento


poderá ocorrer se não mais subsistir o fato provado pelo protesto (ex. o pagamento do
título, provado pela apresentação do título ou pela declaração do credor com firma
reconhecida, enseja o cancelamento do protesto).

O cancelamento do protesto pode ser requerido por qualquer pessoa. No entanto,


entende o STJ que a iniciativa compete ao devedor (ex. pagou o que devia, tem uma
sentença transitada em julgado que lhe é favorável – arts. 26, §4º e 34, L. 9492/97),
correndo as despesas à sua custa. Por isso, se o credor não toma esta iniciativa, isso
não lhe gera qualquer responsabilidade.

O protesto de qualquer dos coobrigados vincula a todos os demais coobrigados. O


devedor principal e seus avalistas não precisam ser protestados.

 PROTESTO INDEVIDO:

Primeiramente, registre-se que o simples apontamento a protesto não configura


qualquer dano. Somente o próprio protesto, ou seja, o seu registro é que pode
configurar dano. Em regra, o protesto é exercício regular de um direito pelo credor.
Todavia, se for indevido, surge a obrigação de indenizar os danos causados.

112
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Considera-se indevido o protesto irregular sob o ponto de vista formal; o protesto por
falta de pagamento se a dívida inexiste; o protesto abusivo, sem qualquer finalidade
ou com finalidade coativa etc.

A responsabilidade pela indenização é, a princípio, da pessoa que levou o título ao


protesto. No endosso mandato, será, a princípio, do endossante-mandante, uma vez
que o endossatário-mandatário age em nome e em proveito daquele, salvo se
comprovada a culpa do endossatário-mandatário (ex. protesto de duplicata fria,
emitida sem lastro probatório, segundo atual entendimento do STJ). No endosso
caução, a responsabilidade é do endossatário pignoratício, pois age em nome e em
proveito próprio.

Em regra, não se cogita de responsabilidade do tabelião, pois apenas formaliza o


protesto. Excepcionalmente, em caso de defeito na prestação do serviço, será
responsabilizado pelos danos causados pessoalmente ou por seus subordinados. Assim,
a responsabilidade não será pelo protesto em si, mas sim pela falha na prestação de
serviço.

 CLAÚSULA SEM PROTESTO:

A cláusula sem protesto ou sem despesas no título encontra-se prevista no art. 46 da


LUG. Tal cláusula não se presume, e ela deve estar expressamente inserida no título.

Ao se inserir tal cláusula no título a cobrança dos devedores indiretos passa a não
depender do protesto. O credor faz o protesto se quiser, uma vez qie poderá cobrar o
título, independentemente da realização do protesto.

Verifica-se, pois, que a clausula sem protesto não proíve a realização do protesto.
Contudo, se realizado o protesto, as despesas do credor não serão reembolsáveis.

Além disso, é necessário fazer a seguinte diferenciação:

(i) Cláusula inserida pelo emitente/sacador: ela produzirá efeitos em relação


a todos os signatários do título, isto é, todos os devedores poderão ser
cobrados independentemente do protesto. Em contrapartida, o portador
que realizar o protesto, mesmo não sendo obrigado, terá que arcar com os
custos de tal ato, ele não poderá cobrar dos devedores os custos com tal
operação.

(ii) Cláusula inserida por um endossante ou avalista: só produzirá efeitos em


relação aquele que apôs a cláusula. Para cobrar o que apôs a cláusula sem
protesto não será necessário o protesto. Apesar disso, contra os demais
devedores indiretos o protesto continuará sendo essencial, assim as
despesas do protesto poderão ser cobradas de auqleur um dos devedores do
título.

113
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Pode ser considerado como abuso de direito a realização de protesto em caso que
existe a cláusula sem protesto?

Não, porque a função do protesto não é apenas de legitimar a cobrança contra


coobrigados, mas também de proteção do comércio. Além disso, pelo art. 890 do CC,
tal cláusula não será admissível nos títulos atípicos.

 JURISPRUDÊNCIA SOBRE PROTESTO:

JULGADO PROTESTO
Info 415 do STJ  Observa que, com a prescrição da própria dívida, o crédito
desveste-se da sua exigibilidade jurídica. Entretanto destaca
que a eventual perda do atributo de executividade do cheque
não importa o cancelamento do protesto (art. 1º da Lei n.
9.492/1997).

Info 433 do STJ  A Súmula 153 do STF teve a sua eficácia limitada no tempo em
virtude do art. 202, III do CC. Assim, o protesto interrompe a
prescrição.

Info 460 do STJ  Na ação cautelar de sustação de protesto, não tem o valor da
causa necessariamente correspondência com o valor da ação
principal, pois as tutelas jurisdicionais almejadas nessas ações
não se assemelham. Assim, é razoável considerar o valor da
causa por estimativa na referida ação cautelar.

Info 463 do STJ  O endossatário que recebe, por endosso translativo, título de
crédito contendo vício formal, por não existir a causa para
conferir lastro a emissão de duplicata, responde pelos danos
causados diante de protesto indevido, ressalvado seu direito
de regresso contra os endossantes e avalistas.

Info 483 do STJ  Só responde por danos materiais e morais o endossatário que
recebe título de crédito por endosso-mandato e o leva a
protesto, extrapolando os poderes do mandatário em razão de
ato culposo próprio, como no caso de apontamento depois da
ciência acerca do pagamento anterior ou da falta de higidez
da cártula.

Info 500 do STJ  O simples apontamento de título a protesto sem o efetivo


registro não gera dano moral.
 O dano moral somente ocorrerá se o protesto indevido for
efetivado, ou seja, se, após 3 dias da intimação, não houver
pagamento ou sustação, ocasião em que o protesto será

114
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

lavrado. Apenas com a efetivação do protesto, este é


registrado e se torna público, trazendo efeitos negativos à
pessoa protestada, que será, inclusive, incluída nos cadastros
negativos de crédito.

Info 506 do STJ  O protesto de duplicata será tirado na praça de pagamento


constante no título, a teor do §3º do art. 13 da Lei 5474/68.
Não é no domicílio do devedor da obrigação cambiária que
deve ser tirado o protesto, mas sim na praça de pagamento
constante no título.

Info 512 do STJ  Legitimamente protestado o título de crédito, cabe ao


devedor que paga posteriormente a dívida, e não ao credor, o
ônus de providenciar a baixa do protesto em cartório, sendo
irrelevante tratar-se de relação de consumo, não havendo que
falar em dano moral pela manutenção do apontamento.

Info 562 do STJ  A prescrição da pretensão executória de título cambial não


enseja o cancelamento automático de anterior protesto
regularmente lavrado e registrado. Da leitura do art. 26 da Lei
9.492/1997, vê-se que o cancelamento do protesto advém,
normalmente, do pagamento do título. Não se trata de caso
de obrigação natural. Enquanto for exigível a obrigação,
permanece a protestabilidade.

Súmula 475 STJ  Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o


endossatário que recebe por endosso translativo título de
crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco,
ficando ressalvado seu direito de regresso contra os
endossantes e avalistas.

Súmula 476 STJ  O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só


responde por danos decorrentes de protesto indevido se
extrapolar os poderes de mandatário.

Casos Concretos:

Questão 1)

ALFA ALIMENTOS Ltda. foi citada para pagar uma dívida de R$10.000,00 (dez mil
reais) materializada numa duplicata de venda sacada por BETA MÓVEIS S/A. e
endossada, simplesmente para cobrança, para o BANCO Y S/A. A ré provou que a
duplicata era fria, que o protesto foi indevido e a ação foi extinta. Sentindo-se
prejudicada pela conduta do endossatário-mandatário, ALFA ALIMENTOS Ltda.
ajuizou ação indenizatória em face do Banco Y S/A., pleiteando danos morais pelo

115
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

aponte do título para protesto, considerado abusivo. O réu alegou, em contestação,


tratar-se de exercício regular de direito, eis que agiu como mandatário do sacador-
endossante. Analise a questão sob todos os aspectos, em especial a legitimidade do
endossatário-mandatário para figurar no polo passivo da ação indenizatória.

Resposta:

O endosso-mandato consiste no endosso por procuração. Sobre o tema, as Súmulas 476


do STJ e 99 do TJRJ dispõem que o endossatário somente responderá pelos danos se
extrapolar os poderes do mandato (excesso de poder, dolo ou culpa).

No caso concreto, verifica-se que o endossatário é obrigado a protestar o título não


pago ou irá perder o direito de regresso contra o endossante, conforme dispõe o art.
13, §4º da Lei 5474/68. Assim, ele não excedeu os poderes concedidos pelo mandato,
não devendo responder por qualquer dano.

Como consequência, a ação deve ser movida contra o sacador/endossante que era
quem tinha o dever de protestar o título.

No caso do endosso translativo, a resposta seria diversa, já que, nesse caso, aplica-se
a Súmula 475 do STJ. Dessa forma, o endossatário irá responder pelos danos
decorrentes de protesto indevido em caso de vício formal, cabendo ação contra
endossantes e avalistas.

REsp 1213256: “O endossatário que recebe, por endosso translativo, título de


crédito contendo vício formal, sendo inexistente a causa para conferir lastro a
emissão de duplicata, responde pelos danos causados diante de protesto indevido,
ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas.”

Questão 2)

XL CONCURSO PARA INGRESSO NA MAGISTRATURA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO.


ANTONIO JOSÉ emitiu em 05.05.2000 nota promissória em favor de MANOEL PEDRO,
com vencimento para 05.06.2000, no valor de R$ 10.000,00. Inadimplida a
obrigação, o credor obteve no cartório competente o protesto cambial. Este fato
motivou a perda de um empréstimo pessoal bancário pretendido por ANTONIO.
Visando a "limpar" seu nome, ANTONIO propõe, em julho de 2004, medida judicial
objetivando o cancelamento do protesto, ao argumento de que a prescrição do
título acarreta o cancelamento do protesto. Solucionar, justificadamente.

Resposta:

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O protesto consiste um ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o


descumprimento de obrigação originada em títulos ou outros documentos de dívida
(Lei nº 9492/97).

No caso concreto, pleiteia-se o cancelamento do protesto em virtude da prescrição do


título. Sobre o tema, a Súmula 600 do STF estabelece que a prescrição ou perda da
eficácia executiva do título não impede sua remessa a protesto, enquanto for possível
a cobrança por outros meios.

Assim, a prescrição do título não enseja o cancelamento automático de anterior


protesto regularmente lavrado e registrado. Da leitura do art. 26 da Lei 9492/97, vê-
se que o cancelamento do protesto advém, normalmente, do pagamento do título. Por
qualquer outra razão, somente poderá o devedor obter o cancelamento mediante
decisão judicial favorável, caso o juiz, examinando as razões apresentadas, considere
relevantes as circunstâncias do caso concreto.

Nada na lei permite inferir que o cancelamento do protesto possa ser exigido por fato
objetivo outro que não o pagamento. A prescrição do título, objetivamente
considerada, não tem como consequência automática o cancelamento do protesto.

Conclui-se, pois, que não há de ser aceita a alegação de cancelamento do protesto do


título, devendo permanecer.

117
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Aula 8 – Prof. Rodolfo Hartmann


31/10/18

EMENTA:  AÇÕES PARA RECEBIMENTO DO CRÉDITO.


 Ação cambial. Tipos. Legitimidade. Foro competente.
Documentação. Procedimento. Prescrição. Defesas admissíveis.
 Ação de locupletamento. Pressupostos. Legitimidade. Foro
competente. Causa de pedir e prova. Rito. Natureza. Prescrição.
 Ação causal. Pressupostos. Legitimidade. Objeto.
Procedimento. Prescrição.
 Ação monitória.

 AÇÕES PARA RECEBIMENTO DO CRÉDITO:

Iremos estudar na aula de hoje as ações para recebimento do crédito, detacando-se:

(i) Ação Cambial;


(ii) Ação de Locupletamento;
(iii) Acação Causal; e
(iv) Ação Monitória.

Passemos à analise, em detalhes, de cada uma dessas ações para recebimento do


crédito:

(i) AÇÃO CAMBIAL:

Se o título não for pago no vencimento, poderá ser realizado o protesto. O protesto
serve como meio de prova. Para receber a obrigação não paga, o credor pode entrar
com a chamada ação cambial.

A ação cambial é uma ação executiva regida pelo Livro II do CPC. Os títulos de crédito
possuem uma presunção de certeza tão forte que a lei permite ao credor pleitear
medidas satisfativas de seu crédito desde já, uma vez que são títulos executivos.
Assim, o credor tem uma opção mais ágil e rápida para receber seu crédito, uma vez
que a citação nesse processo é para que o devedor efetue o pagamento em 3 dias (art.
829 do CPC).

Assim, entende-se por ação cambial aquela ação definida pela lei que regulamenta o
título de crédito típico, com prazo prescricional específico, com o objetivo de cobrar
aqueles que se obrigaram ao título (obrigados cambiários).

Quais as modalidades de ação cambial existentes em nosso ordenamento jurídico?

A doutrina costuma distinguir dois tipos de ação cambial:

118
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(i) AÇÃO DIRETA: é aquela ação ajuizada pelo credor/portador do título contra o
aceitante e seus avalistas, isto é, contra os DEVEDORES PRINCIPAIS e, por isso,
não depende de protesto.

(ii) AÇÃO DE REGRESSO: é aquela ação ajuizada contra os DEVEDORES INDIRETOS


(sacador, endossantes e respectivos avalistas), a qual depende de um protesto
tempestivo.

Passamos à analise da ação cambial direta que nada mais é um do que uma ação de
execução.

 AÇÃO DE EXECUÇÃO:

É a ação cambial por excelência. O título de crédito é o documento comprobatório da


existência de um crédito. Portanto, quem porta legitimamente um título de crédito é
o credor daquele título. Isto significa que não é necessário um processo de
conhecimento para definir quem é o titular do direito. Há uma presunção legal de que
o portador é o credor.

Assim, o credor, na posse do título de crédito, considerado título executivo


extrajudicial, irá promover a ação de execução. Competirá ao réu na ação de execução
desconstituir a presunção de que o portador é o credor do título.

Quem tem legitimidade ativa para propor essa ação de execução cambial?

É legitimado ativo para promover a ação de execução o portador do título que possua
poderes para exercer o direito de ação.

Existem determinadas pessoas que portam o título, mas não possuem os devidos
poderes para exercerem o direito de cobrar judicialmente aquele título. Nem toda
pessoa que está na posse do documento é efetivamente seu credor, tal qual ocorre no
caso do endossatário-mandatário e no caso do endossatário-pignoratício.

No endosso-caução/pignoratício, o endossatário tem o título de crédito como garantia


e, portanto, poderá se tornar credor. Se tornando credor daquele título mediante
excussão do penhor, ele se tornará legitimado ativo para propositura da ação executiva
(legitimidade ordinária).

No endosso-mandato, o endossatário-mandatário pode ser legitimado em uma ação de


execução se tiver poderes específicos para atuar em defesa judicial do endossante-
mandante, contudo, estará agindo como legitimado extraordinário, em nome próprio
na defesa de interesse alheio (Tomazette diz que é em nome alheio na defesa de
interesse alheio – representação processual). Ainda que o endossatário-mandatário
figure como autor na ação, ele não é titular do crédito. Por isso, o benefício do
recebimento do crédito não será para ele.

119
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ATENÇÃO!!!!
Não confundir o endosso-mandato com o factoring ou com o desconto bancário em
que o credor transfere o crédito para uma empresa faturizadora ou para a
instituição financeira, respectivamente. Transferido o crédito, a empresa
faturizadora e a instituição financeira passam a ser as credoras e se promoverem
ação de execução estarão agindo em legitimação ordinária.

Quem tem legitimidade passiva para figurar no polo passivo dessa ação de execução
cambial?

Se a ação é cambial, ou seja, se funda no título de crédito, aqueles que se obrigaram


para com o documento poderão assumir a legitimidade passiva desta ação executiva,
conforme art. 47 da LUG.

Cada pessoa que assume uma obrigação no título não o assume perante uma pessoa
determinada, mas exclusivamente com o título. Isto porque, com a circulação do
título, há o fenômeno da abstração da relação jurídica originária.

O credor poderá promover a ação contra um ou até mesmo todos os coobrigados –


sacadores, endossantes, aceitantes e avalistas. O litisconsórcio nesta ação executiva
nunca será necessário, mas facultativo.

Para isso, porém, deve se atentar para um pressuposto: para acionar determinados
devedores do título, precisará comprovar de forma solene a falta de aceite ou a falta
de pagamento pelo devedor principal.

O art. 44 da LUG explicita este pressuposto denominado protesto (seja por falta de
aceite ou por falta de pagamento). É ele quem comprova a legitimidade passiva dos
devedores indiretos. Por esta razão, a perda do prazo para protestar em face dos
devedores indiretos acarreta a perda da força executiva do título em relação a estes
(art. 53 da LUG). Em contrapartida, para que se promova a ação em face do devedor
principal – o aceitante ou o emitente –, não há necessidade de protesto, ou seja, este
pressuposto não é necessário.

Qual o foro competente para propor ação de execução cambial?

O foro competente para a propositura da ação cambial é o do local do pagamento (art.


100, IV, d, do CPC). Se não estiver aposto no título, será o local indicado próximo ao
nome do sacado (art. 2º, LUG).

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Qual o objeto da ação cambial?

É a satisfação do crédito estampado no título.

Este crédito é líquido e certo, o que possibilita que o rito da ação cambial seja o
executivo.

Abrange por força legal os juros de mora de 1% ao mês a partir do vencimento e a


correção monetária. Pode abranger também as despesas de protesto caso tenha sido
realizado, bem como outros encargos previstos no título (ex. juros remuneratórios,
admissíveis somente nos títulos à vista ou a certo termo da vista).

O próprio CPC estabelece que alguns documentos, por terem liquidez e certeza,
dispensam a fase cognitiva do processo, quais sejam os chamados títulos executivos
extrajudiciais (art. 784 do CPC/15). Os títulos de crédito se enquadram nessa
categoria.

Qual o procedimento da ação cambial?

A ação cambial devidamente instruída será processada pelo rito da ação de execução
por quantia certa (art. 824 do CPC).

O devedor será citado pessoalmente, ou seja, via oficial de justiça para pagar em 3
dias (art. 829 do CPC) – não se admite a citação por via postal. Excepcionalmente,
admite-se citação por edital com a nomeação de curador especial (art. 72 do CPC c/c
Súmula 196 do STJ).

O devedor tem prazo de 3 dias para efetuar o pagamento da data da citação. Caso ele
efetue o pagamento no prazo de 3 dias, ele só será obrigado a pagar 50% dos honorários
advocatícios arbitrados pelo juiz, uma vez que o trabalho do advogado foi bastante
diminuído (art. 827, par. 1 do CPC).

Ademais, o art. 916 do CPC estabelece que o devedor tem 15 dias para requerer o
pagamento parcelado do débito em até 6 prestações mensais, acrescidas de correção
monetária e juros de mora de 1% ao mês, desde que deposite 30% do valor devido,
inclusive custas e honorários.

Não havendo pagamento, procede-se à penhora dos bens (art. 829, §1º, do CPC) e
posteriormente à sua expropriação (transferência coativa do bem do domínio do bem
penhorado), mediante: (i) adjudicação (aquisição do bem pelo próprio credor pelo
valor da avaliação); ou (ii) alienação por iniciativa particular (conduzida pelo próprio
credor); (iii) alienação em hasta pública (leilão ou praça) ou usufruto de bem móvel
ou imóvel. Efetuado o pagamento, a execução será extinta.

121
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Qual o prazo prescricional da ação cambial?

O direito de crédito não é imprescritível. Por esta razão, existe um prazo prescricional
para que se promova a ação cambial pelo rito executivo.

Se a ação é cambial, a prescrição está regulada na legislação que regulamenta o título


de crédito típico.

A ação cambial somente poderá ser ajuizada dentro dos prazos prescricionais previstos
expressamente em lei.

Caso transcorra o prazo previsto em lei, sem o ajuizamento da ação, o credor perde a
pretensão, isto é, perde o seu direito de ação.

A LUG, em seu art. 70, levou em consideração o grau de responsabilidade do devedor


cambiário para definir o prazo prescricional da ação cambial.

Assim, a ação cambial terá prazos diversificados de acordo com o título exequendo e
com a pessoa executada.

 Ações em face do aceitante (devedor principal): 3 anos contados do vencimento


do título – devedor direto (alínea 1);

 Ações em face dos endossantes/sacador/avalistas (devedores indiretos): 1 ano,


contados do protesto feito em tempo útil (art. 53, LUG) ou do vencimento se a
letra contiver a cláusula “sem despesas” (isto é, cláusula que dispense o
protesto) (alínea 2 – fazer remissão para o art. 20 do Dec. 2.044/1908 e art.
53 da LUG);

Apesar de uma letra de câmbio conter a cláusula sem despesas, isto não
significa que o credor não tenha prazo para apresentar a letra para
pagamento, em função do que prevê o art. 38 da LUG. Acontece que este
artigo foi objeto de reserva pelo Brasil em razão da autorização contida no
art. 5º do Anexo II da LUG. No Brasil, aplica-se o art. 20 do Decreto
2.044/1908: a apresentação de qualquer tipo de letra para pagamento deve
ser feita no dia do vencimento e, se este não for dia útil, no primeiro dia
útil seguinte. Se a letra não for apresentada no prazo para pagamento, diz
o art. 20 que o portador perde o direito de cobrar dos devedores indiretos.
Essa penalidade, contudo, tem que ser compatibilizada com a LUG, pois o
Brasil só adotou o art. 20 para mudar o prazo de apresentação para
pagamento. Os efeitos da não apresentação são os do art. 53, alínea 3, da
LUG: a inobservância do prazo de apresentação para pagamento, contido no
art. 20 do Dec. 2.044/1908, só acarreta prejuízo ao credor quando a letra
contiver cláusula sem despesas. Nessa hipótese, não poderá exercer a ação
cambial em face dos devedores indiretos.

122
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 Ações dos endossantes em face dos outros endossantes ou em face do sacador


(Ação de Regresso): 6 meses, contados do dia em que o endossante pagou a
letra ou em que ele próprio foi acionado (citado validamente em ação cambial)
– é o prazo para a ação de regresso (alínea 3). Fazer remissão art. 24 do Dec.
2.044/1908 (aplicável em razão da omissão da LUG).

As hipóteses de suspensão e de interrupção são aquelas previstas no Código Civil diante


da omissão da LUG.

Registre-se, porém, a inaplicabilidade do art. 204, §1º, do CC, na medida em que a


LUG tem regra especial segundo a qual a interrupção em face de um dos devedores
solidários só atinge aquele devedor, em razão do princípio da autonomia das
obrigações.

Assim, temos que:

PRESCRIÇÃO CAMBIAL:

LETRA DE CÂMBIO, CHEQUE


NOTA PROMISSÓRIA, DUPLICATA E CCB

 3 anos: contados da data do  6 meses: contados do fim abstrato do


vencimento; prazo da apresentação.(art. 59, lei de
 contra o devedor principal (aceitante cheques)
/ promitente e seus avalistas)

 1 ano  Prazo de apresentação (art. 33)


 contra os demais coobrigados  30 dias - emissão e pagto na mesma
garantidores (sacador, endossantes e praça
seus avalistas).  60 dias - emissão e pagamento em
praças diferentes

 perdido o prazo de apresentação  perdido o prazo de apresentação


(art. 53, lug) haverá a exoneração dos (súm. 600, stf) o cheque ainda possui
demais coobrigados e seus avalistas, força cambial para fins executivos,
de forma que o portador podendo podendo cobrar do emitente e seus
cobrar somente do devedor principal avalsitas, desde que não prescrita a
e seu avalista. ação cambial.

Quais as defesas que podem ser alegadas pelo executado?

A LUG é omissa neste ponto. Porém, o art. 16, alínea 2, do Anexo II da LUG estabelece
que a LUG não irá comentar quaisquer questões que se liguem à relação jurídica que
deu origem ao título.

123
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A defesa própria do executado são os chamados EMBARGOS À EXECUÇÃO, que


representam uma ação autônoma, incidental à execução, que deve ser movida em 15
dias da juntada do mandado.

Embora o art. 914 do CPC afirme a ampla abrangência dos embargos à execução, o
Decreto 2.044/1908, em seu art. 51, aplicável em razão da omissão da LUG, restringe
as matérias de defesa alegáveis pelo réu em uma ação cambial:

a) Vício de forma no título;


b) Ausência de requisito necessário ao exercício da ação;
c) Direito pessoal do réu contra o autor – esta defesa pessoal pode existir,
desde que comprovado que existe uma relação pessoal entre autor e réu e
não somente cambiária. Isto porque o título de crédito, em regra, não
extingue a relação pessoal existente entre as partes. Só extinguirá tal
relação se o título for de caráter pro soluto, o que deve vir de forma
expressa (efeitos de novação).

Admite-se ainda a chamada EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, que é uma defesa dentro


do próprio processo de execução, mediante simples petição, podendo ser apresentada
a qualquer momento, independentemente de garantia do juízo ou de qualquer outro
requisito específico de forma.

Entendia-se que tal petição só é cabível em caso de matéria cognoscível de ofício pelo
juiz. Contudo, jurisprudência e doutrina vêm ampliando sua abrangência para
quaisquer matérias que sejam demonstradas de plano, ou seja, que não dependam de
dilação probatória, ainda que não cognoscíveis de ofício.

IMPORTANTE!!!
É cabível denunciação à lide e chamamento ao processo nos casos de ações cambiais?

Na ação cambial, não cabe denunciação da lide (art. 125, III, do CPC) nem chamamento
ao processo (art. 130, III, do CPC), pois tais intervenções visam formar o título e na
ação cambial o título já existe. Além disso, no chamamento, o que há é solidariedade
civil e não solidariedade cambial com obrigações autônomas.

(ii) AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO OU DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA:

A LUG estabeleceu apenas uma forma de lograr o recebimento do crédito, qual seja,
a ação cambial. Todavia, o Brasil adotou a reserva prevista no artigo 15 do Anexo II,
pelo qual se poderia admitir uma segunda ação para buscar o recebimento do título de
crédito, quando perdido o prazo do protesto ou o prazo prescricional.

Assim, no Direito brasileiro, além da ação cambial, existe uma segunda ação que busca
o recebimento do crédito, a chamada ação de locupletamento, estabelecida no D. 2044

124
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A ação de locupletamente encontra previsão no art. 48 do Decreto 2.044/1908:

Art. 48 do Decreto 2044: “Sem embargo da desoneração da responsabilidade


cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a restituir ao portador, com os
juros legais, a soma com a qual se locupletou à custa deste. A ação do portador,
para este fim, é a ordinária.”

O portador de título prescrito, embora não possa mais promover a ação de execução,
poderá promover em face do sacador ou do aceitante a ação de locupletamento para
que lhe seja restituído o valor com o qual o sacador ou o aceitante se locupletaram.
Havendo aceitante, a legitimidade será dele; não havendo, será do sacador.

É uma ação secundária/subsidiária, pois só pode ser intentada depois de expirado o


prazo prescricional da ação cambial ou se perdido o prazo do protesto e o título tiver
apenas devedores indiretos. Exige-se ainda que em razão da impossibilidade do
ajuizamento da cambial, o devedor tenha obtido um enriquecimento ilícito que gerou
o empobrecimento do credor.

Qual a natureza da ação de locupletamento ou enriquecimento sem causa?

A doutrina diverge sobre a matéria. Vejamos:

CORRENTE 1) Corrente majoritária defendida por Pontes de Miranda e Luiz Emydgio


defende que a ação de locupletamente é uma ação cambiária.

CORRENTE 2) Tomazette entende que não é ação cambiária, mas extracambiária, em


razão dos seguintes fundamentos: a) ela só surge depois que se extinguiu a ação
cambial; b) o título é mero meio de prova e não a base da ação; c) o objeto pretendido
não é a quantia prevista no título, mas indenização pelo enriquecimento ilícito.

Qual o prazo prescricional para a propositura da ação de lucopletamento?

O PRAZO PRESCRICIONAL para propositura da ação de locupletamento no caso de: (i)


letra de câmbio; (ii) duplicata; (iii) nota promissória e (iv) cédula de crédito é de 3
ANOS, contados da expiração do prazo para a ação executiva (art. 206, §3º, IV, do CC
– omissão da LUG e do Dec. 2044/1908).

Assim, podemos afirmar que o credor tem 3 anos, contados do vencimento do título,
para executar o aceitante. Findo esse prazo, ele terá mais 3 anos para ajuizar a ação
de locupletamento contra o aceitante, perfazendo um prazo total de 6 anos, contados
do vencimento.

125
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No caso do CHEQUE, o prazo prescricional da ação de locupletamento é de 2 ANOS,


contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva – art. 61 da Lei do
Cheque.

Assim temos que:

LETRA DE CÂMBIO, CHEQUE


NOTA PROMISSÓRIA, DUPLICATA E CCB
 3 ANOS: contados do fim da Pretensão  2 ANOS: contados do fim da pretensão
Executória. executória.
 Arts. 15, Anexo II, LUG c/c 48, DC  Art. 61, Lei de Cheques.
2044/1908 c/c 206, §3º, CC)

Qual o foro competente para propositura da ação de locupletamento?

O foro competente para a ação de locupletamento é o FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU


(art. 94, CPC), ante a falta de previsão específica.

O fundamento jurídico da pretensão é o enriquecimento ilícito do devedor e o


fundamento de fato é o não pagamento do título. O rito pode ser o ordinário, o
sumário, o do juizado especial e o monitório (título prescrito ainda representa prova
escrita do direito de crédito – Súmula 299 do STJ).

(iii) AÇÃO CAUSAL:

A ação causal é aquela que tem por base o negócio jurídico que deu origem ao próprio
título ou que permitiu a sua circulação, vale dizer, a causa de pedir dessa ação será o
descumprimento do negócio jurídico subjacente. A ação causal se liga à existência de
uma relação jurídica havida entre as partes litigantes, razão pela qual deverá ser
perquirida a causa que deu origem a esta relação.

Há, portanto, uma restrição quanto à possibilidade de exercer os direitos creditórios


em face daqueles que se obrigaram no título. Será excluída a responsabilidade de
alguns personagens cambiários, que sequer se relacionaram com o credor portador
daquele título (ex. endossantes). É necessário, na ação causal, demonstrar que existe
um liame entre o credor e o devedor.

Os títulos de crédito, em regra, têm natureza pro solvendo, isto é, a emissão de um


título de crédito para instrumentalizar o pagamento não faz extinguir o negócio
jurídico que possibilitou seu surgimento. Pelo contrário, a própria legislação especial
prevê ações com base exclusivamente no título – ações cambiais – e a legislação interna
prevê ações com base na existência de uma relação jurídica – ações causais.

Quais os pressupostos da ação causal?

126
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Entre os pressupostos da ação causal destacam-se:

(i) A subsistência da relação jurídica que deu origem ao título;


(ii) O não pagamento do título de crédito; e
(iii) A devolução do título ao devedor.

Quem tem legitimidade para interpor a ação causal?

A legitimidade para a ação causal será definida pelo negócio jurídico subjacente, isto
é, as partes do negócio jurídico é que terão legitimidade para a ação. Apenas os
sujeitos ligados diretamente pela relação que gerou a emissão ou a circulação do título
é que terão a legimitidade para propor a presente ação.

Qual o objeto da ação causal?

O objeto da ação causal (de cobrança) será o objeto do negócio jurídico cobrado, isto
é, o valor combinado entre as partes que, geralmente, é o valor do próprio título.

Qual o prazo prescricional da ação causal?

Em razão da causa de pedir dessa ação (o descumprimento do negócio jurídico) os


limites temporais não são os mesmos da ação cambial, mas os próprios do negócio
jurídico subjacente.

Assim, o prazo prescricional irá depender do tipo de negócio que deu origem ao título.

Ex: se o negócio jurídico for um contrato de prestação de serviços por professores, o


prazo prescricional será de 5 anos (art. 206, par. 5, II do CC). Caso seja uma compra e
venda o prazo prescricional será de 10 anos (art. 205).

O prazo prescricional irá se originar a partir do vencimento do negócio jurídico que


deu origem ao título.

Qual o procedimento da ação causal?

Na ação causal, não se pdoerá seguir o rito executivo, restando para a ação causal o
procedimento comum. A depender do valor, poderá ser usado também o procedimento
do juizado especial (até 40 salários mínimos – Lei 9099)

127
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Na linha do entendimento do STJ, o procedimento da ação monitória não deverá ser


usado no caso de ação causal.

(iv) AÇÃO MONITÓRIA:

O título de crédito prescrito cambiariamente para fins de execução é considerado um


título de dívida que pode ser cobrado via ação monitória. Nesse sentido, destaca-se o
entendimento do STJ na Súmula 299.

Súmula 299 do STJ: “É admissível a ação monitória fundada em cheque


prescrito.”

Como o título está prescrito, não será mais considerado título de crédito, e, portanto,
não há mais que se falar em autonomia, abstração e inoponibilidade das exceções
pessoais que se faziam presentes na execução cambial.

Assim, a não causalidade na execução cambial é material, pois a autonomia é uma


característica do título de crédito, e, consequentemente, da obrigação cambial.

Por outro lado, ao ajuizar uma ação monitória, em que pese o título de dívida perder
a sua autonomia da causa originária (não causalidade material), haverá a chamada não
causalidade processual, pois o código afirma que o lastro documental da monitória é o
simples título de dívida, não sendo necessário apresentar a sua causa originária. É o
que se depreende da Súmula 531 do STJ.

Súmula 531 do STJ: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito


ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico
subjacente à emissão da cártula.”

REsp 926.312-SP: “MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO. MENÇÃO. CAUSA


SUBJACENTE. Trata-se de REsp em que se discute a possibilidade de
admitir ajuizamento de ação monitória embasada em cheque prescrito há
mais de dois anos, sem menção à causa subjacente. A Turma deu
provimento ao recurso ao entendimento de que, se o portador do cheque
opta pela ação monitória, tal como no caso, o prazo prescricional será
quinquenal, conforme disposto no art. 206, § 5º, I, do CC e não haverá
necessidade de descrição da causa debendi. Registrou-se, todavia, que, em
tal hipótese, nada impede que o requerido oponha embargos à monitória,
discutindo o negócio jurídico subjacente, inclusive a sua eventual
prescrição, pois o cheque, em decorrência do lapso temporal, já não mais
ostenta os caracteres cambiários inerentes ao título de crédito.

Qual o prazo prescricional da ação monitória?

128
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

A ação monitória é um procedimento especial. Os Tribunais debatem qual seria o prazo


prescricional para sua propositura, sendo pacífico somente o entendimento de que o
prazo é contado do vencimento do título.

Atualmente, prevalece a ideia de que o PRAZO PRESCRICIONAL é de 5 ANOS, com base


no art. 206, §5º, I, do CC e na Súmula 504 do STJ (prazo de ação monitória de nota
promissória, que está regulada na mesma legislação que regulamenta as letras de
câmbio)

Súmula 504 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face


do emitente da nota promissória sem força executiva é quinquenal, a
contar do dia seguinte ao vencimento do título.”

LETRA DE CÂMBIO, CHEQUE


NOTA PROMISSÓRIA, DUPLICATA E CCB

 5 ANOS: independentemente da  5 ANOS: independentemente da


relação jurídica da emissão (súm. relação jurídica da emissão (Inf.
504, stj) contados do dia seguinte 506, STJ) contados do dia seguinte
à data de vencimento do título, à data de emissão do cheque, pois
pois que são títulos que vencem a como há um direito creditório desde
prazo. a emissão do cheque (ordem de
pagamento à vista), se ainda não foi
pago, há uma violação do direito
subjetivo, nascendo a pretensão e,
consequentemente, a prescrição
(súm. 503, stj)

Casos Concretos:

Questão 1)

Uma letra de câmbio emitida por "A" em favor de "B", com aval de "C", foi
sucessivamente endossada a "D", "E" e "F". O sacado, Ulysses, não aceitou a cártula.
a) Vencido o título, pode "F" propor a ação pertinente contra qualquer um dos
integrantes da relação cambiária? Justifique.
b) E se o título estiver prescrito? Pode a ação de locupletamento ser dirigida contra
o avalista ou qualquer um dos endossantes? Justifique.

