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NOTÍCIAS
08 Julho / Agosto / Setembro 2010
Publicação Trimestral • Série V • P.V.P €1.75
DOSSIER
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
Estará o prometido a ser cumprido?
EDITORIAL
ODM, O diálogo possível?*
Por Lucília-José Justino, Presidente da Direcção
Os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio representam, de alguma forma,
aspirações básicas de direitos humanos,
e como tal, não são luxos, nem podem
ficar pela retórica das boas intenções
– e, em muitos casos, esse risco existe.
A operacionalização desses objectivos
obriga a critérios de exigência, abertura e
transversalidade de políticas que muitos
governos não se dispõem a aceitar de
bom grado, porque, de certo modo, con-
sideram “ingerências” ameaçadoras ao
seu poder a democracia, a transparência,
© Privado
a responsabilização pública, o empodera-
mento das populações, o respeito pelas
Todos acompanhámos, com inquietação, quase totalidade da comunidade política minorias, a inclusão social. Os “nossos”
a violência desencadeada em Moçam- mundial. governos dominam melhor o discurso
bique na sequência de uma subida ge- político dos grandes “valores”, de que
Não nos vamos referir aos ODM, extensi-
neralizada de bens essenciais (pão, ar- se consideram guardiões, mas, infeliz-
vamente tratados em Dossier e Crónica,
roz, transportes, energia, …). Parte da mente, a sua prática não os recomenda
mais adiante, mas há que enfatizar que
população mais pobre paralisou a cidade como exemplos.
os direitos humanos (pouco mencionados,
de Maputo, bloqueou as estradas e as-
mas elemento essencial e integrador) não A equidade e a dignidade humana con-
saltou estabelecimentos, tendo as auto-
podem ser vistos como um luxo, nem para tinuam a ser das grandes bandeiras da
ridades reagido com excesso de violência,
os bem instalados, de países ricos (que, Amnistia Internacional, na assunção e
com consequências pesadas em mortes e
nesses mesmos países podem margina- defesa das nossas responsabilidades
centenas de feridos. O rescaldo obrigou
lizar socialmente os mais pobres e mi- colectivas, como activistas de direitos
as autoridades a congelar algumas des-
norias como os ciganos e os imigrantes), humanos. Encontrarão nesta revista o
sas medidas.
nem um álibi dos poderosos dos países que pensa destas matérias um presti-
Não importa, aqui, aprofundar este caso. pobres que, em nome da “sua” soberania, giado ex-activista da nossa organização,
O exemplo de Moçambique é apenas mais de tiranias instaladas, ou de obscuras hoje com grandes responsabilidades a
um. Este “Notícias” dá outros exemplos tradições sociais, culturais ou religio- nível europeu: o Comissário para os Direi-
(como no Quénia) em que o desrespeito, ou sas, consideram razoável a escravatura, tos Humanos do Conselho da Europa que
a falta de cuidado com os direitos sociais excluem do seu usufruto a maioria das foi Secretário-Geral da Amnistia Interna-
das populações, tem implicações muito suas populações, permitem, justificam e cional, Thomas Hammarberg.
graves no funcionamento da economia, desenvolvem a continuação da exclusão,
da política, das sociedades que escapam da exploração de crianças ou a violência e E temos também uma entrevista palpi-
aos observadores menos atentos, ou aos discriminação contra as mulheres. tante ao recém-designado Secretário-
arautos de políticas simplistas dese- -Geral, Salil Shetty. É uma novidade.
Os ODM não devem ser entendidos na Leiam-no!
nhadas à distância, a régua e esquadro.
perspectiva unilateral da caridade ou da
Neste mês de Setembro realiza-se mais E leiam o resto, claro. Sem esquecer de
doação aos países com menos recursos,
uma reunião de acompanhamento, pro- dar sequência aos Apelos!
mas antes numa perspectiva de parce-
gramação e avaliação de medidas dos
ria multilateral comprometida e activa,
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
envolvendo outros actores para lá dos
das Nações Unidas (ODM), que compro-
governos e, evidentemente, as próprias
metem 189 países signatários, ou seja, a
populações.
* Editorial escrito antes da reunião nas Nações Unidas a propósito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
04 Notícias • Amnistia Internacional
ENTREVISTA
Thomas Hammarberg, Comissário para os Direitos Humanos do
Conselho da Europa
Em 1981 o então Secretário-Geral da Amnistia Internacional esteve em Portugal na oficialização da
abertura da secção portuguesa. Thomas Hammarberg, hoje Comissário para os Direitos Humanos do
Conselho da Europa, regressou 30 anos depois para analisar a situação dos Direitos Humanos e ao
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” traçou um retrato da Europa
Por Cátia Silva
os Direitos Humanos, um cargo criado AI: Pelo que sei também já visitou os pessoas e demonstrar que há determina-
em 1999... 47 Estados-membros. No que diz res- dos valores que têm de ser respeitados,
TH: Sim, sou sempre o número 2. [risos] peito a problemas relacionados com os incluindo o de que cada Ser Humano tem
Direitos Humanos, podemos dizer que o mesmo valor que os outros. Os políti-
“Estamos particularmente preocupa- existe uma só Europa? cos hoje nem sempre defendem estes
dos, no geral, com a falta de respeito TH: Há diferenças entre os países, mas princípios pré-estabelecidos, que vêm
pelas pessoas que são diferentes” há uma particularidade que é comum dos Tratados, e, pelo contrário, tendem
entre todos: a forma como lidamos com a ser oportunistas e, ou introduzem eles
AI: O que queria perguntar é se sente os migrantes hoje, que é um problema próprios propostas que vão contra estes
que está na mesma fase que a Amnistia em toda a Europa, e como lidamos com princípios, ou não lutam contra os pre-
Internacional estava na altura, ou seja, os ciganos, que é um problema em todos conceitos. Precisamos de líderes políti-
que é um cargo em afirmação. Porque os Estados onde eles estão, ou seja, na cos e eles não existem.
é menos conhecido pelos cidadãos do maioria dos países europeus.
que o Alto-comissário das Nações Uni-
das para os Direitos Humanos... AI: Também parece ser comum o pro-
blema dos Direitos das mulheres, será
TH: O Conselho da Europa, de forma assim?
geral, ainda tem um problema de visi-
bilidade. Melhorou, mas ainda existe. Em TH: Sim. Nenhum país é perfeito mas al-
parte porque surge na sombra da União guns vão no caminho certo, como Espa-
Europeia e das Nações Unidas. nha e os países Escandinavos. Porém, em
toda a Europa há uma diferenciação nos
AI: Para quem não sabe, como define o pagamentos, com as mulheres a ganha-
papel do Conselho da Europa e qual a rem menos que os homens pelo mesmo
diferença para a União Europeia? trabalho. É inaceitável. E há ainda a vio-
TH: Em primeiro lugar, o Conselho da lência sobre as mulheres.
Europa é mais amplo, é de toda a Eu- AI: Destacaria algum país pela nega-
ropa, inclui o Cáucaso, a Moldávia e a tiva?
Turquia, ao mesmo tempo que países
como a Suíça. É a organização verdadei- TH: Há problemas em todos os países e © Conselho da Europa
“Nos últimos anos, com a chamada sobre estas violações massivas dos Direitos Governo sueco e agora negoceia com
Guerra ao Terrorismo, vimos proble- Humanos pela Administração Bush. De as várias partes numa organização
mas antigos voltarem” facto, governos europeus cooperaram até governamental, tendo já estado tam-
com o sistema das detenções secretas e bém nas Nações Unidas. Há um papel
AI: Tinha vindo a Portugal em 1981, das rendições. Foi um retrocesso muito para cada um destes actores nas Rela-
na abertura da secção portuguesa da sério. ções Internacionais?
Amnistia Internacional. Consegue com- Outro é o que está a acontecer agora TH: Definitivamente. As organizações
parar com o que encontrou agora? no que diz respeito aos Direitos sociais governamentais, como o Conselho da Eu-
TH: Houve progressos. Foi um período primários. Vemos como os Estados es- ropa e as Nações Unidas, dependem dos
interessante na altura porque foi muito tão a tentar lidar com a crise económica governos mas também das organizações
pouco depois da queda da ditadura e cortando certos orçamentos que estavam não governamentais. Sem a Amnistia In-
muitas pessoas estavam entusiasmadas destinados a proteger Direitos Huma- ternacional e outras, as discussões sobre
com a democratização e com a protecção nos, como o Direito à Educação. E não Direitos Humanos nas Nações Unidas e
dos Direitos Humanos. Havia discussões é correcto que as pessoas mais pobres no Conselho da Europa seriam muito
acesas e um forte interesse. Agora com tenham de pagar pelo comportamento mais fracas, porque faltaria alguma
a melhoria da situação, os Direitos Hu- imprudente de banqueiros e escritórios parte da realidade.
manos parece que não são um tema tão
fascinante para as pessoas, mas espero
que o espírito de reforma se mantenha.
