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Rio de Janeiro – RJ
Junho 2015
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Rio de Janeiro – RJ
Junho 2015
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada por:
____________________________________________________________
Presidente, Profa. Dra. Jessie Jane Vieira de Sousa (UFRJ)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Arnaldo Érico Huff Júnior (UFJF)
____________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Aparecida Rezende Mota (UFRJ)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Muniz Ferreira (UFRRJ)
____________________________________________________________
Prof. Dr. Renato Luís do Couto Neto e Lemos (UFRJ)
4
RESUMO
ABSTRACT
AGRADECIMENTOS
Não foi fácil cursar o doutorado e, ao mesmo tempo, estar em sala de aula
na primeira experiência como professor. Ainda mais com as inseguranças da
condição de substituto, esse eufemismo para a terceirização docente. Por isso
mesmo, os agradecimentos não poderiam deixar de mencionar as pessoas que
fizeram parte desses dois universos paralelos, o doutorado na UFRJ e a docência
na UEFS.
No doutorado, o meu primeiro agradecimentoé para minha orientadora,
Jessie Jane. O desafio da ―orientação EAD‖ de um aluno tão ruim em cumprir
prazos e arrumar o texto, com a exigência que o trabalho acadêmico requer, foi
realizado com generosidade e rigor intelectual. Aprendi muito com você, não
apenas no processo de orientação, mas nas conversas informais, na sua genuína
preocupação com meu bem-estar pessoal e profissional. Sua história de vida e seu
modo de viver são inspiradores para mim e fazem o sentimento de gratidão andar
acompanhado do respeito e da admiração.
Ao professor Arnaldo Huff e à professora Maria Aparecida, pela
contribuição fundamental no exame de qualificação. Tentei qualificar ao máximo
o trabalho final a partir das críticas e sugestões feitas e espero qualificá-lo ainda
mais a partir da banca de defesa, pela qual agradeço a ambos desde já pela
disposição em participar. Aos professores Muniz Ferreira e Renato Lemos, que
também aceitaram o convite para a banca de defesa, agradeço pela disposição e
pela leitura crítica que certamente virá. Àqueles que contribuíram diretamente
com a pesquisa, seja doando documentos do acervo pessoal ou concedendo
entrevistas: Djalma Torres, Marcos Monteiro, Zwinglio Mota Dias, Anivaldo
Padilha, Jorge Pinheiro e Mozart Noronha.
Agradeço a todas as pessoas ligadas ao PPGHIS, tanto à coordenação
quanto ao corpo de funcionários. À turma que entrou comigo em 2011, em
especial o mídia-historiador Bruno Leal, a guatemaltecaAna Carolina, a chilena
Nashla Dahas, aargentina Isabel Leite, a mexicana Larissa Riberti, a historiadora
do ME Gislene Lacerda e o vice pra sempre Abner Sóstenos. Boas conversas,
viagens, companhias, cervejas, apuros. Uma variedade de temas, abordagens e
interesses compartilhados: América Latina, ditaduras, guerrilhas, massacres,
crimes, verdade, traumas, religião, política, movimentos sociais, futebol, ―aspas‖ e
9
etceteras. Todos os que fizemos muitos planos para ―depois da tese‖. A Grimaldo
Zachariadhes, o historiador da ditadura na Bahia, refugiado baiano em terras
fluminenses, meu muito obrigado pela hospedagem em Niterói.
Aterrissando em terras feirenses, a segunda parte dos agradecimentos,
ligados à docência, começam com a instituição que me recebeu de volta, agora
como professor. Ter sido estudante da casa e agora compor o corpo docente, ainda
que provisoriamente, me faz ser ainda mais identificado com a UEFS. Eu não
poderia começar em outra universidade e a minha primeira greve não poderia ser
em outro sindicato que não a ADUFS. Agradeço aos meus colegas Eurelino
Coelho, Rodrigo Osório, Larissa Penelu, André Uzeda, Diego Corrêa, Valter
Guimarães e Ana Maria pelo exemplo, força e incentivo. A todas as pessoas do
Centro de Pesquisas da Religião (CPR), especialmente a coordenadora Elizete da
Silva, minha orientadora na graduação e no mestrado, maior incentivadora da
minha trajetória acadêmica e maior exemplo de compromisso com a formação
d@s estudantes. À Maria do Carmo, que digitalizou meus fichamentos de livros,
teses, dissertações e fontes, transcreveu entrevistas e esteve sempre em alerta para
qualquer urgência, o meu muito obrigado. Agradeço às turmas que passaram pelas
disciplinas que ministrei até aqui, com as quais aprendi a ser professor no
cotidiano da sala de aula, das reuniões acadêmicas, administrativas e políticas.
Um agradecimento especial a alunos e alunas que me influenciaram com suas
ideias, lutas e descobertas: Rafaela Souza, Mabel Freitas, Luan Lima, Beatriz
Café, Maria Alice e também àqueles/aquelas de quem acompanhei ou acompanho
a pesquisa como orientador (Alex, Hilana, Simone, Vicência), professor de TCC
ou convidado na banca de defesa na monografia.
A todas as pessoas da Comunidade de Jesus, especialmente a meus amigos
de todas as horas, Aletuza e Jorge, companheiros de luta e inspiração. Alessandra
Lima, por trazer alegria e espontaneidade aos meus dias. E por último, mas não
menos importante, minha família, a começar pela minha mãe, por tudo, incluindo
me manter no Rio em 2011, sem bolsa e sem emprego, para cumprir os créditos
do doutorado; Geisa que acompanhou minha seleção em 2010; Luiza que se
mudou de vez pro Rio e agora é quem me recebe em casa quando vou pra lá;
Gabriela, que concluiu a graduação agora, Gidu, Mara e Tima, a trindade
veterana.
10
AP – Ação Popular
LISTA DE TABELAS
LISTA DE IMAGENS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 18
Capítulo III – Socialismo Cristão: o desafio marxista e a resposta cristã .............................. 125
O evangelho segundo Marx e o marxismo segundo a fé. .............................................................. 125
Os protestantes e as organizações de esquerda na ditadura ........................................................... 136
A Bíblia dos oprimidos: as lutas de classe e as querelas teológicas .............................................. 150
Capítulo VII – Ser evangélico na esquerda: da Constituinte às eleições presidenciais ......... 333
Os evangélicos e a participação política: pentecostalismo, ecumenismo e Missão Integral. ........ 333
Cristianismo e política: uma referência evangélica para a esquerda cristã.................................... 343
Eleições presidenciais: os evangélicos à direita e à esquerda........................................................ 363
Nem católico, nem marxista: a afirmação de uma esquerda evangélica ....................................... 378
INTRODUÇÃO
1
Apesar da historiografia recente optar por denominar o regime de Ditadura Civil-Militar,
enfatizando a participação civil no golpe, na legitimação ao governo e na gestão do Estado,
mantenho a designação tradicional Ditadura Militar por entender que a abordagem do trabalho
evidencia a participação civil no período, sem deixar de enfatizar o exercício do poder pelos
militares. Além disso, considero não ser possível compreender qualquer regime político sem
analisar suas bases sociais de legitimação ou contestação.
2
A bibliografia é extensa, por isso, cito aqui um trabalho por década entre os anos 1970 e 2014:
DELLA CAVA, Ralph. Igreja e Estado no Brasil do século XX: sete monografias recentes sobre o
catolicismo brasileiro (1961-1964). Cidade/ Estado: Estudos Cebrap, 12, abril-junho, 1975;
MAINWARING, Scott. A Igreja Católica e a política no Brasil (1916-1985). Trad. Heloisa Braz
de Oliveira Prieto. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989; BURITY, Joanildo. Religião e
democratização no Brasil:reflexões sobre os anos 80. Soc. Rcciíe. v lo. ri. 2. p. I67-192, ju1/dez,
1994; SERBIN, Kenneth P. Diálogos na sombra: Bispos e militares, tortura e justiça social na
ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2001; GOMES, Paulo Cesar. Os Bispos católicos e a
ditadura militar brasileira: a visão da espionagem. 1ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2014.
19
3
Referências básicas dessa abordagem encontram-se em: FRESTON, Paul. Protestantes e política
no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese (Doutorado em Sociologia) – Unicamp,
Campinas, 1993; PIERUCCI, Antonio Flavio. A realidade social das religiões no Brasil: religião,
sociedade e política. São Paulo: Hucitec, 1996; FERNANDES, Rubem (Org.). Novo nascimento:
os evangélicos em casa, na política e na igreja. Rio de Janeiro: Mauad, 1998;MACHADO, Maria
das Dores Campos. Política e religião: a participação dos evangélicos nas eleições. Rio de Janeiro:
FGV, 2006; SANTOS, Adriana Martins dos. A construção do Reino: a Igreja Universal e as
instituições políticas soteropolitanas (1980-2002). Dissertação (Mestrado em História Social),
UFBA, Salvador, 2009.
4
Exemplos: FERREIRA, Jorge; REIS FILHO, Daniel Aarão (Orgs.). Revolução e democracia
(1964-). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. (Coleção As esquerdas no Brasil);
DELGADO, Lucília de Almeida Neves; FERREIRA, Jorge (Orgs.). O tempo da ditadura: regime
militar e movimentos sociais em fins do século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.
(Coleção O Brasil Republicano, vol. 4).
5
RIDENTI, Marcelo. O Cristianismo político no Brasil. In. HISTÓRIA VIVA, Temas
Brasileiros, Edição Temática nº. 5. Esquerda no Brasil: uma história nas sombras. São Paulo:
Duetto, 2006, p. 72-77.
20
Quanto à relação entre direita e desigualdade, disse e repeti várias vezes que
a direita é inigualitária não por más disposições – e, portanto, pra mim, a
afirmação de que o inigualitarismo é a característica principal dos
movimentos de direita não se mostra como um juízo moral –, mas porque
considera que as desigualdades entre os homens são não apenas inalienáveis
(ou são elimináveis apenas com o sufocamento da liberdade) como são
também úteis, na medida em que promovem a incessante luta pelo
melhoramento da sociedade.7
7
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política.
Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Ed. UNESP, 1995, p. 20.
8
Ibidem, p. 21.
9
Ibidem, p. 78.
10
BLOCH, Ernst. O princípio da esperança. Vol. I. Trad. Nélio Schneider. Rio de Janeiro:
EDUERJ/Contraponto, 2005, p. 18.
22
13
Para pensar o conceito de ―agenda‖ utilizo o debate sobre a ―definição de agendas‖, cuja
preocupação básica está em compreender: ―1) como surgem novos assuntos públicos e por que
alguns (e não outros) ascendem às arenas públicas e ali permanecem (ou não); 2) que atores
participam do processo de definição de assuntos públicos‖ e considera ainda que: ―a emergência
de questões na agenda pública explica-se mais em termos da dinâmica social e política do que dos
atributos intrínsecos dos assuntos em disputa, ou seja, das ‗condições reais‘ dos problemas em
questão‖. FUKS, Mario. Definição de agenda, debate público e problemas sociais: uma
perspectiva argumentativa da dinâmica do conflito social. Rio de Janeiro: BIB, n° 49, 1° semestre
de 2000, p. 80.
14
ARAÚJO, Maria Paula. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na
década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 19.
24
15
A trajetória e as classificações do protestantismo serão discutidas no primeiro capítulo. Até a
primeira metade do século XX, prevaleceu o uso do termo ―protestante‖ para o conjunto de
denominações de origem imigrante ou missionária, europeia ou norte-americana, que aportou no
Brasil no século XIX. O termo ―evangélico‖, para designar as diferentes frações do protestantismo,
se tornou corrente na segunda metade do século passado, hegemonizando a classificação deste
segmento religioso a partir da abertura política.
16
A análise do pentecostalismo em três ondas ou movimentos pentecostais proposta por Paul
Freston (1993) tem sido bem aceita na historiografia do protestantismo. As divergências dizem
respeito à caracterização e designação de cada movimento pentecostal. A terceira onda, por
exemplo, tem sido chamada de ―neopentecostalismo” e ―pós-pentecostalismo‖. Ver: SIEPIERSKI,
Paulo D. Contribuições para uma tipologia do Pentecostalismo Brasileiro. In: GUERRIERO, Silas.
O estudo das religiões:desafios contemporâneos. São Paulo: Paulinas, ABHR, 2003.
17
A discussão sobre este segmento será aprofundada no primeiro capítulo, mas, para uma
compreensão panorâmica, pode-se consultar os verbetes ―Conselho Mundial de Igrejas‖ (p. 262-
269), ―Ecumenismo Espiritual‖ (p. 447-448) e ―Sociedade Responsável‖ (p. 1026-1027) em:
LOSSKY, Nicholas [et. al.]. Dicionário do movimento ecumênico. Tradução: Jaime Clasen.
Petrópolis: Vozes, 2005.
18
De 1909 a 1915 foi publicada nos EUA uma coletânea de 12 textos apologéticos que se
propunham a defender os fundamentos da fé cristã diante da crítica histórica dos textos bíblicos e
da Teologia Liberal. O termo ―fundamentalismo‖ foi assumido positivamente por igrejas e grupos
cristãos que adotaram a perspectiva da coletânea, que pode ser lida em edição brasileira:
25
20
A documentação do CEDI encontra-se disponível no site do projeto Memórias Ecumênicas
Protestantes, que também produziu um livro homônimo de depoimentos, muito utilizado neste
trabalho, e um documentário intitulado Muros e pontes: memória protestante na ditadura‖, ambos
divulgados em 2014. Endereço para consulta do acervo:
<http://koinonia.org.br/protestantes/acervo> Acesso em: 09 out. 2015.
27
21
Algumas entrevistas foram concedidas diretamente ao autor, outras foram realizadas por
pesquisadores do Centro de Pesquisas da Religião (CPR) da Universidade Estadual de Feira de
Santana (UEFS). Recorri também a coletâneas de entrevistas e depoimentos, impressas ou
audiovisuais, a exemplo dos recentes depoimentos à Comissão Nacional da Verdade, que
apresentou relatório final em 2014 sobre violações dos direitos humanos pelo Estado brasileiro
durante a ditadura militar (1964-1985). No capítulo sobre o feminismo cristão, utilizei os livros de
entrevistas com teólogos e teólogas da libertação sobre a mulher: TAMEZ, Elsa (Org.). As
mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições Loyola, 1990; TAMEZ, Elsa (Org.). Teólogos da
Libertação falam sobre a mulher.São Paulo: Edições Loylola, 1989.
22
Optei por apresentar as fontes ao longo dos capítulos, além de compartilhá-las nas referências
completas no final do trabalho para não sobrecarregar a leitura da introdução.
23
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5ª edição. Introdução, Organização e
Seleção: Sérgio Miceli. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009, p. 69.
28
24
Foi dessa forma que Weber definiu o conceito de ―espírito‖: ―um complexo de elementos
associados na realidade histórica que nós aglutinamos em um todo conceitual, do ponto de vista do
seu significado cultural‖. In: WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad.
Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 43.
25
LÖWY, Michael. A guerra dos deuses: religião e política na América Latina. Petrópolis: Vozes,
2000, p. 116.
29
PARTE I
CAMINHOS DO PROTESTANTISMO
A parte I é formada por dois capítulos. O primeiro tenta compreender a
experiência de ―Ser protestante na América Latina‖. O segundo capítulo, ―Igreja e
missão: redes institucionais, produção intelectual e sociabilidade religiosa‖, é uma
breve descrição das redes institucionais e intelectuais do ecumenismo e do
evangelicalismo.
31
Capítulo I
Ser protestante na América Latina
26
STOLL, David. Is Latin America turning protestant?The politics of evangelical growth.
Berkeley e Los Angeles, Califórnia: University of California Press, 1990.
32
27
FERES JUNIOR. João. A história do conceito de “Latin America” nos Estados Unidos. Bauru,
SP: EDUSC, 2005, p. 15-27.
28
Para um relato da inserção de cada denominação do protestantismo histórico no Brasil, consultar
ALMEIDA, Vasni de; SANTOS, Lyndon de Araújo; SILVA, Elizete da (Org.). Fiel é a palavra:
leituras históricas dos evangélicos protestantes no Brasil. Feira de Santana: UEFS Editora, 2011.
33
29
“Sua Alteza Real, o Príncipe Regente de Portugal, declara, e se obriga no seu próprio nome, e no
de seus herdeiros e sucessores, que os vassalos de Sua Majestade Britânica, residentes nos seus
territórios e domínios, não serão perturbados, inquietados, perseguidos, ou molestados por causa
da sua religião, mas antes terão perfeita liberdade de consciência e licença para assistirem e
celebrarem o serviço divino em honra do Todo-Poderoso Deus, quer seja dentro de suas casas
particulares, quer nas suas igrejas e capelas, que sua Alteza Real agora, e para sempre
graciosamente lhes concede a permissão de edificarem e manterem dentro dos seus domínios.
Contanto, porém, que as sobreditas igrejas e capelas sejam construídas de tal modo que
externamente se assemelhem a casas de habitação; e também que o uso dos sinos não lhes seja
permitido para o fim de anunciarem publicamente as horas do serviço divino”. Tratado de Aliança
e Amizade (1810), Portugal e Inglaterra, apud. REILY, Ducan Alexander. História documental do
protestantismo no Brasil. 3ª ed. São Paulo: ASTE, 2003, p. 47.
30
A primeira Constituição do Império brasileiro (1824) reconhecia o direito de culto aos acatólicos
com as mesmas condições do acordo de 1810 entre Portugal e Inglaterra. A Constituição das
Províncias Unidas do Rio da Prata (1826), a chilena (1833) e a argentina (1853) também garantiam
tolerância religiosa aos súditos britânicos e o direito de enterrarem seus mortos em cemitério
próprio, uma vez que os cemitérios públicos eram administrados pela Igreja Católica. BASTIAN,
Jean-Pierre. Protestantismos y modernidad latinoamericana: historia de unas minorías religiosas
activas en America Latina. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1994.
31
Cronologia da inserção anglicana: Brasil (1819), Argentina (1824), Venezuela (1834), Chile
(1837), Uruguai (1840), Costa Rica (1848) e Peru (1849). Os luteranos se estabeleceram
posteriormente, por ordem, Venezuela (1834), Argentina (1845), Uruguai (1857), México (1861),
Chile (1867), Peru (1899), Bolívia (1923) e Guatemala (1929). GONZALEZ, Ondina E.,
GONZALEZ, Justo. L. Cristianismo na América Latina: uma história. Tradução: Valdemar
Kloker. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 277-295. Para a relação entre luteranismo e imigração
alemã consultar: DREHER, Martin N. Igreja e germanidade. 2ª ed. São Leopoldo, RS: Sinodal,
2003.
32
GONZALEZ; GONZALEZ, op. cit. p. 299.
33
No Paraguai, houve incentivo do governo à colonização menonita para povoar a região do
Chaco, que estava sendo disputada pela Bolívia. Durante o conflito, os menonitas se estabeleceram
nos dois países. GONZALEZ; GONZALEZ, op. cit., p. 299-304. Os menonitas eram parte do
movimento anabatista do século XVI. Ver: LINDBERG, Carter. As reformas na Europa.
Tradução: Luis Henrique Dreher e Luís Marcos Sander. São Leopoldo: Sinodal. 2001.
34
34
Exemplos significativos são os ―livros de viajantes‖ que faziam a propaganda do País para as
missões estrangeiras. O mais conhecido foi: FLETCHER, James Cooley; KIDDER, Daniel P.
Brazil and the Brazilians: portrayed in historical and descriptive sketches. 9ª ed. Boston: Little,
Brown, 1879. E também: KIDDER, Daniel P. Reminiscências de viagens e permanências no
Brasil: Rio de Janeiro e Província de São Paulo. Tradução: Moacir N. Vasconcelos. Brasília:
Senado Federal, Conselho Editorial, 2001.
35
SOUZA, Ely Ricardo Freitas de. Da intolerância político-religiosa à tolerância: Robert Reid
Kalley (1855-1876).Rio de Janeiro: Edição do autor, 2007.
35
36
BASTIAN, Jean-Pierre. Protestantismos y modernidad latinoamericana: historia de unas
minorías religiosas activas en America Latina. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica,
1994, p. 103.
37
David Gueiros Vieira chamou a atenção para a colaboração da maçonaria e das redes literárias,
políticas e intelectuais do liberalismo na promoção do protestantismo no Brasil, relação que fez
parte do cenário de conflito entre a Igreja Católica e a Coroa quando da ―questão dos Bispos‖ nos
anos 1870. VIEIRA, David Gueiros. O Protestantismo, a Maçonaria e a questão religiosa no
Brasil. 2ª edição, Brasília: Editora UNB, 1980.
38
Jean Pierre Bastian destacou a colaboração entre liberais radicais e protestantes no México, que
resultou numa política anticlerical agressiva (1873) e se estendeu até a Revolução Mexicana em
1910: BASTIAN, Jean-Pierre.Los disidentes:sociedades protestantes y revolución in Mexico,
1872-1911. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1989.
36
39
VIEIRA, op. cit., p. 209-212.
40
A religião foi um componente fundamental na elaboração do conceito de ―América Latina‖ nos
EUA e no discurso protestante, pois a modernidade, o individualismo, o trabalho, o progresso e a
democracia foram associados ao protestantismo, enquanto o catolicismo era identificado com o
Antigo Regime, o atraso, a pobreza, a falta de liberdade individual e a tirania política. Essa
alteridade assimétrica tornou-se comum nos estudos acadêmicos sobre a América Latina,
particularmente nas pesquisas dedicadas ao protestantismo, por autores que ―viram no crescimento
do protestantismo evangélico em Latin America uma cura para os males advindos do catolicismo‖,
dentre eles David Martin, Christian Smith, David Stoll e John Burdick. In: FERES JUNIOR. João,
A história do conceito de “Latin America” nos Estados Unidos. Bauru, SP: EDUSC, 2005, p. 22.
41
“Em toda a América Latina, particularmente no México, Peru, Rio da Prata e no Brasil, o ideal
da nacionalização do evangelismo, de criar um ministério e uma igreja identificados com a vida
nacional, impulsiona o protestantismo”.In: BRAGA, Erasmo. Pan-americanismo:aspectos
religiosos. Nova Iorque: Sociedad para la Educación Misionera en los Estados Unidos y el Canadá,
1917, p. 38, 39.
42
GONZALEZ, Ondina E.; GONZALEZ, Justo. L. Cristianismo na América Latina: uma história.
Tradução: Valdemar Kloker. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 337-348.
37
43
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 87.
44
REILY, Ducan Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. 3ª ed. São Paulo:
ASTE, 2003, p. 248-254.
45
LONGUINI NETO, op. cit., p. 104.
38
46
BONINO, José Miguez. Os rostos do protestantismo latino-americano. São Leopoldo: Sinodal.
2002, p. 31-46.
47
Todas as informações sobre as CELAs apresentadas a seguir foram consultadas nos livros:
PRIEN, Hans Jürgen. La historia del cristianismo en America Latina. Salamanca: Ediciones
Sígueme; São Leopoldo: Editora Sinodal, 1985, p. 888-898; BASTIAN, Jean-Pierre.
Protestantismos y modernidad latinoamericana: historia de unas minorías religiosas activas en
America Latina. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 1994, p. 206-207, 234;
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p.109-128.
48
Os documentos das Conferências Evangélicas Latino-americanas (CELA) podem ser
encontrados em: LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e
evangelical no protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 109-128.
39
(1) o CMI não é e nunca deve tornar-se uma super-igreja; (2) o objetivo do
CMI não é negociar uniões entre igrejas, o que só pode ser feito por elas
mesmas, agindo por iniciativa própria; (3) o CMI não pode e não deve
basear-se em nenhum conceito particular de igreja; ele não prejulga o
problema eclesiológico; (4) a filiação ao CMI não supõe que uma igreja trata
suas próprias concepções eclesiológicas como meramente relativas; (5) filiar-
se ao CMI não implica em aceitar uma doutrina específica referente à
natureza da unidade da igreja.51
49
Pode-se consultar o verbete World Council of Churches (WCC), escrito por Wilbert R.Shenk
para: HILLERBRAND, Hans. Joachim (Editor). The encyclopedia of protestantism. Nova Iorque e
Londres: Routledge, 2005. p. 821-866.
50
Sua primeira base de fé para as igrejas filiadas foi a declaração “O Conselho Mundial de Igrejas
é uma comunhão de igrejas que aceitam nosso Senhor Jesus Cristo como Deus e Senhor”. Para
uma descrição pormenorizada da criação do CMI por um dos seus protagonistas, ver: HOOFT,
W.A.Visser‘t. The genesis and formation of the World Council of Churches. Genebra, Suíça: WCC
Publications, 1982.
51
LOSSKY, Nicholas. Dicionário do movimento ecumênico. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 330.
41
52
FEY, Harold E. A History of the Ecumenical Movement,1948–1968. Vol. 2. Filadélfia:
Westminster Press, 1970.
53
Apud BURITY, Joanildo. Fé na revolução: protestantismo e o discurso revolucionário brasileiro
(1961-1964). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 121.
42
articulação e reflexão sobre o compromisso social dos cristãos e das igrejas com a
transformação da sociedade à luz dos princípios evangélicos.54
A juventude evangélica participava ativamente dos movimentos de
renovação das igrejas e possuía suas próprias organizações, como sociedades
internas nas igrejas (mocidade, juventude, etc.), grupos missionários ou de estudos
bíblicos. No Brasil, a mais importante para o ecumenismo protestante foi a União
Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB) que agregava os diferentes núcleos das
Associações Cristãs de Acadêmicos (ACA). A UCEB era filiada em nível
continental à União Latino-americana da Juventude Evangélica (ULAJE) e
internacionalmente à Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos
(FUMEC).55 Os eventos e publicações da juventude evangélica, como o Jornal da
Mocidade (presbiteriana) e a revista Cruz de Malta (metodista), foram
fundamentais para o aprofundamento do paradigma de responsabilidade social no
protestantismo brasileiro.
Os jovens que participavam das sociedades internas das igrejas do
protestantismo histórico destinadas à mocidade, e também os filiados à ACA e à
UCEB, foram os mais engajados no Departamento de Responsabilidade Social da
Igreja (DRSI), posteriormente Departamento de Igreja e Sociedade. Isso provocou
atritos com os pastores e as lideranças mais antigas da CEB. Analisando o
Protestantismo Ecumênico das décadas de 1950 e 1960, Elizete da Silva destacou
o protagonismo da juventude, o conflito de gerações nas igrejas e em órgãos
denominacionais e a influência da conjuntura histórica:
54
Sobre as mudanças no perfil da Confederação Evangélica do Brasil ver: GÓES, Paulo. Do
individualismo ao compromisso social: a contribuição da Confederação Evangélica do Brasil para
a articulação de uma ética social cristã. Dissertação (Mestrado) Instituto Metodista de Ensino
Superior, São Bernardo do Campo, 1985.
55
―A União de Estudantes para o Trabalho de Cristo foi organizada em 1926, com estudantes
secundaristas. Os grupos se reuniam nos grêmios estudantis, principalmente de colégios
evangélicos, e realizavam anualmente um congresso. Estabelecendo contatos com a FUMEC
[Federação Universal de Estudantes Cristãos], este trabalho fortaleceu seus objetivos missionários
e se expandiu. Em 1940, adotou o nome de União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB),
filiando-se oficialmente à Federação em 1942. O trabalho com estudantes universitários só foi
organizado em 1940, com o nome de Associação Cristã de Acadêmicos (ACA)‖. QUADROS,
Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo estudantil: uma história da Aliança Bíblica
Universitária do Brasil (1957-1987). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 29-30.
43
Com exceção de alguns indivíduos isolados, que liam por conta própria, e
pagaram caro por isso, nada se sabia, por exemplo de Barth, Brunner e
Bultman até a década de 1950. Não estou me referindo ao conhecimento dos
leigos. Refiro-me aos seminários que preferiam uma teologia metafísica que
iniciava seus textos com as provas da existência de Deus. Kant ainda não
havia nascido.57
56
SILVA, Elizete da. Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS
Editora, 2010, P. 71.
57
ALVES, Rubem. Dogmatismo e tolerância. São Paulo: Paulinas, 1981, p. 135.
58
No discurso dos fundamentalistas, o ―modernismo‖ era uma referência tanto a teologias e
doutrinas consideradas heterodoxas quanto a comportamentos ―mundanos‖, não cristãos ou
desviantes. Os dois aspectos estavam relacionados, entendendo-se que a heterodoxia implicava um
mal testemunho de vida.
59
Em contato com a biblioteca do Rev. João Dias de Araújo, colega de Rubem Alves e ex-aluno de
Richad Shaull no Seminário Presbiteriano de Campinas, pude verificar que todos os autores acima
citados estavam em inglês ou espanhol.
60
Sobre a importância de Richard Shaull para a teologia latino-americana e brasileira: FARIA,
Eduardo Galasso. Fé e compromisso: Richard Shaull e a teologia no Brasil. São Paulo: ASTE,
44
2002; HUFF JUNIOR, Arnaldo Érico. Um protestantismo protestante: Richard Shaull, missão e
revolução. Tese (Doutorado em História Social) – UFRJ, Rio de Janeiro, 2012.
61
Sobre suas experiências na Colômbia, pode-se consultar sua autobiografia: SHAULL, Richard.
Surpreendido pela graça: memórias de um teólogo: Estados Unidos, América Latina, Brasil. São
Paulo: Editora Record, 2003.
62
Arnaldo Huff Jr. escreveu um perfil biográfico de Richard Shaull para a editora Novos Diálogos:
HUFF JÚNIOR, Arnaldo Érico. Richard Shaull: uma teologia para a revolução. Rio de Janeiro:
Novos Diálogos, 2013. (Coleção Perfis Protestantes).
63
Elizete da Silva cita alguns artigos de Richard Shaull na revista Cruz de Malta: ―O cristão na
esquerda‖, ―O cristão no momento revolucionário de hoje‖, ―O que é mesmo que Cristo pode fazer
por nós?‖ Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS Editora
2010, p. 90.
64
HUFF JUNIOR, Arnaldo Érico. Um protestantismo protestante: Richard Shaull, missão e
revolução. Tese (Doutorado em História Social) – UFRJ, Rio de Janeiro, 2012, P. 204.
45
65
SHAULL, Richard. Somos uma comunidade missionária: oito estudos de preparação para o
testemunho. São Paulo: Imprensa Metodista, 1957, p. 10. Foi utilizado por outros grupos de estudo
da juventude protestante ecumênica e publicado na imprensa metodista.
66
―É preciso fazer um parêntese e recordar como era a vida e o programa da juventude evangélica
nesse período. Em geral os moços e moças se propunham a fugir do mundo, criando seu mundo de
relações sociais exclusivo, sentindo-se seguros apenas quando estavam dentro dos templos e salões
sociais. Além de momentos devocionais semelhantes aos cultos formais das igrejas, realizavam o
encontro social dos sábados à noite, jogando pingue-pongue, comendo bolo e tomando refresco.
Sentiam-se abençoados por Deus quando podiam encontrar uma namorada ou um namorado crente
para ter um casamento feliz‖. FARIA, Eduardo Galasso. Fé e compromisso: Richard Shaull e a
teologia no Brasil. São Paulo: ASTE, 2002, p. 98.
67
Além da publicação da época pela imprensa metodista, há um resumo dos oito estudos, feito por
Richard Shaull em sua autobiografia: SHAULL, Richard. Surpreendido pela graça: memórias de
um teólogo: Estados Unidos, América Latina, Brasil. São Paulo: Editora Record, 2003, p. 102-104.
68
Um exemplo significativo do reconhecimento dessa influência foi a coletânea de textos do
teólogo entre os anos 1950 e 1960, acrescida de depoimentos de protestantes ecumênicos, alguns
ex-alunos de Shaull: SHAUL, Richard. De dentro do furacão: Richard Shaull e os primórdios da
Teologia da Libertação. Organizado por Rubem Alves. São Paulo: Editora Sagarana, CEDI, CLAI,
Programa Ecumênico de Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1985.
46
É pela sua fidelidade que Deus, como o total outro, o Santo, com seu
inevitável NÃO, veio ao nosso encontro, em nosso encalço. A fé, pela parte
do homem é a adoração que este NÃO divino aceita; a fé é a fonte que
promove no homem a vontade de esvaziar-se; a fé é a comovida persistência
na negação. Onde a fidelidade de Deus encontra essa fé, aí se revela a sua
73
justiça. E o justo viverá!
69
A Teologia Liberal ―Ligava-se a elementos liberais presentes nas estruturas sociais e políticas;
ao pensamento autônomo das ciências e à rejeição de qualquer autoridade. Compatível com o
espírito personalista liberal da época, essa teologia não conseguiu se impor no século vinte.‖
TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. 2ª Ed. Trad. Jaci
Maraschin. São Paulo: ASTE, 1999, p. 224.
70
Alguns trabalhos sobre o protestantismo usam o termo ―reformados‖ para se referir ao conjunto
dos protestantes. Evitei este uso generalizado porque a expressão é reivindicada pelas igrejas
calvinistas na Europa e, no Brasil, particularmente pelos presbiterianos, o que poderia provocar
confusão conceitual quando da aparição do termo associado a estes grupos específicos.
71
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 30.
72
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 43.
73
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 48.
47
esteve ligado no começo da sua trajetória pastoral, por entender que o mesmo
começava a reduzir o Reino de Deus à realização das promessas do socialismo.
Isso não o impediu de continuar demonstrando solidariedade aos movimentos
operários e se opor ao nazismo na Alemanha a partir da ascensão de Hitler ao
poder em 1933. A repercussão do pensamento barthiano pôde ser percebida no
surgimento do movimento da Igreja Confessante (1934), que rompeu com a Igreja
Luterana na Alemanha, legitimadora do regime nazista. Repercutiu ainda no
documento da Conferência de Oxford do movimento Vida e Ação em 1937.74
Também ligada à Igreja Confessante na Alemanha, outra referência que se
tornou cara ao Protestantismo Ecumênico foi a do pastor luterano Dietrich
Bonhoeffer (1906-1945), tanto pelo seu pensamento e escritos quanto por sua
morte no campo de concentração. Dietrich Bonhoeffer criticou desde o início o
apoio da Igreja Luterana à política antissemita do Estado e o segmento majoritário
da igreja autodenominado ―cristãos alemães‖ por associar as ideias nazistas às
doutrinas cristãs.75 Recusou-se a fazer o juramento de fidelidade ao Führer, pelo
que foi proibido de pregar e publicar. Em 1934, participou da redação do
manifesto da Igreja Confessante e deu início às atividades do seminário
clandestino do movimento em Finkenwald (1934-37). Depois de um período nos
Estados Unidos, onde poderia ter permanecido em segurança, decidiu retornar à
Alemanha em 1939, quando foi deflagrada a Segunda Guerra Mundial. Ao voltar,
ingressou em um dos movimentos conspiratórios para assassinar o ditador, pelo
qual foi preso em 1942 e assassinado em 1945, no campo de concentração em
Buchenwald a pedido do próprio Hitler mesmo após consumada a derrota alemã
na guerra.