Resposta:

A. Sim, o art. 47 da LUG dispõe que a ação poderá ser proposta em face dos
sacadores, aceitante, endossantes ou avalistas, já que esses são todos
solidariamente responsáveis para com o portador. Contudo, se não tiver havido
o aceite, deverá ser observado o prazo estabelecido no art. 53 da LUG.

129
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Art. 47 da LUG: “Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma


letra são todos solidariamente responsáveis para com o portador.
O portador tem o direito de acionar todas estas pessoas individualmente,
sem estar adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram.
O mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma letra quando a
tenha pago.
A ação intentada contra um dos coobrigados não impede acionar os outros,
mesmo os posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar.”

B. Não, nesse caso, com base no art. 48 do Decreto 2044/1908, tanto os avalistas
quanto os endossantes têm a responsabilidade extinta com a prescrição da ação
cambial. Assim, somente será possível o ajuizamento de ação de locupletamento
em face de A, ou seja, em face do sacador da letra de câmbio (deve ser
demandada contra quem se locupletou).

Art. 48 do Decreto 2044/08: “Sem embargo da desoneração da


responsabilidade cambial, o sacador ou o aceitante fica obrigado a
restituir ao portador, com os juros legais, a soma com a qual se locupletou
à custa deste.
A ação do portador, para este fim, é a ordinária.”

Questão 2)

Felipe, credor de letra de câmbio, ajuizou ação de execução em face do aceitante,


por falta de pagamento. O devedor opôs exceção de pré-executividade, com
alegação da prescrição do título. O pedido foi indeferido sob o seguinte
fundamento: a apreciação de exceção de pré-executividade, instrumento utilizado
como defesa em processo de execução, sem o necessário oferecimento de garantia,
tem seu substrato em questões que não demandem dilação probatória. Correta a
decisão? Analise a questão sob todos os aspectos.

Resposta:

Na exceção de pré-executividade podem ser levantadas matérias que o juiz poderia


conhecer de ofício, como os pressupostos processuais da execução e as condições da
ação (ex: ilegitimidade das partes, iliquidez do título e etc). Em todo caso, não será
admissível a exceção sobre matéria que depender de dilação probatória, a qual é
incompatível com o procedimento da execução.

A jurisprudência vem ampliando a abrangência da exceção de pré-executividade para


quaisquer matérias que sejam demonstradas de plano, isto é, que independam de
dilação probatória, mesmo que não fossem apreciáveis de ofício.

130
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Nessa linha de entendimento, qualquer matéria que não dependa de dilação probatória
pode ser oposta por meio de exceção de pré-executividade.

É possível, portanto, a alegação de prescrição em exceção de pre-executividade (trata


de cognição imediata e ordem pública).

TJ-SP- AI 20372346020158260000: “EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DECISÃO


QUE REJEITOU A EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – PRETENSÃO DE REFORMA –
DESCABIMENTO: A exceção de pré-executividade não é substitutiva dos embargos
à execução, sendo admitida apenas quando fundada em alegações de nulidade da
execução ou de inexigibilidade formal do título, quando a matéria ventilada pode
ser apreciada independentemente de dilação probatória.”

131
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 9 – Prof. Luiz Gustavo Mourão


1/11/18

EMENTA:  DUPLICATA.
 Conceito.
 Natureza jurídica.
 Requisitos.
 Hipóteses de admissibilidade de sua emissão.
 Declarações cambiais na duplicata.
 Aceite.
 Endosso.
 Aval.
 Vencimento.
 Pagamento.
 Protesto.
 Ação Cambial.
 Outros tipos de ação para o recebimento da duplicata.
 Triplicata.
 Duplicata de prestação de serviços.
 Duplicata virtual.

 ORIGEM DA DUPLICATA:

No Brasil a duplicata é um dos mais úteis instrumentos de circulação de riquezas, já


que serve para representar o crédito decorrente de (i) contratos de compra e venda
mercantil e (ii) prestação de serviços, negócios extremamente comuns na economia
moderna.

 CONCEITO DE DUPLICATA:

A duplicata é uma ORDEM DE PAGAMENTO EM DINHEIRO emitida pelo vendedor, em


relação de compra e venda mercantil, com base na fatura ou nota fiscal (causal), antes
do vencimento da obrigação ou da primeira prestação (art. 1º da Lei 5474/68).

Trata-se de um título que pode ser criado pelo próprio credor, para representar o seu
crédito, nos contratos de compra e venda mercantil e prestação de serviços. Em razão
disso, se refere a uma ordem de pagamento e não uma promessa.

Na duplicata, o credor (sacador) dá uma ordem ao devedor para que pague o valor
devido a ele mesmo. Há uma estrutura similar a letra de câmbio, só que o sacador e
beneficiário são a mesma pessoa.

Qual a diferença entre a duplicata e a letra de câmbio?

Há duas diferenças essenciais em relação à letra de câmbio:

132
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 A duplicata é título causal, ou seja, só pode ser emitida quando celebrado


determinado negócio jurídico: contrato de compra e venda mercantil (entre
empresários) ou contrato de prestação de serviços.

 A duplicata sempre será emitida pelo seu credor originário, ou seja, o sacador
e o credor na duplicata são a mesma pessoa. É quem vendeu ou prestou o
serviço. O sacado é o obrigado/o devedor deste título, pois comprou alguma
mercadoria ou se beneficiou dos serviços prestados. As mesmas partes do
contrato que deram origem à duplicata estão no título – duplicidade da relação
jurídica em relação civil e relação cambial. Difere da letra de câmbio em que
o sacador é garante do título (art. 9º, LUG); difere da nota promissória em que
o emitente é o devedor;

Nas vendas mercantis o pagamento pode tanto ocorrer à vista como à prazo. Dessa
forma, a duplicata poderá ser utilizada para ambos os casos.

A duplicata é o único título que pode ser sacado pelo credor para retratar créditos
oriundos de compra e venda mercantis e/ou prestação de serviços.

O emitente de uma duplicata precisa ser necessariamente empresário?

Segundo Luiz Emygdio somente empresários podem emitir duplicatas. Em que pese
esse entendimento, não há na lei nenhum dispositivo que sustente esse
posicionamento, logo a maioria da doutrina entende que não há nenhuma vedação a
emissão de duplicata por não empresários.

Duplicata simulada é duplicata?

A duplicata simulada é aquela que indica a existência de uma compra e venda


mercantil ou prestação de serviço que não existiu. Na medida em que não existiu o
crédito extracambial não existe.

A doutrina diverge sobre o tema, destacando-se as seguintes posições:

CORRENTE 1) Segundo Luiz Emygdio a duplicata simulada é sim uma duplicata porque
a formalidade do título já é suficiente para configurar a relação cambial,
independentemente da simulação da compra e venda ou prestação de serviço.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Fábio Ulhoa entende que não pode ser
considerada duplicata porque não houve a compra e venda ou prestação do serviço,
logo essa duplicata é ilegal.

133
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 NATUREZA JURÍDICA:

A natureza jurídica da duplicata é de um TÍTULO DE CRÉDITO CAUSAL REPRESENTATIVO


DE ORDEM DE PAGAMENTO que pode ou não ser dependente de acordo com as
perspectivas de ter sido aceita ou não.

No caso de título não aceito a cobrança da duplicata pressupõe a apresentação do


contrato e do comprovante de seu cumprimento, além do instrumento de protesto; no
caso de duplicata aceita basta a apresentação da cártula, não sendo necessária
apresentar o comprovante de entrega dos bens.

 CARACTERÍSTICAS DA DUPLICATA:

(i) Título de crédito causal: essa é a sua natureza jurídica. A duplicata é um título
causal, já que está ligada a uma fatura de compra e venda ou prestação de
serviços.

Nos títulos causais, a causa é conhecida por todos, pois é mencionada no próprio
documento. Tem-se uma vinculação do título ao negócio jurídico que lhe deu
origem.

(ii) Facultativa: a compra e venda mercantil pode ser feita de diversas formas, uma
delas é a duplicata. Assim, não há uma obrigatoriedade pela escolha da
duplicata, podendo ocorrer por nota promissória, cheque, cartão de crédito.

Contudo, se o vendedor quiser utilizar o título de credito com base na fatura, o


único que poderá ser utilizado será a duplicata. Assim, a duplicata não pode ser
trocada por qualquer outro título de crédito com base na fatura (sua emissão é
facultativa, mas a sua vinculação a fatura é obrigatória).

(iii) Somente pode circular por endosso: não é possível que haja a sua circulação por
meio de cessão de crédito.

 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL:

A duplicata possui lei própria - Lei 5474/68. Contudo, essa lei é demasiadamente
pequena e, por isso, não consegue disciplinar integralmente o instituto. Dessa forma,
o seu art. 25 estabelece a aplicação subsidiária da legislação da Letra de câmbio (LUG).

 PROCESSO DE EMISSÃO DA DUPLICATA:

O itinerário da criação de uma duplicata pode ser representado da seguinte maneira:

Contrato de compra e venda ou de prestação de serviços —> Fatura —> Duplicata


Mercantil.

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 REQUISITOS ESSENCIAIS:

Os requisitos formais essenciais das duplicatas estão previstos no art. 2, §1º da Lei
5474/68.

Primeiramente, importa ressaltar que aquele que vendeu ou prestou ou serviço não
pode emitir qualquer outro título que não seja a duplicata para representar
cambialmente aquela relação (art. 2º, caput, da LD). Nada impede, porém, que a outra
parte – o devedor –, ou seja, aquela que comprou ou foi beneficiada pelo serviço, emita
outro título de crédito, como nota promissória, cheque etc.

Todos os requisitos do art. 2º, §1º, da LD, são requisitos essenciais e não supríveis,
razão pela qual devem obrigatoriamente constar do título:

(i) A expressão “duplicata”, data de sua emissão e o número de ordem;

(ii) O número da fatura ou da nota-fatura: a duplicata é título causal e essa


causalidade deve estar estampada na cártula mediante aposição da nota
fiscal/fatura no título. Também é título dependente, na medida em que
estritamente ligado à fatura. Cada duplicata só pode ter origem em uma fatura,
mas nada impede que uma fatura gere várias duplicatas (ex. pagamento
parcelado);

(iii) A data certa do vencimento ou a declaração de ser à vista – na duplicata aplica-


se a literalidade, não se presumindo que ela é a vista como na letra de câmbio
(se for à vista deve estar expresso). Além disso, não se admite duplicata a certo
termo de vista ou de data. Na ausência da data, estará configurado um vício de
forma;

(iv) Data certa do vencimento ou a declaração de ser à vista – só existem duas


modalidades de vencimento na duplicata:

 À vista: aquela que vence com a apresentação ao devedor. A duplicata à vista


deverá ser apresentada em 30 dias contados da data de emissão, cf. art. 6º,
§1º, da LD. A não apresentação da duplicata neste prazo acarreta a perda do
direito do credor de mover ação cambial contra os coobrigados, a exceção do
aceitante, nos termos do art. 25 da LD c/c art. 53, alínea 1, da LUG.

 Em dia fixado: também se submete ao prazo de apresentação contido no art.


6º, §1º, da LD, mas nesse caso, não obedecido o prazo, nenhum ônus acomete
o credor.

E se não houver nenhum vencimento estipulado na duplicata?

A doutrina diverge sobre o tema, destacando-se as seguintes posições:

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CORRENTE 1) Corrente defendida por Arnaldo Rizzardo entende que se não houver
vencimento estipulado na duplicata presume-se que é à vista.

CORRENTE 2) Corrente defendida por Luiz Emydgio da Rosa e Tomazette defende que
a ausência de especificação do vencimento inviabiliza que o título seja considerado
uma duplicata, pois é requisito essencial.

Admite-se a prorrogação do vencimento na duplicata?

Sim. O credor pode prorrogar o vencimento por ato unilateral no próprio título ou em
declaração em separado (art. 11, LD). Ocorre que os endossantes e avalistas só se
manterão responsáveis se manifestarem expressamente sua concordância com tal
prorrogação (art. 11, p.ú, LD).

Quais são as hipóteses de vencimento antecipado na duplicata?

As hipóteses de vencimento antecipado da duplicata são as mesmas da letra de câmbio


em razão do art. 25 da Lei de Duplicatas.

(v) Nome e domicílio do comprador + identificação pelo RG, CPF, título de eleitor
ou carteira profissional;

(vi) Nome e domicílio do vendedor;

(vii) Importância a pagar escrita por extenso: tem que ser líquido e certo o valor. Aqui
é vedada em toda e qualquer hipótese a estipulação em moeda estrangeira,
inclusive nas hipóteses do DL 857/69.

(viii) Local do pagamento: é importante para se determinar o foro para a cobrança da


duplicata. Dessa forma, o art. 17 da Lei 5474/68 estabelece como tal;

(ix) Cláusula “à ordem”: não se admite a emissão de duplicata “não à ordem”,


somente podendo essa tornar-se transferível por cessão civil de crédito por ato
de endossante. A cláusula à ordem na letra de câmbio é implícita, quanto na
duplicata é explícita.

(x) Declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la,


destinada ao aceite do comprador: uma vez assinada, vale como aceite do
sacado; e

(xi) Assinatura do emitente: admite-se o uso de rubrica mecânica (diferentemente


da nota promissória e da letra de câmbio).

O último requisito da duplicata está no art. 27 da LD, qual seja a utilização do modelo-
padrão de duplicata estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, uma vez que a

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duplicata, assim como o cheque, é um título de crédito de modelo vinculado. O modelo


predefinido tem que ser obedecido, sob pena de descaracterização do próprio título.

Se o documento não contiver esses requisitos não será uma duplicata.

Ademais o art. 24 da Lei 5474 permite que se incluam outros requisitos, tais como,
multa, correção monetária e etc.

No mesmo art. 2º (§§ 2 e 3 da Lei 5474) são trazidas algumas observações, que seguem:

 Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura. Cada


duplicata terá que corresponder a uma operação negocial específica (§2).
Contudo, nada impede que uma fatura enseje a emissão de mais de uma
duplicata em que o pagamento do preço seja feito de forma parcelada (§3).

 Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida


duplicata única, em que se discriminarão todas as prestações e seus
vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada prestação distinguindo-
se a numeração a que se refere o item I do § 1º dêste artigo, pelo acréscimo
de letra do alfabeto, em seqüência.

 PARTES NA DUPLICATA:

São partes na duplicata:

(I) Emitente ou sacador: é o vendedor que saca (emite) a fatura. Ele poderá
sacar uma duplicata com base no crédito representado na fatura.

(II) Sacado: é o devedor.

 DECLARAÇÕES CAMBIAIS NA DUPLICATA:

(i) Saque: trata-se da emissão da duplicata, que somente poderá ser realizada pelo
vendedor.

(ii) Aceite: trata-se de uma ordem de pagamento em dinheiro e, por isso, é admitido
o aceite. Ele é facultativo.

(iii) Endosso: é admitido que haja a sua circulação por meio do endosso e não por
cessão de crédito. A cláusula à ordem é essencial.

(iv) Aval: é expressamente previsto no art. 12 da Lei 5474/68.

Passemos à análise de cada um desses atos cambiários:

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 ACEITE NA DUPLICATA:

É o ato unilateral pelo qual o sacado se obriga a pagar o título de crédito. Há, porém,
uma diferença essencial em relação à letra de câmbio. Por ser um título causal, na
duplicata, o aceite seria apenas a transformação de uma obrigação contratual em uma
obrigação cambial entre aquelas mesmas partes.

Essa peculiaridade faz com que existam duas possibilidades de aceite:

(i) Aceite expresso ou ordinário (art. 15, I, da LD): é aquele que se dá com a
assinatura do sacado no título, assumindo a condição de devedor principal
da obrigação. Pode ser de próprio punho ou mediante procurador com
poderes especiais.

(ii) Aceite presumido (art. 15, II, da LD): é uma mitigação do princípio da
literalidade, pois, apesar de não constar no título de crédito a assinatura
do sacado, pode-se considerar que aquele aceite foi dado e promover a ação
cambial em face do sacado, quando cumulativamente:

 tenha sido protestada e;


 esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega
e recebimento da mercadoria ou da prestação do serviço e; - não
precisa ser assinada pelo sacado, mas por alguém no seu endereço
(similar à teoria da aparência), cabendo ao sacado comprovar a
irregularidade da entrega para afastar a validade do comprovante;
 o sacado não tenha comprovada e expressamente recusado o aceite
no prazo e nas condições legais.

É possível ao sacado recusar o aceite da duplicata?

O sacado pode recusar o aceite, mas essa recusa não é tão ampla, visto que estamos
diante de um título causal.

A recusa do aceite deve ser justificada, dentro do prazo de 10 dias do dia em que lhe
foi apresentado o título, sob pena de se considerar o aceite presumido (art. 7º, parte
final, da LD).

Para o sacado recusar o aceite, ele deve alegar algum vício na relação que deu origem
àquela duplicata, quais sejam aqueles previstos no art. 8º (duplicata mercantil) e no
art. 21 da LD (duplicata de prestação de serviços) (ex. avaria da mercadoria, falha no
serviço prestado etc.).

O motivo principal é a exceção do contrato não cumprido. Se o comprador não precisa


honrar a obrigação contratual, ele não precisa honrar a obrigação cambial.

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A duplicata deve ser remetida pelo vendedor (remessa direta) para aceite em 30 dias
contados de sua emissão (art. 6º, §1º). Se houver intermediário para o sacado (remessa
indireta), ele tem 10 dias para apresentar ao sacado após o recebimento (art. 6º, §2º).
A inobservância de tais prazos não gera qualquer consequência já que o aceite é
facultativo.

Apresentada a duplicata, o comprador deve assiná-la e devolvê-la ou apresentar as


razões de sua recusa em 10 dias (art. 7º). O comprador só pode reter o título
legitimamente se este tiver sido remetido por uma instituição financeira intermediária
com a concordância desta, caso em que comunicará ao credor o aceite e a retenção
(art. 7º, §1º), valendo a comunicação como substitutiva do título para efeitos de
protesto ou ação executiva. Embora escrita fora do título, produz os mesmos efeitos
do aceite.

Art. 7: A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo comprador
ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data de sua
apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de declaração, por escrito,
contendo as razões da falta do aceite.
§ 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o sacado
poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde que
comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção.
§ 2º - A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá, quando
necessário, no ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se refere.

Mas e se a razão alegada pelo sacado para recusar o aceite não for verossímil (ex.
disse que o serviço foi mal prestado e não foi)?

Obviamente não poderá ser tratado como aceite presumido, pois o sacado declinou as
razões da recusa.

O art. 16 da LUG diz que, nessa hipótese, pode o credor promover ação ordinária para
ilidir as razões invocadas para recusa. Só que é mais prático para o credor executar
diretamente o contrato, uma vez que este negócio jurídico não é substituído pelo título
de crédito.

OBSERVAÇÃO:
A duplicata à vista não admite aceite, ao contrário da letra de câmbio que permite a
existência do aceite mesmo no caso de letra de câmbio à vista.

Para melhor compreender o instituto, passemos a análise de algumas situações


possíveis envolvendo a duplicata:

(i) O sacador tem a duplicata aceita (física ou virtual): ela poderá ser
executada se não for paga no vencimento, independentemente de protesto
(art. 15, I da Lei 5474/68). O aceitante (comprador) se torna devedor

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principal. Além disso, o prazo prescricional será de 3 anos para a execução


a contar da data de seu vencimento (art. 18).

Se a duplicata for virtual, não fica impedido o credor de levá-la a protesto,


seguindo o procedimento correto. O foro será o local de pagamento.

(ii) Duplicata não foi aceita com causa relevante de recusa: o art. 7º da lei
5474/68 estabelece que a duplicata deverá ser devolvida acompanhada das
razões da falta de aceite (justificativa pela falta de aceite). Isso ocorre
porque algumas justificativas são consideradas relevantes para o não aceite
e, por isso, o sacador estará impedido a executar a duplicata ainda que
protestada. Se não for informada a razão, presume-se pela recusa imotivada
ou não relevante.

O art. 8º da Lei 5474/68 aponta as hipóteses de recusa do aceite. Se a


justificativa não estiver contida no art. 8º, será a mesma coisa que não tiver
escrito nada. Assim, não estará impedido de executar a duplicata e seguirá
o procedimento de execução de duplicata sem aceite.

O artigo 21 da Lei 5474/68 trata das hipóteses de recusa para duplicata de


serviços.

Assim, temos que a recusa do aceite pode ser legítima se estiver dentro das
hipóteses previstas em lei e desde que seja motivada, de forma ostensiva.
Nesses casos, o sacado estará exonerado da responsabilidade cambial pelo
pagamento do título.

(iii) Duplicata não foi aceita e não teve justificativa relevante: para a sua
execução será necessário que a duplicata seja levada a protesto e haja o
comprovante de entrega da mercadoria (art. 15, II da Lei 5474/68). Nesse
caso, mesmo sem aceite será possível que seja executado. Assim, há a
vinculação do sacado, mesmo sem o aceite, diferenciando-se dos demais
títulos de crédito). O prazo para execução também será de 3 anos da data
do seu vencimento (art. 18, I da Lei 5474/68).

(iv) Duplicata foi retida: a duplicata física se for apresentada para aceite pode
ocorrer de ser retida. Essa situação pode ocorrer quando a duplicata é
aceita ou não aceita. A duplicata pode ficar retida por até 10 dias, é um
direito do sacado.

 Se a duplicata for aceita: trata-se de uma retenção lícita de acordo com


o art. 7º, §1º da Lei 5474/68. Nesse caso, a declaração de aceite irá
substituir a duplicata para fins de protesto.

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“Art. 7º, §1º - Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora,


o sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento, desde
que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção.”

 Se a duplicata não for aceita ou não tiver a concordância: trata-se de


uma retenção ilícita ou imotivada. Para essa situação, a solução é o
protesto por não devolução (art. 13 da Lei 5474/68).

“Art.13. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento.


§ 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado,
conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda,
por simples indicações do portador, na falta de devolução do título.
§ 2º O fato de não ter sido exercida a faculdade de protestar o título, por falta
de aceite ou de devolução, não elide a possibilidade de protesto por falta de
pagamento.
§ 3º O protesto será tirado na praça de pagamento constante do título.
§ 4º O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e dentro
do prazo da 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento, perderá o direito
de regresso contra os endossantes e respectivos avalistas.”

Nesse caso, o protesto ocorre pela indicação do portador da duplicata para que o
tabelião faça a intimação e lavre o protesto.

A jurisprudência admite a triplicata da fatura ou segunda via da duplicata em caso de


retenção (art. 23 da Lei 5474/68), mas originariamente não é admitida para a sua
perda ou extravio, sendo uma construção jurisprudencial.

É interessante mencionar que no título à vista, não tem aceite, devendo seguir o
procedimento da duplicata sem aceite.

 ENDOSSO NA DUPLICATA:

Na duplicata, a cláusula à ordem é expressa e, portanto, ela pode ser endossada (art.
2º, §1º, LD).

O endosso na duplicata seguirá as mesmas normas aplicadas às letras de câmbio e às


notas promissórias, em razão do art. 25 da Lei de Duplicata.

Quem endossa transfere o título, mas garante o seu pagamento e a sua aceitação, ou
seja, torna-se coobrigado, devedor indireto, que poderá ser cobrado caso provado o
descumprimento da obrigação pelo devedor direto.

O endosso póstumo é o mesmo do da letra de câmbio, ou seja, aquele realizado após


o protesto ou a expiração do prazo para protesto (30 dias), produzindo efeitos de
cessão de crédito (art. 25 da LD c/c art. 20 da LUG).

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IMPORTANTE!!!
 Um credor possui em suas mãos uma duplicata que lhe foi endossada, não tendo
participado do contrato que deu origem ao título. Esse credor promove a ação
em face dos endossantes anteriores. Os endossantes anteriores, compelidos a
pagar, afirmam que não irão fazê-lo, pois a duplicata é fria/simulada. O STJ, no
REsp 1105012, entendeu que essa alegação é possível, pois, sendo a duplicata um
título causal, ela está diretamente ligada ao negócio jurídico que lhe deu
origem, devendo, então, quem quer se precaver, analisar se ela foi emitida com
lastro probatório. O princípio da abstração, portanto, é mitigado somente no
que diz respeito à existência da causa originária do título – uma compra e venda
mercantil ou uma prestação de serviços. Só há oponibilidade em relação a este
ponto. Outras defesas pessoais não poderão ser alegadas se a duplicata circulou
em observância ao princípio da abstração.
 Essa questão está diretamente ligada também ao atual posicionamento do STJ
no sentido de responsabilizar o endossatário-mandatário que protesta uma
duplicata fria/simulada que lhe foi endossada sem ter as cautelas de verificar
se houve ou não lastro probatório.
 Esse mesmo entendimento valerá para os demais títulos de crédito que sejam
causais (ex. conhecimento de depósito, warrant), bem como para a nota
promissória vinculada.

 AVAL NA DUPLICATA:

O aval é um ato unilateral em que o avalista busca garantir o pagamento de um


obrigado do título, denominado avalizado.

A Lei de Duplicatas, em seu art. 12, presume o aval em branco como sendo dado em
garantia à obrigação do sacado (comprador), pois não faz sentido presumir que seja
dado em favor do sacador (como ocorre na letra de câmbio), uma vez que, na
duplicata, o sacador é credor.

A obrigação de quem avaliza é uma obrigação autônoma, o que significa que mesmo
que a obrigação principal seja considerada nula, o aval permanece, salvo em virtude
de vícios formais do título (art. 32, 2ª alínea, da LUG). Apesar dessa autonomia, a
obrigação do avalista só pode ser exigida da mesma forma que seria a obrigação do
avalizado – devedor direto ou indireto.

É possível aval parcial na duplicata?

Como para a duplicata não há legislação especial/específica vigendo a situação do


aval, pois a Lei 5.474/68 que trata da duplicata é omissa, utiliza-se para a situação a
regra geral do Código Civil (art. 897, CC):

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Art. 897 do CC: “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação


de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial.”

Logo, não é admissível aval parcial para a duplicata, por vedação expressa do Código
Civil. O aval deve ser integral.

É possível que o aval seja dado após o vencimento do título?

Sim!!! A matéria encontra previsão no parágrafo único do art. 12 da Lei de Duplicatas.

Art. 12 da Lei 5474/68: “O pagamento da duplicata poderá ser assegurado por


aval, sendo o avalista equiparado àquele cujo nome indicar; na falta da indicação,
àquele abaixo de cuja firma lançar a sua; fora dêsses casos, ao comprador.
Parágrafo único. O aval dado posteriormente ao vencimento do título produzirá
os mesmos efeitos que o prestado anteriormente àquela ocorrência.”

O seu parágrafo único trata do aval posterior ao vencimento, não sendo necessário
recorrer ao Código Civil. Esse é considerado válido, possui o mesmo valor ao dado
anteriormente.

O art. 25 da Lei das duplicatas não manda aplicar as disposições do aval da LUG, mas
tão somente os dispositivos da LUG que disponham sobre a emissão, circulação e
pagamento das letras de câmbio. Assim, deve-se aplicar supletivamente as regras de
aval previstas no Código Civil.

 VENCIMENTO E PAGAMENTO NA DUPLICATA:

O pagamento deve ser buscado por iniciativa do credor (obrigação quesível). Nada
impede, contudo, que o sacado queira pagar antecipadamente o título (art. 9º, LD),
não cabendo ao credor negar tal possibilidade.

O valor do pagamento é o valor do título, salvo eventuais deduções previamente


autorizadas (art. 10 da LD). Ressalte-se ainda que o pagamento parcial não pode ser
recusado pelo credor (art. 25 da LD c/c art. 39 da LUG).

A prova do pagamento decorre de recibo escrito no próprio título ou fora dele (art. 9º,
§1º, LD), sendo uma exceção ao princípio da literalidade, dado pelo legítimo credor ou
seu representante. Também é prova do pagamento a liquidação de cheque a favor do
estabelecimento endossatário cujo valor tenha sido destinado ao pagamento da
duplicata (art. 9º, §2º, LD).

Na hipótese de atraso do pagamento, começam a correr juros de mora por expressa


previsão legal a partir do vencimento (art. 25 da LD c/c art. 48 da LUG).
O art. 9º da Lei 5474/68 trata do tema:

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Art. 9 da Lei 5474/68: “É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-


la ou antes da data do vencimento.
§ 1º A prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo portador ou por seu
representante com podêres especiais, no verso do próprio título ou em
documento, em separado, com referência expressa à duplicata.
§ 2º Constituirá, igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da duplicata,
a liquidação de cheque, a favor do estabelecimento endossatário, no qual conste,
no verso, que seu valor se destina a amortização ou liquidação da duplicata nêle
caracterizada.”

Observa-se que, no caso da duplicata, é admitida a amortização (pagamento


antecipado), inclusive antes do aceite. Esse fato se diferencia da letra de câmbio, já
que essa possibilidade é vedada no art. 40 da LUG.

 PROTESTO NA DUPLICATA:

Na duplicata o protesto poderá provar a falta de aceite, a falta de pagamento ou a


falta de devolução do título quando retido ilegitimamente pelo sacado (art. 13 da LD).

O protesto por falta de aceite pode produzir dois efeitos:

(i) configuração do aceite presumido, se acompanhado do comprovante de


entrega de mercadorias e da falta de recusa justificada do sacado para o
aceite, tornando o sacado devedor da duplicata mesmo sem sua assinatura
no título; e

(ii) possibilidade de cobrança dos devedores indiretos antecipadamente, vez


que a recusa do aceite gera o vencimento antecipado da duplicata (art. 25
da LD c/c art. 43 da LUG).

Os efeitos do protesto por falta de pagamento pelo sacado quando do vencimento são
os mesmos do protesto por falta de aceite. A única distinção é que o protesto, para
possibilitar a cobrança dos devedores indiretos, deve ser tempestivo, ou seja, feito até
30 dias depois do vencimento (art. 13, §4º, LD). Depois desse prazo, se não for feito o
protesto, os devedores indiretos estarão desobrigados.

 PROTESTO POR INDICAÇÕES:

Em regra, para se efetuar o protesto, é necessária a apresentação do título original


pelo credor. Todavia, em certos casos, tal apresentação é inviável, admitindo-se na
duplicata o uso do protesto por indicações, feito com base em simples informações
apresentadas pelo credor (mitigação do princípio da cartularidade). São hipóteses de
utilização de tal protesto:

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(i) Retenção indevida do título pelo sacado (art. 13 da LD e art. 21, §3º,
L. 9492/97): a jurisprudência admite nessa hipótese a extração de triplicata,
mas sua extração não é obrigatória. Pode o credor fazer o protesto por falta
de devolução com base em indicações, inclusive em meio magnético (art. 8º,
p.ú, L. 9492/97). O credor responde pelos danos causados em razão de
protesto lavrado com base em indicações equivocadas.

(ii) Protesto por falta de aceite ou de pagamento de duplicata virtual, amparada


em documento suficiente, ou seja, aquela que é emitida sob a forma de um
documento eletrônico.

Cabe protesto por indicações de duplicata virtual?

A doutrina diverge sobre o tema, destacando-se as seguintes posições:

CORRENTE 1) Corrente defendido por Wille Duarte Costa/Jean Carlos Fernandes


entende que não cabe protesto por indicações de duplicata virtual. O protesto por
indicações só é cabível no caso de falta de devolução e a duplicata virtual nada mais
é do que um boleto bancário.

CORRENTE 2) Corrente majoritária defendida por Luiz Emydgio; Fábio Ulhôa e STJ,
(EREsp 1024691/PR) entende que é cabível o protesto por indicações de duplicata
virtual. O art. 15 da LD c/c art. 8º, p.ú, da L. 9492/97 admitem a execução sem a
apresentação do título, desde que feito o protesto por indicações encaminhadas em
meio magnético e desde que acompanhado do comprovante de recebimento das
mercadorias ou de prestação do serviço.

 AÇÃO CAMBIAL:

1. Execução do devedor principal:

 No caso de aceite ordinário, basta a apresentação do título (art. 15, I, LD);


 No caso do aceite presumido, tem que apresentar o título, o comprovante de
entrega da mercadoria ou da prestação de serviço e o protesto (art. 15, II, LD
c/c Súmula 248 do STJ).

Se o título ficou retido ou é caso de duplicata virtual, admite-se protesto por


indicações (art. 15, §2º, LD) (exceção ao princípio da cartularidade).

 No caso do aceite por comunicação, basta a apresentação da comunicação


escrita do sacado noticiando o aceite (art. 7º, §2º, LD) (exceção aos princípios
da literalidade e da cartularidade).

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2. Execução dos devedores indiretos:

 Deve ser apresentado o título e o protesto tempestivo (art. 13, §4º, LD) (30 dias
contados do vencimento). Ressalte-se que não é necessário o comprovante de
entrega da mercadoria ou da prestação do serviço, pois, com a circulação do
título, operou-se a abstração e os devedores indiretos são alheios à relação
causal que embasa o título.

 PRESCRIÇÃO:

O art. 18 da LD diz:

a) Em face do sacado e respectivo avalista: 3 anos contados da data do


vencimento do título. Aqui, o protesto é facultativo. Igual a LUG.

b) Em face do endossante e de seus avalistas: 1 ano contado da data do


protesto. Aqui, o protesto é obrigatório, pois se trata de devedor indireto.
O prazo para protestar a duplicata é de 30 dias contados da data do
vencimento, cf. art. 13, §4º, da LD. Se não protestar, perde o direito de
ação contra os devedores indiretos em razão do mesmo artigo. Igual a LUG.

c) Entre os coobrigados: 1 ano contado da data do efetivo pagamento.


Diferente da LUG.

 OUTRAS AÇÕES PARA O RECEBIMENTO DA DUPLICATA:

Se perder o prazo prescricional da ação cambial, pode-se promover a ação de


locupletamento ou enriquecimento sem causa com o seguinte fundamento: art. 25 da
LD c/c art. 15, Anexo II, da LUG c/c art. 48 do Decreto 2.044/1908 c/c art. 206, §3º,
IV, do CC.

Também é possível a ação causal (art. 16 da LD), desde que haja a relação pessoal
entre autor e réu como já visto anteriormente, que poderá seguir o rito ordinário, o
rito sumário, o do juizado especial. Nesse caso, o prazo prescricional será o do negócio
jurídico.

 TRIPLICATA:

A triplicata está prevista no art. 23 da Lei de Duplicata e é emitida em substituição de


uma duplicata perdida ou extraviada.

Art. 23 da Lei 5474: “A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor


a extrair triplicata, que terá os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá
às mesmas formalidades daquela.”

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Se o sacado retiver a duplicata para aceite e não devolver, é possível também a


extração de triplicata, conforme entendimento da jurisprudência do STJ (REsp 64227).
A retenção nada mais é do que uma perda do título para as mãos de terceiro.

No caso de retenção também há outra medida prevista pelo art. 14 da LD e art. 8º da


Lei 9492/97, qual seja o protesto por indicações da duplicata que foi retida pelo
sacado. Serve como indicação: nota fiscal, contrato, boleto bancário etc. O STJ
entende que o protesto por indicações, juntamente com os demais requisitos do art.
15, II, da LD, são suficientes para permitir a propositura da ação de execução, que será
denominada “ação de execução de duplicata virtual”, vez que não há a apresentação
do título original.

Assim, verifica-se que a triplicata pode ser admitida por duas causas: (i) retenção
indevida ou (ii) perda/extravio do título.

No caso de perda ou extravio de duplicata é possível fazer protesto por indicações


ao invés de emitir a triplicata?

A doutrina majoritária entende que mesmo diante da ausência de previsão no art. 23


da Lei 5474/68, é possível por analogia ao art. 13, par. 1 da Lei 5474, a realização de
protesto por indicações nas hipóteses em que ocorre perda ou extravio do título.

 DUPLICATA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS:

Enquanto na duplicata mercantil a causa debendi é a compra e venda mercantil. Na


duplicata de serviço a causa debendi é uma prestação de serviço.

Sua possibilidade somente passou a ser admitida com a Lei de Duplicata, antes a
duplicata somente era utilizada para a compra e venda mercantil.