AI: No seu trabalho, muito do que faz é
lobby junto dos governos e essa é tam-
bém uma das formas de actuação da
Amnistia Internacional. Muitas pessoas
não acreditam nesta forma de acção e
que o lobby possa forçar os governos a
fazerem o que não querem. Que diria a
essas pessoas?
TH: Que funciona, principalmente porque
os Direitos Humanos são vistos como © Amnistia Internacional Portugal
tendo uma dimensão de modelo. Ao Thomas Hammarberg com Pedro Krupenski, Director-Executivo da secção portuguesa da Amnistia Internacional, durante a visita a Portugal,
em Novembro.
violarem-se Direitos Humanos, está a
fazer-se algo que é moralmente errado. financeiros de todo o mundo. Este é outro AI: Mas cada um destes actores parece
Assim, investigamos e procuramos apre- desafio aos Direitos Humanos hoje em defender princípios diferentes. Há
sentar factos bem fundamentados. E a dia. forma de entendimento possível entre
força moral do argumento é muito forte todos?
AI: Perante este cenário, o que pers-
e os governos, pelo menos nas demo-
pectiva para o futuro? Os Direitos Hu- TH: É mais fácil alcançar acordos so-
cracias estabelecidas, têm de ouvir. E
manos vão continuar a falar mais alto? bre alguns princípios. Por exemplo, na
fazem-no. Por vezes devagar, mas tem
Europa todos acordaram não aplicar a
havido progressos. TH: A minha noção é que estamos na
pena de morte. Mas sobre outros assun-
direcção correcta, a longo prazo, porque
AI: Até aqui tem apontado várias me- tos alguma das partes terá de ser mais
os Direitos Humanos são valores es-
lhorias mas, com a crise económica e insistente de forma a levar as outras a
senciais. Mas há altos e baixos e neste
com a ameaça do terrorismo, será que concordarem, como no caso da discrimi-
momento estamos num desses períodos
não estamos antes a regredir? Os Di- nação, onde existem vários preconceitos.
severamente baixos. Mas eu espero que
reitos Humanos parecem estar a sair
não seja para ficar e os Direitos Humanos AI: Apesar disso mantém-se optimista?
das agendas políticas...
exigem luta. Não se adquirem, é preciso
TH: Sim, a longo prazo, mas também es-
TH: Espero que não, mas francamente nos lutar por eles e conquistá-los.
tou consciente que é uma luta longa e
últimos anos, com a chamada Guerra ao
dura.
Terrorismo, vimos problemas antigos vol- “Os Estados estão a tentar lidar com
tarem. O facto de a tortura ter sido prati- a crise económica cortando orça-
cada de forma sistemática pelos Estados mentos que estavam destinados a
Unidos da América é algo sobre o qual proteger Direitos Humanos”
temos de reflectir. Os países europeus
ainda não se tornaram suficientemente AI: Olhando para o seu currículo, já
fortes na contestação a esta actuação desempenhou quase todos os papéis:
dos Estados Unidos e nas Nações Unidas foi jornalista, fez parte de organizações
não houve quase nada a ser discutido não governamentais, esteve ligado ao
Notícias • Amnistia Internacional 07
RETRATO
Salil Shetty, Secretário-Geral da Amnistia Internacional
O novo líder do movimento
O actual Secretário-Geral da Amnistia Internacional assumiu funções há menos de três meses, mas o
primeiro contacto com o movimento deu-se quando era ainda adolescente. Um percurso que explicou ao
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” numa entrevista exclusiva via telefone
Por Cátia Silva
houve um momento em que olhei para sado mobilizou 173 milhões de pessoas países do [hemisfério] Norte”. Caracte-
uma janela e depois para a outra e disse: de todo o mundo. Muitos perguntar-se-ão rísticas que não lhe interessavam.
sei em que janela quero estar”. para que serviu, mas Salil Shetty acredi-
Mesmo assim, os recrutadores da Amnis-
ta no poder da pressão dos cidadãos, até
tia Internacional insistiram: “é precisa-
COMBATER A POBREZA porque, diz, “do ponto de vista legal não
mente isso que queremos mudar”, ga-
podemos fazer muito” quando os Objec-
Aos 24 anos Salil Shetty candidatou-se a rantiram, mostrando o Plano Estratégico
tivos de Desenvolvimento do Milénio
várias organizações não governamentais Integrado3 até 2016, com a forte aposta
[ver Dossier] não são legalmente vin-
e optou pela ActionAid, mesmo sabendo no trabalho nos países do hemisfério Sul.
culativos. Apostou, por isso, na pressão
pouco sobre o seu trabalho, confessa. Para além disso, Salil Shetty conheceu a
individual sobre cada país e em alguns
Sabe hoje que visa erradicar a pobreza e história da Amnistia e reconhece o mérito
conseguiram-se sucessos estrondosos.
que aposta na acção junto das comuni-
dades, com equipas que procuram solu-
cionar problemas de base como a educa-
ção, o SIDA e a fome. Um programa que
Salil Shetty ficou a coordenar em Banga-
lore, sua cidade natal, durante dez anos,
tendo apenas interrompido para, em
1990, realizar na London School of Eco-
nomics um Mestrado em Política Social,
Planeamento e Participação nos Países
em Desenvolvimento. “Sentia necessi-
dade de saber mais sobre esta área”,
recorda. A isto seguiu-se a concretização
de um sonho, quando se mudou com a
© Amnistia Internacional
mulher e os filhos para o Quénia. “Sem-
Salil Shetty e funcionários da Amnistia Internacional num pequeno-almoço de boas-vindas ao novo Secretário-Geral, na sede, em Londres.
pre quis trabalhar e viver em África”, diz.
Pôde fazê-lo durante três anos enquanto
Para Salil Shetty, até 2015 é possível que dos sucessos alcançados através do que
Director da ActionAid para o país afri-
globalmente se atinja a maioria dos oito chamava “conversa”: “a não ser que se
cano.
Objectivos, mas “o problema nem está mudem os sistemas, os processos e os
Foi por tudo isto, esclarece, que ficou em alcançá-los, mas ao olharmos para factores estruturais subjacentes, po-
a trabalhar no combate à pobreza: “ao eles de forma desagregada. Há muita demos dar ajuda, mas não é suficiente”.
viver no Sul da Ásia e de África, os dois desigualdade entre os países. O cenário Por último, o agora Secretário-Geral da
locais onde estão as pessoas mais po- conjunto é até encorajador, mas desa- Amnistia Internacional destaca o que
bres do mundo, não há outra hipótese”. gregado não é bom”. considera mais importante: “há muitas
Uma experiência que, aos 37 anos, per- organizações no mundo, mas há pou-
mitiu que assumisse o cargo de Direc- AMNISTIA INTERNACIONAL: UM NOVO cos movimentos feitos de pessoas como
tor Executivo da ActionAid e, cinco anos DESAFIO a Amnistia. O que a torna única são os
mais tarde, em 2003, que chegasse às 2,8 milhões de pessoas que a apoiam.
Ao fim de sete anos de Campanha do
Nações Unidas como Director da Cam- Eles são a sua maior vantagem”. É com
Milénio, Salil Shetty tinha alcançado
panha do Milénio. “Foi novamente uma eles que nos próximos anos Salil Shetty
uma importante meta: 2010, que para
grande mudança”, recorda. Mas era esse vai lutar contra as violações aos Direitos
alguns dos Objectivos de Desenvolvi-
o seu desejo: “queria trabalhar na parte Humanos!
mento do Milénio é um momento decisivo
governamental, porque é muito diferente
de balanço. A isto aliou-se uma proposta
de operar em organizações não governa-
aliciante e Salil Shetty não hesitou. “Se
mentais e porque nos faz olhar para as
tivesse ficado teria de ir até 2015 e nor-
coisas de um outro ângulo”. Encontrou
malmente não fico tanto tempo no mesmo 1. O Secretário-Geral é quem lidera o trabalho de
o cargo perfeito: “estava dentro mas
local. É preciso uma nova liderança, nova Direitos Humanos da organização, sendo, acima
não totalmente. Era como se fosse uma de tudo, o consultor político do movimento, o seu
energia e novas ideias. Um líder não deve
pequena organização no seio das Nações estratega, o seu porta-voz e ainda o seu Director
ficar preso à sua cadeira”, defende. Por Executivo. O trabalho desenvolve-se a partir da
Unidas, que tinha os benefícios de fazer
isso mesmo, quando os caça-talentos lhe sede, em Londres, mas implica inúmeras viagens
parte da organização mas também a pelo mundo inteiro.
falaram da Amnistia Internacional, Salil
flexibilidade de uma campanha”. 2. Em 2001, quando a Amnistia Internacional
ficou disponível para conversar, apesar
celebrou 40 anos alterou o seu Estatuto para in-
O seu trabalho, resume, “era sobretudo o de, confessa, “ser critico em relação às cluir, para além dos Direitos Civis e Políticos, os
de organizar movimentos globais de ci- pessoas ligadas aos Direitos Humanos: Económicos, Sociais e Culturais.
dadãos”. Os mais atentos recordaram o falam sempre muito e actuam pouco e, 3. O Plano Estratégico Integrado é o projecto comum
“Stand Up Against Poverty” ou “Levanta- para além disso, a Amnistia foi sempre criado pelo e para o movimento. Traçado de seis em
seis anos, indica as directrizes estratégicas para a
te contra a Pobreza”, que no ano pas- uma organização muito voltada para os acção da Amnistia Internacional.
