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CAPÍTULO III

Jardim do Seridó: uma industrialização diversificada

Conforme o exposto no capítulo anterior, a ocupação do espaço interiorano do Rio


Grande do Norte se deu em decorrência do crescimento da pecuária bovina que, em função de
seu caráter extensivo, necessitava de espaço para o seu desenvolvimento. Foi com base nesse
fundamento da expansão do criatório que o “Sertão do Seridó teve o seu povoamento
deflagrado” (MORAIS, 1999, p.36). Considerando as fontes que tratam dessa questão
constatamos que, o povoamento do interior, em especial do sertão do Seridó, se efetivou no
transcurso da primeira metade do século XVIII, logo depois dos representantes da leva
colonizadora terem vencido as hostilidades indígenas preconizadas na chamada Guerra dos
Bárbaros11. Foi exatamente no momento da efetivação colonizadora que um português de
nome Antônio de Azevêdo Maia, casado com a paraibana Josefa Maria Valcácer de Almeida
Azevêdo, rumou para a ribeira do Seridó onde “comprou terras e construiu grande prole”
(AZEVEDO, 1988, p.17). O filho mais velho do casal que, também se chamara Antônio de
Azevêdo Maia

“casou-se, por volta de 1767, com Micaela Dantas Pereira. Adquiriu


por compra, na década de 1760 a 1770, ao Sargento-mor Alexandre
Nunes Maltez, de Igarassu, Pernambuco, a fazenda “Conceição”, daí
passou a ser “Conceição do Azevêdo” em homenagem ao novo
proprietário. Era formosa terra, de muito pasto para criar.
(AZEVEDO, 1988, p.20).

Dessa forma, torna-se evidente que, foi a partir da bovinocultura que foram firmadas as bases
para o surgimento de um aglomerado humano que, de fazenda, passou a categoria de vila
“com o nome de Jardim, sede do município desse mesmo nome, sendo instalada a quatro de
julho de 1859, quando funcionou, pela primeira vez, a Câmara Municipal”.
(RN/ECONÔMICO, 1981, p. 68). Seguindo a mesma tendência de crescimento e, com o
avanço de outras atividades econômicas, a Vila Jardim fora elevada à categoria de cidade no
dia 27 de agosto de 1874, através da lei provincial nº 703, que, entre outras providências,
instituía “o nome de JARDIM DO SERIDÓ, para se distinguir de Jardim de Angicos, no
mesmo estado” (AZEVEDO, 1988, p. 49).
A medida que ocorria o desenvolvimento da estrutura econômica do município –
inicialmente alicerçado no criatório – foram sendo geradas as necessidades que propiciaram o
surgimento das primeiras unidades de manufatura. Essas rústicas unidades manufatureiras,
dos tempos em que predominava a bovinocultura extensiva, eram voltadas, mais
especificamente, para o curtimento de couro, como forma de fabricar muitos dos artefatos
utilizados no trabalho ou, até mesmo, como utensílios domésticos. Quanto ao criatório sabe-se
também que, por seu caráter extensivo, era praticado “em comum, com a diferença apenas do

