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PORTUGAL

NOTÍCIAS
08 Julho / Agosto / Setembro 2010
Publicação Trimestral • Série V • P.V.P €1.75

DOSSIER
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
Estará o prometido a ser cumprido?

SALIL SHETTY ENTREVISTA


Conheça o novo Secretário-Geral Thomas Hammarberg, Comissário
da Amnistia Internacional Europeu para os Direitos Humanos
ÍNDICE
03. 21. 29.
EDITORIAL EM ACÇÃO APELOS MUNDIAIS
INTERNACIONAL O ucraniano Aleksandr Rafalsky, a
família de Claudina Velásquez, da
04. No Quénia, centenas de mulheres
Guatemala, a iraniana Hengameh
enfrentam diariamente várias ameaças
ENTREVISTA simplesmente porque não têm acesso Shahidi e cinco prisioneiros da
a saneamento básico. Conheça esta Guiné Equatorial precisam de si
Thomas Hammarberg, Comissário
urgentemente. Conheça-os e envie os
para os Direitos Humanos do realidade e participe na petição mundial
postais em seu nome!
Conselho da Europa, traça o retrato
europeu em matéria de direitos
humanos 23. 32.
EM ACÇÃO NACIONAL AGENDA
07. Saiba mais sobre o Grupo Local 19/
Sintra da Amnistia Internacional
RETRATO Portugal 33.
Em Julho a Amnistia Internacional
ganhou um novo líder. Conheça CARTOON
melhor Salil Shetty e os seus 25.
objectivos
EM ACÇÃO JOVEM 34.
Espreite o Encontro Europeu de Jovens
09. da Amnistia Internacional, que Portugal CRÓNICA
acolheu este Verão Inês Campos e Luís Mah, da
EM FOCO Objectivo 2015-Campanha do Milénio
das Nações Unidas, escrevem sobre
27. os Objectivos de Desenvolvimento do
10. Milénio
PRESTAÇÃO DE CONTAS
DOSSIER
Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio: Estará o prometido a ser 28.
cumprido? BOAS NOTÍCIAS
Quando faltam apenas cinco anos Dois dos prisioneiros apresentados
para terminar o prazo definido em edições anteriores do “Notícias da
para cumprir os oito Objectivos de Amnistia Internacional Portugal” foram
Desenvolvimento do Milénio, é altura libertados. Obrigado a todos os que
de os analisar a fundo, um por um participaram!

FICHA TÉCNICA Fundos e Financeiro, Fernando Sousa, Inês


Campos, Inês Valério, Lucília-José Justino,
• Propriedade: Amnistia Internacional Luís Mah, Márcia Bartolo, Paulo Fernandes,
Portugal Sara Coutinho, Teresa Rita Lopes
• Director: Presidente da Direcção, • Revisão: Cátia Silva, Irene Rodrigues, Avenida Infante Santo, 42 – 2.º
1350-179 Lisboa
Lucília-José Justino Luísa Marques, Pedro Krupenski Tel.: 213 861 652
• Equipa Editorial e Redacção: Cátia • Concepção Gráfica e Paginação: Fax: 213 861 782
Silva, Irene Rodrigues, Pedro Krupenski Email: boletim@amnistia-internacional.pt
Complementar, Lda.
• Colaboram neste número: Cristina • Impressão: Relgráfica-Artes Gráficas Os artigos assinados são da exclusiva responsa-
Tomé, Departamento de Angariação de Fotografia de capa: Cédric Gerbehaye / Agence VU bilidade dos seus signatários.
Notícias • Amnistia Internacional 03

EDITORIAL
ODM, O diálogo possível?*
Por Lucília-José Justino, Presidente da Direcção

Os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio representam, de alguma forma,
aspirações básicas de direitos humanos,
e como tal, não são luxos, nem podem
ficar pela retórica das boas intenções
– e, em muitos casos, esse risco existe.
A operacionalização desses objectivos
obriga a critérios de exigência, abertura e
transversalidade de políticas que muitos
governos não se dispõem a aceitar de
bom grado, porque, de certo modo, con-
sideram “ingerências” ameaçadoras ao
seu poder a democracia, a transparência,
© Privado
a responsabilização pública, o empodera-
mento das populações, o respeito pelas
Todos acompanhámos, com inquietação, quase totalidade da comunidade política minorias, a inclusão social. Os “nossos”
a violência desencadeada em Moçam- mundial. governos dominam melhor o discurso
bique na sequência de uma subida ge- político dos grandes “valores”, de que
Não nos vamos referir aos ODM, extensi-
neralizada de bens essenciais (pão, ar- se consideram guardiões, mas, infeliz-
vamente tratados em Dossier e Crónica,
roz, transportes, energia, …). Parte da mente, a sua prática não os recomenda
mais adiante, mas há que enfatizar que
população mais pobre paralisou a cidade como exemplos.
os direitos humanos (pouco mencionados,
de Maputo, bloqueou as estradas e as-
mas elemento essencial e integrador) não A equidade e a dignidade humana con-
saltou estabelecimentos, tendo as auto-
podem ser vistos como um luxo, nem para tinuam a ser das grandes bandeiras da
ridades reagido com excesso de violência,
os bem instalados, de países ricos (que, Amnistia Internacional, na assunção e
com consequências pesadas em mortes e
nesses mesmos países podem margina- defesa das nossas responsabilidades
centenas de feridos. O rescaldo obrigou
lizar socialmente os mais pobres e mi- colectivas, como activistas de direitos
as autoridades a congelar algumas des-
norias como os ciganos e os imigrantes), humanos. Encontrarão nesta revista o
sas medidas.
nem um álibi dos poderosos dos países que pensa destas matérias um presti-
Não importa, aqui, aprofundar este caso. pobres que, em nome da “sua” soberania, giado ex-activista da nossa organização,
O exemplo de Moçambique é apenas mais de tiranias instaladas, ou de obscuras hoje com grandes responsabilidades a
um. Este “Notícias” dá outros exemplos tradições sociais, culturais ou religio- nível europeu: o Comissário para os Direi-
(como no Quénia) em que o desrespeito, ou sas, consideram razoável a escravatura, tos Humanos do Conselho da Europa que
a falta de cuidado com os direitos sociais excluem do seu usufruto a maioria das foi Secretário-Geral da Amnistia Interna-
das populações, tem implicações muito suas populações, permitem, justificam e cional, Thomas Hammarberg.
graves no funcionamento da economia, desenvolvem a continuação da exclusão,
da política, das sociedades que escapam da exploração de crianças ou a violência e E temos também uma entrevista palpi-
aos observadores menos atentos, ou aos discriminação contra as mulheres. tante ao recém-designado Secretário-
arautos de políticas simplistas dese- -Geral, Salil Shetty. É uma novidade.
Os ODM não devem ser entendidos na Leiam-no!
nhadas à distância, a régua e esquadro.
perspectiva unilateral da caridade ou da
Neste mês de Setembro realiza-se mais E leiam o resto, claro. Sem esquecer de
doação aos países com menos recursos,
uma reunião de acompanhamento, pro- dar sequência aos Apelos!
mas antes numa perspectiva de parce-
gramação e avaliação de medidas dos
ria multilateral comprometida e activa,
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
envolvendo outros actores para lá dos
das Nações Unidas (ODM), que compro-
governos e, evidentemente, as próprias
metem 189 países signatários, ou seja, a
populações.

* Editorial escrito antes da reunião nas Nações Unidas a propósito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
04 Notícias • Amnistia Internacional

ENTREVISTA
Thomas Hammarberg, Comissário para os Direitos Humanos do
Conselho da Europa
Em 1981 o então Secretário-Geral da Amnistia Internacional esteve em Portugal na oficialização da
abertura da secção portuguesa. Thomas Hammarberg, hoje Comissário para os Direitos Humanos do
Conselho da Europa, regressou 30 anos depois para analisar a situação dos Direitos Humanos e ao
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” traçou um retrato da Europa
Por Cátia Silva

A Amnistia teve um papel importante. Eu


próprio fui à Grécia durante o período da
junta militar e fui preso quando estava a
recolher material para a Amnistia.
AI: Era, portanto, mais difícil ser defen-
sor dos Direitos Humanos, pelo menos
na Europa?
TH: Não era totalmente reconhecido o que
fazíamos. Levou algum tempo até que as
pessoas compreendessem que tínhamos
alguma legitimidade. E para isso foi
muito importante a Amnistia Interna-
cional ganhar o Prémio Nobel da Paz em
1977. Foi o reconhecimento oficial de que
éramos algo mais do que um grupo de
© Conselho da Europa estudantes idealistas.
O Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa durante uma visita ao Kosovo.
AI: Em todo o mundo foi também
Amnistia Internacional (AI): Não AI: Que idade tinha na altura? nessa altura que os Direitos Huma-
poderíamos começar esta entrevista nos começaram a ganhar alguma im-
TH: 34 anos. portância...
de outra forma que não falando da
Amnistia Internacional, uma vez que foi AI: Já sabia que queria trabalhar na de- TH: Sim, muito. Felizmente penso que a
o segundo Secretário-Geral da orga- fesa dos Direitos Humanos? democratização da Europa desempenhou
nização [de 1980 a 1986]. Como é que TH: Era jornalista e trabalhava para uma um importante papel nesse sentido. Ao
chegou ao cargo? televisão sueca. Gostava muito de jorna- mesmo tempo houve os movimentos dis-
Thomas Hammarberg (TH): Foi um lismo, por isso não foi uma escolha fá- sidentes na Europa de Leste, onde a Am-
grande desafio. Tinha sido membro da cil. nistia teve um papel importante. E houve
Amnistia Internacional quase desde a ainda uma mudança de ressalvar no que
AI: Mas decidiu mudar para entrar numa
sua fundação e era muito activo. Tinha diz respeito à tortura, que com a chegada
organização que estava num momento
também sido Presidente da secção sueca da democracia foi declarada ilegal em
impar de afirmação. Concorda?
durante alguns anos. E tudo aconteceu qualquer situação e sobre qualquer pes-
numa altura em que a Amnistia estava TH: É sempre difícil comparar os dife- soa. Isto foi definido muito claramente e
a crescer: de ser uma organização base- rentes períodos. Na altura éramos mais não só na Europa, mas em termos das
ada praticamente na Grã-Bretanha, Ale- pequenos do que hoje, mas éramos a Nações Unidas. A Convenção das Nações
manha, Noruega e Suécia, deu o passo maior organização internacional de Di- Unidas contra a Tortura e Outras Penas
para começar a ser pan-europeia e de- reitos Humanos. ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
pois internacional. Desse ponto de vista Degradantes, por exemplo, é de 1987.
AI: Foi um tempo difícil ou de euforia?
foi interessante. E tínhamos ainda o de- AI: Hoje está no Conselho da Europa,
safio de formular um mandato que fosse TH: Foi um tempo fascinante. Nos anos 70
onde, à semelhança da Amnistia, foi
entendido pelas pessoas e distinto das as ditaduras na Europa estavam a cair e
substituir o primeiro Comissário para
outras organizações. a democracia a começar a desenvolver-se.
Notícias • Amnistia Internacional 05

os Direitos Humanos, um cargo criado AI: Pelo que sei também já visitou os pessoas e demonstrar que há determina-
em 1999... 47 Estados-membros. No que diz res- dos valores que têm de ser respeitados,
TH: Sim, sou sempre o número 2. [risos] peito a problemas relacionados com os incluindo o de que cada Ser Humano tem
Direitos Humanos, podemos dizer que o mesmo valor que os outros. Os políti-
“Estamos particularmente preocupa- existe uma só Europa? cos hoje nem sempre defendem estes
dos, no geral, com a falta de respeito TH: Há diferenças entre os países, mas princípios pré-estabelecidos, que vêm
pelas pessoas que são diferentes” há uma particularidade que é comum dos Tratados, e, pelo contrário, tendem
entre todos: a forma como lidamos com a ser oportunistas e, ou introduzem eles
AI: O que queria perguntar é se sente os migrantes hoje, que é um problema próprios propostas que vão contra estes
que está na mesma fase que a Amnistia em toda a Europa, e como lidamos com princípios, ou não lutam contra os pre-
Internacional estava na altura, ou seja, os ciganos, que é um problema em todos conceitos. Precisamos de líderes políti-
que é um cargo em afirmação. Porque os Estados onde eles estão, ou seja, na cos e eles não existem.
é menos conhecido pelos cidadãos do maioria dos países europeus.
que o Alto-comissário das Nações Uni-
das para os Direitos Humanos... AI: Também parece ser comum o pro-
blema dos Direitos das mulheres, será
TH: O Conselho da Europa, de forma assim?
geral, ainda tem um problema de visi-
bilidade. Melhorou, mas ainda existe. Em TH: Sim. Nenhum país é perfeito mas al-
parte porque surge na sombra da União guns vão no caminho certo, como Espa-
Europeia e das Nações Unidas. nha e os países Escandinavos. Porém, em
toda a Europa há uma diferenciação nos
AI: Para quem não sabe, como define o pagamentos, com as mulheres a ganha-
papel do Conselho da Europa e qual a rem menos que os homens pelo mesmo
diferença para a União Europeia? trabalho. É inaceitável. E há ainda a vio-
TH: Em primeiro lugar, o Conselho da lência sobre as mulheres.
Europa é mais amplo, é de toda a Eu- AI: Destacaria algum país pela nega-
ropa, inclui o Cáucaso, a Moldávia e a tiva?
Turquia, ao mesmo tempo que países
como a Suíça. É a organização verdadei- TH: Há problemas em todos os países e © Conselho da Europa

ramente europeia, o que é importante, fazer um ranking seria mais destrutivo


porque muitos dos problemas de Direitos do que produtivo. Há diferenças, sim, e
AI: Esteve em Portugal, em Novembro, a
Humanos estão também nesses outros alguns estão mais avançados que outros,
reunir com Organizações Não Governa-
países. Em segundo lugar, o Conselho da porque têm uma tradição mais longa
mentais, como a Amnistia Internacio-
Europa é a organização mais autoritária de democracia, porque têm uma situa-
nal, e com o governo. O que tem a dizer
no que diz respeito aos Direitos Huma- ção económica mais favorável, etc. Mas
sobre a situação dos Direitos Humanos
nos, com o Tribunal [Europeu dos Direitos concentramo-nos em situações concre-
em Portugal?
Humanos] – que é uma figura única no tas e não em dar pontuações aos países,
mundo, ao qual 800 milhões de pessoas porque não ajuda e porque nenhum de- TH: Fiquei contente porque houve aber-
(a população de toda a Europa) podem veria estar satisfeito. tura para discutir e também para se ser
apelar individualmente se sentirem que autocrítico, o que é crucial. É claro que
AI: Dos problemas que mencionou,
não tiveram justiça em casa [nos seus fiz algumas propostas, principalmente
destacaria algum como sendo o mais
países] – e com o Comissário. em termos de adesão aos padrões inter-
alarmante nos dias de hoje na Europa?
nacionais. Por exemplo, esperamos que
AI: Pelo que li, o seu papel é o de moni- TH: Estamos particularmente preocupa- Portugal venha a ratificar o Protocolo 12
torizar os 47 Estados-membros do Con- dos com a xenofobia, o racismo, a isla- [da Convenção Europeia dos Direitos do
selho da Europa e fazer recomenda- mofobia e, no geral, a falta de respeito Homem], que está ligado à discrimina-
ções. Podemos resumir assim? pelas pessoas que são diferentes. Esta- ção, pois isso significa que o Tribunal, em
TH: É isso. Tentamos acompanhar o que mos provavelmente a regredir neste mo- Estrasburgo, poderá receber queixas so-
está a acontecer e reagimos quando mento a este nível. E as vítimas são os bre discriminação em Portugal. Também
sentimos que os Tratados de Direitos Hu- migrantes e as minorias étnicas, como levantei questões sobre o comportamento
manos não estão a ser respeitados pelos os ciganos. Penso que os europeus de- policial, uma vez que recebemos relatos
governos. E viajamos muitíssimo, porque viam ter vergonha desta situação. sobre o uso excessivo da força. Este é,
queremos ser nós próprios a ver as situ- AI: Mas esses sentimentos estão nos claro, um problema em muitos países,
ações. Uma característica que nos deu cidadãos ou são fomentados pelos go- mas é preciso dar directrizes muito rígi-
credibilidade. Os governos sabem que vernos? das às forças policiais sobre este assun-
não nos podem enganar. Nós sabemos to, educá-las e monitorizá-las, e fazer
dos factos e isso faz com que seja muito TH: Ambos, mas aponto o dedo sobretudo uma análise independente em cada caso
mais construtivo falar com os governos. aos governos, porque deveriam assumir de violência ou de mau comportamento
um papel de liderança e tentar educar as policial que é denunciado.
06 Notícias • Amnistia Internacional

