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Os jovens nascidos depois de 1940 perceberam que viviam numa sociedade que nem
impunha nem merecia respeito, mecanizada, alienante e excessivamente materialista. A
juventude dos grandes centros urbanos rejeitou o acesso aos privilégios das camadas altas e
médias, como as possibilidades de entrada no mercado de trabalho, a estrutura de pensamento
predominante nas sociedades ocidentais, voltando-se contra o establishment, o sistema.
Nos anos 40 jovens soturnos começaram a formar uma subcultura que preenchia o
vazio rebelde: os hipsters, cuja inspiração se dá pelos sons do bebop – novo estilo de jazz que
permitia a improvisação dos músicos – pelo existencialismo francês e sua visão da vida
humana como um espaço vazio, personagens furtivos, não viam esperança de mudanças
positivas. Poucas características os identificavam, eram inter-raciais; passaram a ser definidos
como “negro-branco” – o white negro dos versos de Norman Mailer – “ cuja consciência dos
extremos terrores da vida assemelha-se e é derivada da que tem o negro” (PEREIRA, 1986, p.
36), tinham suas próprias expressões lingüísticas, privadamente gostavam de maconha e
heroína, que utilizavam para abandonar a mente racional e mergulhar no bebop. Opunham-se
aos square, os “caretas”, que o establishment transformava em conformistas bem ajustados e
defensores do american way of life.
Nos anos 50 e contemporâneos aos hipsters surgiram os beat – movimento que será
tratado mais adiante. Nas primeiras décadas dos anos 60, um grupo passa a ser conhecido
mundialmente: os hippies, nome que deriva de hipster. Entretanto, nos anos 40 o termo
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originalmente era uma expressão de desprezo; hipsters negros começam a chamar os hipsters
brancos de hippies, na década de 50 os hipsters brancos chamam aos hipsters de final-de-
semana de hippies. Somente a partir de 1967 que os hippies começam a ser aceitos e
conhecidos, com slogans como “Faça amor, Não a guerra”, “Paz e Amor”, distribuindo flores
e sorrisos nas manifestações às pessoas em volta, ou as colocando nos canos das armas dos
policiais, vivendo em comunidades, defendendo as questões ambientais; o amor livre, as
minorias, o pacifismo e como afirma Carlos Alberto M. Pereira:
E há três nomes que proporcionaram a fusão da revolução cultural que o rock dos anos
60 apresenta; Os Beatles, Bob Dylan e os Rolling Stones, que encarnavam as aspirações e
revolta de sua geração, aliando a arte, o comportamento e a contestação, promovendo a
possibilidade de expressão e sustentação de sua identidade.
A geração beat ou movimento beat ficou conhecido na década de 50, entretanto, sua
delimitação cronológica como movimento literário data de 1944 indo até 1958 ou 1959. O
termo beat foi criado por Jack Kerouac, “não para nomear a geração, mas sim para desnomeá-
la.” (WILLER, 2009, p. 7), Traduzida quer dizer “derrubado”, palavra polissêmica, refere-se
também à batida rítmica do jazz, pode ser associado à beatitude, beato, santificação; a
contestação os induzia a se refugiarem numa suposta beatitude.
A palavra beatnick foi criada pelo jornal San Francisco Chronicle, num sentido
depreciativo, irônico. Fusão com Sputinick, o primeiro satélite artificial lançado ao espaço
pela União Soviética, alude à suposta simpatia dos jovens americanos às idéias esquerdistas,
expressando alienação cultural e social:
(...)
II
Ginsberg tende a ser lembrado como autor dos poemas longos que o
celebrizaram, Uivo, Kaddish (cuja leitura em voz alta demanda mais de uma
hora), (...) Para alguns, Uivo, cujo ritmo veloz pode ser associado à prosódia
bop de Kerouac, seria vigoroso, mas prolixo. É um erro de avaliação, pois,
sendo extenso, também é sintético. Suas frases longas são séries de versos
curtos, encadeados; algumas, com a estrutura semelhante ao hai-kai, três
enunciados onde cada um modifica o anterior1.
On the Road de Kerouac foi escrito em três semanas; e refeito para atender a editores,
ficou conhecido como obra de estrada e originou o estereótipo do beat estradeiro e mochileiro.