Na prisão, Dietrich Bonhoeffer escreveu muitas cartas a familiares e ao
amigo Eberhard Bethge (1909-2000), ex-aluno do seminário de Finkenwald e
responsável pela publicação de suas obras póstumas, a exemplo das cartas da
74
No contexto da segunda guerra mundial, Karl Barth foi o principal interlocutor teológico do
movimento da Igreja Confessante com o movimento ecumênico, participando da redação do seu
principal manifesto, a Declaração de Barmen (1934),e do movimento de Vida e Ação, também
contribuindo com a redação da Declaração de Oxford (1937). Ver: CORNU, Daniel. Karl Barth:
teólogo da liberdade. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1971.
75
Todas as referências sobre a trajetória de Dietrich Bonhoeffer foram retiradas da biografia:
METAXAS, Eric. Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta, espião. Tradução: Daniel Faria. São Paulo:
Mundo Cristão, 2011. Há uma cinebiografia intitulada Bonhoeffer: o agente da graça (1999),
lançada no Brasil pela COMEV (Comunicações Evangélicas).
48
As questões que exigem resposta seriam: que significado tem uma igreja,
uma comunidade, um sermão, uma liturgia, uma vida cristã num mundo sem
religião? Como falaremos de Deussem religião, isto é, sem o pressuposto
condicionado pelo tempo da metafísica, da interioridade, etc. Como
falaremos (ou talvez nem mais se possa ―falar‖ como até então) de maneira
―profana‖ sobre ―Deus‖, como seremos cristãos ―profanos-a-religiosos‖,
como somos eclésia, selecionados, sem que nos possamos entender como
preferidos, mas, ao contrário, como inteiramente pertencentes ao mundo?
Cristo, assim já não é mais objeto de religião, mas algo bem diferente, pois
77
verdadeiramente Senhor do mundo. Mas o que isso quer dizer?
76
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão. Tradução: Ernesto J. Bernhoeft. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Paz & Terra, 1980.
77
BONHOEFFER, Dietrich. Resistência e submissão. Tradução: Ernesto J. Bernhoeft. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Paz & Terra, 1980, p. 181.
78
Dietrich Bonhoeffer escreveu: ―Afinal, existem soluções cristãs para problemas seculares? A
questão é, evidentemente, o que se pretende: se se pensa que o cristianismo tem resposta para
todos os problemas sociais e políticos do mundo, isso certamente é um equívoco. Se se pensa que
da parte do cristianismo, há algo de específico a dizer em relação às coisas do mundo, então está
correto. A ideia de que a igreja dispõe, em princípio, de uma solução cristã para todos os
problemas mundanos e que apenas não se deu o devido trabalho para isso está especialmente
difundida no pensamento anglo-saxão‖. BONHOEFFER, Dietrich. Ética. Trad. Halberto Michel.
10ª edição. São Leopoldo: Sinodal, 2013, p. 225. [Grifos do autor]. Como a maioria das suas
obras, foi publicada postumamente, em 1949.
79
Outras referências importantes para os protestantes ecumênicos até o final dos anos 1950 foram:
Emil Brunner (1889-1966) e Rudolf Bultmann (1884-1976). O primeiro é, depois de Karl Barth, o
mais importante teólogo da neo-ortodoxia e suas contribuições mais assimiladas pelo
Protestantismo Ecumênico foram no campo da eclesiologia, na relação da igreja com os demais
elementos da fé e com o mundo secular. O segundo se destacou no campo da hermenêutica bíblica,
49
propondo a ―demitologização‖, que consistia numa leitura crítica da construção mítica dos textos
com o propósito de legitimar uma apropriação das narrativas para o viver cristão no mundo, sem
tomar o conteúdo dos textos como fatos ou verdades prescritivas.
80
Notas biográficas de Paul Tillich nas edições brasileiras dos seus livros: A era protestante
(1992), Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX (1999) e História do
pensamento cristão (2000). Todos publicados pela editora da Associação de Seminários
Teológicos Evangélicos (ASTE).
81
TILLICH, Paul. A Era Protestante. São Bernardo do Campo, Ciências da Religião, 1992, p. 182-
183.O livro foi publicado originalmente em inglês em 1948 pela editora da Universidade de
Chicago com o título The protestant era.
50
82
Para a leitura dos documentos produzidos pela Conferência do Nordeste e as palestras proferidas
no evento ver: CÉSAR, Waldo [et. ali.]. Cristo e o processo revolucionário brasileiro: a
Conferência do Nordeste. 2 volumes. Rio de Janeiro: Lóqui, 1962.
51
tal tema fosse falado pelos protestantes, até então historicamente recalcitrantes ao
engajamento político.83
As ligações da CEB e do Protestantismo Ecumênico com a política eram
conflituosas. Conflitos alimentados pela Guerra Fria, definitivamente incorporada
ao cenário brasileiro no início da década de 1960. Eleito vice-presidente pelo
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), João Goulart (1918-1976), também
conhecido como Jango, assumiu o cargo depois que o presidente Jânio Quadros
(1917-1992), eleito pela União Democrática Nacional (UDN), renunciou ao
mandato em 1961.84 Jango pertencia à ala esquerda do trabalhismo e era
considerado pelos seus opositores como representante do populismo e herdeiro
político de Getúlio Vargas (1882-1954)o, de quem fora Ministro do Trabalho.85 A
principal plataforma do seu governo, sustentado pela aliança PTB-PSD com o
apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), eram as reformas de base,
principalmente a Reforma Agrária e a defesa da soberania nacional, com a
manutenção de uma política externa independente e limitação da remessa de
lucros das empresas estrangeiras, medidas apoiadas pela União Nacional dos
Estudantes (UNE) e o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT).86
A CEB, a exemplo da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), apresentou-se favorável às reformas de base, mas durante a
radicalização dos conflitos entre os movimentos de apoio e oposição ao governo,
ambas se afastaram de sua órbita política. Grimaldo Zachariadhes, historiador do
catolicismo na Bahia durante a ditadura, explicou que:
83
BURITY, Joanildo. Fé na revolução: protestantismo e o discurso revolucionário brasileiro
(1961-1964). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 13.
84
Os militares tentaram impedir sua posse em 1961, garantida após a campanha da legalidade, mas
com poderes limitados por um acordo que instituía o parlamentarismo. Um plebiscito no ano
seguinte restaurou o presidencialismo e deu a Jango plenos poderes de Presidente da República.
Ver: SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). 10ª. Edição.
São Paulo: Paz & Terra, 1996.
85
Sobre o populismo: IANNI, Octávio. O populismo na América Latina. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1975; WELFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de
Janeiro: Paz & Terra, 1980; FERREIRA, Jorge (org.). O populismo e sua história: debate e crítica.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. Para entender o trabalhismo: GOMES, Ângela de
Castro. A invenção do trabalhismo. 3ª edição. Rio de Janeiro: Editora FVG, 2005.
86
A principal referência sobre o período neste trabalho é: BANDEIRA, Muniz. O Governo João
Goulart: as lutas sociais no Brasil (1961-1964). 2ª. Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1977.
52
87
ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Os jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura
Militar. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 137.
88
O Globo. 01/10/1962, p. 1.
89
Anarquistas, socialistas e social-democratas eram críticos da experiência soviética e dos partidos
comunistas. Entre as forças à esquerda do campo político no Brasil durante o governo Jango,
trabalhistas, socialistas e a esquerda cristã também apresentavam divergências em relação ao
comunismo. SÁ MOTTA, Rodrigo Patto. Em guarda contra o perigo vermelho: o anticomunismo
no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva, 2002, p.17.
53
Nos anos 1950 e 1960, convivendo com um clima político cada vez mais
polarizado por ideologias distintas e soluções tão diversas para os problemas de
seus países, setores católicos e protestantes aprofundaram os diálogos entre si e
com o mundo. Aumentaram as propostas de reformar a sociedade numa
perspectiva cristã. Participaram do processo de crise das soluções
desenvolvimentistas ou graduais. A ―libertação‖ e a ―revolução‖ tornaram-se
temas da reflexão teológica. Em 1966, no livro As transformações profundas à luz
de uma teologia evangélica, Richard Shaull sugeriu que o paradigma da
responsabilidade social não conseguia responder satisfatoriamente à situação da
América Latina e ao papel que os cristãos e as igrejas deveriam cumprir. A
proposta era fazer uma ―análise teológica da revolução‖ para fundamentar a ação
dos cristãos no processo. Para o autor:
90
ALMEIDA, Luciene Silva de. O comunismo é o ópio do povo Representações dos batistas sobre
o comunismo, o ecumenismo e o governo militar na Bahia. Dissertação (Mestrado em História) –
UEFS, Feira de Santana, 2011, P. 16.
91
SHAULL, Richard. As transformações profundas à luz de uma teologia evangélica. Petrópolis:
Vozes, 1966, p. 12-13.
54
92
Importantes referências das teorias da dependência ou do subdesenvolvimento foram os
economistas Celso Furtado e Teotônio dos Santos. Ver: FURTADO, Celso. Subdesenvolvimento e
estagnação na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. No livro
Dependência e desenvolvimento na América Latina, Enzo Faletto e Fernando Henrique Cardoso
sintetizaram as interpretações das teorias da dependência: “A situação de subdesenvolvimento
produziu-se historicamente quando a expansão do capitalismo comercial e depois do capitalismo
industrial vinculou-se a um mesmo mercado de economias que, além de apresentar graus variados
de diferenciação do sistema produtivo, passaram a ocupar posições distintas na estrutura global do
sistema capitalista. Desta forma, entre as economias desenvolvidas e as subdesenvolvidas não
existe uma diferença de etapa ou de estágio do sistema produtivo, mas também de função ou
posição dentro de uma mesma estrutura econômica internacional de produção e distribuição. Isto
supõe, por outro lado, uma estrutura definida de relações de dominação”. (CARDOSO, Fernando
Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina. São Paulo:
Civilização Brasileira, 1984 p. 24-25).
93
HALPERIN DONGHI, Túlio. História da América Latina. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1975 p.
325.
55
94
―Como um movimento de fora para dentro e, portanto, ligado aos países que de todos os modos
aqui tentavam estabelecer a sua política econômica e cultural, não poderia o protestantismo,
socialmente falando, estar desvinculado dessa política, fosse ela da Europa ou dos Estados
Unidos‖. In: CÉSAR, Waldo. Protestantismo e Imperialismo na América Latina. Petrópolis:
Vozes, 1968, p. 35.
95
CESAR, Waldo.Protestantismo e Imperialismo na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1968, p.
35.
96
GONZALEZ, Ondina E.; GONZALEZ, Justo. L. Cristianismo na América Latina: uma história.
Tradução: Valdemar Kloker. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 348.
56
97
A expressão, pela primeira vez utilizada em um trabalho teológico, foi rejeitada pelos editores
da Corpus Books (Washington) que a publicaram com o título A Theology of Human Hope (Uma
Teologia da Esperança Humana). No Brasil, o livro só foi publicado em 1987 com o título Da
Esperança. Apenas em 2012 o livro foi publicado no Brasil com a tradução do título original: Por
uma Teologia da Libertação. Rubem Alves estava em autoexílio nos EUA e foi orientado pelo seu
antigo professor do Seminário Presbiteriano do Sul em Campinas, Richard Shaull.
98
ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas, Papirus, 1987, p. 41.
99
―Expectativa, esperança e intenção voltadas para a possibilidade que ainda não veio a ser: este
não é apenas um traço básico da consciência humana, mas, retificado e compreendido
concretamente, uma determinação fundamental em meio à realidade objetiva como um todo‖.
BLOCH, Ernst. O princípio esperança. Vol. I. Trad. Nélio Schneider. Rio de Janeiro:
EDUERJ/Contraponto, 2005, p. 17.
57
realidade dada, mas que nos é apresentado como promessa de algo ―novo‖,
objeto de esperança que está no futuro de Deus. O Deus de que aí se fala não
é um Deus intramundano ou extramundano, mas o ―Deus da esperança‖ (Rm
15.13), um Deus que tem o ―futuro como propriedade do ser‖ (E. Bloch), tal
como se apresenta no Êxodo e nos profetas de Israel, um Deus que não
podemos ter em nós, nem está acima de nós, mas sempre diante de nós, que
nos encontra em suas promessas sobre o futuro, a quem por isso mesmo não
podemos ―possuir‖, mas só ativamente aguardar em esperança.100
100
MOLTMAN, Jürgen. Teologia da Esperança: estudos sobre os fundamentos e as
consequências de uma escatologia cristã. Trad. Helmuth Alfredo Simon. São Paulo: Editora
Teológica, 2003, p. 22-23.
101
ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas, Papirus, 1987, p. 40. [Grifo do autor].
102
GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da Libertação: perspectivas. 3ª. Edição, Petrópolis-RJ,
Vozes, 1979.
103
Para um balanço historiográfico sobre as origens da Teologia da Libertação e o debate sobre a
anterioridade protestante ou católica no seu surgimento, ver: SUNG, Jung Mo. Teologia e
economia: repensando a Teologia da Libertação e utopias. São Paulo: Fonte Editorial, 2008; e
SILVA, Elizete. Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS
Editora, 2010.
58
104
―Alves foi apresentado a Gustavo Gutiérrez pela primeira vez em Genebra, em 1969, em uma
conferência ecumênica da SODEPAX, e ambos concordaram a respeito da necessidade de
substituir a ―Teologia do Desenvolvimento‖ por uma nova teologia, baseada no conceito de
liberação‖. LÖWY, Michael. A guerra dos deuses: religião e política na América Latina.
Petrópolis: Vozes, 2000, p. 179.
105
Em documentário recente, produzido pela TV Câmara, Rubem Alves alegou ter sofrido boicote
de Frei Betto em eventos de Teologia da Libertação nos anos 1970 por ser protestante e por ter
escrito a tese nos Estados Unidos. Declarou ter respondido à crítica de Frei Betto, publicada no
Pasquim, com uma ironia: ―Diz para ele que Marx escreveu O Capital em Londres”.
106
ALVES, Rubem. A gestação do futuro. Campinas, Papirus, 1987, p. 19. Em documentário
recente, produzido pela TV Câmara, Rubem Alves alegou ter sofrido boicote de Frei Betto em
eventos de Teologia da Libertação nos anos 1970, por ser protestante e por ter escrito a tese nos
Estados Unidos. Declarou ter respondido à crítica de Frei Betto, publicada no Pasquim, com uma
ironia: ―Diz para ele que Marx escreveu O Capital em Londres”.
59
107
Zwinglio Mota Dias. Entrevista ao autor. 31/05/2013.
108
SANTA ANA, Julio. Palabras preliminares. In: CRISTIANISMO Y SOCIEDAD. Ano I, Nº. I,
enero-abril, Montevideo, 1963, p 4.
109
O autor era um teólogo reformado que participou do movimento ecumênico com destacada
atuação nos países comunistas. HROMÁDKA, Josef L. Checoslovaquia. In: CRISTIANISMO Y
SOCIEDAD. Ano I, Nº. I, janeiro-abril, Montevideo, 1963, p. 57-59.
60
Eis aqui porque pensamos que a Incarnação constitui não apenas base para
nossa responsabilidade social, mas até mesmo imperativo para a ação social
da igreja. Pois assim como Deus em Cristo nos confrontou com uma pessoa
concreta e nos salvou como pessoas concretas, dentro de uma condição
concreta, da qual não podem sair para ouvir a mensagem, mas de dentro da
qual têm de ouvir e entendê-la. Se para falar a homens dentro de sua
condição a única linguagem inteligível a eles for a ação social, a igreja não
pode, para pleno cumprimento de sua missão precípua, recusar-se descer a
esse campo de ação, num esforço máximo de comunicação, que é sua
tentativa de identificação.113
110
CEPEDA, Rafael. El ritmo revolucionario. In: CRISTIANISMO Y SOCIEDAD, op. cit. p. 60.
No mesmo número da revista havia outro texto sobre a revolução cubana intitulado La ironia de
Cuba (p.51-54), escrito por Reinhold Niebuhr (1892-1971), um dos mais importantes teólogos
norte-americanos do século XX e ex-professor de Richard Shaull.
111
MOVIMIENTO SOCIAL EVANGÉLICO BOLIVIANO. El más y el menos de La Revolución
Nacional. In: CRISTIANISMO Y SOCIEDAD, op. cit., p 62 - 63.
112
A doutrina da encarnação fundamenta-se na crença cristã de que Jesus era Deus encarnado em
natureza humana, era ―o verbo que se fez carne e habitou entre nós‖ (Jo 1: 14).
113
BEATO, Joaquim. Ideologia cristã como base para a ação social da Igreja. In:
CRISTIANISMO Y SOCIEDAD. Ano I, Nº. I, enero-abril, Montevideo, 1963, p. 15, 16.
61
114
ISAL. Documento da primeira consulta. Huampaní, Peru, 1961, p. 36.
115
ISAL, 1961, p. 36.
116
―A Juventude Universitária Católica (JUC) foi criada em 1930 como parte da ACB [Ação
Católica Brasileira]. Começou como um movimento conservador, clerical, visando cristianizar a
futura elite. Mas, após a reorganização da ACB entre 1946 e 1950, o movimento tornou-se mais
autônomo. A JUC passou a ter maior envolvimento no movimento universitário e na esquerda e
foi, em contrapartida, gradualmente mais afetada por esses movimentos. No final dos anos 50, a
JUC deu início a uma rápida radicalização que a levou a um contundente conflito com a
hierarquia. O momento decisivo dessa virada foi a conferência nacional da JUC em 1959, quando
o movimento assumiu uma responsabilidade explícita pela ação política como parte do seu
compromisso evangélico‖. MAINWARING, Scott. A Igreja Católica e a Política no Brasil (1916-
1985).Trad. Heloisa Braz de Oliveira Prieto. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989, p. 84.
62
117
COUTROUT, Aline apud RÉMOND, René. Por uma história política. Tradução: Dora Rocha.
2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
118
SOUZA, Jessie Jane Vieira de. Os círculos operários: a Igreja Católica e o mundo do trabalho
no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2002, p. 26.
119
MAINWARING, Scott. A Igreja Católica e a política no Brasil (1916-1985). Trad. Heloisa
Braz de Oliveira Prieto. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989, p. 25.
120
CÉSAR, Waldo. Protestantismo e Imperialismo na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1968, p.
35.
63
121
ARAÚJO, João Dias de.Inquisição sem fogueiras: vinte anos de história da Igreja Presbiteriana
do Brasil: 1954-1974. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER),
1982. Uma descrição dos conflitos entre os batistas: ALMEIDA, Luciene Silva de. O comunismo é
o ópio do povo: representações dos batistas sobre o comunismo, o ecumenismo e o governo militar
na Bahia. Dissertação (Mestrado História) – UEFS, Feira de Santana, 2011.
122
BURITY, Joanildo. Fé na revolução: Protestantismo e o discurso revolucionário brasileiro
(1961-1964). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 238.
123
DSI. Processo SECOM nº 30.067 – 9/9/1966.
64
124
Sobre a oposição à ditadura a partir da comunidade internacional e por exilados políticos:
GREEN, James N.Apesar de Vocês: oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
125
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB, 31/05/2013.
65
Brasil, seu irmão, Ivan Mota Dias (1942-1971),havia sido preso no Congresso da
UNE em Ibiúna no ano de 1968 e, após ter sido solto, recusou-se a se reapresentar
aos órgãos de segurança para dar novos depoimentos, entrando definitivamente na
clandestinidade. Zwinglio acabou preso em 1970 porque seu irmão estava sendo
procurado pelos órgãos de repressão e uma militante da Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR) forneceu o nome do pastor após ter sido torturada. Ivan
Mota voltou a ser preso em 1971 e nunca mais foi encontrado.126 A esposa de
Zwinglio, a uruguaia Edda Mastrangelo, pertencia à Igreja Metodista de
Montevidéu, pastoreada por Emílio Castro (1927-2013), importante intelectual do
Protestantismo Ecumênico.127 Um fato marcante relatado na entrevista foi a
ocupação da igreja pelos Tupamaros, que fuzilaram uma personalidade do
governo militar nos fundos do templo. Após o episódio, Emílio Castro foi preso.
Seu prestígio público no Uruguai impediu que sofresse maiores consequências,
sendo solto logo depois. Em seguida, a repressão alcançou as lideranças do
movimento de ISAL:
126
Ibidem.
127
Emílio Castro se formou no Seminário Teológico União, de Buenos Aires, em 1950. Concluiu a
pós-graduação em Teologia na Basiléia (1954) tendo Karl Barth como orientador. Foi um dos
criadores da União Evangélica Latino-Americana (UNELAM) em 1965 e do Conselho Latino-
americano de Igrejas (CLAI) em 1982. Tornou-se doutor em Teologia na Universidade de
Lausanne em 1984. Esteve à frente de muitos empreendimentos ecumênicos e teológicos,
chegando a Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) entre 1985 e 1992. Ver:
LOSSKY, Nicholas. Dicionário do movimento ecumênico. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 174.
128
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB, 31/05/2013.
66
disse: ―não, agora não quero‖, ia continuar escrevendo e tal, então eu chamei
a Carol, a garota americana. Aí nós saímos, sentamos no café, bebemos.
Quando eu levanto a xícara, levanto o rosto e olho pela janela, o caminhão do
Exército do Uruguai cercou a esquina toda e invadiu o ISAL. Levaram
documentos, aquela coisa toda, e levaram o Hiber Conteris, que ficou preso
vários dias. Aí levamos aquele susto e corremos pra avisar o pessoal da
Igreja Metodista. Então eu comecei a pensar em sair do Uruguai. ―Se me
129
pegam aqui me mandam pro Brasil‖, porque já havia a colaboração.
129
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB, 31/05/2013.
130
―Diversos nomes que militaram nas fileiras do movimento ecumênico protestante passaram pela
experiência do enquadramento em IPMs, foram presos, outros torturados ou tiveram de fugir do
Brasil. Alguns desses nomes foram: Waldo César, João Dias de Araújo, Zwinglio Mota Dias,
Rubem Alves, Anivaldo Padilha, Leonildo Silveira Campos, Rubem César Fernandes, Jovelino
Ramos, Lysâneas Maciel, dentre outros‖. BRITO, Souza André. Cristianismo ateu: O Movimento
Ecumênico nas malhas da repressão militar do Brasil, 1964-1985. Tese (Doutorado em História) –
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2014, p. 103.
67
131
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 23.
132
Os outros ―rostos‖ seriam o liberal, o pentecostal e o étnico: BONINO, José Miguez. Os rostos
do protestantismo latino-americano. São Leopoldo: Sinodal. 2002.
133
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5ª edição. Introdução, Organização e
Seleção Sérgio Miceli. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009, p. 82.
134
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: Os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 19.
68
135
Movimento dissidente da Igreja Anglicana após a Reforma religiosa conduzida pela monarquia
inglesa no século XVI. O separatismo em relação ao Estado, a ênfase na autoridade bíblica e as
diferentes experiências de democracia eclesiástica influíram na revolução inglesa do século XVII.
HILL, Christopher. A Bíblia inglesa e as revoluções do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003.
136
O pietismo foi um movimento de despertamento da prática devocional que pretendeu reformar
as igrejas protestantes após estas terem se estabilizado em suas ortodoxias. Os grupos de oração e
de estudo bíblico pretendiam superar uma religião centrada na ortodoxia teológica. Teve início no
final do século XVII nas igrejas luteranas, estendendo-se depois a outras denominações A obra
clássica do pietismo foi Pia Desideria (1675) de Philipp Jacob Spener (1635-1705). Edição
brasileira: SPENER, P. Jacob. Pia Desideria: mudança para o futuro. Curitiba/ São Bernardo do
Campo: Encontrão Editora e Instituto Ecumênico Pós-Graduação em Ciências da Religião, 1996.
137
Movimento de despertamento religioso. Voltou-se muito mais para a evangelização e as
missões do que para a reforma interna da igreja. Dava muita ênfase à pregação itinerante e à
reforma moral do indivíduo e da sociedade. Influenciou no surgimento do metodismo na Inglaterra
do século XVIII. THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. Vol. II: A maldição
de Adão. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987, p. 225-289.
138
Para uma análise dessas heranças teológicas do evangelicalismo ver: GONDIM, Ricardo.
Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 25-
60; e SANCHES, Regina Fernandes. Teologia da Missão Integral: história e método da teologia
evangélica latino-americana. São Paulo: Reflexão 2009, p. 70-87.
139
FERNANDES, Rubem César. Fundamentalismo à direita e à esquerda. In: Protestantismo e
Política. Tempo e Presença, nº. 29, 1981, p. 133-55.
69
140
Conferência proferida por Samuel Escobar no Congresso Latino-americano de Evangelização
(CLADE) em 1969, Bogotá, Colômbia: ESCOBAR, Samuel. A responsabilidade social da Igreja.
Tópicos do momento: uma interpretação evangélica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1970, p. 7-8.
141
ESCOBAR, Samuel. La chispa y la llama. Buenos Aires: Certeza, 1978, p. 22.
142
Sobre as origens da ABU, Eduardo Quadros escreveu: ―Roger Young viajou como estudante
para Costa Rica em 1953. Em 1954, resolveu transferir-se para a Argentina e matriculou-se na
Universidade do Prata. Tendo a Argentina como base, começou a realizar viagens a diversos
países buscando encontrar estudantes dispostos a aderir ao trabalho. Em 1957, optou por instalar-
se no Brasil. Já a missionária Ruth Siemens foi como professora para Lima, Peru, no ano de 1954.
Depois de, ali, organizar o ‗Círculo Bíblico Universitário‘, veio para o Brasil no início de 1957.
Com apoio de alguns pastores, ambos começaram a contactar estudantes universitários para
organizar grupos de estudos bíblicos‖. QUADROS, Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo
estudantil: uma história da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (1957-1987). Rio de Janeiro:
Novos Diálogos, 2011, p 36.
70
O texto acima foi escrito em 1969 por Uriel Heckert, 23 anos, estudante de
medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e filho do Rev. Oséas
Heckert, pastor da Igreja Presbiteriana de Juiz de Fora.145 O jornal em que o texto
foi publicado menciona que o jovem tinha sido presidente e diretor da União da
Mocidade Presbiteriana (UMP), entidade que esteve na vanguarda dos
movimentos ecumênicos de juventude até ser fechada pelo Supremo Concílio da
IPB em função do conflito entre fundamentalistas e ecumênicos na igreja.146
Outras organizações dos movimentosde juventude cristão, católico e protestante,
143
CAVALCANTI, Robinson apud QUADROS, Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo
estudantil: uma história da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (1957-1987). Rio de Janeiro:
Novos Diálogos, 2011, p 52.
144
O encontro. Ultimato, Ano II, nº. 13, janeiro de 1969, p. 4.
145
Uriel Heckert foi um dos criadores do Centro de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) em
1977.
146
A Confederação das UMPs foi proibida de se organizar em 1960 e o jornal Mocidade deixou de
circular nas igrejas em 1967. Apenas o trabalho de juventude da igreja foi reprimido, as sociedades
internas da IPB ligadas ao trabalho masculino e feminino continuaram com estruturas e modos de
funcionamento iguais ao da extinta UMP. ARAÚJO, João Dias de. Inquisição sem fogueiras: a
história sombria da Igreja Presbiteriana do Brasil. 3ª. Edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p.
47-58. A UMP só voltaria a se organizar a partir de 1982.
71
deixaram de existir depois do golpe militar por possuir vínculos com o movimento
estudantil ou com as esquerdas. Reprimidas tanto pelas cúpulas eclesiásticas
quanto pela ditadura, a católica JUC e a protestante UCEB encerraram as
atividades em 1966. Com isso, a ABU se tornou “o único movimento nacional a
trabalhar com a articulação entre a vida estudantil e a vida religiosa‖.147
Os movimentos estudantis da CIEE formaram muitas lideranças e
difundiram novas referências teológicas, contribuindo com a reflexão sobre o
sentido de ―missão da igreja‖ que seria desenvolvido nos Congressos Latino-
americanos de Evangelização (CLADE). Os CLADEs foram espaços de
articulação de uma comunidade de teólogos e lideranças leigas que criticavam o
fundamentalismo e a reprodução da herança missionária norte-americana do
protestantismo continental.
O CLADE I (1969), em Bogotá, na Colômbia, foi organizado pela
Associação Evangelística Billy Graham148, agência missionária norte-americana
de perfil conservador. O livro de Peter Wagner (1930-), missionário norte-
americano que atuava na Bolívia, intitulado Teologia latino-americana:
esquerdista ou evangélica? foi distribuído entre os congressistas. Tratava-se de
uma denúncia de que a teologia produzida pelo ISAL possuiria orientação
marxista e seria influenciada pelo Concílio Vaticano II, no qual se listava os
teólogos da ―esquerda radical protestante‖, dentre os quais Richard Shaull, José
Miguez Bonino, Emílio Castro, Rubem Alves e Joaquim Beato.149
O livro de Peter Wagner era também a defesa das teorias de crescimento da
igreja promovidas pelo Seminário Fuller de Pasadena, EUA.150 Os métodos
147
QUADROS, Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo estudantil: uma história da Aliança
Bíblica Universitária do Brasil (1957-1987). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p 50.
148
Billy Graham (1918-), é importante pregador norte-americano, influente na política dos EUA e
organizador de muitas cruzadas evangelísticas. A associação que leva o seu nome esteve à frente
não apenas da organização do CLADE I, mas também do Congresso Mundial de Evangelização
em Lausanne, na Suíça, no ano de 1974 que se tornaria um marco para o evangelicalismo latino-
americano.
149
ESCOBAR, Samuel. La fundación de FTL: breve ensayo histórico. In: PADILLA, René (Org.).
25 años de teologia evangélica latinoamericana. Buenos Aires: Fraternidad Teológica
Latinoamericana, 1995, p. 15 e 16.
150
O Seminário Fuller produziu um estudo que apontava o lugar secundário das missões norte-
americanas na evangelização do continente diante do crescimento pentecostal, das mudanças do
catolicismo depois do Concílio Vaticano II e do protestantismo depois do movimento de ISAL. O
resultado do estudo foi o livro Avance Evangélico en la América Latina (1969). Após apresentar
um diagnóstico pessimista, recomendou estratégias missionárias que assimilavam métodos
pentecostais de proselitismo, o modelo de cruzadas evangelísticas de Billy Graham e um processo
de ―mobilização total‖ que envolvia manifestações de massa e ocupação do espaço público.
72
156
CALDAS, Carlos. Orlando Costas: Sua contribuição na história da teologia latino-americana.
São Paulo: Editora Vida, 2007.
157
PADILLA, René (Org.). El Reino de Dios y América Latina. Buenos Aires: Casa Bautista de
Publicaciones, 1975, p. 57.
158
Uma compilação de textos da II consulta teológica da entidade realizada entre os dias 11 e 18
de dezembro de 1972 no Seminário Bíblico em Lima, no Peru, com a presença de 27 participantes,
dentre eles José Miguez Bonino, um dos fundadores do movimento de ISAL.
159
PADILLA, op. cit., p. 45.
75
160
Textos da consulta foram publicados dois anos depois. ESCOBAR, Samuel. La situación
latinoamericana. In: PADILLA, René (Org.). Fe cristiana y Latinoamérica hoy. Buenos Aires:
Ediciones Certeza, 1974, p. 33.
161
COSTAS, Orlando, La realidad de la Iglesia Evangélica latinoamericana. In: PADILLA, René
(compilador). Fe cristiana y Latinoamérica hoy. Buenos Aires: Ediciones Certeza, 1974, p. 39.
162
Ibidem, p. 40.
76
163
STOTT, John (Org.). A missão da igreja no mundo de hoje (as principais palestras de Lausanne
74). Billy Graham, John Stott, Samuel Escobar, René Padilla e outros. São Paulo: ABU Editora,
1982.
164
Alguns intelectuais do Protestantismo Ecumênico transitariam entre os protestantes da Missão
Integral, a exemplo de José Miguez Bonino na FTL continental e João Dias de Araújo na FTL-
Setor Brasil. Este último compôs a comissão editorial do Boletim Teológico por vários anos.
165
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 175.
166
Voltado para atividades evangelísticas, pode ser considerado um movimento de avivamento da
fé formado por luteranos descontentes com as diretrizes da Igreja Evangélica de Confissão
Luterana no Brasil (IECLB), uma das denominações mais engajadas no ecumenismo protestante.
167
Não encontrei informações sobre a idade.
77
168
MEER, Antônia Leonora Van Der. Eu, um missionário? Quando o jovem cristão leva a sério o
seu chamado. Viçosa: Ultimato, 2006, p. 54.
169
MEER, Antônia Leonora Van Der. Eu, um missionário? Quando o jovem cristão leva a sério o
seu chamado. Viçosa: Ultimato, 2006, p. 54. Os nomes dos políticos não foram citados, mas dos
participantes da FTL continental e nacional sim. Participaram do Congresso: ―Ada Lum, a famosa
missionária mundial da IFES (International Fellowship of Evangelical Students), mãe do estudo
bíblico indutivo, estava ali e conquistou o coração de todos. Estavam presentes líderes como Rev.
Abival Pires da Silveira e o missionário Robert Grant, René Padilla e Samuel Escobar, pioneiros e
nossos pais na fé e no desenvolvimento do trabalho estudantil na América Latina; Robinson
Cavalcanti, Valdir Steuernagel, Dionísio Pepe e muitos outros‖.
170
STEUERNAGEL, Valdir (Org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as
principais palestras e seminários do Congresso Brasileiro de Evangelização. São Paulo: ABU
Editora, 1985, p. 285.
171
Ibidem, p. 284 - 285.
78
172
LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da missão: os movimentos ecumênico e evangelical no
protestantismo latino-americano. Viçosa: Ultimato, 2002, p. 186-189.
173
No início de 1984, a ABU havia publicado os seguintes livros da série Lausanne: Tive fome;
Responsabilidade social; Evangelho e cultura; Viva a simplicidade; Homem secularizado; O
evangelho e o marxista; Desafio das novas religiões; Testemunho cristão junto a mulçumanos.
174
STOTT, John. Contracultura cristã: a mensagem do sermão do monte. São Paulo: ABU, 1981,
p. 9.
175
STOTT, John. Op. Cit., p. 7.