“Nos últimos anos, com a chamada sobre estas violações massivas dos Direitos Governo sueco e agora negoceia com
Guerra ao Terrorismo, vimos proble- Humanos pela Administração Bush. De as várias partes numa organização
mas antigos voltarem” facto, governos europeus cooperaram até governamental, tendo já estado tam-
com o sistema das detenções secretas e bém nas Nações Unidas. Há um papel
AI: Tinha vindo a Portugal em 1981, das rendições. Foi um retrocesso muito para cada um destes actores nas Rela-
na abertura da secção portuguesa da sério. ções Internacionais?
Amnistia Internacional. Consegue com- Outro é o que está a acontecer agora TH: Definitivamente. As organizações
parar com o que encontrou agora? no que diz respeito aos Direitos sociais governamentais, como o Conselho da Eu-
TH: Houve progressos. Foi um período primários. Vemos como os Estados es- ropa e as Nações Unidas, dependem dos
interessante na altura porque foi muito tão a tentar lidar com a crise económica governos mas também das organizações
pouco depois da queda da ditadura e cortando certos orçamentos que estavam não governamentais. Sem a Amnistia In-
muitas pessoas estavam entusiasmadas destinados a proteger Direitos Huma- ternacional e outras, as discussões sobre
com a democratização e com a protecção nos, como o Direito à Educação. E não Direitos Humanos nas Nações Unidas e
dos Direitos Humanos. Havia discussões é correcto que as pessoas mais pobres no Conselho da Europa seriam muito
acesas e um forte interesse. Agora com tenham de pagar pelo comportamento mais fracas, porque faltaria alguma
a melhoria da situação, os Direitos Hu- imprudente de banqueiros e escritórios parte da realidade.
manos parece que não são um tema tão
fascinante para as pessoas, mas espero
que o espírito de reforma se mantenha.
AI: No seu trabalho, muito do que faz é
lobby junto dos governos e essa é tam-
bém uma das formas de actuação da
Amnistia Internacional. Muitas pessoas
não acreditam nesta forma de acção e
que o lobby possa forçar os governos a
fazerem o que não querem. Que diria a
essas pessoas?
TH: Que funciona, principalmente porque
os Direitos Humanos são vistos como © Amnistia Internacional Portugal

tendo uma dimensão de modelo. Ao Thomas Hammarberg com Pedro Krupenski, Director-Executivo da secção portuguesa da Amnistia Internacional, durante a visita a Portugal,
em Novembro.
violarem-se Direitos Humanos, está a
fazer-se algo que é moralmente errado. financeiros de todo o mundo. Este é outro AI: Mas cada um destes actores parece
Assim, investigamos e procuramos apre- desafio aos Direitos Humanos hoje em defender princípios diferentes. Há
sentar factos bem fundamentados. E a dia. forma de entendimento possível entre
força moral do argumento é muito forte todos?
AI: Perante este cenário, o que pers-
e os governos, pelo menos nas demo-
pectiva para o futuro? Os Direitos Hu- TH: É mais fácil alcançar acordos so-
cracias estabelecidas, têm de ouvir. E
manos vão continuar a falar mais alto? bre alguns princípios. Por exemplo, na
fazem-no. Por vezes devagar, mas tem
Europa todos acordaram não aplicar a
havido progressos. TH: A minha noção é que estamos na
pena de morte. Mas sobre outros assun-
direcção correcta, a longo prazo, porque
AI: Até aqui tem apontado várias me- tos alguma das partes terá de ser mais
os Direitos Humanos são valores es-
lhorias mas, com a crise económica e insistente de forma a levar as outras a
senciais. Mas há altos e baixos e neste
com a ameaça do terrorismo, será que concordarem, como no caso da discrimi-
momento estamos num desses períodos
não estamos antes a regredir? Os Di- nação, onde existem vários preconceitos.
severamente baixos. Mas eu espero que
reitos Humanos parecem estar a sair
não seja para ficar e os Direitos Humanos AI: Apesar disso mantém-se optimista?
das agendas políticas...
exigem luta. Não se adquirem, é preciso
TH: Sim, a longo prazo, mas também es-
TH: Espero que não, mas francamente nos lutar por eles e conquistá-los.
tou consciente que é uma luta longa e
últimos anos, com a chamada Guerra ao
dura.
Terrorismo, vimos problemas antigos vol- “Os Estados estão a tentar lidar com
tarem. O facto de a tortura ter sido prati- a crise económica cortando orça-
cada de forma sistemática pelos Estados mentos que estavam destinados a
Unidos da América é algo sobre o qual proteger Direitos Humanos”
temos de reflectir. Os países europeus
ainda não se tornaram suficientemente AI: Olhando para o seu currículo, já
fortes na contestação a esta actuação desempenhou quase todos os papéis:
dos Estados Unidos e nas Nações Unidas foi jornalista, fez parte de organizações
não houve quase nada a ser discutido não governamentais, esteve ligado ao
Notícias • Amnistia Internacional 07

RETRATO
Salil Shetty, Secretário-Geral da Amnistia Internacional
O novo líder do movimento
O actual Secretário-Geral da Amnistia Internacional assumiu funções há menos de três meses, mas o
primeiro contacto com o movimento deu-se quando era ainda adolescente. Um percurso que explicou ao
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” numa entrevista exclusiva via telefone
Por Cátia Silva

mais críticos porque o percurso de Salil Para contrabalançar, ao escolher o curso


começou precisamente nos rotulados universitário Salil Shetty optou por Con-
Direitos Civis e Políticos, quando a Ín- tabilidade Avançada e Contabilidade de
dia vivia o Estado de Emergência de Custos, na Universidade de Bangalore.
1975-77. Na altura, as liberdades de ex- Prosseguiu depois para o MBA (Master
pressão e reunião foram reprimidas e as in Business Administration) no Indian
detenções arbitrárias eram comuns. Uma Institute of Management. Hoje reconhece
vaga a que Salil Shetty não escapou, com a importância dos ensinamentos: “um
felicidade, graceja: “devo esclarecer que dos grandes problemas em muitas or-
na Índia é uma grande honra ser preso e ganizações não governamentais é terem
um activista que não o seja é uma ver- uma fraca gestão. Somos movidos pela
gonha”. Na altura tinha 14 anos e recor- paixão, pela motivação e pelo activismo
© Matt Writtle da agora que já participava em reuniões mas é muito importante sermos respon-
da Amnistia Internacional em Bangalore, sáveis pelos nossos recursos e pela sua
Em Julho o mundo recebia a notícia que o cidade do sudeste indiano onde nasceu. optimização”. Salil Shetty adquiriu esta
indiano Salil Shetty, de 49 anos, assumia “Tinha-me esquecido completamente mais-valia, mas não entrou logo no
o cargo de Secretário-Geral1 da Amnistia disto e só no outro dia me lembrei”. chamado terceiro sector, tendo optado
Internacional. Para além do seu ano de por começar a carreira profissional numa
nascimento coincidir com o do surgi- O LEGADO DOS PAIS empresa privada. “Não queria arrepen-
mento do movimento, os mais críticos der-me mais tarde de não ter tentado e
Algumas pessoas podem dizer que nas-
defenderam não haver nenhuma liga- foi bom para perceber que não era real-
ceram em berço de ouro. Salil Shetty
ção entre o percurso profissional de Salil mente o que queria fazer”.
poderia afirmar que nasceu em berço de
Shetty e o trabalho de Direitos Humanos activismo. A mãe, advogada, era uma Hoje não considera ter perdido tempo,
da organização. Isto porque tinha estado acérrima defensora dos Direitos das porque trabalhou na área do marketing:
a liderar projectos relacionados com Mulheres, enquanto o pai, jornalista, era “se não formos capazes de expressar as
a pobreza, ou seja, com os chamados activo no movimento em favor da casta nossas ideias de forma clara, não somos
Direitos Económicos, Sociais e Culturais, considerada inferior pelos indianos, os capazes de persuadir as pessoas”. Acres-
enquanto a Amnistia está (ainda) muito Dalit. O trabalho de defesa das mino- centa, porém, que três anos bastaram e
associada aos Direitos Civis e Políticos. rias nacionais era feito a partir da casa que, num dia preciso que recordará para
Categorias que, para o Secretário-Geral, dos pais de Salil, que o próprio classi- sempre, decidiu mudar de vida. “O meu
não fazem sentido. “A Amnistia Interna- fica como sendo “a sede do movimento”. escritório, em Bombaim, era num óptimo
cional decidiu trabalhar em todo o con- Na altura o jovem ajudava no que fosse lugar, com grandes torres. Das janelas
junto de direitos, há nove anos2, e mesmo preciso, da revisão do jornal editado podia ver, de um lado, o luxuoso hotel
antes disso já era muito claro que tra- pelo pai ao envio de apelos e petições. Oberoi, com as pessoas ricas, a piscina e
balhávamos sobre a Declaração Univer- Um trabalho que transformava a casa, tudo mais. Do outro lado via a construção
sal dos Direitos Humanos e estes, como garante, num autêntico caos. Talvez por
do World Trade Centre indiano, um edifí-
toda a gente sabe, são indivisíveis”. isso Salil hesite quando perguntamos se
cio muito alto. Eram as mulheres que car-
sentia orgulho neste seu legado: “eram
Para quem continua a duvidar, Salil regavam para o topo o cimento e a pedra
sentimentos mistos, porque havia uma
Shetty garante: “a razão por que as pes- necessários à construção. Levavam, ao
forte ameaça e o meu pai foi preso várias
soas impotentes sofrem de pobreza e vezes”. Além disso, resume, como nunca mesmo tempo, os bebés amarrados nas
privação é a mesma pela qual não têm tinha visto outra realidade “pensava que costas. O contraste entre os dois lados
voz”. Para além disso, descansem os o mundo fosse assim mesmo”. foi incrível... Eu sabia de tudo isto mas
08 Notícias • Amnistia Internacional

houve um momento em que olhei para sado mobilizou 173 milhões de pessoas países do [hemisfério] Norte”. Caracte-
uma janela e depois para a outra e disse: de todo o mundo. Muitos perguntar-se-ão rísticas que não lhe interessavam.
sei em que janela quero estar”. para que serviu, mas Salil Shetty acredi-
Mesmo assim, os recrutadores da Amnis-
ta no poder da pressão dos cidadãos, até
tia Internacional insistiram: “é precisa-
COMBATER A POBREZA porque, diz, “do ponto de vista legal não
mente isso que queremos mudar”, ga-
podemos fazer muito” quando os Objec-
Aos 24 anos Salil Shetty candidatou-se a rantiram, mostrando o Plano Estratégico
tivos de Desenvolvimento do Milénio
várias organizações não governamentais Integrado3 até 2016, com a forte aposta
[ver Dossier] não são legalmente vin-
e optou pela ActionAid, mesmo sabendo no trabalho nos países do hemisfério Sul.
culativos. Apostou, por isso, na pressão
pouco sobre o seu trabalho, confessa. Para além disso, Salil Shetty conheceu a
individual sobre cada país e em alguns
Sabe hoje que visa erradicar a pobreza e história da Amnistia e reconhece o mérito
conseguiram-se sucessos estrondosos.
que aposta na acção junto das comuni-
dades, com equipas que procuram solu-
cionar problemas de base como a educa-
ção, o SIDA e a fome. Um programa que
Salil Shetty ficou a coordenar em Banga-
lore, sua cidade natal, durante dez anos,
tendo apenas interrompido para, em
1990, realizar na London School of Eco-
nomics um Mestrado em Política Social,
Planeamento e Participação nos Países
em Desenvolvimento. “Sentia necessi-
dade de saber mais sobre esta área”,
recorda. A isto seguiu-se a concretização
de um sonho, quando se mudou com a
© Amnistia Internacional
mulher e os filhos para o Quénia. “Sem-
Salil Shetty e funcionários da Amnistia Internacional num pequeno-almoço de boas-vindas ao novo Secretário-Geral, na sede, em Londres.
pre quis trabalhar e viver em África”, diz.
Pôde fazê-lo durante três anos enquanto
Para Salil Shetty, até 2015 é possível que dos sucessos alcançados através do que
Director da ActionAid para o país afri-
globalmente se atinja a maioria dos oito chamava “conversa”: “a não ser que se
cano.
Objectivos, mas “o problema nem está mudem os sistemas, os processos e os
Foi por tudo isto, esclarece, que ficou em alcançá-los, mas ao olharmos para factores estruturais subjacentes, po-
a trabalhar no combate à pobreza: “ao eles de forma desagregada. Há muita demos dar ajuda, mas não é suficiente”.
viver no Sul da Ásia e de África, os dois desigualdade entre os países. O cenário Por último, o agora Secretário-Geral da
locais onde estão as pessoas mais po- conjunto é até encorajador, mas desa- Amnistia Internacional destaca o que
bres do mundo, não há outra hipótese”. gregado não é bom”. considera mais importante: “há muitas
Uma experiência que, aos 37 anos, per- organizações no mundo, mas há pou-
mitiu que assumisse o cargo de Direc- AMNISTIA INTERNACIONAL: UM NOVO cos movimentos feitos de pessoas como
tor Executivo da ActionAid e, cinco anos DESAFIO a Amnistia. O que a torna única são os
mais tarde, em 2003, que chegasse às 2,8 milhões de pessoas que a apoiam.
Ao fim de sete anos de Campanha do
Nações Unidas como Director da Cam- Eles são a sua maior vantagem”. É com
Milénio, Salil Shetty tinha alcançado
panha do Milénio. “Foi novamente uma eles que nos próximos anos Salil Shetty
uma importante meta: 2010, que para
grande mudança”, recorda. Mas era esse vai lutar contra as violações aos Direitos
alguns dos Objectivos de Desenvolvi-
o seu desejo: “queria trabalhar na parte Humanos!
mento do Milénio é um momento decisivo
governamental, porque é muito diferente
de balanço. A isto aliou-se uma proposta
de operar em organizações não governa-
aliciante e Salil Shetty não hesitou. “Se
mentais e porque nos faz olhar para as
tivesse ficado teria de ir até 2015 e nor-
coisas de um outro ângulo”. Encontrou
malmente não fico tanto tempo no mesmo 1. O Secretário-Geral é quem lidera o trabalho de
o cargo perfeito: “estava dentro mas
local. É preciso uma nova liderança, nova Direitos Humanos da organização, sendo, acima
não totalmente. Era como se fosse uma de tudo, o consultor político do movimento, o seu
energia e novas ideias. Um líder não deve
pequena organização no seio das Nações estratega, o seu porta-voz e ainda o seu Director
ficar preso à sua cadeira”, defende. Por Executivo. O trabalho desenvolve-se a partir da
Unidas, que tinha os benefícios de fazer
isso mesmo, quando os caça-talentos lhe sede, em Londres, mas implica inúmeras viagens
parte da organização mas também a pelo mundo inteiro.
falaram da Amnistia Internacional, Salil
flexibilidade de uma campanha”. 2. Em 2001, quando a Amnistia Internacional
ficou disponível para conversar, apesar
celebrou 40 anos alterou o seu Estatuto para in-
O seu trabalho, resume, “era sobretudo o de, confessa, “ser critico em relação às cluir, para além dos Direitos Civis e Políticos, os
de organizar movimentos globais de ci- pessoas ligadas aos Direitos Humanos: Económicos, Sociais e Culturais.
dadãos”. Os mais atentos recordaram o falam sempre muito e actuam pouco e, 3. O Plano Estratégico Integrado é o projecto comum
“Stand Up Against Poverty” ou “Levanta- para além disso, a Amnistia foi sempre criado pelo e para o movimento. Traçado de seis em
seis anos, indica as directrizes estratégicas para a
te contra a Pobreza”, que no ano pas- uma organização muito voltada para os acção da Amnistia Internacional.
Notícias • Amnistia Internacional 09

EM FOCO
Nos últimos meses três países destacaram-se pelas piores razões: Portugal, por ainda não ter ratificado
um importante documento internacional, França, pela expulsão dos ciganos, e o Irão, pelo uso da pena
capital

PORTUGAL
Mais força para os Direitos Económicos, Sociais e Culturais

A 24 de Setembro assinala-se o primeiro aniversário da abertura à assinatura, ratificação


e adesão do denominado Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos
Económicos, Sociais e Culturais. O documento continua a necessitar de ratificações para
entrar em vigor e Portugal é um dos Estados em falta. Refira-se que o Protocolo é vital para
os cidadãos de todo o mundo, que através dele poderão exigir individualmente e a nível
internacional, nas Nações Unidas, que sejam cumpridos os mencionados direitos – nos
quais se incluem, entre outros, o direito à saúde, à educação, à segurança social, ao tra-
balho e a um nível de vida adequado –, sempre que o seu país de origem não os conseguir
assegurar.
Para que esta possibilidade se torne realidade é apenas preciso que oito Estados ratifiquem
o Protocolo Facultativo, uma vez que dois, Equador e Mongólia, já tomaram a dianteira.
Portugal perdeu a oportunidade de fazer história, se tivesse sido o primeiro a ratificá-lo, © iStockphoto.com/arturbo
até porque a 24 de Setembro de 2009 foi pioneiro a assiná-lo e dado que o texto do Proto-
colo foi proposto por um grupo de trabalho presidido por uma jurista portuguesa, Catarina Albuquerque. O Bloco de Esquerda lembrou em
Março a necessidade de ratificação e no passado mês de Julho a Assembleia da República remeteu para o Governo uma recomendação de
ratificação do Protocolo.
Por tudo isto, a Amnistia Internacional Portugal lança agora uma petição dirigida ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português, pedin-
do que finalmente ratifique o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. Ao fazê-lo
estará a adoptá-lo no ordenamento jurídico nacional e assim a permitir aos portugueses exigirem junto das Nações Unidas os seus Direitos
Económicos, Sociais e Culturais, sempre que estes não sejam assegurados pelo Governo.
Participe enviando o postal que encontra no interior desta revista. Este Protocolo é também para si!