11
A Guerra dos Bárbaros, também chamada de “Rebelião dos Tapuias”, se estendeu por mais de vinte anos “(de
1687 a 1697, o auge, e mais brando até 1700)”. É tido como certo que a Capitania do Rio Grande foi o centro
irradiador do conflito. Tavares de Lira considerou a rebelião como tendo sido “o acontecimento de maior
importância ocorrido na capitania durante os últimos anos do século XVII e, a par do desenvolvimento da
indústria pastoril, a causa ocasional do definitivo povoamento dos sertões”. (SUASSUNA & MARIZ, 1997,
p.106).
ferro. Cercas apenas as dos currais, ou para separação da agricultura de subsistência”.
(RN/ECONÔMICO, 1977, p.44).
Quando falamos em agricultura de subsistência devemos estar atentos para o fato
de que, aos poucos, a medida que aumentava a população, crescia a necessidade de maior
produção como forma de fornecer os produtos básicos para suprir as exigências de
sobrevivência do elemento humano. Com isso, começaram a surgir não apenas os excedentes,
como também os primeiros instrumentos de beneficiamento de produtos agrícolas que, tinham
por objetivo principal, transformar esses produtos de maneira a torná-los mais aptos ao
consumo humano. Aos poucos foram surgindo as primeiras casas de farinha e, nas áreas de
terras mais férteis, surgiram também engenhocas de rapadura e, até mesmo, de fabricar
açúcar. Quanto as casas de farinha constatamos que, praticamente todo o equipamento de
transformação da mandioca em farinha era construído a base de madeira, o que denota um
caráter artesanal no fabrico desse equipamento. Não apenas, o equipamento de manufatura de
mandioca, como também as moendas de rapadura e, até mesmo de açúcar, eram construídas a
base de “madeira-de-lei, sendo as mais usadas a aroeira e a baraúna”. (FARIA, 1963, p.
43).
São raros os relatos existentes sobre o fabrico de açúcar na região. No entanto,
depoimentos orais e, até mesmo, vestígios de tonéis de refinação existentes na “Fazenda
Cabaceiras”, na área do município de Jardim do Seridó demonstram que, realmente ocorrera o
fabrico de açúcar na região até um período bem recente12. É bem provável que o cultivo da
cana-de-açúcar na região tenha ganhado conotação com a multiplicação do número de açudes
o que permitiu a ascendência do cultivo de “cana à jusante dos mesmos, surgindo, aqui e
acolá, engenhocas” (FARIA, 1963, p.43).
Foi apoiada no avanço da pecuária, secundada pela agricultura de subsistência,
que foram surgindo as primeiras fazendas que, se espalharam pelas ribeiras mais férteis do
município. Fazendas essas, que ganharam maior consistência a partir do momento em que o
algodão começou a expandir-se de maneira a ter vindo a se tornar o grande condutor da
economia do município – e da região – a partir da segunda metade do século XIX, até por
volta dos últimos anos da década de 1970. Assim como os demais produtos já citados, o
algodão também passou a ser beneficiado através de um processo que consistia em separar a
pluma da semente. Se considerarmos as palavras de Cortez Pereira, o beneficiamento de
algodão no Seridó foi o grande “passo em favor da industrialização” no estado do Rio
Grande do Norte.
Em referências feitas ao beneficiamento de algodão no capítulo anterior
constatamos o crescimento dessa atividade nas grandes propriedades do Seridó e, percebemos
que, por volta dos primeiros anos do século XX, o município de Jardim do Seridó surgia
como um dos principais centros no que tange ao beneficiamento da malvácea. Em 1910 o
município dispunha do maior número de bolandeiras – possuindo 28 mecanismos do tipo
mencionado – e 09 locomóveis, igualando-se a municípios de maior porte, como é o exemplo
de Caicó. Foi também por aquele momento que começava a ganhar destaque a figura humana
de João Medeiros que, no decurso do século XX, conseguiu se destacar como uma das
grandes personalidades da indústria no Seridó e, no estado do Rio Grande do Norte.

12
Trechos do depoimento concedido pelo Sr. Juarez de Medeiros Nóbrega (agricultor e atual administrador da
Fazenda Cabaceiras.
. “... o açúcar era produzido só pra o consumo. (...) A derradeira moagem foi feita em 1968”.
. “... a única fazenda nessa região onde só se comprava café. Aqui produzia arroz, feijão, milho, algodão,
açúcar, rapadura...”
. “... a última farinhada foi feita em 1966”.
No momento atual a Fazenda Cabaceiras tem sua economia fundamentada em uma insignificante pecuária
leiteira e, na criação de animais de médio porte (ovinos) para corte.
O coronel João Medeiros – como era conhecido – nasceu no dia 27 de março de
1888, na Fazenda Passagem de São João, situada próxima ao local onde – em épocas
invernosas – se alternam as águas dos rios Seridó e Acauã, no município de Jardim do Seridó.
“No início do século, João Medeiros já manifestava sua vocação para o comércio e
indústria, estabelecendo-se na região seridoense com comércio de couro – seu
aproveitamento e beneficiamento”. No decorrer da década de 1910 João Medeiros ingressou
na atividade comercial de bens de consumo tendo adquirido em 1912 “uma mercearia das
mais sortidas da cidade”. (REVISTA JARDIM DO SERIDÓ, 1978, p.10).
A partir da década de 1920 João Medeiros “iniciava a sua atividade algodoeira,
participando da compra e venda do algodão, que era transportado em burros para o
comércio exportador de Campina Grande”. (REVISTA JARDIM DO SERIDÓ, 1978, p.10).
Como bem sabemos Campina Grande era, na época “o centro convergente da produção de
algodão (...) nessa parte do Nordeste13”. Vale aqui ser ressaltado que o comércio algodoeiro
no Seridó era bastante vantajoso pelo fato de que, o algodão era vendido descaroçado. O
depoimento a seguir explica claramente os fatores que proporcionavam essa vantagem:

“o que o seridoense fazia? Descaroçava (o algodão) nas suas


bolandeiras, nos seus locomoveis, nos seus motores de descaroçar e,
ficava com a semente. Então (...) ele pagava menos pelo frete pra
Campina Grande porque só levava aquilo que ele vendia. O peso
morto ficava. Mas, o peso morto não era morto!. O peso morto (o
caroço) se transformou no grande apoio do binômio algodão –
gado”.14

A semente apresentava-se com um rico suporte protéico para o gado que, no momento, era a
atividade na qual se apoiavam os grandes proprietários no período da entressafra algodoeira.
O comércio algodoeiro, e outras atividades do mesmo ramo, proporcionaram ao
coronel João Medeiros os recursos suficientes que o permitiram adquirir, nos primeiros anos
de 1930, a Fazenda Seridó15 que, foi transformada, nos anos posteriores, em “uma das
melhores e mais bem organizadas do Estado” (REVISTA JARDIM DO SERIDÓ, 1978,
p.10), onde a cultura algodoeira aparecia como atividade preponderante.
No entanto, o grande passo do coronel João Medeiros – e, que contribuiu
decisivamente para que o município de Jardim do Seridó caminhasse pelas veredas do
industrialismo – fora dado em 1936 com a fundação da firma MEDEIROS & CIA, “cuja
atividade principal era a compra e beneficiamento de algodão”. O estabelecimento da “Usina
Seridó” se deu exatamente no momento em que se configurava o processo de transição entre
os locomoveis – localizados nas fazendas – e as usinas que, passavam a ser concentradas em
áreas com algum indício de urbanização. O crescimento da atividade de beneficiamento de
algodão, alimentada pelas grandes safras obtidas na Fazenda Seridó a partir da década de
1940, se permitiu a diversificação das atividades da algodoeira. Em 1949 era instalada em
Jardim do Seridó “uma fábrica de óleo de caroço de algodão, matéria-prima destinada às
refinarias de Recife”. Foi também na passagem da primeira para a segunda metade do século
XX que a algodoeira Medeiros & Cia introduziu o beneficiamento de torta de algodão dando
13
Depoimento concedido pelo advogado, filósofo, professor aposentado de Economia Política e ex-governador
do Estado do Rio Grande do Norte José Cortez Pereira de Araújo.
14
IDEM.
15
Em 1989 a Fazenda Seridó foi desapropriada pelo ITERN (Instituto de Terras do Rio Grande do Norte), tendo
sido transformada em área de assentamento rural, absorvendo 63 famílias. Pretendia-se, entre outras coisas,
resgatar a cultura algodoeira, secundada por outras culturas agrícolas de subsistência e, pela pecuária leiteira. A
falta de uma assistência técnica adequada, combinada com a escassez de chuvas – verificadas nos últimos anos –
vem tornando a área cada vez mais improdutiva.
demonstrativos de que, em Jardim do Seridó estava decretada a generalização das usinas,
coincidindo com a maioria das demais zonas produtoras e beneficiadoras da região que,
naquele instante, também atingiram esse estágio. Foi também naquele momento que fora
instalada em Jardim do Seridó, pela mesma empresa citada, uma refinaria de óleo de caroço
de algodão com o objetivo de aproveitar a mesma matéria-prima que antes era exportada para
outros centros. “Surgiam, assim, os óleos comestíveis Mavioso e Algol, de grande aceitação
no mercado consumidor do Nordeste”. (REVISTA JARDIM DO SERIDÓ, 1978, p.10).
Dessa maneira, torna-se evidente que, foi a partir da industrialização da produção algodoeira –
pluma e caroço – que a firma Medeiros & Cia conseguiu atingir, no transcurso dos anos 50, a
categoria de uma das usinas mais estruturadas do Rio Grande do Norte, dispondo de amplas
perspectivas de mercado.
Enquanto a firma Medeiros & Cia seguia os rumos da industrialização em escala
mais acentuada, outras atividades, no setor secundário, eram planejadas para serem postas em
prática em Jardim do Seridó. Nos primeiros anos da década de 1960 – mais especificamente
em 1963 – entrava em atividades a empresa CAFÉ ICLA LTDA. que exercia a atividade de
torrefação e comercialização da marca ICLA. Nos primeiros anos de seu fabrico o Café Icla
era vendido apenas na praça de Jardim do Seridó, sendo comercializado nas mercearias da
cidade e da zona rural. Por volta de 1975 a empresa estendeu o comércio do seu produto para
outros municípios do Seridó, o que permitiu aumentar a produção e, gerar mais empregos na
zona urbana do município. Considerando as informações que nos foram repassadas, na década
de 1970, o Café Icla tinha em torno de 05 operários 16. Apesar de não ser uma grande empresa
do ramo de torrefação, o Café Icla conseguiu penetrar no mercado regional, competindo em
pé de igualdade com outras marcas da região e, até mesmo com marcas maiores, de outros
centros, que passaram a colocar seus produtos no mercado seridoense.
Foi também no ano de 1975, quando o município de Jardim do Seridó começava a
se consolidar como sendo uma área de relevância industrial, a nível regional, que, fora
constituído o grupo empresarial COMERCIAL MANOEL PAULINO LTDA. Este grupo é
formado pelos descendentes do antigo comerciante Manoel Paulino dos Santos que, atuara em
Jardim do Seridó na primeira metade do século XX na atividade de mercearia, tendo sido
também comerciante de tecidos e outros artefatos de vestuário. Posteriormente, a empresa
passou a ser gerenciada por seu filho Manoel Paulino dos Santos Filho que, além de manter a
antiga linha comercial de seu pai, introduziu também a comercialização de outros tipos de
produtos, entre os quais se destacava a venda de materiais de construção. De acordo com
informações colhidas, a partir do momento em que fora estabelecido o grupo familiar
Comercial Manoel Paulino Ltda, as atividades foram estendidas para outros ramos entre os
quais se enquadrava o comércio e, posteriormente, o beneficiamento de arroz e milho,
produzindo ainda farelo de milho, fubá, ração balanceada e óleo de caroço de algodão. Em
1980, foi fundado um pequeno parque industrial para o beneficiamento de todos os produtos
acima mencionados. Segundo depoimento que nos foi concedido, o fabrico de ração
balanceada era mais acentuado nas épocas de estiagem. O depoente nos afirmou que “o
segmento de ração balanceada era direcionado para manutenção e engorda de bovinos17”,

