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Religião, Estado e Política: o caso do Islã1

Danillo Alarcon

1) As bases da fé no Islã

A história do Islã remonta ao século VII da era cristã, surgindo vinculado à figura
de Mohamed2, que de acordo com os muçulmanos, foi o receptor do texto sagrado contido
no Alcorão, escrito diretamente por Deus, mas revelado ao profeta. É importante notar,
como nos lembra Kamel (2007), que a proposta desta religião que surge na Península
Arábica é colocar o homem em contato com Deus novamente, e para isso, o Alcorão não
ignora os profetas anteriores: “Adão, Noé, Abraão, Jacó, José, Moisés, Jesus, todos eles
formaram uma longa cadeia de profetas que, segundo acreditam os muçulmanos, foi
encerrada pelo último deles, Maomé, o profeta do Islã” (KAMEL, 2007, p. 63). Ademais, o
Islã se propõe como uma forma de síntese religiosa, e agrupa elementos tanto do Judaísmo
quanto do Cristianismo, além de elementos dos cultos pré-islâmicos da região onde nasceu.
Após a morte do profeta (em 632 d.C.), o Islã se expandiu de maneira
surpreendente, e hoje é a religião majoritária em países do Norte da África, no Oriente
Médio, na Ásia Central e alguns países do Pacífico. Além do mais, devido à imigração, há
considerável população muçulmana tanto na Europa quanto na América do Norte.
O Islã, do ponto de vista teológico, é uma religião que não deixa espaço entre a vida
de devoção e a vida diária do fiel. De acordo com Isbelle3 (2007), “O Islam é um sistema de
vida completo que possui seus próprios sistemas político, econômico, jurídico e penal” (p.
1) e, “a religião como um todo só poderá ser posta em prática com a existência de um
Estado Islâmico” (p. 1).
A religião ainda é pautada por cinco pilares, que são: 1) confissão de fé – só há um
Deus e Mohamed é seu mensageiro; 2) Salât ou exercício religioso – cinco orações diárias;
3) o Zakât – contribuição destinada ao auxílio dos mais necessitados (o Zakât não é
1
Este trabalho é parte do relatório enviado à Fapesp, pelo autor, em janeiro de 2010, intitulado “A Construção
da Democracia no Afeganistão através da atuação da International Security Assistance Force (ISAF)”, sob
orientação da Prof. Drª. Regina Claudia Laisner. Devidas alterações e adaptações são de responsabilidade do
autor.
2
O autor utilizará neste trabalho a grafia Mohamed para o nome do Profeta, podendo por ventura aparecer
também como Maomé, para citações diretas de outros autores.
3
Autor do livro “O Estado Islâmico e sua Organização” (2008), nasceu no Rio de Janeiro, e é diretor do
Departamento Educacional e Divulgacional da Sociedade Beneficente Muçulmana no Rio de Janeiro.
caridade, é obrigação); 4) Jejum no mês do Ramadã (durante o dia, por um período de um
mês); 5) Haddj ou peregrinação a Meca, que deve ser realizada pelo menos uma vez na
vida para os que têm condições – financeira e física – de fazê-la (CHALLAYE, 1967).

2) Islã e Democracia: reflexões acerca de uma ‘democracia muçulmana’

Como expõe Messari (2005), há duas maneiras de entendermos o vínculo entre o


Islã e a política. De um lado, há os que defendem que ‘Islã é política’ e outros que
defendem a separação destas duas esferas (contudo, sem consenso quanto a esta separação).
Os primeiros acreditam que a implementação da Sharia4 é suficiente para um Estado
Islâmico.
Dentro deste grupo acima citado, encontramos os grupos fundamentalistas
islâmicos. Para An-Na’im (2003), “Islamic fundamentalists view themselves as the moral
guardians and saviours of their societies, which they condemn as living in a state of
apostasy, moral depravity and social decadence” (p. 29). Esse recrudescimento da religião é
muitas vezes explicado pelo fato de que o Islã sofre pressões, tanto endógenas quanto
exógenas, em direção a uma modernização. Condições de vida irregulares e as poucas
oportunidades de melhorá-las transformaram, nos países, de maioria muçulmana, uma fatia
jovem da população urbana em frustrados, e o Islã ao longo do tempo foi sendo percebido
como uma força anti-globalização nos Estados predominantemente muçulmanos. Para os
fundamentalistas que veiculam estas idéias, “the state is simply the instrument of
implementing the will of God as expressed in the Qu’ran, not that of the people as reflected
in secular constitutional instruments, or political and legal institutions and processes” (An-
Na’im, 2003, p. 29). Contudo, temos que ressalvar que, “nem todos os grupos que
acreditam que o Islã seja a política são grupos de ativistas e militantes” (MESSARI, 2005,
p. 13).
Dentro do segundo grupo, dos que vêem a relação entre Islã e política não
necessariamente como interligados, de acordo com Messari (2005), há três atitudes
possíveis: uma que acredita que a relação entre Islã e política é muito forte – os reformistas