FRANÇA Internacional as autoridades francesas de-


veriam estar a trabalhar para combater a
desde as eleições presidenciais de 2009,
quando foram relatados casos de homicí-
A expulsão de ciganos e viajantes discriminação ao invés de incentivarem o dios, detenções, torturas, discriminação
Em Agosto e Setembro, a França foi um preconceito. e abusos à liberdade de expressão. Nos
dos países em destaque pela política que últimos meses, o Irão voltou a ser notícia
adoptou, a 28 de Julho numa reunião de pelo uso da pena de morte como medida
Ministros, de repatriar ciganos e viajantes. de punição com o caso de Sakineh Moham-
Uma medida que não é novidade, uma vez madi Ashtiani, uma iraniana condenada à
que desde o início do ano já regressaram morte por apedrejamento acusada de adul-
aos seus países de origem 8.000 pessoas, tério. O caso desta mãe de duas crianças
a maioria romenos e búlgaros. Num só tem chocado o mundo, pela desumanidade
mês, em Agosto, foram expulsos de França da pena e pelo facto de ter sido já julgada
cerca de 800 ciganos. Um repatriamento várias vezes com provas pouco fiáveis. A
criticado pelo Parlamento Europeu, que a 9 pressão internacional fez já com que a sua
de Setembro aprovou uma resolução, com © Amnistia Internacional
execução fosse suspensa, mas os activis-
337 votos a favor e 245 contra, que exige tas da Amnistia Internacional continuam a
enviar apelos em seu nome. Participe tam-
às autoridades francesas a suspensão das
expulsões.
IRÃO bém! Saiba mais em www.amnistia-inter-
Pena de morte voltou a chocar o nacional.pt (Aprender/ Revista da Amnistia
Para a Amnistia Internacional é igual- Internacional).
mundo
mente grave a justificação apresentada
por França, que sugere a ligação entre Continua a merecer atenção a situação
ciganos e criminalidade. Para a Amnistia de milhares de iranianos, especialmente
10 Notícias • Amnistia Internacional

DOSSIER
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: Estará o prometido a ser
cumprido?
Quando as Nações Unidas se dedicam a analisar e debater os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
e numa altura em que faltam cinco anos para terminar o prazo estabelecido para o seu cumprimento, o
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” examina, uma a uma, as promessas feitas no ano 2000

Poema Crónica

Teresa Rita Lopes

Acontecido ao ler o pungente artigo do médico Pedro Afonso, no


“Público” de 21.6.2010.

Isto não veio nos jornais:


A mão estende-se não para pedir
ou dar esmola
mas para exibir um papel já muito segurado
da Segurança Social.
A mão é tosca
apalpada por uma vida
de trabalho.
A mão está desempregada.
O seu corpo também.
Erra de cadeira em cadeira
de banco de jardim em banco
de jardim.
É uma mão desempregada
nomeada estatiticamente
entre um milhão de mãos desempregadas.
É uma mão
envergonhada do seu ócio.
Algumas passam uma corda
à volta do pescoço.
Outras batem nos mais fracos.
Outras roubam ou empunham facas.
Há mãos que
enlouquecem e apertam gatilhos.
Outras desistem sobre
as pernas sentadas
inertes como aves mortas.
Que tremenda revoada se todas essas asas levantassem voo!
E aí sim, viriam com certeza nos jornais.
© Cédric Gerbehaye / Agence VU

Entre 6 e 8 de Setembro do ano 2000, o mundo comprometiam-se, assim, que estes se subdividem, tendo por base
tinha o mundo entrado há poucos meses a cooperar para pôr fim a alguns dos o “Relatório dos Objectivos de Desenvol-
num novo Milénio, 189 Chefes de Es- maiores flagelos globais, estabelecendo vimento do Milénio 2010”, lançado a 23
tado e de Governo reuniram-se na sede como meta o ano de 2015. O compro- de Junho pelas Nações Unidas. Pobreza,
das Nações Unidas, em Nova Iorque, misso assumido, e os oito Objectivos fome, educação, igualdade de género,
para juntos darem aquele que seria um de Desenvolvimento do Milénio (ODM) mortalidade infantil, saúde materna,
grande passo para a Humanidade. Na que dele resultaram, voltaram agora às doenças graves, sustentabilidade ambi-
Declaração do Milénio, que todos as- páginas dos jornais quando o Secretário- ental e cooperação são as áreas em aná-
sinaram, assumiram o compromisso: -Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lise. A forma como evoluíram é percebida
“reconhecemos que, para além das convocou os líderes mundiais para a tendo por base as estatísticas publica-
responsabilidades que todos temos Cimeira do Milénio. “Não podemos desi- das no ano de 1990, em comparação com
perante as nossas sociedades, temos a ludir os milhares de milhões de pessoas as recolhidas nos dias de hoje. A análise
responsabilidade colectiva de respeitar que esperam que a comunidade inter- centra-se nas 10 regiões do mundo onde
e defender os princípios da dignidade nacional cumpra a promessa da Decla- a situação é mais grave* e os mapas
humana, da igualdade e da equidade, ração do Milénio por um mundo melhor. que se seguem pretendem demonstrar
a nível mundial. Como dirigentes, temos Reunamo-nos em Setembro [de 20 a 22] os locais onde é expectável que as Metas
(...) um dever para com todos os habi- para cumprir essa promessa”, apelou o e os Objectivos sejam alcançados. Isto
tantes do planeta, em especial para com representante das Nações Unidas. quando Ban Ki-moon garante: “o nosso
os mais desfavorecidos e, em particular, mundo possui os conhecimentos e os re-
Nesta altura crucial para a Humanidade,
as crianças do mundo, a quem pertence cursos necessários para implementar os
o “Notícias da Amnistia Internacional
o futuro”. ODM”. Dez anos passados sobre a sua
Portugal” dedica as próximas páginas ao
criação, é tempo de perceber se o pro-
Pela primeira vez os Estados de todo estado dos oito ODM e das 21 Metas em
metido estará a ser cumprido!
* América Latina e Caribe; Norte de África; África Subsariana; Ásia Ocidental; Sul da Ásia; Ásia Oriental; Sudeste Asiático; Oceânia; Países da Commonwealth na Europa e Países da
Commonwealth na Ásia. Informação sobre os países incluídos em cada zona em http://unstats.un.org/unsd/mdg/Resources/Static/Data/MDGRegionCodes_200611.xls
Notícias • Amnistia Internacional 11

Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome que a tendência já não era positiva antes
de 2008, com o número de “trabalhadores
Meta 1: Reduzir para metade a proporção de população cujo rendimento é inferior pobres” (pessoas com salário, mas muito
a 1,25 dólares por dia baixo) a aumentar ao longo da última
década. A estes é preciso agora acres-
centar os que nos últimos anos terão
perdido os empregos, os jovens à procura
de primeiro emprego, sem sucesso, e a
maior vulnerabilidade dos empregos, que
muitas vezes se traduz em salários de-
sadequados e fracas condições laborais.
Perante tudo isto, os números apre-
sentados no mapa podem ser engana-
dores, uma vez que apenas revelam a
percentagem de população activa com
acesso a emprego, não analisando as
suas condições. Contudo, é um indicador
importante, que revela que os países em
Os números indicam a percentagem de pessoas que viviam com menos de 1,25 dólares por dia (menos de um euro), nos anos de 1990 e
desenvolvimento estão melhor do que os
em 2005 (últimos dados disponíveis). desenvolvidos, pois em 2008 (últimos
dados disponíveis) os primeiros tinham
O Relatório das Nações Unidas de 2010 que pode ser erradicada. Desde logo o 62% da população activa empregada,
acredita que esta primeira Meta dos ODM da Ásia Oriental, que entre 1990 e 2005 enquanto os segundos tinham apenas
pode ser alcançada, uma vez que no conseguiu que 44% da sua população 57%. Percentagens que deixam antever
mundo em desenvolvimento a percenta- saísse do limiar da pobreza, muito gra- que muito dificilmente se cumprirá esta
gem de pessoas a viverem com menos de ças ao contributo da China. Também o do Meta dos ODM, como demonstra o mapa
1,25 dólares norte-americanos por dia Sudeste Asiático, que, com a forte ajuda aqui apresentado.
ou menos de um euro – limiar da pobreza da Índia, conseguiu nas datas referidas
definido pelo Banco Mundial, cujo valor alcançar a Meta e “reduzir para metade a Meta 3: Reduzir para metade a propor-
foi redefinido em 2005 – caiu de 46%, proporção de população cujo rendimento ção de população afectada pela fome
em 1990, para os 27%, em 2005 (últi- é inferior a 1,25 dólares por dia”. Na década de 90 houve algum progresso,
mos dados disponíveis). Faltavam, as- embora pouco significativo, na redução
Meta 2: Alcançar emprego produtivo e
sim, apenas 4% para o objectivo ser al- da percentagem de população subnu-
em pleno e trabalho decente para to-
cançado. Contudo, é preciso ter em conta trida nos países em desenvolvimento,
dos, incluindo mulheres e jovens
que em 2008 eclodiu uma crise económi- tendo esta caído dos 20%, registados
ca e financeira mundial que o Relatório Os dados do Relatório de 2010 dos ODM em 1990-92, para os 16%, em 2005-07
reconhece ter “provocado uma queda revelam o espectável: a crise financeira (últimos dados disponíveis). Contudo, o
abrupta das exportações e reduzido o e económica, que começou nos Estados Relatório de 2010 dos ODM revela que
comércio e o investimento, abrandando Unidos da América e se espalhou pelo desde o ano 2000 que esta evolução
assim o crescimento nos países em de- mundo, reflectiu-se no mercado de tra- tendia a estagnar e que, em números
senvolvimento”. Apesar disso, as Nações balho. No entanto, é importante referir efectivos, a quantidade de pessoas sub-
Unidas mantêm o optimismo quanto ao
cumprimento da Meta.
A região do mundo onde a situação
é mais grave é a África Subsariana,
que em 2005 continuava a ter 51% da
população a viver abaixo do limiar da
pobreza (apenas menos 7% do que em
1990), logo seguida do Sul da Ásia, com
39% dos habitantes a sobreviverem com
menos de 1,25 dólares americanos por
dia, uma melhoria de 11% em relação
a 1990. Profetiza-se que estas regiões
falhem a meta dos ODM, tal como deverá
acontecer nos países asiáticos da Com-
monwealth e na Ásia Ocidental. Houve,
no entanto, bons exemplos que provam Os números indicam a relação entre a população e o emprego, isto é, a percentagem de população activa que tinha emprego, nos anos
que a pobreza não é uma fatalidade e de 1991 (primeiros dados disponíveis) e 2008 (últimos dados disponíveis).
12 Notícias • Amnistia Internacional

Os números indicam a percentagem de população subnutrida, isto é, de pessoas cuja ingestão de alimentos não satisfazia os níveis
mínimos nutritivos necessários, nos anos de 1990-92 e 2005-07 (últimos dados disponíveis).

Objectivo 2: Alcançar educação primária universal


© AI/IPISs
Meta 4: Garantir que todas as crianças, de ambos os sexos, tenham a oportunidade
Uma sala de aula na República Democrática do Congo.
de completar um plano de estudos de escolaridade primária completo
nutridas acabou por aumentar nos anos
referidos, passando de 817 para 830
milhões (muito graças ao crescimento
demográfico). Desde 2007 que não há
dados numéricos relacionados com a
fome, mas esta deverá ter aumentado
com a crise económica e financeira, que
fez subir o preço dos alimentos ao mesmo
tempo que levou a um corte nos ordena-
dos. A Organização para a Alimentação
e a Agricultura (FAO) das Nações Unidas
estima mesmo que em 2008 a população
subnutrida em todo o mundo tenha che-
gado aos 915 milhões e no ano passado
superado os mil milhões.
Os números indicam a percentagem de crianças em idade escolar que frequentam a escola primária, nos anos de 1991 e 2008.
A situação mais alarmante regista-se, à
semelhança do que acontece na primeira
A educação primária universal é uma das as raparigas e rapazes completam a
Meta, na África Subsariana, onde 26%
das Metas que mais tem progredido educação primária”, conclui o Relatório
da população vivia abaixo dos níveis ali-
desde o ano de referência de 1991. Em de 2010 das Nações Unidas relativo aos
mentares necessários nos anos de 2005-
termos mundiais, em 2008 (últimos da- ODM. Tal facto deve-se não apenas à
-07 (tendo evoluído apenas 5% desde
dos disponíveis) frequentavam o ensino dificuldade de se chegar aos 100% na
1990). No Sul da Ásia a percentagem de
primário 90% dos alunos em idade frequência da escolaridade primária,
população subnutrida é também elevada
pré-escolar, numa evolução de 8% em mas sobretudo à desistência dos estu-
e manteve-se inalterada deste 1990,
relação ao início dos anos 90. A situa- dos antes desta estar terminada, que
situando-se nos 21%. Esta é também
ção mais grave regista-se na África Sub- continua a ser uma realidade apesar do
a região que regista piores valores se
sariana, onde mesmo assim, em 2008 os número de desistentes ter caído de 106
olharmos para os menores de cinco anos
dados indicavam que estavam a estudar milhões, em 1999, para 69 milhões, no
com fraca nutrição: 46% registados em
76% das crianças em idade pré-escolar, ano de 2008 (últimos dados disponíveis).
2008. Segue-se a África a sul do Sara,
num aumento de 23% em relação a Para tal contribuem diversos factores,
com 27% dos menores de cinco anos a
1991. Um crescimento inspirador que se que vão desde o custo dos estudos às
viverem subnutridos. Percentagens que
fez sentir também no Sul da Ásia e no barreiras sociais e culturais, pois em
estão bem longe do objectivo de “reduzir
Norte de África. alguns países do mundo continua a ser
para metade a proporção de população
menos importante educar raparigas do
afectada pela fome”. Contudo, “o ritmo do progresso é insufi-
que dar educação aos rapazes.
ciente para assegurar que, em 2015, to-
Notícias • Amnistia Internacional 13

Objectivo 3: Promover a igualdade entre géneros e Apesar de, como vimos na Meta anterior,
capacitar as mulheres alguns países continuarem a valorizar
mais a educação dos rapazes do que das
Meta 5: Eliminar a disparidade entre géneros no ensino primário e secundário, se raparigas, a verdade é que a disparidade
possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, até 2015 entre géneros no ensino diminuiu forte-
mente entre 1991 e 2008 (últimos dados
Paridade na educação primária disponíveis), tendo o sexo feminino su-
perado mesmo o masculino em alguns
níveis escolares. No que diz respeito ao
primário, em 2008 havia 96 raparigas de
países em desenvolvimento a frequentá-
-lo por cada 100 rapazes, quando em
1991 este número se ficava pelas 87. Ao
nível do secundário, nos países em de-
senvolvimento, em 2008, por cada 100
alunos havia 95 alunas, num crescimen-
to importante em relação a 1991, quando
se contavam 76 raparigas por cada 100
rapazes. No ensino superior o progresso
foi ainda maior, tendo a frequência deste
nível escolar por raparigas subido de 67,
por cada 100 rapazes, para as 97. Im-
porta ainda mencionar que nos países
desenvolvidos foi neste último ensino
Paridade na educação secundária que o número de raparigas superou o dos
rapazes, havendo paridade nos restantes
níveis escolares.

© Amnistia Internacional
Paridade no ensino superior
Em alguns países a educação das raparigas é preterida à dos
rapazes.
Apesar dos dados serem muito positivos,
é preciso não esquecer que este terceiro
Objectivo de Desenvolvimento do Milénio
exige paridade total e longe destes va-
lores estão países da África Subsariana,
do Sul da Ásia e da Oceânia. Além disso,
é preciso recordar que esta Meta dos
ODM estabelecia o prazo preliminar de
2005 e, na altura, a educação primária
e secundária não era universal, apesar
de a primeira poder ser alcançada até
2015 em todas as regiões, exceptuando
a Oceânia. Perante este cenário, o Objec-
tivo não deverá ser alcançado, mas os
Os números indicam a quantidade de raparigas que frequentam o ensino primário, secundário ou superior por cada 100 rapazes a estudar números demonstram que é possível
no mesmo nível de escolaridade.
evoluir se houver vontade política.
14 Notícias • Amnistia Internacional