Enquanto os motivos que legitimam a recusa do aceite na duplicata mercantil estão


descritos no art. 8, os motivos que legitimam a recusa do aceite na duplicata de
serviços estão previstos no art. 21 da Lei 5474/68.

A sua previsão se encontra no art. 20 da Lei 5474/68 e possui as mesmas características


da duplicata para a compra e venda mercantil.

Art. 20 da Lei 5474/68: “As empresas, individuais ou coletivas, fundações ou


sociedades civis, que se dediquem à prestação de serviços, poderão, também, na
forma desta lei, emitir fatura e duplicata.
§ 1º A fatura deverá discriminar a natureza dos serviços prestados.
§ 2º A soma a pagar em dinheiro corresponderá ao preço dos serviços prestados.
§ 3º Aplicam-se à fatura e à duplicata ou triplicata de prestação de serviços, com
as adaptações cabíveis, as disposições referentes à fatura e à duplicata ou
triplicata de venda mercantil, constituindo documento hábil, para transcrição do

147
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

instrumento de protesto, qualquer documento que comprove a efetiva prestação,


dos serviços e o vínculo contratual que a autorizou.”

As causas de recusa motivada para o prestador de serviços se encontram no art. 21 da


Lei de Duplicatas, quais sejam:

(i) Não correspondência com os serviços efetivamente contratados;


(ii) Vícios ou defeitos na qualidade dos serviços prestados, devidamente
comprovados; e
(iii) Divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

É interessante mencionar que se admite a duplicata virtual para o prestador de serviço.


Os arts. 20 e 22 da Lei 5474/68 estabelecem que pode emitir duplicata. Contudo, o
advogado não pode sacar duplicata em virtude de uma previsão do Código de Ética.

 DUPLICATA VIRTUAL:

A Lei de duplicatas não traz a previsão expressa quanto a possibilidade de duplicata


virtual. Contudo, a MP 2200/2000 passou a permitir a emissão de documentos
eletrônicos.

Assim, esses documentos com infra-estrutura de chaves públicas (ICP), desde que
assinados digitalmente, passaram a ter os mesmos efeitos legais dos documentos
físicos.

Contudo, o Código Civil de 2002 estabelece que os títulos de crédito somente são
válidos se contiverem os requisitos exigidos em lei. Dessa forma, para justificar a
admissibilidade da duplicata virtual deve ser combinado o art. 10 da MP 2.200/2000
com o art. 887 do CC (título como documento formal) com o art. 2, §1º da Lei 5474/68.

Como consequência, é possível se admitir que a duplicata virtual é plenamente válida


como título de crédito, que deve sempre conter a assinatura digital (continua havendo
a necessidade de assinatura). Além disso, deve conter todos os requisitos da lei de
duplicatas no documento, não possuindo existência e regulação própria.

O protesto é necessário para assegurar o direito de regresso em face dos coobrigados.


O prazo, no caso da duplicata, é meios do que o previsto na letra de câmbio, sendo de
30 dias da data do vencimento (art. 13, §4º da Lei 5474/68). O prazo para a execução
será de 3 anos.

Contudo, existem situações em que a duplicada não pode ser executada e existem
outra s situações em que ela não pode mais ser executada em virtude da prescrição.
Nas duas situações, caberá a sua cobrança pelo procedimento ordinário.

Essa possibilidade trazida pela Lei de duplicata (art. 16) é anterior à ação monitória.
Dessa forma, não será necessariamente uma ação de cobrança. Poderá haver a

148
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

cobrança pelo procedimento comum ou pela ação monitória (art. 700 do CPC). Isso
porque tem-se em mãos o documento que representa a existência quantia certa (título
executivo que não tem mais força executiva). O prazo para as duas ações será de 5
anos da data do vencimento.

 JURISPRUDÊNCIA SOBRE DUPLICATA:

JULGADO DUPLICATA
REsp 1356541  Possibilidade de emissão de duplicata com base em mais de uma
(2016) nota fiscal;
 Uma só duplicata pode corresponder à soma de diversas notas
fiscais parciais. Em outras palavras, uma única duplicata poderá
abranger mais de uma nota fiscal. Não há proibição legal para que
se somem vendas parceladas procedidas no curso de um
determinado período (ex: um mês), e do montante se formule
uma fatura única ao seu final.

REsp 1334464  Na duplicata mercantil o aceite não pode ser lançado em


(2016) separado;
 O aceite lançado em separado da duplicata mercantil não
imprime eficácia cambiária ao título. O aceite é ato formal e deve
se aperfeiçoar na própria cártula (assinatura do sacado no próprio
título), incidindo o princípio da literalidade (art. 25 da LUG). Não
pode, portanto, ser dado verbalmente ou em documento em
separado. O aceite lançado em separado à duplicata não possui
nenhuma eficácia cambiária, mas o documento que o contém
poderá servir como prova da existência do vínculo contratual
subjacente ao título, amparando eventual ação monitória ou
ordinária.

REsp 1559824  Execução de duplicata virtual;


(2015)  É possível o ajuizamento de execução de duplicata virtual, desde
que devidamente acompanhada dos instrumentos de protesto por
indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria e da
prestação do serviço.

EREsp 1024691  Validade da duplicata virtual;


(2012)  O STJ considera válida a duplicata virtual. As duplicatas virtuais,
emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação
eletrônica, podem ser protestadas por mera indicação, de modo
que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento
da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único, da
Lei nº 9.492/1997.
 Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual
devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por
indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da

149
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

prestação dos serviços suprem a ausência física do título


cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos
executivos extrajudiciais.

Casos Concretos:

Questão 1)

IGOR emitiu nota promissória em favor de TIAGO para documentar obrigação


decorrente de contrato de compra e venda de mercadoria. Em razão de obrigação
inadimplida, o emitente foi demandado pelo credor, TIAGO, vendedor das
mercadorias. O devedor, em sede de embargos, alegou não ter a cambial força
executiva em razão da vedação do art. 2º da Lei nº 5.474/68. Assiste razão ao
embargante? Resposta fundamentada.

Resposta:

Não assiste razão ao devedor, uma vez que o art. 2º da Lei 5474/68 é norma dirigida
ao vendedor da mercadoria, não se admitindo a emissão de título diverso da duplicata
para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador. O
comprador pode emitir cheque ou nota promissória para pagamento do preço.

Observa-se que a vedação do referido artigo se dirige tão somente ao vendedor da


mercadoria, de forma que não há qualquer impedimento que o comprador emita nota
promissória para efetuar o pagamento.

Questão 2)

Banco de Parnaíba S/A. ajuizou ação de cobrança em face de Aphir Barril e Ophir
Aldão com base em duas duplicatas de venda sacadas em face de ROA Artes Gráficas
Ltda. e avalizadas pelos réus. Em contestação, os réus alegaram que a condição de
sócio da sociedade não poderia ensejar a cobrança direta deles, a uma porque a
sociedade é dotada de personalidade jurídica e os sócios respondem sempre
subsidiariamente e a duas, porque como sócios de responsabilidade limitada, só
respondem até o valor de suas quotas. Aduziram que não ostentavam mais a
condição de sócios na data da prestação do aval, apresentando alteração contratual,
na qual constava nova composição societária, porém não foi arquivada na Junta
Comercial. Assiste razão aos réus? Resposta fundamentada.

Resposta:

150
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Observa-se no caso concreto a presença de sócio-avalista e esse reponde


solidariamente pelo crédito contraído pela sociedade até que haja o cancelamento ou
extinção da garantia concedida.

Além disso, a alegação de alteração do contrato social não modifica a garantia


concedida ao banco credor. O aval concedido não está ligado a figura do sócio, já que
se trata de modalidade de garantia pessoal. Por isso, não assiste razão aos réus.

Nesse sentido destaca-se o seguinte julgado:

APELAÇÃO 0030276-18.2010.8.19.0209 TJRJ: “NEGATIVAÇÃO DO NOME DE


SÓCIO QUE FIGUROU COMO AVALISTA DE NEGÓCIO JURÍDICO APÓS
ALTERAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL – AUSÊNCIA DE ANUÊNCIA DO CREDOR –
MANUTENÇÃO DA OBRIGAÇÃO PESSOAL ASSUMIDA PELO EX-SÓCIO. I – O
sócio avalista responde solidariamente pelo débito contraído pela
sociedade, até o cancelamento ou a extinção da garantia. II – A simples
alteração do contrato social com a transferência das cotas para o novo
sócio não afeta o direito do banco credor. III – O aval não se prende à figura
do sócio, sendo modalidade de garantia pessoal ligada aos títulos de
crédito, em que incidem os princípios da autonomia, literalidade e
abstração. IV – Obrigação própria e pessoal que emerge da natureza da
garantia, sendo irrelevante o fato do garante não participar mais da
sociedade. Impossibilidade de se tentar trazer regras da fiança que não se
coadunam com o instituto do aval. V – Anotação ilegítima nos cadastros
restritivos de crédito realizada pelo credor. VI – Inexistência de
configuração do dano moral. Recurso desprovido.”

151
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 10 – Prof. Luiz Gustavo Mourão


1/11/18

EMENTA:  NOTA PROMISSÓRIA.


 Conceito.
 Natureza jurídica.
 Legislação aplicável.
 Características.
 Requisitos essenciais.
 Nota promissória vinculada a contrato.
 Cláusula mandato.

 NOTA PROMISSÓRIA:

A nota promissória é um título representativo de PROMESSA DE PAGAMENTO emitido


por pessoa designada como subscritor em proveito de outra designada como
beneficiário veiculando promessa de pagamento pura e simples de quantia em dinheiro
determinada (à vista ou à prazo).

Verifica-se, portanto, que a nota promissória é um título que contém uma promessa
de pagamento em dinheiro, diferentemente da letra de câmbio e do cheque (ordem
de pagamento). Enquanto na ordem de pagamento existe a figura do sacado, aquele
indicado no título como responsável pelo pagamento, na promessa de pagamento, não
existe tal figura, pois o próprio emitente ou subscritor do título é o devedor. É ele
quem promete pagar, não havendo uma ordem a terceiro (promessa de fato próprio).

Portanto, na nota promissória, há apenas duas figuras intervenientes:

(i) Emitente ou subscritor: aquele que promete o pagamento (promitente); e


(ii) Beneficiário dessa promessa: também chamado tomador.

Trata-se do documento que contem promessa de pagamento em dinheiro (à vista ou à


prazo). Assim, ela possui uma estrutura cambiária mais simples do que a letra de
câmbio e duplicata, já que não se trata de ordem de pagamento (possui uma estrutura
com três partes: sacador, sacado e beneficiário ou tomador). A promessa de
pagamento deve ser pura e simples, não admitindo condições, em razão do art. 75 da
LUG.

À nota promissória aplicam-se os dispositivos relativos à letra de câmbio, com apenas


quatro peculiaridades:

(i) Como não há sacado na nota promissória, também não há a figura do aceite
nem a figura da intervenção para o aceite. A nota promissória nasce aceita,
pois o reconhecimento do débito pelo devedor se dá no próprio ato da
emissão;

152
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(ii) O emitente da nota promissória é equiparado ao aceitante – ex. para


executá-lo, não é necessário o protesto do título; o prazo prescricional para
a ação cambial é de 3 anos contados do vencimento etc;

(iii) No aval em branco, o avalizado é o emitente; e

(iv) Não se admite duplicata, isto é, segunda via de nota promissória.

A nota promissória não é um título representativo de mercadoria. É possível utilizar


título de crédito para representar a promessa de entregar uma mercadoria rural, mas
é um título próprio, denominado cédula de produto rural.

 NATUREZA JURÍDICA:

A natureza jurídica da nota promissória é a de título de crédito abstrato e


independente, configurando uma PROMESSA DE PAGAMENTO.

A abstração está presente quando o título não é vinculado por lei a nenhuma
modalidade específica de negocio jurídico, de modo que a sua emissão é válida para
retratar qualquer espécie de negócio jurídico.

A independência significa que basta a apresentação da cártula para a cobrança, não


precisa apresentar nenhum outro documento.

Assim, temos que a NP é um título de crédito representativo de pagamento em


dinheiro, reunindo as características do art. 887 do CC:

 É documento necessário – o art. 76 da LUG fala da nota promissória como um


título, ou seja, um documento, razão pela qual se aplica à nota promissória o
princípio da cartularidade;

A nota promissória não tem previsão expressa de ser emitida em meio eletrônico,
mas também não tem vedação. Há uma lacuna legal, pois a LUG é de 1930, quando
não se cogitava de suporte eletrônico. Não há nenhum impedimento de que,
observados os requisitos essenciais, a nota promissória seja emitida
eletronicamente.

 Ao exercício do direito literal e autônomo nele contido – à nota promissória,


também se aplica o princípio da literalidade (ex. a cláusula de juros
remuneratórios não se presume, o aval parcial tem que mencionar a restrição
etc.) e o princípio da autonomia, sendo as obrigações autônomas, em razão da
disposição do art. 77 da LUG: “São igualmente aplicáveis às notas promissórias
[...] as consequências da aposição de uma assinatura nas condições indicadas no
artigo 7 [...]”.

153
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Qual a diferença entre Nota Promissória e Letra de Câmbio?

No art. 77 da LUG tem-se que são aplicadas as notas promissórias, nas partes em que
não lhe sejam contrárias, os dispositivos pertinentes às letras de câmbio.

Enquanto a LC envolve ordem de pagamento, a NP envolve a promessa de pagamento.


A LC é emitida pelo credor, ao passo que a NP é emitida pelo próprio devedor. A
consequência disso é que enquanto a LC nasce sem a assunção de obrigação por parte
daquele que deve ocupar a posição de obrigado direito, a NP já nasce com o obrigado
direto. Na LC é necessário o protesto do título para a cobrança do emitente, enquanto
que na NP a sua cobrança independe de protesto eis que o subscritor é obrigado direito
e não coobrigado.

Por fim, não se aplica às NPs o instituto do aceite, na medida em que não há ordem
nela veiculada. No caso das NPs não existe hipótese cambial de vencimento
antecipado, enquanto que na LC tem vencimento antecipado na hipótese de recusa do
aceite.

Na NP a figura do obrigado direto sempre corresponde à figura do obrigado principal,


diferentemente da LC que quando não aceita tem o sacador como obrigado principal
e não possui obrigado direto.

 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL:

No Código Comercial a nota promissória não possuía um tratamento autônomo. A


primeira lei a tratar da nota promissória como instrumento autônomo foi o Decreto
2.044/1908 que também trata da letra de câmbio.

Assim, desde 1908 a legislação trata de maneira continua a letra de câmbio e a nota
promissória, devendo-se aplicar as disposições da LUG que passou posteriormente a
regular o tema, observando-se também as reservas.

Dois artigos ficaram prejudicados, um porque a LUG trata da mesma matéria e outra a
LUG trata de forma diferente, devendo essa prevalecer. São os arts. 54 (art. 74/75 da
LUG) e 55 (78 da LUG) do Decreto 2044/1908.

EM SUMA: A nota promissória tem a mesma legislação que a letra de câmbio, qual
seja a Lei Uniforme de Genebra e, nas suas omissões e reservas, o Decreto
2.044/1908. Eventualmente, será aplicado o Código Civil, caso o Decreto 2.044
também seja omisso, ex. aval posterior ao vencimento (art. 900 do CC).

154
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 VENCIMENTO DA NOTA PROMISSÓRIA:

A nota promissória contém uma promessa de pagamento em dinheiro que pode ser à
vista ou a prazo.

Vejamos as peculiaridades de cada um dos vencimentos:

(i) Vencimento à Vista:

A nota promissória à vista tem a mesma regra da letra de câmbio à vista, qual seja
aquela que não tem uma data certa para o pagamento. O vencimento à vista é
presumido na ausência de outra disposição, na medida em que a data para pagamento
não é característica essencial da letra de câmbio, também não o sendo na nota
promissória.

O beneficiário tem um prazo para efetuar a apresentação da nota promissória à vista


para pagamento, assim como ocorre com a letra de câmbio, qual seja o prazo de 1 ano
contados da data de emissão (requisito essencial), conforme arts. 77 c/c 34 da LUG. A
apresentação a pagamento deve ser feita em dia útil (art. 72 da LUG).

Se este prazo não for observado, o portador perde o direito de ação contra os
coobrigados, a exceção do aceitante (art. 53, alínea 1, da LUG).

Como não há aceitante na nota promissória, dispõe o art. 78 da LUG que o subscritor
da nota promissória é equiparado ao aceitante. Portanto, caso uma nota promissória à
vista seja apresentada fora do prazo do art. 34 da LUG, o portador mantém o seu
direito de ação em face do emitente (e seu respectivo avalista), porque a lei o
equipara, para esse fim, ao aceitante da letra de câmbio, ou seja, à condição de
obrigado principal, mas perde o direito contra os demais coobrigados, quais sejam
endossantes e respectivos avalistas.

(ii) Vencimento a Prazo:

No caso da nota promissória a prazo, há três modalidades de vencimento (art. 77 c/c


art. 33 da LUG):

a. Em dia certo;
b. A certo termo de data – a data é a data de emissão.
c. A certo termo de vista – o art. 78 da LUG, 2ª alínea, da LUG chama esta nota
promissória de “a certo termo de visto”. Na letra de câmbio, o vencimento a
certo termo de vista tem como referência a data em que o sacado teve a vista
do título para o aceite (a data do aceite). Na nota promissória, não há aceite,
porque não há sacado. Portanto, não se pode dizer que é “a certo termo de
vista”, tendo como termo inicial a data do aceite, razão pela qual o legislador
fez uma adaptação e chamou a nota promissória de “a certo termo de visto”.

155
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Esse visto não é emissão, mas sim uma confirmação da emissão apenas para
efeito de vencimento. A data do visto será o termo inicial da contagem.

Se não der o visto, o emitente não perde a condição de obrigado principal. O


portador terá que levar o título a protesto para suprir a falta do visto, sendo a
data da lavratura do protesto o termo inicial (art. 78, 4ª alínea). Se não houver
o protesto, presume-se que o visto foi dado no último dia para apresentação
(art. 77 c/c art. 35, 2ª alínea, da LUG).

 REQUISITOS ESSENCIAIS DA NOTA PROMISSÓRIA:

Há um conteúdo mínimo da nota promissória, ou seja, alguns requisitos essenciais que


devem ser observados no momento do recebimento do crédito, sob pena de o título
não produzir os efeitos de uma nota promissória (art. 76 da LUG). O título é válido,
mas não será considerado título de crédito de natureza cambiária, mas sim mero
documento de dívida, quirógrafo. É o princípio do formalismo, da tipicidade.

O art. 75 da LUG traz os seguintes requisitos essenciais da nota promissória:

(i) Cláusula Cambiária: expressão “nota promissória” inserta no próprio corpo


do texto, não bastando estar fora, mesmo que em destaque. As partes não
podem utilizar outro nome em virtude da reserva feita.

(ii) Mandado de pagamento puro e simples: a promessa de pagamento deve ser


pura e simples, ou seja, não é aceita qualquer condição, de quantia
determinada. Prevalece que a lei não veda o saque cambial com correção
monetária por índice oficial ou de amplo conhecimento no comércio.

(iii) Nome do sacado (beneficiário): não se admite nota promissória ao portador,


apesar de ser “à ordem” = transferível via endosso. A NP deve conter o
nome de qyem se deve pagar.

O art. 77 da LUG manda aplicar à nota promissória vários institutos da letra de


câmbio, sendo um deles o endosso. Portanto, diante da omissão, presume-se que a
nota promissória é à ordem, ou seja, endossável. A nota promissória pode ser
emitida “não à ordem”, desde que esta cláusula seja aposta expressamente pelo
emitente (art. 77 c/c art. 11 da LUG – onde se lê sacador, leia-se emitente). A nota
promissória não à ordem não interfere na obrigação do emitente, mas na
transmissão do crédito.

(iv) Data de emissão: serve para aferir a capacidade do emitente, contagem de


certos prazos e etc.

(v) Assinatura do sacador e sua identificação pelo RG, CPF, título de eleitor ou
carteira profissional: se não souber ou não puder assinar, o sacador deverá

156
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

fazê-lo por procurador nomeado por instrumento público. Não se admite


chancela mecânica.

A nota promissória em branco é admissível em nosso ordenamento?

Também se admite a possibilidade de nota promissória em branco, ou seja, ocorrer o


preenchimento posterior da mesma (art. 10 da LUG c/c art. 77 do Dec. 2044/1908).

Contudo, o seu preenchimento deve se dar antes do vencimento (S. 387 do STF).

Súmula Nº 387 do STF: “A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em


branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou
do protesto.”

 REQUISITOS NÃO ESSENCIAIS DA NOTA PROMISSÓRIA:

São requisitos não essenciais da nota promissória previstos no art. 76 da LUG:

(i) Data do Vencimento: se a NP não indicar a data do vencimento, isto é, a


época do pagamento, presume-se que é à vista;

(ii) Lugar de Pagamento: se a NP não indicar, presume-se que é o domicílio do


emitente. Se a nota promissória indicar outro lugar que não seja o domicílio
do beneficiário ou do emitente, chama-se nota promissória domiciliada,
pois é pagável no domicílio de terceiro.

(iii) Lugar de Emissão: se a NP não indicar, presume-se que é o domicílio do


emitente.

Como visto a nota promissória pode ser emitida por procurador em virtude do art. 8º
da LUG c/c art. 77 do Dec. 2044/1908. Esse somente irá responder se extrapolar os
poderes e se não possuir expressos poderes.

Contudo, o art. 8º da LUG não informa se há necessidade de poderes especiais para a


emissão do título. Assim, observa-se a existência de lacuna, devendo ser aplicado o
Dec. 2044/1908, que exige a existência de mandatário com poderes especiais.

 NOTA PROMISSÓRIA VIRTUAL:

Admite-se a nota provisória virtual pelos mesmos fundamentos dados para a


admissibilidade da duplicata virtual.

É necessário que o documento virtual contenha os requisitos essenciais, sob pena de


que não produza efeitos como nota promissória. Somente se admita que falte os

157
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requisitos considerados como não essenciais. O documento deve estar sempre


completo, não sendo dispensado nem mesmo na nota promissória virtual.

O art. 887 do CC dispõe que o título de crédito somente produzirá efeitos se contiver
os requisitos da lei, demonstrando que os títulos devem sempre seguir o formalismo.

O art. 77 da LUG deixa claro porque somente dispõe 4 artigos sobre a nota promissória.
Isso porque a maioria das disposições da letra de câmbio são aplicáveis a nota
promissória.

Art. 77 da LUG: “São aplicáveis às notas promissórias, na parte em que não


sejam contrárias à natureza deste título, as disposições relativas às letras
e concernentes: endosso (artigos 11 a 20)”

Abaixo lista dos artigos da letra de câmbio que são aplicáveis a nota promissória:

 vencimento (artigos 33 a 37);


 pagamento (artigos 38 a 42);
 direito de ação por falta de pagamento (artigos 43 a 50 e 52 a 54);
 pagamento por intervenção (artigos 55 e 59 a 63);
 cópias (artigos 67 e 68);
 alterações (artigo 69);
 prescrição (artigos 70 e 71);
 dias feriados, contagem de prazos e interdição de dias de perdão (artigos
72 a 74).

São igualmente aplicáveis às notas promissórias as disposições relativas às letras


pagáveis no domicílio de terceiro ou numa localidade diversa da do domicílio do sacado
(artigos 4º e 27), a estipulação de juros (artigo 5º), as divergências das indicações da
quantia a pagar (artigo 6º), as conseqüências da aposição de uma assinatura nas
condições indicadas no artigo 7º, as da assinatura de uma pessoa que age sem poderes
ou excedendo os seus poderes (artigo 8º) e a letra em branco (artigo 10).

São também aplicáveis às notas promissórias as disposições relativas ao aval (artigos


30 a 32); no caso previsto na última alínea do artigo 31, se o aval não indicar a pessoa
por quem é dado, entender-se-á ser pelo subscritor da nota promissória.”

Observa-se que é possível que a nota promissória seja à ordem ou não à ordem como
admite-se na letra de câmbio.

O art. 78 da LUG também é muito importante, porque equipara o emitente de uma


nota promissória ao aceitante de uma letra de câmbio, como segue:

Art. 78 da LUG: “O subscritor de uma nota promissória é responsável da


mesma forma que o aceitante de uma letra.”

158
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

As notas promissórias pagáveis a certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos
subscritores nos prazos fixados no artigo 23. O termo de vista conta-se da data do visto
dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um
protesto (artigo 25), cuja data serve de início ao termo de vista.

A segunda linha desse mesmo artigo que fundamenta o fato de o art. 55 do Dec.
2044/1908 não ser mais aplicável. Essa traz a possibilidade que a nota promissória seja
a certo termo de vista (deve indicar um prazo para que o beneficiário emita um visto
no título e a partir desse passará a correr um prazo para o vencimento). Esse tipo de
nota promissória acaba não sendo utilizada na prática, uma vez que o emitente já é o
obrigado principal e não há necessidade dessa burocracia.

 NATUREZA PRO SOLVENDO DAS NOTAS PROMISSÓRIAS:

Em razão da natureza pro solvendo das NPs, a emissão desse título não provoca
nenhuma espécie de modificação na relação jurídica extracambial que deu causa a
emissão desse título.

Admite-se, contudo, que as partes atribuam ao título caráter pro soluto e nessa
hipótese a simples emissão do título provoca a extinção da relação jurídica
extracambial – opera-se no caso uma novação.

Assim, podemos concluir que:

As notas promissórias de caráter pro soluto têm o mesmo efeito de uma novação do
crédito anterior e, portanto, em relação a elas não se pode alegar questões
relacionadas à relação jurídica que lhe deu origem. O caráter pro soluto tem que ser
expresso. Diferentemente, as notas promissórias de caráter pro solvendo não possuem
esse efeito de novação e, portanto, os vícios existentes na relação jurídica originária,
podem ser alegados. O caráter pro solvendo se presume.

 NOTA PROMISSÓRIA VINCULADA A CONTRATO:

A duplicata é um título causal e dependente; causal, porque se vincula ao negócio


jurídico subjacente, e dependente, porque deve indicar o número da fatura.

Diferentemente, a nota promissória é título abstrato e independente; abstrato quanto


à causa de emissão, pois esta não é determinada pela lei, mas pelo emitente, e
independentemente, porque não se prende a determinado documento. Contudo, as
partes podem, em razão da autonomia da vontade, vincular a nota promissória a um
negócio jurídico.

Tal vinculação não desnatura a essência da nota promissória como título de crédito.
Todavia, pela jurisprudência, há uma mudança no seu regime, qual seja a
inaplicabilidade do princípio da abstração (STJ, REsp 659.327/MG).

159
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Pontes de Miranda e Fernando Boiteux entendem que a abstração se manterá mesmo


em relação à nota promissória vinculada a contrato para que o terceiro de boa-fé seja
protegido.

Contudo, Tomazette e a jurisprudência entendem que, diante da vinculação expressa,


o credor tem como saber da existência do contrato que deu origem ao título. Sendo
assim, surge para ele o dever de verificar se o contrato foi devidamente cumprido, em
razão da boa-fé objetiva. A ligação à causa do título sujeita a obrigação cartular à
disciplina própria do negócio jurídico originário. As defesas causais nessa situação
poderão ser opostas a qualquer credor do título e os vícios da obrigação contratual
contaminam a nota promissória vinculada.

IMPORTANTE!!!!
STJ: A iliquidez do contrato contamina a nota promissória a ele vinculada,
inviabilizando sua execução – art. 586 do CPC (REsp 422.403/SP). Ex. Contrato de
abertura de crédito em conta corrente – Súmula 258 do STJ.

A Súmula 258 do STJ estabelece que a nota promissória vinculada a contrato de


abertura de crédito será inexigível, não gozará de autonomia em razão da iliquidez do
título que a originou.

O contrato de abertura de crédito é conhecido como cheque especial. O credor


disponibiliza uma quantia para o devedor que irá consumí-la de acordo com suas
necessidades. O banco comprovava o valor utilizado por meio do extrato, só que o
extrato é um documento unilateral que o banco produz. O banco emitia uma NP, o
cliente assinava e deixava o valor em branco e vinculava a NP ao contrato da abertura
de crédito. O banco então instruía a ação de execução com a NP e o extrato da conta
corrente. O STJ entendeu que a NP vinculada ao contrato de abertura de conta não
era sequer considerada um título de crédito em razão de sua iliquidez.

 CLÁUSULA DE MANDATO:

A Súmula 60 do STJ estabelece que:

Súmula 60 do STJ: “E nula a obrigação cambial assumida por procurador


do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.”

Em virtude do art. 8º da LUG, admite-se que a nota promissória seja efetivada por
procuração. A cláusula mandato se refere a possibilidade de o devedor autorizar o
credor a emitir nota promissória como mandatário do devedor em favor do próprio
mandatário (mandato em interesse próprio). Era interessante porque o contrato não
servia como título executivo e a nota promissória sim.

Contudo, o STJ na década de 60 com a S. 60 entendeu que essa cláusula era ilícita,
uma vez que a obrigação cambial era assumida em interesse do próprio procurador.

160
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 JURISPRUDÊNCIA SOBRE NOTA PROMISSÓRIA:

JULGADO NOTA PROMISSÓRIA


REsp 1323468  Ação de locupletamento do art. 48 do Decreto 2.044/1908
(2016) envolvendo notas promissórias.
 A simples apresentação de nota promissória prescrita é suficiente
para embasar a ação de locupletamento pautada no art. 48 do
Decreto nº 2.044/1908, não sendo necessário comprovar a
relação jurídica subjacente.
 A pretensão de ressarcimento veiculada em ação de
locupletamento pautada no art. 48 do Decreto nº 2.044/1908
prescreve em 3 anos, contados do dia em que se consumar a
prescrição da ação executiva.

REsp 813381  Não cancelamento do protesto pela prescrição do título


(2014) cambial.
 João não pagou uma nota promissória que emitiu em favor da
empresa “XX”. Diante disso, a empresa levou a nota promissória
a protesto no Tabelionato de Protesto. Quatro anos depois, a
empresa ajuizou execução de título extrajudicial contra João
cobrando o valor estampado na nota promissória. A execução,
contudo, foi extinta porque o juiz constatou que houve prescrição
da ação executiva.
 João ajuizou ação de cancelamento do protesto, alegando que,
como houve a prescrição da execução, deveria automaticamente
ocorrer o cancelamento do protesto realizado. A tese de João
está correta? NÃO. A prescrição da pretensão executória de título
cambial não enseja o cancelamento automático de anterior
protesto regularmente lavrado e registrado. A validade do
protesto não está diretamente relacionada com a exequibilidade
do título ou de outro documento de dívida, mas sim com a
inadimplência e o descumprimento da obrigação representada
nestes papéis. A inadimplência e o descumprimento não
desaparecem com a mera prescrição do título executivo não
quitado. Em outras palavras, o devedor continua sendo
inadimplente, apesar de o título não poder mais ser cobrado
mediante execução. Então, não pode o protesto ser cancelado
simplesmente pelo fato de ele não poder ser mais executado.
Vale lembrar que, mesmo havendo a prescrição da ação
executiva, o credor ainda poderá cobrar o valor da nota
promissória por meio da ação monitória.

Súmula 504  Prazo da ação monitória em caso de nota promissória sem


STJ força executiva.

161
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em


face do emitente de nota promissória sem força executiva é
quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Casos Concretos:

Questão 1)

CONCURSO PARA JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - 2006


Augusto Silva emitiu em branco uma nota promissória e a entregou a Bernardo
Cunha, a quem devia determinada quantia. Bernardo transferiu o título, por
tradição, para Carlos Sá e este, por sua vez, endossou para Daniel Rocha. Vencido o
título, o portador preencheu a cambial inserindo seu nome como beneficiário e
promoveu ação de execução contra o emitente (Augusto). O executado, em
embargos, arguiu falta de causa debendi, em razão de não ter nenhum vínculo
jurídico com Daniel, pessoa que sequer conhece. Daniel refutou as alegações, no
sentido de que o preenchimento do título se deu de boa-fé, descabendo ao devedor
qualquer possibilidade de exceção ou defesa pela circulação do título. Decida a
questão fundamentadamente.

Resposta:

O endossatário Daniel recebeu o título por endosso em branco e, nos termos do art. 77
e 14 da LUG, pode preencher o endosso em branco, quer com seu nome, quer com
nome de outra pessoa. O emitente de uma nota promissória é responsável da mesma
forma que o aceitante de uma letra de câmbio (arts. 78 e 28).

Logo, o emitente não pode opor ao endossatário de boa-fé exceções pessoais (art. 17).
Cabe observar que Daniel Rocha é endossatário do título e não beneficiário originário.
O enunciado menciona que Carlos Sá endossou a cártula e, como o endosso é escrito
no título e assinado pelo endossante, conclui-se que a pessoa que dispôs do crédito foi
Carlos Sá, primeiro beneficiário. Portanto, ao preencher seu nome como
“beneficiário”, Daniel Rocha agiu em conformidade com o art. 14 da LUG e não como
portador que preencheu título emitido em branco, não endossado.

Questão 2)

Incorporadora Imobiliária S/A. contratou com a Edificadora Construa Fácil S/A. uma
construção multifamiliar, para entrega em 40 meses. A Incorporadora se obrigou ao
pagamento das prestações, mediante a emisssão de notas promissórias mensais,
vinculadas ao contrato. Faltando 10 meses para seu término e como a obra se
encontrasse cronologicamente com 50% realizados, sem tempo para concluir-se no
prazo ajustado, a Incorporadora Imobiliária S/A. suspendeu os pagamentos das
notas promissórias, alegando exceptio nom adimpleti contractus. Em ação de

162
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

execução, a Edificadora Construa Fácil S/A. exige o pagamento dos títulos vencidos,
sustentando que o prazo global não se esgotara. Procede a defesa da executada?
Decidir a questão, com fundamentação adequada.

Resposta:

Título em questão tem natureza pro solvendo em razão da inexistência de cláusula


expressa em contrário, caso em que a executada poderia alegar em sede de embargos
a causa debendi do título para justificar o seu inadimplemento. Na ação cambial é
possível defesa fundada em direito pessoal do réu em relação ao autor, na forma do
art. 51 do Decreto 2044/1908.

Como consequência, é possível que haja a oposição da exceptio nom adimpleti


contractus, não cabendo razão a Edificadora.

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Aula 11 – Prof. Juan Vasquez


2/10/18

EMENTA:  CHEQUE I.
 Conceito.
 Natureza jurídica.
 Pressupostos de emissão.
 Legislação.
 Requisitos.
 Modalidades de cheque.
 Inexistência de aceite.
 Endosso.
 Aval.
 Formas de circulação.
 Cheque pós-datado.

 CHEQUE (CONCEITO):

Trata-se de uma ordem de pagamento em dinheiro à vista, emitida por sacador em


face de instituição financeira bancária com base em contrato de conta corrente
bancária, em favor de terceiro, beneficiário.

O art. 32 da Lei 7357/85 estabelece que será considerada não escrita qualquer menção
em contrário, deixando claro que se trata de uma ordem de pagamento à vista.

Art. 32 da Lei 7357/85: “O cheque é pagável à vista. Considera-se não-escrita


qualquer menção em contrário.
Parágrafo Único: O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado
como data de emissão é pagável no dia da apresentação.”

Como é possível o cheque pós-datado se o art. 32 da Lei do Cheque estabelece que


o cheque é uma ordem de pagamento à vista?

O cheque pós-datado é uma criação da prática comercial, representando um costume


contra legem em razão do disposto no art. 32 da Lei 7357/85. O fundamento do cheque
pós-datado tem relação com a boa-fé objetiva e não com o direito cambiário.

Pelo direito cambiário o comerciante poderia apresentar o cheque antes da data


colocada no cheque pós-datado em razão do disposto no art. 32. Contudo, a Sumula
370 do STJ veda essa apresentação antes da data aposta no cheque, sob pena de se
configurar dano moral. A Sumula 370 foi criada com o objetivo de defesa da boa-fé nas
relações consumeristas.

Súmula 370 do STJ: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque


pré-datado.”