4
“A lei muçulmana é a charia (ou sharia), caminho que um muçulmano deve seguir na vida. O Corão e os
hadiths (coletânea tradicional de ensinamentos transmitidos por Maomé) fornecem a base da charia. Se
determinado aspecto não for tratado por ela, o princípio da analogia é usado, ou pede-se orientação à
comunidade muçulmana” (WILKINSON, 2000, p. 103).
no mundo islâmico que acreditam em uma islamização por cima5; outra que advoga que há
uma relação imprescindível entre religião e política, mas que esta relação não deveria
determinar os rumos da sociedade, ao considerar que a fonte de algumas leis são religiosas,
mas não de todas; e um terceiro grupo que defende a separação entre religião e política, tal
como aconteceu na Turquia, em 1923, com Mustafá Kamal6.
Obviamente que é complicado lidarmos com o primeiro grupo exposto por Messari
(2006), pois a consolidação da democracia procedimental pressupõe a separação entre
política e religião, no sentindo de criar instituições livres e abertas para a participação de
todos os interessados. Dentro do culto wahhabista7 da Arábia Saudita, percebemos de
maneira clara a aversão ao diálogo e o recrudescimento das posições por parte de seus
membros. Como expõe Kamel (2007):
Como Deus já revelou as Suas leis e anunciou que seu último profeta foi
Maomé, (...) nenhuma lei feita pelo homem pode ser respeitada, sob pena de
incorrer no pecado da Shirk (adorar outro deus ou associar Deus a outro deus).
(...) A crença de todo democrata – todo poder emana do povo – é Shirk porque
todo poder emana apenas de Deus e o governante só será obedecido se aplicar a
lei divina” (p. 183).

Entretanto, nossa concepção é de que o papel da religião, dentro do processo


democrático, é o de refletir as vontades e valores da sociedade em questão, se assim é
conveniente. Além do mais, temos o problema da pluralidade do Islã, ao passo que não há
uma interpretação única do Alcorão e do corpo teológico da religião. Sendo assim, o nosso
grupo de diálogo é o segundo citado por Messari (2006), os que consideram que há
separação entre religião e política. Assim, estudaremos a seguir, e corroborando nosso
pensamento, a perspectiva de autores que tratam da questão relativa ao vínculo entre
democracia e o Islã, conclamando pelo procedimentalismo.