Objectivo 4: Reduzir a mortalidade infantil falecimentos para o mesmo rácio. Núme-


ros que são apenas os mínimos conheci-
Meta 6: Reduzir em dois terços a taxa de mortalidade das crianças com menos de dos, pois a realidade estima-se que seja
cinco anos bem mais cruel.
Tal como na Meta anterior, também aqui
estão bem identificadas as causas da
mortalidade materna nas regiões em
desenvolvimento: 35% por hemorragias;
18% por tensão alta e 18% por causas
indirectas, como a malária, o SIDA e
problemas de coração. A maioria destas
situações seria contornada se as grávi-
das fossem assistidas por pessoal médi-
co qualificado, com acesso aos equipa-
mentos necessários. No entanto, indica
o Relatório de 2010 dos ODM: enquanto
nos países desenvolvidos 99% dos par-
tos têm a assistência devida, nos que
Os números indicam a taxa de mortalidade infantil (de crianças com menos de cinco anos) por cada 1.000 nascimentos, no ano de 1990 estão em desenvolvimento apenas 63%
e em 2008 (últimos dados disponíveis). das parturientes têm tal privilégio.
Se olharmos para a divisão regional da
Os números no mapa demonstram bem valores na ordem das 72 mortes em cada taxa de mortalidade materna, há sinais
que a mortalidade de crianças com me- mil nados-vivos, entre as crianças com positivos a assinalar, como o facto de a
nos de cinco anos foi fortemente reduzida menos de cinco anos. Uma divergência maior parte das regiões ter conseguido
entre 1990 e 2008 (últimos dados dis- que é ainda mais gritante se referirmos reduzi-la, algumas, como a Ásia Orien-
poníveis), um pouco por todo o mundo. que metade das 8,8 milhões de mortes tal, o Norte de África e o Sudeste Asiáti-
Em termos globais, se nos anos 90 por infantis assinaladas no mundo ocorrem co, de forma significativa. No entanto, o
cada 1.000 nascimentos se registavam na África Subsariana. Acrescente-se progresso não é suficiente para “reduzir
90 mortes infantis, em 2008 este número que, a nível global, dos 34 únicos países em três quartos a taxa de mortalidade
caiu para as 65. Em termos absolutos, cuja taxa de mortalidade infantil excede materna”, só alcançável se no mundo
isto significa uma queda na mortalidade os 100 por cada 1.000 nascimentos, inteiro houvesse um declínio anual na
infantil de 12,5 para 8,8 milhões. Além apenas um, o Afeganistão, não pertence ordem dos 5,5%. Regiões como a África
disso, entre 2000 e 2008 o Relatório das a esta região. Isto significa que em toda Subsariana e o Sul da Ásia estão longe
Nações Unidas refere o aumento do de- a África a sul do Sara morre uma crian- desta possibilidade e mesmo em ter-
clínio anual da mortalidade infantil, que ça por cada sete que nascem, antes de mos globais a mortalidade materna só
até aqui era de 1,4%, passando a ser de completar os cinco anos de idade. Uma diminuiu de 430 mortes, registadas em
2,3%. Valores mesmo assim insuficientes vez mais é importante referir que esta 1990 por cada 100.000 nascimentos,
para “reduzir em dois terços a taxa de seria uma Meta alcançável com preven- para as 400, em 2005.
mortalidade das crianças com menos de ção e tratamento.
cinco anos”. Como comprova o mapa, a
Meta só deverá ser alcançada no Norte
de África e nos países da América Latina
Objectivo 5: Melhorar a
e do Caribe. Isto quando, ressalve-se, saúde materna
43% das mortes infantis são causadas Meta 7: Reduzir em três quartos a taxa
por pneumonia, diarreia, malária ou de mortalidade materna
SIDA, que são doenças contornáveis com
prevenção e tratamento, nomeadamente À semelhança da mortalidade infantil,
com alimentação adequada, medica- também na mortalidade materna – a
mentos, hidratação, redes mosquiteiras morte de mulheres devido a complica-
e vacinação. ções relacionadas com a gravidez ou o
parto – é gritante a diferença entre os
Além disso, nesta Meta dos ODM é funda- países desenvolvidos e os considerados
mental registar a forte disparidade entre em desenvolvimento. Os números falam
os países desenvolvidos e os que estão por si: enquanto no primeiro conjunto de
em desenvolvimento. Para se ter uma Estados se registavam, em 2005 (últi-
ideia, em 2008 os primeiros registavam mos dados disponíveis), 9 mortes entre
6 mortes infantis por cada 1.000 nasci- as mães por cada 100.000 nascimentos,
mentos, enquanto os segundos tinham no segundo os valores ascendem aos 450 Korotoumou, de 32 anos, dirigiu-se à clínica local para fazer o parto. Grávida de gémeos,
e a parturiente teve de ser levada para o hospital. O bebé não resistiu à viagem.
Notícias • Amnistia Internacional 15

2006, quando chegou aos 3,5 milhões,


tendo depois começado a reduzir até
chegar, em 2008 (últimos dados dis-
poníveis), aos 2,7 milhões. Em termos
de mortalidade associada ao vírus, os
dados mostram também uma redução,
desta vez desde 2004, quando houve 2,2
milhões de pessoas a morrerem devido
ao VIH/SIDA, tendo este número caído
em 2008 para os 2 milhões. Ao mesmo
tempo aumenta o número de pessoas
que conseguem viver com o Síndrome
de Imunodeficiência: em 1990 eram 7,3
milhões e em 2008 chegavam aos 33,4
milhões, muito graças à terapia anti-
Os números indicam a taxa de mortalidade materna por cada 100.000 nados-vivos, no ano de 1990 e em 2005 (últimos dados dis-
poníveis). -retroviral. Contudo, o VIH/SIDA continua

Meta 8: Alcançar o acesso universal a


serviços de saúde reprodutiva
Tendo percebido que boa parte da res-
ponsabilidade pela mortalidade materna
pode ser atribuída à falta de acesso a cui-
dados de saúde reprodutiva, surpreende
verificar que nos países em desenvolvi-
mento 80% das mulheres tinha tido, em
2008 (últimos dados disponíveis), cuida-
dos pré-natais pelo menos uma vez. No
entanto, o Relatório de 2010 das Nações
Unidas esclarece que o progresso não foi
igualitário e que se registam fortes dis-
paridades entre as mulheres das famí-
lias mais abastadas e as mais pobres. Os números indicam a percentagem de mulheres que receberam, pelo menos uma vez, cuidados pré-natais durante a gravidez, por pes-
soal de saúde qualificado, em 1990 e no ano 2008 (últimos dados disponíveis).
Para que se perceba, basta referir que
entre as primeiras, 90% tinha em 2008
acesso a cuidados pré-natais, enquanto ou nas zonas rurais, pois 67% das que a ser a doença infecto-contagiosa que
nas segundas apenas 55% teve a mes- viviam nas cidades em 2008 eram me- mais mata no mundo.
ma oportunidade. O mesmo se passou ao dicamente assistidas quatro ou mais Por isso mesmo, o progresso registado
nível das mulheres a habitar nas cidades vezes durante a gravidez, enquanto no não é suficiente para se cumprir total-
mundo rural o acesso frequente chegava mente esta Meta dos ODM, conforme
apenas a 34%. Dados que só por si são demonstra o mapa. Até porque ana-
suficientes para concluir que – apesar de lisando o cenário regional, a realidade é
o acesso a serviços de saúde reprodutiva bem mais dramática do que a revelada
ter crescido de 64%, em 1990, para os pelos números mundiais. Segundo os úl-
referidos 80%, em 2008 – a Meta 8 dos timos dados disponíveis, dos 2,7 milhões
ODM não deverá ser alcançada. de novos infectados, 72% (1,9 milhões)
pertencem à África Subsariana. É tam-
bém esta a região que abriga 67% de
Objectivo 6: Combater todas as pessoas do mundo actualmente
o VIH/SIDA, a malária e infectadas com o VIH/SIDA. Isto quando,
outras doenças acrescente-se, das 10 regiões anali-
Meta 9: Parar e inverter a propagação sadas pelo Relatório de 2010 dos ODM
a África Subsariana é a que apresenta
do VIH/SIDA
melhores resultados no conhecimento da
Nos últimos anos, a propagação do população sobre o vírus: 24% das jovens
VIH/SIDA parece estar a estabilizar em e 33% dos rapazes destes países, com
grande parte do mundo. A provar isto idades entre os 15 e os 24 anos, possuem
© Anna Kari mesmo estão os novos infectados, cujo informação adequada sobre o VIH/SIDA.
, o primeiro, uma menina, nasceu normalmente, mas o segundo estava mal posicionado número foi crescendo a nível global até Valores acima da média para os Países
16 Notícias • Amnistia Internacional

precisamente nesses países que houve


um maior esforço em difundir a terapia
anti-retroviral. Só assim foi possível que,
em 2008, o tratamento chegasse a 44%
dos necessitados, ou seja, a quase três
milhões de pessoas, quando em 2005 só
estava disponível para 14% e em 2003
para 2%. Apesar dos esforços estarem a
ser bem direccionados, indica o Relatório
de 2010 dos ODM que “por cada dois in-
divíduos que a cada ano começam trata-
mento, cinco novas pessoas são infecta-
das”. Uma taxa de infecção que uma vez
mais vem provar que a aposta tem de ser
na prevenção.
Os números indicam a prevalência do VIH/SIDA em adultos (com idades entre os 15 e os 49 anos), em 1990 e em 2008 (últimos dados
disponíveis).

em desenvolvimento, que se situa nos


19% de conhecimento para as raparigas
(menos de um quinto da totalidade) e
31% para os rapazes (menos de um terço
da totalidade).
Meta 10: Alcançar o acesso universal
ao tratamento do VIH/SIDA para todos
aqueles que dele necessitam, até 2010
Esta é uma das Metas dos ODM que têm
como prazo o ano de 2010. Sendo assim,
e olhando para os números apresentados
no mapa, torna-se claro que até Dezem-
bro não será alcançada. E nem os dados
mais genéricos são mais animadores,
© Emily Fairweather
pois nos países em desenvolvimento de
Centenas de crianças em todo o mundo morrem por doenças como o VIH/SIDA e a tuberculose.
forma genérica, em 2008 (últimos dados
disponíveis), recebiam tratamento para o
VIH/SIDA 42% dos necessitados, ou seja, só chegava a 33% dos necessitados, em Meta 11: Parar e inverter a tendência
ficavam excluídas mais de cinco milhões 2005 a 16% e em 2003 a 7%. actual da incidência da malária e de
de pessoas. Valores ainda muito baixos, outras doenças graves
Sendo a África Subsariana a região mais
mas que, é preciso reconhecer, nos últi- problemática em termos de Síndrome de Informa o Relatório de 2010 relativo aos
mos anos tiveram uma evolução digna de Imunodeficiência Adquirida, como revela ODM que a seguir ao VIH/SIDA, a doença
registo: em 2007 a terapia anti-retroviral a Meta anterior, é de ressalvar que foi que mais mata no mundo é a tubercu-
lose. Segundo dados de 2008, últimos
disponíveis, havia em todo o mundo 11
milhões de pessoas com a doença (140
por cada 100.000) e 1,8 milhões morre-
ram nesse ano. Metade estava infectada
com o VIH/SIDA, pelo que não é de es-
tranhar que, à semelhança do que foi
referido na Meta 9, também para a tu-
berculose a realidade regional seja mais
dramática do que a global, com a maior
parte dos infectados a pertencerem a
países em desenvolvimento. Para que se
perceba a diferença, registe-se que nes-
tas regiões, em 2008, havia 210 casos
de tuberculose por 100.000 habitantes,
enquanto no mundo desenvolvido se
Os números indicam a percentagem de população infectada com o vírus do VIH/SIDA e a receber terapia anti-retroviral, em 2005 identificaram 9 para a mesma amostra.
(primeiros dados disponíveis) e 2008 (últimos dados disponíveis).
Notícias • Amnistia Internacional 17

por um lado, inverter a tendência para


a desflorestação – isto é, para a trans-
formação de florestas em terreno para
outras utilizações – e tal tem vindo a
acontecer nos últimos anos. Desde o ano
2000 que se perdem anualmente 13 mi-
lhões de hectares de floresta em todo o
mundo, quando na década de 90 a perda
se cifrava nos 16 milhões de hectares
por ano. Para tal muito têm contribuído
programas de plantação de árvores,
como os que ocorreram em países como
a China, a Índia e o Vietname.
Importante também é ter em conta as
Os números indicam a quantidade de pessoas com tuberculose por cada 100.000 habitantes, em 1990 e 2008 (últimos dados dis- emissões de CO2, uma das principais
poníveis).
responsáveis pelas alterações climáti-
cas, que se não for combatida, alerta
Tal como acontece com o VIH/SIDA, a pior Objectivo 7: Assegurar o Relatório das Nações Unidas: “a ex-
situação é a da África Subsariana, que é a sustentabilidade posição que daí resulta aos raios ultravio-
a única região do mundo onde o número leta do sol irá provavelmente levar a um
de infectados com tuberculose tem au-
ambiental aumento de mais 20 milhões de casos de
mentado, precisamente porque con- Meta 12: Integrar os princípios do de- cancro de pele e 130 milhões de casos
tinuam a crescer os que contraem o VIH/ senvolvimento sustentável nas políti- de cataratas nos olhos; e irá também
SIDA. A mesma discrepância regional é cas e programas nacionais e inverter a causar danos nos sistemas imunitários
registada para a malária, uma vez que actual tendência de perda de recursos humanos, na vida selvagem e na agri-
89%, das 863 mil mortes associadas à ambientais cultura”. Hipóteses cada vez mais reais,
doença em 2008, aconteceram no Con- Quando se perspectivam os Objectivos uma vez que o aumento das emissões de
tinente Africano. Factos que tornam im- de Desenvolvimento do Milénio é funda- CO2 são evidentes: em 2007 (últimos da-
possível alcançar a Meta dos ODM. mental “assegurar a sustentabilidade dos disponíveis) foram emitidas 30 mil
ambiental”, uma vez que “os destinos milhões de toneladas de dióxido de car-
Há, no entanto, motivos para ter espe-
das pessoas e do ambiente estão inter- bono, num aumento de 35% em relação
rança, uma vez que, revela o Relatório
ligados”, pode ler-se na página oficial na a 1990. Ao contrário da maioria dos ODM,
de 2010 dos ODM, tem ficado provada
Internet da Campanha Objectivo 2015, neste caso os piores valores registam-se
a correlação entre o decréscimo na in-
que representa em Portugal a UN Mille- nos países mais desenvolvidos. Como
cidência de doenças como a tuberculose
nium Campaign. Para tal é fundamental, sinal de esperança continua o Protocolo
e a malária e a ajuda externa, uma vez
que permite investir em redes mosquitei-
ras e no tratamento. A titulo de exemplo,
refira-se que para a malária o financia-
mento externo aumentou de 0,1 mil mi-
lhões de dólares americanos, em 2003,
para os 1,5 mil milhões, em 2009, e tal
significou uma queda de 50% no número
de mortos em muitos países. Continua-
-se, no entanto, longe dos 6 mil milhões
de dólares necessários para “parar e
inverter a tendência actual da incidên-
cia da malária” e as próprias Nações
Unidas têm revelado que, ao contrário do
que acontece no VIH/SIDA, grande parte
dos fundos estão a ser distribuídos para
países pequenos e com menor incisão
destas doenças graves. Assim se explica
a evolução em regiões onde esta reali-
dade não era tão dura.

© UNHCR/H. Caux

Homens, mulheres e crianças fazem fila para receber a ração alimentar num campo de refugiados no Paquistão.
18 Notícias • Amnistia Internacional

de Montreal, de 1987, que prevê limitar perceber no mapa. Conclui o Relatório


a produção e o consumo de substâncias de 2010 dos ODM: “seguindo o progresso
que destroem a camada de ozono. actual, o mundo irá falhar a meta”. Em
2008 (últimos dados disponíveis), 39%
Meta 13: Reduzir a perda da biodiver-
da população mundial – 2,6 mil milhões
sidade, alcançando uma redução sig-
de pessoas – continuava sem acesso a
nificativa na taxa de perda até 2010
condições sanitárias básicas, enquanto
“O mundo falhou a meta que visava em 1990 esse número se cifrava nos
conservar a biodiversidade até ao ano 46%. Valores que se mantêm dramáti-
de 2010”, conclui o último Relatório dos cos, particularmente nos países em de-
ODM das Nações Unidas. A perda de senvolvimento, onde 52% da população
biodiversidade continua e para ela con- não tinha em 2008 acesso a saneamento
tribuem as elevadas taxas de consumo, a básico, num contraste chocante com os
perda de habitats, as espécies invasivas, 99% nos Estados desenvolvidos. Perante
a poluição e as alterações climáticas. esta realidade, o Relatório de 2010 dos
Os maiores responsáveis são os países ODM acrescenta: “o saneamento e a
mais industrializados, mas as principais água potável são normalmente de prio-
consequências são sentidas pelos mais ridade reduzida nos orçamentos domés-
pobres, que dependem directamente da ticos e na assistência ao desenvolvi-
diversidade de plantas e animais para a mento, apesar dos enormes benefícios
sua sobrevivência e modo de vida. para a saúde pública, para a igualdade
Meta 14: Reduzir para metade a per- de género, para a redução da pobreza e © Amnistia Internacional

centagem de população sem acesso para o crescimento económico”. Uma criança num bairro degradado do Quénia a beber os restos
de um sumo de alguém.
sustentável a água potável e sanea-
Acesso a água potável
mento básico
A manter-se a tendência actual, o
Relatório de 2010 dos ODM indica que é
possível que a parte da Meta que diz res-
peito ao acesso à água potável seja al-
cançável. No mundo desenvolvido, 100%
da população tem acesso a este bem es-
sencial, enquanto nos países em desen-
volvimento, em 2008 (últimos dados dis-
poníveis), as acessibilidades chegavam
aos 84% (em 1990 os números aponta-
vam para os 71%). Das 10 regiões anali-
sadas no documento das Nações Unidas,
quatro, assinaladas no mapa, tinham
alcançado a meta em 2008, enquanto
duas apresentavam as situações mais Os números indicam a percentagem de pessoas que utilizavam uma fonte de água segura, em 1990 e 2008 (últimos dados dis-
poníveis).
preocupantes: a África Subsariana e a
Oceânia. Nestes países é especialmente Acesso a saneamento básico
alarmante a situação nas zonas rurais,
uma vez que nas cidades a água potável
chegava em 2008 a 92% da popula-
ção, no caso da Oceânia, e a 83%, na
África a sul do Sara. Percentagens que
contrastam com os 37% de acesso nos
meios rurais da Oceânia e com os 47%
na África Subsariana. De forma genéri-
ca, nos países em desenvolvimento 8 em
cada 10 pessoas com acesso a água po-
tável estão em cidades.
Uma realidade mesmo assim bem dife-
rente da que se vive no acesso ao sanea-
mento básico – casas de banho, latrinas
ou outras –, como se pode desde logo
Os números indicam a percentagem de pessoas com acesso a saneamento básico, em 1990 e 2008 (últimos dados disponíveis).
Notícias • Amnistia Internacional 19