79
Pois, se a juventude de hoje está à procura das coisas certas (significado, paz,
amor, realidade), ela as tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar
onde deveriam procurar é um lugar que normalmente ignoram, isto é, a
igreja. Pois, com demasiada freqüência, o que vêem nas igrejas não é a
contracultura, mas o conformismo; não uma nova sociedade que concretiza
seus ideais, mas uma versão da velha sociedade a que renunciaram; não a
vida, mas a morte.176
Carlos Queiroz (1961-), que à época da publicação do livro era membro da
ABU, escreveu: “Na juventude, refletir sobre o Sermão do Monte, tendo como
guia de estudo o comentário de John Stott intitulado Contracultura Cristã,
acalentou o sonho de transformação da sociedade‖.177Mas ainda que a ABU tenha
sido fundamental para a difusão da Missão Integral no Brasil, a expressão
teológica do movimento foi amadurecida na FTL nacional. Um marco na tentativa
de colocar o movimento na agenda das igrejas evangélicas foi o Congresso
Brasileiro de Evangelização (CBE) ocorrido em Belo Horizonte, em 1983,
organizado pela FTL e patrocinado pela Visão Mundial. O tema era ―A
evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada‖. No primeiro volume do Boletim
Teológico da FTL foram explicitados os objetivos do evento identificados com as
propostas da Teologia da Missão Integral e com o Pacto de Lausanne:
176
STOTT, John. Contracultura Cristã:a mensagem do sermão do monte. São Paulo: ABU, 1981,
Op. Cit. p. 7-8.
177
Texto de apresentação do livro QUEIROZ, Carlos. Ser é o bastante: felicidade à luz do sermão
do monte. Curitiba: Encontro, 2009, p. 14.
178
. BOLETIM TEOLÓGICO. Congresso Brasileiro de Evangelização. out./dez.1983.Outubro a
Dezembro de 1983. Ano 1, n° 1. FTL.
179
Valdir Steuernagel no texto de apresentação do livro com as palestras do CBE publicado em
1985 pela editora da ABU. O autor foi Secretário Geral da entidade estudantil. STEUERNAGEL,
Valdir (Org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as principais palestras e
seminários do Congresso Brasileiro de Evangelização. São Paulo: ABU Editora, 1985, p. 8.
80
180
STEUERNAGEL, Valdir (org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as
principais palestras e seminários do Congresso Brasileiro de Evangelização. São Paulo: ABU
Editora, 1985, p. 8.
181
Entrevista ao autor. Marcos Monteiro, 2014. Ele se formou em Teologia no Seminário
Teológico Batista do Norte do Brasil (STBNB), em Recife, em 1976 e tornou-se professor no
início da década seguinte.
81
documento final. Três textos foram publicados na seção ―Questão social‖, escritos
por Carlos Queiroz182, Dieter Brepohl183 e Paulo Ayres Mattos (1940-)184.
Além das palestras principais, o livro publicou na seção ―ênfases e acentos‖,
temas específicos trabalhados durante o congresso em grupos de estudos, todos
referidos ao tema geral do evento: a evangelização. Nem todos os temas foram
publicados. Ficaram de fora, por exemplo, ―Cristianismo, marxismo e
capitalismo‖,de Ziel Machado e ―A missão da mulher na igreja‖, de Sulamita
Ferreira e Maria Lucia Marques. Nesta seção, o congressista mais preocupado em
discutir a ―questão social‖ foi o assessor católico da ABU, Luís José Dietrich. A
despeito de citar referências evangelicais no seu texto, como a palestra de John
Stott no Congresso de Lausanne e um livro sobre a igreja primitiva publicado pela
editora Certeza de Samuel Escobar, seu pronunciamento foi o mais próximo da
Teologia da Libertação na abordagem da pobreza:
182
QUEIROZ, Carlos Pinheiro. Testemunho: a questão social. In: STEUERNAGEL, Valdir
(Org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as principais palestras e seminários do
Congresso Brasileiro de Evangelização. São Paulo: ABU Editora, 1985, p. 157-161.
183
BREPOHL, Dieter. Afluência e pobreza: a relação entre evangelização e responsabilidade
social. In: STEUERNAGEL, Valdir (Org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as
principais palestras e seminários do Congresso Brasileiro de Evangelização. São Paulo: ABU
Editora, 1985, p. 129-148.
184
MATTOS, Paulo Ayres. Os irmãos que somos nós. In: STEUERNAGEL, Valdir (org.). A
evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as principais palestras e seminários do Congresso
Brasileiro de Evangelização. ABU Editora, São Paulo, 1985, p. 149-156.
185
DIETRICH, Luís José. A evangelização e o compromisso com os pobres. (p. 226). In:
STEUERNAGEL, Valdir (org.). A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada; as principais
palestras e seminários do Congresso Brasileiro de Evangelização. ABU Editora, São Paulo, 1985,
p. 226.
82
Capítulo II
Igreja e missão: redes institucionais, produção intelectual e
sociabilidade religiosa
187
Depois do golpe, a CEB enviou um telegrama de congratulações ao presidente Castelo Branco,
fazendo votos ―de contínua assistência divina ao Governo de Vossa Excelência, iluminando o
caminho da reconstrução cristã democrática em nossa pátria, assegurando direitos ao homem,
promovendo justiça social e bem-estar ao povo, defendendo a soberania nacional, cristianizando o
desenvolvimento da sociedade brasileira, conduzindo a Pátria a alto destino no concerto de nações
livres, sentido em que Vossa Excelência terá constante apoio moral e leal cooperação dos cristãos
evangélico. Amandino Adorno Vassão, presidente; Rodolfo Anders, secretário-geral.‖
(FERREIRA In: DIAS [et. ali.], 2010, p. 86)
188
FERREIRA, Muniz. Insurgência, conciliação e resistência na trajetória do Protestantismo
Ecumênico brasileiro. In: DIAS, André Luiz Mateddi; COELHO NETO, Eurelino Teixeira;
LEITE, Márcia Maria Barreiros (Orgs.). História, Cultura e Poder. Feira de Santana: UEFS
Editora, Salvador: EDUFBA, 2010, p. 84.
85
O CEDI ficou uma coisa grande, poderosa, o CEDI cresceu muito, financiado
por agências ecumênicas, basicamente. Agências ecumênicas de vários países
da Europa, Canadá e EUA, e o meu papel neste período foi muito de manter
relações com as agências, aprovar projetos, e eu fiquei no CEDI até 1993. Em
1994, o CEDI encerra suas atividades e se multiplica em três novas ONGs. É
interessante, porque o CEDI foi uma das primeiras grandes ONGs do Brasil,
191
uma coisa ainda meio desconhecida por aqui.
191
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB, 31/05/2013.
192
LANDIM, Leila. Experiência Militante – Histórias das assim chamadas ONGs. In: _________.
Ações em sociedade – militância, caridade, assistência, etc. Rio de Janeiro: NAU – Instituto de
estudos da religião (ISER), 1998.
193
FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro:
Fiocruz/UFRJ, 2010, p. 236.
87
194
FONTES, Virgínia. 2010, p. 236-237.
195
Virgínia Fontes adotou uma perspectiva gramsciana de análise ao se referir às ONGs como
―aparelhos privados de hegemonia‖, cuja multiplicação implicava no redirecionamento e sentido
das lutas, inserindo-se na disputa pela hegemonia política entre as classes sociais que
representavam o capital e o trabalho.
196
FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro:
Fiocruz/UFRJ, 2010, p. 232-233.
197
FONTES, Virgínia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e história. Rio de Janeiro:
Fiocruz/UFRJ, 2010, p. 231
198
Nome que designa as instituições religiosas de caráter ecumênico que prestam assessoria a
movimentos sociais ou desenvolvem projetos de serviço social.
88
199
MARTINS, Heloisa Helena Teixeira de Souza. Igreja e movimento operário no ABC, 1954-
1975. São Paulo: Editora HUCITEC, 1994, p. 15.
200
TEMPO & PRESENÇA. Lutas operárias: desafios e perspectivas, nº. 221, agosto de 1987.
89
político, embora esta divisão seja apenas didática, uma vez que não acontecia
separadamente na experiência. Era difícil distinguir o religioso do político numa
ação pastoral, num projeto de educação popular ou mesmo numa nova proposta de
leitura da Bíblia.
Havia um trânsito entre os agentes que compunham as entidades
paraeclesiásticas. Alguns atuavam em duas ou mais entidades, em programas e
assessorias comuns, compartilhavam das mesmas fontes de financiamento dos
órgãos ecumênicos internacionais e participavam das mesmas publicações.
Constituíam, enfim, uma rede, cuja formação, considerando os sujeitos
protagonistas, remontava à CEB, UCEB e ISAL, agregando as novas lideranças
formadas nas décadas de 1970 e 1980.201 Estas instituições convergiam
principalmente quando a atuação se dava na esfera de apoio aos movimentos
sociais e na defesa dos Direitos Humanos, neste último caso, em constante diálogo
com os movimentos de oposição à Ditadura Militar. Ao fazê-lo, não deixavam de
desafiar o modo como as esquerdas lidavam com a religião:
201
Zwinglio Mota Dias falou, na entrevista ao autor, sobre a preocupação do CEDI com a formação
de novas lideranças para as pastorais: ―A gente montou o projeto Juventude e Fronteiras da
Missão, então a gente formava toda uma geração de novos pastores, novas lideranças, um
programa dedicado mesmo à juventude. Um trabalho muito interessante que era dirigido pelo José
Bittencourt Filho‖. DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB,
31/05/2013.
202
RECH, Daniel. Articulação Nacional: Repensar o caminho (p. 15-17). In: TEMPO E
PRESENÇA. Direitos Humanos: a luta dos povos, nº. 237, 1988
90
aspectos discutidos mais adiante.Pode ser difícil para os sujeitos das memórias ou
para os historiadores atuais a definição política dos participantes do movimento
ecumênico, masas comunidades de informação e segurança da ditadura
enquadravam as redes institucionais no campo da esquerda, como foi feito com a
CESE, classificada como uma ―entidade esquerdista com sede em
SALVADOR/BA, que representa, no BRASIL, o Conselho Mundial de Igrejas
(CMI) e realiza os repasses dos recursos para os movimentos populares de
esquerda‖.212
Fechando o ciclo de entidades paraeclesiásticas que compunham as redes
institucionais e intelectuais do Protestantismo Ecumênico, formaram-se: o
Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) e o Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs (CONIC), ambos em 1982. O CLAI e o CONIC eram formados por
representação de igrejas e movimentos cristãos, o primeiro exclusivamente
protestante e o segundo com a participação da Igreja Católica através de
representação da CNBB. Ao contrário das entidades de serviço, assessoria
pastoral e pesquisa, a atuação dos conselhos era especificamente religiosa,
organizando os diálogos intereclesiásticos entre as diferentes confissões cristãs.
Atuavam também como uma representação pública das igrejas filiadas
pronunciando-se em assuntos relativos à religião ou emitindo pareceres em temas
considerados de interesse público.
A rede ecumênica do protestantismo estabelecia relações com o catolicismo
progressista. Não era apenas uma proximidade institucional, mas também política
e teológica, envolvendo uma oposição comum ao conservadorismo religioso e à
ditadura. Em Salvador, por exemplo, havia convergência e colaboração entre a
rede ecumênica em torno da CESE e o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS).
A Companhia de Jesus criou os Centros de Investigação e Ação Social (CIAS) a
partir dos anos 1960 para responder às transformações sociais que demandavam
uma nova vivência da Doutrina Social da Igreja; um ―apostolado social‖.213
O CEAS na Bahia era um desses centros. Unia religiosos e leigos, muitos
deles marxistas, e tinha como principal publicação e veículo de sua agenda
212
Apud BRITO, Souza André. Cristianismo ateu: o Movimento Ecumênico nas malhas da
repressão militar do Brasil, 1964-1985. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2014, p. 254.
213
Para uma análise aprofundada sobre o CEAS ver: ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Os
jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura Militar. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2010.
94
214
ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Os jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura
Militar. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 59.
215
Uma importante contribuição historiográfica sobre o papel do Movimento Ecumênico nas
campanhas contra a tortura e as violações dos direitos humanos durante a ditadura, encontra-se em
GREEN, James N.Apesar de vocês: oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
216
Sobre o papel do CEAS na campanha pela Anistia, ver o livro anteriormente citado de
Grimaldo Zachariadhes. Um depoimento feito por um militante católico sobre o II Congresso da
Anistia em Salvador encontra-se em: CARVALHO NETO, Joviniano Soares de. O II Congresso
da Anistia: Momentos de resistência e definições. In: ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro.
Ditadura Militar na Bahia: novos olhares, novos objetos, novos horizontes. Salvador: EDUFBA,
2009.
95
217
RAMOS, Ariovaldo Ramos. Entrevista ao site Novos Diálogos, 11/08/2010. Disponível
em:Link: <http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=249> Acesso em: 09 out. 2015.
218
―Uma consequência deste processo vivenciado nos anos 70 foi a consolidação dos conjuntos
jovens como modelo de participação da juventude nas igrejas locais – era raro encontrar uma
igreja evangélica que não o possuísse, e muitas possuíam mais de um. [...] Os conjuntos para-
eclesiásticos ditavam moda. Os conjuntos jovens em pouco tempo tornaram-se a forma de
articulação da juventude local, que se reunia não só para ensaiar as canções, mas também para orar
e estudar a Bíblia em preparação para as apresentações musicais; e frequentemente realizava
retiros espirituais para busca de maior consagração como jovens cristãos‖. CUNHA, Magali
96
Nascimento. A explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no
Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X, Instituto Mysterium, 2007,p. 75.
219
BOMILCAR, Nelson. Os sem-igreja: buscando caminhos de esperança na experiência
comunitária. São Paulo: Mundo Cristão, 2012, p. 22.
220
BOMILCAR, Nelson. Os sem-igreja: buscando caminhos de esperança na experiência
comunitária. São Paulo: Mundo Cristão, 2012, p. 45.
221
Magali Cunha analisa esses grupos da juventude evangélica como reelaborações do lugar da
música e da juventude no culto protestante, mas também como precussores da cultura gospel que
se consolida nos anos 1990. Essa formação de uma cultura gospel interagiu simultaneamente com
as transformações do campo religioso e da indústria cultural brasileira. CUNHA, Magali. A
explosão gospel: um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007, p, 72-86.
97
222
Autobiografia: FÁBIO, Caio. Confissões de um pastor. Rio de Janeiro: Record. 1997.
223
ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. A evangelização do Brasil: desafios e perspectivas. In:
STEUERNAGEL, Valdir. A evangelização do Brasil: uma tarefa inacabada. 1ª. Edição, ABU
Editora, 1985, p. 16 - 27.
224
RAMOS, Ariovaldo. Entrevista ao site Novos Diálogos 11/08/2010. Disponível em:
<http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=249>. Acesso em: 09 out. 2015.
98
A SEPAL não diz pra você o que você tem que fazer. Cada um de nós tem a
sua ênfase. A minha ênfase é Missão Integral e Eclesiologia. E todos nós
fazemos basicamente a mesma coisa que é treinar pastores e líderes, que essa
é a ênfase da SEPAL. Então o que eu fazia era isso: treinar pastores e líderes
nessas duas áreas basicamente, Missão Integral– que envolve missiologia,
missão transcultural, missão urbana, compreensão da responsabilidade sócio-
política da igreja – e Eclesiologia, que é uma área que eu gosto e escrevi um
livro ―Igreja: e eu com isso?‖ sobre o que é a natureza da igreja e a vida
prática da igreja.227
225
RAMOS, Ariovaldo. Entrevista ao site Novos Diálogos, 11/08/2010. Disponível em:
<http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=249>. Acesso em: 09 out. 2015.
226
A entidade colaborava com os eventos de outras paraeclesiásticas, realizando treinamento e
publicando material para os ministérios de juventude e os congressos de evangelização. Nos anos
2000 a instituição mudaria o nome para ―Servindo Pastores e Líderes‖, mantendo a sigla SEPAL.
227
RAMOS, Ariovaldo. Entrevista ao site Novos Diálogos 11/08/2010.Disponível em:
<http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=249>. Acesso em: 09 out. 2015.
99
228
Ana Maria Guacho, líder do Movimento Indígena Chimborazo, em depoimento para o livro:
STOLL, David. Is Latin America turningprotestant?The politics of evangelical growth. Berkeley e
Los Angeles, Califórnia: University of California Press, 1990, p. 293.
229
A filial brasileira do grupo Mocidade para Cristo (MPC) foi criada em 1952 por missionários
norte-americanos. Utilizando estratégias comuns às demais paraeclesiásticas de juventude -
treinamento de lideranças, música e acampamento – tornou-se o embrião, no começo dos anos
1980, de grupos musicais e de festivais de música cristã contemporânea.
230
Sigla em inglês da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (United
States Agency for International Development), responsável pela política de ajuda externa de
caráter civil pelo governo norte-americano, criada em 1961.
231
O sistema de apadrinhamento de crianças ainda é mantido, embora tenha sido associado ao
desenvolvimento comunitário, conforme explicado no site da instituição: ―Cada criança do
programa pode ser escolhida por um único padrinho, que passa a fazer contribuições mensais,
além de participar de seu desenvolvimento por meio do vínculo criado. O valor das doações, ao
invés de ser enviado diretamente para a família da criança, é destinado ao projeto da Visão
100
1980, parte das publicações, dos eventos e das lideranças que mais influenciaram
protestantes teologicamente conservadores a serem politicamente progressistas
estavam ligadas à Visão Mundial. A instituição acolheu a Missão Integral como
fundamentação teológica e alguns de seus integrantes, como os batistas Manfred
Grellert (1941-), Carlos Queiroz e Marcos Monteiro, engajaram-se dentro do
movimento de Missão Integral no debate sobre a ―questão social‖.
Manfred Grellertera filho de missionário alemão e formado em Teologia
pelo Seminário Batista do Rio de Janeiro. Ensinou no Seminário Batista do Norte
em Recife durante a década de 1970.232Em 1980, se tornou diretor executivo da
Visão Mundial no Brasil econtribuiu com a organização do Congressos Brasileiro
de Evangelização (1983) e do Congresso Nordestino de Evangelização (1988),
eventos que possibilitaram uma recepção, ainda que tardia, da Missão Integral no
protestantismo brasileiro. Recepção que passava por uma ―insegurança‖ em
relação às concepções teológicas do movimento, conforme sugeriu Marcos
Monteiro ao comentar o papel de Manfred Grellert como professor do Seminário
Batista e, depois, diretor da Visão Mundial:
Mundial em que ela estiver inscrita para que ajude a suprir as necessidades imediatas e de longo
prazo desse afilhado.‖ Site oficial: <http://www.visaomundial.org.br>. Acesso em: 09 out. 2015.
232
Cursou o doutorado em Teologia no Seminário Batista do Sul, nos EUA (Louisville, Kentucky)
e licenciatura em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco. Tornou-se pastor da Igreja
Batista da Capunga, em Recife, aos 28 anos (1969). Foi seu único pastorado que durou até 1979.
233
MONTEIRO, Marcos. Entrevista concedida ao autor. Feira de Santana-BA, 09/2014.
101
234
MONTEIRO, Marcos. Entrevista concedida ao autor. Feira de Santana-BA, 09/2014. O
entrevistado atuou na entidade filantrópica Visão Mundial, entidade filantrópica, juntamente com
Carlos Queiroz, na década de 1980.
235
MONTEIRO, Marcos. Entrevista concedida ao autor. Feira de Santana-BA, 09/2014.
102
236
MONTEIRO, Marcos. Entrevista concedida ao autor. Feira de Santana-BA, 09/2014.
237
―Na época nós tínhamos, assim, uma leitura de realidade muito mais marxista do que o resto da
Fraternidade Teológica no Brasil. Nós éramos uma parte interessante do movimento. Pelo menos a
parte estratégica do movimento teológico, aqui no Nordeste, era ecumênico. Manfred era assim,
mas já estava no sul, né? Mas, assim, Anivaldo Júnior, Carlos Queiroz, Arnulfo Barbosa e eu, acho
que éramos os que tendíamos mais a um ecumenismo, uma militância político-social mais
contundente.‖ MONTEIRO, Marcos. Entrevista ao autor, Setembro/2014.
238
O livro foi publicado em coedição da Visão Mundial com a editora batista JUERP.
GRELLERT, Manfred. Os compromissos da missão: A caminhada da igreja no contexto
brasileiro. São Paulo: JUERP/Visão Mundial, 1987, p. 17-18.
103
239
LIMA, Delcio Monteiro de. Os demônios descem do norte. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1987, p. 136-137.
240
―Manfred Grellert me abriu a leitura para Leonardo Boff e eu pesquisei mais do que isso, do que
a leitura que ele colocou, porque ele começou a abrir também outras leituras‖. MONTEIRO,
Marcos. Entrevista concedida ao autor. Feira de Santana-BA, 09/2014.
104
241
EDITORIAL ―Novos jeitos de ser igreja‖. In: Tempo e Presença, junho de 1986, página 03.
105
242
CATROGA, Fernando. Entre Deuses e Césares: secularização, laicidade e religião civil: uma
perspectiva histórica. Coimbra: Almedina, 2006, p. 453.
106
243
Sobre as relações entre a Igreja Católica e o Estado da Colônia à República ver: AZEVEDO,
Thales de. Igreja e Estado: tensão e crise. São Paulo: Ed. Ática, 1978.
244
CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e Política: teoria bíblica e prática histórica. São Paulo:
Nascente, 1985, p. 182.
245
SENNA, Ronaldo. Feira dos Encantados. Um panorama da presença afro-brasileira em Feira
de Santana: construções simbólicas e ressignificações. Feira de Santana: UEFS Editora, 2014.
107
246
FRESTON, Paul. Protestantes e política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese
(Doutorado em Sociologia) – Unicamp, Campinas, 1993.
108
247
Sobre a classificação desta terceira inserção como neopentecostalismo ou pós-pentecostalismo,
ver: SIEPIERSKI, Paulo D. Contribuições para uma tipologia do Pentecostalismo Brasileiro. In:
GUERRIERO, Silas.O estudo das religiões:desafios contemporâneos. São Paulo: Paulinas,
ABHR, 2003.
248
Dados dos censos de 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010 apresentados em: CAMPOS, Leonildo
Silveira. ―Evangélicos de missão‖ em declínio no Brasil: exercícios de demografia religiosa à
margem do Censo de 2010. In: MENEZES, Renata; TEIXEIRA, Faustino. Religiões em
movimento: o censo de 2010. Petrópolis-RJ: Vozes, 2013, p. 137.
109
249
Sobre a ―antropofagia da fé inimiga‖ pelo pentecostalismo, ver: ALMEIDA, Ronaldo;
MONTERO, Paula. Trânsito religioso no Brasil. São Paulo: CEBRAP, 2000.
250
MONTES, Maria Lúcia. As figuras do sagrado: entre o público e o privado na religiosidade
brasileira. São Paulo: Claro Enigma, 2012, p. 101.
110
251
A cultura gospel, segundo Magali Cunha, é uma cultura híbrida que resultou: ―do
entrecruzamento de aspectos tradicionais do modo de ser protestante construído no Brasil com as
manifestações de modernidade presentes em propostas pentecostais, no fenômeno urbano
brasileiro, no avanço da ideologia do mercado de consumo e na cultura das mídias‖, portanto, a
―articulação destes aspectos – música, mídia, consumo – que, aliados ao entretenimento, formam o
gospel como uma expressão cultural‖. A música se tornou o instrumento privilegiado de difusão
dessa cultura, pois: ―A partir da explosão gospel no Brasil, a música religiosa reveste-se de um
poder que torna cantores, grupos musicais e participantes de reuniões que a entoam em
instrumentos de Deus‖. In: CUNHA, Magali Nascimento. A explosão gospel: um olhar das
ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad X, Instituto
Mysterium, 2007, p. 10-11.
252
Referência nesse sentido foi o livro do pastor da Assembleia de Deus Josué Sylvestre: Irmão
vota em irmão: os evangélicos, a Constituinte e a Bíblia. Brasília: Pergaminho, 1986.
253
SANTOS, Adriana Martins dos. A construção do Reino: A Igreja Universal e as instituições
políticas soteropolitanas (1980-2002). Dissertação (Mestrado em História Social) – UFBA,
Salvador, 2009.
254
Carta de Heber Orcalino da Silva à Ultimato. Ituiutaba – MG, 1973. apud CÉSAR, Elben M.
Lenz (org.). Cartas à Ultimato (1968-2008): uma radiografia do cristianismo brasileiro. Viçosa-
MG: Editora Ultimato, 2008, p. 36.
111
255
MACHADO, Maria das Dores Campos. Política e religião: a participação dos evangélicos nas
eleições. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 14.
112
256
MACHADO, Maria das Dores Campos. Op cit. p. 20.
257
MACHADO, Maria das Dores Campos. Op cit. p. 46.
113
260
TEMPO E PRESENÇA. Editorial Novos jeitos de ser igreja. jun. 1986, página 03.
115
Houve certa longevidade dessa associação das CEBs com uma herança
protestante esquecida pelo próprio protestantismo. No início dos anos 1990, o
teólogo presbiteriano Richard Shaull escreveu:
261
MENDONÇA, Antônio Gouveia de. Uma inversão radical: uma visão protestante das
Comunidades Eclesiais de Base no Brasil. In: ASTE, Revista Simpósio, julho de 1984, p. 283.
262
SHAULL, Richard. A Reforma Protestante e a Teologia da Libertação: perspectivas para os
desafios da atualidade. São Paulo: Livraria e Editora Pendal Real, São Paulo, 1993.
116
263
MENDONÇA, Antônio Gouveia de. Op cit. p. 285.
264
MENDONÇA, Antônio Gouveia de. Uma inversão radical: Op cit. p. 283.
117
265
Igreja Batista Nazareth: 25 anos de resistência, luta e fé. Salvador-Bahia 1975-2000. Livro
organizado em 14 de fevereiro de 2000 por um Grupo de Trabalho coordenado por Nilza Andrade
Dela Fonte para contar a história da igreja com documentos anexos e depoimentos. Não há
numeração de páginas.
266
DIRETÓRIO DA IPU. Pronunciamento Social. Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, 2010, p.
25.
118
267
TORRES, Djalma. Entrevista concedida ao autor, Alagoinhas-BA, 05/2015.
268
Ibidem.
269
Uma das disciplinas ministradas por Djalma Torres era Movimentos Messiânicos e diálogo
inter-religioso.
120
270
O ITEBA era filiado nacionalmente à Associação de Seminários Teológicos Evangélicos
(ASTE) e, em âmbito continental, à Comunidade de Educação Teológica Ecumênica Latino-
Americana e Caribenha (CETELA). Esta última integrava o setor de Educação Teológica
Ecumênica (ETE) do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
271
TORRES, Djalma. Caminhos de Pedra. Feira de Santana: Curviana, 2011, p. 26.
272
ABUMANSSUR, Edin Sued. Ecumenismo no Brasil: do que estamos falando. In:
Comunicações do ISER, nº 15, julho de 1985, p. 61.
273
ABUMANSSUR, Edin Sued. Ecumenismo no Brasil: do que estamos falando. In:
Comunicações do ISER, nº 15, julho de 1985, p. 61.
121
274
Ibidem.
275
FRESTON, Paul. Protestantes e política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese
(Doutorado em Sociologia), UNICAMP, Campinas, 1993.
122
276
BOMILCAR, Nelson.Os sem-igreja: buscando caminhos de esperança na experiência
comunitária. São Paulo: Mundo Cristão, 2012, p. 22-23.
277
ABUMANSSUR, Edin Sued. Ecumenismo no Brasil: do que estamos falando. In:
Comunicações do ISER, nº 15, julho de 1985, p. 58.
123
As três primeiras formas não teriam impacto no ―modo de ser igreja‖ dos
participantes envolvidos. Apenas as duas últimas poderiam ser classificadas como
ecumenismo eclesiológico, no qual ―a questão ecumênica está colocada no centro
das preocupações e as atividades dos organismos envolvidos se pautam por essa
perspectiva‖.279Se as formas de ecumenismo tinham impactos diferenciados nas
igrejas, as particularidades regionais tinham impactos diferenciados no
movimento ecumênico. As muitas histórias localizadas do ecumenismo poderiam
trazer contribuições para o conhecimento das trajetórias individuais e das redes
institucionais. Djalma Torres descreveu algumas iniciativas do movimento na
Bahia:
278
Todas as citações acima em ABUMANSSUR, Edin Sued. Ecumenismo no Brasil: do que
estamos falando. In: Comunicações do ISER, nº 15, julho de 1985, p. 58-59.
279
ABUMANSSUR, Edin Sued. Op cit. p. 59.
280
TORRES, Djalma. Entrevista ao autor, Alagoinhas-BA, Maio/2015.
124
281
DIAS, Agemir de Carvalho. O movimento ecumênico no Brasil (1954-1994): a serviço da igreja
e dos movimentos populares. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 2007, p. 14.
282
Sobre a inadequação do conceito de ecumenismo para designar o diálogo com as confissões não
cristãs, Djalma Torres escreveu: ―Essa aproximação das igrejas cristãs com as religiões não-cristãs
tem sido chamada de Ecumenismo, por uns poucos que entendem ser o grego oikoumene, que
significa toda a terra habitada, a palavra que deve reger as relações entre cristãos e não cristãos.
Acontece, entretanto, que o termo adquiriu conotações históricas especiais e passou a designar
apenas a relação entre igrejas cristãs‖. TORRES, Djalma. Caminhos de pedra. Feira de Santana:
Curviana, 2011, p. 192.
283
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. In: ENGELS,
Friedrich; MARX, Karl. Sobre a religião. Lisboa: Edições 70, 1972, p. 287.
125
PARTE II
Capítulo III
Socialismo Cristão: o desafio marxista e a resposta cristã
A crítica à religião é a
condição preliminar de toda
a crítica […] A crítica do
céu transforma-se assim em
crítica da terra, a crítica da
religião em crítica do
direito, a crítica da teologia
em crítica da política.
Karl Marx284
284
MARX, Karl. Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel. 1ª edição. São Paulo:
Editora Expressão Popular, 2010, p. 29, 31-32.
285
ALVES, Rubem. Prefácio ao livro. In: RAUSCHENBUSCH, Walter. Orações por um mundo
melhor. São Paulo: Paulus, 1997, p. 14.
286
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1988.
128
287
ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Sobre a religião. Lisboa: Edições 70, 1972.
288
Para uma abordagem das análises marxistas da religião, ver o capítulo ―Marxismo e religião:
ópio do povo?‖ em: LÖWY, Michael. A guerra dos deuses: religião e política na América Latina.
Tradução de Vera Mello Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000 p. 11-34.
129
289
MARX, Karl. Contribuição àcrítica da filosofia do direito de Hegel. 1ª edição. São Paulo:
Editora Expressão Popular, 2010.
290
―Se quiserem fazer uma ideia das primeiras comunidades cristãs, observem uma secção local da
Associação Internacional de Trabalhadores‖. ENGELS, Friedrich. Contribuição para a história do
cristianismo primitivo. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Sobre a Religião. Lisboa: Edições
70, 1972, p. 365.
291
―O passado revolucionário da Alemanha é efectivamente teórico, é a Reforma. Como outrora
no cérebro do monge, é agora no do filósofo que começa a revolução‖. [grifos originais]. MARX,
Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Sobre a
Religião. Lisboa: Edições 70, 1972, p. 59.
130
poderia apresentar aos pobres, trabalhadores e operários uma solução para suas
condições de vida.
O Manifesto do Partido Comunista (1848) faz referência ao Socialismo
Cristão que, segundo Marx e Engels, condenava o capitalismo não em nome de
uma sociedade futura sem propriedade privada (comunista), mas em nome de uma
sociedade passada com menor distância entre as classes (cristã). O Socialismo
Cristão foi descrito como a manifestação de um ―socialismo reacionário‖,
aristocrático, feudal e clerical. Para Marx e Engels:
Dissemos que muitas vezes Deus fala à igreja mais diretamente de fora da
igreja por meio dos inimigos da religião e do cristianismo, do que a partir de
seu interior, por meio dos representantes oficiais da igreja. Relacionamos
nossas ideias com os movimentos revolucionários dos séculos dezenove e
vinte e, especialmente, com o movimento socialista.296
O Evangelho Social nos EUA teve como principal liderança o pastor batista
Walter Rauschenbusch (1861-1918). Além das críticas ao capitalismo, os livros
294
SOUZA, Jessie Jane Vieira de. Os círculos operários: a Igreja Católica e o mundo do trabalho
no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2002, p. 84.
295
Mesmo após a ruptura com o Socialismo Religioso, percebe-se uma influência decisiva do
movimento no modo como Barth e Tillich continuaram a pensar as respostas cristãs às
desigualdades sociais e aos conflitos políticos e ideológicos. Segundo Tillich, os precursores do
movimento foram Johann Christoph Blumhardt (pai) e Christoph Blumhardt (filho) na Alemanha,
Hermann Kuttet e Leonhard Ragaz na Suíça. Ver: TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia
Protestante nos séculos XIX e XX. 2ª Edição. Trad. Jaci Maraschin. São Paulo: ASTE, 1999.
296
TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX.2ª Ed. Trad. Jaci
Maraschin. São Paulo:, ASTE, 1999, p. 238.
132
297
Ainda não há traduções das obras principais de Walter Rauschenbusch, apenas livros de orações
e sermões como Preces fraternais: horas de recolhimento, publicado no Brasil em 1936, e
Orações para um mundo melhor,em 1997.
298
RAUSCHENBUSCH, Walter apud ALVES, Rubem. Protestantismo e Repressão. São Paulo:
Editora Ática, 1979, p. 267.
299
Charles M. Sheldon foi pastor da Igreja Congregacional Central de Topeka, Estado do Kansas-
EUA. Escreveu o livro In His Step para a mocidade da igreja. Fazia a leitura dos capítulos do livro
à medida que os escrevia. Depois publicou o livro como folhetim num jornal de Chicago. A
primeira edição em inglês foi publicada em 1896. A primeira tradução para o português foi
publicada em 1901. Em 1945, a Casa Publicadora Batista publicou nova tradução feita por J. Reis
Pereira que seria utilizada nas edições subsequentes do livro. GONÇALVES, Almir S. Prefácio.
In: SHELDON, Charles M. Em seus passos, o que faria Jesus? 4ª edição. Tradução J. Reis Pereira.
Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1956.
300
SHELDON, Charles M. Em seus passos, o que faria Jesus? 4ª edição. Tradução J. Reis Pereira.
Rio de Janeiro:, Casa Publicadora Batista, 1956, p. 15.
133
301
SHELDON, Charles M. Em seus passos, o que faria Jesus? 4ª edição. Tradução J. Reis Pereira.
Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1956 p. 249-250.