5
Islamização ‘por cima’ “significa a conquista do aparelho estatal – por meio do voto ou da revolução – e a
imposição da sharia por meio da legislação e do monopólio do uso da violência por esse mesmo aparelho”
(MESSARI, 2005, p. 14).
6
A Turquia se laicizou em 1923 através da liderança de Mustafá Kamal. Contudo, a partir da década de 1990,
partidos políticos vinculados ao islamismo começaram a ter destaque nas eleições, e hoje fazem parte da
política, sem, no entanto, ameaçar as regras do jogo político. “A banalização da participação dos partidos
religiosos na Turquia leva à comparação com a participação dos partidos da democracia cristã na Europa
ocidental, isto é, partidos ligados à religião, mas sem nenhuma ameaça à legitimidade do jogo político, nem às
suas regras” (MESSARI, 2005, p. 25).
7
Movimento conservador islâmico fundado no século XVIII, que se tornou muito influente na Arábia Saudita.
Para Zaki Milad (2006) há várias maneiras de se compreender a ligação entre
democracia e o Islã. Neste debate surge o conceito de Shura8 dentro do universo político
islâmico.
Na tentativa de melhor compreender de que maneira a Shura é percebida na história
do Islã, Milad (2006) trabalha com três períodos distintos. O primeiro compraz desde a
ação do Profeta até os cinco primeiros califas, momento em que tanto o Alcorão foi
revelado ao Profeta quanto se fortaleceram e aprofundaram-se os mecanismos de Shura.
Para Malik Bin Nabi (2002, apud Milad, 2006), a democracia e o Islã têm um relação
orgânica, e cresceram, no período acima designado, juntos: “people recognise, and history
confirms, that Islamic traditions sprang up at the time of the Prophet (Peace be Upon Him)
and in the era of the Rightly Guided Caliphs” (MILAD, 2006, on-line).
O momento subseqüente, o dos sultanatos, com o despotismo, levou ao abandono da
Shura, que assim, legou a ela mais uma qualidade moral do que um mecanismo de
participação da Umma9 nos aspectos cotidianos da vida política.
No século XIX, ocorreu o que Milad (2006) chama de Era da Reforma Islâmica, em
que, seguindo o exemplo dos constitucionalistas europeus, alguns pensadores islâmicos
enviesaram a defesa do Estado e da constitucionalidade, para que houvesse um controle do
poder ilimitado dos soberanos. Um dos pensadores deste período é Jamal al-Din al-
Afghani, que acreditava ser possível influenciar reis e sultões a mudar seus sistemas de
governo absolutistas através de conselhos e demonstrando-lhes que a participação da
Umma na política estava em conformidade com o Islã. Nos dizeres de al-Afghani (apud
Milad, 2006), “If you accept my advice and hasten to allow the Umma to participate in
governing the country, then you will decree the running of elections for representatives of
the Umma to pass laws, and if you do so your throne will be secured and you power
perpetuated”.
O terceiro contexto histórico a que o autor se refere é o do atual pensamento
islâmico contemporâneo. O problema deste período é que ele não seguiu os avanços
conseguidos pelos reformistas muçulmanos do século XIX, tais como as reformas e
inovações no âmbito intelectual e na esfera religiosa. Sobre a democracia, esta passou a ser
vista como inseparável do secularismo e intrinsecamente ligada ao paradigma liberal, e a
8
Significa “consulta”.
9
A comunidade de todos os muçulmanos. Termo que significa “nação”, “comunidade”.
pressão do Ocidente em expandir seus valores, levou ao choque com o pensamento
muçulmano em vários países, quando começa então a surgir o ‘Islã político’. Contudo,
apesar das tensões ainda existentes, a década de 1990 trouxe novos aportes para o
pensamento islâmico e a democracia começou a surgir novamente como uma possibilidade
para os Estados onde o islamismo é religião majoritária. Zaki Milad (2006) cita quatro
autores que merecem atenção no que tange ao desenvolvimento deste raciocínio.
O primeiro é Muhammad al-Ghazali (1917-1996), para o qual Islã e despotismo são
pólos opostos que não podem convergir. Desse modo, o Islã estaria muito mais vinculado à
democracia que a outras formas de exercício de poder. Para o autor, a democracia é uma
forma de organização política, que regula a relação entre os governantes e o governados, na
qual são construídas garantias para que o indivíduo não seja oprimido e o dissidente possa
defender suas opiniões. Assim, a democracia interessa muito mais ao mundo islâmico do
que qualquer forma de despotismo. Como al-Ghazali (1980, apud Milad, 2006) expõe:
One of the particular traits of modern democracy is that it believes that the
opposition is part of the general state regime, and that the opposition has a leader
who is recognised and mutually agreed upon without difficulty. The possessor of
power has those who support him and those who criticise him, and not one of
them is more worthy of respect than the other. Indeed this perspective is very
close to the teaching of the Rightly Guided Caliphate (2006, on-line).

O segundo autor é Yusuf al-Qardawi, para o qual:


The essence of democracy, far removed from the academic definitions and terms,
means that the people choose who rules them and conducts their affairs, and do
not have a ruler or regime they hate imposed on them. (…) This is the real
essence of democracy, of which mankind has found practical forms and methods,
such as general elections and referendums and the preponderance of majority
rule, multiple political parties, the right of the minority to object, freedom of the
press, independence of the judiciary… etc (MILAD, 2006, on-line).