Meta 15: Alcançar uma melhoria significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões Na última década, os países em desen-
de habitantes de bairros degradados, até 2020 volvimento e, entre estes, os chamados
Países Menos Desenvolvidos ganharam
um maior acesso aos mercados dos Es-
tados com maior desenvolvimento, pois
estes, como forma de ajuda, aumentaram
a importação de produtos desses locais.
Se em 1998 as importações se cifravam
nos 54%, dez anos depois eram já na or-
dem dos 80%. Uma abertura do mercado
financeiro que muito se deveu à redução
ou eliminação de tarifas à entrada dos
produtos de alguns países em desenvol-
vimento (normalmente dos mais pobres).
Sinais positivos que o Relatório de 2010
teme agora terem ficado comprometi-
dos com a crise financeira que assolou
o mundo, pois logo em 2008 e 2009 foi
Os números indicam a percentagem de população urbana a viver em bairros degradados – aqui definidos como habitações que tenham registada uma quebra no volume de
pelo menos uma de quatro características: falta de água potável, falta de saneamento básico, excesso de habitantes (três ou mais por
quarto) ou a construção feita com materiais pouco duráveis – em 1990 e 2010.
negócios de quase todos os países em
desenvolvimento. Em termos mundiais
as exportações caíram também 23%,
Num primeiro olhar sobre os bairros podiam até ser suficientes para alcançar mas no mundo em desenvolvimento o
degradados – entenda-se, locais onde a Meta dos ODM, não fosse o crescimento declínio foi de 31%.
as habitações têm pelo menos uma de demográfico. Por isso mesmo, as Nações
quatro características: falta de água Unidas pedem no Relatório de 2010 dos Meta 17: Atender às necessidades espe-
potável, falta de saneamento básico, ODM a redefinição desta Meta, defen- ciais dos países em desenvolvimento
excesso de habitantes (três ou mais dendo que 100 milhões de pessoas são Meta 18: Atender às necessidades es-
por quarto) ou a construção feita com apenas 10% das que vivem actualmente peciais de países em desenvolvimento
materiais pouco duráveis –, a evolução em bairros degradados e os ODM deviam interiores [sem mar] e aos pequenos
parece ter sido suficiente para alcançar querer ir mais longe. Estados insulares em desenvolvimento
a Meta dos ODM: nos países em desen-
As duas Metas dos ODM têm implícita
volvimento, a percentagem de pessoas a Objectivo 8: Desenvolver a ajuda dos países mais desenvolvidos
viver em bairros degradados nas cidades uma parceria global para aos que estão em desenvolvimento. Em
passou de 46%, em 1990, para 33%,
este ano de 2010, ou seja, 200 milhões
o desenvolvimento 2009, os Estados membros do Comité de
Ajuda ao Desenvolvimento, da Organiza-
melhoraram as condições de vida. No Meta 16: Desenvolver um comércio e
ção de Cooperação e Desenvolvimento
entanto, é preciso ter em conta o cresci- sistema financeiros abertos, baseados
Económico (OCDE), deram para Ajuda
mento demográfico, por isso, em termos em regras, previsíveis e não discrimi- Pública ao Desenvolvimento (APD) um
absolutos, os números revelam um au- natórios total de 119,6 mil milhões de dólares
mento na quantidade de pessoas a vi-
verem em bairros degradados nos países
em desenvolvimento: que hoje estima-se
que ascendam aos 828 milhões, quando
em 1990 eram 657 milhões.
Valores que não espantam os analistas
das Nações Unidas, que tornam a lem-
brar a crise económica e financeira, que
começou precisamente no sector imobi-
liário e veio provocar um forte corte nos
apoios à compra de habitação. Uma situa-
ção que se sente um pouco por todo o
mundo, mas que é particularmente grave
nas zonas mais pobres, como a África
Subsariana, onde 62% da população ur-
bana vive em condições muito precárias,
e no Sul da Ásia. Nas outras regiões men-
cionadas no Relatório de 2010 dos ODM
os bairros degradados acolhem um terço © Amnistia Internacional
da população urbana. Percentagens que Crianças à saída da escola num dos muitos bairros degradados existentes no Quénia.
20 Notícias • Amnistia Internacional

americanos, equivalentes a 0,31% do nada a APD. Tudo isto pode comprometer muito mais altos”. Para se ter uma ideia,
rendimento nacional bruto combinado. ainda mais os restantes ODM. acrescenta o documento que em 33 paí-
Números que continuam muito abaixo ses em desenvolvimento analisados “os
Meta 19: Tratar de forma integrada
das Metas propostas pelos ODM, que preços mais baixos dos genéricos do sec-
o problema da dívida dos países em
implicavam o compromisso de a maioria tor privado custam seis vezes mais que
desenvolvimento, através de medidas
dos países doarem 0,7% do seu rendi- o preço internacional de referência”. As-
nacionais e internacionais, de forma a
mento nacional bruto. Em 2009 só cinco sim, em termos de medicamentos acaba
tornar a sua dívida sustentável a longo
o fizeram: Dinamarca, Holanda, Luxem- por acontecer o mesmo que na vacina-
prazo
burgo, Noruega e Suécia. Isto apesar ção: aumentou nos últimos anos a ajuda
de o maior volume de dinheiro doado Nas duas metas anteriores foi possível externa e a entrega, mas a distribuição é
continuar a provir dos Estados Unidos perceber que a Ajuda Pública ao Desen- feita de forma discriminatória, chegando
da América, seguindo-se a Alemanha, a volvimento aumentou em termos percen- menos aos mais pobres, que habitam zo-
França, o Japão e o Reino Unido. tuais desde 2008 e tal deve-se, em grande nas rurais e têm níveis muito baixos de
parte, ao alívio da dívida externa acumu- educação, indica o Relatório de 2010 dos
lada dos países em desenvolvimento. ODM.
Um aspecto fundamental para os ODM,
Meta 21: Tornar acessíveis os benefí-
uma vez que a dívida afecta a confiança
cios das novas tecnologias, em espe-
e o acesso ao crédito, tornando o Estado
cial das tecnologias de informação e
mais vulnerável aos choques económicos.
comunicação, em cooperação com o
Mesmo assim, indica o Relatório de 2010
sector privado
dos ODM que “os encargos com a dívida
externa têm-se mantido muito abaixo dos Olhando apenas para duas das ferra-
níveis históricos”, especialmente para os mentas de Tecnologias de Informação e
Estados eleitos pela Iniciativa Países Comunicação actualmente existentes, é
Pobres Altamente Endividados (ou HIPC, possível perceber a evolução do mundo
na sigla internacional). São estes os a este nível. Começando pelo telemóvel,
42 países que em 1996 tinham dívidas importa registar que globalmente 67 em
externas de valores insustentáveis e ne- cada 100 pessoas possui pelo menos um
gociaram com os seus credores através destes aparelhos, o que equivale a 4,6
da Iniciativa HIPC, lançada pelo Banco mil milhões da população mundial. Mais
Mundial e pelo Fundo Monetário Inter- incrível é perceber que o crescimento foi
nacional. Destes, 35 viram a sua dívida especialmente significativo nos países
reduzida em 57 mil milhões de dólares em desenvolvimento, pois actualmente
americanos e 28 receberam assistência 50% dos habitantes destes Estados têm
adicional de 25 mil milhões de dólares acesso a telemóvel. Uma mudança im-
americanos. Assim, “os encargos com a portante quando as linhas telefónicas
© Amnistia Internacional dívida dos países incluídos na Iniciativa fixas continuavam a ser muito limita-
Grávidas aguardam numa maternidade da Serra Leoa. HIPC estão abaixo da média dos restantes tivas. A título de exemplo vejam-se os
países menos desenvolvidos”, que por países da África Subsariana, onde 1%
Estas doações podem ser feitas perdoan-
não estarem “altamente endividados” dos habitantes tem acesso a linha de
do a dívida, através de ajuda humanitária
ficaram fora do alívio da dívida. telefone fixo, mas 30% possui telemóvel.
ou por projectos e programas de desen-
volvimento. Segundo o Relatório de 2010 Meta 20: Fornecer acesso aos medi- Uma implementação que poderia fazer
dos ODM estes últimos têm continuado camentos essenciais a preços aces- pensar que as novas tecnologias estão
a aumentar, mas em termos globais a síveis nos países em desenvolvimento, a chegar a todo o mundo, mas o acesso
ajuda externa subiu apenas 0,7% entre em cooperação com as empresas far- à Internet vem provar exactamente o
2008 e 2009, o que medindo em dólares macêuticas contrário e tornar a lembrar que ainda
americanos equivale, na verdade, a uma há, de um lado, países desenvolvidos,
Embora o Relatório de 2010 dos ODM
quebra de mais de 2%: de 122,3 mil e, do outro, países em desenvolvimen-
não faça referência clara a esta Meta,
milhões, em 2008, para os mencionados to. Para perceber a disparidade basta
a portuguesa Campanha Objectivo 2015
119,6 mil milhões, em 2009. Conclui o olhar para o ano de 2008 (últimos dados
lançou no ano passado o relatório Objec-
Relatório das Nações Unidas que, muito disponíveis), quando 68% das pessoas
tivos do Milénio: Onde estamos e o que
graças à crise económica e financeira, dos países mais desenvolvidos tinham
falta fazer?, onde refere: “alguns fabri-
“enquanto a maioria dos compromissos acesso à Internet, enquanto nos países
cantes [de medicamentos] baixaram os
iniciais continuam em força, alguns dos em desenvolvimento a World Wide Web
seus preços para os sistemas de saúde
maiores doadores reduziram ou adiaram só chegava a 15% da população. Mes-
pública nos países em desenvolvimento,
as promessas feitas para 2010”. Uma mo assim é de registar que houve uma
nivelando-os com o poder de compra
situação que vai afectar principalmente evolução significativa em relação a
dos governos e das famílias. Contudo,
os Países Menos Desenvolvidos do mundo 2003, quando apenas 5% das pessoas
a deficiente disponibilidade de medica-
– que segundo a lista das Nações Unidas dos países mais pobres tinham ligação
mentos no sector público obriga muitos
são actualmente 49 (33 em África, 15 na à Internet.
pacientes a comprar os medicamentos
Ásia e o Haiti) – para onde é direccio- no sector privado, onde os preços são
Notícias • Amnistia Internacional 21

QUÉNIA: VIVER A PORTAS MEIAS COM A VIOLÊNCIA


Escassos hectares são lar para milhões de pessoas que vivem sem qualquer acesso a serviços essenciais
como saneamento ou segurança pública. A Amnistia Internacional recolheu testemunhos dessa pobreza
Por Sara Coutinho

A procura por melhores oportunidades


económicas continua a ser a princi-
pal força motriz da migração para os
grandes centros urbanos e é ainda a
dura realidade na maior parte do conti-
nente africano.
O Quénia não é excepção. No entanto, a
chegada a Nairobi, capital queniana e
destino da maior parte dos migrantes do
país, pode rapidamente frustrar as ex-
pectativas de uma vida melhor. Regres-
sar nem sempre é uma opção uma vez
que, na maioria dos casos, não há casa
ou terreno para onde regressar e a dis-
criminação pode tornar-se insuportável. © Amnistia Internacional
Resta tentar. No Quénia as mulheres sofrem de discriminação no acesso ao emprego, ficando a grande maioria reduzida à possibilidade da venda de
produtos na beira da estrada.

ESTABELECIMENTOS INFORMAIS sob a constante ameaça do desaloja- mente para a proliferação da violência
mento forçado, frequentemente violento e nestas zonas residenciais.
Actualmente, mais de dois milhões de
sem qualquer mecanismo compensatório
pessoas vivem em bairros degradados No entanto, ainda que a violência seja
para as suas vítimas.
ou estabelecimentos informais em Nai- um problema generalizado, são as jo-
robi, capital do Quénia. Escassos hecta- Apesar de existirem projectos gover- vens e as mulheres que sofrem de forma
res que encaixam demasiadas pessoas namentais para o melhoramento dos particular, uma vez que a falta de estru-
em terrenos com sistemas de esgotos bairros degradados, muitos deles nem turas e serviços essenciais as torna mais
artesanais e a céu aberto, onde muitos sequer são reconhecidos pelo Governo vulneráveis à violência sexual e à vio-
vivem sem acesso a água potável, hos- como existentes, o que faz com que não lência com base no género. Exacerbada
pitais, escolas e outros serviços públicos só não constem dos planos de desenvol- pelos ambientes em que circulam e pelas
essenciais. Todas estas pessoas estão vimento urbano, como muitos destes pla- suas rotinas diárias, a violência contra
nos incluam o deslocamento de milhares as mulheres é endémica nos estabeleci-
de pessoas sem que lhes seja oferecida mentos informais de Nairobi.
uma alternativa viável.
Os investigadores da Amnistia Interna-
cional para o Quénia visitaram mais de
200 bairros degradados e entrevistaram
QUANDO A VIOLÊNCIA É A VIZINHA
mais de 130 mulheres, que ajudaram a
DO LADO
compreender a natureza deste problema
Mais de 50% dos residentes dos bair- e discutiram a necessidade de medidas
ros degradados do Quénia afirmam que abordem directamente a questão da
sentirem-se inseguros nas suas residên- violência.
cias. Pouco ou nenhum policiamento,
A maioria das entrevistadas revelou
falta de confiança no sistema, ausência
que o receio de violência está nos seus
de mecanismos compensatórios para as
próprios lares, por maridos ou parentes;
vítimas e desconhecimento da lei são al-
© Amnistia Internacional nas ruas, pela comunidade; e até mesmo
guns dos factores que inibem a denúncia
Na capital do Quénia mais de dois milhões de pessoas vivem em pelas forças de segurança, que por vezes
bairros degradados como este. de actos violentos, contribuindo directa-
22 Notícias • Amnistia Internacional

são as próprias perpetradoras de abusos Internacional revelaram que, para evi- acarretam um outro dilema para as
de natureza sexual ou outros actos de tar o percurso, recorrem a um sistema a mulheres: escolherem entre tratarem
violência. que chamaram “latrina voadora” e que as suas crianças, muitas vezes doentes
consiste em sacos de plástico onde são e obrigadas a permanecer em casa, ou
Para além disso, as mulheres sofrem
depositados os excrementos e que, pos- trabalharem para providenciar-lhes bens
também de discriminação no acesso ao
teriormente, são arremessados para fora de primeira necessidade.
emprego, conseguindo apenas trabalhos
da habitação, onde permanecem, a céu
casuais e mal remunerados. A maioria
aberto. EXIGIR DIGNIDADE
fica reduzida à venda de produtos na bei-
ra da estrada ou a trabalhos domésticos A falta de duches é apontada como sen- A pobreza é tanto causa, como conse-
onde são frequentemente assediadas, do ainda maior que a de casas de banho. quência, da violência sobre as mulheres.
vendo-se forçadas a suportar a situação Os espaços comunitários de higiene são As vítimas de violência perdem capaci-
sob pena de perderem a sua única fonte partilhados por dezenas de lares e rara- dade produtiva, empobrecendo as suas
de rendimento. mente observam condições mínimas de famílias, as comunidades e, por con-
seguinte, a sociedade. Para além disso,
a falta de recursos corresponde, muitas
vezes, a uma falta de alternativas à
permanência num ambiente violento e
abusivo.
As mulheres e jovens entrevistadas pela
Amnistia Internacional referem ainda a
necessidade de medidas que abordem,
de forma directa, a questão da violência,
nomeadamente, segurança pública, um
sistema judicial eficaz e programas que
assegurem a capacitação socioeconómi-
ca generalizada, particularmente no que
concerne mulheres e juventude.
© Amnistia Internacional
A Amnistia Internacional tem, desde
Uma mulher atravessa o curso de água poluído que corre no bairro degradado onde vive. Julho de 2009, uma campanha dedicada
em exclusivo aos bairros degradados de
A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO “Temos que sofrer a vergonha e a indigni- Nairobi, cujas metas passam pela adop-
dade de (...) tomar banho na sua presença ção de políticas de desalojamento alinha-
A insegurança sentida pelas mulheres [dos familiares], os nossos valores morais e das com os padrões internacionais de
deve-se, fortemente, à falta de serviços a nossa cultura não permitem isto – tomar Direitos Humanos, pelo reconhecimento
essenciais, tais como saneamento bási- banho particularmente em frente às nossas oficial destas zonas residenciais e pela
co, que aqui se refere tão-somente à fal- crianças”
integração das mesmas nos planos do
ta de instalações sanitárias e de higiene. Testemunha de Kibera, um dos maiores bairros governo queniano para o desenvolvimento
Um estudo encomendado pelo Banco degradados do Quénia
urbano. Agora centrada sobre a questão
Mundial em 2006 mostrou que cerca de da violência sobre as mulheres e sobre
58% dos residentes em bairros degrada- salubridade. Assim, a prática comum é a o necessário acesso ao saneamento, a
dos partilham instalações sanitárias e utilização da própria casa como duche o campanha da Amnistia Internacional
de higiene e que cerca de 6% não tem que, além da constrição óbvia associada vai também de encontro ao preconizado
qualquer acesso a saneamento básico. ao facto de se transformar habitações de nos Objectivos de Desenvolvimento do
As mulheres e jovens que habitam uma só divisão em balneários, levanta Milénio no que concerne a erradicação
nestes estabelecimentos são particu- questões de privacidade particularmente da pobreza extrema e, em particular, o
larmente afectadas pela falta de acesso sensíveis para as mulheres. acesso sustentável a água potável e sa-
adequado a casas de banho (latrinas) e A este acresce o problema da elevada neamento básico.
duches. Não só as mulheres têm necessi- incidência de doenças facilmente trans-
“Porque a pobreza não é permanente. A
dades físicas diferentes dos homens (por missíveis, como a cólera ou a disenteria, pobreza é algo que pode ser mudado”
exemplo, relacionadas com a menstrua- nestes bairros degradados. A falta de
ção), como requerem maior privacidade Michael Nyangi, residente em Kibera convidado
condições sanitárias ajuda à transmis- para falar perante as Nações Unidas
na utilização das latrinas e para a sua são destas doenças, que por sua vez
higiene pessoal.
A maioria tem que andar cerca de 300 SAIBA MAIS O QUE PODE FAZER
metros até chegar à latrina mais próxi-
A Amnistia Internacional lançou no pas- É urgente exigir maior segurança para
ma. A organização dos bairros em “corre- sado mês de Julho o relatório “Insecu- as mulheres dos bairros degradados do
dores” (um labirinto de passagens escu- rity and Indignity: Women’s experiences Quénia. Tudo o que tem de fazer é desta-
ras e apertadas entre o casario) faz deste in the slums of Nairobi, Kenya”, agora car o postal que encontra no interior des-
percurso uma viagem perigosa para as disponível em www.amnistia-internacio- ta revista e enviar ao Ministro de Estado
mulheres e jovens, particularmente à nal.pt (Aprender / Revista da Amnistia para a Administração das Províncias e
noite. As entrevistadas pela Amnistia Internacional) Segurança Interna.
Notícias • Amnistia Internacional 23