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Info 584 do STJ: Em relação ao cheque pós-datado, a pactuação da pós-datação do


cheque, para que seja hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira
sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo específico da cártula

Atenção pois o prazo só começa a contar da data que estiver estampada no título de
crédito.

O que acontece se o comerciante apresentar o cheque antes da data?

O comerciante que apresentar o cheque antes da data pode ser responsabilizado por
dano moral. Contudo, o banco que descontar o cheque pos-datado antes do prazo está
agindo de maneira lícita e não poderá ser processado. [CONFIRMAR]

Atenção pois o prazo de 30 (mesma praça) e 60 (praça diferente) dias para


apresentação do cheque começa a contar sempre da data que estiver inserida no
cheque.

Qual o momento em que se exigirá a provisão de fundos?

A existência de fundos disponíveis é verificada no momento em que se apresenta o


cheque e não no momento da emissão.

Em que consiste o cheque pro solvendo?

Em regra o cheque é pro solvendo. Isso porque, toda vez que se emite um cheque
existirá uma relação jurídica extra-cambiária que será o motivo da emissão desse
cheque (negócio jurídico subjacente ou negócio causal); quando o título é emitido ele
não significa uma novação ao negócio juridico subjacente, subsistindo as duas causas
(a causa cambiária e a causa extracambiária), ou seja, a emissão do cheque não
significa o cumprimento da obrigação.

Cuidado pois o título de crédito pode ser criado pro soluto (“em cumprimento da
obrigação”), ou seja, a relação jurídica extra-cambiária desapareceu. A relação
jurídica cambiária operará uma novação em relação àquela relação extracambiária, ou
seja, o cheque vai substituir a relação juridica extracambiária. Se o cheque não for
adimplido, o credor não poderá desfazer o negócio juridico, ele só poderá promover
uma cobrança do título e não pleitear uma rescisão do contrato, por exemplo.

O empresário pode se recusar a receber o pagamento de mercadoria por meio de


cheque? Poderá exigir um mínimo de 6 meses de conta aberta?

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Sim!!! O cheque não tem curso forçado no direito brasileiro porque não é dinheiro. O
empresário pode se recusar a receber um cheque. Contudo, o empresário tem que
informar a forma de pagamento que ele aceita, para não causar uma eventual surpresa
ao consumidor.

Se o empresário pode recusar o cheque, ele pode também estabelecer condições para
aceitar o cheque com base na lógica de que “quem pode mais, pode menos”. Logo, o
empresário pode sim exigir, por exemplo, no mínimo de 6 meses de conta aberta, para
aceitar o cheque.

Resp 1163496/SP: 2. O comerciante não está obrigado a aceitar cheques – a aceitação


é mera liberalidade – podendo adotar a política de pagamento que acredite ser a
melhor para seu estabelecimento. Não há lesão de ordem moral ou sofrimento em
estabelecer-se que só serão aceitos cheques com no mínimo seis meses de abertura
de conta, pois se trata de legítimo exercício de direito.”

ATENÇÃO!!!!
O cheque é necessariamente cartular. Isto significa que ele não pode ser
desmaterializado, colocado em qualquer outro suporte que não o físico, pois o
Conselho Monetário Nacional, em observância ao art. 69 da LC, adota uma
padronização para o modelo de cheque. Não existe cheque virtual.

O cheque também tem três figuras intervenientes (ordem de pagamento):

(I) emitente: aquele que emite o cheque;


(II) sacado: que é o banco ou a instituição financeira; e
(III) beneficiário, que pode ser o próprio emitente ou terceira pessoa.

Na letra de câmbio, o sacado, ao aceitar, pode vir a se tornar obrigado principal. Só


que no cheque não se admite aceite. Portanto, considera-se obrigado principal o
emitente e seu respectivo avalista (art. 15 da LC).

No cheque, o prazo para apresentação a pagamento não é de 1 ano da data de emissão,


como ocorre na letra de câmbio. O prazo vai depender da relação lugar da emissão x
lugar de pagamento.

Se o lugar da emissão for igual ao do pagamento, o cheque deve ser apresentado no


prazo de 30 dias da data da emissão.

Se o lugar da emissão for diverso do pagamento, é de 60 dias (art. 33 da LC).

O portador que não apresentar o cheque no prazo legal mantém seu direito de ação
em face do emitente, mas perde o direito de cobrar os coobrigados (art. 47, II, da LC
– se o cheque apresentado em tempo hábil).

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O emitente e seus avalistas podem ser cobrados pelo cheque ainda que a apresentação
do cheque tenha sido intempestiva. Isto porque, diferentemente do art. 47, II, da LC,
o art. 47, I, da LC não condiciona a pretensão à execução do cheque à apresentação
do cheque em tempo hábil, qual seja o prazo do art. 33 da LC.

Assim concluiu o STF na sumula nº 600 abaixo transcrita:

Súmula 600 do STF: “Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda
que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita
a ação cambiária.”

 NATUREZA JURÍDICA:

A doutrina diverge acerca da natureza jurídica do cheque, destacando-se as seguintes


posições:

CORRENTE 1) Pontes de Miranda assevera que o cheque não é instrumento de crédito,


mas apenas um instrumento de pagamento a serviço de quem possui fundos disponíveis
em poder de um banco. Logo, não poderia ser considerado título de crédito pois sendo
objeto de pagamento à vista afastaria-se do elemento tempo, essencial para a
configuração de uma operação de crédito.

CORRENTE 2) Carlos da Cunha Peixoto, por sua vez, defende que o cheque tem uma
dupla natureza, ou seja: o cheque pode funcionar tanto como um instrumento de
pagamento quanto como um instrumento de dilação.

CORRENTE 3) Para Fran Martins e Rubens Requião o cheque é um TÍTULO DE CRÉDITO


IMPRÓPRIO, na medida em que não envolveria uma típica operação de crédito, por ser
à vista. Todavia, ao circular por endosso, haveria a operação de crédito, que o tornaria
um título de crédito.

CORRENTE 4) Diversos autores reconhecem no cheque um título de crédito puro e


simples. Embora seja à vista, há necessariamente um tempo entre o recebimento do
cheque e sua conversão em dinheiro

 PRESSUPOSTOS DE EMISSÃO DO CHEQUE:

Os pressupostos de emissão do cheque estão previstos nos art. 3 e 4 da Lei de Cheque,


destacando-se:

(i) Contrato de conta corrente bancária: trata-se de contrato privativo de


instituição financeira de natureza bancária. O art. 3º da Lei 7357/85 prevê que
o cheque é emitido contra banco ou instituição financeira que lhe seja
equiparada, sob pena de não valer como cheque.

167
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(ii) Existência de fundos disponíveis e estar autorizado para emitir cheque: o art. 4º
da Lei 7357/85 estabelece que devem estar configurados esses requisitos para
que o banco esteja obrigado a efetuar o pagamento do cheque. Além disso, o
contrato irá estabelecer a forma de emissão de cheque.

 LEGISLAÇÃO:

Assim como a letra de câmbio, o cheque pode ser usado em negócios internacionais.

Em razão disso, houve um esforço no sentido de buscar a uniformização internacional


da legislação sobre o cheque.

Em 1931, realizou-se a Convenção de Genebra que resultou na edição de três tratados:

 Lei Uniforme sobre o cheque;


 Lei destinada a regular conflitos de leis em matérias de cheque;
 Lei destinada ao imposto de leis

Em virtude do elevado número de reservas feitos à Lei Uniforme, foi editada a lei
7357/85 que disciplina o cheque.

 REQUISITOS DO CHEQUE:

No contexto do rigor formal, para se considerado como cheque devem ser atendidos
os requisitos do art. 1º da Lei 7357/85, que seguem:

(I) Expressão “cheque”: inserta no próprio corpo do texto, não bastando estar
fora, mesmo que em destaque.

(II) Ordem incondicional de pagamento puro e simples: sem qualquer condição,


de quantia determinada.

(III) Identificação do banco sacado: não existe cheque emitido contra sacado
não banqueiro.

(IV) Local de pagamento: não constando, será o do banco sacado. É requisito


não essencial.

(V) Data de emissão: é fundamental para o prazo de apresentação, como


também a legitimidade da procuração e capacidade do agente.

(VI) Assinatura do sacador e sua identificação pelo RG, CPF, título de eleitor ou
carteira profissional: pode haver emissão por mandatário com poderes
especiais → o analfabeto pode emitir cheque através de mandatário
(instrumento público com poderes especiais), não sendo possível que a

168
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

assinatura se dê a rogo. Admite-se o uso de chancela mecânica ou


equivalente (diferentemente da nota promissória e da letra de câmbio).

(VII) Local de emissão: não constando entende-se como emitido no local


designado ao lado do nome do sacador. Serve para determinar o foro de
competência e o prazo de apresentação. É requisito não essencial.

Art. 1 da Lei 7357/85: “O cheque contêm:


I. a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em
que este é redigido;
II. a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III. o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV. a indicação do lugar de pagamento;”

O art. 2º da Lei 7357/85 determina quais requisitos são essenciais ou não e na sua falta
como poderão ser supridos, como segue:

“Art 2: O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente
não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:
I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado
junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é pagável no
primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua
emissão;
II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado
junto ao nome do emitente.
V. a indicação da data e do lugar de emissão; [sendo Ordem de Pagamento à Vista, os
Prazos de Apresentação e de Prescrição do Cheque possuem a Data de Emissão do
Título como Marco Inicial.]
VI. a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.
Parágrafo Único: A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes
especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela
mecânica ou processo equivalente.

Como o cheque é de modelo vinculado, a sua emissão somente pode ser feita em
documento padronizado, fornecido pelo banco ao correntista e não gera efeitos
cambiais o documento que não observe o padrão legal.

É possível cheque ao portador?

A identificação do beneficiário não é requisito essencial. O cheque pode ser ao


portador até R$100,00. Só que esse limite de R$100,00 não se encontra na LC (art. 8º,
III, da LC), mas no art. 69 da Lei 9.069/95, que exige que acima de R$100,00, o cheque
seja nominal.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Até R$100 reais é possível não identificar o beneficiário do cheque, conforme se


depreende do REsp 908251.

REsp 908251/SC: “A interpretação teleológica do art. 69 da Lei 9069/95 indica que


tal dispositivo legal foi editado à época dos denominado “Plano Collor”, tendo por
escopo tão-somente possibilitar a identificação, para efeitos fiscais e tributários,
dos beneficiários de cheques emitidos com valor superior a R$100,00. A
inexistência de indicação de quem é o beneficiário do cheque não obsta sua
cobrança frente ao emitente, pela via judicial, desde que haja plena identificação
do favorecido. Recurso especial a que se nega provimento.”

Questão de Concurso) 😊😊😊


O cheque é um título causal, portanto, somente pode ser válido se houver motivos para
sua emissão. E-R-R-A-D-O!!!!! O cheque não é um título causal, é um título abstrato,
podendo ser criado a partir de qualquer negócio jurídico subjacente.

Questão de Concurso) 😊😊😊


O cheque em princípio admite:

(a) Aposição de visto pelo sacado, aval e endosso.


(b) Aceite, aval e endosso.
(c) Aceite, aposição de visto pelo sacado e endosso.
(d) Aceite, aposição de visto pelo sacado e aval.

Reposta: A. Isso porque não existe aceite em cheque.

 ASSINATURA FALSA EM CHEQUE:

Se a assinatura do emitente for falsa, o sacado responde pelo pagamento do cheque?

A Lei do Cheque é omissa em dizer se o estabelecimento bancário responde por ter


pago um cheque em que a assinatura era falsa. A Lei do Cheque somente prevê o
seguinte:

Art. 41 da Lei do Cheque: “O sacado pode pedir explicações ou garantia para pagar
cheque mutilado, rasgado ou partido, ou que contenha borrões, emendas e dizeres
que não pareçam formalmente normais.”

Tal dispositivo prevê que o estabelecimento bancário tem que tomar providências de
cautela ao pagar um cheque, ou seja, deve atuar diligentemente. Trata-se de um
poder-dever de cautela de exigir explicações se houver indício de algum vício na
assinatura antes de proceder ao pagamento. Ademais, registre-se que o cliente paga
pelo serviço de compensação do cheque, havendo com o banco uma relação
consumerista.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Portanto, se ele fizer um pagamento sem que tenha tomado as cautelas necessárias,
ele responde pela má prestação do serviço.

Na verdade, tal responsabilidade é objetiva, em razão do verbete sumular nº 28 do


STF:

Súmula 28 STF: “O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de


cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do
correntista.”

Pode o banco, porém, comprovar que houve culpa concorrente do emitente, de forma
a reduzir sua responsabilidade (ex. perdeu o talão e não sustou o cheque), ou culpa
exclusiva do emitente, de forma a excluir sua responsabilidade. Portanto, não se trata
de risco integral.

 MODALIDADES DE CHEQUE:

Entre as principais modalidades de cheque existentes no nosso ordenamento jurídico


destacam-se:

(i) CHEQUE VISADO: está previsto no art. 7 da Lei 7357/85. Ocorre quando o banco
sacado a pedido do emitente pode declarar na cártula a existência de fundos
disponíveis suficientes para o pagamento do título. Além disso, o sacado irá
separar o valor do título na conta (é mantido na conta, mas está indisponível
para uso), garantindo uma maior segurança a quem for recebê-lo.

Art. 7 da Lei do Cheque: “Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador


legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não
endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por
quantia igual à indicada no título.”

Diferencia-se do aceite porque não vincula o banco, que responde apenas se não
reservar fundos decorrentes durante o prazo de apresentação, mas a obrigação
não é cambial (deve ser demandado em ação declaratória, não podendo ser
protestado ou executado).

Quando o banco visa o cheque está assumindo uma responsabilidade com o


correntista e s então cumprir, será o correntista ué tem o direito de ser
indenizado pelo banco em virtude de uma relação contratual. O beneficiário não
tem qualquer relação com o banco, e quando esse descumpre o contrato pratica
um ato ilícito, surgindo contra o beneficiário um direito de indenização por
obrigação extracontratual. Aplicando-se o CDC inclusive para o beneficiário.

O efeito do cheque visado encontra-se no §1º do art. 7º da LC. O sacado, ao dar


o visto, não irá pagar o cheque, mas irá debitar da conta do emitente o valor do
título e deixá-lo reservado/bloqueado durante o prazo de apresentação para

171
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

pagamento posterior do beneficiário. Se o cheque não for apresentado, a quantia


volta à conta do emitente (e o portador poderá se utilizar as demais formas para
satisfação de seu crédito).

Art. 7, § 1: “A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente


obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a
reservá-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação,
sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados.”

Se o cheque foi visado e o sacado não faz o pagamento invocando a inexistência


de fundos, o sacado responderá, pois ele atestou a reserva de parte dos fundos
para pagamento do título.

(ii) CHEQUE BANCÁRIO ou ADMINISTRATIVO: encontra previsão no art. 9º, iii, da lei
7357/85. Nesse caso, o sacador e sacado são a mesma pessoa. Ele é emitido pelo
banco sacado contra um de seus estabelecimentos (sacador e sacado se
identificam).

É aquele em que o banco é ao mesmo tempo sacador e sacado, tendo que ser
necessariamente nominal. Portanto, é o banco na qualidade de emitente que se
obriga pelo título. Não há qualquer responsabilidade cambial do correntista.
Difere do cheque comum em que o sacador é o correntista e o sacado é o banco.

É o único caso em que o banco é devedor. Somente pode ser emitido


nominativamente.

O info 72 do STJ autoriza a sustação do cheque administrativo.

REsp 16.713-MS: “A circunstância de tratar-se de cheque administrativo não


desautoriza o beneficiário endossante de solicitar, nos termos do art. 36 da Lei
7357, a sustação de seu pagamento. Prosseguindo o julgamento, a Turma conheceu
do recurso especial e deu-lhe provimento.”

(iii) CHEQUE VIAGEM OU CHEQUE VIAJANTE (TRAVELLERS’ CHECK): traz consigo uma
operação de cambio, consorcia o trabalho de caixa do banco com o caixa de
operação de câmbio. Assim, emprega maior segurança aos viajantes, que não
precisam transportar dinheiro (pode ou não ser vinculado a um contrato de
câmbio).

Com o cartão de crédito diminuiu o seu uso. Contudo, com o aumento do IOF
voltou a ser usado.

(iv) CHEQUE MARCADO: essa figura não é mais aceita no direito brasileiro. Nesse caso,
era marcada a data de apresentação do cheque.

172
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(v) CHEQUE CRUZADO: encontra previsão nos arts. 44 e 45 da lei 7357/85. Fica
caracterizado pela presença de dois traços transversais no anverso do título.
Como consequência, o cheque cruzado somente pode ser pago mediante depósito
em conta, não pode receber o dinheiro no caixa.

Este cheque tem uma restrição ao pagamento.

O cheque não cruzado pode ser apresentado no estabelecimento sacado para


recebimento do dinheiro (vulgo “na boca do caixa”) (art. 33) ou à câmara de
compensação (art. 34). A partir do momento em que o cheque é cruzado, ele só
pode ser pago mediante compensação, ou seja, crédito em conta. Portanto, sua
liquidez é diferida, pois é necessário aguardar a compensação e o depósito do
valor nele constante (liberação do valor).

Esse cruzamento pode se dar de duas formas:

 Cruzamento em branco ou geral: nesse caso o cheque pode ser


depositado em conta em qualquer banco do pais, só podendo ser pago a
um cliente do sacado mediante crédito em conta; e

 Cruzamento em preto ou especial: designa em seu interior um


determinado banco e, por isso, só poderá ser pago ao banco cujo nome
conste do cruzamento ou, sendo esse o sacado, a um cliente seu,
mediante crédito em conta.

E se o credor não for correntista do banco sacado, deverá liquidar o


título depositando-o no banco que possua conta – visa possibilitar a
identificação da pessoa em favor de quem o título foi liquidado.

O cruzamento geral pode ser convertido em especial, mas a recíproca não pe


verdadeira, conforme art. 44, pars. 2 e 3.

(vi) CHEQUE PARA SER CREDITADO EM CONTA: esta previsto no art. 46 da Lei de
Cheques.

O cheque para ser creditado em conta também não tem liquidez imediata (não
é pago em dinheiro), pois só é pago mediante compensação. Para assim ser
considerado, deve o emitente ou portador inserir a expressão “para ser creditado
em conta” no anverso do título.

A finalidade desse cheque é indicar o banco, a agência e a conta específica em


que será compensado (é especialíssimo). Portanto, não é simplesmente um
cruzamento especial (qualquer conta de um banco específico). Normalmente os
cheques já têm um espaço no verso para colocar os dados da conta em que será
depositado.

173
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

É bastante similar ao cheque cruzado. Assim, não poderá ser pago em dinheiro
diretamente ao portador, devendo sua liquidação ser feita por lançamento
contábil. Emitido de forma nominativa, prescinde de endosso quando depositado
em conta corrente do favorecido – visa possibilitar a identificação da pessoa em
favor de quem o título foi liquidado. Não havendo fundos, o cheque poderá ser
cobrado diretamente de qualquer dos devedores, inclusive do sacador.

Art. 46 da Lei do Cheque: “O emitente ou o portador podem proibir que o cheque


seja pago em dinheiro mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da
cláusula ‘’para ser creditado em conta’’, ou outra equivalente. Nesse caso, o
sacado só pode proceder a lançamento contábil (crédito em conta, transferência
ou compensação), que vale como pagamento. O depósito do cheque em conta de
seu beneficiário dispensa o respectivo endosso.”

(vii) CHEQUE POSTAL: não é possível enviar dinheiro pelo correio. Trata-se de um
instrumento comercial financeiro.

(viii) CHEQUE FISCAL: está em desuso e se refere ao cheque utilizado pela instituição
pública para restituição com o pagamento de imposto. Hoje em dia é feito por
meio de depósito.

(ix) CHEQUE PRESCRITO: prescreve em seis meses contados da expiração do prazo de


apresentação (desconsidera-se eventual prorrogação por cair em dia não útil). O
cheque prescrito não pode ser pago pelo banco e tampouco serve como título
executivo (art. 59 da Lei 7357/85).

Com relação a esse, é interessante mencionar a posição isolada de Rubens


Requião que diz que seu pagamento deve ser efetuado se houver fundos.

No Enunciado de nº 40, entendeu-se que não se aplica a preclusão consumativa,


ou seja, conta-se o prazo do final do período para apresentação, mesmo que o
cheque tenha sido apresentado antes.

(x) CHEQUE EM CONTA CONJUNTA: qualquer dos correntistas pode emitir cheques
isoladamente e só o emitente pode ser responsabilizado pelo pagamento (STJ).

A conta conjunta bancária é um contrato celebrado entre a instituição financeira


e duas ou mais pessoas, em que se estabelece que a movimentação dos recursos
da conta poderá ser efetuada pelas duas pessoas, cumulativa (conjuntiva) ou
alternativamente (disjuntivamente).

174
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Se uma pessoa assinou o cheque e ele foi devolvido, podem-se executar TODOS
os correntistas daquela conta, ao fundamento de que a conta é conjunta e
que, portanto, são dois obrigados cambiários?

Não, pois a conta conjunta não é um cheque, mas um contrato, razão pela qual
não há falar em solidariedade cambiária.

A solidariedade cambiária só existe entre aqueles que apuseram sua assinatura


no título em razão do princípio da literalidade.

Não pode a execução ser promovida contra aquele que não assinou. Se há alguma
solidariedade entre os contratantes, ela não é cambiária, mas obrigacional (os
fundos respondem solidariamente em face do banco).

O cheque pós-datado é cheque. Se for apresentado ao banco antes da data


indicada como sendo a de sua emissão, ele presumidamente deverá ser pago no
dia em que for apresentado.

 INEXISTÊNCIA DE ACEITE:

O art. 6º da Lei 7357/85 estabelece que não se admite aceite no cheque, considerando-
se não escrita qualquer declaração com esse sentido.

Embora o cheque também seja uma ordem de pagamento como a letra de câmbio, no
qual constam o emitente, o sacado e normalmente o beneficiário, não há que se cogitar
de assunção de responsabilidade pelo sacado.

O sacado (banco) é apenas alguém que presta serviços ao emitente, não assumindo,
enquanto sacado, jamais a condição de devedor do cheque.

 ENDOSSO:

O cheque é à ordem ou não à ordem, exigindo-se para ser “não à ordem” cláusula
expressa. Se for à ordem, transmite-se via endosso. Se for não à ordem, transmite-se
via cessão.

Embora não admita a figura do aceite, o cheque admite o endosso. Contudo, o banco
sacado não poderá nunca figurar como endossante do cheque.

O endosso do sacado (banco) é nulo, conforme art. 18, §1º, da Lei do Cheque. Portanto,
o banco não pode ser aceitante, nem endossante.

O sacado não pode ser endossante, mas pode ser endossatário. O banco pode receber
um cheque por endosso. O endosso ao sacado é válido, sendo denominado de endosso-
quitação, uma vez que o banco não poderá endossá-lo novamente.

175
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

A regra será a circulação mediante endosso, pois título é criado com a cláusula
cambiária à ordem. Entretanto, é possível inserir a cláusula não à ordem e, neste caso,
a circulação será mediante cessão de crédito.

O cheque possui implícita a cláusula à ordem, podendo circular por endosso ainda que
tal cláusula não conste expressamente no documento (art. 17 da Lei 7357/85). Para
impedir o endosso é necessária que haja expressa a cláusula “não endossável” e, nesse
caso, se o cheque for endossado, o apositor não se responsabilizará pelo pagamento
do cheque com relação aos endossos posteriores.

Já pela cláusula “sem garantia”, o endossante não garante o pagamento do título.

No caso do endosso póstumo ou tardio (realizado após o prazo para apresentação)


produz efeitos de cessão civil de crédito (art. 27 da Lei do Cheque).

A circulação do cheque segue a disciplina da letra de câmbio, com algumas


especificidades, como segue:

 Não admite endosso-caução (é pagamento à vista);


 Endosso-quitação ou endosso-recolhimento é aquele feito ao sacado e esse
é considerado nulo, valendo como quitação, exceto se de um
estabelecimento para pagamento em outro do mesmo banco. Nesse caso, o
beneficiário deverá assinar o título do verso, endossando-o ao banco. Tal
endosso, contudo, não visa a transferir o crédito, mas essencialmente provar
que o cheque foi pago;
 O endosso após o prazo para apresentação é tardio, tendo efeitos de cessão
civil de crédito;
 O aval em branco favorece o emitente/sacador.

Por fim, é interessante mencionar que não há mais limite para número endossos no
cheque.

 AVAL:

Além do endosso, o cheque também admite aval (art. 29 da Lei 7357), entendido como
o ato pelo qual alguém assume a obrigação de pagar, total ou parcialmente o título
nas mesmas condições que um devedor desse título (garantia pessoal). O aval deverá
estar escrito no próprio título, como também será exigida a outorga conjugal, salvo se
o regime de bens for o da separação absoluta.

Uma vez dado o aval no cheque, o avalista assume a obrigação de pagar o título na
mesma forma que um devedor desse título (avalizado), isto é, poderá ser um devedor
principal, se o avalizado for devedor principal, ou um devedor indireto, se o avalizado
for um devedor indireto.

176
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Na ausência de indicação (aval em branco), presume­se que o avalizado é o emitente


do cheque. Independentemente do avalizado, a obrigação assumida pelo avalista é
solidária, autônoma e não personalíssima, como na letra de câmbio.

Se tivermos pluralidade de avais em branco eles serão considerados simultâneos


(Súmula 189 do STF).

O art. 31 trata da autonomia do aval, ou seja, o avalista se obriga da mesma maneira


que o avalizado.

O aval dado aos títulos de crédito nominados prescinde de outorga uxória ou marital,
na forma do Inf. 604 do STJ.

A disciplina do tema é praticamente idêntica àquela das letras de cambio. A única


peculiaridade é a impossibilidade de o sacado ser avalista (Lei no 7.357/85 – art. 29),
porquanto, em tal situação, ele se tornaria devedor do cheque, o que se quer evitar
em tal título.

É admissível ao aval parcial no cheque. A diferença é que o sacado pode ser avalista
na letra de câmbio, mas não pode ser avalista no cheque (art. 29).

 FORMAS DE CIRCULAÇÃO:

Os cheques podem ser emitidos ao portador ou de maneira nominal, sendo


presumidamente à ordem conforme estabelece o art. 8º da Lei 7357/85.

(i) AO PORTADOR: não indica quem é beneficiário. O cheque até R$100,00 pode ser
ao portador.

(ii) DE MANEIRA NOMINAL: indica quem é o beneficiário. O cheque de valor superior


a R$100,00 deve adotar necessariamente a forma nominativa.

Assim, temos que o cheque pode circular por endosso (cheque à ordem), por cessão de
crédito (cheque não à ordem) ou ao portador (mediante tradição ou mediante endosso
em branco).

 CHEQUE PÓS-DATADO:

O cheque é ordem de pagamento à vista e, por isso, deve ser desprezada qualquer
espécie de “pós-datação”. Contudo, a pós-datação pode configurar uma convenção
entre o beneficiário e sacador e sua apresentação antes do prazo pode gerar a
responsabilização do beneficiário.

O cheque pós-datado é confundido com o cheque pré-datado. O pré-datado, na


verdade, é quando se insere uma data anterior que pode configurar estelionato,
quando o cheque já está prescrito.

177
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Não deixar de ler os seguintes artigos da Lei de Cheque:

 Cláusula de Juros (art. 10): considera-se não escrita a estipulação de juros


inserida no cheque;

 Aceite (art. 6): o cheque não admite aceite considerando-se não escrita
qualquer declaração com esse sentido;

 Autonomia (art. 13): as obrigações contraídas no cheque são autônomas e


independentes;

 Responsabilidade Emitente (art. 15): o emitente garante o pagamento do


cheque considerando-se não escrita a declaração pela qual se exima dessa
garantia.

Casos Concretos:

Questão 1)

XXI CONCURSO PARA INGRESSO NA MAGISTRATURA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO.


Emitido um cheque contra o Banco X, este, alegando a inexistência de provisão,
recusou o pagamento. Pode o sacador e emitente do cheque, provando ter provisão
no Banco sacado, executar o estabelecimento bancário para a cobrança do aludido
cheque, que seria um título executivo extrajudicial? Em caso negativo, como deverá
proceder o emitente sacador em relação ao Banco sacado? Fundamentar
devidamente a resposta.

Resposta:

O cheque se refere a uma ordem de pagamento à vista, sacada contra um banco, com
base em suficiente provisão de de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado
ou decorrente de abertura de crédito.

O sacado não garante o pagamento do cheque (dependente de crédito ou fundos em


conta), não tendo qualquer obrigação cambial (só responde por eventual falha no
serviço). Nesse sentido, o banco sacado pode recusar justificadamente cumprir a
ordem de pagamento, devendo o emitente responder diretamente pelo pagamento
feito ao portador. O banco somente poderá ser responsabilizado em caso de recusa
injustificada do pagamento.

Assim, se o banco sacado recusar cumprir a ordem de pagamento por qualquer motivo,
justo ou não, é o emitente quem responde diretamente pelo pagamento a ser feito ao
portador, considerando-se não escrita qualquer declaração pela qual se exima o
emitente dessa garantia (art. 15 Lei do Cheque).

178
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O Banco, no entanto, responde perante o correntista emitente se recusar


injustificadamente o pagamento do cheque, podendo até mesmo responder pelas
perdas e danos que causar por sua imprudência.

Entre o Banco sacado e o terceiro beneficiário (não sendo o correntista) não existe
relação jurídica alguma com base no cheque e entre o Banco sacado e o orrentista a
relação jurídica tem por base o contrato firmando entre as partes.

Assim, o banco nunca poderá ser executado em face do pagamento. Como


consequência, somente poderá ser acionado para pedido de indenização em caso de
recusa injustificada, caso em que o emitente possui fundos. Não sendo esse o caso,
somente o emitente do cheque poderá responder.

Se o banco errou, o emitente tem que entrar com ação de responsabilidade civil
(Sumula 388 do STJ).

EM SUMA: não poderá o sacador/emitente executar o banco com base no não


pagamento do cheque. O sacador/emitente deverá ajuizar ação indenizatória em face
do banco, invocando o descumprimento do contrato firmando por ambos.

Questão 2)

MARIDO e MULHER, casados pelo regime da comunhão universal de bens, são


titulares de conta conjunta em estabelecimento bancário. Emitido um cheque pelo
MARIDO, sem suficiente provisão de fundos, pode o credor ajuizar execução em face
do MARIDO E DA MULHER, sob a alegação de responsabilidade solidária, com base
no art. 51, da Lei nº 7.357/85? Analise a questão sob todos os aspectos.

Resposta:

Segundo a jurisprudência do STJ (INFO 428), em caso de conta conjunta, só responderá


pelo cheque sem fundos quem o emitiu. Assim, somente o emitente do cheque é que
deve ser protestado e executado. Há solidariedade ativa (movimentação da conta),
mas não há solidariedade passiva.

Dessa forma, somente o marido deverá responder pela emissão do cheque sem fundo,
não podendo ser ajuizada execução em face da mulher.

179
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 12 – Prof. Juan Vasquez


2/11/18

EMENTA:  CHEQUE II.


 Apresentação.
 Pagamento.
 Revogação (contraordem)
 Sustação (oposição).
 Protesto.
 Ação cambial.
 Ação de locupletamento sem causa.
 Ação causal.
 Ação monitória.

 APRESENTAÇÃO:

As declarações cambiárias (emissão, endosso e aval) firmadas no cheque tornam os


seus signatários, em regra, devedores da obrigação ali consignada. Por se tratar de
uma ordem de pagamento à vista, o cheque será exigível e poderá ser pago a partir do
momento em que for apresentado ao sacado, ainda que nele esteja consignada uma
data futura.

Com a apresentação do cheque, será possível que o sacado (banco) saiba a quem
deverá efetuar o pagamento, já que até o momento não participou da relação
cambiária (na criação do cheque somente há atuação do emitente e beneficiário).

Sobre o tema destaca-se a Súmula 370 do STJ:

Súmula 370 do STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque


pré-datado.

Qual o prazo para apresentação do cheque?

O art. 33 da Lei 7357/85 traz o seguinte:

Art. 33 da Lei 7357: “O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do
dia da emissão, no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver
de ser pago; e de 60 (sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no
exterior.
Parágrafo único: Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários
diferentes, considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do
lugar de pagamento.”

180
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Assim, o prazo de apresentação se diferencia se ocorrer na mesma cidade em que foi


emitido.

Mesma praça significa que o local de emissão é o mesmo do estabelecimento sacado.


Trata-se de critério formal, não importando o efetivo local de emissão, mas o
constante do título.

(I) CHEQUE DA MESMA PRAÇA: 30 dias da emissão.

(II) CHEQUE DE PRAÇA DIVERSA: 60 dias da emissão.

Se o dia ad quem cair em dia não útil, o prazo prorroga-se para o dia útil seguinte.
Tratando-se de cheque pós-datado (com data futura no local da data de emissão)
considera-se a data constante do cheque (há prorrogação da data de apresentação).

Em que consiste a reapresentação do cheque?

Em regra, somente se exige uma única apresentação do cheque. Contudo, nem sempre
o sacado efetuará o pagamento do cheque nessa primeira apresentação, como, por
exemplo, no caso de ausência de fundos disponíveis.

Em razão disso, é facultada uma segunda apresentação do cheque, a qual poderá ser
feita após dois dias úteis da primeira apresentação. Caso perdure a insuficiência de
fundos, o banco deverá inscrever o nome do cliente no Cadastro de Emitentes de
Cheques Sem Fundo (CCF), sendo-lhe vedado fornecer a esse talonários enquanto seu
nome estiver inscrito nesse cadastro.

Quando o cheque se referir a uma conta conjunta, somente o nome do emitente do


cheque será incluído no referido cadastro. Em todo caso, é facultada à instituição
financeira a abertura, manutenção ou encerramento de depósitos à vista, cujo titular
figure ou tenha figurado no CCF.

Subsiste a obrigação de pagamento em caso de apresentação de cheque fora do


prazo?

No caso apresentação do cheque após o decurso do prazo de apresentação, ainda


subsistirá a obrigação de pagamento, caso haja fundos, desde que a ação cambial ainda
não esteja prescrita (art. 35, § ún, da Lei 7357/85), ou seja, dentro dos seis meses
posteriores ao término do prazo para apresentação (art. 59 da Lei 7357/85).

Para o sacado (banco), o prazo de apresentação não tem maior importância, isto é,
ele é obrigado a pagar o cheque regular caso a execução ainda não esteja prescrita,
independentemente do decurso ou não do prazo de apresentação.

181
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

A apresentação a destempo, a princípio, não impede a execução do cheque, porém,


perdido o prazo de apresentação, a ação de execução somente poderá ser ajuizada
contra o emitente e seus eventuais avalistas, ou seja, contra os devedores principais
do cheque (S. 600 do STF).

Súmula 600 STF: “Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas,
ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que
não prescrita a ação cambiária.”

Os devedores indiretos (endossantes e respectivos avalistas) ficam desonerados, uma


vez que para a cobrança deles é essencial o protesto tempestivo e, uma vez perdido o
prazo de apresentação, também estará perdido o prazo do protesto. Além disso, o art.
47, II da Lei 7357/85 prevê especificamente que é necessária a apresentação
tempestiva para a cobrança dos devedores indiretos do cheque.

Embora, a princípio, o devedor principal se mantenha responsável pelo pagamento do


cheque, em uma hipótese o portador do cheque perde o direito de executar inclusive
o emitente. Caso existam fundos disponíveis no período para a apresentação do cheque
e tais fundos deixaram de existir por motivo não imputável ao emitente, o tomador
perde o direito de cobrá­lo (Lei no 7.357/85 – art. 47, § 3o).

O ônus da prova de tal situação é do próprio emitente. Cabe a ele demonstrar que
tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e que, após decorrido esse
prazo, deixou de tê­los por motivos que não lhe sejam imputáveis. Só com a prova
conjunta desses fatos é que o emitente fica exonerado da execução, mas não da
obrigação de pagar, que poderá ser exigida por meio da ação de locupletamento ou da
ação causal.