O que se pode considerar acerca das proposições desse autor é que ele entende a
democracia tanto como um regime de governo oposto à tirania dos governos de um só ou
de poucos, quanto como métodos e formas de se organizar governos que respeitem a
vontade do povo, sem desrespeitar a minoria.
O terceiro autor que Milad (2006) cita é Mohamed Mahdi Shams ad-Din, que
enfatiza o papel legislativo que as democracias têm, pois sua função é administrar o uso do
poder e garantir sua rotatividade, bem como o de desenhar as leis e os meios de atuação das
instituições.
O quarto e último autor que Milad (2006) aponta é Mohamed Katami. Na exposição
de Milad, Katami enxerga a perspectiva do vínculo entre a democracia e o Islã de vários
modos, tais como: 1) a democracia é uma forma de governo decorrente do desejo da
população. Se no ocidente levou ao liberalismo secularista, nas sociedades Islâmicas pode
levar a uma forma que abarque os pensamentos dos muçulmanos; 2) as únicas alternativas à
democracia são o despotismo e a ditadura; 3) a democracia, bem como toda produção
humana, está aberta a críticas e possibilidades de aprimoramento: “if there are negative
points to democracy then those points appear to be less damaging than the negative points
of a dictatorial regime” (MILAD, 2006, on-line); 4) a democracia é compatível com a
religião, e não exclui nem contradiz o Islã.
Mohamed Katami (2006), em um escrito próprio, conclama que há três posições
para se avaliar a relação Islã – Democracia. A primeira advoga que não há compatibilidade
entre os dois; a segunda acredita no vínculo, mas diz que é necessária a revisão dos
fundamentos da religião. A terceira posição defende que não só são compatíveis, bem como
se devem buscar na religião os fundamentos da democracia. Para o autor a segunda posição
é a mais coerente, tendo em vista que a democracia, na sua perspectiva é, “a method of
governance in which ‘nation’ is the source of power and, as the most favorable and less
costly method for managing human societies, there is no better alternative to it” (KATAMI,
2006, on-line).
De um ponto de vista do Islã moderno, se a democracia for tomada então como uma
ferramenta para governar a sociedade e se diferentes sociedades lhe dão valores especiais
de acordo com sua própria cultura, então há sim compatibilidade entre democracia e
islamismo. Além do mais, apesar de os valores gerais da democracia – na perspectiva das
regras do jogo – serem constantes, os muçulmanos podem adicionar a ela valores que a
tornariam mais ética (KATAMI, 2006).
Outra importante contribuição neste debate é Vali Nasr, que traduz este movimento
em torno do debate Islã – Democracia na expressão “Democracia Muçulmana”. Nasr
(2005a) enfatiza que a democracia muçulmana não é um valor teológico e ideológico
abstrato, acomodada entre o Islamismo e a democracia, mas é uma síntese prática que surge
no mundo muçulmano em resposta às oportunidades e demandas criadas por eleições.
Nasr (2005a) compara a ‘democracia muçulmana’ à ‘democracia cristã’ do século
XX. Nos dizeres do próprio autor,
after 1945, Christian Democracy sought to change Catholic attitudes toward
democracy in order to channel religious values into mass politics. Christian
Democracy drew on Catholic identity, but also related it to social programs and
welfare concerns. Christian Democrats provided the means for conservative
religious values to find expression in secular politics. The rise of Christian
Democracy reflected the desire of Church leaders to provide a voice for Catholic
views in democracies, but it was also the result of strategic choices by political
actors who saw opportunity in mobilizing religious values to further their
political interests (2005a, p. 20, on-line).

Para o autor (2005b), a idéia de “Democracia Muçulmana” tem a ver com a criação
de um espaço para ação de forças políticas dentro de países islâmicos, com respeito ao fato
de que os muçulmanos têm um maior interesse em interligar as questões religiosas à esfera
da vida pública.
O ponto chave para a consolidação de uma democracia mulçumana é concentrar-se
em criar a arena apropriada na qual,
in a fully competitive arena in which neither side can dominate, and you have
competition, ultimately the Islamists10 will have to moderate to compete and the
secularists will have to Islamize a bit to compete, and then that will determine
the middle (NASR, 2005b, on-line).