16
As informações abaixo nos foram transmitidas em depoimento prestado pelo Sr. Mozart Azevedo da Costa
(sócio-gerente da empresa CAFÉ ICLA LTDA.).
Atualmente a empresa CAFÉ ICLA absorve uma mão-de-obra correspondente a um total de 13 operários. Em
1999 a empresa investiu em tecnologia o que permitia a redução do número de trabalhadores. Porém, como
forma de manter o mesmo plantel a empresa “achou necessário reforçar as vendas com promotoras em outras
cidades. Atualmente, o Café Icla dispõe de promotora de vendas nas cidades de Parelhas, Acari e Caicó.
Quanto a matéria-prima o depoente nos informou que “90% do café produzido no Estado vem do Espírito Santo,
até mesmo, pela facilidade de transportes”.
17
Depoimento concedido pelo Sr. Carlos Alberto de Amorim Santos (diretor-gerente da empresa COMERCIAL
MANOEL PAULINO LTDA.)
sendo que havia um crescimento na demanda de produção “a partir do mês de julho, com
ascendência maior nos meses de outubro, novembro, dezembro e janeiro18. Quanto aos anos
de estiagem da primeira metade da década de 1980 nos fora afirmado que o segmento de
ração balanceada chegou a funcionar pelo período consecutivo de seis meses sendo que, nos
meses de pico, o segmento funcionava 24 horas por dia, “parando só aos domingos pra
manutenção19”. Quanto ao fabrico de óleo nos foi dado o seguinte depoimento:

“Funcionamos com óleo vegetal feito de caroço de algodão e óleo


vegetal de babaçu (...). Tínhamos também anexo a essa atividade o
beneficiamento de arroz que era trazido do Maranhão juntamente
com o babaçu20”.