A Amnistia Internacional Portugal vista à lupa


Neste número do “Notícias da Amnistia Internacional Portugal” vamos conhecer mais um grupo local da
secção portuguesa: o 19, de Sintra. Fique ainda a par de algumas actividades desenvolvidas durante o
Verão

GRUPO LOCAL 19/SINTRA


Pelos Direitos Humanos desde 1989
Por Fernando Sousa, Coordenador do Grupo 19/Sintra

Em Novembro de 2009, quando voltou ao e manifestações em Madrid.


activismo pleno, o 19 não fazia ideia que
Não conseguiu saber nada do Omar
meses depois ajudaria a libertar o seu
Ahmed Oman, um engenheiro desa-
primeiro prisioneiro de consciência desta
parecido nas mãos da secreta egíp-
segunda fase de vida, o peruano Car-
cia, um caso de investigação, de 1992,
los Garay; ou que pelo meio contribuiria
partilhado com um grupo austríaco e
para a libertação do técnico israelita,
outro alemão; mas recebeu Mohammad
Mordechai Vanunu. Trabalha agora em
Nadrani, um “desaparecido” que as au-
dois casos da Guiné Equatorial, num to-
toridades marroquinas libertaram e que © Amnistia Internacional Portugal
tal de sete adopções, e pensa trabalhar
nos visitou em 1993. Os elementos do Grupo 19, numa manifestação contra a entrada
mais um. da Guiné Equatorial na CPLP - Comunidade dos Países de Língua
Em termos financeiros, o 19 bastava-se Portuguesa
A estrutura sintrense da Amnistia Inter-
devido a uma política que se resume as-
nacional (AI) Portugal nasceu, como Nú- Combatentes – Núcleo de Sintra para
sim: fizesse o que fizesse, pedia sempre
cleo, no dia 5 de Abril de 1989. Em Julho a partilha das suas instalações; re-
dinheiro ou vendia alguma coisa. Daí ter
de 1990 passou a Grupo, o décimo-nono começaram a ver-se, adoptaram um
tido quase sempre um confortável ex-
da secção, reunindo dezenas de activis- prisioneiro de consciência, fizeram uma
tracto bancário…
tas à volta de agendas ambiciosas e acção de formação, dividiram funções
quase sempre cumpridas. Enfim – o espaço não dá para contar e tarefas, arrumaram-se por subgrupos
tudo – o grupo sintrense, coordenado, conforme os objectivos. São agora 17, e à
Foram anos cheios, de campanhas, como
um após outro, por Fernando Sousa, espera de pelo menos mais sete adesões,
a primeira sobre Vanunu, de marchas,
Luís Galrão e Rui Palma, marcou a sua encontram-se de dois em dois meses e
como a de Alcobaça por Timor, de mani-
própria história com a Mostra anual de contactam regularmente por mail.
festações, de visitas a embaixadas, de
documentários de Direitos Humanos,
sessões públicas e em escolas, de pre- A libertação do Carlos Jorge Garay, em
sempre acompanhados de palestras, que
sença habitual nos media locais e na- Março, e, a seguir, a de Vanunu, provaram
teve oito edições – e agora voltou.
cionais, aqui com o agrément da secção que o rumo estava certo. O 19 trabalha
portuguesa da Amnistia Internacional, Mas este trabalho de anos derrapou nos agora para tirar da prisão Black Beach,
de programas em quatro emissoras, de Direitos Humanos dos próprios mem- na Guiné Equatorial, sete prisioneiros de
espectáculos de teatro e música clás- bros do 19, como o de crescer, estudar, consciência, e em mais uma Mostra de
sica, e de um monte de iniciativas sem namorar, casar e por aí fora. A conclusão Direitos Humanos que este ano vai ter
precedentes em Portugal, como tertúlias de cursos, os trabalhos, os bebés que uma estreia nacional – Hortas di Pobre-
temáticas, uma vez por mês, ou a dis- iam batendo à porta impuseram-se e o za, de Sara Correia de Sousa.
tribuição de bibliotecas de Direitos Hu- ímpeto activista sofreu, claro, com isso;
manos às escolas do concelho. quase hibernou, não fosse a continuação
da página e do blogue do grupo, e das FICHA TÉCNICA
A par do frenesim militante, que aliciou
sessões em escolas, que, essas, nunca Grupo Local 19/ Sintra
muitos novos membros, o Grupo 19 aju-
deixou de as fazer.
dou a secção na área da formação, um Coordenador: Fernando Sousa
pouco por todo o país, promovendo a De- Até que, em Novembro, membros mais
Local de encontro: Liga dos Comba-
claração Universal ou o Mandato, como antigos encontraram-se, acharam que
ainda se chamava, ou a criação de novos tarefas e reuniões a mais, e formação a tentes – Núcleo de Sintra
núcleos. Transformou-se quase numa es- menos, podem conduzir à morte, senão Periodicidade das Reuniões:
trutura-local-quase-nacional. Participou de um grupo pelo menos do activismo, Bimestrais
até lá fora em sessões da AI em Badajoz assinaram um acordo com a Liga dos Contacto: ai.grupo19@gmail.com
24 Notícias • Amnistia Internacional

Festivais de Verão GRUPOS E NÚCLEOS DA AMNISTIA INTERNACIONAL

Aliar os Direitos Humanos à Música (grupo, localidade, coordenador, email, blogue)

GRUPO LOCAL 01 (Lisboa)


Nos meses de Verão a Amnistia Interna- Stand Up United. Os “jogadores” são 11 Coordenador a designar: grupo1.aiportugal@gmail.
cional Portugal não pára! E se uma boa defensores dos Direitos Humanos que têm com; http://grupo1aiportugal.blogspot.com/
parte dos portugueses está, nessa al- feito um trabalho ímpar e que, por isso, GRUPO LOCAL 03 (Oeiras)
Lucília-José Justino: zjustino@gmail.com
tura, nos tão famosos Festivais de Verão, vivem sob constante ameaça. Conheça- GRUPO LOCAL 06 (Porto)
há vários anos que fazemos questão de -os e junte-se a esta causa! Visite http:// Virgínia Silva: aiporto6@gmail.com; http://aiporto.
marcar também presença para falar de estadiovirtual.amnistia-internacional. blogspot.com
Direitos Humanos. Um tema que não tira pt/ até Dezembro. GRUPO LOCAL 14 (Lourosa)
Valdemar Mota: aigrupo14@gmail.com
férias! Recolher rostos para o estádio virtual foi GRUPO LOCAL 16 (Ribatejo Norte)
Este ano de 2010 a secção portuguesa então o objectivo principal das equipas Yvonne Wolf: yvonne_wolff@adsl.xl.pt
GRUPO LOCAL 18 (Braga)
começou por estar, em simultâneo, no da Amnistia Internacional em Paredes José Luís Gomes: ai18portugal@hotmail.com
Norte e Sul do país, nos dias 28 a 31 de de Coura e Sines. Uns dias mais tarde GRUPO LOCAL 19 (Sintra)
Julho. A Norte para o Festival de Paredes seguimos viagem, pela primeira vez, Fernando Sousa: ai.grupo19@gmail.com; http://blog-
de Coura e a Sul para o Músicas do Mun- para o Andanças-Festival Internacional 19.blogspot.com ; http://grupo19aisp.no.sapo.pt
do, em Sines. Nos dois espaços a Amnis- de Danças Populares, que todos os anos GRUPO LOCAL 24 (Viana do Castelo)
Luís Braga: luismbraga@sapo.pt
tia esteve presente com uma banca de leva ritmos do mundo a São Pedro do Sul. GRUPO LOCAL 32 (Leiria)
divulgação e venda de merchandising e Entre os dias 4 e 8 de Agosto a Amnistia Maria Fernanda Ruivo: fernanda.ruivo@sapo.pt
com a acção “Mundial de Futebol 2010”, esteve a recolher mensagens sobre Direi- GRUPO LOCAL 33 (Aveiro)
lançada em Junho por ocasião da com- tos Humanos junto dos festivaleiros, que Alexandra Monteiro: amnistiaveiro@gmail.com;
http://amnistiaveiro.blogspot.com/
petição que teve lugar na África do Sul. foram escritas em post its – imagem de GRUPO LOCAL 34 (Matosinhos)
À semelhança do país africano, também marca do movimento – e coladas num Querubim Reisinho: amnistia.matosinhos@gmail.
a Amnistia Internacional construiu um mural alusivo aos Direitos Humanos. com; http://nucleodematosinhos.blogspot.com/
estádio. Este, porém, é virtual e conta já Foi assim a passagem da Amnistia In- NÚCLEO DE ALMADA
com a presença de 521 defensores dos ternacional Portugal pelos Festivais de Marlene Oliveira da Conceição: ai.nucleoalmada@
Direitos Humanos. Pessoas que coloca- Verão. É caso para dizer: para o ano há gmail.com; http://ai-nucleoalmada.blogspot.com/
ram o seu rosto nas bancadas do estádio mais! NÚCLEO DE ARCOS DE VALDEVEZ
que visa apoiar uma equipa diferente: a Rui Mendes: rbritomendes@gmail.com
NÚCLEO DE CASTELO BRANCO
(a designar): ai_nucleo_castelobranco@yahoo.com;
http://amnistiacastelobranco.blogspot.com/
NÚCLEO DE COIMBRA
Bárbara Barata: nucleoaicoimbra@gmail.com
NÚCLEO DE CRIANÇAS (Vila Nova de Famalicão)
Vitória Triães: aip.ibeji@gmail.com
NÚCLEO DE ESTREMOZ
Maria Céu Pires: amnistiaetz@gmail.com
NÚCLEO DE GUIMARÃES
Cristina Lima: amnistia.guimaraes@gmail.com
NÚCLEO DO OESTE / CALDAS DA RAINHA
© Amnistia Internacional Portugal Teresa Mendes: ai.nucleooeste@gmail.com; http://
aioeste.blogspot.com
NÚCLEO DO PORTO
Plataforma por Darfur André Rubim Rangel: nucleo.ai.porto@gmail.com
NÚCLEO DE TORRES VEDRAS
Uma batida pela paz Ana Lopes: aitorresvedras@gmail.com; http://blog.
comunidades.net/aitorresvedras
Manteve-se activa durante o Verão a anos, o que originou, para além de mi- GRUPO SECTORIAL EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS
HUMANOS
campanha “Sudão 365” da Plataforma lhares de mortes, pelo menos quatro mi- Fernanda Sousa: mfpsousa@gmail.com
por Darfur, da qual a Amnistia Interna- lhões de pessoas a viverem deslocadas CO-GRUPO DA CHINA
cional Portugal faz parte. O vídeo “Uma dentro do seu próprio país, amontoando- Maria Teresa Nogueira: nogueiramariateresa@gmail.
batida pela paz” – disponível em www. -se em condições precárias em campos com
CO-GRUPO SOBRE CRIANÇAS
sudan365.org – foi divulgado no Festival de refugiados. É para tentar mudar o seu Manuel Almeida dos Santos: manuelalmeidasantos@
de Paredes de Coura e pretende chamar futuro que trabalha a Plataforma por netnovis.pt
a atenção do mundo para o drama hu- Darfur, com uma aposta forte na educa- CO-GRUPO DA PENA DE MORTE
manitário que se continua a viver no ção. Actualmente tem dois projectos: um Coordenador a designar: ai.contrapenademorte@
gmail.com; http://contrapenademorte.wordpress.com
Darfur, Sudão. Uma situação que pode em Nyala, denominado “Uma escola para GRUPO DE JURISTAS
agravar-se nos próximos meses, com Nyala”, outro em Cartum, com as esco- Sónia Pires: sonia.c.pires@gmail.com
a aproximação da data marcada para las “Salvem os Oprimidos”. Saiba como NÚCLEO LGBT
o referendo que irá dar à população a ajudar em http://pordarfur.com/pt/go/ Manuel Magalhães: lgbt.amnistia@gmail.com;
http://lgbtamnistia.blogspot.com
possibilidade de escolher se pretende como-ajudar-darfur. A Plataforma inclui,
a independência do sul do país. Refira- para além da Amnistia, a Associação Se ainda não existe um grupo da Amnistia Interna-
-se que esta zona é habitada sobretudo Mãos Unidas Padre Damião, a Comissão cional Portugal perto de sua casa, pode sempre ser
por negros, não seguidores do Islão, en- Justiça e Paz dos Religiosos, a Fundação pioneiro e começar o activismo na sua localidade.
quanto o Norte, onde está o Governo, é AIS, a Fundação Gonçalo da Silveira, os Fale connosco pelo boletim@amnistia-internacion-
al.pt ou ligando 213 861 652.
dominado por árabes muçulmanos. Missionários Combonianos e a Rede Fé e
Dois povos que lutam há mais de 20 Justiça África-Europa.
Notícias • Amnistia Internacional 25

JOVEM
PORTUGAL ACOLHE ENCONTRO EUROPEU DE JOVENS
Entre 26 de Julho e 2 de Agosto, a secção portuguesa da Amnistia Internacional foi a anfitriã do Encontro
Europeu de Jovens da organização, que juntou em Lisboa 21 países. O “Notícias da Amnistia Internacio-
nal Portugal” foi espreitar o evento... O Encon
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Entre 26 de Julho e 2 de Agosto, a Pousa- de Jovens, cujo conceito remonta a 2007, Suíça, Irlanda e nos países nórdicos. No
da da Juventude de Almada respirou recorda Benjamin Titze, da Direcção da entanto, este seria um evento diferente,
multiculturalismo ao receber o Encontro Amnistia Internacional Alemanha, na uma vez que teria de ser Pan-Europeu,
Europeu de Jovens da Amnistia Interna- altura Coordenador da Juventude. Em ou seja, “estar aberto a todas as secções
cional, de que Portugal foi pela primeira conversa com o “Notícias da Amnistia e estruturas europeias da Amnistia In-
vez anfitrião. Meia centena de jovens, Internacional Portugal” explica que em ternacional”, enquanto os anteriores
maiores de 18 anos, chegaram a Lis- Dezembro de 2007 decorreu uma reunião juntavam apenas as que já tinham maior
boa vindos de 21 secções europeias da de Grupos de Jovens da organização, em contacto. Na proposta então realizada
Amnistia Internacional. O objectivo era Paris, para “discutir como fortalecer o para o Encontro Europeu de Jovens pode
“fomentar o trabalho dos jovens do movi- trabalho dos jovens na Europa e a cola- ler-se: “vai oferecer aos participantes, de
mento”, referiu Luísa Marques, Directora boração entre as várias estruturas euro- muitos contextos culturais e nacionais
de Campanhas e Estruturas da secção peias da Amnistia”. Decidiu-se instituir diferentes, a oportunidade de se reuni-
portuguesa da Amnistia. A responsável aquilo a que se chamou Acampamento rem, trocarem experiências e participa-
pelo Encontro espera agora que as li- de Verão Europeu, hoje Encontro Europeu rem num projecto educativo informal”.
gações criadas “dêem frutos e que no de Jovens, a realizar-se de dois em dois
Foi exactamente isso que aconteceu
futuro os jovens consigam trabalhar em anos.
em 2008, em França, e se repetiu este
Rede, não só a nível nacional, mas com
A ideia não era nova, uma vez que desde ano, em Almada, Portugal, do primeiro
outras secções”. Um objectivo que esteve
2001 já tinham sido organizados en- ao último dia. O Encontro começou
na génese do próprio Encontro Europeu
contros de jovens na Eslovénia, Israel, com uma reunião de Coordenadores de
26 Notícias • Amnistia Internacional