Notícias • Amnistia Internacional 09
EM FOCO
Nos últimos meses três países destacaram-se pelas piores razões: Portugal, por ainda não ter ratificado
um importante documento internacional, França, pela expulsão dos ciganos, e o Irão, pelo uso da pena
capital
PORTUGAL
Mais força para os Direitos Económicos, Sociais e Culturais
DOSSIER
Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: Estará o prometido a ser
cumprido?
Quando as Nações Unidas se dedicam a analisar e debater os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
e numa altura em que faltam cinco anos para terminar o prazo estabelecido para o seu cumprimento, o
“Notícias da Amnistia Internacional Portugal” examina, uma a uma, as promessas feitas no ano 2000
Poema Crónica
Entre 6 e 8 de Setembro do ano 2000, o mundo comprometiam-se, assim, que estes se subdividem, tendo por base
tinha o mundo entrado há poucos meses a cooperar para pôr fim a alguns dos o “Relatório dos Objectivos de Desenvol-
num novo Milénio, 189 Chefes de Es- maiores flagelos globais, estabelecendo vimento do Milénio 2010”, lançado a 23
tado e de Governo reuniram-se na sede como meta o ano de 2015. O compro- de Junho pelas Nações Unidas. Pobreza,
das Nações Unidas, em Nova Iorque, misso assumido, e os oito Objectivos fome, educação, igualdade de género,
para juntos darem aquele que seria um de Desenvolvimento do Milénio (ODM) mortalidade infantil, saúde materna,
grande passo para a Humanidade. Na que dele resultaram, voltaram agora às doenças graves, sustentabilidade ambi-
Declaração do Milénio, que todos as- páginas dos jornais quando o Secretário- ental e cooperação são as áreas em aná-
sinaram, assumiram o compromisso: -Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lise. A forma como evoluíram é percebida
“reconhecemos que, para além das convocou os líderes mundiais para a tendo por base as estatísticas publica-
responsabilidades que todos temos Cimeira do Milénio. “Não podemos desi- das no ano de 1990, em comparação com
perante as nossas sociedades, temos a ludir os milhares de milhões de pessoas as recolhidas nos dias de hoje. A análise
responsabilidade colectiva de respeitar que esperam que a comunidade inter- centra-se nas 10 regiões do mundo onde
e defender os princípios da dignidade nacional cumpra a promessa da Decla- a situação é mais grave* e os mapas
humana, da igualdade e da equidade, ração do Milénio por um mundo melhor. que se seguem pretendem demonstrar
a nível mundial. Como dirigentes, temos Reunamo-nos em Setembro [de 20 a 22] os locais onde é expectável que as Metas
(...) um dever para com todos os habi- para cumprir essa promessa”, apelou o e os Objectivos sejam alcançados. Isto
tantes do planeta, em especial para com representante das Nações Unidas. quando Ban Ki-moon garante: “o nosso
os mais desfavorecidos e, em particular, mundo possui os conhecimentos e os re-
Nesta altura crucial para a Humanidade,
as crianças do mundo, a quem pertence cursos necessários para implementar os
o “Notícias da Amnistia Internacional
o futuro”. ODM”. Dez anos passados sobre a sua
Portugal” dedica as próximas páginas ao
criação, é tempo de perceber se o pro-
Pela primeira vez os Estados de todo estado dos oito ODM e das 21 Metas em
metido estará a ser cumprido!
* América Latina e Caribe; Norte de África; África Subsariana; Ásia Ocidental; Sul da Ásia; Ásia Oriental; Sudeste Asiático; Oceânia; Países da Commonwealth na Europa e Países da
Commonwealth na Ásia. Informação sobre os países incluídos em cada zona em http://unstats.un.org/unsd/mdg/Resources/Static/Data/MDGRegionCodes_200611.xls
Notícias • Amnistia Internacional 11
Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome que a tendência já não era positiva antes
de 2008, com o número de “trabalhadores
Meta 1: Reduzir para metade a proporção de população cujo rendimento é inferior pobres” (pessoas com salário, mas muito
a 1,25 dólares por dia baixo) a aumentar ao longo da última
década. A estes é preciso agora acres-
centar os que nos últimos anos terão
perdido os empregos, os jovens à procura
de primeiro emprego, sem sucesso, e a
maior vulnerabilidade dos empregos, que
muitas vezes se traduz em salários de-
sadequados e fracas condições laborais.
Perante tudo isto, os números apre-
sentados no mapa podem ser engana-
dores, uma vez que apenas revelam a
percentagem de população activa com
acesso a emprego, não analisando as
suas condições. Contudo, é um indicador
importante, que revela que os países em
Os números indicam a percentagem de pessoas que viviam com menos de 1,25 dólares por dia (menos de um euro), nos anos de 1990 e
desenvolvimento estão melhor do que os
em 2005 (últimos dados disponíveis). desenvolvidos, pois em 2008 (últimos
dados disponíveis) os primeiros tinham
O Relatório das Nações Unidas de 2010 que pode ser erradicada. Desde logo o 62% da população activa empregada,
acredita que esta primeira Meta dos ODM da Ásia Oriental, que entre 1990 e 2005 enquanto os segundos tinham apenas
pode ser alcançada, uma vez que no conseguiu que 44% da sua população 57%. Percentagens que deixam antever
mundo em desenvolvimento a percenta- saísse do limiar da pobreza, muito gra- que muito dificilmente se cumprirá esta
gem de pessoas a viverem com menos de ças ao contributo da China. Também o do Meta dos ODM, como demonstra o mapa
1,25 dólares norte-americanos por dia Sudeste Asiático, que, com a forte ajuda aqui apresentado.
ou menos de um euro – limiar da pobreza da Índia, conseguiu nas datas referidas
definido pelo Banco Mundial, cujo valor alcançar a Meta e “reduzir para metade a Meta 3: Reduzir para metade a propor-
foi redefinido em 2005 – caiu de 46%, proporção de população cujo rendimento ção de população afectada pela fome
em 1990, para os 27%, em 2005 (últi- é inferior a 1,25 dólares por dia”. Na década de 90 houve algum progresso,
mos dados disponíveis). Faltavam, as- embora pouco significativo, na redução
Meta 2: Alcançar emprego produtivo e
sim, apenas 4% para o objectivo ser al- da percentagem de população subnu-
em pleno e trabalho decente para to-
cançado. Contudo, é preciso ter em conta trida nos países em desenvolvimento,
dos, incluindo mulheres e jovens
que em 2008 eclodiu uma crise económi- tendo esta caído dos 20%, registados
ca e financeira mundial que o Relatório Os dados do Relatório de 2010 dos ODM em 1990-92, para os 16%, em 2005-07
reconhece ter “provocado uma queda revelam o espectável: a crise financeira (últimos dados disponíveis). Contudo, o
abrupta das exportações e reduzido o e económica, que começou nos Estados Relatório de 2010 dos ODM revela que
comércio e o investimento, abrandando Unidos da América e se espalhou pelo desde o ano 2000 que esta evolução
assim o crescimento nos países em de- mundo, reflectiu-se no mercado de tra- tendia a estagnar e que, em números
senvolvimento”. Apesar disso, as Nações balho. No entanto, é importante referir efectivos, a quantidade de pessoas sub-
Unidas mantêm o optimismo quanto ao
cumprimento da Meta.
A região do mundo onde a situação
é mais grave é a África Subsariana,
que em 2005 continuava a ter 51% da
população a viver abaixo do limiar da
pobreza (apenas menos 7% do que em
1990), logo seguida do Sul da Ásia, com
39% dos habitantes a sobreviverem com
menos de 1,25 dólares americanos por
dia, uma melhoria de 11% em relação
a 1990. Profetiza-se que estas regiões
falhem a meta dos ODM, tal como deverá
acontecer nos países asiáticos da Com-
monwealth e na Ásia Ocidental. Houve,
no entanto, bons exemplos que provam Os números indicam a relação entre a população e o emprego, isto é, a percentagem de população activa que tinha emprego, nos anos
que a pobreza não é uma fatalidade e de 1991 (primeiros dados disponíveis) e 2008 (últimos dados disponíveis).