302
SHELDON, Charles M. Op Cit. p. 252
134
Li com enorme interesse dois pequenos livros sobre Jesus: The Man Nobody
Knows [O homem que ninguém conhece], de Bruce Barton, e In His Steps
[Nos seus passos], de Charles Sheldon. Nunca mais encontrei esses livros,
mas tenho vívida lembrança deles, especialmente In His Steps, que já li várias
vezes. O que mais me cativou se relaciona com a vida e o ensinamento de
Jesus ao lado da radicalidade de sua chamada para o discipulado. Quando
leio os Evangelhos hoje, esse apelo volve a mim com a força dos dias da
minha adolescência.304
303
Na biblioteca de João Dias de Araújo em inglês, na biblioteca de Djalma Torres e Marcos
Monteiro em português.
304
SHAULL, Richard. Surpreendido pela graça: memórias de um teólogo: Estados Unidos,
América Latina, Brasil. São Paulo: Editora Record, São Paulo, 2003, p. 22.
305
ALVES, Rubem. Protestantismo e repressão. São Paulo: Editora Ática, 1979, p. 266-268.
135
306
Entre os autores católicos que a partir dos anos 1950 foram apropriados pelos grupos da Ação
Católica no Brasil, figuraram nomes como Lebret, Emanuel Mounier, Thomas Cardonel, conforme
analisado por Grimaldo Zachariadhes sobre a atuação do CEAS na Bahia em: .
ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Os jesuítas e o Apostolado Social durante a Ditadura
Militar. 2ª ed. Salvador: EDUFBA, 2010, p. 121-137.
307
CRISTIANISMO Y SOCIEDAD. Diálogo de nuestro tiempo: fe cristiana y marxismo. Ano III,
número 08, 1965, p. 1. Andre Dumas foi um dos colaboradores, com o artigo Das contribuciones
sobre el significado del ateísmo marxista, em coautoria com Joseph Hromádka.
308
SHAULL, Richard. O cristianismo e a revolução social. São Paulo: UCEB, 1953, p. 8.
136
Foi tanta a displicência dos cristãos, que a palavra Justiça foi arrebatada da
bandeira cristã para hoje ocupar lugar de destaque na bandeira vermelha do
materialismo. A palavra justiça está mais na boca de ateus do que de cristãos.
Chegou ao ponto de quando um cristão começa a falar em justiça ser
considerado inimigo do cristianismo e elemento perigoso para a ―sociedade
cristã democrática‖.311
309
Paul Lehmann, orientador de Richard Shaull em Princeton, escreveu livros e artigos tecendo
uma comparação ética entre o marxismo e o cristianismo. Adotando uma perspectiva semelhante à
de Ernest Bloch, interpretou ambos como experiências messiânicas ou escatológicas.
310
SHAULL, Richard.O cristianismo e a revolução social. São Paulo: UCEB, 1953, p. 8-9
311
O conteúdo da palestra ―A revolução do Reino de Deus: conteúdo revolucionário do ensino de
Jesus sobre o Reino de Deus‖ do Rev. João Dias de Araújo, encontra-se nas páginas 33 a 57 do
livro: CESAR, Waldo [et. ali.]. Cristo e o processo revolucionário brasileiro: A Conferência do
Nordeste. 2 volumes. Rio de Janeiro, Lóqui, 1962.
137
314
BRITO, Charlene. Da assistência à resistência: ecumenismo presbiteriano, mendicância,
migração e luta pela terra na Bahia (1968-1990). Dissertação (Mestrado em História) – UEFS,
Feira de Santana, 2013p.114.
139
315
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. As igrejas protestantes e as graves violações de
direitos humanos, Relatório final, Volume II, Textos Temáticos, 2014, p. 179. Ao todo, o
Relatório listou entre os protestantes: 19 detenções, 3 banimentos, 7 mortes ou desaparecimentos
forçados, 2 missionários expulsos, 14 casos de exílio.
316
RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: UNESP, 2010, p. 32.
140
317
Sirvo-me, para essa breve digressão, de três estudos sobre o tema: SILVA, Antonio Ozaí da.
História das tendências no Brasil: origens, cisões e propostas. 2ª edição. São Paulo: Proposta
Editorial, 1987; GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das ilusões
perdidas à luta armada. São Paulo: Perseu Abramo e Expressão Popular, 2014; RIDENTI,
Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: UNESP, 2010.
318
SILVA, Antonio Ozaí da. História das tendências no Brasil: origens, cisões e propostas. 2ª
edição. São Paulo, Proposta Editorial, 1987, p. 104-144.
141
319
RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: UNESP, 2010, p. 39-40.
320
GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta
armada. São Paulo: Perseu Abramo e Expressão Popular, 2014, p. 169-170.
142
321
TAVARES, Flávio. Memórias do Esquecimento. O segredo dos porões da ditadura. Porto
Alegre-RS, L&PM, 2012, p. 121.
322
Uma boa análise sobre o fechamento da Faculdade de Teologia encontra-se em: SCHMIDT,
Daniel Augusto. Protestantismo e Ditadura Militar no Brasil. São Paulo: Editora Reflexão,
2014, p. 100-126.
143
323
. PADILHA, Anivaldo. Bispo denuncia fiel, líder da juventude. In: DIAS, Zwinglio Mota.
Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência. Rio de
Janeiro, Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 67.
324
PADILHA, Anivaldo. Bispo denuncia fiel, líder da juventude. In: DIAS, Zwinglio Mota.
Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência. Rio de
Janeiro, Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 67.
325
FIGUEIRAS, Otto. Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular. Volume I:
primeiros tempos. São Paulo: Instituto Caio Prado Jr., 2014, p. 201.
326
Segundo Agemir Dias: ―A militância política de Rubens Menzen Bueno no movimento
estudantil foi alvo de duas resoluções da Comissão Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil. Na
primeira, o Presbitério Paulistano (PLIS) comunicou a cassação de sua candidatura ao pastorado
presbiteriano, o que levaria ao seu desligamento do Seminário. A segunda resolução notifica o
Seminário de que ele deveria ser considerado candidato ao ministério pela Missão Brasil Central
(MBC), ligada à Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, cujo dirigente era Jaime Wright – dessa
forma, ele não deveria ser desligado do Seminário.‖ In: DIAS, Agemir de Carvalho. O movimento
ecumênico no Brasil (1954-1994): a serviço da igreja e dos movimentos populares. Tese
(Doutorado em História) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007
144
Os irmãos presbiterianos
5. Nilton Emmerick de Oliveira
6. Paulo Roberto Emmerick de Oliveira
7. Frederick Morris/metodista
8. Ivan Mota Dias/presbiteriano
9. Norberto Bispo dos Santos Filho/batista
10. Zenaide Machado de
Oliveira/presbiteriana
AP/APML 1. Agostinho Muniz/batista
2. Anivaldo Padilha/metodista
3. Celso Cardoso da Silva/metodista
4. Fernando Cardoso da Silva/metodista
5. Manoel da Conceição/Assembleia de Deus
6. Mozart Noronha/presbiteriano
7. Paulo Stuart Wright/presbiteriano
8. Renato Godinho Navarro/metodista
9. Roberto Chagas/presbiteriano
10. Rubens Mezen Bueno/presbiteriano
POLOP/COLINA 1. Apolo Heringer Lisboa/presbiteriano
2. Claudius Ceccon/metodista
327
Apesar de colocados em um único bloco de partidos comunistas na tabela, o PCB e o PCdoB
tinham perspectivas políticas distintas. Enquanto o primeiro defendia o trabalho de base para
organizar uma frente democrática de oposição à ditadura, o segundo defendia a luta armada no
campo a partir da concepção de guerra popular prolongada, em conformidade com o maoísmo.
145
Eu até fazia uma brincadeira, fazia gozação com eles, dizendo que havia
quase uma base de carolas dentro da AP. Isso também foi um fator que
certamente teve um papel para eu me afastar rapidamente dessa base da AP
de Engenharia e passar a militar no PC. Essa dissidência da Guanabara que
depois, muito mais tarde, se tornou o MR-8. Foi isso, o processo de saída da
igreja e saída da religião e, portanto, deixar de ser um militante protestante. A
militância como protestante foi por um período relativamente curto. Deve ter
sido mais ou menos entre 63 e 66. Depois eu já não me considerava mais
protestante.328
328
CHAGAS, Roberto. Do abandono da Igreja à luta clandestina. In: DIAS, Zwinglio Mota.
Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência. Rio de
Janeiro, Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 51.
146
329
CHAGAS, Roberto. Do abandono da Igreja à luta clandestina. In: DIAS, Zwinglio Mota.
Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência. Rio de
Janeiro, Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 51.
330
OLIVEIRA, Zenaide Machado. Da igreja e da universidade para a clandestinidade. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 46.
331
Não foi possível localizar informação sobre a idade de todos os depoentes.
147
Uma hipótese, que careceria de outra pesquisa para ser mensurada em sua
plausibilidade, é que a tendência do protestantismo à dissidência, aliada à
secularização dos quadros no envolvimento com a militância política, tornou os
protestantes mais propensos à circulação entre as organizações e à ruptura
definitiva com a militância. Em 1969, Roberto Chagas fez a transição da AP para
a Dissidência Estudantil do PCB na Guanabara (DI-GB) que deu origem ao MR-
8, depois passou pela VPR/VAR-Palmares em 1970, o exílio no Chile entre 1971
e 1973, o retorno ao Brasil em 1975 e a reintegração no MR-8 de 1975 a 1976,
quando rompeu definitivamente com a militância organizada:
332
O depoimento também menciona relações com outros protestantes que militaram nas
organizações de esquerda como a metodista Heleny Guariba (VPR) e os presbiterianos Juarez
Guimarães de Brito (POLOP, COLINA, VAR-Palmares) e Roberto Chagas (AP, MR-8, VPR).
OLIVEIRA, Zenaide Machado. Da igreja e da universidade para a clandestinidade. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 46.
333
CHAGAS, Roberto. Do abandono da Igreja à luta clandestina. In: DIAS, Zwinglio Mota.
Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência. Rio de
Janeiro, Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 56.
148
334
OLIVEIRA, Zenaide Machado. Da igreja e da universidade para a clandestinidade. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 42.
335
OLIVEIRA, Zenaide Machado. Da igreja e da universidade para a clandestinidade. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 42.
336
OLIVEIRA, Zenaide Machado. Da igreja e da universidade para a clandestinidade. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 45.
149
Paulo Stuart Wright foi candidato a prefeito pelo PTB em 1960 e deputado
estadual eleito pelo PSP em 1962, com mandato cassado em 1964. Exilou-se em
Cuba de onde retornou ao Brasil em 1965 com um curso de formação em
guerrilha na bagagem política. Integrou-se à Ação Popular (AP) da qual foi
expulso em 1972 e desapareceu no ano seguinte após ser preso pelos órgãos de
repressão da Ditadura Militar. A tendência mudou o nome para Ação Popular
Marxista Leninista (APML) e também a linha política em 1968. Conforme
observou Marcelo Ridenti:
337
Dados biográficos e citações, retirados de: WRIGHT, Delora Jan. O coronel tem um segredo:
Paulo Wright não está em Cuba. Petrópolis: Vozes, 1993.
338
WRIGHT, Delora Jan. O coronel tem um segredo: Paulo Wright não está em Cuba. Petrópolis:
Vozes, 1993, p. 86.
150
339
RIDENTI, Marcelo. O fantasma da revolução brasileira. São Paulo: UNESP, 2010, p. 31.
340
Com o apoio de Paulo Wright e outros militantes da organização, Manoel da Conceição fez o
tratamento na capital paulista, onde voltou a ser capturado pelo regime em 1972. Passou por
diversas torturas, incluindo a retirada da perna mecânica, até 1975, quando um telegrama do Papa
Paulo VI ao general Geisel pediu pela sua vida e sua liberdade. Depois de solto, ficou sob proteção
da Anistia Internacional e exilado em Genebra, na Suíça. COMISSÃO NACIONAL DA
VERDADE. As igrejas protestantes e as graves violações de direitos humanos, Relatório final,
Volume II, Textos Temáticos, 2014, p. 185-186.
151
Camponesas, nas quais a maioria dos trabalhadores eram católicos, mas boa parte
das lideranças eram evangélicas.341
No relatório da Comissão Nacional da Verdade, participantes das esquerdas
armadas figuram também como militantes do PCB, como Zenaide Oliveira e Ivan
Mota Dias, o que poderia corresponder a filiações efetivas ou à classificação
persecutória do regime para todo o campo da esquerda. Participaram do PCB os
irmãos metodistas Derly José de Carvalho, Daniel José de Carvalho, Joel José de
Carvalho, Devanir José de Carvalho, os irmãos presbiterianos Nilton Emmerick
de Oliveira e Paulo Roberto Emmerick de Oliveira e o batista Norberto Bispo dos
Santos Filho. No depoimento de um dos irmãos presbiterianos filiados ao PCB
aparece uma dupla militância, clandestina e legal. A formação religiosa foi
valorizada no depoimento de Nilton Emmerick de Oliveira, que ressaltou a
influência do pastor Joaquim Beato da Igreja Presbiteriana em Colatina-ES, da
qual era membro no final dos anos 1960:
Este pastor, que inclusive foi quem me batizou, tinha sempre uma visão cristã
religiosa voltada para a ação social da igreja, para um engajamento político
dos seus membros. E eu cresci ouvindo outras igrejas na perspectiva do
movimento ecumênico que, então, já existia. O Rev. Beato foi também um
dos idealizadores do ―Seminário do Centenário‖ que existiu em Alto
Jequitibá e que depois foi fechado pela Ditadura. Fechado pela igreja, pela
IPB, cuja direção naquele momento era uma das aliadas da ditadura. 342
341
JULIÃO, Francisco. Que são as Ligas Camponesas?Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira, 1962.
342
OLIVEIRA, Nilton Emmerick de. A militância política de um presbiteriano comunista. In:
DIAS, Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 74.
152
tinham o nome lá foram presos e torturados. Eu, como não estava ligado
naquele momento a nenhuma organização clandestina (só fui fazer isso
depois de formado), não fui preso. Então, eu e o presidente do diretório da
Engenharia resolvemos iniciar uma mobilização estudantil em cima de um
movimento cultural, porque, em função daquelas prisões, t odos ficaram com
muito medo. Então criamos a Cinemateca Universitária de Arte. 343
343
OLIVEIRA, Nilton Emmerick de. A militância política de um presbiteriano comunista. In:
DIAS, Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 75.
344
OLIVEIRA, Nilton Emmerick de. A militância política de um presbiteriano comunista. In:
DIAS, Zwinglio Mota (Org.). Memórias Ecumênicas Protestantes: os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 76-77.
345
Zenaide de Oliveira declarou que a mãe era simpatizante do PCB e que abrigou em sua casa ex-
prisioneiros políticos do período Vargas. Paulo Ayres Mattos também se reportou à ligação
familiar com o PCB e com o bairro operário no qual o partido era influente.
153
346
ENGELS, Friedrich; MARX, Karl. Sobre a religião. Lisboa: Edições 70, 1972, p. 119.
347
THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas: Editora da
Unicamp, 2001, p. 119.
154
348
HILL, Christopher. A Bíblia inglesa e as revoluções do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003, p. 54-55.
349
LEBRUN, François. As Reformas: devoções comunitárias e piedade pessoal. In: CHARTIER,
Roger (Org.). História da Vida Privada. Vol. 3. Da Renascença ao Século das Luzes. Trad.
Hidelgard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 104.
155
350
LUTERO, Martinho. O cativeiro babilônico da igreja. São Paulo: Martin Claret, 2007, p. 101.
351
Sobre a ―reação católica‖ à ―era das missões estrangeiras‖ no Brasil, ver: LEONARD, Émile G.
O protestantismo brasileiro: estudo de eclesiologia e História Social. Trad. Linneu de Camargo
Schützer. 3ª edição. São Paulo: AST,2002, p. 81-138.
352
ALVES, Rubem. Protestantismo e Repressão. São Paulo: Editora Ática, 1979, p. 261.
156
O que ela nos oferece? Nada. O que nos tira? Tudo. Temos alguma utilidade
para ela. Não! Ela não nos auxilia na vida nem nos conforta na morte. Ela
não nos julgará no mundo vindouro, pois, em nossa fé bíblica, não
precisamos nem dos encômios dos homens, nem da aprovação de alguns
pobres pecadores. Não tentaremos melhorar as Escrituras nem adaptá-las ao
nosso querer, mas, nós mesmos, seremos dirigidos por elas. Não exercemos
autoridade sobre, mas as obedeceremos.354
353
BARTH, Karl. Carta aos Romanos. São Paulo: Fonte Editorial, 2005, p. 13.
354
HEAGLE, David. A Bíblia e a crítica moderna. In: TORREY, R. A. Os Fundamentos:
examinando os principais temas da fé cristã. São Paulo: HAGNOS, 2005, p. 35.
157
355
Uma discussão interessante sobre este aspecto encontra-se no capítulo ―Como o protestantismo
constrói e conhece a realidade‖ (82-127), especialmente o tópico ―o modo indicativo versus o
modo imperativo‖ (117-119) no livro: ALVES, Rubem. Protestantismo e Repressão. São Paulo,
Editora Ática, 1979.
356
VELASQUES FILHO, Prócoro; MENDONÇA, Antônio Gouvêa. Introdução ao
Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 117-118).
357
Pastor e missionário presbiteriano, o norte-americano Carl McIntire esteve muito presente no
Brasil nos anos 1950 e 1960, suas atividades eram noticiadas na imprensa secular. Em 1951, O
Diário de Notícias anunciou uma série de conferências do missionário (09/08/1951, p. 4) e o
Correio da Manhã, em 1960, noticiou: “O Rev. Carl McIntire, presidente do Internacional Council
of Christian Church, que passou no Rio de Janeiro em viagens de estudos e observações, regressa
hoje a Nova York, e ontem à noite, veio visitar o Correio da Manhã, trazendo-nos as despedidas.‖
(29/06/1960, p. 7)
158
358
DIÁRIO DE NOTÍCIAS. ―Cristianismo e comunismo não podem existir juntos‖. 19/08/1958,
p. 17.
359
Suzanne de Dietrich era dirigente da Federação Universal do Movimento de Estudantes
Cristãos (FUMEC) e foi uma das principais responsáveis pela renovação dos estudos bíblicos da
juventude ecumênica no mundo após as guerras mundiais. As principais influências de Suzanne
eram o Socialismo Cristão, a neo-ortodoxia e a crítica histórica da Bíblia. Ver: WEBER, Hans
Ruedi. A paixão de viver: uma biografia de Suzanne de Dietrich. Trad. Hope Gordon Silva. São
Paulo: ASTE, 2010.
360
MOTA, Jorge Cesar. Apresentação. (p. 5)In: DIETRICH, Suzanne. A descoberta da Bíblia: um
manual prático de estudo bíblico. São Paulo: UCEB, 1955. Jorge Cesar Mota foi um dos pioneiros
em promover grupos de estudos da teologia de Karl Barth na juventude evangélica desde os anos
1930.
159
361
DIETRICH, Suzanne. A descoberta da Bíblia: Um manual prático de estudo bíblico. São
Paulo, UCEB, 1955.
362
O Seminário Latino-Americano de Estudos Bíblicos aconteceu em Campos do Jordão-SP,
organizado pela FUMEC e pela UCEB. Contou com a participação dos movimentos cristãos de
estudantes dos países sul-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, Uruguai e
Venezuela. WEBER, Hans Ruedi. A paixão de viver: uma biografia de Suzanne de Dietrich. São
Paulo: ASTE, 2010, p 7.
363
WEBER, Hans Ruedi. A paixão de viver: uma biografia de Suzanne de Dietrich. São Paulo:
ASTE, 2010, p. 9.
160
364
IV Conferência de Responsabilidade Social da Igreja, 1962 – Documentos Avulsos.
365
Ibidem.
366
SOUZA, Carlos César Borges Nunes de. A Cidade, a justiça, e a paz: João Dias de Araújo e sua
poesia sociorreligiosa como fundamento a uma teologia da missão urbana (p. 46). In: TEOLOGIA
HOJE. Revista de Estudos Teológicos, Seminário Teológico Richard Shaull. Vol. I, nº 1, 2010.
Edição Especial em homenagem aos 80 anos do Rev. João Dias de Araújo.
367
Ibidem.
161
Enquanto a crise não tiver encontrado seu profeta, os esquemas com os quais
se pensa o mundo invertido continuam sendo o produto do mundo a ser
derrubado. O profeta é quem pode contribuir para realizar a coincidência da
368
IV Conferência de Responsabilidade Social da Igreja, 1962 – Documentos Avulsos.
369
BURITY, Joanildo. Fé na revolução: protestantismo e o discurso revolucionário brasileiro
(1961-1964). Rio de Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 185.
162
370
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 5ª edição. Introdução, Organização e
Seleção: Sérgio Miceli. São Paulo: Editora Perspectiva, 2009, p. 77-78.
371
A revista Estudos Bíblicos nasceu dos comentários bíblicos feitos na Revista Eclesiástica
Brasileira (REB) a partir de 1986. A revista, ainda em circulação, possuía/possui periodicidade
trimestral e cada número é dedicado a um tema principal. Foi e é publicada pelas editoras Vozes e
Sinodal, respectivamente, católica e luterana.
372
RIBLA é editada em duas versões: espanhola e portuguesa. A versão em português é editada
pela Ed. Sinodal (São Leopoldo/RS) e pela Vozes (Petrópolis/RJ). A versão em espanhol é editada
pelo Departamento Ecumênico de Informações (DEI) da Costa Rica. O DEI é uma entidade similar
ao que foi no Brasil o Centro Evangélico de Informação (CEI) e, depois, o Centro Ecumênico de
Documentação e Informação (CEDI), além de outras instituições congêneres na América Latina e
no Caribe. Publicava estudos bíblicos, informações do movimento ecumênico e da situação
política do continente, prestava assessoria a comunidades eclesiais de base, a movimentos e a
pastorais sociais.
373
Para uma análise das influências teóricas e abordagens metodológicas do movimento bíblico
latino-americano, ver: CABRAL, Jimmy Sudário. Bíblia e teologia política: escrituras, tradições e
emancipação. Rio de Janeiro: Mauad X, Instituto Mysterium, 2009. p. 125-165.
163
Profetas têm hora e local. Sua atuação é concreta. Está relacionada a certo
momento, a certas pessoas, a certas estruturas. Não é, pois, o discurso
genérico que os caracteriza. E nem são defensores de doutrinarismos. São
intérpretes da história. São leitores da vida do povo. Através dos seus gestos
e de suas palavras, a história se torna transparente. E onde estariam situados
estes profetas? [...] A profecia é contemporânea à monarquia. A partir daí já
se pode dizer que os profetas exigem ser lidos e interpretados em uma ótica
política. A perspectiva pública lhes é inerente. 378
378
SCHWANTES, Milton. A profecia durante a monarquia. In: SCHWANTES, Milton;
MESTERS, Carlos. Profeta: saudade e esperança. Nº. 17/18, 2ª. Edição, São Leopoldo, CEBI,
1989, p. 6-7. (Série: A palavra na vida).
379
Este número da série A Palavra na Vida juntou as contribuições do biblista luterano Milton
Schwantes e do biblista católico Carlos Mesters num curso de verão organizado pelo Centro
Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação Popular (CESEP). Milton Schwantes escreveu
A profecia durante a monarquia, enquanto Carlos Mesters escreveu A profecia durante e depois
do cativeiro.
165
380
O livro foi publicado originalmente em espanhol pelo DEI em 1979, ou seja, no mesmo ano da
revolução nicaraguense. A obra é uma parte da dissertação de Elsa Tamez para a licenciatura no
Seminário Bíblico Latinoamericano (SBL) de San José, Costa Rica. A edição brasileira foi
publicada no ano seguinte: TAMEZ, Elsa. A Bíblia dos oprimidos: a opressão na teologia bíblica.
2ª. Edição. Tradução: José Raimundo Vidigal. São Paulo: Edições Paulinas, 1980.
381
TAMEZ, Elsa. Santiago: lectura latinoamericana de la epístola. San José: DEI, 1985. p. 13.
166
da América Central. Além de Elsa Tamez, que voltou a escrever sobre a epístola
de Tiago para a revista, Jorge Pixley, escreveu sobre o livro do profeta Oseias. O
autor comparou a metáfora da prostituição, usada pelo profeta para condenar os
pecados de Israel, com a crítica dos revolucionários centro-americanos aos
―vendilhões da pátria‖, colaboradores do imperialismo na Nicarágua, Guatemala,
Costa Rica e Honduras. Do mesmo modo que em Oseias o amor do profeta
resgatou sua mulher da prostituição e o amor divino é anunciado como capaz de
restaurar o decoro de Israel, os revolucionários centro-americanos lutavam pela
restauração do ―decoro nacional‖. Se referindo simultaneamente à prostituição de
Israel e à situação dos países da América Central, Jorge Pixley escreveu:
imaginei que aquela viúva de Naim é hoje a Nicarágua. Mulher, pobre, viúva
e que agora perdeu o seu filho que foi morto e está sendo levado para
enterrar. Nicarágua, pátria pobre e agora mais empobrecida do que nunca
pela guerra, pelo bloqueio. Desprestigiada e temida pela mentira e pela
propaganda caluniosa dos meios de informação e de comunicação social. E
agora querem matar sua tenra filhinha, a Revolução, por todos os meios
possíveis.383
384
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista concedida ao autor, Campina Grande-PB, 31/05/2013.
385
GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta
armada. São Paulo: Perseu Abramo e Expressão Popular, 2014, p. 169-176.
386
SADER, Eder. Quando novos personagens entram em cena. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1988,
p. 26-27.
168
principal das oposições à Ditadura Militar. No jargão das esquerdas, ainda que a
revolução fosse estratégica, a insurreição não era tática. Por isso, Milton
Schwantes, o único brasileiro protestante no primeiro número da RIBLA,
apresentou outras fontes para a leitura popular da Bíblia:
São as lutas pela terra e pelo teto as que, entre nós, puxam e animam a
redescobrir a história bíblica. É a opressão da mulher pobre e a espoliação da
classe trabalhadora que direcionam a ótica de leitura. Reivindicam uma
interpretação que parta do concreto e do social, das dores e utopias da gente
latino-americana.387
Na América Latina, a Bíblia está sendo redescoberta. É lida com fervor. Fez-
se símbolo e alimento do novo jeito de ser de toda a igreja. As comunidades
cristãs se nutrem e se animam, lendo e celebrando a história bíblica. Esta
redescoberta traz à tona um novo jeito de compreender a Escritura.
Experimenta-se uma nova aproximação aos textos. [...] E, enfim, emerge um
novo portador de interpretação. Mulheres e homens empobrecidos são os
novos agentes, os novos hermeneutas. A Escritura é a memória dos pobres.388
387
SCHWANTES, Milton. Jacó é pequeno: (visões em Amós 7-9). (p. 81). In: Leitura popular da
Bíblia: por uma hermenêutica da libertação na América Latina. RIBLA, nº. 1, 1988/1, p. 81.
388
SCHWANTES, Milton. Jacó é pequeno: (visões em Amós 7-9). (p. 81). In: Leitura popular da
Bíblia: por uma hermenêutica da libertação na América Latina. RIBLA, nº. 1, 1988/ 1, p. 7-9.
169
389
MESTERS, Carlos. Como se faz teologia bíblica hoje no Brasil. In: Estudos Bíblicos, nº. 1. A
Bíblia como memória dos pobres. 4ª. Edição. Petrópolis: Vozes, 1987, p. 11.
390
De acordo com Danillo Pereira: ―Na América Latina houve relevante estímulo de pesquisas e
debates historiográficos entre estudiosos ligados às igrejas cristãs‖. Em 1973, alguns desses
estudiosos criaram a Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina (CEHILA) em
Quito, no Equador. PEREIRA, Danillo Rangell Pinheiro. Concepções de História na Teologia da
Libertação e conflitos de representação na Igreja Católica(1971-1989). Dissertação (Mestrado em
História) – UEFS, Feira de Santana, 2013, p. 116.
391
Pentateuco é o nome atribuído ao conjunto dos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
170
392
SCHWANTES, Milton. Interpretação de Gn 12-25, no contexto da elaboração de uma
hermenêutica do Pentateuco. (p. 36, 37). In: Estudos Bíblicos, nº. 1. A Bíblia como memória dos
pobres. 4ª. Edição. Petrópolis: Vozes, 1987.
393
A consulta ocorreu entre os dias 12 e 18 de dezembro de 1970 e contou com a presença de
fundamentalistas, como os missionários norte-americanos que atuavam no continente Peter
Wagner e Washington Padilla. No entanto, os oradores do evento foram os missionários e teólogos
latino-americanos do novo evangelicalismo que começou a se articular no CLADE. Ver:
SAVAGE, Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones
Evangélicas Europeas, 1972.
394
Tais normas se aproximam das premissas da filosofia do senso comum descritas por Prócoro
Velasques Filho, citadas anteriormente: “1) El lenguaje es un medio digno de confianza para la
comunicación de ideas. 2) Cada proposición expresada por el autor comunica un pensamiento, y
solo un pensamiento. 3) El sentido preciso de una palabra depende de su asociación con otras
palabras en su contexto inmediato y el ambiente del autor. 4) La verdad no puede ser
contradictoria”. In: SAVAGE, Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona:
Ediciones Evangélicas Europeas, 1972, p. 14.
395
SAVAGE, Pedro. El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p. 13-14.
396
Ibidem, p. 14.
171
autor resgatou o princípio reformado de livre exame das Escrituras para sugerir os
limites da crítica bíblica especializada:
às vezes, Deus permite que o homem mais sensível entenda e conheça alguns
horizontes de sua revelação em contraste com aquele erudito que perde a
mensagem em sua busca dos pontos complexos da linguística hebraica ou
grega397
397
Ibidem.
398
Edição em português da obra citada na consulta: RAMM, Bernard. A revelação especial e a
palavra de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2004.
399
QUIROZ, Pedro Arana. La Revelación de Dios y La Teología en Latinoamérica. In: SAVAGE,
Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p. 78.
400
AMAYA, Ismael E. La inspiración de la Biblia en la teologia latino-americana.In: SAVAGE,
Pedro (compilador). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p. 103.
172
401
ESCOBAR, Samuel. Una teología evangelica para iberoamerica. In: SAVAGE, Pedro
(compilador). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p. 33
402
ESCOBAR, Samuel. Una teología evangélica para iberoamerica. In: SAVAGE, Pedro (Org.). El
debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas, 1972, p. 33.
403
Ibidem.
173
404
ESCOBAR, Samuel. Una teología evangélica para iberoamerica. In: SAVAGE, Pedro (Org.). El
debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas, 1972, p. 28.
405
ESCOBAR, Samuel. Una teología evangélica para iberoamerica. In: SAVAGE, Pedro (Org.). El
debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas, 1972, p. 35.
406
PADILLA, C. René. La autoridad de la Biblia en la teologia latino-americana. In: SAVAGE,
Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p. 124.
174
407
PADILLA, C. René. . La autoridad de la Biblia en la teologia latino-americana. In: SAVAGE,
Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas
Europeas, 1972, p.127.
408
Assinaram a declaração: Ismael Amaya, Francisco Anabalón, Pedro Arana, Robinson
Cavalcanti, Enrique Cepeda, Samuel Escobar, Hector Espinoza, Geraldo de Ávila, David. L.
Jones, André Kirk, Antonio Nuñez, René Padilla, Washington Padilla, Ericson Paredes, Oscar
Pereira, Pablo Pérez, Mauro Ramalho, Asdrúbal Rios, Pedro Savage, Ricardo Sturz, Douglas
Smith, Ezequiel Torrez, César Thomé, Virgílio Vangioni e Peter Wagner. As comunicações da
consulta foram publicadas dois anos depois no livro: SAVAGE, Pedro (Org.). El debate
contemporáneo sobre la Bíblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas, 1972.
409
DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA In: SAVAGE, Pedro (Org.). El debate contemporáneo
sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones Evangélicas Europeas, 1972, p. 225.
175
tenemos la única Esperanza verdadera, que hemos sido objeto del Amor
supremo, podremos presentar a nuestra América Latina el Evangelio de
Jesucristo con brillo que deje apagados tantos falsos evangelios. 410
410
DECLARAÇÃO DE COCHABAMBA, 1972, p. 227.
411
QUIROZ, Pedro Arana. ―La Revelación de Dios y La Teología en Latinoamérica‖ In:
SAVAGE, Pedro (Org.). El debate contemporáneo sobre la Biblia. Barcelona: Ediciones
Evangélicas Europeas, 1972, p. 71.
412
José Miguez Bonino foi um dos expoentes protestantes da Teologia da Libertação, fez parte do
movimento de ISAL, colaborou com a revista Cristianismo y Sociedad, participou da segunda
consulta teológica da FTL e da consulta sobre ética social da mesma entidade, ambas em 1972.
413
Trecho do livro La fe en busca de eficácia (1977). Citado a partir da edição em português:
BONINO, José Miguez. A fé em busca de eficácia: uma interpretação da reflexão teológica latino-
americana sobre a libertação. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p. 79-80.
414
BONINO, José Miguez. A fé em busca de eficácia: uma interpretação da reflexão teológica
latino-americana sobre a libertação. São Leopoldo: Sinodal, 1987, p, 80.
176
Esta percepção de que a leitura poderia ser determinada por outros fatores
culturais e intelectuais não era negada pelo movimento de Missão Integral, porém,
este insistia na primazia do texto bíblico como ponto de partida em comparação
com as visões de mundo que podem perpassar sua leitura:
início dos anos 1990 no campo político das esquerdas, colocou em novos termos a
atribuição de seletividade na leitura, uso do instrumental marxista para interpretar
os textos, conceitos formulados a partir de elementos do texto ou externos a ele, e
principalmente o tema da autoridade da Bíblia.
178
Capítulo IV
O feminismo cristão latino-americano: saber teológico e poder
eclesiástico
417
CONTEXTO PASTORAL. LIMA, Maria do Carmo M. A dificuldade de uma igreja com rosto
feminino. Ano VI, nº 35, novembro/dezembro de 1996, p. 7.
418
ARAÚJO, Maria Paula. A utopia f ragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na
década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 9-12.
179
419
Isso aparece nos depoimentos do livro: NASCIMENTO, Ingrid Faria Gianordoli. Et ali.
Mulheres e militância: encontro e confrontos durante a Ditadura Militar. Belo Horizonte: UFMG,
2012; e na análise da imprensa feminista no livro: TELES, Amelinha; LEITE, Rosalina Santa
Cruz. Da guerrilha à imprensa feminista: a construção do feminismo pós-luta armada no Brasil
(1975-1980). São Paulo: Intermeios, 2013.
180
420
Na interpretação de Bianca Almeida: ―Para a biblista norte-americana, o voto feminino era
importante, mas, se a pedra angular da moral norte-americana não fosse tocada, revisitada em seus
conceitos ou até mesmo desconstruída sob muitos aspectos, ainda que seus direitos civis
estivessem assegurados, a mulher continuaria sendo percebida como um ser de segunda categoria.
