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Dr. Oscar Rodríguez Serrano
Odontologia Veterinária
Recife, 2002
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Odontologia Veterinária
HISTÓRIA
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Página do Livro doa Animais (Zuo Zhuan)
Hipócrates, descreve na antiga Grécia, como realizar uma extração dentária. No livro
”Indicus” explica como efetuar a extração dentária e amputação da língua para melhorar a
oclusão nos eqüinos.
Pelagonius no ano 350 a.C., descreve varias doenças dentais, assim como o tratamento
em dentes dos cavalos no capítulo “De Dentibus”.
Aristóteles (384–322 a.C.) fala sobre a periodontite no seu livro ”Animaliu”, como um
sintoma e não como síndrome, destacando que se a doença não desaparecesse
espontaneamente, esta seria incurável.
Durante o Império Romanos, por este ter um grande exército, foram realizados grandes
avanços na medicina veterinária. Estes descreveram a anatomia e morfologia dos dentes.
Acredita-se como forma de evitar a falsificação e troca de animais.
Novamente a odontologia mergulha numa fase obscura onde não se conhece avanço
significante. Unicamente no século XIII voltamos a escutar por meio de Jordanus Ruffus, o
tratamento de eqüinos, porém sem nenhum embasamento científico, provocando um
aparecimento de charlatões que tomam conta dos tratamentos odontológicos veterinários,
geralmente sendo realizado pelos ferreiros. Estes provocavam tratamentos desumanos cheios
de crueldade. A doma dos cavalos era realizada de forma irracional, sendo assim retirados
dentes e colocados vidros quebrados para tornar a boca dos animais mais sensível.
A primeira faculdade de Veterinária foi fundada em Lyon na França no ano de 1762 por
Claude Bourgelat, porém ainda neste tempo a odontologia não despertava interesse na classe
médica. Com o inicio dos zoológicos, acontece um caso que chamou a atenção das pessoas. Na
Inglaterra um elefante foi sacrificado em 1826 pela sua agressividade e só após a morte foi
descoberto que isto era provocado por um colmilho fraturado e infeccionado. No ano de 1862,
cem anos depois do inicio da primeira faculdade, Edward Mayhew publica “O Ilustrado Doutor de
Cavalos”, onde descreve a necessidade do trato das doenças odontológicas. Porém unicamente
no século XX é que Freddie Milne (1867-1942), começa a dedicar-se à odontologia eqüina em
1924 nos hipódromos da Europa. Em 1930 já aparecem varias publicações de odontologia
veterinária, e em 1945 cria-se o Instituto Dental Veterinário em Viena, destacando o
prof. Karl Zetner.
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Porém foi nos Estados Unidos que a odontologia veterinária chegou no seu auge, sendo
criado o primeiro dentifrício para animais em 1975 e em 1977 a American Veterinary Dental
Society, e logo depois, o American Veterinary Dental College.
Na Europa foi formado a European Veterinary Dental Society em 1992 e em 1996 a
European Veterinarian Dental College.
No Brasil, um dos pioneiros na odontologia veterinária, tem sido o Dr. Marco A. Gioso,
atualmente professor da USP e diplomado pelo American Veterinary Dental College. Este tem
incentivado muito a odontologia veterinária em especial dos pequenos animais. Hoje contamos
com varias clínicas especializadas em odontologia especialmente no estado de São Paulo. Entre
estas destacam-se a Odontovet entre outras.
MORFOLOGIA DENTÁRIA
Tipos de Dentes
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CÃES Incisivos Caninos Pré-molares Molares
Maxila 3 1 4 2
Mandíbula 3 1 4 3
Fórmula dentária nos cães
Podemos classificá-los de acordo com as mudanças que estes sofrem, por exemplo:
Dentadura Heterodonte: dentadura dos mamíferos. Há diversos tipos de dentes como incisivos,
caninos, pré-molares e molares.
Dentadura Homodonte: achado em peixes, répteis. Todos os dentes são iguais.
Dente Monofiodonte: são os dentes que nunca sofrem muda, por exemplo os dentes
permanentes (molares, colmilhos dos elefantes).