De acordo com o que nos fora relatado, esses dois últimos segmentos citados funcionava
consecutivamente, ou seja, durante todo o período do ano21.
Considerando a análise exposta, admite-se a existência de fundamentos suficientes
para a defesa da proposição de que Jardim do Seridó passou a constituir, a partir da década de
1970, um pólo de desenvolvimento industrial no Seridó. No entanto, indispensável se faz uma
referência ao grande condutor desse crescimento, que foi exatamente a diversificação
industrial do grupo empresarial MEDEIROS & CIA22. Como bem mencionamos
anteriormente, o crescimento da firma MEDEIROS fora alicerçado na produção e
beneficiamento da cultura algodoeira. Todavia, no transcurso dos anos de 1960, a produção e
beneficiamento do algodão começava a apresentar nítidas amostras de uma decadência
próxima. Decadência essa, que se confirmou no decurso dos anos 70.

“As causas foram muitas. A precária estrutura de produção e as


condições de comercialização no Estado não resistiram à freqüente
oscilação dos preços do algodão. Verifica-se que a maior causa foi
essa da instabilidade dos preços da malvácea. Esse segmento da
economia norte-rio-grandense passava a se submeter à uma situação
de pânico, mostrando a fragilidade de uma estrutura que dependia de
algumas variáveis para compatibilizar sua produção às forças do
mercado. Essa crise não só prejudicava diretamente os industriais do
ramo, mas todas as áreas produtivas ligadas ao segmento algodoeiro
do Estado”. (SANTOS, 1994, p.203).

É certo que, como uma empresa sólida, Medeiros & Cia ainda conseguia se manter como uma
das maiores algodoeiras em funcionamento no estado do Rio Grande do Norte. Estudos feitos
sobre a economia estadual no período apontam que essa sobrevivência era devido ao fato
principal da empresa congregar o beneficiamento com a produção da malvácea.
18
IDEM.
19
IBIDEM.
20
IBIDEM.
21
Ainda no decurso dos anos de 1980, o grupo COMERCIAL MANOEL PAULINO LTDA. substituiu a
atividade industrial pelo ramo de concessionária de veículos, tendo instalado em Caicó a SANTANA
VEÍCULOS LTDA. A derrocada algodoeira, acompanhada pelo declínio do criatório, são apontados - pelo
administrador da empresa – como fatores preponderantes que contribuíram para a desestruturação do segmento
industrial voltado para o fabrico de ração balanceada.
22
A diversificação das atividades industriais se tornou característica fundamental da empresa MEDEIROS &
CIA. que, no momento utiliza a firma MEDEIROS S.A INDÚSTRIA E COMÉRCIO, que trabalha com a
seguinte linha de produtos: margarinas – Use Paladar; Emoções; gordura p/ panificação – Use Paladar; gordura
p/ fritura – Frit 100 Use Paladar; sabão – Sereia Verde, Sereia Neutro, Jardim Verde, Use Verde, Sereinha; óleos
vegetais – Mavioso, Use Paladar.
No transcurso dos anos 60 a equipe administrativa da empresa, convicta de uma
futura decadência no setor algodoeiro, tratou de diversificar suas atividades. Foi em função
dessa diversificação que surgiu a CONFECÇÕES SORIEDEM em Natal. Quando foi
inaugurada a Soriedem “funcionava num pequeno prédio adaptado, com 25 máquinas de
costura”. Posteriormente, a indústria passou a funcionar em

“um complexo industrial dos mais modernos em área de 14 mil


metros quadrados na BR – 101, logo na saída de Natal, empregando
1.500 pessoas e produzindo confecções da mais alta qualidade e com
aceitação em todo o país”. (RN/ECONÔMICO, 1977, p.57).

Em 1971, a Confecções Soriedem figurava entre as mais importantes indústrias do Rio