Por fim, é interessante mencionar que é cabível indenização por danos morais do
correntista contra a instituição financeira quando o cheque apresentado fora do prazo
legal e já prescrito é devolvido sob o argumento de insuficiência de fundos (STJ, REsp
1.297.353/SP).

REsp 1297353: “DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. TÍTULOS DE CRÉDITO. CHEQUE.


PRAZO DE APRESENTAÇÃO. DEVOLUÇÃO DE CHEQUE PRESCRITO POR FALTA DE
FUNDOS. MOTIVO INDEVIDO. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. DANO
MORAL CONFIGURADO. 1.- O prazo estabelecido para a apresentação do cheque
(30 dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago e de 60 dias, quando
emitido em outra praça) serve, entre outras coisas, como limite temporal da
obrigação que o emitente tem de manter provisão de fundos em conta bancária,
suficiente para a compensação do título. 2.- Ultrapassado o prazo de
apresentação, não se justifica a devolução do cheque pelos "motivos 11 e 12" do
Manual Operacional da COMPE. Isso depõe contra a honra do sacador, na medida
em que ele passa por inadimplente quando, na realidade, não já que não tinha
mais a obrigação de manter saldo em conta. 3.- Tal conclusão ainda mais se
reforça quando, além do prazo de apresentação, também transcorreu o prazo de

182
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

prescrição, hipótese em que o próprio Manual determinada a devolução por


motivo diverso ("motivo 44"). 4.- No caso concreto, a devolução por motivo
indevido ganhou publicidade com a inclusão do nome do consumidor no Cadastro
de Emitentes de Cheques sem Fundo - CCF, gerando direito à indenização por
danos morais. 5.- Recurso Especial provido.”

 PAGAMENTO DO CHEQUE:

Uma vez apresentado o cheque ao sacado, a obrigação ali consignada se torna exigível.
Assim, estando regular o título e existindo provisão de fundos, o sacado deverá efetuar
seu pagamento.

Para efetuar o pagamento, compete ao banco analisar a regularidade do título, a


provisão de fundos, a ausência de impedimento de pagamento e a legitimidade de
quem o apresenta.

No REsp 989076 o STJ reconheceu a responsabilidade do Banco por não verificar a


cadeia de endossos afirmando que: “ao teor do art. 39 da Lei 7537, cabe tanto ao
banco sacado quanto ao banco apresentante do cheque à câmara de compensação a
verificação da série de encossos.

Na forma do art. 37 da Lei 7357, a morte ou a incapacidade superveniente não


invalidam os efeitos do cheque.

(i) Pagamento Parcial:

Caso o emitente possua fundos no sacado, mas estes não sejam suficientes para cobrir
o valor total do cheque, o sacado poderá efetuar o pagamento parcial do cheque.
Trata-se de uma faculdade do banco, em que o banco devolverá o título ao beneficiário
com a menção expressa no document de um pagamento parcial.

O beneficiário não pode recusar o pagamento parcial, caso o banco queira fazê-lo (não
ocorre na prática), mas consta da lei (art. 38, parágrafo único).

(ii) Apresentação Simultânea de Vários Cheques:

Sendo dois cheques apresentados no mesmo dia, e não havendo fundos para pagamento
de ambos, deve ser pago o título de emissão mais antiga ou, sendo de mesma data, o
cheque com numeração inferior – mais antifgo (presunção de antiguidade).

Como fica a responsabilidade do banco no caso do cheque?

A instituição financeira não tem obrigação de verificar a autenticidade das assinaturas.

183
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Na forma do art. 39 da Lei, o sacado que paga cheque “à ordem” é obrigado a verificar
a regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos
endossantes.

Art. 39 da Lei 7357: “O sacado que paga cheque "à ordem" é obrigado a verificar a
regularidade da série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos
endossantes. A mesma obrigação incumbe ao banco apresentante do cheque a
câmara de compensação.”

ArGR no REsp 1181.309/SP: “AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


CHEQUE. ENDOSSO. REGULARIDADE. RESPONSABILIDADE DO BANCO. PRECEDENTES.
DECISÃO AGRAVADA. MANUTENÇÃO. I. A eg. Segunda Seção desta Corte tem
entendimento no sentido de que o estabelecimento bancário não está obrigado a
verificar a autenticidade das assinaturas dos endossos no verso do cheque, mas,
cumpre-lhe aferir a sua regularidade formal, incluindo-se a legitimidade daquele
que endossa. II. Agravo Regimental improvido.”

(iii) Pagamento de cheque falso:

Entende­se que a responsabilidade pelo cheque falso, falsificado ou objeto de


alterações é do banco sacado, por se tratar de risco inerente à sua atividade (Súmula
28 – STF).

Resguarda­se, contudo, ao sacado o direito de reaver o que pagou nos casos de dolo
ou culpa do correntista, do endossante ou do beneficiário.

Art. 39, parágrafo único: “Ressalvada a responsabilidade do apresentante, no caso


da parte final deste artigo, o banco sacado responde pelo pagamento do cheque
falso, falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do endossante
ou do beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte, reaver a que
pagou.”

Súmula 28 STF: “O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de


cheque falso, ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do
correntista.”

(iv) Foro Competente para a Execução de Cheque:

O local de pagamento ou melhor o foro competente para a execução de um cheque é


o local em que o emitente tem a sua conta corrente.

AgInt no Resp 16.50990/MG: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO


DE INCOMPETÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. CHEQUE
NÃO PAGO. FORO COMPETENTE. LOCAL DE PAGAMENTO DO TÍTULO. 1. A ausência
de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados impede o
conhecimento do recurso especial. 2. Em se tratando de cheque, o local de

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

pagamento (foro competente para a execução) é aquele onde está sediada a


instituição financeira sacada, ou seja, o lugar onde se situa a agência bancária em
que o emitente mantém sua conta corrente. Precedentes. 3. Agravo interno não
provido.”

Fica o sacado obrigado a pagar um cheque mutilado que venha a ser apresentado?

Na forma do art. 41 da Lei do Cheque, o sacado pode pedir explicações ou garantia


para pagar um cheque mutilado, rasgado ou partido, ou que contenha borrões,
emendas e dizerem que não pareçam formalmente normais.

É possível a emissão de cheque de moeda estrangeira?

Na forma do art. 42 da Lei de Cheque, o cheque em moeda estrangeira é pago, no


prazo para apresentação, em moeda nacional ao câmbio do dia do pagamento.

 REVOGAÇÃO DO CHEQUE (CONTRAORDEM):

O art. 1º, II, da LC, diz que o cheque contém uma ordem incondicional de pagamento
ao sacado – imperativo afirmativo do verbo pagar (“pague por este cheque a quantia
de...”). No entanto, essa ordem é relativamente incondicional, pois existem algumas
situações em que tal ordem não será honrada: falta de fundos disponíveis, revogação
da ordem pelo emitente etc.

A ordem de pagamento contida no cheque admite revogação pelo seu emitente (ato
privativo dele). É denominada contra-ordem, está prevista no art. 36, e tem caráter
definitivo (não admite arrependimento). O cheque, portanto, não poderá ser
apresentado a pagamento. Se for apresentado, tem que ser devolvido.

O cheque sem fundos, diferentemente, pode ser reapresentado (o BACEN admite uma
segunda apresentação).

A contraordem não interfere na cobrança do cheque, não retira sua executividade, não
interfere nos prazos prescricionais, não o torna um documento comum de dívida
(quirógrafo). O cheque com contraordem continua sendo título executivo extrajudicial,
podendo ser executado no prazo prescricional legal.

O banco é obrigado a acatar a contra-ordem, pois, de acordo com o art. 35 da Lei do


Cheque, não se exige relevante razão de direito. Ele não pode pedir explicações ao
emitente quanto às razões por ele apostas para veicular a contra-ordem, pois o
emitente está no exercício de seu direito potestativo.

A contraordem, que é exclusiva do emitente, só produz efeitos após o prazo de


apresentação de cheque (30 ou 60 dias a contar da emissão). Ela até pode ser feita

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

dentro do prazo de apresentação, mas só produzirá efeitos depois deste. (art. 35,
p.ú. c/c art. 33, da LC).

Assim, para que o cheque não seja pago anteriormente, se apresentado antes do fim
do prazo, basta que se proceda primeiramente à sustação do cheque (sustação durante
o prazo de apresentação + contra-ordem findo o prazo de apresentação).

Não sendo dada contraordem, o sacado pode pagar o cheque somente até que ocorra
o prazo prescricional (art. 35, p.ú, parte final). A contrário senso, o banco não pode
pagar cheque prescrito. Portanto, este é o fundamento para que os bancos, na
qualidade de sacados, devolvam cheques prescritos.

 SUSTAÇÃO DO CHEQUE (OPOSIÇÃO):

É a suspensão do pagamento do cheque pelo emitente ou pelo portador legitimado. A


sustação pode ser feita dentro ou fora do prazo de apresentação que seus efeitos
sempre serão imediatos. É temporária e pode ser revogada a qualquer momento até a
prescrição.

Art. 36 da Lei 7357: “Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o


portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado,
por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito.
§ 1º A oposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem
reciprocamente.
§ 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.”

Atenção! A sustação não pode ser concomitante nem posterior à contraordem. Ela
sempre será anterior, pois vige durante o prazo de apresentação, enquanto a contra-
ordem só produz efeitos depois de findo o referido prazo.

Embora a lei diga que a oposição ou sustação tenha que ser fundada em relevante
razão de direito, dando a impressão de que não seria um direito potestativo, mas
subjetivo, ao qual o banco poderia se opor, isso não é verdade. Trata-se de um direito
potestativo do emitente ou portador e não cabe ao sacado julgar da relevância da
razão invocada pelo oponente, conforme art. 36, §2º, da LC.

Tanto a sustação como a contra-ordem têm que ser feitas por escrito, em razão da
exigência dos arts. 35 (“por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial”) e 36
(“por escrito”). Tal exigência é uma garantia para o banco, pois eventual
responsabilidade pela sustação e contra-ordem fraudulentas recairá sobre aquele que
a solicitou.

Assim, diferencia-se a sustação da contraordem da seguinte forma:

(I) REVOGAÇÃO: consiste na contraordem de pagamento que gera efeitos após


o prazo de apresentação e é irreversível. Essa limita a eficácia do cheque

186
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

após o prazo de apresentação. É ato exclusivo do emitente do título, para


fins de controle bancário, por aviso epistolar ou notificação judicial ou
extrajudicial. Deve expor as razões da contraordem de pagamento. Art. 35.

(II) SUSTAÇÃO/OPOSIÇÃO: consiste na sustação que produz efeitos a partir da


cientificação do banco sacado. É ato do emitente ou do portador legitimado
do cheque, em aviso por escrito, fundado em relevante razão de direito
(extravio ou roubo do título, falência dos credores, etc).

REVOGAÇÃO SUSTAÇÃO
 Ordem definitiva;  Não é ordem definitiva, pode voltar
 Ocorre após o prazo de apresentação; atrás;
 É ato exclusivo do emitente.  Ocorre durante o prazo de
apresentação; e
 Ato exclusivo do emitente ou do
portador

Em ambos os casos, o cheque continua a valer como título executivo.

 PROTESTO DO CHEQUE:

Em todas as circunstâncias de devolução do cheque, o banco deverá atestar o não


pagamento por um carimbo, inclusive com a indicação do motivo de devolução.

Nos cheques o protesto é o meio solene de prova feito perante o competente cartório,
para fins e incorporar ao título a prova do não pagamento no vencimento.

O art. 47 da Lei de Cheques dispensa o protesto para executar o emitente (devedor


direto) e seu avalista, sendo exigido apenas para a execução dos endossantes e seus
avalistas, que são considerados coobrigados na relação cambiária.

O inciso ii do art. 47 permite que a declaração do banco sacado de que não pagou o
cheque supra a necessidade de protesto como meio de prova do inadimplemento do
título, permitindo a cobrança dos coobrigados independente de qualquer protesto.

Art. 47 da Lei 7357/85: “Pode o portador promover a execução do cheque:


I. contra o emitente e seu avalista;
II. contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em tempo hábil
e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado,
escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda,
por declaração escrita e datada por câmara de compensação.
§1º. Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e produz
os efeitos deste.
§2º. Os signatários respondem pelos danos causados por declarações inexatas.

187
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

§3º. O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar
a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de
execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de
apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável.
§4º. A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo,
se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado
ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência.”

O art. 48 da Lei de Cheque estabelece que o protesto deve ocorrer antes de expirado
o prazo de apresentação do cheque (30 ou 60 dias da data da emissão).

É possível que o cheque sustado seja levado a protesto pelo endossatário terceiro
de boa-fé?

Sim!!! É possível protesto de cheque por endossatário terceiro de boa-fé, após o


decurso do prazo de apresentação, porém, antes da expiração do prazo para ação
cambial, ainda que, em momento anterior o título tenha sido sustado pelo emitente
em razão do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

Atenção!! No cheque, a declaração do banco ou a declaração da câmara de


compensação substitui a necessidade de protesto para fins de cobrança dos devedores
indiretos, mas não substitui para fins de falência (art. 94, I da Lei 11.101).

Art. 94 da Lei 11.101: “Será decretada a falência do devedor que:


I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o
equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência”;

INFO 572 do STJ: “O protesto tirado contra o emitente do cheque é obrigatório


para o fim de comprovar a impontualidade injustificada do devedor no
procedimento de falência (art. 94, I da Lei 11.101) e deve ser realizado em até 6
meses contados do término do prazo de apresentação (prazo prescricional da ação
cambial).”

INFO 556 DO STJ: “É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente


depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional
relativo à ação cambial de execução.”

Imaginemos a seguinte situação: A tem um título cujo vencimento foi em 1969. A


resolve ir hoje ao tabelionato de protesto e para pedir o protesto desse título. O
tabelião pode se recusar a protestar esse título?

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O tabelião não pode se recusar a protestar esse título. Isso porque o tabelião não tem
o poder de analisar a prescrição do título (art. 9 da Lei de protesto). Essa incumbência
cabe ao juiz e não ao tabelião.

Ademais, o tabelião não poderá ser responsabilizado caso venha a realizar o protesto,
somente quem apresentou o título poderá ser responsabilizado.

É possível protestar o cheque durante o prazo de execução?

Sim. Enquanto tiver força executiva é possível o protesto, mas não para fins cambiários
e sim para fins falimentares.

É possível a cláusula sem protesto no cheque?

Sim, é possível na forma do art. 50 da Lei do Cheque.

Art. 50 da Lei do Cheque: “O emitente, o endossante e o avalista podem, pela


cláusula ‘’sem despesa’’, ‘’sem protesto’’, ou outra equivalente, lançada no título
e assinada, dispensar o portador, para promover a execução do título, do protesto
ou da declaração equivalente.
§ 1º A cláusula não dispensa o portador da apresentação do cheque no prazo
estabelecido, nem dos avisos. Incumbe a quem alega a inobservância de prazo a
prova respectiva.
§ 2º A cláusula lançada pelo emitente produz efeito em relação a todos os
obrigados; a lançada por endossante ou por avalista produz efeito somente em
relação ao que lançar.
§ 3º Se, apesar de cláusula lançada pelo emitente, o portador promove o protesto,
as despesas correm por sua conta. Por elas respondem todos os obrigados, se a
cláusula é lançada por endossante ou avalista.

Quando o EMITENTE dispensar o protesto, dispensa para todos a sua frente na cadeia,
ou seja, todos os outros poderão ser cobrados sem protesto.

Agora se foi um ENDOSSANTE quem dispensou o protesto, dispensa apenas em relação


ao endossatário, ou seja, somente o endossatário poderá ser cobrado sem protesto.

 EFEITOS DO PROTESTO:

São efeitos do protesto:

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(i) Interrupção da Prescrição: isso ocorre porque com essa prova o devedor terá
ciência inequívoca de que o credor pretende receber. Para tal efeito, é
necessário que o protesto seja realizado enquanto a prescrição não estiver
consumada, pois uma vez consumada não há mais o que interromper.

(ii) Configuração da impontualidade injustificada do devedor empresário, para fins


de requerimento de falência: devem estar atendidas as demais condições do art.
94, I, da Lei 11.101/05.

(iii) Possibilidade de cobrança dos devedores indiretos: esse ato não é privativo do
protesto, sendo suficiente o carimbo de devolução do cheque apresentado
tempestivamente.

No cheque existe uma peculiaridade, uma vez que o nome do devedor intimado no
protesto será encaminhado aos cadastros de inadimplentes, como o SPC, SERASA e
Equifax. Nesses casos, o protesto representará a prova da inadimplência de
determinada obrigação e, por isso, o nome do emitente poderá ser negativado.

 PROTESTO NO CASO DE FRAUDE, FURTO, ROUBO OU EXTRAVIO DO CHEQUE:

O protesto do cheque apenas atesta o não pagamento desse título quando ele foi
apresentado ao sacado, independentemente do motivo da sua devolução. Ao não
distinguir os motivos da devolução, o protesto pode gerar os mesmos efeitos em um
cheque não pago sem fundos e em um cheque pago por ter sido furtado.

Em virtude disso, a doutrina passou a discutir que nesses casos deve ser evitado o
protesto, devendo haver a retenção do cheque para fins de instrução de eventual ação
penal.

Dentro da mesma linha de entendimento, o STJ vem afirmando que o protesto é


indevido, ou seja, não há que se protestar o título devolvido por furto, roubo ou
extravio. Caso o credor queira realizar o protesto, tal ato representaria um abuso de
direito, gerando a obrigação de indenizar os danos causados.

Atualmente, o provimento 30/2013 do CNJ afirma que o protesto do cheque devolvido


por tais motivos é proibido, salvo quando houver endosso ou aval, caso em que será
feito o protesto, mas o emitente não sofrerá quaisquer efeitos, pois será colocado na
certidão do protesto um emitente desconhecido, elaborando­se um índice pelo
apresentante. Caso o protesto seja realizado mesmo assim, o próprio emitente pode
cancelá­lo provando ao cartório o motivo da devolução do cheque.

 RECUSA DO PROTESTO PELO TABELIÃO:

O provimento 30/2013 do CNJ, além de vedar, como regra geral, o protesto nos casos
de fraude, furto, roubo ou extravio, também tentou evitar outros abusos no protesto
do cheque.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O art. 5 do provimento autoriza o tabelião a recusar o protesto se tiver fundadas


suspeitas de que o endereço informado está incorreto, devendo, nesse caso, comunicar
a ocorrência a autoridade policial competente.

O art. 5 do mesmo provimento autoriza que o tabelião, nos Estados em que


orecolhimento dos emolumentos for diferido, que o tabelião recuse o protesto
facultativo, quando as circunstâncias de apresentação indicarem exercício abusivo do
direito, tais como cheques de valores irrisórios e cheques de datas de apresentação
muito antiga.

Em todas essas hipóteses de recusa, o titulo será devolvido ao apresentante com uma
nota justificativa, podendo haver a revisão de tal decisão pelo juiz competente.

Embora muito bem intencionado, acreditamos que o referido provimento extrapolou


os seus limites normativos, violando o texto da própria lei de protesto.

 AÇÃO CAMBIAL:

O portador pode promover a execução do cheque em face do sacador, dos endossantes


e dos avalistas.

 Em face do sacador e de seu avalista (art. 47, I): pode ser feita ainda que o
cheque tenha sido apresentado após o fim do prazo de apresentação e
independe de protesto.

 Em relação aos coobrigados (art. 47, II): nesse caso, exige-se:

(i) que o cheque tenha sido apresentado em tempo hábil (art. 33);

(ii) prova da recusa do pagamento através de protesto ou de declaração do


sacado ou de câmara de compensação – cabe protesto de cheque,
conforme art. 6º da L. 9492/97. Contudo, este protesto não é sempre
necessário para cobrança dos coobrigados, pois ele pode ser suprido por
um comprovante do não pagamento do cheque, quais sejam as
declarações escritas e datadas do sacado ou da câmara de compensação
(art. 47, §1º). Essas declarações serão apostas no próprio cheque, em
razão do princípio da literalidade.

Qual o prazo de prescrição na ação cambial em caso de cheque?

Vejamos abaixo os prazos de prescrição no caso de ação cambial envolvendo cheque:

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 Ação direta do portador em face do sacador, endossantes ou avalistas (art. 59,


caput): prazo de 6 meses contados da expiração do prazo de apresentação,
previsto no art. 33 da LC.

 Ação regressiva de um coobrigado em face do outro (art. 59, p.ú): prazo de 6


meses contados do pagamento efetivo ou da data em que foi demandado.

 AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO OU ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA (ART. 61)

Prescrita a ação cambial executiva, pode o portador do cheque ajuizar uma demanda
de locupletamento, visando ao recebimento do valor consignado no título.

É uma ação subsidiária, ou seja, somente surge quando não é mais possível ajuizar a
ação cambial. Ela é promovida pelo portador em face do emitente ou outros obrigados
que tenham se locupletado injustamente com o não pagamento do cheque.

Ela não pode ser promovida contra qualquer signatário do cheque, mas contra aquele
que efetivamente se locupletou com o não pagamento. Na letra de câmbio, presume-
se que houve locupletamento por parte do sacador ou do aceitante.

No cheque, o autor tem que provar o enriquecimento sem causa para mover esta ação
contra qualquer outro obrigado que não seja o emitente (que é obrigado principal).

Qual o prazo de prescrição na ação de locupletamento em caso de cheque?

Ela prescreve no prazo de 2 anos contados do fim do prazo prescricional para a ação
cambial.

 AÇÃO CAUSAL ou AÇÃO DE COBRANÇA (ART. 62):

Não havendo novação, ou seja, se o cheque foi emitido pro solvendo, a emissão ou
transferência do cheque não impedem a propositura de ação causal, isto é, fundada
no negócio jurídico originário, desde que provado o não pagamento.

ATENÇÃO!!!
Se o cheque foi emitido em caráter pro soluto, houve novação e não cabe ação causal
fundada no negócio jurídico originário.

REsp 1.104.489/RS: “AÇÃO DE COBRANÇA DE CHEQUES PRESCRITOS - ART. 62 DA


LEI Nº 7.357/1985 - ACÓRDÃO QUE ENTENDEU SER NECESSÁRIA A COMPROVAÇÃO
DA ORIGEM DA DÍVIDA - DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.
INSURGÊNCIA DO DEMANDANTE. 1. Cheques que não estão sendo cobrados por
meio da ação de enriquecimento ilícito (art. 61 da Lei nº 7.357/1985) nem por

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meio de ação monitória (Enunciado nº 299 da Súmula do STJ), mas por meio da
ação de cobrança prevista no art. 62 da Lei nº 7.357/1985. 2. Na ação de cobrança
prevista no art. 62 da Lei nº 7.357/1985 - hipótese dos autos - é imprescindível a
demonstração da causa debendi, não apenas porque o cheque já perdeu sua
natureza cambial, mas porque o referido dispositivo legal é claro ao afirmar que
tal ação deve ser "fundada na relação causal". Precedentes.” 3. Tendo o tribunal
local afirmado expressamente que "o autor não logrou demonstrar o fato
constitutivo de seu direito, sequer precisando, na inicial, as circunstâncias em que
recebeu os títulos", é inegável que esta Corte não pode reexaminar o conjunto
fático-probatório dos autos para chegar a conclusão distinta. Incidência do
enunciado nº 7 da Súmula do STJ. 4. Agravo regimental desprovido.”

Qual o prazo prescricional da ação causal envolvendo cobrança de cheque?

O art. 62 não indica o procedimento nem o prazo prescricional da referida ação causal.

Em razão da causa de pedir dessa ação, fica nítido que seus limites temporais não são
aqueles da ação cambial, mas os próprios do negócio jurídico subjacente.

O prazo prescricional vai depender do tipo de negócio que deu origem ao título. Assim,
se o negócio jurídico subjacente for um contrato de prestação de serviços por
professores, o prazo prescricional será de 5 anos. Caso seja uma compra e venda, que
não possui prazo no CC, será de 10 anos (art. 205 do CC).

O termo inicial para contagem do prazo prescricional é objeto de divergência.


Contudo, boa parte da doutrina entende que vai se iniciar a partir do momento em que
é possível exigir o cumprimento da obrigação subjacente, ou seja, a partir do
vencimento do negócio jurídico que deu origem ao título.

Em que pese esse entendimento, o STJ, na Súmula 503 determinou que o termo inicial
conta a parti do primeiro dia útil seguinte ao dia da emissão do título, presumindo pela
natureza à vista do cheque, que o dia da sua emissão é o dia de vencimento do cheque.

 AÇÃO MONITÓRIA:

O cheque, embora despido de força executiva, reúne os requisitos para a propositura


de ação monitória, pois é um documento escrito, sem eficácia executiva,
representativo da obrigação de pagar quantia em dinheiro (art. 1.102-A do CPC/73 e
art. 700 do CPC/15).

O STJ tem reconhecido a ação monitória como uma ação autônoma, na tentativa de
receber o valor do título de crédito. Seria uma ação diferente, cujo cabimento seria
considerado à parte dos outros processos para tentar receber o valor estampado no
título.

193
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Para o STJ no rito da monitória há uma inversão do contraditório, o que dispensaria o


autor de narrar a causa debendi do título. Tal discussão dependeria, portanto, da
intervenção do réu na ação.

Nesse sentido, editou-se a Súmula 531 do STJ:

Súmula 531 do STJ: “Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada
contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à
emissão da cártula.”
Qual o prazo prescricional da ação monitória envolvendo cobrança de cheque?

O STJ entendeu que este cheque prescrito é uma obrigação materializada em um


escrito particular, razão pela qual tem aplicação o art. 206, §5º, I, do CC, que prevê
um prazo prescricional quinquenal. Como se trata de ação extracambiária (à qual não
se aplica o regime cambiário) e o cheque é à vista, o prazo prescricional da ação
monitória começa a correr da data de emissão.

Súmula 503 do STJ: “O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do


emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à
data de emissão estampada na cártula.”

 JURISPRUDÊNCIA SOBRE CHEQUE:

JULGADO CHEQUE
REsp 1677772  Não cabem danos morais se houve protesto de cheque prescrito, mas
(2017) cuja dívida ainda poderia ser cobrada por outros meios.
 O protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de
crédito apto a ensejar danos morais ao devedor, se ainda remanescer
ao credor vias alternativas para a cobrança da dívida consubstanciada
no título.

REsp 1556834  Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança


(2016) de cheque
 Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a
correção monetária incide a partir da data de emissão estampada na
cártula, e os juros de mora a contar da primeira apresentação à
instituição financeira sacada ou câmara de compensação.

REsp 1423464  Protesto cambiário de cheque após o prazo de apresentação com a


(2016) indicação apenas do emitente no apontamento.
 Sempre será possível, no prazo para a execução cambial, o protesto
cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor.

REsp 1509178  Devolução de cheque sem provisão de fundos e responsabilidade civil


(2015) de instituição bancária.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 O banco sacado não é parte legítima para figurar no polo passivo de


ação ajuizada com o objetivo de reparar os prejuízos decorrentes da
devolução de cheque sem provisão de fundos emitido por correntista.
Ex: João emitiu um cheque em favor de Paulo. Este foi até o banco
tentar sacar a quantia, mas o cheque foi recusado por falta de fundos.
Paulo ajuizou ação de indenização contra o banco alegando que houve
má prestação do serviço bancário. Isso porque a instituição financeira
deveria ser mais cautelosa e diligente ao fornecer talonário de
cheques aos seus clientes, verificando se são bons pagadores, se
possuem renda suficiente, se já têm conta há muito tempo etc. Tal
pedido não encontra amparo na jurisprudência do STJ.
 É dever do banco conferir se está presente algum dos motivos para
devolução do cheque, como no caso do valor do título ser superior ao
saldo. A prestação de serviço pelo banco limita-se a esse serviço.
 Não há responsabilidade do banco pelas atividades de seus correntistas
na utilização de cheques com má gestão de recursos financeiros.

REsp 1324125  Ausência de responsabilidade do banco por cheque cancelado que não
(2015) é pago.
 Durante assalto ocorrido em um banco, os ladrões roubaram 50
talonários de cheques. Tais talonários estavam impressos com nomes
de clientes e seriam ainda entregues aos correntistas para que
iniciassem seu uso. Diante desse fato, o banco efetuou o cancelamento
dos referidos cheques. Cerca de um mês depois do assalto, um dos
ladrões foi até o supermercado e comprou diversos produtos. A conta
foi paga com o cheque roubado. O funcionário do supermercado foi
tentar descontar o cheque, mas ele foi devolvido, tendo a bancária
informado que aquele cheque não poderia ser pago porque havia sido
cancelado pela instituição financeira, com base no motivo 25 da
Resolução 1.631/1989, do Banco Central. O banco deverá responder
pelo prejuízo do supermercado? NÃO. A instituição financeira não deve
responder pelos prejuízos suportados por sociedade empresária que,
no exercício de sua atividade empresarial, recebera como pagamento
cheque que havia sido roubado durante o envio ao correntista e que
não pode ser descontado em razão do prévio cancelamento do
talonário (motivo 25 da Resolução 1.631/1989 do Bacen).

REsp 1297797  Protesto do cheque após o prazo de apresentação;


(2015)  O protesto do cheque efetuado contra os coobrigados para o exercício
do direito de regresso deve ocorrer antes de expirado o prazo de
apresentação (art. 48 da Lei 7.357/85). Trata-se do chamado protesto
necessário.
 O protesto de cheque efetuado contra o emitente pode ocorrer mesmo
depois do prazo de apresentação, desde que não escoado o prazo
prescricional. Esse é o protesto facultativo.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

REsp 1354934  Juros moratórios no caso de cobrança de cheque.


(2013)  Os juros relacionados com a cobrança de crédito estampado em
cheque são disciplinados pela Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85).
Segundo a referida Lei, os juros de mora devem ser contados desde a
data da primeira apresentação do cheque pelo portador à instituição
financeira. Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que
conta os juros a partir da citação inicial.

REsp 1124709  Cheque sustado pode ser levado a protesto por endossatário terceiro
(2013) de boa-fé.
 É possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-fé,
após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do
prazo para ação cambial de execução, ainda que, em momento
anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão do
inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

REsp 1.423.464  Cheque pré-datado e o seu prazo de apresentação para pagamento.


(2016)  O cheque pós-datado amplia o prazo de apresentação? Em suma, no
caso de cheque pós-datado (pré-datado), a partir de quando é contado
o prazo de apresentação?
 1) Pós-datação regular (efetivada no campo referente à data de
emissão): SIM. A pactuação da pós-datação de cheque, para que seja
hábil a ampliar o prazo de apresentação à instituição financeira
sacada, deve espelhar a data de emissão estampada no campo
específico da cártula. O ordenamento jurídico confere segurança e
eficácia à pós-datação regular (efetivada no campo referente à data
de emissão). Ex: no dia 20/05, João emitiu (preencheu) um cheque e
o entregou para Pedro (beneficiário). No entanto, no campo reservado
para a data de emissão, ele, em vez de colocar 20/05, escreveu 20/07
(data que ficou combinada para que Pedro sacasse o cheque). O termo
inicial do prazo de apresentação do cheque é o dia 20/07. STJ. 2ª
Seção. REsp 1.423.464-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
27/4/2016 (recurso repetitivo) (Info 584).
 2) Pós-datação extracartular (feita em campo diverso do campo
específico): NÃO. A pós-datação extracartular do cheque não modifica
o prazo de apresentação nem o prazo de prescrição do título. A pós-
datação extracartular tem existência jurídica, mas apenas com
natureza obrigacional entre as partes (Súmula 370). Esta pactuação
extracartular, contudo, é ineficaz em relação à contagem do prazo de
apresentação e, por conseguinte, não tem o condão de operar o efeito
de ampliar o prazo de apresentação do cheque. Ex: João emitiu o
cheque no dia 20/05 e o entregou a Pedro. No campo reservado para
a data de emissão, ele colocou 20/05 (dia atual). No entanto, no verso
do cheque escreveu o seguinte: “bom para o dia 20/07” (que foi a data
combinada para que Pedro sacasse o dinheiro). O termo inicial do
prazo de apresentação do cheque continua sendo o dia 20/05. STJ. 4ª

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Turma. REsp 1124709-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em


18/6/2013 (Info 528).

REsp 1297353  Cheque devolvido por motivo errado e responsabilização civil do banco
(2012)  É cabível a indenização por danos morais pela instituição financeira
quando o cheque apresentado fora do prazo legal e já prescrito é
devolvido sob o argumento de insuficiência de fundos.

INFO 533  Prazo da ação monitória em caso de cheque sem força executiva
 Súmula 503-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face
do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do
dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.

 Ação monitória fundada em cheque prescrito e dispensa da menção ao


negócio jurídico.
 Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito
ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio
jurídico subjacente à emissão da cártula.

Casos Concretos:

Questão 1)

André emitiu em favor de Carol um cheque no valor de R$34.000,00 ( trinta e quatro


mil reais) em 01/05/2007. Inseriu na cártula a data de 01/08/2007, data em que o
cheque foi visado pelo banco sacado. A agência em que André mantinha sua conta
situava-se em Copacabana e, embora a transação tenha se realizado na cidade de
Campos dos Goytacazes, por equívoco, André inseriu como local de emissão a cidade
do Rio de Janeiro. O cheque foi endossado para Francisco Campos no dia 20/08/2007
e depositado na cidade de São Paulo no dia 15/09/2007.
Pergunta-se:
1) O cheque foi depositado dentro do prazo de apresentação?
2) O prazo de apresentação tem alguma relevância para o viso do cheque?
3) O presente cheque pode ser sustado ou devolvido por insuficiência de fundos?
4) Tem Francisco Campos ação cambiária indireta contra Carol?

Resposta:

1) Não. O lugar de emissão é o mesmo do de pagamento; assim o prazo de


apresentação para pagamento é de 30 dias e o cheque foi depositado somente
no dia 15/09.

2) Sim. O cheque visado ocorre quando o banco sacado lança uma declaração de
suficiência de fundos a pedido do emitente, separando o valor do título na

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

conta. Com base no art. 7, §2º da Lei 7357/85, o sacado creditará à conta do
emitente a quantia reservada, uma vez que estiver vencido o prazo de
apresentação.

3) Sim. Com base no art. 36 da Lei 7357/85, a sustação pode ser promovida antes
ou após a expiração do prazo de apresentação e tem efeito imediato. O cheque
pode ser apresentado ao sacado até que ocorra a prescrição e durante esse
período poderá ser devolvido por insuficiência de fundos.

4) O ajuizamento de ação cambiária em face do endossante somente pode ser


promovido se o cheque foi apresentado em tempo hábil, conforme estabelece
o art. 7º, II da Lei 7357/85. No caso, o cheque foi apresentado após o prazo de
30 dias do art. 33, não cabendo o ajuizamento da ação cambiária.

Questão 2)

CRISTIANO emitiu cheque no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) em favor de


MARLENE em 10.10.2003, para pagamento na mesma praça. MARLENE endossou a
cambial em 16.11.2003 em favor de ROBERTO. O portador moveu ação executiva em
face de CRISTIANO, que, seguro o juízo, opôs embargos de devedor, arguindo e
comprovando ter pago diretamente a MARLENE, em data de 13.11.2003, metade do
valor da obrigação. MARLENE não lhe devolveu o cheque, limitando-se a entregar
um recibo do pagamento parcial. ROBERTO argumentou, então, que tal pagamento
parcial não poderia ser a ele oposto, pelas normas do Direito Cambiário. Analise os
argumentos das partes.

Resposta:

O artigo 15 da Lei 7357 estabelece que o emitente é garante do pagamento do cheque.


O pagamento parcial feito por Cristiano a Marlene não consta do cheque. O endosso
tardio feito por Roberto, embora tenha efeito de cessão (art. 27), não tem efeito ex
tunc para atingir o ato de emissão, porque o cheque não foi emitido “não à ordem”.
Portanto, o efeito da cessão é do endosso e não do saque. Cabe ao emitente pagar o
cheque e não pode opor exceção do pagamento parcial a Roberto, salvo se provar que
este está agindo deliberadamente em seu prejuízo (art. 25, parte final). [RESPOSTA
OFICIAL EMERJ].