12 Notícias • Amnistia Internacional
Os números indicam a percentagem de população subnutrida, isto é, de pessoas cuja ingestão de alimentos não satisfazia os níveis
mínimos nutritivos necessários, nos anos de 1990-92 e 2005-07 (últimos dados disponíveis).
Objectivo 3: Promover a igualdade entre géneros e Apesar de, como vimos na Meta anterior,
capacitar as mulheres alguns países continuarem a valorizar
mais a educação dos rapazes do que das
Meta 5: Eliminar a disparidade entre géneros no ensino primário e secundário, se raparigas, a verdade é que a disparidade
possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, até 2015 entre géneros no ensino diminuiu forte-
mente entre 1991 e 2008 (últimos dados
Paridade na educação primária disponíveis), tendo o sexo feminino su-
perado mesmo o masculino em alguns
níveis escolares. No que diz respeito ao
primário, em 2008 havia 96 raparigas de
países em desenvolvimento a frequentá-
-lo por cada 100 rapazes, quando em
1991 este número se ficava pelas 87. Ao
nível do secundário, nos países em de-
senvolvimento, em 2008, por cada 100
alunos havia 95 alunas, num crescimen-
to importante em relação a 1991, quando
se contavam 76 raparigas por cada 100
rapazes. No ensino superior o progresso
foi ainda maior, tendo a frequência deste
nível escolar por raparigas subido de 67,
por cada 100 rapazes, para as 97. Im-
porta ainda mencionar que nos países
desenvolvidos foi neste último ensino
Paridade na educação secundária que o número de raparigas superou o dos
rapazes, havendo paridade nos restantes
níveis escolares.
© Amnistia Internacional
Paridade no ensino superior
Em alguns países a educação das raparigas é preterida à dos
rapazes.
Apesar dos dados serem muito positivos,
é preciso não esquecer que este terceiro
Objectivo de Desenvolvimento do Milénio
exige paridade total e longe destes va-
lores estão países da África Subsariana,
do Sul da Ásia e da Oceânia. Além disso,
é preciso recordar que esta Meta dos
ODM estabelecia o prazo preliminar de
2005 e, na altura, a educação primária
e secundária não era universal, apesar
de a primeira poder ser alcançada até
2015 em todas as regiões, exceptuando
a Oceânia. Perante este cenário, o Objec-
tivo não deverá ser alcançado, mas os
Os números indicam a quantidade de raparigas que frequentam o ensino primário, secundário ou superior por cada 100 rapazes a estudar números demonstram que é possível
no mesmo nível de escolaridade.
evoluir se houver vontade política.
14 Notícias • Amnistia Internacional
© UNHCR/H. Caux
Homens, mulheres e crianças fazem fila para receber a ração alimentar num campo de refugiados no Paquistão.
18 Notícias • Amnistia Internacional
centagem de população sem acesso para o crescimento económico”. Uma criança num bairro degradado do Quénia a beber os restos
de um sumo de alguém.
sustentável a água potável e sanea-
Acesso a água potável
mento básico
A manter-se a tendência actual, o
Relatório de 2010 dos ODM indica que é
possível que a parte da Meta que diz res-
peito ao acesso à água potável seja al-
cançável. No mundo desenvolvido, 100%
da população tem acesso a este bem es-
sencial, enquanto nos países em desen-
volvimento, em 2008 (últimos dados dis-
poníveis), as acessibilidades chegavam
aos 84% (em 1990 os números aponta-
vam para os 71%). Das 10 regiões anali-
sadas no documento das Nações Unidas,
quatro, assinaladas no mapa, tinham
alcançado a meta em 2008, enquanto
duas apresentavam as situações mais Os números indicam a percentagem de pessoas que utilizavam uma fonte de água segura, em 1990 e 2008 (últimos dados dis-
poníveis).
preocupantes: a África Subsariana e a
Oceânia. Nestes países é especialmente Acesso a saneamento básico
alarmante a situação nas zonas rurais,
uma vez que nas cidades a água potável
chegava em 2008 a 92% da popula-
ção, no caso da Oceânia, e a 83%, na
África a sul do Sara. Percentagens que
contrastam com os 37% de acesso nos
meios rurais da Oceânia e com os 47%
na África Subsariana. De forma genéri-
ca, nos países em desenvolvimento 8 em
cada 10 pessoas com acesso a água po-
tável estão em cidades.
Uma realidade mesmo assim bem dife-
rente da que se vive no acesso ao sanea-
mento básico – casas de banho, latrinas
ou outras –, como se pode desde logo
Os números indicam a percentagem de pessoas com acesso a saneamento básico, em 1990 e 2008 (últimos dados disponíveis).
Notícias • Amnistia Internacional 19
Meta 15: Alcançar uma melhoria significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões Na última década, os países em desen-
de habitantes de bairros degradados, até 2020 volvimento e, entre estes, os chamados
Países Menos Desenvolvidos ganharam
um maior acesso aos mercados dos Es-
tados com maior desenvolvimento, pois
estes, como forma de ajuda, aumentaram
a importação de produtos desses locais.
Se em 1998 as importações se cifravam
nos 54%, dez anos depois eram já na or-
dem dos 80%. Uma abertura do mercado
financeiro que muito se deveu à redução
ou eliminação de tarifas à entrada dos
produtos de alguns países em desenvol-
vimento (normalmente dos mais pobres).
Sinais positivos que o Relatório de 2010
teme agora terem ficado comprometi-
dos com a crise financeira que assolou
o mundo, pois logo em 2008 e 2009 foi
Os números indicam a percentagem de população urbana a viver em bairros degradados – aqui definidos como habitações que tenham registada uma quebra no volume de
pelo menos uma de quatro características: falta de água potável, falta de saneamento básico, excesso de habitantes (três ou mais por
quarto) ou a construção feita com materiais pouco duráveis – em 1990 e 2010.
negócios de quase todos os países em
desenvolvimento. Em termos mundiais
as exportações caíram também 23%,
Num primeiro olhar sobre os bairros podiam até ser suficientes para alcançar mas no mundo em desenvolvimento o
degradados – entenda-se, locais onde a Meta dos ODM, não fosse o crescimento declínio foi de 31%.
as habitações têm pelo menos uma de demográfico. Por isso mesmo, as Nações
quatro características: falta de água Unidas pedem no Relatório de 2010 dos Meta 17: Atender às necessidades espe-
potável, falta de saneamento básico, ODM a redefinição desta Meta, defen- ciais dos países em desenvolvimento
excesso de habitantes (três ou mais dendo que 100 milhões de pessoas são Meta 18: Atender às necessidades es-
por quarto) ou a construção feita com apenas 10% das que vivem actualmente peciais de países em desenvolvimento
materiais pouco duráveis –, a evolução em bairros degradados e os ODM deviam interiores [sem mar] e aos pequenos
parece ter sido suficiente para alcançar querer ir mais longe. Estados insulares em desenvolvimento
a Meta dos ODM: nos países em desen-
As duas Metas dos ODM têm implícita
volvimento, a percentagem de pessoas a Objectivo 8: Desenvolver a ajuda dos países mais desenvolvidos
viver em bairros degradados nas cidades uma parceria global para aos que estão em desenvolvimento. Em
passou de 46%, em 1990, para 33%,
este ano de 2010, ou seja, 200 milhões
o desenvolvimento 2009, os Estados membros do Comité de
Ajuda ao Desenvolvimento, da Organiza-
melhoraram as condições de vida. No Meta 16: Desenvolver um comércio e
ção de Cooperação e Desenvolvimento
entanto, é preciso ter em conta o cresci- sistema financeiros abertos, baseados
Económico (OCDE), deram para Ajuda
mento demográfico, por isso, em termos em regras, previsíveis e não discrimi- Pública ao Desenvolvimento (APD) um
absolutos, os números revelam um au- natórios total de 119,6 mil milhões de dólares
mento na quantidade de pessoas a vi-
verem em bairros degradados nos países
em desenvolvimento: que hoje estima-se
que ascendam aos 828 milhões, quando
em 1990 eram 657 milhões.
Valores que não espantam os analistas
das Nações Unidas, que tornam a lem-
brar a crise económica e financeira, que
começou precisamente no sector imobi-
liário e veio provocar um forte corte nos
apoios à compra de habitação. Uma situa-
ção que se sente um pouco por todo o
mundo, mas que é particularmente grave
nas zonas mais pobres, como a África
Subsariana, onde 62% da população ur-
bana vive em condições muito precárias,
e no Sul da Ásia. Nas outras regiões men-
cionadas no Relatório de 2010 dos ODM
os bairros degradados acolhem um terço © Amnistia Internacional
da população urbana. Percentagens que Crianças à saída da escola num dos muitos bairros degradados existentes no Quénia.