Era necessário um resgate da capacidade da mulher de gerir sozinha sua existência, de fazer
escolhas e se responsabilizar por elas. Embora também lutasse pelo voto feminino, Elizabeth
Stantone suas colaboradoras demonstraram uma visão mais ampla do problema da submissão e
inferioridade feminina impostas pelas instituições civis e eclesiásticas‖. ALMEIDA, Bianca
Daéb‘s Seixas. Uma história das mulheres batistas soteropolitanas. Dissertação (Mestrado em
História Social) – UFBA, Salvador, 2006, p. 148.
421
STANTON, Elizabeth. The woman's Bible. Boston: Northeastern University, 1993. Até o
presente momento não há edição em português desta obra. O livro A Bíblia da mulher atualmente
em circulação no mercado editorial evangélico nada tem a ver com a publicação do século XIX e,
ao contrário, reforça os papéis de gênero da pregação religiosa convencional.
181
422
FIORENZA, Elisabeth Schüssler. As origens cristãs a partir da mulher – uma nova
hermenêutica. São Paulo: Edições Paulinas, 1992, p. 14.
423
FIORENZA, Elisabeth Schüssler.1992, p. 15, 16.
424
FIORENZA, Elisabeth Schüssler.1992, p. 17.
182
425
PINTO, Céli. Uma história do feminismo no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2013, p. 41-89.
Na primeira onda do feminismo no Brasil, se destacaram as mulheres do movimento anarquista,
jornalistas e intelectuais que publicavam na imprensa, ordinária ou feminina, e a figura de Ana
Montenegro (1915-2006) no Partido Comunista Brasileiro (PCB), a primeira mulher a ser exilada
após o golpe de 1964.
426
ARAÚJO, Maria Paula. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na
década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 159-170.
427
(CMI, Subunidade Mulheres na Igreja e na Sociedade). Década Ecumênica de Solidariedade
das Igrejas com as Mulheres. Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Porto Alegre, 1993,
p. 3.
183
Um passo decisivo para mudar o rumo da situação da mulher nas igrejas foi a
decisão da composição igualitária entre homens e mulheres, nos órgãos
diretivos e consultivos do próprio Conselho Mundial de Igrejas,
incentivando-se o mesmo nas igrejas filiadas. Em 1983, na 6ª Assembleia
(Vancouver, Canadá), metade dos oradores e moderadores eram mulheres e
as delegadas constituíam um terço do total dos participantes. Naquela ocasião
foi aprovada a proposta de solicitação ao Movimento Ecumênico de
considerar as preocupações e perspectivas das mulheres em todos os
departamentos e programas. Assim, cada iniciativa humanitária, cada ação
social, cada pesquisa teológica, cada curso de capacitação deveria sempre
incluir a pergunta: a questão feminina foi contemplada? Há mulheres
participando? Esta medida colocou novo critério para a totalidade da vida das
igrejas, enfrentando a tendência de restringir as questões femininas apenas
aos departamentos femininos.428
428
BAESKE, Sibyla (Org.). Mulheres desafiam as igrejas cristãs: década ecumênica de
solidariedade das igrejas com a mulher (1988-1998). Petrópolis, RJ: Vozes, 2001, p. 16. Em seu
livro, Sibyla Baeske O livro rememora o período através do depoimento de algumas das
participantes e organizadoras das atividades no Brasil.
429
Entre os eventos em que houve a representação da Comissão: Encontro Mundial de Mulheres
Episcopais Anglicanas (1992), Encontros Nacionais de Mulheres da IPU (1993, 1995, 1996,
1997), Consulta sobre Mulheres e Homens na Tradição Reformada (1997), 1ª Jornada Ecumênica
(1994), Encontro Ecumênico de Mulheres (1996), Foro de Mulheres da América Latina e Caribe
(1996), Encontro Internacional de Solidariedade entre as Mulheres (1998). (BAESKE, 2001, p. 30-
31).
184
Por outro lado, preocupa-me o fato de que talvez corramos o risco de querer
buscar nos grandes teólogos da libertação – ou seja, nossos irmãos que têm
muita fama em nível latino-americano e mundial – uma espécie de respaldo
para o nosso trabalho. Não sei como as outras mulheres receberam o livro,
mas isso eu senti hoje ao relê-lo. E me parece perigoso, porque, mesmo que
um, dois ou vários teólogos da libertação tivessem dito que a tarefa teológica
a partir da perspectiva da mulher não é importante, de qualquer maneira a
nossa tomada de consciência aumentou de tal forma que estamos convencidas
de ter uma contribuição a dar. Vou lhe dizer uma coisa: descobri, em certos
momentos, que me alegrava que Gustavo, Leonardo, Frei Betto ou Miguez
dissessem algo que me respaldasse no meu trabalho. Nesse sentido, vê-se um
pouco a solidão em que a mulher trabalha, pois muitas vezes ela não tem esse
respaldo dos que trabalham com ela, isto é, dos seus companheiros homens
no trabalho concreto; vê-se também que às vezes sentimos a necessidade de
ter essa ―justificativa‖ importante para tornar mais válida a nossa tarefa.432
A teórica citada por Maria José R. Nuñes defendeu em 1967 a tese de livre
docência intitulada A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, dando
início a uma produção que somou 12 livros – até sua morte em 2010, aos 76 anos
– sobre a condição da mulher, abordando a dominação patriarcal sempre com
recorte de classe: operárias, trabalhadoras domésticas, trabalhadoras rurais.435 Mas
se houve o reconhecimento da contribuição marxista na abordagem da condição
feminina, também houve crítica à subordinação do tema à análise de classe,
433
ARAÚJO, Maria Paula. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na
década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 19.
434
NUÑES, Maria Joé R. apud. TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 39.
435
A última edição do livro é: SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e
realidade. 3ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2013.
186
436
LORA, Carmem. apud. TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 28, 29.
437
ALVES, Rubem. apud. TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 82.
187
Creio que a linguagem teológica é uma linguagem que deve exprimir o pulsar
dos desejos. Eu diria: às vezes eu desejo uma mulher, e quando o meu desejo
é por uma mulher, então Deus é uma mulher, somente mulher, não há porque
pôr homem no meio. Às vezes meu desejo é por um homem – um amigo, um
filho – e quando meu desejo é por um homem, é um homem. Não há porque
colocar mulher no meio. Às vezes meu desejo não é nem por uma mulher,
nem por um homem, mas é por uma árvore, pela lua, pelo mar, pelo silêncio,
pelo fogo, pela água. Quando meu desejo é por essas coisas, então não tem de
ser nem homem, nem mulher. O que quero dizer é que o nome de Deus é um
mistério, no qual cabe o mundo inteiro. E como eu não posso dizer esse
mundo inteiro dentro desse mistério, a única coisa que posso dizer é o nome
do desejo que sinto nesse momento. [...] Creio que essa linguagem inclusiva é
uma linguagem de generalidades, pois quando você tem ele e ela juntos, você
não tem nem ele, nem ela.440
438
CERVANTES-ORTIZ, Leopoldo. A teologia de Rubem Alves: poesia, brincadeira, erotismo.
Trad. Eleonora Frenkel Barreto. Campinas-SP: Papirus, 2005, p. 27-30.
439
ALVES, Rubem. apud. TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 87.
440
ALVES, Rubem. apud. TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 85.
188
441
PEREIRA, Nancy Cardoso. Aapud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 103.
442
PEREIRA, Nancy Cardoso. apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 103.
443
PEREIRA, Nancy Cardoso. apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 101.
189
444
PEREIRA, Nancy Cardoso. apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 101-102.
445
NÓS MULHERES: Março de 1978. apud ARAÚJO, Maria Paula. A utopia fragmentada: as
novas esquerdas no Brasil e no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 30.
446
PEREIRA, Nancy Cardoso apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 102.
447
PIXLEY, Jorge apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São Paulo:
Edições Loyola, 1989, p. 35.
190
Qualquer texto bíblico deve ser lido a partir do Deus dos pobres, o Deus da
libertação, e se é dito que Deus é outra coisa como se diz em algumas partes
[...] isso deve ser medido pela norma do Êxodo. No Novo Testamento isso se
aplicaria a algumas passagens das epístolas que não parecem refletir a
pregação do reino de Deus, do Jesus dos evangelhos sinópticos. Parece-me
que Jesus, a pregação do reino nos evangelhos sinópticos, tem de ser a norma
que guia a leitura e a interpretação de todos os demais. 448
Um exemplo prático citado pelo teólogo batista foi sua rejeição ao texto de
Efésios que ordena que as mulheres sejam submissas aos maridos. Para o autor,
um texto que não pode ser aceito como normativo, porque: ―É um texto que me
parece irrecuperável, nunca trabalhei, mas quando vou a um casamento e o escuto,
fico chocado; eu simplesmente o evitaria numa cerimônia matrimonial‖, porque ―é
uma forma de despojar a mulher de sua dignidade dizer-lhe que em qualquer caso,
deve submeter-se ao marido‖.449Na sequência, o autor criticou o modelo de
matrimônio que esse texto alimenta, opressor para as mulheres e limitador
também da humanidade do homem. Milton Schwantes, biblista luterano e
brasileiro, propôs uma pergunta fundamental para pensar a leitura a partir da
mulher: questionar o pressuposto de que a Bíblia foi escrita por homens,
principalmente levando-se em conta o modo de produção agrário tributário,
predominante em boa parte da Bíblia. Em resumo:
Na Escritura há textos que vem da voz da mulher; talvez tenham sido escritos
por um homem, isto é bem possível, mas tem toda a manifestação do
interesse e da cultura da mulher. Creio que esta pesquisa não foi feita até hoje
porque não nos fizemos a pergunta se no modo de produção da Bíblia o texto
não pode provir da mulher. Eu creio que há muitos textos que vêm da mulher
[...] e quando falo em escrito não me refiro apenas à questão técnica de
escrever, mas à questão intelectual; porque no mundo antigo, a escrita não é
idêntica à inteligência.450
448
PIXLEY, Jorge apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São Paulo:
Edições Loyola, 1989, p. 36.
449
PIXLEY, Jorge apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São Paulo:
Edições Loyola, 1989, p. 34.
450
SCHWANTES, Milton apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 103-104.
191
451
COUCH, Beatriz Melano. La Mujer y La Iglesia. Buenos Aires: El Escudo, 1973, p. 43.
452
―un ministerio que incluya no sólo un punto de vista, la intuición, la visión, la forma de pensar
y sentir de una mitad de la humanidad‖ In: COUCH, Beatriz Melano. La mujer y la Iglesia.
Buenos Aires: El Escudo, 1973, p. 94.
192
É muito curioso que nas igrejas que aceitam a ordenação de mulheres não
haja teólogas na docência das faculdades ou dos seminários. Já na Igreja
Católica, onde não se pratica a ordenação de mulheres, há várias teólogas que
são professoras dos homens que assumirão o ministério ordenado.
453
ORTEGA, Ofélia apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 76-77.
454
RODRIGUEZ, Raquel apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 169.
455
RITCHIE, Nelly apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 86.
193
456
PEREIRA, Nancy Cardoso apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 108-109.
457
AQUINO, Pilar apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 12.
458
SEGUNDO, Juan Luis apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 15.
194
459
CONCHA, Leonor Aída apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 88.
460
TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 88.
461
PEREIRA, Nancy Cardoso apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo:
Edições Loyola, 1995, p. 104.
195
é uma questão revolucionária, que transforma não apenas a nossa vida como
mulheres, mas também as estruturas, digamos ―domésticas‖ e as estruturas
em geral da sociedade.462
462
RITCHIE, Nelly apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 83.
463
RITCHIE, Nelly. apud TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições
Loyola, 1995, p. 85.
464
NASCIMENTO, Ingrid Faria Gianordoli. Et ali. Mulheres e militância: encontro e confrontos
durante a Ditadura Militar. Belo Horizonte: UFMG, 2012, p. 43.
196
465
TAMEZ, Elsa. As mulheres tomam a palavra. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 8.
466
Dos jornais mencionados anteriormente, encontram-se disponíveis na Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional Mulherio e seu sucessor Nexo.
467
MULHERIO. A feminilidade das religiosas descoberta, julho/agosto/setembro de 1985, p. 12.
468
Ibidem.
197
A Igreja Anglicana está em crise. O motivo não são as pequenas questões que
sempre geram discussões e alarme em suas sessões. A polêmica agora gira
em torno da ordenação de mulheres. A simples cogitação do assunto foi
capaz de provocar uma quase cisão entre os segmentos pró e contra,
representados pelo Arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, o primeiro na
hierarquia anglicana, e o Bispo de Londres, Graham Leonard, favorito de
Margareth Thatcher. Leonard argumenta que o homem foi escolhido para o
sacerdócio e a mulher para a maternidade, o que, segundo seus oponentes,
confinaria o cristianismo aos de nascimento judeu e colocaria a
espiritualidade como privilégio masculino. O Bispo londrino afirma ainda
que o movimento pela ordenação de mulheres, bem-sucedido em Igrejas
Anglicanas fora da Inglaterra, está sendo fomentado pelo Feminismo e pela
moda.472
469
MULHERIO. Protesto contra o Vaticano. Cidade(estado): Julho/agosto/setembro de 1985, p.
12.
470
O silêncio obsequioso consiste na proibição de escrever ou pronunciar-se publicamente, como
membro da igreja, sobre assuntos da fé e da doutrina católica considerados dogmas.
471
MULHERIO. Padres de saias. setembro/outubro de 1984, p. 10.
472
MULHERIO. Ordenação de Mulheres. maio/junho de 1987, p. 14.
198
473
REILY, Ducan Alexander. História documental do protestantismo no Brasil. 3ª ed. São Paulo:
ASTE, 2003, p. 382.
474
Na Europa e nos EUA, as mulheres Quakers foram ordenadas desde o século XIX.
475
SILVA, Elizete da. Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS
Editora, 2010, p. 194.
476
OLIVEIRA, Rosângela Soares de. Brasil tem 80 pastoras. Tempo & Presença, CEDI, dez.
1989, p. 23. A autora era uma pastora metodista que integrava o programa de assessoria pastoral
do CEDI.
199
477
Entre as denominações do protestantismo histórico, os batistas são os mais resistentes à
ordenação feminina e até o limite cronológico da pesquisa não houve nenhuma mulher ordenada
ao pastorado. De acordo com Bianca Almeida, pronunciamentos em defesa da ordenação feminina
nas igrejas batistas podem ser encontrados desde 1939, principalmente como reivindicação das
próprias mulheres. ALMEIDA, Bianca Daéb‘s Seixas. Uma história das mulheres batistas
soteropolitanas. Dissertação (Mestrado em História) –UFBA, Salvador, 2006, p. 144.
200
478
Entre os números de Tempo & Presença que dedicaram a reportagem de capa às mulheres
estavam: Os novos ministérios da mulher (nº 214), Mulheres na construção de uma nova
sociedade (nº 214), Mulheres (nº 248), Mulheres e direitos reprodutivos (nº 256). Na edição com o
Balanço dos anos 1980 (nº 249), foi dedicado uma parte às mulheres. Entre as mulheres que mais
publicaram na seção A Bíblia Hoje, estava Nancy Cardoso Pereira.
201
479
MULHERIO. Notas, julho/agosto de 1982, p. 23.
202
480
NEXO. Prostitutas criam associação., julho de 1988, p. 27.
203
Outro livro sobre as mulheres da Bíblia foi publicado nos anos 1990 pela editora
Ultimato, intitulado Deixem que elas mesmas falem, de Elben M. Lenz César
(1993). A FTL organizou em 1991 uma Consulta Teológica com o tema A relação
masculino-feminino: em busca de saúde e obediência,que deu origem a duas
edições do Boletim Teológico (16 e 17): uma anterior à Consulta, com textos
prévios para estudo(1991), e uma posterior,com as palestras da Consulta, além de
um documento final (1992).481
Analisando os textos das edições 16 e 17 do Boletim Teológico, é possível
constatar que havia a tentativa de empreender avanços na discussão, negociando-
se com o conservadorismo das bases evangélicas. Isso se manifestava de três
formas: 1) Não se discutia especificamente a mulher, mas a relação masculino-
feminino; 2) Não se falava a partir das reivindicações feministas, mas do que se
entendia como obediência à Bíblia; 3) Mesclava-se referências da Teologia da
Libertação e do feminismo com a literatura publicada pelas editoras evangelicais.
Quanto ao primeiro ponto, Emil Sobottka escreveu na apresentação do Boletim
Teológico anterior à Consulta:
O que está em questão não é a igualdade ou um conjunto de direitos, mas a
relação entre os seres humanos. A pergunta não é se, segundo a Bíblia, a
mulher tem direito a isto ou àquilo, a questão é como manter a imagem e
semelhança de Deus no cotidiano de nossa vida. A imagem de Deus nos seres
humanos está no tipo de relação que eles travam com seus semelhantes e, por
extensão, com Deus. Segundo o propósito de Deus expresso na criação (Gn.
1 e 2) e reafirmado inequivocamente por Jesus (Mc. 12: 28-34 Mt. 25: 31-
46), esta relação é o companheirismo.482
481
―A Fraternidade Teológica Latino-Americana-Brasil reuniu-se em Campinas, de 19 a 22 de
setembro de 1991, para discutir e aprofundar o tema da Relação masculino-feminino: em busca de
saúde e obediência.‖ Boletim Teológico 17, maio/1992, p. 59.
482
SOBOTTKA, Emil. Apresentação: e Deus os criou companheiros. Boletim Teológico 16,
agosto/1991, p. 4.
204
Mais do que na sociedade em geral, aqui os ânimos estão por vezes exaltados
e as posições polarizadas. Há, por vezes, dificuldade inclusive para ouvir e
dialogar fraternalmente. Não será isso também consequência de uma
estruturação excessivamente reivindicatória, calcada na luta por direitos, por
espaços, perdendo de vistas dimensões muito mais evangélicas, muito mais
bíblicas?484
483
SOBOTTKA, Emil. 1991, p. 3.
484
Ibidem.
485
SOBOTTKA, Emil. 1991, p. 4.
205
não há como evitar que sua análise seja afetada por um duplo
condicionamento. Por um lado, o da longa história de interpretação bíblica
marcada pelo machismo; por outro lado, o da luta pelos direitos da mulher,
promovida pelo feminismo dentro e fora da igreja.486
486
PADILLA, René. A relação homem-mulher na Bíblia. Boletim Teológico n. 16, agosto/1991, p.
5.
487
PADILLA, René. 1991, p. 5.
488
PADILLA, René. 1991, p. 6.
206
o simples fato de que o Homem tenha sido criado como homem e mulher
sugere que seria mais bíblico dizer que em Deus se integram a masculinidade
e a feminilidade em perfeita harmonia; que ele incorpora e ao mesmo tempo
transcende a polaridade sexual humana criada por ele.490
equivoca-se quem pensa que para lutar pela reivindicação dos direitos da
mulher é necessário rejeitar a maternidade ou negar as diferenças que existem
entre ela e o homem. O esforço para eliminar as diferenças somente pode
levar a uma situação artificial, com o perigo de que a mulher acabe
concebendo sua libertação em termos de uma imagem da ―mulher liberta‖
imposta pelo homem (mais uma vez!). O caminho da libertação da mulher
não está na negação dos atributos de sua feminilidade, incluindo seu espírito
maternal, mas na integração plena da mulhercomo mulhernum projeto de
vida que expressa sua vocação humana.492
491
PADILLA, René. 1991, p. 10.
492
PADILLA, René. 1991, p. 11.
493
PADILLA, René. 1991, p. 14.
208
494
PADILLA, René. 1991, p. 17.
495
Ibidem.
496
ZIRBEL, Ilze. Redenção: onde? Boletim Teológico 16, agosto/1991, p. 23.
497
ZIRBEL, Ilze. 1991, p. 24.
209
Desta maneira Jesus, com sua vida e suas palavras, restaura o propósito
original de Deus de uma simetria nos relacionamentos humanos, tanto entre
homens e mulheres, como entre pais e filhos (e outros que se poderia
enumerar), Jesus desconhece preceitos historicamente determinados que
querem justificar o domínio de uns sobre outros. Deus os criou iguais e para
ele, Jesus, esta é ―a lei e os profetas‖.498
498
ZIRBEL, Ilze. 1991, p. 29.
499
ZIRBEL, Ilze. 1991, p. 32.
500
CAMARGO, Carmem Peresz. Quem é o ser humano?. Boletim Teológico 16, agosto/1991, p.
35-42. O texto foi escrito como requisito para o ingresso na FTL do México. Não houve, por parte
de Carmem Perez Camargo, qualquer definição da missão da igreja na promoção da igualdade
entre mulheres e homens. O texto foi citado em dois artigos no Boletim 17 em discussões sobre o
campo da sexualidade.
210
Comparada aos cultos gregos que lhe eram contemporâneos, nos quais,
segundo a autora, a segregação de mulheres e homens era acentuada e as
primeiras eram privadas do ensino, na igreja de Corinto ―Paulo encorajou as
esposas a fazerem perguntas e os maridos a discutirem as coisas de Deus com
501
Epístola de Paulo aos Coríntios, na qual o apóstolo fez recomendações sobre a ordem no culto
da comunidade cristã em Corintos. Nessa Epístola, o apóstolo recomenda o uso adequado dos dons
espirituais na liturgia e do comportamento dos fiéis, sendo muito conhecido o trecho em que
ordena às mulheres guardarem silêncio na igreja e usarem o véu.
502
YUAÇA, Yokimi. Entendendo melhor os escritos aos Coríntios. Boletim Teológico 16,
agosto/1991, p. 53.
503
YUAÇA, Yokimi. 1991, p. 54.
211
504
Ibidem.
505
YUAÇA, Yokimi. 1991, p. 41.
506
YUAÇA, Yokimi. 1991, p. 42.
212
507
YUAÇA, Yokimi. 1991, p. 41.
508
―A maioria das mulheres ainda possui uma identidade reflexa, ou seja, veem-se com os olhos
dos homens; e, para complicar, toda ciência criada pelo homem vêm reforçar ainda mais esta
identidade, que constitui o mal estar profundo de todas as mulheres.‖ MITCHEL, Juliet apud.
YUAÇA, Yokimi. Entendendo melhor os escritos aos Coríntios. Boletim Teológico 16,
agosto/1992, p. 41.
509
YUAÇA, Yokimi.YUAÇA, Yokimi. 1991, p. 43.
213
Bíblia, mas também de natureza biológica, moral e familiar: ―Ainda, num outro
diálogo, onde a pauta era a questão do ministério da mulher‖, narrou a autora,
―um pastor usou o argumento de que, depois do casamento, a prioridade da
mulher era a família‖. A partir disso ela contestou a parcialidade evangélica na
defesa da família quando a ocupação do poder eclesiástico por mulheres ou
homens estava em discussão, questionando:
quando o homem casa, a sua prioridade não é também a família? Ora, tanto
para a esposa como para o marido a família deve ocupar um espaço de
fundamental significação. Mas por que esta ―prioridade‖ não abafou os
anseios profissionais do marido, e, necessariamente, tem que sufocar a
realização profissional da mulher? Seria interessante uma ―prioridade‖ que
também desse direitos para a mulher servir empregando seus dons nos
espaços mais amplos do que a cozinha e seu lar.510
510
YUAÇA, Yokimi.1992, p. 44.
511
YUAÇA, Yokimi.1992, p. 44.
214
ser mulher que ela está mais próxima ao erro como sustentam alguns‖. Recorria-
se, para igualar os gêneros, ao tema da redenção, pois ―o sangue de Cristo tem
poder para redimir e completar a obra de salvação tanto nos homens como nas
mulheres‖ e dialogando com o universo pentecostal, recorria-se também à
intervenção do Espírito Santo ―suficientemente capaz de distribuir dons na ‗ala‘
feminina.‖512
Um ponto fundamental para Yokimi Yuaça era o quanto o percurso do
seminário ao pastorado revelava a não formação da liderança feminina, o
favorecimento ao homem para desenvolver suas funções, e as resistências das
comunidades em receber as mulheres na liderança. O desenvolvimento posterior à
formação teológica indicava que os incentivos eram segmentados por gênero. Por
isso, a articulista questionou:
O desnível, segundo a autora, não estava nas pessoas, mas nas relações, o
que apontava o exercício do pastorado pelos homens como natural, enquanto para
as mulheres alguns critérios se interpunham entre elas e a liderança, como a
expectativa de maturidade ou uma capacidade excepcional (porque demonstrada
por uma mulher). Por isso:
512
YUAÇA, Yokimi.1992, p. 45.
513
Ibidem.
514
Ibidem.
215
Sem dúvida, ainda temos que caminhar muito para que o auxílio idôneo das
mulheres, no que diz respeito às decisões, posicionamentos, funções de
responsabilidade, avaliação de fatos e planejamentos, seja sentida de forma
mais direta nas igrejas brasileiras.516
518
YUAÇA, Yokimi. 1992, p. 48-49.
519
Apresentação da autora no Boletim: ―Raquel Julia Prance é antropóloga e fez mestrado em
Teologia no Seminário Batista do Norte, em Chicago, EUA. Batista, trabalha num projeto social
dos menonitas em Recife, PE.‖ Apresentou o texto Aspectos antropológicos do relacionamento
masculino-feminino: em busca de saúde e obediência, no Boletim Teológico 17, maio/1992, p. 3-
5.
520
Apresentação da autora no Boletim: ―Isabelle Ludovico da Silva é formada em economia e
psicologia. Da Igreja do Cristianismo Decidido, trabalha e exerce o seu ministério em Curitiba,
PR.‖ Apresentou o texto Masculino-feminino: perspectivas psicológicas, no Boletim Teológico
17, maio/1992, p. 16-26.
521
Apresentação do autor no Boletim: ―Hilton Figueiredo de Oliveira é formado em Teologia. É
pastor presbiteriano e professor de Teologia na cidade de Natal, RN.‖ Apresentou o texto A
relação masculino-feminino: saúde pela obediência, no qual reproduziu a interpretação geral sobre
o tema a partir da ―história da salvação‖ (criação, queda, redenção). Texto publicado no Boletim
Teológico 17, maio/1992, p. 27-38.
217
522
OLIVEIRA, Hilton. A relação masculino-feminino: a saúde pela obediência. Boletim
Teológico 17, maio/1992, p. 27.
523
Ibidem.
524
OLIVEIRA, Hilton. 1992, p. 38.
525
DOCUMENTO. Masculino-feminino: em busca de saúde e obediência. Boletim Teológico 17,
maio/1992, p. 59.
218
526
Ibidem.
527
DOCUMENTO. Masculino-feminino: em busca de saúde e obediência. Boletim Teológico 17,
maio/1992, p. 62.
528
DOCUMENTO. Masculino-feminino: em busca de saúde e obediência. Boletim Teológico 17,
maio/1992, p. 63.
219
529
DOCUMENTO. Masculino-feminino: em busca de saúde e obediência. Boletim Teológico 17,
maio/1992, p. 64.
220
Capítulo V
Minorias militantes e teologias situadas: negros e homossexuais em
debate no protestantismo
530
Prefácio do livro HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça: ideias radicais durante a
Revolução Inglesa de 1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 17.
222
quatro pequenas crianças vão viver em uma nação onde elas não serão
julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.531
531
Discurso Eu tenho um sonho, de Martin Luther King, disponível no Youtube e em coletâneas
de discursos do pastor batista, como Um apelo à consciência: os melhores discursos de Martin
Luther King, editado por Clayborne Carson e Kris Shepard e publicado no Brasil pela editora
Zahar. (CARSON, 2006, p. 73-76). Uma edição em português dos seus sermões foi publicada
ainda em vida por uma editora portuguesa no ano de 1966: KING, Martin Luther. Força para
amar. Trad. Margarida Bernard da Costa, Lisboa: Edições Tapir, 1966.
532
Discurso Por qualquer meio necessário, de Malcon X, disponível no Youtube. Uma abrangente
biografia do líder mulçumano foi publicada recentemente: MARABLE, Manning. Malcolm X: uma
vida de recordações. Tradução Berilo Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
533
GIBELINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998, p. 392-393.
534
GIBELINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998, p. 393.
223
Deus não é daltônico, isto é, indiferente às cores. Dizer que Deus não faz
distinção de cor é como dizer que ele não faz distinção entre justiça e
injustiça, entre razão e desrazão, entre bem e mal [...] Deus é negro. A
negritude de Deus significa que Deus fez da condição dos oprimidos sua
própria condição.536
535
GIBELINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 1998, p. p. 394-395
536
CONE, JAMES H. Teologia Negra. Trad. Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: Paulinas,
1986.
224
das ―religiões de matriz africana‖, como a Federação Baiana dos Cultos Afro-
brasileiros (FEBACAB) em 1946.537
Na primeira metade do século XX, a relação entre entidades negras,
religiões afro-brasileiras e esquerdas políticas nem sempre foram solidárias. A
Frente Negra Brasileira (FNB), criada em São Paulo, em 1931, mirava os negros
norte-americanos como exemplo, ministrava aulas de catecismo católico nos
cursos de formação, apresentava certo moralismo na esfera do comportamento e
pretendia educar o povo negro a um padrão de vida que o fizesse respeitado pelo
Estado. Além disso, aproximava-se politicamente muito mais de ideologias de
direita, reproduzindo um discurso anticomunista, do que das ideologias de
esquerda, como transparece na filiação de intelectuais negros, como Abdias
Nascimento (1914-2011) ao Integralismo e no apoio da FNB ao Estado Novo.538
Nos anos 1960 e 1970, surgiram clubes, grupos e movimentos culturais
negros, que buscavam: 1) ampliar a sociabilidade da população afro-brasileira,
promovendo educação cultural e lazer aos seus membros e/ou sócios; 2) se
contrapor aos espaços de sociabilidade que restringiam ou impediam, por racismo
e preconceito de classe, o acesso da população negra; 3) afirmar a identidade e
assumir uma estética negra. Procuravam se identificar com as lutas
anticolonialistas na África e com o combate aos regimes segregacionistas
(Apartheid, Segregação americana, etc.) e valorizavam as expressões culturais
mais identificadas com as heranças africanas no Brasil.
Nos anos 1980 e 1990, os bailes funks, que começaram nas quadras das
escolas de samba do Rio, as discotecas e a difusão do reggae nas periferias das
cidades com maior população negra (Salvador, São Luís, Rio de Janeiro),
popularizaram estéticas de afirmação da identidade como o cabelo black power e
os dreadlocks, este último comumente chamado de ―rasta‖ por associação com o
537
ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FILHO, Walter Fraga. Uma história do negro no Brasil.
Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais/Fundação Cultural Palmares, 2006.
538
―Talvez essa proximidade fosse uma estratégia para garantir prestígio e legitimidade à Frente,
mas também é possível que alguns militantes vissem no projeto nacionalista do governo Vargas a
possibilidade de realização de muitos de seus anseios. A expectativa da comunidade negra era de
que o Estado assumisse a ideia de um país mestiço onde o racismo não fosse tolerado e, ao mesmo
tempo, amparasse a população negra que sofria com a pobreza, o analfabetismo, a prostituição e o
alcoolismo. Era o desejo de um Estado forte, capaz de garantir a cidadania aos negros da ―raça
brasileira‖. Assim, eles esperavam que a sociedade os reconhecesse como parte da nação, como
agentes formadores da ―raça mestiça‖. ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FILHO, Walter Fraga.
Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais/Fundação Cultural
Palmares, 2006, p. 267-268.
225
541
Na segunda comparação, apenas nos EUA a questão racial estava colocada, porém lideranças
dos direitos civis nos EUA, como Ralph Albernarty, colaboraram com a campanha de denúncia
dos exilados brasileiros contra a tortura no Brasil, se aproximaram de Dom Hélder Câmara e dos
protestantes ecumênicos, como Jovelino Ramos e Anivaldo Padilha.
227
543
REILY, Duncan A. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984,
p. 139.
544
SILVA, Elizete da. Cidadãos de outra pátria: anglicanos e batistas na Bahia. Tese (Doutorado
em História) – USP, São Paulo, 1998.p. 165-177.
229
545
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: EDUSP,
1965.
230
546
DAVI, Marcos. A religião mais negra do Brasil: por que mais de oito milhões de negros são
pentecostais? São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
547
Alguns biblistas chamam a atenção para a palavra hebraica traduzida em algumas versões como
―viu‖, e consideram que a tradução mais correta seria ―conheceu‖, que na língua original não
possuía um significado apenas intelectual, mas também sexual. Alguns defendem que Cam foi
punido por ter mantido relações incestuosas com o pai, Noé, que estava bêbado.
231
Trecho I
— Os anjos dos seus sonhos? — Vovó assentiu com a cabeça. — Que
aparência têm?
— Oh, de gente, mas diferentes de todo o mundo. São grandes, muito
bonitos, roupas coloridas, grandes espadas ao lado, asas enormes, muito
brilhantes. Um
deles, que apareceu ontem à noite, fez-me lembrar meu filho; era alto, loiro,
parecia escandinavo. (p. 192)
Trecho II
548
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São
Paulo: Loyola, 1999, p. 139
549
LINHARES, Jorge. Benção e Maldição. São Paulo: Betânia, 1992. RODOVALHO, Robson.
Quebrando as Maldições Hereditárias. Brasília: Koinonia, 1994.
232
550
PERRETI, Frank. Este mundo tenebroso. São Paulo: Editora Vida, 1988.
551
BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil. Tradução: Maria Eloisa Capelato. São
Paulo: Pioneira, 1971.
552
LEONARD, Émile. O iluminismo num protestantismo de constituição recente. Trad. Prócoro
Velásques Filho e Lóide Barbosa Velasques. São Paulo: Imprensa Metodista, 1988.
233
553
SANTANA, Jorge Luiz Nery de. Práticas e representações étnicas nas narrativas religiosas
dos batistas em Feira de Santana (1947- 1988). Dissertação (Mestrado em História) – UEFS, Feira
de Santana, 2010.
234
debate de gênero. Sobre isso, Núbia Regina Moreira escreveu ―Muitas militantes
do movimento de mulheres negras tiveram experiências políticas no feminismo
tradicional e no movimento negro. Algumas ainda tiveram experiências com
partidos políticos, tanto de direita quanto de esquerda‖.555A militância negra-
feminista organizou grupos de mulheres negras tanto em espaços do feminismo
quanto em entidades do movimento negro, realizando no final dos anos 1980, com
a presença de ―450 militantes de 17 Estados da federação‖, o I Encontro Nacional
de Mulheres Negras em 1988.556Experimentos pastorais antirracistas foram
realizados tanto no catolicismo quanto no protestantismo desde os anos 1970, o
boletim do CEI deu ampla cobertura aos conflitos raciais nos países africanos no
período e as principais publicações das entidades ecumênicas (CEDI e ISER)
dedicaram edições especiais ao tema a partir dos anos 1980.