O PROF, contudo discordou do “gabarito oficial da Emerj” acima transcrito e deu a


seguinte resposta:

Se Marlene fosse cobrar o Cristiano ela somente poderia cobrar metade. No endosso
tardio tranfere-se para o endossatorio aquilo que se teria para cobrar (no caso em tela,
apenas 50% da obrigação). Isso porque o endosso tardio tem efeito de cessão de
crédito. Logo o Cristiano deverá pagar apenas 50% porque já pagou metade a Marlene.

198
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Por ser cessão, será oponível a defesa que Cristiano tem de alegar que já pagou os 50%
que Cristiano fez a Marlene.

199
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 13 – Prof. Alexandre Assumpção


5/11/18

EMENTA:  CÉDULAS E NOTAS DE CRÉDITO RURAL, INDUSTRIAL, COMERCIAL


E À EXPORTAÇÃO.
 Noções gerais.
 Requisitos.
 Garantias reais e privilégios.
 Inscrição.
 Regime Jurídico.
 Aval.
 Endosso.
 Vencimento.
 Pagamento.
 Protesto.
 Capitalização de juros.
 Ação cambial.
 Ação de locupletamento, ação causal e ação monitória.
 Cédula de produto rural.

 CÉDULAS DE CRÉDITO:

As cédulas de crédito são títulos de crédito de financiamento ligados a operações no


âmbito do mercado financeiro. Existe uma relação contratual entre a pessoa que vai
tomar o crédito (financiado) e o prestador do crédito por meio de um financiamento e
cujo pagamento se dará por meio de uma cédula de crédito.

A diferença para o mútuo é que além do contrato de mutuo (financiamento) realizado


entre a instituição financeira e o tomador, teremos também títulos de crédito
vinculados ao pagamento dessas parcelas, dessas prestações.

As partes convencionam que o pagamento das parcelas estará representado em um


título de crédito. Isso visa a facilitar a execução do crédito caso a parte não cumpra
com o contrato de financiamento.

Qual a vantagem desses títulos para o credor? Qual sua função?

Tendo em vista que esses títulos são títulos executivos extrajudiciais, caso não haja
pagamento, entra-se diretamente com execução. São títulos causais. Isso porque não
se pode emitir esses títulos para outros fins (ex: cédula de crédito industrial é
vinculada ao contrato de financiamento a prazo e também para determinadas
finalidades, nesse caso, a finalidade industrial).

200
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Tal qual a duplicata que se prende a fatura de venda ou prestação de serviços, sendo
um título causal e dependente; as cédulas de crédito também são TÍTULOS CAUSAIS E
DEPENDENTES.

São títulos causais porque se vinculam ao FINANCIAMENTO (causa debendi), o mútuo é


fornecido a determinada pessoa, o emitente assina títulos de crédito vinculados ao
pagamento desse financiamento.

E são títulos dependentes porque vinculam o destino do financiamento, então, quando


se diz por exemplo que é uma cédula de crédito rural, o financiado (tomador do
empréstimo) tem que necessariamente empregar o recurso em uma atividade rural.

 CÉDULA DE CRÉDITO RURAL:

A cédula de crédito rural foi instituida pelo Decreto 167/67. A cédula de crédito rural
é um título de credito causal e dependente cujos recursos oriundos do financiamento
deverão ser usados em atividade rural.

O art. 1 do Decreto 167/67 estabelece que o financiamento não está na cédula, o


financiamento está no contrato. A cédula é o título vinculado ao contrato.

Art 1 do D.167/67: O financiamento rural concedido pelos órgãos integrantes do


sistema nacional de crédito rural e pessoa física ou jurídica poderá efetivar-se por
meio das células de crédito rural previstas neste Decreto-lei.
Parágrafo único. Faculta-se a utilização das cédulas para os financiamentos da
mesma natureza concedidos pelas cooperativas rurais a seus associados ou às suas
filiadas.

As cédulas de crédito constituem PROMESSA DE PAGAMENTO EM DINHEIRO À PRAZO, só


que feita em razão da concessão de um financiamento.

Existem duas figuras na cédula:

(i) Emitente: é o financiado, o mutuário (PF ou PJ) que recebe o pagamento;


e

(ii) Beneficiário: é o mutuante, ou seja, é a instituição financeira ou


cooperativa de crédito que concede o financiamento.

Esses títulos são à ordem, ou seja, são transferíveis por endosso.

O art. 2 do D. 167/67 estabelece que a cédula é título causal, conforme se depreende


da redação abaixo:

201
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Art 2 do D. 167/67: O emitente da cédula fica obrigado a aplicar o financiamento


nos fins ajustados, devendo comprovar essa aplicação no prazo e na forma exigidos
pela instituição financiadora.
Parágrafo único. Nos casos de pluralidade de emitentes e não constando da cédula
qualquer designação em contrário, a utilização do crédito poderá ser feita por
qualquer um dos financiados, sob a responsabilidade solidária dos demais.

O art. 5 do DL 167/67 prevê que nos financiamentos concedidos através de utilização


de cobrança para cédulas de crédito rural tem CAPITALIZAÇÃO SEMESTRAL e a TAXA
DE JUROS é aquela fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

Sobre o tema, o art. 406 do CC preve que os juros se forem sem taxa estipulada ou
quando provierem de determinação da lei serão fixados segundo a taxa de impostos
devido à Fazenda Nacional. É a taxa de 1% ao mês. Só que a taxa de 1% ao mês é
RESIDUAL, ou seja, quando não houver taxa estipulada. No caso das cédulas de crédito
existe uma regra própria que não manda aplicar a taxa de juros legal. Ao contrário, a
lei especial estabelece que vencerão juros na taxa que o CMN fixar.

Essa taxa pode ser superior a 1% ao mês ou 12% ao ano SIM, conforme se depreende da
Súmula 596 do STF:

Súmula 596 do STF: “As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às


taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por
instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.”

EM SUMA: as operações realizadas por instituições financeiras podem incidir juros


acima do limite da Lei de Usura.

Esse entendimento sobre juros também se aplica as demais cédulas de crédito, ou


somente as cédulas rurais?

Atenção, pois nas outras cédulas também os juros não seguem a Lei da Usura, ou seja,
serão os juros pactuados pelo CMN. O Decreto Lei 413 (art. 5) que se aplica a cedula
de crédito industrial e as demais cédulas replicou o art. de juros, ou seja, também se
aplicam os juros fixados pelo CMN.

O art. 591 do CC prevê a capitalização ANUAL de juros nos mútuos de fins econômicos.
Enquanto que o art. 5 do DL 167 prevê a CAPITALIZAÇÃO SEMESTRAL dos juros. Sobre
o tema, destaca-se a Sumula 93 do STJ:

Súmula 93 do STJ: A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e


industrial admite o pacto de capitalização de juros.

Destaca-se, ainda, que os artigos 6 e 7 preveem que a instituição financeira pode


fiscalizar se os compromissos estão sendo cumpridos como contratado.

202
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Art 6 do D167/67: “O financiado facultará ao financiador a mais ampla fiscalização


da aplicação da quantia financiada, exibindo, inclusive, os elementos que lhe
forem exigidos.”

Art 7 do D167/67: “O credor poderá, sempre que julgar conveniente e por pessoas
de sua indicação, não só percorrer tôdas e quaisquer dependências dos imóveis
referidos no título, como verificar o andamento dos serviços nêles existentes.”

Na forma do art. 9 do D167/67, a cédula de crédito é PROMESSA DE PAGAMENTO em


dinheiro, podendo ter ou não garantia real.

A garantia deve estar prevista na própria cédula, ou seja, a descrição dos bens está
prevista na própria cédula. Não se precisa fazer um documento a parte, a própria
cédula já descreverá os bens.

Art 9. do D.167/67: A cédula de crédito rural é promessa de pagamento em


dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituída, sob as seguintes
denominações e modalidades:
I - Cédula Rural Pignoratícia.
II - Cédula Rural Hipotecária.
III - Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária.
IV - Nota de Crédito Rural.

Quando se fala em garantia cedularmente constituída se consagra que a descrição dos


bens móveis ou imóveis na cédula própria incorpora ao título a garantia real sem
necessidade de lavrar escritura pública ou levar a registro no cartório.

Quais as espécies de cédula de crédito rural?

O art. 9 estabelece 4 espécies de cédulas. As cédulas poderão incorporar garantias


reais, ou seja, vinculado ao pagamento do mutuo é possível estabelecer garantias
reais. É possível que essa garantia seja prestada por um terceiro.

De acordo com o tipo de garantia prestada, a cédula poderá ser das seguintes espécies:

(i) Nota de Crédito: é a cédula sem garantia real (art. 27);

(ii) Cédula de Crédito Hipotecário: a cédula incorpora uma garantia real de


hipoteca (art. 20). A cédula descreve os bens imóveis dados em hipoteca;

(iii) Cédula de Crédito Pignoratício: a cédula incorpora bens suscetíveis de


penhor (art. 14). A cédula descreve os bens móveis dados em penhor; e

203
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(iv) Cédula de Crédito Pignoratício e Hipotecário: cédula que incorpora uma


garantia pignoratícia e também uma garantia hipotecária (art. 25).

O art. 10 do D167/67 estabelece que a cédula de crédito é titulo líquido e certo e que
em caso de inadimplemento se deve executar o título.

Art 10 do D167/67: A cédula de crédito rural é título civil, líquido e certo, exigível
pela soma dêla constante ou do endôsso, além dos juros, da comissão de
fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor fizer para segurança,
regularidade e realização de seu direito creditório.
§ 1 - Se o emitente houver deixado de levantar qualquer parcela do crédito
deferido ou tiver feito pagamentos parciais, o credor descenta-los-á da soma
declarada na cédula, tornando-se exigível apenas o saldo.
§ 2 - Não constando do endôsso o valor pelo qual se transfere a cédula, prevalecerá
o da soma declarada no título acrescido dos acessórios, na forma deste artigo,
deduzido o valor das quitações parciais passadas no próprio título.

O mencionado dispositivo afirma que a cédula de crédito é título civil, mas isso está
ultrapassado, pois o legislador ficou preso aquela ideia antiga que a atividade rural
não era ato de comércio. Hoje isso não é mais pertinente pois o produtor rural pode
exercer atividade de empresário se fizer o registro na Junta Comercial.

O art. 11 do D167/67 estabelece que o inadimplemento de parcela da dívida importa


o vencimento antecipado de todas as parcelas remanescentes.

Art 11 do D167/67: “Importa vencimento de cédula de crédito rural


independentemente de aviso ou interpelação judicial ou extrajudicial, a
inadimplência de qualquer obrigação convencional ou legal do emitente do título
ou, sendo o caso, do terceiro prestante da garantia real.
Parágrafo único. Verificado o inadimplemento, poderá ainda o credor considerar
vencidos antecipadamente todos os financiamentos rurais concedidos ao emitente
e dos quais seja credor.”

Destaca-se, ainda, o art. 17 do D167/67 que trata do PENHOR CEDULAR (penhor


especial). Verifica-se que na cédula de crédito rural pignoratícia o credor não fica com
o bem dado em penhor. Não há transmissão da posse do bem ao credor. Os bens
continuam na posse do devedor ou do terceiro que prestou garantia real. Essa pessoa
que está com os bens responde como FIEL DEPOSITÁRIO. Em razão disso é que se
permite a fiscalização pela instituição financeira.

Quais os requisitos da cédula de crédito?

Os requisitos estão pulverizados de acordo com a modalidade de cédula de crédito.


Basicamente o que vai variar são os itens relacionados as garantias.

204
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Assim, temos que os requisitos estão previstos nos seguintes dispositivos:

(i) Nota de Crédito: requisitos estão previstos no art. 27;

(ii) Cédula de Crédito Hipotecário: requisitos estão previstos no art. 20;

(iii) Cédula de Crédito Pignoratício: requisitos estão previstos no art. 14; e

(iv) Cédula de Crédito Pignoratício e Hipotecário: requisitos previstos no art.


25.

É possível endosso nas cédulas de crédito?

SIM!!! O ENDOSSO está previsto no art. 60 do D167/67, destacando-se as seguintes


peculiaridades:

 O primeiro endossante e seus avalistas não são coobrigados, ou seja, não tem
responsabilidade cambiária; e
 O protesto é sempre facultativo para cobrança.

É possível aval nas cédulas de crédito?

SIM!!! O AVAL é permitido na forma do art. 60 do D167/67.

Quanto ao aval, será admitido o aval parcial e esse se dará em relação ao emitente.

Contudo, somente pode ser avalista, de acordo com o art. 60, par.3:

(i) as pessoas físicas (sócios) que participam da sociedade emitente; e


(ii) PJs.

Atenção pois a PF que não for sócio da empresa não pode ser avalista, sob pena de
nulidade do aval. [HOUVE MUDANÇA DE ENTENDIMENTO – VIDE CASO CONCRETO
ABAIXO]

Art. 60 do D167/67: “Aplicam-se à cédula de crédito rural, à nota promissória


rural e à duplicata rural, no que forem cabíveis, as normas de direito cambial,
inclusive quanto a aval, dispensado porém o protesto para assegurar o direito de
regresso contra endossantes e seus avalistas.
§ 1 - O endossatário ou o portador de Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural
não tem direito de regresso contra o primeiro endossante e seus avalistas.
§ 2 - É nulo o aval dado em Nota Promissória Rural ou Duplicata Rural, salvo quando
dado pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente ou por outras
pessoas jurídicas.

205
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

§ 3 -Também são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo quando
prestadas pelas pessoas físicas participantes da empresa emitente, por esta ou
por outras pessoas jurídicas.
§ 4 - Às transações realizadas entre produtores rurais e entre estes e suas
cooperativas não se aplicam as disposições dos parágrafos anteriores.

É obrigatório o protesto nas cédulas de credito para se cobrar dos coobrigados?

Como regra, quanto o título possui coobrigados, é necessário que haja o protesto para
preservar sua responsabilidade (art. 53 da LUG). Contudo, o art. 60, caput, do Decreto
167/67 torna o PROTESTO COMO FACULTATIVO, mesmo tendo coobrigados.

Excepcionalmente, no caso de requerimento de falência esse protesto se torna


obrigatório.

O que é necessário para que as cédulas de crédito tenham eficácia em relação a


terceiros?

O art. 29 estabelece que para que as cédulas de crédito tenham efeitos em relação a
terceiros, elas devem ser INSCRITAS EM REGISTRO DE IMÓVEIS.

É natural que a cédula de crédito hipotecária seja levada a registro de imóveis.


Contudo, atentar que o art. 30 do D167/67 estabelece que TODAS as cédulas de crédito
rurais (mesmo as pignoratícias e notas de crédito) devem ser levadas a registro. É uma
condição de eficácia em relação a terceiros.

Qual será o Registro de Imóveis competente para se fazer o registro da cédula de


crédito rural?

O RI competente variará com a espécie de cédula de crédito utilizada:

(i) Nota de Crédito Rural: mesmo não tendo garantia real, deverá ser feita a
inscrição no RI competente. O RI competente será o do municipio/comarca
onde está situado o imóvel do local onde será aplicado o financiamento;

(ii) Cédula de Crédito Rural Hipotecária: o registro será feito no RI do local do


imóvel hipotecado, ou seja, do imóvel dado em garantia;

(iii) Cédula de Crédito Rural Pignoratício: o registro será feito no RI do local


onde estão situados os bens móveis dados em garantia; e

(iv) Cédula de Crédito Pignoratício e Hipotecário: poderá ocorrer o duplo


registro, ou seja, o registro deverá ser feito no RI onde está situado o imóvel

206
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

objeto da garantia hipotecária e no RI do local onde estão os bens objeto


do penhor.

Art. 23 do DL 167: Podem ser objeto de hipoteca cedular imóveis rurais e urbanos.

O art. 28 do D 167 estabelece que o credor tem um privilégio especial que recai sobre
os bens discriminados no art. 1563 do CC (não foi reproduzido no CC/2002). Esse
privilegio deixou de existir pois nao se tem mais esse dispositivo no CC (foi revogado
sem dispositivo correspondente) para aplicar o privilegio. Logo não há mais falar em
privilégio especial, porque esse crédito passou a ser um CRÉDITO QUIROGRAFÁRIO.

Qual o prazo prescricional para a cobrança da cédula de crédito?

A ação própria para a cobrança da NP e LC é a ação executiva de acordo com a previsão


expressa do art. 49 do Decreto 2044.

O D167/67 que trata da cédula de crédito rural não prevê os prazos prescricionais, mas
consagra no art. 60 que aplicam-se as normas do direito cambial.

Logo, a prescrição da ação cambial está no art. 70 da LUG porque se tem um dispositivo
da Lei Brasileira e tem um dispositivo na LUG e como nao teve reserva deve prevalecer
a LUG. Como não houve reserva qt a prescrição da ação cambial na LUG, devemos
aplicar o art. 70 da LUG, que estabelece que o prazo é trienal.

Assim, as cédulas de crédito rural prescrevem em 3 anos a contar de data de seu


vencimento, por força do art. 70 da LUG.

Art. 70 da LUG: “Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem


em 3 (três) anos a contar do seu vencimento. As ações do portador contra os
endossantes e contra o sacador prescrevem num ano, a contar da data do protesto
feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se trata de letra que contenha
cláusula "sem despesas". As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o
sacador prescrevem em 6 (seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou
a letra ou em que ele próprio foi acionado.”

 CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL:

A cédula de credito industrial foi instituída pelo Decreto 413/69.

A cédula de crédito industrial é um título de crédito causal e dependente cujos


recursos oriundos do financiamento deverão ser usados necessariamente em atividades
industriais.

A cédula de crédito industrial pode ter como garantia:

207
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(i) hipoteca;
(ii) penhor; e
(iii) alienação fiduciária, na forma do art. 19 do D. 413/69.

 CÉDULA DE CRÉDITO À EXPORTAÇÃO:

A cédula de crédito de exportação foi instituída pela Lei 6313/75.

A cédula de crédito de exportação é voltada para a atividade de exportação, então,


pode envolver qualquer setor da economia, desde que se destine à exportação.

Ela também serve para financiar infraestrutura para exportação (terminal de carga e
logistica em transporte).

O legislador no art. 3 da Lei 6313/75 manda aplicar as disposições do D. 413/69. Logo,


a cédula de crédito à exportação também pode ter como garantia a ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA, além do penhor e da hipoteca.

 CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL:

A cédula de crédito comercial foi instituída pela Lei 6840/80.

A cédula de crédito comercial é título de crédito causal e dependente cujos recursos


oriundos do financiamento devem se destinar ao setor terciário (comércio e prestação
de serviços).

Embora a cédula se chame cédula comercial, a própria lei diz que se aplica nos casos
de comércio e prestação de serviço.

O legislador no art. 5 da Lei 6840 manda aplicar as disposições do D413/69. Logo, a


cédula de crédito comercial também pode ter como garantia a ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA.

OBSERVAÇÃO:

 Não tem fungibilidade entre essas cédulas de crédito.


 Os títulos de financiamento nao se esgotam nesses títulos estudados na aula de
hoje. Existem outros títulos, tais como, a cédula de crédito imobiliário, que
serão estudados mais adiante.

 JURISPRUDÊNCIA SOBRE CÉDULAS DE CRÉDITO:

JULGADO CÉDULA DE PRODUTO RURAL FINANCEIRO


REsp 1564705  Invasão do MST e exigibilidade de cédula de crédito rural
(2016) hipotecária.
 A invasão promovida por integrantes do MST em propriedade
rural, por si só, não é fato suficiente para configurar o evento

208
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

como de força maior, pois deve ser analisada, concretamente,


a presença dos requisitos caracterizadores do instituto
(necessariedade e inevitabilidade – art. 393, parágrafo único,
do Código Civil). A parte que faz esta alegação deverá
comprovar que a ocupação ilegal da propriedade rural pelo MST
criou óbice intransponível ao cumprimento da obrigação.
Deverá também provar que não havia meios de evitar ou impedir
os seus efeitos.
 Assim, a cédula de crédito rural hipotecária permanecerá
exigível na hipótese de o MST invadir o imóvel do financiado e
este deixar de comprovar que a invasão constitui óbice
intransponível ao pagamento do crédito e que não existiam
meios de evitar ou impedir os efeitos dessa ocupação.

REsp 1361730  Prazo prescricional da repetição de indébito envolvendo


contrato de cédula de crédito rural.
 Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de indébito
envolvendo contrato de cédula de crédito rural?
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/1916: 20 anos.
 Se o fato ocorreu sob a vigência do CC/2002: 3 anos.
 O termo inicial do prazo prescricional é a data do pagamento
(efetiva lesão).

REsp 1315702  Aval em cédula de crédito rural.


(2015)  É possível que haja aval em cédula de crédito rural? Admite-se
o aval em cédulas de crédito rural.
 A vedação contida no § 3º do art. 60 do Decreto-Lei 167/1967
(“são nulas quaisquer outras garantias, reais ou pessoais, salvo
quando prestadas pelas pessoas físicas participantes da empresa
emitente, por esta ou por outras pessoas jurídicas”) não é
aplicável às cédulas de crédito rural. Isso porque a proibição
contida no referido § 3º não se refere ao caput (cédulas de
crédito), mas apenas ao § 2º (nota promissória e duplicata
rurais).

REsp 1333977  Cédulas de crédito e possibilidade de capitalização de juros.


 Nas cédulas de crédito rural, industrial e comercial, a legislação
autoriza a capitalização semestral dos juros (autorização ex
lege), não dependendo de pactuação expressa.
 O art. 5º do DL 167/67 autoriza que a capitalização seja inferior
à semestral, sendo, nesse caso, necessária a pactuação
expressa.
 A capitalização dos juros nas cédulas de crédito rural pode ser,
inclusive, em periodicidade mensal, desde que pactuada no
contrato. • A capitalização dos juros nas cédulas de crédito
rural é regida pelo DL 167/67, não sendo a ela aplicável o art.

209
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

4º do Decreto 22.626/1933 (Lei de Usura) nem a MP 1.963-


17/2000 (2.170-36/2001).

 CÉDULA DE PRODUTO RURAL (CPR):

A cédula de produto rural é prevista pela Lei 8929/94. O que vai diferenciar é o
pagamento. O pagamento não será feito em dinheiro, mas sim em produto rural.
Permite-se ao produtor rural ficar imune as variações de cotações de seu preço,
entregando o próprio produto rural.

A cédula de produto rural é uma promessa de pagamento de produto rural. Ao invés


dele ter que vender a produção para pegar o dinheiro e pagar o financiamento, o
produtor pode entregar direto o produto rural.

A cédula de produto rural pode estar ligada a produtores rurais e terceiros, nao precisa
necessariamente ser emitida com instituições financeiras.

As mesmas garantias de penhor, hipoteca ou alienação fiduciária podem ser utilizadas


na CPR.

A CPR pode ser com ou sem garantia cedular. Se ela não tiver a garantia cedular ainda
assim ela vai se chamar “Cédula de Produto Rural”, ou seja, ela não vai se chamar
“Nota de Produto Rural” – essa nomenclatura é errada.

A cédula de produto rural também é título é causal.

Quem tem legitimidade para emitir CPRs?

Tem legitimidade para emitir CPRs:

(i) Cooperativas rurais;


(ii) Produtor rural PF; ou
(iii) Associações de produtores rurais.

Nota-se, portanto, que é um título voltado para o produtor rural, não é voltado para a
industria.

Quais os requisitos essenciais da CPR?

Entre os requisitos da cédula de produto rural destacam-se:

(i) Nome da parte;


(ii) Promessa de entregar o produto nas indicações de quantidade e qualidade;

210
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(iii) Data da entrega; e


(iv) Local e condição de entrega.

Atenção ao art. 3, iv da Lei 8929/94 que consagra que é um um TÍTULO


REPRESENTATIVO DE MERCADORIA. Aqui não se paga em dinheiro, o adimplemento se
dá com a entrega da mercadoria.

É, portanto, uma PROMESSA INCONDICIONAL, uma vez que nos termos do art. 11 da Lei
8929/94 a alegação de fortuito ou força maior não pode ser invocada pelo produtor
rural para se eximir da prestação. A lei responsabiliza o emitente da CPR pelo evento
de fortuito ou força maior. Ele terá que fornecer o produto mesmo diante do fortuito
e força maior – ele terá que comprar de terceiros para honrar o compromisso. Atenção
pois essa orientação da lei especial é contrária ao que dispõe o CC.

Art. 11 da Lei 8929/94: “Além de responder pela evicção, não pode o emitente da
CPR invocar em seu benefício o caso fortuito ou de força maior.”

Quais as principais características da CPR?

Entre as principais características da CPR destacam-se:

 A CPR é título à ordem (art. 3, III);


 Não é admitido o endosso em branco. Assim, o endosso tem que ser EM PRETO;
 O endosso na CPR é sem garantia, ou seja, os endossantes não respondem pela
entrega do produto rural;
 O protesto na CPR é facultativo;
 A CPR também deve ser inscrita no Registro de Imóvel do domicílio do emitente;
 A CPR permite o pagamento antecipado desde que o credor concorde (art. 13);
 A CPR pode ser dada em penhor e esse penhor é especial (art. 5 c/c art. 18)
porque os bens continuam na posse do emitente. Não tem entrega para o
credor. O emitente responde como fiel depositário; e
 A CPR pode ser um valor mobiliário, ou seja, pode ser negociado em Bolsa ou
Mercado de Balcão. Isso porque a CPR pode ser associada a uma commoditie,
que são produtos que são extraídos e que são considerados como fundamentais
como matéria-prima para a fabricação de outros produtos. Esses produtos
podem ser negociados na Bolsa e no Mercado de Balcão. O tema é tratado no
art. 19. A CPR vai ter que virar escritural para ser negociada.

Qual o prazo prescricional para entrar com ação de entrega da coisa?

O prazo da ação de execução envolvendo a CPR é o prazo previsto no art. 10, ou seja,
aplica-se à CPR, no que for cabível, as normas do direito cambial, ou seja, observa-se
PRAZO DE 3 ANOS DA DATA DE ENTREGA DO PRODUTO. Cabe execução para entrega da
coisa, observado o prazo trienal da data da entrega.

211
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 JURISPRUDÊNCIA SOBRE O TEMA:

JULGADO CÉDULA DE PRODUTO RURAL FINANCEIRO


AgInt no AREsp  Juros moratórios e cédula de produto rural financeira;
906114/PR  No caso de cédulas de PRODUTO rural financeira (CPR-F), os
juros também estão limitados a 1% ao ano, conforme prevê o
DL 167/67 para as cédulas de CRÉDITO rural?
1ª corrente: NÃO. A limitação dos juros moratórios ao
patamar de 1% ao ano, estabelecida pelo art. 5º, parágrafo
único, do Decreto-Lei 167/67, não se aplica à cédula de
produto rural financeira (CPR-F). STJ. 3ª Turma. REsp
1.435.979-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
em 30/3/2017 (Info 603).
2ª corrente: SIM. Os juros de mora no caso de CPR-F deverão
ficar limitados em 1% ao ano, nos termos do art. 5º do Decreto-
Lei nº 167/1967. STJ. 4ª Turma., Rel. Min. Raul Araújo, julgado
em 06/10/2016.

REsp 866414-GO  Emissão de cédula de produto rural


(2013)  A emissão de Cédula de Produto Rural — CPR em garantia de
contrato de compra e venda de safra futura não pressupõe,
necessariamente, a antecipação do pagamento do produto.

Casos Concretos:

Questão 1)

Em 15/05/2015, BANCO MAIS S.A ajuizou ação de cobrança de nota de crédito


industrial em face de ABC MARCENARIA E COMÉRCIO DE MADEIRAS Ltda.,
ADALBERTO SILVA e SIRLENE SILVA. O autor narra que, por meio do contrato nº xxx,
firmado em 15/12/2008, para aplicação de crédito em investimento fixo, o 1º réu,
com aval dos demais réus, emitiu nota de crédito industrial, no valor de R$
39.000,00. Aduz ter sido convencionado o pagamento do débito em 36 prestações
mensais e sucessivas, com o pagamento da ultima prestação previsto para o dia
10/01/2011. Todavia, o emitente do título, a partir de 10/02/2010, tornou-se
inadimplente. O juiz da 03ª Vara Cível extinguiu o feito, reconhecendo ter
transcorrido o lapso prescricional trienal para execução. Irresignado, BANCO MAIS
S.A recorreu da decisão, asseverando tratar-se de execução por título extrajudicial
para satisfação de crédito, consubstanciado na cédula de crédito industrial, e que
houve o reconhecimento expresso da dívida pelo devedor nos autos, havendo
renúncia à prescrição. Argumenta que a própria recorrida (devedora principal), em
sua primeira manifestação, reconheceu expressamente a dívida, e que, portanto,
mostra-se indevida a extinção do feito, com a incorreta invocação de artigo do
Decreto n. 57.663/1966. Por fim, requer o provimento do recurso. Agiu

212
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

corretamente o juiz sentenciante? Responda, de forma fundamentada, em até 15


linhas.

Resposta:

O prazo prescricional trienal já decorreu, isso porque ele entrou com a ação em 2015
e o prazo prescricional começa a correr a partir de 10 de fevereiro de 2010, quando
ocorreu o inadimplemento. Lembrando que a partir do inadimplemento pode-se cobrar
o vencimento antecipado de toda a obrigação.

A prescrição ocorreu em 10 de fevereiro de 2013. Ele entrou com a ação apenas em


2015. Logo o lapso trienal previsto no art. 70 da LUG foi ultrapassado. Não cabe mais
a ação de execução porque houve a prescrição. Deveria ter sido ajuizada uma ação
monitória, ou uma ação causal, mas não a ação de executiva.

Vide art. 52 do D. 413/19 c/c art. 70 da LUG.

O STJ entendeu que as cédulas de crédito são titulos que seguem as normas do direrito
cambial. Logo, por ser um titulo assemelhado ao direito cambial por força do art. 60,
tem que observar os prazos da LUG. Em se tratando de emitente a ação de execução
prescreve em 3 anos.

REsp 1183598: CRÉDITO INDUSTRIAL E DIREITO CAMBIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


APRECIAÇÃO DE TESE ACERCA DE VIOLAÇÃO À CF, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL.
INVIABILIDADE. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTÊNCIA. O
AJUIZAMENTO DE EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL EXIGE QUE O
DOCUMENTO TENHA FORÇA EXECUTIVA. ADEMAIS, O DIREITO CAMBIÁRIO ADMITE A
INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO CAMBIAL, APENAS EM
RELAÇÃO A PESSOA A QUEM FOI FEITA. PRAZO PRESCRICIONAL PARA AÇÃO CAMBIAL
FUNDADA EM NOTA OU CÉDULA DE CRÉDITO INDUSTRIAL. TRIENAL, EM
OBSERVÂNCIA ÀS DISPOSIÇÕES DA LUG. APÓS A CONSUMAÇÃO DA PRESCRIÇÃO, NÃO
HÁ FALAR EM SUPERVENIENTE RENÚNCIA À PRESCRIÇÃO DO TÍTULO DE CRÉDITO.
MATÉRIA QUE PODERÁ SER RELEVANTE APENAS PARA EVENTUAL AÇÃO DE
CONHECIMENTO, FUNDADA NA RELAÇÃO FUNDAMENTAL. 2. Fica implícito da
leitura da Lei Uniforme de Genebra ser possível apenas interrupção da prescrição
para ajuizamento da ação cambial (art. 71), estabelecendo, ainda, que a
interrupção da prescrição só produz efeito em relação a pessoa para quem a
interrupção foi feita. Nessa linha de intelecção, é bem de ver que, no tocante ao
direito cambiário, só é possível interromper a prescrição cambial - antes, pois,
que se consume -, sendo certo que o art. 74 da LUG dispõe que não são admitidos
dias de perdão, quer legal, quer judicial. 3. Com efeito, após a consumação da
prescrição, eventual renúncia poderá ter relevância apenas para o direito
material (relação fundamental), em eventual ação de conhecimento em sua
pureza, ou monitória, mas não é circunstância hábil a justificar o prosseguimento
da execução embasada em título prescrito, isto é, que não mais ostenta os

213
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

caracteres inerentes ao direito cambiário. 4. A legislação especial de regência da


nota e cédula de crédito industrial impõe que, para execução, a inicial precisa
estar instruída pela cártula com demonstrativo de débito e crédito para conferir
liquidez ao título de crédito, pois, muito embora inequívoco seu caráter cambiário
advindo da lei, há também uma correlação com uma avença contratual para
financiamento de atividade industrial (art. 1º do Decreto-Lei n. 413/1969).
Dessarte, a nota de crédito industrial é promessa de pagamento em dinheiro,
constituindo título de crédito, "com cláusula à ordem" (art. 16, III, do Decreto-Lei
n. 413/1969), passível, pois, de circular mediante endosso. 5. Por expressa
previsão do art. 52 do Decreto-Lei n. 413/1969, aplicam-se à cédula de crédito
industrial e à nota de crédito industrial, no que forem cabíveis, as normas do
direito cambial, dispensado, porém, o protesto para garantir direito de regresso
contra endossantes e avalistas. No caso, o prazo prescricional para ação cambial
de execução é o trienal previsto no art. 70 da Lei Uniforme de Genebra e,
consoante exposto na exordial, a nota de crédito foi emitida em 15 de dezembro
de 1983, para aplicação em investimento fixo - concedido à primeira requerida,
com aval dos demais réus -, convencionando o pagamento da dívida da seguinte
forma: em 36 prestações mensais e sucessivas, com o pagamento da última
prestação previsto para 10 de janeiro de 1988 - a emitente do título, a partir de
10 de fevereiro de 1985, tornou-se inadimplente. 6. A teor do art. 11 c/c o art.
18 do Decreto-Lei n. 413/1969, o inadimplemento de qualquer prestação importa
em vencimento antecipado da dívida resultante da cédula ou nota de crédito
industrial, independentemente de aviso ou de interpelação judicial, a
inadimplência de qualquer obrigação do eminente do título ou, sendo o caso, do
terceiro prestante da garantia real. Todavia, embora o inadimplemento de uma
prestação importe o vencimento antecipado, em vista das características desse
negócio consubstanciado em título de crédito - inclusive, v.g., pela expressa
permissão legal de pactuação de aditivos, retificação, ratificação, fiscalização do
emprego da quantia financiada, abertura de conta vinculada à operação, de
amortizações periódicas, reutilização pelo devedor, para novas aplicações, das
parcelas entregues para amortização ao débito -, passível de circular mediante
endosso, e que se submete aos princípios, caros ao direito cambiário, da
literalidade e cartularidade, é entendimento assente desta Corte que o prazo
prescricional para ação cambial de execução deve ter, no interesse do credor,
como termo inicial para fluência, a data avençada para o pagamento da última
prestação. 7. Com efeito, como a presente execução por título extrajudicial foi
ajuizada em 31 de julho de 1991, e a nota de crédito industrial tem vencimento
da última prestação estabelecido para 10 de janeiro de 1988, é patente que a
demanda foi manejada após ter operado a prescrição, de modo que, como bem
observado pela Corte local, o recorrente deveria ter optado por uma ação de
conhecimento, não podendo se valer, após inércia superior ao lapso trienal, da
ação de execução para obtenção imediata de atos de agressão, pelo Judiciário, ao
patrimônio dos executados. 8. Recurso especial não provido.”

Questão 2)

214
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Roger emitiu três cédulas de crédito rural, com data e condições de pagamento
lançados na cártula, em favor do Banco ABC S/A, todas avalizadas por Adalto.
Verificado o inadimplemento relativo por parte do emitente, o Banco credor ajuizou
ação de execução. Ocorre que o magistrado de primeiro grau acolheu a exceção de
pré-executividade arguida pelos herdeiros do falecido avalista, reconhecendo a
nulidade do aval. Irresignada, a instituição financeira recorre sustentando a
legalidade do aval, na medida em que a proibição contida no § 2º do artigo 60 do
Decreto-Lei n. 167/67 diz respeito, exclusivamente, ao aval conferido em nota
promissória rural ou duplicata rural, não sendo aplicável aos demais títulos de
crédito não elencados (Cédula Rural Pignoratícia, Cédula Rural Hipotecária, Cédula
Rural Pignoratícia e Hipotecária e Nota de Crédito Rural). Diante dessa situação
hipotética, decida fundamentadamente a questão em no máximo 15 (quinze) linhas.