Grande do Norte23. A expansão das atividades da Soriedem no decorrer dos anos 70 permitiu
a implantação de uma unidade de confecção de roupas masculinas no município de Jardim do
Seridó. A SORIEDEM JARDIM S/A. fora instalada em 1978, tendo proporcionado uma
média de 270 empregos diretos no período correspondente entre os anos de 1979 a 1983. A
unidade de Jardim do Seridó voltava-se para produção de calças jeans, tendo chegado a
produzir 1.000 peças por dia.
Em 1979 se confirmava uma das propostas defendidas no governo Cortez
Pereira24 de que, seus projetos agrícolas gerariam as condições necessárias a expansão agro-
industrial no Estado. O grupo empresarial Medeiros & Cia fora beneficiado exatamente com
os projetos direcionados a cultura do caju. Fora instalada em Jardim do Seridó uma unidade
de industrialização de castanha, que trouxe para o grupo resultados bastante positivos.
Somente no segmento de castanha, “em 1980, a empresa vendeu no mercado exterior 2
milhões e 300 mil dólares, em 1981 chegou (...) a 3 milhões de dólares”. Em 1982 se previa
que o movimento de vendas no mercado internacional poderia atingir algo em torno de cinco
milhões de dólares. Segundo dados fornecidos pela própria empresa, somente o segmento de
beneficiamento de castanha empregava uma média de 600 operários no período compreendido
entre os anos de 1979 a 1983, valendo assinalar que, nos períodos de maior demanda de
produção o número de trabalhadores empregados no setor chegava a ultrapassar a cifra de 800
operários. Com o subproduto da castanha, a indústria “Medeiros” desenvolveu métodos para o
aproveitamento do LCC (Líquido da Castanha de Caju) uma substância que servia para “a
composição da fabricação de tintas destinadas ao revestimento de navios, acrílico,
prestando-se ainda para o pó de fricção das lonas de freio”. (RN/ECONÔMICO, 1981,
p.74).
A castanha beneficiada era comercializada, prioritariamente para o mercado
exterior – algo em torno de 90% do total – tendo os Estados Unidos como principal mercado

23
Entre as razões apontadas para o grande crescimento da SORIEDEM os anos iniciais da década de 1970, são
apontadas:
“a melhoria da qualificação do pessoal através de cursos internos e externos”;
“diversificação da linha de produção para identificá-la melhor com a juventude” (RN/ECONÔMICO, 1977,
p.57).
Nos primeiros anos de 1970 a SORIEDEM chegou a se colocar entre os maiores contribuintes do ICM no Rio
Grande do Norte (29º lugar no Estado, apesar de gozar de isenções parciais deste imposto).
24
Em depoimento que nos foi concedido o ex-governador Cortez Pereira afirmou que, fundamentou seu
planejamento de governo no seguinte raciocínio:
“Nós temos que modificar a agricultura do Rio Grande do Norte. Como? Descobrindo atividades capazes de
conviver com a seca e, fazer delas, culturas, carros-chefes da produção agrícola e, (...) identificar aquelas que
pudessem ser transformadas em indústrias”...
“... Eu não acredito em agricultura no Nordeste sem indústria”...
Cortez Pereira cita Vigílio Romano: “a agricultura sozinha é a arte de empobrecer sorrindo”.
“... eu não fiz um só projeto que não fosse agro-industrial”.
de absorção da produção. De acordo com as informações que nos foram passadas existiam
outros países compradores, como por exemplo “Arábia Saudita, Alemanha, França; mas,
tudo negócio pequeno que não compensa se fazer. O grande comprador é os Estados
Unidos25”. Por sua vez, o LCC chegou a ser comercializado para outros países da “América
do Sul – Argentina, Chile, Peru e Venezuela – e países da cortina de ferro26”.
(RN/ECONÔMICO, 1981, p.74).
Em 1980 fora introduzido pela indústria “MEDEIROS” um segmento voltado
para o fabrico de materiais de limpeza. Esse segmento colocou no mercado consumidor do
Nordeste e Sudeste as marcas de sabão “Use, Algol e Sereia”. O estado de São Paulo aparecia
como principal centro de absorção desse tipo de produto.
Conforme observamos nas informações dispostas sobre o avanço industrial do
município de Jardim do Seridó, podemos constatar que, esse avanço ganhou maior
intensidade na passagem da década de 1970 para os anos de 1980, tendo um fluxo de
crescimento bem maior no período de 1981 a 1983, quando se verificou o auge dos segmentos
de beneficiamento de castanha, saboaria e ração balanceada, esse último expandido em
decorrência das freqüentes estiagens verificadas, principalmente nos anos de 1982/83. Foi
também no decurso dos últimos anos da década de 1970 e nos anos iniciais de 1980 que se
observou um considerável crescimento urbano no município de Jardim do Seridó;
crescimento esse, em grande parte, impulsionado pelo avanço industrial verificado. A tabela
abaixo que trata de dados populacionais nos oferece uma idéia do crescimento urbano do
município no período em menção.