Grupos de Jovens, a 26 e 27 de Julho, no papel que os jovens podem ter para


e no dia seguinte, chegaram dezenas a promover”. Aliou-se a isto o facto da GRUPOS DE ESTUDANTES DA
de outros participantes, todos ligados secção italiana trabalhar muito a questão AMNISTIA INTERNACIONAL
ao movimento, para aprenderem mais dos ciganos e os workshops foram orien- PORTUGAL
sobre Direitos Humanos e trocarem ex- tados por forma a que, no final do En- (Coordenadores e emails/blogues)
periências de activismo. O programa do contro, os jovens pudessem sair às ruas
Encontro começou com workshops rela- de Lisboa e explicar como é possível que • GE DO COLÉGIO DE SÃO MIGUEL
cionados com a Pobreza, os Objectivos na moderna Europa centenas de ciga- (Fátima)
de Desenvolvimento do Milénio, a Diver- nos ainda vivam em estabelecimentos Sónia Oliveira: ai_csm@live.com.pt; aia-
sidade Social e Cultural e as Pessoas informais, constantemente deslocados teondepodemoschegar.blogspot.com
• GE DO COLÉGIO DIOCESANO DE NOSSA
em Movimento. Todos temas ligados à consoante a vontade dos Governos. Foi
SENHORA DA APRESENTAÇÃO (Calvão)
mais recente campanha da Amnistia para esta triste realidade que os 50 jo- Jorge Carvalhais: amnistia@colegiocal-
Internacional, “Exija Dignidade”, e mais vens alertaram, a 31 de Julho, no Largo vao.org
concretamente ao problema vivido pelos de Camões, em Lisboa. O convívio só • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ciganos na Europa. terminou no dia seguinte, com a troca ALBUFEIRA
de experiências sobre cooperação inter- Rosaria Rego: grupoestudantes_esa_
Uma orientação que Luísa Marques ex-
nacional e activismo juvenil. Ideias que, amnistiainternacional@hotmail.com;
plica: “já estava internacionalmente grupodaesaai.blogspot.com
prometeram os participantes, vão agora
decidido que o Encontro se focaria na • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA ANTERO
pôr em prática!
campanha da Dignidade e, a este nível, DE QUENTAL (S.Miguel, Açores)
Fernanda Vicente: fpacvicente@sapo.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
ERMESINDE
Maria Arminda Sousa: ai-ese@sapo.pt;
www.ai-ese.pt.vu
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE
FERNÃO MENDES PINTO (Almada)
Marta Reis: amnistia.internacional@
esfmp.pt
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA FILIPA DE
VILHENA (Porto)
Carla Ferreira: carlafariaferreira@
© Am hotmail.com
nistia
Intern
aciona • GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA MARIA
l Portu
gal
gal LAMAS (Torres Novas)
ernacional Portu Teresa Gomes: teresinha_mfrg@hotmail.
© Amnistia Int
com
• GE DA ESCOLA SECUNDÁRIA SANTA
eu de MARIA MAIOR (Viana do Castelo)
ip an te po rt ug ue sa no Encontro Europ Cristina Soares: crisoaresd@hotmail.
rtic
Márcia Bartolo, pa ..
ns , a pr op ós it o da reunião em Almada. com; amnistisiados.blogspot.com
Jove firmar de tudo o que
• GE DA FACULDADE DE DIREITO DE
que decorreu em Alem mada, foi o rea os anos. LISBOA
u de Jo ve ns , o dos últim
O Encontro Eu ta a Amnistia Internacional e o penh
ro pe Júlia Maurício: nucleoai.fdul@gmail.com
para mim represen es trabalham. O
de sa be r como outras secçõ criação • GE DO ISCTE
an te o en co nt ro tive a opor tu ni da de
a qu e, ap lic an do no vas técnicas, como,aem Por- Ana Monteiro: amnistiaiscte@yahoo.com
D ur stacar foi o de Itáli munidades Roma ou
exemplo por mim a deconseguiu abordar a situação das cofaixas etárias. O trabalho deles • ReAJ-REDE DE ACÇÃO JOVEM
lin e, s
de um jogo on ano, de forma atractiva para vária , depois de discutirmos bem o A designar: redejovem.amnistia@gmail.
tugal, do povo cigmote para a nossa acção de rua. Assim a atenção de todas
as formas com; www.reajportugal.blogspot.com
acabou por ser o à conclusão de que queríamos chamarde rua com música e palavras de
assunto, chegámoso criámos uma pequena peça de teatro as para evitar o desalojamento
possíveis. Para iss sso, angariámos centenas de assinaturámos um programa de rádio para
ordem. À parte di s, um pouco por toda a Europa, e cri argo de Camões].
destas comunidade-a-minuto o que acontecia na praça [L
seguirmos minuto suntos, como a cam-
du ra nt e a sem an a discutimos vários asObjectivos de Desen-
acção, has, os
Além de preparar aidade”, novas formas de fazer campano podíamos deixar de falar dos
pa nh a “E xij a D ign ni sti a e, cla ro , nã
nio e o papel da Am estes trabalham.
volvimento do Milé ssos países e de como s
grupos [locais] no s no
as noites arranjávcu amos novas maneira pre
tra ba lh o, to da s ltu ra l est ev e sem
e foi só a troca
Apesar de parecer .quDesde festas a visitas pela cidade, Se ainda não existe um Grupo da Amnis-
de no s di ve rti rm os
amizades também. , foi a tia Internacional na tua escola ou univer-
presente e as novas pa va to do s de um a maneira ou de outra . M uitas sidade, podes ser tu a criá-lo. Nós dize-
patente, e que preo cu resposta não tard ou
Algo que ficou bemmotivação e como combatê-la. Bem, aitações, mas quando nos encon- mos como... Escreve-nos para boletim@
ocasional falta de tir que só nós estamos a lidar com limos problemas, medos e desafios, amnistia-internacional.pt ou telefona
vezes podemos sen s de jovens que lidam com os mesm emanha, sentimo-nos validados para o 213 861 652.
tramos com dezenae vizinha ou mesmo de Israel ou da Al
sejam eles da cidad timo-nos parte de algo maior.
e acima de tudo sen
Notícias • Amnistia Internacional 27

Por Departamento de Angariação de Fundos e Financeiro

A Amnistia Internacional Portugal agradece a todos os que apoiam o trabalho em prol dos Direitos Humanos. É graças ao seu
contínuo apoio que a nossa secção consegue chegar mais longe no combate às violações dos Direitos Humanos, no nosso país e em
todo o mundo.

RECEITAS E DESPESAS
14.000
Apresentamos na tabela 1 os valores 12.464 12.553
de receitas e despesas da secção por- 12.000 11.378
tuguesa da Amnistia Internacional (AI), 10.000 8.132
correspondentes ao primeiro semestre de 8.000
2010. Neste período, a AI Portugal obteve 6.000 4.101
um saldo positivo no valor de 55.117,51 4.000
euros, tendo o valor das receitas aumen- 2.000
tado 21,3% e o valor das despesas 14,7% 0
relativamente ao mesmo período do ano Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010
(até Julho)
passado.
GRÁFICO 1: Evolução de Membros e Apoiantes entre 2006 e 31 de Julho de 2010.
Nesta fase de crescimento da secção são
prioritárias a comunicação com os Mem-
bros e Apoiantes e sobretudo a eficácia Face” é ainda a principal via de inscrição
do nosso trabalho de investigação e de Apoiantes regulares, representando
denúncia. 84% do total de Membros e Apoiantes da Registos à data de 31 Julho
secção portuguesa. É graças a esta esta- AI Portugal 2009 2010
bilidade e crescimento que a secção por-
tuguesa garante uma maior visibilidade Apoiantes e Membros
10.125 10.524
e qualidade nas acções e campanhas de- via “Face to Face”
TOTAL TOTAL senvolvidas no nosso país. Obrigado pelo Outros Membros
Jan./Jun. Jan./Jun. seu apoio, faz toda a diferença. (via site, CTT, boletim) 1.565 1.459
2010 2009
DESPESAS 316.242,25 € 275.781,88 € Doadores Pontuais 514 550
Direitos Humanos no seu
Total 12.204 12.533
RECEITAS 371.359,76 € 306.142,27 € Local de Trabalho
SALDO 55.117,51 € 30.360,39 € Para além das acções e campanhas TABELA 2 - Registo de Membros e Apoiantes
da AI Portugal – Dados comparativos de 2009
globais e nacionais promovidas pela AI,
TABELA 1 - Receitas e Despesas e 2010, à data de 31 de Julho.
Dados comparativos do primeiro
há mais de dez anos que a Amnistia In-
semestre de 2009 e 2010. ternacional desenvolve um vasto trabalho
de Educação e Formação para os Direitos
Humanos. Agentes das forças de segu- NATAL 2010 – Este Natal con-
rança, empresas, pessoas sem-abrigo, tinue a ser Solidário!
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E reclusos, vítimas de violência doméstica
APOIANTES e sobretudo crianças dos 5 aos 18 anos Este Outono novos presentes vão “cair”
receberam, nos últimos anos, as Sessões na Amnistia Internacional e podem ir
Apresentamos no gráfico 1 a evolução do de Formação da Amnistia. direitinhos à sua árvore de Natal. Na
número de Membros e Apoiantes activos da hora de fazer a lista dos seus presentes,
secção nos últimos anos (até 31 de Julho Queremos chegar aos locais onde as pes- não esqueça as nossas soluções! Para
de 2010). Tal como se pode verificar, a soas estão! Queremos informar, sensibi- além dos jogos, canetas, livros infantis e
Amnistia conta actualmente em Portugal lizar e mobilizar todos os tipos de público CD’s, vamos ter novas camisolas, malas
com 12.533 Membros e Apoiantes activos, para os Direitos Humanos. Informados recicladas e agendas para colocar no seu
ou seja, pessoas que contribuem actual- podemos agir, salvar vidas, mudar leis, sapatinho! Compre presentes e postais
mente através de donativos e/ou quotas lutar pela dignidade e justiça de todos. de Natal na Amnistia e torne esta época
de membro. A AI agradece o seu apoio. Em 2009 e 2010 várias empresas reve- ainda mais especial!
Na tabela 2 poderá observar as diferentes laram uma enorme receptividade à nossa Espreite em breve na nossa Loja em www.
vias de inscrição de Membros e Apoiantes visita. Saiba que podemos também levar amnistia-internacional.pt ou envie email
referentes aos primeiros sete meses de os Direitos Humanos à sua empresa. para Itana Cruz: i.cruz@amnistia-inter-
2009 e 2010. O projecto de rua “Face to Contacte-nos pelo i.cruz@amnistia-in- nacional.pt.
ternacional.pt.
28 Notícias • Amnistia Internacional

BOAS NOTÍCIAS
MÉXICO homicídio de Alejandro Feliciano García,
que ocorrera a 1 de Janeiro do mesmo
Conseguimos! Raúl Hernández está
ano. Julga-se que o falecido tinha liga-
em liberdade! ções à polícia e ao Exército. Passados 11
“Quero agradecer à Amnistia Internacio- meses, os quatro companheiros foram
nal e às pessoas de muitos países que libertados, por falta de provas, e Raúl
trabalharam pela minha libertação”. permaneceu detido, uma vez que duas
Foram estas as palavras do mexicano testemunhas oculares garantiam tê-lo
Raúl Hernández à saída da prisão, onde visto. Os testemunhos, de tão parecidos,
esteve mais de dois anos acusado de deixavam adivinhar terem sido prepara-
homicídio, numa acusação que terá dos e os álibis de Raúl não foram sequer
surgido por defender os Direitos Huma- ouvidos.
nos. Entre as centenas de pessoas que Uma situação que não surpreendeu os
apelaram em seu nome estão muitos elementos da OPIM, habituados a deten-
portugueses. Obrigada a todos os que ções e condenações injustas. A Amnistia
ajudaram a libertar mais um prisioneiro Internacional adoptou o mexicano como
de consciência! prisioneiro de consciência e o seu apelo
Foi no número 4 do “Notícias da Amnis- foi enviado a todo o mundo. Chegou a
tia Internacional Portugal” que falámos Portugal sob a forma de postal, publica-
pela primeira vez de Raúl Hernández, nos do nas páginas centrais da revista oficial
Apelos Mundiais. Activista há vários anos da secção portuguesa. Várias foram as
pelos Direitos Humanos dos povos indí- pessoas que não hesitaram, recortaram
genas, na Organização do Povo Indígena o postal e enviaram-no via Correio. E to-
Me’phaa (OPIM), foi preso a 17 de Abril dos juntos conseguimos... A 27 de Ago-
de 2008 quando passava por um roti- © Ricardo Ramirez Arriola sto Raúl Hernández foi absolvido e com
neiro controlo militar. Com quatro compa- O ex-prisioneiro, na sua cela, com os milhares de postais que o valor de um selo libertámos mais um
nheiros da mesma causa, foi acusado do recebeu. activista!

ISRAEL/TERRITÓRIOS esta possibilidade para manter pessoas


PALESTINIANOS OCUPADOS presas indefinidamente.
Mais um caso bem sucedido Foi o que aconteceu a Khaled Jaradat,
inicialmente detido por um período de
Foi no número 5 do “Notícias da Amnistia seis meses, tendo visto a detenção ser
Internacional Portugal” que apresentámos consecutivamente renovada. As auto-
o caso do palestiniano Khaled Jaradat, ridades israelitas diziam acreditar que
de 50 anos, preso desde 3 de Março de pertencia à organização palestiniana
2008. Mais de dois anos depois foi final- radical Jihad Islâmica, mas como nunca
mente libertado, a 15 de Julho, graças apresentaram provas, a prisão não po-
aos milhares de apelos enviados em seu dia ser refutada. Cá fora a mulher e os
nome às autoridades israelitas. Portugal seis filhos de Khaled tiveram de sobre-
foi um dos países a contribuir para a sua viver sem a sua presença, não podendo
libertação. sequer, desde Abril, telefonar ou visitar
Recordamos que Khaled Jaradat era pro- o prisioneiro.
fessor de inglês numa escola secundária Agora em liberdade, o palestiniano en-
da Cisjordânia, Território Palestiniano viou a seguinte mensagem: “agradeço
Ocupado onde sempre morou, quando foi o trabalho e o esforço dos membros da
preso sob detenção administrativa. Uma Amnistia Internacional em assegurar a
medida excepcional, prevista nas normas minha libertação. (...) Não há dúvida que
internacionais, que permite a prisão sem a pressão feita levou à minha liberdade. © Privado
acusação formal ou julgamento, sendo Agradeço-vos por isso e espero que con-
decretada pelo Governo e não pelos Tri- tinuem a trabalhar noutros casos até que
O prisioneiro com a sua filha.

bunais. As autoridades israelitas usam sejam também libertados”.


Notícias • Amnistia Internacional 29

APELOS MUNDIAIS
“Quando organizações como a Amnistia Internacional pedem uma assinatura, assinem. Porque estão
a fazer a diferença. Quando estava no corredor da morte na Florida iam chegando faxes, emails,
postais... Eles não liam tudo, mas viam que chegavam 10.000, 20.000 e acreditem que faz a dife-
rença...
Acham que não serve para nada? Quando o meu pai falava com as secretárias do Governador da
Florida na altura, elas diziam «quem é este espanholito que faz com que tenhamos a caixa de email e
o fax bloqueados e que todas as semanas faz chegarem centenas de assinaturas. Como podem estar
todos tão interessados nele». Acreditem, as assinaturas são fundamentais”.

Foram estas as palavras proferidas pelo espanhol Joaquín José Martinez, um inocente que esteve três anos no corredor da morte na
Florida, Estados Unidos da América. Foram ditas perante dezenas de estudantes, numa conferência que decorreu em Coimbra em
Outubro de 2009.

NAS PRÓXIMAS PÁGINAS APRESENTAMOS-LHE MAIs quatro PESSOAS QUE AINDA PRECISAM DA SUA
AJUDA. CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE!
A SI CUSTA MUITO POUCO E PARA TODOS ELES PODE SIGNIFICAR O FIM DE UMA INJUSTIÇA!
30 Notícias • Amnistia Internacional

Ucrânia
Alegações de tortura ignoradas

Aleksandr Rafalsky (39 anos) foi detido a 13 de Junho de 2001, em Kiev, capital da
Ucrânia, sob suspeitas de estar envolvido na morte de quatro pessoas. A 30 de Julho
de 2004, após um julgamento marcado por falhas processuais, foi condenado a prisão
perpétua, com base no depoimento de duas testemunhas, alegadamente submetidas
a tortura e outros maus-tratos.
Aleksandr declara-se inocente e afirma ter sido igualmente submetido a tortura e ou-
tros maus-tratos na prisão, entre 13 e 26 de Junho de 2001 (dia da acusação formal),
que incluíram uma simulação de execução com uma arma apontada à cabeça durante
cinco minutos, esperando que assim confessasse todos os crimes.
Não houve, entretanto, qualquer investigação sobre as alegações de tortura e as quei-
xas de Aleksandr têm sido rejeitadas, apesar da grande campanha internacional em
seu favor, não só protagonizada pela sua mãe, Tamara, como pelas mães de outros
prisioneiros e por grupos de Direitos Humanos como a Amnistia Internacional. © Privado

Entre Janeiro e Outubro de 2009, 13 organizações não governamentais da Ucrânia


receberam 165 queixas de tortura e outros tipos de maus-tratos, 100 das quais rela-
cionadas com as autoridades policiais.
Aleksandr encontra-se actualmente na prisão de Vinnytsya, sofrendo de graves pro-
blemas de saúde. A Amnistia Internacional está preocupada com a impunidade da
tortura na Ucrânia, demonstrada neste caso em particular. Ajude-nos a acabar com
esta injustiça, apelando a uma investigação imparcial sobre as alegações de maus-
-tratos. Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar,
colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por cor-
reio.)