Resposta:

Não tem razão o banco em sustentar a validade do aval. Isso porque o par. 3 do art 60
do D167/67 consagra que é NULO o aval prestado por avalista Pessoa Natural nos títulos
regulados pelo respectivo decreto, SALVO se a Pessoa Física for participante da
empresa emitente da cédula. As garantias pessoais são nulas salvo se prestada por PJ
ou PF participante da entidade emitente.

REsp 1353244: “CÉDULA DE CRÉDITO RURAL EMITIDA POR PESSOA FÍSICA. AVAL.
GARANTIA PRESTADA POR TERCEIRO. NULIDADE. EXEGESE DO ARTIGO 60, § 3º, DO
DECRETO-LEI N.º 167/67. 1. É nulo o aval prestado por terceiro, pessoa física, em
Cédula de Crédito Rural emitida também por pessoa física, nos termos do disposto
no art. 60, § 3º, do Decreto-Lei n. 167/67. Precedente da Terceira Turma. 2. -
Recurso Especial improvido.”

Atenção pois o julgado acima é de 2013. Houve mudança de orientação no STJ sobre o
tema. Agora, pode sim avalista PF (mesmo que não seja sócio) nas cédulas de crédito
rurais. Isso porque desvinculou-se o par. 3 do caput do art. 60 e associou-se ao par. 2
do art. 60. Abaixo julgado de 2015 modificando o entendimento.

RESP 1315702: DIREITO EMPRESARIAL. TÍTULOS DE CRÉDITO. CÉDULA DE CRÉDITO


RURAL. GARANTIA CAMBIAL. TERCEIRO AVALISTA. VALIDADE. INTERPRETAÇÃO DO
ART. 60, § 3º, DO DECRETO-LEI N. 167/1967. VEDAÇÃO QUE NÃO ATINGE AS
CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL. 1. É válido o aval prestado por terceiros em Cédulas
de Crédito Rural, uma vez que a proibição contida no § 3º do art. 60 do Decreto-
Lei n. 167/1967 não se refere ao caput (Cédulas de Crédito), mas apenas ao § 2º
(Nota Promissória e Duplicata Rurais). 2. Em casos concretos, eventual excesso de
garantia poderá ser decotado pelo Judiciário quando desarrazoado, em
observância do que dispõe o art. 64 do Decreto-Lei n. 167/1967, segundo o qual
"os bens dados em garantia assegurarão o pagamento do principal, juros,
comissões, pena convencional, despesas legais e convencionais com as preferências
estabelecidas na legislação em vigor".

215
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Aula 14 – Prof. Alexandre Assumpção


5/11/18

EMENTA:  CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.


 Noções gerais.
 Requisitos.
 Garantias.
 Registro.
 Aval.
 Circulação.
 Pagamento.
 Protesto.
 Execução.
 Liquidez da cédula de crédito bancário.
 Certificado.

 CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO:

A Lei 10.931/04 trata de três títulos bancários, quais sejam:

(i) Letra de crédito imobiliário;


(ii) Cédula imobiliária; e
(iii) Cédula de crédito bancário.

A Cédula de Crédito Bancário está prevista a partir do art. 26 da Lei 10.931/04.

 NOCÕES GERAIS:

Havia um vácuo quanto a possibilidade de crédito pessoal e, por isso, as instituições


financeiras utilizavam a nota promissória vinculada a contrato. Contudo, o STJ não
admitia esse expediente (S. 258 e 233 do STJ).

Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado


de extrato da conta-corrente, não é título executivo.

Súmula 258 do STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito


não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Dessa forma, por Medida Provisória foi instituída a cédula de crédito bancário em 1999,
garantindo segurança jurídica às instituições financeiras. Se refere a abertura de
crédito de qualquer modalidade (art. 26 da Lei 10.931/04). Somente é possível a
emissão de CBB por meio de instituição financeira, mas serve para qualquer espécie
de financiamento.

216
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Ela é considerada como título executivo extrajudicial, conforme art. 18 da Lei


10.931/04.

 CONCEITO:

A cédula de crédito bancário é uma promessa de pagamento em dinheiro, só que


exclusivamente relacionada a instituição financeira em razão de um contrato bancário.
Esse título terá força executiva, ainda que atrelado a um contrato de abertura de
credito, bastando para isso que se junte o extrato demonstrativo do valor utilizado, ou
seja, do saldo negativo.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, de forma pacífica, entende que há


liquidez na cédula de crédito bancária, ainda que vinculada a contrato de abertura de
conta (REsp 1.291.575), superando o entendimento das súmulas 233 e 258, do STJ.
Ademais, nas operações materializadas por cédula de crédito bancário, a instituição
financeira pode cobrar juros capitalizados (juros sobre juros) em período inferior a um
ano, afastando o entendimento da súmula 121, do STF (art. 28 da Lei 10.931).

Toda cédula de credito pode ser instituída por qualquer tipo de garantia na própria
cártula, ou seja, os já frequentes avais, mas também por garantias reais (penhor,
hipoteca e alienação fiduciária).

A CCB é título de crédito causal e dependente.

 LEGISLAÇÃO:

A legislação aplicável é a MP 2.160-25, convertida na Lei 10.931/04, sendo aplicada


supletivamente a LUG.

Havia a discussão quanto a aplicação supletiva do Código Civil em relação às cédulas


de crédito constituídas após a vigência do Código Civil, mas entende-se que a LUG tem
aplicação supletiva, sendo o Código Civil somente aplicado na omissão da LUG.

 REQUISITOS:

Entre os requisitos da cédula de crédito bancário destacam-se:

(I) A cédula de crédito bancária pode ser emitida em diversas vias, no entanto
somente uma é negociável, sendo as demais apontadas como cópias.

(II) A cédula de crédito bancária pode ser retificada (art. 29, §1º, da Lei
10.931/04). Assim como a duplicata, a cédula de crédito bancária pode ser
levada a protesto por indicação na forma do art. 8º, parágrafo único da Lei
9.492/97.

217
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(III) A cédula de crédito bancária também faz parte do rol de exceções quanto
ao protesto regressivo, ou seja, não há necessidade de protestar o titulo
no caso de cobrança em relação aos coobrigados (art. 44, da Lei 10.931/04).

(IV) A lei permite que essas instituições lastreadas na sua carteira de cédula de
crédito bancária, emita um titulo denominado certificado de cédulas de
credito bancário. Esse certificado é emitido considerando a quantidade de
cédulas de crédito bancária guardadas pela instituição financeira. Esse
certificado também é uma promessa de pagamento, que é emitida em favor
de outra instituição financeira ou qualquer outra pessoa jurídica que queira
investir na instituição que emitiu o certificado. Em regra, esse certificado
é vinculado a uma taxa atrelada ao CDI.

Ademais, esse certificado pode ser emitido de forma escritural ou


documental, por expressa previsão normativa. Por existir essa previsão, há
discussão doutrinária quanto a possibilidade de cédula de crédito bancária
escritural, embora a Lei 10.931/04 não preveja a possibilidade de emissão
de cédula de crédito bancária escritural.

(V) Segundo a melhor doutrina, deve-se aplicar a disposição do art. 889, §3º,
do CC, uma vez que não há previsão expressa na Lei 10.931/04, nem na
LUG, o Código Civil. Dessa forma, há autores que entendem que há
possibilidade de tornar escritural a cédula de crédito bancária e qualquer
outro título de crédito.

CÉDULAS DE CRÉDITO TRADICIONAIS CÉDULAS DE CRÉDITO BANCÁRIO


São necessariamente vinculadas a um Podem ter origem em qualquer operação
contrato de financiamento para bancária ativa e não apenas a
atividade produtiva. financiamentos para atividade
produtiva.

 GARANTIAS:

Como aludido anteriormente, pode-se instituir garantias reais na cédula de crédito


bancário, podendo ser instituído penhor, hipoteca e alienação fiduciária.

A garantia real pode ser feita na própria cedula ou em titulo separado.

 REGISTRO:

A eficácia da CCB e sua validade não dependem de registro, mas as garantias reais
ficam sujeitas aos registros e averbações.

O art. 27 c/c 42 da Lei 10.931 estabelece a necessidade de registro no Registro de


Imóveis em caso de garantia real.

218
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Art. 27 da Lei 10931: “A Cédula de Crédito Bancário poderá ser emitida, com ou
sem garantia, real ou fidejussória, cedularmente constituída.
Parágrafo único. A garantia constituída será especificada na Cédula de Crédito
Bancário, observadas as disposições deste Capítulo e, no que não forem com elas
conflitantes, as da legislação comum ou especial aplicável.”

Art. 42 da Lei 10931: A validade e eficácia da Cédula de Crédito Bancário não


dependem de registro, mas as garantias reais, por ela constituídas, ficam sujeitas,
para valer contra terceiros, aos registros ou averbações previstos na legislação
aplicável, com as alterações introduzidas por esta Lei.

 AVAL:

Pode a CCB ter também a garantia fidejussória do AVAL. Não vai ser fiança nesse caso,
porque o art. 44 manda aplicar a CCB a legislação cambial, então essa garantia vai ser
o AVAL.

O art. 27 estabelece nome específico mesmo que não tenha uma garantia real.

 CIRCULAÇÃO:

A CCB pode ser negociada por endosso, sendo que apenas o credor pode negociar, e a
circulação da CCB é por meio de ENDOSSO EM PRETO.

 PAGAMENTO:

Quando a CCB é paga o título é devolvido para o devedor.

 PROTESTO:

O protesto na CCB é sempre FACULTATIVO. E a ação cambial prescreve em 3 anos


contra o emitente porque são títulos cambiariformes, ou seja, são regulados pela
legislação dos títulos cambiais.

A CCB pode ser protestada por indicação. O art. 8, par. único da Lei 9492/97 preve o
chamado protesto por indicação. O título não é entregue diretamente ao tabelião. As
informações do título são lançadas em sistema e por esse sistema que se comunica com
o tabelionato, as informações são recebidas pelo tabelionato por meio desse sistema.

Assim, o tabelião não tem a vista do título, mas ele tem as informações do título
recebidas por meio virtual. Com base nessas informações, intima-se o devedor a pagar.
Se o devedor não pagar, essas indicações que ele recebeu, o tabelião irá lavrar o
protesto.

219
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Assim, o tabelião poderá protestar com base no titulo que ele tem em mãos ou com
base em indicações a protesto, informações da dívida, que são remitidas ao tabelião
por meio virtual (sistema).

O art. 43 da Lei estabelece que a CCB não precisa ser apresentada ao tabelião para
fins de protesto.

Se houver irregularidade ou vício no protesto, a responsabilidade é da instituição


financeira (do informante, daquele que passou as informações p protesto); o tabelião
não deverá responder nesse caso.

 EXECUÇÃO:

O art. 28 da Lei 10.931 estabelece que a CCB é titulo executivo extrajudicial, líquido
e certo.

Ao se executar uma CCB tem que se deixar demonstrado toda a evolução do montante
da dívida, devendo-se apresentar uma planilha de cálculo de evolução da dívida
quando da execução.

 LIQUIDEZ DA CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO:

A cédula somente será considerada líquida se estiver representanto o valor total e


atualizado da dívida, com todas os extratos e planilhas.

As informações têm que ser prestadas cronologicamente e de forma organizada, por


meio de planilha e demonstrativos financeiros. O consumidor poderá confrontar os
valores apresentados pela instituição financeira por meio de embargos.

A matéria é tratada no art. 28, par. 2 da Lei 10.931, que estabelece que a CCB não
pode ser cobrada sem os extratos demonstrativos.

 CERTIFICADO:

A cédula de crédito bancário não admite a desmaterialização, conforme se depreende


do art. 29, §§2º e 3º e art. 41.

Assim, a cédula de crédito bancário não admite versão eletrônica, devendo


necessariamente observar a cartularidade (documento emitido). A CCB será emitida
sempre por escrito. É título cartular.

JULGADO JURISPRUDÊNCIA
REsp 1398356  Local onde deverá ser realizado o protesto de cédula de
crédito bancário garantida por alienação fiduciária;
 É possível, à escolha do credor, o protesto de cédula de crédito
bancário garantida por alienação fiduciária, no tabelionato em

220
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

que se situa a praça de pagamento indicada no título ou no


domicílio do devedor.
REsp 1291575  Cédula de crédito bancário é título executivo mesmo na
abertura de crédito em conta-corrente.
 A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial,
representativo de operações de crédito de qualquer natureza,
circunstância que autoriza sua emissão para documentar a
abertura de crédito em conta-corrente, nas modalidades de
crédito rotativo ou cheque especial. O título de crédito (Cédula
de Crédito Bancário) deve vir acompanhado de claro
demonstrativo acerca dos valores utilizados pelo cliente. A Lei
nº 10.931/2004 traz, de maneira taxativa, a relação de
exigências que o credor deverá cumprir, de modo a conferir
liquidez e exequibilidade à Cédula (art. 28, § 2º, incisos I e II).

Casos Concretos:

Questão 1)

BANCO POVÃO S.A ajuizou ação de execução em face de ALBEMIR MONTES,


aparelhando a inicial com uma cédula de crédito bancário vinculado a contrato de
abertura de crédito rotativo, bem como com o demonstrativo dos valores utilizados
por ABEMIR, no valor total de R$ 30.000,00. Regularmente citado, ABEMIR embargou
a execução, requerendo a extinção do feito executivo, alegando a inexistência de
título executivo, uma vez que, a despeito de estar aparelhada a execução em Cédula
de Crédito Bancário, o contrato subjacente é de abertura de crédito rotativo em
conta corrente, o qual não é considerado título executivo. Como juiz da causa,
analise o mérito da presente demanda à luz do entendimento do E. Superior
Tribunal de Justiça. A resposta deve ser fundamentada, apresentando os
dispositivos legais aplicáveis à hipótese. (Resposta em até 15 linhas).

Resposta:

A pretensão do Banco Povão S.A. deve ser acolhida. A CCB é título executivo
extrajudicial, representativo de operações de crédito de qualquer natureza,
circunstância que autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em
conta corrente, nas modalidades de crédito rotativo ou cheque especial.

O título de crédito deve vir acompanhado de claro demonstrativo acerca dos valores
utilizados pelo cliente, trazendo o diploma legal, de maneira taxativa, a relação de
exigências que o credor deverá cumprir, de modo a conferir liquidez e exequibilidade
à cédula (art. 28, par. 2, I e II da Lei 10.931).

221
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O mérito da demanda é se a CCB é titulo liquido ou não. Porque titulo executivo


sabemos que é. Em relação a liquidez, aplica-se o art. 28, par. 2, i e ii da Lei 10931.
A CCB é sim titulo executivo desde que acompanhada de modo claro dos valores e
demonstrativos utilizados pelo cliente, de modo a conferir liquidez e exequibilidade
ao título de credito.

Não havendo essa demonstração de forma clara dos valores cobrados, poderá o
consumidor confrontar o contrato com a planilha financeira fornecida pelo banco.

Vide REsp 1291575.

222
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Aula 15 – Prof. Alexandre Assumpção


6/11/18

EMENTA:  CONHECIMENTO DE DEPÓSITO, WARRANT, CÉDULA DE DEPÓSITO


AGROPECUÁRIO E WARRANT AGROPECUÁRIO.
 Armazéns gerais.
 Títulos especiais emitidos pelos armazéns gerais.
 Circulação.
 Direitos do portador do título.
 Extravio ou destruição dos títulos.
 Certificado de depósito agropecuário e warrant agropecuário.
 Emissão.
 Requisitos legais.
 Registro.
 Circulação.
 Baixa do registro.
 Direito dos portadores do título.

Na aula de hoje estudaremos os títulos representativos de mercadorias.

A matéria é regulada no Decreto 1102/1903 que trata dos armazéns gerais e também
dos títulos do conhecimento de depósito e warrant.

Esses dois títulos estão ligados a depósitos de mercadorias nesses estabelecimentos de


armazens gerais.

Até o ano de 2004 só existia para representar as mercadorias depositadas nos armazens
gerais o título conhecimento de deposito e o warrant.

Em 2004 foram criados dois títulos voltados especificamente para o agronegócio, para
produtos agropecurários e derivados, resíduos de valor economico e subprodutos.
Foram criados: (i) o Certificado de Deposito Agropecuário e (ii) o Warrant
Agropecuário.

Art. 46 da Lei 11076/2004 consagra que quando o depositante solicitar ao armazem


geral produtos agropecuários não pode ser emitido conhecimento e o warrant, tem que
ser emitido o CDA e o WA, uma vez houve uma especilização. Essa lei fez uma cisão:
para produtos específicos utiliza-se o CDA ou WA, e para os demais produtos (não
agropecuários) permanecem os títulos tradicionais.

Vamos iniciar o estudo pelos títulos tradicionais:

 CONHECIMENTO DE DEPÓSITO E WARRANT:

Esses dois títulos são emitidos juntos, unidos (art. 15 do Decreto 1102). É crime a
emissão de um sem a emissão do outro. São títulos causais. A causa é o depósito de
mercadoriais que não sejam produtos agropecuários.

223
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Embora esses dois títulos sejam emitidos juntos, eles podem circular separadamente.

Qual a função do título conhecimento de depósito?

A função do título conhecimento de depósito é representar a PROPRIEDADE DA


MERCADORIA depositada, ou seja, o beneficiário, a pessoa, cujo nome consta no
conhecimento de depósito presumidamente é o proprietário da mercadoria. Isso
porque o beneficiário do conhecimento do depósito pode transferir o título, e ao
transferir o título, transfere a propriedade da mercadoria.

Quem são as partes no título de conhecimento de depósito?

É também um título causal, cuja causa está relacionada ao depósito da mercadoria. O


emitente do conhecimento de depósito é o DEPOSITÁRIO, é aquele que recebe a
mercadoria.

O beneficiário é o primeiro endossante – aquele que tem o direito de primeiro receber


as mercadorias – é a figura do DEPOSITANTE.

Qual a forma de transferência do conhecimento de depósito?

A forma de transferência do conhecimento do deposito é sempre o ENDOSSO (art. 15


do Decreto 11.102). O endosso não é um “pague-se”, na verdade, esse endosso
funciona como um “ENTREGUE-SE”. Entregue a mercadoria ao endossatário, porque o
endosso transfere o direito de propriedade ao endossatário. O endosso representa uma
ordem de entrega da mercadoria.

Para retirar a mercadoria temos que apresentar o conhecimento. O conhecimento


funciona como recibo. Só se retira a mercadoria mediante a entrega do título.

Se o depositante não solicitar a emissão desses títulos, qual vai ser a prova do
depósito?

O art. 15 do Decreto 11.102 consagra que os títulos conhecimento e warrant são títulos
emitidos a pedido. Contudo, na forma do art. 6, quando não for emitido o
conhecimento de deposito ou warrant, deve-se emitir um RECIBO DE DEPÓSITO.
Atenção pois esse recibo não tem natureza cambiária, ou seja, ele não circula.

Qual o prazo de deposito?

O prazo de depósito é de 6 meses, prorrogáveis por mais 6 meses.

224
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

É possível a retirada parcial da mercadoria?

Durante o prazo de depósito, pode-se retirar parte da mercadoria (ex: deixei 100 sacos
de soja e retiro 10 sacos), devendo ser anotado a RETIRADA PARCIAL. A retirada parcial
é anotada no verso do título.

Qual a diferença do recibo para o título do conhecimento de deposito?

Se a intenção do depositante é negociar a mercadoria, com tradição simbólica ele não


vai precisar do recibo. Porque o recibo não vai poder ser endossado. Neste caso, o
recibo não serve, ele deve solicitar os títulos. Aí, terá que emitir os dois títulos, tanto
o conhecimento de deposito quanto o warrant. Se ele quiser negociar a mercadoria,
ele terá que receber os 2 títulos.

O conhecimento de depósito e warrant não podem ser emitidos juntos com o recibo,
ou seja, é um ou o outro. Apenas com o recibo verifica-se que a mercadoria nao pode
ser mobilizada (negociada). Já com o conhecimento ou warrant a mercadoria pode ser
mobilizada (negociada).

Durante o prazo de depósito o conhecimento ou warrant podem ser emitidos. É possível


pedir a substituição do recibo pela emissão de conhecimento e warrant. O
conhecimento e warrant podem ser emitidos na entrada da mercadoria, ou podem ser
emitidos durante o prazo de depósito, mediante a substituição do recibo pelos títulos.

Qual a finalidade do título de warrant?

O direito brasileiro não traduziu o nome do título, mantendo-se o nome originário.


Alguns países traduziram para nota ou cautela de penhor.

O WARRANT serve para garantir. É um título que representa um direito de garantia


sobre as mercadorias depositadas. As mercadorias depositadas são bens moveis e
direito real de garantia sobre bens moveis é o PENHOR. É um título que incorpora uma
garantia real sobre mercadorias (penhor).

O direito real de penhor é aquele que o warrant incorpora. O warrant não é pago em
mercadoria, ele é pago em DINHEIRO, sendo protestável por falta de pagamento. Só
que embora ele seja pago em dinheiro, ele representa um direito real, por isso que
toda retirada tem que ser retirada nos dois títulos, inclusive no warrant.

É um título de credito À ORDEM só que representativo de um DIREITO DE PENHOR.

Esse conceitos básicos também se aplicam ao CDA e o WA.

225
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Como funciona a circulação dos títulos?

Os títulos circulam por ENDOSSO (art. 15) pois os dois títulos são à ordem. Em relação
à circulação temos também o art. 18. Que consagra que os títulos podem circular
unidos ou separadamente.

Assim, temos 3 hipóteses de circulação, quais sejam:

(i) Endosso dos Titulos Unidos;


(ii) Endosso apenas do Conhecimento; e
(iii) Endosso apenas do Warrant.

Passemos à analise de cada uma dessas situações de endosso:

(i) ENDOSSO DOS TÍTULOS UNIDOS:

Aqui o warrant nao é separado, ou seja, o endossante entrega o conhecimento junto


com o warrant. O endossatário tem a livre disposiçao da mercadoria. O endosso dos
títulos unidos não significa dupla endosso. É pegar os titulos unidos, não desmembrar,
lançar o entregue-se no verso do conhecimento e entregar esse título junto com o
warrant.

O endosso do conhecimento transfere a propriedade da mercadoria, e o endosso do


warrant constitui o penhor. Se a intenção é apenas transferir a propriedade da
mercadoria vc vai endossar o título apropriado, ou seja, o conhecimento. Embora, o
endosso seja dos títulos unidos, nao se vai endossar o warrant.

Como o endossatário tem os 2 títulos, ele tem a plena disposição, podendo fazer o que
quiser com a mercadoria, na forma do art. 21.

(ii) ENDOSSO APENAS DO CONHECIMENTO:

Desmembra-se o conhecimento do warrant. Separa mas não endosso os dois. Endossa-


se apenas o conhecimento. O depositante endossa o conhecimento, mas não entrega o
warrant. Ele retem o warrant. Quando ele retem o warrant, ele está simbolicamente
retendo a mercadoria.

Nesse caso, diz-se que o endosso do conhecimento, separado do warrant, tem efeito
de retenção simbolica da mercadoria. Se não se entrega o endossatário do
conhecimento, o warrant, ele não pode retirar a mercadoria.

O alienante vai reter a mercadoria até o adimplemento de determinada condição (por


isso ele segura o warrant). Se a condição for alcançada, aí sim entrega-se o warrant,
e aí ele terá a livre disposição da mercadoria.

226
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O portador do warrant que endossou o conhecimento exerce a retenção da mercadoria


e uma vez adimplida a condição, ele terá que entregar o warrant.

O portador do warrant, ex-proprietário da mercadoria, não pode endossar esse


warrant, ele pode apenas reter o warrant e a mercadoria. Isso porque é crime vc dar
em penhor sem ser proprietário. Não se pode constituir o penhor de uma mercadoria
que não é mais dele.

A unica coisa que o endossante do conhecimento pode fazer é reter o warrant e


entregá-lo apos o implemento da condição.

O efeito dessa 2 hipotese é o DIREITO DE RETENÇÃO pelo antigo proprietário.

(iii) ENDOSSO APENAS DO WARRANT:

O endossante não endossa o conhecimento, ele endossa apenas o warrant. O endosso


do warrant tem a finalidade de constituir um penhor sobre a mercadoria (mercadoria
total ou o remanescente da mercadoria após a retirada parcial).

A lei no art. 19 determina que seja feito um procedimento. Não basta endossar, deve
observar um procedimento especial. O endossante do warrant tem que anotar no verso
do warrant que foi constituida uma dívida, pagável em dinheiro que é garantida pelas
mercadorias representadas no warrant.

Essas mesmas informações terão que ser inseridas no título do conhecimento e


assinadas pelo CREDOR PIGNORATÍCIO (endossatário do warrant).

Essa formalidade toda existe pois o bem dado em penhor pode ser vendido (penhor não
impede a alienação do bem), a mercadoria warrantada pode ser vendida. Então, como
o novo proprietário vai saber que esta adquirindo uma mercadoria que foi warrantada?
Ele terá ciência da dívida em razão justamente desse procedimento de se anotar as
informações nos títulos. Assim, os adquirentes dessa mercadoria saberão que as
mercadorias estão gravadas com penhor.

Visa informar terceiro adquirente de que a mercadoria que está sendo comprada está
gravada.

Qual o procedimento a ser adotado no caso de perda do título?

Em caso de perda ou extravio dos títulos é indispensável comunicar o Armazém Geral


para que não entregue as mercadorias. E deve-se, ainda, fazer publicações nos jornais
do local do Armazem comunicando a perda, na forma do art. 27 da Lei.

Como se dá a cobrança ou pagamento desses títulos?

227
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Se o conhecimento ou warrant não foram negociados, eles deverão apresentar os dois


títulos no Armazém. Se o Armazem não entregar, será cabível entrar com uma Ação
para Entrega de Coisa Certa.

Se apenas o conhecimento for endossado (endosso dos títulos unidos) e a parte

Se o conhecimento for endossado, mas o warrant foi retido, não se pode retirar a
mercadoria. Então enquanto o warrant não for entregue ao endossatário, a mercadoria
está bloqueada. Uma vez entregue o warrant ao endossatário, ai ele pode ir no
Armazém retirar a mercadoria. Se o Armazém não quiser devolver, cabivel Ação por
Entrega de Coisa Certa.

Se apenas o warrant for endossado, existe uma dívida pagável em dinheiro, oriunda do
primeiro endosso. O art. 23 da Lei preve um procedimento de cobrança: o credor
pignoratício vai procurar o Armazém e verificar se a dívida foi consignada pelo portador
do conhecimento. Isso porque o art. 22 autoriza a retirada da mercadoria dada em
penhor mediante consignação em pagamento. Se ele não conseguir resgatar esse
penhor por algum motivo, ele não precisa entrar com ação de consignação em
pagamento, ele pode fazer extrajudicialmente, fazendo a consignação no Armazém
Geral mediante o depósito na conta do Armazém. Ele saberá os valores da dívida
porque foram reproduzidos no próprio título. Se ele fizer essa consignação, ele vai
entregar o conhecimento para o Armazém. Nesse caso, o penhor foi resgatado por meio
da consignação em pagamento. Logo, nesse caso, após o pagamento, o Armazem
passará recibo dessa consignação, liberando a mercadoria, mediante a entrega do
conhecimento. O Armazem irá pagar ao credor pignoratício o valor consignado, e o
warrant será devolvido ao Armazém.

Suponhamos que não tenha consignação, a dívida do warrant venceu. Nesse caso,
deverá ocorrer o PROTESTO DO WARRANT por falta de pagamento, na forma do art. 23
da Lei.

Nos outros títulos que são protestáveis, o protesto é prévio a ação judicial. Aqui é
diferente. Depois do protesto do título, o credor pignoratício irá vender a mercadoria
em leilão (direito de excussão). Essa venda é extrajudicial, não se tem que entrar em
juizo. Promove-se a venda da mercadoria warrantada no próprio Armazém Geral. O
credor pignoratício vai ao Armazém, apresenta a certidão do protesto; o Armazém,
então, promoverá a venda da mercadoria no próprio Armazém. Não precisa entrar com
execução de penhor requerendo o leilão judicial da mercadoria. O leilão será
extrajudicial.

Uma vez realizado o leilão, temos 3 possibilidades:

(i) Em relação ao resultado do leilão, se recebeu tudo, da-se quitação do warrant,


e devolve-se o warrant ao Armazém. O próprietário perdeu a mercadoria com a
venda no leilão. O proprietário pode resgatar a mercadoria até o momento do
leilão.

228
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(ii) Se com a venda da mercadoria em leilão houver um saldo a maior, esse saldo a
maior deverá ser entregue ao portador do conhecimento (proprietário da
mercadoria).

(iii) Se com a venda da mercadoria em leilão o valor arrematado não for suficiente
para quitar o valor da garantia e além disso o credor pignoratício somente recebe
o valor liquido, ou seja, do valor pago pelo arrematante existem descontos
obrigatórios, tais como, comissão do leiloeiro, impostos, taxas de armazenagem
que estiverem pendentes junto ao Armazém (art. 26 da Lei). Apos esse
descontos, temos o produto liquido.

Se o produto liquido não pagar a divida do credor pignoratício, então, nesse caso,
caberá Ação de Execução do Saldo. O credor pignoratício não vai devolver o
warrant para o Armazém. O credor pignoratício vai pedir para o Armazem anotar
quanto recebeu, ele vai juntar a documentação, protesto, certidão do leilão, e
vai entrar com a execução para a cobrança do saldo (art. 25).

Qual o prazo prescricional para entrar com ação de execução no caso de venda de
mercadoria em leilão cujo produto foi insuficiente para quitar a dívida?

O prazo prescricional é de 3 anos a contar da data do leilão para o credor pignoratício


entrar com a ação de execução.

 CERTIFICADO DE DEPÓSITO AGROPECUÁRIO (CDA) E WARRANT AGROPECUÁRIA


(WA):

Esses títulos foram criados especificamente para produtos agropecuários. A finalidade


desses títulso foi permitir que esses títulos sejam negociados no mercado de capitais
(Bolsa e Mercado de Balcão), na forma do art. 16 da Lei 11.076/2004.

Qual é o modus operandis desses títulos?

Tanto a CDA quanto o WA são títulos causais, logo tem que ocorrer o deposito da
mercadoria.

Hipotese 1) Se não tiver interesse em negociar a mercadoria como ativo financeiro,


emite-se apenas o recibo de deposito.

Hipotese 2) Se houver interesse de negociair a mercadoria como ativo financeiro, o


Armazem emitirá os títulos CDA (titulo que representa a propriedade da mercadoria)
e WA (penhor).

229
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Para a negociação do mercado de valores mobiliários têm que ter registro do título.
Nenhum valor mobiliário será negociado sem registro. Não se negocia titulo no mercado
cartular, é sempre escritural.

Tem-se 30 dias (da data de emissão dos títulos) para submeter a CDA e WA a registro
no mercado (art. 15) – na B3. Se não fizer em 30 dias, caduca. Deve-se voltar par ao
Armazem e pedir outro.

Uma vez registrado, a negociação não vai ser feita no papel. Será feita no documento
eletronico. Aquele titulo cartular, tem que passar a escritural, a partir do momento
registro (art. 3). Com o registro, o título passa a ser eletrônico. Ai o endosso ocorrerá
de forma eletrônica, tudo feito pelo sistema. É a ideia de commoditie. A negociação
pode ser sucessiva (podemos ter varios endossos).

Quando o ultimo portador não quiser mais negociar, ele solicita a baixa do registro.
Com a baixa do registro, tem-se que retirar a mercadoria. Apos a baixa, o titulo que
estava em custodia, é entregue ao novo proprietário e aí é formalmente endossado
para saber quem é o novo proprietário (so aparece na cartula o ultimo endosso, as
demais transferências estão registradas no sistema). Leva-se o título ao Armazem Geral
para liberar a mercadoria.

É como se fosse uma lagarta que vira borboleta, e que depois volta a ser lagarta. Era
papel (cartula), com o registro do título na B3 (instituição do mercado financeiro
responsável pelo registro) ocorre a DESMATERIALIZAÇÃO, o título fica em custódia com
a entidade registradora. Poderão ocorrer transferências (circulação) desse título – mas
tudo por meio de sistema (as negociações são todas eletrônicas). O último portador vai
pedir para dar baixa no registro, devolve-se o título (cartula) ao proprietário com a
formalização do ultimo endosso. Aí com o título em mãos, o portador do título poderá
ir ao Armazem para retirar a mercadoria mediante a apresentação dos dois títulos.

No caso do WA, o título está registrado na B3. Imaginemos que o titular do título precise
de um financiamento com o banco. Dá-se uma ordem para a entidade registradora
negocie o Warrant (que está eletrônico), que vai transferir eletronicamente o WA para
o credor pignoratício. Paguei a dívida, o banco dá a baixa no registro, receb-se os
títulos de volta e retiro a mercadoria do Armazém.

Se não pagar a dívida, o banco não recebeu, deve-se PROTESTAR o WA. O credor pede
para a B3 dar baixa no registro. Entrega o Warrant na mão do credor e ele vai promover
o leilão, na forma do art. 17 da Lei.

Casos Concretos:

Questão 1)

José Bento interpôs agravo de instrumento contra a decisão proferida nos autos da
ação cautelar que move contra Topper Corretora S/A., na qual o juiz a quo indeferiu

230
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

a liminar pleiteada para vedar a entrega para a agravada de 200 sacas de café de
sua propriedade, depositadas em armazém geral. Sustentou o agravante ser
proprietário das citadas 200 sacas de café beneficiado, tipo 6-30, da safra 2006-
2007, depositadas nos armazéns da Cooperativa de Produção dos Cafeicultores de
Silvestre Ferraz. Aduziu que a armazenadora expediu, na forma da lei, o warrant
representativo dos créditos das mercadorias depositadas. Alegou que endossou o
conhecimento de depósito unido ao warrant à agravada para garantia de eventual
débito, que, contudo, não possui certeza e liquidez, tanto que não houve
preenchimento do campo relativo à quantia devida e à data de vencimento no
warrant. Assim, aduziu que jamais transferiu os créditos da mercadoria à recorrida.
Entretanto, esta procurou a depositária do café e, com o intuito de requerer a
transferência da mercadoria, apresentou uma declaração, na qual afirma que lhe
teriam sido transferidos, por endosso, os direitos sobre ela. Sustentou que os títulos
são desprovidos de legalidade, não possuindo a agravada qualquer direito sobre as
sacas de café, tendo a decisão monocrática se equivocado, ao considerar que ela
estaria no exercício regular de seu direito, quando pleiteia a transferência da
mercadoria. Requereu a atribuição de efeito suspensivo ativo ao agravo, para
deferir a liminar e impedir que a agravada retire do depósito a mercadoria. A
agravada, devidamente intimada, apresentou contraminuta, na qual observou que
somente na hipótese de circulação isolada do warrant é que o valor da dívida por
ele garantido deverá ser anotado no verso do conhecimento, sendo certo que se o
warrant não circulou separadamente, não há necessidade de discriminação dos
valores da dívida. Analise o caso sob todos os aspectos.

Resposta:

No caso em tela houve emissão conhecimento de deposito e do warrant. É caso da 1


hipotese de endosso (endosso do conhecimento unida ao warrant), ou seja, o
endossatário tem a plena disposição da mercadoria.

O Armazem Geral não pode se negar a devolver a mercadoria. A liminar deve ser
indeferida e a decisão deve ser mantida. Isso porque o endosso do conhecimento unido
ao warrant, na forma do art. 18 c/c art. 21, confere a livre disposição da mercadoria
ao endossatário. Logo, não há razão para vedar ao Armazem Geral a entrega da
mercadoria, se os dois títulos forem entregues ao Armazem.

Questão 2)

Irmãos Soares & Cia. Ltda. depositou num armazém geral 5.000 sacas de café, que
foram dadas em penhor ao Banco Milenar S/A., mediante endosso do warrant. É
lícito ao depositante vender a mercadoria empenhada? Por quê? Explique e dê o
amparo legal.

Resposta:

231
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O caso em tela trata da 3 hipótese de endosso estudada (endosso apenas do warrant).