555
MOREIRA, Núbia Regina. A organização das feministas negras no Brasil. Vitória da
Conquista-BA, Edições UESB, 2011, p. 61.
556
MOREIRA, Núbia Regina. A organização das feministas negras no Brasil. Vitória da
Conquista-BA, Edições UESB, 2011, p. 71.
236
557
SILVA, Hernani Francisco da. O movimento negro evangélico: um mover do Espírito Santo.
Edição Virtual, Selo Editorial Negritude Cristã, 2011, p. 13.
558
SILVA, Hernani Francisco da. Entrevista ao programa Análise Direta do canal evangélico RIT
TV, 18/10/2009.
238
559
Todas as citações do depoimento de Paulo Ayres Mattos à RIBLA foram livres traduções do
texto: MATTOS, Paulo Ayres. El derecho de ser diferente (Lucas 9, 51-56) . RIBLA 19. Costa
Rica: DEI, 1994. Todo o acervo da RIBLA está disponível no site do CLAI, mas sem a numeração
das páginas.
560
MATTOS, Paulo Ayres. El derecho de ser diferente (Lucas 9, 51-56) . RIBLA 19. Costa Rica:
DEI, 1994.
561
MATTOS, Paulo Ayres. RIBLA 19. El derecho de ser diferente (Lucas 9, 51-56). Costa Rica:
DEI, 1994.
239
562
SILVA, Hernani Francisco da. Entrevista ao programa Análise Direta do canal evangélico RIT
TV, 18/10/2009.
563
SILVA, Hernani Francisco da. Entrevista ao programa Análise Direta do canal evangélico RIT
TV, 18/10/2009.
564
A presidência e a vice-presidência do ISER naquele ano estavam com os presbiterianos
Joaquim Beato e Waldo César, respectivamente. Na comissão editorial estavam outros dois
presbiterianos: Rubem César Fernandes, na coordenação, e Zwinglio Mota Dias como vogal.
565
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 5.
240
566
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 5.
567
A equipe da pesquisa de campo foi formada por: Leila Beatriz Ribeiro, Sandra Tosta Fallace,
Vânia Penha Chaves, Marília Alves Schüller, Rui Cesar e Patrícia Costa.
568
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 7.
569
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 7.
570
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 3.
241
Nossos informantes diziam que ―não ficava bem ficar indicando a cor de
alguém‖, ou que, ―não conheciam todos‖, ou ainda davam respostas vagas:
―são muitos os negros‖; mas apontavam dois ou três em uma lista de cem.
Quando se dispunham a classificar, surgiam dificuldades, dúvidas,
indecisões, que só não apareciam nos casos extremos: ―É preto retinto,
pretinho mesmo‖ ou ―pra saber se são pretos ou brancos tenho que
raciocinar‖.
As classificações vinham sempre acompanhadas de um pedido: ―Não diga
que fui eu quem o indicou‖ ou ―pra não ficarem ofendidos, diga que você me
falou que não seria só negros, mas também morenos. Afinal, não ofende, todo
mundo é moreno neste país‖. A sensação que tínhamos era a de que teríamos
de manter o informante totalmente no anonimato, como se tivesse feito algo
muito perigoso e condenável.572
Uma outra situação que se tornou comum no desenrolar da pesquisa foi que,
para mostrar que os protestantes não fazem discriminação racial, os
informantes citavam imediatamente um negro que ocupasse um cargo de
571
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 3.
572
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 6.
573
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 6-7.
242
574
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 6-7.
575
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 10.
243
576
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 12.
244
Rejeição às religiosidades mais comuns entre os negros ―seja porque ela não
dá garantia da salvação (cultos afro-brasileiros) ou porque são infantis, pagãs
(pentecostais)‖.578 Interessante ressaltar esses depoimentos presentes em igrejas
da IPU, uma denominação formada por desencantados e proscritos do
presbiterianismo mais conservador, e atuante no movimento ecumênico, então
restrito ao diálogo entre cristãos. O que levanta uma hipótese que precisaria de
uma radiografia similar entre os grupos políticos na época, especialmente os de
esquerda: que o progressismo religioso, assim como o político, não conseguia
superar internamente as relações de discriminação e preconceito, camufladas pelo
racismo ―à brasileira‖ e que estava sendo confrontado pela visibilidade política da
identidade negra afirmada pelos movimentos negros, nas igrejas e nos partidos.
Acrescentando mais suspeitas à hipótese, os depoimentos mostraram que a
cor interferia nas eleições da igreja, seja para as sociedades internas ou para os
cargos eclesiásticos. Aqueles que chegavam a ocupar os espaços de poder se viam
―invadindo‖ ou ―desagradando no início‖, se sentiam pressionados a provar serem
melhores do que a expectativa sobre eles. Quando não eram desautorizados pelo
exercício de um poder paralelo de famílias ou líderes brancos, eram usados como
exemplo de ausência do racismo, valorizados apenas quando demonstravam ser
―os homens mais cultos, mais respeitados das igrejas‖. Preconceito do qual o
próprio Joaquim Beato foi alvo, como narrou um pastor da IPB sobre a fala do
presidente do Supremo Concílio da Igreja:
Nós íamos fazer um retiro da mocidade e ele disse que estava convidando o
Rev. Joaquim Beato para ser o preletor do retiro. Nós perguntamos ―como é
que ele é? Qual a posição dele?‖ Respondeu o Reverendo: Ele é um homem
sábio, de grande cultura, ainda que seja negro. Ele falou embora ele seja
preto é um homem de grande cultura. Eu me lembro perfeitamente que ele
usou essa expressão. Por quê? Porque na mocidade, na igreja dele, não havia
muitos negros. Nós poderíamos, quando víssemos o Rev. Joaquim Beato,
achar que ele era um ―ignorantão‖. Então, ele quis eliminar esta idéia
contrapondo a negritude à sabedoria dele. (Grifos das autoras)579
577
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 18-19.
578
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 19.
579
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 22.
245
580
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 23.
581
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 24.
246
582
Em seu trabalho sobre as relações étnico-raciais entre os batistas, Jorge Santana escreveu: ―O
silêncio frente à atuação do pastor afro-americano batista Martin Luther King Jr. E, na sequência, à
Teologia Negra (Black Theology), demonstram a dificuldade do pensamento batista brasileiro,
ainda hoje, de assumir uma autonomia teológica frente a herança dos missionários, bem como
tematizar e problematizar o racismo nas comunidades‖. SANTANA, Jorge Luiz Nery de. Práticas
e representações étnicas nas narrativas religiosas dos batistas em Feira de Santana (1947- 1988).
Dissertação (Mestrado em História) – UEFS, Feira de Santana, 2010, p. 164.
583
―Isto também se expressa no não reconhecimento do ministério de Martin Luther King Jr. como
um modelo de ministério a ser seguido, muito próximo e inspirado no ‗Evangelho Social‘,
movimento de outro pastor batista norte-americano do final do século XIX e início do século XX,
Walter Rauschenbush. Rauschenbush ousou discutir pecado estrutural e pecados sociais
desafiando a responsabilidade social e ética no cristianismo contemporâneo. Além destes
elementos, o questionamento às relações raciais no país dos missionários era um testemunho nada
confortável para quem anunciava as boas novas‖. SANTANA, Jorge Luiz Nery de. Práticas e
representações étnicas nas narrativas religiosas dos batistas em Feira de Santana (1947- 1988).
Dissertação (Mestrado em História) – UEFS, Feira de Santana, 2010, p. 158.
584
FLORIANO, Maria da Graça; NOVAES, Regina Célia Reyes. O Negro Evangélico.
Comunicações do ISER. Ano 4, Edição Especial, Rio de Janeiro, 1985, p. 83.
247
585
TEMPO E PRESENÇA. Racismo e Opressão (Editorial), setembro, 1985, p. 3.
586
VILLAMÁN, Marcus. RIBLA 19. Mundo negro y lectura bíblica. San José: DEI, p. 3.
248
O passo seguinte foi inserir-se nas lutas contra o racismo no Brasil, tanto a
partir da igreja quanto dialogando com os movimentos negros. Com estes o autor
disse ter aprendido que ―a luta contra o racismo demanda mais do que justiça
socioeconômica e liberdade política‖. Narrando o processo, escreveu:
587
Ibidem.
588
MATTOS, Paulo Ayres. El derecho de ser diferente (Lucas 9, 51-56). RIBLA 19. Costa Rica:
DEI, 1994.
589
Ibidem.
249
590
Ibidem.
591
Ibidem.
592
A Jornada Ecumênica foi um encontro organizado pelas principais entidades do Protestantismo
Ecumênico – CEDI, CMI, CLAI, CONIC e CESE – para analisar o ecumenismo no Brasil e
propor ações conjuntas em diferentes campos de atuação, demandas sociais e eclesiásticas.
Aconteceu na cidade de Mendes, interior do Rio de Janeiro, em 1994.
593
CONTEXTO PASTORAL. BEATO, Joaquim. Que Teologia Negra podemos produzir?nº 21,
julho/agosto de 1994, p. 20-21.
250
Minha expectativa, Sr. Presidente, meu sonho talvez, é que dentro de pouco,
muito pouco tempo, não precisemos mais de manter quilombos no Brasil.
Que a campanha Trezentos Anos de Zumbi dos Palmares seja um passo
importante nessa direção. O Centro de Estudos da Cultura Negra no Estado
do Espírito Santo, Estado que tão orgulhosamente represento neste Senado,
pode contar comigo como aliado no empenho e na ação para que esse
objetivo seja alcançado. Pode contar também, tenho certeza, com a firme
disposição e vigilância desta democrática Casa Legislativa de promover e
garantir a democracia racial que tanto engrandecerá nosso País.595
594
CONTEXTO PASTORAL. BEATO, Joaquim. Que Teologia Negra podemos produzir? nº 21,
julho/agosto de 1994, p. 20-21.
595
BEATO, Joaquim. Pronunciamento. Senado Federal, 24/01/1995. Como professor, apoiou a
implantação de cotas na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) em 2004.
251
596
MUSKOPF, André Sidnei. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São
Leopoldo-RS: CEBI, 2005, p. 28.
597
LEITE, Rosalina Santa Cruz; TELES, Amelinha. Da guerrilha à imprensa feminista: a
construção do feminismo pós-luta armada no Brasil (1975-1980). São Paulo: Intermeios, 2013, p.
31.
598
GREEN, James; QUINALHA, Renan Honório. Ditadura e homossexualidades: repressão,
resistência e a busca da verdade. São Carlos-SP: EDUFSCAR, 2014.
599
PINTO, Céli. Uma História do feminismo no Brasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2013.p. 84.
253
600
GREEN, James; QUINALHA, Renan Honório. Ditadura e homossexualidades: repressão,
resistência e a busca da verdade. São Carlos-SP: EDUFSCAR, 2014, p. 191.
601
GREEN, James; QUINALHA, Renan Honório. Ditadura e homossexualidades: repressão,
resistência e a busca da verdade. São Carlos-SP: EDUFSCAR, 2014, p. 182; 194-195.
602
ARAÚJO, Maria Paula. A utopia fragmentada: as novas esquerdas no Brasil e no mundo na
década de 1970. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p. 31.
254
Grupo Gay da Bahia (1980), dentre outros.603 E assim como aconteceu aos
movimentos feminista e negro, a militância gay no Brasil tinha nas experiências
norte-americanas pós-1968 uma das referências de organização. Houve ainda um
conjunto de perspectivas incorporadas por uma militância brasileira que retornou
do exílio nos anos finais da década de 1970 e, juntamente com os intelectuais que
atuavam no país, fundou os grupos citados anteriormente.
A revolta de gays, lésbicas, travestis, drag queens e transexuais, ocorrida no
bar Stonewall Inn em Nova Iorque, no dia 28 de agosto de 1969, se tornou um
marco do movimento LGBT.604 Naquele dia, os frequentadores do bar entraram
em conflito com os policiais que realizavam mais uma ação de revista e repressão
aos espaços alternativos para um público proscrito dos outros lugares públicos e
de lazer da cidade. No Brasil, também havia essa marginalização da sociabilidade
homossexual, mas também havia a dificuldade de realização de movimentos como
o de Stonewall no período mais duro da Ditadura Militar, entre 1968 e 1974.
Tudo isso contribuiu para retardar a visibilidade das pautas das minorias
homossexuais no país até a extinção do AI-5 (1978). Durante a abertura política,
uma coletânea importante de textos introdutórios sobre temas e problemas da
realidade brasileira foi a Coleção Primeiros Passos, publicada pela Brasiliense,
uma editora de oposição. Em 1983, foi publicado pela coletânea o livro
introdutório O que é homossexualidade?, de Peter Fry e Edward Macae, que
denunciava: ―a homossexualidade continua sendo tratada, na prática, como uma
indigesta mistura de pecado, sem-vergonhice e doença"605, uma amostra da
incorporação tardia do tema no debate intelectual do Brasil.
Este retardamento contribuiu também para que a Teologia Gay, presente nos
EUA durante os anos 1980, não encontrasse espaço nas expressões mais críticas
da teologia latino-americana e brasileira: a Teologia da Libertação. Novamente,
André Muskopf esclarece que: ―Embora essas propostas teológicas tenham
levantado a existência de sujeitos teológicos excluídos dos círculos dominantes de
603
Para um histórico do movimento LGBT no Brasil: FACCHINI, Regina; SIMÕES, Júlio Assis.
Na trilha do arco-íris: do movimento homossexual ao LGBT. São Paulo: Editora Perseu Abramo,
2009.
604
Sigla para Lésbicas, Gays, Bis, Travestis, Transexuais e Transgêneros. 28 de agosto, dia da
revolta de Stonewall, se tornou internacionalmente o Dia do Orgulho LGBT.
605
FRY, Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade? São Paulo: Brasiliense, 1983, p.
117-118.
255
606
MUSKOPF, André Sidnei. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São
Leopoldo-RS: CEBI, 2005, p. 120.
607
ALVES, Rubem. apud TAMEZ, Elsa. Teólogos da Libertação falam sobre a mulher. São
Paulo: Edições Loyola, 1989, p. 85.
608
Ausência significativa se pensarmos que foram entrevistadas vinte e nove pessoas, entre
mulheres e homens, ligadas à Teologia da Libertação, já no final da década.
256
609
FACCHINI, Regina; SIMÕES, Júlio Assis. Na trilha do arco-íris: do movimento homossexual
ao LGBT. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2009, p. 41.
610
CONTACT, 1987, p. 7. apud LOSSKY, Nicholas. Dicionário do movimento ecumênico.
Petrópolis: Vozes, 2005, p. 40.
611
CARDOSO, Fernando. A homoafetividade e o cristianismo. São Paulo: Clube de Autores,
2010, p. 8.
257
612
CARDOSO, Fernando. A homoafetividade e o cristianismo. São Paulo: Clube de Autores, 2010,
p. 9.
613
Em 2013, Marília de Camargo César escreveu: ―Em todo o Brasil, há registradas 28 dessas
comunidades inclusivas, que se reúnem sob quatro bandeiras, em nove estados. Há seis anos, não
havia nenhuma. É pouco se comparado aos Estados Unidos, por exemplo, com cerca de 6.800
congregações inclusivas registradas‖. In: CÉSAR, Marília de Camargo. Entre a cruz e o arco-íris:
a complexa relação dos cristãos com a homoafetividade. Belo Horizonte: Editora Gutemberg,
2013, p, 25.
614
O livro de André Muskopf foi resultado da monografia em Teologia, defendida na Escola
Superior de Teologia (EST) vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB) em 2002. Naquele mesmo ano o autor publicou uma edição independente e, três anos
depois, a segunda edição foi publicada pelo CEBI.
615
MUSKOPF, André. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São Leopoldo:
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), 2005, p. 121.
616
MUSKOPF, André. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São Leopoldo:
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), 2005, p. 7.
258
A expectativa de Pixley era que essa proposta de uma Teologia Gay fosse
―uma conversa que deve penetrar nas igrejas e em primeiro lugar na Teologia da
Libertação‖.618 O roteiro da Teologia Gay, as metodologias adotadas e os assuntos
a serem discutidos, seguiram mais ou menos o caminho das outras teologias
situadas de minorias militantes, como a Teologia Negra e a Teologia Feminista:
hermenêutica a partir da experiência do ―sujeito oprimido‖, solidariedade aos
movimentos da minoria correspondente, abordagem histórico-crítica da Bíblia,
reinvindicação da equidade nas estruturas eclesiásticas, proposta de uma igreja
inclusiva e de uma pastoral comunitária, reconhecimento da espiritualidade
própria das pessoas excluídas, crítica ao fundamentalismo e à legitimação
religiosa das desigualdades denunciadas.
617
MUSKOPF, André. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São Leopoldo:
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), 2005, p. 13.
618
MUSKOPF, André. Uma brecha no armário: propostas para uma Teologia Gay. São Leopoldo:
Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), 2005, p. 121.
259
619
CAVALCANTI, Robinson. Uma benção chamada sexo. 1ª Edição. São Paulo: ABU Editora,
1975, p. 5-6.
260
620
CAVALCANTI, Robinson.1975, p. 51.
621
Ibidem.
622
CAVALCANTI, Robinson.p. 52.
261
623
CAVALCANTI, Robinson.1975, p. 53.
624
Ibidem.
262
etc.‖ Atitude que seria ―tão errônea quanto a de considerá-los como animais, sub-
homens, sujos, ou pessoas irrecuperáveis‖.625 Às igrejas, recomendava uma
atitude que interpretava como tolerante com os indivíduos, mas não com a
sexualidade deles:
625
CAVALCANTI, Robinson.1975, p. 51.
626
CAVALCANTI, Robinson.p. 53.
627
CAVACANTI, Robinson. Libertação e sexualidade: instinto, cultura, revelação. São Paulo,
Temática Publicações, 1990, p. 11-12.
263
no campo da sexualidade. Isso fica mais evidente nas referências que o autor
buscou para pensar as relações conjugais e os modelos de família, citando o
relatório Kinsey, psicólogos e psicanalistas como Willian Reich (1897-1957),
Alfred Adler (1870-1937), Carl Rogers (1902-1987) e Roberto Freire (1927-
2008), intelectuais marxistas como Marilena Chauí (1941-), feministas como
Juliet Mitchel (1940-) e Rose Marie Muraro (1930-2014), ainda que as referências
à literatura pastoral e teológica evangélica, predominantemente conservadoras,
continuassem bem mais abundantes. Tais referências serviram para o autor
relativizar o caráter normativo das experiências contemporâneas de namoro,
noivado e casamento aceitas no meio evangélico brasileiro, colocando-as em
perspectiva histórica, definindo-as como arranjos culturais provisórios.
Contrapondo-se a uma literatura evangélica que associava pureza à ausência
de relações sexuais e condenava como ilícitos quaisquer atos sexuais praticados
antes do casamento ou fora dele, o autor advogou em favor da vivência sexual dos
casais cristãos, quer antes do casamento, ou depois dele, admitindo a
conjugalidade formal ou informal, monogâmica ou polígama, sobre as quais
―deve-se atentar para as diferenças de conteúdo e não de forma‖.628 Por isso:
628
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 61.
629
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 60.
264
Para não alongar os comentários sobre os diversos temas tratados pelo livro
e voltar à abordagem do autor sobre a homossexualidade, menciono apenas o
posicionamento sobre o celibato, a masturbação, o divórcio e temas correlatos a
estes. Quanto ao primeiro, Robinson Cavalcanti pregou o respeito à condição
celibatária por opção ou circunstâncias contrárias à vontade do indivíduo,
incluindo a solidão ou incapacidade de relacionar-se, mas condenou qualquer
tentativa de a impor como critério de santidade. Recomendou, aos celibatários e
celibatárias, a vida em comunidade, a construção de um círculo de amizades
íntimas, a disposição ao serviço e à solidariedade, ajuda médica ou pastoral.
Quanto à masturbação, o autor rejeitava o termo ―onamismo‖ para a prática, pois
considerava que ―o pecado de Onã‖ não foi a masturbação, mas o coito
630
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 105.
631
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 106.
632
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 107.
265
a arte que leva à vida e não como vulgarmente se possa pensar, como
caminho da manipulação dos desejos pelo poder (ex: pornografia, erotismo
de massa, exploração do corpo da mulher etc.): Para tanto advoga uma ética
de Sociedade, uma ética de maioria, e não uma ética de heroísmo, mas uma
ética de exceção.635
633
O texto bíblico se encontra em Gênesis 38:9 ―Onã, porém, soube que esta descendência não
havia de ser para ele; e aconteceu que, quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen
na terra, para não dar descendência a seu irmão‖. O pecado de Onã, portanto, foi ―derramar o
sêmen sobre a terra‖. Por isso a discussão sobre o uso do termo onamismo aplicado à masturbação
ou ao coito interrompido.
634
CAVALCANTI, Robinson. CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 35.
635
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 128.
266
Cremos que há matrimônios que Deus uniu, e que assim mesmo podem
fracassar, não por causa de Deus, mas pela natureza dos cônjuges. Há
matrimônios que o homem uniu em virtude do dinheiro, do status, da atração
física etc. E, também cremos, há matrimônios que o demônio uniu, e quanto
mais cedo cair fora dele, melhor. Embora saibamos que os matrimônios de
uniões humanas e satânicas também podem ser salvos pelo poder
transformador do Evangelho.637[grifo nosso]
638
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 24-25.
639
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 27.
640
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 26-27.
641
O Centro de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) foi criado em 1977, reunindo estudantes
ligados à ABU e jovens recém-formados no campo da psicologia. Tomavam como principal
referência na área psicológica o canadense Paul Tournier. No campo teológico, as referências eram
o teólogo John Stott e os intelectuais da FTL continental Samuel Escobar e René Padilla. Desde o
início compartilhou das teorias que consideravam a homossexualidade algum tipo de patologia,
distúrbio mental ou desvio de comportamento. Até hoje se posiciona contrário a qualquer defesa
cristã da homossexualidade e é favorável às terapias de reorientação sexual.
268
642
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 29.
643
Ibidem.
644
STOTT, John apud CAVALCANTI, Robinson. Libertação e sexualidade: instinto, cultura,
revelação. São Paulo, Temática Publicações, 1990, p. 29-30.
645
Ibidem.
269
646
CAVALCANTI, Robinson.1990, p. 30-31.
647
Todas as citações sobre Carlos Tadeu Grzybowsky citadas acima em: CAVALCANTI,
Robinson. Libertação e sexualidade: instinto, cultura, revelação. São Paulo, Temática Publicações,
1990, p. 31-32.
270
PARTE III
EVANGÉLICOS, ABERTURA E ELEIÇÕES
Capítulo VI
Ser de esquerda entre os evangélicos
648
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção
política.Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Ed. UNESP, 1995, p. 33.
649
Depoimento de Waldo César sobre a recusa a participar do Partido Comunista. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias ecumênicas protestantes. Os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, 2014, p. 96.
650
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis-RJ:
Editora Vozes, 1987, p. 226.
274
Para uns, a questão primordial era a luta pela democracia. Para outros, a luta
pela democracia não se resumia ao fim da ditadura, mas significava o
reconhecimento dos direitos dos trabalhadores e a representação dos
movimentos organizados. Essa diferença levou a caminhos separados para a
criação do PT e do PMDB, mas não impediu a convivência no campo da
oposição. Se resultou, em 1982, na disputa entre PMDB e PT como duros
651
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e oposição no Brasil (1964-1984). Petrópolis-RJ:
Editora Vozes, 1987, p. 185-289.
652
ALMEIDA, Gelsom Rozentino de. História de uma década quase perdida – PT, CUT e
Democracia no Brasil: 1979 – 1989. Rio de Janeiro: Garamond, 2011, p. 33.
275
653
ALMEIDA, Gelsom Rozentino de. História de uma década quase perdida – PT, CUT e
Democracia no Brasil: 1979 – 1989. Rio de Janeiro: Garamond, 2011, p. 209.
654
Ibidem, p. 215.
655
GOMES, Igor. Na contramão do sentido: origens e trajetória do PT em Feira de Santana – BA
(1979-2000). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói,
2007, p. 13-26.
276
656
COELHO, Eurelino. Uma esquerda para o capital: crise do marxismo e mudanças nos projetos
políticos dos grupos dirigentes do PT (1979-1998). São Paulo: Xamã; Feira de Santana: UEFS
Editora, 2012, p. 54.
657
Manoel da Conceição foi o terceiro filiado no evento de fundação do partido. Sobre a
participação na AP e no PT declarou: ―A minha militância foi só na AP, porque não tinha o PT. No
PT eu fui filiado só uma vez e até hoje não me desfiliei, continuo no PT e acho que vou morrer
petista.‖ CONCEIÇÃO, Manoel da. (Entrevista) In: FERREIRA, Marieta de Moraes; FORTES,
Alexandre. (Org.). Muitos caminhos, uma estrela: memórias de militantes do PT. São Paulo:
Editora Perseu Abramo, 2008, p. 71.
658
CONCEIÇÃO, Manoel da. (Entrevista) In: FERREIRA, Marieta de Moraes; FORTES,
Alexandre. (Org.). Muitos caminhos, uma estrela: memórias de militantes do PT. São Paulo:
Editora Perseu Abramo, 2008, p. 71.
277
659
Ver: ARANTES, Aldo; LIMA, Haroldo. História da Ação Popular: da JUC ao PC do B. São
Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1984.
660
CHAGAS, Roberto. Do abandono da igreja à luta clandestina. In: DIAS, Zwinglio Mota
(Org.). Memórias protestantes ecumênicas. Os protestantes e a ditadura: colaboração e resistência.
Rio de Janeiro: Koinonia Presença e Serviço, 2014, p. 56.
661
EMMERICK, Nilton. A militância política de um presbiteriano“comunista”. In: DIAS,
Zwinglio Mota (Org.). Memórias protestantes ecumênicas. Os protestantes e a ditadura:
colaboração e resistência. Rio de Janeiro: Koinonia Presença e Serviço, 2014, p. 78.
278
662
MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil (1974-1984). São
Paulo: Publisher, 2013, p. 27.
663
MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil (1974-1984). São
Paulo: Publisher, 2013, p. 31.
280
664
MAUÉS, Flamarion. Livros contra a ditadura: editoras de oposição no Brasil (1974-1984). São
Paulo, Publisher, 2013, p. 28.
281
Eu disse, certa vez, que a igreja como instituição sempre esteve muito mais
ao lado dos detentores do poder do que do povo. Ainda hoje, eu reafirmo
isso. Entretanto, não podemos dizer isso da igreja de D. Paulo, de D. Cláudio,
de D. Angélico, de D. Hélder e de outros combativos homens em toda a parte
do mundo.666
667
TEMPO E PRESENÇA. Aconteceu. Nº 153, CEDI, agosto e setembro de 1979, p. 19.
668
TEMPO E PRESENÇA. Aconteceu. Nº 154, CEDI, outubro de 1979, p. 9.
283
669
Ibidem.
670
TEMPO E PRESENÇA. Questão agrária, movimento sindical e igreja. Nº 152, CEDI, julho de
1979, p. 04.
671
TEMPO E PRESENÇA. Aconteceu. Nº 152, CEDI, julho de 1979, p. 14.
284
1º) lutamos e apoiamos uma anistia que seja ampla, geral e irrestrita, dentro
de um espírito de grandeza e de profundo alcance político, reintegrando
plenamente todos sem discriminação à sociedade brasileira;
672
TEMPO E PRESENÇA. Aconteceu. Nº 154, CEDI, outubro de 1979, p. 16.
673
TEMPO E PRESENÇA. Anistia. Nº 153, CEDI, agosto/setembro de 1979, p. 18.
674
TEMPO E PRESENÇA. Aconteceu. Nº 153, CEDI, agosto e setembro de 1979, p. 18.
675
TEMPO E PRESENÇA. Igrejas apoiam Anistia. Tempo e Presença, nº 153, CEDI, agosto e
setembro de 1979, p. 36.
285
2º) reconhecemos que a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita é parte de
uma luta maior pelo pleno estabelecimento da democracia em nosso país,
inclusive a extinção de todos os instrumentos e órgãos que têm sido usados
para reprimir violentamente os legítimos reclamos da sociedade brasileira,
especialmente dos setores populares, excluídos sistematicamente do processo
de decisão e desenvolvimento nacional;
3º) compreendemos a dor e os esforços que estão sendo feitos por aqueles
que não foram atingidos pelo projeto de anistia enviado pelo Executivo ao
Congresso, assim como pelos seus familiares e amplos setores da sociedade;
4º) esperamos que o Congresso Nacional, ouvindo o inconteste clamor da
nação brasileira e usando do seu pleno direito, transforme o projeto da anistia
num ato amplo e condizente com as aspirações de toda a sociedade;
5º) assumimos, de acordo com o imperativo cristão, toda a dor e sofrimento
daqueles que lutam pela sua liberdade, sem nos considerarmos inflexíveis
julgadores de suas ações, e nesse espírito renovamos nossa esperança de que
esses sentimentos possam tornar-se brevemente uma realidade.676
676
TEMPO E PRESENÇA. Igrejas apoiam Anistia. Tempo e Presença, nº 153, CEDI, agosto e
setembro de 1979, p. 36.
677
A seguir uma lista de outros protestantes citados: Luiz Boaventura (Presidente da Aliança de
Igrejas Reformadas do Brasil), Luis Carlos Garlipp (pastor luterano), Josué de Oliveira (pastor
presbiteriano), Paulo Schütz (pastor metodista), Hélcio da Silva Lessa (pastor batista), Carlos
Alberto Correia da Cunha (pastor presbiteriano), Felipe de Mesquita (pastor metodista), Aerton
Tavares de Azevedo (pastor metodista), Rui de S. Josgrilberg (pastor metodista). O predomínio era
de presbiterianos (seis) e metodistas (5).
286
678
CABRERA, José Roberto. Os caminhos da Rosa: um estudo sobre a social-democracia no
Brasil. Dissertação (Mestrado) – UNICAMP, Campinas, 1995.
287
679
TEMPO E PRESENÇA. As igrejas e o momento político. Nº 155, CEDI, novembro de 1979, p.
11-12.
680
Ibidem.
681
Ibidem.
682
Ibidem.
683
Ibidem.
288
684
Ibidem.
685
Ao comentar a música ―Abre-te, Sésamo‖ na época de lançamento do LP homônimo (1980),
Raul Seixas confessou que a composição foi feita pensando na abertura para a qual ele convidou
Ali Babá, uma vez que, segundo ele, os quarenta ladrões sempre estiveram entre nós. Nos shows,
ele terminava a música gritando repetidas vezes: ―Abre-te!‖.
686
TEMPO E PRESENÇA. As igrejas e o momento político. Nº 155, CEDI, novembro de 1979, p.
11-12.
687
A canção ―Desesperar, Jamais‖ foi gravada no LP ―A Noite‖ (1979) de Ivan Lins.
289
Assim, Paulo Ayres Mattos argumentava que a tentativa dos grupos dominantes
em perpetuarem a ditadura por outros meios, através de uma democracia restrita,
não deveria produzir a inação dos movimentos de oposição, mas uma resposta à
tentativa de ludibriá-los:
688
Ibidem.
689
Ibidem.
290
690
TEMPO E PRESENÇA. As igrejas e o momento político. Nº 155, CEDI, novembro de 1979, p.
11-12.
691
COUTO, Ronaldo Costa. A história indiscreta da ditadura e abertura. Rio de Janeiro: Record,
2010, p. 282.
291
692
TEMPO E PRESENÇA. Eleições em pacotes. Nº 176, CEDI, julho/agosto de 1982, p. 2.
292
693
TEMPO E PRESENÇA. Pastoral Popular e política partidária. Nº 176, CEDI, julho/agosto de
1982, p. 3.
694
Ibidem.
293
695
Manifesto aprovado pelo Movimento Pró-PT, em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion
(SP), e publicado no Diário Oficial da União de 21 de outubro de 1980. O manifesto foi redigido
pela tendência trotskista Convergência Socialista. Defendia um partido dos trabalhadores, com
total autonomia de classe e independência política diante da burguesia. Como observou Eurelino
Coelho: ―A intervenção política dos grupos de esquerda tencionava o embrião do que viria a ser a
Articulação [grupo dirigente do partido] desde o período do Movimento Pró-PT‖. COELHO,
Eurelino. Uma esquerda para o capital: crise do Marxismo e mudanças nos projetos políticos dos
grupos dirigentes do PT (1979-1998). São Paulo: Xamã; Feira de Santana: UEFS Editora, 2012, p.
72.
294
Ainda mais: é preciso realçar que a prática pastoral não se reduz à atividade
política, não é complementar e nem provisória. Tem especificidade e
abrangência próprias. Por sua vez a política partidária realiza-se
independentemente das questões relacionadas com a fé. Ela se define em
relação do poder como instrumento de organização e de transformação social
e pode ser exercida sem referência explícita à fé.
Isto faz com que a responsabilidade das comunidades cristãs cresça, e se
torne cada vez mais urgente uma definição, à luz da fé e da realidade social,
das exigências que se fazem a um partido, para que ele possa realmente
representar os interesses populares. A fé, fundamento das Comunidades
696
TEMPO E PRESENÇA. Pastoral Popular e política partidária. Nº 176, CEDI, julho/agosto de
1982, p. 3.
697
Ibidem.
295
698
TEMPO E PRESENÇA. Pastoral Popular e política partidária. Nº 176, CEDI, julho/agosto de
1982, p. 3-4.
699
TEMPO E PRESENÇA. Pastoral Popular e política partidária. Nº 176, CEDI, julho/agosto de
1982, p. 4.
700
CARTA DE PRINCÍPIOS. Anterior ao Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores,
lançada publicamente no dia 1º de maio de 1979.
296
Esta inserção deveria evitar que ―a presença dos cristãos nas organizações
partidárias‖ viesse a ―constituir-se em mais uma tendência — a tendência da
igreja‖ e, ao mesmo tempo, alertar para que os cristãos não fossem ―usados como
massa de manobra por hábeis políticos ou facções minoritárias já organizadas‖.702
As comunidades cristãs deveriam precaver-se, além do mais, de conceber suas
lideranças como candidatos naturais da comunidade, pois uma vez candidatos,
eles representavam o partido e seu programa, podendo estar mais ou menos
afinados com a perspectiva da Pastoral Popular, mas sem confundir-se com ela.