Dente Diofiodonte: são os dentes que sofrem uma muda no curso da vida. Por exemplo, nos
mamíferos, os dentes de leite são substituídos por dentes permanentes (incisivos, caninos, pré-
molares).
Dentes Polifiodonte: são aqueles que têm uma reprodução continua, como os dentes dos
peixes, anfíbios, répteis.
Dentes Secodontes: são aqueles que têm as bordas cortantes. Geralmente comprimidos
lateralmente com aspecto de faca. Por exemplo os pré-molares dos carnívoros.
Dente Bunodonte: Estes possuem cúspides de esmalte justapostas que formam uma superfície
trituradora. Por exemplo os molares do ser humano.
ANATOMIA
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vasos sangüíneos e nervos que nutrem e dão a sensibilidade ao dente. Este canal pulpar é
diferente nos animais que nos humanos.
Os dentes podem ter uma, duas ou três raízes, de acordo com seu posicionamento. Na
tabela seguinte podemos mostrar como estão formados:
Dente Nº de raízes.
Incisivos, Caninos e 1º Pré-molar 1
superiores
Pré-molar 2 e 3 superiores 2
Pré-molar 4, molares 1 e 2 3
superiores
alveolar. A terceira está sempre em continua renovação e forma um colar ao redor do colo do
dente, unindo-se ao esmalte. O ligamento periodontal é formado por tecido conectivo que
penetra no cemento de um lado e no osso alveolar do outro. É formado por fibras de colágeno
tendo elasticidade para suportar o mecanismo da mordida. Esta estrutura segura o dente na
arcada dentária.
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O osso alveolar (placa cribiforme) é uma placa fina que cobre o dente formando um
alvéolo.
Os dentes dos herbívoros apresentam diferenças em relação aos dos caninos e felinos.
Por exemplo: a coroa dos dentes dos herbívoros apresenta várias dobras do esmalte paralelas
ao eixo do dente, formando um cilindro oco aberto (cavidade adamantina). Em alguns molares
do cavalo e do boi este se encontra fechado pelo lado oral, e as depressões na coroa e nas
fissuras exteriores do esmalte estão cobertas pelo cemento. As fissuras no esmalte na superfície
trituradora dos molares se formam devido ao rápido desgaste do cemento e da dentina, que são
macios. Enquanto a maioria dos dentes possui unicamente uma polpa dentária estes podem
estar presente em vários canais.
No homem, no cavalo e nos suínos, o crescimento do dente finaliza com a formação da
raiz, logo depois de ter acontecido a erupção. A perda longitudinal que acontece com o desgaste
de fricção é insignificante e vai ser compensada parcialmente pela involução da parede alveolar.
O maior desgaste é dos herbívoros com aproximadamente 2,2 mm por ano.
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NOMENCLATURAS
Existem vários tipos de nomenclaturas utilizadas para que possamos nos localizar na
boca de um animal, classificando de forma abreviada cada dente, o que facilita o diagnóstico. Na
medicina veterinária se tem utilizado as nomenclaturas da odontologia humanas, sendo estas
adaptadas e modificadas para uso na odontologia veterinária.
Podemos mencionar as seguintes nomenclaturas: Anatômica, Triadan (modificada),
Sistema da Federação Internacional, Haderup, Palmer, Zsigmondy ou de ângulo, entre outras.
Anatômica:
Cada dente é identificado por uma letra que descreve a sua função. Por exemplo:
I: para os incisivos; C: para os caninos; P: pré-molares e M: molares.
No caso para os dentes decíduos estas letras são escritas com letra minúscula (i, c, p,
m, respectivamente). Para identificar o tipo de incisivo, pré-molar ou molar se designa um
número a cada um de acordo com a sua posição. Para determinar o seu quadrante se colocam
estes números na parte superior ou inferior, direita ou esquerda da letra do dente. Exemplo:
I1 : primeiro incisivo superior direito
3 P : terceiro pré-molar decíduo (de leite) superior esquerdo
2M : segundo molar inferior esquerdo
TRIADAN (modificada):
Muito utilizada na odontologia humana e transformada para a odontologia veterinária.