O foco, nos países de maioria muçulmana, deveria ser então para fomentar e
fortalecer a democracia, criar uma ‘cultura de eleições’ e enfatizar mudanças reais nos
governos. Neste ponto, é de extrema importância ressaltar que as democracias não estão
isentas de produzir governantes conservadores, religiosos, e obtusos, e como Nasr (2005b)
defende, não se deve esperar que as eleições no mundo muçulmano levem ao poder
governantes pró-Ocidente, tendo em vista que há demandas específicas no mundo do Islã, e
estas têm que estar representadas nos parlamentos e instituições políticas dos países com
população majoritariamente muçulmana.
Assim, devemos considerar, de acordo com Nasr (2005b), que
if we thought that elections would always produce pro-American governments,
or governments that are friendly, that may not happen and should not be our
focus. In other words, we should not get fixed on one election. There are always
other elections. What is important is to make sure that there is another election
and that there is another election after that (on-line).

10
O termo “Islamita” é usado para se referir aos grupos que apóiam uma interpretação conservadora e
exclusivista do Alcorão e da Sharia.
Além do mais, como salienta o mesmo autor, “you cannot have an election the first
time and sing the virtues of it to people and expect that they will have a conversion to
democracy. Democracy is practiced” (NASR, 2005b, on-line).
Partindo do pensamento de Isbelle (2007) podemos dizer que como não foi
designada uma forma fixa para o Estado Islâmico dentro do Alcorão, ele pode se conformar
de acordo com sua época e o desenvolvimento das sociedades humanas no momento.
Contudo, como o próprio autor propõe, cabe ao Estado garantir os direitos dos indivíduos, a
partir de oito pontos que são primordiais: 1) o direito à vida; 2) à propriedade privada; 3) à
dignidade humana; 4) à privacidade; 5) à igualdade perante a lei; 6) à garantia das
necessidades básicas (se o emprego não é suficiente o Estado deve auxiliar); 7) à liberdade
religiosa (citando do próprio Alcorão o autor diz que: “Não injurieis os que invocam outro
em vez de Deus, para que os mesmos não O injuriem em sua ignorância e sem
conhecimento. Assim, abrilhantamos as ações de cada povo; logo seu retorno será a seu
Senhor, que os inteirará de tudo quanto tiverem feito” – 6:108 – pág. 29); e, 8) direito à
liberdade de expressão, desde que siga os preceitos islâmicos e que seja usada de forma
construtiva.
Deste ponto de vista, podemos analisar as propostas de democracia muçulmana
como a tentativa de refletir nas instituições políticas os valores religiosos dos muçulmanos.
A idéia proposta pelos autores acima relacionados serve também como alerta para o
Ocidente, pois não podemos pressupor que a secularização, desde que não natural, seja uma
condição sine qua non para a liberdade e bom funcionamento de um regime político.

Considerações Finais

Do exposto neste trabalho, podemos pressupor que haja uma aproximação entre o
Islã e a Democracia. Muitas vezes, o que acontece nos países com população
majoritariamente muçulmana é que, a situação de injustiça social, e o próprio
reconhecimento do ‘insuportável’ peso da colonização, transformou uma parte da
população, em potenciais contestadores da ordem social então vigente. O retorno à religião
foi visto como uma solução, mas o que ocorreu de fato não foi um fundamentalismo, mas
sim uma reinvenção da religião, reificada como forma de substrato para luta social e anti-
colonial. Este “Islã reificado” viu seu poder ser acrescido ao longo do século XX, e adentra
o século XXI como uma ameaça efetiva.
Do lado das potências ocidentais, interpretou-se esse movimento nos países
islâmicos como expressão nítida e clara do “choque de civilizações”. O outro, o Islã, o
incompreensível, alheio ás benesses da civilização ocidental deve ser ‘recolonizado’, mas
agora pelo subterfúgio da exportação da democracia. Percebemos assim que há uma
perpetuação de um conflito que se eterno alimentará cada vez mais a indústria
armamentista e os burocratas que ganham com essas lutas, e disseminará o ódio a ponto
insuportável.
Já é hora de dissiparmos os maus entendidos criados por séculos de colonização e
contatos explosivos entre Ocidente e Islã. O planeta urge de ações concertadas entre os
diversos povos, inclusive com o fito de salvar nossas fontes básicas de sobrevivência. O
diálogo inter-religioso pode ser porta-voz deste novo tempo, em que a política, a economia
e a necessidade de cuidarmos do nosso Planeta urgem grandes esforços.

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