As consequências dessa confusão ―têm trazido mágoas, desânimo e
fraccionamento no interior dos grupos‖. As comunidades deveriam reconhecer
que ―mais de uma tendência aparece através de seus membros‖.703
A pluralidade partidária nas bases significava que, para elas, nenhum
partido constituía uma alternativa exclusiva. Os proponentes do Partido dos
Trabalhadores, mesmo apresentando o partido como a autêntica expressão dos
interesses das classes trabalhadoras, esclareciam na Carta de Princípios de 1979,
que as críticas à oposição representada pelo MDB não pretendiam ignorar que o
mesmo ―foi utilizado pelas massas para manifestar eleitoralmente seu repúdio ao
arbítrio‖ e nem ―a existência, entre seus quadros, de políticos honestamente
comprometidos com as lutas populares‖.704
O reconhecimento da pluralidade partidária nas organizações de base no
texto de Jether Ramalho, assim como o reconhecimento do compromisso com as
lutas populares em políticos do antigo MDB por uma das tendências formadoras
701
CARTA DE PRINCÍPIOS. Anterior ao Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores,
lançada publicamente no dia 1º de maio de 1979.
702
TEMPO E PRESENÇA. Pastoral Popular e política partidária. Nº 176, CEDI, julho/agosto de
1982, p. 5.
703
Ibidem.
704
CARTA DE PRINCÍPIOS. Anterior ao Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores,
lançada publicamente no dia 1º de maio de 1979.
297
Embora esteja sendo lançada hoje a nível de Brasil, eu acredito que poderá
impulsionar essa campanha, fazer com que se concretizem as eleições diretas
para Presidência da República; porque eu julgo ser um dos passos
importantes pra concretização da própria democracia no Brasil. Mas a
mensagem que eu gostaria de dar aos trabalhadores, para que se
conscientizassem daimportância de se organizarem a partir de seus
sindicatos, das suas associações de bairros, porque, na minha opinião, eu
entendo que a única forma de transformarmos essa sociedade, a única forma
de conseguirmos deveres e direitos iguais para todo o povo brasileiro, é a
própria organização da classe trabalhadora.707
707
TEMPO E PRESENÇA. Entrevista: Meneguelli fala do movimento sindical. Nº 189, CEDI,
1984, p. 7.
708
TEMPO E PRESENÇA. Editorial: Diretas na cara. Nº 190, CEDI, 1984, p. 3.
299
Ainda que tardiamente, deslanchou com toda força a campanha nacional por
eleições diretas para presidente da República, cuja participação popular
tornou pequenas as praças e ruas das principais cidades do País. Nem mesmo
a "côrte" em Brasília pôde manter-se surda ao clamor popular: Diretas, Já!
Até candidatos que sempre estiveram à sombra do chamado "sistema"
declaram-se, hoje, favoráveis às eleições diretas, tudo levando a crer que
deverá intensificar-se a campanha pelas diretas até a votação da emenda
Dante de Oliveira pelo Congresso Nacional. 709
709
TEMPO E PRESENÇA. Diretas e desemprego. Nº 190, CEDI, 1984, p. 4.
300
710
TEMPO E PRESENÇA. Diretas e desemprego. Nº 190, CEDI, 1984, p. 6. O artigo foi escrito
por Jorge Eduardo L. Mattoso, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
711
TEMPO E PRESENÇA. ―Metalúrgicos: oi nóis aqui otra veiz‖. Nº 190, CEDI, 1984, p. 19.
712
TEMPO E PRESENÇA. ―Metalúrgicos: oi nóis aqui otra veiz‖. Nº 190, CEDI, 1984, p. 19.
301
713
NORONHA, Mozart. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, 11/07/2011.
302
714
Idem.
303
O Jornal do Brasil (JB) deu destaque ao fato do pastor ter sido candidato a
deputado estadual pelo PT em 1982 e ser amigo do então candidato à prefeitura do
Rio de Janeiro pelo partido, Chico Alencar (1959-). A matéria dizia: ―Ao chegar
ao velório,porém, o pastor chamou a atenção, por causa do adesivo com a
inscrição Vote no PT no vidro do carro que o conduziu ao palácio‖.716 Segundo a
matéria ―O Pastor é de todos‖, do JB, Mozart Noronha não era mais filiado ao
partido e acompanhava a família luterana do general desde a filiação da mesma à
Paróquia Bom Samaritano em Ipanema, da qual era pastor, em 1995. Ao contrário
do que sugere o depoimento de Mozart Noronha ao autor em relação à ausência de
críticas, a matéria sugere uma resposta a possíveis críticos: ―Detesto toda forma
de sectarismo e dogmatismo, da direita ou da esquerda. Detesto mais ainda o
dogmatismo da esquerda, porque ela tem sido vítima dele e já deveria ter
aprendido a não ser dogmática‖.717 E explicou a relação entre a política e o
ministério pastoral:
715
NORONHA, Mozart. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro, 11/07/2011.
716
JORNAL DO BRASIL. FH evita enterro temendo protestos. 14/09/1996 p. 10.
717
JORNAL DO BRASIL. O pastor é de todos. 14/09/1996 p. 10.
718
Ibidem.
304
719
Paulo Freire fez parte do Movimento de Educação de Base (MEB) nos anos 1960, quando
começou a trabalhar sua concepção de pedagogia crítica, cujo método de alfabetização a partir da
palavra geradora e da leitura de mundo, associou-se, definitivamente, ao seu nome. Expulso do
país após o golpe de 1964, atuou em projetos de educação popular em vários países da América
Latina e da África com apoio do CMI. De volta ao Brasil, tornou-se Secretário de Educação da
primeira gestão do PT na prefeitura de São Paulo, no mandato da prefeita Luiza Erundina. Ver:
SOUZA, Ana Inês (org.). Paulo Freire: Vida e obra. São Paulo-SP, Expressão Popular, 2001.
720
ENTREVISTA. Paulo Freire. TV PUC de São Paulo, 17/04/1997.
721
PINHEIRO, Jorge. Entrevista concedida ao autor via e-mail, 21/09/2013. Sobre os pais, Jorge
Pinheiro comentou que a família materna era constituída de abolicionistas e republicanos
históricos, e o pai, Amynthas, ―era socialista e foi convidado várias vezes para ser candidato pelo
Partido Socialista Brasileiro.‖
305
levando a uma passeata de cem mil pessoas no Rio de Janeiro. Nunca havia
acontecido nada parecido no país.722
722
Idem.
723
Uma descrição das atividades e das concepções políticas do MNR encontra-se em:
GORENDER, Jacob. Combate nas trevas: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Ática,
1990.
724
PINHEIRO, Jorge. Entrevista concedida ao autor via e-mail, 21/09/2013.
725
O entrevistado relatou muitas passagens marcantes do período no Chile, presentes também em
seu livro de memórias do exílio: PINHEIRO, Jorge. Um pedaço de mim: novela de memórias. São
Paulo: Ed. E-leva Cultural, 2008.
306
726
Sobre o papel da Convergência Socialista na formação do PT, pode-se consultar SILVA,
Antonio Ozaí da. História das tendências no Brasil: origens, cisões e propostas. 2ª edição. São
Paulo: Proposta Editorial, 1987, p. 184-190 e o documentário A Convergência Socialista e a
Ditadura Militar (2013).
PINHEIRO, Jorge. Entrevista concedida ao autor via e-mail, 21/09/2013.
728
BOÉTIE, Étienne de La. Discurso da servidão voluntária. Trad. Casemiro Linarth. São Paulo:
Martin Claret, 2009. O livro considerou a servidão voluntária dos súditos como o princípio do
poder do governante e discutiu as possibilidades de resistência não violenta à dominação a partir
da recusa em obedecer à autoridade.
729
PINHEIRO, Jorge. Entrevista concedida ao autor via e-mail, 21/09/2013.
307
vivido também por Benedita da Silva (1942-). A primeira filiação religiosa foi na
Umbanda, fazendo parte do Terreiro do Seu Sete na favela Chapéu Mangueira.
Após a morte da mãe, continuou no terreiro até os 18 anos, quando começou a
atuar nas obras sociais da Igreja Católica e em Comunidades Eclesiais de Base
(CEBs), assimilando influências da Teologia da Libertação. A conversão
aconteceu em 1968, após uma crise em que chegou a pensar em suicídio, segundo
narrou em sua autobiografia:
Como fui a única eleita, pensei que o PT fosse usar meu mandato para
desenvolver seu trabalho no Rio. Mas o partido não entendia que a bancada
era dele! Acho que era uma dificuldade de lidar com o próprio poder, de
perceber que os candidatos eleitos continuavam a ser militantes‖.737
735
Autobiografia de Benedita da Silva, depoimentos editados por MENDONÇA, Maisa;
BENJAMIN, Medea. Benedita. Rio de Janeiro: Mauad, 1997, p. 96.
736
Ibidem.
737
MENDONÇA, Maisa; BENJAMIN. Benedita. Rio de Janeiro: Mauad, Medea. 1997, p. 66.
309
aparentemente, não por uma razão política e sim ligada à restrição imposta ao
casamento com um homem que não pertencia à igreja Assembleia de Deus. A
decisão de sair da Assembleia de Deus não significou uma ruptura com o
protestantismo, mas uma transição para outra fração do segmento religioso, mais
próxima ao diálogo com as esquerdas: ―Era importante pra mim casar na igreja e
por isso entrei em contato com o pastor Mozart Noronha, da Igreja Presbiteriana
Independente. Ele e o Lysâneas Maciel me deram apoio e orientação espiritual, e
foi naquela igreja que me casei‖.738Benedita da Silva também se aproximou do
movimento de Missão Integral no final dos anos 1980, mais precisamente, na
primeira eleição direta para presidente em 1989, no qual o PT apresentou a
candidatura de Luís Inácio Lula da Silva. Em 1991, participou do I Fórum
Nacional de Discussão e Entendimento entre Evangélicos e Partidos Progressistas
(imagem abaixo), que pavimentou caminhos de diálogo entre setores protestantes
e o partido.739
Imagem 6 – Fórum Evangélicos com Partidos Políticos
738
MENDONÇA, Maisa; BENJAMIN. Benedita. Rio de Janeiro: Mauad, Medea. 1997, p. 98.
739
Sobre o Fórum, Benedita da Silva também comentou: ―participaram mais de trezentas pessoas,
incluindo pastores, líderes religiosos e políticos. Foram dois dias de reflexões críticas de ambas as
partes, que contribuíram de forma madura para um estreitamento entre os dois segmentos. Uma
discussão importante se referiu à forma com que os setores conservadores da Igreja Protestante
vêm se inserindo na América Latina‖. MENDONÇA, Maisa; BENJAMIN. Benedita. Rio de
Janeiro: Mauad, Medea. 1997, p. 100.
310
Aí eu fui entendendo o que era tendência, fui entendendo uma série de coisas.
[...] Eu não fui para outro movimento que senão o do Lula. Eu digo: ―Ele é
igual a mim. Eu vou por aqui, porque aqui vai sair alguma coisa‖. Mas era
difícil, para você entender, para você passar uma proposta. Aí nós
começamos a disputar, e a coisa foi ficando acirrada. ―Ah, não, quem vai sair
delegado é fulano, é sicrano, porque vai chegar lá na frente, vai fazer
intervenção‖. Eu disse: ―Não, eu também tenho que falar. O melhor
intelectual é o que fala e todo mundo entende, e não aquele que fala e as
pessoas não entendem. Então eu vou falar. Senão o meu pessoal não vai
entender‖. Então, começar a fazer esse tipo de ocupação desses espaços. Só
faltou voarem cadeiras na Assembleia Legislativa no dia em que eu, Lúcia
Arruda, Lélia Gonzalez, Liszt Vieira defendemos: Assembleia Nacional
742
Constituinte. Lá atrás o pessoal gritava: ―MR-8, MR-8‖.
740
BENEDITA DA SILVA. Entrevista. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; FORTES, Alexandre.
(Org.) Muitos caminhos, uma estrela: memórias de militantes do PT. São Paulo: Editora Perseu
Abramo, 2008, p. 299-300.
741
MENDONÇA, Maisa; BENJAMIN. Benedita. Rio de Janeiro: Mauad, Medea. 1997, p. 99.
742
BENEDITA DA SILVA. Entrevista. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; FORTES, Alexandre.
(Org.). Muitos caminhos, uma estrela: memórias de militantes do PT. São Paulo: Editora Perseu
Abramo, 2008, p. 299-300.
743
MACIEL, Lysâneas. Lysâneas Maciel (depoimento, 1998). Rio de Janeiro, CPDOC/ALERJ,
2003.
311
Foi a fase de fundação do PT, final dos anos 1970 e início dos anos 1980,
onde dentro do PT eu comecei a viver um período inusitado. O PT me
discriminava por eu ter uma opção de fé e a minha igreja me discriminava
por eu ter uma opção política. 744
744
PINHEIRO, Walter. Entrevista concedida ao Centro de Pesquisas da Religião (CPR/UEFS),
escrita por Rafael Cardoso. 18/09/2011. Atualmente, Walter Pinheiro exerce o mandato de
Senador da República pelo Partido dos Trabalhadores.
745
―Coordenou o Movimento Nacional em Defesa do Serviço Público e das Estatais e foi o
responsável pela primeira experiência de federação sindical independente, com a construção da
Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações (FITTEL), assumindo sua
coordenação-geral‖.
Informações extraídas no site: <http://www.ptnosenado.org.br/bancada/nordeste/biografias/walter-
pinheiro> Acesso em: 21 out. 2015.
746
PINHEIRO, Walter. Entrevista concedida ao Centro de Pesquisas da Religião (CPR/UEFS),
escrita por Rafael Cardoso. 18/09/2011.
312
Essa contradição ia cada vez mais crescendo ao ponto de todo mundo chegar
na igreja ou às vezes chegava pra minha mãe e dizer: ―Olha! Seu filho está
num partido que é do diabo!‖ E dentro do PT, o pessoal dizia: ―Ah, você tá
vindo pra cá, aqui ninguém crê em Jesus, nem em negócio de Deus‖. Então
eu passei um período muito difícil, que é o período de você vencer essas
barreiras, tanto no partido e na política, quanto na igreja. E foi exatamente
essa experiência que me fez buscar parceiros e outros elementos em outros
lugares para a gente construir alguns movimentos.747
747
Ibidem.
748
Texto apresentado na consulta Teologia e Vida, alusiva aos 20 anos da FTL, realizada em
Quito, Equador, em dezembro de 1990. Publicado no Boletim Teológico, 5 (4), mar, 1991 p.33.
749
O Movimento Evangélico Progressista (MEP) se institucionalizou em 1990 como um grupo de
reflexão, formação e arregimentação política de evangélicos posicionados à esquerda do campo
político. Realizava eventos com evangélicos que militavam em movimentos, sindicatos e partidos,
ou com formação acadêmica em Ciências Humanas dedicados ao debate sobre política. A inserção
do MEP nas eleições é objeto de análise do próximo capítulo.
313
A participação política dos protestantes não é uma novidade dos anos 1980.
Eles fazem política desde a inserção das primeiras denominações no país, quando
contaram com a colaboração ou a simpatia de forças liberais e anticlericais no
Império, ao mesmo tempo em que a maioria do protestantismo conciliava ou não
se pronunciava contra a escravidão. Na história republicana, em períodos de
transição e crise política, mobilizadores dos interesses das forças sociais, houve
vozes e movimentos no seio do protestantismo conclamando os fiéis a romperem
com a ética individualista de esperar que a conversão dos indivíduos
transformasse a sociedade. Propostas que tentavam superar o dualismo
predominante no discurso evangélico de separação entre a igreja e o mundo, e
tentavam incentivar os crentes a participar da política ou a ver nela um campo
possível da vocação cristã. Num balanço da presença dos protestantes na política
partidária antes da abertura política, Paul Freston destacou o predomínio de uma
atuação liberal, progressista ou à esquerda do campo político:
750
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 107.
314
751
No campo pentecostal, um bom exemplo pode ser visto no trabalho: SILVA, Igor José Trabuco
da. Meu Reino não é deste mundo: a Assembleia de Deus e a política em Feira de Santana (1972-
1990). Dissertação (Mestrado em História Social) – UFBA, Salvador, 2009.
752
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 47.
753
Nos anexos, apresento uma tabela com nomes, igrejas, partidos, estado, subcomissão na
Câmara e nota atribuída pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP). A
tabela, bem como as informações discutidas no texto sobre a Bancada Evangélica, foi consultada
315
757
PIERUCCI, Antonio Flavio. A realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e
política. São Paulo: Hucitec, 1996.
758
JORNAL DO BRASIL. Santa Fisiologia. 07/08/1988.
759
JORNAL DO BRASIL. Aborto e pena de morte unem grupo de 34 evangélicos. 05/06/1987.
318
aborto é tema de legislação ordinária e não deverá ser incluída entre os princípios
constitucionais‖.760 Em geral, eram favoráveis à descriminalização, mas
pretendiam transferir o debate para outra esfera jurídica que não fosse a
Constituição, cabendo apenas não incompatibilizar o direito da mulher à
interrupção da gravidez com os princípios consagrados na nova Carta Magna do
país. A dificuldade com o tema do aborto não era apenas uma ―Questão de honra
evangélica‖ já que:
760
Ibidem.
761
Ibidem.
762
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção
política.Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Ed. UNESP, 1995, p. 43.
763
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 77.
764
O jornal da Assembleia de Deus Mensageiro da Paz questionou Benedita da Silva, que se
declarava pessoalmente contrária à prática do aborto, mas a favor da sua descriminalização: ―O
curioso é que tal propositura procede de alguém que supostamente estaria na Constituinte para
lutar contra toda sorte de discriminações, menos, evidentemente, a discriminação contra os bebês
cujos pais não teriam a menor condição financeira e emocional‖. Mensageiro da Paz, janeiro de
1988, p. 7.
319
765
COWAN, Benjamim. Homossexualidade, ideologia e ―subversão‖ no Regime Militar. In.
GREEN, James N.; QUINALHA, Renan. Ditadura e homossexualidade: repressão, resistência e a
busca da verdade. São Carlos: EDUFSCAR, 2014, p. 109.
766
JORNAL DO BRASIL. Aborto e pena de morte unem grupo de 34 evangélicos. 05/06/1987.
767
―Na fase das comissões, houve grande discussão em torno da proposta de incluir ‗identidade
sexual‘ na lista de características pelas quais ninguém seria prejudicado. Benedita da Silva
patrocinou emenda do movimento homossexual Triângulo Rosa, a favor de ‗orientação sexual‘.
Segundo ela, o objetivo era garantir a livre manifestação da sexualidade sem prejuízo para a
cidadania. Salatiel Carvalho replicou que seria o primeiro passo para a legalização de casamentos
homossexuais. José Fernandes propôs ―desvio sexual‖. A questão foi omitida do projeto final.
Numa última tentativa de incluí-la na fase de votações em plenário, foi derrotada: apenas 28% dos
constituintes presentes a apoiaram, sendo que somente 7% dos protestantes o fizeram‖. In:
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 78-79.
768
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas Maciel. 17/04/1982.
320
comparação com outras pautas, quando o assunto era a relação dos evangélicos
com o Governo e das igrejas com o Estado durante a Constituinte, o conflito entre
a Bancada Evangélica e a dissidência protestante era explícito e capaz de interferir
na definição dos votos, na possibilidade da estratégia adotada pelos religiosos ser
mais ou menos orientada pelos partidos ou outras considerações políticas e
institucionais. Um exemplo foi a votação da duração do mandato presidencial de
José Sarney (1930-).
Ex-líder da ARENA, partido do Governo durante a Ditadura, Sarney
transferiu-se do PDS para o PMDB às vésperas da eleição indireta no Colégio
Eleitoral, marcada para janeiro de 1985. Compôs a chapa de oposição ao Governo
como vice-presidente ao lado de Tancredo Neves, candidato à Presidência. Com a
vitória nas eleições e a morte de Tancredo antes da posse, assumiu a Presidência
da República prometendo consolidar a transição democrática, instituindo a
Assembleia Nacional Constituinte e garantindo eleições diretas para a escolha do
sucessor. Com mandato previsto de quatro anos, estabeleceu negociações pela
ampliação para mais um ano, usando como principal moeda de troca a liberação
de verbas e concessões públicas de emissoras de rádio e TV. Um dos segmentos
mais beneficiados foi, justamente, os políticos articulados na CEB e integrantes da
Bancada Evangélica:
769
JORNAL DO BRASIL. Evangélicos adeptos dos cinco anos têm CZ$ 108 milhões de Sarney.
30/11/1987.
321
770
Ibidem.
771
JORNAL DO BRASIL. Evangélicos adeptos dos cinco anos têm CZ$ 108 milhões de Sarney.
30/11/1987.
322
772
Sobre o grupo autêntico: NADER, Ana Beatriz. Autênticos do MDB, semeadores da
democracia: historia oral de vida política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
773
Informações biográficas contidas em: GUIMARÃES, Hebe. Lysâneas Maciel. Série Perfis
Parlamentares. Brasília: Câmara dos Depurados, Edições Câmara, 2008.
323
generais presidentes, foi indicado pelo grupo ―Autênticos‖, a ser vice de Ulysses
Guimarães na antecandidatura à Presidência da República nas eleições de 1974,
mas acabou preterido pelo partido que escolheu Barbosa Lima Sobrinho (1897-
2000).
No início do novo mandato, em 1975, Lysâneas defendeu ―que fosse
constituída, como prioridade, uma comissão parlamentar de inquérito para apurar
as violações dos direitos humanos‖. Durante os esclarecimentos do líder do
governo na Câmara, José Bonifácio, sobre as denúncias de violações: ―criticou a
maneira jocosa com que o líder arenista vinha conduzindo o assunto utilizando-se
para isso de sua velha habilidade mineira‖ acrescentando que ―o líder da maioria
deveria saber que não há habeas corpus para prisioneiros políticos e que o
problema principal para o MDB, inicialmente, era a localização dos
desaparecidos‖.774 Era uma crítica contundente ao líder do governo que um mês
antes comentou sobre Lysâneas: ―Trata-se de um dos deputados mais
intransigentes e radicais do Partido oposicionista, mas é, também, um homem
sincero e parlamentar de primeira categoria, na linha em que ele se propôs a
seguir‖, não sem frisar: ―Acho que ele está errado com relação ao país, e,
sobretudo, com relação ao governo‖.775 Durante aquela legislatura, Lysâneas
presidiu a Comissão de Minas e Energia da Câmara na qual fez intransigente
defesa do monopólio estatal dos recursos minerais do país contra concessões para
empresas estrangeiras776, até ter o mandato cassado em 1976.
A cassação do mandato de Lysâneas Maciel foi antecedida da utilização do
AI-5 para cassar os mandatos de outros dois parlamentares oposicionistas, ambos
do grupo ―Autênticos‖ do Rio Grande do Sul, Amaury Muller e Nair Rosseti.
Contra a medida, Lysâneas Maciel protestou:
778
Ibidem.
779
Ibidem.
780
JORNAL DO BRASIL. Ato 5 cassa o mandato de Lysâneas Maciel. 02/04/1976, p. 4.
781
JORNAL DO BRASIL. Geisel aplica o AI-5 e cassa Lysâneas Maciel. 02/04/1976.
325
Depois do discurso de mais de uma hora do Sr. Leonel Brizola, a palavra foi
dada ao ex-Deputado Lysâneas Maciel. A plateia ouviu atenta o seu discurso
no qual ele defendia a necessidade de o Partido se organizar, sobretudo, nas
suas bases populares. [...] Apesar de lembrar que, em hipótese nenhuma,
estava fazendo ―o culto à personalidade de Brizola‖, o ex-Deputado Lysâneas
Maciel disse que o ex-Governador era motivo de preocupação do Governo
que, então, tratou de lhe tirar a sigla PTB: ―Ele [...] – disse o Sr. Lysâneas –
pode nos tirar a sigla, mas não pode impedir a organização popular‖. 785
784
JORNAL DO BRASIL. 11/06/1980, p. 4.
785
JORNAL DO BRASIL. Organização Popular. 19/05/1980.
786
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas quer disputa decidida pelas urnas. 08/04/1980.
327
787
Apud. CABRERA, José Roberto. Os caminhos da rosa: um estudo sobre a social-democracia no
Brasil. Dissertação (de Mestrado) – Unicamp, Campinas,1995, p. 67.
788
CABRERA, José Roberto. Os caminhos da rosa: um estudo sobre a social-democracia no
Brasil. Dissertação (de Mestrado) – Unicamp, Campinas, 1995, p. 69.
789
JORNAL DO BRASIL. Hinos, sambas. 07/09/1981.
790
JORNAL DO BRASIL. 07/09/1981.
791
―A informação foi dada pelo presidente regional do Partido dos Trabalhadores. Deputado José
Eudes, que lembrou o bom relacionamento do ex-Deputado Lysâneas Maciel que dirige no
momento o PDT fluminense, com Luís Inácio da Silva, o Lula. Lysâneas, cassado em 1976, não se
sente realmente confortável no PDT. Seus contatos com o PT, iniciados quando das reuniões de
São Bernardo do Campo, em São Paulo, não foram interrompidos nos últimos dois anos. No PDT,
o ex-líder do MDB, cassado no cargo, tentou implantar os conceitos do Partido aberto, mas não
328
política, de Ana Beatriz Nader, Lysâneas Maciel explicou as razões para aceitar o
convite do Partido dos Trabalhadores:
O PT era uma proposta nova, limpa, cheia de esperança. O PDT tinha aqueles
três defeitos que eu citei [o caudilhismo, o peleguismo e a manipulação
populista] – porque os defeitos do Brizola são os defeitos do PDT; ele é quem
manda, ele é quem dá o tom e não admite que se faça restrição. Eu dizia:
―Mas assim não é possível, vamos apoiar beltrano, sicrano‖. Ele não queria,
então eu vi que o ambiente não estava bom. Quando surgiu uma proposta
nova, repito, limpa, cheia de esperança, me interessei [...] eu entrei para o PT
com a condição de não ser candidato a governador [do Rio de Janeiro] e de
eles não atacarem o Brizola e os companheiros que eu considerava. 792
conseguiu levar muito longe as suas ideias, porque os conceitos e as regras da agremiação que
adotou, numa primeira etapa, são traçados de maneira unitária pelo ex-Governador Leonel
Brizola‖. JORNAL DO BRASIL. Lysâneas pode ir para o PT. 10/10/1981.
792
MACIEL, Lysâneas. Apud NADER, Ana Beatriz. Autênticos do MDB, semeadores da
democracia: história oral de vida política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, p. 50.
793
Lula assiste hoje à filiação de Lysâneas. Jornal do Brasil, 13/10/1981.
794
Transcrito do documento elaborado pela Assessoria de Imprensa da Coordenação Eleitoral do
PT para o lançamento da candidatura de Lysâneas ao Governo do Rio de Janeiro (Arquivo da
família Maciel). apud GUIMARÃES, Hebe. Lysâneas Maciel. Série Perfis Parlamentares. Brasília:
Câmara dos Depurados, Edições Câmara, 2008. p. 81
795
A relação de Lysâneas com o CEDI sugere também uma intermediação do Protestantismo
Ecumênico nessa transferência, uma vez que a entidade se aproximou do PT e do PDT no Rio de
Janeiro.
329
em fevereiro de 1982, numa eleição interna entre Lysâneas Maciel, que obteve
322 votos, e José Emídio, que obteve 63. O mecânico Waldemar da Silva foi
escolhido para compor a chapa como Vice-Governador e o ex-líder estudantil
Wladimir Palmeira foi escolhido como candidato ao Senado. Os debates durante a
Convenção giraram em torno do perfil das candidaturas, com o setor ―obreirista‖
apoiando o operário José Emídio e criticando a escolha de Lysâneas Maciel. Um
dos líderes ―obreiristas‖ foi enfático: ―Eu denuncio o aspecto autocrático e
autoritário dessa indicação. Não houve discussão nasbases, mas sim uma indução
na comissão executiva para essa indicação‖, discursou Luis Paulo Gianini,
questionando em seguida:
796
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas derrota obreirista e é candidato do PT no Rio. 08/02/1982.
797
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas derrota obreirista e é candidato do PT no Rio. 08/02/1982.
330
Lysâneas ―vai para o sacrifício‖. Ele quer mesmo é voltar ao Congresso, sua
alma mater. Tem consciência de que está a trocar uma eleição garantida para
deputado federal, pelo PT, por uma derrota certa para governador do Estado
do Rio de Janeiro, mas, como na altura o voto era vinculado, o partido
necessitava de um candidato a governador para não prejudicar a eleição de
deputados federais e estaduais. Lysâneas é o nome mais conhecido do PT no
Rio e, certamente por este motivo, sua candidatura ao executivo estadual é
exigida pela direção partidária regional. 800
798
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas Maciel. 17/04/1982, p. 4.
799
JORNAL DO BRASIL. Lysâneas pretende criar cargo para operário em seu Governo.
14/02/1982.
800
GUIMARÃES, Hebe. Lysâneas Maciel. Série Perfis Parlamentares. Brasília: Câmara dos
Depurados, Edições Câmara, 2008, p. 81
801
JORNAL DO BRASIL. Notas. 14/03/1982.
331
dos acordos iniciais com o Partido, que o instrumentalizou por causa do voto
vinculado, abandonou a legenda e retornou ao PDT dois anos depois.
Não obstante, pesquisas de opinião demonstravam um dado fundamental da
campanha petista: ―Lysâneas Maciel, do PT, é o único candidato que exibe um
alto potencial de voto ideológico: de seus 2,2% de eleitores, 54, 5% preferem-no
por ser filiado ao Partido de Lula‖.802 Outro dado ressaltado foi a influência da
filiação religiosa do candidato: ―Lysâneas, um pastor presbiteriano, detém, ainda,
uma faixa de 4,5% de adeptos da sua religião‖.803 O aspecto religioso, aliás, seria
destacado pela imprensa uma vez mais por causa de sua atuação parlamentar
diferente da maioria dos evangélicos eleitos para a Assembleia Nacional
Constituinte (1986-1987). Seu nome foi associado a outros considerados
dissidentes da Bancada Evangélica. De acordo com o Jornal do Brasil (JB):
802
Ibidem.
803
Ibidem.
804
JORNAL DO BRASIL. O déficit ora no Planalto. 07/08/1988.
332
805
SILVA, Elizete da. Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS
Editora, 2010, P. 128.
806
VILELA, Márcio Ananias Ferreira. Discursos e práticas da Igreja Presbiteriana do Brasil
durante as décadas de 1960 e 1970: diálogos entre religião e política. Tese (Doutorado em
História) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2014, p. 97.
333
igreja com a classe média e por causa do prestígio que ela gozava nos meios
políticos e militar.807
807
ARAÚJO, João Dias de. Inquisição sem fogueiras: a história sombria da Igreja Presbiteriana do
Brasil. 3ª. Edição. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 95.
808
JORNAL DO BRASIL. 19/01/1976. 1º Caderno, p. 12.
809
JORNAL DO BRASIL. Despersonalização. 08/10/1978, p. 8.
810
JORNAL DO BRASIL. Apesar de tudo, eleições. 05/08/1978, p. 2.
334
Primeiro, com a Lei da Anistia, foi o 2 de Julho que abriu suas portas,
cedendo o auditório para recepcionar os exilados políticos que voltavam dos
mais diferentes países. Os cabelos brancos esvoaçantes de Diógenes Arruda
Câmara, Elza Monnerat, o lendário Carlos Prestes, dentre tantos outros, se
abraçando entre risos e lágrimas pela emoção do encontro e da alegria de o
povo brasileiro ter imposto a anistia ao regime militar. Esse momento quem
propiciou foi o 2 de Julho. Depois veio o 1º de Maio, que foi proibido pelos
donos do poder no momento, de ser realizado no Campo Grande. Novamente
foi o 2 de Julho que franqueou seu campo de futebol para que o ato fosse
realizado. Veio a campanha pelas Diretas Já! Quem hospedou o então
senador gaúcho, Paulo Brossard, que veio fazer um debate sobre o tema em
Salvador? Foi o Colégio 2 de Julho. Pois bem, o personagem que era mentor
desses acontecimentos e pela colocação do velho 2 de Julho no epicentro das
811
Celso Dourado oitentão. Depoimento de Zilton Rocha ao blog comemorativo dos 80 anos de
Celso Dourado, 2012. Endereço: <http://celsodourado80anos.blogspot.com.br/2012/08/celso-
dourado-oitentao.html> Acesso em: 21 out. 2015.
812
CARVALHO NETO, Joviniano Soares de. O II Congresso da Anistia: momentos de resistência
e definições. In: ZACHARIADHES, Grimaldo Carneiro. Ditadura Militar na Bahia: novos
olhares, novos objetos, novos horizontes. Salvador: EDUFBA, 2009. p 266.
335
813
Celso Dourado oitentão. Depoimento de Zilton Rocha, 2012.
http://celsodourado80anos.blogspot.com.br/2012/08/celso-dourado-oitentao.html
814
JORNAL DO BRASIL. PMDB faz na Bahia 22 dos 39 Constituintes. 01/12/1986, p. 2.
336
815
Movimento Pró-PT. Manifesto. 10/02/1980. Benedita da Silva declarou no livro de memórias
petistas que os boatos de uma possível transferência dela ao PDT foram recorrentes.
816
Autobiografia de Benedita da Silva. Depoimentos editados por MENDONÇA, Maisa;
BENJAMIN, Medea. Benedita. Rio de Janeiro: Mauad, 1997, p. 75, 76.
337
O que quero deixar claro é que a conjuntura exige maior fidelidade às lutas
populares do que a sinuosas articulações para não irritar os poderes
constituídos, fardados ou não. Ainda mais, se não atentarmos para estes fatos,
estamos correndo o risco de não produzir uma Constituição ao menos
razoável, porque demos maior atenção aos mecanismos internos das lutas
partidárias do que aos interesses reais do povo brasileiro em sua grande
maioria.818
817
JORNAL DO BRASIL. Evangélicos adeptos dos cinco anos têm CZ$ 108 milhões de Sarney.
30/11/1987.
818
MACIEL, Lysâneas. Projetos e discursos. Diário da Assembleia Nacional Constituinte, outubro
de 1987, Quinta-Feira 1, p. 5343.
338
819
TRAÇO-DE-UNIÃO. Boletim da Secretaria Geral da Igreja Presbiteriana Unida. Ano I, n° 2,
página 1, junho de 1988.
339
822
MATTOS, Paulo Ayres. Os metodistas e a questão social. Comunicações do ISER, Ano 3, nº 9,
agosto de 1984, p. 23
823
SANTOS, Adriana Martins. A construção do Reino: a Igreja Universal e as instituições
políticas soteropolitanas (1980-2002). Dissertação (Mestrado em História Social) – UFBA,
Salvador, 2009, p. 147.
341
829
Os tipos seriam: 1) Não carismático, com moderada autonomia local e participativo (históricos
e batistas), 2) Carismático, com moderada autonomia local e moderadamente participativo
(Assembleia de Deus), 3) Carismático, descentralizado e participativo (históricas renovadas), 4)
Carismático, descentralizado e moderadamente participativo (pequenas igrejas pentecostais), 5)
Carismático, centralizado e não participativo (IURD). FERNANDES, Rubem (Org.). Novo
nascimento: os evangélicos em casa, na política e na igreja. Rio de Janeiro:1998, p. 186-188.