20 Notícias • Amnistia Internacional
americanos, equivalentes a 0,31% do nada a APD. Tudo isto pode comprometer muito mais altos”. Para se ter uma ideia,
rendimento nacional bruto combinado. ainda mais os restantes ODM. acrescenta o documento que em 33 paí-
Números que continuam muito abaixo ses em desenvolvimento analisados “os
Meta 19: Tratar de forma integrada
das Metas propostas pelos ODM, que preços mais baixos dos genéricos do sec-
o problema da dívida dos países em
implicavam o compromisso de a maioria tor privado custam seis vezes mais que
desenvolvimento, através de medidas
dos países doarem 0,7% do seu rendi- o preço internacional de referência”. As-
nacionais e internacionais, de forma a
mento nacional bruto. Em 2009 só cinco sim, em termos de medicamentos acaba
tornar a sua dívida sustentável a longo
o fizeram: Dinamarca, Holanda, Luxem- por acontecer o mesmo que na vacina-
prazo
burgo, Noruega e Suécia. Isto apesar ção: aumentou nos últimos anos a ajuda
de o maior volume de dinheiro doado Nas duas metas anteriores foi possível externa e a entrega, mas a distribuição é
continuar a provir dos Estados Unidos perceber que a Ajuda Pública ao Desen- feita de forma discriminatória, chegando
da América, seguindo-se a Alemanha, a volvimento aumentou em termos percen- menos aos mais pobres, que habitam zo-
França, o Japão e o Reino Unido. tuais desde 2008 e tal deve-se, em grande nas rurais e têm níveis muito baixos de
parte, ao alívio da dívida externa acumu- educação, indica o Relatório de 2010 dos
lada dos países em desenvolvimento. ODM.
Um aspecto fundamental para os ODM,
Meta 21: Tornar acessíveis os benefí-
uma vez que a dívida afecta a confiança
cios das novas tecnologias, em espe-
e o acesso ao crédito, tornando o Estado
cial das tecnologias de informação e
mais vulnerável aos choques económicos.
comunicação, em cooperação com o
Mesmo assim, indica o Relatório de 2010
sector privado
dos ODM que “os encargos com a dívida
externa têm-se mantido muito abaixo dos Olhando apenas para duas das ferra-
níveis históricos”, especialmente para os mentas de Tecnologias de Informação e
Estados eleitos pela Iniciativa Países Comunicação actualmente existentes, é
Pobres Altamente Endividados (ou HIPC, possível perceber a evolução do mundo
na sigla internacional). São estes os a este nível. Começando pelo telemóvel,
42 países que em 1996 tinham dívidas importa registar que globalmente 67 em
externas de valores insustentáveis e ne- cada 100 pessoas possui pelo menos um
gociaram com os seus credores através destes aparelhos, o que equivale a 4,6
da Iniciativa HIPC, lançada pelo Banco mil milhões da população mundial. Mais
Mundial e pelo Fundo Monetário Inter- incrível é perceber que o crescimento foi
nacional. Destes, 35 viram a sua dívida especialmente significativo nos países
reduzida em 57 mil milhões de dólares em desenvolvimento, pois actualmente
americanos e 28 receberam assistência 50% dos habitantes destes Estados têm
adicional de 25 mil milhões de dólares acesso a telemóvel. Uma mudança im-
americanos. Assim, “os encargos com a portante quando as linhas telefónicas
© Amnistia Internacional dívida dos países incluídos na Iniciativa fixas continuavam a ser muito limita-
Grávidas aguardam numa maternidade da Serra Leoa. HIPC estão abaixo da média dos restantes tivas. A título de exemplo vejam-se os
países menos desenvolvidos”, que por países da África Subsariana, onde 1%
Estas doações podem ser feitas perdoan-
não estarem “altamente endividados” dos habitantes tem acesso a linha de
do a dívida, através de ajuda humanitária
ficaram fora do alívio da dívida. telefone fixo, mas 30% possui telemóvel.
ou por projectos e programas de desen-
volvimento. Segundo o Relatório de 2010 Meta 20: Fornecer acesso aos medi- Uma implementação que poderia fazer
dos ODM estes últimos têm continuado camentos essenciais a preços aces- pensar que as novas tecnologias estão
a aumentar, mas em termos globais a síveis nos países em desenvolvimento, a chegar a todo o mundo, mas o acesso
ajuda externa subiu apenas 0,7% entre em cooperação com as empresas far- à Internet vem provar exactamente o
2008 e 2009, o que medindo em dólares macêuticas contrário e tornar a lembrar que ainda
americanos equivale, na verdade, a uma há, de um lado, países desenvolvidos,
Embora o Relatório de 2010 dos ODM
quebra de mais de 2%: de 122,3 mil e, do outro, países em desenvolvimen-
não faça referência clara a esta Meta,
milhões, em 2008, para os mencionados to. Para perceber a disparidade basta
a portuguesa Campanha Objectivo 2015
119,6 mil milhões, em 2009. Conclui o olhar para o ano de 2008 (últimos dados
lançou no ano passado o relatório Objec-
Relatório das Nações Unidas que, muito disponíveis), quando 68% das pessoas
tivos do Milénio: Onde estamos e o que
graças à crise económica e financeira, dos países mais desenvolvidos tinham
falta fazer?, onde refere: “alguns fabri-
“enquanto a maioria dos compromissos acesso à Internet, enquanto nos países
cantes [de medicamentos] baixaram os
iniciais continuam em força, alguns dos em desenvolvimento a World Wide Web
seus preços para os sistemas de saúde
maiores doadores reduziram ou adiaram só chegava a 15% da população. Mes-
pública nos países em desenvolvimento,
as promessas feitas para 2010”. Uma mo assim é de registar que houve uma
nivelando-os com o poder de compra
situação que vai afectar principalmente evolução significativa em relação a
dos governos e das famílias. Contudo,
os Países Menos Desenvolvidos do mundo 2003, quando apenas 5% das pessoas
a deficiente disponibilidade de medica-
– que segundo a lista das Nações Unidas dos países mais pobres tinham ligação
mentos no sector público obriga muitos
são actualmente 49 (33 em África, 15 na à Internet.
pacientes a comprar os medicamentos
Ásia e o Haiti) – para onde é direccio- no sector privado, onde os preços são
Notícias • Amnistia Internacional 21
ESTABELECIMENTOS INFORMAIS sob a constante ameaça do desaloja- mente para a proliferação da violência
mento forçado, frequentemente violento e nestas zonas residenciais.
Actualmente, mais de dois milhões de
sem qualquer mecanismo compensatório
pessoas vivem em bairros degradados No entanto, ainda que a violência seja
para as suas vítimas.
ou estabelecimentos informais em Nai- um problema generalizado, são as jo-
robi, capital do Quénia. Escassos hecta- Apesar de existirem projectos gover- vens e as mulheres que sofrem de forma
res que encaixam demasiadas pessoas namentais para o melhoramento dos particular, uma vez que a falta de estru-
em terrenos com sistemas de esgotos bairros degradados, muitos deles nem turas e serviços essenciais as torna mais
artesanais e a céu aberto, onde muitos sequer são reconhecidos pelo Governo vulneráveis à violência sexual e à vio-
vivem sem acesso a água potável, hos- como existentes, o que faz com que não lência com base no género. Exacerbada
pitais, escolas e outros serviços públicos só não constem dos planos de desenvol- pelos ambientes em que circulam e pelas
essenciais. Todas estas pessoas estão vimento urbano, como muitos destes pla- suas rotinas diárias, a violência contra
nos incluam o deslocamento de milhares as mulheres é endémica nos estabeleci-
de pessoas sem que lhes seja oferecida mentos informais de Nairobi.
uma alternativa viável.