Esta nomenclatura separa a arcada dentária em 04 quadrantes e identifica cada dente por meio
de 03 (três) dígitos. O primeiro número descreve o quadrante superior direito (este é o
quadrante 100), seguindo em sentido horário pelo superior esquerdo (quadrante 200),
terminando no quadrante inferior direito com o número 400. Os dentes decíduos são descritos
como a numeração 500 até 800, também no sentido horário. O segundo dígito numera os dentes
individualmente, a partir da linha média distal. Por exemplo:
101: Primeiro incisivo superior direito.
308: Quarto pré-molar inferior esquerdo
604: Canino superior esquerdo decíduo
Sistema da Federação Internacional:
Este sistema é muito parecido ao anterior identificando com o primeiro número o
quadrante (de 1 a 4 para os permanentes, e de 5 a 8 para os decíduos), e separando por uma
vírgula os outros dígitos que descrevem o dente. Por exemplo:
1,4: Canino superior direito
7,6: Segundo pré-molar inferior esquerdo decíduo
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2,1: primeiro incisivo superior esquerdo
Zsigmondy ou ângulo:
Utiliza os braços de uma cruz para identificar o quadrante. De acordo com o seu
posicionamento mostra se é superior ou inferior ou esquerda ou direita. Exemplo:
Γ8: quarto pré-molar inferior esquerdo
∟4: Canino superior esquerdo
Г7: terceiro pré-molar inferior esquerdo
DIVISÃO DO DENTE
Para poder localizar as lesões nos dentes é importante saber as faces dos mesmos. Os
dentes possuem 06 (seis) faces:
Mesial: é a superfície do dente orientada à linha média. É a sua parte anterior;
Distal: é a superfície posterior ou caudal do dente, oposta à superfície mesial;
Apical: é a parte que se refere à raiz do dente;
Oclusal: é superfície mastigatória ou de oclusão, oposta à apical;
Lingual ou palatal: face que está em contato com a língua ou palato;
Labial ou vestibular: parte externa dos dentes em direção aos lábios e bochechas.
oclusal
Descrição das faces dos dentes
ERUPÇÃO DENTÁRIA
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Dentes CANINOS FELINOS
Decíduos Permanentes Decíduos Permanentes
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Braquicéfalo: Cabeça achatada da frente para atrás (cabeça larga). A mandíbula é maior em
relação ao crânio. Ex: Pequinês, Shih-Tzu, Bulldog, Lhasa-Apso, Gatos Persas, etc.;
Mesocéfalo: Intermediário entre os tipos supracitados. Aproximadamente 75% dos cães estão
classificados nesta categoria. Ex: Labrador, Pastor Alemão, Spaniels, etc.
Além destas formas anatômicas, podemos achar defeitos na oclusão originados
geneticamente. As raças mesocefálicas quando em normoclusão, o dente canino mandíbular
encaixa entre o 3º incisivo e o canino superior; o 4º pré-molar inferior encaixa entre o 3º e 4º pré-
molares superiores. Os dentes não se tocam. O contato pode acontecer unicamente nas raças
braquicefálicas.
O Braquignatismo ocorre quando o maxilar ultrapassar a mandíbula, sendo freqüente nas raças
dolicocefálicas. O prognatismo ocorre quando a mandíbula ultrapassa o maxilar, sendo
observado nas raças braquicefálicas.
EXAME GERAL
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NEOPLASIAS
ENDODONTIA e ORTODONTIA
Dente sem cálculo dentário Dente com cálculo supragengival Dente com cálculo supra e sub-
gengival lesando o periodonto
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Existem dois tipos de cálculo dentário: supragengival e o subgengival. O primeiro é o
visível na boca dos animal, o segundo é aquele que penetra abaixo da gengiva e vai alterando
as estruturas de sustentação dos dentes, provocando assim após certo tempo, a queda precoce
do dente. O cálculo subgengival é mais perigoso pois a sua localização, não só provoca danos
graves assim como evita os processos autolimpantes da boca. Apesar do cálculo supragengival
colaborar com a proteção da placa, aumentar a gengiva e causar halitose, este não chega a ser
tão perigoso como o subgengival..