Escrita em prosa, a narrativa é uma sucessão de fatos, um atrás do outro. Pelo caminho Sal
encontra amigos como Dean Moriarty, representando Neal Cassady, Carlo Marx (Allen
Ginsberg), Old Bull Lee (William Burroughs) e uma vasta quantidade de tipos pelo interior
dos Estados Unidos. Cowboys, aventureiros e fugitivos viram seus companheiros de viagem,
amigos de um dia, fantasmas de beira de estrada. Os personagens aparecem, somem e
desaparecem sem deixar nada além da lembrança das festas e bebedeiras vividas, segundo
Claudio Willer:
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www.revista.agulha.nom.br/ag30ginsberg.htm acesso em: 06 dez. 2009.
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(...) geração voltada para a lição oswaldiana de retomada das “raízes”, com a
diferença, entretanto, de que os produtos não eram especificamente
literários, mas interdisciplinados, um pau-brasil eletrificado, ligado na
tomada dos amplificadores, um cafarnaum onde o poema se fazia não apenas
na página, mas no papel da voz, no palco, sob o som estridente das guitarras
(FREITAS FILHO, apud CAMPEDELLI, 1995, p. 14)
Os poetas marginais mais conhecidos são Ana Cristina Cesar, Paulo Leminski, Chacal,
Francisco Alvim e Cacaso, no entanto outros personagens também fizeram parte desta época
como: Torquato Neto, Wally Salomão, Charles, Leila Miccolis, Alice Ruiz, Isabel Câmara,
Nicolas Behr, Luis Martins Silva, Roberto Piva, Alex Polari, Ulisses Tavares, etc.
Participaram pelo menos três gerações diferentes, com valores e ideais distintos, não foi um
movimento poético de características padronizadas, mas pode-se apontar como peculiaridade:
ser mutável; recuperando traços do primeiro modernismo, experimentando técnicas de
colagem, de desmontagem dadaísta, fazendo uso do soneto ou do haicai; linguagem visual,
fragmentária: utilizavam-se de técnicas de composição com a imagem se justapondo; captação
do flagrante: escritos que captam e contam sobre o contexto cultural brasileiro; poesia de
domínio público; por estar fora do mercado editorial, os poetas marginais faziam sua poesia
circular de mão em mão, nos muros ou em folhetos jogados de edifícios.
A poesia de Ana Cristina Cesar revela “principalmente, a mulher que muito refletiu
sobre a condição feminina, recusando-se a aceitar a ideia de que a mulher deve escrever sobre
coisas diáfanas, leves, etéreas, nuvens e riachos.” (CAMPEDELLI, 1995, p.64) o poema
Psicografia, do seu livro Inéditos e dispersos, metalingüístico, dialoga com o poema
Autopsicografia de Fernando Pessoa :
O poeta Francisco Alvim ou Chico Alvim que era marxista convicto, com a situação
ditatorial, evidencia-se sua percepção sobre a retórica falida do Partido Comunista, no poema
Revolução de tom descrente, inclusive na possibilidade de contestar sobre a ditadura:
.
A contracultura deixou marcas comportamentais às gerações posteriores e o ano de 68
foi um marco na história mundial, com muitas das conquistas da modernidade nascendo ou
sendo implantadas nesse ano. Como o novo prisma frente aos direitos das mulheres; com
imagens marcantes, como o das mulheres queimando os sutiãs em praça pública, alcançando
direitos à igualdade dos gêneros e de trabalho. Dos negros, com sua luta pelos direitos civis e
contra a segregação racial, nos Estados Unidos, tendo como principal porta-voz o pastor
Martin Luther King, que pregando a resistência pacífica, foi assassinado. Das minorias (como
gays e lésbicas), da juventude, etc:
Uma geração que intentou a revolução política, mas acabou realizando uma revolução
comportamental. E para Zuenir Ventura:
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2
<http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI4696-15254-1,00-
O+ANO+DAS+TRANSFORMACOES.html>. Acesso em: 09 dez. 2009.
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BIBLIOGRAFIA
CAMPEDELLI, Samira Youssef, Poesia marginal dos anos 70. São Paulo: Scipione, 1995.
GOFFMAN, Ken, JOY, Dan. A contracultura através dos tempos. Rio de Janeiro: Ediouro,
2007.
KEROUAC, Jack. On the Road-Pé na estrada. tradução Eduardo Bueno: Rio de Janeiro:
Ediouro, 1997.