Os investigadores da Amnistia Interna-
cional para o Quénia visitaram mais de
200 bairros degradados e entrevistaram
QUANDO A VIOLÊNCIA É A VIZINHA
mais de 130 mulheres, que ajudaram a
DO LADO
compreender a natureza deste problema
Mais de 50% dos residentes dos bair- e discutiram a necessidade de medidas
ros degradados do Quénia afirmam que abordem directamente a questão da
sentirem-se inseguros nas suas residên- violência.
cias. Pouco ou nenhum policiamento,
A maioria das entrevistadas revelou
falta de confiança no sistema, ausência
que o receio de violência está nos seus
de mecanismos compensatórios para as
próprios lares, por maridos ou parentes;
vítimas e desconhecimento da lei são al-
© Amnistia Internacional nas ruas, pela comunidade; e até mesmo
guns dos factores que inibem a denúncia
Na capital do Quénia mais de dois milhões de pessoas vivem em pelas forças de segurança, que por vezes
bairros degradados como este. de actos violentos, contribuindo directa-
22 Notícias • Amnistia Internacional
são as próprias perpetradoras de abusos Internacional revelaram que, para evi- acarretam um outro dilema para as
de natureza sexual ou outros actos de tar o percurso, recorrem a um sistema a mulheres: escolherem entre tratarem
violência. que chamaram “latrina voadora” e que as suas crianças, muitas vezes doentes
consiste em sacos de plástico onde são e obrigadas a permanecer em casa, ou
Para além disso, as mulheres sofrem
depositados os excrementos e que, pos- trabalharem para providenciar-lhes bens
também de discriminação no acesso ao
teriormente, são arremessados para fora de primeira necessidade.
emprego, conseguindo apenas trabalhos
da habitação, onde permanecem, a céu
casuais e mal remunerados. A maioria
aberto. EXIGIR DIGNIDADE
fica reduzida à venda de produtos na bei-
ra da estrada ou a trabalhos domésticos A falta de duches é apontada como sen- A pobreza é tanto causa, como conse-
onde são frequentemente assediadas, do ainda maior que a de casas de banho. quência, da violência sobre as mulheres.
vendo-se forçadas a suportar a situação Os espaços comunitários de higiene são As vítimas de violência perdem capaci-
sob pena de perderem a sua única fonte partilhados por dezenas de lares e rara- dade produtiva, empobrecendo as suas
de rendimento. mente observam condições mínimas de famílias, as comunidades e, por con-
seguinte, a sociedade. Para além disso,
a falta de recursos corresponde, muitas
vezes, a uma falta de alternativas à
permanência num ambiente violento e
abusivo.
As mulheres e jovens entrevistadas pela
Amnistia Internacional referem ainda a
necessidade de medidas que abordem,
de forma directa, a questão da violência,
nomeadamente, segurança pública, um
sistema judicial eficaz e programas que
assegurem a capacitação socioeconómi-
ca generalizada, particularmente no que
concerne mulheres e juventude.
© Amnistia Internacional
A Amnistia Internacional tem, desde
Uma mulher atravessa o curso de água poluído que corre no bairro degradado onde vive. Julho de 2009, uma campanha dedicada
em exclusivo aos bairros degradados de
A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO “Temos que sofrer a vergonha e a indigni- Nairobi, cujas metas passam pela adop-
dade de (...) tomar banho na sua presença ção de políticas de desalojamento alinha-
A insegurança sentida pelas mulheres [dos familiares], os nossos valores morais e das com os padrões internacionais de
deve-se, fortemente, à falta de serviços a nossa cultura não permitem isto – tomar Direitos Humanos, pelo reconhecimento
essenciais, tais como saneamento bási- banho particularmente em frente às nossas oficial destas zonas residenciais e pela
co, que aqui se refere tão-somente à fal- crianças”
integração das mesmas nos planos do
ta de instalações sanitárias e de higiene. Testemunha de Kibera, um dos maiores bairros governo queniano para o desenvolvimento
Um estudo encomendado pelo Banco degradados do Quénia
urbano. Agora centrada sobre a questão
Mundial em 2006 mostrou que cerca de da violência sobre as mulheres e sobre
58% dos residentes em bairros degrada- salubridade. Assim, a prática comum é a o necessário acesso ao saneamento, a
dos partilham instalações sanitárias e utilização da própria casa como duche o campanha da Amnistia Internacional
de higiene e que cerca de 6% não tem que, além da constrição óbvia associada vai também de encontro ao preconizado
qualquer acesso a saneamento básico. ao facto de se transformar habitações de nos Objectivos de Desenvolvimento do
As mulheres e jovens que habitam uma só divisão em balneários, levanta Milénio no que concerne a erradicação
nestes estabelecimentos são particu- questões de privacidade particularmente da pobreza extrema e, em particular, o
larmente afectadas pela falta de acesso sensíveis para as mulheres. acesso sustentável a água potável e sa-
adequado a casas de banho (latrinas) e A este acresce o problema da elevada neamento básico.
duches. Não só as mulheres têm necessi- incidência de doenças facilmente trans-
“Porque a pobreza não é permanente. A
dades físicas diferentes dos homens (por missíveis, como a cólera ou a disenteria, pobreza é algo que pode ser mudado”
exemplo, relacionadas com a menstrua- nestes bairros degradados. A falta de
ção), como requerem maior privacidade Michael Nyangi, residente em Kibera convidado
condições sanitárias ajuda à transmis- para falar perante as Nações Unidas
na utilização das latrinas e para a sua são destas doenças, que por sua vez
higiene pessoal.
A maioria tem que andar cerca de 300 SAIBA MAIS O QUE PODE FAZER
metros até chegar à latrina mais próxi-
A Amnistia Internacional lançou no pas- É urgente exigir maior segurança para
ma. A organização dos bairros em “corre- sado mês de Julho o relatório “Insecu- as mulheres dos bairros degradados do
dores” (um labirinto de passagens escu- rity and Indignity: Women’s experiences Quénia. Tudo o que tem de fazer é desta-
ras e apertadas entre o casario) faz deste in the slums of Nairobi, Kenya”, agora car o postal que encontra no interior des-
percurso uma viagem perigosa para as disponível em www.amnistia-internacio- ta revista e enviar ao Ministro de Estado
mulheres e jovens, particularmente à nal.pt (Aprender / Revista da Amnistia para a Administração das Províncias e
noite. As entrevistadas pela Amnistia Internacional) Segurança Interna.
Notícias • Amnistia Internacional 23
JOVEM
PORTUGAL ACOLHE ENCONTRO EUROPEU DE JOVENS
Entre 26 de Julho e 2 de Agosto, a secção portuguesa da Amnistia Internacional foi a anfitriã do Encontro
Europeu de Jovens da organização, que juntou em Lisboa 21 países. O “Notícias da Amnistia Internacio-
nal Portugal” foi espreitar o evento... O Encon
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Entre 26 de Julho e 2 de Agosto, a Pousa- de Jovens, cujo conceito remonta a 2007, Suíça, Irlanda e nos países nórdicos. No
da da Juventude de Almada respirou recorda Benjamin Titze, da Direcção da entanto, este seria um evento diferente,
multiculturalismo ao receber o Encontro Amnistia Internacional Alemanha, na uma vez que teria de ser Pan-Europeu,
Europeu de Jovens da Amnistia Interna- altura Coordenador da Juventude. Em ou seja, “estar aberto a todas as secções
cional, de que Portugal foi pela primeira conversa com o “Notícias da Amnistia e estruturas europeias da Amnistia In-
vez anfitrião. Meia centena de jovens, Internacional Portugal” explica que em ternacional”, enquanto os anteriores
maiores de 18 anos, chegaram a Lis- Dezembro de 2007 decorreu uma reunião juntavam apenas as que já tinham maior
boa vindos de 21 secções europeias da de Grupos de Jovens da organização, em contacto. Na proposta então realizada
Amnistia Internacional. O objectivo era Paris, para “discutir como fortalecer o para o Encontro Europeu de Jovens pode
“fomentar o trabalho dos jovens do movi- trabalho dos jovens na Europa e a cola- ler-se: “vai oferecer aos participantes, de
mento”, referiu Luísa Marques, Directora boração entre as várias estruturas euro- muitos contextos culturais e nacionais
de Campanhas e Estruturas da secção peias da Amnistia”. Decidiu-se instituir diferentes, a oportunidade de se reuni-
portuguesa da Amnistia. A responsável aquilo a que se chamou Acampamento rem, trocarem experiências e participa-
pelo Encontro espera agora que as li- de Verão Europeu, hoje Encontro Europeu rem num projecto educativo informal”.
gações criadas “dêem frutos e que no de Jovens, a realizar-se de dois em dois
Foi exactamente isso que aconteceu
futuro os jovens consigam trabalhar em anos.
em 2008, em França, e se repetiu este
Rede, não só a nível nacional, mas com
A ideia não era nova, uma vez que desde ano, em Almada, Portugal, do primeiro
outras secções”. Um objectivo que esteve
2001 já tinham sido organizados en- ao último dia. O Encontro começou
na génese do próprio Encontro Europeu
contros de jovens na Eslovénia, Israel, com uma reunião de Coordenadores de
26 Notícias • Amnistia Internacional
A Amnistia Internacional Portugal agradece a todos os que apoiam o trabalho em prol dos Direitos Humanos. É graças ao seu
contínuo apoio que a nossa secção consegue chegar mais longe no combate às violações dos Direitos Humanos, no nosso país e em
todo o mundo.
RECEITAS E DESPESAS
14.000
Apresentamos na tabela 1 os valores 12.464 12.553
de receitas e despesas da secção por- 12.000 11.378
tuguesa da Amnistia Internacional (AI), 10.000 8.132
correspondentes ao primeiro semestre de 8.000
2010. Neste período, a AI Portugal obteve 6.000 4.101
um saldo positivo no valor de 55.117,51 4.000
euros, tendo o valor das receitas aumen- 2.000
tado 21,3% e o valor das despesas 14,7% 0
relativamente ao mesmo período do ano Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010
(até Julho)
passado.