Guatemala
Homicídio de jovem estudante por investigar

Claudina Velásquez (19 anos), estudante de Direito, foi assassinada a 13 de Agosto de


2005. Os culpados não foram identificados e o crime permanece ainda sob investiga-
ção, sem progressos.
O corpo baleado de Claudina demonstrava indícios de violação, contudo, sérias defi-
ciências foram apontadas à investigação, sobretudo no que diz respeito a provas fo-
renses. Não foram realizados testes aos primeiros suspeitos para comprovar se haviam
disparado alguma arma, as potenciais testemunhas do crime não foram submetidas a
interrogatório e, aparentemente, todas as provas importantes foram perdidas ao longo
do processo.
Na Guatemala, outros casos semelhantes encontram-se arquivados por falta de provas
concretas. De facto, o número de mulheres assassinadas no país continua a aumentar.
Só em 2009 houve 717 homicídios de mulheres, segundo dados do governo, e todas
demonstravam indícios de violação, mutilação, tortura e desmembramento. As famí-
lias, que procuram a ajuda das autoridades, são frequentemente confrontadas com a
indiferença, a discriminação e a tendência em culpar o comportamento das próprias
vítimas pelos crimes ocorridos.
A Amnistia Internacional está preocupada com a possibilidade dos assassinos nunca
chegarem a ser condenados. É por isso urgente sugerir novas linhas de prevenção,
investigação e punição para estes crimes. Ajude-nos a fazer justiça, começando por
apelar a uma investigação efectiva deste caso em particular e exigir uma identificação
dos passos tomados ao longo do processo. Participe! Contamos Consigo! © Privado

(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar,
colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por cor-
reio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31

IRÃO
Jornalista condenada a seis anos de prisão

A iraniana Hengameh Shahidi, de 35 anos, jornalista e activista política, encontrava-


-se a fazer um Doutoramento em Londres quando regressou ao seu país para as eleições
presidenciais de 12 de Junho de 2009, onde foi assessora do candidato perdedor Mehdi
Karroubi. No final do mês, foi presa pelas autoridades iranianas quando nas ruas ainda
decorriam as mediáticas manifestações contra os resultados eleitorais.
Nos primeiros 50 dias, Hengameh foi mantida em regime de solitária, tendo sido tor-
turada e sujeita a maus tratos. Sem qualquer acusação, foi interrogada mais de 100
vezes, tendo percebido que a consideravam uma espia britânica, pelas frequentes via-
gens entre os dois países (para visitar a filha adolescente, que vive no Irão) e por uma
entrevista que deu à estação televisiva BBC antes das eleições. Após uma greve de
fome, foi libertada sob fiança a 1 de Novembro.
Só nesta altura pôde contactar um advogado e três dias depois começou o seu julga-
© Privado mento. Foi condenada a seis anos de prisão por “reunir e conspirar com a intenção de
prejudicar a segurança do Estado” e por “propaganda contra o sistema”. Acusações
que surgem porque participou nas manifestações, enquanto jornalista freelancer, e
porque deu a entrevista à BBC. Uma pena pesada para quem apenas exerceu o seu
direito à liberdade de expressão e associação.
Hengameh Shahidi sofre de problemas de coração que exigem tratamento médico re-
gular. É por isso urgente exigir a sua libertação, bem como uma investigação adequada
às alegadas práticas de tortura. Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar,
colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por cor-
reio.)

Guiné Equatorial
Prisioneiros de consciência precisam de ajuda

Entre 12 de Março e 30 de Abril de 2008, seis antigos membros do Partido do Progresso


da Guiné Equatorial (PPGE), um partido da oposição banido em 1997, foram detidos
pelas forças policiais, sem mandato de captura.
Em Junho de 2008, Bonifácio Nguema Ndong (46 anos), Cruz Obiang Ebele (52 anos),
Juan Ecomo Ndong (55 anos), Emiliano Esono Michá (39 anos), Gumersindo Ramírez
Faustino (41 anos) e Gerardo Mangue (49 anos e antigo secretário do líder do PPGE,
Severo Moto) foram condenados, por “posse de armas e munição”, a entre um a seis
anos de prisão. Uma acusação que surgiu apenas três dias antes do julgamento, na
mesma altura em que os seis puderam ter acesso a um advogado de defesa.
Alguns dos prisioneiros foram sujeitos a tortura antes de serem presentes a Tribunal.
Foram ainda mantidos em isolamento até Novembro de 2009, sem direito a qualquer
visita, tanto de familiares, como de advogados.
Bonifácio Nguema foi entretanto libertado a 16 de Março de 2009, após cumprir a
pena prevista de um ano de prisão, mas os restantes prisioneiros continuam detidos
em Black Beach, Malabo, a capital da Guiné Equatorial, a cumprir penas de seis anos
de prisão. Para a Amnistia Internacional, o único “crime” que cometeram terá sido a
filiação a um partido da oposição, sendo por isso considerados prisioneiros de cons-
ciência.
É fundamental que nos comprometamos com estes casos, exigindo a sua resolução.
© Arthur Judah Angel Ajude-nos a libertar estes cinco prisioneiros de consciência.
Participe! Contamos consigo!
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar,
colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por cor-
reio.)
32 Notícias • Amnistia Internacional

AGENDA
AMNISTIA INTERNACIONAL NUM pobreza e da exclusão social enquanto
violações graves aos Direitos Humanos.
Amnistia Internacional Portugal traz pela
primeira vez a Portugal China Keitetsi.
DOS CONCERTOS DO ANO
Destacamos, em Lisboa, a concentração Aos nove anos de idade a ugandesa fu-
Foram precisas apenas sete horas para que vai decorrer no Largo de Camões, en- giu de casa do pai para procurar a mãe
que se esgotassem os cerca de 50 mil tre as 18 e as 19 horas, e logo de seguida quando foi capturada pelo Exército de
bilhetes postos à venda para o primeiro o lançamento do livro, em português, da Resistência Nacional, que em 1986 se
dia de concerto dos U2, em Coimbra, ten- ex-Secretária-Geral da Amnistia Interna- tornou no novo Governo do país. Ainda
do os ingressos para o segundo dia do cional, Irene Khan, intitulado A Verdade criança, China Keitetsi foi um soldado
evento, cerca de 40 mil, terminado num Desconhecida: Pobreza e Direitos Huma- como qualquer outro, tendo a sua fragili-
recorde de quatro horas. Dados que pro- nos, pela editora Objectiva. Saiba mais dade de menor permitido que fosse várias
vam que este é um dos concertos do ano, em http://24hcombatepobreza.blogspot. vezes violada pelos seus superiores. Em
que chega já a 2 e 3 de Outubro ao Es- com/ 1995 conseguiu fugir através do Qué-
tádio Cidade de Coimbra. Se foi um dos nia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué, até
sortudos que conseguiu bilhete, saiba alcançar a África do Sul, onde pediu o
que a Amnistia Internacional também MAIS UM CAMPO DE TRABALHO estatuto de refugiado. O Alto Comissari-
vai lá estar, a convite da banda irlande- ado das Nações Unidas para os Refugia-
sa que é Embaixadora da Consciência do
DA AMNISTIA INTERNACIONAL
dos realojou-a na Dinamarca, onde vive
movimento. Nas horas que vão anteceder Tornaram-se já uma tradição os Campos até hoje. Uma história para conhecer
o espectáculo, vamos falar de Direitos de Trabalho para jovens da Amnistia In- melhor nos dias 17, 18 e 19 de Novembro,
Humanos e promover uma importante ternacional Portugal. Este ano realiza-se respectivamente no Porto, Aveiro e Lis-
petição. Durante o concerto vão com a sua 11.ª edição, entre os dias 30 de boa, onde China Keitetsi vai esta a
certeza haver muitas surpresas. Des- Outubro e 2 de Novembro, sempre com o dar conferências. Os locais estão por
cubra-nos, leve os seus amigos e siga mesmo objectivo: falar e debater os Di- designar, pelo que fique atento a www.
a digressão 360º dos U2 no espaço da reitos que são de todos nós, Seres Huma- amnistia-internacional.pt
Amnistia Internacional em http://www. nos. Durante quatro dias, uma centena
facebook.com/ArtforAmnesty de jovens, com idades entre os 15 e os
18 anos, vão deixar de lado o currículo CIDADES PORTUGUESAS
escolar e estudar apenas Direitos Huma-
nos. Ensinamentos a que se aliam sem-
CONTRA A PENA DE MORTE
pre diversas actividades lúdicas. O local Quando se aproxima mais um Dia Mun-
está por designar, mas as inscrições dial contra a Pena de Morte, que se as-
abrem em breve. Mais informações pelo sinala a 10 de Outubro, a Amnistia In-
boletim@amnistia-internacional.pt ternacional recorda que apesar de 139
Estados terem já abolido esta forma cru-
el e desumana de punição, na prática ou
© Amnistia Internacional para crimes comuns, há 58 países que a
mantêm no ordenamento jurídico. Portu-
gal, um dos pioneiros na sua abolição,
PORTUGAL FAZ DIRECTA PELA deve dar o exemplo e a 30 de Novembro
– dia em que o Grão-Ducado da Toscana,
ERRADICAÇÃO DA POBREZA em Itália, aboliu pela primeira vez esta
Sendo 2010 o Ano Europeu de Combate prática – juntar-se de forma massiva à
à Pobreza e Exclusão Social, diversas iniciativa “Cidades para a Vida-Cidades
entidades (entre elas a Amnistia Inter- Contra a Pena de Morte”. Todos os anos
nacional Portugal), coordenadas pelo este evento é promovido pela Coligação
© Amnistia Internacional Portugal
Instituto da Segurança Social, estão a Mundial Contra a Pena de Morte, da qual
promover “24 horas pelo Combate à Po- a Amnistia Internacional faz parte, que
breza e Exclusão”. Diversas actividades pede às autarquias de todo o mundo que
estão já programadas para o próximo
CONHEÇA A HISTÓRIA DE UMA iluminem, simbolicamente, um edifício
dia 6 de Outubro, para as cidades de CRIANÇA-SOLDADO público, mostrando assim serem contra a
Leiria, Lisboa, Porto, Santarém e Viana Antecipando mais um aniversário da pena capital. Mais informações em www.
do Castelo, com o objectivo de sensibi- Convenção sobre os Direitos da Criança, citiesforlife.net ou pelo email boletim@
lizar os portugueses para o problema da que se assinala a 20 de Novembro, a amnistia-internacional.pt
Notícias • Amnistia Internacional 33

EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE MOSTRA DE DOCUMENTÁRIOS sobre alguns dos desafios que hoje se
CARTOONS SOBRE DIREITOS HUMANOS colocam aos Direitos Humanos em todo
o mundo. China Blue, de Micha X. Peled;
É já a 21 de Outubro que é inaugurada Sensibilizar a comunidade de Sintra e Children of Gaza, de Jezza Neumann; Hor-
uma exposição internacional de cartoons arredores para a necessidade de pro- tas di Pobreza, de Sara Correia de Sousa;
centrada na temática da Dignidade mover e defender os Direitos Humanos Hasta la Última Piedra, de Juan José Lo-
Humana. Promovida pela FecoPortugal- é o objectivo principal da IX Mostra de zano; Les Arrivants, de Claudine Bories,
-Associação de Cartoonistas e pela Documentários sobre Direitos Humanos, e Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões,
Amnistia Internacional Portugal, visa promovida pelo Grupo Local 19-Sintra da são os filmes em exibição, alguns em es-
alertar a sociedade para a necessidade Amnistia Internacional Portugal, numa treia, sempre seguidos de debates. Mais
de todos os Seres Humanos viverem em parceria com o Centro Cultural Olga informações perto da data em http://
Dignidade. A mostra vai estar patente Cadaval. A mostra terá lugar neste es- grupo19aisp.no.sapo.pt/ e www.amnis-
durante duas semanas na Sociedade de paço, entre os dias 10 e 12 de Dezembro, tia-internacional.pt
Instrução Guilherme Cossoul, Rua Pro- e exibirá documentários sobre diversas
fessor Sousa Câmara, 156, Campolide, temáticas, procurando assim reflectir
em Lisboa. A entrada é livre.

Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio


Por Paulo Fernandes (FecoPortugal)

TOME NOTA
• 4 de OUTUBRO
Dia Mundial do Habitat

• 10 de OUTUBRO
Dia Mundial contra a Pena de Morte

• 17 de OUTUBRO
Dia Internacional para a Erradicação
da Pobreza

• 18 de OUTUBRO
Dia Europeu contra o Tráfico de Seres
Humanos

• 16 de NOVEMBRO
Dia Internacional da Tolerância

• 25 de NOVEMBRO
Dia Internacional para a Eliminação da
Violência sobre as Mulheres

• 1 de DEZEMBRO
Dia Mundial de Luta Contra a SIDA

• 2 de DEZEMBRO
Dia Internacional para a Abolição da
Escravatura

• 3 de DEZEMBRO
Dia Internacional das Pessoas com
Deficiência

• 5 de DEZEMBRO
Dia do Voluntário

• 10 de DEZEMBRO
Dia Internacional dos
Direitos Humanos
34 Notícias • Amnistia Internacional

CRÓNICA
Ainda Há TempO*
Por Inês Campos e Luís Mah
Objectivo 2015 – Campanha do Milénio das Nações Unidas, www.objectivo2015.org

para vencer os obstáculos consequentes


do comércio internacional, das alterações
climáticas e da dívida externa, cruza-se
com o sucesso dos restantes Objectivos.
No entanto, o compromisso de conceder
0,7% do rendimento nacional bruto
(RNB) não foi calendarizado de modo
claro e vinculativo e a Ajuda Externa
© Privado © Privado mantém-se longe dos compromissos
assumidos. Não foram definidas metas
Há dez anos, na Cimeira da ONU em mento da escolarização, no saneamento, e sistemas de avaliação para melhorar
Nova Iorque, os líderes mundiais com- no controlo da malária e tuberculose e no a eficácia da Ajuda. As negociações in-
prometeram-se com os Oito Objecti- acesso ao tratamento anti-retroviral do ternacionais para um comércio mais
vos de Desenvolvimento do Milénio, a VIH1. justo não produziram efeitos notáveis. A
cumprir até ao ano 2015. A 20, 21 e 22 transferência tecnológica e o financia-
O facto de esses êxitos terem ocorrido
de Setembro, o cenário repete-se em mento para a adaptação às Alterações
em alguns dos países mais pobres do
Nova Iorque, desta feita para avaliar Climáticas têm ficado muito aquém das
mundo demonstra que os ODM são rea-
os progressos e corrigir os atrasos. A necessidades. Apesar do cancelamento
lizáveis. Dos 20 países onde se verifi-
resposta está num reforço da parceria bilateral e multilateral da dívida externa
caram maiores progressos, 11 são na
mundial para o desenvolvimento. dos Países Altamente Endividados, é
África Subsaariana, incluindo a Etiópia,
necessário incluir outros países de baixo
Instituir políticas comerciais mais jus- o Uganda, Burkina Faso e o Gana. No en-
e médio rendimento nesta iniciativa4.
tas, alargar o cancelamento da dívida, tanto, a maioria dos países encontra-se
permitir a transferência de tecnologias numa fase intermédia, com grandes pro- Os ODM são atingíveis, mas é urgente
e financiamento suplementar para as Al- gressos em alguns indicadores e atrasos alargar e reforçar as parcerias. Mediante
terações Climáticas e aumentar a quan- noutros2. os recursos disponíveis, não é tolerável
tidade e a qualidade da Ajuda – são os um sistema global que consente a fome
Os países com melhores resultados
componentes essenciais para a obtenção e a pobreza extrema. É nesse sentido que
adoptaram combinações pragmáticas
dos Objectivos de Desenvolvimento do o Secretário-geral Ban Ki-moon adverte:
de políticas e investimento público, per-
Milénio (ODM). “Não podemos desiludir os milhares de
mitindo uma maior apropriação local de
milhões de pessoas que esperam que
Os ODM expressam direitos humanos, so- projectos de desenvolvimento. A respon-
a comunidade internacional cumpra a
ciais e ambientais básicos e fundamen- sabilização, a transparência e fontes de
promessa da Declaração do Milénio5.”
tais. Essa é a sua natureza inovadora e financiamento inovadoras e previsíveis
pragmática que visa libertar homens, foram também factores chave para um
mulheres e crianças do ciclo opressivo progresso contínuo3. 1. Campanha Objectivo 2015, 2009. Objectivos do Milénio: Onde
estamos e o que falta fazer? http://objectivo2015.org/pdf/fact-
da pobreza e tornar a globalização inclu- sheets2009.pdf;
Porém, atingir os ODM é um desafio
siva e igualitária. United Nations, 2010. MDG Report 2010: http://www.un.org/
maior para países em situações de millenniumgoals/pdf/MDG%20Report%202010%20En%20
A reunião plenária de alto nível da As- conflito ou pós-conflito e vulneráveis a r15%20-low%20res%2020100615%20-.pdf
2. LEO, Benjamin; BARMEIER, Julia, Agosto, 2010. Who are the
sembleia Geral das Nações Unidas, de 20 perigos naturais. Os maiores atrasos MDG Trailblazers? A New MDG Progress Index: Working Paper 22
a 22 de Setembro, é uma oportunidade verificam-se no Afeganistão, Burundi e http://www.cgdev.org/content/publications/
para fortalecer os esforços colectivos e Guiné Bissau. Também o Paquistão, re- detail/1424377?utm_source=nl_weekly&utm_
medium=email&utm_campaign=nl_weekly_08242010&
produzir um plano de acção que permita centemente assolado pelas cheias mais 3. United Nations, 2010. Rethinking Poverty – Report on the
acelerar o avanço em direcção à realiza- devastadoras da sua história, vê agora World Social Situation 2010: http://www.un.org/esa/socdev/
rwss/2010.html
ção dos Objectivos. comprometidos os progressos duramente
4. Social Watch Statement on the UN Summit, 2010. We need
conquistados nos últimos dez anos.
Apesar dos retrocessos provocados pela justice, not business as usual: http://www.eurostep.org/wcm/
dmdocuments/SW/SW-MDG2010summit-en.pdf
crise económica e alimentar, vários paí- Superar a encruzilhada em que se encon- 5. United Nations, General Assembly Document A/64/665, 2010.
ses conseguiram progressos surpreen- tra hoje o Objectivo 8 (Fortalecer a Parce- Keeping the promise: a forward-looking review to promote an
agreed action agenda to achieve the Millennium Development
dentes na luta contra a pobreza e a fome, ria Global) é o grande desafio da Cimeira Goals by 2015: http://www.un.org/millenniumgoals/pdf/sgre-
bem como avanços significativos no au- de Setembro. A capacidade internacional port_draft.pdf

* Crónica escrita antes da reunião nas Nações Unidas a propósito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, que decorreu entre os dias 20 e 22 de Setembro.
-
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DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL

© AP/PA Photo/Khalid Mohammed © UNHCR/H Caux © AP/PA Photo/Halabisaz

TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
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