O tratamento mais correto para evitar este problema seria a remoção profilática. Certas
alterações, se tratadas na sua fase inicial, têm caráter reversível. Porém após algum tempo, se
não corrigidas corretamente, podem produzir lesões permanentes.
O primeiro passo é a identificação da placa por meio de reveladores químicos. Estes
tingem a placa mostrando onde esta se posiciona para assim iniciar a sua completa remoção.
Esta pode ser realizada com fórceps odontológicos, tendo-se o cuidado para não fraturar o
dente. O aparelho de ultra-som ou remotar, e as curetas manuais são necessárias não só para
tirar o cálculo como para raspar a placa bacteriana (principal objetivo da profilaxia). Após a
remoção se faz a raspagem radicular, também chamada de aplainamento. Com isto vamos
retirar qualquer resíduo de cálculo na superfície dentária tanto na coroa como na raiz, assim
como alisamos a superfície dentária, para retirar ao máximo as superfícies rugosas do dente.
O terceiro passo é o polimento da superfície dentária que vai evitar que a placa adira
novamente por um tempo. Deixando a superfície rugosa, facilitaria que a placa se instalasse com
maior rapidez.
Este procedimento não é realizado na maioria das vezes pelos médicos veterinários o
que provoca uma recidiva dos problemas rapidamente. O polimento é muito simples, porém
precisa de equipamento adequado.
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Uma vez realizado o polimento, se efetua a irrigação com solução anti-séptica. Segundo
estudos realizados, esta placa tende a reinstalar-se no sulco gengival após a profilaxia. Não é
recomendado a utilização da agulha de pressão de jato de água, pois isto poderia aderir com
maior facilidade à placa. Então o mais indicado é com uma seringa de 20 ou 50 ml realizar a
irrigação da cavidade para eliminar os remanescentes bacterianos.
Como último passo temos as medidas profiláticas que vão evitar o acúmulo da placa por
mais tempo. Estas são de total responsabilidade do proprietário/a, pois será ele/ela quem vai
realizar estes procedimentos. Estas medidas significam metade do sucesso da prevenção da
periodontite. Entre algumas que podem ser mencionadas estão: o tipo de alimento que os
animais vão ingerir (ração concentrada, biscoitos, ossos, etc.), escovação dentária, brinquedos
específicos para remoção da placa, entre outros.
Destacamos que, para realizar estes procedimentos mencionados, é necessária a
sedação ou anestesia do animal para poder realizar a correta limpeza, tanto externa como
internamente. Se este tratamento fosse realizado com o animal acordado poderia
provocar grandes danos à estruturas do periodonto, assim como não poderia ser limpa a
cavidade bucal na sua totalidade.
Se o animal apresentar uma gengivite severa é indicado realizar uma cirurgia
periodontal onde se retira parte da bolsa gengival para esta não proteger a placa bacteriana.
Após este tratamento é recomendado a utilização de antibióticos para evitar infecções
secundárias. Este é um dos procedimentos mais sépticos realizados na cirurgia. O maior perigo
da periodontite esta no fato destas bactérias poderem penetrar na circulação sangüínea e
provocar infecções em outros órgãos como coração, fígado, rins, articulações, etc.
A odontologia veterinária esta iniciando e avançando muito ultimamente. Hoje em dia
não existe entidade específica que forneça uma especialização nesta área da medicina
veterinária aqui no Brasil. Os estudos e aprendizados são efetuados em clínicas particulares e
em algumas faculdades onde se ensina este tipo de tema e estudo de forma empírica. Está em
vias de formação a primeira Sociedade Brasileira de Odontologia Veterinária, possivelmente
chamada de SOBOV, que está sendo formada em São Paulo. Torcemos para que este sonho
seja realizado, pois teríamos um órgão que possa controlar, ensinar, avaliar e estudar melhor os
casos da odontologia veterinária no Brasil.
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