GRÁFICO 1: Evolução de Membros e Apoiantes entre 2006 e 31 de Julho de 2010.
Nesta fase de crescimento da secção são
prioritárias a comunicação com os Mem-
bros e Apoiantes e sobretudo a eficácia Face” é ainda a principal via de inscrição
do nosso trabalho de investigação e de Apoiantes regulares, representando
denúncia. 84% do total de Membros e Apoiantes da Registos à data de 31 Julho
secção portuguesa. É graças a esta esta- AI Portugal 2009 2010
bilidade e crescimento que a secção por-
tuguesa garante uma maior visibilidade Apoiantes e Membros
10.125 10.524
e qualidade nas acções e campanhas de- via “Face to Face”
TOTAL TOTAL senvolvidas no nosso país. Obrigado pelo Outros Membros
Jan./Jun. Jan./Jun. seu apoio, faz toda a diferença. (via site, CTT, boletim) 1.565 1.459
2010 2009
DESPESAS 316.242,25 € 275.781,88 € Doadores Pontuais 514 550
Direitos Humanos no seu
Total 12.204 12.533
RECEITAS 371.359,76 € 306.142,27 € Local de Trabalho
SALDO 55.117,51 € 30.360,39 € Para além das acções e campanhas TABELA 2 - Registo de Membros e Apoiantes
da AI Portugal – Dados comparativos de 2009
globais e nacionais promovidas pela AI,
TABELA 1 - Receitas e Despesas e 2010, à data de 31 de Julho.
Dados comparativos do primeiro
há mais de dez anos que a Amnistia In-
semestre de 2009 e 2010. ternacional desenvolve um vasto trabalho
de Educação e Formação para os Direitos
Humanos. Agentes das forças de segu- NATAL 2010 – Este Natal con-
rança, empresas, pessoas sem-abrigo, tinue a ser Solidário!
EVOLUÇÃO DE MEMBROS E reclusos, vítimas de violência doméstica
APOIANTES e sobretudo crianças dos 5 aos 18 anos Este Outono novos presentes vão “cair”
receberam, nos últimos anos, as Sessões na Amnistia Internacional e podem ir
Apresentamos no gráfico 1 a evolução do de Formação da Amnistia. direitinhos à sua árvore de Natal. Na
número de Membros e Apoiantes activos da hora de fazer a lista dos seus presentes,
secção nos últimos anos (até 31 de Julho Queremos chegar aos locais onde as pes- não esqueça as nossas soluções! Para
de 2010). Tal como se pode verificar, a soas estão! Queremos informar, sensibi- além dos jogos, canetas, livros infantis e
Amnistia conta actualmente em Portugal lizar e mobilizar todos os tipos de público CD’s, vamos ter novas camisolas, malas
com 12.533 Membros e Apoiantes activos, para os Direitos Humanos. Informados recicladas e agendas para colocar no seu
ou seja, pessoas que contribuem actual- podemos agir, salvar vidas, mudar leis, sapatinho! Compre presentes e postais
mente através de donativos e/ou quotas lutar pela dignidade e justiça de todos. de Natal na Amnistia e torne esta época
de membro. A AI agradece o seu apoio. Em 2009 e 2010 várias empresas reve- ainda mais especial!
Na tabela 2 poderá observar as diferentes laram uma enorme receptividade à nossa Espreite em breve na nossa Loja em www.
vias de inscrição de Membros e Apoiantes visita. Saiba que podemos também levar amnistia-internacional.pt ou envie email
referentes aos primeiros sete meses de os Direitos Humanos à sua empresa. para Itana Cruz: i.cruz@amnistia-inter-
2009 e 2010. O projecto de rua “Face to Contacte-nos pelo i.cruz@amnistia-in- nacional.pt.
ternacional.pt.
28 Notícias • Amnistia Internacional
BOAS NOTÍCIAS
MÉXICO homicídio de Alejandro Feliciano García,
que ocorrera a 1 de Janeiro do mesmo
Conseguimos! Raúl Hernández está
ano. Julga-se que o falecido tinha liga-
em liberdade! ções à polícia e ao Exército. Passados 11
“Quero agradecer à Amnistia Internacio- meses, os quatro companheiros foram
nal e às pessoas de muitos países que libertados, por falta de provas, e Raúl
trabalharam pela minha libertação”. permaneceu detido, uma vez que duas
Foram estas as palavras do mexicano testemunhas oculares garantiam tê-lo
Raúl Hernández à saída da prisão, onde visto. Os testemunhos, de tão parecidos,
esteve mais de dois anos acusado de deixavam adivinhar terem sido prepara-
homicídio, numa acusação que terá dos e os álibis de Raúl não foram sequer
surgido por defender os Direitos Huma- ouvidos.
nos. Entre as centenas de pessoas que Uma situação que não surpreendeu os
apelaram em seu nome estão muitos elementos da OPIM, habituados a deten-
portugueses. Obrigada a todos os que ções e condenações injustas. A Amnistia
ajudaram a libertar mais um prisioneiro Internacional adoptou o mexicano como
de consciência! prisioneiro de consciência e o seu apelo
Foi no número 4 do “Notícias da Amnis- foi enviado a todo o mundo. Chegou a
tia Internacional Portugal” que falámos Portugal sob a forma de postal, publica-
pela primeira vez de Raúl Hernández, nos do nas páginas centrais da revista oficial
Apelos Mundiais. Activista há vários anos da secção portuguesa. Várias foram as
pelos Direitos Humanos dos povos indí- pessoas que não hesitaram, recortaram
genas, na Organização do Povo Indígena o postal e enviaram-no via Correio. E to-
Me’phaa (OPIM), foi preso a 17 de Abril dos juntos conseguimos... A 27 de Ago-
de 2008 quando passava por um roti- © Ricardo Ramirez Arriola sto Raúl Hernández foi absolvido e com
neiro controlo militar. Com quatro compa- O ex-prisioneiro, na sua cela, com os milhares de postais que o valor de um selo libertámos mais um
nheiros da mesma causa, foi acusado do recebeu. activista!
APELOS MUNDIAIS
“Quando organizações como a Amnistia Internacional pedem uma assinatura, assinem. Porque estão
a fazer a diferença. Quando estava no corredor da morte na Florida iam chegando faxes, emails,
postais... Eles não liam tudo, mas viam que chegavam 10.000, 20.000 e acreditem que faz a dife-
rença...
Acham que não serve para nada? Quando o meu pai falava com as secretárias do Governador da
Florida na altura, elas diziam «quem é este espanholito que faz com que tenhamos a caixa de email e
o fax bloqueados e que todas as semanas faz chegarem centenas de assinaturas. Como podem estar
todos tão interessados nele». Acreditem, as assinaturas são fundamentais”.
Foram estas as palavras proferidas pelo espanhol Joaquín José Martinez, um inocente que esteve três anos no corredor da morte na
Florida, Estados Unidos da América. Foram ditas perante dezenas de estudantes, numa conferência que decorreu em Coimbra em
Outubro de 2009.
NAS PRÓXIMAS PÁGINAS APRESENTAMOS-LHE MAIs quatro PESSOAS QUE AINDA PRECISAM DA SUA
AJUDA. CONHEÇA OS CASOS E PARTICIPE!
A SI CUSTA MUITO POUCO E PARA TODOS ELES PODE SIGNIFICAR O FIM DE UMA INJUSTIÇA!
30 Notícias • Amnistia Internacional
Ucrânia
Alegações de tortura ignoradas
Aleksandr Rafalsky (39 anos) foi detido a 13 de Junho de 2001, em Kiev, capital da
Ucrânia, sob suspeitas de estar envolvido na morte de quatro pessoas. A 30 de Julho
de 2004, após um julgamento marcado por falhas processuais, foi condenado a prisão
perpétua, com base no depoimento de duas testemunhas, alegadamente submetidas
a tortura e outros maus-tratos.
Aleksandr declara-se inocente e afirma ter sido igualmente submetido a tortura e ou-
tros maus-tratos na prisão, entre 13 e 26 de Junho de 2001 (dia da acusação formal),
que incluíram uma simulação de execução com uma arma apontada à cabeça durante
cinco minutos, esperando que assim confessasse todos os crimes.
Não houve, entretanto, qualquer investigação sobre as alegações de tortura e as quei-
xas de Aleksandr têm sido rejeitadas, apesar da grande campanha internacional em
seu favor, não só protagonizada pela sua mãe, Tamara, como pelas mães de outros
prisioneiros e por grupos de Direitos Humanos como a Amnistia Internacional. © Privado
Guatemala
Homicídio de jovem estudante por investigar
(Postal-apelo em anexo no interior desta revista. Tudo o que tem de fazer é assinar,
colocar a cidade e o país de onde envia o apelo e a data. Depois basta enviar por cor-
reio.)