TABELA 3

DADOS POPULACIONAIS DO MUNICÍPIO DE JARDIM DO SERIDÓ-RN

POPULAÇÃO
ANO TOTAL URBANA RURAL
1970 8.096 4.168 4.738
1980 10.349 6.396 3.953
1991 11.840 8.550 3.290

Conforme os dados acima disponíveis, percebe-se que, foi no decurso dos anos 70
que a população urbana passou a ser superior a rural. Em 1980, dos 10.349 habitantes do
município, 61,8% estavam morando na zona urbana.
Nos anos anteriores a 1970; apesar da indústria já se apresentar como atividade
importante no município; havia um nítido predomínio das atividades rurais que, se apoiavam
na cultura algodoeira, secundada pela pecuária leiteira e de corte. Naquele momento, era
comum a existência de várias famílias morando e, trabalhando em uma única propriedade. O
depoimento a seguir nos dá uma idéia das relações de trabalho predominantes na zona rural do
Seridó:

25
Depoimento concedido pelo Sr. Edson da Cunha Medeiros (diretor-administrativo da empresa MEDEIROS
S.A INDÚSTRIA E COMÉRCIO).
26
A expressão “cortina de ferro” foi criada pelo primeiro – ministro inglês Winston Churchill ao fazer
referências à cisão da Europa em duas áreas geopolíticas antagônicas. Eram considerados países da cortina de
ferro aqueles que estavam englobados no sistema comunista e, seguiam o modelo político econômico adotado
pela União Soviética.
“cada um proprietário tinha; se fosse uma propriedade média era
oito ou nove moradores. Se fosse uma propriedade grande era (...)
cinqüenta moradores ou mais. Todo esse povo trabalhava e havia um
equilíbrio econômico (...). O proprietário embasava o terreno, pagava
o plantio e, daí então se estabelecia uma parceria entre o morador e
o proprietário. Com isso, o morador passava a ser meeiro. Durante o
ano, o proprietário ia fornecendo, toda semana, um pouco de
dinheiro para o sustento do morador. No fim do ano era a feita as
contas...”27

Esse sistema prevaleceu, de forma generalizada no meio rural da região, até o momento em
que a cultura algodoeira começou a decair.
O declínio algodoeiro coincide com a expansão industrial em Jardim do Seridó. O
crescimento industrial se mostra tão considerável que, em 1980, algo em torno de 20,5% da
população residente na zona urbana do município estava envolvida em atividades industriais.
E, se considerarmos a população economicamente ativa envolvida em atividades industriais 28
constatamos que, uma fração em torno de 79,5% estava envolvida no ramo industrial de
transformação.
Quanto a questão exposta de que Jardim do Seridó se constituiu como um pólo de
desenvolvimento industrial a nível de Seridó e, até mesmo, no Rio Grande do Norte, basta
fazer uma simples comparação com o município de Caicó que, no final da década de 1970 já
era, desde muito, considerado o centro regional do Seridó. Em 1980 os segmentos industriais
que mais se destacavam em Caicó eram os de: tecelagem (de rede), calçados, chapelaria (de
couro) e panificação. De todos os estabelecimentos existentes em Caicó, o que mais absorvia
mão-de-obra era a indústria “Dois Irmãos Indústria de Calçados Ltda., com 32
funcionários”. (MORAIS, 1999, p.174). Por sua vez, em Jardim do Seridó, apenas o
segmento de beneficiamento de castanha de caju empregava, naquele momento, uma média
de 600 trabalhadores. Ademais, vale assinalar que, não consideramos em nosso trabalho, a
importância das indústrias de pequeno porte, como é o exemplo das movelarias, queijarias,
panificadoras, sorveterias, etc.
Para terminar o capítulo só nos falta acrescentar uma pequena dedução a que
chegamos no transcorrer dessa análise. O crescimento da indústria em Jardim do Seridó foi,
em grande parte, resultado da visão empreendedora daqueles que conduziram esse
crescimento pois, souberam, no momento certo, aproveitar as potencialidades disponíveis.

27
Depoimento concedido pelo médico aposentado, ex-deputado estadual e proprietário rural Paulo Gonçalves de
Medeiros.
28
População economicamente ativa envolvida em atividades industriais no município de Jardim do Seridó no
ano de 1980: indústria de transformação – 1.145 pessoas; indústria da construção – 38 pessoas; outras atividades
industriais – 126 pessoas.

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