343
São as próprias condições históricas das lutas populares que estão colocando
questões para os setores mais empobrecidos de suas igrejas. E estes estão
reagindo e justificando sua participação no processo de mobilização e
organização populares com os elementos mais positivos de sua prática
religiosa. É verdade que num ritmo muito diferente e num tipo de prática que
830
TEMPO E PRESENÇA ESPECIAL. DIAS, Zwinglio Mota. Reflexões em torno da questão da
Pastoral Protestante e a Experiência Acumulada pelo CEDI até aqui. Protestantismo e política.
Rio de Janeiro, CEDI, 1981, p. 9.
831
DIAS, Zwinglio Mota, 1981, p. 12.
344
nem sempre está abertamente ligada a sua vivência religiosa. Pelo menos
aparentemente.832
832
Ibidem.
833
TEMPO E PRESENÇA ESPECIAL. FERNANDES, Rubem César. Fundamentalismo à direita
e à esquerda. Protestantismo e política. Rio de Janeiro, CEDI, 1981, p. 51.
834
FERNANDES, Rubem César, 1981, p. 51.
345
Cada vez mais a falta de respostas convincentes aos problemas gerados pela
expansão dos conflitos sociais está colocando o protestantismo tradicional
sob a influência cada vez mais determinante do pentecostalismo. Entretanto
não se trata de uma subjugação pura e simples de uma expressão do
protestantismo por outra considerada mais "autóctone" e mais "popular". O
pentecostalismo também recebeu e recebe forte influência das igrejas
protestantes tradicionais e o resultado deste encontro que já começa a ter
visibilidade social é uma espécie de "pororoca teológica", conhecida nos
meios protestantes como Movimento Carismático que atravessa as barreiras
denominacionais e que determinará, ao que parece, a identidade protestante
nacional em futuro bem próximo. 836
A projeção não estava muito distante do que ocorreu pouco depois, quando
as expressões carismáticas do protestantismo se tornaram a principal força do
segmento evangélico, numérica e politicamente. Esta ascensão já estava
configurada no momento da escrita do texto, com o surgimento do
neopentecostalismo no final da década anterior e a expansão das dissidências
―renovadas‖ (carismáticas) do protestantismo histórico. Tinham surgido até ali,
igrejas renovadas entre presbiterianos, metodistas e batistas. Por outro lado, a
ausência de recomendações práticas à ação política evangélica na publicação do
CEDI dedicado ao tema Protestantismo e políticaestava relacionada ao perfil
sociológico das igrejas protestantes históricas, mesmo em suas frações
ecumênicas. Paul Freston, ao caracterizá-lo, escreveu:
835
DIAS, Zwinglio Mota, 1981, p. 12.
836
DIAS, Zwinglio Mota, 1981, p. 12.
837
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 46.
346
838
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 46.
839
SANTOS, Adriana Martins. A construção do Reino: a Igreja Universal e as instituições
políticas soteropolitanas (1980-2002). Dissertação (Mestrado em História Social) – UFBA,
Salvador, 2009, p. 148.
347
insistir nesta tese nos dias atuais é fazer a vontade do maligno, que não deseja
ver a influência benéfica de grande número de políticos crentes alterando,
como sal, a atuação de pecado das nossas cúpulas dirigentes. Deus permitiu o
progresso evidente do evangelismo nacional e, como força preponderante no
840
SYLVESTRE, Josué. Irmão vota em irmão: os evangélicos, a constituinte e a Bíblia. Brasília,
Pergaminho, 1986. Além deste livro, o pastor assembleiano publicou Os evangélicos, a
Constituinte e as Eleições Municipais (1988) e Problemas do Brasil à luz da Bíblia (1995).
841
Nas eleições de 1982, ―Panfletos de campanha de vários candidatos em todo o país traziam um
‗Recado do Lula‘: ‗Quem bate cartão, não vota em patrão‘, acompanhado pelo fac-símile da
assinatura do presidente nacional do PT‖. COELHO, Eurelino. Uma esquerda para o capital: crise
do Marxismo e mudanças nos projetos políticos dos grupos dirigentes do PT (1979-1998). São
Paulo: Xamã; Feira de Santana: UEFS Editora, 2012, p.70.
348
842
SYLVESTRE, Josué. Irmão vota em irmão: os evangélicos, a constituinte e a Bíblia. Brasília:
Pergaminho, 1986, p. 36.
843
SYLVESTRE, Josué, Irmão vota em irmão: os evangélicos, a constituinte e a Bíblia. Brasília:
Pergaminho, 1986, p. 52.
844
Os livros do Bispo Rodrigues analisado pela autora são posteriores ao recorte desta pesquisa: A
Igreja e o Social e A Igreja e a política, ambos de 1998. Porém, antes disso, ele já era o articulador
político da IURD através da imprensa denominacional.
349
846
A outra vertente do luteranismo brasileiro, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil
(IECLB), fundada por imigrantes alemães no sul do país nas primeiras décadas do século XIX,
tornou-se, na segunda metade do século XX, uma das denominações mais próximas do movimento
ecumênico.
847
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
848
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 31.
352
849
Ibidem.
850
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
851
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 31.
852
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
353
853
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
854
―no anglicanismo encontrei a síntese possível entre minha herança católica e minha fé
reformada‖, escreveu.Boletim Teológico, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
855
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 32.
856
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 32.
354
857
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 30-31.
858
CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e política: teoria bíblica e prática histórica. São Paulo:
Nascente, 1985, p. 218.
859
BOLETIM TEOLÓGICO, 5(14), mar./1991. p. 32.
355
ética social da lei mosaica, dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. A segunda parte
foi dedicada à ação política da igreja cristã ao longo da história, numa abordagem
orientada pela Ciência Política, mas sem perder a perspectiva da ética religiosa,
uma vez que o livro era dedicado a ―pastores, seminaristas, estudantes
universitários, oficiais das igrejas, cada cristão preocupado com a missão da
igreja‖. O autor se apresentou como ―um interessado em Ciência Política que
teima em ser cristão‖ e ao livro como uma tentativa de ―quebrar o gelo‖ do debate
sobre religião e política no seio das igrejas evangélicas. Para isso ele contava com
conhecimento teórico e experiência em movimentos evangélicos e políticos.860
Na abordagem da ―prática histórica‖, valorizou-se o pensamento social de
alguns pensadores e movimentos cristãos: 1) Os chamados ―Pais da Igreja‖, 2)
São Tomaz de Aquino, 3) A Reforma Protestante (luterana, calvinista, anabatista,
puritana), 4) O Evangelho Social; e do que o autor chamou de ―Evangelho
Integral‖, elencando personalidades muito distintas, ao longo do século XX, cujas
semelhanças estavam no modo como a fé e a política se fundiram numa atitude
contestadora do status quo e proponente de um igualitarismo social.
Ao elencar essas personalidades, Robinson Cavalcanti pretendia criar uma
genealogia de ―santos políticos‖ para o movimento de Missão Integral, uma
memória de protestantes radicais ou críticos, capaz de respaldar uma inserção
alternativa do protestantismo na esfera pública, deslegitimando tanto o
absenteísmo político quanto o apoio evangélico à ordem instituída. Entre os
exemplos citados nessa ―hagiografia protestante‖ estavam: Abraham Kuyper
(1937-1920), Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), Martin Luther King Jr. (1929-
1968), Mike Hatfield, Jimmy Carter (1924-), (ligados à ação política), com
referências marginais a Billy Graham(1918-), John Stott (1921-2011), Stanley
Mooneyham (1926-1991), Keith Phillips (ligados à evangelização e à ação social).
A parte histórica do livro terminou abordando a prática política dos cristãos,
católicos e protestantes, na sociedade brasileira, destacando a hegemonia católica,
a presença protestante e a relação de ambas com a Ditadura Militar e a abertura.
No último capítulo, Robinson Cavalcanti expôs algumas propostas para a ação
política dos cristãos diante de temas da Ciência Política, como: a natureza do
860
―Nele procuramos incorporar os anos de pesquisa científica, de ministério estudantil, de
militância partidária, de frequência aos eventos internacionalmente marcantes para os evangélicos,
notadamente na área da ética social‖. CAVALCANTI, 1985, p. 12.
356
861
CAVALCANTI, Robinson.1985. p. 13.
862
CAVALCANTI, Robinson.1985. p. 15.
863
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 16.
357
Uma vez que o discurso apolítico era muito frequente nas igrejas, muitas
vezes em nome da crítica ao que a política possuía de conflituosa e antiética, o
autor chamou a atenção para a natureza política da própria igreja, tanto como
forma de governo quanto como disputas pessoais ou de grupos pelo poder:
Não há lugar mais político do que uma igreja. O que são os sistemas
episcopal, presbiteriano e congregacional, do que formas eclesiásticas de
governo? O que fazemos quando elegemos um pastor ou excluímos um
membro? Onde encontraríamos tão representadas as fraquezas humanas, o
orgulho e a inveja, a luta pelo poder, as ―queimações‖ e os ―conchavos‖, as
tendências e os partidos (de Paulo... de Apolo...)?866
864
Ibidem.
865
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 18.
866
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 19.
358
engajados, sendo que estes últimos eram os mais valorizados como ―uma parcela
dos conscientizados que procura conduzir os acontecimentos‖, acrescentando:
gerir a coisa pública (res publica), não só para assegurar o seu direito e
cumprir suas obrigações (e os de sua família, de sua igreja, de sua categoria
profissional, etc.), mas para permeá-la de valores que redundem em maior
benefício para todos e cada um. É o que a Bíblia nos ensina e o que a História
atesta.869
867
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 20.
868
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 17.
869
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 20.
359
Não se pode julgar a vida dos indivíduos e das nações por fatos isolados, e
sem levar em conta os planos de Deus. Vergonhoso o “colaboracionismo” de
José? Garantiu a sobrevivência dos seus para algo mais digno no futuro.
Condenável a educação de Moisés na côrte de Faraó? Preparou um
estadista, um líder, para uma missão maior. Tudo isso nos conduz ao Êxodo,
à libertação, à derrota dos opressores, ao Mar Vermelho, ao Sinai, ao maná,
à Canaã.872
870
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 23.
871
Ibidem.
872
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 24-25.
360
Ao líder religioso não cabe executar a tarefa política, mas exortar e orientar
com autoridade os governantes, quando estes pecam em sua vida pessoal ou
quando atuam em prejuízo do povo. Para que isso ocorra, é necessário que os
líderes religiosos se mantenham informados imparcialmente do que ocorre na
esfera política, que sejam independentes em seu comportamento. 876
873
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 29.
874
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 37.
875
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 49.
876
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 50.
361
Jesus não optou pelo caminho dos essênios, isolando-se do mundo e de seus
problemas; não aprovou o caminho dos saduceus e sua negação de verdades
da fé e da moral como preço de uma situação privilegiada; não se
impressionou com o puritanismo dos fariseus; foi firme e independente diante
dos herodianos, e aos zelotes, apontou o caminho da paz. Nenhum partido
humano é detentor de toda a verdade, ao ponto de merecer o apoio
incondicional de Deus.878
Para não prolongar os comentários sobre como a leitura dos textos bíblicos
estava imbuída do debate político, cito apenas um último exemplo, do tópico ―A
política da igreja‖, que apontou os limites da partilha dos bensnas comunidades
cristãs do primeiro século, conforme narrou o livro de Atos dos Apóstolos.
Robinson Cavalcanti reproduziu a mesma diferenciação que Rosa Luxemburgofez
em O socialismo e as igrejas (1905), entre o socialismo dos marxistas e o
socialismo dos cristãos primitivos:
877
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 62.
878
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 65.
879
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 69.
362
880
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 251.
881
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 238.
882
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 328.
883
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 248.
363
pela paz, contra a violência; pela liberdade, contra a opressão; pela justiça,
contra a exploração; pela solidariedade para com os oprimidos, contra o
884
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 252.
885
CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 243.
886
Ibidem.
887
CAVALCANTI, Robinson. 1985, p. 249.
364
Aos ecos da síntese produzida por Robinson Cavalcanti e pelo MCDC irão
se somar a produção de outro intelectual do movimento de Missão Integral e de
outro movimento evangélico de formação política, respectivamente: Paul Freston
e o Movimento Evangélico Progressista (MEP). Paul Freston desenvolveu
pesquisas sobre a participação evangélica na política brasileira, escreveu livros e
artigos sobre a relação dos cristãos com o marxismo, as esquerdas e a participação
política. O livro Marxismo e fé cristã: o desafio mútuo foi uma obra coletiva
organizada por ele no ano da primeira eleição direta para Presidente da República
após duas décadas de Ditadura Militar (1989), disputada no segundo turno por um
candidato do Partido dos Trabalhadores, que fora constituído, entre outras forças
políticas, pelo Socialismo Cristão e a intelectualidade marxista. Depois de
mencionar ―o despreparo dos cristãos evangélicos no Brasil para o encontro com o
marxismo‖, comentou em seguida que:
888
CARTA DE PRINCÍPIOS DO MCDC. In: CAVALCANTI, Robinson.1985, p. 255.
889
FRESTON, Paul. Marxismo e fé cristã: o desafio mútuo. São Paulo-SP, ABU, 1989, p 6.
365
O grande desafio hoje é o desafio ético. Não que os problemas éticos não
existissem antes, mas pelo menos não apareciam tanto. No momento de
chegar à visibilidade pública, as deficiências foram como que projetadas num
enorme telão. O problema ético reflete as fraquezas das próprias igrejas. Os
escândalos não são basicamente individuais. São deficiências de ensino e de
892
modelos de liderança.
Paul Freston não via com maus olhos o crescimento pentecostal nem a sua
representatividade no campo político. Para ele, o fenômeno era uma expressão do
alargamento do campo democrático, com a inclusão de novos atores políticos, e
de diversificação do campo religioso,atendendo a demandas que as demais ofertas
religiosas não assimilavam nem davam conta. Porém, uma crítica especial foi
direcionada ao projeto, alimentado sobretudo entre pentecostais, de eleger um
presidente evangélico, usando como advertência o exemplo de países como o Peru
e a Guatemala. A crítica também se dirigia às concepções religiosas que
embasavam esse projeto de poder, como a Teologia da Prosperidade (TP).
890
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 14.
891
FRESTON, Paul. 1994, p. 137.
892
Ibidem.
366
893
FRESTON, Paul. 1994, p. 140.
894
FRESTON, Paul, 1994.p. 141-142.
895
FRESTON, Paul, 1994, p. 142.
896
FRESTON, Paul, 1994, p. 147.
367
897
BOLETIM TEOLÓGICO FTL-B, São Leopoldo, 2 (5): 1985, p. 46.
368
898
Na edição de 2010, constava na ―Bibliografia Geral‖ os livros de Robinson Cavalcanti,
Cristianismo e política (1985) e A utopia possível: em busca de um cristianismo integral (1994), e
de Paul Freston, Fé bíblica e realidade brasileira (1992) e Evangélicos na política brasileira
(1994).
899
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 4.
900
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 9. Este texto também se encontra em Cristianismo e política.
369
901
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 22. Este texto também se encontra em Evangélicos na Política
Brasileira.
902
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 22-23.
903
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 16.
370
Se por um lado a igreja deve evitar posições partidárias como instituição, por
outro, devemos reconhecer que a ação isolada de um membro não tem muito
significado. Uma presença organizada dos cristãos deve ser feita em
conjunto, pela criação de grupos e movimentos. Essa ação deve ser feita entre
irmãos para preservar uma identidade, e provocando não só uma Reflexão
como também uma Ação política consequente.[grifo nosso]905
904
Ibidem.
905
Ibidem.
906
COLUNAS DO MEP, Ultimato, 1994, p. 131.
371
Desta vez o pastor Robinson Cavalcanti, com toda sua ciência e letras, foi,
nem podemos dizer longe demais e sim baixo demais. Porque agora, além
de seu poder de isentar pecados, ele se manifesta poderoso para conferir a
Lula o dom de nos fazer felizes. Pior é que agora ele vai ser muito infeliz
porque venceu Collor. Pior mesmo, porque ele, um ministro de Deus,
condiciona a sua felicidade (e a nossa) a este ou aquele governante político.
Robinson mostra-se mais preocupado com questões políticas e teorias
humanas do que com Deus. Deveria receber salário não da igreja, mas do
PT, pelo qual tanto milita.
Gláucia M. Mota P. Ribeiro. Passa Quatro, MG.
Robinson Cavalcanti não ―colloriu‖. Ainda bem que ele teve coragem.
Afinal, não é muito fácil, em um meio onde é ―pecado‖ votar na ―esquerda‖
e ―divino‖ votar no atual sistema. Mas a seção de cartas do Ultimato de
fevereiro veio ―collorida‖ em sua maior parte. Isso em resposta ao artigo Os
evangélicos e a sucessão presidencial. […] É imprudente dizer que
comunismo não é de Deus e afirmar que o capitalismo crê em Deus. E vice-
versa. Se o Brasil é mais crente que a União Soviética, onde estão os
resultados? Onde estão as obras de fé brasileiras e de seus governantes?
Não seria a hora de admitirmos que o Brasil teme a Deus coisíssima
nenhuma?
Pastor Neemias Pontes. Teresópolis, RJ.
907
FRESTON, Paul. Protestantes e política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese
(Doutorado em Sociologia) – Unicamp, Capinas, 1993, p. 276.
908
Texto apresentado na consulta Teologia e Vida, alusiva aos 20 anos da FTL, realizada em
Quito, Equador, em dezembro de 1990. Publicado no Boletim Teológico, 5 (4), mar, 1991 p.33.
909
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 92.
910
MACHADO, Ziel. Sim a Deus, Sim à Vida: evangélicos redescobrem sua cidadania. Rio de
Janeiro: Novos Diálogos, 2011, p. 67.
373
911
De acordo com a narrativa bíblica de Gêneses 41, José interpretou os sonhos do Faraó em que
apareciam vacas gordas e magras como o prenúncio de que haveria uma época de fartura, seguida
de uma época de carência, cabendo a ação providente de armazenar no tempo das vacas gordas
para abastecer o tempo das vacas magras.
912
SYLVESTRE, Josué. Os evangélicos e as eleições municipais. Brasília, Pergaminho,1988, p.
70.
374
Nas eleições de 1989, Luís Inácio da Silva foi acusado pela Igreja Universal
do Reino Deus, ora de ser um representante dos interesses católicos (mais
especificamente, dos grupos ligados à Teologia da Libertação) ou de ser um
ateu convicto que ao chegar ao poder acabaria com as igrejas no Brasil.914
913
JORNAL DO BRASIL, 03/12/1989.
914
SANTOS, Adriana Martins. A construção do Reino: a Igreja Universal e as instituições
políticas soteropolitanas (1980-2002). Dissertação (Mestrado em História Social) – UFBA,
Salvador, 2009, p. 152.
915
FOLHA DE SÃO PAULO, 21/7/89.
916
O DIA. 21/7/89. CNBB quer evitar apoio oficial da igreja ao PT. 18/7/89.
917
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Candidatos buscam apoio de evangélicos. nº 76,
maio/junho 1989, p. 7.
375
918
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Ulysses reúne-se com pastores da Assembleia
de Deus; Partido Comunista Brasileiro não é rejeitado pela igreja, nº. 78, agosto de 1989, p. 10.
919
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Igreja Metodista se posiciona sobre as eleições.
n.º 80, outubro de 1989, p. 10.
376
920
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Despertando os jovens para o exercício do voto.
n.º 77, julho de 1989, p. 4.
921
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Voto evangélico tende a favorecer candidatos
de centro. n.º 77, julho de 1989, p. 3.
377
922
TEMPO E PRESENÇA. Igrejas e dívida externa. Maio de 1989, p. 24.
378
Não podemos negar, quem elegeu Collor foram os evangélicos. A vitória dele
veio da Assembleia de Deus. Se ele reconhece ou deixa de reconhecer, eu
nunca disse isso pra ele, jamais vou cobrar isso dele, porque eu fiz de livre e
espontânea vontade. Quando nós vimos que o Lula ia ganhar, e ia mesmo,
então a Assembleia de Deus se movimentou no Brasil inteiro. Onde eu não
pude ir pessoalmente, fiz por telefone, liguei para o Brasil inteiro dizendo, ―a
situação é essa, assim, assim‖.925
923
CEDI. Dívida externa e igrejas: uma visão ecumênica, 1989. Da teologia protestante da
libertação, o livro contém textos de Elsa Tamez, Julio de Santa Ana e Hugo Assmann. Das redes
do Protestantismo Ecumênico, contém declarações do CMI, CESE e CONIC.
924
JORNAL DO BRASIL, 03/12/1989.
925
Apud PIERUCCI, Antonio Flavio. A realidade social das religiões no Brasil: religião,
sociedade e política. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 101.
926
ESTADO DE MINAS, 10/12/1989.
379
927
JORNAL DO BRASIL. 11/11/1989, p. 2.
928
JORNAL DO BRASIL. 11/11/1989, p. 2.
380
―Estão espalhando por aí que vamos acabar com as igrejas dos crentes, mas
todos precisam saber que nós sempre defendemos a liberdade religiosa‖,
argumentava Lula. O que poderia parecer uma explicação fora de propósito,
ganhava sentido quando se conhecia a sua origem. Sindicalistas da região
relataram a Lula, alarmados, que começava a correr na região a notícia de que
o candidato do PT, assim que tomasse posse, acabaria com os cultos
protestantes no país. A preocupação é tão grande que os petistas planejam
colocar a deputada Benedita da Silva, que é evangélica, dando essa
explicação no horário eleitoral gratuito. 931
929
CONTEXTO PASTORAL. TV Templo: mídia e proselitismo religioso. setembro/outubro de
1995, nº 25 e CONTEXTO PASTORAL. O lobby da fé, novembro/dezembro de 1995, nº 29.
930
Sobre as associações entre comunismo e dissolução moral durante a ditadura e a abertura
política, pode-se consultar: COWAN, Benjamim. Homossexualidade, ideologia e ―subversão‖ no
Regime Militar. In. GREEN, James N.; QUINALHA, Renan. Ditadura e homossexualidade:
repressão, resistência e a busca da verdade. São Carlos: EDUFSCAR, 2014.
931
JORNAL DO BRASIL. 24/11/1989, p. 4.
381
sem ter onde rezar‖.932Porém, descontruir boatos durante uma campanha eleitoral
não era tarefa para apenas uma pessoa, nem era suficiente para legitimar a
candidatura petista ou fazer frente às demais alternativas eleitorais. Foram criados
18 comitês evangélicos pró-Lula, a maioria deles organizados por evangélicos do
protestantismo histórico, associados ao ecumenismo, à Teologia da Libertação ou
à Missão Integral, embora houvesse apoios desvinculados de referências
teológicas, doutrinárias ou eclesiais. Com exceção do Rio de Janeiro, a adesão
pentecostal à campanha petista foi incipiente. No cenário carioca, o PT contou
com os setores populares evangélicos que apoiaram Brizola no primeiro turno.
Um dos apoiadores pentecostais de Lula no Rio de Janeiro foi o pastor da
Assembleia de Deus Silas Malafaia (1958-), que ―criticou aqueles que usavam de
boatos de que Lula era marxista e iria acabar com as igrejas‖.933Foi lançado um
―Manifesto de evangélicos em apoio à candidatura da Frente Brasil Popular‖,
publicado pelo jornal Aconteceu no mundo evangélico:
932
JORNAL DO BRASIL. 11/11/1989, p. 2.
933
PIERUCCI, Antonio Flavio. A realidade social das religiões no Brasil: religião, sociedade e
política. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 97.
934
ACONTECEU NO MUNDO EVANGÉLICO. Manifesto de evangélicos em apoio à
candidatura da Frente Brasil Popular. p. 10. nº 81, novembro de 1989.
382
938
Associação Evangélica Brasileira (AEVB). Voto Ético. Para a leitura completa do Decálogo
consultar: <http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=04118> Acesso em: 20 out. 2015.
384
939
Informações no site: <http://www2.uol.com.br/bibliaworld/aevb/voto.htm>
940
CARTILHA DO MEP, 2010, p. 19-21.
941
FRESTON, Paul. Evangélicos na política brasileira: história ambígua e desafio ético. Curitiba:
Encontrão Editora, 1994, p. 117.
385
A história da sua crise mais recente é, portanto, parte da história recente das
sociedades nas quais os ex-marxistas atuavam como intelectuais e militantes.
O que tinha sido alguma forma de presença, tornava-se agora uma
pronunciada ausência. Posições antes ocupadas por sujeitos identificados
com o marxismo (partidos políticos, sindicatos, editorias, movimentos
culturais e sociais) tornaram-se lugares de elaboração e difusão de outros
projetos e ideias, muitas vezes ocupados pelas mesmas pessoas. A ruptura
destes militantes e intelectuais com o marxismo implicou diretamente em
abandonar ou, no mínimo, relegar a um plano secundário os grandes temas
aportados pelo marxismo nos circuitos culturais e políticos (como classes e
luta de classes, exploração e mais-valia, fetichismo da mercadoria,
revolução). [Grifo do autor]943
A grande atração do marxismo clássico era dizer que logo ali, depois da
curva, a história chegaria num paraíso. Oferecia acima de tudo uma
942
MONTEIRO, Marcos. Entrevista ao autor, Feira de Santana-BA, Setembro/2014.
943
COELHO, Eurelino. Uma esquerda para o capital: crise do Marxismo e mudanças nos projetos
pPolíticos dos grupos dirigentes do PT (1979-1998). São Paulo: Xamã; Feira de Santana: UEFS
Editora, 2012, p. 27.
386
944
CARTILHA DO MEP. A importância do MEP no contexto político. p. 25.
945
―Em primeiro lugar, teria se dado uma moderação de suas bases sociais (especialmente do
sindicalismo progressista, agora com menores margens de ação, mais desmobilizado e com forte
incidência de setores médios), assim como uma mudança da composição social e moderação de
sua militância (em boa parte devido à crescente participação em governos locais e em
parlamentos). Na sequência, consolidou-se a hegemonia dos moderados na direção partidária, por
serem agora hegemônicos no partido como um todo. Só então se efetivou a maior autonomização
da direção e de seus líderes principais, um mandato que eles receberam das bases – ao ponto de
poderem comandar com liberdade as campanhas nacionais e realizar amplas alianças‖. SILVA,
Fabricio Pereira da. Vitórias na crise. Trajetórias das esquerdas latino-americanas
contemporâneas. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, 2009, p.
32-33.
387
O Movimento Evangélico Pró-Lula, por sua vez, teve dificuldade para criar
impacto. Só conseguiu aparecer uma vez na propaganda televisiva. Esta
aparição, apesar de breve, teve amplo efeito, atingindo muitos membros de
igrejas cujos líderes não admitiam o voto em Lula. Mas foi com dificuldade
que o movimento obteve essa participação nos comícios e nos programas de
rádio e televisão. No segundo turno, o Movimento Evangélico não apareceu
mais no programa televisivo; em seu lugar havia o recém-formado Comitê
Inter-religioso Pró-Lula. Para maximizar o voto evangélico a estratégia foi
contraproducente. O pronunciamento de um grupo ―inter-religioso‖
dificilmente sensibilizará os pentecostais.946
946
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 3.
947
FRESTON, Paul apud QUADROS, Eduardo Gusmão de. Evangélicos e mundo estudantil: uma
história da Aliança Bíblica Universitária do Brasil (1957-1987). Novos Diálogos, Rio de Janeiro,
2011, p. 93-96.
388
948
QUADROS, Eduardo Gusmão de. 2011, p. 83.
949
QUADROS, Eduardo Gusmão de. 2011, p. 9.
950
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 1
389
Os pentecostais não têm boa imagem pública: o desprezo que não é de ―bom
tom‖ dirigido a outros fenômenos religiosos populares ainda se dirige aos
pentecostais. Mas é preciso superar o preconceito e perceber a novidade
sociológica e potencial político. Seria trágico se o partido que se chama ―dos
trabalhadores‖ enxergasse a religião que mais cresce entre os pobres com
uma visão elitista das principais instâncias formadoras de opinião e fosse
incapaz de compreender esse fenômeno genuinamente popular. 951
O artigo fazia uma avaliação das eleições de 1989 projetando os desafios das
eleições de 1994. A diversidade atribuídaao protestantismo servia para relativizar
a fama de conservadorismo político, que o próprio autor, entretanto, reconhecia
como merecida:
951
Ibidem.
952
Analisando documentos históricos do Partido dos Trabalhadores – dos documentos
preparatórios à fundação do partido até as eleições de 1994 – Marco Antônio Brandão concluiu
que houve uma articulação entre os conceitos de ―democracia‖ e ―socialismo‖ na construção da
identidade petista e na proposta partidária de construção de uma ordem social anticapitalista
fundamentada nesses princípios associados. BRANDÃO, Marco Antônio. O socialismo
democrático do Partido dos Trabalhadores: a história de uma utopia (1979-1994). São Paulo:
Annablume, FAPESP, 2003, p. 48-61.
953
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 2.
390
entidade como a CNBB que possa falar em nome dos evangélicos; todas as
tentativas de uni-los politicamente esbarram no princípio protestante da
autogestão. Por mais que cresçam nunca poderão estabelecer uma
―cristandade evangélica‖.954
954
Ibidem.
955
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 3-4.
956
Ibidem.
957
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 4.
391
958
Ibidem.
959
FRESTON, Paul. Prefácio. In. CASTILHO, Lísias. Homossexualidade. São Paulo: ABU
Editora, p. 9. Um exemplo dos julgamentos teológicos de Lísias Castilho encontra-se no trecho:
―Diante de Deus, o homossexualismo constitui uma abominação, uma condição inaceitável
enquanto prática. Deus não condena a preferência homossexual de uma pessoa, que por ela não
pode ser responsabilizada, mas sim a maneira como dela se utiliza‖. Aos cristãos homossexuais, o
autor recomendou o arrependimento e o tratamento psicológico, aos não cristãos, desejou que a
igreja pregasse ‗o Cristo que liberta e que salva, também do homossexualismo‘.‖ (p. 68-69)
392
O próprio Paul Freston publicou pela editora da ABU,em 1985,o livro Cuba e
Nicarágua: uma análise dos processos revolucionários, no qual enfatizou que, se
houve participação evangélica na oposição ao governo sandinista (―os contras‖),
especialmente por parte de igrejas e instituições ligadas às missões norte-
americanas, a legitimação à revolução não foi menos importante. No mais, os
evangélicos não teriam sido protagonistas da oposição, mas representavam bases
sociais significativas de apoio ao governo. Quanto aos entraves no PT para uma
aproximação com os evangélicos, Paul Freston escreveu:
960
Sobre os pentecostais no governo Allende, o artigo citou como referência: TENNEKES, Juan.
El movimiento pentecostal en la sociedade chilena de Juan Tennekes. Sobre os pentecostais
durante a revolução sandinista, citou Thanks to God and the revolution de Roger Lancaster.
961
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 2.
962
Ibidem.
393
963
Ibidem.
964
JORNAL DO BRASIL. 11/11/1989, p. 2.
965
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política.
Tradução: Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Ed. UNESP, 1995, p. 70.
394
966
TEORIA & DEBATE. FRESTON, Paul. Sociedade: Os trabalhadores e os evangélicos. N.º 25.
junho/julho/agosto. 1994, p. 5.
967
―Os deslocamentos do grupo majoritário redefiniam a dinâmica das relações internas do partido
em cada conjuntura e a história dessas relações é marcada por crises, alianças, expulsões, cisões.
Mas agora, em fins de 1994, a Articulação assumia, pela primeira vez de modo coletivo e
explícito, a intenção de alterar o próprio conteúdo do projeto. A ideia de que seria preciso
inaugurar uma nova era na história do PT tornava-se dominante entre os dirigentes da corrente que
sempre se apresentou como guardiã do petismo autêntico‖. COELHO, Eurelino. Uma esquerda
para o capital: crise do marxismo e mudanças nos projetos políticos dos grupos dirigentes do PT
(1979-1998). São Paulo: Xamã; Feira de Santana: UEFS Editora, 2012, p.183-185.
968
Atualmente, Mozart Noronha é militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e integra a
corrente interna do partido Movimento Esquerda Socialista (MES).
395
969
NORONHA, Mozart. Entrevista concedida ao autor. Rio de Janeiro. 11/07/2011.
970
DIAS, Zwinglio Mota. Entrevista ao autor. Rio de Janeiro, 31/05/2013.
396
Considerações finais
foi ainda mais visível em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT), constituído,
entre outras forças, por setores da esquerda cristã, fosse o Protestantismo
Ecumênico ou a Igreja Popular. Estavam em disputa tanto a esquerda quanto os
evangélicos, e os intelectuais do movimento de Missão Integral se tornaram
interlocutores de ambos, tentando abrir caminho no que parecia ser uma coalizão
de católicos e marxistas dentro do PT.
As mudanças na própria esquerda após a queda do muro de Berlim
contribuíram para que novos segmentos sociais e forças políticas fossem
incorporadas ao Partido dos Trabalhadores. A derrota nas eleições de 1989, para a
qual concorreu o voto evangélico, e o fim do socialismo no leste europeu, que se
seguiu àquele ano, deslocaram a prática e o discurso petista de defesa da
autonomia dos trabalhadores na construção de uma alternativa socialista e
democrática ao capitalismo, para a defesa da cidadania, da inclusão social e da
ética nas eleições de 1994, ainda à esquerda dos demais partidos.
A referência teológica dos protestantes representados no Movimento
Evangélico Progressista (MEP) e na Associação Evangélica Brasileira (AEVB),
ambos dos anos 1990, era a Missão Integral, diferente, portanto, dos vínculos que
o Protestantismo Ecumênico possuía com a Teologia da Libertação e que esta,
hegemonicamente católica, tinha com o marxismo. Nas eleições de 1994, um
núcleo desse setor protestante se afirmava explicitamente como uma ―esquerda
evangélica‖, expressão que só se tornou corrente para classificar o progressismo
protestante a partir da atuação dos intelectuais do movimento de Missão Integral.
A afirmação dessa ―esquerda evangélica‖ marcava uma disputa no campo político,
tentando desvincular do marxismo e da Teologia da Libertação, o pertencimento à
esquerda. Marcava também uma disputa no campo religioso, rejeitando a
identificação dos evangélicos com o fundamentalismo e sua representação
parlamentar. Este processo não representou a exclusão do Protestantismo
Ecumênico nos partidos de esquerda e movimentos de minorias, mas colocou em
evidência a disputa pela identidade evangélica à direita e à esquerda, pelo
fundamentalismo e pelo evangelicalismo.
A história da esquerda cristã durante a Ditadura Militar e na democracia
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