Notícias • Amnistia Internacional 31
IRÃO
Jornalista condenada a seis anos de prisão
Guiné Equatorial
Prisioneiros de consciência precisam de ajuda
AGENDA
AMNISTIA INTERNACIONAL NUM pobreza e da exclusão social enquanto
violações graves aos Direitos Humanos.
Amnistia Internacional Portugal traz pela
primeira vez a Portugal China Keitetsi.
DOS CONCERTOS DO ANO
Destacamos, em Lisboa, a concentração Aos nove anos de idade a ugandesa fu-
Foram precisas apenas sete horas para que vai decorrer no Largo de Camões, en- giu de casa do pai para procurar a mãe
que se esgotassem os cerca de 50 mil tre as 18 e as 19 horas, e logo de seguida quando foi capturada pelo Exército de
bilhetes postos à venda para o primeiro o lançamento do livro, em português, da Resistência Nacional, que em 1986 se
dia de concerto dos U2, em Coimbra, ten- ex-Secretária-Geral da Amnistia Interna- tornou no novo Governo do país. Ainda
do os ingressos para o segundo dia do cional, Irene Khan, intitulado A Verdade criança, China Keitetsi foi um soldado
evento, cerca de 40 mil, terminado num Desconhecida: Pobreza e Direitos Huma- como qualquer outro, tendo a sua fragili-
recorde de quatro horas. Dados que pro- nos, pela editora Objectiva. Saiba mais dade de menor permitido que fosse várias
vam que este é um dos concertos do ano, em http://24hcombatepobreza.blogspot. vezes violada pelos seus superiores. Em
que chega já a 2 e 3 de Outubro ao Es- com/ 1995 conseguiu fugir através do Qué-
tádio Cidade de Coimbra. Se foi um dos nia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabué, até
sortudos que conseguiu bilhete, saiba alcançar a África do Sul, onde pediu o
que a Amnistia Internacional também MAIS UM CAMPO DE TRABALHO estatuto de refugiado. O Alto Comissari-
vai lá estar, a convite da banda irlande- ado das Nações Unidas para os Refugia-
sa que é Embaixadora da Consciência do
DA AMNISTIA INTERNACIONAL
dos realojou-a na Dinamarca, onde vive
movimento. Nas horas que vão anteceder Tornaram-se já uma tradição os Campos até hoje. Uma história para conhecer
o espectáculo, vamos falar de Direitos de Trabalho para jovens da Amnistia In- melhor nos dias 17, 18 e 19 de Novembro,
Humanos e promover uma importante ternacional Portugal. Este ano realiza-se respectivamente no Porto, Aveiro e Lis-
petição. Durante o concerto vão com a sua 11.ª edição, entre os dias 30 de boa, onde China Keitetsi vai esta a
certeza haver muitas surpresas. Des- Outubro e 2 de Novembro, sempre com o dar conferências. Os locais estão por
cubra-nos, leve os seus amigos e siga mesmo objectivo: falar e debater os Di- designar, pelo que fique atento a www.
a digressão 360º dos U2 no espaço da reitos que são de todos nós, Seres Huma- amnistia-internacional.pt
Amnistia Internacional em http://www. nos. Durante quatro dias, uma centena
facebook.com/ArtforAmnesty de jovens, com idades entre os 15 e os
18 anos, vão deixar de lado o currículo CIDADES PORTUGUESAS
escolar e estudar apenas Direitos Huma-
nos. Ensinamentos a que se aliam sem-
CONTRA A PENA DE MORTE
pre diversas actividades lúdicas. O local Quando se aproxima mais um Dia Mun-
está por designar, mas as inscrições dial contra a Pena de Morte, que se as-
abrem em breve. Mais informações pelo sinala a 10 de Outubro, a Amnistia In-
boletim@amnistia-internacional.pt ternacional recorda que apesar de 139
Estados terem já abolido esta forma cru-
el e desumana de punição, na prática ou
© Amnistia Internacional para crimes comuns, há 58 países que a
mantêm no ordenamento jurídico. Portu-
gal, um dos pioneiros na sua abolição,
PORTUGAL FAZ DIRECTA PELA deve dar o exemplo e a 30 de Novembro
– dia em que o Grão-Ducado da Toscana,
ERRADICAÇÃO DA POBREZA em Itália, aboliu pela primeira vez esta
Sendo 2010 o Ano Europeu de Combate prática – juntar-se de forma massiva à
à Pobreza e Exclusão Social, diversas iniciativa “Cidades para a Vida-Cidades
entidades (entre elas a Amnistia Inter- Contra a Pena de Morte”. Todos os anos
nacional Portugal), coordenadas pelo este evento é promovido pela Coligação
© Amnistia Internacional Portugal
Instituto da Segurança Social, estão a Mundial Contra a Pena de Morte, da qual
promover “24 horas pelo Combate à Po- a Amnistia Internacional faz parte, que
breza e Exclusão”. Diversas actividades pede às autarquias de todo o mundo que
estão já programadas para o próximo
CONHEÇA A HISTÓRIA DE UMA iluminem, simbolicamente, um edifício
dia 6 de Outubro, para as cidades de CRIANÇA-SOLDADO público, mostrando assim serem contra a
Leiria, Lisboa, Porto, Santarém e Viana Antecipando mais um aniversário da pena capital. Mais informações em www.
do Castelo, com o objectivo de sensibi- Convenção sobre os Direitos da Criança, citiesforlife.net ou pelo email boletim@
lizar os portugueses para o problema da que se assinala a 20 de Novembro, a amnistia-internacional.pt
Notícias • Amnistia Internacional 33
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE MOSTRA DE DOCUMENTÁRIOS sobre alguns dos desafios que hoje se
CARTOONS SOBRE DIREITOS HUMANOS colocam aos Direitos Humanos em todo
o mundo. China Blue, de Micha X. Peled;
É já a 21 de Outubro que é inaugurada Sensibilizar a comunidade de Sintra e Children of Gaza, de Jezza Neumann; Hor-
uma exposição internacional de cartoons arredores para a necessidade de pro- tas di Pobreza, de Sara Correia de Sousa;
centrada na temática da Dignidade mover e defender os Direitos Humanos Hasta la Última Piedra, de Juan José Lo-
Humana. Promovida pela FecoPortugal- é o objectivo principal da IX Mostra de zano; Les Arrivants, de Claudine Bories,
-Associação de Cartoonistas e pela Documentários sobre Direitos Humanos, e Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões,
Amnistia Internacional Portugal, visa promovida pelo Grupo Local 19-Sintra da são os filmes em exibição, alguns em es-
alertar a sociedade para a necessidade Amnistia Internacional Portugal, numa treia, sempre seguidos de debates. Mais
de todos os Seres Humanos viverem em parceria com o Centro Cultural Olga informações perto da data em http://
Dignidade. A mostra vai estar patente Cadaval. A mostra terá lugar neste es- grupo19aisp.no.sapo.pt/ e www.amnis-
durante duas semanas na Sociedade de paço, entre os dias 10 e 12 de Dezembro, tia-internacional.pt
Instrução Guilherme Cossoul, Rua Pro- e exibirá documentários sobre diversas
fessor Sousa Câmara, 156, Campolide, temáticas, procurando assim reflectir
em Lisboa. A entrada é livre.
TOME NOTA
• 4 de OUTUBRO
Dia Mundial do Habitat
• 10 de OUTUBRO
Dia Mundial contra a Pena de Morte
• 17 de OUTUBRO
Dia Internacional para a Erradicação
da Pobreza
• 18 de OUTUBRO
Dia Europeu contra o Tráfico de Seres
Humanos
• 16 de NOVEMBRO
Dia Internacional da Tolerância
• 25 de NOVEMBRO
Dia Internacional para a Eliminação da
Violência sobre as Mulheres
• 1 de DEZEMBRO
Dia Mundial de Luta Contra a SIDA
• 2 de DEZEMBRO
Dia Internacional para a Abolição da
Escravatura
• 3 de DEZEMBRO
Dia Internacional das Pessoas com
Deficiência
• 5 de DEZEMBRO
Dia do Voluntário
• 10 de DEZEMBRO
Dia Internacional dos
Direitos Humanos
34 Notícias • Amnistia Internacional
CRÓNICA
Ainda Há TempO*
Por Inês Campos e Luís Mah
Objectivo 2015 – Campanha do Milénio das Nações Unidas, www.objectivo2015.org
* Crónica escrita antes da reunião nas Nações Unidas a propósito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, que decorreu entre os dias 20 e 22 de Setembro.
-
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DA
AMNISTIA
INTERNACIONAL
TODOS OS DIAS, A TODA A HORA E A CADA SEGUNDO, SÃO VIOLADOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS
A Amnistia Internacional trabalha para acabar com todos eles
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