O depositante pode vender a mercadoria, isso porque o bem dado em penhor não fica
impedido de ser vendido. A forma de se vender a mercadoria, nesse caos, é endossar
o conhecimento, mesmo a mercadoria estando gravada.
Quem comprar o conhecimento terá o ônus de pagar a dívida, o credor pignoratício
deverá procurar o banco e pagar. Pagando, ele pega o warrant e junto com o
conhecimento poderá resgatar a mercadoria. O credor pignoratício poderá ainda fazer
a consignação junto ao Armazem Geral e liberar a mercadoria.

232
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 16 – Prof. Alexandre Assumpção


6/11/18

EMENTA:  CONHECIMENTO DE TRANSPORTE.


 Conhecimento de frete ou de transporte.
 Natureza jurídica.
 Figuras intervenientes.
 Formas de circulação.
 Responsabilidade do endossante.
 O stoppage in transitu.
 A responsabilidade do emitente.
 Cláusula de não indenizar.
 Conhecimento de transporte multimodal.

 CONHECIMENTO DE TRANSPORTE:

O conhecimento de transporte foi criado pelo Decreto 19.473/1930. Tal decreto se


aplica apenas ao transporte terrestre, não se aplicando ao transporte aéreo e
transporte marítimo.

É um título representativo de mercadoria, só que não a mercadoria depositada, e sim


a mercadoria recebida para transporte.

O momento de emissão desse título é quando a mercadoria é recebida para transporte.


O contrato de transporte pode ser de pessoa ou de coisas. No caso do titulo de
conhecimento de transporte somente se aplica ao transporte de cargas e mercadorias.

É um título causal. O título descreve a mercadoria, não existe o warrant no contrato


de transporte. Representa a propriedade da mercadoria. Quando se transfere o
conhecimento de transporte, transfere-se a propriedade da mercadoria (tradição
simbólica).

Quem emite esse título? Quem são as figuras desse título?

O EMITENTE é o transportador (obrigado principal) que recebe a mercadoria para


transporte. É o emitente quem assina o conhecimento de transporte.

IMPORTANTE!!!!
O conhecimento de depósito e o de transporte não são títulos executivos
extrajudiciais, logo é cabivel a ação prevista no art. 700, II do CPC (admite ação
monitória). Já o warrant é título executivo, logo caberá ação de execução.

O REMETENTE é a pessoa que entrega a carga ao transportador. Deve constar o nome


do remetente no conhecimento

233
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

O DESTINATÁRIO é o beneficiário, ou seja, é a pessoa a quem a carga deve ser entrega.


O nome correto é consignatário.

O art. 6, parágrafo único do decreto 19.430 preve ação sumária, só que não existe mais
ação sumária, logo caberá a ação monitória. Se o emitente não entregar a mercadoria
cabe ação monitória com base no art. 700, ii do CPC.

Como funciona a circulação do título de conhecimento de transporte?

O Decreto 1930 prevê que o conhecimento é título à ordem, podendo circular por
endosso. Pelo endosso do conhecimento de transporte, transfere-se simbolicamente a
mercadoria que está sendo transportada.

O primeiro endossante é o destinatário. O destinatário pode, antes da entrega da


mercadoria, endossar o conhecimento. Se o conhecimento for endossado, o
endossatário vai apresentar o conhecimento ao transportador para retirar a
mercadoria.

O art. 4 do decreto admite o endosso-mandato. Se o endossatário não puder retirar a


mercadoria, ele constitui um procurador para proceder a retirada da mercadoria.

O remetente pode ser o destinatário, logo quando o remetente for também


destinatário ele poderá endossar ou lançar o endosso mandato.

O Decreto 20.454/31 (tem força de lei) admite que o conhecimento possa ser emitido
NÃO À ORDEM, logo, nesse caso, a transmissão se dará por meio de CESSÃO DE CRÉDITO.
A cessão de crédito só é eficaz se houver notificação (art. 290 do CC). A cláusula não
à ordem tem que ser sempre expressa.

Qual a finalidade do título de conhecimento de transporte?

O conhecimento de transporte tem por finalidade provar o recebimento da mercadoria.

Quais os requisitos essenciais do título de conhecimento de transporte?

São requisitos essenciais do título de conhecimento de transporte:

(i) Nome do emitente;


(ii) Número de ordem;
(iii) Data da Emissão;
(iv) Nome do Remetente e Consignatário;

234
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(v) Lugar de Partida e Destino;


(vi) Descrição da carga;
(vii) Valor do Frete (indicando se o frete já foi pago ou a pagar). A falta de
pagamento do frete autoriza a retenção da mercadoria; e
(viii) Assinatura do Transportador.

Nada impede que o conhecimento seja digital (a assinatura também deverá ser digital).
Se não tiver expresso na lei a necessidade do título ser escrito, ele poderá ser
desmaterializado, ou seja, poderá ser por meio digital, mas deverá observar os mesmos
requisitos.

O Decreto admite a emissão do conhecimento ao portador, só que isso não é mais


admitido desde a Lei 8088/90 que proibiu a emissão de títulos ao portador.

Somente se após a Lei 8088 tiver uma autorização em lei especial quanto a
possibilidade “ao portador” é que a emissão ao portador será válida.

É admitido o endosso no conhecimento de transporte?

Sim! O endosso pode ser feito em branco ou em preto (art. 3 do Decreto).

O art. 5 preve que o endosso é puro e simples, e o endosso parcial é nulo. O endosso
não pode ser subordinado a condição, sendo eventual condiçao considerada não
escrita.

Qual a responsabilidade do endossante no conhecimento de transporte?

De acordo com o art. 6 do Decreto, o endossante do conhecimento não responde pela


entrega da mercadoria, ou seja, se o transportador não entregar não cabe ação
monitória contra o endossante.

Somente responde pela falsidade do título – responsabilidade civil e criminal.

Em que consiste o stoppage in transitu?

A matéria é prevista no art. 7 do Decreto. O endossatário ou destinatário pode,


exibindo o conhecimento, dar uma ordem para que se interrompa/pare o transporte
da mercadoria quando está estiver em trânsito (nesse caso o destinatário deverá
indicar um terceiro para receber a mercadoria). Os custos serão arcados pelo
destinatário.

Além da figura do conhecimento de transporte, temos:

235
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 TRANSPORTE MARÍTIMO: existe o conhecimento marítimo que é regulado pelo


art. 575 do Código Comercial; e

 TRANSPORTE AÉREO: existe o conhecimento aéreo que é regulado pelo art. 235
da Lei 7565/86.

 TRANSPORTE MULTIMODAL: existe o conhecimento multimodal, sempre se


referindo ao transporte de cargo e foi instituído pelo art. 10 da Lei 9611/98.
Aqui em um único contrato se engloba duas ou mais modalidades de transporte.
Ex: carga que vai de avião e por meio de transporte terrestre.

 CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR:

A claúsula de não indenizar é considerada nula no contrato de transporte, na forma da


Sumula 161 do STF, porque a responsabilidade do transportador é objetiva. Se não
entregar a mercadoria, o transportador terá que indenizar.

Casos Concretos:

Questão 1)

Determinado órgão da administração estadual direta contratou, por licitação, a


compra de mercadorias a distância para entrega através de transporte rodoviário.
No conhecimento de transporte emitido, consta a informação "frete a pagar pelo
destinatário", cumprindo a exigência do inciso VII, do art. 2º, do Decreto nº
19.473/30. A informação foi dada pelo remetente e vendedor ao transportador. O
destinatário alega que nunca se responsabilizou pelo pagamento do frete e não é
parte no contrato de transporte, portanto não pode responder pela cobrança. O
transportador invocou o art. 436, parágrafo único, do Código Civil para concluir
que, se a mercadoria foi recebida - fato inconteste - presume-se a anuência do
destinatário com a estipulação feita pelo remetente e contida no conhecimento.
Caso seja proposta uma ação de cobrança do frete em face do destinatário, como
juiz da causa, acolheria ou não a alegação de ilegitimidade passiva? Justifique.

Resposta:

Sim, porque não se pode vincular a Adm. Pública ao contrato de transporte uma vez
que ela nao participou de tal contrato. Ademais, ela não anuiu quanto a essa
estipulação (art. 436 do CC). Não se aplica a Teoria da Aparência para a Administração
Pública, nem tampouco a anuência tácita.

A simples indicação da Adm. Pública na nota fiscal emitida pelo transportador não é
suficiente para provar a anuência da Adm. Pública.

TJPR Apelação 12298717 da 16 Camara Civil.

236
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Questão 2)

Celebrado contrato de transporte multimodal de cargas, não foi a mercadoria


entregue no prazo convencionado, o que causou prejuízos ao destinatário e ao
expedidor, em face do rompimento de negócios futuros. Apurou-se que a
responsabilidade pelo atraso ocorrera por culpa do transportador ferroviário,
contratado pelo operador de transporte multimodal. É lícito ao operador de
transporte multimodal imputar, como argumento exoneratório de
responsabilidade, o fato de terceiro? Analise a questão sob todos os aspectos.

Resposta:

Não. Isso porque a responsabilidade do transportador é objetiva. No caso do transporte


multimodal mesmo que o operador venha a contratar terceiro para a prestação de
serviço, ele responde pelas ações desse terceiro. A Lei 9611 consagra no art. 12 que o
operador é responsavel pelas ações e omissoes de terceiros contratados, como se essas
ações fossem próprias.

237
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Aula 17 – Prof. Pablo


7/11/18

EMENTA:  OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO I.


 Letras de crédito imobiliário (LCI).
 Emissão.
 Requisitos.
 Negociação.
 Cédula de crédito imobiliário.
 Emissão.
 Requisitos.
 Negociação.
 Certificado de recebíveis imobiliários (CRI).

 LETRA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LEI 10.931/04):

 CONCEITO:

Trata-se de um título de renda fixa, criado pela Lei 10.931/04. Nesse caso, a
instituição financeira concede crédito imobiliário, tendo uma quantidade deles, seja
garantido ou não, poderá juntar essa carteira de crédito imobiliário e emitir letra de
crédito imobiliário (LCI). Podem ser emitidos inúmeras letras de crédito, desde que
não ultrapassem o valor da carteira de crédito imobiliário.

São promessas de pagamento, que asseguram aos titulares direitos de crédito pelo
valor nominal, juros e, se for o caso, atualização monetária nelas estipulados, sendo
garantidos por créditos hipotecários ou alienação fiduciária de imóveis.

 OBJETIVO:

O objetivo é de capitar dinheiro para fomentar o mercado imobiliário. O interessante


é que a captação desse dinheiro tem uma destinação específica. Dessa forma, os
financiados serão as construtoras, adquirentes, aqueles que dependem de dinheiro
para movimentar o sistema imobiliário.

Esse título foi criado para incentivar a circulação de riquezas, sendo isento de
Imposto de Renda para pessoa física.

 CARACTERÍSTICAS:

São características da LCI como investimento:

(I) Pessoas físicas que compram LCI são isentas de imposto de renda e IOF; PJ
segue tabela.

238
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(II) Não é um título de liquidez imediata – é necessário o prazo mínimo de 90


dias para resgate.
(III) Liquidação diária após o prazo (resgate mínimo)
(IV) Cobertura pelo fundo Garantidor de Crédito (FGC) de até R$ 250.000,00.

 EMISSÃO:

O art. 12 da Lei 10.931/04 diz quem poderá emitir:

“Art. 12. Os bancos comerciais, os bancos múltiplos com carteira de crédito


imobiliário, a Caixa Econômica Federal, as sociedades de crédito imobiliário, as
associações de poupança e empréstimo, as companhias hipotecárias e demais
espécies de instituições que, para as operações a que se refere este artigo,
venham a ser expressamente autorizadas pelo Banco Central do Brasil, poderão
emitir, independentemente de tradição efetiva, Letra de Crédito Imobiliário -
LCI, lastreada por créditos imobiliários garantidos por hipoteca ou por alienação
fiduciária de coisa imóvel, conferindo aos seus tomadores direito de crédito pelo
valor nominal, juros e, se for o caso, atualização monetária nelas estipulados.
§ 1º - A LCI será emitida sob a forma nominativa, podendo ser transferível
mediante endosso em preto, e conterá:
I - o nome da instituição emitente e as assinaturas de seus representantes;
II - o número de ordem, o local e a data de emissão;
III - a denominação "Letra de Crédito Imobiliário";
IV - o valor nominal e a data de vencimento;
V - a forma, a periodicidade e o local de pagamento do principal, dos juros e, se
for o caso, da atualização monetária;
VI - os juros, fixos ou flutuantes, que poderão ser renegociáveis, a critério das
partes;
VII - a identificação dos créditos caucionados e seu valor;
VIII - o nome do titular; e
IX - cláusula à ordem, se endossável.
§ 2º - A critério do credor, poderá ser dispensada a emissão de certificado,
devendo a LCI sob a forma escritural ser registrada em sistemas de registro e
liquidação financeira de títulos privados autorizados pelo Banco Central do
Brasil.”

Dessa forma, somente podem ser emitidas por instituições financeiras autorizadas
pelo Banco Central, com carteira de credito imobiliário.

São características da emissão:

(I) Forma nominativa


(II) Não pode ser ao portador – deve ser transferida por endosso em preto
(III) Podem ser emitidas na forma escritural (não física – eletrônica) ou de
certificado (forma física)
(IV) Trata-se de título causal.

239
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(V) É emitida pelo banco, que é devedor do crédito imobiliário.

 REQUISITOS:

O art. 12, §1º da Lei 10.931/04 traz os seguintes requisitos:

(I) Nome da instituição emitente e as assinaturas de seus representantes;.

(II) Número de ordem, o local e a data de emissão;

(III) Denominação Letra de Crédito Imobiliário – serve para garantir o


conhecimento do seu regime jurídico;

(IV) Valor nominal e a data de vencimento;

(V) Forma, a periodicidade e o local de pagamento do principal, dos juros e,


se for o caso, da atualização monetária;

(VI) Juros, fixos ou flutuantes, que poderão ser renegociáveis, a critério das
partes;

(VII) Identificação dos créditos caucionados e seu valor;

(VIII) Nome do titular; e

(IX) Cláusula à ordem, se endossável.

 GARANTIAS:

Formas de garantia:

(I) Garantia obrigatória – a LCI deve ser lastreada por créditos imobiliários por
hipoteca ou por alienação fiduciária de coisa imóvel (art. 12). Trata-se
de uma garantia compulsória.

(II) Garantia não-obrigatória – a LCI poderá contar com garantia fidejussória


adicional de instituição financeira (art. 14). Se inserida essa outra
garantia, traz uma maior segurança e menor rentabilidade a LCI.

(III) A LCI poderá ser garantida por um ou mais créditos imobiliários, mas a
soma do principal das LCI emitidas não poderá exceder o valor total dos
créditos imobiliários em poder da instituição emitente (art.15) – há uma
fungibilidade, ou seja, pode haver a substituição das garantias, desde que
seja mantido o seu lastro (art.15, §2º).

240
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

 CIRCULAÇÃO:

A LCI pode circular por endosso e, diferente da letra de câmbio, nota promissória e
cheque, não está implícita no título a cláusula à ordem. A circulação desses títulos é
apenas pro soluto, ou seja, os endossantes não serão devedores cambiários indiretos.

A LCI não pode ser emitida ao portador e nem circular ao portador. Dessa forma, há
uma grande diferença dos títulos anteriormente tratado.

 RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE:

Segundo o art. 16, o endossante da LCI responderá pela veracidade do título, mas
contra ele não será admitido direito de cobrança regressiva. Essa característica
também diferencia a LCI dos demais títulos de crédito (o endossante não garante
pagamento). Essa característica está sempre presente nos títulos de financiamento.

 CÉDULA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LEI 10.931/04)

 CONCEITO:

A cédula de crédito imobiliário é uma promessa de pagamento em dinheiro, podendo


ser emitida na forma documental ou escritural, tendo origem nos créditos
imobiliários. A instituição financeira pode repartir os riscos relativos a um contrato
de concessão de crédito imobiliários .

A instituição financeira realiza o contrato de financiamento e emite uma cédula de


crédito imobiliário que representa o crédito decorrente desse contrato de crédito
imobiliário. A instituição financeira pode emitir diversas cédulas relativas a um
contrato de crédito imobiliário, somente não podendo ultrapassar o valor do
montante vinculado a esse contrato de crédito imobiliário.

 OBJETIVO:

A emissão de cédula de crédito imobiliário é uma forma de fragmentar a concessão


do crédito imobiliário. O objetivo desse título foi incentivar a construção civil
(função de captação de recursos mediante a transferência de um crédito imobiliário).

Assim, a CCI permite que a transferência do crédito imobiliário ocorra de forma mais
simples e ágil, facilitando o acesso aos recursos, oriundos especialmente das
secutitizadoras. Quem adquire a CCI antecipa recursos e se torna titular do crédito
imobiliário representado, podendo lançar mão inclusive de execução para o
recebimento do crédito, salvo se houver outro procedimento previsto para o
recebimento do crédito representado.

No entanto, pelo enfraquecimento mercado, tem-se emitido cédula de crédito


imobiliário relativo a contrato de locação.

241
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 FIGURAS JURÍDICAS:

(I) Sacador – instituição financeira, que é a credora


(II) Sacado – é o devedor (aquele que pega o dinheiro emprestado), o
financiado.

 CARACTERÍSTICAS:

(I) Trata-se de um título causal


(II) É emitida pelo credor do crédito imobiliário – instituição financeira.
(III) Pode ser emitida de forma integral (quando representar a totalidade do
crédito) ou fracionária (quando representar parte dele) – não pode a soma
das fracionárias exceder o valor total do crédito que elas representam (art.
18, §1º).
(IV) Trata-se de título executivo extrajudicial – é exigível pelo valor apurado de
acordo com as cláusulas e condições pactuadas noções contrato que lhe deu
origem (art. 20).
(V) Deve ter seguro obrigatório em caso de morte – não pode ser escolhido pela
instituição (se não tiver escolha, configura venda casada).

 EMISSÃO:

Decidida a emissão da CCI, pode­se optar pela forma escritural ou nominativa


cartular. No primeiro caso, ela funcionará como uma espécie de conta corrente de
titularidade do beneficiário. Ela será emitida mediante escritura pública ou
instrumento particular, devendo esse instrumento permanecer custodiado em
instituição financeira e registrado em sistemas de registro e liquidação financeira de
títulos privados autorizados pelo Banco Central do Brasil. No caso da forma nominativa,
haverá a emissão de um certificado.

A emissão e a negociação de CCI independe de autorização do devedor do crédito


imobiliário que ela representa (art. 21). Dessa forma, não tem aceite na CCI, o lastro
é o contrato de financiamento.

 REQUISITOS:

O art. 19 traz os seguintes requisitos:

(I) Denominação cédula de crédito imobiliário;


(II) Qualificação do credor e do devedor, e no caso de emissão escritural
também a do custodiante;
(III) Identificação do imóvel;
(IV) Modalidade da garantia, se for o caso;
(V) Número e a série da cédula;
(VI) Valor do crédito e data de vencimento;

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(VII) Forma de pagamento;


(VIII) Condição integral ou fracionária;
(IX) Local e data de emissão;
(X) Assinatura do credor, se cartular;
(XI) Autenticação do cartório de imóveis no caso de garantia real;
(XII) Cláusula à ordem, se endossável – a CCI é endossável, mas não é cláusula
geral (deve estar prevista).

 GARANTIAS:

A CCI pode ser com ou sem garantia, mas na prática acaba sendo com (art. 18, §3º).
Podem ser oferecidas garantias reais sobre a cédula de crédito imobiliário, podendo
ser penhor, hipoteca e alienação fiduciária. Caso o crédito imobiliário tenha garantia
real, a cédula de crédito imobiliário deve ser averbada no RGI (art. 18, §5º). Tal
averbação não será possível, se o registro do imóvel já possuir prenotação ou registro
de qualquer outro ônus real.

A cédula de crédito imobiliário também pode ser securitizada, ou seja, a instituição


financeira pode reunir todas as cédulas de crédito imobiliário que tiver e emitir um
certificado de recebíveis imobiliários.

 CIRCULAÇÃO:

Será endossável, se contiver cláusula à ordem.

 RESPONSABILIDADE DO ENDOSSANTE

O endossante será garantidor do pagamento, uma vez que é uma operação específica,
individualizada, podendo se impor a responsabilidade ao endossante. A Lei 10.931/04
não trata dessa questão quanto a cédula de crédito imobiliário, assim, aplica-se a LUG.

 CERTIFICADO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS (CRI):

O CRI é título de crédito, de livre negociação, lastreado em créditos imobiliários e


constitui promessa de pagamento em dinheiro. Trata-se da chancela do crédito para
que esse possa ser circulado com lastro. Dessa forma, refere-se a securitização de
imobiliários e é disciplinada pela Lei 9.514/97. Securitização é o ato de transformar
um fluxo financeiro em um título de renda fixa negociado no mercado de capitais
(art. 8º da Lei 9514/97) Uma sociedade securitizadora ao emitir CRIs transforma fluxos
imobiliários, como aluguel, em título.

São negociados no mercado de renda fixa da B3 e registrados na CETIP (Central de


Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados).

 OBJETIVO:

243
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A securitizadora de créditos imobiliários será uma instituição não financeira


constituída sob a forma de sociedade anônima, tendo por finalidade a aquisição e
securitização desses créditos e a emissão e colocação, no mercado financeiro, de
Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), podendo emitir outros títulos de
crédito, realizar negócios e prestar serviços compatíveis com as suas atividades. Em
outras palavras, ela também será uma sociedade anônima de propósito específico que
poderá emitir os CRIs ( art. 3º da Lei 9.514/97).

CARACTERÍSTICAS

(I) Título causal


(II) A emissão do CRI se dá sob a forma escritural – cabe o registro e a
negociação do CRI a sistemas centralizados de custódia e liquidação
financeira de títulos privados.
(III) É possível a negociação no mercado de capitais, desde que atendidas as
condições impostas pela legislação pertinente.

FIGURAS JURÍDICAS

(I) Sacador – é a securitizadora

(II) Tomador – é o títular

A função de devedor está no sacador e, por isso, não tem sacado.

EMISSÃO

Ao adquirir os créditos, a securitizadora os reunirá em grupos e elaborará um termo


de securitização que conterá a identificação do devedor e o valor nominal de cada
crédito que lastreie a emissão, com a individuação do imóvel a que esteja vinculado e
a indicação do Cartório de Registro de Imóveis em que esteja registrado e respectiva
matrícula, bem como a indicação do ato pelo qual o crédito foi cedido. Além disso,
conterá também a identificação dos títulos emitidos e a constituição de garantias,
se for o caso.

Após a elaboração de tal termo, serão emitidos os CRIs, que são títulos de crédito
nominativos, de livre negociação, lastreados em créditos imobiliários, que
representam promessas de pagamento, que podem ter até garantia flutuante (um
privilégio geral sobre o ativo da emitente). Quem adquire o CRI fornece recursos à
securitizadora e passa a ser credor dela, com a remuneração decorrente dos
créditos securitizados.

REQUISITOS

O art. 7º da Lei 9.514/97 estabelece que o CRI deve conter os seguintes requisitos:

244
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(I) Nome da companhia emitente;


(II) Número de ordem, local e data de emissão;
(III) Denominação Certificado de Recebíveis Imobiliários;
(IV) Forma escritural;
(V) Nome do titular;
(VI) Valor nominal;
(VII) Data de pagamento ou, se emitido para pagamento parcelado,
discriminação dos valores e das datas de pagamento das diversas parcelas;
(VIII) Taxa de juros, fixa ou flutuante, e datas de sua exigibilidade, admitida a
capitalização;
(IX) Cláusula de reajuste, observada a legislação pertinente;
(X) Lugar de pagamento;
(XI) Identificação do Termo de Securitização de Créditos que lhe tenha dado
origem.

GARANTIAS

No CRI, a garantia não é obrigatória. Poderá existir garantia real, fidejussória ou até
mesmo flutuantes (art. 7º, §2º da Lei 9.514/97). No caso da garantia flutuante, há uma
classificação do crédito no caso de concurso de curadores e gera o direito de receber
antes dos demais (tem privilégios em relação aos quirografários).

CIRCULAÇÃO

Trata-se de um título de livre circulação e negociação.

245
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Aula 18 – Prof.
7/10/18

EMENTA:  OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO II.


 Letra imobiliárias garantidas.
 Emissão.
 Requisitos.
 Carteira de ativos e regime fiduciário.
 Circulação e pagamento.
 Letra hipotecária.
 Emissão.
 Requisitos.
 Negociação.
 Cédula hipotecária.
 Emissão.
 Requisitos.
 Negociação.
 Cumprimento da obrigação.

Letra Imobiliária Garantida (LIG)

A LIG é título de crédito nominativo, transferível e de livre negociação, garantido


por Carteira de Ativos, submetida ao regime fiduciário disciplinado na forma da Lei
13.097/15. Assim, verifica-se que a LIG além de possuir todas as características da LCI,
é considerada mais segura. Por isso, deve acabar substituindo-a.

Trata-se de um instrumento muito similar ao das debêntures, que representam


empréstimos públicos feitos pela sociedade emitente, outorgando apenas direitos de
crédito, neste caso necessariamente garantidos por carteira de ativos submetidos a um
regime próprio (regime fiduciário).

Figuras jurídicas

(I) Sacador – instituição financeira

(II) Sacado – investidor


Diferenças da LCI

LCI LIG
O lastro somente pode se dar em crédito A captação é para o investimento no
imobiliário. mercado imobiliário, mas é possível que
dê lastro em outros ativos, que não apenas
imobiliários (tem uma maior
versatilidade).

246
Emerj CPIII-A Direito Empresarial

Não possui um regime próprio. Está necessariamente submetida ao


regime fiduciário.

Objetivo

O objetivo da LIG também é de captação de recursos. sos poderão ser próprios ou de


terceiros. Neste último caso, podem advir de diversas fontes, inclusive da captação
junto ao público por meio da emissão de LIG, dada a vedação de utilização de
debêntures por tais instituições.

Características

(I) Trata-se de título executivo extrajudicial (art. 64, §1º da Lei 13.097/15) –
executoriedade independe do protesto.
(II) Isenta de IR para a pessoa física.
(III) Trata-se de uma promessa de pagamento.
(IV) Aplicação subsidiária da LUG

Requisitos

O art. 64 da Lei 13.097/15 traz os seguintes requisitos:

(I) Denominação “Letra Imobiliária Garantida”;


(II) Nome da instituição financeira emitente;
(III) Nome do titular;
(IV) Número de ordem, o local e a data de emissão;
(V) Valor nominal;
(VI) Data de vencimento;
(VII) Taxa de juros, fixa ou flutuante, admitida a capitalização; outras formas de
remuneração, quando houver, inclusive baseadas em índices ou taxas de
conhecimento público;
(VIII) Cláusula de correção pela variação cambial, quando houver;
(IX) Forma, a periodicidade e o local de pagamento;
(X) Identificação da Carteira de Ativos;
(XI) Identificação e o valor dos créditos imobiliários e demais ativos que
integram a Carteira de Ativos;
(XII) Instituição do regime fiduciário sobre a Carteira de Ativos, nos termos desta
Lei;
(XIII) Identificação do agente fiduciário, indicando suas obrigações,
responsabilidades e remuneração, bem como as hipóteses, condições e
forma de sua destituição ou substituição e as demais condições de sua
atuação;
(XIV) Descrição da garantia real ou fidejussória, quando houver.

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Garantia

Entende-se por carteira de ativos Carteira de Ativos a obrigatória a separação de uma


série de créditos que irão, na forma da Lei no 13.097/2015, garantir o pagamento
das obrigações assumidas.

A carteira de ativos, de acordo com o art. 66 da Lei 13.097/15, pode ser integrada
pelos seguintes ativos:

(I) Créditos imobiliários;


(II) Títulos de emissão do Tesouro Nacional;
(III) Instrumentos derivativos contratados por meio de contraparte central
garantidora; e
(IV) Instrumentos derivativos; e
(V) Outros ativos que venham a ser autorizados pelo Conselho Monetário
Nacional.

Além disso, os ativos que integram a Carteira de Ativos não podem estar sujeitos a
qualquer tipo de ônus, exceto aqueles relacionados à garantia dos direitos dos titulares
das LIG. Como consequência, confere-se uma maior segurança com esse título.

O art. 70 da Lei 13.097/15 prevê que:

“Art. 70. Os ativos que integram a Carteira de Ativos submetida ao regime


fiduciário constituem patrimônio de afetação, que não se confunde com o da
instituição emissora, e:
I - não são alcançados pelos efeitos da decretação de intervenção, liquidação
extrajudicial ou falência da instituição emissora, não integrando a massa
concursal;
II - não respondem direta ou indiretamente por dívidas e obrigações da instituição
emissora, por mais privilegiadas que sejam, até o pagamento integral dos
montantes devidos aos titulares das LIG;
III - não podem ser objeto de arresto, sequestro, penhora, busca e apreensão ou
qualquer outro ato de constrição judicial em decorrência de outras obrigações da
instituição emissora; e
IV - não podem ser utilizados para realizar ou garantir obrigações assumidas pela
instituição emissora, exceto as decorrentes da emissão da LIG.”

Circulação e pagamento

É livremente negociada. Com tal negociação, o seu titular irá receber valores,
transferindo seus direitos a outra pessoa. A LIG e os ativos que integram a Carteira de
Ativos devem ser depositados em entidade autorizada a exercer a atividade de
depósito centralizado pelo Banco Central do Brasil, podendo ser negociadas
escrituralmente.

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Pagamento

Para receber o pagamento, o titular da LIG tem as seguintes opções:

(I) Aguardar o seu vencimento e buscar o recebimento do seu crédito


voluntariamente.

(II) Ingressar com uma ação executiva.

(III) Caso de falência, intervenção ou liquidação extrajudicial da instituição


financeira emitente – haverá o vencimento antecipado das obrigações e
os ativos integrantes da Carteira de Ativos serão destinados exclusivamente
ao pagamento do principal, dos juros e dos demais encargos relativos às LIG
por ela garantidas, e ao pagamento das obrigações decorrentes de contratos
de derivativos integrantes da carteira, dos seus custos de administração e
de obrigações fiscais.

(IV) Em caso de insuficiência da Carteira de Ativos para a liquidação integral


dos direitos dos investidores das LIG por ela garantidas, esses terão direito
de inscrever o crédito remanescente na massa concursal em igualdade de
condições com os credores quirografários.

(V) Em caso de solvência da Carteira de Ativos, definida conforme critérios


estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional, fica vedado o vencimento
antecipado das LIG por ela garantidas, ainda que decretados os regimes
especiais mencionados.

LETRA HIPOTECÁRIA (LEI 7.684/88)

As letras hipotecárias são títulos emitidos por instituições financeiras, autorizadas a


conceder créditos hipotecários, representando promessas de pagamento garantidas
por créditos hipotecários. Elas não representam o crédito hipotecário em si, mas um
instrumento de captação de recursos garantido pelo crédito hipotecário. É
disciplinada pela Lei 7.684/88.

Objetivo

Trata-se de um instrumento muito similar ao das letras imobiliárias, representando


por um lado um instrumento de captação de recursos e, por outro lado, uma alternativa
de investimento. Nesse caso, o risco é ainda menor, porque há uma garantia real sobre
créditos hipotecários de titularidade do emitente.

Características

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(I) Há uma boa margem de segurança – o valor total dos recursos obtidos por
meio das letras hipotecárias não poderá ser superior ao valor total de
créditos hipotecários da emitente.
(II) As letras deverão ter vencimento inferior ao dos créditos dados em garantia.
(III) Deverá ser mantido um controle extracontábil que permita a identificação
dos créditos caucionados.

Emissão

A letra hipotecária pode ser emitida sob a forma cartular ou escritural. Neste último
caso, ela funcionará como uma espécie de conta corrente de titularidade do
beneficiário. Caso ela seja emitida fisicamente, deverá ser feito um certificado.

O art. 1º, §2º da Lei 7.684/88 estabelece que a letra hipotecária deve conter os
seguintes requisitos:

(I) Nome da instituição financeira emitente e as assinaturas de seus


representantes;
(II) Número de ordem, o local e a data de emissão;
(III) Denominação Letra Hipotecária;
(IV) Valor nominal e a data de vencimento;
(V) Forma, a periodicidade e o local de pagamento do principal, da atualização
monetária e dos juros;
(VI) Juros, que poderão ser fixos ou flutuantes;
(VII) Identificação dos créditos hipotecários caucionados e seu valor;
(VIII) Identificação do beneficiário.

Garantia

Os créditos hipotecários não são transferidos, mas sim dados em garantia. Além disso,
em reforço, poderá ser estabelecida ainda garantia pessoal concedida por outra
instituição financeira.

Circulação

A letra hipotecária pode ser:

(I) Nominativa – sua negociação pressupõe a alteração dos livros do devedor.

(II) Endossável – o título é transferível por meio de endosso, ou seja, a simples


assinatura do titular no seu verso, sem que houvesse corresponsabilidade
do endossante pelo cumprimento da obrigação.

(III) Ao portador – transferível por simples tradição.

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

É interessante mencionar que Rubens Requião admite apenas as formas nominativa


e endossável, não mais admitindo a emissão ao portador

Cédula Hipotecária (DL 70/66)

Conceito

A cédula hipotecária é um título que visa captar recursos junto ao mercado pela
transferência, no todo ou em parte, de créditos hipotecários de titularidade do
emitente. Ela diferencia-se da LCI e da letra hipotecária pelo fatos e representar a
transferência desses créditos e não apenas serem dados em garantia.

Objetivo

Em suma, a cédula hipotecária é emitida, pelo credor, para representar créditos


hipotecários, transferindo­os no todo ou em parte. Caso represente a totalidade do
crédito, diz­ se que ela é integral, já quando representa uma parte do crédito, diz­se
que ela é fracionária. Neste último caso, a soma das cédulas referentes ao mesmo
crédito não poderá ultrapassar o valor total do crédito, sem o acréscimo de correção
monetária.

Tal operação não é admitida em qualquer situação, mas apenas nos casos previstos
no artigo 10 do Decreto­lei no 70/66. São eles:

(I) Poderá ser emitida para representar créditos hipotecários do sistema


financeiro de habitação – SFH.

(II) Poderá ser emitida representar qualquer crédito hipotecário, cujo credor
seja uma instituição financeira ou uma seguradora.

(III) Poderá ser emitida para representar quaisquer outros créditos hipotecários,
desde que sua emissão seja a favor de uma instituição financeira ou de uma
seguradora.

Emissão

Uma vez emitida a cédula, o crédito hipotecário a ela se incorpora, passando a circular
juntamente com o próprio documento. O titular da cédula será o titular do crédito e
terá o direito de recebê­lo. Não se trata de uma garantia, mas da transferência do
próprio crédito; prova disso é a possibilidade de novas transferências.

Requisitos

O art. 15 do DL 70/66 estabelece os seguintes requisitos:

(I) Nome, qualificação e endereço do emitente, e do devedor;

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Emerj CPIII-A Direito Empresarial

(II) Número e série da cédula hipotecária, com indicação da parcela ou


totalidade do crédito que represente;
(III) Número, data, livro e folhas do Registro­Geral de Imóveis em que foi inscrita
a hipoteca e averbada a cédula hipotecária;
(IV) Individualização do imóvel dado em garantia;
(V) Valor da cédula, os juros convencionados e a multa estipulada para o caso
de inadimplemento;
(VI) Número de ordem da prestação a que corresponder a cédula hipotecária,
quando houver;
(VII) Data do vencimento da cédula hipotecária ou, quando representativa de
várias prestações, os seus vencimentos de amortização e juros;
(VIII) Autenticação feita pelo oficial do Registro­Geral de Imóveis;
(IX) Data da emissão, e as assinaturas do emitente, com a promessa de
pagamento do devedor.
(X) Lugar de pagamento do principal, juros, seguros e taxa;
(XI) Denominação cédula hipotecária (Resolução no 228/72 – CMN).

Circulação

Esse título é regido pelo Decreto-lei 70/66 e sua emissão e circulação dispensam a
outorga conjugal.

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